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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS E FÍSICO-MECÂNICAS DA PELE DE CAPRINOS E OVINOS DE DIFERENTES GENÓTIPOS ROBSON JOSÉ FREITAS OLIVEIRA Zootecnista AREIA - PB NOVEMBRO - 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS E FÍSICO-MECÂNICAS DA PELE DE CAPRINOS E OVINOS DE DIFERENTES GENÓTIPOS ROBSON JOSÉ FREITAS OLIVEIRA AREIA - PB NOVEMBRO – 2006 ROBSON JOSÉ FREITAS OLIVEIRA CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS E FÍSICO-MECÂNICAS DA PELE DE CAPRINOS E OVINOS DE DIFERENTES GENÓTIPOS Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba, do qual participam a Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Zootecnia. Área de Concentração: Produção Animal Comitê de Orientação: Prof. Dr. Roberto Germano Costa – Orientador Principal Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros Prof. Dr. Wandrick Hauss de Sousa AREIA - PB NOVEMBRO - 2006 Ficha Catalográfica elaborada na Seção de Processos Técnicos, da Biblioteca Setorial de Areia, CCA/UFPB. Bibliotecária: Márcia Maria Marques CRB4 - 1409 O48c Oliveira, Robson José Freitas. Características Histológicas e Físico-Mecânicas da Pele de Caprinos e Ovinos de Diferentes Genótipos / Robson José Freitas Oliveira. – Areia: PPGZ/CCA/UFPB, 2006. ..78f.: il. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba. Área de Concentração: Produção Animal. Orientador: Roberto Germano Costa. 1. Caprinos e ovinos – pele. 2. Pele – caprinos e ovinos 3. Couro – qualidade - resistência. I. Costa, Roberto Germano, (Orient.) II. Título. CDU: 636.3(043.2) ROBSON JOSÉ FREITAS OLIVEIRA CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS E FÍSICO-MECÂNICAS DA PELE DE CAPRINOS E OVINOS DE DIFERENTES GENÓTIPOS Tese defendida e aprovada pela Comissão Examinadora em 07 de novembro de 2006. Comissão Examinadora: ________________________________________ Prof. Dr. Wandrick Hauss de Sousa Pesquisador III/EMEPA-PB ________________________________________ Prof. Dr. Celso José Bruno de Oliveira Universidade Federal da Paraiba Departamento de Zootecnia __________________________________________ Prof. Dr. Egídio Luiz Furlanetto Universidade Federal de Campina Grande Unidade Acadêmica de Engenharia de Produção ___________________________________________ Drª Maria Auxiliadora de Brito Lira Dal Monte D.Sc. Engenharia de processos ________________________________________ Prof. Dr. Roberto Germano Costa Universidade Federal da Paraíba Departamento de Agropecuária/CFT/UFPB Presidente AREIA-PB NOVEMBRO – 2006 “A única coisa em que eu creio é que devemos ter a capacidade suficiente para destruir todas as opiniões contrárias baseadas em argumentos ou, se não, deixar que as opiniões se expressem. Opinião que temos de destruir na porrada é opinião que leva vantagem sobre nós. Não é possível destruir opiniões na porrada e é isso precisamente o que mata todo o desenvolvimento da livre inteligência”. Ernesto “Che” Guevara Este trabalho é dedicado aos meus pais, Renato e Darci, que me ensinaram a importância de conhecer o passado para melhor entender o presente e a subverter a lógica das aparências que cega, buscando o caminho da verdade, da igualdade e do amor. Às minhas filhas, Rosane e Renata, a quem espero ter repassado com meus atos estes ensinamentos. À minha esposa Olímpia, que me acompanhou e incentivou durante toda essa trajetória. AGRADECIMENTOS Agradecer a Deus, por tudo que tem me proporcionado; aos meus pais, RENATO e DARCI, pelo que sou; às minhas filhas, ROSANE e RENATA, por serem filhas tão bacanas e amigas que, apesar da distancia física, nos fizeram sentir sempre tão perto; à minha delícia, Pinha, pelo seu amor e carinho e ao tio Noé, onde sempre tive o calor da família nestes 6 anos longe de casa. A todos os professores e colegas da pós-graduação da UFPB e UFRPE; todos os amigos que estiveram sempre presentes nos momentos de alegria ou de aperreio com os estudos, em Itapetinga-BA, Recife-PE, Areia-PB, São João do Cariri-PB, Córdoba - Espanha e em Campina Grande-PB. Foram tantos que não vou citá-los, mas estejam certos de que, todos vocês, estarão sempre na minha lembrança e no meu coração; À UESB-Zootecnia, por ter acreditado e apoiado o seu funcionário, e à UFPB-CCA, por ter me recebido e oportunizado mais este crescimento; À EMEPA, na pessoa do Dr. Wandrick Hauss de Sousa, e à LANILA Agropecuária, que cederam o material de pesquisa para que fosse desenvolvido o estudo. E um agradecimento especial a Roberto Germano, orientador quando foi preciso e um amigo presente quando necessário. “Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, crianças e velhos, nunca esquecerei que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril." Oscar Wilde BIOGRAFIA DO AUTOR ROBSON JOSÉ FREITAS OLIVEIRA, filho de Renato Leite Alves de Oliveira e Darci Freitas Oliveira, nasceu em 06 de abril de 1963, na cidade de Itapetinga, estado da Bahia. Concluiu o curso Técnico em Agrimensura na Escola Média de Agricultura Regional da CEPLAC, na cidade de Uruçuca – BA, no ano de 1980. Iniciou o Curso de Zootecnia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, Campus Juvino Oliveira em Itapetinga, no Estado da Bahia, no ano de 1982, graduando-se em 1987. Durante o período de graduação, aprovado em concurso da UESB para Técnico em Laboratório, exerceu a função no Laboratório de Bioquímica e, posteriormente, no Laboratório de Nutrição Animal, entre os anos de 1983 e 2000. Em 2001, foi aprovado em concurso público da UESB para Técnico de Nível Superior, exercendo atualmente a função de Zootecnista na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, lotado no Departamento de Tecnologia Rural e Animal – Laboratório de Nutrição Animal. Em março de 2001, iniciou o curso de Mestrado em Zootecnia, área de concentração em Produção Animal, no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, sob a orientação do Professor Dr. Francisco Fernando Ramos de Carvalho, tendo obtido o título de Mestre em Zootecnia em fevereiro de 2003. Neste mesmo ano, ingressou no Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, Curso de Doutorado em Produção, pela Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação do Prof. Dr. Roberto Germano Costa, defendendo a tese em novembro de 2006. SUMÁRIO Página Lista de Tabelas .........................................................................................................xi Lista de Figuras .........................................................................................................xii Resumo Geral ............................................................................................................xiv Abstract .....................................................................................................................xv Características Histológicas e Físico-Mecânicas da pele de Caprinos e Ovinos de Diferentes Genótipos Introdução Geral ........................................................................................................01 Referências Bibliográficas.........................................................................................05 Capítulo 1 Características Histológicas da Pele de Cabritos da Raça Blanca Serrana Andaluza em Diferentes Sistemas de Produção Resumo ......................................................................................................................07 Abstract......................................................................................................................07 Introdução..................................................................................................................08 Material e Métodos....................................................................................................13 Resultados e Discussão..............................................................................................19 Conclusões.................................................................................................................27 Referências Bibliográficas.........................................................................................28 Capítulo 2 Características Físico-Mecânicas de Couros Caprinos e Ovinos no Cariri Paraibano Resumo ......................................................................................................................32 Abstract......................................................................................................................32 Introdução..................................................................................................................33 Material e Métodos....................................................................................................39 Resultados e Discussão..............................................................................................47 Conclusões.................................................................................................................54 Referências Bibliográficas.........................................................................................55 Capítulo 3 Características Físico-Mecânicas de Couros Caprinos e Ovinos de Diferentes Genótipos Resumo .............................................................................................................59 Abstract.............................................................................................................59 Introdução.........................................................................................................60 Material e Métodos...........................................................................................64 Resultados e Discussão.....................................................................................68 Conclusões........................................................................................................73 Referências Bibliográficas................................................................................74 Considerações Finais .................................................................................................77 xi LISTA DE TABELAS Capítulo 1 Página 1. Médias e nível de significância para espessura da derme, espessura da camada termostática e camada reticular .....................................................................22 2. Médias e nível de significância para número de folículos primários (P), folículos secundários (S) e glândulas sebáceas, e relação entre folículos secundários e primários .................................................................................24 Capítulo 2 Página 1. Peso inicial e final por genótipo ..........................................................................40 2. Variação do volume, temperatura, pH do banho e velocidade do fulão..............41 3. Valores orientativos para os testes físico-mecânicos ..........................................46 4. Médias e coeficientes de variação (CV) para a variável resistência a tração e alongamento quanto a espécie, genótipo e direção amostrada ......................47 5. Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável resistência ao rasgamento progressivo quanto a espécie, genótipo e direção amostrada.....49 6. Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável medida da distensão e resistência da flor quanto a espécie e genótipo...........................................51 7. Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável comportamento sob água quanto a espécie e genótipo ..................................................................52 Capítulo 3 Página 1. Variação do volume, temperatura, pH do banho e velocidade do fulão..............65 2. Valores orientativos para os testes físico-mecânicos. .........................................67 3. Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável resistência ao rasgamento progressivo quanto ao genótipo e direção amostrada ................68 4. Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável resistência a tração e alongamento quanto à genótipo e direção amostrada....................................70 5. Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a medida da distensão da flor em relação ao genótipo ..................................................................................72 xii LISTA DE FIGURAS Capítulo 1 Página 1. Amostras retiradas das peles de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza (a) e fixação em formol 10% (b).........................................................................13 2. Equipamento automatizado para desidratação e clareamento (Thermo Shandon Hyperclean) ....................................................................................14 3. Equipamento para produção de blocos histológicos parafinados (Shandon Histocentre 2) ................................................................................................15 4. Equipamento utilizado para os cortes nas amostras de pele (Micrótomo Leica RM 2125RT) .................................................................................................15 5. Lâminas com amostras da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza, prontas para observação em microscópio. .....................................................16 6. Microscópio e câmera onde foram efetuadas as fotografias e mensuração das camadas da derme..........................................................................................17 7. Epiderme (1), Derme – camada termostática (2) de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Vann Giesson. 400X......................................19 8. Fotografia demarcando a camada termostática (T1, T2, T3) e reticular (R1, R2, R3) da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Hematoxilina/Eosina. 100X.. ........................................................................20 9. Folículo primário (1), folículo secundário (2), músculo eretor do pelo (3), glândula sebácea (4) da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Vann Giesson. 200X.. ..................................................................21 10. Diferença de espessura na camada termostática (T) entre as regiões grupão e ventre da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Hematoxilina/Eosina. 100X. .........................................................................23 11. Relação folículos secundários (S)/primários(P) na região do grupão da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Vann Giesson. 100X ..............................................................................................................25 xiii Capítulo 2 Página 1. Fulão utilizado para o curtimento das peles (CTCC/Campina Grande- PB).......41 2. Espessímetro com amostra de couro ...................................................................42 3. Prensa hidráulica (balancim) na retirada dos corpos de prova demonstrando a zona oficial de amostragem ...........................................................................43 4. Amostra do couro no equipamento dinamômetro para o teste de Resistência da tração e alongamento (a) e após rompimento (b). .........................................44 5. Amostra do couro no equipamento dinamômetro para o teste de Força de rasgamento progressivo (a) e amostra da pele sob força de rasgamento (b). 44 6. Amostra do couro no equipamento Lastômetro (a) e amostras após o teste de distensão da flor.............................................................................................45 xiv RESUMO GERAL Este trabalho teve como objetivo caracterizar a histologia da pele de uma raça da espécie caprina, criada sob dois sistemas de criação: intensivo e extensivo, e avaliar as características físico-mecânicas do couro de diferentes genótipos ovinos e caprinos. Para tanto, foram realizados três experimentos: o primeiro utilizando-se 31 animais da raça espanhola Blanca Serrana Andaluza, abatidos com 20 kg de peso vivo. No segundo experimento foram utilizadas 43 peles, provenientes de nove ovinos Santa Inês, 12 caprinos ½ Anglo Nubiano, 16 ½ Boer, todos mestiços com animais Sem Raça Definida (SRD), e seis animais SRD, abatidos com peso médio de 30 kg e, para o terceiro, foram utilizadas 80 peles em 10 tratamentos com oito repetições, assim distribuídos: caprinos: ½ Moxotó, ½ Boer, ½ Anglo, ½ Kalahari, ½ Savannah, todos mestiços com animais Sem Raça Definida (SRD); e ovinos: Santa Inês, Morada Nova, ½ Santa Inês x ½ Morada Nova, ½ Santa Inês x ½ Dorper e ½ Morada Nova x ½ Dorper, abatidos com idade em torno de 260 dias. No primeiro experimento não foram detectadas diferenças (P>0,05) quanto ao sistema de criação, com as características da pele dos cabritos indicando peles de primeira qualidade. No segundo experimento, os fatores genótipo e direção amostrada apresentaram diferença significativa (P<0,05) para o teste de resistência ao rasgamento progressivo, embora com todos os valores abaixo dos valores de referência recomendados para um couro de qualidade. Nas determinações da medida da distensão e resistência da flor não foram detectadas diferenças (P>0,05) entre os genótipos e, para o teste de resistência a tração e alongamento, foram encontradas diferenças (P<0,05) entre os genótipos ou direção da amostra, contudo todos os resultados se apresentaram acima dos valores orientativos para um produto de qualidade industrial e, no terceiro experimento, para os fatores espécie, genótipo e direção amostrada foram encontradas diferenças significativas (P<0,05) para os testes físico-mecânicos, contudo, os resultados foram sempre acima dos valores orientativos especificados para couros de boa qualidade industrial. Palavras chave: Caprino, Físico-Mecânico, Ovino, Pele, Qualidade do Couro, Resistência xv ABSTRACT This study aimed to assess the histological characteristics of the skin of goats from a single breed, raised in: intensive and extensive production systems, and to evaluate the physic mechanical characteristics of chromium-tanned leather from different sheep and goat genotypes. Therefore, three studies were performed: In the, one first 31 Blanca Serrana Andaluza goats were used and slaughtered with 20 kg al live weight. In the second study, 43 skins were used, nine from Santa Inês sheep, 12 ½ Anglo Nubiano, and 16 ½ Boer. All crossings were obtained using non-defined breeds (NDB) and six NDB, slaughtered with 30 kg approximately. In the third study, 80 goat and sheep skins were analysed according to a complete randomized design with ten treatments (genotypes) and eight repetitions. Goat crossbreds used in the study were: ½ Moxotó, ½ Boer, ½ Anglo Nubian, ½ Kalahari and ½ Savannah. All crossings were obtained using non-defined breeds. Sheep genotypes were Santa Inês, Morada Nova, ½ Santa Inês x ½ Morada Nova, ½ Santa Inês x ½ Dorper and ½ Morada Nova x ½ Dorper, and slaughtered around 260 days of age. In the first study, differences were not detected P>0,05) regarding the production systems. The characteristics of the skin of the kid goats indicated first quality skins for processing. In the second study significant differences (P<0,05) were observed For the factors genotype and direction they were found: for the resistance test to the tearing. However, all breeds showed values below those recommended. For good quality leathers the distention and resistance of the grain nap differences were not detected (P>0,05) regarding among the genotypes. However tensile strength and elongation percentage were differences (P<0,05) were observed among genotypes and direction of the sample regarding resistance to traction, with all samples above the values for a product of industrial quality. In the third study, significant differences (P<0.05) in physic mechanical tests were observed in regard to species, genotypes and sampling direction factors. Considering the reference values for the physic mechanical tests used by the industry to score the leather, all goat and sheep genotypes produced good quality leather for industrial processing. Key words: Goat, Leather, Physic-mechanical, Resistance, Sheep, Skin. Características Histológicas e Físico-Mecânicas da Pele de Caprinos e Ovinos de Diferentes Genótipos 1 INTRODUÇÃO GERAL A cadeia produtiva da caprinocultura e ovinocultura encontra-se, em um momento, onde os gargalos precisam ser estudados na busca de solucionar os vários problemas que impedem a sua articulação e expansão. Em qualquer cadeia do agro negócio, o sucesso depende basicamente da qualidade do produto, estabilidade na oferta e competitividade dos preços. No caso da cadeia produtiva da ovinocaprinocultura, Medeiros (2003) cita que são vários os gargalos a serem superados relacionados a aspectos edafo-climáticas, manejo, nutricionais, qualidade do produto, incluindo até aspectos de ordem sócio-culturais. Para Costa et al. (2003), a cadeia necessita de estudos que possibilitem a análise da interação entre os diversos segmentos envolvidos, desde os geradores de recursos, unidades produtoras, processamento e comercialização de produtos e subprodutos, sempre na busca de atender o consumidor final, que é quem sustenta toda a atividade da cadeia. A ovinocaprinocultura, pela sua capacidade de produção e rusticidade, é um elemento estratégico de grande importância econômica e social, sendo uma das poucas atividades viáveis em regiões áridas e semi-áridas. O Nordeste brasileiro, segundo o Anuário da Pecuária Brasileira (ANUALPEC 2004), possui um rebanho caprino de 9.412.000 cabeças e de ovinos da ordem de 8.030.000 cabeças, o que representa aproximadamente 93,8% e 54,5% do efetivo brasileiro, demonstrando o grande potencial da região para a atividade. Verifica-se que alguns aspectos que envolvem a cadeia já estão sendo estudados e outros bem adiantados, onde podem ser citados estudos sobre a carcaça, carne, leite, aspectos do manejo e nutrição. Outros, no entanto, estão em estágio inicial, a exemplo do manejo da caatinga nativa e das raças nativas, a relação harmoniosa entre os fatores edafo- 2 climáticos, os animais e o homem e, em especial, algumas vertentes que até pouco tempo eram consideradas subprodutos da atividade a exemplo da buchada e da pele. No atual modelo de produção existente, a pele caprina se constitui em um dos principais produtos da exploração, podendo converter-se em uma das maiores fontes de lucro para o criador (Jacinto, 2000). Bellaver et al. (1979) dizem que esta representa economicamente de 10 a 20% do valor do animal vivo, tendo chegado a 30% nos anos 70. Ribeiro (1993) cita que, na região Sudeste, as peles caprinas e ovinas são descartadas ou beneficiadas com tecnologias inadequadas, no entanto, este item, se bem explorado, somado à produção para o abate, pode ser uma importante fonte de renda. Dados do IBGE (1996) demonstram que na região Sudoeste as peles caprina e ovina não são processadas pelos curtumes, pois se dedicam ao processamento de couros bovinos, sendo os curtumes especializados no tratamento destas peles localizados na região Nordeste, maior produtora de matéria-prima. O curtimento consiste em transformar a pele em couro, preservando suas propriedades originais de resistência à tração, elasticidade e abrasão, eliminando-se características indesejadas, como a facilidade de decomposição e rigidez após secagem, adicionando-se a resistência térmica e a permeabilidade aos gases (Bienkiewicz, 1983). Furlanetto (2003) afirma que, no Brasil, o segmento “couro” da cadeia produtiva apresenta fortes indicadores de competitividade, principalmente se incluídos os couros bovinos, com superávits comerciais que superam os US$ 2,5 bilhões e altas taxas de crescimento, no entanto, na Paraíba, com exceção da indústria de calçados, a indústria de curtumes foi praticamente extinta. Entre os principais fatores da diminuição do setor coureiro da cadeia na Paraíba, citado por vários autores, está a falta de regularidade na oferta de matéria prima e a baixa qualidade do produto ofertado. 3 O consumo de carne caprina e ovina ainda está muito aquém do que seria considerado o ideal, contudo existe um mercado potencial crescente e insatisfeito. Com a introdução de algumas raças especializadas para produção de carne como a Boer e a Dorper, o interesse pela atividade vem aumentando e, consequentemente, a oferta de peles tende a crescer junto. Deste potencial, onde as peles caprinas e ovinas se constituem a matéria-prima para a indústria curtidora, devemos observar o que comentam Costa et al. (1998) quando citam que a pele para comercialização deve apresentar certas características de acordo com o produto final. Desta forma, é imprescindível fomentar os estudos quanto às características das peles, enfocando as possíveis diferenças entre os diversos genótipos, características estas referentes a tamanho, grossura, tipo de pêlo, diferenças quanto à idade, aparência estética, aparência do grão, resultantes da disposição dos folículos pilosos e densidade (Holst et al., 1990 e Jacinto, 1999) Da mesma forma que nas peles, são necessários estudos no couro (pele curtida), principalmente através dos ensaios físicos-mecânicos que irão determinar o potencial de utilização desta matéria-prima pela indústria. Alguns estudos têm demonstrado que na pele existem zonas de estrutura bastante diferenciadas e que têm relação com a espessura e compacidade, outros tentam demonstrar a diferença de resistência físico-mecânica do couro entre as regiões do corpo ou entre espécies. O objetivo deste trabalho foi estudar diferenças estruturais existentes na pele de caprinos da raça caprina Blanca Andaluza, criados sob os regimes de manejo intensivo e extensivo, que possam traduzir em diferenças na qualidade deste material para a indústria do couro, assim como analisar e comparar variáveis físico-mecânicas de couro de 4 diferentes genótipos de espécies caprinas e ovinas. Para tanto, esta tese é composta por três capítulos: o primeiro iniciando-se com aspectos morfo-estruturais da pele de cabritos da raça Blanca Serrana Andaluza, dando ênfase à espessura das camadas que constituem a derme e sua influência sobre as características físico-mecânicas do couro, que são reportados nos capítulos dois e três. Nestes últimos, tem-se como foco principal as variações existentes sobre a qualidade do couro em decorrência da espécie e do genótipo (cap. 02) e apenas do genótipo (cap. 03), sem perder de vista a questão estrutural da pele nas respostas para os resultados observados. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANUÁRIO DA PECUÁRIA BRASILEIRA (ANUALPEC). São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2004. p. 301-302. BELLAVER, C., OLIVEIRA. E.R., FIGUEIREDO, E.A.P. O peso como fator técnicoeconômico da comercialização de peles de caprinos e ovinos tropicais. Sobral: EMBRAPA-CNPC, 1979. 3p BIENKIEWICZ, K. Physical chemistry of leather making. Malabar: Robert E. Krieger. 1983. p. 541. COSTA, R. G.; MEDEIROS, A. N. de; CARVALHO, F. F. R. de. Perspectivas e Desafios para a Produção de Carne Caprina no Brasil. In: Anais... Sociedade Brasileira de Zootecnia. Santa Maria-RS. 2003. CD-Rom. COSTA, R.G.; PIMENTA FILHO, E.C.; SILVA, A.F.R. et al. Efeito da idade do animal na qualidade do couro de caprinos criados em regime semi - extensivo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.27, n.2, 1998. p.355-358. FURLANETTO, E.L. Estudo da cadeia produtiva do couro no estado da Paraíba: Diagnóstico. In: Encontro para Estruturação da Cadeia Produtiva da CaprinoOvinocultura Paraibana. FINEP/FAPESP. Campina Grande-PB. 2003. HOLST, P.J.; CLARKE, W.H. Goat liveweight and its effect on skin area, primary follicle density and leather grain appearance. J. Soc. Leath. Trades Chem., London, vol. 73, 1990. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSITCA. Anuário estatístico brasileiro. Rio de Janeiro, IBGE, 1996. JACINTO, M.A.C. Qualidade e aproveitamento de peles de caprino. 1999. Disponível em: www.capritec.com.br/art10.htm. Acessado em: 10/12/2005. JACINTO, M.A.C. Influência da raça e idade nas características histológicas e físicomecânicas de couros caprinos. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Departamento de Produção Animal, Universidade Estadual Paulista. Jaboticabal; 2000. 118p. MEDEIROS, A. N. A caprinocultura de corte no nordeste brasileiro. Disponível em: < www.capritec.com.br/Art. 18htm>. Acessado em: 28/04/2003. RIBEIRO, S.D.A. A caprinocultura no sudoeste. Jaboticabal, 1993. 12p. (Monografia) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista. 6 CAPÍTULO 1 Características Histológicas da Pele de Cabritos da Raça Blanca Serrana Andaluza em Diferentes Sistemas de Produção 7 RESUMO Este trabalho teve como objetivo caracterizar a pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza, criados sob os sistemas de criação intensivo e extensivo, que possam refletir nas qualidades físico-mecânicas ou aparência do couro. Foram utilizados 31 animais da raça Blanca Serrana Andaluza, abatidos com 20 kg de peso vivo. Foram encontradas diferenças significativas (P<0,05) quanto à região da pele amostrada (grupão e ventre), para os parâmetros espessura da derme e camada termostática, número de folículos secundários, glândulas sebáceas e relação entre folículos secundários/primários. Não foram detectadas diferenças (P>0,05) quanto ao sistema de criação. As características da pele dos cabritos mostraram-se semelhantes às de outros genótipos, sugerindo serem de excelente qualidade para a indústria curtidora. Palavras chaves: Derme, Folículo, Pele, Reticular, Termostática. ABSTRACT This study aimed to characterize the skin of Blanca Serrana Andaluza goats, raised under intensive and extensive production systems, which could influence physicomechanical properties or appearance of the leather. Therefore, 31 animals of the Blanca Serrana Andaluza breed were used and slaughtered with 20 kg live weight. Significant differences among the sampling regions of the skin as regions of the skin sample (dorsal and ventral), regarding the variables thickness of the derma and thermostatic layer, number of secondary follicles, glands and relationship among follicles secondary/primary. Were observed differences were not detected regarding the production system. The characteristics of the skin of Blanca Serrana Andaluza kid goats indicated products of great quality for further industrial processing. Key words: Derma, Follicle, Goat, Leather, Skin, Reticular, Thermostatic. 8 INTRODUÇÃO A pele caprina pode se constituir em um dos principais produtos da exploração, no entanto, para comercialização, deve apresentar certas características de acordo com o produto final que envolve desde fornecedores da matéria prima até a indústria de processamento (Costa et al. 1998a). A pele, ou tegumento, recobre toda a superfície do corpo, constituindo-se um dos maiores órgãos e funcionando como uma barreira de proteção natural ao meio externo animal, além de várias outras funções funcionais, coberta geralmente por pêlos ou lã, e formada por várias capas superpostas. Esta pode ser definida utilizando-se de critérios estrutural, embriológico ou funcional. Do ponto de vista estrutural, foco central deste trabalho, ela é definida como um órgão constituído por duas camadas: uma mais superficial, de revestimento pavimentoso, estratificado e queratinizado, de origem ectodérmica, denominada epiderme, seguida pela derme, formada por um tecido conjuntivo de origem mesodérmica (Méndez et al., 2004; Junqueira e Carneiro, 1995; Ham et al., 1984; Calhoun e Stinson, 1982.). A epiderme, camada mais externa, é formada pelas camadas basal, germinativa, granulosa, lúcida e córnea, representa 1% da espessura total da pele e é alimentada por difusão de nutrientes dos capilares da derme, apresentando ainda outros tipos de células, entre elas os melanócitos, que são responsáveis por produzirem o pigmento melanina (Jenkinson et al, 1979; Junqueira e Carneiro, 1995). Alguns estudos evidenciam que a espessura da epiderme varia segundo a região do corpo, sendo nos ovinos mais delgada nas regiões cobertas por lã, assim como mais espessa na região dorsal que nos flancos (Medawar, 1953, Lyne e Hollis, 1968). 9 Esta região é eliminada durante o caleiro, no processamento para a transformação em couro (Baumberger et al, 1942; Dal Monte, 1998), com o afrouxamento da estrutura fibrosa do colágeno (Jacinto et al. 2004). A derme é a parte da pele que se transforma em couro e representa em torno de 85% da sua espessura. Encontra-se imediatamente debaixo da epiderme e o limite entre as duas camadas não é regular, caracterizando-se pela presença de saliências e reentrâncias que se misturam e se ajustam entre si (Junqueira e Carneiro, 1995). É formada por duas camadas de limites pouco distintos: uma termostática ou papilar, mais superficial, onde estão inseridos os folículos pilosos, glândulas sudoríparas e sebáceas e o músculo eretor do pêlo, constituída por tecido conjuntivo frouxo e fibrilas especiais de colágeno, e a camada reticular, mais profunda e espessa, constituída por tecido conjuntivo denso, entrelaçada por fibras elásticas, com predominância de fibras colágenas. As fibras elásticas, presentes nas duas camadas, influenciam nas características de elasticidade da pele (Junqueira e Carneiro, 1995; Weiner e Hellman, 1960; Waites e Voglmayr, 1962; Gibson et al, 1965). Jacinto et al. (2004) citam que a organização dos folículos pilosos, presente na camada termostática dos ovinos consiste, em um grupo básico de três folículos primários que estão associados a estruturas acessórias como glândulas sudoríparas, músculo eretor do pêlo e glândula sebácea e um número variável de folículos secundários, menores em diâmetro, associados ou não à glândula sebácea, que, quando presente, pode ser menor que a encontrada no folículo primário, sendo que os folículos primários precedem, na ontogenia, os folículos secundários. Logo abaixo da derme, formada por tecido conjuntivo frouxo, está localizada a hipoderme, constituindo o panículo adiposo. Esta camada poderá ter tamanho variável, 10 dependendo do grau de nutrição (Junqueira e Carneiro, 1995), e é eliminada no processo de curtimento, na fase de descarne (Belavsky, 1965). As peles caprinas apresentam uma estrutura fibrosa muito compacta, com fibras meduladas em toda sua extensão e peles muito finas, destinando-se à confecção de calçados de alto preço, luvas, e outros produtos de melhor qualidade (Cueronet, 2005). Na pele, que logo após a esfola é denominada fresca ou verde, existem zonas de estrutura bastante diferenciadas, donde se podem diferenciar três grandes partes: a) Grupão - corresponde à parte da pele da região dorsal e lombar do animal. É a parte mais homogênea, mas compacta e valiosa, correspondendo a aproximadamente 45% do total da pele fresca; b) Pescoço - região com espessura e compacidade irregulares e de estrutura fofa, apresentando muitas rugas, mais marcantes em animais mais velhos, representando em torno de 25% do peso total; c) Ventre - região que cobre o ventre e patas, sendo as partes mais irregulares, e tem peso aproximado de 30% do total da pele. A estrutura histológica da pela e sua espessura se diferencia entre espécies, ou no mesmo animal, dependendo da parte em que se tome a amostra (Junqueira e Carneiro, 1995), com modificações no decorrer da idade em função de vários componentes tissulares, influenciados por fatores como nutrição, localização estudada, raça, condições de cria e exposição ao sol (Fitzpatrick et al. 1964). Assim, para a indústria de couro, elas são fundamentalmente similares para bovinos, ovinos, caprinos e outras espécies de mamíferos no que diz respeito ao processamento, contudo, as poucas diferenças particulares apresentadas resultam nas diferentes aplicações do produto acabado (Cueronet, 2005). O controle de qualidade normalmente é feito através de ensaios realizados no couro (pele curtida) ou pela apresentação visual da pele quanto a fatores ante e pós-morten, estabelecendo-se critérios de classificação que dão conseqüentemente o seu valor de 11 mercado. Jacinto et al. (2004) comentam que a qualidade da pele e do couro após o curtimento está relacionada com seu manejo, processo de abate, esfola, conservação, armazenamento e curtimento. Segundo Holst et al. (1990), o mercado importador mundial classifica a pele caprina tendo como parâmetros o seu tamanho, peso e tipo de pêlo, sendo de melhor qualidade aquelas com as seguintes características: pequenas, finas, leves, com pêlos curtos e finos. Jacinto (2000) cita que esse tipo de produto, procedente de caprinos jovens, são de especial interesse, apresentando alto valor devido à aparência estética e aparência do grão, resultado da disposição dos folículos pilosos na superfície do couro. Ao mesmo tempo em que estas peles são tão apreciadas e valorizadas pela indústria, pouco se tem pesquisado sobre os fatores que podem afetar a estrutura da pele, influenciando um melhor beneficiamento e apresentação do produto. Villarroel et al. (2004a), estudando características físico-mecânicas de couros de caprinos de dois genótipos distintos, encontraram diferenças significativas em vários parâmetros analisados para regiões do corpo amostradas. Resultado semelhante também foi encontrado por Dal Monte et al. (2004) que, trabalhando com caprinos abatidos em diferentes idades, detectaram diferenças entre algumas regiões amostradas para as variáveis: distensão, rasgamento progressivo e resistência à tração. Isto pode servir como indicador da existência de diferenças estruturais histológicas na pele, que interferem nas qualidades físico-mecânicas dos couros. Costa et al. (1998b), trabalhando com níveis de soro de queijo utilizados em substituição ao leite de cabra, encontraram resultados sobre as características físicas da pele caprina, permitindo concluir que a substituição não alterara a qualidade do couro. Contudo, observaram que, apesar de apresentarem espessuras médias semelhantes, foi 12 notada uma tendência à redução da espessura do couro na medida em que se aumentava a adição de soro na dieta, em conseqüência do aumento de peso das peles. Ainda quanto à espessura do couro, Villarroel et al. (2004b) não detectaram diferenças significativas entre ovinos lanados ou deslanados; no entanto, encontraram diferenças significativas na resistência do couro a favor dos ovinos deslanados, o que pode ter relação com as diferenças nas características histológicas da pele destes ovinos. Segundo Trana et al. (2004), que trabalharam com quatro genótipos distintos, a relação entre folículos secundários e folículos primários foi significativamente afetada pelo genótipo, influenciando na qualidade da lã e da pele dos animais. Observa-se que alguns estudos têm demonstrado que na pele existem zonas de estrutura bastante diferenciadas e que têm relação com a espessura e compacidade, outros tentam demonstrar a diferença de resistência físico-mecânica do couro entre as regiões do corpo ou entre espécies. A raça caprina Branca Andaluza é um animal autóctone, rústico, que habita as zonas mais inóspitas da Espanha. Com aptidão para produção de carne, foi durante anos um recurso econômico muito importante na Andaluzia, utilizada na exploração extensiva de áreas marginais e de montanha, como uma fonte de agregar maior valor às propriedades, com grande cunho social nas zonas menos favorecidas. Com a expansão de raças produtoras de leite e na tentativa de melhorar sua produção leiteira através de cruzamentos, ocorreu uma erosão genética de tal magnitude que hoje a cabra Branca Andaluza se encontra entre as de grande risco de extinção (Martinez et al, 2004). O objetivo deste trabalho foi detectar diferenças estruturais que possam existir na pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza, criados sob os regimes de manejo intensivo e extensivo, que possam traduzir em diferenças na qualidade deste material para a indústria do couro. 13 MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado na Universidade de Córdoba - Espanha, onde foram utilizados 31 cabritos distribuídos nos sistemas de exploração intensivo e extensivo, sendo 16 em sistema extensivo e 15 em sistema intensivo, estipulando-se o peso de 20 kg para o abate. A alimentação no sistema extensivo foi composta exclusivamente da vegetação nativa, enquanto no sistema intensivo as rações foram calculadas para atender às exigências de ganho de 200g/dia indicadas pelo AFRC (1998). O abate foi efetuado após jejum alimentar de 16h, onde os cabritos foram atordoados por concussão cerebral, suspensos pelas patas traseiras e sangrados pela veia jugular e artéria carótida. Posteriormente, procedeu-se à esfola, quando foi retirada amostra da pele (Figura 2), colocada em recipiente apropriado e fixada em formol a 10% (Figura 3). A metodologia utilizada para a preparação histológica, incluindo a fixação, desidratação, microtomia, preparação das lâminas, coloração com hematoxilina/eosina foi segundo metodologia de Junqueira e Carneiro (1995). A análise microscópica para verificação da matriz extracelular, espessura das camadas termostática e reticular, contagem dos folículos e glândulas foi segundo metodologia de Jacinto (2000). a b Figura 1: Amostras retiradas das peles de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza (a) e fixação em formol 10% (b). 14 Em seguida, foram colocadas em recipiente apropriado para a desidratação, realizada em equipamento automatizado (Thermo Shandon Hyperclean, modelo Citadel 2000) (Figura 4), o qual fez os banhos em concentrações crescentes de álcool 70%, álcool 96%, álcool 100% e xilol. Figura 2: Equipamento automatizado para desidratação e clareamento (Thermo Shandon Hyperclean Após 21h no processador, o material foi transferido para o dispensador de parafina (Shandon Histocentre 2) (Figura 5), obtendo-se o bloco de parafina que envolve a amostra, levando-se ao congelador. 15 Figura 3: Equipamento para produção de blocos histológicos parafinados (Shandon Histocentre 2) Posteriormente ao congelamento, foram realizados cortes, perpendiculares ao plano da pele, com 7 micrometros de espessura, utilizando-se o aparelho Micrótomo rotativo Leica RM 2125RT (Figura 6). Figura 4: Equipamento utilizado para os cortes nas amostras de pele (Micrótomo Leica RM 2125RT). 16 Com os cortes feitos, levou-se a banho de flutuação a 40ºC para que o tecido se estendesse. Com uma lâmina, capturou-se a amostra, levando-se a uma manta aquecedora a 70 ºC, por 8 minutos, a fim de fixar o tecido à lâmina. Procedeu-se, então, o processo de desparafinagem, com banhos sucessivos de: Xilol (15’), 2 vezes em álcool 100% (5’), álcool 96% (5’), álcool 70% (5’) e água (5’). Passou-se, daí, para a fase de colorimetria com Hematoxilina por 20 minutos, lavando-se em água corrente e colorindo-se com Eosina por 01 minuto, repetindo-se a lavagem. Após a colorimentria, procedeu-se ao processo de reidratação com a seqüência: Álcool 96% - banho rápido, álcool 100% (1’), e 2 vezes em xilol (1’). Finalizou-se a montagem e identificação das lâminas para observação em microscópio com a colocação da lamínula (Figura 7). Figura 5: Lâminas com amostras da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza, prontas para observação em microscópio. As lâminas foram então avaliadas utilizando-se o microscópio óptico Leica DMLS, verificando-se as perfeitas condições para fotografias, mensuração das camadas e contagem de folículos e glândulas. 17 A análise estrutural da pele com identificação das camadas córnea e o estrato disjunto, a verificação da espessura da derme e das camadas termostática e reticular, nos dois sistemas de produção e regiões da pele amostradas, foram feitas através do programa Image-Pro Plus versão 4.5, utilizando-se as imagens digitais obtidas através do microscópio Leica DM5000B, câmera digital Leica DC500 e programa Leica IM50 versão 4.0 (Figura 8). Na verificação da espessura das camadas termostática e reticular, foram efetuadas três medidas para cada camada, calculando-se a média por fotografia. Figura 6: Microscópio e câmera onde foram efetuadas as fotografias e mensuração das camadas da derme. A contagem dos folículos primários, folículos secundários e glândulas sebáceas, por campo de visão, foram feitos utilizando-se o microscópio ótico Leica DMLS com aumento de 100 vezes. Para a análise dos dados, foi utilizado um delineamento experimental inteiramente casualizado, com os resultados sendo submetidos à análise de variância através do 18 programa SAS (1999) e valores médios obtidos foram comparados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O modelo matemático utilizado foi: Yij = µ + ti + rj + trij+ eij, em que: Yij = valor observado para cada característica, do tratamento i e região j; µ = média geral da população; ti = efeito do tratamento i (i = extensivo, intensivo); rj = efeito da região j (j = grupão, ventre); trij = efeito da interação tratamento x região; eij = erro aleatório associado à observação Yij 19 RESULTADOS E DISCUSSÃO A epiderme da pele caprina da raça Blanca Serrana Andaluza apresentou uma camada córnea e o extrato disjunto, citado por vários autores, como presente na estrutura da pele de suínos (Meyer e Neurand, 1997), bovinos (Araújo, 1990), ovinos lanados (Kozlowski e Calhoun, 1969) e ovinos deslanados (Jacinto et al. 2004) e em caprinos (Dal Monte, 1998), responsáveis pela relativa impermeabilidade da pele (Figura 9). 1 2 Figura 7: Epiderme (1), Derme – camada termostática (2) de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Vann Giesson. 400X A exemplo de trabalhos citados por Costa et al. (2005b), Jacinto et al. (2004), Jacinto, (2000), Dal Monte (1998) e Weiener e Hellmann (1960), na análise estrutural a derme apresentou-se semelhante à de outros mamíferos, dividida em camadas papilar ou termostática e reticular, sem limites definidos entre si, conforme se observa na Figura 10. 20 A camada termostática pode ser demarcada pela presença de glândulas sudoríparas, sebáceas e músculo eretor do pêlo, em torno de um folículo piloso, formando uma unidade denominada “unidade do folículo piloso”, citado por Jacinto (2000) A camada subjacente, reticular, é formada por fibras de colágeno em disposição tridimensional, lembrando uma rede como descrito por Costa et al. (2005a). T1 R1 T3 T2 R2 R3 Figura 8: Fotografia demarcando a camada termostática (T1, T2, T3) e reticular (R1, R2, R3) da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Hematoxilina/Eosina. 100X. 21 Nas análises da pele, foi observada a existência de folículos pilosos primários e secundários, com os primários de maior diâmetro e associados às glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e músculo eretor, enquanto os folículos secundários, de diâmetro menor, têm a raiz mais próxima à epiderme e não possuem glândulas sudoríparas e músculo eretor (Figura 11), como descrito por Calhoun e Stinson (1982), Dal Monte (1998) e Jacinto et al. (2004). Da mesma forma que em ovinos, descrito por Jacinto et al. (2004), os folículos pilosos nos caprinos apresentam-se organizados em grupos de número variável dependendo da região da pele (Costa et al. 2005b). 2 1 4 3 Figura 9: Folículo primário (1), folículo secundário (2), músculo eretor do pelo (3), glândula sebácea (4) da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Vann Giesson. 200X. 22 Para todos os resultados apresentados nas tabelas a seguir, não foram encontrados efeitos significativos (P>0,05) para interação entre os tratamentos (extensivo e intensivo), e as regiões (grupão e ventre). Nos resultados apresentados na Tabela 1, pode-se observar que os diferentes sistemas de criação não influenciaram nenhum dos parâmetros analisados (P>0,05), enquanto que a região amostrada apresentou efeito significativo (P<0,05) para espessura da derme e espessura da camada termostática. Tabela 1: Médias e nível de significância para espessura da derme, espessura da camada termostática e camada reticular. Fatores Derme Camada Camada (mm) Reticular Termostatica (mm) (mm) Sistema de criação Extensivo 1,770ª 0,894ª 0,876ª Intensivo 1,756ª 0,874ª 0,882ª CV % 26,10% 31,65% 25,36% Região Grupão 1,950ª 1,019ª 0,932ª b b Ventre 1,576 0,750 0,826ª CV % 23,77% 27,65% 24,61% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05). A análise dos cortes histológicos revelou que a espessura da derme não apresenta diferença estatística para o sistema de criação (P>0,05), com diferença verificada para a região da pele amostrada (P<0,05), sendo mais espessa na região do grupão. Este resultado se assemelha aos resultados verificados por Jacinto (2000) para animais abatidos próximo aos três meses de idade e peso de 20 kg. Esta diferença significativa na espessura da derme e na camada termostática, verificada para a região amostrada, demonstrada na Figura 12, pode estar relacionada com os resultados apresentados por Villarroel et al. (2004a) e Dal Monte et al. (2004) que 23 detectaram diferença nas características físico-mecânicas para amostras em diferentes regiões do corpo. T T Grupão Ventre Figura 10: Diferença de espessura na camada termostática (T) entre as regiões grupão e ventre da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Hematoxilina/Eosina. 100X. Escudero (1985) e Bianchi (1993) citam que a camada termostática da pele de caprinos ocupa, aproximadamente, a metade da espessura da derme, o que pode ser observado também nestes resultados, com as duas camadas apresentando espessuras muito próximas (1,019mm e 0,932mm), para a região do grupão. No entanto, Dal Monte (1998) relata que a pele de caprinos mestiços da raça Pardo Alemão apresenta a espessura da camada termostática maior do que a reticular em animais mais jovens e que, com o aumento da idade, a espessura das camadas se modifica, tendo em caprinos mais velhos a camada reticular mais espessa. O fato de apenas ter ocorrido diferença significativa na espessura da camada termostática é justificado pelo aumento significativo (P<0,05) na densidade de folículos secundários e glândulas sudoríparas entre as regiões grupão e ventre, o que demonstra a 24 relação entre a quantidade de folículos e a espessura da camada termostática, observado na Tabela 2. Este resultado é confirmado por Boccone et al. (1983) quando citam que em ovinos lanados a camada termostática apresenta-se maior que a camada reticular com tendência a uma separação entre as camadas decorrente da alta densidade das fibras de lã. Jacinto et al. (2004), também citam que a camada termostática é muito espessa em ovinos lanados, por apresentar grande densidade de folículos pilosos por unidade de área. Tabela 2: Médias e nível de significância para número de folículos primários (P), folículos secundários (S) e glândulas sebáceas, e relação entre folículos secundários e primários. Fatores Folículo Folículo Glândulas Relação de Primário Secundário sebáceas folículos (unid) (unid) (unid) S/P Sistema de criação Extensivo 5,79ª 21,83ª 8,76ª 3,77ª Intensivo 6,13ª 22,59ª 9,27ª 3,68ª CV % 40,06% 32,87% 41,63% Região Grupão 6,58ª 25,45ª 10,27ª 3,87ª Ventre 5,38ª 19,33b 7,88b 3,59b CV % 38,84% 29,79% 39,49% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05). Segundo Costa et al. (1995), no estabelecimento de um protocolo que determine parâmetros de valorização da qualidade da pele caprina deve ser observado, como fator primordial, o padrão de conformação de diâmetro e densidade dos folículos, já que as peles mais valorizadas apresentam uma alta densidade de folículos primários, produtores de pelos finos e medulados. Neste mesmo sentido, Jacinto et al. (2004) citam que a densidade e a relação folículos secundários/primários é determinante na qualidade da pele de ovinos lanados, refletindo nas características físico-mecânicas dos couros, ocasionados pelos espaços vazios originados das estruturas associadas aos folículos primários, reduzindo os feixes de fibras que formam a rede de colágeno. 25 Pode-se observar na Tabela 2, assim como na Figura 13, que não foram encontradas diferenças significativas para nenhum dos parâmetros analisados quando ao fator sistema de criação, no entanto, o número de folículos secundários, glândulas sebáceas e a relação folículos secundários/primários foram significativos para o fator região, mas mantendo-se uma excelente relação entre os folículos que, segundo Costa et al. (2005c), em caprinos é de aproximadamente 3 folículos primários para um número variável de secundários, dependendo da raça e região amostrada. S S P P Figura 11: Relação folículos secundários (S)/primários(P) na região do grupão da pele de caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza. Coloração Vann Giesson. 100X A não significância nos resultados para o fator sistema de criação é justificada pela afirmação de Jacinto (2000) quando diz que o número de folículos primários em caprinos é fixo desde o nascimento e com o crescimento diminui proporcionalmente à densidade folicular, estando diretamente relacionada com a boa aparência e qualidade do produto. 26 Corrobora com as afirmações anteriores os resultados verificados por Villarroel et al. (2004b) que detectaram diferença significativa na resistência do couro a favor dos ovinos deslanados que possuem uma relação folículo secundário/primário menor que os lanados. No mesmo sentido estão os resultados apresentados por Trana et al. (2004), concluindo que a qualidade da lã e da pele dos animais estudados foi significativamente afetada pelo tipo genético, demonstrando a importância de se estudar os diversos genótipos. 27 CONCLUSÕES O sistema de criação, intensivo ou extensivo, não influenciou a espessura da derme, camadas termostática e reticular, quantidade de folículos e a relação entre folículos secundários/primários. A região da pele amostrada influenciou a maior espessura da derme em decorrência da maior espessura da camada termostática. A quantidade de folículos secundários, glândulas sebáceas e a relação folículos secundários/primários foram significativamente maiores na região do grupão. A pele dos caprinos da raça Blanca Serrana Andaluza possui estrutura semelhante a outros genótipos de caprinos, sugerindo peles de excelente qualidade para a indústria curtidora. 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFRC – AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL. The nutrition of goat. 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Para os fatores espécie, genótipo e direção amostrada foram encontradas diferenças significativas (P<0,05) para os testes físico-mecânicos, contudo, os resultados foram sempre acima dos valores orientativos especificados para couros de boa qualidade industrial. Palavras chave: Curtimento, qualidade do couro, pele, resistência, wet blue ABSTRACT This study aimed to assess the influence of different goat and sheep genotypes on physic mechanical characteristics of chromium-tanned leather. Eighty goat and sheep skins were analysed in a completely random design with ten treatments (genotypes) and eight repetitions. Goat crossbreds used in the study were: ½ Moxotó, ½ Boer, ½ Anglo Nubian, ½ Kalahari and ½ Savannah. All crossings were obtained using non-defined breeds. Sheep genotypes were Santa Inês, Morada Nova, ½ Santa Inês x ½ Morada Nova, ½ Santa Inês x ½ Dorper and ½ Morada Nova x ½ Dorper. The animals were raised under a semiintensive production system and slaughtered around 260 days of age, with weight values ranging from 19 to 29 kg. Significant differences (P<0.05) in physic mechanical tests were observed in regard to species, genotypes and sampling direction factors. Considering the reference values for the physic mechanical tests used by the industry to score the leather, all goat and sheep genotypes produced good quality leather for industrial processing. Key words: Goat skin, Leather quality, Sheep skin, Tanning, Tensile strength, Wet blue 33 INTRODUÇÃO Os rebanhos caprino e ovino do Nordeste possuem respectivamente 93,8% e 54,5% do efetivo brasileiro, com aproximadamente 9.412.000 caprinos e 8.030.000 ovinos (ANUALPEC, 2004). Constituídos basicamente por animais mestiços e, no caso dos ovinos, possuidores da pele denominada “pelo de boi”, são bastante procurados pelos curtumes e indústria de couro que, segundo Cavalcanti e Silva (1988), apresenta boa resistência e elevada maciez sendo bastante valorizada no mercado nacional e internacional. A pele, dependendo do peso do animal e da flutuação do mercado, representa de 7 a 9% do valor do animal e, se de boa qualidade, pode representar a diferença entre o lucro e o prejuízo na hora da venda da carcaça (Jacinto et al., 2005a, Jacinto, 2001). Apesar de ser um subproduto da exploração de caprinos e ovinos para corte, a pele é a matéria prima que promove maior agregação de valor da cadeia produtiva (Leite e Simplício, 2002), destacando-se como mais um produto a ser comercializado e auferindo um ganho adicional aos criadores. Apesar de existirem várias inferências afirmando que a pele pode representar até 30% do valor comercial da carne, o que se vê na prática é o produtor receber um valor irrisório, com a agregação do valor ocorrendo entre os intermediários e o curtume (Medeiros, 1999). Muitas perdas são verificadas, principalmente na qualidade do material ofertado em virtude de problemas desde o manejo animal, seleção de raças mais indicadas, sanidade, problemas físicos causados por cercas de arame farpado e espinhos da vegetação nativa, abate e esfola, conservação da pele, atingindo até o curtimento. Jacinto et al. (2005a) comenta que é fundamental que a qualidade seja tratada de forma sistêmica, iniciando na criação do animal até o curtimento, com procedimentos que 34 garantam ganhos progressivos na cadeia produtiva, do empresário rural ao empresário industrial. No Brasil, menos de 10% do total de peles, processadas até atingirem o estágio denominado “wet blue”, atingem a primeira classificação, e o direcionamento para produção de couros de qualidade é fundamental no crescimento da cadeia produtiva da caprinocultura e ovinocultura. Para atender objetivos industriais, o couro deve estar dentro de certos padrões de qualidade de acordo com a utilização do produto final, que pode ser afetado por diversos fatores que vão desde a criação dos animais, genética, até sua transformação em couro pela indústria (Costa et al, 1998b). Segundo Jacinto (2000), a qualidade do couro é determinada por dois períodos: um primeiro, que se estende da permanência do animal na propriedade até o abate e esfola e conservação da pele, que é determinada pelo produtor rural, e um segundo período, que diz respeito ao curtimento, e que é de responsabilidade da indústria. Furlanetto (2003) comenta que o abate clandestino pode ser considerado como um dos principais responsáveis pelo baixo aproveitamento das peles de animais abatidos na Paraíba e que, para evitar problemas maiores, as peles devem, logo após retiradas, passar pelo processo de conservação, baseado na desidratação, até o início do curtimento. Segundo Bienkiewicz (1983), no curtimento são preservadas as propriedades originais da pele como resistência à tração, viscoelasticidade e abrasão, são eliminadas a facilidade de decomposição e a rigidez ao secar, além de acrescentar a resistência térmica e permeabilidade aos gases. No processamento, as peles são submetidas a várias etapas, passando por processos químicos, físicos e mecânicos, compreendido de três etapas bem definidas: a ribeira, o curtimento e a fase de acabamento (Costa et al, 2005a). 35 Na etapa de ribeira as peles são molhadas para recuperar a umidade perdida durante a desidratação que a conservou após o abate do animal (Belavsky, 1965), são tratadas com substâncias químicas, aminas e enzimas que abrem a estrutura fibrosa e eliminam os pêlos (Rao e Jayaraman, 1979), e são utilizados produtos alcalinos que facilitam a operação de descarne (Swamy, 1982). Durante a fase de curtimento, são utilizadas enzimas proteolíticas para limpeza da estrutura fibrosa (Hoinacki, 1989). A remoção da graxa é feita através de solventes tensoativos e enzimas adequadas ao pH de cada etapa (Venkatachalam, 1980). Antes da utilização do material curtente, são utilizados ácidos orgânicos e inorgânicos e cloreto de sódio que preparam a pele, bloqueando o intumescimento provocado pelos ácidos e desativando as enzimas (Bienkiewicz, 1983) para receberem os curtentes. Estes podem ser inorgânicos de origem mineral, orgânicos de origem vegetal, sintéticos e aldeídos (Hoinacki, 1989). A denominação “wet blue” vem da coloração azul adquirida pelo couro após a utilização do cromo como agente curtente. Após o curtimento, os couros são rebaixados para espessura solicitada pelo mercado e classificados, continuando o processo até o recurtimento que pode ser realizado antes ou após a neutralização, tendo o objetivo de dar parte das características físico-mecânicas ao material como: maciez, elasticidade, características de toque, tamanho do poro; quando também são tingidos buscando o efeito desejado. A operação de engraxe tem a finalidade de facilitar o deslizamento entre as fibras (Poré, 1974) e aumentar a resistência ao rasgamento e à distensão da flor (Boccone et al., 1987). Segundo Sousa et al. (2002), é necessária nova avaliação das peles das atuais raças de caprinos e ovinos criados no Brasil, bem como a adoção de novas metodologias para 36 melhorar o processo de produção, esfola e conservação das peles, com o objetivo de oferecer uma melhor matéria prima para a indústria coureira. Observa-se que a introdução de raças exóticas para melhorar o potencial produtivo para carne ou leite das raças nativas, pode alterar características existentes no couro destes animais, desejáveis pela indústria coureira reduzindo ou aumentando seu valor no mercado e, segundo Costa et al. (2005b), este aspecto deve ser considerado quando se avalia o uso de reprodutores de raças lanadas. Este aspecto é confirmado por Jacinto et al. (2004) que, estudando a resistência de couros ovinos das raças Ideal (lanados) e Morada Nova (deslanados), concluiu que, para os testes físico-mecânicos, os couros apresentam características distintas, com diferenças significativas entre elas. Estudando a organização estrutural da pele de mamíferos, Craig et al. (1987) citam que as propriedades físico-mecânicas estão relacionadas com o diâmetro e o comprimento das fibras de colágeno e sua distribuição na pele. Seguindo o mesmo pensamento, Jacinto et al. (2005b) concluiu que as características fisico-mecânicas do couro estão influenciadas pelas características anatômicas e estruturais da pele que são definidas pela raça, idade, região ou posição da retirada dos corpos de prova. Os testes físico-mecânicos, entre outros, são utilizados para avaliar a qualidade do couro que, segundo Boccone et al. (1978), são executados sob padrões estabelecidos por normas técnicas, estabelecendo metodologias a serem seguidas e comparando os resultados com parâmetros pré-definidos ou valores orientativos, definidas por metodologias aceitas internacionalmente, que põem à prova a resistência dos couros, tendo como objetivo certificar a qualidade e manter o controle de produção. Neste contexto, os testes físico-mecânicos são instrumentos valiosos para garantir a qualidade e uniformidade do couro (Hoinacki, 1989), sendo este o meio adequado para sua 37 verificação, devendo fazer parte de um programa de qualidade em qualquer indústria transformadora de couro (Maranhão, 1993). Alguns estudos, a exemplo dos citados a seguir, demonstram a boa qualidade físicomecânica dos couros caprinos e ovinos, sempre com resultados acima dos valores orientativos para os testes. Jacinto (1993) verificou que os valores para carga de resistência à tração, carga e resistência ao rasgamento e resistência à distensão do couro de caprinos da raça Saanen, foram superiores aos valores de referência utilizados por BASF (1984). Costa et al. (1998a) considerou de boa qualidade o couro de caprinos criados em regime semi-intensivo no sertão da Paraíba, abatidos com idade entre 150 e 300 dias. Da mesma forma, o couro de caprinos, submetidos a diferentes níveis de substituição do leite por soro de queijo até a desmama, tiveram valores acima dos valores de referência, indicando produto de boa qualidade (Costa et al, 1998b). Jacinto (1996), trabalhando com ovinos das raças Morada Nova e Ideal chegou à conclusão de que a raça e a idade, influindo diretamente nas características anatômicas e estruturais da pele, exercem efeito positivo nos valores de resistência do couro à tração, que a região e posição exerceram efeito positivo nos valores de resistência do couro ao rasgamento e que a distensão da flor no teste do lastrômetro não é influenciado pela raça, idade, região ou posição, mas cita que, em todos os testes, foram atingidos os padrões mínimos estabelecidos pelas normas de qualidade. Dal Monte et al. (2004), estudando os efeitos da idade sobre as características físicomecânicas do couro caprino curtidos ao cromo, concluiu que os caprinos, aos 315 dias de idade, apresentaram, em todos os testes, valores superiores aos valores referência, demonstrando a excelente qualidade do couro caprino. 38 No mesmo sentido, Jacinto (2000), estudando a influência da raça e idade nas características histológicas e físico-mecânica de couros caprinos encontrou resultados que considera as raças Anglo Nubiana, Alpina e Saanen adequadas à exploração de peles, concluindo que os animais de seis meses foram mais resistentes à tração e ao rasgamento que os animais de três meses, contudo, estes apresentaram uma melhor aparência do grão, garantindo peles de primeira classificação. O objetivo deste trabalho foi avaliar as características físico-mecânicas do couro, curtidas ao cromo de caprinos e ovinos de diferentes genótipos. 39 MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas as espécies caprina e ovina com cinco genótipos diferentes para cada espécie, e oito animais por genótipo, no entanto, por óbito de alguns animais, foram analisadas um total de 76 peles, distribuidos da seguinte forma: caprinos: oito ½ Boer, sete ½ Anglo Nubiano, oito ½ Kalahari, oito ½ Savannah, sete ½ moxotó, todos mestiços com animais Sem Raça Definida (SRD); entre os ovinos: oito ½ Santa Inês, sete ½ Santa Inês x ½ Dorper, sete ½ Santa Inês x ½ Morada Nova, oito Morada Nova e oito ½ Morada Nova x ½ Dorper. As peles foram provenientes de animais nascidos e criados até a desmama em sistema semi-intensivo de pastagem cultivada na Agropecuária Lanila do Cearamirim-RN, onde se procedeu ao desmame com aproximadamente 90 dias de idade. Com média de 100 dias de idade, os animais foram transportados para a estação experimental de Pendência - EMEPA, localizada no município de Soledade-PB, permanecendo por 40 dias em regime de confinamento e mais 14 dias nas baias coletivas para adaptação ao manejo. Os animais foram alojados em número de oito por baia, everminados, e alimentação ofertada em forma de ração completa composta de 80% de volumoso a base de feno de maniçoba e 20% de concentrado que resultaram em 18,4% PB e 75% NDT, produzida na própria Estação Experimental, balanceada de acordo as exigências do National Research Council – NRC (1985), até atingir o peso de abate. Os animais iniciaram a fase experimento com idade aproximada de 160 dias e foram abatidos em média com 260 dias. Na Tabela 1 estão demonstrados os pesos médios iniciais e ao abate dos animais machos inteiros, dos diversos genótipos, que entraram em fase experimental. 40 Tabela 1: Peso inicial e final por genótipo. Genótipos Peso Inicial (kg) Ovinos Santa Inês 18,0 Santa Inês x Dorper 20,4 Santa Inês x Morada Nova 16,0 Morada Nova 16,0 Morada Nova x Dorper 17,0 Caprinos ½ Moxotó + ½ SRD 13,5 ½ Boer + ½ SRD 12,6 ½ Anglo + ½ SRD 16,9 ½ Kalahari + ½ SRD 12,3 ½ Savannah + ½ SRD 11,8 Peso Final (kg) 28,0 29,0 27,0 24,0 26,0 19,0 26,0 24,0 25,0 20,0 O abate foi efetuado no abatedouro experimental semi-industrial da EMEPA, com atordoamento por concussão cerebral, suspensão dos animas pelas patas traseiras, sangria pela veia jugular e a esfola procedida de forma manual. As peles foram então colocadas sobre estrados, limpas do excesso de gordura, sangue e impurezas, salgadas, cobertas com bactericida e armazenadas segundo metodologia apresentada por Silva Sobrinho e Jacinto, 1992. Após 40 dias as peles seguiram para o Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco/CTCC/SENAI, tendo início ao processo de curtimento e recurtimento das peles conforme o padrão do CTCC, onde foram realizados o testes físicos-mecânicos. O curtimento foi realizado segundo a metodologia de BASF (1976) e BASF (1984), seguindo as etapas de remolho, caleiro, desencalagem, purga, desengraxe, píquel, curtimento, basificação, neutralização, recurtimento, secagem e amaciamento. 41 Figura 1: Fulão utilizado para o curtimento das peles (CTCC/Campina Grande- PB). O curtimento foi realizado em recipiente apropriado, denominado fulão (Figura 1), com rotação, volume, temperatura e pH controlado para cada etapa do processo, conforme Tabela 2. Tabela 2 – Variação do volume, temperatura, pH do banho e velocidade do fulão Etapas Volume de Temperatura pH do banho Velocidade do água (%)* °C fulão (rpm) Remolho 200 25 7 4 Caleiro 200 25 12 4 Desencalagem 80 25 13 – 7 10 Purga 80 25 - 33 10 – 7 10 Desengraxe 50 35 7 10 Píquel 50 25 3 10 Curtimento 50 25 3 10 Basificação 50 35 3,9 10 Neutralização 50 25 6,2 16 Recurtimento 50 40 6,2 16 * Percentagem sobre a massa das peles 42 Para cada etapa do processo são modificados os produtos químicos utilizados na busca de alcançar os resultados esperados, variando segundo sua pureza. Depois de curtidas as peles, que agora passam a chamar-se couro, foram climatizadas a uma temperatura de 23°C e UR de 50% por um período de 48 horas antes da realização dos testes físicos-mecânicos, segundo norma NBR 104555 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1988). As medidas da espessura dos couros, necessárias à realização dos cálculos de resistência à tração e ao rasgamento, foram feitas através do equipamento espessímetro (Figura 2), orientado pela norma NBR 2984 (ABNT, 1988). Figura 2: Espessímetro com amostra de couro. 43 O método de amostragem e a localização da região de retirada dos corpos-de-prova para os testes físicos-mecânicos são determinadas pela norma internacional ISO 2418 (2002). Os corpos de prova para os ensaios de resistência a tração e rasgamento progressivo foram retirados na prensa hidráulica, modelo balancim (Figura 3), através de navalhas com dimensões seguindo as normas NBR 1199 determinadas pela ABNT (1990a). Figura 3: Prensa hidráulica (balancim) na retirada dos corpos de prova demonstrando a zona oficial de amostragem 44 Os testes de determinação da resistência a tração e alongamento (Figura 4) e determinação da força de rasgamento progressivo (Figura 5) foram realizados no equipamento dinamômetro, estabelecidos pelas normas técnicas que envolvem carga e resistência à tração, NBR 11041– MB 3013 (ABNT, 1997a), carga e resistência ao rasgamento, NBR 11055– MB 3015 (ABNT, 1997b), resistência da flor à distensão pela esfera, NBR 11669 (ABNT, 1991). a b Fig. 4: Amostra do couro no equipamento dinamômetro para o teste de Resistência da tração e alongamento (a) e após rompimento (b). a b Fig. 5: Amostra do couro no equipamento dinamômetro para o teste de Força de rasgamento progressivo (a) e amostra da pele sob força de rasgamento (b). 45 Para a determinação da ruptura e da distensão da flor do couro pelo lastômetro (Figura 6), foram retirados três corpos de prova, nos formatos e tamanhos padrões, estabelecidas nas normas NBR 3307, segundo ABNT (1990b). a b Figura 6: Amostra do couro no equipamento Lastômetro (a) e amostras após o teste de distensão da flor O teste de comportamento sob água foi realizado utilizando-se o aparelho penetrômetro – Bally, apresentando as especificações de passagem de água não antes dos 30 minutos e quantidade de passagem de água após os 30 minutos não superior a 30 %, conforme norma NBR 11122 da ABNT (1990c). 46 Na Tabela 3 são apresentados valores que orientam os testes físico-mecânicos segundo BASF (1984) e SENAI, que foram utilizados na comparação com os resultados dos testes, para definição da qualidade industrial do couro. Tabela 3: Valores orientativos para os testes físico-mecânicos. Testes Instituição Unidade BASF Resistência ao rasgamento Kgf/cm min. 80 N/mm min. 24,5 Resistência a tração Kgf/cm² min. 200 N/mm² min. 19,6 Elongação (%) 40 - 80 Distensão da flor mm min. 7,0 Comportamento sob água % Passagem de água não antes de 30’ Após 30’, não mais que 30% SENAI min. 80 min. 49,1 min. 150 --min. 7,5 Adaptado de: Costa (2005a) Na análise estatística, foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado em parcelas subdivididas, tendo como parcelas as combinações das duas espécies com os 10 genótipos, para o teste de medida da distensão e resistência da flor, e as duas direções, horizontal e vertical, como subparcelas para os testes de resistência ao rasgamento progressivo e resistência a tração e alongamento. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias dos testes físicosmecânicos foram comparados pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, através do procedimento GLM do SAS (1999). 47 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para todos os resultados apresentados a seguir, não foram encontradas interações entre as espécies e os genótipos envolvidos. Na Tabela 4 são apresentados valores médios para o teste de resistência a tração e alongamento. Tabela 4: Médias e coeficientes de variação (CV) para a variável resistência a tração e alongamento quanto a espécie, genótipo e direção amostrada Resistência a tração e alongamento Fatores Espessura Força Tensão Alongamento (mm) Máxima (N) (N/mm²) (%) Espécie Ovino 0,80ª 194,53ª 24,41ª 72,59ª Caprino 0,83ª 192,08ª 23,82ª 69,64ª Genótipo Ovinos Santa Inês 0,79ª 215,19ª 29,42ª 70,20ab abc Santa Inês x Dorper 0,78ª 204,90ª 26,49 78,40ª abc Santa Inês x Morada Nova 0,75ª 193,84ª 25,52 67,82ab cd Morada Nova 0,90ª 189,28ª 20,61 75,13ab cd Morada Nova x Dorper 0,84ª 169,42ª 20,00 71,38ab Caprinos ½ Moxotó + ½ SRD 0,84ª 206,33ª 25,29abcd 77,63ª ½ Boer + ½ SRD 0,76ª 200,94ª 27,88ab 69,50ab ½ Anglo + ½ SRD 0,78ª 195,11ª 25,14abcd 70,91ab ½ Kalahari + ½ SRD 0,88ª 161,18ª 18,39d 60,03b bcd ½ Savannah + ½ SRD 0,88ª 196,85ª 22,40 70,15ab Direção Horizontal 0,81ª 233,039ª 29,20ª 59,78b b b Vertical 0,82ª 153,568 19,02 82,45ª CV % 18,06% 23,48% 21,87% 18,52% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05). Entre as espécies não foi detectada diferença significativa em nenhum dos parâmetros analisados (P>0,05). Para as duas espécies os resultados estão compatíveis com os valores de referência apresentados por BASF (1984) para um couro de qualidade, que estabelece para o teste de tensão um mínimo de 19,6 N/mm² e para o teste de alongamento uma amplitude de 40 a 80 % (BASF, 1984). 48 Para o fator genótipo houve uma homogeneidade nas variáveis: espessura do couro e força máxima aplicada, existindo, entretanto, diferença significativa para as variáveis de tensão e alongamento, demonstrando não haver uma relação entre a espessura do couro e a sua resistência a tração e alongamento, corroborando com as conclusões de Craig et al. (1987) e Jacinto et al (2005b). Para a variável tensão (N/mm²), apenas o genótipo ½ Kalahari + ½ SRD não atingiu valor mínimo orientativo de 19,6 N/mm² preconizado por BASF (1984), para um couro de qualidade. O ovino de genótipo nativo Santa Inês obteve o maior valor (29,420 N/mm²), o que demonstra a importância de se estudar os diversos genótipos, já que este é um dos fatores que interferem na qualidade do couro. A variável alongamento, em que o valor orientativo é entre um mínimo de 40 % até o máximo 80 %, todos os resultados estão dentro dos parâmetros especificados, demonstrando boa elasticidades do couro, apesar da diferença significativa (P<0,05) encontrada entre os genótipos. Quanto ao fator direção não houve diferença significativa (P>0,05) para a variável espessura, sendo detectadas diferenças entre as variáveis: força, tensão e alongamento, com os melhores resultados apresentados pela direção horizontal, estando a direção vertical fora dos valores orientativos preconizados por BASF (1984). Este resultado está de acordo com a literatura e já foi estudado por vários pesquisados, a exemplo de Craig et al. (1987), demonstrando que a força de tração será maior na direção horizontal em virtude da disposição das fibras no couro. Na Tabela 5 estão apresentados os resultados do teste de força de rasgamento progressivo, onde se pode observar que entre as espécies, apesar de não haver diferença na espessura do couro (P>0,05), foi encontrada diferença significativa para força média (N) e carga aplicada (N/mm) (P<0,05), com resultados superiores a favor dos caprinos. Contudo, 49 observa-se que, tanto para os caprinos como para os ovinos, os resultados estão dentro dos parâmetros especificados para um couro de qualidade. Tabela 5: Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável resistência ao rasgamento progressivo quanto a espécie, genótipo e direção amostrada Força de Rasgamento progressivo Fatores Espessura Força Média Carga (mm) (N) (N/mm) Espécie Ovino 0,81ª 53,86b 67,41b Caprino 0,82ª 58,91ª 72,29ª Genótipo Ovinos Santa Inês 0,72ª 53,36b 74,71abc ab Santa Inês x Dorper 0,80ª 56,11 69,94abcd b Santa Inês x Morada Nova 0,76ª 51,93 68,32abcd Morada Nova 0,90ª 54,02b 60,27d b Morada Nova x Dorper 0,86ª 53,88 63,82cd Caprinos ½ Moxotó + ½ SRD 0,81ª 63,24ab 78,80ª ½ Boer + ½ SRD 0,76ª 49,28b 65,29cd ½ Anglo + ½ SRD 0,77ª 55,53ab 72,53abcd ½ Kalahari + ½ SRD 0,87ª 57,72ab 66,19bcd ½ Savannah + ½ SRD 0,89ª 68,67ª 78,15ab Direção Horizontal 0,81ª 50,12b 62,62b a Vertical 0,82ª 62,71 77,17ª CV % 18,16% 19,44% 13,58% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05). Apesar de se tratar de ovinos deslanados, também denominados “pêlo de boi”, o resultado pode ser relacionado com os trabalhos realizados por Henrickson et al. (1984), quando afirma que os ovinos têm menor quantidade de fibras colágenas que os caprinos, com conseqüente superioridade para estes. Resultado semelhante foi encontrado por Costa et al. (2005b), que em seus resultados obteve diferença significativa quanto à espécie, com os caprinos superiores aos ovinos. Na avaliação do fator genótipo, para a variável espessura não foi encontrada diferença significativa (P>0,05), no entanto, entre as variáveis força média e carga foram encontradas diferenças significativas (P<0,05), embora todos os resultados tenham sido 50 superiores ao valor mínimo orientativo, especificado para um couro de qualidade, que para carga específica é de 49,1 N/mm. O genótipo da espécie caprina que apresentou melhor resultado para a variável rasgamento progressivo foi o ½ Moxotó + ½ SRD, reforçando o conceito de que as raças nativas produzem peles de excelente qualidade (Costa et al., 2005b), fato que também foi observado entre os ovinos, para o genótipo nativo Santa Inês. Este resultado se contrapõe ao encontrado por Sousa et al. (2002) que, trabalhando com ovinos Santa Inês e caprinos ½ sangue Boer, Anglo Nubiano, Canindé e SRD, apresentou resultados onde nenhuma das raças atingiu o valor mínimo especificado. Para variável direção da amostra, tanto para força quanto para carga, foram encontradas diferenças significativas (P<0,05) entre as direções horizontal e vertical, com a vertical alcançando valores mais elevados. Isto contradiz os resultados encontrados por Dal Monte et al. (2004) que, trabalhando com cabritos Saanen, não encontraram diferença significativa entre as direções amostradas. No entanto, da mesma forma que para força de tração, este resultado é diretamente influenciado pela disposição das fibras no couro, o que neste caso é inverso ao resultado anterior, sendo maior na direção vertical, como explicado por Craig et al. (1987). São observados na Tabela 6 os resultados para medida da distensão e resistência da flor, realizado pelo teste de ruptura da esfera, onde não foi encontrada diferença significativa (P>0,05) para espessura do couro entre as duas espécies nem para os genótipos envolvidos. 51 Tabela 6: Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável medida da distensão e resistência da flor quanto a espécie e genótipo Medida da Distensão e Resistência da Flor Fatores Espessura (mm) Distensão da flor (mm) Espécie Ovino 0,78ª 11,22ª Caprino 0,80ª 10,34b Genótipo Ovinos Santa Inês 0,70ª 9,84c Santa Inês x Dorper 0,77ª 12,45ª Santa Inês x Morada Nova 0,74ª 10,74abc Morada Nova 0,89ª 12,25ab Morada Nova x Dorper 0,80ª 10,80abc Caprinos ½ Moxotó + ½ SRD 0,80ª 10,98abc ½ Boer + ½ SRD 0,71ª 10,25c ½ Anglo + ½ SRD 0,76ª 10,52bc ½ Kalahari + ½ SRD 0,81ª 9,88c ½ Savannah + ½ SRD 0,90ª 10,06c CV % 14,36% 9,08% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05) Quanto à variável distensão da flor, tanto o fator espécie quanto os genótipos tiveram resultados que diferiram significativamente (P<0,05). Para o fator espécie os ovinos tiveram resultados superiores aos caprinos e, para os fator genótipo, os ovinos ½ Santa.Inês x ½ Dorper e o Morada Nova obtiveram os maiores valores, seguidos pelo caprino ½ Moxotó + ½ SRD. No entanto, apesar da diferença significativa entre os fatores, espécie ou genótipo, todos os resultados apresentam valores acima dos mínimos orientativos para qualidade do couro, que são de 7,5 mm e 7,0 mm, segundo o PFI – Instituto de Ensaios e Pesquisas para Fabricação de Calçados, Pirmasens, Alemanha (BASF, 1984). Os resultados do teste de comportamento sob água (penetrância) são apresentados na Tabela 7, onde se observa que, tanto para o fator espécie quanto para os genótipos, não foram detectadas diferenças significativas (P>0,05) para as variáveis: espessura, peso da amostra seca e tempo de penetração, com valores significativos (P<0,05) apenas para quantidade de água absorvida. No entanto, mesmo com o percentual de absorção menor 52 que 30 % de água, as espécies, assim como todos os genótipos, estão abaixo do valor mínimo da norma orientativa, que estipula um tempo mínimo de penetração de 30 minutos. Tabela 7: Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável comportamento sob água quanto a espécie e genótipo Fatores Comportamento sob água Espessura Peso amost. Tempo de Água média seca penetração absorvida (mm) (g) (min) (%) Espécie Ovino 0,80ª 2,08ª 6,50ª 22,30ª Caprino 0,81ª 2,08ª 5,15ª 14,39b Genótipo Ovinos Santa Inês 0,72ª 1,75ª 7,50ª 34,97ª Santa Inês x Dorper 0,78ª 1,95ª 8,25ª 15,85bc Santa Inês x Morada Nova 0,75ª 2,02ª 7,00ª 21,78bc Morada Nova 0,91ª 2,35ª 4,25ª 26,60ab Morada Nova x Dorper 0,83ª 2,33ª 5,50ª 12,28c Caprinos ½ Moxotó + ½ SRD 0,80ª 2,03ª 3,00ª 13,47c ½ Boer + ½ SRD 0,75ª 1,79ª 6,75ª 15,40bc ½ Anglo + ½ SRD 0,75ª 1,88ª 4,25ª 14,11bc ½ Kalahari + ½ SRD 0,88ª 2,35ª 4,25ª 15,78bc ½ Savannah + ½ SRD 0,90ª 2,37ª 7,50ª 13,20c CV % 16,58% 16,65% 37,71% 29,63% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05). Este resultado deve-se ao fato da análise ter sido realizada no couro semi-acabado, no qual não foi realizado o processo de hidrofugação durante o processo de curtimento. Neste processo, são adicionados produtos que impedem, em parte, a passagem da água no couro, e se faz necessário para a completa análise dos resultados deste teste. Mesmo com resultados abaixo dos valores orientativos, o que se busca é se existe uma espécie ou genótipo em que a pele seja mais adequada ao uso para produtos impermeáveis. Neste contexto, já que todos os couros receberam o mesmo tratamento, observa-se que a espécie ovina possui uma capacidade de absorção de água superior à espécie caprina (P<0,05), apesar do tempo de penetração não diferir significativamente (P>0,05). 53 Entre os genótipos, o que apresentou melhor resultado foi o Santa Inês x Dorper, em que o tempo de penetração foi o mais elevado, com uma baixa absorção de água. Nota-se claramente que o genótipo Santa Inês se mostrou mais adequado para confecção de produtos impermeáveis, com tempos de penetração naturalmente mais elevados em relação aos demais genótipos estudados. Entre os caprinos, observa-se que os genótipos exóticos ½ Savannah e ½ Boer também obtiveram resultados muito elevados, próximos aos resultados do genótipo ovino Santa Inês, e superior ao genótipo ovino Morada Nova. 54 CONCLUSÕES: Os couros oriundos das espécies caprina e ovina apresentam características físicomecânicas compatíveis com os padrões estabelecidos para um couro de qualidade, desejável pela indústria coureira. A introdução de 50% do genótipo exótico Dorper não interferiu na qualidade do couro dos ovinos. Entre os caprinos, o genótipo nativo Moxotó foi o que apresentou melhor média entre os testes, para um couro de qualidade industrial. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANUÁRIO DA PECUÁRIA BRASILEIRA (ANUALPEC). São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 2004. p. 301-302. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. Climatização de materiais usados na fabricação de calçados e correlatos, NBR 10455, MB 1123. Rio de Janeiro, 1988. 5p. ____________. 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Nas determinações da medida da distensão e resistência da flor não foram detectadas diferenças (P>0,05) entre os genótipos e, para o teste de resistência a tração e alongamento foram encontradas diferenças (P<0,05) entre os genótipos ou direção da amostra, contudo todos os resultados se apresentaram acima dos valores orientativos para um produto de qualidade industrial. Palavras chave: Curtimento, qualidade do couro, pele, resistência, wet blue ABSTRACT This study aimed to assess the influence of physical-mechanical characteristics of chrome tanned leather, evaluating the results of four different crossbreeds. 43 skins were analysed in a completely random design, nine Santa Inês sheep, 12 ½ Anglo Nubiano, 16 ½ Boer, all crossings were obtained using non-defined breeds (NDB) and six NDB. The animals were raised under semi-intensive production systems using cultivate pastures and began when animals reached 18,3 kg and four months for the sheep and five months for the goats, and they were slaughtered with 30 kg approximately and 180 days of age for the sheep and 270 for the goats. For the factors genotype and direction they were found significant differences (P<0,05) for the resistance test to the tearing, with all the breeds presenting values below recommended it. In the measure of the distention and resistance of the nap differences were not detected (P>0,05) among the genotypes and, for the resistance to traction were found differences (P<0,05) between the genotypes or direction of the sample, with the results above the values for a good quality leather for industrial processing. Key words: Leather quality, skin, tanning, tensile strength, wet blue 60 INTRODUÇÃO O efetivo caprino brasileiro, segundo o Anuário da Pecuária Brasileira (2004) é da ordem de 10.033.271 cabeças, com a região Nordeste detendo 94% deste rebanho. No entanto, a produção de peles é muito baixa em relação ao efetivo (Oliveira, 1999). A produção caprina e ovina no Nordeste tem na obtenção de carne a sua principal exploração, sendo a pele um subproduto da atividade. No entanto, pouca atenção tem sido dada a este subproduto, que representa entre 10 a 12% do valor do animal. O beneficiamento da pele torna-a um produto de grande expressão econômica (Arbiza, 1986) e, segundo Jacinto et al. (2005), se de boa qualidade, pode representar a diferença entre o lucro e o prejuízo na hora da venda do animal. Enquanto em nível nacional as indústrias de curtume e artefatos de couro estão em franca expansão, no cenário Paraibano a realidade é diferente, com o rebanho estagnado e a indústria de curtumes praticamente extinta (Furlanetto, 2003). Na Paraíba, a micro região do Cariri se apresenta como a maior produtora, com um rebanho estimado em 285.812 cabeças de caprinos e 119.072 cabeças de ovinos (IBGE, 2006), e a indústria de transformação, onde se inclui a indústria do couro, ocupando o segundo lugar de importância na formação do PIB (Paraíba em dados, 2002), demonstrando a importância da atividade para o estado. O Cariri, situado no centro sul da Paraíba, é uma região marcada por temperaturas elevadas, de baixa umidade e índices pluviométricos que não ultrapassam os 500 mililitros por ano, já que a seca castiga pelo menos durante nove meses. Este rebanho, cuja maioria é de animais nativos denominados SRD (sem raça definida), bastante procurados pelas indústrias do couro e, segundo Cavalcanti e Silva (1988), são bastante valorizadas no mercado nacional e internacional, tem sido cruzado 61 com animais exóticos, geneticamente melhorados para carne ou leite, sem que sejam observadas as conseqüências sobre a qualidade da pele. Durante o processo de curtimento, as peles caprinas e ovinas são submetidas a várias etapas, passando por processos químicos, físicos e mecânicos, transformando a pele em couro, preservando algumas propriedades, eliminando outras e incrementando algumas. Segundo Hoinacki (1989), no curtimento, as fibras são previamente separadas pela remoção do tecido interfibrilar e pela ação de produtos químicos, mantendo a sua natureza fibrosa, quando então são tratadas com substâncias curtentes que transformam a pele em couro, prevenindo a putrefação e tornando-a flexível e macia. No atual modelo de produção, citado por Costa et al. (2005), as peles são submetidas a três etapas diferenciadas que são: a ribeira, que compreende a recepção e recorte, remolho, caleiro e descarne, que limpam e preparam a pele para as etapas seguintes; o curtimento propriamente dito, dividido em desencalagem, desengraxe, purga, piquel, curtimento, escorrido, rebaixe, recurtimento, tingimento e engraxe; terminando com a fase de acabamento, estiramento, vácuo, lixamento, amaciamento, prensagem e medição, onde são realizadas as operações e processos que dão ao couro a aparência e cores desejadas. Jacinto (2000) cita ainda dois procedimentos entre o curtimento e recurtimento que são a basificação e neutralização, que visam adequar o pH às condições dos produtos do recurtimento. Utilizando-se o cromo como agente curtente, o couro apresentará uma coloração azul, o que lhe dá a denominação “wet blue” que, segundo Jacinto (1999), recebendo neste instante tratamento com fungicidas e mantidos envoltos em plástico para evitar a desidratação, pode ser armazenado por longos períodos. 62 A operação de engraxe tem a finalidade de facilitar o deslizamento entre as fibras (Poré, 1974) e aumentar a resistência ao rasgamento e à distensão da flor (Boccone et al., 1987). Sob a conjectura de melhorar geneticamente o rebanho da região e produzir animais superiores, o governo da Paraíba importou, há alguns anos, animais destinados, em quase sua totalidade, à produção de carne. No entanto, no que diz respeito à pele, não se conhece o produto proveniente destes cruzamentos. A pele produzida também tem apresentado baixo aproveitamento, o que, segundo Furlanetto (2003), é ocasionado principalmente pela falta de técnicas corretas para o procedimento de abate, esfola e conservação, que geram defeitos e acarretam em pouca agregação de valor nesta matéria prima. Começa a existir entre os produtores e governantes, conscientização no sentido da adoção de práticas mais racionais que visam aumentar a produtividade da caprinocultura e ovinocultura, especialmente a partir de resultados de estudos já realizados no que diz respeito ao sistema de produção (manejo, nutrição, etc.). Entretanto, se tem trabalhado sob a premissa de que todas as peles são iguais, o que é contestado por Jacinto et al. (2004) quando afirmaram que a resistência dos couros à tração e ao rasgamento é influenciada pelas características anátomo-estruturais da pele, relacionada com a espécie, raça, idade, região e posição de retirada das amostras, o que induz a uma alta variabilidade na qualidade. Villarroel et al. (2004a) afirmaram que o couro de animais mestiços deslanados Santa Inês apresentam maior resistência nos testes físico-mecânicos que os mestiços lanados Texel e que o uso de reprodutores lanados com ovelhas deslanadas, para melhorar a produção de carne dos ovinos, influencia negativamente a qualidade dos couros, sendo um fator importante na determinação da qualidade do produto pela indústria coureira. 63 A qualidade do couro é constatada à medida que ele satisfaz às exigências do fabricante no que se refere às características de natureza química, mecânica e estética (Dal Monte et al., 2004). Os testes físicos-mecânicos são, segundo Maranhão (1993), os meios para a verificação e a garantia da qualidade do couro, devendo fazer parte de um programa de qualidade da empresa curtidora. Segundo Boccone et al. (1978), os testes físicos-mecânicos são executados sob padrões estabelecidos por normas técnicas que envolvem, entre outros: carga e resistência à tração, NBR 11041 (ABNT, 1997a), carga e resistência ao rasgamento, NBR 11055 (ABNT, 1997b), resistência da flor à distensão pela esfera, NBR 11669 (ABNT, 1991). O País tem pouca competitividade no mercado internacional, além de apresentar dificuldades para suprir a atual demanda interna sem recorrer a contínuas importações de peles para a manutenção do seu parque industrial. Esta situação é evidenciada também pelos altos custos e pela baixa escala de produção, elevados custos de transporte, regulamentação excessiva e obsoleta, assim como pelas altas taxas de juros (Leite, 2001). O mercado para peles de caprinos e ovinos é bastante promissor, existindo, tanto a nível nacional como internacional, uma forte demanda por tal produto, o que torna urgente a necessidade de fomentar estudos no que diz respeito ao conhecimento de características importantes do couro, inerentes a cada espécies, para sua utilização pela indústria transformadora, aumentando seus níveis de qualidade e produtividade. Objetivou-se com este trabalho, analisar as características físico-mecânicas do couro, curtidas ao cromo, de quatro genótipos diferentes. 64 MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizadas um total de 43 peles, sendo: nove peles de ovinos de genótipo Santa Inês, e 12 de caprinos ½ Anglo Nubiano, 16 ½ Boer e seis de animais nativos denominados SRD. As peles dos ovinos foram provenientes de animais da Estação Experimental de Pendência - EMEPA, localizada na cidade de Soledade - PB, região do Curimataú Ocidental. As peles dos caprinos foram obtidas em propriedades privadas integrantes de projeto de cruzamentos em parceria com a EMEPA, localizadas no Cariri paraibano. Todos os animais, desmamados com idades variando de 90 a 112 dias, foram criados sob regime semi-intensivo, em pastagens nativas de caatinga, com utilização de manejo tradicional desenvolvido na região. Os animais, machos inteiros, entraram em fase experimental com peso médio de 18,3 kg, tendo os caprinos idade aproximada de cinco meses, e os ovinos idade média de quatro meses. Foram submetidos ao controle sanitário e alojados em baias coletivas, cobertas, com piso de chão batido, tendo 12 animais por baia, com 14 dias para adaptação às instalações e manejo, permanecendo em confinamento. A dieta foi composta por silagem de milho e concentrado à base de milho, soja, trigo, melaço e minerais, com relação volumoso:concentrado de 40:60, produzida na própria Estação Experimental, balanceada de acordo as exigências do National Research Council – NRC (1985). À medida que os animais atingiam o peso médio de 30 kg, o que ocorreu com idades variando de 180 a 270 dias de vida, eram abatidos. O abate foi efetuado no abatedouro experimental semi-industrial da EMEPA, com atordoamento por concussão cerebral, suspensão dos animas pelas patas traseiras, sangria pela veia jugular e a esfola procedida de forma manual. As peles foram então colocadas sobre estrados, limpas do excesso de 65 gordura, sangue e impurezas, salgadas, cobertas com solução bactericida e armazenadas segundo metodologia apresentada por Silva Sobrinho e Jacinto (1992). Após 40 dias, as peles foram levadas para o Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco/CTCC/SENAI, tendo início ao processo de curtimento e recurtimento das peles conforme o padrão do CTCC e onde foram realizados o testes físicos-mecânicos. O curtimento foi realizado segundo a metodologia de BASF (1976) e BASF (1984), seguindo as etapas de remolho, caleiro, desencalagem, purga, desengraxe, píquel, curtimento, basificação, neutralização, recurtimento, secagem e amaciamento. O curtimento foi realizado em recipiente apropriado, denominado fulão, com rotação, volume, temperatura e pH controlado para cada etapa do processo, conforme Tabela 1. Tabela 1 – Variação do volume, temperatura, pH do banho e velocidade do fulão Etapas Volume de Temperatura pH do banho Velocidade do água (%)* °C fulão (rpm) Remolho 200 25 7 4 Caleiro 200 25 12 4 Desencalagem 80 25 13 – 7 10 Purga 80 25 - 33 10 – 7 10 Desengraxe 50 35 7 10 Píquel 50 25 3 10 Curtimento 50 25 3 10 Basificação 50 35 3,9 10 Neutralização 50 25 6,2 16 Recurtimento 50 40 6,2 16 * Percentagem sobre a massa das peles Para cada etapa do processo são modificados os produtos químicos utilizados na busca de alcançar os resultados esperados, variando segundo sua pureza. Depois de curtidas as peles, que agora passam a chamar-se couro, foram climatizadas a uma temperatura de 23°C e UR de 50% por um período de 48 horas antes da realização dos testes físicos-mecânicos, segundo norma NBR 104555 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1988). 66 As medidas da espessura dos couros, necessárias à realização dos cálculos de resistência à tração e ao rasgamento, foram feitas através do equipamento espessímetro, orientado pela norma NBR 2984 (ABNT, 1988). O método de amostragem e a localização da região de retirada dos corpos-de-prova para os testes físicos-mecânicos são determinadas pela norma internacional ISO 2418 (2002). Os corpos de prova para os ensaios de resistência a tração e rasgamento progressivo foram retirados na prensa hidráulica, modelo balancim, através de navalhas com dimensões seguindo as normas NBR 1199 determinadas pela ABNT (1990a). Os testes de determinação da resistência a tração e alongamento e determinação da força de rasgamento progressivo foram realizados no equipamento dinamômetro, estabelecidos pelas normas técnicas que envolvem carga e resistência à tração, NBR 11041– MB 3013 (ABNT, 1997a), carga e resistência ao rasgamento, NBR 11055– MB 3015 (ABNT, 1997b), resistência da flor à distensão pela esfera, NBR 11669 (ABNT, 1991). Para a determinação da ruptura e da distensão da flor do couro pelo lastômetro, foram retirados três corpos de prova, nos formatos e tamanhos padrões, estabelecidas nas normas NBR 3307, segundo ABNT (1990b). Na Tabela 2 são apresentados valores que orientam os testes físico-mecânicos segundo BASF (1984) e SENAI, que foram utilizados na comparação com os resultados dos testes, para definição da qualidade industrial do couro. 67 Tabela 2: Valores orientativos para os testes físico-mecânicos. Testes Instituição Unidade BASF Resistência ao rasgamento Kgf/cm min. 80 N/mm min. 24,5 Resistência a tração Kgf/cm² min. 200 N/mm² min. 19,6 Elongação (%) 40 - 80 Distensão da flor mm min. 7,0 SENAI min. 80 min. 49,1 min. 150 --min. 7,5 Adaptado de: Costa et al. (2005) Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado para medida da distensão e resistência da flor, e um arranjo fatorial 4 X 2 (quatro genótipos e duas direções), para resistência ao rasgamento progressivo e resistência a tração e alongamento. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias dos testes físicosmecânicos foram comparados pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, através do procedimento GLM do SAS (1999). 68 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 3 estão apresentados os resultados para a resistência ao rasgamento progressivo, onde não foi encontrada nenhuma diferença significativa (P>0,05) para a espessura do couro. Tabela 3: Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável resistência ao rasgamento progressivo quanto ao genótipo e direção amostrada Fatores Resistência ao Rasgamento Progressivo Espessura Força Resistência (cm) (kgf) (kgf/cm) Genótipo Santa Inês 0,10ª 6,83ª 67,46ª ½ Anglo Nubiano 0,10ª 7,14ª 70,07ª ½ Boer 0,11ª 7,07ª 67,01ª SRD 0,10ª 5,93ª 59,76b Direção Horizontal 0,10ª 6,38b 62,76b Vertical 0,10ª 7,38a 71,11ª CV % 13,94% 20,34% 11,33% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05). Para o parâmetro força aplicada, observa-se que não houve diferença significativa (P>0,05) entre os genótipos, havendo significância apenas para a direção amostrada. Já para o resultado da resistência foram encontradas diferenças significativas (P<0,05) tanto entre os genótipos como para a direção. Observa-se que o genótipo SRD obteve um resultado inferior aos demais genótipos. Quanto à direção da amostra, foi encontrado resultado significativo (P<0,05) entre as direções horizontal e vertical, com a vertical obtendo um resultado superior à horizontal. Este resultado se contradiz aos encontrados por Dal Monte et al. (2004) que, trabalhando com cabritos Saanen, não verificaram diferença significativa entre as direções amostradas, assim como os resultados encontrados por Villaroel et al. (2004b). No entanto, os resultados aqui apresentados são semelhantes a outras pesquisas, a exemplo dos encontrados por Jacinto et al. (2004), e confirmados pelos estudos histológicos da pele 69 (Junqueira e Carneiro, 1995; Gibson et al., 1965), em função da disposição longitudinal das fibras de colágeno, que exercem influência no sentido da resistência ao rasgamento. Apesar do resultado significativo para variável resistência quanto ao fator genótipo, o valor referência mínimo estabelecido pela BASF (1984) para o teste de qualidade da estrutura fibrosa através da resistência ao rasgamento progressivo é de 80 kgf/cm, indicando que todas as raças estão abaixo desses parâmetros de referência especificados. Vários trabalhos, a exemplo dos realizados por Costa et al. (1998b) e Dal Monte et al. (2004), apresentam resultados de couros caprinos e ovinos, para a variável resistência ao rasgamento progressivo, superiores aos orientativos sugeridos por BASF (1984). Desta forma, faz-se necessário esclarecer que vários são os defeitos que podem alterar os resultados dos testes físicos-mecânicos. Após a esfola, a pele “in natura” está sujeita a deterioração e, no intuito de interromper todas as causas que favorecem a decomposição da pele, conservando-a até o curtimento, devem-se utilizar imediatamente os processos de conservação por secagem ou salga, além da utilização de uma solução bactericida. Segundo Furlanetto e Silva (1994), esta é uma fase crucial do processamento, e a qualidade do produto depende fundamentalmente do tratamento que se dá após o abate do animal. Além do estado de conservação das peles antes do curtimento, outras falhas no controle durante o processamento da pele também podem ser citados, como: produtos químicos mal estocados, falta de climatização adequada da amostra antes dos testes, defeitos na amostragem, ou mesmo falhas no manuseio e leitura dos equipamentos. Deste modo, os baixos valores encontrados para o teste de rasgamento progressivo das peles podem ser atribuídos a alguns destes fatores, haja vista a afirmação de vários autores, a exemplo de Jardim (1984), declarando que a pele caprina é um produto de boa qualidade, resistência e elasticidade. No entanto, deve-se salientar o acompanhamento rigoroso exercido pela indústria e a excelência do laboratório do CTCC/SENAI. 70 Nos dados apresentados na Tabela 4, observa-se que foram encontrados resultados significativamente diferentes entre as características de resistência a tração e alongamento em função dos fatores genótipo e direção estudados, concordando com alguns resultados encontrados na literatura. Tabela 4: Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a variável resistência a tração e alongamento quanto à genótipo e direção amostrada Fatores Resistência a tração e alongamento Espessura Força Tensão Alongamento (cm) (kgf) (kgf/cm²) (%) Genótipo Santa Inês 0,10ª 25,91ª 260,17ª 52,39b ½ Anglo Nubiano 0,10ª 26,75ª 263,45ª 57,12a a ab b ½ Boer 0,10 23,23 223,46 52,88b SRD 0,10ª 21,70b 219,42b 54,25a Direção Horizontal 0,10ª 27,48ª 269,62ª 49,19b b b Vertical 0,10ª 21,64 213,86 59,12ª CV % 13,43% 19,74% 14,19% 10,63% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05). Observa-se que para a característica espessura, os resultados não diferiram significativamente (P>0,05), tanto entre o fator genótipo como para o fator de direção. Este resultado vem ao encontro dos resultados apresentados por Dal Monte et al. (2004), quando cita não ter encontrado diferença significativa para direção da amostra, mas há de se salientar que neste trabalho a espessura do couro foi bastante superior à citada naquele trabalho para animais de idade entre 180 a 270 dias, provavelmente em função de que a região amostrada para este trabalho foi apenas a do grupão, e a pele não apresenta espessura uniforme entre as regiões do corpo animal (Junqueira e Carneiro, 1995), tendo na região do grupão uma maior espessura e um entrelaçamento mais firme das fibras de colágeno (Medawar, 1953, Lyne e Hollis, 1968). Para as características força (kgf) e tensão (kgf/cm²) foram encontrados resultados significativos (P<0,05). Desta forma, observa-se que a espessura da pele não influenciou a 71 quantidade de força aplicada, nem a tensão resultante que caracteriza a resistência do couro. Nota-se claramente que, quanto maior a força aplicada, maior será a resistência ou tensão, contudo não houve relação com a espessura do couro, mas sim com o genótipo ou a direção amostrada, onde os genótipos ½ Anglo e Santa Inês foram superiores a ½ Boer e SRD, e a direção horizontal superior a vertical. Os valores resultantes para a direção da amostra condizem com o esperado em função da disposição longitudinal das fibras de colágeno (Junqueira e Carneiro, 1995; Gibson et al., 1965). Estes resultados concordam com a significância encontrada por Dal Monte et al. (2004), contudo, os valores encontrados para as diferentes direções da amostra divergiram do trabalho citado que tinham como genótipo a raça Saanen e, neste caso, apesar de haver diferença significativa entre os genótipos, todos os resultados foram superiores ao mínimo de 200 kgf/m² preconizado por BASF (1984), o que confirma a necessidade de se avaliar cada genótipo individualmente. Quanto ao percentual de alongamento, este também sofreu influencia significativa (P<0,05) do genótipo e direção, contudo sem relação com a força ou tensão. Para esta características os genótipos ½ Anglo e SRD tiveram valores superiores ao ½ Boer e Santa Inês, com a direção vertical obtendo valores maiores que a direção horizontal. Neste quesito, todos os genótipos e direções se comportaram dentro dos parâmetros preconizados de 40 a 80 %. Os valores para medida de ruptura e distensão da flor, realizado pelo teste de ruptura da esfera são apresentados na Tabela 5. Para este teste, executado através do aparelho lastômetro, o corpo-de-prova amostrado é de forma circular, não sendo considerada a posição de retirada das amostras. Desta forma, as posições de direção horizontal e vertical não são referenciadas. 72 Tabela 5: Médias e Coeficiente de Variação (CV) para a medida da distensão da flor em relação ao genótipo Fatores Medida da Distensão e Resistência da Flor Espessura (cm) Distensão (mm) Genótipo Santa Inês 0,98ª 8,36ª ½ Anglo Nubiano 1,01ª 8,12ª ½ Boer 1,03ª 7,98ª SRD 0,96ª 8,19ª CV % 13,27% 8,48% Letras diferentes na coluna diferem estatisticamente pelo teste de tukey (P<0,05). Observa-se nos resultados apresentados que não foram detectadas diferenças significativas (P>0,05) para espessura ou distensão da flor em função dos genótipos envolvidos. Costa et al. (1998a), trabalhando com animais de diferentes idades, observaram diferença significativa na espessura dos couros, demonstrando uma variação crescente na medida em que avança a idade. Este fator pode justificar a não significância na espessura dos couros entre as espécies ovino e caprinos, haja vista que os ovinos foram abatidos mais jovens que os caprinos. Dal Monte et al. (2004) trabalhando com caprinos de diferentes idades, obtiveram resultado quadrático para a característica de distensão da flor, em que o ponto mais baixo da curva estaria entre os animais de 225 dias de idade, o que poderia justificar os resultados encontrados nesta pesquisa, haja vista a similaridade com a idade dos animais deste experimento. Nestes resultados, vale ressaltar que, para todos os genótipos os valores de distensão foram superiores ao valor de 7,00 mm preconizado como valor mínimo para um couro de qualidade industrial, segundo o PFI – Instituto de Ensaios e Pesquisas para Fabricação de Calçados, Pirmasens, Alemanha (BASF, 1984). 73 CONCLUSÕES Os resultados de resistência ao rasgamento progressivo do couro, de todos os genótipos, apresentaram-se abaixo do valor mínimo orientativo recomendado. Este resultado, possivelmente, foi em decorrência de falhas no processo de conservação logo após o abate dos animais, que é crucial para um bom processo de industrialização. Para os demais testes, as características físico-mecânicas apresentaram-se compatíveis com os padrões estabelecidos para um couro de qualidade, desejável pela indústria coureira. 74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANUÁRIO DA PECUÁRIA BRASILEIRA. São Paulo: FNP Consultoria & Agroinformativos, 2004. 376p. ARBIZA, S.I.A. Products caprinos. 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Os mercados, interno e externo para carne e pele, favorecem a expansão da caprinocultura e ovinocultura, independente da região do País. As indústrias já dispõem de tecnologia avançada e mão-de-obra qualificada para o curtimento das peles e acabamento do couro, com avanços constantes de novas técnicas de processamento, sendo necessárias mais pesquisas no que diz respeito à diminuição dos impactos ambientais. No entanto, existe uma necessidade de aumentar esforços no sentido de organizar a cadeia produtiva de ovinos e caprinos, que envolve um conjunto de atividades econômicas, essencial à manutenção do fluxo de oferta de matéria-prima. A velocidade, no sentido da introdução de novas tecnologias pela indústria, tem sido alta e o mercado produtor tem que ser tão ágil quanto ela no sentido de ofertar matériaprima de melhor qualidade, que passa principalmente pelo aumento no aproveitamento das peles e melhoria das características estética e resistência. Sem dúvida, a exploração de qualquer matéria-prima exige que se tenha um controle qualitativo e quantitativo do material e, sem esse controle, a atividade comercial se torna primitiva. Além deste controle, se faz mister conhecer as características peculiares de cada 78 espécie ou genótipo, para que se possam fazer trabalhos mais direcionados à produção de matérias-primas especifica para cada tipo de utilização. Observamos neste trabalho que algumas características histológicas da pele são inerentes às configurações genéticas, não sendo alteradas em virtude do manejo, e observamos na literatura pesquisada que as maiores diferenças encontradas talvez estejam ligadas ao tipo econômico (pele ou lã), para um melhor aproveitamento da pele pela indústria curtidora. Na literatura, podemos observar que o cruzamento industrial entre raças lanadas e as raças brasileiras deslanadas ocasionam perda na qualidade do couro dos animais resultantes destes cruzamentos. No entanto, neste trabalho, podemos observar que a introdução de 50% do genótipo do ovino deslanado Dorper, além de ser uma alternativa para a melhoria da qualidade da carcaça, não interferiu nas qualidades físico-mecânicas do couro dos animais F1. Entre os caprinos, os resultados dos testes físicos-mecânicos demonstraram que o genótipo nativo Moxotó obteve em todos os testes um resultado superior que os genótipos exóticos estudados. Contudo, os resultados de todos os genótipos foram acima das orientações para um produto de qualidade industrial, indicando que também podem ser utilizados em um programa de cruzamento, sem que haja interferência na qualidade do produto final. No ano 2000, em termos quantitativos, os números brasileiros de potencialidade do setor coureiro são bastante animadores, chegando a 7,3 milhões de peles de ovinos e caprinos. A produção de peles e couros vem experimentando considerável pressão pelo seu crescimento. Cabe agora uma maior organização da cadeia produtiva, para que possamos atingir um número cada vez maior de produtos de primeira qualidade, remunerando melhor o produtor e auferindo lucros às empresas curtidoras.