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www
w.dol.innf.br E
Etiologia, caracterís
sticas, mec
canismos e controle
e da dor n europática
associada ao cân
ncer: uma breve abo
ordagem
David Wilson Fer
rreira *
Atualmentte, de acord
do com a As
ssociação Intternacional para o Estudo da
Dor ((IASP - International As
ssociation forr the Study of Pain), a dor é conce ituada como
o uma
sensa
ação ou ex
xperiência emocional
e
d
desagradáve
el, associada
a a dano tecidual real ou
poten
ncial, ou de
escrita nos termos de tal dano. A severidade
e da dor nã
ão é diretam
mente
propo
orcional à qu
uantidade de tecido lesa
ado e muito
os fatores po
odem influen
nciar a percepção
deste
e sintoma.
Neste sen
ntido, vale le
embrar que o conceito de dor com
mo um fenô
ômeno
direta
amente relacionado à ex
xtensão da llesão tecidua
al foi prepon
nderante até
é a década de
d 60.
Esta é a razão
o pela qual os prime
eiros trabalhos sobre avaliação d
da dor me
ediam,
exclu
usivamente, sua intensidade. Após a publicaçã
ão do trabalho de Melzzack e Torg
gerson
(1971
1) enfatizan
ndo a importtância das ttrês dimensõ
ões da dor, i.e. sensorrial-discrimin
nativa,
motiv
vacional-afettiva e cog
gnitiva-avalia
ativa, suste
entadas por sistemas fisiologicam
mente
espec
cializados no
n sistema nervoso ce
entral (SNC
C), foi dese
envolvida a primeira escala
e
multidimensionall de avaliação da dor. A dimensão
o sensorial-d
discriminativ
va é influenciada,
prima
ariamente, pelos
p
sistema
as espinais d
de condução
o rápida; a dimensão mo
otivacional-a
afetiva
é pro
ocessada pe
elas estruturras da form ação reticullar do tronc
co encefálico
o e límbicas
s, que
sofrem influência dos siste
emas nocicceptivos de condução espinal len
nta. As unidades
neoco
orticais com
mparam a infformação no
ociceptiva co
om as experiências passsadas e exe
ercem
contrrole sobre as estruturas
s responsáve
eis pela dim
mensão sensiitivo-discrim
minativa e affetivomotiv
vacional. Da
a interação destes asp
pectos, resulta a inform
mação localiizada tempo
oral e
espac
cialmente, quantificada
q
e qualificada
a; bem como a tendência motivacio
onal direcion
nada à
fuga,, defesa, rettirada ou ataque; e a m
modificação do afeto. A interpretaçã
ão da inform
mação
proce
essada por unidades
u
cog
gnitivas é co
ondicionada pelas experriências prév
vias e pode gerar
respo
ostas diferentes à expe
eriência dollorosa, tanto em difere
entes indivííduos quantto em
difere
entes mome
entos do me
esmo indivíd
duo. De maneira geral, a dor é se
empre subjettiva e
pesso
oal.
Em pacien
ntes com câ ncer, a dor pode ser o sintoma de
e apresentaç
ção da
aumenta ccom a prog
doença e sua prevalência
p
gressão da mesma. A
Além disso, pode
nvolver-se como
c
uma co
omplicação d
do tratamen
nto. Estima-s
se que 50-90
desen
0% dos pacientes
com câncer conv
vive com a dor durante
e a vida. A dor em pac
cientes com câncer pod
de ser
uda e crônica, podend
do ser resu
ultado do próprio
p
tum
mor invadind
do ou
dividiida em agu
destrruindo estruturas corporais; de efe
eitos colaterrais das mod
dalidades de
e tratamentto; ou
mesm
mo de comorrbidades.
A dor aguda é mais frrequentemen
nte associada a interven
nções diagnó
ósticas
ou te
erapêuticas relacionadas
r
s ao câncer. Abordagens
s diagnóstica
as prejudicam
m diretamen
nte os
tecido
os, especialmente os ne
ervos, resul tando em dor. Já a dorr crônica no
o câncer pod
de ser
direta
amente relac
cionada ao tumor,
t
mas ttambém a estratégias de
e tratamento
o.
Um estud
do europeu realizado recentement
r
e demonstrrou que 670
0 dos
1.051
1 pacientes
s com cânc
cer avaliado
os apresentaram algum tipo de
e dor: 534, dor
nocic
ceptiva; 113, dor neuro
opática; e 23
3 foram não
o classificados. Corrobo
orando com esses
achad
dos, outro estudo realiza
ado por Ben nett e colaboradores esttimou que de
e 18,7% a 21,4%
2
de pa
acientes com
m câncer pos
ssuem dor ne
europática associada
a
ao câncer.
A dor neu
uropática asssociada ao câncer é caracterizada
c
a pelos pacientes
como
o uma sen
nsação espo
ontânea do tipo “que
eimação” ou
u dor do tipo “ponta
adas”,
principalmente nas extremidades (mãoss e pés) e se
entida à noitte; podendo ser constan
nte ou
interm
mitente. Além disso, ess
ses sintomass podem aco
ompanhar prrejuízo moto
or, perda sen
nsorial
1 www
w.dol.innf.br profu
unda, perda da proprio
ocepção; be
em como disfunção de órgãos enttéricos e be
exiga,
anorm
malidades das
d
fibras pupilo-motor
p
ra e hipotensão ortostática. Logo,, estes sinttomas
adicio
onais pioram
m ainda mais a qualida de de vida destes pacientes, uma vez que simples
ativid
dades diárias
s, como vesttir uma roup
pa ou pentea
ar os cabelos
s, são afetad
das.
A dor neuropática asssociada ao câncer
c
é um processo d e várias eta
apas e
apres
sentações clínicas, po
ossuindo e
etiologia e sintomatologia comp
plexas e pouco
comp
preendidas. De maneira geral, a dorr pode surgir devido a danos
d
físicoss ou químico
os em
neurô
ônios periférricos ou centtrais ou messmo no sistem
ma de condu
ução neural. Alguns exemplos
de mecanismos patofisiológic
p
cos são:
pró-inflamattórias,
 Resposta
a inflamatória
a local e sisttêmica, com
m produção de
d citocinas p
facilitam transmissão
o da dor.
 Dor diretamente relacionada aao tumor: as
a células cancerosas
c
podem causar a
invasão de
d tecidos sensíveis
s
a e
estímulo me
ecânico, resultando em dor viscera
al, por
exemplo;; ou encarce
eramento ou lesão de ne
ervos, resulta
ando em dorr neuropática, por
exemplo.. Os tumore
es atraem cé
élulas do sistema imune que, por sua vez, lib
beram
mediadorres (endotelina, prostag
glandinas e fator
f
de necrrose tumora
al alfa -TNF-α
α, por
exemplo)), que excitam ou senssibilizam neu
urônios aferrentes primá
ários nociceptivos
periférico
os. Os tum
mores també
ém liberam
m prótons, o que cau
usa acidez local,
facilitando a respostta inflamató ria. A dor contínua
c
induz, e pode parcialmentte ser
mantida por, um estado de sensibilização central. As enzim
mas proteo
olíticas
produzida
as por células do tum
mor podem danificar as fibras neu
urais sensoriais e
simpática
as, causand
do dor neu
uropática. De
D maneira simplista, estes e outros
o
mecanism
mos estão esquematicam
e
mente ilustrrados abaixo
o, nesta figu
ura publicad
da em
uma revisão no jorna
al Nature Re views-Cance
er (Mantyh, P.W. et al., 2002).
Fig
gura 1: Detec
cção por neurônios sensorriais de estím
mulos nocivos produzidos p
por tumores. Os
no
ociceptores (em
m vermelho) utilizam vário
os tipos diferentes de recep
ptor para dete
ectar e transm
mitir
sin
nais de estím
mulos nocivos que são prroduzidos porr células canc
cerosas (ama
arelo) ou outtros
2 www
w.dol.innf.br aspectos do microambiente
m
e do tumor. Os receptorres vanilóide-1 (VR1) de
etectam próto
ons
extracelulares (H+),
(
enquantto os recepto
ores de endote
elina-A (ETAR
R) detectam e
endotelinas (E
ET),
tod
dos liberados
s por células cancerosas. Canais iônicos sensíveis a ácido (DR
RASIC) detecttam
esttímulos mecâ
ânicos, como distensão de
e fibras sens
soriais pelo crescimento d
do tumor. Ou
utro
rec
ceptor expres
sso pelos neurrônios sensoriiais é o receptor de prostaglandinas (EP
P), que detectta a
pro
ostaglandina E2 (PGE2), prroduzida pelo tumor e célullas inflamatórias (macrófag
gos, em púrpu
uraMa
acrophages). O fator de crescimento
c
d
do nervo (NGF), liberado pelos macrófa
agos, liga-se ao
rec
ceptor tirosina-quinase (TrkA), enquan
nto o ATP extracelular se liga ao rece
eptor purinérg
gico
(P2
2X3). A ativ
vação destes receptores a
aumenta a excitabilidade
e
dos nocicep
ptores, induz
zem
fos
sforilação de canais de sód
dio 1.8 e/ou 1
1.9 (Na+ channel) e diminuem o limiar necessário para
excitação dos no
ociceptores.


Dor ósse
ea induzida por cânce
er metastáttico: Metásttase óssea é um elem
mento
importante da dor ne
europática a
associada ao câncer. O osso
o
é um lo
ocal de metá
ástase
prevalentte e a lesão
o ou infiltraçção dos neu
urônios sensitivos que in
nervam a medula
m
óssea cau
usa dor. Oco
orrem altera
ações no metabolismo normal do ossso, com perrda de
mecanism
mos que regulam norma
almente o eq
quilíbrio entrre as ativida
ades osteoblástica
(formação do osso) e osteoclásttica (quebra
a do osso). Com o avan
nço da doen
nça, o
osso perde a força mecânica
a e é suje
eito à oste
eólise, fratu
ura patológica e
microfratturas. A disttorção mecâ
ânica do periósteo pode
e ser uma ffonte princip
pal de
dor.
Dor neurropática ass
sociada à qu
uimioterapia/radioterapia: a neurop
patia associada à
quimioterapia surge devido a di ferentes me
ecanismos (v
veja nosso e
editorial nº 170 "Neuropa
atia e dor neuropática
a induzida pelo tratam
mento com quimioterápicos:
o das tubulinas
mecanism
mos e perrspectivas"), incluindo a ruptura da função
(responsá
ável pela forrmação dos microtúbulos, que permitem a mobiilidade de cé
élulas)
por age
entes quimioterápicos, com libe
eração das citocinas, resultando
o em
degenera
ação dos ne
eurônios sen
nsitivos e sensibilização
o dos afere ntes nociceptivos
primários
s. A radioterrapia pode ccausar fibros
se de tecido com comprressão de ne
ervo e
obstrução
o microvasc
cular do ne rvo. A com
mpressão ou a lesão do
o tecido ne
ervoso
contribui para a sens
sibilização ce
entral.
Não obsttante, vale ressaltar que outros
s fatores a
agravantes como
humor e tip
condiições psicoló
ógicas, trans
stornos do h
po de person
nalidade pod
dem influenciar a
perce
epção e inten
nsidade da dor.
d
O Institutto Nacional do Câncerr (INCA – Ministério
M
d
da Saúde) reuniu
r
espec
cialistas
e
pu
ublicou
em
2001
2
um
man
nual
té
écnico
(http://www.inca
a.gov.br/pub
blicacoes/ma
anual_dor.pd
df)
intitula
ado
“Cuid ados
paliativos
oncollógicos: controle da dorr”. Neste ma
anual estão descritos os
s métodos p
para o contro
ole da
dor. A terapêutic
ca preferenc
cial para o a
alívio da dorr deve ser o tratamento
o do câncer em si
semp
pre que poss
sível. Porém, o controle da dor pod
de exigir medidas como cirurgias, ra
adio e
quimioterapia. O uso de medicamento
m
os analgésico
os, suportes
s psicológico
o e fisioterápico,
bloqu
ueio de nerrvos, secção
o de vias ssensitivas e estimulaçã
ão das viass supressora
as da
nocic
cepção são complementares à terrapia antican
ncerosa. A utilização d
de medicam
mentos
analg
gésicos e adjjuvantes é a terapêutica
a mais frequ
uente. Preconiza-se o usso preferenc
cial da
via oral e a adm
ministração dos fármacoss em horário
os preestabe
elecidos e nã
ão sob regim
me de
dema
anda. Ainda, propõe-se o uso de agentes anti-inflamatórrios não-estteroidais (AIINEs),
analg
gésicos opioides fracos e fortes (asspirina, code
eína e morffina, respecttivamente), nesta
3 www
w.dol.innf.br sequê
ência, para dores de in
ntensidade ccrescente. A terapia co
ombinada, a
associada a estes
fárma
acos, pode ser
s feita com
m antidepresssivos, antico
onvulsivantes, entre outrros.
Embora vários avanço
os tenham ocorrido com
m relação à compreensão de
algun
ns mecanism
mos envolvidos na dor ne
europática associada
a
ao
o câncer, pessquisas adic
cionais
ainda
a são necess
sárias para melhor
m
comp
preender a complexidad
c
e desta pato
ologia; bem como
aponttar alvos te
erapeuticame
ente viáveiss, a fim de prevenir o progresso d
da dor (agud
da ->
crônica) ou redu
uzir os sinto
omas no esttágio de dorr crônica, da
ando a esse
es pacientes
s uma
melhor perspectiva e qualida
ade de vida.
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