EsportEs radicais

Transcrição

EsportEs radicais
hipertexto
Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, novembro-dezembro de 2007 – Ano 9 – Nº 60
Hiper denunciou em 2004
fraudes no Detran gaúcho
Reportagem exclusiva de Belisa
Figueiró, então aluna da Famecos,
hoje jornalista em São Paulo, questionava o alto índice de reprovação,
a indicar uma indústria do exame,
além da estranha licitação em que
todos os examinadores no Estado
eram de Santa Maria. Na época,
ninguém contestou a matéria. Três
anos depois, estoura o escândalo
que causou prejuízos superiores a
R$ 40 milhões, segundo a Polícia
Federal, com envolvimento da alta
cúpula do Detran.
Página 3
Matéria de capa na edição de maio de 2004 do jornal-escola da Famecos
Pedro Revillion/ Hiper
Humanismo
Leituras
para crianças
enfermas vence
Fato Literário
Fernanda Fell/ Hiper
Premiada na Feira do Livro
a emocionante experiência
das alunas da Faculdade
de Letras da PUCRS
Página 6
celebração
Os 100 anos
de Niemeyer
Página 2
Esportes
radicais
Como uma grande
aventura, a segunda
edição dos Jogos
Radicais ocupou
pistas, quadras e
parques da Capital
Páginas 10 e 11
2 abertura
Editorial
A fraude
do Detran
Mesmo próximo ao fim
do ano, ainda há tempo
para novas crises aparecerem para atormentar os
governos. O escândalo do
Detran veio à tona para
salientar uma dúvida que
é cada vez mais constante
na cabeça dos brasileiros:
é possível acreditar em alguém?
Não bastava a falta de
certeza quanto ao destino
do dinheiro que a população gasta em taxas, juros e
impostos, agora é necessário ficar com o pé atrás na
hora de tirar uma simples
carteira de motorista.
A sociedade gosta de
demarcar a vida através de
marcos como o primeiro
passo, a primeira palavra, a
primeira comunhão, o baile
de debutantes e, chegando
os 18 anos, a maioridade,
finalmente somos considerados responsáveis para
dirigir.
Um fato tão importante,
quase um rito de passagem,
fazia com que o valor exorbitante a ser pago, principalmente para os padrões
brasileiros, fosse encarado
como um investimento ou
um prêmio. Era assim pelo
menos até ser descoberto
que, mais uma vez, o povo
estava sendo enganado.
Sorte daqueles que tirarão a licença daqui para
frente, ao menos é o esperado. No entanto, por
enquanto, mesmo um mês
depois da descoberta do
esquema do Detran gaúcho,
as tabelas de preços dos
serviços para a primeira
habilitação continuam intactas, marcando os mais
de R$ 800. Resta aguardar
as cenas dos próximos capítulos.
Por Lidiana de Moraes, editora
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
hipertexto
celebração
100 anos do mestre das linhas curvas
Oscar Niemeyer comemora centenário de vida neste dia 15 de dezembro
Por Lidiana de Moraes
“Não é o ângulo reto que me
atrai. Nem a linha reta, dura,
inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e
sensual”. As palavras dignas de
um poeta foram ditas por um
arquiteto, Oscar Niemeyer. Mas,
quando é realizada uma retrospectiva do trabalho deste gênio
da arquitetura, fica claro que,
para ele, traçar linhas curvas é tão
natural quanto era escrever para
Drummond e Quintana.
O começo dessa trajetória
aconteceu no escritório do arquiteto e urbanista Lucio Costa.
Neste período, o presidente Getúlio Vargas via na arquitetura um
meio de transformar o Brasil em
um país industrializado. Então,
enquanto as potências mundiais
ocupavam-se com o desenvolvimento de tecnologias bélicas, o
investimento brasileiro em obras
arquitetônicas o colocava na
vanguarda.
Niemeyer era um admirador dos padrões criados por Le
Cobursier. Porém, enquanto o
franco-suíço trabalhava com as
linhas retas, o discípulo criou uma
nova forma de criar com o concreto. “O trabalho de Niemeyer
com o concreto armado abriu
um campo inexplorado dentro
da arquitetura. A ‘pedra líquida’
nas mãos de Niemeyer assume de
vez a forma curva, que havia sido
experimentada timidamente no
século XX”, explicou o arquiteto
e professor da Feevale, Juliano
Vasconcellos.
Nascido no dia 15 de dezembro de 1907, na antiga capital do
Brasil, Rio de Janeiro, Niemeyer
fez o que para muitos era impossível: construir a nova capital do
país nos cinco anos de mandato
do presidente Juscelino Kubitschek. No entanto, a carreira do
arquiteto é marcada por inúmeras
obras que fizeram com que ele
Evaristo Sá/AFP
fosse considerado uma das 100
pessoas mais geniais do mundo,
entre elas, a Pampulha, a sede
das Nações Unidas em Nova
York, o Ibirapuera em São Paulo
e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Para o professor
da UFRGS, Günter Weimer, o
sucesso do arquiteto tem explicação: “A verdade é que ninguém
conseguiu como ele responder de
forma tão concreta às aspirações
de inovação que estavam sendo
promovidas pela elite do poder
ou delas dependentes”.
Além do legado como arquiteto, Niemeyer fez barulho por
causa de seu viés político. Comunista assumido, chegou a filiar-se
ao PCdoB e, por muitas vezes, foi
alvo de piadas por ter construído
obras que de algum modo poderiam ser vistas como grandes
homenagens ao poder capitalista.
Mesmo com essa dualidade, o comunismo sempre esteve presente:
“Observando hoje toda a sua obra,
percebe-se que a preocupação do
arquiteto na realidade sempre foi
a de atuar como um representante notável desta ideologia, mais
no discurso do que exatamente
na prática do projeto”, explicou
Vasconcellos.
Ironicamente, em 1963, Niemeyer foi nomeado membro
honorário do Instituto Americano
de Arquitetos dos Estados Unidos
e ganhou o Prêmio Lênin da Paz,
concedido pela União Soviética.
Aos 100 anos, não é possível
calcular quantos projetos memoráveis ele ainda criará para
a humanidade, mas o mestre
da arquitetura ainda promete,
como disse o diretor cultural do
Instituto de Arquitetura Brasileira, Ubyrajara Gilioli: “Apesar de
centenário e de quase não poder
ver, como Beethoven que perdeu
a audição, Oscar continua trabalhando e, seguramente, aprontando novas surpresas para o espanto
de todos nós”.
Hipertexto
Jornal mensal da Faculdade de Comunicação
Social (Famecos) da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
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Porto Alegre, RS, Brasil.
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Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane
Ao desenhar Brasília, Niemeyer produziu esculturas em concreto
Vanderlei Almeida/AFP
Oscar Niemeyer com Fidel Castro. Ele se mantém fiel às origens de esquerda
Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000
Finger
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e edição), Celso Schröder (arte e editoração
eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).
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Gerente de produção: Thais Silveira
Editora: Lidiana de Moraes
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Eilers, Igor Elias Carrasco, Jamille Callai,
Luciana Birck, Maurício Círio, Natasha Centenaro, Patrícia Lima, Rafael Lopes Codonho,
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Thiago Oliveira, Vinícius Roratto Carvalho,
Yara Tropea.
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do Lago, Fernanda Faria Correa, Fernando Sá
Correa, Gabriel Pozzobom Silveira, Gabriela
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Lucas Soares Costanzi, Pedro de Oliveira,
Raissa Genro, Tamara Carvalho e Vinicius
Roratto Carvalho.
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polícia 3
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
Operação Rodin
Três anos depois,
Polícia Federal
confirma fraude
no Detran/RS
 Jornal-escola da Famecos correu na frente da imprensa
gaúcha e divulgou uma ponta do golpe em 2004
Por Patrícia Lima
O alto custo para tirar a carteira de motorista no Rio Grande
do Sul e as reprovações nesses
exames alertaram a Polícia Federal (PF), o Ministério Público
e a Receita Federal, que investigaram, nos últimos quatro anos,
o Departamento Estadual de
Trânsito (Detran), usando grampos telefônicos e a análise do sistema financeiro. As investigações
indicaram a existência de uma
organização, composta por 12 pessoas, que superfaturava serviços
Detran, utilizando fundações de
apoio universitário e empresas de
consultoria. Os recursos desviados, desde 2002, são calculados
em R$ 40 milhões.
A elevação no índice de reprovações no exame, o alto custo da
Carteira Nacional de Habitação
e a estranha terceirização do
serviço para Fundação de Apoio
à Tecnologia e Ciência (Fatec),
ligada à Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM), foram
denunciados há três anos pelo
jornal Hipertexto, na edição de
maio de 2004. A reportagem de
Belisa Figueiró fazia referência
à reprovação nas provas práticas
do Detran que atingiam o índice
de 39%. Na época, Hipertexto
entrou em contato com a direção
da Fatec e da UFSM, para saber
sobre a realização das provas e
o surgimento da parceria com o
Detran, mas não obteve sucesso
(ver box).
A fraude teve início quando o
Detran contratou a Fatec, de Santa Maria, para realizar as provas
de aptidão dos candidatos a obter
ou renovar a Carteira Nacional de
Habilitação (CNH). Ilegalmente,
a Fatec teria terceirizado a elaboração dos testes para outras
empresas e o escritório de advocacia, Consultoria Pensant. As
contratações dos serviços foram
feitos sem licitação. Os serviços
eram prestados com a utilização
da estrutura física e de pesquisadores da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM).
A PF descobriu que as três
empresas terceirizadas responsáveis por aplicar as provas nos
candidatos à motorista cobravam
a mais do Detran do que o estabelecido em contrato, pelos serviços.
Estima-se que o valor da fraude
seja em torno de R$ 40 milhões.
O dinheiro resultante do superfaturamento era repassado aos
diretores do Detran e enviado por
malas, em cédulas, ou então por
meio de empréstimos bancários
simulados, conforme depoimentos recolhidos pela PF.
O diretor do Detran, Flávio
Vaz Netto, e o ex-diretor, Carlos
Ubiratan dos Santos, além de
outras 12 pessoas envolvidas, de
Porto Alegre, Canoas e Santa Maria, foram presas e respondem por
crimes como formação de quadrilha, fraude em licitações, tráfico
de influência, sonegação fiscal,
estelionato, peculato e corrupção
ativa e passiva.
Nesta primeira fase da Operação Rodin, a PF já reuniu 16
volumes com 3,9 mil páginas, das
quais 1,4 mil se referem apenas
a interceptações telefônicas. A
Justiça Federal seqüestrou 80
imóveis de propriedade dos investigados, além de bloquear contas
bancárias e realizar buscas nos
documentos e computadores dos
acusados.
Além da ação fraudulenta em
um departamento que, em 1998,
se tornou uma autarquia justamente para evitar as irregularidades na concessão de carteiras
que, até aquele ano, era atribuição
da Polícia Civil, o escândalo da
Operação Rodin atingiu as bases
do governo de Yeda Crusius. Entre os acusados da fraude estão
personagens ligados aos partidos
aliados do governo, como o diretor-presidente do Detran, Flavio
Vaz Netto, o ex-diretor-presidente
do órgão e atual diretor financeiro
do Trensurb, Carlos Ubiratan dos
Santos (ambos eram do Diretório
Estadual do PP), o empresário
Lair Antonio Ferst (integrante do
Diretório Estadual do PSDB e um
dos coordenadores da campanha
de Yeda Crusius), e o ex-diretorgeral da Assembléia Legislativa,
Antonio Dorneu Maciel, da executiva estadual do PP e então
diretor da Companhia Estadual
de Energia Elétrica (CEEE). José
Fernandes, dono da Consultoria
Pensant, que já foi ligado ao PDT,
também figurou entre os detidos e
continua sendo investigado.
A prisão dos acusados, especialmente de Carlos Ubiratan,
respingou também no deputado
federal José Otávio Germano
(PP), uma vez que o ex-diretor
do Detran-RS ocupou o cargo
na gestão de Germano na Secretaria de Segurança. A luta pelo
controle político-administrativo
do Detran já havia provocado o
primeiro rompimento no governo
de Yeda Crusius, resultando na
demissão, em abril deste ano, do
então secretário de Segurança,
Enio Bacci. O escândalo também
acabou relevando a existência de
funcionário-fantasma (pessoas
nomeadas em órgãos públicos que
não trabalhavam) e outras irregularidades ainda não confirmadas.
Velhas práticas ainda distantes
da promessa da governadora de
implantar no Estado um novo
jeito de governar.
Reportagem de Belisa Figueiró publicada em maio de 2004
Índice de reprovação
nas provas era de 39%
Veja trecho inicial da
reportagem de Belisa Figueiró, escrita em maio
de 2004:
As últimas estatísticas do
Departamento Estadual de
Trânsito (Detran) revelam
que o índice de reprovação nas
provas práticas para a obtenção da Carteira Nacional de
Habilitação, tanto para duas
quanto para quatro rodas,
aumentou. Os números correspondentes aos reprovados
em veículos de quatro rodas
subiram de 29% em 1997 para
39% neste primeiro trimestre
de 2004 no Rio Grande do Sul.
Segundo a coordenadoria de
estatística do órgão, o rigor
do novo Código de Trânsito
é a principal causa, mas as
auto-escolas afirmam que o
fator emocional é mais decisivo, enquanto os candidatos
apontam o próprio despreparo como os principais motivos. Já a Fundação de Apoio à
Tecnologia e Ciência (Fatec),
responsável pela aplicação
das provas, preferiu se calar
e negou-se a dar entrevista
sobre o assunto.
Durante uma semana, o
Hipertexto entrou em contato
com a Fatec, que é vinculada
à Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM) e fiscalizada pelo Detran. Primeiro
falamos com os examinadores, depois com o responsável
por eles, em seguida com o
coordenador do ‘projeto’,
e dias depois com uma das
administradoras da fundação. Somente após quatro
dias de tentativas, fomos
informados que “apenas o
chefe de gabinete do reitor
da UFSM, o professor Isaias
Salin Farret, poderia dar alguma informação à imprensa
sobre o funcionamento e a
organização da instituição”.
Procuramos entrevistá-lo ao
longo dos três dias seguintes,
mas as contínuas reuniões e
falta de tempo desse professor para atender aos quatro
telefonemas ou responder aos
dois e-mails enviados, nos
impediram de expor nesta
reportagem a versão da Fatec
sobre a realização das provas,
o surgimento repentino da
parceria com a Universidade
e o Detran desde 1°de julho de
2003, e a destinação dos recursos financeiros reembolsados nos 8.300 exames teóricos
e 20.300 exames práticos que
são realizados mensalmente
pela fundação.
4 nacional
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
Recortes
Novo Praia de Belas
Com a inauguração do Barra ShoppingSul, prevista para agosto de 2008, e
o projeto de ampliação do Iguatemi para
o próximo ano, o Shopping Praia de Belas
também anunciou reformas até março de
2009. A idéia é dobrar sua área com um
investimento de R$ 60 milhões. O centro
de compras terá mais um prédio-garagem
na esquina com a rua Marcílio Dias, com
70 novas lojas instaladas no terceiro piso,
além de uma torre de 20 andares destinada a escritórios na parte voltada para
Avenida Borges de Medeiros. Foi anunciada ainda a construção de uma passarela
suspensa, com 50 metros de extensão e
16 metros de altura sobre a avenida Praia
de Belas para interligar o terceiro andar
Por Thais Silveira
do shopping ao edifício-garagem. Outra
novidade é um teatro-auditório no terceiro andar. O local terá uma decoração
inspirada em um teatro de Nova York com
uma parece envidraçada que terá a vista
para o Guaíba. Com a ampliação, o shopping oferecerá 264 lojas, dois restaurantes
panorâmicos e uma academia.
Arte negra
Em comemoração ao Dia da Consciência Negra, duas mostras podem ser conferidas em Porto Alegre. DaTerra reúne
pinturas de Grace Patterson no espaço
Vinícolas do Brasil (Mostardeiro 189)
até o dia 23 dezembro, com visitação de
segunda à sábado, das 9h às 19h. Deuses
do Panteão Africano - reproduções de
pinturas a óleo de Nelson Boeira Fäedrich – exposta no Café do Margs (Praça da
Alfândega, s/nº) até 9 de dezembro, de
terça a domingo, das 10h às 19h. Todas
têm entrada franca.
Sons diversos
No finalzinho do ano, não faltarão
opções para quem curte uma boa música.
Confira: Capital Inicial desembarca em
Porto Alegre, dia 13 de dezembro, com a
turnê do álbum “Eu Nunca Disse Adeus”.
O quarteto apresenta 13 músicas inéditas,
com destaques para a faixa título, para
A Vida é Minha no Teatro do Bourbon
Country.
Caso Renan serviu para
repensar sistema político
Agência Senado
Por Igor Carrasco
A representação política no Brasil está
organizada em sistema bicameral: Senado
e Câmara dos Deputados. Neste sistema,
os senadores representam os estados, enquanto os deputados representam o povo.
Sendo assim, a proporção de deputados varia conforme o perfil demográfico de cada
unidade federativa, aferido por medição
oficial do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) no Censo. Ao menos
na teoria. Há um limite para a variação de
parlamentares por estado. No máximo 70
e, no mínimo, oito deputados por unidade
federativa, o que acaba gerando algumas
disparidades. Por exemplo, atualmente o
estado de Roraima possui um deputado
federal para cada 49 mil habitantes, enquanto o estado de São Paulo elege um a
cada 571 mil, uma diferença gritante.
O sistema bicameral foi espelhado no
modelo norte-americano, de duas câmaras
mutuamente revisoras, no caso do Brasil
com o ligeiro problema já mencionado
– em algumas unidades federativas, a
proporção da Câmara é prejudicada pelos
limites de deputados por estado, o que vai
contra o princípio de “uma pessoa, um
voto”. Nas eleições de 1998, por exemplo,
foram necessários cerca de 333 mil votos
para se eleger um deputado federal no estado de São Paulo, enquanto em Roraima
com apenas 17 mil votos se garantia um gabinete próximo à praça dos Três Poderes,
em Brasília. Este sistema também mostrou
mais um de seus defeitos nas eleições de
2002, quando o Partido de Reedificação da
Ordem Nacional (Prona), atual PR, elegeu
seis deputados (três dos quais nem sequer
eram residentes do estado de São Paulo,
pelo qual foram eleitos) com a ajuda dos
votos de Enéas Carneiro, que cravou mais
de um milhão e meio de votos na ocasião.
hipertexto
Em discussão, a validade do Senado Federal do Brasil, com 183 anos de história
Uma reforma no sistema de representação é necessária para que a proporção
parlamentar torne-se justa e adequada aos
interesses da população – não apenas na
Câmara dos Deputados, onde o número de
parlamentares deveria seguir o tamanho
da população, como também no Senado
Federal, argumenta o senador Paulo
Paim (PT-RS). Paim é contra a extinção
do Senado Federal: “É incorreto que, em
momentos de crise, se proponha a extinção
das instituições. O que devemos fazer é
propor a mudança dos que comandam o
Senado”.
A opinião é compartilhada pelo deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS).
Ele defende que o erro não está no modelo
bicameral, mas sim nas práticas políticas,
que resultam da legislação partidária e
do poder excessivo, além do grau forte de
influência do chefe do Poder Executivo na
esfera política. “Uma das grandes causas
que o Senado deveria liderar, por exemplo,
é uma reforma tributária que respeitasse o
tamanho e a importância de cada unidade
da federação não anda”, diz o peemedebista. Segundo Padilha, o Senado em um
sistema bicameral tem o papel de equilibrar a representação dos estados diante do
contexto da Federação, não sendo correta
nem ideal, portanto, sua extinção.
A proposição de extinção do Senado
não conta com defensores expressivos
no Congresso Nacional, embora algumas
correntes do PT tenham se manifestado a
favor da idéia. A história tem mostrado que
momentos de crise não são os mais adequados para proposição apressadas, sem
considerar devidamente suas conseqüências. O equívoco pode ser perigoso quando
se trata de extinguir uma instituição de 183
anos de idade, como tem o Senado.
Quem volta a Porto Alegre é Marisa
Monte, com a turnê dos CDs que considera como “gêmeos bivitelinos diferentes,
mas complementares”. Infinito Particular
é um disco de canções que mescla de
passado e futuro e Universo ao meu redor
gira em torno do samba. O show intitulado Universo Particular acontece de 7 e 8
dezembro no Teatro do Bourbon Country
e apresenta, além de outros sucessos da
cantora, canções dos Tribalistas.
Maria Rita passa pela Capital com a
turnê de seu terceiro disco: “Samba Meu”.
O álbum reúne 14 faixas de samba clássico
com participações de Milton Nascimento,
Arlindo Cruz e Chico Pinheiro. A cantora
se apresenta no Teatro do Bourbon Country nos dias 14 e 15 de dezembro.
Disparidade injusta
Por Igor Carrasco
Muito se ensina sobre a ditadura militar
para o jovem em formação no Brasil. Desde
o começo do ensino médio, se fala do período
em que o país foi submetido pelos quartéis
militares, até a faculdade. Certamente na
leitura da reportagem o leitor esclarecido
deve ter exclamado: “Ora, mas a disparidade na representação parlamentar surgiu
durante a ditadura militar”. Não estaria
totalmente incorreto – muitos problemas,
em geral, surgiram na época em que o país
estava nas mãos dos militares. Por exemplo, em 1977, por meio da Emenda nº8, o
número máximo de cadeiras por estado foi
estipulado em 55.
Subsequentemente, alguns números
foram sendo modificados, nada muito complicado. Em 1982, foi aumentado o limite de
representantes na Câmara em geral para
479. Em 1985, este número aumentou para
487. Tudo parte da mecânica do regime,
que mantinha uma fachada de democracia
representativa. Os estados do Norte e Nordeste, mais beneficiados pelas disparidades
de representação, eram os que mais elegiam
deputados do partido da situação (Arena).
Ficava assegurada a aprovação dos projetos
dos militares.
Até aí, nenhum problema – praticamente
todo mundo que fez ensino médio sabe disso.
A parte que, seguramente, ninguém aprendeu na escola é que a Constituinte de 1988
não mudou essa situação.
Tendo em mente que a constituição que
hoje rege o Brasil é, ainda, a mesma (fará
20 anos em 2008) parece injusto imputar
toda a culpa da questão ao regime militar.
O problema foi criado por eles, porém não
é justo isentar a Constituinte, que negligenciou o povo brasileiro ao nada fazer para
modificar o quadro. Em 1990, os estados
prejudicados, com o destaque o Rio Grande
do Sul, lideraram um movimento que denunciava o problema criado pelos militares
e perpetuado pela constituinte. Desde então,
passaram-se 17 anos e absolutamente nada
se fez quanto ao assunto. Por quê? A análise
dos números fica por conta do leitor interessado – mas uma prévia cai bem: o presidente
Lula é muito mais forte nas regiões Norte e
Nordeste do país que no Sul.
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ensino 5
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
Casca de arroz alimenta a arte
Uma professora e seis alunos produzem arte e conscientização ambiental em Cachoeirinha
Por Maurício Círio
Para que serve palha de arroz?
Até poucos meses atrás, era só
para adubo. Agora, alunos do
Colégio Agrícola Estadual Daniel
de Oliveira Paiva (Cadop), de
Cachoeirinha, mostram muitas
outras utilidades para a palha,
entre elas, fazer papel. Por isso,
ExpalhaArroz é o nome do projeto, um trocadilho que quer
chamar a atenção, não para o erro
de português no verbo espalhar,
mas para o fato de que aquilo que
era palha, agora é bloco de papel,
luminária e outros utensílios.
Quem entra para o projeto
ExpalhaArroz está, realmente,
se comprometendo e assumindo
responsabilidades. Uma boa
disponibilidade de horários é
difícil para os alunos dos ensinos
médio e técnico que estudam dois
turnos, tendo pouco tempo para
atividades extras. Mesmo assim,
seis estudantes estão mostrando
que o conhecimento pode ser
alcançado também fora da sala e
aula, no projeto que integra arte
com educação ambiental.
Com o indicador apontado
para a foto que mostra a palha
sendo coletada, o aluno Jonas
William Cezar instiga: “Olha
como era antes, agora, veja no
que se transformou”, já com o
dedo voltado para as luminárias e
blocos feitos com o papel da palha
de arroz. E acrescenta: “Viu? Nem
tudo é lixo”. Quem visitou a 1ª
Feira de Ciências e Tecnologia de
Educação Profissional (Fecitep),
que ocorreu no mês de outubro,
no Colégio Parobé, em Porto
Alegre, pôde parar no estande
do ExpalhaArroz e ouvir este e
outros depoimentos de alunos
orgulhosos expondo o trabalho.
No pavilhão 10 do Parobé,
representantes da Cadop participavam da feira que reuniu 85
projetos de ciências, feitos por
estudantes de cursos técnicos de
instituições públicas e privadas
de todo o Estado. “Nosso objetivo
é resgatar a história da produção
do papel artesanal no Rio Grande
do Sul. Além disso, árvores não
precisam ser derrubadas quando
podemos usar a palha do arroz
para a produção de papel, que
pode, então, ser transformado
em arte”, explica Nilci Berwanger Deon, professora de artes do
colégio de Cachoeirinha. Ela é a
idealizadora e coordenadora deste projeto, feito em parceria com a
Papeloteca Otavio Roth e que vem
destacando o colégio agrícola em
diversos eventos regionais.
O ExpalhaArroz é conduzido
pela paixão dos integrantes do
projeto que realizam trabalho
pioneiro como o de Maria Leda
de Macedo no “Mão na Massa”,
projeto de 1980, em Cachoeira
do Sul.
Fotos Vinícius Roratto Carvalho/ Hiper
ExpalhaArroz, promovido por escola agrícola de Cachoeirinha, mostra alternativa de utilização da casca de arroz
No estande da feira, com cerca
de um metro e meio de largura,
foram colocados potinhos com a
palha do arroz em todos seus estados de fabricação artesanal, até
chegar ao papel. No chão, estavam
expostos alguns dos trabalhos
derivados do esforço de Jonas e
seus colegas. Luminárias e blocos
ilustravam o potencial da folha,
que é mais forte e resistente do
que uma de ofício normal. Além
da professora, os alunos também
davam uma aula sobre o trabalho
realizado. O projeto começou em
março deste ano e pretende se
estender em exposições futuras,
com artistas conhecidos, convidados para confeccionar obras
a partir do papel dos pupilos da
professora Nilci.
Por enquanto, eles não sabem
ao certo qual a viabilidade econômica do projeto. Os custos de
produção não são elevados, mas o
projeto fica condicionado ao fornecimento da palha, pois o arroz
é colhido uma vez ao ano. Isso
dificultaria a produção do papel
em escala para fins comerciais.
Pesquisa universitária
destaca meio ambiente
8° Salão de Iniciação Científica, realizado na PUCRS, destacou “Meio Ambiente e Sustentabilidade”
Um longo tapete vermelho e
pôsteres indicando os trabalhos
de graduação e pós-graduação
feitos por alunos da PUCRS e
de outras universidades do país.
Esse era o impacto inicial provocado pelo 8º Salão de Iniciação
Científica, realizado entre 23 a
26 de outubro, no prédio 41 da
Universidade.
O edição deste ano tinha o
tema “Meio Ambiente e Sustentabilidade”. Para abrir a mostra
competitiva, os professores João
Marcelo Medina Ketzer, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, e Jorge Alberto Villwock,
diretor do Instituto de Meio Ambiente da PUCRS, ministraram
palestra falando de “pesquisa e
sustentabilidade”.
Durante o evento, cada grupo
fazia uma apresentação oral do
projeto e era avaliado por dois
ou três professores, que também
examinavam os banners que
resumiam as idéias produzidas
para a exposição. Almir Schaffer,
professor de Engenharia Civil
da PUCRS, que trazia a grade de
avaliação e uma caneta nas mãos,
elogiou a qualidade dos projetos.
“Não são trabalhos de mestrado,
e, mesmo assim, estão num nível
muito bom”, avaliou.
As pesquisa que atingiram a
maior pontuação, em cada categoria do Salão, receberam um vale
de R$ 500 da Livraria Cultura
(Porto Alegre) para aquisição de
livros e qualificação da pesquisa
do grupo. Todas as produções que
obtiverem nota máxima, na média
dos avaliadores, não saíram perdendo, e ganharam um Certificado de Destaque do 8° SIC.
6 solidariedade
Porto Alegre, novembro- dezembro 2007
Anjos com asas de papel
Projeto que une literatura e medicina no tratamento de pacientes mirins
do Hospital São Lucas da PUCRS conquista Fato Literário na Feira do Livro
Fernanda Fell/ Hiper
Por Lidiana de Moraes
“Era uma vez uma ilha onde
moravam todos os sentimentos”.
O texto fixado entre desenhos nas
paredes da sala de recreação da ala
pediátrica do Hospital São Lucas,
da PUCRS, captura o espírito do
ambiente. O quinto andar do prédio abriga crianças que deveriam
estar do lado de fora, correndo,
brincando, indo à escola, mas, devido a problemas de saúde, estão
reclusas naquele espaço, em suas
ilhas particulares.
Ao tradicional tratamento
da medicina pediátrica recebido
pelos pequenos pacientes, alunos das Faculdades de Letras da
PUCRS agregaram doses de literatura infantil, criando a atividade
Literatura Infantil e Medicina Pediátrica, distingüida com o prêmio
Fato Literário 2007 na categoria
projeto ao final da 53ª Feira do
Livro de Porto Alegre.
O acesso aos quartos do quinto andar do Hospital São Lucas,
identificados com três números e
uma letra, não é restrito a familiares, médicos e ao pessoal da enfermagem. Pelo menos três vezes por
semana, livros e, não só remédios,
chegam aos quartos. As histórias
infantis contadas pelos alunos da
Faculdade de Letras da PUCRS se
abrem aos pacientes mirins como
janelas para o mundo exterior.
A estudante Alessandra Maia
é uma das contadoras de histórias às crianças internas. Com
sentimento de solidariedade, ela
passou a fazer parte do trabalho
que mistura literatura e medicina
Alunas da Faculdade de Letras da PUCRS lêem, há dez anos, histórias infantis para crianças enfermas no HSL
logo que entrou na faculdade, em
março de 2006. As atividades desenvolvidas com crianças de seis
meses a 12 anos são realizadas
em etapas que vão do estudo de
textos teóricos, para qualificar
o estudante, até a escolha das
histórias que não devem ser pedagógicas em excesso, nem dotadas
de pouca literatura. Também são
organizados cursos que ensinam
a contar histórias para as crianças
de modo que elas sejam fisgadas
pela literatura.
No HSL, o envolvimento com
os pacientes começa desde a chegada das voluntárias. Pacientes
já acostumados com essas visitas
não escondem a ansiedade de
ouvir a história preparada para a
ocasião. “No hospital, passamos
nos quartos para chamar as crianças que podem sair dos leitos para
se dirigir à sala de recreação, e lá
realizamos a primeira sessão do
dia”, conta Alessandra.
A sala de recreação é o ambiente mais infantil que os jovens pacientes podem chegar
dentro da realidade hospitalar.
A disposição dos brinquedos, das
mesas e cadeiras adequadas ao
tamanho de seus usuários faz o
ambiente semelhante ao de uma
creche. Os desenhos coloridos e
os nomes que ocupam as folhas
de papel que decoram as paredes
recordam outras crianças que
passaram pelas mesas.
Mesmo com tantas atrações,
nada concorre com as contadoras
de histórias, nem o videogame.
Elas chegam de mansinho à sala
e se juntam ao grupo curioso com
as aventuras presentes nas páginas dos livros. Depois da história
contada, os ouvintes soltam sua
criatividade fazendo fantoches,
máscaras, dobraduras, colagens
e a criação de novas histórias.
Neste instante, os novos artistas
hipertexto
se integram de vez. Como alguns
pacientes ficam internados mais
tempo, eles se tornam amigos.
Até conhecem a rotina do outro,
sabendo se o companheiro de
quarto costuma acordar mais
cedo ou mais tarde. A intimidade
facilita brincadeiras e o surgimento de apelidos tipicamente
infantis como Sr. Preguiça, para
quem demora acordar. Enquanto
uns conversam, outros correm
para recontar a história aos pais,
mães ou à tia Ju, espécie de anjo
da guarda que zela por todos os
hóspedes daquele andar.
Pacientes sem condições de
deixar os quartos não são privados da fantasia dos livros.
“Quando crianças estão ligadas
a aparelhos e não podem ir à recreação, nós passamos nos leitos
e repetimos o mesmo processo”,
explica Alessandra. O menino
J.A.S. recebeu a visita particular das contadoras. Perguntado
sobre a fantasia que usaria em
uma festa de Halloween, respondeu prontamente: “De vampiro”.
Mesmo sem a capa ou os dentes
pontiagudos, o garoto de 12 anos
deixou-se levar pela narrativa
sobre o aniversário do Conde
Drácula. De acordo com sua mãe,
ele sempre gostou de ler e ouvir
histórias. A aproximação com
a literatura é outro objetivo do
projeto que busca formar novos
leitores e despertar o gosto pela
leitura desde cedo.
No quarto ao lado, E.M.S, de
seis anos, também ficou encantada com a festa do mais famoso
morador da Transilvânia. Depois
de ouvir o conto, a menina abraçada a sua boneca Gabriela mantinha os olhos fixos na estudante
que segurava o livro com figuras
feitas com dobradura que aumentavam de tamanho. Alguma dúvida se ela havia gostado do que
ouvira? “Eu vou contar a história
para a Gabriela depois, porque ela
chora quando eu penteio os seus
cabelos”, explicou.
Prêmio destinado à biblioteca
Dez anos de aventuras no Hospital São Lucas
A pró-reitora de Graduação
da PUCRS, professora Solange
Medina Ketzer, distribuiu agradecimento à comunidade universitária: “Em nome de toda a equipe
que participa do projeto Literatura Infantil e Medicina Pediátrica:
Uma Aproximação de Integração
Humana, da Faculdade de Letras, envolvendo a Faculdade de
Medicina, a Biblioteca Central e
o Hospital São Lucas que, há dez
anos ininterruptos, narra histórias para crianças enfermas da
Pediatria pela internação SUS,
agradeço a colaboração de todos
pelo incentivo dado por ocasião
do Fato Literário, patrocinado
pelo Grupo RBS, Banrisul e Governo do Estado do RS.
O prêmio Fato Literário de
2007 para o projeto Literatura
Infantil e Medicina Pediátrica:
Uma Aproximação de Integração
Humana reforçou o sucesso de
uma idéia iniciada há 10 anos. A
coordenadora do trabalho e próreitora de Graduação, Solange
Medina Ketzer, lembra que o
projeto surgiu com incentivo do
então coordenador da Pastoral da
PUCRS, irmão Avelino Madalozzo. Solange, que era vice-diretora
da Faculdade de Letras, diz que a
idéia nasceu numa conversa com
irmão Avelino e do contato com
o coordenador do Departamento
de Pediatria da Faculdade de
Medicina na época, Délio José Kipper. “Ele apoiou logo que ouviu
A comunidade da PUCRS demonstrou extraordinário apoio
na votação popular, expressão
calorosa que comoveu todos
aqueles envolvidos diretamente
com o trabalho.
A satisfação foi redobrada,
quando a conquista foi do prêmio
máximo na categoria, decidida
por 90 componentes do júri especializado. O valor será totalmente
destinado ao incremento do novo
espaço na pediatria do HSL: uma
Biblioteca Infanto-Juvenil.
A vitória foi de todos, mas, de
modo especial, das crianças e dos
familiares que as acompanham
no período de internação e que
lutam, a cada dia, pela manutenção do dom da vida. Grata!”
a proposta de levar ao hospital as
alunas da disciplina de Literatura
Infantil, para contar histórias
para os pequenos enfermos”.
Com uma década de dedicação não é possível saber quantas
crianças passaram pela atividade.
Contabilizar números não faz parte da iniciativa, explicou a pró-reitora. “Não temos a preocupação
de quantificar, mas de qualificar
atendimentos. O trabalho é tão
dinâmico, tanto na sala de recreação, quanto nos leitos, que não
caberia incluir controle do número de pacientes beneficiados.
Queremos que as crianças fiquem
felizes com as histórias que ouvem
e que as mesmas ajudem a superar
a dor e o sofrimento causados pela
enfermidade e pela reclusão”.
Além do troféu, o projeto recebeu R$ 20 mil dos promotores
do Fato Literário, o Grupo RBS.
O futuro do Literatura Infantil e
Medicina Pediátrica é promissor.
“Queremos continuar atuando
no Hospital São Lucas e apoiar a
criação de uma biblioteca infanto-juvenil, única no país dentro
de um hospital, com ações cada
vez mais qualificadas para formar leitores”, anunciou Solange.
Enquanto isso, mais histórias
são contadas, gerando novos
textos e desenhos que enfeitam
o quinto andar, como aquele em
está escrito “Existem anjos entre
nós”. Anjos que contam histórias
e anjos que as ouvem.
hipertexto
comunicação 7
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
 Mídia mostra simulacros e
dissimulações contemporâneas
Fotos Camila Domingues/ Hiper
Sociedade espetacular
hipervaloriza imagem
Por Thais Silveira
Comunicação soberana, um dos assuntos do conferencista Philippe Joron
Os palestrantes
Patrick Tacussel: “Guy
Debord e Jean Baudrillard:
espetáculo e simulacro, os
estilos da radicalidade”
Francisco Rüdiger:
“Guy Debord e a teoria
crítica: a atualidade de A
Sociedade do Espetáculo”
Ivana Bentes: Tratou
sobre as imagens de exceção e a violência
Philippe Joron: “George Bataille e a comunicação soberana”
Michel Moatti: “O excesso de comunicação mata
a informação”
Juremir Machado da
Silva: “Das (dis)simulações
na sociedade hiper-espetacular”
Lucien Sfez: “A simulação do corpo midiático”
Robert Pritchard:
“Confronting Media Nihilism: How transparency
builds meaning during crises”
Rüdiger, Tacussel e Juremir no Seminário Internacional de Comunicação
A sociedade hiper-espetacular,
a homenagem a Jean Baudrillard
e Guy Debord e as pesquisas em
comunicação debatidas nos grupos de trabalho foram as três vertentes principais do 9º Seminário
Internacional da Comunicação.
Promovido pelo Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da Famecos, o seminário foi
realizado dias 7 e 8 de novembro,
no Campus Central da PUCRS.
Entre os palestrantes estiveram os
franceses Philippe Joron, Patrick
Tacussel, Lucien Sfez e Michel
Moatti, e os brasileiros Francisco Rüdiger, Juremir Machado e
Ivana Bentes.
Simulacros e (dis)simulações
na sociedade hiper-espetacular
era o grande tema do seminário.
No primeiro dia, houve um painel
sobre as idéias dos dois pensadores homenageados: Guy Debord,
que impactou o público com a
obra “A Sociedade do Espetáculo”, e Jean Baudrillard, filósofo
que desde 1968 intriga o campo
da comunicação com o livro “ O
sistema dos objetos”.
O convidado francês Patrick
Tacussel destacou que os autores
ajudaram a pensar o mundo atual,
mas com seus próprios equívocos.
“Há dialética na abordagem, um
pouco de realidade”, disse. Para
Tacussel, os dois produziram textos
sobre a sociedade contemporânea,
mas com algumas visões diferentes: “Debord viu como um imenso
acúmulo o que Jean Baudrillard
chamou de mistura dos signos”.
A obra de Guy Debord foi
questionada por Francisco Rüdiger. Para ele, a sociedade do espetáculo perdeu sua força quando
passou a ser comentada. “Debord
perdeu de vista a crítica em razão
de sua teoria”, disse. Segundo
Rüdiger, Guy Debord foi o ícone, o
exemplo e a imagem da sociedade
que ajudou a revelar há 40 anos.
Um panorama crítico do universo francês do jornalismo atual
foi traçado por Michel Moatti,
que apontou alguns episódios
recentes que minaram a credibilidade das mídias na França
nos últimos anos. Além disso,
ressaltou o grande crescimento
das mídias eletrônicas, os blogs
por exemplo, como demonstrações de amadorismo midiático
incapaz de cumprir o be-a-bá do
jornalismo, esquecendo de apurar
as informações. Alertou também
para o perigo que algumas mídias
correm de tornarem-se aliadas da
publicidade e dos homens de negócio e da política, servindo para
a manipulação e a propaganda. “A
tomada do poder pelos comunicadores sobre os repórteres se reforçou nos últimos anos, com perdas
para o jornalismo”, frisou.
Como se configura hoje a
sociedade do espetáculo, antevista por Debord, foi o assunto
de Juremir Machado. Segundo
ele, o espetáculo venceu a mídia brasileira, e exemplificou:
“A apresentadora Angélica diz
que o bebê (seu segundo filho
recém-nascido) mama e dorme
bem e isso é notícia na sociedade
do espetáculo”. Depois definiu:
“O espetáculo é a dominação da
mídia pelos seus patrocinadores,
é a justaposição de interesses”.
Citando as quatro teses de Guy
Debord, explicou que o espetáculo
não é uma imagem, é uma relação
social de pessoas, mediada pela
imagem. “Nossa sociedade é relacional mediada por imagens, onde
há uma hipervalorização das imagens midiáticas. A publicidade,
por exemplo, fala das coisas sem
falar nelas”, isto é, vende o objeto
sem se referir ao mesmo.
8 mundo
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
Fotos André dos Santos/ Hiper
Crônica da China
Mulheres usam sombrinha para manter a pele branca, ideal de beleza oriental
hipertexto
Roupas e cobertores secam nas ruas de bairro antigo pequinês. E a moradora usa máscara de beleza
Conheça a periferia de Pequim
Nos subúrbios da capital chinesa, a pressa nas transformações deixa à mostra esgoto e dejetos
Por Rafael Lopes Codonho
As pessoas passam, estranham
personagens de cabelos louros,
narizes compridos, barbas, o
sorriso fácil e ingênuo de quem
passeia pelo desconhecido. Uns
apontam para a novidade, outros
sorriem, muitos ignoram. Seriam
eles jornalistas? Um casal de
meia-idade se aproxima e reclama
de tanta sujeira. Depois de alguns
minutos, descobre-se que era uma
denúncia discreta, mas ainda uma
denúncia.
Mais uma vez, quem não é da
terra passa o sufoco de não entender e não ser compreendido, sensação permanente e inaceitável. É
como ir ao McDonald’s e apontar
na foto um milkshake sem falar
uma palavra. “É pra levar ou come
aqui mesmo?”. “Sim”. Um riso
debochado surge no outro lado
do balcão. O milkshake é marrom, mas dizem ser de morango.
A fragilidade de estrangeiro não
O cenário é Pequim e o bairro
majoritariamente residencial,
com moradias antigas, restaurantes pequenos e armazéns.
Polarizado pelas faculdades Communication University of China
(CUC) e Beijing International
Studies University, a poucas
quadras de suas sedes, o bairro
tem uma estradinha de terra
por onde cruzam carros antigos
e motocicletas carregando mais
peso do que o suportável. À beira
da estrada, por detrás de grades,
um cemitério protege suas lápides, cobertas por galhos, folhas e
pássaros negros.
Atravessando a highway, uma
vala de esgoto a céu aberto brinda
os moradores. Uma senhora se
agacha com uma vara na mão, na
tentativa – logo bem-sucedida
– de pescar um balde vermelho,
em meio a caixas de madeira,
garrafas, sacolas e outros detritos.
Se fosse uma região fronteiriça, a
imaginação poderia divagar mais.
No entanto, é um local comum,
desprovido de tudo. É uma área
desvalorizada como em qualquer
grande cidade, onde a vizinhança
é feita de não poucas raparigas
da noite. Ah, e eles chamam estes
lugares de casas de massagem!
Sobre o esgoto, uma ponte
viabiliza a passagem de motos,
bicicletas, ônibus, caminhões,
derivados e cães. Em um canto,
pouco escondido, um homem
levanta a camiseta regata branca,
coloca a barriga para fora e faz o
que universalmente se imagina
em frente a uma árvore selecionada. Ao lado dele, motos, carros
e engradados de cerveja empilhados. Como qualquer paisagem
chinesa, há uma construção sendo
posta de pé.
Depósito de lixo a céu aberto
Casas tradicionais são destruídas para dar lugar a conjuntos residenciais
permite protestar, e as poucas
palavras aprendidas são usadas
para explicar o incidente. Tudo
leva muito tempo e o desgaste faz
com que se aceite que chocolate é
a mesma coisa que morango.
São avistados alguns homens.
O primeiro está de bicicleta e leva
atrás uma carga, outros dois andam em passo lento e, nos lábios,
um sorriso maroto. Um deles
veste pijama branco de mangas
e calça compridas e tênis preto.
“Empijamar-se” é quase um lifestyle: alguns casais vão às compras e passeiam à noite vestidos
com o traje. Com a vestimenta,
alguns ostentam uma luxúria não
percebida por quem é de fora. “É
tudo muito tradicional”. A frase,
acompanhada por uma expressão
de estranhamento e desdém, persegue os indefesos. Chamar algo
de tradicional legitima, atribui
uma aura, e o casulo é construído
para ser hermético. O desavisado
perde a pose e engole.
O “empijamado” e seus dois
comparsas passam, sem grandes
emoções. O anticlímax vai e volta.
O aventureiro procura uma trilha
sonora: a Ópera de Pequim, apesar
de tradicional, é um pouco noisy
para o momento. O barulho indica
que algo desabou na lama. Se isso
acontecesse na zona norte carioca,
as pessoas já estariam colocando
relógios, vales-refeição e a foto
do santinho da sogra no chão. Ao
olhar para o depósito de lixo, se
vê uma bicicleta que foi parar no
esgoto, intencionalmente. Não, a
mãe de ninguém foi ofendida, o
condutor não esbravejou. Risos
aqui e acolá, os três foram resgatar
o que caiu naquela água nada cristalina. A bicicleta voltou a circular
como meio de transporte. Mas o
que perturba é aquele pijama nas
ruas, imbatível e onipotente.
Ao fundo, prédio da CUC: constraste entre o moderno e a vida precária
hipertexto
comunicação 9
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
A nova TV Brasil, estatal ou pública?
Conselho indicado pelo presidente e não pela sociedade civil organizada é a grande discussão
Por Natasha Centenaro
Promover a identidade e a
cultura nacional como alternativa
à restritiva e segmentada programação da televisão comercial é a
proposta da TV Brasil, que deve
começar a funcionar junto com as
primeiras transmissões do sinal
digital aberto. Com no mínimo
quatro horas de programação
local e outras quatro de produção
independente, a nova TV pretende ser a porta-voz da diversidade
e promover a cidadania no país.
A TV Brasil foi debatida em
audiência pública promovida pela
Comissão de Serviços Públicos
da Assembléia Legislativa do
Rio Grande do Sul. Na ocasião,
o modelo e os desafios da implantação desse formato foram
apresentados pelo ministro da
Secretaria de Comunicação Social do Governo Lula, jornalista
Franklin Martins. A reunião contou também com a participação
do vice-presidente da Federação
Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
e coordenador-geral do Fórum
Nacional pela Democratização
da Comunicação, professor Celso
Augusto Schröder, e da Secretária
da Cultura do Estado, jornalista
Mônica Leal.
Entidades
civis reclamam
O decreto que regulamenta
a nova rede de televisão pública
no país já foi publicado no Diário
Oficial da União. A proposta cria
a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), com atuação em
todo território nacional. Serão
destinados, inicialmente, R$ 20
milhões, através da Medida Provisória nº 398.
“A TV é a grande praça onde
o país se encontra e por isso ela
deve ser a porta de entrada para
as diferentes culturas, local e na-
Schröder, a posição da Fenaj
cional, e deve representar todos
os sotaques do Brasil”, afirmou o
ministro ao destacar o relevante
papel da televisão na sociedade
brasileira. O ex-comentarista político da Rede Globo argumentou
que o modelo predominante no
país é o da televisão privada, em
detrimento dos canais públicos
ou estatais. “As programações
dessas redes não oportunizam
um espaço para a divulgação da
cultura nacional e esquecem que
a obrigação primordial de um
canal de comunicação é com o público, para, assim, ser um agente
de transformação comprometido
“Deve ser um agente
de transformação”
com o social. A televisão pública
surgiu para preencher esse espaço fundamental”, assegura.
Setores da sociedade que discutem o projeto vêem pontos que
precisam de análise e um maior
esclarecimento do Governo, pois
o diálogo com as entidades civis
e os setores de comunicação teria
se mostrado ineficiente e, em
alguns aspectos, contraditório.
Desde o início está previsto um
Conselho Gestor que, para os
Movimentos Populares Sociais
e os profissionais envolvidos,
necessita da representação direta da sociedade. Do outro lado,
o Governo responde que essas
instituições não precisam estar
ligadas incisivamente ao Conselho, pois não seria a vinculação
com as entidades que confere o
caráter público à televisão. A crítica está na possível composição
desse Conselho por “notáveis”
indicados pelo Presidente. O
ministro reagiu com veemência à
ponderação. Para ele, não existe
ninguém mais autorizado que
Lula para nomear, lembrando
sua eleição para a Presidência.
“Ele é o representante da sociedade no comando do país e tem
as ferramentas para escolher”,
asseverou. Martins não aceita
a denominação de Conselho de
Notáveis. “O órgão não deve ser
representativo de corporações ou
qualquer entidade”, completa.
Para o jornalista Celso Schröder, o Conselho é só uma entre as
demais questões que precisam ser
levadas em conta para a efetivação de uma televisão realmente
com viés público. Ele enfatizou
que a rede pública tem que ter garantias com relação ao conteúdo,
à horizontalidade que possibilita
uma democracia de verdade, autonomia e racionalidade econômica. Com isso, o coordenador do
Fórum Nacional para Democratização da Comunicação defende
um modelo que esteja alicerçado
a um corpo técnico profissional
e especializado para assegurar,
principalmente, a qualidade de
conteúdo e a independência de
qualquer governo.
Schröder citou o documento
Propostas Preliminares para um
Modelo de Radiodifusão Pública
Aplicável aos Sistemas Estatal
e Público de Comunicação no
Brasil, enviado à Presidência e
apresentado no I Fórum Nacional
de TVs Públicas como uma alternativa de gestão, estruturação e
aplicabilidade para a TV proposta
pela Secretaria de Comunicação e
sancionada por Lula.
A idéia se mostrou um passo
importante para romper com os
monopólios das grandes empresas de comunicação no Brasil.
No entanto, ainda restam divergências para a solidificação de
um canal que nasça e consiga se
manter público, desde a sua administração até a programação.
“O espaço da diversidade precisa
contemplar um requisito essencial: mostrar o Brasil para o Brasileiro, informando os cidadãos,
única causa pela qual a imprensa
sobrevive”, ensina Schröder.
Fotos Elson Sempé Pedroso/Hiper
Franklin vê legitimidade no presidente para a escolha do Conselho da TV
10 esporte
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
hipertexto
Pedro Revillion/Hiper
Durante mais de 30 dias,
Porto Alegre foi a capital da
adrenalina. A segunda edição dos Jogos Radicais , que
ocorreu de 27 de outubro a
3 de dezembro, possibilitou
aos atletas e admiradores
um convívio com diferentes
modalidades.
No primeiro final de se-
Porto
Alegre
radical
Adrenalina pura durante os
Jogos Radicais no Marinha
e na praia de Ipanema
mana, o Parque Marinha do
Brasil se tornou reduto dos
esportistas, recebendo mais
de cinco mil pessoas. Para
animar os presentes, show de
hardcore e a presença de DJs
conhecidos no cenário eletrônico. Entre competições de
skate e demonstrações de BMX
e mountain board, não faltou
ação, espírito de aventura e
capacidade de superação. Os
atletas, vindos de todo o Brasil,
mostraram um amplo repertório de manobras e aéreos na
pista de skate do parque.
No segundo final de semana, dias 10 e 11 de novembro,
foi a vez do kitesurf. Depois de
um sábado de chuva, os participantes foram presenteados
com um domingo de muito
sol e vento, fazendo com que
os atletas tivessem excelentes
condições para dar um show
para as pessoas que passeavam
na praia de Ipanema. Apesar do
público não estar presente da
mesma forma como no Parque
Marinha do Brasil, centenas
de pessoas puderam conferir
dezenas de pipas colorindo os
céus de Porto Alegre.
Os Jogos Radicais ainda englobam esportes como
wakeboard (foto), montain
bike e skate down hill.
Por Helena Eilers e Jamille Callai
Camila Domingues/Hiper
Manobras do skate na pista do Parque Marinha, em Porto Alegre
Skate surf style: longe do
mar, mas perto das ondas
No Parque Marinha do Brasil,
em Porto Alegre, o skate tem o lugar ideal para a prática de sua primordial função: “surfe no asfalto”.
O esporte foi criado nos anos 60
por californianos cansados de
não ter o que fazer em dias sem
ondas. Já os porto-alegrenses se
especializaram na categoria skate
surf style, devido à total impossibilidade de pegar ondas.
Geoge Barwinkel, o Dodi,
presidente do Marinha Skate Club
(entidade reconhecida pela Federação Gaúcha de Skate) explica
que a modalidade consiste em
fazer manobras do surfe no skate.
“Inclusive o formato de competição é o mesmo: uma bateria tem
três voltas em que são somadas
apenas as duas melhores”, disse.
Neste ano, o evento contou com
a presença do locutor Marcel
de Rose, conhecido por narrar
campeonatos de surfe, o que o
fez algumas vezes se confundir
na narração. “A moral é ficar o
mais parecido possível com o
surfe, mas sem forçar a barra”,
pondera Dodi.
Marcelo Lima Pingret, o Shaolin, 24 anos, anda de skate desde
os 11. Começou com o street, que
é a modalidade mais praticada
no Brasil, onde são usados obstáculos encontrados na rua, como
corrimãos e escadarias. Alguns
anos depois, sua paixão por pegar ondas e a energia do parque
fizeram com que ele se identificasse com o surf style. Apesar
do trabalho, ele reserva tempo
durante a semana para praticar
e já acumula diversas vitórias
em campeonatos. Para Shaolin,
o esporte serve como um treino
para quem só pode ir à praia nos
finais de semana. “O Marinha é o
refúgio nesta selva de pedras em
que vivemos. O parque passa uma
energia, uma espiritualidade que
a galera consegue se imaginar até
surfando no concreto”, assegura
o jovem.
Acidentes
Além de ser um esporte de
velocidade, técnica e adrenalina,
o skate é praticado em superfície
bem dura, onde os riscos são
considerados grandes. “Como
tudo na vida tem um lado bom
e outro ruim, comigo mesmo já
aconteceu diversos tombos, arranhões, esfolados. Abri o supercílio
quando bati de rosto em uma das
paredes no último campeonato. O
capacete me salvou de ter aberto
a cabeça, mas não tive a mesma
sorte com as costas, que foram
comidas pelos cascalhos da pista.
Já teve gente que morreu no Marinha. Por isso, aquele ditado: use
equipamentos e evite ferimentos”,
aconselha Shaolin.
hipertexto
esporte 11
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
Camila Domingues/ Hiper
Snake, adrenalina e velocidade
O snake consiste em percorrer
toda a pista, indo de borda em
borda, fazendo o movimento de
uma cobra. Nos Jogos Radicais,
ele foi divido na categoria com e
sem cone, chamadas de slalom e
speed, e contou com a presença de
homens e mulheres. Nas duas, o
ganhador é o que fizer o percurso
em menos tempo.
A assistente social Vanessa
Sigal começou a andar de skate
street com o incentivo de um
ex-namorado. “Ele me ensinou
os primeiros passos. Depois, comecei a andar de skate semi long
(com a tábua intermediária entre
a pequena, usada para o street, e
a grande, chamada de longboard)
pelas avenidas de Porto Alegre.
Quando passou a ficar sem graça,
me pilhei para andar na pista do
Marinha, pois estava faltando
uma adrenalina a mais”. Há dois
anos ela pratica a modalidade
snake e ficou em segundo lugar
na categoria sem cones nos Jogos
Radicais deste ano.
No RS, o skate feminino vem
ganhando espaço, mais adeptas
e, assim, aumenta o nível dos
campeonatos. Vanessa afirma que
muitas pessoas acham que skate e
mulher não combinam. “É como
se andando de skate perdêssemos
a feminilidade. Eu me cuido, me
produzo como qualquer mulher.
Nós, meninas skatistas, somos
corajosas e ousadas, o que considero um privilégio. O skate me
prepara para enfrentar os desafios da vida e ter persistência e
dedicação, fundamentais para
vida profissional e afetiva. Caio,
levanto e sigo em frente, pois é pra
frente que se anda”, ensina.
Vinícius Roratto Carvalho/Hiper
Na Copa do Brasil, as garotas do Inter eliminaram o Juventude mas caíram no mata-mata seguinte contra o Paraná
Futebol feminino
Agora é que são elas
Por Thiago Oliveira
Kitesurf: Um esporte com o vento a favor
Deslizar e voar sobre as águas
Esporte relativamente recente
e que não para de crescer, o kitesurf mistura surfe, windsurfe e
wakeboard. Ele se baseia em deslizar e voar sobre a água, puxado
por uma pipa. Pode ser praticado
tanto no mar como em lagos ou
represas. O mais importante é ter
vento constante. Em Porto Alegre,
serve como mais uma opção para
quem gosta de esportes aquáticos
e quer uma atividade mais radical
do que a clássica natação.
Radicalidade não falta ao
esporte. Pode se tornar perigoso
quando praticado sem auxílio de
um instrutor. Elías Seadi, instrutor da escola Raia 1, tem 20 anos e
começou a praticar windsurfe com
11. No ano passado, foi campeão
brasileiro e vice-sul-americano.
Há quatro anos praticando kite,
já passou por alguns momentos
de sufoco. Por ser um esporte que
depende das condições atmosféricas, às vezes, a instabilidade
do vento deixa os praticantes na
mão. Há alguns dias, ele treinava
no Guaíba quando o vento parou.
A pipa caiu e não decolou mais.
O jeito foi subir na pipa e remar
em torno de 40 minutos para
alcançar terra firme. Além disso,
Seadi conta que o perigo é maior
nas decolagens e nos pousos dos
saltos. “Acontece às vezes, no
instante da decolagem, o vento
aumentar e o cara sair na areia
e até bater em um carro ou um
poste”, alerta.
Por ter ventos constantes, o
Rio Grande do Sul é um ótimo
local para a prática do kitesurf,
que ganha cada vez mais adeptos. Entretanto, devido ao custo
dos equipamentos e das aulas, o
esporte acabou se restringindo a
classes mais altas da população.
Uma pipa nova custa entre US$
600 e US$ 1650, e as aulas, em
torno de R$ 150 a hora. Seadi
pode se considerar um atleta de
sorte porque vive do esporte que
gosta. Como instrutor, dá aulas
enquanto a temperatura ainda
está amena. No inverno, viaja
para treinar em outros estados
mais quentes e, recentemente,
voltou do Havaí. Ele ressalta que
o trabalho não é moleza: “Tomo
torrão, fico com frio, bolha nas
mãos, estou com corte nos dois
pés. Mas, tirando isso, o resto é
detalhe”.
Autor do livro “O Dia Em Que
As Mulheres Viraram A Cabeça
Dos Homens”, baseado na saga
da Seleção Brasileira feminina de
futebol que ganhou a medalha de
prata nas Olimpíadas de Atenas,
em 2004, Renê Simões, técnico de
então da equipe, considera que a
jogadora Marta é um fenômeno
do futebol. “A Marta não está para
o Ronaldinho Gaúcho. A Marta
está para o futebol feminino como
Pelé esteve para o masculino”,
definiu.
O torcedor brasileiro descobriu o futebol feminino durante
os Jogos Pan-Americanos do Rio
de Janeiro, neste ano. Embora a
modalidade já existisse há mais
tempo, a Seleção Brasileira fez
uma campanha incontestável até
a conquista da medalha de ouro,
em cima dos Estados Unidos, e
despertou um interesse forte da
população.
Na competição, foram seis
vitórias, 33 gols marcados e nenhum sofrido. E Marta, a melhor
jogadora do mundo, brilhou. Foi
a artilheira do Pan com 12 gols
e eleita a melhor atleta da com-
petição.
Outro feito foi o segundo lugar inédito na Copa do Mundo,
na China. O Brasil foi derrotado
pela Alemanha na final, por 2x0,
quando Marta perdeu inclusive
um pênalti.
A Fifa começou o evento de
premiação da melhor jogadora do
mundo a partir de 2001. O Brasil
surgiu entre as três finalistas em
2004, quando Marta ficou com o
terceiro lugar. No ano seguinte,
ela conquistou uma segunda colocação, e, na temporada passada,
foi eleita a craque do planeta. Os
fatos provocaram a pressão das
jogadoras da Seleção Brasileira e
da própria Fifa junto à Confederação Brasileira de Futebol (CBF)
para a necessidade de organização
de uma competição nacional. Na
época do Mundial na China, as
atletas estenderam uma faixa pedindo apoio para o esporte.
Às pressas, a entidade presidida por Ricardo Teixeira divulgou
no começo de outubro a tabela da
Copa do Brasil para mulheres, que
começou dia 30 de outubro, com a
participação de 32 times de todas
as regiões do país. A duração, curta, é de apenas 41 dias. A CBF ar-
gumenta que o campeonato teria
que ser realizado o quanto antes,
visto que o futebol feminino está
na mídia e não seria conveniente
adiar a realização do torneio. A
entidade se comprometeu a pagar
a despesa dos clubes.
Para nivelar a competição,
os jogos da primeira fase foram
divididos por regiões e foram
disputados em um formato de
confrontos de ida e volta. Restarão oito clubes, divididos em dois
grupos de quatro, que começam a
se enfrentar em Brasília. Classificam-se dois clubes de cada grupo
para as semifinais. Os vencedores
farão a final da competição no dia
9 de dezembro.
A escolha dos clubes representantes dos estados na Copa do
Brasil gerou algumas polêmicas.
No Rio Grande do Sul, o Pelotas
protestou por ter ficado de fora, já
que disputou todas as edições do
Campeonato Gaúcho da categoria, enquanto o futebol feminino
do Inter, que disputou o torneio,
estava fechado há quatro anos.
No Rio de Janeiro, a força política
de Eurico Miranda tirou o Cepe
de Duque de Caxias, tricampeão
estadual, e colocou o Vasco.
Inter e Juventude caem na primeira fase
O Internacional, com passado
de vitórias no futebol feminino,
e o Juventude, atual tricampeão
estadual na categoria, representaram o Rio Grande do Sul, mas
não se deram bem. O Inter eliminou o próprio Ju e depois caiu
diante do São José, do Paraná.
Como a equipe colorada estava desativada, o clube fechou
uma parceria com a ex-jogadora
colorada Maria Eduarda Luizelli,
a Duda. A atleta tem uma escolinha de futebol e participa de
competições femininas.
No Juventude, o departamento de Futebol Feminino iniciou
as atividades em 1999, quando
participou pela primeira vez do
Campeonato Serrano, realizado
em Caxias do Sul, Canela e Flores
da Cunha.
O Pelotas também tem tradição no futebol feminino. Com a
convocação de três jogadoras da
equipe para a Seleção sub-17, o
time vê crescerem as chances de
ter jogadoras no grupo que disputará o Campeonato Mundial,
em 2008, na Nova Zelândia.
12 ponto final
Porto Alegre, novembro-dezembro 2007
hipertexto
Chiquinha, a repórter
que desenha a notícia
Fabiane Bento Alves, estudante de Jornalismo na Famecos,
já é, simplesmente, cartunista contratada da Folha de S.Paulo
Vinícius Roratto Carvalho/ Hiper
Por Yara Tropea
Chiquinha não precisa de personagens.
É o comportamento que a inspira. Também
não precisa do computador. Desenha com
papel e caneta. Aliás, Chiquinha não precisa de nada para desenhar. “Eu não sei desenhar. Eu engano”. O que ela quer é contar
histórias e isso sabe fazer. Chiquinha é a
personagem dela mesma, Fabiane Bento
Alves, 23 anos, estudante de Jornalismo
da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), cartunista do jornal mais vendido
do país, a Folha de São Paulo. Mas isso não
é suficiente para conhecê-la. É bom saber,
por exemplo, o que a move.
Na verdade, Chiquinha quer convencer
que é possível ser jornalista através dos
quadrinhos. E mostra. Desafiada pelo professor da Famecos Tibério Vargas Ramos a
revelar do que ela estava falando, montou
uma reportagem em quadrinhos sobre os
mexilhões que aparecem nos cascos nos
navios e causam problemas ambientais no
rio Guaíba. Ganhou o último Set Universitário na categoria cartum.
“As pessoas esquecem que quadrinho
não é só desenho. É texto também. Dá pra
dizer que é uma mistura de literatura com
cinema”, exagera. A monografia de conclusão de curso não foge do seu assunto
preferido. Mergulha na obra de Joe Sacco,
repórter de guerra que, ao invés de escrever, ilustra e é o ícone do que ela chama de
“new new journalism”. Mas sabe que ainda
está longe de ter a credibilidade que um
texto comum. “As pessoas ainda não levam
a sério. Cartum está ligado à diversão”.
A estudante que começou na sessão
“Pretensão” da revista Mad, publicou na
“Abre-Alas” do Jornal do Brasil, voltou à
Mad para matérias grandes em quadrinhos
e fez vários trabalhos sem compromisso. É
uma universitária em final de curso que,
até pouco tempo, não sabia usar a Internet
para vender seu trabalho. Depois que amigos fizeram um blog, se viu obrigada a postar e entendeu que o lazer podia dar alguma
grana. A página eletrônica foi ponte para os
veículos impressos. Agora, está convencida
que a Internet não era só “egotrip”, como
gosta de dizer, mas também pode ser usada
profissionalmente.
No colégio, respondia
com balõezinhos
Ela tem apenas três anos como cartunista profissional e nunca fez um curso
específico. “Eu nunca comecei a desenhar.
Eu sempre desenhei”. Nas provas do colégio não sabia explicar as coisas e respondia
tudo com balõezinhos. Lia Mad, Chiclete
com Banana, Laerte, Circo e diz que isso
“formou seu caráter”.
Além da Folha de São Paulo, produz
para o Diário de Pernambuco e a revista
masculina Sexy Premium. Foi lá que Chiquinha criou Astrúbal Eqüino, o cavaloator pornô que surgiu por causa da timidez
da garota. Não se sentia à vontade para
desenhar mulheres nuas, então o criou. O
editor que queria histórias mais picantes
e menos inocentes agradeceu.
Para os diários Folha e Diário de Pernambuco, ilustra os cadernos jovens Folhateen e Fanzine, respectivamente. Nesse
caso não precisa de figuras. Usa as reais
mesmo. “As pessoas dizem que sou criativa, mas eu não sou. Sou boa observadora”.
Procura retratar a garota que espera ao
lado do telefone que nunca toca, o músico
fracassado, o bêbado, as histórias do cotidiano, sem precisar de personagens.
Ela ainda não trabalha para os gaúchos.
Mas gostaria. “Seria tri trabalhar por aqui.
Mas não trabalho de graça. Cartunista não
vive de brisa”. De boba, Chiquinha não tem
nada. Ela sabe que vale o quanto pesa.
Quer embarcar no mundo de Chiquinha? www.insanus.org/chiqsland

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