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A CADEIA PRODUTIVA DE CARNE BOVINA NO BRASIL
MERCADO INTERNACIONAL E NACIONAL
José Alberto de Àvila Pires
Engenheiro Agrônomo, Coordenador Técnico/Bovinocultura de Corte da EMATER/MG
Avenida Raja Gabaglia, 1.626 – Bairro Luxemburgo.
30350-540 – Belo Horizonte – Minas Gerais
Fone: (31) 3349 8272 – Fax: (31) 3296 4990
e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Ao conjunto da produção de bens e serviços intermediários e
finais realizados antes, dentro e depois da porteira, dá-se o nome de
cadeia produtiva. A noção sobre cadeias produtivas e o conhecimento
das relações entre seus segmentos são necessários, pois além de
evidenciar onde o poder econômico é exercido, revelam as
especificidades técnicas e econômicas ocorrentes e mostram ainda,
que, para todos os agentes econômicos, é imprescindível conhecer e
levar em conta a estrutura dinâmica técnico-financeira dos setores e
ramos que as compõem, objetivando a competitividade no mercado
(Amaral, 2000).
A ocorrências das doenças da “vaca louca” e da “febre
aftosa” na Europa está afetando de forma marcante o mercado e a
cadeia produtiva de carne bovina no mundo inteiro.
Segundo Talamani (2001), o rico mercado consumidor europeu e
demais países desenvolvidos determinará como os sistemas de
produção agropecuária vão operar. O objetivo do consumidor europeu é
consumir alimentos saudáveis com o mínimo de riscos à saúde, que
sejam produzidos sob conceitos de respeito ao ambiente e ao bem estar
animal, de preferência oriundos de unidades de produção estruturados
nos moldes de organização familiar.
Diante desta nova realidade do mercado de carne bovina, este
trabalho procura mostrar os futuros potenciais dos mercados
internacional e nacional, e analisar a importância do criador, o
pecuarista que faz exclusivamente a produção de bezerros de corte
para venda logo após a desmama/apartação, com a base de
sustentação de toda a cadeia produtiva da pecuária bovina de corte.
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MERCADO INTERNACIONAL
Principais Países Produtores, Exportadores e Importadores
Dados publicados pelo ANUALPEC 2000 mostram que a
população bovina mundial encontra-se concentrada em dez países com
cerca de 850 milhões de cabeças, 80,30% do rebanho total, e o Brasil
se desponta como o maior rebanho bovino “comercial”, (154,5 milhões
de cabeças), já que a Índia por questões religiosas não utiliza seu
rebanho bovino para produção de carne. Quanto à produção mundial de
carne bovina, os dez países maiores produtores são responsáveis por
cerca de 36 milhões de toneladas ano, aproximadamente 73% do
volume total produzido. Os maiores produtores são os Estados Unidos
com cerca de 11,5 a 12,0 milhões de toneladas ano (24,5%) e o Brasil
com 6,5 a 7,0 milhões (14,3%). No cenário das exportações, nove
países respondem por 93% das exportações mundiais, cerca de 6,4
milhões de toneladas ano. Os destaques são para a União Européia
com 2,2 milhões de toneladas ano (32,5%), a Austrália com 1,3 milhões
(19%) e os Estados Unidos com 985 mil toneladas (14,4%). O Brasil,
embora colocado entre o 6º e 7º lugar no ranking dos países
exportadores mundiais de carne bovina, durante quase toda a década
de 90, vem ampliando substancialmente sua participação no mercado.
Com as desvalorizações cambiais em 1999 e mais recentemente em
2001, e o avanço do programa de erradicação da febre aftosa,
estimativas preliminares indicam que o Brasil poderá exportar cerca de
700 mil toneladas já em 2001. Caso isto ocorra, o Brasil irá para o 4º
lugar, atrás da União Européia, Austrália e Estados Unidos. Os esforços
do Governo e da iniciativa privada são para que o Brasil consiga
exportar 1 (Hum) milhão de toneladas de carne bovina, por ano, no
curto prazo. Quanto às importações, sete países – Estados Unidos,
Japão, União Européia, Rússia, Canadá, Coréia do Sul e México
aparecem como responsáveis por 89% do mercado com um volume
aproximado de 5,0 a 5,5 milhões de toneladas de carne importada por
ano. O destaque se refere ao fato de que estes países se encontram no
bloco dos países livres da febre aftosa, impondo rigorosas barreiras
sanitárias à carne bovina proveniente de países ainda sujeitos à febre
aftosa. E é exatamente para poder participar como exportador, deste
rico mercado consumidor, que o Brasil vem se empenhando na
erradicação da febre aftosa.
III Simpósio de Produção de Gado de Corte -
3
Consumo Mundial “per capita” Comparado
O consumo mundial de carne bovina tem sido influenciado por
questões que vão desde a preocupação dos consumidores com a
saúde, com a conservação do meio ambiente e, principalmente pelas
mudanças nos preços relativos das carnes concorrentes, especialmente
a carne de frango. Na década de 90, o crescimento do consumo de
carne de aves nos Estados Unidos foi de 27,73%, no Brasil de 59,63%,
e na União Européia de 15,50%. Neste período, o consumo de carne
bovina permaneceu estável nos Estados Unidos e União Européia, teve
um pequeno crescimento no Brasil (7,6%) e aumentou
significativamente no Japão e Coréia do Sul (41,97%) (ANUALPEC,
2000) .
Aliás, um maior crescimento do consumo per capita de carne
bovina tem sido observado em toda Ásia. Em alguns países da União
Européia tem sido observada uma queda drástica em função dos
diversos problemas sanitários dos rebanhos (vaca louca, febre aftosa,
dioxina) e nos países da antiga União Soviética devido a problemas
econômicos e políticos. Somente com a doença da “vaca louca” estimase uma queda de 15% no consumo de carne bovina na Europa, o que
irá corresponder a cerca de 1 (Hum) milhão de toneladas/ano.
2.3. Preços
A Tabela 1 mostra os preços dos mercados internos para arroba
do boi gordo, praticados no Brasil (base São Paulo), na Argentina,
Uruguai e Estados Unidos. Estes preços são nominais, expressos em
dólares norte americanos, sendo portanto afetados por mudanças nas
taxas de câmbio, como a que ocorreu no Brasil à partir de 1999. Em
2001, a desvalorização do Real (R$) frente ao Dólar (US$) mantém as
cotações da arroba do boi gordo no Brasil, variando de US$ 18,00
(safra) a US$ 20,00 por arroba (entressafra).
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Tabela 1 - Preços no Mercado Mundial de Gado (US$/arroba de boi
gordo)
Países
Brasil
Argentina
Uruguai
Estados Unidos
1.995
26,19
24,72
24,44
45,75
1.996
22,79
25,95
23,93
44,60
1.997
24,40
28,11
24,58
45,38
1.998
23,77
31,75
26,31
43,24
1.999
18,57
24,80
22,65
46,62
Média
23,14
27,07
24,38
45,12
OBSERVAÇÃO
a) Para cálculos, foram considerados 62% de rendimento de carcaça
para os Estados Unidos e 52% para Argentina, Uruguai e Brasil.
b) Brasil: Preço à vista em São Paulo.
c) Uma arroba = 15 kg de carcaça
Fonte: ANUALPEC/2.000 (FNP. Consultoria e Comércio Ltda.)
O que se observa é que estes preços são menores no Brasil,
Argentina e Uruguai onde o sistema de alimentação predominante é
baseado em pastagens.
Já nos Estados Unidos, onde a alimentação predominante é
baseada em grãos (confinamento), os preços pagos aos produtores
foram, na média dos cinco anos considerados (1995/99), cerca de 95%
maiores do que no Brasil e 67% do que na Argentina.
Custos de Produção
Considerando-se a produção exclusiva à pasto, uma planilha de
custo de produção foi desenvolvida pela CEPEA/Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo
(USP)/Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) –
Piracicaba (SP) em 1994, envolvendo o ciclo completo da bovinocultura
de corte – a cria, a recria e a engorda. Chegou-se a um custo
operacional total de US$ 13,13 por arroba (PREÇOS AGRÍCOLAS,
1994).
Adotando-se este mesmo modelo de análise de custo de
produção, o ANUALPEC 2000 publicou em abril/2000, resultados
referentes a 1999, de uma série de estudos de custos considerando-se,
isoladamente, os sistemas de CRIA, o de RECRIA/ENGORDA, e o de
III Simpósio de Produção de Gado de Corte -
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CRIA/RECRIA/ENGORDA. Os sistemas de produção foram ainda
classificados em extensivos, semi-intensivo e intensivo, e de acordo
com o tamanho do rebanho em uma única propriedade: pequenas (500
UA); médias (1.500 UA) e grandes (7.500 UA).
NOTA: 1 UA (Unidade Animal) igual a 450 kg de peso vivo.
De uma maneira geral, na maioria dos casos (56%), os custos por
arroba produzida variam de US$ 12,00 a US$ 15,00, com um mínimo
de US$ 9,00 e um máximo de US$ 16,00.
Principais Importadores e Preços
Como o comércio de qualquer produto, o comércio de carne
bovina depende das vantagens comparativas em termos de custos de
produção, que estão diretamente relacionadas com a disponibilidade de
terra, boas pastagens, de grãos e condições climáticas favoráveis.
Neste contexto, a posição do Brasil como exportador tem se firmado
cada vez mais. E o avanço do programa de controle e erradicação da
febre aftosa está dando um novo incentivo às exportações.
As exportações brasileiras de carne industrializada e “in natura”,
por países ou regiões de destino, nos anos 1996 a 1999, são mostradas
nas Tabelas 2 e 3.
Os países da União Européia (Reino Unido, Países Baixos,
Itália, Alemanha e Espanha) são os principais países de destino das
exportações do Brasil, tanto de carne “in natura” quanto de carne
industrializada.
Os Estados Unidos se destaca como maior importador de carne
industrializada.
Observa-se que, apesar do crescimento no volume de carne
exportada pelo Brasil nos últimos anos, verificou-se um queda dos
preços. Para carne industrializada esta queda foi de 21,17% em 1999
comparativamente a 1998, e para carne “in natura” esta queda foi
ainda maior – 41,5% no período de 1996/1999.
Tabela 2 – Exportações Brasileiras de Carne Bovina Industrializada*, por Destino
Países
1996
m US$
Ton.
1997
US$/t
m US$
Ton.
1998
US$/t
m US$
Ton.
1999
US$/t
m US$
Ton.
US$/t
Estados Unidos
52,776 19,351 2,727
63,451 22,041
2,879
95,683
31,178
3,069 110,335
47,108
2,342
Reino Unido
81,210 32,459 2,502
91,524 36,081
2,537 102,325
39,495
2,591 107,770
50,384
2,139
Itália
18,087
4,333 4,175
5,153
1,420
3,629
13,629
3,135
4,348
12,906
3,473
3,716
Alemanha
14,863
4,308 3,450
13,283
4,031
3,296
14,746
4,521
3,262
12,676
4,265
2,972
França
9,338
2,623 3,560
7,024
2,960
2,373
8,560
3,100
2,761
11,312
3,825
2,957
Jamaica
4,427
1,834 2,414
8,067
3,294
2,449
8,956
3,641
2,460
9,104
4,227
2,154
Porto Rico
6,825
2,826 2,415
6,593
2,606
2,530
8,701
3,413
2,550
8,328
4,171
1,997
11,440
4,507 2,538
5,629
2,287
2,461
7,985
2,839
2,813
8,012
3,174
2,524
Canadá
4,604
1,889 2,438
6,393
2,554
2,503
3,693
1,479
2,498
6,052
2,957
2,046
Japão
2,680
905 2,961
1,869
677
2,761
1,786
625
2,858
2,748
1,061
2,591
83
28 2,978
136
42
3,200
994
337
2,954
2,653
789
3,363
29,991 12,588 2,383
22,694
9,602
2,363
29,175
12,288
2,374
26,208
Países Baixos
Bélgica
Outros
Total Proces.
Total Eq. Carc**
236,323 87,650 2,696 231,816 87,596
219,125
12,575
2,084
2,646 296,233 106,050
2,793 318,106 138,008
2,305
265,124
345,021
218,989
* - A partir de 1996 inclui preparações alimentícias e conservas bovinas.
** - Para a conversão em equivalente carcaça, o total processado foi multiplicado pelo fator 2,5.
III Simpósio de Produção de Gado de Corte -
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Tabela 3 - Exportações Brasileiras de Carne Bovina “In natura,” por Destino
Países
1996
m US$
Ton.
1997
US$/t
m US$
Ton.
1998
US$/t
m US$
Ton.
1999
US$/t
m US$
US$/t
Resfriada s/ Osso
41,828
6,486 6,449
48,534
7,935
6,116
57,262
10,839
31,083
3,778
Países Baixos
13,351
1,870 7,140
16,979
2,397
7,083
24,257
3,643
6,658
31,855
6,049
5,266
Reino Unido
9,140
1,478 6,185
15,489
2,401
6,451
8,688
1,414
6,146
17,688
3,637
4,863
Alemanha
6,235
777 8,026
3,596
508
7,086
2,718
402
6,762
11,549
2,598
4,445
Espanha
1,122
215 5,224
1,387
303
4,582
2,824
621
4,550
9,242
1,937
4,771
Suíça
4,369
813 5,377
4,096
750
5,463
5,791
1,073
5,395
7,602
1,438
5,287
7,611
1,334 5,706
6,987
1,577
4,429
3,522
39,486
Outros
Congelada s/osso
152,469 40,166 3,796 147,712 44,476
5,283 117,422
Ton.
12,984
3,687
15,424
2,560
3,321 219,176
69,876
3,137 326,145 119,471
2,730
Países Baixos
45,319
9,968 4,546
45,391 11,306
4,015
63,081
15,886
3,971
85,400
23,320
3,662
Itália
39,127 10,168 3,848
42,964 11,606
3,702
51,419
13,935
3,690
56,780
19,079
2,976
Espanha
22,626
6,208 3,645
13,425
4,505
2,980
21,314
6,924
3,079
40,801
11,059
3,689
Hong Kong
6,472
2,648 2,444
5,635
2,559
2,202
7,858
3,332
2,358
26,496
12,643
2,096
Reino Unido
10,033
2,487 4,033
9,769
2,881
3,391
8,898
3,492
2,548
18,502
8,984
2,059
8,131
1,638 4,963
4,397
1,042
4,221
8,711
2,088
4,173
17,124
4,674
3,664
614
370
1,660
3,434
1,672
2,054
12,320
8,794
1,401
Alemanha
Chile
Israel
3,239
1,701 1,904
8,810
4,134
2,131
15,093
7,112
2,122
10,356
5,704
1,816
Outros
17,522
5,347 3,277
16,707
6,073
2,751
39,367
15,435
2,550
58,367
25,215
2,315
3,743 276,595
80,850
3,421 443,835 150,740
2,944
105,105
195,720
Total Original
194,297 46,657 4,165 196,295 52,441
Total Eq. Carc*
60,648
* - Eq. Carcaça = Carne sem osso x 1,3
FONTE: ANUALPEC/2000
68,134
Tendências
Segundo análise de SAFRAS & MERCADO - BOIS & CARNES,
a ocorrência das doenças da “vaca louca” e “febre aftosa” na Europa
indicam uma mudança radical no mercado internacional de carne
bovina, nos próximos anos. Somente com a doença da “vaca louca”
espera-se uma queda de 600 mil toneladas/ano na produção e de 300
mil toneladas/ano nas exportações de carne bovina da Europa. No caso
da “febre aftosa”, como o abate e eliminação das carcaças tem sido a
forma de se buscar a erradicação desta doença, a produção de carne e
couro bovino para consumo fica reduzida. Assim, as exportações da
Europa de 900 mil toneladas/ano poderão cair ao nível inferior de 400
mil toneladas em 2001. São 500 mil toneladas de carne bovina que
deixarão de atender mercados do Leste Europeu, das ex-repúblicas
Soviéticas, Oriente Médio e Ásia. Se o Brasil conquistar 200 mil
toneladas/ano do mercado que não estará sendo atendido pela Europa,
o que é o mínimo esperado neste momento, as vendas de carne bovina
pelo Brasil crescerão 34% em relação ao ano de 2000 (578,5 mil
toneladas).
Mas para atender este crescimento de mercado o Brasil terá que
se mostrar competitivo na produção de carne bovina através de maior
produtividade, melhor qualidade e preços compatíveis com o mercado.
Por exemplo, para o caso das doenças da “vaca louca” e “febre aftosa”,
a questão não é ter ou não ter estas doenças no Brasil, mas ser
competente na execução de medidas preventivas que evite sua
ocorrência.
MERCADO NACIONAL
Principais Estados Produtores (Rebanho, Produção e Rendimento)
A Tabela 4 mostra os dez Estados brasileiros maiores
produtores de carne bovina, com 82,11% do rebanho bovino existente e
80,8% do volume anual de carne produzida
Em alguns Estados a baixa taxa de abate, como Minas Gerais
(14,21%) e Mato Grosso do Sul (15,89%) indica que estes Estados são
exportadores de animais vivos para abate em outros Estados, que por
isto, apresentam altas taxas de abate. Este é o caso de São Paulo
(35,84%), reconhecidamente importador de boi gordo para abate, do
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais (Triângulo Mineiro) e Goiás. O
III Simpósio de Produção de Gado de Corte -
9
Estado da Bahia (29,74% de taxa de abate) importa principalmente boi
gordo de Minas Gerais, Goiás. Quando comparado com os países de
pecuária bovina mais evoluída, o baixo rendimentos da atividade, de
quase todos os Estados expresso pela taxa de abate, está associado a
um sistema de exploração extensiva, com problemas na alimentação
dos animais, em especial às pastagens, ao melhoramento genético, à
sanidade e manejo do rebanho.
Tabela 4 - Brasil/Principais Estados Produtores de Carne Bovina - 1999
Estado
Mato Grosso do Sul
Minas Gerais
Goiás
Mato Grosso
Rio Grande do Sul
São Paulo
Paraná
Bahia
Pará
Tocantins
TOTAL
BRASIL
%
Efetivo
(mil cab.)
20.033
19.778
16.556
15.540
13.482
12.700
9.813
9.086
6.458
5.452
128.898
156.986
Abate
(mil. cab)
3.184
2.810
3.015
2.644
2.767
4.552
2.294
2.702
901
669
25.538
31.622
Taxa Abate
(%)
15,89
14,21
18,21
17,01
20,52
35,84
23,38
29,74
13,95
12,27
19,82
20,14
Produção
(t)
648.218
556.389
612.424
540.495
565.520
995.154
479.519
547.416
185.247
139.096
5.269.478
6.522.345
82,11
80,76
xxx
80,80
Preço - US$/@
1.999
1.998
17,7
21,00
17,6
22,00
16,6
21,00
16,7
20,80
17,2
21,80
18,7
24,42
17,8
22,20
16,9
22,40
15,9
20,30
16,1
20,60
xxx
xxx
xxx
xxx
xxx
xxx
Fonte: ANUALPEC/2.000 (FNP. Consultoria e Comércio Ltda.)
Evolução dos Rebanhos Regionais
A Tabela 5 permite concluir que, dentro da Tabela da evolução
dos rebanhos bovinos brasileiros, a participação das regiões Nordeste,
Sul e Sudeste está diminuindo, ao mesmo tempo em que está
aumentando as participações do Centro-Oeste e região Norte. A região
Norte, por ser uma região de ocupação mais tardia, o seu rebanho
bovino quase que triplicou (aumentou de 4,2% para 11,3%) entre os
anos de 1985 a 1995, em relação ao total do rebanho brasileiro.
10
Tabela 5 -
Região
NE
CO
SU
SE
NO
TOTAL
Evolução do Rebanho Brasileiro de Bovinos por Regiões (em 1000
cabeças)
1940
7.665
5.112
8.664
11.597
999
34.387
1960
11.566
10.533
11.678
20.840
1.235
55.841
1980
21.506
33.261
24.495
34.835
3.989
118.086
1985
22.287
39.595
24.742
35.661
5.359
127.643
1995
22.842
50.766
26.219
35.954
17.274
153.055
FONTE: CNA/SEBRAE
Consumo “Per Capita”
O consumo de carne bovina é influenciado principalmente pela
renda per capita da população, pelo preço da carne bovina e pelo preço
das demais carnes, suas substitutas. Paralelamente, a influência pode
vir da mudança das preferências dos consumidores. As análises da
demanda da carne bovina, utilizam a carne de frango e a carne suína
como produtos substitutos, mostrando que a redução nos preços de
quaisquer dessas carnes reduz a demanda de carne bovina. Os dados
levantados mostram que, no Brasil, durante toda a década de 90,
enquanto a carne bovina apresentou um crescimento de 7,6%, o
consumo de carne suína cresceu 38,36% e o de carne de frango
59,63%. Os dados apresentados mostram ainda que o consumo “per
capita” de carne bovina variou na década de 90 de um mínimo de
36,79kg/hab./ano (em 1998) até um máximo de 40,7 kg em 2000
(estimativa).
Estudo realizado pela CNA/SEBRAE projetou o consumo de
carne bovina no Brasil para três cenários: baixo crescimento (PIB anual
crescendo, em média a 2%, entre 1999 e 2010); médio crescimento
(PIB anual crescendo, em média, a 4%, entre 1999 e 2010); e alto
crescimento (PIB anual crescendo, em média, a 6%, entre 1999 e
2010). Os resultados mostram a expressiva quantidade de carne bovina
que vai ser necessária para satisfazer o consumo doméstico em 2010,
caso as hipóteses do modelo de previsão se confirmem: 7,4 milhões de
toneladas, no cenário de baixo crescimento; 8,3 milhões de toneladas,
em caso de médio crescimento; e 9,3 milhões de toneladas, para alto
crescimento da renda.
III Simpósio de Produção de Gado de Corte -
11
Em termos de consumo per capita, haveria um incremento
bastante limitado no cenário atual –de 37kg/hab/ano para 40
kg/hab./ano,
aumentando
substancialmente,
entretanto,
caso
prevalecesse o cenário intermediário (45 kg/hab./ano) ou o otimista, em
que se atingiria 50 kg/hab./ano.
CADEIA PRODUTIVA
Valor da Produção, Emprego, Renda
A cadeia produtiva de bovinos de corte, envolve as seguintes fases:
1ª Fase : Antes do Sistema Biológico de Produção ("Antes da
Porteira"): material genético
(reprodutores, semem e embrião);
indústria de insumos (produtos veterinários, rações, adubos); indústria
de máquinas e equipamentos; comercialização de animais.
2ª Fase : Dentro do Sistema Biológico de Produção ("Dentro da
Porteira"):Dentro da estrutura da cadeia produtiva de bovinos de corte, o
ciclo biológico de produção é caracterizado pelas atividades de cria,
recria e engorda.
A atividade de cria compreende a reprodução e o crescimento do
bezerro até a desmama, que ocorre entre seis e oito meses de idade. A
fase de recria vai da desmama ao início da reprodução das fêmeas ou
ao início da fase de engorda dos machos, sendo a de mais longa
duração, enquanto a engorda, quando feita no regime predominante de
pasto, tem duração de 6 a 8 meses.
Estas atividades da produção é que dão as características dos
pecuaristas classificados ou denominados CRIADORES (cria),
RECRIADORES (recria) e INVERNISTAS (engorda).
3ª Fase : Depois do Sistema Biológico de Produção ("Depois da
Porteira"): frigoríficos e matadouros; indústria de couros (curtumes);
indústria de calçados e manufaturados; indústria química e
farmacêutica; indústria de rações.
Para mostrar o valor da bovinocultura de corte, no Brasil, o
Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC) realizou um
levantamento das estimativas de pessoal empregado/ocupado, número
12
de estabelecimentos do sistema integrado da pecuária bovina, indústria
e comércio, e do faturamento bruto de cada segmento da cadeia
produtiva, para o ano de 1.993 e as previsões para o ano 2.000
(Tabelas 6, 7 e 8) (DBO Rural, 1995).
Integração
A estrutura básica da cadeia produtiva, onde tudo começa e se
desenvolve, é o chamado ciclo biológico de produção e caracterizado
pelas chamadas atividades de cria, de recria e de engorda.
Estas fases da produção são as que dão as características dos
produtores, também chamados de pecuaristas, e classificados, ou
denominados CRIADORES (cria), RECRIADORES (recria) e
INVERNISTAS (engorda).
Os criadores tem uma influência marcante na eficiência
produtiva de todo o ciclo biológico da cadeia produtiva da carne bovina.
A atividade de cria tende a se concentrar na pequena produção, em
áreas de terras mais fracas e pequenas propriedades.
O nível de conhecimento e a capacidade de uso de tecnologia é
BAIXA. Na maioria dos casos, os animais não recebem nenhum tipo de
alimentação além do pasto (capim).
Como conseqüência, é baixa a taxa de nascimentos de bezerros
por ano (50%), e estes bezerros, na sua grande maioria, são de
qualidade inferior – 120 a 150 kg de peso vivo aos 7-8 meses de idade
(apartação). Esta baixa eficiência dos criadores é um sério complicador
para o desenvolvimento das outras fases de produção, a recria e a
engorda.
Tabela 6 - Número de Estabelecimentos do Sistema Integrado da
Pecuária Bovina, Indústria e Comércio – Ano de 1.993
Especificação
Estabelecimento com Atividades Pecuárias
Área Ocupada em Hectares
População Bovina
Indústrias de Carnes e Derivados
Indústria de Armazenagem Frigorífica
Estabelecimentos de Comércio Varejista de Carnes
Indústrias Curtidoras
Indústrias de Calçados
Quantidade
1.793.324
221.982.144
157.000.000
742
99
55.000
558
4.150
III Simpósio de Produção de Gado de Corte -
13
Tabela 7 - Pessoal Empregado
Atividade
Produção Animal (IBGE-1.990)
Indústria de Carnes
Comércio Varejista
Indústria de Couros
Indústria de Calçados
Pessoas Ocupadas
1.993
2.000
5.834.000
6.916.000
400.000
480.000
165.000
200.000
60.000
78.000
375.000
435.000
Tabela 8 - Faturamento
Atividade
Produção Total de Carnes
Exportação de Carnes
Produção Total de Couros
Produção de Calçados
Exportação de Calçados
Total
(1)
(1)
(1)
Faturamento (US$ milhões)
1.993
2.000
6.870
9.400
575
1.000
1.600
2.100
4.700
8.250
2.000
3.500
13.170
19.750
Incluem os montantes exportados.
Diversos pesquisadores concluíram que, do ponto de vista
econômico, o desempenho reprodutivo é cinco vezes mais importante
para o crescimento, e pelo menos, 10 vezes mais importante que a
qualidade da carne. Por outro lado, a relevância do crescimento do
bezerro na fase pré-desmama, nas regiões tropicais, é salientada por
outros pesquisadores, que argumentam que nesta fase ocorre a mais
alta taxa de incremento de peso na vida do animal, que atinge aos 7
meses de idade 25 a 35% do peso final de abate, enquanto necessita
mais de 30 a 40 meses para completar o desenvolvimento.
A fases de recria e engorda, individualmente, ou associadas
concentram-se quase sempre em áreas/propriedades maiores e de
terras de fertilidade média a alta, especialmente a fase de engorda.
Já a verticalização total das três fases do processo produtivo –
cria, recria e engorda – é realizada por uma pequena parcela de
pecuaristas, quase sempre em grandes propriedades.
Na suinocultura industrial, moderna e atual, cada etapa do ciclo
biológico da produção é desenvolvida por um produtor especializado. A
14
atividade de cria é feita pelo chamado “matrizeiro”, um tipo de
suinocultor especializado nesta atividade (cria), que possui apenas o
rebanho de reprodução (matrizes e reprodutores) e cuida
especificamente da produção e venda de leitões desmamados.
Na seqüência, o chamado suinocultor “terminador” compra estes
“leitões” desmamados (machos e fêmeas) e faz a sua engorda e venda
para abate.
De uma forma geral, historicamente, na bovinocultura de corte
cada etapa do ciclo biológico da produção é executada por diferentes
pecuaristas. Ao se admitir esta especialização dos pecuaristas para
cada uma das etapas do ciclo – cria, recria e engorda – é importante
destacar o papel da pequena e média produção, desenvolvida pelo
criador/produtor do bezerro de corte. Como o recriador/terminador
(invernista) não desenvolve a atividade de cria, há uma dependência
clara entre
estes
tipos
diferentes
de
pecuaristas:
os
recriadores/terminadores dependem fundamentalmente do criador para
a produção do bezerro, e o criador depende do recriador/terminador
para a compra dos bezerros. Com isto, fica claro que atenção especial
precisa ser dada aos pequenos e médios criadores de bezerros de
corte para venda logo após a desmama. À eles precisam ser levadas
informações técnicas e recursos (crédito rural, principalmente) para que
estes criadores possam produzir e disponibilizar para o mercado
(vender) um BEZERRO DE CORTE DE QUALIDADE, e em quantidade
(melhorias na reprodução dos rebanhos) e com isto assegurar o
incremento da produção de carne bovina.
Sem este envolvimento dos pequenos e médios criadores, toda
a cadeia produtiva ficará comprometida. Inclusive, a falta de bezerros de
corte tem sido freqüentemente um dos mais, senão o principal fator de
entrave ao crescimento e desenvolvimento de produção de carne
bovina no Brasil.
Competitividade
Para se traçar um cenário desejado para a cadeia produtiva da
bovinocultura de corte, o mais realista possível, temos que considerá-la
diante da Tabela de globalização da economia. A abertura econômica
iniciada no Brasil em 1.992, a criação do MERCOSUL, a redução de
impostos no comércio exterior e as profundas modificações no sistema
financeiro nacional revelam que há um processo crescente de
III Simpósio de Produção de Gado de Corte -
15
modificações internas, principalmente, no sentido de adequação da
economia brasileira à realidade mundial.
O que se observou após a implantação do Plano Real (1.994),
foi um período de fortes alterações na economia e que estão
influenciando de forma acentuada todo o meio produtivo.
Para a bovinocultura de corte, este processo de
redirecionamento da economia brasileira revela a necessidade de novos
conceitos na produção e comercialização. Independente destas
alterações observadas na economia como um todo (Brasil e mundial), o
cenário tendencial da cadeia produtiva já recomenda, por si só,
alterações profundas para toda a cadeia produtiva, como forma de
sobrevivência do setor, alterações estas caracterizadas pela busca da
competitividade através de maior produtividade, melhor qualidade
dos produtos, e custos compatíveis com o mercado.
Mas o que é “ser competitivo” na exploração de bovinos de
corte, no Brasil?
O conceito de competitividade aqui adotado será definido como
“um processo de adoção contínua de inovações nas esferas
tecnológicas, organizacional e institucional/legal, dotando
determinado segmento econômico de poder de concorrência no
mercado interno e externo de forma sustentável”. (Perosa, 1998).
No caso do Brasil, a necessidade de tornar a exploração de
bovinos de corte mais competitiva dentro do mercado de carnes, está
trazendo grandes mudanças “dentro da porteira” naquilo que se
convencionou chamar de PRODUÇÃO DE NOVILHO PRECOCE.
Ao lado destas inovações “dentro da porteira”, estão também
surgindo as chamadas “Alianças Mercadológicas”, inovações “para
fora da porteira” e que definem a parceria entre pecuaristas
criadores (agricultura familiar/pequenos produtores), Recriadores
/Invernistas/Confinadores, Frigoríficos e Varejo Final (Supermercados,
Açougues e Casas de Carnes) voltadas para a produção e
comercialização de carne bovina de qualidade (carne de novilho
precoce).
Dentro deste enfoque COMPETITIVIDADE, aspectos ligados a
uma melhor ARTICULAÇÃO da cadeia produtiva de bovinos de corte
se mostram de fundamental importação. E é na busca desta MELHOR
ARTICULAÇÃO que tem surgido as chamadas ALIANÇAS
MERCADOLÓGICAS .
16
Vale ressaltar dentro destas “alianças” a importância de uma
perfeita integração entre o criador e o terminador. Isto porque para se
chegar a um “novilho precoce”, definido como um "bovino jovem" de
dois a dois e meio anos de idade – até quatro dentes incisivos
permanentes (as pinças), peso mínimo de quinze arrobas líquidas (225
kg de carcaça quente) e acabamento de carcaça com no minimo 1mm e
no maximo de 10 mm de gordura, precisa-se partir de um bezerro de
qualidade.
Ao se admitir a especialização dos pecuaristas ou para a CRIA
ou para a ENGORDA, pode-se afirmar com segurança que o sucesso
da produção de novilho precoce passa, OBRIGATORIAMENTE, por um
apoio ao CRIADOR que, antes de mais nada precisa saber (também) o
que é “novilho precoce” e quais as vantagens para ele/CRIADOR,
traz a produção de BEZERROS DE QUALIDADE.
À este criador precisa ser levadas informações para que ele
possa produzir um bezerro de corte de QUALIDADE, tendo como
padrão/referência um bezerro de corte que por ocasião da
desmama/apartação dos 7 a 8 meses de idade, atinja peso vivo superior
a 180 kg (6 arrobas).
Outro fato importante é a existência de um mercado em
FRANCO CRESCIMENTO para compra de bezerro de qualidade. O
próprio “desafio” da produção de “novilho precoce”, com redução da
idade de abate de 4 a 5 anos do “tradicional boi de corte”, para 2,0 a
2,5 anos do “novilho precoce”, estará DOBRANDO a pressão de
compra de bezerro de corte pelos tradicionais invernistas ou
confinadores. Há muito a realização dos leilões de bovinos (gado de
corte) demonstram claramente uma valorização do bezerro de corte de
qualidade, que atinge cotações de preços por arroba de bezerro, de
25% superiores ao preço da arroba do boi gordo. Assim para os atuais
preços médios anuais da arroba do boi gordo de R$ 40,00, um bezerro
de corte de qualidade, de apartação (7-8 meses de idade), com peso
vivo de 180 kg (6 arrobas) alcança no mercado preço de R$ 300,00 por
cabeça, ou seja, R$ 50,00 por arroba de bezerro.
Produzir bezerros de qualidade se tornou um dos mais atrativos
investimentos para a bovinocultura de corte. E isto precisa ser
discutido com os CRIADORES.
III Simpósio de Produção de Gado de Corte -
17
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, R.A. Cadeia Produtiva de Carne Bovina: organizar para competir.
Informe Agropecuário da EPAMIG, Vol. 21, nº 205, jul/ago.2000.
ANUALPEC 2000. Anuário da Pecuária Brasileira: FNP Consultoria &
Comércio, 2000.392 p.
DBO Rural. A Revista de Negócios do Criador. Ano 13, n.º 174-A, fevereiro/95.
PREÇOS AGRICOLAS. Revista de Mercados e Negócios Agropecuários.
Fundação de Estudos Agrários “Luiz de Queiroz”/FEALQ. Ano 8, vol. 98,
dezembro 1995.
SAFRAS & MERCADO – Boi & Carnes. Publicação Quinzenal sobre
Tendências de Mercados. Disponível site http://www.safras.com.br.
Consultado em 21 maio 2001.
TALAMANI, D.J.D. Lições de um sistema insensível. AGROANALYSIS.
Revista
de Agronegócios da FGV. Vol. 21, n.º 3, março 2001.
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MERCADO E ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO DA
CARNE BOVINA: ALIANÇAS MERCADOLÓGICAS E
INTEGRAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA
Feliciano Nogueira de Oliveira
Médico Veterinário MSc e Coordenador Técnico da EMATER-MG / Uberlândia
INTRODUÇÃO
O final dos anos 80 e toda a década de 90 foram, sem dúvidas,
ocasiões marcantes para todos os setores da economia em função das
profundas mudanças ocorridas dentro da denominada “nova ordem
econômica mundial”, que apresentou-se tendo como pano de fundo a
globalização.
Contidos nessa nova ordem econômica estavam a abertura
internacional de mercados, a formação de blocos econômicos com
unificação de moedas, o surgimento da Organização Mundial do
Comércio (OMC) e, mais especificamente no Brasil, o plano de
estabilização econômica (Plano Real), a composição do Mercosul e as
discussões a respeito da Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA).
É óbvio que sendo a economia o ponto nevrálgico em todos os tipos de
relações, os resultados das mudanças ocorridas no setor são sentidos de
forma direta e em algumas vezes imediata nos demais setores à sua
volta (político, social, produtivo, ambiental,...).
As mudanças em curso vêm provocando o surgimento de novos
conceitos que, por sua vez, geram novos comportamentos e vice-versa,
novos comportamentos gerando novos conceitos. Nessa perspectiva dois
conceitos assumiram destacada importância: a valorização do
consumidor – muitas vezes tratado apenas como “mercado” e o conceito
de qualidade.
Quando o assunto é direcionado para a vertente do agronegócio
percebe-se o quanto a ênfase a esses novos valores torna-se acentuada
e o quanto que em nosso país muitos dos atores sociais nela envolvidos,
ainda não estão despertados e, portanto, despreparados para esse novo
cenário mundial, o que acarreta, principalmente, perdas econômicas e
exclusão social das mais diversas formas.
20
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Nessa vertente, a pecuária bovina de corte vem vivenciando
situações ímpares e totalmente novas, o que vem promovendo
transformações rápidas, profundas e, a princípio, irreversíveis em todos
os seus segmentos.
O objetivo deste trabalho é o de apresentar, de forma resumida,
algumas informações sobre questões relacionadas aos segmentos que
compõem a cadeia produtiva da carne bovina de qualidade, suas formas
de integração, as estratégias de comercialização, os mercados e o foco
“do” consumidor.
A CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE:
NOVOS CONCEITOS E NOVOS COMPORTAMENTOS
Ainda hoje é percebido o predomínio de uma visão bastante
compartimentada da cadeia produtiva da pecuária bovina de corte por
parte dos vários representantes de seus segmentos e mesmo por parte
dos técnicos também nela envolvidos.
No que diz respeito ao segmento da produção, a atenção do
pecuarista sempre se voltava única e exclusivamente para o que
acontecia dentro de sua propriedade, julgando como o ponto culminante
do seu trabalho o momento em que os animais eram embarcados para o
frigorífico e ele recebia sua recompensa econômica, a qual era
estabelecida pelo frigorífico e paga de 25 a 30 dias após o abate dos
animais. Os
pecuaristas mais preocupados e interessados no resultado de seu
trabalho, acompanhavam o abate apenas para verificar o rendimento de
carcaça dos animais. O que acontecia com o produto por ele preparado
à partir do frigorífico, no seu julgamento, já deixava de ser de sua
alçada de responsabilidades.
Da mesma forma procediam, respectivamente, os demais
segmentos, sugerindo que a responsabilidade sobre o produto
resultante que chegaria ao consumidor final, fosse exclusiva de quem
está vendendo o corte de carne.
Felizmente, alguns focos de mudanças positivas dessa visão têm
tomado vulto entre os segmentos, em vários pontos do país. Nesses
focos a visão da cadeia produtiva da pecuária bovina de corte deixa de
ser compartimentada e passa a ser sistêmica. No entanto a passagem
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
21
da visão e do entendimento do processo para a prática é um passo largo
e complexo, exigindo dos segmentos envolvidos a quebra de
paradigmas consolidados culturalmente ao longo de muitos anos. Na
visão sistêmica o pecuarista deixa de ser simplesmente “produtor de boi
em pé” e passa a produzir e a ofertar “carne bovina de qualidade”; da
mesma forma o frigorífico deixa de ser um “abatedouro de animais” e
passa a ser um “processador de alimento de alta qualidade”, e assim
sucessivamente, necessitando, no entanto, da contribuição de todos os
segmentos da cadeia para assegurar esse resultado.
De forma compacta, a seguir é mostrada, esquematicamente, a
cadeia produtiva da pecuária bovina de corte e seus segmentos mais
expressivos.
Cadeia Produtiva da Pecuária Bovina de Corte
Insumos à
produção
Demais Produtos
Processamento
Produção
Distribuição
Consumidor
Consumidor
22
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Associados à visão sistêmica, dois fatores complementares
contribuíram sobremaneira para a busca da modernização do segmento
produtivo: a estabilização econômica e a agregação do valor “qualidade”
ao produto a ser ofertado.
Com o estabelecimento do Plano Real, em 1994, a terra e o gado
perderam sua condição de reserva de valor e o pecuarista teve que
buscar a eficiência do seu sistema de produção. A terra passou a valer
aquilo que ela produz e, portanto, passou a haver a necessidade de se
otimizar o seu uso buscando elevar a renda e fazer girar mais rápido e
em maior volume o capital empregado nas atividades nela conduzidas.
No caso da pecuária de corte passou-se a buscar a pecuária
precoce, tendo na produção do novilho precoce sua maior estratégia. O
objetivo a ser atingido com esta estratégia foi o de produzir um animal
pronto para o abate que atendesse a quatro requisitos básicos:
maturidade precoce, peso, conformação de carcaça e cobertura de
gordura. Sem estabelecer grau de importância, porém considerando a
busca da eficiência econômica dos sistemas de produção, seguramente
o parâmetro maturidade precoce para o abate é o que pode propiciar o
giro de capital maior e mais rápido da atividade, refletindo, portanto, na
sua eficiência.
Ressalta-se, no entanto, que a busca de eficiência exige custos
mais elevados de produção. Embora tenha havido por parte de vários
governos estaduais o estabelecimento de programas de apoio e de
incentivo fiscal à produção do novilho precoce, em alguns estados, como
é o caso de Minas Gerais, esse incentivo foi retirado em início de 1998.
Com a queda do incentivo fiscal os pecuaristas que haviam investido na
atividade ficaram em situação difícil, uma vez que adicionalmente a isso
o novo produto gerado não recebia nenhuma remuneração diferenciada.
Tal circunstância vivida pelos pecuaristas mineiros produtores de novilho
precoce, exigiu dos mesmos mudanças de comportamento que
acabaram por levá-los a se organizarem e recorrerem a estratégias
inovadoras de comercialização do produto diferenciado.
Concomitante às situações citadas, o outro fator – agregação do
valor “qualidade” ao produto carne, toma importância expressiva para se
negociar remuneração compatível aos custos mais elevados da
produção.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
23
Começam, a partir daí, a ser consideradas com maior atenção a
opinião e a figura do consumidor, levando-se em conta que é ele quem
passa a sinalizar os atributos de qualidade para a carne que ele e sua
família querem consumir. As mudanças de comportamento das famílias
passam, então, a ser observadas: o tempo que a “nova” dona de casa
despende para o preparo de uma refeição, a postura “conservadora” de
outras quanto à preferência pelo ponto de venda, a procura por carnes
alternativas, seus novos hábitos alimentares, a escolha do corte a ser
comprado em função do poder aquisitivo, o seu referencial de qualidade
e, principalmente, sua necessidade quanto à segurança alimentar.
Uma nova consciência começa a emergir, considerando que todo
o trabalho desenvolvido ao longo da cadeia produtiva da carne bovina
deve ser feito em atenção ao consumidor, uma vez que os atributos de
qualidade agregados ao produto carne e percebidos pelo consumidor é
que o tornará disposto ou não a melhor remunerá-lo.
O MERCADO INTERNO DA CARNE BOVINA
Apesar de grande parte dos segmentos envolvidos na cadeia
produtiva da carne bovina no Brasil estar atenta e ávida em atingir o
mercado internacional, na expectativa de melhor remuneração e
maiores ganhos, o grande mercado consumidor da carne bovina
brasileira é o próprio mercado interno. Dos 6,3 milhões de toneladas de
carne bovina produzidas pelo Brasil no ano 2000, cerca de 650 mil
toneladas foram destinadas à exportação, ou seja, aproximadamente
90% da produção é consumida internamente (Anualpec, 2000).
Segundo informações da EMBRAPA Gado de Corte, publicadas
pela Revista DBO Rural, abril/2000, deverá haver excesso de carne
bovina para o Brasil exportar, a continuar o movimento de recuperação
no consumo per capta registrado no ano 2000: 37,2 kg/habitante,
contra 36,9 kg/habitante em 1999, acompanhado do crescimento da
produção de 6,3 milhões de toneladas em 2000, contra 6 milhões em
1999. Essa tendência só seria revertida se a renda média do trabalhador
brasileiro viesse a aumentar. Numa projeção feita para 2010, se o
Produto Interno Bruto crescer 2% ao ano, o consumo interno de carne
bovina subiria para 39,8 Kg/habitante/ano; se crescer 4%, saltaria para
44 Kg e atingiria os 50 Kg/habitante/ano caso o crescimento atingisse
24
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
6% ao ano. Análises como essa reforçam a correlação positiva entre a
elevação do poder aquisitivo da população e o aumento no consumo de
carne bovina.
Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo
per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Bovina Brasileira de 1990 a 1999
EXPORTAÇÃO
PRODUÇÃO
ANO
(mil t)
(mil t) % da PROD
1990
5.218
249
4,8
1995
6.467
287
4,4
1999
6.522
541
8,3
Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000
CONSUMO
CONSUMO PER
INTERNO
CAPTA
(mil t) % da PROD (Kg/hab/ano)
5.224
100,1
36,1
6.301
97,4
40,7
6.023
92,3
36,9
Além das questões intrínsecas da cadeia produtiva da carne
bovina, com suas dificuldades e conflitos próprios, a ascensão do
consumo de carnes alternativas pelo mercado interno, em especial das
carnes de frango e de suínos, estabeleceu um grau de concorrência
desconhecido por muitos e que a cada dia vem tomando maiores
proporções.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
25
Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo
per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Suína Brasileira de 1990 a 1999
ANO
1990
1995
1999
PRODUÇÃO
(mil t)
1.050
1.898
1.860
EXPORTAÇÃO
CONSUMO
CONSUMO PER
INTERNO
CAPTA
(mil t) % da PROD (mil t) % da PROD (Kg/hab/ano)
25
2,4
1.027
97,8
7,1
49
2,6
1.869
98,5
12,1
116
6,3
1.753
94,2
10,1
Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000
Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo
per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Frangos Brasileira de 1990 a
1999
ANO
1990
1995
1999
EXPORTAÇÃO
PRODUÇÃO
(mil t)
(mil t) % da PROD
2.357
291
12
4.050
424,2
10
5.526
770,6
14
CONSUMO
CONSUMO PER
INTERNO
CAPTA
(mil t) % da PROD (Kg/hab/ano)
2.066
87,7
14,3
3.626
89,5
23,4
4.755
86.1
29,1
Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000
Na década de 90, enquanto o crescimento percentual do
consumo interno per capta de carne de frangos foi de 103,5%, o de
carne suína foi de 42,2%, para um discreto crescimento de 2,2% no
consumo de carne bovina. É interessante observar que não obstante o
crescimento percentual do consumo interno per capta de carnes
alternativas estar bastante superior ao da carne bovina, esta ainda é a
carne preferida pelo consumidor brasileiro.
É notório que o crescimento percentual de consumo das carnes
alternativas se deve, na maioria das situações, à capacidade de
organização, de articulação e de eficiência dos integrantes das suas
26
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
respectivas cadeias produtivas, aliadas a investimentos financeiros em
campanhas de marketing sobre os produtos.
O MERCADO INTERNACIONAL DA CARNE BOVINA
O Brasil detém o maior rebanho comercial do mundo, estimado
no ano 2000 em 143,2 milhões de cabeças, é o segundo maior produtor
mundial, com 6,3 milhões de toneladas e o terceiro maior exportador,
com um volume exportado de 650 mil toneladas em 2000.
Rebanho Bovino Mundial (mil cabeças)
PAÍSES
1995
1997
1999*
2000**
Índia
293.922
299.802
306.967
312.572
Brasil
149.315
146.110
143.893
143.259
China
123.317
110.318
124.354
126.000
EUA
102.785
101.656
99.116
98.048
54.207
51.696
49.437
49.432
1.057.944
1.031.718
1.027.065
1.027.830
Argentina
MUNDO
Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000
Produção Mundial de Carne Bovina (mil t)
PAÍSES
1995
1997
1999*
2000**
EUA
11.585
11.714
12.124
12.023
Brasil
6.080
6.050
6.050
6.300
China
4.154
4.409
5.100
5.400
Austrália
1.717
1.942
2.004
1.870
MUNDO
47.958
48.862
49.169
49.349
Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
27
Exportação Mundial de Carne Bovina (mil t)
PAÍSES
1995
1997
1999*
2000**
1.092
1.147
1.245
1.220
EUA
826
969
1.056
1.055
BRASIL
291
290
550
650
U. E.
934
900
810
640
NOVA ZELÂNDIA
504
531
420
460
5.207
5.496
5.663
5.720
AUSTRÁLIA
MUNDO
Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000
Uma das conclusões a que se chegou no seminário “Perspectivas
da Carne Brasileira no Mercado Interno e Externo”, ocorrido em 22 de
março de 2001, em São Paulo, é que o Brasil pode desfrutar de uma
cômoda posição no mercado internacional, no médio e no longo prazos,
independentemente dos ganhos imediatos decorrentes das dificuldades
enfrentadas pela Europa, maior comprador da carne bovina brasileira e
abalado cumulativamente pela multiplicação dos casos de doença da
“vaca louca” e de febre aftosa, e pela Argentina, um dos maiores
concorrentes do Brasil, abatido por cerca de 150 casos comprovados de
febre aftosa em seu território.
Embora com boas perspectivas de ampliação de mercados como
a Europa Oriental e os países asiáticos, o principal mercado para as
vendas externas do setor continua sendo a União Européia, que
absorveu 73% da carne bovina in natura e 49% da carne bovina
industrializada que o Brasil exportou em 1999.
É interessante observar por meio dos gráficos que em 1999 os
EUA foram os destinatários de 35% das exportações brasileiras de carne
bovina industrializada. Porém, o Brasil ainda é impedido de exportar
para os EUA a carne bovina in natura devido a restrições sanitárias
relacionadas até então à febre aftosa.
28
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Brasil: Exportação de Carne Bovina in natura, 1999.
%
União Européia
Chile
Hong Kong
6
3 222
5
Suíça
Israel
7
Cingapura
Rep.Isl. Do Irã
Outros
73
Brasil: Exportações de Carne Bovina Industrializada, 1999.
%
União Européia
EUA
Jamaica
3
35
32
Porto Rico
8
Canadá
Ourtros
49
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
29
O momento é favorável para que o Brasil possa aumentar sua
participação e consolidar uma forte posição no mercado mundial da
carne bovina.
ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO
Como em vários outros setores do agronegócio, a
comercialização da carne bovina, da produção à distribuição, é
historicamente cheia de conflitos entre as partes interessadas,
constituindo-se em um dos maiores pontos de estrangulamento para a
atividade e como ameaça à composição harmônica da cadeia produtiva
da carne bovina.
O que ainda prevalece nas relações comerciais entre pecuaristas
e frigoríficos e entre frigoríficos e distribuidores (açougues e
supermercados), são comportamentos arcaicos e compromissos frágeis,
muitas vezes oportunista, o que é reflexo de uma cultura individualista e
imediatista quanto aos resultados particularmente desejados pelos
respectivos segmentos envolvidos.
A ruptura dessa cultura tem sido alcançada com o surgimento de
alguns focos de modernização nessas relações comerciais, por meio das
denominadas alianças mercadológicas.
As Alianças Mercadológicas como Estratégias de Renovação nas
Relações Comerciais para a Carne Bovina.
O entendimento e a prática das alianças mercadológicas hoje
estabelecidas na cadeia produtiva da carne bovina de qualidade
transcendem a noção da simples transação de compra e venda de
produto. Essas alianças constituem um compromisso estratégico de
negociação assumido entre os segmentos de produção (pecuaristas), de
processamento (frigoríficos) e de distribuição (supermercados e
açougues) de carne bovina de qualidade, podendo ser estendido a
outros segmentos que processam os demais produtos procedentes dos
animais abatidos, como é o caso do couro.
Uma aliança mercadológica deve buscar atingir pelo menos dois
objetivos, sendo um voltado ao atendimento do consumidor final e o
outro aos interesses dos próprios aliados. São eles, respectivamente:
30
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
-
ofertar carne bovina com atributos de qualidade que a diferencie
da carne comumente encontrada no varejo; e
assegurar a sobrevivência justa e duradoura de todos os
segmentos que compõem a cadeia produtiva, proporcionando
margens de lucro equilibradas e a participação constante e
crescente de todos os aliados em mercados estáveis.
Na composição de uma aliança mercadológica alguns pontos são
pressupostos básicos para garantia de seu sucesso. Dentre esses
pressupostos poderiam ser citados:
- Conhecer de forma mais completa possível o consumidor que se
pretende atingir(nicho de mercado);
- Gerar o produto de acordo com a expectativa do consumidor;
- Assegurar volume e regularidade de oferta do produto;
- Buscar a padronização do produto a ser ofertado;
- Implementar um programa de rastreabilidade que proporcione a
garantia de origem do produto;
- Disponibilizar um produto de qualidade;
- Proporcionar benefícios para a Aliança em toda a sua extensão e
para cada um de seus aliados de forma independente.
Deve ser ressaltado que em uma parceria comercial desta
natureza cada aliado deve assumir o compromisso que lhe cabe de
forma íntegra, consciente que os objetivos só serão atingidos se todos
os envolvidos assim se posicionarem. Há que se entender que a aliança
é um compromisso estratégico entre parceiros, numa visão de
empreendimento coletivo e perspectiva de futuro.
A participação dos três segmentos com maior grau de
envolvimento pode se dar de formas diversas, de acordo com a
necessidade da própria aliança. No entanto, considerando de forma
isolada cada um desses segmentos, algumas análises devem ser feitas
verificando as ameaças e as oportunidades que podem oferecer o perfil
de cada segmento e a forma como ele vai se inserir na parceria.
Para os pecuaristas (segmento produtivo), sua participação deve
se dar necessariamente sob a forma de grupos organizados (Núcleos ou
Associações de produtores), profissional, com sistemas sustentáveis de
produção e oferta regular de produtos padronizados e certificação de
origem.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
31
No caso da indústria frigorífica, como grande agroindústria que é,
deve ser criteriosamente verificado o seu perfil, principalmente no que
diz respeito ao seu custo operacional e seus encargos sociais e
tributários. Também as condições de instalações físicas, de tratamento
humanitário dos animais no pré-abate, de inspeção sanitária e de
tratamento de efluentes, são hoje fatores limitantes aos serviços
prestados pela indústria frigorífica. Quanto à forma de inserção dos
frigoríficos nas alianças, há uma tendência dos mesmos se tornarem
apenas prestadores de serviços à parcerias compostas somente entre
grupo de pecuaristas e distribuidor.
Já para a rede distribuidora ou comércio varejista cabe como
ponto relevante de sua participação, a decodificação do comportamento
do consumidor junto ao produto ofertado, passando essa informação
aos segmentos antecedentes. Uma oportunidade de vantagem
comparativa oferecida pelos perecíveis, como é o caso da carne, aos
supermercados, é que são estes os produtos que vêem trazendo
diferenciais positivos a serem oferecidos aos consumidores. No caso das
grandes redes de supermercados, uma ressalva que deve ser feita à sua
forma de participação nas alianças é quanto ao risco da concentração
crescente do comércio varejista nessas empresas (mercado oligopsônio),
aumentando sobremaneira sua possibilidade de determinar o preço de
compra e de venda dos produtos.
Em resumo, a composição das alianças mercadológicas é, no
momento, a única saída viável para o setor; é o início de um trabalho de
busca de soluções em conjunto, para o qual deve haver motivação dos
pecuaristas, incentivos à indústria, equilíbrio na distribuição e
informação ao consumidor. Portanto o novo paradigma na cadeia
produtiva da carne bovina de qualidade deve conduzir os segmentos a
uma nova forma de sentir, uma nova forma de pensar e uma nova
forma de agir.
32
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS:
INTEGRAÇÃO EM PROCESSOS DE AVALIAÇÃO DE
CONFORMIDADE
L.E.L. PINHEIRO,
MV. MSc. DR. Presidente do Colégio Brasileiro de Reprodução Animal
A REALIDADE BRASILEIRA
As crescentes exigências a respeito da segurança de alimentos
destinados ao consumo humano, tornam-se cada vez mais abrangentes,
requerendo a adoção das mais variadas tecnologias ao longo de toda a
cadeias produtiva. O modelo de visão sistêmica deve abranger desde a
origem e composição de insumos, indo até o produto industrializado
posto à mesa dos consumidores, passando, necessariamente, por todas
as etapas de produção, industrialização e transporte. Tudo isso requer o
cumprimento de normas específicas e acreditadas pelos mercados
compradores, seguido da devida avaliação de conformidade (com as
normas) e certificação.
Em todo o processo, o elemento fundamental é sempre o
especialista, devidamente preparado e credenciado, capaz de assessorar
a montagem de projetos de qualidade, implantá-los e de atuar como
auditor, obviamente dentro da pertinência de cada situação. Nota-se
que, na maioria dos programas que estão sendo formulados nesta área,
o ponto mais crítico reside sempre na sustentação do processo e na sua
capilarização, principalmente no segmento de produção ou “dentro da
porteira”. Este fato é conseqüência de uma visão equivocada, pois parte
do princípio de que basta ter regulamentos e normas institucionalizadas
para que tudo funcione, tendo o estado como fiscalizador e gestor de
todo o processo. A situação ideal seria aquela em que o estado
fiscalizaria, fazendo a sociedade organizada a gestão do todas as etapas
de implantação, monitoramento e auditoria.
Regra geral, o Brasil vem sendo impelido a adotar padrões de
normas de qualidade internacionais, sem o que, dentro em breve, não
terá mercados compradores. Vê-se, portanto, à voltas com inúmeros
sistemas, entre os quais destacam-se o IS0 (International Organization
34
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
for Standartization), o GMP (Good Manufature Practices) e o HACCP
(Hazard Critical Control Points), todos com sobreposições e limitações.
Para o setor industrial, além das dificuldades de acesso a informações
precisas a respeito do que implantar, faltam também melhores e menos
onerosas formas de avaliação de conformidade e de certificação.
AS PROPOSIÇÕES INOVADORAS NA FORMAÇÃO DE
ESPECIALISTAS
Tem se tornado cada vez mais claro que o principal gargalo do
País, reside na inexistência de apreciável contigente de especialistas na
área, capaz de melhor esclarecer e de atender a todo o setor produtivo,
inclusive com diminuição de custos. Neste cenário, destaca-se o esforço
do SENAI/SEBRAE na implantação do Projeto APPCC (Análise de Perigo
e Pontos Críticos de Controle ou HACCP em Inglês), o qual tem como
premissa básica a formação de recursos humanos. No projeto, em
cooperação com inúmeras instituições, inclusive o MCT/CNPq, estão
previstas ações de internalização da APPCC nas universidades, o que
reforçamos nesta apresentação.
A lógica de convencimento ou indução é muito simples, pois
parte do princípio de que ao oferecer aos estudantes, a oportunidade de
egressarem da universidade como peritos em implantação ou
certificação (em qualquer um dos citados sistemas), estaríamos criando
excepcional diferencial de competitividade para os mesmos. Ações nessa
direção vem sendo executadas em todo o País, o que também fazemos
hoje na UFV. Na oportunidade cabe ressaltar que grandes empresas,
como é o caso do CARREFOUR, também presente neste Evento, já
necessitam ou necessitarão em breve, de amplo contigente de
profissionais com tais qualificações.
Para obter melhores informações e mesmo embasamento, sugiro
leitura atenta de recentes artigos sobre o assunto, entre os quais
recomendo: Recursos Humanos para o Agronegócio, MCT/CNPq 2000,
284p, e GAMA, G.B.M.N. O Perfil Desejado para o Profissional de
Ciências Agrárias, In: Rev. Bras. Reprod. Anim. v.25,n.1,pp14-16, 2001.
Neste último artigo é feita menção ao dinâmico processo de facilitação
tecnológica às empresas, que vem sendo montado pelo Colégio
Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA), a respeito do qual, maiores
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
35
informações podem ser obtidas nas publicações: PINHEIRO & PINHEIRO
(Rev. Bras. Reprod. Anim. v.24,n.3, pp172-173,2000) e PINHEIRO et.al.
(Rev. Bras. Reprod. Anim. v.25.n.1. pp.16-18, 2001).
Nestas últimas publicações, descreve-se parte do sistema que o
CBRA criou, objetivando transformar o seu quadro de especialistas numa
vasta rede de peritos, disponibilizadas às empresas associadas. Tal
modelo vem se constituindo em efetivo e pouco oneroso processo de
facilitação na adoção de processos de avaliação de qualidade, podendo
ser estendido à muitas outras instituições do gênero.
36
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
PRODUÇÃO DO NOVILHO SUPERPRECOCE
Antônio Carlos Silveira1 ; Mário de Beni Arrigoni; Henrique Nunes de
Oliveira; Ciniro Costa; Luis Arthur Loyola Chardulo; Luiz Guilherme
Gonzaga Silveira; Cyntia Ludovico Martins
1
Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal - Fac. de Medicina Veterinária e Zootecnia Unesp - Câmpus de Botucatu - Cx. Postal 560 - 18618-000 - Botucatu - SP
e.mail: [email protected]
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A intensa seleção a que foram submetidos os zebuínos no Brasil
permitiu alcançar peso de abate compatíveis aos índices das raças
européias de gado de corte. Entretanto, a precocidade não foi priorizada
no processo, o que é evidenciado pela reprodução e abate tardio destes
animais, nunca inferior aos 24 meses de idade.
À vista disso, incrementou-se a importação de raças européias de
alta precocidade, mas pouco adaptadas ao nosso meio e que, quando
cruzadas com zebuínos permitem obter índices zootécnicos mais
econômicos.
A importância da precocidade para a produtividade do rebanho
nacional foi demonstrada em trabalho conduzido por pesquisadores da
Faculdade de Economia e Administração da USP (1987). Esses
pesquisadores observaram que a redução em um ano de idade de
cobertura das fêmeas e no abate dos machos resulta em um aumento
de 19,4% na taxa de desfrute do rebanho nacional, cifra esta também
alcançada através do aumento de cerca de 40% na taxa de natalidade
acompanhada da redução de 10% na taxa de mortalidade, tarefa esta
muito mais dispendiosa e impraticável a curto prazo. Finalmente, a
redução na idade à primeira parição das fêmeas e do abate dos machos
para 2,5 anos, resultaria em um aumento na taxa de desfrute da ordem
de 40 %, elevando a mesma para 26,9%.
Tudo indica que a utilização de técnicas convencionais para
alcançar esses índices zootécnicos são impraticáveis a curto prazo,
ficando a alternativa mais factível as inovações tecnológicas de
manipulação de fatores que antecipem a precocidade de machos e
fêmeas.
38
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Dentre as técnicas atuais, sem dúvida que se destacam aquelas
que levam em consideração a preservação e o aprimoramento de
atributos positivos ligados à herança genética. Entretanto, por mais
importantes que sejam as técnicas como a manipulação genética, as
seleções, cruzamentos, inbreeding e outbreedings, as linhagens clonais
e transgênicas ainda não são capazes de selecionar muitas das
limitações da produção animal. Estas técnicas, convencionais, ou não,
geralmente demandam longo tempo para produzir os primeiros
resultados e são extremamente dispendiosas para serem adotadas em
países em desenvolvimento.
As alternativas que se apresentam aos pesquisadores e criadores
são concordantes num ponto único que é de associar o potencial
genético das linhagens ou dos produtos de cruzamentos com a
manipulação de fatores ambientais notadamente a alimentação para se
conseguir a melhoraria do desempenho animal.
PRECOCIDADE
A precocidade pode ser entendida como sendo a velocidade em
que o bovino atinge a puberdade, ocasião em que o mesmo completa o
crescimento ósseo e a maior parte do conjunto da musculação.
Na puberdade os hormônios do crescimento responsáveis pelo
crescimento dos tecidos ósseo e muscular são substituídos pelos
hormônios sexuais, ocasião em que as fêmeas mostram cio e os machos
aumentam a circunferência escrotal.
Na puberdade também intensifica-se o enchimento dos
adipócitos, ocorrendo a deposição de gordura na carcaça.
Desta maneira, as raças ou indivíduos dentro de raças que
primeiro atingem a puberdade podem ser considerados de maior
precocidade sexual e de terminação. (Figura 1).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
.a – concepção
.b – nascimento
.c – puberdade
.d - maturidade
39
GRANDE
M ÉDIO
PEQUENO
PV
a
b
c
d
IDADE
Fo nte : ada pta do de O WENS (1993)
Figura 01 - Curva de crescimento de bovinos de diferentes “frame-size”
A Tabela 1 que se segue mostra que as raças ou indivíduos
dentro das mesmas de menor tamanho corporal atingem a cobertura de
gordura desejada na carcaça com menor peso vivo, sendo então
considerados mais precoces e portanto mais adequados para se abater
animais terminados em sistema de produção de ciclo curto.
40
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Pesos de bovinos de
maturidade (Frame-Size)
Graus “Frame-size”
1
3
4
6
7
9
2 “pequeno”
diferentes
tamanhos
a
Peso Vivo ( kg)
Carcaça terminada ( 28% de gordura)
Inteiros Castrados
480 400
520 438
560 487
5 “médio”
600 500
640 533
680 567
8 “grande”
720 600
760 633
800 667
Fonte: Fox et al. (1992)
Bovinos superprecoces são os animais que imediatamente após o
desmame serão terminados em regime de confinamento e abatidos
antes dos 15 meses de idade. Com este sistema de produção elimina-se
a recria dos animais. Por outro lado, bovinos precoces necessitam de
recria e são abatidos após 15 meses de idade,
De acordo com Willians et al. (1995), animais superprecoces
apresentam alta eficiência biológica, definida como sendo o ganho de
peso vivo em gramas pela energia consumida em Mcal. A eficiência
biológica será tanto maior quanto menor for a idade de abate dos
animais.
Através da Tabela 2 pode-se observar a melhor eficiência
biológica dos animais abatidos com 11,6 meses em relação aos abatidos
com 12,9 e 15,0 meses de idade. Verifica-se também que a partir de 15
meses, seria economicamente interessante realizar uma recria a pasto,
pois os animais alcançariam um maior peso ao abate, com a mesma
eficácia, se fossem terminados em confinamento. Assim sendo, por
serem recriados a pasto estes animais deixariam de integrar a categoria
de superprecoces passando para a de precoces.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
41
A eficiência biológica dos bovinos em relação a idade e/ou ao
peso, pode ser melhor esclarecida se verificar-mos que
aproximadamente 70% da MS ingerida por dia pelo animal são utilizados
para cobrir as exigências de manutenção da vida e que somente o
restante será utilizada para fins produtivos; e que a exigência de
manutenção está relacionada com o tamanho corporal do animal.
Resumindo, poderemos afirmar que quanto maior for o tamanho (peso)
do animal, maior será os gastos com sua manutenção, sobrando menos
nutrientes para engorda, piorando sua eficiência biológica.
Tabela 3 - Eficiência Biológicaa observada para animais em diferentes
sistemas de Produção
Tamanho
Sistema de
Produção
Dias de
Alimentação
Peso ao
Abate (kg)
Eficiência
Biológica
Pequeno
Superprecoce
139 (11,63 meses)
439
52,8
Pequeno
Superprecoce
178 (12,93 meses)
492
48,9
Pequeno
Superprecoce
242 (15,06 meses)
554
45,5 *
Pequeno
Precoce
174 (16,46 meses)
591
45,6*
Eficiência Biológica = gramas de ganho de peso vivo/Mcal de Em consumida.
Adaptado de WILLIANS et al. (1995)
A Tabela 3 que segue adaptado de Peixoto et al. (1987)
exemplifica bem esta situação. Para um bovino em confinamento passar
de 350kg de peso vivo para 400 Kg terá que consumir neste
determinado período 431kg de alimento, exibindo uma eficiência de
conversão de 8,6kg de alimento consumido para 1kg de peso ganho.
Entretanto, para este mesmo animal passar de 400kg de peso para
450kg, já terá que consumir muito mais, ou seja, 727kg de alimento,
com uma conversão alimentar de 14,6kg de alimento para cada 1kg de
peso ganho. E, assim por diante, cada vez mais, piorando a conversão
alimentar e inviabilizando economicamente o processo, à medida que se
queira engordar animais maiores ou mais pesados e que possuem maior
42
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
exigência de manutenção, sobrando menos alimentos para se processar
a engorda.
Tabela 3 - Influência do peso vivo sobre a eficiência do ganho de peso
de taurinos
Raças Européias *
2 o período 3 o período 4 o período
Parâmetros
1 o período
Peso vivo (kg)
Ganho de peso/período (kg)
Consumo de ração no período (kg)
Eficiência de conversão
(kg alim/kg ganho)
Custo relativo (%)
350-400
50
431
400-450
50
727
450-500
50
1019
500-550
50
1320
8,6
100
14,6
146
20,4
190
26,4
236
Fonte: Adaptado de Peixoto et al. (1987).
UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA ULTRA-SONOGRAFIA COMO
INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DE CARCAÇA EM
ANIMAIS VIVOS
A identificação de indivíduos com valor genético superior para
características de carcaça não tem sido feita no Brasil, por exigir a
realização de onerosos testes de progênie. Como estas características
exigem o abate do animal; não podem ser realizados no animal a ser
selecionado.
Durante os últimos 35 anos tem sido despendidos consideráveis
recursos em pesquisa para o desenvolvimento de técnicas não evasivas
e não destrutivas para a avaliação da composição química e qualidade
de carcaça de animais vivos. A ultra-sonografia em tempo real tem sido
aplicada como uma técnica confiável e de custo aceitável para esta
função (HOUGTON eTURLINGTON, 1992).
Em bovinos, são medidas a área de secção do músculo
“longissimus dorsi” (área-de-olho-de-lombo), e a espessura da camada
de gordura de cobertura do mesmo músculo obtidas através de imagens
tomadas entre a 12a e 13a costela. (Figuras 2 e 3).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
43
Figura 2 - Local exato para medição do músculo “longissimus dorsi”
(Área-de-olho-de-lombo) e da gordura de cobertura na
garupa (picanha)
Estas estimativas, quando obtidas por técnicos devidamente
adestrados, tem apresentado repetibilidade aceitável, assim como são as
correlações destas com as medidas correspondentes tomadas na
carcaça dos animais após o abate.
Além da identificação de touros mais precoces, a técnica da
ultra-sonografia pode ser também utilizada para a determinação do
ponto de abate dos animais, com predição do potencial produtivo de
carcaça e carne.
44
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Figura 3 - Determinação da Área-de-olho-de-lombo, no o músculo
longissimus dorsi e da espessura de gordura subcutânea.
Com este procedimento, os animais superprecoces tem sido
abatidos, quando atingem o grau de cobertura de gordura na carcaça
adequado ao processo de resfriamento empregado no país, garantindo
assim a qualidade da carne, não permitindo o seu enrijecimento e/ou
escurecimento. Além disso o grau de musculosidade obtido pela
visualização e medição da área-de-olho-de-lombo no ultra-som
determina o rendimento em produção de carne, podendo em muitos
casos pela predição do rendimento e da qualidade, antecipar
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
45
significativamente o tempo de abate, minimizando os custos de
confinamento e consequentemente os de produção.
Em pesquisa recente realizada pela UNESP, Câmpus de Botucatu,
Chardulo et al. 2000 constataram quando da comparação entre
diferentes grupos genéticos, constituído de animais machos e fêmeas
abatidos no sistema superprecoce, algumas diferenças significativas nas
características de carcaça e da carne, entre as raças de corte,
demonstrando haver diferenças entre a eficiência das mesmas.
Tabela 4 - Valores médios das características de carcaça dos diferentes
grupos genéticos
Raça
Angus
Charolais
Gelbvieh
Hereford
Simmental
PCQ
244,47
238,67
247,06
263,04*
251,87
PCR
239,65
234,31
242,54
258,22*
247,38
Variáveis
PR
RTk
1,88
115,88*
1,77
121,92
1,82
123,24
2,03
123,57
1,74
124,45
RTp
47,97
50,44
49,80
47,29
49,31
RC
55,14
53,95
55,92
55,57
54,29
PCQ = Peso de carcaça quente (kg);
PR = Perda por resfriamento (%);
PCR = Peso de carcaça resfriada (kg);
RTK = Rendimento de traseiro em quilogramas
(kg);
RTp = rendimento percentual de traseiro (%); RC = Rendimento de carcaça (%).
Pelos resultados do experimento podemos observar no tocante
às bezerros com maior peso, apresentou ao final de 130 dias de
confinamento, maior peso na carcaça (Tabela 4). Por este resultado
evidencia-se a exigência do sistema superprecoce em desmamar
bezerros os mais pesados possíveis, fato este garantido pelo uso da
suplementação em "creep feeding" durante o aleitamento dos bezerros.
Ao mesmo tempo, a raça Angus, apesar de ter mostrado menor
rendimento de traseiro em relação aos demais, apresenta rendimento de
carcaça semelhante às outras, mostrando que apesar desta raça ser de
tamanho pequeno a maturidade diferentemente das raças continentais,
apresenta uma distribuição uniforme de carne pelo corpo.
Pela análise de qualidade da carne entre os diferentes graus de
sangue (Tabela 5), pode-se generalizar que o sistema de produção do
novilho superprecoce garante a carne com excelente índices de
46
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
qualidade à vista do mesmo preconizar o abate de novilhos ainda muito
jovens.
No entanto, neste particular destaca-se a raça Angus, que pela
precocidade da terminação da carcaça, mostrou maior maciez medida
pela força de cizalhamento, fato este que talvez pudesse ser atribuído
ao maior teor de gordura de cobertura ou de marmorização nesta raça.
Esta afirmativa estaria fundamentada pelo menor impacto
proporcionado pelo resfriamento rápido da carcaça no frigorífico,
evitando-se o encurtamento das fibras, uma vez que pelos dados
obtidos verificou-se na carcaça do Angus maior temperatura durante o
resfriamento concorrendo para maior ação glicolítica muscular, menor
índice pH e conseqüente inibição da capalstatina, possibilitando maior
ação da calpaína enzima esta, responsável pela maciez da carne. Outra
explicação viável para concorrer com a maciez da carne Angus seria o
maior grau de marmorização do mesmo em relação às outras raças
especializadas para corte.
Outro ensaio conduzido pelos pesquisadores da UNESP em
parceria com a Agropecuária Meira Fernandes, Município de Buri, SP.,
350 animais superprecoce de 12 meses de idade, mestiços Nelore x
Braunvieh foram abatidos em novembro de 2000 no Frigorífico Mondeli,
Bauru, SP. Uma amostragem dos resultados obtidos são apresentados
na Tabela 6 abaixo e comprovam os altos rendimentos cárneos e a
qualidade da carne de novilhos superprecoce.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
47
Tabela 5 - Valores médios das características de qualidade de carne de
bovinos mestiços jovens em confinamento
Raças
Variáveis
AOL
BF
MBL
GDR
PT
UMD
pH
TPA
SF
CALP
Angus
56,705 3,813* 4,406* 4,275* 25,126 61,010 5,366*
8,6*
3,963*
0,166
Charolais
64,340
2,562
3,194
2,960
25,850 60,905
5,499
5,5
6,274
0,101
Gelbvieh
63,991
2,500
3,056
2,788
26,380 60,116
5,555
4,8
6,382
0,125
Hereford
65,849
2,969
3,387
3,202
24,783 62,012
5,510
3,9
6,120
0,119
Simmental 62,293
2,562
3,100
3,068
26,420 61,430
5,529
6,2
5,631
0,148
Sexo
Macho
67,421
2,650
3,470
3,352
25,412 62,412
5,509
7,6
5,814
0,122
Fêmea
57,850
3,113
3,387
3,221
26,115 61,845
5,475
5,3
5,529
0,143
AOL= Área-de-olho-de-lombo (cm2)
BF = Gordura subcutânea (cm)
MBL = Índice de marmorização (praticamente ausente = 2,0-2,9;
Traços =3,0-3,9; Muito Pouco = 4,0-4,9)
pH = potencial hidrogênio iônico
GDR = Gordura total
PT = Proteína total
UMD = Umidade
TPA = Temperatura interna da carne 15hs pós mortem (oC)
SF = Força de cizalhamento (kgf)
Calp = Calpastatina
48
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 6 - Características de carcaça e qualidade de carne de animais
mestiços Braunvieh X Nelore submetidos ao Sistema
Superprecoce
No
Peso carcaça
Peso
Animal
(Kg)
carcaça (@)
01
257,0
17,13
02
279,5
18,63
03
250,0
16,66
04
314,0
20,93
05
279,5
18,63
06
254,5
16,96
07
297,0
19,80
08
247,5
16,50
09
252,0
16,80
10
250,0
16,66
11
274,0
18,27
12
278,0
18,53
13
273,0
18,20
14
290,5
19,37
15
255,5
17,03
16
264,5
17,63
17
239,0
15,93
18
269,0
17,93
Média
268,02
17,87
AOL
(cm2)
74,69
77,26
74,83
79,72
69,41
87,04
92,19
87,54
84,12
75,45
91,00
83,54
80,15
85,01
71,17
75,52
83,85
79,24
80,65
EG
(mm)
3,00
3,50
3,80
7,60
5,10
5,70
5,40
4,70
6,30
4,80
5,70
4,10
4,70
6,70
6,70
5,20
3,10
5,10
5,06
MBL
Traço
Pouco
Traço
Pouco
Pouco
Traço
Pouco
Traço
Traço
Traço
Pouco
Pouco
Pouco
Pouco
Traço
Traço
Traço
Pouco
-
Força de cizalhamento(kg) *
4,5
5,1
4,6
4,4
4,9
5,0
5,8
3,9
3,9
4,4
3,1
4,6
4,2
4,5
4,4
5,9
5,1
4,2
4,6
UNESP x Meira Fernandes (2000)
* Carnes resfriadas por 24 horas
ALIMENTAÇÃO DO SUPERPRECOCE
A suplementação dos bezerros no ¨creep-feeding¨tem por
finalidade não interromper o crescimento dos bezerros o que
normalmente ocorre após dois meses de idade pela queda na produção
leiteira da mãe. Assim sendo o concentrado deverá apresentar valor
nutritivo similar ao leite materno. Para a formulação da ração de ¨creepfeeding¨ recomenda-se a utilização de concentrado preparado pela
Nutrumin Nutrição Animal ( 25 kg) que deverá ser mistuado com milho
quebrado (75 kg) ou outro grão de cereal produzido na propriedade. O
fornecimento da ração deve ser ¨ad libitum¨, pois não ultrapassa a
média de l.000 g/cabeça/dia no período, para ganhos de peso da ordem
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
49
de 1,1 kg/dia. Considerando que além do leite materno os bezerros
consomem ainda por dia uma média de 6-7 kg de leite com 13% de MS
e 0,5 a 1,0 kg de pasto com 25% de MS, facilmente chegaremos a uma
conversão alimentar durante o período de ¨creep-feeding¨ de 2,0 a 2,5
kg de peso ganho, conversão esta bastante baixa e por consequinte
econômica, se comparada com a fase seguinte do processo, ou seja, a
fase de confinamento propriamente dita.
No confinamento os animais chegam a consumir de 4 kg de
MS/dia no início a 8 kg de MS/dia ao final do período com uma
conversão alimentar média de 6:1. Desta forma, pode-se facilmente
verificar que o retorno financeiro do ¨creep-feeding¨ é grande e,
portanto, quanto mais pesados forem os bezerros na desmama, mais
baixo será o custo de produção do sistema.
A Tabela 7 mostra a desmama de bezerros Simental x Nelore
evidenciando um aumento de 10,5 a 18,3% nos pesos de desmama aos
5 e 7 meses respectivamente. O emprego do ¨creep-feeding¨
possibilitou, ainda, a desmama aos 5 meses de idade com 200 kg de
peso vivo, bem como o benefício de 8,9% na fertilidade das matrizes
Nelore.
Tabela 7 - Resposta à utilização do “creep feeding” no peso ao
desmame e na fertilidade das matrizes
½ SIMENTAL
X NELORE
5 meses
7 meses
NELORE
PESO DOS BEZERROS (kg)
No de animais
s/creep
c/creep
100
170
190
100
200
245
FERTILIDADE DAS MATRIZES (%)
400
77,0
84,5
%
10,5
18,3
8,9
Fonte: Equipe Superprecoce, 1996
Durante o confinamento o volumoso deverá fornecer um mínimo
suficiente de fibra efetiva para garantir a ruminação enquanto o
concentrado deve ser de fácil aproveitamento pelos microorganismos.
Os concentrados fornecerão energia para os microorganismos se
desenvolverem, aumentando a população microbiana, que ao passar
50
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
para o intestino durante a ruminação poderá cobrir em até 70% das
exigências diárias de proteína para o animal, garantindo assim o seu
desenvolvimento.
Dentro deste conceito, os concentrados devem perfazer de 85 a
90% do total da matéria seca da dieta desde que os 10 a 15% restantes
forem de um volumoso que realmente forneça fibra efetiva para
ruminação.
Quanto
aos
concentrados,
recomenda-se
processar
adequadamente os grãos de cereais para melhor serem aproveitados
pelos microorganismos ruminais, uma vez que a proteína microbiana
tem qualidade superior em termos de aminoácidos essenciais a todas as
outras fontes proteicas comumente encontradas no mercado (Santos,
1998). Esta talvez seja a explicação para o mais rápido crescimento
muscular dos bezerros superprecoces, quando da utilização de grãos de
cereais processados.
A Tabela 8 adaptado de Owens et al. (1986) explicita as
vantagens de se processar adequadamente o grão de milho propiciando
melhor digestão no rúmen e consequentemente maior aproveitamento
do amido pelos microorganismos enquanto A Tabela 8 evidencia as
vantagens em se utilizar os grãos úmidos de milho ensilados para
melhorar a eficiência alimentar dos bezerros confinados.
Tabela 8 - Formas de processamento do milho e os sítios de digestão do
amido
Formas de
Processamento
Rúmen
Inteiro
Quebrado
Laminado
58.9
68.9
71.8
Moído
Ensilado
Floculado
77.7
86.0
82.8
Fonte: Owens et al. (1986)
Digestão do amido %
Intestino
Intestino
Delgado
Grosso
17.0
2.8
12.9
8.2
16.1
4.9
13.7
5.5
15.6
4.3
1.0
1.3
Total
91.7
87.6
93.2
93.5
94.6
97.8
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
51
Os grãos úmidos de milho são colhidos para serem ensilados
quando apresentarem um teor de umidade em torno de 26 a 30%, o
que é facilmente observado pela presença do chamado ponto preto na
base do grão, na inserção deste com a espiga. A presença do ponto
preto indica a maturação fisiológica do grão, isto é, o grão de milho esta
totalmente formado, não havendo mais translocação de nutrientes da
planta para os grãos. O processo de colheita de grãos, moagem e
ensilagem, em silos trincheira seguem as recomendações usuais para a
confecção de silagem.
Tabela 9 - Comparações entre silagem de milho úmido x milho triturado
em confinamento de animais inteiros Simental x Nelore
Milho úmido
Milho triturado
Volumoso
Suplemento protéicomineral + aditivos
No de animais
Confinamento (dias)
Peso inicial (kg)
Ganho diário (kg)
Consumo (MS/kg)
C.A./kg MS/kg ganho
Índice
100:0
80
0
11
75:25
60
20
11
9
9
18
90
336
1,53
11,96
7,82
120
18
90
334
1,63
12,58
7,72
121
Tratamentos
50:50
40
40
11
9
INFORMAÇÕES
18
90
333
1,39
12,45
8,97
108
25:75
20
60
11
0:100
0
80
11
9
9
18
90
335
1,33
12,51
9,40
104
18
90
335
1,30
12,70
9,77
100
Fonte: Stock et al., 1987.
COMENTÁRIOS TÉCNICO / ECONÔMICO DO SISTEMA DE
PRODUÇÃO DO NOVILHO SUPERPRECOCE
Utilizando-se de iguais índices zootécnicos em um rebanho
iniciado com 2800 matrizes e evoluindo-o por um período de 15 anos,
comprova-se pelos dados apresentados na Tabela 16, as vantagens do
sistema de produção do Novilho Superprecoce (12 meses de idade), em
relação aos sistemas de abate previstos para 24 e 36 meses de idade.
52
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Considerando, apenas os últimos 5 anos após sua estabilização,
e sendo mantida a mesma lotação por hectare (0,8 U.A.), verifica-se que
para alcançar a mesma produtividade de 1682 cabeças abatidas/ano,
nos três sistemas de produção, a necessidade de aumentar
significativamente a área de ocupação da propriedade, ou seja, 4388,
7856 e 9707 hectares respectivamente para os sistemas de 12, 24, e 36
meses de idade, constatando assim, uma diminuição da eficiência
produtiva do rebanho à medida que se retarda o abate dos animais.
Este fato pode ainda ser melhor caracterizado quando oferece-se
o índice 1,0 ao sistema superprecoce, e verifica-se a necessidade de
aumentar em 1,79 vezes a área de utilização para o sistema de 24
meses e de 2,21 para o de 36 meses para idêntica produção.
Tabela 10 - Evolução do Rebanho
Evolução do rebanho (anos)
Número de matrizes
Total de UA (450 kg)
Lotação UA/há
Área total (há)
Animais abatidos
Animais descartados
Superprecoce
12 meses
estabilização
2541
3510
0.8
4388
1682
389
Precoce
24 meses
estabilização
2541
6285
0.8
7856
1682
418
Precoce
36 meses
estabilização
2541
7766
0.8
9707
1682
418
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHARDULO, L.A.L. Desempenho, níveis plasmáticos de harmonia,
expressão
e
quantificação
das
proteínas
musculares,
características de carcaça e qualidade de carne de bovinos
mestiços jovens de diferentes grupos genéticos submetidos ao
sistema superprecoce. Tese de Doutorado. FCAV, UNESP, Jaboticabal.
2000, 70p.
Equipe superprecoce (1996) Agropecuária 4A, Campina do Monte Alegre, SP.
Trabalho enviado para publicação. Revista Agropecuária Brasileira.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
53
Equipe superprecoce (1997) Fazenda Cambiju, Ponta Grossa, PR. Trabalho
enviado para publicação. Revista Agropecuária Brasileira.
Equipe superprecoce (1998) Agropecuária Cerviéri, Ponta Porâ, MS e Meira
Fernandes Agropecuária Ltda, Buri, SP. Dados a serem enviados a
publicação.
FIPE Pecuária bovina brasileira: as causas da crise. p. 99-110, 1987.
FOX, D.G.; SNIFFEN, C.J.; O'CONNOR, J.D.; RUSSEL, J.B.; VAN SOEST, P.J. A
net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets:
III. Cattle requirements and diet adequacy. J. anim. Sci., v.70, p.3578,
1992.
HOUGTON, P. L., TURLINGTON,L.M. Aplication of ultrasound for feeding and
finishing animals. A review J. anim. Sci., v.70, p. 930, 1992
OWENS, F.N.; ZINN, R.A. and KIN, Y.K. Limits to starch digestion in the
ruminant small intestine. J. anim. Sci., Albany. v.63, p.1634-1648, 1986.
PEIXOTO, H.M.; HADDAD, C.M.; BOIN, L. e BOSE, L.M.V. O confinamento de
bovinos de corte. Piracicaba, FEALQ, 110p. 1987.
SANTOS, F.A.P. Efeito de fontes protéicas e processamento de grãos no
desempenho de vacas de leite e digestibilidade dos nutrientes. Tese de Livre
docente. ESALQ, USP, Piracicaba, SP, 105p.
STOCK, R.A.; BRINK, D.R.; BRANDT, R.T.; MARRIL, J.K.; SMITH, H. Feeding
combinations of high moisture corn and dry corn to finishing cattle. J. anim.
Sci. v.65, p.282, 1987.
UNESP & MEIRA FERNANDES, 2000 (enviado para publicação).
WILLIANS, C.B.; BENNETTI, G.L.; KEELE, J.W. Simulated influence of
postweaning production system on performance of different
biological types of cattle. III. Biological efficiency. J. anim. Sci. v.73,
p.686-697, 1995.
54
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
PRODUÇÃO INTENSIVA DE CARNE BOVINA EM PASTO
Valéria Pacheco Batista Euclides
Enga.-Agra., Ph.D., CREA No 12797/D, Embrapa Gado de Corte, Rodovia BR 262 km 4,
Caixa Postal 154, CEP 79002-970 Campo Grande, MS. Correio eletrônico: [email protected]
INTRODUÇÃO
O sistema de produção para ser parte integrante de uma cadeia
produtiva de carne eficiente necessitará de inversões diversas,
especialmente, tecnológicas. Sem inserção de tecnologias, nenhum
segmento será capaz de vencer os desafios que são colocados pela
globalização. Dentre todos os atores dessa cadeia talvez o sistema de
produção seja aquele mais carente de utilização efetiva de tecnologias
em larga escala. Essas tecnologias terão, em maior ou menor grau, a
função de promover sua intensificação. Nesse aspecto, poder-se-á usar
conhecimentos e alternativas tecnológicas disponíveis em várias áreas
do conhecimento que deverão, preferencialmente, ser utilizadas de
forma integrada em um enfoque sistêmico, e serem capazes de tornar
esse setor competitivo.
Nesse sentido, um dos principais componentes do sistema de
produção é a alimentação e, em especial, as pastagens. Ressalta-se,
que para ser competitivo o sistema deverá ser capaz de, basicamente,
possibilitar o aumento da capacidade de suporte das pastagens.
Segundo Corsi e Nussio (1992), os pecuaristas precisam planejar
sistemas de exploração de pastagens cada vez mais intensivos,
sugerindo ser possível estabelecer metas para taxa de lotação de 17
UA/ha.
Várias são as formas disponíveis para se obter tal incremento,
dentre as quais podem-se mencionar, a adubação das pastagens, o uso
de irrigação, nas condições onde essa for uma prática recomendável, o
uso de suplementação alimentar em pasto e mesmo o confinamento.
Esse último, além de ser recomendado para aqueles animais de melhor
desempenho potencial, é uma estratégia importante para liberação de
pastos para outras categorias animais. Para maiores eficiência e eficácia
de quaisquer dessas alternativas é necessário que se conheçam as
características das pastagens tropicais.
56
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Nesse texto será dada ênfase à adubação e à suplementação
alimentar, uma vez que os tópicos irrigação das pastagens (Alencar,
2001) e o confinamento (Silveira, 2001) serão apresentados nesse
evento.
CARACTERÍSTICAS DAS PASTAGENS TROPICAIS
A disponibilidade e a qualidade das forrageiras são influenciadas
pela espécie e pela cultivar, pelas propriedades químicas e físicas do solo,
pelas condições climáticas, pela idade fisiológica e pelo manejo a que a
forrageira é submetida. A eficiência da utilização de forrageiras só poderá
ser alcançada pelo entendimento desses fatores e pela sua manipulação
adequada de modo a possibilitar tomadas de decisão sobre manejo
objetivas de maneira a maximizar a produção animal.
Assim, a produtividade de uma pastagem e sua qualidade são
determinadas, em qualquer momento, pelo conjunto de fatores de meio,
capazes de agir sobre a produção e sobre a utilização da forragem, e
pela resposta própria de cada espécie forrageira a tais fatores.
As forrageiras tropicais, em conseqüência da estacionalidade da
produção, não fornecem quantidades suficientes de nutrientes para a
produção máxima dos animais. Segundo t’Mannetje (1983) as principais
limitações são, pelo menos, durante a metade do ano, a baixa
disponibilidade de forragem verde e o seu baixo valor nutritivo durante a
maior parte do período de rebrota ativa da planta.
O que se busca em uma forrageira é a capacidade de atender,
pelo maior período possível, às demandas dos animais. No entanto, se
por um lado as forrageiras variam em qualidade, por outro, os
requerimentos nutricionais do animal também não são constantes
durante sua vida, ou mesmo no decorrer do ano. Estes variam em
função de diversos fatores, como idade, estado fisiológico, sexo, grupo
genético, peso e escore corporais. Assim, considerando-se sistemas de
produção nos quais se buscam índices elevados de eficiência, somente
em situações particulares, e por pouco tempo, mesmo durante o verão,
estas forrageiras seriam capazes de possibilitar que animais de bom
potencial genético tivessem suas exigências atendidas (Euclides, 2000).
A qualidade das forrageiras mais utilizadas no Brasil e seus efeitos
limitantes na produção de animal foram discutidos por Euclides (2000).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
57
Nessa revisão, as forrageiras foram classificadas em três grupos
distintos: o de alta qualidade, composto por gramíneas dos gênero
Panicum (tanzânia, mombaça, tobiatã, vencedor), Cynodon (estrela,
coastcross e tiftons) e Pennisetum (cameroon, napier e anão), o de
média qualidade formado pelas gramíneas do gênero Brachiaria
(ruziziensis, decumbens e marandu) e Andropogon (planaltina e baeti),
e o de baixa qualidade constituído pelas gramíneas do gênero Brachiaria
(humidicola e dictyoneura cv. Llanero). As diferenças entre esses grupos
parecem estar relacionadas, principalmente, com o conteúdo de
proteína bruta e consequentemente com a redução no consumo
voluntário e na produção animal.
Uma vez que qualquer decréscimo no consumo voluntário tem
efeito negativo significativo sobre a eficiência de produção, o
entendimento dos fatores que restringem o consumo de forragem pode
ser de grande importância como elemento auxiliar no estabelecimento
de manejos que permitam superar essas limitações e melhorar a
utilização das pastagens. Vale ressaltar que o consumo só será
controlado pelo valor nutritivo da forragem se a quantidade de forragem
disponível não for limitante.
O NRC (1987) contém uma revisão de dados sumarizados por
Rayburn (1986) da qual pode-se concluir que, sob pastejo, o consumo
máximo ocorre quando a disponibilidade de forragem é de,
aproximadamente, 2.250 kg de matéria seca (MS)/ha, ou a oferta de
forragem é da ordem de 40 g de matéria orgânica (MO)/kg PV0,75. Podese observar ainda, que o consumo decresce rapidamente para 60% do
máximo, quando a oferta de forragem foi de 20 g de matéria
orgânica/kg PV0,75 .
Entretanto, inúmeros trabalhos, principalmente, com forrageiras
tropicais, têm demonstrado que onde há grande acúmulo sazonal de
material morto, a produção animal não está correlacionada com o total
de forragem disponível. No entanto, ela está assintoticamente
correlacionada com a disponibilidade de matéria verde seca (MVS).
Corroborando essa relação assintótica, podem ser mencionados os
resultados obtidos em pastagens de Panicum maximum cvs. Colonião,
Tobiatã e Tanzânia (Euclides et al., 1993a), de Brachiaria decumbens e
Brachiaria brizantha (Euclides et al., 1993b) e em cinco espécies de
forrageiras tropicais (Duble et al., 1971).
58
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Esses resultados sugerem, claramente, que quanto melhor for a
qualidade da forrageira, maiores ganhos de peso são obtidos por animal
e menor oferta de forragem é necessária. Assim, o ponto crítico para se
conseguir bons desempenhos por animal se constitui na determinação
da oferta de forragem que não limite o consumo pelo animal. Algumas
sugestões têm sido apresentadas na literatura. Gibb e Treacher (1976)
sugeriram que a disponibilidade de forragem deve estar entre duas e
três vezes o que o animal consome, e que em disponibilidades inferiores
a essas o consumo decresce acentuadamente. Paladines e Lascano
(1983) sugeriram uma oferta de MVS igual a 6 % do peso vivo. Já, Adjei
et al. (1980) sugeriram ofertas de 6 a 8 kg de MS/100 kg de PV.
Por outro lado, Maraschin (2000) criticou de forma veemente
essas recomendações, sugerindo que esses experimentos foram
conduzidos com baixa oferta de forragem com conseqüente limitação de
consumo por parte do animal contribuindo assim para a falsa imagem
de baixa qualidade das espécies forrageiras tropicais. Segundo esse
autor, baseado no fato de que o animal seleciona, preferencialmente,
lâmina foliar, a oferta forrageira não deve se fundamentar em MVS e
sim, em matéria seca de lâmina foliar (MSLF). Dentro desse enfoque,
Maraschin e sua equipe trabalhando com oferta de forragem não
limitante, em espécie de inverno no Rio Grande do Sul, observaram
ganhos de peso consistentes superiores a 1.000 g/animal/dia (Quadros
e Maraschin, 1987). Ribeiro Filho et al. (1997) verificaram, em pastagem
de capim-elefante anão, que com uma oferta de MSLF de até 13% do
PV houve aumento linear na ingestão de forragem, propiciando ganhos
de peso de 1.000 g/novilho/dia. Além disso, esse tipo de manejo tem
beneficiado também as plantas, como evidenciado por Almeida et al.
(1997) que observaram que os diâmetros das touceiras, cobertura de
solo e o desenvolvimento radicular do capim-elefante foram
influenciados positivamente pelas maiores ofertas de MSLF. Dessa
forma, fica evidente a importância do manejo correto das pastagens
para o estabelecimento de uma pecuária moderna e produtiva.
MANEJO DAS PASTAGENS
O conhecimento das características morfológicas e fisiológicas
dos capins é essencial para se estabelecerem procedimentos adequados
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
59
de manejo. É importante ressaltar, que existem diferenças entre
espécies. Por essa razão, as bases para o estabelecimento do manejo
de pastagens foram amplamente discutidas para as espécies de
Brachiaria (Corsi et al., 1994), para as cultivares do gênero Panicum
(Rodrigues e Reis, 1995), para as cultivares do gênero Cynodon (Silva
et al., 1998) e para o Pennisetum purpureum (Rodrigues et al., 1999).
Por outro lado, é de fundamental importância que os princípios
de manejo sejam conhecidos e praticados para que as pastagens
possam se manter produtivas e persistentes. A constituição genética da
planta define seu potencial produtivo, no entanto, o manejo é o
responsável pela sua expressão.
A produção de forragem é função do meio, da temperatura e da
radiação e é limitada pela disponibilidade de fatores manejáveis,
basicamente, nutrientes e água. A remoção de parte dessa limitação
pela introdução de insumos, tais como fertilizantes e irrigação, vai
depender do clima e, obviamente, da relação custo-benefício. Os custos
dificilmente podem ser alterados para um dado nível de insumos e, por
isso, deve-se concentrar esforços em maximizar os benefícios, ou seja,
otimizar a produção.
Dessa forma, há necessidade de se buscar aumento de
produtividade, o que pode ser alcançado pelo incremento da capacidade
de suporte das pastagens e/ou pela melhoria do ganho de peso
individual.
Capacidade de suporte
A capacidade de suporte foi definida por Mott (1960) como sendo a
taxa de lotação (número de animais por unidade de área) na pressão de
pastejo (quilos de peso vivo por quilos de forragem disponível) ótima, ou
seja, é a amplitude de utilização que permite um equilíbrio entre o ganho
por animal e por unidade de área permitindo, desta forma, o maior
rendimento por área.
A disponibilidade de forragem determina a taxa de lotação e
essa, por sua vez, controla simultaneamente a qualidade e a quantidade
das pastagens, possibilita, ou não, que as plantas se mantenham
produtivas e, ao mesmo tempo, define a produção animal. É fácil
concluir daí, a importância de se considerar a interação entre
60
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
disponibilidade de forragem e produção animal quando da tomada de
decisão. Uma das maneiras para se garantir disponibilidade adequada às
demandas dos animais é proceder o ajuste da taxa de lotação. Em geral,
grande proporção de forragem é produzida durante os períodos das
águas, o que gera déficit de forragem durante o período seco.
Consequentemente, as pastagens comportam elevado número de
animais nas águas e esse número se reduz drasticamente durante a
seca (Tabela 1).
Assim, o pastejo controlado deveria ser o primeiro componente
para qualquer sistema de pastejo. Nesse aspecto, é digna de menção a
revisão feita por Iglesias et al. (1997) que retratou os resultados obtidos
nessas últimas duas décadas em Cuba. Esses autores discutiram vários
aspectos dos sistemas de produções de carne e leite desenvolvidos em
diversas pastagens, incluindo os gêneros Brachiaria, Pennisetum,
Panicum e Cynodon. Além dos resultados de produção eles discutiram a
importância da definição das taxas de lotação para cada forrageira de
acordo com o nível de insumo utilizado.
De acordo com Walker (1995) os pesquisadores e especialistas
em manejo de pastagens se tornaram obcecados em implementar
pastejos rotacionados, como se isto fosse a base do manejo de
pastagens. Está bem demonstrado, atualmente, que as diferenças entre
os vários sistemas de pastejo são usualmente de pouca importância,
quando comparadas àquelas decorrentes dos efeitos da pressão de
pastejo. Desta forma, fica evidente que maior ênfase no manejo deve
ser colocada na utilização da pressão de pastejo correta comparada
com o sistema de pastejo.
A utilização de uma taxa de lotação constante o ano todo é o
método mais simples e mais utilizado. Define-se uma única taxa de
lotação e o que for subpastejado nas águas sobrará para a seca. Para
que se aumente a capacidade de suporte da propriedade é fundamental
que se modifique a prática usual de se estabelecer a taxa de lotação
com base na produção forrageira observada durante o período seco.
Adubação das pastagens
É comum nas regiões tropicais e subtropicais a ocorrência de
solos ácidos, os quais geralmente têm baixo pH, baixos teores de cálcio
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
61
e magnésio trocáveis, teores relativamente elevados de alumínio
trocável e de manganês disponível e baixa porcentagem de saturação
por bases. Desta forma, a baixa fertilidade do solo é a maior limitação à
intensificação da produção de carne em pastagem no Brasil,
principalmente, em solos dos Cerrados. Na exploração de pastagens
nesses solos, recomenda-se a escolha de forrageiras que sejam
adaptadas a estas condições. Contudo, mesmo estas espécies
apresentam, normalmente, resposta marcante à adubação (Tabela 1).
Vale ressaltar, que os capins mais produtivos são mais exigentes em
fertilidade e em manejo.
Estudos realizados em solos da região dos Cerrados têm
demonstrado que a saturação por bases trocáveis e os conteúdos de
fósforo são fatores diretamente relacionados com a produtividade das
pastagens e com a sua sustentabilidade (Macedo, 1997). Uma vez feitas
estas correções, a produtividade é altamente dependente da adubação
nitrogenada (Macedo, 1995). É importante observar, a necessidade de
equilíbrio da adubação nitrogenada com o suprimento dos demais
nutrientes.
Isso pode ser exemplificado pelos resultados obtidos por Euclides
et al. (1997b) em pastagens de gramíneas do gênero Panicum e
Brachiaria recuperadas utilizando dois níveis de calagem e adubação
(Tabela 1). Os acréscimos observados, nas taxas de lotação e na
produção animal, de todas as gramíneas do nível de fertilização baixo
(FB) para o nível alto (FA) refletem os aumentos da disponibilidade e da
qualidade dessas pastagens (Tabela 1).
Contudo, independente da gramínea, houve decréscimo nas
taxas de lotação do primeiro para o terceiro ano de pastejo, sendo em
média, de 2,1 para 1,4 UA/ha e de 2,6 para 1,5 UA/ha, para os FB e FA,
respectivamente. Consequentemente, o decréscimo em ganho de peso
vivo por área foi de 90 e 220 kg/ha/ano, respectivamente, para os FB e
FA. Os teores de P no solo decresceram de 5,3 e 7,2 ppm para 3,5 e 4,6
ppm, para os piquetes adubados com FB e FA, respectivamente, do
primeiro para o terceiro ano após fertilização. Isso pode explicar o
declínio gradual da disponibilidade de forragem neste período e a
conseqüente redução na taxa de lotação ao longo do tempo (Euclides et
al., 1997b).
62
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Produção e produtividade de pastagens de diversas gramíneas submetidas a manejos
variados
Gramíneas
Colonião
Tobiatã
Tanzânia
Marandu
B. decumbens
Colonião
Tobiatã
Tanzânia
Marandu
B. decumbens
Tobiatã
Tanzânia
Marandu
B. decumbens
Tobiatã
Tanzânia
Marandu
B. decumbens
Mombaça
Tanzânia
Massai
Adubação
Estabelecimento
(kg/ha)
1.500 calcário
400 da fórmula
0-16-18
50
microelementos
3000 calcário
800 da fórmula
0-16-18
50
microelementos
400 da fórmula
0-20-20
50
microelementos
800 da fórmula
0-20-20
50
microelementos
2.700 calcário
500 fórmula 020-15
50
microelementos
Manutenção (kg/ha)
Sistema
de
pastejo
Sem
Contínuo
Sem
Contínuo
50 de N (anualmente) Contínuo
Após 2 anos: 500
gesso e
2.000 calcário
50 de N (anualmente) Contínuo
2o ano: 500 gesso e
2.000 calcário
50 N (anualmente)
3o e 4o ano: 200
fórmula 0-20-20 e
1.600 calcário
Rotacionado
(7x35d)
Taxa de lotação
(UA/ha)
Seca Águas
0,8
1,3
1,2
1,6
1,6
0,9
1,3
1,3
1,7
1,8
1,4
1,4
1,5
1,5
1,7
1,8
1,7
1,8
1,0
1,0
1,1
1,0
1,4
1,4
1,7
1,7
1,1
1,4
1,4
1,8
1,8
2,2
1,9
1,9
2,1
2,7
2,3
2,2
2,3
3,0
2,9
3,2
Ganho de peso Ganho de
(g/cabeça/dia)
peso
Seca Águas (kg/ha/ano)
100
170
240
160
200
120
215
295
120
280
100
120
35
80
120
100
55
150
130
140
10
500
440
540
430
400
530
570
640
540
500
600
680
530
520
595
700
570
565
570
615
400
270
420
490
380
400
320
630
660
600
600
450
467
333
387
545
579
475
467
700
725
620
Referência
Euclides et al.,
1997b
Euclides et al.,
1997b
Euclides et al.,
2001b
Euclides et al.,
2001b
Euclides et al.,
1999
Euclides et al.,
2000
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
63
Tabela 1 - Continuação...
Gramíneas
Tanzânia
Mombaça
Marandu
Cameroon
Mombaça
Marandu
Tanzânia
Tanzânia
Coastcross
Adubação
Estabelecimento
(kg/ha)
2.700 calcário
500 fórmula
0-20-15
50
microelementos
2.000 calcário
400 de yorin e
300 de
superfosfato
simples
Adubação para:
P = 15ppm e
V = 60%
Adubação para:
P = 20ppm e
V = 70%
Adubação para:
P = 20ppm e
V = 70%
* kg/ha/período das águas
Taxa de lotação
(UA/ha)
Seca Águas
Ganho de peso Ganho de
(g/cabeça/dia)
peso
Seca Águas (kg/ha/ano)
Manutenção (kg/ha)
Sistema
de
pastejo
100 N (anualmente)
3o e 4o ano: 200
fórmula 0-20-20 e
1.600 calcário
Rotacionado
(7x35
d.)
1,1
3,2
125
635
820
Euclides et
al., 1999
Anualmente:
Rotacio250 fórmula 0-20-20
nado
150 N e 60 K
(2x30 d.)
1,9
2,0
1,8
4,7
5,0
3,5
383
409
452
474
455
520
596
623
573
Thiago et
al., 2000
Rotacionado
(3x36 d.)
Rotacionado
(3x36 d.)
-
5,3
4,0
-
680
590
491*
437*
Corrêa,
2000
-
5,8
-
680
803*
-
7,5
-
835
922*
Corrêa,
2000
Rotacionado
(4x24 d.)
-
7,6
--
637
907*
Anualmente:
1000 fórmula
20-05-20
Anualmente:
1000 fórmula
20-05-20
1500 fórmula
20-05-20
Anualmente:
1500 fórmula
20-05-20
Referência
Adaptado
de Corrêa,
2000
64
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Considerando-se que esse resultado foi conseqüência da queda
de fertilidade no solo estabeleceu-se nova avaliação utilizando-se de
uma adubação de manutenção (Euclides et al., 2001b). Os níveis de
adubação dessa para N, P e K são apresentados na Tabela 1. Observouse a mesma tendência do ciclo anterior, ou seja, as taxas de lotação e
os ganhos por animal e por área foram maiores nos piquetes adubados
com FA. O primeiro e o terceiro anos apresentaram maiores taxas de
lotação do que o segundo ano, sendo em média, para os pastos
adubados com FB, 1,6; 1,3 e 1,5 UA/ha, e para os pastos adubados com
FA, 1,9; 1,5 e 1,7 UA/ha, respectivamente, para o primeiro segundo e
terceiro anos de utilização. Em parte, isso pode ser explicado pela
correção da fertilidade de solo, em junho do segundo ano de utilização
(Tabela 1), o que melhorou a produção das pastagens e
consequentemente a taxa de lotação. Do segundo para o terceiro ano
de utilização, no entanto, houve aumento na saturação por base no solo
de 26% para 34% e de 32% para 40%, para as pastagens adubadas
com FB e FA, respectivamente. O P (resina) disponível no solo também
aumentou, no mesmo período, de 4,9 para 6,2 mg/L, nas pastagens
com FA entretanto, não houve alteração na disponibilidade desse
elemento nas pastagens com a menor adubação (3,2 mg/L).
Provavelmente, além do crescimento do sistema radicular resultante da
aplicação de cálcio e de gesso, o calcário aumentou o P lábil ligado tanto
na fração orgânica quanto inorgânica, principalmente, por meio da
mineralização da matéria orgânica (Euclides et al., 2001b).
A correção de P e a aplicação anual de 50 kg/ha de N não foram
suficientes para manter a produção de forragem e consequentemente as
capacidades de suporte dessas pastagens. Isso pode ser explicado,
principalmente, como conseqüência da queda acentuada nos teores de
saturação por bases que atingiu valores inferiores a 30%, o que é muito
baixo para essas gramíneas, exceto para B. decumbens (Macedo, 1997).
É importante ressaltar, que apesar de as cultivares de P. maximum
apresentarem maior produtividade, elas são menos tolerantes à acidez
do solo e mais exigentes quanto à fertilidade. Assim, para se conseguir
estabilidade de produção torna-se necessário utilizar adubações de
manutenção mais freqüentes, especialmente, para as gramíneas do
gênero Panicum.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
65
O efeito positivo da adubação de manutenção adequada pode
ser observado pelos resultados obtidos por Euclides et al. (1999, 2000).
Com correção e adubação no plantio seguidos por adubações anuais
esses autores conseguiram manter pastagens de capins tanzânia,
mombaça e massai (P. maximum) com alta produtividade por cinco anos
(Tabela 1). Altas produtividades em pastagens dos capins elefante,
marandu e mombaça (Tabela 1) também foram observadas por Thiago
et al. (2000), e para as pastagens de capins tanzânia, mombaça,
marandu e coastcross por Corrêa (2000) quando foram utilizadas
adubações adequadas de implantação e de manutenção.
Em condições edafoclimáticas normais, e mediante a inexistência
de outra limitação, seguramente o nitrogênio é o fator de maior impacto
na produtividade da pastagem. Na Tabela 1, pode-se observar o efeito
da adubação nitrogenada em pastagens de capim-tanzânia (Corrêa et
al., 2000; Euclides et al.,1999). Os pastos adubados com níveis mais
elevados de nitrogênio, suportaram maiores taxas de lotação, as quais
resultaram em maior produtividade, pelo fato de possibilitarem maiores
produções de quilos de PV/ha. Observou-se que, quando se aumentou a
adubação nitrogenada de 50 para 100 kg/ha (Euclides et al., 1999), e de
200 para 300 kg/ha (Corrêa, 2000) houve acréscimos de 1,9 e de 1,2
kg/ha de peso vivo, respectivamente, para cada quilo adicional de
nitrogênio aplicado. Todavia, os maiores efeitos da adubação são
observados diretamente durante o período das águas, especialmente, se
não houver um estratégia estabelecida para incremento da taxa de
lotação durante o período seco subseqüente.
Taxa de lotação versus período seco
Apesar de o efeito residual da correção e da adubação das
pastagens aumentar a capacidade de suporte durante o período seco, o
maior benefício é observado durante o período das águas (Tabela 1),
quando as condições climáticas não são limitantes. Dessa forma, para se
intensificar a produção das pastagens no período das águas, o produtor
tem que estar preparado para a produção de alimentos suplementares
para serem utilizados durante o período seco. Caso contrário, haverá
animais excedentes nesse período, o que resultará em desperdício de
investimento anterior e ineficiência do sistema de produção. Dentre as
66
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
diversas alternativas existentes para esse fim, as mais viáveis são:
armazenamento do excesso de forragem produzida durante o verão, na
forma de feno ou de silagem, ou a reserva de pastagens
estrategicamente vedadas nas águas para pastejo direto durante o
período crítico. Qualquer dessas alternativas deve ser implementada
durante o período das águas.
A integração entre pastejo e a produção de silagem de capim
será apresentado nesse evento por Corrêa (2001), e a conservação de
forragem por Pereira (2001). Assim, apenas a reserva do excesso de
forragem na forma de feno-em-pé para pastejo direto durante o período
crítico, será discutido brevemente.
Essa prática é denominada de “pastejo diferido”, e consiste em
se selecionar determinadas áreas de pasto e vedá-las à entrada de
animais no final da estação de crescimento. As forrageiras mais
indicadas para essa prática são aquelas que perdem lentamente o valor
nutritivo ao longo do tempo, tais como as gramíneas dos gêneros
Brachiaria (decumbens, capim-marandu), Cynodon (capins estrela,
coastcross e tiftons) e Digitaria (capim-pangola). Já B. humidicola tem
grande capacidade de acúmulo de forragem, mas seu valor nutritivo é
baixo quando comparado ao das outras espécies de Brachiaria . Por
outro lado, as gramíneas de crescimento cespitoso, tais como as dos
gêneros Panicum (capins tanzânia, mombaça e tobiatã), Pennisetum
(capim-elefante) e Andropogon (cvs. Planaltina e Baeti) quando vedadas
por períodos longos apresentam acúmulo de caules grossos e baixa
relação folha/caule. Portanto, não são indicadas para produção de fenoem-pé. É importante ressaltar que não se recomenda vedar áreas de B.
decumbens com histórico de infestação de cigarrinhas-das-pastagens.
Para conciliar maior produção com melhor qualidade, Euclides e
Queiroz (2000) recomendaram a vedação escalonada das pastagens da
seguinte forma: vedam-se 40% da área de pastagens destinada à
produção de feno-em-pé no início de fevereiro para consumo de maio a
fins de julho; e vedam-se os 60% restantes no início de março para
utilização de agosto a meados de outubro. A área de pastagens vedada
em fevereiro deverá ser menor do que a vedada em março, uma vez
que essa pastagem apresentará maior produção de forragem por ter
sido vedada em período mais favorável ao crescimento. Para aumentar o
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
67
acúmulo de forragem, esses autores ainda recomendaram a aplicação,
em cobertura, de 50 kg/ha de N, na época da vedação.
Utilizando-se a forrageira adequada e o manejo de vedação
correto, essas pastagens apresentarão boa disponibilidade de forragem,
entretanto, seu valor nutritivo será baixo. Dessa forma, a vedação das
pastagens deve estar sempre associada a algum tipo de suplementação
alimentar, tais como, sal mineral enriquecido com uréia, mistura mineral
múltipla e concentrado energético-protéico.
Desempenho animal
As interações entre pressão de pastejo e os ganhos de peso, por
animal e por área, estão bem discutidas na literatura (Mott, 1960;
Maraschim, 1994). É importante ressaltar que aumentando-se a taxa de
lotação, a produção por área é acrescida, e a produção por animal é
reduzida, e isto nem sempre é desejável. Enquanto a produção por área
é importante para o produtor, a produção por animal não deve ser
esquecida, uma vez que o desempenho e a terminação do animal são
de grande importância, pois estes podem influenciar o retorno
econômico do empreendimento. Isso reforça a importância de as
pastagens serem manejadas o mais próximo possível da sua capacidade
de suporte.
Nesse contexto, vale mencionar os resultados obtidos por
Pereira e Batista (1991) em pastagens de B. decumbens e por Biachin
(1991) em pastagens de capim-marandu. Esses autores mostraram a
importância de se utilizar uma taxa de lotação adequada como forma de
terminar novilhos aos 28 ou 30 meses de idade. Em ambos os
experimentos, independentemente do aumento de produtividade, em
taxas de lotação mais altas, os animais precisaram de seis meses a mais
para atingir o peso de abate.
A adubação e o manejo corretos das pastagens têm
proporcionado sensíveis melhorias nos índices de produtividade (Tabela
1) porém, essas estratégias não são suficientes para resolver o
problema de alimentação do gado no período seco. Euclides et al.
(1997a, 2001a), mostraram que é possível reduzir a idade de abate de
animais suplementados durante o período seco em pastagens de B.
decumbens. Essa redução variou de 2 a 9 meses, dependendo da
68
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
suplementação utilizada. Além disso, houve aumentos, de 24% a 30%,
na capacidade de suporte dos pastos, onde os animais receberam
suplementação.
No caso da suplementação alimentar em pasto, o que deve ser
feito é complementar o valor nutritivo da forragem disponível de forma a
se atingir o ganho de peso desejado. Assim, fica evidente a necessidade
de se terem estimativas do consumo e da qualidade da forragem. Além
disso, faz-se necessário conhecer as exigências nutricionais dos animais.
Várias opções de suplementos para diferentes categorias
animais, ganhos de peso e época do ano foram apresentadas e
discutidas por Thiago e Silva (2000) e Euclides (2000).
Suplementação durante o período seco
Nesse período, a suplementação alimentar tem como objetivo
complementar a qualidade e/ou quantidade da forrageira. Apesar de a
estratégia de suplementação ser dependente do objetivo que se deseja
alcançar, sua escolha deverá ser também fundamentada em uma análise
econômica. É importante ressaltar que se essa estratégia de
suplementação estiver sendo utilizada para animais em recria, ou seja,
se os animais continuarão nas pastagens durante o período das águas
subseqüentes, o suplemento deve ser balanceado para ganho igual ou
inferior àquele esperado durante o período das águas subseqüente.
Quando o objetivo da suplementação é ganho de peso de até
250 gramas dia, há necessidade de se incluir energia e proteína no sal
mineral. Nesse caso, a mistura tem sido, comumente, denominada de
“Mistura Mineral Múltipla”. Essa mistura deve complementar os macro e
os microelementos das forrageiras e suplementar proteína e energia.
Geralmente, são constituídas de cloreto de sódio (controlador da
ingestão), mistura mineral, uréia, uma fonte de proteína verdadeira e
uma fonte de carboidrato solúvel. Recomenda-se essa suplementação,
durante todo o período seco, e o consumo diário deve ser de 0,1% a
0,2% do peso vivo.
Outro procedimento que pode ser utilizado para otimizar o uso
das pastagens, e manter níveis mais elevados de produção, é a
suplementação alimentar com mistura balanceada de concentrados.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
69
Nesse caso, as taxas médias de ganho, durante o período de
suplementação, variam entre 500 gramas/dia e 900 gramas/dia e serão
em função da quantidade de suplemento oferecido (0,6% a 1% do peso
vivo), do potencial do animal, da sua condição corporal, da forragem
disponível, do tamanho dos pastos, da distância das aguadas e da
declividade do terreno. Esta mistura pode ser balanceada utilizando-se
de alimentos energéticos e protéicos, e mistura mineral. A uréia,
normalmente, entra nas formulações em razão do preço e da
necessidade de nitrogênio não-protéico. A adição de ionóforos e de
calcário calcítico, também são recomendados. O cloreto de sódio pode
entrar na formulação como controlador do consumo.
Na utilização de qualquer uma dessas misturas, o volumoso é a
forragem da pastagem (diferida ou áreas novas em formação), portanto,
a disponibilidade dessa não pode ser limitante. Quando a quantidade de
forragem é limitante, além da utilização de concentrados, há
necessidade de se fazer a suplementação com volumosos.
Maiores detalhes sobre a utilização de suplementos múltiplos
para a recria e engorda de bovinos em pastejo (Paulino, 2001), e sobre
suplementação com forragem conservada (Pereira, 2001) serão
apresentados nesse evento.
70
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 2 - Médias dos pesos vivos iniciais e finais, dos ganhos de peso e dos consumos de
diferentes tipos de suplementos (mistura balanceada de concentrados, MBC e
mistura mineral múltipla, MMM), por novilhos e bezerros desmamados, em
diferentes pastagens, durante o período seco
Ano
Pastagens
1997
1998
1999
2000
1999
B. brizantha
cv. marandu
MBC1
B. brizantha
cv. marandu
B. decumbens
MBC2
MBC2
B. decumbens
e B. brizantha
P. maximum
cv. Tanzânia
3
1999
2000
2000
1
2
3
4
Suplemento Novilho
MBC
MMM4
MBC3
MMM4
Nelore
Nelore
Nelore
Nelore
Nelore
Nelore
Mestiço
-
96
157
177
143
98
98
98
0,53
0,85
0,76
0,72
0,82
0,74
0,73
177
191
188
185
175
227
281
218
255
246
240
232
288
361
Ganho
PV
kg/dia
0,427
0,415
0,330
0,391
0,580
0,620
0820
Nelore
Nelore
-
Mestiço
Mestiço
115
115
115
115
0,72
0,16
0,70
0,17
324
326
222
220
390
358
312
281
0,550
0,264
0,786
0,534
-
Bezerro
Período Consumo
desmamado dias
% PV
PV inicial
kg
PV final
kg
Referência
Corrêa et
al., 2000
Euclides,
2001
Euclides,
2001
Euclides,
2001
Euclides,
2001
MBC - O suplemento era constituído de milho moído (78,65%), farelo de soja (20%), uréia (1%), carbonato de cálcio (0,2%),
sulfato de amônio (0,3%) e rumensin (0,04). Ainda foi fornecido, à parte, sal mineral à vontade.
MBC - O suplemento era constituído de milho moído (77,16%), farelo de soja (19,5%), uréia (2%), calcário calcítico (1%), sulfato
de amônio (0,3%) e rumensin (0,04). Ainda foi fornecido, à parte, sal mineral à vontade.
MBC - O suplemento era constituído de milho moído (75,0%), farelo de soja (21,2%), uréia (2,06%), calcário calcítico (1,4%) e
sulfato de amônio (0,3%) e rumensin (0,04%). ). Ainda foi fornecido, à parte, sal mineral à vontade.
Euclides (2001).
MMM - O suplemento era constituído de refinazil (47,3%), farelo de soja (26,0%), uréia (5%), sulfato de amônio (0,7%), sal
branco (13%), sal mineral (7,8%) e rumensin (0,2%). Ainda foi fornecido, a parte, sal mineral à vontade.
Euclides (2001)
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
71
Na Tabela 2 são mostrados alguns exemplos de como a
composição e a quantidade dos suplementos oferecidos, o genótipo
animal e diferentes forrageiras podem influenciar os desempenhos dos
animais. Independente desses fatores, todos animais suplementados
ganharam peso durante o período seco. Algumas observações podem
ser feitas a partir desses resultados.
O efeito da interação entre a pastagem e o suplemento e sua
importância na eficiência da suplementação podem ser verificado, pela
comparação dos resultados obtidos por Corrêa et al. (2000) e por
Euclides (2001), em condições climáticas semelhantes, ou seja no
período seco de 1999. Em ambos os casos, bezerros Nelore
desmamados foram suplementados com MBC similares, em pastagens
de capim-marandu, observa-se que os consumos dos suplementos
foram de 1,64 e 1,68 kg/dia, para MBC1 e MBC2, respectivamente, e os
ganhos de peso diários médios com eles obtidos foram de 330 e 580 g
(Tabela 2), resultando em conversões iguais a 4,97 e 2,90 kg de
concentrado para cada kg de ganho de peso vivo, sugerindo que o
maior efeito da suplementação conseguida por Euclides (2001), se
deveu à melhor condição da pastagem utilizada, uma vez que essa foi
vedada e a disponibilidade de forragem não foi limitante, decrescendo
de 4,3 para 2,2 t/ha de MS, do início para o fim do período seco. Já na
outra situação, a disponibilidade de forragem foi limitante, tanto que
segundo os autores foi necessário prolongar o período de
suplementação.
Apesar de a disponibilidade de forragem não ter sido um fator
limitante, Euclides (2001) verificaram que durante o período seco foram
observados decréscimos nos valores nutritivos dessas pastagens, sendo
maiores para as pastagens de braquiárias (Tabela 3).
Nesse caso, pode-se observar outra interação importante
verificada entre o suplemento e a qualidade da forrageira. O melhor
valor nutritivo apresentado pela pastagem de capim-tanzânia,
provavelmente, foi o responsável pelo melhor desempenho dos animais,
independente do suplemento utilizado. Por outro lado, independente do
pasto, os animais que receberam MBC3 apresentaram melhores
desempenhos do que os suplementados com MMM4, uma vez que, o
consumo de MBC e MMM para cada quilo de ganho de peso vivo foi,
respectivamente, de 2,4 e 0,8 kg, para as pastagens de tanzânia, e 4,7
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
72
e 2,1 kg, para as pastagens de braquiárias (Tabela 2), sugerindo, desta
forma, que os animais recebendo o MBC substituíram parte do consumo
de forragem pelo suplemento 2. O suplemento MMM, por outro lado,
promoveu, principalmente, o efeito aditivo (Euclides, 2001).
Vale ressaltar que, apesar de parte das melhores conversões dos
suplementos em peso vivo nas pastagens de tanzânia, poder ser
explicada pela qualidade da dieta, deve-se considerar a categoria
animal. No capim-tanzânia foram suplementados bezerros desmamados
e nas braquiárias, novilhos de sobreano.
Tabela 3 - Médias dos conteúdos de proteína bruta (PB) e das
digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) de
amostras simulando o pastejo animal, durante o período de
suplementação
B. decumbens*
B. brizantha*
Tanzânia
PB
DIVMO
PB
DIVMO
PB
DIVMO
Maio
8,8
58,0
9,4
59,6
13,6
68,2
Julho
7,6
57,6
5,8
56,5
9,7
57,3
Setembro
5,1
53,8
4,4
51,3
8,1
54,4
*Pastagens vedadas: 40% da área em fevereiro e 60% da área em março.
Euclides (2001)
Suplementação durante o período das águas
O efeito substitutivo deve ser sempre considerado quando se
pretende suplementar durante o período das águas. Geralmente,
quando a forrageira é de alta qualidade, o animal reduz o consumo de
forragem substituindo-a pelo concentrado, em conseqüência do controle
quimeostático, que é sensível à quantidade de energia digerível ingerida.
A importância desse controle de consumo pode ser observada pelos
resultados obtidos por Euclides et al. (1997a) quando suplementaram
novilhos em pastagens de B. decumbens com uma mistura de
concentrados na proporção de 0,8% do PV dos animais. As médias de
ganhos de peso, durante o período das águas, foram de 610 e 490
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
73
g/dia, para os animais recebendo ou não suplementação,
respectivamente. Nesse caso, os animais consumiram 14 kg de
concentrado para cada quilo adicional de peso vivo. Apesar da redução
observada na idade de abate, o consumo de concentrado foi muito alto
para a taxa de ganho de peso verificada, o que tornou essa
suplementação economicamente inviável.
Dessa forma, para se evitar esse efeito de substituição, a
suplementação, durante o período das águas, deve ser utilizada para
corrigir nutrientes específicos que estão deficientes na forrageira. Por
exemplo, mesmo no início do período das águas, as pastagens de B.
decumbens e B. brizantha, sob pastejo contínuo, apresentam conteúdos
de PB inferiores (Euclides, 2000) ao necessário para produção máxima
que, segundo Ulyatt (1973), é de 12% para todos os propósitos em um
rebanho de bovino de corte. Durante esse período, também são
encontradas deficiências macro e micronutrientes nas forrageiras. Assim,
a utilização de uma mistura mineral múltipla poderia corrigir essas
deficiências.
Euclides (2001) suplementou novilhos, em pastagens de B.
decumbens e B. brizantha, com uma MMM na base de 0,2% do PV. Os
novilhos suplementados apresentaram ganhos médios de 740 g/dia e os
não-suplementados de 535 g/dia. Nesse caso, o consumo da MMM,
durante 184 dias, foi de 90 kg por novilho, a um custo de R$ 0,29
(cotação abril de 2001). Apesar de a diferença de ganho de peso ser
pequena, aproximadamente, 200 g/dia, ela resultou em novilhos mais
pesados (40 kg de PV) com um custo total do concentrado igual a R$
26,00/novilho. Essa pequena diferença em desempenho pode
representar grande diferença no sistema como um todo, uma vez que
esse ganho é suficiente para que o animal seja terminado no período
seco subseqüente, quer seja utilizando-se suplementação em pasto,
quer seja pelo uso de confinamento. Assim, mesmo que a análise
isolada desse efeito não represente ganho econômico direto, ele pode
representar impacto importante no sistema completo. É importante
ressaltar que a intensificação do sistema de produção tem como uma de
suas conseqüências comuns, a diminuição da margem de lucro/animal.
Vale enfatizar que a otimização dos investimentos realizados em
alimentação só será obtida com o uso de animais adequados.
74
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
GENÓTIPO DO ANIMAL
É importante ressaltar que a intensificação da utilização de
pastagens deve ser acompanhada de modificações no sistema de
produção de modo a possibilitar a sua otimização com relação ao ganho
de peso e à competitividade do setor. Segundo Euclides Filho (2000)
quanto ao genótipo do animal, a pecuária de corte moderna deverá
requerer animais que sejam precoces, tanto no tocante à reprodução
quanto ao acabamento, férteis, adaptados, que apresentem boa
eficiência bionutricional e bom ganho de peso. Considerando-se
sistemas mais intensificados, onde a idade máxima de abate é de,
aproximadamente, 26 meses, pode-se considerar a possibilidade de se
utilizarem algumas estratégias de manejo que, combinadas ou não com
o genótipo animal, contribuirão para melhoria da eficiência.
Dessa forma, podem ser usados animais puros ou mestiços, de
ambos os sexos, os quais podem ainda, ser intactos ou castrados. Tais
alternativas, sugeridas por Euclides Filho (2000) como sendo
importantes estratégias para se produzir carne de qualidade com
constância e de forma uniforme durante o ano todo, têm se revelado
capazes de contribuir para tal. Essas estratégias podem ainda segundo
esse autor, como estratificação dos animais na desmama considerandose o peso. Os animais mais pesados, com pesos acima de 240 kg podem
ser confinados imediatamente para produção de novilhos superprecoces,
aqueles com pesos entre 210 kg e 240 kg podem receber
suplementação alimentar, por 30 dias ou 60 dias quando serão
confinados. Aqueles com peso entre 180 kg e 210 kg devem ter suas
dietas suplementadas durante o primeiro período seco devendo ser
confinados durante o segundo período seco. Bezerros com pesos
inferiores a 180 kg deverão ser recriados e terminados em pasto,
podendo ser suplementados durante a segunda seca, o que possibilitaria
redução de, aproximadamente, 60 dias na idade de abate.
Para sistemas com uso intensivo de pastagens, todavia, essa
estratégia deve ser ajustada. Nesse caso, o primeiro estrato pode ou
não seguir o manejo recomendado, enquanto os outros são recriados e
terminados em pasto, podendo receber suplementação alimentar e/ou
serem confinados durante a segunda seca. O importante dessas
alternativas é que elas visam à redução do ciclo de produção o que, por
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
75
sua vez, é fundamental para a viabilidade econômica da atividade. É
importante ressaltar que a otimização da produção será obtida quando a
maximização da produção forrageira for utilizada por animais de maior
potencial produtivo. Discussão mais detalhada sobre a importância do
genótipo e sua interação com o sistema de produção será apresentada
nesse evento (Euclides Filho, 2001). A combinação apropriada da
alimentação com o potencial genético do animal, levando-se em
consideração o mercado e a necessária melhoria da qualidade da mãode-obra, tem como conseqüência natural, a intensificação do sistema.
SISTEMA INTENSIVO DE PRODUÇÃO
A intensificação do sistema, em maior ou menor, fica na
dependência do objetivo do empreendimento, e consequentemente, do
mercado a ser atendido, da capacidade de desembolso e do retorno
esperado. A princípio, o sistema intensivo de manejo de pastagem, tem
por característica principal a exploração de forrageiras de alta
produtividade, durante o período das águas. Para conduzir explorações
pecuárias neste sistema, a aplicação de fertilizantes é essencial, em
conseqüência da remoção intensa de forragem e da necessidade de
rebrota rápida. É importante lembrar, entretanto, que, se por um lado,
as pastagens comportam elevado número de animais nas águas, este
número se reduz drasticamente durante a seca. Então, para se
intensificar a produção das pastagens no período das águas, o produtor
tem que estar preparado para a produção de alimentos suplementares
para serem utilizados durante o período seco.
Corsi (1986) criticou a grande ênfase dada na busca de
alternativas tecnológicas que explorem o acúmulo de forragem
produzida durante o final do verão (produção de feno-em-pé), quando a
temperatura, o fotoperíodo, a umidade e os nutrientes ainda não são,
de todo, limitantes. Segundo esse autor, essa alternativa tem a
desvantagem de não possibilitar grandes mudanças nas taxas de lotação
das pastagens, uma vez que o vigor da rebrota durante o período seco é
limitado por fatores ambientes. Por conseguinte, o único alimento
disponível para o gado seria aquele oriundo do acúmulo forrageiro
observado no final das chuvas. Dessa forma, o número de animais a ser
76
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
alimentado durante o período crítico deve ser muito bem equacionado,
pois só assim, será possível estender o período de pastejo. Incrementos
na taxa de lotação, certamente, comprometeriam o volume forrageiro
acumulado e, consequentemente, a disponibilidade de forragem durante
o período seco. Todavia, o diferimento de pastagens pode ser conduzido
dentro de um sistema intensivo como evidenciado por Euclides (2001).
Esse autor observou ser possível triplicar a capacidade de suporte da
área, utilizando-se parte das pastagens intensivamente, durante o
período das águas, mantidas com reposição anual de N-P-K
micronutrientes e calagem, produzindo-se feno-em-pé e suplementação
alimentar durante o período seco, combinadas com um biótipo animal
adequado.
Esse sistema é constituído por pastagens de três gramíneas com
a seguinte composição: 30% da área de capim-tanzânia, 35% de
capim-marandu e 35% de B. decumbens. Durante o período das águas,
o capim-tanzânia está sendo utilizado intensivamente, enquanto os
pastos de braquiárias são subutilizados, sendo vedados a partir de
fevereiro. Esse manejo de pasto é a base da produção do boi “verdeamarelo”. Durante o período seco, a utilização dos pastos é revertida,
as braquiárias são utilizadas intensivamente e o capim-tanzânia é
subpastejado. Além disso, nesse período, todos animais recebem
suplementação alimentar. Os animais que vêm sendo utilizados nesse
sistema são Nelore, Angus-Nelore e Braford-Nelore. Vale ressaltar, que
os animais entram nesse sistema logo após a desmama e estão
atingindo o peso de abate entre 16 e 25 meses de idade. Esse sistema
aliando manejo adequado, genótipo apropriado e suplementação
alimentar durante o período seco tem se mostrado bioeconomicamente
vantajoso. Apesar de não alcançar os níveis propostos por Corsi e
Nussio (1992) ele, atualmente, se constitui em uma alternativa de maior
alcance, especialmente, pela maior facilidade de manejo e pelos
menores desembolsos requeridos com insumos.
Mesmo considerando-se um sistema de ciclo completo, ou seja,
cria, recria e engorda, o manejo intensificado das pastagens possibilita
incrementos substanciais na produção de carne/hectare, conforme
Corrêa et al. (2000). Nesse caso, as pastagens foram formadas por
diferentes tipos de gramíneas, B. brizantha, B. decumbens e Tanzânia.
Todos os pastos receberam adubação de manutenção, anualmente.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
77
Foram utilizados animais Nelore. Os machos, durante a recria,
receberam suplementação alimentar durante o período seco e foram
confinados no segundo período seco. Com esse manejo foi possível
produzir 101 quilos de equivalente-carcaça/hectare/ano, o que
representou, aproximadamente, um incremento de 200% em relação a
média brasileira. Essa medida, equivalente-carcaça, é a que melhor
expressa a eficiência de produção de um sistema de produção
completo. É importante ressaltar que além dos resultados biológicos,
esse sistema se mostrou economicamente viável.
Segundo esses autores, a intensificação do uso de insumos,
resultante da adubação das pastagens e suplementação alimentar em
pasto e terminação em confinamento, aumenta a complexidade do
sistema de produção. A estrutura de custos é significativamente
alterada, com os custos explícitos (envolvendo desembolso de dinheiro),
aumentando sua participação nos custos totais. Isso passa a exigir um
gerenciamento mais rigoroso, sem o que a viabilidade do negócio pode
ficar comprometida. Dessa forma, a maior utilização de capital e de
tecnologia tem como conseqüência maiores probabilidades de maior
lucro, mas, por outro lado resultam em maior complexidade e aumento
de risco, o que por sua vez requer melhor gerenciamento.
A diversificação de pastagens é uma prática recomendada e, na
maioria das propriedades, há áreas indicadas para diferentes espécies
forrageiras. Recomenda-se que aquelas áreas que apresentam alta
produtividade tenham seu uso concentrado na época de crescimento
forrageiro mais intensivo, e de preferência, em manejo rotacionado,
para permitir melhor aproveitamento da forragem produzida. Por outro
lado, as forrageiras mais apropriadas para o diferimento poderiam ser
utilizadas menos intensivamente durante as águas para serem vedadas
no fim do verão, pastejadas durante a seca.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
3 Sistemas de produção com nível de intensifocação considerado
médio-alto podem ser bioeconomicamente atrativos, além de
apresentarem grande potencial de expansão.
3 A melhoria do nível nutricional dos animais deve ser acompanhada
de melhoria do potencial genético do animal.
78
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
3 Para que a produção de carne bovina em pastagens seja
intensificada, há necessidade de forrageira adequada para o período
seco.
3 O nível de intensificação a ser adotado fica na dependência da
região, do objetivo e das metas do empreendimento, do mercado e
da qualidade da mão-de-obra.
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Documentos, 7).
MELHORAMENTO GENÉTICO DA PRECOCIDADE
SEXUAL NA RAÇA NELORE
Fábio Dias1 ; Joanir P. Eler2 ; José Bento S. Ferraz2 ; Josineudson A. II
de V. Silva3
1
Zootecnista, MSc. Agro Pecuária CFM Ltda, Av. Feliciano Sales Cunha, 1330. São José do Rio
Preto, SP. E mail:[email protected]
2
Docente do Grupo de Melhoramento Animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos da USP, Pirassununga, SP. Caixa Postal 23, 13.630 – 970 Pirassununga, SP. E mail:
[email protected]
3
Bolsista de Pós-Doutorado da FAPESP. FZEA/USP
Introdução
Em qualquer sistema de produção de gado de corte, a
reprodução é um componente de grande importância para um
desempenho econômico lucrativo. Várias são as citações regularmente
publicadas em revistas especializadas sobre a contribuição da
reprodução para a rentabilidade da pecuária de corte. Embora a ênfase
quase sempre tenha sido dada à seleção para desempenho ponderal, os
criadores de gado de corte conhecem os benefícios potenciais da
seleção para características reprodutivas.
Após a publicação de trabalhos desenvolvidos na Universidade do
Colorado (Evans et ali., 1999 e Doyle et ali., 2000) e após várias
análises realizadas na raça Nelore, os quais foram agora enviados para
publicação (Eler et ali., 2001), a Agropecuária CFM Ltda publicou em seu
“Sumário de Touros Nelore 2000”, uma lista dos melhores touros para
uma característica relacionada com a precocidade sexual, medida
diretamente na fêmea e que, portanto, faz parte dos seus objetivos de
seleção. Esta característica é a prenhez de novilhas, que pode ser
definida como a observação de uma novilha conceber e permanecer
prenhe até o diagnóstico de gestação, dado que a ela teve oportunidade
de ser acasalada. No referido Sumário de Touros, a característica foi
designada como Probabilidade de Prenhez de Novilhas (PP14). No
trabalho enviado para publicação em revista internacional a designação
da característica foi mantida (Eler et al., 2001).
As metodologias de análise de características reprodutivas,
medidas diretamente na fêmea, tiveram desenvolvimento mais lento e
estas características foram até agora, pouco exploradas em termos
84
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
práticos. Algumas razões poderiam ser citadas para esse menor
desenvolvimento: 1) conceito “pré-estabelecido” de que características
relacionadas com a fertilidade de fêmeas são de baixa herdabilidade e
por isto de difícil mudança genética; 2) as associações de raça não
pediam dados de prenhez de novilha aos criadores e, por isto, não se
dispunha de dados para análise; e, 3) o desenvolvimento de
procedimentos analíticos para dados categóricos, como é o caso da
Probabilidade de Prenhez, é recente. Além disto, os procedimentos são
um pouco mais complexos do que aqueles utilizados para características
representadas por variáveis contínuas, como as características de
desempenho ponderal, por exemplo.
Estudos recentes na Universidade do Colorado apresentam
estimativas de herdabilidade variando entre 0,14 e 0,27 para a
Probabilidade de Prenhez de Novilhas. Trabalhos desenvolvidos pelo
Grupo de Melhoramento Animal (GMA) da Faculdade de Zootecnia e
Engenharia
de
Alimentos
(FZEA/USP/Pirassununga)
revelam
herdabilidade de 0,55 (Eler et ali., 2001). Há uma razão lógica para se
acreditar nesta herdabilidade alta. A raça Nelore, ao contrário das raças
Hereford e Angus, analisadas no Colorado, não são selecionadas para
precocidade. A taxa reprodutiva é baixa. Taxas reprodutivas muito
baixas poderiam levar à estimação de coeficientes de herdabilidade mais
altos. As diferenças entre reprodutores são visíveis e grandes em
populações com baixas taxas reprodutivas. Observações práticas na
população permitem também constatar o controle genético da
precocidade sexual.
CARACTERÍSTICA ECONOMICAMENTE IMPORTANTE
Os programas de melhoramento genético de bovinos de corte
têm utilizado com muita ênfase o perímetro escrotal (PE). Esta
característica é no entanto apenas indicadora da fertilidade da novilha,
principalmente da idade à puberdade. Por outro lado, a Probabilidade de
Prenhez é medida diretamente na novilha, leva em conta a sua
fertilidade inerente e, por isto, é a característica econômica de interesse,
ou o objetivo de seleção. A característica tem várias propriedades que a
tornam um candidato à inclusão nos objetivos de seleção: os registros
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
85
dos dados de prenhez de novilha não têm custos adicionais, pois já são
normalmente controlados pelos criadores. Os métodos de diagnóstico de
prenhez estão bem estabelecidos (palpação retal ou ultra-som, por
exemplo), os procedimentos analíticos já foram desenvolvidos e a DEP
pode ser informada em porcentagem.
A predição do mérito genético (Diferenças Esperadas de Progênie
-DEP’s) para Probabilidade de Prenhez tem grande potencial para
melhorar a fertilidade da novilha e custa muito pouco. Para uma melhor
interpretação desta DEP, tome-se o seguinte exemplo de dois touros
extremos da análise realizada pelo GMA (Eler et ali., 2001), touros A e
B, sendo cada um acasalado com grupos diferentes de vacas do mesmo
rebanho. Para simplicidade, assuma-se que toda a progênie é formada
de novilhas, todas são retidas para acasalar, e todas têm oportunidade
igual no acasalamento. O touro A tem uma DEP de PP14 igual a 25 e o
touro B uma DEP igual a –25. Em média, as novilhas filhas do touro A
terão uma probabilidade 50% maior de conceber e permanecer prenhes
quando comparadas com as filhas do touro B. Este foi o caso extremo
mas, para a maioria dos touros, as diferenças, embora menores, são
significativas. Assim, a seleção baseada nas DEPs para PP14 levaria a
um rápido progresso genético para a precocidade sexual.
Para a predição das DEPs é, no entanto, fundamental a
percepção e o interesse dos criadores. Nas raças européias, quando se
fala de prenhez de novilha está implícito que é em torno de um ano de
idade. Para os zebuínos, a idade de reprodução sempre foi tida como 24
meses ou mais. No caso de seleção para precocidade, como na raça
Nelore, por exemplo, há necessidade de expor as fêmeas jovens ao
touro ou inseminá-los. Só recentemente, grupos como a CFM iniciaram
este trabalho, expondo todas as novilhas aos 14 meses de idade,
independentemente do peso. Os resultados da CFM são encorajadores e
irão certamente desafiar as Associações de Criadores a colher os dados
de prenhez de novilha e, quem sabe, dentro de algum tempo,
desenvolver também as suas DEPs para PP14.
Ao se dar ênfase à característica Probabilidade de Prenhez,
poderia então ser argumentado que a coleta de dados de perímetro
escrotal (PE) seria então um esforço perdido! Na verdade não é. O
perímetro escrotal, avaliado em torno dos 14 meses de idade, é um bom
preditor da puberdade da novilha nesta mesma idade. Trabalhos
86
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
recentes desenvolvidos pelo GMA têm mostrado correlação genética
negativa (portanto favorável) de até 40% com idade ao primeiro parto e
correlação positiva de 35% com precocidade de acabamento que, por
sua vez, poderia estar relacionada com a precocidade sexual. Deve-se,
no entanto observar que se trata de PE aos 14 meses correlacionado
com idade ao primeiro parto de fêmeas que foram expostas pela
primeira vez aos 14 meses de idade. Mais importante ainda seriam os
procedimentos analíticos utilizados em análises de características
múltiplas permitindo que os dados de perímetro escrotal contribuam
com informações para aumentar a acurácia da predição das DEPs para
Probabilidade de Prenhez (Evans et al.,1999; Doyle et al., 2000). As
análises têm indicado, no entanto, que a relação entre PE e
Probabilidade de Prenhez de Novilhas não é linear. A forma desta
relação genética precisa ser bem determinada para que o perímetro
escrotal seja incorporado rotineiramente à avaliação genética da
Probabilidade de Prenhez.
A obtenção da correlação entre perímetro escrotal e PP14 em
análise bi-característica tem apresentado problemas analíticos que ainda
necessitam ser solucionados. Uma forma alternativa de avaliar a relação
entre as duas características seria a utilização de grupos genéticos.
Trabalhos da Universidade do Colorado mostraram a não linearidade da
correlação genética em raças européias. Na raça Nelore foram realizadas
pelos pesquisadores do GMA, duas análises uni-característica para
obtenção das DEPs para PP14 e para PE (ainda não publicado). Na
análise para PP14, os animais fundadores (com pai e/ou mãe
desconhecidos) foram classificados de acordo com suas DEPs para PE,
formando assim 5 grupos genéticos. Para esses animais fundadores, os
pais foram substituídos pelo grupo genético correspondente. A análise
para PP14 foi novamente processada e a solução para os grupos
genéticos mostrou que os animais com DEPs mais altas para PE
apresentavam 10% a mais de probabilidade de prenhez do que os
animais com DEP em torno de zero. A análise reversa foi também
realizada, ou seja, grupos genéticos para PP14 substituindo os pais dos
animais fundadores na análise de PE. Os resultados mostraram que os
animais de DEPs mais altas para PP14 são também os melhores para PE.
A partir da incorporação do PE nas análises de PP14 e obtenção
das DEPs para esta característica, as DEPs para Perímetro Escrotal não
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
87
seriam mais usadas nas decisões de seleção porque a acúracia da
seleção seria mais baixa com a utilização simultânea das duas
características. Embora possa parecer o contrário, é intuitivo pensar que
numa tomada de decisão de seleção, a utilização das duas informações
para o mesmo objetivo seria um complicador desnecessário uma vez
que uma delas já estaria incorporada na outra.
A Probabilidade de Prenhez é uma característica que poderá
revolucionar a seleção para precocidade sexual nas raças zebuínas, mas
para a predição das DEPs é fundamental a percepção e o interesse dos
criadores. Há necessidade de expor os animais jovens ao touro ou
inseminá-los. Há necessidade de identificação dos lotes de vacas
expostas, para formação de grupos contemporâneos adequados. Os
resultados da CFM são encorajadores e, além de colocar no mercado
touros com maior probabilidade de produção de filhas que emprenham
aos 14 meses de idade, irão certamente desafiar outros grupos privados
e e/ou associações de criadores a colher dados de prenhez de novilhas
no sentido de melhorar a precocidade sexual na raça Nelore.
Em algumas regiões, e dependendo da disponibilidade de
pastagens, poderia ser discutido um programa alternativo de prenhez de
18 meses. Em relação ao programa tradicional de prenhez aos 24, este
teria a vantagem de adiantar o parto em seis meses, permitindo um
maior descanso antes da próxima estação de monta e
conseqüentemente aumentando a taxa de prenhez com possível
diminuição da porcentagem de descarte de fêmeas primíparas. Isto
implicaria, no entanto, em uma estação de monta especial ou “fora de
época”, com sérios complicadores para o manejo da propriedade. Não
acreditamos todavia que esta alternativa seja um substituto para o
programa de prenhez aos 14 meses.
UM PROGRAMA DE SELEÇÃO PARA PRECOCIDADE SEXUAL
No programa da Agro-Pecuária CFM, o PE sempre fez parte do
índice de seleção e as fêmeas que não emprenham aos dois anos
sempre foram descartadas. Em 1991 iniciou-se uma estação de monta
“fora de época” para prenhez aos 18 meses, que ainda é utilizado em
uma das fazendas. Em 1994 foi iniciado o programa de prenhez aos 14
meses, com todas as fêmeas desmamadas no rebanho participando da
88
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
estação de monta. Em geral tem sido utilizada a monta natural,
controlada ou com reprodutores múltiplos. No primeiro ano a taxa foi
muito baixa, em torno de 11%, passando a uma média atual de cerca
de 25%, sendo que a última safra já atingiu 40% de novilhas prenhes
em uma das fazendas. Nesta fazenda, as fêmeas da safra 2000 foram
assim classificadas:
Total de fêmeas prenhes
Fêmeas com primeiro parto em torno de 24 meses
Fêmeas com primeiro parto até 36 meses
Uma indicação do controle genético da precocidade sexual pode
ser vista na tabela abaixo que se refere à estação de monta de 2000 e
que tendem a confirmar a estimativa elevada do coeficiente de
herdabilidade.
Coeficiente de herdabilidade
Taxa de prenhez entre touros
Filhas de Fêmeas comuns (não precoces)
Filhas de vacas super precoces
Touros “Tops” (tabela a seguir)
55% (estimado recentemente)
Variando de 0 a 55%
19% de prenhez
40% de prenhez (Fazenda SF)
Vários filhos entre os líderes para
PP14
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
89
90
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
ADAPTAÇÃO DAS FÊMEAS SUPER PRECOCES AO SISTEMA DE
PRODUÇÃO
Outro aspecto a ser considerado é a adaptação das fêmeas super
precoces ao sistema de produção exclusivamente em pasto. Alguns
elementos indicam que as fêmeas que parem aos 2 anos não são
prejudicadas neste sistema.
a) na safra 2.000 a taxa de prenhez foi de 85%.
b) as fêmeas adultas que tiveram o primeiro parto aos 24 meses
apresentaram taxa de prenhez semelhante às demais do rebanho.
c) a correlação entre idade ao primeiro parto e peso aos 550 dias
foi próxima de zero.
METAS DO PROGRAMA
A meta final do programa de melhoramento para precocidade
sexual proposto pela empresa é ter 100% das fêmeas parindo aos 24
meses. A situação atual permite prever que a meta poderá ser
alcançada em poucos anos.
a) hoje são 1.600 fêmeas super precoces (FSP). Mais 700 estão
sendo incorporadas em 2001.
b) pela estratégia atual (monta aos 14 meses, com 25 a 30% de
prenhez), pode-se atingir 8.000 fêmeas super precoces em mais 9 anos.
a) todavia, utilizando-se transferência de embriões (TE) das
fêmeas super precoces, o tempo poderá ser encurtado para 6 anos.
b) há ainda a chance da taxa de prenhez aumentar com a
seleção de touros baseada na DEP para PP14, iniciada na estação de
monta de 2001.
PROGRAMA DE TE COM FSP
O programa iniciou-se em 1998 com a seleção de 12 FSP como
doadoras. Os critérios então adotados foram:
a) todas as doadoras haviam parido aos 2 anos de idade
b) nenhuma havia falhado nas estações de monta subseqüentes
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
91
c) todas eram DECA 1 (melhores 10% ) para índice CFM (quem
engloba DEPs para peso à desmama, ganho de peso pós-desmama,
perímetro escrotal e musculatura)
d)todas eram DECA 1 para peso aos 550 dias.
Das 12 doadoras, 6 tinham 4 crias, 1 tina 3, 1 tinha 2 e 4 tinha
apenas 1 cria. Foram produzidos 150 embriões
Em 2001 foram selecionadas 40 fêmeas super precoces. Todas
foram escolhidas com os mesmos cuidados tomados anteriormente.
Foram produzidos cerca de 800 embriões. No intuito de se fazer uma
correção das distorções ambientais, as receptoras utilizadas foram todas
Nelore de 24 meses e a implantação foi realizada nos primeiros 15 dias
da estação de monta para que houvesse a formação adequada de
grupos contemporâneos (todos em um mesmo grupo)
Para as próximas safras, a seleção dos touros a serem utilizados
na produção de super precoces levará em conta as DEPs para PP14,
além do índice CFM.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1.
Um trabalho de simulação realizado em conjunto com a FNP
Consultoria de São Paulo mostrou que a prenhez de 14 meses é a
variável individual de maior impacto sobre o desempenho
econômico.
2. A reprodução aos 14 meses não requer grande aumento de
investimento em alimentação.
3. É a melhor alternativa para melhorar sistemas de produção de baixo
custo.
4. Um alerta: não adianta ser só precoce, o animal precisa ser também
ganhador de peso, ou seja, deve ser bem equilibrado.
92
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
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CFM, 2000, p.13.
INTERAÇÃO GENÓTIPO-AMBIENTE-MERCADO NA
PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA NOS TRÓPICOS
Kepler Euclides Filho
Eng.-Agr., CREA No 12153/D, Visto 1466/MS EMBRAPA- Centro Nacional de Pesquisa de Gado de
Corte (CNPGC) Caixa Postal 154, 79002-970, Campo Grande - MS.
E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Por muitos anos, os criadores brasileiros se preocuparam em
promover seleção dos bovinos com enfoque quase que exclusivo nas
características relacionadas com o padrão racial e com a caracterização
das diversas raças zebuínas. Tais características foram, por muito
tempo, aquelas relacionadas com o aspecto do animal tais como,
formato de cabeça, tamanho e forma de orelha, inserção de cauda,
inserção e forma de chifres dentre outras. A evolução da pecuária de
corte introduziu modificações de comportamento e interesse mas,
principalmente, mudanças de conceito e, com isso, as característicasalvo de seleção também se modificaram. A conformação, o aprumo, a
linha de dorso, a caixa torácica, as características sexuais e outras,
assumiram importância maior. Esse trabalho quase que obstinado dos
produtores e técnicos foi um dos grande responsáveis pelo
estabelecimento, pelo fortalecimento e pelo nível de desempenho
observado, atualmente, nas diversas raças zebuínas presentes no Brasil.
Entretanto, a evolução natural do conhecimento científico e das
demandas de mercado, introduziu novos conceitos e permitiu o
engajamento maior de técnicos e produtores em torno de propostas
fundamentada no desempenho produtivo dos animais. Assim, o
melhoramento genético animal iniciou uma nova fase que vem se
solidificando e se aprimorando com o desenvolvimento das novas
biotécnicas, e com a evolução das áreas da computação, da estatística e
da bio-informática.
Esse processo de transformação fez com que EUCLIDES FILHO
(2000) afirmasse que "à semelhança do passado, a ciência deverá
continuar sendo permeada pela arte, no sentido de ser capaz, não só de
combinar a beleza da forma com a função, mas também de ser capaz,
94
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
muitas vezes, de, pela forma, predizer a produção. Esta necessidade de
visão global, do bom senso, do conhecimento científico e,
principalmente, da capacidade de se combinar tudo isto, é que faz do
melhoramento genético não só ciência, mas também uma arte". Nesse
novo cenário, o animal e, em especial, sua constituição genética, tem
assumido importância crescente na cadeia produtiva da carne bovina;
Todavia, para que o setor seja rentável e, ao mesmo tempo, atenda às
demais demandas como sustentabilidade da cadeia produtiva e
satisfação do consumidor, o sistema de produção deve ser enfocado,
analisado e implementado como um todo.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE
PREDOMINANTES NO BRASIL
Entende-se por sistema de produção de gado de corte o conjunto
de tecnologias e práticas de manejo, bem como o tipo de animal, o
propósito da criação, a raça ou o grupamento genético e a ecorregião
onde a atividade é desenvolvida. Deve-se considerar ainda, ao se definir
um sistema de produção, os aspectos sociais, econômicos e culturais,
uma vez que esses têm influência decisiva, principalmente, nas
modificações que poderão ser impostas por forças externas, e
especialmente, na forma como tais mudanças deverão ocorrer para que
o processo seja eficaz, e as transformações alcancem os benefícios
esperados. Permeando todas essas considerações deve estar a definição
do mercado, e consequentemente, a demanda a ser atendida, ou seja,
quais são e como devem ser atendidos os clientes ou consumidores.
Assim, torna-se evidente que o estabelecimento, e/ou a
adequação de um determinado sistema de produção, não depende
unicamente do desejo do produtor mas está intimamente relacionado
com as condições sócioeconômicas e culturais da região e da sua
possibilidade e/ou capacidade de promover investimentos. Outro
aspecto decisivo é a necessidade de o sistema ser estruturado com base
em objetivos bem definidos que, ao serem estabelecidos, devem levar
em conta as demandas do mercado consumidor.
Considerando-se que no Brasil há tremenda diversidade em
todos estes aspectos, considerando-se ainda, a necessidade de a
atividade ser, antes de mais nada, um empreendimento econômico, e
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
95
como tal, deve gerar lucros como premissa básica para que se
desenvolva e prospere, pode-se facilmente concluir que, no Brasil,
dificilmente existirá um sistema de produção de gado de corte único.
Assim, o uso isolado ou combinado das tecnologias disponíveis deve ser
analisado dentro de cada contexto particular. Essa visão integrada é
também de fundamental importância no próprio desenvolvimento de
novas tecnologias.
Entretanto, os cenários globais presente e previsível permitem se
inferir que a pecuária de corte brasileira tem grandes possibilidades de
se estabelecer como atividade competitiva nos mercados nacional e
internacional, podendo ser, em muitas situações, conduzida em sistemas
altamente intensivos, competitivos, sustentáveis e economicamente
viáveis.
No Brasil, os sistemas de produção de carne bovina
caracterizam-se pela dependência quase que exclusiva de pastagens. À
exceção da região Sul, ou seja, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul
do Paraná, em todas as demais, as forrageiras predominantemente
utilizadas são tropicais. Dentre essas destacam-se as cultivares dos
gêneros Brachiaria e Panicum. Enquanto o fato de se fundamentar em
pastagens resulta, por um lado, em vantagem comparativa por viabilizar
custos de produção relativamente baixos; por outro, a utilização
exclusiva dessa fonte de alimentação tem, nesse momento em que as
competitividades por preço e por qualidade de produto impõem
mudanças no setor, se apresentado bioeconomicamente inviável em
muitas situações. Isso é agravado, principalmente, pela forma como
estas pastagens são, de modo geral, manejadas.
É por demais conhecido o problema da sazonalidade da produção
forrageira intensificado pelo fato de as forrageiras tropicais, mesmo no
período das chuvas, não serem capazes de produzir, por muito tempo,
alimento com qualidade que possibilite o atendimento das exigências
para crescimento dos animais, principalmente daqueles de alto potencial
genético. Assim, as gramíneas mais cultivadas, apesar de produzirem
grande quantidade de material forrageiro durante o período das águas,
apresentam um período muito curto no qual a forragem por elas
produzida possui qualidade capaz de possibilitar desempenhos
compatíveis com a necessidade requerida para se manter sistemas
competitivos.
96
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
A duração desse período varia com a região e com as condições
de manejo geral do sistema de produção, mas em qualquer situação,
esse período é inferior à duração da estação de chuvas (EUCLIDES e
EUCLIDES FILHO, 1998). No restante da época chuvosa e,
principalmente, durante o período seco, além da redução verificada na
quantidade de matéria seca produzida, ou mais adequadamente
segundo EUCLIDES et al. (1993a,b), redução na quantidade de Matéria
Verde Seca (MVS), há decréscimo acentuado em sua qualidade. Tal
situação pode ser amenizada, ou mesmo melhorada, com o uso de
estratégias de manejo envolvendo alternativas diversas, as quais
poderiam englobar uso diferenciado de sistemas de pastejo; fertilização,
tanto direta quanto por meio de rotação de culturas; irrigação; uso de
consorciação com leguminosas e uso de espécies de gramíneas mais
adequadas.
Em contraposição a essa situação existe uma demanda cada vez
mais crescente que se traduz na necessidade de se produzir de forma
econômica, eficaz, eficiente e competitiva. Tal exigência encerra em seu
bojo, a tendência inexorável de intensificação. Isso não quer dizer, no
entanto, que a intensificação será total, nem tampouco, no mesmo nível
nas diversas regiões. Além disso, ela não será um processo a ser
desenvolvido somente nos sistemas de produção, mas sim, uma
necessidade que deverá permear os diversos segmentos componentes
da cadeia produtiva.
O atendimento dessa demanda ampla de melhoria de eficiência
será alcançado pelos sistemas de produção de gado de corte de diversas
maneiras. Dentre as quais podem-se mencionar desde o
desenvolvimento de sistemas especializados nas diferentes fases até
produção de carne com marca, passando pelo uso de animais de alto
potencial genético em sistemas envolvendo pastagens adubadas com
pastejo rotacionado, suplementação alimentar em pasto e confinamento.
Apesar de se poder prever, conforme mencionado por EUCLIDES
FILHO (1996), que haverá especialização de sistemas para as diferentes
fases da pecuária, quais sejam: cria, recria e engorda, e que em alguns
casos a recria será eliminada, a grande maioria hoje envolve as três
fases (Figura 1). Qualquer que seja a situação, no entanto, o uso de
tecnologias será responsável por incrementos importantes nos índices
zootécnicos do rebanho conforme pode ser observado na Tabela 1. Além
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
97
disso, em razão das variações ocorridas nos preços de insumos e
naqueles do boi gordo, nos últimos anos, a relação de troca, conforme
discutida por ZIMMER et al. (1998) (Tabela 2), tornou-se desfavorável e,
com isso, tornar-se-ão inviáveis, em muitos casos, os sistemas de
produção
que
permanecerem
com
níveis
tecnológicos,
e
consequentemente de produtividade, baixos.
FÊMEAS DE
REPOSIÇÃO
E.M.
ACASAL.
FASE
DE
CRIA
PRENHAS
VAZIAS
FASE
DE
RECRI
FASE
DE
ENGORDA
MERCADO
MERCADO
DESMAMA
MERCADO
Figura 1 - Estrutura do sistema completo de produção de bovinos de
corte no Brasil.
Fonte: EUCLIDES FILHO (2000)
98
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Índices zootécnicos médios do rebanho brasileiro e em
sistemas envolvendo cria, recria e engorda com uso mais
intensivo de tecnologia
Índices
Natalidade (%)
Mortalidade até a desmama (%)
Taxa de desmama (%)
Mortalidade pós-desmama (%)
Idade à primeira cria (anos)
Intervalo de partos (meses)
Idade média de abate (anos)
Taxa de abate (%)
Peso médio de carcaça (kg)
Rendimento de carcaça (%)
Taxa de lotação (animal/hectare)
Quilograma de carcaça/hectare
Média
Brasileira
60
8
55
4
4
20
4
17
210
53
0,9
34
Sistema
melhorado 11
>70
6
>66
3
3
<17
3
20
230
54
1,2
53
Sistema
melhorado 2
>80
4
>77
2
2
<15
2
35
240
57
1,6
80
Fonte: Modificado de Zimmer & Euclides Filho (1997).
1
Sistemas melhorados 1 e 2 referem-se a estimativas desenvolvidas com base em observações
feitas junto a produtores e em experimentos que se encontram em andamento.
Tabela 2 - Relação de troca de boi gordo ou arrobas de carne por
equipamentos ou insumos agrícolas
Relações
Bois/trator de 61 HP
Arroba de carne/t de calcário
Número de doses de vacina aftosa/@ carne
Sacos de sal mineral/boi gordo
Rolos de arame/boi gordo
Bezerros/boi gordo
Arrobas de carne/salário mínimo
Fonte: Zimmer et al. (1998).
Períodos
1980/1990
1986/1996
41,40
69,10
0,70
0,73
80,30
34,40
142,50
129,20
10,70
11,40
3,00
2,30
4,30
3,60
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
99
No sistema 1 (Tabela 1), além de se utilizar suplementação
alimentar em pasto durante o período seco, parte das pastagens são
recuperadas anualmente e parte recebe adubação de manutenção como
forma de manter altos níveis de produtividade. No sistema 2, grande
parte dos animais recebem suplementação alimentar em pasto e são
terminados em confinamento. Nesse caso, além dos investimentos para
produção de volumosos e grãos, faz-se necessário, nas pastagens, que
se utilize mais intensivamente, corretivos e fertilizantes. Faz-se
necessário ainda, o uso de fêmeas mestiças, especialmente, para se
conseguir parto aos dois anos de idade.
Hoje, considerando-se isoladamente as fases da pecuária de
corte conduzidas na forma tradicional, em sistemas de produção
considerados como representativos da média, pode-se concluir, após
análises de benefício/custo, que a cria se constitui na atividade de
menor rentabilidade além de ser aquela que apresenta o maior risco.
Todavia, é importante ressaltar que também é ela que sustenta toda a
estrutura subseqüente, e por conseguinte, toda inversão que nela se
fizer, e resultar em aumento de eficiência, resultará não só em sua
consolidação mas também em benefício de toda a cadeia produtiva da
carne bovina.
Para estudar essa situação, Martins 1 (1998), desenvolveu
algumas simulações cujos resultados (Tabela 3) possibilitaram se ter
uma
idéia
da
importância
dos
índices
e/ou
do
nível
tecnológico/administrativo do sistema de produção sobre a rentabilidade
do empreendimento.
Todos os sistemas simulados podem ser considerados
tradicionais, com baixo nível tecnológico e representam, segundo o
autor, sistemas médios do Brasil Central Pecuário. Foram todos
desenvolvidos em propriedade com área de 1.464 ha, com 1.171 ha de
pastagens. O número de animais, e consequentemente, o número de
Unidades Animais (UA), variaram de acordo com o sistema (cria, recria,
engorda ou cria/recria/engorda) e com a estação do ano. Assim, o
número de animais foi de 1.235 durante as águas e 863 durante o
período seco, para o sistema de cria; 1.986 e 1.315, para o de recria
exclusiva; 1.233 e 820, para o sistema de engorda e 1.202 e 912 para o
1
Comunicação pessoal.
100
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
sistema completo de cria/recria/engorda. Em todos os casos, esses
números eqüivaleram a 0,76 e 0,70 UA/ha, nos períodos chuvoso e
seco, respectivamente. Esses resultados permitem concluir que a
sobrevivência do setor depende da melhoria dos índices zootécnicos do
sistema, e que ênfase especial deve ser dada à fase de cria. Pela análise
dessas simulações fica claro que no Brasil, para que essa demanda seja
atendida, e os sistemas de produção voltados exclusivamente para cria
sejam rentáveis, faz-se necessário aumento da eficiência.
Tabela 3 - Comparação de custo operacional e análise de renda em
sistemas tradicionais com baixo nível de inversão financeira
e tecnológica
Sistemas
Custo
operacional*
Completo
Cria
Recria
Engorda
29.744
31.700
136.211
146.052
Custo
operacional
efetivo**
24.364
24.364
24.364
24.364
Custo
operacional
total
54.109
56.124
160.575
170.416
Receita
bruta
Resíduo para
remunerar***
56.668
53.383
176.368
174.708
2.550
-2.741
16.793
4.291
Fonte: Martins (1998) (comunicação pessoal). Base outubro/97 igual a 100.
*Insumos, administração, impostos, aquisição e venda de animais.
**Depreciação de máquinas, equipamentos e benfeitorias; e mão-de-obra familiar.
***Terra, capital e empresário.
A ADEQUAÇÃO DO TRINÔMIO “GENÓTIPO-AMBIENTEMERCADO”
Uma das demandas que vem se consolidando no setor de
pecuária de corte é o desenvolvimento de sistemas sustentáveis. Para
que essa meta seja alcançada é necessário que o sistema de produção
seja capaz não só de manter a produção, mas também de ser rentável e
estruturado sobre princípios socialmente justos. Ademais, cria corpo
uma exigência nova que consiste na oferta de produtos oriundos de
sistemas de produção com certificação ambiental. Todas essas
mudanças impõem outra demanda que se refere à qualificação de
pessoal dos diversos segmentos da cadeia produtiva. É nesse ambiente
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 101
que se deve estruturar a pecuária de corte moderna que necessita ser
rentável e competitiva. Isso indica, claramente, a necessidade de se
buscar um ajuste do trinômio “Genótipo-Ambiente-Mercado”. É esse
cenário, portanto, que deverá nortear as ações do melhoramento
genético animal nos próximos anos e, consequentemente, a seleção e os
cruzamentos.
Tais exigências requerem ajustes, inversões e melhorias e têm
contribuído para que o melhoramento genético animal ocupe a posição
de destaque que ele tem assumido nos últimos anos. Ressalta-se que à
medida que se promovem investimentos buscam-se maiores retornos.
Dessa forma, é importante desenvolver e/ou buscar animais que melhor
respondam aos investimentos. Nesse contexto, o melhoramento
genético com suas duas ferramentas, seleção e cruzamentos, tem sido
utilizado cada vez mais.
De acordo com EUCLIDES FILHO (1999), “Seleção é o processo
decisório que indica quais animais de uma geração tornar-se-ão pais da
próxima, e quantos filhos lhes serão permitido deixar. Em outras
palavras, pode-se entender seleção como sendo a decisão de permitir
que os melhores indivíduos de uma geração sejam pais da geração
subseqüente. Por cruzamento, entende-se o acasalamento de indivíduos
pertencentes a raças, linhagens ou espécies diferentes”.
Enquanto o processo de seleção pode ser implementado de
forma independente do cruzamento, esse último não deve ser conduzido
desconsiderando-se a seleção. É importante que os indivíduos
participantes de um cruzamento tenham sido selecionados. Esse
processo de seleção pode ocorrer de duas formas, como componente do
sistema de cruzamentos, onde machos e fêmeas mestiças oriundos do
cruzamento são selecionados e utilizados para produção da geração
seguinte, ou como elemento introduzido. Nesse caso, os animais devem
ser selecionados nas raças puras para participarem do cruzamento. A
combinação desses dois procedimentos de seleção, no entanto, pode
trazer benefícios adicionais e é recomendado, especialmente, para
populações compostas.
Considerando-se um termo mais amplo, ou seja, acasalamento,
torna-se mais clara a interdependência entre a seleção e o cruzamento.
A seleção por si só também não resulta em progresso genético, mesmo
que o critério de seleção tenha sido muito bem escolhido, porque o
102
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
benefício da seleção só se incorpora à população se os indivíduos
selecionados forem acasalados. Nesse enfoque, cruzamento é um caso
particular de acasalamento. Portanto, seleção e acasalamento são
elementos fundamentais para se obter progresso genético em qualquer
população.
Para melhor adequação do trinômio supramencionado é
importante ter-se uma definição dos termos que o compõem, assim, o
genótipo deve ser entendido como sendo o tipo de animal a ser utilizado
e a sua raça ou grupo genético. Com respeito ao ambiente, é importante
considerar não só os aspectos climatológicos e de solo, mas também
aqueles relacionados com elementos socioeconômicos e culturais
incluindo capacidade de mão-de-obra, infra-estrutura existentes e
outros. O mercado, além do item preço, deve englobar os aspectos
referentes à qualidade do produto final, que no caso da carne, deve
envolver os atributos organolépticos intrínsecos, bem como a ausência
de contaminação, sendo ainda, saudável e adequada no tocante às
características nutricionais. No quesito qualidade organoléptica, maciez é
um dos fatores mais importantes ao lado da suculência e do sabor. Essa
variável é influenciada por diversos fatores de manejo pré e pós-abate,
alimentação, idade e genética. Ademais, é cada vez mais importante que
essa carne seja resultado de uma cadeia produtiva socialmente justa e
correta com respeito aos aspectos ambientais.
É importante ressaltar que as regiões tropicais e subtropicais
caracterizam-se pela presença de ecto e endoparasitas e pela existência
de altas temperaturas e altas radiações solares associados à
sazonalidade de produção forrageira. Isso, tem como conseqüência
baixos níveis nutricionais disponíveis para os bovinos e em grande
estresse para esses animais, especialmente, em determinadas épocas do
ano. Esses fatores atuando em conjunto ou isoladamente, contribuem
para redução da produtividade (FRISH & VERCOE, 1984; FRISH, 1987).
Nessas condições, o Zebu, por ser adaptado, possui maior capacidade
para reproduzir e produzir. Como conseqüência, esses animais
apresentam menor potencial genético para características de
importância econômica tais como, taxa de crescimento, precocidade
reprodutiva e carne macia. As raças de origem européia, britânicas e
continentais, por outro lado, apesar de possuírem maior potencial
genético para essas características, só as expressam sob condições
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 103
favoráveis de ambiente, ou seja, sob baixa infestação parasitária e boas
condições nutricionais.
Essa dicotomia tem favorecido o florescimento dos cruzamentos,
uma vez que a combinação de alguma raça de origem européia,
adaptada ou não, com uma raça zebuína resulta, geralmente, em
animais com boa capacidade produtiva em ambientes tropicais.
A adaptabilidade se constitui em um atributo de fundamental
importância para pecuária de corte de regiões tropicais e subtropicais.
Dentre as características que a compõem podem-se destacar a
resistência aos carrapatos, à mosca-dos-chifres e aos helmintos, e a
tolerância ao calor. Embora grande parte do efeito desse estresse possa
ser minimizado com a utilização de tecnologias disponíveis, seu controle
está comumente associado a aumentos dos custos de produção. Além
disso, certas medidas de controle dos parasitas internos e externos
requerem uso, muitas vezes intensivo, de produtos químicos, os quais
têm, cada vez mais, se constituído em uma grande preocupação da
sociedade, tanto pelos problemas de possíveis resíduos na carne quanto
pela contaminação do meio ambiente. Como preocupação adicional
pode-se mencionar a capacidade de resistência apresentada por esses
parasitas aos agentes químicos utilizados em seus controles. Dessa
forma, restam como possíveis soluções para equacionamento do
binômio “adaptação-produtividade” o desenvolvimento de vacinas e/ou
o uso de cruzamentos. Nesse caso, esquemas de cruzamento
envolvendo raças zebuínas e raças européias adaptadas ou não, podem
trazer grandes contribuições ao sistema.
Segundo EUCLIDES FILHO (1999), apesar de o desenvolvimento
de vacinas para o controle de parasitas de bovinos vir alcançando
relativo sucesso e as perspectivas colocadas pelo avanço constante em
novas biotecnologias possibilitar a antevisão de resultados ainda mais
promissores, seu uso, dado o grande número de parasitas a ser
controlado, deverá permanecer, ainda por muitos anos, restrito. Nesse
contexto, a busca de solução por meio do uso de animais com alta
resistência genética aos parasitas e de alto potencial de produção surge
como uma alternativa merecedora de avaliação. Considerando-se que
nenhuma raça combina superioridade para todas as características de
importância econômica, conforme ficou evidenciado pelos resultados de
CUNDIFF et al. (1993), a combinação mais de uma raça em
104
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
cruzamentos com o objetivo de desenvolver um grupo genético,
explorar a heterose ou a complementaridade e/ou ainda, combinar
características economicamente importantes de diferentes raças de
modo a adequar o genótipo resultante ao ambiente e às exigências de
mercado, pode se constituir em uma das formas mais eficientes de se
produzir carne.
A ESCOLHA DO CRITÉRIO DE SELEÇÃO NESSE CONTEXTO
Até muito recentemente, a pecuária de corte brasileira tinha
como objetivos quase que exclusivos, o aumento do peso e do ganho de
peso dos animais. Esses critérios de seleção foram e vêm sendo
responsáveis pela grande transformação no tamanho adulto que hoje se
observa, especialmente, na raça Nelore. Todavia, nesse momento em
que eficiência global do sistema de produção se transforma no objetivo
maior de qualquer empreendimento pecuário, outras características
começam a assumir importância maior. Nessa ótica, os estudos de
melhoramento genético deveriam concentrar esforços em características
capazes de promover as mudanças desejadas de modo a atender à
essas novas demandas que se constituem em exigências de "mercado".
Para que o trinômio "genótipo-ambiente-mercado" seja bem
equacionado, essa adequação do genótipo ao mercado, deve ser
alcançada de maneira a possibilitar o alinhamento do terceiro
componente, qual seja, o ambiente. Considerando-se esse cenário, três
características podem ser destacadas por merecerem atenção especial
de técnicos e criadores. São elas a precocidade reprodutiva, a
precocidade de acabamento e o desempenho nutricional. Portanto, seus
efeitos diretos, suas interações e seus reflexos sobre a eficiência global
da cadeia produtiva da carne bovina devem ser estudados com maior
profundidade.
Como critérios de seleção para as três características
mencionadas merecem estudos mais abrangentes os seguintes: Quanto
à precocidade de acabamento, há necessidade de estudos para melhor
entendimento da curva de crescimento e, principalmente, para
identificar a possibilidade de mudança no seu padrão. Com relação à
precocidade reprodutiva, a idade à puberdade pode ser uma
característica de grande potencial. No tocante ao desempenho
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 105
nutricional, sugere-se maiores avaliações da eficiência bionutricional
(EBN). Segundo EUCLIDES FILHO et al. (2001) a EBN parece ser mais
eficiente do que conversão alimentar para a discriminação de animais
com potenciais genéticos diferentes para eficiência de utilização de
alimentos.
Nesse contexto, há necessidade de se desenvolver avaliações
amplas e para isso, é importante que sejam concentrados esforços
conjuntos de diversas áreas como melhoramento genético, nutrição
animal, reprodução animal, ciência da carne e fisiologia. Segundo
EUCLIDES FILHO (1998), tais esforços deveriam se concentrar em:
a) desenvolvimento de estudos para melhor entendimento das
relações entre características de peso, ganho de peso, precocidades
reprodutiva e de acabamento, e tamanho adulto e eficiência
bioeconômica do sistema de produção;
b) promoção de esforço conjunto para o desenvolvimento de ações
integradas entre o melhoramento genético animal e outras áreas do
conhecimento,
especificamente,
alimentação
e
nutrição,
reprodução, fisiologia e biologia molecular, para o desenvolvimento
de estudos envolvendo seleção genética e cruzamentos que
possibilitem promover: i) mudança da curva de crescimento; ii)
mudança no nível de ingestão de alimentos; iii) incremento da taxa
de maturidade; iv) redução de taxa metabólica ou na energia
necessária para mantença; v) mudança na capacidade de perdas
calóricas; e vi) resistência e/ou tolerância a parasitas e/ou doenças.
Tais esforços deveriam ter seus efeitos e suas interações com
outras características economicamente importantes avaliados, e ser
auxiliados pelas novas biotécnicas, principalmente, no tocante à
identificação de marcadores genéticos associados a tais
características; e c) desenvolvimento de estudos que viabilizem: i) a
produção de carne com baixo teor de gordura, especialmente,
alguns ácidos graxos saturados e colesterol; ii) a capitalização dos
benefícios potenciais de outros ácidos graxos como o ácido linoléico
conjugado (CLA); iii) o conhecimento mais profundo sobre esses
ácidos graxos, para compreender melhor seu metabolismo; iv) o
conhecimento da composição lipídica dos diversos genótipos
animais; v) o conhecimento dos efeitos do manejo alimentar sobre
106
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
essas composições; e vi) a capitalização na possibilidade de se
terem os produtos chamados nutracêuticos.
IMPORTÂNCIA DA PRECOCIDADE NO SISTEMA DE PRODUÇÃO
A redução da idade de abate e/ou de início da vida reprodutiva
tem como conseqüência direta, a diminuição do ciclo da pecuária. Isso
reflete, positivamente, nos índices zootécnicos do rebanho e resulta em
melhoria de alguns parâmetros econômicos importantes como
evidenciam alguns trabalhos. Essa redução pode ser alcançada pela
incorporação de diferentes tecnologias que variam de uma simples
estruturação de manejo até o uso de pastejos rotacionados com
utilização de altos níveis de adubação, passando pela utilização de
animais puros de alto potencial genético e/ou cruzamentos.
De acordo com EUCLIDES FILHO & CEZAR (1995), a redução da
idade de abate de 42 meses para 26 meses, em um sistema de
produção com índices médios para taxa de desmama igual a 65%,
resultou em aumento de 25% na taxa de desfrute. Além disso, reduziuse a quantidade de animais em recria, o que possibilitou incremento de
aproximadamente 34% do número de fêmeas em reprodução, refletindo
em maior quantidade de bezerros produzidos (Tabela 4).
Tabela 4 - Efeito da idade de abate sobre alguns parâmetros em
sistemas de produção envolvendo as fases de cria, recria e
engorda
Parâmetro
Total de animais no rebanho
Total de fêmeas em reprodução
Total de bezerros desmamados
Total de animais vendidos
Peso vivo vendido
Desfrute
Equivalente carcaça
Unidade
cabeça
cabeça
cabeça
cabeça
kg/ha
%
kg/ha
Fonte: EUCLIDES FILHO & CEZAR (1995)
Abate
42 meses
6.874
1.866
1.206
1.135
111
16
52
Sistema
Abate
38 meses
7.234
2.140
1.384
1.293
122
18
57
Abate
26 meses
7.534
2.495
1.566
1.492
138
20
67
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 107
A redução da idade à primeira cria, por sua vez, também trouxe
contribuições efetivas na melhoria do desempenho da atividade como
pode ser verificado pelos resultados obtidos por CEZAR e EUCLIDES
FILHO (1996). Esses autores observaram que a redução da idade ao
primeiro parto de três para dois anos resultou em incremento da
produção de carcaça/ha/ano. Nesse sentido, podem, ainda, ser
mencionados os resultados obtidos por PÖTTER et al. (1998). Esses
autores, utilizando-se de simulações, avaliaram três sistemas que se
diferenciavam basicamente pela idade à primeira cria. Os três sistemas
avaliados foram parição aos dois anos de idade, aos três e aos quatro.
Esse último sendo considerado como tradicional para a região Sul do
País.
Segundo os autores, os sistemas intensivos foram superiores ao
tradicional e o sistema com concepção a um ano foi aquele que resultou
em maior produção de quilogramas de peso vivo/hectare
(aproximadamente, 114 kg versus 106 kg para concepção aos dois anos
de idade, e 60 kg para o tradicional), maior desfrute (aproximadamente,
35% comparado, respectivamente, com 29% e 14%) e maior eficiência
de estoque (51%, 44% e 20%, respectivamente).
Tais reduções podem ser obtidas pelo uso de tecnologias
envolvendo utilização de alternativas de suplementação alimentar,
combinadas ou não com confinamento, estratégias de manejo de
pastagens e uso de grupos genéticos, dentre outras. Na Tabela 5 pode
ser avaliada a possibilidade de se aumentar de 18% a 58% a
produtividade de pastagens tropicais pelo uso de adubação. Aumentos
importantes de produtividade também podem ser observados na Tabela
6. Nesse caso, ainda se verificou incremento de, aproximadamente, 10%
na taxa de lotação das pastagens de Tanzânia quando se utilizou 100 kg
de N por hectare.
108
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 5 - Médias dos ganhos de peso por animal (gramas/novilho/dia)
e por área (quilograma/hectare), e taxas de lotação (no de
novilho/hectare), em três cultivares de Panicum maximum
(Colonião, Tanzânia e Tobiatã), Brachiaria brizantha cv.
Marandu e Brachiaria decumbens cv. Basilisk, de acordo com
os níveis de adubação (média de três anos)
Gramíneas
Colonião
Tobiatã
Tanzânia
Marandu
Basilisk
Nível de adubação 1 a
g/nov./
nov.*/ha/
kg/ha/
dia
ano
ano
370
1,84
270
340
2,93
420
430
2,99
490
340
2,97
400
330
2,88
380
Nível de adubação 2 b
g/nov./
nov./ha/
kg/ha/
dia
ano
ano
360
2,13
320
435
3,30
630
515
3,61
660
435
3,63
600
420
3,60
600
Fonte: Adaptado de EUCLIDES (1996).
* Novilho de 200 kg de peso vivo (equivalente a 0,54 UA).
a
1,5 t de calcário dolomítico, 400 kg da fórmula 0-16-18/ha e 50 kg de FTE 16.
b
3,0 t de calcário dolomítico, 800 kg da fórmula 0-16-18/ha e 50 kg de FTE 16.
Tabela 6 - Ganhos de peso por animal (grama/novilho/dia) e por área
(quilograma/hectare/ano) em pastagens de Panicum
maximum cvs. Mombaça e Tanzânia, com e sem adubação
nitrogenada, implantadas em solos LVE, em Campo Grande,
MS, sob pastejo rotacionado de sete dias de utilização e 35
dias de descanso
Cultivares
Mombaça
Tanzânia
Tanzânia + 100 kg N/ha
Ganho de peso
g/nov.*/dia
kg/ha/ano
410
700
440
710
465
830
* Novilho de 250 kg de peso vivo.
Fonte: EUCLIDES (1997).
Taxa de lotação,
UA/ha
2,4
2,3
2,5
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 109
Quanto à suplementação alimentar durante o período seco,
resultados de alguns trabalhos recentes têm evidenciado que, além dos
benefícios obtidos nos aspectos zootécnicos, essa alternativa se constitui
em uma opção bioeconomicamente viável. Dentre esses resultados
podem-se mencionar aqueles obtidos por EUCLIDES et al. (1998). Esses
autores avaliaram quatro alternativas de suplementação alimentar
durante o período seco que foram comparadas entre si e com um
tratamento testemunha.
Os resultados são resumidos na Tabela 7, e indicaram que a
suplementação alimentar com concentrados, durante o período seco, foi
capaz de reduzir a idade de abate de cinco a treze meses, além de se
mostrar economicamente viável, mesmo quando combinada com
confinamento. Outro aspecto importante ressaltado pelos autores
refere-se à redução de custos fixos e maior velocidade no giro de
capital.
Tabela 7 - Meses de abate, coeficientes de valor atual (CVA), rendas
brutas (RB) e valores presentes líquidos (VPL), de acordo
com os tratamentos
Tratamento
Mês de
abate
CVA
RB
VPL 1
VPL
Sem suplementação
Suplementação 1 seca
Suplementação 2 seca
Suplementação 1 e 2 secas
Suplementação 1 a seca e confinamento 2a seca
10/93
05/93
03/93
01/93
10/92
0,76
0,80
0,82
0,83
0,86
233
251
259
270
265
-5,7
13,6
14,2
16,7
4,5
-5,7
27,3
33,5
41,8
38,4
2
Fonte: Adaptado de EUCLIDES et al. (1998).
1
Sem considerar o benefício de liberação de pastagens.
2
Considerando-se o benefício de liberação de pastagens.
Apesar de essa alternativa ter apresentado bons resultados
bioeconômicos é importante ter-se em mente que para maior eficiência
da estratégia, e consequentemente, maior rentabilidade, é
imprescindível o uso de animais de potencial genético compatível com a
alimentação que será fornecida. Além disso, os cuidados sanitários
tornam-se ainda mais importantes nessas condições. Faz-se necessário
110
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
salientar ainda, que a suplementação alimentar em pasto só será
eficiente se houver disponibilidade adequada de matéria seca nas
pastagens. Caso contrário, os resultados esperados não serão
alcançados.
Na Figura 2 podem ser observados os desempenhos desses
animais nos diversos tratamentos de suplementação alimentar durante o
período seco. Os cinco os tratamentos utilizados foram: T 1) testemunha,
T 2) Suplementação alimentar durante a segunda seca na vida do animal,
T 3), suplementação durante a primeira seca na vida do animal e
confinamento na segunda, T4) suplementação durante a primeira seca
na vida do animal e, T 5) suplementação durante as duas primeiras secas
na vida do animal. Como evidenciado na Tabela 4, esses desempenhos
foram acompanhados de evidências que suportam a viabilidade
econômica da suplementação. Pode-se observar que a suplementação
alimentar com concentrados. Outros aspectos importantes, ressaltado
pelos autores, referem-se à redução de custos fixos e à maior
velocidade no giro de capital.
A influência do genótipo pode ser verificada nas tabelas 8 e 9
onde são apresentados os desempenhos nutricionais de animais de
diferentes grupos genéticos. Verifica-se que os cruzamentos podem se
constituir em uma importante opção para produção de carne bovina no
país, podendo viabilizar a oferta de carne de alta qualidade,
especialmente, macia (Tabela 10). É importante ressaltar ainda, que a
participação de raças européias adaptadas nesses cruzamentos contribui
para redução do uso de químicos nos controles de parasitas com
conseqüente diminuição do risco de contaminação da carne e do
ambiente sem prejuízos do desempenho (Tabela 11).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 111
Tabela 8 - Médias de quadrados mínimos para conversão alimentar
(quilograma de MS ingerida/quilograma de ganho de peso)
para o primeiro (CV1) e segundo períodos (CV2) e para
ganho de peso total (GPT) no período experimental, de
acordo com grupo genético
Grupo Genético
Nelore
½ Caracu - ¼ Angus - ¼ Nelore
½ Caracu - ¼ Simental - ¼ Nelore
CV1
6,40 a
5,11 b
5,69 c
CV2
7,44 a
5,75 b
6,19 c
GPT
152 a
189 b
175 c
a, b, c
- Médias na mesma coluna, seguidas de letras diferentes, diferem entre si (P<0,01).
Para GPT as diferenças foram (P<0,067).
CV1 - 123 dias em alimentação.
CV2 - 152 em alimentação.
Tabela 9 - Médias de quadrados mínimos para eficiência bionutricional,
de acordo com o grupo genético
Grupo genético
Nelore
½ Caracu - ¼ Angus - ¼ Nelore
½ Caracu - ¼ Simental - ¼ Nelore
1, 2. 3
Eficiência bionutricional
16,701
60,722
48,633
Médias com sobrescritos diferentes diferem entre si (P<0,05) de acordo com os
contrastes analisados.
Tabela 10 -Médias de peso vivo (PV), área de olho-de-lombo (AOL),
espessura de gordura (EG) e força de cisalhamento (WBS),
de acordo com a raça. Idade média de 19 meses
Raça
Guzerá
Nelore
Caracu
PV, kg
466
453
472
AOL, cm2
62,80
66,42
70,81
EG, mm
10,00
8,71
5,61
Fonte: Nardon et al. (1996).
1
Médias com sobrescritos diferentes, diferem entre si (P<0,05).
WBS 1
4,11a
4,10a
2,96b
112
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 11 -Médias de quadrados mínimos para eficiência bionutricional,
de acordo com o grupo genético
Grupo genético
Nelore
1/2 Romosinuano - 1/2 Caracu
1/2 Senepol - 1/2 Caracu
1/2 Belmont Red - 1/2 Caracu
1/2 Valdostana - 1/2 Nelore
Eficiência bionutricional
425,07
561,46
506,02
512,24
499,30
Fonte: EUCLIDES FILHO et al. (prelo)
500
%
450
400
k
g 350
%+
(
*
,
P 300
V
250
+
%
(
200
*
,
150
,
*
%
(
+
(
*+
,
,
(
*
+
,
,TEST
+Iª SECA
*2ª SECA
(1ª , 2ª SECAS
%1ªSECA, 2ª CONF
A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S
Figura 2 - Ganhos de peso de novilhos Nelore submetidos a
alimentares
diferentes regimes
Fonte: EUCLIDES et al. (1998).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 113
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Precocidade reprodutiva e precocidade de acabamento são
importantes para redução do ciclo da pecuária, para maior giro do
capital e, consequentemente, para maior eficiência da atividade.
A pecuária moderna requer que o sistema de produção
estabeleça seus objetivos e metas em consonância com o ambiente e,
consequentemente, com a capacidade de inversões técnicas e
financeiras, e com o mercado. Essa avaliação integrada possibilita a
análise de retorno econômico do investimento.
Torna-se importante que o sistema de produção esteja
sintonizado e, de preferência integrado, com a cadeia produtiva da
carne bovina
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116
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
PRODUÇÃO DE CARNE COM MESTIÇOS DE RAÇAS
LEITEIRAS
Fernando Enrique Madalena
Escola de Veterinária da UFMG - Belo Horizonte, MG
[email protected]
Como é sabido, muitos produtores de leite vendem os bezerros
machos para abate com poucos dias de idade, enquanto que outros os
criam. Assim, o aproveitamento do macho leiteiro é assunto para
controvérsia. Não dispondo dos elementos para dirimi-la, ficarei neste
trabalho na posição mais confortável de apenas levantar algumas
dúvidas e tentar apontar algumas das variáveis relevantes neste
assunto, sem pretender fazer uma revisão exaustiva do assunto.
PAPEL DOS SISTEMAS DE DUPLO PROPÓSITO
Em recente trabalho, Barbosa e Bueno (2000) mostraram que no
Brasil o número de vacas ordenhadas representa menos de 9% do
rebanho bovino, indicando que os sistemas mistos de produção de leite
e carne não são muito importantes na produção de carne, em
comparação com vários países europeus, onde aquela proporção é
maior que 35%. Mas eles salientaram, por outra parte, que quase 25%
do leite produzido no Brasil provêm de fazendas mistas, proporção que
varia de 18% na Região Sudeste a 45% e 49% nas regiões CentroOeste e Norte, de forma que o sistema de duplo propósito ocupa lugar
importante na produção de leite.
Nas fazendas leiteiras de Minas Gerais, 23 % da receita da
atividade decorre da venda de animais, mas este valor varia
amplamente entre as diversas regiões do Estado, de 10% nas Regiões
Central Mineira e Campos das Vertentes até 41% no Norte de Minas
(Diagnóstico..., 1996). Utilizando os dados do último estudo, com 350
propriedades, divididas em três estratos de produção e agrupadas,
segundo a localização, em 11 mesorregiões (n= 33), Holanda Jr. e
Gomes (1999) verificaram uma alta correlação entre a margem líquida
da atividade leiteira e a renda oriunda de vendas de animais (r = 0,77).
118
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
margem líquida, R$
Como pode ser visto na Figura 1, para cada aumento de 1% na
participação dos animais na renda, a margem líquida aumentava R$
0,92, indicando os autores que o menor grau de especialização da
exploração resultou em melhor desempenho econômico.
Em outro estudo com 32 fazendas em programas de assistência
técnica em Araxá, Viçosa e Governador Valadares, para cada 1% de
maior especialização da fazenda (receita com leite/ receita total) a
rentabilidade do capital investido se reduzia em 0,163% (P<0,0007,
Evandro V.Holanda Jr., comunicação pessoal). Como a amplitude da
especialização nessa amostra variava de 41 a 100%, a diferença na
rentabilidade devido a este fator podia chegar quase a 10%.
0,84
0,74
0,64
0,54
0,44
0,34
0,24
0,14
0,04
-0,06
y = 0,92x - 0,11
R2 = 0,60
0
0,2
0,4
0,6
0,8
renda de animais/renda total
Figura 1 - Regressão da margem líquida sobre a participação
percentual da renda oriunda da venda de animais.
Reproduzido de Holanda Jr. e Gomes (1999).
Estes resultados contradizem a afirmativa que é repetida muitas
vezes, mas sem o apoio de dados, de que pode se atribuir o atraso
relativo da pecuária leiteira à falta de especialização dos produtores e
seus rebanhos. Devo confessar que não consigo entender como é que
os produtores que ganham mais dinheiro são os atrasados. De todo
modo é muito claro que são necessárias pesquisas de campo,
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 119
descrevendo e quantificando os sistemas de produção utilizados pelos
produtores brasileiros, para que possamos interpretar a nossa pecuária
com base a dados reais e não a preconceitos.
Uma vantagem dos sistemas de produção de duplo propósito é a
flexibilidade para regular a produção de leite ou de carne segundo as
flutuações dos preços relativos de ambos os produtos, como assinalado
por Barbosa e Bueno (2000), que comunicaram variação da relação
preço por kg de peso/preço do litro de leite entre 12,6 e 3,8, no período
1973 a 1998. Em momentos em que o preço do leite é desfavorável, os
produtores diminuem a produção reduzindo o concentrado, ordenhando
parte o todo o rebanho uma só vez por dia, deixando mais leite para os
bezerros ou ainda soltando-os com as vacas. Em momentos que a carne
tem preço baixo, eles tem a opção de abater os machinhos.
Madalena (1986) e Barbosa e Bueno (2000) citaram diversos
estudos em países da América Latina tropical onde os sistemas de duplo
propósito foram descritos. Holman (1998) relatou que os sistemas de
duplo propósito com gado mestiço nas regiões de baixa altitude da
Venezuela, com clima quente e úmido, apresentaram margem líquida
semelhante aos sistemas com gado puro na serra, porém os últimos
utilizavam investimentos 3,8 vezes maiores. Situação similar é
encontrada na Colômbia (A. Restrepo, comunicação pessoal).
T.R. Preston propôs alguns anos atrás uma estratégia para
produção de bovinos nos Trópicos, visando “a produção combinada de
leite, carne, combustível e fertilizante, numa mesma unidade integrada,
o que poderia melhorar o nível nutricional da população como um todo e
contribuir para poupar divisas” e acrescentou “As tecnologias
desenvolvidas nos países temperados para produção de leite e carne em
sistemas especializados independentes não são apropriadas para as
necessidades das nações em desenvolvimento nos Trópicos” (Preston,
1977). Sua proposta, cuja base forrageira era a cana de açúcar, seria
mais adequada à produção familiar e além de economicamente viável
tinha balanço energético positivo, sem necessidade de consumir energia
de fora da fazenda. Na minha opinião estas idéias estavam (estão)
muito à frente de seu tempo, e não serão percebidas na sua real
dimensão social até que o aumento da população torne totalmente
insuportáveis os custos ambientais e sociais da produção ineficiente em
termos de recursos naturais e humanos.
120
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Preston (1977) também expressou que “Em países como os
Estados Unidos, Brasil, Argentina e Austrália, tal política (de
especialização) pode ser aceitável porque há grandes áreas de
pastagens nas quais é possível produzir a baixo custo sem recorrer à
alimentação suplementar. Em quase todos os outros países a produção
unicamente de carne é uma operação de luxo que não pode ser
suportada”.
VALE A PENA CRIAR O BEZERRO?
A última frase mostra que no Brasil, o bezerro de rebanho leiteiro
estará competindo com o bezerro produzido em rebanho de corte, o que
nem sempre lhe será favorável, dependendo do custo de produção e da
possibilidade de venda na região de produção.
O único que vem “de graça” no bezerro leiteiro, porque
contabilizado no custo da mãe, é seu peso ao nascer, uns 33 kg,
dependendo do grau de sangue (Lemos et al., 1984). Entretanto, os
demais custos, do leite, concentrados e volumosos consumidos, custos
veterinários, mão de obra, instalações, etc., deverão ser levados em
conta, inclusive as perdas por mortalidade.
Com bezerros de raça Holandesa, desmamados com 24 horas e
criados no sistema de casinhas e piquetes, atingindo 196 kg aos seis
meses de idade, com 52,6% de rendimento de carcaça e 0,73 mm de
gordura subcutânea, Campos et al. (1995) comunicaram custo de US$
21,85/arroba (terra, piquetes e instalações não incluídas).
O autor desconhece avaliações econômicas brasileiras do custo
de criação do macho leiteiro no sistema de aleitamento natural no Brasil,
praticado pela maioria dos produtores. Em sistema de aleitamento
natural restringido, deixando um teto nas primeiras quatro semanas de
vida e nas segundas quatro apenas o leite que “rasparem” após as
ordenhas, com desmame abrupto a oito semanas, Campos et al.
(1993a,b) comunicaram consumo de 146 kg de leite, 31 kg de
concentrado (18% PB) e 8 kg de volumoso de boa qualidade, para
bezerros com ganho de peso de 0,430 kg/dia até os 70 dias de idade.
Estes autores encontraram menor incidência de mamite nas vacas de
aleitamento restringido que nas desmamadas, enquanto que ambos os
grupos tiveram intervalo parto-primeiro cio semelhante. As vacas de
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 121
aleitamento restringido produziram, na lactação, 277 kg de leite a mais
que as desmamadas. Considerando-se o tempo necessário para conter o
bezerro de 2,78 min/dia, estimado por Benedetti e Pedroso (1996), é
provável que o custo das 3 horas-homem de serviço adicional nas oito
semanas fosse menor que o lucro obtido com o leite adicional no
aleitamento restringido. Entretanto, há técnicos que preferem fazer o
aleitamento restringido com as fêmeas, abatendo os machos, o que
também deveria ser melhor estudado.
Os valores acima são mostrados mais como indicativo do tipo de
dados que são necessários do que pretendendo chegar a uma conclusão
final sobre o sistema de criação de bezerros. Alguns elementos do
problema, como a mortalidade e a morbidade somente podem ser
auferidos com grandes amostras de fazendas e animais. Dados de Cuba,
por exemplo, indicam que o custo veterinário é três vezes maior para os
bezerros criados artificialmente (Ugarte, 1992). Dados sobre mortalidade
em sistemas de aleitamento natural são quase inexistentes na literatura,
um paradoxo, já que sendo este o sistema preferido pelos produtores
dos países tropicais as pesquisas tem se concentrado no aleitamento
artificial (Madalena et al., 1995). Isto é mais um reflexo do
posicionamento da pesquisa que “já sabe” que os produtores estão
errados e assim não se dá ao trabalho de verificar o que eles fazem nem
o porquê.
DESEMPENHO DOS MACHOS DE REBANHO LEITEIRO
Os pesos de bezerros de machos leiteiros, do Programa MLB
(Mestiço Leiteiro Brasileiro), com “grau de sangue” variando de 5/8 a
7/8 de Bos taurus, foram comparados com os de bezerros de corte,
¼ Chianina: ¾ Nelore, ficando ambos os grupos, de 32 machos inteiros
cada, juntos, nos mesmos pastos, após a desmama. O experimento foi
conduzido na Fazenda Sagres, em Carlos Chagas, MG, dirigida pelo Dr.
Armando Leal do Norte. O rebanho leiteiro, em sistema de duplo
propósito, era ordenhado uma vez ao dia, deixando-se para os bezerros
um teto pela manhã e todo o leite da tarde, sendo desmamados com
idade média de 9,6 meses, contra 6,9 meses dos bezerros de corte.
Como pode ser observado na Figura 2, a diferença de peso inicial entre
ambos os grupos, de 34 kg, caiu para 13 kg ou 2,9% do peso dos de
122
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Peso, kg
corte, ao final do experimento, concluindo-se que os machos do rebanho
leiteiro constituem importante alternativa para a produção de carne,
quando mantidos sob condições de manejo que permitem ganhos de
peso pós-desmama da ordem dos 500 g/dia.
450
400
350
300
250
200
150
100
429 442
MLB
1/4 Chi:3/4 Nel
175
209
10 Meses
27 Meses
Idade
Figura 2. Pesos de machos inteiros Mestiço Leiteiro Brasileiro (MLB) e 1/4
Chianina:3/4 Nelore em Carlos Chagas, MG
Fonte: Madalena et al. (1989)
COMPARAÇÕES DE MESTIÇOS DE RAÇAS LEITEIRAS COM
MESTIÇOS DE RAÇAS DE CORTE
Em um experimento realizado na Estação Experimental do
Instituto de Zootecnia de São Paulo, em Sertãozinho, foram comparados
cruzamentos de seis raças de pai com vacas Nelore. Após os 18 meses,
42 machos de cada cruzamento foram sorteados para serem terminados
a pasto ou em confinamento, com alimentação com aproximadamente
40% de volumoso e 60% de concentrado (Razook et al., 1986). Pode
ser visto na Tabela 1 que em confinamento, os cruzados com Canchim e
Santa Gertrudis apresentaram maiores pesos vivos e de carcaça e
melhor conversão alimentar que os Nelore puros, que por sua vez,
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 123
tiveram maior cobertura de gordura e menor área de olho do lombo.
Assim, possivelmente os produtos cruzados de Canchim e Santa
Gertrudis teriam melhor desempenho econômico para engorda em
confinamento, dependendo do sistema de pagamento por qualidade da
carcaça. Os cruzamentos com raças leiteiras apresentaram altos ganhos
de peso em ambos os sistemas de engorda, embora o Nelore puro e os
cruzamentos com Canchim apresentassem maior rendimento de
carcaça.
Tabela 1 - Cruzamentos de várias raças com vacas Nelore em
Sertãozinho, SP
Machos em confinamento
Número
Idade de abate, meses
Peso de abate, kg
Ganho de peso diário, g/d
Mat.seca/ganho de peso. kg/kg
Peso da carcaça quente, kg
Rendimento da carcaça, %
Cobertura de gordura, mm
Área do olho do lombo, cm2
Machos a pasto
Número
Idade de abate, meses
Peso de abate, kg
Peso da carcaça quente, kg
Rendimento da carcaça, %
Cobertura de gordura, mm
Área do olho do lombo, cm2
Nelore
Canchim
Raça do pai
Sta.
Holandês
Gertrudis
P. Suíço Caracu
21
26,0
425
904
8,6
249
58,6
4,7
71,0
21
26,2
475
1004
8,2
283
59,5
3,1
87,1
19
26,2
477
1039
8,1
277
58,1
3,4
86,0
23
25,9
517
1060
9,2
301
58,1
3,3
86,0
20
25,2
483
1070
8,4
279
57,8
2,8
83,2
21
25,9
461
943
8,8
265
57,4
3,1
77,6
21
32,6
421
239
55,1
4,2
71,0
21
32,6
468
262
56,2
3,1
79,2
18
32,5
461
254
54,5
3,6
73,6
20
32,5
502
276
54,2
3,0
74,9
15
32,3
472
253
52,7
2,9
80,7
21
32,5
470
254
54,1
3,6
76,4
Fonte: Razook et al. (1986)
Naves (1998) apresentou revisão de literatura, especialmente a
brasileira, comparando F1 de zebu x raças de Bos taurus leiteras com F1
de zebu x raças de Bos taurus de corte. A grande maioria dos
experimentos foram realizados em confinamento, geralmente num
período de tempo fixo. Nessas condições, como pode ser visto na Tabela
2, os cruzamentos ganharam mais peso que o zebu, sendo o Holandês
124
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
uma das raças de maior ganho. A conversão alimentar dos F1 de
Holandês e Pardo Suíço foi um pouco melhor que a do zebu, mas pior
que a de várias F1 de corte. O rendimento da carcaça foi menor na F1 de
leite que no zebu, por sua vez menor que em algumas F1 de corte,
enquanto que a cobertura de gordura era menor, e o percentual de
músculo geralmente maior, nos cruzamentos que no zebu. É claro que
os resultados devem ser interpretados levando-se em consideração que
os experimentos foram realizados em período de avaliação fixo.
Tabela 2 - Diferença percentual do desempenho de cruzamentos F1 de
várias raças x zebu, com o zebu puro, para machos em
confinamento1
Hol2 PS
Sim M/ Chi Lim Canc Ang Nor
SG
Cara
Ganho de peso
36,6 25,8 12,9 25,6 52,4 11,1 24,3 34,8 16,0
6,2
n5
3
3
1
2
1
2
1
1
1
1
Conversão3 alimentar
-2,6 -2,3
4,1 -8,2 -8,9 -4,7 -3,0 -10,4 -5,8
2,3
n
3
1
1
1
2
1
1
1
1
1
Rendimento da carcaça4
-0,3 -0,7
1,0
2,1
1,0
-2,0 -0,5 -1,1
n
2
1
1
1
1
1
1
Gordura subcutânea 3
-29,8 -40,4
-33,3 -22,2 -34,4
-27,7 -34,0
n
1
1
1
1
1
1
1
Tecido muscular, % da
1,3
0,0
2,1
3,6
4
carcaça
n
2
1
1
1
3
1
Para cada experimento, foram calculadas as diferenças percentuais com o zebu e
depois calculada a média.
2
Hol = Holandês, PS= Pardo Suíço, Sim=Simental, M/ Chi = Marchigiana ou Chianina,
Lim=Limusin, Canc= Canchim, Ang=Angus, Nor+Normando, SG=Santa Gertrudis,
Cara=Caracu.
3
100[(F1 (i) – zebu)/zebu]
4
100(F1 (i) – zebu)
5
Número de experimentos nesta média.
Fonte: Naves (1998)
Naves (1998) examinou também as comparações das exigências
nutricionais, concluindo que as exigências de energia para mantença dos
F1 de Holandês x zebu, são próximas às dos zebus, com tendência a
serem menores que as dos outros mestiços, enquanto que exigências
de energia líquida para ganho de peso são menores nos F1 de
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 125
Holandês, também com tendência a ser menores em relação aos
cruzados de raças especializadas de corte. As menores exigências do
zebu para mantença, e maiores exigências para ganho, com respeito às
raças européias puras, estão bem documentadas na literatura (p.ex.
Borges, 2000).
EFEITOS DO “GRAU DE SANGUE”
Diferenças de adaptação conferem vantagens a um ou outro
genótipo, dependendo das condições em que deverá se desempenhar,
gerando o fenômeno que os melhoristas chamam de interação genótipo
x ambiente. Em outras palavras, o “grau de sangue” influencia o
desempenho dos mestiços de forma diferente em diferentes condições.
Num experimento conduzido em Cuba, foram comparados os ganhos de
peso de 190 machos inteiros de quatro “graus de sangue” Holstein x
zebu, em confinamento, dos seis aos 15 meses, e em capim pangola
suplementado, até os dois anos de idade (López et al., 1982). Como
pode ser visualizado na Figura 3, as diferenças entre os “graus de
sangue” foram menores em confinamento, onde os 5/8, ¾ e Holstein
puro ganhavam mais do que os ¼ Holstein. Já a pasto, este último
genótipo teve desempenho superior aos outros três, sendo que o ganho
de peso diminuía com o aumento do “sangue” Holstein.
126
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Ganho diário, g/d
1000
800
600
Confinamento
400
Pasto
200
1/4
5/8
3/4
HOL
"Grau de sangue" Holstein
Figura 3. Ganho de peso de machos inteiros Holstein x Zebu em Cuba.
Fonte: López et al. (1982)
Na Figura 4 são apresentados os resultados de experimento
realizado no Brasil com 180 novilhas de seis “graus de sangue”
Holandês/Guzerá, confinadas, tratadas com capim elefante na estação
chuvosa e silagem deste na seca, e suplementadas com concentrados
de forma a se obter ganhos médios de 500 e 300 g/dia em cada estação
(Paiva et al., 1992). Pode ser visto que na estação chuvosa houve
tendência de maior capacidade de consumo com maior “grau de
sangue” Holandês, o que não acontecia na estação seca. As novilhas F1
apresentaram o maior ganho diário em ambas as estações, mas, na
seca, seu consumo de matéria seca por cabeça foi pouco superior ao
das novilhas >31/32 de Holandês, enquanto que nas águas foi igual, de
forma que elas tiveram também melhor eficiência de conversão
alimentar, em ambas as estações. A heterose para eficiência de
conversão foi significativa na estação chuvosa, mas não pode ser
demonstrada na seca (Madalena et al., 1992).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 127
PRODUÇÃO DE CARNE NO SISTEMA F1
Experimento de cruzamentos de gado de leite conduzido pela
EMBRAPA com apoio da FAO em 67 fazendas da região Sudeste mostrou
que nas condições de produção que prevalecem na Região Sudeste, em
regime de duas ordenhas diárias, a estratégia de repor continuamente o
rebanho com fêmeas F1 seria a mais rentável. Os resultados estão
resumidos na Figura 4, onde pode ser visto que as outras estratégias,
como a rotação de uma geração de Holandês e uma de zebu (H-Z) ou
de duas gerações de Holandês seguidas de uma de zebu (H-H-Z),
ficaram aquém da F1. A formação de Holandês PC teve desempenho
semelhante à rotação H-H-Z nas fazendas com manejo “alto”
(principalmente uma estação experimental), mas foi deficitária nas
fazendas de manejo “baixo” (o comum, em fazendas com duas
ordenhas). A formação de bimestiço 5/8 também não teve bom
desempenho econômico, em decorrência da perda de heterose.
128
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
(a)
g/dia
600
500
400
300
200
¼
½
5/8
¾
7/8
>31/32
Fração de Holandês
3,5
kg/100kg
(b)
3
2,5
2
¼
½
5/8
¾
7/8
>31/32
Fração de Holandês
(c)
kg/kg
19
17
15
13
11
9
¼
½
5/8
¾
7/8
>31/32
Fração de Holandês
Figura 4 - Ganho de peso (a), consumo de matéria seca por 100 kg de peso vivo
(b) e conversão alimentar (c) de novilhas de seis cruzamentos de
Holandês x Guzerá alimentadas com capim elefante, picado, na estação
chuvosa (barras brancas) e ensilado, na seca (barras pretas), com
suplemento de concentrados e minerais em ambas as estações. Dados
ajustados por peso inicial. (Fonte: Paiva et al., 1992).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 129
5
4
litros/dia
3
2
1
0
-1
-2
F1
H-H-Z
H-Z
PC
5/8
F1
H-H-Z
H-Z
PC
5/8
Estratégia de cruzamento
Manejo "alto"
Manejo "baixo"
Figuralíquido
5. Lucro
Figura 5 - Lucro
porlíquido
dia de
por
vida
dia de
útil,vida
expresso
útil, expresso
em litros
em litros
de leite.
de leite.
F1=primeiro cruzamento, H-H-Z e H-Z= rotação de Holandês-zebu, por
F1 = primeiro cruzamento,
= rotação
depor
Holandês-zebu,
por dois5/8
ou uma
dois ou uma H-H-Z
gerações,
PC=puro
cruza, 5/8=bimestiças
gerações, PC = puro por cruza, 5/8 = bimestiças
5/8
Holandês:
3/8
zebu.
Holandês:3/8 zebu.
Fonte: Madalena et al. (1990)
Fonte: Madalena et al. (1990)
Não cabe aqui entrar em maiores detalhes sobre cruzamentos
para leite. Os resultados de experimentos de cruzamentos de Bos taurus
x B. indicus, principalmente os brasileiros, foram revisados
recentemente por Madalena (1997). Em níveis de produção de menos
de 10 kg de leite por dia de intervalo de partos, a superioridade das
mestiças, especialmente das F1, tem sido consistente, para quase todas
as características de importância econômica, incluindo produção de leite,
gordura e proteína, idade à puberdade e ao primeiro parto, eficiência de
conversão de alimentos nas novilhas, mortalidade, morbidade e custos
de saúde de bezerras, taxa de descarte de novilhas e vacas, vida útil,
preço das vacas de descarte e custo da ordenha.
130
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Diversos levantamentos têm mostrado que os produtores, em
concordância com os resultados experimentais, corretamente escolhem
o genótipo mais adequado para os sistemas de produção de baixos
insumos, que são a maioria no Brasil tropical. Por exemplo, um estudo
em 291 fazendas de Minas Gerais indicou que 89% do rebanho era
mestiço e que a maioria dos produtores (46%) queria mantê-lo assim,
embora 40% não tivesse meta definida a respeito do tipo de rebanho
que pretendia ter no futuro próximo (Madalena et al., 1997). Por outro
lado, os produtores têm detectado a superioridade do cruzamento F1
(apesar da inexistência de propaganda e de esclarecimento por parte
dos órgãos oficiais), tendo surgido mercado incipiente para este tipo de
animal, que recebe excelentes preços (Madalena, 1997).
A superioridade do cruzamento F1 poderia ser aproveitada
através de sistema de reposição contínua do rebanho leiteiro com
fêmeas daquele cruzamento (Madalena, 1993). Organograma do
funcionamento deste esquema se F 1 se apresenta na figura 6.
O esquema apresentado na Figura 6 é especialmente apropriado
para fazendas de corte, com alta eficiência reprodutiva, já que, do
contrário, somente uma minoria das matrizes poderiam ser utilizadas
para cruzamentos sem diminuir o tamanho do rebanho B. indicus. Os
números da Figura 1 foram calculados para um rebanho que consiga 38
novilhas entrando em reprodução por cada 100 matrizes acasaladas.
Nesse caso, 60% das matrizes podem ser inseminadas com B. taurus e
as 40% restantes acasaladas com B. indicus. Dessa forma, um rebanho
de 600 matrizes B. indicus pode sustentar um rebanho leiteiro de 1000
matrizes F1 (Madalena, 1992). Em caso de transferência de embriões, o
número de matrizes B. indicus se reduziria inversamente à eficiência da
mesma. Uma fazenda de corte como a da figura 7 produziria 139
novilhas F1, que recebem preços de mais de duas vezes a arroba de boi
gordo, mais 139 machos F1, que como foi visto acima são bons animais
para engorda e mais 88 machos zebu. Desta forma, o sistema de
reposição com F 1 se presta para produção de carne.
No esquema da Figura 6, o produtor de leite tem várias
alternativas para acasalar suas vacas. Como venderá todas as
progênies, tanto machos quanto fêmeas, a raça a usar depende
basicamente do seu mercado, que, dependendo da região pode preferir
novilhas ¾ B. taurus, para leite, ou ¾ B. indicus, como matrizes para
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 131
corte ou, ainda, cruzamentos com raças européias continentais ou seus
mestiços, para confinamento. As últimas duas opções gerariam também
bons machos para corte, como mostrado acima.
A “Agência Organizadora” da Figura 6 pode ser qualquer
instituição de fomento, cooperativa, banco, prefeitura, organismo de
extensão, etc. Mas, na verdade, tal agência não é indispensável e, na
sua ausência, os próprios produtores estão se encarregando de produzir
e distribuir as F1 Brasil (Madalena, 1997). Sabe-se que existem alguns
produtores de F1 na Colômbia, assim como também em outros
continentes, como na Nova Zelândia, que exporta F1 de pais Sahiwal (e
mais recentemente Gir brasileiro) x mães Friesian/Jersey para vários
paises e em países da África que produzem F1 com mães Boran, embora
não tenha sido possível documentar a magnitude destes cruzamentos.
132
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
SISTEMA DE REPOSIÇÃO CONTÍNUA COM F11
Fazendas Leiteiras
Agência
vacas F1
novilhas F1
1000
139
novilhas
e
machos
Faz. Criadoras
vacas B. indicus
x
pais B. taurus
vacas B. indicus
231
x
pais B. indicus
366
novilhasB. indicus
machos B. indicus
Venda
139 machos F1
Figura 6 - O sistema de reposição contínua com fêmeas F1. Uma
agência organizadora (ou particulares) contratam a produção
de novilhas F1 com fazendas criadoras de alto padrão
zootécnico e sanitário e as repassa às fazendas leiteiras.
Parte do rebanho Bos indicus é inseminado com B. taurus
para produzir novilhas F1 para reposição do rebanho leiteiro,
e o restante é acasalado com B. indicus, para produzir
novilhas de reposição do rebanho criador. Índica-se o
número de animais de cada categoria, num sistema que
mantenha 1000 vacas leiteiras F1, supondo-se alta eficiência
reprodutiva nas fazendas criadoras.
Fonte: Madalena (1992, 1993).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 133
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136
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
INTERAÇÃO NUTRIÇÃO E REPRODUÇÃO: MANEJO
REPRODUTIVO DE FÊMEAS NOS TRÓPICOS
1
Ademir de Moraes Ferreira
Médico Veterinário, DS, Pesquisador da Embrapa Gado de Leite.
[email protected]
INTRODUÇÃO
Para se implantar um manejo reprodutivo eficiente, é necessário
que se estipulem metas bem definidas com relação ao desempenho
reprodutivo. Essas metas devem ser coerentes com as condições
existentes na propriedade, portanto, possíveis de serem atingidas, pois
deverão servir como base para o plano estratégico relacionado com o
manejo e os programas de saúde e alimentação a serem estabelecidos,
de maneira a se obter o desejável de maneira rentável. O Intervalo de
Partos (IP) de 12 meses ou próximo de um ano inclui-se entre essas
metas desejadas, por ser considerado economicamente ótimo para
vacas leiteiras (BRITT, 1996; OPSOMER et al., 1996), o mesmo
ocorrendo para gado de corte (um bezerro/ano), e para isso o período
de serviço ou intervalo parto e concepção não poderá exceder 80 a 90
dias (SANTOS e AMSTALDEN, 1998).
A maioria das vacas leiteiras bem manejadas começa a ciclar
(reinício da atividade ovariana luteal cíclica - AOLC) novamente entre a
2.ª e 4.ª semana pós parto. As vacas com problemas de saúde,
amamentando (vacas de corte) ou que apresentam acentuado Balanço
Energético Negativo (BEN) pós-parto podem atrasar o aparecimento do
cio no início da lactação. Há citações de que as vacas ovulam pouco
depois que o BEN alcançou seu ponto mais baixo e começou a se elevar
para atingir o ponto de equilíbrio. Um bom indicador da adequada
alimentação do rebanho é a proporção de vacas que ainda não voltaram
a ciclar até a 6.ª semana pós parto (45 dias). Quando esse índice
excede a 25 % dos animais, é indicativo da necessidade de uma
cuidadosa avaliação do programa de alimentação, com o objetivo de
aumentar o consumo de energia e encurtar o período de BEN. Deve-se
lembrar que falhas na identificação de cios podem estar contribuindo
para o problema (CANFIELD e BUTTLER, 1991; OPSOMER et al., 1996).
138 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Algumas vacas começam a ciclar normalmente dentro do período
desejado pós parto, mesmo perdendo muito peso no início da lactação,
desde que apresentem boa condição corporal ao parto, porém, em
geral, esses cios mostram baixa fertilidade quando o animal é acasalado
ou inseminado nesse período (BRITT, 1996; SANTOS e AMSTALDEN,
1998).
Entre tantos outros fatores que afetam o desempenho
reprodutivo de vacas de leite e corte, o manejo nutricional é o que tem
maior impacto, sendo a energia o principal nutriente requerido para a
reprodução de fêmeas bovinas. A insuficiente ingestão de energia está
correlacionada com inferior performance reprodutiva, refletindo num
maior intervalo parto e 1.º cio / ovulação pós-parto e/ou menor taxa de
concepção em fêmeas bovinas de corte e leite (SANTOS e AMSTALDEN,
1998; de VRIES e VEERKAMPF, 2000).
A relação entre nutrição e reprodução em rebanhos leiteiro e de
corte tem sido extremamente revisada (STAPPLES e THATCHER, 1997;
SWECKER, 1997; STAPPLES et al., 1998; de VRIES E VEERKAMPF,
2000).
É importante salientar também, que em relação à proteína, tanto
sua deficiência como o excesso podem prejudicar o desempenho
reprodutivo. Vacas de corte alimentadas com pastagem de baixa
qualidade, ingerem dieta com déficit protêico, e nesses casos podem
apresentar comprometimento da fermentação ruminal , com menor
consumo de matéria seca e menor digestibilidade da fibra. Desse modo
a ingestão de energia será limitada devido à maior ingestão de fibra,
associada ao baixo conteúdo de proteína na dieta (SANTOS e
AMSTALDEN, 1998). Quando a proteína é ingerida em excesso
(condição mais rara) podem ocorrer aumento do N2 ureico no sangue e
leite, alteração da atividade tubárea e endometrial, maior custo
energético (gasto de ATP para transformação de NH3 em uréia para ser
eliminada) e uma possível supressão do sistema imunológico.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 139
CONDIÇÃO CORPORAL E EFICIÊNCIA REPRODUTIVA
O Escore da Condição Corporal (ECC) tem sido utilizado como
eficiente método auxiliar de manejo para rebanho de leite e corte, pois
permite uma avaliação da disponibilidade de reservas energéticas do
animal. O ECC de cada animal é obtido com base na observação visual
e/ou palpação de determinadas áreas do corpo (costelas, região dorsal e
caudal, anca, inserção da cauda...), onde são avaliados subjetivamente
os depósitos de gordura subcutâneo e massa muscular. A reduzida
ingestão de nutrientes está associada com perda de peso corporal, que
traz como conseqüência mudanças no ECC (VIZCARRA et al., 1998).
Em rebanhos leiteiros é mais comumente usada a escala de ECC
variando de 1 a 5 (FOX, 1991). Para gado de corte utiliza-se, em geral,
o ECC variando de 1 a 9, com base na gordura subcutânea. (FOX, 1991)
mostra na Tabela 1 os sistemas de Escore de Condição Corporal mais
comumente usados para bovinos de leite e corte, e a porcentagem
estimada de gordura corporal correspondente a cada escore. A escala
pode ser aperfeiçoada adicionando-se (+) ou (-) para cada escore, em
casos de dúvidas. Para raças de corte européias, a mudança de 1
unidade de ECC na escala de 1 a 9 corresponde de 30 a 40 Kg de
mudança no peso corporal (SWECKER, 1997). Para vacas de raça
Holandês (HPB), uma unidade de mudanças no ECC na escala de 1 a 5
representa de 50 a 60 Kg do peso corporal (FERGUSON, 1991).
A performance reprodutiva de vacas de corte é altamente
influenciada pela condição corporal ao parto. A nutrição em período
anterior ao parto, que se reflete no ECC ao parto, é o fator mais
importante determinante do intervalo parto e 1.º cio/ovulação (OSORO
e WRIGHT, 1992). Experimentos conduzidos com mais de 1742 vacas de
corte, mostraram pouca influência da alimentação pós-parto no intervalo
parto e 1.º cio, quando as mesmas apresentaram adequado ECC (≥ 6)
ao parto.
140 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Escore de condição corporal (ECC) na vaca
CORTE
LEITE
% GORDURA
1
1
5,0
2
1,5
9,4
3
2,0
13,7
4
2,5
18,1
5
3,0
22,5
6
3,5
26,9
7
4,0
31,2
8
4,5
35,6
9
5,0
40,0
APARÊNCIA DA VACA
Extremamente raquítica, próxima da morte por
inanição. Costela, espinha dorsal e anca muito
proeminentes. Nenhum tecido gorduroso visual.
Um pouco definhada. Costelas, espinha dorsal e anca
proeminentes.
Magra. Costelas visualizadas individualmente, mas
não tão salientes. Um pouco de carne ao longo da
espinha dorsal.
Costelas individuais pouco ou não evidentes. Pouca
gordura sobre costelas e ossos da anca. Pode apalpar
espinha, não pontiaguda.
Moderada ou boa. Gordura palpável sobre as costelas
e qualquer lugar de garupa. Espinha dorsal pouco
visível.
Necessita de pressão para apalpar espinhas.
Considerável gordura palpável sobre as costelas.
Gorda. Um pouco de gordura no peito, boa
quantidade de gordura sobre as costelas. Acúmulo de
gordura na região da garupa.
Muito gorda. Peito repleto e grande depósito de
gordura sobre as costelas, garupa, inserção da
camada e vulva.
Extremamente gorda e block. Estruturas ósseas não
visíveis e não palpáveis.
A importância da alimentação e condição corporal na reprodução
pode ser exemplificada numa consulta realizada à equipe de reprodução
da Embrapa Gado de Leite por um criador de gado de corte, cujo
rebanho era constituído por cerca de 1.000 vacas. Alegava o criador que
na última estação de monta apenas 300 vacas tinham sido vistas em cio
e inseminadas, não sendo observado cios nas 700 vacas restantes.
Manifestou sua intenção de aplicar duas doses de Prostalglandina F2∝ ,
com intervalo de 11 dias em cada animal cujo cio não foi observado, na
tentativa de induzir o cio nos mesmos, e perguntava se isso seria
recomendado. Indagado se as vacas não haviam iniciado a estação de
monta em condição corporal inferior (magras), o produtor respondeu
afirmativamente, informando que naquele ano teve sérios problemas
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 141
com a alimentação do rebanho e um período de seca muito extenso.
Pelas informações obtidas chegou-se à conclusão tratar-se de uma
condição generalizada de anestro (ausência do ciclo estral e/ou do cio)
prolongado pós-parto, quando as vacas provavelmente estariam com os
ovários afuncionais ou inativos. Nesses casos, o medicamento que seria
aplicado pelo criador nenhum efeito causaria, e os recursos gastos com
essas aplicações, calculados na época em torno de R$ 8.000,00 (oito mil
reais), seriam suficientes e mais bem aproveitados caso utilizados na
implantação ou reforma de pastagem em expressiva área (produção de
alimentos volumosos).
Na Campanha Nacional de Aumento da Produtividade em
Rebanhos Leiteiros, lançada em 1990, idealizada e Coordenada pela
Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora - MG), preconiza-se a utilização do
sistema de Escore de Condição Corporal modificado de WILDMAN
(1982), de maneira a melhor atender às condições de manejo ou
exploração vigentes no Brasil (FERREIRA, 1991). Na Tabela 2 são
mostradas as poucas diferenças existentes entre os dois sistemas de
ECC mencionados. As modificações foram introduzidas pelo fato de que,
no Brasil, a grande maioria dos bovinos não recebe alimentação
suficiente para atender suas necessidades, predominando com isso
animais de condição corporal inferior (magros), uns poucos gordos e
raros muito gordos. Nesse caso, ao se utilizar o sistema de ECC
tradicional de WILDMAN (1982), no qual o escore 5 representa animais
muito gordos, essa unidade de escore não seria praticamente usada no
manejo de rotina. Além disso, introduziu-se a condição corporal regular
para o escore 3, correspondente a um animal considerado meio magro,
para que esse escore possa servir de alerta aos produtores, pois tais
animais exigem atenção especial pelo fato de que se perderem um
pouco mais do peso vivo certamente entrarão em anestro, condição
reprodutiva indesejável pelas grandes perdas econômicas que acarreta,
tanto para rebanhos leiteiros como de corte, por alongar o intervalo de
partos.
142 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 2 - Sistemas de Escore de Condição Corporal (ECC) de
WILDMAN (1982) e o adaptado por FERREIRA (1991), para
bovinos
ECC
1
2
3
4
5
CONDIÇÃO CORPORAL
WILDMAN (1982)
FERREIRA (1991)
MUITO MAGRO
MUITO MAGRO
MAGRO
MAGRO
MODERADO (BOM?)
REGULAR (MEIO MAGRO)
GORDO
BOM
MUITO GORDO
GORDO
VARIAÇÃO DO PESO CORPORAL E ATIVIDADE OVARIANA
Cada vaca possui uma massa corporal ideal para ótima
fertilidade, e quando essa massa declina ou aumenta além de certos
limites a reprodução é afetada (LAMOND, 1970). Existe um peso mínimo
abaixo do qual a vaca não concebe ou pára de ciclar (cessa a atividade
ovariana luteal cíclica - AOLC), o que ocorreria quando a fêmea bovina
perde de 20 a 30% de seu peso adulto (OLIVER e RICHARDSON, 1976;
TOPPS, 1977).
BOND et al. (1958) trabalhando com novilhas de corte pesando
305 Kg em média, observaram que a perda de 59,5 Kg (19,5%¨) em
136 dias provocou anestro nos referidos animais, que voltaram a ciclar
após ganharem 41,1% (101 Kg) do peso vivo apresentado quando em
anestro (245,5 Kg). Num segundo experimento semelhante com
novilhas de corte com peso médio de 289,5 Kg, os animais pararam de
ciclar ao atingirem 240,4 Kg, o que significa uma perda de 49,1 Kg
(17,0%). Esses animais voltaram a ciclar ao recuperarem 56,8 Kg, o que
representa 23,6% do peso que apresentavam quando em anestro.
Analisando os dois experimentos concluiu-se que as novilhas de corte
cessaram a AOLC (pararam de ciclar) após 4,5 meses de restrição
alimentar e perda média de 18,0% do peso vivo. O reinício da AOLC
variou de 4,5 a 7,0 meses.
Existe uma lata correlação (x = 0,72) entre porcentagem (%) de
perda do peso vivo e número de dias para cessar a AOLC em bovinos,
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 143
com os animais mais leves necessitando de menos % de perda de peso
vivo para cessar a AOLC (IMAKAVA et al., 1983).
Vacas da raça Hereforf com peso médio de 390 Kg foram
submetidas à restrição alimentar e apresentaram anestro após perderem
18% do peso vivo (70 Kg), ao atingirem 320 Kg. A recuperação da AOLC
desses animais ocorreu após os mesmos serem alimentados
adequadamente e ganharem 24,0 % do peso vivo (HALE, 1975).
Utilizando vacas da mesma raça com peso vivo médio de 420 Kg,
RICHARDS et al. (1986) observaram a indução do anestro após a perda
de 24% do peso vivo, com a recuperação posterior ocorrendo após o
ganho de 12% de peso vivo apresentado quando em anestro.
FERREIRA e TORRES (1993) submeteram à subnutrição vacas
girolando, adultas e não-lactantes, com peso vivo médio de 535,5 ± 48,4
Kg e condição corporal boa ou gorda (4 ou 5), e observaram que o
anestro ocorreu quando esses animais perderam em média, 35,7 ± 3,8
% do peso vivo inicial, ao atingirem 344,5 ± 25,3 Kg e ECC 2,2 ± 0,3.
Vacas girolando, magras, adultas e não-lactantes, com anestro e peso
médio de 315,0 ± 29,4 Kg foram alimentadas para ganho de peso até a
recuperação da AOLC, o que ocorreu após um ganho médio de 77,7 ±
11,2 Kg do peso vivo (24,7 ± 4,5 %), conforme demonstrado no
trabalho de FERREIRA et al. (1999a). O alto custo da recuperação de
AOLC nas vacas com anestro, verificado por FERREIRA et al. (1999b),
permite se concluir pelas grandes perdas econômicas decorrentes desse
problema reprodutivo, de alta prevalência em nossos rebanhos bovinos.
ANESTRO NUTRICIONAL
A subnutrição traz como conseqüência a perda do peso vivo, que
afeta a reprodução inicialmente reduzindo a taxa de concepção (cios
menos férteis), e em casos extremos, após uma significativa perda de
massa corporal, provocando o anestro, condição em que os ovários
apresentam-se inativos ou afuncionais, sendo caracterizado
pela
palpação retal como pequenos, duros e lisos (PDL), nos casos de
restrição alimentar severa e por longo período.
O anestro pode ser considerado como o principal problema
reprodutivo no rebanho bovino racional. O animal pode apresentar-se
em anestro devido alguma condição fisiológica (ante da puberdade e
144 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
durante a gestação) ou patológicas (manejo inadequado, subnutrição,
doenças debilitantes, ovarianas ou uterinas). No Brasil, a principal causa
do anestro nos rebanhos bovinos é o déficit alimentar, e embora sua
causa seja conhecida e, conseqüentemente, também a sua solução
(dieta adequada), sua prevalência continua alta e desafiando a técnicos
e produtores.
Sabe-se que são vários os fatores capazes de reduzir a
fertilidade do rebanho bovino (doenças da reprodução, estresse térmico,
patologias do útero e ovários, manejo...), mas o grande e incisivo efeito
da nutrição sobre a atividade ovariana de bovinos permite concluir que
“NUTRIÇÃO e REPRODUÇÃO REPRESENTAM UM CASAMENTO SEM
DIVÓRCIO”, uma reunião indissolúvel, não havendo como se
dissociarem ou agirem separadamente. Isso porque sem nutrição
adequada não haverá reprodução, e sem esta haverá extinção de
espécies, quando não haverá bovinos a serem nutridos.
A BOA CONDIÇÃO AO PARTO é condição essencial para a
precoce manifestação do cio pós-parto, e conseqüente aumento da
eficiência reprodutiva do rebanho.
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IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DA SANIDADE SOBRE
PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL
Prof. Élvio Carlos Moreira
Os avanços científicos e técnicos, em todas as áreas do
conhecimento, observados nas últimas duas décadas, contribuíram para
o aumento dos índices de produção e produtividade dos animais,
superiores aos prognósticos dos mais otimistas opositores de Malthus.
Este fato aconteceu em todos os países, independente do estágio de
desenvolvimento social e econômico, em face de globalização no uso
principalmente de aves e suínos destinados à produção comercial.
Inegavelmente os bovinos, suínos e aves são as espécies de exploração
econômicas mais expressivas para a produção de alimentos destinados
ao consumo humano.
As mudanças na cadeia produtiva dessas espécies, com a
implantação recente do conceito de cuidar da produção da granja à
mesa do consumidor, sintetizam todos os cuidados e metodologia que
se deve ter em relação a segurança alimentar.
A seleção genética procurando maximizar o potencial biológico,
os progressos na nutrição, instalações e manejo viabilizaram produzir
mais animais por área, exigindo dessa forma cuidado especial com a
sanidade. A prevenção, erradicação de doenças transmissíveis, controle
rigoroso sobre os insumos veterinários utilizados na produção animal
constituem um elenco de medidas essenciais para garantir níveis
seguros e competitivos na produção de alimentos de origem animal.
Os clássicos agentes infecciosos, vírus, bactérias, fungos,
espiroquetas, protozoários e helmintos ainda estão presentes e são
motivos de preocupação na exploração moderna dos animais,
principalmente quando estamos aumentando, cada vez mais, a
densidade animal por área. A densidade da população animal deve ser
vista em todo o território nacional e não só no nível da fazenda. Os
paises com uma população animal altamente concentrada possuem
condições altamente favoráveis para a propagação desses agentes,
desencadeando epidemias de grande porte e longa duração. A febre
aftosa é um bom exemplo dessa assertiva. Os recentes episódios na
Inglaterra, na Argentina, Uruguai e nos municípios da fronteira do Rio
148
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Grande do Sul, transformaram-se rapidamente em ondas epidêmicas ,
graças a alta densidade de bovinos suscetíveis nessas regiões.
Outro aspecto a considerar é a transformação, em escala
mundial, de um grande número de rebanhos pequenos em um número
pequeno de propriedades com grandes rebanhos. A existência de
propriedades com 10.000 a 100.000 bovinos de corte, de 200 a 2000
vacas de leite, de 20.000 a 100.000 suínos e granjas com milhões de
frangos de corte e aves de postura favorecem a manutenção de
determinadas doenças transmissíveis, principalmente as respiratórias,
digestivas e por contato direto.
O rebanho bovino brasileiro, formado em sua maior parte por
animais de corte, é o segundo do mundo com cerca de 170 milhões de
cabeças. Sua produtividade pode ser considerada baixa, pois o desfrute
está em torno de 13%, o índice de natalidade de 55%, a idade média
do primeiro parto é de 45 meses, o abate de 4 a 5 anos, o peso médio
das carcaças de 222 Kg e a mortalidade até a idade adulta de 15% a
20%.
Baptista et al (1999) pesquisaram o peso da carcaça quente de
505.005 bovinos abatidos em Minas Gerais, de janeiro a dezembro de
1977 e a média encontrada foi de 222,31 Kg. Setenta e três por cento
dos bovinos abatidos tinham idade igual ou superior a 4 anos. Esse
binômio idade-peso ao abate é um indicador de pouco progresso
qualitativo na produção de bovinos de abate em Minas Gerais. Na tese “
Tuberculose e outras causas de condenação de bovinos em frigoríficos
de Minas Gerais, Brasil”, defendida por Baptista (1999), como pré
requisito do doutorado em Ciência Animal da Escola de Veterinária da
UFMG, os resultados da pesquisa realizada em 11 frigoríficos sujeitos à
Inspeção Federal, no período de janeiro de 1993 a dezembro de 1997,
quando foram abatidos 2.424.826 bovinos, permitiram concluir :
a) A tuberculose é a principal causa de condenação de carcaças de
bovinos para graxaria, embora a cisticercose seja a principal
causa de julgamento e aproveitamento condicional desta peça
em frigoríficos de Minas Gerais sujeitos à Inspeção Federal.
b) Magreza, caquexia e traumatismos são importantes causas de
depreciação de peças de bovinos abatidos em frigoríficos.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 149
c) As carcaças que vão a julgamento são aproveitadas
condicionalmente (57,03%) ou liberadas para consumo
(41,98%). Menos de 1% são condenadas para graxaria.
d) O julgamento das vísceras de bovinos resulta quase sempre em
depreciação, principalmente com envio para graxaria.
e) O prejuízo devido à condenação de fígado dos bovinos para
graxaria é cerca de quatro vezes superior ao da condenação de
suas carcaças.
f) As principais causas de condenação de fígado de bovinos em
frigoríficos sob Inspeção Federal são a teleangiectasia maculosa
e as lesões supuradas.
A modificação dessa Tabela, ou seja, melhorar a produtividade,
será viável se as prioridades forem ênfase na garantia de boa
disponibilidade e qualidade da alimentação animal durante todo o ano,
aumento do potencial genético do rebanho e, finalmente, conduzir com
seriedade e perseverança os programas de controle e erradicação das
principais doenças infecciosas prevalentes no Brasil. Nessa linha, o
Ministério da Agricultura e Abastecimento publicou recentemente as
diretrizes para o Programa Nacional de Controle e Erradicação da
Brucelose e Tuberculose Bovina.
Não há a menor possibilidade de sucesso na expansão da
produção ate que sejam controladas e mesmo erradicadas doenças
como a febre aftosa, tuberculose e brucelose nos bovinos, peste suína
clássica nos suínos e Newcasttle nas aves. Essas doenças podem ser
agrupadas em três importantes categorias:
A) – Doenças que causam severas perdas econômicas e que são
barreiras no comércio internacional de animais e de seus
produtos. Exemplos são a febre Aftosa, Encefalopatia
Espongiforme Bovina (EEB- Vaca Louca), Peste Suína Africana
e Clássica e NewCasttle.
B) – Doenças que são onipresentes, prevalentes e são causas que
contribuem para baixa performance dos animais. Aqui estão
incluídas as doenças respiratórias, infecções entéricas e
doenças por ecto e endo parasitas.
C) – As zoonoses, doenças dos animais transmissíveis ao homem e,
portanto de importância para a Saúde Pública. Exemplos são as
150
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Cisticercoses,
Bruceloses,
Tuberculose e Leptospiroses.
Hidatidose,
Leptospiroses,
Existe um consenso de que nos últimos 20 anos houve
significativos progressos no controle e erradicação das principais
doenças dos animais que são relevantes no aspecto econômico e de
saúde pública. À medida que a situação sócio-econômica melhora em
todos os países, cresce a demanda por produtos de origem animais
isentos de doenças e com alto padrão de qualidade.
Atualmente, no mundo cada vez mais globalizado, não é mais
possível tratar os paises individualmente, pois as exigências para a
comercialização, tanto para o consumo interno, como para importação e
exportação de alimentos está se tornando cada vez mais rigorosa,
homogênea, seguindo normas estabelecidas pelos organismos
internacionais. Qualquer país como o Brasil, que possui um grande
potencial para dobrar sua produção animal, ampliando sua participação
no mercado internacional de produtos de origem animal, deverá
desenvolver urgentemente um Programa Estratégico de Segurança
Alimentar (PESA).
Nesta linha, no período de 2 a 4 de maio de 2001, na cidade de
São Paulo, realizou-se a XII REUNIÃO INTERAMERICANA A NÍVEL
MINISTERIAL DE SAÚDE E AGRICULTURA, evento histórico pois pela
primeira vez reuniram-se os Ministros de Agricultura e Saúde fora de
Washington, sob o patrocínio da Organização Panamericana da Saúde,
órgão da Organização Mundial da Saúde, com a participação de todos os
países das Américas, para tratar em conjunto de temas de saúde
humana e animal, que entre outras resoluções políticas que nortearão os
países nesse setor, aprovou a proposta brasileira, por unanimidade de
criação da Comissão Panamericana de Inocuidade de Alimentos
(COPAIA). Os fundamentos para essa resolução foram com base nos
seguintes considerandos:
“Considerando que durante os últimos 10 anos ocorreram importantes
surtos de doenças transmitidas por alimentos no mundo, os quais
alertaram as autoridades dos países sobre a necessidade de tomar
medidas para evitar o risco de sua transmissão a população e as perdas
econômicas por alimentos contaminados;
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 151
Considerando que a situação de inocuidade de alimentos no mundo foi
recentemente analisada na 53a Assembléia Mundial da OMS, que emitiu
uma resolução (WHA 43.15) que estabelece a inocuidade dos alimentos
como uma prioridade e faz recomendações correspondentes aos Estados
Membros e a Diretoria Geral da OMS;
Considerando que a criação da Organização Mundial do Comércio
motivou os países a revisar suas políticas e adotar as Normas do Codex
Alimentarius como a base científico-técnica para garantir que os
alimentos consumidos pela população tenham condições sanitárias
apropriadas e facilitem seu comércio internacional.”
Essa decisão política dos países americanos se associa a posição
já assumida pela maioria das nações européias, aceitando o conceito de
segurança alimentar para que as pessoas, em todo o mundo, tenham
acesso a alimentos nutritivos e saudáveis, capazes de assegurar uma
vida sadia, digna e ativa. No mínimo quatro dimensões estão contidas
nesse conceito: acesso, estabilidade da oferta, disponibilidade e
sustentabilidade. A criação da COPAIA é um exemplo que esse
conceito, que busca manter o objetivo de dar segurança alimentar
universal para o individuo, ao lado da integração crescente da economia
mundial, irá incorporar todos os países para que participe das decisões
sobre a produção e o controle de qualidade dos alimentos de origem
animal.
A Organização Mundial da Saúde disponibiliza informações pela
internet, onde se pode encontrar a informação de que aproximadamente
um 1 bilhão e meio de pessoas no mundo apresentam episódios de
diarréia por ano, com 3 milhões de óbitos entre crianças menores de 5
anos, principalmente nos países em desenvolvimento, calculando-se que
70% são causados por alimentos biologicamente contaminados. Os
microorganismo patogênicos transmitidos por alimentos, os parasitos e a
exposição a produtos químicos, incluídos os resíduos de carrapaticidas,
bernicidas e alguns produtos tóxicos que ocorrem naturalmente, podem
causar graves problemas de saúde, conforme resumido na Tabela 1.
152
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 -
Riscos potencia is para Saúde Humana e Sistema de
Produção de Alimentos
Tipos de risco
Características do risco
Antibióticos
Resíduos nos Alimentos
Resistência bacteriana
Doenças agudas no homem e
animal
Seqüelas
Doenças agudas, crônicas e
morte
Resíduos nos alimentos
Doenças crônicas no homem e
animais
Microorganismos
Patogênicos
Praguicidas
Micotoxinas
Doenças Parasitárias
Metais pesados e
Resíduos Tóxicos
Doenças agudas e crônicas n
homem e animais
Idem, idem.
Ponte do Sistema onde está o
risco
Aditivos nos alimentos
Tratamento de doenças
Presentes no tubo digestivo
homem/animais
Meio ambiente
Usados na produção,
elaboração e distribuição
Natural em plantas, produtos
animais e vegetais
armazenados
Parasitos dos animais, água e
solo
Alimentos, contaminados, solo
e água.
Por esses motivos, o sistema de avaliar a produção de alimentos
da origem até a mesa do consumidor é cada vez mais adotado
mundialmente. Este sistema permite identificar e resolver os problemas
de introdução de riscos nos diversos pontos da cadeia produtiva. A
metodologia de ANÁLISE DE PERIGO E PONTOS CRÍTICOS DE
CONTROLE (APPCC). Essa metodologia composta de um conjunto de
normas internacionalmente aceitas e adotada em vários países se
difunde para aumentar a inocuidade dos alimentos e reduzir a incidência
das doenças transmitidas pelos alimentos. A APPCC procura incorporar
os controle de sanidade agropecuária e inocuidade dos alimentos na
fase de produção, elaboração e comercialização dos alimentos em lugar
de concentrar a análise no produto final.
Assim, os problemas específicos na fazenda de produção podem
ser separados dos existentes na indústria, no processo tecnológico de
processamento e distribuição e comercialização dos produtos, como está
resumido na Tabela 2.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 153
Tabela 2 -
Distribuição da responsabilidade na produção de alimentos
inócuos e saudáveis.
Setor Agropecuário
Propriedade
Transporte de
Setor de Saúde Pública
Frigoríficos
animais e produtos matadouros
Higiene das
Higiene
instalações
instalações
Higiene do
Higiene pessoal
Transporte
Elaboração
Limpeza
Higiene
Limpeza
Inspeção pré e
Higiene
pessoal
pessoal
Resfriamento Manejo
Manejo
higiênico dos higiênico dos
produtos
produtos
Rotulação
Contaminação Desinfecção
Manejo
Higiene do
Controle
por água
higiênico dos
pessoal
microbiológico
residual
produtos
Controle de
Determinação
Praguicidas
de resíduos
Controle de
Controle
Produtos
microbiológico
Rotulação
Higiene local
Higiene
pós mortem
Veterinários
Alimentação
instalações
Desinfecção
pessoal
Uso da água
Serviços de
Rotulação
154
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
O Banco Mundial, que no período de 1985 a 2000 financiou
aproximadamente 2 bilhões e meio de dólares para praticamente todos
os países do mundo, aumentarem e melhorarem a produção de
alimentos, considera que o aumento da inocuidade dos alimentos e da
sanidade agropecuária não dever ser exclusivamente financiada pelo
setor público, pois o custo é muito elevado. Assim, recomenda uma
divisão de responsabilidade com o setor privado, como está registrado
na Tabela 3.
Finalizando, acredita-se que as perspectivas do Brasil controlar e
erradicar determinadas doenças de impacto econômico e de saúde
pública são viáveis. Apesar do atraso em relação a vários países , com
condições sócio-econômicas idênticas ou piores que o Brasil, mas que
conseguiram erradicar a febre aftosa, raiva, brucelose, hidatidose e
tuberculose, existem em nosso meio exemplos de sucesso. A história
registra que quando há decisão política, o país foi capaz, existe
competência instalada em vários setores, e a erradicação da peste
bovina em 1922 e da peste suína africana em 1984 ilustra bem essa
capacidade. A erradicação da poliomielite humana é outro sucesso em
termos mundiais dessa determinação de resolver e enfrentar grandes
problemas. O outro aspecto fundamental está na qualidade sanitária dos
animais criados comercialmente no Brasil. Poucos países têm o privilégio
de possuir rebanhos onde a prevalência global das principais doenças de
importância econômica e zoonoses estão sempre abaixo de 5%. Dobrar
a produção de alimentos de origem animal deveria ser uma meta de
todos os atores que participam dessa importante atividade para o
desenvolvimento social e econômico do Brasil.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 155
Tabela 3 -
Funções dos Setores Público e Privado na Sanidade
Agropecuária e na inocuidade dos alimentos
Áreas
1. Investigação na
propagação e
reprodução e genética
animal
Setores
Privado
YY
Exemplares resistentes a
doenças por hibridação;
Estrutura do mercado;
Animais geneticamente
modificados patenteados ;
Técnicas de criação para
reduzir riscos
YYY
Pesquisa
aplicada
nos
produtos com patentes e
segredos de fabricação
(vacinas,
fármacos,
praguicidas e alimentos
compostos).
Sistema integrado de
produção pesquisar o
manejo para controle de
doenças e dos nutrientes
YY
3. Medidas Sanitárias
Apoio
mediante
Preventivas em plantas diagnóstico,
vacinas
e
e animais
herbicidas. Produção e
distribuição de insumos
veterinários.
Atenção clínica quando
afeta a comercialização dos
produtos
YYY
4. Fornecimento de
Produção
de
vacinas,
medicamentos e
fármacos e outros produtos
atenção a saúde animal de uso veterinário
2. Investigação em
proteção de doenças
dos alimentos,
prevenção e nutrição
Público
YYY
Estudos básicos de genética de
animais e plantas, fisiologia e
eficiência biológica. Técnicas de
cria para aumentar a resistência
as doenças; Elaboração de
esquemas de melhorias
genéticas e gestão para os
produtores e redução de riscos
de doenças
YYY
Pesquisa básica sobre patologia
animal e fitopatologia, nutrição
e fisiologia.
Pesquisa aplicada em sistemas
de manejo para controlar e
erradicar doenças e melhorar a
eficiência das forragens.
Identificação dos fatores de
risco.
YYY
Vigilância epidemiológica sobre
denças e qualidde de vacinas e
medicamentos.
Identificação dos fatores de
risco.
Fiscalização das importações de
plantas e animais.
YY
Quando a eficácia dos
programas de vacinação e
controle de vetores está
ameaçada por descumprimento
das metas por parte dos
agricultores.
156
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Continuação...
5. Pesquisa em áreas
de risco de doenças
transmitidas por
alimentos
6. Atenção sanitária
contra doenças
transmitidas por
alimentos
Áreas
7. Produção de
alimento, normas e
procedimentos de
elaboração
8. Vigilância
Epidemiológica das
Doenças transmitidas
por alimentos
YYY
Pesquisa aplicada para
garantir produtos inócuos.
Desenvolver técnicas para
detecção de riscos e de
novos equipamentos para
prevenir riscos
YYY
Pesquisa básica sobre
antibióticos, doenças,
praguicidas, micotoxinas e
metais pesados. Pesquisa sobre
patogenicidade, epidemiologia e
ecologia de microorganismos
patogênicos. Preparação de
modelos de avaliação de riscos
de toxinas, praguicidas e
doenças.
Elaboração de métodos novos
para produção agrícola e
elaboração dos alimentos.
YYY
YYY
Diagnóstico, tratamento e Vigilância sanitária permanente
medicamentos para as pelos órgãos de saúde pública.
doenças agudas e crônicas
Setores
Privado
Público
YYY
Elaboração e publicação de
regulamentos para normas de
produtos ou requisitos de
produção. Inspeção das
indústrias para garantir o
cumprimento das normas.
Certificar os produtores que
cumprem com as normas
públicas.
Vigilância sobre a importação de
alimentos.
Y
YYY
Escassa participação a Vigilância e investigação da
menos que os clientes incidência de doenças.
sejam afetados
Investigação dos sustos de toxiinfecções
YYY
Estabelecimento
de
procedimentos operativos
padronizados,
boas
práticas de fabricação e
sistemas APPCC.
Uso de especificações em
contratos e certificação
por
terceiros
para
assegurar o cumprimento
dos fornecedores
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 157
Continuação...
9. Assistência
Educacional e Técnicas
Y Pouca ênfase
YY
Instalar Serviços Técnicos
para garantir inocuidade
dos alimentos.
As
organizações
Industriais
podem
proporcionar
educação
para seus membros.
YY Média ênfase
YYY
Educação dos consumidores dos
trabalhadores do setor de
alimentos, dos gerentes e dos
proprietários mediante
financiamento público.
YYY Forte ênfase
158
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
INTEGRAÇÃO DE PASTEJO E USO DE SILAGEM DE
CAPIM NA PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
1
Luciano de Almeida Corrêa1 , Edison Beno Pott1 , César Antonio
Cordeiro2
Pesquisador - Embrapa Pecuária Sudeste, 2 Técnico especializado - Embrapa Pecuária Sudeste
INTRODUÇÃO
O Brasil, pela extensão da sua área territorial e pelas condições
climáticas favoráveis, apresenta enorme potencial de produção de carne
em pastagens. Todavia, a maioria das pastagens encontra-se na região
dos Cerrados do Brasil Central, que são áreas de baixa fertilidade
natural. Além disso, vem sendo explorada de maneira extrativista e,
como conseqüência, está em processo de degradação.
Atualmente, a degradação das pastagens é um dos maiores
problemas da pecuária brasileira, por ser esta desenvolvida basicamente
em pastagens, afetando diretamente a sustentabilidade do sistema
produtivo. Estima-se que cerca de 80% dos 45 a 50 milhões de hectares
da área de pastagens nos Cerrados do Brasil Central, que responde por
60% da produção nacional de carne, apresentam atualmente algum
estágio de degradação (Barcellos, 1996). Dentre as várias causas de
degradação das pastagens, tais como espécie forrageira não adaptada
às condições locais, mau estabelecimento e manejo inadequado, a
redução da fertilidade do solo está entre as mais importantes (Kichel et
al., 1997), em razão dos nutrientes perdidos no processo produtivo, por
exportação no corpo dos animais, erosão, lixiviação, fixação e acúmulo
nos malhadouros. O somatório dessas perdas pode chegar a mais de
40% do total de nutrientes absorvidos pela pastagem em um ano de
crescimento, o que provoca o empobrecimento contínuo do solo e a
redução no crescimento das plantas.
Para Werner (1994), a redução da disponibilidade do nitrogênio é
uma das principais causas da degradação das pastagens tropicais, o que
resulta em queda acentuada da capacidade de suporte da pastagem e
do ganho de peso vivo dos animais a cada ano de utilização. Uma
alternativa no caso do nutriente nitrogênio, em sistemas pouco
160
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
intensivos, seria o uso de pastagens tropicais consorciadas. Todavia,
essa tecnologia ainda constitui um desafio para a pesquisa.
A degradação das pastagens tem contribuído para que a pecuária
de corte apresente, há décadas, índices zootécnicos muito baixos (Corsi,
1986), com lotação das pastagens em torno de 0,5 UA/ha/ano e
produtividade na faixa de 100 kg de peso vivo/ha/ano (uma unidade
animal - UA – eqüivale a um animal de 450 kg de peso vivo). Há
portanto, necessidade de se evitar a degradação das pastagens e
também intensificar a sua produtividade, a fim de tornar a pecuária de
corte mais rentável e mais competitiva frente a outras alternativas de
uso do solo, principalmente nas terras mais valorizadas.
PRODUÇÃO ANIMAL EM PASTAGENS
A produtividade animal em pastagens é determinada por dois
componentes básicos: desempenho por animal (ganho de peso vivo) e
capacidade de suporte (número de animais por unidade de área). O
desempenho animal é função da ingestão de matéria seca, da qualidade
da forragem e do potencial genético de animal utilizado, e a capacidade
de suporte é função do potencial de produção de matéria seca da
forrageira (Boin, 1986).
Quanto ao desempenho animal, a média do ganho de peso vivo,
nas águas, está na faixa de 0,6 a 0,8 kg/animal/dia, podendo chegar até
1,0 kg/animal por dia (Corsi, 1993). O desempenho animal é um
componente importante a ser alcançado, pois baixos ganhos de peso
vivo provocam longo tempo de engorda, com acentuado aumento nas
necessidades totais de matéria seca (Tabela 1).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 161
Tabela 1 - Matéria seca (MS) e digestibilidade da MS para satisfazer
diferentes ganhos de peso de novilhos, desde 150 kg até
450 kg de peso vivo
Ganhos diários
(kg)
Pastejo
(dias)
MS/dia
(kg)
Digestibilidade da MS
(%)
MS Total
(kg)
0,25
0,50
0,75
1,10
1200
600
400
239
6,10
7,44
7,63
7,95
57
59
67
74
7320
4464
3052
1903
Adaptado de Blaser (1982).
Embora a média de ganho diário de peso vivo, obtida
normalmente nas pastagens tropicais não alcance a proporcionada pelas
forrageiras temperadas, a produtividade animal pode ser elevada pelo
seu grande potencial de produção de matéria seca no período das
águas.
Para a expressão desse potencial, é necessário considerar que as
gramíneas forrageiras são tão ou mais exigentes do que as culturas
agrícolas tradicionais (Silva, 1995). Desta forma, para a exploração
intensiva das pastagens nos solos de cerrado, a correção do solo e a
adubação estão entre os fatores mais importantes a determinar o nível
de produção das forrageiras. Tendo em vista a baixa fertilidade dos
solos de cerrado, é necessário que se estabeleçam, inicialmente, níveis
de fertilidade a serem alcançados, como possibilidade de viabilização
técnica e econômica, dada a gradual capacidade de resposta dos solos
no processo de recuperação.
Aspecto importante é realizar a correção e a adubação de forma
equilibrada, mantendo a proporcionalidade entre os nutrientes Ca+2,
Mg+2 e K+, no complexo coloidal do solo, em 65 a 85% de Ca+2, 6 a
12% de Mg+2, 2 a 5% de K+ e 20% de H+ (Silva, 1995).
162
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
MANEJO DAS PASTAGENS
Existem dois sistemas clássicos de pastejo, com suas variações:
o contínuo, no qual os animais permanecem na mesma área durante o
período de produção da pastagem, e o rotacionado, que se caracteriza
pela divisão da pastagem em piquetes e pela mudança freqüente e
periódica dos animais de um piquete para outro dentro da mesma
pastagem. Embora ainda haja divergências sobre qual é o melhor
sistema de pastejo, de modo geral, o contínuo se justifica quando o
sistema de produção for extensivo e não houver condições de aplicar
técnicas específicas.
Todavia, em sistemas de produção com lotação animal elevada,
como no caso da exploração de pastagens tropicais sob adubação
intensiva, o pastejo rotacionado é o mais indicado, por garantir maior
uniformidade e maior eficiência de pastejo, com conseqüente ganho em
produtividade, compensando os maiores investimentos, principalmente
em cercas e bebedouros. A divisão da pastagem permite ainda: maior
controle da lotação e da qualidade da forragem, distribuição mais
uniforme dos excrementos, pastejo com mais de um grupo de animais e
colheita de parte e/ou excesso de forragem produzida nas águas para
ser conservada na forma de silagem ou feno, para uso na seca, etc.
O número de piquetes de cada pastagem será função do período
de descanso (PD) e do período de ocupação (PO), que pode ser obtido
pela equação: Número de piquetes = (PD ÷ PO) + 1. O período de
ocupação deve ser de curta duração, de um a três dias, para garantir
melhor rebrota das plantas e facilitar o controle da lotação e do resíduo
da pastagem. O período de descanso varia conforme a espécie
forrageira, visando obter melhor equilíbrio entre produção e qualidade
da forragem (Tabela 2).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 163
Tabela 2 - Período de descanso para algumas gramíneas forrageiras
utilizadas sob pastejo rotativo
Gramínea
1
Capim-elefante
Capim-colonião2 e outras cultivares
Capim-andropogon3
Capim-braquiarão4
Capim-braquiária5
Capim-coastcross6
1
- Pennisetum purpureum
2
- Panicum maximum
3
- Andropogon gayanus
Período de descanso (dias)
45 (35 - 45)
35 (30 - 35)
30 (25 - 30)
35 (30 - 35)
30 (25 - 30)
25 (20 - 28)
4
- Brachiaria brizantha cv. Marandu
5Brachiaria decumbens
6Cynodon dactylon cv. Coastcross
A altura do resíduo é um indicador prático para evitar o
subpastejo e o superpastejo. Essa altura é variável com as espécies
forrageiras, de acordo com suas características morfofisiológicas (Tabela
3). O subpastejo significa perda de forragem e excesso de
sombreamento na base das plantas, o que pode prejudicar o
perfilhamento. O superpastejo afeta negativamente a produção animal e
a rebrota das plantas.
164
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 3 - Altura de pastejo (cm) de algumas gramíneas forrageiras
Altura (cm) das forrageiras
Espécies ou variedades
Variedades de capim-elefante1
Capim-tobiatã2
Capim-colonião 3, Capim-tanzânia 4
Capim-mombaça5
Capim-andropogon6
Capim-braquiarão 7
Capim-pangola 8, Capim-coastcross9, Capimbraquiária10
Brachiaria humidicola
Modificado de RODRIGUES (1986).
1
- Pennisetum purpureum
2
- Panicum maximum cv. Tobiatã
3
- Panicum maximum cv. Colonião
4
- Panicum maximum cv. Tanzânia
5
- Panicum maximum cv. Mombaça
6
- Andropogon gayanus
Animais entram na
pastagem
160 - 180
160 - 180
100 - 120
120 - 130
50 - 60
40 - 45
Animais saem da
pastagem
35 - 40
50 - 80
30 - 40
40 - 50
20 - 30
20 - 25
25 - 30
15 - 20
10 - 15
5-8
7
- Brachiaria brizantha cv. Marandu
- Digitaria decumbens
9
- Cynodon dactylon cv.Coastcross
10
- Brachiaria decumbens
8
PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE EM PASTAGENS NA EMBRAPA
PECUÁRIA SUDESTE, SÃO CARLOS, SP
Pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu (12 ha) e
Panicum maximum cv. Mombaça (10 ha) foram estabelecidas em
latossolo vermelho amarelo e vermelho escuro distróficos, que
apresentavam, inicialmente (em 1994), 2 ppm de P (determinado pelo
método da resina) e 12% de saturação por bases (V%). Atualmente,
com as correções e as adubações posteriores, os valores de P e V% na
camada de 0 a 10 cm estão em torno de 15 ppm e 60%,
respectivamente. Também foram estabelecidas pastagens de Cynodon
dactylon cv. Coastcross (14 ha) e Panicum maximum cv. Tanzânia (8
ha), em que os valores iniciais eram de 5 ppm e 36%, sendo atualmente
de 20 ppm e 70%, respectivamente, para P e V%.
O sistema de pastejo é o rotacionado, com período de descanso
de 36 dias e ocupação de três dias, com exceção da pastagem de
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 165
capim-coastcross, em que o período de descanso é de 24 dias e a
ocupação, de quatro dias. A adubação de 1000 a 1500 kg/ha da fórmula
20-05-20 e/ou similar é aplicada parceladamente em seis vezes, durante
às águas, no caso do capim-coastcross, e quatro vezes para as demais
pastagens, totalizando 200 ou 300 kg de nitrogênio (N) por hectare por
ano, conforme a Tabela 4. A lotação é ajustada com animais extras, de
acordo com a disponibilidade de forragem, que normalmente é mais
elevada em janeiro, fevereiro e março, em virtude das condições
climáticas mais favoráveis para o crescimento das gramíneas forrageiras
tropicais. Tem sido obtido, em média, no período das águas, acúmulo de
forragem de 2500 a 4000 kg de matéria seca/ha, a cada ciclo de
pastejo, variando com a época, o nível de adubação, a fertilidade do
solo e a espécie forrageira.
Os teores de proteína bruta obtidos são de 9 a 10% para o
cultivar Marandu, 10 a 12% para os cultivares Tanzânia e Mombaça, e
de 12 a 14% para o cultivar Coastcross. Na Tabela 4 estão apresentadas
informações sobre a produção por animal e por área, obtidas com essas
pastagens sob adubação intensiva na Embrapa Pecuária Sudeste, em
São Carlos, SP.
166
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 4 - Taxa de lotação e ganho de peso vivo (PV) de bovinos
Canchim e cruzados Canchim x Nelore em diferentes
pastagens na Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP,
nas águas
Gramínea/ano
No de Categoria Adubação
animais
(kg N/ha)
Ganho de
Ganho de Lotação
PV
média
PV
(kg/animal/dia*) (kg/ha) (UA/ha)
Tanzânia/96a
Tanzânia/97a
Tanzânia/98a
65
58
50
novilhas
garrotes
garrotes
200
300
300
0,680
0,820
0,850
803
909
935
5,8
6,4
8,5
Coastcross/96 b
Coastcross/97 b
Coastcross/98 b
121
134
205
novilhas
novilhas
novilhas
300
300
300
0,713
0,600
0,600
900
780
1040
6,6
7,6
8,5
Mombaça/97 c
Mombaça/98 c
75
200
0,590
491
5,3
40
novilhas
vacas
com cria
200
-
-
5,0
62
80
garrotes
vacas
200
200
0,680
-
437
-
4,0
8,0
d
Braquiarão/97
Braquiarão/98d
* Após jejum de 16 horas.
a
- Panicum maximum cv. Tanzânia.
b
- Cynodon dactylon cv. Coastcross.
c
- Panicum maximum cv. Mombaça.
d
- Brachiaria brizantha cv. Marandu.
Na Tabela 4, as gramíneas não devem ser comparadas, pois
existem variações quanto a solo, idade da pastagem, nível de adubação,
categoria animal, etc., mas os resultados demonstram que diferentes
gramíneas, desde que manejadas adequadamente, podem apresentar
bom desempenho, tanto em produção por animal quanto por área.
ESTACIONALIDADE DA PRODUÇÃO DE FORRAGEM
Embora em sistema intensivo de uso das pastagens se consiga
maior produção de forragem no período da seca do que nos sistemas
extensivos, em decorrência principalmente do efeito residual das
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 167
adubações, a estacionalidade da produção de forragem, em razão de
fatores climáticos, vai continuar ocorrendo, com valores de 10 a 20% da
produção total anual, a menos que seja corrigida, em parte, com o uso
de irrigação. Dessa forma, na exploração da pastagem, seja extensiva
ou intensiva, haverá sempre um período de produção abundante de
forragem, nas águas, e outro de escassez, na seca.
Assim, quando intensificamos toda a área da propriedade, há
necessidade de aliviar a lotação na seca ou dispor de um sistema de
alimentação para este período de escassez de forragem. O número de
animais a ser mantido na seca, fora das áreas de pastagens
intensificadas, aumenta à medida que aumenta a produtividade das
pastagens nas águas. O custo de alimentação desses animais durante a
seca é um dos principais fatores a serem considerados na viabilização da
intensificação da produção por unidade de área (Boin e Tedeschi, 1997).
A lotação poderá ser reduzida com a venda de animais de
descarte no final das águas ou, principalmente, daqueles apresentando
peso adequado de abate. O preço de venda desses animais no período
de safra (preço por arroba mais baixo) é compensado pelo seu menor
custo. Também pode ser feito ajuste, no caso da fase de cria,
programando-se a parição para outubro (Corsi e Santos, 1995),
combinando o período de maior exigência nutricional dos animais com a
época de maior produção de forragem.
O confinamento pode ser uma alternativa interessante, que
permite reduzir a lotação das pastagens e mantém a intensificação da
produção pela possibilidade de venda de animais na entressafra,
combinando maior preço, maior giro de capital e maior produtividade.
Se a decisão for de manter lotação mais elevada na pastagem,
uma opção é a suplementação no pasto com volumosos, tais como
cana-de-açúcar, silagem e feno.
Na região Centro-Sul do Brasil, a estacionalidade da produção é
causada principalmente pela redução da precipitação pluviométrica, da
temperatura e da radiação solar, durante o período de abril a setembro.
A Figura 1 ilustra as médias das taxas mensais de acúmulo de matéria
seca em pastagem de capim-tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia),
adubado, sem irrigação, nos anos de 1995 e 1996, na Embrapa Pecuária
Sudeste. Verifica-se que a precipitação pluvial e a temperatura mínima
168
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
são críticas para o crescimento das gramíneas forrageiras tropicais,
principalmente no período de maio a setembro.
350
160
Temperatura mínima (º C)
140
300
Taxa de acúmulo de forragem (kg MS/ha/dia)
250
Precipitação pluvial (mm)
120
100
200
80
150
60
100
40
20
17
18
19
20
19
16
11
13
16
13
0
N
D
J
F
M
A
M
50
14
10
Precipitação pluvial (mm)
Taxa de acúmulo de matéria seca
(kg MS/ha/dia)
180
0
J
J
A
S
O
Meses
Figura 1 - Médias das taxas mensais de acúmulo de matéria seca (MS)
em pastagem de capim-tanzânia adubado, sem irrigação em
1995 e 1996 na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos,
SP
Por outro lado, durante as águas, em virtude de condições
climáticas mais favoráveis, o crescimento das plantas, em determinados
meses, é tão intenso que ultrapassa a capacidade de consumo de
matéria seca do rebanho, havendo necessidade de ajuste na lotação,
principalmente em sistemas adubados. A Figura 2 ilustra a variação da
taxa de lotação em capim-tanzânia adubado, durante as águas, na
Embrapa Pecuária Sudeste, em 1996 e 1997. No período estudado, em
janeiro e fevereiro a lotação da pastagem teve de ser duplicada, em
relação a novembro, para aproveitar a forragem produzida.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 169
100
89
Número de animais
90
89
UA/ha
79
Número de animais
80
55
60
50
9,0
45
5,4
53
9,5
40
7,9
7,8
40
30
69
64
70
6,4
6,1
4,2
5,0
20
10
0
27/11
2/1
7/1
20/1
27/1
17/2
6/3
2/4
28/4
Data
Figura 2 - Taxa de lotação (UA/ha) e número de animais por área em
pastagem de capim-tanzânia, durante as águas, em 1996 e
1997, em São Carlos, SP (UA = unidade animal = 450 kg de
peso vivo)
Essa variação na taxa de acúmulo de forragem durante o ano
também foi constatada para a Brachiaria brizantha cv. Marandu (Figura
3). Esta pastagem que vem sendo adubada durante as águas e
manejada intensivamente sob pastejo rotacionado, na Embrapa Pecuária
Sudeste, também mostra a necessidade de ajuste na lotação, de forma
semelhante ao capim-tanzânia, para aproveitar a forragem produzida.
170
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Taxa de acúmulo de matéria seca
(Kg MS/ha/dia)
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Meses
Figura 3 - Médias das taxas mensais de acúmulo de matéria seca (MS)
em pastagem de B. brizanta cv. Marandu adubada, sem
irrigação, no ano de 1999, na Embrapa Pecuária Sudeste,
em São Carlos, SP
Esse manejo, com variação do número de animais também nas
águas, às vezes se torna pouco prático ou pouco interessante ao
produtor. Uma estratégia mais viável é a ensilagem desse excesso de
forragem, pois, além de fornecer volumoso para o período da seca,
permite racionalizar o manejo intensivo das pastagens durante as águas.
A colheita é facilitada no sistema de pastejo rotacionado, em que
piquetes podem ser excluídos do pastejo, para a ensilagem da forragem,
voltando posteriormente ao ciclo de pastejo, quando necessário.
A silagem de capim também pode ser feita de maneira mais
intensiva com a reserva de uma área de pastagem específica para este
fim, onde, com correção adequada do solo e adubação, consegue-se
rapidamente, a cada 30 a 40 dias de crescimento das plantas, elevada
quantidade de forragem para ser armazenada para a seca.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 171
Nussio et al. (2000) simularam a produção de gado de corte
(fase da engorda), com diferentes combinações de pastagem e silagem,
visando a possibilidade de se recomendar a silagem de capim para
potencializar a produção de carne (Tabela 5). O sistema intensivo, nessa
simulação, foi caracterizado principalmente por maior produtividade e
melhor qualidade da forragem, em função do manejo e da reposição da
fertilidade do solo.
Tabela 5 - Projeção da produção de carne e da receita líquida geradas
em sistemas de produção simulados por meio de
combinação de áreas para produção de silagem e de pastejo
de capim-tanzânia, manejados sob diferentes intensidades
de exploração.
Sistemas de
produção
Produtividade
Lotação
Ganho
Custo
Receita
(t MS/ha)
(UA/ha)
(kg/animal/d)
(R$/@)
(R$/ha/ano)
pastejo intensivo
20,0
3,5
0,7
24
673
16,9
2,7
0,6
28
350
7,6
1,5
0,5
21
242
4,5
0,7
0,5
26
80
silagem intensiva
pastejo intensivo
silagem extensiva
pastejo extensivo
silagem intensiva
pastejo extensivo
silagem extensiva
Fonte: Adaptado Nussio et al. (2000).
MS = matéria seca; UA = unidade animal = 450 kg de peso vivo.
Simulação com 20% da área com silagem e 80% com pastejo.
A Tabela 5 mostra que a intensificação do uso de pastagens
determinou maiores receitas ao sistema, independentemente do uso da
silagem intensiva ou extensiva, devendo portanto ser priorizada.
Observa-se também que os melhores resultados foram observados para
as condições de uso intensivo da pastagem e da silagem, enquanto que
172
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
a receita menos favorável foi observada para a combinação da
pastagem extensiva e silagem extensiva.
A simulação também mostrou que a área destinada à produção
intensiva de silagem, associada ao uso intensivo da pastagem, seria de
até 20% da área total da propriedade, pois valores maiores do que esse
contribuiriam para a redução da receita do sistema (Figura 4).
Pastejo Extensivo
Silagem Extensiva
Pastejo Intensivo
Silagem Intensiva
Pastejo Extensivo
Silagem Intensiva
Pastejo Intensivo
Silagem Extensiva
% de área destinada a produção de silagem
Figura 4 - Projeção da receita líquida para a combinação de produção
baseados na intensidade de manejo e na porcentagem de
área ocupada com pastagem e silagem (Nussio et al., 2000)
Observa-se também que, quando a silagem é feita de maneira
extensiva, sua presença é deletéria à receita projetada, levando a
propriedade a obter lucro zero quando a participação atinge 50% da
área.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 173
SILAGEM DE CAPIM
O estudo da silagem de capim na alimentação de bovinos no
Brasil não é recente, mas seu uso somente vem ganhando espaço
atualmente. Dentre as gramíneas forrageiras tropicais, o capim-elefante
(Pennisetum purpureum Schum) foi o mais estudado (Condé et al.,
1969; Faria & Tosi, 1971; Tosi, 1972). De modo geral, os resultados
mostraram que esta espécie está entre as gramíneas que apresentam
teor de carboidratos solúveis mais elevado, variando de 9 a 16% na
matéria seca, o que é suficiente para garantir razoável fermentação
lática.
Todavia, quando a forragem está com qualidade adequada, o
teor de umidade para a ensilagem ainda é muito elevado, podendo
chegar a mais de 85%, o que favorece a fermentação butírica e a
elevada produção de efluentes. A Tabela 6 ilustra a produção de
efluentes e as perdas de matéria seca da silagem em função dos teores
de matéria seca da forragem.
Tabela 6 - Produção de efluentes e perda de matéria seca (MS) em
silos do tipo trincheira
Conteúdo de MS
Produção de efluentes
Perdas de MS
(%)
(litros por tonelada de silagem)
(%)
30
0
0
25
20
0,4
20
60
1,6
15
200
7,2
Fonte: PEDROSO (1998).
Também foram feitos, na década de 70, alguns estudos com
outras gramíneas forrageiras tropicais: capim-braquiária (Brachiaria
decumbens Stapf), capim-colonião (Panicum maximum Jacq.), capimgamba (Andropogon gayanus Kunth), capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa
Ness) e capim-pangola (Digitaria decumbens Stent) (Tosi, 1973). Na
174
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
maioria das espécies, foi constatado teor muito baixo de carboidratos
solúveis, em torno de 6% na matéria seca, insuficiente para garantir boa
fermentação lática. Todavia, nesse trabalho, a qualidade da silagem
também foi prejudicada pela idade avançada, aproximadamente 95 dias
de rebrota, da forragem colhida.
Atualmente, sobretudo por causa da necessidade de a pecuária
de corte se tornar mais competitiva, com redução de custos e aumento
da produtividade, a silagem de capim vem ocupando espaço crescente
na preferência dos produtores. Estima-se que a silagem de capim já
responda por um terço do volumoso utilizado nos confinamentos (DBO
Rural, 1999). Contribuiu também para isso o surgimento de
colheitadeiras mais eficientes, que picam a fibra do capim em tamanhos
de até 3 a 5 cm, facilitando a compactação, a fermentação, a retirada
do material do silo e a sua mistura com o concentrado.
Ainda que os diversos capins, diferentemente do milho, possam
apresentar problemas que interfiram na fermentação (baixo teor de
carboidratos solúveis, alto poder tampão e alto teor de água), eles têm
vantagens que os tornam estrategicamente interessantes como reserva
de alimento para a seca, na forma de silagem, tais como:
Ø Elevada produção (mais do que três vezes a produção de matéria
seca do milho),
Ø Perenidade,
Ø Menor custo por quilograma de matéria seca,
Ø Baixo risco de perda e
Ø Maior flexibilidade na colheita.
A menor qualidade nutricional da silagem de capim, cerca de
10% a menos de energia digestível ou de nutrientes digestíveis totais
em relação à de milho, pode ser corrigida, quando for o caso,
adicionando-se no cocho 1,5 kg de milho moído por animal/dia ou seu
equivalente energético, como, por exemplo, sorgo e polpa cítrica (DBO
Rural, 1999).
Com relação aos problemas na ensilagem de gramíneas
forrageiras tropicais, existem aditivos que podem ser utilizados para
melhorar a qualidade da silagem.
Os principais objetivos do uso de aditivos no processo da
ensilagem são: melhorar a qualidade da fermentação no silo, reduzir
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 175
perdas de nutrientes e aumentar a ingestão e o desempenho animal
(Wilkinson, 1998).
Os aditivos podem ser divididos em três categorias gerais:
- estimulantes da fermentação, tais como, enzimas e inoculantes
bacterianos;
- inibidores da fermentação, tais como, ácidos orgânicos e
inorgânicos; e
- substratos ou fontes de nutrientes, tais como, melaço, polpa cítrica,
cama-de-frango, uréia, etc.
Alguns substratos, como a polpa cítrica peletizada, podem estar
associados a mais de um efeito, por exemplo, estimulam a fermentação,
têm capacidade absorvente e também são fontes de nutrientes.
RESULTADOS DA INTEGRAÇÃO DE PASTEJO E USO DA SILAGEM
DE CAPIM NA EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE
A Embrapa Pecuária Sudeste tem feito alguns estudos com
silagem de capim, integrando pastejo e conservação de forragem,
visando manter lotação animal mais estável e mais elevada o ano todo.
Um dos trabalhos foi desenvolvido em duas áreas de pastejo
rotacionado intensivo, já descritas no capítulo “Produção de gado de
corte em pastagens na Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP”, com
capim-tanzânia (8 ha) e capim-coastcross (Cynodon dactylon cv.
Coastcross) (14 ha). O período de descanso da pastagem nas águas foi
de 36 e 24 dias e o período de ocupação de três e quatro dias, para o
capim-tanzânia e o capim-coastcross, respectivamente. A adubação
(NPK) de 1500 kg/ha da fórmula 20-05-20 foi parcelada durante o
período das águas, após a saída dos animais de cada piquete. A lotação
das pastagens foi fixada em torno de 4,0 UA o ano todo, com 55
garrotes no capim-tanzânia e 99 novilhas no capim-coastcross. À medida
que ocorria sobra de forragem nas águas, parte dos piquetes foi sendo
reservada para confecção de silagem. A colheita foi feita com
colheitadeira de forragem com repicador, sendo a forragem colocada
diretamente, sem pré-murchamento, em silo de superfície, sem aditivo
ou com 6 a 8% de polpa cítrica peletizada ou 5% de milho moído. No
caso do capim-tanzânia, a colheita foi feita com 55 dias de crescimento
das plantas e do capim-coastcross, com 30, 35 e 45 dias. O
176
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
fornecimento da silagem iniciou em junho, quando a forragem produzida
nas pastagens não era mais suficiente para manter a lotação
preconizada. Cada animal alimentado com silagem de capim-tanzânia
recebeu, misturado à silagem, no cocho, 0,5 kg de farelo de soja por
animal por dia. Na seca, o período de descanso passou para 60 e 48
dias, respectivamente, para as pastagens de capim-tanzânia e capimcoastcross, tendo os animais livre acesso à pastagem e à silagem.
O capim-tanzânia e o capim-coastcross, diferentemente do
capim-elefante, apresentam boa qualidade de forragem, mas com teor
de matéria seca mais elevado, próximo ou superior a 20% e, com isso,
mesmo sem adição de aditivos, podem apresentar fermentação razoável
(Tabelas 7 e 9). O capim-tanzânia foi colhido com 55 dias de idade, com
o objetivo de aumentar o teor de matéria seca, o que aparentemente
não compensou a queda da qualidade da silagem e o pequeno
incremento no teor de matéria seca (Tabela 7). Avaliações feitas com o
capim-tanzânia , colhido com 35 dias de idade, têm mostrado teor de
proteína bruta de 11 a 12% e digestibilidade “in vitro” da matéria seca
de 62%, com teor de matéria seca de 19 a 21%, bastante próximo
daquele obtido aos 55 dias de idade (20 a 22%). Com a adição de polpa
cítrica, houve aumento no teor de matéria seca da silagem de capimtanzânia (Tabela 7) e, aparentemente, houve melhora na fermentação,
observada pelo aspecto, pelo cheiro e pela cor da silagem. Foi
observado que as forragens ensiladas com teor de matéria seca de
20%, mesmo sem aditivos, apresentaram pouca produção de efluentes,
quando armazenadas em silos de superfície de 70 a 80 t de capacidade,
o que está de acordo com os dados da Tabela 6. Esse fato pode ser
explicado em parte pela picagem mais grosseira do material, pela
natureza da fibra do capim tropical e pelo tipo de silo, que
provavelmente dificultaram a produção de efluentes. Haigh (1990), em
extenso estudo com silagem de capim em fazendas comerciais no Reino
Unido, concluiu que teor de matéria seca acima de 25% já é suficiente
para que a silagem de gramíneas temperadas apresente boa
fermentação. Esse valor pode ser facilmente alcançado com as
gramíneas tropicais com o uso de aditivos, que aumentem o teor de
matéria seca e que, além de melhorar a qualidade da fermentação,
podem muitas vezes enriquecer a silagem de capim.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 177
Esse teor de matéria seca (25%) também é facilmente alcançado
com o capim-coastcross, que apresenta boa qualidade de forragem e
teor de matéria seca mais elevado do que o capim-tanzânia.
Tabela 7 - Características da silagem de capim-tanzânia* com e sem
aditivo, na Embrapa Pecuária Sudeste
Silagem
Capim*
Capim* + 6-8% Polpa cítrica
Características**
pH
N.NH3/N Total
(%)
DIVMS
(%)
MS
(%)
PB
(%)
20-22
5,5-7,0
4,4-4,7
11,0-19,0
46-50
24
7,0
4,4
10,8
51
* Colhido com 55 dias de idade.
** MS = matéria seca, PB = proteína bruta, N.NH3x100 N Total = nitrogênio amoniacal
em relação ao nitrogênio total e DIVMS = digestibilidade “in vitro” da matéria seca.
O consumo da silagem de capim-tanzânia com 55 dias de rebrota
(kg de MS/100 kg de peso vivo) foi bom, apesar da qualidade
relativamente baixa e variou em função da disponibilidade de forragem
(Tabela 8). No último dia de pastejo, quando a disponibilidade de
forragem era mínima, a média de consumo foi elevada, atingindo
praticamente 2% de matéria seca em relação ao peso vivo dos animais.
Com relação à silagem com polpa, o consumo foi mais elevado a partir
do 3o dia de pastejo (Tabela 8).
178
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 8 - Consumo diário de matéria seca (MS) de silagem de capimtanzânia, de acordo com os dias de pastejo, na Embrapa
Pecuária Sudeste, em 1998
Consumo (kg MS/100 kg PV)
Dias de pastejo
Capim*
Capim + 6 a 8% de polpa cítrica**
1o
0,88
0,83
o
1,52
1,68
o
1,62
2,00
o
4
1,82
2,00
5o
1,96
2,10
2
3
* Forragem disponível no pasto: 1800 kg de matéria verde (base seca)/ha.
** Forragem disponível no pasto: 600 kg de matéria verde (base seca)/ha.
O consumo mais elevado de silagem com polpa, nos primeiros
dias, se deve em parte à menor disponibilidade de forragem nesse
período (setembro), a qual era de aproximadamente 600 kg de matéria
verde (base seca)/ha, praticamente a metade da disponível em junho e
julho. Com relação ao desempenho dos animais, todos ganharam peso,
com médias de ganho de 440 g/animal/dia, em função da silagem com
ou sem aditivo (Tabela 9).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 179
Tabela 9 - Taxa de lotação e ganho de peso vivo (PV) de garrotes da
raça Canchim em pastagens de
capim-tanzânia,
suplementados com silagem, na seca*, na Embrapa Pecuária
Sudeste, em 1998
Ganho de PV
Suplementação
Média de lotação
kg/animal/dia**
kg/ha
UA/ha
0,44
350,0
4,0
Silagem de capim***
+ 0,5 kg farelo de soja
* Trabalho em parceria com o Prof. Moacir Corsi/ESALQ, Piracicaba, SP, e o Eng. Agr.
Paulo Tosi.
** Após jejum de 16 horas.
*** Silagens com e sem 6 a 8% de polpa cítrica.
UA = unidade animal = 450 kg de peso vivo.
A silagem de capim-coastcross apresentou melhor qualidade
(Tabela 10) do que a de capim-tanzânia, mesmo sem aditivo,
provavelmente em virtude do maior teor de matéria seca da forragem
original, o que proporcionou melhor fermentação. Haigh (1999) também
verificou o efeito positivo do maior teor de matéria seca da forragem na
fermentação de silagem de gramíneas temperadas. Observa-se que o
capim-coastcross, mesmo cortado com 30 dias e adição de apenas 4%
de milho moído, apresentou fermentação adequada e elevado teor de
proteína bruta na silagem. De maneira geral, o consumo foi elevado
para silagem com e sem aditivo, atingindo 2% de matéria seca em
relação ao peso vivo dos animais, praticamente em todos os dias de
pastejo, indicando não ter ocorrido preferência tão acentuada em
relação à forragem da pastagem, como no caso da silagem de capimtanzânia. Dado o elevado consumo da silagem de capim-coastcross, o
fornecimento foi restringido, porque a quantidade de silagem disponível
era limitada e mesmo assim todos os animais ganharam peso,
apresentando boa condição corporal no final da seca, com médias de
ganho de 200 g/animal/dia.
180
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 10 - Características da silagem de capim-coastcross,
Embrapa Pecuária Sudeste, em 1999
SILAGEM
Coastcross (45 dias)
Coastcross (35 dias)
(com 5-7% de milho moído)
Coastcross (30 dias)
(com 4-5% de milho moído)
MS
(%)
25,8
27,0
PB
(%)
8,0
11,2
23,1
12,5
na
CARACTERÍSTICAS*
pH
FDN
N.NH3/N Total**
(%)
(%)
4,4
77
11,6
4,2
68
7,8
4,9
65
8,8
* MS = matéria seca, PB = proteína bruta, FDN = fibra em detergente neutro,
N.NH3x100 N Total = nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total .
** valor crítico > 15.
Desta forma, com o uso da silagem na seca integrado ao
pastejo, foi possível manter os dois sistemas intensificados o ano todo,
com rebanhos relativamente estáveis, alimentados praticamente apenas
com forragem dos próprios sistemas rotacionados. No caso da pastagem
de capim-tanzânia (recria-engorda), foi possível obter bovinos da raça
Canchim com peso de abate na faixa de 450 kg de peso vivo aos 19 a
20 meses de idade. Nas águas, a alimentação consistiu somente de
forragem pastejada, com média de ganho de 850 g/animal/dia; e na
seca, forragem pastejada mais silagem do excesso de forragem das
águas e 0,5 de farelo de soja, com média de ganho de 440
g/animal/dia.
Outro estudo integrando pastejo e uso de silagem de capim está
sendo desenvolvido na Embrapa Pecuária Sudeste, como parte do
projeto “Estratégias de cruzamentos, práticas de manejo e biotécnicas
para intensificação sustentada da produção de carne bovina”. Fazem
parte desse projeto quatro sistemas de pastejo rotacionado de 12 ha
cada, utilizando a gramínea Panicum maximum cv. Tanzânia e outros
quatro sistemas utilizando a gramínea Brachiaria brizantha cv. Marandu,
em que estão sendo avaliados quatro cruzamentos (Nelore x Nelore,
Nelore x Canchim, Nelore x Angus e Nelore x Simental), visando manter
um mínimo de 60 vacas por sistema de 12 ha (5 vacas/ha), durante o
ano todo, usando como volumoso apenas forragem pastejada e silagem
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 181
de capim. O período de descanso nas águas para as duas gramíneas é
de 36 dias e o de ocupação, de 3 dias. Na seca são 60 dias de descanso
e 5 dias de ocupação. A adubação dos piquetes é feita após a saída dos
animais, na dosagem eqüivalente a 250 kg/ha de fórmula 20-5-20
aplicada quatro vezes durante o período das águas. Para corrigir o
processo de acidificação do solo é feita a correção no período seco com
calcário na dosagem de 1,0 a 1,5 t/ha, de acordo com o resultado da
análise do solo.
Desta forma, durante o período das águas, à medida que sobra
forragem, o que ocorre normalmente a partir de janeiro (Figura 3), ao
invés de serem colocados animais extras para se manter a mesma
pressão de pastejo, os piquetes são excluidos do pastejo, para serem
ensilados, voltando posteriormente ao ciclo de pastejo, quando não
houver mais sobra de forragem. Quando a forragem da pastagem não é
mais suficiente para manter as 5 vacas/ha, inicia-se a suplementação no
pasto com silagem de capim, o que tem ocorrido normalmente a partir
do final de maio, com incremento gradativo da quantidade de silagem
fornecida até setembro. A partir de outubro, a suplementação é
diminuída, também de forma gradativa, à medida que ocorre maior
contribuição da forragem das pastagens. Foram produzidas, com o
excesso de forragem das águas, em torno de 300 toneladas de silagem
de capim-tanzânia e 400 toneladas de silagem de B. brizantha.
A colheita vem sendo feita com 40 a 50 dias de crescimento das
plantas, com colheitadeira com repicador, sendo a forragem colocada
diretamente, sem pré-murchamento em silo de superfície e, quando
possível, dentro da área de descanso de cada sistema intensivo, para
facilitar todo o manejo de colheita e distribuição da silagem no cocho.
Ao capim ensilado é adicionado de 6 a 8% de polpa cítrica peletizada. A
Tabela 11 ilustra algumas características das silagem com e sem aditivo.
Verifica-se, de modo geral, a boa qualidade da silagem para as duas
gramíneas, principalmente com adição de polpa cítrica.
182
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 11 - Características da silagem de capim-tanzânia e Brachiaria
brizantha, com e sem adição de polpa cítrica peletizada
SILAGEM
MS
(%)
Tanzânia
19 - 21
Tanzânia + polpa cítrica (6-8%) 24 - 26
B. brizantha
19 - 21
B. brizantha + polpa cítrica (6- 26 - 28
8%)
CARACTERÍSTICAS*
PB
FDN pH N.NH3/NTotal** DIVMS
(%) (%)
(%)
(%)
7,0 74,0 4,9
11,0 – 19,0
55,0
8,7 67,0 4,2
8,0
59,1
7,9 68,6 4,7
10,0 – 18,0
57,8
8,0 68,0 4,2
6,5
59,0
*
MS = matéria seca, PB = proteína bruta, FDN = fibra em detergente neutro,
N.NH3x100 N Total = nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total , DIVMS =
digestibilidade “in vitro” da matéria seca.
** valor crítico > 15.
O consumo da silagem pelas matrizes da raça Nelore, mesmo
sem aditivo, foi muito bom para a silagem das duas gramíneas. Tendo
em vista as boas condições dos animais no período da suplementação, o
consumo de silagem foi restringido a 25 kg/vaca/dia nos sistemas com
vacas prenhas e a 35 kg nos sistemas com vacas com bezerro.
Dada a maior exigência das vacas com cria, foi adicionado no
cocho, junto com a silagem, 0,5 kg de farelo de soja/vaca/dia e no caso
das vacas prenhas, nos últimos meses de gestação, 0,2 kg/vaca/dia. De
modo geral, as vacas nas duas condições, durante o período do uso da
silagem, apresentaram excelente desempenho com escores de condição
corporal de 5 a 8 (1 = excessivamente magra a 9 = excessivamente
gorda), em que vacas sem bezerro, mesmo com o consumo restrito de
silagem, alcançaram médias de ganho diário de 360 g/animal/dia. Dessa
forma, com o uso da silagem integrado ao pastejo é possível manter os
oito sistemas intensificados, com média de lotação de 5 vacas/ha,
durante grande parte do ano.
Todavia, utilizando apenas o excesso de forragem das águas não
é possível produzir silagem suficiente para toda a seca, sendo necessário
nos 60 dias finais da seca utilizar cana-de-açúcar + uréia. Desta forma,
está sendo previsto para o próximo ano, incluir uma área adicional de
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 183
pastagem, cerca de 10% do sistema, para ser reservada apenas para
produção intensiva de silagem de capim-tanzânia e de capim-brizantha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ø A utilização de silagem de capim é uma estratégia viável para
racionalizar o manejo intensivo das pastagens e como reserva para a
alimentação dos bovinos na seca.
Ø O menor valor qualitativo da silagem de capim pode ser corrigido, em
parte, com o uso de aditivos no processo de ensilagem que
aumentem o teor de matéria seca e energia, tais como polpa cítrica,
fubá de milho e farelo de trigo, ou com uso de concentrados
fornecidos diretamente no cocho.
Ø Há necessidade de mais estudos sobre silagem de capim, envolvendo
novas espécies forrageiras em diferentes estádios de maturidade.
Ø São também indicados estudos sobre a fermentação e a estabilidade
da silagem durante o armazenamento e após a abertura do silo.
Ø Os estudos, principalmente com os novos inoculantes bacterianos ou
enzimático-bacterianos, devem ser incrementados, visando verificar
se eles são eficazes em condições tropicais, principalmente em
termos de custo-benefício para ganho de peso ou produção de leite
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186
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
SUPLEMENTOS MÚLTIPLOS PARA RECRIA E ENGORDA
DE BOVINOS EM PASTEJO
Mário Fonseca Paulino1 , Edenio Detmann 2 , Joanis Tilemahos
Zervoudakis 2
1
D.S. Professor UFV - Bolsista CNPq, 2Doutourando UFV-Bolsista CNPq
O aumento da capacidade de suporte das pastagens, o
incremento das taxas de natalidade e a precocidade produtiva, que
envolve rapidez de acabamento e pouca idade ao início da vida
reprodutiva, são características fundamentais à bovinocultura de ciclo
curto.
Face a aspectos sócio-econômicos, e imposições ambientais,
estas metas devem ser atingidas com sistemas com baixo a médio uso
de insumos.
O desempenho dos bovinos de corte é função de fatores como
genética, sanidade, nutrição e manejo. Em termos de nutrição os
bovinos demandam cinco nutrientes essenciais à sua mantença e
produção, quais sejam, água, energia, proteína, minerais e vitaminas.
Os volumosos são a fonte mais barata para alimentar os animais.
Os valores relativos para o pasto, capineira, feno e grãos situam-se em
100, 130, 140 a 180 e 300 a 350, respectivamente (FREITAS et al,
1981). Assim, é natural que as pastagens constituam a base da
alimentação dos bovinos, e, portanto, o fornecimento desses nutrientes
depende da quantidade e qualidade da matéria seca disponível no
pasto.
Na exploração de pastagens, onde os ciclos de produção são
longos e até permanentes, existe uma variação sazonal inerente ao
clima tropical e subtropical; assim, as flutuações entre épocas de águas
e secas serão sempre uma constante. Neste contexto a busca da
sustentabilidade do sistema de produção no longo prazo, depende do
estabelecimento (garantia) da estabilidade produtiva de curto prazo
(anual).
Os planos de alimentação deverão garantir alimentos que em
quantidade e qualidade cubram todas as necessidades de consumo de
matéria seca e, corrigir desequilíbrios nutricionais, porventura
existentes, com as devidas correções táticas e, ou estratégicas.
188
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
DEMANDA E INGESTÃO DE NUTRIENTES E DESEMPENHO
ANIMAL
A exploração racional dos bovinos em pastejo envolve estratégias
que permitem maximização da energia, a minimização do tempo de
alimentação e a otimização do balanço nutricional.
A produção animal é função do consumo e valor nutritivo
(composição química e disgestibilidade dos nutrientes) e eficiência de
utilização do alimento disponível. O consumo de alimentos é
determinante do aporte de nutrientes necessário para o atendimento
dos requisitos de mantença e de produção pelos animais.
Assim, a produção por animal está diretamente associada com o
consumo de matéria seca digestível (CMSD) quando proteína, minerais,
vitaminas e outros fatores nutricionais são adequados (Tabela 1). O
aumento na eficiência de conversão de forragem em produtos animais é
conseguido quando a produção por animal é incrementada, devido à
diluição dos requerimentos de mantença e diminuição da incidência do
custo de mantença. Quando a energia ou CMSD aumenta acima do
requerimento de mantença, maior quantidade de forragem ingerida é
transformada em produto animal. Para recriar um bezerro de 150 kg de
peso vivo até que atinja os 450 kg ao abate, com o ganho diário de
0,250 kg, seriam necessário 7320 kg de matéria seca de forragem,
comparados a apenas 1903 kg de matéria seca se o ganho fosse de
1,100 kg diários (BLASER, 1990).
Tabela 1 - Requerimento de matéria seca e proteína por um novilho
para recria / engorda dos 150 aos 450 kg de peso vivo
Ganho de peso
diário (kg)
0,25
0,50
0,75
1,10
Fonte: BLASER (1990)
Tempo necessário
(dias)
1200
600
400
273
Requerimento total
Matéria seca (kg)
7320
4460
3052
1903
Proteína (kg)
652
434
310
224
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 189
Para qualquer nível de ganho de peso, a eficiência de ganho é
maximizada quando existe um perfeito equilíbrio, entre a exigência e
disponibilidade, para todos os nutrientes, ou seja, substratos
acetogênicos, aminogênicos e glucogênicos. Uma vez que as exigências
dos animais em termos de proporcionalidade entre nutrientes é alterada
com o aumento do peso vivo, tanto a taxa de ganho como a eficiência
de ganho de peso tende a variar nas diferentes etapas das fases de
crescimento e acabamento. O requerimento e o custo de mantença
significam que o aumento da eficiência de bovinos no uso de gramíneas
e matérias celulósicas é uma meta prioritária. Observa-se que o
desempenho animal é um componente importante a ser alcançado, pois,
baixos ganhos de peso vivo induzem ciclos de produção longos, com
acentuado aumento nas necessidades totais de nutrientes.
Admitindo animais com elevado potencial genético e padrão
sanitário, assegurada disponibilidade de pasto, o desempenho do animal
é função da qualidade da forragem. Como principal parâmetro da
qualidade da planta forrageira devemos nos concentrar sobre o valor
energético da forragem produzida. Para a produção de carne, a energia
representa mais de 2/3 do custo dos nutrientes empregados para essa
produção como se verifica na Tabela 2.
Tabela 2 - Custo relativo dos nutrientes usados para produção de carne1
Nutriente
Exigências
% do custo total
Energia digestível
PROTEÍNA BRUTA
Cálcio
Fósforo
Vitamina A
Sal
Potássio
Magnésio
Enxofre
Microminerais
26,7 Mcal
950 g
26 g
20 g
25.000 UI
40 g
50 g
5g
16 g
-
72,50
21,70
0,17
2,20
0,17
0,42
1,70
0,26
0,75
0,07
1
Com base em um novilho de 360 kg, ganhando 1,1 kg (CORSI, 1993)
190
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
A relatividade das porcentagens indicadas na Tabela 2 variará ao
longo do tempo, mas é pouco provável que ocorram mudanças na
ordem das posições (CORSI, 1993).
A maximização no uso do conteúdo energético das forragens
produzidas nas pastagens deve ser o objetivo daqueles que pretendem
intensificar a produção animal através do desempenho animal, como
principal componente do sistema.
As variações no balanço de energia são dependentes do nível de
ingestão de alimentos, que é influenciado por interações entre os
alimentos, denominados efeitos associativos. A adição de concentrado a
dietas volumosas aumenta parcialmente a eficiência de utilização de
energia metabolizável para mantença e ganho (NRC, 1984), em virtude
das reduções da produção de metano, da ruminação e do incremento
calórico (VAN SOEST, 1994). A eficiência de utilização da energia
ingerida tende a ser maior para dietas concentradas, quando
comparadas a volumosas, devido as menores requisitos líquidos para
mantença (ARC, 1980). Também, alimentos volumosos de melhor
qualidade são mais eficientes que os de pior qualidade (VAN SOEST,
1994).
Entretanto, ênfase deve ser colocada na interação entre os
diferentes nutrientes sobre o desempenho animal. O AFRC (1991)
salienta que, além do suprimento adequado de minerais, são
necessários níveis adequados de proteína e energia para que ocorra
desenvolvimento normal dos ossos. O NRC (1996) relaciona os
requerimentos de Ca e P ao ganho diário de proteína e CONRAD et al
(1985) afirmaram que a nutrição adequada de Ca e P depende do nível
de vitamina D da dieta. A concentração de energia metabolizável é
diretamente relacionada a digestibilidade da matéria orgânica e a
digestibilidade da forragem tem uma importante influência sobre a
quantidade consumida em muitas circunstâncias.
No caso de ruminantes, o fornecimento adequado de minerais é
importante para a otimização da atividade microbiana no rúmen (NRC,
1996), com uma deficiência produzindo impacto negativo sobre o
crescimento microbiano, podendo induzir, ou não, uma redução da
digestibilidade dos alimentos, dependendo da severidade da carência
mineral .
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 191
Portanto, embora os minerais e vitaminas participem,
relativamente, com reduzida porcentagem nos custos de produção em
relação aos representados pela energia e proteína, eles são
nutricionalmente essenciais e devem estar presentes quantitativa e
equilibradamente nas dietas, ou seja, não só em quantidades suficientes
como em proporções adequadas.
Estabelecidos os padrões de crescimento, para cada sistema de
produção, cabe ao pasto suprir a maior parte ou a totalidade dos
nutrientes para satisfazer as exigências nutricionais dos animais.
VALOR NUTRITIVO, CONSUMO DE FORRAGEM E
DESEMPENHO ANIMAL
Na produção de carne a pasto estamos interessados em otimizar
o consumo de forrageiras pelos bovinos e a recuperação de nutrientes
metabolizáveis destes alimentos.
As plantas forrageiras desenvolvem seu ciclo de crescimento e
dependendo do estádio fenológico, oferecem maior ou menor
quantidade de nutrientes aproveitáveis. Normalmente, os melhores
índices são alcançados durante o estádio vegetativo pleno.
Durante o início da estação chuvosa (rebrota) as plantas são
aquosas (pobres em matéria seca). No período outono-inverno as
gramíneas ao atingirem estádio de florescimento tornam-se fibrosas e
reduzem os teores de proteína, fósforo e caroteno (pró-vitamina A). Isto
se deve ao fato de certos nutrientes, como o fósforo serem móveis na
planta, diminuindo a concentração em tecidos mais velhos.
O metabolismo de proteínas também é específico de cada órgão
e depende da idade. Os órgãos e tecidos em crescimento, estocando
materiais, sintetizam tipicamente proteína a uma taxa especialmente
elevada. Nas folhas em processo de envelhecimento e em partes de
flores, predominam a degradação de proteínas. Entre as influências
ambientais, os efeitos sobre o metabolismo de proteínas são exercidos,
principalmente, pela temperatura, e por fatores de estresse, como a
seca e o excesso de salinidade.
O consumo das forrageiras é positivamente influenciado pelo teor
de nutrientes como proteína, fósforo, cobalto, enxofre e pela
192
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
digestibilidade de sua matéria seca ou matéria orgânica. Por outro lado,
é negativamente correlacionado com constituintes de parede celular,
quando os níveis de fibra detergente neutra alcançam patamares
superiores a 55 - 60%.
A qualidade da forragem envolve o consumo, a concentração de
nutrientes, a digestibilidade do nutriente e a natureza dos produtos
finais da digestão (associados à eficiência de utilização). Forragens
diferem no valor nutritivo potencial de sua fração parede celular (fibra)
por causa de diferenças na quantidade de paredes celulares derivadas
de vários tipos de células consumidos pelo animal e suas
degradabilidades individuais, ou seja, diferenças na proporção dos
diferentes componentes desta parede (celulose, hemicelulosee lignina) e
na forma como estes componentes interagem em sua estrutura. Estas
variações são observadas não somente entre espécies, mas em
diferentes partes da planta e estádios de maturidade dentro de uma
mesma espécie.
O conteúdo de matéria seca indigestível é o fator que, em maior
medida limita, o consumo. Dentro de certos limites (aproximadamente
67% de digestibilidade), o consumo de matéria seca se incrementa à
medida que aumenta a digestibilidade da dieta. O enchimento do rúmen
parece ser o fator limitante no consumo quando a forragem é o maior
consituinte da dieta.
A digestibilidade da matéria orgânica, a qual determina o valor
energético da forragem, depende essencialmente do grau de lignificação
da parede celular. Por outro lado, a velocidade (taxa) de digestão é
correlacionada com a distribuição da lignina nas células, a relação
carbono:nitrogênio e a população microbiana, ou seja, depende do
substrato e do aparato enzimático. As células se lignificam de acordo
com o tipo e idade da célula, ou seja, a lignificação é característica
associada à célula individualmente e ao processo de envelhecimento
(estádio de diferenciação).
Diferenças na quantidade e nas propriedades físicas da fibra
podem afetar a utilização da dieta e o desempenho do animal,
principalmente em razão do efeito sobre o consumo e sobre alterações
na fermentação ruminal.
Se a fibra detergente neutro (FDN) é a
correspondente bromatológica dos tecidos de parede celular; a fibra
detergente neutra indigestível (FDNi) é a correspondente dos tecidos
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 193
lignificados refratários à digestão (depletados dos tecidos
potencialmente digestíveis).
Em geral, as diferenças de ingestibilidade ligadas à idade do
vegetal (estádio de desenvolvimento) são mais importantes que aquelas
ligadas à espécie. Assim, devem ser priorizadas espécies que
mantenham, durante o ciclo fenológico, os teores mais elevados de
nutrientes disponíveis, bem como utilizar técnicas de manejo que
favoreçam a manutenção de elevados níveis de conteúdo celular.
DESEQUILÍBRIOS DE NUTRIENTES EM PASTAGENS
Deficiências de nutrientes são comuns nas pastagens; muitos
solos são deficientes em certos nutrientes, que afetam as plantas e, por
sua vez, aos animais que se alimentam delas. Assim, em certos períodos
as gramíneas em disponibilidade nos pastos apresentam teores de
nutrientes abaixo das exigências dos animais.
A tentativa de equilibrar os nutrientes oferecidos contribui para a
manutenção de um padrão de fermentação uniforme, parâmetros
ruminais (amônia, pH) constantes, ensejando maior eficiência
microbiana, maior disponibilidade de substratos energéticos (ácidos
graxos voláteis) e proteína microbiana.
A proteína microbiana sintetizada no rúmen varia de acordo com
a energia disponível para os microrganismos, que é determinada pelo
consumo de energia e pelos compostos nitrogenados degradados no
rúmen. A taxa de crescimento de bactérias fibrolíticas pode ser limitada
pela lenta digestão da parede celular da forragem basal.
A utilização de paredes celulares de plantas requer a interação
dinâmica do animal, dieta e população microbiana. O uso produtivo de
paredes celulares pelos animais é determinado pela restrição mais
limitante dentro dessa interação dinâmica.
Os microrganismos que digerem paredes celulares são
anaeróbicos e requerem vários nutrientes. Cuidados são necessários
para assegurar que nitrogênio ou proteína, minerais, pH, potencial oxiredutor não tornem fatores limitando a população microbiana e taxa de
digestão de parede celular.Um nutriente disponível em concentrações
194
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
inadequadas (um nutriente “em mínimo”) é um fator limitante do
rendimento.
A elevação da capacidade produtiva dos bovinos gera demanda
de nutrientes pelos tecidos. Embora os ruminantes tenham capacidade
de digerir paredes celulares de plantas, o seu consumo elevado torna
uma limitação quando o potencial de produção destes animais torna-se
maior.As paredes celulares das plantas são menos digestíveis e têm
menor densidade (maior capacidade de enchimento ruminal) que
solúveis de plantas, resultando em menor densidade de energia nas
forragens. A maneira mais simples de satisfazer os requerimentos de
energia de ruminantes alto-produtores é remover parte das paredes
celulares da dieta e substituí-la com conteúdos celulares mais fácil,
rápida e altamente digestíveis. Os fatores controláveis que podem ser
utilizados para potencializar a utilização do pasto são: a escolha da
espécie e manejo do pasto, que permita a colheita de forragem pelo
animal em um estádio imaturo; e a substituição parcial da forragem por
alimentos concentrados, através da suplementação tática e, ou
estratégica.
MANEJO DE PASTAGENS E EQUILÍBRIO DE NUTRIENTES
Em situação de pastejo os animais devem colher, eles próprios, a
forragem, provocando em conseqüência mudanças em seu
comportamento, incrementando-se as necessidades de mantença por
um aumento da atividade voluntária e incorporando outros fatores
relacionados às características não nutritivas da planta que afetam a
apreensão, possibilidade de seleção e consumo, tais como: estrutura da
pastagem (altura, densidade); modo de condução do pastejo (nível de
oferta de pasto, sistema de pastejo) e ambiente.
É indiscutível que a qualidade do alimento é um fator importante
na determinação da resposta de animais em condições de pastejo,
porém, não é o único e até pode ser de certa maneira “modulado” (por
exemplo, através do modo de condução do pastejo; utilização de
suplementação apropriada).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 195
Estrutura da pastagem
Aspectos relacionados às características estruturais do pasto
sobre o consumo de forragem foram discutidos por PAULINO (2000).
Sabe-se que , além das características bromatológicas da forragem, a
produção de bovinos a pasto depende das características fenológicas e
estruturais da vegetação como: altura, densidade da biomassa vegetal
(kg/ha/cm), relação folha/caule, proporção de inflorescência e material
morto. Estas características estruturais do pasto determinam o grau de
pastejo seletivo exercido pelos bovinos, assim como a eficiência com
que o animal colhe a forragem na pastagem afetando a quantidade
ingerida de nutrientes. As características estruturais do relvado
dependem não só da espécie botânica, mas também do manejo
adotado, principalmente a pressão de pastejo (GOMIDE, 1998).
Oferta de pasto
Para os sistemas baseados em pastagem o nível de oferta de
pasto terá um efeito direto na resposta animal já que condiciona a
quantidade e qualidade do material ingerido. Assim, deve-se permitir
ofertas de pasto não limitantes de consumo, inclusive otimizando o
pastejo seletivo. A atitude dos bovinos em pastejo por selecionar dieta
com a mais alta qualidade possível é uma manifestação da estratégia
para otimizar o balanço nutricional. Em conseqüência e como resultado
da preferência manifestada em pastejo, a dieta é, geralmente, de maior
digestibilidade, maior conteúdo de proteína e menor conteúdo de parede
celular que o pasto oferecido. As mudanças de qualidade da dieta
estariam associadas à disponibilidade e acessibilidade das frações
preferidas do pasto.
Em pastagens tropicais, caracterizadas por heterogeneidade em
qualidade nos distintos estratos da planta (diferenciação morfológica),
os animais selecionam uma dieta mais rica em proteína e mais digestível
que a planta inteira (Tabela 3).
196
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 3 - Composição física e bromatológica de amostras de pastagem
de Brachiaria decumbens obtidas diretamente pelo animal
(extrusa esofágica) ou por coleta total da massa disponível
Período
Águas
Seca
Metodologia Folha (%)
Extrusa
79,7
Coleta total
10,5
Extrusa
13,6
Coleta Total
1,3
MSV 1 (%)
90,0
26,0
30,0
2,5
PB (%) DIVMO 2 (%)
9,8
62,1
4,0
32,2
5,1
45,9
3,0
41,7
FON (%)
68,9
74,4
73,3
76,5
1
/ Matéria seca verde
/ Digestibilidade “ in vitro” da matéria orgânica
Fonte: Adaptado de EUCLIDES et al (1992)
2
A folha seria o componente mais importante da pastagem,
enquanto que o rendimento em folha, sua porcentagem e a densidade
do material verde seriam os principais fatores que influenciam o
tamanho do bocado e conseqüentemente o consumo dos animais em
pastejo.
Os animais pastejam seletivamente, mesmo em condições onde
a quantidade de forragem disponível é limitante. Assim, quando o
conteúdo de folhas diminui, o tamanho do bocado também o faz,
refletindo o esforço do animal em selecionar a folha remanescente, mas
isto exige uma compensação via dilatação do tempo de pastejo, mas
este é determinado geneticamente. Portanto, redução de oferta produz
diminuição de consumo e rendimento dos bovinos. Admite-se que uma
oferta de no mínimo duas vezes a quantidade consumida seria
desejável, ou seja, pelo menos 5% do peso vivo em matéria seca
disponível.
SISTEMA PRIMEIRO - SEGUNDO PASTEJADOR
A oferta de pasto que permite a maximização do poder de
seleção pelo animal pode significar uma baixa eficiência de utilização do
pasto (menos de 50% entre o ingerido: oferecido), desperdiçando uma
grande quantidade da forragem produzida.
Visando melhorar o aproveitamento da forragem produzida,
pode-se adotar o sistema de pastejo rotacional especial, com animais
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 197
ponteiros e seguidores. Os primeiros pastejadores entram no piquete e
consomem a metade da forragem oferecida, fazendo o desponte do
pasto. Estabelece-se no sistema quais as categorias devem ser
privilegiadas. Em seqüência, entram os seguidores no mesmo piquete
consumindo a forragem remanescente; estes animais se adaptam às
restrições impostas, pela redução do nível de oferta, pastejando os
estratos mais baixos de planta, porém colhendo um material de menor
valor nutritivo (mais colmos, folhas velhas e material morto). Em
conseqüência, isto produz uma diminuição na produção desses animais
devido ao efeito combinado de um menor consumo e uma menor
qualidade do pasto colhido.
MANEJO PARA QUANTIDADE X MANEJO PARA QUALIDADE
Na maioria dos casos é no início da estação chuvosa que se
oferece as melhores oportunidade de ganho de peso vivo. Ao longo da
estação de pastejo, com o acúmulo de matéria seca residual aumenta a
fração estrutural da forrageira, diluindo a qualidade geral do material
disponível.
Isto ocorre porque o manejo baseado na manutenção do
meristema apical (manejo para quantidade) permite a planta
forrageira rebrota vigorosa e rápida, uma vez que ela se processa a
partir da área foliar remanescente além da produção e expansão de
novas folhas originadas do meristema apical.
Entretanto, como o crescimento do colmo não foi interrompido
pela eliminação do meristema apical, observa-se que, mesmo a
intervalos freqüentes de pastejo, ocorre acúmulo de material residual,
caracterizado pela presença de colmos lignificados e partes mortas da
planta, capaz de prejudicar o consumo de forragem (Tabela 4).
198
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 4 - Composição estrutural de pastagem de Brachiaria
decumbens submetida a pastejo contínuo durante o
período das águas
Coleta
Item (kg/ha)
Folhas
Colmos
Matéria Morta
19/12/1997
1746
2602
2916
19/02/1998
1278
6513
2383
Fonte: Adaptado de DETMANN et al. (1999)
Uma vez que as plantas forrageiras tropicais, devido à elevada
taxa de crescimento, perde o valor nutritivo com o avanço da
maturidade, e considerando a preferência dos bovinos pelas rebrotas
tenras, o controle sobre o estádio vegetativo da forrageira na época da
colheita pelo animal, independentemente da espécie, é o parâmetro que
mais afeta a qualidade da dieta.
As características ideais da pastagem para aumentar o consumo
de matéria seca pelo animal, são determinadas quando ocorre
eliminação do meristema apical dos perfilhos primários em pastejos
estratégicos (manejo para qualidade). Após a eliminação a planta
mantém o meristema apical baixo, apresenta rebrota através de gemas
basilares, mantendo elevada percentagem de folhas e perfilhos novos,
colocando à disposição do animal material rico em folhas e colmos
novos, em quantidade e densidade que contribuem para aumentar o
consumo. A vida das folhas varia conforme o cultivar / espécie e o tipo
de crescimento, sendo maior durante o crescimento de rebrota.
Portanto, devemos usar da plasticidade fenotípica da gramínea
forrageira no sentido de adaptá-la ao pastejo. Visualiza-se a utilização
de pastejo intenso, com categoria animal menos exigente e menos
seletiva, visando a remoção do material residual de pastejo, pelo menos
três vezes durante o ano: final da época seca (imediatamente antes do
início da rebrota), meados da estação chuvosa (intercalado com os
ciclos de pastejo visando máxima produção de matéria-seca) e final da
estação chuvosa (imediatamente antes do início do diferimento de pasto
para a época seca).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 199
Adubação
A adubação pelo seu efeito de aumentar a produção de matéria
seca, é uma prática desejável no aumento da produção por área.
Entretanto, para se obter o desenvolvimento de tecido novo, rico em
proteína e pobre em parede celular e lignina, deve-se associar manejo
de colheitas freqüentes, uma vez que, especialmente a adubação
nitrogenada, imprime crescimento rápido e acelera a taxa de maturidade
fisiológica.
A performance do animal reflete, principalmente, a qualidade do
alimento, enquanto a lotação da pastagem é conseqüência da produção
de forragem na área, ou seja, da quantidade de alimento disponível.
Intensificar o uso de pastagem significa procurar o melhor nível de
integração entre desempenho e lotação da pastagem. No equilíbrio
desses dois fatores de produção, reside a tecnologia do uso da
pastagem.
Diferimento
O diferimento (reserva) de pasto, para ser usado na época seca
constitue-se em uma alternativa para se obter melhor distribuição de
alimento durante o ano. Entretanto, se material residual produzido
durante o desenvolvimento e crescimento do pasto nas águas é
acumulado para ser utilizado durante a seca, resulta num alimento
fibroso, pobre em proteína, pouco digestível e portanto, de baixo valor
nutritivo. Assim, o emprego do manejo para qualidade,
imediatamente antes do diferimento, é uma alternativa de manejo de
modo a obter a maior quantidade possível de forragem com aceitável
valor nutritivo durante a seca.
O diferimento constitui uma poupança de forragem,
representando um banco de energia latente, que deverá ser
disponibilizada por medidas de suplementação adequadas.
200
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Manejo Diferenciado por Estação
É de se esperar, mudanças na resposta animal para um mesmo
nível de oferta devido a diferenças do valor nutritivo entre as estações
do ano.Durante a época de primavera e verão, período de ativo
crescimento das gramíneas, em que elas se encontram disponíveis e
tenras, os bovinos exibem grande preferência por elas. A intervenção
seria mais a nível de oferta, dando oportunidade ao animal de
manifestar sua capacidade de seleção, no intuito de otimizar seu
balanço nutricional.
No outono e, especialmente no inverno, uma vez garantida a
disponibilidade, via diferimento, é necessária a intervenção com
nutrientes suplementares, no sentido de equilibrar os nutrientes. Outras
informações sobre manejo de pastagens forem delineadas por PAULINO
(2000).
Para se explorar economicamente animais de potencial produtivo
mais elevado torna-se indispensável o uso de suplementos, pelo menos
em determinadas fases do ciclo produtivo destes animais. Entretanto, a
exploração de interações entre práticas de manejo de pastagens e dos
animais pode reduzir o uso de concentrados na exploração de elevadas
performances dos animais.
SUPLEMENTAÇÃO, EQUILÍBRIO DE NUTRIENTES E
DESEMPENHO DOS BOVINOS
A ingestão de matéria seca é o fator mais importante na
determinação do desempenho animal, pois é o ponto responsável pelo
ingresso de nutrientes, principalmente energia e proteína, necessários
ao atendimento das exigências de mantença e produção.
Como a fibra em detergente neutro (FDN) geralmente fermenta
e passa pelo retículo-rúmen mais lentamente do que os outros
constituintes não fibrosos da dieta, ela tem um maior efeito de
enchimento do que aqueles e é considerada um preditor químico da
ingestão voluntária de MS.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 201
Características intrínsecas e características extrínsecas
afetando a cinética de digestão da parede celular
As espécies de planta, maturidade e temperaturas ambientes
durante crescimento são fontes de variação importantes na cinética de
digestão.Embora a taxa de digestão intrínseca de paredes celulares seja
o limite final de sua taxa de utilização potencial pelos ruminantes, tanto
o animal como a dieta em que a parede celular é fornecida pode ter um
efeito dramático sobre a cinética de digestão. Na verdade estes efeitos
podem, freqüentemente, contornar os limites impostos por
características intrínsecas da parede celular.
Neste contexto, digestão deve, seguramente, ser um processo de
segunda ordem, que é função do substrato e enzimas ativas.No caso de
parede celular, digestão requer uma população microbiana ativa com
capacidade de digerir parede celular.É possível que, tanto em dietas de
forragem total (pastejo), como, especialmente, nas dietas mistas de
forragem e concentrado, haja situações em que digestão é limitada por
capacidade microbiana ou enzimática(propriedades extrínsecas) e não,
somente, por propriedades cinéticas intrínsecas da parede celular.
A grande maioria das forragens disponibilizadas para os
ruminantes ao longo do ano é pastejada com pouca ou nenhuma
suplementação; parece que estes animais se beneficiariam muito da
eliminação parcial ou completa de limitações intrínsecas da taxa de
digestão(vide conceito de manejo para qualidade).
Mesmo neste cenário, entretanto, há situações onde fatores que
não a parede celular limitam a digestão. Quando forragens de baixa
qualidade são ingeridas, pode haver casos onde nutrientes outros que a
energia obtida a partir de parede celular limitam o crescimento de
microflora ruminal. Estas limitações, não ligadas diretamente a fatores
da parede celular, podem ser caracterizadas em situações em que
nutrientes dietéticos como N, peptídeos, S e possivelmente P, e
isoácidos, sendo limitantes no meio, restrigem o crescimento
microbiano, inibindo a produção de enzimas e, conseqüentemente, a
degradação fermentativa dos compostos fibrosos no ambiente ruminal.
A deficiência ruminal de compostos nitrogenados (N), seja na
forma de amônia, aminoácidos ou peptídeos pode influenciar a
regulação da ingestão de alimentos. Quando o suprimento, originário do
202
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
material ingerido ou de reciclagem endógena, não atende aos requisitos
microbianos, ocorre limitações do crescimento microbiano (SNIFFEN et
al, 1992) e depressão da digestão da parede celular , resultando em
diminuição do consumo. Para VAN SOEST (1994), a depressão do
consumo pode ser atribuída à deficiência de N para o animal, à redução
na fermentação ruminal ou à menor saída de resíduos não-digeridos do
rúmen.
Assim, apesar da clássica associação de digestibilidade com teor
de lignina, a proteína não seria ignorada quando avaliando a qualidade
geral de forragens. Ela é freqüentemente, o primeiro fator
nutricionalmente limitante em gramíneas tropicais e muitas vezes, um
preditor de digestibilidade para estas forragens , especialmente com o
teor de proteína da dieta abaixo de 7 a 8%.
É prudente salientar que se um dos fatores estiver sendo
fornecido em quantidade proporcionalmente menor do que os outros,
em relação às necessidades dos microrganismos e, ou animais,
exatamente ele determinará a taxa de ganho de peso dos animais. Em
suma,a produção é determinada sempre pelo fator mais escasso. Vale
notar que a escassez de um dos fatores implica obrigatoriamente o
desperdício dos demais.
Neste enfoque energia latente é perdida se nitrogênio solúvel,
proteína, minerais, isoácidos estiverem em níveis sub ótimos .
Interações com carboidratos solúveis e, ou fibra rapidamente digestível
interferindo no ambiente ruminal são observadas.
As pastagens tropicais, especialmente durante a época seca,
raramente constituem uma “dieta balanceada” no senso que seus
constituintes orgânicos e inorgânicos estejam presentes nas
concentrações e proporções que melhor satisfaçam as necessidades dos
animais. Neste contexto, os bovinos geralmente sofrem de carências
múltiplas, envolvendo proteína, energia, minerais e vitaminas. Assim, na
suplementação e/ou complementação das pastagens, deve-se levar em
consideração a ocorrência de deficiências simultâneas, estabelecendo-se
suplementos de natureza múltipla, envolvendo a associação de fontes
de nitrogênio solúvel, minerais, fontes naturais de proteína, energia e
vitaminas (eventualmente aditivos), visando proporcionar o crescimento
contínuo dos bovinos em pastejo. Para desempenho ótimo todos estes
fatores alimentares devem estar em balanço adequado na dieta.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 203
SUPLEMENTAÇÃO, PADRÕES DE CRESCIMENTO E SISTEMA DE
PRODUÇÃO
Em muitos cenários e,ou sistemas de produção, nutrientes
suplementares são necessários para obter níveis aceitáveis de
desempenho a partir de animais criados em regime de pastagens.
Entretanto, deve-se avaliar constantemente o impacto que a
suplementação teria sobre a performance animal. Uma estratégia de
suplementação recomendável do ponto de vista econômico, seria
maximizar uso de forragem pela maximização do consumo e digestão de
forragem disponível, mas os suplementos não supririam nutrientes além
dos requerimentos animais.
Assim, o objetivo na formulação de suplementos para dietas altas
em forragem é tipicamente determinar a energia, proteína e minerais
suplementares necessários para satisfazer os níveis alvo de
produção(metas de desempenho).
Na pecuária de ciclo curto os principais aspectos a considerar, no
estabelecimento de padrões de crescimento, são a idade ao primeiro
parto para as fêmeas e a idade ao abate para os machos e as fêmeas de
descarte. De especial interesse, é a taxa de natalidade das matrizes.
Qualquer tentativa de exploração da precocidade em bovinos está,
incondicionalmente, ligada à melhoria das condições de alimentação,
notadamente durante o período seco (PAULINO e RUAS, 1988).
Estabelecidos os parâmetros zootécnicos e monitorando o valor
nutricional do pasto e, ou o desempenho dos animais,devemos definir o
tipo e a época oportuna para fornecer a suplementação com o objetivo
de corrigir parcial ou inteiramente a deficiência observada no pasto.
Historicamente, na bovinocultura de corte desenvolvida à mercê
das flutuações de disponibilidade e qualidade dos pastos, os animais
apresentam crescimento ondulado (boi sanfona) e, ensejam idades de
abate acima de 40 meses (Tabela 5).
204
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 5 - Ganho em peso de novilhos (g/cab/dia) pastejando
gramíneas tropicais, de acordo com a época do ano
Colonião
Tobiatã
Potiporã
Marandu
B. decumbens
Nov
Fev
Maio
Set
Média Anual
1200
1152
1111
1110
780
723
893
959
600
571
370
281
255
460
380
-166
-312
-192
-140
-490
373
380
398
272
254
Fonte EUCLIDES et al (1989).
De acordo com BOIN e TEDESCHI (1997) em condições
experimentais e em inúmeras fazendas com bom manejo alimentar a
pasto, que garantam o suprimento irrestrito de forragem ao longo do
ano, animais com peso à desmama aos sete meses de 150 a 180 kg têm
sido abatidos aos 28/32 meses de idade com 450/480kg. Diante disto,
fica claro que sistemas de produção à base de pastagens podem ser
estabelecidos para abate com idade mínima de 30 meses. Para abate a
idades inferiores, os ganhos de peso durante o período seco tem que ser
maiores do que aqueles normalmente encontrados na literatura (0,1 a
0,25 kg/dia).
A melhoria de índices que caracterizem a bovinocultura de ciclo
curto (precoce e superprecoce) a nível de pasto presume boas práticas
de manejo durante as águas e garantia de disponibilidade de forragem
para o período da seca. Uma prática de maior aceitação, de baixo custo
e fácil adoção, é o diferimento de pastagens. Associadas a estas práticas
de manejo são empregadas suplementações cabíveis.
Suplementação na Época das Águas
Durante o período das águas, o objetivo é alcançar ganhos de
peso acima do potencial das pastagens, normalmente, considerado
como sendo de aproximadamente 600g/animal/dia. Entretanto,
ZERVOUDAKIS et al.(1999,2000) e PAULINO et al (2000a,c), associando
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 205
os princípios de manejo para quantidade e manejo para qualidade
das pastagens tropicais, têm estabelecido o patamar de
1,3kg/animal/dia como o limite, pelo menos durante o período
compreendido entre o início das chuvas e o mês de fevereiro; em
condições normais de precipitação.
Entretanto, em situações onde o ganho de peso não atinge o
patamar estabelecido pelo potencial genético do animal, visualiza-se o
uso de alimentação suplementar,durante o período das águas.Tal
situação pode ocorrer, por exemplo, quando se prioriza a produção por
área, valorizando elevadas taxas de lotação, sem considerar os
conceitos de manejo para quantidade e qualidade, em conjunto.
Neste contexto, PAULINO et al. (1996b), utilizando feno de guandu e
casca de café como limitadores de consumo, testaram diferentes fontes
de proteína em suplementos, ensejando acréscimo de ganhos de peso
de cerca de 200 g / animal / dia, com a associação feno de guandu e
farelo de soja (Tabelas 6 e 7). Peculiaridades serão discutidas em
relação a cada categoria.
Tabela 6 - Composição
percentual
das
suplementares, por tratamento
rações
concentradas
Tratamentos
Experimento 1
Experimento 2
A
Ingredientes
100,0
Mistura mineral (%)
Feno de guandu (%)
Casca de café triturada (%)
Farelo de soja (%)
Farelo de algodão (%)
Farelo de trigo (%)
B
5,0
75,0
20,0
-
C
5,0
75,0
20,0
-
D
5,0
75,0
20,0
A
100,0
-
B
5,0
75,0
20,0
-
C
5,0
75,0
20,0
-
206
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 7 - Pesos vivos médios, inicial e final, e ganhos em peso, total e
diários, por tratamento
Especificação
A
Peso inicial (kg)
208,11
Peso final (kg)
261,78
Ganho total (kg)
53,67
Ganho diário médio 0,624a
(kg/animal/dia)
Consumo médio de
suplemento
0,061
(kg/animal/dia)
Experimento 1
B
C
199,20 198,70
268,00 260,10
68,80 61,40
0,800a 0,714a
D
200,30
254,80
54,50
0,634a
Experimento 2
A
B
C
167,91 168,40 166,90
213,27 221,90 214,90
45,36 53,90 48,00
0,528a 0,622a 0,558a
1,163
1,025
0,077
1,016
1,926
1,592
a
Médias na mesma linha, seguidas pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre
si, pelo teste de Newman Keuls (P>0,05). Comparação feita por Experimento.
Creep - feeding
Em sistemas intensivos de produção de bovinos, nos quais o
peso à desmama dos bezerros (as) tem importância primordial,
visualiza-se a suplementação dos bezerros em amamentação. Sob a
perspectiva do uso de estação de monta, com consequente disciplinação
dos nascimentos, esta fase coincide com o período das águas.
O creep - feeding consiste em fornecimento de alimentos
suplementares aos bezerros criados ao pé das matrizes, sem que estas
tenham acesso ao suplemento.
A suplementação dos bezerros no creep - feeding tem por
finalidade não reduzir o ímpeto de crescimento dos bezerros, o que
normalmente ocorre após os dois meses de idade pela queda na
produção de leite da mãe.
O fornecimento de ração deve ser “ad libitum”, para ganhos da
ordem de 1,0 kg / animal/ dia; o consumo, dos 2 aos 7 meses de idade,
deve ser de até 1,0 kg de concentrado / cabeça / dia, resultando em
uma conversão alimentar média de 2 kg de alimento / kg de ganho,
considerando o leite e forragem consumidos. Normalmente a ração
concentrada apresenta 17 a 18% de proteína bruta e 75% a 80% de
nutrientes digestíveis totais.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 207
O creep - feeding pré-condiciona o animal ao tipo de alimentação
que ele vai receber na terminação / engorda o que beneficia o
desempenho do animal.
Em relação à produção de novilho precoce/superprecoce para o
abate, uma vantagem expressiva do creep - feeding é o ajustamento
para o período de recria e terminação que pode ser reduzido, uma vez
que o peso à desmama atinge 240 kg ou mais.
Creep - grazing
Alternativa e/ou concomitantemente ao sistema de creep feeding pode-se usar piquetes com espécies forrageiras de melhor valor
nutritivo, para uso exclusivo dos bezerros enquanto eles ainda estão
com as mães. Recomenda-se o uso de piquetes com gramíneas
manejadas para alta qualidade. Uma opção é usar o sistema ponta rapador, sendo que os bezerros constituem o grupo dos primeiros
pastejadores.
Suplementação para Época Seca
Deve-se definir, com clareza, o objetivo da suplementação dentro
do sistema de produção. Assim, o aporte de nutrientes via
suplementação durante a recria e recuperação de escore corporal de
matrizes e touros, pode visar níveis diferenciados de desempenho pelos
animais, desde a simples mantença de peso, passando por ganhos
moderados de cerca de 200 - 300g por animal/dia, até ganhos de 500 600g por animal/dia, quando o objetivo é cobrir fêmeas com cerca de 14
meses e/ou abater machos aos 20 meses de idade. Já na fase de
terminação os suplementos devem proporcionar ganhos de cerca de
700g para novilhas e acima de 800g para machos em engorda.
Assim sendo foi gerada uma família (linha) de produtos,
envolvendo sal-uréia-mineral, sais nitrogenados, sais proteinados,
“suplementos múltiplos” para recria de novilhas e novilhos superprecoces, “suplementos múltiplos” para engorda de novilhas jovens,
“suplementos múltiplos” para terminação de machos (PAULINO, 1998;
1999; 2000).
208
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Mistura sal-uréia-mineral
A mistura sal-uréia-mineral é útil na mantença de animais
(Tabela 8 ) e constitui-se em um método simples e econômico a ser
usado no rebanho, quando se busca a adaptação dos bovinos ao uso de
uréia, quando o sistema prevê o uso mais intensivo deste suplemento
em alguma fase do sistema de produção(PAULINO et al.,1982).
Em uma exploração racional seria benéfico assegurar pelo menos
a mantença de peso nos períodos críticos do ano. Assim, o diferimentos
das pastagens associado a um baixo nível de suplementação, durante o
período da seca, seriam utilizados visando prevenir um dano
permanente na atividade fisiológica do animal, de forma a possibilitá-lo
sobreviver numa condição que possa tirar vantagens do ganho
compensatório, que inciaria no período de pastagens abundantes e
nutricionalmente adequadas (PAULINO e RUAS, 1988).
Tabela 8 - Composição percentual das misturas e desempenho dos
novilhos durante dois períodos de seca consecutivos
Ingredientes
Uréia (%)
Mistura mineral (%)
Desempenho dos Animais:
Consumo da mistura (g/cabeça/dia)
Ganho de peso diário na 1a seca
(kg/animal/dia
Ganho de peso diário na 2a seca
(kg/animal/dia)
Tratamentos
C
40
60
A
0
100
B
20
80
D
60
40
60
0,142a
60
0,175a
50
0,178a
50
-0,008 b
-0,083
-0,055
0,009
0,002
Sal nitrogenado
Os custo requeridos com o transporte e a distribuição diária de
suplementos para bovinos de corte em pastejo são bastante
expressivos.
As formulações de suplementos, fornecidas no sistema de autoalimentação, permite o controle de consumo pelo próprio animal, nos
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 209
níveis estabelecidos, bem como facilita o manejo e racionaliza a
utilização de mão-de-obra na distribuição de suplementos na pastagem,
a qual pode ser executada, obedecendo a uma periodicidade semanal ou
mesmo quinzenal. Além disso, evita que o animal crie dependência pelo
suplemento e apresenta aspectos positivos sob o ponto de vista
nutricional, tais como sincronização de energia-amônia, equilíbrio de pH
e amônia, dentre outros.
Assim sendo, na formulação de suplementos para animais em
recria, matrizes e reprodutores, recorre-se ao uso de controladores de
consumo tais como o sal (PAULINO et al, 1996a) e a uréia (PAULINO et
al, 1983, 1985, 1993b). Neste contexto, PAULINO et al (1983)
mostraram a eficiência da inclusão de altos níveis de uréia em
suplementos como controlador de consumo a níveis baixo, bem como a
obtenção de desempenho moderado dos animais (Tabela 9, 10 e 11,e
Figura 1).
Existe a possibilidade de baixa utilização de uréia, durante o
período de inverno por animais em pastejo, devido o baixo conteúdo de
energia digestiva nas forragens. Daí a necessidade de inclusão de uma
fonte de energia juntamente com a uréia. Os “suplementos múltiplos”,
de baixo consumo, que usam nitrogênio não-protéico como fonte de
nitrogênio solúvel, são comumente chamados “sais nitrogenados”.
Tabela 9 - Composição
percentual
das
suplementares, por tratamento
Ingredientes
Mistura mineral
Fosfato bicálcico (%)
Uréia (%)
Enxofre (%)
MDPS* (%)
A
10,00
5,00
85,00
* - Milho desintegrado com palha e sabugo.
B
10,00
5,00
5,00
0,15
79,85
rações
Tratamentos
C
10,00
5,00
10,00
0,30
74,70
concentradas
D
10,00
5,00
15,00
0,45
69,55
210
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 10 - Pesos vivos médios, inicial e final, e ganhos em peso total e
diário, nos diversos tratamentos
Especificação
Peso inicial (Kg)
Peso final (Kg)
Ganho total (Kg)
Ganho diário médio
(Kg/animal/dia)
Consumo de suplemento
(kg/animal/dia)
A
244,14
274,07
29,03
0,214a
1,661
B
244,86
264,64
25,78
0,177b
0,635
Tratamentos
C
246,57
273,64
27,07
D
241,64
260,07
18,43
0,193ab
0,492
a, b, c - Médias na mesma linha, seguidas pela mesma letra
estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey (P > 0,05).
0,132c
0,247
não
diferem
Sal proteinado
Associada à utilização de uréia, tanto como fonte de amônia
quanto para limitar o consumo (junto com o sal), a adição de fonte
natural de proteína aos “suplementos múltiplos” de baixo consumo é
desejável no sentido de fornecer ácidos graxos de cadeia ramificada
(isoácidos) aos microrganismos do rúmen, e/ou, proteína não degradada
no rúmen aos animais. Neste contexto, as fontes naturais de proteína e
energia devem ser portadoras de características biológicas compatíveis
com a otimização da eficiência microbiana e utilização de uréia e
forragens. Dados de experimento de PAULINO et al (1993a) são
apresentados nas Tabelas 12 e 13 . A linha de produtos que segue estes
fundamentos são classificados como “sais proteinados”.
Os pecuaristas podem obter elevada performance dos animais em
crescimento quando o ganho compensatório é explorado
adequadamente. Para tanto, os animais que estariam sofrendo restrição
alimentar durante o “período de inverno”, não devem perder peso e sim
manter ganhos ao redor de 200g a 300g / dia/ cabeça.Não perdendo
peso, animais sob restrição alimentar podem ter ganhos compensatórios
nos períodos de abundância de forragem de boa qualidade.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 211
Tabela 11 - Requisitos nutricionais diários dos animais, consumo diário
médio de nutrientes e % dos requisitos atendida pelos
suplementos
Tratamentos
A
B
C
D
Nutrientes Requisitos* Consumo
%
Consumo
%
Consumo
%
Consumo
%
(kg)
(kg)
Atendida
(kg)
Atendida
(kg)
Atendida
(kg)
Atendida
MS
6,40
1,52
23,7
0,59
9,2
0,44
6,9
0,22
3,4
PB
0,57
0,12
21,0
0,14
24,6
0,17
29,8
0,10
17,5
NDT
3,50
0,98
28,0
0,33
10,0
0,25
7,1
0,12
3,4
Ca
0,012
0,023
191,6
0,009
75,0
0,007
58,3
0,004
33,3
P
0,012
0,019
159,3
0,007
58,3
0,005
41,6
0,003
25,0
*- Novilhas de 250 kg para ganho diário de 0,30 kg (NRC, 1976).
212
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Figura 1 - Representação diagramática da evolução do peso vivo médio
dos animais (kg), por tratamento.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 213
Tabela 12 - Composição percentual dos suplementos
Ingredientes
Mistura mineral (%)
Uréia (%)
Sulfato de amônia (%)
Farinha de carne e ossos * (%)
Farelo de algodão (%)
Farelo de trigo (%)
MDPS **
Tratamentos
A
B
C
2,0
5,0
0,55
9,0
15,0
0,0
68,45
2,0
5,0
0,55
9,0
15,0
15,0
53,45
2,0
5,0
0,55
9,0
15,0
30,0
38,45
* Obs.: No momento é proibido o uso deste produto na formulação de rações para
ruminantes.
** MDPS - Milho desintegrado com palha e sabugo.
Tabela 13 - Desempenho dos animais
Especificação
Peso inicial (kg)
Peso final (kg)
Ganho diário médio (kg/animal/dia)
Consumo de suplemento (kg/animal/dia)
A
129,7
139,47
0,097
0,300
Tratament
os
B
130,50
146,94
0,154
0,323
C
132,93
153,27
0,190
0,548
Suplementos múltiplos para recria de novilhas superprecoce
O sistema de acasalamento de fêmeas com quatorze a quinze
meses, presume o aproveitamento do crescimento acelerado e rápido à
custa do desenvolvimento dos tecidos ósseos e muscular que ocorre do
nascimento a puberdade, ativados pela liberação de hormônios protéicos
de crescimento.
214
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Para que isto seja viabilizado, o manejo nutricional deve
possibilitar crescimento contínuo no pós-desmame, com magnitude em
torno de 600g/animal/dia. Como nos sistemas de estação de monta
normalmente usados no Brasil Central, a fase de recria (desmama puberdade) coincide com a época seca, PAULINO(1991) e PAULINO e
RUAS (1992) conduziram trabalho com fêmeas em recria visando
viabilizar a produção de novilhas prenhas superprecoce em regime de
pastejo com suplementação (Tabela 14 e 15).
Tabela 14 - Composição dos Suplementos
Ingredientes
Mistura mineral (%)
Calcário calcítico (%)
Uréia / sulfato de amônia - 9:1 (%)
Farelo de soja (%)
Farinha de carne e ossos * (%)
Farelo de algodão (%)
Milho grão (%)
MDPS ** (%)
*
Tratamentos
A
B
4,0
1,0
5,0
25,0
65,0
4,0
1,0
5,0
5,0
30,0
30,0
25,0
Obs.: No momento é proibido o uso deste produto na formulação de rações para
ruminantes.
** MDPS - Milho desintegrado com palha e sabugo.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 215
Tabela 15 - Desempenho dos animais
Especificação
Peso inicial - 23/08/1990 (kg)
Peso final seca - 26/11/1990 (kg)
Ganho diário médio (kg/animal/dia)
Consumo de suplemento (kg/animal/dia)
Peso início estação de monta - 31/01/1991 (kg)
Peso final estação de monta - 21/03/1991 (kg)
% de prenhez *
Tratamentos
A
B
196,46
195,35
253,18
256,39
0,564
0,621
1,316
1,148
283,1
289,8
314,3
319,6
35,5
38,7
* Refere-se ao total das fêmeas ½ Holandês-Zebu, ou seja, as que apresentavam
potencial genético para prenhez aos 14 - 16 meses.
Para obtenção de níveis de ganhos mais elevados durante a
recria, faz-se mister o refinamento da composição dos suplementos,
bem como proporcionar consumos próximos a 1kg por animal / dia,
atendendo as exigências totais de nitrogênio degradado no rúmen, sódio
e microminerais, cerca de 50 a 60% das de fósforo e proteína,
assegurando disponibilidade de peptídeos a nível ruminal, e cerca de
30% daquelas de energia.
O principal objetivo de suplementar fêmeas durante a recria é de
incrementar a sua performance reprodutiva proporcionando melhores
condições corporais à primeira monta e ao primeiro parto, beneficiando
o aumento do índice de repetição de cria e o peso ao desmame. Tratase de um investimento a longo prazo e com a obtenção conclusiva dos
resultados após três, quatro ou mais anos consecutivos.
Havendo potencial genético, à medida que o peso e o ganho de
peso assegurem a maturidade sexual, as fêmeas apresentam melhores
condições fisiológicas para manifestarem cio. Observa-se na Tabela 15
que as novilhas que eram detentoras de potencial genético - nesse
estudo representadas por fêmeas ½ Holandês x Zebu - tornaram-se
prenhes. Novilhas azebuadas e retrocruzadas não responderam ao
tratamento. Portanto, genética e sanidade, são condições básicas, ao
lado do plano nutricional, para viabilizar este sistema.
Visando garantir boa eficiência reprodutiva das matrizes
primíparas é necessário garantir o crescimento contínuo dos animais na
216
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
estação seca subseqüente, garantindo o parto com peso equivalente a
80% do peso adulto.
Suplementos múltiplos para recria de novilhos superprecoce de
pasto
O sistema de produção de novilho “superprecoce de pasto”, com
abate em torno de 18 a 20 meses, requer crescimento contínuo durante
a recria a níveis superiores a 400g/animal/dia. Neste contexto, GOMES
JR. et al. (2001) testaram diferentes fontes de proteína em suplementos
múltiplos durante o período da seca, salientando a importância da
compatibilidade das fontes de proteína para a adequada utilização de
uréia e digestão e consumo de forragem de baixa qualidade (Tabelas 16
e 17).
Tabela 16 - Composição dos Suplementos
Ingredientes (%)
Mistura mineral*
Sal comum (NaCl)
Uréia/Sulf.amônio(9:1)
Farelo de soja
Farelo de algodão
Farelo de glúten de milho
Farelo de trigo
*
Tratamentos
MM
100,0
-
FS
FA
FG
FT
6,0
4,0
10,0
15,0
65,0
6,0
4,0
10,0
30,0
50,0
6,0
4,0
10,0
10,0
70,0
6,0
4,0
8,0
82,0
Mistura mineral: fosfato bicálcico, 50,0%; sal comum, 48,0%; sulfato de zinco,
1,5%; sulfato de cobre, 0,4%; sulfato de cobalto, 0,05%; sulfato de magnésio,
0,03% e iodato de potássio, 0,03%.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 217
Tabela 17 - Pesos vivos médios, inicial (PVMi) e final (PVMf), ganho de
peso médio diário (GPMD), e consumo de suplemento
(CS)em kg
Itens
PVMi
PVMf
GPMD
CS
Tratamentos
MM
253
261
0,09b
0,046
FS
249
287
0,39a
1,480
FA
247
300
0,54a
1,490
FG
249
299
0,50a
1,500
FT
241
284
0,43a
1,480
a
Médias seguidas pela mesma letra, em uma mesma linha, não diferem entre si, em
nível de 5% de probabilidade, pelo teste Newman Keuls.
Suplementos múltiplos para terminação de novilhas
A produção de novilhas de descarte jovens (20 - 24 meses), com
peso e acabamento adequados, constitui-se em opção viável. Quando a
fase de acabamento coincidir com a época seca, associada à
disponibilidade de forragem diferida, torna-se necessária o uso de
suplementação. PAULINO e RUAS (1990) conduziram um trabalho
visando testar diferentes fontes de energia em suplementos múltiplos,
sobre o desempenho de novilhas de corte (Tabelas 18 e 19 )
218
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 18 - Composição dos suplementos
Ingredientes
A
Mistura mineral (%)
Uréia (%)
Gesso (%)
Farinha de carne e ossos * (%)
Farelo de trigo (%)
Soja grão(%)
Milho grão (%)
Sorgo grão (%)
MDPS **
4,0
5,0
1,0
5,0
30,0
20,0
35,0
Tratamentos
B
4,0
5,0
1,0
5,0
30,0
22,0
33,0
C
4,0
5,0
1,0
5,0
30,0
25,0
30,0
* Obs.: No momento é proibido o uso deste produto na formulação de rações para
ruminantes.
** MDPS - Milho desintegrado com palha e sabugo.
Tabela 19 - Desempenho dos animais
Especificação
Peso inicial (kg)
Peso final (kg)
Ganho de peso diário médio (kg/animal/dia)
Consumo de suplemento (kg/animal/dia)
A
284,46
371,00
0,628
1,694
Tratamentos
B
C
283,37
282,00
366,13
367,51
0,593
0,628
1,922
1,762
Em situações onde a fase de terminação coincidir com a época
das águas, dependendo das condições de disponibilidade, espécie e
qualidade do pasto, a suplementação bem elaborada pode ensejar
incremento no desempenho das novilhas (Tabelas 20 e 21)
(ZERVOUDAKIS et al, 1999).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 219
Tabela 20 - Composição dos suplementos
Ingredientes
Mistura mineral* (%)
Milho grão (%)
Farelo de soja (%)
Farelo glúten milho (%)
I
Tratamentos
II
III
100,00
-
57,7
42,3
40,5
59,5
-
* Tratamentos II e III: mistura mineral à vontade
Tabela 21 - Desempenho de novilhas mestiças suplementadas no
período das águas
Especificação
Peso médio inicial (kg)
Peso médio final (kg)
Ganho de Peso Total (kg)
Ganho peso médio diário (kg/animal/dia)
Consumo médio diário:
Suplemento (kg/animal/dia)
Mistura mineral (g/animal/dia)
I
263,14
347,87
84,73
0,73
Tratamentos
II
265,00
370,62
105,62
0,91
III
266,43
370,38
103,95
0,89
103,3
0,5
83,49
0,5
85,56
Ajustes devem ser feitos em cada sistema de produção
específico, visando compatibilizar peso inicial dos animais, composição
do suplemento e peso do abate exigido pelo mercado.
Suplementos múltiplos para terminação de machos
Para viabilizar a produção do novilho precoce/superprecoce em
pastagens, deve-se estabelecer manejo que permita, durante a
terminação ganhos de peso superior a 1kg/animal/dia, durante o
período das águas, associados a ganhos superiores a 800g/animal/dia
durante o final das águas e início ou durante a estação seca.
220
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
No período das secas, para obtenção de ganhos de peso acima
de 800g/animal/dia, deve-se liberalizar o consumo de suplementos.
Portanto, uréia e sal são usados sob a ótica de satisfazer às exigências
nutricionais e otimização da eficiência microbiana, de consumo e
utilização de forragens, sem a preocupação de controle de consumo.
Com este objetivo, a literatura registra fornecimento de rações
concentradas na base de 0,8 a 1,0% de peso vivo( Tabelas 22 e 23)
(PAULINO et al, 2000b).
Tabela 22 - Composição percentual, com base na matéria natural, das
rações concentradas suplementares
Ingredientes (%)
Mistura mineral 1
Uréia/sulfato de amônia-9:1
Soja grão inteira
Caroço de algodão inteiro
Farelo de soja
Milho grão triturado
1
SSI 2
2,0
2,5
25,0
70,5
Tratamentos
SCAI 3
2,0
2,5
50,0
45,5
SMFS
2,0
2,5
17,0
78,5
4
Mistura mineral: fosfato bicálcico, 48,61%; sal comum, 48,61%; sulfato de zinco,
1,46%; sulfato de cobre, 0,72%; sulfato de magnésio, 0,50%; sulfato de cobalto,
0,05%; iodato de potássio, 0,05%.
2
SSI = suplemento contendo soja grão inteira;
3
SCAI = suplemento contendo caroço de algodão inteiro;
4
SMFS = suplemento contendo milho e farelo de soja.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 221
Tabela 23 - Pesos vivos médios, inicial e final, ganhos de peso total e
diário e rendimento de carcaça, por tratamento
Especificação
Peso inicial com enxugo (kg)
Peso final com enxugo (kg)
Ganho de peso total (kg)
Ganho de peso diário (kg/animal/dia)
Rendimento de carcaça(%)
SSI 1
363,25
461,50
98,25
1,056
52,21
Tratamentos
SCAI 2
SMFS 3
363,00
356,50
457,50
462,25
94,50
105,75
1,016
1,137
53,04
53,61
1
SSI = suplemento contendo soja grão inteira;
SCAI = suplemento contendo caroço de algodão inteiro;
3
SMFS = suplemento contendo milho e farelo de soja.
2
Sob a ótica de garantir fornecimento contínuo de animais e, ou
acelerar a taxa de crescimento no período de transição águas-seca,
visando evitar que determinados lotes de animais entrem no auge da
seca (setembro-outubro), suplementação estratégica neste período pode
ser utilizada (KABEYA et al, 2000; Tabelas 24 e 25).
Tabela 24 - Composição dos suplementos
Ingredientes (%)
Sal mineral 1
Uréia/sulfato de amônia 9:1
Farelo de soja
MDPS*
Milho grão moído
Farelo de trigo
MDPS
2,00
2,50
45,00
50,50
---------
Tratamentos
MILHO
2,00
2,50
40,00
----55,50
-----
FTRIGO
2,00
2,50
30,00
--------65,50
* Milho desintegrado com palha e sabugo
1
- Composição percentual: fosfato bicálcico 50,00; sal comum 48,00; sulfato de zinco
1,50; sulfato de cobre 0,40; sulfato de cobalto 0,05; sulfato de magnésio 0,03 e iodato
de potássio 0,03.
222
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 25 - Desempenho dos animais
Especificação
Peso médio inicial - 07/05/98 (kg)
Peso médio final *- 01/09/98 (kg)
Ganho médio diário (kg/animal/dia)
Rendimento de carcaça (%)
Consumo de Suplemento (kg/animal/dia)
I
348,2
443,8
0,824
53,39
3,0
Tratamentos
II
III
346,2
341,8
447,0
433,0
0,869
0,786
54,31
54,70
3,0
3,0
* Idade média de 21 meses (todos com dente de leite)
Suplementos múltiplos para recuperação de estado nutricional
de matrizes
Uma prática complementar à estação de monta importante para
a manutenção de taxas elevadas de natalidade, é o monitoramento do
estado nutricional do rebanho de cria, ao longo do ano. Isso possibilita
que sejam adotadas práticas de manejo apropriadas, quando
necessário, em benefício da eficiência reprodutiva do rebanho.
Na avaliação do estado nutricional dos animais são atribuídos
escores de condição corporal, sendo comumente utilizada uma escala de
1 a 9, em que 1 corresponde a animais extremamente magros e 9 a
animais extremamente gordos, sendo desejáveis animais com escore de
5 e 6. As avaliações devem ser feitas ao parto, ao início e ao fim da
estação de monta e à desmama dos bezerros.
A condição corporal da vaca ao parto tem grande influência
sobre o seu desempenho reprodutivo na estação de monta seguinte.
Vacas com escore mínimo de 5 a 6, ao parto, retornam muito mais
rapidamente ao cio que vacas magras, concebem mais cedo na estação
de monta e apresentam taxa de concepção mais elevada. De forma
semelhante, é desejável escore corporal mínimo de 5 ao início da
estação de monta e à desmama de bezerros.
Como a fase de cria normalmente é conduzida em áreas de
pastagens de qualidade inferior ou de pastagens nativas, é conveniente
complementar a alimentação desses animais em pastagens melhores
nos períodos críticos.Neste contexto, LEITE et al. (1994) mostram um
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 223
incremento de cerca de 15% na taxa de natalidade de fêmeas
recebendo “ suplemento múltiplo” para recuperação de escore corporal,
no período compreendido entre a desmama e o início da estação das
chuvas(Tabela 26) A suplementação de vacas de cria é ainda prática
pouco utilizada no Brasil. Entretanto, tem se elevado o uso de sal
proteinado para esta categoria, sendo que o Estado de Goiás lidera o
seu emprego (SEBRAE, 2000).
Tabela 26 - Composição dos suplementos e desempenho dos animais
Ingredientes
Mistura Mineral (%)
Uréia/Sulfato de Amônia - 9:1 (%)
Calcário calcítico (%)
Monensina (%)
Farinha de carne e ossos** (%)
Farelo de algodão (%)
Farelo de trigo (%)
MDPS (%)
Desempenho dos Animais:
Consumo de suplemento1 (kg/Animal/dia)
% de prenhez na EM2
I
100,00
-
Tratamentos*
II
100,00
-
0,060
53,33
0,060
55,55
III
5,00
5,55
1,00
0,10
9,00
30,00
15,00
34,35
0,533
68,42
*Tratamentos:
I - Matrizes com escore de condição corporal > 5,0 no início do experimento
II -Matrizes com escore de condição corporal entre 3,0 e 5,0 no início do experimento
III - Matrizes com escore de condição corporal entre 3,0 e 5,0 no início do experimento
** No momento está proibido o uso deste produto na alimentação de ruminantes.
1
- Agosto a Outubro / 1993
2
- EM = estação de monta (Janeiro a março/1994)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil a bovinocultura de corte é baseada em sistemas de
produção que incluem pastagens nativas e/ou cultivadas. A produção
animal está condicionada à quantidade e qualidade da pastagem
consumida. A quantidade diária de matéria seca consumida é uma
224
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
medida crítica para se fazer inferências nutricionais e se alcançar um
balanço positivo entre a oferta e demanda por nutrientes do animal em
pastejo.
O manejo de pastagens tropicais requer técnica, habilidade e
observação diária, de forma que ajustes na carga animal sejam
compatíveis com a variação no crescimento das plantas, bem como às
mudanças nos componentes morfológicas (folha, colmo e material
morto) ao longo do ano.
Ao definirmos o potencial das gramíneas tropicais para ganho de
peso devemos fazê-lo sem restrições de oferta de pasto. Por outro lado,
sabe-se que o limite de cada característica produtiva é determinado
geneticamente; assim devemos assegurar, via programas bem
delineados, capacidade de resposta dos animais.
A exploração de desempenho animal ótimo em pastagens parece
ser limitada por fatores como adequação das curvas “estacionais” de
exigências nutricionais dos animais ao de produção da planta forrageira,
consumo, densidade de nutrientes de forragem, digestibilidade e nível
de suplementação com concentrado em determinadas fases produtivas
do animal. Se esses parâmetros forem mantidos sob controle, podem-se
traçar os limites de performance do animal para sistema de exploração
que empregam forragens em diferentes níveis na dieta do animal.
A primeira ação no sentido de garantir fornecimento de energia é
garantir suprimento de forragem , a níveis de 5 a 7,5% do peso vivo em
matéria seca, proporcionando oportunidade ao animal de exercer a
seletividade e ingerir dieta com maior concentração de nutrientes.
Com relação às características intrínsecas da planta devemos
valorizar as técnicas de manejo para qualidade, mantendo a
forragem em estádio mais imaturo via rebrotas constantes.
No que concerne às características extrínsecas relacionadas à
cinética de digestão, devemos valorizar a suplementação de
natureza múltipla visando aumentar digestão, taxa de passagem de
resíduos indigestíveis e consumo. Entretanto, a suplementação não deve
ser considerada a única maneira de superar as limitações de forragens
de baixa qualidade.
Biologicamente, energia, proteína, fósforo, sódio, microminerais(
cobre, cobalto, zinco, iôdo e outros , cuja deficiência regional for
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 225
cientificamente comprovada) e vitamina A, são os principais nutrientes
limitando a performance de rebanhos em pastagem.
Suplementação não é um sistema de alimentação, mas um
corretivo dos déficits que possam apresentar nossas pastagens (naturais
ou implantadas) em determinadas épocas do ano e em determinadas
atividades.
A suplementação deve ser fornecida de acordo com as exigências
dos animais que, por sua vez, não é igual para as diversas categorias,
uma vez que os mesmos não respondem de igual forma a uma
determinada quantidade e qualidade de suplemento. A suplementação
também pode ser fornecida de forma substitutiva com o objetivo de
aliviar o pasto, aumentando-se assim a carga animal por hectare.
Suplementação com proteína é essencialmente crítica quando a
proteína bruta da pastagem encontra-se abaixo de 7 - 8%. Fósforo,
sódio e microminerais devem ser fornecidos sempre. Suplementação de
vitamina A é recomendada quando os rebanhos são mantidos por mais
de 4 meses sem acesso a forragens verdes / tenras.
É necessário reavaliar o conceito, geralmente aceito, de que as
gramíneas tropicais constituem substrato de baixa qualidade. Neste
contexto, entre os fatores controláveis visualizamos que, o potencial de
desempenho (ganho de peso, precocidade sexual e de acabamento) é
administrável com animais detentores de potencial genético; quantidade
de matéria seca com escolha de espécie adequada, manejo, adubação
e, ou reciclagem de nutrientes; a sazonalidade com manejo e
diferimento; a qualidade de forragem com manejo e suplementos
múltiplos; a questão econômica com administração e controle; a
questão gerencial com educação em todos os níveis (visão de mundo
tropical do trabalhador rural ao formulador de teorias).
Salientamos que se o diferimento de pasto pode ser considerado
uma poupança de pasto para a época seca, a forragem assim obtida
pode ser considerada um banco de energia latente, cabendo-nos
disponibilizá-la para o animal, via balanço adequado dos nutrientes,
incrementando a digestão da fração potencialmente digestível,
passagem do resíduo indigestível e consumo.
Quando elevados níveis de produção de matéria seca nas
pastagens forem alcançados, é possível explorar conjuntamente
performance mais elevadas dos animais e elevadas lotações.
226
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
A suplementação de animais em pastejo e sua eficiência (kg de
ganho / kg de suplemento) pode ter diferentes respostas produtivas já
que depende de numerosos fatores e suas interações. Estes fatores se
resumem em:
- Alimento
. Pasto - tipo, qualidade, disponibilidade
. Suplemento - tipo, qualidade, quantidade e forma de
apresentação.
- Animal: potencial genético, antecedentes nutricionais e estado
fisiológico ( fase do ciclo de vida).
- Manejo: oferta de pasto (carga animal; pressão de pastejo),
sistema de pastejo, distribuição do concentrado.
Genericamente, o nível de fornecimento de suplementos múltiplos
guarda relação com ganhos de peso e objetivos do sistema de produção
da seguinte maneira:
- Recria de animais precoces, objetivando ganhos de 200 - 300g
/ animal/ dia: consumos na base de 0,1 a 0,3% do peso vivo.
- Recria de animais superprecoces, objetivando ganhos de 500 600g / animal / dia: consumos na base de 0,4 a 0,5% de peso
vivo.
- Terminação de novilhas precoces e machos com 13 a 14
arrobas, objetivando ganhos de 600 - 700 g/ animal / dia:
consumos na base de 0,5 a 0,7% do peso vivo.
- Terminação de machos com 11 a 12 arrobas, objetivando
ganhos acima de 800g/animal/dia: consumos na base de 0,8 a
1,0% do peso vivo.
- Terminação com efeito substitutivo, especialmente em
condições com baixa disponibilidade de matéria seca:
consumos na base de 1,0 a 1,5% do peso vivo.
Embora os sistemas de produção de bovinos em pastejo
(envolvendo
suplementação
/
complementação)
apresentem,
naturalmente, maior variabilidade, eles constituem uma opção viável
para os pecuaristas, pois, além de não requererem atividade agrícola
para produção de volumosos (como requerem os confinamentos)
permitem significativas melhorias nos índices de produtividade do
rebanho e melhoram as condições de manejo das pastagens.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 227
Acrescentem-se como vantagens desta proposta os baixos investimentos
em instalações e equipamentos e menores exigências em infraestrutura, podendo viabilizar a pecuária de ciclo curto até em regiões /
propriedades não contempladas com energia elétrica.
Entre os anos de 1990 e 1998 enquanto o número de animais
engordados em confinamento cresceu de 753.000 para 1.415.000 de
cabeças, a produção de animais terminados a pasto, com
suplementação no período seco, passou de 115.000 para 1.850.000
cabeças (ANUALPEC, 1999).
Sob a ótica da pecuária de ciclo curto, é factível delinear uma
estratificação do rebanho visando o abate de 30 - 40% dos machos com
“superprecoce de pasto” abatidos com cerca de 18-20 meses, 30 - 40%
abatidos com cerca de 22 meses e 40 - 20% como “precoce” com, no
máximo, 24 meses, bem como cobrir fêmeas de reposição com cerca de
14 a 15 meses e abater novilhas de descarte com 20 - 22 meses. Assim,
diríamos que estão estabelecidas as bases para a bovinocultura do
novilho “superprecoce verde - amarelo”.
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232
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
PASTAGEM E CANA-DE-AÇÚCAR , IRRIGADOS POR
ASPERSÃO DE BAIXA PRESSÃO
Carlos Augusto Brasileiro de Alencar
Professor da Universidade Vale do Rio Doce, UNIVALE, Centro de Ciências
Agrárias,Gov.Valadares-MG, [email protected]
INTRODUÇÃO
O setor gado de corte está sendo pressionado a se modernizar,
saindo do modelo tradicional e extrativista para outro mais empresarial,
o que implicará na substituição dos fatores primários por capital e
tecnologia, na busca de competitividade e equilíbrio entre altos
rendimentos e rentabilidade.
Do ponto de vista da alimentação do rebanho, o pasto é o mais
barato de todos os alimentos para se produzir e utilizar (EMMICK 1991),
além de se constituir num sistema de produção que requer menores
inversões iniciais de capital.
A utilização adequada de pastagens pode reduzir os custos de
produção, principalmente pela redução de concentrados e mão-de-obra
(VILELA et al., 1993).
Uma vez que a alimentação responde por 40 a 60% do custo de
produção, no Brasil, produtores, técnicos e pesquisadores devem buscar
programas de produção de forragem e sistemas de alimentação mais
eficientes no uso de energia, que demandem menos mão-de-obra e
investimentos.
O ajuste do manejo de uma forragem requer conhecimentos
prévios sobre os níveis de produção por animal e por área, possíveis de
serem obtidos, e sobre os fatores limitantes dessa produção, como os
que afetam o consumo de forragem e consequentemente a produção
por animal, e aqueles que afetam a produção de forragem
e
consequentemente a produção por área, como o clima, solo, irrigação e
o uso de fertilizantes.
Estudos realizados com a cana-de-açúcar e pastagens tropicais,
mostram que quando bem manejados, estes sistemas podem suportar
altas taxas de lotação, permitindo produções de carne por área em
níveis relativamente altos (Tabela 1), (Tabela 2).
234 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Potencialidade da lotação para produção de carne a pasto
nos trópicos com diferentes níveis tecnológicos
Tecnologia Adotada
Sem fertilizante
Consórcio gramínea + leguminosa
Com N, P, K e S
Com N, P, K e S, + Irrigação
Taxa de Lotação
(u.a./ha)
0,5 – 1,5
1,5 – 2,5
2,5 – 5,0
6,0 – 9,9
Fonte: Dados pessoais
Tabela 2 - Potencialidade da lotação para produção de carne com
Cana-de-açúcar/uréia com diferentes níveis tecnológicos
Tecnologia Adotada
Sem fertilizante
Com fertilizante
Com fertilizante + Irrigação
Taxa de Lotação
(u.a/ha)
5,0 – 7,5
7,5 – 15
15 – 0
Fonte: Dados pessoais
Os custos de produção de Matéria Seca (M.S) da cana-de-açúcar
+ uréia e das pastagens, em condições normais, ou seja, sem irrigação
estão em torno de US$ 0,03/kg M.S. e US$ 0,02/kg M.S.
respectivamente. Estas duas forragens quando comparadas com outros
sistemas (Ex.: silagem, feno) tem custo menores e maiores rendimentos
por área.
Quando introduzimos um dos fatores limitantes de produção, a
irrigação, o custo de produção de Matéria Seca (M.S.) da cana-deaçúcar + uréia e das pastagens passarão a ser US$ 0,04/kg M.S. e US$
0,03/kg M.S. respectivamente.
A resposta à irrigação de gramíneas tropicais tem sido
controvertida, principalmente em função da região, da espécie
forrageira, do nível de insumos e do sistema de irrigação.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 235
Na região do Estado de Pernambuco divisa com Estado de
Alagoas, a irrigação do pasto de mombaça (P.maximum), mostrou
viabilidade econômica, possibilitando uma taxa de lotação de 7,0 u.a/ha
com o ganho de peso de 850 gr/cab./dia. No leste de Minas Gerais, a
irrigação tanto da cana-de-açúcar (Tabela 3) quanto a do pasto de
braquiária (B.brizantha), também mostraram viabilidade econômica,
possibilitando uma produção de leite de 10,0 kg/vaca/dia e uma taxa de
lotação de 5,0 vacas/ha, com custo de produção de US$ 0,13/lt.
Trabalhos conduzidos pela EMBRAPA/Gado de Leite (EMBRAPA/CNPGL,
1996) demostraram que a irrigação das pastagens com as forrageiras do
gênero Pennisetum e Cynodon, mostraram viabilidade econômica. O
mesmo ocorreu com trabalho conduzido na região norte de Minas Gerais
com a participação EMBRAPA/Gado de Leite, a ANPL e a COOPAGRO
(EMBRAPA/CNPGL, 1996).
Tabela 3 - Competição de oito variedades de cana-de-açúcar
irrigada, para alimentação de bovinos, média de quatro
cortes
MÉDIAS
Variedade
RB739359
CB 453
SP711406
RB765418
RB739735
NA5679*
RB785148*
RB72454*
MÉDIA*
M.V
Ton./ha
201
193
198
218
222
258
274
295
276
M.S.
%
27,0
25,4
28,0
27,0
25,5
27,0
26,3
29,0
27,4
M.S.
Ton./ha
54
49
55
59
57
70
72
85
76
Fonte: Convênio UNIVALE / EMBRAPA / LEITE GLÓRIA
BRIX
%
15,3
14,4
15,4
15,0
16,0
17,0
17,0
18,0
17,3
236 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
IRRIGAÇÃO
Os padrões de disponibilidade hídrica (precipitação) e de
evapotranspiração são, entre outros, determinantes da adaptação e
produtividade das espécies forrageiras. Além disso, a quantidade de
água disponível para as plantas depende da textura e profundidade do
solo, além das características do sistema radicular em termos de sua
profundidade. Dentre os fatores que afetam a perda de água pela
planta, a radiação solar é o principal, sendo a temperatura do ar,
umidade relativa e velocidade do vento influentes em menor escala.
Na prática considerando-se as perdas, seja em condições de
precipitação natural ou de irrigação, valores da ordem de 1.000 a 1.500
mm/ano parecem ser razoáveis para sistemas intensivos de produção de
forragem, embora valores mais exatos para otimização de sistemas de
irrigação de forragem ainda sejam escassos em nosso meio.
A aplicação da água no solo, com objetivo de fornecer às
espécies vegetais a umidade ideal para seu desenvolvimento, pode ser
feita por meio de diversos métodos de irrigação. A irrigação por
aspersão tem sido um dos métodos mais difundido atualmente. Talvez
tenham concorrido para isso o elevado grau de uniformidade de
aplicação de água, a facilidade de manejo, a elevada eficiência do
sistema, a facilidade para eliminar os perigos de erosão, a possibilidade
de seu emprego nas mais diversas topografias e tipos do solos e a
possibilidade de aplicação de fertilizantes e defensivos.
Uma opção é a irrigação por aspersão fixo de baixa pressão, que
é um sistema em que as linhas principais, secundárias e laterais são em
quantidades suficientes para irrigar toda a área, com aspersores de
pressão de serviço baixa. A condução d’água da motobomba até os
aspersores é efetuada, por meio das tubulações de diversos tipos de
materiais, tais como: aço zincado, alumínio e PVC rígido.
Apesar das tubulações serem suficientes para irrigar ao mesmo
tempo, a área inteira, a irrigação é feita com funcionamento de um
determinado número de aspersores por vez, de acordo com o turno de
rega. Para isso o sistema é dotado de Cap BR (Tampão com rosca), com
controle manual, nos pontos de irrigação.
Os aspersores são do tipo rotativo (Figura 1), movidos por
impacto do braço oscilante e trabalham com pressão variando entre 15
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 237
a 25 m.c.a.. Por necessitarem de baixa pressão, muitos sistemas são
instalados com pressão proveniente da diferença de nível entre a fonte
d’água e a área a ser irrigada (por gravidade).
A troca destes aspersores é feita a cada 12 ou 24 horas,
dependendo da sua intensidade de aplicação, que pode variar de 2,0 a
5,0 mm/hora.
A utilização deste sistema tem sido grande, em razão da baixa
demanda de mão-de-obra, de energia, de vazão, possibilidade de
fertirrigação e baixo custo do equipamento, US$ 700/ha (Tabela 4).
Tabela 4 - Custo do Equipamento de Irrigação, ex.: 30 ha
Descrição
Sucção, Kit adubação, Moto-bomba, Chave
partida, Registro, Manômetro e Conexões
Linha principal, Linha secundária, Conexões
Linha lateral, Conexões
Aspersor, lixa, cola e fita
TOTAL
US$
%
3.200
7.300
9.300
1.100
21.000
15
35
45
5
100
238 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Manejo de Irrigação
O manejo racional de qualquer projeto de irrigação deve ter
como objetivo maximizar a eficiência do uso d’água e minimizar os
custos, quer de mão-de-obra, quer de capital, mantendo as condições
de umidade do solo e de fitossanidade favoráveis ao bom
desenvolvimento da cultura irrigada (BERNARDO, 1984).
Infelizmente, as práticas irrigatórias em uso são, geralmente,
baseadas em costumes herdados ou em conveniências particulares, em
vez de em corretas análises para as condições presentes.
Após a instalação do sistema e durante as irrigações, fazem-se
necessárias a análise e a calibração do sistema, a fim de que se possa
implementá-lo, de modo que o sistema seja conduzido com eficiência.
Através de trabalhos de campo que estão sendo realizados desde
o início de 1996, em propriedades no leste do Estado de Minas Gerais ,
no sul do Estado da Bahia e Pernambuco, sugerimos, para obter boa
produção, tanto na cana-de-açúcar (250 ton./ha) quanto na pastagem
(6,0 u.a/ha), irrigação com turno de rega prefixado usando 60 - 80% de
disponibilidade d’água do solo entre duas irrigações.
EXTRAÇÃO DE NUTRIENTES
Produções elevadas de forragem requerem alto nível de
reposição de nutrientes, principalmente os mais solúveis como N e o K
(Tabela 5), justamente os que têm o maior impacto sobre a produção.
Ainda assim, nutrientes menos móveis como P e Ca devem ser
constantemente monitorados, com saturação por bases (V%) mantida
ao redor de 60%, para que a fertilidade não seja fator limitante em
situações de exploração intensiva, como o caso de forragens irrigadas.
Portanto o grande diferencial entre o potencial e a produção real das
forragens se deve em muito ao fato do produtor e do técnico não
encararem as plantas como culturas exigentes que extraem grandes
quantidades de nutrientes do solo (Tabela 6).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 239
Tabela 5 - Quantidades de macronutrientes relativos a produção de
100 ton. colmos, variedade C.B. 4176
Macronutrientes
N
K
P
Nutrientes removidos (Kg)
150
150
20
Fonte: Malavolta, 1987
Tabela 6 - Produção de forragem e remoção de nutrientes em gramíneas
Espécie
Brachiaria ruziziensis
Cynodon nlemfuensis
Pennisetum purpureum
Brachiaria mutica
Digitaria decumbens
Panicum maximum
Melinis minutiflora
Média
Kg do nutriente/t.MS
Produção de
M.S. (t/ha.ano)
32,9
27,8
27,7
26,4
26,1
25,3
14,3
25,8
Nutrientes removidos
N
P
K
333
54
442
380
64
460
332
70
554
337
47
421
329
52
393
317
48
399
227
35
228
332
53
415
13
2
16
(Kg/ha.ano)
Ca
Mg
150
77
148
53
105
69
126
87
119
74
163
109
62
48
125
74
4,8
2,8
Fonte: Rodrigues e Rodrigues (1987), modificado
Segundo MALAVOLTA (1987), na cultura de cana-de-açúcar,
cerca de metade das quantidades dos elementos extraídos estão no
colmo. Daí a importância de termos que mudar os conceitos de
adubação de canaviais destinados para alimentação de bovinos, visto
que todo o material é colhido, ou seja, a ponta que representa a outra
metade dos elementos não é reciclada, ao contrário que acontece nas
usinas.
CONCLUSÕES
O sistema de irrigação proposto apresenta varias vantagens
como: baixa demanda de vazão, de energia e de mão-de-obra, baixo
240 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
custo, otimização do uso de energia, maior vida útil, menor interferência
da mão-de-obra, maior conforto da mão-de-obra, menor interferência
de vento, emprego nas mais diversas topografias e tipos de solos,
aplicação de fertilizantes e menor risco de fogo.
Respondendo ou não a questões de cunho científico, o certo é
que, num primeiro momento, o sistema vem dando suporte para que
muitos produtores se fixem numa atividade em que a escala de
produção é fundamental nos dias de hoje. Apesar de que nem sempre o
conhecimento teórico possa ser direta e imediatamente aplicado para a
formulação de sistemas de produção, aqui, a prática adiantou-se a
gramática. Mais esforço da pesquisa deve ser concentrado nessa área,
pois ainda há muito o que saber. Como, por exemplo, nível de adubação
com fertirrigação, uniformidade da fertirrigação, manejo da fertirrigação
, lâmina d’água adequada, espaçamento da cana, manejo adubação
versus irrigação versus pastejo, física e química de solo, fisiologia de
planta, período de pastejo e período de descanso, etc.
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242 - II Simpósio de Produção de Gado de Corte
ALGUNS FATORES PRÁTICOS DA IRRIGAÇÃO DE
PASTAGENS
Gláucon Cézar Cardoso
*M. Sc. Forragicultura e Pastagens
Consultor Autônomo
INTRODUÇÃO
O Brasil, apesar de possuir o segundo maior rebanho bovino de
corte do mundo e das tecnologias existentes, o que se observa, nas
avaliações de propriedades rurais, são modestos índices de
produtividade. Com grande extensão territorial, disponibilidade de mãode-obra, recursos genéticos que atendem as expectativas da produção
animal a pasto, oferta de grãos e outros insumos e a ausência de
invernos rigorosamente frios a favor da atividade, coloca o Brasil numa
posição privilegiada na disputa pelo domínio da produção de carne
bovina. Contudo, falta política agrícola e internacional para crescimento
de estratégico da produção e marketing para mercados confiáveis que
avalizem o produtor na aquisição e implantação integral de novas
tecnologias que acelerem e sustentem a produção de carne bovina.
O ciclo da bovinocultura de corte no Brasil depende, ainda, das
condições climáticas. Grande parte do rebanho encontra-se no Brasil
Central, onde a distribuição de chuvas é concentrada entre os meses de
outubro a março. No período de inverno, caracterizado por ligeira queda
de temperatura em função da redução do fotoperíodo, as chuvas são
escassas e a produção forrageira é bastante restrita. O produtor precisa
se profissionalizar como pecuarista e melhorar mais a genética, a
nutrição, o manejo e a sanidade do seu rebanho, para disputar o
mercado interno com as carnes de suínos e aves e também encarar as
exigências do mercado internacional, vencendo cada desafio.
PRODUÇÃO DE CARNE NO BRASIL
Segundo dados do ANUALPEC (1998) mais de 90 % dos animais
abatidos são produzidos exclusivamente a pasto, sujeitos a variações na
idade de abate, obedecendo a distribuição anual de chuvas. O
244
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
desempenho dos animais é razoável na estação chuvosa com a
pastagem em boas condições, e no período de inverno, associado no
Brasil tropical ao período seco, o que se observa é a carência alimentar
causada pela baixíssima qualidade do pasto, resultando em perda de
peso no rebanho, acompanhando a distribuição das chuvas e a
produção forrageira, conforme figura 01. Esta situação contrastante,
que ocorre entre os períodos de chuva e seca, culmina em baixos
índices zootécnicos que são expressos em baixa taxa de fertilidade, alta
mortalidade, abate tardio, baixo desfrute, animais com qualidade de
carcaça inferior e do maior custo de produção.
100%
90%
80%
Produção de Massa (%)
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Figura 1 - Variação(%) da produção forrageira no Brasil Central
durante os meses do ano.
Várias são as maneiras de contornar esta situação em função do
conhecimento sobre nutrição, manejo, sanidade animal e do potencial
forrageiro dos capins cultivados e do volume de informações lançadas
pelas Universidades e Centros de Pesquisa. As tecnologias de
suplementação alimentar existentes, as condições climáticas, o mercado,
os tipos de resíduos de culturas e as gramíneas largamente cultivadas
no Brasil são fatores determinantes da forma e velocidade de
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 245
terminação que se pode adotar para melhorar aqueles índices de
produtividade da bovinocultura brasileira.
Com dimensões continentais, o Brasil possui várias regiões com
características peculiares e que seria prudente adotar tecnologias
específicas ou adaptáveis com coerência para atender a essas carências
e tornar o ciclo da pecuária brasileira mais curto, melhorando a
qualidade, a produtividade e aumentando a competitividade do produto
animal brasileiro dentro do mercado internacional.
Muitas técnicas como o Creep-feeding, a suplementação a pasto,
uso de corretivos e fertilizantes em pastagens, pastejo rotacionado,
diferimento de pastagem e severo controle sanitário do rebanho estão
sendo usadas sem nenhuma restrição e com grande eficiência em todo
território nacional. Essas técnicas precisam ser amplamente difundidas
para melhorar os índices de produtividade da bovinocultura de corte
brasileira, já que muitos produtores tradicionalistas ainda resistem às
inovações tecnológicas. Medidas simples podem reduzir ou anular o
“efeito sanfona” expresso em satisfatório ganho de peso pela
considerável oferta de alimento na primavera e verão, e a lastimável
perda que os animais ainda sofrem após o desmame e durante cada
período seco.
Outras técnicas deverão ser usadas de acordo com as limitações
das condições específicas regionais e podem ser adotadas como as
pastagens de inverno na região Sul, os grandes confinamentos em
regiões produtoras de grãos ou resíduos da agroindústria e a irrigação
de pastagens para parte do sudeste e centro-oeste, e praticamente todo
o nordeste.
IRRIGAÇÃO DE PASTAGENS
O uso de irrigação em pastagens com uso de pivô central
recebeu impulso em meados do anos noventa, embora se tenha registro
da utilização de irrigação através de aspersão convencional e inundação
para capineiras e em pequena escala para produção de massa verde
para pastejo direto. Pastagens irrigadas via Pivot Central tiveram origem
em áreas de produção agrícola de grãos, onde havia baixa produtividade
causada principalmente por solos cansados e contaminados por
246
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
patógenos, demandando elevadas doses de defensivos, conseqüência
muitas vezes do monocultivo.
Iniciado na sua maioria por agricultores profissionais, com pouca
ou nenhuma experiência em bovinocultura e deficientes de
conhecimentos sobre as reais necessidades dos capins cultivados, no
que diz respeito a turno de rega, lâmina de irrigação, período de
descanso, altura mínima de pastejo, índice de área foliar, doses de
fertilizantes para sustentar a produtividade da forrageira, onde irrigar e
qual categoria animal responderia em melhor retorno financeiro para
adoção de sistemas irrigados. Em face disto muitos aventureiros
fracassaram com a atividade.
Com o objetivo de reduzir a estacionalidade de produção e
produzir maior quantidade de massa forrageira durante o ano, a
irrigação de pastagem, mesmo na época em que as condições climáticas
são favoráveis, na primavera e verão, em que a temperatura e taxa de
radiação solar favorecem ao crescimento vegetativo, pode-se imprimir
acréscimos consideráveis ao volume de matéria seca produzida em
função de contornar a escassez hídrica causada pela má distribuição das
chuvas no período, principalmente a causada pelos veranicos. Neste
período todas as condições climáticas concorrem pela alta produtividade,
exceto o déficit hídrico.
A redução na estacionalidade existe, ou pode até ser plenamente
contornada. O conhecimento das amplitudes de temperatura e do fotoperíodo registradas entre o verão e o inverno são de fundamental
importância para que se faça um prognóstico das possibilidades de
introduzir ou não pastagens irrigadas em determinada região e qual a
forrageira que melhor poderá responder esta tecnologia.
Temperatura e radiação solar
Alta temperatura ambiental e elevada quantidade e qualidade da
luz são fatores determinantes na atividade metabólica da planta, na
ausência de limitações hídricas e minerais. Dessa forma, a atividade
meristemática da parte aérea e toda, ou quase toda a produção de
assimiladas são direcionados para a demanda de crescimento de
tecidos, priorizando o máximo crescimento da parte aérea para otimizar
a captura da radiação solar. Esses eventos entre outros, são
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 247
responsáveis pela elevada produção de matéria seca durante os meses
quentes e de dias longos.
Dados técnicos de várias fazendas mostram que projetos
implantados em regiões próximas da linha do equador onde o binômio
temperatura e radiação apresenta nível elevado e não variam
significativamente ao longo do ano, os resultados são bastante
satisfatórios com relação à constância na produção forrageira. Em
regiões com invernos mais rigorosos a produção forrageira tem ficado
bem aquém da capacidade produtiva do verão. Nesta situação, torna-se
necessário avaliar outra cultura a ser irrigada ou outra alternativa para
suplementar os animais que seja mais conveniente a esta realidade.
Temperaturas noturnas menores de 15 oC não permitem
atividade metabólica satisfatória e formação de tecidos da parte aérea
de forrageiras tropicais, principalmente para o mombaça e tanzânia,
adotadas em projetos irrigados. Quedas de temperatura têm sido
observadas em regiões localizadas abaixo do paralelo 20o.
Não só a latitude deverá ser observada, mas também a altitude
local. É comum nos cerrados, áreas de chapas com altitudes acima de
850 metros, onde a amplitude térmica é bastante significativa entre a
temperaturas noturna e diurna, verão e inverno. A observação de
fatores dessa natureza são fundamentais na decisão de implantação de
tecnologia de irrigação de pastagens.
A adoção da tecnologia de irrigação de pastagens demanda
apoio técnico fundamentado no conhecimento da fisiologia,
necessidades nutricionais da forrageira, uso coerente de fertilizantes
compatíveis com os corretivos para que não se perder em produtividade
do relvado. Sistemas mais intensificados de produção requerem grande
domínio e precisão das atitudes a serem tomadas
A escolha da forragem
A escolha da forrageira é o primeiro passo depois da avaliação
das condições locais e da decisão de implantar sistema de pastejo
irrigado. Existem vários capins com excelente potencial produtivo nas
regiões onde as condições ambientais permitem crescimento forrageiro
ao longo de todo ano. Capins dos gêneros cynodon, P. maximum e a
brachiaria brizantha têm sido amplamente difundido.
248
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
O gênero cynodon, altamente produtivo, porém de alto custo de
implantação, deveria ser usado para produção de feno de maior
rentabilidade, que para pastejo direto, de menor eficiência econômica.
Além disto, contaminação do stand forrageiro por sementes de outros
capins tem ocorrido. Normalmente as braquiárias, menos palatáveis e
mais rústicas têm sido motivo de preocupação nestes sistemas, devido a
alta rotatividade de animais nestes sistemas.
O gênero P. maximum tem se mostrado mais adequado, devido
a facilidade de manejo e alta produção de matéria seca. Os cultivares
tanzânia e mombaça, de crescimento cespitoso, têm sido responsáveis
pela sedução de produtores e técnicos e garantido a sustentabilidade
dos sistemas irrigados. No auge do inverno e início da estação
primavera em que as pastagens estão secas, estas forrageiras têm
proporcionado verdadeiros oásis e permitido produção de carne ao
longo de todo ano.
Experiências de campo com o capim mombaça têm mostrado
dados de produção forrageira diária de até 160 kg de matéria seca por
ha, no auge do verão, em stand densos. O pisoteio e o desperdício após
pastejo não são facilmente determinados mas, podem ser estimados. O
hábito de crescimento desta forrageira favorece a menores desperdícios
pelo pisoteio.
Tabela 1 - Composição média de forragens cultivadas em sistemas
irrigados (% MS)
Capim
Tanzânia (34 dias)
Mombaça (34 dias)
Tifton 85 (30 dias)
NDT (%)
63,8
62,9
64,1
PB (%)
14,2
13,5
15,6
MS (%)
17,2
18,1
18,4
P (%)
0,29
0,28
0,31
*Valores obtidos em coleta de campo
Manejo da irrigação
A lâmina de irrigação necessária dependerá de observação e
acurácia do manejador. Solos arenosos exigem maior freqüência de
irrigação, duas a três vezes por semana, com lâminas mais “pesadas”.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 249
Solos argilosos por armazenarem maior quantidade de água poderão ser
irrigados uma ou duas vezes por semana. Não existe, é claro, receita
para determinar a freqüência de irrigação, outros fatores como umidade
relativa local, taxa de radiação solar, tipo de solo, stand forrageiro e
velocidade dos ventos deverão ser considerados para testar a lâmina
mais adequada. Normalmente, têm-se trabalhado com lâminas de 10 a
15 mm. Respostas a lâminas mais pesadas e turno de rega a cada 3 ou
4 dias têm sido bastante satisfatórias. O encharcamento do solo a cada
duas ou três vezes por semana têm permitido melhor distribuição do
sistema radicular no perfil do solo. A adoção de lâminas mais leves e
mais parceladas tem levado a decréscimos na produção forrageira ao
longo do tempo. Nessas condições têm-se obervado crescimento
radicular superficial com menor exploração do perfil solo em busca de
nutrientes, alta sensibilidade a falta de irrigação, sujeito ainda a donos
causados pelo pisoteio.
O uso tensiômetros ou estação climatológica são imprescindíveis
para se determinar o momento exato de se fazer a irrigação, evitando
que ocorra a falta ou desperdício de água e energia e até mesmo
comprometer o desenvolvimento da forrageira por falta ou excesso de
umidade.
Maiores efeitos do pisoteio têm sido notados em nível de solo
que em desperdício de forragem, quando se trata P. maximum. Solos
úmidos sofrem com maior compactação pelo pisoteio, dificultando o
crescimento do sistema radicular, a infiltração da água e
consequentemente a percolação de nutrientes lançados em cobertura
para manutenção da fertilidade do solo. Porém, a não irrigação dos
piquetes ocupados e dos que antecedem a ocupação tem favorecido a
produtividade e a longevidade dos sistemas irrigados devido à redução
do impacto do pisoteio.
APLICAÇÃO DE FERTILIZANTES E CORRETIVOS
É recomendável fazer aplicação de uma dose maciça de calcário
antes da formação do pasto, desde que não ultrapasse o nível de pH
que afete a disponibilidade de micronutrientes como o manganês.
Atenção deve ser dada à profundidade de aplicação, de 25 a 30 cm, que
permita melhor crescimento do sistema radicular. Em sistema de
250
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
pastagem irrigada não se permite movimentação periódica do solo.
Preferencialmente o calcário deveria ser de granulometria mais grossa ,
baixo PRNT (70%), e alto PN, já que a extração é contínua e elevada.
Calcários muitos finos têm levado aumentos de pH inicialmente e
redução a curto prazo com redução nos níveis de cálcio e magnésio,
consequentemente a menor eficiência de utilização de fertilizantes pelas
plantas. Manipular níveis de fertilizantes em sistemas de alta extração
de nutrientes tem sido um desafio, por não ser permitido remover o solo
periodicamente, como em culturas anuais. Este tem sido um dos
principais fatores de insucessos em sistemas irrigados, além do
desconhecimento das necessidades fisiológicas das gramíneas perenes,
relativas ao período de descanso, altura de pastejo e índice de área
foliar.
Grande economia é observada em aplicação de fertilizantes à
base de N, S e K via fertirrigação. A aplicação com uso adubadeiras
tracionadas por trator têm onerado muito os custos de manutenção
dessas pastagens pelo fato necessitar de máquinas todos os dias além,
do pisoteio comprometendo a forrageira e as condições físicas do solo.
O P. maximum de modo geral tem apresentado excelentes respostas a
adubações contendo altas doses de enxofre. Após o pastejo por período
de 5 a 7 dias há crescimento de até 10 cm diários, e o que se observa a
partir de então é uma ligeira redução na velocidade de alongamento
foliar. Por tanto seria conveniente realizar a adubação de cobertura
imediatamente após a saída dos animais do piquete para favorecer o
alargamento das touceiras e o aparecimento de novos perfilhos.
Muitos produtores, por falta de suporte técnico, cometeram erros
realizando adubações nitrogenadas com uso de uréia logo após a
calagem. Na verdade, por ter andado na frente da pesquisa científica,
muitas atitudes foram tomadas intuitivamente ou de experiências com
agricultura para produção de grãos. Hoje, com apoio de pesquisadores
de universidades, de institutos de pesquisa e profissionais de campo
qualificados têm-se obtido, a cada dia, melhores resultados com
sistemas de pastagem irrigada.
Maior eficiência nas fertilizações tem sido obtida em solos com
um nível mínimo de matéria orgânica (MO). Solos tropicais, onde a
temperatura normalmente é elevada, dificilmente consegue-se manter
teores de 2 a 3% de MO, principalmente em áreas irrigadas em que a
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 251
atividade microbiana do solo é bastante expressiva. Nessas regiões a
temperatura ambiental oscila entre 25 e 35oC e a umidade do solo é
constante, favorecendo a ação dos decompositores e redução contínua
dos teores de MO por mineralização. Contudo, torna-se necessário
adicionar sempre que possível esterco de curral, cepilha, casca de arroz,
resíduos da agricultura, cama de frango ou esterco de galinha poedeira.
MANEJO DO PASTO IRRIGADO
O sistema adotado é o pastejo rotacionado tradicional, que difere
do sistema de sequeiro por não sofrer grandes influências de variações
climáticas esperadas mas imprevisíveis quanto a duração, causadas
pelos veranicos, responsáveis por flutuações na produção, exigindo
interferências imediatas no controle da carga animal. O manejo do pasto
exige acompanhamento bastante rigoroso. Qualquer descuido na
pressão de pastejo poderá levar ao retardamento na recuperação da
produção forrageira. A observação do índice de área foliar remanescente
é fundamental para a recomposição do pasto em tempo hábil até a
chegada do próximo pastejo. Alta pressão de pastejo poderá levar a
planta a estresse fisiológico, menor conteúdo em reservas de
carboidratos nos tecidos permanentes e retardar sua recomposição e
consequentemente o próximo pastejo poderá ser comprometido, com
redução da capacidade de suporte.
O período de descanso é função da espécie forrageira e da
região de estabelecimento do projeto e deve ser flexível para as
diferentes estações do ano ou que ajuste na carga animal seja coerente
com a velocidade de crescimento da forrageira. A planta não obedece ao
tempo determinado pelo manejador e possui o seu tempo fisiológico que
envolve o crescimento e recomposição de suas reservas nos tecidos
permanentes. Durante o inverno em que a atividade meristemática é
reduzida em função da queda de temperatura, é necessário aumentar o
período entre pastejos e/ou reduzir a carga animal. Logicamente,
existem grandes variações entre um ano e outro e, o sucesso do sistema
está intimamente ligado ao acompanhamento técnico do sistema.
A exploração intensiva de pastagens requer conhecimento dos
eventos e a sua extensão sobre a forrageira que se pretende adotar
como suporte para produção de volumoso. As pesquisas científicas
252
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
continuam gerando um grande volume de informações sobre a idade
ótima de pastejo, altura de corte, descanso mínimo ou intervalo entre
pastejos para recomposição das reservas da planta, curvas
demonstrativas associando qualidade da forragem com volume de
massa produzida, capacidade de produção de matéria seca ao longo do
ano, extração de nutrientes, exigência em fertilidade, velocidade de
recuperação pós pastejo, entre outras referências indispensáveis para se
estabelecer o manejo para cada espécie. Enfim, um nível mínimo de
conhecimento sobre a ecofisiologia das pastagens é necessário para
otimizar a produção forrageira, de acordo com as exigências da
categoria animal em produção para assegurar a sustentabilidade do
sistema.
Muito ainda terá que ser discutido sobre a produção forrageira
em sistemas irrigados. Pastejo em sistemas irrigados nada mais é que
intensificação do pastejo rotacionado já adotado em muitas
propriedades, em várias regiões do Brasil. Sistemas de pastejo
rotacionado foram adotados e descartados em grande parte das
propriedades que o introduziram. A não obediência ou mesmo o
desconhecimento das leis do pastejo rotacionado levaram esta
tecnologia ao fracasso, à crítica e ao seu descrédito pelos produtores
rurais e até mesmo por técnicos extensionistas, devido à dificuldade de
conscientização dos manejadores de pastos. Por serem muito intensivos
não apresentam elasticidade suficiente para retardar a tomada de
decisão. O sucesso das decisões do manejador é função da observação
da altura de corte, índice de área foliar, altura do ponto de crescimento,
doses, forma e momento de aplicação de fertilizantes e corretivos. Esse
conjunto de informações associado à densidade do stand forrageiro vão
predizer a lotação admitida pelo sistema. O sucesso na tomada de
decisão será fundamental sustentabilidade do pastejo rotacionado
irrigado e obtenção de desempenho animal satisfatório.
Têm-se observado que períodos de descanso ou intervalos entre
pastejos, para o noroeste de mineiro, devem ser de 32 dias,
aproximadamente. Trabalhos de pesquisa mostram períodos de
descanso menores que este mas, o pastejo nunca é severamente
controlado e pequenos ajuste na carga animal sempre são necessários.
A presença do animal exerce efeitos conhecidos mas nunca
quantificados com exatidão. Existe muita semelhança entre dados de
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 253
pesquisa, obtidos em casa de vegetação em vasos ou pequenos
canteiros e até mesmo em piquetes cujo período experimental, às vezes,
não excede 24 meses e os obtidos no campo, em sistemas que contém
de oito a dez animais com média de 400 kg de peso vivo por há,
considerando o peso de entrada e saída do sistema. Quando se trabalha
com lotes de 300 a 400 animais por piquete, têm-se que ser cauteloso e
aumentar o período de descanso entre pastejos é bastante prudente.
EXPECTATIVA DE PRODUÇÃO ANIMAL
A produção animal em sistemas intensivos de exploração de
pastagem pode ser bastante contraditória. Diferentes categorias podem
representar diferentes resultados, tornando o investimento mais ou
menos rentável. Deve-se sempre buscar maior produção de carne por
ha, como mostra a figura 02. Sistemas de pastagem irrigada são
implantados, normalmente, no sentido de eliminar a atividade de
confinamento ou acelerar a terminação de animais para abate, em
propriedades onde a estação seca é bem definida e longa. Outras,
utilizam-se da tecnologia para recria de animais desmamados dentro da
propriedades ou adquiridos de terceiro, permitindo o contínuo
desenvolvimento para terminação no próprio sistema irrigado ou em
confinamento fechado. Produtores de leite para pastoreio direto de
vacas em lactação. Não importa a finalidade, o importante que o
pastoreio direto se mostre mais rentável que a colheita mecânica de
alimentos, armazenagem e fornecimento aos animais em cochos,
deslocamento de máquinas e equipamentos, de mão-de-obra e infraestrutura de alimentação e acelere a terminação de animais de corte,
contribuindo para o aumento da taxa de desfrute.
254
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Ganho máximo
Ganho de peso por animal x Ganho de peso por área
Ganho por
área
Ganho por
animal
Subpastejo
Pastejo
ótimo
Superpastejo
Pressão de pastejo
Figura 2 - Eficiência em utilização de pastagens (Produção de MS x
ganho de peso/ha)
O desempenho de animais em fase de recria tem sido bastante
satisfatório. O valor nutritivo da massa verde produzida, satisfatório em
PB e ligeira deficiência energética, é bastante compatível com as
exigências de animais em recria e de bois magros, conforme tabela 02
do NRC. As exigências de animais em fase final de terminação que
acumulam gordura não encaixam com a oferta de forrageiras irrigadas.
A oferta de proteína bruta (PB) do capim mombaça é bastante elevada
em função das adubações constantes à base de N e S, e tem atingido
níveis próximos de 13,5%. NDT têm oscilado entre 60 e 65%.
A tabela 03 mostra o consumo médio de animais em fase de
recria, novilhos e bois em fase de engorda de nutrientes oferecidos pela
pastagem (média de três anos). São apresentados os ganhos médios
diários (GMD) do período para diferentes categorias.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 255
Tabela 2 - Quadro de exigência animal para ganho de 1,0 kg/dia
Categoria
MS
Bezerro-250 kg
Novilhos magros - 360 kg
Boi terminação-450 kg
5,8
8,0
9,8
Exigência (kg/Cab/dia)
NDT
3,9
4,98
6,1
PB
0,897
0,924
1,176
*NRC (1988)
Tabela 3 - Consumo de nutrientes observado para diferentes categorias
de animais, em função do valor nutritivo do capim mombaça
obtido por análise bromatológica e GMD
Categoria
Bezerro-250 kg
Novilhos magros - 360 kg
Boi terminação-450 kg
MS
6,25
8,0
9,5
Consumo (kg/Cab/dia)
NDT
PB
3,9
5,0
5,9
0,719
0,92
1,193
MO
36,8
47,0
55,9
GMD
observado
0,710
0,980
0,780
* Valores estimados de consumo médio por cabeça.
A escolha da categoria animal deve levar em consideração o
mercado que determina custo de aquisição de animais para reposição,
função da oferta regional de bezerros, bois magros, vacas magras pósdesmame, a velocidade de giro de capital pretendida e a exigência
nutricional. Experiências de campo têm mostrado que explorar o ganho
compensatório novilhos magros (12 a 13 @) tem sido bastante
vantajoso e normalmente, não tem excedido o prazo de 120 dias para
atingirem o peso de abate. A capacidade de suporte pode variar
bastante de região para região e um pouco menos de propriedade para
propriedade, mas tem ficado em torno de 9,6 bois magros por ha.
Animais em fase de recria submetidos a sistemas irrigados tem
proporcionado ótimos níveis de ganhos por área. É possível em muitos
casos conseguir-se lotações de 14 a 16 animais por ha. A tabela 04
apresenta dados de controle de desempenho trimestral.
256
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Animais geneticamente superiores como os cruzados de raças
zebuínas com raças européias, onde se explora máxima heterose, os
resultados têm sido bastante surpreendentes, com excepcionais GMD.
Tabela 4 - Produção média de carne/ha
Categoria
Bezerro-250 kg
Novilhos magros - 360 kg
Primavera
984,0
801,6
Verão
945,0
790,8
Outono Inverno Ganho Total
890,6 834,3
3.653,9
715,0 698,0
3.005,4
* Ganhos obtidos em pastagem de capim mombaça.
Mesmo com ganhos menores por ha, tem sido mais vantajoso a
produção de carne a partir de novilhos magros em função dos preços de
arroba adquirida e arroba terminada. Vacas magras pós desmame
também tem apresentado retorno muito vantajoso, de fácil aquisição,
principalmente na região dos cerrados e por ser um animal de carcaça
formada, adequado para engorda. Animais magros aumentam a
viabilidade do investimento.
INVESTIMENTO EM SISTEMAS IRRIGADOS
Os custos são extremamente relevantes em sistemas irrigados
onde o equipamento utilizado é o Pivô Central. Além disto, nem todas as
propriedades dispõem de condições topográficas, energia elétrica, água
e solo que permitam a adoção desta tecnologia. Em função disto não há
porque implantar esta tecnologia em regiões em que o déficit hídrico
causado pela escassez de chuvas não seja bastante acentuado. O ponto
de capitação pode elevar bastante os custos de implantação deste
sistema. O conjunto moto-bomba, rede elétrica e adutora podem ser
muito expressivos na composição dos custos de implantação. Outro
aspecto é que conjuntos moto-bombas muito potentes tendem a elevar
o custo energético de acionamento do equipamento.
Os equipamentos mais adotados atualmente têm sido de 80 a
100 ha, por reduzirem o custo por área e causarem menor impacto em
nível de solos. Pivôs muito grandes possuem alta vazão na extremidade
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 257
podendo causar erosão em solos de baixa absorção e com topografia
mais inclinada.
Outros investimentos como aquisição de animais, cercas fixas e
eletrificadas, bebedouros, cochos de sal e formação de pasto são
específicos para a atividade de pecuária e devem ser considerados antes
de se decidir pelo sistema de pastagem irrigada, conforme resumo da
tabela 05, considerando custos para bois magros. Mas, ainda em pivôs
que irrigam lavouras anuais talvez seja sugerível fazer pastagem por
período de 1 a 2 anos para auxiliar no controle de patógenos de solo,
principalmente em propriedades que cultivam lavouras de feijão por
anos seguidos.
Considerando que o ciclo dos animais dentro do pivô não excede,
em média a 120 dias para bois magros, é possível trabalhar com 3 lotes
por ano para esta categoria. Fator que melhora significativamente a
rentabilidade do sistema. Outras opções são bastante rentáveis como a
recria de animais recém desmamados e a engorda de vacas magras.
258
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 5 -
Resumo de custos de implantação, manutenção de
equipamentos e despesas operaicionais (US $)
1 - Investimentos
Unidade
Quantidade
Pivô Central (100 ha)
Formação de Pastagem
Conjunto
ha
1
100
Cerca elétrica
montagem do pivô central
km
Conjunto
19,1828
1
Valor Unitário
Valor Total
$120.000,00
$262,00
$120.000,00
$26.200,00
$242,00
$4.200,00
$4.642,24
$4.200,00
Total (10 anos)
$155.042,24
Sub-total1 (1 ano)
$15.504,22
2 - Custo Operacional
2.1 - Rebanho
Minerallização
Vacinas e vermífugos
M.D.O.
ton
29,2
$290,00
$8.468,00
dose
salário
3
30
$2,80
$80,00
$8,40
$2.400,00
Sub-total2
$10.876,40
2.2 - Irrigação
Energia elétrica
contas
12
$1.400,00
Manutenção do pivô (3%)
Sub-total3
$16.800,00
$3.600,00
$20.400,00
2.3 - Manut. pastagem
Super Simples
ton
70
$160,00
$11.200,00
Sulfato de Amônio
NPK (20-00-20)
ton
ton
50
70
$170,00
$205,00
$8.500,00
$14.350,00
Esterco de galinha
ton
300
$25,00
$7.500,00
Calcário
Dist. De corretivos e fertiliz.
ton
h.m.
100
675
$5,20
$12,00
$520,00
$8.100,00
Sub-total4
$50.170,00
Total Geral (1+2+3+4) (TG)
$96.950,62
Aquisição de animais
cabeça
800
$230,00
$184.000,00
Venda de animais
cabeça
800
$310,00
$248.000,00
Receita Bruta (RB1)
$64.000,00
Rec. Bruta (3 ciclos) (RB2)
$192.000,00
Receita líquida (RB2 - TG)
$95.049,38
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 259
CONCLUSÃO
A irrigação de pastagens tem grande potencial para expansão e
pode contribuir muito para melhorar os índices de produtividade da
pecuária brasileira, contribuindo ainda mais para a produção do boi de
pasto com alimentação mais natural possível. Os índices de
produtividade poderão ser melhorados se adotada uma suplementação
que possa acelerar o ganho de peso em pastejo, corrigindo as
necessidades de cada categoria animal.
Os investimentos são elevados e muitos critérios técnicos devem
ser adotados e respeitados para permitir o sucesso do empreendimento.
A observação de fatores como temperatura, fotoperíodo e distribuição
das chuvas, são variáveis climáticas fundamentais para adoção da
tecnologia de irrigação de pastagens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA PECUÁRIA DE CORTE. São Paulo: FNP, v.7, 1999.
Gomide, J. A. Morfogênese e análise de crescimento de gramíneas tropicais.
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Departamento de Zootecnica, UFV. Anais p.411-429.
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In: Simpósio Internacional sobre produção animal em pastejo, 1997, Viçosa.
Departamento de Zootecnica, UFV. Anais p. 349-379.
260
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS COM FORRAGENS
CONSERVADAS
Odilon Gomes Pereira1 , Karina Guimarães Ribeiro2
2
1
Professor do DZO/UFV, Bolsista do CNPq, e-mail: [email protected]
Professora do DZO/FESURV, Rio Verde - GO, e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A estacionalidade da produção de forragens é reconhecida como
um dos principais fatores responsáveis pelos baixos índices de
produtividade da pecuária nacional, visto que os níveis de produção
animal obtidos na estação das águas são comprometidos pelo baixo
rendimento forrageiro durante a seca. No Brasil Central, esse período
compreende os meses de maio a setembro, época em que ocorre
acentuada redução no crescimento das gramíneas forrageiras tropicais,
resultando em menor disponibilidade de forragem, de baixo valor
alimentíceo, afetando, assim, o desempenho dos animais mantidos a
pasto, observando-se, portanto, prejuízos como: atraso no crescimento
dos animais jovens, perda de peso nos machos adultos, elevando a
idade de abate dos bovinos, atraso na idade da primeira parição e baixa
fertilidade do rebanho.
Várias são as estratégias utilizadas visando contornar o déficit de
forragens no período seco do ano, nas diferentes regiões pastoris do
Brasil. Essas estratégias devem ser coerentes com o sistema de
produção de cada propriedade. O uso de forragens conservadas, a
suplementação concentrada no pasto e o uso de irrigação são
alternativas capazes de explorar a elevada produtividade dos pastos
tropicais nesse período do ano. A conservação de forragens proporciona
alimentos de alta qualidade, de maneira mais uniforme, ao longo do
período de suplementação. A silagem e o feno, com destaque para o
primeiro, são as principais formas de uso de forragens conservadas.
FORRAGENS CONSERVADAS COMO FONTE SUPLEMENTAR
A suplementação com forragens conservadas dependerá dos
requerimentos nutricionais da categoria de bovinos de corte e da
262
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
composição de nutrientes da forragem. A suplementação objetiva o
suprimento adicional de proteína, energia e minerais, basicamente. Os
produtos da fermentação microbiana no rúmen suprem parte da energia
e proteína metabolizada pelos bovinos. Como o animal hospedeiro, os
microorganismos do rúmen requerem um suprimento balanceado de
proteína e energia para atuarem eficientemente. Segundo o NRC (1984),
os microorganismos ruminais sintetizam aproximadamente 113 g de
proteína bruta bacteriana por quilograma de NDT. Logo, um desbalanço
de nitrogênio e energia no rúmen pode resultar em redução da
produção de proteína microbiana e da digestão da forragem, além de
perdas de nutrientes (McCOLLUM III, 1999). Este desbalanceamento de
nutrientes pode diminuir o consumo e o desempenho de bovinos.
Na Figura 1, observa-se a relação entre o teor de proteína bruta
da forragem e o consumo. Verifica-se que o consumo decresce
rapidamente quando o teor protéico da forragem situa-se abaixo de 7%.
Isso é atribuído à deficiência de nitrogênio no rúmen, insuficiente para
atender aos requerimentos dos microorganismos.
O termo suplemento refere-se a um alimento rico em
determinado nutriente (proteína, energia, minerais, ou outros
nutrientes), visando corrigir as deficiências nutricionais de animais em
pastejo ou recebendo rações basais, balanceando, assim, as dietas dos
animais (VALLENTINE, 2000). Segundo o NRC (1996), a máxima
eficiência de utilização da dieta resulta do suprimento de dietas
nutricionalmente balanceadas, sendo a performance do animal afetada
pelo principal nutriente limitante. Deste modo, quando a energia é o
principal nutriente limitante, outros nutrientes não serão eficientemente
utilizados. Da mesma forma, se a proteína for o principal nutriente
limitante, o suprimento de energia adicional poderá não melhorar o
desempenho animal.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 263
Figura 1 - Consumo de matéria seca de forragem em relação ao teor
de proteína bruta (Moore e Kunkle, 1994, citados por
McCollum III, 1999)
Os suplementos são geralmente alimentos concentrados, ou
menos comumente uma forragem conservada, rica em determinado
nutriente, como por exemplo feno de alfafa ou mesmo um pasto de
elevada qualidade (uma legumineira, p.ex.), pastejado simultaneamente
com um pasto de baixa qualidade (VALLENTINE, 2000).
Algumas forragens são pobres em proteína, não atendendo os
requerimentos de qualquer categoria de bovinos. Silagens de milho e de
sorgo forrageiro, além de restos de culturas, como palhadas de cereais,
necessitam ser suplementadas com proteína. Todavia, forragens ricas
em proteína, como feno ou silagem de leguminosas, não necessitam ser
suplementadas com este nutriente, a menos que a quantidade destes
alimentos na ração sejam baixas. Independentemente do tipo de
forragem, a suplementação protéica deve ser calculada com base nos
requerimentos da categoria animal e no teor de proteína bruta da
forragem.
Compostos nitrogenados não protéicos, como a uréia, têm sido
amplamente utilizados como fonte de nitrogênio, em rações para
264
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
ruminantes. Uma das razões para o uso dessas fontes de NNP, é o
menor custo do quilograma de nitrogênio, em relação aos concentrados
protéicos. Várias considerações sobre a adição de compostos
nitrogenados não protéicos, no momento da ensilagem ou por ocasião
da alimentação, foram relatadas por GOODRICH e MEISKE (1985).
No Brasil, foram desenvolvidos alguns trabalhos, na década de
80/90, objetivando aumentar o teor protéico de silagens de milho, por
meio do consórcio desta gramínea com leguminosas (EVANGELISTA et
al., 1983; OBEID et al., 1985; OBEID et al., 1992a, b). Alguns desses
trabalhos registraram aumentos consideráveis no teor protéico das
silagens, em decorrência da consorciação, com incrementos de 22 e
100%, respectivamente, em silagem de milho consorciada com soja e
mucuna, em relação à silagem exclusiva de milho (OBEID et al., 1992a).
Como consequência, o maior teor protéico das silagens com
leguminosas resultou em maiores consumos, e, por conseguinte,
maiores ganhos de peso dos animais (ZAGO et al., 1985; OBEID et al.,
1992b).
Quando o desempenho animal é limitado pelo consumo de
energia proveniente da forragem, faz-se necessária a suplementação
com uma fonte de maior densidade energética. Todavia, para uma
forragem rica em energia, como a silagem de milho, a suplementação
energética poderá não ser necessária, exceto, talvez, para bovinos em
terminação (FONTENOT et al., 1995). Contudo, essa suplementação
será necessária quando forragens pobres em energia são fornecidas a
bovinos com requerimentos moderados a altos. A quantidade de
suplemento será determinada pela categoria de bovinos e pela
disponibilidade de energia na forragem.
UTILIZAÇÃO DE FORRAGENS CONSERVADAS NO
CONFINAMENTO
O sistema de produção, como parte integrante de uma cadeia
produtiva eficiente de carne, terá de fazer inserções diversas,
especialmente tecnológicas, visando promover a intensificação do
sistema, de modo que este seja competitivo (EUCLIDES et al., 2000).
Todavia, a adoção de determinada tecnologia deve ser vista de forma
integrada e sistêmica. Nesse contexto, o confinamento de bovinos na
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 265
fase de terminação tem se revelado uma alternativa tecnológica
importante na intensificação de sistemas de produção de bovinos de
corte.
O confinamento tem possibilitado o aumento do ganho de peso
diário dos animais e sensível redução da idade de abate, com reflexos
positivos na taxa de desfrute, na obtenção de carcaças de melhor
qualidade e no maior giro de capital. Para isso, preconiza-se a utilização
de forragens conservadas de qualidade superior, associadas a
concentrados, para garantir maiores ganhos de peso, e o uso de animais
de alto potencial genético, normalmente mestiços ou provenientes de
cruzamentos industriais entre raças zebuínas e européias, cujo vigor
híbrido proporciona maior velocidade de crescimento e qualidade de
carcaça superior, em relação aos das raças puras.
O consumo é uma das variáveis mais importantes que afetam o
desempenho animal, sendo influenciado por características do animal,
do alimento e das condições de alimentação. Segundo VAN SOEST
(1965), o consumo é inversamente correlacionado ao teor de parede
celular, quando este situa-se acima de 55-65%. Quando a densidade
energética da ração é alta, em relação às exigências do animal, o
consumo será limitado pela demanda energética do animal, e, se a
ração apresenta baixa densidade energética, o consumo será limitado
pelo efeito de enchimento (MERTENS, 1992).
O estádio de maturidade da planta à colheita influencia seu valor
nutritivo mais do que qualquer outro fator, notadamente, em gramíneas
e leguminosas forrageiras, quando colhidas para feno (PEREIRA, 1998),
ou silagem. Portanto, é relevante o conhecimento do momento da
colheita, pois a forragem de melhor qualidade certamente promoverá
maiores consumos e desempenho animal
Uma das maneiras de se conseguir máximo consumo de energia
é a manipulação da proporção de volumoso:concentrado na ração.
Portanto, na formulação de rações, deve-se suplementar os volumosos
disponíveis com concentrados, de modo a corrigir suas deficiências de
nutrientes, seja devido a mais baixa qualidade da forragem ou à
impossibilidade de atendimento dos requerimentos de categorias
animais de desempenho mais elevado.
Como a alimentação representa a maior parte dos custos de
produção nos confinamentos, deve-se proceder uma escolha criteriosa
266
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
do programa de alimentação a ser adotado, o qual deve ser
bioeconomicamente viável. Em decorrência disto, a maioria dos
pesquisadores
têm
procurado
aquele
nível
de
forragem
conservada:concentrado na dieta que resulta nesse ótimo bioeconômico.
Suplementação com feno
Avaliando o consumo e o desempenho de bovinos F1 Simental x
Nelore, recebendo rações contendo diferentes proporções de
concentrado:volumoso (25; 37,5; 50,0; 62,5 e 75%), utilizando fenos
dos capins coastcross e braquiária, na base de 50% cada um, como
fonte de volumoso, FERREIRA et al. (1999) verificaram aumentos nos
consumos de matéria seca, proteína bruta e nutrientes digestíveis totais,
bem como nas características de desempenho, com o aumento da
inclusão de concentrados na dieta (Tabela 1). Nesse estudo, os teores
de FDN das rações, que variaram de 63,12% (25% de concentrado) a
27,69% (75% de concentrado), explicam a redução linear do consumo
deste nutriente com o aumento de concentrado nas rações (Tabela 1).
TIBO et al. (2000), em ensaio de digestibilidade, usando animais com o
mesmo grau de sangue e as mesmas proporções de concentrado nas
rações, também registraram incrementos lineares para o consumo e a
digestibilidade aparente total da matéria seca, com o aumento da
proporção de concentrado nas rações.
Outros estudos também revelaram efeitos de diferentes níveis de
concentrado sobre os consumos de matéria seca (RODRIGUEZ et al.,
1996; LADEIRA et al., 1999; DIAS et al., 2000). Por sua vez, CARVALHO
et al. (1997) e CARDOSO et al. (2000) não verificaram efeito das
diferentes proporções de feno:concentrado sobre o consumo de matéria
seca.
GESUALDI JÚNIOR et al. (2000), avaliando o desempenho de
novilhos F1 Limousin x Nelore, recebendo rações contendo cinco níveis
de concentrado na matéria seca (25; 37,5; 50,0; 62,5 e 75%), usando
como fonte de volumoso feno de capim-coastcross, observaram que o
consumo de matéria seca apresentou resposta quadrática, em função do
nível de concentrado na ração, estimando-se consumo máximo de 8,04
kg MS/dia, para o nível de 41,48% de concentrado. Comportamento
semelhante foi verificado para o ganho médio diário de peso vivo e
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 267
carcaça, com valores máximos de 1,16 e 0,81 kg, para os níveis de 61,1
e 64,47% de concentrado, respectivamente. Na Tabela 2, encontra-se
um resumo dos dados de desempenho obtidos neste trabalho. Os
autores registraram, ainda, decréscimos lineares para a conversão
alimentar, com o aumento dos níveis de concentrado nas rações. Isso
pode ser atribuído à maior densidade energética das rações contendo
níveis mais elevados de concentrado, resultando, assim, em maior
ingestão de energia.
Tabela1 -
Valores médios obtidos para os consumos de matéria seca
(CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro
(CFDN), nutrientes digestíveis totais (CNDT), ganho médio
diário em peso vivo (GMD), conversão alimentar (CA) e
rendimento de carcaça em relação ao peso vivo (RCPV)1
Item
CMS 2
CPB2
CFDN2
CNDT 2
GMD2
CA
RCPV (%)
1
25
9,25
0,79
5,79
5,84
0,83
11,32
59,8
Níveis de concentrado
37,5
50
9,73
9,23
1,08
1,24
5,06
4,10
6,08
6,22
1,04
1,13
9,72
8,37
56,6
57,6
Adaptado de FERREIRA et al. (1999)
kg/dia
2
(%)
62,5
10,0
1,56
3,51
7,17
1,43
7,16
56,7
Efeito
75
10,4
1,78
2,68
7,82
1,64
6,48
58,2
L
L
L
L
L
L
-
268
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 2 - Valores médios obtidos para consumo de matéria seca
(CMS), ganho médio diário em peso vivo (GMD), ganho de
carcaça (GCAR) e conversão alimentar
Item
CMS 2
CMS (%PV)
GMD2
GCAR2
CA
25
7,85
1,96
0,85
0,54
10,0
Níveis de concentrado (%)
37,5
50
62,5
8,05
8,03
7,68
2,0
1,97
1,86
1,03
1,11
1,19
0,66
0,77
0,84
8,70
7,84
6,39
Efeito
75
7,3
1,78
1,10
0,78
6,67
Q
Q
Q
Q
L
1
Adaptado de GESUALDI et al. (1999)
kg/dia
2
CARDOSO et al. (2000), em ensaio de digestibilidade, usando
animais com mesmo grau de sangue e as mesmas rações do estudo de
GESUALDI JÚNIOR et al. (2000a), não observaram variação no consumo
de matéria seca e proteína bruta, contudo, a ingestão de NDT aumentou
linearmente, com o incremento de concentrado nas rações. Os autores
atribuíram isso às digestibilidades mais elevadas de proteína bruta,
extrato etéreo e carboidratos totais, cujos valores aumentaram
linearmente com a participação do concentrado nas rações.
Estudos conduzidos por RIBEIRO et al. (2001), com bovinos
fistulados no rúmen e abomaso, recebendo dietas contendo feno de
capim-tifton 85, colhido aos 28, 35, 42 e 56 dias de rebrota, adotandose relação volumoso:concentrado de 60:40, estimaram máximo
consumo de matéria seca para rações contendo feno com 41 dias de
idade. Quanto à digestibilidade aparente da matéria seca, os autores
não detectaram influência da idade do feno, registrando valor médio de
71%. Nas Tabelas 3 e 4, são apresentadas as composições
bromatológicas dos fenos e do concentrado, e os consumos e as
digestibilidades de alguns nutrientes das rações. Os autores atribuiram a
redução no consumo de matéria seca, a partir de 41 dias de idade, ao
mais alto teor de parede celular indigerível no feno de idade mais
avançada. Tal afirmativa é baseada no trabalho de HENRIQUES et al.
(1998), que, avaliando a degradabilidade desses fenos, observaram
valores de FDN indigerível, após 144h de incubação ruminal, de 19,6;
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 269
18,4; 21,1; e 28,9%, para fenos de 28, 35, 42 e 56 dias de rebrota,
respectivamente
ATAIDE JÚNIOR et al. (2000), em experimento com ovinos,
utilizando-se como fonte única os mesmos fenos do trabalho de
RIBEIRO et al. (2001), também encontraram comportamento quadrático
para a ingestão de matéria seca do feno de capim-tifton 85, em função
da idade de rebrota, estimando máximo consumo para feno com 39 dias
de idade. Para a digestibilidade aparente da MS, os autores verificaram
decréscimo linear com o avanço da idade de rebrota dos fenos,
estimando-se valores de 63,4 e 58,9%, para fenos com 28 e 56 dias de
rebrota, respectivamente.
HILL et al. (1997), trabalhando com fenos de três cultivares de
Cynodon (coastal, tifton 78 e tifton 85), e duas idades de corte (28 e 42
dias), ofertados a novilhos de 279 kg, verificaram que o consumo de
matéria seca não foi influenciado pelos tratamentos, registrando-se
consumo médio de 5,3 kg/dia. Todavia, as digestibilidades dos
nutrientes foram reduzidas com o aumento da idade das plantas ao
corte, para todos os cultivares. Mandebvu et al. (1998), citados por HILL
et al. (1998), verificaram mais altos consumos em novilhos recebendo,
como fonte única, fenos de capim-tifton 85 ou capim-coastal, de plantas
colhidas com 49 dias de idade do que com 21 ou 35 dias.
Tabela 3 - Composição bromatológica dos fenos de diferentes idades de
rebrota e do concentrado na ração
Idade do feno (dias)
MS
MO
(%)
EE
FDN
% na MS
28
85
92,9
16,4
1,35
78,8
35
86
92,6
15,5
1,67
78,7
42
86
93,3
14,3
1,38
79,9
85
92,4
11,3
1,04
81,3
88
97,3
8,3
3,55
15,0
56
Concentrado
*
PB
*
Concentrado contendo fubá de milho e mistura mineral.
270
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Em ensaio de desempenho com bovinos Nelore, recebendo as
mesmas rações do estudo de RIBEIRO et al. (2001), exceto aquela
contendo feno com 28 dias de rebrota, ATAÍDE JÚNIOR et al. (2001)
não detectaram influência da idade do feno de capim-tifton 85 na dieta
sobre o ganho de peso diário, que revelou valores médios de 1,37; 1,10
e 1,20 kg/dia de PV, para rações contendo fenos com 35, 42 e 56 dias
de rebrota, respectivamente, embora tenham registrado decréscimos no
consumo de matéria seca, de 0,037kg para cada dia de avanço na idade
de rebrota do feno. Os autores recomendaram a produção de feno com
este capim até aos 42 dias de rebrota, devido ao maior teor de fibra em
detergente neutro indigerível a partir desta idade, bem como, ao
acamamento do mesmo, dificultando assim a opreracionalidade das
máquinas por ocasião da fenação.
Tabela 4 - Consumos e digestibilidades aparentes médias totais de
alguns nutrientes1
Item
Idade do feno na ração (dias)
28
1
35
42
Consumo(kg/dia)
5,85
5,72
0,72
0,66
0,15
0,14
MS
PB
EE
5,39
0,69
0,13
FDN
NDT
CHOS
3,09
3,98
3,85
MS
PB
73,3
64,5
70,6
59,0
FDN
CHOS
67,9
76,9
65,0
74,4
3,38
4,18
4,04
Digestibilidade Total
Adaptado de RIBEIRO et al.(2001)
Efeito
56
5,27
0,52
0,11
Q
Q
-
3,06
3,51
3,40
Q
Q
Q
72,3
61,4
67,3
55,0
-
66,6
75,8
58,0
70,5
L
L
3,37
4,11
3,98
(%) (%)
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 271
VILLALOBOS et al. (1997a), avaliando o consumo, a
digestibilidade e a cinética da digesta ruminal de feno de pasto nativo de
baixo valor nutritivo (5,7% PB; 68% FDN), suplementado com um feno
de gramínea, irrigada, de alto valor (16,5% PB; 53,5% FDN) ou com um
suplemento concentrado (40% PB) contendo 70% de farelo de soja e
30% de trigo grão, fornecidos a novilhos fistulados no rúmen,
concluíram que o feno de gramínea produziu efeitos similares, na
cinética ruminal e no consumo do feno de pasto nativo, aos do
suplemento concentrado. Esse trabalho evidencia a perspectiva de se
efetuar a suplementação de animais mantidos em pastos de baixo valor
nutritivo, no período seco do ano, usando forragem conservada de alta
qualidade.
Usando novilhos fistulados no rúmen, BODINE et al. (2000)
avaliaram oito diferentes combinações de suplementos com feno de
pasto nativo, assim constituídos: milho prensado (0 ou 75% do peso
corporal), associado a quatro níveis crescentes de farelo de soja, para
proporcionar de zero a 1,3 g de proteína degradada no rúmen, por kg
de peso corporal. O consumo de matéria orgânica do feno e total
aumentou quadraticamente em resposta ao acréscimo de proteína
degradada no rúmen, com ou sem suplementação de milho. A
suplementação com milho e farelo de soja resultou em maiores
consumos de matéria orgânica digestível do que a suplementação
protéica sozinha. Segundo os autores, isso poderia resultar em maior
consumo de energia, e, possivelmente, melhor performance de bovinos
consumindo fenos de baixa qualidade, quando suplementados com estas
fontes de alimentos. Portanto, a adição de adequada quantidade de
proteína degradada no rúmen pode reduzir boa parte dos efeitos
associativos negativos resultantes da suplementação de fenos de baixa
qualidade com altos níveis de grãos. MATHIS et al. (2000), ao avaliarem
a adição de níveis crescentes de proteína degradada no rúmen, sobre a
utilização de forragens de baixa a média qualidade (fenos de capimbermuda; capim-de-pomar e sorgo forrageiro) encontraram significativa
variação entre os fenos, na quantidade de proteína degradada no rúmen
necessária para maximizar o consumo e a digestão, quando expressos
em relação à matéria orgânica digestível.
272
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Suplementação com silagem
A exemplo do observado para a suplementação de bovinos com
feno, grande parte dos estudos desenvolvidos com silagens têm avaliado
diferentes níveis de suplementação com concentrados sobre o
desempenho dos animais. Neste contexto, Drennan (1984), citado por
STEEN (1987), numa revisão de 18 experimentos, quantificou a resposta
de novilhos, na fase de terminação, à suplementação com concentrados.
Quando o concentrado aumentou de 0 para 1,8 kg/dia (19% do
consumo total de matéria seca), os ganhos de peso vivo e de carcaça
aumentaram 147 e 91 g/kg de concentrado, respectivamente.
Incrementos no concentrado de 1,8 para 3,6 kg/dia (19 para 34% do
consumo de matéria seca) resultaram em aumentos de 63 e 52 g/kg de
concentrado, para as respectivas variáveis.
Em estudo mais recente, conduzido por STEEN e KILPPATRICK
(2000), em que avaliaram níveis crescentes de concentrados, em dietas
à base de silagens de gramíneas, fornecidas ad libitum e restrita, a
novilhos mestiços Simental x Holandês, o aumento na proporção do
concentrado na dieta reduziu o consumo de silagem em 0,56 kg de
matéria seca/kg de matéria seca do concentrado. Segundo esses
autores, isto é um exemplo típico de taxa de substituição, quando
silagens de gramíneas de alta digestibilidade são suplementadas com
concentrado. Na Tabela 5 encontram-se os dados de desempenho
animal deste estudo. É oportuno destacar que a resposta à
suplementação com concentrado depende da qualidade da silagem e do
potencial de ganho do animal.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 273
Tabela 5 - Consumo, desempenho animal e dados de carcaça1
Item
0
Consumo
MS da silagem2
MS total1
Desempenho animal
Período da dieta3
Peso de carcaça4
Ganho de PV 2
Rend. de carcaça5
Ganho de carcaça2
7,0 a
7,0 d
298 a
298
0,56 a
532
0,34 a
Níveis de concentrado na dieta (g/kg)
120
240
360
0/360
6,6 b
7,5 bc
247 b
298
0,69 b
532
0,41 b
5,7 d
7,7 b
207c
301
0,84 c
542
0,53 c
5,2 e
8,4 a
165 d
298
1,04 d
531
0,61 d
360 6
6,3c
7,4c
4,1f
6,6
247 b
298
0,70 b
532
0,42 b
263 b
301
0,67 b
538
0,42 b
1
Adaptado de STEEN e KILPPATRICK (2000)
kg/dia; 3dias; 4kg; 5g carcaça/kg PV, 680% do consumo ad libitum
2
FERREIRA et al. (1995), ao fornecerem rações contendo silagem
de milho (SM), silagem mista (1/3 SM + 2/3 silagem de capim-elefante SCE) e a combinação de SM mais SCE, na proporção de 1:2, na base
natural, a novilhas ¾ Holandês x Zebu, com peso vivo médio de 240 kg,
registraram maior ganho em peso para as novilhas que receberam
silagem de milho como volumoso. As silagens foram oferecidas ad
libitum, juntamente com 1 kg de concentrado, por novilha. Os consumos
de matéria seca das silagens foram semelhantes, conforme se observa
na Tabela 6. Logo, o maior ganho de peso dos animais alimentados com
silagem de milho decorreu de seu alto valor energético.
274
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 6 - Ganho de peso e consumo de nutrientes em novilhas
alimentadas com rações à base de silagem de milho e
capim-elefante1
Item
GMD (kg)
Consumo MS (kg/dia)
Volumoso
Concentrado
Total
Consumo PB (g/dia)
Volumoso
Concentrado
Total
Milho
0,802a
Silagens
Mista
0,580b
Mistura
0,448b
5,56
0,862
6,42
5,23
0,862
6,09
4,56
0,862
5,42
378
464
842
329
461
790
246
461
707
a > b - teste Tukey a 5%
1
Adaptado de FERRREIRA et al. (1995)
Quanto ao uso de silagens tratadas com inoculantes microbianos,
na alimentação de bovinos de corte, a literatura nacional apresenta
poucas informações. Contudo, tem se verificado, na prática, uma
crescente procura, por parte dos pecuaristas, por tais inoculantes. As
bactérias ácido lática são os aditivos mais comuns, sendo o principal
papel destas garantir mais rápida e eficiente fermentação no silo (MUCK,
1993; MUCK e KUNG Jr., 1997; KUNG Jr. e MUCK, 1997). O
desempenho animal nem sempre é melhorado, porém, o nível de
melhora na performance animal é freqüentemente maior do que
esperar-se-ia, em termos de mudanças na fermentação e redução da
proteólise (MUCK e SHINNERS, 2001).
Dados sumarizados por KUNG Jr. e MUCK (1997) mostraram
respostas positivas de inoculantes microbianos sobre o consumo, o
ganho de peso e a produção de leite, respectivamente, em 28, 53 e
47% dos estudos. Embora esses dados sejam animadores, alguns
cuidados devem ser tomados quando da interpretação dos mesmos,
haja visto que nem todos os inoculantes são iguais, ou, ainda, devido a
ampla variação de condições existentes entre os estudos, isto é,
organismos com o mesmo nome não são necessariamente os mesmos
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 275
organismos, podendo, portanto, não apresentar a mesma efetividade
(KUNG Jr. e MUCK, 1997).
Na Tabela 7 é apresentado um sumário de 19 estudos,
conduzidos com gado de corte, usando um único inoculante de silagem,
o Lactobacillus plantarum MTD1. Para todos os estudos e tipos de
forragens, os bovinos alimentados com silagens inoculadas consumiram
7,5% mais matéria seca e apresentaram ganho de peso 11,1% superior.
Tabela 7 - Consumo de matéria seca (CMS) e ganho médio diário
(GMD) de peso vivo, em kg/dia, em bovinos recebendo
silagens inoculadas com MTD1, nas fases de crescimento e
terminação (Moran e Owen, 1995 citados por KUNG Jr. e
MUCK, 1997)
Crescimento
Itens
Controle
MTD1
Diferença (%)
Probabilidade
Gramínea (n = 5)
CMS
GMD
4,49
0,657
4,74
0,757
+ 5,3
+ 15,2
NS
< 0,01
Terminação
Silagens
Alfafa e milho (n = 5) Gramínea (n = 9)
CMS
GMD
CMS
GMD
7,27
1,05
6,57
0,50
8,15
1,15
6,82
0,55
+ 12,0
+ 9,4
+ 3,8
+ 9,8
< 0,10
< 0,01
NS
< 0,01
WEINBERG e MUCK (1996) relataram que, em alguns estudos, o
desempenho animal tem sido melhorado pelo uso de inoculantes
microbianos, mesmo não se detectando efeito destes sobre a
fermentação da silagem. Esses autores sugerem que os inoculantes
microbianos podem proporcionar um efeito probiótico, inibindo
microorganismos prejudiciais na silagem e no rúmen, ou prejudicando
substâncias benéficas que podem favorecer microorganismos ruminais
específicos, resultando, assim, em melhoria do desempenho animal.
Alguns efeitos dos aditivos microbianos sobre o desempenho de animais
e a fermentação de silagens foram discutidos por KUNG Jr. e MUCK
(1997).
Estudos conduzidos por SILVA et al. (2001a), utilizando silagens
de milho e sorgo, com e sem inoculante microbiano, fornecidas a
bovinos
mestiços
H
x
Z,
respeitando-se
uma
relação
276
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
volumoso:concentrado de 63:37%, na base da matéria seca, não
mostraram efeito das dietas sobre o consumo de nutrientes, ganho de
peso e rendimento de carcaça, conforme consta na Tabela 8. SILVA et
al. (2001b), usando as mesmas rações acima, em ensaio de
digestibilidade com bovinos fistulados no rúmen e abomaso, também
não detectaram efeito das rações sobre as digestibilidades aparentes
totais e ruminais dos nutrientes. Com base nestas considerações, os
autores concluíram que as rações avaliadas equivalem-se
nutricionalmente.
Associação de feno e silagem como suplementos
Existe considerável evidência de que o consumo de matéria seca
da silagem é menor do que o do material verde ou do feno produzido
com a mesma cultura. Demarquilly (1973), citado por THOMAS e GIL
(1987) observou variação de -1 a 64%. Isto reflete as alterações na
composição bromatológica da forrageira entre o corte e alimentação.
No entanto, LUGINBUHL et al. (2000) avaliando o efeito do
método de conservação do Panicum virgatum L., como feno ou silagem,
sobre o consumo e comportamento mastigatório de novilhos Hereford,
verificaram maiores consumos de matéria seca e fibra em detergente
neutro naqueles animais que receberam silagem, conforme se observa
na Tabela 9. O consumo de feno pode ter sido limitado pela quantidade
de saliva necessária para seu umedecimento e posterior deglutição, uma
vez que os novilhos gastaram mais tempo mastigando feno por
quilograma de fibra em detergente neutro consumida do que aqueles
alimentados com silagem. Por sua vez, Burns et al. (1993), citados por
LUGINBUHL et al. (2000), não registraram diferenças nos consumos e
digestibilidades da matéria seca dos fenos e silagens de P. virgatum L.,
ofertados a novilhos.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 277
Tabela 8 - Consumos de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra
em detergente neutro (FDN), ganho médio diário (GMD) de
peso vivo e rendimento de carcaça (RC) de bovinos
Holandês x Zebu, recebendo rações contendo silagens de
milho e sorgo, com e sem inoculante microbiano
Silagem
Inoculante
Sorgo
Sorgo
Milho
Milho
Sem
Com
Sem
Com
Média
CV (%)
1
kg/dia,
2
MS 1
9,25
8,67
9,68
9,96
9,39
11,53
Consumos
MS 2
PB1
2,12
1,3
2,01
1,06
2,24
1,23
2,31
1,25
2,19
1,17
9,06
11,24
FDN1
3,90
3,66
3,77
3,78
3,78
12,24
GMD (kg)
RC (%)
1,13
1,05
1,13
1,10
1,10
11,57
49,35
49,97
50,34
49,56
49,81
2,86
% PV
Tabela 9 - Consumo voluntário de Panicum virgatum L. fornecido a
novilhos, nas formas de feno e silagem¹
Consumos
MS (kg/dia)
FDN (kg/dia)
PB (g/dia)
Água (l/dia)
Água total (l/dia)2
Métodos de Preservação
FENO
Silagem
5,3
6,2
3,9
4,5
387,9
369,8
22,0
10,6
22,6
27,8
P<F
0,02
0,07
0,30
0,001
0,03
¹Adaptado de LUGINBUHL et al. (2000)
2
Consumo de água do alimento e de suprimento.
CAVALCANTE (informação pessoal), ao fornecer rações contendo
60% de volumoso e 40% de concentrado, na base da matéria seca, a
novilhos H x Z, fistulados no rúmen, usando como fontes de volumosos
a silagem de milho e o feno de capim-tifton 85, respectivamente, nas
proporções de 0:100; 33:67; 67:33; e 100:0%, também não registrou
efeito das dietas experimentais para os consumos de matéria seca
expressos em kg/dia e percentagem do peso vivo. Por sua vez, para o
278
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
consumo de fibra em detergente neutro, detectou-se efeito quadrático
(P<0,09), estimando-se máximo consumo para dietas contendo 35,33%
de silagem de milho.
SOUZA et al. (2001), ao avaliarem o consumo de nutrientes, o
ganho de peso e a conversão alimentar de novilhos H x Z recebendo
rações contendo silagem de sorgo e pré-secado de capim-tifton 85 como
volumoso, nas proporções de 0:100; 32:68; 66:34; e 100:0%,
respectivamente, com base na matéria seca, numa relação
volumoso:concentrado de 60:40%, não detectaram influência das
rações sobre os consumos de matéria seca e proteína bruta, quando
expressos, em kg/dia. Todavia, o consumo de matéria seca expresso em
percentagem do peso vivo e o ganho médio diário foram influenciados
pelos níveis de silagem de sorgo no volumoso, estimando-se valores
máximos 2,35% do PV e 1,25kg/dia, para as respectivas variáveis, com
28,68 e 60,95% de silagem de sorgo no volumoso. Os autores
concluíram que o uso de silagem pré-secada de capim-tifton 85,
associada à silagem de sorgo, mostrou-se uma boa alternativa de
alimentos volumosos, para terminação de bovinos de corte em
confinamento. Nas Tabelas 10 e 11 encontram-se a composição
bromatológica das silagens e os dados de desempenho dos animais.
Esses resultados são animadores, se considerarmos que os animais que
receberam silagem pré-secada de capim-tifton 85, de pobre valor
nutritivo (Tabela 10), como fonte única de volumoso, apresentaram
ganho de peso vivo diário somente 12,6% inferior àqueles alimentados
com rações contendo silagem exclusiva de sorgo. Isso evidencia a
possibilidade de se reduzir o custo de alimentação, dado que a silagem
pré-secada de capim-tifton 85 apresenta custo de produção inferior ao
da silagem de sorgo, possibilitando, assim, maior flexibilidade no
programa de suplementação alimentar do rebanho no período seco do
ano, quer seja usando-a como fonte exclusiva de volumoso ou em
associação à silagem de sorgo. Esta última alternativa proporciona,
ainda, a redução na área destinada ao cultivo do sorgo para produção
de silagem, liberando áreas para outros cultivos, como por ex. produção
de grãos.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 279
Tabela 10 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria
orgânica(MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) e
carboidratos totais (CT), das silagens de sorgo e capimtifton 85 e do concentrado
Item
Silagem de sorgo
Silagem de capim-tifton
Concentrado
Frações na MS (%)
MS (%)
MO
24,44
95,59
53,65
93,56
89,79
96,96
PB
6,12
5,99
21,25
EE
2,46
1,85
9,59
CT
87,31
85,82
66,3
Tabela 11 - Consumo de nutrientes, ganho de peso, conversão
alimentar, rendimento de carcaça e respectivos coeficientes
de variação (CV%)
Item
CMS (kg/dia)
CMS (%PV)a
CMO (kg/dia)
CPB (kg/dia)
CEE (kg/dia)
GMD (kg/dia) a
CA
RC (%)
a
Níveis de silagem de sorgo no volumoso (% da MS)
0
32
66
100
9,44
9,71
9,50
9,20
2,33
2,35
2,31
2,20
8,97
9,27
9,10
8,86
1,20
1,23
1,21
1,18
0,50
0,51
0,53
0,51
1,04
1,26
1,20
1,19
9,14
7,72
7,96
7,89
52,94
52,90
53,29
52,64
CV (%)
6,32
5,28
6,31
6,07
7,20
13,66
10,09
2,13
efeito quadrático (P<0,08)
Cararcterísticas da silagem afetando o consumo
A colheita de plantas para ensilagem no ótimo estádio de
maturidade, para máximo rendimento de nutrientes digestíveis,
necessariamente não resulta em elevados consumos de forragem e altas
taxas de desempenho animal, dado que o processo de ensilagem resulta
em perdas na colheita e no armazenamento, bem como no consumo
potencial da forragem ensilada, em comparação ao mesmo material, na
forma fresca. ERDMAN (1993) relatou que a redução no consumo
potencial de silagem pode atingir valores de 30 a 40%. As maiores
280
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
reduções no consumo de silagem estão associadas com aquelas
forrageiras de alta umidade ou colhidas diretamente, sem pré-secagem
prévia. Estas silagens sofrem fermentação mais intensa, resultando em
maiores perdas e aumentos na produção de ácidos acético e butírico.
A exata razão para a redução no consumo de silagem de alta
umidade não é bem conhecida. Todavia, as perdas no desempenho
animal não devem ser ignoradas. Dados sumarizados por ERDMAN
(1993) indicam que quando gramíneas e leguminosas são emurchecidas
para 40% de matéria seca ou mais, antes da ensilagem, o consumo é
semelhante ao da mesma forragem fornecida na forma de feno.
Portanto, o teor adequado de umidade da planta, no momento da
ensilagem, é tão importante quanto os efeitos do seu estádio de
maturidade (proteína, fibra e outros) sobre o desempenho animal. No
entanto, embora o emurchecimento geralmente resulte em aumentos no
consumo de matéria seca, raramente tem promovido concomitantes
incrementos no desempenho animal (STEEN, 1987). Steen (1984),
citado por STEEN (1987), numa revisão envolvendo 40 comparações de
silagens emurchecidas e não-emurchecidas, relatou que o
emurchecimento resultou em incrementos de 178 g/kg e 41 g/dia,
respectivamente, para consumo de matéria seca e ganho de peso vivo.
A fermentação do material ensilado resulta em grandes
mudanças na quantidade e tipos de nutrientes na silagem, em relação
ao material fresco, conforme se observa na Tabela 12. Os carboidratos
solúveis são convertidos a ácidos orgânicos, que servem para reduzir o
pH e conservar a silagem. Durante a fermentação, a proteína é
convertida em vários compostos nitrogenados não protéicos, de modo
que 40-75% do nitrogênio da silagem encontra-se como NNP.
É possível que um ou mais dos produtos da fermentação do
material ensilado afete o consumo potencial da silagem. Nesse contexto,
o menor consumo de matéria seca, verificado em silagens de alta
umidade, parece não estar relacionado ao teor de água da forragem per
si, uma vez que em nenhum dos estudos em que se fez a adição de
água ao alimento, resultou em redução do consumo (ERDMAN, 1993).
Todavia, os produtos finais da fermentação (ácidos lático, acético e
butírico), que encontram-se presentes em altos níveis na forragem
úmida, parecem afetar negativamente o consumo da silagem. Isto tem
sido provado em estudos em que esses ácidos, extratos da fermentação
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 281
solúveis em água e efluentes foram adicionados aos alimentos por
ocasião da alimentação, resultando em reduções de até 40% no
consumo de forragem, conforme relatado por ERDMAN (1993).
O pH da silagem é outro fator que pode afetar o consumo.
ERDMAN (1993) relatou que o ótimo consumo de silagem, ocorreu a um
pH de 5,6. Entretanto, a faixa de pH da silagem que resultou em
redução mínima do consumo variou de 4,5 a 7,0. Se o pH estiver fora
dessa faixa, o consumo pode ser reduzido de 5 a 15%.
Tabela 12 - Mudanças na composição de forragens ensiladas (adaptado
de ERDMAN, 1993)
Item
Matéria seca (%)
pH
Proteína bruta (%)
FDA (%)
FDN (%)
Ácido lático (%)
Ácidos orgânicos totais
N-Amônia (%N-total)
Açúcares
Gramínea/
leguminosa
fresca
20,9
17,9
34,0
45,3
2,9
5,1
Silagem
gramínea/
leguminosa
25,8
4,62
19,6
40,4
52,8
6,6
11,2
8,0
0,6
Planta de
milho
Silagem de
milho
29,4
5,2
8,2
24,5
45,5
5,5
10,8
30,0
3,91
8,0
24,5
45,3
4,6
6,7
8,0
1,6
FORRAGENS CONSERVADAS COMO SUPLEMENTO PARA
BOVINOS EM PASTEJO
A suplementação de bovinos de corte em pastejo, no período
seco do ano, usando forragem conservada de alta qualidade, tem
recebido especial atenção por parte dos pecuaristas, em algumas
regiões dos Estados Unidos e da Austrália. No Brasil, essa alternativa já
é adotada em algumas áreas de pecuária mais desenvolvida, embora
com pouco critério técnico, uma vez que a pesquisa científica, com essa
estratégia de suplementação é praticamente inexistente.
O feno tem sido a principal fonte de forragem conservada
suplementar neste sistema. Estudos de digestibilidade conduzidos por
282
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
MANYUCHI et al. (1997a, b) e VILLALOBOS et al. (1997b),
respectivamente, com ovinos e bovinos, usando forragens conservadas
de alta qualidade, como suplementos de forragens de baixa qualidade,
resultaram em aumentos no consumo total com a forragem
suplementar. Esse aumento tem sido atribuído ao incremento no
consumo de nitrogênio dietético, estimulando, assim, o crescimento
microbiano no rúmen. DEL CURTO et al. (1999), em artigo de revisão,
destacaram que o feno de alfafa proporciona os mesmos benefícios que
outros suplementos protéicos, quando fornecidos em equivalente base
protéica.
VILLALOBOS et al (1997a), avaliando as seguintes estratégias de
suplementação de vacas de corte, durante o inverno: 1- controle (pasto
nativo, somente), 2- pasto nativo suplementado com 2,2kg de feno de
gramínea (15% de PB), 3- pasto nativo mais 1,2 kg/vaca/dia de um
suplemento concentrado (36% de PB) e 4- pasto nativo mais os
suplementos dos tratamentos 2 e 3, fornecidos em dias alternados,
concluíram que o feno de gramínea de alta qualidade, mostrou-se uma
alternativa eficiente para manutenção do peso e condição corporal de
vacas gestantes mantidas em pastos nativos, nesse período.
No entanto, resultados de pesquisa avaliando o efeito da
suplementação protéica sobre o consumo de pastos, durante o inverno,
têm sido inconsistentes. Na maioria dos casos, a resposta animal à
suplementação é maior ou menor do que a esperada. Estas variações
entre o desempenho esperado e o observado são explicadas pelos
efeitos associativos da suplementação sobre o consumo voluntário e a
concentração de energia disponível da dieta total (MOORE et al., 1999),
bem como pela disponibilidade do pasto e seu teor protéico e severidade
das condições climáticas. O conceito de efeitos aditivos refere-se a
interações não aditivas entre ingredientes em dietas mistas.
Por sua vez, WALES et al. (1998) praticamente dobraram o
ganho em peso de novilhos mantidos em pastos anuais irrigados, pelo
incremento da taxa de lotação de 2,5 para 5 novilhos/ha, ao
suplementarem os animais da maior lotação com 2,4 e 5,6 kg de
silagem de milho, na base da matéria seca, por novilho por dia. Os
autores registraram aumentos no ganho de peso de 245 kg/ha
(controle), para 464 ou 576 kg/ha, quando a silagem de milho foi
fornecida na base de 2064 ou 4816 kg de matéria seca/ha,
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 283
respectivamente, para a menor e maior taxa de lotação, durante 172
dias de avaliação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A suplementação alimentar de bovinos com forragens
conservadas, quer em regime de confinamento ou em pastejo, é uma
alternativa que pode resultar em aumento da eficiência bioeconômica de
sistemas de produção de bovinos de corte, por proporcionar melhores
índices produtivos e reprodutivos, e, portanto, maior giro de capital para
o pecuarista. Todavia, o desempenho de bovinos de corte
suplementados
com
forragens
conservadas
é
determinado
principalmente pela qualidade da forragem e potencial de crescimento
do animal, assim como pela relação volumoso:concentrado adotada.
Logo, a suplementação alimentar com forragens conservadas, além do
planejamento criterioso na etapa de produção das mesmas, requer
adequado balanceamento das rações, de modo a atender às exigências
dos animais para o desempenho esperado. Contudo, a decisão em usar
forrageiras conservadas como suplementos para bovinos de corte, no
período seco do ano, dependerá das condições econômicas do produtor,
das particularidades da propiedade e suas metas, bem como do
mercado.
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290
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
TABELAS DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS E EXIGÊNCIAS
NUTRICIONAIS PARA BOVINOS NO BRASIL
1
1
2
Sebastião de Campos Valadares Filho, Fabiano Ferreira da Silva,
3
4
Vicente Ribeiro Rocha Júnior, Edílson Rezende Cappelle
Prof. Titular Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, 2 Prof. Universidade Estadual da
Bahia, Itapetinga-BA, 3 Estudante de Doutorado DZO/UFV, 4 Prof. Escola Agrotécnica de Rio
Pomba, Rio Pomba-MG.
TABELAS DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS
Considerando que o conhecimento da composição químicobromatológica dos alimentos é o primeiro passo na avaliação nutricional
dos mesmos e que no Brasil são poucos os trabalhos publicados no
sentido de compilar as informações sobre a composição desses, vem
sendo desenvolvido no DZO-UFV um software, denominado CQBAL
(CAPPELLE, 2000) que apresenta os dados de composição dos alimentos
disponíveis na literatura.
Na primeira etapa foram compilados dados oriundos de teses de
Mestrado ou Doutorado concluídas na região sudeste, CQBAL versão
1.0, (CAPPELLE, 2000). Também um resumo dessas tabelas foi
apresentado na reunião Anual da SBZ (VALADARES FILHO, 2000).
Recentemente, o NRC (2001) sugeriu que o valor energético dos
alimentos pode ser estimado a partir de sua composição, sendo então
necessário o conhecimento dos teores de proteína bruta, extrato etéreo,
fibra em detergente neutro, carboidratos não fibrosos, lignina e
nitrogênio insolúvel em detergente ácido para se estimar o valor
energético dos alimentos.
Dessa forma , observa-se que a elaboração de uma tabela de
composição de alimentos com o maior detalhamento possível torna-se
extremamente importante, sendo então possível predizer o desempenho
animal a partir da composição dos alimentos juntamente com o
conhecimento do consumo de matéria seca.
Na Tabela 1 são mostradas a composição de alguns alimentos
utilizados com maior freqüência nas condições Brasileiras, em termos de
matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), matéria
mineral (MM), carboidratos totais (CHOT), nutrientes digestíveis totais
292
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
(NDT), digestibilidade da MS (DMS), teores de fibra em detergente
neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), lignina (LIG), cálcio
(Ca), fósforo (P), nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA),
nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio não
protéico (NNP) e as frações, “a” e “b”, e a taxa de degradação (kd, %/h)
da proteína bruta obtidas com o modelo de ORSKOV e McDONALD
(1979).
Essas tabelas apresentam além das médias, o número de
observações e o desvio padrão, para que o usuário possa avaliar a
confiabilidade das médias apresentadas. Os teores de CHOT foram
calculados como: CHOT = 100 – (% PB + %EE + %MM). Observando a
Tabela 1, nota-se que há necessidade de maior número de análises
químicas e principalmente do valor energético dos alimentos. Observase também que os valores de NDT e DIGMS às vezes são bastante
diferentes o que se explica em virtude do número de observações ser
diferente para essas variáveis.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 293
Tabelas
Tabela 1 - Alimentos selecionados da tabela CQBAL
Alimentos
1 - Alfafa feno
Medicago sativa L.
2 - Aveia feno
Avena sativa
3 - Capim braquiária decumbens
Feno
Brachiaria decumbens Stapf.
4 - Capim coast -cross feno
Cynodon dactylon L.
5 - Capim colonião feno
Panicum maximum Jacq.
6 - Capim elefante cameroun feno
Pennisetum purpureum Schum.
7 - Capim elefante feno
Pennisetum purpureum Schum.
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
MS 1
PB1
EE1
87,35
35
5,76
85,36
13
2,49
88,85
34
4,25
88,57
24
2,43
86,47
11
5,66
88,30
1
0,00
88,11
17
3,59
18,06
38
2,16
14,01
19
3,54
6,35
34
2,09
7,19
24
1,49
7,47
9
2,70
3,21
1
0,00
5,87
23
1,96
2,44
28
0,87
2,62
15
0,32
1,17
13
0,61
1,72
3
1,09
2,17
6
0,79
MM1
CHOT1
FORRAGENS SECAS
9,13
70,94
28
26
1,16
3,03
13,23
1
0,00
7,05
81,80
32
15
1,73
3,24
5,36
86,40
7
5
1,53
2,34
5,95
85,83
2
2
0,53
4,66
7,03
1
0,00
7,97
82,29
6
3
3,23
3,68
NDT 1
56,86
6
1,06
55,55
2
6,86
DMS 1
59,09
7
7,35
55,75
2
3,54
48,30
2
7,49
53,09
2
0,74
50,90
10
9,05
FDN1
51,97
9
6,18
62,73
9
8,12
93,49
1
0,00
81,75
21
3,98
78,22
7
3,62
74,42
1
0,00
79,26
10
5,19
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
295
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
1
2
3
4
5
6
7
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
FDA 1
LIG1
Ca1
P1
NIDA 2
NIDN2
36,58
9
2,84
33,59
4
4,39
53,20
1
0,00
42,77
14
5,59
43,07
5
6,08
49,08
1
0,00
52,25
11
5,00
9,90
2
0,42
7,20
6
1,65
6,19
5
0,67
7,63
2
2,18
1,20
10
0,23
0,38
11
0,06
0,18
2
0,03
0,49
13
0,19
0,48
4
0,14
FORRAGENS SECAS
0,24
26,73
10
2
0,04
3,50
0,23
11
0,08
0,15
3
0,02
0,15
2,24
30,49
11
1
1
0,06
0,00
0,00
0,20
4
0,10
7,84
6
0,87
0,22
10
0,07
0,21
10
0,04
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
68,35
1
0,00
25,95
1
0,00
50,30
1
0,00
41,70
1
0,00
15,88
2
2,58
74,55
2
18,45
33,11
1
0,00
51,19
1
0,00
PB kd3
(%/h)
29,63
1
0,00
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
1,15
2
0,95
2,25
1
0,00
2,69
1
0,00
296
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Cont.,
Alimentos
8 - Capim gordura feno
Melinis minutiflora Beauv.
9 - Capim Jaraguá feno
Hyparrhenia rufa (Nees) Stapf.
10 - Grama estrela feno
Cynodon nlenfluensis
Vanderryst.
11 - Milho rolão
Zea mays L.
1 - Azevém
Lolium multiflorum Lam.
2 - Cana -de -açúcar
Saccharum officinarum L.
3 - Cana -de -açúcar c/ uréia
Saccharum officinarum L.
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
MS 1
86,37
40
4,01
87,37
14
2,78
88,47
1
0,00
88,76
12
2,15
PB1
3,65
33
0,82
4,29
14
0,97
5,67
1
0,00
6,46
14
1,15
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
20,30
3
5,55
24,16
81
5,81
29,37
2
4,57
13,37
6
4,45
4,21
73
2,16
10,90
2
0,29
EE1
MM1
CHOT1
1,25
6,51
87,83
9
9
4
0,72
2,33
1,96
1,73
10,00
84,16
9
10
9
0,51
2,57
2,84
1,20
6,29
86,84
1
1
1
0,00
0,00
0,00
2,77
3,17
87,72
9
10
9
0,90
2,32
1,88
FORRAGENS VERDES
11,90
3
0,26
1,50
4,93
92,78
21
58
15
1,23
1,82
1,86
2,00
1
0,00
NDT 1
37,40
10
12,43
51,39
2
0,00
DMS 1
32,51
10
12,77
45,56
6
5,63
58,61
11
5,21
60,90
1
0,00
65,39
15
4,17
75,30
1
0,00
60,20
3
3,73
58,48
1
0,00
FDN1
81,79
8
3,95
76,72
9
3,27
88,94
1
0,00
62,50
1
0,00
54,77
25
7,11
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
297
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
8
9
10
11
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
FDA 1
LIG1
Ca1
P1
54,26
7
6,31
47,70
9
3,71
45,49
1
0,00
40,90
1
0,00
10,02
8
2,79
4,17
7
2,26
0,35
15
0,14
0,47
12
0,12
0,09
15
0,05
0,17
12
0,06
3,36
2
0,70
0,12
4
0,08
0,13
4
0,04
10,13
47
2,78
0,68
3
0,09
0,23
11
0,05
0,27
2
0,02
0,06
11
0,02
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
27,00
1
0,00
73,00
1
0,00
1,00
1
0,00
29,13
2
9,23
36,33
2
2,09
4,75
1
0,00
FORRAGENS VERDES
1
2
3
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
35,38
20
6,36
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
298
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
4 - Capim andropogon pasto
Andropogon gayanus Kunth.
Média
Obs.
Desvio
5 - Capim angola
Média
Brachiaria mutica (Forsk) Stapf.
Obs.
Desvio
6 - Capim braquiária
Média
Brachiaria sp.
Obs.
Desvio
7 - Capim braquiária de 0 a 60 dias Média
Brachiaria sp.
Obs.
Desvio
8 - Capim braquiária de 61 a 150
Média
dias
Obs.
Brachiaria sp.
Desvio
9 - Capim braquiária brizantha
Média
Brachiaria brizantha (Hochst)
Obs.
Stapf
Desvio
10 - Capim braquiária decumbens Média
Brachiaria decumbens Stapf
Obs.
Desvio
11 - Capim braquiária humidícola
Média
Brachiaria humidicola (Rendle)
Obs.
Stapf
Desvio
1 - %MS
MS 1
14,08
3
0,81
36,11
76
13,32
28,68
21
5,37
43,70
14
7,36
30,20
1
0,00
32,75
24
5,14
29,00
1
0,00
PB1
4,79
13
1,32
9,09
3
0,63
5,75
255
1,95
8,98
25
2,70
3,48
13
0,82
7,50
1
0,00
7,26
52
2,59
6,12
11
0,74
EE1
MM1
CHOT1
1,26
4
0,71
6,37
13
1,31
84,41
2
1,44
0,70
1
0,00
1,21
1
0,00
6,38
1
0,00
6,70
9
1,22
85,42
1
0,00
83,39
1
0,00
NDT 1
DMS 1
51,30
15
9,31
48,61
3
2,34
51,48
80
13,88
81,94
8
2,79
59,82
16
9,20
67,83
20
14,29
41,12
5
2,12
FDN1
72,89
65
6,64
65,74
8
1,04
66,37
12
4,28
80,45
1
0,00
75,81
1
0,00
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
299
Tabela 1, Cont.,
FDA 1
Alimentos
4
5
6
7
8
9
10
11
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
39,44
41
3,96
38,10
8
2,56
37,01
12
2,00
44,94
1
0,00
44,79
1
0,00
LIG1
5,60
39
1,32
5,63
8
1,63
5,37
11
0,55
Ca1
P1
0,41
1
0,00
0,28
10
0,12
0,14
1
0,00
0,25
227
0,17
0,33
10
0,08
0,24
18
0,06
0,28
49
0,19
0,23
69
0,10
0,32
48
0,23
0,41
2
0,03
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
4,53
1
0,00
11,00
1
0,00
28,51
1
0,00
48,10
1
0,00
45,30
1
0,00
6,39
1
0,00
11,57
1
0,00
49,13
1
0,00
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
PB kd3
(%/h)
300
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
12 - Capim braquiária ruziziensis
Brachiaria ruziziensis Germain.
Média
Obs.
Desvio
13 - Capim buffel
Média
Cenchrus ciliaris L.
Obs.
Desvio
14 - Capim buffel de 0 a 60 dias
Média
Cenchrus ciliaris L.
Obs.
Desvio
15 - Capim buffel de 61 a 84 dias Média
Cenchrus ciliaris L.
Obs.
Desvio
16 - Capim coast -cross de 0 a 50 Média
dias
Obs.
Cynodon dactylon L
Desvio
17 - Capim coast -cross de 51 a 70 Média
dias
Obs.
Cynodon dactylon L
Desvio
18 - Capim coast -cross
Média
Cynodon dactylon L.
Obs.
Desvio
19 - Capim colonião
Média
Panicum maximum Jacq.
Obs.
Desvio
1 - %MS
MS 1
26,54
7
4,37
25,62
11
7,78
23,44
5
3,81
21,00
4
1,54
24,28
1
0,00
28,73
51
5,23
PB1
8,15
7
2,60
10,34
10
3,61
14,00
4
2,08
9,00
4
0,23
15,42
4
3,30
9,61
2
1,17
13,01
7
3,83
6,59
89
2,62
EE1
2,27
1
0,00
MM1
5,39
4
1,22
CHOT1
NDT 1
DMS 1
FDN1
32,80
2
5,09
1,46
1
0,00
1,87
5
0,69
8,69
1
0,00
7,34
5
0,39
79,63
1
0,00
87,45
3
0,55
43,33
4
9,54
63,49
4
10,03
52,93
2
2,79
59,97
6
9,57
46,45
98
11,64
73,66
4
4,34
80,15
2
0,57
76,39
7
4,59
75,73
14
4,07
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
301
Tabela 1, Cont.,
FDA 1
Alimentos
12
13
14
15
16
17
18
19
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
40,01
4
4,42
45,84
2
1,00
42,43
7
4,37
43,85
14
6,44
LIG1
7,82
13
2,34
Ca1
P1
NIDA 2
0,43
1
0,00
0,21
2
0,04
0,21
52
0,12
0,16
11
0,05
0,15
5
0,03
0,13
4
0,04
0,23
4
0,04
0,17
2
0,01
0,21
6
0,04
0,18
58
0,06
8,49
1
0,00
0,24
4
0,03
0,17
2
0,01
0,21
6
0,04
0,46
49
0,17
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
302
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
20 - Capim colonião de 0 a 50 dias Média
Panicum maximum Jacq.
Obs.
Desvio
21 - Capim colonião de 51 a 120
Média
dias
Obs.
Panicum maximum Jacq.
Desvio
22 - Capim elefante
Média
Pennisetum purpureum Schum.
Obs.
Desvio
23 - Capim elefante de 0 a 45 dias Média
Pennisetum purpureum Schum.
Obs.
Desvio
24 - Capim elefante de 46 a 63
Média
dias
Obs.
Pennisetum purpureum Schum.
Desvio
25 - Capim elefante de 64 a 120
Média
dias
Obs.
Pennisetum purpureum Schum.
Desvio
26 - Capim elefante de 121 a 200 Média
dias
Obs.
Pennisetum purpureum Schum
Desvio
27 - Capim elefante cameroun
Média
Pennisetum purpureum Schum.
Obs.
Desvio
1 - %MS
MS 1
28,62
4
3,55
25,83
9
6,30
22,03
317
7,76
13,12
15
3,84
16,25
42
1,57
18,58
73
3,12
28,79
20
4,44
19,60
44
6,00
PB1
11,55
4
5,38
8,16
9
3,97
6,23
414
2,75
13,93
7
2,60
7,13
44
1,78
7,32
60
1,91
4,35
22
2,09
6,52
53
3,07
EE1
2,38
94
1,00
4,33
5
0,86
2,93
1
0,00
3,05
10
0,69
2,40
12
0,47
1,99
7
1,22
MM1
9,43
117
2,93
14,28
6
3,86
9,07
2
5,83
10,63
14
3,84
7,51
17
2,30
5,80
9
2,88
CHOT1
82,09
71
6,14
68,25
5
5,50
81,48
1
0,00
79,59
10
4,15
85,99
12
2,01
86,11
7
5,98
NDT 1
50,15
2
8,27
50,21
18
8,34
51,10
1
0,0
DMS 1
72,28
4
4,85
44,42
25
7,99
51,27
332
11,35
55,14
13
27,40
59,37
42
4,96
58,37
59
7,42
43,71
19
11,76
54,68
40
7,49
FDN1
71,50
4
3,52
77,65
5
3,13
72,28
97
6,26
61,29
5
1,29
62,06
2
5,32
70,36
12
3,18
71,55
2
2,62
68,95
9
7,41
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
303
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
20
21
22
23
24
25
26
27
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
FDA 1
LIG1
Ca1
P1
35,67
4
3,83
46,08
5
4,02
46,45
175
4,84
35,88
9
6,67
40,33
2
0,81
44,14
20
4,15
48,31
14
2,23
46,82
24
3,72
3,70
1
0,00
7,76
5
1,47
7,43
122
2,06
4,29
5
1,19
3,60
2
1,14
6,22
10
1,46
0,70
4
0,12
0,73
5
0,13
0,28
199
0,12
0,21
5
0,17
0,52
1
0,00
0,30
13
0,19
0,30
15
0,17
0,32
26
0,14
0,17
4
0,06
0,17
5
0,05
0,20
263
0,10
0,17
1
0,00
0,13
13
0,04
0,08
16
0,06
0,07
16
0,03
0,22
36
0,09
6,30
19
2,01
NIDA 2
11,38
9
3,17
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
29,81
3
7,83
53,78
3
24,62
1,00
2
0,00
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
304
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
28 - Capim elefante mineiro
Pennisetum purpureum Schum.
Média
Obs.
Desvio
29 - Capim elefante napier
Média
Pennisetum purpureum Schum.
Obs.
Desvio
30 - Capim elefante napier silagem Média
Pennisetum purpureum Schum.
Obs.
Desvio
31 - Capim elefante silagem
Média
Pennisetum purpureum Schum.
Obs.
Desvio
32 - Capim gordura
Média
Melinis minutiflora Beauv.
Obs.
Desvio
33 - Capim gordura de 0 a 60 dias Média
Melinis minutiflora Beauv.
Obs.
Desvio
34 - Capim gordura de 61 a 240
Média
dias
Obs.
Melinis minutiflora Beauv.
Desvio
35 - Capim Jaraguá
Média
Hyparrhenia rufa (Nees.) Stapf.
Obs.
Desvio
1 - %MS
MS 1
20,40
6
2,63
23,10
84
7,10
30,55
4
9,35
26,45
80
7,60
48,32
96
20,53
23,98
14
3,39
30,24
14
6,96
50,24
22
19,19
PB1
6,10
12
2,03
6,20
101
3,58
5,33
6
1,65
4,88
85
1,42
7,51
148
3,78
11,76
30
2,49
7,49
20
2,63
9,47
136
3,12
EE1
2,57
65
0,90
2,98
2
1,03
1,47
8
1,03
1,51
1
0,00
MM1
11,14
2
0,51
9,39
12
2,06
7,65
2
3,17
7,28
9
2,82
8,20
6
0,69
CHOT1
NDT 1
81,80
58
6,31
83,79
2
2,82
86,73
4
3,77
80,95
1
0,00
52,91
11
6,04
57,18
1
0,00
50,89
2
8,90
50,15
4
7,25
60,20
1
0,00
46,80
3
3,38
47,50
1
0,00
DMS 1
41,19
16
9,94
46,98
64
14,16
37,20
1
0,00
34,26
56
10,01
48,29
76
9,74
55,23
27
7,06
43,19
34
8,14
46,10
45
10,77
FDN1
74,99
15
4,89
75,15
2
2,28
74,04
17
5,00
78,57
4
4,31
69,35
5
2,66
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
305
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
28
29
30
31
32
33
34
35
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
FDA 1
LIG1
Ca1
P1
NIDA 2
48,03
10
2,02
43,75
40
6,31
51,57
1
0,00
52,50
16
3,49
47,32
8
4,09
8,82
4
1,45
5,94
10
1,38
9,59
1
0,00
8,21
9
1,75
6,89
14
2,33
4,48
4
1,48
7,48
4
2,83
6,44
9
2,23
0,24
6
0,07
0,29
62
0,15
0,28
1
0,00
0,32
10
0,06
0,33
126
0,09
0,29
24
0,07
0,24
14
0,03
0,55
46
0,13
0,32
19
0,10
0,12
63
0,06
0,10
1
0,00
0,11
7
0,02
0,14
144
0,08
0,22
27
0,08
0,13
14
0,06
0,17
26
0,04
9,29
4
4,59
12,92
1
0,00
45,94
16
5,33
NIDN2
15,81
1
0,00
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
32,10
1
0,00
67,00
1
0,00
1,00
1
0,00
58,63
1
0,00
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
306
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
36 - Capim Jaraguá de 0 a 60 dias Média
Hyparrhenia rufa (Nees.) Stapf.
Obs.
Desvio
37 - Capim Jaraguá de 61 a 160
Média
Hyparrhenia rufa (Nees.) Stapf.
Obs.
Desvio
38 - Capim tobiatã
Média
Panicum maximum Jacq.
Obs.
Desvio
39 - Capim tobiatã de 0 a 60 dias Média
Panicum maximum Jacq.
Obs.
Desvio
40 - Capim tobiatã de 61 a 250
Média
dias
Obs.
Panicum maximum Jacq.
Desvio
41 - Girassol silagem
Média
Helianthus annun
Obs.
Desvio
42 - Mandioca silagem
Média
Manihot esculenta Crantz.
Obs.
Desvio
43 - Milho silagem
Média
Zea mays L.
Obs.
Desvio
1 - %MS
MS 1
20,13
3
1,45
29,94
5
5,39
29,65
9
7,32
23,18
2
2,37
31,57
7
7,25
25,62
14
0,05
24,17
2
0,03
30,67
110
5,36
PB1
13,37
12
2,98
6,36
9
2,56
7,06
31
3,10
9,48
7
5,20
6,50
8
2,27
9,06
14
0,20
11,22
2
1,32
6,73
104
1,20
EE1
MM1
CHOT1
NDT 1
DMS 1
56,02
10
5,41
45,93
8
9,12
50,40
21
12,93
61,88
2
6,33
31,75
3
20,72
FDN1
66,71
2
1,38
70,41
2
0,56
74,04
15
4,87
71,67
9
3,58
77,58
6
4,56
47,24
14
1,22
5,35
24
1,23
83,75
21
2,12
63,03
28
6,49
56,60
33
4,67
58,03
53
6,63
13,66
13
1,66
2,76
44
1,12
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
307
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
36
37
38
39
40
41
42
43
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
FDA 1
LIG1
Ca1
P1
42,88
8
5,69
48,99
8
2,68
43,54
15
5,99
40,29
9
2,82
48,40
6
6,36
35,64
14
0,98
6,00
6
2,06
7,31
3
2,75
5,85
9
2,41
3,86
4
1,07
7,44
5
1,91
6,47
13
0,39
0,43
4
0,02
0,24
14
0,03
0,53
23
0,16
0,45
7
0,21
0,63
4
0,20
0,17
10
0,04
0,13
14
0,06
0,17
23
0,05
0,23
7
0,04
0,15
4
0,03
0,83
2
0,06
0,33
43
0,19
0,13
2
0,00
0,17
41
0,05
32,43
38
5,93
6,12
20
1,89
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
6,12
12
4,12
13,21
2
2,24
50,07
2
1,97
55,50
8
10,71
32,60
8
14,23
3,16
8
0,86
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
308
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
44 - Soja perene
Glycine wightii Verdc.
45 - Sorgo silagem
Sorghum vulgare Pers.
1 - Cana -de -açúcar c/ napier
silagem
2 - Milho silagem c/ capim
elefante
1 - Arroz farelo desengordurado
Oryza sativa
2 - Arroz farelo integral
Oryza sativa
3 - Arroz quirera
Oryza sativa
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
MS 1
24,12
51
8,24
28,56
172
4,92
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
23,61
1
0,00
29,71
3
6,50
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
PB1
16,11
58
3,29
7,50
164
2,12
EE1
MM1
CHOT1
3,45
9,05
71,90
4
5
4
0,14
0,51
0,30
5,37
5,44
80,50
14
17
12
1,77
0,93
1,18
ALIMENTOS MISTURADOS
NDT 1
59,52
35
8,77
DMS 1
56,44
71
5,79
55,38
65
7,00
5,20
1
0,00
6,69
3,41
6,11
55,96
3
1
1
1
1,66
0,00
0,00
0,00
ALIMENTOS CONCENTRADOS ENERGÉTICOS
89,86 18,44
2,25
9,61
69,70
5
5
5
5
5
1,07
2,49
0,85
0,99
1,58
88,16 14,15 16,14
8,19
61,75
80,54
33
32
28
23
22
1
2,56
1,83
2,90
2,09
3,55
0,00
87,91
9,20
0,81
1,20
88,29
2
3
3
2
2
0,97
1,65
0,29
0,39
2,19
FDN1
57,18
1
0,00
55,88
99
8,50
77,67
1
0,00
31,51
4
5,15
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
309
Tabela 1, Cont.,
FDA 1
Alimentos
44
45
1
2
1
2
3
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
44,04
1
0,00
33,11
100
6,86
LIG1
Ca1
P1
5,56
81
2,00
1,21
13
0,50
0,31
28
0,19
0,16
36
0,16
0,13
26
0,06
0,39
1
0,00
0,36
2
0,08
0,05
1
0,00
0,07
2
0,04
ALIMENTOS CONCENTRADOS ENERGÉTICOS
1,40
6,2
26,50
62,20
5
1
1
1
0,18
0,00
0,00
0,00
1,55
5,10
45,30
40,00
12
1
1
1
0,41
0,00
0,00
0,00
0,07
2
0,01
46,70
1
0,00
18,27
4
2,97
5,40
2
0,60
0,08
5
0,02
0,09
12
0,02
0,08
2
0,01
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
17,92
39,43
18,50
7
2
2
13,51
2,18
7,38
ALIMENTOS MISTURADOS
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
6,49
1
0,00
12,15
1
0,00
310
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
4 - Centeio
Secale cereale L.
5 - Citrus polpa
6 - Mandioca raspa
Manihot esculenta Crantz.
7 - MDPS
Zea mays L.
8 - Milheto
Pennisetum americanum L.
9 - Milho farelo de gérmen
Zea mays L.
10 - Milho fubá
Zea mays L.
11 - Milho grão umedecido
Zea mays L.
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
MS 1
23,00
3
8,77
85,17
2
0,95
88,48
27
2,45
87,68
35
2,63
14,75
2
5,87
88,85
1
0,00
87,54
210
1,79
57,78
6
10,15
PB1
14,88
6
3,43
8,07
2
0,47
2,97
27
0,86
8,26
41
0,93
13,03
3
3,21
10,70
1
0,00
9,15
296
1,08
EE1
CHOT1
3,21
2
0,35
0,49
15
0,26
2,95
9
0,56
MM1
10,17
3
2,76
6,88
2
1,39
2,90
9
1,13
1,86
9
0,45
NDT 1
DMS 1
68,60
1
0,00
81,85
2
0,57
93,14
8
1,57
86,82
6
0,95
66,62
7
4,04
73,15
2
1,77
67,68
3
4,98
59,20
1
0,00
0,22
1
0,00
3,97
119
0,99
8,47
1
0,00
1,50
96
0,44
80,61
1
0,00
84,90
87
1,64
85,12
10
6,32
86,29
21
9,42
FDN1
23,66
2
0,64
24,93
1
0,00
39,13
4
9,92
68,10
1
0,00
30,01
1
0,00
15,28
23
5,76
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
311
Tabela 1, Cont.,
FDA 1
Alimentos
4
5
6
7
8
9
10
11
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
28,01
2
0,57
LIG1
1,28
2
0,04
20,05
3
4,29
4,50
3
0,72
4,53
1
0,00
3,78
22
0,67
1,66
9
0,90
Ca1
P1
0,35
3
0,17
2,38
2
0,08
0,15
11
0,06
0,08
19
0,08
0,60
1
0,00
1,19
1
0,00
0,03
167
0,02
0,35
3
0,13
1,24
2
1,44
0,07
14
0,03
0,21
20
0,08
0,26
1
0,00
0,56
1
0,00
0,26
162
0,07
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
11,25
3
0,46
17,82
1
0,00
15,53
2
1,09
14,59
1
0,00
20,46
1
0,00
21,69
1
0,00
16,20
1
0,00
24,38
1
0,00
19,37
1
0,00
16,97
1
0,00
16,42
1
0,00
18,81
1
0,00
20,00
1
0,00
21,90
1
0,00
68,30
1
0,00
78,00
1
0,00
2,00
1
0,00
1,53
1
0,00
7,00
4
2,53
12,79
1
0,00
18,34
1
0,00
22,92
2
2,43
77,71
2
0,41
2,61
2
0,93
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
312
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
12 -Milho quirera
Zea mays L.
13 - Milho triturado
Zea mays L.
14 - Sorgo farelo
Sorghum vulgare Pers.
15 - Sorgo grão
Sorghum vulgare Pers.
16 - Soja óleo
Glycine Max (L.) Merr.
17 - Trigo farelo
Triticum aestivum
18 - Trigo farelinho
Triticum aestivum
19 - Trigo gérmen
Triticum aestivum
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
MS 1
82,10
6
5,28
85,60
1
0,00
87,50
1
0,00
87,44
50
1,77
100,00
8
0,00
87,47
34
1,61
85,53
3
1,79
90,00
1
0,00
PB1
10,16
7
0,36
9,30
1
0,00
10,30
1
0,00
9,66
65
1,59
16,58
57
1,42
14,97
3
1,67
20,60
1
0,00
EE1
MM1
CHOT1
2,52
23
1,30
84,64
22
1,97
NDT 1
DMS 1
88,47
6
0,62
FDN1
22,68
6
0,52
9,00
1
0,00
68,30
30
5,68
22,91
5
6,97
74,40
1
0,00
47,01
8
6,00
5,30
1
0,00
2,83
27
1,16
99,67
9
0,71
4,13
25
0,76
3,06
3
0,46
3,20
1
0,00
207,00
1
0,00
5,77
20
1,06
5,65
3
0,09
6,00
1
0,00
73,67
19
2,24
76,32
3
2,04
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
313
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
12
13
14
15
16
17
18
19
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
FDA 1
LIG1
5,62
6
0,19
3,00
1
0,00
1,20
1
0,00
1,30
1
0,00
5,36
3
1,28
1,11
1
0,00
13,75
5
1,92
5,00
1
0,00
Ca1
P1
0,02
1
0,00
0,04
1
0,00
0,03
25
0,02
0,30
1
0,00
0,33
1
0,00
0,29
24
0,11
0,15
35
0,06
0,29
3
0,11
0,17
1
0,00
0,99
33
0,28
1,01
3
0,06
0,76
1
0,00
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
4,20
1
0,00
10,20
1
0,00
18,54
1
0,00
18,67
1
0,00
21,84
1
0,00
23,20
1
0,00
16,96
2
9,84
78,94
2
8,57
2,20
2
1,00
4,61
2
1,27
6,70
1
0,00
11,77
1
0,00
34,62
2
8,65
59,49
2
7,23
13,86
2
0,76
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
314
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
1 - Algodão caroço
Gossypium hirsutum
2 - Algodão farelo
Gossypium hirsuntum
3 - Algodão torta
Gossypium hirsutum
4 - Amendoim farelo
Arachis hypogaea L.
5 - Babaçu farelo
Orbigya speciosa (Barb.) Rodr.
6 - Canola farelo
Brasscica napus
7 - Carne e ossos farinha
1 - %MS
MS 1
PB1
EE1
MM1
ALIMENTOS CONCENTRADOS PROTÉICOS
Média
90,36 23,56 19,51
3,73
Obs.
9
10
8
1
Desvio
1,40
3,31
1,44
0,00
Média
89,85 30,67
1,08
4,98
Obs.
158
160
126
128
Desvio
1,25
7,52
0,62
0,83
Média
90,34 35,78
1,36
6,15
Obs.
4
4
3
3
Desvio
1,73
7,06
0,04
0,77
Média
88,74 58,42
0,32
6,10
Obs.
5
5
5
4
Desvio
0,86
1,30
0,05
1,43
Média
90,05 21,31
6,98
6,18
Obs.
4
6
4
4
Desvio
0,17
2,12
2,25
0,14
Média
90,60 39,84
1,23
6,48
Obs.
14
15
7
7
Desvio
1,45
2,38
0,12
0,39
Média
92,51 46,73 10,95 36,24
Obs.
29
34
25
22
Desvio
1,93
6,69
2,51
7,86
CHOT1
NDT 1
DMS 1
FDN1
5,62
1
0,00
64,48
122
8,09
54,39
3
7,25
35,38
4
2,29
62,67
2
0,00
52,29
5
0,90
6,37
17
3,32
77,64
1
0,00
63,91
10
6,13
72,32
1
0,00
50,29
5
14,06
47,44
6
0,55
36,95
7
8,86
48,45
1
0,00
30,03
4
1,68
38,60
3
4,35
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
315
Tabela 1, Cont.,
FDA 1
Alimentos
1
2
3
4
5
6
7
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
LIG1
38,60
2
2,96
28,71
10
7,97
22,22
4
1,33
5,62
1
0,00
4,92
3
0,47
Ca1
P1
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
ALIMENTOS CONCENTRADOS PROTÉICOS
12,7
13,68
1
3
0,00
4,96
0,22
0,76
5,34
9,06
24,55
30,27
19
18
5
1
1
5
0,05
0,33
0,78
0,00
0,00
9,43
0,24
0,85
1
1
0,00
0,00
0,14
0,79
5
4
0,05
0,33
0,07
0,53
4
4
0,05
0,38
0,64
0,89
9
8
0,10
0,19
11,91
5,59
3,1
8,48
20,79
19,95
26
25
5
1
1
4
2,69
1,43
2,02
0,00
0,00
9,87
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
76,44
3
6,17
62,61
5
8,93
2,00
3
0,00
5,90
5
1,99
30,43
4
5,73
14,53
4
3,21
316
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
8 - Coco farelo
Cocos muciferae
9 - Girrasol farelo
Helianthus annun
10 - Mamona farelo atoxicado
Ricinus communis
11 - Milho glúten
Zea mays L.
12 - Ossos farinha autoclavada
13 - Peixe farinha
14 - Protenose
15 - Refinasil
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
MS 1
91,42
5
2,23
91,94
2
2,04
90,18
4
0,21
90,61
5
1,09
92,38
39
2,55
90,83
3
1,32
87,40
1
0,00
PB1
23,62
5
1,68
46,56
5
5,80
40,64
5
2,17
62,24
5
4,43
20,05
3
0,39
60,24
42
4,47
62,88
4
3,11
25,90
1
0,00
EE1
11,17
5
0,39
1,71
5
0,52
1,31
5
0,45
2,39
4
1,08
2,25
3
1,52
9,62
28
3,42
5,90
3
1,48
1,79
1
0,00
MM1
6,44
5
0,74
6,82
7
0,67
7,30
4
0,93
2,36
3
1,43
72,68
1
0,00
21,14
32
4,24
1,92
4
1,11
6,72
1
0,00
CHOT1
58,77
5
1,91
44,98
3
8,71
51,53
4
1,68
31,02
3
3,20
3,71
1
0,00
9,51
28
3,31
30,64
3
0,44
65,59
1
0,00
NDT 1
DMS 1
FDN1
94,18
1
0,00
4,65
1
0,00
61,63
1
0,00
79,81
1
0,00
32,00
1
0,00
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
317
Tabela 1, Cont.,
FDA 1
Alimentos
8
9
10
11
12
13
14
15
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
48,00
1
0,00
LIG1
Ca1
P1
0,08
2
0,01
0,84
6
0,27
0,71
3
0,02
0,07
4
0,03
24,60
5
2,50
6,65
35
1,12
0,05
3
0,04
0,17
1
0,00
0,48
2
0,13
0,96
6
0,19
0,71
2
0,00
0,47
5
0,20
9,50
5
2,97
3,55
34
0,73
0,43
2
0,11
1,21
1
0,00
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
1,99
2
1,72
6,97
1
0,00
1,47
1
0,00
22,12
1
0,00
1,15
1
0,00
41,76
1
0,00
18,86
2
10,54
31,56
2
8,00
4,09
2
1,25
1 - %MS; 2 - %PB; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
318
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
16 - Sangue farinha
17 - Soja farelo
Glycine Max (L.) Merr.
18 - Soja grão
Glycine Max (L.) Merr.
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
MS 1
88,96
12
1,48
88,62
203
1,65
89,24
10
1,29
PB1
85,05
13
6,66
47,90
287
3,41
39,05
10
5,81
EE1
1,37
8
1,37
1,62
125
0,83
20,34
2
2,06
MM1
4,07
7
0,39
6,31
102
0,62
5,01
3
2,38
CHOT1
7,11
7
4,26
44,85
91
2,95
38,77
2
1,31
NDT 1
81,00
1
0,00
91,16
2
8,72
DMS 1
77,63
1
0,00
85,07
3
8,04
64,05
2
6,43
FDN1
64,52
1
0,00
14,06
24
1,29
28,54
1
0,00
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
319
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
16
17
18
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
FDA 1
LIG1
0,23
11
0,14
9,88
20
1,95
0,17
10
0,08
2,58
8
0,90
Ca1
P1
NIDA 2
NIDN2
NNP2
0,33
159
0,08
0,41
5
0,29
0,00
1
0,00
0,57
155
0,14
0,55
5
0,13
0,00
1
0,00
3,70
3
1,00
6,64
2
0,08
0,00
1
0,00
5,92
1
0,00
9,77
1
0,00
20,76
1
0,00
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
19,99
2
0,30
34,60
1
0,00
77,67
2
0,95
65,00
1
0,00
8,22
2
2,26
7,74
1
0,00
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
320
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
1 - Café casca
Coffea arabica
2 - Cama de frango
3 - Cana -de -açúcar bagaço
Saccharum officinarum L.
4 - Dejeto suíno
5 - Milho resíduo de cultura
Zea mays L.
6 - Soja casca
Glycine Max (L.) Merr
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
MS 1
PB1
EE1
SUB -PRODUTOS
83,96 10,37
3,26
6
7
2
2,30
1,84
0,86
82,31 18,84
0,37
15
17
5
5,74
2,99
0,21
58,06
1,60
2,59
17
21
11
22,47
0,30
2,12
17,50 22,57
5,96
9
10
5
2,75
2,82
0,72
91,08
3,44
2
2
0,00
0,00
89,52 10,17
1,22
21
21
20
1,03
0,58
0,18
MM1
CHOT1
42,69
1
0,00
22,48
6
16,40
3,66
16
0,89
17,09
8
3,25
42,92
1
0,00
62,72
4
11,71
92,25
10
2,09
56,18
2
7,88
3,73
21
0,59
84,87
20
0,83
NDT 1
61,00
1
0,00
DMS 1
28,10
1
0,00
44,66
16
11,16
77,63
1
0,00
FDN1
58,37
6
6,63
63,25
3
3,51
72,76
15
15,43
40,99
5
10,94
82,32
2
0,00
64,52
1
0,00
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
321
Tabela 1, Cont.,
Alimentos
1
2
3
4
5
6
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
FDA 1
LIG1
Ca1
P1
52,82
2
3,30
39,26
1
0,00
57,96
16
7,07
15,46
2
7,31
48,43
2
0,00
13,56
1
0,00
0,22
2
0,07
4,24
5
2,67
0,13
4
0,03
3,22
9
0,46
0,12
2
0,05
1,65
5
0,65
0,04
4
0,02
1,91
10
0,40
11,87
7
163
4,54
1
0,00
1,48
2
0,57
NIDA 2
NIDN2
SUB -PRODUTOS
26,61
33,91
1
1
0,00
0,00
10,72
33,12
3
3
3,55
13,78
NNP2
PB a3
(%)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
19,40
1
0,00
69,31
1
0,00
2,00
1
0,00
22,70
3
14,03
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
322
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1, Cont.,
MS 1
Alimentos
1 - Carbonato de cálcio
2 - Fosfato bicálcio
3 - Levedura
Saccharomycis sp.
4 - Melaço
5 - Resíduo de cervejaria
6 - Soja leite
1 - %MS
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
98,60
4
1,62
98,60
4
1,62
18,22
2
2,23
72,75
19
5,17
20,15
5
1,71
9,40
1
0,00
PB1
ADITIVOS
29,62
19
2,99
3,14
39
0,97
34,77
5
2,49
2,92
2
1,42
EE1
MM1
CHOT1
0,92
15
0,72
1,53
8
1,05
7,90
1
0,00
1,07
2
0,87
85,57
3
3,36
85,57
3
3,36
10,01
15
3,17
12,84
28
4,73
3,30
1
0,00
0,72
1
0,00
59,62
12
4,62
83,72
8
3,51
57,10
1
0,00
93,68
1
0,00
NDT 1
DMS 1
FDN1
2,49
1
0,00
69,75
3
0,44
76,00
1
0,00
82,60
1
0,00
II Simpósio de Produção de Gado de Corte -
323
Tabela 1, Cont.,
FDA 1
Alimentos
LIG1
Ca1
P1
NIDA 2
NIDN2
NNP2
PB a3
(%)
ADITIVOS
1
2
3
4
5
6
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
Média
Obs.
Desvio
2,64
2
3,25
2,64
2
3,25
38,70
9
1,06
23,86
97
1,60
1,18
13
0,42
3,65
28
2,97
18,41
96
1,03
0,66
11
0,30
0,16
26
0,13
0,02
1
0,00
0,05
1
0,00
4,23
1
0,00
14,12
1
0,00
38,90
1
0,00
24,80
1
0,00
1 - %MS; 2 - %N -Total; 3 - Análise das frações utilizando o modelo de ORSKOV e McDONALD (1979)
PB b3
(%)
PB kd3
(%/h)
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE BOVINOS NO BRASIL
Os componentes químicos (água, proteína, gordura e minerais)
do corpo variam, durante o crescimento. Fatores como idade, peso,
espécie, raça, classe sexual e nível de ingestão de energia influenciam
estas variações e conduzem a diferenças nos requisitos nutricionais dos
animais. A avaliação desta composição corporal é necessária para a
determinação dos requerimentos nutricionais dos animais.
À medida que a maturidade avança, ocorre aumento na
proporção de gordura e concomitante decréscimo nas concentrações de
água, proteína e minerais no corpo animal (AFRC, 1993). As diferenças
nas exigências de energia e proteína para ganho de peso devem-se às
diferenças na composição do ganho, já que os requisitos líquidos de
energia para crescimento consistem na quantidade de energia
depositada nos tecidos, que é função das proporções de gordura e
proteína no ganho do corpo vazio, e as exigências líquidas de proteína
são função do conteúdo de matéria seca livre de gordura do peso ganho
(NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC, 1996).
As principais diferenças em relação ao sexo dos animais são
observadas quanto ao tecido adiposo. Considerando-se animais
pertencentes à mesma raça e com peso de corpo vazio (PCVZ) similar,
fêmeas possuem maior quantidade corporal de gordura que machos
castrados, e estes, mais que os inteiros. Este comportamento se reflete
nas concentrações de energia corporal e nas respectivas exigências
energéticas para ganho.
GARRETT (1980) descreveu uma equação para estimar a
exigência líquida para ganho (ELg) em função do peso de corpo vazio
(PCVZ) e do ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ): ELg = 0,0635 *
PCVZ0,75 * GPCVZ1,097. Para estimar a energia líquida para mantença
(ELm), o NRC (1996) adotou o valor de 77 kcal/PCVZ0,75, obtido por
LOFGREEN e GARRETT (1968). No Brasil, os dados sempre foram
gerados em separado e, poucos são os trabalhos que tentaram agrupálos para dar maior consistência aos resultados. FONTES (1995) e BOIN
(1995), analisando dados de vários experimentos, observaram aumento
da ELg com o aumento do peso vivo (PV) dos animais para uma
determinada taxa de ganho, mas não foi descrita nenhuma equação que
pudesse estimar esta exigência em função do peso e da taxa de ganho
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 325
do animal. BOIN (1995), analisando três experimentos que utilizaram
animais Nelore inteiros, relatou valores de ELm variando de 69,8 a 78
kcal/PCVZ0,75. Dos trabalhos individuais realizados na Universidade
Federal de Viçosa, os valores de ELm, para animais zebuínos inteiros,
variaram desde 47 kcal/PCVZ0,75 (SALVADOR, 1980) até 82,79
kcal/PCVZ0,75 (VÉRAS, 2000).
Em relação às exigências líquidas de proteína para ganho, à
medida que aumenta o PV e as taxas de ganho de peso do animal,
ocorre uma diminuição das mesmas, fato este descrito pelas duas
edições do NRC (1984, 1996), onde: proteína retida = ganho de peso
vivo em jejum * (268 - (29,4 * (ELg/ganho de peso vivo em jejum). No
Brasil, tendência semelhante foi obtida por FONTES (1995) e BOIN
(1995), entre outros.
Os requisitos líquidos de proteína para mantença, de acordo
com o AFRC (1993), se baseiam no N endógeno basal (NEB), que inclui
perdas urinárias endógenas e parte do chamado NMF, mais perdas por
descamação de tecidos e pêlos e, admitindo-se eficiência igual a 1, a
proteína metabolizável para mantença foi calculada como 2,30 g/kg
PV0,75/dia. Já o NRC (1996) recomenda o valor de 3,8 g/kg PV0,75/dia
como exigência de proteína metabolizável para mantença. No Brasil,
EZEQUIEL (1987) obteve exigências de proteína metabolizável para
mantença de 1,72 e 4,28 g/kg PV 0,75/dia para novilhos Nelores e
Holandeses, respectivamente, enquanto, VALADARES (1997), utilizando
outra metodologia para estimar tanto as perdas endógenas fecais,
através da regressão entre a ingestão de N digestível (Y) e a ingestão
de N (X), quanto as perdas urinárias endógenas, pela regressão entre a
excreção de N total urinário (Y) e a ingestão de N (X), obteve exigências
de proteína metabolizável para mantença de 4,13 g/kg PV 0,75/dia.
O NRC (1996) estimou os requisitos líquidos de Ca e P para
ganho de peso, em função do ganho diário de proteína, sendo para o Ca
de 13,5 e 8,5 g/dia, para o ganho de 1 kg de PV de animais com 200 e
450 kg de PV, respectivamente, e de 7,5 e 4,8 g/dia para o fósforo com
a mesma taxa de ganho e os mesmos PV. Para Mg, K e Na, este
conselho recomendou médias de 0,1, 0,6 e 0,06-0,08% na MS da dieta,
respectivamente, como requisitos dietéticos. No Brasil, a partir da
década de 80, foram desenvolvidos alguns trabalhos de determinação
de exigências líquidas de macrominerais (EZEQUIEL, 1987; LANA, 1991;
326
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
PIRES, 1991; SOARES, 1994; PAULINO et al., 1999; VÉRAS, 2000).
FONTES (1995) realizou a análise conjunta de alguns destes trabalhos e
observou que as concentrações dos macrominerais (Ca, P, Mg, K e Na)
no corpo vazio decresceram com a elevação do peso corporal. Para um
animal de 400 kg de PV, FONTES (1995) encontrou exigências líquidas
para ganho de 1 kg de PV de Ca, P, Mg, K e Na de 12,25; 7,22; 0,37;
1,76 e 0,89, respectivamente.
Os requerimentos dietéticos dos nutrientes são obtidos a partir
da correção dos requisitos líquidos por um fator de eficiência de
utilização. Talvez esteja ai uma das maiores dificuldades na
experimentação animal e são poucos os dados nacionais.
O NRC (1996) apresentou valores de eficiência de utilização da
energia metabolizável para ganho de peso (kf), de 29 a 47,3%, para
rações com diferentes proporções volumoso:concentrado, cujos teores
de energia metabolizável (EM) variaram de 2,0 a 3,2 Mcal/kg de matéria
seca. A eficiência de utilização da EM para mantença (km) apresentou,
segundo o NRC (1996), valores de 58 a 69%, para rações com teores de
EM variando de 2,0 a 3,2 Mcal/kg de MS, respectivamente. O AFRC
(1993) desenvolveu equações de regressão lineares para o cálculo da kf
e da km, a partir da metabolizabilidade da energia bruta da dieta. No
Brasil, BOIN (1995), analisando três experimentos com animais Nelore
encontrou km variando de 61,2 a 69,1% e kf variando de 32,3 a 45,6%.
VÉRAS (2000), analisando dados de dois experimentos obteve valores
de kf variando de 37 a 50% para dietas com teores de EM de 2,4 a 2,6
Mcal/kg de MS, respectivamente e km de 56%.
O AFRC (1993) preconizou eficiência de utilização da proteína
metabolizável (PM) para ganho de peso como 59%, enquanto o NRC
(1996) considera que a eficiência de utilização da PM varia de acordo
com o PV.
Com relação aos coeficientes de absorção dos macroelementos
minerais, o NRC (1996) recomendou valores médios para o Ca e P de 50
e 68%, respectivamente, e uma variação de 10 a 37% para o Mg. O
AFRC (1991) citou valores médios de absorção para o Ca e P de 68 e 58
%, e o ARC (1980) de 100, 17 e 91% para o K, Mg e Na,
respectivamente. Segundo SILVA (1995), as informações sobre os
coeficientes de absorção de macrominerais inorgânicos, no Brasil, em
bovinos alimentados com rações comuns, também são escassas e, em
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 327
sua revisão, encontrou médias de coeficientes de absorção real de Ca e
P de 68,4 e 72,3%, respectivamente, variando bastante entre os grupos
genéticos. Para o magnésio, o valor foi extremamente alto (52,2%),
comparado ao do ARC (1980), de 17%, e, para o Na, foi, em média
63,2%, baixo em relação ao valor de 91% adotado pelo ARC (1980).
Para o K, o valor médio foi 62,7%.
Os objetivos deste trabalho foram agrupar os dados sobre
exigências líquidas de proteína, energia e macroelementos minerais
existentes no Brasil e utilizar as eficiências de utilização destes
nutrientes mais coerentes publicadas no Brasil e no exterior para
construir algumas tabelas de exigências dietéticas.
Banco de Dados e Metodologias Utilizadas
Neste trabalho, foram utilizados parcial ou totalmente dados dos
artigos discriminados na Tabela 1, para determinação das exigências.
Em todos os experimentos foi usada a técnica do abate comparativo,
incluindo abate de alguns animais experimentais no início do período de
alimentação (grupo referência), determinação da composição do corpo
vazio, através da pesagem de todos os seus componentes (órgãos,
vísceras, sangue, couro, cabeça, patas, rabo e carcaça). Amostras
representativas foram tiradas de cada componente após moagem ou
serragem e homogeneização. O sangue foi pesado e amostrado após o
abate. Os teores de extrato etéreo, proteína e macroelementos minerais
foram obtidos, segundo os métodos tradicionais , podendo maiores
detalhes serem obtidos nos trabalhos originais.
Tabela 1 -
Autores, dados experimentais e dados utilizados dos mesmos para análise conjunta
Raça
PVI
PA
CS
No A n
Azebuado
350
144 d
I
40
Nelore
Mestiço Leiteiro
213
213
420
420
I
I
Holandês
213
420
PIRES, 1991
Nelore
F1 Marchig/Nel
F1 Limousin/Nel
252
330
339
SOARES, 1994
Nelore
F1 Angus/Nel
Mestiço Leiteiro
Autores
Exigências líquidas para ganho
Mg
Na
Ca
P
K
ELm
Proteína
Energia
10
30
X
X
X
X
I
10
X
X
450
500
500
I
I
I
22
22
22
X
X
X
X
X
X
295
405
358
450
500
500
I
I
I
16
14
16
Nelore
170
440
I
Nelore
F1 Angus/Nel
295
405
450
500
I
I
16
14
X
X
X
X
Mestiço Leiteiro
358
500
I
16
X
X
PAULINO, 1996
Nelore
Tabapuã
Guzerá
376
369
362
450
450
450
I
I
I
15
16
16
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Gir
358
450
I
16
X
X
X
X
X
X
X
X
ARAÚJO, 1997
Mestiço Leiteiro
60
300
I
48
ROCHA, 1997
Holandês
202
300
I
16
SIGNORETTI, 1998
Holandês
78
300
I
52
X
X
X
X
X
X
X
F1 Simental/Nel
354
500
I
29
X
X
X
X
X
X
X
SALVADOR, 1980
TEIXEIRA, 1984
BOIN, 1995
FREITAS, 1995
FERREIRA, 1998
VÉRAS, 2000
VELOSO, 2001
SILVA, 2001
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Nelore
330
450
I
35
X
X
X
X
X
F1 Limousin/Nel
330
500
I
50
X
X
X
X
X
X
Nelore
240
450
I
40
X
X
X
X
X
X
o
X
X
X
X
X
X
Abreviaturas: PVI = peso vivo inicial; PA = peso médio de abate; CS = condição sexual (I = inteiro, C = castrado); N An = número de animais ; Ca = cálcio; P = fósforo; Mg = magnésio; Na = sódio;
K = potássio; ELm = energia líquida para mantença.
As exigências foram agrupadas em quatro categorias raciais:
1. Zebuínos - Animais das raças Nelore, Tabapuã, Guzerá, Gir e os
chamados de “Azebuados”;
2. F1 (E x Z) - Animais cruzados filhos de pais de raças européia de
corte e matrizes zebuínas;
3. Mestiços leiteiros - Animais ½, ¾ou 5/8 Holandês-Zebu; e
4. Holandês - Animais com grau de sangue igual ou superior a 7/8
Holandês-Zebu.
A determinação da energia corporal foi obtida a partir dos teores
corporais de proteína e gordura e seus respectivos equivalentes
calóricos, conforme a equação preconizada pelo ARC (1980):
CE = 5,6405 X + 9,3929 Y
em que
CE = conteúdo energético (Mcal);
X = proteína corporal (kg); e
Y = gordura corporal (kg).
Os conteúdos de gordura, proteína, energia, Ca, P, Mg, Na e K
retidos no corpo dos animais de cada grupamento racial foram
estimados por meio de equações de regressão do logaritmo do conteúdo
corporal de proteína, gordura, energia, Ca, P, Mg, Na ou K em função do
logaritmo do PCVZ, segundo o ARC (1980), conforme o seguinte
modelo:
Y = a + bX + e
em que
Y = logaritmo do conteúdo total de proteína (kg), gordura (kg),
energia (Mcal), Ca (kg), P (kg), Mg (kg), Na (kg) ou K (kg) retido
no corpo vazio;
a = intercepto;
b = coeficiente de regressão do logaritmo dos conteúdos de gordura,
proteína , energia ou minerais, em função do logaritmo do PCVZ;
X = logaritmo do PCVZ; e
e = erro aleatório.
330
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Derivando-se as equações de predição dos conteúdos corporais
de proteína, energia, Ca, P, Mg, Na ou K em função do logaritmo do
PCVZ, foram obtidas as exigências líquidas de proteína, energia, Ca, P,
Mg, Na e K para ganho de 1 kg de PCVZ, conforme a equação :
Y’
= b. 10a. Xb-1
em que
Y’
= conteúdo de gordura no ganho, ou exigência líquida de
proteína, energia, Ca, P, Mg, Na e K;
a e b = intercepto e coeficientes de regressão, respectivamente, das
equações de predição dos conteúdos corporais de gordura,
proteína, energia, Ca, P, Mg, Na ou K; e
X
= PCVZ (kg).
Para conversão do PV em PCVZ, dentro do intervalo de pesos
incluídos nos trabalhos, utilizou-se a relação obtida entre o PCVZ de
todos os animais analisados, em função dos respectivos PV. Para
conversão das exigências para ganho de PCVZ em exigências para
ganho de PV, utilizou-se o fator obtido a partir dos dados experimentais
analisados.
Foi efetuada equação de regressão entre a energia retida (ER) e
o ganho diário de PCVZ (GDPCVZ) para dado PCVZ, assim como, uma
equação de regressão entre a proteína retida (PR) em função do ganho
de peso vivo em jejum (GPVJ) e da ER, conforme preconizado pelo NRC
(1984, 1996). Para ajustar essas duas equações utilizaram-se os dados
de TEIXEIRA (1984), somente para animais Nelore, FERREIRA (1998),
VÉRAS (2000), VELOSO (2001) e SILVA (2001).
A energia líquida para mantença (ELm) foi obtida através dos
valores médios citados nos trabalhos para os diferentes grupos raciais.
Os requisitos de proteína metabolizável para mantença (PMm) e
ganho (PMg) e as exigências de proteína bruta foram obtidos segundo o
NRC (1996).
As EUEM para mantença (km) e ganho de peso (kf) foram
estimadas a partir da relação entre os teores de energia líquida, para
mantença ou ganho, respectivamente, em função da EM da dieta,
segundo GARRETT (1980). Os requisitos de EM para mantença e ganho
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 331
foram obtidos pelas relações entre as exigências líquidas e as
respectivas EUEM. As exigências de NDT foram calculadas dividindo-se
as exigências de EM por 0,82, obtendo-se as exigências de energia
digestível (ED) e, posteriormente, dividindo-as por 4,409.
Para estimar as exigências de mantença e, posteriormente,
somar às exigências para ganho, para obter as exigências dietéticas
totais, foram adotadas as recomendações do ARC (1980) e do AFRC
(1991) para as perdas endógenas totais de Ca, P, Mg, Na e K, e a
disponibilidade destes elementos , segundo o ARC (1980) e o NRC
(1996), conforme pode ser visualizado na Tabela 2.
Tabela 2 - Perdas endógenas totais e disponibilidade de cálcio, fósforo,
magnésio, sódio e potássio
Elemento (kg)
Ca
P
Mg
Na
K
Fecal
Urinária
Salivar
Através da pele
Perdas endógenas totais 2
Disponibilidade (%)
3
[-0,74+0,0079PV+0,66CMS ]
501
1,6*[-0,06+0,693CMS]
681
3,0 mg/kg PV/dia
172
6,8 mg/kg PV/dia
912
1002
2,6 g/kg MS consumida
37,5 mg/kg PV
0,7 g/100 kg PV
1,1 g/dia
1
Dados obtidos do NRC (1996);
Dados obtidos do ARC (1980) e do AFRC (1991);
3
Considerando consumo de MS de 2,4% do PV.
2
Para a análise dos dados agrupados, animais zebuínos e F1 (E x
Z) e animais mestiços leiteiros e Holandeses, aplicou-se o teste de
identidade de modelos, proposto por REGAZZI (1996), nas equações de
regressão do logaritmo dos conteúdos de gordura, proteína, energia, Ca,
P, Mg, Na ou K no corpo vazio, em função do logaritmo do peso do
corpo vazio.
332
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Resultados Observados
Na Tabela 3 estão apresentadas as relações entre PCVZ e PV e
entre ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ) e ganho de peso vivo em
jejum (GPVJ). Para o cálculo destas relações foram utilizados os valores
dos experimentos que forneceram dados para os cálculos das
exigências. Observa-se que os animais zebuínos e os meio sangue (F1 E
x Z) apresentaram um relação PCVZ/PV de 0,88, próxima ao valor
recomendado pelo NRC (1996), 0,891, e superior ao dos animais
holandeses e seus mestiços, que foi 0,83. Os animais leiteiros
apresentam um maior tamanho do trato gastrointestinal e,
conseqüentemente, um maior conteúdo de digesta, do que os animais
zebuínos (GONÇALVES, 1988), e isto leva estes animais a apresentarem
uma menor relação PCVZ/PV. A relação GPCVZ/GPVJ dos animais
zebuínos foi semelhante ao valor utilizado pelo NRC (1996), de 0,96, e
os valores dos animais F1, mestiços leiteiros e Holandeses foram 1,00;
0,94 e 0,86, respectivamente. O NRC (2001) para gado de leite adota o
mesmo valor da relação GPCVZ/GPVJ do NRC (1996) para gado de corte
(0,96) para as novilhas leiteiras em crescimento. Os dados dos animais
holandeses foram obtidos através de médias dos experimentos, pois, os
mesmos não se encontravam disponíveis para a análise em conjunto. A
relação PCVZ/PV de cada grupo genético será utilizada para a
transformação do PCVZ em PV e as exigências que forem calculadas em
função do GPCVZ serão convertidas para ganho de PV pela multiplicação
pela relação GPCVZ/GPVJ do grupo genético em questão.
Tabela 3 - Relação entre peso de corpo vazio e peso vivo (PCVZ/PV) e
entre ganho médio diário de peso de corpo vazio e ganho de
peso vivo em jejum (GPCVZ /GPVJ)
Grupo genético
Zebu
F1 (E x Z)
Mestiço leiteiro
Holandês
PCVZ/PV
0,8809
0,8852
0,8309
0,8327
GPCVZ/GPVJ
0,9628
1,0065
0,9424
0,8552 ± 0,0185
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 333
Os parâmetros das equações de regressão do logaritmo dos
conteúdos de gordura (kg), proteína (kg) e energia (Mcal) no corpo
vazio, em função do logaritmo do peso de corpo vazio (kg) de diferentes
grupos genéticos estão apresentados na Tabela 4. Aplicando-se o teste
de identidade de modelos , observaram-se diferenças entre os grupos
genéticos, tanto em análise geral dos quatro grupos, quanto em análise
entre animais zebuínos e F1 (E x Z) e entre Holandeses e mestiços
leiteiros. Sendo assim, os resultados de exigências foram expressos
separadamente para cada grupo genético.
Na Tabela 5 estão mostradas as exigências líquidas de proteína
(g) e energia (Mcal), por kg de GPCVZ, e os conteúdos de gordura no
ganho de peso do corpo vazio (g/kg GPCVZ) em função do peso vivo
(PV) de cada grupo genético. Os animais zebuínos apresentaram menor
exigência líquida de proteína para ganho e um maior conteúdo de
gordura e conseqüentemente maior exigência líquida de energia para
ganho que os outros grupos genéticos. Para os animais zebuínos e os
F1, a exigência líquida de proteína diminuiu e o conteúdo de gordura no
ganho e a exigência líquida de energia aumentaram com o aumento do
PCVZ. Para os animais mestiços leiteiros, de forma não esperada, a
exigência líquida de proteína praticamente não se alterou com o
aumento do PCVZ, sendo que o conteúdo de gordura no ganho e a
exigência líquida de energia diminuíram com o aumento do PCVZ. Em
relação aos animais Holandeses, a exigência líquida de proteína
aumentou com o aumento do PCVZ, mas o conteúdo de gordura no
ganho e a exigência líquida de energia também aumentaram com o
aumento do PCVZ. FONTES (1995), analisando conjuntamente vários
experimentos, encontrou exigências líquidas de proteína para ganho de
1 kg de PCVZ de 171 e 150 g para animais da raça Nelore com peso vivo
de 200 e 400 kg de PV, respectivamente, e de 188 e 167 g para animais
F1 (E x Z) com peso vivo de 200 e 450 kg de PV, respectivamente. Para
a energia as exigências líquidas foram de 3,21 a 4,75 Mcal, para animais
da raça Nelore com peso vivo de 200 e 400 kg de PV, respectivamente,
e de 2,77 e 4,30 Mcal para animais F1 (E x Z) com peso vivo de 200 e
450 kg de PV, respectivamente. Todos estes resultados referem-se a
machos não-castrados.
334
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 4 - Parâmetros das equações de regressão do logaritmo dos
conteúdos de gordura (kg), proteína (kg) e energia (Mcal)
no corpo vazio, em função do logaritmo do peso de corpo
vazio (kg) de diferentes grupos genéticos e os respectivos
coeficientes de determinação (r2)
Grupo genético
Parâmetro
Intercepto (a)
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
-
2,6217
3,7344
0,5516
2,4771
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
-
0,3210
0,3019
0,7330
0,7758
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
- 0,5224
- 0,9098
0,5413
- 0,3813
Coeficiente (b)
Gordura (kg)
1,7462
2,1181
0,9247
1,6848
Proteína (kg)
0,8350
0,8471
1,0023
1,0144
Energia (Mcal)
1,3827
1,5072
0,9626
1,3193
r2
0,83
0,84
0,75
0,89
0,90
0,84
0,98
0,99
0,89
0,88
0,92
0,95
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 335
Tabela 5 - Exigências líquidas de proteína (g) e energia (Mcal), por kg
de GPCVZ, e conteúdo de gordura no ganho de peso do
corpo vazio (g/kg GPCVZ) em função do peso vivo (PV)
PV (kg)
250
300
350
400
450
500
250
300
350
400
450
500
250
300
350
400
450
500
250
300
350
400
450
500
Exigência
Proteína
Energia
(g/kg GPCVZ)
(Mcal/kg GPCVZ)
Zebu
163,72
3,27
158,87
3,51
154,88
3,72
151,51
148,59
146,03
Conteúdo de gordura
(g/kg GPCVZ)
233,69
267,75
300,39
3,92
4,10
4,27
F1 (E x Z)
2,87
3,15
3,40
331,86
362,35
391,99
3,64
3,87
4,08
Mestiço leiteiro
2,74
2,72
2,71
276,50
315,42
354,86
167,70
166,22
164,90
183,57
184,05
184,46
2,69
2,68
2,67
Holandês
3,02
3,20
3,36
184,81
185,13
185,41
3,50
3,64
3,76
299,84
325,03
349,34
185,13
180,04
175,85
172,30
169,22
166,52
187,64
187,72
187,79
187,84
187,89
187,94
163,48
200,45
238,15
173,74
171,37
169,39
217,32
246,22
273,64
Na literatura consultada foi observado apenas um trabalho
determinando exigências em fêmeas (BORGES, 2000). Na Tabela 6 são
apresentados os valores deste experimento para as exigências líquidas
336
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
de proteína e energia de novilhas Guzerá. Observa-se a mesma
tendência dos machos, diminuição das exigências líquidas de proteína e
aumento das de energia com o aumento do PV dos animais. As novilhas
Guzerá apresentaram menores exigências líquidas de proteína e maiores
exigências líquidas de energia que os machos zebuínos inteiros com o
mesmo PV. A explicação deste fato consiste na maior precocidade das
fêmeas em acumular maiores porcentagens de gordura com um menor
PV do que os machos (NRC, 1996).
Tabela 6 - Exigências líquidas de proteína e energia por kg de ganho de
PV de animais da raça Guzerá, em função do peso vivo (PV)
ou do peso de corpo vazio (PCVZ)
PV, kg
200
250
300
PCVZ, kg
179,89
223,32
266,75
Proteína, g/kg PV
133,37
129,30
126,04
Energia, Mcal/kg PV
3,29
3,79
4,27
Borges (2000).
As exigências dietéticas de proteína metabolizável para mantença
(PMm) e ganho (PMg) e de proteína bruta (PB) estão apresentadas na
Tabela 7. As exigências dietéticas totais serão sempre corrigidas para
ganho de PV utilizando o fator obtido dos animais utilizados para cada
grupo genético, conforme apresentado na Tabela 1. A exigência de PMm
foi calculada segundo a recomendação do NRC (1996) de 3,8 g de PMm/
kg de PV0,75. Utilizou-se uma eficiência de utilização da PM para ganho
de 49,2% para animais com PCVZ acima de 300 kg e, para animais com
menos de 300 kg de PCVZ, a equação de AINSLIE et al. (1993), em que
eficiência = 83,4 - (0,114 x PCVZ)
A exigência de PB foi obtida dividindo a exigência total de PM por
0,67, segundo o NRC (1996), considerado para uma dieta que supre
80% da PM pela proteína microbiana e 20% por proteína não-degradada
no rúmen (PNDR). Observa-se que para um consumo de MS fixo em
2,4% do PV, as exigências de PB diminuíram com o aumento do PV, fato
esperado devido ao aumento do conteúdo de gordura e diminuição do
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 337
conteúdo de proteína no ganho com o aumento do PV do
animal.Contudo, vale ressaltar que o consumo de MS diminui à medida
que o peso vivo é aumentado.Isto foi observado nos animais Nelore ,
nas fases de recria e terminação por (SILVA,2001).
A composição corporal, especialmente a porcentagem de
gordura corporal, parece afetar a ingestão de alimentos. À medida que o
animal se aproxima da maturidade, mais gordura é depositada. Em
geral, quanto mais gordo o animal, menor o consumo de alimentos,
para qualquer tamanho corporal. Um dos motivos é a redução na
capacidade abdominal de acomodar o trato digestivo, com o aumento
do volume da gordura abdominal (FORBES, 1995). Outra causa seria o
efeito de “feedback” do tecido adiposo no controle do consumo. O
consumo/unidade de peso metabólico começa a declinar por volta de
350 kg de peso, para um novilho de porte médio (NRC, 1987). Isto pode
ser visualizado na Figura 1, com os dados de SILVA(2001), que
demonstraram um efeito linear decrescente do PV sobre o consumo de
MS.
2,6
Consumo de MS, % PV
2,4
2,2
2
1,8
Yˆ = 3,1237 - 0,0028*PV (r2 = 0,21)
1,6
1,4
1,2
1
250
290
330
370
410
450
Peso Vivo, kg
Figura 1 - Estimativa do consumo de matéria seca (MS), expresso em
% PV, em função do peso vivo do animal, em kg.
338
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Segundo o NRC (1996) para um animal de 250 e 450 kg de PV,
consumindo 2,4% do seu PV em MS, o teor de PB da dieta deveria ser
13,4 e 8,53% na MS, respectivamente, para suprir mantença e ganho
de 1 kg de PV. Com as devidas variações entre os grupos genéticos, as
exigências de PB preconizadas pelo NRC (1996) apresentam-se com
valores um pouco superior aos obtidos para animais zebuínos e
Holandeses com PV inferior a 300 kg, mas apresentaram valores
inferiores aos obtidos para todos os grupos genéticos com PV superior a
300 kg. Possivelmente, o NRC (1996) subestima as exigências de PB,
para animais com PV acima de 300 kg, nas condições brasileiras.
A Tabela 8 apresenta os requisitos de proteína degradável no
rúmen (PDR) e de PNDR, em função do PV. Para a estimativa das
exigências de PDR, utilizou-se o protocolo do NRC (1996), em que PDR
(g/dia)= 1,11*proteína microbiana (g); e a proteína microbiana (g/dia)
= 130*consumo NDT (kg). À medida que aumenta o PV do animal, a
porcentagem da exigência da PB suprida pela PDR aumenta. Para
animais zebuínos e Holandeses com PV acima de 450 kg, a quantidade
de PDR fornecida, para uma dieta com 66% de NDT e assumindo um
consumo de MS de 2,4% do PV, foi suficiente para suprir a exigência
total de PB. Com o aumento do teor de energia da dieta (72% de NDT),
para estes mesmos grupos genéticos, um animal com 400 kg de PV já
não necessita de PNDR para suprir as exigências totais de PB. Para
animais F1 e mestiços leiteiros, a proteína microbiana pode suprir as
exigências totais de PB para animais com PV acima de 500 e 450 kg,
para dietas com 66 e 72% de NDT, respectivamente.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 339
Tabela 7 - Exigências de proteína metabolizável para mantença (PMm)
e para ganho (PMg) de 1 kg de PV (g/kg GPV), e de proteína
bruta para mantença+ganho de 1 kg de PV (g/kg GPV) em
função do peso vivo (PV), para um consumo de MS de 2,4%
do PV
Exigência
PB
PV (kg)
PMm1
250
300
350
400
450
500
238,91
273,92
307,49
339,88
371,27
401,80
250
300
350
400
450
500
238,91
273,92
307,49
339,88
371,27
401,80
250
300
350
400
450
500
238,91
273,92
307,49
339,88
371,27
401,80
250
300
350
400
450
500
238,91
273,92
307,49
339,88
371,27
401,80
1
2
PMg2
g/dia
ZEBU
270,41
760,18
287,13
837,39
303,09
911,32
296,49
949,80
290,78
988,14
285,77
1026,22
F1 (E x Z)
318,25
831,59
338,90
914,66
357,42
992,41
350,20
1029,97
343,95
1067,49
338,45
1104,85
Mestiço leiteiro
296,11
798,54
321,75
889,06
359,69
995,80
359,81
1044,31
359,90
1091,31
359,99
1137,00
Holandês
263,10
749,27
286,59
836,58
320,63
937,49
321,25
986,76
321,79
1034,42
322,28
1080,72
% na MS
12,67
11,63
10,85
9,89
9,15
8,55
13,86
12,70
11,81
10,73
9,88
9,21
13,31
12,35
11,85
10,88
10,10
9,48
12,49
11,62
11,16
10,28
9,58
9,01
3,8 g/kg 0,75
Exigências líquidas/0,492 p/ PCVZ > 300 kg; Exigências líquidas/(83,4 - (0,114 x
PCVZ)) p/ PCVZ ≤ 300 kg
340
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 8 - Exigências de proteína degradável no rúmen (PDR) e de
proteína não-degradável no rúmen (PNDR), em g/dia e % da
PB, para mantença+ganho de 1 kg de PV (g/kg GPV) em
função do peso vivo (PV), para uma dieta com 66 ou 72%
de NDT e um consumo de MS de 2,4% do PV
Dieta
66% de NDT
PDR 1
Exigência
PV (kg)
g/dia
% da PB
72% de NDT
PDR 1
PNDR
g/dia
% da PB
g/dia
250
300
350
400
450
500
571,43
685,71
800,00
914,28
988,14
1026,22
75,17
81,89
87,78
96,26
100,00
100,00
188,75
151,67
111,32
35,52
0,00
0,00
250
300
350
400
450
500
571,43
68,71
685,71
74,97
800,00
80,61
914,28
88,77
1028,57
96,35
1104,85
100,00
Mestiço leiteiro
571,43
71,56
685,71
77,13
800,00
80,34
914,28
87,55
1028,57
94,25
1137,00
100,00
Holandês
588,74
76,26
706,49
81,97
824,24
85,33
941,99
92,66
1034,42
100,00
1080,72
100,00
227,11
203,34
195,80
130,03
62,74
0,00
ZEBU
623,38
748,05
872,73
949,80
988,14
1026,22
F1 (E x Z)
31,29
623,38
25,03
748,05
19,39
872,73
11,23
997,40
3,65
1067,49
0,00
1104,85
227,11
203,34
195,80
130,03
62,74
0,00
28,44
22,87
19,66
12,45
5,75
0,00
160,53
130,09
113,25
44,77
0,00
0,00
23,74
18,03
14,67
7,34
0,00
0,00
250
300
350
400
450
500
250
300
350
400
450
500
1
24,83
18,11
12,22
3,74
0,00
0,00
% da PB
PNDR
g/dia
% da PB
82,00
89,33
95,77
100,00
100,00
100,00
136,81
89,33
38,59
0,00
0,00
0,00
18,00
10,67
4,23
0,00
0,00
0,00
74,96
81,78
87,94
96,84
100,00
100,00
208,22
166,61
119,68
32,57
0,00
0,00
25,04
18,22
12,06
3,16
0,00
0,00
623,38
748,05
872,73
997,40
1091,31
1137,00
78,06
84,14
87,64
95,51
100,00
100,00
175,16
141,01
123,08
46,91
0,00
0,00
21,94
15,86
12,36
4,49
0,00
0,00
623,38
748,05
872,73
986,76
1034,42
1080,72
83,20
89,42
93,09
100,00
100,00
100,00
125,90
88,53
64,77
0,00
0,00
0,00
16,80
10,58
6,91
0,00
0,00
0,00
PDR (g) = 1,11*Proteína microbiana (g); Proteína microbiana (g) = 130*consumo NDT
(kg).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 341
Foram obtidas as seguintes equações para estimativa da PR, em
função do GPVJ e da ER: PR = - 17,6968 + 192,31 GPVJ - 3,8441 ER
(r2=0,44), para animais zebuínos e PR = 31,4045 + 107,039 GPVJ +
5,632 ER (r2=0,50), para animais mestiços.
A composição aminoacídica do corpo vazio (Tabela 9)
apresentou-se semelhante aos valores de uma média de três
experimentos citados por AINSLIE et al. (1993), à exceção da arginina,
que apresentaram valores maiores do que os citados na literatura.
Tabela 9 - Composição de aminoácidos dos músculos, conjunto
(sangue, couro, órgãos, vísceras, ossos e gordura), todos os
tecidos do corpo vazio, de bovinos Nelore, e da queratina
(g/100 g de proteína)
Aminoácidos*
Músculos
Met2
Lys
His
Phe
Thr
Leu
Ile
Val
Arg
7,56
3,13
3,67
4,32
7,49
3,68
4,11
7,14
Asp
Ser
Glu
Gly
Ala
Tyr
Cys
8,83
3,94
15,36
5,76
5,97
3,09
1,86
Conjunto
Corpo vazio
Aminoácidos essenciais
2,00
4,84
5,91
1,80
2,39
3,11
3,34
2,92
3,52
5,71
6,42
2,27
2,88
4,23
4,18
8,00
7,59
Aminoácidos não essenciais
7,17
7,88
3,90
3,91
11,86
13,36
20,02
13,79
9,20
7,78
1,66
2,29
0,60
1,15
Queratina1
1,00
3,20
1,00
3,70
7,20
10,00
5,00
6,00
3,80
-
* Met= Metionina; Lys= Lisina; His= Histidina; Phe= Fenilalanina; Thr= Treonina; Leu=
Leucina; Ile= Isoleucina; Val= Valina, Arg= Arginina, Asp= Aspartato, Ser= Serina,
Glu= Glutamato, Gly= Glicina, Ala= Alanina, Tyr= Tirosina e Cys= Cisteína.
1
Block e Bolling (1951), citados por O’CONNOR et al. (1993).
2
Média de três experimentos reunidos por AINSLIE et al. (1993).
342
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
As exigências líquidas para ganho, em g/kg de ganho de peso de
corpo vazio (GPCVZ), calculadas pelo método fatorial, estão
apresentadas na Tabela 10. Observa-se que diminuíram com o aumento
do peso vivo do animal, fato esperado, em função dessas exigências
serem calculadas a partir das exigências liquidas de proteína para
ganho, obtidas por SILVA (2001), que apresentaram decréscimo em
conseqüência do maior acúmulo de gordura com o aumento do peso
vivo (PV).
Tabela 10 - Exigências líquidas de aminoácidos para ganho (g/kg de
GPCVZ), de bovinos Nelore, em função do peso vivo (PV),
calculadas pelo método fatorial
PV (kg)
Met
Lys
His
Phe
Thr
Leu
Ile
Val
Arg
Asp
Ser
Glu
Gly
Ala
Tyr
Cys
200
250
Exigências líquidas
2,33
2,75
10,82
10,64
4,37
4,30
6,12
6,02
6,46
6,35
11,76
11,56
5,28
5,19
7,66
7,53
13,91
13,68
14,44
14,19
7,17
7,05
24,49
24,07
25,27
24,84
14,26
14,02
4,20
4,13
2,11
2,07
300
350
400
450
3,15
10,49
4,24
5,94
6,26
11,40
5,12
7,43
13,49
13,99
6,95
23,73
24,49
13,83
4,07
2,05
3,54
10,36
4,19
5,87
6,19
11,27
5,06
7,34
13,33
13,83
6,87
23,46
24,20
13,66
4,02
2,02
3,91
10,26
4,14
5,80
6,12
11,15
5,01
7,27
13,19
13,69
6,80
23,22
23,96
13,52
3,98
2,00
4,27
10,17
4,11
5,75
6,07
11,05
4,96
7,20
13,07
13,56
6,74
23,01
23,74
13,40
3,95
1,99
PCVZ = PV * 0,8975
As equações de regressão obtidas para descrever a relação entre
a retenção diária de energia (ER), em Mcal/dia, e o ganho diário de
PCVZ (GDPCVZ), a determinado PCVZ, foram: ER = 0,0435 * PCVZ0,75 *
GDPCVZ0,8241 (r2 = 0,37), para animais zebuínos e ER = 0,0377 *
PCVZ0,75 * GDPCVZ1,0991 (r2 = 0,84), para animais F1.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 343
A Tabela 11 apresenta os valores da ELm obtidos na literatura
consultada e a partir destes dados foi calculada a média dos valores de
ELm com os respectivos desvio padrão para os vários grupos genéticos.
Não foi possível trabalhar com os dados em conjunto por falta de
padronização e informações nos trabalhos consultados. Está
apresentado na Tabela 11, também, o único dado de ELm de fêmea
zebu. A média do valor de ELm de animais zebuínos inteiros (71,3
kcal/PCVZ0,75) obtida foi 11,8% inferior ao recomendado pelo NRC
(1996). A ELm dos animais F1 foi bem próxima ao dos animais zebuínos.
A média da ELm dos mestiços leiteiros (79,65 kcal/PCVZ0,75) apresentou
valor bem próximo ao recomendado pelo NRC (1996) e a dos animais
Holandeses um valor 11,6% superior ao referido conselho. Segundo o
NRC (1996), animais não-castrados têm requisitos de ELm 15% maiores
que machos castrados e novilhas (77 kcal/kg0,75/dia), e segundo
LOFGREEN e GARRETT (1968), zebuínos são 10% menos exigentes que
taurinos. Assim, a exigência de ELm de animais zebuínos não-castrados,
segundo proposição do NRC (1996), seria de 79,70 kcal/kg0,75/dia. Em
raças com aptidão leiteira, os maiores depósitos de gordura encontramse nos componentes “não-carcaça”, diferentemente das tradicionais
raças de corte, em que os depósitos periféricos são mais pronunciados,
ocasionando menor exigência para mantença destes últimos (OWENS et
al.,1995). Deve-se acrescentar a isto, o maior tamanho do trato
gastrintestinal e do fígado, principalmente, dos animais com potencial
para elevada produção de leite (FOX et al., 1992). CATTON e
DHUYVETTER (1997) relataram que os tecidos viscerais, embora em
menor proporção no corpo dos animais, são de considerável importância
para os requisitos energéticos de mantença, pois consomem cerca de
50% do total desta energia.
344
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 11 - Exigências líquidas de energia para mantença, expressas
em kcal/PCVZ0,75 ou kcal/PV0,75, obtidas para os diferentes
grupos genéticos
Autor
o
N Animais
SALVADOR, 1980
BOIN, 1995
PAULINO, 1996
VÉRAS, 2000
SILVA, 2001
40
63
35
40
PIRES, 1991
PIRES, 1991
VELOSO, 2001
22
22
50
TEIXEIRA, 1984
ARAÚJO, 1997
30
16
TEIXEIRA, 1984
ROCHA, 1997
SIGNORETTI, 1998
10
16
52
BORGES, 2000
Grupo genético
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
16
> 178
94
46
78
ELm
0,75
kcal/PCVZ
Zebuínos
56,00
73,62
60,38
82,79
83,70
F1 (E x Z)
67,92
68,03
76,36
Mestiço leiteiro
78,00
81,30
Holandeses
88,00
68,44
110,46
Fêmea zebu
61,02
Valores médios
71,30 ± 12,69
70,77 ± 4,84
79,65 ± 2,33
88,97 ± 21,03
kcal/PV0,75
55,87
64,83
64,58
69,32
77,56
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 345
Na Tabela 12, são apresentados os teores de NDT, as
concentrações de EM das dietas e os valores calculados de ELm e ELg,
além das km e kf calculadas, para os dados dos experimentos de
FERREIRA (1998) e VELOSO (2001) que trabalharam com animais F1 e
de VÉRAS (2000) e SILVA (2001) que trabalharam com animais Nelore.
Os dados dos dois grupos genéticos foram agrupados para dar maior
consistência aos resultados. O ajuste de uma equação relacionando a
ELm em função das concentrações de EM das dietas apresentou-se na
forma linear, sendo ELm = 0,1145 + 0,5950 EM, r2 = 0,73. E o ajuste da
equação relacionando a ELg em função das concentrações de EM das
dietas apresentou-se também na forma linear, sendo ELg = -1,364 +
0,8733 EM, r2 = 0,72. A partir destas relações foram estimados as
eficiências de utilização da EM para mantença (km) e ganho (kf), que
variaram de 0,65 a 0,63 e de 0,25 a 0,37, respectivamente, para dietas
com concentração de EM variando de 2,2 a 2,7 Mcal/kg MS.
Considerando uma dieta com teor de EM de 2,5 Mcal/kg MS, o NRC
(1996) estima o km e o kf em 0,64 e 0,40, respectivamente.
Tabela 12 - Concentrações de nutrientes digestíveis totais (NDT),
energia metabolizável (EM), energia líquida para mantença
(ELm), energia líquida para ganho (ELg) e eficiências de
utilização da energia metabolizável (EUEM) calculadas para
mantença (km) e para ganho de peso (kf)
NDT (%)
EM (Mcal/kg MS)
ELm (Mcal/kg MS)
ELg (Mcal/kg MS)
62,49
2,26
1,45
0,85
66,56
2,41
1,54
0,95
km
kf
0,65
0,27
0,64
0,31
69,91
2,53
1,62
1,16
EUEM (%)
0,64
0,33
75,55
2,73
1,76
1,32
0,63
0,37
346
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
As exigências líquidas e totais para diferentes pesos vivos e taxas
de ganho de peso vivo estão apresentadas na Tabela 13, para animais
zebuínos e na Tabela 14, para animais F1. A exigência dietética de NDT e
de PB de um animal zebuíno com 400 kg de PV e ganhando 1 kg de PV foi
de 5,40 kg e 921 g, respectivamente. A exigência dietética de NDT, deste
mesmo animal, segundo o NRC (1996),seria 13,7% superior ao encontrado
neste trabalho, sendo a de PB bem próxima (913 g). Os animais de origem
européia apresentaram uma maior exigência de mantença, possivelmente,
em função de um maior tamanho de órgãos internos e apresentaram,
também, uma maior exigência para ganho devido ao maior conteúdo de
gordura no ganho, em relação aos animais zebuínos.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 347
Tabela 13 -
Exigências nutricionais de energia e proteína para animais
zebuínos não-castrados
Peso vivo, kg
250
ELm1
PMm2
4,08
239
Mcal/dia
g/dia
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
1,80
2,41
2,99
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
Exigências totais
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
190
286
382
11,85
13,72
15,49
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
3,28
3,79
4,29
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
639
781
924
300
350
400
450
Exigência de mantença
4,67
5,25
5,80
6,33
274
307
340
371
ELg requerida para ganho, Mcal/dia3
2,06
2,31
2,55
2,79
2,76
3,10
3,43
3,74
3,43
3,85
4,25
4,65
PM requerida para ganho, g/dia4,5
189
187
185
184
284
281
279
277
379
376
373
371
EM, Mcal/dia6
13,58
15,25
16,86
18,41
15,73
17,66
19,52
21,32
17,77
19,94
22,04
24,08
NDT, kg/dia7
3,76
4,22
4,66
5,09
4,35
4,88
5,40
5,90
4,91
5,52
6,10
6,66
PB, g/dia8
688
736
781
826
830
876
921
965
972
1017
1062
1104
500
6,86
402
3,02
4,05
5,03
182
275
368
19,93
23,07
26,06
5,51
6,38
7,21
869
1007
1146
Considerando:
1
ELm = 71,30 kcal/PCVZ0,75;
2
PMm = 3,8 g/kg 0,75 (NRC, 1996);
3
ELg = 0,0435 * PCVZ0,75 * GDPCVZ0,8241 ;
4
PR = - 17,6968 + 192,31*GPVJ - 3,8441*ER ;
5
PM = exigências líquidas/0,492 para PCVZ > 300 kg ou exigências líquidas/(83,4 (0,114 x PCVZ)) para PCVZ ≤ 300 kg (NRC, 1996);
6
km = 0,64 e kf = 0,33 (dieta com 2,5 Mcal/kg MS);
7
NDT = EM/0,82/4,409 (NRC, 1996); e
8
PB = PM total/0,67 (NRC, 1996).
348
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 14 - Exigências nutricionais de energia e proteína para animais
F1 (E x Z) não-castrados
Peso vivo, kg
250
ELm1
PMm2
Mcal/dia
g/dia
4,06
239
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
1,46
2,16
2,89
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
Exigências totais
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
198
261
323
10,81
12,95
15,16
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
2,99
3,58
4,19
GMD 0,70 kg/dia
1,00 kg/dia
1,30 kg/dia
650
743
836
300
350
400
450
Exigência de mantença
4,66
5,23
5,78
6,31
274
307
340
371
ELg requerida para ganho, Mcal/dia3
1,68
1,88
2,08
2,27
2,48
2,79
3,08
3,36
3,31
3,72
4,11
4,49
PM requerida para ganho, g/dia4,5
220
238
240
242
289
313
317
320
359
389
394
398
EM, Mcal/dia6
12,39
13,91
15,38
16,80
14,85
16,67
18,42
20,12
17,38
19,51
21,56
23,56
NDT, kg/dia7
3,43
3,85
4,25
4,65
4,11
4,61
5,10
5,57
4,81
5,40
5,96
6,52
PB, g/dia8
734
811
863
913
838
924
977
1029
942
1037
1092
1145
500
6,83
402
2,46
3,64
4,86
244
323
402
18,18
21,78
25,49
5,03
6,02
7,05
961
1079
1197
Considerando:
1
ELm = 70,77 kcal/PCVZ0,75;
2
PMm = 3,8 g/kg 0,75 (NRC, 1996);
3
ELg = 0,0377 * PCVZ0,75 * GDPCVZ1,0991 ;
4
PR = 31,4045 + 107,039 GPVJ + 5,632 ER;
5
PM = exigências líquidas/0,492 para PCVZ > 300 kg ou exigências líquidas/(83,4 (0,114 x PCVZ)) para PCVZ ≤ 300 kg (NRC, 1996);
6
km = 0,64 e kf = 0,33 (dieta com 2,5 Mcal/kg MS);
7
NDT = EM/0,82/4,409 (NRC, 1996); e
8
PB = PM total/0,67 (NRC, 1996).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 349
Na Tabela 15, são apresentados os parâmetros das equações de
regressão do logaritmo dos conteúdos de cálcio (Ca), fósforo (P),
magnésio (Mg), potássio (K) e sódio (Na) no corpo vazio, em função do
logaritmo do peso do corpo vazio (PCVZ), obtidos para cada grupo
genético. Como o teste de identidade de modelos, aplicado às equações
de regressão do logaritmo do conteúdo corporal dos elementos
minerais, em função do logaritmo do PCVZ, para os quatro grupos
genéticos, indicou haver diferença entre os grupos, foram utilizadas as
equações relativas aos dados em separado.
Os resultados demonstraram diminuição nas concentrações dos
macrominerais estudados, principalmente Ca, P e Na, com o aumento do
peso vivo (PV), o que era esperado, pois vários autores já observaram
tal tendência (FONTES, 1995, SILVA, 1995). Na Tabela 16 estão
apresentadas as exigências líquidas de macrominerais para ganho. Os
animais zebuínos apresentaram as menores exigências líquidas de P, Mg
e Na, mas as maiores de K. Os animais F1 apresentaram as maiores
exigências líquidas de Na e Ca, este último sendo elevado também para
os animais Holandeses. E as maiores exigências líquidas de Mg foram
obtidas pelos mestiços leiteiros.
A partir dos coeficientes médios de absorção verdadeira,
recomendados pelo NRC (1996) para Ca e P, 50 e 68%,
respectivamente, e pelo ARC (1980) para Mg, Na e K, de 17, 91 e
100%, respectivamente, e das estimativas das exigências líquidas para
ganho, foram estimados os requisitos dietéticos de Ca, P, Mg, Na e K,
por kg de ganho de PV, após a conversão da exigência líquida para
GPCVZ em exigência para GPV.
350
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 15 - Parâmetros das equações de regressão do logaritmo do
conteúdo de cálcio, fósforo, magnésio, potássio e sódio
(kg) no corpo vazio, em função do logaritmo do peso do
corpo vazio (kg) e os respectivos coeficientes de
determinação (r2)
Grupo Genético
Intercepto (a)
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
-
1,1048
0,8829
0,4403
1,5785
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
-
1,1910
1,2504
1,5396
1,7515
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
-
2,8039
2,9215
3,1646
3,3613
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
-
3,5378
2,3003
1,6386
2,7454
1. Zebu
2. F1 (E x Z)
3. Mestiço leiteiro
4. Holandês
-
1,6629
1,5090
1,8469
2,4795
Parâmetro
Coeficiente (b)
Cálcio (kg)
0,7312
0,6803
0,5073
0,9028
Fósforo (kg)
0,6654
0,7112
0,8219
0,8944
Magnésio (kg)
0,7578
0,8327
0,9360
0,9579
Potássio (kg)
1,3127
0,8551
0,6119
1,0173
Sódio (kg)
0,5362
0,5246
0,6167
0,8165
r2
0,51
0,31
0,65
0,90
0,49
0,40
0,71
0,93
0,36
0,93
0,97
0,93
0,46
0,73
0,59
0,99
0,35
0,15
0,64
0,96
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 351
Tabela 16 - Exigências líquidas de cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio
(Mg), potássio (K) e sódio (Na), em g por kg de ganho de
peso do corpo vazio, de bovinos Nelore, em função do peso
vivo (PV)
PV (kg)
Exigência líquida
Ca
P
250
300
350
400
450
500
13,47
12,83
12,31
11,87
11,50
11,18
7,05
6,63
6,30
6,02
5,79
5,59
250
300
350
400
450
500
15,85
14,96
14,24
13,64
13,14
12,70
8,40
7,97
7,62
7,34
7,09
6,88
250
300
350
400
450
500
13,28
12,14
11,25
10,53
9,94
9,44
9,17
8,88
8,64
8,44
8,26
8,11
250
300
350
400
450
500
14,18
13,93
13,73
13,55
13,39
13,26
9,02
8,85
8,71
8,58
8,48
8,38
Mg
Zebu
0,32
0,31
0,30
0,29
0,28
0,27
F1 (E x Z)
0,40
0,39
0,38
0,37
0,37
0,36
Mestiço leiteiro
0,46
0,45
0,45
0,44
0,44
0,44
Holandês
0,33
0,33
0,33
0,33
0,32
0,32
K
Na
2,06
2,18
2,28
2,38
2,47
2,55
0,95
0,88
0,82
0,77
0,73
0,69
1,96
1,91
1,87
1,83
1,80
1,77
1,25
1,14
1,06
1,00
0,94
0,90
1,77
1,65
1,56
1,48
1,41
1,35
1,13
1,06
1,00
0,95
0,91
0,87
2,01
2,01
2,02
2,02
2,03
2,03
1,02
0,98
0,96
0,93
0,91
0,89
352
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Para estimar as exigências dietéticas totais, foram adotadas as
recomendações do ARC (1980) e do AFRC (1991) para as perdas
endógenas totais de Ca, P, Mg, Na e K, enquanto a disponibilidade
destes elementos foi estimada segundo o ARC (1980) e o NRC (1996).
Estão apresentadas na Tabela 17 as exigências totais (mantença
+ ganho de 1 kg PV) dos macroelementos minerais estudados.
Diferentemente da exigência para ganho, as exigências dietéticas totais
aumentaram com o PV do animal, devido à participação das exigências
para mantença. As exigências totais de Ca encontram-se próximas às
recomendações do NRC (1996), mas as de P apresentaram valores
sempre superiores aos do referido conselho. Especificamente para Mg e
K, as exigências líquidas para ganho representam uma pequena parcela
das exigências dietéticas, tendo em vista a baixa disponibilidade do Mg e
as elevadas exigências de mantença de K, conforme já observado e
citado por FONTES (1995).
Se for considerado um consumo de MS constante, durante as
fases de recria e engorda de um bovino, as exigências dietéticas totais
estimadas neste experimento, expressas em % da MS, demonstraram
uma tendência de diminuição, com o aumento do PV, para Ca, P, Mg e
Na e apresentaram-se praticamente constantes para o K. As exigências
recomendadas pelo NRC (1996) para Ca, P, Mg, K e Na são de 0,68;
0,33; 0,10; 0,07 e 0,60 % da MS e 0,32; 0,19; 0,10, 0,07 e 0,60% da
MS, para bovinos de 200 e 400 kg de PV, respectivamente, ganhando 1
kg de PV e consumindo 2,4% do PV em MS.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 353
Tabela 17 - Exigências dietéticas totais (mantença + ganho de 1 kg PV)
de cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg), potássio (K) e
sódio (Na), em g/dia e em % da MS para um consumo de
2,4% do PV, em função do grupo genético e do peso vivo
(PV)
PV (kg)
250
300
350
400
450
500
250
300
350
400
450
500
250
300
350
400
450
500
250
300
350
400
450
500
Exigência dietética total
Ca
P
Mg
K
g/dia % MS g/dia % MS g/dia % MS g/dia % MS
Zebu
36,33 0,61
19,62 0,33
6,24
0,10
29,80 0,50
37,47 0,52
20,99 0,29
7,04
0,10
35,27 0,49
38,84 0,46
22,47 0,27
7,86
0,09
40,71 0,48
40,38 0,42
24,04 0,25
8,69
0,09
46,15 0,48
42,04 0,39
25,67 0,24
9,52
0,09
51,58 0,48
43,79 0,36
27,34 0,23
10,37 0,09
57,01 0,48
F1 (E x Z)
42,10 0,70
22,00 0,37
6,79
0,11
29,78 0,50
42,67 0,59
23,32 0,32
7,60
0,11
35,08 0,49
43,61 0,52
24,77 0,29
8,42
0,10
40,38 0,48
44,79 0,47
26,30 0,27
9,26
0,10
45,69 0,48
46,16 0,43
27,90 0,26
10,10 0,09
51,00 0,47
47,66 0,40
29,54 0,25
10,94 0,09
56,32 0,47
Mestiço leiteiro
35,42 0,59
22,35 0,37
6,94
0,12
29,50 0,49
35,64 0,50
23,90 0,33
7,79
0,11
34,73 0,48
36,34 0,43
25,53 0,30
8,65
0,10
39,98 0,48
37,37 0,39
27,20 0,28
9,51
0,10
45,25 0,47
38,62 0,36
28,92 0,27
10,37 0,10
50,53 0,47
40,05 0,33
30,66 0,26
11,24 0,09
55,83 0,47
Holandês
34,65 0,58
20,99 0,35
6,09
0,10
29,54 0,49
36,59 0,51
22,73 0,32
6,96
0,10
34,89 0,48
38,61 0,46
24,50 0,29
7,83
0,09
40,24 0,48
40,69 0,42
26,31 0,27
8,70
0,09
45,59 0,47
42,80 0,40
28,13 0,26
9,58
0,09
50,94 0,47
44,94 0,37
29,97 0,25
10,45 0,09
56,29 0,47
g/dia
Na
% MS
2,88
3,17
3,48
3,80
4,13
4,47
0,05
0,04
0,04
0,04
0,04
0,04
3,24
3,50
3,78
4,09
4,40
4,72
0,05
0,05
0,05
0,04
0,04
0,04
3,04
3,34
3,65
3,97
4,30
4,64
0,05
0,05
0,04
0,04
0,04
0,04
2,82
3,17
3,51
3,87
4,22
4,58
0,05
0,04
0,04
0,04
0,04
0,04
354
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
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BIOTECNOLOGIAS APLICÁVEIS À PRODUÇÃO DE
BOVINOS DE CORTE NO BRASIL 1
1
Dante P. D. Lanna 2 e Márcio C. Silva Filho3
Parte de trabalho apresentado no “Workshop on Sustainable Animal Production and World Food
Supply to 2020”. Hannover, GER, 2000.
2
Ph.D. Professor do Dept. de Produção Animal, ESALQ/Universidade de São Paulo. CNPq.
3
Ph.D. Professor do Dept. de Genética, ESALQ/Universidade de São Paulo. CNPq.
INTRODUÇÃO
Nas última década houve um extraordinário aumento no
consumo de produtos animais. Com o crescimento econômico e contínuo
aumento na afluência em vários países, os próximos anos verão uma
explosão no consumo de carne e leite. Estas mudanças terão impacto
mais significativo nos países em desenvolvimento. As previsões dos
modelos econômicos indicam que a demanda por produtos animais
continuará a aumentar, em ritmo acelerado, pelo menos até 2025. As
previsões são de uma taxa de aumento crescente no consumo de carne
e leite, particularmente em países com a maior proporção da população
mundial (Delgado, 2000).
Estas projeções têm implicações impressionantes, e nos remete a
assumir uma grande responsabilidade. A produção de alimentos hoje é
maior que a demanda, mas muito inferior à necessária para os notáveis
aumentos na demanda. Estas responsabilidades incluem, primeiramente,
a necessidade absoluta de garantir à população mundial, e
particularmente às parcelas mais pobres, que não haverá falta de
alimentos: segurança alimentar. Em segundo lugar o aumento na
produção para atender a demanda deve ser feita de forma sustentável.
Existem tecnologias disponíveis capazes de produzir aumentos a curto
prazo na produção de carne, mas várias destas tecnologias trariam
graves custos ambientais.
Novas tecnologias jamais podem ser empregadas sem consultam
prévia ao consumidor e devem levar em consideração questões de
segurança, culturais e éticas. Entretanto, há necessidade de melhorar a
qualidade deste debate, que deve se basear mais em dados reais e
menos em interesses individuais. Os benefícios produtivos e ambientais
360
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
provenientes da adoção destas tecnologias precisa ser entendido, assim
como os riscos.
Na Índia, 92% dos produtores agrícolas acredita nos benefícios
da biotecnologia, e cerca da metade é de opinião que o país precisará
adotar estas técnicas (Org-Marg Research, 2000). Esta aparente
aceitação da biotecnologia apresenta forte contraste com outros países
onde as dificuldades ambientais e econômicas são muito menores do
que as enfrentadas pela Índia. Entretanto, o continuo aumento da
população mundial e o grande aumento do consumo per capita de carne
e leite previsto para as próximas duas décadas terá importantes
conseqüências ambientais, incluindo também países que não vivem o
desafio dramático da Índia.
DEMANDA POR PRODUTOS ANIMAIS
Os desafios de países em desenvolvimento nos próximos 20 anos
incluirão a habilidade de alimentar seu povo, a habilidade de exportar
produtos agrícolas, a habilidade de contornar seus problemas ambientais
através do uso de sistemas sustentáveis de produção e, finalmente, da
capacidade de preservar intactos alguns de seus ecossistemas (e.g.
Amazônia). É um desafio extraordinário!
As elasticidades de demanda- renda para os mais importantes
produtos de origem animal, é próxima de 1, particularmente para carne
bovina, leite e carne suína, sendo ligeiramente inferior para frango. As
projeções das tendências da demanda em produtos animais indicam um
aumento da ordem de 118 milhões de toneladas métricas de carne até o
ano de 2020 (Delgado, 2000).
VELHAS E NOVAS TECNOLOGIAS PARA AUMENTO DA
PRODUÇÃO ANIMAL
Existe uma gama de tecnologias para melhorar a produção
animal. Diversos críticos da biotecnologia sugerem que com a adoção
destas “velhas” tecnologias, não seria necessário manipular o DNA de
plantas ou de animais. Realmente, a adoção de várias práticas e
tecnologias convencionais poderia aumentar a produtividade de forma
significativa.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 361
Entretanto, os desafios para a produção agrícola a serem
vencidos nas próximas décadas certamente vão requerer não um grupo
de tecnologias, mas um planejamento estratégico utilizando diversas
técnicas. É certo que nenhuma técnica sozinha será capaz de resolver os
diferentes problemas enfrentados pela agricultura. A enormidade do
aumento na demanda de produtos animais não pode ser exagerada.
Segurança alimentar, redução do impacto ambiental e aumento da
saúde humana através da nutrição são objetivos básicos que não podem
ser atingidos apenas por um grupo de tecnologias. A busca ideológica
de certas técnicas em detrimento de outras pode ter custos altíssimos,
tanto sociais como ambientais. Uma avaliação baseada em fatos
científicos tem que ser feita caso a caso.
É claro que diferentes países enfrentarão diferentes desafios
tecnológicos. Mesmo dentre os países em desenvolvimento existirão
grandes diferenças. O desenvolvimento e transferência de
biotecnologias têm que ser pautado em uma avaliação correta das
dificuldades presentes em situações tão diversas como, por exemplo, do
Brasil e da Índia.
Diversas tecnologias disponíveis poderiam ser utilizadas para
redução dos custos de produção, para redução do impacto ambiental e
para aumento da segurança alimentar. Um exemplo particular à situação
da produção de bovinos de corte, e que traz grandes semelhanças com
a futura adoção de técnicas de biologia molecular, é o uso de implantes
de esteróides. Como para a biotecnologia, os benefícios dos implantes
esteróides em aumentar a eficiência de conversão alimentar (Tabela 1)
e reduzir os custos são inequívocas. Os benefícios ambientais da
melhora na conversão alimentar são também muito significativos. Somase a isto o fato de que comitês médicos de diferentes países, incluindo o
FDA e o Codex Alimentarius, revisaram os dados e afirmaram que o uso
de 5 moléculas específicas destes esteróides nas doses recomendadas é
seguro para seres humanos (Preston, 1998).
362
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
Tabela 1 - Efeito dos esteróides (estrogênio) no desempenho e na
eficiência na conversão alimentar em confinamento de 115
dias (Johnson et al., 1992)
Item
Peso Final, kg
Ganho Diário, kg/d
Ganho, % do controle
Conversão, g/kg MS
Conversão, % do controle
Controle
Synovex (estrogênio)
575
1.55
100
6.4
100
614
1.87
121
5.8
90
Apesar dos efeitos altamente positivos na eficiência de conversão
(10-20%) implantes com esteróides foram banidos de diversos países
incluindo países desenvolvidos (e.g. Comunidade Européia) e em
desenvolvimento (e.g. Brasil). A resistência ao uso destes compostos
pode trazer subsídios importantes à controvérsia ao redor das questões
sobre o uso das biotecnologias, principalmente quando envolve o uso de
animais e plantas transgênicas. Observa-se que diversas práticas já
avaliadas, capazes de reduzir o impacto ambiental da produção de
alimentos ainda não estão em uso. Dado o fato de que 250 milhões de
americanos tem se beneficiado desta tecnologia por mais de 4 décadas,
é interessante e ilustrativo reconhecer que há forte resistência baseada
na percepção do público.
BIOTECNOLOGIA AGRÍCOLA - PLANTAS TRANSGÊNICAS
Cerca de 7 milhões de hectares, apenas para países em
desenvolvimento, foram cultivadas com plantas geneticamente
modificadas (GM) como soja, milho e algodão no ano de 1999. Isto
representa um crescimento de 18% em comparação com 1998, sendo a
maior parte na Argentina, China, África do Sul e México. O Brasil, maior
produtor agrícola da América Latina, está ainda considerando o uso de
plantas modificadas por engenharia genética, entretanto, existem ainda
discussões quanto à melhor definição das regras que deverão ser
respeitadas na produção, comercialização e uso de alimentos
transgênicos.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 363
Ainda que as espécies vegetais do mundo desenvolvido tenham
maior atenção dos laboratórios de engenharia genética, um número
crescente de pesquisadores está manipulando o DNA de plantas nativas
dos trópicos e sub-trópicos com potencial de produzir alimentos, fibras,
combustíveis e fármacos.
A primeira fase de desenvolvimento de OGMs agrícolas procurou
basicamente criar tecnologias direcionadas a beneficiar os produtores,
aumentando produtividade, reduzindo custos de produção, minimizando
perdas por erosão e reduzindo uso de energia. Por outro lado a nova
geração de OGMs teve como objetivo melhorar outras características das
plantas transgênicas. A próxima geração de OGMs terá teores mais altos
de proteína, um balanço de proteína mais próximo daquele requerido
pelo homem ou pelo animal para o qual ela se destina. O aumento do
teor de vitaminas e outras características nutricionais importantes para a
saúde do consumidor terá grande relevância econômica e implicações
importantes para a aceitação desta tecnologia pela sociedade.
Entretanto, é necessário lembrar que as primeiras plantas
transgênicas trouxeram alguns importantes benefícios ambientais, bem
como reduções de custo que tem sido repassadas para o consumidor.
Exemplos incluem OGMs responsáveis por grande redução no uso de
pesticidas, um problema considerado importante para a opinião pública.
Portanto, esforços para aumentar a produtividade enquanto reduzindo
as aplicações de pesticida devem continuar. Como exemplo, o uso de
uma variedade de milho resistente a insetos e a rotação de culturas com
monitoração das populações de insetos pode reduzir a aplicação de
defensivos em mais de 50% (Pimentel et al., 1993). A redução no uso
de pesticidas na produção de plantas transgênicas utilizadas como
alimento animal podem, em última instância, reduzir a contaminação de
produtos animais como leite e carne.
O impacto ambiental da produção animal depende diretamente
da quantidade e da composição dos alimentos utilizados. As plantas alvo
do maior número de modificações genéticas são a soja, o milho e
algodão. Não é surpresa que estas plantas representam mais de 80%
dos ingredientes de ração animal no Brasil (Tabela 2). O milho e a soja
são também os mais importantes alimentos em diversos países incluindo
os EUA o maior mercado mundial de alimentação animal, onde 90% do
364
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
milho é direcionado às rações animais. Portanto, deve-se esperar um
extraordinário aumento na demanda de plantas GM.
Tabela 2 - Alimentos usados na produção animal no Brasil
Concentrado Total
Milho
Farelo de Soja
Farelo de Algodão
35 Milhões de Toneladas
65 %
13%
6%
O fato de que alguns países já produzem OGMs reduz seus
custos e faz com que sua agricultura seja mais competitiva no mercado
mundial. Novas variedades de plantas, somando novas características
melhoradas, devem aumentar esta competitividade, bem como
aumentar a qualidade do produto (e.g. produtos mais nutritivos).
Um exemplo seria o milho, no qual o fitato se acumula, um
composto capaz de reduzir a biodisponibilidade de fósforo. A biologia
molecular pode fornecer meios para reduzir a concentração de fitatos no
milho. O fornecimento deste milho com baixo teor de fitato reduziria a
necessidade de suplementação da dieta com fósforo mineral, reduzindo
o custo de produção. Mais importante, a redução da suplementação com
fósforo teria importante beneficio ambiental, uma vez que a quantidade
excretada de fósforo pelo animal seria reduzida. O acúmulo de fósforo
no meio ambiente é um dos grandes problemas enfrentados pela
agricultura animal. Há inúmeros exemplos de oportunidades para
mudança do valor nutricional destes alimentos para os animais. A
energia digestivel do milho pode ser incrementada com variedades GM
com altas concentrações óleo, atualmente utilizadas em milhares de
hectares de plantio nos EUA (Abelson e Hines, 1999). Na soja pode-se
citar a redução nos níveis de oligossacarídeos com atividade
antinutricional .
Nos sistemas de produção de ruminantes nos trópicos, os cereais
não são a maior fonte de nutrientes para os animais. A maior parte da
produção de leite e carne ocorre sob sistemas a pasto. Diversas
gramíneas e leguminosas são utilizadas e algumas espécies tem grande
distribuição (e.g. Brachiaria spp). Oportunidades existem de manipular o
DNA destas forragens para alterar uma série de características como
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 365
resistência a insetos, resistência a doenças, adaptação a baixo pH e alto
teor de alumínio entre outras. Seria extraordinário poder manipular a
concentração de substâncias antinutricionais como a lignina e o ácido
fítico já citado.
O desenvolvimento de forragens GM, com maior valor nutricional
não só aumentaria a produtividade, mas reduziria o risco (menor
susceptibilidade a doenças e pragas), com importantes conseqüências
para a produção de carne nas condições brasileiras.
BIOTECNOLOGIA ANIMAL
Existem numerosas técnicas já descritas, e provavelmente muitas
mais a serem desenvolvidas, para melhorar a produtividade animal sem
uso de plantas GMs. Existem oportunidades para a produção de animais
GM, ainda que o desenvolvimento destes ainda não esteja tão
desenvolvido. Pesquisas também têm sido conduzidas no sentido de
manipular o DNA dos microorganismos do rúmen, uma outra
possibilidade de melhorar a produtividade animal.
Apesar do potencial da tecnologia de transgenia para o futuro, a
curto prazo o uso de outras tecnologias de biologia molecular parecem
ter maior impacto. O uso de proteínas recombinantes como
anabolizantes apresentam grande potencial. O uso de marcadores
genéticos na seleção, e esforços no desenvolvimento de vacinas de DNA
e outras técnicas terão grande impacto no futuro.
PROTEÍNAS RECOMBINANTES
O hormônio do crescimento recombinante, ou somatotropina
(ST) foi uma das primeiras tecnologias com aplicação no setor pecuário.
A proteína da ST é produzida em bactérias transgênicas contendo o
gene da somatotropina de bovinos (bST) e suíno (pST).
Em 1982, Bauman e colaboradores demonstraram um grande
aumento na produção de leite (~20%) e conversão alimentar (~7%) em
vacas tratadas com 40 mg/dia de bST (Bauman et al., 1982, 1985).
Experimentos posteriores confirmaram estes resultados com vacas de
alto e baixo mérito genético em diversos sistemas de produção,
366
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
incluindo sistemas de pastoreio em condições tropicais (Lanna and
Madeira, 1999).
Entretanto, não se deve esperar que estas tecnologias funcionem
para produtores que não dão as condições adequadas para o animal
responder ao estímulo. Em bovinos de corte, o efeito anabólico do bST
certamente necessitará de uma dieta com níveis maiores de proteína.
Ou seja, as biotecnologias funcionarão melhor em conjunto com outras
tecnologias. Portanto, técnicas como o uso do bST, seja em bovinos de
corte como de leite, devem beneficiar mais os produtores mais
sofisticados tecnologicamente, o que geralmente significa os produtores
mais ricos.
O uso de hormônios na produção animal, inclusive proteínas
recombinantes são um tópico de grande disputa apesar dos potenciais
benefícios ambientais (Tabela 3). Um grande problema é que o notável
aumento na eficiência de produção pode gerar uma significativa redução
no número de produtores. A segunda controvérsia gira em torno dos
possíveis efeitos deletério destas proteínas recombinantes sobre a saúde
do consumidor ou do animal . Para o bST, estas alegações, de acordo
com as agências de saúde de vários países, parecem ter muito pouco
mérito científico.
Tabela 3 - Benefícios ambientais do uso do hormônio do crescimento
recombinante para produção de leite nos EUA (Johnson et
al, 1992)
Redução nas necessidades para produção
de mesmo volume de leite
Área agrícola
6%
Perdas por erosão
5%
Emissões de metano
9%
Uso de combustíveis fósseis
6%
Água para irrigação
9%
O aumento na eficiência de produção de leite com bST, de carne
suína com pST e potencialmente de carne bovina com bST reduziria a
necessidade de cereais para alimentar animais e traria um enorme
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 367
benefício para as populações mais pobres (que não consumem grande
proporção de produtos animais) ao reduzir a pressão para aumentos nos
preços dos cereais.
ST é apenas uma de centenas de proteínas que poderiam ser
produzidas utilizando organismos geneticamente modificados.
No futuro, com o aumento do conhecimento para regular de
forma precisa a expressão dos diferentes genes, será possível utilizar
animais transgênicos que produzam de forma mais barata esta mesma
proteína, ao invés de termos que injetá-las nos animais.
BIOLOGIA MOLECULAR E MELHORAMENTO GENÉTICO
Marcadores moleculares
O melhoramento assistido por marcadores já é uma realidade em
programas genéticos com animais e plantas. Esta tecnologia superou os
problemas de instabilidade e baixa precisão dos marcadores
morfológicos através da detecção direta de diferenças entre alelos na
sua seqüência no DNA. Nos últimos anos diversas estratégias levaram à
identificação de marcadores moleculares associados com características
importantes de plantas e animais. Os primeiros estudos envolveram o
uso de RFLP (Restriction Fragment Lenght Polymorfism). Esta estratégia
tornou possível desenvolver mapas de ligação para diversas plantas
importantes para nutrição de bovinos de corte como o milho. Novos
marcadores moleculares foram desenvolvidos utilizando a técnica de
PCR (Polymerase Chain Reaction), na qual seqüências específicas de
DNA são amplificadas produzindo RAPD (Random Amplified Polymorphic
DNA). Mais recentemente, o uso de seqüências altamente repetidas de
DNA (DNA satélite) foi introduzido em larga escala em programas de
melhoramento.
Animais Transgênicos
A transformação de células com DNA de outras espécies é um
mecanismo importante para a compreensão da regulação da fisiologia
animal como também para geração de animais transgênicos com
características desejadas. A técnica foi utilizada com sucesso há cerca de
368
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
20 anos para introduzir o gene do hormônio do crescimento em
camundongos (Palmiter et al., 1982). Desde então um extraordinário
número de animais transgênicos foram produzidos, com objetivos que
vão de estimular o crescimento até produzir substâncias importantes
para o tratamento de doenças.
Um importante uso de tecnologia de DNA recombinante será o
uso de animais de interesse agronômico como vacas e ovelhas para
produção de fármacos. Proteínas farmacologicamente ativas como o
fator IX, o fator ativador de plaminogênio (tPA) e o α1-antitripsina
humana são expressos no leite de animais transgênicos.
Diversos pontos têm que ser superados no desenvolvimento de
animais transgênicos. As técnicas apresentam dois problemas básicos.
Primeiro, a habilidade de controlar o número de cópias e local de
inserção do DNA de interesse no genoma. Segundo, o desenvolvimento
de seqüências promotoras que controlem o local (tecido), tempo (estado
fisiológico, etc.) e grau de expressão do gene introduzido. Finalmente,
não se sabe exatamente como a maioria dos genes interagem, e existe
uma necessidade crescente de desenvolvimento de estratégias e
conhecimento para produzir transgenes.
A maior parte dos animais domésticos transgênicos foram
produzidos pela técnica da microinjeção, um procedimento aleatório. Por
outro lado, camundongos transgênicos foram criados usando
recombinação homóloga, onde uma única cópia do gene pode ser
adicionada ao genoma. Em 1999 a recombinação homóloga foi feita com
sucesso em ovinos. Este e outros avanços devem causar uma revolução
neste área.
O benefício potencial dos animais transgênicos é muito grande.
Há camundongos transgênicos que expressam celulases no intestino
bem como camundongos capazes de expressar as enzimas do ciclo do
glioxalato. Estes dois sistemas enzimáticos não existem em animais
domésticos. No caso das enzimas do ciclo glioxalato poderia ser o fim de
doenças metabólicas como a cetose.
Organismos ruminais transgênicos
Diversos grupos têm desenvolvido programas de pesquisa para
manipular o material genético de bactérias do rúmen no sentido de
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 369
aumentar a degradação de carboidratos estruturais.. O primeiro passo
tem sido o desenvolvimento de um sistema de transferência de DNA em
bactérias importantes na degradação de celulose como Ruminococcus
albus, R. flavefaciens, Butyrivibrio fibrisolvens, e Fibrobacter
succinogenes, bem como a clonagem de genes envolvidos na
degradação de fibras (Lanna and Madeira, 1999).
Estes programas de pesquisa vão enfrentar um grande número
de dificuldades. Primeiro a necessidade de obter as bactérias
transgênicas capazes de altas taxas de degradação de parede celular.
Segundo deve-se desenvolver a capacidade de introduzir e manter uma
população numerosa deste organismo no complexo ecossistema
ruminal. Estes OGM teriam que competir com outros microorganismos
bem como transferir substratos e metabólitos (Russell e Wilson, 1988).
Seria uma tentativa de superar o processo evolutivo.
Existem outras possibilidades. Gregg et al. (1996) conduziram
um elegante experimento com a introdução de um gene que confere
capacidade de degradar a toxina fluoracetato, de uma bactéria não
ruminal para o Butyrivibrio fibrisolvens. A bactéria modificada sobreviveu
no rúmen por mais de 6 meses.
Apesar de alguns sucessos, a viabilidade destas técnicas deve ser
questionada uma vez que existem importantes problemas ambientais
em relação à liberação de bactérias transgênicas no rúmen. É difícil
imaginar alguma possibilidade de controle e contenção, particularmente
em função do alto nível de transferência genética no ecossistema
ruminal.
Vacinas Genéticas
Ainda que as doenças não tenham um custo tão elevado quanto
o programa nutricional, problemas sanitários tem um enorme custo e
são decisivos para a conquista de mercados. Em certas regiões da África
sub-Saara a proporção do custo total de produção devido a doenças foi
estimado em 25%. Estes números devem ser vistos com cuidado já que
baixos níveis de produtividade e nutrição inadequada tendem a
superestimar a importância dos problemas sanitários.
A tecnologia do DNA recombinante permitiu a criação de uma
nova estratégia para imunização de animais domésticos. Existem duas
370
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
formas de desenvolver vacinas usando DNA ( Morrison, 2000). Primeiro,
é possível deletar genes que determinam a virulência para produzir
organismos que seriam usados como vacinas vivas. Uma segunda
estratégia requer o conhecimento das proteínas do patógeno que
estimulam a resposta imune. Estas proteínas podem ser utilizadas para
imunizar os animais. Existe um grande expectativa no uso de OGM
atenuados como vetores vivos de vacinas de DNA. O DNA plasmidial
pode ser incorporado e expressado em células animais para estimular o
sistema imunológico (Lowrie et al., 1999)
Diagnóstico
Os marcadores genéticos discutidos acima e utilizados em
programas de melhoramento genético podem também ser utilizados
como ferramentas de diagnóstico para identificar animais susceptíveis a
determinadas doenças. A maior parte do estudos atuais têm utilizado a
tecnologia de PCR para detectar variações nas seqüências de DNA.
Há muito pouca oposição a este uso das novas técnicas de
biologia molecular quando comparamos às restrições aos OGM.
Entretanto, há importantes questões ligadas à propriedade intelectual,
particularmente porque estes extraordinários avanços, capazes de
aumentar a produtividade, minimizar o impacto ambiental, reduzir o
preço dos alimentos e aumentar a segurança alimentar de milhões
estarão fora do domínio público.
Devemos comparar tecnologias?
Há um acalorado debate questionando qual seria a tecnologia a
ser utilizada em países tropicais para aumentar a produção de alimentos
e a segurança alimentar. Este debate talvez seja fútil pois procura
responder uma falsa pergunta. Várias tecnologias deverão ser utilizadas
pois a maior parte têm efeitos aditivos ou sinergéticos. Parece pouco
razoável promover o uso de apenas um tipo de tecnologia dado o
tamanho do desafio a ser vencido.
A Tabela 4 dá uma demonstração clara da aditividade de duas
diferentes tecnologias, o uso de proteínas recombinantes produzidas por
OGMs e o uso de implantes esteróides.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 371
Tabela 4 - Efeito do uso do hormônio do crescimento recombinante
(bST) em combinação com implantes esteróides no
desempenho de bovinos de corte (Rumsey et al., 1996)
Controle
Synovex
(estrogênio)
Somatotropina
(ST)
Synovex +
ST
Consumo, kg MS/d
5.4
5.5
5.6
5.5
Ganho de peso, kg/d
1.27
1.47
1.63
1.78
Ganho, % do Controle
100
116
128
140
Conversão, gGPV/kg MS
235
262
291
321
Conversão, % do Controle
100
111
124
137
Na realidade existem várias tecnologias que só trarão benefícios
quando utilizadas em conjunto. Portanto o debate que compara a
eficiência de diferentes tecnologias deve ser substituído por um debate
sobre a implementação de estratégias multitecnológicas utilizando todo
o conhecimento disponível.
Grande preocupação tem que ser dada ao fato de que a
incorporação de diversas tecnologias tem tido um impacto muito
negativo sobre os pequenos produtores. Uma significativa parte das
biotecnologias tem sido direcionadas para os produtores mais
tecnificados. Junto das transformações no setor produtivo que
acompanham a ampliação da economia globalizada, uma parcela
importante dos produtores rurais no mundo poderão enfrentar enormes
dificuldades. Mais pesquisa na área molecular deve ser conduzida para
melhorar a qualidade de vida das população mais pobres. Este será um
dos mais difíceis desafios a ser superado, principalmente porque deverá
ser enfrentado ao mesmo tempo em que precisamos reduzir o impacto
sobre o meio ambiente.
OS CONCEITOS DE CADEIA ALIMENTAR, IMPACTO
AMBIENTAL E TERRAS MARGINAIS
O conceito clássico de “cadeia alimentar” é importante quando
queremos modelar o efeito da biotecnologia sobre a produção animal.
Animais podem ser vistos como ineficientes na transformação de energia
372
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
e proteína em função das inexoráveis perdas associadas ao seu
metabolismo. Entretanto, este mesmo conceito aponta para o fato de
que o uso de biotecnologia terá um efeito multiplicador na melhora da
eficiência de produção animal.
O uso de diferentes técnicas de biologia molecular pode:
a) aumentar a produtividade das lavouras (e.g. 20%),
b) reduzir as perdas por armazenagem (e.g. 10%)
c) aumentar a eficiência de conversão do animal (e.g. 20% do
pST).
Em última instância, a combinação dos efeitos de a, b e c acima,
significa que seria necessária quase a metade da área agrícola para
produção da mesma quantidade de carne e leite. A redução na área
necessária para produção tem como conseqüência a redução no uso de
terras marginais, onde a probabilidade de frustração de safra (e.g. seca)
ou degradação ambiental (e.g. erosão) é muito maior. É conhecido o
fato de que algumas da mais importantes crises de fome e desastres
ambientais foram resultado do uso de terras marginais. Parece lógico
dizer que a redução da área necessária para produzir a mesma
quantidade de alimentos terá um pronunciado efeito positivo sobre na
segurança alimentar.
OUTRAS QUESTÕES DO USO DE BIOTECNOLOGIA
Há uma oposição muito grande ao uso de diversas tecnologias,
de implantes esteróides a plantas e animais GM. Na realidade há
mudança, por exemplo na Europa, no sentido de abandonar praticas
convencionais para utilizar sistemas de produção muito menos
intensivos. As alterações nos sistemas de produção de vitelos e frangos
seriam bons exemplos. Logo, parece importante notar que questões
culturais e éticas também devem ser avaliadas.
Em alguns países ricos, há capacidade econômica de subsidiar a
produção agrícola. Isto tem feito com que haja excesso de produção
agrícola e consequentemente levado os administradores das políticas
agrícolas a condenar tecnologias capazes de aumentar a produtividade.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 373
MELHORANDO O VALOR NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS
Outra área de intensa pesquisa é o desenvolvimento de
metodologias para melhorar a qualidade dos alimentos de acordo com a
demanda do consumidor. Uma possibilidade seria alterar a composição
da carne de bovinos para conter menos gordura, gordura menos
saturada, gordura com maior proporção de ácidos graxos insaturados,
bem como desenvolvimento de alimentos com os chamados
“nutracêuticos” (i.e. alimentos que contém compostos que agem como
farmacêuticos, melhorando a saúde humana).
Diversas biotecnologias, incluindo o bST, podem reduzir a
proporção de gordura no crescimento animal.
O nosso laboratório tem trabalhado no sentido de aumentar a
concentração do ácido linoléico conjugado (CLA) na gordura de
ruminantes (Medeiros et al., 2000). O isômero cis9, trans11 do CLA seria
o mais importante molécula anticarcinogênica presente em alimentos de
origem animal. Oportunidades existem, através de diferentes técnicas,
de aumentar a concentração deste e de outros compostos benéficos nos
alimentos.
A manipulação da composição dos alimentos para melhorar o
valor nutricional, e a inclusão de nutracêitocos teria impacto altamente
positivo sobre a nutrição das populações mais pobres do planeta que
tem acesso a um menor número de alimentos na sua dieta.
BIOTECNOLOGIA E O AVANÇO DO CONHECIMENTO
Ainda que existam vários exemplos de uso aplicado e comercial
das biotecnologias, nos parece que o uso das técnicas de biologia
molecular para aumentar o conhecimento seja tão ou mais importante.
Os enormes avanços da pesquisa clássica em nutrição animal estão
chegando a um ponto em que as questões a serem respondidas
envolvem os mecanismos biológicos fundamentais. A biologia molecular
será uma ferramenta de extraordinária importância para o avanço da
nossa compreensão sobre a fisiologia dos bovinos e das plantas que lhes
fornecem nutrientes.
Independente do uso ou não da engenharia genética na
produção de alimentos, as técnicas de biologia molecular deverão ser
374
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte
utilizadas para avançar o conhecimento sobre como funcionam as
plantas e os animais e como podemos melhor utilizar as tecnologias
convencionais.
CONCLUSÕES
A biotecnologia tem o potencial de efeitos sem precedentes
sobre a produtividade e eficiência de produção de bovinos de corte. Este
efeito talvez seja mais importante em termos de redução do custo e
impacto ambiental para atender o grande aumento da demanda por
carne de bovinos previstas para as próximas três décadas.
Estamos ainda longe de conhecer a maior parte dos efeitos do
emprego da biotecnologia. Esta área de pesquisa promete benefícios
extraordinários, mas como no caso do uso do hormônio do crescimento,
descoberto em 1922, talvez ainda precisemos de 70 anos para utilizar
todo este conhecimento na prática. Produtores e a sociedade devem
entender que a maior parte destas tecnologias não estará disponível
imediatamente. Isto tem um lado positivo, pois há necessidade da
compreensão dos seus enormes efeitos, e de uma avaliação dos
impactos econômicos e sociais.
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