Alternativas à crise do emprego: desafios à educação/ formação e
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Alternativas à crise do emprego: desafios à educação/ formação e
Alternativas à crise do emprego: desafios à educação/formação e novas formas de regulação Ilona Kovács (iseg.utl.pt) Margarida Chagas Lopes ([email protected]) RESUMO A comunicação inicia-se com a análise da crise do modelo de emprego até há pouco tempo dominante. A crise do emprego é a grande questão social dos nossos tempos. Apesar de haver consenso quanto à crise do emprego, há grandes divergências sobre a sua natureza e soluções para a sua supressão. Para o discurso dominante as tecnologias de informação e comunicação e a economia de mercado abrem uma nova era com mais e melhores oportunidades de trabalho para todos. Porém, segundo as abordagens críticas, a globalização como universalização do mercado livre gera fortes desigualdades socioeconómicas entre blocos, regiões, países, empresas e indivíduos, lançando segmentos crescentes da população no desemprego e no emprego precário. Face à crise do emprego, a educação/formação e aprendizagem são entendidas sob novas perspectivas. O segundo ponto da comunicação aborda a relação complexa entre educação e mercado de trabalho, a qual evoluiu de uma situação de subordinação funcional daquela a este, durante os processos de industrialização e construção do capitalismo maduro, para se vir progressivamente a reafirmar no seu espaço de direito próprio de factor de desenvolvimento humano e, mais recentemente, de promotor da cidadania activa. Neste percurso acidentado, educação e mercado de trabalho recombinam formas de articulação sucessivas que aqui passamos em revista: a da emergência da educação e formação ao longo da vida como tentativa de regulação do mercado de trabalho em crise; a da «externalização» da educação e, especialmente, da formação em relação a um mercado de trabalho que, incapaz de regulação autónoma, se tenta socorrer do contributo dos sectores educativo e formativo e da segurança social, como no caso da flexigurança. A parte final da comunicação é uma contribuição para a reflexão sobre as alternativas. Face ao discurso dominante que considera que a evolução da economia e da sociedade está determinada pelas leis da economia e pela evolução tecnológica, defende-se um ponto de vista segundo o qual há futuros alternativos, nomeadamente a «sociedade de mercado», a «sociedade centrada em actividades alternativas» e a «sociedade de trabalho renovada». Também no domínio da educação e formação se abrem novas perspectivas, desafiadas pelo encaminhamento para um estatuto de maior autonomia e dignidade, em direcção à sociedade do conhecimento, ou da aprendizagem, onde educação e formação são chamadas a promover a cidadania activa, num percurso de contradições e ambiguidades que, por ora, apenas nos permitem delinear os contornos da evolução em curso. 1. A crise do emprego 1.1. Caracterização da evolução dos processos de trabalho Há hoje um consenso praticamente generalizado em torno da crise do modelo de emprego até há pouco dominante. Esta crise manifesta-se no aumento do desemprego e na redução do emprego seguro e regular a tempo integral numa determinada empresa com base num vínculo contratual estável e num compromisso a longo prazo entre empregador e empregado, a favor da difusão de uma grande variedade de formas de emprego cujo denominador comum é a flexibilidade em termos contratuais, de tempo de trabalho, de espaço, de estatutos e remunerações. Há outras alterações substanciais, como o ciclo de vida laboral descontínua com interrupções e carreira profissional acidentada. Há tendência para a diferenciação e segmentação dos trabalhadores, individualização das relações de trabalho, dos percursos profissionais e das condições de vida em geral. Ao mesmo tempo, assistimos ao enfraquecimento da protecção social (saúde, reforma, desemprego) numa lógica de privatização e individualização. Há cada vez mais pessoas em situações de emprego instáveis, com remunerações baixas, sem acesso à formação e com reduzida protecção social. Uns conseguem passar para uma situação melhor, mas outros ficam amarrados a uma trajectória marcada pela mobilidade entre empregos precários intercalados com situações de desemprego. Surge a necessidade de encontrar soluções para os novos problemas ligados à flexibilidade e precariedade de emprego. Num contexto de insegurança têm de ser encontradas novas regulações, novas protecções adequadas à realidade actual, para não correr o risco de retrocesso social (Auer, 2005, 2007; Castel, 2005; Supiot, 1999). Entre os factores que afectam profundamente o emprego, têm particular importância a globalização da economia com a preponderância do capital financeiro, a difusão das tecnologias de informação e comunicação, a nova divisão internacional de trabalho, a preponderância da política económica neoliberal, a reestruturação das empresas na lógica da racionalização flexível, bem como o desequilíbrio de forças no mercado de trabalho e nas relações laborais. A economia global está longe de ser um sistema único e indiferenciado. Pelo contrário, é profundamente assimétrica: os países economicamente mais avançados concentram a tecnologia, as infra-estruturas informacionais e os recursos humanos altamente qualificados e as actividades intensivas em conhecimento e em tecnologias avançadas. Enquanto as economias pouco desenvolvidas têm apenas pequenos segmentos da produção de alto valor e grandes segmentos de produtores disponíveis numa posição de trabalho desvalorizado, as economias desenvolvidas têm pequenos segmentos de trabalho desvalorizado e grandes segmentos de produção de alto valor intensiva em conhecimentos (Castells, 1998). A ideologia e a prática do mercado livre ganharam terreno à escala mundial. Reformas e medidas para liberalizar os mercados, desregulamentar a economia, privatizar os serviços públicos, desregular o mercado de trabalho, reduzir a protecção social e responsabilizar os indivíduos são promovidas em todo o lado com vista à dinamização da actividade económica e à sua melhor integração na economia mundial. Uma das principais razões da crise do emprego deve-se à pressão da concorrência intensificada em mercados globais sobre as empresas para reduzirem os custos do trabalho. A hegemonia e a liberalização dos mercados financeiros, a intensificação da circulação dos capitais financeiros graças às TIC (tecnologias de informação e comunicação) multiplicam os comportamentos especulativos. Os gestores encontram-se submetidos às pressões do «capital impaciente» (Sennett, 2005). O aumento do desemprego e do emprego precário não é consequência apenas do insucesso económico e perda de quotas de mercado por parte das empresas. Frequentemente empresas privadas e públicas com bons resultados financeiros decidem reduzir o número de empregados. Este fenómeno indica que «a supressão de empregos se tornou num acto de gestão corrente» (Galambaud, 1994: p. 48). Empresas com bons resultados podem ser fechadas se o retorno do investimento for menor em relação a outras empresas. Os esforços para aumentar a produtividade e melhorar a qualidade desaparecem na especulação financeira, desencorajando os investimentos a longo prazo na empresa (Petrella, 1998). Por sua vez, a instabilidade do mercado requer flexibilidade por parte das empresas. Neste contexto, as empresas procuram encontrar soluções, antes de tudo, para aumentar a flexibilidade e reduzir os custos. E por essa razão centram-se na actividade principal de grande valor acrescentado (core business), externalizando e deslocalizando outras actividades para zonas com salários mais baixos. As estratégias de reestruturação inspiram-se largamente na lean production e na reengenharia, cujo lema é «produzir mais, melhor e mais rapidamente com menos». A reestruturação das empresas permitida pelas TIC e estimulada pela competição global, leva à difusão de uma nova organização da produção baseada na descentralização, segmentação e dispersão geográfica das actividades produtivas e sua integração em rede pelas TIC. Esta organização em rede é entendida como o modelo mais adequado às condições de instabilidade do mercado e de forte concorrência por permitir aumentar a flexibilidade e, ao mesmo tempo, reduzir os custos. A empresa em rede, de acordo com estratégias diferenciadas, permite combinar diferentes tipos de organização do trabalho e de emprego dentro de si própria com vista à obtenção tanto de flexibilidade funcional como de flexibilidade quantitativa. A focalização na actividade central leva a uma diferenciação fundamental entre dois tipos de trabalhadores: os trabalhadores nucleares ligados à actividade central e os trabalhadores periféricos ou genéricos. Os primeiros, devido ao seu elevado nível de educação, têm capacidade de reprogramar as suas qualificações. Porém, os trabalhadores genéricos não têm esta capacidade devido ao pobre conteúdo do seu trabalho e à instabilidade do seu emprego: podem ser contratados, despedidos, substituídos facilmente por máquinas ou por outras pessoas de outras regiões, de acordo com as necessidades de adaptação às flutuações do mercado (Atkinson, 1987; Castells, 1998; Harrison, 1994; Kalleberg, 2003; Kovács, 2002, 2005). A globalização e as TIC ampliam as opções possíveis quanto à utilização do trabalho. As empresas com vista à redução de custos podem diminuir o número de trabalhadores efectivos mantendo apenas os mais qualificados (núcleo duro), recorrer à subcontratação e a formas flexíveis de emprego, procurar profissionais altamente qualificados ao preço mais baixo possível, utilizar mão-de-obra menos qualificada 1 dos países mais pobres a baixos salários e ainda obter o consentimento dos trabalhadores dos países economicamente mais avançados para aceitarem salários e condições de trabalho menos favoráveis em troca da manutenção dos postos de trabalho. Estas opções inscritas na «via baixa» da procura da melhoria da competitividade, através de baixos custos salariais e mercado de trabalho desregulado, levam ao aumento do desemprego e do emprego precário. Ao mesmo tempo, as empresas podem procurar a melhoria da sua competitividade através de opções inscritas na «via alta» orientada para o desenvolvimento da polivalência e das competências dos trabalhadores, aprendizagem contínua por via do desenvolvimento de novas formas de organização do trabalho (learning organisation). Trata-se de mobilizar a inteligência dos trabalhadores com vista a responder às exigências de flexibilidade funcional, qualidade e inovação. Esta opção implica a melhoria da qualidade do emprego, porém com alcance limitado, uma vez que incide, sobretudo, nos trabalhadores ligados às actividades intensivas em conhecimento e em tecnologias avançadas. Neste contexto de grande diferenciação e de individualização, a defesa do factor de trabalho depende cada vez mais de negociações individuais. O poder concentrado dos principais actores económicos (grandes empresas transnacionais e suas alianças, instituições globais (como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial ou a Organização Mundial do Comércio) não está ou está pouco contrabalançado do lado do trabalho (Grupo de Lisboa, 1994). O poder sindical enfraquecido e a falta de 1 De que as maquiladoras mexicanas e os engenheiros de software da Índia constituem bons exemplos, a par de processos mais estruturados de imposição exógena de sectores produtivos como nas «Zonas de Exportação Protegidas». mecanismos de defesa dos interesses do trabalho a nível transnacional facilitam o avanço da reestruturação económica de acordo com a lógica neoliberal da «via baixa» da competitividade, provocando uma espiral descendente dos salários e das condições de trabalho. Surge uma situação paradoxal, como mostra Castells, pois «nunca foi o trabalho mais central no processo de criação de valor. Mas nunca os trabalhadores foram mais vulneráveis, já que se converteram em indivíduos isolados subcontratados numa rede flexível, cujo horizonte é desconhecido inclusive para a mesma rede» (Castells, 1998: p. 309). 1.2. As controvérsias acerca das transformações do emprego A leitura sobre a crise do emprego não é consensual, e podemos identificar diversas perspectivas: a perspectiva tecno-liberal do discurso dominante, a perspectiva crítica e as teorias sobre o fim do trabalho. 1.2.1. O discurso dominante O discurso dominante é baseado no tecno-optimismo, no mito do mercado livre e da flexibilidade, bem como na primazia dada à economia, aos princípios do mercado e do lucro, à competição e ao individualismo. Na óptica tecno-liberal, as TIC são as forças motrizes de uma nova era de crescimento, produtividade, competitividade, e de inovação, desde que os governos promovam uma economia de mercado sem interferir nos processos (Sahlman, 1999). As TIC ditam uma marcha inevitável em direcção a uma sociedade cognitiva, centrada na produção e intercâmbio de conhecimentos na qual há tendência para a generalização do trabalho inteligente, criação de empregos em grande número e crescentes oportunidades para todos, desde que haja flexibilidade do trabalho e do mercado de trabalho, sejam privatizados os serviços públicos e desmanteladas as instituições do Estado-providência consideradas obsoletas. A globalização como universalização do mercado é apresentada como uma evolução natural e inevitável que trará bem-estar para a toda a humanidade. A missão dos governos é promover a adaptação das economias nacionais às exigências do mercado global e deixar inteiramente ao mercado e ao sector privado a tarefa de orientar e guiar as sociedades. Os direitos sociais, a protecção dos trabalhadores, a regulação social e os sindicatos são entendidos como obstáculos arcaicos à competitividade e à nova ordem. Esta perspectiva anuncia o fim do trabalho assalariado e a emergência do modelo empresarial do trabalho. Estamos na era do pós-emprego, na qual os trabalhadores deixam de ser assalariados e passam a ser trabalhadores independentes, empreendedores que prestam serviços, gerem o seu trabalho para vários clientes; criam o seu próprio emprego e são responsáveis pelo desenvolvimento das suas competências e pela gestão da sua própria carreira (Gruber e Brouiller, 1998; Ducatte, 1995; Bridges, 1994). 2 Este discurso enaltece os benefícios da racionalização flexível para tornar as empresas mais competitivas no mercado global. O grande objectivo é racionalizar e optimizar os processos de trabalho, flexibilizando a gestão e a relação entre empregador e empregado. A empresa ideal é a empresa flexível, magra, centrada nas actividades de alto valor acrescentado a cargo de um núcleo estável de gestores e trabalhadores altamente qualificados, que recorre à contratação de duração temporária e à subcontratação para obter a flexibilidade requerida pela instabilidade do mercado. O discurso tecno-liberal amplamente difundido quer fazer passar a mensagem de que as mudanças actuais no mundo do trabalho são inevitáveis e impostas pela globalização e TIC. Esta evolução 2 Entre os seus métodos constam, entre outros: total quality management, just-in-time, downsizing, reengineering e outsourcing. é apresentada como única, sem alternativas; por conseguinte, o que é exigido às pessoas, às organizações, à sociedade em geral é a sua melhor adaptação às mudanças fatais. 1.2.2. Abordagens críticas A leitura pelo prisma das desigualdades sociais Na perspectiva crítica, a globalização como universalização do mercado livre não significa uma marcha em direcção a um maior bem-estar a nível planetário. Pelo contrário, caso prevaleçam os interesses das forças em competição, que procuram, acima de tudo, a maximização do seu lucro e poder, podem surgir consequências sociais, humanas e ambientais indesejadas e devastadoras. Estas consequências têm vindo a manifestar-se na concentração do poder de decisão e de influência sobre o destino da humanidade em cadeias mundiais de empresas financeiras e industriais, no aumento de desigualdades sociais e económicas entre as nações e dentro das nações, na exclusão social dos não competitivos, na agressividade individual e colectiva e no agravamento dos problemas ecológicos, entre outras (Grupo de Lisboa, 1994; Petrella, 1994). Enquanto o discurso dominante anuncia crescentes oportunidades para todos graças às TIC, ao mercado livre e à flexibilidade, as abordagens críticas chamam a atenção para a dualização e acentuação das desigualdades sociais entre aqueles que têm posições relativamente fortes no mercado de trabalho e aqueles que se encontram em situações de desemprego e emprego precário. Nesta óptica, estamos a evoluir em direcção a uma sociedade dual que se caracteriza pela polarização crescente entre uma pequena elite influente composta pelos ganhadores da globalização (detentores do capital activo à escala global, gestores de topo e a classe do saber) e a massa crescente de trabalhadores disponíveis com condições de trabalho tendentes à deterioração (Beck, 2000; Boltanski e Chiapello, 1999; Castel 1995; Castells 1998; Castillo 1994, 2003; Grupo de Lisboa, 1994). A eliminação da regulação social e a subordinação da sociedade às leis do mercado e à lógica da globalização competitiva implica a redução da empresa a uma máquina de lucro, o aumento do desemprego, a difusão do emprego precário, a deterioração da qualidade do trabalho e do potencial de integração social do trabalho. As formas de emprego e as condições de trabalho prevalecentes nos países do terceiro mundo tendem a difundir-se também nos países industrialmente mais avançados; há tendência para a «brasileirização» (Beck, 2000), «informalização» e «desinstitucionalização do emprego» (Galini, 2002). A globalização e as TIC engendram uma dinâmica profundamente desigualitária: quem está em vantagem em relação aos outros aumenta ainda mais as suas vantagens e quem está em desvantagem aumenta ainda mais as suas desvantagens, ou seja, os fortes tornam-se mais fortes e os fracos tornam-se mais fracos, sem poder contar com o apoio do Estado, que se retira cada vez mais da protecção de várias esferas da vida social. A nova organização da produção e o modo de funcionamento das sociedades submetidas à lógica da competição global lança segmentos crescentes da população no desemprego, no emprego instável, na precariedade e na pobreza, com o risco de estar sujeito a uma espiral de fragilização. A procura constante de locais mais vantajosos para vender e produzir produtos e serviços na lógica da redução dos custos tende a levar a uma crescente desigualdade entre empresas e trabalhadores que fazem parte da mesma rede. A fragmentação do processo produtivo implica frequentemente uma divisão do trabalho desequilibrada entre empresas. O trabalho profissional intensivo em conhecimento ligado à alta tecnologia e, por conseguinte, o bom emprego, tende a concentrar-se nas empresas centrais localizadas em áreas com infra-estruturas materiais, de informação-comunicação adequadas. Por sua vez, as operações de rotina tendem a ser deslocalizadas para empresas subcontratadas situadas preferencialmente em regiões de mão-de-obra barata. Nestas últimas predomina o emprego inseguro e mal pago (Castillo, 1994, 2003a, 2003b). A enfatização crescente da insegurança A difusão do emprego precário e a falta de perspectivas profissionais criam um ambiente de angústia, de insegurança e ansiedade. A vulnerabilidade torna-se extremamente forte, uma vez que surgem simultaneamente várias crises: a crise do Estado-providência, a crise do trabalho e a crise do sujeito. (Fitoussi &Rosenvallon, 1997). A globalização na lógica da concorrência selvagem mina as bases da segurança da nossa vida e sobrecarrega a vida dos indivíduos com um grau de incerteza e ansiedade sem precedentes (Bauman, 2001). A precariedade afecta profundamente aqueles que se encontram nesta situação despojando-os da esperança do futuro. No entanto, a precariedade está em toda a parte, como afirma Bourdieu (1998): «a insegurança objectiva é a base de uma insegurança subjectiva generalizada que afecta hoje, no coração de uma economia altamente desenvolvida, o conjunto de trabalhadores, incluindo aqueles que não foram ainda directamente atingidos» (Bourdieu, 1998: p. 115). A precariedade não é consequência latente de uma fatalidade económica, para Bourdieu trata-se de um novo modo de dominação, baseada na manutenção de um estado generalizado e permanente de insegurança visando coagir os trabalhadores à submissão e à aceitação da exploração. É a gestão racional da insegurança – a «flexploração» – que instaura a concorrência entre trabalhadores à escala mundial. O capitalismo flexível bloqueia o caminho para uma carreira, transportando de um tipo de trabalho para outro e de um grupo para outro num movimento lateral. Segurança e lealdade deixam de existir. As mudanças constantes e a diluição do poder levam à ansiedade e desorientam a maioria das pessoas. A experiência, as competências perdem o seu valor a favor da capacidade de se vender e de se adaptar. É a 3 corrosão do carácter pelo capitalismo flexível (Sennett, 2001). Segundo Ulrich Beck a ruptura no modelo de emprego pode ter consequências imprevisíveis. Nos bons tempos dos Trinta Gloriosos Anos, o pleno emprego, pensões mais seguras, elevadas receitas fiscais, margens de manobra da política estatal complementavam-se e reforçavam-se mutuamente. Agora confrontam-se em perigo recíproco: o trabalho torna-se precário, os fundamentos do Estado de bemestar desmoronam-se, as trajectórias pessoais tornam-se frágeis, a pobreza da velhice programa-se antecipadamente. A ruptura com o modelo anterior pode desencadear um efeito dominó com graves consequências sociais e individuais (Beck, 2000). A desregulação e o ideário europeu A desregulação do mercado de trabalho (mudanças na legislação laboral, limitação do poder dos sindicatos, eliminação do salário mínimo, etc.) legitima-se como a via que permite a utilização do trabalho adequada às condições de competição intensa, incerteza e instabilidade dos mercados. A flexibilidade do mercado de trabalho foi declarada como condição indispensável para promover o crescimento da economia e do emprego. As políticas de mercado de trabalho inscrevem-se largamente nesta lógica neoliberal. Porém, os críticos da flexibilização do mercado de trabalho denunciam as suas consequências negativas, nomeadamente o aumento do desemprego, do emprego «atípico» ou flexível e da precariedade, bem como da desigualdade entre grupos de trabalhadores (Kovács e Casaca, 2007). Apesar de todos os países estarem submetidos às pressões da flexibilização do trabalho e das relações de emprego, esse processo pode seguir lógicas diferentes de acordo com a estrutura institucional e estratégias seguidas pelas empresas (Boyer, 1998; Hall e Soskice, 2001), o tipo de capitalismo (Lane, 3 O carácter é expresso pela lealdade, pelo compromisso mútuo e pelo estabelecimento de objectivos de longo prazo. 1989; Amable, 2003), o tipo de relações laborais e os níveis em que se desenvolve a negociação colectiva (Crouch, 1993), os modelos de protecção social e a gestão das transições entre empregos, os sistemas de educação e formação (Esping-Anderson, 1990; Ferrera, 1996; Gallie, Paugham, 2000; Vielle e Walthery, 2003; Barbieri, 2007) ou ainda os modelos de emprego (Auer e Gazier, 2002; Auer, 2005 e 2007). Contrariando as teses neoliberais, que defendem a necessidade de promover a desregulação do mercado de trabalho e o desmantelamento do welfare state como vias para a dinamização económica e para o pleno crescimento do emprego, vários estudos mostram que, nos países com regime de welfare de tipo universalista (Dinamarca, Suécia) e negociação colectiva centralizada, as taxas de participação no mercado de trabalho são mais elevadas, e, ao mesmo tempo, as taxas de emprego atípico são menores. Na última década, ganhou particular relevo a experiência dinamarquesa que associa um mercado de trabalho flexível com alta protecção social a um mercado de trabalho transicional (Madsen, 1999, 2003; Schmid e Gazier, 2002), experiência a que voltaremos a referir-nos mais adiante na perspectiva da educação e da formação. Nos países onde se procedeu a uma desregulação parcial ou limitada do mercado de trabalho, existem maiores taxas de desemprego e de emprego atípico, que atingem precisamente os grupos mais vulneráveis, entre os quais se encontram os jovens, as mulheres e os menos qualificados. Esta desregulação é parcial e limitada por deixar praticamente inalterados os direitos dos trabalhadores nucleares mais qualificados, ao mesmo tempo que dificulta o acesso dos mais vulneráveis a esses mesmos direitos. Esse tipo de desregulação caracteriza os países do Sul da Europa (Esping-Andersen e Regini, 2000; Barbieri, 2007; Auer, 2005 e 2007). Enquanto alguns autores salientam a diversidade dos modelos (de economia, de sociedade, de emprego, etc.), outros apontam a convergência entre os diversos países europeus em torno da desregulação inerente ao modelo neoliberal. Esta tendência significaria desmantelar o welfare state, destruir os traços distintivos que tornaram a Europa diferente dos EUA, ou seja, a cidadania económica e social e um espaço público forte (De Vos, 2005; Wickham, 2005). 1.2.3. As teorias do fim do trabalho Nesta corrente incluem-se a abordagem tecno-pessimista e as teorias sobre o fim da centralidade do trabalho na vida social e individual (Méda, 1995; Gorz, 1997; Beck, 2000). O autor que talvez mais tenha popularizado a perspectiva tecno-pessimista é Jeremy Rifkin. Segundo este autor, as TIC vão suprimir grande parte dos postos de trabalho. Na economia high-tech, o único sector em expansão é o do conhecimento. Porém, este sector apenas garante postos de trabalho para uma elite cosmopolita (manipuladores de símbolos e controladores da tecnologia e das forças produtivas), mas é incapaz de criar emprego para os milhões cujo posto de trabalho vai ser eliminado nos três sectores tradicionais. Sendo os investimentos na reconversão dos trabalhadores inúteis, a solução reside no desenvolvimento do sector social ou comunitário (Rifkin, 1995). Desde os anos 80 multiplicam-se as publicações sobre a crise da sociedade do trabalho e sobre o fim 4 da centralidade do trabalho . Para aqueles autores que defendem essa tese, o trabalho remunerado formal perdeu a sua qualidade subjectiva de centro organizador das actividades humanas, de auto-estima 4 Todavia, já nos finais dos anos 60, projectava-se uma sociedade centrada não no trabalho, mas no lazer, como resultado da revolução científica-tecnológica. Mas podemos ir mais longe. Marx, partindo das possibilidades criadas pelo desenvolvimento das forças produtivas, sobretudo da técnica, refere-se a uma sociedade centrada nas actividades livres, cuja riqueza se mede pelo tempo disponível (tempo de nãotrabalho) para o livre desenvolvimento de cada indivíduo. O trabalho como actividade heterónoma pertence à esfera da necessidade e não à da liberdade. (Cf. Marx, 1977) e das referências sociais. Trabalho e produção perdem a sua capacidade de estruturar e organizar a sociedade, surgem actividades alternativas de integração social ou de inclusão, novos cenários, novos actores e novas racionalidades inseridos num novo tipo de sociedade (Gorz, 1997; Méda, 1995; Rifkin, 1995). Relativamente a este debate, defendemos uma perspectiva que considera a coexistência de tendências diversas e até contraditórias na evolução dos padrões de emprego. Os desenvolvimentos recentes não são manifestações de uma única tendência marcante de uma nova era anunciada pelas perspectivas referidas, a saber: o fim do emprego e a generalização do trabalho independente, a generalização do trabalho inteligente, ou ainda o fim do trabalho e a centralidade de outras actividades. Na nossa óptica, tende a prevalecer a tendência para a crescente diversificação, heterogeneidade do trabalho e do emprego e até para a sua invisibilidade no seio das redes complexas dentro das empresas e entre as empresas (Kovács, 2002). 2. A Educação e a Formação nas tentativas de Regulação Considerada a evolução do contexto e as suas sucessivas leituras, abordemos agora a crise do emprego sob as perspectivas da revisão teórica e das práticas de regulação macroeconómicas. As hipóteses neoclássicas da supremacia da oferta de trabalho qualificado, da continuidade de emprego e da garantia da sua adequabilidade e estabilidade, cada vez mais desautorizadas pela complexidade e insegurança crescentes e pelas perturbações acentuadas dos mercados de trabalho, mostravam igualmente a desadequação dos postulados teóricos consagrados. Abria-se assim caminho para a crítica às teorias do capital humano (TCH), até então o quadro conceptual de referência, e mostrava-se a cada vez maior necessidade da sua substituição por outras abordagens mais capazes de aderirem à realidade. É neste contexto que começam a marcar terreno as teorias dos ciclos de vida (TCV), tomadas de empréstimo de outros domínios das ciências sociais, como a sociologia e a demografia, mas que também na economia do trabalho e dos recursos humanos encontravam agora eco crescente. Assim, o ciclo de vida individual passava a constituir-se como eixo de referência central das novas concepções dos mercados de trabalho. Ao mesmo tempo, a abordagem tradicional, centrada exclusivamente nas relações de trabalho, amplificava-se agora: o ciclo de vida constitui o plano onde se projectam elementos fundamentais das trajectórias individuais de trabalho, sem dúvida, mas também dos percursos pessoais de educação e formação, a par das transições, mudanças e recomposições familiares dos seus protagonistas. Do ponto de vista das relações entre trabalho/emprego e educação e formação, as TCV marcam um ponto de viragem ao considerarem a abordagem integrada daqueles processos. Ao mesmo tempo, apontavam o seu foco para a incerteza, descontinuidade e possível reversibilidade dos processos e decisões perante o trabalho e a aprendizagem ao longo das trajectórias de vida. Ao invés do overtaking 5 year de Jacob Mincer , pelo qual as pessoas transitariam automaticamente e sem demora da escola para o emprego, postulavam-se agora processos de inserção laboral a funcionar por tentativa e erro, consumidores de tempo, de capital económico e relacional e, não raramente, de desfecho desajustado e temporário. Como se viu anteriormente, o «emprego para toda a vida» é substituído pela descontinuidade e precariedade das relações de trabalho, alternando cada vez mais os períodos de emprego com os de desemprego e inactividade, ao mesmo tempo que as fronteiras que delimitam a transição para a reforma, no fim da vida activa, se tendem também a diluir, a deslocar e a tornar menos nítidas. Importa sublinhar que se assiste agora à explicitação de duas componentes importantes da aprendizagem não formal: os ganhos em experiência profissional, constituída ao longo das ocupações 5 J. Mincer (1974). sucessivamente desempenhadas, e a (eventual) frequência de programas ou acções de formação profissional durante o desemprego e a inactividade de modo a manter actualizadas as qualificações e mais mobilizáveis as competências. Conjugadas com as qualificações escolares obtidas na educação formal (inicial, após inserção ou de «nova oportunidade»), estas outras formas de aprendizagem constituem o que durante décadas se convencionou designar pelo núcleo duro das qualificações dos 6 trabalhadores . Uma possibilidade de representação destas manifestações é a que propomos na Figura seguinte: Figura 1: Interdependência entre as trajectórias de aprendizagem e trabalho nos ciclos de vida individuais Fonte: Adaptado de M. Chagas Lopes (2007) 2.1. A Regulação pela Aprendizagem e a lifelong learning A empregabilidade, palavra-chave das políticas de emprego na transição para o novo paradigma, exigia, como se referiu, um conhecimento permanentemente actualizado face aos novos padrões de inovação tecnológica, aos determinantes da competitividade e às incertezas da globalização. A aprendizagem ao longo da vida surge, assim, associada a uma perspectiva eminentemente funcionalista da educação e da formação, visando manter «empregáveis», ou «reempregáveis», os indivíduos cujas qualificações escolares – educação formal – se mostravam desactualizadas face à inovação, desajustadas perante as reconversões do tecido produtivo e insuficientemente flexíveis para dar resposta às incertezas dos contextos de trabalho. No entanto, o contributo decisivo destas novas concepções reside na abordagem da desqualificação individual, ou desgaste do capital humano decorrente dos períodos de não exercício 6 A partir da contribuição seminal de Michel Freyssenet, La Qualification du travail: de quoi parle-ton?, Paris, La Documentation Française, 1978. profissional por desemprego ou inactividade. A consideração destes períodos de quebra involuntária da relação de trabalho, para além de «deixar a nu» a hipótese clássica da soberania do decisor individual, vai ajudar a justificar a necessidade de intervenção do Estado na regulação dos processos de trabalho e de formação: os mecanismos do mercado de trabalho e da procura e oferta de qualificações não se mostram, de facto, suficientemente capazes de promover ou reforçar a empregabilidade dos indivíduos tornados «redundantes». Por outro lado, a noção fundamental de competência, cada vez mais presente na literatura teórica e nas referências políticas, assume-se como o veículo mobilizador do conhecimento útil, isto é, actualizado, flexível e competitivo. Mas competência significa, antes de mais, capacidade de exercício efectivo do conhecimento, de saber posto em prática, em tempo real, ao serviço da produção. Não se vislumbra, então, outra alternativa para manter actualizado e flexível o conhecimento útil que não passe pela indispensável intervenção pública na manutenção e actualização das qualificações dos desempregados e inactivos, designadamente através das políticas de emprego e de formação profissional. Este pendor funcionalista das TCV na sua preocupação com a (re)empregabilidade não pode dissociar-se dos traços de referência do ideário neoliberal e de algumas das principais situações críticas e ciclos viciosos por si desencadeados. Tal é, designadamente, o caso da projecção do neoliberalismo nas concepções e práticas da política económica, com especial incidência nas que vieram regendo os processos de integração até à eclosão da presente crise financeira: o primado da disciplina monetária sobre as políticas de rendimentos e orçamental, o alinhamento das economias dos Estados Membros pela ortodoxia estabilizadora dos bancos centrais, a contenção à outrance dos défices públicos, numa palavra. Descuraram-se as funções estabilizadora de rendimentos, de intervenção estrutural na educação, formação e nos mercados de trabalho, da articulação destas com a estratégia de desenvolvimento económico e social, em nome da contenção do sector público e da diminuição do peso do Estado. Mas quando os mercados, de trabalho e de qualificações neste caso, se mostraram incapazes de autoregulação e de articulação consistente e se começou a avolumar a probabilidade de desemprego, já depois de uma fase não desprezível de subutilização generalizada de recursos humanos, o Estado teve de novo de intervir. A alternativa à promoção da (re)empregabilidade consistiria na alimentação do mercado interno a expensas da política de rendimentos e da Segurança Social, esta já a braços com a pressão crescente da demografia. Ou seja, e mesmo não saindo dos objectivos estritamente económicos, o Estado viu-se compelido a intervir pela «activação» do emprego e da formação como trade off a uma política orçamental e de rendimentos expansionista que lhe estava vedada pelos compromissos internacionais, assim caindo no ciclo vicioso de «habiller Paul pour ne pas déshabiller Pierre», como refere Pierre Morin 7 numa das suas obras de referência . 2.2. Os limites da auto-regulação e o exemplo da Flexigurança As tentativas de regulação macroeconómica dos mercados de trabalho, nesta fase de crise do emprego do fim do século XX, haveriam de vir a fazer recurso a vários domínios da intervenção social e pública, como nos mostra o exemplo da flexigurança. Incapaz de se auto-regular, o mercado de trabalho viu a decisão política encaminhar-se frequentemente para a concepção e o ensaio de aplicação de modelos de regulação pluridimensionais, caracterizados pelo recurso a outros domínios da economia pública e social que deveriam intervir como seus coadjuvantes. O que se traduz, na prática, na demonstração cabal de que a divisão entre políticas de emprego e políticas sociais é meramente artificial, como afirmam autores como James Heintz (2006). 7 Pierre Morin (1996: p. 37). Considerando o exemplo da flexigurança, de ampla repercussão na concepção estratégica e política 8 da Europa integrada na transição para o século XXI , as dimensões a articular com o mercado de trabalho em crise, de molde a constituir-se um sistema de regulação coerente, são a Segurança Social e a Educação e Formação. As descontinuidades de emprego e a ausência de trabalho, de assumida inevitabilidade, contariam então com o concurso de um suporte de rendimento de substituição, a cargo da Segurança Social, e com uma intervenção ao nível da manutenção, ou mesmo actualização, das qualificações e competências individuais com vista a manter elevadas as condições de (re)empregabilidade, mantendo-se o ciclo de vida individual como eixo de referência e plano de projecção desta concepção integrada de regulação. Fica por saber se, não ocorrendo a presente crise internacional, um tal modelo de regulação teria podido contar com condições efectivas de implementação e de generalização a sociedades com características diferentes das nórdicas, designadamente a dinamarquesa. Ainda não eram sequer antecipáveis os contornos e o perfil específicos da crise e já abundavam críticas de natureza vária às propostas de flexigurança entretanto conhecidas. Insistia-se, especialmente, no papel decisivo da procura de qualificações e na possibilidade de a mesma não se ajustar, ou só o fazer com rigidez, de modo a recrutar, na retoma, os desempregados entretanto requalificados. Duvidava-se, por outro lado, das potencialidades de um sistema de Segurança Social estruturalmente em crise, mesmo que temporariamente não insolvente, sendo conhecidas as tendências da pressão demográfica, a iminência do acentuar do desemprego e o facto de, mesmo em «situação cruzeiro», apenas uma parcela relativamente reduzida dos desempregados ser abrangida pelos subsídios de desemprego. Assinalava-se o facto, talvez o mais crítico de todos, de a flexigurança só ter provado bem – enquanto vigorou – em economias, como a dinamarquesa, caracterizadas por elevadas taxas de inovação mesmo ao nível da pequena e média empresa, que enveredaram por processos de terciarização altamente qualificada e servida por uma mão-de-obra cuja escolaridade mínima se situava já nos 12 anos e, mesmo assim, enquadrados politicamente por um esforço significativo das políticas activas de emprego, num quadro de desregulamentação moderada e não de ultra-liberalismo (Petit, 2005). A crise financeira internacional marcou um compasso de espera nas experiências de implementação destas formas de regulação dos mercados de trabalho. 3. A necessidade de reflectir sobre as alternativas 3.1. Sobre as alternativas à crise do emprego Na nossa óptica, as transformações do emprego inserem-se na dinâmica actual da reestruturação económica ao serviço da competitividade. Não se trata de uma evolução fatal ditada por leis económicas ou pelas novas tecnologias. Há futuros alternativos. O futuro depende dos actores sociais, dos seus valores, da sua capacidade de negociação e do grau de democraticidade dos processos de transformação. No quadro do pensamento determinista a evolução do trabalho e do emprego é ditada pelas TIC e/ou pelas leis do mercado. Não há futuros alternativos, que apelem à reflexão e à participação dos actores sociais com vista a opções políticas. Para a perspectiva neoliberal, a solução para a crise do emprego consiste no reforço da regulação pelo mercado, pois novos empregos são criados pela mercantilização de todas as actividades (saúde, cultura, educação, ensino, investigação). Para um maior crescimento económico e criação de mais empregos propõe-se o aprofundamento da lógica neoliberal (Kok et alii, 2004). A libertação máxima dos 8 Ver, designadamente, CE (2006), MTSS (2006), Wilthagen (2008), Bovenberg & Wilthagen (2008). mecanismos de mercado da regulação social com vista ao dinamismo económico significa desenvolver plenamente a sociedade de mercado, ou seja, subordinar a sociedade às leis naturais do mercado e à lógica da globalização competitiva. Este tipo de evolução significaria a difusão ainda maior das múltiplas formas instáveis e precárias de emprego, bem como a degradação da qualidade do emprego e o enfraquecimento do potencial integrador do trabalho. Significaria também a destruição da regulação social construída para conciliar a economia do mercado e a coesão social. O desemprego, a desestabilização e a precarização do emprego, a unidimensionalização do indivíduo são as principais consequências desta opção. Por sua vez, para os defensores da tese do fim da centralidade do trabalho, há duas soluções para sair da crise do emprego. A primeira é o desenvolvimento do terceiro sector, ou economia social, portador de um novo paradigma pós-mercado ou social, associando-o a um rendimento social e criando alternativas para aqueles que não conseguem ter emprego na economia do mercado. O terceiro sector é o lugar privilegiado para o desenvolvimento de um novo tipo de sociedade, no qual o político e o social não se subordinam à economia e no qual o trabalho remunerado já não constitui o principal factor de integração (Rifkin, 1995). A outra solução é desenvolver uma sociedade de «tempos escolhidos» centrada não no trabalho, mas em actividades alternativas (autónomas, voluntárias, participação activa na sociedade civil e nos assuntos colectivos, na esfera política). A segurança de um rendimento estável e suficiente é a primeira condição deste novo tipo de sociedade. Trata-se de uma garantia universal e incondicional não dependente de um emprego, que permite viver condignamente e recusar ocupações e condições de trabalho degradantes (Gorz, 1997: p. 139; Beck, 1998). É questionável a tese da perda da centralidade do trabalho na vida individual e social. O trabalho continua a ser uma referência dominante não apenas em termos económicos, mas também psicológicos e culturais, simbólicos. A maioria das pessoas continua a ser trabalhador assalariado e o tempo de trabalho é longo. Não há menos assalariados, mas trabalhadores mais expostos à precariedade e ao desemprego. Um dos problemas essenciais é que parte substancial dos empregos não vai ao encontro das expectativas das pessoas e não dá ou dá pouca garantia e estabilidade de rendimento e de condições de trabalho que permitam uma integração durável numa comunidade de referência. Deste modo, apesar da centralidade do trabalho, este fica fragilizado como factor de integração social. Na nossa perspectiva, é possível outra alternativa orientada para a renovação da sociedade de trabalho. Esta alternativa implica: um mercado de trabalho regulado, o estabelecimento de padrões e princípios à escala global, a transformação do trabalho numa actividade com sentido e significado que proporcione autonomia, o uso e desenvolvimento de conhecimentos e aptidões, satisfação, identidade e integração, a moldagem do trabalho pela articulação de objectivos económicos e sociais (redução das desigualdades sociais, melhor qualidade de vida no trabalho e, em geral, melhor conciliação do trabalho com a vida familiar) e opções técnico-organizacionais centradas nas pessoas, redução do tempo de trabalho, flexibilidade sem precariedade. O diálogo, a participação e a negociação a todos os níveis constituem os principais elementos dos mecanismos de regulação social. A análise da situação e a identificação e discussão de alternativas são indispensáveis para que a evolução do trabalho não seja deixada ao «inevitável». Mas, para que isso não aconteça, é igualmente importante a vontade política de reduzir os riscos que ameaçam a coesão social e repensar as políticas. Para que o trabalho possa ser renovado e dignificado não é suficiente uma regulação a nível nacional. Exige-se que haja mecanismos de implementação efectiva dos princípios do trabalho decente, ou core 9 labour standards (OIT) , e mecanismos de defesa dos interesses do trabalho à escala global em articulação com estratégias e acções de outros movimentos sociais (Santos, 1998). 9 O trabalho decente, no qual se protegem os direitos, é sinónimo de trabalho produtivo, que engendra rendimentos adequados com uma protecção social apropriada. Significa também um trabalho suficiente no sentido de que todos deveriam ter pleno acesso às oportunidades de obtenção de rendimentos. Marca 3.2. Alternativas para promover e partilhar o conhecimento No âmbito da crítica ao funcionalismo da lifelong learning destacam-se as opiniões que vêem nela um mecanismo de responsabilização individual pelas condições de formação para a «empregabilidade», ao mesmo tempo que se assiste a alguma desresponsabilização dos restantes stakeholders e, desde logo, do Estado quanto à promoção das condições efectivas de acesso ao emprego e à formação. A insuficiente informação sobre o mercado de qualificações e suas perspectivas de evolução, ferramenta essencial para o planeamento individual das decisões de aprendizagem, é disso exemplo. Mas também a própria concepção economicista, ou utilitarista, da aprendizagem ao longo da vida (ALV) foi sendo objecto de ampla apreciação crítica que aqui introduzimos através do contributo de excelência que Teresa Ambrósio trouxe a este debate ao convocar uma acepção mais ampla da ALV: uma procura de valorização pessoal e de reforço de conhecimentos adquiridos num «processo que permita que cada um de nós seja capaz de compreender e agir no seio deste grande movimento que é a passagem das sociedades tradicionais para modelos de sociedades pós-industriais…» (Ambrósio, 2001: p. 26). Considerando o processo de integração europeia como quadro de referência, pode constatar-se como a emergência de novos factores críticos tem vindo a colocar desafios particularmente significativos à ALV e ao desígnio de fazer da Europa integrada «a Sociedade do Conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo, sem descurar os objectivos da cidadania e inclusão social». Por um lado, com os sucessivos processos de alargamento ampliou-se a diversidade dos sistemas de educação e formação em presença, reforçando-se a heterogeneidade de partida; no entanto, as instâncias comunitárias continuam a reter como parâmetros estruturantes do ambicionado modelo de coordenação global referenciais típicos dos Estados-membros da Europa ocidental e, quase sempre, limitados ou enfatizando muito a educação formal. Por outro lado, corre-se o risco de, ao pretender constituir nomenclaturas de qualificações e competências uniformemente válidas – decerto indispensáveis para estabelecer equivalências e fomentar a mobilidade internacional –, sem cuidar dos seus processos de revisão e actualização, se cristalizarem as formas tradicionais de educação e aprendizagem e ignorar a multiplicidade de novos processos de intervenção e participação, designadamente nos domínios das aprendizagens não formal e informal. Ou seja, corre-se o risco de considerar o conhecimento como um produto, ou uma meta a atingir, em vez de um processo em construção, como se deverá assumir. Salientam ainda, muitos dos críticos, a ausência de mecanismos de follow up da aprendizagem por falta de informação longitudinal, a par da insuficiente perspectiva crítica nos conteúdos de aprendizagem…Recuperando a crítica de Wim Kok no célebre relatório Facing the Challenge, John Holford (2008) relembra que, longe de se tornar na sociedade do conhecimento mundialmente mais competitiva, a Europa viu alargar-se o gap de crescimento face aos Estados Unidos e à Ásia e pouco cuidou, até recentemente, de tentar dar resposta à questão de saber quais as aptidões, competências, atitudes e valores capazes de promover uma efectiva cidadania participativa e democrática. Encontramo-nos então perante a necessidade de reflectir sobre a natureza, a apreensão e a partilha do conhecimento como determinantes centrais da promoção da cidadania activa, tendo consciência de que se cava um fosso crescente entre os que detêm o conhecimento novo, útil, competitivo… e «os outros» (Gandin, 2007). E de que, por tal razão, a educação e a formação desempenham como nunca um papel estratégico no agravar ou colmatar de tal fosso, conforme o alinhamento ideológico mais pró-neoliberal ou de justiça social dos seus estrategas e promotores. Ou seja, a produção, o acesso e a partilha do conhecimento à escala global decorrem – tal como a criação e a qualidade de emprego – da articulação entre agentes e economias de desigual capacidade política, inseridos num processo de organização internacional da produção tendencialmente desequilibrado e a via alta do desenvolvimento económico e social, na qual o rendimento e a protecção social podem ser obtidos sem comprometer os direitos e os padrões sociais dos trabalhadores. formatado pelas medidas de política económica dominantes, pesem embora as crescentes dificuldades de regulação com que estas últimas se defrontam. É neste quadro de discussão e debate generalizados que nos surgem as contribuições mais recentes com origem na Comissão Europeia: tentam conciliar as duas perspectivas extremas – a utilitarista, ou economicista, que visa promover o conhecimento e as competências transaccionáveis nos mercados de trabalho da Sociedade do Conhecimento, e a humanista, centrada no desenvolvimento integral e na promoção da Cidadania Activa. No esforço assumido para uma coordenação da regulação europeia nos aspectos de interface da 10 aprendizagem e do trabalho , algumas das instituições comunitárias, como o CRELL – Centre for Research on Lifelong Learning –, vêm procurando identificar as aptidões, competências, atitudes e valores que possam efectivamente contribuir para uma cidadania (europeia) activa e democrática, sendo consensual que o conhecimento a ser assim sucessivamente constituído deverá obter-se por recurso às aprendizagens formal, não formal e informal, num esforço coerente e consistente de integração entre aqueles domínios (Holford, 2008). Enquanto se vão ensaiando indicadores de Cidadania Activa e de Competências Cívicas, com base na produção regular do sistema estatístico europeu para constatar, quase sistematicamente, que o mesmo não contempla as dimensões nem a informação de suporte indispensáveis para estas novas abordagens… Ao reflectir sobre as combinações possíveis entre modos de trabalho e modelos de produção e partilha do conhecimento nas sociedades pós-industriais, John Bentley considera três tipos de cenários (Bentley, 2006; citado por Ruth Deakin Crick, 2008): - o da «Burnout Britain», correspondente à sociedade de mercado descrita no ponto 1., protótipo da desigualdade máxima na repartição e partilha do conhecimento, caracterizada pela oposição entre os trabalhadores da economia de serviços, de elevado estatuto remuneratório e de competências, não representando mais do que um terço do emprego mas criadores da maioria do rendimento, e os restantes trabalhadores, a maioria, desqualificados e prestadores de serviços de suporte; - o do «Freelancers Paradise», onde domina o individualismo veiculando a organização livre dos processos de trabalho pelos próprios indivíduos, bem inseridos em redes sociais, de elevado potencial criativo e onde as empresas perderão o seu protagonismo actual; - o da «Equity Island», onde conteúdos, cargas e recompensas de trabalho serão distribuídos mais equitativamente entre os indivíduos, onde estes serão portadores de qualificação e competências mais amplamente partilhadas, os períodos de trabalho e formação se escalonarão mais equilibradamente ao longo dos ciclos de vida e a medida da produtividade incluirá nos seus parâmetros de cálculo indicadores de bem-estar e de sustentabilidade social. Por muito extremada que esta proposta de cenarização nos possa surgir, ela tem a vantagem de nos mostrar que as concepções de trabalho e conhecimento, bem como as formas da interacção entre ambos, tendem a declinar-se entre duas perspectivas opostas: a neoliberal, centrada no primado do económico e do mercado; a da coesão e justiça social (a Equity Island…), que se propõe ultrapassar o dualismo das abordagens económica e social da qualificação e do conhecimento, para alguns autores alicerçada sobre a noção de metacompetência (Crick, 2008). Este último conceito, compatível com uma abordagem holística da competência tal como a propõe, designadamente, a OCDE, pode definir-se como… «the ability to successfully meet complex demands in a particular context through the mobilisation of psychosocial prerequisites [(including cognitive and non cognitive aspects as the internal mental structure in the sense of abilities (knowledge, cognitive skills, pratical skills, atitudes, emotions, values ethics and motivation), disposition or resources embedded in the individual in interaction with a specific real task or demand]» (Rychen & Salganyk, 2003: p. 43). 10 De que uma das vertentes mais conhecidas é o Espaço Europeu de Ensino Superior. Com efeito, aquela visão integradora tornar-se-á inoperante se o conhecimento a que se aceder não for capaz de estabelecer pontes permanentes entre inovação e continuidade, novas tecnologias e sua utilização crítica, capacidade para lidar com a ambiguidade e a diversidade, criar e reforçar laços comunitários, gerir a motivação e a emoção… O processo de aprendizagem conducente à constituição de metacompetências terá de ser feito à semelhança de um complex living system, na terminologia de Ruth Crick e constituirá, por isso, um enorme desafio. É certo que, face aos objectivos de operacionalidade e de coordenação dos sistemas europeus de educação e aprendizagem, se poderão ir tentando conceber e construir indicadores de educação e formação para a cidadania activa. Mas, antes de tudo, convirá que este conceito de referência esteja suficientemente apreendido e consensualizado entre os vários decisores políticos e opinion makers, antes de se passar à sua decomposição entre elementos analíticos integrantes, à tradução dos mesmos em indicadores de output, de input… e, finalmente, à dedução dos correspondentes referenciais de educação e formação, evitando-se tanto quanto possível cair na tentação de os cristalizar em quadros, ou catálogos, de nomenclaturas, isto é, de lhes retirar aquela sua ambicionada característica de sistemas vivos. Trata-se portanto, e em primeiro lugar, de um problema de acesso e apreensão do conhecimento, em moldes que permitam superar a clivagem entre os que o detêm e os outros. Mas, também, de promover o conhecimento socialmente útil, que não o useful knowledge, factor de inclusão e cidadania activa. E, ainda, de fomentar a permanente realimentação das aprendizagens, de modo a poder manter activo o sistema vivo de conhecimento na acepção de Ruth Crick. Desafios grandes, sem dúvida, face às incertezas e indefinições com que nos confrontamos e que apenas nos permitem delinear os contornos de uma prospectiva optimista. Certo é que o modelo de aprendizagem próprio da modernidade, centrado no papel nuclear e quase exclusivo da escola, entrou em crise, bem como também o modelo do trabalho industrial que com aquele se articulava numa perspectiva económico-funcionalista. A multiplicidade de formas de aprendizagem que nos chegam com a globalização não admite mais um actor central, antes convoca múltiplos planos e protagonistas numa rede que se tem por vezes designado por «aprendizagem ao largo da vida». Por sintonia, naturalmente, com a perspectiva complementar de alinhamento temporal da aprendizagem, que cada vez mais se impõe de modo a abarcar todo o ciclo de vida. Ao mesmo tempo, acentua-se a indiferença, quando não a hostilidade, face a modelos de educação e formação determinados centralmente e burocraticamente impostos: não aderem aos contextos de vida dos aprendentes, muito menos aos projectos de vida que porventura possam tecer. Percebe-se, assim, a simpatia e adesão crescentes a experiências educativas de raiz comunitária, construídas numa perspectiva de bottom up, de ampla participação e decisão dos directamente interessados. Uma educação para a cidadania terá, então, de recolher ensinamentos e acolher as lições de casos bem sucedidos de educação 11 e aprendizagem comunitárias e multiculturais, com experiências de sucesso em Portugal . Também o divórcio educação-trabalho deixou de todo de fazer sentido, quanto mais face ao propósito de construção de uma sociedade do conhecimento, ou talvez preferivelmente da aprendizagem, seja ela ou não regulada por instituições como as comunitárias. Com efeito, se já o conceito de competência, como capacidade de desempenho efectivo, dificilmente se adequava àquela clivagem, mais ainda a noção tendencial de metacompetência poderia com ela transigir: exige-se agora, como vimos, saber mobilizar conhecimentos, qualificação, mas também emoções, valores, comportamentos, para o desempenho de uma tarefa real e específica… Cada vez mais os processos de educação, aprendizagens e trabalho se constituem como subprodutos recíprocos, naturalmente articulados, se bem que as molduras institucionais, ou catalogantes, em que se inserem criem por vezes fissuras artificiais, frequentemente resistentes… 11 Ver a este respeito, e entre outros, Cortesão e Stoer (1995). Bibliografia Amable, Bruno (2003): The Diversity of Modern Capitalism, Oxford University Press. Ambrósio, Teresa (2001): Educação e Desenvolvimento: Contributo para uma mudança reflexiva na Educação, Monte da Caparica, UIED, FCT-Universidade Nova de Lisboa. 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