plástico: descrição e análise do ciclo de reciclagem.
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plástico: descrição e análise do ciclo de reciclagem.
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO PLÁSTICO: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO CICLO DE RECICLAGEM. HUMBERTO MARGON VAZ FILHO ORIENTADOR: PROFº LUIS FELIPE GUANAES JULHO DE 2006 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – CCS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO HUMBERTO MARGON VAZ FILHO PLÁSTICO: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO CICLO DE RECICLAGEM. BANCA: ________________________ Prof° Luis Felipe Guanaes (Orientador) ________________________ Prof° Rogério Ribeiro de Oliveira _______________________ Prof° Josafá Carlos Carlos Siqueira S.J. Agradecimentos: Agradeço a todas as pessoas que me ajudaram de forma direta ou indireta nesse trabalho. Seja na forma de colobaração efetiva ao trabalho aqui feito ou dando algum tipo de incentivo a mim nas horas de frustração e de pouca criatividade que por vezes me fez questionar a elaboração deste. Agradeço em primeiro lugar a minha família. Meu pai Humberto pelo incentivo e por agüentar meu mau humor. E minha mãe Angela pelos conselhos que influenciaram diretamente na produção desse trabalho, por agüentar também meu mau humor e por ter feito de mim um Geógrafo. Não poderia deixar de citar também meus queridos amigos que muitas vezes me deram apoio emocional nas horas de estresse. Quero fazer agradecimento especial aos meus amigos Cesar e Eduardo que também passaram nesse ano pela mesma difícil missão de concluir a faculdade. Também quero agradecer a minha analista, Marcia, por toda sua ajuda. Por último quero dedicar essa Monografia a uma pessoa que nunca questionou nada sobre minha vida acadêmica e mesmo assim ajudou a financiar boa parte dessa jornada sem nunca me desacreditar. Ela sabia que mais dia menos dia eu terminaria com louvor esse curso. Obrigado vovó Judith pelo total e irrestrito apoio. Espero que esteja assistindo meu triunfo de algum lugar. 2 Resumo: Os objetivos desse trabalho são em primeiro lugar, descrever o Ciclo de Reciclagem do Plástico começando a partir da extração da matéria-prima dom plástico o petróleo, mostrando o processo de transformação dele em produto e seu caminho até o consumo e descarte desse material. A partir dai descreveremos como é feita a reciclagem do produto até seu destino final que seria um novo produto pronto pro consumo. Depois faremos uma análise das redes que implicam esse complexo ciclo apontando falhas e apresentando possíveis melhoras para que aja uma continuidade no Ciclo de Reciclagem do Plástico. 3 Índice: INTRODUÇÃO______________________________________________06 1.Breve histórico sobre lixo no mundo _____________________________________ 09 2.Breve histórico sobre reciclagem ________________________________________ 11 DESCRIÇÃO DO CICLO DE RECICLAGEM DE MATERIAIS PLÁSTICOS________________________________________________14 1.A Produção do Plástico _______________________________________________ 14 1.1 O plástico e sua matéria-prima _____________________________________ 14 1.1.1 A História do plástico ___________________________________ 15 1.1.2 A exploração do petróleo no Brasil e no mundo ______________ 17 1.1.3 Uso do petróleo como matéria-prima para materiais plásticos ___ 19 1.2 O refinamento e as Indústrias Petroquímicas _______________________ 20 1.2.1 História da Indústria Petroquímica _________________________ 20 1.2.2 O processo de refinamento do petróleo para a transformação em resinas plásticas _________________________________________________ 23 1.2.3 Os tipos de resinas termoplásticas_________________________ 25 1.3 Os produtos feitos a partir de resinas plásticas ______________________ 27 1.3.1 Os setores da indústria que utilizam materiais plásticos ________ 28 1.3.2 Produtos que utilizam resinas termoplásticas ________________ 28 2. O Consumo e o Descarte do Plástico ____________________________________ 32 2.1 A chegada dos produtos aos consumidores ________________________ 33 2.1.1 Crescimento da produção de produtos feitos a partir do plástico no mundo ______________________________________________________ 33 2.1.2 A chegada á população e os locais de venda de produtos feitos a partir de resinas plásticas__________________________________________ 35 2.1.3 O consumo crescente do plástico nas grandes cidades ________ 36 2.2 O descarte dos produtos que utilizam resinas plásticas _______________ 36 2.2.1 A transformação do plástico em lixo e o seu descarte__________ 37 2.2.2 Os problemas causados pelos plásticos consumidos e descartados pela população________________________________________ 38 4 3. Reciclagem do Plástico _______________________________________________ 42 3.1 Coleta Seletiva no Município do Rio de Janeiro _____________________ 43 3.1.1 A Lei de Limpeza Urbana ________________________________ 43 3.1.2 Processo de Coleta Seletiva domiciliar da COMLURB _________ 47 3.1.3 Catadores de Lixo e as Cooperativas ______________________ 49 3.2 As empresas de separação de material plástico _____________________ 50 3.2.1 Indústrias que vendem seu lixo para reciclagem ______________ 51 3.2.2 Estudo de caso da Faria Plásticos _________________________ 52 3.3 As empresas de reciclagem de materiais plásticos ___________________ 55 3.3.1 Tipos de reciclagem do plástico ___________________________ 55 3.3.2 Pequenas e as grandes usinas de reciclagem________________ 56 3.3.3 Produtos feitos de resinas plásticas recicladas _______________ 58 ANÁLISE DO CICLO DO PLÁSTICO ____________________________60 1. Análise da produção do plástico ________________________________________ 61 2. Análise do consumo e do descarte do plástico ____________________________ 65 3. Análise da reciclagem do plástico_______________________________________ 68 CONSIDERAÇÕES FINAIS____________________________________76 BIBLIOGRAFIA _____________________________________________79 ANEXOS: FOTOS ___________________________________________________81 MAPA_____________________________________________________86 5 Índice de Fluxogramas: Fluxograma 1 – Esquema da Monografia___________________________________ 13 Fluxograma 2 – Rede de Produção do Plástico ______________________________ 30 Fluxograma 3 – Pólo Petroquímico________________________________________ 31 Fluxograma 4 – Rede do Consumo e Descarte do Plástico_____________________ 41 Fluxograma 5 – Rede de Reciclagem do Plástico ____________________________ 59 Fluxograma 6 - Ciclo de Reciclagem do Plástico _____________________________ 75 ÍNDICE DE TABELAS: Tabela 1 - Tipos de Resinas Plásticas _____________________________________ 27 Tabela 2 - Utilização do Plástico no Brasil __________________________________ 29 Tabela 3 - O Consumo de Plástico no Brasil ________________________________ 35 Tabela 4 - Disposição Final do Lixo no Brasil________________________________ 40 Tabela 5 - Quantidade de Lixo Reciclável Recolhido no Rio de Janeiro ___________ 48 Tabela 6 - Preço dos Produtos Comprados pela Faria Plásticos _________________ 54 Tabela 7 - Potencial Seletivo do Lixo Domiciliar Brasileiro______________________ 67 Tabela 8 - Potencial Seletivo do Lixo Industrial Brasileiro ______________________ 67 6 INTRODUÇÃO O plástico é um material com uma história interessante, foi descoberto quase que por acaso e revolucionou a indústria no mundo inteiro. Desde seu surgimento até hoje ele vem se tornando cada vez mais importante no dia-a-dia da civilização. Utilizado em diversos produtos que são consumidos diariamente pela população mundial, o plástico representa um marco na produção de qualquer tipo de mercadoria de uso doméstico. Ele se comporta como uma espécie de medidor de tecnologia doméstica. 1 A todo o instante todos os anos novos tipos de resinas termoplásticas diferentes são descobertas e inventadas. São resinas mais leves e mais resistentes, umas resistem mais ao frio, outras ao calor. Outras são extremamente resistentes e bastante flexíveis, assim como também existem aquelas não tão flexíveis e as feitas para agüentar altos níveis de pressão. Hoje existem tipos de plásticos mais resistentes e muito mais leves que o aço. Inúmeros tipos de resinas plásticas para diferentes tipos de utilidades contribuem no avanço tecnológico de produtos não só domésticos, como também para o uso industrial. Seja para uso em indústrias, seja para uso nos próprios produtos industrializado o plástico acompanha a produção de novas mercadorias que estarão nos mercados e futuramente nas casas e nos comércios servindo à população. “Uma das novas práticas utilizadas pelos para medir o grau de economistas desenvolvimento econômico de uma sociedade é verificar em que nível se situa o consumo do plástico em suas diversas formas e utilidades. Isso porque o seu uso espalhou-se de tal forma, que já não é possível conceber qualquer atividade da vida moderna, que não seja apoiada por objetos de plástico”. Jornal de Plásticos (2001). 1 Retirado do site Jornal dos Plásticos. 7 É difícil pensar em um mundo sem resinas termoplásticas, elas estão em toda à parte enraizada na nossa vida cotidiana. Dos objetos mais básicos como garrafas e copos plásticos, até peças de automóveis, passando por todos os tipos de produtos eletroeletrônicos, as resinas plásticas movem uma indústria. Na verdade é complicado dizer que existe uma indústria do plástico, porque ele está entranhado em diversos setores da indústria. Porém há uma grande preocupação em torno das resinas plásticas. Apesar de serem produtos fantásticos e terem uma grande e positiva importância na história da humanidade, os plásticos representam também um grande problema para a civilização. O plástico é responsável por uma grande parcela do lixo produzido no mundo inteiro, e com o crescimento do consumo esse problema só tende a piorar. As resinas termoplásticas são materiais não biodegradáveis, ou seja, não se decompõe com facilidade na natureza, fazendo com que seu descarte, hoje exagerado, provoque aumento na quantidade de lixo estocada. Então além do crescimento do consumo desses materiais o fato de demorarem a se decompor, ou seja, não se transformar em material natural outra vez, só faz aumentar mais o numero já expressivo de lixo acumulado que existe hoje no mundo. Além disso, o plástico é um produto volumoso apesar de leve, ele é de difícil estocagem causando outros problemas que serão abordados nesse trabalho. A reciclagem é uma solução bastante eficaz para esse problema, porém é preciso que funcione. Para isso traremos nesse trabalho uma discussão sobre a reciclagem do plástico começando com a descrição do Ciclo da Reciclagem. Para poder entender sobre a reciclagem do plástico é necessário compreender como funciona a “vida” dele enfatizando os aspectos positivos e negativos da sua participação na história da humanidade. E para que isso aconteça é preciso situar num contexto espacial a problemática das resinas plástica. Essa contextualização espacial será feita a partir do Município do Rio de Janeiro e do Município de Duque de Caxias. Duas localidades muito próximas, sendo Duque de Caxias parte do chamado Grande Rio e interligadas por um fator determinante no nosso estudo. O fato de que é em Caxias, mais especificamente no bairro Jardim Gramacho que fica o Aterro Sanitário de Gramacho, local onde são despejados todos os resíduos sólidos urbanos da cidade do Rio de Janeiro e onde está localizado o chamado Pólo de Polímeros do Rio de Janeiro. 8 O trabalho se divide então em duas partes, a primeira apresenta uma descrição a partir de estudos bibliográficos e observações em estudos de campo da rede de reciclagem do material plástico, iniciando-se no petróleo, que é matéria prima principal do plástico, e terminando nos produtos feitos a partir do material reciclável. A segunda parte trata-se de uma análise contextualizada sobre os possíveis problemas encontrados na rede de reciclagem, apresentando conseqüentemente a solução possível para estes. A parte da descrição do Ciclo de Reciclagem do Plástico será dividida em três etapas para melhor compreendermos essa rede, partindo da primeira que é a “Produção do Plástico”, passando pelo “Consumo e Descarte do Plástico” e terminando com a “Reciclagem do Plástico”. Essas etapas estão divididas em subetapas denominados processos. A primeira etapa denominada de “Produção do Plástico” é o começo do Ciclo de Reciclagem do Plástico. Ela será dividida em três processos. O primeiro processo é o da exploração da matéria-prima fundamental das resinas termoplásticas, o petróleo. O segundo processo da primeira etapa é o do procedimento de refinamento e transformação do petróleo em resinas termoplásticas. Essas resinas se derivarão em produtos de todos os tipos saídos dos mais diversos segmentos da indústria, desde as indústrias de bens duráveis até a de bens não-duráveis terminando assim a primeira etapa. A segunda etapa é aquela onde falaremos sobre a passagem dos produtos derivados do plástico pelo comércio e seu consumo pela população. Essa etapa é denominada “Consumo e Descarte do Plástico”. Os processos contidos nessa etapa são dois, o primeiro fala de como os produtos chegam aos diversos segmentos do comércio. O segundo mostra como é feito o descarte destes em forma de lixo. A terceira e ultima etapa é a da “Reciclagem do Plástico” e é formada por três processos. Esses são os mais importantes do nosso trabalho e terão atenção especial. Primeiro, falaremos do processo de Coleta Seletiva enfatizando o papel da COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), dos catadores de rua e das Cooperativas. O segundo processo é o que engloba as empresas que compram materiais plásticos e revendem o material separado e prensado. O terceiro e último processo é formado pelas empresas que compram plástico para reciclar e produzem novos produtos a partir reciclagem para venda completando assim o Ciclo de Reciclagem do Plástico. 9 1. Breve histórico sobre lixo no mundo. O surgimento do homem na superfície da terra trouxe consigo o início da produção do lixo. Os primeiros datam de aproximadamente três milhões de anos. Seiscentos mil anos atrás, na medida em que os homens começaram a raciocinar aconteceu o surgimento de novos métodos de sobrevivência, como a princípio a coleta e mais tarde a caça. Milhares de anos depois o homem aprendeu a cultivar e as plantações surgiram acompanhadas da criação de animais em cativeiro deixando de ser nômades e formando sociedades2. Tudo isso vêm acompanhado da produção de dejetos formados pelas sobras do que consumiam para sobrevivência. Quando a humanidade começou a consumir mais do que o necessário para a sobrevivência os seus dejetos tornaram-se acumulativos e conseqüentemente prejudiciais. Mais tarde o desenvolvimento piorou a situação do lixo. Quanto mais a população mundial se desenvolvia intelectualmente, mais ela crescia e mais ela produzia dejetos. Mas foi a partir da primeira revolução industrial no século XVIII que a situação se agravou. A Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra e criou uma massa de operários que trabalhavam produzindo novos objetos. A cada ano que se passava novas técnicas surgiam e novos produtos eram feitos. O homem começava a ter um pensamento consumista e também começava a ganhar dinheiro para poder consumir. Aliado a tudo isso novas máquinas surgiram e essas necessitavam de um combustível. As fábricas começaram a usar novos combustíveis fósseis como carvão e mais tarde o petróleo, que possibilitavam o crescimento da produção ainda mais rápido. Esses combustíveis poluíam o ambiente na sua queima e principalmente na sua extração. A maioria das máquinas era a vapor e precisavam de madeira que transformavam em carvão para poderem funcionar. Além dessa devastação causada pela revolução industrial, outro problema era claro e evidente no momento. Muitas dos produtos feitos nas fábricas foram feitos em larga escala e eram produzidos para consumo dos próprios trabalhadores e da população crescente mundial. Junto com o consumo vem o descarte. Aumentando a produção o consumo aumenta e a produção de lixo cresce também, criando um 2 Tirado do Atlas da História Universal. (O Globo) 10 problema de difícil solução. O que fazer com as sobras? Então começaram a surgir os primeiros sérios problemas com lixo que era jogado em rios, nos mares, enterrados ou jogado a céu aberto em locais afastados formando os lixões. Após alguns anos o mundo viveu um período de seguidos confrontos entre nações. Foi o período entre a primeira a e segunda guerras mundiais. Nessa época a humanidade teve um declínio, no que se diz respeito à economia, e a sociedade em relação ao meio ambiente. Todas as novas tecnologias eram voltadas para as guerras e havia grande produção de lixo. A guerra resultou numa divisão do mundo que durou até as décadas de e oitenta e noventa, onde o capitalismo teve seu apogeu. Durante a chamada Guerra Fria, resultado do conflito, onde comunismo e o capitalismo disputavam sua ação junto aos países do pós-guerra, sobretudo os europeus, novas tecnologias surgiram. Elas tinham como objetivo a superioridade tecnológica por parte de uns sobre os outros, sejam elas de cunho militar ou para a população civil. Nesses anos aconteceram os maiores agravamentos em termos de problemas ambientais principalmente por causa do lixo. A população crescia e consumia cada vez mais. Os produtos eram cada vez mais descartáveis sendo sempre substituídos por melhores. Foram também as décadas da corrida espacial e das novas tecnologias da indústria bélica. Nenhuma preocupação com lixo era considerada tão importante, devido às tensões causadas pelas duas grandes potências, do lado capitalista os Estados Unidos e do lado comunista as União Soviética, que sempre chamavam mais atenção da mídia e dos políticos. Após a década de oitenta, com o fim da guerra fria uma série de problemas ambientais foram percebidos em todo mundo inclusive o do excesso de lixo nas grandes cidades. O problema se agravou com o crescimento da economia americana e com a descoberta de novas tecnologias ligadas ao petróleo, principalmente devido à produção de plástico. Assim o consumo cresceu e o descarte de resíduos não só por parte da população, mas como também das indústrias se tornou um dos maiores problemas da humanidade. “O lixo é matéria-prima fora do lugar. A forma com que uma sociedade trata seu lixo, dos seus velhos, dos meninos de rua e dos doentes mentais atesta o seu grau de civilização. O tratamento do lixo doméstico, além de ser uma questão com 11 implicações tecnológicas, é antes de tudo uma questão cultural”. GRIPPI (2001) 2. Breve histórico sobre reciclagem. A reciclagem é um assunto bastante discutido no mundo inteiro. Com o advento da preocupação ambiental sendo ampliado, a reciclagem do lixo se tornou assunto fácil em qualquer discussão sobre tema meio ambiente. Porém pouco se fala das origens desse pensamento, dessa busca sobre onde e quando começou a se desenvolver a consciência ambiental relacionada aos resíduos produzidos pelos próprios seres humanos e assim se passar a pensar em reciclagem. Os primeiros materiais a serem reciclados foram os papeis. O papel foi descoberto por volta do ano 100 d.C. e desde então papeis usados já eram convertidos em polpa para se fazer novas folhas em qualidade inferior. A reciclagem do papel veio a se popularizar depois que a indústria gráfica começou a se desenvolver. A produção em massa de livros, revistas e principalmente o aumento da circulação dos jornais tornaram comum a reutilização dos papeis que já haviam sido lidos na confecção de papeis para outros fins, como papeis de padaria e caixas de papelão (GRIPPI, 2001). No Brasil a história não poderia ser diferente. No início do século, a partir da década de 1920 começou a reciclagem também do papel. Esse episódio ocorreu devido à intensificação do processo de industrialização do país e ao papel representar uma solução acessível e limpa para a matéria-prima na fabricação de papel. “O assunto da reutilização de materiais pelo mundo, diferente do que se pensava parece bastante antigo. No início do século, com o incremento da indústria gráfica o papel já era reciclado, os papeis de segunda mão passavam por processos industriais sucessivos que tornavam perfeitamente utilizáveis.” GRIPPI (2001). Outros materiais também têm sua história particular na reciclagem. Os metais têm histórias interessantes. Por exemplo, na Idade Média nas grandes batalhas entre povos, onde as armas eram apenas espadas e escudos, após o combate a parte vencedora passava recolhendo as espadas e outros utensílios de metal para serem reutilizado na construção de novas ferramentas de guerra (GRIPPI, 2001). 12 As latas de alumínio só surgiram em 1963, mais já tem importante espaço na indústria de reciclagem, pois a partir de 1968 já começavam a ser recicladas. No início, por ano, meia tonelada de alumínio voltava para ser reciclada, quinze anos mais tarde isso passou a ser o número por dia. As novas tecnologias também contribuíram para o avanço da reciclagem do alumínio, há 25 anos atrás um quilo de alumínio reciclado se transformava em 42 latinhas, hoje esse número subiu pra 62 latas. O Brasil é um dos maiores recicladores de latas de alumínio, com um total de 1,8 bilhões por ano. O vidro que é um material com mais de quatro mil anos de existência só começou a ser reciclado na década de sessenta nos Estados Unidos e hoje conta com mais de seis mil pontos de coletas de embalagens. No Brasil o começo da reciclagem aconteceu em 1966 no interior paulista (GRIPPI, 2001). Mas a ênfase do nosso trabalho é o plástico. Ele começou a ser reciclado por uma necessidade. Algumas fábricas que começavam a ter muito prejuízo com as perdas de produção, começaram a reaproveitar materiais plásticos, e à medida que eram separados do material comum os plásticos começaram a se valorizar devido a novas tecnologias que possibilitaram maior percentual do plástico reciclado na produção. O objetivo desse trabalho é descrever a as várias redes contidas no ciclo de reciclagem dos plásticos. A partir daí faremos uma análise do papel que essas redes exercem num todo formando uma só rede de reciclagem do plástico. Abaixo segue a legenda do esquema explicativo (fluxograma 1) das partes, etapas e processos do trabalho. PARTES ETAPAS PROCESSOS 13 Fluxograma 1 – Esquema da monografia. Breve histórico sobre reciclagem. INTRODUÇÃO Breve histórico sobre lixo no mundo. O plástico e sua matéria-prima. A Produção do Plástico. O refinamento e as Indústrias Petroquímicas. Os produtos feitos a Partir de resinas plásticas. DESCRIÇÃO O Consumo e o Descarte do Plástico. A chegada dos produtos aos consumidores. O descarte dos produtos que utilizam resinas plásticas. A Coleta Seletiva no Município do Rio de Janeiro. A Reciclagem do Plástico. As empresas de separação de material plástico. As empresas de reciclagem de materiais plásticos. Análise da Produção do Plástico. ANÁLISE Análise do Consumo e do Descarte do Plástico. Análise da Reciclagem do Plástico. 14 DESCRIÇÃO DO CICLO DE RECICLAGEM DE MATERIAIS PLÁSTICOS 1. A Produção do Plástico. O plástico é um material usado em praticamente tudo que existe no mundo moderno. Todo o tipo de material eletrônico possui de alguma maneira uma parte composta por resinas plásticas. Veículos automotores, eletroeletrônicos, móveis, além de diversos tipos de embalagens de alimentos são produzidos a partir de materiais termoplásticos. A cada ano maiores investimentos em tecnologia são feitos, a fim de desenvolver melhores formas de utilizar o plástico tornando-o mais durável, leve e barato. Por isso o plástico é um dos materiais mais encontrados no lixo urbano atual, no mundo inteiro. Na primeira etapa da descrição do Ciclo de Reciclagem do Plástico, veremos como ele foi descoberto e aperfeiçoado para que pudesse ser tão utilizado nos dias atuais. Essa etapa esta dividida em três processos. O primeiro deles visa dar uma visão ampliada sobre a história das resinas sintéticas e posteriormente um breve histórico sobre a principal matéria-prima utilizada hoje nos materiais plásticos, o petróleo. O segundo processo falará sobre a história da indústria petroquímica, sobretudo a do estado do Rio de Janeiro e como é feito o processo de transformação do petróleo em resinas termoplásticas separando os diversos tipos de materiais plásticos derivados do petróleo. No terceiro processo da primeira etapa passaremos pelos setores da indústria que utilizam as resinas plásticas na fabricação de seus produtos observando que produtos são esses e como anda o crescimento da utilização dessas resinas. 1.1 O plástico e sua matéria-prima. O plástico é o material com o maior crescimento tecnológico dos últimos tempos. No século XX, a partir da descoberta do petróleo como base para transformação dos plásticos, centenas de tipos de resinas termoplásticas diferentes foram descobertas e transformadas em matéria-prima para serem utilizados na 15 produção de novas mercadorias, substituindo antigas fibras sintéticas provenientes de outras partes da natureza, como as plantas e animais não fossilizados. Nesse primeiro processo descreveremos um pouco da história do plástico. Como ele surgiu, desenvolveu e se transformou em um dos materiais mais usados na indústria em geral na atualidade. 1.1.1 A História do plástico. O Plástico faz parte do grupo dos polímeros. Os polímeros são materiais compostos por macromoléculas. Polímeros vêm do nome Poli (muitos) + mero, sendo mero a unidade básica que por sua repetição compõem cadeias compostas de macromoléculas. O tamanho da cadeia, ou seja, a massa molar formada em sua maioria por átomos de carbono, é o aspecto principal que confere aos polímeros algumas características. Essas são baixa densidade, pequena resistência à temperatura e baixa condutividade elétrica e térmica. Porém, o polímero só começou a ser dominado a partir do século XIX. Os materiais poliméricos são usados há muitos anos. Desde os tempos primitivos e anos que datam de antes da Era Cristã já se usavam substâncias elásticas de resinas naturais extraídas de plantas. Outros tipos de materiais extraídos da natureza como chifres e casca de tartaruga também eram utilizados por terem a qualidade de serem moldáveis quando aquecidos. Esses procedimentos aconteciam nas Américas, Oceania e Ásia. Até o século XIX o uso dessas resinas era pequeno, mas o desenvolvimento da química permitiu o seu aperfeiçoamento e o seu melhor aproveitamento. 3 “Plástico é todo composto sintético ou natural que tem como ingrediente principal uma substância orgânica de elevado peso molecular. Em seu estado final é sólido, mas em determinada fase da fabricação pode comportar-se como fluido e adquirir outra forma. Em geral, os plásticos são materiais sintéticos obtidos por meio de fenômenos de polimerização ou multiplicação artificial dos átomos de carbono nas grandes correntes moleculares dos compostos orgânicos, derivados do petróleo ou de outras substâncias naturais”. História dos Plásticos. http://www.cafebandeira.com.br/histplast.htm 3 Tirado do site www.cafebandeira.com. 16 Em 1862 o inglês Alexander Parkes descobriu um material orgânico derivado da celulose e chamou de “Parkesina” em referência seu descobrimento. Esse material quando aquecido podia ser moldado e quando esfriado permanecia na mesma forma. A parkesina foi descoberta para substituir a borracha que era até então a matéria prima de muitos produtos e uma necessidade da época. Porém sua produção tinha custo muito elevado e não atraiu investidores. Então em 1889 o tipógrafo inglês John Wesley Hyatt e seu irmão Isiah descobriram um material que seria muito utilizado. Produzindo um caldo de duas partes celulose e uma parte de cânfora, gelatinizando depois a mistura sob pressão, na presença de solvente, foi criada o Celulóide. O Celulóide foi muito utilizado posteriormente nas indústrias, pelo seu potencial para plastificar. Os pesquisadores até hoje não sabem como os irmãos Hyatt sobreviveram a experiências com nitro celulose. Dada a sua capacidade de explosão a maioria dos cientistas da época não arriscou fazer esse experimento, o que explica por que a celulóide foi descoberta por um não químico. Hyatt é considerado o pai do Celulóide e também foi pioneiro na sua industrialização em larga escala4. O celulóide é um material parcialmente sintético. Hyatt descobriu o celulóide acidentalmente tentando fazer um material que substituísse o marfim usado para fazer bolas de bilhar. Havia sido feito um concurso nos Estados Unidos pela empresa “Phelan and Collander”, que daria 10 mil dólares para quem conseguisse o feito, já se preocupando com uma possível extinção dos elefantes de onde eram extraídos os marfins. Ele não conseguiu o prêmio, mas ganhou muito mais com industrialização do Celulóide e com os produtos que patenteou depois. John Wesley Hyatt patenteou o Celulóide e ganhou o prêmio a medalha “Perkin” conferida pela “British Society of Chemical Industry”. Porém o mais importante fato, no entanto aconteceu no início do século XX. Um químico belga naturalizado americano de nome Leon Hendrik Baekeland criou um papel fotográfico chamado de “Velox”, vendendo os direitos por um milhão de dólares a George Eastman, criador da Kodak. Baekeland dedicou-se a desenvolver um aparato que permitia o controle para variar o calor e a pressão da combinação de ácido carbólico (fenol) com formaldeído, que era o grande desafio da época para se fabricar uma resina plástica. 4 Tirado do site www.plasticoscarone.com.br. 17 Baekeland queria criar um tipo resina que pudesse ser usada industrialmente, uma resina que pudesse ser fundida e modelada facilmente. Desenvolveu então o primeiro material totalmente sintético, conhecido como “Bakelite” ou Baquelita (traduzido). Esse material substituiu inúmeros materiais naturais provenientes de animais e plantas, como marfim, casco de tartaruga e madeiras. Passando a ser usado na fabricação de pentes, cabos de facas, botões, materiais elétricos, jóias e em produtos fabricados até hoje com ela inclusive bolas de bilhar (GORNI, 2003). Depois disso as resinas plásticas começaram a ser utilizadas em diversos produtos e com o desenvolvimento de tecnologias e incentivos das indústrias principalmente as indústrias petroquímicas, ganharam espaço em toda a sociedade. 1.1.2 A exploração do petróleo no Brasil e no mundo. O desenvolvimento das tecnologias que formam novos tipos de resinas plásticas é acompanhado de perto também pela difusão do petróleo como matériaprima no mundo. O aumento da exploração do petróleo impulsionado pelo desenvolvimento de novas tecnologias de perfuração e de refino trouxe avanços também na descoberta de novos materiais plásticos e na sua exploração comercial e industrial em larga escala. “O petróleo é uma substância oleosa, menos densa que a água, constituída essencialmente pela mistura de milhares de compostos orgânicos formados pela combinação de moléculas de carbono e hidrogênio, constituindo longas cadeias parafínicas abertas e cicloparafinas ou anéis aromáticos ligados por complexos orgânicos variados. Sua cor varia de acordo com a origem, oscilando do negro ao âmbar. Apresenta-se sob a forma fluida ou semi-sólida, de consistência semelhante à das graxas, e encontra-se no subsolo a profundidades variáveis”. (POPP) 1998, p 332. O primeiro poço de petróleo a ser perfurado foi feito nos EUA em 1859 na Pensilvânia e foi descoberto pelo coronel Edwin L. Drake. Na época era extraído 19 barris por dia, pouco, comparado com a grandeza da exploração diária atual. No fim do século XIX o petróleo já era explorado em pelo menos 10 países, configurando entre os produtos mais valorizados do planeta. Nessa época começava a aparecer 18 os primeiros motores a explosão, antes disso o petróleo só era usado em iluminação de residências ou de locais públicos (BARATA, 2002). As maiores reservas de petróleo conhecidas atualmente estão localizadas no Oriente Médio mais especificamente em países como Arábia Saudita e Iraque que detém cerca de 25% e 11% respectivamente das reservas petrolíferas mundiais. Existem também importantes bacias inexploradas no Mar do Norte e no Canadá, porém são áreas onde o custo da exploração não compensa a sua retirada (GERALDO A., 2006). O maior produtor de petróleo no mundo é também o Oriente Médio, que fornece cerca de um terço do consumo mundial. A América do Norte, a Europa e a Ásia, também são grandes produtores, mas a grande diferença é que eles também são os maiores consumidores de combustíveis fósseis, sobretudo Estados Unidos e a região da Ásia banhada pelo pacífico (China, Japão, Rússia) tendo quase 90% do consumo mundial. No Brasil o petróleo só foi encontrado em 1897 quando um fazendeiro (Eugênio Ferreira de Camargo) descobriu em sua fazenda na região de Bofete, interior do estado de São Paulo, o que foi considerado o primeiro poço de petróleo do Brasil, que produziu apenas 2 barris de petróleo. Na década de 1930 começavam a se formar os primeiros movimentos pró-nacionalização dos bens do subsolo, em função dos trustes que se empoçavam não só dos locais que poderiam ter petróleo como também em lugares com outros minérios como ferro. Em 1939, no interior da Bahia, descobriram o primeiro poço de petróleo com potencial comercial. Nos anos 50 as pressões aumentaram e começaram a surgir campanhas como “o petróleo é nosso”, culminando com a criação da empresa estatal que teria o monopólio total do petróleo, Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRÁS), durante o governo de Getulio Vargas. No começo a Petrobrás produzia em torno de 2700 barris por dia. Esse número era muito pequeno levando-se em conta os 170 mil barris que eram consumidos diariamente em todo o Brasil. Isso se deu devido ao desenvolvimento industrial e das construções de estradas que interligavam os Estados e as cidades ampliando o consumo de combustíveis fósseis. 19 A partir da década de 50 a empresa precisou intensificar suas atividades exploratórias em busca de novos poços de petróleo. As crises internacionais no petróleo fizeram com que a Petrobrás intensificasse suas pesquisas em exploração do petróleo. Foi então que foi descoberta a bacia de Campos duplicando as reservas nacionais. Hoje há mais de 20 bacias petrolíferas no país e a produção ultrapassa 1,5 milhões de barris ao dia. A Petrobrás é também a empresa petrolífera mais avançada quando se trata de perfuração marítima. No mês de abril do ano 2006 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o país ultrapassou a barreira entre a quantidade de petróleo importado, que era maior, pela quantidade de petróleo exportado, decretando a auto-suficiência brasileira. O Brasil é hoje o décimo sexto país em produção de petróleo por dia (BARATA, 2002). 1.1.3 Uso do petróleo como matéria-prima para materiais plásticos. O petróleo tornou-se a partir dai a principal matéria-prima utilizada na fabricação de plásticos. Devido ao aumento cada vez maior da exploração do petróleo e conseqüentemente a sua maior utilização pela indústria, as resinas termoplásticas passaram ser mais utilizadas. Antes da metade do século XX, novas substâncias relacionadas ao petróleo foram descobertas, como poliestirenos, o vinil, o silicone, borrachas sintéticas e poliuretanas, ampliando cada vez mais o número de produtos que usavam materiais sintéticos na sua produção. Assim o Plástico e sua grande gama de diferentes tipos de materiais utilizados para diversos tipos de produtos passou a ser muito importante no desenvolvimento industrial de todos os paises no mundo. Muitas fábricas do mundo inteiro utilizam cada vez mais o plástico como matéria-prima para seus produtos. Muitos produtos que antes utilizavam outros tipos de matéria-prima na sua fabricação hoje utilizam as resinas termoplásticas. Existem diversos exemplos dessa substituição. O mais claro exemplo e que afetou bastante o mundo todo em termos econômicos e ambientais foi o fenômeno provocado pelo surgimento das garrafas feitas do material termoplástico chamado de Polietileno Tereftalato mais conhecido como garrafas PET. A maioria das grandes empresas de bebidas, principalmente as de refrigerante passaram a usar as garrafas PET no lugar de suas antigas embalagens de vidro. Outro exemplo também pode ser notado na indústria 20 automobilística que substituiu grande parte de suas peças feitas de metais por peças feitas a partir de materiais plásticos. Hoje em dia até móveis e mobílias de casas usualmente feitas de madeira, estão sendo feitas com materiais plásticos assim como praticamente todos os eletrodomésticos. O plástico surgiu como grande solução para alguns problemas socioeconômicos da sociedade. São produtos fáceis de modelar e muito mais baratos. Por serem fáceis de modelar e gastarem menos energia para isso, as empresas que começaram a trabalhar com plástico também economizaram na conta de energia. Além disso, por ser um material mais barato, o plástico acabou fazendo com que alguns os produtos também tivessem seus preços de mercado reduzidos possibilitando assim o aumento no número de venda entre as camadas mais pobres da população. O plástico tem menor durabilidade que alguns materiais e isso faz com que seja mais descartável que outros, porém sabe-se que hoje estão sendo desenvolvidos tipos de materiais termoplástico tão ou mais resistentes que alguns metais, tornando-o cada vez mais utilizado. 1.2 O refinamento e as Indústrias Petroquímicas. Vimos que o petróleo se transformou então na maior matéria prima para a fabricação do plástico. Esse produto, no entanto tem uma particular história. O petróleo revolucionou o mundo. A sua utilização como combustível permitiu as revoluções industriais e adiantou os avanços tecnológicos e econômicos no mundo inteiro, se transformando na mercadoria mais valiosa dos tempos atuais. Nesse capítulo falaremos um pouco do processo do seu refinamento para a transformação em material plástico dando destaque a Indústria Petroquímica e sua história, um dos fatores mais importantes no Ciclo do Plástico. 1.2.1 História da Indústria Petroquímica. Antes de explicar todo o processo de refinamento do petróleo em plástico para que assim falemos do começo em si do processo de produção industrial do plástico como material primário, falaremos um pouco sobre a história da indústria petroquímica no Brasil. Indústria essa que foi e é fundamental no Ciclo de 21 Reciclagem, pois representa o começo de toda uma cadeia, que pode se intitular cíclica e quem sabe até um dia chegar perto da auto-suficiência e do desenvolvimento sustentável. Na década de 50 houve um grande “boom” no que se diz respeito à utilização dos materiais plásticos. Por ser um material mais barato o plástico começou a substituir alguns materiais importantes como vidro, metal e madeira. No Brasil esse acontecimento não foi diferente. A tendência era do aumento real da utilização do plástico em grande parte dos produtos principalmente com o crescimento e desenvolvimento do país e o potencial consumista da população que crescia cada vez mais, numa taxa de 3% ao ano entre as décadas de 50 e 60 (dados do IBGE), a maior já registrada desde a criação do instituto. Em meados de 1955 foi implantada no Brasil a primeira refinaria de petróleo nacional. Ela esta localizada no município de Cubatão no interior do estado de São Paulo e possibilitou o processamento e surgimento de diversas substâncias derivadas do petróleo como, por exemplo, o Eteno, fundamental na produção de certas resinas termoplásticas. O surgimento dessa refinaria impulsionou o mercado do petróleo no Brasil, fazendo com que o Estado começasse a pensar em não depender tanto dos produtos importados de outros países. Além disso, esse projeto iniciou um grande crescimento no setor petrolífero, principalmente na parte de exploração do petróleo e nas indústrias petroquímicas, acarretando no desenvolvimento crescente das tecnologias e da economia do país. Diante desse quadro extremamente favorável ao desenvolvimento do setor começou-se a pensar na implementação de um parque industrial nacional que suportasse a demanda por resinas termoplásticas e outros materiais derivados do petróleo, fazendo com que o país parasse de depender das importações desses produtos. Na década de 60 o Grupo União, uma associação de empresas paulistas, vendo um possível caminho lucrativo no setor criou a Petroquímica União, e começou a projetar a primeira indústria petroquímica do país, situada no município de Capuava, também no interior do estado de São Paulo. O projeto foi intermediado pela Petroquisa empresa que detinha o monopólio das pesquisas de refino de petróleo no país e era uma das subsidiárias da Petrobrás. Envolvia empresas estrangeiras, grupos nacionais privados e o Estado. No fim da década de 60, mais especificamente no ano de 1969 foi iniciada a sua construção. Com isso logo 22 começaram aparecer indústrias de segunda e terceira geração de fabricação de plástico tornando assim a região num importante centro industrial e formando o primeiro pólo petroquímico do país 5. O projeto usado na implementação do pólo petroquímico de Capuava foi chamado de modelo tripartite, porque juntava a iniciativa privada nacional, empresas estrangeiras e o Governo Federal, tornando assim possíveis o investimento bilionário que era feito pra que fossem construídas as instalações do pólo. O governo bancava toda a infra-estrutura do local, e as empresas privadas nacionais e estrangeiras implantavam suas fabricas no local sendo a indústria petroquímica principal um resultante de parte dos investimentos do governo e parte da iniciativa privada. Com esse modelo dando certo em Capuava e com o Brasil em pleno o desenvolvimento econômico, dois novos pólos petroquímicos surgiram na década de 70 no Brasil. No município de Camaçari na Bahia depois da criação da Companhia Petroquímica do Nordeste (COPENE) e mais tarde no Sul do país a criação da Companhia Petroquímica do Sul (COPESUL) no pólo gaúcho do Triunfo no Rio Grande do Sul. As duas últimas empresas já surgiram como Sociedade Anônima e a Petroquisa (governo) detinha menos da metade das ações sendo as demais distribuídas entre as empresas privadas. Na metade da década de 80 foi criada a Norquisa, holding que passou a representar essas empresas. Do meio para o fim da década de 70 e início da década de 80 houveram no mundo crises relacionadas à produção do petróleo no mundo. Em função disso já aparecia aqui um pequeno declínio das participações estatais nas áreas petroquímicas, pois o Estado começava a voltar seus recursos para área de exploração e produção de petróleo buscando auto-suficiência, deixando de fazer os investimentos necessários para a expansão petroquímica. No início dos anos 90 em meio a um momento político conturbado um o amplo movimento de privatizações das estatais por parte do governo permitiu a venda das participações do Estado nas centrais petroquímicas. Isso gerou diferentes resultados nos três grandes pólos petroquímicos do país. A Petroquímica União foi a primeira a ser privatizada, passando a ter com maior acionista o Grupo Unipar. No Sul do país o maior acionista passou a ser o Grupo Odebrecht e Ipiranga. Essa aquisição pelo grupo possibilitou que o pólo se 5 Retirado do site www.Brasken.com.br, antiga COPENE. 23 desenvolvesse e investisse em novas tecnologias. No ano 2000 ficaram prontas a obras resultantes de um investimento de mais de um bilhão e meio de dólares, que culminou na duplicação do pólo petroquímico do Triunfo. Em Camaçari na Bahia, porém o sucesso anterior das privatizações dos outros pólos petroquímicos não se repetiu. Um grande conflito de interesses entre diversos setores políticos e empresariais apareceu na região, causando muitos problemas de controle e administração fazendo com que o pólo petroquímico baiano não se desenvolvesse mais. As indústrias foram se afastando principalmente pela falta de investimento na segunda geração da cadeia. Em julho de 2001 um consócio formado pelo grupo Odebrecht e Mariani, que já eram acionistas da COPENE e iriam vender suas partes, adquiriu após três leilões a parcela pertencente ao falido Banco Econômico que detinha o controle da Norquisa, holding que controlava a petroquímica. Logo após a aquisição o consórcio iniciou o processo de integração entre as empresas que formavam a primeira e segunda geração da rede criando um projeto de verticalização e integração da indústria petroquímica que culminou na criação da Brasken6. 1.2.2 O processo de refinamento do petróleo para a transformação em resinas plásticas. O petróleo, como vimos é a principal matéria prima dos plásticos e passa por uma série de etapas até se transformar no seu produto final, objeto principal do nosso estudo. Essas etapas formam uma rede que vai desde o refino do petróleo até a transformação do plástico em produtos industrializáveis. Existem cinco etapas (ver fluxograma 2) na rede de fabricação dos materiais plásticos. A primeira é da extração do petróleo feita no Brasil pela Petrobrás. A segunda passa pela refinaria onde a matéria-prima bruta, o petróleo, é refinada produzindo um material chamado nafta, matéria-prima principal na produção dos plásticos. Depois há três etapas (ver fluxograma 3), em três diferentes tipos de indústrias que são denominadas gerações e elas formam os chamados Pólos Petroquímicos. A primeira geração das indústrias é as Petroquímicas Básicas. Elas são seguidas pela 6 Idem ao 5. 24 segunda geração que são as indústrias de Resinas Termoplásticas. No final, na terceira geração o processo termina na Indústria de Transformação que é aquela que produz os utensílios feitos de resinas plásticas (CUNHA, 2002). No Brasil o maior extrator de petróleo bruto é a Petrobrás. Ela detém todos os direitos de extração de todos os poços de petróleo do país e é também que organiza e administra as suas explorações. O petróleo varia em seu estado físico, ele é encontrado em diversos lugares diferentes apresentando diversas formas diferentes. A maior parte do petróleo extraído no país vem de bacias oceânicas que estão concentradas em dois estados diferentes, São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo a extração é feita na Bacia de Santos onde o seu total potencial ainda não foi todo explorado. No Rio de Janeiro, estado que mais produz petróleo no Brasil, o mineral se concentra na bacia de Campos, principal produtor de petróleo do país. Na primeira etapa da cadeia de fabricação de materiais plásticos, o petróleo que é a matéria prima básica na fabricação das resinas termoplásticas passa pelo processo de refino. Esse processo se da dentro das refinarias na qual a mais conhecida, e a maior do país é a REDUC localizada no Estado do Rio de Janeiro. O petróleo é formado por complexa mistura de compostos com diferentes temperaturas de ebulição e por esse motivo é possível separa-los através de um processo chamado de destilação ou craqueamento. O resultado desse processo é uma substância chamada Nafta (ver Foto 1). A nafta é a grande responsável pela produção de materiais que saem da indústria petroquímica. A Petrobrás é responsável por toda a distribuição de nafta no Brasil. Ela detém o monopólio da produção desse produto no país e o distribui para a exportação ou para as empresas de primeira geração do país. Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP) de janeiro a setembro de 2002 o país produziu 42,5 milhões de barris de nafta e importaram outros 12,6 milhões. A segunda etapa pode ser chamada de primeira geração de indústrias. São elas as Indústrias Petroquímicas Básicas. No país como já sabemos existem três pólos petroquímicos onde estão localizadas as três únicas Indústrias Petroquímicas Básicas do País, Petroquímica União, de São Paulo, a COPESUL, do Rio Grande do Sul e a Brasken (antiga COPENE), da Bahia. Essas indústrias recebem a nafta exclusivamente da Petrobrás para usar como matéria prima na sua produção. 25 Nessas centrais petroquímicas o nafta é decomposto e mandado para a segunda geração das indústrias do setor. Na segunda geração de indústrias petroquímicas são produzidos petroquímicos básicos, como eteno, propeno, benzeno e tolueno, e ou petroquímicos intermediários como o cicloexano e o sulfato de amônia. O engenheiro químico Jenna Bezerra da Brasken explica como é feito processo de transformação do nafta em produtos que serão transformados em resinas termoplásticas na segunda geração de indústrias e terceira etapa do processo de transformação do petróleo em plástico: “Na primeira etapa da decomposição, a nafta vai para fornos em altas temperaturas, onde é quebrada e depois os gases que saem do forno são levados para uma área de compressão e por fim é feita a separação dos compostos em baixa temperatura, por colunas de destilação ou fracionamento.” (CUNHA R., 2002). Os produtos extraídos das grandes petroquímicas de base são matérias-prima para fabricação de algumas importantes resinas termoplásticas bastantes conhecidas e que serão utilizadas na fabricação de diversos produtos. O eteno, nome comercial do etileno, é usado como matéria-prima do polietileno tereftalado (PET) utilizado nas garrafas de refrigerantes e o policloreto de vinila (PVC) que é usado para fazer canos e conexões. A terceira geração de indústrias dos pólos petroquímicos é as chamadas indústrias transformadoras. Elas são responsáveis pela fabricação do produto final que vai para o comercio, ou para empresas que utilizarão o material com peça para outros produtos. Veremos alguns casos a seguir. 1.2.3 Os tipos de resinas termoplásticas. Os plásticos pertencem ao grupo dos polímeros, moléculas muito grandes, com características especiais e variadas. Os plásticos são materiais bem leves e maleáveis, que não se estilhaçam quando quebram, por isso são muito utilizados. O plástico é utilizado em quase todos os setores da indústria principalmente por causa de sua versatilidade. Os plásticos são divididos em vários grupos que estão contidos em dois grupos maiores, os termoplásticos e os termorrígidos. Os termoplásticos são aqueles que amolecem ao serem aquecidos podendo ser moldados e quando resfriados endurecem tomando uma nova forma. Esse processo pode ser repetido diversas 26 vezes. Os termoplásticos correspondem à maioria dos produtos consumidos com um total de 80% de todos os produtos feitos de plástico. O outro grupo é dos termorrígidos que são aqueles que não derretem e que, após a primeira moldagem, não podem mais ser moldados. Existe uma classificação universal para os tipos de plásticos e cada um tem uma utilidade diferente. As principais matérias-primas produzidas hoje e fornecidas pelas indústrias petroquímicas para as indústrias transformadoras são o polipropileno (PP), o policloreto de vinila (PVC), o polietileno de baixa densidade (PEBD), o polietileno de alta densidade (PEAD) e o polietileno terftalado (PET). Empresas como a Sinimplast (terceira geração, ver fluxograma 2) uma das maiores indústrias de embalagens plásticas do país recebem esse material e fornecem embalagens para empresas de alimentos e higiene como a Minerva, Copersucar, Colgate-Palmovile, a L’Oreal entre outras. Além disso, não poderíamos deixar de mencionar um dos principais mercados de plástico, o das embalagens de polietileno tereftaldo (PET). Esse segmento da indústria chega a crescer anualmente cerca de 10 %, e produziram no ano 2001 mais de 360 mil toneladas de embalagens. As indústrias de refrigerantes representavam até 2002 80% do mercado de embalagens seguidas pelo mercado de água com 10 % e o de óleo com 4%. Essas empresas buscam novas tecnologias para poderem incluir no segmento de embalagens PET as cervejarias, que chegam a vender cerca de 8 bilhões de litros de bebida por ano. Porém as cervejarias só entrariam nesse mercado caso as embalagens de PET garantissem a validade de 180 da bebida em prateleira, como ocorre com as embalagens de vidro e alumínio7. 7 Dados retirados do site www.achetudoeregiao.com.br. 27 Tabela 1 - Tipos de resinas plásticas. N° Abreviação Nome da resina. 1 PET Polietileno Tereftalato. 2 PEAD Polietileno de Alta Densidade. 3 PVC Polecloreto Vinila. 4 PEBD Polietileno de Baixa Densidade. 5 PP Polipropileno. 6 PS Poliestireno 7 OT Termorrígidos (PU – Poliuretano, EVA – Policetato de Etileno Vinil e etc...). Outros plásticos especiais de engenharia. de Produtos. Frascos de refrigerantes, produtos farmacêuticos, produtos de limpeza, mantas de impermeabilização e fibras têxteis. Embalagens de produtos domésticos, de limpeza, cosméticos e produtos químicos, tubos para líquidos e gás, tanques de gasolina para veículos automotivos. Frascos de água mineral, tubos e conexões, calçados, encapamentos de cabos elétricos, equipamentos médico cirúrgicos, esquadrias e revestimentos. Embalagens de alimentos, sacos industriais, sacos para lixo, lonas agrícolas, filmes flexíveis para embalagens e rótulos de brinquedos. Embalagens de massas e biscoitos, potes de margarina (potes em geral), seringas descartáveis, equipamentos médicocirúrgicos, fibras e fios têxteis, utilidades domésticas e autopeças (pára-choques de carros e etc...). Copos descartáveis, placas isolantes, aparelhos de som e TV, embalagens de alimentos, revestimento de geladeiras, material escolar. Cds, eletrodomésticos, corpos de computadores, solados de calçados, interruptores, peças industriais elétricas, peças para banheiros, pratos travessas, cinzeiros, telefones e etc... (fonte: www.achetudoeregiao.com.br) 1.3 Os produtos feitos a partir de resinas plásticas. As resinas termoplásticas são materiais usados em praticamente todos os setores industriais. Desde a indústria alimentícia até a automobilística, em bens duráveis, não duráveis ou descartáveis o uso do plástico vem tendo um crescimento avançado em setores em que já eram utilizados e em cada vez mais novos tipos, sejam através de novas tecnologias substituindo antigos produtos, ou seja, através 28 do aumento da produção daqueles produtos que já utilizavam as resinas termoplásticas como matéria-prima. 1.3.1 Os setores da indústria que utilizam materiais plásticos. Muitos setores das indústrias utilizam em seus produtos os materiais plásticos. Saúde, educação, automóveis, transportes, telecomunicações, informática, construção civil, construção naval, moveis, embalagens, agricultura, pecuária, calçados entre outros podem usar essas resinas direta ou indiretamente. A partir do ano de 1999 o governo brasileiro passou a utilizar notas no valor de dez reais feitas de resinas termoplásticas. Mais resistente e de difícil falsificação as cédulas plásticas se tornaram mais um produto de um segmento a utilizar o plástico como matéria prima, nesse caso um setor pouco provável. As empresas que usam o plástico diretamente são aquelas da chamada terceira geração de indústrias petroquímicas ou indústrias transformadoras. São elas que pegam a resina termoplástica plástica e a transformam em produtos prontos para serem usados. Esse processo, chamado de injeção consiste basicamente em colocar a resina termoplástica quente em moldes que ao serem resfriados se transformaram em produtos plásticos. Existem vários exemplos de indústrias de transformação que utilizam produtos injetados, elas fazem parte da rede de transformação do petróleo em plásticos nos pólos petroquímicos. Um exemplo claro dessas empresas é a Sinimplast, uma empresa situada no pólo petroquímica de São Paulo e que produz embalagens para produtos de empresas mais conhecidas como Unilever e L’Oréal. Essas empresas é que utilizam indiretamente os materiais plásticos já que o seu principal produto esta dentro de embalagens feitas de resinas termoplásticas. As resinas também podem ser encontradas indiretamente em outros produtos como automóveis e eletrodomésticos e ainda existem aquelas fábricas que utilizam o plástico em seu processo de fabricação e não no seu produto final. 1.3.2 Produtos que utilizam resinas termoplásticas. A partir dessas informações sabemos que os plásticos estão divididos em diversos tipos e assim são utilizados em diversos setores da indústria. Podemos 29 então entender a importância que esse material tem na sociedade consumidora atual. A maior parte de tudo que se produz contém algum tipo de resina plástica seja em alguma parte do seu processo de produção, seja no produto inteiro final. Observamos então um grande crescimento na indústria do plástico no Brasil, sendo um dos setores da economia que mais se desenvolveu nos últimos anos. Existem mais de seis mil empresas transformadoras de plásticos no mercado nacional, fomentados pelo crescimento de indústrias petroquímicas de segunda geração. O faturamento global do setor gira em torno de aproximadamente cinco bilhões de dólares por ano, gerando duzentos mil empregos diretos, recolhendo mais de 1,5 bilhões em impostos todo o ano. Isso faz com que haja o consumo anual apresente um crescimento de mais de quatro milhões de toneladas de resinas termoplásticas. No Brasil a maior parte do que se produz ligado a resinas plásticas se diz respeito á indústria de embalagens (GRIPPI, 2001). “O plástico é utilizado em quase todos os setores da economia, como: construção civil, lazer, telecomunicações, indústrias eletroeletrônica, automobilística e médico-hospitalar e no transporte de energia. Atualmente o setor de embalagens é o que mais se destaca na utilização do plástico. Aproximadamente 30% das resinas plásticas consumidas no Brasil destinam-se a indústria de embalagens”. GRIPPI (2001) Tabela 2 - Utilização do plástico no Brasil. Indústrias Embalagens Automobilística Eletroeletrônica Construção Têxtil Outras Porcentagem 30% 20% 15% 15% 15% 5% (GRIPPI, 2001) 30 Fluxograma 2 – Rede de produção do Plástico. PETRÓLEO (EXPLORAÇÃO) NAFTA (REFINAMENTO) MATÉRIA-PRIMA DAS RESINAS PLÁSTICA (Ex. ETENO) PETROQUÍMICA BÁSICA MULTINACIONAL (PETROBRÁS) REFINARIA (REDUC) PRODUTO FEITO DE PLÁSTICO PRODUTO TIPO DE INDÚSTRIA (1ª GERAÇÃO) (GARRAFA DE REFRIGERANTE) INDÚSTRIA DE TRASNFORMAÇÃO (3ª GERAÇÃO) RESINA PLÁSTICA (Ex. PET) PETROQUÍMICA (2ª GERAÇÃO) 31 Fluxograma 3 – Pólo Petroquímico. PETROQUÍMICA BÁSICA (1ª GERAÇÃO) PÓLO PETROQUÍMICO INDÚSTRIA DE TRASNFORMAÇÃO (3ª GERAÇÃO) PETROQUÍMICA (2ª GERAÇÃO) 32 2. O Consumo e o Descarte do Plástico. A cada ano uma incrível variedade de materiais totalmente plásticos ou que utilizam alguma resina termoplástica aparece no mercado. Seja na forma de embalagens ou como produtos finais, o plástico se destaca pela sua versatilidade. Por ser fácil de moldar, e por ser cada vez mais resistente e barato. Essas resinas estão cada vez mais presentes no dia a dia da população, principalmente nas grandes cidades. É fácil notar a presença desse material em nossas vidas. Em qualquer supermercado é difícil achar um produto que não contenha uma embalagem plástica. As carnes e os vegetais que são vendidos em feiras e não são embalados industrialmente também são colocados em sacos plásticos. Até o pão que normalmente está no saco de papel, hoje já é colocado em um saco plástico. A grande maioria dos produtos da indústria alimentícia hoje é embalada com plásticos. Alguns alimentos ainda têm metais ou vidros como embalagens, porém há uma grande possibilidade de essas embalagens serem substituídas. Basta lembrar das garrafas de refrigerante que antes eram feitas de vidro e hoje só se encontra em forma de PET. Além dos produtos alimentícios existe também uma incrível gama de objetos feitos de resinas termoplásticas que de algum modo são consumidos. Eles estão por toda parte, em praticamente todos os eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Estão nos móveis das casas e nas vestimentas, além é claro de compor grande parte da estrutura dos automóveis. Resumindo, existe uma certa dependência por parte dos seres humanos aos materiais plásticos e também um enorme consumismo relacionado aos produtos que dele são feitos. Muito plástico é consumido e a maioria é descartável. Por ser descartável esse plástico produz um enorme problema para sociedade que os consome. É o problema do descarte do plástico, material não biodegradável e que se acumula em forma de lixo. 33 2.1 A chegada dos produtos aos consumidores. Os produtos saem das fábricas para os consumidores por intermédio do comércio. Ali é começo da segunda etapa do Ciclo de Reciclagem, que se inicia com o processo de chegada dos produtos aos consumidores. A cada ano o comércio vende mais plástico embutido nos seus produtos. Quem ganha com isso é o comerciante e a indústria. Novas técnicas surgem para que haja maior consumo. Novos profissionais se juntam aos produtores e comerciantes para “empurrar” novos produtos à população. E assim a cidades se entopem de consumidores e grandes lugares próprios para isso. 2.1.1 Crescimento da produção de produtos feitos a partir do plástico no mundo. Todos os anos novas tecnologias são descobertas na indústria de produção do plástico. Mais leve, mais resistente, de menor custo e mais fácil de moldar. Essas entre outras características, dependendo da utilização, fazem com que as resinas termoplásticas sofram modificações a todo o momento. Isso acontece por uma exigência do mercado para que novos produtos cheguem às prateleiras das lojas e possam ser consumidos cada vez mais pela população, produzindo cada vez mais lixo. Movida pelo consumismo, a população mundial fica sendo o regulador desse aumento. A cada pesquisa de mercado que é feita se constata que é preciso melhorar sempre o produto. As pesquisas estão sempre em busca do melhor para empresa, e o melhor para empresa é sempre aquilo que faz o consumidor querer consumir mais e diante disso, gastar mais. Novas técnicas de produção que vão além da praticidade em novos produtos e o custo menor na produção, englobam design e um bom projeto de marketing, fazendo crescer as vendas e aumentar o consumo. A praticidade seria na forma como são feitos os produtos. Sendo práticos como o nome já diz, fazendo com que tudo seja descartável e as pessoas não acumulem coisas em suas casas. Bom para o consumidor que guarda menos coisas, bom para as empresas que vendem mais e não tão bom para o meio ambiente. Os utensílios descartáveis são um problema ambiental, sobretudo as embalagens plásticas 34 descartáveis que não são biodegradáveis e acabam se acumulando na forma de lixo. Um claro exemplo disso é a garrafa PET que substituiu as garrafas de vidros que eram reaproveitadas, tornando mais prático o consumo de bebidas. Esse tipo de modificação só fez baixar o custo dos produtos para os fabricantes. No exemplo do PET houve um aumento considerável no consumo de refrigerantes quando esses passaram a ser vendidas em garrafas plásticas. Houve também ainda com o aparecimento e a popularização dessas embalagens no mundo, o surgimento de novas pequenas empresas tanto como produtoras de bebidas menos conhecidas, como também como empresas produtoras de embalagens plásticas, nesse caso empresas de maior porte. O design também foi fundamental para o consumismo, tanto que cada vez mais há investimento nisso. Muitas pessoas consideram a imagem na hora de comprar produtos, e com o aparecimento e a utilização das resinas termoplásticas nesses, ficou mais fácil de modelar embalagens e o próprio conteúdo. Vários produtos se caracterizam bastante pela sua embalagem, por exemplo, todos sabem como é formato de uma garrafa de Coca – Cola, mesmo que ela esteja sem o rotulo. No final, hoje em dia são feitos muitos investimentos também numa área que serviu para o crescimento do consumo de produtos industrializados, o marketing. Muito dinheiro é gasto em marketing nas empresas hoje em dia. Os estudos sobre propaganda aumentam a cada ano abrindo mais espaço para profissionais dessa área nas empresas. O marketing serve para levar as pessoas a comprarem os produtos de uma certa empresa. Além de tentar mostrar que aquele produto é bom e devem ser comprados, os chamados “marqueteiros” travam batalhas entre si para dizer de quem é o melhor produto. O crescimento do consumo está ligado a esses fatores e com esse vem também o aumento do despejo dos materiais que a cada dias ficam mais descartáveis e substituíveis. O lixo então aumenta dia após dia por conta desse despejo, aumentando também as preocupações ambientais ligadas a ele. 35 2.1.2 A chegada á população e os locais de venda de produtos feitos a partir de resinas plásticas. Após esse primeiro processo de produção das resinas plásticas em geral, os produtos que delas são resultantes são encaminhados para os locais onde entrarão em contato com a população consumidora. Após sair das empresas que transformam as resinas plásticas em produtos, eles vão para os setores do comércio que vendem esses produtos resultantes de resinas plásticas. Esses setores são os mais variados. Na verdade quase todos os seguimentos do comércio que trabalham com vendas de materiais e bens duráveis e não duráveis, vendem plástico, direta como os produtos feitos inteiramente de plástico, ou indiretamente como produtos que tem embalagens plásticas, por exemplo. Aqui então começa uma nova rede no que descrevemos como ciclo plástico. Os plásticos chegam de diversas formas aos consumidores. A população, no entanto não tem idéia da quantidade de plástico que consomem em suas residências. A começar pelos chamados bens duráveis como televisores, computadores, eletroeletrônicos em geral, geladeiras fogão e eletrodomésticos, além de outras coisas como cds e caixas, fora os automóveis e outros tipos de materiais que nem temos idéia de que possuem alguma parte de plástico. Tabela 3 - Consumo de Plástico no Brasil. (Mil toneladas/ano) Tipo/Ano PEAD 90 230 91 258 92 260 93 271 94 282 95 284 96 290 97 291 PEBD 460 485 491 502 510 515 517 520 PP 230 290 288 295 300 305 307 315 PS 125 127 122 130 145 147 152 160 PVC 340 400 410 409 410 412 420 429 PET 7 12 20 40 60 62 70 74 Fonte: (GRIPPI, 2001) 36 2.1.3 O consumo crescente do plástico nas grandes cidades. O plástico é o material que mais cresce em termos de consumo diário no mundo. A cada dia mais e mais pessoas consomem novos produtos feitos de resinas termoplásticas ou com embalagens de plástico. Além disso, novos produtos com esses materiais estão sendo lançados a toda hora no mercado. No Brasil esses dados não são diferentes. O Brasil consome em média por ano 27 quilos de plástico, esse número, referente ao ano de 2000 era de apenas nove quilos em 1992 e a tendência é aumentar mais. A estimativa é que até 2010 essa quantia passe dos 100 quilos. Na Europa e nos estados Unidos os cálculos apontam para algo em torno de 80 e 100 quilos respectivamente, lembrando que esses dados são do ano de 2001. Nessa velocidade a quantidade de plástico consumido por habitante anualmente certamente estará num patamar tal, que será difícil sua redução, dado o grau de dependência da população urbana mundial a esse material 8. “No Brasil, o consumo de plástico por habitante situou-se ao redor de 27 kg, no ano passado, contra um consumo de apenas 9 kg por pessoa em 1992. Para 2001, as estimativas indicam que o país atingirá cerca de 30 kg por pessoa. Embora significativo, principalmente se levarmos em conta o crescimento verificado nos últimos anos, o consumo de plástico no Brasil é ainda bastante inferior ao de paises mais adiantados, onde os Estados Unidos despontam com 100 kg ao ano por habitante e os países da Europa com 80 kg por habitante, aproximadamente”. Jornal dos Plásticos Abril de 2001 2.2 O descarte dos produtos que utilizam resinas plásticas. Todo esse consumismo que envolve a produção de resinas plásticas é seguido de perto por um sério problema. O lixo produzido pela população que consome produtos plásticos ou qualquer um que tenha algum de tipo de polímero como parte de sua estrutura, se acumula e trás transtornos a própria população. Veremos agora o que acontece com o plástico quando se transforma em lixo. 8 Dados retirados do Jornal dos Plásticos em sua publicação na Internet. 37 2.2.1 A transformação do plástico em lixo e o seu descarte. Cada vez que uma garrafa é comprada por uma pessoa ela já tem uma sentença, se transformar em lixo. Depois de ser usada, tirando poucos casos onde ela é reaproveitada ou utilizada em outra situação ela se transforma em dejeto. Esse não é apenas o caso da garrafa, mas também de inúmeros materiais. Brinquedos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, móveis, peças de automóveis, além das incontáveis embalagens descartáveis, tem uma vida útil breve e que ao seu final são levados ao descarte. Existem algumas maneiras de os materiais plásticos serem descartados, a mais comum é como lixo normal misturado com os outros tipos de lixo (vidro, papel, metais, orgânicos e etc...). O descarte feito dessa maneira causa grandes problemas na hora de uma possível separação para reciclagem, pois além do gasto com esta, a necessidade de limpeza do material pode provocar aumento do custo do produto reciclável na hora da venda para empresas de reciclagem. É sempre pior ter que separar e limpar os materiais. Outro meio do plástico ser descartado é no tipo bruto, jogado sem ser embalado sem ir pra nenhuma lixeira. Além da poluição lógica isso implica, jogar lixo em qualquer lugar seja na rua, seja em rios, seja no mar ou em matas causa poluição visual, muito ruim para a imagem de uma cidade grande e turística como é o caso da cidade do Rio de Janeiro. O mais certo então é fazer uma separação, ou seja, uma coleta seletiva. Separando o plástico dos demais lixos, a população faz com que a empresa que presta serviços economize e tenha maior facilidade com o lixo. Além de que o lixo separado não vai para lixões e nem aterros sanitários, ele vai para empresas de separação e depois para usinas de reciclagem para serem transformados em novos produtos, não sendo acumulado como lixo no meio ambiente. 38 2.2.2 Os problemas causados pelos plásticos consumidos e descartados pela população. Como foi dito acima o lixo acumulado representa um dos grandes problemas da humanidade, e dentro dessa esfera de resíduos sólidos urbanos está o material plástico que é descartado diariamente pela população. O plástico é um tipo de lixo com características que o diferem dos demais lixos e tem suas próprias formas de poluir, causando danos não só ao meio ambiente, mas como também à saúde pública e às estruturas urbanas de grandes cidades como o Rio de Janeiro. O plástico está envolvido em diversos tipos de problemas. Sendo ele um derivado do petróleo, já na sua matriz, na refinaria e nas indústrias petroquímicas básicas, começa o processo de poluição derivado dos gases que dessas indústrias são expelidos. No Rio de Janeiro está localizada uma das maiores refinarias de petróleo do país a REDUC, que produz gases que são despejados constantemente, vinte e quatro horas por dia. Além dela existe também o problema com indústrias petroquímicas que são altamente poluidoras. A etapa do Ciclo do Plástico onde mais se encontram problemas é a relacionada ao descarte dos materiais termoplásticos. Como já vimos o plástico é um material não biodegradável e demora a se decompor, por isso ele se acumula em forma de lixo trazendo conseqüências drásticas a uma cidade. Com acumulo de lixo outros problemas começam a aparecer e esse problema se acentua quando se trata de uma cidade grande como é aqui o caso do município do Rio de Janeiro. Os mais preocupantes materiais que contém alguma forma de resina plástica são aqueles dos bens não duráveis, ou seja, aqueles produtos que tem vida curta que são descartáveis. Nesse grupo está contido todo o tipo de embalagens. Quase todos os produtos que compramos em supermercados e que servem para nossa alimentação utilizam embalagem plástica. As frutas, verduras, carnes, queijos e frios, quando não vêm empacotados em algum recipiente plástico, estão dentro de um saco, também feitos de resina plástica. Existem também os diversos produtos de limpeza e alguns produtos de higiene pessoal que também são embalados em potes como xampus, desodorantes, sabonetes entre outros. Uma das maiores preocupações com os materiais plásticos está relacionado às garrafas de refrigerante. Elas são feitas de uma resina termoplástica chamada Polietileno Tereftalato. Mais conhecido como garrafas PET, elas estão substituindo 39 cada vez mais embalagens não só de refrigerantes, mas como também outros tipos de alimentos, e representa uma boa parte do volume de lixo encontrado nos resíduos sólidos urbanos. Esse lixo entulhado sem ser tratado, mesmo que esteja num aterro ou lixão provoca problemas sérios como a produção de chorume. O chorume é um líquido preto proveniente de locais onde se tem despejo de lixo. Ele é inevitável e comum em qualquer área onde se trata o lixo e deve ser tratado para que não crie danos ao ambiente como a contaminação de rios e lençóis freáticos. No caso do aterro sanitário de Gramacho no Rio existe um certo tratamento do chorume que não é suficientemente adequado à demanda desse local. Mas esse é um problema em si do conjunto formado por todos os tipos de lixo. O Plástico especificamente tem diferentes formas de poluir o meio. Por ser um material descartável e ser produzido principalmente em forma de embalagens as resinas termoplásticas se transformam em uma arma danosa na sociedade. Em primeiro lugar é um material resistente, por isso não se desfaz e quando descartado de forma irregular em locais não próprios, pode obstruir possíveis passagens como, por exemplo, bueiros, tubulações e galerias pluviais. Além disso, uma grande parte desses dejetos é formada por garrafas em geral, locais ideais para a proliferação de larvas de mosquitos, como o Aedes Aegypti transmissor da Dengue. Doença que ficou fora de controle nos últimos anos no Estado do Rio de Janeiro sendo registrados inúmeros casos. A Dengue é apenas uma das muitas doenças relacionadas ao lixo no caso a água se acumula no lixo, mas ela tem que estar limpa. Ainda existe o caso daquelas doenças que são adquiridas pelo contato da população, principalmente a de baixa renda que não tem acesso ao saneamento básico e muito menos aos meios de limpeza urbana, com o lixo. Outro problema sério é relacionado ao lixo despejado na rua ou nas encostas. Pelo mesmo motivo do acumulo de água, o plástico acumula resíduos que fazem aumentar o peso bruto do lixo. Quando o material é despejado numa encosta ele ali impede que a chuva entre no solo e se espalhem. Ao invés disso ele faz com o liquido faça peso sobre o solo na encosta causando o processo de erosão e podendo resultar em desabamentos. 40 E por fim um problema que é muito comum em cidades turísticas como o Rio de Janeiro. O despejo de plásticos em locais inadequados principalmente em locais onde há algum tipo de lago, lagoa, rio ou mar causa a chamada poluição visual. Com o plástico é um produto leve ele bóia nesses locais provocando um contraste na paisagem exuberante da cidade, afastando turistas e prejudicando a economia. Tabela 4 - Disposição Final do Lixo no Brasil. Quantidade (%) 80% 13% 5% 1% 0,9% 0,1% Local Lixão a céu aberto Aterros controlados Aterros sanitários Usina de reciclagem Usina de compostagem Usina de incineração Fonte: IBGE 41 Fluxograma 4 – Rede do Consumo e Descarte do Plástico. INDÚSTRIA COMÉRCIO POPULAÇÃO LIXO LIXÃO A CÉU ABERTO PROBLEMAS AMBIENTAIS IMEDIATOS ATERRO SANITÁRIO CONTROLADO FUTUROS PROBLEMAS AMBIENTAIS RECICLAGEM NÃO HÁ PROBLEMAS AMBIENTAIS 42 3. Reciclagem do Plástico. Chegamos então ao ponto chave de nosso trabalho. Veremos nesse capítulo como se da a última etapa do Ciclo de Reciclagem do Plástico. Desde começo vimos que o plástico é um produto derivado do petróleo e que passa por diversos processos até se transformar numa resina. Essa resina é transformada em um material que é usado como matéria-prima base dos produtos feitos de plásticos. A partir daí, na segunda etapa vimos como é a chegada desses produtos ao consumidor e como ele é descartado em forma de lixo. Quando a população se desfaz desse lixo ele passa a ser um problema pra sociedade. Nas grandes cidades então onde a produção de lixo é mais significativa temos um agravamento da situação. A produção do lixo nas grandes metrópoles é muito maior e por isso devemos tratá-las com mais seriedade, dada à urgência da situação. Na maioria dessas metrópoles os locais destinados ao despejo do lixo já esgotaram suas capacidades ou estão muito próximo disso. Nesse trabalho estamos tratando de uma das maiores cidades do mundo, o Rio de Janeiro e a região onde esta localizada o local onde é despejado todo o lixo da cidade, o Grande Rio mais especificamente no município de Duque de Caxias no bairro de Jardim Gramacho. Nessa área está localizado Aterro Sanitário Jardim Gramacho ou simplesmente Lixão de Gramacho para onde vai todo o lixo do Rio e Grande Rio e que fica as margens da Baía de Guanabara. É nesse local, não por acaso, que fica o Pólo de Polímeros do Estado do Rio de Janeiro foco principal do nosso trabalho. Começaremos essa etapa tratando um pouco da maior responsável pelo lixo no Município do Rio de Janeiro, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana mais conhecida como COMLURB. Falaremos também da Lei de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro. Essa etapa é a mais importante do trabalho, pois mostrará como é feita a reciclagem dos materiais plásticos no Rio de Janeiro mostrando o final do Ciclo da Reciclagem do Plástico começando pela coleta feita pelos funcionários da COMLURB e pelos Catadores que são o começo desse processo. Veremos em que condições eles trabalham e como contribuem para esse ciclo, vendendo material 43 para as empresas que fazem a separação. Essas empresas vendem para empresas de reciclagem onde transformam o plástico em novos produtos. 3.1 Coleta Seletiva no Município do Rio de Janeiro. Para falar de reciclagem é sempre necessário falar primeiro de Coleta Seletiva. Mas o que é Coleta Seletiva? Ela é simplesmente o começo da ultima etapa onde abordaremos o tema mais importante desse trabalho que é a Reciclagem do material plástico. Veremos a seguir como é feito esse processo partindo da Lei de Limpeza Urbana do Rio. 3.1.1 A Lei de Limpeza Urbana. Após descrever o processo de transformação do petróleo em material plástico e de saber como ele chega aos consumidores, faremos agora uma descrição do processo de reciclagem efetiva do material plástico. Começaremos pela base do processo de reciclagem dos materiais plásticos, a Coleta Seletiva. A Coleta Seletiva no Rio de Janeiro é feita efetivamente pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro, e este trabalho feito com base na Lei de Limpeza Urbana. Como em toda a cidade do Brasil, o Município do Rio de Janeiro têm uma lei de Limpeza Urbana. Essa é a Lei Municipal N° 3.273 de 6 de outubro de 2001 que normaliza as atividades ligadas ao Sistema de Limpeza Urbano do Município do Rio de Janeiro. A lei foi criada para estabelecer algumas normas e ajudar a companhia responsável pela coleta dos resíduos a manter as atividades de limpeza urbana. A empresa de limpeza urbana responsável pela coleta dos resíduos sólidos no Município do Rio de Janeiro é denomina da COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) é ela quem coordena toda a coleta e transporte dos resíduos sólidos da cidade. 44 O lixo, ou resíduos sólidos, podem ser classificados em dois grupos segundo a lei, os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e os Resíduos Sólidos Especiais (RSE) 9. Resíduos Sólidos Urbanos: Lixo domiciliar com características não perigosas como restos de • alimentos e materiais de limpeza. Bens oriundos da habitação familiar, como peças de mobília, • eletrodomésticos e semelhantes inclusive àqueles que não podem ser removidos pelo veículo de coleta domiciliar devido à forma ou volume. Resíduos de podas de manutenção de jardins, pomar ou hortas • domésticas. Especialmente troncos, aparas, galhos e semelhantes. • Entulhos de pequenas obras de reforma, demolição ou construção. Restos de alvenaria, concreto, madeira, ferragens, vidros e semelhantes. • Lixo público oriundo da limpeza de espaços públicos como avenidas, ruas, praças. • Lixo de feiras livres. • Lixo de eventos realizados em áreas públicas como parques, praias, praças, sambódromo e demais espaços públicos. • Excremento de animais. • Lixo caracterizado como domiciliar produzido por outros segmentos como o comercio, indústria, serviços, instituições públicas ou privadas, unidades de tratamento de saúde humana ou animal e imóveis não residências, cuja produção diária por indivíduo seja menor que sessenta quilos. Resíduos Sólidos Especiais: • Lixo extraordinário. Resíduos sólidos citados acima como podas de manutenção de jardins, pomar ou hortas; entulhos de obras de reforma, demolição ou construção; lixo produzido por outros segmentos como o comercio, indústria, serviços, instituições públicas ou privadas, unidades de tratamento de saúde humana ou animal e imóveis não residências, cuja produção excede os limites definidos na lei ou estipulados pelo órgão ou entidade municipal competente. • Lixo perigoso produzido por indústria e que possam apresentar riscos à saúde pública e ao meio ambiente. 9 Tirados da Lei de Limpeza Urbana do Município do Rio de Janeiro. 45 • Lixo infectante resultante de atividades medica e pesquisa produzido nas unidades de tratamento humano e animais. Materiais biológicos ou pérfurocortantes contaminados por agente patogênicos, que apresentem risco a saúde publica ou ao meio ambiente. • Lixo químico oriundo de atividades de atividades medica e de pesquisa produzido no tratamento da saúde humana ou de animais. Medicamentos vencidos ou contaminados ou interditados ou não utilizados, e materiais químicos tóxicos ou corrosivas ou cancerígenas ou inflamáveis ou explosivas ou mutagênicas. • Lixo radioativo. • Lodos e lamas com teor de umidade inferior a setenta por cento vindos de estações de tratamentos de águas e esgotos sanitários, ou fossas sépticas, ou postos de lubrificação de veículos. • Materiais de embalem de mercadorias, para proteção ou transporte que apresente algum risco a saúde publica ou meio ambiente. • Outro objeto de legislação específica que o exclua da categoria de resíduos sólidos urbanos. Todo o tipo de resíduo sólido urbano está contido nessas duas categorias e assim eles podem ser coordenados pela COMLURB, que recolhe e transporta os resíduos sólidos urbanos e controla a coleta e transporte dos resíduos sólidos especiais feitos também pela COMLURB ou por outras empresas particulares que são supervisionadas por ela e contratadas pelos estabelecimentos responsáveis pelo lixo. O órgão responsável pela limpeza urbana da cidade do Rio de Janeiro tem suas atividades devidamente normatizadas pela lei e podem ser até subdivididas em etapas. A primeira etapa é definida pelo órgão (COMLURB), mas é feita pelas edificações e é chamada de Manuseio. A COMLURB é responsável pela Coleta Regular que diz respeito à coleta e remoção dos resíduos sólidos urbanos (RSU) e é responsável pela coleta e remoção dos resíduos sólidos especiais (RSE) que podem ser feitos por outras empresas contratadas pelos estabelecimentos que possuam quantidade de resíduos acima do limite imposto na lei. 46 Outra responsabilidade da COMLURB é fazer a limpeza dos resíduos lançados ou gerados em Logradouros, ou seja, praças, ruas, avenidas, parques e todas as áreas públicas da cidade. O Transporte também deve ser feito pelo órgão ou entidade responsável levando o material ou resíduo para o local onde será feita a Valorização ou Recuperação, ou para Tratamento ou Beneficiamento dos resíduos. Depois disso a Disposição Final que é o destino final onde o Lixo deve ser armazenado com ou sem tratamento, sem causar danos ao meio ambiente. O Manuseio do lixo feito pelas edificações responsáveis também tem suas atividades estabelecidas na lei. Primeiro há o processo de Segregação na Fonte que é a separação dos resíduos, caso aja diferentes tipos, ou nas suas frações passíveis de valorização no local de sua geração. Deve haver separação do lixo caso esse seja possível reciclar ou reutilizar. Em segundo vem o Acondicionamento, que é a colação dos resíduos em recipientes apropriados que não permitam vazamentos e mantenham as condições ideais de higiene na espera pela sua coleta. Depois há o processo de movimentação interna que é a transferência dos resíduos devidamente embalados para o local de Estocagem ou o local de Oferta. A Estocagem é o armazenamento dos resíduos em locais próprios, adequados e controlados por curto período de tempo. E por último a Oferta que a colocação do resíduo sólido no local estabelecido pela COMLURB em frente à edificação, seja na calçada, junto ao meio-fio ou em outro lugar especificado até que a coleta na data e hora também estabelecida por ela venha para transportar os materiais para os locais de Valorização ou Recuperação, ou para o Beneficiamento ou Tratamento 10. A Valorização ou Recuperação é, nessa lei, o processo que mais nos interessa nesse estudo, por estarem diretamente ligados ao processo de reciclagem e reaproveitamento dos resíduos sólidos urbanos, que serão abordados como temas principais no decorrer do trabalho. 10 Idem ao 9 47 3.1.2 Processo de Coleta Seletiva domiciliar da COMLURB. O lixo pode ser um dos problemas de mais difícil solução numa grande cidade. É necessário sempre um grande investimento por parte da prefeitura para que essa possa controlar aos caminhos que o lixo faz até o seu destino final. É necessária uma grande rede de coleta, ligando-se, para que todo o lixo seja descartado da melhor forma possível. Toda a rede tem de ser pensada de uma forma lógica para que todos os fatores estejam sempre em perfeito funcionamento. Dentro da rede de Coleta de Lixo, uma rede de Coleta Seletiva de Lixo tem de ser instalada. Esse processo é importantíssimo para que o maior volume de resíduos sólidos se aproveite, não seja acumulado, e não fique parado sem nenhum tipo de utilidade, causando os problemas aqui nesse trabalho já citados. Quanto menos lixo produzido for mandado para os lixões e aterros sanitários, menos problemas a cidade terá e conseqüentemente em melhores condições de vida a população viverá. A Coleta Seletiva no Rio de Janeiro é feita pela COMLURB. Ela faz o recolhimento do material previamente separado e depositado em sacos plásticos especiais (transparentes), para se diferenciar dos demais tipos de lixo. O material que é separado nas residências e juntado dentro dos sacos é jogado no caminhão próprio da Coleta Seletiva, que não difere em nenhum aspecto dos caminhões de Coleta comum, ou seja, todo o material é prensado dentro do veículo. Esse caminhão passa uma vez por semana em cada rua que tem serviço de coleta seletiva e leva o material para as Centrais de Separação de Recicláveis (CSR). Essas centrais ficam em locais diferentes na cidade, uma em Botafogo (desativada em 2006), uma no Caju e outra em Vargem Pequena. Os materiais separados vão para outras empresas de separação como é o caso do plástico ou para empresas de reciclagem. Essas centrais também recebem lixo de catadores de e cooperativas11. O Rio de Janeiro conta com uma organizada rede de Coleta Seletiva de Lixo, porém essa rede ainda é muito pequena, no que se diz respeita a quantidade de material recolhido pela COMLURB. Esses números são poucos e relação a grande 11 Retirado de entrevista ao diretor da Central de Separação de Recicláveis de Botafogo. 48 quantidade de resíduos sólidos urbanos, material que é recolhido todos os dias pela COMLURB. Ou seja, o município do Rio de Janeiro recicla pouco em relação ao que produz de lixo mensalmente, e mais, também produz pouco material reciclável em relação a outras cidades que contém Coleta Seletiva. A tabela abaixo mostra a quantidade de lixo reciclável produzido e coletado no Rio de Janeiro. Esses dados são referentes ao primeiro semestre de 2005 nos locais denominados “Gerências”, onde são armazenados os materiais antes de ir para as Centrais de Separação de Recicláveis (CSR). Tabela 5 - Quantidade de Lixo reciclável Recolhido no Rio de Janeiro. CSRs Gerências Central de Separação Gerência 4 de Recicláveis de Botafogo. (desativada) Gerência 5 Bairros Volume Botafogo, Catete, Cosme 66 Velho, Flamengo, Glória, toneladas/mês. Humaitá, Laranjeiras e Urca. Copacabana e Leme. 59 toneladas/mês. Gerência 6 Gávea, Ipanema, Jardim 102 Botânico e Lagoa. toneladas/mês. Gerência 8 Tijuca e Praça da Bandeira. 26 toneladas/mês. Gerência 9 Andaraí, Vila Isabel e 18 Maracanã. toneladas/mês. Gerência Santa Teresa. 12 23 toneladas/mês. Central de Separação Gerência Barra, Itanhangá, Joá e São 34 de Recicláveis de 24-b Conrado. toneladas/mês. Vargem Pequena. Gerência Recreio, Vargem Grande e 22 24-r vargem Pequena. toneladas/mês. Gerência Freguesia, Vila Valqueire e 25 Curiacica. toneladas/mês. 16-f Gerência Tanque, Praça Seca e 22 16-j Taquara. toneladas/mês. Fonte: COMLURB 49 3.1.3 Catadores de Lixo e as Cooperativas. A base da etapa de reciclagem do Ciclo de Reciclagem de qualquer material é o catador. Ele é uma das peças mais importantes no processo de reciclagem, pois é ele quem recolhe o lixo e é também ele que o separa. Geralmente eles são pessoas humildes que fazem isso pelo simples fato de terem de sobreviver e tentam lucrar alguma coisa com a coleta de lixo reciclável. Eles teoricamente são ajudados por Cooperativas que são os locais para onde é levado esse material coletado pelos catadores. As Cooperativas são formadas pela COMLURB e abrigam os próprios catadores que também podem trabalhar por lá. As Cooperativas são os locais onde a maioria dos catadores de rua leva seus materiais para serem vendidos. Existem algumas diferenças entre os catadores de lixo. Alguns catam lixo na rua, outros em lixões, há também aqueles que trabalham em centrais de reciclagens, nas fábricas de separação de lixo ou nas próprias cooperativas. Não é difícil ver um catador de rua, geralmente eles andam pelas vias da cidade à procura dos produtos recicláveis. Esses produtos são encontrados em sua maioria em lixeiras e na própria rua como é o caso das latinhas. Essa linha de catadores, porém não tem nenhuma responsabilidade com nenhuma empresa nem tão pouco com as cooperativas, eles catam o que oferece mais dinheiro, ignorando outros materiais recicláveis não tão valiosos. Nos lixões o caso é bem mais complexo. Pegaremos o caso do Aterro Sanitário de Jardim Gramacho para onde vai todo o lixo do Município do Rio de Janeiro. Os catadores que ali se encontram têm uma gama de diferenciações. Existem diversos tipos de catadores nos lixões e aterros sanitários. Desde pessoas miseráveis que procuram por comida, até catadores profissionais que buscam materiais específicos. Eles formam uma hierarquia que acaba até segregando alguns grupos. Os mais miseráveis que se encontram ali buscando alimentos ou algo que possa vender, sempre ficam em áreas onde os caminhões de lixo não despejaram os resíduos naquele dia, ou seja, eles ficam com os “restos”. Por conta disso pode haver conflitos entre catadores que obviamente acaba com o mais forte ou poderoso se sobrepondo ao mais fraco. 50 Na área aonde chegam a maioria dos caminhões de lixo existe uma espécie de máfia controlada aparentemente por alguém de influência no município de Duque de Caxias onde se localiza Jardim Gramacho. Esses catadores estão num patamar mais alto da hierarquia, eles ficam nos melhores lugares e por isso tem os melhores materiais. Aparentemente existe uma relação legal das empresas dos entorno do aterro sanitário com os catadores. Elas são autorizadas pela prefeitura a dar uma certa quantidade de catadores alguns coletes que serão usados por eles para coletar materiais e esses serem vendidos às empresas. Os catadores se comprometem a vestir o colete, coletar o material e entregar a empresa com um preço previamente estabelecido. Sabemos, porém que e os catadores nem sempre cumprem a risca e vendem para a empresa que pagar melhor, assim como as empresas também compram de quem vende pelo melhor preço. Isso só se aplica as empresas menores que dependem desse material. Todos esses tipos de catadores descritos aqui trabalham em condições subumanas, alguns não têm nenhum tipo de proteção, e os que têm alguma, só às usam na hora de procurar e recolher o lixo. Porém existe uma parte dos catadores que estão um nível um pouco acima dos demais. São aqueles que trabalham em empresas de separação, de reciclagem e nas cooperativas ou de gari pela COMLURB. Na maioria das vezes eles recebem instrumentos de segurança para fazer tal trabalho e ganham um salário, em alguns casos, como nas grandes empresas tem até carteira assinada e recebem benefícios, mas essa realidade é a para uma minoria. No caso das Cooperativas eles trabalham sob as mesmas condições e ainda dividem todos os lucros dessas. Descontando apenas os gastos operacionais e de manutenção das cooperativas o lucro restante será dividido. 3.2 As empresas de separação de material plástico. Depois que é feita à coleta pela COMLURB e pelos catadores de rua o lixo recolhido passa pelas cooperativas e pelas centrais de tratamento da própria, para depois poder ser vendido às primeiras empresas que fazem a separação de materiais seja eles apenas plástico ou de outros tipos também. 51 3.2.1 Indústrias que vendem seu lixo para reciclagem. Os catadores levam o material reciclável, recolhido para cooperativas ou para empresas. Essas empresas recebem de catadores e compram também materiais das cooperativas para separarem e venderem para as indústrias de reciclagem. As indústrias de separação de materiais recicláveis separam o material por produto, vidro, papel, plástico e metal ou então recebem um só tipo específico de material como o plástico, por exemplo, e o separa, nos diversos níveis que existem para poder vender para empresas que fazem a reciclagem. Temos aqui uma pequena rede que movimenta bom volume de dinheiro (ver fluxograma 5). Existem empresas pequenas e empresas grandes de separação de materiais. As pequenas são aquelas que geralmente recebem qualquer tipo de material reciclável. Elas usam quase sempre mão de obra vinda do entorno do local onde estão estabelecidas. Essa mão de obra é constituída principalmente por catadores ou ex-catadores de lixo que preferem ter um pouco mais de segurança no trabalho, nem sempre garantida por essas empresas. As pequenas empresas de separação funcionam com uma estrutura básica, sendo essa formada por pequenas esteiras por onde passa o material que é separado. Algumas vezes, essas empresas contêm uma prensa que é onde os materiais são prensados e mandados para as empresas maiores. Porém, na maioria das vezes essas empresas só separam os materiais específicos que serão vendidos, no caso dos plásticos de outros materiais como vidro e metal. Elas são empresas intermediaria que fazem o papel de receptora dos resíduos trazidos por catadores de rua. As empresas grandes de separação já têm outros objetivos, ao contrário das menores elas separam o material todo os deixando prontos para serem mandados para empresas de reciclagem, que farão novos produtos a partir daquela matéria prima. A separação do material é muito mais específica e pode ter uma grande gama de especificações para cada produto. No caso do plástico são separados por cor e tipo de plástico, por exemplo, o PET (Polietileno Tereftalato), pode ser incolor, verde, azul misto, ou azul separado. Dependendo da escolha que o comprador faz, alguns podem ter valores diferentes, esse valor pode ser definido na separação, no caso do PET a diferença entre garrafas com tampa e sem tampa (ver Tabela 6). 52 A estrutura dessas grandes empresas está um nível a cima das outras. Os funcionários que nela trabalham têm benefícios e nem sempre são catadores que saíram das ruas. O maquinário é de melhor qualidade, contam com esteiras e prensas maiores além de empilhadeiras e caminhões para transporte da carga, seja na compra seja na venda, do material separado. Elas também contam com grandes galpões onde se encontram os chamados fardos de materiais (ver foto 8) que estão separados prontos para serem deslocado. O material que é comprado não vem só das empresas menores, mas também de diversos lugares como das CSR (Centrais de Separação da COMLURB) e até de catadores de rua ou daqueles que ficam no aterro sanitário. 3.2.2 Estudo de caso da Faria Plásticos. Em torno do Aterro Sanitário de Jardim Gramacho gira uma grande rede econômica que se faz valer do fato de estar próximo ao aterro. Ali se criou uma série de relações não só de trabalho, mas como também sociais. De fato há uma enorme variedade de relações entre o aterro e as pessoas que ali vivem. O município de Duque de Caxias está situado no Baixada Fluminense no chamado Grande Rio e como a maioria dos municípios da área vive um contraste social que impressiona pela diferença entre as partes envolvidas. Caxias, assim como São João de Meriti, Nova Iguaçu e a maioria dos municípios da baixada têm grandes níveis de pobreza e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior a média aceitável. Mas por outro lado, junto aos municípios do Norte Fluminense, eles são os locais que mais contém indústrias de grande, médio e pequeno porte no estado, sendo o seu PIB (Produto Interno Bruto) superior a 14 bilhões de reais (IBGE, 2002). As diferenças sociais existentes na área estão ligadas a falta de estrutura para a população que reside nesses locais, pois os donos de fabricas e empresas quase nunca moram no local e sim em áreas nobres da cidade do Rio de Janeiro. Esses municípios deveriam ser bem estruturados, pois essas empresas pagam os tributos que seriam necessários às cidades para que elas se desenvolvessem. Porém isso não se precede devido a anos de más administrações públicas que fizeram uso indevido do dinheiro provindo dos impostos pagos pelas indústrias e pela população local. 53 O caso de Caxias é ainda mais gritante. Por ser sede do aterro sanitário que é abastecido por toda a cidade do Rio de Janeiro, ali se configura as piores imagens de desigualdades sociais. No próprio aterro existe uma hierarquia como já foi dito anteriormente, e todas as pessoas estão ali trabalhando sobre condições subumanas. Enquanto isso empresas funcionam por toda à parte sustentando esse negócio. Visitamos ali uma empresa de grande porte, uma das maiores da área. Ela faz separação dos materiais recicláveis e vende para as empresas que reciclam esses. A Faria Plásticos Comercio de Recicláveis Ltda. opera na área do aterro de Gramacho a mais de vinte anos, ali ela cresceu junto com o aterro ainda na época que esse era lixão. A diferença de aterro para lixão é que o primeiro recebe algum tipo de tratamento podendo ser até totalmente controlado, como é o caso do Aterro Sanitário de Nova Iguaçu totalmente controlado e gerenciado aos moldes do protocolo de Kioto, com venda de “créditos de carbonos” e uso dos gases para tratar o próprio chorume produzido12. A Faria Plástico tem galpões espalhados por Caxias, o maior deles fica bem ao lado do Aterro de Gramacho (ver foto 2). Eles recebem grande quantidade de materiais que vem de diferentes locais. Os materiais vêm desde catadores comuns que vêm da rua e do próprio aterro, até de pequenas empresas de separação além de indústrias sem nenhuma relação com a reciclagem que apenas vedem suas chamadas “aparas” para reciclagem. A maior fonte de recebimento de material, no entanto são as Cooperativas e centrais de reciclagens da COMLURB. O material chega separado como plástico. Alguns já estão divididos entre os tipos de plásticos e outros vêm todos misturados, tendo uma diferenciação na hora do pagamento, sendo que como o material separado é mais bem aproveitado ele é comprado por um preço melhor e os que ainda estão misturados tem preços menores, pois terão de ser separados nas empresas. O material que não foi separado é colocado no pátio e depois nas esteiras para serem separados em inúmeros tipos de resinas plásticas (ver fotos 3 e 4). Após esse procedimento, os produtos já separados vão para as prensas (ver fotos 5 e 6) onde são colocados 12 Informação retira em visita feita ao Aterro Sanitário Controlado de Nova Iguaçu. 54 juntos formandos os fardos (ver fotos 7 e 8) que serão pesados. Cada tipo de material tem um preço (ver tabela 6). Esse preço varia na compra e na venda. Dali esse material todo é embalado e carregado em caminhões que redistribuíram o plástico para empresas de Reciclagem de material. No caso da Faria Plásticos a venda é feita basicamente para fora do Rio de Janeiro, tendo compradores no sul, e em Santa Catarina e em São Paulo, além de venderem uma grande parcela para empresas estrangeiras localizadas principalmente na China e na América do Sul como no Chile, por exemplo. Abaixo vai uma tabela dos preços dos materiais comprados pela Faria Plásticos para separação ou revenda direta e a quantidade aproximada que é produzida a cada mês por tonelada. Alguns preços como já foi tido anteriormente, variam principalmente no caso de estarem separados e enfardados ou estarem misturados. Tabela 6 - Preço dos Produtos comprados pela Faria Plásticos. Item PET Incolor, Verde e Azul Misto. PET Incolor, Verde e Azul Separado. (enfardado) PET Óleo de Soja, Detergente, Pinho Sol e Vinho. Plástico Grosso PEAD, PP e PET Meato. Plástico Grosso PEAD e PP Misto. PEAD Sopro Cores PEAD Sopro Branco e Incolor. PEAD Injeção (baldes, bacias). PEAD Bombonas (acima de 10 litros). PEAD Caixaria. PEBD Filmes Cores. PP Cores PP Azul e Cristal (água mineral e vinagre). PP Branco (pote de sorvete, cadeira, mesa e tanque). PP Copo (mate e guaraná natural). PP Tampinha. Preço (R$) 0,40 0,60 0,15 0,40 0,40 0,60 0,90 Quantidade (toneladas/mês) 400 t/m 50 t/m 60 t/m 80 t/m 0,40 40 t/m 0,40 20 t/m 1,40 60 t/m 0,15 60 t/m 0,60 100 t/m 0,90 30 t/m 0,90 50 t/m 0,60 20 t/m 0,60 Fonte: Faria Plásticos. 55 3.3 As empresas de reciclagem de materiais plásticos. A fase final do Ciclo de Reciclagem do Plástico desde sua extração em forma de petróleo, passando por sua transformação em plástico, sendo consumido e descartado, para ser recolhido separado, termina agora com as empresas que transformam materiais recicláveis em novos produtos diversificados. A reciclagem do plástico pode ser feita de três maneiras, a reciclagem Mecânica, a Energética e a Química, dependendo sempre da empresa que compra o material. 3.3.1 Tipos de reciclagem do plástico. A reciclagem mecânica é a conversão dos descartes plásticos pós-industriais ou pós-consumo em grânulos que podem ser reutilizados na produção de outros produtos como sacos de lixo, solados, pisos, mangueiras, componentes de automóveis, fibras embalagens não-alimentares e outros. Ela é dividida em cinco etapas. A separação, moagem, lavagem, aglutinação e extrusão. A separação ocorre geralmente nas empresas de separação de materiais, que separam em uma esteira os diferentes tipos de plásticos. Em seguida eles são moídos e fragmentados em pequenas partes no processo chamado de moagem. A lavagem é feita com água para retirar possíveis contaminadores. A Aglutinação consiste na compactação do material que também é secado. O aglutinador também é utilizado para incorporar aditivos como cargas, pigmentos e lubrificantes. No final o processo de Extrusão funde e torna a massa plástica homogênea transformando em um “espaguete” contínuo, que é resfriado com água, para depois ser picotado e transformado em pellet (grãos de plásticos). Essa reciclagem possibilita a obtenção de produtos a partir de misturas de diferentes plásticos em determinadas proporções, ou composto por um único tipo de plástico. No Brasil 16,5% dos resíduos plásticos são aproveitados por reciclagem mecânica, segundo pesquisa feita pelo Instituto Sócio-Ambiental do Plástico em 2004. Existem no Brasil 490 empresas de reciclagem mecânica, que juntas contam com uma capacidade de produção de 1,06 milhões de toneladas por ano. Reciclagem Energética é a recuperação da energia contida nos plásticos através de processos térmicos diferindo-se da incineração por utilizar os resíduos plásticos como combustível na geração de energia elétrica. A energia contida em um 56 quilo de plástico é equivalente à contida em um quilo de óleo combustível. Além disso, no processo de reciclagem energética há a redução de 70% a 90% da massa inicial. Cerca de 15% da reciclagem de plástico na Europa Ocidental é realizada via reciclagem energética. A usina de Saint-Queen (em Paris), por exemplo, fornece eletricidade pra 70.000 pessoas. A Reciclagem Química re-processa os plásticos transformando em petroquímicos básicos, que servem como matéria-prima em refinarias ou centrais petroquímicas. Seu objetivo é recuperar os componentes químicos individuais para reutilização como produtos químicos ou para produção de novos plásticos. Existem vários processos para esse tipo de reciclagem sendo que o mais adiantado é o de Pirólise. Esse consiste na quebra molecular por aquecimento na ausência de oxigênio transformando o plástico em óleo e gases sendo novamente utilizados na indústria petroquímica. A Hidrogenação quebra as cadeias mediante ao tratamento com hidrogênio e calor, gerando produtos capazes de serem processados em refinarias. Na Gaseificação os plásticos são aquecidos com ar ou oxigênio, gerando gás de síntese contendo monóxido de carbono e hidrogênio. A Quimólise consiste na quebra parcial ou total dos plásticos em monômeros na presença de Glicol/ Metanol e água13. Os segmentos que mais consomem plásticos oriundos de reciclagem são os de utilidade doméstica (23,6%), construção civil (13,9%) e indústria têxtil (10,7%). Os 51,8% restantes se dividem entre fabricantes de produtos agropecuários, calçados, equipamentos eletroeletrônicos, artigos para limpeza doméstica, peças automotivas e mobílias, entre outros. 3.3.2 Pequenas e as grandes usinas de reciclagem. As pequenas usinas de reciclagem atuam nos pólos de reciclagem. Esses pólos estão localizados sempre nos locais aonde se encontram os aterros sanitários, ou lixões. Elas recebem os materiais das indústrias separadoras e transformam em matéria prima. Da matéria-prima eles são transformados em novos produtos que são levados para o mercado encerrando o ciclo de reciclagem de cada produto. Essas empresas atuam como uma pequena válvula de escape para as empresas 13 Informações retiradas do site www.ambientebrasil.com.br 57 separadoras maiores, quando as grandes fábricas de reciclagem não estão comprando, deixando o mercado em baixa, elas são responsáveis pelas compras de materiais que mantém as separadoras de materiais funcionando. Geralmente essa parte da indústria é menos estruturada. Elas têm poucos recursos e normalmente funcionam produzindo o básico da reciclagem dos plásticos. Nesse básico estão incluídos os plásticos verdes, feitos pra fazer garrafas mais resistentes como as de água sanitária e o plástico preto, feito pra fazer sacos de lixo. O processo é bem simples, o material separado enfardado chega à fábrica e é mandado para o processo de moagem. São feitos nesse processo dois tipos de materiais, por exemplo, o PET separado entre incolor verde e azul, cada um desses vai se transformar num tipo de novo produto, dependendo da mistura. Existem enormes variedades de misturas de PET que resultam em novos produtos. Depois da moagem o material é aquecido e resfriado transformando-se em fios, chamados de espaguete (devido ao seu formato). A partir daí ele é picotado e novamente aquecido para ser posto nos moldes e transforma-se em um novo produto nesse caso sacos plásticos de lixo e garrafas de água sanitária. Na verdade o que movimenta o mercado de reciclagem são as grandes empresas de reciclagem. Elas compram grande parte do material e fabricam produtos que serão lançados em grande escala no mercado. O material sai das fábricas de separação e vão direto para essas empresas. Esse produto nem sempre vai pra empresas de reciclagem no país. O plástico reciclável sai daqui muitas vezes para o exterior e onde existem mais tecnologias avançadas na reciclagem de materiais. Além disso, as empresas que vendem o material separado não poderiam só sobreviver com a demanda do mercado interno, buscando assim a exportação. No Brasil o mercado de materiais plásticos recicláveis ainda é muito pequeno, principalmente se for comparado com outros recicláveis como o metal, sobretudo o alumínio e o papel que tem um mercado em expansão. 58 3.3.3 Produtos feitos de resinas plásticas recicladas. Muitos produtos já são feitos a partir de resinas plásticas recicladas, sendo os mais conhecidos os sacos plásticos de lixo e garrafas de água sanitária. Porém existem novas tecnologias que estão mudando o padrão de qualidade dos materiais recicláveis e transformando-os em produtos mais sofisticados. O grande protagonista desse avanço tecnológico é o PET. O PET é um das matérias-primas mais reaproveitadas na reciclagem e não à toa que mais e mais novos produtos feitos a partir dele surgem para substituir parcialmente ou totalmente em sua matéria-prima outros materiais mais antigos. O compensado de materiais plásticos, feito de diversos tipos de resinas, inclusive o PET, os canos e conexões feitos a partir de PET reciclado e principalmente as fibras de PET são alguns das matérias-primas usadas em novos produtos. Os canos e conexões são tão resistentes quanto os feitos de PVC, os compensados de plástico reciclável são iguais ao de madeira e o ferro tendo a vantagem de ser mais resistente às condições climáticas como, por exemplo, chuvas e temporais, que poderiam estragar um banco de ferro ou de madeira mais rapidamente. Essas condições climáticas são menos nocivas nesse tipo de compensado feito de plástico. Porém esses dois materiais feitos de PET ainda são muitos caros para serem feitos em larga escala. Mas existe um novo tipo de material feito de PET reciclável que a cada ano cresce em termos de vendas e de produção. É o caso das fibras de PET. Essas fibras estão sendo muito utilizadas na confecção de roupas e quase não tem diferença em relação ao algodão comum. Elas são utilizadas em roupas sendo sempre feitos com fibras de algodão de verdade. Geralmente uma roupa de fibra de PET tem 50% de algodão e 50% de fibra de PET14. 14 Informações retiradas de visita de campo a Recicloteca em maio de 2006. 59 Fluxograma 5 – Rede de Reciclagem do Plástico. RESIDÊNCIAS COMÉRCIO LIXO RECICLÁVEL COMLURB CATADORES COOPERATIVAS INDÚSTRIA GRANDES EMPRESAS DE SEPARAÇÃO (Plásticos) PEQUENAS EMPRESAS DE SEPARAÇÃO (Todos) GRANDES EMPRESAS DE RECILCAGEM PEQUENAS EMPRESAS DE RECICLAGEM Legenda: Produtor de lixo Empresas de separação Receptor de lixo Empresas de reciclagem 60 ANÁLISE DO CICLO DO PLÁSTICO Após toda a descrição de todas as etapas do Ciclo do Plástico, faremos agora por fim uma análise desses processos, visando mostrar como funciona essa rede de reciclagem procurando defeitos e apontando caminhos para que possamos fazer do plástico um material o mais sustentável possível. Todos os processos das três etapas do Ciclo da Reciclagem formam uma complexa rede, onde inúmeros fatores influenciam na sua caminhada desde o inicio ao final. Final esse, que não representa a conclusão da rede e sim um reinício, assim como tudo na natureza de alguma forma se transforma e se renova. “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Lavoisier. A complexidade dessa rede parte do seu princípio no caso a fabricação da resina plástica que já no início pode ser termoplástica ou termorrígida e que tem fundamental importância para o final de todo o ciclo, afinal o plástico não pode ser pego e reciclado de qualquer forma, o processo não é tão simples. E se dermos um salto para o fim do Ciclo de Reciclagem do Plástico, lembrando sempre que na verdade trata-se de um recomeço, pois novos produtos são fabricados veremos que a complexidade vai até ali onde existem três tipos diferentes de reaproveitamento do material plástico. Então essa rede realmente se transforma numa grandiosa estrutura que depois de ser exaustivamente observada aponta no seu interior algumas falhas. Falhas essas que poderiam ser sanadas e facilitariam o processo final como um todo ajudando sempre a tornar o plástico, que hoje em dia é um dos maiores poluidores do meio ambiente, em um material mais sustentável. 61 1. Análise da produção do plástico. A produção do plástico teve um grande “boom” no século XX. Além do aumento exagerado na sua produção houve avanços tecnológicos que possibilitaram a criação de outros tipos de materiais plásticos e avanços para que esses materiais pudessem ser utilizados em novas áreas. O plástico sempre substituiu antigos materiais e em grande parte de forma a fazer com que esses fossem despejados com mais facilidade. Esse é o caso das embalagens que com o tempo passaram a ser descartáveis. Mas nem sempre o plástico serve como embalagens. O plástico é um material não condutor de energia elétrica e passou a ser bastante utilizado como substituto do metal. O plástico é um material mais leve e em muitos casos barateava o produto. A verdade é que o plástico foi uma grande revolução, transformou a indústria e modificou toda uma geração no planeta inteiro. Pode parecer um exagero mais não é. Se formos pensar que em quase tudo que utilizamos hoje alguma parte é feita de algumas espécies de resina plástica. Mas o plástico não só substituiu antigos produtos, ele também criou possibilidades. O que seria da música sem as resinas plásticas. A princípio com o Vinil e hoje em dia com os “compact discs“ (CDs) (termorrígidos). A indústria automotiva também depende muito dele, além de outros setores. Mas o setor que obteve maior número de benefícios com o surgimento dos materiais plástico foi o da eletroeletrônica. Um computador é impensável sem o plástico. Além desses exemplos clássicos uma variedade quase incontável de tipos de produtos que vão desde pequenas e simples canetas esferográficas até peças de ônibus espaciais, passando pelas mais complexas formas como os moderníssimos cabos de fibra óptica. O plástico é responsável por avanços em quase todos os setores e age até na medicina. “Uma cirurgia cardíaca, por exemplo, seria impossível de ser realizada dentro de padrões modernos, não fossem os quase 30 quilos de plásticos utilizados, entre próteses, embalagens, bolsas, seringas, etc.”. Jornal do Comercio abril de 2001. 62 Essa evolução toda do plástico é feita a partir do descobrimento da matériaprima base do plástico, o petróleo Essa matéria-prima é provavelmente a mais valiosa no mundo inteiro e só não por causa do plástico, mas por causa principalmente do combustível e outros derivados que dela são feitos. Por trás dessa matéria-prima uma grande rede se esconde tornando-se a primeira grande etapa do Ciclo do Plástico, a fabricação dele. Uma complexa rede que começa com a extração do petróleo e já ai existe um fator determinante para que o início se torne o primeiro ponto complexo dessa rede, o fator políticoeconômico. Por movimentar muito dinheiro a matéria-prima do plástico o petróleo causa grandes conflitos de interesses que podem ocasionar até guerras entre países tudo por conta do poder que ele proporciona. Não é à toa que as regiões onde mais ocorrem conflitos entre nações são também as áreas onde existe ou há possibilidade de existir petróleo. Nesses locais muitas vezes são criadas desculpas para que se tenham influências sobre a área, ou às vezes o próprio petróleo pode ser uma desculpa para se ter à posse da área. O petróleo percorre um grande caminho até se transformar em plástico. Ele passa por vários processos ainda na refinaria após ser extraído do subsolo. Essa extração quando é feita em terra firme pode ser muito danosa ao meio ambiente e se não for feita com muito cuidado pode ser perigoso para as próprias pessoas que nela trabalham. A exploração feita em alto mar também pode ser extremamente danosa ao meio ambiente, levando-se em conta o tamanho das plataformas de extração de petróleo e problemas causados por possíveis vazamentos. Ela também pode ser muito perigosa por estar em locais cada vez mais afastados do continente e por estar isolada tornando-se difícil o resgate em caso de acidentes. Mas o mais preocupante dos problemas ambientais relacionados à exploração de petróleo se refere ao transporte dele. Esse transporte é feito de duas maneiras, por meio de dutos que percorrem milhares de quilômetros transportando petróleo, chamados de “oleodutos” ou pela maneira mais comum que é o transporte oceânico. Esses transportes são feitos em gigantescos navios chamados de “petroleiros”, que podem transportar mais de meio milhão de litros de petróleo e são os maiores objetos móveis que o homem já construiu. Um acidente envolvendo um navio desse porte tem dimensões catastróficas. Devido a sua densidade o petróleo bóia na água e em caso de acidente pode vazar e ser levado pelas correntes marítimas 63 atrapalhando todas as formas de vida aquática existentes nos seu caminho e quando afunda ele ainda prejudica toda a vida no fundo do oceano, as mais frágeis. A destruição causada nesses acidentes é ainda mais visível quando eles ocorrem próximos a costas. O óleo levado pelas correntes e ajudado também pelas marés, chega à praia devastando toda a fauna e flora do local, além de trazer uma poluição visual impressionante e de difícil limpeza. Esses problemas causados por acidentes com petroleiros são os mais preocupantes para as grandes companhias de petróleo que gastam quantias estratosféricas, todas as vezes que um ocorre. Os acidentes não são exclusividades de petroleiros, não é tão raro ocorrer vazamentos em “oleodutos”, mas o sistema de segurança nesse caso permite que o petróleo pare de percorrer o duto em alguns pontos travando assim o vazamento. Porém o mais aconselhável a se fazer é prevenir acidentes, evitando-os, multiplicando investimento em áreas de segurança, tornando mais difícil à possibilidade de um desastre ecológico de grandes proporções ocorrer. Os “oleodutos” além de ter mecanismos que travam o óleo em diversos pontos no seu caminho em caso de vazamentos, têm também robôs com sensores que percorrem os dutos e podem prever possíveis rachaduras. Na Petrobrás, principal empresa de petróleo do país, existe projetos de segurança extremamente avançados, entre eles o projeto Galileu, que pode simular numa sala em terceira dimensão possíveis falhas em oleodutos e plataformas. É muito importante ressaltar a importância das leis para crimes ambientais no mundo inteiro. Ela, a partir de multas pesadas e obrigatoriedade na solução imediata dos problemas causados pelos acidentes, fazem com que as grandes empresas de petróleo no mundo inteiro se preocupem em dobro com a segurança e zele pelo meio ambiente. Depois da extração o petróleo vai para uma refinaria onde é produzido a Nafta. Ai começa o segundo processo da primeira etapa (fluxograma 1) que é o local onde o petróleo que não é destinado ao combustível se transforma em nafta, matériaprima base de onde se derivam todos os tipos de resinas plásticas. Esse processo também implica em diversos tipos de problemas ambientais e de segurança. Bem sabemos que uma refinaria é um dos locais que mais poluem a atmosfera e em volta da refinaria fábricas que abastecem a ela se multiplicam. Os gases liberados na queima do petróleo para a transformação de combustíveis e os gases provindos das 64 indústrias do seu entorno transformam a área em um dos locais com maior risco de intoxicação. No rio onde fica a REDUC, maior refinaria do Brasil, o inverno e o outono ainda ajudam na manutenção desses gases na atmosfera. “Isso ocorre porque no inverno temos uma atmosfera e menos ventilação. Assim os poluentes ficam concentrados” diz o meteorologista Luiz Maia. E justamente na Baixada Fluminense onde esta localizada a REDUC os níveis de poluição são os mais altos da cidade, segundo dados da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) 15. Da refinaria pra petroquímica básica os fluxos de nossa rede continuam bastante eficientes. Nesse estágio o valor econômico dos materiais faz com que investimentos agilizem a rede diferente de outros pontos que veremos mais à frente. Em volta da petroquímica básica, indústria de primeira geração, vemos as indústrias de segunda e terceira geração sempre trabalhando na transformação do plástico e formando pólos que agregam grandes números de investidores e impressionam pela facilidade com que crescem, seja em termos de tamanho seja em termos financeiros. Vejamos o caso da petroquímica União e da COPESUL, que estiveram a ponto de falência, mas foram compradas e em pouco tempo reativadas por grupos privados. No sul investimentos na casa de um bilhão e meio de dólares duplicaram o pólo petroquímico mostrando que o plástico e outros derivados do petróleo são mesmo ótimo negócio e valem muito o investimento neles feitos. Sabemos então que uma densa rede percorre essa etapa do Ciclo da Reciclagem e é responsável pelo sucesso do plástico como negócio. Simplificando agora podemos esclarecer os caminhos dessa rede que começa com a exploração da sua matéria-prima. O Petróleo é explorado por grandes multinacionais que o tratam de maneira diferente. Ele é encontrado em diversos locais e em variáveis níveis de densidade por isso é preciso ser transformado. Seu transporte é feito a partir de “oleodutos” e navios petroleiros que o levam para as refinarias. A maior parte dele vai para a produção de combustíveis e a parte que é responsável pelos plásticos é transformada em Nafta. 15 Retirado site do RJTV no www.globo.com 65 A Nafta, matéria-prima base de todas as resinas plásticas é enviada para as grandes Indústrias Petroquímicas Básicas, ou a primeira geração das indústrias de plástico, onde a Nafta é transformado em outro tipo de matéria-prima, mais específica em relação ao material que ira se transformar, por exemplo, o eteno usado para fazer o Polietileno Tereftalado (PET) das garrafas de refrigerante. Na segunda geração de indústrias petroquímicas, ou seja, aquelas empresas que se instalaram ao lado das grandes indústrias petroquímicas produzem as resinas termoplásticas, como PET, PP, PEAD e outros, e mandam para a o próximo passo da rede. A terceira geração vai transformar esses materiais em produtos industrializados, por isso são chamadas de indústrias de transformação. Essas completam o a rede e junto com as indústrias de primeira e segunda geração formam os pólos petroquímicos (ver fluxograma 3). 2. Análise do consumo e do descarte do plástico. O ciclo da reciclagem é formado por pequenas redes que interligadas formaram o produto final. A segunda etapa do ciclo da reciclagem é a do consumo dos plásticos, ela começa no fim do processo que chamamos de terceira geração de indústrias petroquímicas, as indústrias de transformação. O produto sai das indústrias de transformação e vão para os mais diversos locais. Podem ir para o consumidor, fazendo escala nos pontos de vendas que são os mais variados possíveis, ou podem ir para outras fabricas como é o caso das embalagens. Sempre que o plástico é discutido duas coisas distintas são enfatizadas, em primeiro lugar o poder de multiplicação e desenvolvimento tecnológico do plástico, como ele cresceu e sua indústria se tornou uma das maiores do mundo servindo de base para as demais indústrias e seu consumo se tornou necessário para toda a população mundial principalmente as que vivem nas cidades, cerca de três bilhões de pessoas. Em segundo mais não menos importante vemos todos os problemas ambientais decorrentes do descarte do lixo principalmente se esse for feito de maneira inadequada sem ser tratado o dado o seu devido destino. A partir disso 66 formamos uma segunda rede que é a do consumo e descarte dos resíduos que contém resinas plásticas. O produto sai da fábrica de transformação ou da indústria que o transforma em produto comercializável e vai para as prateleiras das lojas e supermercados. Aqui temos uma maior dimensão da quantidade de setores da indústria que utilizam o plástico em seus produtos. Quase todos os produtos hoje comercializados em escala industrial contêm plástico. Desde as embalagens de alimentos até peças de automóveis e mobílias para casa além de todos os produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos tem em sua composição alguma parte de plástico. Isso só mostra o quão importante o plástico é na vida dos seres humanos e também como ele é usado em gigantesca quantidade por todos nós. Mas usar o plástico nessa escala tem suas conseqüências, e elas podem não parecer muito visíveis, mas são extremamente danosas ao meio ambiente. As resinas termoplásticas e termorrígidas são mal aproveitadas, na verdade elas são usadas exageradamente e por isso sobram na hora do descarte. Ao contrário de outros lixos como o papel que é muito reciclado e que se decompõem com mais facilidade na natureza e o metal que é bastante reaproveitado por ser muitas vezes valioso o bastante pra isso, o plástico tem particularidades que ainda não o tornaram um material altamente reciclável. O plástico normalmente tem pouca massa, ou seja, pesa pouco, mas em contra partida tem volume alto, ou seja, é muito espaçoso, e isso causa um problema muito interessante na hora de recolhê-lo. Por mais que ele seja recolhido em grande quantidade o preço do material não alcançara a expectativa desejada pela pessoa que o coletou. Normalmente no Brasil os catadores de rua, que podem lucrar muito mais catando outros materiais como latas de alumínio que podem ser leves, mas são facilmente amassáveis, não catam o plástico, apesar de ser ter um imenso potencial ligado a sua reciclagem (ver tabela 7). 67 Tabela 7 – Potencial seletivo do lixo domiciliar brasileiro. Materiais Papel / papelão Plástico Vidro Metais ferrosos Metais não ferrosos Outros Porcentagem 39 19 16 16 2 8 Fonte: (GRIPPI, 2001) Tabela 8 – Potencial seletivo do lixo industrial brasileiro Materiais Ferro/ ferragens Óleos gastos Plástico (PE) Tambores de aço Papel/ papelão Madeira Plástico Bombonas (PE) Porcentagem 32 31 1,5 1,5 15 8 10 1 Fonte: (GRIPPI, 2001) Por esse mesmo motivo o plástico é muito perigoso para o meio ambiente quando é descartado, ele produz muitos tipos de problemas como concentração de água com larvas de mosquitos e outras doenças. Esse tipo de problema que muitas vezes não é considerado pelas autoridades como problema ambiental seria reduzido se não houvesse problemas com lixo. Vejamos o caso do Aterro Sanitário de Gramacho. Ele fica às margens da Baía de Guanabara (ver foto 10), que banha a cidade do Rio de Janeiro e é altamente poluída. Essa proximidade entre outras coisas, causa doença às pessoas que vivem dela e ajudam diretamente a poluir a paisagem turística da cidade. Fora o lixo jogado diretamente nas ruas e encostas que causam transtornos nas vias pluviais e nas encostas da cidade, causando desabamentos. Tudo isso seria reduzido se na cidade existisse um programa mais eficiente de coleta seletiva do lixo e se esse lixo fosse tratado e reciclado adequadamente. O lixo pode ser um dos problemas de mais difícil solução numa grande cidade. É necessário sempre um grande investimento por parte da prefeitura para poder controlar aos caminhos que o lixo faz até o seu destino final. É necessária uma grande rede de coleta, ligando-se, para que todo o lixo seja descartado da melhor 68 forma possível. Toda a rede tem de ser pensada de uma forma lógica para que todos os fatores dela estejam sempre em perfeito funcionamento. Vimos então que mais uma rede se definiu nessa análise de como o produto chega à população e de como ele é descartado (ver fluxograma 4). Essa rede está interligada a rede de reciclagem do plástico que começa com a coleta seletiva desses materiais descartados. Veremos a frente como fundamentalmente o ciclo do plástico se encerra. 3. Análise da reciclagem do plástico. Dentro da rede de Coleta de Lixo, uma rede de Coleta Seletiva de Lixo tem de ser instalada. Esse processo é importantíssimo para que o maior volume de resíduos sólidos se aproveite e não seja acumulado, ficando parado sem nenhum tipo de utilidade causando os problemas aqui nesse trabalho já citados. Quanto menos lixo produzido for mandado para os lixões e aterros sanitários, menos problemas a cidade terá e conseqüentemente em melhores condições de vida a população viverá. Para que isso aconteça tem de existir uma responsabilidade de todas as empresas em produzir produtos e embalagens de produtos que não danifiquem o meio ambiente, que possam ser potencialmente recicláveis, e também da população que tem que cobrar e monitorar essas empresas. A primeira parte dessa rede de Coleta Seletiva do Resíduo Sólido que potencialmente pode ser reciclado começa na casa da população. É necessário que o material seja separado. A separação, ao contrário do que se pensa a maioria, não precisa ser feita nos moldes que são normalmente conhecidos, separação entre vidro, metal, papel, plástico e material orgânico. Ela só precisa ser dividida em dois, materiais recicláveis e não recicláveis. Nesse ponto podemos até achar que deveria ser diferente e deveria mesmo. O ideal seria a separação específica em cada casa (o ideal) ou em cada condomínio. Ou seja, cada um separaria seu lixo conforme o indicado, metal, plásticos, vidros, papéis e orgânicos, e o caminhão responsável pela Coleta Seletiva já os transportaria separadamente para a triagem. Em alguns países mais desenvolvidos da Europa o lixo é separado pelos cidadãos e essa separação é feita estrategicamente, por exemplo, não existe a lixeira dos vidros, pois eles são 69 pouco utilizados, então podem ser misturados com o metal que também é pouco utilizado e pode ser facilmente separado do vidro. Porém é muito difícil essa separação. Não existem no Brasil ainda caminhões que carreguem o material separado, apenas ele prensado que acaba misturando todos os materiais recicláveis, necessitando de nova separação. Os locais onde são depositados os materiais (lixeiras) teriam que ser repensados, além do que, a maioria da população no Brasil não tem essa cultura de separação do lixo em sua própria casa. Geralmente é feita, quando é feita, pelos empregados do condomínio ou da residência. Nesses condomínios, sejam eles residenciais ou comerciais quase sempre não há um local apropriado para armazenar o material reciclável. Não a local para o armazenamento e também não existe um local na rua ou na calçada onde se possa depositar o lixo para que venham a ser coletados. A recomendação da COMLURB é que deixe na calçada em tanques cedidos pela própria, no dia específico que será coletado o lixo reciclável. Normalmente essa coleta é feita uma vez por semana nos bairros onde há Coleta Seletiva fazendo com que o lixo permaneça até uma semana em local de estocagem. Muitos chamam os Resíduos Sólidos Recicláveis de “Lixo Limpo” uma expressão que pode iludir de certa maneira a forma de pensar da população. Esse resíduo é chamado assim, pois são materiais em sua maioria secos, que teoricamente serão reciclados e causam uma falsa ilusão de que não estão sujos. Na verdade isso é uma forma errada e perigosa de interpretar e de se tratar o lixo. O lixo reciclável contém sim algum tipo de sujeira, e essa sujeira pode transmitir doenças, além do mais, também pode acumular cheiro ruim. Porém, o principal problema atrelado a esse acúmulo de lixo é o possível foco de doenças transmitidas por insetos como, por exemplo, o mosquito da dengue. Como esse material é composto principalmente por embalagens de alimentos e bebidas, como latas de alumínio e garrafas PET, eles podem acumular sujeira e água principalmente se estiverem a céu aberto. Depois que o lixo é depositado na rua junto à calçada o caminhão passa para recolher. Esse caminhão é padrão da COMLURB, ele tem uma caçamba atrás onde é depositado todos os materiais. Encontramos então outro equívoco na hora de se recolher o Lixo Reciclável. È claro que não é simples arrumar caminhões que tenham as especificações para que sejam transportados os materiais. Primeiro, se o 70 lixo fosse separado no local onde é produzido ele teria de ser transportado num caminhão que já tivesse essa separação pré-estabelecida, porém isso não ocorre, então não faz diferença recolher o lixo todo junto ou separado, na verdade é até melhor que se junte todo o lixo reciclável, pois fica mais fácil pra pessoa que manuseia lixo. Se no caso essa pessoa não for uma pessoa contratada para isso ou algum empregado, fica mais simples e com menos probabilidade de se misturar materiais recicláveis, de materiais orgânicos e materiais não recicláveis. O segundo erro diz respeito à forma como é transportado o material depois que ele é despejado no caminhão. Nas grandes cidades os caminhões sempre são projetados para prensar o lixo, esse sistema é bom para o lixo comum que vai ser depositado nos aterros, mas para os materiais recicláveis não é a melhor solução. Um caminhão que não prensasse o material seria o ideal. A partir do momento em que se acumula o lixo, vários tipos de material se juntam independente de o material ser ou não reciclável. Se num caminhão existem apenas materiais recicláveis não é preciso prensá-los. Pelo contrário desse modo será pior, pois alguns tipos de materiais como é o caso do vidro e alguns tipos de plásticos podem quebrar e se espalhar. Além de tornar mais difícil a separação, podem ocorrer alguns acidentes por causa dos materiais cortantes menores de difícil manuseio e percepção como cacos de vidros menores e pedaços de lâminas. Depois de todo esse processo de coleta de lixo reciclável, o material é levado para as Centrais de Separações de Recicláveis, onde o material é separado e prensado para que possa ser vendido para fabricas que fazem a reciclagem e transformam o material e matéria prima para seus produtos. Toda cidade tem uma legislação para a sua limpeza. E nessa legislação que no Rio de Janeiro é chamada de Lei de Limpeza Urbana é onde esta especificada as regras de como se deve dar ao lixo o tratamento adequado. No Rio existem na lei muitas facilidades para que se possa tratar o lixo adequadamente, portanto temos uma boa lei de limpeza urbana que apesar de um pouco ultrapassada cuida para que aja o recolhimento regular do lixo. O grande problema, que também é um problema comum as grandes cidades dos países em desenvolvimento, é que grande parte da população existente no Rio de Janeiro mora em subúrbios e favelas, locais “esquecidos” muitas vezes pelas prefeituras. Podemos dizer que nem sempre a culpa é da prefeitura, muitas vezes esses locais têm crescimento desordenado, o que torna impraticável o planejamento 71 da companhia de lixo para essas áreas. A maior parte das favelas fica em morros, que torna difícil o acesso dos caminhões de lixo e às vezes há falta de seguranças para os garis (funcionários da prefeitura) trabalharem. A discussão sobre que está errado nesse caso é bastante inútil, todos têm sua parcela de culpa, tanto as sucessivas más administrações quanto à população que é quem as elegem e contribuem para esse processo. A lei não é ruim, mas a forma como é feita a Coleta Seletiva é um caso a se repensar. Tudo é feito em moldes para ser apresentado, mas não é muito funcional. Por exemplo, qual é necessidade de se separar metal, vidro, plástico, papel e orgânicos? O ideal seria isso, mas não pode ser assim por enquanto. O material deve ser separado em reciclável, não-reciclável e orgânico assim poderiam ser mais facilmente manuseados na hora da separação. O reciclável iria para separação, o orgânico para o tratamento e não reciclável para aterros sanitários. Isso vale para os resíduos domésticos, mas o que se faz com lixo industrial, comercial e outros que não são domésticos é o que parece estar no rumo certo. O lixo industrial de hoje é altamente reaproveitado, mas quem faz o recolhimento dele são empresas contratadas pelas indústrias. Segundo a lei qualquer estabelecimento não residencial é responsável pelo seu lixo. Essa obrigação fez com que as empresas, para não ter que gastar dinheiro com empresas de lixo, vendesse seu lixo para empresas que separam lixo. As empresas que compram o lixo compram da COMLURB também, porém essas conexões entre, a Coleta Seletiva até a COMLURB e depois para as empresas separadoras ai estão conturbadas. A lei é a do que paga mais e a do que tem mais pra vender. Ou seja, A COMLURB não tem muito pra oferecer, ela vende através de cooperativas e das centrais de reciclagens que são apenas duas em atividade (eram três até o começo do ano de 2006). Muitas dessas supostas cooperativas, disso só tem o nome, pois na verdade elas são pequenos revendedores de materiais recicláveis que são levados pelos catadores de rua. A questão dos catadores de rua ainda é mais complicada, eles estão por toda parte, nas ruas, nas centrais de reciclagem e muitos estão nos lixões e aterros sanitários inclusive o de Gramacho que deveria ser controlado. Lá centenas de catadores trabalham sob condições desumanas que incluem a falta total de segurança e higiene (ver foto 9). 72 O mais impressionante é que boa parte desses catadores é legalizada e trabalha supostamente para empresas que separam materiais. Mas é sabido que esses catadores que recebem coletes das empresas nem sempre levam o material para empresas, eles não tem nenhuma ligação com a empresa, só pegam o colete e trazem mercadorias que são compradas por essas empresas. Outro caso muito comum é relacionado às Cooperativas. Esses locais que devido ao seu nome deveriam ser organizações comuns onde todos dividiriam os lucros acabam sendo o local onde um intermediário compra lixo para revender. O lucro que ali deveria ser dividido não o é. “Cooperativa s.f. ; Espécie de sociedade comercial constituída por membros de determinado grupamento social ou econômico que procura desempenhar, em benefício comum, determinada atividade.” (NASCENTES, 1972) Na área de Gramacho se situam redes econômicas e políticas num mesmo espaço, que são movidos pela presença de um aterro sanitário no local. Dentro do aterro os catadores têm uma hierarquia que supostamente seria controlado por traficantes do local. Os que pagam ficam em áreas melhores aonde chegam caminhões enquanto os que não fazem isso ficam lá e esperam para poder catar lixo restante. Os riscos ambientais desse aterro são incontáveis. Ele pode ser considerado oficialmente um aterro sanitário controlado, mas basta uma visita, que só é permitida com autorização, para vermos que a situação no local é periclitante e que não há tanto controle. Em primeiro lugar, qualquer catador consegue entrar no local onde transitam enormes caminhões que fazem a descarga do lixo que são o menor dos males. O lixão tem chaminés de fogo transparente produzido pelo gás que vem do interior das montanhas de lixo, que apesar de serem indicados podem ferir seriamente alguma pessoa. Existe também uma estação de tratamento de chorume, liquido resultantes do lixo. Essa estação é visivelmente “de fachada”, pois dado o tamanho do aterro seria impossível trata-lo por inteiro. O chorume na verdade vai para o subsolo ou para a Baia de Guanabara que fica exatamente atrás do aterro (ver foto10). As margens da Baia de Guanabara um aterro sanitário produz toneladas de chorume por mês, tornando a despoluição uma tarefa quase impossível (ver mapa). 73 Seria muito mais fácil diminuir o lixo e desativar o aterro (que opera acima de sua capacidade a muitos anos) tratando-o para que não poluísse mais a Baia de Guanabara. Esse é mais um dos prejuízos secundários que poderíamos resolver com o tratamento adequado do lixo. Do lado de fora funciona o chamado Pólo de Polímeros, onde estão localizadas muitas empresas separadoras de materiais recicláveis em sua maioria plásticos, daí o nome polímeros. Encontra-se também no local as empresas de separação de materiais como papeis e metal. As empresas separadoras vedem o material separado para grandes empresas de reciclagem em diversos lugares. China, Chile, São Paulo, Santa Catarina, são alguns dos lugares para onde vai o material, porém existem pequenas empresas de reciclagem no local que recebem materiais para reciclagem e transformam em produtos básicos como sacos de lixo pretos e embalagens de água sanitária. É interessante percebemos que esse pólo que se formou ao redor do aterro sanitário foi criado pelas circunstâncias. Diferente dos Pólos Petroquímicos que são altamente planejados, que esperam as empresas, financiados pelo governo e pela iniciativa privada, o Pólo dos Polímeros acontece por necessidade, não existe nenhum planejamentos oficial. As empresas simplesmente se aproximaram da sua “fonte de matéria-prima”. A partir desse pólo muitos produtos prontos para serem recicláveis partem em direção as empresas de reciclagem. Podemos descrever então aqui o fim do Ciclo da Reciclagem do Plástico com essa rede de Reciclagem. O material é coletado, seja pela coleta seletiva feita pela COMLURB no Rio de Janeiro, seja pelos catadores. Esse material pode ser comprado diretamente das indústrias e do comércio. Elas podem ir para pequenas empresas ou vão direto para as grandes empresas de separação. Lá o material é separado para e enfardado para ser vendido para pequenas e grandes empresas de reciclagem, que transformam o plástico em novos produtos. Os produtos feitos a partir de plásticos recicláveis variam de preço. Para produtos básicos e conhecidos, como sacos plásticos e potes de água sanitária o preço é baixo, mas quando se trata de novas tecnologias como o cano de PET reciclado e as roupas feitas fibras de PET o preço sobe. Esses valores são pagos pelo esforço que a empresa tem em investir em alta tecnologia e com o tempo ele se reduz. 74 Assim o fim dessa rede de reciclagem termina com Ciclo de Reciclagem do Plástico (ver fluxograma 5). Na verdade aqui começa um novo estágio na utilização do plástico onde ele será reutilizado na forma de um novo produto e possivelmente ser novamente reciclado passando novamente por duas etapas, o do consumo do plástico e da reciclagem do plástico (ver fluxograma 6). 75 Fluxograma 6 - Ciclo de Reciclagem do Plástico. PRODUÇÃO DO PLÁSTICO CONSUMO DO PLÁSTICO RECICLAGEM DO PLÁSTICO DESCARTE DO PLÁSTICO RECOLHIMENTO E SEPARAÇÃO DO PLÁSTICO 76 CONSIDERAÇÕES FINAIS. Temos sempre que ter em mente quando falamos nos problemas do Lixo as possíveis soluções para ele. Esse problema causa danos em todos os seguimentos de uma sociedade, seja diretamente ou indiretamente. O lixo trás problemas para a sociedade como um todo e o mais conflitante nisso tudo é que quem produz o lixo é a própria população que reclama seus danos. O lixo pode ser considerado um problema democrático. Apesar de atingir primeiro a populações menos favorecidas ele acaba chegando às outras classes mais altas da sociedade de maneira indireta. Os que mais poluem são os que mais consomem. Esses acham que não terão problemas com lixo, mas todo mundo acaba de alguma forma atingido por esse. O lixo contamina, suja, trás doenças, é visualmente desagradável e seus níveis de poluição no ambiente atingem todas as esferas possíveis da natureza. A terra, a água e o ar quando entra em contato com lixo passa ser poluído. Tudo que está poluído passa a ser problema. Problemas esses que são de todos os seres humanos independente da classe social em que vive. Diversos tipos de soluções aparecem para resolver os problemas causados pelo lixo, mais especificamente pelo plástico e entre eles está a reciclagem. Mas antes disso é preciso dizer que a reciclagem deveria ser a última das soluções apresentadas. Ultimamente uma cultura ainda pouco utilizada no Brasil ilustra melhor o que queremos dizer. É a cultura dos três “R” s (TEIXEIRA, 2004). O primeiro “R” significa “Reduce”, Reduzir, ou seja, a primeira coisa que se deve pensar em ralação a problemas com plástico ou qualquer outro tipo de lixo é a redução do consumo de produtos que produzem muito lixo. Quanto menos produtos descartáveis consumirmos, menos lixo produziremos e conseqüentemente menos problemas em relação a isso ocorrerá. O segundo “R” seria de “Reutilize”, Reutilizar. Seria muito importante que a reutilização de alguns materiais fosse levado em consideração e se tornasse freqüente no nosso dia-a-dia, para usarmos o mesmo exemplo da redução o copo descartável que quase sempre é utilizado uma vez e jogado fora, mesmo em pequenos intervalos de tempo não são reaproveitados. No mesmo dia em um 77 escritório um funcionário poderia usar o mesmo copo a cada vez que fosse beber água ou café ao invés de pegar um copo por vez, gastando menos, poluindo menos. A Reciclagem entra como o terceiro “R”, “Recycle” completando assim a tríade. Esse deveria ser a última solução dada para o lixo. Ele só deveria ser reciclado em caso de não poder ser reutilizado ou reduzido. Mas a reciclagem acaba sendo o principal agente na redução do lixo. Isso só ocorre por causa do teor emergencial da problemática do lixo. Mas reciclar não é a solução total dos problemas. Enquanto houver desperdício, seja de plástico seja de qualquer outro material, haverá problemas ambientais relacionados ao lixo. O lixo é formado muito antes de ser descartado. Podemos dizer que muitos materiais já são fabricados para serem lixo. O próprio nome “material descartável” comprova esse fato e dessa forma sabemos que algum produto ou material será lixo em questão de meses. Há tempos a trás produtos eram feitos para durar muitos anos se serem descartáveis ou então eram reutilizáveis. Podemos dizer então que perdemos um pouco de consciência ambiental? Acho que não. Não havia essa preocupação, as pessoas não estavam atentas à problemas ambientais futuros. Os produtos eram feitos dessa maneira para que as pessoas não tivessem que comprar mais. Ainda não havia uma mentalidade voltada para o consumismo, ainda não se pensava em lançar a todo o momento produtos melhores, com novas tecnologias, o momento era de se lançar produtos diferentes e não os mesmo produtos com funções diferentes. O celular é um exemplo de produto que antes era feito para durar. Ele só tinha uma função que era de receber e fazer ligações de lugares onde não havia telefones fixos. Mas com o tempo ele esse fato foi se tornando apenas mais uma das funções do celular e hoje é difícil acompanhar a tecnologia desses aparelhos, toda hora um novo modelo é lançado e assim substituídos por outros que serão descartados. A modernidade nos trouxe esse problema e assim temos que conviver com ele. A necessidade faz com que novos produtos sejam lançados e novos lixos sejam criados. Cabe a nós saber o que fazer, racionalmente, com lixo que produzimos. 78 A Educação Ambiental é a solução mais acertada na minha opinião para podermos melhorar essa condição em que se encontra a questão do lixo no planeta. Não adianta começar a reciclar tudo que é lixo, se mais a frente será produzido tudo de novo. Junto à reciclagem é necessário um trabalho de conscientização que não pode ser feito apenas com adultos em curto prazo. Tudo é uma questão de hábito. O problema é que em nossa sociedade mudar um hábito é extremamente difícil. Fazer com que as pessoas em pouco tempo passem a separar, reduzir e reutilizar é uma tarefa árdua e que tem de ser feita, mas sempre apoiada por outros tipos de incentivos. Esse processo todo não pode ser feito assim, de imediato. Algumas coisas levam tempo para pegarem. É mais fácil, porém mais demorado usar a educação ambiental como arma contra a poluição e contra o lixo. Introduzindo a questão lixo em escolas desde os primeiros anos, faz com que a criança cresça consciente de que fazendo sua parte vai contribuir pra diminuição de um problema de um todo. A responsabilidade da produção do lixo tem de ser dividida entre todos, por que todos têm responsabilidade sobre isso. Quem produz produtos com potencial para lixo deveria pagar mais taxas sobre eles, pois se gastará mais para poder resolver o problema criado por ele. Quem consome mais deveria pagar taxa maior. Por exemplo, a taxa de coleta de lixo deveria variar de acordo com a quantidade de lixo produzido. E assim o problema estaria sendo resolvido aos poucos. Mas a verdade é que enquanto existir a humanidade, existirá lixo e os problemas derivados deles. Cabe a nós fazer com que esses problemas sejam reduzidos ao máximo. Se não houver uma racionalização na produção e no consumo da população, os problemas relacionados ao lixo serão incontroláveis e as conseqüências serão catastróficas para a sociedade. Por isso a questão do lixo e da reciclagem é tão urgente e as soluções necessitam ser implantadas imediatamente. 79 BIBLIOGRAFIA: Livros: • GRIPPI, S. Lixo, Reciclagem e a sua História: Guia para as prefeituras brasileiras. Rio de Janeiro: Interciência, 2001 p. 01 - 47. • POPP, J. H. Geologia Geral. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 1998. p. 325 - 363. • CALDERONI S. Os Bilhões Perdidos no Lixo. São Paulo: USP 1997. • NASCENTES A. Volume II Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1972. p.443. • SCARRE, C., PARKER, G., Atlas da História Universal. Rio de Janeiro: Globo, 1995 • TEIXEIRA, A. C. A Questão Ambiental – Desenvolvimento e Sustentabilidade. Rio de Janeiro: FUNASEG, 2004. Monografias: • FERREIRA, P. P. Aplicabilidade de um Aterro Sanitário de Pequeno Porte no Município de Macuco – RJ, Associado aos Benefícios da Reciclagem e Compostagem de Materiais. 2004. 50 f Monografia (Bacharelado) – Centro de Ciências Sociais Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2004. Relatório: • Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Lei de Limpeza Urbana. Rio de Janeiro, 2001. Internet: • Jornal dos Plásticos. (abril de 2001). Disponível na Internet. http://www.jorplast.com.br/jpabr01/pag08.html. Consultado em 5/06/2006. • História do Plástico. Disponível na Internet. http://www.cafebandeira.com.br/histplast.htm. Consultado em 12/06/2006. • História do Plástico. Os Primórdios do Plástico. Disponível na Internet. http://www.plasticoscarone.com.br/siscarone/lenoticia.asp?id=19. 12/06/2006. Consultado em 80 • GORNI A. A. A Evolução dos Materiais Poliméricos ao Longo do Tempo. Revista do Plástico Industrial. Setembro de 2003. Disponível na Internet. http://www.gorni.eng.br/hist_pol.html. 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Prensa com material separado. 83 (Foto tirada na Faria Plásticos) Foto 6 – Faria Plásticos. Prensas de outro ângulo. (Foto tirada na Faria Plásticos) Foto 7 – Faria Plásticos. Fardos sendo carregados nos caminhões. 84 (Foto tirada na Faria Plásticos) Foto 8 - Faria Plásticos. Pilhas de fardos prontos para serem embarcados nos caminhões. (Foto tirada na Faria Plásticos) 85 Foto 9 – Aterro de Gramcho. Catadores lutando pelo lixo. (Foto tirada no Aterro de Gramacho) Foto 10 – Aterro Sanitário de Gramacho com a Baía de Guanabara ao fundo. (Foto tirada na Faria Plásticos) 86 Mapa: Foto de Satélite do Aterro Sanitário Jardim Gramacho as margens da Baía de Guanabara. Fonte: Google Earth.