Untitled - Laprev - Universidade Federal de São Carlos

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Copyright © dos autores
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida ou arquivada, desde que levados em conta os direitos dos autores.
Autores:
Joviane Marcondelli Dias Maia, Cristiane Camargo de Oliveira , Roselaine de
Oliveira Giusto & Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams
Capa, projeto gráfico e diagramação:
Izis Cavalcanti
Editores:
Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura Brito
Conselho Científico da Pedro & João Editores:
Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi (Unicamp/Brasil); Roberto
Leiser Baronas (UFSCar/Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (UNIR/Brasil) Maria
Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Dominique Maingueneau (Universidade de
Paris XII); Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil).
Joviane Marcondelli Dias Maia, Cristiane Camargo de Oliveira, Roselaine de Oliveira Giusto, Lúcia
Cavalcanti de Albuquerque Williams [Autoras]
Mãe, pai e casal na adolescência: e agora? Orientações para profissionais da saúde. São Carlos:
Pedro & João Editores, 2011. 88p.
ISBN 978-85-7993-045-4
1. Adolescência. 2. Gravidez na adolescência. 3. Parentalidade na adolescência 4.Conjugalidade na
adolescência 5. Autores. I. Título.
CDD – 150
Pedro & João Editores
Rua Tadão Kamikado, 296 . Parque Belvedere . 13568-878 . São Carlos, SP
www.pedroejoaoeditores.com.br
Sumário
5
Apresentação
O presente trabalho é fruto do Projeto de pesquisa intitulado: “Projeto de
intervenção com casais de pais adolescentes: da avaliação de uma proposta à
capacitação de psicólogos da rede de saúde”, financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Edital Saúde da Mulher (processo
n° 551170/2007-7), tendo como coordenadora Lúcia Cavalcanti de Albuquerque
Williams, Professora Titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal
de São Carlos e coordenadora do LAPREV (Laboratório de Análise e Prevenção da
Violência), a pesquisadora Joviane Marcondelli Dias Maia e as bolsistas Cristiane
Camargo de Oliveira e Roselaine de Oliveira Giusto.
Parte desse Projeto incorporou a tese de Doutorado de Joviane M. D. Maia
desenvolvida no Programa de Pos-Graduação em Educação Especial da Universidade
Federal de São Carlos, intitulada Parentalidade e Conjugalidade na adolescência:
uma proposta interventiva (2010) sob orientação da Profa. Dra. Lúcia Cavalcanti de
Albuquerque Williams.
Esperamos que esse manual possa estimular o desenvolvimento de projetos de
intervenção, por profissionais da saúde, com adolescentes que enfrentam o desafio
de se tornarem mães e pais na adolescência, bem como os desafios decorrentes de
serem um novo casal. Que suas histórias possam ser ressignificadas para que as próximas gerações vivenciem novos contextos, contribuindo para uma cultura de paz!
Gostaríamos de agradecer ao CNPq e a Dra. Evelyn Eisenstein, Professora Adjunta
da UERJ, médica pediatrica e clínica de adolescentes pela ajuda com a revisão desse
texto.
As autoras
Em sua prática
profissional, como é
estabelecido o período
da faixa etária
da adolescência?
Adolescência
Para refletirmos sobre a adolescência é necessário analisarmos seu limite
curiosamente impreciso. Realmente, parece estar cada dia mais difícil determinar
o fim da adolescência. A complexidade da adolescência também está refletida nos
diferentes critérios adotados para sua delimitação etária:
»» Estatuto da Criança e do Adolescente: entre 12 e 18 anos.1
»» Organização Mundial de Saúde (OMS):2 entre 10 e 20 anos incompletos. O
mesmo critério é utilizado para o Programa Saúde do Adolescente no Brasil
em suas diretrizes básicas e sistematização dos serviços de atenção.3
»» Society for Adolescent Medicine (Sociedade de Medicina para Adolescentes):
público a ser atendido pelos médicos especialistas em adolescência abrange
dos 10 aos 25 anos.4
De forma geral, a adolescência é apontada como sendo um período, entre a
infância e a idade adulta, caracterizado por profundas alterações no desenvolvimento
biológico, psicológico e social.5 É também associado, geralmente, a uma etapa de
crises.6
9
“Considera-se que a adolescência
é a fase de definir que tipo
de adulto se quer ser. E, mais
importante ainda decidir de que
forma vai ler sua história e quais
capítulos escolher escrever. O
desenvolvimento da flexibilidade
A puberdade é outro conceito importante
que está frequentemente associado à faixa etária
da adolescência, sendo marcada por modificações
físicas, na faixa etária entre 10 e 14 anos.
Caracteriza-se pela: aceleração do crescimento
esquelético, alterações da composição corporal
e amadurecimento sexual.8 Cabe destacar que
a adolescência engloba e ultrapassa o conceito
de puberdade, já que é necessário um olhar
biopsicossocial para uma melhor compreensão e
atuação profissional.
e da responsabilidade é ingrediente
importante para fazer dessa
fase um marco de crescimento
e individuação com
autonomia” .7
?
10
A adolescência e a iniciação sexual
precoce
Um tema de enorme preocupação dos
pais, profissionais e adolescentes refere-se ao
desenvolvimento sexual nessa fase. Trata-se de
um período de formação da identidade sexual
do indivíduo, podendo haver contradições decorrentes de um desequilíbrio entre a maturação física (corpo apto à reprodução) e um
repertório psicoemocional despreparado.9
Observa-se atualmente uma iniciação
sexual cada vez mais precoce. No Brasil, há
relatos de que a iniciação sexual das meninas ocorra aos 13 e 14 anos, em média,
com pequena utilização de preservativos
(cerca de 15% das relações sexuais), tendo um ou mais parceiros freqüentes.10
Nos países desenvolvidos, a atividade sexual também está se iniciando cada
vez mais precocemente, enquanto o casamento está sendo postergado para
idades mais tardias.11 Há dados brasileiros indicativos relacionando o início
da vida sexual e a primeira gestação, apontando uma relação entre a idade
da primeira relação sexual e a primeira gravidez.12
A família em transição...
O que compreendemos por família?
Nas últimas décadas a família também tem sofrido algumas modificações em sua configuração, tais como: o aumento do número de mulheres sem
cônjuge (famílias mononucleares ou monoparentais), famílias binucleares ou
que compartilham a guarda dos filhos, famílias reconstituídas, famílias homoafetivas.13 Assim, não podemos encarar a família como uma entidade estática,
mas sim, encontrando-se em processo de mudança contínua, bem como seu
contexto social.14
Entretanto, tais mudanças não interferem na importância atribuída à família sendo essa considerada como o mais poderoso sistema de socialização
para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente. É importante
destacar que, segundo uma perspectiva sistêmica, é preciso pensar na família
como um importante e complexo sistema norteador na vida do indivíduo.
Parentes
próximos
foco, o sistema
familiar é uma parte
Família = Sistema
Família
Ampliando-se o
de um todo maior
Vizinhos
Igreja
Centro comunitários
Posto de saúde
no qual a família se
Cidade
encontra inserida
(comunidade,
cidade, país, etc).15
11
Uma nova visão
Da organização
hierárquica de alguns
poucos que decidem,
um grupo maior que
planeja e executa e
uma comunidade que
recebe;
para uma rede de
trocas colaborativas
e responsabilidades
compartilhadas entre
todos os envolvidos
– usuários/famílias/
técnicos/instituições.
Assim, é necessário a mudança do foco de atuação profissional para
uma perspectiva que não se volte apenas para o indivíduo, mas sim para a
compreensão das pessoas em suas mais diversas relações.
Para isso é preciso que adotemos uma nova visão paradigmática, envolvendo assim cada vez mais a responsabilidade também do usuário do
serviço de saúde como parte fundamental da qualidade no serviço a ser
oferecido.
para
As Políticas
a complexidade
soas
Foco Públicas enfrentam o desafiopde
escompreender
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familiar e desenvolver
programas de atenção,
promoção
e cuidado com os
nas re
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d
cidadãosinde forma a tornar a família consciente de seu papel fundamental
no processo de provimento das necessidades de seus membros. Devem desenvolver competências, dando poder a tais pessoas, na medida em que se
conscientizem que cada pessoa envolvida em um problema é tanto parte do
problema como parte da solução.
Foco do indivíduo para pessoas nas relações
12
Referências
1.
Brasil (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal no. 8069/1990.
2.
World Health Organization (2001). Physical status: the use and interpretation
of anthropometry. Report of a WHO Expert Committee. Geneva: World Health
Organization (Technical Report Series, 854). 3.
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em serviço. Brasília: Ministério da Saúde.
4.
Brookman, R. R. (1995). The age of adolescence. Jornal Adolescence Health;
16(5), 339-340.
5.
Saito, M. I. & Queiroz, L. B. (2008). Medicina de Adolescentes: visão histórica e
perspectiva atual. Em M. I. Saito, L. E. da Silva & M. M. Leal (Eds). Adolescência:
prevenção e risco (2 ed., Cap. 1, pp.3-11). São Paulo: Atheneu.
6
Maia, J. M. D. (2010). Parentalidade e conjugalidade na adolescência: uma
proposta interventiva. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
7.
Rosset, C. M. (2009). Famílias com adolescentes. Em: L. C. Osório & M. E. P. do
Valle. Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artmed.
8. Magalhães, M.L.C. (2009). A adolescência e a gravidez. Em: D.L.M. Monteiro;
A.J.B. Trajano & A. da C. Bastos (Orgs). Gravidez e Adolescência. Rio de Janeiro:
Revinter.
9.
Saito, M. I. (2008). Adolescência, Cultura, Vulnerabilidade e Risco. A Prevenção
em questão. Em: M. I. Saito, L. E. da Silva & M. M. Leal (Eds.). Adolescência:
prevenção e risco (2ed., Cap. 4, pp.41-46). São Paulo: Atheneu.
10. Marcondes Filho, W., Mezzaroba, L., Turini, C. A., Loike, A., Motomatsu
Junior, A., Shibayama, E. E. M. & Fenner, F. L. S. (2002). Tentativa de suicídio
por substâncias químicas na adolescência e juventude. Adolescência Latino
Americana, 3 (2).
13
11. Guimarães, E. M. B. (2008). Gravidez na adolescência: fatores de risco. Em M.
I. Saito, L. E. da Silva & M. M. Leal (Eds.), Adolescência: prevenção e risco (2ed.,
pp.419-426). São Paulo: Atheneu.
12. Rosa, A. J., Reis, A. O. A. & Tanaka, A. C. (2007). Gestações sucessivas na
adolescência. Revista Brasileira de Crescimento Desenvolvimento Humano, 17
(1), 165-172.
13. Castro, M. C. d’A. (2008). Configurações Familiares Atuais. Em: R. M. S. Macedo
(Org). Terapia Familiar no Brasil na última década, (51, pp. 419-427). São Paulo:
Rocca.
14. Minuchin, S. & Fishman, H. C. (1990). Técnicas de terapia familiar. Porto Alegre:
Artes Médicas.
15. Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos
naturais e planejados. Porto Alegre: Artmed.
14
Gravidez na adolescência: prevalência
O fenômeno da gravidez na adolescência ocorre nos mais diversos países.
Anualmente, mais de 14 milhões de adolescentes dão à luz no mundo, sendo que
a proporção de mães que tem seu primeiro filho em torno dos 18 anos varia de
1% no Japão a 53% na Nigéria.1 O número de partos ocorridos em adolescentes
brasileiras no ano de 20092 foi de 444.056; em contrapartida, no ano de 2000 o
índice foi equivalente a 679.358. Entre os anos de 2000 e 2009 houve uma redução
nos índices nas diferentes regiões do nosso país, sendo que a maior redução ocorreu no Centro-Oeste (37%), seguido pelo Sul (36,50%), Sudeste (36,30%), Nordeste
(36,10%) e Norte (21,90%).
Algumas das justificativas destacadas para tal redução estão relacionadas à combinação de fatores como a educação sexual e o uso de métodos anticoncepcionais. A
pílula do dia seguinte também exerceu papel preponderante.2
15
Apesar do
decréscimo nos
Um milhão de meninas ficam grávidas por ano no Brasil.1 Os filhos de
mães adolescentes são um em cada quatro brasileiros que nascem.3
índices de gravidez
na adolescência, o
número de jovens
Gravidez sucessiva na adolescência
que se torna mãe
precocemente ainda
é preocupante.
Alertamos para o fato de que a gravidez sucessiva na adolescência não é
estudada pela Saúde Pública e, tampouco, considerada como sendo um fenômeno importante na dinâmica reprodutiva das populações. Destaca-se que:
»» O tema da gravidez sucessiva é encontrado disperso ou apenas
citado em estudos sobre gestação na adolescência em geral.
»» Há grande possibilidade de repetição da gestação na adolescência na ausência de recursos protetores pós-parto.4
Cabe destacamos os esforços do Estado de São Paulo no sentido
de reduzir os índices de uma segunda gestação na adolescência:5
Em um período de 4 anos o Estado conseguiu reduzir em
27,1% o número de adolescentes que ficaram grávidas
pela segunda vez. Entre os anos de 1998 e 2007 a
queda foi de 47,8%.
As reduções nos índices foram relacionadas à Política
Estadual de Saúde Pública para evitar a gravidez na adolescência,
envolvendo um modelo de atendimento integral a adolescente que
contempla aspectos físicos, psicológicos e sociais e o investimento
na capacitação de profissionais.5
16
Modelo de atendimento integral a adolescente
Aspectos físicos,
psicológicos e sociais
+
A maternidade na
adolescência é
Capacitação para
os profissionais
um desafio a ser
enfrentado!!
Fatores de risco
Para prosseguirmos na análise da ocorrência de uma gestação na adolescência, é necessário compreendermos dois importantes conceitos: os fatores de risco e os fatores de proteção ao desenvolvimento infantil.
Os fatores de risco podem ser definidos como condições ou variáveis
associadas à alta probabilidade de ocorrência de resultados negativos ou
indesejáveis. Dentre tais fatores encontram-se os comportamentos que podem comprometer nossa saúde, bem estar ou desenvolvimento social.6
São aqueles fatores, que se presentes, aumentam a probabilidade de
um indivíduo desenvolver uma desordem emocional ou comportamental,
ou seja, a probabilidade de dano ou resultado indesejado.7 Tais fatores podem incluir atributos biológicos e genéticos da criança ou da família, bem
como fatores da comunidade que influenciam tanto o ambiente da criança
quanto de sua respectiva família.8
Não se pode analisar os fatores de risco de forma isolada, independente e fragmentada, pois a exposição ao perigo que os potencializa ocorre de
diversas formas e em vários contextos.9 O conceito de risco está associado
ao conceito de vulnerabilidade, ou seja, o conjunto de fatores que podem
aumentar ou diminuir a ocorrência de determinada situação a que se está
exposto em todas as fases de vida.10
17
A adolescência é um período do ciclo vital associado à vulnerabilidade.
Todas as mudanças pelas quais passam os adolescentes aumentam sua exposição e sensibilidade aos problemas enfrentados pela sociedade, o que explica
sua vulnerabilidade social.11
Dentre os comportamentos de risco emitidos por adolescentes destacam-se: fumo, abuso de álcool e/ou drogas, relações sexuais que podem
levar à gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, evasão escolar, uso
de armas, violência sexual e impulsividade.12 Tais fatores de risco estão associados à acidentes, violência, suicídio, doenças sexualmente transmissíveis,
gravidez não planejada e seus desdobramentos.13
A ocorrência de uma gravidez na adolescência está associada a diversos
fatores de riscos, sendo considerada um problema de Saúde Pública, tanto
no Brasil como em muitos outros países, prevalecendo a opinião na literatura da área de que a mesma implicaria em riscos tanto do ponto de vista médico, para a mãe e para o filho, como em riscos psicossociais. Por tais razões,
a gravidez na adolescência passa a ser considerada um problema médicosocial, tendo sido já considerada de alto risco pela OMS.14
18
Fatores de risco para a ocorrência da gestação na
adolescência
a. Fatores relacionados à adolescência e aspectos psicológicos 11, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20
Características da adolescência
Aspectos psicológicos
·· Falta de informação consistente
·· Motivação para experimentação
·· Sensação de invulnerabilidade
·· Sentimentos ambivalentes
·· Baixa auto-estima
·· Problemas psicossociais
·· Poucos projetos e planos de vida
·· Desejo de engravidar (ter família e relação
adulta com o parceiro)
·· Certificar-se da própria capacidade
reprodutiva (construir identidade
feminina)
b. Fatores relacionados à família e questões sociais 3, 11, 14, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26
Características familiares
Questões sociais
·· Histórico de atividade sexual precoce
·· Gravidez adolescente na família
·· Conflitos familiares
·· Violência Intrafamiliar
·· Orientação familiar insuficiente
·· Migração
·· Irmãos menores sob o cuidado da
adolescente
·· Família monoparental
·· Moradia fora da família
·· Famílias residentes em bolsões de pobreza
ou regiões rurais
·· Abuso de substâncias
·· Evasão escolar
·· Escassez de projetos sociais na área de
prevenção
·· Efeitos dos meios de comunicação
·· Conflitos ou vivências de preconceitos
religiosos, étnicos e culturais
·· Atitudes tradicionais em relação ao papel
da mulher
·· Status social destinado aos jovens pais e
mães
19
Fatores de risco para a ocorrência de gestação sucessiva
na adolescência 27, 28, 29, 30
·· Menarca precoce
·· Primeira relação logo após a
menarca
·· Repetição escolar
·· Ocupação não remunerada
·· Envolvimento com um parceiro mais
velho
·· Co-habitação com o parceiro
·· Baixa utilização de preservativo
·· Pai ausente
·· Mudança de parceiro
·· Reação positiva da família a gestação
anterior
·· Ausência de consulta de puerpério
·· Antecedente familiar de gestação na
adolescência
·· Família em condições de pobreza
·· Não voltar aos estudos depois do
parto
·· Ter amigas gestantes na mesma faixa
etária
·· Aborto prévio
Fatores de risco para o bebê decorrentes da gestação
na adolescência
Podem ser considerados fatores de risco ambientais ao bebê fruto de
uma gestação na adolescência: o contexto psicossocial de pobreza, a dependência dos pais adolescentes de suas famílias de origem, a baixa instrução
dos jovens pais, a falta de apoio social, a presença de violência intrafamiliar,
o histórico de abuso sexual na infância, a ausência de apoio materno, o estresse e a depressão pós-parto.31
Destaca-se um maior risco de prematuridade e baixo peso do bebê
ao nascer nos filhos de mães adolescentes,32 bem como problemas sócioafetivos como: agressividade, impulsividade, falta de atenção e maior deserção
escolar.3
20
Fatores de risco para a gestante adolescente 3, 11, 14, 33, 34,
35, 36, 37, 38
Para refletir!!
Baixo rendimento
Riscos físicos
Riscos psicológicos e sociais
·· Doença hipertensiva específica da
gestação
·· Anemia
·· Diabetes gestacional
·· Obesidade devido a erros
alimentares
·· Aumento da desnutrição da mãe a
partir do terceiro filho
·· Desproporção feto-pélvica
·· Complicações no parto
·· Disfunções uterinas
·· Infecções
·· Hemorragias pós-parto
·· Óbito materno
·· Ansiedade
·· Prejuízos ao processo de maturação
psicológica
·· Abandono ou interrupção dos
estudos e dificuldades de retorno à
escola
·· Depressão e suicídio
·· Falta de apoio e/ou isolamento
social e familiar
·· Separação conjugal
·· Menor chance de qualificação
profissional
·· Tendência a ter habilidades
sociais inadequadas
·· Exploração sexual
acadêmico;
evasão escolar;
pobreza; violência
intrafamiliar; causas
e/ou conseqüências
da gestação na
adolescência?
pr
estab
Fatores de proteção e resiliência
Em contrapartida aos fatores de risco, os fatores de proteção
podem ser definidos como fatores que modificam ou alteram a resposta pessoal para algum risco ambiental que predispõe a resultado mal
adaptativo.39 São classificados em três categorias.8
21
relacionados a família
Afetividade
Ausência de discórdia
e negligência
Fatores de proteção e resiliência
a. Atributos disposicionais da criança ou adolescente
Atividades
Autonomia
Fatores de Proteção
relacionados a criança
ou adolescente
Orientação
social positiva
Autoestima
Preferências
b. Características da família
Suporte cultural
Coesão
Fatores de
de Proteção
Proteção
Fatores
relacionados
a família
relacionados ao
apoio
individual e institucional
para a criança e família
Relacionamento da criança com
Afetividade
pares
e pessoas de fora da família
Ausência de discórdia
Atendimento
individual
e negligênciamédico, etc)
(psicológico,
Instituições religiosas
22
c. Fontes de apoio individual ou institucional disponíveis para a criança, o
adolescente e a família
Suporte cultural
Fatores de Proteção
relacionados ao apoio
individual e institucional para
a criança ou o adolescente
Relacionamento da criança com
pares e pessoas de fora da família
Atendimento individual
(psicológico, médico, etc)
Instituições religiosas
No contexto da proteção, observamos atualmente um crescente interesse
pelo fenômeno da resiliência, que pode ser destacada como “capacidade”
de se obter bons resultados a despeito das adversidades. Isso inclui desde a
habilidade que uma pessoa tem para lidar com as mudanças que acontecem
em sua vida, sua confiança na própria auto-eficácia, até o repertório de
estratégias e habilidades que dispõe para enfrentar os problemas com os
quais se depara.40
A resiliência é um processo resultante da interação entre fatores
genéticos e ambientais, os quais, também, oscilam em sua função, podendo
atuar como proteção em certos momentos e, em outros, como fator de
risco. Dessa forma, para compreendermos o que faz com que algumas
pessoas se mostrem resilientes apenas em determinadas situações é preciso
examinar primeiramente, essas interações, considerando-as a partir do
contexto em que acontecem e do momento histórico vivido pela pessoa,
já que ambos influenciam na forma como a adversidade é experienciada e,
conseqüentemente, na resposta da pessoa aos problemas.
23
Assim, a resiliência é considerada como o resultado final de processos
de proteção que não eliminam os riscos experimentados, mas encorajam o
indivíduo a lidar efetivamente com a situação e a sair fortalecido da mesma,
tendo as seguintes funções.40
Reduzir os impatos dos riscos
Processos de
Proteção
Reduzir reações negativas após
exposição ao risco
Estabelecer e manter
a autoestima e autoeficácia
Criar oportunidades
para reverter efeitos do Stress
Infelizmente, no geral, os estudos sobre o desenvolvimento humano
são direcionados mais aos fatores de risco, e não aos fatores de proteção e ao
fenômeno da resiliência.41
Fatores associados à resiliência na adolescência12
»» Relacionamento positivo com ao menos um adulto
»» Existência de uma âncora religiosa ou espiritual
»» Expectativas acadêmicas altas, realistas, e suporte adequado
»» Ambiente familiar positivo (limites claros e autonomia do adolescente)
»» Inteligência emocional
»» Habilidade para lidar com o estresse
24
Fatores de proteção para o desenvolvimento infantil na
gestação na adolescência42
»» Cuidado e aleitamento materno
»» Atendimento específico pré e pós-natal
»» Presença do pai da criança e apoio familiar
Alguns fatores de proteção para atos paternos de maus-tratos infantis
destacados são: auto-conceito positivo; habilidades interpessoais e existência
de suporte social.
Fatores que previnem a gestação na adolescência20
»» Boa saúde familiar, com bom relacionamento afetivo em seus diversos
aspectos
»» Hábitos de leitura sobre sexo
»» Maior preocupação com anticoncepção e prevenção contra DSTs
»» Práticas parentais adequadas
»» Perspectivas dos adolescentes para o futuro
»» Permanência na escola
Pontos para reflexão...
Alguns fatores podem ser considerados como risco ou proteção, dependendo das características que o determinam. Características individuais,
sistema familiar e rede de apoio social e afetivo têm sido apontados como
os indicadores de proteção mais eficazes para a promoção de resiliência ou
25
É necessário compreendermos
que a busca pela gravidez
na adolescência pode ser
um fator protetor, como por
exemplo, contra agressões
intrafamiliares.15
como os fatores de risco mais críticos para a instalação
de condições de vulnerabilidade.43
Assim, a gravidez é sempre uma possibilidade ou
um risco, dependendo de como o par amoroso encare
a situação na adolescência.27 A paternidade por adolescentes pode se configurar, sim, como experiência
positiva, sendo destacada a necessidade de uma rede
de apoio diferenciada para os jovens pais, constituída
de serviços de saúde que promovam também ações
educativas, preventivas em relação a doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), gravidez indesejada, e
paternidade.44
Neste sentido, é necessário compreendermos
que, a busca por uma gravidez na adolescência pode
ser um fator protetor, como por exemplo, contra
agressões intrafamiliares.15 Assim algumas jovens podem vislumbrar uma gravidez como uma possibilidade
de construir sua própria família, esquivando-se de um
ambiente hostil.
26
Referências
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Silva, J. L. P. (2008). A Gravidez na adolescência: uma visão multidisciplinar. Em:
M. I. Saito, L. E. da Silva & M. M. Leal (Eds.), Adolescência: prevenção e risco (2
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Coelho, H. M. M., Machado, N. O. & Saito, M. I. (2008). Repercussões
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Rosa, A. J., Reis, A. O. A. & Tanaka, A. C. (2007). Gestações sucessivas na
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7.
Saito, M. I. (2008). Adolescência, Cultura, Vulnerabilidade e Risco. A Prevenção
em questão. Em: M. I. Saito, L. E. da Silva & M. M. Leal (Eds.). Adolescência:
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27
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31
Parentalidade
Não podemos analisar a parentalidade na adolescência como um fenômeno
com características rigidamente definidas. Ela é vivenciada de acordo com a cultura
e geralmente está embasada em valores e sentimentos das famílias.1 Enquanto no
início do século XX a gravidez de adolescentes era considerada um acontecimento
habitual para os padrões culturais da época, na atualidade apresenta-se como um
tema polêmico pela mudança do papel da mulher na sociedade e, quase sempre
por ocorrer, diferentemente do passado, fora de uma relação de conjugalidade
estabelecida.2, 3
Um dos fatores que podem contribuir para parentalidade na adolescência refere-se à mudança de status social vivenciada pela jovem mãe. Em determinados
contextos, no geral, mais sócio-economicamente desfavorecidos, a maternidade e
a aparência física da gravidez pode contribuir para o aumento do status social da
jovem. Além disso, tais jovens podem não considerar necessariamente a gravidez
adolescente como um problema social e de saúde.4
33
O comportamento da mãe e do pai em
relação ao bebê
O comportamento dos pais em relação ao bebê se dá de acordo com
uma série de eventos intrinsicamente relacionados:5, 6
Herança genética
As respostas do bebê
Comportamento
da mãe e do pai
em relação ao bebê
História de relações interpessoais
com sua própria família e um com outro
Experiências passadas com
essa gravidez ou gravidez anterior
Absorção da prática e valores culturais
A interação positiva da mãe adolescente e seu filho pode ser impulsionada pelo seu envolvimento com a amamentação.7
Neste contexto, cabe lembrarmos que a adolescência refere-se a um
processo de crises sucessivas a serem enfrentadas pela adolescente com
obstáculos:8
Mudanças que o adolescente enfrenta
34
Intrínsecos
Extrínsecos
Corporais, mentais e emocionais de
base neurohormonal
Relacionamento com o feto e, a seguir,
com o bebê, com o parceiro, com a
família e de sua vida escolar e social
Algumas dificuldades enfrentadas pelas jovens mães 9, 10,
11, 12, 13
»» São menos expressivas em comparação à mães não adolescentes,
»» apresentam menos vocalizações direcionadas ao bebê,
»» menos momentos de atenção compartilhada do que as mães de mais
idade,
»» respondem menos contingentemente aos comportamentos dos seus
filhos,
»» mantém laços afetivos mais tênues,
»» tem estimativas mais inexatas acerca das idades em que um bebê
típico atinge os estágios comuns de desenvolvimento,
»» enfrentam maior estresse,
»» tendem a ser menos sensitivas, menos paciente, menos comunicativas,
»» podem não interpretar bem as necessidades de seus filhos,
»» tendem a ser mais negligentes no cuidado da saúde do filho,
»» tem mais dificuldades em amamentar (maiores de 16 anos tendem
a amamentar mais do que as mais novas),
»» tem menos apoio para a amamentação,
»» atrasam o calendário vacinal,
»» tem risco nutricional por dificuldades econômicas e/ou falta de
orientações.
Podemos relacionar às dificuldades enfrentadas por tais
jovens:11, 12, 14
»» à carência econômica,
35
Por isso é importante que as
»» à precariedade de serviços de apoio e/ou da família,
propostas de intervenções
»» à falta de serviços de pré-natal apropriados para
gestantes adolescentes,
sejam direcionadas tanto
»» à falta de serviços de saúde adequados para o acompanhamento mãe e filho,
para as mães como para
os pais, no sentido de
»» a poucos recursos disponíveis que incrementam as
perdas e frustrações no processo parental,
prepará-los para tal função.
»» maior estresse vivenciado,
»» raramente a jovem tem um companheiro que as
apóie,
»» tendência a ter mais filhos,
»» ter que conciliar as demandas adolescentes, educacionais e maternais.
A auto-imagem do adolescente é considerada também
como uma influência importante no seu desejo de envolvimento com o bebê, bem como as expectativas pessoais em
relação ao papel paterno.
No caso do jovem pai, alguns problemas também podem
ser apontados como podendo minimizar a intensidade de
suas aspirações de poder influenciar positivamente a vida de
seu filho pela manutenção de contato e envolvimento com
o bebê, tais como:15, 16, 17
»» o aumento da responsabilidade,
»» a educação da criança,
»» a falta de recursos financeiros,
»» o sentimento de falta de maturidade e de frustração
por tentar conciliar o cuidado da criança e a vivência
da adolescência, perda da liberdade,
36
»» conflitos com a mãe do bebê e com vários membros da família da
parceira, bem como a dificuldade de freqüentar a escola,
»» desconhecimento dos estágios de desenvolvimento infantil.
Preparados?
Os adolescentes, assim como os homens em geral, são pouco preparados
para a função paterna, ocorrendo isso muitas vezes pela pouca participação
ou até exclusão do período da gestação e, também, exclusão do processo de
criação dos filhos ao longo da história.18
Pais e filhos, que relação é essa?
Ditos populares, o quanto você acredita neles?
Filho de onça
já nasce pintado.
Filho sem dor,
mãe sem amor.
Filho de burro
não pode ser
cavalo.
Filho aborrecido
nunca teve
bom castigo.
Filho de peixe,
peixinho é.
Filho de
avarento sai
pródigo
Coração de mãe
sempre cabe
mais um.
37
É necessário que os profissionais da área questionem seus próprios
mitos e crenças que podem influenciar na qualidade do atendimento oferecido. Os mitos podem gerar uma não identificação de fenômenos.19, 20 Para
isso, é necessário compreendermos o que são estilos ou práticas parentais.
»»
conjunto de práticas educativas ou atitudes utilizadas pelos cuidadores com o objetivo de educar, socializar e controlar o comportamento de seus filhos.21, 22
»»
divididas em dois grupos que podem promover
tanto comportamentos pró-sociais, como anti-sociais dependendo
da frequência e intensidade com que são utilizadas.22, 23, 24, 25, 26
Comportamentos pró-sociais
Comportamentos anti-sociais
·· Monitoria positiva
·· Técnicas disciplinares não coercitivas
·· Regras firmes mais flexíveis
·· Comportamento Moral
·· Amor incondicional ao (a) filho(a)
·· Negligência
·· Abuso físico e psicológico
·· Disciplina relaxada
·· Punição inconsistente
·· Monitoria negativa
Práticas parentais inadequadas e maus
tratos infantis
Ao refletirmos sobre os maus tratos infantis é necessários que os relacionemos às práticas parentais inadequadas: »» Negligência: definida como a ausência de supervisão e interesse dos
pais em relação à vida de seu filho. Inclui também a falta de cuidados
essenciais para com os filhos como: higiene, alimentação, suporte
emocional e estimulação cognitiva.27, 28
38
»» Abuso físico e psicológico: caracterizado pela disciplina por
meio de práticas corporais negativas, ameaça e chantagem
de abandono e de humilhação do filho.
Fatores de risco ao
desenvolvimento!!
»» Disciplina relaxada: caracterizada pelo não cumprimento das
regras estabelecidas.29
•• Violência física
»» Punição inconsistente: a consequência depende do humor dos
pais e não da acordo com o comportamento da criança.29, 30
•• Negligência
»» Monitoria estressante/negativa: se dá por meio do excesso de
fiscalização da vida dos filhos e pela grande quantidade de
instruções repetitivas, que não são seguidas pelos filhos.29, 31
Violência contra a criança pelos pais
•• Violência psicológica
(exposição à violência
conjugal)
•• Violência sexual
A violência intrafamiliar também está incluída dentre as práticas
parentais inadequadas. É um fenômeno universal (vivenciado em
todas as classes sociais) e internacional. É responsável por sequelas
nocivas ao desenvolvimento de todos os membros da família,19
devendo ser considerada como um fenômeno inaceitável!!
A violência Intrafamiliar contra a criança é considerada como
um dos fatores que mais estimula crianças e adolescentes e adolescentes a viverem nas ruas. Está também associada fortemente com
psicopatologias do desenvolvimento. É um fenômeno multicausal
que pode estar vinculado a questões sociais, culturais, econômicas,
religiosas, psicológicas e psiquiátricas.32, 33, 34
Modalidades
1.Violência física8, 40, 41
Envolve maus tratos corporais tais como: espancamento, queimaduras, fraturas, contusões entre outros.8
39
“...os pais apanham
Consequências:
da vida, e os filhos
-- Impactos deletérios para o desenvolvimento: físico, neurológico, intelectual e emocional.35, 36, 37
apanham dos pais!”
-- Principal causa de morte na infância.38
-- Crianças vítimas tem o dobro de probabilidade de serem
presas mais tarde por cometerem crimes violentos.39
-- Pais portadores de deficiência mental tem maior probabilidade de agredirem seus filhos.40
-- Crianças mais jovens e os bebês são mais vulneráveis.
-- Dificuldades em estimar violência física em crianças
pequenas.32
Identificação da violência física41, 42
Comportamentos (vítima)
Características da família agressiva
fisicamente
Personalidade dos pais abusivos
·· Muito agressivo ou apático
·· Temeroso
·· Hiperativo ou depressivo
·· Tendências auto-destrutivas e ao
isolamento
·· Baixa auto-estima
·· Tristeza, abatimento profundo
·· Medo excessivo dos pais
·· Relato de causas pouco prováveis
às lesões
·· Fugas de casa
·· Problemas no aprendizado
·· Faltas freqüentes na escola
·· Oculta e justifica as lesões da
criança de modo não convincente
ou contraditório
·· Considera a criança má e
desobediente
·· Existe abuso de álcool ou drogas
·· As expectativas sobre a criança
são excessivamente idealizadas
·· Defende uma disciplina severa
·· Antecedentes de violência
intrafamiliar
·· Dificuldades no manejo da raiva
·· Baixa tolerância à frustração
·· Baixa auto-estima
·· Rigidez
·· Ausência de empatia
·· Abuso ou dependência de
substâncias, depressão e
problemas físicos de saúde
·· Menor compreensão do papel
parental
·· Papel de pai visto como
estressante
·· Interagiam menos com seus filhos
40
2.Negligência
Privar a criança de algo essencial para o seu desenvolvimento sadio (alimentação, vestuário, segurança, estudo etc). Os efeitos podem levar à desnutrição, atraso global no desenvolvimento e até mesmo à fatalidade.43, 44
Identificação da negligência43, 44
Indicadores físicos
(vítima)
Comportamento
(vítima)
Características da família agressora
·· O desenvolvimento da criança é
deficiente
·· Problemas físicos e necessidades
não atendidas
·· Doenças reincidentes
·· Fadiga
·· Vestimenta inadequada ao clima
·· Comportamentos de hiper ou
hipo-atividade
·· Faltas e atrasos recorrentes a
escola ou atendimento médico
·· Comportamentos infantis ou
depressivos
·· Apática e passiva
·· Descuidada com a higiene
·· Não demonstra preocupação com
as necessidades da criança
3.Violência psicológica
É caracterizada pela relação entre cuidador e criança que é submetida
a ameaças de todos os tipos (abandono, suicídio, morte, danificação de
propriedade, agressão à vítima ou aos seus entes queridos etc.), humilhações
ou privação emocional, cobranças de comportamento, desvalorização,
discriminação, exploração, isolamento de amigos e familiares, insultos
constantes, etc.44
Consequências:44
-- Um modelo crônico que destrói o senso de segurança da criança.
-- Impacto negativo nos pensamentos intrapessoais, saúde emocional, habilidades sociais, aprendizado, saúde física.
41
Identificação da Violência Psicológica
(Considerada como a mais difícil de ser identificada)42, 46
Indicadores Físicos
(Vítima)
Comportamento
(Vítima)
Características da família agressora
·· Comportamentos infantis;
·· Distúrbio do sono e dificuldade
na fala
·· Enurese noturna
·· Problemas de saúde como
obesidade
·· Afecções na pele
·· Timidez ou agressividade
·· Destrutividade ou autodestrutividade
·· Isolamento
·· Baixa auto-estima
·· Depressão
·· Idéia e tentativa de suicídio
·· Insegurança
·· Expectativas irreais sobre a
criança
·· Rejeita
·· Aterroriza
·· Despreza
·· Exige demasiadamente
·· Descreve a criança como maldosa
ou diferente das demais
A exposição da criança à Violência Conjugal também é considerada
exemplo de violência psicológica, tendo as seguintes consequências:32, 35, 42, 47
»» Agressão, uso de álcool e/ou drogas.
»» Distúrbio de atenção, baixo rendimento escolar.
»» Ansiedade, depressão.
»» Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
4.Violência sexual
Configura-se como uma situação em que a criança ou adolescente é
usado para gratificação sexual de um adulto ou mesmo de um adolescente
mais velho, com base em uma relação de poder que pode incluir desde
carícias, manipulação da genitália, mama ou ânus, exploração sexual,
voyeurismo, pornografia e exibicionismo, até o ato sexual com ou sem
penetração, com ou sem violência”.42, 43
42
A violência sexual
Consequências:38, 48, 49, 50
envolve questões
»» Curto prazo:
culturais e de
-- Comportamento sexualizado, ansiedade, depressão, queixas
somáticas, agressão, comportamentos regressivos em crianças menores (enurese, encoprese, birras, choros), comportamentos auto-lesivos, problemas escolares, entre outros.
relacionamento
(dependência
social e afetiva
entre os membros
da família), o
»» Longo prazo:
-- Depressão, ansiedade, prostituição, problemas de relacionamento sexual, promiscuidade, abuso de substâncias, ideação
suicida, etc.
que dificulta a
notificação e
perpetua o silêncio.
Identificação da Violência Sexual 42, 51
Indicadores Físicos
(Vítima)
Comportamento
(Vítima)
Características da família agressora
·· Dor ou inchaço na área genital
ou anal
·· Sangramento vaginal
·· Secreções genitais ou penianas
·· Infecções urinárias
·· DSTs
·· Comprometimento no controle
dos esfíncteres
·· Enfermidades psicossomáticas
·· Dores abdominais
·· Gravidez
·· Comportamento sexual
inadequado para idade
·· Fuga de casa
·· Não confia em adultos
·· Brincadeiras sexuais agressivas
·· Vergonha excessiva
·· Ideias ou tentativas de suicídio
·· Autoflagelação
·· Depressão
·· Sentimento de culpa
·· Baixa auto-estima
·· Evita contatos sociais
·· É muito possessiva
·· Acusa a criança de promíscua
e sedutora e de ter atividade
sexual fora de casa
·· Crê que contato sexual é uma
forma de amor familiar
·· Oculta o abuso sexual e alega
outro agressor para proteger a
família
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47. Brancalhone, P. G. & Williams, L. C. A. (2003). Crianças expostas à violência
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49
Podemos avaliar as práticas educativas como fatores de risco ou de proteção
para o desenvolvimento infantil. Um ambiente familiar positivo pode ser destacado
com uma das principais razões para os jovens não se engajarem em comportamentos infracionais ou comportamentos não saudáveis.1, 2 Sendo assim, famílias com
características positivas podem oferecer proteção às suas crianças dos riscos da
comunidade, e famílias de alto risco podem encobrir as vantagens oferecidas por
uma “boa” vizinhança ou bairro.3
Filhos: o grande desafio!!!
Educar os filhos é uma tarefa complexa e para desempenhá-la é necessário
preparo e treinamento. Afinal, junto com a criança nasce um pai e uma mãe. A
criança e o adolescente vivem num mundo complexo e, portanto, passam por inúmeras experiências que contribuem para a formação de sua personalidade. Isso
não significa que características dos pais não interfiram. Muitas dificuldades que
eles tiveram quando pequenos são “reeditadas” no contato com os filhos.4
51
Dependendo
da qualidade
das mensagens
enviadas os canais
de comunicação
familiar se ABREM
ou FECHAM.
Reconhecer abertamente as próprias dificuldades é o primeiro passo
para construirmos acordos de convívio razoáveis na família. Pais e filhos
precisam crescer juntos: a cada etapa do desenvolvimento, é preciso fazer
ajustes na maneira de lidar com as situações que surgem. Não podemos
desconsiderar que os pais se modificam com o tempo e com a experiência,
e cada filho reage de modo diferente ao que é dito ou feito pelos pais.4
A autonomia da criança pode ser prejudicada quando fazemos tudo
por ela, quando ficamos sempre a sua disposição, atendendo tudo o que
a criança pede de forma exagerada. Por outro lado, o excesso de ordens e
ameaças desgasta o convívio e dificulta o desenvolvimento da responsabilidade e da capacidade de cuidar bem de si próprio.
Humilhar, depreciar, xingar e ofender cria mal-estar, tristeza, revolta
e mágoa, azedando o clima do relacionamento e prejudicando a auto-estima. Negar as dificuldades ou fugir dos problemas não faz com que eles
desapareçam: reconhecê-los e colocá-los como temas de conversas ajuda a
atravessar os momentos difíceis. É possível expressar sentimentos fortes e
difíceis de maneira clara e não prejudicial.
A ambiguidade e a inconsistência dos limites criam confusão e caos no
ambiente familiar. É importante chegar a um consenso sobre o que é aceitável e inaceitável no convívio.
Envolvimento paterno
A participação do pai da criança é muito importante durante o acompanhamento pré-natal e o primeiro ano de vida do bebê, e também para a
construção de vínculos e responsabilidades conjuntas com apoio na evolução do processo da gravidez e da formação da nova família.5 Quanto maior e
52
mais precoce o contato do bebê com seu pai, melhor é a relação
que estabelece com seu filho.6 Cabe ressaltar que crianças com
mais contato com o pai tendem a ter menos problemas comportamentais, ainda que o genitor não resida com elas.7
Algumas práticas educativas que promovem o
comportamento pró-social
Gentileza, solidariedade,
cooperação, amor e
amizade: valores básicos de
convívio (palavras casadas
com gestos e ações).
1.Monitoria positiva
O conjunto de práticas parentais que envolvem atenção e
conhecimento dos pais acerca do local onde o filho se encontra
e das atividades que são desenvolvidas pelo mesmo. Supervisão
que proporcione um conjunto de regras sobre onde a criança
deva ir, com que pode associar-se, estabelecendo limites, mas
sem ser autoritário (isto é, muita exigência e pouco carinho).8, 9
Sugestões para o desenvolvimento da Monitoria Positiva
»» Escolher um momento diário para a convivência da
família é uma ótima estratégia. Exemplo: hora do
jantar.
Nesses momentos, procure conversar com seu filho,
não só falando, mas também ouvindo, respeitando o que
a criança tem a dizer. Deixe seu filho à vontade para falar,
até que se torne uma prática natural para a criança falar
espontaneamente sobre os seus amigos, onde gosta de ir e a
atividade que prefere, assim procure promover a expressão de
sentimentos de seu filho.9
53
2.Comportamento moral
O processo de modelagem de papéis na identificação e nas interações
humanas, no que se refere principalmente a normas e valores transmitidos por meio do modelo parental. Para desenvolvê-lo é preciso apresentar
formas adequadas de se relacionar e defender valores como: honestidade,
generosidade, justiça e compaixão.8, 9
Exemplos para o desenvolvimento do comportamento moral:
»» Práticas voltadas para o desenvolvimento da empatia: fazer o exercício de se colocar no lugar do outro que está sofrendo.
»» Um outro exercício de reflexão sobre os valores morais pode ser
feito por meio dos programas de televisão. Exemplo: procure saber
o que seu filho assiste e depois discuta com ele quais os aspectos
positivos e negativos dos comportamentos dos personagens (para
que possam reagir criticamente).
Consequências do Modelo Moral:8, 9
»» Aumento: auto-estima da criança.
»» Comportamentos socialmente adequados (colaboração, apoio,
solidariedade).
»» Autoconceito em crianças e adolescentes que convivem com pais
que têm esta conduta (aprendem a fazer julgamentos morais
apropriados).
O uso deste modelo, juntamente com a Monitoria Positiva, é uma das
melhores maneiras de se evitar o surgimento de problemas de comportamentos no futuro tais como: as agressões, o uso de drogas, entre outros.
54
Em síntese9
Estilo parental inadequado
Estilo parental adequado
·· Disciplina inconsistente
·· Disciplina consistente
·· Permissividade
·· Limites
·· Regras caóticas ou incoerentes
·· Regras firmes, mas flexíveis
·· Supervisão inexistente ou falha (nunca sabe
onde o filho está)
·· Supervisão adequada (sabe onde filho está)
·· Interação verbal aversiva, extensa e frequente
·· Interação verbal positiva, extensa e frequente
·· Pouco afeto
·· Muito afeto
·· Muita crítica
·· Índice alto de elogios ao comportamento
apropriado
·· Ignora esforços do filho para melhorar
·· Reconhece e valida os esforços do filho para
melhorar
·· Muita atenção ao comportamento
inapropriado
·· Pouca atenção (quando possivel) ao
comportamento inapropriado
·· Emprego frequente e intenso de violência
(física, psicológica ou sexual) ou negligência.
·· Ausência de violência
·· Pouco sorriso
·· Muito sorriso
·· Não afaga ou demonstra carinho
·· Afaga e demonstra carinho
·· Não conversa
·· Há diálogo frequente
·· Não ouve
·· Ouve
·· Não demonstra empatia
·· Demonstra empatia
·· Uso de sarcasmo com freqüência
·· Pouca ou nenhuma utilização de sarcasmo
·· Uso de modelos inadequados
·· Uso de modelos apropriados
·· Brigas na frente do filho
·· Minimiza brigas na frente do filho
Lembre-se: não existem soluções simplistas para problemas humanos.
A vida e o relacionamento entre as pessoas são ricos e complexos demais
para serem enquadrados em receitas rígidas e padronizadas.
55
Nos relacionamentos
entre pais e filhos,
por mais recursos que
alguém tenha, sempre
haverá momentos de
não se saber o que
fazer.
O ESSENCIAL é manterse em sintonia com
os filhos para reagir
de modo flexível, no
fluxo contínuo de
descobrir e redescobrir
aspectos novos do
relacionamento.
E isso é fascinante
e misterioso!!
Estabelecendo limites e regras...
É importante considerar antes da escolha das regras9
»» O número de filhos (regras comuns e específicas para cada um).
»» A idade da criança (crianças muito pequenas não compreendem certas
regras).
»» Decidir quais serão as principais regras (dentro e fora do ambiente
familiar).
»» Faça uma lista dos comportamentos aceitos e não aceitos.
»» Elaborar uma rotina para a casa (com os horários das principais atividades das crianças).
Bater ou não bater? O que a palmada realmente ensina? 9, 10, 11, 12
»» A temer o maior, o mais forte ou o mais poderoso.
»» A perda de interesse pela atividade que estava desenvolvendo no
momento em que apanhou.
»» Que o comportamento agressivo é válido.
»» Que a agressão física é uma atitude normal e praticável.
»» Que a força bruta é mais importante que a razão e o diálogo.
»» Que os pais, figuras de quem a criança espera proteção e amparo,
não são confiáveis.
»» Bater gera muita raiva e a criança lembra mais da raiva que está
sentindo do que da “lição” que o cuidador queria dar.
»» Que ocultar ou omitir fatos pode dar bons resultados e evitar umas
boas “palmadas”, pois quando os pais não ficam sabendo não batem.
56
»» Uma simples palmada é um ato de violência: a violência pode crescer
– primeiro um tapa, depois safanões e agressões fortes.
»» Bater gera sentimentos negativos na criança.
»» Bater pode causar ferimentos e levar até a morte.
Mas como disciplinar sem bater?10, 11
»» Premiando ou reforçando o bom comportamento! (elogiar, incentivar
e ressaltar).
»» Entendendo que premiar não é obrigatoriamente “dar coisas materiais”! (Oferecendo nosso carinho e aprovação, eles terão sua autoestima elevada e sentirão prazer em agir desta forma).
»» Fazendo com que a criança assuma as conseqüências dos seus atos
(positivas ou negativas)! Apresente o fato negativo como algo a ser
revisto, um ato que pode ser mudado e não o relacione a personalidade do indivíduo como: você é desonesto, pois assim ele poderá
acreditar que não tem jeito mesmo.
»» Retirando previlégios (exemplo, ficar sem jogar videogame)
quando necessário.
Disciplina e limites na adolescência
Os pais têm o dever de dar liberdade suficiente aos filhos para que
conheçam a vida do lado de fora do círculo familiar, mas também devem
impedir que se machuquem demais nesta experiência.
57
Quando dizer não:
É comum que os adolescentes exijam maior liberdade do que pensam
que vão conseguir, às vezes mais do que desejam. Os pais não devem se
preocupar caso necessitem, uma vez ou outra, dizer um não definitivo para
seu filho.
Algumas dicas importantes:
»» Julgue cada exigência de liberdade conforme as circunstâncias.
»» Não espere que seu adolescente seja perfeitamente coerente.
»» Ouça seu filho.
»» Faça com que ele assuma sua própria responsabilidade financeira.
»» Encoraje o relacionamento com amigos e o envolvimento do adolescente em atividades que nada tenham a ver com vida familiar.
»» Envolva seu adolescente em algumas atividades domésticas (tarefa
regular e necessária).
»» Estabeleça setores nos quais pode “dar palpites” (ex: andamentos dos
estudos ou lugares que ele pode frequentar quando sair sozinho) e pelos
quais o próprio adolescente possa responsabilizar-se (ex: arrumação
do quarto ou gastos pessoais).
»» Aceite seus próprios limites (você não pode obrigá-lo a fazer algumas coisas, mas pode ensiná-lo que suas decisões tem sempre
consequências).
»» Deixe o adolescente tomar suas próprias decisões, mesmo quando
achar que a decisão dele não é a melhor possível.
»» Deixe-o arcar com as conseqüências das decisões que todos tenham
concordado em deixar sobre responsabilidade dele.
58
»» Seu filho é um indivíduo, não espere que ele tenha os mesmo sonhos
e as mesmas aspirações que você.
»» Não jogue sobre os ombros de seu filho o peso do sentimento de que
ele é “tudo para você”. É responsabilidade demais.
»» Não tente limitar os contatos do seu filho com os amigos e fora da
família.
»» Demonstre interesse pelas coisas que seu adolescente faz. Mas não
esqueça que os segredos fazem parte da adolescência.
»» Mostre que você não depende dele. Comece a pensar na sua vida
pessoal ou profissional, para que haja outras fontes de satisfação
para você.
»» Não faça papel de vítima.
E por fim...
»» Seja flexível, mas evite voltar atrás nas decisões.
»» Aprenda a negociar.
»» Explique o porque de sua decisão.
»» Mostre opções de escolha.
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adolescência: aspectos teóricos e estratégias de intervenção. São Paulo: Casa
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Cognitivo-Comportamental (Cap. 26, pp. 501-525). Santo André: ESETec
Editores Associados.
60
A etapa do casamento pode ser caracterizada de diferentes formas,
essencialmente com as transformações sociais atuais. Casar representa mais
do que a união de duas pessoas, representa a união de dois complexos e
intrincados sistemas familiares.1
A qualidade do relacionamento conjugal deve ser um fator considerado
na reflexão sobre parentalidade,2 especialmente na adolescência. A qualidade
do relacionamento envolve os recursos pessoais dos cônjuges, o contexto de
inserção do casal e processos adaptativos. É resultado do processo dinâmico
e interativo do casal, razão desse caráter multidimensional.3
Família e ciclo vital
Assim como o indivíduo, a família também possui seu ciclo vital, sendo
esse dividido em quatro fases: Fase de Aquisição, Família Adolescente, Fase
Madura e Fase Última.5, 6
61
Ciclo Vital Familiar
Importante!
A qualidade do
relacionamento
conjugal também
pode ser
considerada como
Aquisição:
• Formação da família
• Filhos
• Padrões próprios
• Patrimônio
• Novos papéis
• Nova rede
• Estudo e profissão
um estressor que
pode afetar o
desenvolvimento
da criança.
4
Madura:
• Saída dos filhos
• Volta dos filhos
• Reestruturação
• Novas metas
• Agregados
• Aposentadorias
Fases do
Ciclo Vital Familiar
Família adolescente:
• Transformações
• Questionamentos
• Crise do meio da vida
• Relações ambíguas
• Hierarquias
• Pais ou um dos pais
adolescentes
Última:
• Envelhecimento
• Dependência
• Perda de papéis
• Perda de funções
• Segurança
• Administração social
da longevidade
Cada uma das fases também apresenta características próprias, bem
como suas “crises previsíveis”. Vale ressaltar que tais fases não são lineares
e podem ocorrer de forma simultânea.
62
Destacamos, a fase de aquisição, que é a primeira fase do Ciclo Vital
Familiar, e inclui a escolha do parceiro, a formação de um novo casal, a chegada
do primeiro filho e a vida com filhos pequenos. Há o predomínio da tarefa do
adquirir em todos os sentidos: material, emocional e psicológico.7, 8, 9
Esse é o momento de aquisição de um modelo de família próprio, e
assim, há uma seleção entre os modelos adquiridos em suas famílias de origem e entre aqueles que vão adotar em seu casamento ou união. Para os
casais de adolescentes que permanecem com suas famílias, há a difícil tarefa
de adquirir espaço para a relação conjugal no emaranhado de relações já
existentes no sistema, que é extremamente conhecido a um dos cônjuges
e estranho ao outro, além de definirem e investirem nos papéis de marido/
esposa e pai/mãe. Ou seja, muitas aquisições simultâneas.7, 8, 9
Equilíbrio na relação
do novo casal
=
Diferenciação emocional
(das famílias de origem;
individuo; casal)
Alguns fatores influenciam na formação da identidade do casal, tais
como: a) história de cada um, b) afinidade, c) diferenças culturais, e d) reais
motivos da união.7
Intergeracionalidade e mitos familiares
O fenômeno da intergeracionalidade implica no pertencimento a uma
família, na construção da identidade, na inserção em parte de uma sociedade
e em uma determinada cultura.10 O casamento não diz respeito apenas aos
63
“As pessoas
quando se casam
trazem de suas
famílias de
origem as suas
mitologias que, ora
se assemelham,
vínculos interpessoais entre duas pessoas, mas também a todos os
contextos nos quais essas pessoas interagirão daí em diante.11
Dentre desse contexto, a cultura com seus mitos, apontam elementos fundamentais que permeiam as civilizações, sendo criados na
base do contexto histórico e social de cada povo.12 O mito pode ser
compreendido, como uma narrativa que se dirige para uma totalidade,
que é transmitida de uma época a outra.13 Os mitos podem muitas vezes, também, ser um ponto de divergência entre o novo casal.
Alguns importantes mitos conjugais: 7, 14
ora se diferenciam
»» “O marido e a esposa devem fazer tudo juntos”
daquelas da
»» “Temos que lutar para salvar o casamento”
família do
»» “Você deve fazer o outro feliz no casamento”
cônjuge”.12
»» “O matrimônio pode realizar todos os nossos sonhos”
»» “Os que amam de verdade adivinham os pensamentos
e sentimentos do outro”
»» “Um casamento infeliz é melhor que um lar desfeito”
»» “Os opostos se atraem e se completam”
»» “Os casais não devem revelar seus problemas a estranhos”
»» “Conforme-se com o que você tem”
»» “O verdadeiro amor não muda com o tempo”
»» “Casamento acaba com o amor”
»» “Em briga de marido e mulher não se deve meter a colher”
»» “O ciúmes justifica a agressão”
»» “O casamento e o amor são eternos”
»» “O dinheiro é a origem de tudo”
64
»» “O arrependimento e o remorso por parte do homem é sinal de
mudança”
»» “As crianças estarão sãs e salvas nas famílias”
»» “Nasceu assim é de família”
A defesa de tais mitos pode ser ponto constante de conflitos e negociações,
pois cada um tem que se adaptar e adotar os padrões do outro.
Relacionamento adolescente
Nas relações adolescentes predomina o amor romântico, que estimula fortes emoções e sentimentos, acompanhados da idealização da relação
com o parceiro, o que motivaria e tornaria legítimo o início das relações
sexuais sem proteção, uma vez que a eventualidade de uma gravidez pode
ser vista de forma positiva.15
Um importante fator precipitante da união não formal e coabitação entre
os casais na adolescência está relacionado à ocorrência de uma gestação.16
A união conjugal observada pelo Censo Demográfico de 2000 indicou que o
número de mulheres brasileiras unidas conjugalmente, entre 15 e 19 anos, era
três vezes maior do que os homens nessa mesma faixa etária.17
A união conjugal não necessariamente implica em independência em
relação as famílias de origem. Um dos principais fatores para a coabitação
de gestantes e mães adolescentes com as famílias, mesmo na condição de
casados e da comunhão livre, é a instabilidade socioeconômica.16
A união conjugal e/ou a paternidade pode alternar a percepção da gravidez/maternidade pela adolescente e também a percepção de toda a família, que passa a ter uma visão favorável do evento.18 Destacamos que a
presença do companheiro influencia favoravelmente a evolução da gravidez
65
e diminui riscos e efeitos desfavoráveis à saúde da criança, pois a insegurança e a solidão podem causar riscos físicos e psicológicos, principalmente
quando a mulher é adolescente.19
Os parceiros das mães adolescentes variam de acordo com o contexto
social.20 Em média, o pai adolescente é três anos mais velho do que a mãe
e, as chances de que esse complete os estudos, são ainda menores do que
as dela.21
Mudanças significativas podem ser observadas no perfil sociodemográfico dos co-responsáveis após a gestação: aumento do abandono escolar,
união formal e não formal e da coabitação.16
União por uma gravidez na adolescência
Algumas consequências da conjugalidade na adolescência 1,22, 23, 24, 25, 26, 27
66
·· baixo nível de estabilidade conjugal, por
abandono pelo parceiro ou deterioraçãodo
relacionamento amoroso;
·· oportunidade de se libertar da violência intrafamiliar e ingressar em uma nova fase de vida,
obtendo apoio em outra realidade;
·· fator de risco para a estruturação emocional
de um casal;
·· precipitação de uniões conjugais ainda que
em domicilios separados;
·· maiores chances de desajustes e
desagragação familiar;
·· pseudo-independência, substituindo os laços
com os pais pela dependência afetiva do
casal;
·· instabilidade da relação (podendo implicar
em fim da relação durante a gravidez e a
manutenção da residência com os pais;
·· tendência da ocorrência de separação, dentro
de no máximo dois anos.
As conseqüências da parentalidade na vida conjugal de adolescentes
podem ser diversas:28
Pode ser positiva, pois uniria o casal
pela decisão de viverem juntos,
promovendoo crescimento de ambos
e uma relação afetiva positiva, com
benefícios aos filhos.
Por outro lado, o nascimento de
um filho e a decisão de morarem
juntos poderiam desfazer o estado
de enamoramento anterior, levando
tais casais a experimentarem mais
problemas conjugais e separações.
Violência no namoro?!
As agressões entre os casais não se limitam a adultos casados: elas
podem ocorrer também entre jovens namorados. Uma pesquisa realizada
pela Fundação Oswaldo Cruz,29 feita com 3.205 estudantes, entre 15 e 19,
anos de todo o Brasil, identificou que 87% das adolescentes já vivenciaram
formas de violência no namoro ou no “ficar”. Relacionamentos efêmeros ou
rápidos foram suficientes para reunir episódios agressivos como: beliscões,
empurrões, tapas, xingamentos, ofensas e humilhação pela internet. Dos
adolescentes que mantinham relacionamentos afetivos, 85% admitiram já
ter dito aos parceiros coisas ruins em tom hostil, depreciações e xingamentos
e, igual proporção, relatou já ter sido vítima desse tipo de agressão. Muitas
meninas narraram não terminar o relacionamento por medo das ameaças.
Violência é um sinônimo de agressão e pode ser expressa de diferentes formas, podendo incluir desde atos mais leves até atos muito graves.30 A
agressão física ocorre em função múltiplas causas. Gostaríamos de salientar
aqui uma causa importante: a falta de habilidade em responder a situações
conjugais problemáticas, sendo produto do déficit de habilidades geral de comunicação tais como: habilidades sociais, lócus de controle e comunicação.31
67
Contínuo da Violência Doméstica
Fìsica
empurrar
jogar objetos
socos
usar armas
matar
suicidar-se
Morte
Emocional
xingar
depreciar
gritar
humilhar
Suicídio
Sexual
acusações
verbais
toque
indesejado
sexo forçado
Estupro
O Ciclo da Violência30
1. Acúmulo de tensão: raiva, brigas, discussões.
2. Explosão: agressões físicas, violência psicológica/sexual.
3. Calmaria: “fase da lua-de-mel”, desculpas, culpa, reconciliação
68
Habilidades Conjugais
Muitas separações conjugais e busca de suporte psicoterapêutico por
casais ocorrem por dificuldades de um ou ambos os cônjuges em habilidades
interpessoais. Tais pessoas, por algum motivo, não desenvolveram habilidades
satisfatórias para uma efetiva comunicação, o que se manifesta por meio
de expressões e sentimentos positivos, elogios, agrados, opiniões, desejos e
escuta ativa.32 Outras habilidades importantes são: habilidades de acalmarse e identificar estados de descontrole emocional (em si e no cônjuge), ouvir
de forma não defensiva e com atenção, validar o sentimento do cônjuge, e
romper o ciclo: queixa-crítica-defensividade-desdém.34
Assim, para um melhor relacionamento conjugal, habilidades cruciais
podem ser aprendidas ou aperfeiçoadas por meio de programas terapêuticos
ou educativos.2
Classificação das habilidades conjugais:34
»» Assertivas (manifestar opinião, concordar, discordar, desculpar-se,
admitir falhas, expressar desagrado, pedir mudança de comportamento do outro e lidar com críticas).
»» Empáticas (compreender e sentir o que alguém pensa e sente em
uma situação, sendo comunicada adequadamente tal compreensão
ou sentimento).
»» Expressão de sentimento positivo (gestos, expressão facial, toques,
implicando em caráter positivo que denota saúde e equilíbrio
emocional nas relações interpessoais, além de satisfação com os
comportamentos apresentados pelo outro).
»» Automonitoria (a pessoa observa, descreve, interpreta e regula seus
pensamentos, sentimentos e comportamentos em situações sociais).
69
»» Civilidade (desempenhos simples, padronizados segundo o contexto
em que ocorre, como dizer por favor, agradecer, pedir licença, entre
outros).
»» Comunicação (refere a fazer e responder perguntas, elogiar, manter e
encerrar conversação, ouvir atentamente e de forma não defensiva).
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73
Diversos estudos fornecem evidências de que a efetividade e as atitudes disciplinares dos pais estão associadas ao desenvolvimento saudável de
crianças e adolescentes.1 Assim, as jovens mães necessitam ser sensibilizadas para esse novo papel, analisando as implicações de sua conduta para o
desenvolvimento de seu filho. Projetos de intervenção junto a mães adolescentes podem prevenir práticas educativas inadequadas possibilitando
maior interação mãe/bebê.2
Ao refletirmos sobre a gravidez na adolescência, e as intervenções a
ela dirigidas, não devemos descartar o fato de que uma parte considerável
dos parceiros das mães adolescentes é adolescente também. Tanto dados
governamentais, quanto dados de pesquisas acadêmicas ou de órgãos não
governamentais parecem ignorar a existência de um grande número de
adolescentes que se tornam pais.3
Em virtude dos riscos envolvidos em uma gestação na adolescência,
destaca-se a necessidade de que ações preventivas sejam desenvolvidas,
incluindo também o jovem pai nesse processo. Quanto antes as intervenções
ocorrerem, melhores serão os resultados.4 Lembrando que as ações
preventivas destinam-se a diminuir o potencial de risco e desenvolver
o potencial de enfrentamento com intervenções psicoeducacionais em
75
Há necessidade da
inclusão dos parceiros
nos programas de
assistência prénatal, inclusive em
programas de grupos
de casais, o que
possibilitaria auxiliálos de maneira mais
efetiva a enfrentar
dificuldades relativas
à gestação e
outras dificuldades
indiretamente
causadas por ela.
diferentes tipos de prevenção e, assim, tornar-se um fator de proteção para
o desenvolvimento infantil.5, 6
Há necessidade de intervenções na área, com a avaliação de programas voltados para os pais adolescentes, utilizando-se recursos como grupos
de estudo, palestras e materiais impressos.7 Deve-se incluir, também, ações
que incentivem a participação responsável masculina na vida reprodutiva e
familiar, com a reavaliação dos preconceitos em relação aos pais adolescentes e a oferta de condições para maior interação entre pai-mãe-filho.8
Intervenções com pais podem trazer benefícios para as famílias com a
melhoria nas atividades parentais e aumento da coesão familiar9 e, para a
sociedade em geral, pois mais pessoas teriam a oportunidade de crescer e
se desenvolver em ambiente familiar saudável.10 Estas intervenções podem
aprimorar as expectativas dos pais adolescentes relativas ao emprego,
ao planejamento vocacional, à relação com o filho, ao uso de métodos
contraceptivos e às perspectivas para o futuro.11
Destacamos, também, a necessidade de que as intervenções não
sejam focalizadas somente nos fatores de risco, mas também incluam as
competências e recursos informais presentes na vida das pessoas.12 Nesse
contexto, as intervenções com pais são apontadas como um importante
mecanismo de desenvolvimento da resiliência familiar.13 Propostas
preventivas que valorizem e incrementem fatores de proteção poderão
amenizar eventuais sofrimentos de todos os envolvidos com a situação da
parentalidade na adolescência.14
Intervenção precoce
Dentre as intervenções descritas na literatura nacional13, 15 poucas são
direcionados aos pais adolescentes ou à prevenção de gravidez na adolescência. Destacamos três dessas intervenções a seguir:
76
Intervenção com gestantes
adolescentes de baixo poder
aquisitivo: prevenção de
maus tratos e negligência16
·· Intervenção em grupo (prevenção primária) com oito gestantes
adolescentes de baixo poder aquisitivo realizada em Posto de Saúde.
·· Resultados obtidos indicaram que os objetivos foram alcançado,
sendo eles: a) aumento da auto-estima, b) desenvolvimento de
habilidades interpessoais e c) maiores conhecimentos sobre métodos
contraceptivos e cuidados de crianças pequenas.
Gravidez na adolescência:
uma questão interdisciplinar17
·· Intervenção em grupo direcionada a seis jovens gestantes de baixa renda
inseridas em instituição especializada e teve como diferencial o caráter
interdisciplinar (Psicologia e Fisioterapia), e como local a própria instituição.
·· Resultados favoráveis apontaram: 1) diminuição de sintomas
depressivos, 2) melhora da auto-estima e 3) desenvolvimento de
habilidades sociais das adolescentes grávidas. Tal estudo também
incluiu importantes orientações para o desenvolvimento da
maternagem.
Intervenção focada na
família: um estudo de caso
com mãe adolescente e
criança de risco18
·· Intervenção com uma mãe (15 anos) e sua filha (20 meses) no lar
·· Duas etapas: a) intervenção com a mãe (3 sessões) e b) intervenção
com a criança (9 sessões).
·· Resultados foram: melhora significativa no desenvolvimento global da
criança, a mãe se conscientizou e passou a estimular a criança, maior
satisfação da mãe quanto ao seu papel, avaliando o temperamento da
filha de forma mais positiva, resultando em interações mais freqüentes,
mãe voltou a estudar, houve diminuição de sintomas depressivos e não
mais se mostrou negligente.
Na América do Norte e Europa encontrou-se um maior número de intervenções com pais adolescentes.15 Um estudo de revisão de 14 estudos
sobre programas de intervenção precoce para pais adolescentes verificou
(mesmo com diferentes delineamentos experimentais) que todos os programas demonstram ser efetivos na expansão psicossocial e desenvolvimental
de mães adolescentes e seus filhos.19
77
Pesquisas direcionadas a casais de adolescentes
Atendimento em
grupo a gestantes
adolescentes
e seus
companheiros:
uma experiência
de 10 anos20
·· Descrição de intervenção direcionado ao atendimento em grupo a gestantes adolescentes
e seus companheiros jovens, com 2000 gestantes adolescentes.
·· Resultados pouco sistematizados, no qual se observou um número significativo de:
adolescentes solteiras e sem companheiros, famílias de pais separados e alcoolismo por
um dos pais.
·· Grande parte do trabalho de intervenção foi desenvolvido com atividades grupais (grupos
abertos), com equipe multidisciplinar, focada no atendimento realizado com a gestante
(da gestação até um ano do bebê).
Conjugalidade
e parentalidade
na adolescência:
uma proposta
interventiva13
·· Estudo 1: desenvolver, implementar e avaliar um programa direcionado a casais de
jovens adultos em que pelo menos um membro do casal tivesse tido seu primeiro filho
na adolescência e cujos primogênitos estivessem no final da primeira infância, sendo a
intervenção focada no aprimoramento de habilidades parentais e conjugais. Participantes:
Dois casais de pais, com idades entre 24 e 30 anos.
·· Estudo 2: Objetivo: replicar o programa de intervenção para pais elaborado no Estudo 1
e avaliá-lo com pais adolescentes cujos filhos estivessem no início da primeira infância.
Participantes: dois casais de pais, com idades entre 15 e 18 anos.
·· Estudos implicaram em múltiplas medidas, sendo alguns instrumentos aplicados em três
momentos (pré-teste, pós-teste e follow-up) e auto-registros de satisfação parental e
conjugal ocorridos durante a intervenção.
·· A intervenção domiciliar, com 10 encontros semanais de aproximadamente 2 horas cada,
por três meses, com jogos e atividades recreativas sobre habilidades parentais e conjugais.
·· Resultados: intervenção psicoterapêutica foi fundamental para lidar com os aspectos
emocionais associados ao histórico de gestação na adolescência, fatores relacionados
ao histórico de violência e ao relacionamento conjugal neste contexto, de forma a gerar
autoconhecimento, melhorar a interação do casal e, assim, maximizar os aspectos
educacionais sobre manejo de comportamento infantil.
·· Intervir com casais em fases distintas possibilitou diferentes compreensões do fenômeno.
·· Destaca-se a influência bilateral entre os contextos parental e conjugal.
·· Pontos positivos → caráter inédito, inclusão do jovem pai e da conjugalidade, metodologia de
intervenção (jogos), intervenção na residência, múltiplos instrumentos, trabalho em equipe.
78
Sugestões importantes!13
»» Trabalho em equipe.
»» Integração com a rede de apoio já disponível.
»» Caráter lúdico das atividades.
»» Contar histórias ilustrativas dos temas discutidos.
»» Intervenções na área requerem: formação especializada, revisão de
ideias pré-concebidas, enfoque na resiliência, maximização da rede
de apoio.
»» Pela vulnerabilidade é necessário intervenções em diferentes níveis.
Técnicas de entrevista
Um desafio ao se lidar com adolescentes é a grande irregularidade
e instabilidade de suas condutas. Durante o atendimento, poderão surgir
comportamentos e expressões próprias da adolescência, que representam conflitos e fatores emocionais que mobilizam o profissional, além de exigir recursos específicos.21
Condutas que facilitam a abordagem do adolescente:
»» Criar um clima de confiança.
»» Buscar empatia.
»» Desempenhar sempre um papel ativo.
»» Demonstrar respeito.
»» Aceitar e compreender o adolescente.
»» Traçar alternativas concretas e sustentáveis de acordo com o grau de
maturidade do adolescente.
79
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82
Notificação
A notificação deve ser compreendida e realizada como um instrumento
importante de proteção e não de denúncia e punição.1 Segundo o Estatuto
da Criança e do Adolescente – ECA2 “Nenhuma criança ou adolescente será
objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por
ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”.
O artigo 227 da Constituição Federal do Brasil diz na sua íntegra:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão”.
Uma vez identificada uma suspeita de maus-tratos contra crianças,
qualquer profissional têm a obrigação, segundo o ECA (artigo 245), de comunicar à autoridade competente. Em casos de omissão, o profissional recebe
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como pena uma multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o
dobro em casos de reincidência.2

A orientação do Ministério da Saúde para Profissionais e Gestores de Saúde sobre os procedimentos a serem adotados na notificação são as seguintes:
Fluxo do registro da notificação e medidas de proteção1
·· Preencher a Ficha de Notificação Individual/Investigação de Violência
Intrafamiliar, Sexual e/ou outras Violências (Viva-Contínuo), com o maior
número de informações possíveis para a garantia dos direitos, proteção e
defesa de crianças, adolescentes e suas famílias.
Opções adicionais para
informações e para apoio:1
• Disque 100 – Disque Denúncia
Nacional de Enfrentamento
à Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes.
• Por e-mail:
[email protected]
• Disque 180 – Centro de
Atendimento à Mulher.
·· Preencher a Ficha em três vias:
--a ficha original deve ser encaminhada ao serviço de Vigilância em Saúde/
Epidemiológica, da Secretaria de Saúde do Município;
--a segunda via deve ser encaminhada ao Conselho Tutelar e/ou autoridades
competentes (Varas da Infância e Juventude ou Ministério Público);
--a terceira via fica na Unidade de Saúde que notificou o caso de violência.
A denúncia deve ser feita, pelo profissional, a algum órgão competente
(Conselho Tutelar, Delegacia de Defesa da Mulher, Vara da Infância e Adolescência ou Promotor). Como é previsto no ECA2 no artigo 13:
“Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra a criança
ou o adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar
da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais”.
Trabalhar em rede é...
Para atuarmos de modo mais eficaz na proteção de crianças e adolescentes, a realização do trabalho em rede é fundamental. Trabalhar em rede
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é compartilhar objetivos e procedimentos, obtendo as interações necessárias com as outras instâncias institucionais.
Trabalhar em rede traz grandes desafios pessoais e
profissionais:3
»» evolução no domínio das técnicas de comunicação,
»» o uso habilidoso e criativo das ferramentas tecnológicas,
»» a revolução cultural,
»» a internalização dos fundamentos,
»» não podem ser processos apenas individuais, têm que
ser coletivos, pois não se faz uma rede sozinho.
A matéria prima das redes é a vontade das pessoas, sua
disponibilidade em vivenciar essas novas situações. O alimento
da malha da rede é a circulação da informação que apóie a
realização dos objetivos compartilhados. Mas apenas as boas
intenções não bastam para movimentar e dar sustentabilidade
às redes. Nem para sairmos da estrutura piramidal com base
estendida. É necessário que pessoas sejam reparadas, formadas
para as tarefas de sustentação, para manter a malha
íntegra e o fluxo contínuo.3
Um marco da efetividade dos resultados vem de
alguns trabalhos que começam a vislumbrar esta visão,
como a redução dos índices da gestação na adolescência no Estado de São Paulo relacionada a uma abordagem
integral dirigida à adolescentes de ambos os sexos, com ou
sem atividade sexual, oferecendo atendimento médico,
odontológico, social e psicológico.4, 5
Para um efetivo trabalho de rede, temos que buscar
e construir algumas condições importantes que são:6
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»» Integrar as diversas políticas públicas voltadas para a promoção dos
direitos da criança e do adolescente: saúde, educação, assistência
social, cultura, esporte, etc.
»» Mobilizar a sociedade para participar na política do atendimento,
organizando-se para ter instrumentos de controle social
 compartilhado e planejado.
»» Articular ações governamentais e não governamentais na assistên
cia a crianças e adolescentes.
»» Programas e serviços de atendimento existentes no município devem
interagir entre si, devem trocar informações necessárias e socializar
metodologias e conhecimentos acumulados, ter complementaridade
para evitar a sobreposição e a dispersão de recursos.
»» Introduzir mecanismos de acompanhamento e avaliação,
importantes
para monitorar a política implementada como, também, a qualidade
do serviço e o impacto na vida da criança, do adolescente e de suas
famílias.
Outras vantagens do trabalho em rede...
Uma rede forte e atuante
no município é garantia
da realização:
de atentimento
qualificado;
de plano de
qualificação e
requaliicação
profissional para
um efetivo trabalho
interdisciplinar;
de orçamento
municipal que prioriza
as problemáticas
relativas à infância e
de um plano de ação
detalhado e pactuado
entre os vários setores
sociais.
»» Troca de experiência entre os vários atores institucionais que potencialmente podem transformar-se em acúmulo de experiência e
de conhecimento, aumentando a difusão e disseminação em regiões
mais remotas.5
Referências
1.
Ministério da Saúde (2010). Linha de cuidados para a atenção integral à saúde
de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violência: orientação
para gestores e profissionais de saúde. Brasília Ministério da Saúde: Secretaria
de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas.
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2.
Brasil (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal no. 8069/1990
3.
Amaral, V. (2004). Desafios do trabalho em rede. Acessado em 27 de setembro de 2010. Disponível em http://www.rts.org.br/biblioteca/desafios-dotrabalho-em-rede.
4.
Takiuti, A. D. & Monteleone, M. L. A. (2009). Por que houve redução da gravidez na Adolescência no Estado de São Paulo - Brasil. Estratégia: Programa de
Saúde do Adolescente. Em: D. L. M Monteiro, A. J. B. Trajano & A. C. Bastos.
Gravidez e Adolescência (Cap.63, pp. 419-425). Rio de Janeiro: Revinter.
5.
Maia, J. M. D. (2010). Parentalidade e conjugalidade na adolescência: uma
proposta interventiva. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
6. Ministério da Educação e Cultura (2010). Rede de Proteção da Criança e do
Adolescente. Acesso em 27 de setembro de 2010. Disponível em http://www.
turminha.mpf.gov.br/para-o-professor/publicacoes/Guia-Escolar-parte3.pdf
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Impresso em maio de 2011 pela Suprema Gráfica e Editora, São Carlos - SP.