INCIDÊNCIA DE BULLYING EM ALUNOS DE UMA ESCOLA
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INCIDÊNCIA DE BULLYING EM ALUNOS DE UMA ESCOLA
INCIDÊNCIA DE BULLYING EM ALUNOS DE UMA ESCOLA ESTADUAL DE CURITIBA Diego Maestrelli (PUCPR) e-mail: [email protected] Cloves Amorim ( PUCPR/ FEPAR / FAVI) e-mail: [email protected] Fernanda Andretta Copelli ( PUCPR ) e-mail: [email protected] Introdução Poucos fenômenos tiveram, em curto espaço de tempo, tanta visibilidade como o fenômeno bullying. Os últimos acontecimentos em uma escola pública no Rio de Janeiro colocaram o tema ainda mais em evidência, podendo até ocorrer um desgaste ou o uso inadequado do tema pelo excesso de exposição na mídia; por outro lado, ainda temos poucos dados que retratem a nossa realidade e possibilitem uma discussão crítica e profunda do tema. A violência escolar se converteu num grave problema dos centros educativos, criando um clima de relações conflitivas não adequado para a aprendizagem e para o desenvolvimento pessoal. Dentro do amplo conceito de violência escolar, encontra-se o bullying ( violência interpessoal entre pares), definido como comportamento de natureza agressiva, conduta repetida no tempo e relação de desequilíbrio entre o agressor e a vítima. ( Fernandez-Baena, Torres, Fernández, Espejo Canete y Mena, 2011) De acordo com Lisboa, Braga e Ebert (2009) Bullying é o fenômeno pelo qual uma criança ou adolescente é sistematicamente exposta(o) a um conjunto de atos agressivos ( diretos ou indiretos), que ocorrem sem motivação aparente, mas de forma intencional, protagonizados por um ou mais agressores. Nunes, Hermann e Amorim (2008), ao estudarem a problemática, definiram bullying como uma palavra inglesa que significa além dos comportamentos citados, o uso de poder ou força para intimidar, excluir, implicar, humilhar, não dar atenção, fazer pouco caso e perseguir os outros. Agressões intencionais e repetitivas, baseadas em uma relação desigual de poder entre alunos, que geram dor e angústia nos colegas incapazes de se defender, é conceituado por Fante e Pedra (2008) como bullying. Em novembro de 2006, O Instituto SM para a Educação (ISME) apresentou dados de pesquisas realizadas em cinco países: Argentina, México, Brasil, Espanha e Chile. O resultado apontou o Brasil como campeão em bullying ( FANTE e PEDRA, 2008). Todos os dias, segundo Fante e Pedra (2008), 160 mil alunos americanos faltam às aulas por medo de sofrer bullying. Ao analisar a realidade americana, Middelton-Moz e Zawadski ( 2007) apresentam estatísticas no mínimo estarrecedoras: uma em cada quatro crianças sofre bullying por outra na escola no período de um mês; 81% dos alunos pesquisados admitiram exercer bullying sobre seus colegas; dois terços dos atacantes em 37 episódios de tiroteios em escolas cometeram seus crimes como vingança em razão das constantes perseguições que sofriam por parte de seus colegas. E ainda que as provocações e rejeições estão no topo das listas dos fatores que desencadeiam intenções de suicídio.( p.10) Olwues (1993) na Noruega, pesquisou 130.000 estudantes, os resultados indicaram que 15% dos participantes da pesquisa estiveram envolvidos em casos de bullying, apontava que 01 entre 07 alunos já eram potenciais vítimas ou autores dos diversos tipos de agressões e que destes 09% eram vítimas e 07% eram agressores. Segundo alguns autores, Fante ( 2005), Lopes Neto (2005), Beane ( 2010), a dinâmica bullying envolve três componentes: autores ( agressores), o alvo ( vítimas) e as testemunhas. Francisco e Libório ( 2009) afirmam que as testemunhas não participam diretamente em atos de bullying e geralmente se calam, por receio de tronarem-se a próxima vítima. Dan Olweus, pioneiro nos estudos sobre Bullying, publicou em 2006 uma revisão geral em um capítulo do livro espanhol “Acoso y violência en la escuela: como detctar, prevenir y resolver el bullying”. Naquela obra explicitou sua compreensão e caracterizou as vítimas e os agressores da seguinte forma: 1) Vítimas: - São prudentes, sensíveis, tranqüilos, reservados/introvertidos e tímidos; - São ansiosos inseguros, infelizes e com baixa autoestima; - São depressivos e apresentam maior tendência a ideação suicida do que os seus pares; -Normalmente não tem um bom amigo e se relacionam melhor com os adultos do que com os seus pares; - Se são meninos, normalmente são mais frágeis fisicamente do que os seus pares. 2) Agressores: - Forte necessidade de dominar e submeter outros estudantes; - São impulsivos e raivosos; -Apresentam pouca empatia como os estudantes vitimizados; -Costumam ser desafiadores e agressivos com os adultos, incluindo pais e professores; -Costumam apresentar outras condutas anti-sociais como vandalismo, delinqüência e consumo de drogas; - Os meninos costumam ser mais fortes fisicamente do que o resto dos companheiros em geral e das vítimas em particular; - Não possuem problemas especiais com sua autoestima. Capenter e Ferguson ( 2011) ao discutir o papel das testemunhas começam pela origem da palavra: “ Os dicionários definem o termo “testemunha como “ pessoa que presencia um definição evento ou situação, porém sem participar dela; espectador”. A sugere que a testemunha é passiva e que não se envolve, o que realmente ocorre na maioria dos casos.” Porém os autores salientam que “ nem sempre é assim, porque “ às vezes tem um papel importante e destrutivo na relação entre o bully e a vítima” . Concluindo que “ Testemunhas são a platéia que o bully precisa para exibir suas proezas” . ( p. 79) As conseqüências do bullying são terríveis para todos, em especial para as vítimas. Carpenter e Ferguson ( 2011) ao analisar as conseqüências do bullying, as subdivide em físicas e emocionais, e em curto e longo prazo. Consequências físicas: Sentidos aguçados, aumento dos batimentos cardíacos, aumento do metabolismo, perda ou aumento descontrolado do apetite, distúrbios do sono, doenças psicossomáticas, doenças de pele, dores de cabeça ou de estômago. Consequencias emocionais: Mal humor e retraimento, depressão e irritação, ter ataques súbitos de raiva, passa a agir de maneira diferente, excessivamente emotivo, desânimo, baixa auto-estima, preocupação em excesso com a própria segurança. Efeitos do bullying sobre a criança em curto prazo, que podem variar de uma criança para outra: raiva, frustração, ansiedade, desânimo e depressão. Ser vítima do bullying é muito estressante para as crianças. Romero ( 2007) ao apresentar estratégias para prevenir o bullying nas salas de aula sugere: treinamento em habilidades sociais, resolução de conflitos, e reforço da autoestima. Sugere como estratégia de trabalho dinâmicas de grupo e técnicas de relaxamento. Perdoncini, Rozanski, Ferreira, Nascimento, Amaral e Amorim (2010) alertam que “Estamos diante de um grande desafio, educar para a paz e, que se o fenômeno permanece nos diferentes níveis de ensino talvez tenhamos uma pista da necessidade de programas de intervenção para que a escola seja uma ocasião de desenvolvimento total dos que passam por ela.”Na mesma perspectiva, Carvalho e Barros ( 2010) afirmam que: Os estudos demonstram a urgente capacitação das pessoas que estão inseridas no ambiente escolar, sejam alunos, direção, professores, funcionários e pais. Assim somente por meio de informações, do conhecimento do fenômeno e do envolvimento direto de toda a comunidade é que o bullying poderá ser combatido e reduzido. ( p. 54) Método Sujeitos: Este estudo foi realizado com 137 estudantes de quatro turmas, duas 5ª séries e duas 6ª séries, de uma escola estadual de ensino fundamental do município de Curitiba (PR), sendo que 75 eram do sexo masculino e 62 do sexo feminino. Instrumento: Baseado no instrumento desenvolvido por Freire, Simão e Ferreira (2006) da Universidade de Lisboa e adaptado ao português brasileiro. Trata-se de um autoinforme, com perguntas referentes à opinião sobre o ambiente escolar, identificação de situações de vitimização, de observação e de agressão. Essas informações permitiram saber que condutas foram praticadas: empurrar, ameaçar, humilhar, bater, utilizar nomes ofensivos, caluniar, excluir, tirar coisas, magoar, estragar objetos, apalpar. Como se comportou quando ocorreu, onde aconteceu, o que fez e se estava sozinho ou em grupo e com que freqüência no período de 14 dias antes da aplicação do instrumento. Procedimento: Durante o horário de aula, que foi cedido pelos professores com autorização do diretor do colégio, os três aplicadores submeteram uma das turmas ao questionário lendo em voz alta as questões a serem respondidas, após isto os três aplicadores assumiram individualmente a aplicação nas outras três turmas restantes reproduzindo o procedimento dado à primeira turma. Após a aplicação coletou-se os dados, armazenado-os no programa Excel, neste mesmo recurso constatou-se os resultados, comparando-os entre si. Foram observadas as orientações do parecer 196 do Ministério da saúde quanto aos aspectos da ética em pesquisa com seres humanos. Resultados e Discussão Este estudo consistiu em verificar qual a incidência de Bullying em alunos da quinta série de uma escola pública estadual situada numa comunidade de elevada vulnerabilidade. Participaram 137 alunos sendo 75 do sexo masculino e 62 do sexo feminino. Ao se analisar o local da residência dos alunos, encontrou-se que 93,43% moram no mesmo bairro da escola. Quanto a ser vítima, agressor ou testemunha; no grupo como um todo pode se identificar que 22% dos alunos já foram vitimas, 60% testemunhas e 11% agressores. Por outro lado ao se considerar apenas as respostas dos agressores os dados se configuram de outra forma, encontra-se que 8,73% se reconhecem como vítimas; 87,59% se reconhecem como testemunhas e 5,0% se reconhecem como autores/agressores. Possivelmente os agressores subestimem as condutas violentas por não discriminá-las como tal e acreditar que se trata tão somente de brincadeiras ou “zoação Ao se Analisar os tipos de violência segundo o gênero, as vítimas informam que para os meninos os mais freqüentes são: roubo, nomes ofensivos e calúnia; enquanto as meninas referem: nomes ofensivos, magoar e roubo. Estes dados estão de acordo com o estudo realizado por Pupo (2007), numa amostra composta por 96 estudantes, de sétima série do ensino fundamental e do segundo ano do ensino médio, estudantes de uma escola pública e de uma escola particular, localizadas na zona sul de são Paulo. Seus resultados apresentam diferenças significativas nas representações femininas e masculinas em relação ao fenômeno violência moral. Em outro estudo também realizado na cidade de Curitiba, Nunes, Herman e Amorim ( 2010) encontraram que a agressão mais freqüente foi utilizar nomes ofensivos. Em relação local onde mais ocorrem as violências, se comparou as perspectivas de vítimas e testemunhas. Meninos e meninas concordam que em primeiro lugar, ou o lugar mais freqüente é o recreio. Já em segundo lugar para os meninos houve a indicação das imediações da escola e as meninas oscilaram entre sala de aula e aula de educação física. Francisco e Libório (2009) encontraram resultados similares ao analisarem os locais nos quais os alunos sofrem maus tratos, apontando em duas escolas de quinta série, o recreio. Por outro lado, Fante (2005) e Lopes Neto ( 2005) encontraram maior incidência de condutas bullying nas salas de aula. Portanto parece que as contingências possibilitam ou não a emissão da conduta bullying. Guimarães, citado por Gisi, Filipak e Kerkoski ( 2009) numa pesquisa sobre a manifestação do bullying no espaço/tempo do recreio, analisa o recreio de uma escola de periferia de Campinas: Os alunos ficavam confinados em um espaço pequeno, rodeado de grades. O barulho era ensurdecedor. Gritos, tapas, choros, risos merenda que freqüentemente caia no chão em conseqüência dos empurrões. Aos poucos fui me acostumando a este espaço, mas não me atrevia a atravessar o pátio, pois a corrida desenfreada dos alunos representava um sério risco para quem se colocasse à frente deles. Eu procurava ficar sempre nas laterais. Porém mesmo assim, levava alguns socos e “pisões”. Ninguém controlava o recreio. As serventes distribuíam a merenda e os professores tomavam lanche em suas salas. (p.9552) Não se pode omitir que os autores acima solicitam que não se generalize esta realidade para todas as escola públicas, pois entre elas existem muitas diferenças em termos de espaço, de existência de materiais, de alguém que acompanha o recreio, mas existem aquelas que são idênticas a relata por Guimarães. Em geral pode-se afirmar que a ausência de um adulto ou monitor se propicia contingências de vulnerabilidade para a prática do bullying, principalmente pela dificuldade, apenas pela observação, de se identificar o que é brincadeira do que é “humilhação”, ou comportamento agressivo. Na figura acima pode se observar as reações das testemunhas, sendo que se destaca a omissão, ou seja, não fazer nada. Lisboa Braga e Ebert ( 2009) afirmam que na maioria das vezes em que uma testemunha de bullying tenta intervir e parar com as agressões ao seu colega ( vítima), obtém êxito. E prosseguem afirmando ser de extrema importância o incentivo dos professores e outros profissionais para que mais testemunhas denunciem e tenham comportamento de proteção para com as vítimas e contra o bullying. Em intervenção realizada por Amorim, Nunes e Moser ( 2011) numa escola pública estadual, observaram que as testemunhas do bullying ao serem questionados sobre sua reação estes comportamentos, 18 % na etapa pré-intervenção e 21 % na etapa pós intervenção assinalaram a alternativa “ conto para um adulto da escola”. O que sugere que a comunidade pode intervir para minimizar ou prevenir, fortalecendo e instruindo as testemunhas a pedirem ajuda e não se omitirem. Considerações finais Os dados obtidos neste estudo estão de acordo com os resultados apresentados por Francisco e Libório ( 2009, p. ) segundo eles: Na média geral não há diferenças significativas entre índices encontrados Na escola localizada na região periférica, se comparados aos encontrados na região central da cidade. Sendo assim, tais dados sugerem mais estudos, no que se refere à articulação que pode haver entre bullying e local de moradia. Neste estudo, os alunos moram próximo da escola ( 93,43%), o que provavelmente possibilite uma maior convivência entre eles em outros ambientes além da sala de aula. E também justifique que os meninos apontem as imediações da escola como local de ocorrência do bullying. Cabe destacar em relação às vítimas, que o seu silêncio é uma das condições para perpetuar o fenômeno. Por isso, em função da natureza silenciosa do fenômeno, os pais deveriam saber reconhecer os sinais indicativos de que o filho é vitima ou está sendo vítima do bullying. Beane ( 2010) ilustra alguns destes indicativos: ferimentos físicos inexplicáveis, alteração brusca de humor, queda no rendimento escolar, recusa em ir a escola, raiva e irritabilidade freqüente, dificuldades para dormir e pedir dinheiro em quantias maiores para levar a escola. Guzzo ( citado por Calbo et. col., 2009) afirma que a escola tem um papel fundamental na prevenção e combate ao bullying: Dessa maneira, ressalta-se a importância de que esses comportamentos agressivos, manifestados pelas crianças e adolescentes, sejam combatidos prioritariamente na escola, uma vez que intervenções corretivas ou terapêuticas, que focalizem a pessoa individualmente, sem trabalhar seu contexto de vida, são ineficientes. Sendo assim, o convite para estudos, pesquisas e conhecimentos que subsidiem práticas coletivas/comunitárias para combater o sofrimento invisível chamado Bullying é sempre oportuno e necessário, principalmente pela freqüência e sofrimento que causa. 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