Caros Colegas – 7ª Semana da Comunicação

Transcrição

Caros Colegas – 7ª Semana da Comunicação
caros
cole as
ANO I - Nº 01
OUTUBRO/2009
Publicação do 7º Período do curso de
Comunicação Social – Jornalismo das
Faculdades Integradas do Norte de Minas
Almir Sales
Alexandre Campello
Hugo Teixeira
Alécio Cunha
Esdras Paiva
Maurício Lara
Quinta-feira
01 de outubro
Sábado
03 de outubro
19h às 20h
16h às 17h
Palestra
Marketing Político
Palestra
O Mercado de Jornalismo
em face da nova
realidade profissional
Quinta-feira
01 de outubro
20h às 21h
Sábado
03 de outubro
Palestra
A evolução das assessorias
de comunicação
Palestra
Jornalismo Cultural
14h às 15
Sexta-feira
02 de outubro
20h às 21h
Palestra
A cobertura jornalística
do “mundo do poder”
Sábado
03 de outubro
9h às 10h
Palestra
Jornalismo investigativo
Elpídio Rocha
Elpidio Rodrigues da Rocha Neto é
coordenador do curso de Comunicação Social – Jornalismo
Ao longo dos 11 anos de
existência, o curso de
Jornalismo foi se
estruturando cada vez
mais com as
particularidades da
região do Norte de Minas
e as transformações
tecnológicas e
profissionais do próprio
fazer jornalístico.
Um pouco de história
e jornalismo
A Faculdade de Comunicação Social –
Em 2004, as instalações do curso foram
Jornalismo, em Montes Claros, foi idealiza-
transferidas para o Campus São Luiz. Em
da com o firme propósito de atender à cres-
outubro de 2008, O CRECIH e demais uni-
cente demanda regional nesta área de atu-
dades do grupo SOEBRAS transformam-se,
ação implementando objetivos de discus-
num processo de evolução acadêmica, nas
são crítica sobre a mídia e democratização
Faculdades Integradas do Norte de Minas –
da informação e do conhecimento.
FUNORTE. Entre 2001 e 2008, graduaram-
Essas idéias nortearam a criação da Associação Educacional do Noroeste, Norte e
se 282 novos profissionais de Jornalismo
num total de 10 turmas já formadas.
Nordeste de Minas – ASSENE, instituição
Ao longo dos 11 anos de existência, o cur-
que manteria o Centro Regional de Estudos
so de Jornalismo foi se estruturando cada
em Ciências Humanas – CRECIH, estabeleci-
vez mais com as particularidades da região
mento de ensino superior responsável pelo
do Norte de Minas e as transformações tec-
Curso de Comunicação Social – Habilitação
nológicas e profissionais do próprio fazer
em Jornalismo.
jornalístico. Produtos comunicacionais co-
Em 1997, o trabalho teve êxito com a
mo o Jornal Laboratório Vide Verso, a Rádio
publicação do Ato Autorizativo (Portaria
Corredor, o Laboratório de Imprensa, o Radi-
Nº 2240) do Ministério da Educação e do
ojornal Quinta Freqüência, o Jornal Mural,
Desporto, divulgado no Diário Oficial de
os Telejornais CRECIH Agora e Campus Notí-
23 de dezembro de 1997. Em janeiro de
cia, o X da Questão e a Semana da Comuni-
1998, aconteceu o primeiro processo sele-
cação comprovam esse processo de cresci-
tivo e as atividades letivas iniciaram-se
mento constante. O compromisso com o
em 10 de fevereiro – na sede provisória
novo e a vontade de evoluir sempre apro-
onde, atualmente, funciona o Centro de
fundam-se, agora, com o lançamento da
Estudos Indyu.
Revista Caros Colegas.
Em 03 de julho de 2000, foi inaugurado
Frente aos desafios e as possibilidades
o Campus JK da FUNORTE/ASSENE. As ati-
que surgem, o curso de Jornalismo man-
vidades letivas do segundo semestre já se
tém o esforço de agregar valores cultura-
iniciaram nas novas instalações, com três
is, intelectuais, éticos e profissionais à for-
turmas num total de 134 acadêmicos. Em
mação de jornalistas capazes de lidar com
2001, foi realizado o quarto Processo Sele-
as exigências teóricas, tecnológicas e prá-
tivo e, nesse mesmo ano, graduou-se a pri-
ticas da profissão. E o caminho continua
meira turma de jornalistas formados.
sempre em frente.
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EDITORIAL
EXPEDIENTE
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A REVISTA CAROS COLEGAS é uma produção dos
acadêmicos do 7º Período do curso de Comunicação
Social – Jornalismo das Faculdades Integradas do Norte de Minas (Funorte), com distribuição gratuita.
DIRETORA GERAL DA FUNORTE
Profa. Tânia Raquel Queiroz Muniz
DIRETORA ADMINISTRATIVA
DA UNIDADE SÃO LUIZ
Airam da Paz Fonseca Mota
COORDENADOR DO CURSO
DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
Elpidio Rodrigues da Rocha Neto
PRODUÇÃO E REDAÇÃO DE MATÉRIAS
Adailza Antunes Rodrigues Rocha
Adriana Lima Gomes
André Carvalho
Andrey Meoli
Anny Muriel Martins Gonçalves
Aparecida Soares Santana Ribeiro
Caroline Laize Ferreira de Oliveira
Edvaldo Trindade Souza
Felicidade Tupinambá
Girleno Alencar Soares
Hilton de Souza Nunes
Jean Paulo Mendes Braga
Joana Cristina Barbosa
José Adriano Alves Costa
José Eduardo Miranda Goes
Késsia Thaís Marinho Bastos
Luíz Ribeiro dos Santos
Mara Yanmar Narciso da Cruz
Marina Pereira
Paulo Alfredo Neves Ferreira
Rosângela Alves Mendes Pereira
Vanelle Meneses Oliveira
COORDENAÇÃO EDITORIAL E REVISÃO
Rosângela Alves Mendes Pereira
SUPERVISÃO EDITORIAL E REVISÃO
Ângela Márcia da Silva Braga
Reg. Profissional: 11212 JP/MG
Tiago Nunes Severino
Reg. Profissional: 13082 JP/MG
Mara Narciso
Esperar não
é saber
A revista CAROS COLEGAS surgiu de uma necessidade sentida por todos os estudantes do curso de jornalismo de ter um
espaço onde pudesse publicar seus trabalhos acadêmicos. Nada mais gratificante e estimulante que ter o nome exibido em
uma publicação, e poder dizer: este trabalho é meu. Por isso, a
criação da revista CAROS COLEGAS. Um espaço exclusivo para
os acadêmicos, onde eles podem mostrar para eles mesmos e
para o mercado de trabalho o seu talento e seu aprendizado.
No momento em que se discute a não obrigatoriedade do
diploma para exercer a profissão, os estudantes de jornalismo resolveram não esperar a hora e criaram a revista CAROS
COLEGAS – uma forma de defender a futura profissão e exibir, fora da academia, a sua criação. Se a maioria ainda não
tem a experiência de muitos que estão na luta, por outro
lado tem a formação teórica, a garra e a vontade de fazer
um jornalismo ético e verdadeiro, que mostre os alicerces
de cada um. A pretensão não é concorrer com os veículos já
existentes, e sim, mostrar que querem muito, e que estão se
preparando para em um futuro breve assumir a responsabilidade que a profissão exige.
A revista CAROS COLEGAS é, portanto, uma forma encontrada pelos estudantes de jornalismo de unir o útil ao agradável.
Além da oportunidade de publicar os trabalhos produzidos
PROGRAMAÇÃO VISUAL E DIAGRAMAÇÃO
Cleber Caldeira
em sala de aula, os futuros jornalistas encontraram uma forma
de dizer e mostrar ao mercado de trabalho a sua capacidade. A
TIRAGEM
1.000 exemplares
reclamação de que não tem espaço para publicar os trabalhos
Faculdades Integradas do Norte de Minas – Funorte
Curso de Comunicação Social – Jornalismo
Rua Lírio Brant 787 – Melo – Montes Claros – MG
Outubro/2009
acabou. CAROS COLEGAS abriu esse espaço.
Mãos à obra!
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ÍNDICE
PROGRAMAÇÃO DA 7ª SEMANA
DA COMUNICAÇÃO
DO NORTE DE MINAS
De 01 a 05 de outubro de 2009
Promoção: 7º Período de Jornalismo da FUNORTE
Local: Montes Claros shopping Center
A Casa da Imprensa
do Norte de Minas 06
Adailza Antunes 08
Adriana Lima 09
Cida Santana 10
André Carvalho 12
Andrey Meoli 13
Anny Muriel 14
José Eduardo 15
Edvaldo Souza
Paulo Alfredo 16
Vanelle Oliveira 18
Marina Pereira 20
Késsia Marinho 21
Mara Narciso 22
Luiz Ribeiro 23
Hilton Nunes
Jarbas Oliveira 24
Girleno Alencar 26
Caroline Laíze 27
Rosângela Alves 28
José Adriano 30
Joana Cristina 31
Dia 01 de outubro de 2009 – Quinta feira – Praça de Eventos
De 18h às 19h - Credenciamento e entrega do Kit aos participantes
De 19h às 20h - Palestra: Marketing Político
Palestrante: Almir Sales (Agência Casablanca)
20h às 21h - Palestra: “A Evolução da Assessoria de Comunicação”
Palestrante: Hugo Teixeira (Superintendente de Comunicação do
Governo de Minas)
De 21h às 21h30 – Debate
Encerramento e comunicações da organização do evento
Dia 02 de outubro – Sexta feira – Moviecom- Praça de Eventos
19h às 20h - Mesa redonda
20h à 21h - Palestra: “A cobertura do mundo do poder”
Palestrante: Esdras Paiva – (Editor de Jornalismo
da TV Globo em Brasília)
21h s 21h30 – Debate
22h - Encerramento e comunicações da organização do evento
Dia 03 de outubro – Sábado – Moviecom – Praça de Eventos
De 09h às 10h - Palestra “Jornalismo Cultural”
Palestante: Alécio Cunha – (Repórter Jornal Hoje em Dia)
De 10h às 10h30 – Debates
De 10h30 às 12h – Inauguração da Mostra de comunicação – Praça
de Eventos - Lançamento da Revista Caros Colegas – Lançamento do
Projeto da Casa da Imprensa e abertura do Livro de Ouro
12h às 14h – Intervalo para almoço
14h às 15h – Palestra “Jornalismo Investigativo”
Palestrante: Maurício Lara (Jornal Estado de Minas)
De 15h às 15h30 – Debates
De 15h30 às 16h – Coffe Break na Praça de Eventos
16h às 17h – Palestra: Mercado em face da nova realidade
Palestrante: Alexandre Campello (Fenaj)
De 17h às 17h30 – Debate
De 17h30 às 18h – Emissão da carta de Montes Claros contendo
reivindicações e sugestões que serão, além de divulgada,
encaminhada para as autoridades pertinentes
De 18h às 19h30h – Cinema Comentado – Caro Francis
De 19h30 às 20h – Debates
20h - Encerramento e comunicações da organização do evento
Dia 04 de outubro – Domingo- Praça de Eventos
De 09 às 12h – Curso: Falar em Público - gratuito – vagas limitadas
De 13 às 17h – 8º Arroz com Pequi da Felicidade (à parte) –
Chácara Bugarin
Dia 05 de outubro – Segunda-feira – Solenidade de
Encerramento
Encerramento da 7ª SEMANA DA COMUNICAÇÃO DO NORTE DE
MINAS pelo Exmo. Sr. Ministro de Estado da Comunicação Hélio
Costa e da 1ª Mostra de Jornalismo
- Orquestra sinfônica de Montes Claros
- Pronunciamento da comissão de organização da 7ª SEMANA DA
COMUNICAÇÃO DO NORTE DE MINAS – Leitura da Carta
de Montes claros
- Execução do clássico – Peixe Vivo
- Pronunciamento do Exmo. Sr. Ministro das Comunicações
- Encerramento, visitação da 1ª Mostra de Comunicação e café com
letras na Praça de Eventos
Felicidade Tupinambá 32
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A Casa da Imprensa
do Norte de Minas
De Casa dos Jornalistas de Montes Claros para Casa da Imprensa
200 lugares, biblioteca, telecentro, salas de reunião, recepção, estú-
do Norte de Minas. Mais inclusiva. Uma casa para todos os trabalha-
dio de rádio e TV. O projeto está prestes a ser liberado pela prefeitu-
dores da imprensa: editores, repórteres fotográficos, repórteres
ra e já passou pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura
cinematográficos, assessores de imprensa, publicitários, diagrama-
de Minas Gerais (Crea-MG).
dores, webdesigners de jornais eletrônicos, apresentadores de tele-
Nos próximos dias, os serviços de limpeza do lote, para início pro-
jornais, repórteres de radiojornalismo, repórteres de telejornais,
priamente dito da obra, serão concluídos. Uma assembléia dos pro-
pauteiros, produtores de telejornais e colunistas sociais.
fissionais da imprensa será no local para o lançamento da pedra
Uma diretoria, em março de 2007, tomou posse com o objetivo
fundamental e início efetivo da obra.
de, a partir dos escombros de uma construção iniciada há vinte
Durante a 7ª Semana da Comunicação, no período de 1º a cinco
anos, em área nobre do Bairro Ibituruna, regularizar e construir
de outubro de 2009, o projeto da Casa da Imprensa do Norte de
uma nova casa. O projeto foi concebido e doado pela arquiteta e
Minas estará em exposição e um livro de ouro será aberto, dando
urbanista Viviane Marques. “Considerei a imagem da instituição e o
assim início à grande campanha de doações e ajudas com a qual,
que ela representa para a sociedade e elaborei o projeto buscando
os trabalhadores da imprensa, esperam construir sua casa. Vale res-
elementos da arquitetura contemporânea. Ele é composto por es-
saltar que será a primeira vez na história da imprensa que ela terá
trutura de vidro, símbolo de um espaço de transparência e sem fron-
um endereço fixo: Rua Walter Barreto, 98, Ibituruna, Montes Claros
teiras, como deve ser a imprensa”, explica.
(MG).
Marca a composição, ainda, a relação entre quatro estruturas
paralelas unidas, ora pela água, ora pelas passarelas de circulação.
O projeto prevê espaços livres para exposição, auditório para
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Para melhor relacionamento, a instituição mantém o endereço
www.casadaimprensa.com.br, que entre outras informações, disponibiliza um cadastro para todos os profissionais da imprensa.
BUFFET E RESTAURANTE
Fones:
3212-3232 / 9115-2401
Avenida Nice, nº41, loja 01
Bairro Ibituruna
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CRÔNICA
Adailza Antunes
Doutor, eu vou tomar
remédio para vaca?
- Ele tá achando que eu sou uma vaca?
chegando lá, o farmacêutico pegou a receita,
Foi com essa pergunta e indignação que
olhou para ela, tornou a olhar a receita e disse:
dona Luzia saiu da farmácia com a receita na
mão e foi tirar satisfação com o médico.
Dona Luzia tinha acabado de sair do posto
médico da pequena cidade do interior com
uma receita para comprar remédio para controlar a pressão. Não estava se sentindo bem
*Adailza Antunes Rodrigues Rocha
Ama a vida e sua família. Gosta de ler,
viajar, trabalhar e pretende publicar um
livro sobre “causos” que vem anotando.
E-mail: [email protected]
e os filhos pediram para ela procurar o médi-
sando o quê, que eu sou bicho?
Arrancou a receita da mão do farmacêutico e saiu em disparada para o posto médico.
Quando chegou, ela nem esperou a aten-
na propriedade até a cidade. São mais de dez
em punho para tirar satisfação com o médi-
quilômetros, mas ela estava acostumada
co. Mas a senhora se cala ao perceber que o
com as longas caminhadas e o vai-e-vém com
médico estava brigando com a recepcionis-
o serviço na lavoura.
ta, pois a sua lista de compras de remédios,
consultório.
Apesar de não ter o costume de ir ao médico dona Luzia se assustou quando viu aquele
ração e outras coisas para sua fazenda tinham sumido.
A única coisa que dona Luzia pôde deduzir
foi que além de tudo, o médico estava totalmente “gagá”. E falou baixinho para si: “estamos muito bem nas mãos desse maluco”.
idoso que estava com seus mais de 80 anos,
Na sequência, dona Luzia sai do consultó-
óculos na ponta do nariz, fazendo algumas
rio e, na recepção, conta para os outros paci-
anotações e falando enrolado – o doutor era
entes o que lhe aconteceu. E eles concordam
boliviano. Ele perguntou o que ela tinha.
que é um problema sério a falta de profissio-
Com voz mansa e um pouco insegura, a
mulher respondeu:
nal competente nas cidades do interior. Acreditam que para lá só vão os profissionais que
- Bem, se eu soubesse não precisava vir
“sobram” nas cidades maiores, ou porque
aqui doutor. Eu quero saber por que estou
eles não têm espaço nessas cidades ou por-
sentindo dor de cabeça e fico tonta.
que o trabalho é leve, pois só trabalham uma
O médico não entendeu se ela fora mal
vez por semana, atendendo uma dúzia de
educada ou se comportava daquele jeito.
pessoas. Passa a receita. Encaminham aque-
Porém, preferiu não responder e, com dificul-
les casos um pouquinho mais complicados
dade para andar, se aproximou da paciente e
para as cidades com mais recursos. E pronto.
colocou o aparelho para medir a pressão. Aus-
O povo é só um detalhe. Se não está bom aqui
cultou, tomou o pulso, e em seguida, disse
que vá procurar médico em outro lugar. É o
que ela devia tomar remédio para controlar a
descaso, a falta de responsabilidade com a
pressão, pois a mesma estava alta. Fez algu-
população, principalmente a mais carente.
mas anotações e pediu que fosse a farmácia o
Esta é a conclusão que eles chegam.
mais rápido, comprasse o remédio e começasse a tomar naquela hora.
A mulher tomou o rumo da farmácia. Mas,
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- O quê? Mas aquele velho doido tá pen-
dente. Abriu a porta e entrou com a receita
nha debaixo do braço, dona Luzia entrou no
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são remédios para secar leite de vaca.
co. Com muita relutância, ela acatou o pedido
Com seu vestido de chita, sandálias “tyot-
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camentos para animais. Para dizer a verdade
dos filhos e fez o percurso, a pé, da sua peque-
yo”, lenço alaranjado na cabeça e uma sacoli-
Acreditam que
para lá só vão os
profissionais que
“sobram” nas
cidades maiores,
ou porque eles
não têm espaço
nessas cidades
ou porque o
trabalho é leve
- Dona Luzia, isso aqui é uma lista de medi-
Dona Luzia até sugere que deveriam expulsar o médico de lá, mas os outros não concordam. Pois: ruim com ele, pior sem ele.
MATÉRIA
ADAILZA ROCHA
Adriana Lima
*Adriana Lima é de Montes Claros e cursa
o 7º período de jornalismo da Funorte ingressou no curso com grande
empenho e acredita que foi de
fundamental importância para adquirir
novos conhecimentos. É uma jovem
persistente que vive em busca da
realização de seus sonhos. Atua na área
comercial a mais de sete anos. Tem como
principal objetivo trabalhar com
assessoria de comunicação.
E-mail: [email protected]
Bairro de classe média apresenta
alto índice de violência
O Bairro São José é um dos bairros com maior índice de violência e criminalidade de Mon-
tas para fazer a segurança da comunidade.
No Bairro São José, um dos mais centrais da
tes Claros. Para acabar com esta situação, os
cidade, 70% dos comerciantes trabalham tran-
moradores reivindicam a construção de um
cados com grades nas portas, para fazer a pró-
posto policial.
pria segurança e a dos clientes, principalmente
O morador Gilberto Bernardino tem o pro-
os salões de beleza e lojas, que são os pontos
jeto que já foi aprovado pela Prefeitura e pela
que mais atraem a atenção dos ladrões. A co-
Secretaria Estadual de Planejamento. Segun-
merciante Liliane Lessa, há 12 anos tem loja no
do ele, o projeto conta com o apoio dos habi-
bairro, e de cinco anos para cá, trabalha tranca-
tantes do bairro, da Igreja Católica, dos comer-
da. Liliane colocou proteção em sua loja, e re-
ciantes e do presidente da Câmara Municipal
clama que está atrás das grades, enquanto os
de Montes Claros, vereador Athos Mameluque,
ladrões estão soltos.
que confirma o total apoio da Prefeitura para o
início das obras.
Recentemente começou a ser feita ronda
policial no bairro, o que tem contribuído para
O município já fez a doação do lote para a
a diminuição de ações criminosas. O morador
construção do posto policial, que fica localizado
Eduardo Lautony, afirmou que, “depois que
na rua Germano Gonçalves, esquina com a rua
os policiais passaram a fazer rondas nas ruas,
João Caldeira Brant, em frente à quadra do bair-
deu uma amenizada na criminalidade, mas
ro. Neste local deverá ser feita a abertura de uma
tem muito para melhorar”, e finaliza, “com o
rua. O pelotão vai ter aproximadamente 30 poli-
projeto pronto, agora é hora da prefeitura
ciais, com três viaturas, três motos, e seis bicicle-
mostrar serviço”.
“A experiência sempre fala mais forte”
Vendemos: arreios, ferragens, adubos,
sementes, herbicidas, inseticidas
e produtos veterinários em geral.
Tel.: (38) 3831-2020
Alberto Soares
“Trabalhar é preciso, ganhar dinheiro é sorte”
Obrigado Senhor, por tudo.
Praça São Joaquim, 231 - Centro - Porteirinha - MG
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MATÉRIA
Cida Santana
Cida Santana é graduada em Administração de Empresas pela Unimontes e
pós-graduada pela Fundação João Pinheiro, cursa o 7º período de jornalismo.
Na TV Geraes, exerceu as funções de
produção e apuração, além de comentarista esportivo dentro do Jornal Geraes.
Trabalhou como estagiária no Portal
In360, da Inter TV Grandeminas , afiliada
da Rede Globo. Escreve a coluna de esportes “Toque Sutil” no jornal Gazeta
Norte Mineira e faz trabalhos de free
lancer para Copasa, AABB, entre outras
instituições.
E-mail: [email protected]
Atualmente, o
município tem 362
mil habitantes e,
segundo dados da
Secretaria Municipal
de Planejamento,
somente 2% dessa
população residem
no Centro.
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Casas sendo derrubadas no centro da cidade
Progresso x conservação
do patrimônio histórico
As grandes cidades passam por um processo
des. Segundo ele, devido à grande valoriza-
de esvaziamento populacional de suas áreas
ção dos imóveis da área central, os proprietá-
centrais. E essa tendência é verificada em Mon-
rios são seduzidos pelas imobiliárias e comer-
tes Claros. Como consequência do progresso - a
ciantes a vendê-los. “Com o dinheiro da ven-
especulação imobiliária e do interesse financei-
da de um terreno no centro é possível adqui-
ro -, o patrimônio histórico é esquecido, com
rir excelentes lotes nos bairros nobres da cida-
antigas residências localizadas no Centro da
de”, observa o arquiteto.
cidade sendo demolidas para dar lugar a mo-
Porém, ele não acha que o Centro será to-
dernos edifícios, lojas, consultórios ou estacio-
talmente abandonado. “As pessoas simples-
namentos. Em algumas ruas quase não existem
mente estão trocando as antigas casas por
mais moradores e permanecem apenas aqueles
apartamentos. É a chamada verticalização. A
que “resistem ao progresso”.
tendência dessas casas que ainda resistem no
Atualmente, o município tem 362 mil habitantes e, segundo dados da Secretaria Muni-
centro é acabarem dentro de pouco tempo”,
explica Rocha.
cipal de Planejamento, somente 2% dessa
O empresário Denílson Arruda, diretor de
população residem no Centro. Nos fins de
uma construtora que comprou e demoliu uma
semana e feriados, as ruas da região ficam
velha casa na rua Doutor Veloso, para erguer
totalmente desertas - a não ser perto de algu-
um prédio no terreno – acredita que o fim das
ma farmácia ou sorveteria -.
antigas residência no centro se deve ao pro-
Para o arquiteto Gil Rocha, representante
gresso. Ele afirma que, na maioria das vezes, os
regional do Instituto dos Arquitetos do Brasil
próprios donos das antigas casas preferem ven-
(IAB), a mudança ocorrida em Montes Claros
dê-las, ao invés de reformá-las. Para o empresá-
acompanha uma tendência das grandes cida-
rio, isso é benéfico para cidade, pois os imóveis
FOTOS: CIDA SANTANA
“DAQUI NÃO SAIO POR
PREÇO NENHUM”
Por outro lado, existem aquelas pessoas que não abrem mão de
morar no centro por nada deste mundo. É o caso da aposentada Florinda Peres, de 84 anos, que, há mais de 40 anos, reside em uma casa
localizada na rua Camilo Prates. Ela disse que não sente nem um pouco incomodada pelo barulho e pelo “corre-corre” do local. Afirma que
sempre aparece gente interessada em comprar o imóvel. Mas, que
nenhuma proposta lhe atrai. “Eu não vendo a casa por preço nenhum. Enquanto tiver vida, vou ficar aqui”, garante Florinda, com
expressão de felicidade.
Quem também não sai do centro “por dinheiro nenhum” é o empresário Luiz de Paula Ferreira, de 94 anos, dono de uma espaçosa
casa na rua Doutor Santos, uma das áreas mais valorizadas do centro
comercial. A construção é a única residência que resta na rua, no trecho que compreende a Praça Doutor Carlos e a praça Coronel Ribeiro.
Luiz de Paula, que é um dos fundadores e sócio de uma Fábrica de
mal-conservados dão lugar a prédios modernos. No entanto, ele
Tecidos na cidade, assegura que não tem nenhuma vontade de se
salienta que tudo precisa ser feito dentro de critérios que não
isolar em condomínios ou residências em bairros afastados. “Eu gos-
venham infringir o patrimônio histórico.
to mesmo é do contato com o povo. Gosto muito de encontrar diaria-
Uma das antigas moradoras que saíram do Centro e viu sua
casa demolida é a escritora Yvonne Silveira, de 94 anos. Depois de morar por mais de 40 anos em um sobrado na rua Padre
Augusto, ela vendeu o imóvel para o dono de uma farmácia e
mente as pessoas aqui na rua. Enquanto eu tiver vida, é aqui que vou
morar”, diz. Ele confirma que já recebeu várias ofertas para a venda
do imóvel. “Mas, hoje, as pessoas nem me procuram mais, pois sabem que eu não vendo a casa”, diz.
Outro que resiste em deixar o Centro é o comerciante aposentado
um hotel, situada ao lado da moradia. Dona Yvonne conta que
Rui Pinto, de 77 anos. Ele conta que, por diversas vezes, foi procurado
gostava muito do local, mas não resistiu ao clima abafado e
por pessoas interessadas em comprar sua casa, na rua João Pinheiro.
poluído e ao constante assédio de empresários que insistiam
em ter seu imóvel. “Eu costumava dizer que nem se ganhasse
“Mas, sempre vou resistir. Aqui, estou perto de tudo. Tem farmácia,
tem hospital, tem padaria. Além do mais, moro aqui há 70 anos”, afirma o aposentado. “Daqui, só saio para o cemitério”, garante.
outra casa eu venderia a minha residência do centro. Mas o
problema de saúde do meu marido se agravou, e os médicos
nos aconselharam a mudar para um local com ar mais puro”,
explica a escritora.
Foi então que, dona Yvonne decidiu vender a casa onde praticamente construiu sua vida, e mudou-se para a Vila Brasília,
região de Montes Claros. Assim que foi concluído o negócio, a
construção foi derrubada. Hoje, o sobrado deu lugar a parte do
hotel onde fica a portaria do estabelecimento. Nada mais ali
lembra o antigo sobrado.
Também há quem preferiu alugar o imóvel onde morou por
muitos anos na área central e se transferiu para um bairro. É o
caso da aposentada Lauri Rego Cunha. Ela conta que depois de
viver mais de três décadas no centro, alugou sua casa na rua Doutor Veloso – onde, hoje, funciona uma loja de roupas de grife –
porque queria um local tranqüilo. Trocou a agitação do centro
pela calmaria do bairro São Luiz. A aposentada confirma que,
além da tranqüilidade, a questão financeira também influenciou
em sua decisão, pois o aluguel é muito rentável.
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MATÉRIA
Andrey Meoli
Andrey Meoli é estudante de Jornalismo,
Músico e Web-designer.
Email: [email protected]
RUIDO JACK é
formado por:
Mariana Morena
(voz), Cesar Negão
(voz e baixo),
Alexandre Fudaum
(guitarra e voz), Tim
Narigudo (guitarra)
e Rafael Dines
(bateria)
Música
independente
Destaque da nova cena independente, Montes Claros está se tornando
referencia entre bandas e produções. Nessa seção, irei apresentar alguns
dos novos talentos do Norte de Minas. Vale apena conferir:
SOPRONES
RUÍDO JACK
SOPRONES apresenta em suas composições
A banda Ruído Jack incentivou a nova safra
toda a indignação política e social sofrida pelo
do rock autoral em Montes Claros ao lançar em
povo brasileiro. A competência e
2007 o seu homônimo CD-demo. Nesse CD está
profissionalismo da banda Montes Clarense foi
à música Rockatopear que foi responsável pela
reconhecida no Festival Palco do Rock 2009
ascensão do grupo, e graças à mescla de sons
(Salvador/BA), um dos maiores festivais
regionais com Rock'n Roll deu ao som do grupo
independentes do Brasil, onde a banda foi
o carinhoso apelido de “Pequi Rock”. A banda
eleita pelo público como a Banda Revelação do
acaba de lançar em seu site (myspace) a música
PDR2009. O SOPRONES está no estúdio
Narear que traz toda a melodia e a criatividade
preparando o novo CD, e disponibilizou em seu
do quinteto norte mineiro.
myspace a música Medo de Viver, que irá fazer
www.myspace.com/ruidojack
Link:
parte desse novo trabalho. Confiram toda a
força som dos SOPRONES. Link:
www.myspace.com/soprones
SOPRONES é
formado por:
Clayton Souza (voz),
Ricardo Carburas
(baixo e voz),
Andrey Meoli
(guitarra), Danilo
Baliza (bateria)
caros
co e as
OUTUBRO - 2009
13
MATÉRIA
Anny Muriel
Acadêmica de jornalismo atuou
durante seis anos no teatro, participou
de peças como Precisa-se de um caixão,
O defunto premiado, e O rapto das
cebolinhas, além de ter emprestado sua
voz para propagandas veiculadas nas
principais rádios da cidade.
Aldo Pereira já escreveu
três peças teatrais: A mala
mágica; A rifa da égua
morta (onde bateu recorde
de público na oitava mostra
de teatro deste ano com
1200 pessoas que
assistiram ao espetáculo)
além da inédita Parou na
Pista, prevista para estrear
no mês de novembro.
Arte teatral Grupo Oficinato
Fundado em 1999, pelo diretor e também
realização profissional, e isso é muito gratifi-
ator Aldo Pereira, o grupo Oficinato tem co-
cante para mim, contudo é lamentável que
mo objetivo apresentar ao público os talentos
muitos não valorizam ou percebem grandes
revelados no curso de iniciação teatral.
talentos que temos especificamente aqui em
Alguns já se destacam fora de Montes Claros,
Montes Claros” afirma o diretor.
como é o caso da atriz Luna Vidal, contratada
Com a criatividade e dedicação do ator dire-
há algum tempo pela Rede Globo, e que des-
tor, dramaturgo e também produtor, Aldo Pere-
cobriu aqui sua vocação para atuar.“Inclusive
ira já escreveu três peças teatrais: A mala mági-
muitos dos meus ex-alunos cursam artes cêni-
ca; A rifa da égua morta (onde bateu recorde de
cas ou moram em outros estados em busca da
público na oitava mostra de teatro deste ano
com 1200 pessoas que assistiram ao espetácu-
A ARTE DE IMITAR
“A maior dificuldade do grupo é a falta de
lo IV antes de Cristo. Toda reflexão que te-
políticas de incentivo e apoio à arte e cultura em
nha o drama como objeto precisa se apoiar
Montes Claros. Haja vista que a cidade não con-
numa traíde: quem vê, o que se vê e o imaginado. O teatro é um fenômeno que existe
teatro, inclusive esta é, entre outras, a maior
nos tempos individuais e coletivos que se
reivindicação dos grupos teatrais de Montes
formam neste espaço. Teatro é o conjunto
Claros”, lamenta Aldo Pereira.
As aulas do grupo teatral são ministradas em
res e técnicos que tem como objetivo apre-
academias da cidade, onde os participantes
sentar uma situação e despertar sentimen-
aprendem sobre expressão facial, corporal e
tos na audiência. O antigo teatro de Delfos,
oratória, sob a coordenação de Aldo Pereira. A
(Grécia), a consolidação do teatro enquanto
espetáculo na Grécia Antiga deu-se em função das manifestações em homenagem ao
deus do vinho, Dionísio. A cada nova safra,
era realizada uma festa em agradecimento
OUTUBRO - 2009
ta com um espaço destinado exclusivamente ao
nos espaços do presente e do imaginário, e
vidades, com auxílio de dramaturgos, direto-
14
estrear no mês de novembro.
O teatro surgiu na Grécia antiga no sécu-
de atores que interpreta uma história ou ati-
caros
co e as
lo) além da inédita Parou na Pista, prevista para
ao deus, através de procissões.
Divirta-se! Vá ao teatro.
próxima temporada de apresentações do grupo
acontece de 12 a 15 de novembro na sala Geraldo Freire na Câmara Municipal.
MATÉRIA
José Eduardo
* José Eduardo Miranda Góes é
acadêmico do 7º período de
Jornalismo FUNORTE e 2º ano de
violão clássico pelo Conservatório
Estadual Lorenzo Fernandes.
E-mail: [email protected];
Música: linguagem
sem fronteiras
Existem várias formas de comunicação,
função. Porém, o “musiquês” assim, popular-
seja por meio de gestos, da fala, da escrita, ou
mente, conhecido no meio artístico brasilei-
dos sons que combinados se transformam
ro, é um idioma global, ou seja, tem a mesma
em música. Essa é uma fórmula, um conceito
notação musical (dó, ré, mi, fá, sol, lá e si) tan-
antigo sobre sua origem: junção de sons e
to para um músico brasileiro, quanto para um
silêncio. A música é uma arte de comunicação
músico italiano, o pentagrama, onde fica loca-
que existe desde a pré-história, mas se conso-
lizado as notas, é o mesmo.
lidou na Grécia antiga com os movimentos
artísticos. A palavra vem daí, musa.
Isso permite com que os músicos interajam melhor com outras culturas, ritmos e dan-
Hoje, ela é uma das linguagens mais demo-
ças de lugares diversos. Se você pegar uma
crática que existem. Enquanto, os alfabetos
pianista de Luanda, capital de Angola, e pedir
tradicionais - português, inglês, espanhol,
para ela tocar uma sonata de Beethoven ou
maltês e milhares de outros espalhados pelo
de Villa-Lobos e depois repetir a mesma sona-
mundo - representam a identidade de um
ta com uma outra de Jacarta, na Indonésia, a
país, a música também desempenha essa
melodia não terá diferença.
O conhecimento da partitura, da linguagem das notas é a mesma e os sentimentos,
muitas vezes, são parecidos. Apenas a distância entre os dois países, a cultura e a tra-
“O ouvido dos homens
não ouve a música da
tua existência; para
eles levas uma vida
muda, seus tímpanos
não distinguem
nenhuma das sutilezas
da tua melodia, toda
resolução quanto a
preceder ou seguir. É
verdade que não
chegas conduzindo um
som de banda militar
pela estrada principal,
mas nem por isso eles
têm o direito de dizer
que em tua vida não
existe música. Aqueles
que têm ouvidos para
ouvir, que ouçam”.
dição é que são diferentes. Mas a música
consegue unir as duas pianistas em um único instrumento.
Outro exemplo é uma orquestra sinfônica formada por solistas e instrumentistas
de várias nacionalidades étnicas e lingüísticas que nunca tiveram contato antes,
mas que durante um concerto, uma apresentação, todos experimentaram e expressaram por meio da música, o mesmo
idioma, “musiquês”.
Estes dois exemplos mostram que a música tem o poder de linguagem que aproxima
pessoas e tradições. Não importa se um
violonista ou uma violonista mora no Paquistão, na Austrália ou em Carajá, qualquer partitura é o suficiente para trazê-los
perto um do outro.
Friedrich Nietzsche
caros
co e as
OUTUBRO - 2009
15
MATÉRIA
Edvaldo Souza
Fazer Jornalismo é como reconhecer o
que estava obscuro, dar olhos a quem
não os possui e dar a voz para aqueles
que não são ouvidos.
Edvaldo Trindade Souza é montesclarense e estudante de Jornalismo
E-mail: [email protected]
Paulo Alfredo
Mercado Central:
“Os principais meios de transporte eram os
tar, e sem dizer na desconfiguração visual que
cavalos, carros de bois e tropas de burros, que
isso ocasionou, além do aumento de preço dos
conduziam mercadorias como, farinha de man-
produtos”.
dioca, rapadura, queijo, requeijão e até carne
bovina e de porco, para serem vendidas ou
bridização: “É que fomos vítimas do egoísmo
trocadas num comércio mútuo e diversificado.
imposto pelos grandes empresários. Principal-
E todo o trajeto era feito nas madrugadas, por
mente dos proprietários de empresas de trans-
estradas estreitas e poeirentas, muitas delas,
porte, que conseguiram, em maio de 1996,
abertas pelos bandeirantes.”
desativar a linha do trem baiano, o meio de
Assim relata Daniel Gonçalves Costa, 71
transporte mais utilizado pelos pequenos agri-
anos, nascido em Coração de Jesus e residente
cultores e artesãos da região, e sem dúvida era
em Montes Claros há 34 anos. Segundo ele,
o mais barato”.
desde quando “se entende por gente”, acom-
Começou na comunicação como
locutor, trabalha com design gráfico
e é estudante de jornalismo.
E-mail: [email protected]
OUTUBRO - 2009
caros
co e as
É o que também afirma José Gonçalves Pe-
panhava o seu pai nas longas e cansativas via-
reira, montes-clarense de 75 anos, e proprietá-
gens em tropas de burro, que saiam de Cora-
rio de uma pequena fazenda - herdada de seus
ção de Jesus, carregadas de produtos para se-
pais, a 15 km de Montes Claros. Segundo ele,
rem permutados ou vendidos no primeiro mer-
desde criança, acompanha e participa do co-
cado municipal de Montes Claros - conhecido
mércio no mercado municipal , como cliente e
na época como “casarão”.
fornecedor. Em sua propriedade, eram produ-
De tropeiro, seu Daniel passou a comercian-
16
Daniel explica indignado a causa dessa hi-
zidos, farinha de mandioca, rapadura, queijo e
te. E, há 20 anos, ele é dono de uma banca no
requeijão, que eram vendidos para comercian-
atual mercado municipal de Montes Claros,
tes do mercado. Para José Gonçalves, que atu-
onde vende produtos industrializados como
almente é apenas cliente do mercado, esse
arroz, macarrão, açúcar, fósforo e café empa-
contraste comercial entre os barraqueiros do
cotado á vácuo, tendo até, a farinha de mandi-
mercado é resultado do fim do “trem baiano”.
oca. “Esse contraste comercial atingiu pratica-
Ele diz que, por morar próximo da cidade, usa-
mente todos os comerciantes do mercado –
va muito pouco o trem, somente quando tinha
tivemos que alternar, procurar outras merca-
excesso de mercadoria, mas exprime a sua in-
dorias para substituir as que começaram a fal-
dignação perante o fato: “Não pensaram nos
LUIZ C. SILVA
berço comercial de Montes Claros
pequenos agricultores que residem longe de
dá mais lucros. Essa mudança não será aceita
certeza é o governo federal. “O Governo vendeu
Montes Claros, pois, o trem dava mais lucros aos
pela administração. A justificativa é que existe
o que é do povo para dar ao setor privado. E
comerciantes”.
Para a comerciante Maria Alves faria, 61
uma quantidade pré-determinada no regula-
que, infelizmente esses grandes empresários só
mento municipal, que organiza e dita quanto e
querem números, e não olham para o social”.
anos, e que há 25 anos é proprietária de uma
que tipo de comércio pode funcionar dentro do
banca no mercado central de Montes Claros, a
mercado central.
No entanto, Eva Coutinho, 72 anos, diz que,
há mais de 32 anos freqüenta o mercado, fiel-
hibridização que ocorre no comércio do merca-
Para Alkimin, o fim do “trem baiano” não
mente aos sábados, porque faz questão de ad-
do é resultado da desvalorização dos produtos
influenciou no abastecimento de mercadorias
quirir produtos diretamente dos produtores,
agrícolas. “Tendo como exemplo os artesanatos
no mercado – “pode ter contribuído para o au-
“Ali é o único local onde você ainda encontra os
que vendo aqui, que são feitos de madeira, cou-
mento de preços, pois passaram a ser transpor-
alimentos genuinamente caipiras, sem agrotó-
ro curtido, cabaças e tapeçarias produzidas arte-
tadas em caminhões” alega. Ainda segundo
xicos, onde se compra direto das mãos do pro-
sanalmente, com folhas de tabúa. A população
Alkimim, o principal fornecedor do mercado
dutor. E tem também, as apresentações de ar-
não valoriza, querem pagar mixaria. É por isso
municipal de Montes Claros, é a cidade de Mon-
tistas da região, que dão um show gratuito nos
que muitos artesãos ficam desestimulados e
te Azul, que fornece principalmente produtos
finais de semana, deixando ainda mais gostoso
não produzem mais. E aí, quem vende tem que
de época, como, umbu, pinha, andu, e hortifru-
comprar aqui no mercado. Faço questão de
alternar, procurar outras mercadorias para ven-
tigranjeiros no geral. Entretanto, o gerente ad-
comprar a banana caipira, o doce de marmelo, a
der”, desabafa a comerciante.
ministrativo do mercado municipal de Montes
farinha de mandioca proveniente do Morro
Mas, para o gerente administrativo do mer-
Claros relata que o principal culpado desse con-
Alto. Para mim, acaba servindo de relax” – expli-
cado central de Montes Claros, Paulo Alkimin, o
traste que ocorre no mercado municipal, com
ca a dona de casa.
contraste realmente gera uma desconfiguração
Entre tantas histórias, o mercado municipal
visual no mercado, mas não sai das normas impostas pelo regimento da administração. Se-
de Montes Claros, atualmente localizado na rua
HISTÓRICO
gundo ele, o comerciante que trabalha no local
possui livre arbítrio para vender o que quiser, a
única imposição da administração é a de não
aceitar a mudança de ramo, como por exemplo
deixar de vender produtos alimentícios e abrir
um bar dentro do mercado, alegando que este
Marechal Deodoro, teve seu primeiro endereço
no largo de cima, hoje, praça Dr.Carlos Versiani,
O antigo Mercado Municipal de Montes Claros foi inaugurado em 3 de setembro de1899. Era uma construção
imponente, com uma torre bem alta,
onde o relógio, doado por Carlota Versiani, badalava as horas. Na época, a
cidade de Montes Claros tinha pouco
mais de 2000 habitantes.
e depois, transferido para a rua Coronel Joaquim Costa. Com isso, já ultrapassou um século
de existência, mas continua exalando aromas,
sabores e cultura, independente das mudanças
e dos contrastes provocados pelo tempo.
caros
co e as
OUTUBRO - 2009
17
MATÉRIA
Vanelle Oliveira
Educação sem
fronteiras
A tecnologia atual proporciona ao ho-
do sistema tradicional. Outros porque são
mem acesso a coisas que há alguns anos
autônomos no acesso a informação e con-
eram impossíveis de se imaginar. Hoje, é
seguem estudar sozinhos.”
possível se comunicar com as pessoas em
tempo real, de qualquer lugar, algo impossível antes do surgimento do computador.
NOVOS HORIZONTES
A necessidade de ter um diploma de ensi-
Trabalhou por cinco anos no site
UnaíNet, e atualmente, estuda
jornalismo, faz reportagens especiais
para a Revista Tempo e trabalha na
assessoria de comunicação do
deputado Ruy Muniz
E-mail: [email protected]
sencial em que o aluno comparece todos os
nistração de empresas, o jovem empresário
dias à faculdade, tem cada vez mais, dado
enxergou no curso a oportunidade de se
espaço ao semipresencial em que as aulas
qualificar e profissionalizar na própria em-
são dadas uma vez ao mês, nos finais de se-
presa.“Hoje em dia todo mundo tem que ter
mana ou em um encontro semanal.
curso superior. No meu caso, juntei a neces-
Novos caminhos vão se abrindo numa
no superior e a dificuldade de tempo dispo-
velocidade muito rápida, e quem não acom-
nível levou o empresário Sebastião Júnior a
panha essa evolução, fica para trás. Com a
procurar por um curso de educação à dis-
educação não foi diferente. O ensino pre-
tância. Formado no curso técnico em admi-
A educação à distância representa uma
A educação à distância
representa uma forma
de ensino democrática,
em relação ao tempo e
espaço, destinada a
grupos de alunos que
não têm
disponibilidade para o
sistema formal. Esse
novo modelo de ensino
vem conquistando
cada vez mais adeptos
devido à flexibilidade
de horários,
comodidade e valores
acessíveis.
18
OUTUBRO - 2009
caros
co e as
sidade que eu tinha de ser formado com o
forma de ensino democrática, em relação ao
trabalho na minha empresa. O curso, por ser
tempo e espaço, destinada a grupos de alu-
barato e rápido, me atraiu porque eu não
nos que não têm disponibilidade para o sis-
tenho muito tempo livre. Sou casado, tenho
tema formal. Esse novo modelo de ensino
dois filhos e ainda trabalho viajando”, conta.
vem conquistando cada vez mais adeptos
Conciliar vida profissional e estudo po-
devido à flexibilidade de horários, comodi-
de ser um problema para quem já está no
dade e valores acessíveis. Esses e outros mo-
mercado de trabalho. “No dia que tinha
tivos levaram a estudante do curso técnico
aula era puxado. Eu trabalhava o dia todo e
superior em Gestão de Recursos Humanos,
ia direto pra faculdade. Só consegui me
Anna Carla Capella a optar pelo curso a dis-
dedicar aos estudos porque era uma vez na
tância. “Posso estudar mesmo estando de-
semana. Algumas vezes eu tinha que me
sempregada. Os preços das mensalidades
virar e arrumar tempo pra estudar, nem
são bem mais em conta e o curso não deixa a
que fosse de madrugada. No fim, valeu a
desejar em nada”, afirma.
pena. Mas a pessoa tem que ter força de
Segundo Pedro Almeida, diretor de
vontade, pois é o aluno que faz o curso, em
uma instituição de ensino à distância, um
qualquer faculdade seja ela presencial ou
dos motivos que levam, cada vez mais pes-
não”, explica Sebastião.
soas a buscarem pela EAD – Educação a
As aulas são gravadas em estúdio ou
distância – é a exigência do mercado de
transmitidas via satélite. Os alunos são am-
trabalho por profissionais que tenham
parados por professores que tiram as prin-
curso superior. “Como muitos não conse-
cipais dúvidas. Em algumas faculdades as
guiram fazer uma faculdade no tempo
aulas são ao vivo e completamente intera-
normal, precisam acelerar sua formação.
tivas. O aluno pode enviar perguntas ao
Muitos também escolhem pela burocracia
professor por e-mail, e esse responde em
tempo real. Após a explicação, os alunos
todo o conteúdo das aulas com a matéria,
deseja se qualificar, encontra na internet a
resolvem exercícios e encaminham para a
exercícios, as leituras obrigatórias e com-
oportunidade de fazer especializações, par-
coordenação do curso. Com as provas, que
plementares para quem deseja aprofundar
ticipar de congressos e assistir palestras vir-
são obrigatoriamente presenciais, tem-se a
mais no assunto”, completa.
tuais de qualquer lugar que estiver. “O mun-
chance de saber se ele realmente aprendeu
o que foi passado.
A aceitação dos cursos à distância ainda é
do virtual está crescendo demais. Há 20 anos
prejudicada pelo preconceito. Em geral, as
eu não imaginaria isso nunca. Assim que ter-
Pedro Almeida acredita que a educação à
turmas começam cheias porque muitas pes-
minar meu curso, pretendo continuar fazen-
distância é o modelo educacional do futuro.
soas têm a noção de que a EAD é algo fácil,
do pós-graduação e mestrado à distância,
“As profissões se atualizam com muita rapi-
que o aluno vai lá uma vez e não precisa fazer
porque vale a pena”, conta Anna Carla.
dez, daí a necessidade de estudar sempre
mais nada. “Quem está de fora tem uma
Segundo o MEC, nos últimos anos, a
para acompanhar o processo evolutivo”, diz.
idéia equivocada dos cursos semipresencia-
educação à distância no ensino superior e
Para ele, é necessário que o sistema de ensi-
is. Eu, por exemplo, já passei por algumas
na pós-graduação, cresceu 571% entre
no básico forme pessoas independentes na
universidades, e confesso que a EAD é bem
2003 e 2006. No Brasil existem 5.636 po-
leitura e interpretação. “A Internet é uma
puxada. Só depende de mim, se eu não me
los de apoio presencial vinculados a 145
biblioteca virtual. Portanto, teremos que
dedicar, não vou adiante. É tudo muito rápi-
instituições credenciadas para exercer a
educação à distância.
estudar sempre. Depois de adquirir compe-
do. Mesmo sendo pela Internet, todos os
tências para o estudo autônomo, o sistema
trabalhos têm data e horário para serem en-
Em 2007, a quantidade de alunos matricu-
EAD é solução”, explica.
tregues. Se eu perco o prazo, perco a nota”,
lados nesses cursos aumentou 356% em três
afirma a estudante Anna Carla Capella.
anos. Ainda de acordo com o MEC, 73% des-
EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
Hoje, além das aulas, quem realmente
O empresário do setor educacional Kiko
Ao contrário do que muitos pensam a
educação à distância não é tão fácil quanto
parece. Por ficar muito tempo sozinho, o
curso exige muito mais esforço do aluno.
Tem que ter iniciativa, disciplina e determinação para seguir em frente, afirma Ana
Paula Silva, professora do curso de Ciências
ses alunos estão em escolas particulares.
RECONHECIMENTO
O ensino superior a distância teve um abertura maior em 1996, a partir da Lei de Diretrizes e Bases que reconhece a educação a distância como algo positivo para a formação de
profissionais.
Canela, dá dicas para o aluno não se enganar e fugir das instituições irregulares. “Precaver é o melhor remédio. Observe a estrutura local, a satisfação dos acadêmicos, o
atendimento, se os profissionais que ali
formaram receberam diploma, reconheci-
Contábeis. “A proposta do curso é que o
No site do MEC é possível encontrar a rela-
do pelo MEC. Em caso de duvida, é funda-
aluno estude sozinho, por isso no início do
ção das instituições de ensino superior a dis-
mental também ligar para o MEC ou pesqui-
semestre o aluno recebe um material com
tância reconhecidas em todos os estados.
sar no site sobre a Instituição”.
http://portal.mec.gov.br
A Associação Brasileira de Educação a Distância - http://www.abed.org.br/
caros
co e as
OUTUBRO - 2009
19
CRÔNICA
Marina Pereira
A primeira e a última entrevista
Aguardava a chegada da minha primeira
pauta pelo e-mail. Não imaginava o que iria es-
bem recebida pela sua filha Ducarmo, que logo
crever. Poderia ser sobre cultura, comporta-
chamou o Nivaldo Maciel para a sala, onde fo-
mento, denúncia, enfim assuntos interessantes
mos apresentados. Ele usava uma camisa listra-
não faltariam. Até que em uma determinada
da e um chapéu na cabeça.
manhã vejo na caixa de entrada uma mensagem
do ilustre editor.
O assunto denominado como pauta tinha
*Mineira de Salinas, dedica-se a arte
poética desde os 12 anos, participa nesse
ano pela terceira vez do 23º Salão Nacional
de Poesias Psiu Poético, onde expõe ao
público alguns de seus textos.
Já publicou matéria no Jornal Gazeta
Norte Mineira, Jornal O Norte de Minas,
Jornal laboratório Vide Verso e em
Caderno Especial do Jornal de Notícias.
Estagiária na Assessoria de Comunicação e
Marketing da Codevasf, é repórter da
Revista Tempo e do Programa Conversa
Fiada no Canal 20.
E-mail: [email protected]
fala daquele seresteiro que ainda carregava na
alma a paixão pela música, tanto que relembrou
todas as recomendações. A proposta era atraen-
com entusiasmo uma das mais importantes
te: Centenário de Hermes de Paula - médico,
apresentações da seresta, ocorrida em Brasília
historiador, folclorista, mas antes de tudo um
quando o grupo conseguiu junto ao Presidente
apaixonado pelas suas raízes e sua história.
Costa e Silva a pavimentação da estrada entre
No primeiro momento tive um pouco de rece-
Nivaldo Macielcantou emocionado, com a
le veículo de comunicação, e também a primeira
viola na mão, como na época da seresta, “Ao
vez que me via escrevendo sobre o centenário
senhor Presidente Costa e Silva, ao cantarmos
de uma pessoa tão querida e importante para
na alvorada de Curvelo a Montes Claros, nós
Montes Claros.
pedimos toda estrada asfaltada”.
Abracei como nunca a idéia de fazer uma boa
Ouvi atentamente o cantar daquele homem,
reportagem. Pesquisei em sites, livros, conver-
e olhando-o com certa admiração comecei a
sei com pessoas que o conheceram, e logo fiquei
aplaudi-lo; me encantei com seu encanto. Em
sabendo muito sobre o Dr. Hermes, para em
seguida disse a ele da minha paixão pela literatura e poesia, sendo que finalizamos a nossa
entrevista conversando sobre a arte de rimar.
Virginia de Paula, que me falou de algumas das
Acredito que eu fui uma das últimas jornalis-
particularidades do pai, como a de promover
tas a entrevistá-lo. Sinto me feliz e orgulhosa
festas alegres e descontraídas para os amigos.
pela oportunidade de conhecer o entusiasmo e
Virginia me levou até a sala e a biblioteca da anti-
alegria desse seresteiro tão amado e querido,
ga casa de Hermes de Paula, localizada na área
que seduziu durante muito tempo as pessoas da
central da cidade, onde encontrei os quadros
cidade, e também os visitantes ilustres que por
prediletos de Dr. Hermes, e alguns documentos
aqui passaram, mais recentemente o Presidente
antigos, como jornais, livros, placas, troféus,
Luiz Inácio da Silva. Infelizmente o Maciel foi
viver junto ao Pai do céu, e essa foi a primeira e
Depois de conversar com Virginia resolvi pro-
última vez que nos encontramos. Nivaldo Maciel
curar o seresteiro Nivaldo Maciel, que era um
será sempre lembrado pelo que representa para
dos grandes amigos do Dr. Hermes. No catálogo
a cultura montes-clarense.
de endereços, encontrei o telefone da casa dele,
liguei e conversei com uma de suas filhas, para
quem expliquei a situação e expressei o meu
anseio em conhecer o Nivaldo e um pouco de
sua história, na época da seresta. Nos entendemos e marcamos a entrevista.
Treze horas e trinta minutos. Esse foi o horário agendado. Era um feriado dia primeiro de
maio de 2009. Sai de casa meia hora antes. Andava pela rua naquele dia nublado, com um pouco
de ansiedade, queria conhecer logo o Nivaldo.
OUTUBRO - 2009
Curvelo e Montes Claros.
io, pois era a minha primeira matéria para aque-
medalhas, tudo muito bem guardado.
20
alegria e encanto presentes no semblante e na
prazo de entrega para cinco dias. Mais do que
Inicialmente, entrevistei a sua filha caçula
caros
co e as
Sentei-me ao lado dele no sofá e começamos
a nossa conversa, fiquei deslumbrada com a
depressa abri o documento e li atentamente
seguida ir em busca das minhas fontes oficiais.
No primeiro momento
tive um pouco de
receio, pois era a minha
primeira matéria para
aquele veículo de
comunicação, e
também a primeira vez
que me via escrevendo
sobre o centenário de
uma pessoa tão querida
e importante para
Montes Claros.
Ao chegar no endereço previsto fui muito
ADEUS AO SERESTEIRO
O Seresteiro Nivaldo Maciel, morreu no
dia 14/08/2009, numa quinta-feira, aos 89
anos. Casado com Sofia, durante 70 anos,
Nivaldo teve 11 filhos, 29 netos e três bisnetos. A partida desse seresteiro representa
uma grande perda para a cultura do nosso
Como não sou de Montes Claros e moro aqui há
povo, pois durante muito tempo Nivaldo
menos de três anos, nunca tive oportunidade de
Maciel, com sabedoria e encanto, valorizou a
vê-lo em outras ocasiões.
seresta em Montes Claros, sem deixar morrer
uma das mais ricas tradições.
MATÉRIA
Késsia Marinho
O professor
de Libras
Charley
Soares
Comunicação ao
alcance de todos
Fez estágio na Assessoria de
Comunicação da Prefeitura de Montes
Claros, trabalha na organização de
eventos da Associação dos Municípios da
Área Mineira da SUDENE (AMAMS).
Estuda jornalismo, se dedica
e é autorizada pela Secretaria
de Estado de Educação de Minas Gerais a
atuar como intérprete da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS).
E-mail: [email protected]
A língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é usada
para a comunicação dos surdos, e o seu reco-
cia para a difusão na área educacional e os pro-
nhecimento pela sociedade influencia no de-
fessores devem está sempre atualizados, pois a
senvolvimento e na aceitação da cultura surda.
Libras é a segunda língua oficial do Brasil.”É
No dia 24 de abril de 2002 foi criado um decreto
preciso respeitar o direito do surdo, meus alu-
que regulamenta a lei n°10.436, determinan-
nos aceitaram bem a disciplina, eles têm o dese-
do a Libras como disciplina curricular, obriga-
jo de aprender cada vez mais, afirma o profes-
tória em todos os cursos de licenciatura e fono-
sor de Libras”.
audiologia. As normas ainda não são cumpri-
A disciplina possui aulas sobre a história dos
das em todo o país, mas em Montes Claros algu-
surdos e relação teórica e prática. O professor
mas faculdades já deram a iniciativa com a im-
Charley Soares acredita que, de acordo com o
plantação da disciplina na grade curricular.
Os surdos acreditam que a obrigatoriedade
da disciplina é importante, pois irá auxiliar os
ouvintes no aprendizado de libras, e assim me-
A expectativa dos
surdos é que seja
implantada a língua em
todos os ambientes
escolares, para que a
inclusão exista de
verdade e assim, a
comunicação poderá ser
alcançada por todos.
inclusão da disciplina é de extrema importân-
decreto, serão necessários pelo menos uns dez
anos até que se inclua a Libras em todas as faculdades do país.
A expectativa dos surdos é que seja implanta-
lhorar a possibilidade de uma comunicação.
da a língua em todos os ambientes escolares,
Além da inclusão da língua nas salas de aula, o
para que a inclusão exista de verdade e assim, a
ideal é que os docentes da disciplina sejam pes-
comunicação poderá ser alcançada por todos. O
soas com surdez, já que elas possuem total do-
reconhecimento de Libras e do profissionalismo
mínio. “O interessante é dar preferência para os
é o sonho de todas as pessoas com surdez.
professores surdos, pois são conhecedores de
“Eu sei, algumas pessoas ainda não aceitam
libras”, diz o professor surdo, formado em Peda-
surdos como profissionais, mas irei lutar sem-
gogia, Charley Soares.
pre pelo nosso direito” diz Charley Soares.
A comunidade surda busca maior valoriza-
A luta do povo surdo não é recente, vem de
ção pela categoria profissional, pois necessi-
muitas gerações, e a inclusão da disciplina de
tam de respeito e só assim os cargos destina-
Libras nas faculdades, foi com certeza, uma
dos a ela não serão ocupados por ouvintes. A
vitória merecida.
Tecidos & Malharia
Crediario super fácil.
caros
co e as
OUTUBRO - 2009
21
CRÔNICA
Mara Narciso
Incursões Gastronômicas
Melhor do que viajar, melhor do que ir a
festas, ou ainda mais interessante do que
inaugurado o Miako, rede de restaurante de
comer é contar como tudo aconteceu. Mile-
comida japonesa, na Avenida Mestra Fininha.
na, minha mãe, gostava de explicar em deta-
E na sexta-feira, depois da faculdade, fomos
lhes como era uma comida diferente que
para lá Marina, Felicidade, eu e Elpídio, acadê-
tinha experimentado. Nunca deixava de co-
micos e professor de Jornalismo. Meu filho,
mer o que quer que fosse. A curiosidade gas-
Fernando, logo se juntou a nós.
tronômica da minha mãe não chegava a ser
Mara Narciso é médica, cronista e autora
do livro “Segurando a Hiperatividade”
E-mail: [email protected]
Os ocidentais misturam
sem temor as comidas
orientais e não raro
restaurantes unem num
mesmo cardápio
comidas da China e do
Japão. No Brasil os
pratos chineses mais
populares são o arroz
chop suey, carne de
vaca com broto de
feijão ou de bambu,
frango xadrez, rolinho
primavera, e banana
caramelada.
perigosa, ou fosse algo a servir de tema para
itou qualquer alimento estranho, e experimentou tudo que bem preparado fosse, não
grama “No Limite”. As esquisitices das igua-
me furtei a provar o salmão cru. A bandeja era
rias que comeu não chegavam perto do olho
uma festa de delicadeza, de arte suave e con-
de cabra, ou de vermes vivos, longos e crus
vidativa. Para bem o saborear é preciso um
comidos numa chupada como se fossem
ritual, mas eu cometi o sacrilégio de dispen-
uma sopa de macarrão, daquelas que são
sar o hashi e pedi um talher. Temerosa de co-
degustadas com avidez no refúgio do lar,
mo o meu estômago se comportaria, cortei
mas foram estranhos algumas vezes. Já a vi
com cautela um pedacinho do sashimi e o
comendo ostra crua, polvo, jibóia, gia, tatu
provei, levando à boca na pontinha do garfo.
peba, rodízio e buchada de bode e até “totó”
A aparência é agradável, a cor lembra uma
de goiaba - a larva de mosca.
flor e a textura macia é tenra ao toque dos
Para quem acha que comer jiló é uma ex-
dentes. Atentei para o sabor leve de uma fru-
centricidade, deve experimentar a comida
ta que comemos há tempos e não lembramos
oriental. Circulou pela internet nos tempos das
bem como é o paladar. A raiz forte, e o molho
Olimpíadas de Pequim um mostruário do que
shoyu, são os complementos necessários
se podia apreciar na, para nós sempre extrava-
para bem saborear o salmão, que tem a leve-
gante, culinária chinesa. Para alimentar o 1,3
za de uma pétala de alguma flor exótica. O
bilhão de chineses não há preconceito em se
sushi é uma festa de formas e recheios, com
comer carne de cachorro ou de cavalo ou de se
um leve aroma de frutos do mar, e as suas co-
colocar tudo que se move ou se moveu um dia
res delicadas entre pedacinhos de frutas, legu-
num espeto ou numa gordura quente. Cozi-
mes, mariscos ou peixes, já dizem muito da
nhar ou não tudo e qualquer coisa é rotina pa-
propalada paciência japonesa. Mais tarde,
ra os cozinheiros chineses.
meu filho arriscou-se no sakê, servido em do-
Os ocidentais misturam sem temor as comidas orientais e não raro restaurantes unem
caros
co e as
se generosa no massu, o copo quadrado.
À meia noite fui pega de surpresa, pois
num mesmo cardápio comidas da China e do
meus amigos, sabedores que o dia do meu
Japão. No Brasil os pratos chineses mais popu-
aniversário principiava, me cantaram o “para-
lares são o arroz chop suey, carne de vaca com
béns pra você”. Nessa noite agradável, em
broto de feijão ou de bambu, frango xadrez,
boa companhia e fazendo leves experimenta-
rolinho primavera, e banana caramelada.
ções gastronômicas, indago: se comemos
Entre a comida japonesa os pratos mais co-
vegetais crus, qual o problema de comermos
nhecidos são o sushi que é o arroz cozido pren-
animais crus, desde que fatiados em finas
sado a mão ou a máquina, e o sashimi que é
películas? Então, sem preconceito, convido
qualquer alimento de origem animal sem
aos ainda relutantes montes-clarenses a que
cozimento. O chinês e japonês comem com
experimentem sem medo novas fronteiras
Na época em que comer comida japonesa
OUTUBRO - 2009
Lembrando da minha mãe, que jamais reje-
um programa no canal Discovery, ou no pro-
hashi, e não com “pauzinhos”.
22
opções da comida oriental. Recentemente foi
gastronômicas. Não me senti desbravando
um deserto, e nem indo aonde ninguém foi,
em Minas era uma raridade, estive em uns pou-
mas por que nos privar de uma experiência
cos restaurantes japoneses em Belo Horizonte,
gustativa, principalmente na companhia de
mas não me arrisquei. Em Montes Claros, de
pessoas tão delicadas quanto o sashimi? O
forma tímida, vemos chegar com os forasteiros
arrependimento será não arriscar.
MATÉRIA
Luiz Ribeiro
Corpos à Venda
(...)
As zonas boêmias pareciam demarcadas geo-
O “roteiro do pecado” atingia a rua Coronel
graficamente. Havia uma diferenciação em rela-
Joaquim Costa, a antiga rua Lafayete, no trecho
ção às prostitutas. Sempre que saíam às ruas
que partia da Praça de Esportes até a rua Dom
eram facilmente identificadas como “batalha-
Pedro II e a Praça da Catedral.
doras da noite”. O reconhecimento se dava pe-
Num terreno junto à Catedral ficava o antigo
cemitério da cidade. Mas, a igreja e o cemitério
Luiz Ribeiro dos Santos, 40 anos, desde
os 18 exerce a profissão de jornalista,
sua grande paixão. Formado em
Administração pela Unimontes, pósgraduado em Comunicação,
Estratégias e Linguagens pela
Unimontes, e em Administração
Pública pela Fundação João Pinheiro.
Já recebeu ao todo, 24 prêmios de
jornalismo, individualmente ou em
equipe, sendo dois prêmios ESSO.
Começou a trabalhar em 1989 no
"Jornal de Notícias", passou pelo "Jornal
Hoje em Dia" e desde 1994, é repórter e
Coordenador da Sucursal Norte do
Jornal Estado de Minas. Mesmo
residindo em Montes Claros, participa
de todas as editorias do Jornal. É o
jornalista responsável por acompanhar
a cobertura sobre a saúde do vice
presidente José Alencar.
Autor do livro “Corpos à Venda – Um
Relato Sobre a Prostituição Infanto
Juvenil e Suas Causas”. Atualmente está
terminando seu segundo livro, que
relata a questão do carvão em todo
Brasil, e é acadêmico do curso de
Jornalismo na Funorte.
E-mail: [email protected]
las roupas extravagantes e pelo peso na maquiagem.
da cidade não era empecilho para que ali perto
As mulheres das zonas eram totalmente mar-
funcionassem várias “casas”. Explicando me-
ginalizadas da vida social e comunitária. Viviam
lhor: de fato, o pecado morava ao lado (e em
isoladas pelas barreiras de um apartheid social.
frente também). Na década de 50, a menos de
Passavam a ser tratadas como se não fossem
200 metros abaixo da Catedral – então, recém-
humanas, embora exercessem o papel de satis-
construída, a rua Padre Augusto se transforma-
fazer os desejos carnais do próprio se humano.
ra em outro ponto da
Eram impedidas de freqüentar missas e cul-
noite. Nela, mais preci-
tos religiosos. Dentro dos cinemas, ficavam
samente onde hoje es-
em partes separadas, pois não
tão localizados o escri-
podiam se misturar com os casa-
tório de atendimento da
is de namorados e com as “mo-
Cemig e um hotel, se
ças de família”. Também não
encontravam a “Casa de
tinham acesso a bares, restau-
Roxa” e a “Casa de Leobi-
rantes, festas e quaisquer ou-
na”, muito visitadas. O
tros acontecimentos ligados às
trecho do meretrício na
famílias. A presença delas seria
Padre Augusto compre-
uma afronta à moral e aos
endia os quarteirões
bons costumes.
situados entre a rua Coronel Joaquim Costa e a
Hoje, a realidade é outra.
(...)...
Praça Bom Jesus (rua
Belo Horizonte).
Naquele tempo, a
prostituição possuía ca-
Trecho extraído do livro Corpos à Venda: Um
relato sobre a prostituição infanto-juvenil e suas
causas / Luiz Ribeiro. Montes Claros: Ed.
UNIMONTES, 2001 p.132-133.
racterísticas peculiares.
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co e as
OUTUBRO - 2009
23
MATÉRIA
Hilton Nunes
O coordenador dos serviços de transplante renal da Santa Casa de Montes Claros, doutor
Geraldo Sergio Gonçalves Meira
Hilton Nunes é funcionário público
estadual, músico e acadêmico de
comunicação social
E-mail: [email protected]
Jarbas Oliveira
Na fila por um
transplante
Desde 2005 já se realiza transplante de órgãos
demais, alguns foram enviados para outras cida-
em Montes Claros. Até o final do mês de abril, 258
des, outros foram destinados a estudos científicos
pessoas com deficiências de córneas e de rins
em laboratórios acadêmicos ou desprezados por
aguardavam na fila do Banco de Órgãos à espera de
falta de utilização.
doadores compatíveis. Setenta e um deles necessitam de córneas e 187 de rins.
Dos 17 transplantes realizados neste ano, 12
foram de rins e cinco de córneas. Ainda não se faz
Apesar do aprimoramento dos profissionais e
transplantes de outros órgãos em Montes Claros,
da evolução da tecnologia, o quadro de transplan-
conforme dados colhidos na Central de Notifica-
tes realizados ainda é acanhado, uma vez que, dos
ção, Captação e Distribuição de Órgãos – Regional
47 órgãos doados em 2008, apenas 17 foram apro-
Norte/Nordeste, que funciona na Santa Casa de
veitados para transplantes em Montes Claros. Os
Montes Claros. Veja evolução nos quadros:
Órgãos doados em Montes Claros
Contador e escritor
E-mail: [email protected]
Ano
Córneas
Rim
Fígados
2005
2006
2007
2008
56
34
64
32
12
22
22
12
03
07
04
03
Pâncreas
05
02
-
Fonte: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos – Regional Norte/Nordeste.
Ano
2005
2006
2007
2008
Órgãos transplantados em Montes Claros
Córneas
Rim
Fígados
Pâncreas
22
18
29
13
09
33
12
05
-
Fonte: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos – Regional Norte/Nordeste.
Lista de espera de órgãos em Montes Claros
24
OUTUBRO - 2009
caros
co e as
Ano
Córneas
Rim
2005
2006
2007
2008
63
55
77
71
187
196
201
187
Fígados
-
Pâncreas
-
Fonte: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos – Regional Norte/Nordeste.
A equipe de profissionais transplanta-
um dos que estão na fila de espera de um
dores de órgãos na cidade é constituída por
doador compatível. Enquanto aguarda, ele
12 médicos, dos quais, 11 compõem a equi-
viaja três vezes por semana a Montes Claros
pe de transplante renal, com especializa-
para fazer hemodiálise. Sebastião mora com
ção em nefrologia, urologia e angiologia, e
uma sobrinha e uma irmã e disse que elas se
apenas um é especializado em transplante
dispuseram a lhe doar um rim, mas os exa-
de córneas. O coordenador dos serviços de
mes realizados determinaram incompatibi-
transplante renal da Santa Casa de Montes
lidade. “Infelizmente, nada posso fazer, a
Claros, doutor Geraldo Sergio Gonçalves
não ser aguardar que me apareça um doa-
Meira, 47 anos, e nefrologista há 24 anos,
dor. Sei que é difícil, pois além dos doadores
disse que a instituição legal da Central de
serem muito poucos, ainda precisa ser com-
Notificação, Captação e Distribuição de
patível, mas eu não perco as esperanças”,
Órgãos (CNCDO) trouxe uma maior tran-
comenta.
qüilidade para os profissionais que muitas
Roldane Gomes Chaves 26 anos, mora-
vezes eram questionados quanto ao desti-
dora do bairro JK em Montes Claros, sofre
no dos órgãos doados e a escolha do paci-
com problemas renais desde os oito anos.
ente a ser transplantado.
Aos dez anos passou por um transplante de
Geraldo Sérgio explicou que, atualmen-
rins, mas, há algum tempo, os problemas
te, o CNCDO, depois de verificar a compati-
retornaram fazendo-a voltar para a fila de
bilidade do possível doador em estado de
espera de um novo doador.
morte encefálica, comunica à sua família e
transplantado, seguindo, evidentemente, a
lista única de espera.
A Lei de Transplante:
No Brasil, o transplante de órgãos obedece às determinações da Lei nº 9394/1997,
Na “Fila de Espera”, do Banco de Órgãos
“Na verdade, eu apenas realizei um desejo
que Flávio já havia me manifestado numa ocasião em que ele retornou de uma aula de anatomia na Universidade Federal de Uberaba, onde
cursava enfermagem. Sei que isto não o traz de
volta, mas me conforta saber que a vida de alguém está sendo prolongada”.
Com estas palavras a bióloga Fernanda Aquino Oliveira Madureira, 30 anos, justifica os motivos que a levaram a doar os órgãos do esposo,
Flávio André Madureira, 32 anos, envolvido em
acidente de automóvel, na quarta feira de cinzas
de 2008, e morto encefálico nove dias depois, no
Centro de Tratamento Intensivo – CTI da Santa
Casa de Montes Claros.
somente após a autorização formal desta, é
que a CNCDO determina quem vai ser o
O PROCESSO
DE DOAÇÃO
também conhecida como Lei dos Transplan-
da Central Regional Norte/Nordeste, os sen-
tes, regulamentada pelo Decreto nº
timentos de angústia e de esperança dos
2268/1997, que estabeleceu o Sistema Naci-
pacientes que aguardam chegar a sua vez,
Fernanda salientou que a sua decisão foi após
tomar conhecimento da morte encefálica do marido, diagnosticado pelo médico neurologista.
Ela revelou que falta melhor comunicação entre
os agentes de transplantes e o responsável pelo
doador, pois somente horas depois da morte en-
onal de Transplantes (SNT), os Órgãos Esta-
cefálica do esposo, uma assistente social a abor-
são retratados pelos relatos de Antonio,
duais e as Centrais de Notificação, Captação
dou sobre a possibilidade de ela autorizar a doa-
Sebastião e Roldane:
e Distribuição de Órgãos (CNCDOs).
ção dos órgãos. Disse ainda que essa demora cau-
A legislação conceitua dois tipos de trans-
sa transtornos.
“Enquanto a família do transplantado sofre a
A espera:
plante: o doador vivo que se refere ao cidadão juridicamente capaz e que possa doar
angústia da espera e da compatibilidade com o
Antonio Gonçalves Fernandes,72 anos,
órgãos ou tecidos sem causar-lhe conse-
doador, a família deste sofre a sua ausência. É nes-
residente em Montes Claros, contou que, há
qüências futuras; e o doador cadáver que
se momento único, em que precisa se decidir pela
seis meses, faz três seções de hemodiálise
tenha sofrido trauma craniano, derrame cere-
doação ou não, que a família enlutada necessita de
por semana, e, ainda, não recebeu informa-
bral ou outra causa que evoluiu para a “Morte
apoio psicológico que possa ajudá-la a reorganizar
ções sobre a necessidade de transplante.
Encefálica”, assim entendida, como morte
as suas idéias. Na prática isto não acontece, e, às
Por essa razão, não procurou parentes para
irreversível do cérebro e a iminente e inevitá-
vezes, quando se decide pela doação, a família
chega a esperar até dois dias para receber o corpo
uma possível doação. Disse, também, que
vel cessação da função de todos os outros
nem sabe como se inscrever na lista de espe-
órgãos. Nesta situação, o paciente ainda tem
para ser velado, devido aos procedimentos médi-
ra do Banco de órgãos.
o coração batendo, está respirando artificial-
cos necessários ao transplante”.
Sebastião Pereira de Nascimento, 43
mente com o auxílio de aparelhos e ainda
anos, morador da cidade de Pirapora, situa-
mantém a pressão e circulação sanguínea
da a de 170 quilômetros de Montes Claros, é
mediante utilização de medicamentos.
Transplantados:
José Olinto Ruas de Oliveira, 35 anos, corretor
de seguros, mora no Bairro dos Funcionários, em
Montes Claros. Ele disse que passou por uma cirurgia de transplante e recebeu um rim e, hoje, sua
“A vida é boa de qualquer maneira e cada
momento deve ser vivido intensamente. Se há
chance de dar vida ou aumentar o tempo de
alguém, porque não fazê-lo? Será que um órgão
tem mais valor sendo comido pela terra? Ou
tem valor dentro de um corpo vivo, dando-lhe a
oportunidade de viver mais e melhor? Cada
transplante realizado é o tempo de alguém aumentado e um sonho realizado”, diz a garota.
vida voltou ao normal, nem parece que há um ano
estava fazendo seções de hemodiálise e à espera
de doador. Sorrindo, ele completa: “trabalho, pratico esportes, jogo peteca, ando de bicicleta e não
bebo mais, a vida é muito boa!”
Obs.: As informações prestadas nessa matéria fazem parte de
uma pesquisa feita em maio de 2008.
caros
co e as
OUTUBRO - 2009
25
ARTIGO
Girleno Alencar
O diploma como filtro
para o jornalista moderno
Começou a trabalhar no Diário de Montes
Claros, em 5 de setembro de 1977, como
revisor. Em 14 de julho de 1979 começou
a trabalhar como jornalista, inicialmente
policial, depois esportivo e por fim, geral,
no Jornal de Montes Claros. Criou 15
jornais em cidades do Norte de Minas.
Desde 1º de outubro de 1991 passou a
atuar como jornalista do Jornal Hoje em
Dia, na Sucursal de Montes Claros, onde
está atualmente. Foi assessor de
comunicação da Prefeitura de Janaúba de
1993 a 1995 e da Associação dos
Municípios da Área Mineira da Sudene de
1993 a 2008. É graduado em História, pela
Unimontes e agora acadêmico de
Comunicação Social da Funorte.
Depois de minha resistência,
e até mesmo superando os
preconceitos dos colegas
práticos, tomei a decisão
junto com Luiz Ribeiro de
fazermos o curso.
A minha primeira experiência como
passado de 32 anos nas redações. Me omito,
jornalista começou ainda no Colégio
o que é raro, na polêmica sobre a
Tiradentes, onde estudei o ginasial e
necessidade do diploma. É claro que, com
científico, e participava do mural do colégio.
ele, sei que fica mais fácil trabalhar, sem
Recordo, até hoje, da notícia que escrevi
correr o risco de qualquer mudança. Não
sobre a morte do Papa João Paulo I, cercada
posso negar que me surpreendi com a
de mistérios e dúvidas. Depois, em 1977, fui
decisão judicial, pois tudo indicava que a
trabalhar no Diário de Montes Claros, pelas
exigência seria obrigatória. Analisar a causa
mãos de Reginauro Silva, sempre amigo da
da decisão dos ministros do STF é uma
família, e onde atuava como revisor. Aprendi
tarefa árdua, pois, o ditado popular já
muita coisa com Décio Gonçalves, com
aponta que somente se sabe o que passa na
ênfase sobre como escrever a palavra
cabeça de um juiz se abri-la. No caso
“frustração”. Saí de lá para atuar na área de
específico de Montes Claros, entendo que a
construção civil, e depois, no dia 14 de julho
faculdade poderia servir de filtro para
de 1979, entrar no O Jornal de Montes Claros,
definir quais são os profissionais que
quando fiz minha primeira matéria sobre o
deveriam atuar nas redações. A crise vivida
vandalismo no Cemitério do Bonfim.
pela imprensa montes-clarense exige que
Portanto, são 32 anos de atuação na
se busque novas alternativas, e a academia
imprensa, e com tanto tempo, retorno à
serviria para fazer este papel de separar o
bancada de uma faculdade para buscar a
joio do trigo e profissionalizar a
graduação superior em Comunicação Social.
comunicação social.
Desde quando surgiu o curso de
A despeito da polêmica que cerca a
Comunicação Social em Montes Claros,
instituição, acredito que ela poderia exercer
sempre vivia a dúvida de retornar aos
este papel. Foi pensando nisto que me senti
bancos da faculdade para adquirir o di-
estimulado a buscar o conhecimento
ploma, fortalecendo o aprendizado prático.
teórico que adquiri na prática. Uma das
Depois de minha resistência, e até mesmo
barreiras que precisamos vencer é a
superando os preconceitos dos colegas
dificuldade de colocar os formados no
práticos, tomei a decisão junto com Luiz
mercado de trabalho, que remunera mal e
Ribeiro de fazermos o curso. Trabalhar em
está prejudicado pela excessiva
jornal da capital sem a graduação acaba
interferência dos políticos. Infelizmente o
causando impactos e certa discriminação,
índice de inserção dos formados é baixo.
até mesmo por conta própria. O risco de
Mas quem é bom, tem seu espaço
perder a profissão, sendo proibido de
garantido. Os Wesleys, as Lucilenes, as
exercê-la, caso o Supremo Tribunal Federal
Gisseles, as Leonídias e tantos outros são
derrubasse a liminar concedida pela Justiça
exemplos de que a faculdade forma bons
Federal, me deixou em pânico, e diante da
profissionais, que chegam ao setor sem os
pressão do Sindicato dos Jornalistas,
vícios das paixões e compromissados
tomamos a iniciativa de fazer o curso. No
apenas com o profissionalismo. Sei que nos
sétimo período, a surpresa com o fim da
grandes órgãos de imprensa, somente
exigência do diploma.
trabalhará o profissional com curso supe-
Não posso usar da prerrogativa que
estou prestes a adquirir para criticar o meu
26
OUTUBRO - 2009
caros
co e as
rior. Acredito que logo, em Montes Claros, o
mesmo acontecerá...
CRÔNICA
Caroline Laíze
Escolhi ser Jornalista
Eu poderia ter escolhido ser médica, advo-
não pode ser omitida. O querer, a busca pela
gada, empresária, ou alguma coisa do tipo.
transparência dos fatos, o desejo de levar a
Mas não! Escolhi ser Jornalista - uma profis-
público as “ações” políticas, de mostrar que
são infelizmente tão desvalorizada nos dias
o que diferencia as classes sociais é apenas
atuais. Se as pessoas soubessem o quão emo-
uma questão de “olhar”, são características
cionante é dar voz àqueles que não tem, cer-
que dificilmente outro profissional poderia
tamente iriam mudar o conceito de que jor-
carregar consigo.
nalismo é para qualquer um.
Mineira de Lassance, fez matérias para
o Jornal Hoje em Dia, O Norte, Gazeta
Norte Mineira e Jornal de Notícias.
Estagiou na Secretaria Municipal de
Educação de Montes Claros. É assessora
de Comunicação do Sindicato dos
Produtores Rurais de Montes Claros e
faz estágio no Banco do Nordeste, onde
edita e escreve matérias para o jornal
eletrônico institucional Super em Ação.
Será que todos têm noção da importância
Dizer que, “jornalista nasce”, “não forma”,
dessa profissão? Somos nós, os jornalistas,
pode até ter uma porcentagem de verdade,
os responsáveis por fazer a notícia chegar à
mas, desenvolver a escrita – escrita adequa-
sociedade. Como você soube do 11 de se-
da - e questionar o que realmente é preciso,
tembro? E da bomba de Hiroshima? Da mor-
são coisas que aprendemos no período da
te do Papa? Do desastre da princesa Diana?
academia.
Da copa do Mundo? Com certeza foi pelos
Leis? Muitos desconhecem que existem
meios de comunicação.
para quase tudo, e que o jornalista deve sa-
Rotina? Não é para o jornalismo. Diaria-
ber, pois trabalha, além de tudo, diretamen-
mente nos deparamos com uma coisa nova,
te com o sentimento das pessoas.
um novo desafio a ser vencido, uma nova
Temos o poder de melhorar ou piorar o
mundo. Depende de cada um saber o que
dizer, pois a verdade muitas vezes dói, mas
cara que também precisa ser mostrada, se é
que vocês me entendem.
Serei sim, uma “profissional formada” da
Comunicação, e que, com orgulho, parafraseia o jornalista Cláudio Abramo - "O jornalismo é, antes de tudo e, sobretudo, a prática
diária da inteligência e o exercício cotidiano
do caráter".
Para mim, a imprensa é, talvez, a única
arma que impõe respeito contra as ilegalidades. A imprensa, tão temida por corruptos, é
a grande arma dos corajosos, que lutam incansavelmente para que a verdade seja dita.
Serei sim jornalista! Apaixonada pela profissão e, com formação!
caros
co e as
OUTUBRO - 2009
27
PERFIL
Rosângela Alves
Investigar um fato,
encontrar e apresentar o próximo,
buscar e oferecer conhecimento,
contar uma história,
criar redes...
Isso me encanta na comunicação!
E-mail: [email protected]
Meu lazer
é meu
trabalho!
Ele toca pop rock, black music, dancy. Ele
desde muito cedo, ainda criança, era ouvin-
ouve pop rock, MPB e entre os seus preferi-
te de rádio, hábito pouco comum entre os
dos, está Osvaldo Montenegro (intuição).
adolescentes da época, e sonhava em fazer
Estão também Zé Ramalho, Pearl Jam, Pink
locução desde a infância.
Floyd e The Fault.
Dezoito anos após a primeira locução de
Começou como locutor de fim de semana, mas bastou dois finais de semanas pa-
rádio, Jean Paulo Mendes Braga, 34 anos,
ra conquistar
seu quadro permanente.
num papo entrevista muito descontraído,
Todos os dias, das 20h às 22h, fazia locu-
conta sua história. Como tudo começou, e o
ção de um programa “normal”, e nas duas
que almeja.
horas seguintes, atendia a pedidos de ou-
É casado com Claudia, uma bela morena
vintes, tocando as músicas que pediam.
de olhos verdes, que conquistou de vez o
Depois de três anos como locutor na cida-
homem que faz declarações, oferece músi-
de natal, o próprio chefe - na época, Mar-
cas e sabe o que fazer para cativar o público
cos Osvan, o indicou para um teste na rá-
que tem.
dio 95,1 - atual Transamérica, em Montes
Claros. Contratado!
A descoberta
Não foi quem lhe ensinou o beabá que
Canto uma canção bonita,
Falando da vida,
em 'Ré maior'.
Canto uma
canção daquela
De filosofia,
Do mundo bem melhor.
(...)
E hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão!
Intuição: Oswaldo Montenegro
Composição: Ulysses Guimarães
impulsionou a história que encanta a muitos. Foi quem percebeu o talento precoce
do jovem ainda adolescente num trabalho
apresentado em sala de aula.
Segundo Jean Paulo, a professora Orleide
Matos descobriu nele o talento para locutor,
quando numa apresentação em sala de aula, fez imitação do apresentador Sílvio Santos, fazendo o show de calouros. Não deu
outra. Amiga do dono de uma rádio em Brasília de Minas, onde morava na época, a professora agendou um teste de locução - ele
foi, e passou.
O locutor alçou novos vôos. E desde
então, é o Jean “Loucutor” que todos gostam de ouvir. Ele fala sorrindo, literalmente “sorri com a voz”, e talvez isso tenha
feito a diferença.
Depois de algum tempo nas rádios, começou a receber convites para fazer cerimonial, comerciais, apresentação de
shows – ofícios que se conciliam perfeitamente. E agregou mais qualidade à profissão. Parece cansativo, mas para ele, não é.
Como locutor, trabalha quatro horas por
dia, de segunda a sábado.
Jean apresentou shows que fizeram história: Rappa, Mamonas Assassinas, entre
outros. Mas ainda preserva, apesar de não
parecer, um pouco da timidez do início da
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caros
co e as
Parece fácil?
profissão. Jamais se aproxima do artista se
Não foi. Jean era tímido, tremia por qual-
não for necessário. “Faço o que tenho que
quer coisa, mas tinha um ponto a seu favor;
fazer - apresento o show e fico no meu can-
Jean Paulo fez locução
AM, e é pra lá que quer
voltar um dia. “O público
é muito carinhoso”, diz o
locutor, como se
remetesse a alguma
lembrança
to”, enfatiza o locutor. “Adoro o que faço, sinto falta”.
Casos hilários
Mas a paixão também trouxe desavença. “Já levei ca-
CENTRO
no, já fui contratado para apresentar show de banda naci-
D. PEDRO II, 214
TELEFAX:
onal, o contratante não pagou o show e saí escoltado
38 3690-8080
pela polícia. O show não aconteceu, fiquei no prejuízo.
Agora, só apresento eventos mediante pagamento à vista”. Segundo ele, não trabalha mais com desconhecidos,
AEROPORTO
MONTES CLAROS
“as agências já conhecem meu trabalho e indicam, e
TELEFAX:
38 3690-8090
quando não posso, indico alguém que seja responsável”.
Jean é um “cara” simpático, educado e combina com a
IBITURUNA
CENTER
SHOPPING
voz que tem.
Talvez isso tenha atraído muitas fãs. Recebe presen-
TELEFAX:
tes, bolos de aniversário e já recebeu até aquelas cartas
38 3690-8085
de muitos metros, tipo as recebidas por artista global.
Teve também história como “amor e ódio”. Antes de
GUAICUÍ
SANTO
AGOSTINHO
se casar, namorou uma fã que não aceitou o término do
romance e apareceu na rádio armada para matá-lo. Sal-
TELEFAX:
vou-se dessa. Felizmente!
38 3690-3615
Jean Paulo fez locução AM, e é pra lá que quer voltar
um dia. “O público é muito carinhoso”, diz o locutor, como se remetesse a alguma lembrança.
Quando parou de fazer locução AM, foi porque precisou escolher, e na época, não era viável.
Futuramente quer conciliar os dois estilos - apresentar
FM e AM. “Se Deus quiser”, diz ele cheio de esperanças.
O garoto apresentado ao microfone e aos estúdios de
rádio, ainda adolescente, tem pés no chão, sabe o que
quer e o que pode, e por isso, é o que é. “Meu lazer é meu
trabalho, é esse o trabalho que eu sei fazer, e é bom dema-
www.guaicuiturismo.com.br / [email protected]
is!” Os ouvintes agradecem.
caros
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MATÉRIA
José Adriano
O homem que brilha
Sob a sombra de uma árvore, e locomo-
pintor. Ele acrescenta: “na época, meus fi-
vendo apenas com uma perna, Antônio
lhos eram todos pequenos e eu precisava de
Rodrigues Neto, 73 anos, mais conhecido
uma fonte de renda para sustentá-los, e o
como Antônio Prefeito, apelido que her-
engraxate foi a forma que encontrei para
dou devido à semelhança com um ex-
sobreviver”.
prefeito da cidade de Janaúba, passa os
dias lustrando sapatos.
*Funcionário público municipal em
Janaúba - MG, o acadêmico José
Adriano viaja diariamente para
Montes Claros, onde cursa o 7º
período de Jornalismo na Funorte.
E-mail: [email protected]
Já se passaram três décadas, e Antônio
não pensa em deixar a profissão. Segundo
Seu “local” de trabalho é uma praça no
ele, enquanto tiver saúde vai continuar bri-
centro de Janaúba, onde engraxa sapatos há
lhando sapatos, e ainda brinca. “Minha mãe
32 anos. Um homem simples, de sorriso cati-
está com cem anos, eu também posso che-
vante, parece não se importar com as dificul-
gar à mesma idade dela”.
dades que o acompanham.
Rodrigues
Durante esse tempo o engraxate conse-
conta que era pintor, mas
guiu uma clientela fiel. Sapatos de pessoas
quando tinha 42 anos, sofreu um acidente
ilustres já passaram pelas mãos de Antônio,
de carro e na ocasião perdeu uma das per-
como os dos ex-prefeitos de Janaúba: Adeli-
nas. Para se locomover, precisa de muletas, o
no Dias, Edilson Brandão Guimarães, Joa-
que impossibilitou continuar na profissão de
quim Maurício, e até os sapatos do ministro
das comunicações Hélio Costa. Rodrigues
tem amigos e clientes que nunca deixaram
de ir à praça para engraxar os sapatos, como
é o caso do Sr. Valdivino Silva Santos.
O engraxate trabalha de segunda a sábado das oito da manhã às 18horas, e aos domingos somente na parte da manhã. Os
preços pela prestação de serviços variam; o
sapato custa R$2,50 e as botinas R$5,00. De
acordo com Antônio, os números de pares
engraxados variam entre dez e quinze por
dia. Ressalta ainda, que a crise não chegou
até ele, no entanto, há um receio que possa
atingi-lo, pois tem percebido que o movimento no comércio tem diminuído bastante. Independente da crise, todos os dias
Antônio prefeito está pronto para fazer brilhar os sapatos de alguém.
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caros
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MATÉRIA
Joana Cristina
A fé que uma
comunidade abraça
O momento da Eucaristia é, para os católi-
sentiu que aquilo era demais para ela. Agora, ela
cos, o ápice da santa missa. A presença real do
se vê aproximar o tempo de entregar o ministé-
Cristo se encontra na Eucaristia vivida e refleti-
rio. “Sinto-me angustiada, vazia, mas devemos
da a partir do mundo dos pobres e excluídos.
proporcionar esta alegria a outras pessoas para
Feliz daquele que foi escolhido do meio do
que elas tenham a experiência que tive”, diz.
povo para ministrar o santo corpo de Cristo.
Acadêmica do 7 Período de Jornalismo,
Joana Cristina é da cidade mineira
de Itacambira, estudou teologia
e é ministra extraordinária
da Sagrada Comunhão.
E-mail: [email protected]
MARA NARCISO
gar o ministério e aguardar outro ministério
ro Lopes, da comunidade de Lourdes, Montes
que o padre da paróquia Nossa Senhora da
Claros, ministra extraordinária da Sagrada Co-
Consolação, monsenhor Geraldo Marcos To-
munhão, conta como se sentiu ao receber o
lentino, deverá indicar. Socorro estudou qua-
convite. “ Há quase quatro anos, recebi uma
tro anos de Teologia para Leigos, curso minis-
visita de uma senhora ministra em meu local
trado pela Arquidiocese de Montes Claros e
de trabalho, ela trazia nas mãos um envelope
três anos em Iniciação Teológica pela Puc/Rio.
contendo um convite para fazer o curso de
Dedica uma grande parte do tempo em fun-
ministra da Comunhão Eucarística. Olhei para
ção da Igreja. Coordenadora da Liturgia, mem-
ela sem acreditar e com muita emoção a abra-
bro do ministério de música e dá aulas em um
cei, ”emocionada conta Socorro.
mini-curso de Teologia para agentes de pas-
Conforme a Igreja,
toral da própria paróquia.
Ministros Extraordiná-
De acordo com a Igreja, todos que se senti-
rios da Sagrada Comu-
rem chamados podem exercer a função. Po-
nhão, é um grupo de
rem terá que seguir alguns critérios conforme
pessoas, que apresen-
resolução do Sínodo Diocesano como partici-
tadas pela comunida-
pação de curso de formação específico com
de e aprovada pelo
base bíblico litúrgico e dos documentos da
pároco, recebe um
Confederação Nacional dos Bispos Brasil. É
mandato do bispo
essencial que o ministro da comunhão tenha
diocesano para exer-
uma espiritualidade forte e profunda com a
cer o ministério por
leitura diária da Sagrada Escritura e cultive
um tempo determina-
uma união espiritual com Maria Santíssima.
do, podendo ser reno-
Na comunidade Nossa Senhora de Lour-
vado conforme crité-
des, o ministro extraordinário da Sagrada
rio do pároco.
Igreja Nossa Senhora de Lourdes,
bairro de Lourdes
Ainda este ano, Socorro Lopes deve entre-
A técnica em enfermagem, Maria do Socor-
Comunhão deve participar das formações da
Após o Concílio do
própria comunidade e da paróquia que são
Vaticano II (1962-65),
ministradas uma vez no mês e da Adoração
o Papa Paulo VI autorizou a instituição desses
do Santíssimo uma vez por semana, em reu-
ministros, fiéis leigos cuja missão é facilitar aos
nião com todos os ministérios da comunida-
celebrantes a distribuição da Sagrada Comu-
de. A espiritualidade do ministro é baseada
nhão em igrejas, capelas, hospitais, aos doentes
na Eucaristia. “Uma fé que busca a benção em
nas casas e outros lugares na ausência do pa-
qualquer coisa e em tudo dá graças antes mes-
dre. Também zelam pelos vasos sagrados, alfai-
mo de ver ou saber qual é a benção. Esse é o
as e tudo o que se refere à Sagrada Eucaristia.
ideal que o ministro da Eucaristia se esforça
Socorro conta que no momento do convite
por alcançar”, relata Socorro.
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MATÉRIA
Felicidade Tupinambá
ARIGATÔ!
Funcionaria pública, administradora,
advogada e acadêmica do curso de
jornalismo, atuou nos jornais Diário de
Montes Claros, Jornal de Noticias,
Estado de Minas e portal
Grandeminas.com. Atualmente atua
na assessoria de comunicação e
Marketing na Codevasf, escreve para a
Revista Tempo, in360.globo.com,
assina o site
www.felicidadetupinamba.com.br e
apresenta o programa Conversa Fiada
no Canal 20, além de promover
eventos reconhecidos nacionalmente.
E-mail: [email protected]
A saga dos
japoneses no Brasil
e em Montes Claros
“Eles estão chegando”. A chamada, veiculada em outubro de 2007 na mídia de Montes
Claros, era apenas o anúncio da revendedora
de carros Honda, inaugurada naquele ano na
cidade. De fato, os japoneses chegaram ao Brasil em 1908 e, a Montes Claros precisamente em
1957.Quatro famílias foram precursoras desta
epopéia entre nós. Falar um pouco dos Takaki,
Shibuya Shoichi, Fujii, Shibuya Yassuo e Hayakawa, é o que se encarrega a reportagem que
se segue, neste ano em que se comemora em
todo o país o centenário da imigração japonesa. Falar particularmente dos Takaki, é uma
explicita homenagem ao Júlio e Dona Mercedes, pioneiros e também personagens da mi-
Lauro Takaki e sua esposa Olga Guimaraes Takaki
nha infância, na Fazenda do Melo, para onde
Como pioneiros, a família
Takaki teve papel
primordial no
acolhimento a outros
japoneses que aqui
aportaram. Ajudaram a
fundar a Associação Nipo
Brasileira, que congrega
hoje todos japoneses, não
só de Montes Claros, do
norte de Minas e preserva
seus costumes e cultura.
vieram de Pindamonhangaba-SP, à convite do
Waldomiro Marcondes, proprietário da Fazenda
do Melo, hoje bairro Ibituruna, e onde foram
recebidos pelo meu avô, Antonio de Nico.
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OUTUBRO - 2009
em 1957, com menos de 18 anos de idade, a
Júlio foi quem, em infância remota, aplicou em
pedido de seu pai Yosshiro Takaki, naturaliza-
mim, sob protestos, a primeira injeção e Dona
do Júlio Takaki. Lauro veio dar início à uma
Mercedes me serviu pela primeira vez, doce de
plantação de legumes e verduras; preparar
feijão, que comemos entre risos e espanto própri-
terreno e fazer diques, numa chácara localiza-
os dos atos inaugurais. Coisas da infância que a
da na Fazenda Melo, hoje, bairro Ibituruna. Tal
gente não esquece jamais. Foi bom revê-los ago-
chácara pertencia ao fazendeiro paulista de
ra, ainda que em fatos e fotos narrados na mono-
Pindamanhangaba, São Paulo, Waldemiro
grafia a que me recorri, de Olga Guimarães Takaki,
Marcondes e onde, desde os tempos do Dr.
casada com Lauro o primogênito da família. To-
Santos, antigo dono destas terras era o fiel
mei ainda de assalto, a crônica de José Gonçalves
zelador, Antonio de Nico.
Ulhôa, amigo fraterno da família, e um parente
caros
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A primeira família que chegou a Montes
Claros foi a Takaki. Lauro Takaki aqui chegou
ilustre, casado com a prima Cecy Tupinambá.
Em sua companhia veio o Shoichi Shibuya
que já trabalhava com a família Takaki em São
FAMILIA SHIBUYA- I
Shochi Shibuya nasceu em 07 de março
de1929, em Shinto-Tsukawa- Hokkaido e desembarcou no Brasil em maio de 1956, em Pindamanhongaba-SP. Chega a Montes Claros em 1957,
para atuar em horticultura. Vindo também a exercer a profissão de veterinário na década de 80. Em
1962, retorna ao Japão para se casar com Michiko
Shibuya, natural de Iwamisaka- Sri, Horkkaido.
Em Montes Claros eles tiveram quatro filhos: Shojii, Mitti, Miriam e Michel Shogo. Recentemente
recebeu homenagem da câmara municipal de
Montes Claros.
FAMILIA SHIBUYA- II
Yassuo Shibuya nasceu em 25 de abril de 1957
em Shintotsukawa-Hokaido. Ele chegou ao Brasil
em setembro de 1968 e veio diretamente para Mon-
Lauro Takaki e suas filhas Patricia e Débora. Os Takaki foram os
primeiros a chegar em Montes Claros
tes Claros, onde já morava um tio paterno. Aqui,
depois de atuar na agricultura passou para o comercio, casou-se com uma montesclarense, Raquel de
Paulo. A volta de Lauro à Pindamanhagaba para
respectivamente. Júlio desembarcou no Brasil e
servir o exércíto apressou a vinda de seu pai Júlio
foi morar inicialmente em Cafelândia, São Paulo,
Magalhães e juntos tiveram tem cinco filhas.
Takaki, que resolvido trouxe toda a família. Dona
como muitos japoneses que aqui chegaram.
FAMILIA FUJII
Mercedes (Kioe Takaki), e os filhos Jorge, Fausto,
Depois, foi para Pindamanhangaba onde culti-
Fujii Shibuya nasceu em Yamaguchi-Ken no
Cássio, Sátio, Nelson, Nanae e Yae.
vou café e bicho-da-seda. Em seguida passou a
dia a 12 de junho de 1934, formou-se em técnico
As técnicas de cultivar tomates e de construir
trabalhar em plantações de arroz para fabrica-
agrícola, casou com Hifumi, sua conterrânea, e
diques para irrigação deram aos Takaki e à Shoi-
ção de sakê chegando a chefe da Estação Experi-
juntos chegaram ao Brasil em 1959. Primeiro pas-
chi Shibuya lugar de destaque na produção de
mental de Arroz. Em Montes Claros, além do
saram pelas cidades paulista de Mogi das Cruzes,
hortigranjeiros no comercio local. Suas bancas de
cultivo de hortaliças e verduras, tornou-se mais
Franca, e na década de 1960 vieram para Montes
verduras no mercado municipal, ainda são dispu-
tarde funcionário da empresa de circuitos inte-
Claros, especificamente, para a Fazenda Boquei-
tadas até os dias de hoje. Portanto, foi a família
grados Fujinor, na função de tradutor, pois fala-
rão, a caminho de Januária, onde cultivam bana-
Takaki que aqui estabeleceu primeiro, com todos
va bem japonês, português e inglês.
na, poça e hortaliças.
os seus membros e com ânimo de ficar.
Como pioneiros, a família Takaki teve papel
Yosshiro Takaki nascido em Hiroshima a
primordial no acolhimento a outros japoneses
09/7/1911, casado com Kiyoe Takaki nascida em
que aqui aportaram. Ajudaram a fundar a Associ-
18/10/1920, natural de Wakayma, naturaliza-
ação Nipo Brasileira, que congrega hoje todos
ram-se brasileiros, tão logo desembarcaram no
japoneses, não só de Montes Claros, do norte de
Brasil, recebendo o nome de Júlio e Mercedes,
Minas e preserva seus costumes e cultura.
FAMILIA HAYAKAWA
A 5ª família japonesa a vir para Montes Claros
foi a Hayakawa. Saíram do Japão em 1958 e passaram a residir em Montes claros desde 1976.
Yukinobu Hayakawa nasceu em 1948 em Toyo-
caros
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kawa. Tinha pai empresário no Japão. Lá eles
fecharam a fábrica da família e vieram para o
Brasil. Inicialmente Yassuo Shibuya trabalhou
como engenheiro eletrônico de automação na
empresa eletrônica Fujinor. Aqui conheceu e
casou-se com Julieta Yae, filha de Júlio Takaki e
de Dona Mercedes.
Cem anos já se passarem de uma história brilhante e que proporcionou ganhos em vários
setores da economia brasileira, especialmente,
na agricultura. E parece que os próximos anos ,
com a eminência de uma escassez da produção
Yassuo Shibuya, sua esposa Raquel e filhas
de alimentos no mundo, o Brasil se apresenta,
mais uma vez, o destino certo como campo de
cha na Amazônia, plantações de pimenta no
novas possibilidades, e os japoneses como a mão
Pará, entre outras.
de obra imprescindível para podermos contar
mais cem anos de história.
Que venham mais japoneses!
A primeira geração nascida no Brasil viveu de
A segunda geração de japoneses no Brasil viu,
definitivamente, sepultada a esperança de retornar ao Japão. A eclosão da II Guerra Mundial aba-
forma semelhante ao país de origem. Ainda domi-
lava a terra natal. Era mais seguro permanecer no
nados pelo desejo de regresso ao Japão, educa-
Brasil. Muitos imigrantes começam a chegar nes-
vam os filhos dentro da cultura japonesa. As co-
te período, atraídos pelos parentes que já tinham
A LEI DE IMIGRAÇÃO E O INÍCIO DA
munidades fundavam suas escolas. A predomi-
imigrado. E desde 1930, o Brasil já abrigava a mai-
IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL
nância do meio rural facilitou o isolamento. E é
or população de japoneses fora do Japão.Os imi-
Desde o final do século XIX, a Europa vivia uma
explicável porque até hoje muitos brasileiros de
grantes se convenceram, então, da necessidade
crise demográfica, grande crescimento populaci-
origem japonesa possuem dificuldade em falar o
de preparar os filhos, para ascender na sociedade
onal, a economia não conseguia gerar os empre-
português. Ao contrário do planejado, no entan-
brasileira. E para isso, mudaram de cenário - fo-
gos necessários para toda a população, sem con-
to, apenas 10% dos japoneses que imigraram
ram do campo para a cidade. É no ambiente urba-
tar que o fim do feudalismo incentivou a mecani-
antes da II Guerra mundial voltaram para a terra
no que começou a história da terceira geração.
zação da agricultura. As oportunidades de em-
natal. O restante ficou para sempre no Brasil.
pregos ficaram escassas e uma massa de trabalhadores rurais miseráveis foi se formando.
Enquanto isso, no Brasil faltava mão-de-obra na
zona rural. Em 1902, o governo da Itália proibiu a
imigração subsidiada de italianos para São Paulo,
até então a maior corrente migratória. As fazendas de café, principal produto de exportação do
Brasil, passaram a ressentir a diminuição drástica
dos italianos. O governo brasileiro, então, precisou encontrar nova fonte de mão de obra. Em
1907, foi publicada a Lei de Imigração e Colonização, permitindo a imigração entre Brasil e Japão.
OS SONHOS E A DIFICULDADE
DE ADAPTAÇÃO
De 1908 a 1940, aproximadamente 160 mil
japoneses vieram morar em terras brasileiras. A
maioria dos imigrantes preferiu o estado de São
Paulo, onde predominavam os cafezais e onde
já estavam formados bairros e até mesmo colônias com um grande número de japoneses. Porém, algumas famílias espalharam-se para outros cantos do Brasil como, por exemplo, agricultura no norte do Paraná, produção de borra-
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Quando o Brasil declarou guerra ao Japão, a
comunidade japonesa foi diretamente atingida.
O REVERSO DO CAMINHO
O governo de Getúlio Vargas rompeu relações
Na década de 1980 , alta inflação, a crescente
diplomáticas com o Japão, proibiu o uso da lín-
dívida externa e a instabilidade política levaram
gua japonesa, fechou escolas, e considerou todas
muitos brasileiros (principalmente os mais jovens)
as manifestações culturais nipônicas como atitu-
a procurar melhores alternativas de vida em ou-
des criminosas. Até mesmo o hasteamento de
tros países e, no caso dos descendentes de japone-
vontade de trabalhar, sua arte, costumes,
bandeira. Em meio à situação, surgiu o Shindo
ses, o Japão. Fizeram o caminho de volta e com os
língua, crenças e conhecimentos. Por
Renmei, uma organização extremista japonesa
mesmos sonhos dos seus avós. Estes indivíduos
outro lado a sociedade brasileira tinha
são aqueles denominados de dekassessis. Hoje em
como característica a miscigenação. No
criada no Brasil.
A maioria dos 200 mil imigrantes não aceitou a
derrota em 1945, e assim a colônia se dividiu em
O INTERCÂMBIO
CULTURAL
Os japoneses trouxeram junto com a
dia vivem legalmente no Japão muitos brasileiros,
caso nipônico levou algum tempo para
a maioria dos quais são dekasseguis, brasileiros de
acontecer.
No ambiente rural, a proximidade entre
os membros da comunidade, e a força das
relações familiares fizeram com que as tradições japonesas permanecessem vivas, ao
contrário do que ocorre na cidade, onde
em geral as relações são mais impessoais.
Como hoje em dia, a maioria das gerações
mais novas, vivem na região urbana, a tendência é que assimilem mais os costumes
brasileiros do que os japoneses.
Alguns hábitos, no entanto, resistiram e os culinários estão entre os mais renitentes. E assim, alguns ícones da culinária e do
esporte se encontram bem difundidos em
nosso dia- a-dia. É o caso de pratos como o
sushi, sashimi, da introdução de frutas como o caqui doce, a mixirica poça e o moran-
Míriam e sua mãe Michiko Shibuya
Yugi Yamada, presidente da Associação
Nipônica do Norte de Minas
go. Praticas como a rotação de cultura, hidroponia e de esportes como , Kendô, Aikidô, judô, Karatê, sumô , e até a dissemina-
“derrotistas” (makegumi), menos de 20% da po-
origem japonesa, mestiços e seus cônjugues, que
pulação, e os “vitoristas” (kachigumi). Essa orga-
vão ao Japão para trabalhar, a maioria como ope-
nização pretendia propagar no Brasil a idéia de
rários na indústria. A comunidade brasileira no
casamento de japoneses fora da colônia
que o Japão não tinha perdido a guerra, pois seria
Japão é o segundo maior fora do Brasil. De acordo
japonesa, que não era aceito pela maioria
ção de religiões como o budismo.
Outro exemplo desta influência é o
uma invenção dos Estados Unidos para enfraque-
com o Banco Central, no terceiro trimestre de
dos imigrantes. Como a maioria pretendia
cer o país asiático.Os imigrantes japoneses eram
2007, pessoas físicas enviaram do Japão para o
voltar para o Japão, se se casassem com
fiéis ao Imperador do Japão, Hiroito, e grande
Brasil US$ 159,4 milhões de dólares (aproximada-
um não-japonês (gaikokujin), teria que
parte tornou-se membro da organização. Com a
mente R$ 279,9 milhões de reais ).
permanecer no Brasil. Mas foi a questão
derrota na segunda guerra o Japão perdeu o do-
étnica-cultural a que mais dificultou a
mínio sobre Taiwan, Coréia e Manchúria.
miscigenação com uma cultura tão fecha-
Mais de seis milhoes de japoneses tiveram que
retornar ao arquipélago, agravando o cenário de
miséria e destruição. A política migratória foi
mais uma vez incentivada. E em abril de 1952 o
Brasil volta a receber nipônicos desta vez para
PESAR
"A vida acontece enquanto fazemos
planos...” Quando escrevi esta matéria,
sublinharmente queria prestar uma
da como a japonesa.
O isolamento étnico acabou por se
deteriorar a partir da década de 1970. Os
imigrantes de primeira geração raramente se casavam com um não-japonês, po-
atender às industrias paulistas que necessitavam
homenagem ao seu Júlio e Dona Mer-
de mão-de-obra. Após a segunda guerra, mais de
cês ainda viva. . Eles faziam parte de
53,5 mil japoneses chegaram ao Brasil.
parte de minha historia de vida no Me-
os japonses das ultimas gerações já ti-
Atualmente, o Brasil é o país com a maior quan-
lo. Que pena que a vida acontece en-
nham, em sua maioria, um não japonês na
tidade de japoneses fora do Japão. Plenamente
quanto fazemos planos. Dona Mercês
árvore genealógica.
integrados à cultura brasileira, este povo tem
foi ao encontro de seu Júlio. Que este
contribuído com o crescimento econômico e
texto seja agora uma forma de oração e
desenvolvimento cultural de nosso país.
o meu preito de gratidão pelo muito
que aqui fizeram.
rém, a partir da segunda geração a restrição foi eliminada. Principalmente porque
caros
co e as
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