PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - ÚLTIMA PÁGINA

Transcrição

PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - ÚLTIMA PÁGINA
PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - ÚLTIMA PÁGINA
Director: José Manuel Fernandes
Directores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
POL nº 6006 | Quarta, 6 de Setembro de 2006
Antiga actriz pornográfica quer ser governadora nos Estados Unidos
Isabel Meira
Melody Damayo deixou de assinar Mimi Miyagy em filmes pornográficos para ser
candidata republicana ao estado do Nevada
Quando chegou a Los Angeles com 18 anos e mil dólares no bolso, Melody Damayo
ainda não pensava em política. Aos 33 e depois ter vivido 12 anos como estrela da
indústria pornográfica, a filipina com passaporte americano quer ser governadora do
estado do Nevada, nos Estados Unidos.
Depois de Conan, o Bárbaro ter conquistado um cargo político, quando em 2003 Arnold
Schwarzenegger foi eleito governador da Califórnia, a história de Melody Damayo
poderia ser a sequela de um filme sobre imigrantes que se tornam actores e depois
governantes. Mas hoje trata-se da vida real de Damayo, para quem a melodia
republicana se concretiza na defesa das opções individuais.
"Sou republicana. Acredito no direito de os indivíduos tomarem as rédeas da sua vida.
O meu partido liderou as lutas pelos direitos civis. Como mulher, membro de uma
minoria étnica, sinto-me completamente identificada", defende, em declarações citadas
pelo jornal El Mundo.
Se os temas que apresenta na sua candidatura se assemelham aos de outros programas
eleitorais - desenvolver o sistema educativo ou combater a criminalidade - Damayo
demarca-se da figura clássica do candidato não só pelo seu passado de vedeta
pornográfica, mas porque não é preciso muito para fazer notar os longos cabelos negros
e o corpo de Jessica Rabitt, que exibe em roupas de dimensões reduzidas. "Não tenho
nada a esconder. Já toda a gente me viu por inteiro", desabafa, depois de abrir o casaco
perante os jornalistas, para mostrar um soutien cor-de-rosa pequeno e marcar o final da
sessão de apresentação da sua candidatura.
"Não é algo de que me envergonharei, porque não há nada que me faça sentir culpada.
Celebro a minha feminilidade e as minhas escolhas", declara. Três anos depois de se ter
retirado dos palcos de Los Angeles, "porque era altura para crescer", Damayo garante
que a opção de se candidatar vem na sequência do papel activo que desempenhou
durante a campanha da presidente da coligação Asiático-Americana de Nevada, Elena
Bradey, em 2004. Para além disso, as sua preocupações foram aumentando desde que se
tornou mãe.
"Tenho uma filha de oito anos. Preocupa-me o estado em que se encontra o nosso
sistema educativo."
Assumindo-se como "candidata alternativa" no seu site oficial
www.mimi4governor.com e sob o slogan "Pela verdade nua e honesta", a republicana
não quer que o público a encare "como uma piada".
Para trás fica Mimi Miyagy, nome artístico de Melody Damayo. Nasceu em 1973 em
Davao City, filha de uma médica e de um pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia,
que emigraram para os EUA quando Melody tinha seis anos. Cresceu na Califórnia,
onde frequentou aulas de piano e ginástica. Depois de um regresso temporário ao país
de origem, para concluir a escola secundária e "receber os valores filipinos", a segunda
filha mais velha de cinco irmãos, decidiu partir para Los Angeles quando tinha 18 anos.
Sonhava ser actriz de Hollywood. Quando ficou sem dinheiro decidiu aceitar o seu
primeiro papel num filme pornográfico, Obsessão Secreta, depois de ter ido a um
audição onde lhe pediram para pousar seminua e em troca lhe deram um carro usado.
A protagonista de filmes como Anais Asiáticas ou Geishas de Beverly Hills soma 46
títulos no currículo, tendo assumido a realização em três deles. Para além disso, esteve à
frente de projectos editoriais como a revista Asian Hotties, hoje líder do sector
pornográfico especializado em modelos asiáticos.
Mimi não se arrepende do passado, evocando valores republicanos para se justificar: "O
próprio Abraham Lincoln o disse: desde que não esteja a maltratar os outros, cada
pessoa deve aproveitar os frutos do seu trabalho."
Se a filha decidir seguir os passos da mãe, assegura que vai alertá-la para os aspectos
negativos da profissão, mas prevê um cenário bem diferente daqui a dez anos. "A
América está finalmente a chegar aos padrões europeus de sexualidade. Quando a
minha filha tiver 18 anos, ser uma actriz de filmes pornográficos será tão normal como
ser uma supermodelo", refere.
Se for eleita, a primeira medida de Melody será deitar fora a velha e grande cadeira
castanha do escritório. "Quero uma cadeira cor-de-rosa e fofinha. E então começarei a
trabalhar."