síndrome da cauda equina em cães – revisão bibliográfica
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síndrome da cauda equina em cães – revisão bibliográfica
1 SÍNDROME DA CAUDA EQUINA EM CÃES – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ¹DORNELLES, Débora Zoti; ¹PEZZUTTI, Paola; ¹SILVA, Anaquel da; ¹PERONI, Nadia Daniele; ¹SPERING, Rúbia Raquel; ²GOTTLIEB, Juliana; ² CARNEVALI, Taiane Rita; ²DIAS RIBEIRO, Ticiany Maria; ²DA ROCHA, Anilza Andréia; ²GASPARIN, Walmor Jose; [email protected] 1 Resumo: A síndrome da cauda equina engloba um amplo espectro de distúrbios que provocam o estreitamento do canal vertebral lombossacro com resultante compressão das raízes nervosas. É descrita como uma estenose lombossacra que pode ser adquirida ou congênita, sendo que as causas dos distúrbios congênitos são anomalias vertebrais ou das raízes nervosas, e dos distúrbios adquiridos estenoses do canal vertebral lombossacro, degenerativas, pós-cirúrgicas ou traumáticas (fraturas e luxações), comprometimentos vasculares, neoplasias e patologias do disco intervertebral. Objetivou-se a realização de uma revisão bibliográfica para conhecimento e estudo sobre a síndrome da cauda equina em cães. Esta síndrome reflete vários graus de envolvimento dos membros pélvicos, bexiga, esfíncter anal e cauda, apresentando sintomas como dor, dificuldade de movimentação, além de sinais neurológicos graves. Como diagnóstico faz-se exame físico, exames radiográficos e neurológicos. O tratamento a ser empregado pode incluir desde os de suporte como fisioterapia e acupuntura, repouso e uso de anti-inflamatórios e/ou cirurgia (laminectomia) nos casos mais extremos. É de extrema importância o conhecimento desta doença, bem como os exames clínicos necessários para diagnosticá-la e que, para esta finalidade, se use também todos os recursos disponíveis, visando efetuação do tratamento e cura ou melhoria das condições de vida e conforto dos animais. Palavras-chave: raízes nervosas, lombossacra, neurológico. Abstract: The equine spaniel syndrome encompasses a wide spectrum of disorders that cause narrowing of the lumbosacral spinal canal with resultant compression of the nerve roots. It is described as a lumbosacral stenosis can be congenital or acquired, and the causes of congenital disorders are of nerve roots or vertebral anomalies, and acquired disorders of the lumbosacral stenosis, degenerative spinal canal, post-surgical or traumatic (fractures and dislocations), vascular impairment, cancer and diseases of the intervertebral disc. Aimed to for conducting a literature review to familiarize and study of equine spaniel syndrome in dogs. This syndrome reflects various degrees of involvement of the pelvic limbs, bladder, anal sphincter and tail, with symptoms such as pain, difficulty moving, and severe neurological signs. As diagnosis is physical examination, radiographic and neurological examinations. 1 Acadêmicos de Medicina Veterinária nível V da Faculdade Ideau – Getúlio Vargas/RS. ²Docentes do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Ideau – Getúlio Vargas/RS. 2 The treatment to be employed can range from the support such as physiotherapy and acupuncture, rest and use of anti-inflammatory drugs and / or surgery (laminectomy) in extreme cases. It is of utmost importance to study this disease and the need to diagnose it and, for this purpose, also use all available resources, to effectuation of the treatment and cure or improvement of living conditions and comfort of the animals clinical examinations. Key words: nerve roots, lumbosacral, neurological. INTRODUÇÃO A cauda equina é um feixe de raízes nervosas no interior do canal vertebral lombossacro. Iniciando caudalmente ao final da medula espinhal, entre L5-L6 (Figura 1), em cães de grande porte (MORGAN et al., 1987). A síndrome da cauda equina manifesta-se como um grupo de sinais clínicos quando há compressão nesta região e onde as deficiências neurológicas decorrentes da síndrome são uma combinação de sinais de lesão do neurônio motor inferior L7 (BRAUND, 1994). Figura 1. Região L7-S1, acometida pela síndrome da cauda equina em cães. Fonte:<httpdicaspeludas.blogspot.com.br201109caes-sindrome-da-cauda-equina.html> A síndrome da cauda equina é uma expressão que engloba um amplo espectro de distúrbios provocadores de estreitamento do canal vertebral lombossacro, com resultante compressão das raízes nervosas (LEUCOUTER & CHILD, 1992). De acordo com Pelegrino e Garibaldi (2003), a síndrome da cauda equina, também denominada de estenose lombossacra, tem sido descrita de duas formas: adquirida ou congênita. 3 A estenose lombossacra adquirida tem ocorrido com mais frequência, e em cães de grande porte, raças como: O Pastor alemão, o Border collie e o Labrador retriever, com predileção por machos. Geralmente os sinais clínicos aparecem entre 06 e 07 anos de idade (MORGAN & BAILEY, 2000; PELLEGRINO & GARIBALDI, 2003). Enquanto que a estenose lombossacra congênita é mais observada em cães de médio e pequeno porte, com o aparecimento dos sinais entre 03 e 08 anos e em raças como Poodle, Beagle, Lhasa Apso e cães mestiços (PELLEGRINO & GARIBALDI, 2003). Esta síndrome reflete vários graus de envolvimento dos membros pélvicos, bexiga, esfíncter anal e cauda (BOJRAB, 1996). Neste trabalho objetivou-se a realização de uma revisão bibliográfica para conhecimento e estudo sobre a síndrome da cauda equina em cães. DESENVOLVIMENTO Dentre as etiologias que podem causar a síndrome da cauda equina encontrase a instabilidade lombossacral, espondilose lombrossacral, doença do disco intervertebral herniado, neoplasias, estenoses do canal vertebral lombossacro degenerativas e pós-cirúrgicas e estenoses traumáticas devido a fraturas e luxações, normalmente associados à distúrbios adquiridos. Os congênitos são conformados por anomalias vertebrais ou das raízes nervosas, um exemplo é a deficiência no desenvolvimento de um arco neural de dimensões adequadas. Além de lesões similares a osteocondrose do aspecto cranial do sacro, também ocorre proliferação ao redor do forame vertebral (INDRIERI, 1988; SCHULMAN & LIPPINCOTTI, 1988; LENEHAM & TARVIN, 1990; PALMER & CHAMBERS, 1991; LECOUTER & CHILD, 1992; PRATA, 1993; FOSSUM, 1997; THRALL, 2010). Segundo Nelson e Couto (2006), a predisposição genética, a conformação anatômica, a atividade física e as anomalias vertebrais são fatores que aumentam o estresse mecânico no disco intervertebral. As raízes dos segmentos nervosos L6, L7 e S1 formam o nervo isquiático (ciático). Os nervos S2 e S3 contribuem para o nervo pudendo, que inerva o períneo e o esfíncter anal externo, e para o nervo pélvico que controla a continência urinária e 4 fecal. A cauda é inervada pelos nervos coccígeos (BOJRAB, 1996; PRATA, 1998; NELSON & COUTO, 2006). Nas raízes do nervo ciático, ocorre diminuição do reflexo de retirada do flexor (em especial da flexão do jarrete); pseudo-hiper-reflexia do reflexo patelar; sustentação do peso da superfície dorsal da pata; atrofia do glúteo e do grupo de músculos caudais da coxa e sensibilidade reduzida nos dermátomos associados. Enquanto que nas raízes dos nervos sacrais ocorre redução/ ausência do tônus do esfíncter anal e urinário e do reflexo perineal; atonia da bexiga e redução/ ausência da sensibilidade na pele do períneo. Já nas raízes dos nervos caudais há redução/ ausência de tônus, movimento e sensibilidade da cauda (FITZMAURICE, 2011). Os principais sinais clínicos são a dor profunda lombossacra quando palpada, relutância dos animais em andar, sentar, pular, ou subir escadas e abanar a cauda. Podem apresentar ainda claudicação dos membros torácicos e fraqueza. Além disso, incontinência urinaria (relacionada com lesão do neurônio motor inferior (MMI)) que pode ser observada como urina gotejante e bexiga esvaziada facilmente por compressão manual. Já a incontinência fecal relaciona-se ao baixo tônus anal, podendo estar presente mesmo quando o reflexo anal está intacto (WHEELER & CHARP, 1999; NELSON & COUTO, 2010). Nos sinais neurológicos pode ocorrer a parestesia (distúrbios sensoriais desprazerosos causadores da automutilação da cauda, períneo, órgãos genitais ou das extremidades) que induz o animal a lamber, morder excessivamente o local afetado ou arranhar, ocasionando lesões dermatológicas. Segundo Scott et al (1996), a lambedura excessiva pode causar a produção e liberação de endorfinas, fazendo o animal sentir-se melhor (eufórico) e ao mesmo tempo produzindo um efeito analgésico que diminui a percepção de dor. Outros sinais neurológicos que podem ser apresentados são deficiência proprioceptiva, ataxia, ligeira paralisia dos membros pélvicos e da cauda, atrofia dos músculos dos membros pélvicos, diminuição do reflexo flexor e ocasionalmente hiperreflexia patelar devido a menor contração dos músculos antagonistas do quadríceps femoral (PARKER, 1992; PRATA, 1998; LAGEADO CM, 1999; PELLEGRINO & GARIBALDI, 2003; ETTINGER & FELDMAN, 2004). Diversas alterações podem ser confundidas com a síndrome da cauda equina, principalmente pelos sinais clínicos semelhantes, como mielopatia, displasia coxofemoral, poliartrite, fraturas, luxações, discoespondilite crônica, osteomilite, 5 tumores vertebrais primários ou metastáticos, afecções do trato urogenital e distúrbios dermatológicos dorsal dos membros pélvicos, períneo e cauda do animal (CHRISMAN, 1985; LORNENZ, KORNEGAY, 2006; INZANA, WOOD, 2006; SEIN III, 2008). Para obter-se um diagnóstico correto o procedimento deve seguir um exame físico completo de todo animal e exames ortopédicos (NELSON & COUTO, 2006). Depois de descartadas as causas mais comuns, estão indicados exames neurológicos, incluindo a avaliação da marcha, propriocepção consciente e reflexos segmentares espinhais. É indispensável que o clínico veterinário manipule a espinha lombossacral para determinar a presença de ataxia proprioceptiva, notar o grau de flexão do tarso quando o reflexo de retirada do membro for testado. A falta da flexão da articulação do tarso é indicador de disfunção sensitiva do neurônio motor inferior no nervo ciático (BOJRAB, 1996; WHEELER & SHARP, 1999). A avaliação clínica da marcha envolve observação dos movimentos do paciente ao caminhar ou correr sobre superfície lisa e antiderrapante onde este deve ser forçado a movimentar-se para frente e para trás com mudanças de direção frequentes e formando círculos. As anormalidades geralmente vistas incluem claudicação, déficits proprioceptivos, paresia, andar em círculos, ataxia e dismetria (FEITOSA, 2004; LORENZ; KORNEGAY, 2004; TAYLOR, 2005; DEWEY, 2006). Na propriocepção consciente (Figura 2) sustenta-se o animal sobre o tórax ou sobre os membros pélvicos, e vira-se a pata de forma que a superfície dorsal entre em contato com o chão. O animal deve retornar a pata à posição correta em alguns segundos. Se a resposta estiver retardada, isto pode indicar um problema neurológico, mas não localiza o problema, já que as lesões em qualquer parte da via ascendente ou descendente podem retardar a resposta proprioceptiva (CASIMIRO DA COSTA, 2012; CHRISMAN et al, 2005). 6 Figura 2 - Teste de propriocepção em pata posterior de cão. Fonte: CHRISMAN et al (2005). Presença ou ausência de reflexos medulares em membros anormais indica o nível de segmentação da lesão, pois se há ausência de reflexos em membros paralisados significa que a lesão está nos segmentos testados (paralisia do NMI). Os reflexos espinhais permitem avaliar a integridade dos componentes sensitivos e motores do arco reflexo (ou seja, neurônio motor inferior- NMI), onde lesões ao NMI promovem uma paresia ou paralisia flácida (PELLEGRINO, 2003; FEITOSA, 2004; DEWEY, 2006). Para a pesquisa dos reflexos espinhais, o paciente deve ser posto em decúbito lateral, sendo mantido calmo e em posição confortável durante todo o teste. O membro a ser testado pode ser flexionado e estendido gentilmente para garantir a extensão de movimentos e relaxamentos normais. Usa-se o martelo de percussão para golpear rapidamente os tendões e músculos para disparar a resposta apropriada. (CARNEIRO, 1996 & CHRISMAN, 2005). A resposta varia desde ausência de reflexo (arreflexia), reflexo presente em baixa intensidade (hiporreflexia), reflexo presente e normal (normorreflexia), ou reflexo presente com intensidade acima do normal (hiperreflexia) (FEITOSA, 2004, LORENZ & KORNEGAY, 2004). O reflexo patelar é deflagrado ao bater o tendão patelar diretamente com o martelo, onde o joelho se estenderá no animal normal. Esta resposta torna-se deprimida ou ausente em doenças que afetam os segmentos L6-S2 da medula espinhal e raízes nervosas ou nervos ciáticos e do períneo. Os lados esquerdo e 7 direito devem ser comparados quando o animal deita-se de cada lado (CHRISMAN, 1985). Segundo Chrisman et al (2005), no reflexo gastrocnêmico (L6-S2 e nervos tibiais), mantem-se o gastrocnêmico entre o polegar e o dedo indicador e golpeia-se o polegar rapidamente com o martelo de percussão para provocar extensão do jarrete. Se o animal estiver com lesão não estenderá. O reflexo flexor é testado ao beliscar a unha do animal com os dedos ou pinça e observar a flexão do membro para longe do estímulo. Se o animal não flexionar o membro para longe do estímulo, é indicativo de lesão (CHRISMAN, 1985). De acordo com Chrisman et al (2005) o reflexo extensor cruzado (Figura 3) ocorre quando o membro oposto se estender quando o reflexo flexor por provocado. Quando o animal está em decúbito lateral e não tenta se levantar, um reflexo extensor cruzado do membro pélvico indica lesão acima do segmento de L6. Figura 3 – Teste do extensor cruzado em membros posteriores de cão. Fonte: CHRISMAN et al (2005). O reflexo tibial craniano (L6-S2 e nervos ciáticos e fibulares) consiste em golpear rapidamente o musculo com o martelo de percussão para provocar flexão do jarrete. Quando não se obtém a flexão do jarrete indica-se lesão (CHRISMAN et al, 2005). Reflexo ciático (L6-S2 e nervos ciáticos e fibulares), coloque um dedo sobre o nervo ciático na chanfradura formada pelo trocanter maior e tuberosidade isquiática e 8 golpeie o dedo para disparar uma extensão breve do jarrete. Porém quando não se obtém a extensão do jarrete indica-se lesão (CHRISMAN et al, 2005). O reflexo perineal (anal e caudal) é testado ao beliscar o ânus, no qual observase a contração anal. Os músculos da cauda podem também contrair-se em resposta ao estímulo do ânus, indicando que a Co1 a Co5 estão intactas. Se estes segmentos espinhais estiverem lesados, a cauda fica flácida e irresponsível (CHRISMAN, 1985 & CHRISMAN et al, 2005). Segundo Chrisman et al (2005) para se avaliar a dor profunda, deve-se realizar um teste mediante o pressionamento firme dos ossos digitais do membro pélvico com os dedos ou uma pinça hemostática para provocar uma resposta comportamental. Uma reposta comportamental positiva a dor profunda é compatível quando o animal vira a cabeça e olha, vocaliza, tenta morder ou tenta escapar quando tem o dedo beliscado. A retirada do membro corresponde apenas ao reflexo flexor e não significa que o animal esteja percebendo conscientemente o estimulo doloroso. Se a resposta à dor profunda for ausente em um dedo deve-se testar os outros dedos para determinar se houve perda completa da percepção dolorosa profunda. Após exame clínico e neurológico para diferenciação de outras enfermidades, os animais geralmente são submetidos a exames radiográficos simples, na incidência lateral com os membros posteriores em posição normal, flexionada e na incidência ventro-dorsal (STURION, D.S.et al, 2008). A radiografia simples (Figura 4) pode determinar alterações importantes como diminuição de espaço entre L7-S1, fraturas e luxações de vertebras, protusões de discos intervertebrais, tumores e deformidades ósseas (CHRISMAN, 1985, PRATA 1998) caracterizando também a doença articular degenerativa neste mesmo local. Estudos radiográficos contrastados como epidurografia, mielografia, discografia, venografia vertebral e tomografia computadorizada (Figura 5 e 6), também têm sido recomendados para o diagnostico de compressões da cauda equina, já que as radiografias simples podem levar a diagnósticos falsos negativos e falsos positivos (MORGAN & BAILEY, 1990; LECOUTER & CHILD, 1992; PRATA, 1993; STURION, D.J. et al, 2012). 9 Figura 4 - Raio x de projeção lateral de coluna lombossacra de animal acometido pela síndrome da cauda equina. Fonte: <httpbahr-bituricos.blogspot.com.br200706sndrome-da-cauda-eqina.html>. Figura 5 – Tomografia computadorizada pós-mielografia (cortes transversais, janela: tecido ósseo). A. L3-L4 mostrando discreto adelgaçamento da coluna de contraste ventral. B. L4-L5 mostrando adelgaçamento da coluna de contraste. C. L5-L6 mostrando ausência da coluna de contraste. D. L6-L7 mostrando ausência da coluna de contraste. C. e D. demonstram presença de material de partes moles ocupando todo o canal vertebral. E. L7-S1 mostrando ausência da coluna de contraste devido á presença de material com atenuação de partes moles ocupando todo o canal vertebral. F. L7-S1 de um animal normal mostrando aparência normal da coluna de contraste nessa região. Fonte: PINTO et al (2007). 10 Figura 6 – Tomografia computadorizada pós-mielografia (janela: tecidos moles). Corte transversal entre L5-L6 mostrando dois pontos de calcificação em assoalho ventro-lateral à direita e ausênciada coluna de contraste devido à presença dematerial de atenuação de partes moles ocupando todo o canal vertebral. Fonte: PINTO et al (2007). Conforme Nelson (2010), o diagnóstico é baseado na documentação da compressão nervosa usando técnicas de imagem. O mielograma (Figura 7 e 8), com injeção cervical feita no forame magno pode documentar a compressão da cauda equina, mas não diagnostica em 20% dos cães nos quais o termino do sacro é cranial à junção lombossacral ou naqueles em que a lesão primária é a compressão lateral dos nervos espinhais no forame intervertebral. Pode-se também utilizar outro ponto de mielografia que é a injeção lombar entre L4-L5 e L5-L6, este ponto é mais utilizado para diagnóstico da síndrome devido à proximidade do local de lesão, e a menor incidência de efeitos colaterais pelo contraste. Quando disponíveis, a ressonância magnética com a coluna estendida é a forma mais sensível, precisa e não invasiva de avaliação da região lombossacral, permitindo a visualização de todos os componentes possivelmente envolvidos na compressão da cauda equina. Estudos eletrofisiológicos podem ajudar a confirmar a disfunção no NMI e nas raízes nervosas dos membros pélvicos e da cauda. 11 Figura 7 - A mielografia realizada por meio de punção cervical denotou adelgaçamento das colunas de contraste a partir de L1 e interrupção de sua progressão a partir de L4-L5, caracterizando um padrão de lesão intramedular. Fonte: PINTO et al (2007). Figura 8 – técnica de mielografia lombar. A. Mielografia lombar obtida por meio da abordagem para mediana. A ponta da agulha está no aspecto ventral do espaço subaracnoide em L4-L5, e o eixo da agulha se encontra em um ângulo de aproximadamente 45º em relação a medula espinhal e paralelo ao plano dos processos articulares dorsais. As falhas de preenchimento (pontas de seta) são causadas pelas raízes dos nervos espinhais do segmento medular lombares. Observe a coluna de meio de contraste nitidamente delineada, o que indica a injeção subaracnoide. B. Mielografica lombar obtida por meio da técnica mediana em L5-L6. A ponta da agulha está no aspecto ventral do espaço subaracnoide, e o eixo da agulha está perpendicular a medula espinhal. Ocorreu um discreto extravasamento epidural, ao redor da haste da agulha (seta). O saco dural está opacificado, terminando em L7-S1. C. Mielografia lombar com a ponta da agulha no aspecto dorsal do espaço subaracnoide em L5-L6. Observe a calcificação do disco L6-L7. Fonte: TRHALL (2010). 12 DISCUSSÃO Cada caso deve ser tratado individualmente, o tratamento a ser empregado pode incluir desde tratamentos de suporte como fisioterapia e acupuntura, repouso e uso de anti-inflamatórios e cirurgia (laminectomia) nos casos mais extremos, quando há deficiências motoras ou quando o tratamento convencional não der resultado (LAGEADO C.M.,1999; STURION, D. S. et al, 2012). A fisioterapia é indicada principalmente em cães que não passarão por tratamento cirúrgico, mas também é utilizada no pós-cirúrgico, neste caso a fisioterapia auxilia no controle da dor e dos estímulos proprioceptivos. É utilizada a estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS) e laser para controle da dor, que também atua como anti-inflamatório e na manutenção das articulações. Ultrassom terapêutico (UST) e alongamentos também são utilizados. Já para animais que não passarão por cirurgia, utiliza-se o TENS, o laser e o UST, os alongamentos, massagens, movimentos de pedalagem e escovação. Quando o cão começa a andar sem demonstração de dor pode ser usada uma pista com obstáculos baixos, para estimular a propriocepção do cão durante a marcha (GONÇALVES, 2013). A acupuntura é a técnica de estímulo de pontos específicos no organismo, sendo que estes podem ser ativados de diversas formas, como por exemplo, inserção de agulhas, calor, laser, injeção de vitaminas ou fármacos, entre outros. Uma das funções mais efetivas da acupuntura é o alívio da dor muscular, induzida pelo aumento da circulação no músculo espástico devido à inserção da agulha no mesmo, ou pela inserção da agulha em uma área distante que corresponda ao músculo causador da dor, melhorando a circulação reduzida (SCHOEN, 2006). O tratamento conservativo vai depender da gravidade de cada caso, quando não há comprometimento importante das raízes nervosas (sem automutilação por paresia), a resposta ao repouso e a restrição ao exercício físico costuma ser boa. Quando essas medidas não são suficientes, o tratamento clínico deve consistir de terapia com fármacos antiinflamatórios não esteroidais, como o carprofeno, cetoprofeno, meloxicam, fenilbutazona; e anti-inflamatório esteroidal com o uso da predinisolona. (PELLEGRINO & GARIBALDI, 2003; STURION et al, 2008 e 2012). Na clínica atualmente, o tratamento não é o mesmo visto na literatura e faz-se basicamente com anti-inflamatório esteroidal e analgésicos opióides como tramadol e morfina. 13 De acordo com Nelson (2010), a restrição de exercícios e a administração de analgésicos ou antiinflamatorios pode melhorar temporariamente o quadro clínico de cães que apresentam apenas dor e claudicação. Os sinais geralmente recidivam quando a atividade normal é retomada. Tratamentos mais definidos envolvem a laminectomia lombossacral dorsal (Figura 9), a excisão de tecidos compressores e descompressão do forame. A cirurgia descompressiva associada à distração lombossacral e a estabilização é recomendada a cães que apresentam grandes déficits neurológicos ou dor intensa. O procedimento cirúrgico prova rápido alívio da dor na maioria dos pacientes e segundo Weeler & Sharp (1999) melhoria das anormalidades da marcha/locomoção e diminui as deficiências neurológicas. Na laminectomia dorsal, faz-se uma incisão na linha média dorsal desde o processo espinhoso de L6 até a primeira vértebra caudal, se remove o processo espinhoso dorsal de L7 e S1 e as estruturas de tecido mole associadas, bem como a camada cortical externa e medular. Identifica-se a camada cortical interna desde o corpo médio de L7 até o de S2-S3. Perfura-se a camada cortical interna, até ela ficar macia e remove-se o periósteo interno, até expor o local. As estruturas presentes incluem raízes nervosas de L7, S1, S2, S3 e caudais, seio venoso vertebral, ligamento longitudinal dorsal e ânulo fibroso dorsal. Se as raízes nervosas de L7 ou S1 parecerem estar comprimidas dentro do forame ou por facetas aumentadas de tamanho, deve ser realizado uma facetectomia e/ou foraminotomia para estabelecer uma descompressão de raiz nervosa completa. Remover o processo articular cranial de S1 e o processo articular caudal de L7. Abordar o forame intervertebral por meio da remoção de qualquer faceta articular remanescente (FOSSUM et al, 2005). 14 Figura 9 – A. 0s locais de laminectomia são reconhecidos devido à remoção de algumas lâminas (setas). B. ausência unilateral de processos articulares após hemilaminectomia; compare com os processos intactos à direita. Fonte: THRALL (2010). Um exemplo de técnica cirúrgica, para estes casos, é a fixação-fusão de L7S1, com o objetivo de ampliar o forame intervertebral e o canal espinhal, utilizada para reestabelecer a função normal dos membros e sua consequente atividade motora (SLOCUM B, 1986). Segundo Sturion et al (2012), tratamentos alternativos como fisioterapia e acupuntura auxiliam a controlar a inflamação e a lixiviação no local da cirurgia. Mikail (2006) afirma que a reabilitação tem como objetivo recuperar déficits e prevenir deformidade. CONCLUSÂO A síndrome da cauda equina é uma doença bastante complexa, devido ao fato de apresentar um elevado número de sinais clínicos, o que dificulta a chegada a um diagnóstico definitivo se não houver conhecimento anatômico, fisiológico e comportamental dos animais acometidos. Muitas vezes há interferência nas ações fisiológicas normais do animal, como alimentação, micção e defecação, devido ao desconforto causado pela dor intensa e paresia/paralisia da região acometida. Portanto, é de extrema importância o conhecimento desta doença, bem como os exames clínicos necessários para diagnosticá-la e que, para esta finalidade, se use 15 também todos os recursos disponíveis, visando efetuação do tratamento e cura ou melhoria das condições de vida e conforto dos animais. REFERÊNCIAS BOJHAB, M. J. Técnicas Atuais em Cirurgia de Pequenos Animais. 3ª. Ed São Paulo, Roca, 1996. P. 591-596. BRAUND, K. G. Clinical syndromes in veterinary neurology.2ª. Ed. St. Louis: Mosby, 1994. 476p. CARNEIRO, J. M.C. Exame Neurológico de Pequenos Animais. 1ªed. Pelotas, EDUCAT, 1996, 270p. CASIMIRO DA COSTA, R. Abordagem e Diagnóstico Diferencial de Problemas na Coluna Vertebral e Medula Espinhal. Disponível em: <http://neuronaldo.com.br/docs/palestra/ResumoPalestraAbordagemeDiferenciasMe dulaespinhalRonaldo.pdf> Acesso em: 11/05/2014. CHRISMAN, C. Paraparesia ou paraplegia aguda In:______. Neurologia para o clínico de Pequenos. 1ªed. São Paulo: Roca, 2005. P.312-325 CHRISMAN, C. 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