ODM-ESPANHA _Out.2011

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ODM-ESPANHA _Out.2011
Mercados
informação de negócios
Espanha
Oportunidades e Dificuldades do Mercado
Outubro 2011
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Índice
1. Oportunidades no mercado: Espanha
1.1 Comércio
3
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1.1.1 Sector alimentar e vinhos
5
1.1.2. Sector têxtil e confecção
7
1.1.3 Sector do habitat e têxteis-lar
9
1.1.4 Sector do mobiliário
12
1.1.5 Sector do calçado
15
1.1.6 Sector dos moldes
16
1.1.7 Sector das tecnologias de informação e comunicação (TIC)
20
1.1.8 Sector das energias renováveis
25
1.1.9 Sector automóvel
34
1.1.10 Sector aeronáutico
37
1.1.11 Sector farmacêutico
41
1.1.12 Sector da biotecnologia
42
1.1.13 Sector da construção civil
45
1.1.14 Sector da joalharia
46
1.1.15 Sector naval
48
1.1.16 Sector da embalagem
50
1.2 Investimento de Portugal em Espanha
54
1.3 Investimento de Espanha em Portugal
55
1.4 Serviços
57
1.5 Turismo
57
2. Dificuldades
58
2.1 Comércio, Investimento e Serviços
58
2.2 Turismo
60
3. Cultura de Negócios
61
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1. Oportunidades no Mercado: Espanha
No primeiro semestre de 2011, de acordo com os dados oficiais das autoridades espanholas, mantém-se
a debilidade da actividade económica no mercado espanhol.
Assim, e segundo o INE, o PIB espanhol cresceu 0,2% no segundo trimestre de 2011 (0,3% no primeiro
trimestre), situando-se a taxa inter anual nos 0,7%, comparativamente ao período homólogo do ano
anterior.
Também o Banco de Espanha salientou a manutenção da fragilidade da actividade ao longo do terceiro
trimestre.
Estes dados confirmam a conjuntura económica desfavorável que atravessa o mercado espanhol, no
entanto, é de destacar a contribuição positiva das exportações, que compensa parcialmente o contributo
mais negativo da procura interna. Pela positiva, destaca-se também o sector do turismo, que continua a
crescer a um ritmo elevado.
Até à data, o Governo mantém a previsão oficial de crescimento económico de 1,3% para o presente ano
e 2,5% para 2012. No entanto, as mais recentes previsões de crescimento apresentam dados menos
favoráveis para a economia espanhola. Assim, as projecções da Fundação FUNCAS (Cajas de Ahorro),
estimam um crescimento do PIB espanhol de 0,7% em 2011 e 1% em 2012. Por seu lado, o serviço de
estudos do BBVA prevê um crescimento de 0,9% para o presente ano. Assim, a média das previsões
económicas dos principais serviços de estudos de organismo espanhóis aponta para um crescimento de
0,8% para 2011.
As projecções de crescimento divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional no mês de Setembro,
estimam um crescimento do PIB espanhol de 0,8% em 2011 e de 1,1% em 2012.
Face ao anteriormente exposto podemos afirmar que Espanha não será, nos próximos 2 o 3 anos, um
destino com crescimentos de actividade e consumo que convidem a apostar nele em força, como pode
ser feito em mercados em crescimento como os BRICs ou os países da América Latina, mas continua a
ter para as Pme’s portuguesas uma posição fundamental no alargamento dos seus clientes,
praticamente em termos de mercado local ou interno. Assim, para as pequenas empresas que agora só
vendem no mercado e que querem alargar a sua base exportadora, Espanha constitui quase sempre o
primeiro passo na sua estratégia de abordagem ao exterior.
Igualmente, e no caso de empresas mais tecnológicas, Tic’s, serviços, indústria etc, é importante a
posição de Espanha como ponte e como base de experimentação para a posterior abordagem dos
mercados latino-americanos, pela língua e cultura comuns e porque esta região tem vindo a apresentar
crescimentos das suas importações, muito relevantes no contexto mundial.
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Nos sectores tradicionais e de bens de consumo, embora a perspectiva de crescimento do mercado
espanhol não seja animadora, existem sectores destas indústrias que estão a experimentar crescimentos
notáveis nas exportações, pelo que uma colaboração com fornecedores em Portugal pode ser uma
forma de aumentar as vendas para Espanha.
1.1 Comércio
Espanha é o principal cliente e fornecedor de Portugal.
Para Espanha, Portugal assume uma maior importância enquanto destino das vendas espanholas,
surgindo na terceira posição do ranking dos clientes espanhóis (com uma quota de 8,9% em 2010), do
que como origem das compras espanholas aparecendo, neste caso, apenas na 8ª posição do ranking
dos fornecedores (com uma quota de 3,6%), de acordo com as estatísticas do ICEX.
De acordo com os dados do Ministério da Industria, Turismo e Comércio de Espanha, no primeiro
semestre de 2011, as exportações espanholas para Portugal cresceram 5,4%, e as importações de
Espanha com origem em Portugal registam um incremento de 12,5%, em relação ao mesmo período do
ano anterior.
Nos rankings de países clientes e fornecedores, no primeiro semestre de 2011, Portugal mantém a sua
posição como 3º destino das vendas espanholas, com uma quota de 7,7%, e passa de 8º a 9º
fornecedor, com uma quota de 3,5% sobre o total.
No primeiro semestre de 2011 as importações de Espanha com origem em Portugal registam um
crescimento de 12,5%, valor superior ao verificado pelas importações globais espanholas (12,4%), e
pelas importações com origem na União Europeia (6,3%).
Neste período, as compras espanholas ao principal fornecedor, Alemanha, registam um acréscimo de
8,2%, o segundo fornecedor, a França, verifica um acréscimo de 13,5%. De referir também o aumento
das importações espanholas com origem nos EUA (18,9%) ou na Rússia (68,1%).
Ao nível das Comunidades Autónomas espanholas, é de destacar que a Galiza é o nosso primeiro
cliente com uma quota de 19%. No primeiro semestre de 2011 as compras desta Comunidade, 860
milhões de Euros, registam um acréscimo de 21,0%.
Os grandes grupos de produtos mais importados por Espanha com origem em Portugal, de acordo com
a mesma fonte, no ano 2010 foram:
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Importação de Espanha com origem em Portugal em 2010
Sector
Valor
%
1
Equipamento, componentes e acessórios de automóvel
777
9,1%
2
Industria química (Produtos Químicos)
759
8,9%
3
Vestuário
641
7,5%
4
Produtos siderúrgicos
613
7,2%
5
Produtos sem elaboração
462
5,4%
6
Embalagens
374
4,4%
7
Produtos semi transformados Metálicos não ferrosos
286
3,4%
8
Mobiliário
272
3,2%
9
Semi transformados de Madeira e Papel
254
3,0%
10
Tabaco
229
2,7%
TOTAL
8.540
100,0%
Fonte:
Icex
Unidade:
Milhões de Euros
Destacamos, ainda, o importante papel das indústrias de bens de consumo, têxteis, calçado, mobiliário,
entre outras, que fornecem produtos em regime de subcontratação, mas com altos padrões de qualidade
e entrega rápida, factores que contribuem, apesar da concorrência dos países de mão de obra barata,
para que sejam ainda muito procurados mantendo assim importantes posições de destaque.
Seguidamente iremos realizar uma análise mais detalhada das oportunidades em cada um dos sectores
de negócio mais importantes.
1.1.1 Sector Alimentar e Vinhos
De acordo com os dados divulgados pelo MARM - Ministerio de Medio Ambiente y Medio Rural y
Marino, o consumo alimentar nos lares espanhóis no primeiro semestre de 2011 traduziu-se em 66.740
milhões de Euros, o que representa um decréscimo de -1,7% relativamente ao período homólogo do ano
anterior. Sendo assim, mantém-se a tendência negativa do consumo alimentar já verificada em meses
anteriores. Devemos referir que o consumidor espanhol tem incrementado o consumo no lar, diminuindo
a despesa realizada em restaurantes.
A desfavorável conjuntura económica que actualmente atravessa o mercado espanhol, veio acentuar a
quebra de consumo verificada nos anos 2009 e 2010. Neste adverso cenário económico, as vendas dos
hipermercados registraram uma quebra de 3,9% em 2009, e de 5,2% em 2010, de acordo com os dados
da consultora Iri. Desde 2007, a despesa média relativamente a compras sofreu um retrocesso de cerca
de 30%.
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Poderíamos afirmar que no passado ano, assim como nos primeiros seis meses de 2011, o mercado da
distribuição alimentar em Espanha tem-se caracterizado pelo seguinte:
- preço como factor de concorrência (agressivas políticas de preços).
- política contínua de promoções.
- redução de oferta e fornecedores.
- aposta nas linhas de produtos básicos.
- aposta na oferta de produtos locais.
Neste contexto, a percepção da crise económica continua a determinar a falta de confiança por parte dos
consumidores, situação esta que afecta a cadeia alimentar em todas as suas vertentes, nomeadamente
aquelas propostas consideradas mais arriscadas ou incertas, como o lançamento de novidades no
mercado. Esta situação propiciou a quebra nas apresentações de novos produtos, a qual, e de acordo
com estudos realizados pela revista especializada Alimarket, representa uma redução superior a 20% no
sector alimentar e de bebidas.
No que se refere à balança comercial de produtos agro-alimentares Espanha - Portugal, de acordo com
a informação proporcionada pelo ICEX, as compras espanholas de produtos portugueses atingiram
apenas cerca de 1,5 mil milhões de Euros no ano 2010, enquanto as vendas espanholas a Portugal
superaram os 3 mil milhões de Euros, resultando uma taxa de cobertura de mais de 200%.
Quanto aos principais fornecedores, em primeiro lugar destaca-se a França, com uma quota de 15,6%
sobre o total, a seguir encontramos a Alemanha (9%), e os Países Baixos (7,7%). Portugal surge na 4ª
posição com uma quota de 6,3%.
Dada a actual conjuntura, poderíamos afirmar que o mercado passou de uma estratégia baseada na
criação de valor acrescentado, marcas, qualidade, valores associados à exclusividade e apoio aos
produtos gourmet, para uma aposta em promoções, ofertas e descontos. As principais empresas de
distribuição alimentar procuram atrair o consumidor com preços mais baratos, reduzindo o número de
fornecedores, simplificando a oferta, e aumentando a presença das marcas brancas.
Podemos afirmar que o consumidor espanhol privilegia os produtos nacionais, e regionais, que conhece
e nos quais pensa poder confiar. O consumidor espanhol conhece a oferta portuguesa nesta área pelas
visitas turísticas ao nosso país e considera que Portugal possui uma boa oferta de qualidade. No
entanto, mostra pouco interesse em adquirir estes produtos no mercado doméstico, especialmente nas
áreas em que Espanha é também um produtor reconhecido, nomeadamente no caso dos vinhos, dos
queijos, dos enchidos, do azeite, etc.
Os produtos estrangeiros que têm entrado no mercado estão principalmente relacionados com a
restauração temática, por meio da qual os consumidores conhecem e experimentam outros alimentos
não tradicionais da sua cultura gastronómica, como produtos mexicanos, orientais ou italianos.
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Alguns produtos portugueses, nomeadamente a doçaria à base de ovos ou condimentos que podemos
considerar tradicionais, são de difícil introdução neste mercado, atendendo aos diferentes hábitos
culinários existentes.
Quanto aos vinhos, destacamos que a penetração dos vinhos estrangeiros é escassa em todo o território
espanhol. Os vinhos portugueses encontram uma forte concorrência neste mercado. Espanha é o
segundo exportador mundial de vinho depois da Itália, e ocupa o primeiro lugar em área de produção. É
de salientar a abundância e variedade da oferta local com 42 DOC (Denominação de Origem
Controlada).
Na avaliação do comércio bilateral cabe destacar a elevada taxa de cobertura da posição espanhola,
mais de 500% no ano 2010, as vendas espanholas de vinho a Portugal atingem cerca de 61 milhões de
Euros, enquanto as compras de vinho português apenas superam os 10,5 milhões de Euros.
Em termos de países concorrentes, a França continua a ser o principal fornecedor deste mercado, com
uma quota de 55%, seguindo-se Itália (24%) e Portugal (8%), que em 2010 mantém a 3ª posição com
um volume de vendas de 10,5 milhões de Euros, como já foi referido.
A qualidade dos vinhos portugueses é reconhecida pelos profissionais do sector, que mostram muito
interesse em conhecer melhor os nossos produtos e castas tradicionais, o que não acontece junto do
consumidor final. O Vinho do Porto é reconhecido como um produto de grande qualidade, mas não
existe hábito de consumo.
1.1.2 Sector Têxtil e Confecção
A conjuntura do sector, depois do forte impacto da crise, tem uma leitura diversa, no segmento produtivo
e no de comercialização de moda. No primeiro, a crise iniciou-se com a liberalização do comércio com a
China em 2005, pelo que no período entre 2004 a 2009 um total de 4.647 empresas teve que fechar,
nomeadamente nas regiões de Navarra, Castilla La Mancha, Cataluña e Extremadura, com a
desaparição de uma média de 37% das empresas do sector. Pelo contrário, as importações da China
neste sector, tem crescido de 334 milhões de Euros importados em 1999 até 2.100 milhões de Euros em
2009, pelo que a produção nacional continuou a decrescer (-20%) e a destruição de emprego atingiu os
18.255 trabalhadores.
Existem na actualidade perto de 3.415 empresas de confecção, com uma produção de 4.333 milhões de
Euros (a preços industriais) que empregam 103.690 trabalhadores, sendo o valor das exportações de
5.620 milhões de Euros, face a 10.036 milhões de Euros de importações.
As exportações do sector crescem (+9%), graças ao crescimento das cadeias espanholas de vestuário
que apresentam uma crescente internacionalização, mas são sempre inferiores ao crescimento
experimentado pelas importações (+12% em 2010).
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Ao nível de mercado e consumo interno, a debilidade do consumo tem-se notado mais nas cadeias de
segmento médio e médio-alto, e nomeadamente, no continuo processo de desaparição de retalhistas
multi-marca, que não suportam mais a pressão da crise e fecham ou vão para a reforma.
No que se refere ao consumo, a forte crise da procura instalada no mercado depois de Agosto de 2008,
têm-se traduzido em decréscimos notáveis das vendas de artigos de vestuário (-11,2 % em 2008, -6,5%
em 2009 e -3,08 % em 2010, prevendo-se para 2011 um decréscimo do -1,8%, ainda sem valores
positivos que indiquem algum sinal leve de recuperação.
O volume de vendas no sector da confecção decresceu em 2010, pelo terceiro ano consecutivo, para
17.373 milhões de Euros, e entre Junho/2010 e Junho/2011 foram de 15.268 milhões de Euros, ao
mesmo nível que as verificadas no ano 2000. O preço médio das peças tem igualmente diminuído,
sendo actualmente estimada a despesa anual em vestuário, de 1.190 Euros por família.
Segundo os dados de 2010, o principal fornecedor de vestuário do mercado espanhol foi a China (23%),
seguindo-se Itália (9,7%), França, Turquia, Marrocos e Portugal. Portugal ocupa agora a 6ª posição
como fornecedor (7% de quota), se bem que detecta-se no mercado um maior interesse em encontrar
em Portugal fornecedores e fabricantes de séries mais curtas, com qualidade e de produtos com mais
valor acrescentado.
Este novo cenário oferece assim novas oportunidades para as empresas portuguesas potencialmente
fornecedoras de confecções, que dependendo evidentemente da especialidade concreta de cada uma,
da estrutura e modelo organizativo, bem como da estratégia desenvolvida, poderão encontrar novos
clientes.
Por outro lado, existem novas oportunidades para as marcas portuguesas abordarem o mercado
espanhol com estratégias de marca própria e abertura de lojas, resultante de uma maior facilidade em
conseguir locais de negócio bem situados e de disponibilidade de mão-de-obra para a contratação de
pessoal.
Quanto às perspectivas para 2012, continuará o processo de ajuste do sector, tanto ao nível produtivo
como no segmento do retalho, que irão sofrer grandes transformações resultantes da crise de consumo
com consequências, como seja o desaparecimento de lojas tradicionais – multi-marca (actualmente já só
ocupam 27% do mercado), que serão substituídas pelas cadeias com capacidade de adaptação a este
novo cenário.
Assim, o preço, a inovação, a diversificação, a competitividade e um bom serviço serão as bases
necessárias para obter sucesso num dos mercados mais competitivos do mundo. O grupo Inditex, líder
indiscutível deste novo modelo de negócio no sector da moda, continuou a crescer nos mercados
internacionais e Portugal continuará a captar uma parte importante da produção das colecções das suas
marcas, pela importância que a proximidade geográfica e a logística têm para este grupo.
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1.1.3 Sector do Habitat e Têxteis-lar
Depois das fortes caídas no sector da construção, nos últimos dois anos, nomeadamente no segmento
de novas habitações, as perspectivas para 2011 são de uma baixa actividade neste sector, pela
necessidade de esgotar primeiro o grande stock de habitações que são agora propriedade dos bancos e
das entidades financeiras, e pela dificuldade de obtenção de créditos por parte do eventual comprador.
Depois da falência de algumas grandes empresas imobiliárias em 2009 e 2010, a estimativa para 2012 é
de só 66.000 novas habitações (1/8 das visadas em 2006), prevendo-se ainda que os preços deverão
baixar entre 10% e 20%.
Com a forte crise da construção a oferta acumulada no final de 2010 continua a ser de 600.000
habitações em stock, e apenas a partir de 2015 se pode estimar uma leve recuperação do sector.
As restrições na despesa pública que terá que implementar o novo Governo espanhol que resulte das
eleições de 20 de Novembro de 2011, irão contribuir igualmente para o agravamento do desemprego nas
empresas, e para a quebra no consumo de materiais e de bens muito ligados à actividade dos sectores
da construção e de obra civil.
Existe apenas algum optimismo no subsector da reabilitação, remodelação ou renovação, sendo que a
taxa do IVA estipulado para o sector passou a ser de 8%, sendo essa despesa dedutível no IRS. No
entanto, esta medida ainda não será suficiente para evitar o forte decréscimo no sector do equipamento
para o habitat, tanto têxtil, como de mobiliário, utilidades domésticas, entre outros.
Estes sectores seguem novas tendências surgidas com a nova consciência da crise e do consumo, pelo
que os produtos procurados marcam uma mudança nos valores, que incidem no design e na valorização
de um produto:
•
O consumidor procura produtos que sejam duráveis no tempo, relativamente à estética e à
qualidade.
•
Reforço da transparência perante o consumidor, transmissão de valores claros, coerentes e
credíveis.
•
Exigência de produtos e serviços que facilitam a autonomia do utilizador (mobilidade, mudança,
personalização) em combinação com sentido prático, facilidade de uso e conforto.
•
Procura de valores seguros, estáveis e que se considerem de referência no âmbito do design.
Na área da Hotelaria, segundo dados de Junho de 2011, tem melhorado levemente o índice de
ocupação, e de rentabilidade dos estabelecimentos, nomeadamente em zonas turísticas como as
Baleares, e as Canárias, assim como em grandes cidades como Madrid e Barcelona, mas as
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expectativas mantêm-se baixas, no que respeita ao acréscimo de preços e à despesa dos consumidores,
pelo que a renovação de quartos no sector da Hotelaria poderá sofrer alguma redução. No mesmo
sentido, a empresa PWC prediz a necessidade de mudança de estratégias nas empresas do sector, para
tentar encontrar vias de negócio sustentáveis a longo prazo, num cenário de crise alargado.
No primeiro semestre de 2011 o investimento no sector de Hotelaria decresceu cerca de 6% em
Espanha, face ao acréscimo de 29% médio na Europa, segundo dados da BNP Real Estate, se bem que
se espera alguma melhoria no 2º semestre de 2011. Pelo contrário, os rendimentos por quarto em hotéis
espanhóis incrementaram-se 8,9%, o maior ratio neste ano, por causa da migração de turistas que
trocaram destinos no Norte de África e Turquia por destinos em Espanha, devido à “Primavera Árabe”.
No entanto, esta melhoria pontual, não será continuada em 2012 e 2013, sendo outros países da
Europa, como UK (Jogos Olímpicos) ou a Polónia, destinos mais atractivos para o investimento hoteleiro.
As grandes cadeias hoteleiras não vêem favorável o investimento em Espanha, pelo decréscimo de valor
de edifícios hoteleiros e pelo sistema laboral com contratos não flexíveis, o que torna a gestão difícil
quando toca a adaptar-se às circunstâncias.
Para ser fornecedor deste sector é necessário ganhar a confiança do cliente no que respeita ao serviço e
à garantia pós-venda. Por isso, procuram-se empresas com escritórios em Espanha e boa comunicação
com os clientes, que ofereçam um serviço completo e atencioso, não só baseado na relação produtopreço, mas também na garantia pós-venda, reposição de produtos, decoração integral e fornecimento de
todo o leque de produtos necessários para o serviço hoteleiro.
No segmento do comércio de retalho, e tendo bem presente a pressão do mercado provocada pelas
importações da Ásia, é de destacar a mudança progressiva registada, em que o protagonista já não é o
produto, mas sim o ponto de venda, que passa a identificar-se com os lifestyles dos distintos clientes e a
oferecer uma selecção de produtos adequada às tendências da moda e ao gosto do cliente alvo do
comerciante.
As cadeias Ikea, e Zara Home, representam este novo estilo de negócio, pelo que a estratégia deve ser
dual: fornecer a este tipo de cadeias e/ou criar um novo conceito de loja. Destaca-se pelo sucesso a
cadeia portuguesa A Loja do Gato Preto, com mais de 27 lojas neste mercado. Salienta-se também a
progressiva desaparição das lojas de brinde com “Listas para casamentos”, que têm sido substituídas
por websites como “Boda-click” em que os noivos recebem brindes “fictícios” que na realidade são
dinheiro para as despesas que eles devem enfrentar.
O sector do gift, de grande tradição em Espanha, converteu-se nos últimos anos num sector
basicamente importador. Tanto os grandes fabricantes como as emergentes cadeias de lojas de gift,
optaram por fabricar na Ásia, principalmente na China, Índia, Vietname e Indonésia. Nos últimos anos,
fecharam em Espanha um elevado número de empresas fabricantes de gift, tendo a indústria de
cerâmica decorativa e utilitária praticamente desaparecido.
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Algumas empresas, no sentido de contrariar estes desafios, apostaram em reinventar os produtos, com a
incorporação do design, da personalização e das novas tecnologias no conceito do produto, para operar
só nos segmentos mais altos do mercado, nomeadamente a Lladró.
O fabricante português destes artigos, deve tomar parte activa nestas tendências e oferecer produtos
com qualidade que não concorrem em preço, como conceito mais importante.
Quanto aos hábitos de consumo, em Espanha não se verifica o mesmo entusiasmo pela decoração que
existe em outros países europeus, pois a casa não é regularmente cenário de reuniões com amigos, pelo
que a preocupação pela decoração interior passa a ser secundária. Por outro lado, as novas gerações
gastam cada vez menos em artigos de decoração, dando prioridade à aquisição das últimas novidades
em tecnologias (ex. playstation, Ipod, etc.).
Quanto às Utilidades Domésticas, a abertura dos mercados aos produtos fabricados no Extremo-Oriente
supôs por um lado a entrada de muitos produtos a um preço muito baixo e, por outro, que as marcas
estabelecidas neste mercado ampliassem os seus catálogos com os produtos comercializados. Não há
dúvida que este facto multiplicou a oferta e contribui para a dinamização do sector. Por outro lado, a
evolução destes segmentos de mercado produz uma tendência em direcção a uma maior
competitividade, devida à entrada de novos actores atraídos pelo seu dinamismo. Adicionalmente, este
dinamismo leva a uma maior procura entre os consumidores de produtos com maiores prestações
técnicas. A nível de clientes, verifica-se o desaparecimento do cliente tradicional, sendo substituída pela
grande distribuição a qual está alcançando quotas de crescimento espectaculares, encontrando-se ao
mesmo tempo num processo de transformação e concentração.
O mercado espanhol resulta atractivo para os produtores portugueses deste sector tanto pela
proximidade geográfica, como pela semelhança dos seus hábitos alimentícios. Os pontos fortes da
indústria portuguesa deste amplo sector são bem reconhecidos, tanto pela qualidade, como pelo design
e certificação. No entanto, as empresas portuguesas deste sector deverão potenciar cada vez mais o
I+D, criar produtos inovadores – a inovação contínua do produto deverá ser o lema – e investir no
serviço. Deverão também encontrar soluções logísticas e produtivas, tendo em conta que os mercados
estão sempre em constante e permanente evolução. Há que ter em conta igualmente as normas
vigentes de segurança e de uso alimentar.
Por outro lado, atendendo à notória projecção que hoje em dia têm em Espanha os chamados grandes
Chefs (autênticas estrelas mediáticas), têm aberto nos últimos tempos oportunidades de negócio
interessantes nesta área. Têm aumentado as alianças estratégicas entre estes grandes cozinheiros
mediáticos e as marcas de utensílios de cozinha, dando lugar a “novas marcas”. Não se trata apenas de
patrocinar programas de televisão que protagonizam alguns destes Chefs, ou de contar com a sua
presença em eventos promocionais das marcas, mas também da sua intervenção no design de novos
produtos criados à medida para sua própria utilização.
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1.1.4 Sector do Mobiliário
Desde o ano de 2004 até à actualidade, o número de empresas fabricantes de mobiliário em Espanha
desceu de um modo constante. Mas foi com o despertar da crise económico-financeira mundial que
aumentou essa tendência, levando ao encerramento de mais de 1.000 empresas nos últimos dois anos.
- Nos últimos 5 anos, a indústria do móvel em Espanha está a experimentar uma enorme transformação.
Trata-se de um sector que não soube inovar ou expandir. A radiografia deste sector em Espanha é a
seguinte:
•
O fabricante espanhol agrava a sua desvantagem negociadora no que diz respeito ao distribuidor:
perdeu competitividade em relação aos seus congéneres dos países emergentes.
•
Os principais grupos e cadeias de distribuição aumentaram a sua vantagem competitiva no que diz
respeito à loja tradicional, incrementando a sua quota de mercado.
•
Os hábitos de consumo e compra do consumidor experimentam alterações significativas: uma menor
quantidade da despesa destinada ao mobiliário e um período consideravelmente menor no que diz
respeito à renovação.
•
Entre o ano de 2008 e 2010, a rentabilidade económica média dos fabricantes de móveis espanhóis
caiu mais de 8%.
•
Nos últimos anos, Espanha passou de um país exportador – saldo balança comercial – para um país
basicamente importador.
•
A forte competitividade dos países emergentes e a “fortaleza” do euro foram as principais causas do
incremento das importações: a China é o principal fabricante de móveis a nível mundial e o principal
país de origem das importações.
- O mercado de distribuição do móvel em Espanha experimenta uma grande contracção nos últimos 4
anos.
•
Durante os últimos anos, o volume de negócio diminui cerca de 50% e a rede de pontos de venda,
cerca de 40%.
•
A facturação média anual retrocedeu nos últimos 3 anos alcançando números de 2005 em torno de
446,000 €.
- O retalhista especializado é o mais afectado pela pressão económica fruto da contracção do mercado.
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•
A conjuntura actual - redução do crédito - obriga os pontos de venda a reduzir as compras e escoar
stocks para obter liquidez à custa da rentabilidade. No entanto o stock continua a aumentar, tendo
em conta, no entanto, o efeito da economia “paralela”.
•
Esta pressão económica provocou:
i. O retalhista tradicional é o mais afectado levando a um incremento do encerramento dos pontos de
venda.
ii. As grandes cadeias e grupos foram abandonando paulatinamente os seus planos de expansão.
- Os principais grupos e cadeias de distribuição especializada consolidam a sua posição no mercado.
•
Apesar de ser um sector muito atomizado, produziu-se, no entanto, uma evolução: as cadeias e
grupos no ano de 2003 tinham 54% da quota comparando com 61% em 2010.
•
As primeiras empresas detêm uma quota de mercado que tende progressivamente para o oligopólio.
•
A sua estratégia tem como variável crítica o preço/custo apresentando uma baixa diferenciação no
que diz respeito ao produto.
- O móvel para casa parece ser o segmento em que se nota uma certa recuperação.
•
O móvel para casa experimentou incrementos menores e descidas notáveis provocando nos últimos
anos uma descida da sua quota de mercado.
•
Quarto de dormir e sala de estar representam 51% do segmento.
•
Modificação no padrão de compra do consumidor: menor despesa por compra.
•
A parte da despesa do orçamento familiar dedicada ao mobiliário, equipamento para o lar e
despesas correntes de conservação da casa, reduziu-se em 1.1% nos últimos 10 anos.
•
O período de renovação da casa reduziu-se nos últimos 7 anos, de 16 para 12.5 anos.
Os principais destinos de exportação do móvel espanhol são a França, Portugal, Alemanha, Itália e o
Reino Unido. Os países europeus continuam assim a liderar o ranking da exportação do móvel espanhol.
A China continua a ser o principal país origem das importações espanholas do móvel, embora tenha
descido cerca de 6% em relação ao ano anterior. Seguem-se, com os postos de 2º a 6 º no ranking de
fornecedores, países como Portugal, Alemanha, Itália, Polónia e França.
13
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Costuma-se dizer que não há indústria que escape ao fenómeno da globalização, mas talvez tenha sido
o sector do móvel um dos mais prejudicados. Ao impacto das importações provenientes da China,
haveria que juntar os efeitos do “desembarque”, há mais de 15 anos, da IKEA. Interrelacionados entre si
(grande parte das importações são levadas a cabo pelo IKEA), estes dois factores alteraram
acentuadamente a dinâmica do negócio. Tanto os industriais como os comerciantes do sector do móvel,
sofreram uma enorme pressão no sentido da redução de preços, entraram em contacto com uma forma
diferente de comprar, assim como também com a difusão de uma nova estética, alheia aquela que era
habitual em Espanha.
No sentido de contrariar estes desafios, as empresas espanholas destes sectores apostaram no
reinventar a sua forma de fabricar e vender, e este aspecto traduz-se numa decidida aposta em artigos
de qualidade e pelos segmentos médio-alto, despedindo-se das grandes séries de produto barato.
Muitas empresas espanholas criaram os seus próprios gabinetes de design, ou passaram a utilizar os
serviços de designers reconhecidos, muitos deles de renome internacional.
Neste contexto, as empresas portuguesas deverão apostar no segmento médio-alto, afigurando-se mais
oportunidades para um produto de qualidade. Torna-se imprescindível apostar na diferenciação, sendo
esta a única maneira de fazer frente à oferta dos países emergentes.
Por outro lado, verifica-se um notório incremento de interesse neste mercado pelo mundo da decoração
de interiores. A título de exemplo, existem cada vez mais firmas especializadas que preparam diferentes
linhas de produtos para que os seus clientes possam escolher entre uma ampla oferta de decoração. É
precisamente devido ao alto nível de concorrência dentro do sector da decoração que se considera
indispensável que as empresas portuguesas se mantenham a par das últimas tendências, requisito
prioritário para entrar neste mercado com êxito, acompanhando o aparecimento de novas linhas
estéticas mais ecléticas, depois da forte influência do minimalismo (tais como uma certa fusão entre o
passado e o futuro, a estética barroca e a rústico-romântica).
Por outro lado, uma vez esgotado o boom da construção em Espanha e sem qualquer tipo de
perspectivas de incremento deste sector, o sector do mobiliário tem as esperanças postas no chamado
mercado do Contrat, o qual se dedica ao fornecimento de equipamento e mobiliário para hotéis,
restaurantes, empresas, colectividades e espaços públicos.
O sub sector do Contract tem tido ultimamente uma enorme relevância neste mercado. A actual difícil
conjuntura económica que atravessa o que normalmente chamamos de canal tradicional de distribuição
do móvel para casa – a comercialização por parte dos fabricantes aos distribuidores (comércios) – leva a
que muitos dos fabricantes – não somente do sector de móveis, mas também de iluminação e outros
elementos de decoração – prestem cada vez mais atenção ao negócio do Contract e equipamento
integral para os edifícios públicos e colectividades. É evidente que o Contract não é um fenómeno novo;
no entanto, a grande novidade está na enorme diversificação e profissionalização que se tem levado a
cabo ultimamente à volta de este negócio, fundamentalmente no que diz respeito ao aparecimento de
14
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
“contratos megalómanos” (daí a palavra Contract) destinados a fornecer equipamento, tanto para
grandes e luxuosos espaços de carácter privado, como para edifícios públicos, aeroportos, lares da
terceira-idade ou outras instalações da Administração Pública.
Perante esta realidade, o negócio de Contract exige cada vez mais uma ampla recolha de informação
acerca das suas características e particularidades, para posterior disponibilização a todos os
potencialmente interessados em analisar o seu posicionamento estratégico no que diz respeito a este
sector. A título de exemplo, o primeiro sector a convocar este tipo de concursos de projectos de
fornecimento de mobiliário/ decoração é o da Saúde, seguido – embora com uma enorme distância –
pelo dos escritórios. E há que ter também em conta que Espanha é um grande país formado por um
conjunto de nações com as suas particularidades e idiossincrasias, ou seja, que estes concursos variam
em cada uma das diversas comunidades.
Quanto ao mobiliário de escritório, as tendências não se alteraram no essencial, traduzindo-se
basicamente no design minimal, em materiais como o alumínio ou estruturas de tubo de aço e em cores
suaves (sobretudo brancos e cinzentos), que contrastam com os tradicionais negro e castanho. Não
obstante, os móveis e os complementos são também cada vez mais flexíveis, essencialmente de
carácter modular, tendo em conta uma maior adaptação aos diferentes espaços e a uma crescente
evolução tecnológica das empresas em geral.
Os anos em que o sector da construção cresceu foram uma grande aliciante para a indústria do
mobiliário de escritório que viu a sua produção crescer igualmente. Todavia a actual crise no sector da
construção veio alterar esta situação.
Torna-se absolutamente prioritário um investimento em projectos integrados dirigidos a uma ou várias
funcionalidades, à medida dos clientes, essencialmente no segmento médio-alto. Por outro lado, um
factor que consideramos incontornável é a utilização de serviços de designers especializados, nacionais
ou internacionais, que permitam uma constante inovação, essencial quando se pretende entrar no
mercado.
1.1.5 Sector do Calçado
Embora a conjuntura económica em Portugal não seja a mais favorável, o sector do calçado fechou no
ano passado com um balanço muito positivo. No entanto, a indústria portuguesa do calçado em Portugal
depende em grande medida do mercado externo, essencialmente da Europa, principal destino das suas
vendas no exterior (96%).
Portugal e Espanha são mercados vizinhos e em muitos casos o espaço natural de expansão das
nossas empresas. No entanto, existe ainda um certo desconhecimento mútuo em certos sectores
empresariais relevantes. Se analisarmos com detalhe as exportações do calçado português,
comprovamos que Espanha comprou no ano de 2010 12 milhões de pares em 2010, em comparação
com os 8 milhões em 2009.
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aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
O mercado espanhol tem a especificidade de ser um grande produtor de calçado. Sendo assim, o nosso
principal desafio é basicamente de competir directamente com a produção local. O conceito de marca é
incontornável e considera-se um valor acrescentado, pelo que a solução parece estar em combinar uma
visão inovadora da segmentação do mercado com um entendimento mais preciso das necessidades dos
consumidores e a identidade da marca.
Neste contexto, e tendo em conta o quase absoluto predomínio do calçado asiático em Espanha, as
empresas portuguesas deverão necessariamente apostar no segmento médio-alto, afigurando-se mais
oportunidades para um produto de qualidade. Devido às constantes alterações e variantes decorrentes
da moda e tendo como referência países como Itália e Espanha, Portugal deve estar preparado para
uma produção em pequenas quantidades e que seja versátil. Tendo em vista a adaptação às constantes
e inevitáveis alterações de tendências, é imprescindível que a produção integre o conceito da reposição.
As empresas portuguesas ainda são bastante deficitárias no que diz respeito a este aspecto, que
consideramos importantíssimo. Por outro lado, é de considerar a abertura de lojas por parte das
empresas fabricantes, considerando que se trata de uma das vias mais importantes para a sua
implementação neste mercado.
No mercado espanhol, essencialmente no Verão, nota-se uma tendência tradicional para o chamado
sapato mediterrânico, aberto e de cores alegres, com um notório predomínio das sandálias (com 2/3
pares por mulher); no Inverno (e principalmente no norte de Espanha) prevalece, tal como nos países do
norte da Europa, um sapato robusto e rijo.
Quanto à rede de distribuição, deve-se sempre ter presente que Espanha é um país constituído por um
conjunto de Regiões ou Comunidades com as suas próprias especificidades. Sendo assim, a rede de
distribuição, através de representantes, deverá ser integrada fundamentalmente em 4 zonas: Galiza,
Andaluzia, Catalunha e a comunidade de Madrid (e regiões limítrofes).
Os canais de distribuição do calçado que é importado para Espanha para ser vendido em private label
são basicamente os seguintes:
•
Venda através de agentes / representantes – 70%
•
Venda directa pelo fabricante ou importador – 15%
•
Venda através de armazéns distribuidores – 15%
O mercado espanhol deve ser considerado como a continuação natural do mercado português, sendo
imprescindível que as empresas portuguesas tenham em conta este conceito no momento de dar início a
um relacionamento comercial com o mesmo.
1.1.6 Sector dos Moldes
O sector de Moldes e Matrizes na Europa é composto por cerca de 7.000 empresas, emprega cerca de
100.000 pessoas e factura 10.000 milhões de Euros, o que representa 20 % da produção mundial.
16
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Em Espanha o sector de Moldes perdeu, nos últimos anos, cerca de 40% da sua capacidade e emprego,
representando actualmente cerca de 7% da produção europeia.
O sector dos Moldes e Matrizes em Espanha é composto por cerca de 700 empresas, que empregam
9.000 trabalhadores e facturam 700 milhões de Euros por ano.
Em 2011, Espanha continua a sofrer, de forma dramática, os efeitos da crise económica e financeira
global. A indústria de transformadores de plásticos perdeu 25% da sua produção entre 2008 e 2009
(relativamente a 2007), e recuperou apenas 5 pontos em 2010, quando deu trabalho a mais de 90.000
pessoas.
As previsões indicam que, em 2011, a recuperação deste sector será apenas de 1 ou 2 pontos. De
acordo com os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística de Espanha), o fabrico de transformados
plásticos incrementou-se apenas 1,1% durante os quatro primeiros meses de 2011. Apesar do forte
aumento das exportações espanholas, as importantes quedas dos principais mercados internos
tradicionais dos plásticos, designadamente a construção, obras públicas, automóvel e produtos de
consumo, estão a impedir a sua recuperação.
De acordo com a ANAIP-Asociación Española de Industriales de Plásticos (http://www.anaip.es/), a esta
situação de debilidade há que acrescentar o incremento desmesurado dos preços da matéria-prima que,
de acordo com o INE, foi de 17% no primeiro semestre de 2011. Perante a dificuldade em imputar este
incremento no preço de venda da maioria das aplicações finais, existe uma forte queda nas margens
comerciais de fabricantes e transformadores.
Por outro lado, o sector de Moldes e Matrizes em Espanha, muito atomizado e formado maioritariamente
por PMEs familiares de reduzida dimensão (menos de 20 trabalhadores), com um produto que tem um
alto valor acrescentado, pessoal muito especializado, reticências ou pouca predisposição para colaborar
com outras empresas afins no sentido de melhorar em qualquer dos seus âmbitos de actuação, tem
vindo a exercer muito pouco a função comercial. Na indústria espanhola de moldes faltam técnicoscomerciais que tenham um bom conhecimento do sector e do impacto que as novas tecnologias de
informação e comunicação estão a ter no mesmo.
Com um mercado interno que absorvia a maior parte da produção, pouca sistematização para detectar
novos mercados geográficos ou sectoriais e consequentemente uma fraca ou nula necessidade de
aprendizagem de outros idiomas, os fabricantes espanhóis de moldes não desenvolveram a importante
função comercial, contrariamente ao que aconteceu com Portugal que, com um reduzido mercado
interno, tem vindo a exportar quase 100% da sua produção e onde se falam vários idiomas.
Com a entrada em recessão da economia espanhola e o estancamento do consumo devido à forte
retracção do consumo das famílias, o principal cliente da indústria espanhola de moldes, a indústria
automóvel, particularmente os fabricantes de veículos e seus fornecedores experimentou, durante 2009,
17
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
uma queda de -1,2% no total de registos de matrículas (com forte queda nos veículos pesados -57,9%).
No entanto, segundo dados da ANFAC - Associação Espanhola de Fabricantes de Automóveis e
Camiões (http://www.anfac.com), a reactivação da exportação de veículos (87% da produção), permitiu
às fábricas espanholas recuperar, em 2010, maiores ritmos de produção, tendo fabricado 1.913.513
veículos de turismo (1.812.688 em 2009) e 474.387 veículos industriais (357.390 em 2009).
A retracção generalizada do consumo e a importante queda da construção, atinge igualmente outros
sectores clientes da indústria de moldes, como o dos electrodomésticos. Segundo a ANFEL Associação Espanhola de Fabricantes de Electrodomésticos de Linha Branca (www.anfel.org), os
resultados consolidados do sector industrial de Electrodomésticos de linha branca para o primeiro
semestre de 2011, apresentaram uma redução acumulada de 16,3% em facturação e 13,4% em
unidades, relativamente ao mesmo período de 2010, mantendo-se baixas as expectativas de mudança
de tendência nos próximos meses.
Atendendo a que a capacidade tecnológica já não é suficiente (o investimento em I+D desceu 2% e a
inovação 3%) e que cada vez se requer maior capacidade financeira, 2010 foi também um ano difícil
para o sector da electrónica, outro dos grandes clientes da indústria de moldes, e para as TICs em
geral. Assim, segundo a AMETIC-Asociación Multisectorial de Empresas de la Electrónica, Tecnologías
de la Información y la Comunicación, Telecomunicaciones y Contenidos Digital (www.aetic.com), o
Hipersector TIC, com uma facturação de 88.211 milhões de Euros em 2010 (estagnação relativamente a
2009), apresentou igualmente um crescimento zero relativamente à produção, embora todos os sectores
que engloba tenham crescido, à excepção da Electrónica profissional (-5%), dos Serviços de
Telecomunicações (-3%) e das indústrias de Telecomunicações (0%).
Análise dos moldes para borracha ou plástico de injecção e compressão
IMPORTAÇÕES ESPANHA
(Milhares euros)
p.p. 84.80.71.00 Moldes para borracha ou plásticos para moldagem por injecção ou por compressão
% Quota
Mercado
2010
País /Ano
2006
2007
2008
2009
2010
China
13.680
1
15.036
1
24.008
2
17.382
2
15.037
1
23
Portugal
6.441
6
9.526
4
15.778
3
12.943
3
10.101
2
16
Alemanha
4.793
7
5.416
6
5.121
6
3.631
9
6.725
3
10
França
8.892
5
8.036
5
6.409
5
3.999
8
5.922
4
9
Suíça
4.490
7
3.449
8
2.172
9
4.036
7
5.100
5
8
Bélgica
9.093
3
10.160
3
7.185
4
6.669
4
4.664
6
7
Itália
8.911
4
4.426
7
4.002
7
5.325
5
4.102
7
6
Japão
13.506
2
14.577
2
31.158
1
18.360
1
3.739
8
6
Coreia do Sul
4.255
8
2.156
9
3.382
8
4.377
6
3.007
9
5
Reino Unido
1.041
1.830
10
1.517
10
842
11
928
10
1
253
655
11
2.071
10
771
11
1
Malásia
237
626
12
805
404
12
1
Singapur
208
90
598
272
Canadá
709
602
394
30
0
76.019
102.705
81.432
60.802
93
Taiwan
Subtotal
75.102
Resto
12.677
Total
87.779
0
6.326
82.345
0
5.382
108.087
0
3.776
85.208
0
4.304
65.106
0
0
7
100
18
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Algumas considerações sobre a importação de moldes espanhola:
Em 2010 os principais fornecedores de moldes de injecção foram, por ordem de importância: China,
Portugal, Alemanha, França, Suíça, Bélgica, Itália e Japão.
Tanto a importação espanhola global de moldes de injecção como a importação espanhola de moldes
procedentes de Portugal, atingiram máximos em 2008, ano de início da crise económica e financeira
mundial. Desde essa altura e até à data, tem-se vindo a registar uma tendência inversa.
No entanto, embora a importação espanhola de moldes de Portugal tenha vindo a decrescer desde
2008, relativamente ao valor total de moldes importados por Espanha, Portugal tem vindo a aumentar a
sua quota de mercado internacional. Actualmente, Portugal é o segundo fornecedor de Espanha (com
uma quota de mercado de 16%, superando 10 milhões de Euros em 2010) depois da China e bastante à
frente da Alemanha.
Em 2010, é de destacar a recuperação da exportação, para Espanha, de moldes de origem alemã,
francesa, suíça e inglesa. Por outro lado, a exportação da China e de Portugal para o mercado espanhol,
embora com menor decréscimo, continua a apresentar valores negativos.
É de destacar, também, a queda abrupta das exportações japonesas de moldes de injecção em 2010,
que superaram 18 milhões de Euros em 2009 e passaram para 3,7 milhões de Euros em 2010.
Tendências no Sector
A “deslocalização” das empresas dos sectores clientes e o aparecimento de novos países produtores,
introduziram mudanças significativas no sector dos Moldes e Matrizes.
No entanto, está-se a notar uma certa tendência no sector para devolver à Europa certos projectos que
se tinham “deslocalizado” para a China/Ásia no passado, depois de se terem deparado com algumas
dificuldades. As políticas de compra de muitas multinacionais, orientadas para a redução drástica dos
preços de aquisição das suas ferramentas, não tiveram em conta, em muitos casos, a complexidade
inerente a alguns projectos, e acabaram constatando o que é óbvio: que o que conta é o custo total do
produto durante toda a vida útil da ferramenta, incluindo manutenções, reparações, etc. Por esta razão,
certos moldes de elevada complexidade tecnológica voltam a desenvolver-se e, inclusive, a fabricar-se
na Europa, aproveitando também melhor as sinergias da proximidade cliente-fornecedor.
A nível de tendências de fabrico, em Espanha fazem-se referências constantes a temas como a microinjecção, os compósitos e as ligas ligeiras, como tecnologias com futuro. Também nos últimos anos a
presença de bio-materiais no mercado, bem como o uso da palavra “bio-material” tem vindo a aumentar
exponencialmente. A nível de tecnologias, as linhas de trabalho estão centradas nas tecnologias de
sinterização metálica directa por laser e de deformação incremental de chapa metálica sem matriz.
19
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Através das instituições
sectoriais espanholas
(ASCAMM -
www.ascamm.com
/ FEAMM -
www.feamm.com, etc.), Espanha desenvolveu nos últimos anos alguns projectos de I+D+i, como os
projectos “Euro Tooling 21” e “Sonoplast” ou “eMold”, para dotar os moldes de injecção de “inteligência”
e capacidade de interacção com os utilizadores, “Hipermoulding” para reduzir o custo das peças
injectadas da ordem dos 20% mediante o uso de tecnologias avançadas de “rapid manufacturing” nos
moldes, “Custom IMD” para o design, fabrico e entrega de implantes personalizados em 48 horas, ou
“Fabio” para o desenvolvimento de novos bio-materiais para próteses e implantes.
Deixando de lado o impacto da actual crise económica e as mudanças estruturais que possam surgir, a
tendência para que a produção em grande volume se afaste progressivamente da Europa em favor de
países de menor custo, em particular os asiáticos, parece inexorável. Resta-nos, pois, apostar
decididamente na inovação orientada para a criação de valor acrescentado, e para a obtenção de
resultados mediante tecnologia própria, serviço, gestão, marca, inovação aberta e transectorial, etc.
Algumas áreas produtivas que requerem o fabrico de séries curtas e/ou personalizadas, podem continuar
a ser rentáveis na Europa do Sul e em outros países ocidentais, podendo as novas tecnologias de “rapid
manufacturing” ter aqui um papel chave. Por outro lado, da mesma maneira que há sectores em declínio,
há outros que crescerão inevitavelmente como os relacionados com a saúde, devido ao progressivo
envelhecimento da população, e que também necessitam estar perto do utilizador/cliente final, pelo que
o risco de “deslocalização” é muito menor.
Promoção espanhola do sector
A participação espanhola em feiras do sector em Espanha, traduz-se basicamente na presença nas
feiras “Moldexpo” em Saragoça e Equiplast em Barcelona. A promoção internacional do sector espanhol
de moldes baseia-se na presença em feiras internacionais, muitas vezes com o apoio do ICEX (Instituto
Español de Comercio Exterior), e na organização de eventos e missões comerciais. Organizações como
a FEAMM (Federación Española de Asociaciones Empresariales de Moldistas y Matriceros) ou ASCAMM
(Associació Catalana d’Empreses de Motlles i Matrius) entre outras, são as responsáveis pelas mesmas.
Assim, organizam acções de promoção em países como México, coincidindo com “Plastimagen”, na
“NPE” tradicionalmente celebrada em Chicago, em “Fakuma” na Alemanha, missões em mercados como
China, Turquia (“BursaMould” ou “Automechanika), ou Marrocos.
1.1.7. Sector das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
Sector estratégico da economia espanhola, o mercado espanhol das Tecnologias de Informação, após
as importantes quedas registadas durante 2009, voltou a crescer em 2010, incrementando o seu volume
de negócio em 1,9% relativamente aos resultados obtidos em 2009, graças à recuperação do mercado
nacional de produtos, sobretudo a venda de equipamentos e, muito especialmente, aos projectos
realizados além fronteiras, com taxas muito positivas de evolução das exportações, como tem vindo a
acontecer nos últimos 5 anos.
20
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Assim, a facturação global alcançada em finais de 2010 aumentou 3,6% relativamente a 2009, taxa de
crescimento que augura o retorno a um ciclo de recuperação, cuja vitalidade continua a ser, por agora, a
principal dúvida.
Esta taxa de crescimento foi ligeiramente superior à da UE (2,7%), tal como o avanço do sector TIC foi
superior também ao registado pela economia espanhola.
Por outro lado, as vendas ao exterior, unidas a um crescimento das importações em consonância com a
evolução do mercado de produtos, deram lugar a um ligeiro aumento do défice da balança comercial
(+5,7% face ao registado em 2009).
Evolução 2006 / 2010 do comércio externo de TI (em Milhões de Euros)
∆%
2006
2007
2008
2009
2010
Exportações
1.076,29
1.201,35
1.256,53
1.340,28
1.489,98
11,2%
Importações
6.067,48
6.319,75
5.811,84
4.903,85
5.258,28
7,2%
-4.991,19
-5.118,40
-4.555,31
-3.563,57
-3.768,30
5,7%
Balança comercial
Fonte:
AMETIC
A forte dependência do mercado interno relativamente ao abastecimento de produtos, condicionou
tremendamente a evolução das importações e do próprio sector das TI, gerando um maior ou menor
défice da sua balança comercial. Assim, em 2007, o défice alcançou o valor máximo de 5.118,40 milhões
de Euros. O abrandamento da actividade económica do país por um lado, e o crescimento das
exportações por outro, contribuíram para a diminuição do défice para 3.768,30 milhões de Euros em
2010.
Os valores alcançados no mercado interno devem o seu saldo final ao excelente resultado na venda de
equipamentos, especialmente computadores Desktop e novos dispositivos móveis (mini-portáteis e
tablets), a um avanço moderado na comercialização de programas e ao comportamento estável dos
serviços TI, que praticamente repetiram os valores do ano anterior (2009), sendo a consultoria e o
desenvolvimento de aplicações, os segmentos mais prejudicados em 2010.
A única área que viu reduzido o tamanho do seu mercado relativamente a 2009, foi a dos sistemas de
armazenamento (-13,4%), afectada fundamentalmente pela evolução dos preços, mais que pela procura
de armazenamento por parte dos utilizadores.
O mercado de software registou um crescimento de 0,8%, o que permitiu alcançar 1.824 milhões de
Euros. O software de sistemas, que representa quase 60% desta área, cresceu a um ritmo de 2%. As
ferramentas de desenvolvimento, pelo contrário, decresceram 15,2%, enquanto as aplicações cresceram
a um ritmo de 5%. O software multimédia viu-se prejudicado por um comportamento muito moderado das
compras realizadas pelo sector doméstico, o que supõe uma redução de 6% na sua facturação.
21
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
O software de bases de dados foi uma das categorias com um comportamento mais positivo,
melhorando 6,2% a facturação em 2010, relativamente a 2009.
Por outro lado, as aplicações verticais obtiveram o melhor resultado de todas as categorias analisadas,
com um crescimento de 13,5% em 2010 (relativamente a 2009). Este software, que no passado estava
orientado para a gestão de soluções de nicho, recuperou o vigor que tem vindo a mostrar ao longo dos
últimos anos, graças à renovação das tradicionais aplicações horizontais como as soluções ERP, CRM,
HRM, etc., que entretanto evoluíram através do enfoque sectorial das suas funcionalidades,
convertendo-se em soluções de carácter vertical, de grande aceitação por parte do mercado.
Mercado interno líquido de software (em Milhões de Euros)
2009
∆%
2010
Sistemas operativos
410,21
410,90
0,2%
Ferramentas de desenvolvimento
194,66
165,09
–15,2%
Software de bases de dados
280,22
297,51
6,2%
Software de comunicações
297,09
297,92
0,3%
Aplicações verticais
207,34
235,35
13,5%
Aplicações horizontais
359,97
360,33
0,1%
60,98
57,31
–6,0%
1.810,47
1.824,41
0,8%
Software multimédia
Total software
Fonte:
AMETIC
Numa perspectiva geral, os resultados obtidos pelo sector em termos de mercado, são fruto de uma
importante recuperação do segmento de equipamentos, promovida fundamentalmente pela necessidade
de renovação do parque de computadores utilizado no âmbito empresarial, o que permitiu que os
resultados associados ao mercado de programas de computador crescesse ligeiramente, graças ao
software de infra-estrutura e à venda de soluções verticais. Com estas prioridades, o início de novos
projectos e serviços associados viram-se relegados para um segundo plano, o que supôs que a
actividade neste segmento se tenha reduzido ligeiramente relativamente a 2009 (-0,2%)
Evolução do mercado interno bruto e líquido por áreas de actividade em 2010 (em Milhões de Euros)
Mercado Interno bruto
2009
2010
∆%
Mercado Interno líquido
2009
2010
∆%
Hardware (fabrico e venda equip.
informáticos)
4.949,65
5.305,04
7,2%
3.267,40
3.503,96
7,2%
Software (desenvolvimento e
comercialização aplicações standard)
2.901,79
3.004,22
3,5%
1.810,47
1.824,41
0,8%
Serviços TI (Consultoria, desenv.
aplicações à medida, suporte e outsourcing)
8.276,36
8.297,88
0,3%
7.337,64
7.324,43
-0,2%
16.127,80
16.607,14
3,0%
12.415,51
12.652,80
1,9%
Total
Fonte:
AMETIC
22
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Dados por Comunidades Autónomas:
Em termos gerais não se produziram grandes variações na concentração de sedes de empresas por
Comunidades Autónomas, embora seja de destacar:
- a redução de peso relativo registado pelo País Basco, que passou de 7,4% em 2009 para 6,5% em
2010.
- em sentido inverso encontramos a Comunidade de Madrid, que passou de 26,4% em 2009 para 27%
em 2010.
- as restantes regiões analisadas pela AMETIC, variaram 1 ou 2 décimas (para cima ou para baixo) as
suas contribuições relativamente ao ano anterior.
- as Comunidades de Madrid e Catalunha representam conjuntamente 47,6% do número total de
sociedades, sendo as que geram à sua volta um maior volume de negócio.
É possível observar que existe um enorme paralelismo entre a concentração de empresas e o tamanho
dos mercados abastecidos, actuando como segundo parâmetro a extensão geográfica da região e a sua
densidade populacional.
Assim, é possível identificar 3 grandes áreas de concentração de empresas: Madrid e Catalunha (pelo
seu volume de negócio) e Andaluzia (pela sua extensão).
HIPERSECTOR TIC
O Hipersector TIC que, de forma agregada, facturou 88.211 milhões de Euros em 2010, representando
um crescimento nulo relativamente a 2009, inclui as tecnologias de informação, os serviços de
telecomunicações, as indústrias de telecomunicações, a electrónica de consumo, a electrónica
profissional, os componentes electrónicos, os conteúdos digitais e outros segmentos, compostos pela
electrónica do automóvel, a manutenção e comercialização de equipamentos electrónicos e
componentes e ainda as consolas de jogos vídeo.
A maioria dos sectores que compõem este Hipersector mantiveram a sua facturação relativamente a
2009, ano em que, pela primeira vez, este reduziu a sua actividade económica. A maior redução
registou-se nos Serviços de Telecomunicações (-3%), enquanto que o maior aumento se verificou nas
outras actividades electrónicas, fundamentalmente relacionadas com o fabrico de automóveis e o
aumento do equipamento electrónico (11%) e os conteúdos digitais (7%).
Comportamento dos sectores:
- Os Serviços de Telecomunicações (-3%) e a Electrónica Profissional (-5%), registaram uma descida
significativa nos respectivos volumes de negócio.
23
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
- As Tecnologias de Informação (Hardware, Software, Serviços TI) cresceram 3% relativamente a 2009,
embora com um avanço moderado em termos de procura interna e um maior dinamismo das
exportações (+11%).
- As Indústrias de Telecomunicações apresentaram uma estagnação da sua facturação como
consequência da atonia nos investimentos, embora a procura tivesse caído por não ter havido uma
melhoria da rede de ADSL, no sentido de evitar problemas de saturação.
- A facturação da Electrónica de Consumo aumentou 1%, devido principalmente ao excelente ano para a
venda de receptores TVC, devido ao “apagão analógico” e ao Mundial de Futebol. A venda de câmaras
digitais aumentou ligeiramente e as de e-book ficaram aquém das previsões.
- Os Componentes Electrónicos aumentaram 3% a sua facturação, devido ao incremento da procura de
semicondutores, graças ao ligeiro crescimento do fabrico de automóveis nos mercados externos. Pelo
contrário, baixou a procura de cabos de telecomunicações pela escassez de investimento, bem como de
sistemas de recepção e distribuição de sinais de rádio e televisão (antenas colectivas) devido à
adaptação à TDT (televisão digital terrestre).
- A facturação de Electrónica Profissional sofreu um decréscimo de 5% relativamente a 2009, castigado
pela forte redução dos investimentos em 2010. Unicamente a Electrónica de Defesa se manteve e se
mantém devido à participação em projectos europeus.
- Os Conteúdos Digitais facturaram em 2010 +4% relativamente a 2009, aumento liderado pelo
comportamento do sector audiovisual. Outros factores que contribuíram para este aumento foram a
publicidade na Internet e os conteúdos para a educação e para o e-book. As exportações aumentaram
com maior relevância no sector das publicações digitais, que substituíram as de cinema e vídeo.
Volume de Negócios do Hipersector TIC espanhol (em Milhões de Euros)
2009
Tecnologias de informação
∆ 2010/2009%
2010
16.128
16.607
3%
Indústrias de telecomunicações
4.098
4.096
0%
Serviços de telecomunicações
42.713
41.447
-3%
Electrónica profissional
2.108
2.004
-5%
Electrónica de consumo
3.899
3.938
1%
Componentes electrónicos
2.343
2.408
3%
Outros electrónica
7.669
8.081
5%
Conteúdos digitais
9.265
9.630
4%
88.222
88.211
0%
Total mercado Hipersector TIC
Fonte:
AMETIC
24
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
No que diz respeito às exportações, cabe destacar um aumento significativo de 6%, sendo que o sector
que obteve pior comportamento foi o da Electrónica de Consumo (-1%), enquanto que os restantes
aumentaram a sua facturação na exportação, com especial destaque nos Componentes Electrónicos
(12%) e nas Tecnologias de Informação (11%).
Por outro lado as importações cresceram 1%, sendo os sectores da Electrónica Profissional e dos
Conteúdos Digitais os que mais diminuíram (-5%), enquanto os Componentes Electrónicos (+8%) e as
Tecnologias de Informação (+7%), foram os que protagonizaram as maiores subidas.
Em 2011, a maioria dos especialistas considera a mobilidade, a virtualização, o cloud computing e a
segurança, como as principais tendências que continuarão a marcar o desenvolvimento do mercado das
TI. Num cenário em profunda alteração, como o que se tem vivido nos últimos anos, e após o importante
processo de reestruturação a que tem sido submetido o canal de distribuição, ao longo dos últimos três
anos, os diferentes fornecedores de tecnologia reclamam aos distribuidores orientar o seu futuro no
sentido da especialização.
1.1.8 Sector das Energias Renováveis
Espanha é, hoje em dia, o primeiro país da Europa e o segundo do mundo em potência solar
termoeléctrica instalada, o segundo da Europa e o quarto do mundo em eólica, o segundo em
fotovoltaica, tanto na Europa como no mundo, e o terceiro país da Europa em energia mini-hidráulica.
Segundo dados da REE (Red Eléctrica Española), em 2010 teve lugar uma clara procura de energia
eléctrica, que aumentou 2,9% após o brusco decréscimo ocorrido em 2009. As fontes limpas produziram
32,3% da energia eléctrica total, e superaram o objectivo fixado no "Plan de Energías Renovables 20052010”.
Energia eólica
A energia eólica em Espanha, com uma potência instalada de 20.676 MW em finais de 2010, foi a
segunda tecnologia com mais potência instalada no sistema eléctrico espanhol (a seguir à de ciclo
combinado, com 26.844 MW), em 2010, e a primeira em Março de 2011, tendo produzido 42.702 GWh
(segundo o “Barómetro Eurobserv’ER” superou a Alemanha -36.500 GWh- como primeiro produtor
europeu de energia eólica, embora a Alemanha mantenha o primeiro lugar da Europa em potência
instalada). Este sector, onde trabalham mais de 35.000 pessoas, exporta tecnologia por mais de 2.000
milhões de Euros/ano, investe em I+D mais de 150.676 milhões de Euros anuais e contribuiu, directa e
indirectamente, com 3.207 milhões de Euros para o PIB espanhol em 2010, o que já representa 0,34%.
Em 2010, a cobertura da eólica atingiu 16,6% da procura eléctrica peninsular, e em 2020 poderia atingir
cerca de 25% dessa procura. A energia eólica poderia abastecer o consumo de electricidade de 60,6%
dos lares espanhóis.
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A produção eólica alcançou 42.702 GWh em 2010.
Potência instalada por Comunidades Autónomas 2009-2010
Fonte:
AEE (Asociación Empresarial Eólica)
Repartição da potência instalada, por Promotores
Fonte:
AEE (Asociación Empresarial Eólica)
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Repartição da potência instalada por Fabricantes
Fonte:
AEE (Asociación Empresarial Eólica)
Actualmente está-se a presenciar uma mudança no modelo de gestão dentro da exploração de parques
eólicos, sendo necessário um modelo mais flexível, capaz de integrar todas as partes e que responda,
da maneira mais eficiente, às necessidades das companhias exploradoras. Perante este cenário, cada
vez têm mais protagonismo as empresas de serviços, com um alto conhecimento tecnológico e capazes
de integrar a visão de negócio do cliente.
Igualmente, embora os parques marinhos (offshore) tenham maior capacidade para produzir
electricidade, já que o recurso eólico no mar é entre 30 e 50% superior ao de terra, apresentam uma
maior dificuldade tecnológica para a sua construção e manutenção.
A indústria eólica espanhola criou um tecido empresarial competitivo, com uma forte presença
internacional (actuam em 30 países), contando Espanha com mais de 700 empresas relacionados com o
sector, das quais 19 são fábricas de montagem de aerogeradores, 270 fabricam componentes, tanto com
tecnologia espanhola (Gamesa Eólica, Acciona Windpower e Alstom-Ecotècnia), como com tecnologia
estrangeira (Vestas, Suzlon, Enercon,…), 140 são promotores de parques eólicos (Iberdrola Renovables
e Acciona Energía, entre outros) e 277 são empresas de serviços de operação e manutenção, que se
têm desenvolvido paralelamente ao crescimento da energia eólica.
Instabilidade reguladora
O sector eólico é um sector regulado, razão pela qual as normas reguladoras são fundamentais para a
sua evolução. O enquadramento das normas reguladoras do sector inclui, como pilar fundamental, a
“Ley del Sector Eléctrico de 1997” e a sua normativa de desenvolvimento.
Em Espanha funciona o sistema de “primas” (feed in tariff), que não são quantidades fixas (cobra-se
mais “prima” quanto mais baixos estiverem os preços da energia e vice-versa), e que consiste em que as
empresas cedam electricidade ao sistema e recebam, em troca, uma tarifa fixa durante um período de
tempo determinado. Actualmente, o sistema retributivo rege-se pelo Real-Decreto 661/2007.
As “primas” são um custo mais do sistema, pelo que só aumenta o deficit se as previsões do Governo
forem inferiores ao seu custo real. Isto foi o que aconteceu em 2010.
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E embora a energia eólica tenha um impacto muito pequeno no défice (cerca de 5% do total), a
instabilidade reguladora e a crise financeira deste último ano têm vindo a provocar uma paragem
industrial. Nos próximos meses, um novo Real-Decreto estabelecerá a retribuição da actividade eólica
(propõe um sistema de “primas” variáveis no tempo) que, se chegar a ser aprovado o que acaba de ser
proposto à Comissão Nacional de Energia, provocará, segundo a AEE-Asociación Empresarial Eólica, a
perda de milhares de empregos, a deslocalização de fábricas, a destruição do tecido industrial e a perda
de confiança de investidores espanhóis e estrangeiros já que, com as condições económicas propostas,
não se poderá garantir a rentabilidade razoável dos projectos, e a instalação de novos parques será
inviável.
Energia Solar Fotovoltaica
2010 foi, para o sector fotovoltaico, um ano de insegurança jurídica, com a aprovação, dentro das
medidas económicas drásticas, de normas retroactivas, devido à urgência de liquidar o défice de tarifa
ou o excesso de capacidade térmica de gás, tendo-se definido o “mix energético” espanhol até 2020,
com importantes decisões como por exemplo o decréscimo da contribuição das energias renováveis
(particularmente das tecnologias solares), sobre as previsões incluídas no Plan de Acción Nacional de
Energías Renovables (PANER).
Segundo o Ministerio de Industria, Turismo y Comercio (MITyC), durante 2010 adjudicaram-se 477,28
MW (no total inscreveram-se 3.594 instalações) repartidos do seguinte modo: 25,01 MW para o
segmento de mercado de pequenos telhados (1.602), 244,27 MW para telhados de grande tamanho
(1.701), e 208 MW para instalações de solo (291).
O mercado fotovoltaico espanhol, após um ano de transição, mudou a sua orientação, e centra-se agora
maioritariamente nas instalações incorporadas à edificação, em detrimento das instalações de solo.
Em 2010, Andaluzia e Múrcia, com 68,465 MW, foram as Comunidades que maior potência inscreveram
no RPR (Registro de Preasignaciones de Retribución - Real Decreto-Ley 6/2009, de 30 de Abril),
superando Castilla y León, em primeira posição em 2009. Nos últimos lugares estão as comunidades
com menos radiação solar, p.e. Cantábria e, sem justificação, as Ilhas Baleares.
Ao contrário de 2009, onde as instalações incorporadas à edificação eram maioritárias apenas em
Madrid, Catalunha e Valência, em 2010 as instalações nos telhados predominam em todas as
Comunidades, excepto em Castilla y León, Estremadura e Galiza, embora esta última tenha
experimentado um importante crescimento relativamente ao ano anterior.
Interessante destacar que no mercado de instalações incorporadas à edificação, entre 20 kW e 2 MW,
correspondente a grandes telhados industriais, há quatro Comunidades Autónomas claramente
destacadas das restantes: Valência, Múrcia, Catalunha e Andaluzia.
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Segundo o PANER (Plan de Acción Nacional de Energías Renovables) 2011-2020, estima-se que a
contribuição fotovoltaica em 2020 seja de 14.316 GWh, produzidos com uma potência acumulada total
de 8.367 MW. Assim, entre 2011 e 2020 estima-se um incremento de potência de 4.346 MW,
correspondendo 67% dessa potência a instalações fixas em edificações e 33% a instalações no solo,
prevendo-se uma deslocação progressiva da localização das instalações para zonas de maior radiação
solar.
Espanha é hoje o segundo país da Europa em potência instalada e o primeiro do mundo em potência por
habitante, com 75,2 W per cápita.
Dentro das energias renováveis, a fotovoltaica reivindica ser a forma mais simples e limpa de produzir
electricidade, tendo vindo a baixar custos à medida que aumenta o seu volume, esperando-se que em
poucos anos a produção de electricidade através de painéis nos telhados, consiga um preço igual ao das
actuais empresas de comercialização. Actualmente, a finalidade principal do mercado solar não é
produzir electricidade, mas sim reduzir custos.
O sector fotovoltaico espanhol conta com empresas que exploram toda a cadeia de valor desta indústria,
desde o fabrico de células à promoção de parques, dentro e fora das fronteiras espanholas.
Segundo a ASIF-Asociación de la Industria Fotovoltaica, em 2010 foram identificadas 56 empresas
fabricantes de equipamentos fotovoltaicos com fábrica em Espanha, de produtos como o silício de grau
solar ou UMG, discos/lâminas (obleas), células de silício cristalino (produzindo um total de 100 MW),
módulos (699 MW), a maior parte do tipo silício cristalino (91% do total), inversores (1.300 MW) e
seguidores a 1 ou 2 eixos (166 MW). Este número representa um aumento de quase 10% relativamente
ao número de fabricantes identificado em 2009.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
As particularidades da tecnologia (vanguarda do conhecimento) e do mercado (ainda muito jovem e
global, embora muito concentrado), exigem abordar o seu desenvolvimento e expansão com uma
regulamentação flexível e com capacidade de adaptação ao enquadramento em alteração, mas sem que
com isso se “afugente” o investimento, que necessita estabilidade a longo prazo, dado que hoje a
energia fotovoltaica já pode ser um importante pilar do “mix” energético.
No entanto, em 2010, tentando racionalizar um sector descontrolado dentro de uma brutal crise
económica, o governo espanhol, através do Real Decreto-Ley 14/2010 de 23 de Dezembro, procedeu a
um “corte retroactivo” da retribuição de 30%, que as Associações do sector (ASIF, AEF e UNEF) têm
vindo a contestar energicamente.
Porém, o PANER prevê que, a partir de 2015, haja uma crescente penetração da fotovoltaica em
sistemas para auto-consumo de energia ligados à rede de distribuição e associados a fornecimentos
existentes, ao mesmo tempo que se vá alcançando a paridade entre o custo da produção solar e o preço
da electricidade para o consumidor.
Energia Solar Térmica
Apesar dos bons augúrios que transmitiam normas como a do “CTE-Código Técnico de la Edificación”,
que obrigava as novas construções e as reabilitações a instalar energia solar térmica (colectores solares)
para o aquecimento de água e climatização, as expectativas do sector da energia solar térmica não se
estão a cumprir, já que a crise económica afectou, de maneira excepcional, o sector imobiliário.
Indubitavelmente, a diminuição da construção será uma dificuldade, mas o campo de trabalho é amplo.
Os edifícios de vivendas existentes, os grandes edifícios de serviços (p.e. hotéis), aplicações industriais
específicas, etc, serão objecto de desenvolvimento prioritário da energia solar térmica nos próximos anos
em Espanha. Para acelerar a introdução desta tecnologia, segundo a ASIT - Asociación Solar de la
Industria Térmica, haverá que desenhar novos sistemas de apoio adequados a todas as situações
(estabilidade reguladora), e as ajudas deveriam incentivar a eficiência ou energia útil gerada, o que
provocaria, por sua vez, que o sector investisse na eficiência dos seus produtos para baixar custos e ser
mais competitivos, fomentando a eficiência das instalações para garantir o seu funcionamento por muitos
anos.
Energia Solar Termoeléctrica
Dos 307 MW solares termoeléctricos que, na última década, se construíram no mundo, ¾ partes (232
MW) estão em Espanha. E há mais 1.346 MW em construção (400 MW em 2010) e 843 MW em
promoção avançada, o que permitirá que, em 2013, se atinja em Espanha uma potência instalada de
mais de 2.400 MW.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Com vários reptos tecnológicos pela frente, a indústria solar termoeléctrica tem conseguido melhoras no
design do campo solar e na industrialização, investigando novas formas de armazenamento térmico,
melhorando os tubos absorvedores (elemento chave das instalações cilindro parabólicas), melhorando
os espelhos ou reduzindo as necessidades de água para refrigeração, a fim de lograr que a electricidade
termosolar seja cada vez mais competitiva.
Nos anos 80 começou a operar a Plataforma Solar de Almería (PSA) e, em 2006, a PS10 (Sanlúcar la
Mayor, Sevilha), a primeira fábrica comercial de tecnologia torre no mundo, começa a injectar
electricidade na rede. A partir de então, a energia solar termoeléctrica não tem parado de crescer.
Actualmente podem ver-se a funcionar em Espanha as 4 tecnologias de centrais eléctricas termo
solares. As mais desenvolvidas comercialmente são as de colectores cilindro parabólico (CCP),
responsáveis por 93% dos 2.500 MV que entrarão em funcionamento em 2013. As instalações de torre
central supõem cerca de 3%, tal como as iniciativas de discos parabólicos, normalmente associadas a
motor Stirling. As centrais de colectores lineares de Fresnel, superam escassamente 1%.
Biomassa / Biogás / Pelets
Em Espanha, a biomassa representa 5,21% da energia total consumida, proporcionando 4,63 Mtoe
(sobre um total de 88,9 Mtep,) para usos finais térmicos, dos quais o sector doméstico utiliza
praticamente metade, encontrando-se o restante repartido em usos industriais, entre os quais se
destacam as indústrias de papel, madeira / móveis e alimentação.
Segundo a BIOPLAT - Plataforma Tecnológica Española de la Biomasa, o sector da biomassa encontra
uma importante oportunidade de desenvolvimento e consolidação nas aplicações térmicas, convertendose o “pellet” no principal combustível de caldeiras de biomassa, utilizadas em edifícios públicos,
instalações industriais e também no âmbito doméstico. Embora haja um maior número de instalações de
âmbito doméstico, é na indústria que se encontram mais kW instalados, devido ao uso de caldeiras de
maior potência.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Embora sendo custosa a sua instalação e escasso o apoio da Administração, os investidores estão a
aperceber-se de que as instalações de biomassa de produção eléctrica, além de poderem vender
aquecimento e água quente sanitária, também podem vender vapor para uso industrial (cogeração), o
que torna o investimento mais atractivo porque melhora o retorno do investimento.
Segundo o “Observatorio Nacional de Calderas de Biomasa” (criado pela AVEBIOM-Asociación
Española de Valorización Energética de la Biomasa) em 2009 existiam 2.350 registos com uma potência
acumulada de 573.000 kW em toda a Espanha, calculando que há 2.500.000 kWt instalados de caldeiras
de biomassa para uso térmico, face a 500.000 kWe para uso eléctrico, prevendo-se a instalação de
325.000 caldeiras de biomassa até 2020.
As aplicações térmicas da biomassa, cujas instalações estão já incluídas no “RITE - Reglamento de
Instalaciones Térmicas en los Edificios”, contam com fornecedores de equipamentos, especialmente de
pequena e média potência, que comercializam tecnologias e potências com uma presença relevante,
sobretudo nas exportações para o continente americano.
Um elemento chave para continuar a avançar com a presença da biomassa em aplicações térmicas, é a
actuação das sociedades de serviços energéticos, as EMSEs-Empresas de Servicios Energéticos
(ESCOs-Energy Service Companies), que mediante projectos de poupança energética e económica, se
encarregam da modernização de equipamentos e instalações, assegurando design e manutenção e
garantindo o fornecimento da biomassa ao usuário, fazendo-o de uma maneira competitiva relativamente
a outras opções, de um ponto de vista económico.
As normativas retributivas que poderiam permitir um crescimento substancial das aplicações eléctricas
da biomassa, o Real-Decreto 661/2007, praticamente coincidiu com a crise financeira. No entanto,
espera-se que novos projectos possam mobilizar novos potenciais de recursos nos próximos anos.
As vantagens de facilidades quantitativas de abastecimento, elevado rendimento energético e óptima
adaptação à cogeração e níveis de investimento relativamente baixos (e portanto acessíveis a muitos
investidores), permitem prever um futuro promissor.
Quando à produção de biogás (“biodigestão” de resíduos sólidos urbanos e industriais, resíduos de gado
e agrícolas, lodos de depuradoras de águas residuais ou da gaseificação de lixeiras), dado que necessita
equipamento para fermentar a biomassa até se converter em gás bio, as suas instalações necessitam de
um maior investimento pelo que, embora estejam mais vinculadas à administração (lixeiras municipais),
é mais difícil que prospere na actual situação de crise se não se modificar a legislação. Sobretudo
quando, segundo a AEBIG-Asociación Española de Biogas, o “Biogas digestor” (embora sendo o biogás
um potencial de produção de energia eléctrica ou térmica), é uma energia renovável ainda por
desenvolver em Espanha, já que no PER 2005-2010 foi considerada como uma solução meio ambiental
e não uma fonte de energia renovável.
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Biocombustíveis
Com uma excessiva capacidade de produção face à procura real e dizimados pela importação de
biodiesel (duplamente subvencionado) desde os Estados Unidos, os biocombustíveis foram acusados da
desflorestação, do aumento dos preços dos alimentos e até mesmo de fome, semeando ainda a dúvida
de se serão também radioactivos. Desacreditados como contribuintes líquidos para a luta contra as
alterações climáticas, a sua produção cresceu até finais de 2008, enquanto a cotação do milho, do trigo,
da soja e do óleo de palma baixou.
Motivos de reflexão são agora, não só o desenvolvimento dos biocombustíveis de segunda geração, que
apresentam actualmente uma evidente falta de I+D em matéria de microalgas, resíduos e plantações
energéticas, mas também como serão os futuros automóveis eléctricos.
Energia Geotérmica
A Geotérmica é uma energia renovável consolidada desde há mais de meio século em zonas vulcânicas,
com potencial para crescer exponencialmente mediante a nova tecnologia de Geotermia Estimulada
(EGS-Enhaced Geothermal Systems) que, segundo a GEOPLAT-Plataforma Tecnológica Española de
Geotermia, cria grandes expectativas de desenvolvimento de alta entalpia (uso da geotermia de alta
temperatura para gerar electricidade), principalmente nas Canárias.
Igualmente, desde 2008, com a tecnologia adequada (basicamente, bomba de calor geotérmica),
podem-se climatizar eficazmente os edifícios utilizando energia geotérmica, principalmente através de
uma das suas opções, a climatização (calor e frio).
Energias do Mar
Dentro das Energias do Mar existem tecnologias claramente diferenciadas, em função do
aproveitamento energético:
- Energia das marés ou Mareomotriz (aproveitamento energético das marés),
- Energia das Correntes (aproveitamento da energia cinética das correntes marinhas),
- Energia Maremotérmica (aproveitamento da energia térmica do mar, baseada nas diferenças de
temperatura superfície/águas profundas),
- Energia das Ondas ou Undimotriz (aproveitamento energético produzido pelo movimento das ondas), a
fonte mais prometedora do grupo das denominadas emergentes, e onde mais se está a apostar, já que
os avanços tecnológicos têm resolvido os problemas iniciais de deterioração das infra-estruturas
marinhas, e o armazenamento em forma de hidrogénio está a resolver os elevados custos da construção
de extensas linhas de evacuação da electricidade quando as instalações estão muito longe da costa. As
costas da Galiza, Cantábria e Canárias, são as de maior potencial para o aproveitamento da energia das
ondas.
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Espanha possui um importante potencial energético marinho, e este recurso será incluído como uma
nova tecnologia no novo PER - 2011-2020 (Plan de Energías Renovables).
Em 2009, a iniciativa tecnológica Ocean Lider, Energias Renovables, promovida por um consórcio de 20
empresas (sectores energético e marítimo) e 25 centros de investigação e universidades, foi
seleccionada para ser financiada pelo Subprograma Cenit-E (Plan Nacional de Investigación Científica).
Trata-se de um projecto de I+D liderado por Iberdrola Ingeniería y Construcción, de cooperação públicoprivada, para desenvolver e implantar instalações integradas de aproveitamento integral e eficiente de
energias renováveis oceânicas, a grande escala e de âmbito mundial.
No âmbito do Projecto Oceantec, Iberdrola e Tecnalia Corporación Tecnológica estão a desenvolver
(2010), um protótipo para produzir energia das ondas na costa de Guipúzkoa, na localidade de Pasajes.
A iniciativa conta com um orçamento de 4,5 milhões de Euros e prevê pôr em funcionamento um
dispositivo de captação de energia das ondas de alto rendimento a custos competitivos.
Desde o passado mês de Março (2011), Santander alberga uma infra-estrutura científico-técnica única, o
Cantabria Coastal and Ocean Basin (CCOB), uma referência mundial em I+D+i marinho, que atrairá para
Espanha investigadores de todo o mundo e que permitirá, entre outras aplicações, aprofundar as
inúmeras possibilidades das energias renováveis offshore.
Hidrogénio
Espanha aprovou durante a II Assembleia Geral da Plataforma Tecnológica Espanhola do Hidrogénio e
Pilhas de Combustível, em Janeiro de 2008, e para executar durante os próximos 15 anos em Portollano
(Ciudad Real), um Centro Nacional de Experimentação em Tecnologias do Hidrogénio e Pilhas de
Combustível, promovido conjuntamente pelo Ministério de Educação e Ciência e a Junta de Castilla-La
Mancha, que disporá de um orçamento estimado em 130 milhões de Euros.
Em Março de 2008, a “Plataforma Solar de Almería” (SPA) inaugurou as instalações piloto “Hydrosol II”,
para aproveitar a radiação solar concentrada para produzir hidrogénio a partir da água, o mais
importante objectivo a longo prazo da produção de hidrogénio.
1.1.19 Sector Automóvel
Componentes Automóvel
Espanha possui uma das indústrias de fabricação de componentes para automóveis mais fortes do
mundo. O tecido empresarial do sector é composto por aproximadamente 1.000 empresas.
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O sector de equipamentos, componentes e acessórios de automóveis engloba uma vasta gama de
produtos complementares à construção de automóveis: equipamentos de motor e transmissão,
equipamentos eléctricos e electrónicos, produção de chassis, carroçaria, pneumáticos e jantes,
acessórios de borracha, rolamentos, plásticos e químicos, outros equipamentos de comprovação e
verificação, ferramentas e utilitários, entre outros.
Este sector é bastante importante para a economia espanhola. Um estudo realizado pela SERNAUTO e
PricewaterhouseCoopers, refere que Espanha começa a ser considerado um país caro, com as
vantagens de produção a diminuírem. São cada vez maiores as necessidades financeiras para realizar
I&D. Foram identificadas várias ameaças, no âmbito externo, ao sector em Espanha: a entrada de países
do Leste na UE, bem como a entrada de novos países concorrentes com custos mais baixos (como a
China, Índia ou Rússia); a falta de recursos financeiros; o facto das empresas espanholas serem
demasiado pequenas; grande percentagem de exportações e distância dos principais clientes; para além
do custo da mão-de-obra ser superior à dos novos países concorrentes; a saída de multinacionais
estabelecidas em Espanha há vários anos; e ainda um maior interesse da Alemanha (o principal
mercado do sector automóvel) pelos preços de produção, do que pela qualidade dos produtos, o que
implicou uma maior aproximação dos novos países concorrentes.
A balança comercial de Espanha relativamente a Portugal neste sector evidencia um claro saldo positivo.
No entanto, como podemos constatar no gráfico seguinte, este tem vindo a diminuir progressivamente
nos últimos cinco anos. Em 2010, as exportações portuguesas para Espanha de componentes e
acessórios de automóveis aumentaram 24,8% (segundo dados Icex), enquanto as exportações
espanholas para Portugal cresceram apenas 15,7%, traduzindo-se numa diminuição do saldo da balança
comercial do sector de 11,3%. No período analisado (2006-2010), verificou-se uma diminuição de 27,4%
35
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
das exportações espanholas para o nosso país, e um aumento das exportações portuguesas para
Espanha em 20,8%, e consequentemente um decréscimo do saldo da balança comercial de 72,8%.
Números estes que evidenciam um maior equilíbrio na actual balança comercial.
Balança Comercial entre Espanha e Portugal do sector equipamentos e componentes para automóvel
(Valor em Milhares de Euros)
Fonte:
ICEX
Segundo dados publicados por SERNAUTO-Asociación Española de Fabricantes de Equipos y
Componentes de Automoción, a facturação da indústria espanhola de equipamentos e componentes de
automóvel em 2010, aumentou 18,16% relativamente a 2009, totalizando 27.161,98 milhões de Euros.
As importações da indústria de componentes aumentaram 16,22%, sendo as indústrias destinatárias a
indústria construtora (+22,17%), a indústria de componentes (+7,12%) e o mercado de reposição
(+6,02%).
Os fabricantes de automóveis instalados em Espanha também adquiriram mais componentes (+21,54%
que em 2009), com fornecimentos procedentes da indústria espanhola (+20,20%) e de importação
(+22,17%).
Fonte:
SERNAUTO. Valor em Milhões de Euros.
36
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Ranking de prod. importados de Portugal do sector de componentes e acessórios de automóvel
Ranking
Montante
(Milhares de
Euros)
Produto
1
Partes e acessórios de carroçaria (incl. a cabina, mas excl. os pára-choques, s/ partes e
cintos de segurança) utilizados em camiões e veículos de uso especializado
74.791
2
Partes e acessórios de carroçaria (incl. a cabina mas excl. os pára-choques, s/ partes e
cintos de segurança) utilizados em veículos de transporte de pessoas e outros
50.494
3
Caixa de velocidades
49.078
4
Pneumáticos novos de borracha, utilizados em automóveis de turismo
30.170
5
Vidro de segurança constituído por vidro temperado com dimensões e formatos utilizados
em automóveis e tractores
19.882
6
Travões e servo freios e suas partes
14.857
7
Silenciadores e tubos de escape
14.134
8
Partes de sacos inflamáveis de segurança (Airbag)
12.844
9
Fechaduras utilizadas nos veículos automóveis
9.432
10
Partes de caixas de velocidades
9.714
SubTotal
285.396
Restantes Produtos
496.028
TOTAL
777.424
1.1.10 Sector Aeronáutico
O sector aeronáutico tem uma série de características especiais que justificam o seu tratamento
diferenciado como sector fortemente indutor do desenvolvimento tecnológico. Tradicionalmente tem sido
considerado como estratégico, devido ao seu duplo carácter civil e de segurança, e às transferências
tecnológicas em áreas como a defesa, o transporte e as telecomunicações.
À margem das empresas de subcontratação, o sector aeronáutico e aeroespacial espanhol integra um
número relativamente pequeno de empresas e organismos públicos de investigação (p.e. o INTAInstituto Nacional de Técnica Aeroespacial (www.inta.es), que são os mais representativos em termos de
facturação, emprego e recursos tecnológicos. Destes, 62% dedica-se exclusivamente a actividades
aeronáuticas, 15% exclusivamente a actividades espaciais e os 23% restantes partilham actividades.
Entre as empresas mais significativas, cuja actividade principal é a construção, manutenção e reparação
de
aeronaves,
encontram-se
EADS-CASA
(www.casa.eads.net),
IBERIA
Mantenimiento
(www.iberiamaintenance.com), ITP-Industria de Turbopropulsores S.A. (www.itp.es), CESA-Compañía
Española
de
Sistemas
Aeronáuticos
S.A.
(www.cesa.aero)
ou
AIRBUS
MILITARY
(www.airbusmilitary.com). Estas empresas representam cerca de 85% do sector em termos de
facturação e emprego.
37
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Por outro lado, cabe destacar outro conjunto de empresas cuja actividade principal não corresponde ao
código de actividade da indústria aeronáutica, como é o caso de SENER-Ingeniería y Sistemas S.A.
(www.sener.es), mas cuja principal actividade, em termos de facturação e de recursos humanos, é a
aeroespacial. Estas empresas representam 15% do sector em termos de emprego e facturação.
Em função da actividade produtiva concreta que realizam, as empresas da indústria aeronáutica
espanhola (especialmente na Andaluzia onde estão sediadas as empresas âncora), diferenciam-se
basicamente em quatro tipos:
- Empresas integradoras: as que têm capacidade de integração de aeronaves (com montagem final e
saída de voo desde as suas instalações), bem como de Engenharia e I+D. Em Espanha só existe uma
empresa deste tipo, EADS-CASA, com fábrica em Sevilha.
- Empresas de motores e componentes: sem capacidade de integração, mas dispondo de Engenharia e
I+D sobre componentes específicos, subconjuntos ou equipamentos. Em Espanha existe uma quinzena
de empresas deste tipo, com especial referência para ITP, SENER e CESA.
- Empresas de subcontratação: não têm capacidade de Engenharia nem I+D, sendo basicamente
fabricantes que trabalham sob especificações e planos das empresas dos dois grupos anteriores. O
grupo mais numeroso de empresas deste tipo é o de mecanização e tratamento de pequenas peças e
componentes, bem como as que se dedicam à montagem.
- Empresas de manutenção e reparação (overhaul): dedicadas a actividades de manutenção de
aeronaves, motores e componentes, como por exemplo IBERIA Mantenimiento.
Quanto à distribuição geográfica destas empresas, e sem descartar a localização pontual de empresas
com actividades aeronáuticas noutras comunidades, não há dúvida que em Espanha são três as zonas/
Comunidades Autónomas que concentram a quase totalidade das empresas do sector: País Basco no
norte, Comunidade de Madrid no centro e Andaluzia no sul. Destaca-se ainda a Catalunha, sobretudo no
referente à indústria aeroespacial, onde o Cluster INGENIA AERO (www.ingenia.aero) concentra 14
empresas de engenharia de transporte e a Plataforma BAIE-Barcelona Aeronautics & Space Association
(www.bcnaerospace.org) promove actividades relacionadas com a indústria aeronáutica e aeroespacial
na região de Barcelona e Catalunha.
E embora a problemática da indústria auxiliar seja similar em todas elas, a via para enfrentar as
dificuldades dos últimos anos não foi a mesma nas três Comunidades referidas. Enquanto na Andaluzia
e no País Basco se foram desenvolvendo associações sectoriais orientadas para potenciar as
capacidades das empresas associadas e a colaboração entre as mesmas, na Comunidade de Madrid,
como resultado da concorrência existente, pode apreciar-se uma certa aversão ao associativismo entre
as PME’s do sector, talvez por falta de confiança e desaproveitando, portanto, as oportunidades que esta
alternativa poderia oferecer.
38
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
– Indústria Aeronáutica na Comunidade de Madrid
Abrange um grande conjunto formado por uma dezena de grandes empresas âncora, à volta das quais
se reúnem, aproximadamente, uma centena de pequenas e médias empresas que, sendo a sua
actividade principal diferente da indústria aeroespacial em muitos casos, realizam diversos trabalhos de
subcontratação para as primeiras.
- Indústria Aeronáutica no País Basco
A estrutura do sector está claramente marcada pela constituição, em Dezembro de 1997, da Associação
HEGAN (www.hegan.com), como a estrutura legal do Cluster Aeronáutico da Comunidade (constituído
em 1993), tendo possibilitado a integração da maior parte das empresas do País Basco que trabalham
no sector.
Os três sócios fundadores do Cluster, empresas âncora do sector no País Basco são: SENER, ITP e
AERNNOVA AEROSPACE (antiga divisão de aeronáutica de GAMESA) (www.aernnova.com).
Contrariamente ao que acontece no sector em Madrid, as empresas aeronáuticas bascas mantêm um
nível de cooperação considerável, sendo este um dos objectivos da criação de HEGAN.
A Associação também centra os seus esforços em actividades de Investigação e Desenvolvimento
Tecnológico, em percentagens que chegam a superar as do sector aeronáutico em Espanha e na
Europa.
Além disso, o Cluster pôs em funcionamento um Plano Agrupado de Formação, e desenvolveu um
modelo para assegurar o Sistema de Qualidade específico para as suas empresas (Hegan 9000), com o
objectivo de homogeneizar os processos de certificação e homologação e de capacitar as empresas
para participar em futuros programas aeronáuticos internacionais.
As 37 organizações integradas na Associação Cluster de Aeronáutica e Espaço HEGAN facturaram, em
2010, 1.255 milhões de Euros, o que representa um aumento de 7,5% relativamente a 2009. A óptima
evolução da aviação comercial do ano passado e a entrada em produção de novos programas,
impulsionaram o crescimento das vendas das empresas associadas à HEGAN.
No que respeita às exportações, as empresas bascas alcançaram 782 milhões de Euros, com um
crescimento de 5% face ao ano anterior. Evidenciam-se as vendas para a Alemanha, que se posiciona
como principal mercado destinatário, com 29% das exportações totais, ao passo que as exportações
para o Brasil e Reino Unido cresceram de forma mais moderada.
- Indústria Aeronáutica na Andaluzia
A Andaluzia é a segunda região em termos de vendas do sector aeronáutico espanhol. O seu peso
relativamente a outras comunidades foi de 24,1% em 2009, mantendo-se aproximadamente igual ao de
2008.
39
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
O eixo Sevilha-Cádiz aglomera 90% das empresas do sector, sendo esta percentagem ainda maior se a
mesma se calcular em função do emprego suportado ou da facturação relativa aos centros de trabalho
que as empresas de outras províncias mantêm especialmente em Sevilha.
Esta concentração em Sevilha e Cádiz é lógica devido à presença das fábricas das empresas âncora de
Airbus Military y Airbus España (EADS), e pela maior tradição industrial metalomecânica destas
províncias, frente às restantes andaluzas.
Quanto à distribuição empresarial por actividade, sobressaem as actividades mecânicas e ferramentas
(mecanização, chapa, transformações mecânicas, etc.), que representam 31% do total. Se a este grupo
juntarmos as empresas cuja actividade principal é a montagem, a percentagem subirá para 41%. No
entanto, embora as empresas cuja actividade principal é a montagem final de aviões ou a montagem de
subconjuntos constituírem apenas 10% do total, é o grupo de maior importância dentro do sector
aeronáutico andaluz no referente a facturação e emprego.
O segundo grupo é o das empresas cuja actividade principal é a Engenharia e Consultoria. No entanto, o
seu peso real é significativamente menor, dada a atomização deste grupo com muitas empresas de
reduzida dimensão, especializadas em actividades específicas com pouca capacidade de integração de
projectos multidisciplinares.
Como entidades a destacar cujo objectivo é o de impulsionar o desenvolvimento do sector aeroespacial
na Andaluzia:
- A AERÓPOLIS (Fundación HÉLICE) (www.aeropolis.es), o Parque Tecnológico Aeroespacial da
Andaluzia, nascido da iniciativa da Administração Andaluza, tornando-se o aglutinador do Cluster
aeronáutico andaluz e proporcionando suporte às empresas auxiliares do sector, incentivando a
promoção do solo industrial adequado para a instalação deste tipo de empresas.
- A Extenda -
Agencia Andaluza de Promoción Exterior (www.extenda.es), que está a fomentar o
desenvolvimento comercial das empresas andaluzas, com acções comerciais nos principais mercados
aeronáuticos da Europa, América do Norte, América do Sul, África e Ásia.
Em 2010 a indústria aeronáutica voltou a consolidar-se como um dos sectores de maior crescimento na
economia andaluza, com uma facturação que alcançou 1.983 milhões de Euros, empregando 10.278
trabalhadores. Entre outros factores, destacam-se uma maior diversificação de produtos e cliente por
parte das empresas andaluzas, um aumento de postos de trabalho de alta qualificação, maior
concentração das empresas, esforço no investimento realizado em I+D e em activos fixos na indústria
auxiliar e um crescimento na internacionalização e vendas para o exterior, que representaram 35,1% do
total da facturação.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
A nível nacional, o CDTI - Centro para el Desarrollo Tecnológico Industrial (www.cdti.es), por delegação
do MITYC - Ministerio de Industria Turismo y Comercio (www.mityc.es) assumiu, em princípios de 2006,
a gestão dos programas de I+D+i do sector, potenciando o nível de participação da industria aeronáutica
espanhola através de instrumentos de financiamento específicos de projectos de I+D aeronáutica, como
por exemplo o CENIT (programa de apoio a grandes projectos I+D), e criando as condições adequadas à
integração da cadeia de fornecimentos aeronáuticos, explorando sinergias tanto dentro como fora do
sector.
O CDTI colabora e é sócio fundador da PAE - Plataforma Aeroespacial Española (http://plataformaaeroespacial.org), que tem por objecivo assessorar a administração pública em matéria tecnológica
aeroespacial e promover a sua coordenação.
Previsões do sector
O mais recente prognóstico da IATA (Associação Internacional do Transporte Aéreo) para os próximos
cinco anos, prevê um incremento médio anual, até 2014, de 5,8% de passageiros, o que significa que,
nessa data, irão estar a usar o sistema de aviação mundial cerca de 3.300 milhões de pessoas, 800
milhões mais que actualmente, o que propiciará novos desafios para a indústria.
Previsivelmente, as empresas irão alcançar uma fase de maior dinamismo entre 2011 e 2015, graças ao
impulso da produção e venda de novos aviões A380, A350XWB e A400M da Airbus, e Boeing 787
Dreamliner, principalmente.
Assim, prevê-se uma boa evolução e uma maior capacidade de crescimento destas empresas no
segmento de helicópteros, aviação regional e de negócios.
1.1.11 Sector Farmacêutico
A I+D+i (Investigação, Desenvolvimento e Inovação) é um factor fundamental para a competitividade da
economia e determinante para o seu crescimento futuro.
É especialmente importante, numa época de crise como a actual, apostar num modelo de crescimento
sustentado baseado em sectores de alta produtividade I+D.
No que diz respeito a Espanha, os dados do ”Ministerio de Sanidad” correspondentes a Julho de 2011
registaram uma diminuição de gasto farmacêutico público de –5,4% em relação ao ano anterior. Esta
redução deve-se à entrada em vigor das medidas de contenção do gasto farmacêutico (Reales Decretos
– leyes 4 e 8/2010)
As consequências directas destas reduções no gasto farmacêutico, tiveram como consequência o
encerramento de empresas, especialmente pequenas e médias empresas, a redução de postos de
trabalho, o redimensionamento dos investimentos em I+D e a deslocalização dos investimentos em
Espanha por parte das empresas farmacêuticas.
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aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Em Espanha, o peso do gasto farmacêutico público foi de 1,1% do PIB em 2010. As previsões de
evolução do gasto farmacêutico e PIB para o ano de 2011 (-8% e +2,2 nominal, respectivamente) no
conjunto do PIB espanhol pode ser de 1%, ou inclusive um pouco mais baixo.
Assim sendo, com a economia estagnada o facto de o sector farmacêutico não ganhar peso no PIB não
é uma boa noticia para a economia espanhola.
1.1.12 Sector da Biotecnologia
Segundo um relatório da ASEBIO (Asociación Española de Bioempresas), a taxa de êxito na introdução
de novos medicamentos no mercado é apenas metade da que era anteriormente. No entanto, os
medicamentos
biotecnológicos
possuem
o
dobro
de
probabilidade
de
serem
aprovados,
comparativamente com os químicos tradicionais.
Unidades que realizam actividades relacionadas com a Biotecnologia
Fonte:
ASEBIO
Em Espanha, o sector biotecnológico tem vindo a adquirir uma importância crescente. Em 2009,
segundo dados da ASEBIO, eram 1.095 as unidades que realizavam actividades relacionadas com a
Biotecnologia (mais 153 que no ano anterior) e destas, 36% dedicavam-se de forma exclusiva à
biotecnologia (399 empresas).
A importância do sector deve-se também ao nível de emprego gerado, uma vez que empregou 148.648
trabalhadores em 2009 (+37% em relação a 2008).
No que respeita ao seu volume de negócios, as empresas que estão relacionadas com o sector
bioquímico possuem um volume de negócios de 53.152 milhões de Euros, revelando um enorme
incremento (+70,9% quando comparado com o ano anterior).
Ao nível do tecido empresarial, as empresas utilizadoras da aplicação final da biotecnologia são
predominantemente da área alimentar (com 42 empresas), seguidas das relacionadas com a saúde
humana (38 empresas), agricultura e produção florestal (18 empresas), meio ambiente (18 empresas),
saúde animal e aquicultura (17 empresas) e, finalmente, indústria (12 empresas).
42
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Geograficamente, as empresas relacionadas com a biotecnologia concentram-se maioritariamente na
Catalunha (21,19%), seguida da Comunidade de Madrid (14,43%), da Andaluzia (12,50%), da
Comunidade Valenciana (9,50%) e da Galiza (7,50%).
No entanto, o sector depara-se com diversas barreiras quando o seu crescimento e desenvolvimento.
Segundo um inquérito realizado pela ASEBIO a nível nacional a empresas do sector, estas consideram
que os maiores obstáculos passam pelo tempo/custo (46%), pelo acesso ao capital (44%),
requerimentos reguladores (27%), falta de acesso aos mercados internacionais (17%), entre outros.
Durante o ano de 2010, foram identificadas 686 novas invenções, cujos titulares foram entidades do
sector biotecnológico espanhol, presenciando-se assim um aumento das invenções de 60%,
relativamente ao ano de 2009. A mesma percentagem corresponde também às invenções sob a forma
de solicitação de patentes (412). Destas, 227 foram tramitadas pela OEPM (Oficina Española de
Patentes y Marcas), 72 pela PCT (Patent Cooperation Treaty), 53 pela EPO (European Patent Office), 56
pela USPTO (United States Patent and Trademark Office), 4 pela JPTO (Japan Patent Office).
O sector biotecnológico pode ser desagregado em quatro áreas essenciais de aplicação da
biotecnologia: a biotecnologia vermelha, associada à utilização de biotecnologia em processos médicos;
a biotecnologia verde, relacionada com processos agrícolas; a biotecnologia branca ou industrial,
aplicada a processos industriais; e ainda a biotecnologia azul, ou biotecnologia marinha, que embora
pouco desenvolvida, descreve aplicações da biotecnologia em ambientes marinhos e aquáticos.
Quando associada à saúde humana, a biotecnologia assume grande importância ao nível de patologias
relacionadas com as Neurociências, Esclerose Múltipla, Hepatologia, Cardiologia, Dermatologia,
Doenças Raras, Doenças Metabólicas, Imunologia, Oncologia, Oftalmologia e Medicina Regenerativa.
Distribuição das Alianças ao Nível do Sector Biotecnológico Espanhol em Função da Origem do Parceiro
Fonte:
Local
São várias as parcerias estabelecidas ao nível do sector biotecnológico. Em 2010 registaram-se 143
alianças, das quais 45% foram estabelecidas com entidades públicas, 33% por outras entidades
relacionadas com a biotecnologia e os restantes 22% com empresas utilizadoras de biotecnologia.
43
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Excluindo as alianças internas, ou seja parcerias dentro do país (65%), os principais parceiros com os
quais foram estabelecidas alianças/parcerias foram: Europeus (18%), Americanos (6%), e entidades
Asiáticas e da América Latina, com 5% cada. Apesar da sua baixa percentagem, com 1%, o Canadá foi
também um dos parceiros/colaboradores espanhóis.
No que importa à criação de empresas relacionadas com o sector, no ano de 2010, contabilizou-se a
criação de 57 novas empresas. As regiões mais empreendedoras foram a Andaluzia e a Catalunha, com
25% e 23%, respectivamente. A Comunidade de Madrid posiciona-se atrás destas com 11%, seguida de
Castilla y Léon e Comunidade de Valencia, com 9% cada. Aragão e o País Vasco apresentam-se com
5%. As Ilhas Baleares e Canárias, La Rioja e Navarra apresentam-se como as menos empreendedoras,
partilhando uma taxa de criação de novas empresas ligadas ao sector de 4%.
Segundo a ASCRI, o sector da Biotecnologia ocupa o terceiro lugar, em termos de operações de capital
de risco, uma vez que, apesar do elevado número de operações, o montante de investimentos é
reduzido. À frente deste sector encontram-se o sector informático e o de produtos e serviços industriais,
como os que realizam mais operações de capital de risco.
Com o intuito de fomentar a inovação, o investimento e o desenvolvimento do sector foram criados
programas ao nível internacional e nacional.
Ao nível internacional, encontra-se o VII Programa Marco, que tem como finalidade o apoio e fomento
ao I+D na União Europeia, com o objectivo de melhorar e aumentar a competitividade segundo o
financiamento de actividades de investigação, desenvolvimento tecnológico, demonstração e inovação
em regime de colaboração entre empresas e instituições de investigação, pertencentes tanto a países da
União Europeia e Estados Associados, como de países terceiros. Neste programa, Espanha participou
em 14 programas, divididos em duas áreas: saúde e Bio/KBBE, onde obteve uma participação num total
de 6 e de 8 projectos, respectivamente. No que respeita à área da Bio/KBBE a sua participação teve
uma variação positiva significativa. O mesmo não se passou ao nível da saúde, uma vez que teve uma
redução drástica, relativamente ao ano anterior (2009).
Ao nível nacional, Espanha conta com o Programa de la Estratégia Nacional de Innovación E2I. Este
programa prende-se com a actuação da política do Governo em matéria de inovação, contribuindo assim
para a mudança do processo produtivo em Espanha, através do fomento e da criação de estruturas que
facilitem o melhor aproveitamento do conhecimento científico e do desenvolvimento tecnológico. Em
2010, o Governo prestou assim apoio na área da biotecnologia, em mais de 65 milhões de Euros, num
total de 110 projectos, onde estiveram envolvidas 122 empresas.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
1.1.13 Sector da Construção Civil
No ano de 2010, foram escassos os indicadores económicos, relativos ao sector, que verificaram uma
tendência positiva.
No mesmo ano, o Produto Interno Bruto (PIB) espanhol registou um decréscimo líquido de 0,2%. Este
declínio foi originado essencialmente pela crise vivida no sector da construção, uma vez que, se não
fosse este, o PIB teria um crescimento de 1,6%.
O consumo também não obteve resultados animadores. Ao contrário da zona euro, Espanha foi o único
dos sete maiores estados membros que obteve um crescimento da confiança do consumidor negativo,
com um retrocesso de 0,9 ponto percentual. Relativamente ao investimento e ao consumo de cimento do
sector, estes verificaram também uma variação negativa, com decréscimos de 1,5% e de 15,4%,
respectivamente, motivados, essencialmente pelo aumento verificado no IVA.
No que respeita aos índices de produção, os trabalhos concretizados presenciaram um decréscimo de
10%. A distribuição da produção destina-se essencialmente às obras civis, seguidas da edificação e de
outras construções.
O emprego na construção tem vindo a decrescer desde o ano de 2007, apresentando-se actualmente,
com os níveis observados no ano de 2000. Em 2010, quando comparado com o ano de 2009, o sector
presenciou um decréscimo de 1,1 ponto percentual, correspondendo a uma diminuição de 237 milhares
de trabalhadores e assim ao aumento do desemprego.
O sector da construção possui um grande protagonismo relativamente ao sistema financeiro espanhol
sendo que, mais de metade da totalidade do crédito encontra-se relacionada com a compra de habitação
ou com a sua construção.
Relativamente ao mercado externo, no ano de 2008 foi ultrapassado o recorde fixado em 2007, alusivo
ao volume de obras contratualizadas pelas construtoras espanholas, uma vez que, as contratualizações
de trabalhos fora de Espanha presenciaram um aumento de 9% relativamente ao que havia sido
registado em 2007. A tipologia das exportações espanholas centra-se, sobretudo, na construção civil e
industrial, sendo escassos os projectos de edificação, excepto no caso da construção não residencial
(hospitais, escritórios, prisões, complexos desportivos e comerciais, etc). Apenas nos países em que as
empresas espanholas adquiriram empresas locais de grande dimensão, há uma entrada no mercado da
edificação residencial. Os casos mais evidentes são a Polónia e Portugal.
Dada a elevada dependência dos restantes sectores de actividade ao sector da construção, o
comportamento negativo do sector e dos seus indicadores económicos possuem assim um efeito de
arrasto, contribuindo assim, em grande parte, para o declínio da economia espanhola.
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aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
1.1.14 Sector da Joalharia
A joalharia é uma indústria forte dentro do tecido industrial espanhol, aproximadamente 20.000 empresas
compõem o sector de joalharia, ourivesaria e relojoaria, que abrange os subsectores de fabricação,
indústria ou oficinas; exportadores, importadores; grossistas e retalhistas. A evolução do número de
empresas nestes últimos anos é um indicador que convêm analisar dado que evidencia a capacidade
desta actividade para acolher novos negócios, interpretando-se como um sintoma de dinamismo do
sector.
A estreita ligação que esta indústria mantém com a tradição artesanal é a causa da sua fragmentação,
com 20.000 PME que empregam directamente mais de 200.000 pessoas e indirectamente 175.000.
Apenas 10% das empresas que operam no mercado da joalharia conta com equipas superiores a dez
trabalhadores. Apesar da sua pequena dimensão, as PME do sector canalizam 65% de vendas.
Actualmente, a joalharia espanhola, apesar da crise, atravessa um bom momento, ocupando a produção
de design espanhol o quarto lugar do ranking europeu de fabricantes, após a Itália, o Reino Unido e a
Suíça.
O tecido empresarial é composto por aproximadamente 4000 fábricas. Os principais núcleos produtivos
estão localizados nas comunidades da Andaluzia, Baleares, Catalunha, Comunidade Valenciana, Galiza
e Madrid.
•
Oportunidades e Estratégias:
Qualidade, design e originalidade são as chaves do êxito para entrar neste mercado. Além da criação de
marca, o bom acabamento da jóia, o valor acrescentado do artesanato, assim como uma relação
qualidade - preço coerente e equilibrada, são factores determinantes. Na situação actual, somos da
opinião que não é viável a introdução do produto no mercado sem uma marca e conceito de empresa.
As principais acções que podem ser executadas incluem: participação em feiras de forma constante,
transmitindo uma imagem de qualidade, manter a presença máxima no mercado e utilizar as ferramentas
que permitem uma boa estratégia de distribuição utilizando tecnologias de comunicação para a
promoção e venda de produtos.
•
Dificuldades:
Existe uma forte concorrência da Ásia (China e Índia).
Em menor proporção, mas a ter em conta, os novos canais de distribuição como as compras por
catálogo, leilões e sobretudo a Internet.
46
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Balança Comercial Espanha – 2010 (Milhões Euros)
Joalharia e Relojoaria
TOTAL
Fonte:
Exportação
Importação
734
925
Saldo
Tx. Cobertura %
-192
79
ICEX
Principais mercados de exportação
Países
Ranking
Milhões Euros
Suiça
1
207
França
2
100
Itália
3
76
Estados Unidos
4
62
Portugal
5
42
China-Hong Kong
6
37
Alemanha
7
29
Reino Unido
8
23
Andorra
9
21
México
10
18
TOTAL
734
Principais mercados de importação
Países
Ranking
Milhões Euros
Suiça
1
271
China
2
215
Itália
3
103
França
4
48
Dinamarca
5
38
China-Hong Kong
6
36
Alemanha
7
35
Bélgica
8
27
Índia
9
24
Tailândia
10
24
TOTAL
925
47
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
1.1.15 Sector Naval
Desde 2008, o sector da Construção Naval está a sofrer uma crise de procura, estando a contratação
praticamente paralisada, o que se deve em grande parte à crise económica internacional. As empresas
do sector têm conseguido no entanto manter a actividade devido à importante carteira de encomendas
recebidas nos anos anteriores, o que vai permitir manter a actividade até finais de 2011.
De referir que, entre 2003 e 2009, o volume da contracção dos estaleiros espanhóis foi superior às suas
capacidades produtivas.
No segundo e terceiro trimestre de 2010, verificou-se uma considerável diminuição das exportações no
sector. Em paralelo, desde o segundo trimestre de 2009 registou-se um aumento das importações o que
levou a que o superavit comercial se transformasse em deficit a meados de 2010. Neste período, a
descida das exportações do sector contrasta com o aumento das taxas de variação das exportações
globais da indústria.
O sector da construção e reparação naval representa em Espanha 0,98% do total da produção, 0,98%
do total do valor acrescentado da produção manufacturada, 0,63% do emprego industrial e é
responsável por 0,92% das exportações espanholas de bens manufacturados.
A Construção Naval facturou, em 2009, 2.144 milhões de Euros e deu emprego directo a 20.500
trabalhadores e indirecto a cerca de 50.000.
Durante 2009, a actividade contratual e produtiva fundamentou-se em grande medida nas exportações.
Em comparação com outros sectores, o sector naval destaca-se pela elevada orientação da sua oferta
para as exportações (38,9%). É o segundo sector com maior volume de exportações em relação à sua
produção (64,5%).
Relativamente ao destino das exportações deste sector, destacam-se a União Europeia com 27,2% do
total da produção e a Noruega com 49,5%. Portugal ocupa a sétima posição, com 4,2 %. A Europa
representa 76,7%.
A produção mundial do sector Naval é absorvida principalmente pela UE, com 51,1% e, em segundo
lugar, pela Ásia e Oceânia, com 38,8%.
Os principais armadores mundiais continuam a ser europeus, mas as encomendas de novas construções
são recebidas pelos armadores da Ásia.
Os países da Ásia detêm 90% da quota de mercado mundial, com a China em primeiro lugar (36%),
seguida da Coreia do Sul (32%) e do Japão (14%), como maiores produtores mundiais. Os restantes
10% estão repartidos entre os construtores europeus e outros. Até Setembro de 2010, o número de
contratos conseguidos por toda a Ásia superou os 1.060, face aos 711 correspondentes à Europa.
48
aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
A indústria naval espanhola é considerada, internacionalmente, como uma indústria inovadora pelo
elevado valor acrescentado que incorpora aos produtos a utilização de tecnologias avançadas.
Destaca-se também pelo desenho e pela construção de diferentes tipos de barcos multi-funcionais
(nomeadamente barcos de transporte de produtos químicos, sísmicos, offshore, ferries, dragas,
rebocadores, oceanográficos) e equipamentos para a indústria extractora de petróleo.
A construção naval é uma indústria de síntese: os estaleiros constroem o casco e as estruturas básicas e
integram os componentes que são fornecidos pela indústria auxiliar para construir o barco completo, o
que chega a representar quase 80% do seu valor.
O sector naval é o quinto sector que mais impacto tem sobre as importações de consumos intermédios.
Outra característica do sector é o elevado valor unitário dos barcos, que geralmente supera a
capacidade financeira das empresas construtoras. Isto implica que o financiamento seja um elemento
chave de competitividade.
O sector da construção naval em Espanha é um dos sectores que menos investe em I+D, cerca de 0,7%
relativamente ao resto dos gastos internos. No referente à inovação, ocupa uma posição media alta em
comparação com o resto dos sectores. De referir que 60% das empresas do sector dispõem de página
Web e, aproximadamente, 33% das empresas do sector aplicam os incentivos fiscais a I+D.
Ao processo de reestruturação dos recursos laborais próprios dos estaleiros juntou-se um importante
crescimento da Indústria Auxiliar, que se tornou um eixo fundamental do tecido económico no sector
naval, como subcontratante duma grande parte da actividade da construção de barcos que
anteriormente realizavam os próprios estaleiros.
A Galiza concentra a metade da produção naval nacional. Nesta Comunidade Autónoma, é a província
de Pontevedra o grande centro estratégico do sector com cerca de 100 empresas navais e mais de 400
empresas de sectores auxiliares. Em Vigo, localiza-se 50% da produção do sector naval de barcos
metálicos, o resto concentra-se no País Vasco e nas Astúrias.
Algumas das maiores e mais importantes empresas do sector naval em Espanha estão localizadas na
Galiza: Hijos de J. Barreras, SA e Factorias Vulcano, SA. Também existe um importante centro de
construção naval militar NAVANTIA, na Ria de Ferrol, com modernas instalações e um importante knowhow em desenho e construção de barcos.
Em Abril de 2011, a carteira de pedidos aos estaleiros privados espanhóis era de 68 unidades (98 no
ano anterior): 15 mercantes para o mercado nacional e 53 para o mercado externo.
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aicep Portugal Global
Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Como foi referido anteriormente, no sector naval a indústria auxiliar é fundamental e, aqui, as empresas
portuguesas de produtos siderúrgicos, componentes, maquinaria e equipamentos podem ter
oportunidades de negócio.
Portugal não dispõe dum sector naval que possa competir directamente com o espanhol ou que possa
“roubar-lhe” quota de mercado, mas pode ser um fornecedor importante e conseguir aumentar a
percentagem de exportações dos produtos portugueses para este mercado.
Muitas empresas portuguesas já são fornecedoras directas e indirectas de empresas do sector em
Espanha, principalmente na Galiza. Mas as relações económicas podem ainda incentivar-se, sobretudo
com a Galiza pela proximidade geográfica.
1.1.16 Sector da Embalagem
A indústria espanhola do packaging verificou, em 2010, um crescimento de 5,4% em facturação,
alcançando os 13.425 M€. Conseguiu, assim, inverter a situação verificada no ano anterior, quando se
registou a primeira queda conhecida em décadas. Todos os materiais utilizados para a sua confecção:
papel-cartão, plástico flexível, metal, vidro ou madeira, mostraram melhorias, com variações que oscilam
entre os 1,6% das embalagens metálicas e os 6,9% das de papel-cartão, os materiais mais beneficiados
pela recuperação dos preços. Precisamente este segmento e o da madeira foram os que mais perderam,
percentualmente, no ano anterior, durante o qual só as embalagens metálicas conseguiram manter taxas
positivas.
Para a maioria das empresas (geradoras de 55.300 empregos) e face ao desânimo do mercado
doméstico, a exportação funcionou como tábua de salvação para a indústria, com uma subida de 9,4%,
num total de 2.230 M€.
Diminuem os investimentos: a debilitada situação da economia não tende a atenuar as incertezas que
rodeiam uma indústria tão ligada ao grande consumo como a da embalagem. Prova disso é o
desinvestimento de 16% registado no ano passado em imobilizado (segundo informação recolhida junto
das companhias), para um reembolso de 268 M€. As previsões para 2011 apontam para os 206 M€.
Aumenta a concentração sectorial: Uma das consequências da crise é uma maior concentração das
vendas nas mãos dos principais operadores. Analisando os dados do PuntoMarket procedentes das 700
maiores companhias do sector, a taxa alcançada pelos 50 primeiros operadores aumentou um ponto no
último ano, até atingir os 54,4% da facturação. Tendo como referência as 100 primeiras empresas, o
valor atinge os 65,8% (com comportamentos diferentes segundo a origem dos accionistas). Assim, a
facturação obtida por empresas participadas, no mínimo, em 50% por accionistas estrangeiros desce
2,2% entre as 50 primeiras (situando-se em 31,1%) e 1,0% entre as 100 primeiras (situando-se em
36,4%), respectivamente, até atingir os 23,3% e os 30,4% das vendas. Resumidamente, observa-se um
menor peso das empresas controladas principalmente por capital estrangeiro, dado que a sua quota
sobre a facturação diminuiu em quase 2%, até situar-se nos 41,2%.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
A importância do fenómeno ‘BIO’: A corrente meio-ambiental a favor de produtos recicláveis,
biodegradáveis ou extraídos de produtos renováveis é imparável. Algumas empresas em Espanha
abandonaram o PET tradicional, substituindo-o por uma combinação de PE ecológico a partir de etanol
de cana-de-açúcar com um bioplástico derivado da fécula da batata. Em Espanha este material está a
ser utilizado na fabricação de sacos, uma realidade plenamente consolidada hoje em dia graças às
directrizes marcadas pelas diferentes Administrações e pelas empresas de distribuição, com o Carrefour
como pioneira, dirigidas à restrição dos sacos de plástico de um só uso, não degradáveis.
O Ministério do Meio Ambiente está a trabalhar na elaboração de um calendário de eliminação completa
dos sacos de plástico não biodegradáveis em 2018, com níveis intermédios de 60% para 2013 e 80% em
2016. O próprio Ministério lançou a campanha “Muda ‘o saco de uma vez’ por todas” para
consciencializar os consumidores e agentes económicos e sociais implicados sobre o consumo
responsável dos sacos de plástico e para fomentar a mudança para os sacos multiusos. Os principais
fabricantes de papel para sacos e os de sacos de papel juntaram-se para publicitar este produto através
de outra campanha.
Necessidade de Alianças: Existem grupos que se caracterizam por desenvolver planos de expansão
como via de crescimento ou por assinar alianças com terceiros. É o caso de “Envases Plásticos del Ter”
(Enplater), que aumentou a sua presença exterior assinando um protocolo de distribuição com a
empresa portuguesa “Termofilm” e ampliando as suas equipas comerciais em França e Portugal.
Embalagem de PET: O PET apresentou-se como um caso único no packaging plástico que parece não
estar a ser muito afectado pelos factores que prejudicaram outros sectores (a dificuldade para exportar, a
concorrência asiática, o preço das matérias-primas e as pressões ecologistas). A chave para a sua
sobrevivência é o grande desenvolvimento tecnológico que acumula o sector nos últimos anos e o seu
excelente posicionamento num mercado chave do consumo como é o das bebidas.
Devido às circunstâncias actuais, é difícil prever qual será a sua evolução nos próximos anos. Um
mercado
tão
importante
como
o
das
águas
engarrafadas
está
em
pleno
processo
de
redimensionamento, com uma importante fuga de marcas face o sucesso das marcas brancas, o que se
repercutirá nos preços das embalagens.
Por outro lado, a recente aprovação da Lei de Resíduos cria uma incerteza jurídica sobre a situação das
embalagens não recicláveis ao introduzir a possibilidade de criar um Sistema de Depósito. Apesar dos
problemas que se vislumbram, o sector está bem longe de ser pessimista, como demonstra o facto de
que, entre 2010 e 2011, se tenham feito investimentos superiores a 60 M€, focados fundamentalmente
no aumento da capacidade produtiva.
Embalagem de Cartão Ondulado: Segundo dados da Associação Espanhola de Fabricantes de
Embalagens de Cartão Ondulado (Afco), a produção deste material atingiu em 2010 os 4.207 Milhões
m2, 4,6% mais que no ano anterior, valor positivo depois das quedas de 4,7% em 2008 e, sobretudo, de
9,0% em 2009. A evolução em termos de valor foi ainda mais favorável, tendo as vendas globais do
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
sector aumentado 6,1% até aos 3.715 Milhões Euros: 2.176 Milhões Euros por facturação directa e 1.539
Milhões Euros indirecta. No entanto, duas grandes ameaças rodeiam a capacidade real de recuperação:
a situação de debilidade da economia espanhola e, mais concretamente, o forte aumento do preço do
papel iniciado nos últimos tempos, que a maioria das empresas considera ser difícil de repercutir na
totalidade nas embalagens.
Confirmando estes dados, tanto o papel consumido em máquina onduladora como a produção de papel
para cartão ondulado aumentaram 3,9% em 2010, até aos 2,55 Milhões Toneladas e 2,30 Milhões
Toneladas, respectivamente. Taxa e volume que a Associação Espanhola de Fabricantes de Papel e
Cartão (Aspapel) situa ainda mais alta no caso da segunda, à qual atribui um crescimento de 16,6%, até
aos 2,8 Milhões Toneladas (depois de cair 5,1% em 2008 e 12,1% em 2009). Trata-se do maior
crescimento atingido em 2010 por todos os segmentos que compõem a indústria do papel, já que os
cartões “estucados” subiram 9,2% e os papéis para usos higiénicos e sanitários 2,5%, enquanto os
papéis gráficos caíram 2,7%, fundamentalmente pelo mau comportamento do papel imprensa. De
maneira global, a indústria espanhola do papel cresceu 9,0% em 2010, até aos 6,19 Milhões Toneladas
(longe também dos 6,7 Milhões Toneladas que se atingiram em 2007), em virtude fundamentalmente das
exportações, que aumentaram 9,0% e atingiram o seu tecto histórico (3,06 Milhões Toneladas). O
consumo interno foi inferior atingindo um 4,1%.
Voltando ao cartão ondulado, o consumo per capita tem vindo a aumentar ligeiramente em Espanha,
situando-se agora em 49,0 kg/hab., face aos 47,4 kg/hab. em 2009. Não teve variações significativas nos
destinos da produção, que permanecem liderados pelos sectores da agricultura (23%), alimentação
(16,5%) e bebidas (15%). Espanha constitui o segundo membro da federação sectorial FEFCO que mais
peso dá a estes três sectores, que em 2009 absorveram 56,1% da produção de cartão.
No que diz respeito ao comercio externo espanhol de papel para cartão ondulado (dados Aspapel),
França e Portugal lideram a lista de mercados de destinos com 43,2% das 811.000 Toneladas
exportadas, enquanto que França, Estados Unidos, Suécia e Finlândia representam 69% das 852.600
Toneladas importadas.
Uma das maiores ameaças que enfrenta o sector é o forte aumento do preço dos papéis para cartão
ondulado. Num mercado de carácter cíclico como este, o incremento da procura europeia (que se situa
em níveis máximos dos últimos oito anos), o baixo nível de stocks e os custos energéticos dispararam o
preço dos papéis kraftliner. Uma situação muito similar à que estão a viver os papéis reciclados.
Inovações no sector de sopas prontas para a servir: potencial para a embalagem de cartão. Nos últimos
anos o mercado de sopas prontas a servir tem evidenciado um forte crescimento e mostra um
prometedor potencial de vendas para sopas tradicionais que se podem adaptar às modernas tendências
de consumo. No sector da alimentação, os consumidores querem alimentar-se de forma saudável e, na
medida do possível, saber de onde provêem os ingredientes e de que maneira foram processados os
alimentos. Da mesma forma, querem desfrutar do que compram e que seja o mais cómodo possível. O
tema do consumo sustentável também tem cada vez mais importância, o que se reflecte no crescimento
positivo em áreas como produtos orgânicos e de “comércio justo”.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Espanha (importante mercado para as sopas prontas a servir) é forte dinamizadora no que respeita a
novos produtos. Analisando o mercado global deste tipo de sopas vemos que mostra claras tendências
em posicionamento de produto e mix de embalagens. Como forma de embalagem tradicional, a lata de
metal contínua sendo a solução de embalagem predominante na área de sopas, ainda que as suas
vendas estejam a estabilizar-se. Pelo contrário, as sopas prontas a servir, que se vendem em
embalagens plásticos e embalagens de cartão, sofrem agora um grande impulso, com sólidos valores de
crescimento.
As tendências de consumo global, junto com a actual vitalidade do mercado de sopas prontas a servir,
são os factores cruciais que apontam para previsões de forte crescimento para sopas que se oferecem
em embalagens de cartão.
Para muitos países, como Espanha, estima-se uma taxa de crescimento até 8% anual para a
embalagem de cartão.
O sector papeleiro aposta na bioeconomía para sair da crise: Baseado no aproveitamento da madeira,
um recurso natural e renovável com enorme potencial em Espanha, é um sector chave para o futuro
industrial do país. Um terço da madeira que utiliza o sector procede da importação. Espanha não dispõe
de gás nem de petróleo e tem de ser importado. Apesar disso, é possível aproveitar o potencial florestal.
Neste sentido, a indústria do papel aposta na gestão florestal sustentável e na sua certificação, numa
gestão eficaz das plantações e na adequada mobilização das existências de madeira.
Pequena melhoria para as embalagens e paletes de madeira: Apesar da moderada queda nos volumes
de produção, o sector da embalagem de madeira (associado à Fedemco, com um total de 107
empresas), aumentou ligeiramente a sua facturação em 2010 superando os 278 Milhões Euros (1,1%),
face à queda de 3,8% registada no ano anterior.
A baixa produção reflecte-se, em primeiro lugar, no grupo das embalagens (caixas, etc.), cuja fabricação
registou quebra de 4,5 Milhões unidades, situando-se em 525,17 Milhões unidades. A fabricação de
paletes desceu 5%, registando 2,38 Milhões unidades. Estas duas categorias geram 78% da facturação
do sector, enquanto os 22% restantes se repartem entre empresas fabricantes de contraplacados,
componentes e maquinaria. Analisando a sua distribuição geográfica, continua a ser significativo que
53,3% correspondem a empresas da Comunidade Valenciana, 9,3% da Andaluzia, 8,4% de Aragão e
6,5% de Múrcia, como as mais importantes.
Por tamanhos e usos, as embalagens de média e pequena capacidade continuam a melhorar a sua
posição. Assim, os de 2,5 a 5 kg representam já 21% e os denominados “pitufos” (2,5 kg) 34%, face aos
16% e 33%, respectivamente, que supunham em 2008. Em contrapartida, diminuem a sua quota as de 5
a 10 kg, que representam 35% face aos 37% de 2008; e os de capacidade superior aos 10 kg, que
passam de 13% a 9%.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Relativamente à balança comercial, o sector da embalagem de madeira apresenta um saldo negativo de
mais de 7M€, já que realizou importações no valor de 76 Milhões Euros, face a exportações de 68
Milhões Euros, segundo dados da Direcção de Alfândegas. Os principais países de origem das caixas e
outras embalagens procedentes do exterior são Portugal (30%), Alemanha (12%), Itália e Reino Unido.
As exportações dirigem-se a França (41%), Portugal (19%), Marrocos, Itália e Alemanha.
O volume de embalagens e paletes novos e usados de madeira manipulado pelas empresas espanholas
em 2010 manteve-se estável face ao ano anterior, cerca de 3,76 Milhões Toneladas. O volume total de
resíduos de paletes gerado em território espanhol diminuiu em 16%. Esta queda explica-se por um
aumento da reutilização de paletes por parte dos próprios utentes (3%) e um aumento nas exportações
de madeira (9%).
1.2 Investimento de Portugal em Espanha
Segundo os dados do Ministério da Industria, Turismo e Comércio de Espanha, no ano 2010, o
1
investimento estrangeiro em Espanha, em termos brutos , atingiu 23.415 milhões de Euros, o que
representou um acréscimo de 41,5% face ao ano anterior, e 20.481 milhões de Euros em termos líquidos
(aumento de 53,2%).
Relativamente ao investimento directo de Portugal em Espanha, de acordo com os dados do
Ministério da Industria, Turismo e Comércio de Espanha, no ano 2010 atingiu 221 milhões de Euros em
termos brutos, o que representa uma quebra de -39,6% face ao ano anterior. O investimento líquido foi
de 203,46 milhões de Euros.
Neste período, Portugal foi o 10º investidor estrangeiro em Espanha em termos brutos, com uma quota
de 0,9% sobre o total.
As principais Comunidades receptoras deste fluxo de investimento foram Madrid com 41% do total do
investimento, Castilla-La Mancha (20%), a Catalunha (15%) e a Galiza (12%).
Na nossa opinião o mercado espanhol caracteriza-se por uma intensa concorrência, sendo complicado
definir áreas de oportunidade do ponto de vista de investimento português no mercado.
A avaliação da viabilidade do investimento deve ser realizada caso a caso. De acordo com a experiência
das empresas que nos contactam, as oportunidades podem surgir em todos os sectores. Cabe às
próprias empresas analisar as oportunidades de concretizar os negócios onde pensem que têm maior
potencial de sucesso. Normalmente, quando uma empresa inicia um processo de internacionalização,
conhece as vantagens específicas da própria empresa e do produto ou serviço neste mercado e conta
com uma estratégia para abordar o mesmo.
1
Secretaria Estado Comercio, Ministério de Industria, Turismo y Comercio (critérios “Pais Inmediato”, “Operações ETVE y no ETVE”).
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
O investimento português em Espanha está directamente relacionado com as quotas de mercado
alcançadas. Assim, o objectivo destes investimentos é servir de plataforma para um crescimento
sustentado, estar mais perto do cliente, criar uma marca própria e controlar os canais de distribuição.
Verifica-se, pois, um número significativo de investimentos realizados por empresas portuguesas em
Espanha, com maior incidência na vertente comercial, o que se deve, sobretudo, à proximidade
geográfica entre os dois países.
Actualmente, e de uma forma geral, existem diversos sectores que previsivelmente irão atrair novos
fluxos de IDE nos próximos anos. Entre esses sectores destacam-se as tecnologias de informação e as
telecomunicações, as ciências da saúde, farmácia e biotecnologia, o ambiente e tratamento de águas, a
aeronáutica, a logística e o turismo.
Há que salientar que devido à crise que atravessa a economia espanhola poderão surgir oportunidades,
como por exemplo as relativas à aquisição de empresas em dificuldades.
É de destacar a actividade da Sociedade Estatal Invest in Spain, dependente do Ministério de Indústria,
Turismo e Comércio, entidade dedicada à promoção, atracção e manutenção do investimento
estrangeiro. Oferece aos investidores estrangeiros um serviço integral nas distintas fases do processo de
investimento e planeamento, assim como na fase de avaliação, abordagem e instalação, bem como no
acompanhamento após a concretização do investimento. Constitui, também, o ponto de encontro de
todas as instituições que, no âmbito estatal, autonómico e local, se dedicam à promoção e à atracção de
investimentos (www.interes.org).
Devemos recordar que existe uma grande descentralização de poderes políticos e administrativos entre
o Governo central e as Comunidades, que se reflecte nas políticas de desenvolvimento regional, e
portanto nas políticas de apoio à internacionalização das empresas, captação de investimento e apoios
às mesmas.
Compete a cada Comunidade Autónoma o fomento do desenvolvimento económico da sua região,
dentro dos objectivos estabelecidos pela política económica nacional. As principais Comunidades
contam com agências de desenvolvimento especializadas.
1.3 Investimento de Espanha em Portugal
De acordo com os dados da fonte oficial espanhola Ministério da Industria, Turismo e Comércio de
Espanha, no ano 2010 o investimento espanhol no estrangeiro ascendeu a 35.504 milhões de Euros
em termos brutos, e 24.100 milhões de Euros líquidos. Em termos brutos este valor representa um
acréscimo de 59%, no entanto, devemos referir que no ano 2009 verificou-se uma quebra de 51,5% face
a 2008. O investimento realizado através de Holdings (ETVE- Entidades de Tenencia de Valores
Estrangeiros) representou 25,5% sobre o total.
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O investimento espanhol em Portugal atingiu 698 milhões de Euros, em termos brutos, o que representa
uma quebra de -15,3%, face ao ano anterior. O investimento líquido foi de -215 milhões de Euros.
Segundo a mesma fonte, Portugal foi o 10º destino do investimento espanhol no exterior, com uma quota
de 2% do total.
As principais Comunidades Autónomas investidoras em Portugal em 2010 foram a Andaluzia com 593
milhões de Euros (85% do total), Madrid (5%) e a Catalunha (4%).
As primeiras empresas espanholas que iniciaram operações de investimento em Portugal foram os
grandes grupos, pertencentes aos sectores financeiros, energético e telecomunicações. Seguiram-nas
as do sector imobiliário e de construção, continuando por empresas de média dimensão, com operações
mais modestas, com uma maior diversificação de sectores.
O número de empresas espanholas em Portugal é de aproximadamente 1.200, de acordo com a Câmara
de Comércio e Indústria Luso Espanhola, sendo muitas delas pequenas e médias, atraídas pela
proximidade geográfica e cultural, pelas vantagens logísticas e de organização, em comparação com
outros mercados mais distantes, para além da tendência para o tratamento unificado do mercado ibérico
como região comercial dentro de um contexto europeu e mundial mais globalizado.
A área mais procurada pelos investidores espanhóis no passado tem sido o sector da construção. É
neste sector que existe o maior número de empresas espanholas a operar em Portugal. Outros sectores
de realçar são o comércio e a distribuição (franchising e lojas próprias) e a banca.
No contexto global actual as empresas espanholas interessadas em investir em Portugal pertencem aos
sectores de energias, serviços empresariais, logística e actividades de outsourcing, pela presença dos
clientes no mercado português e a necessidade de dar-lhe serviço em todo o chamado espaço ibérico.
Por outro lado, as empresas espanholas de uma vertente mais industrial, procuram a deslocalização de
indústrias para países com custos de mão-de-obra mais barata e ligados a mercados em crescimento
(Índia, China e América Latina).
Na vertente da agricultura e do sector turístico, as empresas espanholas tentam aproveitar as
oportunidades existentes pela diferença de custos, se bem que, em alguns casos, encontram
dificuldades na gestão de licenças e na aplicação da legislação nacional aos respectivos sectores.
São agora as PME que ainda não têm tanta presença no mercado, as que mais interesse mostram pela
instalação no mercado português procurando fugir ao forte cenário de crise no mercado local, as que vão
ser protagonistas de uma maior integração do mercado ibérico
56
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
1.4 Serviços
O sector dos serviços representa em Espanha 70% do PIB e igual percentagem do emprego. Espanha é
assim um dos países mais activos no comércio de serviços, posicionando-se neste sector como o 7º
exportador mundial (com uma quota de 3,6% do total mundial em 2010) e como 9º importador mundial
(quota de 2,8%).
Com a recente crise, os serviços empresariais e de tipo educativo, cultural e pessoal são apenas os que
apresentam perspectivas positivas, e pelo contrario, os serviços de seguros, financeiros e de
comunicações tem registado decréscimos.
Sendo Espanha e Portugal dois mercados com uma crescente integração nas suas estruturas de
energia, transporte e serviços, podemos assinalar que se trata de um sector onde podem surgir
oportunidades, uma vez que ainda haverá muito que realizar no que diz respeito ao desenvolvimento e
integração de redes, transportes, e serviços para as empresas que continuam a instalar-se nos dois
lados da fronteira, etc.
Os Governos das regiões espanholas transfronteiriças estão cada vez mais abertos à crescente
colaboração e à abertura de canais de relacionamento e integração entre empresas e entidades
públicas, nomeadamente, a Criação da Macro-Região: Norte de Portugal - Galiza e Castela e Leão, da
mesma forma que a Estremadura e Andaluzia procuram também um relacionamento mais privilegiado.
Um dos capítulos mais importantes será o transporte ferroviário, e os investimentos em logística e
transporte anexos a esta via.
A progressiva implantação de empresas de diversos sectores nos dois mercados vizinhos, Espanha e
Portugal, traz um efeito de arraste para outras implantações de empresas de serviços, que são
fornecedoras das primeiras e que procuram oferecer soluções ao nível ibérico, ultrapassando as
barreiras ainda existentes relativamente a alvarás, certificações, etc.
1.5 Turismo
Entre as principais oportunidades do mercado são de referir:
•
Predominância das viagens de curta distância. Portugal beneficiará da situação em 2011 em
resultado da sua proximidade geográfica;
•
Ligações aéreas consolidadas e aumento destas no período de Verão: Madrid/Faro (Ryanair);
Madrid/Funchal (TAP); Madrid/Terceira (Sata); Barcelona/Funchal (TAP); Tenerife/Funchal (Binter);
Las Palmas/Ponta Delgada (Sata);
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•
Maior sensibilidade dos consumidores ao factor preço e/ou ofertas com valor acrescentado na
decisão de escolha dos destinos;
•
Aumento do recurso ao canal online pela comodidade e poupança de custos de reserva;
•
Preferência pela utilização de transporte próprio em detrimento de outros;
•
Crescimento global das viagens independentes (não organizadas) para o estrangeiro e uma
atenuação na emissão para destinos long-haul;
•
Diversificação da oferta, em segmentos relacionados com a natureza e com forte componente
ecológica;
•
Atractividade dos eventos internacionais junto de segmentos mais altos;
•
Diversificação de motivações da procura e segmentos de mercado (turismo senior, wellness,
gastronomia, MICE, turismo activo e touring);
•
Criação de packages atractivos de fim-de-semana;
•
Análise pormenorizada do calendário laboral espanhol, no sentido de um melhor aproveitamento das
“pontes”.
2. Dificuldades
2.1 Comércio, Investimento e Serviços
Espanha não é um mercado único e homogéneo. É constituído por diversas regiões (17 Comunidades
Autónomas) com características muito diferentes e variáveis nos aspectos de hábitos de comércio,
hábitos de consumo, preferências dos clientes, capacidade de compra, nível de desenvolvimento e
também clima e cultura (língua).
Estes aspectos incidem sobre a estratégia a aplicar na comercialização e sobre os próprios produtos,
que podem ser mais adequados em determinadas áreas face a outras, pelo que a preparação da
abordagem deste mercado deverá ter em consideração estas características, sendo aconselhável
efectuar um estudo sobre as zonas com maior potencial para o produto a comercializar. É, portanto,
necessário um investimento prévio no conhecimento do mercado concreto a atingir.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
Espanha é um mercado enormemente competitivo, com uma forte concorrência das próprias empresas
locais e estrangeiras, pelo que é necessária uma abordagem agressiva e persistente na estratégia de
implantação no mesmo.
Antes de visitar os potenciais clientes, é preciso conhecer a oferta já existente no mercado assim como a
concorrência através de visitas a feiras, lojas ou pontos de venda, que permitam obter dados sobre os
produtos ou serviços já em venda, preparando assim uma estratégia de diferenciação para a referida
abordagem.
Existe um certo grau de “nacionalismo”, que privilegia o relacionamento com empresas de origem
espanhola. A base desta dificuldade está na “desconfiança” do espanhol relativamente às empresas por
desconhecer a fiabilidade do produto e/ou serviço, privilegiando o contacto com aquelas que dominam a
sua própria língua e que possuam uma sede local. É sempre aconselhável um relacionamento directo
com os clientes, o qual facilita o conhecimento da procura, a criação de novos produtos adaptados à
procura e o estabelecimento de um relacionamento pessoal com os clientes. As relações de amizade
têm muita influência nos negócios em Espanha. O estabelecimento de uma relação de confiança e
conhecimento mútuo incentiva a fidelização de um fornecedor ou cliente.
De um modo geral, o espanhol não fala línguas estrangeiras e tem dificuldade em compreender o inglês
ou outras línguas, pelo que é imprescindível adaptar o material promocional e informativo ao espanhol e
facilitar assim a comunicação para eliminar barreiras culturais.
É conveniente fazer um seguimento cuidadoso dos pagamentos. É sempre aconselhável trabalhar com
seguro de crédito e obter informações fiáveis sobre os meios de pagamento através do banco e
desconfiar de sociedades de criação recente, as quais ocultam com frequência maus hábitos. Por outro
lado, evitar as reclamações nos tribunais, pelas longas demoras da resolução dos processos e a
ineficácia existente na recuperação de dívidas.
Na venda de produtos de consumo a retalhistas independentes de pequena dimensão, será necessário
conhecer o regime tributário especial deste tipo de actividade económica (o regime do “recargo” de
equivalência) e a sua dificuldade para declarar operações intracomunitárias, pelo que muitas empresas
tem que criar uma sociedade em Espanha para poder fornecer os clientes em igualdade de condições
com os concorrente espanhóis.
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2.2 Turismo
No sector do Turismo detectam-se as seguintes dificuldades:
•
Situação económica débil do mercado;
•
Crise da economia global gera clima de incerteza no emissor espanhol;
•
Incerteza quanto à duração da recessão;
•
Quebra acentuada dos níveis de confiança de consumidores e empresários bem como a drástica
contracção do consumo privado;
•
Espírito low cost instalado na procura turística (ofertas);
•
Forte retracção do turismo de negócios, face à quebra dos resultados empresariais;
•
Aumento do late-booking e do last-minute;
•
Altos níveis de desemprego e manutenção do nº de famílias com todos os seus membros
desempregados;
•
Racionalização da despesa;
•
Diminuição dos períodos de férias;
•
Redução do tempo de férias;
•
Falência de operadores e grupos turísticos (Talonotel, Marsans, Uniplayas, Club de Vacaciones);
•
Forte concorrência dos destinos nacionais;
•
Forte concorrência do centro da Europa em ofertas de city breaks;
•
Fluxos turísticos espontâneos e poucos organizados, com menor possibilidade de antecipação e
organização;
•
Intensificação da promoção com avultados investimentos por parte de destinos concorrentes
(Turquia, Egipto, Marrocos, Croácia, Tunísia);
•
Baixo nível de investimento em promoção no mercado de alguns destinos regionais, particularmente
para a diversificação da oferta.
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Espanha – Oportunidades e Dificuldades do Mercado (Outubro 2011)
3. Cultura de Negócios do Mercado
Principais aspectos a ter em conta pelas empresas portuguesas numa abordagem ao mercado:
•
Não tratar o mercado espanhol como um mercado mais de exportação, mas como o próprio mercado
interno. As empresas que em Portugal já vendem, quer ao retalho quer ao consumidor, estão melhor
preparadas para abordar este mercado.
•
Ter em conta que Espanha não é um mercado centralizado, único e homogéneo. Tal como já foi
anteriormente referido, tem diversas regiões com autonomia de gestão e legislação, com
características muito diferentes e variáveis nos aspectos de hábitos de comércio, de consumo,
preferências dos clientes, capacidade de compra, nível de desenvolvimento, e também clima e
cultura (língua). Estes aspectos incidem sobre a estratégia a aplicar na comercialização e sobre os
próprios produtos, que podem ser mais adequados em determinadas áreas face a outras. Nem
sempre as oportunidades estão em Madrid. É necessário analisar sector a sector.
•
De uma forma geral, Espanha é um mercado onde o preço é muito importante. A combinação
imagem - bom preço está na base de qualquer negócio de sucesso neste mercado.
•
Os segmentos de média - alta e alta gama não pagam necessariamente mais por uma maior
qualidade, pelo que é necessária uma análise aprofundada da concorrência no segmento alvo a
atingir.
•
Se bem que em algumas zonas será imprescindível o apoio de um representante-agente local, é
aconselhável um relacionamento directo com os clientes, o qual facilita o conhecimento da procura, a
criação de novos produtos adaptados à procura e o estabelecimento de relações comerciais mais
duráveis e estáveis.
•
Se a empresa deixar o cliente apenas nas mãos dos agentes, os clientes serão dos agentes e não
da empresa (a alteração de agente implicaria nesse caso a perda dos clientes).
•
É importante manter o contacto frequente com o cliente, bem como o cumprimento do acordado
quanto a prazos de entrega, condições da mercadoria, etc. O estabelecimento de relações de
confiança e de bom serviço, assim como a relação directa e pessoal, sem grande cerimónia, são
imprescindíveis para progredir no mercado. A falta de comunicação ou de resposta será interpretada
como sinal de posteriores incumprimentos.
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Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, E.P.E. – Av. 5 de Outubro, 101, 1050-051 LISBOA
Tel. Lisboa: + 351 217 909 500 Contact Centre: 808 214 214 [email protected] www.portugalglobal.pt
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