FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA A DISCIPLINA

Transcrição

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA A DISCIPLINA
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE BRASÍLIA
A DISCIPLINA NA IGREJA
WASHINGTON LUIZ DA SILVA
Brasília – DF
WASHINGTON LUIZ DA SILVA
A DISCIPLINA NA IGREJA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Bacharel em Teologia da
Faculdade Teológica Batista de Brasília, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Teologia. Orientadora: Profa.
Esp. Débora Costa Santos.
Brasília – DF
WASHINGTON LUIZ DA SILVA
A DISCIPLINA NA IGREJA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Bacharel em Teologia da
Faculdade Teológica Batista de Brasília, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Teologia. Orientadora: Profa.
Esp. Débora Costa Santos.
Brasília – DF, dezembro de 2015
Aprovado pelos membros da banca examinadora em 02/03/2016, com menção 10 (dez).
Banca Examinadora:
____________________________________________________________
Profa. Esp. Débora Costa Santos (Presidente)
_____________________________________________________________
Prof. Msc. Antonio de Jesus Silveira Ichiki (Examinador)
5
A DISCIPLINA NA IGREJA
WASHINGTON LUIZ DA SILVA1
RESUMO:
O presente artigo teve como propósito tratar da disciplina na igreja, tendo como pressuposto
básico, pesquisa bibliográfica qualitativa, abordando o tema disciplina na igreja, sobre os
seguintes aspectos: A fundamentação bíblica, os líderes e a disciplina eclesiástica, o processo
da disciplinar e o processo da restauração do disciplinando. Concluiu que a disciplina como
forma educativa não é opcional, mas um indicativo do Senhor Jesus Cristo.
PALAVRAS-CHAVE: Disciplina na Igreja. Liderança. Reconciliação. Restauração. Perdão.
INTRODUÇÃO
A disciplina na igreja não é em si mesma, a tarefa principal. Mas, na ausência dela, as
igrejas passam a ter o perfil de indisciplinadas, mergulhadas em delitos e pecados, o que torna
mais difícil para às pessoas de fora da igreja ouvir as boas novas de salvação por Jesus Cristo.
Mas, o que é mesmo a disciplina na igreja e qual o seu propósito? Geralmente, o assunto
disciplina tem sido um tópico, na ordem do dia, das assembleias realizadas nas igrejas. Só
esse fato é temeroso para quem preside e para os membros da igreja presentes, devido os
paradigmas levantados sobre a disciplina na igreja e muitos como frutos de uma experiência
amarga, pela má condução no trato do problema.
Devido aos desgastes que a igreja sofreu com o trato da disciplina, intencionalmente
ou por mudanças de valores, as igrejas até para sua preservação e acomodação ao meio, ou
por cumplicidade colocou a disciplina à margem do processo do discipular o povo de Deus
por meio da pregação, do ensino, do aconselhamento e do preparo dos santos. Alfred Poirier
citando R.C. Sproul nos lembra: “A igreja é chamada não apenas a um ministério que
reconcilie as pessoas que a frequentam, mas a um ministério que as alimente. Parte desse
processo de alimentá-las inclui a disciplina eclesiástica”. (POIRIER, 2011, p. 213).
1
Aluno da Faculdade Teológica de Brasília.
6
O que é a disciplina eclesiástica? Em busca da resposta, sem pretensão de finalizar-se
o tema; tomam-se alguns termos gregos relacionados com o conceito de disciplina eclesiástica
e também, o pensamento escrito de autores abalizados sobre o assunto para nos ajudar na
compreensão do tema em questão, que dentro das igrejas, com princípios secularizados e
modernizados; sabe-se que a disciplina mexe e ameaça o individualismo e a liberdade de
escolha quanto ao estilo de vida e de comportamento. Por isso, é vista como expressão de ira e
hostilidade.
Não é de estranhar quando se ouve: “o que tem haver a igreja com a vida de seus
membros? ” Essa dicotomia não representa o ensino do Evangelho, mas as manifestações da
carne, do mundo e do Diabo com a necessidade da disciplina. Tem-se uma fundamentação
bíblica ensinada pelo Senhor Jesus, e enfatizada pelo apóstolo Paulo, na instrumentalidade do
Espírito Santo. A Bíblia ensina que toda atitude pecaminosa precisa ser corrigida. O Senhor
Jesus ordenou a disciplina na igreja e também, estabeleceu a forma de aplicação dessa
correção como um exercício de amor por seus filhos. Que santa compensação para aqueles
que aplicam corretamente a disciplina! É o momento em que a esperança floresce, gerando
vida vitoriosa para aqueles que a recebem com alegria e corretamente. A metodologia de
pesquisa que fundamenta o presente trabalho será bibliográfica qualitativa, no qual o autor do
artigo apresentará na exposição escrita a partir dos seguintes autores: Gary R. Collins,
Aconselhamento Cristão. Mark Dever, 9 Marcas de uma igreja saudável. John F. MacArthur
JR. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. Jonathan Leeman. A igreja e a surpreendente
ofensa do amor de Deus. , John Piper. Irmãos, nós não somos profissionais. Alfred Poirier. O
Pastor Pacificador. Outros autores serão conhecidos ao longo do artigo.
1. A BÍBLIA FUNDAMENTA A DISCIPLINA ECLESIÁSTICA.
A Bíblia é o depositário fiel do que o Senhor Jesus disse sobre a disciplina na igreja.
São textos fundamentais para orientar o uso da disciplina bíblica, com resultados positivos na
comunhão da igreja. A disciplina começa com Deus sobre a liderança e ordena que se aplique
aos outros. Logo, a igreja que está sendo edificada pelo Senhor recebe a responsabilidade de
viabilizar a disciplina com competência técnica, humana e espiritual. Os textos de Hebreus
12.1-14 e Mateus 18.15-17 fundamentam o que está posto.
É encontrada no acervo bíblico, sob a orientação do Filho de Deus, a forma
contundente para se lidar com as discordâncias e dificuldades surgidas no âmbito da igreja.
Paulo nos dá os indicativos do trato dessa questão quando fala de alguém, que congregava na
7
igreja de Corinto, cujo estilo de vida era adverso ao propósito do evangelho. (Cf. 1 Co 5.111). Era uma questão de ética sexual e litígio. Um agravante era a apatia da igreja perante o
mal ali existente. Marshall afirma: “Paulo lembra aos coríntios que alguns pecados “óbvios”
são incompatíveis com a fé cristã e excluem as pessoas do reino de Deus”. (1 Co 6.9-10).
(MARSALL, 2007, p. 224).
Tolerar aquela situação desencadearia dois outros problemas: primeiro, a influência
negativa que persuadiria a outros pecarem também, o outro, a mácula que tornaria a igreja
pecadora. Como proceder diante de um homem assim, na igreja de Corinto? Dever afirma:
“Paulo mostrou que esse homem estava enganado” e que; “para ajudá-lo a glorificar a Deus,
era necessário mostra-lhe a falsidade de sua confissão de fé, a luz da maneira como ele estava
vivendo”. (DEVER, 2012, p. 192).
A disciplina bíblica tem duas faces que se completam. Geralmente, a igreja tem a
disciplina como um processo antagônico ao seu propósito, de agregar 2 pessoas. No entanto, o
Senhor Jesus ensina que a disciplina deve ser cumprida cabalmente; mas ensina, também, que
a disciplina se constitui na restauração de alguém que foi disciplinado. Todo o processo
disciplinatório deve incluir a esperança, o ressurgir das cinzas, pois é assim que o indivíduo se
sente, nas cinzas. A disciplina deve fortalecer aquele relacionamento com o Senhor Jesus,
pois o objetivo é a salvação daquela alma abatida.
Paulo afirma em Gálatas 6.1: “Se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois
espirituais, deveis restaurar essa pessoa com espírito de humildade”. A obrigação de curar
aquele que cai é uma atribuição do coletivo, como expressão viva do amor de Deus, como
afirma Viola: “Amor é disposição para admoestar outros quando estes se encontram em falta
[...], mas quando se depara com os horrores do pecado não arrependido, pode ser combativo e
inflexível”. (VIOLA, 2009, p. 218). Com base na afirmação surgem três palavras: admoestar,
combativo e inflexível. Estas são condições necessárias para aplicar a disciplina, como Portela
bem afirma: “Se a disciplina tem o objetivo inicial de demarcar claramente as linhas e de
enfatizar a pureza da igreja, o seu objetivo final nunca pode ser esquecido ou perdido de vista
– a restauração, a salvação do pecador restaurado” (PORTELA, 2001, p.61).
Noutro momento, Paulo chama atenção para outro problema na Igreja, em
Tessalônica. (2 Ts 3.6-15). Fato é que alguns crentes não queriam trabalhar. Por certo queriam
comer, beber e vestir. Se fosse hoje, seriam os pedidos mais diversos: dinheiro para pagar
2
Agregar pessoas é resultado de um processo do ensino do Evangelho com todo o benefício de transformação
que o evangelho traz e do envolvimento afetivo dos crentes com a pessoa. Ela aprende pelo exemplo a ser serva
do Senhor Jesus.
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aluguel, comprar uma passagem para visitar um parente, comprar gás de cozinha, pagar a
energia, pagar a parcela do carro vencida e tudo isso, num tempo em que o mercado de
trabalho pede operários para todas as obras. A chateação daqueles irmãos é a mesma nossa! O
problema só mudou no tempo e no endereço.
Como tratar essa questão? Paulo orienta a esse grupo de ociosos: “trabalhando em paz,
consigam o próprio pão” (2 Ts 3.12). Noutro momento, ele se reporta à igreja escrevendo:
“não vos canseis de fazer o bem” (2 Ts 3.13). Diante do explicitado, existe uma
recomendação de que se afaste daquele irmão para não haver estresse entre eles. Entretanto,
“não o considereis inimigo”. A diferença no processo se conclui na disciplina: “corrigi-o
como irmão”. Se um irmão em Cristo pecar, vá até ele em particular e repreenda-o, ou seja,
exponha diante dele o pecado. Essa foi a orientação de Paulo.
Não é estranho que se encontre pessoas que “naufragaram na fé”. Paulo faz menção de
dois homens: Himeneu e Alexandre que rejeitaram as profecias e naufragaram na fé. O que
parece estranho é o que Paulo disse que fez na disciplina contra eles: “eu os entreguei a
Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1Tm, 1.20). Faz sentido o peso e força dessa
expressão da disciplina, quando se aprecia que os dois homens influenciavam a comunidade
com falsos ensinamentos, blasfemavam e diziam injurias contra a doutrina de Cristo e dos
seus ministros. Seria uma situação conflituosa para a igreja3 hoje, confinada de timidez e
suave nas decisões pertinentes à disciplina.
Um caso não muito raro é a condição de líderes na igreja estarem em pecado. O que a
Bíblia recomenda, vem de Paulo para o pastor Timóteo, orientando-lhe como tratar desse tipo
de questão. Ele afirma: “Não aceites acusação contra um presbítero, se não houver mais de
duas ou três testemunhas. Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de
todos, para que os outros também tenham temor” (1 Tm 5.19-20). Uma denúncia (acusação) é
coisa muito séria. O líder pode agir observando uma boa consciência para não infringir no
princípio da boa convivência. Portanto: nenhuma acusação deve ser aceita precipitadamente,
em relação a qualquer membro da igreja. Todo o mau feito deve merecer atenção e ser
averiguado, por pessoas idôneas. As igrejas batistas costumam levar os assuntos pertinentes à
disciplina para uma Comissão de Membros constituída para esse fim.
Os casos, geralmente, são tão delicados que na sua maioria precisam de reserva para
serem cuidados, até a conclusão da disciplina. Ocorrem que alguns faltosos ainda persistem
no erro. Aqui inicia uma situação polêmica e traumática, porque nenhuma pessoa, vivendo no
3
A igreja cristã tem sido acusada de ser o único exército que atira nos seus feridos. O grau de verdade dessa
acusação é, muitas vezes, devido a mal entendido com relação à disciplina eclesiástica. (Santos, 2001, p.28).
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erro, quer expor o seu nome publicamente4. Mas a orientação bíblica é que devem ser
repreendidos e a congregação resolverá o que de se deve fazer com a pessoa em erro. Cabe
aos líderes, conduzir a igreja com imparcialidade mais absoluta.
O apóstolo Paulo escreveu ao pastor Tito sobre outro problema na igreja, relacionado
aos membros que estavam provocando acirradas discussões e divisões na igreja. Ele afirma:
Mas evita discussões tolas, genealogias, discórdias e debates acerca da lei;
pois são coisas vazias e inúteis. Depois de exortar a primeira e a segunda vez
alguém que causa divisões, passa a evitá-lo. Sabes que tal indivíduo
perverteu-se vive pecando e já condenou a si mesmo”. (TITO, 3.9-11, Séc.
21, p. 1221).
Tem gente que gosta de controvérsias estúpidas e insensatas; gosta de discutir quem é
pai de quem; gosta de contendas, brigas, está inclinado a uma intensa discórdia; gente que
gosta de debater assuntos dos mais diversos, como afirma Paulo: “não têm utilidade” e isso
traz desgastes à unidade da igreja.
O verso 10 do texto afirma que a disciplina informativa que é a instrução. Essa pessoa
deve ser advertida, admoestada. Os pastores estão na obrigação de admoestar aos facciosos
apenas uma ou duas vezes e em seguida discipliná-los. Um pouco mais de tolerância, também
é visto na linguagem de Paulo, falando a Timóteo (2 Tm 2.25-26). De fato, o processo da
disciplina na igreja é tarefa árdua.
Sobre tudo, certifica-se que Deus cuidou de todo o processo e que nos instrui através
da Sua palavra, e em conformidade com ela, enquanto igreja precisa-se exercer a disciplina
nos mais variados casos. Tendo feito isso, entender que o processo não é do homem, mas de
Deus para auferir ao seu corpo a graça de viver uma vida santa.
2. A DISCIPLINA BÍBLICA COM BASE NO NOVO TESTAMENTO.
A disciplina se constrói na formação e não na exclusão de uma pessoa do rol de
membros da sua igreja.
Para tanto, é visto que o mesmo precisa ser educado na doutrina de Cristo, seja
encorajado e ensinado a andar direito sobre os próprios pés. No caso de falhar e cair, a
disciplina será vista na restauração, colocando em ordem as coisas que saíram do controle e
da presença de Deus.
Santos afirma: “é preciso lembrar que toda atitude pecaminosa precisa ser corrigida, mas há algumas que
requerem correção pública” (Mateus 18.16-17). (SANTOS, 2001, p.30).
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Qual o objetivo de tudo isso, para tamanho empreendimento: de tempo, de pessoas, de
oração, de afeição, de afetividade que culmine no exemplo de vida a ser seguido, de ensino do
Evangelho como o poder que transforma? A disciplina é um dos pilares de uma igreja
teologicamente bíblica. Uma igreja santa e irrepreensível, sem mácula e nem rugas é uma
igreja que faz da disciplina e dos seus aspectos interdisciplinares o meio para a construção de
vidas saudáveis e reverentes com temor ao Senhor.
Os termos no grego, abaixo relacionados, são imprescindíveis para a compreensão da
disciplina na igreja. Eles aludem à impressão de formar uma pessoa em conformidade com o
caráter de Cristo.
1. PAIDEIA – “correção”, “educação”, “repreensão”. Originalmente, paideia está
relacionada com a educação da criança – paidion, (cf. Hb 12.5-8). Dele origina
pedagogia, pediatria. (SOBRINHO, 1998, p.124).
2. PARAKLESIS – “encorajamento”, “consolação”. A consolação, paz e segurança
são frutos da disciplina cristã.
3. ORTHOPODEO – “caminhar direito sobre os próprios pés”, “andar direito”,
“proceder corretamente”. (cf. Gl 2.14). Paulo declara Pedro com um ambíguo com
um comportamento dissimulado.
4. NOUTHESIA – “admoestação”, “advertência”. Trata-se de um aviso, pois um
perigo deve ser evitado. (cf. 1 Co 4.14). A disciplina cristã enseja andar em Cristo
e como Cristo andou.
5. EPIDIORTHUO – “Por em ordem, completar o estabelecimento da ordem”. (cf.
Tito 1.5). “Uma ordem deve ser estabelecida tanto no sentido ideológico, quanto
institucional, a partir da obra do Senhor Jesus ao estabelecer um tabernáculo não
feito por mãos humanas”. (SOBRINHO, 1998, P. 125).
6. TAXIV – “ordem”. “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem”. (1 Co 14.40).
A igreja dos colossenses era conhecia pela sua disciplina: “vendo a vossa ordem e
a firmeza da vossa fé em Cristo”. (Cl 2.5). O texto evidencia que a disciplina na
igreja decorre da fé em Cristo.
7. KATARTIZO – “restaurar com habilidade”. (cf. Gl 6.1). A medicina recoloca um
membro, osso ou músculo, do corpo, no seu devido lugar de maneira a não causar
maior dano. Aduzimos que a disciplina cristã não se torna mais eficaz quando
aplicada com violência e brutalidade. Portanto a restauração no processo da
disciplina é feita com firmeza, serenidade, sinceridade e amor.
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8. ELEGXIS – “trazer à luz, revelar, expor, arguir, reprovar, repreender, corrigir”.
Para SOBRINHO é o penúltimo estágio da disciplina (1998, p.126).
9. APOKOPTO – “cortar, amputar, castrar”. É o último ato da disciplina na igreja.
Um ato cirúrgico. Paulo recomenda que sejam “amputados”, “cortados” aqueles
que inquietam a igreja. (cf. Gl 5.12).
3. A DISCIPLINA NA IGREJA, HOJE.
Paulo escrevendo ao pastor Timóteo orientou: “saibas como se deve proceder na casa
de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade”. (1 Tm 3.15). A igreja é
coluna e fundamento da verdade. Coluna e esteio mantém o edifício firme. As colunas fazem
o edifico subir. Assim, a igreja é chamada para servir à verdade, mantendo-a firme, e
mantendo-a elevada para que as pessoas as vejam. Significa dizer que, a igreja possui padrões
doutrinários e uma confissão de fé que devem ser vividos e defendidos pelos membros do
corpo de Cristo.
Um fator contemporâneo vem mesclando o sentimento e o pensamento dessa pureza
de preservação dos padrões doutrinários e da confissão de fé no meio evangélico. As
influências midiáticas são fortes e pressionam o meio cristão para o aculturamento da fé,
reproduzindo novas formas de pensar e agir quanto ao modo de ser da igreja. Isso chega ao
contexto eclesiástico com boa aceitação e um dos pontos vulneráveis às mudanças exigidas é
a disciplina na igreja.
A disciplina é um procedimento que navega em torno das Escrituras, além disso, de
acordo com o que ela ensina e tem por base o interesse no membro que está sendo tratado. A
forma bíblica da disciplina leva em consideração o consenso e a opinião de muitos, quando
preserva o âmago da verdade bíblica a ser vista, e considera observar um ambiente favorável e
hospitaleiro para o tratamento da questão e seguir passo a passo o ensino bíblico reconhecido
para ministrar a disciplina na igreja.
Apesar de todo reconhecimento de como tratar a questão, a disciplina é algo em risco
de extinção na igreja. Os dias atuais com todas as suas influências perniciosas encontram
lugar no seio da igreja e toda e qualquer demanda que represente correção, que exija
mudanças de posturas e comportamentos, são mensagens não tão bem-vindas. O sentimento,
o pensamento e até mesmo a crença, é que a igreja perdeu a sua centralidade e passou viver
dependente dos indivíduos, sejam membros ou não da igreja, ainda que eles não a
representem como coluna e esteio da verdade.
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Há uma crise e os coadjuvantes eclesiais estão envolvidos nela. A igreja vem perdendo
a sua própria essência e os líderes a sua determinação de liderar o projeto de Deus. Existe uma
necessidade pessoal e institucional de que se receba aprovação do mundo e de pessoas
influentes. O líder e a igreja sentem a necessidade de serem aceitos. O ministério diaconal
sente a necessidade de receber a aprovação e aplauso dos seus liderados.
A disciplina em alta ameaça esses valores necessários. Por isso, passa-se a um período
dos cultos das personalidades, abrindo um leque de degradação dos valores para os quais a
igreja foi chamada a viver e mostrar.
A igreja acostumou-se a ouvir pessoas contestarem a mensagem bíblica, as decisões
por mantê-la projetando a fé no coração do homem contemporâneo; tonou-se passiva diante
de homens e mulheres carnais que se levantam em defesa dos seus laços sanguíneos e de
amizades que praticaram erros que precisam de disciplina. Alegam que a disciplina é falta de
amor. De fato, a disciplina quando não tem respaldo bíblico é justiceira e sem amor. Prática
de muitos impedirem a disciplina na igreja é idolatria, porque substitui Deus por alguma coisa
na vida de uma pessoa. Deus é zeloso e simplesmente não tolera essa prática.
Será que a disciplina tem vida curta? O texto de Paulo a Timóteo leva ao entendimento
que a igreja é chamada para servir à verdade, mantendo-a firme, e mantendo-a elevada para
que as pessoas as vejam. A igreja é um outdoor da Palavra de Deus. Em letras garrafais para
que todos que passam possam ler; nele estão palavras que ecoam para a vida eterna. Essas
palavras são proferidas e vividas por gente santa, separada e exclusiva para Deus. No entanto,
é assim mesmo que acontece?
Não resta dúvida que a igreja está vivendo um momento embaraçoso, porque os seus
membros e seus líderes, agora, são suspeitos de viverem fora dessa Palavra. Por que a rejeição
voraz à igreja? As pessoas que estão fora dela esperam um pouco mais do que a igreja é.
Espera transparência, firmeza em suas doutrinas, instrução, ensino e correção. Porém, os que
estão dentro da igreja confinados de medo e frio do que possa lhe fazer o mundo, a carne e o
Diabo não reagem, pelo contrário, se mantém alheios à fé, ignorantes e indispostos a viverem
a essência da Palavra de Deus.
É indispensável que a igreja pratique a disciplina. Ela está fundamentada não apenas
no exercício do bom senso, mas principalmente nos imperativos descritos no mandato bíblico
referente à disciplina, descritos pelo Senhor. A expressão disciplina traz a ideia de correção. E
é isso mesmo! A correção é fonte de esperança para os que aplicam e vida para aqueles que a
recebem corretamente (cf. Pv 19.18 e 4.13), não pense ser expressão de ira e hostilidade, mas
um exercício de uma ordem bíblica de amor do Pai pelos seus filhos.
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O que pode levar uma liderança e uma membresia a extinguir ou minimizar a
disciplina na igreja? Somente a ignorância, o desconhecimento, os equívocos, ou a dureza de
coração poderão levar alguém a deturpar os princípios bíblicos sobre a disciplina eclesiástica
e justificar sua ausência entre os membros do corpo de Cristo. O mundo não espera isso, a
palavra também não, o projeto de Deus diz que não, só resta o povo de Deus colocar uma
dobradiça no pescoço e curvar diante do ensino poderoso da Palavra de Deus.
4. OS LÍDERES E A DISCIPLINA NA IGREJA.
Considera-se que Deus levanta líderes e concede-lhes autoridade para encaminhar
processos legítimos, por serem bíblicos, como a disciplina na igreja. A disciplina não pertence
ao líder, ela é uma ferramenta que pertence à igreja, que por sua vez não pode prescindir de
usá-la no tempo certo de modo certo, nos moldes dados pela Palavra. Os líderes foram
chamados por Deus e dentre as suas tarefas a serem exercidas, também, devem estabelecer a
disciplina na igreja, o corpo de Cristo, “sem mácula, nem ruga”. No contexto de Mateus
18.15-19 Jesus disse no verso 18: “Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será
ligado no céu e tudo quanto desligares na terra terá desligado no céu”. É a presença do líder
não indiferente aos conflitos, mas agindo sobre eles.
A disciplina existe para ser exercida, com vários propósitos em mira: manter a sã
doutrina. O apóstolo Paulo chama Timóteo e lhe instrui: “Conforme te pedi, quando partia
para a Macedônia, permanece em Éfeso para advertires alguns de que não ensine outra
doutrina”. (1 Tm 1.3). O verbo “advertires” coloca sobre Timóteo a responsabilidade da
tarefa: dar ordem, comandar, dirigir, admoestar. Ele tinha autoridade orgânica5, como
também, tinha autoridade oficializada para isso. Era de sua responsabilidade conduzir aqueles
que estivessem sob sua tutela.
O líder espiritual foi chamado por Deus para colocar em ordem a sua casa. A
disciplina mira repreender os ofensores. Esse trabalho é árduo para a liderança. Paulo ensinou
a Timóteo: “Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que os
outros também tenham temor” (1 Tm 5.20). Timóteo muito jovem e no início de sua jornada
ministerial. Esta orientação pode causar constrangimento público, desencadear mais
animosidade e gerar um conflito ministerial sem precedente, perante a igreja. Esta nem
5
Autoridade orgânica. É a autoridade que se enraíza na vida espiritual, (...) é autoridade comunicada. Isto é,
quando uma pessoa comunica a vida de Deus através de palavras ou ações, ela tem o apoio ou o respaldo do
próprio Senhor. (VIOLA, 2009, p. 212).
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sempre concilia disciplina com repreensão e sim disciplina com afago, sobre a alegação de
que o ofensor vai se consertar. Quando?
Aos líderes, se tem algo que os agrada é a mira da disciplina sobre a edificação dos
crentes. Paulo escreveu: “Pois não me envergonharei, embora, de alguma forma, eu me glorie
mais da autoridade que o Senhor nos concedeu para a edificação, e não para a vossa
destruição”. (1 Co 10.8). Não resta dúvida de que a disciplina corretiva é desgastante e bom
seria que investíssemos todo o tempo em edificação da igreja. Edificação foi o simbolismo
empregado por Paulo para dizer que o seu ministério era o da edificação.
Creio que uma igreja edificada diminui, sensivelmente, o número dos que são ou
precisar ser disciplinados dentro da igreja. Não foi por acaso que o Espírito Santo permitiu
Paulo dizer a Timóteo: “prega a palavra, inste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende
e exorta com toda paciência e ensino” (2 Tm 4.2).
A liderança espiritual que tem a responsabilidade da pregação da Palavra e deve fazêla com conhecimento e autoridade. Essa liderança deve propor a si mesma, “no exercício de
sua tarefa; sem importar se estiver em vista a determinação ou proibição, o dispensar ou
tornar obrigatório, o soltar ou o ligar. Deveriam usar essa autoridade exclusivamente
conforme Jesus dela se utilizou, visando a salvação, e não a destruição de almas”. (Adam
Clarke, in loc). Observo que pastorear e exercer, fundamentalmente, o ministério não é tão
simples. As exigências são altas e por vezes difíceis de serem atendidas. MacArthur afirma:
“O pastoreio espiritual exige um homem íntegro, piedoso, dotado de muitas habilidades.
Ainda assim, ele deve manter a atitude e a postura humilde de um menino pastor”.
(MACARTHUR, 2012, p.15).
A disciplina mira preservar a decência e a ordem na igreja. “Mas tudo deve ser feito
com decência e ordem” (1 Co 14.40). Paulo orienta que se deve conduzir todo o processo com
decoro. O conflito em Corinto era crítico. As facções se manifestavam se receio ou pudor. O
apóstolo destaca que não poderia ser assim, mas tratar as coisas com dignidade, sob a
disciplina apropriada. Por vezes a igreja fica dividida por um problema que vai se refletir no
evangelismo, na comunhão, na música e outras áreas do ministério pastoral.
Cabe ao líder trazer a causa ao seu domínio, pela autoridade orgânica e oficial para
tratá-lo apropriadamente. Há concordância de pensamento entre os autores de que a disciplina
deve ser exercida pela liderança com o tempero do amor. (cf. 2 Co 2.6-8). Para Viola: “o amor
reconhece que somos chamados para representar uns para com os outros a vontade do Espírito
Santo, não para substituir sua pessoa ou tomar o lugar de seu trabalho”. (VIOLA, 2009,
p.134). O amor em serviço identifica a igreja e o ser humano. Faz dela uma comunidade cristã
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construída de pessoas que amam e cuidam uma das outras. Isso implica no trabalho de reunilas em uma família para Deus. A igreja foi enviada ao mundo com esse propósito.
A maneira como se vai operar a disciplina é parte essencial da estratégia da missão. A
essência dessa estratégia tem sido a igreja se identificar com o ser humano em seus
agrupamentos, até mesmo aqueles que se revelaram opositores e malfeitores à fé cristã, e
mesmo assim, devem ser cuidados e tratados. O amor é essa disposição para cuidar,
admoestar, repreender. É patético ver uma liderança tão rígida na disciplina e tão fraca no
amor. O contrário, também, é verdadeiro! É patético ver uma liderança exemplar no amor e
frágil na diligencia da disciplina, esquecendo-se de que Deus disciplina porque ama.
É mais fácil disciplinar do que amar. Fica evidente que disciplina desprovida de amor
pode ser um ato destrutivo e não construtivo. A igreja e sua liderança pode se constituir numa
sociedade fria, justa aos seus próprios olhos e sem o tempero do amor. Mas não é assim que
aprende de Cristo. Temos sido edificados por Ele para sermos um povo santo. No entanto, a
santidade anota Scofield, no roda pé: “não é ausência tão somente do pecado”. (Bíblia,
Scofield, 1987, p.1268). Então, o que mais indica a santidade do povo, da igreja e dos líderes
de Deus? Paulo responde em Gálatas 5.22-23: “é o amor, alegria, paz, paciência, benignidade,
bondade, fidelidade, amabilidade e domínio próprio”. O Espírito Santo forma essas
qualidades positivas na liderança e na igreja para aplicar a disciplina não na carne, sem
afeição natural, mas sob a unção e na instrução do Espírito de Deus.
A liderança bíblica usa dos meios e recursos dados por Deus para aplicar a disciplina
na igreja, que por sua vez, tem o direito democrático de opinar aceitando ou rejeitando a
disciplina a ela imposta. Uma questão: a ausência do conhecimento sobre a santidade de Deus
leva a igreja a admitir uma causa que estabelece uma situação agravante6, de risco moral e
espiritual, no seio da igreja, visto tão somente pelo olhar da fé na Palavra de Deus. Paulo dá
orientação pelo Espírito Santo de como essa a restauração possa a ser processada para com o
membro culpado. Ele ensina sobre o amor, porque o amor pode reformar, pode fortalecer,
pode conquistar, pode restaurar, pode aceitar, pode perdoar até mesmo além da disciplina
mais severa e sem amor fraternal.
Em tese, se encontra na Bíblia respaldo para acreditar que a liderança deve abdicar da
disciplina eclesiástica. Um conceito errôneo sobre a disciplina é que o termo leva a pensar de
imediato, em alguém que foi excluído. Isso foi sedimentado ao longo do tempo, nas disputas
em sessões administrativas, de que o irmão fulano deveria ser disciplinado. Porém, a palavra
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Os problemas de disciplina têm base na ausência do conhecimento bíblico ou de rebeldia velada. A igreja
precisa ser instruída sobre a compreensão bíblica correta do pecado.
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disciplina significa que “uma pessoa está sendo formada com o caráter e mente do seu
mestre”. (SHED, 2010, p.13).
Como os membros da igreja serão formados? Pelo assoviar do vento? Por sonhos e
visões? Por profetadas? Não! Os servos do Senhor Jesus serão instruídos de acordo com o
caráter e a mente de Cristo pela Palavra lida e pregada. Quem tem essa atribuição? Todos,
além do pastor que militam na instrução e na educação da igreja. É um fenômeno: se a Escola
Bíblica dominical vai bem, se os exemplos de vida e lideranças vão bem, se os ministérios da
igreja edificam, se as mensagens proferidas são oriundas da Palavra e alcançam o crente, não
resta dúvida de que os resultados de vidas santas e consagradas a Deus farão a diferença.
A liderança espiritual da igreja parte do princípio de que o pastor é voz do rebanho e
por ele deve passar todas as coisas. Não poderia ser diferente! O pastor, também, não pode se
esconder por receio e medo das lutas e assoleiros que surgem no ministério. Ele é chamado e
tem a vocação para tal. Por isso, ele pode se espelhar em Paulo quando inicia a maioria de
suas cartas declarando ser ele apóstolo pela vontade de Deus. Isso é um triunfo, porém, outra
realidade surge: o peso de saber que o ministério da Palavra é uma luta de vida ou morte.
Portanto, o pastor deve pensar certo e nas possibilidades certas para fazer exatamente o que é
certo à luz do olhar de Deus. O pastor foi chamado para salvar vidas. Veja o que afirma John
Piper:
Eu costumava dizer que meu objetivo como pastor e mestre era glorificar a
Deus mediante a salvação dos pecadores e a edificação do corpo de Cristo –
ganhando os perdidos e edificando os santos. Mas a pretensão por trás do
meu objetivo estava equivocada. Achava que meu papel na salvação das
pessoas consistia apenas em pregar o evangelho aos perdidos e orar por eles.
Por isso, desde que estivessem convertidos e frequentassem uma igreja,
minha função como instrumento de Deus em sua salvação teria terminado.
Afinal, eu nada mais era que um agente divino em determinada etapa da
santificação e edificação dessas pessoas. Meu erro foi pensar que somente a
salvação dos perdidos dependia da minha pregação, e não a salvação da
igreja. (PIPER, 2009, p.121).
Quão assustadora foi essa conclusão! O Senhor Jesus Cristo ensinou que a justiça que
permite entrar no reino do céu não é a que provém das próprias forças. Tal justiça precisa ser
produzida no pastor por uma fonte divina, a Sua Palavra. O Senhor quer que os seus
discípulos entendam que a justiça que procede do alto é o trabalho de Deus em nós. E Ele
manda os que foram por Ele chamados e designados a ensinar7 o seu povo a viver na Sua
7
A Bíblia ensina que arrepender-se é mudar de ideia com relação ao pecado; é abandonar a intenção e o
propósito de nos agradarmos a nós mesmos e tomar a deliberação de agradar somente a Deus. É do
arrependimento que procede toda a justiça e santidade. (REIDBEAD, 1992, p.26)
17
presença e experimentar a alegria de salvação incólume. A disciplina na igreja nos impõe essa
benigna responsabilidade.
Aprende-se com Paulo que toda lei estava compreendida na lei de amor o próximo. A
disciplina tem essa dimensão: O provérbio: “Não faça aos outros, o que você mesmo detesta”,
é um resumo da lei da boa convivência. Paulo ensinou sobre carregar as cargas uns dos outros
como cumprimento da lei de Cristo (Gl 6.2), a soma de tudo isso é que se pode inferir com
certa lógica que Paulo sabia como Cristo aplicou o mandamento: “Amarás o teu próximo
como a ti mesmo”. Além disso, a instrução de “levar as cargas uns dos outros” parece ter
origem nas seguintes palavras: “Se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois
espirituais, deveis restaurar essa pessoa com espírito de humildade” (Gl 6.1). Jesus afirmou
também: “Se teu irmão pecar contra ti, vai a sós com ele e repreende-o; se te ouvir, ganhaste a
teu irmão” (Mt 18.15).
5. O CAMINHO DA DISCIPLINA ECLESIÁSTICA
Quem ordena a disciplina na igreja também estabelece o padrão a ser seguido. Esse
padrão se fundamenta no que a Palavra de Deus ensina a respeito da questão. Embora a
disciplina seja um procedimento hostilizado, e isso tem fundamentalmente na adoção do
comportamento mundano na vida crente; a disciplina é sobre tudo, um exercício de amor do
pai pelo filho. Para (SANTOS 2001, p. 31): “amor e disciplina possuem conexão vital (Ap
3.19). Além do mais, disciplina envolve relacionamento de família como afirmou o escritor de
Hebreus:
É visando à disciplina que perseverais. Deus vos trata como filhos. Pois qual
é o filho a quem o pai não disciplina? Mas, se estais sem disciplina, da qual
todos se têm tornado participantes, então, não sois filhos, mas filhos
ilegítimos. Além disso, tínhamos nos pais humanos para nos disciplinar, e
nós os respeitávamos. Logo, não nos sujeitaremos muito ao Pai dos espíritos,
e assim viveremos? (HEBREUS 12.7-9, Séc. 21, p. 1235).
Dessa forma, quando os cristãos recebem disciplina divina, o Pai celestial está apenas
tratando-os como seus filhos.
A Bíblia é clara em apresentar a disciplina na igreja fundamentada não apenas no bom
senso, mas estruturada nos imperativos da Palavra de Deus, que excede ao indiferentismo
comumente visto perante pessoas que se encontram em falta. Por isso, o objetivo da disciplina
eclesiástica deve atender a algumas necessidades que promovam a ressurreição do indivíduo
18
dentre os mortos. As necessidades emergentes são: (1) da instrução que desenvolve o caráter
do crente a alcançar a plena maturidade em Cristo. (cf. Gl 4.19). (2) de equipar o crente de
discernimento e vontade própria para tomar decisões amadurecidas como cristão. (cf. Ef 4.2).
(3) de capacitar o indivíduo para o desempenho do seu chamado na terra. (cf. Fp 2.25; I Tm
4.16). Como observado, os objetivos espirituais não podem ser alcançados com recursos
meramente humanos, Shedd afirma:
É verdade que nas passagens onde estas palavras são usadas, encontramos
“homens convencendo” pecadores, mas fica assentado que sentir a
necessidade de confessar pecado a Deus e mudar de pensamento no sentido
de arrependimento (metanoia) resulta da operação do Espírito Santo.
Persuadir cabe ao homem; quebrantar o coração, ao Espírito de Deus.
(SHEDD, 2010, p.29).
A disciplina eclesiástica, segundo Santos, (2001) tem um triplo objetivo: 1)
restabelecer o pecador (cf. Mt 18.15; I Co 5.5; Gl 6.1); 2) manter a pureza da igreja (1 Co 5.68) e dissuadir outros (I Tm 5.20). Esses pressupostos ramificam a correta aplicação da
disciplina na igreja, no que diz respeito aos pontos seguintes:
Shedd (2010) argui que em primeiro lugar, o conceito de convencer pressupõe que um
membro tenha pecado que deve ser removido (cf. Jo 8.46). “Se teu irmão pecar vai arguí-lo
(elegxon) entre ti e ele só”. (Mt 18.15). Trata-se de um membro que pecou e esse pecado não
pode ficar encoberto. Essa pessoa precisa ser convencida do erro no primeiro aconselhamento,
tendo ele aceito, o resultado é que ganhou o seu irmão (v.15b). E no caso de não haver
sucesso com a pessoa em questão; segue para o segundo encontro levando mais duas
testemunhas e se não obtiverem êxito? Segue ao terceiro passo do processo: A igreja toma
conhecimento do problema e mesmo assim a referida pessoa não aceitando corrigir o seu erro,
ela perderá a sua condição de membro, passando pela disciplina cirúrgica 8. A exclusão não é
disciplina pedagógica ou punitiva, mas um gesto de amor para com o membro faltoso e uma
ação preventiva em favor da igreja. (SOBRINHO, 1998, p.131).
8
O processo da disciplina eclesiástica passa por pelo menos quatro estâncias. A primeira é a disciplina
preventiva exercida pela igreja, quando torna visível para os membros a instrução das doutrinas, treinando-os a
ter um eficaz desempenho cristão de comportamento, de serviço, de disciplina espiritual, moral e social na vida
diária, dentro e fora da igreja. A segunda é a disciplina corretiva exercida quando um membro erra causando
danos a si mesmo e a outros. A pessoa é corrigida e a disciplina deve ser isenta de vingança, de desejo de punir,
de retaliação, partidarismo e ciente de que o custo da recuperação pode ser de muita compaixão e paciência. A
terceira estância é a disciplina cirúrgica – exclusão. No caso de uma recuperação ser inviável, do faltoso
impenitente, a igreja tem o direito de considerá-lo excluído (cf. Tm 18.15-17). Por fim, um procedimento
estranho aos ensinos bíblico que é a carta compulsória, uma transferência não solicitada, mas imposta pela
igreja. Nesse caso o problema é transferido de endereço.
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De modo prático, segundo a Bíblia, a disciplina se fundamenta não apenas no
exercício do bom senso, mas sobre tudo e principalmente nos pilares da Palavra de Deus. A
disciplina é mandamento bíblico, proferido pelo Senhor Jesus. (cf. Mt 18.15-17). Paulo
orienta a igreja em Corinto sobre a prudência em observar a disciplina. (cf 1 Co 5.1-13). A
não observância é negligência desse mandato, com resultados negativos, bem como,
comprometedores para a vida espiritual da igreja, e do seu desempenho no trabalho, na
proclamação da Palavra, prejudicando também, a sua própria existência na comunidade onde
está inserida.
É unânime o entendimento de que “a igreja sem disciplina é uma igreja sem pureza
(cf. Ef 5.25-27) e sem poder (cf. Js 7.11-12a)”. (SANTOS, 2001, p. 32). O erro cometido por
um membro tem proporções consideradas na vida da igreja, porque o pecado impregnado
corrompe o caráter do crente, mancha-o e o torna inútil. Foi o que Paulo disse: “Todos se
extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis” (Rm 3.12a). Segundo MACARTHUR: “as
pessoas não redimidas são inadequadas para qualquer bem espiritual, imprestáveis para a
justiça, adequadas somente para serem lançadas ao fogo e queimadas” (cf. Jo 15.6). Diante de
um fato como esse, pode uma igreja subsistir encharcada de pessoas que fazem parte do seu
corpo, porém, não vivem a redenção do seu pecado?
Quando Paulo se dirige a igreja em Corinto, ele escreveu: “De fato, ouve-se que há
imoralidade entre vós, e imoralidade do tipo que nem mesmo entre os gentios se vê, a ponto
de alguém manter relações sexuais com a mulher de seu pai”. (1 Co 5.1). || (cf. vs 3-5). O
apóstolo direciona a igreja a tomar uma posição diante do caso de imoralidade sem precedente
no âmbito da igreja. Em essência, Paulo está chamando a igreja para exercer a autoridade
dada por Cristo, excluir aquele homem transgressor.
Jonathan Leeman (2013) sobre esse assunto faz substanciais questionamentos, quando
afirma:
Em primeiro lugar, ele diz à igreja para que aquele homem seja “expulso”,
mas expulso exatamente da onde? Além disso, por que ele admite que a
igreja possui autoridade para expulsar aquele homem? Aquele homem deve
prestar contas à Deus, não a eles, certo? Quem lhes deu o direito de expulsálo? E porque Paulo fala sobre o seu Espírito “ser salvo no Dia do Senhor?”
qual é a sua filiação a essa igreja e sua salvação? Finalmente, parece que
Paulo tem outro alvo em mente além de manter as pessoas unidas. Se o seu
alvo não é simplesmente manter a igreja unida, que alvo é esse? Nós
podemos, consequentemente, chegar a essas perguntas, mas uma coisa deve
ficar clara para nós: Paulo reivindica um ato de autoridade institucional a fim
de defender o testemunho do evangelho. Aparentemente, o evangelho e os
princípios institucionais da vida da igreja talvez estejam tão desconectados
como às vezes pensamos. (LEEMAN, 2013, p.210-211).
20
Segundo Daver (2007): “se quisermos ver nossas igrejas saudáveis, temos de nos
preocupar ativamente uns com os outros, até ao ponto de confrontação”. (DAVER, 2007, p.
212).
6. QUANDO A ESPERANÇA FLORESCE?
A esperança floresce quando as pessoas começam a perceber que seus problemas são
basicamente espirituais: eles estão de certo modo, ligados ao pecado. De fato, reconhecer que
os problemas pessoais e interpessoais estão relacionados ao pecado constitui-se, em boas
novas, porque aí existe esperança. Por quê? Porque o motivo primário da vinda de Cristo ao
mundo foi nos livrar da penalidade e do poder governante do pecado.
Dessa perspectiva bíblica sobre esse problema chamado pecado surge repleta
esperança para as pessoas que lutam com padrões não bíblicos de pensamento, desejo,
sentimento e vida. Essa perspectiva é libertadora e encorajadora; ela é bíblica, ela e
verdadeira! Ela diz às pessoas que embora seus problemas pessoais e interpessoais sejam
sérios e intensos, existe esperança de mudança porque Jesus Cristo veio ao mundo para
fornecer libertação da condenação e da corrupção, da culpa e da contaminação, da penalidade
e do poder escravizador do pecado na vida delas.
A pessoa em disciplina precisa saber sobre o pecado. O que é de relevante nessa
questão? O pecado rouba o alvo da vida, desumaniza o coração, insensibiliza a alma, adoece a
mente, deflagra a maldade, deturpa a consciência e gera morte. O pecado pode ser proativo
porque tem origem no comportamento espontâneo, e pode ser reativo que são reações não
bíblicas às manifestações, expressões, ou resultados do pecado em nosso mundo; não
necessária nem primariamente ações pecaminosas, mas atitudes, desejos, pensamentos,
conceitos, e ideias não bíblicos. É imprescindível conscientizá-lo de que deve “guardar com
toda a diligência o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23). A Bíblia
afirma:
Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode
ser tentado pelo mal, e ele a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado,
quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Então a
concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo
consumado, gera a morte. Não vos enganeis, meus amados irmãos. (TIAGO
1.13-16, Séc. 21, p. 1239).
Não necessariamente pecados deliberados ou atrevidos, mas também pecados de
ignorância e pecados secretos. Quem pode discernir os próprios erros? “Purifica-me tu dos
21
que me são ocultos”. Sem mencionar os pecados de presunção “guarda o teu servo, para que
se não assenhoreie de mim; então serei perfeito, e ficarei limpo de grande transgressão. Sejam
agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face,
Senhor, Rocha minha e Redentor meu!” (Sl 19.12-14). “Ainda que outrora eu era
blasfemador, perseguidor, e injuriador; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por
ignorância, na incredulidade” (1 Tim 1.13).
A disciplina deve ter uma visibilidade da ocorrência. O pecado pode ser definido como
qualquer pensamento, ação, reação, aquiescência, atitude, desejo que escraviza, motiva,
escolha, sentimento e hábito contumaz, o que é contrário à vontade moral de Deus revelada na
Bíblia, quer conhecida pela pessoa ou não, quer deliberada e conscientemente escolhida ou
cometida como um padrão habitual de resposta.
Paulo afirma achar nele essa lei, mesmo querendo fazer o bem, o mal estava nele:
“Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus
membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do
pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do
corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo
com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado” (Rm 7.21-25). A
graça que opera na disciplina vem do Senhor. Paulo escreveu:
Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos
quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das
potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de desobediência,
entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza
filhos da ira, como também os demais. (EFÉSIOS 2.1-3. Séc. 21, p. 1189).
Jesus Cristo veio para fornecer libertação da condenação e da corrupção, da culpa e da
contaminação, e da penalidade e do poder escravizador do pecado na vida das pessoas. Essa
perspectiva bíblica comunica às pessoas que em Jesus Cristo elas encontram todos os recursos
de que necessitam para escapar da corrupção no mundo e viver de forma piedosa e ainda
encontra em Cristo a graça de viver vidas frutíferas caracterizadas pela excelência moral,
conhecimento, autocontrole, perseverança, bondade fraterna, e amor cristão (II Pedro 1.3-8).
Todo esse entendimento e empreendimento se realizam através da igreja, que é o corpo santo,
vivo e acolhedor de Cristo.
22
7. NO PROCESSO DA RESTAURAÇÃO
O desligamento formal de um membro da igreja não elimina os vínculos espirituais já
estabelecidos. A disciplina deve ser concebida como um instrumento para ajudar o crente a
vencer os seus problemas e a viver melhor a vida cristã. A disciplina não se destina a punir o
passado, mas a prevenir o futuro. A ênfase bíblica para a disciplina está no perdão e não na
punição. Há quem se glorie no número de exclusões, medindo o sucesso do ministério pela
quantidade de desligamentos, como se o fato revelasse espiritualidade absoluta, austeridade,
zelo. Ao contrário, indica fracasso e não êxito.
Lidar com a restauração de um excluído e reintroduzi-lo na vida da igreja é um
processo a curto, médio e longo prazo. Varia de pessoa para pessoa, do problema ocorrido e
como foi devidamente tratado. Há situações em que o excluído toma uma posição unilateral,
como fruto de suas mágoas que geraram ressentimentos e raízes de amargura e decidem não
mais voltar àquela igreja ou abandonar o evangelho.
Trabalhar a restauração de um membro desgarrado é um dos desafios da Igreja local
hoje. Urge o ministério de encorajamento que precisa ser mais bem exercido, tanto para
conduzir crentes excluídos9 de volta ao relacionamento discipulador, como para levar a
própria igreja a rever aspectos de seu ministério, que possam ser exercidos para ajudar as
pessoas a crescerem no relacionamento, amadurecerem na fé e aprenderem a guardar o ensino
de Cristo. O processo da restauração deve focar a descoberta do relacionamento pessoal com
Deus.
Essa restauração será suficiente para o enfrentamento de outras demandas da vida
cristã, como as provações, que são suficientes para debelar a fé. A pessoa deve ser desafiada
acerca de sua salvação, quando essas provações lhe pressionam. Elas revelam a fraqueza da fé
e anulam a profissão de fé mediante essas tempestades espirituais. (cf. Lc 6.46-49). Fortalecêlos é ajudá-los a ter uma interação com Cristo e Sua Palavra. Sendo assim, eles serão maduros
o suficiente para permanecerem firmes quando os problemas surgirem.
A Palavra de Deus é a única autoridade em questão de fé e conduta e é o único padrão
legítimo para avaliar todos os aspectos da vida. A Palavra é completamente suficiente para
9
Infelizmente, em algumas igrejas há uma só porta de entrada e várias de saída. As estatísticas de exclusões são
alarmantes, enquanto que as de reintegração são muito baixas. Quando se estuda a questão dos excluídos,
conclui-se que é fundamental agir preventivamente e para isso é necessário descobrir e eliminar as causas das
exclusões. Segundo SOBRINHO as causas de exclusão são: Fatores Socioeconômicos: mudanças de residência,
ascensão econômica e problemas conjugais. Fatores Religiosos: falta de conversão genuína, apelos malfeitos e
batismos precipitados. Fatores Doutrinários: falta de maturidade cristã, casamentos heterogêneos e abandono
da igreja para seguir outros grupos. Fatores Eclesiásticos: falta de cuidados pastorais (falta de amor, de
organização ou de tempo) e visão distorcida da disciplina. (1998, p.132).
23
orientar do mais simples aos complexos problemas da vida. No corpo de Cristo ocorrem
problemas que devem ser tratados biblicamente. Portanto, a pessoa em processo de
restauração precisa de ajuda para remover os obstáculos que o impede de andar com Cristo,
crescer e se multiplicar.
O processo de restauração segundo Viola é: “amor em disposição para admoestar
outros quando estes se encontram em falta” [...] “amor é consciência de que por sermos
membros uns dos outros e termos os mesmos ancestrais, nossas ações têm profundo efeito em
nossos irmãos e irmãs”. (VIOLA, 2009, p. 218). Portanto, reintegrar um crente afastado é tão
importante quanto ganhar uma nova pessoa para Cristo. O trabalho de restauração pode ser
extremamente proveitoso, mesmo que o restaurando tenha pouco ou nenhum conhecimento
sobre o seu relacionamento com Deus em moldes bíblicos e o compromisso pessoal com
Cristo. Na medida em que o processo avança é notório que aquele irmão focaliza a sua
atenção de modo continuo na autoridade e suficiência da Palavra de Deus.
A restauração é a evidencia de uma sujeição mútua e isso é muito trabalhoso. Mexe
com o ego. Representa que as pessoas não gostam de estar sujeitas a outras. Aquelas que vêm,
por exemplo, de uma queda, trazem o ranço da individualidade, da liberdade sem prestação de
contas. Elas são vítimas da mentira de que podem fazer o que é reto aos seus próprios olhos,
sem a interferência de outro, principalmente de um conselheiro bíblico. (Cf. Pv 12.15).
“Receber correção, admoestação e reprovação de outros mortais constitui uma cruz pesada de
carregar” (Pv 15.10; 17.10; 27.5-6; 28.23). (VIOLA, 2009, p. 221).
Esse processo de sujeição mútua contraria os interesses de nossa rebeldia. Portanto,
esse processo ressalta o fato de que o amor deve governar nossas relações quando vamos lidar
com a outra pessoa.
De maneira semelhante, o amor compelirá a abordar com um espirito gracioso e gentil
os nossos irmãos e irmãs em processo de restauração que necessita de nossa ajuda. Dessa
forma, se pode criar e manter um ambiente de compaixão e fraternidade. Um ambiente de
amor e comunhão cristãos previne contra as exclusões. Um crente amado e bem aceito que
aprendeu a amar e a aceitar seus irmãos em Cristo, sentir-se-á fortalecido para enfrentar e
superar os problemas da vida. O espírito de perdão e reconciliação é indispensável a um
ambiente de receptividade. Envolvido pelo amor e companheirismo cristãos, esse crente
sentir-se-á bem e não se afastará para não perder esse convívio. Esse clima fraterno contagiará
de modo especial, outros crentes afastados que vêm de outras igrejas.
Nem todos os excluídos são incrédulos. Há entre eles crentes genuínos que caíram e
outros que não receberam aconselhamento adequado. Um bom trabalho de integração inicia-
24
se com o aconselhamento na hora da decisão, prossegue com o cuidado no acompanhamento
do novo crente nos primeiros passos da vida cristã e só se completa quando o crente acha-se
plenamente envolvido na igreja em condições de cuidar de outros. Um bom trabalho de
integração aproveita melhor os frutos da evangelização e diminui o número de exclusões.
Toda igreja que desejar o discipulado com eficiência promoverá a edificação mútua e
possibilitará o treinamento de seus membros para que haja permanente ministério de
encorajamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A disciplina na igreja não é opcional. Ela procede de Deus e tem implicações
fundamentais na vida e na obra da igreja. Sua fonte é o senhorio de Cristo, o qual dá o
fundamento para o exercício da disciplina. A igreja a exerce com o fito de honra a Deus e à
sua glória, bem como, tratar da saúde da igreja, evitando que o pecado dentro dela se espalhe.
A intenção da disciplina é restaurar o irmão que pecou e encorajá-lo a crescer para
maturidade. O âmago da disciplina é libertar o cativo. É amar o irmão o bastante para não
deixá-lo no pecado nem entregá-lo à miséria de sua escravidão. Poirier afirma citando
Dietrich Bonhoeffer: “Nada pode ser mais cruel do que a ternura que deixa o outro em seu
peado. Nada pode demonstrar mais compaixão do que a severa repreensão que chama de volta
um irmão perdido em pecado. Esse é um ministério de misericórdia”. (POIRIER, 2011, p.
233).
Considera-se, ser a disciplina na igreja fator de obediência a Deus e uma declaração de
total necessidade de ajuda. A prática da disciplina é positiva, porque esclarece o perigo fatal
do pecado praticado contra a pessoa que o fez e contra a igreja, como o corpo de Cristo. O
erro depõe contra o testemunho da igreja para a comunidade onde está inserida. Na sua devida
proporção, para o país e o mundo. A disciplina evidencia também, que a santidade do crente
deve refletir a santidade de Deus. Viver no corpo de Cristo, que é a igreja, precisa ter sentido,
e não o encontramos em nossas posições pessoais, mas o sentido se dá no precioso nome de
Cristo.
A disciplina transige por preservar a doutrina da igreja, do que é sagrado e da vida
cristã. Calvino afirma: “a segurança da igreja é fundamentada e sustentada sobre a doutrina,
disciplina e os sacramentos”. Portanto, não se pode perder de vista que a disciplina é um dos
pilares que se deve fincar. A igreja não pode prescindir de usar a disciplina quando o mal se
25
fez presente e usar a disciplina para a prevenção do mal. Esse deve ser o caminho a seguir na
disciplina da igreja do Senhor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Bíblia Sagrada Almeida Século 21. Luiz Alberto T. Sayão. São Paulo, Vida Nova, 2008.
COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão. São Paulo, Vida Nova, 2011.
DEVER, Mark. 9 Marcas de uma igreja saudável. São Paulo. Editora Fiel, 2007.
JR, John F. MacArthur. Introdução ao Aconselhamento Bíblico – um guia básico de
princípios e práticas de aconselhamento. São Paulo, Editora Hagnos, 2004.
LEEMAN, Jonathan. A igreja e a surpreendente ofensa do amor de Deus: reintroduzindo
as doutrinas sobre a membresia e a disciplina da Igreja. São Paulo, Editora Fiel, 2013.
PIPER, John. Irmãos, nós não somos profissionais. Um apelo aos pastores para ter um
ministério radical. Shedd publicações, São Paulo, 2009.
POIRIER, Alfred. O Pastor Pacificador – Um guia bíblico para soluções de conflitos na
igreja. São Paulo, Vida Nova, 2011.
PORTELA, F. Solano. Disciplina na Igreja: Uma marca em Extinção – Estudos sobre
uma das características da verdadeira igreja. São Paulo, Editora Os Puritanos, 2001.
PRICE, Donald E. Conflitos e questões polêmicas na igreja. São Paulo, Vida Nova, 2001.
REIDBEAD, Paris. Crentes que precisam de salvação. Ed Betânia, MG, 1992.
SHEDD, Russell P. Disciplina na Igreja. São Paulo. Vida Nova, 2010.
SOBRINHO, João Falcão. A Túnica Inconsútil. Rio de Janeiro, JUERP, 1998.
VIOLA, Frank. Reimaginando a Igreja – para quem busca mais do que simplesmente um
grupo religioso. Brasília – DF, Editora Palavra, 2009.

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