Educação na prevenção da insuficiência renal crônica: olhar da
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Educação na prevenção da insuficiência renal crônica: olhar da
Educação na prevenção da insuficiência renal crônica: olhar da equipe de saúde Paula Souza de Freitas (Enfermeira) [email protected] Marlene Harger Zimmerman (UEPG) [email protected] Eva Aparecida Almeida (UEPG) [email protected] Caroline dos Santos Gonçalves (UEPG) [email protected] Resumo: Os profissionais da saúde, além do compromisso ético e profissional, são educadores e responsáveis por sistematizar e incentivar o autocuidado, desenvolver atividades educativas de promoção e prevenção à saúde reduzindo a incidência de insuficiência doença renal crônica (IRC) em hipertensos e diabéticos. Objetivou-se nesta pesquisa investigar, sob o olhar dos profissionais de saúde, a prática da educação em saúde na prevenção da IRC em portadores de Diabetes Mellitus (DM) e/ou Hipertensão Arterial (HA). Pesquisa de campo, exploratória, qualitativa, com participação de 6 (seis) profissionais da saúde atuantes em Estratégia Saúde da Família (ESF) na cidade de Ponta Grossa-PR. O método de coleta foi entrevista individual semiestruturada, com a análise de dados através da interpretação das falas dos sujeitos. Resultados encontrados: participantes da pesquisa apresentaram idade entre 24 a 73 anos de idade, com média de 43 anos; 50% com ensino médio e 50% ensino superior. A consulta de enfermagem é realizada de maneira informal, na passagem do paciente dentro da Unidade Básica de Saúde (UBS); os profissionais têm conhecimento que a hipertensão e o diabetes levam a complicações renais e realizam ações para preveni-las. A educação em saúde contribui na prevenção da IRC e ações de prevenção são realizadas. Conclui-se que o enfermeiro juntamente com a equipe de saúde, deve ter participações em ações preventivas na atenção primária, através da educação em saúde. As UBS se tornam campos férteis para que o autocuidado e adesão ao tratamento se tornem realidade na vida dos portadores de doenças crônicas objetivando prevenção de complicações. Palavras Chave: Educação, Prevenção, Enfermeiro, Doenças Crônicas. Education in prevention of chronic renal failure: health team look Abstract: Health professionals, in addition to the ethical and professional commitment, and educators are responsible for systematizing and encourage self-care, developing educational activities for health promotion and prevention by reducing the incidence of chronic renal disease failure (IRC) in hypertensive and diabetic patients. This research aimed to investigate, under the gaze of health professionals the importance of health education in prevention of IRC in patients with Diabetes Mellitus (DM) and Hypertension (HA). Field research, exploratory, qualitative, with the participation of 6 (six) health professionals working in the family health strategy (ESF) in the city of Ponta Grossa-PR. the method of collection was individual interview with semi-structured data analysis through interpretation of speeches of the subjects. Results found: the survey participants were between the ages of 24 to 73 years of age, with an average of 43 years; 50% 50% secondary education and higher education. The nursing consultation is carried out informally, in the passage of the patient within the basic health unit (BHU); the professionals have knowledge that the hypertension and diabetes lead to kidney complications and perform actions to prevent them; Health education contributes to the prevention of IRC and prevention actions are performed. Conclusion: the nurse along with the health care team, must have participation in preventive actions on primary care through health education. The BHU become fertile fields for that self-care and treatment adherence to become reality in the lives of people with chronic diseases to prevent complications. Key Words: Education, Prevention, Nurse, Chronic Diseases. 1 Introdução A prática do profissional da saúde, em especial a do enfermeiro, é permeada pelos aspectos éticos, teóricos, técnicos e humanísticos. Além de possuir o papel de cuidador é educador, pois tem o dever de desenvolver atividades educativas de promoção e prevenção à saúde, reduzir a incidência de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), bem como buscar a melhoria na qualidade de vida das pessoas. Dayrell et al. (2009), relata que o estabelecimento de uma boa convivência com todos da equipe, deve ser iniciado desde o começo com o paciente. O bom relacionamento entre enfermeiro, médico, paciente, família e comunidade trará benefícios para ambas às partes, facilitando a obtenção de informações para que se possa promover e manter padrões de cuidados que o paciente tenha escolhido a seguir, respeitando a autonomia desta escolha e beneficiando principalmente o portador da patologia. A saúde pública tem como o processo saúde doença da coletividade, em que devemos ter uma visão holística do indivíduo. Pode-se definir saúde como a expressão do maior grau de bem estar que o indivíduo e a coletividade é capaz de alcançar através de um equilíbrio existencial dinâmico, mediado por um conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos (FORTES; ZOBOLI, 2003). Prevenir complicações de doenças é realizar educação em saúde, pois se está levando benefícios tanto para o indivíduo, família ou comunidade. Cuidar da saúde, favorecer a qualidade de vida é dever de todo profissional que presta assistência à saúde. Torna-se imprescindível que a educação em saúde passe a ser incorporada ao próprio funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), no que diz respeito à responsabilidade social, à definição de prioridades com relação à alocação e distribuição de recursos, ao gerenciamento de sistema, ao envolvimento organizado e responsável da população em todo o processo, à preparação mais adequada dos recursos humanos (FORTES; ZOBOLI, 2003). Em relação a esta consciência coletiva, ações preventivas fazem parte do cotidiano dos profissionais de saúde, podendo assumir também a conotação de dever e de responsabilidade para com o outro. Estas ações definem-se como intervenções orientadas a evitar o surgimento de doenças específicas, reduzindo sua incidência e prevalência na população. Seu objetivo é a redução do risco de doenças degenerativas ou outros agravos específicos (CZERESNIA, 2003). Martins (2005), aborda que doenças como Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial são consideradas degenerativas e as principais causadoras tanto de Insuficiência Renal Crônica ainda sem necessidade de diálise quanto em tratamento dialítico. A hipertensão arterial é definida como Uma pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e uma pressão arterial diastólica maior ou igual a 90 mmHg, em indivíduos que não estão fazendo uso de medicação anti-hipertensiva (BRASIL, 2002). Dados contabilizados de janeiro de 1999 à novembro de 2011, demonstram que o número de diabéticos (tipo 1 e 2) no Paraná totaliza-se em 22.865, e aqueles que possuem a patologia juntamente com a hipertensão arterial, contabiliza-se em um total de 142.073. No Brasil, respectivamente, há 423.818 e 2.138.874 indivíduos. O número de pessoas com hipertensão arterial totaliza-se em 545.491 no estado do Paraná, e no Brasil 7.101.934 (BRASIL, 2011). Em Ponta Grossa, 24.665 são portadores das DCNT (BRASIL, 2011). Lopes (2009), define por DM o resultado de uma secreção inadequada de insulina pelas células beta pancreáticas, defeitos na ação da insulina ou a associação desses dois distúrbios, podendo classifica-la em diabetes do tipo 1 e do tipo 2. Com etiologias diversas, é uma doença de um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos, que apresentam em comum a hiperglicemia crônica acompanhada de alterações no metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas. A hiperglicemia em longo prazo se associa a complicações, incluindo danos aos vasos sanguíneos, olhos, rins e sistema nervoso. Estimativas da Organização Mundial de Saúde relatam que o número de portadores de diabetes em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025 (BRASIL, 2006). De acordo com Silverthorn (2010), muitos diabéticos do tipo 1 desenvolvem a doença na infância em que cerca de 10% de todos os diabéticos têm o DM do tipo 1.Já a DM do tipo 2, esta descrita por Lopes (2009), como a forma mais comum de diabetes, correspondendo de 90 a 95% dos casos. A mesma caracteriza-se por distúrbios na ação e secreção da insulina e é frequentemente diagnosticada na idade adulta, em geral após os 40 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade. Ainda, Smeltzer et al. (2009), completa que para muitos pacientes, aproximadamente 75%, o diabetes do tipo 2 é detectado de forma acidental, por exemplo, quando se vai realizar algum exame laboratorial ou oftalmológico. No Brasil, o DM e a HA, são responsáveis pela primeira causa de mortalidade e de hospitalizações, de amputações de membros inferiores e representa ainda 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com IRC submetidos à diálise (BRASIL, 2006). Assim define-se IRC como condição fisiopatológica secundária a um grande número de etiologias, resultante da lesão de néfrons, muitas vezes necessitando de terapia dialítica para a sobrevivência, é o resultado da perda progressiva, lenta e irreversível da função renal (CRUZ, 2008). Completa-se que quando diagnosticadas precocemente, oferecem múltiplas chances de evitar complicações; quando não, retardam a progressão das já existentes e as perdas delas resultantes (BRASIL, 2002). Importante levar em consideração a história do paciente, sua condição socioeconômica, cultural, mental e pessoal para que a prevenção da saúde aconteça e possa assim ser efetiva, sendo o profissional enfermeiro da UBS o principal mediador. Nestas, a população tem o primeiro contato com os profissionais de saúde e local onde devem ter início a prevenção de doenças e suas complicações. Neste sentido, salienta-se a importância do enfermeiro frente ao cuidado ético, humanizado, de qualidade, executando a educação em saúde com respeito e dignidade. Pela importância que a HA e o DM assumem, o Brasil implantou desde 2002 o Programa HIPERDIA (Hipertensão/Diabetes) nas UBS, onde os pacientes com diagnóstico de HA e/ou DM são inscritos e passam a ter acompanhamento médico regular, fornecimento de medicação e principalmente acesso a atendimento direcionado para educação, prevenção e reconhecimento de sua doença (VOLQUIND; LAZZARI; SOUZA, 2005). Reforça-se que é importante o indivíduo ter o conhecimento de sua patologia e o impacto que esta doença pode trazer em sua vida, comprometendo seu estilo de viver, de se alimentar, preservando assim, o bem estar e a qualidade de vida. Fernandes (2008), descreve que a HA tem relação com o sistema renal de duas maneiras: os rins podem causar ou sofrer os efeitos da elevação da pressão arterial. A hipertensão pode fazer com que haja o aparecimento da doença renal e, em contrapartida, a doença renal pode causar HA ou agravá-la se já existente. Os distúrbios metabólicos causados pelo DM predispõem ao surgimento de doenças microvasculares específicas do diabetes na retina, glomérulos renais e nervos periféricos. Além disso, podem-se associar as doenças macrovasculares, aterosclerose, afetando artérias que irrigam o cérebro, coração e extremidades inferiores, levando a amputações não traumáticas de membros (LOPES, 2009). Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (2011), estimativas de 2011 revelam que cerca de 10 milhões de brasileiros são portadores de doenças renais crônicas (DRC) e a maioria não sabe disso. O diabetes e a hipertensão arterial são as principais causas de DRC. Todas essas complicações visam à importância do controle glicêmico e da pressão arterial, estas, manobras eficientes para que a prevenção de IRC seja de qualidade. Sabe-se que as medidas não farmacológicas como a redução de peso, a ingesta adequada de alimentos saudáveis com uma dieta rica em frutas e vegetais, juntamente com a redução sódio e açúcar, bebidas alcoólicas, parar de fumar e a realização de exercícios físicos regularmente; resultam numa queda de pressão arterial normalizando também os níveis glicêmicos (LOPES, 2009). Toda essa interação de controle a pressão arterial e glicemia, adesão a uma atividade física regular, uma dieta mais balanceada, parar de fumar e de ingerir bebidas alcoólicas e o hábito de realizar exames laboratoriais para controle da função renal, são fundamentais para o controle da HA e do DM e prevenção de IRC. A enfermagem é uma profissão comprometida com a qualidade de vida das pessoas e o profissional enfermeiro, deve estar atuando na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais (BRASIL, 2007), assumindo a responsabilidade de passar informações sobre os cuidados e prevenção à saúde como um todo. A prevenção da IRC em pacientes com hipertensão e diabetes, pode acontecer em diferentes níveis, sendo o nível primário realizado frequentemente pela ESF/UBS onde são identificados grupos de risco para a doença e intervenção nos fatores de risco como por exemplo, orientação antitabágica, diminuição de peso nos obesos, prática de exercícios físicos, uso dos medicamentos prescritos pelo médico de forma correta, aos portadores de DM tipo 2 e hipertensos sem nefropatia diabética, entre outros (BASTOS R; BASTOS M, 2007). Diante do exposto percebe-se a grande importância de toda equipe de saúde em repassar informações referentes ao autocuidado, independente da rotina intensa no cotidiano. Neste contexto, Dayrell et al. (2009), afirma que o enfermeiro tem papel importante como agente para ajudar o paciente a decidir as melhores medidas de autocuidado. Assim, a consulta de enfermagem, sendo a mesma privativa do profissional enfermeiro, revela-se aqui um excelente método para sistematizar o acompanhamento deste paciente, momento propício para orientações, avaliação dos conhecimentos obtidos sobre a sua patologia, privilegiando tanto os aspectos preventivos quanto os de controle. Considerando que, como destacado nos relatórios de diversas conferências mundiais de promoção da saúde; ao invés de culpabilizar as pessoas por seus estilos e comportamentos no que se refere à saúde, se devam oferecer oportunidades para que conquistem a autonomia necessária para a tomada de decisão sobre aspectos que afetam suas vidas e sejam capacitadas para que, de forma livre e esclarecida, possam manter o controle sobre sua saúde e suas condições de vida (FORTES; ZOBOLI, 2003). Igualmente, são necessárias ações conjuntas com a equipe da UBS e a comunidade para que a participação, a adesão em relação à prevenção de IRC seja efetivada por conta dos portadores de doenças crônicas não-transmissíveis. Considera-se um dever do profissional prestar informações adequadas ao cliente e à família a respeito da assistência de enfermagem e qualquer informação à saúde. Estes tem dever legal de realizar ações de prevenção de IRC, principalmente para os pacientes de HA e DM, sendo os mais suscetíveis às complicações renais. Parte-se do pressuposto que a prevenção ainda é a melhor forma de controlar a progressão de complicações renais aos portadores de HA eou DM. Desta forma, o que se espera dos profissionais da enfermagem é mais atenção a população assistida realizando educação saúde aplicando o cuidado e a prevenção de complicações crônicas. Diante do exposto, o objetivo do estudo foi investigar, sob o olhar dos profissionais de saúde, a prática da educação em saúde na prevenção da Insuficiência Renal Crônica em portadores de Diabetes Mellitus e /ou Hipertensão Arterial Sistêmica. 2 Metodologia Este trabalho é parte da análise de dados da pesquisa intitulada “Contribuição da Ética na prevenção da Insuficiência Renal Crônica aos portadores de Diabetes Mellitus e/ou Hipertensão Arterial”, aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa em 27/02/11 sob Parecer nº 10/2011, protocolo nº 16275/10. Trata-se de pesquisa de campo, exploratória de abordagem qualitativa. O estudo foi realizado em Estratégia Saúde da Família, na cidade de Ponta Grossa – PR, com seis profissionais de saúde que trabalham neste local: uma enfermeira, três técnicas de enfermagem, uma farmacêutica e um médico. A coleta de dados realizou-se através de entrevista individual semiestruturada. Estas ocorreram nos dias 25 e 27 de maio de 2011. As perguntas foram relativas à ação educacional dos profissionais da saúde aos usuários do programa HIPERDIA na prevenção da IRC. Ao seu término, as respostas foram lidas para validação. Os participantes autorizaram a pesquisa após leitura, retirada de dúvidas e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A análise dos dados ocorreu através da interpretação das falas dos sujeitos, as quais foram agrupadas e apresentadas em quadros para melhor visualização das informações levantadas. 3 Resultados Os seis participantes da pesquisa apresentaram idade entre 24 a 73 anos de idade, com uma média de 43 anos de idade. Em relação ao grau de escolaridade, 50% possuíam ensino médio e 50% ensino superior. PROFISSIONAL IDADE SEXO ESCOLARIDADE Enfermeira 37 F Ensino Superior Técnica de Enfermagem 24 F Ensino Médio Técnica de Enfermagem 28 F Ensino Médio Técnica de Enfermagem 48 F Ensino Médio Farmacêutica 48 F Ensino Superior Médico 73 M Ensino Superior Fonte: elaborada pelas autoras, Ponta Grossa (2011). Tabela 1- Perfil dos participantes da pesquisa Quando os profissionais de saúde foram questionados quanto ao conhecimento do número de hipertensos e diabéticos atendidos na UBS, percebeu-se que estes estavam informados. Totalidade dos participantes (100%) respondeu que o atendimento era cerca de 600 pacientes com HA e 300 portadores de DM. A HA é um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais, sendo responsável por pelo menos 40% das mortes por acidente vascular cerebral, por 25% das mortes por doença arterial coronariana e, em combinação com o diabetes, 50% dos casos de insuficiência renal terminal (BRASIL, 2006). Em relação à disponibilidade de medicamento para os portadores de HA e DM, 100% responderam que ofertam tratamento medicamentoso regularmente, de acordo com a Relação Nacional de Medicamentos (RENAME). Sobre a distribuição de medicamentos, a Lei nº 8.080/90, em seu artigo 6º, estabelece como campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS) a “formulação da política de medicamentos (...) de interesse para a saúde (...)”. A Política Nacional de Medicamentos, definida pela Portaria nº 3.916/98 aborda a importância do fornecimento dos medicamentos essenciais, devendo ser direito aos pacientes receberem gratuitamente esses medicamentos nas unidades básicas de saúde (BRASIL, 1998). A adesão ao tratamento medicamentoso é essencial. Neste sentido, ao serem questionados se esta adesão era efetiva, obtiveram-se as seguintes respostas. Respostas positivas “sim, com exceção de alguns pacientes resistentes a alguns medicamentos específicos, como diuréticos”. “na maioria sim, alguns temos que realizar aconselhamento individual”. “é efetiva, pois de 2 em 2 meses eles vêm consultar, e é realizado entrega de medicamentos em casa também, para os acamados”. Resposta negativa “a adesão é regular a razoável, adesão à dieta e outros tratamentos não farmacoterapêuticos não é efetiva”. Fonte: elaborada pelas autoras, Ponta Grossa (2011). Quadro 1 – Efetividade da adesão medicamentosa Percebe-se que a adesão ao medicamento é reforçada pela equipe da UBS. De acordo com Ministério da Saúde, o seu propósito é o de garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais (BRASIL, 2001). Quanto à realização da consulta de enfermagem, as respostas foram: Profissional Enfermeiro Técnica enfermagem Resposta “de maneira informal, em sala de espera, no momento da pré-consulta, em forma de orientação individual”. de “quando necessário, não tem agendamento, pois há falta de funcionário”. “sim, alguns pacientes é realizado HGT, e dado às orientações cabíveis, não posso esclarecer completamente o que é feito, mas cada paciente é feito de acordo com o problema que ele apresenta de doença”. “sempre que necessário, não é agendado, devido à grande procura pelos demais serviços de enfermagem (procedimentos), isso porque esta unidade contava com 7 aux”. Enfermagem, hoje ficou reduzida a 3 técnicos (8hs) e 1 aux. Enfermagem (6hs). Fonte: elaborada pelas autoras, Ponta Grossa (2011). Quadro 2 – Consulta de Enfermagem A pesquisa revela que a consulta de enfermagem é realizada de maneira informal, durante a passagem do paciente dentro da UBS. A escassez de recursos humanos em relação à demanda é citada como fator impeditivo para que esta se torne realidade. A Consulta de Enfermagem, sendo atividade privativa do Enfermeiro, utiliza componentes do método científico para identificar situações de saúde/doença, prescrever e implementar medidas de Enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção, proteção da saúde, recuperação e reabilitação do indivíduo, família e comunidade. Possui como fundamento os princípios de universalidade, equidade, resolutividade e integralidade das ações de saúde (BRASIL, 1993). Segundo os cadernos de atenção básica (hipertensos/diabéticos) (BRASIL, 2006) alguns aspectos referentes ao papel do enfermeiro na prevenção da HA e DM foram selecionados; entre ele: a) Realizar consulta de enfermagem, abordando fatores de risco, tratamento não medicamentoso, adesão e possíveis intercorrências ao tratamento, encaminhando o indivíduo ao médico, quando necessário; b) Desenvolver atividades educativas individuais ou em grupo de promoção de saúde; c) Solicitar, durante a consulta de enfermagem, os exames mínimos estabelecidos nos consensos e definidos como possíveis e necessários pelo médico da equipe. Tendo em vista a prevenção da IRC em portadores de HA e DM, os participantes foram questionados sobre o conhecimento das repercussões destas patologias à função renal. Profissional Resposta “Sim. Porque eles comprometem os rins, dificuldade de excretar a glicose, e a circulação do sangue. O rim não faz o seu papel direito, levando ao paciente para diálise, se tratado no início acho que tem volta, mas se não só piora.” “Sim; quando estão em níveis altos tanto a HA como a DM, o corpo sofre, o paciente retém liquido, aumenta os batimentos, assim como pode causar o infarto nos pacientes hipertensos. Os diabéticos podem ocorrer de os rins pararem; ficar cego”. “Sim. Porque a hipertensão aliada ao colesterol e triglicerídeos altos, provoca placas de ateroma dificultando a circulação do sangue nos rins, e o diabetes devido a ser uma molécula de maior tamanho tem dificuldade de ser excretado, prejudicando a capacidade funcional do rim”. Outros profissionais “Sim, uma das principais complicações, principalmente quando está associado DM e HA”. da saúde “Sim”. A briga é a adesão ao tratamento do DM e HA.. Tem que chegar e falar para o paciente ‘Se você não se tratar vai perder o seu rim’. Se você faz uma boa consulta, o paciente sai da sala se sentindo bem, a linguagem tem que ser de acordo com o paciente. Enfermagem Fonte: elaborada pelas autoras, Ponta Grossa (2011). Quadro 3 - Conhecimento dos profissionais: agravos renais provenientes da HA e DM. Os profissionais demonstraram ter conhecimento que tanto a HA quanto o DM levam a complicações renais. Com frequência, as doenças crônicas degenerativas levam à invalidez parcial ou total do indivíduo, com graves repercussões para o paciente, sua família e a sociedade. Quando diagnosticadas precocemente, essas são bastante sensíveis, oferecendo múltiplas chances de evitar complicações; quando não, retardam a progressão das já existentes e as perdas delas resultantes (BRASIL, 2002). Segundo o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, estas são doenças que apresentam vários aspectos em comum, entre eles ser de difícil adesão ao tratamento pela necessidade de mudança nos hábitos de vida e participação ativa do indivíduo; necessidade de controle rigoroso para evitar complicações e necessidade de acompanhamento por equipe multidisciplinar, entre elas (BRASIL, 2002). Os rins sofrem bastante com o aumento da pressão arterial. Sendo o glomérulo a unidade morfofuncional do rim e caracterizado como um tufo vascular, qualquer aumento da pressão nesse território (hipertensão intraglomerular) leva à diminuição progressiva de sua função, na maioria das vezes silenciosa (BRASIL, 2002). Em relação às ações educacionais de prevenção a pesquisa obteve como respostas: orientação sobre hábitos de vida, reeducação alimentar, realização de atividade física, adesão ao tratamento, grupos de caminhada de hipertensos e diabéticos, palestras, consultas, recomendações dietéticas (médico), trabalho de prevenção com representações (paródias, teatros...), etc. A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2006). Sabendo-se que a diabetes e a hipertensão arterial podem levar danos a nível renal, percebe-se a essência que a prevenção é a forma mais eficaz, barata e gratificante de tratar os agravos, principalmente quando se fala das complicações que as patologias podem trazer para os indivíduos. É de suma importância e engloba, além da educação para a saúde, a reorganização das comunidades e da rede básica (BRASIL, 2002). Neste sentido, a atuação do enfermeiro na prevenção e progressão da IRC se dá a partir das necessidades reais da clientela. É preciso detectar os grupos de risco, bem como os pacientes com a doença instalada, nos quais a avaliação da função renal é imprescindível (TRAVAGIM, 2009). O enfermeiro deve ter compaixão para compreender como o paciente sente a experiência do processo saúde-doença e quais são os valores e crenças que ele acredita. Exercer sua profissão com honestidade, coragem, fidelidade, temperança, magnanimidade, prudência, sabedoria, justiça, entre outros aspectos relevantes, que fazem com que o enfermeiro seja visto como ser capaz de fazer o bem para as pessoas acima do seu próprio eu ou própria da instituição (FORTES; ZOBOLI, 2003). Medidas de prevenção da IRC e de intervenção no ritmo da progressão como combate ao fumo, ao álcool, à obesidade e ao sedentarismo devem ser implementadas no atendimento aos pacientes na atenção básica em saúde. Tais medidas visam à promoção da saúde e o controle rigoroso da DM e HA, bem como a investigação da função renal, em especial nos grupos de risco para IRC. Para tanto são necessários à capacitação de profissionais, estabelecimento de diretrizes clínicas, realização de exames laboratoriais, acesso a medicamentos e a equipamentos para diagnóstico (TRAVAGIM, 2009). 4 Conclusão As atividades educativas de promoção e prevenção à saúde devem acontecer de maneira preferencial aos hipertensos e diabéticos, que são acometidos por uma doença crônica não transmissível, podendo levar a múltiplas lesões. A pesquisa desvelou que, sob o olhar dos profissionais da saúde, ações educacionais de prevenção são realizadas dentro da UBS, contudo a consulta de enfermagem é ainda realizada de maneira informal. As contribuições da educação em saúde se reportam à prevenção na atenção primária, da IRC em portadores de HA e DM. O enfermeiro juntamente com a equipe de saúde, por meio do compromisso ético e profissional que o título lhes confere, deve ter participações em ações preventivas através da educação. Neste sentido, as UBS se tornam campos férteis para que o processo educativo no incentivo ao autocuidado e adesão ao tratamento se tornem realidade na vida dos portadores de doenças crônicas objetivando prevenção de complicações. A prevenção de IRC aos portadores de doenças crônicas não - transmissíveis só será efetiva quando os próprios profissionais da enfermagem tiverem a consciência que a atenção primária é um campo amplo e fértil para que essa seja realizada com sucesso. Neste sentido, estes profissionais têm o dever de escutar, orientar, auxiliar os pacientes, sem interferir nos seus valores. O indivíduo não deve ser visto como o ‘hipertenso’ ou ‘diabético’, mas sim como um ser holístico. Deve-se ressaltar que é por meio da atenção primária que se começa a prevenção de doenças, é através dela que os indivíduos terão o seu primeiro contato com profissionais da saúde, tendo em vista este aspecto, vê-se a importância que os profissionais apresentam frente ao cuidado ético, humanizado, de qualidade, usando com respeito e dignidade o “cuidar”. Espera-se que esta pesquisa possa auxiliar os profissionais de saúde em ampliar suas ações em relação à importância da prevenção da IRC nos portadores de doenças crônicas, para que seja efetivado o discurso de promoção e prevenção à saúde. 5 Referências BASTOS, R. M. R.; BASTOS, M. G. Inserção do Programa de Saúde da Família na Prevenção da Doença Renal Crônica. Jornal Brasileiro de Nefrologia. 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