Parte 1 - Revista Emergência

Transcrição

Parte 1 - Revista Emergência
2
Emergência
JULHO / 2006
OPINIÃO
A número 1
O surgimento de uma nova revista é um momento sempre
especial. Gera ansiedade na equipe que a desenvolve e
expectativa junto ao mercado. Quando a MPF Publicações
Ltda, em 2003, passou a desenvolver o projeto de implantação
desta revista, procurou, antes de tudo, identificar o perfil
mais adequado ao Brasil. Inspirado em publicações internacionais, mas calcado na realidade brasileira, projetou-se uma
publicação técnica que abordasse temas até hoje espalhados
em outros veículos, mas que têm ligação e é resumido pela
palavra emergência. Ficou claro que o nome da revista não
poderia ser outro.
A proposta da Revista Emergência é reunir informações,
reportagens, artigos sobre as áreas de incêndio, resgate e
emergência, atendimento pré-hospitalar e emergências
químicas.
Nos últimos meses, uma equipe trabalhou para pesquisar
junto a estes setores que, embora às vezes estejam separados, se reúnem quando uma emergência ocorre. Você tem
em mãos o resultado deste trabalho com o número 1 da nova
revista. A equipe da Emergência acredita que este projeto
possa dar sua parcela de contribuição para que as ações
nesta área sejam cada vez mais profissionais. Esperamos
que você goste deste novo projeto. Tenha certeza de que há
muita dedicação por traz dele.
04
08
Presenças internacionais debateram as novidades sobre
as diretrizes de emergências médicas, num evento em SP.
ESPECIAL
16
Como está a integração entre os órgãos de atendimento
às ocorrências no país? Profissionais dizem estarmos
longe de uma interação perfeita. Falta de estrutura e de um
número central para chamadas são alguns dos problemas.
24 HORAS
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Emergência acompanhou o dia inteiro de trabalho de uma
enfermeira do Samu, de Campinas, em São Paulo.
REPORTAGEM
30
Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro completa
150 anos este mês. Sua história e conquistas são
retratadas em reportagem especial.
RESGATE
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A tragédia da Vila Socó, ocorrida há mais de 20 anos, é
resgatada através de pesquisas e depoimentos de quem
vivenciou o acontecimento na época.
INTERNACIONAL
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O paramédico norte-americano Larry Newell fala de
evolução e das tendências mundiais nas ações de urgência.
JULHO / 2006
Sede
Rua Lucas de Oliveira, 49 - cj 401
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São Paulo
Av São Luís, 86 - cj 191
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01046-000 - São Paulo - SP
Editora: Paula Barcellos
Profissionais de urgência têm cotidiano estressante. O
tenente coronel e psicólogo, Ib Martins Ribeiro, fala sobre
a necessidade de se gerenciar o estresse da atividade.
ATUALIZANDO
DIRETOR
Alexandre Gusmão
REDAÇÃO
Fone: (51)2131-0422
E-mail: [email protected]
Boa leitura
SEÇÕES
ENTREVISTA
Revista trimestral sobre proteção e combate a
incêndio, resgate e emergência, atendimento préhospitalar e emergências químicas
Textos: Cristiane Reimberg, Lia Nara Bau, Paula
Barcellos e Sabrina Auler
40
Foto de capa: Tenente Miguel Jodas/Assessoria de
Comunicação do Corpo de Bombeiros/SP
A organização de assistência num acidente
industrial ampliado e informações relevantes para
o enfermeiro é tema de artigo.
Editoração Eletrônica: Karina L. Coelho de Brito e
Scheila Cristina Wagner
ENFERMAGEM
DEFESA CIVIL
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Artigo fala da necessidade de uma estrutura
federal equilibrada e uma cultura prevencionista para
a Defesa Civil Brasileira.
DICAS DE EMERGÊNCIA
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É preciso atentar para detalhes no
uso do Desfibrilador Externo Automático.
EMERGÊNCIA
RESPONDE
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Perguntas dos leitores são respondidas pelos consultores.
EVENTOS
Cursos nacionais e internacionais do setor oferecem
opções na busca de aperfeiçoamento profissional.
LEIS E NORMAS
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As principais legislações recentes de interesse dos
profissionais de emergência estão nesta seção.
PRODUTOS
& SERVIÇOS
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Espaço para as tecnologias em equipamentos e serviços.
SAÍDA DE EMERGÊNCIA
Um noticiário sobre ocorrências que acontecem no país e
no mundo, curiosidades e história sobre a área.
Ilustração: Gabriel Renner
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Assinatura
1 ano (4 edições) R$48,00
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Reprodução de artigos somente com a
autorização do editor. Emergência não se
responsabiliza por opiniões emitidas em artigos
assinados, sendo estes de responsabilidade de seus
autores.
Tiragem de 10.000 exemplares auditada pelo IVC
(Instituto Verificador de Circulação)
Emergência é filiada à ANATEC - Associação
Nacional das Editoras de Publicações
A revista Emergência é editada pela
Publicações Ltda
Impressão:
Sociedade Vicente Pallotti
Emergência
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ENTREVISTA
Estresse no trabalho
◗ Importância do gerenciamento do estresse para os profissionais
que lutam contra o tempo e contra a morte em seu cotidiano
P
rofissionais de emergência têm que estar a postos para qualquer
ocorrência, não interessa onde, nem quando, nem como.
Considerados heróis pela maioria das pessoas, este status ultrapassa os limites da compreensão quando torna-se um risco de vida ou uma
pressão psicológica, afetando a saúde mental e fazendo com que os mesmos
sigam, até mesmo, os passos do suicídio. “Mas quem lembra disto?”, questiona
o psicólogo e consultor em psicologia de emergência, Ib Martins Ribeiro.
Responsável por fazer um trabalho junto aos profissionais de urgência, como
policiais, bombeiros, resgate, Defesa Civil e saúde, em São Paulo, Ib procura
fazer com que eles deixem de lado as questões culturais que não os permitem
dialogar e expressar sentimentos, abrindo espaço para os aspectos emocionais e psicológicos, muitas vezes, prejudicados pelas características do
trabalho de emergência. O intuito desta atividade é dar a compreensão de que
eles são seres humanos com problemas físicos e psicológicos como qualquer
outra pessoa. Através desta nova visão, os profissionais vêm trabalhando a
auto-estima, a segurança e a confiabilidade, o que reflete numa melhoria da
qualidade de vida com a família e diretamente no trabalho.
Paula Barcellos
PORQUE É IMPORTANTE O
GERENCIAMENTO DO ESTRESSE PARA O
PROFISSIONAL DE EMERGÊNCIA?
Certa vez, eu estava fazendo um patrulhamento e, de repente, vejo um policial fardado
que estava sangrando por um problema de saúde
e tive que levá-lo para o hospital. Agora, imagine
se está acontecendo um assalto naquele momento? O policial não pode nem se recusar a atender.
Para as pessoas pouco importa se o policial está
bem ou não. Elas querem ser socorridas e pronto.
O profissional de emergência é aquele que socorre
as pessoas em situações críticas, em catástrofes
e no risco de vida, pois se ele não tomar uma
medida imediata, rápida, eficiente, as pessoas
PERFIL
IB MARTINS RIBEIRO
JEFFERSON MENDES
Tenente coronel da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo, psicólogo e consultor em psicologia de
emergências, Ib Martins Ribeiro, desde 1977, vem atentando para os problemas emocionais dos profissionais
de emergência. Na época, era guarda de trânsito e soube que um colega havia morrido. “Mas o pessoal comentou que ele não estava bem e pensava em se matar”,
recorda. Já em 1980, no Corpo de Bombeiros, presenciou o desespero de outro colega ao retirarem
uma criança que havia morrido em um poço.
“Foi quando decidi fazer psicologia”, revela. Formado em 1986, numa época
em que psicologia era incipiente para
estes profissionais, o coronel já atuou
no Centro de Seleção, Alistamento
e Estudos de Pessoal da PM de
SP durante nove anos, tendo sido
chefe por três anos. Também
atuou na Secretaria da Saúde e
no Centro de Assistência Social,
Religiosa e Jurídica (CASRJ)
também da PM de SP. De lá
para cá, vem fazendo cursos
Por .......
e treinamentos, teórico e prático, envolvendo a questão do
estresse, estresse pós-traumático e suicídio.
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Emergência
morrem. É neste momento que ele entra naquele
processo de culpa: “O que eu fiz de errado?”.
Acaba tendo uma pressão muito grande em cima
disto. Além disso, quando existe uma situação
em que envolve cadáver, sangue, o corpo reage
de imediato e pensa: “Meu Deus, eu sou o próximo a morrer!”. Então, gera todo aquele processo de estresse que é exatamente o que? Defender a sobrevivência do organismo.
ELE É IMPORTANTE PARA QUE O
PROFISSIONAL CONSIGA ATUAR
CORRETAMENTE?
Sim, pois o estresse é um resquício, da época
das cavernas, exatamente procurando manter o
corpo vivo. Quando o corpo percebe um sinal de
perigo, seja ele verdadeiro ou não, ele se prepara
para lutar ou para fugir. Qual é a resposta natural
diante de um incêndio ou de um tiroteio? É fugir.
Já o bombeiro e o policial vão para cima. Então, o
profissional de emergência, em primeiro lugar,
ele já começa a agredir o próprio organismo,
indo contra o instinto natural. É aí que começa
um desgaste muito maior, além do desgaste natural do corpo que se prepara para o estresse numa situação crítica que exige a fuga. E ele precisa
aprender a gerenciar tudo isto. Ele começa a
gastar uma energia absurda para manter isto
funcionando, pois o coração bate mais forte, a
respiração fica mais forte, o raciocínio mais rápido,
e por aí afora.
DE QUE FORMA ELE TEM QUE
GERENCIAR ISTO?
Ele tem que primeiro entender que isto é uma
coisa natural. Quer dizer, são atendidas várias
ocorrências no mesmo dia e corpo se preparou
todas as vezes para isto. Daí em um uma semana,
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um mês ou um ano o profissional começa a ensinar para o seu organismo que existem alguns
comportamentos que são normais, por exemplo,
o coração bater mais forte, a pressão ficar mais
alta. Então, com o tempo, irão surgir problemas
cardíacos, problemas respiratórios, problemas de
pele, problemas intestinais, problemas estomacais, entre outros. E estou só falando da parte
física. Na parte emocional, para lutar e se defender, o profissional tem que se tornar muito mais
agressivo e incisivo, tanto verbal quanto fisicamente. Desta forma, o profissional de emergência
vai se tornando mais agressivo e as outras pessoas que estão em volta dele começam a ficar
incomodadas. Para melhorar este comportamento
eu trabalho com um grupo de, no máximo, 25
pessoas e vou mostrando para eles como o estresse vai acontecendo, como o corpo reage diante do perigo, como os profissionais de emergência contrariam este movimento natural do corpo, os desgastes que se tem e as conseqüentes
doenças que vão surgindo. A partir daí, eles vão
identificando estes problemas em si mesmos e
dentro do grupo. Começam a ficar mais à vontade
e a falar de seus próprios problemas e dificuldades emocionais porque percebem que os outros
profissionais também sentem o mesmo. E o
grande problema que se tem com o profissional
da emergência é que ele tem sempre que manter
aquela postura de força, pois problema emocional
é coisa de mulher.
A FIGURA DO HERÓI ENTRE ESTES
PROFISSIONAIS DA ÁREA É MUITO
FORTE. ATÉ ONDE ISTO PODE
PREJUDICÁ-LOS?
É muito forte, mas a coisa ruim é você se
considerar herói, porque começa a buscar isso a
qualquer preço. O bombeiro costuma falar assim:
“mas eu tenho que salvar nem que custe a minha
vida!”. Mas se ele morrer, ele não salva mais ninguém. Vemos isto, principalmente, em profissionais
muito jovens.
E TEM UMA FORMA DE MOSTRAR QUE
EXISTEM LIMITES PARA ISTO?
Tem que treinar este homem, tanto no aspecto
cognitivo, como no físico, emocional e espiritual.
O treinamento de rappel é muito bom para isso.
É preciso mostrar para ele quais são seus erros
e trabalhar estes erros. Aprender a confiar no
equipamento e nele, pois a partir daí ele pode
fazer muita coisa.
COMO É TRABALHAR A PARTE FÍSICA,
EMOCIONAL E TÉCNICA DE UM
PROFISSIONAL DE URGÊNCIA?
Hoje se gasta muito no mundo todo, tentando
encontrar maneiras de controlar o estresse, quer
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Emergência
ARQUIVO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO CBMERJ
ENTREVISTA
ou morreu queimada no incêndio. Muitas vezes,
bombeiros e policiais confessaram a mim que
não acreditavam em nada, pois se existisse um
“Deus”, ele não deixaria acontecer isto a crianças.
Muitos tentaram se matar duas ou três vezes em
função disto. Então, mostro para eles a importância da religiosidade, não importa qual, mas uma
que ele se sinta bem e possa trabalhar bem.
Trabalhando bem, ele sai mais rápido de uma
situação de estresse pós-traumático e evita
chegar ao suicídio.
seja através de medicamentos, quer através de
terapia, e, normalmente, a solução mais barata
acaba caindo onde? Na atividade física. Quando
entramos em uma situação de estresse, temos
uma descarga de adrenalina e outros hormônios
muito forte que vão deixando o corpo cada vez
mais tenso. Quando chega no final do dia, durante
o qual se enfrentou problemas sérios, o corpo
está dolorido, mas fazendo uma atividade física
ele relaxa. Se o profissional fizer um alongamento
e uma boa respiração toda essa musculatura se
solta e a energia começa a fluir mais facilmente.
Com isto, consegue dormir melhor, se alimentar
melhor e pensar melhor. Essa é a importância da
atividade física, além disto, ela vai aumentar a
resistência dele em relação ao estresse.
E ESTA SERIA UMA DAS SOLUÇÕES?
Sim, uma das soluções. Imagine um triângulo.
Do lado esquerdo o aspecto intelectual (cognitivo)
que nada mais é do que treinamento técnico. Do
lado direito, a parte física. Na base desse triângulo
está o aspecto emocional e em seu centro a
espiritualidade. O aspecto emocional está na base
deste triângulo, pois, para você gerenciar o estresse, o que é preciso? Ferramentas. Uma delas
é saber que aquelas coisas existem. Então, passo
para o profissional ferramentas, mostrando que
isso é uma coisa normal, natural, que não precisa ter vergonha do que está acontecendo com
ele. Também falo sobre a espiritualidade do
indivíduo. Por exemplo, uma criança foi violentada
O ÍNDICE DE SUICÍDIOS É MUITO GRANDE
ENTRE ESTES PROFISSIONAIS?
Temos que ensinar que em nossa vida, todos
temos problemas, mas o que acontece? Quando
estamos bem, temos um grande leque de
soluções para este problema. E dentro deste leque
de opções a morte é uma delas. Nós temos o
controle sobre algumas coisas, mas sobre as
ocorrências que iremos atender não, mesmo não
estando bem para atendê-las. Às vezes a pessoa
está com vontade de se matar, mas tem que
salvar alguém. O que acontece? O suicídio não
surge de uma hora para outra, ele vai se desenvolvendo na história de vida da pessoa, o leque
vai diminuindo cada dia mais até que um dia a
pressão está tão grande que a idéia de se matar
se torna extremamente atraente. Só que, muitas
vezes, para se matar, você precisa encontrar uma
forma de fazer isto. Então, em alguns casos, se
acelera a viatura sem necessidade, por exemplo.
Se ele morrer nesta situação o que acontece?
Vira herói, a família recebe o seguro e ninguém
fica sabendo que ele se matou. Por isto, é importante evitar que a pessoa passe por toda esta
fase, que entre no estresse, na depressão e no
estresse pós-traumático.
E EXISTE UM LEVANTAMENTO DESTES
SUICÍDIOS?
Segundo dados da PM de São Paulo, que envolve tudo, bombeiros, polícia, profissional de trânsito, no Estado, por exemplo, o número de suicídios dos profissionais de emergência, é de seis
a oito vezes maior que da população geral. Mas é
normal este índice ser maior entre os profissionais
de emergência. Nós perdemos muita gente. Para você ter uma idéia, de 1994 até 2005, foram
290 profissionais da área de emergência que se
suicidaram.
O ALCOOLISMO E USO DE DROGAS É
INTENSO ENTRE ESTES PROFISSIONAIS?
O álcool é um antidepressivo barato, então você
bebe para ficar alegre, para relaxar. E quando se
trabalha num grupo de emergência se vê que
muitos do grupo bebem para relaxar. Além do
que, existe uma pressão indireta do próprio grupo
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para que todos bebam para relaxar após a ocorrência. E o profissional vai bebendo. Bebe um
golinho hoje, mas quando está numa depressão
perde a conta.
TRABALHAR A PARTE EMOCIONAL NA
EMERGÊNCIA NÃO É COMPLICADO EM
VISTA DA POSTURA RÍGIDA DOS
PROFISSIONAIS?
Trabalho muito em função de mostrar para
eles o que está acontecendo com o estresse e
estimulando para que eles falem e aprendam a
ouvir também. Neste sentido, costumo fazer um
trabalho chamado roda da fogueira, onde coloco
o grupo em torno de uma fogueira imaginária e
eles falam sobre a infância, as coisas boas que
aconteceram. É quando começam a aparecer
também as coisas ruins. No outro dia, falam
também sobre as ocorrências boas e ruins. Com
isto, o profissional sente que as pessoas têm
problemas tanto quanto ele e, às vezes, tão mais
fortes que os dele. Você vai, desta forma, quebrando esta barreira e ele sente-se seguro,
acolhido e amparado, pois o grupo entende tudo
que ele fala e, com isto, ele evolui tanto na vida
pessoal quanto na profissional.
É DIFERENTE TRABALHAR O LADO
PSICOLÓGICO DE QUEM ATENDE UM
COMBATE A INCÊNDIO SEM VÍTIMAS DE
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“
O profissional de emergência
que vai procurar ajuda se
recupera muito mais rápido
QUEM RESGATA FERIDOS E MORTOS?
O problema não é apenas a ocorrência em si,
mas é como este profissional de emergência vai
perceber e interpretar essa ocorrência. O que vai
diferenciar uma ocorrência da outra? A maneira
como ele interfere nela. Se ele estiver com aquele
triângulo bem equilibrado, intelectualmente bem,
tecnicamente, muito bem treinado, fisicamente e
emocionalmente bem, que problema ele vai ter?
Ele conseguirá desenvolver o trabalho dele
adequadamente, bem como os resquícios emocionais da ocorrência. Caso necessário, terá coragem de procurar socorro. O profissional de
emergência que vai procurar ajuda se recupera
muito mais rápido.
O NÃO EQUILÍBRIO DE UM PROFISSIONAL
DE EMERGÊNCIA PODE RESULTAR EM
ATENDIMENTO MAL SUCEDIDO?
No caso de um acidente de carro, por exemplo,
a equipe fica por horas tentando tirar a pessoa
das ferragens, segurando a mão e conversando
para mantê-la acordada. Mas ela acaba morrendo. Aí vem aquela sensação de impotência, de
culpa. Porém, vamos supor agora que a vítima
sobreviveu. Ela vai ser socorrida, fica com algumas seqüelas emocionais, só que a família leva
num psicólogo para tratamento e, em pouco
tempo, ela estará boa. E com o profissional de
emergência? As seqüelas emocionais não foram
cuidadas, tratadas. Alguém vai tratar? Não. Ele
segue atendendo outras ocorrências. Neste
sentido, o profissional da emergência é hoje uma
espécie de vítima que ninguém lembra. Se ele
não possuir aquele triângulo equilibrado como
ele vai trabalhar? Não vai conseguir raciocinar
direito e o risco de tomar uma decisão errada é
muito grande.
COMO O SENHOR PERCEBE A EVOLUÇÃO
DO ESTRESSE NOS DIAS DE HOJE
NESTES PROFISSIONAIS E O QUE SUGERE
PARA AMENIZAR ESTE PROBLEMA?
Eu acho que não só a instituição tem que se
preocupar com a pessoa, mas o profissional tem
que sair daquela posição cômoda de achar que a
instituição é responsável por tudo. Ele tem que
ter uma postura profissional e assumir: eu tenho
que procurar ajuda. Eu acho que isto é importante.
Emergência
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ATUALIZANDO
ENCONTRO
ECSI, que conta agora com mais de 50
novos cursos on line relacionados à área
de atendimento às emergências. O material está em inglês, mas já vem sendo traduzido para o espanhol e português . Futuramente, o intuito é traduzí-lo para outros idiomas.
Na oportunidade, também foi apresentado como funciona o sistema de
emergências médicas nos EUA e como está organizado o processo de
treinamento dos profissionais e leigos
que integram esse sistema. Anualmente, cerca de oito milhões de
pessoas leigas são treinadas em primeiros socorros nos EUA, formando
a base de uma pirâmide de responsabilidades. “Em um cenário de emerPor ano, oito milhões de pessoas gência, são pessoas comuns treinaleigas são treinadas em primeiros das que farão a diferença ao ajudar”,
socorros nos Estados Unidos
explica Larry Newell.
Discussões internacionais
A
s novas diretrizes de RCP (Ressuscitação Cardiopulmonar) e ACE
(Atendimento Cardiovascular de
Emergência), publicadas em novembro de 2005 pela American Hearth Association, foi um dos aspectos tratados no
Encontro Internacional ECSI 2006 & Instructor Orientation realizado em Bragança Paulista/SP, no mês de maio. Dentre
os palestrantes internacionais convidados, esteve presente Larry Newell, paramédico e diretor executivo do ECSI (Emergency Care and Safety Institute), nos
Estados Unidos, – um sistema de treinamento para atendimento às emergências
desenvolvido pela AAOS (American Academy of Orthopaedic Surgeons) – e endossado pelo ACEP (American College of
Emergency Physicians) – ver entrevista
Experiência internacional, na página 38.
Larry Newell expôs sobre as mudanças
importantes nas diretrizes 2005, entre
elas, reiterou sobre a aplicação da RCP
imediata e da aplicação de choques com
o DEA (Desfribilador Externo Automático) em intervalos menores.
As diretrizes anteriores preconizavam aplicar uma seqüência de três choques para então reavaliar a vítima e, se
necessário, aplicar um minuto de RCP. “Segundo as novas diretrizes, competirá aos
médicos reguladores regionais descrever protocolos que sejam realistas de
acordo com as circunstâncias existentes
em cada localidade ou instituição”, alerta
Randal Fonseca, diretor executivo da RIT Editora Randal Fonseca, responsável pela
tradução e impressão do material didático
ECSI em português.
FORMAÇÃO
Segundo o diretor, o objetivo do evento é formar novos instrutores para ministrar cursos de atendimento às emergências sob a égide do ECSI, “contando com um
grupo de instrutores que se desenvolveu
ao longo desses 12 anos de atividades do
Programa de Emergências que representamos no Brasil”.
Outro ponto abordado no evento foi referente à ampliação de programas de treinamento oferecidos a partir de 2006 pelo
8
Emergência
ARQUIVO RESGATE TREINAMENTOS
Profissionais trazem atualizações para o setor
FORA DO
BRASIL
DIRETRIZES
Proposta é simplificar atendimento
Desde novembro de 2005, entraram em
vigor as novas diretrizes de RCP (Reanimação Cardiorrespiratória) e ACE (Atendimento Cardiovascular de Emergência). As diretrizes de 2005 baseiam-se na mais ampla revisão da literatura já publicada sobre
ressuscitação.
Uma das principais mudanças, de acordo com o novo consenso, é que o paciente com parada cardiorrespiratória deve ser
submetido, nos primeiros três minutos
após a parada, a 30 compressões (massa-
As principais modificações
para todos os socorristas
Ênfase para melhorar a aplicação de compressões torácicas eficazes.
Uma única relação compressão-ventilação
para todas as vítimas (exceto recém-nascidos).
Recomendação de que cada ventilação de
resgate seja aplicada durante um segundo e
produza visível elevação do tórax.
Nova recomendação de que a aplicação de
choques únicos, seguidos de RCP imediata, seja
utilizada para tentar a desfibrilação em casos de
parada cardíaca com FV (Fibrilação Ventricular).
Aprovação da recomendação ILCOR 2003
para o uso de DEAs em crianças de um a oito
anos e a utilização de um sistema de doses
pediátricas.
Fonte: Currents
gem cardíaca) e duas ventilações (respiração boca a boca). Até agora, adotava-se
15 compressões para duas ventilações. A
nova diretriz vem comprovar também a
importância do Suporte Básico de Vida
pré-hospitalar, que consiste em quatro pilares: diagnóstico, acionamento da equipe
médica, compressão e ventilação corretas
e uso do DEA (Desfibrilador Externo Automático). Para o médico e presidente do
GRE (Grupo de Resgate e Emergência),
Paulo Guimarães, é importante entender,
no entanto, que as diretrizes não são verdades absolutas. “Determinadas diretrizes
que adotamos hoje, podem ser abandonadas no futuro, em virtude de estudos mais
aprofundados e aparecimento de novas
tecnologias”, explica.
Segundo o instrutor de primeiros socorros e comissário de vôo, Roberto Cristiano
de Oliveira, as determinações locais também devem ser respeitadas. “Os protocolos
locais, pertinentes à determinada comunidade ou instituição, não contradizem as
diretrizes, mas as complementam”, afirma.
Os objetivos que nortearam as mudanças, além da evolução científica na abordagem da parada cardíaca súbita, também
foi o de simplificar o ensino da RCP para
as pessoas leigas, buscando atingir eficiência e qualidade nas manobras, aumentando
o índice de sobrevivência. Informações no
www.americanheart.org.
JULHO / 2006
ATUALIZANDO
SAMU
Congresso urgente
Transporte e resgate aeromédico foram
alguns temas de destaque do I Congresso
da Rede Nacional do Samu 192, ocorrido
em Brasília/DF. Isto porque a modalidade
está sendo implantada nos Samus, através
de convênio com a Polícia Rodoviária Federal, onde serão disponibilizados dois
helicópteros e mais 130 ambulâncias para
a Rede. Segundo a coordenadora geral de
Urgência e Emergência do Ministério da
Saúde e coordenadora da Rede Nacional
Samu, Irani Ribeiro de Moura, a Polícia
Rodoviária irá ceder os helicópteros e
pilotos, enquanto o Samu entrará com médicos e enfermeiros. Os helicópteros serão destinados aos Estados de Pernambuco
e Santa Catarina.
Realizado pela Coordenação Geral de
Urgência e Emergência (CGUE) do Ministério da Saúde, o evento ocorrido em
março contou com a participação de mais
de 1.300 profissionais da Rede Samu, e
os demais especialistas da área de emergências, gerentes e gestores de serviços
e sistemas de atenção às urgências e à
saúde em geral.
Questões como organização regional,
importância dos comitês gestores, elaboração e pactuação de grades de referência, regulação médica, organização dos
serviços, capacitação e educação permanente dos trabalhadores foram debatidas
no decorrer dos três dias de Congresso.
Segundo a coordenadora Irani Ribeiro
ARQUIVO MINISTÉRIO DA SAÚDE.
Evento da Rede Nacional oportuniza novas parcerias
AMBULANCHAS
Na abertura do Congresso foi assinado o acordo de cooperação entre o Ministério da
Saúde e da Defesa para a Marinha construir
sete lanchas (ambulanchas) como reforço ao
Samu. As unidades construídas pela Marinha
terão os mesmos equipamentos das UTIs e
permitirão o atendimento em seis estados da
Região Norte e no Maranhão, garantindo atenção às urgências em localidades de difícil
acesso, onde vivem comunidades ribeirinhas.
As ambulanchas serão enviadas para o Samu
de Manaus/AM, Porto Velho/RO, Rio Branco/
AC, Macapá/AP, São Luís/MA, Boa Vista/RR e
Santarém/PA.
de Moura, o Congresso também trouxe
novas perspectivas para o Samu. “Tivemos
uma repercussão muito boa, pois firmamos parcerias, como, por exemplo, com a
Sociedade Brasileira de Pediatria para o
atendimento de urgências pediátricas”,
assegura.
COMEMORAÇÃO
Inaugurada unidade da Cruz Vermelha
O Dia Internacional da Cruz Vermelha,
8 de maio, foi celebrado na sede do
órgão central da Cruz Vermelha Brasileira
com uma solenidade que contou com a
presença de diversas autoridades do
Estado do Rio de Janeiro. Aproveitando
a data, foi realizada a inauguração da
Cruz Vermelha Brasileira – Filial do Estado do Rio de Janeiro.
Na oportunidade, o vice-presidente
Eimar Delly de Araújo, apresentou um
breve histórico da criação do Movimento
Internacional de Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e ressaltou as principais
10 Emergência
campanhas e realizações do Movimento
nos últimos anos. “A situação da Cruz
Vermelha Brasileira é bem mais modesta
e conta hoje com o apoio do Comitê Internacional de Cruz Vermelha, da Federação e de Sociedades Nacionais da Espanha,
Alemanha e Suécia no fortalecimento da
imagem institucional.
A entidade também comemorou a data
com a tradicional atividade “Cruz Vermelha
nas Praças”, com aferição de pressão
arterial, tipagem sangüínea, inscrição de
novos voluntários e divulgação dos
trabalhos da instituição.
JULHO / 2006
SEMINÁRIO
DEFESA CIVIL
Psicologia das emergências
Entre os dias 8 e 10 de junho ocorreu o
1º Seminário Nacional Psicologia das Emergências e dos Desastres, em Brasília/
DF. O evento foi promovido pelo Conselho Federal de Psicologia, em parceria com
o Ministério da Integração Nacional e Defesa Civil, e contou com a participação de
cerca de 350 profissionais, entre psicólogos e técnicos de Defesa Civil.
A atuação da psicologia em situações
de emergência e desastres já é desenvolvida em vários países da América Latina e
tem mostrado bons resultados. No Brasil,
ainda existe uma cultura da “imprevidência”, ou seja, as políticas baseadas na prevenção deste tipo de evento são recentes
e frágeis. Segundo a psicóloga e gerente
do Departamento de Minimização de Desastres da Secretaria Nacional de Defesa
Civil, Daniela Lopes, o evento representa
um avanço da Defesa Civil no Brasil. “Ele
reforça o processo de construção de uma
cultura prevencionista de administração de
desastres”, afirma.
No evento, profissionais de outros países discutiram a problemática dos desastres e a atuação da psicologia para amenizar o sofrimento das comunidades atingidas. Participaram representantes do Chile, Espanha, México, Cuba, Estados Unidos, Costa Rica, Equador, Colômbia, entre
outros países. Todas as comunidades estão expostas a uma série de ameaças que
JULHO / 2006
ADALBERTO MARQUES
Seminário discute atuação dos psicólogos em desastres
É preciso atenção não só
aos danos materiais causados por um desatre, mas
também aos danos emocionais
EM
DEBATE
podem produzir um desastre, como inundações, temporais, epidemias e terremotos. A idéia foi discutir como os psicólogos podem contribuir para evitar estas situações, seja atuando em parceria com instituições governamentais, ou dentro das
próprias organizações comunitárias por
meio de uma educação ambiental mais
eficiente. “É importante organizarmos a
atenção aos danos não só materiais causados por um desastre, como também aos
danos emocionais”, salienta Daniela. A
partir das discussões do Seminário será
produzida uma publicação inédita que servirá de base para a formação dos futuros
profissionais.
Ação nos acidentes
químicos ampliados
O V Seminário sobre Prevenção de Acidentes Químicos Ampliados para o Sistema Nacional de Defesa Civil, ocorrido dias
20 e 21 de junho, em Porto Alegre/RS
trouxe um debate sobre os acidentes químicos ampliados, com abordagem na prevenção, no planejamento e na resposta a
emergências. Exemplos de acidentes foram relatados por diversos profissionais. O
gerente do Setor de Operações de Emergência da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São
Paulo), Jorge Luiz Nobre Gouveia, abordou o rompimento de um duto e vazamento de GLP em Barueri/SP, em 2001,
ressaltando as ações durante o sinistro. “Diversas entidades atuaram, como Corpo de
Bombeiros, Cetesb, Defesa Civil e Polícia
Rodoviária”, ressaltou.
O atendimento pré-hospitalar também
ganhou destaque no evento. O médico e
responsável pela implantação do Samu
Metropolitano no RS, Cloer Vescia Alves,
apresentou a estrutura do serviço, ainda
em fase de implantação no país. Fernando
Vieira Sobrinho, da Fundacentro/SP, avaliou o Seminário sob a perspectiva da integração. “O evento foi excelente, auxiliando na integração das entidades e divulgando novas informações”, afirmou.
O evento foi promovido pela Fundacentro, Secretaria Nacional de Defesa Civil,
Coordenadoria de Defesa Civil do Rio
Grande do Sul e DRT/RS.
Emergência
11
ATUALIZANDO
PRODUTOS PERIGOSOS
FISCALIZAÇÃO
Guia para emergências químicas
TASK - SPECIAL SERVICES
Os principais aspectos que devem ser
considerados no atendimento a uma emergência com produtos perigosos estão
no mais recente Guia Nacional de Atendimento a Emergências com Produtos
Perigosos da ABPCEA (Associação Brasileira de Prevenção e Controle de Emergências Ambientais). Lançado no dia
30 de maio, o Guia contempla a Resolução n° 420 de 12/02/2004 da ANTT (Agência Nacional Transportes Terrestres),
além de trazer instruções básicas de atendimento emergencial a partir da experi-
Guia traz instruções básicas de atendimento
ência de profissionais renomados. Buscase, assim, não apenas dar o dispositivo legal como proporcionar o seu entendimento. Ainda apresenta a relação de produtos
perigosos, dando informações como grau
de risco, limites por veículo e embalagens.
Outro fator positivo é que o Guia trabalha
a questão da responsabilidade social do
empresário e a importância da realização
de programas preventivos para a diminuição dos acidentes ambientais e de suas
conseqüências, apontando também responsabilidades e a necessidade de comunicação do acidente. No lançamento, estiveram presentes o presidente da entidade,
José Guilherme Berardo, a diretora secretária da ABNT, Glória Benazzi, e também
membros do Corpo de Bombeiros, da
Polícia Rodoviária Estadual e Federal,
Cetesb, Samu, Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), concessionária Ecovias, entre outras entidades. Mais
informações pelo telefone (11) 3177-6363
ou através do e-mail abpcea@ terra.com.br
PAM
Administrando emergências
O II Seminário Empresarial de Prevenção a Incêndio e Emergências do PAM
(Plano de Auxílio Mútuo) de Santo Amaro, em São Paulo, contou com a participação de profissionais da área, reunidos
para troca de conhecimentos. Entre os
palestrantes, o capitão do Corpo de Bombeiros e comandante do 2º Grupamento
de Bombeiros da Zona Sul, Rogério Guidette, falou sobre o papel do Corpo de
Bombeiros na Região de Santo Amaro para
as empresas e comunidade. O capitão da
Defesa Civil, Wagner Luís Cardoso Mora,
ministrou a palestra ”Administração de
Emergências”, e o engenheiro de Segurança do Trabalho, Cláudio César Abreu
de Oliveira, abordou o tema “Comunicação com a Mídia: Antes, Durante e Após
Emergências”.
O consultor e diretor técnico da empresa
EcoSeg, Luiz Cláudio Santana, falou sobre
a “Atuação do PAM nas empresas filiadas”.
“A palestra abordou toda a trajetória do
PAM Santo Amaro, desde sua fundação,
12 Emergência
os documentos administrativos, o plano de
trabalho, programa de treinamento anual,
entre outros aspectos”, explica Santana.
Para ele, a avaliação do evento foi totalmente positiva. “Os questionários de
feedback demonstraram que 92% dos
presentes aprovaram esta iniciativa do
PAM”, garante. Oliveira compartilha da
mesma opinião: “Este evento pôde garantir
ao PAM ser conhecido por todas as instituições públicas e privadas da região e, com
esta integração, pode atenuar perdas
decorrentes de eventuais emergências”,
complementa. O evento, que ocorreu em
abril, foi organizado pela Fare Fatto Gestões em Eventos e patrocinado pela Universidade Anhembi Morumbi, Prot-Cap,
Kidde e Dragersafety, com os apoios institucionais da AAPSA (Associação Paulista
de Gestores de Pessoas), ABSO (Associação Brasileira dos Profissionais em Segurança Orgânica), Associação Comercial de
São Paulo - Distrital Santo Amaro, Corpo
de Bombeiros, Inpame e Sintesp.
ARQUIVO DA DEFESA CIVIL DO RS
ABPCEA lança publicação para atendimento a situações de risco
Defesa Civil RS
fiscaliza transporte
Operação de fiscalização já autuou 122 veículos
Fiscalizações de transporte de produtos
perigosos fazem parte da agenda de operações da Defesa Civil do Rio Grande do
Sul. Realizadas, em média, a cada dois
meses, recentemente a operação foi feita
em Torres/RS, em abril.
A ação contou com 52 profissionais, em
parceria com Ibama, Inmetro, Polícia Rodoviária Federal, Fepam, Secretaria da Saúde, Secretaria da Fazenda, Secretaria Municipal da Saúde de Torres, Brigada Militar
e Corpo de Bombeiros. “Ainda estão previstas para este ano outras sete operações
no Estado, incluindo a participação e
integração de diversos órgãos, o que torna a fiscalização mais intensa, coerente e
detalhada”, informou o coordenador da
Defesa Civil/RS João Luiz Soares. A fiscalização contabilizou 426 veículos fiscalizados, sendo que 35 deles transportavam
produtos perigosos. Quatro veículos foram
retidos e 46 foram autuados por irregularidades.
Em março, a fiscalização ocorreu no município de Erechim. A operação refletiu na
fiscalização de 382 veículos de carga,
emitindo 76 autuações e 16 retenções. Entre os veículos vistoriados, 26 transportavam
produtos perigosos. As irregularidades mais
freqüentes são a falta ou defeito de equipamento obrigatório de segurança e o acondicionamento inadequado de carga como,
por exemplo, o transporte na mesma carroceria de produtos químicos e alimentícios. Segundo o coordenador desta operação, major Jair Euclésio Ely, iniciativas como
esta fazem parte de um protocolo firmado entre os Governos dos Estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e
Mato Grosso do Sul e ocorrem, simultaneamente, nos quatro estados.
JULHO / 2006
RODOVIA
HISTÓRIA
Salvamar revive sua trajetória
Memorial apresenta acervo dos Guarda-Vidas do Rio
O Memorial Salvamar, do extinto Serviço de Salvamento
Marítimo do Rio de Janeiro, está aberto a visitações.
Por iniciativa dos remanescentes do serviço, foi
inaugurada a sede da Associação dos Remanescentes do Salvamar, com
o objetivo de homenagear
todos que participaram do
grupo e também proteger o
acervo que conta a sua história. Na
Associação há uma mostra permanente em
painéis com mais de mil fotos que representam o trabalho dos Guarda-Vidas em
diversas épocas.
João Ferreira da Costa, membro da Associação, conta sua trajetória em busca de
material para o acervo. “Não sabíamos mais
do paradeiro dos companheiros ou se já
haviam partido, então promovemos o 1º
Encontro dos Remanescentes do Salvamar,
JULHO / 2006
em 2002”, diz. Então, no ano
seguinte, surgiu a idéia de estabelecer uma sede e um
acervo histórico. “Com o
passar dos anos, após a
extinção do serviço de
salvamento, a sensação
era de que nunca havíamos existido, devido à
falta de comunicação e de
notícias dos companheiros”,
fala Costa, relatando a necessidade da criação do acervo. “Não queríamos que a história do nosso serviço caísse no esquecimento, o que já estava
acontecendo”, conta.
O Salvamar foi o primeiro serviço de
salvamento de praia na orla marítima brasileira, porém, foi extinto em 1984. O
Memorial pode ser visitado todas as quintas-feiras, a partir das 14h, na Rua da Lapa,
120. Informações pelo telefone (21)22322678.
Régis Bittencourt
lidera acidentes
A Régis Bittencourt foi a rodovia que
registrou mais acidentes ambientais no ano
passado em SP, com 24 ocorrências, segundo dados divulgados pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo). Em seguida,
aparecem as rodovias Washington Luiz,
com 19 casos, e a Dutra, com 17. Segundo
dados do “Relatório de Emergências Químicas Atendidas pela Cetesb em 2005”,
foram realizados, no total, 419 atendimentos emergenciais. O número é menor que
os 475 atendimentos registrados em 2004.
De acordo com o relatório, a maioria das
emergências químicas registradas no ano
passado envolveu líquidos inflamáveis
(35%). Porém, em muitos atendimentos,
não foi possível identificar o produto ou a
substância não foi considerada perigosa,
apesar de poder causar impacto ao meio
ambiente. A Cetesb afirma que em 56,5%
dos casos registrados em 2005 houve contaminação ou impacto no solo e em 30%
os recursos hídricos foram atingidos.
Emergência
13
PAULA BARCELLOS
ATUALIZANDO
TREINAMENTO
Preparando para a ação
Emergências químicas foram tratadas de forma teórica e prática
Resgatistas, bombeiros, Defesa Civil, profissionais de emergências químicas e de
Segurança do Trabalho do Brasil e exterior
estiveram presentes na 5ª edição do Curso
Internacional de Emergência com Produtos
Químicos realizado pela Copesul (Companhia Petroquímica do Sul), em Triunfo/
RS, no final de maio. A participação de
órgãos públicos como Defesa Civil, bombeiros e profissionais da Cetesb neste treinamento, junto aos profissionais da empresa
e seus fornecedores, vem atentar para
conscientização sobre o atendimento das
emergências químicas numa maior amplitude. “Podemos ter emergências químicas
dentro de nossa planta ou fora. Além disto,
não necessariamente elas estão voltadas
a algo dentro do nosso segmento ou de
nossa responsabilidade. Então, com isto,
estamos capacitando o nosso pessoal e a
comunidade para prestar atendimento em
qualquer emergência química que esteja
acontecendo no âmbito em que estejam
localizados. É isto que procuramos fazer a
cada ano, além de estarmos atualizados
tecnologicamente em como atuar nestas
emergências”, destaca o executivo da área
de Prevenção e Controle de Emergências
da Copesul, Roger Kirst.
EXERCÍCIOS
Emergências químicas que envolveram
vazamentos, incêndio e vítimas foram
desafios expostos aos participantes na
14 Emergência
forma de exercícios práticos. “O objetivo era
justamente que eles gerenciassem as
demandas que estavam surgindo na oportunidade, através de um sistema uniforme
de comando, onde cada um tem sua função,
estabelecendo um planejamento tático”,
revela o instrutor do curso, Rubens César
Perez. “Tentamos mostrar para eles quais
seriam as ferramentas, o protocolo e etapas
básicas numa emergência. Uma delas é
reconhecer o produto, na seqüência, o potencial de dano, e a forma de controlar”,
cita. Mas o instrutor lembra que é importante
desenvolver a atividade de resposta com
segurança e sempre ajustar a informação.
Roger Kirst diz que para reagir em eventos
como este é necessário ter pessoal capacitado para fazer os procedimentos de
reação, reconhecer o equipamento disponível e mais adequado para a situação. Mas
só isto não basta. “É preciso ter treinamento
prático, pois ele é quem vai condicionar as
pessoas na hora da ação”, enfatiza.
Este treinamento foi bem vindo pelos
profissionais presentes. O exercício prático
feito pelo engenheiro elétrico e coordenador de 54 brigadistas da Companhia
Brasileira de Metalurgia e Mineração, de
Araxá/MG, Lourenço de Moura, o fez sentir-se mais apto para atuar em emergências
químicas. “Tive um extremo conhecimento
técnico e prático. Nós fizemos um teste aqui
hoje, que se eu fosse fazer antes do curso,
eu não faria tão corretamente”, destaca.
EXPERIÊNCIA
Defesa Civil reduz
riscos em PE
Olinda e Recife, em Pernambuco, apresentaram, nos últimos cinco anos, redução no índice de mortes nos morros no
período chuvoso e diminuição dos pontos
de risco. Por estes motivos, as duas cidades foram escolhidas para receber a visita
de representantes da Defesa Civil de
Brasília e das Ilhas do Caribe - Antigua e
Barbuda -, no mês de maio.
Na cidade de Olinda, mais de 190.000
pessoas moram em áreas de morro, sendo que mais de 2.000 encontram-se ameaçadas por ocuparem moradias em situação de risco. Mas a Defesa Civil do
município vem ressaltando as ações realizadas, como o trabalho de Educação Ambiental nas escolas e nas comunidades, a
construção de muros de contenção de encostas, recuperação de escadarias, colocação e reposição de lonas plásticas, identificação de pontos de risco, vistorias em
encostas, casas e edifícios. Esses serviços
vêm sendo intensificados ao longo dos últimos anos, a partir do mês de janeiro até
o final do período chuvoso, com a Operação Inverno. A Defesa Civil de Olinda atende 24 horas no 0800-2812112.
SERVIÇO
Informações sobre
substâncias tóxicas
A população e os profissionais de saúde
contam agora com um 0800 para tirar
dúvidas e fazer denúncias relacionadas a
intoxicações. A Anvisa criou o Disque-Intoxicação, que atende pelo número 0800722-6001. A ligação é gratuita e o usuário
é atendido por uma das 36 unidades da
Renaciat (Rede Nacional de Centros de
Informação e Assistência Toxicológica) espalhadas pelo país. Gerando respostas rápidas, o 0800 presta esclarecimentos à população e auxilia os profissionais de saúde
a prestarem os primeiros socorros e a prescreverem o tratamento terapêutico adequado para cada tipo de substância tóxica.
Em alguns casos, o atendimento pode ser
presencial. Com uma rede de informação
sistematizada é possível ainda delinear um
mapa da situação do País no que diz respeito à intoxicação.
JULHO / 2006
ESPECIAL
Realidade desarticu
Interação entre os órgãos brasileiros para o atendimento de situações de urgência depende de boa vonta
E
star preparado para uma situação de
emergência significa muito mais do
que possuir recursos humanos e materiais suficientes e eficazes. Significa integração. Considerando que dos 5.800
municípios brasileiros, 95% não dispõem
de serviços de combate a incêndio, resgate ou pronto-socorro, o termo integração
soa como algo impossível de ser concretizado. Ao longo dos anos, o país não desenvolveu seus sistemas de atendimento
a emergências. Talvez porque não se considere alvo de desastres, principalmente,
naturais. Mas, segundo o relatório do ISDR
(International Strategy for Disaster Reduction) da ONU, o Brasil foi o 12º país em
número de pessoas atingidas por desastres entre os anos de 1994 e 2003. Hoje,
a qualidade do serviço prestado depende,
muitas vezes, da vontade e do empenho
pessoal dos profissionais que têm a missão de zelar pelo bem estar da sociedade.
Os principais órgãos responsáveis por
este atendimento são hoje os Corpos de
Bombeiros, a Defesa Civil, os PAMs (Plano
de Auxílio Mútuo) e o Samu (Serviço Móvel de Urgência). Eles formam, juntamente
com outros setores como Polícia Rodoviária
e organismos que atendem emergências
químicas, uma rede de pronta resposta
disponível 24 horas por dia para atender
qualquer espécie de urgência. Mas, na
prática, este sistema possui deficiências,
que se tornam graves na medida em que
podem comprometer a vida humana.
gio Bezerra, explica a importância da atuação destes órgãos nos municípios. “A atuação do órgão municipal é extremamente importante, tendo em vista que os desastres ocorrem no município”, avalia ele.
O consultor e ex-secretário adjunto de
Segurança Pública do Distrito Federal,
João Belém, explica que, como as
ações de Defesa Civil visam à pro-
PREPARO
Enquanto alguns estados atuam de forma
efetiva, outros se encontram ainda em desenvolvimento ou até mesmo sem nenhum preparo para atender situações de
emergências. No Sistema Nacional de
Defesa Civil, os órgãos operacionais são
as Coordenadorias Municipais de Defesa
Civil (COMDECS). O engenheiro de Incêndio e Pânico e diretor do Departamento
de Minimização de Desastres da SEDEC
(Secretaria Nacional de Defesa Civil), Sér-
teção coletiva de determinado
grupo, elas necessitam da participação dos próprios beneficiários na
busca de sua segurança. “Nenhum Estado,
por mais poderoso que seja, disporá,
sozinho, de efetivos e equipamentos
capazes de enfrentar uma grande catástrofe, até porque isto seria ilógico sob o
ponto de vista orçamentário da administração pública”, salienta. Belém lembra a
passagem do furacão Katrina, nos Estados
Unidos, em 2005. “Este fato ilustra bem a
participação de grupos voluntários, pois os
Reportagem de Lia Nara Bau
16 Emergência
JULHO / 2006
ade e empenho dos profissionais
efeitos devastadores foram minimizados
muito mais pela atuação efetiva da Cruz
Vermelha Americana e outras ONGs do
que propriamente pelas unidades públicas
de Defesa Civil, bombeiros e Guarda Nacional”, diz. No entanto, o professor e instrutor do ESCI (Emergency Care and Safety
Institute) e RTI (Rescue Training Interna-
JULHO
JULHO/ /2006
2006
INTERFERÊNCIA
A qualidade e eficácia no atendimento
a grandes desastres, mesmo integrado,
segundo Belém, vai depender de fatores
como as circunstâncias do desastre, tempo-resposta, equipamentos disponíveis e
adestramento das equipes. O temporesposta, por exemplo, que é medido pela
velocidade com que o socorro chega ao
local do evento e começa a operar, interfere e pode ser definitivo no atendimento.
O consenso mundial estabelece como
média aceitável, em áreas urbanas, o tempo de três a cinco minutos para a chegada
dos primeiros elementos ao local do desastre. Sérgio Bezerra, da SEDEC, fala que
os principais passos em uma operação de
emergência ocorrem de acordo com o
desenvolvimento técnico e operacional de
cada sistema municipal e estadual. “Há
aqueles mais desenvolvidos e há aqueles
que ainda estão muito longe da capacidade
técnica adequada, no caso da Defesa Civil,
principalmente, por falta de comprometimento de prefeitos, que são os principais
responsáveis pelo órgão no município”,
lamenta.
Jorge Alexandre Alves ressalta que alguns procedimentos deveriam ser seguidos. “Em acidentes de grandes proporções, por recomendações internacionais, devem ser estabelecidos os centros
de comando unificados, onde representantes técnicos de cada serviço envolvido devem trabalhar no gerenciamento da
emergência”, diz.
JOSÉ ROBERTO HANSEN
ulada
tional), Randal Fonseca, explica que a participação de leigos no atendimento a emergências ainda é insignificante se considerarmos o universo brasileiro. “Os leigos
treinados constituem uma porção ínfima
da população. Mas mudanças estão em
curso neste sentido, com a implementação
dos cursos obrigatórios de primeiros socorros por meio dos Centros de Formação de
Condutores e Auto-Escolas”, afirma.
Segundo o paramédico e consultor especialista em emergências, Jorge Alexandre Alves, na maioria dos municípios, o
problema é que a Defesa Civil, muitas vezes, não está estruturada, não possuindo
nem mesmo endereço. “Em muitos casos,
são comandadas por funcionários comissionados, sem conhecimentos técnicos básicos de administração de emergências”,
fala. A precariedade do sistema faz com
que, em algumas cidades onde não há a
presença dos bombeiros, a Defesa Civil
atenda as demandas do cotidiano. “É
um paradoxo no contexto nacional,
onde o município conta com uma Defesa
Civil preparada para grandes emergências,
mas não existem instituições para atender
as demandas mais rotineiras”, explica.
Emergência
17
País ainda tem
longo caminho na
busca pelo
aperfeiçoamento
dos serviços de
emergência
ESTRUTURA
OS ÓRGÃOS DE EMERGÊNCIA
DEFESA CIVIL
RONALD BELÉM
CASTOR BECKER JÚNIOR
ESPECIAL
DIMENSÃO
Todos concordam, contudo, que
a dimensão do incidente irá determinar o tipo de atendimento a ser
adotado. “De uma maneira geral,
entende-se que em casos de acidentes de grandes proporções, o
representante da Defesa Civil local
teria o papel de coordenador geral
do atendimento ao evento, ficando as demais instituições responsáveis pelo comando e desenvolvimento de suas atividades espe- Belém:
cíficas”, salienta Rodrigo Caselli, médico
e gerente do Núcleo de Educação em
Urgência (NEU) do Samu de Brasília. Ele
cita o exemplo da queda de um avião dentro dos limites do aeroporto, com incêndio
dos destroços e vítimas na pista. “Neste
caso, estamos diante de uma situação cujo
risco para a população ou meio ambiente
é praticamente nulo. Tendo como maiores
desafios a extinção do incêndio e a recuperação das vítimas, bombeiros e serviços
de APH - Atendimento Pré-Hospitalar têm claramente definidas as suas áreas de
atuação”, explica. Após o controle da cena,
com combate aos focos de incêndio,
segurança do local e retirada
das vítimas, têm início as
atividades das equipes de
APH. “As vítimas seriam encaminhadas para um Posto Médico Avançado, onde equipes
médicas realizariam a avaliação
e estabilização para que, posteriormente, sejam evacuadas
para os hospitais de referência
para o tratamento definitivo”,
esclarece.
participação
Na cena do acidente, inúmeras ações e comandos devem ser executados de forma ágil e precisa. “A partir
do acionamento, ocorre a codificação do
evento e deslocamento das equipes ao
local, a triagem, regulação médica na cena,
definição das referências hospitalares e
transporte das vítimas”, fala o médico Cloer
Vescia Alves, responsável pela implantação
do Samu Metropolitano no Rio Grande do
Sul. Há, no entanto, outras ações que são
desencadeadas. “Diversos recursos podem
ser disponibilizados para o atendimento de
um evento com grande número de vítimas, como, por exemplo, o transporte aeromédico”, complementa Alves.
Conjunto de ações preventivas,de socorro, assistenciais e reconstrutivas, destinadas a evitar ou minimizar os desastres, preservar o moral da população
e restabelecer a normalidade social. O Sistema Nacional de Defesa Civil, que tem como órgão central
a Secretaria Nacional de Defesa Civil, do Ministério
da Integração Nacional, é composto por vários órgãos federais, estaduais e municipais.
Integração deficiente
 BOMBEIROS MILITARES
Se incendiasse a sua casa ou algum local
próximo, você pediria socorro a quem? Ao
Corpo de Bombeiros? E na queda de um
avião? Que setores deveriam atuar no
local? E em um acidente rodoviário? Na
verdade, o que ocorre, muitas vezes, é que
a primeira reação das pessoas é discar para
o número 193 e pedir socorro ao Corpo
de Bombeiros, que atua na maioria das
emergências. Mas será que este é o procedimento adequado? Como são atendidos
os mais variados tipos de emergências? O
cenário ideal seria que todos os setores
atuassem de forma integrada e sincronizada. Isto, infelizmente, acontece menos
do que gostaríamos. Os especialistas são
praticamente unânimes em afirmar que o
país ainda tem um longo caminho a percorrer na busca pelo aperfeiçoamento de
seus serviços de emergências.
Para João Belém, a eficácia da integração
do atendimento a situações de emergência tem início a partir da identificação de
um número telefônico único para aciona-
Militar especializado no combate a sinistros e em
atividades de busca e salvamento.
BOMBEIRO INDUSTRIAL ( CIVIL )
Funcionário civil que integra a brigada de incêndio
ou anti-sinistro no seu local de trabalho.
 BOMBEIRO VOLUNTÁRIO
Membro de uma comunidade treinado e capacitado
a executar trabalhos de combate a incêndios e busca
e salvamento.
 PAM
O PAM (Plano de Auxilio Mútuo) estabelece a soma
de esforços de pessoal, equipamentos e materiais,
envolvendo órgaos governamentais, não governamentais e a comunidade, para enfrentar, com sucesso, situações de emergência.
SAMU
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência é
uma organização pública, coordenada por uma
Central de Regulação Médica, destinada a prestar
atendimento pré-hospitalar básico e avançado nas
ruas e em domicílios, em casos clinicos, traumáticos
e desastres.
Fonte: Glossário de Defesa Civil
18 Emergência
 A articulação entre setores ainda engatinha no país
mento, nos moldes do 911 americano, do
000 australiano, do 118 francês ou do 112
suíço. “Em tese, significa um planejamento
operacional abrangente e a possibilidade
de uma execução descentralizada e desburocratizada. Hoje, no Brasil, os diversos
números utilizados, pelas várias organizações envolvidas, impedem que se obtenha o grau de coordenação que seria desejável”, afirma. Jorge Alexandre Alves concorda que não existe uma integração formal. “No Brasil, temos números diversos
para cada setor, o que faz com que as pessoas não memorizem todos os números
ou liguem para o serviço que possui menos
conhecimento para aquela emergência”,
desabafa. O coronel Antonio dos Santos
Antonio, comandante geral do Corpo de
Bombeiros de São Paulo, contudo, lembra
que as chamadas, em São Paulo, são direcionadas para os setores responsáveis.
“Através do telefone de emergência 193,
triamos todos os chamados, avaliando quais
são ocorrências de bombeiros e designando
JULHO / 2006
ARQUIVO
ESPECIAL
LUIS OLIVEIRA / MS
viaturas adequadas para
da Defesa Civil do Rio
atendimento das ocorrênGrande do Sul, major
cias”, diz.
Aroldo Medina, a
Para Cloer Vescia Alves,
articulação entre os seainda não temos o amadutores hoje é mais baseada
numa cultura de respeito
recimento e a conscientizamútuo, onde cada órgão
ção necessária por parte da
reconhece a sua função.
sociedade brasileira no que
“Os elos são criados na
diz respeito à integração.
prática do dia-a-dia, nas
“Como um país que sequer
ocorrências, nos cursos
consegue aprovar leis adede especialização, nas oquadas, poderia amparar
perações integradas
legalmente a integração dos
como, por exemplo, na
diversos setores ligados às
execução do trabalho
urgências?”, questiona. As- Coronel Antonio: triagem
preventivo de fiscalização
sim, a integração passa a ser
um ato de boa vontade. “Nos locais onde de cargas perigosas”, salienta. Ele fala que
há um entrosamento, isso decorre muito existe uma cooperação entre os órgãos no
mais da capacidade e espírito de equipe repasse das principais informações
de alguns chefes e subordinados, do que relacionadas ao desastre. “Quando ocorre
efetivamente de um procedimento padro- um desastre de proporções significativas,
nizado pelo Estado”, ressalta Belém. Desta por exemplo, todos os órgãos costumam
forma, os esforços individuais permane- acorrer para o local. Aí é preciso montar
cem. “O Corpo de Bombeiros atua com um posto de comando para coordenar a
‘heroísmo’, onde muita dedicação e valo- atuação dos órgãos envolvidos.
res individuais promoverão o resultado. É Normalmente, a Defesa Civil assume este
o melhor que se pode dizer em termos papel, chamando para este posto as
de organização”, lamenta Randal Fonseca. autoridades que têm comando sobre suas
Isto, no entanto, somado ao fato das corpo- equipes e os técnicos que têm
rações não estarem presentes na maioria conhecimento para lidar com o desastre”,
das localidades brasileiras, torna a inte- esclarece. Medina lembra também que
gração inviável. “Estamos muito longe do alguns aspectos são importantes neste
que seria razoável”, desabafa.
momento. “O profissionalismo, o controle
emocional e a solidariedade costumam ser
RESPEITO
fatores importantes nestas ocasiões”, fala.
Para o chefe da Divisão de Convênios
O Corpo de Bombeiros, normalmente,
EM
DEBATE
20 Emergência
Em função da Rede Samu 192 ainda estar sendo implantada,
estão abertas diversas discussões para integração do serviço aos
outros órgãos. Mesmo recente, o Samu já atende 82,3 milhões
de brasileiros, em 604 municípios de 24 estados e DF.
é o primeiro órgão acionado numa ocorrência. “No caso de uma enchente, por
exemplo, a Defesa Civil inicia suas ações,
posteriormente, ou até paralelamente.
Também são mobilizadas viaturas para
pontos críticos de onde os técnicos monitoram e repassam as informações”, esclarece o coordenador da Defesa Civil Municipal de São Paulo, coronel Jair Paca de
Lima. O médico e diretor do Centro de
Treinamento de Emergências da Socesp
(Sociedade de Cardiologia do Estado de
São Paulo), Agnaldo Pispico, concorda. “O
Corpo de Bombeiros é responsável pelo
atendimento de um acidente de grandes
proporções e, caso necessite, deve pedir
apoio aos serviços regionais como Samu,
Defesa Civil, entre outros”, explica.
SÃO PAULO
Segundo o químico Edson Haddad, gerente da Divisão de Gerenciamento de
Riscos da Cetesb(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado
de São Paulo), a articulação entre os órgãos
de atendimento a emergências foi se
aperfeiçoando ao longo do tempo. “Hoje,
em São Paulo, já é um procedimento de
rotina o Corpo de Bombeiros contatar a
Cetesb para emergências químicas”,
afirma. Em acidentes rodoviários, por
exemplo, normalmente, participam bombeiros, prefeitura, Defesa Civil municipal
e policiais rodoviários. “O que ocorre, normalmente, em um acidente de caminhão
com produto perigoso é a Polícia Rodoviária e a concessionária da rodovia serem as
primeiras a chegar ao local”, informa. Haddad explica que as concessionárias possuem um plano de ação de emergência,
que lhes permite acionar os órgãos públicos
competentes, se necessário. Já a Polícia
Rodoviária, no caso de São Paulo, normalmente chama os bombeiros e a Cetesb.
“Além disso, outros órgãos são acionados
conforme a necessidade. Se houver um
produto inflamável que possa contaminar
a água, por exemplo, será chamada a
companhia de água, e assim por diante”,
esclarece.
O coronel Jair Paca de Lima, da Defesa
Civil paulistana, fala que na cidade de São
Paulo se busca cada vez mais a integração
entre os órgãos de emergência. “Temos
um excelente relacionamento com o Corpo de Bombeiros, com o Samu, com a
Guarda Civil Metropolitana e com a Companhia de Engenharia de Tráfego, todos
fundamentais e sempre presentes”,
JULHO / 2006
JULHO / 2006
NACIONAL
Mas para Agnaldo Pispico, da Socesp, a
integração ainda é precária na maior parte
do território nacional. “Infelizmente, a
maioria dos serviços ainda não se comunicam entre si, as ocorrências são disputadas e atende quem chega na frente,
usando recursos desnecessários e causando rivalidade entre as equipes”, salienta.
Ele fala que o Samu de Araras/SP, onde
também atua, funciona integrado ao
Corpo de Bombeiros, através de uma
central telefônica única 192/193, que
distribui as ocorrências. “Esta integração é
modelo e vem sendo utilizada por outros
Samus do país”, informa.
O técnico em química e vice-coordenador da Comissão de Preparação e Atendimento a Emergências da Abiquim
(Associação Brasileira da Indústria Química), João Carlos Hermenegildo, ressalta
que a integração é essencial. “Dada a complexidade das ações e face aos envolvidos
– órgãos públicos, privados, população -,
é emergente que os interlocutores tenham
um mínimo de conhecimento dos processos e articulação entre si”, salienta. Os resultados, segundo ele, podem ser fatais.
“Na passagem do furacão Katrina, por
exemplo, a assistência e recuperação
MÁRCIO CUNHA
assegura. O comandante geral do Corpo
de Bombeiros de São Paulo, coronel Antonio dos Santos Antonio concorda, explicando que a integração com bombeiros
civis também acontece. “Existem alguns
postos de bombeiros com bombeiros civis
que integram o efetivo daquela localidade
com funções específicas para cada
município”, garante. Outro diferencial diz
respeito ao Sistema de São Paulo que
congrega os setores. “Existe o Sistema de
Comando de Emergências, o Sicoe, onde
todos os setores são integrados no posto
de comando e as atuações são definidas
pelos responsáveis”, salienta.
No município, o coronel Paca de Lima
acredita que os setores estejam articulados.
“Cada órgão envolvido com emergências
é ciente de suas responsabilidades e competências dentro de um cenário de desastres”, garante. Ele explica que a Defesa
Civil no Brasil ainda está em processo de
evolução. “Há falta de pessoal especializado e também uma grande carência de
equipamentos e materiais”, lamenta. No
entanto, ele acredita que isto possa ser
superado. “Os governos e a população
percebem a importância de termos uma
Defesa Civil cada vez mais presente e
atuante”, diz.
Pispico: integração entre Samu e Bombeiros
sofreram de falta de articulação e coordenação antes, durante e depois do evento, custando milhões de dólares em danos
materiais e, se pudéssemos quantificar,
bilhões em danos morais”, lamenta. Porém,
a coordenação, para Hermenegildo, deve
ter outro significado. “O fato de coordenar
não significa comandar as ações, mas ter a
visão estratégica de como as articulações
Emergência
21
ESPECIAL
PATTY REY/COMDEC-SP
sastre”, complementa.
PÓLOS
No Pólo Industrial de Camaçari na Bahia,
o primeiro complexo petroquímico planejado do país, a integração entre todos os
setores se dá através de comunicação e
padronização. “Existe um sistema de comunicação via rádio exclusivo para acionamento em emergência, e o PAM - Plano
de Auxílio Mútuo - é formalizado pelo seu
regimento”, explica o engenheiro de Segurança do Trabalho e superintendente de
Saúde, Segurança e Meio Ambiente do
Cofic (Comitê de Fomento Industrial) do
Pólo, Aurinézio Calheira Barbosa. Ele salienta que o atendimento tem início dentro
da empresa atingida pela emergência: “A
empresa sinistrada aciona a sua brigada,
e, se houver necessidade, convoca as empresas da sua área e todo o PAM.” Segundo
Coronel Paca de Lima: articulação em São Paulo
Panorama
internacional
GISÈLE BATZLI
dos poderes público e privado podem se
auxiliar para maximizar os recursos escassos,
emergenciais e urgentes das ações de de-
ele, as Polícias Militar e Rodoviária também atuam em simulados de evasão dos
trabalhadores do Pólo que são realizados
todos os anos, pois a Defesa Civil está em
processo de formação na cidade e não há
Corpo de Bombeiros. “Nos simulados, mais
de 16.000 trabalhadores saem de suas empresas”, relata ele.
Em locais onde há a presença do PAM,
algumas ações são desencadeadas mais
facilmente, como no município de Rio
Grande, no Rio Grande do Sul “O PAM
de Rio Grande tem um plano de acionamento que é desencadeado pelo Corpo
de Bombeiros. Ou seja, qualquer pessoa
que se depare com uma emergência pode
ligar para os bombeiros, que eles irão
desencadear o chamado. Cada unidade
dos órgãos envolvidos, por sua vez, tem
um cabeça de chave que automaticamente acionará o subseqüente”, explica o
 Como os países referência
estão articulados para
o atendimento de emergência
Na América do Sul, entre os serviços de urgência,
destaca-se a estrutura dos bombeiros do Chile, totalmente voluntária, que dispõe dos mais modernos equipamentos e preparo técnico. Segundo Marco Aurélio Rocha, bombeiro profissional civil, a cultura em emergências
do Chile se dá devido aos constantes desastres naturais,
pois o país está situado no chamado Círculo de Fogo de
Pacífico, que provoca sismos na Costa Ocidental da
América do Norte e Latina, ilhas do Pacífico Sul e
Japão. Mas o Chile conta com o Sistema Nacional de
Emergência, que também é denominado Sistema
Nacional de Defesa Civil, integrado pelos ministérios,
serviços e instituições ligadas à área, tanto do setor
público quanto privado e entidades voluntárias. Cada
um destes serviços mantém sua própria estrutura. A
coordenação nacional fica a cargo da ONEMI (Agência
Nacional de Emergência), e, em nível regional e comunitário, através dos intendentes regionais, governadores das províncias e prefeitos. “Cada uma das entidades elabora seu plano de ação e diretrizes para
atendimento a emergência, levando em conta sua área
de atuação”, fala Rocha.
QUÍMICAS
O atendimento das emergências químicas também é
referência no Chile. Segundo Marcel Borlenghi, coor22 Emergência
Estrutura de atendimento a emergências químicas do Chile é referência
denador de emergência da Suatrans e membro do ITF
– HAZMAT International Task Force, quando a emergência ocorre em uma via pública, bombeiros, polícia e
emergência médica atuam na primeira resposta. “Posteriormente, o embarcador, transportador ou proprietário
da carga se encarrega das atividades de controle,
transferência, meio ambiente, entre outros”, explica.
Ele fala que, na visão dos chilenos, o produto químico
e o meio de transporte são de responsabilidade exclusiva
de quem embarca, transporta e compra os produtos.
Outras diferenças também são significativas entre Chile
e Brasil. “A Defesa Civil não participa de emergências
químicas no Chile”, afirma Borlenghi.
Para Borlenghi, o Brasil deveria seguir normas neste
sentido. “Deveria ser implantado o mesmo modelo
americano que já vem sendo introduzido em muitos
países da América do Sul”, referindo-se às normas
NFPA 472 e OHSA 29 CFR 1910.120, que normatizam
atendimentos de emergências com produtos perigosos.
Ele acredita que o Brasil esteja aperfeiçoando seu atendimento a emergências químicas, em função do volume de cursos e treinamentos que estão sendo ministrados em todo o país. “Definitivamente estamos no
caminho certo”, completa.
MÉDICAS
Em termos de APH, as referências são, principalmente, os Estados Unidos e a França. “O sistema de
paramédicos americano e o Samu francês atingiram o
mais elevado grau de eficiência e uniformidade em termos
de formação de recursos humanos e integração com
outros serviços”, explica o médico Rodrigo Caselli. O
JULHO / 2006
bombeiro profissional civil e membro deste
PAM gaúcho, Marco Aurélio Rocha.
COMUNICAÇÃO
A comunicação é um dos pontos-chave
para a articulação dos setores. O consultor
de intercomunicação de emergência,
Leandro Pinheiro, desenvolveu um sistema de centrais de comunicação entre
PAMs, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros.
Este sistema foi feito para os PAMs da Região da Costa da Mata Atlântica, do qual
fazem parte o PAM do Pólo Petroquímico
de Cubatão, de Guarujá, Retroporto, do
PIE (Plano Integrado de Emergência) – Terminais de Granéis Líquidos e do Porto de
Santos. “O sistema foi desenvolvido a partir das necessidades de comunicação na
emergência, antes, durante e após a ocorrência”, afirma. Foi implantado em 1991 e
sofreu três up-grades até então. Pinheiro
explica o seu funcionamento. “Ele integra
as empresas, Corpo de Bombeiros, policiamento ostensivo, Defesa Civil e Forças
Armadas, articulando os PAMs da região.
Opera com radiocomunicação bidirecional,
ou seja, a comunicação é conduzida de
equipamento para equipamento, utilizando
a freqüência de 360 a 390 MHz, o que
assegura sigilo e segurança”, esclarece.
Segundo ele, ações integradas são freqüentemente simuladas entre os setores,
pois o sistema ainda deverá ser aprimorado. Alguns itens pretendem melhorar
ainda mais a articulação dos setores no
momento da emergência. “O sistema
comporta medidas de integração dos PAMs
sob um único comando, além da padronização da linguagem e de procedimentos,
visando chegar ainda na classificação de
grupos de atuação por especificidade de
emergência”, ressalta. De acordo com
ARQUIVO
há um universo de diferenças entre os países, principalcaminho percorrido, inclusive, não foi muito diferente
mente, os situados no Hemisfério Norte e os que estão
daquele que vemos no Brasil. “Eles passaram pelas
no Sul. “Mesmo dentro de um país existe uma quantidade
mesmas dificuldades hoje encontradas aqui no Brasil:
imensa de diferenças no tocante aos processos adotaproblemas de capacitação, de padronização de condutas,
dos para sistematizar atendimento às emergências”,
de aceitação pela sociedade e de integração com os
diz. Ele ressalta as diferenças entre Estados Unidos,
serviços já existentes”, ressalta. O médico Agnaldo
referência em APH e resgate, e o Brasil. “Os EUA, por
Pispico, diretor do Centro de Treinamento de Emergênquestões históricas, dedicam grande atenção às ecias da Socesp, lembra que o resgate americano, reamergências desde os primórdios do século XX. Eles
lizado por paramédicos, diferencia-se desde a formação
investem pesadamente em prevenção e incluem nela a
dos profissionais. “O paramédico passa por um ano de
premissa da necessidade de estar preparado para
teoria e depois divide a sala de aula com estágios no
atender em emergência”, salienta.
interior da viatura, que são verdadeiras máquinas de
Para ele, o pensamento se distancia do Brasil, pois
protocolos”, afirma.
lá eles entendem que atendimento às emergências é
Outro ponto positivo, segundo ele, é a central de
coisa séria. “Nos Estados Unidos o cidadão faz parte
acionamento 911. “Ela é única e centralizada, despada solução, já que ele é o problema. No Brasil, o Estado
chando todos os recursos necessários para a viatura
assume a função paternalista. A
mais próxima, sendo polícia, bomdiferença está no valor atribuído
beiros e paramédicos acionados
ao povo”, resume. Mesmo assim,
por uma única central”, ressalta.
ele acredita que há esperança de
No Samu francês, ele fala que há
melhorias. “As mudanças estão
uma diferença essencial em reocorrendo lentamente com a inforlação ao Brasil. “Os atendimenmação passada por meio dos curtos são, obrigatoriamente, com a
sos de primeiros socorros e simipresença do médico, tanto nas
lares oferecidos com reconhecicentrais de regulação quanto nas
mento internacional. São poucos,
ambulâncias”, afirma. Pispico sacontudo, já podemos perceber que
lienta, no entanto, que estes sishá um pequeno movimento neste
temas devem ser utilizados como
sentido”, fala.
referência, mas a adequação do
Para o consultor de intercomuniserviço deve ser regional. “Não pocação de emergência, Leandro Pidemos comprar idéias prontas e
nheiro, um quadro geral dos siengolir pacotes e portarias que não Randal: universo de diferenças
nistros no mundo mostra uma
podemos cumprir aqui no país.
permanente busca de aperfeiçoamento, principalmente
Acredito que um misto do que existe nos Estados Unidos
nos países desenvolvidos. “Vemos hoje especialização
e na França pode ser o futuro do APH no Brasil”,
não de recursos materiais, mas de recursos humanos
complementa.
voltados para o gerenciamento de crises, o que deve
ser associado a uma forte integração do poder público e
APERFEIÇOAMENTO
iniciativa privada”, salienta.
No panorama internacional, para Randal Fonseca,
JULHO / 2006
Emergência
23
ESFORÇOS
A articulação entre todos estes setores
não é uma tarefa fácil. O médico Rodrigo
Caselli acredita que a integração entre os
órgãos de atendimento às emergências,
na prática, não existe. “O que vemos são
pessoas e instituições que trabalham dentro de padrões próprios e que procuram
impor aos demais o seu modelo de trabalho”, diz. No entanto, ele lembra que
alguns esforços vêm sendo feitos para
reunir os setores. “No caso específico de
APH, a portaria GM nº 2.048/02 (Sistemas
Estaduais de Urgência e Emergência) representou, a nosso ver, uma grande conquista e um avanço neste sentido”, afirma.
O médico Cloer Vescia Alves ressalta que,
embora ainda existam dificuldades, há
uma rede de atendimento aos acidentes
de grandes proporções que envolve o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil e demais
instituições públicas no país. “O comando
na cena se dá, de forma operacional, em
função do local. Por exemplo, no caso de
acidente aeronáutico, o comando operacional estará a cargo da Infraero. Já no que
diz respeito às ações de Atendimento PréHospitalar, em qualquer local e situação,
o comando estará a cargo do médico do
Samu que assumir a coordenação na cena,
e assim por diante”, salienta.
24 Emergência
A comunicação é uma das maiores dificuldades entre os órgãos de emergências
Para onde vamos?
 As dificuldades existem, mas os caminhos estão abertos
Sem dúvida, os caminhos que temos a
percorrer ainda são longos até chegarmos
a um nível satisfatório de qualidade e integração em atendimento a emergências.
Para o consultor João Belém, o quadro geral do país em termos de prevenção e capacitação para resposta a desastres é preocupante. “Entre as principais carências e
dificuldades, podemos destacar a amplitude territorial, a falta de cultura de prevenção e a incapacidade dos estados em cumprir suas obrigações constitucionais”, afirma. Ele acredita que o modelo estrutural
brasileiro em vigor precisa ser repensado:
“Ao estabelecer organizações de segurança
pública e de serviços essenciais em níveis
estaduais, este modelo deixa os prefeitos,
verdadeiros interessados nas condições de
vida de seus municípios, em posição de
meros espectadores e pedintes desesperados por recursos quando uma catástrofe
atinge suas cidades”. De acordo com
SEDEC
Pinheiro, eles possuem um procedimento
normatizado que determina todas as ações
desde o acionamento até o encerramento
da ocorrência no que se refere à intercomunicação de emergência. “Num primeiro
momento atuam as brigadas de incêndio
da empresa sinistrada, para depois receber
a ação direta do Corpo de Bombeiros e
do PAM, numa atuação integrada e sinérgica”, afirma. Cada segmento do PAM,
por sua vez, também tem seus procedimentos normatizados. “Cada qual tem sua
tarefa específica de organizar os recursos
na zona fria, isolar a área para minimização
de riscos, entre outros”, cita.
Segundo João Carlos Hermenegildo, da
Abiquim, a comunicação e o comando da
operação são as maiores dificuldades que
os órgãos encontram numa emergência.
“Temos notado que o maior problema é a
comunicação em todos os níveis, quer do
poder público com as instituições, quer das
instituições com a comunidade, etc.”, afirma. “Com a demora da chegada dos
recursos a situação tende a se agravar,
dificultando cada vez mais as ações”,
completa.
JOSÉ JORGE NETO
ESPECIAL
“
As atividades de
atendimento às
emergências no
país não tiveram,
ao longo de sua
história, prioridade.
Há muito a
caminhar.
Sérgio Bezerra
Diretor da Secretaria
Nacional de defesa Civil
Belém, o modelo brasileiro é contrário ao
de todos os outros países. “No mundo
inteiro, todo planejamento, prevenção e
execução de ações de emergência se inicia
com os recursos locais, onde lado a lado,
Governo e entidades comunitárias procuram superar as dificuldades, antes da intervenção suplementar do Estado e da União,
os quais só são acionados quando esgotados todos os esforços e disponibilidades
municipais”, afirma. Segundo ele, embora
seja isto o que determina o Decreto nº
5.376/05 (Sistema Nacional de Defesa
Civil), há uma distância muito grande entre
a norma e a prática.
O engenheiro Sérgio Bezerra, da SEDEC,
concorda que as carências e dificuldades
da Defesa Civil ainda são muitas no país.
“As atividades de atendimento às emergências, desastres e calamidades públicas,
no país, não tiveram, ao longo de sua história, prioridade nem importância. Há
muito a caminhar”, desabafa o diretor. Mesmo assim, Belém permanece otimista.
“Ainda que não seja uma tarefa fácil, certamente poderemos reverter essa situação
se conseguirmos aliar competência gerencial, desprendimento político e vontade
comunitária no rumo da resolução desses
problemas”, complementa. Carências e dificuldades, para Randal Fonseca, são
inúmeras. “Há tudo para mudar, começando pela cultura de entender que as
emergências não marcam hora nem lugar
para ocorrer”, ressalta.
FORMAÇÃO
O médico Rodrigo Caselli também cita
JULHO / 2006
JULHO / 2006
tribuição das corporações e a dificuldade
dos estados em atender todos os municípios, promove conflitos entre militares,
civis e voluntários. Segundo ele, o quadro
poderá melhorar quando as instituições de
ensino se engajarem na formação de profissionais dedicados para atendimentos a
emergências. Um ponto positivo, segundo
Alves, é que algumas empresas adquirem
sistemas, métodos e capacitação de acordo com referências internacionais, o que
faz com que padrões de prevenção e controle de emergências sejam difundidos no
Brasil. “A má notícia, porém, é que os serviços públicos parecem resistir muito para
aceitar e praticar estas recomendações”,
lamenta.
DIFERENÇAS
A integração de fato não ocorre no país,
segundo o médico Rodrigo Caselli: “Não
podemos ainda considerar que exista um
sistema real de enfrentamento às emergências, uma vez que este termo pressupõe a coesão de vários grupos com atribuições bem definidas, trabalhando em
sintonia com um objetivo comum”, ressalta. No entanto, ele vê no futuro boas perspectivas. “Acredito que estamos indo numa
ARQUIVO
a falta de pessoas qualificadas para o APH
como uma das maiores dificuldades enfrentadas hoje no setor de emergências, o que
pode incidir também sobre a articulação.
Como a Portaria GM 2048 que regulamenta o serviço é de 2002, até então, a falta
de padronização imperava no mercado. “O
que ocorria era que os diversos serviços
existentes se autodesenvolviam, a partir
de protocolos importados. Felizmente, a
maioria foi desenvolvido por profissionais
sérios e competentes que, não tendo alternativa, diante da omissão dos órgãos públicos, foram obrigados a criar modelos e implantar seus próprios serviços”, diz. “Um
dos grandes avanços no sentido de qualificar nossos recursos humanos está no
empenho das universidades, principalmente, os cursos de Enfermagem e Medicina,
em incluir nas suas grades curriculares disciplinas específicas relacionadas a emergências”, revela. A necessidade de formação é um agravante também para os bombeiros. “Cada vez mais há uma demanda
de empresas, mesmo estatais, que buscam
certificações de qualidade que pedem por
estes profissionais em suas plantas”, diz o
paramédico Jorge Alexandre Alves. Para
ele, a questão da formação, aliada à dis-
Alves: empresas adotam referência internacional
direção promissora, uma vez que o país
se tornou ativo com a implantação da
Política Nacional de Atenção às Urgências
e com o fato de que cada vez mais o tema
vem sendo motivo de discussões científicas, visando realmente a profissionalização e o desenvolvimento de um sistema real, cujo objetivo seja o de salvar
vidas”, complementa.
Emergência
25
24 HORAS
6H
Indo para o trabalho
Michele mora com os pais e
acorda às 6h da manhã. Toma
banho, se arruma e deixa para
tomar café da manhã no Samu,
onde passa 12 horas trabalhando. Ela vai trabalhar de carro.
Sai de casa entre 6h30 e 6h40,
chegando no Samu por volta
das 6h50. São cerca de 8 km
percorridos para chegar ao local de trabalho.
6H55
A vida por um fio
A chegada
Após bater o ponto, a enfermeira Michele checa o quadro
com as escalas do dia.
Lá ela vai
saber em
que viatura
e com que
equipe irá
atuar. Também verifica a ordem
de saída das viaturas e vê se
todos os enfermeiros estão no
local.
 Atendimento no Samu envolve a realização de procedimentos em
locais inadequados, como as ruas, exigindo trabalho em equipe e agilidade
“Sempre quis trabalhar com emergência”, afirma Michele de Freitas Neves, de
26 anos, que trabalha há oito meses no
atendimento de emergência do Samu de
Campinas/SP. Enfermeira formada pela
Unicamp há quase três anos, ela também
trabalha em um Pronto Socorro do Hospital da Universidade. No Samu, Michele
trabalha 12h e folga 36h, atuando em viaturas de suporte avançado. Essas viaturas
estão preparadas para as ocorrências que
necessitam de UTI e, além de diversos
equipamentos, contam com uma equipe
completa: um médico, um enfermeiro, um
técnico em enfermagem e o motorista.
Reportagem Cristiane Reimberg/Emergência
reunião com o Conselho Gestor, na qual a coordenação discute com os funcionários os
problemas enfrentados e tenta resolvê-los.
7H05
Checagem
O próximo passo é checar se
tudo está em ordem na ambulância. Todos os equipamentos
são verificados. Michele, por
exemplo, observa se há oxigênio, checa o respirador, testa o
desfibrilador, deixa os eletrodos
prontos para monitorizar o paciente. Esses procedimentos
são importantes para que tudo
ocorra de forma rápida e prática durante o atendimento.
26 Emergência
8H25
7H35
Ocorrência
Reunião
Michele sai da reunião e tem
seu café da manhã adiado mais
uma vez. A sirene toca no Samu, avisando que a primeira viatura de suporte avançado da
escala deve partir para atender
Após a checagem, Michele
costuma tomar café da manhã.
Mas isso nem sempre acontece. Após checar os equipamentos, ela foi convocada para uma
JULHO / 2006
uma ocorrência. A enfermeira
rapidamente se posiciona na
ambulância e no caminho já se
prepara para o atendimento,
enquanto recebe mais detalhes
da ocorrência: um homem de
mais de 60 anos é atropelado
por um ônibus.
equipe trabalhe em conjunto,
da melhor forma possível. Michele procura a máscara para
colocar no homem. O soro é
montado. Ele perdeu muito
sangue. Michele pede ao motorista que dê a ela os equipamentos que necessita.
8H35
8H45
Local do acidente
Tensão
O homem está debaixo do
ônibus, próximo às rodas traseiras. É possível ver seus braços
e rosto. A Polícia Militar já está
no local. Também há curiosos
observando a cena. Michele e
o médico Eduardo olham se é
possível retirá-lo do local. A
técnica em Enfermagem, Benê, entra embaixo do ônibus
para verificar se a vítima não
está presa. Dessa forma, os
três, auxiliados pelo motorista
da ambulância, Marcos Roberto, colocam o homem na maca.
A vítima agoniza de dor o tempo todo e faz movimentos involuntários com os braços e as
pernas, que estão quebrados.
O membro inferior esquerdo
sofreu ainda amputação com o
acidente. O sangue se espalha
pela avenida. Michele tenta
tranqüilizá-lo, apesar de já perceber que a situação é grave.
O momento ainda é tenso.
A equipe do Samu continua no
local do acidente e o paciente
está sendo atendido na ambulância. Michele pede outro soro. O motorista acha uma conta de água no bolso da vítima,
que é entregue aos policiais.
Agilidade
É preciso agilidade para atender a vítima. Dentro da viatura
de emergência, é possível ver
a tensão no rosto dos profissionais, o que não impede que a
JULHO / 2006
Equipe chega ao hospital
O Samu chega ao hospital. A equipe do hospital observa a
vítima. Michele preenche a ficha com os dados do senhor
atropelado, relatando o que ocorreu. Ela também entrega os
pertences encontrados com a vítima: dinheiro e alguns documentos.
no crânio, no abdômen e no
tórax.
acidente com uma amiga. “Deu
dó”, lamenta a enfermeira.
9H30
Retorno
8H52
Óbito
8H39
8H59
Às 8h50 a ambulância se prepara para partir. No caminho, o
médico verifica os sinais vitais
do paciente. Às 8h52 é atestado o óbito e retirado o oxigênio do homem. A equipe, serena, observa a vítima com a
certeza de que deram o máximo de si para salvá-lo. Mas já
tinham a consciência de que
era difícil que ele sobrevivesse. Michele comenta o acidente. As rodas dianteiras passaram
por cima do homem de 64
anos. Era possível ver as marcas. Além das fraturas dos
membros superiores e inferiores e a amputação na perna esquerda, a vítima teve traumas
A equipe sai do hospital e
chega na unidade do Samu em
cinco minutos. Michele conta
aos colegas como foi o acidente, o trabalho realizado pela
equipe e a situação em que ficou o homem atropelado.
9H45
Café da Manhã
Só agora Michele pode sentar e tomar seu café da manhã.
Ela toma um copo de café com
leite e come pão. Ainda fala do
10H15
Reposição
Alimentada, Michele vai repor o material na ambulância,
que já foi higienizada pela equipe responsável pela limpeza.
São repostos vários equipamentos como abocath (agulha para
punção venosa), intracath (agulha para veia central), tubo,
colares, soros e equipos (fios
para o soro).
Emergência
27
24 HORAS
Após terminar toda a reposição de equipamentos e a limpeza do uniforme, Michele
conversa com outros profissionais de emergência, enquanto
aguarda alguma chamada de
ocorrência.
mais nada, a não ser consolar a
família.
15H10
Tranqüilidade
19H15
De volta para casa
12H
Almoço
10H45
Higiene
Após arrumar os equipamentos, a enfermeira limpa algumas pequenas manchas de sangue do seu uniforme com água
oxigenada.
11H30
Bate-papo
Sem uma nova chamada, Michele vai almoçar no refeitório
do Samu. O atendimento de
UTI não tem hora específica
para almoço, se houver uma
chamada para sua viatura, o
profissional deve parar de comer imediatamente e ir atender a ocorrência. Como não
houve nenhum chamado nesse horário no dia em que a reportagem esteve presente, Michele pôde almoçar tranqüilamente.
A tarde transcorre com tranqüilidade. Há mais duas chamadas de UTI, mas segundo a
escala, outras equipes vão atender, já que a de Michele fez
a primeira ocorrência do dia. A
enfermeira aproveita para fazer
a escala de serviço, que designa quem vai ficar em cada viatura durante o mês. Depois disso, passa a escala do dia seguinte para o quadro.
17H30
Nova ocorrência
No final da tarde, Michele se
depara com mais uma situação
triste. Um rapaz de 22 anos se
suicidou com um tiro na cabeça dentro de casa. Quando chegou no local já não podia fazer
o paciente morre. Atendi uma vez vítimas de um
capotamento. Vi as pessoas agonizando. Você
sempre quer fazer mais, mas há um limite. Ocorrências com crianças também chocam muito.
COMO FOI O SEU PRIMEIRO CONTATO COM
O SOCORRISMO?
Foi aqui no Samu. Sempre gostei muito, mas a
adaptação do Atendimento Pré-Hospitalar é um
pouco difícil. Uma coisa é você atender o paciente no hospital, outra, na rua, onde tem contato direto com a população. Nós temos mais dificuldades nas ruas, pois há mais variáveis que
podem estar influenciando no momento. A via
pode ser escura e você tem que tirar o paciente
do local onde ele está. É preciso fazer os procedimentos em locais inadequados. Mas depois
que você aprende, é apaixonante, você não quer
sair mais.
QUAL EXPERIÊNCIA DE ATENDIMENTO DE
EMERGÊNCIA QUE FOI MAIS MARCANTE?
As mais marcantes são os atendimentos em
que você tem um paciente com trauma, agonizando no local, em que consegue atender, mas
28 Emergência
Em cada 24h, ocorrem no
Samu de Campinas, no mínimo, 150 ocorrências. Dentre
elas, 15 costumam ser de UTI.
O máximo de atendimentos
que Michele chegou a fazer em
uma jornada de 12h foram seis.
O dia de Michele acompanhado pela reportagem não foi um
dia de muitas ocorrências, no
entanto, foram duas chamadas
nas quais foi necessário o contato com a morte. Foram momentos de tensão e muito trabalho, mas a certeza do dever
cumprido, pois em um atendimento de emergência, nem
sempre o final é feliz. Só resta
a Michele voltar para casa.
QUAIS OCORRÊNCIAS VOCÊ MAIS GOSTA
DE ATENDER?
Gosto de atender traumas e paradas, porque
são os atendimentos nos quais você pode fazer
muito pelas vítimas. Em um trauma ou uma parada, você tem que dar o máximo de si e quando o paciente sobrevive é muito gratificante.
ADQUIRINDO
EXPERIÊNCIA
Michele de
Freitas Neves
fala das
diferenças entre atender em um hospital e
nas ruas, relatando os fatos que mais a
marcam profissionalmente.
QUAL SEU OBJETIVO NA PROFISSÃO?
Quero continuar trabalhando com emergência.
Quando tiver mais prática na área, pretendo
atuar na educação voltada para a emergência.
Para tanto, farei mestrado e doutorado. Mas
acho que ainda não é a hora. Quero ter mais
experiência.
JULHO / 2006
REPORTAGEM
Desde os tempos
do Imperador
Corporação mais antiga do País completa 150 anos neste mês, recordando
atuações históricas dos bombeiros e destacando sua estrutura atual
J
ulho é mês de comemorações no
CBMERJ (Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro). No
dia 2, a Corporação festeja seus 150 anos
de criação. Fundado antes mesmo da proclamação da República, o órgão foi estabelecido por ninguém menos que Dom
Pedro II. A instituição aconteceu por meio
do Decreto 1775, de julho de 1856. A
Corporação é a mais antiga do País. Talvez por essa sua longa experiência é que
a entidade carioca consiga dar conta das
freqüentes chamadas de atendimento que
recebe em todo o Estado hoje. Só no ano
passado, para se ter uma idéia, a média
foi de uma prestação de socorro a cada
dois minutos e 36 segundos. Mesmo assim, mais interessante que os atuais registros do CBMERJ, só mesmo a própria história da Corporação - a começar por seu
estabelecimento.
Antes de ser constituído o Corpo de
Reportagem de Sabrina Auler
ARQUIVO
“
Como o Rio foi
precursor, muitas
corporações foram
criadas por um
bombeiro carioca.
Então, esta é uma
comemoração para
todas as corporações
do país
Carlos Alberto de Carvalho
Comandante Geral do Corpo
de Bombeiros Militar do
Estado do Rio de Janeiro
30 Emergência
Bombeiros, a extinção dos incêndios que
ocorriam no Rio de Janeiro era feita por
pessoas dos Arsenais de Guerra e da Marinha, das seções de obras públicas e da
Casa de Detenção. Assim, algumas pessoas eram preparadas para, caso houvesse
incêndio, deixarem seus afazeres e dirigirem-se ao local para trabalhar na extinção
do fogo. “Algumas casas, naquela época,
eram de pau-a-pique, feitas com materiais
de fácil combustão. Além do mais, as seções de combate a incêndio realizavam
ações completamente separadas. Isso significa que não havia um acordo sobre as
formas de extinguir o fogo, uma centralização de serviços”, conta o historiador do
CBMERJ, subtenente Antonio Mattos.
“A partir de 2 de julho de 1856, quando
o Decreto 1775 foi assinado, estes trabalhos foram centralizados pelo o que na
época foi chamado de Corpo Provisório
de Bombeiros da Corte”, diz. “A nova estrutura foi caracterizada como provisória porque, como nunca se tinha pensado nesta
centralização, era preciso experimentar primeiro para ver se iria dar certo”, explica.
Mas a tentativa dos bombeiros procedeu.
“Tanto que em 1860, quatro anos depois,
a estrutura ganhou caráter permanente,
passando a chamar-se Corpo de Bombeiros da Corte”, diz o subtenente Mattos.
AMPLIAÇÃO
Posteriormente, em 1861, a atuação dos
bombeiros, que até então era focada apenas na extinção de fogo, foi ampliada. Naquele ano, a Corporação recebeu autorização (Decreto 8337) para atuar junto a soldados em casos de guerra. Isso significa
que, em situações de conflito, o Governo
poderia empregar bombeiros para construção de sapas e pontões. Entre as lutas em
que os bombeiros estiveram presentes,
destaca-se a Guerra do Paraguai, em 1865,
onde os profissionais compuseram o então chamado grupo “Voluntários da Pátria”.
TRAGÉDIAS
Mesmo assim, apesar da participação em
algumas batalhas, não foram elas as maiores tragédias vividas pela Corporação. Conforme o subtenente Mattos, dois grandes
acidentes realmente marcaram a história
do CBMERJ. Um deles foi a explosão na
Ilha do Braço Forte, na década de 1950.
“Tratava-se de uma ilha do Estado da Guanabara (na época). Lá, eram feitas as armazenagens de materiais explosivos e inflamáveis. Na noite do dia 7 de maio de 1954,
um ladrão tentou roubar alguns dos materiais do depósito para revender a uma fábrica de fogos de artifício. Em contato com
a umidade o material inflamou e começou
a pegar fogo. Como havia toneladas de
explosivos no galpão, o foco de incêndio
se estendeu rapidamente. Vinte e três dos
nossos homens se deslocaram para tentar
conter o incêndio, 17 deles morreram. A
explosão foi tão grande que foi ouvida em
todos os bairros próximos à Baía da Guanabara e até em localidades mais afastadas, como em Teresópolis”, descreve. “Este
foi um dos acontecimentos que mais nos
marcou, pois neste dia, tivemos nosso
maior número de vítimas em um mesmo
evento”, lamenta.
O historiador subtenente Mattos lembra
de outro desastre, mas este ocorrido na
década de 1970. “Foi no bairro de Vila
Isabel, em 1975. Ao sair para atender a
JULHO / 2006
PINTURA DE JOÃO FRANCISCO MUZZI
um chamado, um de nossos carros Auto
Bomba se chocou com um veículo de turismo. Cinco colegas nossos morreram”,
menciona (ver Desastres Marcantes na
História do CBMERJ, na página 32).
APRENDIZADO
Com 40 anos de atuação na área, subtenente Mattos garante que todas estas histórias serviram de aprendizado à Corporação. “Este tipo de acontecimento marca muito. Se você reparar, nós, bombeiros mais antigos, temos muitas marcas e
cicatrizes pelo rosto. Eu, por exemplo, tenho manchas escuras na pele por conta
de um recipiente com acetileno que estourou próximo de mim. Então, muita coisa que eu digo hoje não é porque eu ouvi
falar, mas é porque eu passei, eu vivi, eu
aprendi. A visão mais antiga do bombeiro era de que sua missão era extinguir
incêndios. Agora,
existe outra mentalidade. Hoje se trabalha
muito com a prevenção a fim de evitar que Esta cópia da pintura
os incêndios aconte- original de Leonardo
çam. Isso traz econo- Joaquim, de 1789,
mia de material, de representa um
pessoal e uma série de incêndio ocorrido
outros benefícios à no Recolhimento de
Corporação e à comu- N. Srª do Parto, um
nidade”, reflete.
internato de mulheres
Esta nova postura di- abandonadas. A
ante do trabalho dos pintura está exposta
bombeiros teve início no CBMERJ
já no final da década
de 1970, mais precisamente em 1976. É
que foi neste ano que foi criado o Coscip
(Código de Segurança Contra Incêndio e
Pânico). Elaborado por oficiais da Corporação carioca, o Coscip tornou obrigatório
o cumprimento de algumas normas. Entre
as regras, válidas até hoje, consta a necessidade das edificações e instalações de todo
o Estado disporem de sistemas preventivos de incêndio e contra disseminação de
pânico.
De acordo com o subtenente Mattos, o
estabelecimento das regras de precaução
de incêndios surtiu efeitos. “A prevenção
realmente tem dado um excelente resultado. Antigamente, a cada plantão, havia
uma média de cinco ou seis saídas para
socorro. Hoje, temos dias em que não há
nenhuma. E isso não é porque o bombeiro deixou de ser útil, mas porque há regras incisivas focadas na necessidade de
precaução”, expõe.
1789
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Emergência
Emergência
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