Análise de publicações sobre impactos das mudanças climáticas na

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Análise de publicações sobre impactos das mudanças climáticas na
Análise de Publicações Científicas
Existentes Sobre Impactos das Mudanças
Climáticas Sobre a Biodiversidade
Relatório Final (Agosto de 2012)
Contratante
Fundação Grupo Boticário de Proteção à
Natureza
Executores
Dra. Mariana Moncassim Vale e Dra. Maria
Lucia Lorini
INTRODUÇÃO
Atualmente sobram evidências de que a realidade das mudanças climáticas pelas
quais o planeta está passando é inequívoca, assim como da influência humana
nesse processo. Recentemente uma sucessão de eventos tornou as mudanças
climáticas globais uma questão de primeira ordem, sobretudo depois que o 4º
Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC
2007a) revelou que as mudanças climáticas estão bem mais aceleradas do que se
havia previsto e que as suas consequências já estão sendo sentidas. Isso não foi
uma novidade para a comunidade científica que já vinha publicando resultados
nesse sentido (Walther et al. 2005), mas foi justamente um acúmulo de evidências
que levou ao consenso atual sobre o tema.
Do mesmo modo, existe evidência convincente indicando que as mudanças
climáticas ocorridas no século XX causaram vários impactos sobre a biodiversidade
(Parmesan 2006). Além disso, várias projeções de impactos das mudanças
climáticas sobre a biodiversidade em cenários futuros desenham um panorama
preocupante (Sala 2000, MEA 2005, Leadley et al. 2010).
Em função dos graves impactos que as mudanças globais podem representar para a
diversidade biológica e para os serviços dos ecossistemas (MEA 2005, Schröter et
al. 2005, Leadley et al. 2010), que são essenciais para a manutenção da
humanidade, o conhecimento sobre a associação entre biodiversidade e mudanças
climáticas torna-se uma forte e urgente demanda da sociedade.
No caso da região Neotropical, há indícios de que a mesma experienciará mudanças
climáticas substanciais (IPCC 2007b). As previsões indicam que a porção tropical da
América do Sul, incluindo a maior parte do território brasileiro, será a região mais
afetada em termos de temperatura (Nobre et al. 2007). De fato, os impactos das
mudanças climáticas sobre a biodiversidade da região já estão sendo sentidos:
colapso de ecossistemas de corais do Caribe, retração de glaciares e páramos nos
Andes e eventos extremos de seca na Amazônia (CPTEC-INMET 2005, Francou et
al. 2005, Salazar et al. 2007, Ruiz et al. 2008, Wilkinson & Souter 2008).
Em termos da biodiversidade do Brasil, embora haja um corpo de conhecimento em
torno dos impactos das mudanças climáticas sobre as formações
florestais
brasileiras, sobretudo as amazônicas, em artigo recente Vale e colaboradores
(2009) indicaram que estudos
desses
impactos
sobre elementos da
biodiversidade do país são praticamente inexistentes. Essa lacuna de conhecimento
impossibilita a elaboração de quaisquer estratégias de adaptação às mudanças
climáticas visando à conservação da biodiversidade brasileira e, portanto, a
comunidade científica e as agências de fomento à pesquisa devem começar a
priorizar estudos dessa natureza (Vale et al., 2009).
Dentro desse contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar a publicação
existente relacionada à temática do impacto das mudanças climáticas sobre a
biodiversidade, através de uma abordagem cientométrica. Tais abordagens, além
de fornecerem um panorama geral sobre a atividade científica e permitirem
acompanhar a evolução de campos da ciência, são potencialmente úteis para
identificar particularidades na estrutura de uma área de pesquisa, lacunas e vieses
(e.g. temporais, taxonômicos, geográficos) que requerem maior atenção da
comunidade científica, bem como áreas emergentes que necessitam de maiores
suportes financeiros ou de recursos humanos para melhor progredirem (Silva 2001,
Verbeek et al., 2002). Por essa razão, os governos e as instituições de pesquisa
têm mostrado interesse em aplicar este tipo de conhecimento para subsidiar um
emprego mais apropriado dos escassos e limitados recursos de fomento. Nesse
sentido, o presente estudo visa subsidiar e fortalecer a Chamada de Apoio a
Projetos recém lançada pela Fundação Grupo Boticário, a qual se restringe a
pesquisas científicas relacionadas ao impacto das mudanças climáticas sobre
espécies e ecossistemas na região do Mosaico de Áreas Protegidas do Lagamar
(litoral do Estado do Paraná e litoral sul do Estado de São Paulo).
MÉTODOS
Para a análise das publicações relativas à temática "Mudanças Climáticas e
Biodiversidade", empregaram-se dados compilados através de protocolos de
consultas orientadas por palavras-chave em bases de dados de publicações
científicas. Na obtenção destes dados bibliométricos, que auxiliaram na coleta de
informações quantitativas sobre a produção científica na referida temática,
utilizaram-se as seguintes bases de dados: Web of Science (WoS) do Thompson
Institute for Scientific Information - ISI, SciVerse/Scopus do grupo Elsevier e
Scientific
Electronic
Library
Online
(SciELO)
do
consórcio
FAPES/BIREME/OPAS/OMS. As duas primeiras são as bases principais de pesquisa,
sendo que cada uma apresenta vantagens e desvantagens. A base WoS tem a
vantagem de fornecer dados sobre publicações na maior extensão temporal
disponível, sendo a base mais detalhada e acurada de dados científicos de artigos
peer-reviewed publicados em Inglês, além de ser a mais utilizada para análises
cientométricas e levantamentos de dados (e.g. Verbeek et al. 2002, Wilson et al.
2007, Pysek et al. 2008, Falagas et al. 2008, Gavel & Iselid 2008, Hengl et al.
2009). A WoS pode gerar relatórios de citação e ser usada para analisar os
resultados, sendo que os resultados das buscas podem ser exportados em uma
maior variedade de formatos e utilizados posteriormente para gerar relatórios. Por
sua vez, a base Scopus indexa um número maior de periódicos (Falagas et al.
2008, Gavel & Iselid 2008), com maior presença de artigos publicados em idiomas
que não o inglês. Contudo, uma das limitações da base Scopus é que a mesma não
apresenta informação completa para artigos publicados antes de 1996. Já a base
SciELO, embora muito menos abrangente, indexa periódicos sul-americanos que
não são indexados por nenhuma das duas bases anteriores.
Assim sendo, para a posterior construção do banco de dados que embasou a
análise da publicação sobre "Mudanças Climáticas e Biodiversidade", em uma
primeira etapa, foram efetuadas buscas nas três bases de dados, com vistas a
otimizar a abrangência e representatividade dos dados compilados. Aplicando a
sintaxe adequada para cada uma das três bases de dados, efetuaram-se buscas
para recuperar artigos ou revisões publicadas até agosto de 2011, que contivessem
em seus títulos, resumos ou palavras-chave as seguintes palavras de busca: (1)
"climat* change" e (3) "climat* change" e "biodiversity". Aplicamos estas
combinações de palavras de busca para recuperar publicações respectivamente
relacionadas às temáticas "Mudanças Climáticas" e "Mudanças Climáticas e
Biodiversidade", sendo que a primeira representou a temática de referência para a
análise de tendências na produção bibliográfica da segunda temática. Aplicamos
também as duas combinações acrescidas da palavra "brazil*" para recuperar os
registros que se referiam a estudos no Brasil. Relativos à temática de referência,
"Mudanças Climáticas", foram recuperados um total de 56.683 registros de
publicações na base WoS, 68.271 na Scopus e 496 na SciELO. Referentes à
temática "Mudanças Climáticas no Brasil", foram recuperados um total de 915
registros de publicações na base WoS, 485 na Scopus e 243 na SciELO.
Para a temática analisada, "Mudanças Climáticas e Biodiversidade", foram
recuperados um total de 2.936 registros de publicações na base WoS (1.797 dos
quais exclusivos apenas dessa base), 3.092 na Scopus (1.018 exclusivos) e 26 na
SciELO (16 exclusivos). No caso especial de "Mudanças Climáticas e Biodiversidade
no Brasil", foram recuperados um total de 84 registros de publicações na base
WoS, 58 na Scopus e nove na SciELO. Contudo, em "Mudanças Climáticas e
Biodiversidade", a proporção de registros recuperados sem resumo foi pequena nos
resultados compilados da WoS (cerca de 1%), mas representou uma proporção
expressiva dos resultados compilados da Scopus (mais de 50%) e da SciELO (mais
de 23%). Por esta razão, a idéia inicial de combinar os resultados recuperados nas
três bases de busca, desenhada para melhorar a abrangência e representatividade
do banco de dados, infelizmente não foi factível. Assim sendo, optamos por utilizar
apenas os dados compilados da WoS para as análises subsequentes, tendo em vista
que: (a) o número total de registros das bases WoS e Scopus foi similar e bem
superior ao da SciELO; (b) o número de registros exclusivos da WoS foi superior ao
da Scopus e SciELO e (c) boa parte dos registros recuperados da Scopus e SciELO
não apresentou resumo.
Ao final dessa primeira etapa, para avaliar as tendências de produção científica na
área de "Mudanças Climáticas e Biodiversidade", todas as publicações recuperadas
da WoS foram analisadas de acordo com: (1) ano da publicação; (2) nacionalidade
dos autores; (3) categorias de assunto (segundo a classificação da WoS) e (4)
agências financiadoras.
Em uma segunda etapa, aplicamos um processo de filtragem para eliminar do
banco de dados e das análises posteriores as publicações que de fato não eram
relevantes para o entendimento dos efeitos das mudanças climáticas em
andamento. Nesse processo, foram eliminadas as publicações que não reportavam
estudos sobre mudanças climáticas e biodiversidade propriamente, tais como
artigos sobre política ou legislação em mudanças climáticas, artigos sobre métodos
ou artigos de opinião. Do mesmo modo, também foram eliminadas publicações que
apenas comentam possíveis implicações dos resultados do estudo em cenários de
mudanças climáticas, muito embora não tratem deste tema diretamente. Como
“biodiversidade” e “mudanças climáticas” são questões muito atuais, mesmo os
estudos que não abordam essas questões diretamente tendem a contextualizar
seus resultados segundo essas temáticas. Um estudo reportando o simples
inventário de algum grupo taxonômico em uma área costeira, por exemplo, poderá
especular sobre a susceptibilidade daqueles organismos às mudanças climáticas,
através do aumento do nível do mar, mesmo que não tenha analisado essa
susceptibilidade no estudo. Há também aqueles estudos que descrevem os efeitos
das mudanças climáticas pretéritas (períodos geológicos passados) sobre a
biodiversidade. Via de regra, esses são estudos paleoecológicos ou filogeográficos
com pouca ou nenhuma implicação para o entendimento dos efeitos das mudanças
climáticas em andamento, de origem essencialmente antrópica, para a conservação
da biodiversidade do planeta. Foram mantidos, portanto, essencialmente, estudos
de caso sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre diferentes aspectos da
diversidade biológica.
Para todas as publicações selecionadas na filtragem realizamos uma análise mais
detalhada, com a leitura dos resumos para registrar alguns tipos de informação.
Inicialmente os artigos foram classificados em duas categorias de temáticas
principais: "mudanças atuais registradas e monitoramento de mudanças" e
"mudanças futuras previstas". Em seguida, classificamos as publicações segundo
suas temáticas secundárias, listadas na Tabela 1, que resultaram da subdivisão das
duas temáticas principais em diversas categorias de acordo com o aspecto da
biodiversidade tratado no artigo. Quando possível, registramos também o tipo de
ambiente do estudo (terrestre, marinho ou dulcícola), o grupo taxonômico estudado
(e.g. vertebrados, invertebrados, plantas, fungos) e a região biogeográfica do
estudo (e.g. Paleártica, Neártica, Neotropical, Afrotropical, Oriental).
Tabela 1: Classificação utilizada para determinar que mudanças na biodiversidade
são abordadas nos artigos científicos selecionados na base WoS.
Temática secundária sobre efeitos das mudanças climáticas sobre a
biodiversidade
Distribuição geográfica de espécies
Distribuição geográfica de cobertura vegetal ou de biomas
Diversidade (e.g. riqueza de espécies, composição de espécies, diversidade
filogenética etc.)
Populações e fenologia (e.g. abundância, densidade, demografia, fenologia etc.)
Morfologia (e.g. forma, tamanho ou simetria de partes do organismo etc.)
Mudanças genéticas ou moleculares (e.g. frequência gênica, diferenciação
molecular etc.)
Risco de extinção
Ecossistemas e serviços ecológicos (produtividade, polinização, biomassa etc.)
Patógenos
Invasão biológica
Identificação de indicadores biológicos
Após essa etapa de filtragem, construímos um banco de dados composto pelas 908
publicações relevantes sobre "Mudanças Climáticas e Biodiversidade" recuperadas
da base WoS até agosto de 2011. Esse primeiro banco de dados contém os
seguintes campos:
Sobre os dados de publicação: ID; Autores; Autores Extenso; Titulo; Periódico;
Tipo de Publicação; Palavras-chave; Resumo; Endereço Autor; Email Autor; Ano
da Publicação; Volume; Numero; Pagina Inicial; Pagina Final; D.O.I;
Sobre a abrangência taxonômica e geográfica da publicação: Táxon; Grupo
Taxonômico; Ambiente; Região Biogeográfica; Região Geográfica; Bioma Brasil;
Sobre a temática da publicação: Presente/Monitoramento (Atual); Futuro;
Distribuição Geográfica de Espécies (Atual); Diversidade Biológica (Atual);
Distribuição
Geográfica
de
Cobertura
Vegetal/Biomas
(Atual);
Populações/Fenologia (Atual); Morfologia (Atual); Genética/Molecular (Atual);
Risco de Extinção (Atual); Ecossistemas e Serviços (Atual); Patógenos (Atual);
Invasão Biológica (Atual); Identificação de Indicadores (Atual); Distribuição
Geográfica de Espécies (Futuro); Diversidade Biológica (Futuro); Distribuição
Geográfica de Cobertura Vegetal/Biomas (Futuro); Populações/Fenologia
(Futuro); Morfologia (Futuro) Genética/Molecular (Futuro); Risco de Extinção
(Futuro); Ecossistemas e Serviços (Futuro); Patógenos (Futuro); Invasão
Biológica (Futuro); Identificação de Indicadores (Futuro).
Em uma terceira etapa adicional, no caso especial da temática "Mudanças
Climáticas e Biodiversidade no Brasil", para assegurar a abrangência e
representatividade das publicações, efetuamos nova busca nas três bases de dados,
para recuperar artigos ou revisões publicadas até junho de 2012, que contivessem
em seus títulos, resumos ou palavras-chave as seguintes palavras de busca:
"climat* change" e "biodiversity" e "brazil*". Nessa nova busca foram recuperados
um total de 104 registros de publicações na base WoS (73 dos quais exclusivos
apenas dessa base), 66 na Scopus (35 exclusivos) e 14 na SciELO (7 exclusivos).
Após retiradas todas as repetições, o conjunto de publicações relativas à temática
"Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" totalizou 146 artigos ou revisões.
Realizamos sobre essas 146 publicações um processo de filtragem para eliminar do
banco de dados e das análises posteriores aquelas que de fato não eram relevantes
para a temática em questão. Nesse processo foram eliminadas apenas as
publicações que não estavam relacionadas a mudanças climáticas no Brasil. Nessa
última etapa, a classificação de relevância das publicações foi mais liberal que a
classificação feita para os trabalhos dentro da temática mais ampla (que derivou
apenas da base WoS), uma vez que foi incluída dentro das temáticas a categoria
"Outros". Essa categoria abrange publicações não diretamente relevantes para a
temática de mudanças climáticas e biodiversidade no Brasil, tais como artigos
reportando estudos sobre mudanças climáticas pretéritas, sobre política em
mudanças climáticas e revisões cientométricas.
Dessas, apenas 51 publicações (35%) foram consideradas relevantes para a
temática em questão, sendo que 19 delas já tinham sido retornados na busca na
WoS e já constavam do primeiro banco de dados. A vasta maioria dos artigos
considerados não relevantes simplesmente reportam estudos que não tem
absolutamente nada a ver com mudanças climáticas no Brasil. Aos 51 artigos
selecionados como relevantes foram adicionados mais oito artigos que, embora
relevantes para a temática, não apareceram nos resultados da busca. Como as
autoras do presente relatório acompanham a literatura pertinente, puderam
adicionar esses relevantes artigos. Um exemplo é o artigo de Souza et al. (2011),
uma publicação das próprias autoras desse relatório, sobre a redistribuição de Aves
endêmicas e ameaçadas da Mata Atlântica em cenários de mudanças climáticas
futuras. Esse artigo não utiliza a palavra "Brazil" ou "Brazilian" no título, resumo ou
palavras-chave e por isso, não apareceu no resultado da busca. Ao todo, portanto,
trabalhamos com um universo de 59 artigos relevantes para a temática de
mudanças climáticas e biodiversidade no Brasil.
Assim sendo, construímos um segundo banco de dados composto pelos 59
trabalhos relevantes sobre "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil"
publicados até junho de 2012. Esse banco de dados contém os mesmos campos do
primeiro banco, já listados anteriormente, além de alguns campos adicionais sobre
os dados de publicação (Relevante; Linguagem; Número de Citações; Fator de
Impacto do Periódico) e sobre a temática da publicação (Outros).
O número de citações das publicações foi obtido junto às bases WoS e Scopus. O
Fator de Impacto dos periódicos teve como o ano base 2011, segundo os
indicadores ISI Web of Knowledge – Journal Citation Report (JCR), Scopus Elsevier
- SCImago Journal Rank (SJR) e SciELO Journal Citation Report.
RESULTADOS
Tendências e padrões da produção científica sobre "Mudanças Climáticas e
Biodiversidade"
Tendências de publicação
De acordo com os nossos critérios de busca na base WoS, foram recuperados
56.683 registros de artigos relacionados à área de "Mudanças Climáticas" e
publicados entre janeiro de 1945 e agosto de 2011, sendo 1947 o ano de
publicação do primeiro artigo encontrado. Para "Mudanças Climáticas no Brasil",
recuperamos 915 registros, o primeiro publicado em 1991. Neste mesmo período
nós recuperamos 2.936 registros de artigos relacionados à área de "Mudanças
Climáticas e Biodiversidade", dos quais o primeiro artigo foi publicado apenas em
1990. Já para a área de "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil"
encontramos 84 artigos, sendo o primeiro registrado somente em 1997.
Como a história total da produção acadêmica em "Mudanças Climáticas e
Biodiversidade" é principalmente restrita às duas últimas décadas, nós analisamos
as tendências de publicação focalizando nos artigos publicados entre 1990 e 2010.
Neste intervalo de tempo, encontramos um total de 50.153 artigos publicados em
"Mudanças Climáticas", 754 em "Mudanças Climáticas no Brasil", 2.472 em
"Mudanças Climáticas e Biodiversidade" e 71 em "Mudanças Climáticas e
Biodiversidade no Brasil". Durante este período, todas as áreas mostraram uma
tendência de crescimento exponencial (Figuras 1, 2, 3 e 4). Pode ser observado na
Figura 1 que em "Mudanças Climáticas" a produção global passou de menos de
0,4% (181 artigos) em 1990 para mais de 16,5% em 2010 (8.423 artigos). A taxa
de crescimento anual média ficou em torno de 1,2 e picos na produção global, que
podem ser identificados quando o aumento da publicação em um determinado ano
ultrapassa a taxa média, ocorreram em 1991 (2,7), 1995 (1,3), 2007 (1,3) e 2008
(1,3). Em "Mudanças Climáticas no Brasil", a produção global cresceu de 0,4%
(três artigos) em 1991 para mais de 18% (142 artigos) em 2010, com uma taxa de
crescimento anual média de 1,4 e apresentando picos na produção em 1993 (4,9),
1995 (2,8), 1998 (1,6), 2001 (1,7), 2005 (1,4) e 2008 (1,6) (Figura 2). A
tendência de crescimento exponencial é ainda mais forte para a área de "Mudanças
Climáticas e Biodiversidade", onde a produção global passou de 0,04% (um artigo)
em 1990 para 25% (618 artigos) em 2010 (Figura 3). A área apresentou uma taxa
de crescimento anual média de 1,6 e identificamos picos na produção em 1991
(8,0), 1998 (1,9) e 2008 (1,6). A Figura 4 mostra a evolução da produção global
em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil", que começa apenas em 1997
com pouco mais de 1% (um artigo), permanece com menos de 2,5% (dois artigos)
até 2004 e atinge mais de 26% (22 artigos) em 2010. A taxa de crescimento anual
média atingiu 1,4 e picos na produção ocorreram em 2000 (2), 2005 (3,5), 2008
(2) e 2009 (2,8).
Apenas para a análise de tendência, foram examinados também os resultados após
o processo de filtragem dos artigos. Considerando somente as publicações filtradas
após a análise dos resumos, isto é, aquelas que de fato tratavam dos efeitos das
mudanças climáticas sobre a biodiversidade, o total de registros recuperados pela
pesquisa na base de dados WoS caiu de 2.936 para 908. No período de 1990 a
2010, este total passou de 2.472 para 716 publicações. Verificou-se, portanto, que
a pesquisa superestimou a produção científica sobre "Mudanças Climáticas e
Biodiversidade", já que a leitura dos abstracts demonstrou que 2/3 dos artigos
selecionados utilizando as palavras de busca “climat* change” e “biodiversity” não
são relevantes para o entendimento dos efeitos das mudanças climáticas em
andamento para a conservação da biodiversidade. Dentre as 716 publicações
selecionadas, o primeiro artigo foi publicado em 1991, ano em que a produção
global alcança 0,1% (um artigo), mantendo-se inferior a 0,4% (entre um e quatro
artigos) até 1997 e atingindo mais de 27% (249 artigos) em 2010 (Figura 5). A
taxa de crescimento anual média manteve-se em 1,6 e os picos na produção
ocorreram em 1992 (2), 1998 (6), 2001 (1,7), 2003 (2,1), 2006 (1,7), 2008 (2) e
2010 (3,5). Assim sendo, embora a produção científica sobre "Mudanças Climáticas
e Biodiversidade" tenha sido superestimada quando analisamos os resultados da
busca geral sem a filtragem, a tendência geral de produção na área não apresentou
modificações expressivas. Por outro lado, a produção em "Mudanças Climáticas e
Biodiversidade no Brasil" após a filtragem dos 84 registros recuperados da base
WoS diminui expressivamente, sendo encontradas apenas 17 publicações. Entre
1990 e 2010, este total passa a 14 artigos, que estão distribuídos apenas entre os
anos de 2007 (~11%, dois artigos), 2008 (~11%, dois artigos), 2009 (~17%, três
artigos) e 2010 (~39%, sete artigos). A taxa de crescimento anual média passa a
ser de 1,6 e um pico na produção é identificado em 2010 (2,3).
Já com base nos resultados da segunda busca, que foi bem mais abrangente e
combinou as bases WoS, Scopus, SciELO e publicações adicionadas pelas autoras,
foi possível indicar que o número de trabalhos relevantes para "Mudanças
Climáticas e Biodiversidade no Brasil" e publicados até junho de 2012 totaliza 59.
Evidencia-se que a produção inicia já em 2001 (~3%, dois artigos), mas é nula em
2002 e permanece abaixo dos 7% entre 2003 e 2008, crescendo para cerca de
17% em 2009 e para mais de 20% em 2010 e 2011 (Figura 6). A taxa de
crescimento anual média entre 2004 e 2011 alcança 1,5 e apresenta um pequeno
pico na produção em 2005-2006 (2) e um pico mais importante em 2009 (2,5).
Distribuição geográfica dos autores das publicações
Os artigos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade" e presentes na
base WoS até 2011 (n = 2.936) foram produzidos por autores oriundos de 125
países diferentes. No entanto, mais do que 20% dos artigos produzidos neste
tópico foram desenvolvidos por autores dos Estados Unidos da América, como pode
ser observado na Figura 7. Apenas seis países (EUA, Inglaterra, Austrália,
Alemanha, Canadá e França) são responsáveis em conjunto por mais de 53% de
toda a publicação na área. A contribuição de autores do Brasil ocupa a 14ª posição
na produção global de artigos em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade". Já os
artigos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" até 2011 (n
= 84), foram produzidos por autores de 31 países (Figura 8). A primeira posição
total desta produção é ocupada pelo Brasil (45,2%), a segunda pelos Estados
Unidos da América (38,1%) e a terceira pela Inglaterra (13,1%), sendo que juntos
estes três países representam mais de 58% de toda a publicação neste tópico.
Assuntos das publicações
De acordo com a categorização estabelecida pela Web of Science, as 2.936
publicações referentes a "Mudanças Climáticas e Biodiversidade" e presentes na
base WoS até 2011 estão relacionadas a 114 categorias de assuntos. Ecologia
(24,6%) ocupa a primeira posição entre os assuntos listados, seguida por Ciências
Ambientais (18,5%) e Conservação da Biodiversidade (10,2%), sendo que os três
assuntos em conjunto correspondem a mais de 53% dos registros (Figura 9). A
grande maioria dos assuntos listados pertence às Ciências Biológicas, às
Geociências ou às Ciências Multidisciplinares. O mesmo padrão é apresentado pelas
84 publicações referentes a "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" e
presentes na base até 2011, sendo que estas se encontram relacionadas a 34
categorias de assuntos. As três categorias de assuntos mais freqüentes são
Ecologia, Ciências Ambientais e Conservação da Biodiversidade, que mantêm a
mesma posição no ranking e juntos representam quase 50% dos registros (Figura
10).
Agências financiadoras dos estudos
Mais de 1.000 agências financiadoras foram relacionadas como apoiadoras de
estudos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade", que estavam
presentes na base WoS até 2011 (n = 2.936). As cinco primeiras posições entre as
agências financiadoras mais citadas são ocupadas pelas seguintes instituições: US
National Science Foundation (US NSF), European Union, European Commission,
Australian Research Council e Natural Environment Research Council (Figura 11).
Dentre estas, a US NSF destaca-se na primeira posição, representando mais de 5%
dos registros (n=151). Entre os 50 apoiadores mais citados encontram-se duas
agências brasileiras, o CNPq (n = 12) e a CAPES (n = 8), que respectivamente
representam 0,4% e 0,3% dos registros e ocupam a 11ª e a 19ª posição. Para os
estudos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" e
presentes na base até 2011 (n = 84), foram citadas mais de 100 agências
financiadoras, entre as quais o CNPq (n = 10) e a CAPES (n = 7) ocupam a
primeira e a segunda posição e em conjunto representam mais de 20% dos
registros (Figura 12). Já com base nos resultados filtrados da segunda busca (bases
WoS, Scopus, SciELO e publicações adicionadas pelas autoras,), que incluíram os
59 trabalhos relevantes para a temática de "Mudanças Climáticas e Biodiversidade
no Brasil" publicados até junho de 2012, foi possível identificar mais de 60 agências
financiadoras, das quais 24 foram citadas em mais de uma publicação. Mais uma
vez, o CNPq (n = 25) e a CAPES (n = 20) aparecem na primeira e na segunda
posições, correspondendo a quase 30% dos registros (Figura 13). Em todas as
áreas, as instituições financiadoras foram preponderantemente agências de
fomento governamental.
Figura 1. Tendência de produção de artigos científicos publicados em "Mudanças Climáticas" ao longo das últimas duas décadas (1990-2010). Os dados foram obtidos junto
à base de dados Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" (n = 50.153). O número de artigos é apresentado entre parênteses.
As setas indicam os picos de publicação.
Figura 2. Tendência de produção de artigos científicos publicados em "Mudanças Climáticas no Brasil" ao longo das últimas duas décadas (1990-2010). Os dados foram
obtidos junto à base de dados Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "brazil*" (n = 754). O número de artigos é
apresentado entre parênteses. As setas indicam os picos de publicação.
Figura 3. Tendência de produção de artigos científicos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade" ao longo das últimas duas décadas (1990-2010). Os dados
foram obtidos junto à base de dados Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" (n = 2.472). O número de
artigos é apresentado entre parênteses. As setas indicam os picos de publicação.
Figura 4. Tendência de produção de artigos científicos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" ao longo das últimas duas décadas (1990-2010). Os
dados foram obtidos junto à base de dados Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" e "Brazil*" (n = 71). O
número de artigos é apresentado entre parênteses. As setas indicam os picos de publicação.
Figura 5. Tendência de produção de artigos científicos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade" ao longo das últimas duas décadas (1990-2010). Os dados
foram obtidos junto à base de dados Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" e então filtrados após a leitura
dos abstracts para reter apenas as publicações relevantes (n = 716). O número de artigos é apresentado entre parênteses. As setas indicam os picos de publicação.
Figura 6. Tendência de produção de artigos científicos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" ao longo da última década (2001-2011). Os dados
foram obtidos junto às bases de dados WoS, Scopus e SciELO com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" e "Brazil*" e então filtrados após a
leitura dos abstracts para reter apenas as publicações relevantes (n = 59). O número de artigos é apresentado entre parênteses. As setas indicam os picos de publicação.
Figura 7. Países dos autores que publicaram os artigos em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade" até 2011. Os dados foram obtidos junto à base de dados Web of
Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" (n = 2.936). O número de artigos é apresentado entre parênteses. Uma vez
que os artigos podem ser publicados conjuntamente entre autores de diferentes países, o somatório dos artigos considerando cada país é maior do que o total obtido pela
nossa busca.
Figura 8. Países dos autores que publicaram os artigos em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" até 2011. Os dados foram obtidos junto à base de dados Web
of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" e "Brazil*" (n = 84). O número de artigos é apresentado entre parênteses.
Uma vez que os artigos podem ser publicados conjuntamente entre autores de diferentes países, o somatório dos artigos considerando cada país é maior do que o total
obtido pela nossa busca.
Figura 9. Categorias de assuntos relacionadas aos artigos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade" até 2011. Os dados foram obtidos junto à base de dados
Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" (n = 2.936). O número de artigos é apresentado entre parênteses.
Uma vez que os artigos podem ser relacionados a mais de uma categoria de assunto, o somatório dos artigos em cada assunto é maior do que o total obtido pela nossa
busca.
Figura 10. Categorias de assuntos relacionadas aos artigos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" até 2011. Os dados foram obtidos junto à base
de dados Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" e "Brazil*" e (n = 84). O número de artigos é apresentado
entre parênteses. Uma vez que os artigos podem ser relacionados a mais de uma categoria de assunto, o somatório dos artigos em cada assunto é maior do que o total
obtido pela nossa busca.
Figura 11. Agências financiadoras de estudos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade" até 2011 e citadas em mais de 0,25% das publicações (oito artigos). Os
dados foram obtidos junto à base de dados Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" (n = 2.936). O número
de artigos apoiados é apresentado entre parênteses.
Figura 12. Agências financiadoras de estudos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" até 2011 e citadas em mais de um artigo. Os dados foram
obtidos junto à base de dados Web of Science® (Thomson ISI) com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" e "Brazil*" (n = 84). O número de
artigos apoiados é apresentado entre parênteses.
Figura 13. Agências financiadoras de estudos publicados em "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no Brasil" até 2012 e citadas em mais de um artigo. Os dados foram
obtidos junto às base de dados WoS, Scopus e SciELO com a combinação de palavras-chaves "climat* change" e "biodiversity" e "Brazil*" e então filtrados após a leitura dos
abstracts para reter apenas as publicações relevantes (n = 59). O número de artigos apoiados é apresentado entre parênteses.
Conteúdo dos estudos sobre "Mudanças Climáticas e Biodiversidade"
Temáticas
Das publicações selecionadas após a filtragem (n = 908), a maioria dos artigos foi
classificada como estudos sobre mudanças futuras previstas (ver Banco de Dados
Final). Foram 580 artigos classificados como mudanças futuras previstas e 386
como mudanças atuais registradas e monitoramento. A soma desses artigos (966)
supera os 908 artigos selecionados, pois alguns abordam tanto mudanças atuais
como futuras. Assim, 60% dos 966 casos foram classificados como mudanças
futuras previstas e 40% como mudanças atuais registradas e monitoramento. O
mesmo acontece com os 17 artigos que tratam de mudanças climáticas e
biodiversidade e Brasil, com 12 artigos classificados como mudanças futuras
previstas e 6 como mudanças atuais registradas e monitoramento.
As temáticas mais estudadas foram a “distribuição geográfica de espécies” (315
artigos), “populações e fenologia” (266 artigos), “ecossistemas e serviços” (255
artigos) e “risco de extinção” (157 artigos) (Figura 14, Anexo 1a). Essas quatro
temáticas se mantêm como as mais importantes quando analisamos
separadamente os estudos de mudanças atuais registradas e monitoramento e os
estudos de mudanças futuras previstas, embora com porcentagens ligeiramente
diferentes (Anexo 1a). Um quadro similar também se mantém quando analisamos
apenas os 17 artigos que abordam mudanças climáticas e biodiversidade e Brasil,
onde as temáticas mais estudadas foram a “distribuição geográfica de espécies” (7
artigos), “ecossistemas e serviços” (6 artigos), “diversidade biológica” (3 artigos) e
“populações e fenologia” (2 artigos), e “risco de extinção” (2 artigos) (Anexo 2).
Figura 14. Temáticas abordadas nos estudos que tratam de mudanças climáticas e
biodiversidade na base de dados WoS (ver Anexo 1 para maiores detalhes).
Regiões Biogeográficas
Nem todos os estudos são espacialmente explícitos, ou seja, são conduzidos em ou
abordam regiões geográficas específicas. Estudos experimentais em laboratório ou
mesmo in situ, por exemplo, são geralmente específicos no que diz respeito ao
táxon, mas não necessariamente no que diz respeito à região geográfica a que o
resultado se aplica. O mesmo pode acontecer com estudos de modelagem
matemática que procuram identificar respostas de fenômenos biológicos às
mudanças climáticas. Dentre os 908 estudos avaliados, 30% não eram
espacialmente explícitos ou não reportaram a região geográfica do estudo no
resumo. A maioria dos estudos que explicitam a região geográfica estudada foi
realizada na região Paleártica (35% dos casos), seguida da região Neártica (16%),
de estudos em escala global (12%), da região Neotropical (10%), Afrotropical
(8%), da região Oriental (4%) e das regiões polares (4%) (Figura 15, Anexo 3)1.
Embora a região Paleártica englobe a Europa, o norte da África, o Oriente Médio e a
porção norte da Ásia, a maioria dos estudos nessa região (86% dos casos) foi
realizada na Europa1. Na região Neotropical, a maioria dos estudos refere-se à
América do Sul (60% dos casos), seguida da América Central e México (36%) e um
número muito reduzido de estudos no Caribe (4%). Entre os biomas brasileiros
existem nove registros para a Amazônia, quatro para o Cerrado, três para a Mata
Atlântica e um para o Pantanal (Figura 16).
Figura 15. Região biogeográfica abordada nos estudos que tratam
de mudanças climáticas e biodiversidade na base de dados WoS (ver
Anexo 3 para maiores detalhes)1.
1
Para um mapa das regiões biogeográficas em questão, visitar
http://www.ensam.inra.fr/cbgp/spmweb/img/Biogeographic.gif
Figura 16. Biomas brasileiros abordados nos 17 estudos que tratam
de mudanças climáticas e biodiversidade no Brasil na base de WoS.
Grupos Taxonômicos e Ambientes
A maioria dos estudos ambiente-específicos abordou ambientes terrestres (71%
dos casos), seguido de ambientes marinhos (20%) e ambientes dulcícolas (9%). A
maioria dos estudos táxon-específicos abordou animais (55% dos casos), seguido
de plantas (43%) e um número muito reduzido de estudos com micro-organismos e
fungos (2%) (Figura 17, Anexo 4). Nos estudos com animais, há equilíbrio entre
estudos com invertebrados e vertebrados (53% e 47% dos casos,
respectivamente). Dentro desses grupos, no entanto, há uma clara preponderância
por determinados táxons (Figura 18, Figura 19). Entre os vertebrados há uma
preponderância por Aves, enquanto que entre os invertebrados há uma
preponderância por artrópodes, mais especificamente por borboletas em ambientes
terrestres e por cnidários (corais) em ambientes marinhos. Há também uma clara
preponderância pelos vegetais superiores (plantas com sementes, 52% dos casos)
em detrimento dos vegetais inferiores (algas, musgos e samambaias, 15% dos
casos). Os demais são estudos sobre mudanças na cobertura vegetal (45% dos
casos), incluindo necessariamente vegetais superiores e inferiores. Há, além disso,
um número muito grande de estudos que não especificam o grupo taxonômico
estudado, definindo-o apenas como “plants” no resumo. Se esses resumos fossem
classificados como estudos com vegetais superiores, como muito provavelmente o
são, a dominância deste grupo chegaria a quase 80% dos casos (Figura 20).
Figura 17. Grandes grupos taxonômicos abordados nos estudos que
tratam de mudanças climáticas e biodiversidade na base de dados
WoS (ver Anexo 4 para maiores detalhes).
Figura 18. Vertebrados abordados nos estudos que tratam de
mudanças climáticas e biodiversidade na base de dados WoS (ver
Anexo 4 para maiores detalhes).
Figura 19. Invertebrados abordados nos estudos que tratam de
mudanças climáticas e biodiversidade na base de dados WoS (ver
Anexo 4 para maiores detalhes).
Figura 20. Grandes grupos de plantas abordados nos estudos que
tratam de mudanças climáticas e biodiversidade na base de dados
WoS (ver Anexo 4 para maiores detalhes).
Conteúdo dos estudos sobre "Mudanças Climáticas e Biodiversidade no
Brasil"
Temáticas
Das publicações selecionadas após a filtragem (n = 59), a maioria dos artigos foi
classificada como "outros estudos" (n = 31), seguido de "mudanças futuras
previstas" (n = 19) e "mudanças atuais registradas e monitoramento" (n = 11). A
soma desses artigos supera os 59 artigos selecionados, pois um deles aborda tanto
mudanças atuais como futuras.
Todos os 31 artigos classificados como "outros estudos" são registros novos, ou
seja, não tinham sido selecionados na análise anterior usando apenas a base WoS.
Desses, 39% (n = 12) tratam de mudanças climáticas pretéritas, geralmente
associadas a estudos filogeográficos ou de caracterização de clima no passado
geológico; 26% (n = 8) tratam de política de mudanças climáticas, sobretudo
políticas relacionadas com a "Redução de Emissões por Desmatamento e
Degradação" (REED, na sigla em inglês); 19% (n = 6) são revisões sobre temas
ligados a mudanças climáticas; 19% (n = 6) são estudos focados em fatores
abióticos, como regime de fogo e emissão de CO2 por desmatamento; e 10% (n =
3) tratam de questões metodológicas em estudos de mudanças climáticas em geral.
Mais uma vez, a soma desses artigos supera os 31 artigos classificados como
"outros estudos", pois um mesmo artigo pode tratar de mais de um assunto.
Apenas cinco dos 19 artigos classificados como "mudanças futuras previstas" são
registros novos. As temáticas mais estudadas dentre esses 19 artigos são
“distribuição geográfica de espécies” (68,4%), "diversidade biológica" (37%),
“ecossistemas e serviços” (16%) e "distribuição geográfica de cobertura
vegetal/biomas" (10%). Também apenas cinco dos 11 artigos classificados como
"mudanças atuais registradas e monitoramento" são registros novos. As temáticas
mais estudadas, dentre esses 11 artigos, são "diversidade biológica" (36%),
“distribuição geográfica de espécies” (27%) e "distribuição geográfica de cobertura
vegetal/biomas" (18%) (Figura 21, Anexo 1b).
Figura 21. Temáticas abordadas nos estudos que tratam de mudanças climáticas e
biodiversidade no Brasil nas bases WoS, Scopus e SciELO (ver Anexo 1b para maiores
detalhes).
Biomas brasileiros
Todos os 59 artigos considerados relevantes para a temática de mudanças
climáticas no Brasil tratam, pelo menos em parte, de questões pertinentes ao nosso
país. Nem todos os estudos são espacialmente explícitos, ou seja, são conduzidos
em ou abordam regiões geográficas específicas. Além disso, dentre os
espacialmente explícitos, nem todos tratam de um bioma em específico. Dentre os
59 artigos avaliados, 34% não eram espacialmente explícitos ou não tratam de um
bioma em específico. Dentre os 39 estudos que abordam biomas específicos, 11
tratam da Amazônia, 14 da Mata Atlântica, 11 do Cerrado, três da Caatinga, um
dos Pampas e um do Pantanal. Essa distribuição é algo similar à distribuição
encontrada usando apenas a busca por artigos na base WoS (Figura 16). A soma
dos artigos por bioma excede o total de 39 artigos porque alguns tratam de mais
de um bioma ao mesmo tempo. As figuras 22, 23 e 24 apresentam os biomas
segundo a temática principal do estudo ("outros estudos", "mudanças futuras
previstas" e "mudanças atuais e monitoramento", respectivamente).
Figura 22. Biomas abordados nos 19 artigos que
tratam de biomas específicos e foram classificados
como "outros estudos" sobre mudanças climáticas e
biodiversidade no Brasil, nas bases WoS, Scopus e
SciELO.
Figura 23. Biomas abordados nos 13 artigos que
tratam de biomas específicos e foram classificados
como "mudanças futuras previstas" sobre mudanças
climáticas e biodiversidade no Brasil, nas bases
WoS, Scopus e SciELO.
Figura 24. Biomas abordados nos 8 artigos que
tratam de biomas específicos e foram classificados
como
"mudanças
atuais
registradas
e
monitoramento" sobre mudanças climáticas e
biodiversidade no Brasil, nas bases WoS, Scopus e
SciELO.
Grupos Taxonômicos e Ambientes
A vasta maioria dos artigos ambiente-específicos (n = 58) abordou ambientes
terrestres (90% dos artigos, n = 52), seguido de ambientes marinhos (5%, n = 3)
e ambientes dulcícolas (2%, n =1). Esse padrão é similar ao que foi encontrado em
âmbito internacional com a busca utilizando apenas a base de dados WoS, embora
a preponderância de estudos em ambientes terrestres seja ainda mais acentuada
nos estudos que lidam com o Brasil. Nos artigos apresentando estudos táxonespecíficos (n = 33) há equilíbrio entre estudos com animais e estudos com plantas
e não houve estudos com micro-organismos e fungos. Nos artigos com animais (n
= 16), 25% tratam de invertebrados e 75% de vertebrados. Isso difere do padrão
de publicação em âmbito internacional, encontrado para a busca utilizando apenas
a base de dados WoS, onde há um equilíbrio entre estudos com invertebrados e
vertebrados, impulsionado pelo grande número de estudos com borboletas, que
está totalmente ausente nos estudos em âmbito nacional. Dentre os artigos que
reportam estudos com vertebrados há uma clara preponderância de estudos com
aves (n = 7), enquanto os demais grupos (mamíferos, répteis e anfíbios) contam
com apenas um ou dois artigos cada. Esse padrão é similar ao encontrado nas
publicações em âmbito internacional a partir da base WoS. Dentre os artigos com
plantas (n = 18), aqueles que reportam o táxon estudado (n = 9) mostram uma
preponderância de estudos com vegetais superiores (n = 7), com apenas um
estudo abordando vegetais inferiores (macroalgas) e quatro abordando cobertura
vegetal. Há, além disso, um número relativamente grande de estudos que não
especificam o grupo taxonômico estudado (n = 7), definindo-o apenas como
“plants” no resumo. Se esses resumos fossem classificados como estudos com
vegetais superiores, como muito provavelmente o são, a dominância deste grupo
chegaria a quase 80% dos estudos.
DISCUSSÃO E RECOMENDAÇÕES
É importante destacar que o panorama apresentado aqui sobre a publicação em
“Mudanças Climáticas” e “Mudanças Climáticas e Biodiversidade” não representa
uma revisão abrangente e definitiva destes campos emergentes. Abordagens
cientométricas e bibliométricas, embora de grande utilidade para fornecer uma
visão geral de tendências de produção científica, apresentam algumas limitações.
Se por um lado a pesquisa na base Web of Science (Thompson ISI) superestimou a
produção científica dos campos analisados, considerando que de 2.936 registros
recuperados para “Mudanças Climáticas e Biodiversidade” foram selecionados como
relevantes apenas 908 artigos, por outro a pesquisa também subestimou a
produção, por duas razões. Em primeiro lugar, a base WoS não inclui diversas
revistas científicas de circulação regional, especialmente aquelas de países em
desenvolvimento que, via de regra, estão em regiões tropicais e, portanto, acolhem
uma porção desproporcionalmente grande da biodiversidade mundial. O artigo de
Vale et al. (2009) é um bom exemplo, pois esta publicação não foi recuperada pela
busca na base WoS, mas foi recuperada na base Scopus. Já o artigo de Siqueira et
al. (2009) ilustra um caso onde a produção seria subestimada, uma vez que não foi
recuperado em nenhuma das bases pesquisadas (WoS, Scopus e SciELO). Em
segundo lugar, uma busca utilizando as palavras “mudanças climáticas” e
“biodiversidade” não detectará aqueles artigos científicos que, embora abordem o
tema, não utilizam a palavra “biodiversidade” em seu abstract ou título. Um artigo
sobre a mudança registrada na fenologia de determinada planta em resposta às
mudanças climáticas em andamento, por exemplo, pode não empregar a palavra
“biodiversidade”, mas é, sem dúvida, um estudo sobre os efeitos das mudanças
climáticas sobre a biodiversidade. Dessa forma, estudos estritamente bibliométricos
sobre a produção científica em mudanças climáticas e biodiversidade, como por
exemplo, Siqueira et al. (2009) e Vale et al. (2009), devem ser interpretados com
cautela, pois provavelmente superestimam a produção científica. Esses estudos, no
entanto, mostram bem a tendência no aumento da produção científica sobre essa
temática ao longo dos últimos anos, confirmada pelas análises (Figuras 1, 2, 3, 4 e
5). Os resultados demonstram, por exemplo, que no início da década de 90, a
porcentagem anual da publicação em mudanças climáticas e biodiversidade
representava menos de 1% da produção global sobre mudanças climáticas,
enquanto que em 2010 este percentual ultrapassou 7,4%.
Em termos das características das publicações analisadas, o artigo típico sobre
mudanças climáticas e biodiversidade encontrado na nossa busca reporta um
estudo prevendo os efeitos das mudanças climáticas futuras (64% dos estudos)
sobre a distribuição geográfica (22%) de um invertebrado (20% dos estudos),
provavelmente uma borboleta, na Europa (32% dos estudos). A partir de nossa
pesquisa das lacunas de conhecimento sobre os possíveis efeitos das mudanças
climáticas sobre a biodiversidade, sugerem-se algumas linhas de pesquisa
prioritárias. Existe uma tendência clara para estudos que prevêem, através de
modelagem, os efeitos das mudanças climáticas sobre diferentes aspectos da
biodiversidade, principalmente mudanças na distribuição geográfica de espécies e
biomas. Essa tendência já havia sido encontrada em Siqueira et al. (2009) e foi
confirmada aqui. Esses estudos são muito populares, pois podem ser desenvolvidos
a partir de bases de dados digitais já existentes, muitas vezes de acesso público,
como registros de ocorrência de espécies e variáveis ambientais em sistema de
informação geográfica para os diferentes cenários de emissão de gases de efeito
estufa do Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na
sigla em inglês). A modelagem de distribuição, portanto, “pede” para ser
desenvolvida. Visto que mesmo essa categoria mais popular de estudos é rara para
os biomas e espécies brasileiras, em parte apenas por falta de capacitação dos
profissionais em biologia da conservação no país, este tipo de estudo deve ser
estimulado, muito embora haja debate sobre as incertezas, os pressupostos
adjacentes e o poder de previsibilidade desse tipo de modelagem (e.g. Araújo &
Rahbek 2006, Jackson et al. 2009, Wiens et al. 2009).
Outro tipo de estudo, no entanto, que pode gerar informações importantes e não
apresenta tantos desafios metodológicos ou financeiros, são estudos experimentais,
como por exemplo estudos em micro-cosmos. Esses estudos são praticamente
ausentes da produção científica nacional. Estudos experimentais têm a
oportunidade de gerar dados empíricos sobre os possíveis efeitos das mudanças
climáticas sobre elementos da biodiversidade brasileira. Esses experimentos, em
geral, manipulam as condições de temperatura, umidade ou concentração de CO 2,
segundo o que se espera em cenários de mudanças climáticas, e observam as
respostas de espécies ou comunidades a essas condições. Os experimentos podem
ser conduzidos tanto no campo como em laboratório, embora manipulações em
laboratório sejam, geralmente, mais factíveis. Experimentos dessa natureza são
conduzidos, em geral, com plantas ou com animais pequenos e de vida curta (por
exemplo, comunidade macroinvertebrados ou zooplâncton), ou com experimentos
em microcosmos. Uma limitação desses estudos, no entanto, é que são conduzidos
em escala local e a aplicabilidade desses resultados experimentais para a escala
global pode ser limitada (e.g. Thuiller, 2007). Além disso, muitas vezes nesses
experimentos existe muita dificuldade para separar os impactos de mudança
climática daqueles advindos de outras ameaças, bem como para controlar o
ambiente não-manipulado circundante, quando são conduzidos in situ.
Finalmente, uma terceira categoria de estudos que pode gerar informações muito
confiáveis, mas que apresenta vários desafios tanto metodológicos quanto
financeiros consiste em monitoramentos de longa duração. Esses estudos têm o
potencial de registrar respostas da biodiversidade às mudanças climáticas que já
estão em andamento e são virtualmente ausentes no Brasil. O monitoramento da
biodiversidade está previsto na Convenção Sobre Diversidade Biológica, na qual o
Brasil é país signatário. Uma dificuldade inerente a esse tipo de monitoramento é a
necessidade de um aporte constante de financiamento e pessoal, razão pela qual
esse tipo de estudo deve ser conduzido por instituições ou organizações, ou se não,
por um laboratório de pesquisa bem estabelecido, com financiamento garantido
para esse fim por instituições ou organizações. Outro desafio desta categoria de
estudos é o desenho apropriado. Existem alguns estudos de longo prazo em
andamento no Brasil, como por exemplo, aqueles associados ao Programa de
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) do CNPq. Esses estudos, no
entanto, não foram desenhados para monitorar respostas às mudanças climáticas e
por isso não são, necessariamente, capazes de responder questões relacionadas a
essa temática. Nem todos, por exemplo, contam com uma estação meteorológica
que permita fornecer dados climáticos que possam ser correlacionados com
mudanças observadas na biodiversidade. Esses estudos, no entanto, são de suma
importância para o entendimento dos efeitos das mudanças climáticas sobre a
biodiversidade, pois são capazes de registrar essas mudanças. Como vimos, a
maioria dos estudos sobre mudanças climáticas e biodiversidade faz previsões
futuras, enquanto que apenas 40% dos estudos avaliam mudanças atuais
registradas.
De acordo com revisões recentes da literatura global sobre os efeitos das mudanças
climáticas sobre a biodiversidade (Bellard et al. 2012), embora existam vários
métodos para fazer inferências (a partir, por exemplo, de dados paleontológicos ou
recentes já disponíveis, de experimentos, de observações e de meta-análises), a
modelagem ecológica constitui a ferramenta mais utilizada para estudos de
previsão sobre essa matéria. O campo da modelagem ecológica progride a um
ritmo extremamente elevado, envolvendo uma pluralidade de abordagens (por
exemplo, modelos de nicho, modelos dinâmicos de vegetação, modelos doseresposta, entre outros).
Propõe-se que uma ciência integrada para a avaliação de impactos de mudanças
climáticas sobre a biodiversidade será desenhada a partir de várias fontes e
abordagens, pois cada uma fornece informações úteis, mas incompletas, sobre a
exposição, a sensibilidade e a capacidade de adaptação (Dawson et al. 2011). Na
proposta desses autores, a integração dessas abordagens irá fornecer uma base
mais robusta para a avaliação da vulnerabilidade e alocação de recursos para a
conservação e adaptação. As observações diretas, incluindo monitoramentos em
longo prazo, são aplicáveis a uma ampla gama de escalas e podem ser usado para
avaliar os aspectos da vulnerabilidade. Os registros paleoecológicos ampliam a base
observacional permitindo abranger uma ampla gama de taxas, magnitudes e tipos
de mudanças climáticas, podendo ser valiosos para avaliar capacidade de
adaptação e riscos. A modelagem de nicho, usando modelos estatísticos baseados
em correlações entre os padrões geográficos de distribuição de espécies e o clima,
pode ser mais adequada para a avaliação da exposição.
As modelagens
mecanicistas, tais como modelos populacionais e ecofisiológicos, são diversificadas,
exigem parâmetros táxon-específicos e muitas vezes são acopladas, sendo
particularmente eficazes para avaliar a sensibilidade e a capacidade de adaptação.
Manipulações experimentais fornecem informações sobre a sensibilidade e a
capacidade de adaptação, sendo valiosas para a parametrização de modelos
mecanicistas.
Sabemos que a sobrevivência das populações expostas às mudanças climáticas,
com diversas conseqüências para a resiliência da escala local à global, depende de
uma série de mecanismos naturais e que a capacidade de lidar com as mudanças
climáticas depende de fatores intrínsecos (biologia das espécies, a diversidade
genética) e extrínsecos (taxa, magnitude e natureza da mudança climática). Assim
sendo, a integração de múltiplas abordagens e perspectivas será necessária para
obter informações mais acuradas sobre quais são e onde estão os sistemas
biológicos em risco, bem como sobre quais as maneiras de otimizar capacidades
adaptativas em sistemas naturais para maximizar as vantagens (Dawson et al.
2011).
A pesquisa sobre impactos de mudanças climáticas sobre a biodiversidade, embora
emergente e com inequívoca tendência de rápido crescimento, ainda se encontra
em estado incipiente. Isso pode ser ilustrado nesse estudo pelo fato de que poucos
países são responsáveis por boa parte da produção científica, que ainda é pequena
quando comparada com a quantidade de estudos que investigam outras ameaças à
biodiversidade (por exemplo, perda de habitat e bioinvasões), como já indicado em
Siqueira et al. (2009). Urge, portanto, que o fomento para estudos nessa temática
seja aumentado, inclusive com maior participação de instituições nãogovernamentais e privadas nesse apoio. No caso da produção sobre a
biodiversidade brasileira, essa situação é mais ainda crítica, haja vista o pequeno
número de publicações encontradas. Dentro desse contexto, a Chamada de Apoio
a Projetos para pesquisas científicas relacionadas ao impacto das mudanças
climáticas sobre espécies e ecossistemas na região do Mosaico de Áreas Protegidas
do Lagamar, lançada em 2011 pela Fundação Grupo Boticário, pode representar
uma importante iniciativa no sentido de estimular o desenvolvimento de estudos
sobre impactos de mudanças climáticas sobre a biodiversidade brasileira.
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Ecology and the Environment, 5: 409-414.
ANEXOS
Anexo 1a: Estudos na base de dados WoS que abordam as diferentes temáticas
dentro de mudanças climáticas e biodiversidade. O número total de estudos
abordando as diferentes temáticas excede o número artigos sobre mudanças
climáticas e biodiversidade (908) porque um mesmo artigo pode abordar mais de
uma temática.
Todos os
estudos em
conjunto
Estudos sobre
mudanças atuais e
monitoramento
Estudos sobre
mudanças futuras
previstas
Distribuição geográfica de espécies
Distribuição geográfica de cobertura
vegetal/biomas
315
96
237
92
30
67
Diversidade biológica
Populações e Fenologia
141
45
101
266
132
151
42
11
33
Temática
Morfologia
Genética
Risco de extinção
44
23
21
157
48
118
Ecossistemas e serviços
255
110
158
Patógenos
37
15
22
Identificação de indicadores
81
33
50
Invasão biológica
42
17
29
Identificação de indicadores
83
33
50
Anexo 1b: Estudos na base de dados WoS, Scopus e SciELO que abordam as
diferentes temáticas dentro de mudanças climáticas e biodiversidade no Brasil. O
número total de estudos abordando as diferentes temáticas não atinge o número de
artigos sobre mudanças climáticas e biodiversidade no Brasil (n=59) porque esta
tabela não inclui os artigos classificados como "outros estudos".
Todos os
estudos em
conjunto
Estudos sobre
mudanças atuais e
monitoramento
Estudos sobre
mudanças futuras
previstas
Distribuição geográfica de espécies
15
3
13
Diversidade biológica
Ecossistemas e serviços
10
4
7
4
1
3
Distribuição geográfica de cobertura
vegetal/biomas
Identificação de indicadores
3
2
1
3
1
2
Populações e Fenologia
2
1
1
Genética
2
1
1
Risco de extinção
2
0
2
Morfologia
0
0
0
Patógenos
0
0
0
Temática
Anexo 2: Estudos na base de dados WoS que abordam as diferentes temáticas
dentro de mudanças climáticas e biodiversidade e Brasil. O número total de estudos
abordando as diferentes temáticas excede o número artigos sobre mudanças
climáticas e biodiversidade (17) porque um mesmo artigo pode abordar mais de
uma temática.
Todos os
estudos em
conjunto
Estudos sobre
mudanças atuais e
monitoramento
Estudos sobre
mudanças futuras
previstas
Distribuição geográfica de espécies
Distribuição geográfica de cobertura
vegetal/biomas
7
1
7
0
0
0
Diversidade Biológica
3
1
3
Populações e Fenologia
2
1
1
Morfologia
0
0
0
Genética
0
0
0
Risco de extinção
2
0
2
Ecossistemas e serviços
6
2
4
Patógenos
1
1
0
Identificação de indicadores
2
1
1
Temática
Anexo 3: Região biogeográfica abordada nos estudos que tratam de mudanças
climáticas e biodiversidade na base de dados WoS. O número total de casos
apresentado (601) não equivale ao número de artigos, pois um mesmo artigo pode
abordar mais de uma região biogeográfica e inúmeros artigos (254 ao todo) não
explicitaram a região geográfica do estudo. Um mapa das regiões biogeográficas
em
questão
pode
ser
encontrado
em
http://www.ensam.inra.fr/cbgp/spmweb/img/Biogeographic.gif
Região Biogeográfica
Casos
Paleártica
233 (35%)
Neártica
109 (16%)
Global
81 (12%)
Neotropical
69 (10%)
Afrotropical
55 (8%)
Polos
29 (4%)
Oriental
Total
25 (4%)
601
Anexo 4: Grupos taxonômicos abordados nos estudos que tratam de mudanças
climáticas e biodiversidade na base de dados WoS. O número total de casos
apresentado (628) não equivale ao número de artigos, pois um mesmo artigo pode
abordar mais de um grupo taxonômico e inúmeros artigos (242 ao todo) não são
taxon-específicos (ou não informaram o táxon estudado).
Grande Grupo Taxonômico
Casos
Animais (invertebrados e vertebrados)
374 (55%)
Plantas (vegetais superiores, vegetais inferiores e vegetação)
292 (44%)
Micro-organismos (bactérias, protozoários, metazoários, cladóceros, etc...)
14 (2%)
Fungos
Total
3 (<1%)
628
Animais
Casos
Invertebrados
Artrópodes* (sobretudo crustáceos e insetos)
85 (60%)
Cnidários (sobretudo corais)
30 (21%)
Moluscos (sobretudo gastrópodes e bivalves)
11 (8%)
Vermes (sobretudo platelmintos e nematódeos)
9 (6%)
Equinodermos
7 (5%)
Porífera
1 (1%)
Total
141
Vertebrados
Aves
73 (38%)
Mamíferos
45 (24%)
Peixes
42 (22%)
Anfíbios
25 (13%)
Répteis
Total
8 (4%)
193
* 71% dos artrópodes são insetos e destes, 46% são borboletas.
Plantas
Vegetais Superiores
Vegetais Inferiores
Vegetação
Total
Casos
70 (52%)
20 (15%)
45 (33%)
193
* Essas estimativas não incluem 158 artigos que não especificaram que grupo de plantas
foi estudado.

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