- Escola de Comando e Estado
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Maj Eng CÉSAR ALEXANDRE CARLI Sistema Engenharia: uma proposta para a Atividade Especial de Mergulho Rio de Janeiro 2007 Maj Eng CÉSAR ALEXANDRE CARLI SISTEMA ENGENHARIA: UMA PROPOSTA PARA A ATIVIDADE ESPECIAL DE MERGULHO Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército como requisito para obtenção do título de Doutor em Ciências Militares. Orientador: Maj Eng Paulo Afonso Bruno de Melo Rio de Janeiro 2007 Maj Eng CÉSAR ALEXANDRE CARLI SISTEMA ENGENHARIA: UMA PROPOSTA PARA A ATIVIDADE ESPECIAL DE MERGULHO Tese apresentada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, para obtenção do título de Doutor em Ciências Militares. Aprovado em BANCA EXAMINADORA ____________________________________________ Paulo Afonso Bruno de Melo - Maj Eng - Dr. Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ________________________________________ Gen Div Carlos Norberto Lanzellotte - Dr. Membro Diretoria de Especialização e Extensão _____________________________________________ Arnaldo Alves da Costa Neto - Ten Cel Cav - Dr. Membro Escola de Instrução Especializada _______________________________________________ João Maurício da Rocha Silva - Ten Cel Eng - Dr. Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército __________________________________________________ Amaury Simões dos Santos Júnior - Ten Cel Eng - Dr. Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército À Josiane Tavares Guimarães Carli, minha esposa, Isabelle e Juliana Guimarães Carli, minhas filhas, a quem dedico todo o meu carinho e respeito, pois souberam compreender a minha ausência para poder levar a bom termo esta tese. AGRADECIMENTOS À Deus, pelo dom da vida e pela graça de ter concluído este trabalho. Aos meus pais, Pedro Ivo Carli e Mariene de Almeida Carli, pelo carinho, exemplos e pela segurança que sempre me deram em todas as oportunidades da minha existência. Ao Major Paulo Afonso Bruno de Melo pela firme orientação e pela grande ajuda na realização deste trabalho. À todas as pessoas que colaboraram comigo na realização desta tese, em especial o Coronel José Luis de Paiva, meu primeiro instrutor de mergulho, oficial de elite da Arma de Engenharia, em cujo trabalho e exemplo pude me inspirar. Aos companheiros mergulhadores da ECEME, cujas opiniões, sugestões e críticas foram de suma importância para uma melhor elaboração desta pesquisa. “Os Engenheiros, com seus sofisticados processos de combate e trabalho, abrem caminhos, rompem brechas nos dispositivos fortificados, abreviando prazos, economizando vidas. É por isso que, na guerra moderna, mais Engenharia significa menos tempo, menos sangue...” Gen Ayrton Pereira Tourinho. RESUMO O tema investigado aborda a situação atual e faz uma proposta para o futuro acerca da atividade especial de mergulho, no que se refere ao seu emprego doutrinário, formação de recursos humanos e amparo legal no contexto do Sistema Engenharia. Trata-se de um tema de importância, pois se fundamenta na necessidade contínua de aperfeiçoamento e desenvolvimento da doutrina das operações militares, um dos pilares básicos de uma Força Terrestre. O estudo é baseado nos exemplos da Marinha do Brasil, Exército Argentino e Exército dos EUA, com suas doutrinas de emprego, estruturas organizacionais e estruturas de formação de mergulhadores. Esse estudo serve de referência para a proposta que o autor sugere ser adotada pelo Exército Brasileiro. Esta proposta está baseada, além dos casos da MB e dos exércitos de nações amigas já citadas, em bibliografia, na opinião de especialistas da área de mergulho e no que ocorre nas OMEM de Engenharia. Palavras-chave: Proposta. Doutrina. Formação. Amparo legal. Mergulho. Sistema Engenharia. ABSTRACT The theme investigated deals with the actual situation and purpose something new for the future when we discuss about a special activity for diving, referring about its doctrine usage, formation of human resources and legal support in context of Engineering System. It is a theme really important grounds the continuous needed of improving and developing of the doctrine in military operations, one of the powerful points of the Land Power. The study is based in examples of the Brazilian Marine, Argentinean and American Army, with their doctrines of usage, organizational structures and struturation of divers’ formation. This study serves of reference for the purpose of the actor. He gives as suggestion for being used by the Brazilian Army. This propose is based not only in Brazilian Marine’s situations already quotten, in bibliography, in specialist’s opinion about diving’s area and what is continually happening in Engineering’s Specific Diving Military Organization. KeyWords: Propose. Doctrine. Formation. Legal Suport. Diving. Engineering System. LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Correspondência entre a graduação e os níveis de mergulho............................................................................. 116 QUADRO 2 Tempos e profundidade para a manutenção da qualificação de mergulhador.............................................. 119 QUADRO 3 Número de OM pesquisadas................................................. 152 QUADRO 4 Classificação das missões empregando mergulhador......... 160 QUADRO 5 Modificações na estrutura organizacional das OM valor companhia.............................................................................. 167 QUADRO 6 Códigos dos cursos/estágios de mergulho cadastrados no DGP em 2006................................................................ 170 QUADRO 7 Base doutrinária, legal e técnica de amparo para a Atv Esp de Mergulho................................................................ 184 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Desenho de um mergulhador encapuzado com bolsa de couro ligado à superfície (1511)............................................................ 42 Figura 2 Guerreiro persa provido de um odre............................................ 43 Figura 3 Urinatore....................................................................................... 44 Figura 4 Equipamento de mergulho de Da Vinci...................................... 45 Figura 5 Sino de Halley (1690)..................................................................... 46 Figura 6 Equipamento de Lethebridge (1716)........................................... 46 Figura 7 Primeira roupa selada para mergulho......................................... 47 Figura 8 Válvula de demanda de Rouquayrol (1866).............................. 48 Figura 9 Escafandro rígido articulado (1882).......................................... 48 Figura 10 Aparelho de respiração de Davis, usado para escapes de Figura 11 submarinos............................................................................... 49 Lambertsen Anphibious Respiratory Unit (LARU)……….……. 51 a Figura 12 Mergulhador de combate inglês durante a 2 GM................... 52 Figura 13 O regulador de demanda Cousteau-Gagnan........................... 54 Figura 14 Equipamento com o regulador a demanda de CousteauGagnan (1943)......................................................................... 54 Figura 15 Capacete rígido usado para escafandria................................. 56 Figura 16 Cadetes de Engenharia realizando mergulho em água doce turva em 1999........................................................................... Figura 17 68 Cadetes de Engenharia realizando a reflutuação de um painel de passadeira em ambiente controlado..................................... 69 Figura 18 Organograma do ComForS......................................................... 75 Figura 19 Foto do Navio K11, FELINTO PERRY, atracado ao cais da BACS........................................................................................ 77 Figura 20 Brasão do GRUMEC.................................................................... 77 Figura 21 MEC instalando uma mina imantada em um casco de navio.............................................................................................. 80 Figura 22 Brasão do CIAMA............................................................................ 81 Figura 23 Distintivo do curso de escafandria............................................... 83 Figura 24 Distintivo do curso de mergulhador de combate......................... 86 Figura 25 Distintivo do curso de Buzo de Ejército....................................... 90 Figura 26 Distintivo do curso de Instrutor de Buzo de Ejército................... 94 Figura 27 Organograma do Batalhão de Engenharia Anfíbio.................... 99 Figura 28 Organograma da Companhia de Buzos de Ejército.................. 103 Figura 29 Mergulhador utilizando o traje MK-V entrando na água durante a II Guerra Mundial..................................................... Figura 30 Embarcação atingida por mina fluvial norte-vietnamita e reflutuada por mergulhadores................................................. Figura 31 109 Barcos patrulha (soviéticos), reflutuados por mergulhadores em Mogadishu (1993)............................................................. Figura 32 108 110 Mergulhadores preparando a destruição de obstáculos subaquáticos no Iraque........................................................... 111 Figura 33 Símbolo do Naval Diving and Salvage Training Center........... 114 Figura 34 Mergulhadores utilizando a motosserra hidráulica................... 115 Figura 35 Distintivos da hierarquia do mergulho......................................... 118 Figura 36 Demolição da represa de Embrey (Fredericksburg-Virginia), realizada pelo 544th Engineer Dive Team.............................. Figura 37 120 Composição dos meios para a operação “Chosin Action” – exercício de transposição de curso d’água, ocorrido em 1995. Destaque para o 551th Engineer Dive Team................. 121 Figura 38 Rede antimergulhadores inimigos............................................ 122 Figura 39 Disposição das missões de mergulhadores de Engenharia no Teatro de Operações......................................................... Figura 40 124 Relação de subordinação da Engenharia do Teatro de Operações............................................................................... 126 Figura 41 Organograma da Equipe de Mergulho de Engenharia............ 128 Figura 42 Organograma de uma Brigada de Engenharia de Corpo de Exército, destaque para a Equipe Leve de Mergulho............. 129 Figura 43 Organograma da Equipe Leve de Mergulho........................... 131 Figura 44 Principais bacias hidrográficas brasileiras.................................. 137 Figura 45 Mergulhadores em atividade no ambiente operacional característico da Engenharia...................................................... Figura 47 138 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “b”.............................................................................. 155 Figura 48 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “c”.............................................................................. Figura 49 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “d”.............................................................................. Figura 50 167 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “s”.............................................................................. Figura 63 166 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “r”............................................................................... Figura 62 165 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “q”.............................................................................. Figura 61 164 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “p”.............................................................................. Figura 60 163 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “n”.............................................................................. Figura 59 162 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “m”............................................................................. Figura 58 161 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “l”............................................................................... Figura 57 160 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “j”.................................................................................. Figura 56 159 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “i”............................................................................... Figura 55 158 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “h”.............................................................................. Figura 54 158 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “g”............................................................................ Figura 53 157 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “f”............................................................................... Figura 52 156 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “e”.............................................................................. Figura 51 155 168 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “t”............................................................................... 169 Figura 64 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “a”.............................................................................. Figura 65 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “b”.............................................................................. Figura 66 186 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “f”............................................................................... Figura 79 185 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “e”.............................................................................. Figura 78 182 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “d”.............................................................................. Figura 77 181 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “c”.............................................................................. Figura 76 180 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “b”.............................................................................. Figura 75 179 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “a”.............................................................................. Figura 74 178 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “c”.............................................................................. Figura 73 177 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “b”.............................................................................. Figura 72 176 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “a”.............................................................................. Figura 71 175 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “e”............................................................................. Figura 70 174 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “e”............................................................................. Figura 69 173 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “d”.............................................................................. Figura 68 172 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “c”.............................................................................. Figura 67 171 187 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “g”.............................................................................. 187 Figura 80 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “h”.............................................................................. Figura 81 189 Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “i”............................................................................... 190 Figura 82 Visualização do apoio de Engenharia...................................... 219 Figura 83 Organograma do Pel E Ap / Cia E Cmb das Bda Inf Mtz......... 241 Figura 84 Organograma do Pel E Ap / Cia E Cmb das Bda Mec............. 242 Figura 85 Organograma do Pel E Ap / Cia E Cmb da Bda Inf Pqdt......... 243 Figura 86 Organograma do Pel E Ap / Cia E Cmb da Bda Inf Sl............. 244 Figura 87 Organograma do Pel E Cmb L / Cia E Cmb da Bda Inf L........ 246 Figura 88 Organograma da Engenharia Divisionária............................... 247 Figura 89 Organograma da E Ex.............................................................. 249 Figura 90 Organograma do Pel E Merg - tipo I........................................ 253 Figura 91 Organograma do Pel E Merg - tipo II....................................... 256 Figura 92 Organograma do Pel Cmdo da Cia E Merg............................. 259 Figura 93 Organograma da Cia E Merg / E Ex......................................... 261 Figura 94 Organograma da Cia E Merg / ED........................................... 261 Figura 95 Organograma do Comando de Engenharia do CLTOT........... 262 Figura 96 Computador de mergulho............................................................ 276 Figura 97 Telefone com máscara para rosto inteiro................................. 277 Figura 98 Telefone de mergulho, versão meia-face.................................. 277 Figura 99 Caixa estanque com controles mecânicos............................... 279 Figura 100 Câmara anfíbia com flash........................................................ 279 Figura 101 Câmara de vídeo em caixa estanque..................................... 280 Figura 102 Lift bag com capacidade para levantar 50 kg........................... 281 Figura 103 Mergulhadores utilizando um Lift bag com capacidade para levantar 500 kg....................................................................... 281 Figura 104 Funcionamento de um rebreather........................................... 282 Figura 105 Rebreather................................................................................. 283 Figura 106 Mergulhador utilizando um Scooter ou DPV............................ 284 Figura 107 Cilindro com Nitrox................................................................ 285 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACO Adicional de compensação orgânica ALT Altitude AMAN Academia Militar das Agulhas Negras AMRJ Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro AOC Área Operacional Continental Ap Cj Apoio ao Conjunto Ap Dto Apoio Direto Ap Ge Eng Apoio Geral de Engenharia Ap Spl Apoio Suplementar ASCC Army Service Component Command ASG Area Support Group Atv Esp Atividade Especial BACS Base Almirante Castro e Silva BAvEx Batalhão de Aviação do Exército (BAvEx) Bda Inf Pqdt Brigada de Infantaria Pára-quedista Bda Op Esp Brigada de Operações Especiais BDO Basic Diving Officer BE Anf Batalhão de Engenharia Anfíbio BEC Batalhão de Engenharia de Combate BEC DE/Bda Bld Batalhão de Engenharia de Combate de Divisão de Exército ou de Brigada Blindada BE Cnst Batalhão de Engenharia de Construção BEsEng Batalhão de Escola de Engenharia BFEsp Batalhão de Forças Especiais BI Boletim Interno Bld Blindado(a) Btl Batalhão CAvEx Comando de Aviação do Exército CBM Corpos de Bombeiros Militares CC Carro de Combate CECLTOT Comando de Engenharia do Comando Logístico do Teatro de Operações Terrestres C Eng Curso de Engenharia CEP Centro de Estudo de Pessoal CFN Corpo de Fuzileiros Navais Cia E Cmb Companhia de Engenharia de Combate Cia E Cmb/Bda Companhia de Engenharia de Combate de Brigada Cia E F Paz Companhia de Engenharia de Força de Paz Cia E Pnt Companhia de Engenharia de Pontes Cia Prec Pqdt Companhia de Precursores Pára-quedista CIAMA Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché CIASM Centro de Instrução e Adestramento de Submarinos e Mergulho CI Op Esp Centro de Instrução de Operações Especiais CLAnf Carro sobre Largata Anfíbio CLT Consolidação das Leis do Trabalho CMAut Clube de Mergulho Autônomo CMAut/AMAN Clube de Mergulho Autônomo da AMAN CMAS Confédération Mondiale des Activités Subaquatiques CMbld Contramobilidade ComForS Comando da Força de Submarinos COMMZ Communications Zone COTER Comando de Operações Terrestres CPOR/SP Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo C-SAR Resgate em combate Ct Op Controle operacional CZ Combat Zone DF Distrito Federal DEE Diretoria de Extensão e Especialização DEM Departamento de Ensino de Mergulho DES Departamento de Ensino Submarino DME Diretoria de Material de Engenharia DOE Departamento de Operações Especiais DQBN Defesa Química Biológica Nuclear EAS Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento EB Exército Brasileiro EBOS Empresa Brasileira de Operações Subaquáticas EE Estabelecimento de Ensino EK Escafandristas EME Estado-Maior do Exército Eng Engenharia ENCOM Engineer Command EsIE Escola de Instrução Especializada EsSA Escola de Sargento das Armas EOD Explosive Ordnance Disposal EUA Estados Unidos da América FAB Força Aérea Brasileira F Esp Forças Especiais FT 90 Força Terrestre 90 Gab Cmt Ex Gabinete do Comandante do Exército Gp E Cmb Grupo de Engenharia de Combate GRUMEC Grupo/Grupamento de Mergulhadores de Combate GU Grande Unidade JLOTS Joint Logistics Over-The-Shore Operations LARU Lambertsen Anphibious Respiratory Unit LAT Limite Avançado de Trabalho MB Marinha do Brasil MCP Mobilidade, Contramobilidade e Proteção MEC Mergulhadores de Combate MTE Ministério do Trabalho e Emprego Mtz ou Mec Motorizada ou Mecanizada NAUI National Association of Underwater Instructors NGA Normas Gerais de Ação Obt Obstáculo OM Organização(ões) Militar(es) OMEM Organização(ões) Militar(es) Específica(s) de Mergulho Op Rib Operações Ribeirinhas OT Organização do Terreno PADI Profissional Association of Diving Instructors PARA-SAR Sigla internacional utilizada para designar pára-quedistas de salvamento aéreo e resgate PCI Pedido de Cooperação de Instrução PDE Plano Diretor do Exército PDIC Professional Diving Instructiors Corporation Pel C Ap Pelotão de Comando e Apoio Pel E Cmb Pelotão de Engenharia de Combate Pel E Ap Pelotão de Engenharia e Apoio Pel Eq Ass Pelotão de Equipagem e Assalto Pel Eq L Pelotão de Equipagem Leve PF Profundidade fictícia PlaDis Plano de Disciplinas Plj Planejamento PR Profundidade real Pra Dbq Praias de Desembarque Pqdt Pára-quedista QBN Químico, Biológico e Nuclear QCP Quadro de Cargos Previstos QDE Quadro de Distribuição de Efetivos QDM Quadro de Dotação de Material QG Quartel General RJ Rio de Janeiro SAR Serviço de Busca e Salvamento SBS Special Boat Section SCUBA Contained Underwater Breating Apparatus SEAL Sea, Air and Land (Mar, Ar e Terra) SIPLEx Sistema de Planejamento do Exército Sv Serviço TOE Tropas de Operações Especiais TTM Tanque de Treinamento de Mergulho TTTS Tanque de Treinamento de Salvamento de Submarino Tu Turma TO Teatro de Operações UD Unidades didáticas UDT Underwater Demolition Team (Equipe de Demolição Subaquática) Unidade K Kommando der Kleinkampfmittel USAES United States Army Engineer School USASOC United States Army Special Operations Command ZA Zona de Administração Z Cmb Zona de Combate SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................... 30 2 REFERENCIAL CONCEITUAL............................................ 34 2.1 TEMA.................................................................................... 35 2.2 PROBLEMA.......................................................................... 35 2.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA......................................... 36 2.4 ALCANCES E LIMITES........................................................ 36 2.5 JUSTIFICATIVA.................................................................... 37 2.6 CONTRIBUIÇÕES................................................................ 38 3 REFERENCIAL TEÓRICO................................................... 39 3.1 CONCEITOS IMPORTANTES.............................................. 39 3.1.1 Doutrina de emprego.......................................................... 39 3.1.2 Formação de recursos humanos...................................... 39 3.1.3 Adestramento de mergulhadores...................................... 40 3.1.4 Estrutura organizacional.................................................... 3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ATIVIDADE DE MERGULHO 41 3.2.1 Considerações iniciais....................................................... 41 3.2.2 Evolução histórica do mergulho no mundo..................... 42 3.2.3 Evolução histórica do mergulho no Brasil....................... 55 3.2.4 Considerações finais.......................................................... 57 3.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MERGULHO NAS FORÇAS 41 ARMADAS DO BRASIL........................................................ 58 3.3.1 Marinha do Brasil................................................................ 58 3.3.1.1 Generalidades....................................................................... 58 3.3.1.2 Os Mergulhadores de Combate (MEC)................................ 3.3.1.3 Os Escafandristas (EK)......................................................... 59 3.3.2 Força Aérea Brasileira (FAB)............................................. 60 3.3.3 Exército Brasileiro (EB)...................................................... 61 3.3.3.1 Generalidades....................................................................... 61 3.3.3.2 Companhia de Precursores Pára-Quedista (Cia Prec Pqdt) 3.3.3.3 Brigada de Operações Especiais.......................................... 62 59 62 3.3.3.4 Serviço de Busca e Salvamento do Comando de Aviação do Exército............................................................................ 64 3.3.3.5 Arma de Engenharia............................................................. 65 3.3.3.5.1 Generalidades....................................................................... 65 3.3.3.5.2 Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).................... 66 3.3.3.5.3 Escola de Sargentos das Armas (EsSA).............................. 70 3.3.3.5.4 Batalhão Escola de Engenharia (BEsEng)........................... 70 3.3.3.5.5 Atividades recentes e atuais................................................. 72 3.3.4 Considerações finais.......................................................... 73 3.4 O MERGULHO NA MARINHA DO BRASIL.......................... 74 3.4.1 Generalidades..................................................................... 74 3.4.2 Comando da Força de Submarinos (ComForS)............... 74 3.4.2.1 Base Almirante Castro e Silva (BACS)................................ 75 3.4.2.2 Navio de socorro submarino Felinto Perry.......................... 76 3.4.2.3 Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC).... 77 3.4.3 Centro de Instrução Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA)................................................................................ 81 3.4.3.1 Departamento de Ensino de Mergulho (DEM)...................... 82 3.4.3.2 Departamento de Operações Especiais (DOE).................... 85 3.4.3.3 Departamento de Ensino de Submarino (DES).................... 86 3.4.4 Considerações finais.......................................................... 87 3.5 O MERGULHO NO EXÉRCITO ARGENTINO..................... 87 3.5.1 Histórico.............................................................................. 87 3.5.2 Formação de Pessoal......................................................... 90 3.5.2.1 Curso de formação de Buzo de Ejército............................... 90 3.5.2.1.1 Finalidades e objetivos......................................................... 90 3.5.2.1.2 Condições de admissão........................................................ 91 3.5.2.1.3 Descrição geral do curso...................................................... 3.5.2.2 Curso de formação de instrutores e monitores de Buzo de 92 Ejército.................................................................................. 93 3.5.2.2.1 Finalidades e objetivos......................................................... 93 3.5.2.2.2 Descrição geral do curso e condições de admissão............. 94 3.5.2.3 Procedimentos pedagógicos................................................. 95 3.5.2.4 Classificação após o curso e aperfeiçoamentos................... 96 3.5.3 Manutenção da Especialidade de Buzo de Ejército....... 97 3.5.4 O Batalhão de Engenharia Anfíbio (BE Anf).................... 99 3.5.4.1 Generalidades....................................................................... 99 3.5.4.2 Elementos de Buzos de Ejército........................................... 100 3.5.4.2.1 Capacidades......................................................................... 101 3.5.4.2.2 Limitações ............................................................................ 102 3.5.4.3 A Companhia de Buzos de Ejército...................................... 103 3.5.4.4 Emprego dos Buzos de Ejército............................................ 105 3.5.4.4.1 Características das operações............................................. 3.5.4.4.2 Execução do apoio em operações........................................ 106 3.5.5 Considerações finais.......................................................... 107 3.6 O MERGULHO NO EXÉRCITO DOS EUA.......................... 108 3.6.1 Histórico.............................................................................. 108 3.6.2 Formação de pessoal......................................................... 111 3.6.2.1 Generalidades....................................................................... 111 3.6.2.2 Curso de formação de Engineer divers................................ 112 3.6.2.2.1 1a fase................................................................................... 112 3.6.2.2.2 2a fase................................................................................... 113 3.6.2.3 Estrutura hierárquica............................................................. 116 3.6.2.3.1 Mergulhador de 2a classe..................................................... 117 3.6.2.3.2 Mergulhador de salvamento ................................................ 117 a 105 3.6.2.3.3 Mergulhador de 1 classe..................................................... 3.6.2.3.4 Master Diver.......................................................................... 118 3.6.2.3.5 Basic/Salvage Diving Officer ................................................ 118 3.6.2.3.6 Manutenção da Qualificação................................................ 119 3.6.3 Emprego dos mergulhadores de Engenharia.................. 119 3.6.3.1 Missões dos mergulhadores de Engenharia ........................ 119 3.6.3.1.1 Mobilidade e Contramobilidade............................................ 120 3.6.3.1.2 Operações de transposição de curso d’água....................... 120 3.6.3.1.3 Abertura, construção e restauração de instalações portuárias.............................................................................. 3.6.3.1.4 117 122 Busca, salvamento e recuperação........................................ 122 3.6.3.1.5 Proteção................................................................................ 122 3.6.3.1.6 Manutenção de embarcações............................................... 123 3.6.3.1.7 Joint Logistics Over-The-Shore Operations (JLOTS)……… 123 3.6.3.1.8 Outras missões subaquáticas............................................... 124 3.6.3.2 Organizações Militares (OM) de Mergulho de Engenharia.. 125 3.6.3.2.1 Equipe Pesada de Mergulho ou Equipe de Mergulho de Engenharia........................................................................... 126 3.6.3.2.2 Equipe Leve de Mergulho..................................................... 129 3.6.3.3 Emprego dos Mergulhadores de Engenharia....................... 132 3.6.3.3.1 Comando e Controle............................................................. 132 3.6.3.3.2 Prioridade para o apoio dos mergulhadores de Engenharia 133 3.6.3.3.3 Procedimento para solicitar o apoio de mergulhadores........ 133 3.6.4 Fatores que afetam as operações das equipes de mergulho.............................................................................. 134 3.6.4.1 Tipos de mergulho................................................................ 134 3.6.4.1.1 Mergulho autônomo.............................................................. 134 3.6.4.1.2 Mergulho dependente.......................................................... 135 3.6.4.2 Considerações do ambiente................................................. 135 3.6.5 Considerações finais.......................................................... 135 3.7 O MERGULHO DE ENGENHARIA....................................... 137 3.7.1 O Ambiente operacional do mergulhador de Engenharia.......................................................................... 137 3.7.1.1 O mergulho em água doce................................................... 138 3.7.1.1.1 A altitude............................................................................... 138 3.7.1.1.2 A densidade da água............................................................ 139 3.7.1.1.3 A visibilidade......................................................................... 140 3.7.1.1.4 As correntes.......................................................................... 140 3.7.1.1.5 A temperatura....................................................................... 142 3.7.1.1.6 A poluição............................................................................. 142 3.7.1.1.7 Outras observações.............................................................. 142 3.7.1.2 O mergulho noturno.............................................................. 143 3.7.2 Considerações finais.......................................................... 144 4 REFERENCIAL METODOLÓGICO..................................... 146 4.1 OBJETIVOS.......................................................................... 146 4.1.1 Geral.................................................................................... 146 4.1.2 Específicos.......................................................................... 146 4.2 HIPÓTESES......................................................................... 147 4.3 VARIÁVEIS........................................................................... 147 4.4 METODOLOGIA................................................................... 148 4.4.1 Tipo de pesquisa................................................................. 148 4.4.2 Método................................................................................. 148 4.4.3 A população........................................................................ 148 4.4.4 Técnicas de coleta de dados............................................. 148 5 RESULTADOS..................................................................... 151 5.1 A ATIVIDADE ESPECIAL DE MERGULHO NAS ORGANIZAÇÕES MILITARES DE ENGENHARIA DE COMBATE............................................................................ 151 5.1.1 Generalidades.................................................................... 151 5.1.2 Questionários aplicados nas OM Eng Cmb..................... 151 5.1.2.1 Discussão............................................................................. 153 5.2 QUESTIONÁRIOS APLICADOS NOS OFICIAIS MERGULHADORES DE ENGENHARIA.............................. 169 5.2.1 Generalidades..................................................................... 169 5.2.2 Quanto ao emprego de mergulhadores............................ 171 5.2.2.1 Discussão............................................................................. 171 5.2.3 Quanto à formação de Mergulhadores............................. 176 5.2.3.1 Discussão............................................................................. 176 5.2.4 Quanto à legislação, doutrina e material de mergulho... 180 5.2.4.1 Discussão............................................................................ 180 6 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES................................. 192 6.1 DOCUMENTAÇÃO REGULADORA DA ATIVIDADE ESPECIAL DE MERGULHO................................................. 192 6.1.1 Legislação em âmbito nacional......................................... 6.1.1.1 Generalidades....................................................................... 192 6.1.2 Norma Regulamentadora nº 15 - Atividades e operações insalubres................................................................... 192 193 6.1.3 Norma da Autoridade Marítima para Atividades Subaquáticas (NORMAN-15).............................................. 198 6.1.4 Legislação no Âmbito Militar............................................. 200 6.1.4.1 Decreto nº 4.307, de 18 de julho de 2002, regulamenta a medida provisória que dispõe sobre a reestruturação da remuneração dos militares das Forças Armadas................. 6.1.4.2 200 Portaria nº 236, de 06 de maio de 2003, do Comando do Exército................................................................................. 200 6.1.4.3 Portaria nº 051/DGP, de 18 de agosto de 2000................... 205 6.1.5 Documentação técnica....................................................... 206 6.1.5.1 Boletim Técnico no 20, da Diretoria de Material de Engenharia (DME), de 1993................................................. 6.1.5.2 206 Boletim Técnico Especial Nr 10 – DME, Atividades de Mergulho............................................................................... 206 6.1.5.3 Manual de Campanha C 5-34 – Vade-Mécum de Engenharia............................................................................ 207 6.1.6 Considerações finais.......................................................... 6.2 PROPOSTA DE DOUTRINA DE EMPREGO PARA A 207 ATIVIDADE ESPECIAL DE MERGULHO DENTRO DO SISTEMA ENGENHARIA..................................................... 208 6.2.1 Considerações iniciais....................................................... 208 6.2.2 Características da Arma de Engenharia evidenciadas no emprego de mergulhadores......................................... 210 6.2.1.1 Durabilidade dos trabalhos................................................... 210 6.2.2.2 Progressividade dos trabalhos.............................................. 211 6.2.2.3 Amplitude de desdobramento............................................... 211 6.2.2.4 Apoio em profundidade......................................................... 212 6.2.2.5 Canais técnicos de Engenharia............................................ 212 6.2.3 Princípios gerais de emprego da Arma de Engenharia evidenciados no emprego de mergulhadores................. 213 6.2.3.1 Emprego com Arma técnica.................................................. 213 6.2.3.2 Emprego centralizado........................................................... 213 6.2.3.3 Permanência nos trabalhos.................................................. 213 6.2.3.4 Utilização imediata dos trabalhos......................................... 214 6.2.3.5 Manutenção dos laços táticos............................................... 214 6.2.3.6 Engenharia em reserva......................................................... 215 6.2.3.7 Prioridade e urgência............................................................ 215 6.2.3.8 Emprego por elementos constituídos................................... 216 6.2.4 As formas de apoio e as situações de comando da Engenharia no emprego de mergulhadores..................... 216 6.2.4.1 Formas de apoio................................................................... 216 6.2.4.1.1 Apoio ao conjunto (Ap Cj)..................................................... 217 6.2.4.1.2 Apoio suplementar (Ap Spl).................................................. 217 6.2.4.1.3 Apoio direto (Ap Dto)............................................................ 218 6.2.4.2 Situações de comando......................................................... 218 6.2.5 O apoio de Engenharia prestado pelos elementos de mergulho.............................................................................. 219 6.2.5.1 Aspectos introdutórios.......................................................... 219 6.2.5.2 Trabalhos técnicos de Engenharia....................................... 220 6.2.5.2.1 Reconhecimentos especializados......................................... 220 6.2.5.2.2 Estradas................................................................................ 221 6.2.5.2.3 Pontes................................................................................... 222 6.2.5.2.4 Organização do terreno (OT)................................................ 222 6.2.5.2.5 Instalações............................................................................ 223 6.2.5.2.6 Assistência Técnica.............................................................. 225 6.2.5.2.7 Cartografia............................................................................ 225 6.2.5.2.8 Manutenção de equipamento de Engenharia....................... 226 6.2.5.3 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às operações de transposição de curso d’água........................ 226 6.2.5.3.1 Reconhecimentos especializados......................................... 227 6.2.5.3.2 Pontes................................................................................... 228 6.2.5.3.3 Operações de dissimulação tática........................................ 229 6.2.5.3.4 Proteção de pontes............................................................... 229 6.2.5.3.5 Segurança dos locais de travessia....................................... 230 6.2.5.4 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às Operações Anfíbias.............................................................. 6.2.5.5 231 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às operações na selva........................................................................... 232 6.2.5.5.1 Desminagem e minagem fluvial na Amazônia...................... 233 6.2.5.6 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às Operações Ribeirinhas (Op Rib)........................................... 6.2.5.7 234 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio à função logística salvamento ................................................. 236 6.2.5.8 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às ações subsidiárias e de interesse econômico...................... 236 6.2.6 Considerações finais.......................................................... 238 6.3 A ATIVIDADE DE MERGULHO E A ESTRUTURA ORANIZACIONAL DA ARMA DE ENGENHARIA................ 239 6.3.1 Generalidades .................................................................... 239 6.3.2 O Apoio dos mergulhadores de Engenharia no Escalão Brigada................................................................................. 240 6.3.2.1 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Infantaria Motorizada (Cia E Cmb / Bda Inf Mtz).................. 6.3.2.2 Companhia de Engenharia de Combate de Brigada Mecanizada (Cia E Cmb / Bda Mec)................................... 6.3.2.3 243 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Infantaria de Selva (Cia E Cmb / Bda Inf Sl)...... 6.3.2.5 241 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Infantaria Pára-quedista (Cia E Cmb / Bda Inf Pqdt)............ 6.3.2.4 240 243 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Infantaria de Leve (Cia E Cmb / Bda Inf L)........................... 245 6.3.2.6 Observações......................................................................... 246 6.3.3 O apoio dos mergulhadores de Engenharia no Escalão Divisão de Exército (DE).................................................... 247 6.3.3.1 Generalidades....................................................................... 247 6.3.3.2 Batalhão de Engenharia de Combate (BEC)........................ 248 6.3.4 O apoio dos mergulhadores de Engenharia no Escalão Exército de Campanha (Ex Cmp)...................................... 249 6.3.4.1 Generalidades....................................................................... 249 6.3.4.2 Batalhão de Engenharia de Combate................................... 6.3.5 Companhia de Engenharia de Mergulho (Cia E Merg) – 250 Uma Proposta...................................................................... 250 6.3.5.1 Generalidades....................................................................... 250 6.3.5.1.1 Missão.................................................................................. 6.3.5.1.2 Mobilidade............................................................................. 251 6.3.5.1.3 Possibilidades....................................................................... 251 6.3.5.1.4 Limitações............................................................................. 252 6.3.5.1.5 Pessoal................................................................................. 253 6.3.5.2 Pelotão de Engenharia de Mergulho (Pel E Merg) – Tipo I 253 6.3.5.2.1 Estrutura organizacional....................................................... 253 6.3.5.2.2 Atribuições............................................................................ 253 6.3.5.2.3 Principais equipamentos e materiais.................................... 254 6.3.5.2.4 Pessoal................................................................................. 254 6.3.5.3 Pelotão de Engenharia de Mergulho (Pel E Merg) – Tipo II 256 6.3.5.3.1 Estrutura organizacional....................................................... 256 6.3.5.3.2 Atribuições............................................................................ 256 6.3.5.3.3 Principais equipamentos e materiais.................................... 257 6.3.5.3.4 Pessoal................................................................................. 257 6.3.5.4 O pelotão de comando e apoio (Pel Cmdo Ap).................... 259 6.3.5.4.1 Estrutura organizacional....................................................... 259 6.3.5.4.2 Missão................................................................................... 259 6.3.5.4.3 Atribuições............................................................................ 260 6.3.5.5 Organogramas...................................................................... 260 6.3.5.5.1 Organograma da Cia E Merg/ E Ex...................................... 260 6.3.5.5.2 Organograma da Cia E Merg/ ED......................................... 261 6.3.6 O apoio dos mergulhadores de Engenharia na ZA......... 261 6.4 FORMAÇÃO DE MERGULHADORES DE ENGENHARIA - 250 PROPOSTAS........................................................................ 263 6.4.1 Generalidades..................................................................... 263 6.4.2 Situação atual ..................................................................... 264 6.4.3 Proposta de formação de mergulhadores na AMAN – O Estágio de Mergulho.................................................... 6.4.4 Proposta de especialização de mergulhadores da ESIE – O Curso de Mergulho...................................................... 6.4.5 265 269 Proposta de formação de mergulhadores nas OMEM – O Curso de Formação de Cabos Mergulhadores (CFC/Merg) nas OMEM ...................................................... 273 6.4.6 Obervações......................................................................... 275 6.5 PROPOSTA DE NOVOS DE EQUIPAMENTOS DE MERGULHO......................................................................... 275 6.5.1 Generalidades..................................................................... 275 6.5.2 Computadores de mergulho.............................................. 275 6.5.3 Telefone para mergulho ou intercomunicador................ 277 6.5.4 Câmaras fotográficas........................................................ 278 6.5.4.1 Caixas estanques................................................................. 278 6.5.4.2 Câmaras anfíbias.................................................................. 279 6.5.5 Flash..................................................................................... 279 6.5.6 Câmara de vídeo................................................................. 280 6.5.7 Lift bag................................................................................. 280 6.6 REBREATHERS OU EQUIPAMENTO DE MERGULHO AUTÔNOMO DE CIRCUITO FECHADO.............................. 281 6.7 DPVs OU SCOOTERS......................................................... 283 6.8 CILINDROS CARREGADOS COM NITROX........................ 284 7 CONCLUSÃO....................................................................... 286 REFERÊNCIAS ................................................................ 290 APÊNDICE A QUESTIONÁRIO PARA AS OM DE ENGENHARIA DE COMBATE........................................................ 299 Apêndice B QUESTIONÁRIO PARA OFICIAIS DE ENGENHARIA .............................................................................. 305 Apêndice C TABELA RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS TÉCNICAS DE MERGULHO .............................. 309 Anexo A PORTARIA No 236/COMANDO DO EXÉRCITO... 312 Anexo B PORTARIA No 051/DGP....................................... 317 Anexo C PADRÕES PSICOFÍSICOS PARA MERGULHADORES (NR-15)................................................................... 319 30 1 INTRODUÇÃO A arte da guerra sofreu mudanças consideráveis a partir da segunda metade do século XX. Tais evoluções impactaram diretamente sobre a doutrina de emprego, os materiais e a concepção logística das forças em campanha, fazendo parte do rol de inquietudes dos estudiosos da profissão militar. Há muito tempo o Exército Brasileiro (EB) busca desenvolver uma doutrina própria, ajustada às peculiaridades do ambiente operacional, do povo, das condicionantes materiais e da concepção estratégica de emprego da Força Terrestre. Há de se considerar, para o desenvolvimento de uma doutrina própria, a multiplicidade de ambientes geográficos que o País dispõe, nos quais a Força Terrestre pode ser empregada, as idiossincrasias do povo brasileiro, os recursos disponíveis para o aparelhamento das tropas e as demandas de emprego do EB – as clássicas e as atuais. Dentro dessas premissas, cabe ressaltar a necessidade de crescente evolução do emprego da atividade especial de mergulho como meio para a realização das ações táticas e técnicas, que caracterizam o Sistema Engenharia, o qual tem por objetivo proporcionar às tropas o apoio à mobilidade, à contramobilidade e à proteção, além do apoio geral de Engenharia, caracterizandose como um fator multiplicador do poder de combate. Ressalta-se que o mergulho é uma atividade especial e de risco, que exige técnica especializada, material específico e regras de segurança estritas, além de prática constante por parte dos especialistas militares. No Exército Brasileiro o mergulho militar está compartimentado em três ramos distintos: as atividades de operações especiais, desenvolvidas na Brigada de Operações Especiais e de Infantaria Pára-quedista; as atividades de busca e salvamento, desenvolvidas pelo Serviço de Busca e Salvamento da Aviação do Exército; e as atividades de apoio ao combate, realizadas pela Arma de Engenharia. A atividade de mergulho na Arma de Engenharia, desde a década de 60, quando o Curso de Engenharia da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) dedicava um tempo de instrução ao assunto “equipamento de mergulhador”, evoluiu de forma considerável. No entanto, essa evolução ocorreu sem que o Sistema Engenharia possuísse uma estrutura e uma doutrina bem definidas para o emprego do mergulho militar. 31 Os Cursos de Engenharia da AMAN e da Escola de Sargentos das Armas (EsSA) vêm realizando um grande esforço para implementar o mergulho como mais uma ferramenta à disposição da Força Terrestre. Não obstante, a Arma de Engenharia ressente-se de uma estrutura de ensino capaz de profissionalizar seus quadros na atividade especial de mergulho, condição fundamental para o emprego dos equipamentos de mergulho na tropa, seja na instrução ou em operações. A Marinha do Brasil, há vários anos, presta inestimável apoio aos quadros da Arma de Engenharia, formando mergulhadores autônomos no Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA). Porém, essa formação tem atendido somente parte das necessidades operacionais do sistema Engenharia, uma vez que sua atividade é vocacionada, mais especificamente, para trabalhos em ambiente marítimo. Da mesma maneira, os Corpos de Bombeiros Militares (CBM) dos diversos estados da federação estão formando mergulhadores para o Exército, aptos a trabalharem em vias interiores, porém focados nas atividades de busca e recuperação. O fato é que a atividade de mergulho no EB utiliza-se, primordialmente, da água doce como meio, em lagos de pontagem ou em rios caudalosos, para a construção e/ou destruição de pontes, a navegação, os reconhecimentos especializados, o resgate de material etc. Esse é o ambiente operacional característico do Sistema Engenharia, no qual existe a velocidade da correnteza e o alto índice de turbidez da água, dentre outros, como fatores complicadores ao mergulho. Observa-se, ainda, que o mergulho, como qualquer atividade de natureza especial, oferece riscos a quem não possua o devido preparo técnico, físico e psicológico, tornando-se necessário o perfeito conhecimento do emprego dos materiais e das medidas de segurança para seu manuseio. Tal fato indica a necessidade de formação especializada, treinamentos - como forma de manter a operacionalidade - e adestramento operacional – cumprindo missões específicas. No tocante aos equipamentos de mergulho distribuídos às Organizações Militares (OM) de Engenharia, a falta de conhecimento especializado para a manutenção, o uso inadequado ou o pouco uso desse material, têm contribuído para a sua deterioração nas reservas das subunidades ou pelotões e, em conseqüência, para o desperdício dos recursos financeiros alocados pela União. Pode-se otimizar a utilização dos meios disponíveis com o devido critério e, para tanto, se faz 32 necessária a definição de atribuições e o aperfeiçoamento da atual legislação que ampara a atividade de mergulho no âmbito do EB. A perspectiva do combate moderno mostra uma realidade que desperta atenção. Trata-se da Amazônia, cujo esforço de estudo da Doutrina Gama tem recebido grande enfoque na atualidade, perante a possibilidade de uma intervenção estrangeira. Em se tratando da região cuja bacia hidrográfica é a maior do mundo e, como não poderia deixar de ser, tendo como prioritário o meio fluvial de deslocamento, cresce a importância da necessidade de operações de mergulho naquela área e o desenvolvimento de uma doutrina de emprego específica. Verifica-se, então, que o Sistema Engenharia ressente-se de uma estrutura capaz de formar e especializar seus integrantes como mergulhadores, bem como de uma doutrina de emprego em que se tenha claramente estabelecida as missões, possibilidades e limitações dos militares mergulhadores de Engenharia. Muito se fez nas últimas décadas, principalmente pelo empenho pessoal de alguns profissionais. Todavia, para uma Força Armada que se prepara para assumir o seu papel em uma sociedade cada vez mais exigente, torna-se necessária a normatização do emprego dos mergulhadores, desde sua formação, passando pelas especializações necessárias, pelo desenvolvimento de estruturas compatíveis de trabalho nas OM até uma doutrina de emprego. Para reverter essa situação, deve-se intervir no processo, por meio de novas perspectivas, idéias, propostas e análises, as quais poderão alicerçar, confiavelmente, as evoluções necessárias ao mergulho de Engenharia. O que se pretende estudar com esse trabalho é uma proposta para a atividade de especial de mergulho, dentro do Sistema Engenharia. Serão abordados aspectos relativos à doutrina de emprego para os mergulhadores da arma de Engenharia, bem como serão realizados questionamentos acerca da atual estrutura organizacional da Arma, com relação à atividade de mergulho, verificando se a mesma atende as necessidades do Sistema Engenharia. Além disso, verificar-se-á qual seria a quantidade mínima de militares para se formar uma turma especializada em mergulho, sendo factível ou não cedê-la em apoio às armas-base. Ainda serão apresentados equipamentos de mergulho necessários ao incremento da atividade na Área Operacional Continental (AOC) e será analisada a questão da formação adequada para os mergulhadores de Engenharia. 33 Esta busca foi metodológica, documental, bibliográfica e focada na ocorrência do problema que foi investigado e analisado e, em seguida, foram apresentadas algumas conclusões e propostas que poderão ser úteis para eventuais reformulações na organização, missão e emprego de mergulhadores da Arma no Sistema Engenharia. Portanto, em função do exposto anteriormente, esse trabalho teve por objetivo apresentar uma proposta para a atividade especial de mergulho na realização de trabalhos técnicos em proveito do Sistema Engenharia, analisando-se a doutrina de emprego a formação de recursos humanos, além da atual situação dessa atividade na Arma de Engenharia, propondo-se as alterações julgadas necessárias. Tal estudo também está amparado em experiências colhidas junto à Marinha do Brasil, ao Exército Argentino e ao Exército Estadunidense. Assim sendo, procurou-se apresentar uma linha de ação factível e coerente de como a Arma de Engenharia poderá apoiar as operações militares e assim continuar contribuindo para a manutenção da soberania e integridade nacionais. 34 2 REFERENCIAL CONCEITUAL A doutrina militar terrestre é definida como sendo o conjunto de conceitos básicos, princípios gerais, processos e normas de comportamento que sistematizam e coordenam as atividades do Exército de uma nação. Tem como finalidade precípua, orientar, sistematizar e coordenar todas as atividades da força e, assim, estabelecer as bases para a sua organização, o seu preparo e emprego. Esse processo deve ser entendido como contínuo e sistemático, evoluindo a cada novidade introduzida na arte da guerra tanto pela tecnologia como pela real necessidade de enfrentamento do inimigo (PERET, 2002). De acordo com o manual C 5-1 (BRASIL, 1999), a evolução qualitativa e quantitativa do apoio de Engenharia às operações é uma necessidade constante da concepção do combate ar-terra, com o emprego de forças altamente móveis, sistema de armas de maior poder, alcance e precisão, além de operações com maior profundidade e dispersão. Ao mesmo tempo, a Engenharia deve estar capacitada para atuar em diversos ambientes operacionais, como o combate convencional aproximado, de resistência, de manutenção da paz ou de defesa interna. Portanto, não basta ao EB possuir militares habilitados como mergulhadores, torna-se premente promover as mudanças necessárias para a evolução do mergulho militar a fim de capacitá-los às necessidades da Engenharia. Segundo a Política de Defesa Nacional (BRASIL, 2005), o fortalecimento da capacitação do País no campo da defesa é essencial e deve ser obtido com o envolvimento permanente dos setores governamental, industrial e acadêmico, voltados à produção científica e para a inovação. Assim entendido, o presente trabalho atende ao chamado feito no documento que condiciona o mais alto nível do planejamento da defesa, buscando apresentar propostas inovadoras para a situação do mergulho militar no EB. Cabe ressaltar, no entanto, que o Plano Diretor do Exército (PDE) 2003/2007, em seu Livro 1, aprovado pela Portaria N° 327- Gabinete do Comandante do Exército (Gab Cmt Ex), de 24 de junho de 2003, afirma-se que: 35 “Em organizações como o Exército Brasileiro, nenhuma ação deve ser iniciada sem que se estude, detidamente, a sua necessidade dentro do contexto global de todas as ações e as conseqüências, nas esferas operacional e administrativa, que advirão de sua implantação” (BRASIL, 2003). A abrangência do presente trabalho vai ao encontro do preconizado no Plano Diretor do Exército (PDE), no que se refere ao aspecto operacional, pois considera-se primordial o aperfeiçoamento do processo de formação, organização e emprego dos mergulhadores militares, tendo em vista que o Sistema Engenharia como um todo pode beneficiar-se com um melhor desempenho de um de seus componentes. No entanto, infelizmente, ainda pode-se verificar que a situação do mergulho militar de Engenharia no EB é bastante incipiente, deixando uma lacuna na excelência operacional da Instituição. Assim, a realização do presente trabalho toma um aspecto de grande importância para o Exército Brasileiro. 2.1 TEMA O tema do trabalho a ser realizado é “Sistema Engenharia: uma proposta para a atividade especial de mergulho”. 2.2 PROBLEMA A Engenharia, fator multiplicador do poder de combate, por meio do apoio à mobilidade, contramobilidade e proteção, destaca-se pelo pioneirismo e importância dos trabalhos que executa. Muitos desses trabalhos, os quais exigem técnica e equipamentos especializados, necessitam empregar a atividade especial de mergulho e, de acordo com PAIVA (1997), ...propostas foram elaboradas para se alterar o estado letárgico e incipiente do mergulho militar no Exército Brasileiro e, em particular, na Arma de Engenharia. Essa situação não pode continuar, pois o amadorismo não deve fazer carreira em um Exército profissional que se deve valer de todos os instrumentos de combate disponíveis para manter a integridade de um território de mais de 8 milhões de km2. Território esse que é recortado por mais de 40 mil km de vias fluviais e lacustres, das quais cerca de 31.500 km navegáveis no seu estado natural, estando ainda grande parte delas situadas em meios favoráveis a ações militares ou paramilitares, internas ou externas. É um campo por demais fértil para o intenso emprego do mergulho militar. 36 Na atualidade, a atividade especial de mergulho no Exército Brasileiro encontra-se regulada, primordialmente, pela Portaria número (Nr) 236, do Comando do Exército, de 06 de maio de 2003, e pelo Boletim Técnico Especial Nr 10, Atividades de Mergulho, da Diretoria de Material de Engenharia, de 1996. Sobre o assunto ainda existem alguns trabalhos monográficos na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Em 2000, por meio da Portaria Nr 001, do Comando de Operações Terrestres, foi aprovada a Diretriz de implementação da instrução de mergulho operacional nas Unidades de Engenharia. As atividades programadas pela Portaria ocorreram, entre 02 de julho e 31 de agosto de 2001, no Batalhão Escola de Engenharia, gerando um relatório com parecer favorável à execução do mergulho operacional nos moldes previstos pelo Comando de Operações Terrestres (COTER). Porém, desde 2002, data final das atividades previstas pelo documento, nenhuma outra atividade foi programada na área de mergulho. Tal fato pode ser constatado pela ausência do tema nas conclusões do IV Seminário de Engenharia, realizado no ano de 2004, em Brasília. 2.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA O problema, enfoque central do estudo, pode ser condensado no seguinte questionamento: pode-se afirmar, hoje, que o Sistema Engenharia está em condições de prestar apoio às operações militares, utilizando-se da atividade especial de mergulho, da forma mais adequada? 2.4 ALCANCES E LIMITES Baseado no tema proposto, o trabalho abordará os conceitos relacionados com a atividade de mergulho de uma forma genérica. Será estudada a história do mergulho, a evolução do mergulho nas Forças Armadas, o ambiente operacional do mergulhador de Engenharia e os novos equipamentos de mergulho, bem como a legislação brasileira pertinente ao assunto, a doutrina e a estrutura organizacional atuais do mergulho de Engenharia. Os ensinamentos colhidos poderão ser úteis para a evolução organizacional e doutrinária da Força. 37 O capitão Linhares, em dissertação realizada em 2003, destaca o seguinte: Diferente da Marinha do Brasil (MB), a Engenharia do Exército Brasileiro ainda não possui suas missões de mergulho bem definidas. Nossos manuais de campanha, no tocante a estas atividades, são muito genéricos e atribuem tarefas de mergulho bastantes vagas... Embora seja conhecido que a formação de mergulhadores da Marinha seja excelente, convém que seja realizado um estudo para a implantação de um curso de mergulho no Exército com características próprias, focado para as necessidades de emprego da arma de Engenharia (LINHARES, 2003). Daí a necessidade de se buscar medidas plenamente eficazes que possibilitem implementar modificações na atual situação da atividade especial de mergulho. Com prioridade, foram buscadas opiniões das Organizações Militares de Engenharia, nível Unidade e Subunidade, e de militares de Engenharia que tenham experiência em mergulho, tanto prática como em docência. Procuraram-se, também, informações a respeito de sistemas congêneres na Marinha do Brasil e em exércitos de outros países - Argentina e Estados Unidos da América (EUA) - e passíveis de serem adaptados à realidade brasileira e do EB. 2.5 JUSTIFICATIVA A modernização do Exército Brasileiro é um processo continuado. Tal fato torna conveniente o estudo das possibilidades de apoio do Sistema Engenharia às operações militares, utilizando-se da atividade especial de mergulho. O trabalho a ser realizado justifica-se pela inexistência de uma doutrina de emprego de mergulhadores de Engenharia em combate pelo Exército, bem como uma estrutura própria de formação e adestramento. O problema levantado poderá trazer sérios prejuízos para a Força Terrestre quando empregada em operações, devido à inexistência da doutrina citada anteriormente. Desta forma, nos dias atuais, o Exército Brasileiro, apesar de poder contar com a valorosa colaboração dos engenheiros mergulhadores para auxiliar na consecução de seus objetivos, não existe a certeza da eficácia e eficiência desses militares em combate, fruto dos problemas apresentados. A proposta de estudo apresentada poderá apontar soluções para os referidos óbices, desejando indicar novos caminhos a serem trilhados para colocar o 38 Sistema Engenharia, por meio da atividade de mergulho, em condições de responder às necessidades dos sistemas operacionais Manobra e Logística. 2.6 CONTRIBUIÇÕES O trabalho procurou abordar a atividade especial de mergulho, dentro do Sistema Engenharia, tratando o assunto como artigo científico. Assim, vários conhecimentos práticos e teóricos foram somados objetivando a apresentação de uma proposta a ser empregada pelo EB. Essa proposta poderá trazer benefícios diversos para o Exército Brasileiro. O primeiro e mais importante deles será a oferta de importante ferramenta para balizar o aperfeiçoamento da atividade especial de mergulho, baseada em informações provenientes das OM e dos Oficiais mergulhadores. Outro benefício importante será despertar os chefes militares para as possíveis soluções a serem implementadas em operações, como, por exemplo, uma transposição de curso d’água, valendo-se da atividade especial de mergulho para a realização de trabalhos técnicos do Sistema Engenharia. Conseqüentemente, este trabalho pretende influenciar no aperfeiçoamento da legislação, formação, estrutura organizacional e doutrina da Instituição. Com essa finalidade, serão feiras propostas de modificação nos campos acima citados, com algumas medidas simples e possíveis de serem implementadas, outras que demandariam maior tempo de maturação, mas sempre tendo em vista a realidade do Exército. 39 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 CONCEITOS IMPORTANTES 3.1.1 Doutrina de emprego Peret (2002), afirma que a doutrina é o ponto de partida para o planejamento de preparo e emprego do Exército. Ela define desde as linhas gerais até as mais particulares, do estratégico ao tático, para a atuação da força em operações. Norteia o preparo dos recursos humanos, tanto os quadros quanto a tropa de maneira geral, ou seja, direciona o adestramento institucional e coletivo. Dessa forma, torna-se importante o estabelecimento de considerações doutrinárias sólidas para o mergulho de Engenharia, a fim de permitir sua evolução e aprimoramento. Para Linhares (2003), assim como a Marinha do Brasil, a Engenharia do EB poderia dividir suas missões de mergulho em logísticas e operacionais, podendo, desta forma, melhor organizar suas responsabilidades e tarefas. Além desta vantagem, possibilitaria uma divisão dos treinamentos em uma parte mais técnica, voltada para a logística e uma parte mais operacional, voltada para o combate. Esse autor, em seu trabalho, permitiu-se fazer essas considerações que serão úteis na formulação de conceitos doutrinários de emprego da presente pesquisa. 3.1.2 Formação de recursos humanos Segundo Paiva (1997), em se tratando da formação de mergulhador, podese dizer, categoricamente, que esse foi o ponto falho no currículo de várias gerações de oficiais. Devido à acanhada qualificação, resultante da diminuta carga horária destinada à instrução de mergulho, os oficiais de Engenharia, quando investidos em funções em que poderiam implementar ou propor mudanças na atividade de mergulho, não se sentiam seguros para tal. Oliveira (1999), afirma que não há como imaginar uma estrutura de mergulho na qual a atividade é desempenhada apenas por Oficiais e sargentos. Embora se pareça afirmar o óbvio, não existe hoje documentação que regule e 40 ampare o ensino da atividade de mergulho a cabos e soldados na tropa. Tal assertiva continua verdadeira na atualidade. De acordo com Bendini (2004), faz dez anos que o Curso de Formação de Mergulhadores é ministrado no Exército Argentino, o que deu grande impulso de desenvolvimento para a atividade, graças a dois aspectos centrais: em primeiro lugar, iniciou-se a elaboração de uma base doutrinária da atividade especial de mergulho; em segundo lugar, iniciou-se a ministrar a capacitação profissional de mergulho para soldados voluntários. Dessa forma, pode-se afirmar que o Exército Argentino teve como desenvolver uma doutrina de emprego a partir do momento que passou a ministrar cursos de mergulho internamente, o que também possibilitou a formação de cabos e soldados mergulhadores. 3.1.3 Adestramento de mergulhadores Sobre o adestramento, Peret (2002) afirmou que sua importância está no fato de ser a preparação de qualquer Exército para o cumprimento de sua destinação constitucional. É a atividade mais importante em tempo de paz. Toda a estrutura deverá estar voltada para permitir que ele seja realizado nas melhores condições, ou seja, realisticamente. O adestramento nada mais é do que a simulação do combate. Assim sendo, faz-se necessária a verificação da estrutura organizacional da atividade de mergulho no Sistema Engenharia, propondo mudanças que permitam um melhor adestramento da tropa. Esse adestramento constante é executado pelo Exército dos EUA. Tal fato é exemplificado por Rupp (1997), afirmando que embora não exista uma doutrina para o emprego de destacamentos de mergulho em operações de transposição de curso d’água, sua capacidade de produzir levantamentos hidrográficos nos eixos de travessia, identificar as condições subaquáticas próximas e afastadas das margens, e abrir brechas em obstáculos submersos, foi essencial na determinação de um local de travessia. Tal assertiva foi realizada no contexto de um exercício de adestramento, a Operação Chosin Action, a qual rendeu valiosos ensinamentos para aquela força armada. 41 3.1.4 Estrutura organizacional De acordo com Oliveira (1999), em função do ambiente operacional e da manobra tática a apoiar, algumas unidades e subunidades devem possuir pessoal adestrado e material adequado para permitir o apoio adicional de Engenharia a elementos de manobra. Dessa feita, torna-se válido propor alterações na estrutura organizacional existente, a fim de possibilitar a realização do apoio adicional citado, utilizando-se da atividade especial de mergulho de forma eficiente e eficaz. De acordo com manual C 5-1 (BRASIL, 1999), existe, na organização da Engenharia, um número variado de equipes técnicas, como a de trabalhos subaquáticos. Essas equipes são reunidas para formar grupos e pelotões, de acordo com a natureza e a finalidade da missão, podendo ser atribuídas a unidades de Engenharia ou a unidades das outras armas e serviços. Assim sendo, é mister estudar a equipe especializada de trabalhos subaquáticos, suas possibilites e limitações, estrutura organizacional e dotação de material. 3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ATIVIDADE DE MERGULHO 3.2.1 Considerações iniciais A grande massa oceânica, que cobre cerca de dois terços da superfície terrestre, possuindo uma profundidade média de 4.100 metros, viria a despertar no homem o desejo de aproveitar seus recursos. Dessa forma, a necessidade de o ser humano conseguir alimentos de várias fontes, seja da terra ou da água, deu origem à atividade de mergulho, pois só assim o homem seria capaz de sair da terra firme e enfrentar o desconhecido mundo subaquático em busca de alimentos para a sua sobrevivência. Naturalmente, o método utilizado foi o do mergulho livre, isto é, sem qualquer auxílio respiratório. Não existe uma fonte bibliográfica que possa determinar com precisão quando o homem percebeu, pela primeira vez, que podia prender sua respiração e mergulhar. Entretanto, estima-se que o início do mergulho como atividade profissional ocorreu há mais de 5.000 anos, quando o homem primitivo, mergulhando em águas relativamente rasas (menos de 30 metros) buscava coletar 42 uma variedade de materiais de valor comercial como alimento, pérolas, corais e esponjas. 3.2.2 Evolução histórica do mergulho no mundo O homem primitivo percebeu que, prendendo a respiração, poderia realizar pequenos mergulhos em águas pouco profundas. Apesar da grande habilidade desenvolvida por alguns povos primitivos, o mergulho livre é, sem dúvida, bastante limitado, quer em profundidade quer em tempo útil de trabalho. A busca por soluções que permitissem aumentar a capacidade do mergulhador de permanecer imerso por um maior período de tempo foi um objetivo importantíssimo para a evolução da atividade de mergulho. Todavia é muito difícil precisar quando e como o homem se valeu do primeiro recurso para mergulhar mais fundo e por mais tempo. Acredita-se que nas primeiras tentativas foram utilizados pedaços de junco oco para ligar o mergulhador à superfície, entretanto não foi obtido um resultado relevante na ampliação de sua capacidade de trabalho. Porém, estes tubos passaram a ser utilizados taticamente em operações militares, pois permitiam uma aproximação discreta às posições inimigas. Em antigos livros da História da humanidade existem gravuras datadas de nove séculos antes de Cristo representando guerreiros assírios respirando em sacos de couro e nadando sob o mar, enquanto gravuras gregas e macedônias mostram mergulhadores em atividade, usando o que hoje chamamos de sino aberto de mergulho (figura 1). Figura 1 - Desenho de um mergulhador encapuzado com bolsa de couro ligado à superfície (1511). Fonte: CIAMA (2000). Outro dado significativo se refere à descoberta, dentro das ruínas do palácio do rei persa Assurbanipal II, de um desenho em baixo relevo procedente do ano de 43 880 a.C., no qual se constata, perfeitamente, a figura de um guerreiro provido de um odre (saco feito com pele de carneiro), abaixo de seu peito, como se fosse um saco respirador, em posição de natação. Parece que representa o próprio rei cruzando um rio à frente de seu exército, como retrata a figura 2. Figura 2 - Guerreiro persa provido de um odre. Fonte: http://www.patadacobra.com.br/godive_hp/artigos/historia2. Acesso em: 28 mai. 2005. Heródoto (484-420 a.C.), o pai da História, nascido na Grécia, conta em seus manuscritos sobre o cerco da Sicília. Na batalha do Cabo Ártemis, entre gregos e persas, ocorreu uma ação subaquática contra navios persas, que teria acontecido no ano 484 a.C. Mergulhadores gregos submergiram protegidos pela escuridão da noite e, debaixo de uma forte tormenta, conseguiram chegar sem serem avistados até onde estavam ancorados os barcos persas, cujas amarras cortaram, causando um verdadeiro desastre que valeu-lhes a vitória. Existem registros escritos em que Xérxes, o grande rei da Pérsia, teria utilizado mergulhadores de combate. Heródoto escreveu, há mais de 2.400 anos, a história de um famoso mergulhador chamado Scyllis, que foi contratado por Xérxes para recuperar tesouros de navios persas afundados. Xérxes teria também usado mergulhadores com o propósito de invadir barcos inimigos. Acreditam, ainda, alguns historiadores que Alexandre, “o Grande”, rei da Macedônia (353-323 a.C.), também utilizou mergulhadores em combate no ano de 333 a.C. Aristóteles descreveu a aventura de Alexandre no mundo subaquático em um equipamento tipo “sino”, feito em bronze, que submergia emborcado devido ao seu peso, mantendo uma quantidade de ar para que os “mergulhadores”, em seu interior, pudessem chegar mais perto dos artefatos a serem recuperados. Consta, 44 ainda, que o próprio Alexandre teria mergulhado com tal equipamento, que ficou conhecido como o Skaphê andros1. Também nessa época, mergulhadores de Rhodes usavam caniços ocos como único equipamento para resgatar os tesouros dos navios que afundavam no porto. Para estas perigosas operações, os mergulhadores eram recompensados pelos donos das embarcações com a participação no que havia sido recuperado, a qual variava de acordo com a profundidade do naufrágio. Já Flavius Vegetius Renatus, autor do século IV, em sua obra De Re Militare (Da Arte Militar), descreveu um sistema utilizado por homens da Legião Romana, os Urinatores2, o qual consistia de um saco de pele ligado a um tubo que aflorava na superfície. Estes homens eram excelentes nadadores e mergulhadores em apnéia. Entre suas missões mais importantes, destacam-se: atacar as defesas dos portos inimigos; afundar os barcos fundeados e transferir seus estoques de armas, alimentos e mensagens às guarnições sitiadas. Estas unidades chegaram a alcançar um grau de operacionalidade tão alto que contra elas foram concebidos vários engenhos, desde uma simples rede cheia de campainhas que denunciavam sua presença, até máquinas providas de rodas com afiadas machadinhas que funcionavam na entrada dos portos e arsenais e que mutilavam os aguerridos mergulhadores. Com o declínio do Império Romano, no entanto, os “urinatores” foram obrigados a realizar trabalhos, como resgate de embarcações afundadas, operações em portos ou troca de mensagens entre ilhas, o que viria a culminar na formação dos primeiros mergulhadores profissionais da história (figura 3). Figura 3 - Urinatore. Fonte: http://www.masdebuceo.com/manual_buceo/capitulo1. Acesso em: 15 abr. 2006. 1 2 Etimologia da palavra escafandro. Do sânscrito: Uri = água; Nator = submergido 45 Na época medieval se perdeu o interesse pelas coisas do mar, de onde as pessoas somente viam monstros em suas profundidades, e daquela antiga pujança marinha e subaquática, somente os romano-bizantinos mantiveram alguma atividade, ainda que sem apontar nada de novo. Também nas regiões de grande desenvolvimento desta atividade, como a Grécia e a Sicília, havia alguns mergulhadores que se dedicavam à coleta de esponjas e corais. Com a chegada do Renascimento, a comunidade científica renovou seu interesse pela conquista do fundo dos oceanos. Um exemplo disso foi Leonardo Da Vinci (1452-1519), que publicou uma série de desenhos nos quais apareciam, entre outros, um capuz de couro com pontas agudas em seu contorno e luvas para as mãos, ligeiramente espalmadas - inspiradas nas rãs - com garras de felino para proteger o mergulhador das “feras marinhas”. Além disso, foi incluída uma espécie de tubo que permitia ao mergulhador tomar ar da superfície. Considera-se que essas peças formam o primeiro equipamento leve de mergulho da história (figura 4). Figura 4 - Equipamento de mergulho de Da Vinci. Fonte: http://www.masdebuceo.com/manual_buceo/capitulo1. Acesso em: 15 abr. 2006. Dentro da evolução da atividade de mergulho, o sino foi o primeiro equipamento realmente prático a ser utilizado pelos mergulhadores. O sino desenvolvido por Edward Halley, em 1690, constituía-se de uma câmara que era imersa a determinadas profundidades, possuindo uma única abertura na sua parte inferior e uma plataforma interna, na qual os mergulhadores poderiam depositar o material recuperado no mergulho e recuperar o fôlego, aumentando, dessa forma, o tempo de permanência no fundo (figura 5). 46 Figura 5 - Sino de Halley (1690). Fonte: http://www.masdebuceo.com/articulo. Acesso em: 15 abr. 2006. O inglês John Lethebridge inventou, em 1716, um aparelho que consistia em uma espécie de tonel construído de madeira reforçada com aros de ferro, no qual se introduzia o mergulhador; para os braços dispunha de orifícios revestidos em couro; o ar era fornecido por intermédio de uns tubos à altura da boca, enquanto o ar expirado saía pela parte inferior do tonel. Na realidade, era uma adaptação da clássica campana para o uso individual (figura 6). Figura 6 – Equipamento de Lethebridge (1716). Fonte: http://www.patadacobra.com.br/godive_hp/artigos/historia2. Acesso em: 15 abr. 2006. A próxima fase da evolução do mergulho foi a busca pela redução do sino ao tamanho de um capacete, que recebia ar bombeado da superfície. Este capacete, 47 preso a uma roupa impermeável, daria origem ao escafandro tradicional, ainda hoje em uso, dominado a atividade de mergulho por um longo período. Em 1837, Augustus Siebe inventou o primeiro escafandro funcional, usado até nossos dias, com pequenas modificações posteriores. Siebe projetou um selo entre o capacete e a roupa, que permitia ao ar exalado sair por baixo do capacete, impedindo, ao mesmo tempo, a entrada de água no equipamento. Eram utilizados sapatos de chumbo para manter o escafandrista ao fundo. Em 1840, o mesmo inventor desenvolveu uma roupa estanque e adicionou uma válvula de descarga ao sistema. Este equipamento constitui-se no antecessor direto do traje de mergulho profundo. O escafandro de Siebe resultou em êxito e foi adotado pelas marinhas militares de muitos países, assim como pelos profissionais da época (figura 7). Figura 7 - Primeira roupa selada para mergulho. Fonte: CIAMA (2000). Em 1866, o francês Benoist Rouquayrol, patenteou o primeiro e satisfatório regulador de demanda para circuito aberto, “Self - Contained Underwater Breating Apparatus” (SCUBA). Este regulador constituiu o primeiro marco nos esforços do homem para conseguir liberdade de mobilidade debaixo d'água. O único problema era a falta de um conveniente suprimento de ar em alta pressão, como os atuais. Apesar de o equipamento desenhado ser uma tentativa de livrar-se da dependência da conexão com a superfície, facilitando a mobilidade do mergulhador, fornecendo-lhe uma maior liberdade sob a água, teve que ser modificado e redesenhado para uma unidade dependente (figura 8). 48 Figura 8 - Válvula de demanda de Rouquayrol (1866). Fonte: http://www.masdebuceo.com/articulo. Acesso em: 15 abr. 2006. No decorrer da história, também surgiram algumas invenções curiosas, como o escafandro rígido articulado criados pelos irmãos franceses Alphose e Theodore Carmagnole, em 1882, na primeira tentativa de levar o homem ao fundo do mar “a seco”. Este modelo, além de não ser estanque o suficiente, tinha um peso elevado, impedindo a locomoção do mergulhador no fundo do mar (figura 9). Figura 9 - Escafandro rígido articulado (1882). Fonte: http://www.patadacobra.com.br/godive_hp/artigos/historia2. Acesso em: 15 abr. 2006. H.A. Fleuss, em 1878, trabalhando na companhia Siebe-Gorman, desenvolveu um sistema de respiração de circuito fechado com reaproveitamento do oxigênio. Fleuss, juntamente com R.H. Davis, adaptou a este aparelho um cilindro de oxigênio e uma válvula automática, propiciando um melhor rendimento. Esse equipamento foi utilizado como material de segurança para permanência em locais 49 contendo gases tóxicos e também para o escape de submarinos durante a Primeira Guerra Mundial (figura 10). Figura 10 - Aparelho de respiração de Davis, usado para escapes de submarinos. Fonte: http://www.bahiascuba.com.br/HISTMERGULHO. Acesso em: 15 abr. 2006. Paralelo a tudo isto, a partir da segunda metade do século XIX, as principais marinhas do mundo começaram a usar mergulhadores militares, inclusive usando os novos escafandros. Os mergulhadores normalmente eram usados em operações de salvamento, construção e manutenção de navios e algumas missões de combate, como desarmamento de minas. Em agosto de 1864, na Batalha de Mobile Bay - Alabama, no ataque a Fort Morgan, durante a Guerra Civil norte-americana, mergulhadores foram enviados à frente dos navios do Almirante David Farragut, Comandante da Armada da União, para desarmar um novo armamento empregado pelos confederados: o torpedo. Os torpedos eram minas subaquáticas baratas, facilmente produzidas, que poderiam danificar seriamente ou afundar navios e que tinham sido lançados para bloquear a entrada da baía. Junto com o desenvolvimento do traje de mergulho, outros inventores trabalhavam para aperfeiçoar o sino de mergulho, aumentando seu tamanho e adicionando compressores de ar de maior capacidade, fornecendo pressão suficiente para manter a água completamente fora do sino. O uso do escafandro se popularizou. Nessa ocasião, começaram a aparecer os primeiros casos da doença descompressiva, resultante da formação de bolhas na corrente sangüínea. No início, o mal era confundido com a indigestão e o reumatismo e, foi somente em 1878 que Paul Bert conseguiu definir suas causas 50 clinicamente e passou a recomendar a subida lenta e gradual do mergulhador, caracterizando, assim, a descompressão. Em pouco tempo começaram as operações com câmaras de descompressão, que permitiram tratar as vítimas da doença descompressiva. Porém, somente em 1908, o fisiologista inglês John Scott Haldane, por meio de cuidadosos estudos experimentais, elaborou um método de descompressão gradual que permitia mergulhos a profundidades em torno de 200 pés (60 metros). As tabelas de descompressão de Haldane, publicadas primeiramente naquele ano, foram as precursoras das tabelas utilizadas hoje em dia. Os mergulhadores do século XIX e do início do século XX foram verdadeiros aventureiros, avançando ante o desconhecido. Na maior parte dos casos, eles não possuíam nenhum conhecimento real de como seus equipamentos funcionavam. Certamente, havia um completo desconhecimento em áreas como as conseqüências da alta pressão exercida pela água nos mergulhadores, bem como a respiração do ar comprimido. Em 1902, Fleuss e Robert H. Davis, aperfeiçoaram seu equipamento de circuito fechado. Com o novo século também surgiu um grande interesse por uma nova arma: o submarino. Muitas foram as Marinhas que se interessaram por esta arma. Porém o desenvolvimento do submarino para operações bélicas resultou em uma série de acidentes, colisões e afundamentos, o que resultou em um rápido crescimento da utilização de mergulhadores militares. Foi a Itália o primeiro país a conceber a utilização em combate dos mergulhadores, desenvolvendo, pouco antes da Primeira Guerra Mundial, um programa de formação e treinamento de mergulhadores especializados em demolição submarina. Perto do final da Guerra, em 1o de novembro de 1918, dois mergulhadores de combate italianos (Raffaele Rossetti e Raffaele Paolucci) foram infiltrados por um veículo submersível no Porto de Pula (pertencente à atual Croácia), onde estava atracada a pouco empregada esquadra do Império austro-húngaro, e afundaram o Viribus Unitis, nau-capitania do Império austro-húngaro. Após a guerra os italianos dinamizaram, ainda mais, o seu grupo de mergulhadores de combate, melhorando seu material, recrutando e preparando mais recursos humanos. Em 1925, o oficial naval francês, Capitão Yves Le Prieur, desenvolveu um equipamento com cilindros carregados com ar, basicamente um circuito aberto 51 (equipamento autônomo), porém insatisfatório, porque o fluxo de ar era regulado manualmente, o que resultava em uso excessivo do limitado suprimento de ar. O dispositivo era um cilindro de aço com ar comprimido. O mergulhador teve uma mangueira de ar conectado a um bocal; usava-se um clipe de nariz e um óculos de proteção, que protegiam e ajudavam a visão, mas não permitiam igualar a pressão. O cilindro de 2000 psi de ar permitiu ao mergulhador permanecer menos de 15 minutos submerso. Na década de 40, Christian J. Lambertsen criou e demonstrou o seu reinalador de oxigênio (equipamento de circuito fechado), o “Lambertsen Anphibious Respiratory Unit” (LARU). Inicialmente foi adotado para uso pelo Escritório de Serviços Estratégicos dos EUA. Os primeiros mergulhadores começaram a treinar em 1942. Mais tarde, o LARU foi adotado pela equipe de demolição submarina da Marinha dos EUA, a “Underwater Demolition Team” (UDT), para uso em operações que requeriam invisibilidade à superfície (figura 11). Figura 11 - Lambertsen Anphibious Respiratory Unit (LARU). Fonte: http://www.scubatoys.com/navy/history. Acesso em: 19 abr. 2006. Os mergulhadores tornaram-se elementos importantes no cenário militar a partir da Segunda Guerra Mundial, sobretudo os italianos, britânicos e norteamericanos que estiveram envolvidos em numerosas missões de combate. Os mergulhadores realizaram ataques furtivos a embarcações, destruindo-as com minas e explosivos; limpeza de obstáculos de praia, antes de um desembarque anfíbio; ou 52 realizando silenciosas missões de reconhecimento ou de sabotagem em território inimigo (figura 12). Figura 12 - Mergulhador de combate inglês durante a 2a GM. Fonte: http://www.acrtecnologia.com.br/clubedomergulhador. Acesso em: 16 abr. 2006. O mergulho realizado com aparelhos de circuito fechado obteve maior sucesso que o de circuito aberto e dominou o campo do mergulho autônomo até a época da Segunda Guerra Mundial. Este foi utilizado tanto pelos Aliados como pelo Eixo, principalmente por sua característica de não liberar bolhas, o que facilitou seu emprego em combate. Em agosto de 1943, os homens-rã italianos demonstraram a importância e o valor militar do equipamento autônomo, quando os mergulhadores do Grupo Gamma (Nuattatori Guastatori), em missões de sabotagem, afundaram cerca de duas dezenas de navios, entre eles cargueiros e petroleiros, estabelecendo, inclusive, uma base secreta em um antigo cargueiro italiano afundado nas águas espanholas de Gibraltar. Essa operação e outras se seguiram, despertando as demais Marinhas para o desenvolvimento de equipamentos de mergulho autônomo e treinamento de pessoal. Os britânicos passaram, então, a enxergar as grandes vantagens desse tipo de operação e criaram um programa de emergência de formação e treinamento de mergulhadores de combate. Entre as unidades formadas pelos britânicos, tem-se as 53 tripulações de torpedos humanos (Human Torpedo), chamadas também de “Chariots”; o “Special Boat Section” (SBS), constituído por pequenas unidades de canoagem que operaram na Europa, África e Mediterrâneo, realizando ações de comandos e sabotagem contra instalações navais e embarcações e os “Clearance Divers”, que eram grupos encarregados de demolição de obstáculos. No início de 1944, a Marinha alemã, reduzida à uma função defensiva, decidiu criar uma unidade de mergulhadores de combate chamada de “Kommando der Kleinkampfmittel”3 ou simplesmente Unidade K. Os mergulhadores da Unidade K participaram de missões contra pontes e diques nas Holanda em junho e novembro de 1944 e também realizaram operações no Báltico até abril de 1945. Os alemães também usaram os mergulhadores de combate quando os norte-americanos tomaram a ponte de Remagen, sobre o Rio Reno, enviando-os em missões suicidas para destruir a ponte. Porém, a maioria foi morta ou capturada, sem alcançar o seu objetivo. Já os japoneses empreenderam, também em 1944, a criação de uma unidade de mergulhadores de combate kamikazes, chamada “Fukuryu”4, com sucessos quase nulos. Entretanto, o verdadeiro ponto de partida para o mergulho de circuito aberto ocorreu em 1943, quando o Capitão Jacques Yves Cousteau, oficial da marinha francesa, e Emile Gagnan, um engenheiro mecânico canadense da Air Liquide (companhia Parisiense de gás), apresentaram o Aqualung5. Basicamente idêntico ao desenho de Rouquaryol, o Aqualung também utilizava cilindros de ar comprimido, mas era equipado com uma novidade: a válvula reguladora de demanda. Esta supria o mergulhador com ar de acordo com a sua necessidade. Dessa forma, montou-se o primeiro equipamento de circuito aberto verdadeiramente eficiente, trazendo o aqualung para um elevado nível de desempenho, o que permitiu ao homem uma liberdade nunca antes alcançada sob as águas. O regulador tinha incorporado dois tubos traqueais: um de admissão de ar e o outro de expulsão, que ia desde a boquilha até a câmara de pressão ambiente, da 3 Grupo de engenheiros de assalto da Marinha Fukuryu (Fuku = felicidade, Ryu = dragão) 5 Aqualung (em inglês, pulmão aquático) 4 54 qual sai o ar para o exterior. Este sistema facilitava a respiração, tornanso-a bastante cômoda até profundidades muito aceitáveis, até então vedadas ao homem. Outra das vantagens do novo aparelho era a autonomia que davam as três garrafas de aço de 5 litros cada uma, carregadas a 150 atmosferas de pressão (figura 13). Figura 13 - O regulador de demanda Cousteau-Gagnan. Fonte: http://planetazul.org.ar/nota137.htm. Acesso em: 19 abr. 2006. A partir de então, e principalmente após o término da 2ª Grande Guerra, a atividade subaquática contou em todo o mundo com um número cada vez maior de adeptos. O invento do “escafandro” autônomo facilitou de grande maneira a penetração do homem no mundo subaquático, porém este aparato também teve - e continua tendo - suas limitações, pois se sabe que, com o ar comprimido, a profundidades superiores de 60 metros, a exposição ao perigo é uma constante (figura 14). Figura 14 - Equipamento com o regulador a demanda de Cousteau-Gagnan (1943) Fonte: http://www.masdebuceo.com/articulo. Acesso em: 19 abr. 2006. Outro avanço na área de mergulho surgiu na década de 60, quando vários cientistas desenvolveram o conceito de mergulho de saturação. Devido ao fato do gás inerte finalmente equilibrar-se com a pressão ambiente em todos os tecidos, um 55 mergulhador permanecendo a uma determinada profundidade pelo tempo suficiente saturará todos os tecidos corporais. Após a saturação ter sido alcançada, o tempo para descompressão é o mesmo, independente do tempo utilizado em uma determinada profundidade. Este conceito permitiu a permanência de mergulhadores sob pressão por mais de um mês, durante o qual executam trabalhos submersos, retornando para a câmara hiperbárica entre os mergulhos. Nos últimos anos, os limites de pressão aos quais o homem pode ser submetido têm sido testados, tanto na França quanto nos EUA. Neste último, sob a liderança do Dr. Petter Bennett, da Universidade de Duke, mergulhadores têm sido submetidos a mergulhos simulados que excedem 2000 (dois mil) pés (600 metros), em câmaras hiperbáricas. Os problemas decorrentes da utilização da mistura heliox (hélio e oxigênio) nessas profundidades foram resolvidos pela adoção da mistura TRIMIX, formada pelos gases hélio, nitrogênio e oxigênio. Recentemente testemunhou-se o desenvolvimento de novos capacetes de mergulho, mais leves, roupas de mergulho aquecidas com água quente, novas tabelas de descompressão para ambos os gases inertes (hélio e nitrogênio), experiências com a mistura hidrogênio - oxigênio, e a aplicação de oxigênio hiperbárico em desordens médicas não relacionadas com o mergulho. Atualmente, apesar de se investir pesado em centros de pesquisa na área de medicina e fisiologia do mergulho, há uma tendência de não se expor o homem a profundidades cada vez maiores, devido ao alto risco das operações, além de gerar sérios problemas trabalhistas. Isto, certamente, explica o fato do crescente desenvolvimento de pesquisas no campo da criação de robôs e submersíveis, inclusive no Brasil. 3.2.3 Evolução histórica do mergulho no Brasil No Brasil, os primeiros registros de mergulho foram os dos indígenas. Diversos cronistas, como Gabriel Soares, Hans Staden, José de Anchieta e Jean de Lery, entre outros, dão conta desse fato, descrevendo os silvícolas como exímios mergulhadores que nadavam sob o mar com olhos muito abertos. Anchieta descreveu a destreza dos índios no combate aquático, como em um episódio no qual combatem a nado como baleias e com uma fúria que pasmou a multidão na praia. 56 Durante o período da ocupação francesa - França Antártica/1555 - a destreza dos indígenas em combates aquáticos foi evidenciada em outras narrativas, como a do assalto as naus francesas em Cabo Frio, onde o Governador Geral Salvador Corrêa foi salvo por três vezes pelos índios Tupiminós, que na água “são como peixes”. Em outro episódio, Araribóia, teria atravessado a nado o braço de mar que separava a ilha de Serigipe (atual Ilha de Villegagnon) do continente e ateando fogo aos paióis franceses, assegurando a vitória portuguesa, agindo em uma manobra típica dos atuais mergulhadores de combate. Em 1867, durante a Campanha da Tríplice Aliança, por ocasião da conquista da Fortaleza de Humaitá, presume-se que mergulhadores brasileiros tenham destruído pesadas correntes lançadas de uma margem a outra do Rio Paraguai. Estas correntes foram lançadas pelos paraguaios com a finalidade de impedir a livre navegação no rio e, também, a passagem da esquadra brasileira. Ao final do século XIX e início do século XX, a modalidade de mergulho mais evidenciada foi a de salvatagem. Nessa modalidade, os mergulhadores, geralmente de nacionalidade grega, utilizando escafandros e bombas manuais, exploravam naufrágios nas costas brasileiras. No início do mergulho no Brasil, foram utilizados equipamentos de escafandria durante a construção do cais Pharus (Praça XV – Rio de Janeiro) no Período Imperial; nas construções dos cais da Gamboa e de São Cristóvão, por firmas francesas; do píer da Praça Mauá (1945), do Cais de Minério (1949) e do antigo Cais de Carvão (1960), por firmas estadunidenses (Christiane Nielsen e outras), nas quais ainda foram empregados os escafandros de capacete Siebe traje fechado (figura 15). Figura 15 - Capacete rígido usado para escafandria. Fonte: CIAMA (2000). 57 Porém, em 1958, surgiu a primeira firma totalmente nacional voltada exclusivamente às atividades subaquáticas, a Empresa Brasileira de Operações Subaquáticas (EBOS), atuando, pioneiramente, na derrocagem de pedras do porto carvoeiro Henrique Laje em Ibituba, Santa Catarina. As atividades de mergulho amador iniciaram-se na década de 1940, quando alguns pilotos da antiga PANAIR, entre eles o Comandante Paulo Lefévre, traziam do exterior equipamentos de mergulho, contribuindo, sobretudo, para o desenvolvimento da caça submarina. A caça submarina teve grande impulso na década de 1950, com a criação de vários clubes, equipes e a fundação da Associação Brasileira de Caça Submarina, que promoveu, em 1959, o Campeonato Internacional de Caça Submarina, em Angra dos Reis - RJ. Desde então, o mergulho amador no Brasil evoluiu ascendentemente, tendo uma grande expansão após o lançamento da revista Mergulhar, em 1982, quando houve o aumento do número de escolas, cursos e fábricas de artigos voltados para a atividade. Na década de 1980, o mergulho profissional obteve um grande impulso, graças à Petrobras, com as prospecções petrolíferas na bacia de Campos e no litoral do Espírito Santo, atingindo-se a profundidade de 350 (trezentos e cinqüenta) metros para a execução de trabalhos submarinos. Além disso, com recursos da Petrobras, foi criado o maior centro hiperbárico do Brasil, localizado na Base Naval Almirante Castro e Silva, na Ilha de Mocanguê - RJ, objetivando a realização de pesquisas e treinamento na área de mergulho saturado. A prospecção de petróleo na plataforma continental deu origem a uma verdadeira corrida tecnológica, tendo havido a formação de inúmeras companhias especializadas. Essa corrida, certamente, levou o homem a progressos difíceis de imaginar no setor, e, não haverá surpresas se pesquisas científicas, muitas já em andamento, propiciarem, em poucos anos, graus de liberdade, autonomia e segurança jamais imaginados pelos pioneiros da atividade subaquática. 3.2.4 Considerações finais De acordo com o exposto, pode-se dizer que todos os avanços tecnológicos e científicos, alcançados principalmente nos séculos XIX e XX, fizeram que o mergulho deixa-se de ser limitado às buscas e explorações de materiais submersos 58 e passasse a ter uma grande importância dentro da estratégia militar de guerra. O mundo despertou para o aperfeiçoamento do mergulho militar, desenvolveram-se equipamentos mais eficientes e foram criados grupos de elite adestrados para o cumprimento de missões que empregassem o mergulho como meio de infiltração e exfiltração, além da realização de trabalhos técnicos submersos. 3.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MERGULHO NAS FORÇAS ARMADAS DO BRASIL 3.3.1 Marinha do Brasil 3.3.1.1 Generalidades Na Marinha o mergulho desenvolveu-se principalmente ao redor da atividade de desativação de artefatos explosivos, quando o pessoal especialista em torpedos e minas recebia instruções específicas de mergulho. Importantes serviços foram realizados pelos mergulhadores navais, tendo sido a Marinha do Brasil, durante muito tempo, a única instituição com capacidade para exercer trabalhos de vulto no setor. Com o tempo, houve a necessidade de maior especialização na atividade subaquática, existindo, na atualidade, diversos ramos do mergulho militar naval, tais como: mergulho autônomo, mergulho de combate, mergulho de salvamento, escafandria e o mergulho profundo com misturas especiais (PAIVA, 1997). Atualmente a Marinha dispõe de um centro de referência voltado para as atividades de mergulho, o Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA), situado na Ilha do Mocanguê Grande, em Niterói-RJ. As origens do CIAMA remotam à antiga Escola de Submersíveis que, embora não fosse uma organização autônoma, iniciou suas atividades em 1915, ano em que foi formada a primeira turma de oficiais submarinistas. O CIAMA, como organização militar, originou-se da Escola de Submarinos, formalmente criada em 1963 e extinta em 1973, ano em que foi criado o Centro de Instrução e Adestramento de Submarinos e Mergulho (CIASM). Sua denominação foi alterada em 1978 para Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (www.mar.mil.br, 2006). 59 3.3.1.2 Os Mergulhadores de Combate (MEC) Os primeiros Mergulhadores de Combate brasileiros foram dois oficiais e duas praças que concluíram o curso de UDT-SEAL6 norte-americanos, em 1964. Fruto da experiência desses pioneiros foi criada, em 1970, a Divisão de Mergulhadores de Combate na Base Almirante Castro e Silva. No ano de 1971, mais dois oficiais e três praças, foram qualificados pela Marinha Francesa como “nageurs de combat” e, em 1974 foi formada no Brasil, pelo atual CIAMA, a primeira turma de Mergulhadores de Combate (DAVID, 2005; MAIA, 2003). A fim de atender, adequadamente, às crescentes solicitações da Esquadra e dos Distritos Navais, a Divisão de Mergulhadores de Combate foi transformada, em 1983, no Grupo de Mergulhadores de Combate, chamado GRUMEC, como parte integrante do Comando da Força de Submarinos. Esta nova força era baseada na experiência adquirida pelos militares na França e nos EUA. No dia 12 de dezembro de 1997, o então Ministro da Marinha criou o Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC). Essa Organização Militar está sediada na cidade de Niterói-RJ e é diretamente subordinada ao Comando da Força de Submarinos, tendo sido efetivamente ativada em 10 de março de 1998 (DAVID, 2005). 3.3.1.3 Os Escafandristas (EK) Apesar de existirem relatos de atividades de escafandria realizadas por especialistas da Marinha, em Spezia - Itália, como palombaro (escafandrista) de primeira classe, essas atividades só começaram a ser exercidas organizadamente quando a Base Almirante Castro e Silva (BACS) se instalou na ilha do Mocanguê, em janeiro de 1947 (CAPETTI, 2005). Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, oficiais brasileiros foram para Miami, Flórida – EUA, para realizarem o curso de mergulho no “Naval Diving and Salvage Training Center”7. Os Capitães de Corveta Vergueiro e Mesquita foram os dois primeiros oficiais mergulhadores da Força de Submarinos, pelos idos de 1948 (DAVID, 2005). 6 UDT - Underwater Demolition Teams (Equipe de Demolição Subaquática) e SEAL - Sea, Air and Land (Mar, Ar e Terra). 7 Centro de Treinamento de Mergulho e Salvamento da Marinha. 60 Há indícios de que a atividade de mergulho com escafandro já era exercida pelo Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), mas essa nada tinha a ver com o emprego dos submarinos, e que mais tarde foi emprestado à BACS, pelo AMRJ, um escafandro, dando início a essas atividades. Dos braços armados da Força de Submarinos, quais sejam: os submarinos, a escafandria e o mergulho de combate, estes dois últimos, por assim dizer, englobam praticamente todas as atividades de mergulho hoje exercidas na Marinha de Guerra, sendo os elementos-chave da atividade do mergulho militar naval (DAVID, 2005). 3.3.2 Força Aérea Brasileira (FAB) Em 1959, formou-se a primeira turma de pára-quedistas militares da Aeronáutica, no Núcleo de Divisão Aeroterrestre do Exército Brasileiro, composta por três oficiais e cinco sargentos. Estes militares tinham como objetivo a execução de duas missões: a instrução dos Cadetes da Escola de Aeronáutica e a de busca, salvamento e resgate, por meio da Diretoria de Rotas Aéreas, atualmente, Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo (www.leao.mil.br, 2006). Com o crescente desenvolvimento das técnicas e o grande acúmulo de missões que necessitavam da presença desses especialistas, surgiu a necessidade da criação de uma única doutrina de emprego e a formação de uma Unidade Especial. Destarte, foi criada, em 1963, a 1ª Esquadrilha Aeroterrestre de Salvamento, com sede na antiga Escola de Aeronáutica - atual Base Aérea dos Afonsos, Rio de Janeiro - RJ. Em 1973, a Esquadrilha foi extinta, sendo criado o Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (EAS) (DINIZ & KARINA, 2006)8. Na FAB, a atividade especial de mergulho é desenvolvida pelo EAS, mais comumente conhecido como PARA-SAR9 (Parachutist - Search and Rescue/ Páraquedista - Busca e salvamento). O Esquadrão Aéreo Terrestre de Salvamento prepara seus homens para a realização de resgate em combate (C-SAR), buscando tripulantes de aeronaves abatidas em vôo. Em tempos de paz, o PARA-SAR presta atendimento em 8 9 Cap Inf Diniz. Ten QCOA Karina – Jornalista. Revista AEROVISÃO. Brasília – DF, 2003. Sigla internacional utilizada para designar pára-quedistas empregados em missões de busca e salvamento. 61 acidentes aeronáuticos, náufragos e desaparecidos em locais hostis. A equipe é treinada para realizar os salvamentos nos mais diferentes ambientes operacionais, como montanhas, selvas, oceanos, rios, caatinga, etc (www.leao.mil.br, 2006). O treinamento de um militar do PARA-SAR dura em média um ano, período no qual fazem cursos de salvamento e resgate, pára-quedismo, salto livre, mergulho, entre outros. O mergulho, como atividade operacional, é utilizado com vista à recuperação de carga ou peças de aeronaves acidentadas e submersas (www.leao.mil.br, 2006). Essa atividade pode bem ser exemplificada pela notícia publicada no jornal “O Globo”, de 10 de abril de 2006, intitulada “Equipe da FAB retira monomotor do mar”. Um avião, modelo T-25, que realizou uma amerrisagem forçada, foi localizado na baía de Sepetiba, próximo à Ilha dos Marinheiros, pelo PARA-SAR. Com o auxílio de mergulhadores, foram instaladas bóias em alguns pontos da aeronave, que, depois de infladas, levaram o avião até a superfície. Após isso, o avião foi rebocado por um barco até próximo a Base Aérea de Santa Cruz. 3.3.3 Exército Brasileiro (EB) 3.3.3.1 Generalidades Devido a uma situação incipiente do mergulho e também ao fato de que a Força Expedicionária Brasileira não participou de operações que utilizassem o mergulho militar, os fundamentos basilares da atividade especial de mergulho operacional não foram difundidos para o EB, tal como ocorreu com outras técnicas a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, diversos setores da Força Terrestre ao longo da segunda metade do século XX buscaram conhecer melhor tal atividade e empregá-la em suas tarefas específicas. Dentro da instituição são quatro os segmentos que utilizam as técnicas de mergulho para cumprirem suas missões, a saber: I. Brigada de Infantaria Pára-quedista (Bda Inf Pqdt), por meio da Companhia de Precursores Pára-quedista (Cia Prec Pqdt); 62 II. Brigada de Operações Especiais (Bda Op Esp), por meio do Centro de Instrução de Operações Especiais, da 3ª Companhia de Forças Especiais e do 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp); III. Comando de Aviação do Exército, por intermédio do Serviço de Busca e Salvamento; e IV. Arma de Engenharia, por intermédio de todas as suas Organizações Militares (OM) de combate e dos cursos de formação de oficiais e sargentos. 3.3.3.2 Companhia de Precursores Pára-Quedista (Cia Prec Pqdt) Com origem no Pelotão de Precursor de 1951, foi criada em 1988, a Companhia de Precursores Pára-quedista, por evolução do Destacamento Precursor Pára-quedista. Integrada por profissionais especializados, a Cia Prec Pqdt é uma unidade orgânica da Bda Inf Pqdt, podendo cumprir sua missão de maneira isolada, infiltrando-se no território inimigo por qualquer meio (terrestre, aéreo ou aquático), a fim de atuar em proveito da Grande Unidade (GU) Pára-quedista (Pqdt), quando da realização do assalto aeroterrestre e o estabelecimento de uma cabeça-de-ponte aérea (www.exercito.gov.br, 2006). Para cumprir suas missões doutrinárias, dentre elas o reconhecimento e operação zonas de lançamento, zonas de pouso para aviões e zonas de pouso de helicópteros, a equipe precursora pode realizar sua infiltração, com a antecedência necessária, por meio dos processos terrestre, aquático, subaquático, aéreo ou por uma combinação destes. Assim sendo, essa OM planeja e conduz os adestramentos de infiltrações e exfiltrações aquáticas e subaquáticas (mergulho) de pessoal e material operacional, buscas de pessoal e material naufragados, inspeção de estruturas e demolições subaquáticas com objetivos militares, havendo a possibilidade de operar em conjunto com o PARA-SAR e/ou GRUMEC (FREITAS, 2002). 3.3.3.3 Brigada de Operações Especiais Os militares do 1º BFEsp foram os primeiros a sentirem a necessidade das atividades subaquáticas. No ano de 1957 introduziram, ainda que de forma 63 rudimentar, as técnicas de mergulho livre na matéria “natação” no 1º Curso de Operações Especiais. Até o ano de 1972 essa situação pouco evoluiu. Somente naquele ano foram realizados os primeiros intercâmbios com a Marinha visando a busca de novos conhecimentos. Porém, outro fato contribuiu com a evolução da atividade, um grupo de 03 oficiais e 03 praças realizaram o curso “Special Force Underwater Operations”10 em Fort Bragg, nos Estados Unidos, tomando contato com os mais diversos equipamentos de mergulho, inclusive o equipamento de mergulho autônomo de circuito fechado. Após o retorno desta equipe, o então Destacamento Operacional de Forças Especiais foi aparelhado com equipamentos de mergulho autônomo (PAIVA, 1997). Durante as décadas de 1970 e 1980, a atividade evoluiu e passou a ser considerada um estágio, com cerca de 10 dias e, posteriormente, 15 dias, com instruções teóricas e práticas. Destaca-se que, em 1979, o Curso de Forças Especiais realizou um estágio de mergulho na Marinha. Em 1996, por meio da Portaria Ministerial Nr 133, o 1º BFEsp foi reconhecido como entidade habilitada à formação de mergulhadores autônomos, sendo a única no Exército que estava autorizada a fazê-lo, o que não impediu dos militares desta Organização Militar freqüentassem os cursos ofertados pelo CIAMA, continuando o intercâmbio de conhecimentos com a Marinha do Brasil (PAIVA, 1997; OLIVEIRA, 1999). Em 2003, juntamente com a Brigada de Operações Especiais, foi criado o Centro de Instrução de Operações Especiais (CI Op Esp). O CI Op Esp é um Estabelecimento de Ensino (EE), subordinado à Bda Op Esp, sendo vinculado, para fins de ensino, à Diretoria de Especialização e Extensão. Desta forma, a atividade especial e mergulho cresceu de importância, tendo sido enviado um oficial do CI Op Esp para a Espanha, a fim de freqüentar o Curso de Zapador Anfíbio11. Esse curso, no país ibérico, de acordo com a Resolução 551/02236/0612 é exclusivo da Arma de Engenharia e está centrado na construção, obstrução e destruição de obras de arte (www.ciopesp.ensino.eb.br, 2003). 10 Operações subaquáticas para forças especiais. Informação baseada em conversas com o ex-comandante do CIOpEsp Ten Cel MARCELO e com o Cel DEVIVEROS, Instrutor espanhol da ECEME. 12 Resolución 551/02236/06. Publicada no BOD. núm. 32 de 15 de febrero de 2006 Convocatória para XXIX Curso de Buceador de Asalto e XXV Curso de Zapador Anfibio. 11 64 Atualmente, o CI Op Esp ministra, além de outros cursos de interesse da Bda Op Esp, o curso de mergulho a ar e resgate, o curso de mergulho com oxigênio e o estágio de operações aquáticas (www.ciopesp.ensino.eb.br, 2006). Assim sendo, o CI Op Esp realizou em caráter experimental, no período de 05 de setembro a 07 de outubro de 2005, o Curso de Mergulho a Ar e Resgate. O objetivo principal do curso foi habilitar os alunos a planejar, conduzir e executar missões de busca, salvamento e resgate de pessoal e material, bem como preparálos para o curso de mergulho com oxigênio. Durante o curso, os alunos utilizaram equipamento de mergulho autônomo de circuito aberto e equipamento de mergulho dependente. Visando a incrementar o intercâmbio com o meio civil, que realiza atividades desta natureza, o CI Op Esp contou com a parceria da Escola de Mergulho Profissional Divers University, situada em Santos -SP. Realizaram-se atividades em ambiente controlado e não controlado, com instruções no CI Op Esp e na Divers University. Ao término do curso, os concludentes receberam a certificação de mergulhadores profissionais e também de mergulhadores desportivos. Da mesma maneira, o CI Op Esp realizou, também em caráter experimental, o curso de mergulho com oxigênio. Este curso teve por finalidade habilitar mergulhadores a utilizarem equipamento autônomo de circuito fechado no emprego da técnica de ataque mergulhado, na qual se pode introduzir pequenos efetivos, em áreas cobertas por massas d’água, sob a presença ou forte vigilância do inimigo, para missões de ação direta, no qual o sigilo, a descrição e a surpresa sejam fatores fundamentais para o êxito da missão. Já o estágio de operações aquáticas visa a adestrar as frações constituídas e tem como objetivos habilitar o aluno a planejar, conduzir e executar infiltrações aquáticas de longo alcance (6 km), utilizando o nado de superfície; planejar, conduzir e executar a infiltração em meio aquático, por meio de salto de páraquedas semi-automático e desembarque por “helllocasting”; e realizar infiltração e reconhecimento, utilizando bote e caiaque. 3.3.3.4 Serviço de Busca e Salvamento do Comando de Aviação do Exército Segundo o Comando de Aviação do Exército (CAVEX), de todos os segmentos praticantes da atividade de mergulho no Exército, este é o mais recente, 65 tendo iniciado suas atividades em 1990, com o envio de um oficial e quatro sargentos para a FAB a fim de se especializarem nas atividades de Busca e Salvamento. O serviço foi criado com a finalidade de resgatar vítimas de acidentes aéreos e equipamentos aeronáuticos, inclusive em ambiente aquático (www.cavex.eb.mil.br, 2006). O Serviço de Busca e Salvamento (SAR) não dispõe de uma estrutura para a formação de mergulhadores autônomos, porém noções de mergulho livre, fisiologia e medicina de mergulho são ministradas aos sargentos que freqüentam o Curso de Bombeiro, Resgate e Prevenção de Acidentes e aos cabos que freqüentam o Treinamento Específico de Auxiliar SAR13. Além disso, os militares deste serviço freqüentam os cursos de mergulho na Marinha do Brasil, Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo e empresas civis especializadas (OLIVEIRA,1999). Atualmente, o SAR está presente em toda a Aviação do Exército, seja com o Pelotão de Busca e Salvamento, orgânico do 2° Batalhão de Aviação do Exército (BAvEx), apto a realizar operações de resgate em qualquer ambiente operacional, ou com pequenos grupos em todas as Unidades Aéreas (www.alide.com.br, 2006). 3.3.3.5 Arma de Engenharia 3.3.3.5.1 Generalidades Na observação dos quadros de distribuição de material de diversas Unidades da Arma de Engenharia, verifica-se a existência de equipamentos de mergulho autônomo e dependentes, pressupondo a utilização dos mesmos em atividades técnicas específicas, tais como buscas, salvamento, reconhecimentos, demolições etc. desde a inclusão em carga dos mesmos. Tal fato não corresponde à realidade dos fatos. Muitos foram os equipamentos que se deterioraram ainda em suas caixas. Tal era o receio em empregá-los, devido a falta de legislação que aparasse executantes e mandatários, a falta de conhecimento de emprego e manutenção, aliados ao custo elevado dos materiais existentes, que muitos encarregados de 13 Informação obtida por meio de entrevistas informais com o Maj Marcos Melo e o Maj Alves Negrão, pilotos da Av Ex. 66 material relutavam em colocar o equipamento em uso, já que os Oficiais também não faziam questão de fazê-lo. Porém, na década de 1990, momento de grande reestruturação do Exército Braseiro, no âmbito da Força Terrestre 90 (FT 90), a antiga Diretoria de Material de Engenharia (DME) adquiriu materiais de mergulho de última geração e os distribuiu para as OM de Engenharia de Combate, com a preocupação de modernizar a atividade e garantir a segurança dos mergulhadores. Paralelamente a essa compra de novos equipamentos, vários Oficiais passaram a freqüentar os cursos de mergulho oferecidos pelo CIAMA e pelos diversos Corpos de Bombeiros Militares do País, o que dinamizou a atividade. Apesar desse impulso às atividades de mergulho dado pela DME, da existência de dotação de material de mergulho nos Batalhões e Companhias de Engenharia de Combate, da implementação de Portaria do Comando do Exército regulando a atividade, ainda hoje permanece a situação da inexistência de uma doutrina de emprego para os mergulhadores de Engenharia, mesmo com a alocação de vagas em Quadro de Cargos Previstos (QCP) para militares habilitados na atividade. Segundo PAIVA (1997), Deve-se buscar as origens da atividade nas duas principais vertentes da formação de seus quadros - a Academia Militar das Agulhas Negras e a Escola de Sargentos das Armas. Nelas são dados os primeiros passos na atividade, os quais basicamente visam a despertar o gosto pelo mergulho, pois as escolas de formação não estão autorizadas a formarem o mergulhador militar. Atualmente, os Oficiais e praças de Engenharia que desejarem freqüentar um curso de mergulho e tornarem-se aptos, habilitados e reconhecidos pelo Exército Brasileiro para realizarem atividades de mergulho voltadas para a área operacional, devem realizar o curso do CIAMA ou dos diversos Corpos de Bombeiros Militares, desde que esses últimos sejam reconhecidos pela MB. 3.3.3.5.2 Academia Militar das Agulhas Negras Desde o ano de 1964, o Curso de Engenharia (C Eng) da AMAN já se preocupava com as atividades de mergulho, dedicando um tempo de instrução ao 67 assunto equipamento de mergulhador. Somente em 1979 e, posteriormente, em 1982 as cargas horárias destinadas ao assunto foram aumentadas, tornando o contato do Cadete com o material mais profícuo. Naquela época, os estágios de instrução de mergulho eram ministrados pelos Oficiais possuidores do curso de Forças Especiais lotados na Seção de Instrução Especial (PAIVA, 1997). Em 1987 houve um novo incremento na atividade, quando a instrução passou a ser ministrada pelos oficiais do próprio C Eng. Desta maneira, a equipe chefiada pelo então Tenente Coronel Silva Filho, Comandante do C Eng, e composta pelo Capitão Da Cás, Capitão Maas e 1º Tenente Paiva, instrutores do Curso à época, assumiu a responsabilidade de habilitar o futuro oficial de Engenharia, que seria o futuro responsável pelo material, a realizar atividades de mergulho. Sistematizando a instrução, eles implantaram uma técnica de ensino que, até hoje, é seguida naquele Estabelecimento de Ensino (EE), servindo de modelo para o método preconizado no Boletim Técnico Especial Nr 10 (1996) - DME. No período de 1994 a 1996, a AMAN foi contemplada com um total de 07 vagas para Oficiais no Curso Expedito de Mergulho Autônomo do CIAMA. Cumpre ressaltar que os 06 Oficiais de Engenharia indicados para freqüentarem o referido curso obtiveram êxito no mesmo e puderam incrementar a atividade no âmbito do Curso de Engenharia (C Eng) e do próprio Corpo de Cadetes, por meio do Clube de Mergulho Autônomo Agulhas Negras (CMAut/AMAN). Esse Clube é uma entidade reconhecida pela Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticas, e forma, no âmbito da AMAN, mergulhadores desportivos de todas as armas. Nos anos de 1994 a 1997, a AMAN contou com um número que variou de quatro a oito oficiais de Engenharia com o referido curso, o que propiciou incremento nas atividades de mergulho (CARLI, 1998). Em 2006, mesmo tendo recebido um menor número de vagas para curso de mergulho, o C Eng/AMAN contou com oito oficiais mergulhadores, cinco com o curso da MB e três com curso nos CBM. Dentre esses Oficiais, dois possuiam o Curso de Demolições Subaquáticas da MB (comunicação pessoal)14. Em 1997, a reformulação do Plano de Matérias em Plano de Disciplinas (PlaDis) propiciou um aumento de carga horária, passando o assunto a contar com 14 Em conversa com o Cap Paulo da Silva Nogueira, chefe da 1a Seção do C Eng/AMAN, em de 2 de maio de 2006. 68 41 horas de instrução, distribuídas entre os 3º e 4º anos, sendo executados mergulhos em ambiente controlado (piscina), no mar e atividades práticas em água doce turva, futuro ambiente operacional do mergulhador de Engenharia (figura 16) (CARLI, 1998). Figura 16 - Cadetes de Engenharia realizando mergulho em água doce turva em 1999. Fonte: Linhares (2003, p.26). Com a modernização do ensino ocorrida em toda estrutura educacional ligada ao Departamento de Ensino e Pesquisa, houve nova reformulação dos PlaDis no C Eng. Segundo Linhares (2003), em 2001, o PlaDis contemplava para o assunto “mergulho autônomo” uma carga horária de cinqüenta e duas horas. Dentro dessa carga horária, ministravam-se instruções em que o Cadete recebia noções básicas de vários aspectos ligados ao assunto, tais como: fundamentos, manutenção de equipamentos, resgate de material, orientação e demolição subaquáticas. Na atualidade, o C Eng ministra para os 3º e 4º anos uma carga horária de 50 horas, abrangendo os mesmos temas do PlaDis de 2001, acrescidos do assunto “planejamento de operações de mergulho” (BRASIL, 2006) (figura 17). 69 Figura 17 - Cadetes de Engenharia realizando a reflutuação de um painel de passadeira em ambiente controlado. Fonte: http://www.aman.ensino.eb.br/ceng/atividades.htm. Acesso em: 22 abr. 2006. Segundo Paiva (1997), o C Eng, ao assumir a responsabilidade pela atividade de mergulho, sistematizou a instrução, estabeleceu novos parâmetros a serem cumpridos pelos Cadetes em ordem crescente de dificuldade, ao mesmo tempo em que estabeleceu critérios para a avaliação do desempenho. Dessa forma, ocorreu melhora sensível no rendimento dos Cadetes na execução das técnicas de mergulho. Vale ressaltar que, em 2002, a AMAN, por iniciativa do C Eng, encaminhou proposta ao escalão superior para que referido Curso fosse reconhecido como órgão formador de mergulhadores de Engenharia. Tal proposta não teve uma resposta afirmativa15. De acordo com o Capitão Paulo da Silva Nogueira16, outro fato que merece destaque é que o C Eng não recebeu, em 2004 e 2005, verbas para realizar a manutenção ou para a aquisição de qualquer novo equipamento de mergulho, apesar do uso intenso que faz dos que possui. A reposição de materiais em mau estado tem sido garantida pelo Clube de Mergulho Autônomo (CMAut), que contando com militares e equipamentos de mergulho do C Eng, vem ministrando estágios de mergulho autônomo para o Corpo de Cadetes e para a família acadêmica mediante indenização, o que possibilitou a aquisição de material de mergulho, já que o Clube é uma entidade sem fins lucrativos. 15 16 Informação obtida pelo autor dessa tese quando foi instrutor do C Eng em 2003 e 2004. Chefe da 1a Seção do C Eng/AMAN. 70 Pode-se concluir, pelos dados apresentados anteriormente, que a formação de mergulhadores está implantada no Curso de Engenharia da AMAN, verificandose a nítida evolução ao longo dos anos, tanto no aspecto quantitativo como qualitativo. Porém, há de se ressaltar, que o C Eng não é reconhecido como órgão formador de mergulhadores e que ainda, persiste a falta de uma doutrina que operacionalize o emprego dos mergulhadores de Engenharia. Destarte, o maior trabalho dos instrutores é a conscientização dos Cadetes para a importância do mergulho como atividade técnica de Engenharia e a necessidade de um judicioso emprego dos meios existentes em material e pessoal. 3.3.3.5.3 Escola de Sargentos das Armas (EsSA) Em 1986 iniciaram-se os trabalhos relativos à atividade de mergulho naquele EE, quando o Plano de Matérias do Curso de Engenharia destinava 02 horas para o assunto “equipamento para mergulhador”. Somente em 1990 foi estabelecido o objetivo de praticar o mergulho, além de que o aluno deveria ficar em condições de descrever os princípios de mergulho e distinguir as partes componentes do equipamento. De 1990 até os dias de hoje, a atividade sofreu um acréscimo de carga horária passando de oito horas àquela época para 18 horas em 1998 (SIQUEIRA, 1998) e para 20 horas em 2007. Pode-se afirmar que, apesar de pequena, a carga horária sofreu um acréscimo considerável e o PlaDis passou a exigir dos alunos a execução do mergulho, o que é fundamental para o incremento da atividade e para o desempenho dos futuros sargentos em determinadas funções nas OM de Engenharia de Combate. 3.3.3.5.4 Batalhão Escola de Engenharia (BEsEng) Em dezembro de 1985 foi criado no então 1º Batalhão de Engenharia de Combate, atual BEsEng, o grupo de mergulho Villagran Cabrita, o qual visava a manter os militares mergulhadores daquela OM adestrados na atividade. Na época o Batalhão abrigava em seus quadros militares habilitados pelo CIAMA, Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e em empresas civis. Esse grupo foi reconhecido pela 71 Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos, possuindo plano de provas aprovado pela 1ª Divisão de Exército (OLIVEIRA, 1999). A atividade passou a ser praticada de forma sistematizada no âmbito da OM, mesmo que sob a luz das normas para prática de mergulho da Marinha do Brasil. Essa situação permaneceu até 1996, quando entrou em vigor a Portaria Ministerial Nr 133, que restringiu a atividade na OM. Em 2000, o Comando de Operações Terrestres (COTER) expediu a Portaria Nr 001, que aprovava a diretriz para o planejamento das ações de implementação de mergulho operacional nas Unidades de Engenharia. Esta Portaria vigorou nos anos de 2000, 2001 e 2002, sendo automaticamente revogada em 31 de dezembro de 2002. De acordo com citada portaria, em 2000, o BEsEng e o 3o Batalhão de Combate (3º BEC) deveriam realizar treinamento específico para a atividade de mergulho, sendo o ápice do cronograma estabelecido a realização de um estágio avançado de mergulho, que foi realizado pelo BEsEng em 2001. Tal Portaria tinha como anexo um plano de matérias que enfocava todos os fundamentos a serem ministrados aos estagiários, perfazendo um total de 270 horas de instrução. Tal plano, além das unidades didáticas (UD) comuns a todo o curso básico de mergulho autônomo e semi-autônomo (dependente), possuía uma UD tipicamente militar: o Emprego do Mergulho em Operação. Essa UD foi contemplada com 42 horas diurnas e 15 horas noturnas de instrução, totalizando 57 horas de atividade. Seus principais objetivos estavam relacionados com os trabalhos técnicos de reconhecimento, organização do terreno (destruições e obstáculos) e a busca e recuperação de material. O BEsEng realizou o referido Estágio17 de mergulho no período de 02 de julho a 31 de agosto de 2001, em conformidade com o as diretrizes COTER. No relatório produzido pela 3a Seção da OM, pôde-se constatar a necessidade de aperfeiçoamentos no Plano de Matérias, principalmente por esse omitir o assunto tabelas de descompressão. Assim sendo, segue a transcrição da conclusão do referido relatório: 17 Ordem de Instrução Nr 013 – S/3 do Batalhão Escola de Engenharia, de 22 de junho de 2001 Estágio de Especialização de Mergulho, assinada por Renato Marcos – Ten Cel Eng QEMA Comandante do BEs Eng - SANTA CRUZ, RJ. 72 ...concluímos que o BEsEng encontra-se em condições de realizar o Estágio Avançado de Mergulho (3ª Fase) para as OM de Engenharia que possuam a função de mergulhador em seus Quadros de Cargos Previstos (QCP), conforme prevê a Portaria 001-COTER, de 05 Jan 00 e quaisquer outras atividades de mergulho, no âmbito do Exército. Desta forma, entendemos que o prosseguimento das atividades de mergulho, realizadas no BEsEng, permitirá que muito brevemente a Força Terrestre não necessitará realizar cursos na Marinha do Brasil ou nas organizações das Policias Militares. (BEsEng, 2001, p.518) O último evento expressivo relacionado ao mergulho militar, para a Arma de Engenharia, foi a realização do estágio de mergulho, em 2001, no BEsEng. Após isso, a OM não mais realizou qualquer atividade relativa à portaria do COTER. 3.3.3.5.5 Atividades recentes e atuais Cabe ressaltar que o Plano Diretor do Exército 2003/2007, em seu Livro 1, aprovado pela Portaria n° 327- Gabinete do Comandante do Exército (Gab Cmt Ex), de 24 de junho de 2003, afirma-se que: O PDE é o instrumento que permite planejar e executar, no campo administrativo, as medidas que objetivam satisfazer as solicitações derivadas dos Planejamentos do Emprego e do Preparo Operacional e outros constantes do Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEx), mediante a definição, obtenção e manutenção dos meios eficazes para alcançar uma situação desejada. Em consonância com o PDE, no anexo 1 do capítulo IV - anexo 2d, Tabela de Níveis de Completamento - relação dos materiais de emprego militar essenciais para a Engenharia, foram destinados 06 equipamentos de mergulhador autônomo para os Batalhões de Engenharia de Combate e BEsEng, além de 02 equipamentos de mergulhador autônomo para as Companhias de Engenharia de Combate. Ressalta-se que todas essas OM foram contempladas com 01 compressor de ar de alta pressão para o referido equipamento. Em se confirmando essa distribuição de material, a Engenharia de combate terá aumentada em muito sua capacidade subaquática. 18 Relatório Nr 014-S/3 do Batalhão Escola de Engenharia – Relatório do Estágio de Especialização de Mergulho - Santa Cruz, RJ, 06 de novembro de 2001, assinada por Renato Marcos – Ten Cel Eng QEMA Comandante do BEs Eng. 73 Em julho de 2004, durante a realização do IV Seminário de Engenharia, em Brasília-DF, o assunto mergulho passou praticamente despercebido, ante a gama de complexas e importantes decisões a serem tomadas para o futuro da Arma. Mesmo assim, naquele encontro, decidiu-se manter no Quadro de Dotação de Material (QDM) da Companhia de Engenharia de Força de Paz (Cia E F Paz) a dotação de 03 equipamentos de mergulho autônomo completos e de 01 conjunto de compressor para recarga de equipamento de mergulho autônomo (BRASIL, 2004). Assim sendo, coerentemente com essa decisão, o Seminário concluiu pela necessidade da existência de pessoal qualificado em mergulho na Cia E F Paz, demonstrando a importância e atualidade do tema. Por fim, ressalta-se que na atualidade encontra-se em estudos na Diretoria de Extensão e Especialização (DEE) a criação de um curso de mergulho autônomo para a os integrantes da Arma de Engenharia, a funcionar na Seção 7 - Engenharia, da Escola de Instrução Especializada. O projeto inicial desse curso, concebido em 2005, consiste de sete módulos didáticos, desenvolvidos em dez semanas de instrução em jornadas de quarenta horas semanais 19. O currículo do curso abrangeria os seguintes módulos: módulo teórico de mergulho autônomo; e módulo prático de mergulho autônomo, que englobaria, dentre outros assuntos, as seguintes técnicas: salvamento e primeiros-socorros; mergulho com baixa visibilidade; mergulho embarcado; mergulho em correnteza e mergulho confinado. Além disso, seria abordado o planejamento do mergulho e realizada a adaptação ao mergulho semi-autônomo; módulo de manutenção de equipamentos de mergulho; módulo de emprego tático do mergulho e; módulo de mergulho operacional de Engenharia, constituído de busca e recuperação de materiais/corpos; demolição e desativações subaquáticas; inspeções; corte e solda subaquáticos e a realização de reconhecimentos subaquáticos especializados. 3.3.4 Considerações finais Ao término do século XX a estrutura do mergulho militar no Brasil encontrava-se bastante definida para a MB e para a FAB. No início do século XXI, tanto as Forças Especiais e a Arma de Engenharia do Exército Brasileiro, principais 19 Esses documentos são minutas entregues ao Diretor de Especialização e Extensão. 74 interessados nessa atividade especial, estão buscando delimitar seus espaços e atribuições. O CIOpEsp já conta, ainda que de maneira experimental, com um cursos de mergulho que atendem às necessidades das tropas de Forças Especiais (F Esp). A Engenharia, que dos fins dos anos 80 do século XX até a presente data evoluiu de maneira acentuada, ainda não traçou os rumos que deseja para a atividade especial de mergulho. Esforços estão sendo realizados nesse sentido, a começar pela implementação de um curso de mergulho na Escola de Instrução Especializada (EsIE), o que poderá dar um salto de qualidade na formação dos recursos humanos e na formulação e validação da doutrina de emprego da atividade. 3.4 O MERGULHO NA MARINHA DO BRASIL 3.4.1 Generalidades Segundo Paiva (1997), a atividade de mergulho está estruturada na Marinha do Brasil em duas categorias distintas, de acordo com sua finalidade. A primeira tem por objetivo a execução de operações de combate; a segunda destina-se à execução de atividades das funções logísticas Manutenção e Salvamento. 3.4.2 Comando da Força de Submarinos (ComForS) A Força de Submarinos é uma Organização Militar da Esquadra brasileira destinada ao trato dos assuntos de submarino e mergulho. O Comando da Força de Submarinos é o comando superior dos Submarinos, da Base Almirante Castro e Silva (BACS), do Centro de Instrução Almirante Áttila Monteiro Aché, do Grupamento de Mergulhadores de Combate e do Navio de Socorro Felinto Perry (figura 18) (CAPETTI, 2005). De acordo com o manual ComForS 263 - Normas para a Atividade de Mergulho (2005), o Comando da Força de Submarinos tem por missão, no que concerne à essa atividade: o controle da atividade especial de mergulho na MB; o estabelecimento das diretrizes para formação de pessoal; o desenvolvimento da técnica, 75 a manutenção do adestramento; a catalogação de material; o pagamento do adicional de compensação orgânica. Figura 18 - Organograma do ComForS. Fonte: https://www.mar.mil.br/forsub/subordinacao.Acesso em: 11 set. 2006. Além disso, o ComForS também possui as seguintes atribuições (www.mar.mil.br, 2006): garantir o aprestamento dos meios subordinados; assessorar no estabelecimento da doutrina de emprego e estabelecer a doutrina de condução de meios subordinados; manter atualizados os conhecimentos, normas e procedimentos referentes à atividade de mergulho na MB; dirigir a faina, quando determinado, a fim de contribuir para a eficácia do emprego dos meios navais subordinados na aplicação do Poder Naval . 3.4.2.1 Base Almirante Castro e Silva (BACS) 76 A BACS é a Base Naval destinada ao apoio das atividades de submarinos e mergulho. Sua missão é apoiar os submarinos a fim de mantê-los operando. Atualmente, a BACS é uma OM Prestadora de Serviço Industrial, subordinada ao comando da Força de Submarinos, devendo apoiar, administrativamente, o COMFORS e suas OM subordinadas, prover serviços de manutenção e reparos de 2º escalão aos seus navios subordinados e, subsidiariamente, aos demais navios da MB. Além de prover serviços de escafandria e de medicina hiperbárica, contribui para o aprestamento dos meios navais e para a manutenção das OM subordinadas ao COMFORS. Secundariamente, a BACS atende aos pedidos de serviços industriais e de mergulho de Organizações Militares da MB no Rio de Janeiro e de outras localidades (CAPETTI, 2005). A BACS possui um Departamento de Mergulho, que tem a capacidade de cumprir as seguintes missões: serviços de manutenção e reparos de navios: inspeções submarinas (com fotografias e filmagens); limpeza de casco; tamponamentos e bujonamentos; reparo e/ou substituição de peças; serviço de socorro e salvamento: busca; procura; reflutuação; auxílio à vida humana e resgate em alto mar; e demolição submarina e de superfície: desobstrução de canais com emprego de explosivos, por drenagem, por corte elétrico (corte e retirada de barcos ou navios soçobrados); afundamento controlado de cascos de navios com emprego de explosivos e desativação de artefatos explosivos subaquáticos. 3.4.2.2 Navio de socorro submarino Felinto Perry De acordo com Capetti (2005), o navio de socorro submarino é uma embarcação especialmente projetada para realizar operações de salvamento de submarinos que sofrem acidentes durante operações e ficam impossibilitados de retornar à superfície. Além disso, apóia as atividades de instrução do CIAMA e de mergulho profundo (até 300m), esta última, com a finalidade de contribuir para a segurança das operações de submarinos e de mergulho, e para a manutenção das condições operativas do pessoal e dos meios da Força de Submarinos. 77 Esse navio conta com um sino de salvamento (câmara especial que pode ser baixada até o submarino sinistrado, nele se acoplando e permitindo a retirada do seu pessoal), com equipamentos e pessoal qualificado em mergulho a ar comprimido e a mistura hélio-oxigênio20 (figura 19) (CAPETTI, 2005). Figura 19 - Foto do Navio K11, FELINTO PERRY, atracado ao cais da BACS. Fonte: http://paginas.terra.com.br/relacionamento/submarinosdobr/navsoc.htm. Acesso em: 11 set. 2006. 3.4.2.3 Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC) O GRUMEC é a Unidade da Força de Submarinos que possui organização, adestramento e equipamento para conduzir operações especiais. Composta por mergulhadores de combate selecionados e adestrados, com condicionamentos físico e psicológico adequados, destina-se ao exercício de atividades complexas em ambiente de risco elevado (figura 20) (PAIVA, 1997). Figura 20 - Brasão do GRUMEC. Fonte: http://www.acrtecnologia.com.br/clubedomergulhador. Acesso em: 16 abril 2006. 20 Técnica que permite aos mergulhadores descerem a maiores profundidades. 78 Entre as muitas missões que os mergulhadores de combate podem desempenhar em meio marítimo ou próximo da costa nos dias atuais estão (Siqueira, 1998; Comando de Operações Navais - 310 A, 1995 - ComOpNav-310, 1995): limpeza de portos, canais de acesso, minas e destroços; abertura e demarcação de canais; demolição de obstáculos e minas existentes em praias, antes e após os desembarques anfíbios; demolições durante uma retirada; detecção e desativação de engenhos explosivos convencionais e improvisados; bem como localizar e destruir minas e abrir canais em campos minados; ataques de sabotagem, interdição e diversionários contra navios (com minas imantadas, de retardo, que são presas aos cascos), instalações portuárias, pontes, diques, comportas, defesas costeiras, plataformas petrolíferas, refinarias, terminais de petróleo e outras instalações de interesse em áreas de ambiente marítimo ou ribeirinho; reconhecimento e vigilância de praias, rios, canais e portos; apoio a operações de guerra anfíbia. Essas operações têm, nos mergulhadores de combate, elementos indispensáveis. Entre as informações vitais para um desembarque bem-sucedido está o conhecimento preciso do gradiente (inclinação) da praia escolhida, a partir de uma profundidade de cerca de sete metros até a vegetação que circunda a areia. A carta a ser preparada pela patrulha de reconhecimento também deve contar com dados sobre o tipo de solo (areia, pedra, lama, etc) obstáculos naturais e artificiais, minas e a existência de edificações e habitantes da área. Igualmente importante será a avaliação das forças de oposição, o que deve ser feito sem que os mergulhadores de combate entrem em contato com o inimigo (embora estejam, sempre, fortemente armados para um possível confronto); apoio a operações C-SAR; resgate de prisioneiros em áreas inimigas; 79 condução de reconhecimentos, vigilância e outras tarefas de coleta de inteligência, incluindo captura de pessoal (seqüestro de pessoal selecionado); buscas subaquáticas; patrulhas de segurança; ações de contra-terrorismo e resgate de reféns; coletar informações de partes submersas de navios inimigos em potencial; infiltrar e retirar de território inimigo agentes sabotadores; emboscar e interditar linhas de comunicação e suprimento inimigos em rios e canais; contribuir para o adestramento de defesas de portos e plataformas, de Unidades e estabelecimentos navais, figurando como inimigo; contribuir para a segurança de unidades navais e estabelecimentos, protegendo locais sensíveis; e auxiliar na recuperação de mísseis, armamentos, submarinos e engenhos especiais; entre outras. Para a realização de suas missões, evoluindo basicamente a partir do mar, os mergulhadores de combate usam os mais variados meios de transporte. Os submarinos são usados há muito tempo para operações especiais, levando os mergulhadores até a área de operações de forma discreta. Os mergulhadores de combate também podem ser inseridos próximos a seus objetivos por navios de superfície, veículos terrestres, aeronaves, pára-quedas ou barcos, o que lhes proporciona uma grande flexibilidade de emprego (PAIVA, 1997). Os Mergulhadores de Combate (MEC) estão organizados, adestrados e equipados para o desembarque e infiltração através de praias hostis, águas restritas ou áreas ribeirinhas. Seu adestramento inclui a prática de natação utilitária; mergulho com todos os tipos de equipamentos; orientação e navegação; guerrilha e contraguerrilha; ações antiterroristas; sobrevivência em qualquer ambiente; uso de explosivos; combate corpo-a-corpo; pára-quedismo e o uso dos mais diversos tipos de armas (figura 21). Empregado equipamentos de mergulho silenciosos e discretos, uma vez que não desprendem bolhas, os MEC aproximam-se de seus objetivos sem serem 80 percebidos. Essa característica permite aos MEC obter a iniciativa das ações e surpreender o oponente, sendo a discrição e o sigilo características presentes em todas as suas operações (PAIVA, 1997). Figura 21 - MEC instalando uma mina imantada em um casco de navio. Fonte: http://www.tropaselite.com.br/mergulhadores de combate. Acesso em: 26 set. 2005. Dentre outros eventos, que incluem o intercâmbio com mergulhadores de combate de Marinhas amigas, os MEC da Marinha do Brasil têm participado em todas as Operações Anfíbias da Esquadra; apoiado o lançamento de torpedos e mísseis; realizado exercícios de ataques a navios; participado de Operações Ribeirinhas, tanto na Amazônia, quanto no Pantanal Mato-grossense; executando exercícios de retomada de navios, plataformas de petróleo e de resgate de reféns; e conduzido testes com armamento submarino, além de operar em operações combinadas. Além do GRUMEC, o Batalhão de Operações Especiais do Corpo de Fuzileiros Navais também utiliza o mergulho em operações especiais, executando infiltração submersa em proveito de ações de reconhecimento, apoiando a Força de Desembarque ou Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais em operações anfíbias e ações de comandos. Acrescenta-se, ainda, que como missão adicional de mergulho, esse Batalhão apóia as OM subordinadas à Força de Fuzileiros da Esquadra nas operações e exercícios de travessia com Carro Sobre Largata Anfíbio (CLAnf) e em transposições de cursos d’água com meios blindados (PAIVA, 1997). 81 3.4.3 Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA) O CIAMA (figura 22) tem o propósito de capacitar pessoal para o exercício de cargos e funções relacionadas com as atividades de submarinos, mergulho e operações especiais. Para isso, realiza cursos de formação, especialização e aperfeiçoamento nessas áreas, além de medicina submarina, para Oficiais e Praças da Marinha do Brasil e de outras Forças Armadas e Forças Auxiliares, estando, ainda, disponíveis diversos cursos para civis nas áreas de mergulho e medicina submarina. Figura 22 - Brasão do CIAMA. Fonte: https://www.mar.mil.br/ciama/index brasao. Acesso em: 15 jul. 2006. Além disso, desenvolve estudos e pesquisas de novas técnicas para aplicação na instrução e no adestramento; e realiza testes e pesquisas hiperbáricas. Dentre os cursos oferecidos pelo CIAMA, relacionados com a atividade especial de mergulho, pode-se enumerar: escafandria; mergulhador autônomo; demolição submarina; mergulho a ar com equipamento dependente; corte e solda submarina; fotografia submarina; mergulho saturado; supervisão de mergulho profundo; desativação de artefatos explosivos; salvamento para mergulhadores; mergulhador de combate; mergulho autônomo com circuito fechado; medicina de submarino e escafandria; emergências médicas para mergulhadores; emergências em medicina submarina; medicina no mergulho saturado e enfermagem em medicina hiperbárica. Para cumprir sua missão, o CIAMA está estruturado em três departamentos: Departamento de Ensino de Mergulho, Departamento de Operações Especiais e Departamento de Ensino de Submarino. Conta ainda com os seguintes simuladores na área de mergulho (FERRO, 2003): 82 1) Tanque de Instrução de Mergulho (TIM) é destinado a proporcionar os primeiros contatos dos alunos, em ambiente controlado, com os equipamentos de mergulho e ao desenvolvimento prático de exercícios, testes e adestramentos de superfície e submersos; 2) Tanque de Treinamento de Mergulho (TTM) que tem a finalidade de proporcionar aos alunos a aprendizado das técnicas de corte e solda submarinas utilizando o equipamento dependente, além de diversos trabalhos práticos submersos; 3) Tanque de Treinamento de Salvamento de Submarino (TTTS). Esse tanque, com vinte metros de profundidade, permite a simulação de um salvamento submarino em várias profundidades. Além disso, permite o treinamento de diversos procedimentos de mergulho, como a realização de subidas de emergência. Dispõe, ainda, de uma câmara de recompressão no piso superior, destinada a ser empregada em caso de uma anomalia apresentada durante os adestramentos. O autor desta tese acha necessário fazer constar que esses simuladores são utilizados em testes e provas específicas durante os cursos de mergulho, já que o CIAMA, estando localizado na Baía da Guanabara - Ilha do Mocanguê, conta com uma grande área de cais e praia, onde a maior parte dos exercícios de mergulho são realizados. O CIAMA conta, ainda, com um Centro Hiperbárico. Inaugurado em 13 de março de 1989, resultado de convênio firmado entre a Marinha do Brasil e a Petrobras, o Centro Hiperbárico é o instrumento que permite ao Brasil realizar o preparo e o adestramento de pessoal nas técnicas de mergulho de saturação, pesquisas e desenvolvimento em medicina hiperbárica, além da efetivação de experimentos e testes hiperbáricos em materiais e engenhos submarinos. Por intermédio deste Centro, o Brasil conseguiu, em pouco tempo, o domínio da complexa tecnologia do mergulho profundo em geral, fato alcançado por poucos países no mundo. 3.4.3.1 Departamento de Ensino de Mergulho (DEM) O DEM tem por atribuições a formação de militares e civis nas técnicas de mergulho a ar, de mergulho saturado e desenvolver procedimentos que visem a 83 aumentar a segurança do mergulhador e a análise de novos equipamentos, que propiciem melhores resultados na condução de atividades de mergulho e de salvamento (FERRO, 2003). Em diversos cursos são alocadas vagas para civis que, se encaminhados por entidades e sindicatos contribuintes do Fundo de Ensino Profissional Marítimo, têm prioridade de matrícula sobre os demais e isenção de pagamento (FERRO, 2003). Para a realização dos cursos ministrados pelo DEM, o militar deverá estar apto em uma série de exames e testes, a saber: exame psicológico, exame médico, teste da câmara de recompressão realizado no CIAMA a uma profundidade correspondente a 60 (sessenta) pés, cerca de 18 (dezoito) metros; e testes físicos que incluem corrida, natação e apnéia (dinâmica e estática). Dentre os cursos que são de responsabilidade do DEM, destacam-se os de escafandria, mergulho autônomo, desativação de artefatos explosivos e medicina de submarino e escafandria. O curso de escafandria (figura 23), com duração de 29 (vinte e nove) semanas, tem por finalidade preparar o pessoal para operar equipamentos de mergulho, ferramentas, equipamentos de corte e solda, explosivos e embarcações específicas, bem como conhecer as técnicas necessárias ao desempenho das tarefas previstas para o escafandrista no salvamento de navios, desobstrução de portos, reparos e construções submarinas e levantamentos expeditos de praia. Figura 23: Distintivo do curso de escafandria. Fonte: https://www.mar.mil.br/ciama/index_cursos. Acesso em: 10 set. 2006. Segundo Capetti (2005), na MB os Escafandristas (EK) realizam as chamadas atividades de mergulho de emprego geral, relacionadas com as funções logísticas Manutenção e Salvamento. Essas atividades, realizadas pelos Grupos de Mergulho da MB, são: recuperação de objetos submersos perdidos; salvamento de material e embarcações acidentadas e afundadas; 84 mergulho em águas poluídas; corte e solda submarina; demolições submarinas; resgate de vítimas em naufrágios; resgate de corpos submersos; limpeza de cascos. Paiva (1997), aponta ainda: reparo de instalações; inspeções em estruturas ou em instalações submersas; auxílio à manutenção e reparo de meios flutuantes; auxílio às fainas de docagem e desdocagem de navios; auxílio no reboque de alvos; auxílio à manutenção de sinalização náutica; apoio às atividades da força de minagem e varredura; apoio à pesquisa arqueológica e à pesquisa científica; realização de serviços de desativação de artefatos explosivos; instrução e adestramento em mergulhos, com misturas respiratórias artificiais; adestramento das tripulações dos submarinos nos procedimentos padrão para salvamento individual; reflutuação de submarino avariado no fundo; atendimento de mergulhos a grande profundidade ou que necessitem apoio de navio; auxílio às fainas de desencalhe de embarcações de desembarque; fainas específicas relativas à guerra com minas e; outros trabalhos submarinos. 85 Segundo Capetti (2005), os EK utilizam-se desde o mergulho livre até o emprego de vestes e equipamentos especiais, apropriados à cada situação, tais como “aqualang”, roupas secas e roupas molhadas, escafandros, sinos, câmaras de descompressão, habitat para mergulho saturado, etc, podendo mergulhar com ar ou com mistura de gases. Após a conclusão do curso, os EK poderão ser classificados nos Grupos de Mergulho dos Distritos Navais, da Esquadra, do Comando da Força de Minagem e Varredura, do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro e do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (PAIVA, 1997). Já o curso de mergulhador autônomo, com a duração de 5 semanas, tem por objetivo qualificar em mergulho com equipamento autônomo de circuito aberto para a execução de trabalhos tais como: procura e recuperação de objetos; pesquisa e inspeções; pequenos reparos em obras vivas de materiais flutuantes, operações diversas que requeiram o uso de equipamentos autônomos e operações de câmara de recompressão sob supervisão médica. Outro curso ministrado pelo DEM é o curso expedito de desativação de artefatos explosivos, com 9 semanas de duração. Esse curso tem por objetivos suplementar a habilitação técnico-profissional dos oficiais e praças cursados em Mergulho e Mergulho de Combate, de modo a capacitá-los a planejar e executar operações de procura, identificação, desativação e destruição de artefatos explosivos de uso corrente na MB, armadilhas e artefatos não convencionais. Além disso, o CIAMA é responsável por conduzir o Adestramento de Escafandria, com a duração de 10 dias úteis, que tem por finalidade adestrar oficiais e praças já qualificados (escafandristas e mergulhadores) no uso das técnicas e equipamentos empregados nas operações de mergulho. Do adestramento consta uma parte prática, na qual são realizados exercícios reais de mergulho autônomo, mergulho dependente, demolição e corte e solda submarina. 3.4.3.2 Departamento de Operações Especiais (DOE) Criado em 1996, tem como objetivo principal formar Oficiais e Praças da Marinha como Mergulhadores de Combate (figura 24), capacitando-os a executar tarefas especiais e diversas, tais como: reconhecimento, ações diretas e contraterrorismo. 86 Os Mergulhadores de Combate realizam atividades destinadas a levar a guerra ao campo inimigo. Essa especialidade exige dos mergulhadores o constante exercício da coragem, da inteligência, do vigor físico e do preparo psicológico (CAPETTI, 2005). Para a realização dos cursos ministrados pelo DOE, o militar deverá estar apto na mesma série de exames e testes necessários para a realização dos cursos de mergulho. Dentre os cursos que são de responsabilidade do DEM, destacam-se o de mergulhador de combate e o de mergulho autônomo com circuito fechado. O curso de mergulhador de combate, com a duração de 32 semanas, tem por objetivo habilitar pessoal para operar equipamentos de mergulho, armamento, explosivos, utilizar técnicas e táticas para guerra não convencional e conflito de baixa intensidade, além de capacitar para as operações previstas no Manual de Operações Especiais da Marinha do Brasil. Vale destacar que durante o curso os alunos são testados física e psicologicamente. Figura 24 - Distintivo do curso de mergulhador de combate. Fonte: https://www.mar.mil.br/ciama/index_cursos.html Acesso em: 10 set. 2006. Já o curso expedito de mergulho autônomo com circuito fechado, com a duração de 04 (quatro) semanas, tem por finalidade suplementar a habilitação técnico-profissional dos Oficiais e Praças do Corpo de Fuzileiro Navais (CFN), Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira, para executarem as técnicas de mergulho autônomo de circuito fechado, necessário ao emprego nas missões de Operações Especiais. 3.4.3.3 Departamento de Ensino de Submarino (DES) A sofisticação crescente da guerra submarina exige tripulações altamente profissionais e preparadas. Para atender a essas necessidades, o CIAMA conta com o Departamento de Ensino de Submarinos (DES), setor responsável pela formação 87 e adestramento de submarinistas. Para a consecução de suas tarefas o DES é constituído de duas divisões: a de Ensino de Submarinos e a de Simuladores. A Divisão de Ensino de Submarinos é a responsável pelos diversos cursos e adestramentos ministrados e a Divisão de Simuladores é a responsável pela operação dos vários Simuladores do Centro. 3.4.4 Considerações finais A Marinha do Brasil possui uma estrutura de mergulho muito bem definida, englobando os dois ramos dessa atividade especial: o mergulho de combate, voltado para as operações especiais; e o mergulho de emprego geral, voltado para atender as necessidades das funções logísticas Manutenção e Salvamento. O mergulho na MB conta, ainda, com um centro de instrução de renome, o CIAMA, que ministra cursos tanto para militares como para civis. Este centro dedicase a conduzir, pesquisar e atualizar as atividades de mergulho dentro da Força, proporcionando à MB um grande legado de experiências nessa atividade especial. Diferentemente do EB, a Força Naval possui um campo muito amplo no que se refere ao emprego de mergulhadores, pelo fato de suas atividades estarem intimamente relacionadas com os mares e rios de grande vulto. Infere-se, então, que a Engenharia, que tem parte de suas atribuições voltadas para o ambiente aquático, poderá valer-se da grande experiência acumulada no CIAMA e nos Grupos de Mergulho da MB para uma melhor capacitação operacional de seus recursos humanos, visando ao incremento da atividade de mergulho nas operações militares. 3.5 O MERGULHO NO EXÉRCITO ARGENTINO 3.5.1 Histórico Com o objetivo de desenvolver a capacidade anfíbia da instituição, o Exército Argentino delegou à sua Arma de Engenharia a responsabilidade de capacitar parte de seus integrantes para a execução de tarefas específicas que 88 possibilitassem a projeção da Força Terrestre através e ao longo de cursos de água, áreas lacustres interiores e, eventualmente, em zonas do litoral (BENDINI, 2004)21. Ao finalizar a II Guerra Mundial e ante as importantes ações empreendidas pelos homens-rã, o Exército decidiu capacitar seu pessoal nessa nova especialidade. No ano de 1948, um oficial e dois sargentos de Engenharia participaram, pela primeira vez, de um curso de mergulho, ministrado pela Marinha Argentina, no Centro de Instrução e Adestramento de Salvamento e Mergulho, na Base Naval de Mar del Plata. A capacitação de pessoal prosseguiu sendo realizada dessa forma até 1952, ano em que foi implementado pelo Exército o primeiro curso de mergulho, ministrado no Batalhão de Sapadores Pontoneiros de Grandes Rios, com uma posterior especialização na Marinha. A partir de 1955, o curso de mergulho passou a ser ministrado integralmente pelo Exército, com duração de quatro meses. Tempos depois, mediante a criação da Companhia de Sapadores Anfíbios, orgânica do mencionado Batalhão, deu-se o passo seguinte na busca do desenvolvimento dessa atividade especial. A subunidade reuniu a totalidade dos mergulhadores autônomos, antiga denominação dos atuais Buzos de Ejército22 (BENDINI, 2004). Ao princípio dos anos sessenta, construiu-se o primeiro tanque para atividades subaquáticas e criou-se a Escola de Mergulho, no Agrupamento de Engenheiros Anfíbios 601, atual Batalhão de Engenheiros Anfíbios 121. Até 1976 a capacitação como mergulhador estava limitada ao pessoal da Arma de Engenharia, porém, em 1977, o Exército Argentino decidiu se deveria incluir os membros das demais Armas. Conforme o RFP-64-01(2001) em 1978, a responsabilidade pela execução do curso passou para a Escola da Arma de Engenharia, tendo sido criada uma Seção de Mergulho, cuja missão era capacitar Oficiais e Praças das Armas como Buzos de Ejército. Com a mudança de local da Escola de Engenheiros, ocorrida há cerca de dez anos, o curso de formação de mergulho passou a ser ministrado no Batalhão de Engenheiros Anfíbios 121, Unidade que incorpora como elemento orgânico a Companhia Buzos de Ejército. 21 General Roberto Fernando Bendini, Chefe de Estado-Maior e General de Exército Argentino Mensaje del jefe del Estado Mayor General del Ejército con motivo de conmemorarse el día del buzo de Ejército, 16 de noviembre de 2004. 22 Mergulhadores do Exército. 89 A partir de então, deu-se um grande impulso ao desenvolvimento da atividade, graças a dois aspectos centrais. Em primeiro lugar, iniciou-se a elaboração de uma doutrina de emprego para a atividade. Em segundo lugar, começou-se a ministrar o curso de capacitação de mergulhador do Exército para soldados voluntários (BENDINI, 2004). Desde o final do século XX, e como parte de um programa de intercambio do Exército, militares dos exércitos da Bolívia, do Uruguai, do Paraguai e do Chile têm participado desse curso. Dessa mesma forma, Oficiais e praças do Exército Argentino realizam curso de mergulho na Espanha. Deve-se mencionar ainda, a realização de exercício de adestramento avançado com mergulhadores do exército do Canadá, a tradicional Operação Roguish Buoy (CALDERÓN & CÁMARA, 2001). Cabe destacar, também, a participação de mergulhadores do Exército em cursos de formação de pára-quedista militar e de “Cazador de Monte”, o que contribui para o desenvolvimento das capacidades e a para a busca de autosuficiência tática da Companhia de Buzos de Ejército. Isso permite ao comando da Força Terrestre da Argentina dispor de um elemento especialmente apto para operar em ambientes geográficos particulares, caracterizados pela presença de grandes espelhos d’água e também para integrar as forças de ação rápida (BENDINI, 2004). Os Buzos de Ejército, nascidos da Arma de Engenharia, foram empregados em situações reais em numerosas oportunidades desde a sua criação. Em 1982, durante a Guerra das Malvinas, o então Agrupamento de Engenheiros Anfíbios 601 deslocou um grupo de mergulhadores para as Ilhas Malvinas e destacou pessoal para integrar a Companhia de Comandos 602, também empregada no citado arquipélago, que tiveram uma atuação destacada durante o conflito (BENDINI, 2004). Além disso, os mergulhadores do Exército participam ativamente em emergências sociais. Destaca-se a participação da Companhia de Buzos de Ejército no apoio à comunidade, realizado durante as inundações que afetaram a cidade de Santa Fé, no ano de 2003. 90 3.5.2 Formação de Pessoal 3.5.2.1 Curso de formação de Buzo de Ejército 3.5.2.1.1 Finalidades e objetivos O curso de formação de Buzo de Ejército (figura 25), segundo a CM – 037DIRECTIVA PARA EL CURSO DE FORMACIÓN DE BUZO DE (2002), tem por finalidades incrementar o número de mergulhadores no círculo dos Oficiais subalternos; capacitar militares para conduzir e/ou integrar frações e/ou elementos de mergulho, desde o menor nível (esquadra e grupo) até o nível pelotão de mergulho; além de capacitar nessa atividade especial militares de exércitos de países amigos. Figura 25 - Distintivo do curso de Buzo de Ejército. Fonte: http://www.binganf121.ejercito.mil.ar/sitio/paginas/cursos.htm. Acesso em: 31 ago. 2006. No domínio cognitivo, o curso de formação de Buzo de Ejército tem por objetivo proporcionar aos Oficiais um conhecimento técnico e tático profundo para planejar e conduzir operações executadas no meio aquático, empregando materiais e equipamentos de mergulho. Já para as praças, o objetivo é proporcionar profundos conhecimentos técnicos e tácticos para desempenhar diversas funções em operações levadas a cabo no meio aquático, empregando materiais e equipamentos de mergulho. No que se refere ao campo psicomotor, o curso objetiva proporcionar a prática nas destrezas, técnicas e procedimentos que permitam ao aluno submergir, deslocar e sobreviver em meio aquático. Já no campo afetivo, o curso conduz os alunos a situações de progressiva complexidade e exigência psicofísica, que materializam as características das operações realizadas pelos Buzos de Ejército (isolamento em um meio antinatural, 91 com limitado apoio de sua própria unidade), para neles desenvolver suas reais aptidões psicológicas. 3.5.2.1.2 Condições de Admissão CM – 037- Directiva Para El Curso de Formación de Buzo de Ejercito (2002) dispõe que o universo de seleção para o curso abrange os Oficiais subalternos de todas as Armas, além de Oficiais médicos, enfermeiros e especialistas em educação física. Para as praças o curso será realizado por militares na graduação de cabo ou sargento das Armas ou auxiliares de enfermagem e mecânicos de Engenharia. Além disso, os soldados voluntários que sirvam no Batalhão de Engenharia Anfíbio 121 também podem freqüentar o curso, desde que existam claros e sejam cumpridas todas as exigências necessárias. Para a realização do curso o militar será submetido a exames de admissão que constam das seguintes provas: exame intelectual, exames físicos e exames médicos. As provas são realizadas de maneira contínua, em um único dia, havendo apenas um intervalo de tempo necessário para a alimentação dos militares inscritos. O exame intelectual não será causa de eliminação direta, mas será levado em conta para o preenchimento das vagas disponíveis para o curso. Consta dos seguintes assuntos: combate anfíbio (emprego da Força Terrestre, emprego da Engenharia e patrulhas), comunicações, demolições, física (leis e princípios dos gases e líquidos), geografia militar aplicada (leitura de cartas), obstáculos. O exame físico consiste na execução de um teste de aptidão física e de provas de natação. As provas de natação, de caráter eliminatório, são as seguintes: 500 metros de nado estilo crawl (sem interrupção); deslocamento subaquático em apnéia de 25 metros (sem interrupção); 01 minuto de apnéia estática; 15 minutos de flutuação livre; 02 saltos da plataforma de 5 metros. O postulante deverá saber que essas exigências são básicas para a matrícula e que a direção do curso confeccionará uma listagem com os militares em ordem de mérito para o ingresso, favorecendo aqueles com melhores rendimentos em tempos de natação, maiores tempos de apnéia, maiores distâncias percorridas 92 no deslocamento subaquático e os maiores graus no exame intelectual, nessa prioridade. Essa listagem em ordem de mérito será obedecida para o preenchimento das vagas existentes, tomando-se em conta o número percentual que corresponda para cada Arma ou Especialidade. Todos os postulantes deverão comparecer aos exames físicos e intelectual com os seguintes exames médicos: exame clínico; eletrocardiograma de esforço; radiografia do tórax; radiografia lumbo - sacra, frente e perfil; radiografia dos seios da face (frontais e paranasais); espirometria (teste que permite aferir o fluxo de ar nas vias aéreas); audiometria; exame de labirintite; exame psiquiátrico; hemograma, eritrosedimentacão, dosagem de uréia, dosagem de glicose; eletroencefalograma. 3.5.2.1.3 Descrição geral do curso Ainda de acordo com a CM – 037- Directiva Para El Curso de Formación de Buzo de (2002), o curso é desenvolvido em três etapas, a saber: Básica, Avançada e de Aplicação. Ao finalizar cada etapa é realizado um Conselho de Curso, o qual seleciona o pessoal que não demonstrou rendimento suficiente em cada período. A Etapa Básica permite ao aluno que inicie sua adaptação ao meio subaquático de acordo com as exigências futuras. Está baseada no desenvolvimento das seguintes disciplinas: teóricas: equipamentos de mergulho, física e fisiopatologia do mergulho, câmara hiperbárica e combate anfíbio; práticas: aquacidade e natação, mergulho prático. 93 Essas disciplinas são consideradas essenciais para a formação do futuro mergulhador, sendo ministradas desde o início do processo ensino-aprendizagem. Também são desenvolvidas algumas disciplinas denominadas complementares, que ampliam os conhecimentos e destrezas adquiridas nas matérias básicas, tais como busca e salvamento e treinamento físico militar, dentre outras. A aprovação nessa etapa é obrigatória, sendo desligado do curso o militar considerado inapto. A Etapa Avançada permite que o aluno consolide e incremente os conhecimentos e destrezas adquiridas na etapa anterior. As disciplinas complementares possuem uma porcentagem, em horas, equilibrada com as disciplinas básicas. Essas disciplinas são: busca e salvamento, geografia militar aplicada, demolições, navegação e segurança fluvial e o treinamento físico militar. Está caracterizada por um desenvolvimento mais prático do que teórico, com exercícios no terreno de curta duração, conduzidos sob uma situação tática e com a execução de um exercício de instrução, incrementando os níveis de exigência com relação à etapa básica. Sua realização dá-se prioritariamente no terreno. A Etapa de Aplicação permite que o cursante desenvolva diferentes atividades no terreno, em distintos tipos de espelhos d’água e em situações de maior complexidade. Consiste particularmente na execução de exercícios táticos baseados nos assuntos ministrados nas etapas anteriores. Para usa melhor assimilação, este módulo está dividido em duas subetapas com exigências claramente diferenciadas: lago e mar. Sua realização é no terreno. O curso tem a duração de 67 dias e após a aprovação o militar será declarado Buzo de Ejército e mergulhador desportivo 3 estrelas da Confédération Mondiale des Activités Subaquatiques23 (CMAS), além de perceber um adicional de compensação orgânica, quando desempenhe funções de mergulhador. 3.5.2.2 Curso de formação de instrutores e monitores de Buzo de Ejército 3.5.2.2.1 Finalidades e objetivos A Directiva Para El Curso de Formación de Instructores y Subinstructores de Buzo de Ejército (2002) estabelece que esse curso (figura 26) tem por finalidade 23 Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas. 94 aperfeiçoar os militares possuidores da especialidade de Buzo de Ejército para exercer a responsabilidade de planejar, dirigir e executar: ação educativa na formação de Buzos de Ejército; operações e adestramento da companhia de mergulho, orgânica de batalhão; habilitação e comprovação para a manutenção da especialidade de Buzos de Ejército. Figura 26- Distintivo do curso de Instrutor de Buzo de Ejército. Fonte: http://www.binganf121.ejercito.mil.ar/sitio/paginas/cursos.htm. Acesso em: 31 ago. 2006. No domínio cognitivo, esse curso tem por objetivo proporcionar aos Oficiais e praças conhecimentos profundos sobre didática geral e militar que lhes permitam planejar, supervisionar e avaliar instruções, exercícios, matérias, cursos ou atividades próprias da ação educativa da atividade especial de mergulho. 3.5.2.2.2 Descrição geral do curso e condições de admissão O curso é desenvolvido em apenas uma etapa, com a duração de 15 (quinze) dias. Para poder ser matriculado no curso, o militar deverá: possuir a especialidade de Buzo de Ejército; estar aprovado na habilitação anual de mergulho nos dois últimos anos de forma consecutiva; ser aprovado em um exame intelectual de ingresso, com um mínimo de 70 pontos, sobre aspectos doutrinários da atividade especial de mergulho; e 95 possuir uma média de 100 pontos nos últimos testes de aptidão física, devidamente certificada pelo oficial de treinamento físico da Unidade de origem. O universo de seleção para o curso abrange os Oficiais subalternos no posto de 2º ou 1º Tenente da Arma de Engenharia, do serviço de Saúde e especialistas em educação física. Para as praças o curso será realizado por militares na graduação de sargento da Arma de Engenharia, auxiliares de enfermagem, mecânicos de Engenharia e das outras armas, sempre que houver necessidade de recompletamento de claros no quadro de praças especialistas em mergulho. Após a aprovação no curso, o militar será declarado instrutor/monitor de Buzos de Ejército e Instrutor Nacional de Mergulho pela CMAS. 3.5.2.3 Procedimentos pedagógicos Durante o horário de funcionamento do curso, os instrutores devem levar em consideração os seguintes procedimentos: tratar os alunos de maneira rígida, visando a forjar uma marcante disciplina como base indispensável para superar exigências de risco sem exitações; fomentar a responsabilidade individual e o correto exercício do comando, necessários para enfrentar contingências no seu desempenho como membro de uma fração de Buzos de Ejército, operando de maneira isolada e sem apoio; organizar os cursantes por duplas, para conscientizar os futuros mergulhadores, tanto técnica como taticamente, de que nunca se deve executar uma atividade de mergulho sozinho; submeter o aluno a um progressivo e sistemático fustigamento durante as atividades de combate anfíbio, aquacidade e natação, tanto física como psíquica, para obter do futuro mergulhador o autocontrole adequado para vencer o estresse que produzem essas atividades sob uma situação real de combate; 96 desenvolver a atividade de mergulho em um ambiente de tranqüilidade e permanente controle por parte dos supervisores de mergulho e pessoal especialista em medicina subaquática; e incutir, de forma constante, uma profunda consciência de manutenção das armas, materiais e equipamentos de dotação do futuro mergulhador, levando-se em conta que o apoio a um Buzo de Ejército somente é realizado antes e após o cumprimento da missão. Após o término das atividades de ensino são obrigatórios os seguintes procedimentos: descanso de 08 horas noturnas; adequada dieta de conteúdo calórico balanceado, sem ingestão excessiva de alimentos; atividade física compatível com o futuro esforço na água; permanente controle sanitário; não ingerir bebidas gasosas em excesso ou bebidas alcoólicas, em particular próximo as imersões; e incutir nos mergulhadores o prejuízo que pode produzir o fumo sobre a atividade subaquática. 3.5.2.4 Classificação após o curso e aperfeiçoamentos Após a conclusão do curso, de acordo com a REGLAMENTACIÓN PARA LA APTITUD ESPECIAL DE BUZO DE EJERCITO (2002), os novos Buzos de Ejército poderão prestar serviço em qualquer Unidade ou Organização da Força, porém é estabelecida a seguinte prioridade de classificação: Companhia de Buzos de Ejército, do Batalhão de Engenharia Anfíbio 121; Pelotão de Reconhecimento da Companhia de Comando de Batalhão de Engenharia; Subunidades de tropas de Operações Especiais; Demais Unidades da Arma de Engenharia; e Demais Unidades da Força. 97 O aperfeiçoamento dos Buzos de Ejército é realizado mediante a execução de cursos e estágios, tendo prioridade para a participação de militares que estejam desempenhado a função em suas Unidades. Esses cursos e estágios seão realizados no Batalhão de Engenharia Anfíbio 121. Os cursos são o de Instrutor de Mergulho para Oficiais e de Monitor de Mergulho para praças. Os estágios são os seguintes: geral: estágio de atualização técnico-profissional; para Oficiais superiores e Suboficiais superiores: planejamento e condução de operações em meio aquático; fisiopatologia do mergulho; operador de câmara hiperbárica; e instrutor/subinstrutor de demolições subaquáticas; para Suboficiais especialista em subalternos: auxiliar de demolições subaquáticas; câmara hiperbárica; comunicações em operações em zonas abundantes de cursos de água e banhados; tiro de combate anfíbio; cartografia e navegação anfíbia; paramédico de combate anfíbio; manutenção de material de mergulho. 3.5.3 Manutenção da Especialidade de Buzo de Ejército Os militares que possuem o curso de Buzo de Ejército deverão manter seu treinamento e incrementar os conhecimentos afins ao mesmo, sem descuidar nem afetar a sua preparação profissional referente ao seu posto/graduação ou Arma. Dessa forma, os Oficiais e praças Buzos de Ejército deverão se apresentar no Batalhão de Engenharia Anfíbio 121, na cidade de Santo Tomé, província de Santa Fé, para se submeterem a duas avaliações anuais, a saber: Habilitação Anual e Comprovação Mensal Voluntária. A Habilitação Anual é aquela em que os Buzos de Ejército se apresentam de forma obrigatória, entre os meses de julho e dezembro, para serem examinados, com a finalidade de manter a habilitação e obter autorização para realizar atividades subaquáticas durante o ano seguinte. Caso o militar não realize esse exercício, ele não poderá realizar imersões até o próximo período de habilitação. A Habilitação Anual é composta de vários exames, a saber: exame médico, incluindo-se um teste de câmara hiperbárica; 98 exame físico (teste de aptidão física executado na Unidade de origem); exame de natação, realizado com equipamento básico de mergulho em um rio; exame de aquacidade, realizado em tanque de imersão; exame de mergulho prático; exame teórico escrito, com 60 (sessenta) minutos de duração, no qual são cobrados assuntos referentes às matérias básicas do curso de Buzo de Ejército e de aspectos de atualização técnico-profissional enviados pelo sistema de educação a distância; exercício no terreno ou na carta, de acordo com uma situação proposta pela Seção Escola do Batalhão de Engenharia Anfíbio 121. Já a Comprovação Mensal Voluntária é aquela em que os Buzos de Ejército se apresentam, voluntariamente, para serem examinados pela Seção Escola do Batalhão de Engenharia Anfíbio 121, com a finalidade de manter sua habilidade e destreza subaquáticas; incrementar sua contagem de tempo de serviço na atividade; e perceber a compensação orgânica correspondente. O militar deverá comparecer para essa comprovação pelo menos uma vez ao ano, previamente ao período da Habilitação Anual, na qual são exigidos apenas os exames de natação, de aquacidade e de mergulho prático. Essas exigências têm por finalidade controlar o estado de saúde, a aptidão psicofísica, o grau de atualização sobre conhecimentos técnico-profissionais (de acordo com os diversos níveis hierárquicos), tanto sobre as atividades de mergulho profissional/desportivo e de operações de combate em meio aquático, além de manter os quadros de mergulhadores informados e atualizados sobre a situação da atividade subaquática no âmbito do Exército, de outras forças armadas e no meio civil. Os Buzos de Ejército que, durante dois anos consecutivos ou que acumularem um total de 6 (seis) anos de forma alternada sem cumprir as exigências anteriormente descritas, perderão a especialidade e o direito de usar seu distintivo, excetuando-se os Oficiais Superiores e as praças de graduação superior a 1º sargento. 99 3.5.4 O Batalhão de Engenharia Anfíbio (BE Anf) 3.5.4.1 Generalidades De acordo com a ROP-04-02 EL BATALLÓN DE INGENIEROS ANFIBIOS (2001), o Batalhão de Engenharia Anfíbio é o a Unidade do Exército Argentino apta a participar de operações em grandes cursos de água, operações anfíbias e operações de transporte aquático. Para isso está organizado, doutrinariamente, da seguinte maneira (figura 27): comando do batalhão; 01 companhia comando; 01companhia de assalto anfíbio; 01companhia de mergulho; 01 companhia de transbordo. As possibilidades do BE Anf relacionadas com a companhia de mergulho são as seguintes: apoiar operações de transposição de cursos de água; construir, instalar, remover e/ou destruir todo tipo de obstáculos subaquáticos; e executar reconhecimentos anfíbios, reunir as informações obtidas e distribuí-las aos órgãos de interesse. Figura 27 – Organograma do Batalhão de Engenharia Anfíbio. Fonte: ROP-04-02: El Batallón de Ingenieros Anfibios 100 O BE Anf será empregado, prioritariamente, em operações de transposição de cursos de água de vulto. Para isso o batalhão operará centralizadamente e sob o controle direto do Comando que conduz a operação de transposição. Para cumprir essas missões, o Exército Argentino conta com o Batalhão de Engenharia Anfíbio 121. Essa Unidade surgiu na necessidade de o Exército contar com um elemento orgânico que assegurasse a transposição de grandes cursos de água no nordeste do país, sem ter que depender da infra-estrutura portuária existente. Além de suas subunidades doutrinárias, esse batalhão, “veterano” da Guerra das Malvinas, conta com o Centro de Medicina Hiperbárica Santo Inácio de Loiola e uma Seção Escola. A Seção Escola é o elemento de capacitação e aperfeiçoamento dos mergulhadores e instrutores de mergulho do Exército. Já o Centro de Medicina Hiperbárica, que é orgânico da Companhia de Comando e Serviços, realiza dois tipos de atividades: as operacionais (instrução e adestramento), relacionadas com o mergulho, como prova de resistência a pressão, prova de oxigênio, simulador de imersão; e tratamento médico para certas patologias e acidentes de mergulho. 3.5.4.2 Elementos de Buzos de Ejército Segundo ROP-04-02 EL BATALLÓN DE INGENIEROS ANFIBIOS (2001), Elementos de Buzos de Ejército são aqueles militares que integram a estrutura orgânica do Exército que se encontrem organizados, equipados e instruídos para levar a cabo operações, procedimentos e técnicas do combate anfíbio24. A missão primordial dos Buzos de Ejército é apoiar as ações desenvolvidas pela Força Terrestre mediante a execução de operações, procedimentos e técnicas do combate anfíbio, com a finalidade de criar condições favoráveis para a eficácia das operações próprias e limitar ou restringir as operações do inimigo. No que diz respeito ao apoio à mobilidade das forças em campanha, os mergulhadores podem apoiar a realização da transposição de obstáculos e auxiliar no melhoramento da transitabilidade em obras de arte, dentre outras. No que diz respeito ao apoio à contramobilidade, os mergulhadores podem realizar a instalação de obstáculos e demolições diversas. No apoio à proteção, os mergulhadores 24 O combate anfíbio: é a sucessão de ações violentas executadas normalmente no meio aquático e no espaço terrestre de interesse. 101 podem realizar medidas de dissimulação tática, bem como, complementarmente à essas tarefas, dar apoio geotopográfico e apoiar a inteligência no que concerne a materiais específicos. Possuem as seguintes características: formam parte da estrutura organizacional da Arma de Engenharia, como um de seus elementos de apoio ao combate; integram o BE Anf, com uma subunidade, contribuindo para o cumprimento das missões específicas dessa Unidade; poderão formar parte orgânica dos demais elementos da Arma de Engenharia, mediante frações de nível grupo ou formando equipes, para cumprir missões que lhes são próprias; poderão integrar elementos de combate, de operações especiais e de apoio ao combate com frações nível pelotão e inferiores. 3.5.4.2.1 Capacidades Os Buzos de Ejército podem realizar operações de combate, mediante a combinação de procedimentos e técnicas de combate anfíbio, para o qual deverão: executar infiltração, exfiltração e retirada aquática, mediante o emprego de materiais de mergulho e acessórios, e/ou combinando com outros modos (aéreo, terrestre); executar golpe de mão e emboscadas no dispositivo inimigo que se encontre sobre ou próximo a um espelho de água inacessível para outra força (incursão ribeirinha e anfíbia); efetuar bloqueios de vias de comunicações tanto em território próprio como em poder do inimigo mediante a instalação de obstáculos costeiros ou fluviais, e destruição ou inutilizarão de obras de arte; participar em operações de junção, ou em apoio de outros elementos de combate, efetuando orientação, sinalização, balizamento ou demarcação nas proximidades da linha de contato; proporcionar sua própria segurança em todo tipo de operação, antes, durante e depois de sua execução; e 102 efetuar reconhecimentos anfíbios e exploração, para obter informações necessárias de cursos e/ou espelhos de água, e do espaço terrestre de interesse. Além disso, operando em cursos de água, zonas lacustres e marítimas, podem executar as seguintes tarefas: busca, localização, salvamento e resgate de pessoal, materiais e equipamentos; reparações de materiais e equipamentos de interesse, que tenham sido perdidos ou danificados por ação do inimigo ou outras causas no meio aquático; efetuar aberturas de brechas e remoção de obstáculos costeiros, fluviais ou minados; apoiar as Tropas de Operações Especiais (TOE) antes, durante ou depois da execução de suas ações, efetuando reconhecimento de vias de infiltração aquática, abertura de brechas, demolições especializadas, transporte, dissimulação, sinalização e segurança que imponham o emprego do meio aquático em qualquer de suas fases. 3.5.4.2.2 Limitações O tamanho do elemento de mergulho e sua organização, além da disponibilidade de pessoal e meios, limitarão a execução simultânea de múltiplas tarefas, devendo se considerar no planejamento, a designação de prioridades e o tempo disponível para cumprí-las. Existe, ainda, a necessidade de meios técnicos de apoio, para a execução de tarefas de particular especificidade ou envergadura. A capacidade defensiva dos Buzos de Ejército é reduzida, sendo uma conseqüência do armamento, efetivos e isolamento em que se desenvolvem algumas ações, se limitando a sua segurança imediata. Além disso, possuem limitada potência de fogo, a qual é determinada pelas características de seu armamento e pela dotação de munição que é levada pelo homem, podendo contar, eventualmente, com armas leves de tiro curvo (morteiros leves). 103 Há ainda dificuldades para recompletamento de pessoal, que é dada pela alta capacitação técnica e tática dos recursos humanos, pois o tempo que se leva para adquiri-la é grande e o efetivo que possui o curso de Buzo de Ejército é pequeno. 3.5.4.3 A Companhia de Buzos de Ejército A Companhia de Buzos de Ejército está organizada em pelotões de mergulhadores de assalto (dois a três), um pelotão de mergulhadores de apoio e um pelotão de comando e serviço, podendo este último estar desdobrado em um pelotão de comando e um pelotão de serviços, quando essa subunidade operar fora de estrutura da arma de Engenharia (figura 28) (ROP-64-01, 2001). O Pelotão de Comando e Serviço cumpre as funções relativas ao comando, controle e comunicações (C3) e ao elemento logístico (pessoal e material), proporcionando apoio aos elementos dependentes orgânicos ou agregados. Figura 28 – Organograma da Companhia de “Buzos de Ejército”. Fonte: ROP-04-02: El Batallón de Ingenieros Anfibios 104 A responsabilidade dos Pelotões de Mergulhadores de Assalto é desencadear a ação principal das operações de combate executadas pela subunidade, constituindo-se no seu elemento de manobra. Está composto por uma seção de comando, um grupo de assalto e um grupo de apoio. Os Grupos de Assalto são os elementos de manobra do pelotão e estão constituídos basicamente por pessoal especializado em mergulho com equipamento de circuito fechado; orientação e navegação, demolições especializadas, emprego de armas silenciosas, pára-quedismo e primeiros socorros em combate. Já o Grupo de Apoio proporciona o apoio de fogo à manobra com suas armas de dotação. Está integrado por pessoal especializado em mergulho; tiro de precisão e com armas de apoio; orientação e navegação, pára-quedismo e comunicações. O Pelotão de Mergulhadores de Apoio tem a missão de obter informações e proporcionar apoio à imersão e mobilidade. Está composto por uma seção de comando, dois grupos de reconhecimento anfíbio, um grupo de salvamento e um grupo de embarcações médias. Seu comandante é o Oficial de inteligência da subunidade. Os Grupos de Reconhecimento Anfíbio têm a missão primordial de obter informação das características do espelho de água aonde será realizada a operação, do espaço terrestre de interesse e do inimigo que nele se encontra. Estão integrados por pessoal especializado em reconhecimentos anfíbios25 e páraquedismo. Conta, ainda, com equipes de sondagem e detecção subaquáticas e observação diurna e noturna. Já os Grupos de Salvamento têm a missão de efetuar buscas, localização e salvamento/resgate de pessoal e materiais de interesse. Dispondo de equipamento adequado, pode executar reparações de material e equipamentos abaixo da linha da água. Está integrado por pessoal especializado em técnicas de rastreamento e resgate em todo o tipo de cursos de água e também está dotado com material para salvamento. O Grupo de Embarcações Médias têm por missão principal brindar apoio à mobilidade e o apoio de fogo a toda a subunidade. Está integrado por pessoal 25 Reconhecimento anfíbio: de acordo com o ROP-04-08 Reconocimientos de Ingenieros (1970), é aquele que emprega meio flutuante ou equipes de mergulho autônomo, sobre áreas fluviais, lacustres ou costeiras, com a finalidade de comprovar a viabilidade de se realizar operações anfíbias. 105 especialista em orientação, navegação a motor e é dotado de lanchas rápidas de grande autonomia, equipamentos de ecosonda ou detecção subaquática e armas de apoio. 3.5.4.4 Emprego dos Buzos de Ejército. 3.5.4.4.1 Características das operações Segundo o ROP-04-02 EL BATALLÓN DE INGENIEROS ANFIBIOS (2001), as operações executadas pelos Buzos de Ejército são geralmente de curto alcance, normalmente de caráter ofensivo, planejamento e execução adaptados ao meio aquático. Elas requerem um planejamento detalhado e uma exatidão na sua execução, com planos alternativos adequados. São executadas por pequenos efetivos, apoiados por um adequado dispositivo de segurança para isolar a zona do objetivo e assegurar o êxito da ação desencadeada. Para o emprego de mergulhadores deverão ser priorizadas as condições meteorológicas adversas, o que facilitará o sigilo, a segurança e a surpresa. Além disso, requerem detalhado e oportuno emprego da inteligência militar, antes e durante a operação, em especial na área do objetivo. Essas operações empregam material com alto grau de especificidade para o desenvolvimento, trabalho e manobra na água sob qualquer condição, a saber: equipamentos de mergulho autônomo e semi-autônomo; armamento de características particulares; meios radio eletrônicos, para operações subaquáticas; embarcações de superfície e subaquáticas; equipamentos especiais para busca e salvamento; e explosivos e iniciadores de diversos tipos. As missões que os mergulhadores podem executar incluem as seguintes operações: infiltração e exfiltração; incursão; interdição; reconhecimento; 106 evasão; salvamento. 3.5.4.4.2 Execução do apoio em operações Em operações ofensivas, os mergulhadores poderão executar reconhecimento de margens, praias e cursos de água em apoio ao ataque através dos mesmos. Podem, ainda, efetuar a abertura de brechas e demolições especializadas, contribuindo para a conquista da cabeça de ponte. Em operações defensivas, os mergulhadores poderão ser empregados para bloquear as vias de comunicação, como parte de uma operação de interdição, instalando obstáculos, minas e armadilhas e realizando demolições, em especial quando o inimigo esteja executando um ataque através de um curso de água. Contribuirão com a dinâmica da defesa em desarticulações do dispositivo inimigo e em ataques com objetivo limitado, mediante a execução de incursões, integrando escalões defensivos da primeira linha de defesa ou da reserva, executando suas ações durante a operação defensiva ou, quando assim se imponha, antes da mesma ter início. Nos movimentos retrógrados, os mergulhadores poderão efetuar bloqueios nos eixos de aproximação, incrementando a capacidade dos espelhos e cursos de água como obstáculos; reconhecimentos e sinalização de caminhos de retraimento que obriguem uma transposição; instalando obstáculos subaquáticos ou de margem; e executando demolições de obras de arte. Também podem participar executando emboscadas fluviais, fechando brechas em zonas de obstáculos ou passagens em campos minados e instalando minas e armadinhas. No retraimento, podem operar na retaguarda, a fim de fechar brechas em obstáculos existentes no meio aquático. Em operações de substituição e junção, os mergulhadores podem facilitar o movimento através ou ao longo dos cursos de água, mediante o balizamento, sinalização de lugares de transposição e orientação através de obstáculos subaquáticos. Nas infiltrações e incursões, os mergulhadores podem apoiar as fases previas ou iniciais da operação, participando ou não da mesma, mediante a execução de demolições, aberturas de brechas e desativação de armadilhas explosivas. Já nas operações de interdição, os mergulhadores participam instalando 107 obstáculos aquáticos, executando demolições especializadas e preparando armadilhas explosivas. Em operações de dissimulação tática, os mergulhadores podem realizar movimentos, demonstrações, execução de fogo e demolições simuladas. Nas operações de reconhecimento, os mergulhadores podem efetuar abertura de brechas e assegurar o movimento de tropas através de obstáculos aquáticos. Também podem colaborar executando ações que devam ser iniciadas a partir da água. Em operações de segurança, os mergulhadores podem participar instalando obstáculos, minas e armadilhas nas margens dos cursos de água ou abaixo da superfície contra pessoal, viaturas e embarcações. Os mergulhadores poderão, ainda, realizar operações que provoquem inundações, destruições parciais ou totais de obras de arte sobre cursos de água e outras atividades similares que visem a devastar uma determina área ou região. 3.5.5 Considerações finais Assim como a Marinha do Brasil, o Exército Argentino possui uma estrutura de mergulho muito bem definida. Porém, diferentemente da Força Naval do Brasil, as atividades de mergulho não estão separadas em ramos distintos, pois os “Buzos de Ejército” executam atividades tanto do mergulho de combate como do mergulho de emprego geral. A Engenharia da Força Terrestre Argentina, que iniciou as atividades de mergulho logo após a II Guerra Mundial, possui uma Escola de Mergulho e uma Subunidade de Mergulho, que lhe proporciona grande vivência no trato dessa atividade especial. Diferentemente do EB, o Exército Argentino já possui uma doutrina de emprego de mergulhadores, encontrada em manuais da Arma de Engenharia. Podese concluir, de maneira parcial, que a Força Armada da Nação amiga poderá constituir-se de uma fonte de consulta para um melhor emprego dos meio subaquáticos da Engenharia brasileira, devendo-se estudar seus modelos de estrutura organizacional e de doutrina de emprego. 108 3.6 O MERGULHO NO EXÉRCITO DOS EUA 3.6.1 Histórico Os US Army Engineer Divers26 surgiram à época da II Guerra Mundial, mas poucos sabiam da sua existência ou realizações. Durante a guerra, os mergulhadores foram empregados maciçamente nos Grupos de Construção e Reparação de Portos. Esses grupos foram treinados no Forte Screven, Geórgia, e consistiam de 17 oficiais e 235 praças; 16 destes eram mergulhadores treinados pela Marinha dos EUA. Uma Unidade típica, o 1056º Grupo de Construção e Reparação de Portos, desembarcou na Praia Utah após a invasão da Normandia e deslocou-se para Cherbourg, França, em 27 de junho de 1944. Enquanto esteve em Cherbourg, o Grupo foi encarregado de limpar e reparar o porto local. Em 1º de novembro de 1944, o porto já operava com capacidade de carga de cerca de 25.000 toneladas. Após o sucesso em Cherbourg, o 1056º Grupo continuou executando missões de limpeza na Bélgica. Barcaças afundadas foram removidas, docas e diques obstruídos foram reparados e pontes danificadas também foram removidas ou reparadas. Além disso, a área do Canal Alberto foi reaberta para o tráfego hidroviário em 15 de dezembro de 1944 (figura 29). Figura 29 - Mergulhador utilizando o traje MK-V entrando na água durante a II Guerra Mundial. Fonte: http://www.wood.army.mil/577th/diver/History.htm. Acesso em: 20 abr. 2006. 26 Mergulhadores de Engenharia do Exército dos EUA. 109 O 1056º Grupo entrou na Alemanha em 13 de março de 1945 e foi responsável por um dos maiores feitos da Engenharia na guerra. O Grupo, juntamente com outras Unidades de Engenharia, construiu a primeira ponte ferroviária fixa através do rio Reno, com um comprimento total de cerca de 675 metros; obra realizada em 10 dias de trabalho, após a colocação da primeira estaca. Durante a Guerra da Coréia, os mergulhadores fizeram parte das equipes de reconstrução e restauração de vários portos e ancoradouros em toda a península coreana. Já durante a Guerra do Vietnã, os mergulhadores mais uma vez participaram da segurança dos portos e de atividades de construção e reconstrução, bem como desativaram artefatos explosivos e reflutuaram embarcações submersas (figura 30). Figura 30 - Embarcação atingida por mina fluvial norte-vietnamita e reflutuada por mergulhadores. Fonte: http://www.wood.army.mil/577th/diver/History.htm. Acesso em: 20 abr. 2006. Durante a I Guerra do Golfo, o Destacamento Provisório de Mergulho do Exército Estadunidense foi desdobrado para ajudar na segurança da Arábia Saudita e na defesa do Kuwait. Parcela da Unidade executou operações de segurança no porto de Al Jubail, Arábia Saudita, enquanto outros foram alocados na Cidade do Kuwait para iniciar a limpeza e reconstrução do país. Várias barcaças e navios foram removidos e foram enviados para a restauração (DILLARD & SWENSON, 1995). O destaque dessas operações foi a recuperação e a remoção de um barco de patrulha iraquiano que carregava mísseis ativos antinavios Styx, com ogivas de cerca de 360 (trezentos e sessenta) quilogramas de explosivo. As operações envolvendo a atividade de mergulho nesse conflito somaram cerca de 1.000 (mil) 110 horas de fundo (submersas), em cinco portos diferentes entre a Arábia Saudita e o Kuwait. Os US Army Engineer Divers estão aptos a cumprir missão em qualquer parte do globo terrestre. Pode-se citar como exemplos o apoio à Operação Just Cause, no Panamá (1989); remoção de dois barcos patrulhas, de origem soviética, do porto de Mogadishu, durante a Operação Restore Hope, na Somália (1993); participação em outros esforços de limpeza e de recuperação, a fim de auxiliar a população civil, sob a constante ameaça do fogo de franco-atiradores de vários membros de gangues locais; execução de missões de construção e restauração no porto de Porto Príncipe, Haiti, durante a Operação Restore Democracy (1994); participação nos esforços dos EUA na interdição do tráfico de drogas nas Ilhas Virgens (1995); participação na ajuda humanitária às vitimas de furacão em Honduras (2001) e; apoio à força-tarefa norte-americana na Croácia e Bulgária (2001) (figura 31). Figura 31 - Barcos patrulha (soviéticos), reflutuados por mergulhadores em Mogadishu (1993). Fonte: http://www.wood.army.mil/577th/diver/History.htm. Acesso em: 20 abr. 2006. De acordo com West & Inskeep (2003), os US Army Engineer Divers apóiam às forças norte-americanas no Iraque, por intermédio dos 74º e 544º Engineer Dive Team27. Essas equipes começaram a atuar no Iraque em 2003, cumprindo diversas missões, tais como: participação na busca e recuperação de um avião F-18 acidentado e seu piloto; realização do reconhecimento do rio Eufratis, próximo a Tikrit; realização de levantamento hidrográfico para uma operação de transposição 27 Equipe de Mergulho de Engenharia. 111 de curso d’água; recuperação de material da 101º Divisão Aerotransportada, os quais haviam sido lançados em um canal ao norte do desfiladeiro de Karbala; reflutuação de pontões de uma ponte que foi construída pela 671ª Companhia de Engenharia, valendo-se de técnicas de corte e solda subaquática; reconhecimento de área minada fluvial, em uma estação de tratamento de água iraquiana; busca e recuperação de um helicóptero “Black Hawk” e sua tripulação, acidentado no rio Tigre, próximo a Samara; e destruição e remoção de escombros de uma ponte atingida por bombardeio em Tikrit (figura 32). Figura 32 - Mergulhadores preparando a destruição de obstáculos subaquáticos no Iraque. Fonte: http://www.wood.army.mil/ENGRMAG/PDFs. Acesso em: 21 abr. 2005. 3.6.2 Formação de pessoal 3.6.2.1 Generalidades O Exército dos EUA possui duas categorias de mergulhadores. A primeira são os Special Operations Combat Divers28, cuja doutrina e conceitos operacionais são desenvolvidos pelo Comando Geral do United States Army Special Operations Command29 (USASOC). Os special operations combat divers são soldados das Forças Especiais treinados no uso dos equipamentos de circuito aberto (autônomo) e fechado. 28 29 Mergulhadores de combate de operações especiais. Comando de Operações Especiais do Exército dos EUA. 112 Normalmente, estão classificados nas equipes de mergulho das Forças Especiais ou dos Rangers, executando missões de mergulho horizontal, tais como infiltração e exfiltração, sabotagem de navios e instalações portuárias, reconhecimento, busca e recuperação. Já o comandante da United States Army Engineer School30 (USAES) é o responsável pela política e procedimentos dos mergulhadores de Engenharia, incluindo o desenvolvimento de doutrina e de liderança, bem como o treinamento, organização, materiais e conceitos operacionais. Os Engineer divers31 são soldados treinados no uso de equipamentos de circuito aberto e equipamentos dependentes. Normalmente, são classificados em Unidades que realizam missões mergulho vertical, tais como a instalação e reparação de oleodutos submarinos, conduzindo operações de regate e salvamento em portos, construindo ou reparando portos e ancoradouros, além de apoiar operações de transposição de curso d’água. O ramo de interesse para o presente trabalho é o dos Engineer divers. 3.6.2.2 Curso de formação de Engineer divers 3.6.2.2.1 1a fase A 1a fase do curso de formação de Engineer divers é ministrada na USAES, localizada no Forte Leonard Wood, Missouri. Para ter acesso ao curso, o candidato deve estar física e mentalmente apto para ser um mergulhador. O curso dura cerca de três semanas e funciona com periodicidade mensal, com turmas de 12 a 16 candidatos32, que são acompanhados por dois instrutores. Nessa fase o militar é exigido física e mentalmente, o que permite aos instrutores avaliarem as habilidades do candidato ao se deparar com os desafios físicos, mentais e acadêmicos que lhes serão apresentados durante a 2a fase do curso. Cerca de 25% da carga horária do curso é desenvolvida dentro da piscina. O currículo inclui física do mergulho, fisiologia, medicina de mergulho, cartas náuticas e sinais subaquáticos. A instrução acadêmica é realizada no nível iniciante 30 Escola de Engenharia do Exército dos EUA. Mergulhadores de Engenharia. 32 O curso é o mesmo para Oficiais e praças, de ambos os sexos. 31 113 e a direção de ensino admite que o candidato não possui conhecimento anterior acerca dessas disciplinas. A compreensão e retenção do que foi ensinado é avaliada por meio de testes diários. Ao final do período, o candidato é submetido a um exame escrito, compreendendo todos os assuntos ministrados. Os candidatos também deverão mostrar seu nível de resistência durante os treinamentos físicos e o seu desempenho será avaliado tanto no Teste Físico do Exército como no Teste Físico para Mergulhadores, com índices iguais para ambos os sexos. O treinamento físico é conduzido em duas sessões diárias, enfatizando-se o treinamento em piscina, corrida, flexões de braço, abdominais etc. Ao terminar a 1a fase, o candidato deverá estar em excelentes condições físicas, bem acima do mínimo exigido para o ingresso na 2a fase. Os candidatos executam, ainda, instrução utilizando equipamento de mergulho livre. Também é realizado um teste de tolerância a pressão, que tem por finalidade determinar se os candidatos podem se ajustar às mudanças da pressão ambiental. Após conclusão bem sucedida da 1a fase, o candidato desloca-se para Panamá City, na Flórida, para freqüentar a 2a fase do curso de mergulho no Naval Diving and Salvage Training Center33. 3.6.2.2.2 2a fase O Naval Diving and Salvage Training Center (figura 33). forma todos os mergulhadores militares dos EUA, à exceção dos SEALs34 e das forças especiais. O Centro é freqüentado por militares da marinha, do exército, da força aérea, da guarda costeira e pelos mergulhadores de combate do corpo de fuzileiros navais A 2a fase do curso tem a duração total de cerca de 20 semanas e pode ser realizada por militares de diversos países e de qualquer força armada. Nessa fase são ministradas as disciplinas de física subaquática, anatomia e fisiologia humanas, psicologia do mergulho, medicina submarina, salvamento básico, dentre outras. 33 Centro Naval de Treinamento de Mergulho e Salvamento. Os “Sea, Air and Land” (Terra, Ar e Mar) são as forças especiais da Marinha dos EUA. No Brasil, poderiam ser comparados aos Mergulhadores de Combate da Marinha. 34 114 Figura 33 - Símbolo do Naval Diving and Salvage Training Center. Fonte: https://www.npdc.navy.mil/ceneoddive/ndstc. Acesso em: 15 jul. 2006. O aluno também recebe instruções sobre mergulho autônomo (scuba) e mergulho dependente (com ar fornecido pela superfície). Várias ferramentas e equipamentos são apresentados aos instruendos para familiarização. Terminado o treinamento geral na Marinha, o aluno passará por mais seis semanas de treinamento adicional em uma Unidade de mergulho do Exército, aonde irá se especializar em demolições subaquáticas, em equipamentos de mergulho e desenvolverá suas habilidades de liderança. Durante o curso, os alunos são submetidos a um treinamento da confiança e a uma avaliação prática de operação do equipamento autônomo. O treinamento da confiança é a prática da utilização do scuba com vários problemas impostos aos instruendos pelos instrutores, como, por exemplo, a perda do suprimento de ar e a perda de parte do equipamento, tal como a máscara e o regulador, além de cintas de ombro rompidas. Esses procedimentos são realizados visando ao futuro emprego do mergulhador em mares agitados ou em situações de emergência. O aluno é treinado para operar esse tipo de equipamento até uma profundidade máxima de 40 metros. Em relação ao mergulho dependente, utiliza-se o capacete MK-21, habilitando os instruendos a mergulharem a uma profundidade de 57 metros. Além disso, os alunos recebem instrução de como operar câmaras hiperbáricas. O militar aprende, ainda, a manusear ferramentas hidráulicas subaquáticas, tais como motosserras (figura 34), furadeiras de impacto, chaves diversas etc, bem como as técnicas de realização do corte e da solda subaquática. Essas ferramentas são utilizadas nos projetos de construção ou reconstrução portuária. Tais habilidades também serão necessárias à manutenção e ao reparo de navios, 115 estando o aluno capacitado a inspecionar e reparar embarcações. Para isso, o futuro mergulhador aprende a substituir os lemes e as hélices das embarcações, além de praticar a fotografia subaquática. Cita-se, ainda, outros assuntos ministrados no curso, tais como técnicas de patrulha, a fim de desenvolver os princípios de liderança necessários ao mergulhador militar; técnicas de minagem/desminagem terrestre e de demolição. O aluno aprende a identificar e remover diversos obstáculos que podem interferir na mobilidade das tropas; reconhecimentos e levantamentos hidrográficos; e treinamento físico diário, no qual o aluno deverá demonstrar progresso em relação aos índices obtidos na 1a fase. Ao final do curso o militar receberá o diploma de mergulhador de 2a classe. Figura 34 - Mergulhadores utilizando a motosserra hidráulica. Fonte: http://www.wood.army.mil/577th/diver/images/concrete. Acesso em: 06 set. 2006. Para os Oficiais de Engenharia existem dois cursos no Naval Diving and Salvage Training Center. O primeiro é o Basic Diving Officer35 (BDO): é um curso com a duração de 80 (oitenta) dias e que fornece aos Oficiais alunos o treinamento necessário para a execução do mergulho autônomo e dependente, além do conhecimento para executar as funções Oficial de mergulho. A instrução inclui física e medicina do mergulho, ferramentas subaquáticas, certificação de sistemas de mergulho e operações utilizando o mergulho autônomo e o mergulho dependente. O curso qualifica o militar a operar até a profundidade de até 57 (cinqüenta e sete) metros. 35 Curso Básico de Mergulho para Oficiais. 116 O segundo é o Salvage Diving Officer36: é um curso com a duração de 31(trinta e um) dias, no qual é realizado um treinamento de todas as fases de uma operação de salvamento. As instruções incluem o conhecimento de embarcações, maquinário e computação de salvamento, além da experiência prática em operações, tanto conduzindo como supervisionando salvamentos. Os alunos terminam o curso executando operações de mergulho em uma missão simulada de salvamento. É prérequisito o Oficial possuir o curso de Basic Diving Officer. Ao concluir o curso de mergulho, o novo mergulhador é classificado em uma das Unidades de mergulho do exército no Fort Eustis, Virgínia, ou Fort Shafter, Havaí. Se o mergulhador estiver servindo no Fort Eustis, executará trabalhos de mergulho em todo os EUA, bem como na Europa e no Oriente Médio. Já se o mergulhador for classificado no Fort Shafter, trabalhará no Oceano Pacífico e no Extremo Oriente. 3.6.2.3 Estrutura hierárquica É política do Exército dos EUA que o novo mergulhador esteja na água o maior tempo possível. Isso dará a esse militar uma maior experiência, de modo que ele possa ser promovido, assumindo posições de liderança e avançando na hierarquia do mergulho, estando adestrado tanto em tarefas de combate como de construção. Para as praças existem quatro níveis de mergulho, correspondentes à graduação do militar, conforme o quadro a seguir. Graduação Nível de mergulho Soldado ou Cabo Mergulhador de 2a classe Sergeant (3o Sargento) Mergulhador de salvamento Staff Sergeants (2º Sargento) Mergulhador de 1a classe Sergeant First Class (1o Sargento) Master Diver37 Quadro 1 - Correspondência entre a graduação e os níveis de mergulho. Fonte: o autor. 36 37 Curso de Mergulho de Salvamento para Oficiais. Mergulhador-chefe ou Supervisor de mergulho 117 3.6.2.3.1 Mergulhador de 2a classe O mergulhador de 2a classe está habilitado a executar trabalhos subaquáticos, porém sendo orientado por um supervisor. Está apto a operar equipamento gerador de energia; realizar a minagem e a desminagem subaquática; colocar cargas de demolição; realizar reconhecimento técnico de Engenharia; além de operar a câmara hiperbárica e os sistemas de ar durante operações de mergulho. 3.6.2.3.2 Mergulhador de salvamento O mergulhador de salvamento está apto para liderar a execução de trabalhos subaquáticos; auxiliar o supervisor na preparação do equipamento necessário para operações de mergulho; preparar todo o material necessário para operações de salvamento; preparar explosivos para colocação; preparar o equipamento e os dispositivos de içamento para o salvamento de objetos submersos; operar, como operador principal, os sistemas de ar durante operações de mergulho e operar câmara hiperbárica. Esse nível exige a realização do Curso Técnico de Construção Subaquática (Básico) e experiência como mergulhador de 2a classe (mínimo de dezoito meses), além de um número mínimo de mergulhos realizados (DILLARD & SWENSON, 1995). 3.6.2.3.3 Mergulhador de 1a classe O mergulhador de 1a classe desempenha as funções de supervisor de mergulho, dirigindo a preparação e a operação de equipamentos de mergulho, bem como as plataformas de suporte para as embarcações. Supervisiona o cálculo, o treinamento e o uso dos explosivos; o uso de equipamentos hidráulicos subaquáticos e de equipamentos de geração de eletricidade, além de outras ferramentas subaquáticas especiais. Além disso, supervisiona a operação da câmara hiperbárica e do equipamento da sustentação da vida durante operações de mergulho e de emergência. Para ser promovido a esse nível, exige-se experiência de três anos como mergulhador de salvamento e a realização de um curso com a duração de setenta 118 dias, o qual está direcionado para o planejamento de operações (DILLARD & SWENSON, 1995). 3.6.2.3.4 Master Diver O Master Diver desempenha a função de mergulhador-chefe, estando qualificado para trabalhar nas Equipes Leves e Pesadas de Mergulho. Está apto a supervisionar operações que envolvam mergulhos mais profundos do que 30 (trinta) metros; supervisionar terapia na câmara hiperbárica para doenças de mergulho; coordenar o apoio médico; preparar planos e relatórios detalhados de operações de mergulho complexas; supervisionar o uso de explosivos, o treinamento e a segurança durante missões de demolição; e assessorar o comandante da equipe durante o planejamento e a execução de missões de mergulho. Para ser promovido a esse nível, exige-se experiência de três anos como mergulhador de 1a classe e a conclusão de um curso adicional de vinte dias, no qual o militar passará por uma rigorosa avaliação de desempenho com a duração de três dias, além da realização do Curso Técnico de Construção Subaquática (Avançado) (DILLARD & SWENSON, 1995). 3.6.2.3.5 Basic/Salvage Diving Officer O Oficial de Engenharia, habilitado para exercer a função de Diving Officer, é o comandante da Equipe Leve ou Pesada de Mergulho. É responsável pelo treinamento da equipe em todas as suas atribuições, supervisando as operações de mergulho e a manutenção dos equipamentos. Além disso, planeja e coordena as missões de mergulho com os comandantes de níveis mais elevados (figura 35). Figura 35 - Distintivos da hierarquia do mergulho. Fonte: http://www.answers.com/topic/armydivebadge-jpg. Acesso em: 06 set. 2006. 119 3.6.2.4 Manutenção da Qualificação Para manter a sua qualificação de mergulhador, o militar deverá realizar pelo menos oito mergulhos em um período de 12 meses. Os mergulhos realizados para manutenção da qualificação devem cumprir o prescrito na tabela abaixo. Já os mergulhos realizados por militares que estiverem cumprindo missões regulares de mergulho, contarão para a manutenção da qualificação do mergulhador, não obstante a profundidade ou a duração dos mesmos. Caso o mergulhador perca sua qualificação, deixando de mergulhar por um período superior a 12 meses, ele deverá ser requalificado, realizando dois mergulhos de acordo com a tabela a seguir. Quadro 2 - Tempos e profundidades mínimas para manutenção da qualificação de mergulhador. Fonte: http://www.army.mil/usapa/epubs/pdf/r611_75.pdf. Acesso em: 05 set. 2006. 3.6.3 Emprego dos mergulhadores de Engenharia 3.6.3.1 Missões dos mergulhadores de Engenharia Os mergulhadores de Engenharia asseguram a mobilidade, garantindo o movimento das tropas e dos equipamentos, além de dificultarem o movimento do inimigo. Também realizam missões de apoio geral da Engenharia, dentro e em torno da água, pois possuem recursos variados, desde uma equipe pequena de mergulho autônomo até as equipes maiores, em uma escala diversa de potencialidades, incluindo o uso do equipamento dependente e do equipamento pesado. Dessa forma, os mergulhadores de Engenharia proporcionam apoio aproximado e especializado em missões subaquáticas em todo o Teatro de Operações. As 120 principais missões executadas pelos mergulhadores de Engenharia estão enumeradas a seguir (FM 3.34.280 – ENGINEER DIVING OPERATIONS, 2004). 3.6.3.1.1 Mobilidade e Contramobilidade Fazem parte destas missões, o apoio a operações de transposição de curso d’água; inspeção, reparo e destruição de pontes fixas ou flutuantes; levantamento hidrográfico; lançamento e remoção de obstáculos; e a realização de operações de demolição e de minagem ou desminagem subaquática (figura 36) (FM 3.34.280 – ENGINEER DIVING OPERATIONS, 2004). Figura 36 - Demolição da represa de Embrey (Fredericksburg-Virginia), realizada pelo 544th Engineer Dive Team. Fonte: http://www.hq.usace.army.mil/cepa. Acesso em: 15 set. 2006. 3.6.3.1.2 Operações de transposição de curso d’água No Exército dos EUA ainda não existe uma doutrina específica para emprego de mergulhadores em operações de transposição de curso d´água. Todavia, os comandantes da manobra tática necessitam ter informações atualizadas acerca dos locais de travessia, a fim de poder eleger o local mais apropriado para a transposição. Normalmente, uma Equipe Leve de Mergulho apóia esse tipo de operação. Os mergulhadores trabalham próximos às Unidades de pontes, de maneira a prover a informação mais acurada ao comandante do local de travessia. Os mergulhadores conduzem reconhecimentos aproximados e afastados das margens, além de realizar reconhecimentos do leito do rio. 121 As informações colhidas incluem largura do rio; velocidade da correnteza; identificação das condições subaquáticas próximas e afastadas das margens; composição do leito do curso d´água; levantamentos hidrográficos dos eixos de travessia; tipos e localização dos obstáculos e; informações para abordagem das margens e sobre possíveis desvios (figura 37) (FM 3.34.280 – ENGINEER DIVING OPERATIONS, 2004). Figura 37 - Composição dos meios para a operação “Chosin Action” – exercício de transposição de curso d’água, ocorrido em 1995. Destaque para o “551th Engineer Dive Team”. Fonte: Rupp (1997,p.64) Na realização de reconhecimentos para a transposição de cursos d´água, em locais sem segurança, os mergulhadores de Engenharia podem receber apoio de uma equipe de segurança. Para facilitar o lançamento de pontes, os mergulhadores podem neutralizar ou abrir brechas em obstáculos subaquáticos, construir as estruturas subaquáticas das pontes, realizar reparos subaquáticos de pontes e embarcações, recuperar equipamento afundado e realizar a busca e recuperação de baixas. Uma vez que a ponte esteja instalada, os mergulhadores podem instalar redes e alarmes contra impacto, minas e mergulhadores inimigos, para prevenir danos causados por munições flutuantes ou colisões com escombros transportados pela correnteza. As redes antimergulhadores são colocadas a montante e a jusante da ponte, para protegê-las das equipes de demolição (mergulhadores) do inimigo (figura 38). 122 Figura 38 - Rede antimergulhadores inimigos. Fonte: https://atiam.train.army.mil. Acesso em: 18 mai. 2007. Na realização dos reconhecimentos, os mergulhadores de Engenharia utilizam-se de botes infláveis ou pontões. Quando a distância a ser percorrida é muito grande e a situação assim o permitir, as equipes podem ser lançadas por helicópteros. Esses reconhecimentos, rotineiramente, são realizados à noite (FM 3.34.280 – ENGINEER DIVING OPERATIONS, 2004). 3.6.3.1.3 Abertura, construção e restauração de instalações portuárias Fazem parte o planejamento e inspeção; desobstrução; manutenção e reparo e; construção subaquática. 3.6.3.1.4 Busca, salvamento e recuperação É constituída por busca e salvamento de embarcações, equipamentos, suprimentos, etc; busca e recuperação de baixas. 3.6.3.1.5 Proteção Segurança de pontes, portos, comportas e represas e; lançamento de sistema físicos de segurança. 123 A título de ilustração, pode-se citar a atuação dos mergulhadores durante a organização e preparação das tropas para as operações Desert Storm e Restore Democracy, como sendo dois exemplos de como essas equipes apoiaram a proteção das forças em campanha (KISIEL, 2000). Na Operação Desert Storm, as Equipes de Mergulho proporcionaram a segurança nos portos do Kuwait e na Europa; conduziram inspeções nos cascos das barcaças de carga e dos navios para assegurar de que esses não estivessem minados. Essas inspeções foram críticas, tendo em vista a natureza da carga explosiva existente em muitas das embarcações inspecionadas. Similarmente, na Operação Restore Democracy, as Equipes de Mergulho proporcionaram segurança para as embarcações do Exército que entraram nos portos do Haiti. 3.6.3.1.6 Manutenção de embarcações São realizadas inspeções subaquáticas do casco, dos sistemas de propulsão e de navegação; manutenção subaquática e; controle de danos e reparos em embarcações em perigo de afundamento. 3.6.3.1.7 Joint Logistics Over-The-Shore Operations (JLOTS)38 Para este reconhecimento é realizado o levantamento hidrográfico da cabeça de praia, realizando a batimetria39 das linhas de praia que necessitam limpeza para a realização de desembarque; instalação e manutenção de sistemas de amarrações para prover ancoragem segura para embarcações (ancoradouros); e instalação e manutenção de sistemas de distribuição de petróleo (oleodutos) próximos à praia (figura 39). 38 Operação Logística Combinada na Praia (Margem), ou seja, as operações que envolvem a transferência de suprimentos da “água” para a “terra”, a fim de apoiar logisticamente as operações militares. 39 Batimetria é a medição da profundidade dos oceanos, lagos e rios e é expressa cartograficamente por curvas batimétricas que unem pontos da mesma profundidade com equidistâncias verticais, à semelhança das curvas de nível topográfico. 124 Figura 39 - Disposição das missões de mergulhadores de Engenharia no Teatro de Operações. Fonte: http://www.globalsecurity.org/military/library/policy/army. Acesso em: 28 mai. 2005. 3.6.3.1.8 Outras missões subaquáticas Fazem parte de outras missões subaquáticas o apoio ao Corpo de Engenheiros nos projetos de represas, canais interiores e em projetos litorâneos; e no reparo, remoção e implantação de instalações portuárias; apoio a agências do governo que não possuam os recursos de mergulho para concluir suas tarefas; e auxilio a empresas civis na pesquisa marítima e no desenvolvimento de ferramentas e equipamentos subaquáticos que possam ter utilidade militar (PRESTON, 2005). 125 3.6.3.2 Organizações Militares (OM) de Mergulho de Engenharia As equipes de mergulho são organizações especializadas relativamente pequenas e cada equipe possui suas missões e responsabilidades bem definidas, sendo flexível o suficiente para apoiar o comando das forças em um grande número de situações. No Exército dos EUA, as Equipes de Mergulho, mesmo tendo tomado parte de inúmeras operações, ainda são freqüentemente negligenciadas, seja por seu pequeno tamanho ou sua relativa obscuridade. Existem dois tipos de organizações de mergulho, a saber: Equipe Leve de Mergulho e Equipe Pesada de Mergulho, também designada como Equipe de Mergulho de Engenharia40. Elas podem apoiar ou reforçar qualquer Unidade dentro do Teatro de Operações. Essas OM, normalmente, provem apoio ao Army Service Component Command41 (ASCC), podendo apoiar os comandos subordinados, desde que autorizado pelo comandante do ASCC (FM 3.34.280 – ENGINEER DIVING OPERATIONS, 2004). A principal diferença entre as equipes leves e pesadas está nas possibilidades de construção e de salvamento, bem como nos objetivos e nos recursos de comando e controle. As equipes pesadas possuem equipamento especializado adicional, utilizando-o com prioridade na construção e no salvamento pesado nos portos e nos ancoradouros. Os comandantes das equipes pesadas são mais experientes, sendo empregados extensivamente para planejar e controlar as missões de mergulho no Teatro de Operações (figura 40). 40 O manual FM 3-34.280, “Engineer Diving Operations”, assim designa essa equipe. Porém, diversas outras fontes, como a página eletrônica da USAES, permanecem com a denominação de Equipe Pesada de Mergulho. No presente trabalho usar-se-á ambas as designações indistintamente. 41 É o Grande Comando do Exército dos EUA que enquadra diversos Comandos Militares do Exército, como, por exemplo, o Comando Sul (“U.S. Army South” – USARSO) e o “U.S. Army Special Operations Command” (USASOC). 126 Figura 40 - Relação de subordinação da Engenharia do Teatro de Operações. Fonte: http://www.globalsecurity.org/military/library/policy/army. Acesso em: 19 mai. 2007. A Engenharia do Exército dos EUA possui quatro Equipes Leves de Mergulho e duas Equipes Pesadas de Mergulho. As equipes leves estão localizadas no Fort Eustis, Virgínia, juntamente com uma equipe pesada. A outra equipe está estabelecida no Fort Shafter, Havaí. As equipes do Fort Eustis estão reunidas na United States Army Dive Company (Provisional)42 (KISIEL, 2000). 3.6.3.2.1 Equipe Pesada de Mergulho ou Equipe de Mergulho de Engenharia É a equipe que, normalmente, é designada para apoiar o ASCC, sendo incluída na composição dos meios do Engineer Command43 (ENCOM) para apoiar os comandantes dos portos, ancoradouros e zonas costeiras. A equipe pode ser passada em apoio a um comando subordinado, parar prover apoio especializado de mergulho, sendo capaz de realizar tarefas de salvamento, construção e reconhecimento. Segundo os manuais FM 3.34.280 – Engineer Diving Operations (2004) e FM 3-34 Engineer Operations (2004), as possibilidades dessa Equipe são as seguintes: 42 Companhia de Mergulho do Exército dos EUA (Provisória) O ENCOM é o maior comando de Engenharia subordinado ao ASCC. Provê o comando e controle da estrutura central dos esforços de Engenharia no TO. 43 127 realizar mergulho autônomo ou dependente até uma profundidade máxima de 57 (cinqüenta e sete) metros; apoiar a construção ou reparação de instalações portuárias, instalações para realizar JLOTS, barreiras flutuantes ou pontes; reparar piers, docas, dutos, canais interiores, diques, represas, quebramares, molhes44 e pontes danificados; realizar a limpeza de obstáculos subaquáticos e demarcar canais de navegação; lançar e remover minas e obstáculos subaquáticos; realizar demolição subaquática; instalar, manter e reparar oleodutos e sistemas de ancoradouro próximos à praia; recuperar material e embarcações afundadas; inspecionar e reparar embarcações; coletar informações do leito no mar, portos e rios apoiando abertura de portos, JLOTS e operações de transposição de cursos d’água; instalar e manter a porção subaquática dos sistemas de distribuição de petróleo e água em portos; instalar sistemas de segurança subaquáticos; executar missões de natação de segurança em navios e portos; operar câmara hiperbárica e executar tratamentos médicos de emergência para mergulhadores; fazer a manutenção e reparar equipamentos de mergulho; prestar assessoria técnica e de planejamento ao ASCC e aos comandantes de Brigada de Engenharia; instalar e manter sistemas de ancoradouro para embarcações; proteger as forças terrestres, embarcações e as estruturas submersas das ameaças subaquáticas, reduzindo a probabilidade de um dano estrutural e; apoiar as Equipes Leves de Mergulho. 44 O molhe é um paredão nos portos marítimos, a modo de cais, destinado a proteger das vagas do mar as embarcações, podendo dispor de berços para atracação. 128 Como observação, cita-se que os mergulhadores de Engenharia não desempenham a função de Explosive Ordnance Disposal45 (EOD) subaquáticos, papel reservado aos mergulhadores da Marinha. A Equipe de Mergulho de Engenharia é composta por 25 militares, e possui pessoal e material para conduzir múltiplas operações de mergulho simultaneamente (figura 41). Figura 41 - Organograma da Equipe de Mergulho de Engenharia Fonte: FM 3-34.280 - Engineer Diving Operations (2004,p. 2-2) A composição da Equipe de Mergulho de Engenharia é a que se segue: comandante da equipe: capitão, qualificado como Diving Officer; oficial de operações: 1º tenente, qualificado como Diving Officer; supervisor de mergulho sênior: 1o sargento, qualificado como Master Diver; supervisor de mergulho: 2o sargento, qualificado como mergulhador de 1a classe; sargento de suprimento: 3o sargento, responsável pelo suprimento de peças e material de reposição, principalmente para os equipamentos de mergulho e os armamentos da equipe; mergulhador líder: 3o sargento, qualificado como mergulhador de salvamento; 45 Desativação de Artefatos Explosivos: são equipes responsáveis por planejar e executar operações de procura, identificação, desativação e destruição de artefatos explosivos (convencionais ou químicos), armadilhas e dispositivos explosivos improvisados não detonados. 129 enfermeiro: 3o sargento, qualificado como técnico em medicina de mergulho; mergulhador: cabo ou soldado, qualificado como mergulhador de 2a classe e; mecânico de viatura leve sobre rodas: cabo ou soldado mecânico. 3.6.3.2.2 Equipe Leve de Mergulho Essa equipe tem por missão dar apoio de mergulho às operações ofensivas ou defensivas, durante a estabilização da frente e também no pós-conflito. A Equipe Leve de Mergulho pode ser passada ao controle operacional de uma Brigada de Engenharia para fins logísticos e de comando e controle, podendo, ainda, reforçar as Companhias de Engenharia de Construção de Portos, o comando do ASCC ou de um Corpo de Exército (figura 42). Figura 42 - Organograma de uma Brigada de Engenharia de Corpo de Exército, destaque para a Equipe Leve de Mergulho. Fonte: https://atiam.train.army.mil/soldierPortal/atia/adlsc/view/public. Acesso em: 06 set. 2006. 130 De acordo com os manuais FM 3.34.280 – ENGINEER DIVING OPERATIONS (2004) e FM 3-34 ENGINEER OPERATIONS (2004), as missões dos mergulhadores de Engenharia dessa equipe incluem os seguintes itens: realizar mergulho autônomo ou dependente até uma profundidade máxima de 57 metros; realizar reconhecimento de locais para transposição de cursos d’água; lançar e remover minas e obstáculos subaquáticos; realizar demolição subaquática; coletar informações do leito do rio, mar, lagos etc; reparar pontes, represas, dutos, canais e diques danificados; construir estruturas subaquáticas de pontes; lançar obstáculos e barreiras flutuantes; realizar operações de busca e recuperação; desobstruir e demarcar canais interiores de navegação (hidrovias); inspecionar e reparar embarcações do Exército; inspecionar e reparar a porção subaquática dos sistemas de distribuição de petróleo em portos e dos sistemas de ancoradouro de embarcações; instalar sistemas de segurança subaquáticos; executar missões de natação de segurança em navios e portos; inspecionar e reparar piers, atracadouros, cais e molhes durante a construção ou recuperação de portos; realizar reconhecendo próximo e afastado das margens dos locais de travessia de curso d´água e demarcar e preparar locais de desembarque, barrancos e rotas de fuga para as forças da transposição; proteger as forças terrestres, o equipamento de transposição de curso d´água e as estruturas submersas das ameaças subaquáticas, além de despistar as forças inimigas dos planejamentos que envolvam atividades aquáticas ou subaquáticas; prestar assessoria técnica e de planejamento ao ASCC e aos comandantes de Brigada; 131 apoiar as Equipes Pesadas de Mergulho em portos, ancoradouros e zonas costeiras. Todavia, necessita receber reforço em equipamento para cumprir missões pesadas de salvamento. Da mesma maneira que na Equipe Pesada de Mergulho, os mergulhadores da Equipe Leve não atuam como EODs subaquáticos. A Equipe Leve de Mergulho é composta por 22 militares, possuindo pessoal e material para realizar múltiplas operações de mergulho simultaneamente (figura 43). Figura 43 - Organograma da Equipe Leve de Mergulho Fonte: FM 3-34.280 - Engineer Diving Operations (2004, p. 2-6) A composição da Equipe Leve de Mergulho é a que se segue: comandante da equipe: 1o tenente, qualificado como Diving Officer; supervisor de mergulho sênior: 1o sargento, qualificado como Master Diver; supervisor de mergulho: 2o sargento, qualificado como mergulhador de 1a classe; sargento de suprimento: 3o sargento, responsável pelo suprimento de peças e material de reposição, principalmente para os equipamentos de mergulho e os armamentos da equipe; mergulhador líder: 3o sargento, qualificado como mergulhador de salvamento; enfermeiro: 3o sargento, qualificado como técnico em medicina do mergulho; 132 mergulhador: cabo ou soldado, qualificado como mergulhador de 2a classe e; mecânico de viatura leve sobre rodas: cabo ou soldado mecânico. 3.6.3.3 Emprego dos mergulhadores de Engenharia O objetivo principal das operações, nas quais ocorre o emprego de mergulhadores de Engenharia, é apoiar à mobilidade e à contramobilidade em qualquer parte do Teatro de Operações. Os mergulhadores de Engenharia poderão fazer parte da composição dos meios ou da organização por tarefas dos Grandes Comandos ou Grandes Unidades para atividades como, por exemplo, a construção ou recuperação de portos ou pontes; ou a realização de movimentos logísticos nos portos, nas cabeças de praia ou de ponte. 3.6.3.3.1 Comando e controle Os Engenheiros do Quartel General (QG) do ASCC e do Theater Support Command46 (TSC) formulam os planos e as necessidades das instalações portuárias (locação, capacidade de atracagem, tamanho do cais e capacidade de armazenagem). O TSC é responsável pela operação dos portos, incluindo a ligação com a Marinha, Fuzileiros Navais, Guarda Costeira e outras agências militares ou civis dos EUA e países aliados. Os mergulhadores de Engenharia, normalmente, fazem parte da composição dos meios do ENCOM. Dessa maneira, o ENCOM provê o comando e controle para as tropas de Engenharia do ASCC, além de administrar as tarefas de construção e reparação que necessitem de mergulhadores. O número e o tipo de Unidades de Engenharia, incluindo as OM de mergulho, que compõem o ENCOM, dependerão do planejamento da operação a ser executada. 46 Comando de Apoio ao Teatro de Operações: é um Grande Comando Logístico do Exército dos EUA responsável por criar uma estrutura de “cidade” aonde seja necessário às operações. É responsável por montar uma estrutura de bombeiros, policiamento, sistema de energia, serviços médicos, serviços bancários, além de centros de recompletamento de pessoal. Além disso, é encarregado do transporte de recursos e equipamentos, operações portuárias e aeroportuárias, bem como tudo o que se referir a JLOTS. 133 3.6.3.3.2 Prioridade para o apoio dos mergulhadores de Engenharia. As habilidades dos mergulhadores de Engenharia são necessárias em todo o Teatro de Operações. O comandante do ENCOM aloca seus meios na Communications Zone47 (COMMZ) e na Combat Zone48 (CZ) de acordo com as prioridades estabelecidas pelo Comandante do Teatro de Operações. Ciente de que existe um limitado número de mergulhadores, o comandante do ENCOM tem que escolher aonde alocar seus meios, priorizando as missões mais críticas. Dessa forma, a participação dos mergulhadores no processo de planejamento torna-se fundamental para o sucesso das missões de mergulho. Os mergulhadores de Engenharia apóiam todo o tipo de missão subaquática na COMMZ e na CZ. Em maio de 1995, o Diretório de Desenvolvimento de Combate da Escola de Engenharia preparou um documento intitulado “Conceito para as Forças de Mergulho de Engenharia do Exército dos EUA”, que descreve essas missões. O documento acima citado estabelece que as missões de mergulho na CZ são de apoio a mobilidade, contramobilidade e proteção; e na COMMZ, as missões são de apoio geral, como abertura de portos, salvamento pesado, buscas, JLOTS e manutenção de embarcações. Dessa forma, as Equipes Leves de Mergulho são mais aptas a prestarem apoio na CZ e as Equipes Pesadas de Mergulho na COMMZ. 3.6.3.3.3 Procedimento para solicitar o apoio de mergulhadores Após completar a estimativa dos trabalhos de Engenharia, o ENCOM designará os mergulhadores para cumprirem suas missões. Se algum comando necessitar de mergulhadores, este deve fazê-lo pelo canal de comando, até chegar ao comandante do ASCC, que estabelecerá a prioridade para o cumprimento das missões de mergulho, enviando os pedidos de missões de mergulho para o 47 Zona de Comunicações: no EB, equivale ao conceito de Zona de Administração, onde se desdobram as principais instalações, as Unidades e os órgãos de apoio logístico necessários ao conjunto das forças em campanha. 48 Zona de Combate. 134 Comandante do ENCOM. Para missões de curta duração, os mergulhadores são empregados em apoio direto ao Area Support Group49 (ASG). Para missões mais longas ou complexas, eles são empregados em reforço a uma Unidade valor batalhão ou companhia. 3.6.4 Fatores que afetam as operações das equipes de mergulho Existe um sem número de fatores que afetam as operações das equipes de mergulho de Engenharia. Devem ser feitas considerações a respeito dos tipos de mergulho, ambiente, restrições técnicas de emprego do pessoal, equipamento, apoio externo, avaliação da segurança e dos riscos do mergulho, além da segurança durante o cumprimento da missão. A seguir serão descritas as julgadas de maior importância. 3.6.4.1 Tipos de mergulho 3.6.4.1.1 Mergulho autônomo O Exército dos EUA considera que as operações com mergulho autônomo permitem ao mergulhador grande mobilidade e possibilitam a cobertura de grandes áreas. Em condições normais, uma missão utilizando o equipamento autônomo necessita de uma equipe de 05 (cinco) militares. As missões utilizando-se do equipamento de mergulho autônomo incluem busca e recuperação; inspeções; manutenção de embarcações; reconhecimento hidrográfico; lançamento e remoção de obstáculos; destruição; e apoio a JLOTS. As vantagens de utilização desse tipo de equipamento, de acordo com os manuais norte-americanos, são as seguintes: rapidez do mergulhador em se equipar; ser portátil; necessitar de uma pequena estrutura de apoio; excelente mobilidade; e a atividade ser pouco afetada pela natureza do fundo. Da mesma forma, os militares estadunidenses elencam como desvantagens os seguintes aspectos: duração limitada (profundidade e suprimento limitado de ar); 49 Comando de Apoio de Área: é um Grande Comando Logístico, responsável por todas as funções logísticas em uma determinada área. 135 proteção física limitada em ambientes contaminados; influenciado pela correnteza; e normalmente sem comunicação oral ou de qualquer espécie com a superfície. 3.6.4.1.2 Mergulho dependente É utilizado pelos Mergulhadores de Engenharia do Exército dos EUA que trabalham em salvamento pesado ou em missões de longa duração, ou ainda naquelas que necessitem de proteção física para o mergulhador. Em condições normais, o mergulho dependente exige uma equipe de 10 (dez) homens. As missões de mergulho dependente incluem: desobstrução; inspeções; salvamento leve ou pesado; manutenção de embarcações; reparação ou construção de portos; lançamento de obstáculos; destruição; apoio a JLOTS. As vantagens da utilização desse tipo de equipamento são o ilimitado suprimento de ar, permitindo mergulhos de longa duração; máxima proteção física e térmica; capacidade de manter comunicação com a superfície. Já as desvantagens são a pequena capacidade de movimento e a necessidade de uma preparação maior que a do mergulho autônomo. 3.6.4.2 Considerações do ambiente Para a realização de mergulhos, os militares norte-americanos consideram os seguintes aspectos com relação ao ambiente: a correnteza máxima de até 0,5 m/s para mergulho autônomo e de 1,3 m/s para mergulho dependente; a profundidade máxima de 130 pés (40 metros) para mergulho autônomo e de 190 pés (57 metros) para mergulho dependente; a maré; a visibilidade do meio aquático; a natureza e as condições do fundo; o estado do mar; o tamanho das ondas; a temperatura do ar; a temperatura da água; e a poluição da água (química, bacteriológica ou nuclear). 3.6.5 Considerações Finais Assim como a Marinha do Brasil e o Exército Argentino, o Exército dos EUA possui uma estrutura de mergulho muito bem definida. Semelhantemente à Força Naval do Brasil, as atividades de mergulho são separadas em ramos distintos, pois 136 os Special Operations Combat Divers executam atividades de mergulho de combate e os Engineer divers são empregados em atividades de mergulho de apoio geral, porém sem deixar de realizar as atividades ligadas ao apoio ao combate. Tendo sido os EUA uma potência mundial no século XX, um dos atores principais da chamada Guerra Fria, e atualmente, no século XXI, atuado como superpotência quase que hegemônica no cenário mundial, o seu Exército participou e continua a participar de diversos conflitos em todo o globo terrestre. As atividades de mergulho de Engenharia iniciaram-se durante a II Guerra Mundial, situação em que foi possível comprovar sua utilidade como fator multiplicador do poder de combate. Desde aquela época até os dias atuais, passando pelos destacados eventos das Guerras da Coréia, do Vietnã, do Golfo e do Iraque, as equipes de mergulho de Engenharia cumpriram seu papel no Teatro de Operações, atuando tanto em proveito da mobilidade ou contramobilidade, quanto das atividades de apoio logístico. Pode-se destacar, ainda, que a formação de mergulhadores é realizada de maneira combinada no Naval Diving and Salvage Training Center, o que homogeniza a formação, economiza recursos em pessoal e equipamento, além de possibilitar intercâmbio de experiências. A estrutura de mergulho é pequena, composta de apenas quatro Equipes Leves e duas Equipes Pesadas de Mergulho, estrategicamente localizadas a fim de possibilitar seu emprego em qualquer parte do globo terrestre, de acordo com as necessidades operacionais do Exército dos EUA. Dessa forma, pode-se constatar a grande experiência que o Exército dos EUA possui no trato dessa atividade especial. Tal experiência está consolidada em uma doutrina de emprego, devidamente explicitada em manuais da Arma de Engenharia, a qual está sendo validada no dia a dia da Guerra do Iraque. Conclui-se, parcialmente, que a Engenharia do Exército dos EUA, possuindo uma doutrina de emprego, estrutura organizacional, pessoal e equipamento especializado, além de compartilhar de uma estrutura de ensino com a Marinha dos EUA, pode servir de modelo de estudo para a atividade especial de mergulho no EB. 137 3.7 O MERGULHO DE ENGENHARIA 3.7.1 O ambiente operacional do Mergulhador de Engenharia A atividade de mergulho, na Arma de Engenharia, utiliza-se quase que exclusivamente da água doce como meio, seja em rios caudalosos ou lagos de pontagem, para a realização de trabalhos técnicos ou atividades logísticas. O Brasil é um país dotado de vasta rede hidrográfica, sendo que muitos de seus rios destacam-se pela extensão, largura e profundidade. Em decorrência da natureza do relevo, predominam os rios de planalto, que apresentam em seus leitos rupturas de declive, vales encaixados, dentre outras características, que lhes conferem um alto potencial para a geração de energia elétrica. Quanto à navegabilidade, esses rios, dado ao seu perfil não regularizado, ficam um tanto prejudicados. Dentre os grandes rios nacionais, apenas o Amazonas e o Paraguai são predominantemente de planície e largamente utilizados para a navegação. Os rios São Francisco e Paraná são os principais rios de planalto. De maneira geral, os rios têm origem em regiões não muito elevadas, exceto o rio Amazonas e alguns de seus afluentes que nascem na cordilheira andina. Em termos gerais, pode-se dividir a rede hidrográfica brasileira em sete bacias princiais, a saber: a bacia do rio Amazonas; a do Araguaia-Tocantins; a bacia do Atlântico Sul – trechos norte e nordeste; a do rio São Francisco; a do Atlântico Sul – trecho leste; a bacia Platina, composta pelas sub-bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai; e a do Atlântico Sul – trecho sudeste e sul (figura 44). Figura 44 – Principais bacias hidrográficas brasileiras. Fonte: http://www.zeeppa.cnpm.embrapa.br/ppa/mapa/mbaci. Acesso em: 24 mai. 2007. 138 3.7.1.1 O mergulho em água doce Normalmente, a atividade de mergulho está associada ao mar, porém o ambiente característico das operações na qual atuarão os engenheiros mergulhadores é o da água doce. Locais como rios, lagos, represas e açudes poderão ser alvo de reconhecimentos especializados de Engenharia e até mesmo excelentes locais para formação, treinamento e adestramento de mergulhadores. Podendo ser iniciado a partir de terra, dispensando o uso de embarcações, o mergulho em água doce, normalmente, oferece menores dificuldades que o mergulho no mar. No entanto, cuidados especiais são necessários com relação à altitude, visibilidade, correntes, temperatura e poluição, já que esses fatores apresentam faixas de variação muito maiores que as encontradas no mar. 3.7.1.1.1 A altitude O fator mais importante a ser observado no mergulho em água doce é a altitude. As tabelas de descompressão normalmente utilizadas, como as baseadas na Marinha norte-americana, foram criadas tomando como base o fato de o mergulhador encontrar no retorno à superfície uma pressão atmosférica de 760 mm (setecentos e sessenta) Hg (uma atmosfera), que é a pressão atmosférica normal ao nível do mar. No entanto, a maioria dos lagos e represas encontra-se bem acima do nível do mar, muitas vezes acima de 1.000 metros de altitude (figura 45). Figura 45 - Mergulhadores em atividade no ambiente operacional característico da Engenharia. Fonte: http://www.binganf121.ejercito.mil.ar/sitio/paginas/reglamentacion. Acesso em: 24 mai. 2007. 139 Com o aumento de altitude, a pressão atmosférica diminui gradativamente, cerca de 8 mm Hg a cada cem metros, atingindo 380 mm Hg (0,5 atmosfera) a 5.500 metros de altitude, metade da pressão ao nível do mar. Isso obriga os mergulhadores a realizarem ajustes nas tabelas durante o planejamento do mergulho. Ignorar esses ajustes em um mergulho relativamente fundo, em um lago a 1.500 (mil e quinhentos) metros de altitude, certamente significa que ocorrerá um caso de doença descompressiva. Normalmente, esse ponto deverá ser discutido durante um treinamento especial para aqueles que vão mergulhar a mais de 300 (trezentos) metros de altitude. Alguns modelos de computadores de mergulho se ajustam automaticamente às variações de altitude, alguns exigem que o mergulhador informe a altitude em que os mergulhos estão sendo realizados, enquanto outros, simplesmente, não podem ser utilizados acima do nível do mar. Para os mergulhadores que irão se valer de tabelas, o princípio básico será corrigir a profundidade real do mergulho de modo a criar uma “profundidade fictícia”, utilizada para cálculo nas tabelas. Como a profundidade fictícia é maior que a real, os limites de mergulho sem descompressão são reduzidos e os tempos de descompressão aumentam, compensando o efeito da pressão na superfície. A profundidade fictícia pode ser calculada através da seguinte fórmula: Na qual PF é a profundidade fictícia (utilizada somente para as tabelas), PR é a profundidade real do mergulho e ALT é a altitude do local de mergulho. Todos os valores devem ser fornecidos em metros. 3.7.1.1.2 A densidade da água A água doce possui densidade menor que a da água salgada. Uma atmosfera de pressão de água doce equivale a 10,33 metros, já uma atmosfera de água salgada equivale a 10 metros. Essa diferença cria uma mudança nas taxas de absorção e eliminação do nitrogênio. Portanto, a subida do mergulhador para a superfície, onde se faz a eliminação do nitrogênio, deve ser mais lenta que 9 m/min, que é a taxa de subida em água salgada. 140 A densidade da água também influencia na flutuabilidade do mergulhador. Dessa forma, para a realização de mergulhos em água doce, o mergulhador deverá retirar cerca e 20% do peso de seu cinto de lastros normalmente utilizado no mar, para continuar com a flutuabilidade neutra. Atualmente, existem tabelas nas quais o mergulhador pode encontrar a velocidade de subida ideal de acordo com a altitude do mergulho realizado, bem como as tabelas para a correção da pressão atmosférica. 3.7.1.1.3 A visibilidade Muitas vezes a visibilidade em rios, lagos ou represas, com bastante sedimento, pode variar de 5 metros a absolutamente zero. Noções de navegação subaquática serão muito úteis nessas situações. No Brasil é comum o mergulho em águas com pouca visibilidade, tornandose importante o mergulhador estar preparado para isso. A principal causa de problemas de visibilidade é a existência de sedimento em suspensão na água. Isso pode acontecer em rios, principalmente nos de maior volume, ou em represas, onde o fundo lodoso é facilmente levantado por mergulhadores menos experientes. No caso de rios com correntes fortes não existem muitos cuidados a serem tomados, mas em águas paradas o principal cuidado é ao nadar, quando se deve evitar que o movimento das nadadeiras levante o lodo do fundo. Em águas com muita suspensão as lanternas não são de muita utilidade, pois acabam ofuscando o mergulhador com a luz refletida nas partículas em suspensão. 3.7.1.1.4 As correntes O mergulho em rios com correnteza exige cuidados adicionais, já que a corrente pode jogar o mergulhador contra obstáculos submersos ou levá-lo para uma posição onde a saída da água seja difícil ou mesmo impossível. É necessário, antes de iniciar o mergulho, avaliar a intensidade da corrente, pois muitas vezes não 141 será possível conduzir o mergulho contra a correnteza e é preciso planejar um local de saída diferente da entrada. Algumas das dificuldades causadas pelas correntes são as seguintes: mais água penetra e circula na roupa do mergulhador, aumentando a sensação de frio; aumento da dificuldade em permanecer parado na superfície da água; aumento do esforço para a natação, o que causa fadiga e cãibras; aumento do consumo de ar, dificultando o planejamento do mergulho; respiração inadequada (acelerada), elevando-se rapidamente a taxa de gás carbônico, o que pode causar intoxicação; pré-disposição à doença descompressiva; e deriva para longe da embarcação. Em geral, as correntes são mais fortes na superfície e no centro dos rios, sendo mais fracas no fundo e junto às margens. Caso o mergulhador seja apanhado de surpresa por uma corrente, torna-se importante não perder a calma e procurar nadar em direção à margem, buscando um ponto de saída, já que normalmente é quase impossível nadar contra a correnteza. Segundo Oliveira (1999), existem três tipos de correntes: a primeira são correntes de maré, causadas pelo fluxo ou refluxo das marés; a segunda é a corrente de rios ou correntes oceânicas principais; e a terceira são correntes de fundo, normalmente com sentido diverso das de superfície. As correntes dos dois primeiros casos são razoavelmente previsíveis, permitindo algum planejamento, o terceiro caso, no entanto, pode ocorrer a qualquer momento. Dessa forma, existe a necessidade de se realizar um planejamento mais acurado, principalmente nos aspectos de segurança, devendo o mergulhador dispor de equipamentos adequados. Ressalta-se, ainda, que o mergulhador autônomo será muito mais afeado pela correnteza do que o mergulhador que utiliza o equipamento dependente. Outra consideração que deve ser feita, diz respeito à escolha do método de acesso ao local do mergulho. Se a correnteza for mais forte na superfície, pode-se atingir o local de trabalho lançando-se o mergulhador à montante e fazendo com que ele mergulhe lentamente por um cabo de fundo. Seu recolhimento será feito pela equipe de superfície. Quando existe uma corrente forte no local de trabalho, o mergulhador necessitará de auxílio para se movimentar, requerendo cabos de fundo onde for possível instalá-los. O mergulhador deve procurar posicionar-se à jusante, recebendo, dessa forma, alguma proteção contra a corrente, diminuindo seu esforço. 142 Ao mergulhar em locais com forte correnteza, deve-se prestar especial atenção para a fadiga do mergulhador, procurando reduzir o esforço ao estritamente necessário para a realização do trabalho. 3.7.1.1.5 A temperatura A temperatura da água causa diferenças no consumo de ar do mergulhador e na exposição aos gases, pois quanto mais frio, maior será o consumo e maior será a dissolução do gás no corpo do mergulhador. Torna-se importante a utilização de roupas completas que aumentam o conforto em baixo da água e protegem de contato direto com seres e obstáculos. 3.7.1.1.6 A poluição A poluição em rios, lagos e represas é muito mais comum que a poluição no mar, principalmente devido ao menor volume de água. Diversas indústrias despejam produtos químicos diretamente nos rios, além do despejo irregular de esgotos não tratados. Um mergulho em águas contaminadas pode ser bastante perigoso ou até mesmo fatal sem o equipamento adequado. Em tempos de guerra, esse fator de risco torna-se mais grave, pois existe a possibilidade de o inimigo contaminar a água com agentes químicos ou biológicos. Dessa forma, antes de iniciar um mergulho em local desconhecido é importante verificar, junto às autoridades locais, o estado da água e se existem na região, ou rio acima, indústrias químicas ou estações de tratamento de esgotos que possam contaminá-la química ou biologicamente. 3.7.1.1.7 Outras observações As marcações dos profundímetros que trabalham por tubo de Bourdon50 são ajustadas para a pressão e densidade da água salgada a uma pressão de uma atmosfera (nível do mar), se forem usados em água doce vão mostrar uma diferença na profundidade real do mergulho. É possível calcular essa diferença, usando 50 Tipo de manômetro. 143 tabelas de correção de profundidade ou mergulhando com computador de mergulho calibrado para água doce. Também é importante observar que durante a realização do mergulho devese prestar atenção no local e ao seu redor, pois linhas de pesca, tarrafas, redes de pesca e galhos de árvores podem causar algum enrosco. Mergulhar com uma faca e realizar um deslocamento vagaroso ajudam a visualização e a antecipação a algum tipo problema. Deve-se evitar mergulhar próximo às correntes, ou seja, no meio do curso d’água e no lado de fora nas curvas de rio, devendo tais aspectos constar do planejamento do mergulho. Em lagos e represas, antes de entrar na água, deve-se observar o relevo da superfície, pois muitas vezes este é uma boa indicação do tipo de fundo que se irá encontrar. Por exemplo, encostas íngremes geralmente significam lagos com laterais íngremes e vales podem dar uma idéia da profundidade máxima do local. Finalmente, mais do que no mar, deve-se tomar cuidado com o tráfego de barcos, em especial de lanchas rápidas e “jet-skis”, muito comuns em represas. Bóias de sinalização podem ajudar, mas seu significado normalmente não é conhecido no Brasil e é importante que ela não esteja presa ao mergulhador e sim levada por ele, pois a bóia pode ser recolhida como um achado por uma lancha. 3.7.1.2 O mergulho noturno Segundo Freitas (2002, p.42), “as técnicas de mergulho noturno se ressaltam de importância no mergulho operacional. Por isso o equipamento mais importante é a lanterna, dela vai depender o conforto e a segurança do mergulhador. Em geral, vale a regra de que quanto mais se puder iluminar, menores serão as surpresas. Entretanto, para mergulhos em águas turvas ou em que se deseje se aproximar do objetivo mantendo o sigilo, uma lanterna muito forte ou de foco aberto pode denunciar a posição, causando o back-scatter51 ou denunciando a presença cedo demais”. Dessa forma, pode-se afirmar que os cuidados, os equipamentos e o planejamento para mergulho noturno são fundamentais para a segurança do mergulhador. 51 Reflexo na suspensão que impede a visão. 144 O planejamento deve ser cuidadoso, evitando-se que outros fatores, além da escuridão e de uma leve desorientação, causem estresse. Quanto aos equipamentos e procedimentos, torna-se altamente recomendável a utilização de duas lanternas, uma mais forte (principal) e uma menor, para o caso de falha da principal. Além disso, também é possível a utilização de pequenos bastões de luz química, conhecidos como “cyalume”. Eles são normalmente presos aos cilindros para facilitar a localização dos mergulhadores e oferecem uma luz difusa, iluminando suavemente o mergulho. Pequenos flashes à prova d’água, também chamados “strobe light”, podem ser colocados na embarcação para marcar o local de saída ou sinalizar situações de emergência na superfície. Um procedimento a ser adotado com a equipe de mergulho reunida, tendo iniciado a descida, é a utilização da lanterna para uma varredura inicial, mantendo o contato entre os mergulhadores. Como à noite existem menores referências visuais, uma linha de descida ou cabo de âncora, pode ser útil para auxiliar na orientação. Além disso, como a visão periférica é prejudicada pela escuridão, deve-se nadar com cuidado redobrado, evitando choques com outros mergulhadores ou com o fundo. A adaptação da visão à escuridão leva algum tempo. Assim sendo, não se deve iluminar diretamente o rosto de outro mergulhador, pois isso dificultará a adaptação visual ao novo ambiente. Já em águas turvas não se deve apontar a lanterna diretamente à frente, pois os reflexos impedirão a observação, deve-se sim iluminar em diagonal para se obter uma melhor visibilidade. Ao final do mergulho, ao iniciar a emersão, o mergulhador deverá direcionar o facho da lanterna para a superfície, pois além de checar se não existem obstáculos tal fato auxiliará o supervisor de mergulho na localização dos mergulhadores. 3.7.2 Considerações finais A AOC possui uma rica e extensa rede hidrográfica. Somente esse fato já justificaria a necessidade do preparo dos mergulhadores de Engenharia para atuarem em água doce, visando ao cumprimento das missões doutrinarias da Arma. 145 Deve-se observar que as OM de Engenharia de combate, em sua quase totalidade, possuem lagos de pontagem, local propício ao desenvolvimento da atividade subaquática com as características descritas no presente capítulo. Evidencia-se que para as instruções, exercícios e adestramentos são necessários alguns cuidados adicionais a fim de evitar perdas de vidas humanas. Assim sendo, as observações aqui feitas quanto ao mergulho em água doce e ao mergulho noturno devem ser estudas e adaptadas para as situações de emprego em operações reais. 146 4 REFERENCIAL METODOLÓGICO 4.1 OBJETIVOS Nesta etapa serão definidos os objetivos que pautaram o presente trabalho, conforme descritos a seguir. 4.1.1 Geral Determinar se a atual estrutura organizacional e doutrina da Arma de Engenharia, com relação à atividade especial de mergulho, atendem às necessidades dos sistemas operacionais Manobra e Logística. 4.1.2 Específicos Os objetivos específicos a serem alcançados no desenvolvimento da pesquisa são: verificar se atual estrutura organizacional da arma de Engenharia, com relação à atividade de mergulho, atende as necessidades do sistema Engenharia; verificar a atual situação da formação de mergulhadores de Engenharia no EB; verificar a atual situação do material de mergulho nas Unidades de Engenharia do EB; verificar se o material de mergulho de dotação das Unidades de Engenharia do EB é adequado para as operações nas diversas regiões da AOC; verificar quais são as missões possíveis de serem cumpridas pelos mergulhadores de Engenharia; verificar a melhor forma de emprego dos mergulhadores de Engenharia em operações militares; verificar a legislação vigente sobre mergulho; 147 pesquisar sobre a atividade especial de mergulho em Exércitos de Nações Amigas; levantar opiniões de amostra significativa de OM e Oficiais de Engenharia especialistas em mergulhado sobre o tema em questão; propor mudanças na formação dos mergulhadores de Engenharia; propor a aquisição de novos materiais de mergulho; propor uma reformulação na estrutura organizacional do mergulho de Engenharia; propor aspectos doutrinários de emprego de mergulhadores de Engenharia; propor mudanças na legislação vigente sobre mergulho; e possibilitar que outros estabelecimentos de Ensino (EE) do EB se beneficiem deste trabalho. 4.2 HIPÓTESES É conveniente reformular a formação de mergulhadores e a estrutura organizacional de mergulho na Arma de Engenharia. Existe a necessidade da formulação de uma doutrina de emprego para a atividade especial de mergulho na Engenharia. 4.3 VARIÁVEIS Considerando o título “Sistema Engenharia: uma proposta para a atividade especial de mergulho”, de acordo com as hipóteses apresentadas no item anterior, a pesquisa a ser formulada terá as seguintes variáveis: variável I - reformulação da estrutura de mergulho da Engenharia; variável II - concepção de uma doutrina de emprego para os mergulhadores de Engenharia. 148 4.4 METODOLOGIA Apresenta-se, inicialmente, a caracterização do estudo, o tipo de pesquisa, o método, a população, as técnicas de coleta e de tratamento de dados utilizadas na pésquisa, onde se evidenciam a entrevista, a análise documental e o questionário. 4.4.1 Tipo de pesquisa O tipo de pesquisa que serviu de base para esse estudo foi a pesquisa qualitativa. Segundo Godoy (1995), esse tipo de pesquisa caracteriza-se por apresentar como fonte direta de dados o ambiente natural e o pesquisador como instrumento fundamental. Outra característica desse tipo de pesquisa é o fato de a mesma ser descritiva. 4.4.2 Método O método utilizado foi o comparativo, levando em conta o que existe nos Exércitos Brasileiro, Argentino e Estadunidense, além da Marinha do Brasil. 4.4.3 A população As pesquisas de levantamentos caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões correspondentes aos dados coletados (GIL, 1994). Dessa forma, a população do estudo é constituída por Oficiais de Engenharia, possuidores de curso de mergulho autônomo, bem como as Unidades e Subunidades de Engenharia de Combate do Exército Brasileiro. 4.4.4 Técnicas de coleta de dados As técnicas de coletas de dados utilizadas foram a entrevista semiestruturada, a análise documental e o questionário. 149 A entrevista, segundo Selltiz et al (1987, p. 273), é bastante adequada para a obtenção de informações sobre o que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem, fazer, fazem ou fizeram, bem como sobre as suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes. Segundo Gil (1994), a análise documental consiste em uma série de operações que visa a estudar e a analisar um ou vários documentos. Ela proporciona ao pesquisador dados suficientemente ricos para evitar a perda de tempo com levantamento de campo a partir da análise dos seguintes documentos: arquivos históricos, registros estatísticos, diários, atas, biografias, jornais, revistas, entre outros disponíveis nas organizações educacionais. Assim, a análise documental, tanto favoreceu o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica quanto a de campo. Dessa forma, este estudo foi desenvolvido com base em pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Primeiro foi realizado um estudo descritivo, baseado no que já se tem realizado nas missões do sistema Engenharia em apoio às operações, utilizando-se da atividade especial de mergulho. Para a coleta de material foram realizadas consultas às bibliotecas da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais; Escola de Guerra Naval e do CIAMA; assim como noticiários de jornais e revistas; dados, relatórios e manuais do Exército Brasileiro e a rede mundial de computadores (internet). Após essas buscas de bibliografias e documentos pertinentes, foi possível obter dados suficientemente ricos à pesquisa, sendo necessário observar se os dados e informações coletadas representavam, realmente, a realidade, extraindo assim o que se relacionava com a pesquisa em questão. No que concerne às técnicas de coletas de dados, foi realizado um levantamento de informações, por intermédio de questionários, formulários e entrevistas direcionadas a profissionais que possuam notório conhecimento em mergulho de Engenharia, assim como o envio de consultas e questionários às Organizações Militares de Engenharia e ao Centro de Instrução Almirante Átila Monteiro Aché, da Marinha do Brasil. Por fim, para análise dos dados foram utilizadas planilhas do programa Excel do Microsoft Office, versões 2003 e 2007. Desta forma, o trabalho teve prosseguimento com a elaboração do texto, gráficos e ilustrações, nos quais constam as questões encaradas como objeto de estudo, enfatizando a doutrina de 150 emprego para a atividade especial de mergulho na realização de trabalhos técnicos do Sistema Engenharia, bem como as conclusões pertinentes a este assunto. 151 5 RESULTADOS 5.1 A ATIVIDADE ESPECIAL DE MERGULHO NAS ORGANIZAÇÕES MILITARES DE ENGENHARIA DE COMBATE 5.1.1 Generalidades Antecedendo à abordagem da situação atual da atividade especial de mergulho nas diversas Organizações Militares (OM) de Engenharia de Combate, e para entender como o Exército Brasileiro define essa atividade, faz-se necessário o conhecimento de alguns conceitos fundamentais contidos no Plano de Provas e de Exercícios para a Atividade Especial de Mergulho, cumprindo missão militar, no âmbito do Comando do Exército (PORTARIA Nr 236, DE 06 DE MAIO DE 2003, PUBLICADA NO BOLETIM DO EXÉRCITO Nr 19, DE 09 DE MAIO DE 2003 – Anexo A). A citada Portaria define a atividade especial de mergulho como aquela desempenhada por militar do Exército, ocupando cargo de mergulhador previsto em Quadro de Cargos Previstos (QCP) e qualificado para tal, envolvendo missões militares, realizadas com aparelho de mergulho, que atendam às operações de busca e salvamento, às operações especiais, aos reconhecimentos e destruições subaquáticas e, ainda, ao adestramento e às instruções de mergulho [grifo do autor]. Já Organização Militar Específica de Mergulho (OMEM) é a OM que possui cargo de mergulhador previsto em QCP e material para a atividade de mergulho previsto no Quadro de Dotação de Material (QDM). 5.1.2 Questionários aplicados nas OM de Engenharia de Combate Para verificar dados recentes relativos à situação da atividade especial de mergulho nas OM de Engenharia de Combate, foi elaborado e distribuído um questionário a 19 OM (Apêndice A). Destas, apenas 16 responderam à pesquisa, 152 sendo que uma OM o fez parcialmente52. Assim sendo, verifica-se que 84,21% das OM responderam ao questionário enviado. Um teste do questionário foi realizado com dois Oficiais de Engenharia, para verificar a pertinência e a clareza das perguntas, o que resultou em correções e a inserção de novas perguntas. A pesquisa realizada possui pontos em comum com as pesquisas realizadas por Paiva (1997), Oliveira (1999) e Linhares (2003). Dessa forma, os dados que forem pertinentes serão analisados comparativamente. O número de OM pesquisadas por cada Oficial encontra-se especificada abaixo no Quadro 3. PESQUISADOR ANO Nr DE OM PESQUISADAS Paiva 1997 18 (dezoito) Oliveira 1999 21(vinte e uma) Linhares 2003 21(vinte e uma) Carli 2006 16 (dezesseis) Quadro 3 - Número de OM pesquisadas. Fonte: Paiva (1997), Oliveira (1999), Linhares (2003) e o autor. Para a tabulação dos dados foi utilizada a planilha eletrônica Microsoft Excel, versões 2003 e 2007, e as percentagens obtidas foram aproximadas, segundo o critério matemático, até a segunda casa decimal. A seguir, serão exploradas as respostas obtidas nos questionários distribuídos às OM de Engenharia de Combate, destacando-se as perguntas realizadas em itálico. 52 A 3a Cia E Cmb Mec respondeu até o item 10 do questionário, letra “i” da discussão, o que prejudicou a pesquisa nos itens subseqüentes, principalmente o referente à estrutura organizacional da Cia E Cmb. 153 5.1.2.1 Discussão O primeiro questionamento merece ser precedido por um esclarecimento. O Conceito de OMEM já estava expresso na Portaria Ministerial Nr 133, de 12 de março de 1996, que aprovava as normas para percepção, incorporação, atualização e suspensão da gratificação de compensação orgânica para a atividade especial de mergulho, a qual foi revogada pela Portaria Nr 236/Comando do Exército, de 06 de maio de 2003. Tal conceito não sofreu alteração com a aprovação da nova Portaria. Desta forma, o primeiro questionamento foi o seguinte: a. Com referência ao Nr IV do Art 3o da Portaria Nr 236/Comando do Exército, de 06 de maio de 2003, a Unidade se enquadra como OMEM? Caso afirmativo, complete as solicitações que se seguem (QCP e QDM - extrato). Segundo Paiva (1997), apenas quatro OM enquadravam-se com OMEM; tal fato se repetiu com Oliveira em 1999. Já na pesquisa de Linhares (2003), esse número cresceu para 06 (seis) OM. Na pesquisa atual, doze OM enquadraram-se como OMEM. Dessa forma, pode-se inferir que, a partir do início do século XXI, houve um incremento da atividade de mergulho nas OM de Engenharia de Combate, fruto de um maior conhecimento da legislação, o que possibilitou às OM atenderem àquilo que está prescrito na Portaria em tela (figura 46). Outro aspecto merecedor de destaque é que na maioria das OM, excetuando-se o 3o BEC, não existem vagas em QCP que permitam constituir uma equipe mínima de mergulho, quanto menos uma equipe constituída dentro de uma das frações da OM, o que prejudica o desenvolvimento dessa atividade. Além disso, em todas as OM as vagas que exigem a habilitação de mergulhador são referentes a Oficiais ou Sargentos. 154 Figura 46 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “a”. Fonte: Paiva (1997), Oliveira (1999), Linhares (2003) e o autor. b. A Unidade possui material para a atividade de mergulho? Na pesquisa realizada por Paiva (1997), apenas uma OM não possuía material de mergulho. Em 1999, Oliveira constatou que sete OM não possuíam tal material. Na atual pesquisa, das OM consultadas, 100% possuem material de mergulho – mesmo que extra-QDM (figura 47). Houve uma evolução significativa, porém alguns problemas que foram constatados por Oliveira permanecem válidos, tais como: - algumas OM carecem de determinados equipamentos; - há diferenças significativas de determinados itens em OM do mesmo tipo; - há diferenças qualitativas de material; - inexistência de compressores de alta pressão, o que inviabiliza o emprego do material autônomo, pois não há como carregar os cilindros de ar comprimido; - inexistência de compressor tipo narguilê, um equipamento de grande utilidade em trabalhos que exigem pouca mobilidade; - inexistência de bóias de fundeio e de superfície, equipamentos fundamentais para a segurança do mergulhador; - falta de conjunto de ferramentas para a manutenção do equipamento, o que dificulta a manutenção do material e pode diminuir sua vida útil. 155 Figura 47 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “b”. Fonte: Paiva (1997), Oliveira (1999) e o autor. c. O Sr considera que o material de mergulho de dotação da OM é adequado para a área de operações prioritária da(o) GU/G Cmdo apoiada(o)? Das dezesseis OM consultadas, doze consideraram que o seu material é adequado. Porém, as OM que responderam negativamente, o fizeram em função da obsolescência ou falta de determinado material e não em relação ao ambiente operacional em que atuam, prejudicando a avaliação desse questionamento (figura 48). Figura 48 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “c”. Fonte: o autor. 156 d. A Unidade emprega o material de mergulho em instrução/adestramento? Com que freqüência? Figura 49 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “d”. Fonte: Paiva (1997), Oliveira (1999) e o autor. Da análise da figura 49, pode-se inferir que houve um aumento das atividades de mergulho nas OM de Engenharia de Combate. Observa-se, também, que na pesquisa realizada em 2006, o número de OM que cumprem o prescrito na Portaria Nr 236 (emprego quadrimestral, no mínimo) chega a um total de 50% das OM pesquisadas, o que propicia uma maior segurança institucional e melhor adestramento aos mergulhadores de Engenharia dessas OM. e. A OM ministra instrução de mergulho para cabos (Cb) e soldados (Sd)? Tal questionamento foi respondido afirmativamente por apenas duas SU, ou seja, 12,5% do universo consultado. Tal fato, todavia, não se encontra normatizado adequadamente, já que a Portaria Nr 236 somente reconhece como mergulhadores os militares formados na Marinha do Brasil e nos diversos CBM (figura 50). 157 Figura 50 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “e”. Fonte: o autor. f. Citar a quantidade do pessoal que ministra instrução de mergulho e/ou exerce essa atividade na OM. Para esse questionamento, também é válido o que já foi aclarado para o primeiro quesito, pois a nova Portaria não alterou a relação das organizações que podem formar mergulhadores. Apresenta-se, a seguir, um gráfico comparativo, com os resultados obtidos pelos três pesquisadores em 1997, 1999 e 2006. Observa-se um decréscimo no número de mergulhadores que possuem outras formações (AMAN, EsSA, civil) não amparadas pela Portaria que regula a atividade em comparação com os formados na Marinha do Brasil e Corpo de Bombeiros Militar, habilitações consideradas válidas pela referida Portaria. Esse fato indica que as OM estão mais atentas ao que prescreve a legislação, dando respaldo legal para as operações de mergulho que executam e resguardando legalmente o mergulhador em atividade (figura 51). 158 Figura 51 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “f”. Fonte: Paiva (1997), Oliveira (1999) e o autor. g. Dos militares acima, quantos possuem o Curso de Demolições Subaquáticas? De acordo com a pesquisa, quatro OM possuem pessoal habilitado e doze não possuem. Dessa forma, pode-se inferir, de forma parcial, que a grande maioria das OM de Engenharia de Combate não está em condições de cumprir essa tarefa, que lhe é atribuída pelos manuais doutrinários (figura 52). Figura 52 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “g”. Fonte: o autor. 159 h. A OM possui alguma doutrina, Plano de Provas ou Normas Gerais de Ação (NGA) para o emprego de mergulhadores ou de seu material de mergulho? Em 1997, segundo Paiva, inexistiam NGA para a atividade em todas as OM. O mesmo fato foi constatado por Oliveira em 1999. Já em 2006, houve uma mudança nessa situação nas OM consultadas, conforme a figura 53. Figura 53 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “h”. Fonte: Paiva (1997), Oliveira (1999) e o autor. Essa situação ainda não é a ideal, visto que, doutrinariamente, todas as OM de Engenharia de Combate devem estar aptas a realizarem trabalhos técnicos de Engenharia, dentre outras missões, valendo-se da atividade especial de mergulho. i. A OM já realizou alguma missão com emprego de mergulhadores? Tais resultados ilustram como a atividade de mergulho ganhou importância na atualidade, porém o resultado ideal seria próximo a totalidade, visto a obrigação doutrinária da Arma de Engenharia em cumprir tarefas subaquáticas (figura 54). 160 Figura 54 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “i”. Fonte: o autor. j. Como o Sr enquadraria essas missões? As OM que já cumpriram alguma missão com o emprego de mergulhadores classificaram essas tarefas conforme demonstrado no Quadro 3, representado abaixo: OM Emprego em 2o BEC Reconhecimento 3o BEC Resgate de material, demolição subaquática e reconhecimento 7o BEC Reconhecimento e resgate de material 9o BEC Busca de afogado e resgate de material 12o BEC Busca de afogado e resgate de material 4a Cia E Cmb Mec Resgate de material 10a Cia E Cmb Resgate de material e exercício de infiltração. 1a Cia E Cmb Pqdt Exercício Quadro 4 - Classificação das missões empregando mergulhador. Fonte: o autor. 161 As tarefas anteriormente descritas totalizam quatorze tipos de missões cumpridas. Verificam-se as percentagens conforme a figura 55. Figura 55 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “j”. Fonte: o autor. Dessa forma, verifica-se que o esforço principal das OM, no que se refere ao mergulho, está em utilizar essa ferramenta como uma maneira de recuperar seu material carga e realizar a busca de afogados. l. Foi sentida a necessidade de algum equipamento para o cumprimento da missão? Caso positivo, quais? Das oito OM que cumpriram missão de mergulho, cinco sentiram a necessidade de algum complemento em seu material de dotação. Tal fato sugere a necessidade de se complementar o material de mergulho das OM, a fim de que elas possam bem cumprir seu rol de atribuições (figura 56). 162 Figura 56 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “l”. Fonte: o autor. m. Em alguma ocasião a OM teve material extraviado em Op ou instrução por ter caído em rio, mar ou lago? Esse foi outro questionamento realizado tanto em 1999 quanto em 2006. Em 1999, das OM consultadas, cinco haviam perdido material dessa forma. Já em 2006, esse número aumentou para doze dentre quinze OM que responderam ao quesito. Ao autor parece ter havido um pouco mais de precisão nas respostas do questionário de 2006, pois a perda de material em rios não é um fato corriqueiro, mas acontece com certa freqüência em um Exército de conscrição, não caracterizando um relaxamento nas atividades desenvolvidas pelas OM para evitar esse tipo de ocorrência, a qual pode ensejar a utilização de mergulhadores (figura 57). 163 Figura 57 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “m”. Fonte: Oliveira (1999) e o autor. Em 50% das OM que afirmaram ter perdido material em instrução ou operação foram utilizados mergulhadores para efetivar a recuperação do material, sendo o índice de recuperação igual a 100%. Tal fato atesta a efetividade do emprego dos mergulhadores nesse tipo de tarefa. n. Em alguma ocasião a OM perdeu algum militar afogado (acidente de serviço) Sv ou fora de Sv)? Caso positivo, foi procedida a busca para a recuperação do afogado com o emprego de mergulhadores? De 15 OM consultadas, somente 33,33% das OM responderam afirmativamente a esse quesito, sendo que, desse percentual, apenas 20% não empregaram mergulhadores no resgate do corpo do militar afogado. A corporação da qual fazem parte os mergulhadores que realizaram a tarefa do questionamento estão explicitadas no gráfico a seguir (figura 58). 164 Figura 58 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “n”. Fonte: o autor. Essa foi uma situação que evoluiu desde 1999, quando quatro OM haviam perdido militares afogados e em apenas um caso foram empregados mergulhadores próprios na recuperação do militar afogado, porém ainda há uma predominância na utilização de mergulhadores do CBM. o. Já ocorreu algum acidente de militar da OM em atividade de mergulho? Em 100% das OM que atenderam ao solicitado a resposta foi negativa. Tal fato demonstra que existe uma grande preocupação com as medidas de segurança e que tais medidas tem sido eficientes até o presente momento. p. Existe algum médico na Guarnição com conhecimento de medicina hiperbárica? Caso positivo, existe algum planejamento (Plj) de emprego desse profissional em caso de atendimento a mergulhador acidentado? Qual seria o procedimento adotado? A medicina hiperbárica é uma especialização necessária para o tratamento dos acidentes de mergulho. Da mesma maneira que 1999, esse fato ocorre em apenas uma OM das quinze que responderam ao solicitado (figura 59). 165 Figura 59 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “p”. Fonte: Oliveira (1999) e o autor. Já quanto ao procedimento para acionar um médico especialista em medicina hiperbárica, apenas duas OM possuem uma NGA para tal situação. Podese inferir, de maneira parcial, que os mergulhadores das OM aonde não existem profissionais habilitados nessa especialidade médica estão correndo um risco desnecessário, o que em breve poderá ocasionar uma fatalidade por falta de tratamento adequado se essa situação persistir. q. Pergunta formulada para OM valor Btl: Doutrinariamente, de acordo com o C 5-7, ed. 2001, o BEC pode “... construir, lançar e remover Obt, inclusive subaquáticos;... executar trabalhos de destruição, inclusive subaquáticos...”. Na opinião da OM, qual seria a melhor estrutura de mergulho para o BEC DE/Bda Bld cumprir essa missão? De acordo com o questionado, duas das OM sugeriram a criação de um grupo de mergulho, orgânico do Pel Eq L/Cia E Pnt, e cinco OM deram preferência por possuir militares habilitados em mergulho nos Pel E Cmb/Cia E Cmb, com o material concentrado no Pel Eq Ass/Cia E Pnt (figura 60). 166 Figura 60 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “q”. Fonte: o autor. Tais respostas mostram que a maioria das Unidades de Engenharia de Combate visualizam o emprego dos especialistas em mergulho de suas frações de emprego junto às outras Armas em operações. r. Pergunta formulada para OM valor companhia: De acordo com o C 5-10, ed. 2000, a Cia E Cmb pode “.... lançar e remover Obt, inclusive subaquáticos”. Coerentemente com a especificidade da OM (L, Pqdt, Mtz ou Mec), qual seria a melhor estrutura de mergulho para Cia E Cmb/ Bda cumprir essa missão? Os resultados com oito OM consultadas estão representados a seguir, no quadro 3 e figura 61: 167 Tipo de OM % Modificação 20 Manter a estrutura atual, com o Gp E Cmb/ Pel E Ap realizando as atividades de mergulho. 20 Mat de mergulho no Pel Eq Ass e a Tu de mergulho nomeada em BI. 60 Criação de um Gp de mergulho, orgânico do Pel Eq Ass. Cia E Cmb Pqdt 100 Criação de um Gp de mergulho, orgânico do Pel E Ap. Cia E Cmb L 100 Criação de um Gp de mergulho, orgânico do Pel C Ap. Cia E Cmb Mtz e Cia E Cmb Mec Quadro 5 - Modificações na estrutura organizacional das OM valor companhia. Fonte: o autor. Dessa forma, evidencia-se que os comandantes de SU preferem manter os mergulhadores centralizados, com a criação do grupo de mergulho. Cabe ressaltar que foram sugeridas as seguintes modificações, a saber: criação, a exemplo da Cia E Cmb Sl, de uma Tu Merg, orgânica do Pel E Ap/ Pel C Ap; existência de militares habilitados em mergulho nos Pel E Cmb e material concentrado no Pel Eq Ass ou correspondente (figura 61). Figura 61 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “r”. Fonte: o autor. 168 s. O Sr considera que a sua OM está apta a cumprir as missões citadas nos manuais C 5-7/C 5-10 (citadas nos itens “q” e “r”) no que se refere à atividade especial de mergulho? Figura 62 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “s”. Fonte: o autor. Estes são números que espelham a realidade da Arma de Engenharia quanto ao mergulho em quinze OM. Menos da metade das OM consideram-se aptas a cumprir suas missões doutrinarias, o que em caso de conflito ou operação real poderá causar sérios prejuízos às manobras concebidas . t. A OM considera necessário o aperfeiçoamento da Portaria Nr 236/Comando do Exército, de 06 de maio de 2003, para a realização da Atv Esp de Mergulho? Tal resultado, obtido sobre as respostas de quinze OM, ilustram que ainda há espaço para a introdução de aperfeiçoamentos na Portaria que regula a atividade de mergulho, objeto de estudo do presente trabalho (figura 63). Das OM que sugeriram aperfeiçoamentos, podem-se destacar idéias como: possibilitar o adestramento de todos os mergulhadores da OMEM e; permitir o adestramento de mergulhadores que não estejam servindo em OMEM. 169 Figura 63 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “t”. Fonte: o autor. 5.2 QUESTIONÁRIOS APLICADOS NOS OFICIAIS MERGULHADORES DE ENGENHARIA 5.2.1 Generalidades O trabalho de campo com os Oficiais mergulhadores de Engenharia foi centrado em questionários, por escrito e enviados via correio eletrônico. O públicoalvo foi composto apenas de Oficiais de Engenharia, nos postos de Coronel até 1o Tenente, possuidores de curso ou estágio de mergulho cadastrado no Departamento Geral do Pessoal (DGP) (quadro 4), além de dois oficiais que, apesar de não serem possuidores desses cursos, possuem habilitação por certificadoras civis e foram instrutores do assunto mergulho na AMAN e no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo (CPOR/SP). A opinião desses Oficiais foi considerada fundamental, pois o objeto deste trabalho é justamente conceber propostas para o Mergulho de Engenharia. Em relação ao questionário (Apêndice B), inicialmente, o mesmo foi enviado para o maior número possível de Oficiais de Engenharia com os cursos e estágios acima mencionados, além dos dois ex-instrutores de Estabelecimentos de Ensino (EE). 170 CÓDIGO DESCRIÇÃO 348 Expedito de Mergulhador Autônomo (Marinha do Brasil) 33-Y Curso de Mergulhador Autônomo Raso Profissional R4-H Estágio de Mergulhador Autônomo R-72 Estágio de Equipamento de Mergulho S-14 Estágio Expedito Modular de Complementação para Mergulhador – demolição submarina e superfície (Marinha do Brasil)53 S-23 Estágio Básico de Mergulhador Autônomo V-17 Estágio de Mergulho Quadro 6 - Códigos dos cursos/estágios de mergulho cadastrados no DGP em 2006. Fonte: www.dgp.eb.mil.br . Acesso em 07 set. 2006. Ao fazer o estudo dos militares possuidores dos referidos cursos, o autor concluiu que setenta e um Oficiais estavam cadastrados, incluído-se os Oficiais da ECEME e o próprio autor. Porém, 06 não possuíam endereço eletrônico cadastrado, vinte e cinco estavam com o endereço desatualizado, pois as mensagens de contato inicial retornaram para o autor, e um era o próprio autor. Dessa forma, o universo selecionado restringiu-se a trinta e nove militares. Das pesquisas enviadas por e-mail, somente vinte e três foram respondidas. O autor fez, ainda, o envio do questionário para seis Oficiais que serviam ou cursavam a ECEME em 2006, sendo que todos responderam. Portanto, vinte e nove Oficiais responderam ao que foi solicitado, correspondendo a 74,36 % do universo selecionado. Um teste do questionário foi realizado com dois Oficiais de Engenharia, para verificar a pertinência e a clareza das perguntas, o que resultou em correções e a inserção de novas perguntas. Observa-se ainda, que para a tabulação dos dados foi utilizada a planilha eletrônica Microsoft Excel, versões 2003 e 2007. O questionário foi dividido em três partes, a saber: emprego de mergulhadores; formação de mergulhadores; e legislação, doutrina e material de mergulho, as quais serão identificadas quando da discussão dos questionamentos. 53 Para o Oficial realizar esse estágio é pré-requisito possuir o curso expedito de mergulhador autônomo ou curso de mergulho reconhecido pela Marinha do Brasil 171 Convém esclarecer que o questionário foi preparado e distribuído antes da apresentação da banca, que aprovou o prosseguimento desta pesquisa. Portanto, alguns questionamentos referem-se ao Sistema Mobilidade, Contramobilidade e Proteção, e não ao Sistema Engenharia, fruto da alteração realizada naquela oportunidade. A seguir, serão exploradas as respostas obtidas nos questionários distribuídos aos Oficiais de Engenharia com os cursos e estágios mencionados no Quadro 6 (demonstrado anteriormente), destacando-se as perguntas realizadas em itálico. 5.2.2 Quanto ao emprego de mergulhadores 5.2.2.1 Discussão a. O Sr considera válido o apoio à mobilidade, à contramobilidade e à proteção (MCP) das tropas em campanha, valendo-se, para a realização de trabalhos técnicos de Eng e Atv Log, da atividade especial de mergulho? O autor considera esta resposta fundamental para o trabalho. Nota-se, pelas respostas registradas, que houve uma unanimidade entre os entrevistados no que se refere à realização de trabalhos técnicos de Engenharia e atividades logísticas valendo-se da atividade especial de mergulho (figura 64). Figura 64 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “a”. Fonte: o autor. 172 b. Pode-se afirmar, hoje, que o sistema operacional MCP está em condições de prestar apoio às operações militares, utilizando-se da atividade especial de mergulho, da forma mais adequada? Outra resposta importantíssima, pois indica que a maioria dos entrevistados não está satisfeita com a situação da atividade especial de mergulho dentro do Sistema MCP, principal campo de atuação do Sistema Engenharia (figura 65). Daniel54, afirma que existem OM, como o 3º BEC e o BEsEng, que receberam material de mergulho autônomo recentemente e que essas OM, mesmo que mobiliadas com pessoal habilitado, possuem modestas condições de apoiar às Operações, pois limitam-se às atividades braçais dentro da capacidade individual de cada mergulhador. Afirma ainda que isentos de materiais específicos para emprego submerso, não há como ser eficiente. [grifo do autor]. Já para Marcos Paulo55, em concordância com o que já foi afirmado, apesar de o sistema possuir meios e pessoal de mergulho, não existe delineação das verdadeiras missões atribuíveis a esse pessoal, nem adequado treinamento e adestramento para o cumprimento de tais missões. Figura 65 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “b”. Fonte: o autor. 54 Daniel Gonçalves, Capitão de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB. Marcos Paulo Cavaliere de Medeiros, Capitão de Engenharia, 1o colocado de sua turma, mergulhador formado pelo Corpo de Bombeiros de Pernambuco em 2001. 55 173 c. O Sr considera importante a formulação de uma doutrina específica de emprego para os mergulhadores de Engenharia? A grande maioria dos entrevistados é francamente favorável ao desenvolvimento de uma doutrina específica de emprego para os mergulhadores de Engenharia, o que vai ao encontro do que o autor se propôs com o presente trabalho (figura 66). Para Marcos Paulo, não é apenas importante o desenvolvimento de uma doutrina específica de emprego, mas imprescindível para se começar a pensar em qualquer atividade de mergulho com fins militares, e não meramente recreativas “pintadas de verde”. O entrevistado afirma, ainda, que infelizmente a doutrina de emprego lhe parece não estar ainda consolidada e que a atividade de mergulho vem subsistindo muito mais pelo entusiasmo e vontade dos praticantes do mergulho autônomo do que por doutrinas previstas em manuais, programas-padrão de instrução ou diretrizes do COTER. Figura 66 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “c”. Fonte: o autor. d. A atual estrutura organizacional da Arma de Eng, com relação à atividade especial de mergulho, atende as necessidades do sistema operacional MCP? 174 Outra resposta importante para o prosseguimento do trabalho, visto que a reformulação da estrutura organizacional faz parte dos objetivos do autor. Dentre as diversas modificações sugeridas, tendo em vista que a grande maioria dos entrevistados discordaram do questionamento (figura 67). Figura 67 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “d”. Fonte: o autor. Para O’ de Almeida56, as OM devem ter uma equipe de mergulho constituída. Na prática, os militares não constituem uma fração, pois os habilitados estão espalhados pelas diversas seções da OM e reúnem-se apenas para cumprir as missões, afirmando ainda que não conhece OM que tenha constituído tal fração. Robert57 sugere o aumento de claros de mergulhadores nas OM localizadas nas regiões onde a maioria das operações desenvolve-se em ambientes aquáticos, como por exemplo, na Amazônia e no Pantanal. Paralelamente, deveria ser modificada a forma de emprego dos mergulhadores nas operações em apoio às armas-base. O entrevistado afirma que devemos nos preocupar em atuar em combate, ao lado das armas-base, nos adestrarmos para esse fim. Imaginando, por exemplo, que poderia haver um grande número de mergulhadores apoiando as armas-base em missões de reconhecimento antes e durante uma operação ribeirinha. Afirma, ainda, 56 Jorge Luiz Abreu do O’de Almeida Filho, Major de Engenharia, ex-comandante da Cia C/1o Gpt E - João Pessoa/PB, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, possuidor do estágio de Demolições Submarinas, exinstrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN e co-autor da proposta feita por aquele Curso, em 2002, para a formação de mergulhadores naquele EE. 57 Robert Maciel de Sousa, Capitão de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, possuidor do estágio de Demolições Submarinas, ex-instrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN, atual comandante da 4a Cia E Cmb Mec – Jardim/MS. 175 que hoje a estrutura da Engenharia é pequena demais e só permite realizar o apoio em proveito da própria Arma, em pequenas operações de resgate de materiais. Mensurar um efetivo para realizar o apoio às armas-base nas operações em ambiente aquático é hoje algo muito difícil de fazer [grifo do autor], devido à falta de experiência, tanto dos mergulhadores, quanto das armas-base. Para Pedroza58, deveriam se criados grupos de mergulho para a realização de reconhecimentos especializados e trabalhos de destruição nos Batalhões de Engenharia de Construção (BE Cnst), além de sugerir que existam grupos de mergulho nas futuras OM de Engenharia de selva, com atribuições específicas para apoiar as operações na selva. e. O Sr crê ser factível ceder um Pel/Gp/Tu Merg em apoio à arma-base? Caso positivo, qual seria a forma de apoio / situação de Cmdo mais adequada? Entre os entrevistados, não há consenso de sobre a forma de apoio ou situação de comando em que a Engenharia deva empregar seus mergulhadores, porém a maioria dos Oficiais optou pela alternativa mais peculiar à Arma, centralizando os meios, tanto em pessoal como em material, elegendo a resposta referente ao apoio ao conjunto (figuras 68 e 69). Figura 68 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “e”. Fonte: o autor. 58 Mário Pedroza da Silveira Pinheiro, Tenente-Coronel de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, possuidor do estágio de Demolições Submarinas, atual comandante do 7o BE Cnst – Rio Branco/AC. 176 Figura 69 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “e”. Fonte: o autor. Marcos Paulo afirma que diante dessa questão vale a pena ressaltar que as armas-base conhecem pouco a respeito das possibilidades dos elementos de mergulho, o que é motivado, principalmente, pela falta de uma delimitação clara a respeito das missões típicas de mergulho. Já para Daniel, o ideal é o apoio ao conjunto sempre que possível, mas conforme o caso pode-se destacar um efetivo para cumprir missões específicas. Quando não se tratar de apoio ao conjunto, deve-se manter o apoio direto pela questão de suprimento de meios específicos à missão (grifo nosso), o que, via de regra, as armas-base não tem como suprir, por não fazer parte de suas cadeias logísticas o material de reposição de mergulho. 5.2.3 Quanto à formação de mergulhadores 5.2.3.1 Discussão a. Qual seria a formação mais adequada para os mergulhadores (Of e Sgt) de Eng? Esse é outro questionamento de suma importância para a pesquisa, visto que esse é um dos objetivos da mesma. Porém, os resultados apontaram para divergências sobre o tema proposto (figura 70). 177 Figura 70 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “a”. Fonte: o autor. O Cel Da Cás59, sugeriu formar na AMAN e EsSA, em um estágio ou curso básico de mergulho com acréscimo de tempo na formação do militar da Arma, o qual teria um custo-benefício compensador (abrangência e baixo custo), mas não descarta a idéia de que em alguns Comandos Militares de Área possuam OM com essa finalidade. Por exemplo, no Comando Militar do Sul seria no 3o BEC – Cachoeira do Sul/RS, por ser uma OM melhor equipada para a atividade. Já na EsIE, atualmente, considera inadequado, pela falta de estrutura daquele EE, porém afirma que seria bom manter a possibilidade de alguns militares realizarem cursos na Marinha ou nos CBM, para atualização de conhecimentos e intercâmbio. Também pondera que nos BEC escolhidos poderiam ser realizados alguns cursos avançados, como destruições subaquáticas, manutenção do equipamento de mergulho, etc. Em contraponto, o Cel Barroso Magno60 entende que é um desperdício de recursos a criação de um curso de mergulho no EB, afirmando que a formação deveria ser totalmente no CIAMA, inclusive para os Cb/Sd, podendo-se realizar alguns estágios no CBM, bem como no CIOEsp/Bda Op Esp, que possui excelentes instrutores e instalações. 59 Carlos Alberto da Cás, Coronel de Engenharia, mergulhador formado no CBM/RJ, ex-instrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN, pioneiro dessa atividade naquele EE, ex-comandante do 6o BEC – São Gabriel/RS. 60 Aristomendes Rosa Barroso Magno, Coronel de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, exinstrutor de mergulho do Grupo de Mergulho Autônomo da AMAN, pioneiro dessa atividade naquele EE. 178 Da mesma forma, ponderou o Ten Ângelo61, afirmando que a estrutura para a criação de um novo curso dentro do EB seria extremamente onerosa e desnecessária, uma vez que ela já existe pronta e com experiência de muitos anos na Marinha, bem como que a utilização apenas do Curso da Marinha poderia nivelar conhecimentos e padronizar a formação. Já os cursos dos CBM seriam utilizados para complementar a formação e trazer novos conhecimentos aos mergulhadores. Esses últimos pontos de vista não estão de acordo com o que a maioria dos entrevistados respondeu, pois como sugeriu Linhares62, deve existir um curso de formação de mergulhadores no EB, pois só assim a atividade de mergulho tornar-seá viável, porém são argumentos válidos e que devem ser tomados em consideração quando da proposta para a formação de mergulhadores de Engenharia. b. Como seriam formados os Cb e Sd mergulhadores necessários à atividade? Da mesma forma que o questionamento anterior, essa pergunta refere-se a um dos objetivos da presente pesquisa, Porém, os resultados apontaram para divergências sobre o tema proposto. Destaca-se que, para os cabos e soldados, a idéia da grande maioria dos entrevistados está em uma solução caseira, ou seja, formar no EB seja na OM, em curso ou em estágio militar de área (figura 71). Figura 71 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “b”. Fonte: o autor. 61 Ângelo Maury Pereira, 1o Tenente de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, instrutor de mergulho do Grupo de Mergulho Autônomo da AMAN. 62 Marcello Venicius Mota Linhares, Capitão de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, possuidor do estágio de Demolições Submarinas, ex-instrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN, e autor da dissertação de mestrado intitulada Apoio de Engenharia às Operações de Combate: O treinamento dos grupos de mergulho das OM de Engenharia visando as operações de combate. 179 c. Quais habilitações o mergulhador militar de Eng deveria possuir? Para essa pergunta foram sugeridas as seguintes habilitações: explosivos e destruições subaquáticas; resgate de materiais; desminagem e minagem subaquáticas; busca e salvamento de pessoal; fotografia e filmagem subaquática (para reconhecimento de Engenharia); inspeção e reparo de estruturas; corte e solda subaquática; lançamento de obstáculos subaquáticos; técnicas de infiltração e exfiltração; e outras, que o entrevistado deveria especificar. As respostas desse questionamento serviram de base para o autor poder estabelecer as missões dos mergulhadores de Engenharia, bem como a definição de um currículo para um futuro curso ou estágio de mergulho do EB (figura 72). Figura 72 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “c”. Fonte: o autor. Cabe ressaltar que Pedroza sugeriu que fossem apoiadas as atividades de construção de pontes, bem como segurança nas atividades aquáticas em selva e o serviço de tripulante obrigatório em embarcação fluvial, a exemplo dos mergulhadores da MB; além da habilitação pra trabalhar em derrocamento e dragagens fluviais de interesse do EB. 180 Já para as praças, Curti63 e Simões64 sugeriram a criação de cursos de manutenção de equipamento de mergulho, o qual é bastante especializado e de alto custo. 5.2.4 Quanto à legislação, doutrina e material de mergulho 5.2.4.1 Discussão a. Qual curso de mergulho autônomo o senhor possui? O objetivo do autor com essa pergunta foi de avaliar a experiência dos entrevistados na atividade especial de mergulho, o que daria maior valor às respostas aos questionamentos feitos. Foi verificado que a grande maioria dos entrevistados teve a sua formação para a atividade na Marinha do Brasil, realizando o Curso Expedito de Mergulho Autônomo (figura 73). Figura 73 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “a”. Fonte: o autor. 63 Paulo Fernando Curci Curti, Major de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, ex-instrutor de mergulho da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas/SP. 64 Amaury Simões dos Santos Júnior, Tenente-Coronel de Engenharia, instrutor de mergulho pela CMAS/CBPDS, ex-instrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN e co-autor da pesquisa doutrinária intitulada Emprego das Atividades Subaquáticas na Engenharia de Combate. 181 b. O Sr possui algum outro curso militar/civil de mergulho? Da mesma forma que na pergunta anterior, esse questionamento teve por objetivo avaliar a experiência dos entrevistados na atividade especial de mergulho. Pode-se verificar que 62,07% dos entrevistados possuem algum tipo de aperfeiçoamento na atividade de mergulho, seja em certificadoras civis ou realizando o curso de demolições submarinas na MB. O que chama a atenção do autor é que apenas 24,14% dos entrevistados, estão aptos a realizarem demolições subaquáticas, atividade de fundamental importância no cumprimento de missões afetas ao Sistema Engenharia. Como ponto positivo, o autor constatou que 37,93% dos entrevistados possuem algum tipo de especialização civil, a qual é de alto custo e certamente foram realizadas as expensas do próprio militar na busca do auto-aperfeiçoamento (figura 74). Figura 74 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “b”. Fonte: o autor. c. O Sr considera necessário o aperfeiçoamento da Portaria Nr 236 / Comando do Exército, de 06 de maio de 2003, para a realização da Atv Esp de Mergulho? 182 Esse questionamento está no escopo dos objetivos do presente trabalho de pesquisa, no que se refere à legislação, e foi aquele que apresentou um maior número de sugestões para aperfeiçoamento. A seguir serão expostas aquelas que o autor encontrou em maior quantidade e considerou pertinentes com a pesquisa realizada (figura 75). Figura 75 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “c”. Fonte: o autor. Para o Cel Da Cás, a referida portaria “engessou” a atividade ao determinar a habilitação na Marinha, considerando-se que o escopo daquele curso é específico para aquela Força; considera, ainda, que outra incoerência é definir que somente o pessoal previsto em QCP pode mergulhar. Pondera que se o problema é o custo, então limite-se por um efetivo máximo de mergulhadores, se for o caso. Sugere, ainda, a publicação da composição de uma equipe de mergulho em Boletim Interno (BI), bem como que as OMEM seriam definidas melhor como OM Eng que tivessem equipamento em QDM e com missão de mergulho e não pessoal previsto em QCP, o que é um fator restritivo. Da mesma forma se expressou Daniel, para quem a Portaria no 236 “engessou” de tal forma a atividade que ficou extremamente complicado realizar o mergulho e processar o registro das cotas de compensação orgânica, pois o processo depende de muita gente que muitas vezes nem sabe que existe tal Portaria. Para Linhares, o mergulhador, para realizar a atividade de mergulho, não deve ocupar, obrigatoriamente, cargo previsto em QCP, tendo em vista que esta 183 condição restringe muito a atividade de mergulho no EB. A prática do mergulho deve ser incentivada em todos os postos e graduações nas OM de Engenharia, pois isso aliará a prática às técnicas e os conhecimentos mais recentes à vivência e a experiência dos mergulhadores mais antigos. Já para Silas65 seria interessante que todos os mergulhadores da OMEM pudessem cumprir o plano de provas independentemente de ocuparem claro específico, com a finalidade de formar uma equipe mínima necessária para se realizarem atividades de mergulho. Cita que muitas vezes os claros previstos nas OMEM, na maioria das vezes de um ou dois mergulhadores, não são suficientes para as missões a serem realizadas. Silas destaca, ainda, um fato ocorrido no Curso de Precursores Páraquedistas, quando um aluno deixou cair um fuzil no fundo da represa Ribeirão das Lages. O local provável da perda era uma área de cerca de dois campos de futebol, com trinta e seis metros de profundidade. Dessa forma, com o equipamento disponível, o tempo de fundo utilizado foi de oito minutos, deixando-se uma margem de segurança. Para achar o fuzil foi necessária uma semana, com seis mergulhadores trabalhando diariamente. Outra sugestão encontrada com recorrência foi a de que todo o mergulhador habilitado, em curso específico, pudesse cumprir o plano de provas nas OMEM e não somente os que ocupam os claros previstos, com o objetivo de atender as necessidades de mergulho dentro de equipes mínimas, pois muitas vezes os claros previstos não atendem a estas necessidades mínimas. Além disso, o plano de provas passaria a ser trimestral e não quadrimestral, equiparando-se aos páraquedistas, que em cinco anos incorporam as cotas de compensação orgânica. d. O Sr considera que a base doutrinária, técnica e legal de amparo para a Atv Esp de Mergulho é adequada e suficiente para a realização da Atv? Para essa pergunta levou-se em consideração os dados representados no Quadro 7: 65 Paulo Silas Gomes Moreira, Capitão de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, possuidor do curso de Demolições Subaquáticas, ex-instrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN, atual comandante da 1a Cia E Cmb Pqdt – Rio de Janeiro/RJ. 184 C 5-1: Emprego da Engenharia. Base Doutrinária C 5-7: Batalhão de Engenharia de Combate. C 5-10: Ap de Engenharia no escalão Brigada. Base Legal Base Técnica Portaria Nr 236 / Comando do Exército, de 06 de maio de 2003 - Plano de Provas e Exercícios para a Atividade Especial de Mergulho. Portaria Nr 051/DGP, de 18 de agosto de 2000 Normas para Cadastramento de Horas de Mergulho Homologadas. Boletim Técnico Especial Nr 10 DME, Atividades de Mergulho. Art II do Cap 14 do C 5-34: Vade-mécum de Engenharia. Quadro 7 - Base doutrinária, legal e técnica de amparo para a Atv Esp de Mergulho. Fonte: o autor Essa pergunta é de fundamental importância para a validação do trabalho, já que está ligada em dois dos objetivos do mesmo, ou seja, a base doutrinária e a base legal para a atividade de mergulho (figura 76). Para Marcos Paulo, a base doutrinária é praticamente inexistente, apesar de já haver alguma base técnica (embora insuficiente) e legal. O entrevistado pensa que mais importante que a base legal é a base doutrinária, uma vez que é ela quem norteia o que se deseja obter. Essa doutrina influi e é influenciada pelo desenvolvimento da base técnica, que ele acredita estar fundamentada em manuais norte-americanos, em parte transcritos e adaptados na base técnica mencionada no questionamento (Boletim DME e C 5-34). O entrevistado afirma que a base legal cumpre a função de apenas formalizar a consecução dos objetivos propostos pela base doutrinária. Porém, O’ de Almeida afirma que é necessária uma revisão do C 5-34, pois o pequeno capítulo de mergulho está “crivado” de erros, os quais o entrevistado afirma já ter comunicado ao escalão superior. Para Silva Soares66, há necessidade de maior detalhamento das missões e atividades do mergulho na base doutrinária, particularmente no emprego em situação de combate e, também, de paz. Na base técnica o entrevistado acredita 66 Evandro da Silva Soares, Tenente-Coronel de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, atual comandante do Curso de Engenharia da EsAO – Rio de Janeiro/RJ. 185 que deveria haver uma atualização, particularmente no que se refere aos equipamentos, à luz de uma doutrina proposta. Figura 76 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “d”. Fonte: o autor. e. Quais são as missões possíveis de serem cumpridas pelos mergulhadores de Eng? Para essa pergunta foram sugeridas as seguintes missões: demolições subaquáticas; resgate de materiais; desminagem e minagem subaquáticas; busca e salvamento de pessoal; reconhecimento subaquático; inspeção e reparo de estruturas; lançamento de obstáculos subaquáticos; segurança dos locais de travessia; segurança de instruções; reparo de meios flutuantes pesados; lançamento e reparo de tubulações submersas ; lançamento de rede submersa para proteção de pontes; construção e reparação de instalações portuárias e ancoradouros fluviais; apoio aos mergulhadores da MB em Operações Anfíbias; apoio à remoção de minas em operações ribeirinhas; e outras, que o entrevistado deveria especificar. As respostas desse questionamento também serviram de base para o autor poder estabelecer quais as missões dos mergulhadores de Engenharia devem cumprir em operações, bem como as atividades a serem desenvolvidas em um futuro curso ou estágio de mergulho do EB (figura 77). 186 Ainda foram sugeridas as seguintes missões: segurança em zonas de lançamento de pára-quedistas, que segundo Alessandro67, já foi realizada em 1999, na AMAN, durante a operação Saci; apoio aos mergulhadores da MB/CBM em operações de calamidades públicas; o apoio a operações de transposição de curso d’água; e a manutenção do material de mergulho das OM de Engenharia É importante ressaltar que, para Daniel, o mergulho é uma forma específica e particular de se realizar qualquer missão necessária; [grifo nosso] assim sendo, a diferença entre o mergulhador e o “não mergulhador” é a forma e o meio no qual se dará a realização do trabalho, pensamento compartilhado pelo autor. Figura 77 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “e”. Fonte: o autor. f. O Sr considera que é necessária a aquisição de novos tipos de materiais de mergulho para as OM Eng? Essa pergunta está relacionada com o cumprimento de missão por parte dos mergulhadores militares. Para a grande maioria dos entrevistados, existe a necessidade de dotar as OM de Engenharia de novos materiais, os quais poderão facilitar, em muito, a realização dos trabalhos técnicos e atividades logísticas referentes ao Sistema Engenharia (figura 78). 67 Alessandro da Silva, Capitão de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, ex-instrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN, atualmente desempenhando a função de instrutor do Curso de Engenharia da EsAO – Rio de Janeiro/RJ 187 Figura 78 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “f”. Fonte: o autor. g. Caso positivo, quais seriam os materiais a serem adquiridos? Pergunta relacionada com o item anterior, na qual o autor solicitou que os entrevistados escolhessem, de acordo com uma lista fornecida, os novos materiais de mergulho que deveriam fazer parte da dotação da Engenharia (figura 79). Foram sugeridos os seguintes materiais: cilindro e válvula especiais para Nitrox; caixa estanque para máquina fotográfica; computador de mergulho; caixa estanque para câmara de vídeo; intercomunicador acoplado à máscara de mergulho; Rebreather ou equipamento de mergulho autônomo de circuito fechado; veículo de propulsão de mergulhador – Scooter ou DVP; e Lift Bag, que é um equipamento utilizado para içar materiais para a superfície. Figura 79 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “g”. Fonte: o autor. 188 Daniel sugeriu a aquisição de um equipamento de “narguillê” móvel, com compressor acionado por motor elétrico ou à combustível, para ser acoplado em embarcações, os quais poderiam ser rebocáveis por botes ou embarcações de manobra de portadas. Para o entrevistado, esse conjunto possibilitaria um suprimento ilimitado de ar à equipe submersa em trabalhos mais demorados, como campo de minas, resgates, etc. Marcos Paulo sugeriu que as Unidades de Engenharia devessem possuir, pelo menos, uma embarcação de pequeno porte, dotada de sonar e/ou ecobatímetro, afirmando que os sonares são equipamentos que indicam anomalias no leito d’água, já os ecobatímetros também disponibilizam o mapeamento do leito do local e a velocidade da correnteza, viabilizando a reflutuação de materiais de grande porte e os reconhecimentos de Engenharia. Outras sugestões foram: a aquisição de compressores de alta pressão portáteis; material especializado para busca e recuperação; GPS para mergulho, material para emergências médicas de mergulho; e material para fazer a manutenção dos equipamentos. h. Com relação a Atv Esp de Mergulho, em sua opinião, quais são os tipos de mergulho mais adequados para emprego em Área Operacional Continental (AOC) pela Arma de Engenharia? Essa pergunta relaciona-se com as necessidades de formação e adestramento dos mergulhadores, na qual o autor solicitou que os entrevistados escolhessem, de acordo com uma lista fornecida, os tipos de mergulho que seriam mais adequados para emprego na AOC (figura 80). Foram sugeridos os seguintes tipos: mergulho livre, mergulho autônomo de circuito aberto, mergulho autônomo de circuito aberto com misturas (por exemplo, heliox), mergulho autônomo de circuito fechado - rebreather, mergulho autônomo de circuito semi-fechado, mergulho dependente de circuito aberto com ar leve ou narguillê, mergulho dependente de circuito aberto com ar pesado, e mergulho com traje rígido em pressão atmosférica (escafandria). 189 Figura 80 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “h”. Fonte: o autor. Os resultados apontam para a manutenção do equipamento autônomo de circuito aberto como principal instrumento para se cumprir as missões de Engenharia, porém destaca-se a importância que foi dada ao narguillê e ao mergulho com misturas (heliox), bem como a utilização de rebreathers, equipamento que o autor julga ser mais necessário às operações de Forças Especiais. i. O Sr crê que é necessário algum tipo de adaptação nos Eqp de Mergulho existentes nas OM Eng para os mergulhadores trabalharem nas diversas regiões da AOC? Responda de acordo com as regiões do item 10. (Amazônica, Pantanal, Centro-Sul, Sudeste e Nordeste) Essa pergunta visava a dar subsídios ao autor para regionalizar os equipamentos de mergulho, fato que a maioria dos entrevistados mostrou-se desfavorável. A discussão do item 10 mostrará, ainda, que não houve idéias que possibilitassem tal regionalização, como era desejo do autor propor (figura 81). 190 Figura 81 – Representação gráfica correspondente às respostas da pergunta “i”. Fonte: o autor. j. Caso positivo, quais seriam essas modificações? A grande maioria das modificações sugeridas tem caráter geral e não regionalizado. As que o autor julgou pertinentes foram as observações feitas por Marcos Paulo e Daniel de que, dependendo da missão, talvez haja a necessidade de se modificar os cilindros simples para duplos ou vice-versa, pois o cilindro único possibilita um tempo de fundo muito reduzido. Além disso, Peres68 sugeriu a adoção de nadadeiras e outros equipamentos de cor preta ou camuflada, com densidade superior à da água e a diminuição do peso ou capacidade do cilindro nas missões de curta duração e com necessidade de longos deslocamentos a pé. Para a região Amazônica, Feldmann69 sugeriu o uso de compressores de alta pressão com motor a diesel e Silva Soares destacou o fato de que o mergulho naquela região é realizado sem visibilidade, sendo necessário um estudo dos rios/igarapés da região, particularmente no tocante a velocidade da correnteza e a visibilidade. 68 Francisco Antonio Peres da Silva, 1o Tenente de Engenharia, mergulhador formado pelo CMB/PE, exinstrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN. 69 Itamar Feldmann, Capitão de Engenharia, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, ex-instrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN e ex-orientador do Clube de Mergulho Autônomo daquele EE, atual comandante da Cia C/1o Gpt E - João Pessoa/PB. 191 l. Outras informações julgadas cabíveis. Esse foi um espaço deixado pelo autor para que os entrevistados pudessem deixar suas idéias expostas de forma aberta. As que foram avaliadas como coerentes com os objetivos deste trabalho estão transcritas a seguir. Marcos Paulo levantou que uma proposta de doutrina de emprego, pela sua importância, pode e deve valer-se das experiências bem sucedidas de outros exércitos. Afirmou, ainda, que toda a doutrina deve evoluir juntamente com seu pessoal e seus meios. Nesse ponto, adaptar aquilo que já existe a aquilo que se vive hoje já seria um passo importantíssimo. Para Siqueira70, os militares que ocupam cargos de chefia nas OM, como S3, Cmt SU e Cmt Pel, por exemplo, poderiam ser habilitados a mergulhar. Afirma que tal fato permitiria um melhor desenvolvimento, na OM, da instrução de formação do efetivo de mergulhadores, com um maior grau de segurança, e ainda possibilitaria a esses militares manterem o seu adestramento na atividade, e desenvolverem técnicas e doutrina de mergulho. Para o Cel Barroso Magno, o foco da atividade de mergulho é o apoio aos trabalhos técnicos de Engenharia [grifo do autor]. Acredita, ainda, que os Oficiais de Engenharia não podem se deixar seduzir e desviar o foco para criação de especialistas em operações especiais, pois para isso o EB já possui os elementos especializados da Bda Op Esp. Rogério Cetrim de Siqueira, Major de Engenharia, ex-comandante da 3a Cia E Cmb E Mec – Dom Pedrito/RS, mergulhador formado pelo CIAMA/MB, ex-instrutor de mergulho do Curso de Engenharia da AMAN e autor da dissertação de mestrado intitulada Equipamentos modernos de Engenharia conseqüências para a estrutura organizacional e doutrina de emprego: emprego doutrinário da atividade de mergulho na Arma de Engenharia, face a aquisição de novos materiais. 70 192 6 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES 6.1 DOCUMENTAÇÃO REGULADORA DA ATIVIDADE ESPECIAL DE MERGULHO Este capítulo tem como objetivo tratar sobre os principais documentos que regulam as atividades de mergulho e concluir se eles estão proporcionando condição para que a mesma se desenvolva adequadamente no âmbito do Sistema Engenharia, propondo alterações naquilo que for necessário. 6.1.1 Legislação em âmbito nacional 6.1.1.1 Generalidades Segundo Borges (2006), a legislação anterior às Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde do Trabalho fazia referência apenas às operações do escafandrista e o tempo útil de trabalho era regulado pela tabela de descompressão, conforme o parágrafo único da Portaria nº 073, de 02 de maio de 1959. Borges (2006) cita, ainda, que o Quadro de Atividades e Operações Insalubres da Portaria 491, de 16 de setembro de 1965, classificava como insalubridade de grau médio o trabalho com equipamentos ou em ambientes com excesso de pressão, tais como escafandros e caixões pneumáticos. Atualmente, as normas que regem as atividades submersas, em âmbito nacional, são: a) Anexo nº 6 - Trabalho sob Condições Hiperbáricas, da Norma Regulamentadora nº 15 (NR 15) - Atividades e Operações Insalubres, instituída pela Portaria 3.214, de 08 de outubro de 1978, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com a redação dada pela Portaria 24, de 14 de setembro de 1983 (MTE, 2006); b) Norma da Autoridade Marítima para Atividades Subaquáticas NORMAN-15, aprovada pela Portaria 009, da Diretoria de Portos e Costas, de 11 de fevereiro de 2000. Destaca-se que a atividade especial de mergulho é considerada como atividade insalubre em grau máximo [grifo do autor]. 193 6.1.2 Norma Regulamentadora nº 15 - Atividades e operações insalubres A referida Norma, em seu Anexo no6, item no 2 - Trabalhos Submersos, regula as atividades de mergulho âmbito nacional. Vale ressaltar que, segundo a NR1 – Disposições Gerais, as Normas Regulamentadoras, relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas, públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Assim sendo, como os militares não são regidos pela CLT, essas normas servem apenas como um referencial para a atividade especial de mergulho no EB (MTE, 2006). Assim entendido, crê-se que é licito supor que determinados conceitos ali contidos devem ser de conhecimento por aqueles que conduzem a atividade especial de mergulho dentro do Sistema Engenharia. São as seguintes as definições de interesse da NR 15: Operação de mergulho: aquela que envolve trabalhos submersos e que se estende desde os procedimentos iniciais de preparação até o final do período de observação. Período de Observação: aquele que se inicia no momento em que o mergulhador deixa de estar submetido a condições hiperbáricas e se estende: a) até 12 horas para os mergulhos com ar; b) até 24 horas para os mergulhos com misturas respiratórias artificiais. Mergulhador: o profissional qualificado e legalmente habilitado para utilização de equipamentos de mergulho, submersos. Supervisor de Mergulho: o mergulhador, qualificado e legalmente habilitado, designado pelo empregador para supervisionar a operação de mergulho. Trabalho Submerso: qualquer trabalho realizado ou conduzido por um mergulhador em meio líquido. Essas definições são conceituais e encaixam-se perfeitamente com o que é realizado pelo EB, que desenvolve operações de mergulho e trabalhos submersos, nos quais existe a preocupação de se estabelecer um supervisor, normalmente um Oficial, para a realização das atividades em condições hiperbárica. Todavia, a preocupação com o período de observação deve ser um procedimento normatizado pelas Organizações Militares Específicas de Mergulho (OMEM) do EB, a fim de 194 prestar o pronto atendimento ao militar que foi submetido a essas condições e que venha a sofrer algum problema de saúde nesse período. Outra consideração importante da NR 15, diz respeito às condições perigosas com relação aos trabalhos submersos: Condições Perigosas: situações em que uma operação de mergulho envolva riscos adicionais ou condições adversas, tais como: a) uso e manuseio de explosivos; b) trabalhos submersos de corte e solda; c) trabalhos em mar aberto; d) correntezas superiores a 2 nós; e) estado de mar superior a mar de pequenas vagas (altura máxima das ondas de 2,00 m; f) manobras de peso ou trabalhos com ferramentas que impossibilitem o controle da flutuabilidade do mergulhador; g) trabalhos noturnos; h) trabalhos em ambientes confinados (NR 15, p.18) [grifo do autor]. Observando-se o prescrito acima, o autor verifica que, em sete das oito condições perigosas para as atividades de mergulho, encontram-se missões que são afetas ao sistema Engenharia, a saber: 1) uso e manuseio de explosivos: efetuando demolições subaquáticas, no lançamento/remoção de minas e obstáculos subaquáticos; 2) trabalhos submersos de corte e solda: na instalação, manutenção e reparação da porção subaquática de oleodutos/gasodutos; na recuperação de material, embarcações e viaturas afundadas; na reparação de embarcações do EB ou de interesse do EB; na construção de estruturas subaquáticas de pontes; 3) correntezas superiores a 2 nós: quando o trabalho for urgente e fundamental para a consecução do objetivo militar; 4) estado de mar superior a "mar de pequenas vagas": da mesma maneira que no item 3), quando o trabalho for urgente e fundamental para a consecução do objetivo militar; 5) manobras de peso ou trabalhos com ferramentas que impossibilitem o controle da flutuabilidade do mergulhador: no lançamento e remoção de minas e obstáculos subaquáticos; na recuperação de material, embarcações e viaturas afundadas; na instalação, manutenção e reparação de ancoradouros; no lançamento de obstáculos e barreiras flutuantes; 195 6) trabalhos noturnos: em reconhecimento de locais para transposição de cursos d’água; na coleta de informações sobre o leito de rio, mar e lagos; no lançamento de obstáculos e barreiras flutuantes; na realização de reconhecimento próximo e afastado das margens dos locais de travessia de curso d`água; ao participar de operações de dissimulação tática, iludindo as forças inimigas no contexto de uma operação de transposição de curso d’água; na proteção do equipamento de transposição de curso d’água e das estruturas submersas das ameaças subaquáticas; 7) trabalhos em ambientes confinados: quando a missão militar assim o exigir. Portanto, faz-se necessário conhecer o que prescreve a NR 15, quando da ocorrência dessas condições. Quando da ocorrência das condições perigosas, as NR 15 especificam, no item “Regras de Segurança do Mergulho”, que passa a ser obrigatório o uso de comunicações verbais em todas as operações de mergulho realizadas nessas condições. Além disso, equipamentos de mergulho utilizados deverão possuir dispositivo de controle de flutuabilidade individual, sendo de uso obrigatório. Assim sendo, observa-se que o EB ainda não está condições de cumprir essas regras de segurança no tange as comunicações verbais, já que tal equipamento não é de dotação de nenhuma OMEM de Engenharia. Quanto ao dispositivo de flutuabilidade, esse já é de uso comum entre os mergulhadores de Engenharia, não servindo apenas para ao conforto do mergulhador, mas também para a sua segurança individual. Para a execução de trabalhos submersos, a NR 15 determina que a técnica de mergulho utilizando equipamento a ar comprido suprido pela superfície (mergulho dependente) seja sempre empregada, exceto em casos especiais, onde as próprias condições de segurança indiquem ser mais apropriada a técnica de mergulho autônomo71, devendo esta ser apoiada por uma embarcação miúda. No que se refere a esse item, as operações militares são particulares e muitas vezes será necessário valer-se do mergulho autônomo para cumprir missões 71 A técnica de mergulho autônomo utiliza-se do equipamento autônomo de mergulho, que é, de acordo com a NR 15, aquele em que o suprimento de mistura respiratória é levado pelo próprio mergulhador e utilizado como sua única fonte. 196 no qual o equipamento dependente fosse o mais indicado. Todavia, sugere-se o incremento do uso desse tipo de equipamento, a fim de adestrar os mergulhadores no uso do mesmo, pois, segundo CIAMA (2000), seu uso deve ser preferencial em fainas de mergulho onde a mobilidade não seja prioridade, constituindo-se, por excelência, no equipamento do mergulhador profissional [grifo do autor]. Ainda segundo CIAMA (2000), eles possuem as seguintes vantagens: suprimento ilimitado de ar; comunicação oral ou por sinais de mangueira com a superfície; contato físico do mergulhador com a superfície, que impede sua deriva e permite seu recolhimento em situações de emergência; boa estabilidade; e excelente proteção física e térmica. Quanto às equipes de mergulho, a NR 15 define que a equipe básica para mergulho com “ar comprimido”, autônomo ou suprido pela superfície, até a profundidade de 50 metros, na ausência das condições perigosas, deverá ter a constituição abaixo especificada, desde que esteja prevista apenas descompressão na água: a) 01 supervisor; b) 01 mergulhador para a execução do trabalho; c) 01 mergulhador de reserva, pronto para intervir em caso de emergência; d) 01 auxiliar de superfície. Observa, ainda, que em águas abrigadas72, considerada a natureza do trabalho e desde que a profundidade não exceda a 12 metros, a equipe básica poderá ser reduzida de seu auxiliar de superfície. Na ocorrência de quaisquer das condições perigosas a equipe será acrescida de 01 mergulhador passando a ser constituída por 05 homens. Além disso, a já referida norma prescreve que: Em toda operação de mergulho em que para a realização do trabalho for previsto o emprego simultâneo de 2 ou mais mergulhadores na água, deverá existir, no mínimo, 1 mergulhador de reserva para cada 2 submersos. Em operação a mais de 50,00 m, ou quando for utilizado equipamento autônomo, serão sempre empregados, no mínimo, 2 mergulhadores submersos, de modo que um possa, em caso de necessidade, prestar assistência ao outro (NR15-p. 23) [grifo do autor]. 72 A NR 15 define águas abrigadas como toda a massa líquida que, pela existência de proteção natural ou artificial, não estiver sujeita ao embate de ondas, nem correntezas superiores a 1 nó. 197 Assim sendo, entende-se que, em tempo de paz, a equipe mínima de mergulhadores de Engenharia necessária para cumprir uma missão que esteja sendo executada sob condições perigosas, valendo-se das técnicas de mergulho autônomo, deve ser constituída com, no mínimo, 05 homens, contando com o apoio de uma embarcação de pequeno porte, o que poderá ensejar a necessidade de mais 01 militar. Das referidas normas, julga-se importante conhecer as profundidades máximas e os tempos de fundo73 para os tipos de mergulho em uso do EB, a saber: a) mergulho com equipamento autônomo a ar comprimido: profundidade máxima igual a 40 metros e o tempo de fundo deverá ser mantido dentro dos limites de mergulho sem descompressão; b) mergulho com equipamento a ar comprido suprido pela superfície: profundidade máxima igual a 50 metros e o tempo de fundo deverá ser inferior aos limites definidos nas tabelas de mergulhos. Além disso, a NR 15 prevê que o tempo máximo submerso diário, em mergulhos utilizando ar comprimido, não deverá ser superior a 04 horas [grifo do autor]. Novamente, frisa-se que a atividade militar é peculiar, mas visualiza-se que o respeito a tais determinações de uma norma que tem por objetivo a preservação da saúde e da integridade física dos mergulhadores profissionais, pode muito bem ser respeitada pelos militares em tempo de paz. O item no2 do Anexo no6 às NR 15 possui dois anexos, dos quais constam os padrões psicofísicos para a seleção dos candidatos à atividade de mergulho, os padrões psicofísicos para controle do pessoal em atividade de mergulho e as tabelas de mergulho (Anexo C). Os documentos acima citados podem servir de base para o estabelecimento desses padrões psicofísicos no âmbito do EB e para a verificação das tabelas de mergulho em utilização pelos mergulhadores de Engenharia. 73 A NR 15 assim define tempo de fundo: é o tempo total corrido desde o início do mergulho, quando se deixa a superfície, até o início da subida quando termina o mergulho, medido em minutos. 198 6.1.3 Norma da Autoridade Marítima para Atividades Subaquáticas (NORMAN-15) Esse documento possui o propósito de estabelecer normas básicas para controle e certificação de equipamentos e sistemas de mergulho, cadastramento de empresas prestadoras de serviços subaquáticos e credenciamento de entidades para ministrar cursos de mergulho. As NORMAN-15 são aplicadas a toda empresa ou outra entidade com finalidade comercial, que execute atividades envolvendo instrução de mergulho profissional ou realização de serviços profissionais subaquáticos. Novamente, ressalta-se que o EB não está sujeito a tal Norma, porém deve estuda-lá, a fim de verificar os pontos onde a atividade especial de mergulho desenvolvida pelo Sistema Engenharia pode ser aperfeiçoada. Para efeito das NORMAN, os sistemas de mergulho são divididos em função da profundidade máxima de trabalho, conforme a seguir: 1) sistemas para mergulhos de profundidade até trinta metros; 2) sistemas para mergulhos de profundidade até cinqüenta metros; 3) sistemas para mergulhos de profundidade até noventa metros; 4) sistemas para mergulhos de profundidade a partir de noventa metros. Dessa feita, interessam ao presente trabalho os sistemas até trinta metros e até cinqüenta metros, profundidades em que o mergulhador de Engenharia irá cumprir a maioria das missões que lhe são afetas. Deve-se ressaltar que para operação em profundidade maior que 30 metros, torna-se obrigatório estar disponível uma câmara de recompressão, equipamento que o EB ainda não detém, e para operação em profundidade maior que 40 metros é obrigatório o emprego de sino aberto para mergulho74, outro equipamento que não faz parte dos quadros de dotação do EB. No que concerne aos requisitos básicos dos sistemas para mergulho de profundidade até trinta metros, os equipamentos autônomos somente devem ser empregados para trabalho leves, em mergulho sem descompressão (por exemplo, em inspeções visuais e fotografias subaquáticas) e na ausência de condições perigosas. 74 De acordo com a NR15 Sino Aberto de mergulho (Sinete) é uma campânula com a parte inferior aberta e provida de estrado, de modo a abrigar e permitir o transporte de no mínimo dois mergulhadores da superfície ao local de trabalho. 199 Já o emprego de equipamentos dependentes para mergulhos de profundidade até 30 metros, só poderá ser efetivado quando a velocidade da corrente na área for menor ou igual a 2 nós, a altura das ondas for igual ou inferior a 2 metros, não esteja previsto manobra de peso ou uso de ferramentas que impossibilitem o controle da flutuabilidade do mergulhador e não se realizem em mar aberto75. Caso alguma dessas condições esteja presente, serão exigidos os requisitos previstos para mergulhos de profundidade até 50 metros, sendo a principal diferença a exigência de equipamentos de comunicação por fio entre o mergulhador e o controle na superfície, além das já citadas. Já aqui se apresenta uma oportunidade de melhoria na documentação em uso no EB, pois o Boletim Técnico Especial no10 – DME, prevê a utilização desse tipo de equipamento a uma velocidade da corrente de até 2,5 nós. Somente para ressaltar o fato, também consta dessa Norma, igualmente à NR 15, que é prioritário o emprego de equipamento dependente, citando que os equipamentos autônomos deverão ser usados apenas para trabalhos leves, em mergulho sem descompressão, na ausência de condições perigosas e com apoio de embarcação inflável ou dotada de plataforma ou escada a partir da linha d’água, para embarque do mergulhador. Tal Norma frisa, ainda, de igual maneira que a NR 15, que o tempo máximo submerso diário, em mergulhos utilizando ar comprimido, não deverá ser superior a 4 horas. Outro ponto de interesse para a Engenharia é o que afirma que a nenhum mergulhador será permitido permanecer dentro d’água por ocasião de uma explosão submarina. Para a realização de mergulhos em áreas próximas a locais onde se esteja trabalhando com explosivos, deverá ser observada uma distância mínima de segurança a ser calculada em função da quantidade da carga explosiva utilizada. Obviamente, em situações de emprego real, tal medida de segurança poderá não ser obedecida, mas essas precauções podem vir a fazer parte do CI 321, Caderno de Segurança na Instrução Prevenção de Acidentes de Instrução, do Comando de Operações Terrestres (COTER), com o intuito de se preservar as vidas dos especialistas em mergulho. 75 Mar aberto é toda área que se encontra sob influência direta do mar alto. 200 6.1.4 Legislação no Âmbito Militar 6.1.4.1 Decreto nº 4.307, de 18 de julho de 2002, regulamenta a medida provisória que dispõe sobre a reestruturação da remuneração dos militares das Forças Armadas Esse decreto estabelece, em seu artigo 4o, que o adicional de compensação orgânica (ACO) é a parcela remuneratória devida ao militar, mensalmente, para a compensação de desgaste orgânico resultante do desempenho continuado de algumas atividades especiais, entre elas o mergulho com escafandro ou com aparelho, cumprindo missão militar. Estabelece, ainda, em seu artigo 5o, que o ACO é devido durante a aprendizagem da respectiva atividade especial, a partir da data do primeiro mergulho com escafandro ou com aparelho e também durante o período em que o militar qualificado estiver servindo em OM específica da atividade considerada, desde que cumpridas missões e planos de provas ou de exercícios estabelecidos para a atividade especial de mergulho [grifo do autor]. Dessa forma, verifica-se que o legislador, para compensar o desgaste provocado ao militar pela realização do mergulho, uma atividade insalubre de grau máximo, previu o direito ao recebimento da gratificação de ACO pelos militares qualificados, desde que sirvam em OMEM e cumpram missões e os planos de provas ou de exercícios estabelecidos. Tal fato será importante para a apreciação da portaria que regulamentou o pagamento do ACO aos mergulhadores do EB [grifo do autor]. 6.1.4.2 Portaria nº 236, de 06 de maio de 2003, do Comando do Exército. A citada Portaria aprova o Plano de Provas e de Exercícios para Atividade Especial de Mergulho, cumprindo missão militar, no Âmbito do Comando do Exército. A finalidade dessa norma é definir o exercício da atividade especial de mergulho e estabelecer as condições a serem satisfeitas pelos militares ligados à atividade. Ela atende a um anseio dos militares mergulhadores da Arma de Engenharia, pois regulamenta a atividade e ampara seus praticantes. Porém, ao 201 realizar a definição de determinados conceitos, as normas criaram restrições à atividade de mergulho. Diz a norma: Art. 3° Para fins deste Plano são adotados os seguintes conceitos: I. atividade especial de mergulho - atividade desempenhada por militar do Exército, ocupando cargo de mergulhador previsto em Quadro de Cargos Previsto (QCP) e qualificado para tal, envolvendo missões militares, realizadas com aparelho de mergulho, que atendam às operações de busca e salvamento, às operações especiais, aos reconhecimentos e destruições subaquáticas e, ainda, ao adestramento a [sic] às instruções de mergulho...; IV. organização militar específica de mergulho (OMEM) organização militar com cargo de mergulhador previsto em QCP e material para a atividade de mergulho previsto no Quadro de Dotação de Material (QDM) (BRASIL, 2003) [grifo do autor]. Esse artigo restringiu, em muito, a atividade, pois como demonstra o estudo dos QCP das OM de Engenharia de Combate, existem poucas vagas de mergulhadores previstas, normalmente duas e associadas aos postos de Oficial subalterno, 1o/2o tenente, e a graduação de 3o/2o sargento. Nas OM, existem Oficiais e sargentos que realizaram seus cursos em um centro formador de mergulhadores reconhecidos pela Portaria, porém não ocupam a vaga prevista em QCP e que por força do que prescreve esse item do Plano, estão impedidos de realizar tal atividade com o devido amparo legal. A exemplo das atividades especiais de pára-quedismo, aviação e observador aéreo, atividades que fazem jus ao ACO e cujo desempenho independe de posto ou graduação, o mergulho também deveria ser desvinculado de um posto/graduação específico para que as missões inerentes às OMEM possam ser ampliadas a todos os habilitados, permitindo flexibilidade no emprego do pessoal. A previsão de vaga específica, vinculada ao posto/graduação em QCP, causa sérias restrições ao cumprimento das missões de mergulho nas OMEM de Engenharia em diversas situações, tais como: 1) Na falta de tenentes ou sargentos com a habilitação, outros militares habilitados não podem desempenhar a função, pois não possuem condições legais de cumprirem os Planos de Provas e de Exercícios, pré-requisitos aos trabalhos subaquáticos amparados pela Portaria; 202 2) A existência de poucas vagas específicas de mergulhadores nas OMEM impede que a atividade seja desempenhada quando da falta dos militares que as ocupam (férias, problemas de saúde, missões destacadas etc), pois a equipe básica de emprego é de dois mergulhadores submersos em profundidades rasas. A constituição de uma equipe completa é de, no mínimo, quatro componentes, podendo chegar a seis militares; 3) Os mergulhos realizados acima de uma determinada profundidade e por um certo tempo necessitam, obrigatoriamente, de revezamento de pessoal, para que ocorra a eliminação dos gases absorvidos pelo mergulhador devido a exposição à pressão da água (condições hiperbáricas). Portanto, visando a proporcionar maior flexibilidade às OMEM, sugere-se a seguinte alteração da definição em questão, de forma a viabilizar legalmente que os militares habilitados desempenhem suas missões de mergulho: Art. 3º- Para fins deste Plano são adotados os seguintes conceitos: I. Atividade especial de mergulho – atividade desempenhada por militar do Exército, servindo em OMEM e qualificado para tal, envolvendo missões militares... IV. Organização Militar Específica de Mergulho (OMEM) Organização militar com cargo de mergulhador previsto em QCP, dotada de militar habilitado e material para a atividade de mergulho previsto no Quadro de Dotação de Material (QDM). Dessa forma, a prática do mergulho passa a ser incentivada em todos os postos e graduações nas OMEM de Engenharia, aliando-se, na prática e legalmente, as técnicas e os conhecimentos mais recentes à vivência e a experiência dos mergulhadores mais antigos, garantindo mais segurança no desempenho das atividades e a continuidade do apoio de mergulho, quando isso se fizer necessário, além de cumprir com o estipulado no manual C 5-34 – Vade-Mécum de Engenharia: Somente militares com experiência comprovada devem executar tarefas subaquáticas, assim como na utilização do equipamento, seja este dependente ou equipamento autônomo (BRASIL,1996). 203 Outra definição que carece revisão é a que se segue: V. Plano de Exercícios - consiste na realização, por mergulhador qualificado, servindo em OMEM, de, no mínimo, duas horas de mergulho, por quadrimestre, no cumprimento de missões militares, por intermédio da realização de exercícios e/ou adestramentos (BRASIL, 2003) [grifo do autor]. Entende-se essa definição não contemplou as missões reais de mergulho, objeto final do adestramento. Assim sendo, um mergulhador que tenha participado da recuperação de um material de ponte caído em um lago de pontagem, após uma operação militar, não cumpriu o plano de exercícios, não fazendo, portanto, jus ao ACO. Como foi explicitado anteriormente, o Decreto nº 4.307 afirma que desde que sirvam em OMEM e cumpram missões de mergulho, os mergulhadores fazem jus ao ACO, fato não contemplado pela Portaria. Sugere-se a seguinte redação [grifo do autor]: V. Plano de Exercícios - consiste na realização, por mergulhador qualificado, servindo em OMEM, de, no mínimo, duas horas de mergulho, por quadrimestre, por intermédio da realização de exercícios e/ou adestramentos ou no cumprimento de missões militares, devidamente autorizadas pelo comandante da OMEM [grifo do autor]. No que se refere à questão da formação do mergulhador militar, faz-se necessário comentar a citação abaixo. Art. 4° O militar somente pode realizar a atividade especial de mergulho, para fins de cumprimento deste Plano de Provas, quando: I. habilitado em curso de formação de mergulhadores autônomos: a) no Centro de Instrução e Adestramento Almirante Átila Monteiro Aché; b) em outras organizações militares (OM), bem como organizações policiais militares, com o curso reconhecido e homologado pela Marinha do Brasil; ou c) em curso realizado no exterior, quando designado por autoridade competente; II. considerado apto em exame psicofísico para mergulhador há menos de um ano; e III. servindo em OMEM [grifo do autor] (BRASIL, 2003). No que se refere ao Art. 4°, vale ressaltar que o mesmo modificou a Portaria anterior, nº 133, de 11 de março de 1996, que permitia ao 1º B FEsp formar mergulhadores. De acordo com a nova redação, nenhuma OM do Exército está 204 enquadrada como formadora de mergulhadores, pois mesmo os cursos do CIOpEsp e o que foi realizado no BEsEng em 2001, não são reconhecidos e homologados pela Marinha do Brasil. Admite-se que não haverá necessidade de mudança nesse aspecto, bastando apenas o reconhecimento pela MB de algum curso realizado no EB, como os do CIOpEsp ou os estágios de mergulho autônomo da AMAN e da EsSA. Além disso, a Portaria é muito específica ao afirmar que o militar somente pode realizar a atividade especial de mergulho, para fins de cumprimento do Plano de Provas, quando habilitado nos cursos de mergulhador autônomo anteriormente citados. Tal fato teve por conseqüência a inviabilização das atividades das OMEM de Engenharia, que viessem a implementar a atividade de mergulho em seus quartéis, mesmo possuído material de mergulho em condições de ser utilizado e pessoal capaz de fazê-lo, pois existe o dilema do comando da OM em submeter seus subordinados às condições hiperbáricas sem estar amparado legalmente e sem poder compensar o desgaste orgânico dos mesmos. Quanto ao exame psicofísico, destaca-se que, em nenhum documento do EB, que seja de conhecimento do autor em mais de dez anos de prática de mergulho, está regulado tal exame. Todavia, a descrição desse procedimento consta das NR 15 (Anexo C) e da DOUTOMARINST no 20 – 01, do Comando da Marinha, em seus apêndices II e III ao anexo “F”. Sugere-se, então, ao legislador militar a consulta a tais fontes de referência e o posterior estabelecimento das condições em que o mergulhador do EB deva realizar tal exame. Quanto à perda da qualificação por parte do mergulhador militar, torna-se necessário comentar as seguintes citações: Art. 5° O mergulhador perde a qualificação quando: I. tenha sido reprovado ou obtido conceito insatisfatório em adestramento; II. tenha cometido infração da disciplina exigida para a atividade especial de mergulho, caracterizada por desrespeito às normas técnicas de segurança estabelecidas em documento específico (BRASIL, 2003) [grifo do autor]; Art. 14. O Comando de Operações Terrestres deve inserir a atividade de mergulho como um dos “Assuntos que devem merecer atenção especial” da Instrução Individual do Programa de Instrução Militar, com as observações e detalhamentos pertinentes (BRASIL, 2003). 205 A perda da qualificação poderá ocorrer quando o mergulhador desrespeitar normas técnicas de segurança estabelecidas em documento específico. O único documento do EB, que cita normas de segurança para realização de mergulho, é o Anexo 1 ao Boletim Técnico Especial nº 10 – DME, Atividades de Mergulho, de 1996, o qual se intitula “Regras Básicas de Segurança” e apenas estabelece procedimentos rotineiros para a realização de um mergulho com segurança. Portanto, existe a necessidade, de acordo com o Plano em questão, de se estabelecer normas técnicas de segurança, devidamente regulamentadas. Além disso, durante o período de realização desta pesquisa (2005, 2006 e 2007), constatou-se que o COTER ainda não incluía o assunto mergulho como um dos assuntos que devem merecer atenção especial no Programa de Instrução Militar (PIM), conforme determina a Portaria nº 236. 53,3% das OM de Engenharia pesquisadas e 85,71% dos Oficiais entrevistados apontaram para a necessidade de aperfeiçoamento da Portaria nº 236. Os aperfeiçoamentos aqui apontados atendem a esse anseio e, julga-se, proporcionam melhores condições de desenvolvimento da atividade especial de mergulho no EB. 6.1.4.3 Portaria nº 051/DGP, de 18 de agosto de 2000 A Portaria nº 051/DGP, de 18 de agosto de 2000, aprovou as Normas para Cadastramento de Horas de Mergulho Homologadas (Anexo B), estabelecendo que a OM que homologar horas de mergulho solicitará diretamente ao DGP, anualmente, por intermédio de qualquer tipo de documento de correspondência militar, o cadastro dessas. Além disso, estabeleceu, também, que o DGP deveria fazer constar na Ficha Individual do militar as horas de mergulho já cadastradas. O estabelecido nessa Portaria parece de simples realização. A OM que realiza a homologação é o escalão imediatamente superior que enquadra a OMEM, o qual muitas vezes necessita ser alertado sobre tal incumbência. Quanto à remessa de informação para o DGP, para realização do cadastro das horas de mergulho homologadas, ocorre fato semelhante, porém fora do controle da OMEM e do próprio mergulhador. Para exemplificar, cita-se o exemplo do autor deste trabalho que, após 10 anos de atividade devidamente homologada, somente possui os anos de 2001 e 2003 registrados no Banco de Dados do DGP. Além disso, até os dias de 206 hoje, em sua Ficha Individual, não consta esse cadastramento, conforme está previsto na Portaria. Pelo anteriormente exposto, crê-se que não seja necessário aperfeiçoar a Portaria no 50, mas sim divulgá-la para que a mesma possa ser efetivamente implementada. 6.1.5 Documentação técnica 6.1.5.1 Boletim Técnico no 20, da Diretoria de Material de Engenharia (DME), de 1993 O referido Boletim, afirma em seu Capítulo VI, acerca da atividade especial de mergulho que: No Exército Brasileiro, existem militares habilitados na técnica de mergulho autônomo, que exercem esta atividade para cumprirem os programas de instrução previstos nas suas respectivas OM. Tal documento afirma, ainda, que a DME, por meio de relatórios recebidos dos usuários do material, verifica a adequabilidade do equipamento de mergulho em uso pelo EB proporcionando, desse modo, uma melhoria na qualidade da gestão do material. Com a extinção da DME e a criação de uma nova estrutura logística para o material de Engenharia, é licito supor que o Departamento Logístico, por meio de suas diretorias, tenha continuado com o encargo de melhoria na gestão do material de mergulho. Dessa forma, verifica-se que a utilização do material, por profissionais experientes pode em muito contribuir para alcançar tal objetivo. 6.1.5.2 Boletim Técnico Especial Nr 10 – DME, Atividades de Mergulho Com esse boletim da DME suprimiu uma falha muito grande na documentação essencial sobre as atividades de mergulho. É um documento elaborado com esmero e detalhe pelos instrutores do Curso de Engenharia da Academia Militar das Agulhas Negras, no ano de 1995. 207 O boletim técnico serve de fonte de consulta segura para os iniciantes na arte do mergulho, tratando de todos os assuntos necessários à formação do mergulhador básico, além de conter um anexo que fornece a seqüência da instrução prática para essa formação. Esse anexo ficou inviável de ser colocado em prática pelas Unidades de Engenharia de Combate, que estão impossibilitadas de fazê-lo, em função da Portaria no 236 exigir o reconhecimento de curso de mergulho pela MB. Além disso, após mais de 10 anos de sua edição inicial, tal boletim carece de uma revisão, a fim de incluir o assunto tabelas de mergulho e adequá-lo às novas tecnologias existentes na área de mergulho. 6.1.5.3 Manual de Campanha C 5-34 – Vade-Mécum de Engenharia Em seu capítulo 14, artigo II, o referido manual apresenta generalidades sobre o mergulho de Engenharia, já citadas no corpo do presente trabalho; os tipos de mergulho e equipamentos; sinais convencionais; e tabelas de mergulho, em complemento ao Bol Tec Esp no 10 - DME. Todavia, em 15 de maio de 2000, o Curso de Engenharia da AMAN enviou para a extinta DME uma série de correções ao capítulo 14 do C 5-34. As mais importantes delas referem-se às tabelas de mergulho. Sugere-se que tais alterações sejam realizadas nas próximas tiragens do C 5-34, sob pena da execução de mergulhos que utilizem essa fonte de consulta como base, incorrerem em erros que poderão prejudicar a saúde do mergulhador. 6.1.6 Considerações Finais Verifica-se que, no âmbito do EB, a legislação existente é insuficiente e carece de aperfeiçoamento, tendo em vista uma atividade especial tão complexa. Existe uma norma que possibilita a prática do mergulho de maneira amparada; existe um Boletim Técnico que serve como manual sobre a técnica do assunto; porém falta a doutrina de emprego do mergulho em operações militares. O mergulho, semelhante ao pára-quedismo, não é um fim si próprio e sim um meio a mais que se dispõe para cumprir a missão do Sistema Engenharia. 208 Existe a necessidade de a Engenharia possuir um local onde se possam validar esses conhecimentos, sugerir mudanças, desenvolver doutrina de mergulho e responder a pergunta fundamental que o militar de Engenharia possuidor de um dos cursos de mergulho listados na Portaria Nr 236 se faz: em que o Exército espera que eu utilize meus conhecimentos de mergulho? Certamente não pode ser apenas para realizar busca e recuperação de material de pontes perdido nos rios ou nos lagos de pontagem das Cia E Cmb e dos BEC! 6.2 PROPOSTA DE DOUTRINA DE EMPREGO PARA A ATIVIDADE ESPECIAL DE MERGULHO DENTRO DO SISTEMA ENGENHARIA. 6.2.1 Considerações iniciais Segundo Paiva (1997) O Exército Brasileiro não dispõe de uma doutrina para o emprego de mergulhadores, particularmente quanto a operações convencionais. Conjetura-se que essa situação é decorrente do fato de que o surgimento e o conseqüente início da difusão do emprego militar do equipamento de mergulho autônomo de circuito aberto deu-se durante a Segunda Guerra Mundial em 1943. Face à situação incipiente das operações de mergulho e a não participação da Força Expedicionária Brasileira em tais operações, não houve, portanto, oportunidade de se infundir nessa Força os fundamentos básicos da atividade do mergulho operacional. Além disso, corroborou para a permanência dessa situação o fato de que, após aquele conflito, o Exército Brasileiro não foi mais experimentado nos campos de batalha de uma guerra convencional. Tendo-se estudado como se realizam as atividades de mergulho na MB, no Exército Argentino e no Exército dos EUA, pode-se visualizar com mais precisão a área de atuação do mergulho dentro do Sistema Engenharia. Como já foi acertado, diferentemente da Força Naval e dos exércitos de nações amigas estudados, a Engenharia do Exército Brasileiro ainda não possui suas missões de mergulho bem definidas. Os manuais de campanha da Força Terrestre, no que concerne à atividade especial de mergulho, são genéricos e atribuem missões pouco precisas aos mergulhadores de Engenharia. Como afirmou Linhares (2003), é bem verdade que a Força Naval possui um campo muito amplo no que se refere ao emprego de mergulhadores pelo fato de 209 suas atividades estarem intimamente relacionadas com os mares e rios de grande vulto, porém, a Engenharia do EB pode tirar proveito dos cursos d’água que não são de responsabilidade da MB, para melhor desenvolver suas missões. Ainda no que diz respeito à MB, Linhares (2003) afirma que é extremamente difícil estabelecer uma rígida demarcação entre os campos de atuação da MB e do EB. Inicialmente, pode-se partir do pressuposto doutrinário de que a MB está com a sua atenção focada nas águas marítimas e eventualmente, no caso de operações especiais, em águas interiores. Já o EB, por sua vez, concentra esforços nas águas interiores e, esporadicamente, atuará em águas do litoral. Cabe ressaltar sobre o tema que, como já foi citado, a Portaria Nr 236 define a atividade especial de mergulho, dentre outros aspectos e no que concerne à Engenharia, como aquela que envolve missões militares, realizadas com aparelho de mergulho, que atendam às operações de busca e salvamento, aos reconhecimentos e destruições subaquáticas e, ainda, ao adestramento e às instruções de mergulho [grifo do autor]. O manual de campanha C 5-34 Vade-Mécum de Engenharia (BRASIL, 1996), afirma que a atividade de mergulho se faz necessária, principalmente nas atividades de transposição de cursos de água, no resgate de materiais submergidos e na instalação e neutralização de cargas explosivas em operações [grifo do autor]. Dessa forma, a legislação e o manual de campanha, basicamente, já definiram o que os mergulhadores de Engenharia devem fazer em um primeiro momento, porém existem outras tarefas que esses combatentes especializados poderão realizar e, além disso, esses documentos não explicitam o “como” empregar os mergulhadores, explorando melhor suas características e possibilidades. Depreende-se que, à semelhança da Força Naval e do Exército dos EUA, o Exército Brasileiro pode melhor organizar as missões e responsabilidades de mergulho ao dividi-las. Diferentemente da MB, no EB essa divisão não seria realizada em apenas duas partes, mas sim em três, a saber: mergulho de operações especiais, a cargo da Bda Op Esp e Bda Inf Pqdt; mergulho de apoio ao combate; a cargo do Sistema Engenharia; e mergulho de apoio logístico, a cargo do Sistema Engenharia e do Sistema Aviação do Exército. Existe campo de pesquisa para a possibilidade de emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às atividades de operações especiais, fato 210 que necessita de um estudo mais aprofundado, a fim de empregar esses meios eficientemente e de acordo com a doutrina de emprego de Forças Especiais. Todavia, o autor acredita ser viável tal apoio, desde que realizado por mergulhadores convenientemente instruídos e adestrados para tal. Por outro lado, não se visualizam grandes óbices na atuação em conjunto dos mergulhadores de Engenharia com os mergulhadores do Sistema Aviação do Exército. A elaboração de uma proposta de emprego de uma determinada atividade deve atender à doutrina do segmento a que pertence. Assim entendido, raciocínio idêntico será utilizado para relacionar o emprego dos mergulhadores com a doutrina de emprego da Arma de Engenharia. Ao considerar tais fatos, cita-se o manual de campanha C5-1 (BRASIL, 1999) Emprego de Engenharia: As características e os princípios gerais de emprego norteiam a organização, o desdobramento, as possibilidades e as limitações do apoio de Engenharia a uma operação. Em função da situação tática, da área de operações, do escalão de planejamento e da análise dos comandantes tático e de Engenharia, algumas dessas características e desses princípios poderão ser evidenciados e outros poderão não ser verificados em sua plenitude. Do manual de campanha C5-1 Emprego de Engenharia deve-se destacar, ainda, o fato de que o Sistema Engenharia visa a proporcionar às tropas em campanha o apoio à mobilidade, à contramobilidade, à proteção e o apoio geral de Engenharia, realizando ações que são, ao mesmo tempo, táticas e técnicas; e fornecendo apoio a todos os escalões da Zona de Combate (Z Cmb) e Zona de Administração (ZA). Dessa maneira, a Engenharia emprega seus meios em missões ligadas diretamente ao combate, ao apoio logístico e ao sistema de comando e controle. 6.2.2 Características da Arma de Engenharia evidenciadas no emprego de mergulhadores 6.2.2.1 Durabilidade dos trabalhos 211 Esta característica é verificada em sua plenitude, pois as construções e destruições realizadas com a utilização de mergulhadores podem influenciar no posterior desenvolvimento da manobra. Em tempo de guerra, dentro do apoio à mobilidade, ou em tempo de paz, realizando trabalhos em apoio às operações subsidiárias ou de interesse sócioeconômico para o País, observa-se que alguns trabalhos de vulto poderão ser executados com o auxílio de mergulhadores de Engenharia. Citam-se, como exemplos, que a construção de atracadouros em localidades, a construção e manutenção de obras de arte em rodovias, além da sinalização e remoção de obstáculos naturais ou artificiais das calhas dos rios visando a facilitar a navegação, apontam para esta característica. 6.2.2.2 Progressividade dos trabalhos A progressividade dos trabalhos pressupõe o emprego de meios do escalão superior em condições de melhorar e apoiar os trabalhos mínimos necessários feitos pelo escalão subordinado. Essa característica também poderá ser verificada em sua plenitude, pois os mergulhadores das Cia E Cmb ou dos BEC executam os trabalhos mínimos necessários à Brigada ou Divisão, valendo-se de equipamentos de mergulho autônomo ou mergulho dependente leve. O escalão superior, dotado de companhias ou equipes especializadas, com maior número de meios e valendo-se de outros equipamentos e técnicas de mergulho, poderá melhorar ou ampliar os trabalhos realizados em função das necessidades. Cita-se, como exemplos dessa característica, a abertura de obstáculos subaquáticos e sua posterior remoção, a abertura de trilhas e brechas em campos minados lançados em aquavias e sua posterior remoção, a construção de pequenos ancoradouros e o posterior aumento de sua capacidade, dentre outros. 6.2.2.3 Amplitude de desdobramento Os mergulhadores de Engenharia estão presentes em todos os escalões e em todas as operações, abrangendo todos os locais da Zona de Combate e da Zona de Administração. 212 Na Z Cmb, os mergulhadores de Engenharia realizariam tarefas mais diretamente ligadas ao mergulho de apoio ao combate, já na ZA essas missões estariam mais afetas ao mergulho de apoio logístico, tendo em vista, principalmente, a maior quantidade de meios em material e pessoal da Engenharia da ZA. 6.2.2.4 Apoio em profundidade Essa característica também será observada, já que os mergulhadores das Cia E Cmb ou dos BEC podem receber apoio em pessoal e/ou em material que se fizerem necessários para a execução dos trabalhos mínimos necessários ao escalão que apóiam, provenientes das companhias ou equipes especializadas do escalão superior, as quais, além disso, podem se incumbir dos trabalhos na área de retaguarda dos mesmos, liberando a Engenharia desses escalões para prestarem apoio mais à frente possível. 6.2.2.5 Canais técnicos de Engenharia Em operações, os mergulhadores de Engenharia executam missões simples, como a recuperação de material caído em um curso d’água, como podem apoiar uma operação complexa tecnicamente, como é o caso de uma reflutuação de uma viatura, ou complexa taticamente, a exemplo de uma operação de transposição de curso d’água. Assim sendo, torna-se necessário que o assessoramento promovido pelo canal técnico permita que os elementos de mergulho do escalão superior tenham contato com os responsáveis pelas operações de mergulho do escalão Brigada e Divisão. A orientação, bem como a coordenação e o controle técnico, dos engenheiros mergulhadores do escalão superior, que normalmente deverá contar com militares mais experientes na atividade, poderá ser fundamental para o êxito das operações. 213 6.2.3 Princípios gerais de emprego da Arma de Engenharia evidenciados no emprego de mergulhadores 6.2.3.1 Emprego com Arma técnica Em decorrência do caráter técnico de suas missões, a Engenharia é organizada e instruída para realizar trabalhos que exijam técnica aprimorada e equipamentos especiais. Seu emprego em missões de combate é considerado uma medida excepcional (BRASIL, 1999). O emprego de material e pessoal especializado na realização de trabalhos técnicos é evidente no que se refere ao emprego de mergulhadores. Entretanto, apesar de estar doutrinariamente correto que a Arma apoiada forneça a segurança dos canteiros de trabalho, a carência de efetivos poderá levar a necessidade de a própria Engenharia prover a segurança aproximada das áreas em que o trabalho de mergulho esteja sendo realizado. 6.2.3.2 Emprego centralizado O emprego centralizado permite um melhor aproveitamento dos meios. A capacidade de trabalho ou de apoio de uma unidade de Engenharia é maior que a soma das capacidades de seus elementos componentes, quando operando independentemente (BRASIL, 1999). O emprego das OMEM deve estar de acordo com esse princípio, pois a necessidade de manutenção dos equipamentos utilizados e de revezamento dos mergulhadores nas fainas de mergulho, dentre outros aspectos técnicos da atividade, impõem uma grande quantidade meios em pessoal e material. 6.2.3.3 Permanência nos trabalhos Uma unidade de Engenharia deve permanecer, sempre que possível, nos trabalhos que lhe foram designados, até a sua conclusão. A substituição de uma unidade no decorrer de um trabalho acarreta uma solução de continuidade que afeta seu rendimento (BRASIL, 1999). Esse princípio de emprego deverá ser harmonizado com o do emprego centralizado. 214 A permanência nos trabalhos deverá ser analisada com critério pelo planejador, pois imposições técnicas de segurança – como a de que o tempo máximo submerso diário, em mergulhos utilizando ar comprimido, não deve superar 4 horas (na realização dos trabalhos poderão exigir a substituição da tropa empregada). Portanto, deve ser realizado um planejamento acurado da quantidade de meios em pessoal e material a utilizar, com margens de segurança que permitam evidenciar esse princípio, pois a sua não obediência acarretará em uma queda de rendimento e no conseqüente aumento do tempo de conclusão da missão. 6.2.3.4 Utilização imediata dos trabalhos Os trabalhos de Engenharia em campanha devem ser planejados e executados de modo a que possam ser utilizados em qualquer fase de sua construção ou realização. É preferível ter-se uma estrada precariamente trafegável em toda sua extensão, a uma parcialmente concluída (BRASIL, 1999). Para se obedecer a esse princípio, cresce de importância a otimização do emprego dos meios de mergulho do Sistema Engenharia, a fim de possibilitar o apoio a uma maior quantidade de componentes do Sistema Manobra. Em operações, a Engenharia poderá utilizar equipes de elementos especializados para a consecução daquelas missões consideradas prioritárias, empregando de forma judiciosa os seus meios, uma vez que seria praticamente impossível atender todas as necessidades do combate. Sendo assim, o aproveitamento dos trabalhos deve ocorrer o mais rápido possível, assim que os mergulhadores de Engenharia concluí-los, o que garantirá o melhor emprego dos meios de mergulho disponíveis para o apoio geral de Engenharia e o apoio à mobilidade, contramobilidade e proteção. 6.2.3.5 Manutenção dos laços táticos É conveniente que um mesmo elemento de Engenharia seja designado para apoiar um mesmo elemento da arma base. Essa associação continuada resulta em maior eficiência no apoio, em virtude do conhecimento mútuo entre os elementos interessados. É no escalão brigada que a manutenção dos laços táticos se revela de forma mais completa e satisfatória. Devido a diversos fatores, nos escalões mais altos torna-se mais difícil a fiel observância desse princípio. (BRASIL, 1999). 215 Sempre que possível, para o apoio a uma tropa da arma-base (Infantaria e Cavalaria) deve ser designada a mesma fração de Engenharia, resultando em maior eficiência no apoio. Todavia, as frações de mergulho, por serem constituídas de elementos altamente especializados, dificilmente poderão obedecer a esse princípio de emprego, ficando sua atuação mais caracterizada no apoio ao conjunto das tropas em operações. 6.2.3.6 Engenharia em reserva Normalmente, meios de Engenharia em pessoal não são mantidos em reserva. Os elementos de Engenharia destinados ao apoio às reservas táticas, enquanto estas não forem empregadas, permanecem executando trabalhos que não prejudiquem seu emprego futuro. Após um período de operações, as tropas de Engenharia deixam de realizar trabalhos durante o tempo necessário para a sua reorganização e recuperação (BRASIL, 1999). Normalmente, meios de Engenharia em pessoal não ficam mantidos em reserva, sobretudo os de mergulho. Em operações, certamente, haverá carência desses meios para atender as necessidades dos trabalhos técnicos. Os elementos de Engenharia destinados ao apoio à reserva, enquanto essa não for empregada, permanecerão executando trabalhos que não prejudiquem o seu emprego futuro, como, por exemplo, os reconhecimentos subaquáticos especializados ou o balizamento das vias aquáticas. 6.2.3.7 Prioridade e urgência a)O emprego dos meios de Engenharia decorre, essencialmente, do levantamento das necessidades em trabalhos de Engenharia que interessem à condução das operações consideradas. Essas necessidades são, em geral, numerosas e superiores às disponibilidades em tempo e em meios. É necessário, portanto, fixar as prioridades dos diversos trabalhos a realizar, tomando por base a sua importância relativa para a manobra, a fim de que seja possível atender às operações planejadas, da melhor forma, com os meios disponíveis; b) A urgência de um trabalho, ou seja, o prazo em que o mesmo deve ser concluído, pode estar traduzida na própria prioridade, conforme sua importância para a manobra considerada. Quando isso não acontecer, é possível admitir-se que, dentro de uma mesma prioridade, existam trabalhos com urgências diferentes. Em certos casos, pode haver trabalhos com prioridade mais baixa, que necessitam ser concluídos antes de outros com prioridade mais elevada, em nada alterando o cumprimento da missão recebida. (BRASIL, 1999). 216 Os meios de mergulho do Sistema Engenharia são exíguos. A fim de amenizar o problema deve ser executado um planejamento centralizado e minucioso do emprego dos meios disponíveis, estabelecendo as prioridades e a seqüência das missões a serem cumpridas pelas frações. 6.2.3.8 Emprego por elementos constituídos “A Engenharia sempre deverá trabalhar por frações, subunidades ou unidades constituídas, sob o comando de seus respectivos comandantes” (BRASIL, 1999). Deve-se procurar obedecer a esse princípio, contudo, devido à especificidade da atividade especial de mergulho e tendo em vista a racionalização dos meios, em algumas situações algum elemento de mergulho de Engenharia poderá vir a ser empregado com dosagem inferior a um pelotão de Engenharia de mergulho, destacando-se a utilização de grupos de Engenharia, equipes ou turmas com efetivos variáveis, conforme a natureza da tarefa ou missão a ser cumprida. 6.2.4 As formas de apoio e as situações de comando da Engenharia no emprego de mergulhadores 6.2.4.1 Formas de apoio As seguintes formas de apoio poderão ser utilizadas: apoio ao conjunto, apoio suplementar e apoio direto. Essas formas de apoio apresentam graus decrescentes de centralização. Nas operações de mergulho, devido às necessidades técnicas de segurança e de material, haverá o predomínio do emprego da tropa de maneira centralizada. Isso irá trazer implicações sobre como a Engenharia será empregada. 217 6.2.4.1.1 Apoio ao conjunto (Ap Cj) Esta forma de apoio caracteriza-se pela realização de trabalhos em proveito do conjunto do escalão apoiado ou em proveito comum de dois de seus elementos componentes. Quando em apoio ao conjunto, as Unidades de Engenharia permanecem centralizadas sob o comando da Engenharia do Escalão considerado. Em situações peculiares, em função da disponibilidade de meios, um elemento de Engenharia poderá realizar trabalhos, em apoio ao conjunto, em proveito de um elemento de manobra (BRASIL, 1999). De acordo com o resultado da pesquisa realizada, essa deverá ser a forma de apoio preferencial ao se empregar as frações de mergulho do Sistema Engenharia. Dessa maneira os meios de mergulho do Sistema permanecem centralizados, facilitando a manutenção, a logística e o correto atendimento às prioridades e urgências estabelecidas pelo escalão apoiado. O apoio ao conjunto poderá ocorrer para as missões em proveito da brigada, da Divisão, do Exército de Campanha, bem como do Comando de Engenharia do Comando Logístico do Teatro de Operações Terrestre (CECLTOT). 6.2.4.1.2 Apoio suplementar (Ap Spl) O apoio suplementar é a forma de suprir a insuficiência de Engenharia de um determinado escalão que já possui Engenharia, orgânica ou não, quando o comando a que pertence o elemento designado para o apoio puder exercer, sobre o mesmo, elevado grau de controle. O apoio suplementar compreende as seguintes modalidades: apoio suplementar por área, apoio suplementar específico e a combinação dessas duas modalidades (BRASIL, 1999). É importante salientar que, tanto o apoio suplementar por área, com o estabelecimento de um Limite Avançado de Trabalho (LAT), como o apoio suplementar específico, serão possíveis de serem realizados, uma vez que poderá existir uma fração de mergulho em apoio a uma Unidade/Subunidade de Engenharia em caso de necessidade, ou o escalão superior de Engenharia poderá designar elementos de mergulho para realizar tarefas específicas, por tempo limitado e em áreas pré-determinadas. 218 6.2.4.1.3 Apoio direto (Ap Dto) É a forma de empregar um elemento de Engenharia em apoio a um elemento que não a possui, quando o comando a que pertence o elemento designado para o apoio puder exercer, sobre o mesmo, um controle eficiente e eficaz. É a forma normal de apoiar os elementos da arma base empregados de maneira centralizada. O elemento em apoio direto permanece sob o comando da unidade de Engenharia a que pertence. Esta forma de apoio caracteriza-se por uma ligação permanente entre a Engenharia de apoio direto e a tropa apoiada, cabendo a esta última indicar as necessidades e as prioridades dos trabalhos a serem realizados. É, portanto, uma forma de apoio semicentralizado (BRASIL, 1999). O apoio direto poderá ocorrer, desde que o comandante da OM de Engenharia de mergulho tenha possibilidade de manter o controle cerrado sobre a fração que presta o apoio. Deve-se destacar que, nesse caso, o elemento de mergulho empregado sob a forma de apoio direto pode receber, cumulativamente, segundo as necessidades do comando considerado, missões de apoio ao conjunto. No caso de cessão de elemento de mergulho em apoio a Unidade de armabase, como afirmou Daniel em sua resposta à pesquisa sobre o assunto, deve-se manter o apoio direto pela questão de suprimento de meios específicos à missão, o que, via de regra, as armas-base não tem como suprir, por não fazer parte de suas cadeias logísticas o material de reposição de mergulho. 6.2.4.2 Situações de comando Existem três situações de comando previstas no Manual de Campanha C 51 – Emprego da Engenharia, o comando operacional (Cmdo Op), o controle operacional (Ct Op) e o reforço (Rfr). Todavia, deve-se evitar ao máximo empregar as frações de mergulho em qualquer dessas situações de comando, pois elas caracterizam-se pela total descentralização dos meios de Engenharia (BRASIL, 1999). Acredita-se que o reforço deverá ocorrer somente nos casos em que o escalão apoiado já possua elementos de mergulho em sua composição, tendo em vista as peculiaridades do apoio logístico dessa atividade especial. O autor admite, em caso de necessidade, o emprego de mergulhadores na situação de controle operacional, tendo em vista que, apesar de ocorrer o emprego 219 descentralizado dos meios de Engenharia, essa situação de comando se torne viável, tendo em vista as imposições do apoio logístico, principalmente do fluxo de suprimento da Classe VI, que permanece sob responsabilidade do elemento de mergulho recebido em apoio; pela razão de que a tropa apoiada não pode empregar separadamente os elementos recebidos em apoio, evitando-se ainda mais sua descentralização; e pelo fato de que um comandante só recebe esse grau de autoridade a fim de capacitar os elementos de mergulho ao recebimento de missões ou tarefas específicas. Já na situação de comando operacional, o comandante da tropa apoiada pode empregar separadamente os elementos de mergulho do Sistema Engenharia recebidos em apoio. Tal fato poderá acarretar sérios riscos à segurança do mergulhador, devido às peculiaridades técnicas dessa atividade especial. 6.2.5 O apoio de Engenharia prestado pelos elementos de mergulho 6.2.5.1 Aspectos introdutórios De acordo com o manual C 5-1, o Sistema Engenharia visa a proporcionar às tropas o apoio à mobilidade (Mbld), à contramobilidade (C Mbld) e à proteção (Ptç) e o apoio geral de Engenharia (Ap Ge Eng) (BRASIL, 1999). Esse apoio é realizado por meios de trabalhos técnicos de Engenharia, conforme o visualizado na figura 82, abaixo. Figura 82 - Visualização do apoio de Engenharia. Fonte: BRASIL, 1999. 220 6.2.5.2 Trabalhos técnicos de Engenharia 6.2.5.2.1 Reconhecimentos especializados Segundo Paiva (1997), o trabalho técnico de reconhecimento visa à obtenção, no terreno, de informes pormenorizados para a utilização, dentre outros, pelo comandante do escalão apoiado e seu Estado-Maior, tendo em vista o planejamento das operações a serem realizadas. Doutrinariamente, o trabalho técnico de reconhecimento é realizado em toda a zona de combate, utilizando as tropas de Engenharias orgânicas dos escalões Brigada, Divisão de Exército e Exército de Campanha. De acordo com Oliveira (1999), quanto mais detalhados os dados, mais preciso é o informe e, conseqüentemente, melhor assessorado estará um comandante para realizar seu planejamento. Pode-se empregar o mergulhador para enriquecer esses dados. Para Freitas (2002), na Engenharia o emprego da atividade de mergulho é essencialmente técnico e busca o levantamento de dados que, por outros meios, seriam difíceis ou impossíveis de serem obtidos. Pode ser visualizado que um reconhecimento subaquático antecederá a qualquer tipo de faina de mergulho. Como exemplos de reconhecimentos especializados que poderão valer-se de mergulhadores para obtenção de dados sobre partes ou áreas submersas, pode-se citar: 1. levantamento hidrográfico dos leitos dos rios, procurando obter dados sobre a natureza do leito, profundidade, obstáculos submersos (rochas, bancos de areia, cascos soçobrados, etc.), precedendo a uma operação de transposição de curso d’água; 2. inspeção de tubulações submersas, como oleodutos ou gasodutos, com a finalidade de levantamento de necessidades para a execução de reparos; 3. inspeção de pilares de pontes, ancoradouros, piers, portos, balsas, embarcações, a fim de instalar armadilhas ou cargas explosivas ou neutralizá-las; 4. reconhecimento de obstáculos subaquáticos lançados pelo inimigo, para posterior abertura de brechas e/ou remoção; 221 5. reconhecimento de locais de passagem a vau, especialmente aqueles que não possuírem condições de serem reconhecidos por tropa a pé. Como exemplo, cita-se as passagens a vau para viaturas blindadas de 1,20 até 2,25 metros de profundidade, no caso do Carro de Combate (CC) Leopard 1 A1 sem snorkel76 e de até 5,0 metros com esse acessório; e de 1,20 até 2,40 m de profundidade, no caso do CC M60 A3 TTS, no qual o homem a pé fica prejudicado, ou até mesmo impedido, de realizar o referido reconhecimento eficazmente. Cabe ressaltar que as Instruções Provisórias de ambos os CC afirmam que para a ultrapassagem de vau, antes da execução da travessia, deve ser executado um reconhecimento pormenorizado; verificando-se a profundidade, o solo e a correnteza do curso d’água (BRASIL, 2000; 2002). Outros locais passíveis da utilização da atividade especial de mergulho para a realização de reconhecimentos e obtenção de dados sensíveis para sua destruição são as instalações portuárias, canais, pontes, diques, comportas, terminais de petróleo e outras instalações de interesse em áreas de ambiente ribeirinho ou, em coordenação com a Força Naval, marítimo. 6.2.5.2.2 Estradas De acordo com o manual C 5-38 (BRASIL, 2001), os trabalhos de estradas consistem na construção, conservação e reparação de rodovias, melhoramentos de pistas e estradas e balizamento e melhoramento de vaus [grifo do autor]. Dessa maneira, visualiza-se que os mergulhadores poderão participar da missão destacada. Seu adestramento e seus equipamentos especializados permitirão, inicialmente, coletar dos dados necessários para cumprir essa tarefa profundidade, velocidade da correnteza, comprimento do vau, largura e material do fundo - com maior segurança e rapidez. Posteriormente, os mergulhadores podem 76 Segundo o Manual C 5-1 (p.8-8) o snorkel é um dispositivo adaptado ao carro de combate, que funciona como um respiradouro, sendo que alguns tipos mais largos permitem a presença de um homem na sua extremidade superior, o que facilita a direção do carro. 222 realizar o balizamento, com bóias ancoradas no leito do rio, e auxiliar no melhoramento de vaus. 6.2.5.2.3 Pontes Vários aspectos técnicos e doutrinários relacionados com o trabalho técnico de pontes admitem o emprego de mergulhadores. Esses aspectos serão explorados quando o presente trabalho abordar as operações de transposição de curso d’água. 6.2.5.2.4 Organização do terreno (OT) De acordo com o manual C 5-15 - Fortificações de Campanha (BRASIL, 1996), os trabalhos de OT são grupados em fortificações de campanha e camuflagem, cabendo a Engenharia executar destruições em grande escala, criar zonas de obstáculos, realizar os trabalhos que exijam equipamentos e técnica especializados [grifo do autor], fornecer equipamentos e suprimentos de Engenharia e proporcionar sugestões e assistência técnica. Segundo Paiva (1997), dentre os trabalhos de fortificações de campanha, enquadram-se os obstáculos. Esses, por sua vez, abrangem as destruições de pontes que são trabalhos específicos de Engenharia. Nesses trabalhos, poderão ser empregadas técnicas de mergulho, particularmente na instalação de cargas subaquáticas nos encontros e pilares. Ressalta-se que, nesse caso, fica tipicamente caracterizado o binômio aptidão especial X equipamento especializado, sendo o mergulhador a personificação desse binômio [grifo do autor]. Oliveira (1999) explica que a pressão manométrica exercida sobre uma carga explosiva realiza o papel de um excelente enchimento, portanto cargas de ruptura instaladas em pilares de pontes e muros de barragens, por exemplo, devem estar situadas o mais fundo possível, procurando-se obter o melhor efeito com o mínimo de explosivos. Muitas das vezes, essa profundidade exigirá a submersão do homem para a instalação das cargas de modo satisfatório. Acredita-se ser importante frisar que as demolições subaquáticas têm sido alvo do adestramento dos mergulhardes de Engenharia, como demonstra o caso da 223 destruição subaquática de um registro de vazão de água defeituoso de um açude por uma equipe de mergulho do 3o BEC, em 03 de junho de 2004. Outros exemplos de trabalhos de Organização do Terreno que poderão vir a ser realizados pelos mergulhadores de Engenharia, em ambiente fluvial, são a minagem/desminagem das aquavias, influenciando o deslocamento fluvial das tropas em campanha; o lançamento/remoção de obstáculos e armadilhas subaquáticas; além da destruição de pontos críticos. Como exemplo histórico, Pagotti (2002) cita que na Guerra do Vietnã, mergulhadores australianos, depois de um período de treinamento adicional, chegaram ao Teatro de Operações (TO) no dia 06 de fevereiro de 1967, sendo empregados na limpeza de minas aquáticas e armadilhas fluviais, lançadas pelos vietnamitas nos rios e canais de navegação. Essa, normalmente, era uma tarefa perigosa, especialmente pelas condições escuras das águas onde os mergulhadores tiveram de operar. 6.2.5.2.5 Instalações A construção e manutenção das instalações de campanha se inserem em uma das tradicionais missões afetas à Arma de Engenharia, no contexto das medidas visando à proteção da tropa. Todas as construções são classificadas como trabalhos técnicos de instalações, exceto as que se referem às estradas, pontes e organização do terreno. Dentre os trabalhos técnicos de instalações destacam-se os estacionamentos de tropas, instalações de comando, logísticas e administrativas, hospitais, depósitos, oficinas, campos de prisioneiros de guerra (PG), oleodutos, campos de pouso, ancoradouros e terminais [grifo do autor]. (BRASIL, 2002). Segundo Paiva (1997), cabe à Engenharia o projeto, a construção e a conservação dos sistemas de oleodutos necessários às operações, incluindo linhas submarinas navio-praia, ligações das instalações de armazenagem em grosso e linhas de distribuição dos derivados de petróleo. A tarefa de construção de oleodutos estará a cargo da Engenharia da ZA que, por intermédio dos Grupamentos de Engenharia de Construção, planejará e supervisionará a construção. Contudo, na Z Cmb, caberá à Engenharia de Exército, desde que convenientemente reforçada em pessoal e equipamentos especializados, a construção de oleodutos temporários ou de assalto. 224 Conforme Siqueira (1998), a construção, reparação e conservação de portos e das instalações portuárias podem constituir-se em uma responsabilidade da Engenharia ou em atribuição da Marinha, dependendo do comando das operações. Caso a Marinha seja encarregada dessas tarefas, caberá à Engenharia da Força Terrestre o encargo dos trabalhos de pequeno vulto (ancoradouros ou pontos de parada de embarcações) em aquavias interiores que interessem, diretamente, às operações terrestres. Sob o mesmo enquadramento atribuído à construção de oleodutos, a Engenharia da ZA, por intermédio dos Grupamentos de Engenharia de Construção, planejará e supervisionará a construção ou recuperação das instalações portuárias. Assim sendo, pode-se admitir o emprego de mergulhadores em determinadas fases desses trabalhos de instalações. As instalações portuárias são um dos pontos-chave de qualquer operação militar no que se refere à movimentação de pessoal e material. Os mergulhadores podem ser usados para apoiar o planejamento da entrada em operação de um porto, auxiliando na determinação de prioridades de trabalho ou preparando as estimativas dos trabalhos a serem realizados. Os engenheiros mergulhadores poderão levantar dados acerca das estruturas submersas das instalações portuárias já existentes; realizar reconhecimento hidrográfico, verificando a profundidade, o contorno do leito do rio/mar, a localização dos canais de navegação e a existência de obstruções; fazer recomendações para a restauração de partes submersas; localizar cascos soçobrados ou outras obstruções no canal de acesso; remover obstáculos; localizar e destruir minas subaquáticas; auxiliar na construção de pilares, entre outros. Os ações exemplificadas, anteriormente, facilitarão o trabalho do Comando de Engenharia responsável pela construção ou reparação de um porto. Como exemplo desse tipo de trabalho, cita-se que 3o BEC já auxiliou a construção de um porto fluvial no rio Jacuí, em Cachoeira do Sul, RS, valendo-se da utilização de mergulhadores para a realização de trabalhos técnicos. No que se refere à construção de oleodutos/gasodutos os mergulhadores poderão receber missões de reconhecimento hidrográfico para determinar o gradiente da praia e o contorno do leito; limpeza dos obstáculos naturais e artificiais; apoio ao lançamento dos dutos subaquáticos; conexão de componentes dos dutos; inspeção dos dutos e seus componentes (valendo-se de técnicas de fotografias e filmagens sub); realização da limpeza, manutenção e substituição de peças e 225 componentes dos dutos subaquáticos; e execução de reparos emergenciais em seções danificadas dos dutos (utilizando técnicas de corte e solda sub), dentre outras. 6.2.5.2.6 Assistência Técnica A E Ex presta assistência técnica às unidades do Ex Cmp nos aspectos referentes à Engenharia, como na construção de abrigos e de obstáculos, nas medidas de camuflagem, na transposição de curso de água, na produção de água tratada e na operação e manutenção de embarcações [grifo do autor] (BRASIL, 1999). O trabalho de manutenção de embarcações poderá valer-se de mergulhadores para realizar a inspeção subaquática do casco, sistemas de propulsão e navegação (com fotografias e filmagens sub); reparação do casco utilizando técnicas de corte e solda sub; limpeza de casco; tamponamentos e bujonamentos; reparação e/ou substituição de peças; dentre outros, devido à falta de carreiras, rampas com trilhos e carros onde se possa adaptar o casco das embarcações para manutenção nas margens. Podem ainda, auxiliar na recuperação de hélices e lemes perdidos. Atualmente, esses trabalhos são realizados por militares do Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA), que fazem manutenção das embarcações em viagens pelos rios amazônicos, por intermédio de trabalhos submersos, como o da troca de hélice do motor de rabeta, danificada em impactos com troncos ou bancos de areia. Muitas vezes, utilizam-se técnicas de mergulho livre, em função da inexistência e militares habilitados a realizarem mergulho com aparelho, seja autônomo ou dependente77. 6.2.5.2.7 Cartografia Esta missão da E Ex compreende as seguintes atividades: (1) realização de trabalhos de levantamentos topográficos e geodésicos necessários às suas próprias atividades ou às de outras armas e serviços; (2) produção de trabalhos cartográficos de interesse do Ex Cmp, como cartas, cartas-imagem, cartas temáticas; (3) confecção de relatórios e outros trabalhos de informações topográficas e geodésicas; 77 Conversa informal com militares do CECMA. 226 (4) produção de dados digitais do terreno para facilitar o planejamento operacional e logístico e o sistema de comando e controle (BRASIL, 1999). Os mergulhadores de Engenharia poderão apoiar a realização de levantamentos hidrográficos de interesse do EB, particularmente das vias interiores, realizados pelo Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), que é o órgão responsável pelo planejamento e pela validação dos dados resultantes dos Levantamentos Hidrográficos destinados à construção das cartas náuticas sob a responsabilidade da Diretoria e Hidrografia e Navegação da MB (BRASIL, 2006). 6.2.5.2.8 Manutenção de equipamento de Engenharia Nos escalões exército de campanha e inferiores, as atividades relacionadas à manutenção de engenharia estão assim distribuídas: (1) as unidades de todas as armas e serviços, inclusive as de engenharia, são responsáveis pela manutenção orgânica do material de engenharia de sua dotação (1º e 2º escalões); (2) as unidades de engenharia são responsáveis ainda pela manutenção de 3º escalão de seu material de engenharia orgânico; (3) o 4º escalão de manutenção de campanha e a manutenção de retaguarda constituem responsabilidade dos batalhões logísticos das brigadas/divisões ou dos grupamentos logísticos dos grandes comandos, que para esse fim contam, em sua organização, com elementos de engenharia (BRASIL, 1999). Dessa forma, e adaptando-se as modificações feitas no novo C 100-10 (2003), verifica-se que existe a necessidade de que as OM de mergulho de Engenharia possuam especialistas na manutenção dos equipamentos utilizados pelos mergulhadores até o 2o (antigo 3o) escalão de manutenção, devendo ser, preferencialmente, mergulhadores habilitados, a fim de também poderem cumprir tarefas ligadas à atividade-fim da OM. Além disso, existe a necessidade de se mobiliar os batalhões logísticos ou os grupamentos logísticos com militares aptos a manutenir o material de mergulho até o atual 3o (antigo 4o) escalão de manutenção. 6.2.5.3 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às operações de transposição de curso d’água 227 6.2.5.3.1 Reconhecimentos especializados Uma operação de transposição de curso de água obedece, geralmente, ao seguinte desenvolvimento: 1. obtenção de conhecimentos; 2. planejamento; 3. execução (BRASIL,1996). A transposição de um curso de água obstáculo é uma operação especial que apresenta as seguintes características: 1. necessita de grande quantidade de equipamento peculiar e de pessoal especialmente instruído (BRASIL,1996)... Cada Cmt deverá buscar, não só no âmbito de sua Z Aç mas também de sua área de interesse, o máximo de conhecimentos (terreno, condições meteorológicas, inimigo e forças amigas), negando-os ao oponente (BRASIL,1996). A obtenção de conhecimentos antes e durante o período de planejamento é essencial na preparação de um plano exeqüível de transposição de curso de água e para a escolha do local mais apropriado para a operação. Segundo o manual C 3160, dentre os aspectos a serem esclarecidos estão as características do curso d’água, incluindo (BRASIL, 1996): 1. largura e a profundidade do curso de água; 2. possibilidade de sua transposição a vau por tropas e veículos; 3. velocidade e as características da corrente; 4. existência de correntes transversais, de correntes descendentes e de correntes de maré; 5. altura, a inclinação e as condições das margens; 6. condições do leito do rio; 7. localização de obstáculos (ilhas, bancos de areia, pontes destruídas, etc); 8. localização de barragens e outras obras e seus efeitos nas características do curso de água; 9. possibilidades de inundação e congelamento; 10. Loc Tva, incluindo detalhes sobre a localização e as características de cada um. Todos esses aspectos podem ser levantados com o apoio de mergulhadores, que dotados de equipamentos especializados, como, por exemplo, ecobatímetros e sonares, podem realizar levantamentos hidrográficos precisos de grande valia para os planejadores da operação, que necessitam conhecer, em detalhe, as características do curso d’água. 228 A exemplo do Exército dos EUA, o EB poderia contar com um pelotão de mergulho para apoiar esse tipo de operação, o qual trabalharia próximo às Unidades de pontes, provendo a informação mais acurada ao comandante da força de transposição ou aos comandantes da travessia. Esse pelotão, durante a realização de reconhecimentos em locais sem segurança, deverá receber o apoio de uma equipe para prover essa necessidade, a fim de melhor poder empregar seus meios em pessoal. A realização dos reconhecimentos, preferencialmente, deverá ser executada no período noturno, priorizando-se a segurança em relação ao rendimento dos trabalhos. Para cumprir dessa tarefa, os mergulhadores poderão se valer de botes pneumáticos, pontões, voadeiras, jet skis, caiaques ou até mesmo helicópteros, se a distância a ser percorrida for muito grande e se a situação tática assim o permitir. 6.2.5.3.2 Pontes Segundo Paiva (1997), a transposição de um curso de água exige, normalmente, trabalhos específicos de Engenharia que visam ao estabelecimento de ligações contínuas (pontes) ou descontínuas (portadas, balsas, embarcações, etc.) entre as duas margens. A maior ou menor extensão dos trabalhos de Engenharia dependerá das características do curso d’água. O conhecimento das características dos cursos d’água que são necessários à operação de meios flutuantes e ao lançamento de pontes de equipagem é conduzido pela Engenharia presente na Z Cmb, podendo valer-se de mergulhadores para obtenção dos dados de interesse. De acordo com o manual C 5-1, cabe à Engenharia de Exército substituir as pontes lançadas pelos escalões subordinados por pontes semipermanentes ou por pontes de equipagem pesadas, seja para liberar o material de equipagem de assalto, seja para assegurar melhores condições de travessia. Aos escalões de Engenharia orgânicos das divisões de exército e brigadas cabem as missões de reparação, reforçamento e construção de pontes, particularmente de equipagem (BRASIL, 1999). Em todas as atividades de pontagem desenvolvidas para uma operação de transposição de curso d’água, o uso da técnica do mergulho pode ser necessário em várias etapas da execução. Cita-se como exemplos: 229 o resgate de material caído acidentalmente no curso d’ água; a busca e recuperação de baixas; a liberação de equipamentos porventura presos ao leito do rio, após a desmontagem das equipagens; e inspeção subaquática de pontes, visando à verificação de sua integridade estrutural. O primeiro desses exemplos ocorre de maneira rotineira nos trabalhos de pontagem, como demonstrou a pesquisa realizada com as OM de Engenharia no quesito “Em alguma ocasião a OM teve material extraviado em Op ou instrução por ter caído em rio, mar ou lago?”, quando 80% das OM responderam afirmativamente. Com relação à inspeção subaquática de pontes, certas situações na zona de combate, em que a utilização das pontes de equipagem deva ser feita com cautela ou perigo, exigem uma inspeção detalhada da ponte após a travessia de cada viatura. Tal tarefa poderá utilizar mergulhadores de Engenharia para a avaliação de partes submersas dos suportes fixos ou flutuantes. 6.2.5.3.3 Operações de dissimulação tática. As operações de dissimulação tática se constituem em um conjunto de medidas e ações que procuram iludir o inimigo a respeito de determinada situação e/ou planos táticos, com o propósito de induzi-lo a reagir de modo vantajoso para nossa manobra. (BRASIL,1997) Nesse tipo de operação, no contexto da realização de uma transposição de curso d’água, pode se visualizar o emprego de mergulhadores na realização de movimentos, fintas, demonstrações e execução de demolições simuladas, a fim de se atingir os objetivos da dissimulação. 6.2.5.3.4 Proteção de pontes Segundo Dodge (1946), sobre a travessia a viva força do rio Elba pela 83a DI, durante a 2a Guerra Mundial, 230 Dois pontos se mostraram de grande importância: (1) o emprego de meios de passagem descontínuos; e (2) a proteção da ponte. Da experiência colhida nas operações de Nijmegen e Remagen, aprendemos a esperar qualquer uma das seguintes ações inimigas: (1) artilharia; (2) ataques aéreos; (3) minas flutuantes; (4) mergulhadores; (5) lanchas a motor. Em conseqüência foram tomadas as devidas precauções... A montante da ponte foi instalada uma rede contra minas, quinze minas explodiram de encontro a rede e nenhuma atingiu a ponte. Uma rede extensível de arame farpado foi mergulhada na correnteza e, durante a escuridão e com intervalos de 5 minutos, cargas de trotil eram lançadas à água, de uma lancha ancorada rio acima. Isto evitou que mergulhadores demolissem a ponte. Estes eram submetidos a um treinamento numa escola em Veneza (Itália); vestiam roupas especiais de borracha e dispunham de respiradores de oxigênio e bombas-torpedo. O interrogatório de três mergulhadores capturados revelou que eles ficaram presos na rede e perderam o controle de suas bombas. Um deles foi acometido de câimbras, causadas pelos explosivos e devidas, também, a um rasgão em sua roupa de borracha (DODGE, 1946). Esses ensinamentos constam dos manuais do EB, pois no manual C 5-1 está previsto que as pontes devem ser protegidas contra as ações do inimigo no próprio rio (engenhos flutuantes ou submersos, com ou sem propulsão, nadadores ou mergulhadores) e contra objetos trazidos pela corrente, pelo emprego de estacadas, redes submersas e postos especiais de vigilância instalados a montante e a jusante da ponte (BRASIL, 1999). Dessa forma é possível visualizar que as técnicas de mergulho podem ser empregadas para o lançamento das redes submersas e para a colocação das estacadas. 6.2.5.3.5 Segurança dos locais de travessia Os meios descontínuos utilizados são as embarcações de pequeno porte (militares ou civis), simples ou conjugadas. Ainda como meios descontínuos consideram-se as viaturas anfíbias, que cruzam o rio navegando por seus próprios meios ou submersas pelo fundo. Em ambos os casos sofrem grande influência das características do curso de água (BRASIL, 1999)) [grifo do autor]. Segundo a IP 17-82, o CC Leopard 1 A1 possui um sistema de mergulho que tem por objetivo possibilitar a ultrapassagem de vaus de até 1,20 metros, sem preparação, e de até 2,25 metros, com preparação. Além disso o C 5-1, cita que esse CC pode valer-se de snorkel, superarando vaus de até 5,0 metros. Já o sistema de mergulho do CC M60 A3 TTS, de acordo com a IP 17-84, possibilita a travessias de vaus entre 1,2 e 2,4 metros de profundidade. Vale ressaltar que para 231 esse tipo de travessia a corrente deve ser moderada, o fundo firme e as margens favoráveis. Em operações semelhantes no Exército da Rússia, os mergulhadores foram empregados nos destacamentos de resgate, para assegurar o salvamento da tripulação de CC submersos. Imediatamente após a identificação de um CC que estava com problemas, os mergulhadores utilizaram cordas e polias para iniciar sua recuperação. Assim sendo, visualiza-se a utilização de mergulhadores na realização da segurança desse tipo de travessia, além do reconhecimento e balizamento dos vaus, como foi explicado anteriormente. 6.2.5.4 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às Operações Anfíbias A abertura de passagens nos obstáculos aquáticos e subaquáticos é encargo das tropas do Corpo de Fuzileiros Navais ou de equipes especializadas de engenharia das brigadas ou da divisão. Essas equipes devem ser constituídas por elementos habilitados a cumprir todas as missões previstas na limpeza de praias e na demolição submarina (BRASIL, 1999) [grifo do autor]. Eventualmente os mergulhadores de Engenharia poderão participar das operações anfíbias apoiando o componente naval, devendo tal apoio ser executado em estreita coordenação com o comando combinado da operação. Essas equipes, compostas de mergulhadores adestrados nos assuntos relativos à minagem/desminagem subaquática e no trato com explosivos, devem ser capazes de cumprir todas as missões previstas na limpeza de praias e nas demolições submarinas necessárias à operação. Além disso, os mergulhadores de Engenharia poderão apoiar as Operações do Grupo de Reconhecimento e Demolição Submarina, que, segundo Batista (2003), tem por objetivo comprovar os dados existentes, obter novos dados e auxiliar o desembarque, executando todas ou algumas das seguintes tarefas: reconhecimento hidrográfico das praias de desembarque (Pra Dbq) e suas proximidades marítimas (normalmente até a linha de sete metros de profundidade); demolição de obstáculos naturais e artificiais, nas proximidades das Pra Dbq; 232 limpeza de minas, entre a linha de preamar78 e a isóbata79 de sete metros; localização, melhoramento e marcação de canais utilizáveis; 6.2.5.5 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às operações na selva. O apoio de Engenharia caracteriza-se pela grande diversificação dos trabalhos técnicos a serem realizados. Dentre os mais comuns, destacam-se: a. reconhecimento de engenharia...; b. construção e/ou preparação de pista de pouso, aeroportos, ancoradouros e portos fluviais; c. construção e destruição de instalações diversas; d. lançamento, destruição ou remoção de obstáculos, em terra e nas aquavias; e. construção, lançamento e destruição de pontes e outros meios de travessia de cursos de água; f. minagem e desminagem de aquavias. (BRASIL, 1997) [grifo do autor]. Os reconhecimentos devem, ainda, assinalar as características dos cursos de água, em particular, os níveis e traçados nos diferentes períodos do ano e as condições das margens nos locais favoráveis ao desembarque (BRASIL, 1999) Raramente é possível a utilização das equipagens de pontes. Pontes flutuantes,quando empregadas, são cuidadosamente ancoradas (BRASIL, 1999). Não são confiáveis os vaus assinalados em carta ou existentes em tempo seco, porque as chuvas podem torná-los impraticáveis em poucas horas. Enchentes repentinas podem destruir as pontes, obrigando a reparação urgente das que forem importantes. (BRASIL,1999). Caso a região disponha de cursos de água navegáveis, eles comporão a rede de transportes. Cabe à Engenharia cooperar no planejamento de sua utilização, obtendo os dados técnicos sobre os cursos de água, e também no movimento por eles, executando obras complementares (pontos de atracação, ancoradouros). Unidades especializadas de Engenharia terão o encargo do levantamento e atualização dos dados técnicos dos cursos de água de responsabilidade da Força Terrestre (BRASIL,1999) [grifo do autor]. Com relação às operações na selva deve-se evidenciar que conforme os itens doutrinários de emprego acima selecionados avolumam-se os trabalhos de Engenharia. O emprego de mergulhadores adestrados ao ambiente operacional da Amazônia em muito facilitará a execução dos mesmos, contribuindo para a consecução dos objetivos traçados pelo planejador militar. 78 Preamar é o ponto mais alto a que sobe a maré; maré-cheia. Isóbata é a linha imaginária, ou linha em um mapa, que une os pontos da mesma profundidade em um mar ou oceano. 79 233 6.2.5.5.1 Desminagem e minagem fluvial na Amazônia Segundo Lampert (2005), no litoral amazônico, as minas deverão ser colocadas pelos Fuzileiros Navais. Nos rios, a minagem ainda é uma incógnita para as tropas do Exército. Deverá haver uma coordenação com a Marinha para essa ação. Caso o EB venha a ter alguma responsabilidade, o que o autor acha provável, há que se especializar elementos de Engenharia nessa atividade. Segundo Pagotti (2002), a execução da desminagem fluvial na Amazônia requer técnicas e conhecimentos específicos para esse ambiente operacional, considerando principalmente, as características dos cursos d’água existentes na área. Desse modo, a desminagem fluvial representa um valoroso meio de apoio ao movimento nas operações militares em rotas fluviais interiores, particularmente nas áreas onde não houver alternativas para o deslocamento terrestre ou aéreo. Ainda que o emprego de medidas de minagem e desminagem aquáticas seja encargo doutrinário da Força Naval, diversos cursos d’água amazônicos apresentam grande variação de nível, largura, profundidade, velocidade da correnteza, declividade, raios de curvatura e sinuosidade, dificultando o emprego de embarcações especializadas para este fim, criando uma lacuna a ser preenchida pela Força Terrestre, no caso os elementos especializados de Engenharia de selva, apoiados por embarcações, aeronaves e efetivos próprios. Afirma Pagotti (2002), que, como exemplo, pode ser citado o trecho do rio Madeira que só é trafegável, na região do Alto Madeira (rios Guaporé, Mamoré e Beni), por pequenas embarcações. Assim sendo, caberá aos mergulhadores das OM de Engenharia de Selva desenvolver reconhecimentos e trabalhos, visando a consolidar medidas de minagem e desminagem adequadas naquele trecho, a partir dos planejamentos operacionais existentes. Deve-se recordar que na região Amazônica, o emprego de minas será facilitado nos pequenos furos, igarapés e paranás, vias de acesso onde as correntezas são inferiores aos rios de maior porte. Dessa forma, acredita-se que seria de grande utilidade para o apoio de Engenharia às operações na selva, que as frações de mergulho estivessem aptas a realizar as seguintes tarefas: localização e o lançamento de minas aquáticas em águas rasas; desativação de minas inimigas; 234 lançamento de minas de superfície em portos ou em instalações fluviais; busca e desativação de minas submersas; busca e desativação de minas de casco temporizadas em navios e instalações; remoção de dispositivos explosivos improvisados. Ainda de acordo com Pagotti (2002), de maneira geral, as minas que contêm pequena quantidade de explosivos são destinadas, basicamente, contra embarcações fluviais leves, devendo ser lançadas em rotas fluviais, portos, ancoradouros e canais, a fim de dificultar ou impedir o uso das vias de acesso pelas embarcações. Podem, ainda, ser lançadas em pontos de bloqueio, a fim de evitar reforços vindos através dos cursos d’água. O emprego das equipes de mergulhadores para a desminagem aquática exige o desembarque do pessoal (pequenas equipes), utilizando barcos leves ou aeronaves, nas proximidades das áreas minadas para posterior trabalho de desativação. Mesmo sendo um método pouco seguro, uma vez que expõe as equipes contra as medidas defensivas das tropas lançadoras das minas (emboscadas, tiros diretos, aprisionamento, ativação de minas inteligentes por ocasião da aproximação dos efetivos), apresenta a grande vantagem de ser utilizado sob quaisquer condições atmosféricas, e com poucas restrições de emprego em relação às características dos rios amazônicos, uma vez que os mergulhadores podem trabalhar mesmo em rios de pequena envergadura. Dessa maneira, acreditase que esse seja o método mais adequado para se cumprir a missão de desativação de minas em águas interiores da Amazônia. 6.2.5.6 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às Operações Ribeirinhas (Op Rib) As Op Rib são conduzidas, normalmente, com a finalidade de controlar áreas ribeirinhas e destruir forças inimigas, desenvolvendo-se tanto a partir de bases flutuantes como de bases terrestres. 235 Na conduta das operações ofensivas, em ambiente ribeirinho, prescreve o Manual Escolar ME 31-75, da ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (ECEME), que a vanguarda de um movimento aquático inclui, normalmente, um elemento de segurança contra minas, um de reconhecimento e um de apoio de fogo. O elemento de segurança contra minas constitui-se de uma embarcação da Marinha com equipamento para a varredura de minas que, movendo-se à frente da vanguarda, tem por finalidade limpar a via navegável de minas (PAIVA,1997). Conforme Paiva (1997), o ME 31-75 prescreve, ainda, que a Engenharia realiza trabalhos que atendam exigências especiais das operações em ambiente ribeirinho, entre os quais, está listada a remoção de minas aquáticas em vias navegáveis. Dessa forma, visualiza-se que ao elemento varredor de minas da MB pode-se passar, em reforço, especialistas de Engenharia, com o intuito de apoiar as equipes da MB na remoção e/ou destruição de minas fluviais, visualizando-se que essa missão será cumprida por mergulhadores de Engenharia. Segundo Pagotti (2002), no que se refere aos trabalhos de instalações, o apoio a mobilidade das tropas sofre restrições pela precariedade das instalações portuárias. À medida que se sobe às cabeceiras dos afluentes avulta, pois, o planejamento do emprego de portos flutuantes ou balsas aparelhadas para este fim, onde visualiza-se o emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio a tal atividade. No caso da região Amazônica, em especial, observa-se que, além disso, à medida que se interioriza na floresta, o porte dos rios e igarapés diminui, o que dificulta as ações das embarcações da Força Naval, tendo em vista o calado das mesmas, os bancos de areia, os troncos flutuantes e as árvores submersas. Assim sendo, cresce de importância o apoio de Engenharia, que com seus mergulhadores deverá realizar desminagem fluvial e a remoção dos demais obstáculos ao movimento. Ainda de acordo com Paiva (1997), o ME 31-75 também prescreve que a Engenharia coordena com a MB a elaboração de levantamentos relacionados aos cursos de água e terrenos adjacentes e auxilia no balizamento de canais e em outras atividades necessárias à navegação. Entende-se que tais tarefas poderão ser cumpridas com o auxilio de especialistas em mergulho. 236 6.2.5.7 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio à função logística salvamento Segundo o manual C100-10, a função logística salvamento é o conjunto de atividades que são executadas, visando à salvaguarda e ao resgate de recursos materiais, suas cargas ou itens específicos. Dentre as atividades dessa função logística, as seguintes podem ensejar a utilização de mergulhadores, desde que ocorram em ambiente aquático (BRASIL, 2003): controle de avarias80; reboque; desencalhe ou reflutuação de meios; resgate de materiais acidentados, cargas ou itens específicos; remoção. Segundo Oliveira (1999), as missões de busca e salvamento estão diretamente ligadas aos riscos das atividades em meio aquático e, portanto, são de grande importância para a Arma de Engenharia. Toda instrução ou operação, em que haja risco de imersão, exige uma série de cuidados quanto à segurança. Em certas situações poderá ser necessário o uso de técnicas especiais de salvamento que exigem a ação de mergulhadores. Ocasionalmente pode ocorrer um acidente com vítima fatal, conforme 1/3 das OM responderam ao quesito sobre perda de militar por afogamento. Nesses casos, os mergulhadores também poderão ser empregados na busca e recuperação de corpos. Todavia, deve-se ressaltar que as habilidades exigidas de um mergulhador não são as mesmas de um salva-vidas. 6.2.5.8 Emprego de mergulhadores de Engenharia em apoio às ações subsidiárias e de interesse econômico O apoio geral de Engenharia em tempo de paz, inclui também os trabalhos em apoio às ações subsidiárias ou de interesse sócio-econômico para a Nação. Algumas dessas tarefas podem ser realizadas em combinação com a Engenharia de outras forças ou com empresas civis especializadas. São exemplos, entre outros, o estudo do terreno, a navegação em vias interiores, a produção de cartas e de água tratada e a construção, reparação, melhoramento e conservação de hidrovias, rodovias e ferrovias, de instalações logísticas ou de comando, de campos de pouso e de sistemas de abastecimento de serviços essenciais (BRASIL, 1999). 80 Entende-se por controle de avarias o procedimento de inspeção e avaliação de danos reais ou potenciais em obras de arte, instalações ou embarcações 237 Visualiza-se o emprego de mergulhadores de Engenharia no apoio à navegação de vias interiores, com trabalhos de demarcação, sinalização e remoção de obstáculos naturais ou artificiais das calhas dos rios visando a facilitar a navegação nas hidrovias, a construção de atracadouros em localidades, a construção e manutenção de obras de arte em rodovias, etc. Esses trabalhos, se for o caso, devem ser feitos em combinação com as atividades afins do poder naval, havendo, também, a possibilidade de atuar em consórcio com empresas civis especializadas em mergulho. Existe ainda, em apoio às ações subsidiárias, a possibilidade de mergulhadores de Engenharia trabalharem em prol de comunidades afetadas por fenômenos naturais, tais como as enchentes, realizando fainas de salvamento, como a busca e o resgate. Em relação às atividades de interesse sócio-econômico para a Nação, e em consonância com a missão da Força Naval, a MB, desde 1989, conta com um Centro Hiperbárico no CIAMA, resultado de um convênio firmado entre a aquela Força e a Petrobras. Esse centro possibilita preparar pessoal nas técnicas de mergulho de saturação, além de pesquisas e desenvolvimento em medicina hiperbárica e a efetivação de experimentos e testes hiperbáricos em materiais e engenhos submarinos de interesse da MB e da empresa de energia, o que muito contribuiu no sucesso alcançado pela Petrobras na exploração de petróleo em águas profundas. Ainda sobre o tema, e como forma de destacar sua importância, cita-se a Diretriz Geral do Comandante do Exército de 2003: As ações subsidiárias são fator de projeção e afirmação do EB na sociedade e sempre que for viável, deve-se estabelecer cooperação com os diferentes níveis de governo e com a iniciativa privada, com vistas a integrar ações subsidiárias com exercícios ou operações. As ações subsidiárias não devem comprometer a operacionalidade da Força, porém há que se considerar que têm valor estratégico como veículo de projeção do EB no seio da sociedade. (ALBUQUERQUE, 2003) Dessa forma, os mergulhadores podem ser empregados em apoio às Diretorias do Departamento de Engenharia e Construção nos projetos que envolvam represas, hidrovias e instalações portuárias, dentre outros. 238 6.2.6 Considerações finais De acordo com o que foi explicitado no presente capítulo, visualizando-se as possibilidades de emprego dos mergulhadores de Engenharia, de acordo com as características, princípios de emprego, formas de apoio e situações de comando, na realização de trabalhos do apoio de Engenharia em operações convencionais ou com características especiais, bem como em apoio à função logística salvamento e às ações subsidiárias e de interesse econômico. Pode-se inferir que os mergulhadores, seguindo a característica da Arma de Engenharia a “amplitude de desdobramento”, deverão estar presentes em todo o Teatro de Operações Terrestre, tanto na ZA, como na Z Cmb. De uma maneira geral os mergulhadores atuarão na ZA, realizando: trabalhos técnicos de instalações, particularmente em portos, ancoradouros e oleodutos/gasodutos; reparação de canais interiores, represas e pontes danificadas; limpeza de obstáculos subaquáticos e a demarcação de canais de navegação; instalação, manutenção e reparação de ancoradouros; coleta de informações acerca do leito no mar, portos e rios em apoio à abertura e reparação de portos; instalação, manutenção e reparação da porção subaquática de oleodutos/gasodutos em portos; recuperação de material, embarcações e viaturas afundadas; reparação de embarcações do EB ou de interesse do EB; e inspeção e avaliação de danos reais ou potenciais em obras de arte, instalações ou embarcações, dentre outros. Entende-se que na Zona de Combate, o emprego de mergulhadores estará presente nos seguintes trabalhos: reconhecimento de locais para transposição de cursos d’água; lançamento e remoção de minas e obstáculos subaquáticos; demolições subaquáticas; coleta de informações sobre o leito de rio, mar, lagos etc; 239 reparo de pontes, represas e canais danificados; construção de estruturas subaquáticas de pontes; lançamentos de obstáculos e barreiras flutuantes; operações de busca e recuperação; desobstrução e demarcação de hidrovias; inspeção e reparo de embarcações do Exército; inspeção e reparo da porção subaquática de ancoradouros; instalação de sistemas de segurança subaquáticos; realização de reconhecimento próximo e afastado das margens dos locais de travessia de curso d´água; proteção do equipamento de transposição de curso d’água e das estruturas submersas das ameaças subaquáticas; e participar de operações de dissimulação tática, iludindo as forças inimigas no contexto de uma operação de transposição de curso d’água, dentre outras. 6.3 A ATIVIDADE DE MERGULHO E A ESTRUTURA ORANIZACIONAL DA ARMA DE ENGENHARIA 6.3.1 Generalidades Nos manuais de campanha em vigor no EB, atinentes ao Sistema Engenharia, existe a previsão de missões que devem ser obrigatoriamente executadas por militares mergulhadores. Tais missões exigem a qualificação necessária para que possam ser cumpridas a contento. Assim sendo, deve-se analisar a estrutura existente a fim de se propor os aperfeiçoamentos julgados necessários. 240 6.3.2 O apoio dos mergulhadores de Engenharia no escalão brigada O manual de campanha C 5-10, o apoio de Engenharia no escalão brigada, traz em seu capítulo dois, aspectos comuns às companhias de Engenharia de combate de brigada, a seguinte afirmação (BRASIL, 2000): 2-3. POSSIBILIDADES A Cia E Cmb/Bda tem as seguintes possibilidades: (i) ... lançar e remover obstáculos, inclusive subaquáticos... Essa é a única referência direta ao emprego de mergulhadores, feita de maneira geral no escalão brigada, já que o manual de campanha C 5-1, Emprego de Engenharia, em nenhum momento se refere ao tema nesse escalão. Observa-se que o doutrinador restringiu as fainas de mergulho ao lançamento e remoção de obstáculos subaquáticos, subempregando essa técnica especializada. Sugere-se a revisão desse item mudando a sua descrição para: 2-3. POSSIBILIDADES A Cia E Cmb/Bda tem as seguintes possibilidades: (i) ... lançar e remover obstáculos; (u) realizar trabalhos subaquáticos de pequeno vulto [grifo do autor]. 6.3.2.1 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Infantaria Motorizada (Cia E Cmb / Bda Inf Mtz) Dentre as missões dessa SU, o manual C 5-10 atribuiu ao pelotão de engenharia e apoio (Pel E Ap) a execução de trabalhos subaquáticos necessários à brigada, designando o subcomandante (SCmt) do pelotão como um especialista no emprego das atividades subaquáticas. Dentro da constituição desse Pel existe um grupo de Engenharia (Gp E) de combate, o qual deve possuir pessoal e equipamento para realizar as atividades subaquáticas necessárias à brigada. Coerentemente, o doutrinador estabeleceu para esse tipo de Subunidade (SU), que, dentre outros materiais, ela estaria dotada de conjunto de equipamentos para mergulho autônomo (figura 83) (BRASIL, 2000). 241 Figura 83 - Organograma do Pel E Ap / Cia E Cmb das Bda Inf Mtz. Fonte: Manual C 5-10 p.3-5 (BRASIL, 2000). Identifica-se, nesse ponto, que as atividades de mergulho desse tipo de SU estão concentradas em um Gp E, sendo tais atividades de responsabilidade do SCmt do Pel. De acordo com o que prevê o manual, esse grupo poderá executar qualquer tipo de trabalho subaquático, porém valendo-se apenas da técnica de mergulho autônomo. Dessa forma o doutrinador não restringiu as atividades subaquáticas que serão desenvolvidas pela SU, porém, restringiu essas atividades à utilização do equipamento de mergulho autônomo. Todavia, em algumas fainas de mergulho o equipamento dependente será mais adequado. Sugere-se, então, que seja incluído como um dos principais equipamentos desse tipo de SU o equipamento de mergulho dependente leve ou “narguillê” [grifo do autor]. De acordo com a pesquisa realizada com as OM dessa natureza, faz-se necessário propor que seja aumentada a capacidade de apoio desse tipo de SU na realização de trabalhos subaquáticos. Assim sendo, sugere-se, ainda, a criação de um grupo de mergulho, orgânico do Pel Eq Ass. 6.3.2.2 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Mecanizada (Cia E Cmb / Bda Mec) De maneira idêntica à Cia E Cmb / Bda Inf Mtz, o pelotão de Engenharia e apoio recebeu a missão de realizar destruições subaquáticas, também designando o subcomandante do pelotão como um especialista no emprego das atividades subaquáticas. Igualmente, dentro da constituição desse pelotão existe um Gp E que deve possuir pessoal e equipamento para realizar as atividades subaquáticas necessárias à brigada. De forma diferente à Cia E Cmb / Bda Inf Mtz, o doutrinador 242 não estabeleceu para essa SU a dotação de equipamentos para mergulho dentre seus principais equipamentos e materiais (figura 84). Figura 84 - Organograma do Pel E Ap / Cia E Cmb das Bda Mec. Fonte: Manual C 5-10 p.4-5 (BRASIL, 2000). Observa-se, nesse item, que as atividades de mergulho desse tipo de SU também estão centradas em um Gp E, sendo tais atividades de responsabilidade do SCmt do Pel. De acordo com o que prevê o manual, esse grupo possui a missão de realizar destruições subaquáticas ao mesmo tempo que tem por atribuição realizar as atividades subaquática necessárias à brigada. Dessa forma, observa-se que ao dar a missão a esse Gp E, o doutrinador restringiu o uso da atividade especial de mergulho, ao passo que ampliou sua utilização ao definir as atribuições desse grupo. Ressalta-se, também, que nenhum tipo de equipamento de mergulho está citado dentre os principais equipamentos e materiais desse tipo de SU. Sugere-se: 1) modificar a redação do texto das missões do Pel E Cmb para: 4-12. MISSÃO O Pel Eng de apoio tem como principais missões: (g) realizar destruições; (j) executar trabalhos subaquáticos necessários à Bda [grifo do autor]. 2) incluir o equipamento de mergulho autônomo e o equipamento de mergulho dependente leve (narguillê), dentre os equipamentos e materiais da Cia E Cmb Mec. 243 6.3.2.3 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Infantaria Páraquedista (Cia E Cmb / Bda Inf Pqdt). Verifica-se, que nesse tipo de SU o doutrinador estabeleceu que o Pel E Ap possui a missão de realizar trabalhos subaquáticos, tendo como especialista nessa atividade o SCmt dessa fração. De forma diferente às organizações já apresentadas, nesse tipo de SU o grupo de apoio (Gp Ap) recebeu atribuição de realizar as destruições subaquáticas. Dentre os principais equipamento e materiais da Cia E Cmb / Bda Inf Pqdt consta o equipamento de mergulho, sem defini-lo como autônomo ou dependente. No que se refere ao emprego do Pel, essa fração pode ceder pessoal especializado aos Pelotões de Engenharia de Combate (Pel E Cmb) para a realização de destruições subaquáticas (figura 85). Figura 85 - Organograma do Pel E Ap / Cia E Cmb da Bda Inf Pqdt. Fonte: Manual C 5-10 p.4-5 (BRASIL, 2000). Coerentemente com o que foi sugerido para as SU motorizadas e mecanizadas e de acordo com a pesquisa realizada com a OM dessa natureza, sugere-se: 1) alterar a redação do item 5-13. Atribuições: de: f. O grupo de apoio (Gp Ap) reforça os Pel E Cmb com pessoal, especializado ou não, realiza destruições subaquáticas e lança campo de minas (C Min) e áreas minadas de interesse da Bda (C5-10, BRASIL, 2000). para: f. O grupo de apoio (Gp Ap) reforça os Pel E Cmb com pessoal, especializado ou não, realiza trabalhos subaquáticos e destruições, lança C Min e áreas minadas de interesse da Bda. 244 2) o grupo de apoio passaria a ser “totalmente” especializado em mergulho, tendo todos os seus componentes habilitados nessa atividade especial, aumentando a capacidade de realização de trabalhos subaquáticos por parte da SU; 3) especificar os tipos de equipamento de mergulho que a SU deve possuir, acrescendo os equipamentos de mergulho autônomo e dependente leve (“narguillê”), dentre os equipamentos e materiais da Cia E Cmb Mec [grifo do autor]. 6.3.2.4 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Infantaria de Selva (Cia E Cmb / Bda Inf Sl) Esse tipo de SU não recebeu do doutrinador possibilidades em relação às atividades subaquática, mas sim limitações, são elas: 6.6. LIMITAÇÕES A Cia E tem limitada capacidade para: a. apoiar a transposição de obstáculos aquáticos; b. realizar a minagem e a desminagem fluvial (C 5-10, BRASIL, 2000, p.6-2). Destaca-se que o pelotão de Engenharia de apoio de selva (Pel E Ap Sl) tem como uma de suas missões principais realizar trabalhos subaquáticos, sendo o SCmt do Pel o Oficial especialista em atividades desse gênero. Além disso, o Gp Ap pode reforçar os pelotões de Engenharia de combate de selva (Pel E Cmb Sl) com pessoal especializado em trabalhos subaquáticos (figura 86). Figura 86 - Organograma do Pel E Ap / Cia E Cmb da Bda Inf Sl. Fonte: Manual C 5-10 (BRASIL, 2000, p.6-5). 245 O manual C 5-10 enfatiza que, nos trabalhos de organização do terreno, darse-á ênfase aos assuntos de minagem fluvial, dentre outros. Para cumprir essa missão, a Cia E Cmb / Bda Inf Sl também possui nos Gp E dos Pel E Cmb Sl, elementos especializados em mergulho. Para tanto o doutrinador destinou, entre os principais equipamentos e materiais desse Pel, bem como do Pel E Ap, o equipamento de mergulho (BRASIL, 2000). Acerca dessa SU, que ainda não existe fisicamente no EB, deve-se buscar conhecer a análise feita por Lampert (2005) sobre a experimentação doutrinária referente ao apoio de Engenharia em operações na selva, conduzida pelo 6º Batalhão de Engenharia Construção, em 1999. Em seu trabalho o referido autor aponta para a necessidade de se repensar a quantidade de elementos habilitados em mergulho, que são apenas seis. Visualiza-se que a Cia E Cmb / Bda Inf Sl foi a SU que mais recebeu missões em ambiente subaquático, tendo o doutrinador destinado uma quantidade maior de Gp com missões de mergulho. Entretanto, o próprio ambiente operacional da SU induz a uma grande necessidade de trabalhos subaquáticos. Sendo assim sugere-se: 1) dotar cada Pel E Cmb Sl com um Gp E especializado em mergulho autônomo, a fim de possibilitar atender as demandas de trabalhos especializados; e 2) dotar o Pel E Ap Sl de equipamento dependente leve, o qual poderá ser bastante útil nos trabalhos realizados em apoio ao conjunto. 6.3.2.5 Companhia de Engenharia de Combate da Brigada de Infantaria de Leve (Cia E Cmb / Bda Inf L) Nessa SU, o pelotão de Engenharia de combate leve (Pel E Cmb L), possui um grupo de explosivos e destruições, que detém material e pessoal especializado para realizar as atividades subaquáticas. Dentre seus principais equipamentos e materiais não consta o equipamento de mergulho (figura 87). 246 Figura 87 - Organograma do Pel E Cmb L / Cia E Cmb da Bda Inf L. Fonte: Manual C 5-10 (BRASIL, 2000, p.7-6). Em pesquisa realizada foi constatado que as duas OM de Engenharia dessa natureza sentem a necessidade de incremento da capacidade de realização de trabalhos subaquáticos. Dessa forma sugere-se: 1) a criação de um grupo de mergulho orgânico do Pel de comando e apoio; e 2) dotar o Pel E Ap de especialistas na atividade e de equipamento de mergulho autônomo e dependente leve. 6.3.2.6 Observações Cabe ressaltar que todos os tipos de SU listadas anteriormente receberam do doutrinador o equipamento “sonar”, o qual pode ser muito útil nas buscas e nos reconhecimentos subaquáticos, missão típica dos mergulhadores de Engenharia. Observe-se que, pela natureza dos trabalhos a serem realizados, ou seja, aqueles que atendem as necessidades mínimas da brigada apoiada, o autor destinou-se dois tipos de equipamento para os mergulhadores das SU de Engenharia, o autônomo e o dependente leve. Não foi explicitado o apoio de Engenharia às brigadas blindadas, transformado do nível SU para o nível Unidade, tendo em vista o pouco tempo decorrido dessa transformação e ainda não existir doutrina específica que oriente o emprego dos BEC Bld orgânicos desse tipo de brigada. Todavia, existe campo de pesquisa para tal análise. 247 6.3.3 O apoio dos mergulhadores de Engenharia no Escalão Divisão de Exército (DE) 6.3.3.1 Generalidades Segundo o C 5-1, a Engenharia Divisionária (ED) tem que estar orientada permanentemente para a frente de combate e capacitada a atuar próxima do combate, realizando trabalhos em proveito das tropas empregadas em primeiro escalão. O quadro tático em que a ED exerce sua ação condiciona, sobretudo, a natureza e o modo de execução de suas missões e a conduz, na maioria das vezes, a fazer prevalecer a rapidez de execução dos trabalhos sobre as condições de durabilidade e de acabamento (figura 88) (BRASIL, 1999). Ainda de acordo com o C 5-1, em função da missão específica da divisão de exército apoiada e da(s) hipótese(s) de conflito planejada(s), a ED pode ser organizada com até quatro batalhões de Engenharia (de combate e/ ou de construção) e com até cinco subunidades de Engenharia especializadas [grifo do autor] (BRASIL, 1999). No que se refere à atividade especial de mergulho interessa-nos o BEC e as SU especializadas de Engenharia, uma das quais poderá ser a Companhia de Engenharia de Mergulho (Cia E Merg). Figura 88 - Organograma da Engenharia Divisionária Fonte: C 5-1 p.2-20 248 6.3.3.2 Batalhão de Engenharia de Combate (BEC) De acordo com o manual de campanha C 5-7 – Batalhão de Engenharia de Combate (BRASIL, 2001), duas das possibilidades do BEC, orgânico da DE, estão relacionadas à atividade especial de mergulho. São elas: [...] (9) construir, lançar e remover obstáculos, inclusive subaquáticos; [...] (14) executar trabalhos de destruição, inclusive subaquáticos; (C5 -7, BRASIL, 2001, p.2-4). Ressalta-se que as mesmas possibilidades citadas acima, foram redatadas pelo doutrinador para as Cia E Cmb orgânicas do BEC/DE. Porém, para os Pel E Cmb, orgânicos dessas subunidades incorporadas, foi atribuída a missão de executar trabalhos subaquáticos necessários à DE ou peça de manobra apoiada. Dessa forma entende-se que o doutrinador inicialmente impôs uma restrição às atividades de mergulho no nível Btl e SU, atribuindo apenas missões ligadas a demolições e obstáculos para a atividade especial de mergulho e posteriormente, ao designar as missões do Pel, permitiu a realização de uma maior amplitude de trabalhos submersos. Sugere-se manter uma linha de coerência em todos os níveis passando as atribuições do Btl, SU e Pel a ter redação semelhante à missão atribuída inicialmente ao pelotão, ou seja, “executar trabalhos subaquáticos necessários à DE” [grifo do autor]. Além disso, seria importante frisar no manual C 5-7 que os grupos de Engenharia dos Pel E Cmb também são mobiliados por mergulhadores, sendo dotados de equipamento de mergulho autônomo e sonares. A pesquisa realizada com os diversos BEC do Brasil, apontou que o apoio de Engenharia prestado pelos especialistas em mergulho está estruturado corretamente nesse escalão. Fruto de experiência pessoal, sugere-se estudos no sentido de se aumentar esse apoio, dotando as companhias de Engenharia de pontes (Cia E Pnt) de militares habilitados em mergulho. Como sugestão, esses militares poderiam estar lotados em um grupo de mergulho (Gp Merg), orgânico do pelotão de equipagem e assalto (Pel Eq Ass) da Cia E Pnt, sendo dotados de equipamentos de mergulho autônomo e dependente leve (narguillê), o que em muito pode vir a incrementar o apoio prestado pelos mergulhadores de Engenharia ao conjunto da Divisão. 249 6.3.4 O apoio dos mergulhadores de Engenharia no Escalão Exército de Campanha (Ex Cmp) 6.3.4.1 Generalidades De acordo com o manual de campanha C 5-1, o Exército de Campanha constitui o escalão essencial do emprego da Engenharia, por ser o grande comando operacional que executa operações estratégicas e que planeja e conduz operações táticas dos seus elementos subordinados (BRASIL, 1999). Ainda segundo o C 5-1, tendo o escalão Ex Cmp funções táticas e logísticas, e apresentando os trabalhos de Engenharia características próprias, particularmente no que se refere à diversificação e à técnica elevada, sua Engenharia (Engenharia de Exército - E Ex) atende a esses aspectos peculiares contando com unidades relacionadas a quase todas as atribuições gerais da Engenharia (figura 89) (BRASIL, 1999). No que se refere à atividade especial de mergulho, interessa-nos o BEC e as SU especializadas de Engenharia, uma das quais poderá ser a Companhia de Engenharia de Mergulho. Figura 89 - Organograma da E Ex. Fonte: Manual C 5-1 (BRASIL, 1999, p.2-60). 250 6.3.4.2 Batalhão de Engenharia de Combate De acordo com o manual de campanha C 5-7 – Batalhão de Engenharia de Combate, uma das possibilidades do BEC, orgânico da E Ex, é lançar e remover obstáculos, inclusive subaquáticos. As mesmas considerações feitas para o BEC/DE aqui também são válidas, pois os Pel E Cmb orgânicos do BEC/Ex Cmp possuem missões subaquáticas de maior envergadura que as possibilidades da Unidade (BRASIL, 2001). Doutrinariamente, os BEC orgânicos da Engenharia de Exército (E Ex) são dotados, essencialmente, de pessoal. Dessa maneira, o autor propõe que dentre os especialistas convocados para mobiliar esses Btl estejam elementos habilitados no uso de equipamentos de mergulho autônomo e dependente leve. 6.3.5 Companhia de Engenharia de Mergulho (Cia E Merg) – Uma Proposta 6.3.5.1 Generalidades Dentre as SU especializadas de Engenharia, orgânicas da E Ex e da ED, poderá haver a necessidade de uma OM voltada especificamente para as atividades de mergulho. Essa companhia deve ser mobiliada com pessoal especializado e dotada de material de mergulho diverso, caracterizando o binômio pessoal – material. 6.3.5.1.1 Missão Multiplicar o poder de combate do Ex Cmp ou da DE, proporcionando-lhe a mobilidade, assegurando-lhe a contramobilidade e contribuindo para a sua proteção em ambiente aquático ou subaquático. Apoiar a Engenharia dos elementos subordinados ao Ex Cmp ou da DE, quando necessário. Executar trabalhos técnicos, mediante a aplicação de técnicas e procedimentos particulares dos mergulhadores de Engenharia, no meio aquático ou subaquático, para complementar a ação dos elementos terrestres e aéreos do Ex Cmp ou da DE. 251 6.3.5.1.2 Mobilidade (1) a do homem a nado ou da propulsão auxiliar, quando em combate. (2) quando embarcada, limitada pela mobilidade das embarcações de dotação. (3) 100% móvel, quando em ambiente terrestre, com transporte orgânico. 6.3.5.1.3 Possibilidades São possibilidades da Cia E Merg: 1) Assessorar o estado-maior da E Ex no planejamento e na execução de missões que envolvam o emprego de mergulhadores de Engenharia. 2) Realizar as seguintes atividades especializadas: (a) executar inspeções em estruturas ou em instalações submersas, como pontes, ancoradouros, oleodutos, etc; (b) prestar auxílio à manutenção e reparo de meios flutuantes; (c) realizar operações subaquáticas de busca, salvamento e coleta de salvados; (d) contribuir para a manutenção de sinalização fluvial; (e) realizar serviços de desativação de artefatos explosivos; (f) executar desobstrução e demarcação de hidrovias; (g) realizar a reflutuação de embarcações e viaturas avariadas no fundo; (h) prestar auxílio a trabalhos de desencalhe de embarcações; (i) auxiliar no reparo de instalações de interesse do Ex Cmp (ex: pontes, ancoradouros, represas e canais danificados); (j) auxiliar na construção de estruturas subaquáticas de pontes e oleodutos; (k) auxiliar os trabalhos de docagem e desdocagem de embarcações fluviais; (l) destruir embarcações, instalações portuárias, pontes, comportas, e outras instalações de interesse em áreas de ambiente ribeirinho; (m) realizar reconhecimentos de Engenharia, especialmente na coleta de informações sobre o leito de rio, mar, lagos etc; 252 (n) abrir e demarcar canais, demolir obstáculos e destruir minas existentes em apoio a Op combinadas (ex: desembarque anfíbio); (o) localizar, destruir minas e abrir brechas em campos minados fluviais; (p) lançar e remover obstáculos subaquáticos; (q) lançar e remover obstáculos e barreiras flutuantes; (r) efetuar demolições subaquáticas; (r) instalar sistemas de segurança subaquáticos; (t) reconhecer locais para transposição de cursos d’água; (u) realizar reconhecimento próximo e afastado das margens dos locais de travessia de curso d´água; (v) proteger o equipamento de transposição de curso d’água e as estruturas submersas das ameaças subaquáticas; (w) participar de operações de dissimulação tática, iludindo as forças inimigas no contexto de uma operação de transposição de curso d’água; e (x) realizar a manutenção, até 2o escalão, de seu material de Engenharia. 3) Prestar apoio suplementar na atividade de mergulho à Engenharia dos escalões subordinados. 6.3.5.1.4 Limitações A Cia E Merg estará limitada pelo material que possuir, de acordo com suas especificações técnicas; pelo meio ambiente, quando este apresentar condições desfavoráveis à realização do mergulho; e pelas próprias características da atividade, que restringe o homem na realização de mergulhos sucessivos e na possibilidade de realizar deslocamentos aéreos nas horas seguintes a imersão. Atuar, limitada pelo armamento orgânico, na defesa de seus canteiros de trabalho e durante seus deslocamentos. 253 6.3.5.1.5 Pessoal São cumpridas as prescrições estabelecidas para o Comandante e seu Estado-Maior no manual C 5-10 (BRASIL, 2000), acrescidas as peculiaridades das operações que utilizem a atividade especial de mergulho. Os elementos de execução da Cia E Merg são, essencialmente, seus pelotões de Engenharia de mergulho (Pel E Merg). 6.3.5.2 O Pelotão de Engenharia de Mergulho (Pel E Merg) – Tipo I 6.3.5.2.1 Estrutura organizacional Sua estrutura está descrita conforme o organograma abaixo (figura 90): Figura 90 - Organograma do Pel E Merg - tipo I. Fonte: o autor 6.3.5.2.2 Atribuições O pelotão de mergulho tipo I tem por missão realizar missões de apoio ao combate e logísticas recebidas pela SU de mergulho, constituindo-se em um de seus elementos de manobra. O grupo de reconhecimento tem por missão principal realizar reconhecimentos especializados de Engenharia, podendo buscar dados relativos a pontes, obstáculos, cursos de água (natureza do leito, profundidade e obstáculos submersos), instalações e portos, dentre outros. 254 O grupo de busca e recuperação pode realizar operações subaquáticas de busca, salvamento e coleta de salvados, inspeções em estruturas ou em instalações submersas, auxílio ao reparo de meios flutuantes e auxílio à missão de desencalhe de embarcações. O grupo de destruição tem por objetivos realizar demolições subaquáticas, destruição de embarcações, instalações portuárias, pontes, comportas e outras instalações de interesse; localizar e destruir minas e obstáculos subaquáticos / flutuantes; abrir passagens em campos minados e obstáculos subaquáticos; efetuar a demolição de pontos críticos; além de desativar artefatos explosivos quando não for o caso de destruí-los. O grupo de comando e apoio é responsável pela guarda e manutenção de todo o material distribuído ao pelotão. 6.3.5.2.3 Principais equipamentos e materiais O pelotão de mergulho tipo I é dotado de equipamentos que possibilitam o cumprimento das missões enumeradas no item anterior. Além dos equipamentos normais de uso corrente na tropa, o pelotão possui os seguintes materiais de mergulho: equipamentos de mergulho autônomo (padrão da DME), dependente leve (“narguillê”), cilindros e válvulas reguladoras especiais para nitrox; computadores para mergulho; telefones para mergulho; câmaras fotográficas anfíbias ou com caixas estanques; câmara de vídeo com caixa estanque; Lift Bags de diversas capacidades; rebreathers; DPVs; sonares ou ecobatímetros, equipamento para corte e solda subaquáticos; compressores de ar de alta pressão; número variável de artefatos explosivos de uso subaquático, botes com motor de popa, caiaques e jet skis. 6.3.5.2.4 Pessoal O comandante do pelotão será um 1º tenente, especialista em mergulho autônomo, tendo por atribuições organizar os planos de provas e implementar treinamentos, além de planejar e supervisionar atividades subaquáticas. 255 O pelotão contará com um 2º sargento adjunto, preferencialmente aperfeiçoado, o qual será o assessor direto comandante do Pel nos assuntos referentes as atividade de mergulho. Ele deverá ser um especialista experiente nos diversos ramos da atividade. Terá por missão primordial auxiliar a condução de todos os trabalhos de mergulho, podendo vir a executá-los pessoalmente. É o responsável por providenciar a evacuação aeromédica, em caso de acidentes de mergulho, para a câmara hiperbárica mais próxima. O grupo de reconhecimento será comandado por um 2º ou 3º sargento, especialista em fotografia e filmagem subaquática, devendo ainda saber operar os DPVs. Deverá estar habilitado, juntamente com mais um militar de seu grupo, no uso dos rebreathers, visto a vantagem que este equipamento oferece para a manutenção do sigilo em operações. Contará ainda com mais 04 cabos ou soldados que deverão ser mergulhadores. O grupo de busca e recuperação será comandado por um 2º ou 3º sargento especialista em técnicas de emergências médicas para mergulhadores; deverá ser qualificado no emprego das técnicas de busca, salvamento e coleta de salvados, além das técnicas de corte e solda subaquáticas. O grupo deverá contar com mais 04 cabos ou soldados mergulhadores. O grupo de destruição também será comandado por um 2º ou 3º sargento, especialista em explosivos e destruições, minas e obstáculos subaquáticos. Deverá estar habilitado, juntamente com mais um militar de seu grupo, no uso dos rebreathers, visto a vantagem que este equipamento oferece para a manutenção do sigilo em operações. Também operará os DPVs. O grupo contará com mais 4 cabos ou soldados mergulhadores. Para que estes materiais possam estar em condições de uso, o grupo de comando possuirá uma reserva de material com um 2º ou 3º sargento encarregado, sendo o mesmo um especialista no assunto. Será o responsável pela manutenção de 1º e 2º escalão do material sob sua responsabilidade. Contará com 03 cabos ou soldados mergulhadores para auxiliá-lo. Todos poderão, eventualmente, cumprir missões de mergulho. Todo o pelotão deverá estar habilitado nas técnicas do mergulho a ar com equipamentos autônomos e dependentes leves e mergulho autônomo com misturas (nitrox), além de saber operar computadores de mergulho. 256 O efetivo total do pelotão é de 21 homens, atendendo assim as normas relativas à segurança e medicina do trabalho, que prescrevem a utilização de um mergulhador a mais quando uma operação de mergulho envolva riscos ou condições adversas, como o uso e manuseio de explosivos e correntezas superiores a dois nós, formando equipes de 05 homens. O pelotão possui condições de atuar com até 04 equipes de mergulho independentes, supervisionadas por um Oficial. 6.3.5.3 O pelotão de Engenharia de Mergulho (Pel E Merg) – Tipo II 6.3.5.3.1 Estrutura organizacional. Figura 91 - Organograma do Pel E Merg - tipo II. Fonte: o autor 6.3.5.3.2 Atribuições O pelotão de mergulho tipo II tem por missão realizar missões de apoio ao combate e logísticas recebidas pela SU de mergulho, constituindo-se em um de seus elementos de manobra. O grupo de mergulho autônomo tem por missão principal reforçar os pelotões tipo I, quando necessário, ou apoiar diretamente outro elemento de manobra. Pode realizar reconhecimentos especializados de Engenharia, realizar demolições subaquáticas, realizar operações subaquáticas de busca, salvamento e coleta de salvados, inspeções em estruturas ou em instalações submersas, além de auxiliar no reparo de meios flutuantes. O grupo de mergulho dependente leve tem por objetivos executar inspeções em estruturas ou em instalações submersas; prestar auxílio à manutenção e reparo 257 de meios flutuantes; realizar operações subaquáticas de busca, salvamento e coleta de salvados; contribuir para a manutenção de sinalização fluvial; realizar serviços de desativação de artefatos explosivos; executar desobstrução e demarcação de hidrovias; realizar a reflutuação de embarcações e viaturas avariadas no fundo; prestar auxílio a trabalhos de desencalhe de embarcações; auxiliar no reparo de instalações de interesse do Ex Cmp. O grupo de mergulho dependente pesado tem por missão auxiliar na construção de estruturas subaquáticas de pontes e oleodutos; auxiliar os trabalhos de docagem e desdocagem de embarcações fluviais; e instalar sistemas de segurança subaquáticos. O grupo de comando é responsável pela guarda e manutenção de todo o material distribuído ao pelotão. 6.3.5.3.3 Principais equipamentos e materiais O pelotão de mergulho tipo II é dotado de equipamentos que o possibilitam o cumprimento das missões enumeradas no item anterior. Além dos equipamentos normais de uso corrente na tropa, o pelotão possui os seguintes materiais de mergulho: equipamentos de mergulho autônomo (padrão da DME); equipamentos de mergulho dependente leve (“narguillê”), equipamento dependente pesado, cilindros e válvulas reguladoras especiais para nitrox, computadores para mergulho; telefones e intercomunicadores para mergulho; câmaras fotográficas anfíbias ou com caixas estanques; câmara de vídeo com caixa estanque; Lift Bags de diversas capacidades; DPVs; sonares ou ecobatímetros; equipamento para corte e solda subaquáticos; compressores de ar de alta pressão; número variável de artefatos explosivos de uso subaquático; botes com motor de popa, caiaques e jet skis. 6.3.5.3.4 Pessoal O comandante do pelotão será um 1º tenente, especialista em mergulho dependente, tendo por atribuições organizar os planos de provas e implementar treinamentos, além de planejar e supervisionar atividades subaquáticas. 258 O pelotão contará com um 2º sargento adjunto, preferencialmente aperfeiçoado, o qual será o assessor do comandante do Pel nos assuntos referentes a mergulho. Ele deverá ser um especialista experiente nos diversos ramos da atividade. Terá por missão primordial auxiliar a condução de todos os trabalhos de mergulho, podendo vir a executá-los pessoalmente. É o responsável por providenciar a evacuação aeromédica, em caso de acidentes de mergulho, para a câmara hiperbárica mais próxima. O grupo de mergulho autônomo será comandado por um 2º ou 3º sargento, especialista em explosivos e destruições, minas e obstáculos subaquáticos / flutuantes, com boa experiência no emprego das técnicas de busca e recuperação de materiais, devendo ainda saber operar os DPVs e câmaras de fotografia e filmagem subaquática. Contará ainda com mais 04 cabos ou soldados que deverão ser mergulhadores. O grupo de mergulho dependente leve um 2º ou 3º sargento, especialista qualificado das técnicas de corte e solda subaquáticas, além de saber empregar as técnicas de busca, salvamento e coleta de salvados, devendo ainda saber operar e câmaras de fotografia e filmagem subaquática. O grupo deverá contar com mais 04 cabos ou soldados mergulhadores. O grupo de mergulho dependente pesado será comandado por um 2º ou 3º sargento qualificado nas técnicas de emergências médicas para mergulhadores. Deve ser um especialista qualificado nas técnicas de construção e corte /solda subaquáticas. O grupo deverá contar com mais 04 cabos ou soldados mergulhadores. Para que estes materiais possam estar em condições de uso, o grupo de comando possuirá uma reserva de material com um 2º ou 3º sargento encarregado, sendo o mesmo um especialista no assunto. Será o responsável pela manutenção de 1º e 2º escalão do material sob sua responsabilidade. Contará com 03 cabos ou soldados habilitados no mergulho dependente para auxiliá-lo. Todos poderão, eventualmente, cumprir missões de mergulho. Todo o pelotão deverá estar habilitado nas técnicas do mergulho a ar com equipamento autônomo e mergulho autônomo com misturas (nitrox), além de saber operar os computadores de mergulho. Da mesma forma que o pelotão tipo I, o efetivo total é de 21 homens, atendendo assim as normas relativas à segurança e medicina do trabalho, que 259 prescrevem a utilização de um mergulhador a mais quando uma operação de mergulho envolva riscos ou condições adversas, como o uso e manuseio de explosivos e correntezas superiores a dois nós, formando equipes de 05 homens. O pelotão possui condições de atuar com até 04 (quatro) equipes de mergulho independentes, supervisionadas por um Oficial. 6.3.5.4 O pelotão de comando e apoio (Pel Cmdo Ap) 6.3.5.4.1 Estrutura organizacional Figura 92 - Organograma do Pel Cmdo da Cia E Merg Fonte: C 5-10 (BRASIL, 2000, p.3-4) e o autor. 6.3.5.4.2 Missão O pelotão de comando e apoio tem como principais missões: 1) prover os meios para o funcionamento do Posto de Comando (PC); 2) prover as comunicações para a Cia; 3) instalar, mobiliar e operar o Posto de Socorro da Cia; 4) receber, controlar e distribuir todo o suprimento destinado à Cia; 5) executar o suprimento Classe I de toda Cia; 6) realizar a manutenção de 1º escalão de motomecanização e até 2º escalão dos equipamentos de Engenharia de toda a Cia E Merg. Além de suas missões comuns, as turmas orgânicas da seção de comando mobíliam as diversas seções componentes do Posto de Comando e provém a segurança aproximada das instalações do PC. 260 6.3.5.4.3 Atribuições O grupo de comunicações (Gp Com) instala e opera um centro de mensagens. É responsável por prover comunicações eficientes e confiáveis a toda Cia E Merg. Deve desenvolver as atividades de segurança das Com e as medidas pertinentes de guerra eletrônica (GE), além da execução da manutenção de 2º escalão no material de Com de uso corrente no EB e de uso subaquático. O grupo de comando (Gp Cmdo), composto pelas turmas de comando, da 1ª e 4ª seções (pessoal e logística) e 2ª e 3ª seções (inteligência e operações), é responsável pela instalação e operação do PC. O chefe da seção de comando é o encarregado do controle do material. O grupo de saúde (Gp Sau) instala e opera um posto de socorro especializado em emergências médicas para mergulhadores, provendo assistência médica aos integrantes da Cia, e empregado sob o controle direto do oficial médico da Cia E Merg (especialista em medicina hiperbárica). O grupo de suprimento (Gp Sup) é responsável por receber, armazenar e distribuir os suprimentos destinados à Cia. O grupo de manutenção (Gp Mnt) executa os trabalhos de manutenção de 1º Esc da motomecanização e até 2º escalão dos equipamentos de Engenharia da Cia. Realiza, também, o controle do suprimento de material de motomecanização e de embarcações. Todos os integrantes pertencentes à Arma de Engenharia do Pel C Ap, deverão possuir, no mínimo, habilitação básica de mergulho autônomo, a fim de cumprir pequenas fainas de mergulho a cargo da Cia E Merg. Aos demais integrantes será facultada essa habilitação, desde que a mesma seja compatível com suas funções. 6.3.5.5 Organogramas 6.3.5.5.1 Organograma da Cia E Merg / E Ex Fruto da maior necessidade do Ex Cmp da realização de trabalhos de instalações, como ancoradouros, gasodutos/oleodutos e terminais, visualiza-se que 261 o apoio se dará da melhor forma com a Cia E Merg a dois Pel E Merg tipo II. Assim sendo: Figura 93 - Organograma da Cia E Merg / E Ex. Fonte: o autor. 6.3.5.5.2 Organograma da Cia E Merg / ED Fruto da maior necessidade da DE da realização de trabalhos de reconhecimento e organização do terreno, visualiza-se que o apoio se dará da melhor forma com a Cia E Merg a dois Pel E Merg tipo I. Assim sendo: Figura 94 - Organograma da Cia E Merg / ED. Fonte: o autor. 6.3.4 O Apoio dos Mergulhadores de Engenharia na ZA De acordo com o manual de campanha C 5-1, na ZA é dada ênfase à exploração dos recursos locais de Engenharia através da mobilização desses recursos. Em conseqüência, é normal a existência de empresas civis mobilizadas e enquadradas na estrutura militar. 262 O Comando de Engenharia do Comando Logístico do Teatro de Operações Terrestre (CECLTOT) é o mais alto escalão de Engenharia na ZA, enquadrando grupamento(s) de Engenharia, Unidades, Subunidades e meios civis mobilizados, conforme mostrado na figura 95(BRASIL, 1999). Dessa maneira, visualiza-se que a Cia E Merg da ZA poderá ser mobilizada com elementos civis que tenham habilitação em mergulho, a qual, fruto da exploração de petróleo na costa nacional, existe em quantidade e qualidade no Brasil. Figura 95 - Organograma do Comando de Engenharia do CLTOT (CECLTOT). Fonte: Manual C 5-1 (BRASIL, 1999, p. 2-2). O C 5-1 diz ainda, que as atividades de Engenharia executadas com maior freqüência na ZA são as de apoio geral de Engenharia, englobando os trabalhos de estradas, pontes, instalações, cartografia, manutenção e suprimento, que exigem grande capacidade técnica e meios especializados nesse escalão. A Engenharia na ZA está essencialmente voltada para atender às necessidades logísticas e de comando e controle do TOT. É normal a necessidade de um grande volume de trabalhos de construção, reparação, melhoramento e conservação, o que vai exigir um elevado número de Unidades de construção e de subunidades especializadas. Assim sendo, visualiza-se que existirá uma demanda maior por atividades de construção e reparação subaquáticas, para as quais o Pel E Merg tipo II é mais apto. Assim sendo sugere-se a constituição dessa companhia a três Pel E Merg tipo II [grifo do autor]. 263 Visualiza-se, como missões diferenciadas dessa subunidade especializada, o que se segue: participar dos trabalhos de reparação de danos subaquáticos; trabalhos técnicos de instalações, particularmente em portos; a reparação de canais interiores, represas e pontes danificadas; a limpeza de obstáculos subaquáticos e a demarcação de canais de navegação; a instalação, manutenção e reparação de ancoradouros; a coleta de informações acerca do leito no mar, portos e rios em apoio à abertura e reparação de portos; a instalação, manutenção e reparação da porção subaquática de oleodutos/gasodutos em portos; recuperação de material, embarcações e viaturas afundadas; reparação de embarcações do EB ou de interesse do EB; apoiar a realização de levantamentos hidrográficos de interesse do EB, particularmente das vias interiores; na inspeção e avaliação de danos reais ou potenciais em obras de arte, instalações ou embarcações, dentre outros. 6.4 FORMAÇÃO DE MERGULHADORES DE ENGENHARIA – PROPOSTAS 6.4.1 Generalidades Para que se compreenda a formação do mergulhador de Engenharia faz-se necessário o conhecimento de alguns conceitos que estão descritos no Apêndice C Tabela Resumo das Características das Técnicas de Mergulho. 6.4.2 Situação atual Atualmente os Oficiais e praças da Arma de Engenharia habilitam-se para executar atividades de mergulho freqüentando os cursos oferecidos pela Marinha ou por entidades reconhecidas por esta, conforme prevê a Portaria Nr 236. 264 Na AMAN a instrução está bem desenvolvida, porém ela está aquém do necessário para a formação de um mergulhador. Na EsSA a situação é mais preocupante, pois a carga horária da instrução é ainda menor. Dessa forma, a única maneira de o Sistema Engenharia contar com mergulhadores habilitados em seus quadros, de acordo com a Portaria citada, é a realização de cursos na Marinha e em organizações de Polícias ou Bombeiros Militares. Como notícia, podemos dizer que existe um trabalho que vem sendo realizado na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, por intermédio do Núcleo de Mergulho Autônomo, que busca despertar o futuro Cadete para a atividade. No CPOR-SP, apesar do C Eng possuir poucas horas previstas para o assunto mergulho em seu Plano de Disciplinas, também é realizado um estágio prático, na forma de atividade extraclasse, que vêm formando mergulhadores amadores nos últimos anos. Além disso, de acordo ao Estado-Maior do Exército (BRASIL, 200181) o número de vagas nos cursos de mergulho da MB ou nos CBM, distribuídas aos militares de Engenharia, não são suficientes para atender às necessidades da Arma. Portanto, conforme sugeriram os Oficiais mergulhadores consultados por ocasião da pesquisa de campo, faz-se necessária a formação de mergulhadores de Engenharia no EB para se aperfeiçoar a doutrina, atualizar os manuais técnicos e preparar recursos humanos para ocupar as vagas previstas em QCP das OMEM de Engenharia. Para tanto serão realizadas as propostas a seguir: estágio de mergulho na AMAN, o curso de mergulho na EsIE e o curso de formação de cabos mergulhadores nas OMEM. 6.4.3 Proposta de formação de mergulhadores na AMAN – O Estágio de Mergulho A instrução de mergulho é, incontestavelmente, uma das que mais desperta interesse nos instruendos dos referidos EE, pois a própria atividade motiva o militar a tornar-se um mergulhador. Cabe aos instrutores do assunto fornecer “o máximo de conhecimentos em um mínimo de tempo”. Imagina-se ser lícito supor que se pode 81 Ministério do Exército. Estado-Maior do Exército. Diretriz para a estruturação da atividade de mergulho nas Organizações Militares de Engenharia (Minuta). Brasília - DF, 13 de Setembro de 2001. 265 aumentar a carga horária do assunto, para que esses futuros Oficiais e sargentos saiam das respectivas escolas de formação habilitados a praticarem a atividade básica de mergulho. Tal assertiva está de acordo com 37,93 % dos oficiais mergulhadores entrevistados e vai ao encontro do que afirma o EME (BRASIL, 2001), de que se deve aproveitar a estrutura e experiência do C Eng/AMAN para a formação de instrutores de mergulho básico (mergulhadores autônomos), considerando as instalações adequadas daquele EE e a necessária racionalização do emprego de recursos para atividade. Na EsSA a situação é diferente, porém, de maneira idêntica ao estágio para Oficiais-alunos da Escola de Administração do Exército e da Escola de Saúde do Exército, realizado na AMAN, visualiza-se um estágio de formação de sargentos mergulhadores do C Eng/EsSA na AMAN, a fim de otimizar recursos materiais e humanos. A formação de mergulhadores no C Eng / AMAN possui as seguintes vantagens: 1) o C Eng / AMAN dispõe de ampla experiência na condução da atividade de mergulho, fruto de muitos anos de instruções ministradas; 2) dispõe de instalações adequadas naquele EE para a prática da atividade, a saber: a) possui piscina com razoável profundidade. A caixa-de-saltos da AMAN possui seis metros de profundidade, a mesma da piscina do CIAMA; b) possui duas represas rasas, a da Pista Andrade Neves e a da Fazenda da Barragem, para execução das missões práticas iniciais, com toda segurança. Isso proporciona ao militar aclimatação à água turva e ao fundo lodoso e com vegetação, normalmente encontrados nas represas e rios, que são a área de operações mais comum aos militares de Engenharia. 3) está situada às margens do rio Paraíba do Sul e está próxima (cerca de 30 minutos, por via rodoviária) de um espelho de águas profundas (Represa de Furnas), o que permite a execução de toda sorte de instruções, como já são rotineiramente feitas pelo C Eng / AMAN; 266 4) possui material especializado em grande quantidade, não necessitando de grandes investimentos para a implementação da atividade; 5) normalmente, já possui pessoal habilitado pela MB/CBM para a instrução; 6) está a três horas de viagem de Angra dos Reis/RJ, sendo possível deslocar um efetivo pela manhã, via rodoviária, mergulhar e retornar na mesma jornada. Tal tipo de jornada de instrução tem sido tradicionalmente realizada com o apoio de embarcações do Colégio Naval, não representando um grande problema administrativo; 7) possui um Clube de Mergulho Autônomo (levado a efeito pelos instrutores de mergulho do C Eng) conceituado e devidamente reconhecido pela Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (com Alvará de Funcionamento renovado anualmente). Tal fato, apesar de não ter valor militar, atesta a qualidade da instrução e a experiência adquirida pelo C Eng na condução de cursos de mergulho; 8) possui o amparo de uma Seção Técnica de Ensino, para a montagem e validação das avaliações; 9) a AMAN possui o Hospital Escolar, que, ao habilitar profissionais em medicina hiperbárica e emergências médicas para mergulhadores, poderá prestar apoio de saúde adequado, contando, ainda, com o apoio da Bda Av Ex para evacuação aeromédica já testada e em pleno funcionamento; 10) o EE possui uma seção psicotécnica, que juntamente com o Centro de Estudos do Pessoal (CEP), poderá fazer a seleção psicológica dos candidatos ao estágio de mergulho; 11) o C Eng/AMAN já realiza Pedidos de Cooperação de Instrução (PCI) com o CIAMA a fim de incrementar a instrução de mergulho e permitir o intercâmbio de informações; 12) habilita Oficiais instrutores / sargentos monitores básicos de mergulho para as OMEM de Engenharia em quantidade todos os anos; 267 13) ao receber um aspirante-a-oficial/3o sargento já habilitado, o comandante de uma OMEM de Engenharia estará respaldado a atribuir-lhes missões de mergulho e a exigir-lhes treinamento, evitando situações de risco (inclusive legal), hoje existentes. A própria Academia já habilita o Cadete em algumas atividades, fruto do próprio PlaDis, como por exemplo, a atividade de montanha, aonde o Aspirante já chega à tropa com a habilitação de combatente de montanha; 14) esses Asp/Sgt mergulhadores, distribuídos pelo EB, representariam uma grande economia para o Exército, ao evitar-se o pagamento de ajudas de custo na chegada e na partida dos militares para realizar os cursos de mergulho no CIAMA e CBM, além de alojamento, transporte etc; entre outros encargos; e 15) padroniza a formação dos mergulhadores básicos nas Unidades de Engenharia, voltados para o emprego específico da Arma, de acordo com a doutrina vigente. Para a viabilização desta proposta seriam necessárias algumas providências, as quais se relatam a seguir: 1) rígido critério de seleção de pessoal a ser habilitado mergulhador (cadetes e alunos voluntários), o que incluiria uma seleção psicológica, física e médica; com parâmetros semelhantes aos adotados pelo CIAMA e de acordo com a NR 15 (Anexo C) em ambas as escolas; 2) aquisição de mais equipamentos para mergulho autônomo (padrão da DME) e dependentes leves (narguillê), na razão necessária à quantidade média de mergulhadores a formar e complementando o já existente no C Eng/ AMAN; 3) nomeação de mais instrutores e monitores com a habilitação necessária à condução da atividade ou mesmo a designação de instrutores e monitores já nomeados para realização de cursos que os habilite; 4) confecção de um Plano de Disciplinas (PlaDis) específico para a atividade82, baseado na Diretriz de Implantação da Instrução de Mergulho Operacional nas Unidades e Engenharia do COTER e no 82 Existe uma proposta para um Plano Disciplinas, elaborada pelo Maj Eng Marcos Henrique de Carvalho Gobbi, ex-instrutor de mergulho do C Eng/AMAN, encaminhada para a DME em 1995. 268 relatório do estágio realizado no BEsEng em 2001, além de documentos semelhantes existentes na AMAN, no CIAMA, no CIOpEsp, e em escolas de formação civis; 5) capacitar médicos e enfermeiros em medicina hiperbárica e em emergências médicas para mergulhadores, o que poderá ser feito no CIAMA; e 6) alteração da Portaria Ministerial Nr 236, tornando o referido EE em entidade formadora de mergulhadores ou buscar o reconhecimento da MB. Os testes de seleção descritos acima podem ser executados com o apoio da seção psicotécnica, seção de educação física e serviço de saúde da AMAN. Será importante ressaltar que nem todos os militares serão habilitados mergulhadores, porém todos os Cadetes de Engenharia deverão ter conhecimento da atividade, visando a um melhor apoio para a mesma nos corpos de tropa. O curso/estágio a ser criado na AMAN não dispensará a realização da instrução de mergulho atualmente conduzida pelo C Eng [grifo do autor]. A formação será idêntica para os egressos de ambos EE, um estágio básico de mergulho, desenvolvendo habilidades necessárias a utilização do equipamento autônomo e dependente leve. Não haverá variação de técnicas de mergulho para oficiais ou praças, obtendo assim uma instrução padronizada, o que será importante para o passo descrito a seguir. Visualiza-se uma pequena variação na formação do mergulhador autônomo entre Oficiais e sargentos, a qual estará em um módulo de supervisão e instrutoria de mergulho, para Oficiais, e um módulo de manutenção de equipamento de mergulho, que deve ter maior carga horária para os futuros sargentos [grifo do autor]. Deve-se estudar, junto a direção de ensino da AMAN e da EsSA a melhor época para a realização desse estágio, sugere-se: 1) após a declaração de aspirante-a-oficial/3o sargento; 2) nas férias escolares de meio de ano, para os Cadetes do 4o ano; 3) nas férias escolares de final de ano, para os Cadetes do 3o ano já aprovados; ou 4) durante o ano de instrução, como disciplina do PlaDis da Arma. 269 Os militares formados no estágio de mergulho estarão habilitados a realizar os trabalhos de Engenharia visualizados para a Cia E Cmb/Bda, BEC/ED e BEC/EEx. 6.4.4 Proposta de especialização de mergulhadores da EsIE – O Curso de Mergulho A Escola de Instrução Especializada (EsIE), enquadra a Seção 7 – Engenharia, a qual ministra diversos cursos de interessedo Sistema Engenharia e pode vir a ser a geratriz do embrião de uma futura seção de mergulho. Como já foi visto anteriormente, existem condições de se formar o mergulhador básico na AMAN. Resta agora, especializar esse homem, dando-lhe chances de progredir dentro da atividade e condições para cumprir missões com a técnica especial que ele já domina. De acordo com 75,86% dos oficiais entrevistados, a criação de uma escola de mergulho é uma real necessidade da Arma de Engenharia. Por quais razões foi escolhida a EsIE? 1) a EsIE já possui uma estrutura de ensino, o que facilitaria a implantação de uma escola de mergulho; 2) está próxima de Unidades que são referência em se tratando de mergulho: CIOpEsp; Grupo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (GBS/CBMERJ), que possui um câmara hiperbárica; Escola de Mergulho do SENAI, única escola de mergulho profissional do país; e do CIAMA, que é possuidor de duas câmaras hiperbáricas; 3) conta com uma estrutura física que possui piscina, além de ter espaço para novas construções que se fizerem necessárias; 4) a Seção 7 já ministra cursos de manutenção de equipamento de Engenharia, o que facilitaria a correlação com o módulo manutenção de material de mergulho; 5) a Seção 7 ministra o estágio de desminagem e o estágio preparatório para Missão de Assistência à Remoção de Minas na América Central e 270 do Sul, o que facilitaria a correlação com o módulo de demolições subaquáticas e desativação de artefatos explosivos; 6) a EsIE conta com o curso de meios auxiliares de instrução, onde poderiam ser buscados conhecimentos que seriam muito úteis para a especialização referente a foto e vídeo subaquáticos; 7) a escola ministra o curso de Defesa Química Biológica e Nuclear (DQBN), o qual poderia contribuir na especialização do mergulhador quanto à realização de operações em ambiente Químico Biológico Nuclear (QBN); 8) concentrações de profissionais de mergulho no eixo RJ-SP, facilitando o estreitamento de relações para intercâmbios, principalmente com entidades civis; 9) facilidade de contar com embarcações da MB para mergulhos no mar; 10) está próxima ao rio Guandu, facilitando o adestramento em águas turvas e correntosas; 11) está próxima do BEsEng, facilitando o uso do lago de pontagem, visando a instrução em águas confinadas e com pouca visibilidade; e 12) está próxima ao Centro de Estudos de Pessoal (CEP), o que facilita a realização de exames psicológicos para seleção dos candidatos ao curso de mergulho. As atribuições da escola de mergulho de Engenharia serão: 1) capacitar militares para o exercício de funções que exijam a habilitação de mergulho; 2) ministrar cursos e estágios, visando a formar e especializar pessoal para as atividades de mergulho; 3) coordenar, supervisionar e padronizar as instruções de formação de mergulhadores básicos na AMAN, na EsSA e, se for o caso, nos CPOR; 4) desenvolver e pesquisar novas técnicas e materiais para serem aplicados na instrução e no adestramento, principalmente os voltados para o Sistema Engenharia; 5) desenvolver a doutrina de emprego de mergulhadores de Engenharia; e 6) ser um centro de referência para a atividade de mergulho dentro do EB. 271 A EsIE (Seção de Engenharia) terá como missão montar um curso de especialização com os seguintes módulos, que se necessário, poderão ser realizados independentemente um dos outros: revisão de mergulho a ar com equipamento dependente leve e mergulho autônomo; supervisão e instrutoria de mergulho; foto e vídeo sub; mergulho a ar com equipamento dependente pesado; mergulho autônomo com NITROX; corte e solda subaquática; busca e recuperação de material; salvamento para mergulhadores; demolição subaquática; desativação de artefatos explosivos; mergulho autônomo com misturas (utilização de rebreathers); mergulho noturno; utilização de computadores de mergulho; manutenção de material de mergulho; emprego tático e operacional do mergulho de Engenharia; reconhecimentos subaquáticos especializados; técnicas de inspeção subaquática; técnicas de salvamento e primeiros-socorros; técnicas de mergulho com baixa visibilidade; técnicas de mergulho embarcado; técnicas de mergulho em correnteza; técnica de mergulho confinado; planejamento técnico de mergulho; planejamento de operações de mergulho. Vale ressaltar que esses tópicos vão além do especificado pelo EME83 (2001), no tópico assuntos atinentes à atividade de mergulho no preparo dos mergulhadores na minuta da Nota Doutrinária no 001 / 3ª SCh- 2.2.05. 83 Ministério do Exército. Estado-Maior do Exército. Nota Doutrinária no 001/3ª SCh- 2.2.05. (Minuta). Brasília – DF. Novembro de 2001. 272 Para que a curso permaneça atualizado, esses módulos deverão ser dinâmicos e capazes de sofrerem alterações com grande velocidade. Para que isso ocorra, a direção do curso deverá manter contato constante com entidades de mergulho, como o CIAMA, o Corpo de Bombeiros, o SENAI e certificadoras internacionais de mergulho, como a Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas (CMAS), a Professinal Diving Instructors Corporation (PDIC), a National Association of Underwater Instructors (NAUI) e a Professional Association of Diving Instructors (PADI); instituições que possuem um alto nível de ensino referente às técnicas e especialidades do mergulho. Esse intercâmbio e até assimilação das técnicas de ensino e de utilização de novos equipamentos é muito importante, pois só assim o curso manter-se-á atualizado. Os instrutores de mergulho da futura especialidade deverão possuir, inicialmente, o curso de escafandria da Marinha do Brasil, o qual abrange praticamente todos os módulos a serem ministrados e já citados anteriormente. Para os módulos de desativação de artefatos explosivos; mergulho autônomo com misturas (utilização de rebreathers); e mergulho a ar com equipamento dependente pesado, visualiza-se a execução por meio de Pedido de Cooperação de Instrução (PCI) com o CIAMA, tendo em vista a experiência daquele Centro e o alto custo dos equipamentos de mergulho utilizados nesses assuntos. Deverá haver um rígido critério de seleção de pessoal a ser habilitado mergulhador, o que inclui uma seleção psicológica, física e médica nos moldes já descritos. A EsIE deverá contar com profissional especializado em medicina hiperbárica, devido existir a possibilidade de o instruendo sofrer uma embolia traumática pelo ar ou uma doença descompressiva durante o curso. Para o início das atividades do curso, visando a habilitar um maior número de militares, deve-se formar mergulhadores autônomos básicos, missão esta que permanecerá até a chegada dos primeiros mergulhadores habilitados na AMAN. Com o mesmo objetivo, pode-se, também, militarizar os conhecimentos das técnicas de mergulho já adquiridos por militares possuidores de cursos civis. Além disso, com a finalidade de reciclar os mergulhadores já formados no CIAMA e nos CBM, visualiza-e um estágio de mergulho de Engenharia, no qual serão ministrados assuntos referentes aos trabalhos técnicos, de planejamento e de supervisão de mergulho. 273 Os militares formados no curso de mergulho estarão habilitados a realizar os trabalhos de Engenharia visualizados para a Cia E Merg/ ED e da Cia E Merg/EEx. Para validação dessa assertiva, visualiza-se a criação de uma Cia E Merg na EsIE (como já ocorre com o curso de DQBN e a Cia DQBN) ou um Pel E Merg no BEsEng, com as seguintes finalidades/vantagens: utilização dos Oficiais e sargentos da Cia E Merg como instrutores e monitores do curso de mergulho; economia de meios, pois poderiam ser utilizados os equipamentos de dotação da Cia E Merg no curso de mergulho; emprego da Cia E Merg na realização de estudos doutrinários do emprego de mergulhadores em missões de apoio ao combate e apoio logístico, podendo contar com a da participação dos alunos para isso. 6.4.5 Proposta de formação de mergulhadores nas OMEM – O Curso de Formação de Cabos Mergulhadores (CFC/Merg) nas OMEM Os grupos de mergulho hoje existentes nos QCP das OMEM de Engenharia são mobiliados, além de Oficiais e sargentos, com cabos e soldados, porém as Unidades de tropa não dispõem de instrumentos que a habilitem a formar o mergulhador. Os programas padrão de instrução em vigor no EB estabelecem um total de oito semanas, com 168 horas destinadas à instrução peculiar, na fase de qualificação para a formação do cabo e do soldado de Engenharia. Esse tempo é mais que suficiente para que se habilite um militar na atividade de mergulho. Para que isso ocorra, todas as OMEM de Engenharia devem ser contempladas com vagas para a especialização de Oficiais e sargentos. Ressalta-se que os mergulhadores formados na AMAN, nos moldes deste trabalho, estarão aptos a fazê-lo. Esses, ao chegarem à tropa, seriam os difusores do conhecimento, formando e adestrando os homens com quem trabalharão sob a água e tendo neles o máximo de confiança. Pode-se, também, adotar o modelo de estágio de área, pelo qual os instruendos e instrutores seriam reunidos em uma única OM, a qual deverá ter as melhores condições para realizar este estágio, 274 apresentado alojamentos, sala de instrução, material de mergulho suficiente para as instruções, acesso à piscina, além de ser próxima a curso de água, lago ou açude. Uma análise dos dados coletados junto às OM de Engenharia, permite deduzir que as Unidades com melhores condições de realizar um estágio de área ou um CFC regional de mergulho são o BEsEng, pela experiência adquirida em 2001; o 3o BEC, que já realizou atividades reais de construção de porto fluvial e demolição submarina, e o 7o BEC, que detém 08 militares mergulhadores lotados na OM, fruto da realização sistemática de curso de mergulho no CBM/PE, possuindo uma grande mentalidade de mergulho. Para os militares voluntários ao CFC/Merg deverá haver um rígido critério de seleção, o que inclui uma seleção psicológica, física e médica nos moldes já descritos para o estágio da AMAN. Para que estas idéias sejam implementadas existem as seguintes necessidades: criação de uma qualificação militar de Engenharia referente a mergulho; acrescer o assunto mergulho (autônomo e dependente leve) ao programa padrão de instrução de qualificação, definindo as condições de execução e padrões necessários; regular a instrução de mergulho, inserida na programação de CTTEP do PIM, a fim de propiciar a necessária instrução para os quadros das OM Eng, previstos para a atividade; e solicitar a modificação da Portaria no 236, para que as OM de Engenharia sejam consideradas formadoras de mergulhadores básicos. Os cabos e soldados formados no CFC/Merg das OMEM estarão habilitados a realizar os trabalhos de Engenharia visualizados para a Cia E Cmb/Bda, BEC/ED e BEC/EEx. Para estarem aptos a utilizar os equipamentos e realizarem os trabalhos de Engenharia empregados pela Cia E Merg/ ED e Cia E Merg/EEx no cumprimento de suas missões doutrinárias, visualiza-se que esses militares sejam especializados em curso específico na EsIE. 275 6.4.6 Observações Mesmo com a criação dos cursos/estágios acima, os militares de Engenharia devem continuar a utilizar a experiência da MB e dos CBM na atividade de mergulho, aproveitando as vagas distribuídas ao militares do EB, por aquelas entidades, anualmente, como forma de atualização e intercâmbio de conhecimentos. As OMEM de Engenharia irão necessitar de profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, especialistas em medicina hiperbárica e emergência médica para mergulhadores. Tais profissionais podem ser especializados no CIAMA. 6.5 PROPOSTA DE NOVOS DE EQUIPAMENTOS DE MERGULHO 6.5.1 Generalidades Preliminarmente à abordagem deste assunto deve-se esclarecer que nem todos os equipamentos de mergulho serão tratados no presente capítulo, pois o mesmo seria redundante com o Boletim Técnico Especial Nr 10 da DME, atividades de mergulho, que trata, em seu capítulo VI, dos componentes básicos do equipamento de mergulho autônomo. Pretende-se aqui, propor a aquisição de novos tipos de equipamentos que possam ter utilização nas atividades desenvolvidas pelo Sistema Engenharia do EB na área de mergulho. 6.5.2 Computadores de mergulho Os computadores de mergulho servem para calcular, a partir da profundidade e do tempo de mergulho, medidos instantaneamente pelo próprio computador, o tempo de permanência com segurança no fundo, sem o risco de o mergulhador ser acometido de doença descompressiva. Existem computadores capazes de fornecer a temperatura da água e também ler a pressão do ar no aqualung a cada instante, calculando a taxa de consumo do mergulhador e o tempo de mergulho restante (figura 96). 276 Figura 96 - Computador de mergulho. Fonte: http://www.roho.co.uk/acatalog/Robin_Hood_WS_Dive_Computers. Acesso em: 11 set. 2006. Caso seja necessário o mergulhador realizar uma segunda imersão, consecutiva a uma anterior, os computadores podem fornecer os novos limites não descompressivos, ajustados de acordo com o nitrogênio residual e após o homem ter permanecido um determinado intervalo de tempo na superfície. Os tempos necessários para a eliminação total do nitrogênio acumulado variam de nove a vinte e duas horas. Os tempos de espera para voar são, ainda hoje, o ponto em que os computadores são menos confiáveis. Outro ponto importante e que deve ser considerado é que o uso dos computadores deve ser feito de maneira pessoal, não podendo ser utilizados por outra pessoa em uma segunda imersão, pois as informações fornecidas para esse segundo mergulho são baseadas no nitrogênio acumulado na imersão anterior. Em caso de realização de mergulhos sucessivos, não há a possibilidade de um mesmo computador ser utilizado na parte da manhã por uma pessoa e à tarde por outra, por isso os mergulhadores que estiverem em operações continuadas devem procurar sempre utilizar o mesmo aparelho. Mergulhadores que não estiverem usando o seu próprio aparelho não devem seguir as informações fornecidas pelo computador da dupla, pois elas são baseadas no perfil de mergulho do companheiro. De qualquer forma, é sempre importante que o mergulhador faça o acompanhamento dos seus mergulhos pelo método tradicional, pois, caso o computador falhe, os dados da atividade estarão assegurados por um caminho alternativo. 277 6.5.3 Telefone para mergulho ou intercomunicador O telefone para mergulho permite que dois mergulhadores se comuniquem entre si ou então que um mergulhador se comunique com a superfície. O sistema é baseado em ultra-som e já foi testado em diversas profundidades. Podem ser encontrado em versões com máscara para o rosto inteiro -full face- (figura 97), apropriado para conversações maiores, ou meia-face (figura 98), para fases curtas. Figura 97 - Telefone com máscara para rosto inteiro. Fonte: http://www.oceanreefgroup.com/pdf/libretto. Acesso em: 03 jun. 2006. Figura 98 - Telefone de mergulho, versão meia-face. Fonte: Scuba, 1995. Existem ainda modelos que ativam automaticamente o circuito de transmissão, bastando emitir a voz no microfone e outros que necessitam que se aperte um botão cada vez que se pretenda falar. Os aparelhos têm limitações, pois como o som viaja pela água em forma de ondas, elas podem ser interrompidas por obstáculos como corais, pedras ou 278 rochedos. Há ainda o problema do termoclima84, que afeta a recepção dos sinais. Isso acontece devido à dificuldade de propagação das ondas sonoras entre águas com densidades diferentes. O alcance do telefone para mergulho varia muito. Os mais sofisticados funcionam num raio de três quilômetros a uma profundidade de até 120 metros. No entanto, a maioria desses equipamentos funciona em um raio médio de 300 metros e a uma profundidade de até 55 metros. Caso o mergulhador queira se comunicar com alguém que esteja fora da água será necessário um cabo e um pré-receptor, que deverá ficar abaixo dos 10 metros de profundidade, para evitar o termoclima. Outro problema a ser considerado no planejamento do mergulho é que existirá um aumento do consumo de ar. Principalmente com as máscaras full-face, haverá um aumento no consumo de 15% a 40%, dependendo da quantidade de conversação. 6.5.4 Câmaras fotográficas 6.5.4.1 Caixas estanques Qualquer câmara fotográfica comum pode ser utilizada na foto sub, no entanto o equipamento precisa estar protegido por uma caixa estanque à prova de água (Figura 99). Existem modelos que suportam profundidades de até 100 metros (11 atmosferas). São feitas de vários tipos de materiais. As de alumínio são as mais caras, porém são as mais resistentes. A vedação dessas caixas é feita através de o rings. Para se acionar o controle da câmara, dentro da caixa tem dois sistemas distintos: sistema de controle mecânico e sistema de controle eletrônico. Figura 99 - Caixa estanque com controles mecânicos. Fonte: http://www.bancodaimagem.com.br/artigos/assets/images/Aquatica. Acesso em: 03 jun. 2006. 84 Súbita mudança de temperatura da água de uma profundidade para outra. 279 6.5.4.2 Câmaras anfíbias As câmaras anfíbias (Figura 100) são aquelas que não necessitam de caixas estanques para serem utilizadas debaixo da água. Trata-se de uma ótima opção para a realização de reconhecimentos subaquáticos, pois são menores e fáceis de manejar. Isso vale para todos os equipamentos, desde a simples câmara descartável para profundidades de, no máximo, 3 metros, até as mais sofisticadas, que são totalmente eletrônicas, com sistema auto-focus e resistência para profundidade de até 100 metros. Figura 100 - Câmara anfíbia com flash. Fonte: http://www.cadive.com/cdc_cat_cameras.htm. Acesso em: 11 set. 2006. 6.5.5 Flash A luz artificial é o componente que transforma a fotografia subaquática de monocromática em multicolorida. A água age como se fosse um filtro, absorvendo as cores seletivamente. Quanto mais fundo se mergulha mais as cores serão absorvidas. Tudo aquilo que se fotografar após 15 metros de profundidade, sem a utilização de um flash, será monocromático, podendo tender para o azul ou cinza azulado no caso de mergulho marítimo. 280 6.5.6 Câmara de vídeo O vídeo sub é uma atividade pouco difundida no país, onde só começou a ganhar espaço no início da década de 90. O vídeo sub oferece bons resultados mais rapidamente que a foto sub, pois captura a imagem em movimento e o som, além de não necessitar ser revelado, facilitando o trabalho do mergulhador na realização de um reconhecimento subaquático. Os equipamentos para gravações em vídeo são a câmara de vídeo, na caixa estanque (figura 101), e um refletor subaquático. Cada câmara tem uma caixa estanque específica, mas existem alguns modelos de caixas que servem para mais de um tipo de câmara. Um ponto fundamental para a realização de um vídeo sub, são as fontes de luz, que devem variar de 50 a 100 watts. Um bom sistema de iluminação é fundamental para a obtenção de imagens nítidas e coloridas. Figura 101 - Câmara de vídeo em caixa estanque. Fonte: http://www.seadivers.com.br/equiposnovos/w5w7.jpg. Acesso em: 03 jun. 2006. 6.5.7 Lift bag O Lift bag é um saco feito em nylon polivinil que possui uma válvula de velocidade. É um equipamento utilizado para levar materiais para a superfície, bastando para isso enchê-lo com ar comprimido do próprio cilindro. Existem modelos que podem levantar até 50 quilos (figura 102), muito úteis em tarefas de recuperação de pequenos materiais, como modelos de maior capacidade (figura 103), tendo o autor encontrado modelos com capacidade para levantar até 5.000 kg, utilizados na reflutuação de grandes objetos ou trabalhos com peças estruturais. 281 Figura 102 - Lift bag com capacidade para levantar 50 kg. Fonte: Scuba, 1996. Figura 103 - Mergulhadores utilizando um Lift bag com capacidade para levantar 500 kg. Fonte: Arruda, 2004. 6.6 REBREATHERS OU EQUIPAMENTO DE MERGULHO AUTÔNOMO DE CIRCUITO FECHADO Os sistemas de respiração de circuito fechado ou rebreathers, existem desde antes da 2ª Guerra Mundial, mas só nos últimos anos chegaram a um estágio técnico que permitiu o seu uso de forma realmente segura em mergulhos. Caracterizam-se pelo reaproveitamento total (sistema fechado) ou parcial (semi-fechado) do oxigênio expirado, com isso otimizam o mergulho, possibilitando mais tempo de fundo, menor necessidade de descompressão, mais silêncio e menos bolhas. Este último, um fator particularmente importante para as operações que exijam sigilo absoluto, como, por exemplo, as operações de sabotagem, pois permitem uma aproximação silenciosa ao objetivo. Durante a década de 40 o gás utilizado era o oxigênio puro, o que limitava sobremaneira a profundidade máxima permitida, sob pena de uma intoxicação fatal. 282 O máximo que se podia mergulhar sem risco era 6 metros. Nos últimos trinta anos começou-se a usar misturas que permitem alcançar maiores profundidades. É um equipamento de alto custo [grifo do autor]. Isto deve-se à complexidade do sistema, que necessita um controle muito preciso das concentrações da mistura gasosa fornecida ao mergulhador, como mostra a figura 90. Essa precisão garante que os rebreathers atuais tenham uma grande vantagem sobre os equipamentos a ar comprimido e mesmo sobre as misturas por si próprias: menor tempo de descompressão. O equipamento possui um computador que regula automaticamente a quantidade de O2 ou Nitrox de acordo com a profundidade em que o mergulhador está. Assim, o nitrogênio permanece em níveis sempre mínimos, reduzindo as paradas para descompressão (figura 104). Figura 104- Funcionamento de um rebreather85. Fonte: Damaro, 1996. p.57. Além disso, como quase não há desperdício de oxigênio e nitrogênio, as recargas são bem menos freqüentes. Um cilindro normal de ar comprimido, a 10 metros de profundidade, dura cerca de uma hora, enquanto um rebreather (figura 105) dura aproximadamente seis vezes mais. 85 Os gases expirados passam por um catalisador que retira o CO2. O restante passa por um sensor que mede a quantidade de O2. O computador analisa, com base na profundidade que o mergulhador está, se é necessário injetar mais desse gás ou de Nitrox, em alguns casos. Se preciso, abre a válvula, na medida necessária para recompor a mistura na bolsa de inspiração. 283 Figura 105 - Rebreather. Fonte: http://www.thescubaclub.com/dolphin.jpg. Acesso em: 12 set. 2006. 6.7 DPVs OU SCOOTERS Desenvolvidos com a finalidade de facilitar o trabalho de pesquisadores, os DPVs 86 vem ganhando espaço em outras atividades de mergulho. O aparelho foi inventado por Jacques Custeau em meados dos anos 50, quando era conhecido como pulga do mar. Um DPV (figura 106) é capaz de aumentar em até cinco vezes a velocidade do mergulhador, com a vantagem de diminuir o esforço físico exercido e, como conseqüência, reduzir o consumo de ar. Deve-se lembrar sempre onde e quando usar um DPV, já que eles proporcionam uma velocidade considerável e levam, assim, à perda de detalhes do mergulho que poderiam ser importantes em um reconhecimento subaquático. O uso do scooter requer instrumentos fundamentais para a navegação, como bússola e profundímetro, principalmente quando a descida é realizada em lugares sem referências. Com um scooter ganha-se tempo para atingir um ponto previamente planejado, porém, como todo equipamento, ele pode falhar, tornado-se conveniente que o mergulhador leve um aparelho reserva entre as pernas. Os DPVs são movidos a baterias, tendo uma autonomia que varia entre 40 a 120 minutos, alcançando profundidades entre 42 e 122 metros e velocidades de 2,5 a 2,7 nós. 86 DPV ou “diver propulsion vehicles” – veículos de propulsão para mergulhador. 284 Figura 106 - Mergulhador utilizando um Scooter ou DPV. Fonte: www.oceanicworldwide.com/img/p_vehicles_main1.jpg. Acesso em: 11 set. 2006. 6.8 CILINDROS CARREGADOS COM NITROX O Nitrox é uma mistura respiratória que possibilita ganhar mais tempo no mergulho descompressivo, possuindo os mesmos componentes do ar que se respira na superfície. A diferença está na concentração de oxigênio, enquanto no ar há 21% de O2, no Nitrox o percentual é maior. A preocupação em reduzir a proporção de nitrogênio justifica-se porque, no mergulho, ele é quem provoca a doença descompressiva ao expandir-se e formar bolhas no sangue, além de reduzir o tempo de fundo do mergulhador. Além disso, o referido gás afeta o sistema nervoso, a partir de 33 metros, produzindo a narcose. Os cilindros carregados com Nitrox (figura 107), na forma de ar enriquecido (EAN – Enriched Air Nitrox), são usados em duas concentrações de O2 no mergulho: o EAN32, com 32% de oxigênio e o EAN36, com 36%. No mergulho profundo ou de saturação, empregam-se misturas nas quais o percentual de O2 é inferior aos 21% da atmosfera : heliox (hélio-oxigênio) e trimix (hélio-nitrogênio-oxigênio). O hélio é usado como complemento nessas misturas porque o oxigênio, apesar de ser um componente fundamental na respiração, também traz limitações e pode provocar intoxicações. Com o ar comprimido o limite seguro de profundidade é de 42 metros. No Nitrox EAN32 esse limite diminui para 40 metros e no EAN36 é ainda menor: 33 metros. 285 Figura 107 - Cilindro com Nitrox (observar faixa amarela e verde identificando uso de Nitrox). Fonte: http://www.hkist.com/images/Nitrox_Cylinder.jpg. Acesso em: 03 jun. 2006. Apesar das restrições impostas pelo oxigênio adicional, o Nitrox permite aumentar o tempo de fundo e diminuir o intervalo de superfície entre mergulhos. Também é recomendado para mergulhadores com tendência a acumular nitrogênio, que praticam algum tipo de atividade física pesada antes ou após o mergulho, ou que já tiveram caso de doença descompressiva. Os instrutores que fazem muitos mergulhos diários, descendo e subindo com alunos, estão sujeitos ao aparecimento de microbolhas de nitrogênio. Para estes, o Nitrox é uma solução, além de provocar menor fadiga. 286 7 CONCLUSÃO Ao longo deste trabalho procurou-se mostrar a situação da atividade de mergulho dentro do Sistema Engenharia. Para tanto, este autor pesquisou fatos históricos, bem como buscou conhecer como essa atividade se desenvolve na Marinha do Brasil e nos Exércitos da Argentina e dos EUA. Após esse estudo e aplicação de uma pesquisa de campo, foram feitas propostas para a modificação da estrutura organizacional, do emprego, da legislação regulamentadora e da formação de mergulhadores da Arma de Engenharia. Em um primeiro momento, esta tese verificou que devido a vários avanços tecnológicos e científicos ocorridos nos séculos XIX e XX, o mergulho passou a ter uma maior importância dentro de uma estratégia militar de guerra. Dessa forma, o mergulho militar foi aperfeiçoado, tendo sido desenvolvidos equipamentos mais eficientes e criados grupos de elite adestrados para o cumprimento de missões subaquáticas. Ainda no que se refere às condicionantes históricas, verificou-se que a atividade especial de mergulho vem sendo implementada gradativamente dentro do Exército Brasileiro desde 1957 e, na Arma de Engenharia, desde 1964. Pode-se afirmar, também, que atualmente a estrutura do mergulho militar no Brasil encontrase bastante definida tanto para a MB como para a FAB e que no início do século XXI, as Forças Especiais e a Arma de Engenharia do Exército Brasileiro, principais interessados nessa atividade especial, ainda estão buscando delimitar seus espaços e atribuições. No que se refere à Marinha do Brasil, observou-se que esta possui uma estrutura de mergulho muito bem definida, englobando dois ramos dessa atividade especial: o mergulho de combate, voltado para as operações especiais; e o mergulho de emprego geral, voltado para atender as necessidades das funções logísticas Manutenção e Salvamento. Além disso, conta com um estabelecimento de ensino, o CIAMA, que ministra cursos tanto para militares como para civis. Este centro dedica-se a conduzir, pesquisar e atualizar as atividades de mergulho dentro da Força, proporcionando à MB um grande legado de experiências nessa atividade especial, o qual vem sendo repassada aos militares do EB que lá se especializam como mergulhadores. 287 Do estudo da atividade especial de mergulho no Exército Argentino, pode-se constatar que a Força Terrestre dessa Nação Amiga também possui uma estrutura de mergulho muito bem definida. A Engenharia Argentina iniciou as atividades de mergulho logo após a II Guerra Mundial, e atualmente conta com uma Escola de Mergulho e com uma Subunidade de Mergulho, o que lhe proporciona grande vivência no trato dessa atividade especial. O Exército Argentino possui uma doutrina de emprego de mergulhadores, descrita em manuais da Arma de Engenharia, empregando seus “Buzos de Ejército” tanto em atividades de mergulho de combate como em mergulho de emprego geral. Já o Exército dos EUA separa as atividades de mergulho em ramos distintos, tendo os “Special Operations Combat Divers” a missão de executar atividades de mergulho de combate e os “Engineer Divers” de realizarem as atividades de mergulho de apoio geral, porém sem deixar de cumprir suas atribuições com relação as atividades ligadas ao apoio ao combate. Ambos os ramos cumpriram diferentes missões na II Guerra Mundial e também nas Guerras da Coréia, do Vietnã, do Golfo e do Iraque. Constatou-se, ainda, que o Exército dos EUA possui uma doutrina de emprego consolidada, devidamente explicitada em manuais da Arma de Engenharia, a qual está sendo validada no dia a dia da Guerra do Iraque. Outro ponto de destaque é que a formação de mergulhadores realiza-se de maneira combinada no “Naval Diving and Salvage Training Center”, homogeneizando a formação, economizando recursos humanos e materiais, bem como possibilitando o intercâmbio de experiências entre as Forças Armadas dos EUA. Outro objetivo deste trabalho foi verificar a legislação vigente sobre mergulho. Observou-se então, por intermédio de pesquisa bibliográfica e de pesquisa de campo, que, no âmbito do EB, a legislação existente é insuficiente e carece de aperfeiçoamento, pois existe uma norma que possibilita a prática do mergulho de maneira amparada, mas que em muito restringe a atividade; bem como um Boletim Técnico que serve como manual sobre a técnica do assunto, o qual carece de atualização; porém inexiste uma doutrina de emprego do mergulho em operações militares. Dessa forma, foram apresentadas sugestões para alterar essa situação. 288 No que se refere à reformulação da estrutura organizacional do mergulho na Arma de Engenharia, sugere-se a criação de pelotões de mergulho, tipo I e II; e da Companhia de Engenharia de Mergulho, orgânica da Engenharia Divisionária, da Engenharia de Exército e do CECLTOT. Considera-se que esses seriam elementos muito úteis para a Arma, diversificando as maneiras para o cumprimento de sua missão em combate, sendo, por vezes a “única maneira”. Crê-se, ainda, que essa companhia será uma necessidade real e por vezes vital em caso de conflito, qualquer que seja a área de operações em que a Engenharia estiver desdobrada. No tocante às possibilidades de emprego dos mergulhadores de Engenharia, os quais deverão estar presentes em todo o Teatro de Operações Terrestre, visualizou-se que os mesmos atuarão na ZA realizando, dentre outros, trabalhos técnicos de instalações, particularmente em portos, ancoradouros e oleodutos/gasodutos; a limpeza de obstáculos subaquáticos e a demarcação de canais de navegação; a instalação, manutenção e reparação da porção subaquática de oleodutos/gasodutos em portos; a recuperação de material, embarcações e viaturas afundadas; a reparação de embarcações do EB ou de interesse do EB etc. Já na Zona de Combate, o emprego de mergulhadores estará presente no reconhecimento de locais para transposição de cursos d’água; no lançamento e remoção de minas e obstáculos subaquáticos; nas demolições subaquáticas; nas coleta de informações sobre o leito de rio, mar, lagos etc; no reparo de pontes, represas e canais danificados; no lançamentos de obstáculos e barreiras flutuantes; na inspeção e reparo de embarcações do Exército; na proteção do equipamento de transposição de curso d’água e das estruturas submersas das ameaças subaquáticas; e participando de operações de dissimulação tática, iludindo as forças inimigas no contexto de uma operação de transposição de curso d’água, dentre outras. No tocante à formação de mergulhadores constatou-se que o CIOpEsp, estabelecimento de ensino que forma os recursos humanos para a Brigada de Operações Especiais, já conta com cursos de mergulho que atendem às necessidades das tropas de Forças Especiais. Porém, a Arma de Engenharia, mesmo tendo evoluído bastante nas últimas décadas no que se refere às operações de mergulho, ainda não traçou os rumos que deseja para essa atividade especial. Observou-se que as principais escolas de formação do Exército, AMAN e EsSA, ainda não estão em condições plenas de formarem seus recursos humanos 289 para exercerem a atividade de mergulho na Arma de Engenharia. Dessa forma, verificou-se que após uma reformulação dos PlaDis de mergulho, existe a possibilidade de que a AMAN, devidamente aparelhada e com mais algumas adaptações, seja reconhecida como entidade formadora de mergulhadores, amparada pela Portaria no 236, documento legal para o qual também propôs-se aperfeiçoamentos. Para se ampliar os conhecimentos adquiridos na AMAN, acredita-se que será necessária a criação de um curso de especialização/extensão na área. Sugeriuse, por diversos fatores, que a Seção de Engenharia da EsIE fosse a “escola do mergulho”. Para os cabos e soldados que, por força de legislação, ainda não podem exercer a função de mergulhadores com o devido amparo, sugeriu-se a criação do CFC de mergulho. A implementação de um curso de mergulho na Seção de Engenharia da Escola de Instrução Especializada poderá dar um salto de qualidade na formação dos recursos humanos e na formulação e validação da doutrina de emprego da atividade. Na Arma de Vilagran Cabrita muito já foi feito nos últimos 43 anos, porém muito existe por se fazer. Hoje existem vagas para mergulhadores nos batalhões de nas companhias de Engenharia de combate, todavia muitos estão sem condições de praticar a atividade, mesmo possuindo material para fazê-lo, pois a legislação não lhes ampara. É preciso mudar essa situação, implementado a atividade de mergulho nessas OM, para que as mesmas possam desenvolver a doutrina de emprego de mergulhadores de Engenharia. Se muito se fez até hoje, muito ainda há por se fazer. Acredita-se este trabalho possa sensibilizar o escalão superior sobre a necessidade de se melhorar condições de execução da atividade especial de mergulho dentro do Sistema Engenharia, valorizando elementos altamente especializados, homens que arriscam suas vidas todas as vezes em que se equipam e submergem para cumprir mais uma missão. ____________________________ CÉSAR ALEXANDRE CARLI - Maj 290 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Francisco Roberto de. Diretriz geral do comandante do Exército / 2003 - Percepção sobre o Exército. Brasília, DF, 03 fev. 2003. Disponível em:<http://www.gabcmt.eb.mil.br/static/paginas/diretriz_.htm>. Acesso em: 12 ago. 2006. ARGENTINA. Ejército. EMGE. BPE no 4680: reglamentación para la aptitud especial de buzo de ejército. 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Disponível em:< http://www.wood.army.mil/ENGRMAG/PDFs%20for %20JulSept%2003/West-Inskeep.pdf> Acesso em:21 Abr 2005 299 Apêndice A - QUESTIONÁRIO PARA AS OM DE ENGENHARIA DE COMBATE 300 301 302 303 304 305 Apêndice B - QUESTIONÁRIO PARA OFICIAIS DE ENGENHARIA 306 307 308 309 Apêndice C - TABELA RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS TÉCNICAS DE MERGULHO 310 311 312 ANEXO A - PORTARIA No 236, DE 06 DE MAIO DE 2003, DO COMANDO DO EXÉRCITO 313 314 315 316 317 ANEXO B - PORTARIA No 051/DGP, DE 18 DE AGOSTO DE 2000. Aprova as Normas para Cadastramento de Horas de Mergulho Homologadas. O CHEFE DO DEPARTAMENTO-GERAL DO PESSOAL, no uso da atribuição que lhe foi conferida pelo inciso 2) do Art. 6º do Decreto Nr 78.724, de 12 de novembro de 1976, que aprova o Regulamento do Departamento-Geral do Pessoal e de acordo com o que propõe a Diretoria de Cadastro e Avaliação, resolve: Art. 1º - Aprovar as Normas para Cadastramento de Horas de Mergulho Homologadas. Art. 2º - Estabelecer que esta Portaria entre em vigor na data de sua publicação. NORMAS PARA CADASTRAMENTO DE HORAS DE MERGULHO HOMOLOGADAS 1. FINALIDADE Estabelecer os procedimentos necessários para cadastramento de horas de mergulho pelo Sistema de Pessoal do Exército Brasileiro. 2. OBJETIVO - Racionalizar e simplificar o processo de cadastramento de horas de mergulho, no Banco de Dados do DGP. - Estabelecer responsabilidades pelas informações para o processo de cadastramento. 3. CADASTRO DE HORAS DE MERGULHO a. Somente serão cadastrados pelo DGP as horas de mergulho cumpridas e homologadas de acordo com a Portaria Ministerial 133, de 12 de março de 1996 por militar qualificado para a Atividade Especial de Mergulho. b. Atribuições do DGP, por intermédio de seu Órgão de Cadastro - providenciar o registro no Banco de Dados mediante o recebimento de solicitação formal de cadastro expedida pelo Cmt, Ch ou Diretor da OM responsável pela homologação dos resultados obtidos no Plano de Provas ou de Exercícios executados sob responsabilidade de Organização Militar Especial de Mergulho. - Fazer constar na Ficha Individual do militar as horas de mergulho homologadas já cadastradas. 318 c. Organização Militar Homologadora OM homologadora é o escalão imediatamente superior que enquadra a Organização Militar Especial de Mergulho sob a responsabilidade da qual é executado o Plano de Provas ou de Exercício, incumbindo-lhe: - remeter, diretamente ao DGP, até 15 de fevereiro de cada ano, a solicitação de cadastro de horas de mergulho homologadas contendo, obrigatoriamente, as seguintes informações: - nome completo, identidade e CP do militar mergulhador; - total de horas de mergulho homologadas cumpridas pelo militar no ano anterior; - data e número do BI em que publicar a homologação das horas de mergulho. - publicar em BI e informar à OM a que pertencer o mergulhador para que esta transcreva nos assentamentos do militar os dados que constam da solicitação de cadastro. d. Atribuições do Cmt, Ch ou Diretor da Organização Militar Especial de Mergulho - providenciar as informações necessárias para que a OM homologadora elabore o processo de homologação e a solicitação de cadastro das horas de mergulho; - transcrever nos assentamentos do militar os dados informados pela OM homologadora. 4. PRESCRIÇÕES DIVERSAS a. A solicitação de cadastro será, obrigatoriamente, assinada pelo Cmt, Ch ou Diretor da OM, admitida por delegação quando este for oficial-general. Não é admitida assinatura no impedimento. b. A solicitação de cadastro quando feita por meio de documento eletrônico ou de acesso direto ao Banco de Dados, deverá observar as normas que regularem a utilização desse meio no âmbito do Exército e no Sistema de Pessoal. c. A qualquer tempo, poderá o DGP determinar auditoria na documentação utilizada para o cadastro das horas de mergulho podendo esta ser realizada na OM atual do militar, por comissão especialmente designada. d. Os procedimentos relacionados a Gratificação de Compensação Orgânica estão regulados na Portaria Ministerial 133, de 12 de março de 1966. 319 ANEXO C - PADRÕES PSICOFÍSICOS PARA MERGULHADORES 320 321 322 This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF.