CONTEXTUALIZANDO O FOMENTO – Brasil, 2016

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CONTEXTUALIZANDO O FOMENTO – Brasil, 2016
CONTEXTUALIZANDO O FOMENTO – Brasil, 2016
ANEXO DO DIRECIONAMENTOS SOBRE OS VEDAS,
RETIRADOS DAS PALAVRAS DE SRI
SATHYA SAI
“O serviço é um processo difícil e judicioso; mero entusiasmo amador atrapalha o progresso ao
invés de acelerá-lo. Aprender a técnica de serviço, cultivar o impulso de servir, esses são os
passos para equipar uma pessoa para a liderança.1”
Este texto aborda questões especialmente relevantes ao fomento dos Vedas, na conjuntura atual da
Organização Sai brasileira (podendo, entretanto, ser útil à de outros países), pressupondo que o
leitor tem ciência de seus deveres para com o legado védico, enunciados no Direcionamentos sobre
os Vedas, Retirados das Palavras de Sri Sathya Sai (DSV). O fazemos partilhando problemáticas,
perspectivas e informações acumuladas ao longo de nossa permanência na Coordenação de Vedas
do Conselho Central do país (fim de 2011 a início de 2016). Uma vez que o foco do período foi na
disponibilização de conteúdos, o mesmo acontece neste escrito.
Visto que aqui discorremos sobre caminhos oportunos ao cumprimento das determinações divinas, a
partir de nossas experiências com a cena local, as considerações deste anexo não possuem caráter
definitivo. Segui-las ou não deve levar em conta pesquisas posteriores, das orientações de Baba.
1. De 2006 a 2016 – Hesitação, Entusiasmo, Embasamento
Comecemos localizando-nos historicamente... Swami sempre falou da universalidade dos Vedas,
mas foram Suas exortações durante o Ati Rudra Maha Yajna de 2006 que tornaram claro, como
nunca antes, para a Organização Sai, que as pessoas do mundo todo precisavam engajar-se nos
estudos e práticas védicas. Desde então, parece crescente a conscientização e menor a rejeição em
relação à temática.
Conversando com indivíduos de vários países, durante esses quase dez anos, é notável como a
resistência remanescente provém de desconhecimento ou descuido no exame das palavras de
Bhagavan. Muitos, compreensivelmente, dado nosso estágio embrionário na reflexão sobre essas
questões, ainda se perguntam como a mensagem de Sai, celebrativa da unidade na diversidade e que
não veio promover qualquer secto em particular, se concilia com os seguidores das diversas crenças
darem aos Vedas um tipo de atenção especial. Outros, ao ouvirem, repassadas por devotos de
renome, orientações de Baba à disciplina de certos buscadores, as confundem com opositoras da
ideia de fundamentalidade dos Vedas.
Foi esse contexto de crescente descobrimento e indagações elementares que motivou a pesquisa
culminada no DSV, que demonstrou como as falas de Swami nos incitam incisiva, universal e
unanimemente a tomar parte na tarefa de cuidar dos Vedas. Tal cenário, contudo, já era bem
perceptível mesmo antes de 2009, quando criou-se, no Brasil, uma Coordenação Nacional de Vedas
e muitas regionais, atreladas à Área de Devoção.
1
Sathya Sai Speaks 9 (inglês), capítulo 18 - Elephants and the Lion – página 54. Discurso proferido no Lions Club,
Raajamundry, em 10/09/1969.
1
Durante essa primeira gestão, que foi até 2011 e marcou o início de nosso amplo e organizado
esforço em prol dos Vedas, houve vibrante mobilização geral em torno do seu canto, assim como
acontecia noutros países, como a Venezuela (para citar um forte exemplo sul-americano). Com
pouquíssimo conhecimento prévio, um punhado de pessoas, na maioria das Regiões do país,
entusiasticamente treinava hinos por conta própria e começava a ajudar outros interessados a
fazerem o mesmo. Ao final do período, alguns exercícios de tradução e elaboração de publicações
haviam sido feitos e era clara a necessidade de mais numerosos e sólidos materiais, com letras e
sentidos de mantras, métodos de estudo prescritos e o que, mais detalhadamente, Sai queria de nós,
com respeito aos Vedas. Essa percepção foi a deixa para o enfoque fundamentador e de
disponibilização de literaturas das duas próximas coordenações (até início de 2016).
2. Um Prelúdio Desejável com o Balvikas – Preenchendo uma Lacuna Didática
Seguimos, agora, com as problematizações e possíveis soluções com as quais nos deparamos no
intento de suprir a referida carência de critérios e fontes de conteúdo para o fomento védico... O que
ocorreu em muitos países, após 2006, foi um desbravamento inicial instigado pela intensa fome de
alguns devotos pelo Veda (aberta e mantida pela incitação de Baba), o que possibilitou um acesso
limitado de outras pessoas aos mesmos saberes. Para a grande maioria, porém, aquela língua e
ideias pareciam bastante estranhas e sua curva de aprendizagem, inacessivelmente abrupta.
Percebendo isso, procuramos pistas para um estudo védico didaticamente mais gradual, ordenado e
de fácil acesso aos minimamente entendedores da mensagem Sai de unidade, mesmo que deveras
alheios à linguagem e ideário dos Vedas. Tínhamos certeza de que os critérios encontravam-se em
meio ao cânone da literatura védica e sabíamos que seu método de instrução tradicional envolvia e
poderia utilizar certas escrituras ligadas ao Shruti (Vedas) como preâmbulo ao seu estudo direto 2.
Chegamos a pesquisar em que partes das grandes classes de textos sagrados que compõem as três
categorias de Dharma escritural3 se localizavam prescrições pedagógicas do gênero. Nossa
capacidade de acesso e sondagem delas, no entanto, era (como ainda o é) bem pequena. Por isso,
achamos que o melhor era procurar respostas no ambiente da Organização Sai em que julgávamos
que o ensino védico era mais desenvolvido, o da Índia. E ficamos contentes ao descobrir que lá
havia, realmente, um substancial meio de preparação, do qual carecíamos, antes de se explorar
longos mantras, de canto e significado complexos - o Balvikas.
O programa indiano, além de cultivar o florescimento dos valores humanos nas crianças, trata de
fazê-lo tornando-as íntimas das ideias, linguagem e práticas védicas/Sai e de várias religiões. Um
breve exame desses conteúdos, com entendimento do teor de boa parte dos assuntos e disciplinas
abordados, para nós, tornou evidente que seu estudo sistemático, nacionalmente, viria preencher
crítica lacuna didática à compreensão inicial dos conhecimentos védicos e da védica linguagem Sai.
Essa crença foi reafirmada quando participamos de inspirador retiro, na Venezuela, em 2012,
centrado nas palestras do visitante Sri Vedanarayana - ilustre devoto, designado por Baba para
coordenar o canto védico no Mandir, em Prashanti Nilayam, e ensinar Sânscrito e hinos védicos nas
instituições Sathya Sai de Puttapartti – pois, na ocasião, o professor enfatizou fortemente o
aprendizado dos shlokas (estrofes) que nos ensinou (junto com disciplinas a eles atreladas), cujo
canto e sentido são mais facilmente captados que os de muitos mantras do Veda, sendo, assim,
aprendidos pelos meninos e meninas, no Balvikas indiano.
2
3
DSV, subcapítulo 2.8., última citação da página 31.
DSV, subcapítulo 2.2., nota de rodapé 17, página 10.
2
A convicção foi, mais uma vez, fortalecida, quando, voltando ao Brasil, repassamos as práticas, em
encontros, na maioria das Regiões. Todos, independente de estarem em seu primeiro contato
consciente com o universo védico, aprendiam-nas de maneira fácil e (respeitosamente) divertida.
Com seus cantos, passados de modo meramente sonoro, pudemos observar uma forma de ensino
mais próxima da escrituralmente recomendada. Sem traduzir as palavras, o teor simples dos versos
permitia a apreensão dos sentidos, por mímicas. Não recorremos, em qualquer momento, a leituras.
Logo, acreditamos que a disponibilização sucessiva, em Português, de materiais com os conteúdos
da grade do Balvikas da Índia é um importantíssimo passo a ser dado rumo a um fomento védico
mais efetivo. No futuro, seria ótimo termos condição de estudar, metodicamente, tais assuntos,
numa formação para pessoas de várias idades, similar à oferecida às crianças e Balvikas Gurus
(professores de Balvikas) indianos. Essas práticas/cantos/conteúdos podem vir a ser bastante úteis
em nosso processo devocional e abrir-nos à compreensão de muitas das palavras de Sai.
3. Grade de Conteúdos do Balvikas Indiano
GRUPO I – PROGRAMA DE ESTUDOS4
1° Ano
2° Ano
3° Ano
Recitação
Omkar
Stotras
Omkaram
Yaa Kundendu
Shantakaram
Gurur Brahma
Kailasarana
Poorvam Rama
Vakratunda
Om Sarva mangala
Manojavam
Namastestu Mahamaye
Vedandurate
Suprabhatam
Vande Devam Umapatim
1-27 Ashtotaras
28-54 ashtotaras
Karagre
Karacharanam
Gayatri
Harir Data
Om Sarvevai
Orações
Twameva Mata
Asato Ma
Om Sahanavavatu
Bhajans
Jaya Guru
Om Tatsat
Hey Shiva Shankara
Krishnam vande
Jai Jai ram
Govinda hare
Jai Radha
Shaila girishwara
Shiva shambo
Jai durga
Om Namo bhagvate
Om Shri ram jai ram
Gopala Gopala
Mahaganapate
Govinda krishnavitale
Canções sobre Valores
(regional)
Canções sobre Valores
(regional)
Alakh niranjana
Canções sobre Valores
(regional)
4
Tradução livre da grade presente na página http://www.sssbalvikas.org/syllabus.asp.
3
Contação de
História
Contação de História * Contação de História *
Contação de História *
Outras Religiões Amplos detalhes sobre as principais religiões do mundo – Islamismo,
Cristianismo, Budismo & Zoroastrismo
Saúde & Higiene Yoga
Yoga
Yoga
Japa
Om Sri Sairam
Om Sri Sairam
Om Sri Sairam
Sentar-se em
Silêncio
Sentar-se em Silêncio
Meditação na Forma
Meditação na Forma





Histórias para Crianças - Parte Um (Stories for Children - Part One)
Unidade das Fés através de histórias (Unity of Faiths through stories )
Chinna Katha (pequenas histórias)
A Vida de Bhagawan Baba (Life of Bhagavan Baba)
Ramayana
Diversos:







Vedas
5 Elementos - Educare
Dever, Devoção, Disciplina
Limite aos Desejos
Dramatização, Quiz, Teste Atitudinal
Símbolos Nacionais
Aprendizado Experiencial – Mapa Mental e Gráfico Mental
Vedas:
Ganapati prarthana, Shivopasana mantram, Narayana Upanishad, Kshama prarthana.
Significado dos Festivais:
 Guru Purnima, Diwali, Natal, Khordad Sal, Dasara, Ganesh Chaturthi, Eid, Aniversário de
Bhagawan Baba, Ano Novo.
GRUPO II – PROGRAMA DE ESTUDOS
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
1° Ano
Recitação
Omkar & Pranayam
Shlokas
Ashtotaras 54-108
2° Ano
- prática
3° Ano
- prática
Shlokas da Gita - Karma Bhaja Govindam 1 - 8 Bhaja Govindam 9-16
e Bhakti
Shlokas da Gita - Deus e
o Avatar
Oração
Deepam Jyoti
Ishavasyam idam
Purnamidam
Outras Religiões
Outras Religiões
Preces do Alimento
Outras Religiões
4
Palavras de
Sabedoria
1-7
8 - 15
16 - 23
Gemas
1 - 17
18 - 34
35 - 53
Bhajans
Arati
Jaya Jaya Rama
Hari Hari Smaran
Shri Ganesha
Gopala radhe Krishna Jai Jai Durge
Har Shiva Shankara
Jai jai Manmohana
Hey Madhava
Govinda rama
Gangadhara
Gurupada ranjana
Sitaram nama bhajo
Allah Tumho
Rama hare Sai Krishna hare
Canções sobre Valores
(regional)
Saúde & Higiene Yoga
Meditação
Canções sobre Valores Canções sobre Valores
(regional)
(regional)
Yoga
Meditação Jyoti (na Luz) Meditação na Luz
Yoga
Meditação na Luz
Histórias:
Histórias para Crianças – Parte Dois (Stories for Children - Part two)
Templos da Índia, Locais Sagrados na Índia
A Vida de Grandes Homens, Patriotas e Santos
A Vida de Baba
Diversos:








Saúde e Higiene & Yoga
Princípios das Maiores Religiões
Importância da Prece, Omkar, Japa & Dhyana
Símbolos Nacionais - 4
Limite aos Desejos
Os 5 Elementos & sua Inter-relação com o Homem
5 D's
Preces de outras Religiões
Significado dos Festivais:
 Navratri, Shivaratri, Páscoa, Aniversário do Guru Nanak, Mahavir jayanti, Nag panchami,
Janmashtami, Buddha Jayanti, Holi.
Atividades Grupais:
Dramatização, Quiz, Antakshari, Shramdan, Narayan Seva, Teste Atitudinal
Vedas - Mantrapushpam, Durga Suktham, Purusha Suktham, Neela Suktham.
Aprendizado Experiencial.
5
GRUPO III – PROGRAMA DE ESTUDOS
Shlokas da Gita sobre Jnana, Sadhana, & Karma
A Vida de Vivekananda e Ramakrishna, A Vida de Santos Regionais da Índia, Ideais da Educação
Sai, A Menssagem da Gita no dia a dia, Importância da Prece, Omkar, Japa e Dhyana, Hábitos
Econômicos, Saúde e Higiene pessoais, Gestão do Pensamento, Respiração e Tempo, 5 D's, Os 5
Elementos e sua Inter-relação com o Homem.
Vida em Comunidade como participação no trabalho da família, Síntese das Maiores Religiões,
Hábitos Culturais e Costumes da Índia, A Vida de Lutadores da Liberdade, Integração Nacional,
O Papel da Intuição.
Ano de Projeto, incluindo acampamentos, seminário, debates, simpósios, shramdhan5,
treinamento como seva dal/BV Guru6, projeto de trabalho, círculo de estudos, Aprendizado
Experiencial, VIP (Programa de Vilas Integradas).
Vedas - Narayana suktham, Medha suktham, Bhu suktham, Sri suktham.
4. Utilidades dos Temas Estudados no Balvikas e Sugestões para Tradução
Dentre as práticas/cantos acima há várias relativamente populares aqui e sobre as quais trazer
maiores informações facilitaria a disciplina de muitos devotos. Alguns exemplos são: Omkar (canto
do Om), Pranayama (exercícios respiratórios), Brahmarpanam (prece antes das refeições), Sathya
Sai Ashtotara Shata Namavali (108 nomes de Sathya Sai), Sathya Sai Suprabhatam (cântico
matutino, em glória a Sathya Sai), entre outras.
Sobre elas, podemos obter um tanto de conhecimentos em materiais usados no Balvikas.
Infelizmente, contudo, seus tipos de cantos sânscritos, não retirados dos Vedas, muitas vezes não
são precisamente transcritos em publicações do Balvikas ou da Organização Sai como um todo
(mesmo as do Trust Central). Assim, é preciso cuidadosa procura, para que tenhamos suas letras
perfeitamente transliteradas e em Devanagari (principal escrita atribuída ao Sânscrito), nas
publicações nacionais. Em se tratando de cânticos, também precisamos de meios para escutá-los,
apropriadamente recitados (embora não tenham o mesmo rigor que o dos Vedas).
Esses cuidados são importantes, tendo em vista o aprendizado do Sânscrito que precisamos, cada
vez mais, incorporar às nossas vidas. Diga-se de passagem, há um pequeno livro que, de forma leve,
traz noções iniciais sobre a língua, ao passo que nos ajuda a aprender o Sathya Sai Suprabhatam, de
forma correta - o Learning Sanskrit Through Sri Sathya Sai Suprabhatam.
Sobre demais conhecimentos passados no Balvikas, que, embora tradicionalmente apreendidos por
recitação, também costumem sê-lo por diligente leitura, há o caso de inúmeros ensinamentos
transmitidos por Swami mencionando escrituras sagradas, que demandam acesso a versões
completas ou parciais das últimas, para plena elucidação. Ainda não possuímos, por exemplo,
edições em português de traduções de textos muitíssimo relevantes, como a Gita, vindas da
5
6
Provavelmente, palavra em hindi, relacionada a serviço social.
Professor de Balvikas.
6
literatura Sai (e, assim, mais facilmente consonantes com os ensinamentos Dele). Tendo-as,
poderíamos, inclusive, desfrutar mais apropriadamente do Gita Vahini (em que Baba traz
comentários sobre a Gita, mas não o texto em si) e de certos discursos divinos.
O mesmo vale para os Brahma Sutras, comentados no Sutra Vahini, e principais Upanishads,
comentadas no Upanishad Vahini. Apesar disso, enquanto temos uma infinidade de volumes em
inglês, dos quais podemos traduzir a Gita – como o Bhagavad Gita for Youth [Based Entirely Upon
Sri Sathya Sai Baba's Teachings], preparado por Sundararaghavan Krishnaswami (contendo
Devanagari), o Shrimad Bhagawad Geeta, por Shivraj V. Patil (sobre o qual Swami teceu grandes
elogios7) e o Message of The Lord as a Practical Philosophy – Based on The Bhagavad Gita and
the Teachings of Sri Sathya Sai Baba (que guia o leitor por um estudo sistemático e profuso de
informações em seu didatismo) – no caso dos Brahma Sutras e principais Upanishads,
pessoalmente, não conhecemos edições da literatura Sai, na língua inglesa.
Também seria útil traduzir demais textos sagrados amplamente citados por Baba, como o Ramayana
e o Bhagavatha. Mas, cremos que esses dois não seriam prioritários, já que são narrados por Ele, no
Rama Katha Rasavahini e no Bhagavatha Vahini. Sobre o tema do Vedas, especificamente, há
trabalhos interessantes, como a compilação de discursos divinos intitulada Sri Sathya Sai Veda Vani,
feita pelo grande erudito Sri Ghandikota Subramanya Sastry (veiculada pelo Trust Central).
5. Aprendendo os Cânticos Védicos – Em que Materiais e Ordem
Em se tratando da instrução um pouco mais avançada, nos hinos védicos, temos número
considerável de publicações, em inglês. A coleção Vedic Chants – The Journey Within (disponível
em português, com o título Cantos Védicos – A Jornada Interior) é um bom exemplo, pois, além de
letras e traduções, conta com explicações e contextualizações aclaradoras (muitas das quais são
transcrições das falas de Baba), sendo, provavelmente, a melhor fonte de leitura da literatura Sai
para esse estudo8. Outro material de respeito, que traz abundantes letras de mantras cantados em
Prashanti Nilayam é o Sruti... The Eternal Echoes (em suas várias edições e volumes)9. Também há
muito nos sites internacionais da Organização (e no nacional), na forma de textos, áudios, etc10.
Diante da extensa quantidade de hinos acessíveis, informar-se sobre uma ordem propícia para
aprendê-los pode ser de grande ajuda. Tendo isso em mente, buscamos confirmações do que, através
de alguma experiência de estudo, já acreditávamos ser o melhor sequenciamento. E as conseguimos,
conversando com estudiosos, como Sri Vedanarayanan, que nos disseram que, de fato, convém
começar por preces de abertura e fechamento das seções de cânticos, como o “Ganapati Prarthana”,
“Kshama Prarthana” e “Svasti Vachaka Shloka” (que termina com “Samasta Lokaah Sukhino
7
“Shivraj Patil fez um profundo estudo da Bhagavad Gita durante alguns meses e compreendeu a essência da Gita.
Finalmente, ele escreveu, em inglês, um comentário sobre a Bhagavad Gita. Várias pessoas escrevem inúmeros
livros, mas o comentário da Gita escrito por Shivraj Patil é uma obra única. Sempre que tinha uma oportunidade
de se encontrar com Swami, ele costumava mostrar-Lhe o seu trabalho, para verificar se as interpretações
contidas no livro estavam corretas. De fato, a essência da Bhagavad Gita está contida nesse livrinho. A Gita
deixou uma marca profunda em sua mente e ele, de forma muito bela, registrou essas impressões em seu livro”.
Divino Discurso de 18/07/2008 (português), proferido durante o Gurupurnima, em Prashanti Nilayam Desenvolvam Fé e Autoconfiança para Alcançar a Auto-Realização. Página 1.
8 Em termos de contextualização dos sentidos de mantras não tão encontrados em materiais da literatura Sai, pode
valer à pena consultar o Veda Pushpanjali (o volume 2, ao menos).
9 Em sua introdução, inclusive, citam critérios importantes sobre como cantar e sobre como não cantar hinos védicos.
10 Dentre os internacionais, temos o www.radiosai.org e www.sssbpt.org. Nacionalmente, os conteúdos estão em
www.sathyasai.org.br.
7
Bhavantu”11), mantras curtos (os shanti mantras - preces pela paz, como o “Saha Naavavatu”,
“Bhadram Karnebhih”, “Asato Maa”, “Purnamadah” e “Tachhain Yoravrinimahe”) e os
costumeiramente entoados pelos devotos Sai, em geral (como o Gayatri); depois, hinos de tamanho
maior, não muito complexos, como “Shiva Upasana Mantra”, “Sarva Devata Gayatri”, “Mantra
Pushpam” e “Medha Suktam”; cânticos ainda maiores, como o “Narayana Upanishad” e “Ganapati
Atharva Shirshan”; e, então, hinos mais desafiadores, como “Sri Suktam”, “Purusha Suktam”,
“Namakam” e “Chamakam” (os últimos dois, super enfatizados por Swami) 12. Tal ordem é a
encontrada na série Cantos Védicos.
6. Criando um Maior Acesso a Conteúdos sobre os Vedas
É considerável a quantidade de literatura de que precisamos para oferecer aos brasileiros instrução
tão completa quanto têm os indianos, com o Balvikas e demais fontes de aprendizado védico, certo?
Igualmente, há de haver gente preparada para o repasse desses saberes, já que, embora viessem a ser
disponibilizados a todos, em textos, áudios, vídeos, etc., no que tange à aprendizagem mântrica
prescrita (à qual devemos nos esforçar para aderir), é preciso que se receba os conhecimentos por
via sonora, de alguém que os tenha aprendido bem.
A par dessa demanda, pensamos que, para bem atendê-la, a curto e longo prazo, precisamos que os
ocupantes da Coordenação de Vedas e aqueles na liderança do trabalho de aumentar nosso acervo de
publicações estejam sempre, ao menos, três passos adiante dos estudantes védicos em geral. Isso
porque deve haver pessoas à frente das demais nos grupos de estudos, a repassar cantos e instigar o
conhecimento; outras, à frente das primeiras, inteiradas de tais saberes, trabalhando por sua
disponibilização, como tradutoras, revisoras, transcritoras, pesquisadoras e escritoras; e, finalmente,
à frente das últimas, os Coordenadores de Vedas e indivíduos que supervisionem os trabalhos de
publicação – auxiliando os que neles servem, com razoável intimidade com a literatura Sai e
determinados conhecimentos ligados aos Vedas.
Cedo, tornou-se evidente a necessidade de encorajarmos e treinarmos estudantes védicos dedicados,
com potencial para essas tarefas, pois havia (e há) poucos e já entendíamos que o sucesso do
trabalho pelos Vedas dependia de uma série de antecipações, como mencionado. Desse modo,
quando, após obter alguma experiência traduzindo, pesquisando e escrevendo para a série de artigos
Princípios e Práticas para uma Vida Védica13, decidimos traduzir os Vedic Chants (novamente com
o suporte decisivo da Coordenação de Publicações), envolvemos os referidos estudantes esforçados.
Criamos, então, um time, com divisão de funções baseada nas habilidades de cada membro, e
tomamos por compromisso, ao mesmo tempo proporcionar experiência de aprendizado,
capacitadora de melhores servidores, e garantir excelência no resultado final. Para atender aos dois
requisitos, pusemos os três estudantes que se voluntariaram (e tinham apenas conhecimento relativo
de Inglês) para fazerem uma primeira tradução dos livros. Em seguida, lhes dávamos feedback
sobre o trabalho. A versão final, sem embargo, sofreria tantas mudanças quantas necessárias para
ficar o mais adequadamente traduzida, dentro de nossas possibilidades. Para isso, tínhamos alguém
experiente cuidando de uma “segunda tradução”, alguém bastante entendido em revisão e mais
alguém realizando pesquisas sobre sentidos de ideias espirituais/védicas e do vocabulário sânscrito
que pudessem passar desapercebidas, mesmo mediante competente tradução do inglês. Esses três
últimos agentes assim compartilhavam informações e, na etapa final, aperfeiçoavam os textos,
colaborativamente, até que todos estivessem satisfeitos.
11 “Oração pela Paz (1)”, em todos os livros de cantos do Cantos Védicos. No volume 1, é encontrado na página 82.
12 DSV, subcapítulo 2.8., nota 67, página 32.
13 http://www.sathyasai.org.br/vedas/
8
Na verdade, também havia o trabalho de transcrever as letras dos cânticos, transliteradas e em
Devanagari, que era acumulado pelo “especialista” em assuntos de Sânscrito. Para ele, todavia, não
tivemos candidatos adicionais a fazerem as vezes de “primeiros transcritores”, tendo sua tarefa
corrigida, recebendo feedback e, assim, aprimorando-se nela. Dessa maneira, frisamos que, dado o
tipo de preparo pouco usual (mas, relativamente simples) que ela demanda, consideramos
necessário incentivar bastante e capacitar pessoas a ler e escrever transliterações e Devanagari, para
que se beneficiem disso em seus estudos e ajudem nas incumbências que requerem essas
habilidades (especialmente para que haja a figura do revisor de transcrições).
No mais, achamos excepcionais o aprendizado e excelência possibilitados por esse jeito de
trabalhar, que, no entanto, requer boa comunicação interpessoal, gentileza, paciência, espírito de
equipe e funções bem definidas. Ele, logicamente, tornava mais lento o andamento da empreitada,
contudo, nos vimos entre duas escolhas: produção massiva, de qualidade baixa (os materiais sobre
os Vedas demandam cuidados especiais) e reduzido aprimoramento dos envolvidos; ou produção
inicialmente lenta, porém, gradualmente acelerada, já que proporcionaria aos participantes um
melhoramento considerável, em vários sentidos. Por nossa responsabilidade ante o repasse do
conhecimento divino, não tivemos dúvida de que tínhamos de seguir pelo segundo caminho.
7. Tradução - Mantendo a Literalidade para Preservar as Alegorias
O trabalho com os Cantos Védicos alertou-nos para certas questões a serem consideradas por quem
quer que se engaje na tradução ou revisão de hinos védicos e afins, assim como da védica fala de
Sai. Uma das que muito nos inspirou cuidados diz respeito ao sentido de estranhamento que pode
ser despertado pela linguagem pouco comum dos cânticos, por vezes seguido de tendência a adaptála ao estilo em que, costumeiramente, organizamos as ideias, na escrita brasileira.
Um breve exame de diversas sentenças védicas, com entendimento literal razoável, não nos deixou
dúvidas de que possuem linguagem de mistério, mesmo para os que entendem o Sânscrito
gramatical. A nosso ver, ela é (precisa, porém) muito mais alegórica e poética do que coloquial,
devendo ser assim conservada.
Já conferimos trabalhos em que, mesmo partindo de versões em inglês nas quais se mantinha
satisfatoriamente o significado da linha do Ganapati Prarthana (invocação a Ganapati) anterior à
prece a Saraswati, como “Hearing our invocations, please come and be seated on the seat within us
and protect us” (“Escutando nossas invocações, por favor vem e senta-Te no assento dentro de nós e
protege-nos”14), caía-se no erro de dar-lhe o sentido de “Escutando nossas invocações, vem e sentaTe entre nós”.
O fato de parecer-nos estranha a ideia, no caso, de haver um assento dentro de nós, no qual
convidamos Ganesha a sentar-Se, não justifica concluirmos que ela deva ser trocada por outra, de
compreensão corriqueira. Se o mantra apresenta-se em linguagem de enigma, a ser desvendado pelo
ouvinte, não podemos modificar sua característica, adaptando-a à nossa coloquialidade ou
substituindo aspectos literais importantes por uma pretensa tradução de cunho explicativo.
Ainda falando de literalidade, chamamos atenção ao nível enormemente amplo e profundo de
figuras alegóricas que nos devemos esforçar para perceber e preservar. Por exemplo, ao longo das
muitas citações diretas do DSV, vemos Baba relacionando, inúmeras vezes, os Vedas e aquilo que
lhes está ligado a plantas (mais especificamente, à árvore) e elementos que com elas interagem.
14 Cantos Védicos – A Jornada Interior (qualquer livro de cantos), página 10.
9
Para checar a abundância dessas alegorias, basta abrir o documento e pesquisar por palavras como
“árvore”, “galho”, “flor”, “fruto”, “solo”, “subsolo”, “ramo”, “folha”, “broto”, “mato”, “caule” e
“raiz”. Para averiguar seu potencial educativo, pode-se observar como essas figuras metafóricas são
interrelacionadas, da mesma forma que se ligam os princípios por elas simbolizados.
Examinando hinos apresentados no Cantos Védicos, continuamos testemunhando paralelos com
vegetais, quando, no Surya Upanishad15, palavras básicas dos mantras são referidas como sementes.
Já no Gayatri, vemos que o significado do termo “prachodayaat”, usado para pedir iluminação, é
ligado ao ato de fertilizar16. Partindo para o Mantra Pushpam17, nosso complexo simbólico,
preenchido de plantas, solo e elementos próximos, vai até o espaço sideral, partindo da Terra, onde
passa pelas águas e pelo fogo, ascendendo, então, pelo ar, nuvens, e chegando à Lua, ao Sol e às
estrelas (cada um com sentido próprio e relação consistente com os demais).
Assim, quando levantou-se a possibilidade de traduzir o trecho “The sound is the very core of
Veda” como “O som é a própria essência do Veda”, essa não nos pareceu a melhor opção. Embora
não tivéssemos certeza de seu direcionamento figurativo, sabendo que um dos primeiros sentidos de
dicionário da palavra “core” é “cerne” e que o cerne é uma parte do tronco das plantas, confiamos
que era melhor dizermos que “O som é o próprio cerne do Veda”18.
Mesmo adaptações aparentemente inofensivas, como a do final da sentença “Indra, the ruler of the
Gods and the presiding deity of strength” (vinda do “Shan No Mitrah” 19) para “deidade comandante
da força”, pareciam ter prejuízos. No caso, entendemos que seria melhor nos atermos ao mais literal
“deidade que preside a força”, já que, até onde sabemos, ele não ocupa um posto de comandante,
como Muruga. Observe-se, outra vez, que termos vistos sinonimamente na fala coloquial, quando
analisados em âmbito alegórico (como no do panteão védico, em que a função de presidir um grupo
de princípios ou seres é diferente da de ser seu comandante) podem não o ser.
Certamente, diversos tipos de relações metafóricas, além das envolvendo vegetação e deidades que
formam exércitos, povoam os textos que precisamos traduzir. Assim sendo e visto que muitas vezes
não percebemos sua presença, cremos que nos cabe postura um tanto estrita na preservação da
literalidade desses textos.
8. Tradução – Mais Cuidados para Preservar o Conhecimento
A importância de conservar certos aspectos da forma original das frases, todavia, não se limita à
manutenção de metáforas. Há casos em que, sem saber, por exemplo, trocar a ordem de palavras
pode prejudicar o acesso ao saber. Vemos isso, de novo, no Surya Upanishad, no trecho em que são
citados os ares vitais, órgãos da percepção e outros subelementos 20 dos cinco grande elementos,
sobre os quais Swami discorre no Prasnottara Vahini, revelando que tal ordem diz respeito ao nível
de sutileza e ligação dos primeiros com os elementos principais21.
15 Cantos Védicos – A Jornada Interior 2, página 39.
16 Cantos Védicos – A Jornada Interior 1, página 41. O mesmo diz o respeitado dicionário Monier Williams http://www.sanskrit-lexicon.uni-koeln.de/monier/
17 Cantos Védicos – A Jornada Interior 1, página 72.
18 Cantos Védicos – A Jornada Interior (qualquer livro de cantos), página 6.
19 Cantos Védicos – A Jornada Interior 1, página 18 ou 20 (há duas versões do mantra).
20 Cantos Védicos – A Jornada Interior 2, página 41.
21 Capítulo 1 – The Body and the Indriyas (na versão disponível em 2014, no site da Organização Sai Internacional).
10
Outra cautela que achamos importante é a de, tanto quanto possível, não modificarmos a
intensidade ou espírito das sentenças. Por exemplo, traduzíamos as letras de muitos mantras em que
se evocava ou pedia algo. Nas preces como o “Saha Naavavatu” 22, em que tínhamos “May He
protect both of us”, “May He nourish us both”, etc., havia a tendência de se traduzir esse “may”
como “possa” - “Que Ele possa nos proteger”, “Que Ele nos possa nutrir”.
Mas, essa escolha nos parecia estranha, pois achávamos improvável que, naquelas orações, cantadas
retumbantemente, se estivesse pedindo timidamente pala “possibilidade de algo acontecer”. Ao
contrário, críamos que se convocava o almejado, de forma direta e segura, como em “Que Ele nos
proteja” ou “Que Ele nos nutra” (sabíamos que o inglês “may” poderia ter as duas conotações).
Com algum trabalho de pesquisa e estudo, descobrimos que, realmente, deveríamos abolir o “possa”
e que essas sentenças em Sânscrito, bem como uma infinidade de outras cuja versão inglesa usava o
“may” para traduzir, estavam apenas em modo imperativo (da terceira pessoa, no caso – indicado
pelo “tu” de “saha naavavatu” e “saha nau bhunaktu”)23.
A partir desse tipo de experiência, reafirmou-se o pensamento de que, quanto mais dedicados ao
estudo do Português, Inglês, Sânscrito, e das relações entre os três, certas escolhas anteriormente
enxergadas como passivas de um estilo de escrita preferido dariam lugar à busca dos caminhos
semânticos que nos deixassem mais próximos do teor original dos mantras ou falas.
Levando em conta o nível de entendimento de Sânscrito em que nos encontramos, porém, estamos
longe de podermos recorrer amplamente a sua consulta e, mais ainda, de pensar em fazer traduções
diretamente do idioma. Acreditamos que, antes de termos reais eruditos em nosso país, isso não
deve ser considerado uma opção. Para nós, é muito improvável que a conclusão de cursos de um par
de anos habilite alguém para tal. O mesmo vale para o Télugu e assim por diante.
Com compreensões elementares, entretanto, pode-se usar a consulta a dicionários de Sânscrito
confiáveis para otimizar algumas partes da tradução do inglês ao português, evitando um efeito
telefone sem fio. Essa ação pode ser útil, por exemplo, em casos nos quais se tenha condições de
checar o gênero de uma palavra, quando esse precisar ser indicado na versão brasileira e, todavia,
não esteja discriminado na inglesa. Noutros casos, talvez fosse preciso o uso de ferramenta que
permita ver as diversas flexões ou declinações que uma palavra ou raiz pode sofrer24.
Lançamos mão do uso do dicionário na tradução da prece chamada de “Oração pela Paz 1”, nos
Cantos Védicos, de 1 a 625, na porção em que se pede que as pessoas comuns sejam governadas e
nutridas pelos governantes. Essas “pessoas”, na tradução literal, entre parêntesis, de seu termo de
origem “prajaabhyaH”, na versão inglesa são chamadas de “subjects”, que em português
(dependendo do contexto) pode ser “sujeitos” ou “súditos”. Enquanto não acessávamos o sentido do
sânscrito, porém, por insegurança, cogitamos a tradução menos específica “sujeitos”. Não obstante,
asseguramo-nos de que a outra escolha era a correta, pois o dicionário atestava que “prajaabhyaH”
queria dizer “súditos”.
Um livro muito interessante para quem quer obter, rapidamente, definições de palavras sânscritas
retiradas de falas de Sathya Sai e com as devidas referências é o A Glossary of Sanskrit Words
Gleaned from Sai Literature, por Victor Yap.
22
23
24
25
Cantos Védicos – A Jornada Interior 1, página 13.
A exemplo do que pode ser visto no Learning Sanskrit Through Sri Sathya Sai Suprabhatam, na página 14.
http://sanskrit.inria.fr/index.fr.html
No Cantos Védicos – A Jornada Interior 1, ela está na página 82.
11
9. Devanagari e Transliterações
Como falamos anteriormente, além dos cuidados com as traduções, precisávamos dominar as
formas de transcrever os cânticos - em Devanagari e na transliteração para nosso alfabeto utilizada
no material. Nesse sentido, vale lembrar que não há como transpor, a contento, os sons védicos para
a escrita. Mas, é possível transferir perfeitamente os fonemas de um sistema escrito para o outro e é
isso que fazem vários padrões de “transliteração do Sânscrito”, eles partem do Devanagari para
nosso alfabeto latino/romano.
Se a pessoa não domina o Devanagari, para ler o mais corretamente possível as letras dos mantras é
necessário conhecer bem o sistema de transliteração usado no texto que se estuda. O,
provavelmente, mais popular de todos e utilizado na maioria das publicações da Organização Sai se
chama IAST - alfabeto internacional para a transliteração do Sânscrito (em inglês, International
Alphabet of Sanskrit Transliteration). Porém, há outros, também importantes, como o ITRANS,
usado no Cantos Védicos – TRANSliteração de línguas Indianas (Indian languages
TRANSliteration). Esse último tem a vantagem de não utilizar caracteres especiais não encontrados
na maioria dos teclados de computador, por isso, é ideal para input neles - ou seja, fazer tarefas
como pesquisar o sentido de palavras sânscritas, em dicionários online, ou digitar textos, para assim
convertê-los ao Devanagari ou demais formas de transliteração. Para a última tarefa, a propósito, há
um software utilíssimo, chamado Itranslator, que usa como entrada (input) o ITRANS, tendo sido
utilizado para obter o Devanagari das versões em inglês e português da série Cantos Védicos26.
Munidos desses conhecimentos (juntamente, com frequência, ao da língua inglesa) o estudante
ganha ingresso a conteúdos valiosos, como versões online confiáveis do respeitado dicionário de
Sânscrito/Inglês Monier Wiliams27, sites para checar formas declinadas de palavras e muitos mais28.
Já que trata-se de um saber meramente acadêmico, apresentado da mesma forma, independente das
fontes responsáveis de onde é extraído, trazemos uma tabela de correspondência entre os caracteres
do Devanagari e seus padrões de transliteração, retirada da Wikipédia29:
Vogais:
Devanāgarī
अ
आ
इ
ई
उ
ऊ
ए
ऐ
IAST
a
ā
i
ī
u
ū
e
ai
Harvard-Kyoto
a
A
i
I
u
U
e
ai
ITRANS
a
A/aa
i
I/ii
u
U/uu
e
ai
Velthuis
a
aa
i
ii
u
uu
e
ai
SLP1
a
A
i
I
u
U
e
E
26 Ele pode ser baixado (gratuitamente) nas versões Itranslator 99 e Itranslator 2003, que, apesar dos nomes, não
necessariamente tem na 2003 uma qualidade superior (em verdade, as duas recebem atualizações). Preferimos usar
a 99, assim como feito na versão em inglês do Cantos Védicos, pois nela há um maior espaçamento entre as sílabas
do Devanagari e os sinais de intonação, o que ajuda na legibilidade. http://www.oah.in/Sanskrit/Itranslt.html
27 http://www.sanskrit-lexicon.uni-koeln.de/monier/ e http://spokensanskrit.de/
28 http://sanskrit.inria.fr/index.fr.html
29 https://en.wikipedia.org/wiki/Devanagari_transliteration
12
ओ
औ
o
au
o
au
o
au
o
au
o
O
ऋ
ॠ
ऌ
ॡ
ṛ
ṝ
ḷ
ḹ
R
RR
lR
lRR
RRi/R^i
RRI/R^I
LLi/L^i
LLI/L^I
.r
.rr
.l
.ll
f
F
x
X
अअ
अअ
अअ
ṃ
ḥ
M
H
M/.n/.m
H
.N
.m
.h
M
H
~
IAST
ka
kha
ga
gha
ṅa
ca
cha
ja
jha
ña
ṭa
ṭha
ḍa
ḍha
ṇa
ta
tha
da
dha
na
pa
pha
ba
bha
ma
ya
ra
Harvard-Kyoto
ka
kha
ga
gha
Ga
ca
cha
ja
jha
Ja
Ta
Tha
Da
Dha
Na
ta
tha
da
dha
na
pa
pha
ba
bha
ma
ya
ra
ITRANS
ka
kha
ga
gha
~Na
cha
Cha
ja
jha
~na
Ta
Tha
Da
Dha
Na
ta
tha
da
dha
na
pa
pha
ba
bha
ma
ya
ra
Velthuis
ka
kha
ga
gha
"na
ca
cha
ja
jha
~na
.ta
.tha
.da
.dha
.na
ta
tha
da
dha
na
pa
pha
ba
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ma
ya
ra
SLP1
ka
Ka
ga
Ga
Na
ca
Ca
ja
Ja
Ya
wa
Wa
qa
Qa
Ra
ta
Ta
da
Da
na
pa
Pa
ba
Ba
ma
ya
ra
Consoantes:
Devanāgarī
क
ख
ग
घ
ङ
च
छ
ज
झ
ञ
ट
ठ
ड
ढ
ण
त
थ
द
ध
न
प
फ
ब
भ
म
य
र
13
la
va
śa
ṣa
sa
ha
ल
व
श
ष
स
ह
la
va
za
Sa
sa
ha
la
va/wa
sha
Sha
sa
ha
la
va
"sa
.sa
sa
ha
la
va
Sa
za
sa
ha
Harvard-Kyoto
kSa
tra
jJa
zra
ITRANS
kSa/kSha/xa
tra
GYa/j~na
shra
Velthuis
k.sa
tra
j~na
"sra
SLP1
kza
tra
jYa
Sra
Consoantes conjuntas irregulares:
Devanāgarī
क
ततर
ज
शतर
ISO 15919
kṣa
tra
jña
śra
Outras consoantes:
Devanāgarī
क
ख
ग
ज
फ
ड
ढ
ISO 15919
qa
kha
ġa
za
fa
ṛa
ṛha
ITRANS
qa
Kha
Ga
za
fa
.Da/Ra
.Dha/Rha
O trabalho dos transcritores, ao qual nos referimos algumas vezes, consiste, basicamente, em, tendo
em mãos referência confiável de transliteração ou Devanagari, transcrevê-la, de forma precisa,
através dos meios apresentados. Se não estiver de posse de uma versão transliterada, um transcritor
que domine o Devanagari pode obtê-la (convertendo o último). Mas, embora teoricamente pudesse
fazê-lo, caso só tenha acesso a um texto transliterado, não costuma ser boa ideia tentar transpô-lo
para o Devanagari, já que é prática comum, mesmo em meio a transliterações precisas, fazer
algumas alterações, baseadas no som e não na escrita (o que para o aprendizado de um estudante
sério não é bom). No Devanagari há sinais, chamados de visarga e anusvara, que mudam de som
dependendo do contexto, e também outros caracteres que costumam ser modificados30.
É interessante que, cada vez mais, também em materiais não destinados ao estudo de mantras,
contendo palavras sânscritas, as tenhamos transliteradas (ao menos num glossário) de forma precisa
e não apenas aproximada, indicando-se o sistema de transliteração usado para tanto.
30 Esse tipo de informação é encontrado em muitos livros básicos de aprendizado do Sânscrito, como os dois volumes
do Introduction to Sanskrit, de Thomas Egene, da Editora Motilal Banarsidass, e o Bhajan Dictionary, compilado
por Alova (publicação do Sri Sathya Sai Trust).
14
10. Regiões de Pronúncia do Sânscrito
As informações que acabamos de citar são para leitura e escrita. No entanto, elas sozinhas não
permitem conhecer os sons do Sânscrito. Para aprender a reconhecê-los auditivamente, bem como
articulá-los, o ideal é ter um qualificado professor que os possa pronunciar, repetidamente, à nossa
frente. Porém, para quem somente pode acessar a voz de pessoas assim através de áudios gravados,
é difícil descobrir a forma exata de reproduzir cada fonema, pois não se tem o recurso visual.
Inúmeros escritos, então, buscam explicá-los por comparações com outros idiomas. Entretanto,
neles, muitas sonoridades do Sânscrito costumam estar ausentes. Diante disso, qual seria a solução?
A melhor que conhecemos, pelo menos para as consoantes, consiste em demonstrar, ilustrando o
aparelho fonador, que região dele deve ser mobilizada para obter-se o som desejado, atribuindo,
ainda, a todos eles, classificações extras, que se referem às diferentes maneiras de utilizar cada área
para produzir sonoridades.
Temos as pronúncias baseadas na região gutural, localizada no “fundo da boca”, perto da garganta,
onde fica o palato mole; em seguida, as palatais, em que, através de leve movimento de fricção, a
língua toca o céu da boca; há as cerebrais, em que a ponta do órgão tem contato com o palato,
apontando para cima; as dentais, em que toca os dentes; e as labiais, em que unem-se os lábios.
As consoantes aspiradas são versões das não aspiradas, à sua direita (abaixo), nas quais se expele
mais ar. Sabendo-se os posicionamentos e detalhes das pronúncias neles, fica mais fácil entender
como articular os fonemas que encontrarmos transliterados de forma correta e cuja vocalização
possamos escutar, pelo áudio de alguém que o faça com precisão. Os fonemas, abaixo, estão
transliterados em IAST.
Região Gutural:
Surdas
Sonoras
Não aspirada
Aspirada
Não aspirada
Aspirada
Nasal
ka
kha
ga
gha
ṅa
Região Palatal:
_
Surdas
Sonoras
Não aspirada
Aspirada
Não aspirada
Aspirada
Nasal
ca
cha
ja
jha
ña
15
Região Cerebral:
Surdas
Sonoras
Não aspirada
Aspirada
Não aspirada
Aspirada
Nasal
ṭa
ṭha
ḍa
ḍha
ṇa
Região Dental:
_
Surdas
Sonoras
Não aspirada
Aspirada
Não aspirada
Aspirada
Nasal
ta
tha
da
dha
na
Região Labial:
Surdas
Sonoras
Não aspirada
Aspirada
Não aspirada
Aspirada
Nasal
pa
pha
ba
bha
ma
Em adição, há as consoantes sibilantes sa (dental), śa (palatal) e ṣa (cerebral), bem como a aspirada
ha. As demais letras são vogais ou semivogais (ya, ra, la, va)31.
11. Descentralizando, Responsavelmente, a Produção de Conteúdos
Enquanto nossa equipe trabalhava nos Cantos Védicos, se utilizando desse tipo de conhecimentos,
um punhado de pessoas, de Regiões distintas, sentindo a mesma carência de fontes de estudo por
nós percebida, começava a preparar escritos, por conta própria, embasados nas literaturas
estrangeiras às quais tinham acesso, e mostrava-os à Coordenação Nacional de Vedas, tempos
depois. Nenhum chegou a ser concluído a ponto de tornar-se oficial, mas a interação com esses
devotos, visando essa possibilidade, foi-nos valiosa, por atentar à urgência de definir critérios
sensatos para a liberação dessa sorte de material.
31 Ver o Bhajan Dictionary (páginas xiv e xv) e o Introduction to Sanskrit, volume 1 (páginas 9 e 19).
16
Naqueles momentos e ainda hoje, parecia generalizada a tendência de deixar os assuntos pertinentes
aos Vedas a encargo dos dirigentes da Organização, não somente no respeitante às funções de
liderança que lhes cabiam, mas, tacitamente e em medida para nós excessiva, confiando-lhes a
responsabilidade de interpretar as palavras sagradas que nos apontariam a direção e crendo que
outros talvez não tivessem a mesma legitimidade para escrever sobre elas. Até certo ponto, na
ocasião, era compreensível uma postura intelectual relativamente passiva e cuidadosa, dada a
novidade que o universo védico representava e seu caráter de conhecimento profundo, passado de
pessoa a pessoa. Mas, sabendo que as funções dos dirigentes não se constituem em papéis de
autoridade intelectual, tínhamos certeza de que precisávamos trabalhar para que a produção de
conteúdos em torno dos Vedas dependesse cada vez menos diretamente daqueles no posto de
Coordenadores. Os estudiosos dos diversos assuntos (assim que surgissem), independente de
cargos, deveriam ter espaço para trazer os ensinamentos a eles relativos, através das palavras de
Swami ou das fontes às quais Ele atribuiu autoridade.
Porém, isso tinha (e tem) de ser feito responsavelmente. Ou seja, era preciso estabelecer
mecanismos eficientes para garantir que um conteúdo só receberia a alcunha da Organização Sathya
Sai quando ampla e atestadamente embasado nos ensinamentos Dele, além de dotado das
características que compõem publicações de respeito, como boa escrita, fundamentação clara, etc.
Sem isso tudo, receávamos que, independente de mais ou menos centralizada a produção de
conteúdos, se estabelecesse um cenário em que o suposto fomento védico fosse mais baseado nas
crenças de indivíduos que na pesquisa cuidadosa, coletivamente partilhada e checada das injunções
e esclarecimentos divinos.
12. Para a Liberação de Conteúdos
Esboçamos, então, por que tipo de processo um material teria que passar para ser liberado como
oficial, vindo, assim, a ser disseminado nos meios da Organização Sai. Digamos que se tratasse de
uma mini apostila, trazendo orações, como as entoadas em sânscrito, antes de se receber o vibhuti, e
das refeições, bem como mantras védicos curtos, como o “Saha Naavavatu”, em que se reza pelo
bem da aprendizagem. Entremeando as preces haveria trechos ilustrativos, das falas de Baba.
Primeiramente, o proponente, ou equipe, deveria saber que os meios necessários a todo o
empreendimento são inteiramente de sua incumbência. Se, por exemplo, para conseguir as falas
divinas com o propósito de contextualizar as orações, ele precisar recorrer a discursos ainda não
disponíveis em português, terá de ter meios de traduzi-los bem, de suas versões em inglês
(provavelmente, não seria desejável que o fizesse do Espanhol, já que tal versão deve ter partido de
uma inglesa, que, por sua vez, foi traduzida do Télugu).
Visto que o objeto principal do escrito exemplificado são rezas sânscritas, o pesquisador precisaria
ter à sua disposição publicações confiáveis, vindas da literatura Sai, com traduções e letras
perfeitamente transliteradas - de preferência, junto a suas versões em Devanagari. As publicações
confiáveis para esse fim, provavelmente, também estariam na língua inglesa.
Caso não tenha essas fontes a seu alcance, precisará obtê-las ou optar por preparar um trabalho que
dependa de outras, a ele disponíveis, no momento. Uma vez que os coordenadores não têm acesso
especial a qualquer literatura Sai estrangeira, não faria sentido querer que cuidassem de provê-lo
aos idealizadores do projeto. O Coordenador de Vedas e os membros da equipe de tradutores e
revisão, possivelmente, já estariam engajados na criação ou tradução de algum conteúdo, focado nas
prioridades da Coordenação. De maneira que, nessa fase, a menos que o intento se mostre de uma
relevância toda especial, os proponentes devem entender que a maior ajuda que caberia a essas
17
figuras oferecer-lhes seria a de aconselhar pontualmente e dar sua apreciação dos trabalhos e ideias
a eles apresentados.
Tendo construído um bom texto, em que cada afirmação feita pelo escritor, letra em Devanagari,
transliteração e tradução tenham referenciadas as fontes das quais foram extraídas (não se pode
simplesmente pôr uma lista bibliográfica ao final do trabalho), aí sim, pode-se passá-lo para que o
Coordenador ou pessoas responsáveis chequem se está de acordo com os prerrequisitos
mencionados (além daqueles orientados pela própria Área de Publicações). Caso esteja, será
encaminhado para revisão e, corrigidos quaisquer erros detectados (pelo próprio autor, após seremlhe apontados), ele estará pronto para ser liberado.
Todo esse procedimento, contudo, não impede, como dito, que o Coordenador de Vedas ou alguém
designado examine o escrito (ou outro tipo de conteúdo) previamente, ajudando com sugestões. Há,
por exemplo, muitos livros da Organização Sai (como mencionado em 4.) contendo versos
sânscritos transliterados apenas de forma aproximada. Por isso, convém ter certeza de que a leitura
de referência é acurada, antes de começar a transcrevê-los, para não precisar encontrar nova fonte
de embasamento e, a partir dela, reescrevê-los, antes do texto poder seguir para revisão final. Em se
tratando de materiais relacionados à educação védica, o rigor nesse quesito não pode ser
prescindido. Das traduções ao Devanagari, tudo precisa de excelência comprovada. E para isso, é
preciso um controle rígido. Seria importante haver uma equipe designada para o trabalho, em nível
nacional, com pessoas habilitadas para checar textos transliterados, traduções, Devanagari, etc., em
comunicação constante com o Coordenador de Vedas do Conselho Central (para que o trabalho seja
apreciado, supervisionado e/ou liderado por ele, sem que monopolize sua atenção). Isso seria mais
rapidamente possibilitado se os detentores desses conhecimentos (no momento, pouquíssimos) se
voluntariassem e encorajassem as pessoas dispostas a aprenderem-nos com eles.
Cremos que seria interessante passarmos a veicular o nome dos pesquisadores nos trabalhos em que
tenham servido de instrumento, já que (Swami é o verdadeiro autor, mas), em muitas situações, para
saber informações aprofundadas sobre as pesquisas, perguntar-lhes diretamente é o mais fácil.
Também achamos que, a despeito de todo esforço de imparcialidade empregado, dadas nossas
imperfeições, sempre deixamos as marcas das concepções individuais, nos escritos em que
trabalhamos - e cabe ao estudante dedicado discerni-las do conhecimento divino (o que é facilitado
conhecendo-se o responsável humano pelo trabalho em questão).
Tomamos espaço considerável para falar da criação de publicações, porque, uma vez no intento de
compor e propagar algo com o nome de Sathya Sai e a chancela de Sua Organização, é preciso
enorme senso de responsabilidade. No entanto, via de regra, a melhor forma de ajudar na
disponibilização de literaturas mais numerosas e de alto nível (tendo-se as habilidades necessárias
ou estando disposto a desenvolvê-las) é colocar-se a disposição, para servir como tradutor,
transcritor ou revisor de conteúdos sobre os Vedas.
13. Estudando e Repassando o Saber – Impressões sobre Pontos Fortes e de Melhoria
É fácil notar como este trabalho gira em torno de propiciar critérios de ação em um meio que parece
ter no potencial de empolgação, comparativamente, um ponto mais forte? Pois, para nós é patente
esse perfil coletivo, bem como a espontaneidade e descontração com que, no Brasil, vivenciamos a
devoção, agimos e nos relacionamos. Sentimos, contudo, que temos de cuidar para essa qualidade
de relaxamento não nos tornar indisciplinados. Particularmente, achamos importante nos
acautelarmos em dois pontos fundamentais à causa védica – nossa responsabilidade nos estudos e
no repasse do conhecimento.
18
No que tange à primeira, é crucial recordarmos as normas e métodos escrituralmente prescritos e
reiterados por Swami, pelos quais os estudos védicos precisam se moldar; e que o clima de leveza,
entusiasmo e regozijo, no qual devem transcorrer, tem de ser, sempre, atrelado a um comportamento
disciplinado e reverente. É imprescindível sermos mais estritos na fala. Em quase dez anos de
vivência na Organização Sai, tendo visitado Centros e Grupos de quase todas as Regiões do Brasil e
participado de seus círculos de estudo, o organizador humano deste trabalho não se lembra de ter
estado num único (literalmente) em que o turno de fala de cada indivíduo fosse totalmente
respeitado. Cedemos ao desejo de partilhar nossas experiências, no que muitas vezes se transforma
em conversas informais, em torno de assuntos espirituais, mas cuja dinâmica deixa de lado o
propósito e benefícios para os quais Sai Baba designou a atividade. É imperioso que os à frente dos
grupos de estudos védicos cuidem, a todo momento, para que esse tipo de deslize não ocorra, não
somente durante os estudos principais (em que há canto e repetição dos sagrados mantras), mas
também quando na realização de palestras, círculos de estudo ou outras modalidades, promovidas
pelos grupos de estudos védicos.
No que diz respeito à partilha do que foi aprendido, o mesmo se aplica e, à medida que se instrua, o
estudante védico deve estar pronto para dividir seus conhecimentos. Os demais, por sua vez, devem
procurá-lo para ajudá-los a aperfeiçoarem-se no canto correto do Gayatri e outros das cerimônias
devocionais, pedir-lhe para fazer falas acerca de ensinamentos e conceitos passados por Baba, sobre
os quais o estudo védico lhe ampliou a percepção, e assim por diante. A pessoa deve, no entanto,
fazê-lo de maneira oportuna e sensível, compreendendo as dificuldades das outras e cuidando para
não incomodá-las ou tolher-lhes a naturalidade.
Quando em larga escala, através do preparo ou tradução de textos, etc., como temos falado, vale
uma cautela toda especial no repasse dos saberes. Tomando como referência as propostas de escritos
feitas por devotos (capítulo 11.), notamos grande envolvimento de sua parte (especialmente
emocional), porém, tendência a descuidar de importantes quesitos formais das publicações. Nesse
sentido, temos de criar uma cultura de maior esmero, argumentação colaborativa, abertura para o
brando apontamento de falhas reais e sua correção. Os que acharem que podem e devem contribuir
por meio da confecção de conteúdos relevantes têm de fazê-lo de maneira imensamente madura,
empreendendo consistente pesquisa, que atenda às demandas enunciadas no capítulo anterior, e
motivada, verdadeiramente, pelas necessidades coletivas de fomento védico.
14. O Védico nos Centros e Grupos
Até agora falamos muito sobre o estudante védico em seu ambiente de aprendizado ou seva
(serviço) ligados aos Vedas. Mas, é importante que se reflita também sobre seu papel e
comportamento nos outros âmbitos da Organização. Um caminho que nos parece rico para
descobrirmos mais sobre o lugar e tônica que as atividades védicas devem assumir na Organização
Sai é pesquisar sobre a correspondência entre as peculiaridades das Áreas e práticas dessa
Organização e as etapas e particularidades da disciplina védica.
Podemos começar traçando paralelos entre as três grandes Áreas - de Devoção, Serviço e Estudo - e
os três grandes Yogas – Bhakti Yoga (Yoga da Devoção), Karma Yoga (Yoga da Ação) e Jnana Yoga
(Yoga do Conhecimento); e lembrando que o Gayatri, mantra, cuja iniciação marca o começo
formal da jornada como buscador espiritual, no rito de passagem védico chamado Upanayanam 32,
também é aprendido por todos no começo de suas vivências na Organização Sai. Após iniciado e no
cumprimento das disciplinas diárias nas quais o duas vezes nascido (pessoa iniciada no
32 DSV, subcapítulo 2.6. Continuação da nota de rodapé 50, na página 25.
19
Upanayanam) se comprometeu, ele, cada vez mais, avança em seus estudos védicos. Em nossa
Organização, similarmente, a observância de certas disciplinas e a compreensão básica de dados
aspectos da mensagem de nosso Mestre costumam vir antes do aprendizado de cantos, filosofias e
práticas védicas mais complexas (embora, igualmente, tudo, em verdade, siga uma disposição
védica e disciplinas como a do Gayatri, meditação, etc., sejam diretamente retiradas dos Vedas).
Dessa maneira, apesar de não termos conhecimento de direcionamentos literais em que Swami
falasse de regras sobre a execução ou não de sessões de hinos védicos em reuniões devocionais,
partindo da lógica de sequencialidade aludida no parágrafo anterior, parece haver sentido na decisão
de não fazer longos e “exóticos” entoares de mantras serem a primeira coisa a ser presenciada por
quem acaba de chegar à Organização. Embora, em países supostamente mais íntimos dos Vedas,
como Singapura, Tailândia, Nepal, etc., isso, talvez, não fosse necessário, o mesmo pode ser, aqui,
um importante critério de ordenação didática. Mas, concordamos que para esse posicionamento ser
colocado de forma mais segura e definitiva precisa haver minucioso exame das palavras de Sai
Baba, que lhe endossem (ou não).
Todos os cuidados mencionados, entretanto, dizem respeito à realização ostensiva de certas práticas
védicas durante momentos como o das reuniões de bhajans (cantos devocionais) semanais. As
informações sobre a universalidade dos Vedas, sua importância e nossos deveres para com eles,
segundo as palavras de Swami, etc., devem ser divulgadas a todos, em qualquer momento propício,
em qualquer atividade da Organização. O esclarecimento sobre o que Swami quer de nós e porque é
para cada indivíduo. Se as pessoas resolverão, a partir dele, se empenhar nos estudos e práticas
védicas e frequentar suas atividades, depende delas.
15. Reflexões sobre a Obtenção do Conhecimento Védico em Toda Parte
Além de ponderarmos sobre o lugar dos Vedas e a atuação das pessoas que os fomentam, em meio à
Organização, há situações em que se torna especialmente importante que os demais saibam como
compreender e lidar com os mesmos. Há indagações pertinentes sobre os estudantes/praticantes
védicos em suas vidas pessoais e nas atividades da Organização voltadas aos Vedas (das quais esse
trabalho trata, predominantemente); há outras, sobre o papel desses indivíduos em todas as esferas
da Organização Sai (como as feitas no capítulo anterior); e, ainda, posteriores, sobre a relação dos
mesmos com a cena védica de toda parte (dentro e fora da Organização). O último tipo de
questionamento pode surgir na mente do estudante dedicado no instante em que pensar: “e quando
as fontes de conhecimento a mim disponíveis não mais forem suficientes para que eu avance em
minha educação védica?”.
Suponhamos que, tendo-se instruído bastante nos conteúdos a seu alcance, ele sinta que está na hora
de aprender bem, digamos, o Sânscrito, conquistando, assim, uma gama enorme de saberes os quais,
então, poderá explorar da forma ideal, apontada pelas escrituras e por Swami. Um dos motivos de
usarmos o Sânscrito como exemplo de limiar nesse processo é crermos que ainda não sermos
versados nele é o grande motivo de recorremos a literaturas que intermedeiam a relação com nossos
reais objetos de estudo, os Vedas e escrituras relacionadas cujo aprendizado nos foi designado por
Baba (usamos o termo “estudos védicos”, ao invés de simplesmente “estudo dos Vedas”, para
abranger esses textos sagrados adjacentes).
É provável que, nesse ponto, o buscador encontre alguns percalços, pois assim como,
nacionalmente (e também em muitos outros países), deparamo-nos com uma lacuna pedagógica ao
iniciarmos os estudos védicos (que pode ser preenchida com os conteúdos do Balvikas indiano –
2.), há outra, de dimensão internacional, interpondo-se à instrução avançada. Muitos hinos védicos,
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textos de escrituras auxiliares e outros saberes indispensáveis a uma instrução aprofundada (como o
do Sânscrito), ao menos hoje, ainda precisam ser aprendidos fora da Organização Sai, já que, no
momento, não dispomos das literaturas ou mecanismos para tal. Não é prematuro falarmos do
assunto, já que, pelo menos, diz respeito aos que caminham três passos à frente da maioria dos
estudantes (6.).
Em vista disso, frisamos a necessidade de não tomarmos erroneamente os que, no sério intento de
adquirir saberes védicos aqui indisponíveis, decidirem educar-se em escolas védicas, aprofundar-se
em cursos, leituras ou mesmo submeter-se a certas iniciações ritualísticas (dados conhecimentos
podem não ser repassados, na Índia, sem que a pessoa se sujeite a algumas delas), externos à
Organização Sai. Logicamente, falamos de situações em que se coleta (ou se comparte, sem
colocar-se como representante da Organização) informações que o próprio Sai nos aconselhou ou
aprovaria que adquiríssemos, nunca, no ato, ferindo princípios por Ele afixados ou transferindo a
outro Sua posição de nosso Supremo Guru – os demais sendo apenas instrumentos de repasse de
saberes, assim como os professores numa escola (pesquisar sobre tipos de Guru, como Siksha Guru
e Diksha Guru).
Nossa convivência e conversas com indianos atuantes na Organização Sai tornaram notório que, lá,
os que querem obter uma educação védica mais completa costumam ir a escolas tradicionais para
esse fim e, com isto, não deixam de ser membros ou têm sua devoção por Baba questionada. Isso é
encarado com relativa naturalidade, pois é a maneira com que as coisas precisam ser feitas. A
educação védica proporcionada nas instituições Sai de ensino, em Puttaparti, por exemplo, é voltada
aos estudantes matriculados nesses locais. As pessoas de fora precisam encontrar escolas
respeitáveis e abertas a todos, noutros lugares.
Contudo, como devotos de Sai, há de ser dito: conhecimentos adquiridos, precisamos checar sua
legitimidade, mediante comparação com os ensinamentos Dele. Ao cursar Sânscrito, a nosso ver e
seguindo a situação hipotética, acima, precisaríamos nos inteirar do que no aprendizado seria de
caráter sumariamente acadêmico (como a gramática)33 e o que, por exemplo, por seu cunho
filosófico (como o entendimento dos sentido espiritual das palavras), precisaria ser checado quanto
ao alinhamento com os ensinamentos de Bhagavan. Apenas quando verificada coerência é que o
aprendido poderia, se fosse o caso, ser repassado no ambiente da Organização Sathya Sai34.
Igualmente, devemos saber que nem sempre os saberes que Baba pede que estudemos contam com
palavras Suas, diretamente desvendando a forma de interpretá-los. Não obstante, eis o que pode ser
um valioso Norte, nessas situações: além das orientações que concedeu pessoalmente, há as que
podemos saber que estão de acordo com Seus ensinamentos, pelas fontes serem referidas por Ele
como de autoridade. Também temos que nos informar sobre se essa autoridade é plena ou até onde
se estende. Por exemplo, para a interpretação dos deveres e tabus expostos nos Vedas Ele revelou
que os textos autoritários são os do Mimamsa. Logo, para sabermos se uma fala ou escrito que verse
sobre essa sorte de interpretações está de acordo com os ensinamentos divinos, podemos tomar
como referência o que há no Mimamsa35.
33 Achamos provável que informações sobre organização/subdivisões detalhadas dos Vedas e escrituras adjacentes,
bem como do que tratam, sejam de caráter um tanto imparcial e acadêmico, podendo ser extraídas de diversos
cursos ou escritos que busquem situar o estudante, dando-lhe visão panorâmica, nesse sentido.
34 Um exemplo interessante de texto externo usado num material de renome da literatura Sai é o do Sri Aurobindo
Kapali Shastri Institute - http://www.vedah.com/ - que serve de referência para partes do livro Vedas – Uma
Introdução (da coleção Cantos Védicos). Ver DSV, capítulo 2.4., página 15, nota 30. Há, na página 35 do Vedas –
Uma Introdução uma interessante tabela baseada, parcialmente, nos escritos do referido Dr. R. L. Kashyap,
juntamente aos de Baba.
35 DSV, segunda citação da página 31.
21
Consideramos o critério mencionado no parágrafo anterior elementar para os membros da
Organização Sai que decidirem estudar profundamente os Vedas e escrituras relacionadas, e facilitar
a compreensão dos demais. Pois garante que, nesse empreendimento, estejamos alinhados às
injunções de nosso Mestre Supremo.
Antes de possuirmos a erudição no Sânscrito necessária para examinarmos diretamente tais textos,
contudo, caso tenhamos bom motivo para estudar conteúdos não disponíveis na literatura da
Organização Sai, podemos recorrer a edições traduzidas, comentadas e/ou outros trabalhos de
autores reconhecidos por Baba. O que estiver fora disso, cremos que dificilmente se poderia
difundir no ambiente da Organização, visto que faltariam recursos para atestar sua coerência com os
preceitos Sai.
Uma vez que esse tipo de checagem da concordância dificilmente seria feito por alguém que não
fosse devoto de Baba, como um professor de Sânscrito, de fora, trazer essas pessoas para ensinarem
no espaço dos Centros e Grupos, onde pressupõe-se tal correspondência, não é encorajado, embora
muitos desses indivíduos possam merecer grande respeito e reverência. Idealmente, o conhecimento
seria passado de devoto a devoto.
16. Para que os Direcionamentos de Swami se Concretizem, na Organização Sai
A determinação de seguir, em nossas vidas pessoais, o que foi posto por Bhagavan e agrupado em
fontes de consulta - como o Direcionamentos sobre os Vedas, Retirados das Palavras de Sri Sathya
Sai - não basta para garantirmos que o mesmo aconteça em Sua Organização. Precisamos partilhar
esses saberes com os que desejam que facilitemos seu aprendizado e com aqueles cujo aval é
necessário para que seja feito o que sabemos que tem de ser feito.
No respeitante à nossa comunicação com os últimos, em especial, vale ler a citação feita no início
deste escrito, pois, juntamente a nosso entusiasmo, é importante que esteja o conhecimento de causa
sobre o assunto tratado, bem como a capacidade de expressá-lo adequadamente. É preciso que
cultivemos ambos. Podemos enxergar os que se empenham no cuidado com os Vedas como
especialistas no tema, enquanto certos dirigentes, como os na presidência de Centros, Comitês e
Conselhos, estariam na função de generalistas dos muitos setores de cumprimento dos ensinamentos
de Baba. Um generalista cuida de variados assuntos e supervisiona diversos processos. É papel do
especialista trazer-lhe, cuidadosamente esclarecidos e embasados, os temas de sua alçada (do
especialista), para os quais queira aprovação. Seria ideal que tais generalistas olhassem de forma
cada vez mais receptiva para o fomento védico, enquanto seus especialistas encarassem a
necessidade de adquirirem o referido domínio e traquejo na exposição do assunto como um
dinamizador de seu aprimoramento, a assegurar que o trabalho seja feito de forma ideal.
Que, em sua abrangência, nossas ações de Veda samrakshana (cuidado dos Vedas) bem alcancem
desde os que ainda ingressarão no aprendizado até os que nele já vão longe. Engajemo-nos nessa
causa, no melhor espírito de serviço aos pés de lótus de nosso Amado Bhagavan Sri Sathya Sai! E
que nossa terra brasileira seja cada vez mais védica, no mais puro dos sentidos. Jay Sai Ram!!!
Coordenação de Vedas do Conselho Central do Brasil – 31/03/2016
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