Pedro Soares, 2004, Parametrização da turbulência e de
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Pedro Soares, 2004, Parametrização da turbulência e de
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE FÍSICA PARAMETRIZAÇÃO DA TURBULÊNCIA E NUVENS DE CAMADA LIMITE EM MODELOS ATMOSFÉRICOS Pedro Miguel Matos Soares Doutoramento em Física (Meteorologia) 2004 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE FÍSICA PARAMETRIZAÇÃO DA TURBULÊNCIA E NUVENS DE CAMADA LIMITE EM MODELOS ATMOSFÉRICOS Pedro Miguel Matos Soares Doutoramento em Física (Meteorologia) Tese orientada pelo Prof. Doutor Pedro M. A. Miranda 2004 Em memória de Manuel Pires Ratão . Agradecimentos O meu reconhecido agradecimento ao Prof. Pedro Miranda, meu supervisor, pelo seu apoio, e por me ter proporcionado a oportunidade de realizar esta tese, desfrutando de grande liberdade por um lado, e por outro, imprimindo-lhe um especial rigor científico. Este agradecimento é extensível ao Doutor A. Pier Siebesma e ao Doutor João Teixeira pela permanente disponibilidade que ambos demonstraram, ao me ajudarem a ultrapassar inúmeras dificuldades. O sentido de partilha e discussão das ideias manifestada pelos três releva a sua inestimável contribuição, sem a qual, esta tese não seria com certeza uma realidade. Desejo expressar a minha gratidão aos meus colegas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa ou em passagem na mesma, Miguel Teixeira, Prof. Carlos Pires, Natacha Callens e Peter Bechtold, pela sua participação desinteressada em inúmeras discussões sobre a temática abordada, e principalmente, ao seu contributo directo para este trabalho. Agradeço igualmente, ao Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa (CGUL), nas pessoas do Prof. Luís Mendes-Victor e Prof. J. Miguel Miranda, que me ofereceram as melhores condições para realizar este trabalho. Quero também agradecer ao Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), na pessoa da Presidente do Conselho Directivo em exercício, a Prof. Maria Ana Baptista, a possibilidade de efectuar os trabalhos conducentes ao doutoramento de uma forma bem menos frustrante, em três semestres de equiparação a bolseiro. Mais importante, quero realçar o continuado estímulo que a Prof. Maria Ana Baptista me ofereceu. O longo período de doutoramento permitiu que mais pessoas dessem o seu contributo, agradeço aos meus colegas do ISEL, Prof. Carla Costa, Prof. Maria da Graça Alfaro e Eng. Manuel Vasques. No período em que visitei o Koninklijk Nederlands Meteorologisch Instituut (KNMI), na Holanda, pude usufruir de um muito bom ambiente científico, especialmente interessantes foram as discussões com Geert Lenderink e Roel Neggers que muito apreciei. De igual modo, o meu obrigado a Joel Noilhan, Pierre Lacarrère e Valery Masson pela sua ajuda aquando da minha visita à Meteo-France, em Toulouse, França. Esta tese começou por se realizar no âmbito da bolsa de doutoramento, GGP XXI/BD/3786/96, pela qual estou grato à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Posteriormente, o projecto EUROCS (European Cloud Systems) possibilitou que este trabalho beneficiasse de um contexto de discussão mais alargado sobre a representação da turbulência e de nuvens em modelos atmosféricos. O projecto EUROCS foi financiado pela União Europeia (UE) sob o contrato EVK2 CT1999 0005. O CGUL é financiado pela FCT, com co-finaciamento da UE, sob o programa FEDER. i Resumo Uma nova forma para unificar a parametrização da camada limite convectiva, combinando as aproximações de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa (EDMF), foi desenvolvida. Esta unificação é baseada na ideia originalmente proposta por Siebesma e Teixeira. A parametrização assume que os fluxos de subescala resultam de duas escalas de mistura turbulenta: pequenos turbilhões, que são parametrizados por uma aproximação de difusão turbulenta, e térmicas, representadas por uma contribuição de fluxo-de-massa. No âmbito desta nova ideia de parametrização, desenvolveram-se três formulações distintas: um esquema suportado por expressões empíricas bem estabelecidas da camada limite seca e diagnósticos LES, e dois esquemas baseados na equação de prognóstico da energia cinética turbulenta, adequados para a camada limite seca e nublosa. O primeiro esquema foi desenhado para modelos de circulação global e foi implementado num modelo unidimensional. Os dois outros esquemas foram desenvolvidos, também, para modelos de mesoscala, e foram implementados no modelo MesoNH. Os resultados obtidos utilizando as três parametrizações revelam uma boa concordância com as observações e com as simulações LES. Estes esquemas prevêem bem a estrutura e a evolução da camada limite seca, representando bem os processos de mistura-de-topo e de fluxo de contra-gradiente, na metade superior da camada limite. Adicionalmente, o esquema EDMF com nuvens permite uma melhoria significativa na descrição da camada nublosa e subnublosa, quando comparada com esquemas alternativos, testados num estudo de intercomparação promovido no âmbito do projecto EUROCS. As melhorias registadas são atribuídas à contribuição de fluxo-de-massa, visto que as térmicas desempenham um papel determinante na camada limite seca e nublosa, sendo responsáveis por uma fracção dominante dos fluxos de calor e humidade, e levando ao aparecimento de nuvens cumulus. As parametrizações desenvolvidas podem ser expandidas, para uma representação global dos processos turbulentos e convectivos que incluam a convecção profunda e as nuvens stratocumulus. Palavras-chave: Física da Atmosfera, Parametrização, Turbulência, Convecção, Nuvens ii Abstract A new way of unifying the parameterization of the convective boundary layer, by combining eddy-diffusivity and mass-flux (EDMF) schemes, based on an idea originally proposed by Siebesma and Teixeira, has been developed. The approach assumes that the subgrid scale fluxes result from two different mixing scales: small eddies, parametrized by an eddy diffusivity approach, and thermals, represented by a mass-flux contribution. Three different formulations for the new parametrization scheme were developed, and tested against observational and large eddy simulation results: a simple scheme based on wellknown empirical expressions for the dry convective boundary layer, and two schemes based on the turbulent kinetic energy prognostic equation, appropriate for dry and cloudy boundary layers. The first parameterization was designed to be used in global circulation models and was extensively tested in a 1D research model. The other two schemes, designed also for mesoscale applications, were implemented in the MesoNH model. Results obtained with the different schemes compare well with available data. The EDMF schemes capture the structure and evolution of the dry convective boundary layer, with a good representation of the top entrainment processes and of the counter-gradient flux in the upper half of the boundary layer. Additionally, the cloudy EDMF scheme allows for a significant improvement in model performance, in comparison with alternative schemes tested in the intercomparison study performed in the framework of the EUROCS Project. Most of the improvements obtained with the EDMF scheme are attributed to the mass flux contribution, because thermals play an important role in dry and cloudy boundary layers, performing a significant fraction of the vertical fluxes of heat and moisture and leading to the development of cumulus clouds. The proposed schemes may be extended to a general treatment of turbulence and convection in the atmosphere, including stratocumulus and deep convection. Keywords: Atmospheric Physics, Parameterization, Turbulence, Convection, Clouds iii Lista de Figuras e Tabelas Figura 1.1 — Representação da unificação da parametrização da camada limite convectiva. ......2 Figura 2.1 — A estrutura térmica da atmosfera (média horizontal). .....................................4 Figura 2.2 — Representação esquemática do ciclo diurno da camada limite convectiva (adaptado de Garratt, 1992). ...........................................................................................5 Figura 2.3 — Fotografia da camada limite com cumulus pouco profundos. .............................8 Figura 2.4 — Perfis típicos de uma CL convectiva (construídos através de observações) da temperatura potencial θ , do fluxo vertical turbulento de temperatura potencial w' θ ' e a consequente deficiência do perfil do coeficiente de difusividade turbulenta K. .............. 20 Figura 2.5 — A função densidade de probabilidade de uma CL com cumulus pouco profundos. q sat é a humidade específica de saturação e q zb é a humidade específica no nível de flutuação nula em condições de saturação. a c corresponde à área horizontal de ar saturado e com flutuação positiva da PDF, 1 − a c corresponde à área restante. A altura dos dois picos é idêntica a estas áreas. Representar esta PDF pelos dois picos corresponde à aproximação de fluxo-de-massa. ........................................................................................ 26 Figura 2.6 — Perfis verticais médios típicos de camada limite convectiva seca, de: temperatura potencial θ , humidade específica q e vento V . Vg refere-se ao vento geostrófico........... 37 Figura 2.7 — Perfis verticais médios típicos de camada limite convectiva com cumulus pouco profundos, de: temperatura potencial θ l , humidade qt e vento V. Vg refere-se ao vento geostrófico.................................................................................................. 38 Figura 3.1 — Estrutura da grelha vertical do modelo Lem1D. O índice S diz respeito à superfície. Níveis intermédios ou de fluxo: linha tracejada, e níveis inteiros ou de massa: linha cheia.45 Figura 4.1 — Esquema das diferentes escalas dos turbilhões na CL convectiva e conceptualização do esquema de difusão-K/fluxo-de-massa (EDMF). A aproximação EDMF é baseada na divisão em duas escalas da mistura turbulenta: pequenos turbilhões e correntes ascendentes. .... 47 Figura 4.2 — Evolução temporal de temperatura potencial. Média horária dos perfis verticais, resultados do LES – Exp1. ................................................................................ 50 Figura 4.3 — Perfis da temperatura potencial: (av) média do domínio horizontal, (1%), (3%) e (5%) médias dos pontos com movimento ascendente mais intenso referentes às fracções 0.01, 0.03 e 0.05, respectivamente. Resultados médios da 4ª hora da simulação LES – Exp1. ..... 50 Figura 4.4 – Triângulos, circunferências e asteriscos representam a mistura lateral das ascendentes de fracções, 1%, 3% e 5%, respectivamente. A linha a cheio representa uma relação que se ajusta ao conjunto de pontos, para descrever a mistura lateral do conjunto de correntes ascendentes................................................................................ 53 Figura 4.5 — Perfil vertical da velocidade vertical da percentagem de ascendentes mais vigorosas e desvio padrão da velocidade vertical. Média horária das simulações LES. ................... 54 Figura 4.6 — Perfis verticais da variância da velocidade vertical escalada pelo quadrado da velocidade vertical convectiva, dados por: resultados de LES e pelas expressões (4.11) de Holtslag e Moeng (1991) (HM91). ....................................................................... 55 iv Figura 4.7 — Evolução temporal da temperatura potencial. Média horária dos perfis verticais, resultados do novo esquema EDMF-EMP com resolução de 20m. ................................. 57 Figura 4.8 — Perfis verticais de temperatura potencial. Média horária da 5ª e 10ª hora. Resultados do novo esquema, (ar) resolução de 20m e (br) resolução ecmwf-40, e do modelo LES. .......................................................................................................... 58 Figura 4.9 — Perfis verticais do fluxo de temperatura potencial. Média horária da 5ª e 10ª hora. Resultados do novo esquema, (ar) resolução de 20m e (br) resolução ecmwf-40, e do modelo LES. .......................................................................................................... 58 Figura 4.10 — As contribuições de difusão-K (Eddy-diffusivity, ED) e de fluxo-de-massa (Massflux, MF) para o fluxo vertical de temperatura potencial. Médias horárias dos resultados do novo esquema para a 10ª hora de simulação. ........................................................ 59 Figura 4.11 — Evolução temporal da altura da CL. Resultados do esquema EDMF-EMP: (ar) resolução de 20m e (br) resolução ecmwf-40, e do modelo LES.................................. 59 Figura 4.12 — Perfis verticais da velocidade vertical da ascendente. Resultados correspondentes a médias horárias, do esquema EDMF-EMP: (ar) resolução de 20m e (br) resolução ecmwf40; e de diagnósticos de LES para as diferentes fracções de ascendentes mais vigorosas. .. 60 Figura 4.13 – Perfis verticais de primeira ordem. ( θ v e w'θ v ' ) s em modelos de salto: (a) de ordem zero e (b) de γ = ∂θ v ∂z da região acima da inversão, z i é a altura da inversão, ∆θ v i é a intensidade da inversão e δz é a espessura da inversão. ............................ 61 Figura 4.14 — Evolução temporal da razão entre o fluxo no topo da CL e o fluxo à superfície, de temperatura potencial virtual. Resultados do modelo LES— Exp1................................ 62 Figura 4.15 — Comparação do modelo de salto de primeira ordem com os resultados da Exp1 com o modelo LES para a taxa de mistura-de-topo: (a) contribuição do fluxo de flutuação mínimo Awθ Ri , (b) contribuição da espessura da inversão Aδz Ri e (c) contribuição total ( Awθ + Aδz ) Ri . ......................................................................................... 64 Figura 4.16 — Comparação dos perfis verticais de temperatura potencial resultado dos diferentes esquemas. Média horária da 5ª hora referentes aos esquemas de: (K+M) EDMF-EMP, (K) difusão-K, (K+C) difusão-K com termo de contra-gradiente, e do modelo LES................. 65 Figura 4.17 — As contribuições dos termos de difusão-K e de contra-gradiente para o fluxo vertical de temperatura potencial. Médias horárias dos resultados do esquema de Holtslag e Moeng (1991) para 5ª hora de simulação. Comparar com a Figura 4.10......................... 66 Figura 4.18 — Evolução temporal da altura da CL. Resultados dos diferentes esquemas: (K+M) EDMF-EMP (br-resolução de ecmwf-40), (K) difusão-K, (K+C) difusão-K com termo de contragradiente, e do modelo LES. ............................................................................ 67 Figura 5.1 — Perfil vertical do desvio padrão, da velocidade vertical e da temperatura potencial, o produto de ambos e a TKE. Média horária do LES. σ θ (K2), σ w (ms-1), σ θ .σ w (Kms-1) e v v TKE (m2s-2). ................................................................................................. 70 Figura 5.2 — Ajustes lineares entre o excesso de temperatura potencial virtual das ascendentes e o fluxo de flutuação da superfície, escalado pelo desvio padrão da velocidade vertical, para os três primeiros níveis do modelo: 10m, 30m e 50m. ............................................. 71 Figura 5.3 — Regressão linear entre o excesso de temperatura potencial virtual das ascendentes e o fluxo de flutuação na superfície, escalado pela raiz quadrada da TKE, para os três primeiros níveis do modelo LES: 10m, 30m e 50m. ................................................. 72 Figura 5.4 — Média horária dos perfis de temperatura potencial das horas de simulação: 3, 5 e 7. Resultados do esquema EDMF-TKE. .................................................................... 77 v Figura 5.5 — Perfis de temperatura potencial, inicial e médias horárias. Resultados do esquema EDMF-TKE, do esquema BL89 e do LES. ............................................................... 77 Figura 5.6 — Perfis do fluxo vertical de temperatura potencial, inicial e médias horárias. Resultados do novo esquema EDMF-TKE, do esquema BL89 e do LES. ........................... 78 Figura 5.7 — Decomposição do fluxo vertical de temperatura potencial. Contribuições de difusãoK (eddy-diffusivity - ED) e de fluxo-de-massa (mass-flux - MF). Resultados médios horários do novo esquema à 4ª e 8ª hora. ....................................................................... 79 Figura 5.8 — Evolução da altura da CL. Resultados dos esquemas EDMF-TKE e BL89, e LES. ...... 79 Figura 5.9 — Perfis médios horários da variância da velocidade. Resultados dos esquemas EDMFTKE e BL89, e do modelo LES. .......................................................................... 80 Figura 5.10 — Médias horárias dos perfis de temperatura potencial. Resultados do esquema EDMFTKE, com a resolução de 40 níveis do modelo ECMWF, e do modelo LES nas horas: 2, 4 e 6. ................................................................................................................ 80 Figura 5.11 — Perfis de temperatura potencial, inicial e médias horárias. Resultados do esquema EDMF-TKE (modelo Lem1D), do esquema BL89 e do modelo LES. ................................ 81 Figura 5.12 — Evolução da altura da CL. Resultados dos esquemas EDMF-TKE (modelo Lem1D) e BL89, e do modelo LES. .................................................................................. 81 Figura 5.13 — Perfis do fluxo vertical de temperatura potencial, inicial e médias horárias. Resultados dos esquemas de EDMF-TKE (modelo Lem1D) e BL89, e do modelo LES........... 82 Figura 5.14 — Decomposição do fluxo vertical de temperatura potencial. Contribuições de difusão-K (eddy-diffusivity - ED) e de fluxo-de-massa (mass-flux - MF), do esquema EDMFTKE do modelo Lem1D. Resultados médios horários do novo esquema à 4ª e 8ª hora. ....... 82 Figura 6.1 — Mapa dos Estados Unidos da América onde se mostra o local das observações do caso ARM: Southern Great Plains Region. ................................................................... 87 Figura 6.2 — Evolução temporal dos perfis verticais de: (a) temperatura potencial e (b) conteúdo de água líquida. Resultados do modelo LES do KNMI. Dados fornecidos por Roel Neggers, Geert Lenderink e Pier Siebesma....................................................................... 88 Figura 6.3 — Série temporal da: (a) cobertura nublosa (0-1) e (b) conteúdo de água líquida integrado na vertical (g m-2). Resultados de LES do KNMI (Brown et al., 2002): Linha grossa – cobertura nublosa, linha fina – fracção máxima de nuvens. Outras linhas e símbolos – resultados dos modelos 1D participantes na intercomparação de Lenderink et al. (2004). . 89 Figura 6.4 — Perfis verticais às 17:30 UTC (11:30 LT) de: (a) temperatura potencial, (b) humidade específica total, (c) cobertura nublosa e (d) conteúdo de água. Resultados de LES do KNMI a linha grossa (Brown et al., 2002). Outras linhas e símbolos – resultados dos modelos 1D participantes na intercomparação de Lenderink et al. (2004). ................................... 90 Figura 6.5 — Perfis verticais às 21:30 UTC (15:30 LT) de: (a) temperatura potencial, (b) humidade específica total, (c) cobertura nublosa e (d) conteúdo de água líquida. Resultados de LES do KNMI a grosso (Brown et al., 2002). Outras linhas e símbolos – resultados dos modelos 1D participantes na intercomparação de Lenderink et al. (2004). ................................... 91 Figura 6.6 — Esquema de uma CL convectiva com cumulus pouco profundos e formulação de fluxo-de-massa do novo esquema de EDMF-TKE. .................................................... 92 Figura 6.7 — Perfis verticais de temperatura potencial: inicial (Ini) e média horária da 4ª e 8ª hora. Resultados do novo esquema EDMF, esquema BL89 e do modelo LES. ................... 95 Figura 6.8 — Perfis verticais de humidade específica total: inicial (Ini), média horária da 4ª e 8ª hora. Resultados do novo esquema EDMF, esquema BL89 e do modelo LES. ................... 96 Figura 6.9 — Perfis dos fluxos verticais de temperatura potencial. Média horária da 4ª e 8ª hora. Resultados do novo esquema EDMF, esquema BL89 e do modelo LES............................ 97 vi Figura 6.10 — Perfis dos fluxos verticais de humidade específica total. Média horária da 4ª e 8ª hora. Resultados do novo esquema EDMF, esquema BL89 e do modelo LES. ................... 97 Figura 6.11 — Contribuições da difusão-K (ED) e do fluxo-de-massa (MF) para o fluxo turbulento vertical de temperatura potencial. Médias horárias dos resultados do novo esquema para a 4ª e 8ª horas de simulação. .............................................................................. 98 Figura 6.12 — Evolução temporal do perfil da velocidade vertical da ascendente. Resultados correspondentes a médias horárias do novo esquema e do LES................................... 98 Figura 6.13 — Evolução temporal da altura da CL. Resultados dos esquemas EDMF e BL89, e do modelo LES. ................................................................................................ 99 Figura 6.14 — Resultados do novo esquema EDMF e de LES, séries temporais de: (a) cobertura nublosa, (b) altura da base das nuvens, (c) altura do máximo da cobertura nublosa, (d) altura do topo das nuvens. .............................................................................100 Figura 6.15 — Séries temporais do conteúdo de água líquida integrado verticalmente (LWP – Liquid Water Path) e do fluxo-de-massa da base das nuvens. Resultados do novo esquema EDMF e do modelo LES (Neggers et al., 2003).......................................................101 Figura 6.16 — Perfis verticais da temperatura potencial e humidade específica total para as 14, 16, 18, 20 e 22 UTC. Médias horárias dos resultados do novo esquema EDMF e do LES. ....102 Figura 6.17 — Perfis verticais da cobertura nublosa e do conteúdo de água líquida para as 14, 16, 18, 20 e 22 UTC. Médias horárias dos resultados do novo esquema EDMF e do LES. .........102 Tabela 4.1 — Algumas características das simulações LES de CLC limpa. ............................. 49 vii Lista de Acrónimos 1D 3D AL ARM BL89 BOMEX CAPE CL CLC CLS CuPP ECHAM ECMWF ED EDMF EDMF-EMP EDMF-TKE EUROCS Exp GCM HAPEX HIRLAM KNMI L2004 LAM LCL Lem1D LES LT LWP MetO MesoNH MF NCAR NWP PDF RACMO TKE UTC unidimensional tridimensional Atmosfera Livre Atmospheric Radiation Measurement program Bougeault e Lacarrère (1989) Barbados Oceanographic and Meteorological EXperiment Convective Available Potential Energy Camada Limite Camada Limite Convectiva Camada Limite Superficial Cumulus pouco profundos Modelo ECHAM do Max-Planck-Institut für Meteorologie European Centre for Medium-Range Weather Forecasts Eddy-diffusivity (Difusividade turbulenta) Eddy-diffusivity/Mass-flux Eddy-diffusivity/Mass-flux empirical formulation Eddy-diffusivity/Mass-flux TKE based formulation EUROpean Cloud Systems project experiência de simulação Global Circulation Model Hydrologic-Atmospheric Pilot Experiment HIgh Resolution Limited Area Model Koninklijke Nederlands Instituut Meteorologish Lenderink et al. (2004) Limited Area Model Lifting Condensation Level Modelo 1D de investigação Large Eddy Simulation Local Time Liquid Water Path Met Office model Modelo não-hidrostástico de Mesoscala Mass-flux (Fluxo-de-massa) National Centre of Atmospheric Research Numerical Weather Prediction Probability Density Function Regional Atmospheric Climate MOdel Turbulent Kinetic Energy Universal Time Coordinated viii Lista de Símbolos área horizontal A Ad Ac Ae Au (m2) área horizontal das descendentes área horizontal do núcleo das nuvens área horizontal vizinha de uma estrutura coerente área horizontal das ascendentes advecção horizontal de temperatura (Ks-1) Aq advecção horizontal de humidade específica (s-1) Awθ termo que relaciona o fluxo de temperatura potencial virtual à superfície e na inversão Aδz termo que relaciona a intensidade da inversão com o fluxo temperatura potencial virtual à superfície ARi termo que relaciona o nº de Richardson e razão entre a velocidade de mistura de topo e a velocidade convectiva a coeficiente da eq. para a velocidade vertical da ascendente ac au fracção horizontal coberta pelo núcleo das nuvens B força de flutuação por unidade de massa Be termo de efeito de corte e de flutuação da eq. de TKE (Lem1D) b bi Ce coeficiente da eq. para a velocidade vertical da ascendente CAPE Convective available potential energy — Energia potencial convectiva disponível c1 constante da dissipação na eq. de TKE Aθ fracção horizontal coberta por ascendentes (ms-2) constante de inicialização das ascendentes termo de dissipação da eq. de TKE (Lem1D) (m2 s-2) c pd calor específico a pressão constante do ar seco (Jkg-1 K-1) c ph calor específico a pressão constante para ar húmido (Jkg-1 K-1) cσ constante do coeficiente de fluxo-de-massa D taxa de mistura lateral (detrainment) d zz E e espaçamento vertical da grelha es eij F g (s-1) taxa de mistura lateral (entrainment) (s-1) energia cinética turbulenta (m2 s-2) tensão de saturação (Pa) tensor da taxa de deformação forçamentos externos aceleração gravítica (ms-2) ix HR humidade relativa (%) hs altura da camada limite superficial (m) k K constante de von Karman (m2 s-1) difusividade turbulenta Kh Km difusividade turbulenta de calor Ke Kq difusividade turbulenta para a TKE difusividade turbulenta da humidade K topo difusividade turbulenta no topo da CL difusividade turbulenta do momento LMO comprimento de Monin-Obukhov (m) L calor latente de vaporização da água (Jkg-1) Lv Lx calor latente de vaporização da água no ponto triplo (Jkg-1) comprimento horizontal na direcção x (m) Ly comprimento horizontal na direcção y (m) l comprimento de mistura (m) lt escala de comprimento turbulento (m) lm lh comprimento de mistura para o momento e TKE no Lem1D (m) comprimento de mistura para a temperatura no Lem1D (m) M coeficiente de fluxo-de-massa (ms-1) Mc M LCL Mu coeficiente de fluxo-de-massa do núcleo das nuvens (ms-1) coeficiente de fluxo-de-massa no nível LCL (ms-1) coeficiente de fluxo-de-massa das ascendentes (ms-1) m massa (kg) r n md mv ml massa de ar seco massa de vapor de água massa de água líquida versor perpendicular à fronteira que separa a ascendente das vizinhanças pressão p (Pa) 5 p 00 pd pressão de referência (10 Pa) p ref pressão do estado de referência ps pv pressão à superfície pressão do ar seco pressão parcial do vapor (tensão de vapor) Q0 fluxo cinemático de calor da superfície (Kms-1) q humidade específica (kg kg-1) ql conteúdo de água líquida q ref humidade específica de referência qs humidade específica de saturação x qsup humidade à superfície qt humidade específica total qt s humidade específica total à superfície qt ∗ qv q zb humidade específica total de atrito q∗ humidade específica de atrito humidade específica do vapor de água humidade específica na base das nuvens R Raio divergência do fluxo radiativo (Ks-1) Raio de uma pluma número de Richardson de fluxo (m) Ri Rd Rv rc rt rv rvs Sθ número de Richardson do gradiente Error! Rf constante dos gases ideais para o ar seco (J kg-1 K-1) constante dos gases ideais para vapor de água (J kg-1 K-1) razão de mistura de água líquida (kg/kg) razão de mistura total (kg/kg) razão de mistura do vapor (kg/kg) razão de mistura de saturação (kg/kg) termo fonte que inclui os efeitos não adiabáticos, como a radiação e as transições de fase (Ks-1) Sn funções de escalas de comprimento de Mellor e Yamada Sθ l termo fonte que inclui aquecimento radiativo e outros processos diabáticos que não evaporação/condensação (Ks-1) S qv termos fontes de vapor de água associados às transições de fase (s-1) s entropia do ar seco (JK-1) T temperatura (K) Tl temperatura de água líquida Tref temperatura do estado de referência Tv temperatura virtual Tv ref temperatura virtual do estado de referência t tempo (s) U u vento médio horizontal (ms-1) ug componente do vento geostrófico na direcção componente i,j,k da velocidade u i , j ,k u∗ r v r vH r vf v componente da velocidade na direcção (ms-1) x x (ms-1) (ms-1) velocidade de atrito (ms-1) vector velocidade (ms-1) vector velocidade horizontal (ms-1) velocidade da fronteira (ms-1) componente meridional da velocidade do vento (ms-1) xi vg componente meridional do vento geostrófico (ms-1) V x volume de um elemento de ar (m3) coordenada horizontal (m) xi direcção i xj direcção j xk direcção k y w coordenada horizontal (m) componente vertical da velocidade (ms-1) wc we velocidade vertical do núcleo das nuvens (ms-1) velocidade vertical do ambiente vizinho (ms-1) went velocidade de mistura de topo (ms-1) wi wu velocidade de subsidência na inversão (ms-1) velocidade vertical da ascendente (ms-1) wt escala de velocidade turbulenta (ms-1) w∗ z escala de velocidade vertical convectiva (ms-1) coordenada vertical (m) z0 zb zi comprimento de rugosidade do solo nu (m) altura da base das nuvens (m) altura da inversão da camada limite (m) α grau de implicitude numa eq. semi-implícita αm βm coeficiente de estabilidade do termo de difusão-K coeficiente de estabilidade do termo de fluxo-de-massa γ gradiente vertical de temperatura potencial virtual (Km-1) γc termo da contribuição de contra-gradiente (Km-1) ∆t ∆z passo de tempo (s) espaçamento vertical da grelha vertical Lem1D (m) ∆θ v u excesso de temperatura potencial da ascendente (K) ∆θ l u excesso de temperatura potencial de água líquida da ascendente (K) ∆q t u excesso de humidade específica da ascendente (kg/kg) ∆θ v i diferença de temperatura potencial virtual através da inversão (K) δ taxa fraccional de mistura lateral (detrainment) (m-1) δ ij tensor de Kronecker δz ε ε espessura da inversão (m) dissipação de TKE (m2 s-3) taxa fraccional de mistura lateral (entrainment) (m-1) εR razão das constantes dos gases ideais, ε ijk tensor de Levy-Civita Rd Rv xii ζ θ índice de Monin-Obukhov temperatura potencial θ0 θe temperatura potencial de referência θes temperatura potencial equivalente à superfície θl temperatura potencial de água líquida θl s temperatura potencial de água líquida à superfície θlu temperatura potencial de água líquida da ascendente θ ref temperatura potencial do estado de referência θs temperatura potencial à superfície θv temperatura potencial virtual θv 0 temperatura potencial virtual de referência θv s temperatura potencial virtual à superfície θ v ref temperatura potencial virtual do estado de referência θvu temperatura potencial virtual da ascendente θ∗ temperatura potencial de atrito θl ∗ Λ (K) temperatura potencial equivalente temperatura potencial de água líquida de atrito θc temperatura potencial do núcleo das nuvens θ z0 temperatura potencial no nível de rugosidade do solo nu (w > 0) com flutuação positiva escala de comprimento (m) Λ1, m,h ,e escalas de comprimento no contexto de um fecho de ordem 1.5 (m) λ comprimento de mistura assimptótico (m) λθl condutividade térmica (m2 s-1) λq difusividade do vapor (m2 s-1) λ qt difusividade da humidade específica total (m2 s-1) µ ν viscosidade dinâmica do ar (kg m-1s-1) viscosidade cinemática do ar (m2 s-1) Π função de Exner Π ref ρ função de Exner do estado de referência massa volúmica do ar ρ0 ρd ρv ρl ρ ref ρs σ2 (kg m-3) massa volúmica de referência massa volúmica do ar seco massa volúmica do vapor de água massa volúmica da água líquida massa volúmica do estado de referência massa volúmica de saturação variância de uma propriedade xiii σu σv σw σθ σ θv τ τ1 τφ τ zh φ (ms-1) desvio padrão da componente v da velocidade (ms-1) desvio padrão da velocidade vertical (ms-1) desvio padrão da temperatura potencial (K) desvio padrão da temperatura potencial virtual (K) escala de tempo (s) escala de tempo característica dos grandes turbilhões escala de tempo característica de uma térmica (s) tensão viscosa à superfície (kg m2 s-1) propriedade atmosférica conservada φc φe φd φu φ h0 ϕ h0 ϕm φm0 ϕu ϕ hθ ϕhq Ωj desvio padrão da componente u da velocidade propriedade conservada do núcleo das nuvens propriedade conservada do ambiente vizinho propriedade conservada da descendente propriedade conservada da ascendente função de estabilidade para a CLC função de estabilidade funções universais da CLS para o momento função de estabilidade para a CLC funções universais da CLS para u funções universais da CLS para o calor funções universais da CLS para a humidade vector velocidade angular da Terra (rads-1) xiv Índice AGRADECIMENTOS ...................................................................................I RESUMO............................................................................................... II ABSTRACT ........................................................................................... III LISTA DE FIGURAS E TABELAS ................................................................... IV LISTA DE ACRÓNIMOS ............................................................................VIII LISTA DE SÍMBOLOS................................................................................ IX ÍNDICE ............................................................................................... XV 1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 1 1.1 Motivação...................................................................................... 1 1.2 Descrição da tese............................................................................. 2 2 A CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA.......................................................... 4 2.1 Introdução..................................................................................... 4 2.2 Equações fundamentais ..................................................................... 8 2.2.1 Equação de estado......................................................................... 9 2.2.2 Equações de balanço .....................................................................10 2.2.3 Equações aproximadas na CL............................................................11 2.3 Turbulência ..................................................................................14 2.3.1 Equações de Reynolds ....................................................................14 2.3.2 Energia cinética turbulenta .............................................................16 2.3.3 O problema do fecho da turbulência...................................................17 2.3.4 Fechos locais ..............................................................................17 2.3.4.1 Fecho de 1ª ordem .....................................................................18 2.3.4.2 Fecho de ordem 1.5....................................................................21 2.3.4.3 Fechos de ordem superior.............................................................23 2.3.5 Aproximações não-locais.................................................................24 2.3.5.1 Formulação de contra-gradiente .....................................................24 2.3.5.2 Fluxo-de-massa .........................................................................25 2.3.5.3 Teoria transiliente .....................................................................31 2.3.6 Transferência de propriedades em interfaces ........................................31 2.3.6.1 Processos de mistura lateral..........................................................31 2.3.6.2 Mistura no topo das nuvens ...........................................................32 2.3.6.3 Mistura no topo da camada limite ...................................................33 2.3.6.4 Interacção com a superfície ..........................................................33 2.3.6.5 Teoria da semelhança da camada limite superficial ..............................34 xv 2.4 Outros processos físicos ....................................................................36 2.5 Estrutura vertical média da camada limite convectiva................................36 3 MODELO DE CAMADA LIMITE LEM1D .................................................... 39 3.1 Introdução....................................................................................39 3.2 Equações do modelo ........................................................................39 3.3 Esquema de superfície......................................................................40 3.4 Turbulência ..................................................................................41 3.4.1 Fecho de 1ª ordem........................................................................41 3.4.2 Fecho de ordem 1.5 ......................................................................42 3.5 Condensação e Radiação ...................................................................44 3.6 Grelha vertical...............................................................................45 4 ESQUEMA DE DIFUSÃO-K/FLUXO-DE-MASSA PARA A PARAMETRIZAÇÃO DA CAMADA LIMITE CONVECTIVA ............................................................ 46 4.1 Introdução....................................................................................46 4.2 O esquema de difusão-K/fluxo-de-massa ................................................47 4.3 Contribuição de fluxo-de-massa...........................................................50 4.3.1 Modelo da ascendente ...................................................................51 4.3.1.1 Inicialização da ascendente...........................................................51 4.3.1.2 Velocidade vertical da ascendente ..................................................52 4.3.1.3 Formulação da mistura lateral .......................................................52 4.3.2 Perfil do coeficiente de fluxo-de-massa...............................................53 4.4 Contribuição de difusão-K..................................................................55 4.5 Implementação do esquema no modelo Lem1D ........................................55 4.5.1 Modelo de ascendente ...................................................................56 4.5.2 Integração numérica .....................................................................56 4.6 Resultados do Lem1D .......................................................................57 4.6.1 Mistura de topo ...........................................................................60 4.6.2 Comparação com outras aproximações ................................................64 4.7 Conclusões ...................................................................................67 5 PARAMETRIZAÇÃO DE DIFUSÃO-K/FLUXO-DE-MASSA BASEADA NA EQUAÇÃO DA ENERGIA CINÉTICA TURBULENTA ....................................................... 68 5.1 Introdução....................................................................................68 5.2 Esquema EDMF-TKE .........................................................................69 5.2.1 Coeficientes de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa ...........................69 5.2.2 Modelo da Ascendente ...................................................................69 5.3 Implementação do esquema EDMF-TKE no MesoNH ....................................73 5.4 Resultados ....................................................................................76 5.4.1 Dependência da resolução vertical.....................................................80 5.5 Implementação do esquema EDMF-TKE no modelo Lem1D............................81 5.5.1 Resultados com o modelo Lem1D.......................................................81 xvi 5.6 Discussão .....................................................................................82 5.7 Conclusões ...................................................................................84 6 PARAMETRIZAÇÃO EDMF EM CUMULUS POUCO PROFUNDOS ....................... 86 6.1 Introdução....................................................................................86 6.2 Ciclo diurno de cumulus pouco profundos sobre terra — Caso ARM..................87 6.2.1 Resultados LES do KNMI ..................................................................88 6.2.2 Intercomparação ..........................................................................88 6.3 Parametrização EDMF com condensação.................................................92 6.3.1 Cumulus pouco profundos ...............................................................93 6.4 Resultados do modelo EDMF ...............................................................95 6.4.1 Camada limite seca.......................................................................95 6.4.2 Caso ARM...................................................................................99 6.5 Conclusões ................................................................................. 102 7 CONCLUSÕES...............................................................................104 8 REFERÊNCIAS ..............................................................................107 9 APÊNDICE A — DESCRIÇÃO DO MODELO MESONH....................................115 9.1 Introdução.................................................................................. 115 9.2 Esquema de turbulência e equação da TKE ........................................... 115 9.3 Esquema de convecção ................................................................... 118 9.4 Esquema de condensação de subescala ................................................ 121 10 APÊNDICE B — DESCRIÇÃO DO MODELO DE LARGE EDDY SIMULATION ..........125 10.1 Introdução.................................................................................. 125 10.2 Equações fundamentais .................................................................. 126 10.3 O modelo de superfície................................................................... 126 10.4 Modelo de subescala ...................................................................... 127 11 APÊNDICE C – PUBLICAÇÕES NO ÂMBITO DA TESE...................................129 xvii Introdução 1 Introdução 1.1 Motivação O comportamento do sistema climático é largamente controlado por transferências de propriedades que ocorrem em interfaces. O subsistema climático mais activo, a Atmosfera, é essencialmente forçado por fluxos de superfície, nas interfaces atmosferaoceano e atmosfera-globo. A região da atmosfera (e do oceano) próxima da interface, a camada limite, desempenha um papel crucial nessa interacção, mediando e, até certo ponto regulando, o transporte de calor, humidade e momento angular. Os fluxos de propriedades através da camada limite processam-se em diferentes escalas. Nas escalas muito pequenas, da ordem de alguns milímetros, os fluxos são bem descritos como processos de difusão molecular. Nas escalas maiores, até à dimensão da própria camada limite, os fluxos têm uma natureza turbulenta. Os turbilhões de maior dimensão na camada limite incluem correntes ascendentes, onde pode ocorrer condensação, com formação de nuvens convectivas, i.e. de cumulus. Nesse caso, observase uma modificação qualitativa da estrutura da baixa atmosfera, afectando a distribuição não só dos próprios fluxos, de calor, humidade e momento, como os fluxos de radiação solar e terrestre. As nuvens de camada limite influenciam directamente a circulação global e o ciclo hidrológico visto intensificarem o transporte vertical de calor, humidade e momento, nomeadamente, na Zona Intertropical de Convergência, no ramo ascendente da célula de Hadley. Recentemente, foi sugerido que as nuvens do tipo stratocumulus e cumulus desempenham um papel significativo na circulação atmosférica tropical e subtropical (Philander et al., 1996; Siebesma, 1998; Larson et al., 1999). Por outro lado, estas nuvens afectam o estado do tempo local. Por estas razões, uma boa representação da convecção em cumulus é amplamente reconhecida como um aspecto fundamental do desenvolvimento de modelos de previsão do tempo e de simulação do clima (Tiedtke, 1987). A diferença qualitativa entre a convecção não saturada e a convecção em cumulus justificou o facto de muitos modelos atmosféricos recorrerem a esquemas distintos para representar aqueles dois processos. No entanto, este procedimento implica a existência de descontinuidades espaço-temporais nos modelos, associadas à activação dos dois esquemas, existindo uma falta de acoplamento entre a turbulência e a convecção húmida. Adicionalmente, os resultados produzidos pelos modelos para cada um dos tipos de camada limite são frequentemente fracos (e.g., Ayotte et al., 1996; Lenderink et al., 2004). O objectivo deste trabalho consiste no desenvolvimento de uma parametrização unificada para a turbulência e convecção, com e sem condensação, aplicável à camada limite convectiva, não saturada e com cumulus pouco profundos. Os esquemas desenvolvidos são facilmente integráveis em modelos de diferentes escalas, e poderão ser futuramente estendidos ao problema da parametrização da convecção profunda, visando o estabelecimento de um esquema unificado de parametrização da turbulência e da 1 Introdução convecção na troposfera. As ideias desenvolvidas neste trabalho vêm na sequência da proposta apresentada por Siebesma e Teixeira (2000). Existe a convicção de que, no futuro, o desenvolvimento computacional permitirá realizar simulações com modelos de circulação global e/ou de mesoscala com resoluções muito mais finas do que actualmente. Contudo, é seguro que, pelo menos nas próximas décadas, os processos turbulentos, com e sem condensação, continuarão fora do alcance da simulação directa, justificando-se um crescente empenho no aperfeiçoamento da sua parametrização. 1.2 Descrição da tese No capítulo 2 apresenta-se uma breve descrição dos principais mecanismos físicos que têm lugar na camada limite convectiva (CLC). Paralelamente, as equações fundamentais da física da atmosfera são expostas, assim como as metodologias e as aproximações adequadas à representação da CLC seca e com cumulus em modelos atmosféricos, aí se incluindo o problema da parametrização da mistura turbulenta de subescala. A parametrização da turbulência em modelos atmosféricos está no cerne desta tese, apresentando-se as teorias mais bem estabelecidas na secção 2.3. Com especial detalhe, descrevem-se as duas parametrizações que tradicionalmente são mais utilizadas na representação da turbulência e da convecção na camada limite. Para parametrizar a mistura turbulenta na CLC seca recorre-se, em geral, a um esquema de difusão-K. Por outro lado, na CLC com cumulus, a subcamada nublosa é representada por difusão-K, enquanto a camada nublosa é parametrizada com um esquema de convecção distinto, de fluxo-de-massa. Nesta tese, apresentam-se diferentes parametrizações para o transporte turbulento na CLC, combinando as aproximações de fluxo-de-massa e de difusão-K, com aplicação em modelos atmosféricos de diferentes escalas (Figura 1.1). Camada limite seca Camada limite com Cumulus difusão-K fluxo-de-massa Camada limite difusão-K/fluxo-de-massa Figura 1.1 — Representação da unificação da parametrização da camada limite convectiva. No capítulo 3, descreve-se um modelo unidimensional da camada limite, modelo Lem1D, desenvolvido em grande medida no âmbito desta tese, para teste e implementação de diferentes esquemas de parametrização da turbulência e convecção. No capítulo 4 realiza-se o desenvolvimento físico e matemático da nova formulação. As ideias propostas 2 Introdução são fundamentadas num conjunto de simulações de LES (Large Eddy Simulation), utilizadas para caracterizar as diferentes escalas envolvidas na mistura turbulenta e, em particular, a importância das correntes ascendentes. Neste capítulo apresenta-se e testa-se uma primeira parametrização, designada por EDMF-EMP (Eddy-Diffusivity/Mass-Flux EMPirical formulation), implementada no modelo Lem1D, que tem por base expressões empíricas bem conhecidas da camada limite convectiva. Os resultados desta parametrização são confrontados com resultados LES, tanto no que se refere às variáveis médias, como ao diagnóstico dos fluxos turbulentos associados à mistura-de-topo e dos fluxos de contra-gradiente, numa camada limite seca. Em seguida, a parametrização de EDMF-EMP é modificada, de forma a melhorar o seu desempenho e suporte físico. Para isso, a equação de balanço da energia cinética turbulenta é tomada como base da formulação, dando origem ao esquema EDMF-TKE (Eddy-Difusivity/Mass-Flux Turbulent Kinetic Energy formulation). Esta parametrização é apresentada no capítulo 5, onde se dá especial ênfase ao desenvolvimento de um modelo representativo das correntes ascendentes de subescala (térmicas), que desempenham um papel fundamental no crescimento da camada limite convectiva. O novo esquema foi implementado no modelo MesoNH (Lafore et al., 1998) e o seu desempenho foi analisado recorrendo a um segundo caso idealizado de camada limite convectiva seca. O problema da unificação da camada limite convectiva seca e com cumulus é abordado no capítulo 6, mostrando-se que uma parametrização do tipo EDMF com condensação é bem sucedida na representação, quer de uma camada limite seca quer de um ciclo diurno de cumulus pouco profundos. Os resultados obtidos pelo novo esquema são comparados com um número significativo de resultados produzidos no âmbito de uma intercomparação de modelos (semi-)operacionais. O MesoNH foi um dos modelos participantes, tendo para isso sido implementados inúmeros diagnósticos, com o intuito de compreender a origem dos diferentes problemas na representação da camada limite com cumulus. No capítulo 7 apresentam-se as principais conclusões desta tese, e traçam-se alguns objectivos para o futuro próximo. O trabalho apresentado nesta tese deu origem a diversas contribuições incluídas em artigos submetidos a revistas com arbitragem (Apêndice C). 3 A camada limite atmosférica 2 A camada limite atmosférica 2.1 Introdução A origem etimológica da palavra troposfera (tropo-sfera) é grega – trópos+sphaîra, e significa literalmente, globo em mudança. Nesta camada da atmosfera desenvolve-se o que chamamos o tempo e o clima. A troposfera, estende-se da superfície a uma altitude média de 12 km, contém mais de 80% da massa da atmosfera e praticamente a totalidade da água atmosférica nas fases gasosa, líquida e sólida. A etimologia de troposfera revela, desde logo, uma das suas propriedades fundamentais: é uma região caracterizada por uma intensa mistura vertical, resultante da presença de turbilhões de dimensões muito variadas, entre as quais se podem destacar correntes ascendentes e descendentes de ar. Uma parcela de ar pode percorrer toda a extensão vertical da troposfera em poucos dias, ou mesmo em poucos minutos, quando forçada por uma corrente ascendente associada a uma tempestade. Em média, a temperatura diminui 6,5 ºC por quilómetro de altitude, desde a superfície até ao limite superior da troposfera, a tropopausa, onde o gradiente vertical de temperatura sofre uma inversão. A tropopausa foi descoberta independentemente por Teisserenc de Bort e por Assmann, em 1902. A distribuição vertical da temperatura passou desde então, a constituir uma das formas de estruturação da atmosfera, o que levou mais tarde à sua divisão em quatro camadas distintas (Figura 2.1): troposfera, estratosfera, mesosfera e termosfera. o o -90 C 120 -60 C o -30 C o 0C o o 30 C 60 C TERMOSFERA 100 - 0.01 80 MESOSFERA 60 Estratopausa - 0.1 - 1 2 40 ESTRATOSFERA 20 Tropopausa TROPOSFERA 200 250 300 Temperatura (K) Pressão (hPa) Altitude (km) Mesopausa - 1E-4 - 1E-3 - 5 - 10 - 20 50 100 200 500 1000 350 Figura 2.1 — A estrutura térmica da atmosfera (média horizontal). Em geral, a troposfera é dividida em duas camadas: a camada limite (CL) e a atmosfera livre (AL). A CL corresponde à região turbulenta da atmosfera em que se faz sentir directamente a influência da superfície terrestre. Os tempos de resposta da CL aos diferentes forçamentos da superfície são relativamente rápidos. Nesta camada da troposfera vive uma grande parte dos seres vivos e tem lugar a esmagadora maioria das actividades humanas, o que confere ao seu estudo uma enorme importância. A transferência de 4 A camada limite atmosférica momento, calor e humidade entre a atmosfera, a Terra, e os oceanos tem lugar na CL. Esta interacção entre a superfície e a CL relacionada com o transporte vertical influencia directamente o tempo local e regional, e a circulação geral da atmosfera. A compreensão da fenomenologia que ocorre na CL atmosférica tem relevância em inúmeros domínios: na parametrização dos efeitos associados à CL nos modelos numéricos de larga escala e de área limitada, na dispersão de poluentes, na previsão da temperatura, humidade e vento à superfície, na ocorrência de nuvens, na ligação entre a própria CL e tempestades, bem como na previsão de ventos fortes. Existem ramos de actividade que estão particularmente dependentes da monitorização da CL, de que é exemplo a aeronáutica, especialmente, nas manobras de descolagem e aterragem de aviões. Numa situação anticiclónica de bom tempo, o ciclo diurno solar de aquecimento e arrefecimento da superfície determina a evolução temporal da estrutura vertical da CL. A evolução temporal típica de uma camada limite convectiva (CLC) pode ser observada na Figura 2.2. Ao nascer-do-sol a terra começa a ser aquecida, o calor é transferido para o ar sobrejacente de uma forma heterogénea, provocando mistura turbulenta de propriedades do ar. Este transporte turbulento depende da diferença de densidade entre parcelas de ar vizinhas de que resultam movimentos convectivos. Qualquer movimento num fluido que resulte da acção de um campo gravítico sobre variações da densidade pode designar-se por movimento convectivo. Durante a manhã, a mistura turbulenta diminui a estabilidade térmica observada no período nocturno. Ao longo do dia, as estruturas convectivas intensificam-se provocando o crescimento da CL. Devido a esta intensa mistura a CLC é também chamada de camada de mistura. Os turbilhões que contém mais energia têm uma dimensão vertical da ordem de grandeza da própria altura da CL; são apelidados de correntes ascendentes ou térmicas, e podem atingir mais de 2 km. As térmicas penetram na atmosfera livre e transportam ar desta para a CL contribuindo para o crescimento vertical desta última – processo de mistura-de-topo (top-entrainment). A região onde tem lugar este tipo de mistura é a zona da inversão da CL, que durante o dia também é conhecida por região de mistura-de-topo. Figura 2.2 — Representação esquemática do ciclo diurno da camada limite convectiva (adaptado de Garratt, 1992). No caso de uma CL sem nuvens, depois do pôr-do-sol, o solo arrefece por emissão de radiação de grande comprimento de onda. Este arrefecimento inibe a turbulência, originando uma CL estável que se desenvolve verticalmente menos que a camada de 5 A camada limite atmosférica mistura, ou seja, sobrejacente à CL estável existe ainda um remanescente da camada de mistura, denominada de camada residual. Apesar de não existir convecção, o efeito de corte do vento provoca alguma turbulência no período nocturno. Se a situação convectiva se mantiver em dias sucessivos, o crescimento da camada limite será favorecido pela presença da camada residual. O principal mecanismo responsável pela manutenção da turbulência é a força de flutuação, que induz directamente a componente vertical do escoamento perturbado, o que justifica a designação desta CL como CL convectiva. Sempre que os fluxos de calor à superfície são positivos, a CL toma características convectivas. A CLC sem nuvens foi alvo de estudo em inúmeras campanhas observacionais: Wangara (Clarke et al., 1971), HAPEX (Hydrologic-Atmospheric Pilot EXperiment; André et al., 1986), Phoenix CBL (Phoenix 78 Convective Boundary Layer field experiment; Young, 1988a,b,c; Kropfli e Hildebrand, 1980), etc. Realizaram-se também exaustivos trabalhos com modelos LES (Large Eddy Simulation), tais como os de Moeng (1984), Schumann e Moeng (1991a,b), Sorbjan (1996a,b), Sullivan et al., (1998), etc, que contribuíram para a melhor compreensão da estrutura e dinâmica da CLC. A região da troposfera acima da CL é geralmente apelidada de atmosfera livre, uma vez que não é influenciada directamente pela superfície terrestre. Enquanto a CL sobre terra sofre um pronunciado ciclo diurno em resposta ao aquecimento e arrefecimento do solo, em condições de bom tempo, a AL responde a forçamentos sinópticos e de mesoscala. A AL não experimenta o atrito da superfície, encontrando-se por isso, em equilíbrio quasi-geostrófico. A interacção entre a CL e a atmosfera livre é episódica, estando fundamentalmente associada a ventilação provocada por convecção seca e de cumulus, e a circulações do tipo ciclónico ou de origem frontal. Nas circulações ciclónicas (depressões) a convergência de ar força uma corrente ascendente, dando origem à formação de nuvens por arrefecimento adiabático e, eventualmente, a precipitação. A inversão que corresponde ao topo da CL é forçada a subir até aos níveis mais elevados da troposfera, esbatendo a distinção entre esta e a CL. Nas circulações anti-ciclónicas, a divergência à superfície força a subsidência de ar, provocando o abaixamento do topo da CL. É importante notar que esta divergência quase não introduz ar da atmosfera livre na CL, visto que a inversão é uma superfície livre que desce em resposta a esta subsidência. Grandes extensões do globo terrestre, e em particular dos oceanos, encontram-se cobertas de nuvens baixas, ou seja de nuvens de CL. A presença de nuvens altera o balanço radiativo da superfície e da CL. A libertação de calor latente associada ao processo de condensação e a evaporação de precipitação nas camadas subjacentes a nuvens precipitantes constituem outros forçamentos térmicos importantes. Ambos são essenciais para a dinâmica da CL e da circulação global. As nuvens mais frequentemente presentes na CL são: cumulus pouco profundos, stratus, stratocumulus e nimbostratus. Os stratus, os stratocumulus e os nimbostratus são nuvens da mesma família; caracterizam-se por uma grande extensão horizontal e uma relativa pouca espessura vertical. Recentemente, foi sugerido que as nuvens do tipo stratocumulus e cumulus desempenham um papel significativo na circulação atmosférica tropical e subtropical (Philander et al., 1996; Siebesma, 1998; Larson et al., 1999). Os stratocumulus sobre os oceanos ocorrem tipicamente associados a subsidência anticiclónica nas regiões subtropicais e latitudes médias, e sobre a superfície terrestre 6 A camada limite atmosférica húmida na estação fria. Na zona leste dos oceanos, nas regiões subtropicais, a subsidência associada ao ramo descendente da célula de Hadley, juntamente com as correntes oceânicas frias, induz a presença persistente de stratocumulus, por exemplo ao largo da Califórnia, Peru, Namíbia e Mauritânia (Hanson, 1991; Klein e Hartmann, 1993, Ma et al., 1996). Os stratocumulus têm um grande impacto no clima e na sua variabilidade (e.g. Philander et al., 1996; Clement e Seager, 1999). A estrutura termodinâmica e turbulenta dos stratocumulus é fundamentalmente conhecida devido a grandes campanhas observacionais, e.g. FIRE (First ISCCP [International Satellite Cloud Climatology Project] Regional Experiment, Albrecht et al., 1988), ASTEX (Atlantic Stratocumulus Transition EXperiment, Albrecht et al., 1995), e outros estudos (Duynkerke et al., 1987; Hignett, 1991; Duynkerke e Teixeira, 2000). Mais recentemente, estudos com LES têm contribuído para a compreensão dos mecanismos envolvidos na formação e manutenção dos stratocumulus (Moeng et al., 1996; Stevens et al., 1998; Duynkerke et al., 1999). A estas nuvens podem estar associados cumulus mais baixos, que podem penetrar entre os stratocumulus. A CLC com cumulus pouco profundos (CuPP) está presente em todo o globo terrestre. Em média, 12% da superfície oceânica está coberta por este tipo de nuvens, enquanto a superfície terrestre apresenta uma cobertura média de 5% (Duynkerke, 1998). Os CuPP são omnipresentes nas regiões oceânicas dos ventos alísios, em que tomam precisamente o nome de Cumulus dos Ventos Alísios. São também frequentes nas latitudes médias continentais, durante o Verão, onde por vezes evoluem para convecção mais profunda, com a formação de cumulonimbus. Os CuPP influenciam directamente a circulação global e o ciclo hidrológico visto intensificarem o transporte vertical de calor, humidade e momento, nomeadamente na Zona Intertropical de Convergência e contribuírem para a eficiência do transporte de humidade e calor na circulação de Hadley (Tiedtke, 1987; Siebesma, 1998). O transporte vertical de humidade associado aos CuPP tende a secar a CL, limitando a formação de nuvens estratiformes. Vários exercícios de modelação mostraram que a distribuição da precipitação e a variabilidade nos trópicos é muito influenciada pela presença de convecção com cumulus (Slingo et al., 1994; Gregory, 1997). Tiedtke (1987) realçou que a presença de CuPP aumenta a evaporação da superfície no modelo do ECMWF (European Center of Medium Weather Forecasts, Beljaars e Betts, 1992), até 50 Wm-2, sobre as regiões subtropicais. Os CuPP exercem ainda uma influência indirecta sobre a CL através da alteração do balanço radiativo. Este tipo de nuvens irregulares possuem propriedades radiativas específicas (e.g. Ackerman et al., 1981; Marshak et al., 1995). Em geral, as nuvens de CL têm um efeito radiativo resultante de arrefecimento da atmosfera, uma vez que possuem reflectividades muito altas. Estudos com modelos unidimensionais (1D) de convecçãoradiação com nuvens de CL apontam para que, um aumento de 1% na cobertura nublosa destas nuvens pode potencialmente arrefecer a atmosfera, o equivalente a 25% de aumento das emissões de CO2 (Van Dorland, 1999). Apesar da sua importância para o tempo e o clima, os CuPP têm recebido menos atenção do que as outras nuvens de CL. Porém, algumas campanhas observacionais foram dedicadas ao seu estudo, de que são exemplo as experiências BOMEX (Barbados Oceanographic and Meteorological EXperiment, Kuettner e Holland, 1969), ARM (Atmospheric Radiation Measurement, Brown et al., 2002) e SCMS (Small Cumulus 7 A camada limite atmosférica Microphysics Study, French et al., 1999). Destas campanhas derivaram várias contribuições relevantes (Warner, 1977; Jonas, 1990; Blyth, 1993; Grinell et al., 1996; Smith e Jonas, 1995; De Roode e Duynkerke 1997). Recentemente, os modelos LES têm sido muito utilizados para o estudo da camada limite com CuPP (Sommeria, 1976; Cuijpers e Duynkerke, 1993; Siebesma e Cuijpers, 1995; Siebesma e Holtslag, 1996, Stevens et al., 2001; Brown et al., 2002, Siebesma et al., 2004, Neggers et al., 2003). A camada limite com CuPP (Figura 2.3) apresenta uma cobertura nublosa de 10 a 30%, normalmente associada a bom tempo, daí estas nuvens também serem conhecidas como cumulus-de-bom-tempo (Fair-weather Cumulus). São nuvens com pouco desenvolvimento vertical, no máximo 2 km, e com a base situada entre os 500 m e 1.5 km. Os CuPP são estruturas convectivas turbulentas em que a velocidade vertical pode ser da ordem dos 5 ms-1. Figura 2.3 — Fotografia da camada limite com cumulus pouco profundos. As camadas limites com CuPP sobre a superfície terrestre possuem também um ciclo diurno, em resultado da acentuada variação dos fluxos de calor e de humidade da superfície. Um ciclo típico deste tipo de CL resume-se: ao nascer do sol a CL apresenta-se sem nuvens; associado ao forçamento da superfície os primeiros cumulus aparecem poucas horas depois, tornando-se cada vez mais profundos com o desenrolar do dia; antes do pôrdo-sol esses cumulus começam a dissipar-se, acabando por desaparecer totalmente. 2.2 Equações fundamentais A termodinâmica e a mecânica de fluidos são fundamentais para a compreensão dos processos físicos atmosféricos. Nesta secção, apresentam-se os conceitos e equações mais relevantes da mecânica de fluidos e da termodinâmica para o estudo da CLC. As equações que governam a evolução da atmosfera são: a equação de estado do ar, a equação da continuidade, as equações de Navier-Stokes de balanço do momento linear e as equações de balanço da entropia e da água. À excepção da equação de estado, estas são equações de prognóstico. Ver Stull (1988) para uma descrição mais detalhada e completa das equações do escoamento atmosférico. Miranda (1986) discute a sua aplicação à CL, tendo-se aqui seguido, alguns aspectos desse desenvolvimento. 8 A camada limite atmosférica 2.2.1 Equação de estado Um elemento de ar de volume, V, e massa, m, contém em geral, ar seco (d), vapor de água (v) e água líquida (l), m = md + mv + ml , (2.1) admitindo, para aplicações na CL, a ausência de gelo. Assim, pode definir-se a massa volúmica, ρ= m md mv ml = + + = ρ d + ρv + ρl . V V V V (2.2) Os gases constituintes da atmosfera obedecem, tanto individualmente como numa mistura, à equação dos gases ideais. Esta equação relaciona a pressão, p, a temperatura, T e a massa volúmica, ρ: p d = ρ d Rd T , pv = ρ v Rv T , (2.3) onde Rd = 287 J kg −1 K −1 e Rv = 461.5 J kg −1 K −1 são as constantes dos gases ideais específicas, para o ar seco e vapor de água, respectivamente; e, p v é a pressão parcial do vapor (tensão de vapor). Assumindo que a água líquida não afecta a pressão, a Lei de Dalton estabelece que a pressão de uma mistura de gases é igual ao somatório das pressões parciais, p = p d + p v , que conjuntamente com (2.2), (2.3) e com ε R = Rd Rv permite escrever, ( ) ρ ρ p = ρRd T 1 + ε R −1 − 1 v − l = ρRd Tv , ρ ρ (2.4) de que resulta a definição de temperatura virtual Tv, Tv = T (1 + 0.61q v − ql ) , (2.5) onde se utilizou a aproximação ε R −1 − 1 ≈ 0.61 . qv é a humidade específica e ql o conteúdo de água líquida. O ar húmido é menos denso que o ar seco, por isso a temperatura virtual é sempre maior que a temperatura T. Tv é inversamente proporcional à densidade, por isso é uma variável apropriada para o cálculo da flutuação. A água na atmosfera pode aparecer em três fases: gasosa, líquida ou sólida. As formas como a presença de água na atmosfera pode ser quantificada são inúmeras. De (2.4) resulta a forma mais interessante para o estudo da CL atmosférica. A razão entre a massa de vapor de água e a massa total por unidade de volume define a humidade específica do vapor de água, qv (muitas vezes é designada só por humidade específica). Analogamente, a razão entre a massa de água líquida e a massa total por unidade de volume define a humidade específica da água líquida (conteúdo de água líquida), ql , e a soma destas duas constitui a humidade específica total, qt , 9 A camada limite atmosférica qv = mv ρ v = , m ρ ql = ml ρ l = , m ρ qt = q v + ql . (2.6) 2.2.2 Equações de balanço A lei fundamental da dinâmica, que traduz o balanço do momento linear toma no caso de um fluido, a forma de Navier-Stokes: ∂u i ∂u 1 ∂p 1 ∂ +uj i = − − 2ε ijk Ω j u k − δ i 3 g + ∂t ∂x j ρ ∂xi ρ ∂x j 1 2µ eij − 3 ekk δ ij , (2.7) em que ui são as três componentes da velocidade, nas direcções xi. ε ijk é o tensor de LevyCivita, igual a 1 numa permutação cíclica dos índices 1,2,3, a -1 numa permutação anticíclica dos mesmos índices e nulo para qualquer outro caso. δ ij é o tensor de Kronecker, igual a 1 se i = j e nulo se i ≠ j . Ω j é o vector velocidade angular da Terra, g é a aceleração gravítica (incluindo a correcção centrífuga), µ é a viscosidade dinâmica e eij é o tensor da taxa de deformação, dado por, eij = 1 ∂u i ∂u j + 2 ∂x j ∂xi . (2.8) A equação (2.7) resulta da aplicação da segunda lei de Newton a um fluido newtoniano (Batchelor, 1967, pp. 146), com diferenciação térmica, num referencial em rotação uniforme sob a acção do campo gravítico terrestre uniforme. A equação de conservação da massa, ou da continuidade escreve-se: ( ) ∂ρ ∂ ρu j + = 0. ∂t ∂x j (2.9) A equação da termodinâmica, para o ar seco ∂θ ∂θ ∂ +uj = Sθ + ∂t ∂x j ∂xi ∂θ λθ , ∂xi (2.10) em que θ é a temperatura potencial, p θ = T p 00 R − d c pd , (2.11) onde p00 é uma pressão de referência (105 Pa), cpd é o calor específico a pressão constante do ar seco. A temperatura potencial relaciona-se com a entropia do ar seco, de acordo com s = c pd ln θ . Em (2.10) Sθ inclui os efeitos não adiabáticos, como a radiação, as transições de fase, etc., e λθ é a condutividade térmica. 10 A camada limite atmosférica O sistema fica completo com a equação de conservação da humidade específica: ∂qv ∂q ∂ ∂q v , λq + u j v = Sq v + ∂t ∂x j ∂xi ∂xi (2.12) em que S qv contém os termos fonte e sumidouro de vapor de água associados às transições de fase e λq é a difusividade do vapor. O sistema de 7 equações (2.4), (2.7), (2.9), (2.10) e (2.12) constitui um sistema fechado de 7 equações a 7 incógnitas, se forem conhecidos os termos fontes e sumidouros ( Sθ , S q ) e as constantes c pd , Rd , g, Ω , µ , λθ e λq . 2.2.3 Equações aproximadas na CL O sistema de equações pode ser simplificado tendo em consideração uma série de aproximações, fundamentadas por análise de escala (e.g. Miranda, 1986). Quando a escala vertical do escoamento é muito menor que a escala horizontal, como é o caso dos escoamentos de larga escala, a equação do movimento vertical pode ser substituída pela condição de equilíbrio hidrostático: ∂p = − ρg . ∂z (2.13) Esta condição não é estritamente satisfeita na CL. No entanto, como a CL nunca se afasta muito desse estado de equilíbrio, define-se um estado de referência (pref, θref, ρref) barotrópico (função exclusiva da altitude), adiabático e em equilíbrio hidrostático. As diferentes equações de balanço e de estado podem ser então simplificadas por linearização em torno do estado de referência p = p ref + p ' ' , ρ = ρ ref + ρ ' ' , θ = θ ref + θ ' ' , o que ( ) equivale a admitir que as perturbações ( p' ' , ρ ' ' ,θ ' ') são pequenas, comparativamente aos valores de referência. Na CL verifica-se que a escala vertical do escoamento é sempre muito menor que a escala de variação da densidade, H ρ = − 1 ρ ref ∂ρ ref ∂z −1 , o que justifica a substituição da equação da continuidade pela condição de incompressibilidade: (( ∂u j ∂x j ) ) = 0. (2.14) Nestas condições, chega-se à aproximação de Boussinesq (1877), na qual as flutuações da densidade (seguindo a nomenclatura inglesa, substitui-se o termo massa volúmica por densidade) aparecem exclusivamente associadas à gravidade, no termo de flutuação ρ " ρ ref = − θ "v θ v ref . As equações de balanço do momento linear, tendo em consideração as aproximações mencionadas são, ∂u i ∂u 1 ∂p g +uj i = − − 2ε ijk Ω j u k + δ i 3 θ v + ν∇ 2 u i , ∂t ∂x j ρ ref ∂xi θ v ref (2.15) 11 A camada limite atmosférica em que se admitiu que a viscosidade é constante e se definiu a viscosidade cinemática, ν = µ ρ ref . Na equação anterior, as variáveis termodinâmicas ( p, ρ, θ v ) representam perturbações em relação ao estado de referência, que aparecem nesta expressão e daqui em diante sem ". A densidade do estado de referência é considerada constante. No primeiro membro da equação estão os termos de tendência e de advecção do campo da velocidade. No segundo membro encontram-se a força do gradiente de pressão, a força de Coriolis, a flutuação e a difusão. A flutuação aparece como função da temperatura potencial virtual θv , θ v = θ (1 + 0.61q v − ql ). (2.16) A definição de estabilidade na atmosfera baseia-se no sinal da força de flutuação B de uma parcela verticalmente deslocada, numa atmosfera com um perfil de temperatura Tref . A força de flutuação por unidade de massa é dada por, B = −g ρ − ρ ref ρ ref =g Tv − Tv ref Tv ref =g θ v − θ v ref θ v ref . (2.17) O termo fonte da equação da termodinâmica inclui, em especial, a transferência de calor latente associada às transições de fase. Este processo de aquecimento do ar é crucial na dinâmica dos cumulus, nomeadamente no incremento da flutuação (em resultado do aquecimento) que permite um maior desenvolvimento vertical das nuvens. Quando o vapor de água se condensa formam-se gotículas de água que ficam em suspensão e dão origem à formação de uma nuvem. Num cumulus podem, em geral, ocorrer transições entre as 3 fases da água: condensação, evaporação, solidificação, fusão e sublimação. Normalmente, estas nuvens não são precipitantes. A grande maioria dos estudos de camada limite com CuPP consideram que a condensação/evaporação é a única transição de fase que importa ter em conta. A quantidade máxima de vapor de água que uma unidade de massa de ar à temperatura, T, e pressão, p, pode conter, sem que ocorra condensação, define a humidade específica de saturação, qs . Esta depende da tensão de saturação, (es = ρ s Rv T ) , que corresponde à pressão parcial do vapor de água a essa temperatura, em equilíbrio com uma superfície líquida. A relação entre a humidade específica de saturação e a tensão de saturação obtém-se de (2.3) e (2.4), qs ≡ ρs es = εR . ρ p + e s (ε R − 1) (2.18) A tensão de saturação es em função da temperatura é dada pela equação de ClausiusClapeyron válida para uma superfície plana de água pura, d ln es L = , dT Rv T 2 (2.19) onde L é o calor latente de vaporização da água. 12 A camada limite atmosférica Na ausência de precipitação e de gelo, a evaporação/condensação é a única fonte ou sumidouro de humidade. Nestas condições, a humidade específica e o conteúdo de água líquida de um elemento de volume de ar permanecem constantes, ou seja a humidade específica total é um invariante. Deste modo, considerando constante a difusividade do vapor, a equação (2.12) pode ser substituída pela equação de conservação da humidade específica total, ∂qt ∂q + u j t = λ qt ∇ 2 qt . ∂t ∂x j (2.20) De forma análoga, a temperatura potencial pode ser redefinida de forma a ter em conta a contribuição da libertação de calor latente, resultante da condensação de vapor de água. Na presença de transições de fase, a entropia de um elemento de volume de ar húmido pode escrever-se na forma ds ≅ c pd d ln θ l = c pd d ln T − Rd ln p − L dql , T (2.21) em que θ l é a temperatura potencial de água líquida (Betts, 1973). Em processos adiabáticos ds=0, obtendo-se Lq θ l = θ exp − v l , c pd T (2.22) onde Lv é o calor latente de vaporização no ponto triplo, e constitui uma aproximação para L, Lv = 2.5 × 10 6 J / kg . A temperatura potencial de água líquida e a humidade específica total são as variáveis mais adequadas para o estudo da CL seca e com CuPP, uma vez que se reduzem a θ e qv na ausência de água líquida, e são invariantes em processos adiabáticos saturados, incluindo transições de fase. Nas nuvens ql ≈ O (10 −3 ) , o que permite obter, em boa aproximação, θl = θ − Lv ql , c pd Π (2.23) onde Π é a função de Exner que é dada por p Π = p 00 Rd c pd , (2.24) e que permite escrever de (2.11), T = θ Π . Com base nesta formulação, a equação da termodinâmica pode ser escrita como uma equação de prognóstico para θ l , em que os processos de evaporação/condensação deixam de estar incluídos em Sθ , 13 A camada limite atmosférica ∂θ l ∂θ + u j l = Sθl + λθl ∇ 2θ l , ∂t ∂x j (2.25) em que a condutividade térmica foi considerada constante. O termo fonte Sθl inclui o aquecimento radiativo e outros processos diabáticos, nomeadamente a dissipação viscosa de energia cinética, desprezada neste trabalho. As equações (2.4), (2.14), (2.15), (2.20) e (2.25) constituem um sistema de 7 equações a 7 incógnitas, na aproximação de Boussinesq, que está na base da modelação da CL atmosférica. Nesse sistema, os termos fonte S podem ser extremamente complexos, pelo que a sua utilização prática impõe a procura de aproximações. Por outro lado, a discretização dessas equações introduz termos adicionais, associados à turbulência. O desenvolvimento de representações matemáticas simples quer para os termos fonte quer para a turbulência, constitui o problema geral da parametrização. 2.3 Turbulência O desconhecimento de uma solução analítica geral para o sistema de Boussinesq obriga ao recurso a métodos numéricos de integração. Estes métodos exigem necessariamente uma discretização do sistema de equações, com redução do número de graus de liberdade a um valor finito. O sistema discretizado representa unicamente processos que ocorrem numa escala espaço-temporal superior ou igual à malha de discretização. O processo de discretização implica o aparecimento de novos termos nas equações, traduzindo o efeito das escalas não representadas sobre as escalas do modelo. Esses termos de subescala são referidos como termos turbulentos. De facto, o processo de discretização é inerente à própria observação do escoamento de um fluido. Reynolds (1895) mostrou que as contribuições equivalentes aos termos de subescala são responsáveis pelo carácter irregular (turbulento) do escoamento de um fluido em certos regimes. As equações apresentadas anteriormente poderiam ser aplicadas directamente a esse tipo de escoamentos turbulentos, desde que a resolução considerada fosse suficiente para resolver explicitamente a turbulência de diferentes escalas até ao limite dos turbilhões dissipativos. Porém, não é, em geral, possível desenhar um modelo com tal grelha. Em qualquer caso, a turbulência associada a escalas inferiores ao limite de discretização tem que ser parametrizada, através de um modelo de subescala, em que o efeito médio estatístico de subescala sobre as equações para as variáveis médias é representado. 2.3.1 Equações de Reynolds A decomposição de Reynolds (1895) consiste em considerar cada variável atmosférica, φ , como a soma de um valor médio, φ , e de uma perturbação, φ ' . O valor médio descreve, num modelo numérico, a média da variável no domínio representado pelo elemento de grelha, φ = φ + φ '. (2.26) 14 A camada limite atmosférica Para todos os fins práticos a operação de média, representada por ( ) , corresponde a uma média espacial num elemento de grelha (Garratt, 1992); φ = ∫ 1 φ dV . V V (2.27) Se se considerar as variáveis genéricas u e v, admite-se que a operação de média satisfaz as seguintes propriedades: linearidade, u+v =u +v, au = au , (2.28) a = a. Comutatividade na derivação e integração, ∂u ∂u = , ∂s ∂s (2.29) ∫ f ds = ∫ f ds . Idempotência generalizada, uv = uv . (2.30) Assim: u =u, u' = 0 , uv = uv , (2.31) u v' = 0 . Introduzindo a definição (2.26) nas equações (2.14), (2.15), (2.20), (2.25) e tendo em consideração as propriedades anteriores obtém-se o sistema de equações de Reynolds: ∂u j ∂x j ( ) = 0, ∂u i ∂u 1 ∂p g ∂ = −u j i − ui ' u j ' − − 2ε ijk Ω j u k + δ i 3 θ v + ν∇ 2 u i , ∂t ∂x j ∂x j ρ ref ∂xi θ v ref (2.32) (2.33) 15 A camada limite atmosférica ( ) (2.34) ( ) (2.35) ∂θ l ∂θ ∂ = −u j l − u j 'θ l ' + λθl ∇ 2θ l + Sθl , ∂t ∂x j ∂x j ∂qt ∂q ∂ = −u j t − u j ' qt ' + λ qt ∇ 2 qt + S qt . ∂t ∂x j ∂x j ( ) ( ) Estas equações de prognóstico contêm novos termos, ∂ u j 'θl ' ∂x j , ∂ u j ' qt ' ∂x j e ( ) ∂ u i ' u j ' ∂x j , que representam divergências de fluxos turbulentos. Estes termos resultam directamente da não-linearidade dos termos advectivos das equações de prognóstico e constituem novos termos fonte para as variáveis médias. Todos os novos termos tem a forma de covariâncias. u j 'θ l ' , u j ' qt ' e ui ' u j ' são, respectivamente, os fluxos turbulentos de calor, de humidade e de momento linear. Estes termos indicam que as flutuações de velocidade, temperatura e da humidade redistribuem momento, calor e humidade na CL. Na CL atmosférica os termos turbulentos das equações de prognóstico são várias ordens de grandeza superiores aos termos de difusão molecular (Garratt, 1992), consequentemente, estes últimos termos são normalmente desprezados na modelação da CL. 2.3.2 Energia cinética turbulenta A intensidade da turbulência é representada pela energia cinética turbulenta (TKE). A TKE por unidade de massa, e , é igual a metade da soma das variâncias da velocidade, ( ) 1 1 e = u i ' 2 = u ' 2 + v' 2 + w' 2 . 2 2 (2.36) A partir da equação de prognóstico das variâncias do momento de subescala (Lumley e Panofsky, 1964), ( ) ( ) ∂ u j ui '2 ∂u i ' 2 ∂u i ∂u i ' 2 2 ∂ u i ' p' g − − 2ε , + 2 δ i 3 u i 'θ v ' − +uj = −u i ' u j ' θv ∂x j ρ ∂xi ∂x j ∂t ∂x j (2.37) pode-se obter facilmente a equação de balanço de e , ( ) ( ) ∂ u j ' e 1 ∂ ui ' p' ∂u ∂e ∂e g = −u i ' u j ' i + δ i 3 u i 'θ v ' − − −ε , +uj ∂t ∂x j ∂x j θv ∂x j ρ ∂xi (2.38) cujos termos da esquerda para a direita são: tendência de e , advecção de e pelo vento médio, produção de e por efeito de corte, geração/destruição de e por flutuação, transporte turbulento de e , termo de presso-correlação e a dissipação viscosa, ( ε = ν ∂ui ' ∂x j (2.38) vem )2 . Se se considerar uma situação de homogeneidade horizontal a equação 16 A camada limite atmosférica ∂e ∂u ∂v g ∂ w' p' −ε . = −u ' w' − v' w' + w'θ v ' − w' e + ∂t ∂z ∂z θ v ∂z ρ (2.39) Esta equação realça a importância relativa dos termos de produção mecânica e térmica de turbulência, e, permite prognosticar a intensidade da turbulência. O efeito de corte do vento modifica o estado turbulento da CL e pode levar à formação de sistemas convectivos de mesoscala (Grossman, 1982; Weckwerth et al., 1996). A razão entre a taxa de destruição da turbulência por flutuação, dada por − (g θ v )w'θ v ' , e a taxa de geração de turbulência por efeito de corte dada por − u ' w'(∂u ∂z ) − v' w'(∂v ∂z ) , define o número de Richardson de fluxo, Rf. Quando o fluxo turbulento de calor é negativo (estratificação estável), Rf indica a importância relativa da destruição térmica face à produção mecânica. Quando o fluxo de calor é positivo (CLC) Rf < 0, e a turbulência é dominada pela produção térmica. Em geral, o número de Richardson é um indicador de estabilidade num escoamento turbulento. 2.3.3 O problema do fecho da turbulência O sistema de equações de Reynolds ou equações turbulentas constituem um sistema aberto, ou seja contêm um número de incógnitas superior ao número de equações. Por outro lado, não existem resultados teóricos que permitam estabelecer outras equações, independentes das anteriores, que relacionem as mesmas variáveis. Assim, surge um problema de exequibilidade das equações, o que se apelida como o problema do fecho da turbulência. Ainda que se formulem equações de prognóstico para as incógnitas, outras surgirão e sempre em maior número. Uma equação do momento de ordem n contém invariavelmente termos de ordem n+1. Desta forma, o problema do fecho da turbulência persiste, seja qual for o conjunto de equações que se considere. É neste facto que reside a razão pela qual a turbulência permanece como um assunto aberto em física. A única forma de obter uma solução seria ter um conjunto infinito de equações, o que indica claramente a impossibilidade de resolução deste problema e aponta a necessidade de se desenvolverem esquemas que tão aproximadamente quanto possível nos solucionem o problema. É inevitável, portanto, recorrer a equações aproximadas entre as variáveis turbulentas e as variáveis médias, que necessitam obviamente de validação observacional, e que incluam uma fundamentação física tão sólida quanto possível. A introdução destas equações que relacionam os momentos estatísticos de segunda ordem, as covariâncias, e os momentos estatísticos de primeira ordem, os valores médios, tem também o nome de parametrização. Na CL convectiva, existem duas aproximações clássicas, as baseadas em fechos locais e não-locais. A aproximação local consiste em relacionar os termos de ordem superior não conhecidos num ponto do espaço com propriedades do escoamento nesse mesmo ponto. Os fechos não-locais têm um carácter advectivo, relacionando os termos incógnita com propriedades numa região da CL. 2.3.4 Fechos locais Tal como o nome indica, os fechos locais baseiam-se no conceito de que as covariâncias turbulentas estão relacionados com as propriedades locais do escoamento ou de outros termos turbulentos já conhecidos. Neste contexto, podem estabelecer-se fechos de diferente ordem, em que esta designa a ordem dos momentos de ordem mais elevada 17 A camada limite atmosférica para os quais se resolvem equações de prognóstico. Este tipo de fechos foi estendido até à terceira ordem, mas os esquemas de 1ª e 2ª ordem são, em geral, considerados suficientemente bons. 2.3.4.1 Fecho de 1ª ordem Este tipo de fecho é o mais utilizado na modelação da CL atmosférica, e assenta numa analogia entre os termos da difusão molecular e dos fluxos turbulentos de segunda ordem (Boussinesq, 1877). Assim, o fluxo turbulento de uma propriedade num ponto do espaço é considerado proporcional ao gradiente local da propriedade em transferência. Esta aproximação é vulgarmente designada como teoria de difusão turbulenta ou difusão-K, uma vez que os coeficientes de proporcionalidade considerados são apelidados de coeficientes de mistura turbulenta ou coeficientes de difusividade turbulenta, K. Os fluxos turbulentos de momento, temperatura e humidade são representados por, u ' w' = − K m ∂u , ∂z (2.40) ∂v v' w' = − K m , ∂z w'θ l ' = − K h ∂θ l , ∂z (2.41) ∂q w' qt ' = − K q t . ∂z K m , K h e K q são, respectivamente, os coeficientes de difusividade turbulenta do momento, da temperatura e da humidade. Estes são, por definição, positivos, uma vez que se assume que o transporte se processa no sentido inverso ao gradiente (de forma a fazer desaparecer esse gradiente). Estes coeficientes podem ser formulados de diversas formas. A formulação mais simples considera que os coeficientes de difusividade turbulenta são constantes e de uma ordem de grandeza maior do que a da difusão molecular. Prandtl (1925) propôs uma formulação melhorada para estes coeficientes, apoiando-se no conceito de comprimento de mistura, l , inspirado na teoria cinética do livre percurso médio. Numa atmosfera estaticamente neutra, uma parcela sem mistura lateral que se desloque da sua posição inicial, z, para a posição, z + z ' , causará uma perturbação na propriedade, φ , dada por (Prandtl, 1925) φ ' = φ ( z) − φ ( z + z' ) ≈ − z' ∂φ , ∂z (2.42) em que se assume que o perfil vertical de φ é linear. Deste modo, se o perfil do vento médio for também linear, u ' = − z ' (∂u ∂z ) . Se a natureza da turbulência é tal que a perturbação da velocidade vertical é proporcional à perturbação da componente horizontal 18 A camada limite atmosférica da velocidade, w' = −c u ' , obtém-se que w' = c z ' ∂u ∂z . Multiplicando as perturbações da velocidade vertical e de φ , realizando a média, pode escrever-se: w' β ' = −c z ' 2 ∂φ ∂u . ∂z ∂z (2.43) A raiz quadrada de z '2 é uma medida da distância média que a parcela se desloca, originando a definição de comprimento de mistura, l, de l 2 = c z ' 2 . Obtém-se assim a formulação de Prandtl, K = l2 ∂u , ∂z (2.44) em que l representa a dimensão média dos turbilhões turbulentos. K é, portanto, directamente proporcional a l2 e ao efeito de corte. As teorias de primeira ordem desenvolvidas por Prandtl, Taylor e von Karman são discutidas exaustivamente por Monin e Yaglom (1971). Estas aproximações revelaram-se muito boas quando testadas com medições em túneis de vento e tanques laboratoriais, e mesmo com observações atmosféricas, que na época se limitavam a observações na camada de superfície. Consequentemente, foram largamente utilizadas e tidas como a solução prática deste complexo problema do fecho da turbulência. Presentemente muitos modelos ainda as utilizam. As teorias de difusão-K são essencialmente teorias de “pequenos turbilhões” que representam bem a mistura turbulenta em CLs neutra e estável (Stull, 1984, 1993). Estas são apropriadas quando o comprimento de mistura é inferior à resolução do modelo, e esta pertence à sub-região inercial do espectro de energia da turbulência. Realizam, porém, uma deficiente representação dos fluxos turbulentos não-locais associados às térmicas de extensão vertical muito maior do que a resolução vertical do modelo de CL. Lilly (1962) propôs uma forma de ter em conta o efeito da flutuação, propondo que as difusividades fossem multiplicadas por factores que são funções do número de Richardson. Para o efeito, a aproximação de Prandtl pode ser derivada da equação de e estacionária, igualando a produção por efeito de corte com a dissipação. Se se incluir a flutuação no termo de produção, vem K = l2 ∂u F (Ri ), ∂z (2.45) em que Ri é o número de Richardson do gradiente. Ri baseia-se na aproximação de difusão-K, mais precisamente nas relações (2.40) e (2.41) e no número de Richardson do fluxo Rf, o que permite escrever, 19 A camada limite atmosférica Ri = g ∂θ v θ v ∂z ∂u 2 ∂v 2 + ∂z ∂z , (2.46) e equivale a dizer que Rf = (K h K m )Ri . O número de Richardson do gradiente é um parâmetro muito utilizado para dar uma indicação da estabilidade da CL atmosférica e tem uma interpretação similar a Rf. Para se resolver a equação (2.45) tem que se especificar l e F (Ri ) . Normalmente, assume-se que l → kz na camada de superfície e F (Ri ) → 1 numa estratificação neutra, em que k é a constante de von Karman. Ambas as expressões (2.44) e (2.45) dependem criticamente de l . Baseado em observações, Blackadar (1962) construiu uma formulação empírica para l , 1 1 1 = + , l kz λ (2.47) que é conhecida como a fórmula de interpolação de Blackadar, onde λ é um parâmetro ajustável que representa um comprimento de mistura assimptótico. Esta expressão consiste numa interpolação entre dois limites: l → kz quando z → 0 e l → λ quando z → +∞ . Outras aproximações para a CLC baseiam-se na prescrição de perfis de K, por intermédio de expressões empíricas (Holtslag e Moeng, 1991). Muitas vezes, estas expressões dependem do cálculo da altura da camada limite, z i , e de outras variáveis de escala da camada de superfície. Os avanços nos instrumentos de medição da turbulência vieram possibilitar a monitorização do interior da CL (e.g. através de aviões) revelando as fragilidades destas aproximações. A Figura 2.4 mostra um perfil vertical do coeficiente de difusividade turbulenta para uma CLC. Este perfil ilustra as fragilidades conceptuais deste tipo de z zi indefinido θ w'θ ' K Figura 2.4 — Perfis típicos de uma CL convectiva (construídos através de observações) da temperatura potencial θ , do fluxo vertical turbulento de temperatura potencial w' θ ' e a consequente deficiência do perfil do coeficiente de difusividade turbulenta K. 20 A camada limite atmosférica fecho. A região intermédia da CL é neutra, a temperatura potencial é constante e o seu gradiente é nulo, o que à luz desta teoria implicaria um fluxo turbulento nulo, ou valores de K infinitos. Por outro lado, a camada superior da CL (entre as linhas tracejadas da figura) é ligeiramente estável e o fluxo turbulento é positivo o que resultaria em valores negativos de K. Esta região mostra a existência de transporte vertical no sentido do gradiente, que se apelida de contra-gradiente, e que é intrinsecamente contraditório com a teoria de difusãoK (que assenta na diluição dos gradientes das propriedades). Este transporte é uma evidência de transporte não-local, que é efectuado pelas correntes ascendentes ou térmicas de dimensão da própria CL e levou ao aparecimento de variadas teorias entre as quais as não-locais chamadas de contra-gradiente que serão discutidas mais adiante. Nos anos setenta generalizou-se a concepção de que os coeficientes de difusão se baseiam na combinação de escalas de comprimento lt e de velocidade wt , representativas da turbulência (Tennekes e Lumley, 1972), K m ≈ wt lt , K h ≈ wt lt , (2.48) passando a discussão desta aproximação para a formulação destas duas escalas, o que levou ao aparecimento dos fechos de ordem 1.5 que estimam wt a partir da energia cinética turbulenta e . Estes fechos serão discutidos na secção seguinte. 2.3.4.2 Fecho de ordem 1.5 Uma vez que fundamentalmente se discute aqui o transporte vertical na CL, considere-se para a equação de evolução da covariância u ' w' , um domínio horizontalmente homogéneo (∂ ∂ x ) = 0; (∂ ∂ y ) = 0 , em regime estacionário e uma estratificação neutra (w'θ ') = 0 , o que permite obter (Garratt, 1992): v 0 = − w' 2 ∂u 1 ∂p' ∂p' − u ' + w' . ∂z ρ ∂z ∂x (2.49) Desta equação sobressai a importância dos termos de correlação da pressão-velocidade. Wyngaard (1982) propôs que estes termos podem ser representados por ∂p' u ' w' 1 ∂p' u' = + w ' , ∂x τ 1 ρ ∂z (2.50) em que τ 1 é uma escala de tempo característica dos grandes turbilhões, e permite relacionar as covariâncias, − u ' w' ≈ τ 1 w' 2 ∂u , ∂z (2.51) e identificar conjuntamente com (2.40) a forma de K m como τ 1 w' 2 . Considere-se agora a equação da covariância da velocidade e da temperatura potencial u i 'θ ' (Garratt, 1992). Seguindo um raciocínio análogo ao anterior, e assumindo- 21 A camada limite atmosférica se que se está distante da fronteira, o que permite desprezar o termo de transporte (Sorbjan, 1989), vem: 0 = − w' 2 ∂θ g 1 ∂p ' + θ 'θ v ' − θ ' . ∂z θ v ρ ∂z (2.52) Admitindo a relação, 1 ∂p' w'θ ' θ ' = , ρ ∂z τ 2 (2.53) ∂θ g θ 'θ v ' . w'θ ' ≈ −τ 2 w' 2 + 2 ∂z θ v w' (2.54) obtém-se finalmente, Comparando com (2.41) K h pode escrever-se de forma semelhante: K h ≈ τ 2 w' 2 . As equações anteriores sugerem que os coeficientes de difusividade podem ser formulados recorrendo à intensidade da turbulência, nomeadamente através de uma expressão dependente da energia cinética turbulenta e (Kolmogorov, 1942; Prandtl, 1945; Mellor e Yamada, 1974). Usualmente assume-se, 1 2 K m , h ,e = Λ m , h ,e e , (2.55) em que Λ é uma escala de comprimento para a qual existem inúmeras formulações, desde empíricas até dependentes da própria intensidade da turbulência. Esta dependência é conceptualmente atractiva, uma vez que, K determina a intensidade da mistura em conjunto com o gradiente local visto ser a base da aproximação de difusão-K, e este mesmo K depende da eficiência da mistura turbulenta, através de e . A adopção desta formulação requer a solução da equação de e (2.39), que é tudo menos trivial no que diz respeito aos termos de correlação da pressão, do transporte turbulento e da dissipação. Os dois primeiros termos são habitualmente aproximados recorrendo à concepção de difusão-K, ou seja, w′e + p ′w′ ∂e = −K e , ρ ∂z (2.56) em que se representa o efeito destes termos numa mistura de e a favor do gradiente. K e obedece também a (2.55) e consiste na difusividade turbulenta para e . No entanto, observações levadas a cabo em 1968, no Kansas (Wyngaard, 1998), mostram que o fecho (2.56) nem sempre é verificado; por vezes, o termo de correlação da pressão com a TKE é uma fonte importante de TKE (Hogstrom,1990) não representada por aquela expressão. A análise de escala para condições de equilíbrio na camada de superfície neutra, mostra que o termo da dissipação pode ser aproximado por 22 A camada limite atmosférica 3 e 2 ε= , Λ1 (2.57) onde Λ1 é uma escala de comprimento. Desta forma, a equação (2.39) toma a forma 3 ∂u 2 ∂v 2 g ∂e ∂e e 2 ∂θ ∂ = K m + − K h v + K e , − ∂t ∂z Λ1 ∂z ∂z ∂z ∂z θ v (2.58) e a sua solução fica dependente de Λ1 e de K m,h,e , ou seja de Λ1,m,h,e . Mellor e Yamada (1982) sugerem ser vantajoso relacionar estas escalas com um comprimento de mistura genérico l : (Λ1 , Λ m , Λ h , Λ e ) = l (a1 , S m , S h , S e ). (2.59) As funções S n podem ser determinadas a partir de dados experimentais e dependem da estabilidade, e a1 ≈ 5 . O desempenho dos esquemas de difusão-K para a CLC são muito dependentes do comprimento de mistura na região da inversão. Os esquemas baseados na TKE são menos sensíveis, uma vez que têm que satisfazer a equação de balanço de TKE. Na metade superior de uma CLC, os gradientes das componentes horizontais do vento são praticamente nulos, e o balanço de TKE deve-se principalmente à flutuação, ao transporte e dissipação. Na camada de superfície, o transporte vertical de TKE é negativo e bastante considerável, mudando de sinal no interior da CL, o que implica um transporte positivo de TKE para a região superior da CL. Quando o fluxo de calor à superfície é ascendente, a camada de superfície é instável. 2.3.4.3 Fechos de ordem superior Partindo das equações de Reynolds (2.33) podem-se deduzir as equações de tendência para os momentos de segunda ordem, u i ' u j ' , u i 'θ ' e θ ' 2 , de que é exemplo a equação (2.37). Estas equações constituem um sistema de equações aberto, uma vez que aparecem um conjunto de novas incógnitas: as correlações triplas, u i ' u j ' u k ' , u i ' u k 'θ ' , u k 'θ ' 2 , as presso-correlações e as correlações entre derivadas de u i ' e θ ' . Este facto ilustra bem o problema do fecho da turbulência: podem-se também deduzir as equações para os momentos de terceira ordem, mas outro conjunto de incógnitas de ordem superior aparecerá (André et al., 1978), nunca se conseguindo fechar o sistema de equações, a não ser através de um conjunto de aproximações. No caso dos fechos de segunda ordem, o sistema total inclui as equações de prognóstico para ui , θ , u i ' u j ' (i, j = 1,2,3) , u i 'θ ' (i = 1,3) , θ ' 2 , a equação de estado, a equação de equilíbrio hidrostático e a equação da continuidade. As variáveis a parametrizar são: todos os momentos de terceira ordem, as presso-correlações e as correlações entre as derivadas. Os momentos de terceira ordem são expressos em função dos momentos de 23 A camada limite atmosférica ordem inferior, ou seja mediante o estabelecimento de relações empíricas utilizando os momentos de segunda ordem e inferior. Desde os anos setenta, inúmeras parametrizações foram propostas para estes termos (e.g. Donaldson, 1973; Deardorff, 1973; Mellor e Yamada, 1974; Zeman, 1981; Wyngaard, 1982; Wai, 1987) com diferentes condições. 2.3.5 Aproximações não-locais As aproximações não-locais consideram que os turbilhões de maior escala transportam fluido a distâncias finitas enquanto os turbilhões de pequena escala provocam unicamente mistura local. Trata-se portanto de uma concepção advectiva, suportada por observações de térmicas que ascendem quase sem mistura lateral, e pelas formas de organização do escoamento muitas vezes observados nas imagens de nuvens (Lenchow e Stephens, 1980; Agee, 1984; Ebert et al., 1989; Stull e Driedonks, 1987). Os fechos nãolocais relacionam os termos turbulentos com variáveis conhecidas em toda a CL, de forma a ser inerentemente não-locais. As aproximações não locais com maior utilização em modelos atmosféricos consistem na introdução de um termo de “contra-gradiente” nas equações de balanço (Deardorff, 1966) e na formulação de fluxo-de-massa na parameterização do transporte em nuvens (Betts, 1973). Importa ainda referir dois fechos mais complexos de 1ª ordem nãolocais: a teoria turbulenta transiliente (Stull, 1984) e a teoria difusiva espectral (Berkowicz e Prahm, 1979). 2.3.5.1 Formulação de contra-gradiente Esta formulação surge no contexto da teoria da difusão-K, que como já foi referido, é inadequada em condições em que a flutuação é dominante, tal como na CLC. A evidência observacional da existência de transporte contra-gradiente, associada à reputação das teorias de difusão-K levaram ao aparecimento de inúmeras aproximações para solucionar este problema, mas na grande maioria dos casos no âmbito da teoria estabelecida (Deardorff, 1966, 1972a; Schumann, 1987). Deardorff (1966) constatou pela primeira vez a existência de fluxos turbulentos contra-gradiente quando a CLS é superadiabática, sugerindo como solução a introdução de um gradiente vertical modificado, w'θ ' = − K h ∂θ c ∂θ = − K h − γ c , ∂z ∂z (2.60) com γ c ≈ 0.65 × 10 −3 Km −1 , o que torna o fluxo no mesmo sentido do gradiente a partir de uma estratificação com este limiar. Nesta aproximação assume-se que os fluxos turbulentos misturam as propriedades no sentido oposto ao do gradiente. A equação (2.60) é consistente com uma simplificação da equação de prognóstico de w'θ ' , em que o termo de contra-gradiente é regido por γ c = (g θ v )θ 'θ v ' w' 2 (Garratt, 1992). Holtslag e Moeng (1991), Holtslag e Boville (1993) e Holtslag et al. (1995) aprofundaram a teoria contra-gradiente, recorrendo aos resultados de Hojtrup (1982). Estes autores apresentaram diferentes opções para formular a difusividade turbulenta e o termo de contra-gradiente. O fecho de turbulência de Holtslag e Boville (1993) foi implementado 24 A camada limite atmosférica no modelo de clima do NCAR (NCAR Community Climate Model) (Willimason et al., 1987). Nesse fecho a difusividade turbulenta para o calor, K h , é baseada no trabalho de Troen e Mahrt (1986) e de Holtslag et al. (1990): 2 z K h = kwt z 1 − , zi (2.61) onde wt é uma escala de velocidade turbulenta. O termo de contra-gradiente é dado por γ c = aγ ( ) w∗ w'θ ' s wm 2 z i , (2.62) ( ( ) em que wm é também uma escala de velocidade, aγ = 7.2 . w∗ = z i w'θ ' s g θ v ) 13 é a ( ) escala de velocidade vertical convectiva, onde zi é a altura da inversão da CLC e w'θ ' s é o fluxo de temperatura virtual à superfície. Holtslag et al. (1995) recorrendo a observações de uma CLC na Holanda, compararam os desempenhos desta última parametrização com um fecho de difusão-K (Louis et al., 1982), mostrando as melhorias da introdução do termo de contra-gradiente. 2.3.5.2 Fluxo-de-massa A aproximação de fluxo-de-massa teve como principal inspiração a observação de que o transporte vertical de propriedades na camada limite com CuPP se deve em grande medida às correntes ascendentes das nuvens (e.g. Warner, 1970, 1977). Apesar de as correntes ascendentes das nuvens ocuparem áreas horizontais relativamente pequenas, contribuem de uma forma crucial para o transporte vertical, visto terem associadas grandes perturbações das propriedades termodinâmicas e da velocidade vertical. Se se considerar a função de densidade de probabilidade (PDF) da humidade específica de um domínio horizontal da CL com a presença de cumulus (Figura 2.5), a aproximação de fluxo-de-massa resulta da associação da totalidade do transporte vertical a duas áreas distintas desta PDF: a área saturada de movimento ascendente, com flutuação positiva, ac , e a área restante, 1 − ac . Portanto, o domínio horizontal é dividido em concordância e, consideram-se as propriedades médias de cada uma dessas áreas, resultando dois picos na função de distribuição, cuja intensidade é igual a cada uma das áreas (Ooyama, 1971; Betts, 1973; Yanai et al., 1973). Esta simplificação despreza toda a variabilidade de escala inferior à das nuvens (Wang e Stevens, 2000), visto que se baseia nas propriedades médias destes dois subdomínios. Esta simplificação é conhecida na literatura como de “top-hat”, uma vez que para as propriedades do domínio horizontal só se têm dois valores possíveis. Os esquemas de fluxo-de-massa foram utilizados com grande sucesso na representação de convecção em cumulus (Betts, 1973; Arakawa e Schubert, 1974; Tiedtke, 1989) o que levou à sua implementação em muitos modelos de previsão do tempo e ao desenvolvimento de diferentes metodologias. Para esse desenvolvimento contribuíram estudos baseados em resultados numéricos e observacionais (Randall et al., 1992). A 25 A camada limite atmosférica aproximação de fluxo-de-massa foi exaustivamente analisada recorrendo a simulações de modelos LES, para diferentes tipos de CL: com stratus (Schumann e Moeng, 1991), stratocumulus (Randall et al., 1992) e cumulus pouco profundos (Siebesma e Cuijpers, 1995, Siebesma e Holstlag, 1996, Brown et al., 2002, Siebesma et al., 2004). Estas análises permitiram que este tipo de aproximação não fosse exclusivamente utilizado para a convecção em cumulus, mas também para convecção profunda. pdf 1-ac ac q qsat qzb qc q Figura 2.5 — A função densidade de probabilidade de uma CL com cumulus pouco profundos. q sat é a humidade específica de saturação e q zb é a humidade específica no nível de flutuação nula em condições de saturação. a c corresponde à área horizontal de ar saturado e com flutuação positiva da PDF, 1 − a c corresponde à área restante. A altura dos dois picos é idêntica a estas áreas. Representar esta PDF pelos dois picos corresponde à aproximação de fluxo-demassa. Recentemente, este tipo de parametrizações foi também aplicado à CL sem nuvens (Businger e Oncley, 1990; Wang e Albrecht, 1990; Wyngaard e Moeng, 1992; Randall et al., 1992), visto que observações deste tipo de CL apontam também para o proeminente papel desempenhado pelas correntes ascendentes secas no transporte vertical de propriedades (Lenschow e Stephens, 1980; Lenschow et al., 1980; Nicholls, 1989). Para além do vasto leque de aplicações deste tipo de aproximações, importa salientar que a aproximação de fluxo-de-massa se adapta muito bem à representação do transporte de traçadores químicos activos (Chatfield e Brost, 1987). Originalmente, a aproximação de fluxo-de-massa baseou-se na decomposição da atmosfera em regiões de movimento ascendente, no interior das nuvens, e regiões nas suas vizinhanças. Mas, se se pretender descrever também a CL sem nuvens, este critério não é obviamente adequado. Deste modo, considerar-se-á como o critério de decomposição mais básico o sinal da velocidade vertical, não esquecendo que critérios mais restritivos se podem aplicar. Assim, a aproximação de fluxo-de-massa consiste na decomposição da atmosfera em regiões de correntes ascendentes (u ) e no ambiente circundante (e ) . Considerando um 26 A camada limite atmosférica domínio horizontal da atmosfera de área A = L x L y , Au como área da região de movimento ascendente e Ae a área da região vizinha ( A = Au + Ae ) , pode-se calcular o valor médio de uma variável φ no domínio horizontal, φ ( z ) , e para cada uma das regiões disjuntas, respectivamente φ ( z ) e φ (z ) : u φ (z ) ≡ φ u e 1 A ( z ) = φu ∫ ∫ Lx 0 ≡ φ (z ) = φe ≡ e Ly 0 φ ( x, y, z ) dxdy , 1 Au ∫∫φ ( x, y, z)dxdy , 1 Ae ∫∫φ ( x, y, z) dxdy . (2.63) u e Considerando as áreas normalizadas, au e (1 − au ) , em que au = ( Au A) é a fracção de domínio ocupado por ascendentes, a média de φ para todo o domínio será dada por, φ = auφu + (1 − au )φe . (2.64) Os fluxos turbulentos verticais para o domínio total e para os seus subdomínios podem ser facilmente obtidos atendendo às propriedades da média de Reynolds (2.28)(2.31), vindo w' φ ' = wφ − w φ , u u e e w'φ ' = wφ − wuφu , (2.65) w'φ ' = wφ − weφe , e, tendo em conta que w = au wu + (1 − au )we e wφ = au wφ + (1 − au )wφ relação entre os fluxos virá u w'φ ' = au w'φ ' + (1 − au ) w'φ ' + au (wu − w )(φu − φ e ). u e e e (2.64), a (2.66) O terceiro termo do segundo membro expressa a contribuição das ascendentes para o transporte turbulento vertical de φ . Este termo é, no âmbito da aproximação de fluxo-demassa em cumulus, considerado como o mais significativo para o transporte turbulento (Ooyama, 1971; Betts, 1973; Yanai et al., 1973). Siebesma et al. (2004) mostraram, recorrendo a simulações de LES, que no caso BOMEX, correspondente a uma CL oceânica com cumulus pouco profundos, mais de 80% do fluxo total pode ser atribuído a este termo. Resultados deste tipo têm sido utilizados para justificar a aproximação: w'φ ' ≅ au (wu − w )(φu − φe ) ≡ M (φu − φe ) , (2.67) 27 A camada limite atmosférica em que M é o coeficiente de fluxo-de-massa associado às ascendentes: M = au (wu − we ). Este resultado é fundamental nesta aproximação, e diz que o fluxo vertical de uma propriedade é proporcional à diferença entre a média de uma propriedade nas regiões de movimento ascendente e nas regiões vizinhas. Desprezar os dois primeiros termos de (2.66) corresponde a considerar que au << 1 e que a turbulência no ambiente vizinho contribui pouco para o fluxo total. No mesmo contexto, é também aceitável considerar que we ≅ 0 , de que resulta, M ≅ au wu . (2.68) A validade da equação (2.67) foi exaustivamente estudada para diferentes tipos de CL, já referidos. Importa, no entanto, salientar o trabalho de Wyngaard e Moeng (1992) onde resultados analíticos e de simulações LES são comparados. Estes autores dividem a atmosfera em regiões de ascendentes e de descendentes (d ) e assumem que w e φ obedecem a uma PDF gaussiana, o que permite obter onde bud = ( ) w'φ ' = bud σ w (φu − φ d ), (2.69) 2π 4 = 0.627 e σ w é o desvio padrão da velocidade vertical. Admitindo ( que a velocidade vertical obedece também a uma distribuição gaussiana, M = σ w pode-se escrever esta equação em função de M, vindo w'φ ' = ν u M (φu − φd ), ) 2π , (2.70) em que ν u = (2π 4 ) ≈ 1.57 . Isto implica que na equação (2.66), para uma PDF gaussiana, cerca de 60% (≈ 1 ν u ) do fluxo turbulento total é explicado pelo termo de fluxo-de-massa. Note-se que em (2.67) ν u é implicitamente igual a 1. A equação (2.67) constitui a expressão basilar da aproximação de fluxo-de-massa e apresenta-se como uma forma alternativa para parametrizar os fluxos turbulentos de forma a fechar o sistema de equações de Reynolds (2.32)-(2.35). Para isso, é necessário conhecer os perfis de M , φu e φe . A determinação destes perfis na CL não é trivial. Uma parcela de ar em movimento na CL não constitui um sistema isolado, pois quando ascende ou subside troca massa com as vizinhanças e as suas propriedades são alteradas por este processo de mistura com a vizinhança. A evolução de uma propriedade φ de uma secção horizontal de uma corrente ascendente de área fraccional au , ou seja de φu , terá que reflectir o processo de mistura lateral. Seguindo Siebesma (1996), a equação de prognóstico de φ escreve-se, r ∂φ ∂ (w φ ) + ∇ h .vH φ + = F, ∂t ∂z (2.71) r onde v H é o vector velocidade horizontal e F reúne todos os forçamentos externos. Integrando φ na área Au , dividindo pela área A , aplicando o Teorema de Leibnitz e o Teorma da divergência, obtém-se: 28 A camada limite atmosférica ∂au φu 1 + ∂t A u ∂a wφ r r r n. v − v f φ dl + u = au Fu , ∂z fronteira ( ∫ ) (2.72) r em que n é um versor perpendicular à fronteira que separa a ascendente das vizinhanças, r r v é o vector velocidade e v f é a velocidade da fronteira. Analogamente, a equação da continuidade (2.32), ou (2.71) considerando φ = cte , integrada para a mesma secção horizontal de uma corrente ascendente escreve-se, ∂au 1 + ∂t A ∂a w r r r n. v − v f dl + u u = 0 . ∂z fronteira ( ∫ ) (2.73) O integral da equação anterior corresponde ao balanço de massa que atravessa a fronteira, ou seja, constitui o resultado total da mistura lateral. Se definirmos E (Entrainment) como a contribuição que representa a taxa de mistura lateral associada à massa de ar das vizinhanças que entra na ascendente, e D (Detrainment) o termo que descreve o processo de exportação de ar da ascendente, D − E representará o resultado líquido dos dois processos, ou seja 1 A D−E = ∫ fronteira ( ) (2.74) ( ) (2.75) ( ) (2.76) r r r n. v − v f dl , em que E é dado por E=− 1 A D= 1 A ∫( ) r r r n. v −v f < 0 r r r n. v − v f dl , e D escreve-se ∫( ) r r r n. v −v f > 0 r r r n. v − v f dl , obtendo-se finalmente de (2.73): ∂au ∂a w + (D − E ) + u u = 0 . ∂t ∂z (2.77) Considerando as aproximações seguintes, que correspondem a considerar que a mistura lateral troca quantidades médias: 1 A 1 A φ r r r n. v − v f φ dl ≈ u A ) ∫( φe r r r n . v − v φ dl ≈ f r r r A n .(v −v f )< 0 ∫( ∫( r r r n . v −v f > 0 ∫ ( ( ) ) ) r r r n. v −v f > 0 ) r r r n. v −v f < 0 ( ) r r r n. v − v f dl = Dφu , ( ) r r r n. v − v f dl = − Eφe , (2.78) a equação (2.72) simplifica-se para 29 A camada limite atmosférica u ∂auφu ∂a wφ − Eφe + Dφu + u = au Fu . ∂t ∂z (2.79) Analogamente para a área vizinha (1 − au ) , obtém-se a seguinte equação: ∂ (1 − au )φe ∂ (1 − au )wφ − Eφe + Dφu + = (1 − au )Fe . ∂t ∂z e (2.80) O sistema de equações (2.77), (2.79) e (2.80) estabelece o balanço de massa, no âmbito da aproximação de fluxo-de-massa. Na CLC outras decomposições podem ser formuladas. Para a CL com cumulus pouco profundos a decomposição mais bem estabelecida (Siebesma e Cuijpers, 1995; Siebesma e Holtslag, 1996) toma como critério de decomposição do domínio no transporte turbulento vertical, as ascendentes (w > 0) com flutuação positiva e conteúdo de água líquida, normalmente apelidadas de núcleo das nuvens (cloud core – propriedades com índice c). De acordo com este critério é aceitável considerar (Tiedtke, 1989; Siebesma e Holtslag, 1996) que: i. o conjunto de nuvens está em estado estacionário, (∂θ c ∂t = 0) ; ii. ν u = 1 , i.e. (2.67) é válida; iii. a área fraccional do núcleo das nuvens é muito menor que 1, au << 1 , consequentemente φ e ≈ φ , Conjuntamente com (2.68), os pressupostos anteriores permitem obter um sistema simplificado para as equações (2.77), (2.79) e (2.80): ∂M c = E − D, ∂z (2.81) ∂M cφ c = Eφ − Dφ c , ∂z (2.82) ∂M c (φc − φ ) ∂φ =− + F. ∂t ∂z (2.83) A equação (2.79) é equivalente às equações (2.34) ou (2.35), na aproximação de fluxo-de-massa, em que todos os termos fonte estão contidos em F, à excepção do termo de divergência vertical do fluxo turbulento (primeiro termo do segundo membro). Neste cenário, e tal como foi referido anteriormente, a tendência de uma propriedade φ , que pode corresponder ao valor característico de uma qualquer propriedade meteorológica num 30 A camada limite atmosférica ponto de grelha de um modelo de previsão do tempo, depende do conhecimento de M c e de φc . 2.3.5.3 Teoria transiliente Stull (1984) propôs a teoria transiliente que consiste numa representação alternativa da mistura turbulenta. O transporte turbulento é descrito por uma matriz de coeficientes que permitem realizar processos de interacção entre zonas não contíguas da CL, simulando o efeito não local das térmicas. A matriz é, em geral, construída com base em resultados de experiências laboratoriais e simulações de LES. Cuxart et al. (1994) efectuaram uma comparação entre a teoria transiliente e uma teoria de difusividade turbulenta, recorrendo a observações da campanha observacional HAPEX (André et al.,1986), do dia 8 de Julho de 1986. A principal conclusão deste estudo indica que, apesar de as aproximações serem muito diferentes, as duas teorias permitem obter resultados bastante similares, tanto no que diz respeito aos perfis verticais médios de temperatura potencial e humidade, como aos respectivos fluxos. No entanto, nenhuma das aproximações apresenta boa concordância com as observações, o que foi atribuído parcialmente a forçamentos atmosféricos desconhecidos. Holtslag et al. (1995) voltaram a comparar a teoria transiliente com outra teoria de difusão-K, baseada em perfis de difusividade turbulenta (Troen e Mahrt, 1986; Holtslag e Boville, 1993), extraindo o mesmo tipo de conclusões. Os resultados referidos não justificam, em geral, o recurso à teoria transiliente dado o seu elevado custo computacional. 2.3.6 Transferência de propriedades em interfaces 2.3.6.1 Processos de mistura lateral No contexto da aproximação de fluxo-de-massa, os dois tipos de mistura lateral são usualmente considerados proporcionais ao fluxo-de-massa total (Tiedtke, 1989): E = ε Mc , D = δ Mc , (2.84) onde ε e δ são, respectivamente, as taxas fraccionais de mistura lateral de entrainment e detrainment, e podem ser interpretadas como o inverso de escalas de comprimento de mistura (m-1). Os estudos sobre os processos de mistura lateral em térmicas isoladas e plumas (Squires e Turner, 1962, Simpson e Wiggert, 1969; Simpson, 1971) sugeriram que a taxa de mistura lateral, ε , é inversamente proporcional ao raio da térmica: ε≈ ϑ . Raio (2.85) em que ϑ ≈ 0.2 . Se se considerar o raio típico de um cumulus, 500 m, obtém-se uma taxa de mistura da ordem de 10 −4 m-1. Esta aproximação foi muitas vezes tomada como válida para a representação da mistura lateral de um conjunto de cumulus, nomeadamente no 31 A camada limite atmosférica esquema de fluxo-de-massa do modelo do ECMWF (Tiedtke, 1989), em que estas taxas são consideradas como ε = δ = 3 ×10 −4 m −1 . Siebesma e Cuijpers (1995) construíram um caso de estudo de LES, partindo de observações realizadas na campanha BOMEX, com o objectivo de aprofundar o conhecimento dos processos de mistura lateral que ocorrem num conjunto de CuPP. Estes autores concluíram que as taxas de mistura lateral deveriam ser dez vezes maiores do que eram até aí consideradas: ε ≈ 2 ×10 −3 m −1 ; δ ≈ 3 ×10 −3 m −1 . (2.86) Esses valores foram testados num modelo 1D, revelando os resultados das propriedades termodinâmicas do conjunto de cumulus uma melhoria substancial (Siebesma e Holtslag, 1996). É importante notar que esta descrição para a mistura lateral se refere a um conjunto de cumulus e não a um cumulus individual. Ao contrário de uma térmica seca, em que a mistura lateral parece ser o processo de mistura dominante, num cumulus este processo tem menor importância comparativamente à mistura no topo (Stull, 1988). Deste modo, a concepção de uma mistura lateral constante com a altura é suportada no facto de, num conjunto de cumulus existirem nuvens com o topo a diferentes alturas, onde o processo de mistura é mais significativo, o que no seu conjunto justifica uma taxa de mistura aproximadamente constante com altura. Siebesma (1998) sugeriu que a taxa de mistura lateral de um conjunto CuPP pode ser representada pela distância vertical à base da nuvem, i.e. ε ≈ 1 (z − z b ) . Nordeng (1994) recorrendo a uma análise de escala sugeriu que ε ∝ 1 wc . Outras propostas para representar a mistura lateral foram ainda desenvolvidas (Grant e Brown, 1999; Lin, 1999; Gregory, 2001), mas esta questão continua em debate. As equações (2.81) e (2.84) permitem obter uma equação que integrada verticalmente pode representar o perfil de fluxo-de-massa da camada de CuPP, 1 ∂M c = ε −δ . M c ∂z (2.87) 2.3.6.2 Mistura no topo das nuvens A mistura no topo das nuvens (cloud top entrainment) é um processo físico muito importante na dinâmica da CL com nuvens. O processo de mistura no topo dos cumulus consiste na importação de ar vizinho que se mistura com ar da nuvem, daí resultando o arrefecimento da nuvem devido à evaporação de gotículas. Este processo também ocorre em stratocumulus, onde é ainda mais relevante e é designado por instabilidade de mistura no topo das nuvens (cloud top entrainment instability). A região do topo da nuvem tornase, por este processo, mais densa que o ar envolvente, apresentando flutuação negativa e consequente formação de correntes descendentes, que se vão misturando com ar da nuvem ao longo do seu percurso (Paluch, 1979; Pontikis et al., 1987). Blyth e Latham (1985) e Jensen et al. (1985) analisaram dados de radiossondagens de uma CL com cumulus para identificar as origens do ar dentro das nuvens. Recorrendo a perfis de variáveis conservadas (Betts, 1985) observaram que as propriedades do ar dentro 32 A camada limite atmosférica de um cumulus variam linearmente na vertical, entre a base o topo. Esta distribuição pode ser calculada por combinação linear das propriedades observadas nos extremos verticais da nuvem, sugerindo que o ar da nuvem provém do topo e da base da mesma. Esta interpretação atribui uma menor importância ao processo de mistura lateral em cumulus. 2.3.6.3 Mistura no topo da camada limite O processo de mistura no topo da CL (top entrainment) está relacionado com a penetração de ar da troposfera livre na CLC, provocando o crescimento da espessura da CL e desempenhando um papel fundamental na sua estrutura. A mistura de ar mais quente da camada estável sobrejacente à CL, nesta última mais fria requer a presença de um fluxo de calor descendente na região da inversão. O ar mais quente e seco é menos denso. Por isso, o fluxo negativo de calor está associado a um consumo energético, presumivelmente mantido pela turbulência e com reflexo no balanço de TKE. A mistura no topo da CL pode ser compreendida como conversão de TKE em energia potencial, pois ar mais quente e seco (menos denso) é incorporado pela CL. Esta conversão reflecte o equilíbrio que se estabelece entre a turbulência e a mistura: quanto maior for a TKE disponível mais mistura ocorre, mas quanto maior for a mistura menos TKE fica disponível. A fonte deste processo é o fluxo de flutuação superficial w'θ v ' s . O processo de mistura no topo contribui também, em geral, para a diluição das nuvens, visto misturar ar seco e quente na CL (Randall, 1984). Este processo não é possível de representar explicitamente nos modelos de Larga Escala e de Mesoscala, constituindo um problema adicional a parametrizar. Existem várias aproximações na literatura, mas este aspecto permanece ainda em discussão. ( ) Os esquemas de difusão-K subavaliam em geral o efeito da mistura-de-topo (Ayotte et al., 1996), não se conhecendo ainda um esquema que represente bem este processo para diferentes tipos de CL. Adicionalmente, a representação deste processo depende muito da resolução do modelo. 2.3.6.4 Interacção com a superfície A superfície terrestre é o principal forçador da CL. O balanço térmico da superfície é garantido pelo equilíbrio entre fluxos radiativos, de grande e pequeno comprimento de onda, fluxos de calor sensível e de calor latente. Estes fluxos estão associados a transporte de energia e de vapor de água entre a superfície e a CL. O fluxo de calor sensível contribui directamente para o aquecimento da camada limite de superfície (CLS). O fluxo de calor latente contribui para a flutuação desde a CLS e, no caso de existir condensação, para o aquecimento da CL ao nível da base da nuvem. A estrutura vertical da CL revela a existência de três camadas com propriedades distintas: a subcamada viscosa, com uma altura equivalente ao comprimento da rugosidade do solo nu, z0 (alguns milímetros), a CLS, com uma altura entre 10 a 100m, e a camada de transição ou mistura, até ao topo da CL. A subcamada viscosa é definida como a camada imediatamente contígua ao solo (z < z 0 ) , em que o transporte molecular de variáveis é importante. Zilitinkevitch (1970) e 33 A camada limite atmosférica Deardorff (1974) relacionaram a temperatura potencial, θ s , e a humidade, q sup , à superfície e em z 0 , através das expressões: θ z0 = θ s + 0.0962(θ ∗ k )(u∗ z 0 ν )0.45 , q z0 = qsup + 0.0962(q∗ k )(u∗ z 0 ν ) 0.45 ( ) (2.88) , em que k é a constante de von Karman, q∗ = − w' q' s u∗ é a humidade específica de atrito, ( ) (( ) ( ) ) θ ∗ = − w'θ ' s u∗ é a temperatura potencial de atrito e u∗ = w' u ' s 2 + w' v' s 2 velocidade de atrito. 14 é a Em boa aproximação, pode considerar-se que o escoamento atmosférico na CLS é quasi-estacionário e as forças do gradiente horizontal de pressão e de Coriolis podem ser desprezadas. O domínio em que estas três condições se verificam determina a extensão da CLS. A CLS estende-se de z 0 a hs (hs ≈ 10 - 100 m ) . Esta região da CL é a melhor conhecida, uma vez que é a mais acessível para a recolha de medidas. 2.3.6.5 Teoria da semelhança da camada limite superficial Na CLS, o recurso à análise dimensional permite a obtenção de expressões para os perfis verticais das diferentes variáveis, em termos de funções universais de parâmetros independentes. Monin e Obukhov (1954) desenvolveram a teoria da semelhança da CLS, assumindo uma CL horizontalmente homogénea (i.e., em que as derivadas horizontais são muito menores que as verticais) e estacionária. A força de Coriolis é desprezada, não existindo variação vertical da direcção do vento. Considerando um corte vertical 2D ( x, z ) , se se alinhar a direcção do vento à superfície com a direcção Ox, as equações de Reynolds (2.33) e (2.34), sem água líquida (θ l = θ ) reduzem-se a: ∂ ∂u w' u ' − ν = 0, ∂z ∂z ∂ ∂θ w'θ ' − λθ = 0, ∂z ∂z (2.89) o que possibilita considerar a CLS como uma camada de fluxo constante (camada de Prandtl) e escrever w' u ' − ν ∂u 2 = cte = −u∗ , ∂z ∂θ w'θ ' − λθ = cte = Q0 , ∂z (2.90) onde u∗ é a velocidade de atrito, e Q0 ≅ w'θ ' s é o fluxo cinemático de calor da superfície. Quando z >> ν u∗ , os fluxos moleculares podem ser desprezados em face dos fluxos 34 A camada limite atmosférica turbulentos, deixando de ser necessário considerar ν e λθ como parâmetros relevantes para a dinâmica da CLS acima dessa altura. A hipótese de semelhança de Monin-Obukhov (Monin e Obukhov, 1954) consiste em admitir que as distribuições de probabilidades multidimensionais das variáveis u, w, θ são funções exclusivas da altura, z, e dos parâmetros constantes da CLS: u∗ , Q0, ρ 0 e ( g θ 0 ) . Estes quatro parâmetros permitem derivar a escala de velocidade, (( ) ) 12 u∗ = τ zh / ρ s ≅ w' u ' s ( τ zh é a tensão viscosa à superfície), uma escala de comprimento (comprimento de Monin-Obukhov), 3 LMO u∗ =− , k ( g θ 0 )Q0 (2.91) uma escala de temperatura, θ∗ = − Q0 , u∗ (2.92) e um número adimensional independente (índice de Monin-Obukhov), ζ = z LMO . (2.93) O comprimento de Monin-Obukhov é proporcional à altura acima da superfície em que a produção turbulenta por flutuação é superior à produção por efeito de corte. As derivadas verticais adimensionais podem ser deduzidas utilizando o teorema π de Buckingham (Birkhoff, 1950): ∂u u ∗ = ϕ u (ζ ) , ∂z kz ∂θ θ ∗ = ϕ hθ (ζ ), ∂z kz (2.94) a constante de von Karman é incluída por razões históricas; ϕu e ϕ hθ são funções universais, só dependentes de ζ , que se determinam experimentalmente. Algumas estimativas observacionais de ϕu e ϕ hθ são discutidas em Högström (1996). A integração vertical das equações (2.94) na CLS permite conhecer o vento e a temperatura potencial a um determinado nível, o que é fundamental para estabelecer condições fronteira inferiores para os modelos de CL. Adicionalmente, esta teoria é muito útil para a validação de modelos de turbulência na CLS (Mellor, 1973; Lewellen e Teske, 1973). 35 A camada limite atmosférica 2.4 Outros processos físicos A estrutura turbulenta da CL com nuvens é consideravelmente mais complexa devido às transições de fase e aos processos radiativos associados às nuvens. A influência destes processos na estrutura e dinâmica da turbulência da CL manifesta-se pela produção de fontes locais de aquecimento ou arrefecimento no seu interior, a acrescentar ao forçamento da superfície na fronteira inferior. A radiação está associada a mecanismos com realimentação ora positiva ora negativa, difíceis de contabilizar. O balanço energético da superfície terrestre é directamente influenciado pela presença de nuvens na CLC. A sombra de uma nuvem diminui a quantidade de radiação solar que chega ao solo, iniciando um processo de realimentação negativa, uma vez que a um aquecimento inferior da superfície implica uma menor quantidade e intensidade das térmicas, ou seja uma menor probabilidade de formação de nuvens do tipo cumulus. Consequentemente, nos dias em que se desenvolvam cumulus de bom tempo devido ao aquecimento da superfície, estes tendem para um equilíbrio com uma cobertura nublosa parcial do céu. Na CL com nuvens o arrefecimento do ar no topo das nuvens é resultado da emissão de radiação de grande comprimento de onda. Se a nuvem for do tipo stratocumulus a importância deste efeito é bastante significativa (Lilly, 1968). Uma nuvem do tipo stratocumulus suficientemente espessa pode ser tratada como um corpo negro para a emissão de radiação. No topo das nuvens, o fluxo radiativo de grande comprimento de onda ascendente é maior que o fluxo radiativo de grande comprimento de onda descendente, visto que a temperatura radiativa da nuvem é superior à do ar a níveis mais elevados. O arrefecimento do topo da nuvem induz o aparecimento de correntes descendentes de ar frio, o que constitui um exemplo de convecção não forçada pela superfície. Na base das nuvens o balanço radiativo resulta num aquecimento, geralmente menos importante que o processo de arrefecimento no topo, devido à pequena diferença de temperatura entre a superfície e a base. Da conjugação dos dois processos referidos resulta uma instabilidade adicional da nuvem, e maior estabilidade da camada subjacente, contribuindo para o desacoplamento entre estas duas camadas. Em estudos de CL com cumulus pouco profundos considera-se, em geral, que não ocorre solidificação da água nem precipitação. O processo de solidificação pode ser facilmente incorporado no sistema de equações. A precipitação, no entanto, acrescenta diversas dificuldades, associadas à necessidade de incorporar uma representação de diferentes processos de microfísica de nuvens: conversão de água de nuvem em água de chuva, evaporação da chuva, interacção entre chuva e agregados, etc. A precipitação através da CL tem impactos importantes na sua estrutura térmica e dinâmica, sendo responsável também pelo forçamento de correntes descendentes (Krueger, 1988). 2.5 Estrutura vertical média da camada limite convectiva Na Figura 2.6 apresentam-se perfis típicos médios de temperatura potencial, humidade específica e vento, para uma CLC. Os perfis destas propriedades reflectem a evolução da CL, descrita na Figura 2.2. Durante o dia, a CLS apresenta um acentuado 36 A camada limite atmosférica gradiente vertical de todas as propriedades, o que intensifica o transporte de calor, humidade e momento entre a superfície e o ar, o mesmo é dizer que os perfis de temperatura potencial e de humidade são instáveis. Na camada de mistura, i.e. no interior da CL, todas estas propriedades reflectem a intensa mistura, apresentando perfis bastante uniformes, em particular a temperatura potencial e o vento. A humidade específica diminui ligeiramente com a altura e a temperatura diminui de acordo com a taxa de diminuição da temperatura com a altitude num processo adiabático. Na região superior da CL a temperatura regista uma inversão, aumentando com a altura; a temperatura potencial cresce com a altura, a humidade específica diminui e o vento apresenta efeito de corte, tendendo para os valores do vento geostrófico. A presença destes fortes gradientes verticais actua como uma “tampa” para a penetração das térmicas na troposfera livre, restringindo o domínio de influência da turbulência. Z Z Z V 0 Θ q Vg V Figura 2.6 — Perfis verticais médios típicos de camada limite convectiva seca, de: temperatura potencial θ , humidade específica q e vento V . Vg refere-se ao vento geostrófico. O ciclo diurno de uma CLC com cumulus é semelhante ao descrito anteriormente para uma CLC sem nuvens (Figura 2.2), levando em consideração as modificações associadas às nuvens e à humidificação na CL. A estrutura vertical diurna típica de uma CLC com cumulus pouco profundos é ilustrada na Figura 2.7, de acordo com observações. A CLS é uma camada superadiabática, caracterizada por um decréscimo da temperatura potencial e da humidade específica total, com a altura. Sobrejacente aparece uma camada de mistura em que estas propriedades são aproximadamente constantes com a altura, até ao nível de condensação por elevação (LCL – Lifting Condensation Level), que constitui a base das nuvens e é o início da camada de nuvens cumulus. Esta camada tem a extensão vertical do conjunto dos cumulus, apresenta gradientes verticais reduzidos mas constantes de temperatura potencial e humidade. A temperatura potencial aumenta e a humidade diminui. O perfil vertical típico da camada com nuvens do tipo cumulus é um perfil condicionalmente estável: as parcelas de ar seco são estáveis e as parcelas saturadas são instáveis, de que resulta o desenvolvimento vertical das nuvens. A camada nublosa é encimada pela inversão, onde os gradientes das propriedades anteriores são muito mais acentuados. 37 A camada limite atmosférica Z Z Z V Vg 0 Θl qt V Figura 2.7 — Perfis verticais médios típicos de camada limite convectiva com cumulus pouco profundos, de: temperatura potencial θ l , humidade qt e vento V. Vg refere-se ao vento geostrófico. 38 Modelo de camada limite Lem1D 3 Modelo de camada limite Lem1D 3.1 Introdução O modelo de camada limite Lem1D, consiste numa versão unidimensional do modelo de LES do KNMI (Cuijpers e Duynkerke, 1993), com diversas alterações no que diz respeito às condições fronteira e à representação dos efeitos de subescala. O Lem1D é um modelo de alta resolução vertical, especialmente desenhado para o desenvolvimento de parametrizações de turbulência para GCMs (Global Circulation Models) e LAMs (Limited Area Models). Este modelo foi originalmente escrito em Fortran77 (Siebesma e Teixeira, 2000; Teixeira e Siebesma, 2000) e foi melhorado e ampliado, no âmbito desta tese, com diferentes esquemas em Fortran90 (Siebesma et al., 2000; Soares et al., 2001). O Lem1D baseia-se nas equações da dinâmica e da termodinâmica, com parametrização dos efeitos de subescala. As equações do modelo são escritas para uma coluna vertical, para um escoamento invíscido com rotação. Assume-se a existência de um estado de referência em equilíbrio hidrostático e geostrófico. As variáveis de prognóstico do modelo são as duas componentes da velocidade do vento (u, v ) e as propriedades termodinâmicas conservadas em processos adiabáticos, incluindo condensação/evaporação (Betts 1973): a temperatura potencial de água líquida, θ l , e a humidade específica total, qt . O modelo não contempla a presença de orografia, nem inclui um modelo de superfície. Os fluxos de superfície, i.e. o fluxo de cinemático de calor sensível, o fluxo de vapor e o fluxo de momento, são prescritos. A teoria da semelhança de Monin-Obukhov permite determinar a temperatura e a humidade específica do primeiro nível do modelo. 3.2 Equações do modelo As equações fundamentais do modelo Lem1D são as equações de prognóstico para as variáveis médias (u , v , θ l , qt ) e a equação da continuidade. O mesmo é dizer as equações de Navier-Stokes, da termodinâmica, de conservação da humidade específica total e de conservação da massa. Para uma coluna vertical, as equações do movimento médio obtêm-se de (2.33): ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ∂u ∂ 1 ∂p ∂ =− w' u ' − + fv =− w' u ' + f v − v g , ∂t ∂z ρ ref ∂x ∂z ∂v ∂ 1 ∂p ∂ =− w' v' − − fu=− w' v' − f u − u g , ∂t ∂z ρ ref ∂y ∂z (3.1) (3.2) 39 Modelo de camada limite Lem1D ( ) onde u g ,vg são as duas componentes do vento geostrófico. De (2.34) obtém-se a equação da termodinâmica ( ) ∂θ l ∂ =− w'θ l ' + Aθ + R, ∂t ∂z (3.3) em que Aθ é a advecção horizontal de temperatura e R representa o termo de forçamento radiativo. Finalmente, a equação de conservação da humidade específica total vem de (2.35), ( ) ∂qt ∂ =− w' qt ' + Aq , ∂t ∂z (3.4) em que Aq é a advecção horizontal de humidade. Estas últimas quatro equações constituem as equações de prognóstico do modelo. A estas equações é necessário acrescentar diversas equações de diagnóstico: a equação da continuidade para um fluido incompressível (2.32), a equação de estado (2.4), a condição de equilíbrio hidrostático (2.13) e as definições das diferentes variáveis. 3.3 Esquema de superfície ( ) ( ) Os fluxos de superfície w'θ l ' s e w' qt ' s , e a velocidade de atrito (u ∗ ) são prescritos e constituem o forçamento inferior da CL. Na CLS os gradientes de u , v , θ l , qt são calculados de acordo com a teoria da semelhança de Monin-Obukhov, utilizando os perfis de Dyer (1974): ( kz ∂u z ϕu = = 1 − 16 u∗ ∂z LMO )( ( em que LMO = − u∗ 3 k g θ v s w'θ v ' ϕ hθ (3.5) , ) ). A expressão para v é similar. s kz ∂θ l z = 1 − 16 = θ l ∗ ∂z LMO ϕhq = −1 4 kz ∂qt z = 1 − 16 qt ∗ ∂z LMO −1 2 −1 2 , (3.6) . Estas relações são válidas para uma CL instável, ou seja, LMO < 0 , e ( ) = − (w' q ') θ l ∗ = − w'θ l ' s u ∗ , qt ∗ t s (3.7) u∗ , 40 Modelo de camada limite Lem1D Para uma CL estável (LMO > 0 ) as expressões de ϕ hθ e ϕ m são: z ϕ m = ϕ hθ = ϕ h q = 1 + 5 , L (3.8) As propriedades da superfície (θ l s , qt s ) são também calculadas utilizando as relações anteriores na sua forma integral. Estas relações não são apropriadas quando u∗ = 0 , i.e. no regime de convecção livre. Neste caso, os gradientes verticais termodinâmicos são dados por (Prandtl, 1932; Priestley, 1954): g ∂θ l = −0.7 w'θ l ' s 2 3 θv0 ∂z ( ) −1 3 g ∂qt = −0.7 w' qt ' s 2 3 θv0 ∂z ( ) z −4 3 , (3.9) −1 3 z −4 3 . 3.4 Turbulência O modelo Lem1D dispunha inicialmente de um fecho de 1ª ordem para os fluxos turbulentos. De forma a dispor de uma parametrização adicional para a turbulência de subescala, foi adicionada uma equação de prognóstico da TKE. Esta equação permitiu implementar um esquema de ordem 1.5. Ambos os fechos consideram que os fluxos turbulentos das equações de prognóstico (3.1)-(3.4) são parametrizados recorrendo às relações (2.40) e (2.41). 3.4.1 Fecho de 1ª ordem Neste caso, as difusividades turbulentas correspondem a perfis verticais calculados através de expressões empíricas para a CLC, de acordo com Holtslag (1998). Estas expressões dependem do diagnóstico da altura da CL, z i , e de outras variáveis de escala da CLS. O coeficiente de difusão para o calor e para a humidade, Kh, obedece à teoria da semelhança próximo da superfície; é nulo junto à superfície e tem um máximo K max /( w* z i ) ≅ 0.1 : 2 K h = ku*ϕ h 0 −1 z z 1 − , zi (3.10) onde ϕ h 0 é uma função de estabilidade dada por φ h0 z = 1 − 39 LMO − 1 3 . (3.11) 41 Modelo de camada limite Lem1D O coeficiente de difusão, Km, para as duas componentes do momento linear (u, v ) é similar: 2 K m = ku*ϕ m 0 −1 z z 1 − , zi (3.12) onde a função de estabilidade ϕ m 0 é dada pela expressão ϕ m0 z = 1 − 15 LMO − 1 3 . (3.13) 3.4.2 Fecho de ordem 1.5 ( ) 3 A equação (2.39) pode ser reescrita tendo em conta (2.57) em que Λ1 = l m c1 e desprezando o termo das presso-correlações, ( ) 3 ∂e ∂u ∂v g ∂ e 2 = − w' u ' − w' v' + w'θ v ' − w' e − c13 . ∂t ∂z ∂z θ v ∂z lm (3.14) Esta equação é discretizada, com a TKE assignada aos níveis inteiros ou de massa. Esta equação de TKE é resolvida pelo método dos passos fraccionais, de forma análoga à metodologia adoptada no modelo ECHAM (Roeckner et al., 1992; Brinkop e Roeckner, 1995). Calcula-se primeiro a tendência devida a todos os termos à excepção do termo de transporte, calculando-se posteriormente a tendência devida a este último termo. Considere-se a simplificação de (3.14) em que se ignora o termo de transporte, i.e. em que se considera unicamente os temos de produção por efeito de corte, produção por flutuação e dissipação. O fluxo turbulento de flutuação w'θ v ' relaciona-se com w' qt ' e w'θ l ' pela relação w'θ v ' = At w'θ l ' + Dt w' qt ' , (3.15) onde At e Dt são para a CL não saturada, At = 1 + 0.61 qt , Dt = 0.61. (3.16) Lembrando que os termos turbulentos w'u ' , w'v' , w'θ l ' e w' qt ' são aproximados por uma aproximação de difusão-K, de acordo com as equações (2.40) e (2.41), e que as respectivas difusividades turbulentas são função de um comprimento de mistura e da raiz quadrada da TKE (2.55), i.e. K m,h = l m,h c1 e , pode então escrever-se (3.14): 42 Modelo de camada limite Lem1D 2 2 g ∂e ∂v ∂u = e l m c1 + e l m c1 + ∂t ∂z θ v ∂z 3 ∂q e 2 ∂θ e l h c1 At l + Dt t − c13 , ∂z lm ∂z (3.17) onde l h,m e c1 estão de acordo com Mailhot e Benoit (1982). Esta equação pode ser reescrita: ∂e = Be e − C e e 3 , ∂t (3.18) onde Be e Ce são ∂q g ∂θ Be = l h c1 At l + Dt t + l m c1 θv ∂z ∂z Ce = ∂u 2 ∂v 2 + , ∂z ∂z (3.19) 3 c1 , lm que em diferenças finitas resulta na equação quadrática em e∗ t +1 , 2 C e e∗ t +1 e∗ − e Be . = − 2 2 ∆t t +1 t (3.20) Neste esquema usa-se um esquema implícito. A solução da equação anterior é: 1 t +1 e* = ∆t C e ( ) t − 1 ± 1 + C e 2∆t Be 2∆t + 2 e , só a primeira solução possui significado físico, de modo a que quando ∆t → 0 (3.20). (3.21) e t +1 > 0 , e et +1 → et O valor de TKE calculado pelo procedimento anterior é posteriormente corrigido com inclusão do efeito do transporte turbulento: ( ) ∂e ∂ =− w'e' , ∂t ∂z (3.22) ou seja, e t +1 = e∗ t +1 − ∂ e t +1 − Ke ∆t , ∂z ∆z (3.23) que é integrada de acordo com Teixeira e Siebesma (2000). Assumindo-se Ke constante no espaço, por simplicidade de notação, a discretização da equação (3.23) permite obter: 43 Modelo de camada limite Lem1D t +1 ( − α e tz+−∆∆tz + (1 + 2α ) e zt + ∆t − α e zt ++∆∆tz = e zt + e∗ z , (3.24) ) onde α = K t ∆t ∆z 2 . Os coeficientes de difusão turbulenta podem ser frequentemente bastante grandes, quando comparados com o passo de tempo e a resolução usada em GCMs e modelos de NWP. Estes coeficientes podem, por vezes, ultrapassar os limites de estabilidade numérica em esquemas explícitos. De forma a contornar os problemas de estabilidade numérica, optou-se por solucionar esta equação através de um esquema implícito, tal como as outras equações de prognóstico do modelo. 3.5 Condensação e Radiação O esquema de condensação está vocacionado para diagnosticar, sempre que ocorra saturação, o conteúdo de água líquida, numa parcela de ar que ascenda na CL. Consiste numa aproximação muito simples de “tudo-ou-nada”, i.e. um ponto de grelha ou está saturado (ql > 0) ou não saturado (ql = 0 ) (Sommeria e Deardorff, 1977). Dados θ l , qt e fazendo uso da função de Exner Π , definida em (2.23), pode-se calcular a temperatura de água líquida: Tl = θ l Π. (3.25) A tensão de saturação em função de Tl , es (Tl ) , é calculada através da expressão de Bolton (1980): T − 273.16 , es (Tl ) = es 0 exp at l Tl − bt (3.26) em que es 0 = 610.78 Pa , at = 17.27 e bt = 35.86 K . A humidade específica de saturação em função de Tl , qs (Tl ) , é dada por: es q s (Tl ) = 0.622 p − 0.378 e s . (3.27) Visto que geralmente T − Tl ≤ 0.01T , uma expansão de Taylor permite relacionar qs (Tl ) com a humidade específica de saturação em função de T , ∂q (T ) q s = q s (T ) = q s (Tl ) + s (T − Tl ). ∂T T =Tl (3.28) A equação de Clausius-Clapeyron permite determinar L ∂q s (T ) = 0.622 v 2 R T ∂T T =Tl d l , (3.29) 44 Modelo de camada limite Lem1D em que o calor latente de vaporização Lv = 2.5 × 10 6 J kg −1 . Tendo em conta (2.23), (3.25), (3.28), (3.29), e que ql = qt − q s , é possível determinar a humidade específica de saturação: 2 1 + 0.622 Lv qt 2 Rd c pd Tl q s = q s (Tl ) . 2 0.622 Lv q (Tl ) 1 + 2 s Rd c pd Tl (3.30) Por último, o conteúdo de água líquida é obtido de ql = max[(qt − q s ),0]. (3.31) Este esquema permite determinar, de uma forma aproximada, o conteúdo de água líquida. O modelo não tem por agora qualquer esquema de radiação, sendo unicamente possível prescrever uma tendência associada ao aquecimento/arrefecimento radiativo, expresso por R na equação da termodinâmica (3.3). 3.6 Grelha vertical A malha vertical é do tipo deslocado. Usa-se um esquema de diferenças centradas no espaço. As variáveis u , v , θ l e qt estão definidas nos níveis inteiros ou de massa, os seus fluxos e a TKE aparecem definidos nos níveis intermédios ou de fluxo (Figura 3.1). k +1 k+1 2 k e, w'θ l ', w' qt ', w' u ', w' v' u , v , ρ , θ l , qt k =1 k =1 2 w'θ l ' S , w' qt ' S , w' u ' S , w' v'S k = −1 Figura 3.1 — Estrutura da grelha vertical do modelo Lem1D. O índice S diz respeito à superfície. Níveis intermédios ou de fluxo: linha tracejada, e níveis inteiros ou de massa: linha cheia. 45 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 4 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 4.1 Introdução A mistura turbulenta de calor, humidade e momento linear desempenham um papel importante na determinação da estrutura vertical da atmosfera, afectando o tempo à superfície e a diluição do ar da CL, e consequentemente a dispersão de poluentes. A mistura turbulenta na CLC é desempenhada por turbilhões de dimensões variadas, desde alguns milímetros até às térmicas da dimensão da própria CL. O efeito das térmicas está bem documentado, tanto através de campanhas observacionais (Lenschow e Stephens 1980; Warner, 1977) como de estudos que recorrem a simulações de LES (Schumann e Moeng, 1991a,b; Siebesma e Cuijpers, 1995; Brown et al., 2002). Nos GCMs, a mistura turbulenta de subescala é parametrizada utilizando diferentes esquemas. Quando existe a formação de nuvens na CLC, estes modelos usam, em geral, uma parametrização alternativa para o transporte vertical na camada de nuvens: um esquema de fluxo-de-massa (MF – mass-flux), enquanto que a camada abaixo das nuvens continua a ser parametrizada por difusão-K. Esta descontinuidade contribui em muitos modelos para os fracos resultados obtidos na CL com cumulus (Lenderink et al., 2004). A aproximação MF foi introduzida no contexto da convecção em cumulus (Ooyama, 1971; Betts, 1973). Recentemente, algumas parametrizações de fluxo-de-massa foram aplicadas à CLC seca (Randall et al. 1992; Wang e Albrecht, 1990), apontando para que os esquemas de fluxo-de-massa sejam os adequados para a parametrização da mistura turbulenta devida às térmicas. Estes factos associados à descontinuidade no tratamento das diferentes escalas de mistura turbulenta, sugere o desenvolvimento de um esquema unificador, para a representação da mistura turbulenta de calor e humidade em CL com e sem nuvens. Nesta secção apresenta-se o desenvolvimento de uma parametrização para o transporte turbulento na CLC, resultante da ideia original proposta por Siebesma e Teixeira (2000), que adiciona à aproximação de difusão turbulenta uma contribuição de fluxo-demassa. Esta combinação assenta na divisão da mistura turbulenta da CLC entre a mistura efectuada pelas correntes ascendentes e a mistura devida aos pequenos turbilhões. O transporte não-local associado às térmicas, estruturalmente assimétricas, é representado por uma aproximação de fluxo-de-massa. A mistura local devida aos pequenos turbilhões é descrita por um esquema difusivo. A necessidade de um termo que represente o transporte não-local na CL é há muito conhecida. A região superior da CLC apresenta um gradiente vertical da temperatura potencial ligeiramente estável e um fluxo vertical de calor positivo, o que aponta para um transporte contra-gradiente (counter-gradient). Este facto demonstrou a limitação do tipo de aproximação difusivo, que é intrinsecamente a favor do gradiente (downgradient) (Deardorff, 1966, 1972b; Schumann, 1987, Holtslag e Moeng, 1991), e sugere precisamente a adição de um termo que contribua para o transporte não-local. Holtslag e 46 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva Moeng (1991) propuseram uma representação para este transporte contra-gradiente, introduzindo um termo adicional na equação do fluxo de calor, assente em expressões empíricas. Estes autores introduziram ainda novas expressões para a difusividade térmica, baseando-se em resultados de LES. 4.2 O esquema de difusão-K/fluxo-de-massa O esquema de difusão-K/fluxo-de-massa (Eddy-Diffusivity/Mass-Flux – EDMF) é suportado na divisão em duas escalas de mistura, responsáveis pelo transporte turbulento de subescala (Figura 4.1). zi - mistura local w'φ'local ≅ − K z ∂φ ∂z - mistura não-local w'φ 'não−local ≅ M (φu − φ ) zi correntes ascendentes mais vigorosas z z wu, qu, ?u au wu qu ?u z Figura 4.1 — Esquema das diferentes escalas dos turbilhões na CL convectiva e conceptualização do esquema de difusão-K/fluxo-de-massa (EDMF). A aproximação EDMF é baseada na divisão em duas escalas da mistura turbulenta: pequenos turbilhões e correntes ascendentes. Se se definir uma fracção fixa de área au , como a fracção ocupada por movimento ascendente vigoroso, pode-se realizar a decomposição de um fluxo turbulento de uma propriedade φ em três termos, de acordo com o raciocínio expresso pelas equações (2.63) a (2.65), e que permite obter (2.66), i.e: w'φ ' = au w'φ ' + (1 − au ) w'φ ' + au (wu − we )(φu − φe ) , u e (4.1) onde u se relaciona com a região de movimento ascendente, e e se refere ao ambiente circundante. O primeiro termo do segundo membro está associado à turbulência dentro das 47 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva ascendentes. O segundo termo deste membro descreve a mistura turbulenta nas regiões circundantes, e o terceiro termo expressa a contribuição das ascendentes para o transporte turbulento vertical de φ . Este último termo é, no âmbito da aproximação de fluxo-demassa, considerado como o mais significativo para o transporte turbulento (Ooyama, 1971; Betts, 1973; Yanai et al., 1973). Siebesma et al. (2004) mostraram, recorrendo a simulações de LES, que, no caso BOMEX, mais de 80% do fluxo pode ser atribuído ao termo de fluxo-de-massa. Outros estudos de LES para a CL seca também apontam para a relevante contribuição das térmicas para o transporte total, e.g. Wyngaard e Moeng (1992) atribuem-lhe mais de 60% do transporte vertical na CL. Lenschow e Stephens (1980), recorrendo a observações, mostraram que numa CLC bastante activa o transporte vertical é dominado pelas térmicas. Na utilização da decomposição (4.1) realizam-se as seguintes simplificações: 1) a fracção de área das ascendentes com maiores velocidades, e portanto que mais contribuem para o transporte, é muito reduzida (a u << 1) , implicando que o primeiro termo do segundo membro da equação (4.1) pode ser desprezado e que φe ≅ φ ; 2) we ≅ 0 ; e, 3) a turbulência no ambiente vizinho (segundo termo do segundo membro) pode ser representada por uma aproximação de difusão-K, em vez de desprezada, como nos esquemas de fluxo-de-massa. De acordo com estas simplificações, a mistura turbulenta é representada pela soma das contribuições de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa, obtendo-se de (4.1): w'φ ' ≅ − K ∂φ + M (φu − φ ), ∂z (4.2) onde M = au wu é o coeficiente de fluxo-de-massa associado às térmicas mais fortes. Esta abordagem requer a especificação da difusividade turbulenta, K, do coeficiente de fluxode-massa, M, e das propriedades do conjunto das ascendentes mais vigorosas, φu . Com o intuito de conhecer as propriedades das ascendentes da CLC seca, realizouse um conjunto de simulações de LES, inspiradas no caso de CLC utilizado num estudo de intercomparação de modelos LES (Nieuwstadt et al., 1992). Os resultados desta intercomparação mostraram, genericamente, uma boa concordância entre os diversos modelos de LES envolvidos, excepto nas regiões onde os modelos são menos sólidos: a camada de superfície e a inversão. As simulações de LES foram efectuadas com o modelo do KNMI (Cuijpers e Duynkerke, 1993), que está sucintamente descrito no Apêndice B. As simulações correspondem a uma CLC, com diferentes forçamentos de superfície e diferentes perfis iniciais, descritos na Tabela 4.1. Todas estas experiências LES tinham em comum as seguintes propriedades iniciais à superfície: θ s = 300 K , q s = 5g kg −1 , p s = 1000 hPa , vector vento inicial, (u , v ) = (0.01;0) ms-1, não varia na vertical, e não existe forçamento de larga-escala. A resolução vertical é de 20 m e consideram-se 200 níveis verticais; o domínio horizontal é 5000 × 5000 m2, uma resolução de ≈ 78 m e um passo de tempo de 2 s. Neste conjunto de simulações foram realizados inúmeros diagnósticos das características da turbulência no domínio considerado e diagnósticos relativos a propriedades de diferentes estruturas na CL. Definem-se as térmicas mais intensas como os 48 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva pontos do domínio LES que contêm os valores da velocidade vertical acima de um dado limiar. Para cada plano horizontal considera-se uma fracção constante dos pontos de grelha que contêm as velocidades verticais positivas mais elevadas. Esta decomposição permite conhecer as propriedades de correntes ascendentes, nomeadamente, as que correspondem às fracções 0.01, 0.03, 0.05 e 0.1 das térmicas mais vigorosas. Estes diagnósticos servem de suporte para a formulação da contribuição de fluxo-de-massa apresentada na secção seguinte. Tabela 4.1 — Algumas características das simulações LES de CLC limpa. ∂θ l ∂z ini ∂qt ∂z ini Exp1 (K km-1) Figura 4.2 (km-1) Perfil inexistente Exp2 z < 500 m, instável z > 500 m, 2 Figura 5.5 Exp3 w'θ l ' w' qt ' -1 (Kms ) (ms-1) constante constante 6x10-2 0 Perfil inexistente constante constante 2 Figura 6.7 Figura 6.8 6x10-2 constante 0 constante z < 1350 m, -3.7x10-4 z > 1350 m, -9.4x10-4 Figura 6.8 3x10-2 2.5x10-5 Exp4 z < 1350 m, 0 z > 1350 m, 2 Figura 6.7 constante constante z < 1350 m, -3.7x10-4 z > 1350 m, -9.4x10-4 Figura 6.8 6x10-2 2.5x10-5 Exp5 z < 1350 m, 0 z > 1350 m, 2 Figura 6.7 constante constante z < 1350 m, -3.7x10-4 z > 1350 m, -9.4x10-4 Figura 6.8 12x10-2 2.5x10-5 Exp6 z < 1350 m, 0 z > 1350 m, 2 Figura 6.7 constante z < 1350 m, 0 z > 1350 m, 2 z < 1350 m, -3.7x10-4 z > 1350 m, -9.4x10-4 t < 2h: cte = 4.5x10-2 2 < t <10h, 4.5x10-2 + t.1.5x102 Experiência 2.5x10-5 Na Figura 4.2 apresenta-se a evolução temporal da temperatura potencial média resultado da experiência Exp1. Pode-se observar a estrutura típica de uma CLC em crescimento. O perfil médio de temperatura potencial corresponde a uma CLS instável, uma região de mistura neutra no centro da CL e uma inversão fortemente estável no topo. Quando se consideram as ascendentes mais vigorosas (Figura 4.3), estas apresentam na CLS um excesso de temperatura potencial da ordem de 0.2 K relativamente à média do domínio, e um decréscimo monótono de temperatura potencial até à região da inversão, onde convergem para os valores do ambiente médio. Esse decréscimo está relacionado com a mistura lateral de ar vizinho que penetra nas ascendentes. Globalmente, a evolução vertical deste excesso da temperatura potencial das ascendentes relativamente à média, parece poder ser descrito por uma expressão não muito complexa. Porém, na região da inversão pode antever-se que se está perante uma fenomenologia diferente, associada ao efeito de mistura-de-topo e à penetração das térmicas na AL. 49 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 2.0 Ini 2 4 6 8 10 altura (km) 1.5 1.0 0.5 0.0 298 299 θ (K) 300 301 Figura 4.2 — Evolução temporal de temperatura potencial. Média horária dos perfis verticais, resultados do LES – Exp1. 2.0 altura (km) 1.5 θup 1.0 0.5 0.0 300.1 av 1% 3% 5% θav 300.2 300.3 300.4 300.5 300.6 θ (K) Figura 4.3 — Perfis da temperatura potencial: (av) média do domínio horizontal, (1%), (3%) e (5%) médias dos pontos com movimento ascendente mais intenso referentes às fracções 0.01, 0.03 e 0.05, respectivamente. Resultados médios da 4ª hora da simulação LES – Exp1. 4.3 Contribuição de fluxo-de-massa A contribuição de fluxo-de-massa para o fluxo turbulento total depende do produto do coeficiente de fluxo-de-massa, M, proporcional à velocidade vertical das ascendentes, pela diferença entre as propriedades do conjunto de térmicas e a média do domínio horizontal, (φu − φ ) . Deste modo, é necessário construir um modelo de ascendente que represente as propriedades do conjunto das ascendentes responsáveis pelo transporte nãolocal, φu . 50 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 4.3.1 Modelo da ascendente O modelo da ascendente segue a metodologia de Betts (1973) para representar a convecção em cumulus. Considere-se uma parcela de ar que se eleva na CL com mistura lateral; das equações (2.82) e (2.87) para uma ascendente u pode-se deduzir a expressão que determina a sua estrutura vertical, vindo: ( ) ∂φ u = −ε φ u − φ , ∂z (4.3) onde ε é a taxa de mistura lateral. φu e φ são, respectivamente, uma propriedade conservada genérica, da ascendente e a sua média horizontal. O modelo de parcela é desenhado para a determinação das propriedades da ascendente: a temperatura potencial de água líquida, θ l u , a humidade específica total, qt u , a velocidade vertical, wu , e a altura da CL, zi . 4.3.1.1 Inicialização da ascendente A equação (4.3) precisa de uma condição fronteira inferior, ou seja de ser inicializada para que a sua integração vertical permita conhecer as propriedades verticais da ascendente. Para se inicializar a parcela ascendente tem que se estimar o seu excesso de temperatura potencial virtual em relação ao ambiente vizinho, ∆θ v u , (( ) ) ∆θ v u = θ v u ( z ) − θ v ( z ) ≈ f w'θ v ' s ,... . (4.4) Neste fecho, admite-se que o excesso está directamente relacionado com a variabilidade da camada de superfície, podendo ser expresso por uma combinação do excesso de ∆θ l u e ∆qt u . Para um fluxo de calor sensível de superfície constante, tendo em conta as expressões (3.7), pode escrever-se (w'θ ') v s = −u ∗θ ∗ ≈ bσ σ θ v σ w , (4.5) em que bσ é uma constante, σ θv , σ w são, respectivamente, o desvio padrão de θ v e da velocidade vertical, w. Siebesma e Teixeira (2000) admitiram que ∆θ v ≈ cσ θv , o que ( ) justifica escalar ∆θ v u com a razão entre w'θ v ' s e σ w , para um qualquer nível z1 da CLS: θ v u ( z1 ) = θ v ( z1 ) + bi (w'θ ') v s σ w ( z1 ) , (4.6) onde o valor do coeficiente bi em (4.6) foi ajustado, através de diagnósticos de LES, para 0.3. Expressões similares aplicam-se às outras variáveis, tais como θ l u e qt u . A inicialização expressa por (4.6) requer o conhecimento de σ w . No esquema EDMF consideram-se as expressões empíricas de Holtsalg e Moeng (1991), que se discutirão adiante. 51 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 4.3.1.2 Velocidade vertical da ascendente A velocidade vertical, wu , representativa do conjunto das ascendentes é calculada fazendo uso de uma versão modificada da equação de Simpson e Wiggert (1969), com um termo fonte de flutuação B = g (θ v u − θ v ) / θ v : wu ∂wu 2 = −ε b wu + aB , ∂z (4.7) onde ε expressa, como anteriormente, a taxa de mistura lateral. A introdução dos coeficientes a e b é discutida em diversos artigos (e.g. Siebesma et al., 2004) e tem como objectivo contabilizar aproximadamente o efeito das perturbações da pressão e da turbulência de escala inferior à pluma ascendente. Os valores destes coeficientes, ainda em debate, aqui considerados são: a = 2.0 e b = 1.0 . Estes valores foram diagnosticados na experiência de LES – Exp4. A altura da CL, z i , corresponde ao nível no qual wu se anula. 4.3.1.3 Formulação da mistura lateral A formulação da mistura lateral é um aspecto fundamental de qualquer esquema de fluxo-de-massa. Contudo, só nos últimos anos a sua formulação tem merecido a devida atenção, ver a secção 2.3.6.1. Siebesma e Cuijpers (1995) diagnosticaram as taxas de mistura lateral das ascendentes numa CL com cumulus recorrendo a resultados LES, obtendo taxas da ordem das referidas em (2.86). Seguindo esta metodologia, diagnosticaram-se neste trabalho as taxas de mistura lateral para uma CLC seca. Aplicando a equação (4.3) à temperatura potencial, calcularam-se os perfis verticais de mistura lateral para cada uma das três decomposições referidas, correspondentes às fracções de 1, 3 e 5 %. Os perfis obtidos podem ser observados na Figura 4.4, verificando-se que, apesar de alguma dispersão, apontam para uma forte relação entre a mistura lateral, a altura, z, e a altura da CL, z i . A análise anterior foi também realizada para a humidade específica total, indicando uma relação semelhante para a mistura lateral da ascendente. Estes resultados justificam o recurso a uma expressão empírica para o cálculo da taxa de mistura lateral, em função da altura da inversão. Apontando na mesma direcção, Siebesma (1998), tendo por base argumentos simples propôs que a expressão para a mistura lateral nos núcleos ascendentes de cumulus, deverá ser inversamente proporcional à distância da base das nuvens (ε ≈ 1 z − z b ) . Uma análise de resultados LES na CLS, numa decomposição ascendente/descendente indicou também uma dependência da mistura lateral com a altura. Os resultados LES apresentados na Figura 4.4 justificam a expressão geral (curva a cheio) para o cálculo da taxa de mistura lateral, presente nas expressões (4.3) e (4.7), dada por: 1 1 , ε = cε + z z − z i (4.8) em que cε ≈ 0.4 . 52 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 1.0 0.8 z/zi 0.6 0.4 1% 3% 5% 0.4*(z/zi)*(1-(z/zi)) 0.2 0.0 0.0 0.2 0.4 1/(ε zi) 0.6 0.8 1.0 Figura 4.4 – Triângulos, circunferências e asteriscos representam a mistura lateral das ascendentes de fracções, 1%, 3% e 5%, respectivamente. A linha a cheio representa uma relação que se ajusta ao conjunto de pontos, para descrever a mistura lateral do conjunto de correntes ascendentes. Os primeiros testes com esta formulação para a mistura lateral apontaram para alguma dependência com a resolução vertical, sugerindo-se a seguinte correcção para resoluções mais grosseiras, 1 1 1 . ε = max 0., min cε , cε + z zi − z ∆z (4.9) Os principais novos aspectos deste modelo de ascendente são: a expressão da mistura lateral; ter em conta a penetração das térmicas mais vigorosas na região da inversão, ou mesmo acima desta, visto que z i é tomado como a altura a que a velocidade vertical wu se anula, e não o nível de flutuação mínima. A equação da velocidade vertical (4.7) é fundamental neste esquema, uma vez que a altura da CL, zi , é através dela diagnosticada. 4.3.2 Perfil do coeficiente de fluxo-de-massa A Figura 4.5 mostra as médias horárias dos perfis da velocidade vertical para diferentes fracções das ascendentes mais vigorosas, e o desvio padrão da velocidade vertical; estas quantidades foram diagnosticadas a partir da simulação LES – Exp1. Estes perfis suportam a possibilidade de escalar o fluxo-de-massa das ascendentes, M = au wu , com o desvio padrão da velocidade vertical, em concordância com um dos critérios utilizados para identificar observacionalmente as térmicas (Lenschow e Stephens, 1980). De facto, uma das formas de se identificarem térmicas na CLC é através da observação de perturbações positivas da velocidade vertical, acima de uma determinada fracção do desvio padrão da velocidade vertical observada. Assim, considera-se 53 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva M ≈ cσ σ w , (4.10) em que cσ = 0.5 , o que remete a formulação de M para o conhecimento do desvio padrão da velocidade vertical σ w , tal como a própria inicialização da ascendente. 2.0 altura (km) 1.5 σw 1.0 wup - 1% 3% 5% 0.5 0.0 0.0 0.5 1.0 1.5 -1 w (ms ) 2.0 2.5 3.0 Figura 4.5 — Perfil vertical da velocidade vertical da percentagem de ascendentes mais vigorosas e desvio padrão da velocidade vertical. Média horária das simulações LES. Tendo em conta que um dos objectivos desta nova parametrização é a sua implementação em modelos de larga escala, nomeadamente no modelo do ECMWF, o recurso a expressões empíricas é muito atractivo pela economia de recursos que proporciona. Assim, o desvio padrão da velocidade vertical é calculado recorrendo a uma expressão empírica, derivada da combinação de observações, de medições realizadas em experiências com tanques laboratoriais e dados de LES (Holtslag e Moeng, 1991): 3 u ∗ σw z ≅ 1.26 + 0.6 w∗ zi w∗ 1 1 3 z 1 − 2 , z i (4.11) onde w∗ é a escala de velocidade convectiva, dada por ( ( ) ) 1 w∗ = gβ w'θ v ' s zi 3 . (4.12) Para aferir a qualidade destas expressões na CLC, comparam-se na Figura 4.6 os perfis obtidos pela expressão (4.11) para 3 simulações LES e os respectivos diagnósticos de σ w . 54 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 1.0 LES - Exp 1 2 3 HM91 - Exp 1 2 3 0.8 z/zi 0.6 0.4 0.2 0.0 0.0 0.2 0.4 0.6 2 2 0.8 1.0 2 -2 σw / w* (m s ) Figura 4.6 — Perfis verticais da variância da velocidade vertical escalada pelo quadrado da velocidade vertical convectiva, dados por: resultados de LES e pelas expressões (4.11) de Holtslag e Moeng (1991) (HM91). 4.4 Contribuição de difusão-K Para completar o esquema EDMF expresso por (4.2) resta especificar a difusividade turbulenta para o calor e humidade. Seguindo Troen e Mahrt (1986) utilizamse os perfis verticais de K, que dependem de escalas características da CLC. A prescrição dos perfis de K constitui uma abordagem muito simples, que se tem revelado bastante robusta na CLC (Troen e Mahrt, 1986; Holtslag et al., 1995). Assim considera-se, 2 K h = k u* φh 0 −1 z z 1 − , zi (4.13) em que φ h 0 é uma função da estabilidade dada por φ h0 z = 1 − 39 LMO − 1 3 . (4.14) Estes perfis possuem três propriedades: obedecem à teoria da semelhança na CLS; anulamse na inversão e têm o valor máximo adimensionalizado: (K max w∗ zi ) ≅ 0.1 . 4.5 Implementação do esquema no modelo Lem1D A implementação deste esquema no modelo Lem1D implica a definição de um método numérico capaz de integrar a contribuição simultânea dos dois termos turbulentos: o termo difusivo e o de fluxo-de-massa. 55 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 4.5.1 Modelo de ascendente A velocidade vertical da ascendente descrita pela equação (4.7) é discretizada nos níveis intermédios, tal como a taxa de mistura lateral, de acordo com wu 2 k+ 1 2 = wu 2 k− 1 2 (1 − 2 z mix ) 2 B∆z k + , (1 + 2 z mix ) (1 + 2 z mix ) (4.15) em que z mix = 0.5∆z k ε k . ∆z k e ε k são, respectivamente, o espaçamento da grelha e a taxa de mistura lateral no nível k. 4.5.2 Integração numérica No esquema EDMF os fluxos turbulentos de subescala são parametrizados pela combinação de difusão-K e fluxo-de-massa, (4.2). Partindo da equação de prognóstico (2.34), para a temperatura potencial (ql nulo), se considerarmos que a tendência só pode ser modificada pela divergência do fluxo turbulento ou por um forçamento, obtém-se: ∂θ ∂ ∂θ = − − K + M (θ u − θ ) + Sθ , ∂t ∂z ∂z (4.16) onde Sθ representa um termo fonte devido a forçamento de larga-escala ou outros processos físicos parametrizados, como a radiação. A parametrização EDMF depende de duas contribuições que devem ser simultaneamente resolvidas, implicando a necessidade de solucionar uma equação de advecção-difusão. Os coeficientes de difusão e de fluxo-de-massa podem ser bastante grandes, para o passo de tempo e a resolução usada em GCMs e LAMs. Estes coeficientes podem, por vezes, ultrapassar os limites de estabilidade numérica em esquemas explícitos de difusão e de advecção (Teixeira e Siebesma, 2000). De forma a contornar os problemas de estabilidade numérica, esta equação é solucionada através de um esquema implícito para ambas as contribuições. Usa-se um esquema de diferenças centradas no espaço para o termo de difusão, e um esquema de diferenças avançadas para a contribuição de fluxo-demassa. Assumindo-se K e M constantes no espaço, por simplicidade de notação, a discretização da equação (4.16) permite obter: − α mθ zt +− ∆∆zt + (1 + 2α m + β m )θ zt + ∆t − (α m + β m )θ zt ++ ∆∆tz = θ zt + S zt , (4.17) ∆t ∆t , βm = M t e S é o termo fonte. A derivada vertical que envolve as 2 ∆z ∆z propriedades da ascendente é tomada como explícita no tempo. onde α m = K t Visto que a equação é não-linear (os coeficientes de fluxo-de-massa e de difusão dependem das variáveis médias), o esquema implícito proposto pode não ser sempre numericamente estável. Se este problema se manifestar, uma melhor solução pode ser a generalização do esquema de difusão sugerido por Teixeira (1999), para uma equação de advecção-difusão, que apresenta uma maior estabilidade e frequentemente melhores resultados que o esquema implícito. 56 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 4.6 Resultados do Lem1D A parametrização descrita anteriormente é apelidada de EDMF-EMP (EddyDiffusivity/Mass-Flux EMPirirical formulation scheme) devido à base empírica na formulação das contribuições de difusão-K e fluxo-de-massa. O primeiro caso de validação deste esquema é baseado na experiência de LES (Exp1) apresentada sucintamente na Tabela 1. Este teste corresponde a uma CL seca e toma como perfil inicial de temperatura potencial a média da primeira hora desta propriedade na simulação LES. Este perfil, que pode ser observado na Figura 4.7 (Ini), apresenta uma CLS instável, um perfil estável até aos 500 m de altura e, sobrejacente, um perfil muito estável com um gradiente vertical ∂θ ∂z = 2 K km −1 . A condição fronteira inferior corresponde à prescrição de um fluxo de calor sensível constante, w'θ ' s = 6 × 10 −2 K m s −1 , sendo as restantes propriedades θ s = 300 K e p s = 1000 hPa . A primeira simulação foi realizada com uma resolução vertical de 20m (tal como no LES, (ar - alta resolução) nas figuras seguintes) e um passo de tempo de 300 s. Uma segunda simulação foi realizada com uma resolução vertical correspondente à grelha vertical de 40 níveis do modelo do ECMWF, que possuí aproximadamente 300m de resolução no interior da CL ((br – baixa resolução) nas figuras seguintes). A evolução dos perfis de temperatura potencial (média horária) calculada com o novo esquema apresenta-se na Figura 4.7. O crescimento e a estrutura da CL são bastante realistas, quando comparados com os resultados LES (Figura 4.2). 2.0 Ini 2 4 6 8 10 altura (km) 1.5 1.0 0.5 0.0 298 299 θ (K) 300 301 Figura 4.7 — Evolução temporal da temperatura potencial. Média horária dos perfis verticais, resultados do novo esquema EDMF-EMP com resolução de 20m. A comparação destes perfis com os obtidos na simulação LES, para a 5ª e 10ª hora, corrobora a qualidade do esquema na representação da evolução da estrutura vertical da CLC. Os resultados com a simulação de maior resolução são francamente bons. As três regiões da CL apresentam uma quase total concordância com o LES: a CLS instável, a camada de mistura quasi-neutra e a região da inversão fortemente estável. Estas características aparecem pior representadas com a resolução mais grosseira, porém, 57 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva continuam ainda a registar uma evolução temporal correcta e estrutura vertical bastante boa. 2.0 LES ar br altura (km) 1.5 1.0 10h 5h 0.5 0.0 299.0 299.5 300.0 300.5 301.0 θ (K) Figura 4.8 — Perfis verticais de temperatura potencial. Média horária da 5ª e 10ª hora. Resultados do novo esquema, (ar) resolução de 20m e (br) resolução ecmwf-40, e do modelo LES. O perfil linear do fluxo de temperatura potencial (Figura 4.9) característico da CLC é correctamente representado pelo esquema EDMF-EMP. O fluxo na inversão responsável 2.0 10h LES ar br altura (km) 1.5 1.0 5h 0.5 0.0 -0.02 0.00 0.02 -1 w'θ' (ms K) 0.04 0.06 Figura 4.9 — Perfis verticais do fluxo de temperatura potencial. Média horária da 5ª e 10ª hora. Resultados do novo esquema, (ar) resolução de 20m e (br) resolução ecmwf-40, e do modelo LES. pelo crescimento da CL apresenta valores bastante próximos dos do LES, concordantes com a teoria de Driedonks (1982). Contudo, ambas as resoluções apresentam uma ligeira sobrestimação desse fluxo em momentos distintos. Na Figura 4.10 mostra-se o fluxo total de temperatura potencial, juntamente com as duas contribuições que lhe dão origem, difusão-K e fluxo-de-massa, i.e. os dois termos do membro da direita de (4.2). Estes resultados correspondem à média da 10ª hora de 58 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva simulação do esquema EDMF-EMP. A contribuição de fluxo-de-massa para o fluxo total é dominante em quase toda a CL. Em particular, na região da inversão esta dominância assume um papel muito relevante, pois aumenta consideravelmente o fluxo de flutuação associado ao processo de mistura de topo, determinante para o crescimento da CL. Resultados de LES (Sullivan et al., 1998) confirmam que as térmicas desempenham um papel crucial na mistura de topo. A região de inversão na Figura 4.3 mostra que (φu − φ ) muda de sinal, tornando-se negativo, o que permite que o termo de fluxo-de-massa possa naturalmente representar o característico fluxo de flutuação negativo, no topo da CL. Este soma-se à, também negativa, contribuição devida à mistura local do termo difusivo. 2.0 difusão-K fluxo-de-massa total altura (km) 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 -1 w'θ' (ms K) Figura 4.10 — As contribuições de difusão-K (Eddy-diffusivity, ED) e de fluxo-de-massa (Massflux, MF) para o fluxo vertical de temperatura potencial. Médias horárias dos resultados do novo esquema para a 10ª hora de simulação. O crescimento da CL é uma das características melhor descritas por esta nova aproximação (Figura 4.11). A concordância entre a evolução da altura da CL resultante da 2.0 altura (km) 1.5 1.0 LES ar br 0.5 0.0 2 4 6 tempo (h) 8 10 Figura 4.11 — Evolução temporal da altura da CL. Resultados do esquema EDMF-EMP: (ar) resolução de 20m e (br) resolução ecmwf-40, e do modelo LES. 59 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva simulação de alta resolução (ar) e de LES é muito grande. Relativamente à simulação com baixa resolução (br) a evolução temporal continua a ser bem descrita, mas apresenta uma ondulação associada à grande distância entre os níveis verticais do modelo. Apesar de o modelo de ascendente ser bastante simples, tanto no que diz respeito à equação da velocidade vertical como à taxa de mistura lateral consideradas, os perfis verticais da velocidade vertical calculados recorrendo a (4.7) são bastante próximos dos valores das diferentes fracções de ascendentes diagnosticadas, através das simulações LES (Figura 4.12). 1.0 0.8 1% 3% 5% ar br z/zi 0.6 0.4 0.2 0.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 w/w Figura 4.12 — Perfis verticais da velocidade vertical da ascendente. Resultados correspondentes a médias horárias, do esquema EDMF-EMP: (ar) resolução de 20m e (br) resolução ecmwf-40; e de diagnósticos de LES para as diferentes fracções de ascendentes mais vigorosas. 4.6.1 Mistura de topo A mistura-de-topo é um processo típico de mistura de interface, que está presente em quase todos os escoamentos geofísicos. Apesar de crucial para o crescimento da CL, trata-se de um processo ainda não bem compreendido e bastante mal representado nos modelos atmosféricos (Ayotte et al., 1996). De modo a sistematizar o estudo do processo de mistura-de-topo, define-se a taxa de mistura-de-topo como a diferença entre a taxa temporal de variação da altura da CL e a velocidade de subsidência na inversão, wi , expressa pela velocidade de mistura de topo, went , went = dz i − wi . dt (4.18) O primeiro modelo conceptual para calcular a taxa de mistura-de-topo da CLC foi realizado por Lilly (1968). Este modelo é conhecido por modelo de salto de ordem zero (zeroth-order jump model) e representa a taxa a que o ar misturado da CL penetra na região estável sobrejacente (ver Figura 4.13a). Para isso, considera que a espessura da inversão δz é nula, z i é a altura da inversão (à qual w'θ ' v zi é mínimo), a camada estável possui ( ) 60 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva um gradiente γ = ∂θ v ∂z e que a intensidade da inversão é dada pela descontinuidade de temperatura potencial virtual através da inversão, ∆θ v i , daí resultando: ( dz i − wi ∆θ v i = went ∆θ v i = − w'θ ' v dt (a) (b) z (m) z (m) ??v ) zi . (4.19) ? ? ?v ? h zi dz zi (w’?’v)zi (w’?’v)zi (w’?’v)s ?v (K) 0 w’?’v (Wm-2) Figura 4.13 – Perfis verticais de primeira ordem. (w’?’v)s ( θ v e w'θ v ' 0 ?v (K) ) s w’?’v (Wm-2) em modelos de salto: (a) de ordem zero e (b) de γ = ∂θ v ∂z da região acima da inversão, z i é a altura da inversão, ∆θ v i é a intensidade da inversão e δz é a espessura da inversão. Uma das aproximações mais utilizadas considera que na CLC seca o fluxo turbulento de temperatura potencial virtual no topo da CL, w'θ v ' zi , é uma fracção fixa, ( Awθ , do fluxo à superfície, w'θ v ' ) s ( (Tennekes, 1973; Betts, 1973; Carson, 1973), i.e. (w'θ ' ) = (w'θ ' ) v zi ) v min ( ) = Awθ w'θ v ' s . (4.20) Esta fracção é frequentemente tomada como constante e igual a 0.2 (e.g. Stull, 1976). Esta admissão, de que a razão entre o fluxo à superfície e na inversão é constante, está na origem de uma parametrização adoptada em alguns modelos. Nestas, o valor da difusividade turbulenta no topo da CLC, K topo , é constrangido de forma a satisfazer essa razão entre os fluxos, ou seja, ( K topo = −0.2 w'θ v ' ) s ∆z . ∆θ v (4.21) Esta aproximação foi implementada no modelo ECMWF (Beljaars e Betts, 1992). Porém, e de acordo com Sullivan et al. (1998) esta razão entre os fluxos, expressa por (4.20), não é geral como seria de desejar. Se se observar a Figura 4.14, em que se 61 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva ( ) ( apresenta a evolução temporal de w'θ v ' min w'θ v ' s ) na experiência LES-Exp1, pode-se constatar que esta razão não é constante, oscilando aproximadamente entre 0.05 e 0.25. 0.25 -w'θ'v min/ w'θ'v s 0.20 0.15 0.10 0.05 0.00 0 2 4 6 tempo (h) 8 10 Figura 4.14 — Evolução temporal da razão entre o fluxo no topo da CL e o fluxo à superfície, de temperatura potencial virtual. Resultados do modelo LES— Exp1. As experiências de convecção forçada termicamente em tanques laboratoriais, levadas a cabo por Deardorff et al. (1980), demonstraram uma correlação entre a taxa de mistura-de-topo e Ri: went ARi , = w∗ Ri (4.22) em que 0.1 < ARi < 0.2 , Ri corresponde a um valor global para a CL, dado por ( ) Ri = g θ v 0 ∆θ v i z i w∗ . Esta relação revela que a taxa de mistura depende do estado turbulento da CL e da diferença de temperatura virtual na interface. Turner (1973) já tinha anteriormente sugerido esta dependência, recorrendo a análise dimensional. No entanto, estudos posteriores não permitiram formular expressões gerais que abarcassem a variação apresentada pelo coeficiente ARi . Esta incapacidade foi relacionada com a hipótese de que 2 δz = 0 . Adicionalmente, verifica-se que ARi varia com o efeito de corte (Moeng e Sullivan, 1994). Consequentemente, modelos de ordem superior foram desenvolvidos. O modelo de salto de primeira ordem considera que a espessura da inversão é finita, δz ≠ 0 (Figura 4.13b). A altura em que w'θ v ' é mínima continua a ser z i , mas a altura em que ( ) (w'θ ') v ( ) ( se anula é h = z i + δz . Considerando ∆θ v i = θ v h − θ v zi ) e θˆ = θ h − θ zi 2 , Betts (1974) mostrou que: ( went ∆θ v i = − w'θ ' v ) zi + δz ∂θˆ , ∂t (4.23) 62 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva expressão esta, que se reduz a (4.19) quando δz = 0 . Betts (1974), Deardorff (1979) e van Zanten (2000) desenvolveram diferentes modelos fazendo uso da equação (4.23) sem a derivada temporal. Sullivan et al. (1998) utilizaram simulações de LES para investigar o processo de mistura-de-topo e a estrutura de diferentes CLCs, caracterizadas por números de Richardson, Ri, distintos. Deste estudo importa destacar duas conclusões para o intervalo 13.6 ≤ Ri ≤ 43.8 : a mistura-de-topo é maioritariamente devida às térmicas e a taxa normalizada de mistura-de-topo (went w∗ ) varia inversamente com Ri. Dividindo (4.23) por w∗ , ( ( manipulando Aδz = δz w'θ v ' a expressão, ) )(∂θˆ ∂t ) , obtém-se definindo ( ) (w'θ ') Awθ = − w'θ v ' zi e v s s went 1 = ( Awθ + Aδz ). w∗ Ri ( Sullivan et al. (1998) considerando ∂θˆ ∂t = ∂ θ (4.24) h zi ) ∂t verificaram a consistência deste modelo, realçando a necessidade das duas contribuições, Awθ e Aδz para ARi . Awθ tem que ver com a contribuição do fluxo de flutuação de topo e Aδz está associado ao efeito da espessura da inversão. Awθ e Aδz são individualmente menores que 0.2, mas a sua soma apresenta valores muito próximos daquele valor. De forma análoga, utilizando os resultados da experiência LES-Exp1 diagnosticouse a relação entre went w∗ e os termos Awθ Ri (Figura 4.15a) e Aδz Ri (Figura 4.15b) separadamente, e com a soma destes últimos (Figura 4.15c), verificando-se a validade da expressão (4.24). A Figura 4.15a e a Figura 4.15b mostram que os valores de cada uma das razões são maiores do que went w∗ , realçando portanto, a insuficiência da aproximação mais simplista, que constitui considerar a representação da mistura-de-topo através da razão entre o fluxo de flutuação mínima e fluxo de superfície. Assim, as parametrizações de mistura-de-topo devem ter em consideração uma espessura da inversão não nula. A necessidade das duas contribuições anteriores para a taxa de mistura-de-topo, permite estabelecer um paralelismo com a necessidade das duas contribuições, de difusãoK e de fluxo-de-massa, para o fluxo vertical total na região da inversão. De facto, a contribuição de fluxo-de-massa é preponderante na região de espessura finita da inversão, em que (φu − φ ) < 0 , levando em conta o efeito da penetração das térmicas na AL. Se a espessura da inversão fosse nula, então ARi = Awθ =cte e a aproximação (4.21) seria suficiente para parametrizar o efeito de mistura-de-topo. De facto, no caso desta experiência de verificação, tal como em Sullivan et al. (1998), o termo Aδz contribui muito mais que Awθ para o valor de ARi , sugerindo que o processo de mistura-de-topo não é simplesmente controlado pelos fluxos de superfície, mas que requer uma representação dos processos mais vigorosos de mistura através da inversão, associados às térmicas. 63 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 0.05 0.05 (a) (b) 0.04 0.04 0.03 Aδz/Ri Awθ/Ri 0.03 LES 0.02 0.02 0.01 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00 LES 0.01 0.02 0.03 went / w* 0.04 0.05 0.01 0.02 0.03 went / w* 0.04 0.05 0.05 (c) (Awθ+Aδz)/Ri 0.04 0.03 0.02 0.01 LES 0.00 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 went / w* Figura 4.15 — Comparação do modelo de salto de primeira ordem com os resultados da Exp1 com o modelo LES para a taxa de mistura-de-topo: (a) contribuição do fluxo de flutuação mínimo Awθ Ri , (b) contribuição da espessura da inversão Aδz Ri e (c) contribuição total ( Awθ + Aδz ) Ri . 4.6.2 Comparação com outras aproximações Os resultados anteriores mostram a qualidade deste novo esquema. Importa agora, compará-lo com outras aproximações, nomeadamente com as mais directamente relacionadas, que são: de difusão-K (Holtslag, 1998) e de difusão-K com termo de contragradiente (Holtslag e Moeng, 1991). A primeira aproximação corresponde a considerar a difusividade turbulenta de calor descrita pelas expressões (4.13) e (4.14). A segunda parametrização, aqui em comparação, considera que o fluxo turbulento é dado por 64 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva w′φ ′ = − K ∂φ + Kγ c , ∂z (4.25) onde o termo de contra-gradiente é expresso por Kγ c . Esta aproximação considera que as difusividades turbulentas obedecem também às equações (4.13) e (4.14). O coeficiente de contra-gradiente é dado por, γ c = aγ w* σ w zi 2 (w'θ ') , (4.26) s em que a ≅ 2. Considerando as mesmas condições iniciais da simulação de validação do esquema EDMF-EMP, realizaram-se simulações correspondentes com os dois esquemas referidos. A Figura 4.16 mostra a comparação dos perfis verticais de temperatura potencial resultado dos diferentes esquemas e do modelo LES (média horária da 5ª hora de simulação). Pode ver-se que o novo esquema é o que mais se aproxima do perfil de LES, em toda a sua extensão. 1.5 altura (km) 1.0 LES K+M K K+C 0.5 0.0 299.0 299.2 299.4 299.6 299.8 θ (K) Figura 4.16 — Comparação dos perfis verticais de temperatura potencial resultado dos diferentes esquemas. Média horária da 5ª hora referentes aos esquemas de: (K+M) EDMF-EMP, (K) difusão-K, (K+C) difusão-K com termo de contra-gradiente, e do modelo LES. O esquema EDMF-EMP melhora em todas as camadas a descrição da estrutura da CLC, relativamente às outras duas aproximações. A aproximação de difusão-K (K) apresenta o perfil instável inerente a esta aproximação, em concordância com a argumentação referente à Figura 2.4. O esquema com termo de contra-gradiente (K+C) não padece deste problema, uma vez que existe mistura contra-gradiente. No entanto, exibe um fraco crescimento da CL, ou seja, produz insuficiente mistura-de-topo, e apresenta um perfil que revela uma camada central pouco misturada. A análise dos perfis verticais das contribuições dos termos de difusão-K e de contra-gradiente (médias horárias dos resultados do esquema K+C para a 5ª hora de simulação), para o fluxo vertical de temperatura potencial, revela a origem do fraco 65 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva crescimento da CL resultante desse esquema (Figura 4.17). De facto, o termo de transporte não-local, i.e. o termo de contra-gradiente é sempre positivo, diferentemente do termo de fluxo-de-massa no esquema EDMF-EMP proposto (Figura 4.10). Deste modo, o fluxo de flutuação negativo associado à mistura-de-topo é contrariado. Neste exemplo, as duas contribuições na região da inversão são quase simétricas, o que provoca a quase ausência de mistura de topo, e a consequente falta de crescimento da CLC. O termo de contragradiente, ao acrescentar transporte contra-gradiente, inibe o processo de mistura de topo. 2.0 countra-gradiente difusão-K total altura (km) 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 -1 w'θ' (ms K) Figura 4.17 — As contribuições dos termos de difusão-K e de contra-gradiente para o fluxo vertical de temperatura potencial. Médias horárias dos resultados do esquema de Holtslag e Moeng (1991) para 5ª hora de simulação. Comparar com a Figura 4.10. A evolução temporal da altura da CL (Figura 4.18) resultante dos diferentes esquemas em comparação permite extrair a mesma conclusão que anteriormente. O novo esquema (K+M) apresenta a melhor descrição deste parâmetro da CL, revelando a boa representação do efeito de mistura-de-topo. O esquema de difusão-K (K) é demasiado agressivo, os perfis das difusividades prescritos sobreavaliam o fluxo de mistura-de-topo e a CL cresce mais 200 m do que no LES, 10h após o inicio da simulação. Por outro lado, o esquema de difusão-K acrescentado do termo de contra-gradiente (K+C) subavalia, no mesmo instante, em cerca de 200 m a altura da CL. Este fraco crescimento da CL deve-se à falta de mistura-de-topo na região de inversão, já referida anteriormente (Figura 4.17), e constitui um dos aspectos negativos da introdução do termo de contra-gradiente. O crescimento da altura da CL resultante do novo esquema, com uma resolução vertical correspondente à grelha vertical de 40 níveis do ECMWF (K+M (br)), é bastante razoável, melhor que qualquer um dos esquemas alternativos com a resolução de 20 m. Este resultado é importante para fundamentar a possível implementação deste novo esquema no modelo do ECMWF, que constituiu uma das motivações deste trabalho. As duas simulações apresentadas foram posteriormente realizadas com um passo de tempo de 900 s, sendo os resultados relativamente próximos dos anteriores, o que ajuda também a viabilizar a implementação no modelo referido. 66 Esquema de difusão-K/fluxo-de-massa para a parametrização da camada limite convectiva 2.0 altura (km) 1.5 1.0 LES K+M K + M (br) K K+C 0.5 0.0 2 4 6 tempo (h) 8 10 Figura 4.18 — Evolução temporal da altura da CL. Resultados dos diferentes esquemas: (K+M) EDMF-EMP (br-resolução de ecmwf-40), (K) difusão-K, (K+C) difusão-K com termo de contragradiente, e do modelo LES. Os casos correspondentes às experiências LES, exp1,2 e 4,descritas na Tabela 1 foram também alvo de simulação com o esquema EDMF-EMP. Os resultados obtidos (não apresentados) apontam para o mesmo tipo de conclusões que as extraídas na discussão anterior. 4.7 Conclusões Neste capítulo mostrou-se que uma simples combinação das aproximações de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa consegue descrever o transporte vertical turbulento na CLC. Os resultados são muito promissores, visto não sofrerem dos efeitos adversos de outras teorias mistas, como os associados à introdução do termo de contra-gradiente na aproximação de difusão-K. O esquema de difusão-K/fluxo-de-massa (EDMF-EMP) apresentado assenta numa formulação simplificada, em que algumas experiências de LES e expressões empíricas bem conhecidas da CLC são utilizadas para a sua construção e suporte. Apesar disso, as propriedades termodinâmicas médias da CLC são bem descritas por este novo esquema, fruto da boa representação dos fluxos turbulentos. Na teoria de contra-gradiente a misturade-topo é fortemente inibida, enquanto que no esquema EDMF-EMP este processo é bem representado. Este tipo de combinação apresenta uma clara vantagem para a futura descrição dos vários regimes da CL com nuvens. A introdução de um esquema de condensação no modelo de ascendente proposto poderá permitir representar o transporte em cumulus, sem recorrer a uma parametrização independente. Desta forma, o modelo da ascendente decide automaticamente se as térmicas condensam e se se transformam em correntes ascendentes pertencentes a uma nuvem. Esta metodologia permite evitar interacções de difícil interpretação, frequentes entre os diferentes esquemas de turbulência e convecção. 67 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta 5 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta O trabalho descrito neste capítulo foi incluído no artigo: Soares, P. M. M., P. M. A. Miranda, J. Teixeira e A. P. Siebesma, 2004: An Eddy-diffusivity/Mass-Flux turbulence parametrization based on the TKE equation. Submetido ao Journal of Geophysical Research. 5.1 Introdução Nos modelos de previsão do tempo (NWP) o transporte vertical de subescala tem que ser parametrizado. A maioria dos modelos de NWP ainda usam fechos de turbulência de primeira ordem. Recentemente, o recurso a fechos turbulentos de ordem mais elevada tem crescido, nomeadamente em modelos de área limitada, sendo os mais disseminados os baseados na equação da energia cinética turbulenta (TKE). Ambos os fechos, de 1ª ordem e os suportados na equação da TKE, assentam no conceito de comprimento de mistura, l, e requerem o cálculo de uma difusividade turbulenta, K, que no caso dos últimos esquemas é função da TKE. Os perfis das variáveis médias na CL produzidos pelas aproximações que utilizam a equação da TKE são em geral mais realistas, mas sofrem de alguns problemas em comum com os fechos de 1ª ordem, nomeadamente, subavaliam a mistura-de-topo, e têm um carácter local. Estes aspectos são detalhadamente discutidos na secção 4.6. Recentemente foi mostrado que alguns esquemas de difusão turbulenta (eddy-diffusivity ED) são capazes de representar bem a mistura-de-topo (Teixeira e Cheinet, 2004; Cheinet e Teixeira, 2003). No entanto, esses esquemas são incapazes de parametrizar os fluxos contra-gradiente. No capítulo 4 propôs-se um caminho para a unificação das parametrizações da CLC, combinando as aproximações de difusão turbulenta e fluxo-de-massa, cuja formulação se baseia em expressões empíricas clássicas. Neste capítulo, a parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa empírica (EDMF-EMP) é modificada, tomando a equação de balanço da TKE como a principal base física para a formulação da parametrização, evitando a necessidade de relações empíricas. Designa-se esta nova formulação por EDMF-TKE (Eddy-Diffusivity/Mass-Flux TKE formulation), sendo concebida para modelos de mesoscala e outros modelos com fechos de turbulência de ordem 1.5. Na aproximação EDMF-TKE ambas as contribuições, difusiva e de fluxo-demassa, se relacionam com a TKE. Deste modo, combina-se um fecho para a turbulência de ordem 1.5 com o efeito de mistura não-local, associado às térmicas. Estas são modeladas por uma ascendente simples com mistura lateral, sendo o coeficiente de fluxo-de-massa proporcional ao desvio padrão da velocidade vertical, diagnosticada a partir da equação de balanço da TKE. Este novo esquema foi implementado no modelo de investigação MesoNH (Mesoscale Non-hydrostatic) (Lafore et al., 1998) tirando partido do fecho de difusão-K 68 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta de Bougeault e Lacarrère (1989) (BL89). O modelo MesoNH está sucintamente descrito no Apêndice A. 5.2 Esquema EDMF-TKE O esquema EDMF-TKE baseia-se na decomposição dos fluxos de subescala apresentada na equação (4.1), sendo o fluxo turbulento total dado pela soma de uma contribuição de difusão turbulenta com um termo de fluxo de massa (4.2). Tal como anteriormente, esta aproximação requer a especificação da difusividade turbulenta, K, do coeficiente de fluxo-de-massa, M, e das propriedades das ascendentes mais vigorosas, φu . 5.2.1 Coeficientes de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa Com o objectivo de se construir um esquema fisicamente bem constrangido, tomase, na presente aproximação, a equação de balanço de TKE como a base para o cálculo de K e M. O coeficiente de difusão é proporcional a um comprimento de mistura, a uma função de estabilidade e a uma escala de velocidade, que é a raiz quadrada da TKE, e é dado por (9.2). Usa-se o esquema de BL89 para calcular o comprimento de mistura, sendo este função da distância que uma parcela pode percorrer, para cima ou para baixo, com a energia cinética turbulenta do nível inicial ((9.4)-(9.6), ver Apêndice A). Na secção 4.3.2 mostrou-se que o perfil do coeficiente de fluxo-de-massa na CLC escala bem com o desvio padrão da velocidade vertical. Deste modo, admitiu-se que M = cσ σ w , sendo σ w dado por uma expressão empírica. Aqui, propõe-se uma formulação alternativa, onde a variância da velocidade vertical é diagnosticada através da TKE. Com base na equação de balanço da TKE (9.3), considerada no modelo MesoNH, é possível deduzir uma relação para a variância da velocidade vertical, 1 w' 2 = 2 4 l 2 ∂w e− e , 3 15 C m ∂z (5.1) em que Cm = 4 (ver Apêndice A), e cσ = 0.3 . Por outro lado, para ser consistente com a aproximação EDMF, o termo de produção térmica na equação de TKE é modificado, para incluir a contribuição de fluxo-de-massa, de acordo com: − w′θ v′ = K h ∂θ v + M (θ v u − θ v ) . ∂z (5.2) 5.2.2 Modelo da Ascendente O modelo da ascendente φu segue a equação (4.3), que determina os perfis verticais de θ l u e qt u a partir de condições iniciais. O estabelecimento das condições iniciais da ascendente não é trivial. Dada a insuficiência de informação observacional disponível, recorre-se a resultados de simulações LES. As simulações realizadas estão descritas na Tabela 1. A simulação Exp6 corresponde a uma CLC seca, com um aumento 69 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta suave dos fluxos de superfície, inspirada no caso de Nieuwstadt et al. (1992), e inclui um extenso conjunto de diagnósticos das propriedades das ascendentes na CLS. De acordo com Troen e Marht (1986), a temperatura potencial virtual de uma parcela ascendente na CLS é definida como θ v u ( z k ) = θ v ( z k ) + ∆θ v u ( z k ) , em que θ v é o valor médio de temperatura potencial virtual no nível z k e ∆θ v u é o excesso desta propriedade na ascendente. Este excesso é aproximadamente proporcional à razão entre o fluxo de calor de superfície e uma escala de velocidade. Aqueles autores usaram ws = (σ u 2 + σ v 2 + σ w 2 )1 / 2 como a escala de velocidade relevante, sem fundamentarem essa escolha. Na secção 4.3.1.1, com base numa análise de escala enquadrada pela teoria da semelhança de Monin-Obukov, considerou-se σ w como a escala de velocidade apropriada, sendo esta propriedade calculada através de uma expressão empírica para a CLC (Holtslag e Moeng, 1991). Na CLS os diagnósticos de LES (Figura 5.1) permitem observar que σ θv decresce com a altura, ao contrário do excesso de temperatura potencial das ascendentes (Figura 4.3), para qualquer das percentagens escolhidas como limite de corrente ascendente vigorosa. Esse decréscimo está em concordância com as observações de Caughey e Palmer (1979) da estrutura turbulenta da CLC. Estes autores mostraram que, em condições de instabilidade, a variância da temperatura potencial, σ θ 2 , diminui com a altura na CLS. Para descrever este decréscimo Sorbjan (1989) propõe uma expressão empírica de potência que depende da razão ( z z i ) . Este facto é inconsistente com a formulação adoptada no 2.5 σθϖ σw 2.0 σθv*σw Altura (km) TKE 1.5 1.0 0.5 0.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 Figura 5.1 — Perfil vertical do desvio padrão, da velocidade vertical e da temperatura potencial, o produto de ambos e a TKE. Média horária do LES. σ θ (K2), σ w (ms-1), σ θ .σ w (Kms-1) e TKE (m2s-2). v v esquema EDMF-EMP, em que σ θv ≈ ∆θ v u . De facto, se observarmos o perfil de σ w na (( ) ) CLS, a expressão ∆θ v u ≈ c w'θ v ' s σ w revela-se incongruente em altitude, pois σ w aumenta com a altura e o fluxo de superfície é constante, o que implicaria uma diminuição 70 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta do excesso. Consequentemente, a formulação EDMF-EMP apresenta uma dependência com o nível vertical escolhido para iniciar a ascensão da parcela. Uma ilustração desta limitação pode ser observada na Figura 5.2, em que se mostra que para cada um dos níveis da CLS, a relação ∆θ v u ≈ c w'θ v ' s σ w é unicamente satisfeita alterando a constante de proporcionalidade em função do nível de inicialização. No entanto, a independência do nível vertical inicial é uma condição importante para construir um esquema facilmente implementável em qualquer modelo numérico, independentemente da sua grelha vertical na CLS. (( ) ) O excesso das ascendentes pode ser mais correctamente representado se se considerar uma escala de velocidade que seja uma medida da turbulência na CLS, e que decresça com a altura, como é o caso da raiz quadrada da TKE (Figura 5.1). Desta forma, propõe-se que o excesso das ascendentes seja inversamente proporcional a e , garantindo concordância com o comportamento monótono das propriedades envolvidas. Assim, ∆θ v u ( z k ) = θ v u ( z k ) − θ v ( z k ) = b (w'θ ') v s e( z k ) , (5.3) o que garante que: (w'θ ') v s = cte ∧ ∂ e( z k ) ∂∆θ v u ( z k ) ∂e <0⇒ <0 ⇒ > 0. ∂z ∂z k ∂z k (5.4) Esta aproximação vai de encontro ao proposto por Troen e Mahrt (1986) e não apresenta a dependência com o nível inicial escolhido para libertar a parcela. 0.4 10m 30m 50m Y = 0.63*X Y = 1.57*X Y = 1.95*X ∆θv u (K) 0.3 0.2 0.1 0.0 0.0 0.1 0.2 w'θ'v / σw (K) 0.3 0.4 Figura 5.2 — Ajustes lineares entre o excesso de temperatura potencial virtual das ascendentes e o fluxo de flutuação da superfície, escalado pelo desvio padrão da velocidade vertical, para os três primeiros níveis do modelo: 10m, 30m e 50m. ( ) A Figura 5.3 mostra a relação entre ∆θ v u ( z k ) e w'θ v ' s e1 / 2 ( z k ) diagnosticada dos resultados da simulação LES referida. É patente que ∆θ v u ( z k ) escala muito bem com a 71 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta razão entre o fluxo de superfície e e1 / 2 , independentemente do nível vertical escolhido, z k , na CLS. Pode-se portanto considerar que θvu (zk ) ≅ θ v (zk ) + b (w'θ ') v s e 1/ 2 (zk ) . (5.5) O melhor ajuste linear estabelece que o coeficiente b deve ser aproximadamente igual a 0.3. Esta inicialização é independente do nível escolhido, ao contrário da aproximação utilizada no capítulo 4, e contribui para o objectivo global de desenhar um esquema baseado na equação de TKE, evitando as formulações empíricas. 0.12 ∆θv (K) 0.10 10 m 30 m 50 m 0.08 0.06 Y = 0.29758 X r = 0.97926 0.04 0.1 0.2 0.3 w'θv'S/ e 1/2 0.4 (K) Figura 5.3 — Regressão linear entre o excesso de temperatura potencial virtual das ascendentes e o fluxo de flutuação na superfície, escalado pela raiz quadrada da TKE, para os três primeiros níveis do modelo LES: 10m, 30m e 50m. A velocidade vertical da ascendente, wu , é calculada recorrendo à equação (4.7) que permite também diagnosticar a altura da CL, z i , tomada onde wu se anula. Para o cálculo da taxa de mistura lateral, recorre-se a uma modificação da expressão (4.8), adicionando-se ∆z (resolução vertical) aos denominadores, para se conseguir uma menor dependência relativamente à resolução vertical, que é particularmente sentida na região da inversão, mas mantendo a sua forma e ordem de magnitude, 1 1 , ε = cε + z + ∆z ( z i − z ) + ∆z (5.6) onde cε ≈ 0.4 . Os principais aspectos novos deste modelo de ascendente são a relativa insensibilidade ao nível de inicialização e à resolução do modelo, e a sua dependência explícita da TKE. 72 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta 5.3 Implementação do esquema EDMF-TKE no MesoNH No modelo MesoNH (Apêndice A), se considerarmos que uma propriedade média genérica φ (por simplicidade em vez de φ ) é unicamente modificada pela turbulência vertical, a equação de balanço dessa variável pode ser escrita como ( ) ∂ ∂ ρ ref φ = − ρ ref w'φ ' , ∂t ∂z ( ) (5.7) o que, corresponde a escrever na notação original do MesoNH ∂ ∂ ρ ref w'φ ' , ρ ref φ = − ∂t ∂z d zz ( ) (5.8) onde z é a coordenada vertical modificada para contabilizar uma compressão da grelha e d zz corresponde a um coeficiente de métrica. A densidade do estado de referência ρ ref é considerada estacionária e a divergência vertical do fluxo é tomada na sua forma conservativa, ou seja div( A) = 1 ∂ (JA), J ∂z (5.9) em que J tem que ver com o Jacobiano de mudança de variáveis verticais, vindo portanto, ρ ref w' φ ' ∂φ 1 ∂ ρ ref J . =− ∂t J ∂z d zz (5.10) O fluxo vertical turbulento tem duas contribuições (4.2) e será dado por w'φ ' = − K ∂φ + M (φu − φ ), d zz ∂z (5.11) obtendo-se a equação de balanço: K ∂φ + M (φu − φ ) − d zz ∂z ∂φ 1 ∂ , = − ~ ρ~ ∂t ρ ∂z d zz (5.12) em que ρ~ = ρ ref J . Simplificando, a equação de prognóstico a discretizar escreve-se: 1 ∂ ∂φ K ∂φ ~ M ( = − ~ − ρ~ +ρ φ u − φ ) . 2 ∂t ρ ∂z d zz d zz ∂z (5.13) A parameterização EDMF-TKE tem como campo de aplicação tanto GCMs como LAMs. Estes modelos apresentam grelhas fortemente anisotrópicas, o que introduz uma 73 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta severa limitação aos passos de tempo que se podem utilizar, devido aos termos de difusão vertical. Deste modo, optou-se por uma implementação do tipo semi-implícita de CrankNicolson (Crank e Nicolson, 1947), com um grau de implicitude variável, tal como é utilizado na versão standard do modelo MesoNH, mas aqui modificada para contemplar a contribuição advectiva associada ao fluxo-de-massa. O grau de implicitude é ajustado de acordo com o valor do parâmetro α : 0 ≤ α ≤ 1 . Quando α = 1 o esquema é totalmente implícito, se α = 0 é totalmente explícito. Com um termo adicional de fonte, S t a equação (5.13) vem portanto, z z ∂ ρ~K t ∂φ t −1 ∂ ρ~K t ∂φ t +1 ∂φ ~ ( 1 ) + − = St +α ρ α ∂z d zz 2 ∂z ∂z d zz 2 ∂z ∂t z ∂ ρ~M t t +α φ t +1 − φu ∂z d zz ( z ∂ ρ~M t t φ t −1 − φu + (1 − α ) ∂z d zz ) ( (5.14) , ) em que t é o tempo. Assim, a discretização para um nível k (i e j omitidos por simplicidade) virá φ t +1 (k ) − φ t −1 (k ) S t =~ 2∆t ρ (k ) z z α ρ~ (k + 1)K t (k + 1) ρ~(k )K t (k ) t +1 t +1 t +1 t +1 φ (k + 1) − φ (k ) − φ (k ) − φ (k − 1) +~ 2 2 ρ (k ) d zz (k + 1) d zz (k ) z z (1 − α ) ρ~(k + 1)K t (k + 1) φ t −1 (k + 1) − φ t −1 (k ) − ρ~(k )K t (k ) φ t −1 (k ) − φ t −1 (k − 1) + ~ 2 2 ρ (k ) d zz (k + 1) d zz (k ) z′ z′ t t t t +1 t t +1 α ρ~ (k + 1) M (k + 1) φ (k + 1) − φ u (k + 1) − ρ~ (k ) M (k ) φ (k ) − φ u (k ) + ~ ρ (k ) d zz (k ) ′ ′ z z (1 − α ) ρ~(k + 1) M t (k + 1) φ t −1 (k + 1) − φu t (k + 1) − ρ~(k ) M t (k ) φ t −1 (k ) − φu t (k ) . + ~ ρ (k ) d zz (k ) ( ) ( ( ( ) ( ) ( ) ) ( ) (5.15) ) ( ) z ' indica que é uma média para um nível de fluxo de uma variável definida nos níveis de massa. Tendo em conta que, φ está localizado nos níveis de massa e M e φ u estão descritos nos níveis de fluxo, a equação anterior escreve-se: 74 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta φ t +1 (k ) − φ t −1 (k ) S t =~ 2∆t ρ (k ) z z α ρ~ (k + 1)K t (k + 1) ρ~(k )K t (k ) t +1 t +1 t +1 t +1 1 1 ( ) ( ) ( ) ( ) + − − − − +~ φ φ φ k φ k k k 2 2 ρ (k ) d zz (k ) d zz (k + 1) z z (1 − α ) ρ~(k + 1)K t (k + 1) φ t −1 (k + 1) − φ t −1 (k ) − ρ~(k )K t (k ) φ t −1 (k ) − φ t −1 (k − 1) + ~ 2 2 ρ (k ) d zz (k ) d zz (k + 1) ′ z ρ~ (k + 1) M t (k + 1) 0.5 φ t +1 (k + 1) + φ t +1 (k ) − φ t (k + 1) u ~ z′ t t +1 +1 α − ρ (k ) M (k ) 0.5 φ t (k ) + φ t (k − 1) − φ u (k ) + ~ d zz (k ) ρ (k ) ′ z ρ~(k + 1) M t (k + 1) 0.5 φ t −1 (k + 1) + φ t −1 (k ) − φ t (k + 1) u ~ z′ t t t −1 t −1 1 − α ) − ρ (k ) M (k ) 0.5 φ (k ) + φ (k − 1) − φ u (k ) ( , + ~ d zz (k ) ρ (k ) ( ) ( [ ( [ ( [ ( [ ( ( ) ( ) ) ) ) ] ] ) ) ] (5.16) ] que se pode simplificar, para se obter a expressão na forma matricial (tridiagonal) A(k ) + B(k ) φ t +1 (k − 1) α ρ~ (k ) A(k ) − B(k ) A(k + 1) + B(k + 1) + φ t +1 (k )1 − α −α ~ ρ (k ) ρ~ (k ) (5.17) A(k + 1) − B(k + 1) = Y (k ) , + φ t +1 (k + 1) α ρ~ (k ) onde, S (k ) A(k ) + B(k ) + φ t −1 (k − 1) − (1 − α ) Y (k ) = 2∆t ~t ρ (k ) ρ~(k ) A(k ) − B(k ) A(k + 1) + B(k + 1) + φ t +1 (k )1 + (1 − α ) + (1 − α ) ~ ρ (k ) ρ~ (k ) A(k + 1) − B(k + 1) + φ t +1 (k + 1) − (1 − α ) ρ~(k ) (5.18) 2 B(k + 1) 2 B(k ) + φ 'u t (k ) ~ , + φ 'u t (k + 1) − ~ ρ (k ) ρ (k ) e 75 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta A(k ) = −2∆t A(k + 1) = −2∆t z ρ~(k )K t (k ) d zz 2 (k ) , z ρ~ (k + 1)K t (k + 1) d zz 2 (k + 1) (5.19) , e, finalmente, z′ ρ~ (k ) M t (k ) , B(k ) = ∆t d zz (k ) z′ ρ~ (k + 1) M t (k + 1) B(k + 1) = ∆t . d zz (k + 1) (5.20) Este problema matricial é resolvido numa subrotina escrita para o efeito. O termo St contém o forçamento da superfície. Assim, depois de obtido φ t +1 , calcula-se a tendência respectiva, devida a divergência vertical do fluxo turbulento, e adiciona-se às outras fontes da variável φ . 5.4 Resultados Os resultados deste novo esquema vão ser agora testados através da comparação com os resultados de LES da simulação Exp2, que corresponde a uma CL seca idealizada. Resumidamente, o forçamento de superfície é expresso por um fluxo cinemático de calor sensível constante, w'θ ' s = 6 × 10 −2 K m s −1 , e as propriedades da superfície são: θ s = 300 K , q s = 5g kg −1 e p s = 1000 hPa . Diferentemente do caso considerado no capítulo anterior, o perfil inicial de temperatura potencial é muito estável, ∂θ ∂z = 2 K km −1 . As simulações foram realizadas com a versão 1D do modelo MesoNH. A primeira simulação foi efectuada com uma resolução vertical constante de 20m (tal como as simulações LES) e um passo de tempo de 60 s. Uma ilustração dos resultados pode ser observada na Figura 5.4, onde se apresentam os perfis de θ e θ u , referentes às médias horárias da 3ª, 5ª e 7ª horas de simulação. Os perfis de θ estão de acordo com a estrutura vertical típica da CL: uma camada de superfície instável, uma camada intermédia neutra e uma camada estável na metade superior da CL. As ascendentes parecem penetrar na região de inversão, e o excesso de θ é praticamente constante ao longo da simulação. 76 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta 2.0 ascendente média altura (km) 1.5 1.0 0.5 0.0 298.5 299.0 299.5 300.0 θ (K) Figura 5.4 — Média horária dos perfis de temperatura potencial das horas de simulação: 3, 5 e 7. Resultados do esquema EDMF-TKE. Na Figura 5.5, os perfis da temperatura potencial média da 4ª e 8ª hora, resultantes da simulação de LES, são comparados com os resultados correspondentes do MesoNH-1D, para os dois esquemas de turbulência considerados: BL89 e o EDMF-TKE. A concordância entre os perfis de LES e do esquema EDMF-TKE é muito considerável. 2.0 LES BL89 EDMF-TKE altura (km) 1.5 1.0 8h Ini 4h 0.5 0.0 298.5 299.0 299.5 θ (K) 300.0 300.5 301.0 Figura 5.5 — Perfis de temperatura potencial, inicial e médias horárias. Resultados do esquema EDMF-TKE, do esquema BL89 e do LES. Apesar de o perfil inicial de temperatura potencial ser muito estável, o esquema reproduz muito bem a evolução temporal dos perfis desta propriedade, o que mostra a adequação da inicialização das térmicas aqui desenvolvida. Claramente, a qualidade dos resultados do esquema EDMF-TKE é superior aos do esquema BL89, apesar de ambos apresentarem uma sobrestimação do gradiente na região da inversão. As melhorias podem ser constatadas em todo o perfil vertical, mas a característica mais notável dos resultados do EDMF-TKE é a excelente reprodução da ligeira estabilidade na metade superior da CLC. 77 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta Esta particularidade é impossível de obter através de um esquema puro de difusão turbulenta, tal como o BL89. Os perfis do fluxo turbulento total e das suas duas contribuições (difusão-K e fluxo-de-massa) são apresentados, respectivamente, na Figura 5.6 e na Figura 5.7. A sua análise conjunta permite avaliar mais detalhadamente o desempenho do novo esquema. 2.0 LES BL89 EDMF-TKE 8h altura (km) 1.5 1.0 4h 0.5 0.0 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 -1 w'θ' (Kms ) Figura 5.6 — Perfis do fluxo vertical de temperatura potencial, inicial e médias horárias. Resultados do novo esquema EDMF-TKE, do esquema BL89 e do LES. Os perfis de fluxo de calor (Figura 5.6) são bem representados por ambos os esquemas. Contudo, o fecho EDMF-TKE apresenta um melhoramento na região de mistura de topo, o que conduz a uma evolução da CL mais adequada. Em concordância com os argumentos já expostos, esta melhor representação da mistura-de-topo é devida à contribuição de fluxo-de-massa (Figura 5.7), relacionada com a penetração das térmicas (Figura 5.4). Na Figura 5.7 apresenta-se a decomposição do fluxo w'θ ' nos termos de difusão turbulenta (ED) e de fluxo-de-massa (MF). O fluxo de mistura-de-topo negativo que determina o crescimento da CL é controlado pela contribuição de fluxo-de-massa, de acordo com os resultados de LES que atribuem a maioria do fluxo de mistura-de-topo às correntes ascendentes de maior escala. A Figura 5.7 mostra também que o fluxo de calor positivo na região superior da CLC estável (contra-gradiente) é mantido pela contribuição de fluxo de massa. Desde Deardorff (1966) que é conhecida a necessidade de levar em conta o transporte de calor contra-gradiente na CLC, associado às térmicas. As diferentes teorias de difusão com termo de contra-gradiente desenvolvidas (Deadorff, 1972b; Holtslag e Moeng, 1991) conseguem gerar este fluxo, no entanto os seus resultados são insatisfatórios na região de inversão, visto não representarem bem a mistura-de-topo. Os esquemas de EDMF, tanto o EDMF-EMP como o EDMF-TKE são eficazes na resolução de ambos os problemas. No capítulo 4 esta incapacidade das teorias de contra-gradiente é discutida. 78 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta 2.0 MF 4h 8h ED 4h 8h altura (km) 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.02 0.00 0.02 0.04 -1 w'θ' (Kms ) 0.06 0.08 Figura 5.7 — Decomposição do fluxo vertical de temperatura potencial. Contribuições de difusãoK (eddy-diffusivity - ED) e de fluxo-de-massa (mass-flux - MF). Resultados médios horários do novo esquema à 4ª e 8ª hora. A Figura 5.8 mostra a evolução da altura da CL, diagnosticada no modelo LES e nos dois esquemas, BL89 e EDMF-TKE, do MesoNH. Do esquema BL89 resulta, após 8h de simulação, uma subestimação de cerca de 200 m da altura da CL, enquanto que o esquema EDMF-TKE revela uma quase total sintonia com o LES. 2.0 altura (km) 1.5 1.0 LES BL89 EDMF-TKE 0.5 0.0 0 2 4 tempo (h) 6 8 Figura 5.8 — Evolução da altura da CL. Resultados dos esquemas EDMF-TKE e BL89, e LES. O impacto positivo de se ter em conta a contribuição de fluxo-de-massa no termo do fluxo de flutuação na equação de balanço da TKE, expresso em (5.2), é ilustrado na Figura 5.9. A variância da velocidade vertical diagnosticada com o novo esquema apresenta uma maior concordância com os resultados LES do que a aproximação de BL89, tanto no que diz respeito ao seu perfil como à magnitude máxima. Este aperfeiçoamento é importante, pois o coeficiente de fluxo-de-massa é directamente proporcional ao desvio padrão da velocidade vertical. 79 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta LES BL89 EDMF-TKE altura (km) 2 8h 1 4h 0 0.0 0.2 0.4 0.6 2 0.8 1.0 2 -2 w' (m s ) Figura 5.9 — Perfis médios horários da variância da velocidade. Resultados dos esquemas EDMFTKE e BL89, e do modelo LES. 5.4.1 Dependência da resolução vertical O mesmo caso foi simulado com uma resolução vertical correspondente à grelha de 40 níveis do modelo do ECMWF. Esta grelha tem cerca de 300 m de resolução vertical no interior da CL. A Figura 5.10 mostra os perfis de θ , que estão em bastante boa concordância com os resultados de LES. Apesar da resolução ser grosseira, o esquema EDMF-TKE ainda reproduz as principais características da CL e a sua evolução. No entanto, observa-se uma ligeira sobrestimação de θ após 6 horas de simulação. 2.0 LES EDMF-TKE altura (km) 1.5 1.0 0.5 0.0 298 299 300 301 θ (K) Figura 5.10 — Médias horárias dos perfis de temperatura potencial. Resultados do esquema EDMFTKE, com a resolução de 40 níveis do modelo ECMWF, e do modelo LES nas horas: 2, 4 e 6. 80 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta 5.5 Implementação do esquema EDMF-TKE no modelo Lem1D A parametrização EDMF-TKE foi também implementada no modelo Lem1D. Para esse efeito, foi necessário incluir uma equação de prognóstico de TKE nesse modelo, detalhadamente apresentado na secção 3.4.2. Este esquema EDMF-TKE apresenta um fecho de ordem 1.5, seguindo de perto a metodologia seguida no modelo ECHAM (Roeckner et al., 1996), bastante distinto do utilizado pelo modelo MesoNH. Uma vez que a qualidade da aproximação EDMF-TKE já foi demonstrada, não se vai dedicar muito tempo à análise das pequenas diferenças a que dá origem o facto do fecho baseado na TKE ser diferente, uma vez que os resultados são muito idênticos aos anteriores. Assim, vão-se apresentar alguns resultados deste esquema, de forma a mostrar que a parametrização EDMF-TKE é robusta, não dependendo criticamente dos detalhes do fecho da parte difusiva, podendo ser implementado noutros modelos, como é o caso do ECHAM. 5.5.1 Resultados com o modelo Lem1D 2.0 LES BL89 EDMF-TKE altura (km) 1.5 1.0 8h Ini 4h 0.5 0.0 298.5 299.0 299.5 θ (K) 300.0 300.5 301.0 Figura 5.11 — Perfis de temperatura potencial, inicial e médias horárias. Resultados do esquema EDMF-TKE (modelo Lem1D), do esquema BL89 e do modelo LES. 2.0 altura (km) 1.5 1.0 LES BL89 EDMF-TKE 0.5 0.0 0 2 4 tempo (h) 6 8 Figura 5.12 — Evolução da altura da CL. Resultados dos esquemas EDMF-TKE (modelo Lem1D) e BL89, e do modelo LES. 81 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta 2.0 LES BL89 EDMF-TKE 8h altura (km) 1.5 1.0 4h 0.5 0.0 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 -1 w'θ' (Kms ) Figura 5.13 — Perfis do fluxo vertical de temperatura potencial, inicial e médias horárias. Resultados dos esquemas de EDMF-TKE (modelo Lem1D) e BL89, e do modelo LES. 2.0 MF 4h 8h ED 4h 8h altura (km) 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.02 0.00 0.02 0.04 -1 w'θ' (Kms ) 0.06 0.08 Figura 5.14 — Decomposição do fluxo vertical de temperatura potencial. Contribuições de difusão-K (eddy-diffusivity - ED) e de fluxo-de-massa (mass-flux - MF), do esquema EDMF-TKE do modelo Lem1D. Resultados médios horários do novo esquema à 4ª e 8ª hora. 5.6 Discussão Recentemente, novas versões da aproximação de difusão turbulenta baseadas na equação de prognóstico da TKE foram propostos (Teixeira e Cheinet, 2004; Cheinet e Teixeira, 2003, Teixeira et al., 2004). Estas consideram que o comprimento de mistura é directamente proporcional à raiz quadrada da TKE e a uma escala de tempo, l = τ e1 2 . Fundamentalmente, estes esquemas assumem que na CLC as variáveis independentes devem ser uma escala de tempo e uma escala de velocidade, em vez de escalas de 82 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta velocidade e de comprimento. Estas aproximações têm-se revelado promissoras, não só porque são conceptualmente simples e dependentes de poucos parâmetros, mas também devido a apresentarem resultados realistas, nomeadamente no que diz respeito ao efeito de mistura no topo da CL. No entanto, padecem do problema inultrapassável dos esquemas de difusão-K: uma CL ligeiramente instável. Considerando que a tendência de uma propriedade conservada φ é dada unicamente pela divergência vertical do fluxo turbulento, ou seja, ∂φ ∂ w'φ ' ∂ ∂φ , =− = − − K ∂t ∂z ∂z ∂z ( 5.21) ∂φ ∂K ∂φ ∂ ∂φ , =+ + K ∂t ∂z ∂z ∂z ∂z ( 5.22) obtém-se o que pode ser interpretado como duas contribuições distintas para a tendência, e que vão de encontro ao facto de uma formulação de difusão-K não dever ser unicamente interpretada como uma teoria do tipo difusivo. Na verdade, pode argumentar-se que ∂K / ∂z se pode associar a uma velocidade, conferindo a esta aproximação um carácter advectivo (Teixeira e Cheinet, 2002), o que é usado como principal argumento para o maior sucesso das novas parametrizações referidas. O carácter intrinsecamente downgradient das aproximações de difusão-K, apresentam ainda dificuldades no diagnóstico dos momentos de segunda ordem. A equação de prognóstico da variância, φ ' 2 , de uma propriedade conservada ( θl ou qt ) é dada por (Stull, 1988): Sφ 'φ ' ∂φ ' 2 ∂φ ∂ (w'φ 'φ ') = −2w'φ ' − − 2ε φ − 2 , ∂t ∂z ∂z ρ (5.23) cujos termos são da esquerda para a direita: a tendência, a produção, o transporte turbulento, a dissipação, e a fonte de variância. Com base em diagnósticos de LES dos termos da equação (5.23), De Roode et al. (2000) mostra também a inadequação da aproximação difusiva. O termo de produção da variância é negativo na metade superior da CL (Figura 2. de De Roode et al., 2000), pelo que o fluxo turbulento e o gradiente médio da propriedade têm o mesmo sinal, implicando a impossibilidade de uma formulação difusiva representar correctamente o fluxo vertical w'φ' = − K (∂φ ∂z ) , uma vez que K é positivo por definição. Este facto aponta igualmente para a necessidade de se considerar uma contribuição que represente o fluxo de contra-gradiente. A aproximação puramente difusiva pode em determinados casos permitir a obtenção de resultados bons ou razoáveis, mas sofre de alguns problemas de inconsistência. Importa ainda referir que um fecho difusivo de ordem 1.5 pode ser obtido como um caso particular da parametrização EDMF-TKE, depois de algumas hipóteses bastante simplistas. Considerando, 83 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta ( ) w'φ ' ≡ au w'φ ' + (1 − au )w'φ ' + au wu − w (φu − φe ) , u e (5.24) e onde a mistura turbulenta no ambiente vizinho das térmicas, w'φ ' , é uma mistura de pequena escala, que pode ser representada por uma aproximação de difusão-K (2.41). Desprezando o primeiro termo do segundo membro, à semelhança do que foi feito anteriormente, e admitindo que simultaneamente que φ = φ e e w = 0 , obtém-se w' φ ' = −(1 − au ) K Se wu ≈ e 1 2 e K ≅le 1 2 ( ) ∂φ e + a u wu φu − φ . ∂z (5.25) (fecho de ordem 1.5), vem w' φ ' = −(1 − au ) l e 1 2 ( ) 1 ∂φ e + au e 2 φu − φ . ∂z (5.26) Considerando a equação (4.3) e l ≈ ε −1 , vem w'φ ' = −e 1 2 ∂φ ∂φ l au u + (1 − au ) e . ∂z ∂z (5.27) Assumindo ainda que ∂au ∂z = 0 , obtém-se, finalmente, w' φ ' = −e 1 2 l ∂φ , ∂z ou seja, um fecho turbulento de difusão-K (2.41) de ordem 1.5, em que K = e (5.28) 1 2 l . 5.7 Conclusões Uma boa representação da CLC é crucial para a realização de previsões realistas dos parâmetros meteorológicos da superfície, devido, nomeadamente, à interacção entre os processos que ocorrem na CLC com outras parametrizações (Beljaars e Viterbo, 1998). Neste capítulo, mostrou-se que uma combinação de difusão turbulenta e de fluxo-demassa, baseada na equação de TKE, pode descrever de forma realista o transporte turbulento na CLC. Esta aproximação evita a utilização de expressões empíricas complexas, e acrescenta um mais bem fundamentado suporte físico aos diferentes passos da formulação. Ambas as contribuições do esquema EDMF-TKE dependem da TKE. As difusividades turbulentas e o coeficiente de fluxo-de-massa são proporcionais à raiz quadrada da TKE, e a ascendente é inicializada também recorrendo à informação do estado turbulento da CLS através da TKE. Este modelo de ascendente permite a sua implementação em qualquer modelo com um fecho de ordem 1.5, independentemente da sua grelha vertical, desde que esta possua um nível na CLS. 84 Parametrização de difusão-K/fluxo-de-massa baseada na equação da energia cinética turbulenta O esquema EDMF-TKE, implementado no modelo MesoNH, mostrou resultados de grande qualidade. A melhoria registada nos perfis médios da CL é devida à introdução do termo de fluxo-de-massa. Este descreve correctamente o fluxo turbulento de calor de contra-gradiente na parte superior da CL, e através da representação da penetração das ascendentes, melhora a descrição do efeito de mistura-de-topo. Acrescenta ainda, uma melhoria significativa na previsão da variância da velocidade vertical para o caso de uma CLC seca. Esta aproximação concilia a sua melhor fundamentação física com a vantagem de poder ser estendida para representar a CL com nuvens. Para isso, tem que se implementar um esquema de condensação para a ascendente, não havendo a necessidade de alternar entre o esquema de turbulência e um outro esquema de convecção. O desenvolvimento do EDMF para uma CL com cumulus será considerado no próximo capítulo. 85 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo 6 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundos O trabalho descrito neste capítulo foi incluído nos artigos: Soares P., M. M., P. M A. Miranda, A. P. Siebesma e J. Teixeira, 2004: An Eddy-diffusivity/Mass-flux parameterisation for dry and shallow cumulus convection. Aceite para publicação no Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. Lenderink, G., A. P. Siebesma, S. Cheinet, S. Irons, C. Jones, P. Marquet, F. Muller, D. Olmeda, E. Sanchez e P. M. M. Soares, 2004: The diurnal cycle of shallow cumulus clouds over land: A single column model intercomparison study. Aceite para publicação no Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. 6.1 Introdução A importância das plumas convectivas na dinâmica da CL com nuvens está bem documentada em campanhas observacionais (Nicholls, 1989; Warner, 1970; Warner, 1977) e em estudos de LES (Siebesma e Cuijpers, 1995; Wang e Stevens, 2000; Brown et al., 2002; Siebesma et al., 2004). A representação da convecção em cumulus é amplamente reconhecida como um aspecto fundamental do desenvolvimento de modelos, devido ao seu potencial impacto na previsão do tempo a curto prazo e nas simulações de clima (e.g. Tiedtke, 1987). O projecto EUROCS promoveu uma intercomparação entre modelos (versões 1D), com o objectivo de determinar o estado da arte da representação do ciclo diurno de uma CLC com cumulus pouco profundos (Lenderink et al., 2004 – L2004). Esta intercomparação revelou a imensa dificuldade que constitui representar em modelos atmosféricos este tipo de CLC. Muitos GCMs recorrem a esquemas distintos para representar a mistura turbulenta seca e a convecção associada a nuvens, tendo as parametrizações de fluxo-de-massa sido introduzidas para representar esta última. Este procedimento implica a existência de descontinuidades espaço-temporais nos modelos, associadas à activação dos dois esquemas. Por outro lado, os resultados na CLC seca são frequentemente fracos (e.g., Ayotte et al., 1996), e existe uma falta intrínseca de acoplamento entre os esquemas de turbulência e de convecção húmida. O objectivo primordial do esquema EDMF consiste na unificação das parametrizações aplicáveis à CLC com e sem nuvens. A representação de CuPP constitui um desafio considerável, e é o objecto deste capítulo. Na parametrização EDMF introduziu-se um termo de fluxo-de-massa para representar a mistura associada aos grandes turbilhões. Dado que os CuPP são a extensão vertical com conteúdo de água líquida, das térmicas subsaturadas induzidas pelo aquecimento da superfície (LeMone e Pennell, 1976), a ligação entre a camada subsaturada e a camada de cumulus surge naturalmente através daquele termo, conferindo uma ênfase especial ao papel das estruturas convectivas – térmicas subsaturadas e ascendentes das nuvens. Assim, o esquema EDMF apresenta-se como um esquema integrado de turbulência e convecção. O novo esquema foi implementado no modelo de investigação MesoNH (Apêndice A), constituindo-se como uma alternativa à opção padrão disponível no modelo para a 86 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo representação da convecção com nuvens. O modelo MesoNH possui o esquema de turbulência BL89 e um esquema de convecção baseado na parametrização de fluxo-demassa de Kain e Fritsch (1993), para convecção pouco profunda e profunda (Bechtold et al., 2001). 6.2 Ciclo diurno de cumulus pouco profundos sobre terra — Caso ARM O caso ARM (Atmospheric Radiation Measurement Program) aqui considerado baseia-se numa idealização de observações realizadas no âmbito das campanhas experimentais ARM. Brown et al. (2002) compilaram um conjunto de dados obtidos a partir de observações realizadas na região de Southern Great Plains (Figura 6.1), em 21 de Junho de 1997. Figura 6.1 — Mapa dos Estados Unidos da América onde se mostra o local das observações do caso ARM: Southern Great Plains Region. Com o objectivo de melhor compreender a evolução de um ciclo diurno de nuvens do tipo cumulus sobre terra, o 6º GCSS WG-1 [GEWEX (Global Energy and Water Cycle Experiment) (Browning, 1993) Cloud System Study Working Group-1] tomou este conjunto de dados como um caso de estudo. Brown et al. (2002) apresentaram uma intercomparação de modelos de LES com base neste caso, onde, em geral, se verificou uma boa concordância entre os diferentes modelos envolvidos. O modelo LES do KNMI foi um dos intervenientes nesta intercomparação, apresentando uma muito boa representação do ciclo diurno de cumulus. Para diante neste capítulo, tomar-se-á os seus resultados como os de referência, para a caracterização da evolução temporal observada e da parametrização aqui desenvolvida. As simulações têm início às 11:30 UTC (5:30 LT) e fim às 02:00 UTC (20:00 LT) do dia 21 de Junho de 1997. Nesse dia o sol nasceu aproximadamente às 12:30 UTC (6:30 LT) e o ocaso deu-se às 24:00 UTC (18:00 LT). O forçamento da superfície é prescrito de acordo com as observações (Figura 2. de Brown et al. 2002). Os fluxos de calor latente e de calor sensível são aproximadamente nulos aquando do nascer e do pôr do sol, e atingem o valor máximo às 12:00 LT, de 500 Wm-2 e 140 Wm-2, respectivamente. A advecção de larga escala e o forçamento radiativo são tidos em conta através da prescrição de pequenas tendências de acordo com Brown et al. 2002. 87 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo 6.2.1 Resultados LES do KNMI Os perfis iniciais (11:30 UTC) de temperatura potencial e de humidade específica total podem ser observados, respectivamente, na Figura 6.4a e na Figura 6.4b. (ou na Figura 6.16a e na Figura 6.6b). O ciclo diurno em questão pode caracterizar-se pela existência de uma CL estável pouco profunda (11:30 UTC), que é erodida rapidamente pelo aquecimento da superfície após o nascer do sol. Na Figura 6.2a mostra-se a evolução da temperatura potencial. Esta revela o crescimento da CL, cuja inversão atinge aproximadamente 800m às 15 UTC (9 LT), quando as primeiras nuvens se formam (Figura 6.2b) com base a este mesmo nível. Com o decorrer do tempo a altura da base das nuvens vai aumentado, assim como a espessura dos cumulus. A base das nuvens atinge às 19 UTC (13 LT) os 1300m, quando a espessura das nuvens atinge o máximo, aproximadamente 1500m de extensão vertical, que no início é de cerca de 200m. A camada nublosa é condicionalmente instável, acompanhando a sua evolução o crescimento vertical das nuvens. O conteúdo de água líquida na simulação LES varia entre os 0.01 e 0.04 g/kg-1. (b) 4 4 3.5 3.5 3 3 altura (km) altura (km) (a) 2.5 2 2.5 2 1.5 1.5 1 1 0.5 0.5 14 16 18 20 22 24 14 16 horas (UTC) 18 20 22 24 horas (UTC) 0.03 0.025 0.02 0.015 0.01 0.005 0 330 326 322 318 314 310 306 302 Temperatura Potencial (K) Conteúdo de água líquida (g/kg) Figura 6.2 — Evolução temporal dos perfis verticais de: (a) temperatura potencial e (b) conteúdo de água líquida. Resultados do modelo LES do KNMI. Dados fornecidos por Roel Neggers, Geert Lenderink e Pier Siebesma. 6.2.2 Intercomparação A suspeita de que a concordância entre os modelos LES não se estendesse a modelos numéricos de previsão do tempo e a modelos de clima, motivou a realização de uma intercomparação de modelos 1D (L2004), no estudo do ciclo diurno de convecção com CuPP sobre terra. Este estudo de intercomparação foi organizado no âmbito do projecto europeu EUROCS (European Cloud Systems) e teve a participação de vários 88 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo modelos (semi)-operacionais, nas suas versões 1D. Os modelos intervenientes na intercomparação foram: ARPEGE(CLIMAT), ECHAM, ECMWF, HIRLAM, MetO, RACMO e MesoNH. Este último faz uso das suas opções padrão para a fenomenologia abordada: mistura turbulenta de subescala do tipo difusivo baseado no esquema de BL89 e convecção baseada no esquema de Kain e Fristch (Bechtold et al., 2001), ambos descritos no Apêndice A. As simulações foram realizadas com uma grelha vertical de 40 níveis, que possui uma resolução de 150 a 200m na camada nublosa, e/ou uma grelha de 19 níveis, correspondente à grelha L60 do modelo do ECMWF, cujo espaçamento vertical na camada nublosa é de 200-400m. As séries temporais da cobertura nublosa (Figura 6.3a) e do conteúdo de água líquida integrada na coluna vertical (Figura 6.3b) ilustram muito bem a enorme dificuldade que os modelos têm em representar uma CLC com nuvens. A cobertura nublosa apresentada pelos modelos varia imensamente, desde modelos com formação de nuvens logo nos primeiros passos de tempo, até modelos de que resultam coberturas nublosas de 100%, ou seja, de stratocumulus. A grande maioria produz coberturas nublosas acima de 50%, muito acima dos valores de LES, que estima um máximo de 30% e uma fracção máxima de nuvens de 20% no seu domínio. O conteúdo de água líquida integrada na vertical é, também de uma forma geral, muito sobrestimado pelos modelos e revela grande intermitência. O ciclo de vida dos cumulus é muito mal descrito por alguns modelos; porém, alguns deles representam razoavelmente o tempo de início da formação dos cumulus, em oposição à dissipação, que mostra grandes deficiências. (a) (b) Figura 6.3 — Série temporal da: (a) cobertura nublosa (0-1) e (b) conteúdo de água líquida integrado na vertical (g m-2). Resultados de LES do KNMI (Brown et al., 2002): Linha grossa – cobertura nublosa, linha fina – fracção máxima de nuvens. Outras linhas e símbolos – resultados dos modelos 1D participantes na intercomparação de Lenderink et al. (2004). A versão 1D standard do MesoNH revela algumas deficiências, partilhadas pelos outros modelos. Importa realçar que, tal como a maioria dos outros modelos, o MesoNH produz valores de cobertura nublosa demasiado elevados, de aproximadamente 50%; mas, ao contrário da generalidade dos outros modelos, subestima fortemente o conteúdo de água líquida das nuvens. Os perfis verticais de temperatura potencial e de humidade específica total (Figura 6.4a,b) às 17:30 UTC, pouco depois do aparecimento das primeiras nuvens, estão em razoável concordância com os resultados LES. No entanto, este acordo não se verifica nos 89 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo perfis verticais de cobertura nublosa e do conteúdo de água líquida (Figura 6.4c,d), que apresentam valores muitos díspares e intermitentes. Os perfis de temperatura potencial e de humidade específica às 17:30 UTC revelam que os cumulus são forçados pela camada a eles subjacente, visto que não apresentam um perfil condicionalmente instável. (a) (b) (c) (d) Figura 6.4 — Perfis verticais às 17:30 UTC (11:30 LT) de: (a) temperatura potencial, (b) humidade específica total, (c) cobertura nublosa e (d) conteúdo de água. Resultados de LES do KNMI a linha grossa (Brown et al., 2002). Outras linhas e símbolos – resultados dos modelos 1D participantes na intercomparação de Lenderink et al. (2004). A qualidade dos perfis médios degrada-se muito com o decorrer das simulações, como é patente pela comparação dos perfis das 17:30 UTC com os perfis das 21:30 UTC (Figura 6.5a-d). A discrepância entre os resultados de LES e os modelos 1D é enorme para qualquer uma das propriedades. Poucos modelos representam com o mínimo de qualidade a característica de instabilidade condicional dos perfis de temperatura potencial, que está presente nos resultados LES (Figura 6.5a,b). Neste aspecto o MesoNH é um dos modelos que melhor representa os perfis de θ e de qt , e a sua evolução. A própria CL subjacente às nuvens é mal descrita pelos modelos, apresentando-se ora mais seca, ora mais húmida que o LES. 90 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo (a) (b) (c) (d) Figura 6.5 — Perfis verticais às 21:30 UTC (15:30 LT) de: (a) temperatura potencial, (b) humidade específica total, (c) cobertura nublosa e (d) conteúdo de água líquida. Resultados de LES do KNMI a grosso (Brown et al., 2002). Outras linhas e símbolos – resultados dos modelos 1D participantes na intercomparação de Lenderink et al. (2004). Os perfis de cobertura nublosa e do conteúdo de água líquida às 21:30 UTC (Figura 6.5c,d) reforçam a impressão de dificuldade das parametrizações dos diversos modelos para descreverem a estrutura vertical de um campo de cumulus. Este conjunto de resultados é detalhadamente descrito e analisado em L2004. A metodologia adoptada passa pela análise de cada uma das parametrizações individualmente e da sua interacção, nos respectivos modelos. As três parametrizações cruciais envolvidas são: o esquema de turbulência, o esquema de convecção e o esquema de condensação/nuvens. Cada modelo utiliza um diferente conjunto de esquemas, mas de forma global realçaram-se alguns factos que originam as múltiplas deficiências dos resultados: (i) mistura turbulenta demasiado intensa na camada nublosa que dá origem a uma camada muito misturada e pouco profunda; (ii) esquemas de fluxo-de-massa muito agressivos, produzindo uma região inferior da nuvem muito seca e quente e uma região superior muito húmida e fria; (iii) inversão da CL demasiado pronunciada inibe a formação dos cumulus; (iv) fecho de fluxo-de-massa na base das nuvens em geral inapropriado; (v) a interacção entre as três parametrizações origina muita intermitência. Os resultados com uma resolução vertical mais grosseira não são necessariamente piores nem melhores; na 91 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo verdade, a resolução mais fina pode sofrer de instabilidade numérica, devida à interacção dos diferentes esquemas. 6.3 Parametrização EDMF com condensação A parametrização EDMF-TKE é facilmente estendida à representação de cumulus. A formulação dos diferentes termos da equação base do esquema (4.2) sofre poucas modificações, relativamente ao exposto no capítulo 5. O coeficiente de difusão-K e o modelo da ascendente ficam inalterados. O coeficiente de fluxo-de-massa, M = au wu , necessita de modificação, tendo em conta que a variância da velocidade vertical, utilizada no esquema EDMF-TKE, é mal conhecida na camada de nuvens. Se (4.7) for uma boa aproximação para a velocidade vertical do conjunto de térmicas ( wu ), esta pode ser usada directamente para o cálculo de M, o que resulta da sua própria definição ( M = au wu ), desde que seja possível conhecer a constante ( au ). Em concordância com valores diagnosticados referentes à área horizontal média, contendo ascendentes com flutuação positiva (Lenschow e Stephens, 1980; Siebesma, 1998), propõe-se que au ≈ 0.1 . Este perfil de fluxo-de-massa pode ser directamente interpretado à luz da ideia conceptual da turbulência na CLC (Figura 6.6). Note-se que, a ideia de escalar o perfil de fluxo-de-massa com o desvio padrão da velocidade vertical é conceptualmente boa, e que, produz bons resultados no caso da CLC não saturada (capítulo 4 e 5). No entanto, σ w depende do comprimento de mistura (a equação de diagnóstico da variância (5.1)), implicando que a mistura de topo é parcialmente controlada pelo processo difusivo, AL qt θl inversão 1 ∂M c = ε −δ M c ∂z camada nublosa ε = 2 ×10 −3 m −1 δ = 3×10 −3 m −1 LCL camada de mistura subnublosa M LCL = ac M 1 1 ε = cε + z ( zi − z) M = au wu Figura 6.6 — Esquema de uma CL convectiva com cumulus pouco profundos e formulação de fluxo-de-massa do novo esquema de EDMF-TKE. o que pode conduzir a alguma subestimação da mistura no topo, i.e., a uma penetração insuficiente das térmicas na troposfera livre. A nova formulação para M, em que M é 92 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo proporcional à velocidade das térmicas, pode ainda melhorar a representação do processo de penetração. Em vez de considerar zi , como a altura onde a flutuação se anula, ou o nível de fluxo de flutuação mínimo, usa-se também a equação da velocidade vertical (4.7) para determinar a altura zi onde wu é zero. 6.3.1 Cumulus pouco profundos A representação de cumulus pouco profundos surge como uma extensão do esquema de EDMF seco quando a parcela de ar ascendente condensa. Deste modo, o modelo de ascendente pode ser também utilizado como uma função de trigger para as nuvens associadas a convecção profunda. O modelo de nuvens tem como objectivo a representação de um conjunto de nuvens do tipo CuPP. Uma térmica com origem na camada de superfície ascende com mistura lateral de ar do ambiente vizinho, até ao nível onde o esquema de condensação diagnostica o aparecimento de água líquida, ou seja a base das nuvens convectivas. O esquema de condensação baseia-se no algoritmo proposto por Davies e Jones (1983). Para além de estimar o conteúdo de água líquida, calcula também a temperatura potencial virtual, que reflecte a libertação de calor latente fruto do processo de condensação. O topo das nuvens corresponde ao nível onde a velocidade vertical da nuvem é nula e é determinado pela equação (4.7). Seguindo Siebesma (1998), o perfil de fluxo-de-massa nas nuvens é dado pela equação da continuidade do núcleo da nuvem, expressa por (2.87). Onde Mc é o fluxo-demassa da corrente ascendente da nuvem e ε e δ são, respectivamente, a taxa de mistura lateral de ar que penetra e sai do núcleo. Para integrar (2.87) é necessário conhecer as condições fronteira para Mc (o fluxo-de-massa da base da nuvem) e as taxas de mistura lateral (taxas de entrainment e detrainment). A estrutura termodinâmica da nuvem é dada também por (4.3). O fecho da base das nuvens requer um tratamento cuidado, visto que estabelece as condições iniciais das ascendentes que dão origem às nuvens e representa a ventilação da camada subjacente (Tiedtke et al., 1988). Betts (1976) introduziu o primeiro fecho de fluxo-de-massa da base das nuvens para descrever o acoplamento entre as duas camadas. Neggers et al. (2003) analisaram três fechos diferentes para o fluxo-de-massa na base das nuvens, num ciclo diurno de convecção com CuPP. Estes autores concluiram que o fecho assente na escala de velocidade convectiva da camada subjacente às nuvens, M = c w∗ (Grant, 2001), representa bem o acoplamento entre as duas camadas, reproduzindo o máximo e o decréscimo final do fluxo-de-massa da base das nuvens, revelados pelos resultados de LES. Este tipo de fecho baseia-se na relação entre o fluxo-de-massa da base das nuvens e a turbulência na camada subjacente. De forma concordante, assume-se aqui que o fluxo-de-massa na base das nuvens é uma extensão natural do perfil da ascendente subsaturada, sendo considerado como o produto da fracção ocupada por nuvens (cobertura nublosa), dada pelo esquema de condensação de subescala, pelo fluxo-de-massa da ascendente seca (M c = a c M ) no nível onde a ascendente condensa. O impacto das taxas de mistura lateral na convecção em cumulus foi investigada em diversos estudos (Siebesma e Holtslag 1996, Siebesma, 1998). Em Tiedtke (1989), estas taxas são assumidas como iguais e constantes, cujos valores têm por base 93 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo experiências de laboratório com plumas (Turner, 1973), e são da ordem de 10-4 m-1. No entanto, Siebesma e Cuijpers (1995) mostrou que estes últimos valores subestimam a mistura lateral, baseando-se em simulações LES para o caso BOMEX. De acordo com Siebesma (1998), adoptam-se os valores, ε = 2 ×10 −3 m −1 , δ = 3 ×10 −3 m −1 , (6.1) sabendo-se de antemão que se trata de uma consideração bastante simplista. Com taxas de mistura lateral constantes, obtém-se facilmente o perfil de Mc, integrando (2.87) entre a base e o topo das nuvens: M c ( z ) = M LCL e ( z − z LCL )(ε −δ ) . (6.2) O diagnóstico da cobertura nublosa e do conteúdo de água líquida das nuvens é uma componente crucial de qualquer modelo, devido, nomeadamente, ao seu potencial impacto no balanço radiativo. O MesoNH tem um esquema estatístico de condensação de subescala, baseado nas variâncias de θl e qt calculadas no esquema geral de turbulência (Sommeria e Deardorff, 1977; Bechtold et al., 1993). Este diagnóstico é efectuado através de um esquema estatístico simples baseado no histograma das flutuações de subescala (ver Apêndice A). De uma forma consistente com o conceito do modelo de EDMF, é natural avaliar estas variâncias tendo em conta ambas as contribuições, de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa. Consequentemente, a variância de uma variável conservada φ é calculada de acordo com: 2 ∂φ ∂φ φ ' ≅ 2τ φ K − 2τ φ M (φu − φ ) , ∂z ∂z 2 (6.3) onde os dois termos do segundo membro representam as contribuições de ED e MF, respectivamente. Assume-se por simplicidade que τ φ = 600 s e que corresponde a uma escala de tempo típica de um turbilhão da dimensão da CL (e.g. Cheinet e Teixeira, 2003). A inclusão da contribuição de fluxo-de-massa em (6.3) pode apresentar problemas, na medida em que se trata um termo que pode ser positivo ou negativo, o que poderá originar valores negativos da variância, obviamente inconsistentes. Observando a Figura 4.3 e a Figura 6.6 e considerando φ = θ l , pode analisar-se o sinal do termo − 2τ φ M (φu − φ )(∂φ ∂z ) . Na metade inferior da camada subnublosa (“seca”) aquele termo é positivo; na metade superior é negativo, visto que (∂φ ∂z ) > 0 e (φu − φ ) > 0 , e por isso é colocado a zero, o que não interfere nos resultados, pois só se está interessado na variância da camada com nuvens, devido à sua importância para o esquema de condensação de subescala. Na camada com nuvens esta contribuição é positiva, pois (∂θ l ∂z ) > 0 e (θ l u − θ l ) < 0 . No entanto, importa realçar que (θ v u − θ v ) > 0 o que gera flutuação e movimento vertical na camada nublosa. 94 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo 6.4 Resultados do modelo EDMF Uma vez que se introduziram modificações na formulação do esquema EDMF discute-se, primeiro, um caso relacionado com o estudo de Nieuwstadt et al. (1992), relativo a uma CLC seca. Posteriormente, discutem-se os resultados do EDMF no caso ARM (Brown et al. 2002), sobre o ciclo diurno de uma CLC com cumulus pouco profundos. 6.4.1 Camada limite seca A primeira validação deste esquema foi realizada recorrendo a um caso idealizado de uma CL seca. Este caso foi utilizado num estudo de intercomparação de modelos LES (Nieuwstadt et al., 1992). Os resultados da intercomparação mostraram genericamente uma boa concordância entre os diversos modelos de LES envolvidos, excepto nas regiões onde as aproximações turbulentas são menos sólidas: as camadas de superfície e de inversão. Neste caso, o forçamento de superfície corresponde à prescrição de fluxos de calor latente e sensível constantes (fluxos cinemáticos): w' q ' s = 2.5 × 10 −5 m s −1 e w′θ ′ s = 6.10 −2 K m s −1 , respectivamente. Os perfis iniciais de temperatura potencial e de humidade podem ser observados na Figura 6.7 e na Figura 6.8, respectivamente (Exp4 da Tabela 1). Este novo esquema foi implementado na versão 1D do MesoNH e as simulações foram realizadas com uma resolução vertical constante de 20 m (tal como as simulações de LES) e um passo de tempo de 60 s. Nas Figura 6.7 e na Figura 6.8 apresentam-se os resultados das simulações de LES e de duas versões do MesoNH, uma correspondente ao novo esquema e a outra utilizando o fecho BL89. Na Figura 6.7 comparam-se as médias da 4ª e da 8ª hora de simulação dos perfis de temperatura potencial, e na Figura 6.8 apresentam-se os perfis de humidade específica para as mesmas simulações. Uma breve análise destas figuras permite observar altura (km) 3 LES BL89 EDMF 2 1 8h 4h Ini 0 299.5 300.0 300.5 301.0 301.5 302.0 θ (K) Figura 6.7 — Perfis verticais de temperatura potencial: inicial (Ini) e média horária da 4ª e 8ª hora. Resultados do novo esquema EDMF, esquema BL89 e do modelo LES. 95 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo um aperfeiçoamento sensível dos resultados do modelo MesoNH com este novo fecho de EDMF, nomeadamente, no que concerne à evolução da altura da CL, à forma da inversão e à estrutura vertical da camada de mistura. O perfil da temperatura potencial não apresenta a instabilidade típica dos perfis que resultam das teorias de difusão turbulenta, tal como a formulação de BL89. Ambos os esquemas BL89 e EDMF produzem resultados similares aos resultados de LES. No entanto, a aproximação BL89 sofre dos quatro problemas típicos dos esquemas turbulentos difusivos (e.g. Stull, 1988): (i) representação pobre da camada de superfície, (ii) perfil vertical instável, (iii) subestimação da mistura-de-topo da CL (top-entrainment), e, finalmente, (iv) inversão demasiado acentuada. O novo esquema EDMF apresenta melhorias significativas em todas estas propriedades. O esquema EDMF é capaz de reproduzir o perfil ligeiramente estável da região superior da camada de mistura e um muito melhor crescimento da CL. No entanto, apesar das melhorias observadas, a camada de superfície é ainda mais estaticamente instável e húmida do que os resultados de LES. 3 8h altura (km) 2 Ini 1 LES BL89 EDMF 0 3.0 3.5 4h 4.0 -1 4.5 5.0 5.5 qt(gkg ) Figura 6.8 — Perfis verticais de humidade específica total: inicial (Ini), média horária da 4ª e 8ª hora. Resultados do novo esquema EDMF, esquema BL89 e do modelo LES. A Figura 6.9 e a Figura 6.10 mostram, respectivamente, a evolução temporal dos fluxos turbulentos verticais da temperatura potencial e da humidade específica. A comparação dos resultados do novo esquema EDMF com os resultados de LES revela uma melhoria significativa, relativamente ao esquema BL89. Em particular, o fluxo de calor exibe o perfil linear típico das observações, com uma razão de mistura-de-topo w'θ ' min w'θ ' s de 0.17, em muito boa concordância com os resultados de LES. Neste ( ) ( ) caso de estudo simples, em que o fluxo de calor superficial é especificado, as diferenças de temperatura dependem unicamente de taxas de mistura-de-topo distintas, sendo uma boa representação deste processo o ingrediente fundamental do bom desempenho do EDMF. No que diz respeito ao fluxo de humidade, regista-se uma vez mais uma franca melhoria nos perfis, associada a um crescimento da CL mais realista. Porém, ainda persistem algumas discrepâncias responsáveis por uma CL mais húmida nas simulações 1D (Figura 6.8). 96 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo 3 LES BL89 EDMF 8h altura (km) 2 4h 1 0 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 -1 w'θ'(mKs ) Figura 6.9 — Perfis dos fluxos verticais de temperatura potencial. Média horária da 4ª e 8ª hora. Resultados do novo esquema EDMF, esquema BL89 e do modelo LES. 3 altura (km) 8h 2 4h 1 LES BL89 EDMF 0 0.0 2.0x10 -5 4.0x10 -5 -1 w'qt'(ms ) Figura 6.10 — Perfis dos fluxos verticais de humidade específica total. Média horária da 4ª e 8ª hora. Resultados do novo esquema EDMF, esquema BL89 e do modelo LES. Na Figura 6.11 ilustram-se as contribuições individuais para o fluxo vertical da temperatura: as componentes de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa, i.e., os dois termos do segundo membro de (4.2). Pode observar-se que o termo de fluxo-de-massa é dominante, excepto na parte inferior da CL. Este facto, já evidenciado nos capítulos 4 e 5, está de acordo com as conclusões do estudo de LES efectuado por Ebert et al. (1989), em que uma análise espectral dos campos de transporte de massa e de calor revelaram a relativamente menor contribuição dos turbilhões de pequena dimensão, em comparação com as térmicas de tamanho médio e da dimensão da CL, para este fluxo. Por outro lado, a contribuição do fluxo-de-massa domina relativamente à difusiva na metade superior da camada de mistura, o que implica um fluxo de calor positivo (contra-gradiente) nessa região. Na inversão, o termo fluxo-de-massa também é dominante. Para além disso, o termo de fluxo-de-massa anula-se a níveis superiores aos do termo de difusão turbulenta, 97 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo reflectindo claramente o efeito adicional de penetração das térmicas na troposfera livre, associado à proporcionalidade directa entre o coeficiente de fluxo-de-massa e a velocidade vertical da ascendente (ver seta na Figura 6.11). O termo de fluxo-de-massa, que representa directamente o transporte de calor e humidade relacionado com as plumas convectivas, constitui uma forma mais natural que as formulações de contra-gradiente de representar a contribuição não-local para os fluxos turbulentos, e os presentes resultados indicam que a inclusão deste termo melhora também a representação das propriedades médias da CLC. altura (km) 3 MF 4h 8h ED 4h 8h 2 1 0 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 -1 w'θ' (mKs ) 0.06 0.08 Figura 6.11 — Contribuições da difusão-K (ED) e do fluxo-de-massa (MF) para o fluxo turbulento vertical de temperatura potencial. Médias horárias dos resultados do novo esquema para a 4ª e 8ª horas de simulação. Crucial para a compreensão destas diferentes contribuições é a equação da velocidade vertical da ascendente. Na Figura 6.12 apresentam-se os perfis verticais da 3 LES 4h EDMF 8h 6h 4h 2h altura (km) 2 1 0 0 1 2 -1 wup(ms ) 3 Figura 6.12 — Evolução temporal do perfil da velocidade vertical da ascendente. Resultados correspondentes a médias horárias do novo esquema e do LES. 98 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo velocidade vertical da térmica, podendo-se observar uma grande concordância com os resultados de LES, suportando a formulação adoptada ( M = au wu ). Este facto é de grande importância para o esquema proposto: por um lado, a velocidade vertical define a altura da inversão e, indirectamente, a mistura lateral da ascendente (5.6); por outro lado, determina a magnitude do termo de fluxo-de-massa e, indirectamente, as propriedades da camada de mistura. A Figura 6.13 mostra a evolução da altura da CL, definida como a altura onde o fluxo de flutuação é mínimo para o modelo de LES e para o esquema BL89, e a altura onde a velocidade vertical é nula, para o novo esquema EDMF. Os resultados do novo esquema estão em muito boa concordância com os resultados de LES, muito melhor que o esquema de BL89. Os piores resultados de BL89 são consequência da falta de mistura-de-topo da CL, um fenómeno já ilustrado na Figura 6.9. altura (km) 2.4 2.0 1.6 1.2 LES BL89 EDMF 0 1 2 3 4 5 tempo (h) 6 7 8 Figura 6.13 — Evolução temporal da altura da CL. Resultados dos esquemas EDMF e BL89, e do modelo LES. 6.4.2 Caso ARM Mostram-se de seguida os resultados para o caso de estudo ARM, obtidos utilizando o esquema EDMF descrito na secção 6.3. A Figura 6.14 e a Figura 6.15 mostram as séries temporais das propriedades nas nuvens. A nova aproximação representa bem o ciclo diurno da convecção com CuPP. Os tempos de aparecimento dos cumulus e da sua dissipação, dados pelo modelo de ascendente com água líquida, são muito próximos dos observados (Figura 6.14). A cobertura nublosa e o conteúdo de água líquida integrado na vertical (Figura 6.15) dados pelo esquema de condensação de subescala estão em muito boa concordância com os resultados de LES, ambas revelando uma evolução temporal e magnitude apropriadas. Alguns dos modelos intervenientes na intercomparação (L2004) são capazes de reproduzir o tempo de aparecimento dos primeiros cumulus, sugerindo uma ligação directa entre as nuvens e as primeiras térmicas que atingem o nível de condensação por elevação (Wilde et al., 1985). No entanto, a esmagadora maioria dos modelos é incapaz de representar a dissipação das nuvens. Este problema não se regista no novo esquema EDMF: os cumulus dissipam-se ao fim do dia, verificando-se um baixo nível de intermitência. Os resultados da versão standard do MesoNH (L2004) apresentam uma cobertura nublosa bastante elevada (em média 50 %) e a água líquida é quase inexistente. Estas propriedades são agora muito melhoradas. O máximo da cobertura nublosa, cerca de 99 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo 1.0 0.8 0.6 0.4 3 2 14 16 18 20 tempo (h) 22 LES EDMF up Base das nuvens 1 LES EDMF Max. cobertura nubelosa 2 1 14 14 16 18 20 tempo (h) 22 24 (d) 3 0 12 0 12 24 3 altura (km) altura (km) (b) 0.2 0.0 12 (c) LES EDMF altura (km) (a) Cobertura nubelosa 0.2, está muito próximo dos resultados da simulação de LES, e ocorre pouco depois das 18 UTC (12 LT), um pouco mais tarde que no LES (Figura 6.14a). O decréscimo da cobertura nublosa observado depois dessa hora é concordantemente descrito pelo esquema EDMF. Esta melhoria é largamente explicada por uma estimativa mais rigorosa das variâncias de θl e de qt , devida à contribuição do termo de fluxo-de-massa em (6.3). 16 18 20 tempo (h) 22 24 Topo das nuvens 2 1 0 12 LES EDMF up 14 16 18 20 tempo (h) 22 24 Figura 6.14 — Resultados do novo esquema EDMF e de LES, séries temporais de: (a) cobertura nublosa, (b) altura da base das nuvens, (c) altura do máximo da cobertura nublosa, (d) altura do topo das nuvens. A altura da base das nuvens está em boa concordância com os resultados de LES. Este facto demonstra que este modelo simples de ascendente é apropriado para representar a geração de nuvens do tipo cumulus, sem recorrer a funções de triggering complexas, tais como a utilizada na versão standard do MesoNH. A altura da base das nuvens, definida como o nível de condensação por elevação (LCL) da ascendente (EDMF up, na Figura 6.14b) indica que os cumulus aparecem aproximadamente às 15:30 UTC (9:30 LT), acima dos 700m. A base das nuvens eleva-se com o decorrer do dia, atingindo uma altura máxima de 1200 m depois das 24:00 UTC (18 LT). A altura do máximo da cobertura nublosa (Figura 6.14c) mostra que o esquema de nuvens tem também, um bom desempenho no diagnóstico desta propriedade do campo de cumulus representados. Por outro lado, a altura do topo das nuvens parece ser subavaliada (Figura 6.14d), o que poderá resultar de o perfil de mistura lateral utilizado ser muito simplificado. A série temporal do conteúdo de água líquida integrado na vertical (LWP – Liquid Water Path) apresentado na Figura 6.15a revela que o esquema EDMF reproduz bastante bem a evolução desta propriedade, subestimando ligeiramente a sua magnitude. A Figura 6.15b ilustra a semelhança entre as séries temporais do fluxo-de-massa na base das nuvens do esquema EDMF e do fluxo diagnosticado no LES por Neggers et al. (2003): tanto o valor máximo como o colapso do fluxo-de-massa da base das nuvens são bastante semelhantes. Estes resultados conferem ao fecho do fluxo-de-massa proposto (M c = ac M ) algumas possibilidades de ser implementado noutros esquemas de fluxo-de-massa, com o 100 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo intuito de se obter uma melhor representação do acoplamento entre a camada subnublosa e a camada nublosa. 40 20 10 0 12 0.10 0.08 -1 30 (b) LES EDMF M (ms ) -2 LWP (gm ) (a) LES EDMF Fluxo-de-massa na base nuvens 0.06 0.04 0.02 14 16 18 20 tempo (h) 22 24 0.00 12 14 16 18 20 tempo (h) 22 24 Figura 6.15 — Séries temporais do conteúdo de água líquida integrado verticalmente (LWP – Liquid Water Path) e do fluxo-de-massa da base das nuvens. Resultados do novo esquema EDMF e do modelo LES (Neggers et al., 2003). Os perfis verticais da temperatura potencial e da humidade específica total são mostrados na Figura 6.16. A evolução da temperatura potencial da camada subnublosa é muito próxima dos resultados de LES. No entanto, tal como no caso sem nuvens, os perfis da humidade revelam algumas diferenças, devido à falta de transporte vertical no interior da camada nublosa. Os perfis da cobertura nublosa e da água líquida (Figura 6.17) apresentam uma ordem de grandeza razoável, mas com extensão vertical insuficiente. A temperatura potencial e a humidade específica na camada de nuvens sofrem do mesmo problema – a camada condicionalmente instável não tem a extensão vertical esperada – e apresentam alguma irregularidade. Uma explicação clara dos problemas anteriormente mencionados é difícil de avançar, visto que dois esquemas desempenham um papel importante: (i) o esquema EDMF de turbulência/convecção e (ii) o esquema de condensação de subescala. As dificuldades encontradas sugerem a necessidade de testar formulações mais complexas para a mistura lateral. Por outro lado, os perfis da camada subnublosa parecem pouco afectados por aqueles problemas, o que é consistente com a ideia de que a turbulência nesta camada é muito pouco afectada pela presença de cumulus em níveis superiores. Pelo contrário, o razoável desempenho do fecho de fluxo-de-massa na base das nuvens, mostra a forte ligação entre a dinâmica das nuvens e as propriedades da camada subnublosa. Subtraindo a altura da base das nuvens da do topo (Figura 6.14b e d), obtém-se a espessura das nuvens. Num caso de estudo com CuPP, Brown et al. (2002) tentaram compreender a razão para que a espessura da camada de nuvens cresça tão lentamente, atribuindo-a à fraca instabilidade condicional desta camada. Este efeito é ainda mais visível nos resultados do esquema EDMF, em que este crescimento é ainda mais lento. Este assunto será aprofundado num trabalho futuro. 101 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo (b) 3 Ini EDMF 14:30 17:30 20:30 LES 14:30 17:30 20:30 2 2 altura (km) altura (km) (a) 3 1 1 0 Ini EDMF 14:30 17:30 20:30 LES 14:30 17:30 20:30 0 302 304 306 308 θ (K) 310 312 314 2 4 6 8 10 12 qt (g/kg) 14 16 18 Figura 6.16 — Perfis verticais da temperatura potencial e humidade específica total para as 14, 16, 18, 20 e 22 UTC. Médias horárias dos resultados do novo esquema EDMF e do LES. EDMF 14:30 17:30 20:30 LES 14:30 17:30 20:30 altura (km) 2 EDMF 14:30 17:30 20:30 LES 14:30 17:30 20:30 2 1 1 0 0.0 altura (km) (b) 3 (a) 3 0.2 0.4 0.6 Cobertura nublosa 0.8 1.0 0 0.00 0.02 0.04 0.06 ql (g/kg) 0.08 0.10 Figura 6.17 — Perfis verticais da cobertura nublosa e do conteúdo de água líquida para as 14, 16, 18, 20 e 22 UTC. Médias horárias dos resultados do novo esquema EDMF e do LES. 6.5 Conclusões Nesta capítulo mostrou-se que uma combinação simples das aproximações de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa pode descrever correctamente o transporte turbulento na CL convectiva, com e sem nuvens. A grande vantagem desta aproximação é a unificação da CL sem nuvens e da CL com cumulus pouco profundos, uma vez que permite representar o efeito da condensação nas correntes ascendentes. Desta forma, não existe a necessidade de activar um esquema de convecção autónomo, até ao momento em que se diagnostique o aparecimento de convecção profunda. O modelo de ascendente está 102 Parametrização EDMF em cumulus pouco profundo sempre activo e decide se a térmica se transforma numa corrente ascendente de uma nuvem. Esta aproximação tem a vantagem conceptual de que toda a CLC é descrita por um único esquema de turbulência, que possui advecção não-local e difusão local em ambas as camadas, nublosa e subnublosa. A modificação do esquema EDMF para a CLC com nuvens consistiu em formular directamente o coeficiente de fluxo de massa em função da velocidade vertical das ascendentes. Os resultados desta aproximação na CLC seca são comparáveis aos da formulação EDMF-TKE apresentada no capítulo 5, verificando-se uma ligeira melhoria na representação da mistura-de-topo. A análise do desempenho do esquema EDMF no ciclo diurno de CuPP revela também resultados promissores. Os tempos de início e de dissipação, e a cobertura nublosa dos cumulus são propriedades bem representadas. O mesmo se aplica às propriedades integradas na vertical, nomeadamente, a água líquida. Subsistem, porém, alguns problemas por resolver nas propriedades da camada nublosa, que exigirão no futuro mais atenção. Importa realçar que este modelo corresponde a uma simples parcela em ascensão com mistura lateral, que apresenta um sucesso assinalável na descrição da CLC. O fecho de fluxo-de-massa na base das nuvens permite uma ligação directa entre os estados convectivos da camada subnublosa e da camada de nuvens. Esta parece ser a mais simples aproximação à ideia de que os cumulus são a parte visível das térmicas que atravessam a camada seca e estável. O esquema EDMF representa um passo na direcção da unificação dos fechos de turbulência e de convecção. Pelo menos na CLC, esta aproximação parece desempenhar o papel normalmente representado por dois esquemas distintos de turbulência e de convecção. Simultaneamente, pela sua simplicidade, tem a vantagem de permitir uma melhor compreensão dos mecanismos físicos envolvidos e da sua importância relativa. 103 Conclusões 7 Conclusões A mistura turbulenta, de calor, humidade e momento linear, desempenha um papel fundamental na determinação da estrutura vertical da atmosfera. O transporte turbulento na camada limite convectiva é desempenhado por turbilhões de dimensões variadas, desde alguns milímetros até às térmicas da dimensão da própria camada limite. Quando ocorre condensação, estas térmicas dão origem a cumulus. A representação da convecção seca e em cumulus é amplamente reconhecida como um aspecto fundamental do desenvolvimento dos modelos, devido ao seu potencial impacto na previsão do tempo a curto prazo (Beljaars e Viterbo, 1998) e também nas previsões de clima a longo prazo (e.g. Tiedtke, 1987). Este trabalho teve como objectivo o desenvolvimento de uma parametrização para a camada limite convectiva seca e com cumulus. Esta parametrização pretende unificar a representação do transporte turbulento através da combinação das aproximações de difusão turbulenta e de fluxo-de-massa (EDMF – Eddy-Diffusivity/Mass-Flux). No âmbito desta ideia, desenvolveram-se três parametrizações, com a finalidade de se adequarem à sua implementação em modelos de circulação global e de área limitada. Na aproximação proposta representa-se a mistura associada aos pequenos turbilhões através de uma contribuição difusiva, enquanto que o transporte não-local realizado pelas térmicas é descrito pelo termo de fluxo-de-massa, que depende de um modelo de ascendente. Uma importante vantagem desta aproximação é o facto de esta poder ser naturalmente estendida para representar a camada limite com nuvens, permitindo que a ascendente condense, sem necessidade de alternar entre o esquema de turbulência e um outro esquema de convecção. A primeira parametrização desenvolvida (EDMF-EMP) assenta numa formulação simplificada, em que algumas experiências de LES e expressões empíricas bem conhecidas são utilizadas para a sua construção e suporte. Esta parametrização mostrou que uma simples combinação das aproximações de difusão-K e fluxo-de-massa consegue descrever bem o transporte vertical turbulento, de que resulta uma boa descrição das propriedades termodinâmicas médias da camada limite convectiva seca. Os resultados da parametrização EDMF-EMP foram comparados com o esquema de difusão-K de Troen e Mahrt (1986), e com esta última adicionada de um termo de contra-gradiente (Holtslag et al., 1995). Esta comparação mostra que o novo esquema apresenta uma melhoria substancial em todas as propriedades. Os resultados não sofrem dos efeitos adversos de outras teorias mistas, como os associados à introdução do termo de contra-gradiente na aproximação de difusão-K. De facto, nos fechos com termo de contragradiente a mistura-de-topo é inibida, enquanto que no esquema EDMF-EMP este processo é bem representado. A introdução do termo de fluxo-de-massa é crucial para estes resultados, visto representar o efeito da penetração das correntes ascendentes na atmosfera livre, o que contribui decisivamente para uma boa descrição da mistura-de-topo. Adicionalmente, o termo de fluxo-de-massa é responsável pelo fluxo de contra-gradiente, produzindo uma camada limite ligeiramente estável na metade superior da CLC, solucionando o problema inerente à aproximação de difusão-K, em que os perfis verticais de temperatura potencial são sempre instáveis. Estes dois factos são resultado do carácter 104 Conclusões não-local do termo de fluxo-de-massa. A parametrização EDMF-EMP é computacionalmente pouco dispendiosa, e foi implementada no modelo do ECMWF mostrando resultados promissores em simulações 3D. De forma a desenvolver um esquema mais robusto e destinado preferencialmente a modelos de escala regional, que utilizam um fecho turbulento de ordem 1.5, desenvolveuse uma segunda parametrização. Esta aproximação baseia a sua formulação na equação de prognóstico da TKE, o que lhe garante um constrangimento físico mais sólido. O esquema EDMF-TKE foi implementado no modelo MesoNH, mostrando igualmente bons resultados. Quando comparados com os resultados produzidos pelo esquema de Bougeault e Lacarrère (1989), as melhorias nos perfis médios são significativas e devidas à introdução do termo de fluxo-de-massa. Esta contribuição depende do diagnóstico da variância da velocidade vertical, descrevendo correctamente o fluxo turbulento de calor de contra-gradiente na parte superior da CL e melhorando a descrição do efeito de mistura-detopo. O projecto EUROCS promoveu uma intercomparação entre modelos 1D, com o objectivo de determinar o estado da arte da representação do ciclo diurno de uma CLC com cumulus pouco profundos (L2004). Considerou-se como caso de estudo o caso ARM (Brown et al., 2002), revelando esta intercomparação a grande dificuldade que constitui representar em modelos atmosféricos este tipo de CLC. A versão 1D standard do MesoNH foi um dos modelos participantes, denotando diversas deficiências, partilhadas pelos outros modelos. Tal como a maioria dos outros modelos, o MesoNH produz valores de cobertura nublosa demasiado elevados, mas, ao contrário da generalidade dos outros modelos, subestima fortemente o conteúdo de água líquida das nuvens. Em geral, os modelos usam, uma parametrização alternativa para o transporte vertical na camada de nuvens: um esquema de fluxo-de-massa, enquanto que a camada abaixo das nuvens continua a ser parametrizada por difusão-K. Esta descontinuidade contribui, em muitos modelos, para os fracos resultados obtidos na CL com cumulus (Lenderink et al., 2004). A representação de cumulus pouco profundos surge na aproximação EDMF como uma extensão natural do esquema, permitindo que a parcela de ar ascendente condense. A modificação do esquema EDMF para a CLC com nuvens consistiu em formular directamente o coeficiente de fluxo de massa em função da velocidade vertical das ascendentes. Desta forma, o fecho de fluxo-de-massa na base das nuvens permite uma ligação directa entre os estados convectivos da camada subnublosa e da camada de nuvens, convergindo para a ideia de que os cumulus são a parte visível das térmicas que atravessam a camada seca e estável. Os resultados desta aproximação na camada limite convectiva seca são comparáveis aos das formulações EDMF-EMP e EDMF-TKE, verificando-se uma ligeira melhoria na representação da mistura-de-topo. O desempenho do esquema EDMF no caso ARM revela também bons resultados, bastante melhores que a grande maioria dos modelos participantes na intercomparação de modelos. Os tempos de início e de dissipação, e a cobertura nublosa dos cumulus são propriedades bem descritas, assim como as propriedades integradas na vertical, nomeadamente, a água líquida. No entanto, os perfis médios da camada nublosa denotam algumas insuficiências na formulação da camada de nuvens, provavelmente associadas à mistura lateral considerada. 105 Conclusões As principais conclusões desta tese são: • A parametrização EDMF, nas suas diferentes formulações, apresenta uma melhoria em relação aos fechos geralmente utilizados na camada limite convectiva; • A utilização da energia cinética turbulenta tem um impacto positivo no esquema de parametrização, permitindo a formulação de um modelo de ascendente que é independente da grelha vertical do modelo atmosférico; • A parametrização EDMF unifica a representação das camadas nublosa e subnublosa, com melhoria da descrição do campo das nuvens. A parametrização EDMF representa, um passo na direcção da unificação dos fechos de turbulência e de convecção. Num futuro próximo, esta aproximação vai ser estendida para representar os processos de convecção profunda e nuvens do tipo stratocumulus, de modo a unificar o tratamento da convecção pouco profunda e profunda. Nessa extensão, esperam-se diversas dificuldades, nomeadamente, as associadas aos processos radiativos e da precipitação. 106 Referências 8 Referências Ackerman, S. A., e S. K. Cox, 1981: Aircraft observations of the shortwave fractional absorptance of nonhomogeneous clouds. J. Appl. Meteor., 20, 1510-1515. Agee, E. M., 1984: Observations from space and thermal convection: a historical perspective. Bull. Amer. Meteor. Soc., 65, 938-949. Albrecht, B.A., D.A. Randall e S. Nicholls, 1988: Observations of marine stratocumulus clouds during FIRE. Bull. Amer. Meteor. Soc., 69, 618-626. Albrecht, B.A., C. S. Bretherton, D. Johnson, W. H. Schubert e A. S. 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A grelha é do tipo Arakawa-C, a integração temporal é do tipo leapfrog utilizando o método semi-implícito de Crank e Nicolson (1947). O modo 1D não é um modelo unidimensional puro, mas corresponde a um domínio horizontal de 3x3 pontos de grelha. O modelo de superfície, ISBA, (Interaction between Soil Biosphere and Atmosphere) foi desenvolvido por Noilhan e Planton (1989). As variáveis do modelo são as três componentes do vento, u , v, w , a TKE e, a temperatura potencial θ e a razão de mistura do vapor rv . Este modelo está detalhadamente descrito no manual, The MesoNH Atmospheric Simulation System: Scientific Documentation (Bougeault et al., 2000), apresentado-se neste apêndice, unicamente, os aspectos relevantes do modelo no contexto da presente tese. 9.2 Esquema de turbulência e equação da TKE O esquema de turbulência do modelo MesoNH é constituído essencialmente pela parametrização dos fluxos turbulentos 3D desenvolvida por Redelperger e Sommeria (1981). As equações do momento de segunda ordem são separadas numa contribuição isotrópica e outra anisotrópica (Lilly, 1967; Deardorff, 1973), considerando as equações relativas a esta última como estacionárias, o que permite diagnosticar os fluxos. A contribuição isotrópica reverte para a equação de prognóstico de TKE. Nesta aproximação os efeitos, de Coriolis, da curvatura da Terra e os momentos de terceira ordem nas equações anisotrópicas são desprezados (Cuxart, 1997). Esta parametrização é de ordem 1.5, em que os momentos de segunda ordem são dados por: 1 2 l 2 ∂θ u i 'θ ' = e φi , 3 Cs ∂xi u i ' rv ' = − 2 l 3 Ch 1 e2 (9.1) ∂rv ψi , ∂xi 115 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH 1 2 4 l 2 ∂u i ∂u i 2 ∂u m u i ' u j ' = δ ij e − e + − δ ij , ∂x m 3 15 C m ∂x j ∂x j 3 ∂θ ∂rv θ ' rv ' = C 2 l 2 ∂x m ∂x m (φ m + ψ m ), ∂θ ∂θ θ ' 2 = C1l 2 ∂x m ∂x m φ m , ∂r ∂rv rv ' 2 = C1l 2 v ∂x m ∂x m ψ m . onde l é o comprimento de mistura, C s = C h = C m = 4. , C1 = 2 1 2 1 , C2 = , 3 C s Cθ 3 C s C qθ Cθ = 1.2 e C qθ = 2.4 . As funções de estabilidade φi e ψ i reflectem a influência da estabilidade no transporte turbulento; estão descritas em Redelsperger e Sommeria (1981) e são funções dos números de Redelsperger (ou Richardson). Em concordância, as difusividades turbulentas do calor e humidade são: 1 2 l 2 Kh = e φi , 3 Ch Kq = 2 l 3 Cs 1 e 2ψ i (9.2) . No modo 1D os gradientes horizontais não são tidos em conta. A equação de prognóstico da energia cinética turbulenta (TKE) é expressa por 3 1 ∂u i ∂e g ∂e e2 1 ∂ 1 ∂ =− ρ ref w e − u i ' w' + w′θ v′ − C 2 m ρ ref l e 2 − Cε ∂t ρ ref ∂z ∂z θ v ref ρ ref ∂z ∂z lε ( ) (9.3) C 2 m = 0.2 e Cε = 0.7 . A formulação do comprimento de mistura no modo regional assenta em Bougeault e Lacarrère (1989) (BL89). BL89 postula que o comprimento de mistura se relaciona com a distância que uma parcela de ar com a TKE do nível inicial, pode percorrer para cima lup e para baixo (l down ) , antes de ser parada pela flutuação. Estas distâncias são definidas por: ( ) ∫ z +lup z g θ v ref (θ v ( z ' ) − θ v ( z ))dz ' = e( z ) , (9.4) 116 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH ∫ z g z −ldown θ v ref (θ v ( z ) − θ v ( z ' ))dz ' = e( z ) . (9.5) em que l down ≤ z . O comprimento de mistura l escreve-se ( l = lup .l down )2 . 1 (9.6) As variáveis conservadas são calculadas no esquema de turbulência, através das variáveis de prognóstico do modelo, e são a razão de mistura total, rt , rt = rv + rc , (9.7) e a temperatura potencial de água líquida, θl = θ − Lv −1 Π ref rc . C ph (9.8) Em ambas aparecem as razões de mistura do vapor e de água das nuvens, respectivamente, rv e rc . Estas variáveis conservam-se para processos adiabáticos com evaporação/condensação. c ph é o calor específico a pressão constante para o ar húmido, c ph = c pd + rv c pv , e Π ref é a função de exner do estado de referência, Π ref −1 = (θ T )ref . Sempre que a opção de condensação seja activada, calculam-se os fluxos turbulentos das propriedades conservadas, substituindo θ por θ l e rv por rt em (9.1), que para uma coluna vertical dá origem a: 1 2 l 2 ∂θ l w'θ l ' = − e φi , ∂z 3 Cs 1 w' rt ' = − 2 l 2 ∂rt e ψi , 3 Ch ∂z 2 φm , θ l 'θ l ' = C1l ∂ z 2 ∂θ l (9.9) 2 ψm , rt ' rt ' = C1l ∂ z 2 ∂ rt ∂θ ∂ r θ l ' rt ' = C 2 l 2 l t (φ m + ψ m ), ∂z ∂z donde se extraem posteriormente os fluxos das variáveis não conservadas. 117 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH No modelo existe ainda outro fecho o sistema de equações que permite determinar l. Esta aproximação é conhecida por k − ε , onde k se refere a TKE, ε à sua dissipação, e se recorre a uma equação de prognóstico para a dissipação (Hanjalic e Launder, 1972). 9.3 Esquema de convecção O esquema de convecção corresponde ao desenvolvimento realizado por Bechtold et al. (2001) da parametrização proposta por Kain e Fritsch (1990,1993). O esquema destina-se a representar a convecção pouco profunda e profunda, e tem sido permanentemente melhorado (e.g. Chaboureau e Bechtold, 2002). A aproximação de fluxo-de-massa expressa o efeito de um conjunto de nuvens no seu ambiente de acordo com (e.g. Arakawa e Schubert, 1974; Gregory e Miller, 1989; Betts, 1997) ∂φ ∂t =− conv ( ) [ ] 1 ∂ 1 ∂ ρ w'φ ' ≈ − M u (φu − φ ) + M d (φ d − φ ) + M e (φe − φ ) ρ ∂z ρ A ∂z [ ] 1 ∂ M uφu + M d φ d − (M u + M d )φ , ≈− ρ A ∂z (9.10) onde φ é uma variável conservada, M = ρ wA é o fluxo-de-massa (kg s-1), w é a velocidade vertical e A = Au + Ad + Ae , corresponde à área do domínio horizontal. u, d, e e, referem-se, respectivamente a propriedades das ascendentes, descendentes e ambiente circundante. A mistura lateral das ascendentes e das descendentes obedece a ∂ (M u φ u ) = ε u φ − δ u φ u , ∂z ∂ (M d φ d ) = ε d φ − δ d φ d , ∂z (9.11) o que permite escrever ∂φ ∂t ≈ conv [ ] 1 ∂ (M u + M d )φ − (ε u + ε d )φ + δ uφu + δ d φd . ρ A ∂z (9.12) As propriedades do conjunto das ascendentes e das descendentes são determinadas recorrendo a um modelo de nuvens 1D, que as considera como plumas em estado estacionário. O tipo de convecção é caracterizada por funções de trigger diferentes. A função de trigger para a convecção segue um procedimento que se inicia por: partindo do nível do solo considera-se uma camada de 60 hPa da qual se calcula a temperatura potencial média, θ mix , e a razão de mistura média, rv mix . Esta “camada parcela” é elevada sem mistura lateral até ao LCL. Calcula-se a esse nível a temperatura recorrendo ao algoritmo de Davies e Jones (1983) e a pressão [ ]C p (LCL ) = p 00 T (LCL ) θ mix pd convecção húmida no LCL se Rd . Esta parcela é considerada instável relativamente à 118 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH θ mix − θ v + ∆T π > 0 , (9.13) onde π é a função de Exner. Para convecção profunda ∆T é função do movimento vertical médio do ponto de grelha, ∆T = ± c w w 13 , com c w = 6 Km −1 3s1 3 . O sinal de ∆T é igual ao de w . Como a velocidade vertical de larga escala varia quase linearmente com a resolução horizontal, normaliza-se a velocidade de acordo com w A ∆x ref , onde ∆x ref = 25 km é a resolução de referência. De outra forma, para a convecção pouco profunda adiciona-se um excesso ∆T = 0.2 K à temperatura da parcela no LCL. Posteriormente, realiza-se um teste para averiguar se a nuvem atinge uma determinada extensão, 3 km para a convecção profunda e 500 m para a pouco profunda, elevando a parcela, conservando a temperatura potencial equivalente θ e θ mix , rv mix e procurando a ( ) intersecção com a curva de saturação do ambiente θ e s (T ) (e.g. Raymond, 1995). Se a parcela for estável relativamente à convecção húmida, ou se a sua extensão não atingir os limiares anteriores, repete-se o procedimento anterior para a camada de 60 hPa sobrejacente, e por aí adiante. Nesta tese de doutoramento trata-se unicamente a convecção pouco profunda, deste modo, far-se-á unicamente a descrição da parte do esquema, a esse tipo de convecção associada. Assume-se a ausência de precipitação e de descendentes. Sempre que daqui para diante se fale em convecção, estar-se-á a falar de convecção pouco profunda. Satisfeitas as condições referidas inicia-se a ascendente que caracteriza o conjunto de ascendentes das nuvens pouco profundas. A entalpia hil e a razão de mistura total rw são as propriedades conservadas adoptadas, hil = C pmT − Lv rc − Ls ri + (1 + rw )gz , (9.14) rw = rv + rc + ri . Iniciando a ascendente no LCL como: ( ) hil u = C pmT (LCL ) + 1 + rv mix gz (LCL ) , rw u = rv mix . (9.15) O fluxo-de-massa inicial da ascendente é dado por M u (LCL ) = ρ wLCLπR0 2 , (9.16) em que a velocidade vertical é 1 ms-1 e o raio da ascendente R0 = 50m . Considerando a ascendente discretizada na malha vertical, em que k indica o nível vertical, m indica valores médios na camada entre dois níveis k, e sem qualquer índice se trata de uma propriedade em k, escreve-se portanto, ∆φ = φ k +1 − φ k . À medida que a parcela ascende troca massa com o ambiente vizinho, alterando o fluxo-de-massa e as propriedades: 119 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH ∆M u = ε um − δ u m , ( ) ∆ M u hil u = ε u m hil − δ u m hil u + M uk +1 (Lv ∆rr + Ls ∆rs ), ( (9.17) ) ∆ M u rw u = ε u m rw − δ u m rw u + M uk +1 (∆rr + ∆rs ) , onde ∆r e ∆rs correspondem a precipitação líquida e sólida, e são considerados nulos para convecção pouco profunda. A razão de mistura do condensado rc u é deduzido de hil u e rw u usando um ajustamento de saturação (Tao et al., 1989). A velocidade vertical é dada por: ( ) ∆ wu 2 = 2g 1+ γ θvu m − θvm θv m ∆z − 2 ε u wu 2 , Mu (9.18) onde γ = 0.5 expressa o efeito das perturbações da pressão (Kuo e Raymond, 1980). A velocidade vertical permite calcular a altura do topo das nuvens, que se define como o nível onde wu 2 se torna negativo. Finalmente, o fluxo-de-massa é ajustado para diminuir linearmente com a altura entre o nível de equilíbrio da temperatura e o nível do topo das nuvens. A mistura lateral está de acordo com Kain e Fritsch (1990): ε u = ∆M t f ε , δ u = ∆M t f δ , (9.19) ∆M t = M u cent ∆z R0 , em que fε e fδ são taxas de mistura lateral definidas pelos autores anteriores, e ∆M t corresponde à taxa total a que massa entra na transição entre o ar da nuvem e o exterior (cent = 0.2) . O fecho deste esquema de modo a controlar a intensidade da convecção segue o trabalho de Fritsch e Chappell (1980), que considera que toda a CAPE (Convective Available Potential Energy) num elemento da malha é removido num tempo de ajustamento τ . Em concordância com o esquema de Betts-Miller (Betts e Miller, 1993) τ = 3 h para a convecção pouco profunda. As propriedades resultantes da actividade convectiva são calculadas iterativamente [ ( ) ( ) ] τ ~ φ n +1 = φ n + − ∆ M nφ n − ε u n + ε d n φ n + δ u nφu + δ d nφ d , mt ~ ~A , M = ρw (9.20) 120 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH ~ ~ = ∂w dz , w ∂z ∫ ~ ε +ε −δ −δ ∂w d u d , = u mt ∂z ~ onde n é o número da iteração, mt é a massa total da camada, e M é o fluxo-de-massa do ambiente de compensação. Determina-se θ e e um novo valor de CAPE fazendo uso de uma parcela a ascender sem mistura lateral θ n+1 (DPL ) = g e − 1dz , θ n+1 es LCLn +1 ETL CAPE n +1 ∫ (9.21) em que LCLn+1 é obtido de θ v n +1 (DPL ) pelo mesmo método do triggering. Em todos os níveis do modelo os fluxos-de-massa e os fluxos de mistura lateral são calculados pelo factor de ajustamento, dado por n +1 n Fadj = Fadj CAPE 0 , CAPE 0 − CAPE n+1 (9.22) em que CAPE 0 é o valor inicial de CAPE . Os passos (9.20) a (9.22), são repetidos até que CAPE n+1 < 0.1CAPE 0 . Finalmente, a tendência convectiva é estimada por ∂φ ∂t ( ) = φ n −φ 0 τ . (9.23) conv 9.4 Esquema de condensação de subescala Sommeria e Deardorff (1977) mostrou que o valor médio de rc pode ser diagnosticado mediante o conhecimento dos valores na grelha das variáveis conservadas, θ l e rt , e das respectivas variâncias, em que as variâncias são calculadas de acordo com as equações (9.9) do esquema de turbulência. Sempre que exista uma nuvem a razão de mistura é igual à razão de mistura de saturação rvs (θ , p ) , que em função de θl pode ser expressa através de uma expansão de Taylor de primeira ordem ∂r rv = rvs (θ , p ) ≈ rvs (θ l ) + vs (θ − θ l ) , ∂θ θl (9.24) 121 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH onde se despreza a variação de rvs com a pressão, o que é suportado por ∂rvs ∂r ∆θ >> vs ∆p . Se se considerar ∂θ ∂p ∂r J = vs , ∂θ θl (9.25) a equação de Clausius-Clapeyron permite obter rvs (Tl )Lv . RvTlθ l J= (9.26) De (9.7), (9.24) e (9.25) pode-se escrever rc = rt − rv = rt − rvs (θ l ) − J (θ − θ l ). (9.27) Tendo em conta M =J Lv −1 Π ref , c ph (9.28) e (9.8) obtém-se rt − rvs (θ l ) . (1 + M ) rc = (9.29) Porém, no caso subsaturado, rc = 0 , o que justifica a expressão geral r − r (θ ) rc = Max t vs l . (1 + M ) (9.30) A razão de mistura média de água da nuvem em cada ponto da malha será obtida pela média de (9.30), que se denota por s= rt − rvs (θ l ) . 2(1 + M ) (9.31) s pode ser interpretado como uma quantidade turbulenta que controla a saturação dentro do domínio a que corresponde cada ponto da grelha do modelo. Se ocorrer saturação, s ≥ 0 . Definindo s = s + s ' , o mesmo será dizer que ocorre saturação sempre que s ' ≥ − s . s' = rt '− Jθ l ' , 2(1 + M ) (9.32) o que permite calcular o desvio padrão de s, σ s , 122 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH σs = (r ' t 2 ) 1 2 + J θ l ' − 2 J rt 'θ l ' . 2(1 + M ) 2 2 (9.33) Para calcular a média estatística de rc nos pontos de grelha, importa introduzir a variável normalizada centrada t= s' , σs (9.34) e a sua distribuição de probabilidade G (t ) dt . Sendo a condição de saturação, t≥− s . σs (9.35) Definindo ( ) (9.36) N = G (t ) dt , (9.37) rt − rvs θ l , 2(1 + M )σ s Q1 = a fracção nublosa é dada por, ∫ +∞ −Q1 e o valor médio do conteúdo de água líquida: rc = 2σ s +∞ ∫ (Q + t )G(t ) dt . −Q1 1 (9.38) A presença de água líquida tem impacto na temperatura potencial virtual. O fluxo de água da nuvem w' rc ' modifica também o fluxo de flutuação, w'θ v ' , que aparece na equação da TKE e os fluxos de das propriedades não conservadas. Deste modo, existe a necessidade de calcular os fluxos u i ' rc ' . De acordo com Bougeault (1981a,b,1982), s ' rc ' 2σ s 2 ∫ +∞ = t (Q1 + t ) G (t ) dt , −Q1 (9.39) que recorrendo ao coeficiente empírico λi permite obter: u i ' rc ' ui ' s' = λi s ' rc ' σ s2 , (9.40) e calcular os fluxos das variáveis de prognóstico recorrendo a (9.7) e (9.8): 123 Apêndice A — Descrição do modelo MesoNH u i 'θ ' = u i ' θ l ' + Lv −1 π ref u i ' rc ' , C ph (9.41) u i ' rv ' = u i ' rt ' − u i ' rc ' . O fecho desta aproximação depende dos parâmetros G e λi , que na versão actual do modelo segue o trabalho de Bougeault (1981a,b,1982) e de Cuijpers e Bechtold (1994). O fluxo da razão de mistura da água das nuvens exprime-se por: u i ' rc ' = Amoist ui ' rt ' + Aθ u i 'θ l ', (9.42) onde Amoist = λi F2 (Q1 , As ) , 1+ M λ F (Q , A ) Aθ = − J i 2 1 s , 1+ M (9.43) as expressões de Fi e As podem ser consultadas em Bougeault (1982). Por último, o fluxo de flutuação é dado por: u i 'θ v ' = Au i 'θ l ' + Bui ' rt ' + C ui ' rc ', (9.44) em que as expressões de A, B e C são desenvolvidas na documentação do modelo. 124 Apêndice B — Descrição do modelo de Large Eddy Simulation 10 Apêndice B — Descrição do modelo de Large Eddy Simulation 10.1 Introdução O modelo LES é um modelo 3D de alta resolução em que a turbulência é resolvida explicitamente até a um determinado limite. A turbulência associada a escalas inferiores à resolução tem que ser parametrizada. O modelo de Large Eddy Simulation (LES) utilizado nas experiências descritas nesta tese foi desenvolvido na Holanda por investigadores do KNMI e do IMAU (Institute for Marine and Atmospheric Research at Utrecht University). Nos últimos tempos muitos trabalhos têm sido desenvolvidos com este modelo, em que a sua validação e caracterização são apresentadas exaustivamente, dos quais se podem destacar: Cuijpers e Duynkerke (1993), Siebesma e Cuijpers (1995), Siebesma and Holtslag (1996), van Zanten (2000), Brown et al. (2002) e Siebema et al. (2004). Este LES baseia-se nas equações da dinâmica e da termodinâmica em função das variáveis médias resultantes da decomposição de Reynolds, em que os efeitos de subescala são parametrizados. As equações do modelo são escritas para um sistema de referência em rotação, são invíscidas, e obedecem às aproximações de incompressibilidade e de Boussinesq. Assume-se que a pressão média horizontal está em equilíbrio hidrostático, e as perturbações da pressão são calculadas através de uma equação de Poisson. As variáveis do modelo são as três componentes do vento, u , v, w , e as propriedades termodinâmicas conservadas para processos adiabáticos e de condensação/evaporação: a temperatura potencial de água líquida, θ l , e a humidade específica total, qt . A parametrização da turbulência de subescala é realizada por um esquema de ordem 1.5, baseado na energia cinética turbulenta (Deardorff, 1980), para a qual se necessita de uma equação de prognóstico adicional para a TKE de subescala. O esquema de condensação é uma aproximação de “tudo-ou-nada” similar ao descrito na secção 3.5. O forçamento radiativo é directamente dependente do integral vertical de água líquida. Não existe nem orografia nem um modelo de superfície. Os fluxos de superfície, o fluxo de temperatura potencial de água líquida e o fluxo de água total, são prescritos. A teoria da semelhança de Monin-Obukhov permite então determinar a temperatura e a humidade específica à superfície, fazendo uso das expressões dos fluxos de gradientes. Os fluxos de momento são determinados com base na prescrição da velocidade de atrito, u∗ . A grelha é do tipo staggered, e a integração segue o método de leapfrog com um filtro de Asselin. Os termos de difusão são resolvidos com um esquema espacial centrado e com um esquema de Euler para a integração no tempo. Nos últimos níveis do modelo 125 Apêndice B — Descrição do modelo de Large Eddy Simulation evitam-se as reflexões de propriedades através do uso de uma esponja. As condições fronteira laterais são periódicas. 10.2 Equações fundamentais O modelo LES integra no tempo as equações de conservação do momento linear (equações de Navier-Stokes), de conservação da massa (equação da continuidade), da termodinâmica e de conservação da humidade específica total. As equações de conservação do momento são: ∂τ ij ∂u i ∂u j ui g 1 ∂p + =− + δ i3 θ v − 2ε ijk Ω j u k − , ∂x j ∂t ∂x j ρ ref ∂xi θ v ref (10.1) onde τ ij é o tensor das tensões de subescala. A equação incompressível da continuidade é, ∂u i = 0, ∂xi (10.2) a equação da termodinâmica escreve-se, ∂ u 'θ ' ∂θ l ∂u iθ l 1 ∂F =− i l − , + ∂xi ∂xi ∂t ρ 0 c p ∂z (10.3) onde F representa o fluxo radiativo. Finalmente, a equação de conservação da humidade especifica total é: ∂u ' q ' ∂qt ∂u i qt =− i t . + ∂xi ∂xi ∂t (10.4) 10.3 O modelo de superfície Os fluxos de superfície w'θ l ' s e w' qt ' s são prescritos e constituem o forçamento termodinâmico inferior da CL. Na CLS os gradientes de u , v , θ l , qt são calculados de acordo com a teoria da similaridade de Monin-Obukhov, em particular, a partir dos perfis dados pelas relações de Dyer (1974): kz ∂u z = 1 − 16 φm = u∗ ∂z LMO −1 4 , (10.5) 126 Apêndice B — Descrição do modelo de Large Eddy Simulation kz ∂θ l z φθ = = 1 − 16 θ l ∗ ∂z LMO φq = kz ∂qt z = 1 − 16 qt ∗ ∂z LMO −1 2 −1 2 , (10.6) . Estas relações são válidas para uma CL instável, ou seja, LMO < 0 . Para uma CL estável (LMO > 0 ) as expressões de φh e φm são: z φ m = φθ = φ q = 1 + 5 . L (10.7) As propriedades da superfície, θ l s , qt s são também calculadas utilizando as relações anteriores na sua forma integral. Estas relações não são apropriadas quando u∗ = 0 , i.e. no regime de convecção livre. Neste caso, os gradientes verticais termodinâmicos são dados por (Prandtl, 1932; Priestley, 1954): g ∂θ l = −0.7 w'θ l ' s 2 3 θ v ref ∂z g ∂qt = −0.7 w' qt ' s 2 3 θ v ref ∂z −1 3 −1 3 z −4 3 , (10.8) z −4 3 . 10.4 Modelo de subescala Os fluxos de subescala são parametrizados por uma aproximação difusão-K de ordem 1.5 de acordo com, ∂u j ∂ui + τ ij = − K m ∂xi ∂x j , (10.9) ∂θ u j 'θ l ' = − K θ l ∂x j , (10.10) ∂q u j ' qt ' = − K q t ∂x j , (10.11) 127 Apêndice B — Descrição do modelo de Large Eddy Simulation que na vertical correspondem às equações (2.40) e (2.41). As difusividades turbulentas K m , Kθ e K q são função de uma escala de comprimento e da TKE de subescala, que é prognosticada recorrendo à equação de prognóstico, ( ) ( ) ∂ u j ' e 1 ∂ ui ' p' ∂u ∂e ∂e g +uj = −u i ' u j ' i + δ i 3 u i ' θ v ' − − −ε . ∂t ∂x j ∂x j θv ∂x j ρ ∂xi (10.12) A parametrização dos diferentes termos desta equação e a determinação dos diferentes parâmetros usados no cálculo desta equação pode ser vista em van Zanten (2000). 128 Apêndice C – Publicações no âmbito da tese 11 Apêndice C – Publicações no âmbito da tese 1. Soares, P. M. M., P. M A. Miranda, A. P. Siebesma e J. Teixeira, 2004: “An Eddy- diffusivity/Mass-flux parameterisation for dry and shallow cumulus convection”. Aceite para publicação no Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. 2. Soares, P. M. M., P. A. Miranda, J. Teixeira e A. P. Siebesma, 2004: “An Eddy- diffusivity/Mass-Flux turbulence parametrization based on the TKE equation”. Submetido para publicação no Journal of Geophysical Research. 3. Lenderink, G., A. P. Siebesma, S. Cheinet, S. Irons, C. Jones, P. Marquet, F. Muller, D. Olmeda, E. Sanchez e P. M. M. Soares, 2004: “The diurnal cycle of shallow Cumulus clouds over land: A single column model intercomparison study”. Aceite para publicação no Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. 4. Derbyshire, S. H., P. Bechtold, J.-Y. Grandpeix, J. M. Piriou, J.-L. Redelsperger e P. M. M. Soares, 2004: “Sensitivity of moist convection to environmental humidity”. Aceite para publicação no Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. 5. Siebesma, A. P., P. M. M. Soares e J. Teixeira, 2004: “A Mass-Flux/K-Diffusion Approach for the Parameterization of the Convective Boundary Layer”. Em preparação. 6. Soares, P. M. M., P. A. Miranda, J. Teixeira e A. P. Siebesma, 2004: “ARM case – EDMF scheme results”. In Proceedings da conferência “4ª Assembleia LusoEspanhola de Geodesia e Geofísica”, 145-146. 7. Soares, P. M. M., P. Miranda, J. Teixeira and A. P. Siebesma, 2003: “An advection- diffusion scheme for dry and shallow cumulus convection”. In Proceedings do 4º Encontro Luso-Espanhol de Meteorologia, no prelo, 6 pp. 8. Soares, P. M. M., P. Miranda, A. P. Siebesma and J. Teixeira, 2002: “An advection- diffusion turbulence parameterisation scheme based on the TKE equation”. In Proceedings da conferência “3ª Assembleia Luso-Espanhola de Geodesia e Geofísica”, tomo II, 856-859. 9. Soares, P. M. M., A. P. Siebesma and J. Teixeira, 2001: “The role of entrainment in the mass-flux/K-difusion parameterisation of the convective boundary layer”. In Proceedings da conferência “3º Encontro Luso-Espanhol de Meteorologia”, vol. Meteorologia, 177-182. 129