CFB RENASCE DAS CINZAS - FAS Fundo de Apoio Social
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CFB RENASCE DAS CINZAS - FAS Fundo de Apoio Social
REVISTA DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL | TRIMESTRAL | Nº 1 | MAIO/JUNHO/JULHO 2015 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA nossaterra#01 CFB RENASCE DAS CINZAS o comboio chega ao Luau O FERVILHAR DA VIDA NOS MUNICÍPIOS UM NOVO CICLO DA GOVERNAÇÃO NACIONAL BORNITO DE SOUSA N o município de Belas, na Cidade de Talatona, o Presidente da República inaugurou, a 22 de Agosto de 2014, um Complexo de cinco edifícios que albergam vários organismos públicos, entre os quais o Ministério da Administração do Território. As novas instalações proporcionam melhores condições de trabalho e dignidade às entidades e órgãos que o ocupam. Capaz de acolher mais de 12 mil funcionários, a estrutura prevê equipamentos de apoio como bibliotecas, restaurantes, auditórios ou ginásios. nossaterra#01 MINISTRO DA ADMINISTRAÇÃO DO TERRITÓRIO 03 É, POIS, DE VIDA QUE AQUI SE TRATA. DA VIDA DAS GENTES HUMILDES DA NOSSA TERRA, DAQUELES QUE, LOGO PELA MANHÃ, RUMAM PARA OS SEUS LOCAIS DE SERVIÇO, SEJAM EM PLANTAÇÕES, GABINETES OU FÁBRICAS” certamente envolverão os múltiplos sectores da actividade económica, traduzindo-se em empregos e outras mais-valias. Busca-se, com a implementação deste e demais projectos, o desenvolvimento económico e com ele o bem-estar social. E esta incessante procura pelo progresso tem na satisfação das necessidades humanas a sua meta. Estamos conscientes de que, no estágio actual da vida socioeconómica de Angola, a aposta no homem é um imperativo de desenvolvimento, sendo ele o objecto principal de qualquer acção governativa. Retratar as boas iniciativas localmente desenvolvidas é, também, um outro objectivo da revista Nossa Terra. E, por agora, essa meta foi alcançada com a publicação de uma extensa reportagem sobre a criação da Orquestra Sinfónica Kaposoka e os efeitos positivos da sua actuação sobre um grupo de jovens habitantes de comunidades carentes. A implementação de tal empreitada comprova que é possível fazer-se obras de qualidade mesmo em cenários de escassez de recursos financeiros. Esses, quando bem aplicados, produzem resultados excepcionais como os que nos são dados a ver, ao fim de sete anos de existência da Orquestra. É preciso proporcionar, hoje, as oportunidades necessárias aos mais jovens. É fundamental fazer brotar as sementes para que, amanhã, todos possamos colher os frutos de um investimento responsável e sustentável. Há, nesta primeira edição, um prato cheio de opções de leitura e muitas mais haverão nos números subsequentes. Todavia, longe de um amontoado de textos espera-se que esta publicação trimestral consiga transmitir o dinamismo das vidas nos municípios e mostrar o que de melhor acontece ali onde estão aqueles com os quais partilhamos laços afectivos, consanguíneos, históricos ou culturais, afirmando a revista Nossa Terra como um órgão de promoção da angolanidade. nt COMPLEXO ADMINISTRATIVO CLÁSSICOS DE TALATONA vestíbulo A criação da revista institucional Nossa Terra, cuja primeira edição o caro leitor tem em mãos, enquadra-se num princípio magistralmente resumido numa única frase: pense global, actue local. É este, pois, o espírito condutor da projecção e implementação desta iniciativa de comunicação, assumidamente o primeiro dentre outros passos a serem dados na senda de uma melhoria da comunicação entre os organismos locais e centrais e entre os organismos locais e a população. Os textos integrantes desta primeira edição procuram seguir à risca esse mesmo princípio. Buscam, e assim se estabelece na linha editorial traçada, mostrar o evoluir da vida nas localidades. Ao reportarem os acontecimentos que dão dinamismo ao quotidiano local, estão, no fundo, a traduzir um pensamento expresso pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, quando disse em certo tempo e em determinado espaço aquilo que, hoje por hoje, se assume como uma realidade incontornável: a vida faz-se nos municípios. É, pois, de vida que aqui se trata. Da vida das gentes humildes da Nossa Terra, daqueles que, logo pela manhã, rumam para os seus locais de serviço, sejam em plantações, gabinetes ou fábricas, procurando pôr em prática os planos e projectos traçados, muitas vezes, ao nível central. Falamos de quem, de facto, faz todos os dias essa Angola acontecer e crescer, de quem empurra para frente o comboio de desenvolvimento no qual embarcamos todos, enquanto cidadãos de boa-fé. De comboio, a propósito, trazemos o testemunho dos efeitos multiplicadores decorrentes do seu retorno ao Luau, na fronteira com a República Democrática do Congo, com o que se viabiliza novamente o Corredor do Lobito. Os retornos de tamanho investimento, claro, não são imediatos. Não tarda, porém, a economia há de sentir os seus efeitos positivos, que 28 REPORTAGEM Ministro Bornito de Sousa dá às boasvindas aos leitores de Nossa Terra. 06DESTAQUE 16 IFAL POR DENTRO 22 DINÂMICA MAT REVISTA nossa terra | EDIÇÃO Nº 1 06 A população angolana disparou para 24 milhões. Luís Filipe Colaço, credenciado especialista em demografia angolana, avalia até onde pode os resultados preliminares do Censo 2014 32 ANTEVISÃO Autoridades Tradicionais: o quadro geral da sua articulação com os órgãos locais. 24 DINÂMICA MAT Sob a égide do Ministério da Administração do Território, começou a discussão pública da proposta de Lei Orgânica sobre a Comissão de Moradores. É a Geração da Paz. Adolescentes hoje, homens e mulheres amanhã. Eles vislumbram o futuro radioso de um país que deixou definitivamente a guerra para trás. O MAT realizará em Agosto o Fórum e a Feira dos Municípios e Cidades de Angola, novamente sob o lema geral comum “A vida faz-se nos municípios”. 41 CADERNO FAS A Nossa Terra faz o levantamento, por inteiro, das actividades da primeira instituição angolana envolvida no combate à fome e à pobreza: o Fundo de Apoio Social. 58 ENTREVISTA FAS Gordon Kricke, embaixador da União Europeia, garante que a parceria com o FAS está no rumo certo. 78 LOCAIS 88 LUANDA EM FOCO 96 MUNICÍPIOS 61 SÍMBOLOS NACIONAIS O que sabemos acerca deles? 64 LOCAIS Cuando Cubango: o progresso vem a passos largos naquelas que já foram pejorativamente chamadas de “Terras do Fim do Mundo”. 73 LOCAIS Paraíso turístico do Okavango/Zambeze começa a atrair investimentos. O comboio do CFB chegou, finalmente, ao Luau, na fronteira com a RDC. 90 16 IFAL promete consolidar-se como instituição de referência em matéria de conhecimento e boas práticas na África Austral. 41 Em Caderno Especial, o Nossa Terra faz o levantamento, por inteiro, das actividades da primeira instituição angolana envolvida no combate a fome e a pobreza: o Fundo de Apoio Social. Cuito veste-se de novo. Prestes a completar 90 anos, a antiga cidade de Silva Porto vive momentos de acelerada transformação até na estrutura arquitectónica. 84 LOCAIS A Fazenda Vinevala, no Bié, maior produtora de batata-rena do país, terá este ano uma safra na ordem das 10 mil toneladas. 86 LUANDA EM FOCO A capital angolana tem novo paradigma administrativo que é, no fundo, a antecâmara do futuro Plano Director Geral Metropolitano. 20 MAT actualiza forais das cidades. Um processo que deverá conduzir a mais ajustes na divisão político administrativa do país Mais de mil funcionários do GPL recebem “guia de marcha” para as administrações municipais e novas centralidades. A medida responde a uma orientação do Chefe do Executivo: a vida faz-se nos municípios! 90 OLHAR DO REPÓRTER O jornalista Jaime Azulay viu o Presidente angolano virar uma página de ouro na história de Angola, ao descerrar a placa da nova estação da antiga Vila Teixeira de Sousa. O comboio do CFB chegou, finalmente, ao Luau, na fronteira com a RDC. A Orquestra Sinfónica Kaposoka vai ganhando projecção internacional, tal é o seu impacto na vida de crianças e adolescentes de municipalidades carentes. 102 NOSSA TERRA Retrato das nossas belezas naturais. Nesta edição a Fenda do Bimbe. 104 NOSSO PITÉU Particularidades regionais e étnicas da gastronomia angolana. nossaterra#01 ındex MAIO / JUNHO / JULHO 2015 03 VESTÍBULO Propriedade Ministério da Administração do Território Edição Gabinete de Efemérides e Eventos Institucionais Director Severino Carlos ([email protected]) Redacção Erineu de Jesus, Euclides Tandala, Mirene Cruz, Rui Kandove, Severino Carlos e Valdemiro da Conceição Colaboradores Guilherme Silva, Lourenço Manuel e Sérgio Dias (nesta edição) Colunistas Ismael Mateus e Jaime Azulay Fotografia Joel Benjamin, Inok Cristina, Pinto Zembula e Carlos Roque Revisão Felisbela Ceita Projecto gráfico e direcção de Arte Carlos Roque Periodicidade Trimestral/Maio 2015 Impressão Damer Gráficas, SA – Luanda, Talatona Tiragem 5 mil exemplares Distribuição Centro de Documentação e Informação Endereço Rua do MAT, Complexo Administrativo “Clássicos de Talatona”, Luanda Depósito legal: MCS-746/B/2015 nossaterra#23 destaque SOMOS 24 MILHÕES Luís Filipe Colaço, credenciado especialista em demografia angolana, tira as meças ao dado que pode ajudar a empurrar a locomotiva do desenvolvimento no país 27 Em termos de expectativas do crescimento demográfico esperava este resultado do Censo de 2014? Para ser franco, eram os resultados esperados globalmente por mim, tanto a nível nacional como das províncias. Os resultados preliminares do CENSO 2014 de que disponho são globais e por isso não me permitem ainda avaliar e analisar exaustivamente os dados da população por idade e sexo (ano a ano) e por grupos etários. Espero ansiosamente pelos resultados definitivos, até para saber se as hipóteses que concebi para as inúmeras projecções da população do país que elaborei ao longo destes 40 anos, 13 dos quais como Director do Instituto Nacional de Estatística e os restantes como pesquisador e docente universitário, foram ou não corroboradas pelos resultados do CENSO 2014. Quero aproveitar esta oportunidade para felicitar o INE, sua Direcção, quadros técnicos, trabalhadores, agentes recenseadores e supervisores pelo grandioso trabalho desenvolvido, tanto a nível dos Gabinetes Central, provinciais e comunais, como no terreno, sem o qual não teria sido possível realizar com tanto sucesso o CENSO 2014. Saúdo igualmente, com muito apreço, a colaboração da população residente no país, que manifestou enorme sentido de cidadania atendendo com respeito e simpatia os agentes recenseadores e respondendo a todas as questões colocadas nos questionários. LUANDA CRESCE HÁ CINCO DÉCADAS QUASE DUAS VEZES MAIS DEPRESSA QUE ANGOLA NO SEU CONJUNTO” Tive a oportunidade de dirigir, enquanto Director do INE e Coordenador do Gabinete Central do Censo, em 1983/84, em pleno período de guerra em várias províncias o que impedia a realização dum Censo Geral da População, os Censos Gerais da População das províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Luanda e Namibe e dos Municípios de Malanje, Benguela, Lobito, Baía Farta, Huambo, Cuíto e Lubango. Essa minha experiência profissional permite-me compreender as enormes dificuldades técnicas e logísticas, os sacrifícios pessoais, a paciência e o elevado espírito de equipa que deve ter envolvido todos os órgãos e agentes que realizaram este Censo de 2014 para poderem levar a bom termo o seu trabalho. Os resultados preliminares globais do CENSO 2014, a nível do país e das províncias não foram muito diferentes daqueles que eu previa, porque na ausência, antes de 2014, dum CENSO GERAL DA POPULAÇÃO, elaborei várias Projecções da População, sobretudo para 2010, 2012 e 2014, com base nos Dados do Registo Eleitoral do Ministério da Administração do Território/Comissão Nacional Eleitoral e nos diferentes inquéritos socio-demográficos e eleitorais, nacionais e provinciais que realizei em 2008, 2010, 2011, 2012 e 2014, que me permitiram, sob várias hipóteses subjacentes Nos próximos anos vamos continuar a observar o crescimento da população? Vamos com certeza. Para responder concretamente a esta pergunta, veja-se o Quadro sobre a Evolução da População de Angola e Luanda que mostra claramente que a evolução da população de Angola e em maior escala a de Luanda, crescem exponencialmente há seis décadas, e que esse crescimento exponencial levará no mínimo mais uma década para abrandar, para atingirmos aquilo que em demografia chamamos a “Transição Demográfica”, dado que os fenómenos demográficos ligados à dinâmica populacional (nascimentos, óbitos e migrações) revelam uma grande inércia, ou seja, acções de políticas de população tomadas hoje só surtirão efeito no mínimo 10 anos depois! Desde os anos 60 que Angola quase duplica a sua população todos os 20 anos, enquanto para Luanda a sua população quase duplica todos os 10 anos. Ou seja, Luanda cresce há cinco décadas quase duas vezes mais depressa que Angola no seu conjunto (ver Quadro 2). Quando o INE publicar os dados definitivos do CENSO de 2014 ficaremos a conhecer com nossaterra#01 destaque Va l d e m i r o D i a s 08 O aos resultados desses Inquéritos, estender a população registada eleitoralmente em 2008 e 2012, de 18 anos e mais, para o total da população da nascença à sua extinção, obtendo os resultados que a seguir apresento (ver Quadro 1): Censo 2014 trouxe à tona o que já se suspeitava: o crescimento disparado da população angolana, agora fixada, segundo os dados preliminares já avançados, em mais de 24 milhões. O que isso tem de revigorante ou de pernicioso para Angola ainda não pode ser integralmente avaliado. Contudo, um dos maiores especialistas em demografia no país, Luís Filipe Colaço dá-nos algumas pistas enquanto aguardamos pela divulgação dos resultados definitivos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Antigo director do próprio INE, professor universitário reformado, actual director da Prosensus-Angola, físico e demógrafo, eis as credenciais de Luís Colaço. Quadro1 Diferencial da População. Censo 2014 Projecção 2014 = 2 195 161 PROVÍNCIAS POPULAÇÃO R.E.-MAT/CNE POP TOTAL 2012 P0PULAÇÃO 2014 POPULAÇÃO 18 anos e + (2012) Estimativa Estimativa CENSO 2014 BENGO 140 987 352 468 378 024 351 579 BENGUELA 898 301 1 871 460 1 987 185 2 036 662 BIÉ 560 298 1 218 039 1 295 948 1 338 923 CABINDA 205 691 447 154 479 577 688 285 CUANDO CUBANGO 195 277 424 515 451 668 510 369 CUANZA NORTE 163 953 356 420 379 217 427 971 CUANZA SUL 595 192 1 239 983 1 319 296 1 793 787 CUNENE 325 657 740 130 793 795 965 288 HUAMBO 747 253 1 624 463 1 728 368 1 896 147 HUÍLA 976 826 2 123 535 2 277 508 2 354 398 LUANDA 2 845 543 5 928 215 6 358 059 6 542 944 LUNDA NORTE 399 707 726 740 764 001 799 950 LUNDA SUL 180 025 391 359 416 391 516 077 MALANJE 348 097 740 632 788 004 968 135 MOXICO 282 337 613 776 653 035 727 594 NAMIBE 170 174 369 943 393 606 471 613 UÍGE 533 598 1 159 996 1 234 192 1 426 354 ZAIRE 221 181 460 794 490 267 567 225 TOTAL 9 790 097 20 789 621 22 188 140 24 383 301 Obs: As estimativas da População em 2012 e 2014 foram calculadas com base nos dados do Registo Eleitoral actualizado de 2012, e traduzem portanto apenas os cidadãos nacionais. Os estrangeiros não constavam do Registo Eleitoral. Para além de possíveis desvios consequentes das hipóteses aplicadas para a elaboração das estimativas, o diferencial pode significar, eventualmente, a população estrangeira presente e que foi recenseada no CENSO 2014. Quadro2 Pólos de Atracção das Migrações Província População Luanda 6 542 944 Huíla 2 354 398 Benguela 2 036 662 Huambo 1 896 147 C. Sul 1 793 787 Uíge 1 426 354 Bié 1 338 923 Malanje 968 135 TOTAL 18 357 350 % Angola 75% Fonte: INE, CENSO 2014 09 10 Apesar do aumento da população continuamos a ter contraste em termos da distribuição espacial da população. Como se pode ajustar este para buscar um certo equilíbrio? Os contrastes da distribuição espacial da população em Angola são fruto de factores exógenos, resultantes da própria concepção e estabelecimento da Divisão Político-Administrativa do país e de factores endógenos, que no aspecto demográfico dizem respeito a diferenciais de natalidade e mortalidade (sobretudo infantil e infanto-juvenil) no território e sobretudo migrações internas e internacionais que ocorrem devido à procura de melhores condições de vida das famílias, acrescidas nos últimos 30 anos da instabilidade político-militar derivada da guerra e falta de segurança das pessoas e bens, não só em Angola como também nos países limítro- TANTO EM ANGOLA COMO NOUTROS PAÍSES AFRICANOS, AS MIGRAÇÕES SÃO UM FACTOR DETERMINANTE DOS DESEQUILÍBRIOS EXISTENTES NA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS POPULAÇÕES • Um pólo de Atracção, que será o local ou área de destino da migração; • Um Polo de Repulsão que é o local ou espaço de vida da família ou do indivíduo onde faltam condições de vida, de trabalho, de saúde, de educação, de segurança, entre outros; • A distância entre os dois pólos; • Existência ou escassez de vias e meios de acesso entre os dois pólos, como estradas, pontes, meios de transporte, etc. • Informação sobre as condições de vida existentes no destino pretendido obtida através de familiares ou amigos que já migraram, de notícias e informações obtidas pela Rádio, Jornais, Revistas ou TV. • Existência da Utopia da Migração, a ideia de que vai de certeza encontrar na área de destino o que sonhou ou imaginou e que vale a pena correr os riscos de emigrar. Muitas vezes, a Utopia da Migração resulta da manipulação da informação recebida, que pode ir da “oferta” de bom emprego que posteriormente se revela exploratório ou de proxenetismo, à informação deturpada dos familiares ou amigos que emigraram, falharam na aventura, não realizaram os sonhos e que por vergonha escondem a sua desgraça inventando uma vida de sucesso. O que pode fazer o Estado? • Diminuir paulatinamente os níveis de repulsa dos Polos de Repulsão criando nas áreas de origem postos de trabalho, melhorar as condições de vida através do abastecimento de água potável e de energia, a construção de habitações populares condignas, promover a abertura e desenvolvimento de postos de saúde e de escolas, apoiar a agricultura, pecuária, o pequeno comércio, a indústria artesanal ou a pequena indústria familiar, facilitar o acesso aos principais serviços públicos e aos serviços bancários, desenvolver e facilitar o uso das telecomunicações móveis, da Rádio, da TV, etc. Procurar o apoio das instituições da sociedade civil e das igrejas nestas acções. • Diminuir gradualmente os níveis de atracção dos Polos de Atracção não facilitando alojamento e emprego aos novos migrantes em detrimento dos mais antigos, informando convenientemente e massivamente das dificuldades de vida nos grandes centros urbanos e nas zonas urbanas do litoral e de fácil comércio, informar sobre o aumento da criminalidade e delinquência entre os jovens imigrados que não se integraram na sociedade por falta de instrução e de qualificação, combater o uso excessivo de bebidas alcoólicas e de drogas com que são aliciados os jovens migrantes e procurar integrar através da formação profissional e da educação os que insistem em permanecer no destino desejado. Procurar o apoio das instituições da sociedade civil e das Igrejas nestas acções. De acordo com os resultados preliminares do CENSO 2014 das 18 províncias do país posso definir as 7 principais províncias de destino das migrações, por ordem decrescente, onde residem 75% da população de Angola, sendo os respectivos municípios sede os Pólos de Atracção, conforme mostra o mapa (ver Quadro 3): O que acabei de expôr pode explicar a razão da “urbanização galopante” do país, com as consequências negativas que daí podem advir para a autos-suficiência alimentar. Segundo o INE, os resultados preliminares do CENSO Quadro3 Evolução da População (1940-2014) Ano Luanda Angola % 1940 61 028 3 738 010 1,63% 1950 141 647 4 145 266 3,42% 1960 224 540 4 830 449 4,65% 1970 475 328 5 620 001 8,46% 1983 923 842 7 632 455 12,10% 2000 3 100 000 13 134 000 23,60% 2005 4 110 000 15 300 000 26,90% 2010 5 348 000 17 950 000 29,80% 2012 5 928 215 20 789 621 28,50% 2014 6 543 000 24 383 000 26,80% nossaterra#01 destaque exactidão, para todas as províncias, municípios e comunas, com clareza e fiabilidade, as variáveis que compõem o fenómeno do crescimento da população e que são a natalidade, a mortalidade e as migrações (internas e internacionais) para então podermos estimar as taxas anuais de crescimento populacional para o território e, sob várias hipóteses, elaborarmos as Projecções para o futuro. fes, como por exemplo o Congo Democrático. Se os factores exógenos podem ser analisados e posteriormente ajustados por via de instrumentos jurídicos, por exemplo uma revisão da Divisão Político-Administrativa, já os factores endógenos dependem exclusivamente do conhecimento, comportamento e atitude das famílias e dos indivíduos, que são livres nas suas decisões de migrar, de procriar, de educar os seus filhos e de lhes facultar os cuidados primários de saúde quando eles estão disponíveis, e de procurar melhores condições de segurança para a família. Em minha opinião e de acordo com a minha experiência de estudos demográficos tanto em Angola como noutros países africanos, as migrações são um factor determinante dos desequilíbrios existentes na distribuição espacial das populações num território. As migrações resultam da existência no espaço territorial de dois pólos e de variáveis que interagem com eles: Obs: Os dados de Angola e Luanda de 1940, 1950, 1960, 1970 e 2014 são dos Censos da População. Os de 1983, 2000, 2005, 2010 e 2015 são projecções do Prof.Dr. Luís Filipe Colaço. Os dados de Luanda de 1983 são do Censo da População de Luanda. EM ANGOLA, AS CRIANÇAS SÃO POR VEZES OBRIGADAS A PARTICIPAR COM O SEU TRABALHO NO EQUILÍBRIO DO DÉBIL ORÇAMENTO FAMILIAR 11 MEDIDAS URGENTES DEVERÃO SER IMPLEMENTADAS PARA QUE ESTA MEGALÓPOLE (LUANDA) NÃO AGRAVE AINDA MAIS O JÁ GRANDE PESADELO DE QUEM AQUI VIVE E TRABALHA” Comissão Económica para África das Nações Unidas, com sede em Addis Abeba. Angola tem 24 milhões e 600 mil habitantes, dos quais mais de seis milhões apenas em Luanda. Comente o caso da Província de Luanda. Como atrás foi referido, a julgar pelos resultados dos diferentes Censos Populacionais realizados desde 1940, pelo Censo Populacional de Luanda de 1983, pelo recente CENSO de 2014, e pelos Inquéritos demográficos de Luanda dirigidos por mim no intervalo intercensitário (1983-2014) pode-se estimar que Luanda quase duplica a sua população todos os 10 anos. Esse crescimento deriva de dois factores: o crescimento natural, traduzido pelo saldo entre nascimentos e óbitos e as migrações internas e internacionais para Luanda. Só quando o INE publicar os dados definitivos do CENSO 2014 contendo todos os dados sobre essas variáveis cruciais demográficas, estaremos em condições de calcular de maneira cientificamente válida qual a proporção do crescimento de Luanda derivada do crescimento natural e a percentagem que é consequência dos movimentos migratórios internos e internacionais e suas origens. No entanto, convém ressaltar que as elevadas taxas de mortalidade infantil (0-1 ano) e infanto-juvenil (0-4 anos) observadas em Luanda, implicam altas taxas de fecundidade que estimo conduzirem a uma descendência por um habitat defeituoso e insalubre, que escapava até muito recentemente ao controlo público e à planificação urbana. Do ponto de vista cultural este sector é caracterizado pela existência de grupos sociais heterogéneos, em diferentes estados de aculturação urbana, cuja interacção cria diferentes modelos de comportamentos e atitudes: sincretismo religioso, diferentes formas de poligamia, passagem da família alargada à família nuclear, novas representações de normas e valores, etc. Isto leva-nos a supor que o comportamento das diferentes variáveis demográficas, tais como a fecundidade, a mortalidade, a nupcialidade e as migrações, será igualmente diferenciado no espaço urbano e periurbano de Luanda e segundo o tempo de residência na província. Esperemos pelos resultados do CENSO 2014 para melhor apreender, compreender e avaliar o estado e a dinâmica da população de Luanda e as disparidades e desigualdades culturais, económicas e sociais encontradas no seu espaço geográfico. O Bengo com 351.579 habitantes é a região onde reside menos pessoas do país, contrariamente à capital do país – Luanda. Que análise faz deste facto? A província do Bengo foi criada por Lei na 1ª Revisão da Divisão Político-Administrativa do País (DPA), logo após a independência, creio que em 1976, que criou igualmente as províncias da Lunda Norte e da Lunda Sul e fez alterações na província de Malanje, designadamente no que se refere ao município de Xá Muteba, entre outras disposições de carácter técnico. Fiz parte, com muito orgulho, em representação da Comissão Nacional do Plano (posteriormente Ministério do Planeamento e Coordenação Económica), da Comissão interministerial criada para propor a nova DPA e recordo-me que pesados factores de ordem político-militar, muito importantes e decisivos na altura, pesaram nas decisões então tomadas. Recordo-me igualmente que se previa na altura repor na província do Bengo, na chamada área da Tentativa, a produção da cana-de-açúcar, com apoio da assessoria cubana, e implementarem-se importantes projectos O crescimento demográfico de Luanda, foi fruto até aos nossos dias dum sector marginal em expansão galopante, fisicamente definido por um habitat defeituoso e insalubre, que escapava até muito recentemente ao controlo público e à planificação urbana. nossaterra#01 destaque 12 2014, indicam que 62,3% da população do País é urbana contra apenas 37,7% rural. Por não ter conhecimento da definição do conceito “POPULAÇÃO RURAL” que o INE estipulou para a classificação das vilas e aldeias segundo o tipo de habitat do universo recenseado, não posso fazer uma avaliação mais completa sobre este tema, comparando estes resultados com os de outros Censos ou Inquéritos e dados de outros países africanos. Por ter participado em vários Censos da População em África e América Latina posso no entanto adiantar que os Conceitos de Urbano e Rural variam significativamente segundo os países. Cito a título de exemplo este pequeno extracto do Artigo REFLEXÕES SOBRE OS CONCEITOS DE RURAL E URBANO: IMPACTOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS, dos especialistas e académicos brasileiros Cláudia Chies, Sandra Yokoo e Pollyana Iranzo, “…também se considera que a conceituação de rural e urbano no Brasil, dada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresenta grandes limitações, e que apesar de os pesquisadores da temática reconhecerem este facto, os mesmos não apresentam consenso em seus entendimentos quanto à relação rural/urbano”. Nos Censos Regionais que dirigi em Angola enquanto fui Director do INE (1976-1987) e nos Inquéritos demográficos que posteriormente realizei, optei por utilizar os conceitos recomendados pela Divisão de Estatística da final que se aproxima dos 7 filhos por mulher no termo da sua vida genésica. Tal facto é uma consequência do chamado “Valor Económico da Criança”. Enquanto que nas sociedades economicamente desenvolvidas a criança é um “bem de consumo social”, com elevados custos para a família em educação, saúde e bem-estar, implicando taxas de natalidade reduzidas, nos países pobres ou em vias de desenvolvimento como Angola, ela representa um “investimento produtivo”, sendo obrigadas a participar com o seu trabalho no equilíbrio do débil orçamento familiar (vendedores ambulantes/similares), na protecção e ajuda aos irmãos mais novos e garantindo mais tarde uma assistência social digna na velhice dos pais. Daí as altas taxas de natalidade observadas em Luanda em 1983 e que o CENSO de 2014 seguramente confirmará, que implicam um crescimento natural exponencial da sua população que acrescida da chegada dos migrantes nacionais e internacionais levam a que Luanda tenha atingido a cifra de mais de 6 milhões e quatrocentos mil habitantes em Maio de 2014. O restabelecimento das vias de comunicação rodoviárias fruto dos Acordos de Paz de 2002, a desminagem das estradas e caminhos, o surgimento de novos bairros sociais nos novos municípios e centralidades da província de Luanda e o próprio reagrupamento familiar aceleraram os fluxos migratórios para a capital, cuja taxa de crescimento prevejo ser elevada, enquanto que para algumas Províncias do interior que não são importantes Polos de Atracção ela se prevê ser residual ou mesmo nula. Luanda é hoje o grande desafio demográfico para os planificadores e gestores urbanos, bem como para os decisores políticos. Medidas de carácter técnico, institucional, político e social de gestão do espaço nacional no seu geral e do espaço urbano da província de Luanda foram promulgadas, mas terão que ser urgentemente implementadas para que esta megalópole não agrave ainda mais o já grande pesadelo de quem aqui vive e trabalha. O crescimento demográfico de Luanda, foi fruto até aos nossos dias dum sector marginal em expansão galopante, fisicamente definido 13 • Fecundidade: ISF = Índice Sintético de Fecundidade, que representa a descendência final (ambos os sexos) das mulheres em idade de procriar, no momento. destaque • Agricultura: algodão, ananás, mandioca, banana, rícino, feijão, goiaba, mamão, cana-de-açúcar, sisal, goiaba, café, massambala, palmeira de dendém, hortícolas e citrinos. • Pecuária: carne bovina • Pesca • Minérios: urânio, quartzo, feldspato, gesso, enxofre, caulino, asfalto, calcário-dolomite, ferro e mica. • Indústria: materiais de construção e uma fábrica de refrigerantes. 14 Indicadores muito importantes, agrupados segundo o sexo e os escalões etários, referentes à fecundidade, mortalidade infantil, infantojuvenil e adulta, migrações internas e internacionais, características económicas e da educação, da saúde, da cultura, da habitação, do meio de habitat, etc. terão que ser calculados para posteriormente serem tidos em conta Em minha opinião a província do Bengo é fruto das condições exógenas de sua criação atrás referidas e o seu ajuste demográfico em relação ao todo nacional terá que provir de factores igualmente exógenos. Caberá aos decisores políticos avaliar a melhor solução. Estão criadas as condições para elaborar melhor as políticas públicas? O CENSO 2014 da População e Habitação foi realizado em Maio de 2014, apenas foram publicados os Dados Preliminares, muito globais, e teremos de esperar pela publicação dos dados definitivos e respectivas análises detalhadas, para tirar as importantes e necessárias ilações. Esse trabalho deverá levar ainda algum tempo a ser produzido. Indicadores muito importantes, agrupados segundo o sexo e os escalões etários, referentes a fecundidade, mortalidade infantil, infanto-juvenil e adulta, migrações internas e internacionais, características económicas e da educação, da saúde, da cultura, da habitação, • • • • • Paridez média = Nº médio de filhos por mulher no termo da sua vida genésica. É um indicador retroactivo de fecundidade. TBR = Taxa Bruta de Reprodução, indica-nos a descendência final feminina por mulher, no momento. TBN = Taxa Bruta de Natalidade é a razão entre o número de filhos nascidos vivos nos últimos 12 meses e a população total média em idêntico período. Mortalidade: Taxa Bruta de Mortalidade; Quociente de mortalidade por sexo e idade (probabilidade de sobrevivência); Características do Agregado familiar: composição do agregado por sexo e idade, sua estrutura e dimensão e respectivos parâmetros de tendência central: média, mediana e moda. Grau de parentesco com o chefe de família segundo o sexo. Características da Educação e Cultura: índice de literacia (capacidade de ler e escrever da população de mais de 5 anos), sua distribuição por sexo e idade; distribuição da população matriculada num estabelecimento de ensino por sexo e idade; distribuição da população pelo nível de ensino que frequenta ou o mais alto que completou, por sexo e idade; proporção da população de mais de 5 anos que fala português e as principais línguas nacionais, por sexo e idade; Migrações: Estrutura da população migrante por sexo e grupos de idade, por Província ou país de origem da migração, segundo a nacionalidade, o ano de migração e tempo de residência na província actual. • Características Económicas: distribuição do rendimento das famílias (AKZ) e apresentação das respectivas média e mediana; distribuição da população de 10 anos e mais segundo o sexo e tipo de ocupação (activa, não activa, aposentados, outros); estrutura por sexo e idade da população de 10 anos e mais não-produtiva – estudantes, desempregados, domésticos, militares, outros; estrutura por sexo da população produtiva – empresário/profissão liberal, trabalhador por conta própria, camponês/pescador, vendedor ambulante/similar, funcionário público e empregado; cálculo das principais Taxas das Características Económicas da População: • Taxa Real de Dependência (TDR): É a relação entre a população de 0-14 anos mais a população de 65 anos e +, e os efectivos realmente activos dos 15- 64 anos; • Taxa Demográfica de Dependência (TDD): É a relação entre a população de 0-14 anos mais a população de 65 anos e +, e a população dos 15- 64 anos; • Taxa de Actividade (TA): É a relação entre o número de indivíduos que trabalham (activos) dos 15-64 anos e o número total de efectivos da população dos 15-64 anos; • Taxa de Dependência dos Jovens (TDJ): É a relação entre a população de 0-14 anos e a população dos 15- 64 anos; • Taxa de Dependência dos Idosos (TDI): É a relação entre a população de mais de 65 anos e a população dos 15- 64 anos; • Proporção de Cidadãos Produtivos: É a relação entre o efectivo da população entre os 15-64 anos que trabalha e a população total dessa mesma faixa etária. • Proporção de Cidadãos Não-Produtivos: É a relação entre o efectivo da população entre os 15-64 anos que não trabalha e a população total dessa mesma faixa etária. Que desafios económicos e sociais se impõem agora para o Executivo Angolano face ao resultado do Censo 2014? Os desafios são os mesmos, já conhecidos e LUANDA É HOJE O GRANDE DESAFIO DEMOGRÁFICO PARA OS PLANIFICADORES E GESTORES URBANOS, BEM COMO PARA OS DECISORES POLÍTICOS. reflectidos no Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) para 2013-2017, que iniciou um novo ciclo da história e experiência do sistema de planeamento de Angola e que é o primeiro plano de médio prazo elaborado no quadro da nova Constituição do País e após a aprovação da Lei de Bases Gerais do Sistema Nacional de Planeamento, situando-se no meio-percurso da Estratégia Nacional de Desenvolvimento de Longo Prazo “Angola 2025”. Os Dados Finais do CENSO 2014, o respectivo estudo e análises, quando estiverem concluídos e publicados, o que levará o seu tempo, irão com certeza contribuir para o ajustamento de algumas variáveis e indicadores, com a possível revisão de metas, que serviram de base à elaboração do PND 2013-2017 e ao documento da Estratégia Nacional de Desenvolvimento de Longo Prazo “Angola 2025”. Como poderão estar reflectidos os resultados do CENSO 2014 no presente OGE 2015? Como se sabe, o INE ainda só publicou os Dados Preliminares do Censo, muito globais e genéricos, enquanto o Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2015 foi preparado com muita antecedência, aprovado na generalidade no dia 25 de Fevereiro, esteve em discussão nas comissões de especialidade do Parlamento com os membros do Executivo, tendo o Orçamento Geral do Estado Revisto 2015, ido a votação final nos finais de Março de 2015. Não teria nunca sido possível os dados recolhidos no CENSO 2014, que não estão ainda processados, analisados e publicados, terem sido considerados na elaboração do OGE de 2015. Talvez isso venha a ser possível para o OGE de 2016. nossaterra#01 do meio de habitat, etc. terão que ser calculados para posteriormente serem tidos em conta pelos decisores políticos, governamentais, empresariais, investigadores e académicos, entre outros. Cito a título de exemplo: nt agro-pecuários na bacia do Kwanza-Bengo. No entanto, a situação de segurança de pessoas e bens agravou-se com o passar do tempo, a população com mais qualificação imigrou para Luanda, os projectos agrícolas não se concretizaram e na província ficou essencialmente a população camponesa e a mais envelhecida. A província dispõe de muitos recursos naturais, mas que para serem explorados necessitam de estudos de viabilidade, investimentos públicos e privados, quadros técnicos, gestores capacitados, etc. que não são fáceis de atrair, mobilizar e fixar, como os seguintes: 15 Mais academia de liderança IFAL promete levar mais governadores provinciais aos “bancos da escola” e consolidar-se como instituição de referência em matéria de conhecimento e boas práticas na África Austral M QUATRO MIL FUNCIONÁRIOS BENEFICIARÃO DE ACÇÕES FORMATIVAS INSERIDAS NO PLANO ESTRATÉGICO GERAL 2015-2019 DO IFAL provinciais, administradores municipais e inspectores provinciais. Foram definidas 17 acções de formação direccionadas à capacitação de 360 quadros, dirigentes e responsáveis da Administração Local. Para o ano em curso, as referidas acções formativas terão início a 4 de Maio e terminarão a 27 de Novembro, perfazendo uma carga entre 90 a 150 horas, num período de três a cinco semanas. Durante a abertura do ano lectivo, feita pelo Secretário de Estado da Administração do Território (MAT), Fernando Pontes Pereira, Albano Pedro explicou que, tal como nos anos anteriores, os governadores e os vice-governadores frequentarão a Academia de Liderança (AL), ao passo que os secretários provinciais participarão no curso de Apoio Técnico à Alta Direcção. Já os directores provinciais beneficiarão de programas ligados à Direcção da Administração Local, ao passo que os gestores municipais e de unidades urbanas I e II, bem como os inspectores beneficiarão de programas de Fiscalização e Inspecção. O Director Geral Adjunto do IFAL deu a conhecer também que serão desenvolvidos cursos para administradores municipais, técnicos médios e superiores admitidos recentemente na função pública. Formação diversificada Entre os cursos programados constam os das categorias transversal, formação inicial, profissionalizante e outros. No que tange à formação transversal, serão ministradas matérias ligadas aos cursos de Atendimento ao Público, Actividades e Procedimentos Administrativos, Expediente e Circulação de Informação, Ética e Deontologia e Arquivo destinado aos funcionários da Administração Local. Relativamente à formação inicial, destinada igualmente a funcionários da Administração Local, prevêem-se cursos de Introdução ao Serviço Público para governadores provinciais, administradores municipais, técnicos médios e superiores. nossaterra#01 pordentroIFAL Ireneu de Jesus Projectado Plano Estratégico Geral para 2015-2019 ais de 300 altos dirigentes e funcionários da Administração Local do Estado serão formados ao longo do ano lectivo em curso pelo Instituto de Formação da Administração Local (IFAL), em matérias ligadas às suas áreas de actuação, para o melhoramento da suas performances – anunciou em Luanda o Director Geral Adjunto desta instituição para a área de formação, Albano Carlos. Este número consta de um total de mais de quatro mil funcionários que beneficiarão de acções formativas inseridas no Plano Estratégico Geral 2015-2019 do IFAL, com o qual o instituto pretende assumir-se, definitivamente, como instituição de referência em matéria de conhecimento e boas práticas na região austral de África. Uma vez mais, tais cursos serão dirigidos a governadores provinciais, vice-governadores, secretários provinciais, directores Plano estratégico 2015-2019 Esse é o programa que consta da agenda do IFAL, para o quinquénio em referência. Mas, afinal, o que é o Plano estratégico? O IFAL define-o como sendo a sistematização das actividades do Instituto de Formação da Administração Local, com vista ao alcance dos objectivos desse período. O aludido Plano tem a missão de assegurar o processo de aperfeiçoamento e modernização da Administração Local, através da for- 17 18 NO QUE CONCERNE À VISÃO PARA O FUTURO, O IFAL PRETENDE SER UMA INSTITUIÇÃO DE REFERÊNCIA NACIONAL E REGIONAL NA FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA” mação, investigação e assessoria técnica, em parceria com organizações congéneres, para melhor responder aos desafios da Administração Local e Autárquica e melhorar a qualidade de vida das populações locais. No que concerne à visão para o futuro, o IFAL pretende ser uma instituição de referência nacional e regional na formação e qualificação de funcionários da Administração Pública, liderando os processos de modernização e formação da Administração Local, com rigor e excelência nos serviços prestados, em parceria com organizações congéneres. Sobre os valores a serem adoptados, destacam-se, em primeiro lugar, a aprendizagem permanente, com responsabilidade, competência, excelência, ética, inovação, abertura e profissionalismo. “Responsabilidade, Competência e Excelência” continua a ser o lema e divisa do IFAL. Banco de inovação e conhecimento Dentro da máxima segundo a qual “a informação e o conhecimento são os principais activos das organizações”, o IFAL elegeu como objectivos gerais do seu Plano Estratégico proporcionar conhecimento de alta qualidade para a tomada de decisões de gestão e para a elaboração de políticas públicas relacionadas com o poder local. Com base nesta estratégia, será promovido e impulsionado o estabelecimento de um sis- tema de conhecimento e o desenvolvimento de redes de pesquisa em políticas públicas, em colaboração com escolas, instituições, universidades e académicos versados em tais domínios. Em termos mais concretos, objectiva-se construir um banco de inovação e conhecimento – no fundo, uma infra-estrutura onde se englobe uma rede de conexões entre pessoas, facilitando a sua interacção e colaboração. Segundo os responsáveis do IFAL, será um sistema de transferência de conhecimentos da instituição. Um repositório on-line que permitirá a “geração, captura, acesso e difusão” de conhecimentos úteis e valiosos para a instituição. Permitirá ligar as pessoas com a informação e conhecimentos, contribuindo assim para a melhoria da organização. Os seus usuários serão trabalhadores e alunos da instituição. Além da criação deste banco, o IFAL perspectiva também fundar um centro de pesquisas cuja missão específica será fomentar a produção de conhecimentos e actividade de investigação aplicada à Administração e Autárquica. O Plano Estratégico ambiciona também colocar o IFAL como centro de referência em inovação pedagógica, isto é, incorporando as inovações que facilitam a aprendizagem on-line e presencial. O IFAL é dirigido por um director geral (Ismael Mateus, na foto), coadjuvado por dois directores gerais-adjuntos, que constituem o Conselho Directivo. Além do Conselho Directivo, há um Conselho Pedagógico e Serviços Centrais de Apoio Técnico e Administração. O IFAL como é Única instituição do género no país, o IFAL é geralmente percepcionado pelo público em geral como um dos principais “pulmões” do MAT em matéria de formação. Não é por acaso que no ano passado foi distinguido com um prémio de excelência no domínio das instituições públicas. Criado à luz do Decreto-Lei nº 24/02, de 30 de Abril, do Conselho de Ministros, este instituto adstrito ao Ministério da Administração do Território (MAT) está vocacionado para a formação de quadros para a carreira pública, execução da política de aperfeiçoamento e modernização da Administração Local do Estado e da Administração Autárquica. O IFAL localiza-se em Talatona, município de Belas (Luanda), tendo sido inaugurado pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, aos 3 de Maio de 2002. Tem como missão específica a organização, realização e formação de seminários de aperfeiçoamento técnico e estágios destinados a dirigentes, responsáveis, técnicos e funcionários da Administração Local do Estado e Autárquica. Ministra cursos de formação técnica e profissional dirigidos ao público em geral em diferentes áreas. Promove igualmente cursos de formação e capacitação para ingresso e ascensão na carreira administrativa local, assim como cursos de formação média de Administração Local e Autárquica O seus valores assentam na “competência, responsabilidade e excelência”, tendo também a incumbência de promover a melhoria dos serviços prestados pelos órgãos da Administração Local do Estado e das Autarquias Locais aos cidadãos, às comunidades e outras pessoas colectivas, incluindo os serviços municipalizados. nossaterra#01 Durante o quinquénio 2015-2019, o IFAL vai constituir um observatório de boas práticas na Administração Local para identificar políticas inovadoras desenvolvidas por instituições em diferentes campos da Administração Local, tanto angolanas como internacionais. Com ele, o IFAL pretende assumir uma posição de referência, disponibilizando à Administração Local os instrumentos que lhe permitam conhecer as entidades que se tornam “Centros Líderes” devido ao seu empenho excelente na adopção e gestão de políticas públicas com impacto local. Numa vertente mais abrangente, trata-se de criar uma Comunidade de Conhecimento em Administração Pública na África Austral como espaço de aprendizagem e de intercâmbio de experiências e investigação. O seu propósito específico é o reforço da cooperação institucional através da investigação. Na base de confiança mútua, a comunidade partilhará o conhecimento gerado em matéria de administração pública e as boa práticas existentes no estabelecimento de projectos multilaterais. A ideia é fazer com que a partir de lideranças inovadoras e transformadoras de redes de peritos e investigadores se possa consolidar uma comunidade de conhecimento e investigação na África Austral. Estrutura orgânica O IFAL é dirigido por um director geral, coadjuvado por dois directores gerais-adjuntos, que constituem o Conselho Directivo. Além do Conselho Directivo, há um Conselho Pedagógico e Serviços Centrais de Apoio Técnico e Administração. Integram-no ainda os departamentos Administrativo e Serviços Gerais, Gabinete de Consultoria, Divisão Administrativa e de Expediente Geral, Secção de Gestão de Recursos Humanos, de Finanças e Orçamento, Património e Transportes, Departamentos para os Assuntos Académicos e Pedagógicos e Divisão de Formação, Capacitação e Ensino. Para o seu melhor funcionamento, esse instituto conta ainda com áreas de Formação Académica, Gabinete de Estudos e de Apoio ao Director-Geral, Divisão de Estudos e Assistência Jurídica, Secção de Documentação, Cooperação e Intercâmbios, Secção de Relações Públicas, Comunicação e Imagem. O IFAL está representado em Benguela, Huambo e Lunda-Sul. Prevê criar, para breve, outro centros regionais no Cuanza-Norte, Uíge e Huíla, que agregarão três províncias circunvizinhas, segundo anunciou em Ndalatando, o director geral-adjunto do IFAL, Samuel Pinocas. nt pordentroIFAL Observatório de Boas Práticas 19 O 20 O Ministério da Administração do Território (MAT) está a proceder a um estrito inventário e actualização dos Forais das Cidades, documento que indica os limites de um território. Esse trabalho permitirá estabelecer uma classificação mais rigorosa das cidades, vilas e povoações existentes no território nacional. Além de servir, por outro lado, para melhor definição da estrutura organizativa das sedes capitais. Está envolvida nessa operação a Direcção Nacional de Organização do Território (DNOT), adstrita ao MAT, que trabalha em articulação com o Ministério do Urbanismo e Habitação. Para delimitação rigorosa de cada unidade territorial, estão a ser usados sofisticados meios tecnológicos de geração recente envolvendo, inclusivamente, cálculo e observação por satélite. Este trabalho também se enquadra num desígnio mais geral perseguido pelo MAT de NO TERRITÓRIO ANGOLANO HÁ ESPAÇOS PEQUENOS SOBREPOVOADOS, DE UM LADO, E VASTOS ESPAÇOS DESPOVOADOS DE OUTRO” reforma da Administração Local do Estado, promovendo a sua optimização e autonomização de modo a elevar o desempenho dos órgãos provinciais e municipais. O aumento da população angolana, sancionado pelos dados preliminares do Censo da População e Habitação realizado em 2014, tornou mais imperiosa a necessidade de se completar a actualização dos forais das cidades para que se possa projectar o futuro de maneira mais eficiente. Este é , entretanto, um processo que deverá conduzir, seguramente, a um ajustamento da divisão político-administrativa, algo, de resto, que já anda a ser devidamente amadurecido pelo Ministério da Administração do Território. A DNOT está a confrontar a base cartográfica já existente com a descrição dos limites geográficos contidos num documento que data da era colonial, a Portaria nº 18.137-A, de 13 de Dezembro de 1971. Nesse mesmo sentido vão também as in- dicações dadas pelo demógrafo angolano Luís Colaço. Em importante entrevista que se pode ler nesta edição de arranque da revista NOSSA TERRA, ele também se refere à necessidade de um ajustamento da divisão político administrativa do país, cuja justificação, entre muitos factores, começa pelos contrastes de densidade demográfica que se verificam no território nacional. Baixa densidade populacional No território angolano há espaços pequenos sobrepovoados, de um lado, e vastos espaços despovoados de outro. Mas globalmente Angola possui actualmente uma densidade populacional de somente 19 habitantes por quilómetro quadrado. E sobre este assunto pronuncia-se também o sociólogo Paulo de Carvalho que, referindo-se à densidade populacional em Angola, diz ser “tão baixa que dá dó constatarmos haver países com com mais de 500 pessoas por quilómetro quadrado”. O sociólogo traz à liça e compara realidades de países como o Bangladesh, por exemplo, cuja densidade está cifrada em “A DENSIDADE POPULACIONAL EM ANGOLA É TÃO BAIXA QUE DÁ DÓ” 1.002 habitantes por quilómetro quadrado. Indica igualmente os casos da Coreia do Sul que tem 491; a China que tinha 137 habitantes por quilómetro quadrado em 2007 e Portugal que tem hoje 115, enquanto o Brasil tem 23,8. Ainda assim, Paulo de Carvalho assinala que de um modo geral Angola está no bom caminho em termos de crescimento populacional, e que isso é à partida benigno para o país. “Penso estarmos no bom caminho em termos demográficos – um caminho rumo a estabilidade e ao crescimento regular da população, depois de décadas de guerras e após muitos anos de exportação de mão-de-obra para outras paragens do globo terrestre”, sentenciou o sociólogo. Quanto aos efeitos desse crescimento para a estrutura económica e social de Angola, ele assegura que serão benéficos “se soubermos fundamentalmente investir na formação dessas pessoas”. “Só a difusão do conhecimento poderá fazer com que aumente o índice de bem-estar e de felicidade nas famílias angolanas, tanto do meio urbano, quanto do meio rural”, rematou. nt Um processo que deverá conduzir à melhoria da organização das unidades urbanas nossaterra#01 dinâmicaMAT SEVERINO CARLOS MAT actualiza forais das cidades 21 O assunto ganha interesse numa altura em que o MAT esboça medidas que irão melhorar o relacionamento com estes entes locais e conferir-lhes maior dignidade A 22 questão das Autoridades Tradicionais e Comunidades Tradicionais em Angola tem vindo, nos últimos tempos, a preencher uma parte significativa da agenda política, a nível das instituições do Estado, como das organizações da sociedade civil, no quadro de um debate que procura equacionar o problema do enquadramento e/ou adequação destas Autoridades e Comunidades Tradicionais no ordenamento jurídico e níveis de governação. Este assunto está a ganhar grande interesse no contexto da discussão actual sobre o Poder Local e Descentralização Administrativa em Angola, principalmente com o advento da implantação das futuras Autarquias Locais. Consideram-se três níveis de chefia das Autoridades Tradicionais para a sua articulação: Soba Grande (que corresponde ao Regedor); Soba e Coordenadores de bairro. Em algumas regiões existem Reis e Rainhas (Uíge, Huambo, Lundas). Noutras provinciais (Cabinda) OS CHEFES DE ZONA MAIS OS COORDENADORES FUNCIONAM COMO ADJUNTOS DOS SOBAS E ARTICULAM-SE DIRECTAMENTE COM OS REGEDORES” ainda, existe o Chefe de Zona ao nível das aldeias. Basicamente, os chefes de zona mais os coordenadores funcionam como adjuntos dos sobas e articulam-se directamente com os regedores. É a este conjunto de chefaturas tradicionais a quem o Executivo atribui subsídios mensais. Inicialmente só os regedores é que recebiam tais subsídios e isso criou tensões e ressentimentos, o que levou a que o Executivo revisse rapidamente esta situação, passando a atribuir subsídios a todos. A constatação actual do MAT é de que continuam a existir conflitos à volta dos subsídios e fardas. A atribuição de subsídios mensais tem estado na origem do surgimento exponencial de “novas” autoridades tradicionais com elevadas expectativas de ganharem mais subsídios do Executivo sem no entanto estar claro qual o seu real papel. Na sua agenda para este ano, o Ministério da Administração do Território (MAT) elencou, particularmente, actividades que tenderão a dar maior dignidade social e bem-estar económico a este importante segmento da Administração Local. A Direcção Nacional de Administração Local (DNAL) propôs-se efectuar um estudo empírico sobre a caracterização das diferentes Autoridades Tradicionais e sua interação com as respectivas comunidades, com os seus confrades e com a Administração local do Estado. A ideia é a de obter dados que permitam aferir a real situação do poder tradicional para, deste modo, desenvolverem-se os meios e implementar serviços visando conferir melhorias no bem-estar económico das famílias xão profunda durante o terceiro encontro nacional das autoridades tradicionais, incluindo a emissão de uma legislação das autoridades tradicionais para melhor delimitar a sua actuação e revisão da política de continuidade ou não da actual modalidade de pagamento de subsídios às autoridades tradicionais. Uma reflexão idêntica deve ser feita à volta da utilização do uniforme comum para todas as autoridades tradicionais. Recorde-se que, no desígnio de conferir maior dignidade às autoridades tradicionais foi criada, no novo edifício que alberga o MAT, nos “Clássicos de Talatona”, em Luanda, uma área de trabalho que lhes está exclusivamente reservada , equipada, inclusivamente, com as novas tecnologias de informação. Só este aspecto diz bem sobre o quão longe o Executivo pretende ir para melhorar a vida e dignificar as autoridades tradicionais. No mesmo âmbito, de resto, é que o MAT também está a verificar outros mecanismos de incentivo que poderão passar por eventuais trocas de experiência entre os reinos nacionais e internacionais. Mais de 8 mil no cadastro Até ao momento foram cadastradas no país 8.306 autoridades tradicionais, designação que no sistema de poder tradicional em Angola abrange os Reis, Sobas e Sekulos. A cifra tenderá a subir porquanto o cadastramento é um processo que continua a fazer-se. Alguns dados disponíveis no Ministério da Administração do Território, referentes às províncias de Benguela, Bengo e Bié, podem ser vistos no quadro em baixo. Curiosamente, afinal, temos também mulheres entre as autoridades tradicionais, principalmente na província do Bengo. Outro dado curioso, embora não venha expresso na tabela, é a subida do nível académico. Tanto quanto se sabe, o actual titular do reino do Bailundo está a licenciar-se em Direito. nossaterra#01 Quadro geral da sua articulação com os órgãos locais e das comunidades. Outro projecto já delineado prende-se com o estudo em torno das comunidades étnicas minoritárias em Angola. Por razões de vária ordem, as comunidades étnicas, em Angola, sejam elas ditas “bantu” ou “não bantu”, carecem ainda de estudos; ou seja, requer-se um olhar especializado e sério que, partindo, do “interior”, reflicta sobre questões várias, entre as quais, aquelas que se prendem com o poder (seja este identitário, de género ou, ainda, de origem de pertença). Um dos objectivos desse estudo é o de mapear os grupos étnicos, particularmente os minoritários, e fornecer dados que permitam ao Estado responder, eficazmente, em prol do desenvolvimento das comunidades. Perceber os modelos de participação das Autoridades Tradicionais, de acordo com a diversidade cultural, na mitigação e resolução de conflitos, dentro e fora das comunidades que representam, constitui, também, uma preocupação em torno de um projecto a desenvolver, em parceria com áreas departamentais de instituições congéneres. Os subsídios atribuídos às Autoridades Tradicionais, bem como o modo como, nalguns lugares, são distribuídos constituem uma preocupação do Executivo. O MAT pretende que os Governos Provinciais procedam, com urgência, à abertura de contas bancárias para todas as Autoridades Tradicionais. Um exemplo concreto desta medida é o estudo conjunto com o Governo do Cuanza-Norte com vista à abertura de um banco, no Município da Banga. Sobre este e outros assuntos, os próprios representantes do poder tradicional no país, terão uma palavra a dizer num fórum que lhes diz particularmente respeito: o 3º Encontro Nacional das Autoridades Tradicionais, cuja realização se prevê ainda para o ano em curso. O MAT considera que a questão das autoridades tradicionais afigura-se como sendo complexa, e como tal, sugere que uma refle- ATÉ AO MOMENTO FORAM CADASTRADAS NO PAÍS 8.306 AUTORIDADES TRADICIONAIS, DESIGNAÇÃO QUE NO SISTEMA DE PODER TRADICIONAL EM ANGOLA ABRANGE OS REIS, SOBAS E SEKULOS” nt dinâmicaMAT AUTORIDADES TRADICIONAIS Províncias Locais do levantamento Autoridades cadastradas Autoridades do sexo feminino Autoridades do sexo masculino Benguela 9 Municípios e 36 Comunas 905 12 893 Bengo 6 Municípios e 23 Comunas 430 46 384 Bié 9 Municípios e 39 Comunas 1975 6 1969 23 24 Onde começa a cidadania Sob a égide do MAT começou a discussão pública da lei que promete dar ao cidadão maior participação nos assuntos da sua comunidade O Ministério da Administração do Território (MAT) deu início, em Luanda, à discussão pública da Proposta de Lei Orgânica sobre a Comissão de Moradores, com vista a criar uma maior participação dos cidadãos na gestão dos assuntos das respectivas comunidades. Bornito de Sousa fez a apresentação dos objectivos da discussão pública da referida proposta de lei, tendo referido na ocasião que, no futuro, ao nível dos municípios serão criadas autarquias locais, órgãos que abarcam as autoridades tradicionais e outras formas de organização dos cidadãos que constituem o poder local. O Ministro disse tratar-se da organização e estruturação dos bairros e povoações e o modo de participação e intervenção dos cidadãos na resolução dos problemas da comunidade. Nestes escalões, segundo o governante, colocam-se os problemas do dia-a-dia de interesse imediato dos cidadãos e das empresas, tais como o abastecimento de água, energia eléctrica, recolha de resíduos sólidos, saneamento básico, entre outros. “Daí que a proposta visa introduzir o debate sobre todas essas situações relacionadas com a intervenção dos cidadãos ao nível dos seus locais de residência”, explicou Bornito de Sousa. Por seu turno, ao Secretário de Estado para os Assuntos Institucionais do MAT, Adão de Almeida, coube a apresentação da proposta de Lei Orgânica sobre a Comissão de Moradores”, perante uma assistência composta por INTRODUZIR O DEBATE SOBRE TODAS ESSAS SITUAÇÕES RELACIONADAS COM A INTERVENÇÃO DOS CIDADÃOS AO NÍVEL DOS SEUS LOCAIS DE RESIDÊNCIA” COMISSÕES DE MORADORES: RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS COMUNS, A PARTICIPAÇÃO ACTIVA NA VIDA DA COMUNIDADE, A PROMOÇÃO DA SOLIDARIEDADE E DA COOPERAÇÃO dos órgãos sociais das Comissões de Moradores. Entretanto, convidado no encontro para falar da “Natureza e enquadramento da Comissão de Moradores no âmbito do Poder Local, o jurista Carlos Feijó notou que a Constituição angolana de 2010 prevê a participação dos cidadãos nas diferentes tarefas do Estado como um elemento fundamental da concretização do princípio democrático. Segundo o jurista, a densificação do conceito constitucional de Poder Local, previsto no número 2 do artigo 213 da Constituição, compreende, para além das Autarquias Locais e das instituições do Poder Tradicional, “outras modalidades específicas de participação dos cidadãos”. Notou que essa disposição constitucional impõe a definição de um regime jurídico de base e quadro capaz de criar as condições para uma maior e efectiva participação dos cidadãos na gestão dos assuntos das respectivas comunidades. O jurista lembrou que, até agora, as comissões de moradores não passam de associações de direito privado e com a aprovação da lei passam a ter personalidade jurídica pública. Mas para tal haverá atribuição de competências e uma delimitação rigorosa territorial e funcional. nossaterra#01 Comissão de Moradores a debate governadores provinciais, deputados, entre outras individualidades. Segundo o responsável, as comissões de moradores têm como objectivos a resolução de problemas comuns, a participação activa na vida da comunidade, a promoção da solidariedade e da cooperação na comunidade, bem como a defesa dos interesses comuns dos moradores. Sublinhou que o exercício das atribuições e competências obedece ao princípio da subsidiariedade em relação aos órgãos da Administração Local do Estado e das Autarquias Locais em matérias como a limpeza e manutenção de espaços verdes e ruas, controlo da construção ilegal e da ocupação ilícita de prédios rústicos, vigilância sanitária, entre outros. Disse que não é permitida a criação de uma comissão de moradores na mesma circunscrição territorial, em obediência ao princípio da unicidade. Adão de Almeida revelou ainda que a proposta de lei prevê a tutela administrativa sobre as comissões de moradores, que consiste na verificação do cumprimento das regras e procedimentos para a sua criação e na verificação do cumprimento da lei. Adiantou que o Poder Executivo pode, em caso de violação grave da Constituição, das leis em vigor e da democracia interna, determinar a destituição nt dinâmicaMAT o jurista Carlos Feijó notou que a Constituição angolana de 2010 prevê a participação dos cidadãos nas diferentes tarefas do Estado como um elemento fundamental da concretização do princípio democrático. Ao lado, Adão de Almeida 25 O ministro da Administração do Território declarou que o atraso no planeamento urbanístico das cidades tem provocado dificuldades na regularização do problema dos terrenos no país 26 egundo o governante, que falava no encerramento do seminário municipal sobre ocupação de terrenos, em Viana, o referido atraso leva os cidadãos a anteciparem-se buscando soluções por si próprios, nem sempre as mais correctas. Deste modo, frisou, estão a ser tomadas medidas no sentido de organizar toda a cadeia de planeamento, desde o Plano Director Geral Metropolitano da cidade de Luanda ao Plano Estratégico de Desenvolvimento da província de Luanda e Planos Directores Municipais. Bornito de Sousa referiu ser também importante que a nível da administração se avancem programas de loteamento de terrenos, quer para auto-construção, como para O seminário sobre ocupação de terrenos viu ilustrada a sua importância e urgência na quantidade e qualidade dos presentes Em Icolo e Bengo pede-se mais fiscalização A saída para o problema das ocupações ilegais de terrenos não passa somente pelas Demolições de casebres O s participantes no seminário sobre a ocupação ilegal de terras, realizado no município de Icolo e Bengo, em Luanda, concluíram haver necessidade de reforçar a fiscalização para inibir os oportunistas que se dedicam à ocupação ilegal de terrenos. Os 400 participantes reconheceram que a terra é propriedade do Estado, devendo por isso ser usada pelo Governo para execução de projectos sociais que sirvam para o desenvolvimento das comunidades. A necessidade do reordenamento das terras, estruturadas e colocadas ao serviço das políticas do Estado para o desenvolvimento sustentável das populações, foram também defendidas pelos participantes. Durante o encontro, o Administrador Municipal, Adriano Mendes de Carvalho, recordou que ninguém deve intitular-se detentor de terras sem prévia autorização das autoridades locais, devendo, sim, procurar a administração para os procedimentos legais de direito de superfície. Segundo o responsável, é um contra-senso possuir-se grandes hectares de terras e não aproveitá-las de acordo com a solicitação feita na implementação de vários projectos, colocando em seguida outras estruturas que não têm nada a ver com o projecto inicial. Por outro lado, disse que quem tiver terras em Icolo e Bengo deverá pagar os respectivos emolumentos, que de alguma forma contribuem para o crescimento socioeconómico da municipalidade e dos cofres do Estado Angolano. nossaterra#01 JÁ SABEMOS QUE NÃO SE PODE FAZER UMA BOA GESTÃO SEM RECURSOS, QUE VIRÃO NALGUNS CASOS DIRECTAMENTE DO ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO, NOUTROS CASOS VIRÃO DA COMPARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS, DAS COMUNIDADES E DAS EMPRESAS, NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS BÁSICOS DE QUE ELES SERÃO OS PRÓPRIOS DESTINATÁRIOS” nt É urgente melhorar o planeamento urbanístico S nt dinâmicaMAT Problemática da ocupação ilegal de terrenos promoção de empreendimentos habitacionais, industriais e de outros fins. “ É preciso em todo esse processo haver uma demonstração do exercício de autoridade, pois democracia sem autoridade é anarquia”, sublinhou. No caso de Luanda, disse estarem em curso algumas medidas, como a organização da administração e gestão dos municípios e das cidades, nomeadamente através da integração e capacitação de quadros de direcção e de responsabilidade e os quadros técnicos para servirem e cumprirem cabalmente as necessidades dos cidadãos, das empresas e das comunidades. Bornito de Sousa avançou igualmente que algumas diligências estão a ser feitas no sentido de se encontrar recursos financeiros para gestão desses municípios, cidades e centralidades. O seminário sobre a problemática da ocupação de terrenos resulta das orientações saídas do Encontro Nacional que analisou esta situação, decorrido em Luanda nos dias 1 e 2 de Dezembro de 2014, que perspectivou a continuidade dos debates em todo o país, envolvendo além dos vários órgãos do Estado, autoridades tradicionais e demais intervenientes. O município de Viana, dos mais populosos do país, é também dos mais problemáticos em termos de ocupação ilegal de terrenos, o que tem provocado sérios constrangimentos na actuação da Administração Local. 27 Festa da Paz foi no Moxico Já se passaram 13 anos desde que em Angola calaram-se as armas imperando, desde então, a paz que os angolanos tanto ansiaram. A 28 efeméride foi assinalada na província onde “tudo” aconteceu: a morte de Jonas Savimbi, com o consequente colapso da UNITA militarista, abrindo caminho para a assinatura dos Acordos de Paz a 4 de Abril de 2002. E, assim, todos os caminhos foram dar à capital do Moxico, Luena, já cognominada como a “Cidade da Paz”, que teve a primazia de acolher a festa central do armistício angolano. Coube ao Vice-presidente da República, Manuel Domingos Vicente, presidir tão nobre acto que simbolizou igualmente a consolidação da reconciliação nacional e o aprofundamento da democracia no país. TODOS OS CAMINHOS FORAM DAR A LUENA, JÁ COGNOMINADA COMO A “CIDADE DA PAZ” Junto com o Vice-presidente angolano, estiveram no Luena não somente diversos membros do Executivo, entre os quais o Secretário de Estado do Ministério da Administração do Território, Adão de Almeida, como várias individualidades políticas, entre deputados e representantes de vários dos principais partidos da Oposição. Várias denominações religiosas juntaram-se à festa para mostrar a sua gratidão a Deus por tamanha bênção proporcionada ao Povo Angolano. Foi depositada uma coroa de flores no monumento erigido para assinalar a paz, tendo a ocasião se prestado igualmente a inaugurações diversas. Foram os casos de vinte residências para professores universitários, uma escola do II ciclo do ensino secundário e um centro de formação profissional básica. Luena efusiva e festiva foi também palco de várias manifestações culturais. Os seus habitantes folgaram e dançaram. nt reportagem ONDE TUDO ACONTECEU HÁ 13 ANOS FOI DEPOSITADA UMA COROA DE FLORES NO MONUMENTO ERIGIDO PARA ASSINALAR A PAZ Adolescentes hoje, homens e mulheres amanhã. Eles vislumbram o futuro radioso de um país que deixou definitivamente para trás o rastilho e o cheiro a pólvora N 30 o seio da juventude nascida em 2000, dois anos antes da morte em combate do antigo líder da UNITA, Jonas Savimbi, a 22 de Fevereiro de 2002, nas matas de Lucusse (Moxico), ter dado lugar à assinatura dos Acordos de Paz de Luena, há um forte sentimento de optimismo e esperança no futuro de Angola. Conhecida genericamente como a “Geração da Paz”, ela vive um período de graça e bonança que a anterior geração, testemunha dos eventos mais dramáticos da recente História de Angola que foram a agressão externa pela África do Sul durante o regime do apartheid e o conflito armado interno, não teve o privilégio de gozar. São pequenos homens e mulheres que hoje encaram e desfrutam a vida com todo o entusiasmo, dispostos a tirar dela o melhor, sem aquele nó na garganta quase perene que marcou os mais velhos e o escritor Pepetela glosou como a “utopia”. Em “prosa“ com NOSSA TERRA, alguns destes jovens dizem estar a nt reportagem IRENEU DE JESUS Geração da Paz viver os melhores momentos das suas vidas. Apesar da idade tenra, o seu discurso foi amadurecido pela paz. Eles acreditam numa Angola desenvolvida, onde os cidadãos vivam felizes. E não obstante muita gente graúda pensar o contrário, eles não são tão omissos quanto aparentam às questões mais vitais e cruciais para o desenvolvimento do país em que vivem hoje. Podem, na verdade, não ter a seiva revolucionária que caracterizou a gesta dos maisvelhos, quando estes se bateram de armas na mão pela liberdade e independência do país, ou quando mais tarde, também de armas em punho, tiveram de conter, por exemplo, a horda do exército do apartheid a fim de preservar a integridade do território nacional. Pode ser assim, mas eles estão bastante atentos ao que se vai passando. Geovetty, Delfina, Teresa e Margarida têm plena consciência de que no futuro serão eles a segurar as rédeas da Nação para preservar o impulso que os maisvelhos lhe imprimem hoje. Mas para tanto, conforme asseguraram, um-a-um, à reportagem de NOSSA TERRA, eles terão de fazer a sua parte das tarefas de casa: estudar para que um dia possam ser médicos, jornalistas ou economistas. Em suma, deixamos um vislumbre do que pensa a actual geração de adolescentes dos 13 anos transcorridos desde que as armas se calaram em Angola, deixando para trás um cortejo de mortes, viúvas, órfãos, estropiados e um exército industrial de reserva – entenda-se desempregados. Mas, fundamentalmente, é um olhar maduro que eles deitam ao futuro do país, já sem o rastilho e o cheiro a pólvora no ar. Um médico em miniatura O futuro promissor de Delfina Angola vai muito longe Cantinho de obras Victor Rangel Geovetty, 15 anos, nascido em Malanje mas residente em Luanda, estudante da 8ª classe da Escola Óscar Ribas, município do Cazenga, enalteceu os esforços que o Executivo tem vindo a desenvolver, ao colocar à disposição das populações vários bens e serviços com os quais não ousavam sonhar durante o tempo da guerra: escolas, hospitais, água, electricidade e outros indispensáveis à vida humana. Geovetty pretende formar-se em Medicina. E por isso tem-se dedicado seriamente a estudar as disciplinas nucleares que dão saída para este curso – biologia e química. Tem plena confiança de que só depende dele transformar o sonho em realidade, pois o Executivo está a fazer o que lhe compete através de uma política de escolarização que tem permitido a abertura de mais escolas e a oferta crescente de bolsas de estudo internas e externas. Mas o entusiasmo de Geovetty não se resume à ambição, feita certeza, de um dia ser médico. É também por viver já num país sem os tropeços da guerra, onde, segundo afirmou, as pessoas, sobretudo jovens, têm agora a possibilidade de transformar os seus desejos em realidade diante da abertura que está a acontecer de mais universidades e centros de formação técnico-profissional que vão formando milhares de quadros para servir o país. Finalmente, uma chamada de atenção deste adolescente. Embora o país caminhe a passos largos rumo ao desenvolvimento, há no entanto muita coisa ainda por fazer. “Sei que o Executivo está a fazer coisas muito importantes, mas ainda faltam outras para acelerar o desenvolvimento do país. É preciso, por exemplo, criar mais postos de trabalho”, indicou o jovem. A felicidade transborda no rosto de Delfina Magalhães, jovem estudante também de 15 anos, que tem o seu cordão umbilical enterrado na província do Cuanza Sul, de onde saiu muito cedo com os país para Luanda em busca de melhores oportunidades de vida. Frequenta a 9ª classe no Colégio da Igreja Evangélica Congregacional de Angola (IECA), no Morro Bento. À semelhança do nosso primeiro interlocutor, Delfina também vê o futuro com entusiasmo e grande esperança, a avaliar pelos progressos que se vão registando no país. Afinal, com o advento da paz em 2002, o país ganhou mais infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias que têm permitido a circulação de pessoas e mercadorias sem os constrangimentos de outrora. Além destas infra-estruturas, Delfina aponta também os avanços dados em matéria habitacional e que têm permitido a construção, em números já bastante significativos, de residências para os cidadãos. Realça, nesse âmbito, o programa de construção de 200 fogos habitacionais em curso na generalidade dos municípios do país, bem como a edificação de novas centralidades em Luanda (Kilamba e Cacuaco) e outros ainda em construção na Lunda-Norte, Cuanza-Sul, Huambo e Bié. Delfina tenciona ser jornalista. “Quero ser jornalista da Televisão”, revelou. Sonha com a profissão desde os seus primeiros sete anos, altura em que passou a admirar “heróis” do pequeno ecrã em Angola como a apresentadora Ana Lemos e a repórter Joana Tomás, ambas da Televisão Pública de Angola (TPA). O discurso da simpática e sorridente Teresa Correia, aluna da 8ª classe da Escola Primária do Iº Ciclo da Samba, localizada no Morro Bento, não diverge do de outros jovens. Aliás, ela reconhece os investimentos e os avanços que o país está a registar nos sectores da saúde, educação, construção, economia e agricultura. A adolescente, outra que também deseja ser profissional da comunicação social, especializando-se em jornalismo radiofónico, considera que com o advento da paz a vida dos angolanos está a mudar radicalmente. “Hoje já não há muita miséria no seio de muitas famílias”, afirma. Segundo ela, com o fim da guerra, os angolanos passaram a encarar a vida de maneira diferente, olhando o futuro com mais optimismo do que no passado, quando a destruição das infra-estruturas e a paralisação da economia nacional truncavam as expectativas dos angolanos. Mas com a paz, avançou Teresa, o Executivo está a recuperar e a construir tudo o que foi destruído durante a guerra, desde “pontes, estradas nacionais, secundárias e terciárias”. As obras são visíveis e têm atraído o empresariado nacional e estrangeiro a investir no campo, agora que a circulação de pessoas e bens faz-se sem sobressaltos. Teresa junta ao rol de benefícios da paz os vários programas gizados pelo Executivo de concessão de crédito financeiro aos cidadãos, por intermédio dos quais inúmeros beneficiários têm conseguido resolver problemas antes impensáveis como aquisição de bens imóveis e móveis, promover negócios que estão a impulsionar a indústria no país e realizar pagamentos de serviços diversos. Margarida Francisco, colega de escola de Teresa Correia, também aluna da 8ª classe, instada sobre os ganhos da paz não tem dúvidas que são incomensuráveis e correspondem às expectativas dos cidadãos. Parafraseando o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, Margarida disse que “Angola é um cantinho de obras ”, na medida em que com o fim do conflito armado a actividade governativa está virada para a reconstrução do país, com uma miríade de obras de construção civil um pouco por todos os lados. Mas não é tudo. Ela acredita que o Executivo poderá proporcionar mais e melhor condições de vida às populações, Faz fé nos vários vários projectos em carteira, sobretudo os de impacto social e direccionados às comunidades mais carenciadas. A jovem destaca também os grandes investimentos levados a cabo no sector energético, casos da construção de mais barragens hidroeléctricas em curso no país, que permitirão gerar mais energia. E refere, por último, as mudanças operadas no ensino superior público com a abertura de mais universidades, agora subdivididas em sete zonas académicas no país. Tal como as outras raparigas, Margarida também tem um sonho: ser economista. Elege a banca como a sua futura área de especialização. Sonhar não é proibido a qualquer humano, mas ela está consciente de que para atingir o que ambiciona precisa de firmar os pés na terra. Numa palavra, estudar afincadamente. COM A PAZ, AVANÇOU TERESA, O EXECUTIVO ESTÁ A RECUPERAR E A CONSTRUIR TUDO O QUE FOI DESTRUÍDO DURANTE A GUERRA, DESDE “PONTES, ESTRADAS NACIONAIS, SECUNDÁRIAS E TERCIÁRIAS”. AS OBRAS SÃO VISÍVEIS Compromisso com o desenvolvimento local O Ministério da Administração do Território realizará, em Agosto próximo, em Luanda, o Fórum e a Feira dos Municípios e Cidades de Angola, novamente sob o lema geral comum “A vida faz-se nos municípios”, como sucedeu na estreia destes eventos em 2013. I nstitucionalizados pelo Decreto Presidencial nº 142/13, de 27 de Setembro, ambos os certames enquadram-se, este ano, nas comemorações do 40º aniversário da Independência Nacional. O Fórum entra na sua 3ª edição, ao passo que a Feira realiza-se pela segunda vez, uma vez que a sua periodicidade é bienal. Também decorrem de uma deliberação da 2ª Conferência Ordinária dos Ministros responsáveis pela Descentralização e Desenvolvimento Local (CADDEL) que, em sede da União Africana, instituiu o 10 de Agosto como Dia Africano da Descentralização e do Desenvolvimento Local – uma maneira de assi- AS FEIRAS DOS MINICÍPIOS, REALIZADAS A PAR DO FORUM, TÊM CUMPRIDO O SEU PAPEL DE MOSTRA DINÂMICA DA VIDA DOS MUNICÍPIOS E DE UMA FORMA EFICAZ ILUSTRAM OS OS DEBATES DO FORUM nalar a importância dos governos locais para a prestação dos serviços essenciais e criação das condições para melhorar os índices de desenvolvimento humano, bem como as condições de vida dos cidadãos e das comunidades locais. Tal como definido pelos seus mentores, o Fórum tem sido um ponto de convergência de idéias e políticas formuladas em prol da descentralização e do desenvolvimento local. E este ano a expectativa é que se possa ir mais longe e, ao cabo dos debates, sintetizar-se de forma mais prática o conjunto de informações e experiências trazidos das edições anteriores, em busca da sua exequibilidade. o Fórum tem sido um ponto de convergência de ideias e políticas formuladas em prol da descentralização e do desenvolvimento local. E este ano a expectativa é que se possa ir mais longe nossaterra#01 antevisão 32 Fórum e Feira dos Municípios e Cidades de Angola antevisão Conforme percepção generalizada, uma das principais valias dos certames anteriores foi o facto de se ter logrado congregar os principais intervenientes da Administração Local para debater os temas inerentes, nomeadamente os governadores provinciais e administradores municipais de todo o país, que tiveram a oportunidade de auscultar prelecções com variadíssimas propostas de políticas públicas para as localidades. Pela natureza das prelecções, assim como pela profundidade dos debates ocorridos, as edições têm constituído, de facto, ocasiões soberanas e oportunas para uma radiografia de tudo quanto, em Angola, é executado a nível local. Por exemplo, temas como a relevância da governação local em Angola, ou questões ligadas ao orçamento local ou ainda à divisão político-administrativa e a organização territorial, foram debatidos em eventos passados. Em suma, são eventos que, de uma maneira geral, têm trazido à tona a preocupação e o comprometimento das autoridades angolanas com o desenvolvimento local, reafirmando-se as responsabilidades atribuídas a vários níveis para a sustentabilidade dos Planos de Desenvolvimento Municipais. Exemplo concludente é mesmo o lema “A vida faz-se nos municípios”, inspirado numa expressão do próprio Presidente José Eduardo dos Santos. Ele volta a ser o “porta-estandarte” este ano, depois de já o ter sido na edição de arranque dos certames em 2013. Sofisticação e utilidade 34 O debate no Fórum dos Municípios e Cidades tem subido de nível a cada edição, permitindo a projecção de saberes e conhecimentos diversos no domínio do desenvolvimento local. Técnicos e especialistas nacionais têm interagido entre si, mas também têm trocado experiência com profissionais provenientes de outros países. O debate no ano passado foi de tal forma sofisticado que colocou a fasquia num grau que gera uma grande e legítima expectativa em relação à edição a ter lugar em Agosto próximo. A problemática da gestão dos municípios, tendo como desafio a sua sustentabilidade de modo a preservá-los para as gerações futuras, foi a tónica dominante em 2014. “A VIDA FAZ-SE NOS MUNICÍPIOS”, INSPIRADO NUMA EXPRESSÃO DO PRÓPRIO PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS. ELE VOLTA A SER O “PORTA-ESTANDARTE” ESTE ANO, DEPOIS DE JÁ O TER SIDO NA EDIÇÃO DE ARRANQUE DOS CERTAMES EM 2013. nt A pertinência e abrangência do lema “A vida faz-se nos municípios” tem sido devidamente realçada pelo Ministro da Administração do Território. Em 2013, Bornito de Sousa referiu-se ao lema considerando que “cada um de nós é cidadão de um município”. Justificou que é uma realidade que pode ser facilmente constatada ao “olharmos para cada um de nós, por mais alta que a entidade seja”. “E é, efectivamente, no centro disso que se faz a nossa vida”, havia acrescentado na ocasião o titular do MAT, fazendo questão de notar que é nos municípios onde se realiza toda a actividade cultural, económica e as demais. O titular do MAT tem sido, de resto, um verdadeiro “maître” destes eventos, dando-lhes o tom sério e responsável que é requerido, ou MINISTRO BORNITO DE SOUSA: “CADA UM DE NÓS É CIDADÃO DE UM MUNICÍPIO” cuidando de descomprimir, com alguma pitada de bom humor, sempre que necessário. Foi assim durante o acto de encerramento em 2013 na FILDA. Bornito de Sousa rendeu-se ao som dos batuques e cânticos característicos de cada região representada naquele evento. Tão alto era o som da percussão e dos cantares populares que chegava aos ouvidos dos participantes, mesmo na sala em que decorria o Fórum. O Ministro fez, pois, questão de mencionar esse detalhe nos seguintes termos: “Estamos aqui incomodados por algum barulho à volta, barulho positivo, actividades culturais. Eu creio que este lugar tem sido sempre escolhido para parte de conferências, porque as outras feiras, creio que têm sido muito suaves, quietas e calmas. Estamos a ver que a FMCA é muito entusiástica”. nossaterra#01 Cidadãos de municípios nt antevisão 36 Sob o chapéu-de-chuva do lema geral posto à mesa das discussões – “Cidades e Municípios Sustentáveis, Vida Melhor” – o debate avançou para terrenos mais específicos como o Planeamento Territorial e Urbano e Política de Gestão Fundiária. Outros painéis temáticos foram a Requalificação Urbana e Fomento Habitacional, bem como o Saneamento Básico e Gestão de Resíduos Sólidos; e ainda a Mobilidade Urbana e a Fluidez do Trânsito Automóvel – este aqui um “problemão” que tem axadrezado as cabeças dos habitantes da megalópole que é Luanda. De fora veio a expertise trazida por especialistas do Brasil, Cabo Verde e até do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Nesse capítulo foi possível realizar um exercício comparado e de troca de experiências, sobressaindo a visão brasileira sobre Cooperação Descentralizada, sobre Sociologia Urbana e o conceito de Cidade-Rede. Uma espreitadela à Carta Africana sobre Valores e Princípios da Descentralização, Governação e Desenvolvimento Local; e outra para ver o que os cabo-verdianos, preocupados com os rigores da insularidade, andam a fazer na baía de Mindelo. DURANTE OS DIAS DE FEIRA E FORUM, LUANDA TORNA-SE NÃO APENAS A CAPITAL DO PAÍS, MAS TAMBÉM FICOU MAIS SUBLINHADA A SUA CONDIÇÃO DE CENTRO POLÍTICO E ADMINISTRATIVO. CONTUDO, EM DIAS DE FEIRA, É NÍTIDA A SENSAÇÃO QUE TODA A ANGOLA SE ENCONTRA EM LUANDA 37 Empresários, desejosos de investir em locais promissores, e administradores locais, em busca de investidores, reuniram-se trocando idéias capazes de se repercutir em projectos susceptíveis de fomentar o desenvolvimento da economia local. Nos stands, criativamente engalanados com os aspectos particulares de cada província, encontravam-se técnicos da administração local, manifestando alegria por poderem mostrar aquilo que está a ser feito ou, quando não, o que pode ser feito, muito além do que já é público. Um exemplo de exibição diversificada esteve bem patente nos espaços ocupados pelas províncias do leste, concretamente pelas Lundas Norte e Sul. Conhecidas pelo seu potencial diamantífero, essas províncias levaram, para a Feira, muito mais do que pedras preciosas. Ambas apresentaram, aos visitantes, outras preciosidades ali disponíveis, como foi a agricultura. Este importante sector, na verdade, foi dos mais representativos ao longo da Feira. A agricultura, pode dizer-se, esteve em alta, já que ela se fez presente praticamente em todos os stands, evidenciando a fertilidade do solo nossaterra#01 antevisão C alcula-se que, na Feira de 2013, tenham participado os 161 municípios que perfazem a divisão político-administrativa de Angola, cujos representantes se reuniram, durante os quatros dias do evento, para exibir as potencialidades, bem como aspectos marcantes dos usos e costumes locais. Os municípios tiveram uma oportunidade para mostrar ao resto do mundo as suas potencialidades económicas, sociais, turísticas e culturais, partilhando o mesmo palco de exibições com ministérios e empresas fortemente implantadas nas distintas localidades angolanas. Os serviços disponibilizados para os cidadãos, as políticas definidas para o seu benefício, assim como projectos empresariais com substanciais impactos sociais estiveram em evidência ao longo dos dias de exposição. Durante tais dias, Luanda tornou-se não apenas a capital do país, mas também ficou mais sublinhada a sua condição de centro político e administrativo já que, por ocasião da feira, para ela confluiu aquilo que geralmente está apenas disponível no sossego das aldeias, comunas e municípios de Angola. Flashback da FMCA 2013 A feira que encurtou as distâncias entre os municípios de Angola 38 Na sua primeira edição em Outubro de 2013, a Feira dos Municípios e Cidades de Angola constituiu-se num certame congregador. Aproximou e reuniu representantes do país inteiro, fazendo com que o angolaníssimo slogan “de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste” reganhasse significado. A FEIRA É UMA OPORTUNIDADE PARA OS VISITANTES TOMAREM CONTACTO COM AS CIDADES E MUNICÍPIOS DE ANGOLA NUM MESMO LOCAL 39 nt 40 angolano. Essa condição arável dos solos esteve em evidência, assim como se procurou destacar a importância do sector agrícola para a vida das populações, sobretudo do interior do país, seja desenvolvida em larga escala, seja ao nível da agricultura de subsistência. Diversificar a economia foi, de resto, uma espécie de palavra de ordem, na medida em que a exposição permitiu a apresentação de novas perspectivas para regiões quase “anónimas”, cujos recursos minerais e económicos estão por explorar. Durante o evento, os visitantes puderam manter contacto mais próximo com as cidades e municípios, o que muitas vezes era impossibilitado pela distância. A feira encurtou, pois, essa distância, disponibilizando desde produtos de campo, cultivados em todas as regiões do território angolano, a serviços sanitários, de construção civil, educação e, até mesmo, de comunicação social. Mantém-se um contacto mais próximo com as cidades e municípios, o que muitas vezes é impossibilitado pela distância. A feira encurta essa distância, disponibilizando desde produtos de campo, cultivados em todas as regiões do território angolano, a serviços sanitários, de construção civil, educação e, até mesmo, de comunicação social. FAS Que diploma institucionalizou a realização da Feira e do Fórum de Municípios e Cidades de Angola? A Feira de Municípios e Cidades de Angola e o Fórum Nacional de Municípios e Cidades de Angola foram institucionalizados pelo Decreto Presidencial Número 142/13 de 27 de Setembro. Quem organiza ambos os eventos? A Feira de Municípios e Cidades de Angola e o Fórum Nacional dos Municípios e Cidades de Angola são organizados pelo Executivo angolano, através do Ministério da Administração do Território. Quem pode participar do Fórum? São participantes do Fórum, representantes dos Governos Provinciais e Administrações Municipais, das Cidades e dos Conselhos Municipais de Auscultação e Concertação Social, representantes de Departamentos Ministeriais; Deputados à Assembleia Nacional; Representantes de empresas públicas e institutos públicos; Representantes de empresas privadas; Representantes de organizações da sociedade civil; Académicos e demais Convidados. Qual é a periodicidade e período de realização? O Fórum deverá ter uma periodicidade anual, devendo ser realizado no quadro das actividades comemorativas do dia 10 de Agosto, dia africano da descentralização e do desenvolvimento local. Já a Feira, que se realiza no mesmo âmbito, tem entretanto uma periodicidade bienal, ou seja, realiza-se de dois em dois anos. Quais os objectivos da realização do Fórum? A realização do “Fórum Nacional dos Municípios e Cidades de Angola” visa, entre outros, a prossecução dos seguintes objectivos: • Criar um espaço permanente de diálogo e debate com os órgãos da Administração Local do Estado; • Promover o intercâmbio entre os municípios e cidades de Angola; • Realçar as boas práticas nacionais e internacionais existentes ao nível da Administração Local; • Promover um espaço para avaliação regular da implementação das diferentes medidas tomadas no âmbito da Reforma da Administração Local. Quais os objectivos da realização da Feira? • Criar um espaço para a apresentação e exposição do trabalho desenvolvido pelos órgãos da Administração Local; • Promover a atracção de empresários para investirem nos diferentes municípios e cidades de Angola; • Divulgar as potencialidades para o desenvolvimento económico e social dos municípios e cidades; • Promover o intercâmbio entre os municípios e cidades; • Dar a conhecer os principais aspectos culturais dos municípios e cidades. nossa terra#01 antevisão O que é essencial saber Cartilha da Feira e do Fórum Fundo de Apoio Social Gordon Kricke, embaixador da União Europeia em Angola Parceria com o FAS no rumo certo FA Tal como referido anteriormente, o grande objectivo agora é dar a conhecer o FAS e aquilo que o FAS faz, ao público em geral. É por isso também a altura ideal de actualizar e fazer evoluir a sua imagem de marca – a sua logomarca – por forma a que a mesma reflicta a evolução que o próprio FAS tem feito desde que a mesma foi criada. Esse tipo de evolução é salutar, sendo o desafio neste caso capitalizar no melhor que a actual imagem tem, por forma a garantir o seu reconhecimento e prestígio... O Primeiro no Combate à Pobreza em Angola ... e foi isso que fizemos! “O OBJECTIVO DO FAS SEMPRE FOI O DE COMPLEMENTAR AS ACÇÕES DO EXECUTIVO COM O PROVIMENTO DE SERVIÇOS SOCIAIS BÁSICOS ÀS COMUNIDADES MAIS DESFAVORECIDAS DO PAÍS.” nossaterra#01 a logomarca actual “N ossa Terra” é a revista que, a partir desta data, vos chegará às mãos trimestralmente com os mais diversificados temas e retratos do país chamado Angola. É uma revista que o Ministério da Administração do Território põe à disposição do público leitor com o propósito de dar a conhecer um pouco mais sobre as suas realizações e dos órgãos sob sua superintendência (IFAL e FAS). A par disso, a revista abordará também assuntos de outras “latitudes”, pois este é um espaço que, embora institucional, abarcará todos os géneros jornalísticos. Mas é sobre o Fundo de Apoio Social (FAS), o mais novo ente do MAT (passou do MPDT para o MAT através do Decreto Presidencial nº.130/13 de 29 de Agosto), que me vou debruçar em traços gerais, já que tem um caderno especial neste 1º número da “Nossa Terra”, que retrata os principais momentos da instituição. A caminho de 21 anos de existência, o FAS tem novos desafios decorrentes do contexto actual de atenção à formação dos seus quadros. O lema hoje é o combate à fome e à pobreza. É importante frisar que desde a sua criação em Outubro de 1994 até aos dias de hoje, o Fundo de Apoio Social sempre contou com financiamentos do Banco Mundial, para além de fundos de contrapartida do Governo através do ROT, que suportaram as três fases anteriores do FAS, e que nesta quarta (fase) está a implementar o Projecto de Desenvolvimento Local, PDL. O PDL comporta três componentes a saber: a de construção e ou reabilitação de infraestruturas, a de economia local e a de reforço de capacidades das instituições. São estes os três pilares da actividade do FAS-PDL. Mais recentemente entrou em vigor o acordo de financiamento da União Europeia, de cerca de 30 milhões de euros, que o FAS vai gerir através do FIIAP a fim de reforçar as componentes acima enumeradas. Neste ano do 40º aniversário da Independência Nacional, o FAS junta-se ao trabalho e esforço de todos os angolanos para que tenhamos um país cada vez melhor. São, pois, muitos e diversificados os assuntos que preenchem o primeiro número desta revista. Convido os estimados leitores a folharem-na e deleitarem-se com as diversas matérias, da primeira à última página. Este é um singelo contributo a este desiderato em homenagem a todos heróis da “Nossa Terra”. nt é o nosso desafio DO DIRECTOR melhorar vidas SANTINHO FIGUEIRA Os novos desafios do FAS do país que já vai na III República. Felizmente, longe vão os anos de emergência que o país conheceu quando o FAS foi criado pelo Governo de Angola, através do Decreto do Conselho de Ministros nº 44/94 de 28 de Outubro. De lá para cá, o FAS adaptou-se a cada contexto do país, pois o seu objectivo sempre foi o de complementar as acções do Executivo com o provimento de serviços sociais básicos às comunidades mais desfavorecidas do país. Porém, o contexto em que foi criado não permitiu, contrariamente ao que era desejado, a sua rápida e completa implantação em todo território nacional. Estrategicamente optou-se por uma implantação gradual e segura, levando a que somente em 2014 tivesse completado a cobertura nacional com a abertura de direcções nas províncias do Cuando Cubango, Lundas Norte e Sul, Moxico e Uíge. Isso só foi possível com as transformações políticas, sociais e económicas operadas no país nos últimos 13 anos com o advento da paz. Uma das mudanças mais marcantes na vida do FAS foi a sua passagem do Ministério do Planeamento e Desenvolvimento Territorial (MPDT) para o Ministério da Administração do Território (MAT). É uma mudança que impôs ao FAS novos desafios e responsabilidades que tem procurado cumprir, com rigor e parcimónia, sempre com espírito de missão. Para tal, paralelamente ao financiamento de infra-estruturas um pouco por todo país, o FAS tem prestado gran- 43 Severino Carlos e Mirene da Cruz e Qua nza Nor te Mal e nza o o Abordagem Emergencial Cunene Bié Moxico Cuando-Cubango ibe Nam Nam Cunene Lunda Sul Huíla Cuando-Cubango ibe Cuando-Cubango e Ben gue la Moxico Huíla Huíla Lunda Norte anj Qua nza mb la gue Bié Ben Hua Moxico Hua mb o Qua nza Bié Mal Lunda Sul Sul Lunda Sul Luanda Lunda Norte anj Uíge Sul Nor te Bengo Qua nza Luanda Lunda Norte anj Sul Mal Zaire Uíge Qua nza Nor te Uíge Cabinda mb Zaire Hua Cabinda Cunene Reconstrução e desenvolvimento Abordagem multi-sectorial nt Incidência nos Capitais Físico e Humano Qua ADECOS. O desafio que se segue E com as comunidades. “Estamos a trabalhar no sentido de, a partir já do mês de Maio, começarmos com as formações”, deu a conhecer Santinho Figueira, acrescentando que a iniciativa conta com o apoio financeiro da União Europeia e do Banco Mundial que disponibilizaram, respectivamente, 1,5 milhões de euros e 5 milhões de dólares. A medida surge de uma necessidade constatada pelo Governo imediatamente após o fim do conflito militar, no sentido de se conscientizar e capacitar as famílias angolanas a adoptarem hábitos e práticas que salvaguardem a sua saúde e bem-estar, tendo-se, para tanto, estabelecido a Política Nacional de Agentes de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário (PNADECOS). Em termos mais concretos, o ADECOS será a figura que o Estado introduzirá com o papel específico de expandir os serviços sociais no seio das comunidades e estimular o seu desenvolvimento, com enfoque no sector da saúde. O programa inspira-se na experiência de vários países, em especial o Brasil que adoptou na sua realidade a figura do Agente Comunitário de Saúde (ACS). Entre nós, o Agente de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário será uma pessoa comum, selecionada entre os habitantes de uma comunidade, que se destaque pelas suas qualidades humanas. Será contratado pela Administração Municipal e capacitado pelo IFAL, mas trabalhará sob supervisão do Fundo de Apoio Social (FAS), sendo alvo de uma supervisão e avaliação mensal. Terá a missão de fomentar o desenvolvimento comunitário e das famílias residentes na sua micro-área de intervenção. nossaterra#01 O ADECOS PROMETE DESENCADEAR UMA “REVOLUÇÃO” NA FORMA DE ACTUAÇÃO OFICIAL NO SEIO DAS COMUNIDADES ntre todos os grandes desafios que o FAS tem em carteira ainda no ano em curso, o maior deles tem a ver sem dúvidas com a implementação do Agente de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário (ADECOS) – uma figura que promete desencadear uma “revolução” na forma de actuação oficial no seio das comunidades, contribuindo para minimizar alguns problemas típicos da pobreza, a começar pela saúde. Segundo revelou o director Santinho Figueira, a iniciativa decorre de uma parceria entre dois ministérios principais, Ministério da Saúde (MINSA) e o Ministério da Administração do Território (MAT), metendo pelo meio o FAS como entidade por via do qual se tratará de implementar e operacionalizar a medida, dada a experiência que já tem nt municípios e comunas. No cômputo geral, até ao momento, mais de três mil projectos foram implementados em todo o país, beneficiando um universo de mais de seis milhões de pessoas, além de várias dezenas de milhares de postos de trabalho directos e indirectos criados. Tendo-se tornado numa verdadeira marca nacional de solidariedade social, o FAS continua a ser uma peça incontornável na concretização das metas definidas pelo Estado angolano nesse âmbito, mas depara-se agora também com o desafio da sua própria adequação estrutural. Como declarou o Director da instituição por altura das comemorações dos seus 20 anos, o FAS “precisa de obter o apoio e a solidariedade institucional a todos os níveis do aparelho de Estado, mormente a nível provincial”. Santinho Figueira não diz isso ao acaso. Ele acha imprescindível que “a acção do FAS mereça a mesma atenção que é dada aos demais órgãos e organismos estatais e privados, pois o seu trabalho deve ser entendido como complementar ao dos Incidência nos Capitais Físico e Humano ... e foi isso que fizemos! nossaterra#01 atraídas exactamente por causa da escola”, acrescentou. Regra geral, explicou Santinho Figueira, o balanço dos financiamentos e a conclusão de projectos envolvem etapas com um prazo de vida de quatro anos. Já a fase seguinte depende muito da disponibilidade do financiador e dos resultados obtidos. Assim, desde que o Executivo criou o Fundo de Apoio Social, em 1994, naquela altura com o claro objectivo de combater a pobreza no seio das comunidades mais desfavorecidas fornecendo-lhes serviços sociais básicos nas suas localidades, já foram implementadas três fases (FAS1, FAS2 e FAS3). Actualmente está a ser implementado o FAS-PDL – agora em conformidade com um novo paradigma definido pelo Executivo angolano: mantém-se a prioridade de combate a fome e a pobreza, mas junta-se-lhe o objectivo de reduzir as assimetrias regionais e a modernização do funcionalismo público. Esta tem sido uma fase de apoio concreto à economia local e ao desenvolvimento e capacitação das instituições de FAS III (2004-2009) Zaire Luanda Esse tipo de evolução é salutar, sendo o desafio neste caso capitalizar no melhor que a actual imagem tem, por forma a garantir o seu reconhecimento e prestígio... FAS II (2000-2003) Cabinda la N o balanço destes anos, o Director-Geral do FAS, Santinho Felipe Figueira, revela que a educação é o sector que conheceu as acções mais significativas. E ele explica por quê. É que o FAS começou a implementar projectos ainda numa fase de guerra, em que as balas silvavam por todo o lado e, mesmo assim, muitos dos técnicos enfrentaram tais desafios. Nessa fase, o Governo não tinha condições para financiar outros projectos sociais, uma vez que os recursos disponíveis eram essencialmente canalizados para a defesa e segurança. Assim, o FAS viu-se a trabalhar com comunidades onde as crianças não sabiam ler nem escrever. Porém, três anos depois, a avaliação do projecto mostrou que algumas crianças já sabiam ler. “Como ainda não tínhamos internet nem telefones, as crianças já liam cartas aos seus pais”, contou o mais alto responsável do FAS. “Curiosamente, as localidades onde passamos a levar escolas trouxeram de volta crianças que já viviam noutras localidades, Incidência no Capital Físico gue Um simples furo de água foi o primeiro projecto do Fundo de Apoio Social (FAS). Mas a bola de neve rolou e transformou-se, vinte anos depois, em algo de gigantesco, que nem a guerra que assolou o país logrou travar. FAS I (1994-2000) outros entes como a educação, saúde, energia e águas, agricultura, administrações municipais, autoridades tradicionais e igrejas, para só citar estas”. Outro foco do FAS, por sinal já em andamento, é o de completar o seu quadro de recursos humanos e prover com meios técnicos e tecnológicos as direcções provinciais. Não menos importante para o FAS será, finalmente, o reforço e o aprimoramento das relações de cooperação com outros parceiros sociais nacionais e estrangeiros. Como diz o director Santinho Figueira: “Queremos uma instituição moderna, actuante, eficaz e eficiente.” É por isso também a altura ideal de actualizar e fazer evoluir a sua imagem de marca – a sua logomarca – por forma a que a mesma reflicta a evolução que o próprio FAS tem feito desde que a mesma foi criada. Criado a 28 de Outubro de 1994 no Quadro do Programa Económico e Social PES/95, pelo Decreto Nº44/94 do Conselho de Ministros Ben Etapas e acções mais significativas O FAS ibe Tudo começou com um furo de água… Tal como referido anteriormente, o grande objectivo agora é dar a conhecer o FAS e aquilo que o FAS faz, ao público em geral. Nam POR DENTRO FA a logomarca actual 44 45 Mirene da Cruz POR DENTR FA Vinte anos a fomentar o desenvolvimento local O FAS implementou ao longo dos anos 13.470.810 projectos que beneficiaram três milhões de pessoas e geraram 250 mil empregos directos e indirectos. Educação e saúde absorveram os projectos de maior impacto O s anos passam e a obra fica registada para a posteridade. Entre os milhares de projectos até agora implementados pelo Fundo de Apoio Social (FAS) na província do Bengo destacam-se obras como a do posto de saúde do Porto Quipiri, de inegável maisvalia para a população local. As suas paredes foram erguidas por volta de 2004, num investimento que culminaria em 2008. João Dias dos Santos Júnior, chefe deste posto, considera que a unidade já devia ter ascendido de categoria, tal a demanda de pacientes que recorrem a ela. “Já devia ser um centro médico para acudir melhor a população”, reivindica. Segundo o técnico, diariamente cerca de 30 pessoas procuram pelos serviços médicos naquela instituição. E entre elas está Vitória Kuvandja, de 25 anos. Ela está em estado de gestação pela segunda vez, mas já desde a primeira gravidez que faz as consultas pré-natal no Porto Quipiri. Vive no bairro Kabungo onde não existe uma unidade sanitária que possa proporcionar os cuidados médicos que a sua situação exige. “Venho aqui porque é o único local mais próximo”, diz Vitória. nossaterra#01 PÔR UM POSTO DE SAÚDE NESTA ZONA FOI UMA BÊNÇÃO DOS CÉUS” Mas de um modo geral ela gosta do atendimento do corpo profissional, e só não fará ali o parto porque sabe que o posto não tem condições para tal. Quem também busca a cura para os seus males no posto de saúde de Porto Quipiri é Severino Estêvão, de 29 anos. Apesar de viver distante, é lá que busca os cuidados médicos, porque na sua zona só existe uma instituição sanitária privada. E ainda por cima, “o tratamento lá é muito caro”, reclama Severino que recorreu ao posto porque a filha nossaterra#01 João Dias dos Santos Júnior, chefe deste posto, considera que a unidade já devia ter ascendido de categoria “Já devia ser um centro médico para acudir melhor a população”, reivindica. 46 47 POR DENTR FA entregue à Administração Municipal, já sofreu muitas alterações positivas. João dos Santos Júnior assegura que a unidade hoje tem mais áreas de trabalho e de serviços prestados, caso do laboratório básico. Juntam-se serviços como o Programa Alargado de Vacinação, puericultura, medicina, pediatria, pré-natal, planeamento familiar, pequena cirurgia, laboratório. “Só nos falta a sala de partos”, salientou. Escola nova nossaterra#01 No bairro Boa Esperança, ainda no Porto Quipiri, está situada nossaterra#01 tinha queimaduras ligeiras. Pôr um posto de saúde nesta zona “foi uma bênção dos céus”, segundo João dos Santos Júnior. “As pessoas buscam em nós os primeiros socorros e às vezes recebemos pessoas muito graves, casos que já não deviam ser da nossa competência”, contou. Entre as patologias mais frequentes que o posto atende figuram as diarreias, o paludismo, a febre tifóide e a bronquite. O maior número de pacientes são crianças cujo atendimento é assegurado por nove técnicos de saúde. Desde que o posto foi A nova escola, em baixo: Com identificação ou não, o facto é que as aulas arrancaram na data oficial, 02 de Fevereiro. Nas proximidades só existia uma igreja onde as crianças tinham aulas. Hoje a realidade é totalmente diferente e a satisfação é visível. Graças ao FAS. nt João dos Santos Júnior: hoje tem mais áreas de trabalho e de serviços prestados, caso do laboratório básico. Juntam-se serviços como o Programa Alargado de Vacinação, puericultura, medicina, pediatria, pré-natal, planeamento familiar, pequena cirurgia, laboratório. “Só nos falta a sala de partos”. Em baixo, Evaristo Nunes: Hoje vai à escola e regressa sem qualquer constrangimento porque é mesmo ao pé de casa a escola mais nova da região, também ela uma doação do FAS, tão recente que ainda não tem número de identificação. Segundo o seu director-geral, Artur dos Santos, a repartição comunal da educação ainda está a analisar que número lhe caberá. Com identificação ou não, o facto é que as aulas arrancaram na data oficial, 02 de Fevereiro. Nas proximidades só existia uma igreja onde as crianças tinham aulas. Hoje a realidade é totalmente diferente e a satisfação é visível. Evaristo Nunes de 11 anos, por exemplo, estuda na 6ª classe. Ele detestava ter de percorrer uma longa distância de casa para a escola, cerca de três quilómetros. “Não andava à vontade porque tinha que atravessar a estrada.” Hoje vai à escola e regressa sem qualquer constrangimento porque é mesmo ao pé de casa. Quem também não gostava nada do percurso para a escola era Maria Adão de 9 anos. A pequena disse que não sentia vontade de aprender porque tinha de andar muito até à escola, mas agora vai num abrire-fechar de olhos. Até já sabe o que vai ser no futuro. “Quero ser professora para educar as outras crianças.” A escola funciona nos três períodos e acolhe cerca de 854 alunos, da 1a a 6a classe. “O período nocturno é sobretudo para os encarregados que decidiram voltar aos estudos”, esclareceu o Director. 48 49 POR DENTR FA FAS Luanda O Dande ganhou este centro de fisioterapia novinho em folha.JPGAmélia Bahrari, que comanda uma empreitada do FAS. O centro de Fisioterapia, completamente FAS Bengo O PÔR UM POSTO DE SAÚDE NESTA ZONA FOI UMA BÊNÇÃO DOS CÉUS” O sector da saúde vai, entretanto, ganhar mais uma infra-estrutura das mãos do FAS. Trata-se de um centro de fisioterapia, solicitado pela Administração Municipal do Dande, no âmbito do desenvolvimento comunitário e para reforçar a luta contra a fome e a pobreza. Segundo o Director Provincial do FAS, José Nicolau, a obra já foi concluída e entregue, faltando apenas equipar-se toda a unidade sanitária. O orçamento para a construção e apetrechamento básico foi de cerca de 28 milhões de kwanzas. “O que for complementar é da responsabilidade da Direcção Provincial ou a Municipal”, esclareceu. Ana Machado: o FAS-Luanda também tem sido compelido a enfrentar os desafios difíceis e típicos das fases de implantação estrutural que ocorrem com frequência em Luanda, para dar respostas às solicitações das administrações municipais nossaterra#01 financiamento 4 do FAS (quarta tranche do financiamento) da carteira de projectos de 2013, mas que em função de alguns constrangimentos só arrancou no ano lectivo de 2015. José Nicolau faz questão agora Centro de fisioterapia nossaterra#01 mais recente projecto financiado pelo FAS na província do Bengo é uma escola de sete salas a ser edificada na comuna das Mabubas. É o próprio director local da instituição, José Manuel Nicolau, que confirma as impressões digitais do FAS nesse empreendimento orçado em 32 milhões e 500 mil kwanzas. Este será o montante que o FAS vai investir só na execução física. Fica de fora o apetrechamento no qual se vai consumir mais 6 milhões de kwanzas, perfazendo um total de 38 milhões de kwanzas. A obra, enquadrada no Projecto de Desenvolvimento Local (PDL), faz parte do de ver a obra rapidamente de pé, tendo escolhido para tanto a mesma empreiteira que edificou a Escola da Boa Esperança II (ver peça “Vinte anos a fomentar o desenvolvimento local”), a Gli Construção. Amélia Barhari, sócia-gerente da Gli Construção, diz estar satisfeita com a escolha e promete entregar a obra na data acordada – “o mais tardar até Maio” – apesar dos constrangimentos provocados pelas fortes chuvadas que têm assolado a localidade. As duas escolas irão ajudar a colmatar uma enorme carência que se verifica nessa matéria naquela localidade, daí a Administração Municipal do Dande não ter hesitado em recorrer ao FAS. nt JOSÉ MANUEL NICOLAU equipado, pronto a usar. á dez anos como Directora Provincial do Fundo de Apoio Social em Luanda, para Ana Machado tem sido bastante complexo trabalhar em Luanda, pois na capital do país fluem diversos níveis de poder. Por isso, como é natural, o FAS-Luanda também tem sido compelido a enfrentar os desafios difíceis e típicos das fases de implantação estrutural que ocorrem com frequência em Luanda, para dar respostas às solicitações das administrações municipais. “Sempre tivemos uma ligação directa com as administrações locais”, contou Ana Machado, informando que, inicialmente, a instituição tinha uma intervenção muito mais directa para as comunidades quer no que toca à mobilização como na escolha de projectos. Porém, a partir de 2005, ajustes efectuados por Decreto Presidencial na gestão das municipalidades de Luanda visando já naquela altura a desconcentração, remeteu o FAS aos bastidores das acções. Por isso, segundo Ana Machado, neste momento a actuação do FAS na capital tem-se focado sobretudo no reforço da capacidade institucional das administrações municipais. “Realizamos acções de capacitação, dotamos as administrações de meios informáticos e técnicos, assim como financiamos projectos sociais no âmbito da saúde, educação e mercados, com vista a satisfazer as necessidades básicas das populações”, enumerou. Os últimos projectos financiados pelo FAS-Luanda foram escolas de seis salas de aulas e área administrativa nas comunidades do Paraíso e da Pedreira, em Cacuaco, entregues em 2014. Quanto ao sector da saúde, a localidade de Mazozo ganhou um posto de saúde, mas o município de Icolo e Bengo deverá ganhar outro em breve. Para 2015, na senda do reforço institucional, o FAS espera concluir o ciclo de planeamento estratégico em cada um dos municípios, para activar o Plano de Desenvolvimento Municipal. Entre os municípios, Cacuaco é neste aspecto o que está mais avançado, porquanto já possui um esboço do plano. “Também orientamos as administrações a privilegiar a contratação de mão-de-obra nacional; e sempre que existe um projecto lançamos um concurso público”, salientou Ana Machado, indicando que o FAS também tem na sua actuação preocupações de equidade e justiça social. nt A Voz dos Directores Provinciais H ANA MACHADO 50 51 POR DENTR FA A elevado), três residências para apoiar professores e enfermeiros. “Desde 2011 temos vindo a trabalhar com um orçamento de 600 milhões de kwanzas, numa carteira que abarca 29 projectos”, indicou Frederico Sanumbutue. Já em relação à segunda componente, mais ligada ao apoio directo à economia local, ANTÓNIO MELGAÇO FAS Cunene D evido à complexidade climática do Cunene, o Director Provincial do Fundo de Apoio Social, António Melgaço Caetano, no cargo há 16 anos, considera que as chuvas têm sido o pior inimigo para todo e qualquer projecto que a instituição queira financiar, em resposta à solicitação de determinada administração. “Nestes 16 anos, o maior constrangimento, que não depende de nós, tem sido a chuva. As cheias impediramnos de chegar a certas localidades”, salientou o Director do FAS Cunene. Mas há outros factores, segundo referiu, que também têm ocasionado constrangimentos no andamento dos António Melgaço Caetano, no cargo há 16 anos: “Nestes 16 anos, os maiores constrangimentos, que não dependem de nós, têm sido a chuva. As cheias impediram-nos de chegar a certas localidades” projectos, um dos quais a tardia disponibilização dos financiamentos. Ao fazer o inventário das fases do FAS no Cunene, António Melgaço disse que ao longo destes anos a instituição evoluiu em função das necessidades das localidades de implementação dos projectos. Nas fases 1 e 2, por exemplo, trabalhou-se muito em função da demanda e das maiores necessidades que são obviamente a educação e a saúde. “Apesar de não ter aqui os números, os projectos destes sectores se equiparam”, afirmou, adiantando que presentemente o FAS financia projectos nas áreas de saúde e de educação em quatro municípios onde também já se está a implementar a componente de capacitação dos quadros, a saber: Cahama, Curoca, Cuvelai e Namacunde. Para 2015, o principal desafio é expandir a componente de capacitação a outros municípios de modo a evitar assimetrias. O ideal perseguido é que todos os municípios tenham o mesmo tipo de formação. Outro grande desafio é atingir o último estágio (a componente 5) visando a uniformização dos conhecimentos para que o processo de planeamento estratégico esteja completo. nossaterra#01 Para 2015, os desafios estão lançados, mas 25 projectos aguardam a aprovação da direcção-geral do FAS nossaterra#01 pós cinco anos de actividade como Director Provincial do FAS na Huila, Frederico Sanumbutue conclui que “só no princípio foi difícil”. Quando assumiu o cargo estava-se a desenhar o Projecto de Desenvolvimento Local (PDL), que começou a ser implementado em 2011 e vai até à data. Na Huíla, tal como noutras províncias, o PDL obedece aos mesmos parâmetros de actuação nas três componentes primárias. A primeira assenta na construção de infraestruturas – equipamentos sociais como escolas, postos de saúde e todos outros serviços decorrentes da demanda de necessidades de uma determinada comunidade – e tudo o que for solicitação das administrações municipais. Nesta componente, o FAS envolveu 430 milhões de kwanzas para financiar cerca de oito projectos de educação num total de 48 salas de aulas, vários postos de saúde, seis projectos de água e saneamento e 24 residências para professores e enfermeiros. Neste momento, perfazendo 173 milhões de kwanzas, existem nove projectos de 2014 que só serão entregues agora. São três escolas de seis salas de aulas cada, dois postos de saúde, um projecto de água e saneamento (combinando chafariz, lavandaria, poço e um tanque nt FAS Huíla o Director Provincial do FAS na Huíla disse que que o projecto está a ser implementado, por enquanto, em dois municípios pilotos, Chibia e Lubango, com actividades viradas ao estudo de linha de base dos municípios. Também foram realizados estudos de cadeia produtiva, prestação de serviço, tratamento de carne seca, moagens, sendo que o FAS já financiou cerca de 20 projectos de negócios e outros tantos aguardam financiamentos. Quanto a componente três, mais relacionada aos trabalhos nas/e para as administrações, Frederico Sanumbutue disse que começaram em quatro municípios, mas já se expandiram para nove. No que diz respeito ao reforço institucional, o FAS conseguiu dotar as administrações dos municípios intervencionados com ferramentas importantes de gestão, além da realização permanente de acções formativas. “Neste momento conseguimos fazer o planeamento do terceiro estágio estratégico que tem como objectivo a elaboração do plano de desenvolvimento municipal”, salientou. Para 2015, os desafios estão lançados, mas 25 projectos aguardam a aprovação da direcção-geral do FAS. “Já enviamos uma planificação para a direcção-geral e ainda não sabemos quais dos 25 projectos foram aprovados.” nt FREDERICO SANUMBUTUE 52 53 Mirene da Cruz ENTREVIST FA Santinho Figueira, Director-Geral “FAS é o primeiro projecto de combate à pobreza no país” A instituição pública que, há quase uma vintena de anos e apesar das dificuldades, reclama o lugar primeiro no esforço de melhoria de qualidade de vida das comunidades em Angola, na óptica de quem a gere com empenho. S Qual é a estrutura e funcionamento do FAS? O FAS tem um director-geral e um adjunto. A nível central temos departamentos como a área financeira, de aquisição – ligada aos projectos – e temos também uma área intermédia de desenvolvimento local. Existem ainda a área administrativa, a de monitorização e avaliação – que avalia as actividades do FAS assim como as comunidades. A nível das províncias temos as direcções provinciais, cada uma com as mesmas secções de acompanhamento que a direcção central. Em que províncias é que o FAS nossaterra#01 O PRIMEIRO PROJECTO A SER IMPLEMENTADO PELO FAS FOI UM UM FURO DE ÁGUA QUE AINDA EXISTE.” no combate à pobreza. É o primeiro projecto, a nível do país, que tem a ver com o combate a pobreza. Foi criado pelo Decreto 98/94 do Conselho de Ministros. Isto aconteceu numa época em que a situação do país era crítica devido à guerra. Então, o governo, através do Banco Mundial decidiu criar este projecto, que actua já lá se vão 20 anos. Independentemente do Banco Mundial já tivemos financiamentos de outras parcerias como é o caso da União Europeia, Embaixada da Noruega, PNUD, USAID, Embaixada da Itália, Cooperação Espanhola. nossaterra#01 ucinto, o Director-Geral do Fundo de Apoio Social, Santinho Felipe Figueira, faz o ponto de situação dos programas já implementados e fala do porvir de uma instituição que se distinguiu há muito como o maior braço do Estado na luta contra a fome e a pobreza em Angola, embora muitos ainda a confundam com uma simples ONG. O que é o Fundo de Apoio Social? O Fundo de Apoio Social (FAS) é um projecto do Executivo angolano com autonomia administrativa e financeira. O seu objectivo é ajudar o Governo 54 55 ENTREVIST FA de 60 a 120 dias. O mais tardar estaremos a entregar a obra em 180 dias. Mas estamos a falar de projectos como uma escola de seis salas de aulas. E quando temos a disponibilidade financeira e o fiscalizador tudo acontece de forma rápida. Depois que o empreiteiro entrega a obra ao FAS, chamamos a administração local e entregamos. A agricultura é a chave para o processo de diversificação da economia que está a ser levada a cabo. Quantas pessoas é que já foram beneficiadas com o projecto de economia local? Neste campo estamos a actuar em quatro províncias, Huambo, Benguela, Huíla e Namibe. São as províncias que estão a beneficiar do projecto de economia local. É um projecto-piloto, ainda é uma experiência. Pretendemos alargar para Cabinda, Cuanza-Sul e Bié porque já existem alguns resultados. Em termos de beneficiários nestas províncias, em média, temos cerca de 350. O grande objectivo é ajudar as famílias carentes, mas que já têm iniciativa própria. O FAS entra TEMOS 13.470.810 PROJECTOS, CERCA DE TRÊS MILHÕES DE BENEFICIÁRIOS” nossaterra#01 AINDA EXISTEM ADMINISTRAÇÕES QUE ACHAM QUE O FAS É UMA SIMPLES ONG.” administração deve indicar as necessidades que quer ver resolvidas. O FAS, por sua vez, interage com o governo provincial para analisar se, de facto, estes projectos estão de acordo com aquele que é o Plano Provincial, isto para não haver sobreposições de projectos. Os projectos são encaminhados ao Ministério do Planeamento para os aprovar. Isto pode levar até cinco meses. Depois de aprovados, e porque nós só fazemos isso quando já temos o dinheiro disponível. Depois deste processo, o período para a entrega do projecto é com 80 por cento, e os 20 servem para reinvestimento da conta do camponês. Solicitamos três facturas pró-forma para analisarmos a melhor oferta com a qual vamos trabalhar. Na Huíla existem camponeses associados que já conseguiram um espaço maior de cultivo, colhendo assim mais de 20 toneladas de batata rena. Depois de quantos anos é que o FAS deixou de ser tutelado pelo Ministério do Planeamento e passou para o Ministério da Administração do Território e porquê? Depois de 19 anos, pois só aconteceu no ano passado, 2014. Mas foi uma transição que satisfez os funcionários do FAS porque, como o nosso objectivo é trabalhar no território, facilitanos a comunicação com as administrações. Antes, quando estávamos no Ministério do Planeamento, para chegarmos à administração tinha de existir uma ponte: Ministério do planeamentoMAT. Só depois é que a orientação baixava às administrações e a resposta chegava até nós. Hoje, a situação está muito mais facilitada, porque basta uma comunicação ao Senhor Ministro da Administração do Território e a administração está logo em prontidão. Mas ainda existem administrações que acham que o FAS é uma simples ONG; então temos tentando divulgar mais a nossa imagem para quebrar esta que se tem do FAS. Contudo, parece que estamos no lugar certo. nt seguiu-se a construção de uma escola. O FAS tem alguma cidade satélite ou modelo? É a Huíla, porque há uma grande inovação nos projectos que lá se implementam, assim como o engajamento da própria direcção da província que é bastante proactiva. Quase na maior parte dos projectos que o FAS implementa noutras províncias, vai-se sempre buscar um exemplo à Huíla. E fora do país existirá um do qual o FAS retirou um modelo de acção e adaptou à realidade angolana? Anualmente a instituição realiza visitas ao estrangeiro. Daí que a realidade que procuramos trazer para a nossa é a brasileira, por ser muito próxima da nossa. Globalmente, nestes 20 anos quantos projectos é que foram implementados? Temos 13. 470.810 projectos, com cerca de três milhões de beneficiários e 250 mil empregos directos e indirectos gerados neste período, porque primamos sempre pela mão de obra local na construção de determinado projecto. Olhando para a particularidade de cada província, qual é o período médio que o FAS leva desde a concepção de um projecto à entrega? Solicitamos e ajudamos as administrações a identificar as necessidades, facto que pode acontecer num período de 30 dias. Neste tempo, a nossaterra#01 está implantado? Estamos nas 18 províncias. Até 2014 estávamos apenas em 15 províncias. Já nos últimos meses tivemos de abrir escritórios em todas províncias do país, justamente porque o acordo de crédito entre o Governo e o Banco Mundial tem cláusulas, e uma delas é atender as situações difíceis em todo o território nacional. Uíge, Cuando Cubango, as Lundas Norte e Sul e o Moxico foram as últimas contempladas. Em qualquer província onde se vá existe um escritório do FAS. Qual das províncias recebeu o maior número de projectos? Trata-se da província do Cuanza-Sul, onde, por sinal, o FAS nasceu em 1994. As províncias que têm mais projectos, em ordem sequencial, são: Cuanza-Sul, Namibe, Benguela, Huila, Huambo, Cabinda, Bengo e Luanda. Durante o período 1994-2015, a média em cada uma destas províncias é de 700 a 800 projectos. Sendo o Cuanza-Sul o berço do FAS, qual é o sector que beneficiou de mais projectos financiados? Foi o sector da educação seguido da saúde, isto em todas províncias. De uma forma geral, a necessidade da educação é sempre superior aos outros sectores. Porém, o primeiro projecto a ser implementado foi um projecto de água, um furo que ainda existe. Depois deste, 56 57 Severino Carlos ENTREVIST FA Gordon Kricke, embaixador da União Europeia em Angola Parceria com o FAS no rumo certo A União Europeia é o principal dador do FAS desde Setembro de 2004, na altura com uma ajuda no valor de 45 milhões de Euros. Objectivo? Erradicação da pobreza. É uma ajuda de peso que se reflete em millhares de projectos do Fundo de Apoio Social por todo o território nacional. Fomos ouvir o seu representante. A nossaterra#01 O FAS É UM PROGRAMA ALTAMENTE RELEVANTE NO DESENVOLVIMENTO E NA RECONSTRUÇÃO DE ANGOLA” bro de 2004, com uma ajuda no valor de 45 milhões de Euros, dos quais foram utilizados uns 30 milhões de Euros. Este apoio a fundo perdido foi concedido ao abrigo do 9º Fundo Europeu de Desenvolvimento e implementado através de um acordo de Administração com o Banco Mundial, iniciando-se as actividades em 18 de Maio de 2005 e finalizando em 31 de Dezembro de 2009. Durante a duração deste programa, que foi chamado FAS III, os fundos da UE ao FAS contribuíram para a implementação de 727 sub-projetos, em 65 municípios localizados em 17 províncias, de um total de 1575 sub-projetos, principalmente nas áreas de educação, saúde, reabilitação de escolas, centros de saúde e mercados; 6 municípios no apoio ao empreendedorismo e iniciativas de criação de empresas e 30 municípios na elaboração de Planos de Desenvolvimento local participativos. Estas ações estão localizadas em 14 das 18 províncias da República de Angola. É de salientar que uma grande parte dos municípios apoiados pelo novo programa, terão pela primeira vez uma intervenção por parte do FAS. Em quanto orça o valor total das doações já feitas até ao momento pela União Europeia em projectos sociais implementados em Angola? O valor total do apoio da UE ao FAS desde Setembro de 2004 é de 60 milhões de Euros. Como já indicado, este apoio é a fundo perdido e foi instrumentalizado através de 2 programas: - o FAS III, cuja implementação terminou em Dezembro de 2009 e teve uma contribuição da UE de 45 milhões de Euros, e o novo programa de apoio ao PDL (FAS IV) que começou em Janeiro de 2015 e para o qual a UE está a disponibilizar um financiamento a fundo perdido de 30 milhões de Euros. E como avaliam globalmente a parceria com o FAS? O FAS é um programa altamente relevante no desenvolvimento e na reconstrução de Angola e a UE quer apoiar os esforços do Governo para reforçar a boa governação local e apoiar as populações mais nossaterra#01 União Europeia (UE) é o principal parceiro do Executivo angolano para o desenvolvimento sustentável do país e a erradicação da pobreza. É no quadro dessa cooperação com o Estado angolano que se inclui a cooperação com o FAS, que está no rumo certo, de acordo com o embaixador da UE em Angola, Gordon Kricke, em entrevista à NOSSA TERRA. Sabemos que a União Europeia é o principal doador do Fundo de Apoio Social. Quais são os projectos concretos financiados ao longo da cooperação mantida com o FAS? O apoio da União Europeia (UE) ao FAS começou em Setem- água, saneamento e reforço das capacidades institucionais. Dada a importância do FAS para o desenvolvimento do país, a União Europeia decidiu continuar a apoiar o novo programa FAS IV, que foi intitulado Programa de Desenvolvimento Local (PDL), no valor de 30 milhões de Euros, provenientes do 10º Fundo Europeu de Desenvolvimento. Com este financiamento a fundo perdido a União Europeia vai continuar a apoiar o FAS na prossecução dos seus objectivos durante os próximos 3 anos, sendo que o objectivo do projecto continuará a ser a melhoria da qualidade de vida da população e a prestação mais eficaz e eficiente de serviços descentralizados. As componentes do PDL que a UE está a apoiar são: - a construção e/ou reabilitação de infra-estruturas económicas e sociais, que vão providenciar e aumentar o acesso de famílias a infra-estruturas sociais e económicas melhoradas; - a promoção do desenvolvimento local que irá permitir a capacitação de empreendedores e de produtores para a criação e desenvolvimento de novos negócios; - e a formação e capacitação de entidades públicas e da sociedade civil em planeamento, gestão financeira e técnica e monitorização de serviços públicos que irá permitir o reforço e melhoria das capacidades institucionais. Este novo programa, financiado pela União Europeia, irá apoiar 28 Municípios na construção ou 58 59 ENTREVIST FA as pessoas reais no terreno. A vossa interacção com o FAS é feita através da espanhola FIIAPP. Porquê o FIIAPP e não outra entidade? Durante a fase de definição e formulação do novo programa foram avaliadas outras modalidades de implementação com outras organizações. A proposta apresentada pelo FIIAPP, que incluía a actual estrutura do FAS como o ente implementador foi considerada pela Delegação da União Europeia como a mais adequada. Não devemos esquecer que o FAS já tem uma grande experiência na implementação dos fundos tanto da UE como do Banco Mundial e isto já é em si uma garantia de sucesso na utilização dos fundos da União europeia para atingir os objectivos do FAS IV, nomeadamente a promoção do desenvolvimento local, o aperfeiçoamento dos processos descentralizados e a participação activa das populações locais, a melhoria do acesso aos serviços básicos de saúde e de educação das famílias mais carenciadas e mais pobres em Angola. Fora do FAS a União Europeia tem outros parceiros em Angola? A UE é o principal parceiro do Governo para o desenvolvimento sustentável do país e a erradicação da pobreza. Desde que abriu o seu escritório em Luanda, em 1986, a Comissão Europeia atribuiu directamente mais de 600 milhões de euros a A UE É O PRINCIPAL PARCEIRO DO GOVERNO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO PAÍS E A ERRADICAÇÃO DA POBREZA. DESDE QUE ABRIU O SEU ESCRITÓRIO EM LUANDA, EM 1986, A COMISSÃO EUROPEIA ATRIBUIU DIRECTAMENTE MAIS DE 600 MILHÕES DE EUROS A ANGOLA” Angola. Durante esse tempo, a Comissão Europeia tem sido um importante parceiro do Governo de Angola em domínios como a reconstrução, a desminagem, a saúde, a educação, a água e o saneamento, a agricultura e a segurança alimentar, a protecção social de grupos vulneráveis, a boa governação e os direitos humanos. Que outros passos estão perspectivados em Angola em matéria de cooperação para o desenvolvimento? Ao abrigo do 10º Fundo Europeu para o Desenvolvimento (10º FED), no qual se enquadra o novo apoio ao FAS, mais de 250 milhões de euros foram destinados a um programa de cooperação plurianual (2008-2013) com Angola. No âmbito deste programa, estão a ser desenvolvidos projectos nas áreas da boa governação, justiça e apoio institucional, saúde e educação, água e saneamento, desenvolvimento rural, desminagem, direitos humanos e apoio a actores não-estatais. O novo programa de cooperação com Angola ao abrigo do 11º FED (2014—2020) está em fase de aprovação e irá ter como principais sectores de intervenção: formação profissional e ensino superior; agricultura sustentável; e água e saneamento. O 11º FED terá um orçamento de 210 milhões de Euros. Esta interacção com Angola tem a ver com o que está definido, de modo geral, em nossaterra#01 O FAS III TREINOU MAIS DE 3.100 PESSOAS E TAMBÉM CRIOU MAIS DE 19.000 POSTOS DE TRABALHO, 11.215 DELES PERMANENTEMENTE matéria, estão satisfeitos com o desempenho do FAS? É certo que não esperamos retornos financeiros, mas através do nosso apoio temos que oferecer soluções para o desenvolvimento relevantes e de elevado impacto e a nossa ajuda tem que se dirigir para onde ela é mais necessária e pode causar mudanças duradouras e catalisadoras. Neste sentido, a avaliação que se fez do FAS III estimou que 2,3 milhões de angolanos ganharam acesso a serviços básicos fornecidos pelo FAS III. Por exemplo na área de educação, a qual recebeu a maior parcela do apoio, o FAS III treinou mais de 3.100 pessoas e também criou mais de 19.000 postos de trabalho, 11.215 deles permanentemente. Vários inquéritos realizados em 2005 e 2007 mostram que as populações que beneficiaram dos subprojectos de infraestrutura viram as suas vidas melhoradas em termos de acesso a serviços sociais, como saúde, educação e água e saneamento. Isto foi conseguido através de distâncias mais curtas necessárias para atingir esses serviços. O novo programa, FAS IV, que está a começar as suas actividades, continuará a oferecer soluções para o desenvolvimento relevante e de elevado impacto e vai dirigir a nossa ajuda para onde ela é mais necessária e pode causar mudanças duradouras. A cooperação da UE para o desenvolvimento está a fazer uma verdadeira diferença para nossaterra#01 remotas através de prestação de melhores serviços para alcançar melhores perspectivas de vida. O programa está em linha tanto com as metas de desenvolvimento do governo como com os acordos bilaterais entre a União Europeia e o Governo de Angola. No FAS III, apesar de que uma parte dos fundos não foi executada (15 milhões de Euros), o programa teve um bom desempenho e o facto de que o Governo de Angola reforçou a sua contribuição, quadruplicando o que tinha sido originalmente orçado, é um testemunho do seu compromisso com o programa. As lições aprendidas no FAS III foram tidas em conta na definição e formulação do nosso novo apoio ao FAS. A Delegação da União Europeia está a seguir de perto a realização das actividades e está muito motivada para trabalhar em estreita colaboração com as equipas do FAS e do FIIAPP para garantir que o novo programa, FAS IV, seja bem implementado em benefício do país no processo actual de crescimento económico, de descentralização, e em prol do fortalecimento da democracia e da qualidade de vida de todos os Angolanos. Estamos certos de que o impacto destes projectos nas províncias será fundamental para o desenvolvimento dos municípios abrangidos. Quem doa não espera, obviamente, retornos financeiros. Mas quer ver boas repercussões da sua aplicação. Nesta 60 61 ENTREVIST FA nossaterra#01 62 A ÁFRICA É ACTUALMENTE O CONTINENTE COM A TAXA DE CRESCIMENTO MAIS RÁPIDA E A POPULAÇÃO MAIS JOVEM, E A ANGOLA É UM CLARO EXEMPLO DESTA TENDÊNCIA” E de uma maneira geral como é que a União Europeia perspectiva o futuro das relações Norte-Sul? O mundo, e, em particular, o mundo em desenvolvimento, está a evoluir a um ritmo acelerado. O PIB mundial aumentou um terço desde 2000, mas esse aumento foi conduzido pelos países em desenvolvimento, que são responsáveis por 70% do crescimento mundial nos últimos dez anos. O PIB da África Subsaariana aumentou 84% desde 2000. A África é actualmente o continente com a taxa de crescimento mais rápida e a população mais jovem, e a Angola é um claro exemplo desta tendência. Um aspecto crítico é que o crescimento económico na África Subsaariana tem trazido menos benefícios aos pobres do que em outros países bem sucedidos, uma situação que parece deteriorar-se com o tempo. Estes dados positivos e a necessidade de desenvolver políticas para o crescimento inclusivo demonstram que a cooperação para o desenvolvimento é mais do que uma questão de solidariedade: consiste também em investir num futuro mais vantajoso para todos. É por isso que a UE também colabora estreitamente com Angola sobre questões globais, sejam elas sobre paz regional, as alterações climáticas, a biodiversidade, a saúde, a migração e o asilo, Transportes e Comunicações e o comércio internacional. Através de projectos de desen- volvimento, o diálogo político e a sua coordenação com as embaixadas dos Estados-Membros presentes em Angola, a Delegação da União Europeia continua a ser um importante parceiro político, económico e de desenvolvimento de Angola e centra-se, em especial, na contribuição para o progresso social e o crescimento económico inclusivo para os seus cidadãos, porque este é fundamental para a paz e a estabilidade a longo prazo. Será alguma utopia perspectivar-se um mundo em que não haja Estados necessitados até um ponto extremo? Não acho que seja uma utopia. Os importantes avanços feitos por muitos estados nos últimos anos são uma prova clara de que é possível a erradicação da pobreza. E neste sentido a UE tem vindo a fazer uma contribuição decisiva para o nosso objectivo primordial de erradicar a pobreza extrema de uma vez por todas. Assim, colectivamente, a UE e os seus 28 Estados Membros continuam a ser o maior doador de ajuda do mundo. Reconhecemos que a cooperação para o desenvolvimento é mais do que uma questão de dinheiro e que a ajuda aos países em desenvolvimento tem que incidir especialmente na pobreza. Mas isso implica também um compromisso de dar um papel de liderança aos países parceiros e tornar a prestação da ajuda o mais eficaz possível. nt termos de cooperação com os países ACP – África, Caraíbas e Pacífico – ou o âmbito é diferente? Sim, tem muito que ver. No dia 1 de Março deste ano o 11º Fundo Europeu de Desenvolvimento (11º FED, entrou em vigor depois de todos os Estados-Membros da União Europeia concluírem o processo de ratificação. Será disponibilizado um montante total de 30,5 mil milhões de EUR para a cooperação com os Estados da África, das Caraíbas e do Pacífico (países ACP), através do 11º FED para o financiamento de projectos até ao ano 2020. O financiamento da UE é sempre concordado em estreita parceria com cada um dos países ACP para se certificar de que estão alinhados com as suas prioridades nacionais e Planos de Desenvolvimento. Isto fica reflectido nos chamados Programas Indicativos Nacionais (PIN), os quais estabelecem as estratégias e prioridades da cooperação entre a UE e cada um dos países ACP. No caso de Angola já foi concordado com o Governo este PIN, que se encontra neste momento em fase de aprovação pelas duas partes. O PIN de Angola para o período até 2020 terá uma aportação da UE de 210 milhões de Euros e foi concordado entre a UE e o Governo de Angola tal como já indiquei, concentrar o nossa cooperação em 3 sectores focais: formação profissional e ensino superior; agricultura sustentável; e água e saneamento. NA ROTA DO PROGRESSO Fruto de investimentos massivos o desenvolvimento vem a passos largos naquelas que já foram pejorativamente conhecidas como “Terras do Fim do Mundo” Cuando Cubango: Jamais a província conheceu tamanha azáfama socioeconómica como a que acontece nos dias de hoje. 64 nossaterra#01 locais LOURENÇO MANUEL E CARLOS PAULINO (FOTOS) EM MENONGUE Cuando Cubango J á nada será como dantes na província do Cuando Cubango, que vive momentos áureos da sua história. Os investimentos que o executivo angolano vem realizando, nos mais variados sectores da vida económica, social e cultural do sudeste de Angola, têm contribuído gradualmente para o progresso da região outrora pejorativamente conhecida como “Terras do Fim do Mundo”, melhorando significativamente a qualidade de vida das suas populações e comunidades. Jamais a província conheceu tamanha azáfama socio-económica como a que acontece 65 Estradas a fundo O fim do conflito armado em 2002 deu lugar, nt locais 66 A META, ATÉ 2017, É ASFALTAR MAIS DE 4 MIL QUILÓMETROS DE ESTRADAS, ESTANDO NESTE MOMENTO EM CURSO O PROCESSO DE ADJUDICAÇÃO DAS EMPREITADAS” nos dias de hoje. Está a ficar para trás o ciclo de forte atraso estrutural e económico, agudizado por décadas de violenta guerra civil – cujo clímax nesta província foi a histórica batalha de Cuito Cuanavale –, um ciclo que se arrastou praticamente até à realização das primeiras eleições multipartidárias no país em Setembro de 1992. A partir daí foram realizados alguns investimentos, no entanto sempre em escala muito diminuta devido à tensão militar que persistiu na região. Só com a paz definitiva obtida em 2002, o Cuando Cubango passou a viver períodos de tranquilidade e bonança. O executivo angolano, com o apoio do Governo da Província, arregaçou as mangas e deu início a uma gigantesca operação de recuperação das suas principais infra-estruturas, que permitiu que a província ganhasse o estatuto de “Terras do Progresso” – agora sim, merecidamente e sem qualquer malícia semântica. Os resultados do progresso estão à vista de todos. Apesar de existir ainda um árduo caminho para trilhar, vários quilómetros de estradas foram asfaltados, a desminagem caminha célere, bem como a construção de pontes, habitação social, centenas de escolas, postos de saúde, furos de água, sistemas de fornecimento de energia eléctrica – enfim, um sem-número de projectos que estão a mudar, radicalmente para melhor, a vida de milhares de angolanos que habitam numa das províncias mais extensas do país, onde o progresso, pelos vistos, galga a passo de corrida. nossaterra#01 na província do Cuando Cubango, a um desusado movimento de recuperação de vias rodoviárias para melhorar as acessibilidades e minorar o esforço de percorrer grandes distâncias entre as localidades num território maior, por exemplo, que Portugal. Desde 2005 que o governo central, através do Instituto Nacional de Estradas de Angola (INEA), está envolvido num vasto programa de melhoramento das vias rodoviárias, tendo mobilizado para o efeito um montante em torno de 800 milhões de dólares para asfaltar cerca de 796 quilómetros de estradas. As empreitadas foram adjudicadas às empresas Edifer-Angola, Zagope do grupo Andrade Gutierrez, ADMC, a Teichmann-Angola e o consórcio Decar, que assumiram o compromisso de asfaltar as ruas estruturantes da cidade de Menongue e diversas vias de ligação entre a capital e o interior da província. Passados nove anos, o balanço é satisfatório. Foram asfaltados 105 kms, de um total de 155 kms, do via Menongue/Cuchi até Cutato, orçado em cerca de USD 161.614.328. Está completamente coberto de asfalto o troço Menongue/Caiundo, empreitada orçada em USD 155.614.000. Os 16 quilómetros de vias estruturantes da cidade de Menongue, um projecto orçado em USD 46. 667. 719, estão totalmente asfaltados, assim como um percurso de 86 kms no trajecto Menongue/Longa, orçamentado em USD 41.181.588. Está fechado o troço Menongue/Kueley de 75 kms, orçado em USD 81.562.000. Da estrada Longa/Cuito Cuanavale, que custou aos cofres do estado a quantia de USD 75. 024.066, foram já asfaltados 86 dos 101 quilómetros da via; e 158 kms da estrada Caiundo-Savate, orçado em USD 107.869.000. Apenas a estrada entre Savate e Catuitui, na fronteira com a Namíbia, orçamentada em USD 78. 442. 355, ainda não recebeu um único centímetro de asfalto. Contudo, o Governador do Cuando Cubango, Higino Carneiro, fez saber que o seu executivo continuará a asfaltagem das estradas que considera vital para sustentar os projectos de desenvolvimento da zona leste e sul da província. A meta, até 2017, é asfaltar mais de 4 mil quilómetros de estradas, estando neste momento em curso o processo de adjudicação das empreitadas. Transportes e comunicações Encurtar distâncias é crucial A atenção que está a ser prestada aos transportes e comunicações no Cuando Cubango chega a ser uma espécie de corrida contra-relógio. Tudo para facilitar as comunicações e a circulação de pessoas e mercadorias em todo o território, com realce para as zonas de difícil acesso, numa província com uma superfície gigantesca de 199.335 km2. Um bom exemplo desse esforço está na construção de um canal fluvial entre a sede municipal do Rivungo e a localidade de Shangombo (Zâmbia), numa zona pantanosa do rio Cuando, com dez quilómetros de extensão, afigura-se de capital importância para a população daquele município que vive quase que isolada do resto da província por falta de vias de acesso. Os trabalhos do canal estão neste momento na recta final, aguardando-se pela construção das estruturas de apoio ao embarque e desembarque de passageiros e mercadorias. Estão igualmente em curso as obras de 11 portos fluviais que estão a ser ergui- dos nas margens dos rios Cubango e Cuíto. Para esta empreitada, o governo angolano adquiriu cerca de 40 embarcações de pequeno e médio-portes, algumas das quais já estão a servir a população dos municípios do Cuito Cuanavale, Cuangar, Calai e Dirico nas suas movimentações de um ponto para outro, incluindo para a Namíbia, país vizinho para onde a maioria das pessoas se deslocam com o fito de adquirir bens de primeira necessidade. As parcerias públicas e privadas também encontram um espaço neste domínio, sendo responsáveis pela instalação de serviços que também estão a encurtar distâncias, destacando-se as operadoras de telefonia móvel Movicel e Unitel. Esta última, por sinal, já logrou estender o seu sinal a todas as sedes dos nove municípios que compõem a província, incluindo algumas comunas. Para enfrentar o desafio de levar o comboio de volta à capital do Cuando Cubango, o Executivo gastou vários biliões de kwanzas em tarefas de remoção de minas, construção da nova linha férrea, recuperação de várias pontes e edificação de 56 estações ferroviárias ao longo de quase 922 kms que partem do Porto do Namibe Festa do comboio em Menongue Retomada no ano passado, a circulação do comboio entre o porto do Namibe e a cidade de Menongue, passando por Lubango, está 67 68 RETOMADA NO ANO PASSADO, A CIRCULAÇÃO DO COMBOIO ENTRE O PORTO DO NAMIBE E A CIDADE DE MENONGUE, PASSANDO POR LUBANGO, ESTÁ A CONTRIBUIR PARA UMA MAIOR CELERIDADE DO DESENVOLVIMENTO DA PROVÍNCIA DO CUANDO CUBANGO” Tempos de modernidade e de voar em grande nossaterra#01 passageiros. A modernização do aeroporto Comandante Kuenha resulta da firme determinação do executivo angolano, no quadro da visão estratégica do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, de combater as assimetrias entre uma e outra região, jogando assim um papel fundamental na firme integração dos países da SADC. “Transformar as diferentes províncias do país mais próximas das outras, através da criação de infra-estruturas de transporte e logística, é a prioridade do Executivo para que a circulação de pessoas e de mercadorias se processe a toda a dimensão do país sem constrangimentos”, lê-se num documento a que NOSSA TERRA teve acesso. nt a contribuir para uma maior celeridade do desenvolvimento da província do Cuando Cubango, com o transporte facilitado dos materiais de construção e de outros bens de uso e consumo da população. Com duas frequências semanais, o comboio dos Caminhos-de-Ferro de Moçâmedes (CFM) – ou do Namibe, como é vulgarmente chamado pela população – transporta para o Cuando Cubango de tudo um pouco. Quando o apito soa à entrada da cidade de Menongue, a estação local fica apinhada de gente. Alguns para receber um ente querido e outros por razões de negócios, pois muitas mercadorias são despachadas no momento da chegada. Materiais de construção, galinhas, porcos, cabritos, horto-frutícolas, feijão, batata rena e doce, cana-de-açúcar, peixe fresco e seco, roupas usadas, utensílios de cozinha, entre outros produtos de uso e consumo da população, são comercializados logo à chegada do comboio e a um custo ao alcance dos bolsos da maioria dos cidadãos. Ninguém quer esperar. Deixar para depois é arriscar-se a «cair nas mãos” das conhecidas “zungueiras” que despacham mercadorias a preços nada módicos. Para enfrentar o desafio de levar o comboio de volta à capital do Cuando Cubango, o Executivo gastou vários biliões de kwanzas em tarefas de remoção de minas, construção da nova linha férrea, recuperação de várias pontes e edificação de 56 estações ferroviárias ao longo de quase 922 kms que partem do Porto do Namibe, onde o novo desafio das autoridades agora é construir um ramal do CFM até à vizinha República da Namíbia. nt locais Reinaugurado Aeroporto Comandante Kwenha A inauguração do novo aeroporto pelo Ministro dos Transportes, Augusto Tomás. A reinauguração do Aeroporto Comandante Kuenha na cidade de Menongue, em finais do ano passado, pelo Ministro dos Transportes Augusto Tomás, marcou o início de uma nova era, o da modernidade de voar em grande, conferindo uma nova dimensão económica à província do Cuando Cubango em particular e ao país em geral. O moderno aeroporto tem uma pista de 3.750 metros de comprimento, devidamente sinalizada e iluminada de acordo com os padrões internacionais, 45 metros de largura com bermas de 7,5 metros – pode receber qualquer tipo de aviões, incluindo o Boeing 777-300 ER. A aerogare de estrutura metálica conta com uma área de 4. 200 metros quadrados, com uma sala de embarque e outra de desembarque para receber 200 passageiros cada, uma área reservada com cerca de sete balcões para o check-in, restaurantes e lojas, unidade para os bombeiros e postos para os Serviços de Migração e Estrangeiros (SME) e das Alfândegas. O aeroporto conta ainda com uma área comercial, duas máquinas de raio x para bagagem de mão, um detector de metais e armas, sistemas de abastecimento de aeronaves e de extinção de incêndios, um parque de estacionamento para 350 viaturas ligeiras e 18 pesadas, iluminação nocturna, entre outros serviços que vão garantir maior dignidade e conforto aos 69 Parceria público-privada e crescimento das receitas fiscais locais também são motores por detrás do bom rumo que os empreendimentos conhecem Mais água potável O 70 engajamento do empresariado privado e dinâmicas novas em matéria de arrecadação fiscal a nível local têm jogado um papel positivo para o bom rumo dado aos diversos projectos e empreendimentos em curso na província do Cuando Cubango. Isto mesmo vem referido num relatório balanço da actividade governativa local. O documento, a que NOSSA TERRA teve acesso, enaltece a solidariedade do Executivo Central em relação à província, com a sua inequívoca aposta na eliminação das assimetrias regionais, mas nota que as condicionantes nacionais e internacionais têm imposto limites financeiros às verbas A nova central, orçada em 45 milhões de dólares, tem capacidade para bombear 11 mil metros cúbicos de água potável por dia e beneficiar mais de 150 mil habitantes das zonas urbana e periurbana de Menongue e da sede comunal do Missombo orçamentais alocadas à província, levando a que certas empreitadas não sejam cabalmente concretizadas por escassez de fundos. No que diz respeito à contribuição fiscal da província para o Tesouro Nacional, o relatório indica uma considerável evolução. Fruto de uma atenção redobrada à arrecadação local, no último exercício as receitas fiscais e aduaneiras na província saltaram para 3,6 mil milhões de kwanzas, representando um crescimento na ordem 78%. Nos últimos dois anos, correspondentes ao consulado de Higino Carneiro como Governador da província, foram programados 154 projectos sociais, 148 dos quais concluídos e os restantes ainda Entre outros projectos de subordinação central e que estão a encher de orgulho a população da cidade de Menongue, destaca-se a nova estação de captação e distribuição de água potável, inaugurada em Janeiro último pelo Ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges. A nova central, orçada em 45 milhões de dólares, tem capacidade para bombear 11 mil metros cúbicos de água potável por dia e beneficiar mais de 150 mil habitantes das zonas urbana e periurbana da cidade de Menongue e da sede comunal do Missombo. O empreendimento, cujas obras tiveram a duração de 20 meses a cargo da empreiteira chinesa Sinohydro, conta ainda com um reservatório de seis mil metros cúbicos de água nossaterra#01 locais Turbinando os projectos em curso. Foram igualmente executadas 44 outras acções que, tendo transitado de 2012, acabaram por condicionar o orçamento 2013. O relatório realça também que, numa óptica de eficiência de utilização dos recursos públicos, os novos projectos inscritos privilegiaram a concentração de verbas em investimentos com maior impacto sócio-económico, designadamente a construção de 96 escolas do Iº ciclo do ensino primário e secundário, incluindo cinco institutos médios, a saber: Formação de Professores, Instituto Médio Agrário, Escola de Técnicos de Saúde; Escola de Professores do Futuro (ADPP) e a Escola dos 1º e 2º Ciclos do Cuchi. No domínio da saúde foram concluídos, no município sede do Cuando Cubango, cinco centros de saúde, um oftalmológico, outro ortopédico e um depósito de Medicamentos, uma escola de formação de técnicos de Saúde, um centro de especialidades clínicas e outro ortopédico, tendo o governo da província colocado à disposição seis ambulâncias e duas viaturas. Actualmente, decorrem trabalhos de conclusão do hospital geral do Cuando Cubango e do hospital municipal de Menongue, duas obras de subordinação central, bem como dos hospitais municipais de Mavinga, Rivungo, Dirico, Calai e do hospital sanatório, igualmente de Menongue. EM JUNHO VAI-SE REALIZAR NO BONDO-CAÍLA (CUANGAR), NA FRONTEIRA ENTRE O CUANDO CUBANGO E A NAMÍBIA, A 3ª EDIÇÃO DA FEIRA DO GADO e uma extensão de rede de 59,9 quilómetros, o que permitiu a construção de 100 chafarizes ao redor da cidade. O Ministério da Energia e Águas remodelou igualmente o sistema de ampliação e melhoramento da rede de média tensão e iluminação pública da cidade de Menongue, orçado em mais de 53 milhões de dólares e que vai abranger 12 mil ligações domiciliares até à comuna do Missombo, a 18 kms da sede da província. As obras que estiveram igualmente a cargo da Sinohydro num período de 20 meses incluiram também a instalação de 59 Postos de Transformação de energia de 630 e 250 KVA, e 15 quilómetros de iluminação pública nas principais artérias da cidade de Menongue, tendo sido inaugurados também em Janeiro do corrente ano. Agronegócio para diversificar a economia O governo da província do Cuando Cubango apresentou ao longo dos dois últimos anos um Plano Director Agro-industrial e Agro-pecuário a entidades nacionais e estrangeiras, com o propósito de atrair mais investimentos para a região, cujo enorme potencial agrícola se encontra adormecido por escassez de verbas. Em declarações à NOSSA TERRA, o Vice Governador do Cuando Cubango para o sector económico, Ernesto Kiteculo, disse que este exercício permitiu a parceiros nacionais e estrangeiros terem uma idéia do potencial 71 Carlos Paulino Paraíso turístico atrai investimentos O GOVERNO LOCAL ESTÁ SERIAMENTE DETERMINADO EM DIVERSIFICAR A ECONOMIA E UMA APOSTA CERTA É A REALIZAÇÃO PERÍODICA DE EVENTOS DE PROMOÇÃO DOS RECURSOS LOCAIS A fazenda agro-industrial do Longa situada na comuna com o mesmo nome, destinada à produção e processamento de arroz, constitui um projecto promissor no qual o executivo angolano investiu mais de 76,6 milhões dólares. A fábrica, montada pela chinesa CAMCE, está equipada com tecnologia moderna e inclui moradias para os técnicos e administradores da empresa. No local foi ainda construído um centro de formação para aperfeiçoar as técnicas dos camponeses locais no domínio agro-pecuário, uma biblioteca, laboratórios, uma estação meteorológica, serviços de fornecimento de mecanização agrícola, um posto-médico e uma escola primária para atender as comunidades locais. Foram igualmente erguidos seis dormitórios de 25 camas cada, sistemas de captação de água potável, parque de estacionamento de viaturas e máquinas agrícolas, uma estação de serviço, uma zona de armazenamento, oficinas, refeitório, um canal de irrigação, entre outros serviços indispensáveis à cultura do arroz. O campo de produção do arroz foi ampliado de 600 para 1.500 hectares para uma colheita anual de 15 mil toneladas deste cereal, quantidades que poderão ser triplicadas à medida que forem abertas novas áreas de cultivo no Longa e Masseca, no município do Cuíto Cuanavale. nossaterra#01 Okavango/Zambeze Projecto KAZA reúne potencial para situar-se entre as maiores referências no roteiro turístico do mundo inteiro Arroz no Longa nt locais 72 agrícola e dos outros recursos mineirais que a província tem, alguns dos quais já começaram a investir no sector pecuário, produção de ovos e de arroz, processamento de mandioca e de madeira. Ernesto Kiteculo adiantou que o governo local está seriamente determinado em diversificar a economia e uma aposta certa é a realização períodica de eventos de promoção dos recursos locais. No próximo mês de Junho vai realizar no Bondo-Caíla (Cuangar), na fronteira entre o Cuando Cubango e a Namíbia, a 3ª edição da Feira do Gado, um evento aberto a expositores de todo o país e que contará também com presenças confirmadas de criadores do Botswana e da Namíbia. No local, o governo da província do Cuando Cubango colocou à disposição dos expositores uma área de 800 metros quadrados com dezenas de currais, mangas de vacinação e um vasto campo para pasto do gado em leilão, restaurantes, zonas de lazer, um espaço reservado a emergências médicas e uma zona sobre o rio Cubango, para a prática de pesca desportiva. Ernesto Kiteculo disse que nas duas primeiras edições, realizadas em Março e Julho de 2014, o governo da província arrecadou rerceitas acima dos 100 milhões de kwanzas em cada um dos eventos, que contaram com a presença do Ministro da Agricultura, da Construção, Hotelaria e Turismo, Governadores das províncias do Zaire, Huíla, criadores da região sul de Angola e de centenas de turistas nacionais, da Namíbia, Botswana e da África do Sul. Incentivar os criadores tradicionais do Cuando Cubango a melhorar as suas manadas e o modo de vida das comunidades, cultivando-lhes o hábito de participarem em leilões de gado, como forma de renovar as suas manadas e como meio de combater a fome e a pobreza que os apoquenta, são entre outros objectivos o que o governo da província persegue com a realização deste tipo de eventos. Segundo o Vice-Governador, o Cuando Cubango tem um número significativo de criadores que já podem instituir um núcleo para dar resposta ao grande potencial que a província tem, para o desenvolvimento de um sector pecuário empresarial. Trata-se de uma iniciativa que pode ajudar na mudança genética do gado da província. O Projecto Transfronteiriço Okavango/Zambeze (KAZA), com uma extensão territorial de 444 mil kms quadrados repartidos por Angola, Botswana, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe, vai ser nos próximos tempos uma referência obrigatória no roteiro turístico da região Austral, de África e do mundo, a julgar pelas suas potencialidades e pelo empenho pessoal dos chefes de Estado dos cinco países membros. Este imponente projecto começa, na parte angolana, no município do Cuito Cuanavale, passando pelas localidades de Mavinga, Rivungo, Dirico até ao Bico de Angola, numa extensão de 87 mil quilómetros quadrados, nos quais o executivo angolano procura atrair investimentos para, através de parcerias público-privadas, imprimir maior dinamismo na execução de infra-estruturas hoteleiras, safaris, conservação da fauna e da flora. A província do Cuando Cubango, apesar do CUANDO-CUBANGO: 90 POR CENTO DO SEU TERRITÓRIO É CARACTERIZADO POR ZONAS TURÍSTICAS enorme atraso que denota em termos de infraestruturas, se comparado com os restantes países membros, é à partida o pulmão deste projecto, visto que 90 por cento do seu território é caracterizado por zonas turísticas, com uma fauna e flora e uma bacia hidrográfica invejáveis, com realce para os rios Cuito, Cuando e Cubango que o tornam um verdadeiro oásis. Apesar da guerra que assolou a região, o sistema ecológico, que é um dos principais objectivos do projecto, contínua intacto e precisa apenas ser melhorado para proporcionar, às comunidades locais, os benefícios provenientes dos recursos da biodiversidade, através de práticas de gestão, conservação, turismo e de oportunidades alargadas de meios de subsistência. Para melhor funcionalidade e organização, foi lançada no dia 6 de Agosto de 2013 a primeira pedra para a construção da sede do escritório KAZA na componente angolana, no município do Cuito Cuanavale, em cerimónia testemunhada pelos Ministros da Hotelaria e Turismo de Angola, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe, e do Governador do Cuando Cubango, Higino Carneiro. Um dia depois, a cidade de Menongue acolheu a reunião ministerial dos cinco países membros do projecto com o propósito de avaliar o grau de execução das tarefas agendadas no encontro anterior, com realce para a parte angolana, em que mais atrasos se verificam como resultado do conflito armado. O encontro teve como principal abordagem a criação de um fundo para as contribuições dos respectivos países, para que algumas actividades relacionadas com o projecto turístico internacional possam ser executadas sem qualquer sobressalto, particularmente o pro- 73 Pedro Mutindi. Neste momento, a província conta com mais de 50 unidades hoteleiras, entre hotéis, hospedarias e lodges que já permitiram gerar cerca de 400 postos de trabalho, além de conferir maior conforto e comodidade a centenas de turistas e homens de negócios que diariamente visitam a região. Neste momento, mais de 70 por cento, dos 87 mil kms quadrados da área afecta ao projecto Okavango/Zambeze na componente angolana, já foram desminados, garantindo a segurança e condições para a implementação de vários projectos sociais que possam dar maior sustentabilidade ao KAZA. Actualmente estão livres de minas os troços rodoviários que ligam a comuna do Luiana/sede municipal do Rivungo, Buabuata/ Jamba/Luiana. Decorre o processo de desminagem do percurso Mucusso/Mavinga/Rivungo e nos parques nacionais do Luengue e Luiana. Nestas empreitadas estão engajadas operadoras afectas ao Instituto Nacional de Desminagem (INAD), da Polícia de Guarda Fronteira e da Engenharia Militar, que estão a desminar os principais pontos para a implementação do KAZA. A desminagem das principais vias de acesso ao perímetro do KAZA permitiu ao Governo local construir os postos fronteiriços de Buabuata e do Sissué no Bico de Angola, para garantir a inviolabilidade das nossas fronteiras com a Zâmbia e a Namíbia. Protecção dos parques O parque nacional do Luiana, com uma extensão de 45.772 kms quadrados, o do Luengue, com 46 mil kms quadrados, a par dos rios Cubango, Cuito e Cuando, constituem o principal pulmão do Okavango/Zambeze, um mega-projecto turístico e de conservação que tem vindo a despertar o interesse da comunidade internacional. Hoje, passados 12 anos desde a conquista da paz efectiva, é notório o regresso ao habitat natural de numerosas manadas de elefantes, rinocerontes, búfalos, girafas, palanca real, onças, leões, guelengues, leopardos, avestruzes, javalis, hienas, cabras do mato, entre outras espécies. Quer o parque nacional do Luiana como o de Luengue, ambos possuem uma fauna e flora que infelizmente ainda continuam a ser alvos de acções negativas do homem, sobretudo dos caçadores furtivos que exploram estes recursos para fins pessoais. Razão pela qual o Ministério do Ambiente tem envidado esforços na protecção destes locais, para que no futuro não comprometam os verdadeiros objectivos para os quais foram criados. A protecção dos animais nestes parques não é eficiente; os 167 fiscais ambientais que asseguram estes locais ainda são insuficientes para fazer face aos caçadores furtivos zambianos e namibianos que diariamente entram ilegalmente no território nacional. Além do acto criminoso que começa pela violação das nossas fronteiras, eles abatem os animais e servem-se da carne, do marfim e de outros bens para se enriquecerem. O Cuando Cubango divide 685 kms de fronteira terrestre e fluvial com a República da Namíbia e 226 kms com a Zâmbia, sendo este último país que mais tem preocupado as autoridades locais devido à ausência de um controlo rigoroso para impedir a entrada de caçadores furtivos. Por esta razão, o trabalho ainda é grande e muito aturado. Urge a necessidade de se mobilizar e desdobrar os efectivos no terreno, assim como exige dos responsáveis do Ministério do Ambiente e de outras individualidades políticas dos países membros, que se empenhem mais na sensibilização das pessoas da importância ou da necessidade imperiosa de se proteger este bem público a qualquer custo, para que o KAZA seja realmente um dos maiores destinos turísticos do mundo. Angola precisa ainda do intercâmbio e experiência de outros países membros e não só, para que se possa transformar estes recursos naturais em favor da diversificação da economia e do melhoramento das condições de vida dos angolanos. Financiamento O Banco Alemão KFW é o principal financiador do projecto. Uma delegação desta instituição bancaria chefiada por um alto funcionário, Niles Meyer, visitou recentemente a província para junto das autoridades locais estudar mecanismos para financiar as acções prioritárias do executivo angolano. Durante cinco dias a comitiva trabalhou nos municípios do Cuito Cuanavale, Mavinga, Rivungo, Dirico e no Bico de Angola, lo- ABUNDAM A PALANCA REAL, ELEFANTE, RINOCERONTE, HIPOPÓTAMO, HIENA, LEOPARDO, BÚFALO, JAVALI, JACARÉ, ONÇA, CABRA DO MATO, ENTRE OUTROS MAMÍFEROS E AVES calidades que cobrem 87 mil kms quadrados do território do Cuando Cubango, onde avaliou o processo de desminagem, construção de infra-estruturas hoteleiras, vias de acesso e a conservação sustentável da fauna e da flora. Niles Meyer explicou, à margem de um encontro de cortesia com as autoridades locais, que todos os anos o banco KFW tem disponibilizado mais de 300 milhões de euros de crédito para projectos de conservação da biodiversidade e construção de infra-estruturas privadas. Assim, Meyer está disposto a não regatear financiamento em Angola para que o projecto KAZA seja uma realidade e possa contribuir sobretudo para o melhoramento das condições de vida das comunidades que vivem no seu perímetro. nossaterra#01 Desminagem Fauna e flora riquíssimas O território do Okavango-Zambeze alberga uma vasta espécie animal. Para gáudio dos turistas, abundam palancas reais, elefantes, rinocerontes, hipopótamos, hienas, leopardos, búfalos, javalis, jacarés, onças, cabras do mato, entre outros mamíferos e aves. A flora riquíssima não fica atrás, graças aos dois tipos de clima de que goza, sendo o tropical na zona norte e semi-árido no sul. nt locais 74 cesso de desminagem das áreas de Angola, metas alcançadas até agora, e o Plano de Desenvolvimento Integrado (PDI), sobretudo em matérias de construção de infra-estruturas hoteleiras, vias de acesso e instalações administrativas dos funcionários do KAZA a nível regional. Nos dias que correm o Cuando Cubango tem despertado o interesse de muitos empresários nacionais e estrangeiros, para a implementação de projectos que visam dar maior sustentabilidade ao KAZA. Neste momento, a província conta com mais de 50 unidades hoteleiras, entre hotéis, hospedarias e lodges que já permitiram gerar cerca de 400 postos de trabalho, além de conferir maior conforto e comodidade a centenas de turistas e homens de negócios que diariamente visitam a região. O Grupo RITZ, uma das empresas angolanas mais referenciadas a apostarem no sector do turismo, aceitou o desafio e instalou no perímetro do Pólo de Desenvolvimento Turístico da Bacia do Okavango, no município do Dirico, o primeiro aldeamento a base de tendas denominada “Dirico Lodge”, de 30 quartos. O pólo turístico da bacia do Okavango, aprovado pelo decreto presidencial número 56/11 abrange uma extensão de 12 quilómetros, localizado na confluência dos rios Cuito e Cubango e na fronteira entre Angola e a Namíbia. Tem como objectivo fundamental promover o desenvolvimento sustentável do sector da hotelaria e turismo na região, valorizando o património histórico e arquitectónico, os recursos naturais, culturais e contribuindo para a geração de rendimentos e empregos. Também é um dos pilares que deverão dar sustentabilidade, no período 2012/2017, ao Plano Nacional do Turismo, em particular, e de um modo geral à governação do Executivo angolano no desígnio de diversificação da economia nacional. Não é por acaso que, em linha com o KAZA, o Programa Angola Investe tem já disponíveis um pacote de crédito de cinco milhões de dólares americanos destinados a empresários nacionais ou estrangeiros que reúnam condições para investir neste importante projecto. 75 Região do planalto central conhece uma progressiva recuperação graças a obras de reabilitação e de ampliação das principais infra-estruturas destruídas durante o conflito armado N 76 uma altura em que Angola assinala 13 anos de paz efectiva após tempos de dura provação devido à prolongada guerra que o país viveu, no Bié, a martirizada província do planalto central do país, desenvolvimento e reconstrução são dois temas em voga. A região compara-se, hoje, a um exercício matemático: sub- Subtraem-se as tristezas provocadas pelo flagelo da guerra, somam-se as alegrias pela esperança traem-se as tristezas provocadas pelo flagelo da guerra, somam-se as alegrias pela esperança da sua gente, multiplicam-se as acções do Executivo em prol do progresso e dividem-se essas benesses para usufruto e bem-estar de todos os seus habitantes. É nesse sentido que o Bié está convertido hoje num verdadeiro “canteiro de obras”. Tendo sido uma das províncias que mais sofreram os efeitos devastadores do conflito armado, nem por isso jogou a toalha ao tapete. Antes pelo contrário, esta região do centro de Angola soergueu-se e conhece agora uma progressiva recuperação, graças às obras de reabilitação e de ampliação das principais infra-estruturas destruídas. No universo dos mais de 24 milhões e 300 mil habitantes em Angola, segundo os dados preliminares do primeiro Recenseamento Geral da População e Habitação, o Bié alberga nesse momento cerca de 6% desta cifra, a par do Uíje. Com esta população espalhada por nove municípios, o desenvolvimento da província é justificado pelo empenho do Executivo central e do local para melhorar as condições de vida. No âmbito do programa de melhorias e aumento da oferta dos serviços sociais básicos às populações, traçado desde o biénio 2006/2007, o Governo construiu, reabilitou e ampliou a maior parte das infra-estruturas da região. O Caminho-de-Ferro de Benguela, que atravessa toda a província do Bié e atinge hoje a zona do Luau, Moxico, na fronteira com a República Democrática do Congo (RDC) e Zâmbia, constitui só por si um factor importante para o desenvolvimento. A esta imponente infra-estrutura, junta-se a reabilitação e ampliação da pista do aeroporto Joaquim Kapango, Consumado o regresso do comboio há sensivelmente três anos. A principal estação de caminho-de-ferro no Bié, localiza-se no Cunje, tendo sido totalmente remodelada. no Cuito, outra mola impulsora do progresso da antiga cidade de Silva Porto. Regresso do comboio Trinta e três anos depois, a província ouviu soar novamente o silvo do comboio do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), que permite ligar esta província do Litoral Sul à zona Leste, mais concretamente o Luau, no Moxico, na fronteira com o Congo e a Zâmbia. Consumado o regresso do comboio há sensivelmente três anos, em 2012, hoje é possível atravessar esse Corredor, do Litoral até ao Leste e vice-versa, através dos serviços da locomotiva duas vezes por semana. No Bié, as paragens vão do Chinguar, transitando pelo Cunje – no Cuito e onde está localizada a estação principal –, Cunhinga, Catabola, Camacupa, Cuemba até atingir a fronteira na estação do Luau. O comboio normal de passageiros havia parado de circular no Bié a 25 de Novembro de 1978, ao passo que o de mercadoria foi interrompido em 1985. A principal estação de caminho-de-ferro no Bié, localiza-se no Cunje, tendo sido totalmente remodelada. nossaterra#01 Adeus aos escombros da guerra nt locais S É R G I O V. D I A S n o C u i t o | Província do Bié 77 Prestes a completar 90 anos, a antiga cidade de Silva Porto vive momentos de acelerada transformação até na estrutura arquitectónica E 78 m 2008, durante uma visita à capital do Bié, quando ela ainda apresentava profusamente as marcas terríveis da guerra, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, lançou um desafio aos seus habitantes para voltarem a fazer dela a bonita cidade que foi a antiga Silva Porto. Volvidos seis anos justifica-se saber como está, afinal, aquela que alguns repórteres de guerra consideraram a “Stalinegrado” de Angola. Agora, à beirinha dos seus 90 anos de existência, pois ascendeu à categoria de cidade a 31 de Agosto do longínquo ano de 1925, a capital biena enfrenta desafios próprios de uma nova era da sua história, procurando sobretudo a reabilitação das suas estruturas e prosperidade em vários domínios. Hoje já são visíveis os sinais de mudança na belíssima cidade do Cuito, que, altaneira e triunfante, vai renascendo dos escombros da guerra e resgatando aos poucos a mística de outros tempos. Mas esse percurso tem história. Com o alcance da paz, em 2002, e dada a dimensão ciclópica da destruição do Cuito, o Governo traçou três importantes programas: a exumação dos corpos enterrados em quintais e jardins, a reconstrução da cidade e a melhoria da oferta dos serviços sociais básicos à população. Estas acções contribuíram, grandemente, para a recuperação das infra-estruturas socio-económicas e melhoria das condições de vida da população local. O Administrador Municipal do Cuito, Avis Agostinho Vieira, lembra que durante a guerra os corpos das pessoas falecidas foram sepultados em lugares impróprios. “Os enterros foram feitos nas ruas, quintais, jardins e daí houve um programa especial liderado por Sua Excelência, Presidente da República José Eduardo do Santos, que permitiu fazer a exumação e inumação dos corpos nos três anos seguintes. Foi neste contexto que surgiu o cemitério-monumento, onde jazem cerca de sete mil corpos”, disse. Nestes 13 anos de paz efectiva, o Governo Provincial desenvolveu projectos no domínio da Educação e Saúde, construindo hospitais e escolas de todos os níveis de ensino, o que permitiu a melhoria da qualidade do ensino e da assistência médica. A cidade começa a reaver o ar florido que a caracterizou em épocas áureas com a construção de parques infantis e reabilitação de espaços verdes e jardins em todas as rotundas, que são alguns dos serviços executados no âmbito da requalificação em curso na capital do Bié. Segundo Avis Agostinho, em paralelo com a recuperação das zonas verdes projectam-se formas de preservação ambiental da cidade, estando também em perspectiva uma grande intervenção para aumentar a capacidade de produção e de distribuição de água a partir do actual centro de captação. Distribuição superficial Nos seus 4.814 km2 quadrados de superfície, a capital biena alberga uma população estimada em mais de 500 mil habitantes. É limitada a Norte pelos municípios do Cunhinga e de Catabola, a Este por Camacupa, a Sul pelo Chitembo e a Oeste pelo Chinguar. Além da sede municipal, a cidade do Cuito conta com as comunas do Cunje, Trumba, Cambândua e Chicala. A agricultura é a principal actividade dos habitantes da região. nt locais Cuito veste-se de novo Antes os edifícios do Cuito eram a imagem da desolação e destruição, mas hoje, depois de reabilitados, eles estão bonitos e vistosos. À beirinha dos seus 90 anos de existência, pois ascendeu à categoria de cidade a 31 de Agosto do longínquo ano de 1925, a capital biena enfrenta desafios próprios de uma nova era da sua história AS RESIDÊNCIAS CONCLUÍDAS AGUARDAM APENAS PELA ARREMATAÇÃO DE CERTAS COMPONENTES COMO A ILUMINAÇÃO PÚBLICA, POSTOS MÉDICOS E OUTRAS nossaterra#01 Nova ex-libris Com 3 mil apartamentos já concluídos, a nova centralidade da capital biena está quase pronta A nova centralidade do Cuito, capital do Bié, já conta com mais de 3.000 apartamentos do tipo T3 em condições de habitabilidade dos 6.000 previstos no Projecto Horizonte Kora Angola para a região. As residências concluídas aguardam apenas pela arrematação de certas componentes como a iluminação pública, postos médicos e outras, para que haja autorização para o início do processo de venda, de acordo com o Vice-Governador do Bié para os Serviços Técnicos e Infraestruturas. José Fernando Tchatuvela esclarece que a rapidez imprimida na construção dos edifícios deve-se em grande medida ao método de construção usado, baseado em moldes de parede de betão pré-fabricadas. “Estão ajustadas por construção colante, o que permite, em pouco tempo, erguer números altos de moradias”, explicou. De um modo global, este projecto, que abrange também o município do Andulo, basea-se em edifícios de até três pisos, com apartamentos T3 e duplex, todos construídos numa área de 100 m2. Quanto às vendas, José Tchatuvela tranquilizou a população do Bié, 79 Não é tudo em matéria de novas habitações. Caminha também a bom ritmo o programa local de construção de 200 fogos por município, igualmente sob a chancela da Kora-Angola que, recorde-se, está a executar um pouco por todo o país o Programa Nacional de Habitação “Meu Sonho, Minha Casa” tutelado pelo Executivo angolano. Em sete dos nove municípios que compõem a província do Bié, a construção das residências encontra-se praticamente em fase conclusiva. Os 200 fogos habitacionais estão a ser erguidos nos municípios do Chinguar, Chitembo, Cunhinga, Catabola, Camacupa, Cuemba e Nharea, estando nesse momento mais de 90% da sua execução física realizada. Nos municípios em referência as residências estão orçadas em cerca de 4 milhões de kwanzas para os candidatos elegíveis, sendo que há uma prioridade de 30% para a juventude da província ligada à função pública. Centralidade do Andulo Por seu turno, no município do Andulo, a cerca de 130 kms a Norte da capital do Bié, mais de 200 apartamentos dos 1.000 do tipo t2, t3 e t4 previstos para a centralidade da região estão concluídos. À semelhança do que acontece em relação aos 200 fogos habitacionais por município, na centralidade do Andulo, tal como na do Cuito, estão a ser construídas Ravinas atrapalham No município do Cunhinga, cerca de 30 kms a Norte do Cuito, capital do Bié, as cem casas já habitadas, das duzentas previstas no projecto habitacional da região, correm o risco de ser destruídas por ravinas que se alastram em diversas direcções. As fortes chuvas que caiem ultimamente no Planalto Central fazem com que as ravinas progridam para a zona das casas sociais. Uma equipa técnica designada pelo Governador do Bié já fez um levantamento preliminar para avaliar a magnitude das ravinas.e, consequentemente, procurar conter o seu alastramento. As ravinas ameaçam destruir várias habitações, erguidas no âmbito dos 200 fogos por município, e cortar a circulação na estrada nacional 250. Essa estrada permite ligar o município do Cunhinga ao de Andulo, ambos no Bié, assim como ao do Mussende, no Cuanza Sul, que dá acesso à vizinha província de Malanje, através de Cangandala, habitat da Palanca Negra Gigante. O Vice-Goverandor José Tchatuvela disse que para evitar o desabamento das habitações, numa primeira fase, o Governo procederá à abertura de três valas para o escoamento das águas pluviométricas, fazer a reposição dos solos, bem como a sua compactação. Quanto a ravina que se alastra para a EN 250, o governante disse que a empresa contratada para a reabilitação da mesma vai construir uma ponte hidráulica para o escoamento das águas de um lado para outro da via. José Tchatuvela informou, por outro lado, que pela dimensão das ravinas o governo já informou as estruturas centrais para que se efectue um trabalho de fundo e de carácter definitivo. Cerca de 220 km de vias serão reabilitados na zona Leste do Bié D e obras públicas no Bié não é tudo. Cerca de 220 km de estradas serão reabilitados ainda no decurso deste ano no percurso que liga a comuna do Cunje, no Cuito, aos municípios de Catabola, Camacupa, Cuemba até à região do Munhango. O responsável das Obras Públicas e Urbanismo, André Kaquarta, disse estar ainda prevista a reabilitação de cerca de 208 km de estradas secundárias e terciárias, também adjudicadas nesse programa do Executivo. O troço que liga o Cuito ao município do Andulo, passando pelo do Cunhinga, beneficiou já de obras de restauro até ao rio Mbui. A execução física dessa empreitada está na ordem dos 85%, com cerca de 94 km já concluídos. A maior preocupação do Governo do Bié está nas vias do corredor leste da província, concretamente nos troços Cunje-Catabola, Camacupa-Cuemba-Munhango, numa extensão de 220 km, cujas obras ainda não iniciaram. André Kaquarta assegura, contudo, que as obras terão início ainda no ano em curso, sobretudo em relação à EN 140 com empreitada já adjudicada. Quanto à recuperação da malha rodoviária secundária e terciária da província, o Director das Obras Públicas no Bié informou que foram já adjudicados mais de 200 km para serem executados ainda este ano. VIAS SOB INTERVENÇÃO Cuito-Cambândua: 52 km Nharea-Lúbia: 67 km Cuemba-Sachinemuna: 52 km Zonas suburbanas: 27 km Finanças do Bié Boavida Neto: “Não deve haver lugar para pânico desnecessário. Temos de estar serenos e conscientes que os recursos disponíveis chegam para executar os nossos objectivos. Se houvesse mais, melhor. Mas estes são os recursos disponíveis que temos para trabalhar”. O governador referiu que o orçamento da província para 2015, comparativamente aos disponibilizados nos períodos anteriores, permite alimentar óptimas expectativas nossaterra#01 Reabilitação de estradas nt 200 fogos habitacionais diversas estruturas e equipamentos sociais como hospitais, escolas, creches, postos policiais e outras. O Governo do Bié prevê, ainda, a construção de várias centenas de salas de aulas em todos os municípios, para fazer face à explosão demográfica que se tem registado nos últimos tempos na província. Para tanto, estão a ser erguidas em todas as sedes municipais escolas com 12 salas de aulas, para o II Ciclo de ensino secundário. . nt locais CAMINHA TAMBÉM A BOM RITMO O PROGRAMA LOCAL DE CONSTRUÇÃO DE 200 FOGOS POR MUNICÍPIO informando que não existe ainda qualquer processo de comercialização de residências na centralidade. “O Governo da Província está a procurar organizar-se para melhor acomodar os quadros locais e funcionários públicos”, lembrou. Explicou ainda que o governo propôs inicialmente uma reserva cifrada em 4 mil casas, tendo acrescentado duas mil destinadas à livre adesão, um processo cujos trâmites de negociaçao com as entidades competentes decorrem. Os organismos públicos e privados interessados no projecto devem endereçar uma circular à Direcção Provincial do Bié das Obras Públicas e Urbanismo. A comercialização, a cargo da Imogestim, será no método de renda resolúvel. Nada de pânico Em tempos de austeridade financeira no país, o governador do Bié apela à tranquilidade e recomenda apenas que os administradores sejam mais contidos nos gastos “N ada de entrarmos em pânico orçamental. O orçamento está muito bom. Por isso não há que lamentarmos, mas mobilizar sinergias para vencermos as dificuldades. Portanto, o desafio está lançado.” Foi com estas palavras que o Governador do Bié, Álvaro Boavida Neto, abriu a reunião de concertação do Governo do Bié com os administradores municipais, em Janeiro último no Cuito. Boavida Neto lembrou a orientação dada pelo Chefe do Executivo, o Presidente José Eduardo dos Santos, para maior racionalidade na utilização dos recursos. “Não deve haver lugar para pânico desnecessário. Temos de estar serenos e conscientes que os recursos disponíveis chegam para executar os nossos objectivos. Se houvesse mais, melhor. Mas estes são os recursos disponíveis que temos para trabalhar”, declarou. O governador referiu que o orçamento da província para 2015, comparativamente aos disponibilizados nos períodos anteriores, permite alimentar óptimas expectativas. “O orçamento disponível para este ano chega a 81 Digno de registo 82 Na mesma ocasião, o governador do Bié apontou o ano de 2014 como digno de registo devido à aprovação, pelo Conselho de Ministros, do Plano de Desenvolvimento Provincial do período 2013-2017. Destacou que o referido plano foi aprovado num valor global de 767.023.563.558 kwanzas. O número “um” do Governo do Bié lembrou que a partir da aprovação desse plano ficaram definidas as balizas “para uma governação que poderá contar com a participação sublime de toda sociedade”. Em relação ao Programa de Investimento Público (PIP) em 2014, o Governador lembrou que conheceu uma execução física na ordem dos 77,20% e financeira de 62%. Quanto aos programas de Impacto Económico e Social e NÃO DEVE HAVER LUGAR PARA PÂNICO DESNECESSÁRIO. TEMOS DE ESTAR SERENOS E CONSCIENTES QUE OS RECURSOS DISPONÍVEIS CHEGAM PARA OS NOSSOS OBJECTIVOS.” BOAVIDA NETO Quatro bilhões para combater a pobreza O Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate a Pobreza (PMIDRCP) tem disponível no Bié para 2015 um valor de 4 bilhões e 144 milhões de kwanzas. Satisfeita, a Vice-Governadora do Bié para a Esfera Económica, Deolinda Belvina Gonçalves, deu a conhecer que do valor aprovado 3 bilhões e 4.621 milhões de Kwanzas hão-de cobrir os principais eixos do referido programa, nomeadamente os ligados aos cuidados primários de saúde, “Água para todos” e merenda escolar. O Programa de Aquisição de Produtos Agropecuários (Papagro) e o da mobilização social também fazem parte do pacote inserido no exercício económico de 2015. A governante fez saber, ainda, que os indicadores de redução da pobreza são positivos na província do Bié, reflectindo uma execução satisfatória de 77% em 2014. nt Abençoada pela mãe-natureza Potencial turístico da região planáltica do Bié apenas aguarda por investimentos Tal como outras províncias, o Bié, na região planáltica do centro do país, conta igualmente com muitos atractivos turísticos. É todo um potencial que apenas aguarda pelos necessários e adequados investimentos públicos e privados para descolar. Por isso mesmo, responsáveis locais do sector e empresários do ramo já traçam políticas para atrair investidores e desenvolver o turismo na província. Vários operadores turísticos do Bié participaram, em Outubro de 2014, na cidade do Cuito, num encontro provincial realizado sob a égide do Governo do Bié, através da Direcção Provincial do Comércio, Hotelaria e Turismo. O evento visou definir a estratégia e funcionamento do sector nessa zona circunscrita ao Planalto Central do país. Foram debatidos, igualmente, o pacote legislativo do sector, o licenciamento da actividade, entre outros aspectos. O chefe local do Departamento de Hotelaria e Turismo da referida direcção, Isaías Lucondo, diz ser fundamental a reabilitação das diferentes áreas turísticas, assim como das vias de acesso a esses locais. “A província precisa divulgar o seu potencial turístico para despertar interesse aos turistas e investidores, competindo assim com as demais do país”, afirmou. Além do Centro Geodésico de Angola, em Camacupa, e a nascente do rio Cuanza, na localidade de Mumbué, no município do Chitembo, o Bié conta com muitos outros atractivos turísticos. Mas o maior rio inteiramente angolano e o centro geodésico constituem os maiores cartões postais turísticos da província. Mas não é tudo quanto a referências turísticas no Bié. Destacam-se, ainda, as lagoas, cascatas, florestas e algumas ruínas de interesse histórico como o Cristo-Rei, construído pelos portugueses e que se encontra junto ao marco do centro geográfico do país, assim como os Fortes de Silva Porto e do Munhango, ambos monumentos seculares, que aguardam por restauração. O Jardim Espelho d’Água, vulgarmente ape- O BIÉ, NA REGIÃO PLANÁLTICA DO CENTRO DO PAÍS, CONTA COM MUITOS ATRACTIVOS TURÍSTICOS lidado de “Pouca Vergonha”, nome que se deve à estátua que representa uma mulher nua; as Grutas Paleolíticas e da Rainha de Chiconde, no Morro Tchimbango, um local onde se comemora todos os anos, a 13 de Maio, a lenda da aparição da Virgem aos três pastorinhos. Destaque ainda para as ruínas do Forte, em Nharea, que foi destruído durante a guerra civil, bem como a Lagoa do Cambâdua, com cerca de três km de cumprimento formada por um afluente do rio Kakuito, as quedas de Mutumbo, no Chitembo, assim como as do Lau-Lau, na margem do rio Luando. A Reservas Florestais de Umpulo, com uma área de mais de 4.000 quilómetros e rica em espécies exóticas e a Natural Integral do Luango, que é partilhada com a província de Malanje, conhecida como um paraíso de aves, devido à enorme variedade que aí existe, são, também, outras referências incontornáveis do turismo na província. nossaterra#01 locais ser superior aos dos exercícios passados na ordem dos 12%. Isso significa que os gestores vão acautelar dentro da estratégia uma planificação prudente de modo a obedecer a lei quadro do orçamento para 2015” e evitarem-se passivos desnecessários, alertou. Apelou também aos gestores públicos da província para prestarem mais atenção à aplicação das verbas cabimentadas para os diferentes programas. Apontou, como exemplo, a aplicação de valores nos programas ligados à merenda escolar na província. “Não se compreende que um determinado valor serve para cobrir ou distribuir merenda escolar para 20 mil alunos numa certa localidade e na outra o mesmo valor sirva apenas para distribuir merenda a 10 mil alunos”, criticou. “Água para Todos”, frisou que estiveram também num nível aceitável. O primeiro teve uma execução física de 78,03% e financeira de 77 %, ao passo que o Programa “Água para Todos” teve uma execução física de 70% e financeira de 80,5 %. Das várias acções executadas em 2014, Boavida Neto realçou que foram construídas 462 salas de aulas que permitiram maior ingresso de alunos. Destacou, igualmente, a construção de 17 postos e seis centros de saúde, assim como 191 furos de água em várias localidades. A extensão da rede eléctrica da cidade do Cuito, com mais de 3500 ligações domiciliares em 13 bairros periféricos, foi outro aspecto que o governante destacou na sua alocução. Todas essas acções, segundo ele, traduzem “o sentimento bom de se viver em harmonia e com fraternidade, fazendo florescer a esperança de construir um futuro melhor que é desejo exponencial do bom angolano de gema”. Boavida Neto anunciou a execução em 2015 de quatro grandes projectos na província do Bié, designadamente a construção do hospital provincial, da aerogare, assim como dos sistema de água do Cuquema e da centralidade do Tchissindo, todos eles localizados na capital biena. 84 A nascente do rio Cuanza é essa coisinha minúscula. Nada que faça adivinhar a imponência que ele assume no seu curso lá mais à frente até ao seu estuário a sul de Luanda. Sendo o maior dos rios que nascem em Angola, o gigante tem mais de mil quilómetros de extensão e uma bacia hidrográfica que ocupa uma área de 140 mil km2. Maior produtora de batata rena do país terá este ano uma safra na ordem de 10 mil toneladas A fazenda agrícola “Vinevala”, localizada no município do Chinguar, a cerca de 75 quilómetros do Cuito, capital do Bié, tem prevista para este ano uma colheita na ordem de 10 mil toneladas de batata rena, 500 mil de repolho e mais de 1000 de cebola. O empreendimento que beneficiou de um financiamento de 147, 3 milhões de kwanzas (1,5 milhões de dólares norte-americanos), do Programa “Angola Investe”, tornou-se no maior produtor e fornecedor de batata rena no país. Alfeu Vinevala, seu proprietário, garante existirem contactos com empresários europeus que podem promover a assinatura de contratos de exportação e importação de produtos dessa fazenda. “Como agricultores, estamos a empreender esforços para alavancar a nossa produção lo- Além do arroz, no Cuemba salta igualmente à vista as culturas da mandioca, batata rena, feijão, milho e outras. Na região estão licenciadas 40 associações de camponeses e quatro cooperativas que são apoiadas pela Administração Local. Em relação ao escoamentos dos produtos, a responsável municipal disse que se abrem boas expectativas com a previsão este ano da reabilitação das vias de acesso ao Cuemba, que se apresentam bastante degradadas. “O Executivo angolano está a fazer tudo para melhorar os acessos ao nosso município. Por isso convidamos os empresários a fazer o seu investimento, já que o Cuemba é rico em recursos hídricos, turísticos e arável para a prática de várias culturas”, lembrou. Municípios Principais culturas Alfeu Vinevala: “O ano passado tivemos uma colheita de 5 mil toneladas de batata rena e de vários cereais. A perspectiva que temos para este ano é atingir as 10 mil toneladas de batata rena, 500 de milho e igual cifra de repolho” nossaterra#01 Como as imagens atestam, a nascente do rio Cuanza é essa coisinha minúscula. Nada que faça adivinhar a imponência que ele assume no seu curso lá mais à frente até ao seu estuário a sul de Luanda. Sendo o maior dos rios que nascem em Angola, o gigante tem mais de mil quilómetros de extensão e uma bacia hidrográfica que ocupa uma área de 140 mil km2. A sua nascente está situada na localidade do Mumbué, Chitembo, um município a Sul do Bié e que liga esta província à vizinha Cuando Cubango. Desagua no oceano Atlântico, numa área a sul de Luanda, capital do país. Ao longo do seu curso, de mais de 960 kms, existem zonas navegáveis, cerca de 258 kms, formando na Barra do Cuanza, um aprazível recorte natural que atrai milhares de turistas. As barragens de Cambambe e de Capanda produzem grande parte da energia eléctrica consumida em Luanda. Também fornecem água para irrigação de plantações de cana-de-açúcar e outras culturas no vale do Cuanza. É no seu maior afluente, o rio Lucala, que se encontram as grandes Quedas de Kalandula. Junto da foz do rio fica o Parque Nacional da Quiçama. O rio Cuanza foi o berço do antigo Reino do Ndongo, tendo também sido uma das vias de penetração dos portugueses em Angola no século XVI. O rio dá o seu nome a duas províncias de Angola, o Cuanza-Norte e o Cuanza-Sul, bem assim como à unidade monetária nacional (Kwanza), desde o seu surgimento em 1977. Batata rena em alta na Fazenda Vinevala nt Aqui nasce o Cuanza nt locais Sector agrícola cal para diminuir a pobreza a nível do país. O ano passado tivemos uma colheita de 5 mil toneladas de batata rena e de vários cereais. A perspectiva que temos para este ano é atingir as 10 mil toneladas de batata rena, 500 de milho e igual cifra de repolho”, disse. Esses produtos foram escoados para as províncias de Luanda, Lunda Norte, Huambo, Benguela, Malanje, Cuando Cubango, Lunda Sul e Moxico no ano transacto. No pretérito mês de Janeiro, um grupo de empresários do ramo agrícola visitou a fazenda e manifestou a intenção de uma parceria com este gigante da produção da batata na região do Planalto Central e no país. A fazenda “Vinevala” arrancou com a produção agrícola em meados de 2002 e presentemente conta com mais de cem trabalhadores efectivos e de 200 eventuais. Alfeu Vinevala apontou a pecuária como próximo passo a dar. Nesse momento o empreendimento dispõe de mais duas centenas de cabeças de gado bovino e fruto disso, em breve, será lançada uma linha de produção e comercialização de carne e leite. Segundo informação avançada por Alfeu Vinevala, o Programa de Aquisição de Produtos Agro-pecuários (PAPAGRO), no município do Chinguar, tem adquirido hortofrutícolas como repolho, couve, cenoura, batata rena, cebola, milho, feijão, mel, laranja, tangerina, fuba de bombó, mandioca, entre outros. Os produtos são adquiridos por intermédio do Centro de Logística e Distribuição (CLOD). Enquanto isso, é também notícia que diversos empresários, originários de Portugal, Holanda e Índia, que visitaram recentemente a fazenda “Vinevala” deslocaram-se, também, à zona de produção de arroz, no município do Cuemba, localizado no corredor Leste do Bié e que dá acesso à província do Moxico. Nessa região está em construção uma fábrica de descasque de arroz. A administradora municipal do Cuemba, Laurinda Capocola, refere, nesse particular, que o cereal reveste-se como das principais culturas da localidade. “O ano passado recebemos a máquina de descasque do arroz e um gerador. Já temos a estrutura onde vai funcionar a fábrica que vai arrancar este ano”, disse. Produção agrícola por regiões Cuito Milho, feijão, batata rena, batata-doce, hortícolas, trigo e arroz Cunhinga Batata-doce, mandioca, frutícolas e café arábica Chinguar Batata rena, batata-doce, hortícolas, frutícolas, oleaginosas e café Andulo Batata rena, batata-doce, feijão, mandioca, trigo, arroz e café arábica Nharea Milho, feijão, batata rena e doce, mandioca, trigo, a rroz e café Camacupa Milho, feijão, batata rena, batata-doce, frutícolas, ·trigo, arroz, mandiocas e café Cuemba Mandioca, feijão, batata-doce, oleaginosas Catabola Milho, feijão, trigo, arroz, batata rena e doce, mandioca, hortícolas e frutícolas Chitembo Milho, mandioca, batata-doce. 85 locais Va l d e m i r o D i a s 86 Antecâmara do Plano Director Geral Metropolitano Capital do país com novo paradigma administrativo O boom populacional fez soar o estopim, apressando as autoridades a virarem o jogo. O novo modelo deverá inverter défices actuais, transformando Luanda numa metrópole mais moderna que assegure a prestação de serviços essenciais e adequados aos seus habitantes DENTRO DE DOIS ANOS ARRANCA A IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DIRECTOR GERAL METROPOLITANO DE LUANDA de serviços básicos de saúde e educação, abastecimento de água potável e energia eléctrica, esgotos, limpeza e recolha de lixo regulares. De acordo com o Chefe de Estado angolano, o pacote de medidas já em curso visa, tão somente, optimizar a organização e o funcionamento do Governo Provincial de Luanda, justamente por ser a província mais povoada, mais urbanizada e a que alberga a cidade capital do país. Mais: no futuro até se justificará que Luanda tenha um estatuto diferenciado, à semelhança de importantes cidades do mundo, casos de Brasília, no Brasil, ou Washington DC, nos EUA. Está preconizado que dentro de dois anos arranque a implementação do Plano Director Geral Metropolitano de Luanda, um documento que deve abarcar as vertentes do desenvolvimento económico e social, do ordenamento do território e da mobilidade, estendendo-se até 2030. Até atingir-se à fase de implementação, a locomotiva da modernização da capital angolana passará por várias estações – entenda-se etapas – que envolverão antecipadamente uma consulta pública e concertação entre os organismos públicos, privados e a sociedade civil. nossaterra#01 C olocar em pleno funcionamento o aparelho da administração provincial e das administrações municipais de modo a superar o atraso e ajustar o passo da governação ao crescimento da procura de serviços constam entre os principais desafios do novo figurino administrativo da província de Luanda, apresentado em Setembro último, aquando da visita de trabalho do Presidente da República e Titular do Poder Executivo, José Eduardo dos Santos, à sede do Governo Provincial. Ao mostrarem, de forma concludente, que Luanda possui 6,5 milhões de habitantes, os resultados preliminares do Censo Populacional e de Habitação funcionaram como autêntico estopim para a rápida adopção do modelo. Com esta cifra já não se podia perder tempo; a capital angolana tinha (e tem) de levar um safanão no modo como tem vindo a ser administrada, passando a exigir uma dinâmica mais actuante na organização e gestão administrativa, para que possa atender as necessidades de tão elevado número de habitantes. De facto, o boom populacional teve um efeito multiplicador negativo para os problemas em Luanda, refletindo-se no aumento de bairros sem infra-estruturas mínimas, carentes PIP de Luanda investe 48 mil milhões de Akz O Governo Provincial de Luanda deverá investir este ano cerca de 48 mil milhões de kwanzas repartidos por 311 projectos a serem desenvolvidos no âmbito do Programa de Investimentos Públicos (PIP). O sector social arrecada a parte leonina com realce para a educação, saúde, transportes e vias, bem como construção e urbanismo. Note-se que há um aumento no investimento por habitantes, cifrando-se o valor em 7.059 Akz. Nos últimos dois anos (2013-2014), o investimento na província não acompanhou o aumento da população, tendo inclusive se verificado uma redução do investimento por habitantes de 6.528 AKZ para 3.594 AKZ. Para adequar-se ao novo quadro marcado pelo resultado do Censo Geral da População em 2014, que sanciona para a capital do país 6,5 milhões de habitantes, o orçamento de investimento público para Luanda atingirá os 48 mil milhões, representando um aumento de mais de 100% em relação ao ano anterior. O relatório destaca que à medida que cada administração municipal tiver maior autonomia financeira e orçamental para gerir as verbas atribuídas, maior capacidade terão de responder às reais necessidades da população. Em função do novo estatuto orgânico de Luanda que constitui os municípios da província em unidades orçamentais próprias, o PIP define um tecto orçamental para cada um deles. Desta feita, 23% do investimento alocado ao GPL para execução de projectos transversais a toda província. Refira-se que Luanda é o município que apresenta um dos menores rácios de investimento por habitantes, apesar de ser o município com maior verba alocada. Face ao atraso no desenvolvimento em relação aos demais, os municípios de Quiçama e Icolo e Bengo são os que apresentam os maiores investimentos por habitantes. Perspectiva-se que no futuro a distribuição do investimento deverá estar alinhada com a densidade populacional dos municípios da província. nossaterra#01 tinção de todas as direcções provinciais que doravante passam a adoptar nova nomenclatura de gabinetes provinciais, sendo que o novo modelo contempla apenas os gabinetes provinciais para os Serviços Integrados, Infraestruturas e Serviços Técnicos, Educação e Saúde, Comunicação e Imagem, enquanto as delegações de Finanças, Interior e Justiça não sofreram nenhuma alteração. No entanto, estas medidas não alteram o estatuto do governador provincial como representante da Administração Central em obediência à estrutura definida na Constituição da República, conforme esclareceu o Presidente da República. José Eduardo dos Santos, contudo, augura que as medidas adoptadas fortaleçam a capacidade das Administrações Municipais para planificar e gerir melhor as zonas urbanas, promover o desenvolvimento social e económico local e contribuir para a melhoria da prestação de serviços públicos nos domínios da saúde, da educação, fornecimento de água e energia eléctrica, saneamento básico e gestão do lixo. nt O modelo por dentro Esmiuçando sucintamente o novo paradigma administrativo de Luanda, destaca-se que, para efeito protocolar, os administradores municipais gozam agora de um estatuto equiparado a Secretários de Estado, sendo os directores dos serviços municipais equivalentes a directores provinciais. Sublinhe-se, de igual modo, que todos os municípios da província de Luanda agora são unidades orçamentais, dispondo de autonomia financeira e patrimonial. Passam a dispor de poderes para elaborar e aprovar os respectivos orçamentos municipais, os balanços de contas municipais, dispor de receitas próprias, ordenar, processar e arrecadar receitas que por lei forem destinadas aos municípios, além de gerir o património de cada município. No âmbito desta revisão, ficou determinado que para efeitos de contratação pública os limites das despesas dos administradores municipais é fixado até ao limite estabelecido para o governador provincial. Em suma, as administrações municipais da província de Luanda assumem, em grande parte, as funções que eram desempenhadas pelo Governo da Província de Luanda a quem agora é remetido ao papel de coordenar, fiscalizar e controlar. Não menos importante foi também a ex- nt locais LUANDA VIVE JÁ UM MOMENTO DE REFORMA ADMINISTRATIVA CARACTERIZADA, EM PARTE, PELA ADOPÇÃO DE MEDIDAS DE CARÁCTER NORMATIVO Nesta perspectiva, Luanda vive já um momento de reforma administrativa caracterizada, em parte, pela adopção de medidas de carácter normativo, como são aquelas que estabelecem uma maior desconcentração administrativa dos poderes do Governo Provincial para a Administração Municipal. A desconcentração, fundamentada no artigo 102 da Lei. 17/ 10 de Julho, permite ao Titular do poder Executivo fixar um regime organizativo específico para uma unidade territorial, visando assegurar a prestação de serviços essenciais e garantir uma adequada gestão da correspondente circunscrição administrativa. Enfim, são medidas que antecedem o futuro Plano Director Geral Metropolitano de Luanda. Dar vida aos municípios Mais de mil funcionários do GPL recebem “guias de marcha” para as administrações municipais e novas centralidades Kilamba Kiaxi: o oitavo município O distrito urbano do Kilamba Kiaxi pertencente ao município de Luanda volta a ter estatuto de município. A decisão saiu da última reunião extraordinária do Conselho Provincial de Auscultação e Concertação, presidida pelo Governador da Província de Luanda, Graciano Domingos. A alteração foi ditada em parte pelo factor extensão, do município de Luanda e do próprio distrito urbano, explicou o director do gabinete provincial de documentação e imagem do GPL, Sebastião José. Com esta alteração, a divisão administrativa de Luanda passa de sete para oito municípios, nomeadamente Cazenga, Cacuaco, Icolo e Bengo, Viana, Belas, Quiçama e Kilamba Kiaxi. nt 88 guias em função das suas categorias e áreas de residência. Ao que consta, alguns destes técnicos vão reforçar as secretarias de algumas escolas, libertando assim professores que antes desempenhavam funções administrativas em detrimento da actividade lectiva. Recentemente, o administrador do município da Quiçama conferiu posse a oito directores municipais, entre os quais o responsável da cultura, director do gabinete do administrador e outros quadros que transitam do Governo Provincial de Luanda onde acumularam bastante experiência na gestão administrativa e funcionalismo público. nt A s mudanças impostas pelo novo modelo administrativo da província de Luanda já se fazem sentir, pese embora ainda não serem muito visíveis. Desta feita, para dotar as administrações municipais com quadros técnicos capazes provenientes das mais diversas áreas, aproximadamente 1227 funcionários que serviam as direcções extintas afectas ao Governo de Luanda estão a ser transferidos para os oito municípios e administrações das centralidades de Cacuaco, Kilamba e Talatona. Até final de Janeiro aproximadamente 706 funcionários já dispunham de 89 CFB renasce das cinzas oolhardorepórter N JAIME AZULAY o dia 14 de Fevereiro de 2015, o município do Luau, outrora um aglomerado longínquo, na zona fronteiriça da província do Moxico, no Leste de Angola, testemunhou o virar de uma página de ouro na história do país. Perante dois Chefes de Estado vizinhos, os Presidentes Laurent Kabila, da República Democrática do Congo, e Edgar Lungu, da Zâmbia, o líder angolano, José Eduardo dos Santos, descerrou a placa da nova estacão da antiga vila de Teixeira de Sousa, marcando assim a reinauguração do Caminho de Ferro de Benguela (CFB). Cumprindo o protocolo, os três Chefes de Estado viajaram no comboio que transportou os primeiros passageiros até a nova ponte sobre o rio Luau que delimita Angola e a RDC, perante o júbilo de milhares de pessoas concentradas dos dois lados da fronteira para os saudar. O apito do comboio marcou o ponto alto dos esforços do executivo angolano no relançamento do ambicioso projecto do “Corredor do Lobito” com um investimento de capital que ronda os 2 biliões de dólares americanos. No dia 14 de Fevereiro, o Luau atraiu as atenções do país inteiro e não só. O acto, transformado num colorido festival humano, simbolizou o fim de um ciclo de letargia de quase 40 anos, os mesmos que, praticamente, Angola tem de independência. Ao longo desse tempo, inúmeras tentativas para reactivar a circulação revelaram-se infrutíferas, redundando em volumosos prejuízos humanos e materiais, devido à escalada dos ataques armados contra as composições e infra-estruturas da companhia. O primeiro ataque aconteceu na pequena estação do Cueli, na zona do Moxico, no início de 1976. A partir dali iniciou uma espiral de destruição que se estenderia por mais de três décadas. As acções de sabotagem tinham conseguido estrangular uma das maiores empresas a operar em Angola durante o período colonial. Desprovido de regularidade de horário e calendário e sem garantias de segurança, o CFB perderia a sua viabilidade económica e social, factores imprescindíveis para a sua exploração. A circulação viria a ser completamente interrompida na década de 1980 e ali começou a fase de espectacular declínio, maugrado os esforços do governo angolano na sua recuperação. A transportação ferroviária através do CFB constituiu uma actividade florescente durante os largos anos em que a companhia operou. A construção iniciou logo após a outorga do Diploma de Concessão a Robert Williams, nos primórdios do século XX. As operações de transporte internacionais iniciaram em 10 nossaterra#01 Comboio apitou na fronteira com a RDC NO DIA 14 DE FEVEREIRO, O LUAU ATRAIU AS ATENÇÕES DO PAÍS INTEIRO E NÃO SÓ 91 Viagem do Lobito ao Luau: o sonho tornado realidade Decidiu, o insondável destino, que fôssemos testemunhas de mais um momento marcante da vida do nosso país. Tudo começou no início da tarde do dia 10 de Fevereiro, uma quarta-feira, quando inúmeras pessoas começaram a concentrar-se na nova estacão ferroviária do Compão, na cidade portuária do Lobito. Encontramos ali uma obra nova, digna de registo. Num espaço amplo, foram lançados inúmeros ramais destinados às manobras das diversas composições de passageiros e de mercadorias, tanto para as partidas como para as chegadas. Existe uma plataforma em betão sobre a qual as pessoas se movimentam ao saírem do interior da gare para ingressarem nas locomotivas e vice-versa. O edifício principal, em si, emana um ar de modernidade que caracteriza o renascimento do Caminho de Ferro de Benguela. Descortinamos, entre os presentes, inúmeras personalidades que se dividiam em convidados, jornalistas, altos funcionários do Ministério dos Transportes e elementos do serviço protocolar. Estavam também presentes o Ministro Augusto Tomás e o Governador de Benguela Isaac dos Anjos. Contudo, os olhos de todos estavam direccionados para um homem de estatura acima da média, muito conhecido nestas lides: Carlos Gomes, o Presidente do Conselho de Administração do Caminho de Ferro de Benguela, personagem de forte carisma, dono de um pragmatismo e sentido de missão, que lhe valeu, entre os seus, a alcunha de “Pancadaria”. Quem conhece esta pessoa, como nós, sabe que o Senhor “Pancadaria” não deixa nunca os seus créditos por mãos alheias. “Assumi o compromisso junto do Senhor Presidente da República, de que levaríamos o comboio até ao Luau e vou fazê-lo”, disse o atarefado PCA que, mesmo assim, arranjaria tempo para nos fazer companhia durante o trajecto do Luongo, a saída da Catumbela, até ao município de Caimbambo. Neste troço viajamos ao lado de Carlos Gomes, sentados num dos dois vagões-restaurantes atrelados à composição que realizou a viagem inaugural do Lobito ao Luau. Cerca de 300 passageiros estavam a bordo. Havia gente a acomodar-se nos vagões-dormitórios, enquanto os curiosos ficavam pelos corredores das carruagens, espreitando a beleza da paisagem através das janelas. Nos restaurantes, as pessoas comiam e bebiam com a maior tranquilidade e as conversas seguiam animadas conforme a composição progredia em direcção ao interior. A província do Moxico ainda estava longe e para lá chegar teríamos primeiro de atravessar o Huambo e o Bié, ou seja, toda a região do planalto central angolano. Quanto ao nosso destino, o Luau, este estava a mais de mil quilómetros de distância. Após a breve paragem em Caimbambo, o PCA do CFB despediu-se indo levar a sua simpatia de anfitrião aos demais passageiros. O comboio voltou a deter-se por algum tempo na estacão do Cubal, onde desceu o Governador Isaac dos Anjos para cumprir uma missão de trabalho naquele município. Antigamente, a região do Cubal, que o nosso comboio rasgou entre o final da tarde e princípio da noite, enquadrava o actual município de Caimbambo. Eram as famosas terras do chamado “ouro-verde” de Angola, as vastas plantações de sisal, a perder de vista, circundando velhos imbondeiros. O sisal foi a riqueza de grandes senhores colonos. Mas foi também a desgraça para as populações nativas que eram forçadas a trabalhar em condições sub-humanas e com mísera remuneração. A cultura do sisal, nos moldes em que na época se efectuava, era penosa e exigia pesado trabalho braçal. Nas próprias fazendas estavam instalados engenhos de desfibra e de enfardamento. Posteriormente o produto era canalizado para as fábricas “Cofiang” e “Cordango” na cidade de Benguela, que o transformavam em cordoaria de diverso tipo e calibre e em artigos de tapeçaria que estavam em voga naquele tempo. O grosso do sisal desfibrado era exportado, conhecendo bastante procura no fabrico de cordas para embarcações, incluindo navios de grande porte. Quem já esteve num porto viu, com certeza, os navios amarrados ao cais por grossas cordas de sisal entrelaçado. Mais tarde, nos finais dos anos 70, o aparecimento das fibras sintéticas no mercado mundial viria a representar um rude golpe para a cultura do sisal por estas bandas. Ouvimos, contudo, que empreendedores ousados estão a descobrir novas aplicações, não ape- “ASSUMI O COMPROMISSO JUNTO DO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE QUE LEVARÍAMOS O COMBOIO ATÉ AO LUAU E VOU FAZÊ-LO” nas para a fibra, como no passado, mas também o aproveitamento da própria polpa, que, segundo se diz, pode ser utilizada no fabrico de cosméticos e na ração para animais. Em plena noite o comboio fez a travessia dos primeiros municípios da província do Huambo. Quinjenje, depois Ucuma e Longonjo passaram com a maior parte dos passageiros aconchegados nas suas camas, com lençóis e almofadas devidamente providenciados. Havia igualmente sacolas com toalhas novas, escovas de dentes e sabonetes. A temperatura, inicialmente alta nos contra-fortes do Capelongo, começou a amenizar ao atingirmos a região do planalto. Nos primeiros 350 quilómetros, o traçado ferroviário sobe do nível do mar, no Lobito, até aos mil 854 metros de altitude. Começa igualmente na região do Alto-Catumbela aquilo que já foi a maior plantação privada de eucaliptos do mundo, numa área de 37 mil hectares com mais de 90 milhões de eucaliptos. Eram consumidos 570 mil toneladas de madeira por ano, para gerar vapor para as locomotivas que puxavam nossaterra#01 oolhardorepórter 92 O APITO DO COMBOIO MARCOU O PONTO ALTO DOS ESFORÇOS DO EXECUTIVO ANGOLANO NO RELANÇAMENTO DO AMBICIOSO PROJECTO DO “CORREDOR DO LOBITO” COM UM INVESTIMENTO DE CAPITAL QUE RONDA OS 2 BILIÕES DE DÓLARES AMERICANOS de Junho de 1931, com a chegada ao Lobito do primeiro carregamento de cobre oriundo do Katanga. O lema do CFB foi de sempre continuar crescendo. Com uma margem de progressão de vulto, através de novos investimentos, tanto na melhoria do traçado da via, como em novas infra-estruturas de apoio, que culminando com uma capacidade de transportação de 10 milhões de toneladas/ano, em 1974, índice que, entretanto, não chegaria a atingir devido a eclosão da guerra. O conflito armado que iniciou no período da proclamação da independência nacional, em 1975, marcaria o desabrochar de um drama humano que superaria de longe os prejuízos que actualmente as estatísticas apresentam com a frieza dos números e condensaria toda a amargura vivida pela família ferroviária de Benguela. 93 Cubal que permitiu encurtar a distância e melhorar o traçado. Noite adentro, o comboio prosseguiu em direcção ao Leste e nada mais poderia fazê-lo parar. Pela janela ouvíamos os gritos de alegria de populares eufóricos a saudarem a serpente metálica a rolar pelos carris. Foi momento para cada um reflectir sobre o sacrifício que custou fazer o comboio apitar nestas paragens. Os dados oficiais dão uma ideia do esforço gigantesco empreendido. Foram necessários seis anos para a desminagem do troço entre o Lobito e o Luau, qualquer coisa como 2 mil e 190 dias de trabalho em condições de extrema dureza, entre Fevereiro de 2003 e Dezembro de 2009. As equipas de desminagem não foram totalmente desengajadas. Até hoje algumas equipas de especialistas continuam no terreno, após conseguirem instalar uma faixa de segurança de 30 metros em cada lado da linha e garantir acessos para as empresas empreiteiras explorarem inertes usados na construção de pontes e assentamento da via. A festa no Luau foi vivida por todos, principalmente pelas populações das vilas e aldeias localizadas ao longo do trajecto. Comunidades inteiras ficaram durante décadas isoladas do resto do país. Mais do que ninguém elas começam a sentir os benefícios do comboio, que proporcionam condições de mobilidade há tanto tempo ansiadas. Independência, Paz, Unidade Nacional e Desenvolvimento. nt oolhardorepórter 94 NOITE ADENTRO, O COMBOIO PROSSEGUIU EM DIRECÇÃO AO LESTE E NADA MAIS PODERIA FAZÊ-LO PARAR. PELA JANELA OUVÍAMOS OS GRITOS DE ALEGRIA DE POPULARES EUFÓRICOS A SAUDAREM A SERPENTE METÁLICA A ROLAR PELOS CARRIS” as composições do Lobito até ao Congo. Chegamos assim à grande estação do Huambo, que era tida como a segunda sede da companhia, pelo facto de albergar aqui as conhecidas Oficinas Gerais do CFB. Carlos Gomes sabia que estava a lutar contra o tempo e o seu sentido de missão o obrigava dar a voz firme de comando a que o maquinista fazia soltar um apito prolongado com o qual todos os passageiros se familiarizaram – “hora da partida”. E nos embrenhámos pela madrugada rumo ao Bié, depois de atravessarmos Cicala-Choloanga e Caciungo, e a emblemática vila do Chinguar que marcou a entrada em terras bienas. Entre o Lobito e o Luau, ao longo da via férrea, existem 90 localidades. Muitos passageiros ficaram desapontados com a notícia de que contornaríamos a cidade capital do Bié, pois tinham nos seus planos dar uma olhada pela mártir cidade. Surgiu um facto que muitos desconheciam. Por força do traçado, a estação que serve o Cuito não se encontra propriamente na cidade, mas sim na vila-satélite do Cunje, a antiga estação de Porto-Gare, a cerca de 15 quilómetros. Sobre isso, não havia nada a fazer. Cuito ficaria para a próxima oportunidade. Muitos ironizaram dizendo que, mesmo sendo Caminho de Ferro de Benguela, o comboio agora também não passa mais pela cidade capital da província, a cidade de Benguela, devido à variante do 95 As cordas do futuro Um projecto com implantação local, criado há sete anos no actual Distrito Urbano da Samba, vai ganhando projecção internacional tal é o seu impacto sobre as vidas de crianças e adolescentes de municipalidades carentes. Além de uma escola de música, a Orquestra Sinfónica Kaposoka revela-se, também, uma escola para a vida. A em 2008, a Orquestra Sinfónica Kaposoka era um projecto virado, apenas, para o município da Samba. O princípio, segundo o seu mentor, Pedro Fançony, à data da criação Administrador do então município da Samba, era mudar a vida de um grupo de jovens tendencialmente virados para abraçar a delinquência. Ao verificar o estado algo degradante das escolas primárias, facilmente constatou um elevado grau de depressão ou mesmo de frustração entre os alunos. Assim nasceu o projecto de criação de uma Orquestra, consciente, como estava Pedro Fançony, do poder terapêutico da música sobre a alma humana. “Achei que a música clássica era a melhor maneira de recuperá-las” conta hoje o mentor do projecto, feliz pelos animadores resultados alcançados ao cabo de sete anos de existência da Orquestra. Para as crianças, refere, o ideal não era apenas pô-las a ouvir a música, mas elas próprias a executá-la”. A idéia surgiu como uma semente lançada à terra. Rapidamente germinou e dos 67 alunos matriculados em 2008, hoje a Orquestra conta 260 crianças, enquadradas nas duas escolas disponíveis, a da Samba, no actual município de Belas e a do Zango, no município de Viana. Esses números são sugestivos de um crescimento da empreitada além do inicialmente projectado. E tal tem sido possível dado o facto de a sociedade ter alinhado no mesmo diapasão e decidido apoiar a materialização do sonho de Fançony. Agora, diz ele, o projecto não é meu. É do Senhor Presidente da República. A escola criada com os fundos antes atribuídos às administrações municipais, é hoje massivamente apoiada por departamentos do Governo angolano, “sobretudo pela própria Presidência da República”. Esta entidade mostra-se em perfeita harmonia com a intenção de fazer com que escolas do género se multipliquem como cogumelos pelo país. Mais do que uma escola de música, o Kaposoka é uma Orquestra Sinfónica, a primeira da história de Angola, com a particularidade de ser composta por músicos mirins, com idades entre os 6 e 19 anos. Se nossaterra#01 municípios Euclides Francisco 96 Orquestra Sinfónica Kaposoka palavra Samba transmite uma idéia de ritmo. Está associada a um estilo musical acelerado, dançante e com adeptos em todo o mundo desde o seu ponto de partida, o Brasil. Em Angola ela tem um outro significado. Noves-fora os estudiosos, segundo os quais, o ritmo brasileiro deriva do Semba angolano, Samba, neste país africano, é também o nome de um distrito urbano da província capital, Luanda. Uma zona habitacional antiga, onde as residências herdadas do colono misturam-se com casas de construção precária, viu nascer um projecto educacional apostado em transformar profundamente a vida de adolescentes locais e de outros bairros suburbanos de Luanda. Essa transformação não abrange, na verdade, apenas adolescentes. Crianças também. Fernandinha, como é chamada pelos mais próximos, é disso um exemplo. Há oito meses optou, com o consentimento dos seus pais, por alterar a sua rotina de casa para a escola e da escola para casa. Acrescentou, a meio do caminho, umas aulas de música. Mas nada de kuduro, bastante popular entre a juventude angolana, tão pouco de Kizomba, de Semba ou de um outro ritmo mais dançante e contagiante. Por isso, mais susceptível de atrair a simpatia de pessoas com a idade de Fernandinha. Fernanda Ferrão, com apenas 8 anos, é integrante da Orquestra Sinfónica Kaposoka, da qual, em tão curto tempo, tornou-se uma das principais referências. “Sinto-me muito bem”, diz-nos a pequena, a envergar uma camisola azul como parte do uniforme da escola onde aprende a tocar música clássica. De violino em punho, ela toca, a solo, uma versão mais suave da música Ngongo, dos Irmãos Kafalas, numa espécie de testemunho a favor da sua rápida ascensão à categoria A, a mais alta dentre as três classes de aprendizado estabelecidas na escola da Orquestra. Isso implica, necessariamente, que ela seja uma das melhoras alunas, entre as duas centenas de estudantes hoje matriculadas na instituição. Quando foi criada FERNANDA FERRÃO, COM APENAS 8 ANOS: “SINTO-ME MUITO BEM” 97 municípios 98 FERREIRA MANUEL: “DEPOIS DE ENTRAR NA ESCOLA EU MUDEI MESMO” Formar hoje os homens do amanhã N uma sala fresca, devidamente acondicionada, um grupo de jovens entra ordeiramente transportando, uns, violinos, outros violoncelos e outros ainda instrumentos de percussão. Trajam camisolas azuis, decoradas, no lado esquerdo mesmo na direcção do coração, com o logótipo da Orquestra Sinfónica Kaposoka. Sentam-se nas cadeiras brancas plásticas dispostas justamente para as aulas. E antes de começarem a tocar têm de ouvir as palavras de ordem de sempre. “Disciplina, disciplina e disciplina”, comanda o Director Pedro Fançony ao que o grupo repete em uníssono: “honestidade, honestidade e honestidade”, volta a comandar o Director antes do coro dos alunos da escola. Segue-se uma palestra de cinco minutos sobre as virtudes da honestidade e sobre como é errado alguém retirar sorrateiramente algo que não lhe pertença, mesmo que seja tão pequeno como um lápis. “É assim sempre antes das aulas e das actuações”. Ele indica que procura fazer isso para retirar, das crianças, alguns hábitos negativos capazes de minar a sã convivência no grupo. Para explicar-se melhor, Pedro Fançony recorre a Jean Jacques Roussau, segundo o qual “todos nascemos bons”. Entende, por isso, que a sociedade é determinante para traçar o destino dos seus membros. “Se dermos uma oportunidade às crianças, regra geral o resultado é positivo”. Daí a escola não se preocupar apenas com as aulas de música, acrescendo, no seu currículo, outras lições de extrema importância: ética, civismo, cidadania e patriotismo. “Ética para aprenderem a comer à mesa, a não andar a mascar pastilha elástica em qualquer local, para que não se fale ao te- PEDRO FANÇONY: “SE DERMOS UMA OPORTUNIDADE ÀS CRIANÇAS, REGRA GERAL O RESULTADO É POSITIVO” lemóvel em locais indevidos, para que se mastigue os alimentos de boca fechada”. E os resultados são positivos? Fançony diz, com orgulho, que são e mostra um exemplo: “temos crianças de seis anos e veja as paredes todas limpas, elas entram e não se apoiam nas paredes, porque as orientamos nesse sentido”. E quando há incumprimentos? “Há castigos a serem aplicados, mas nunca corporais”, enfatiza. “Temos apenas suspensões, quando maior a idade, maior a suspensão. Registamos um caso de seis meses de suspensão”. E quando se é bem comportado, os benefícios se multiplicam. Há cinco anos na Orquestra, Ferreira Manuel já tem os seus melhores momentos bem guardados na memória: um concerto realizado, em 2014, no Reino da Espanha. “A sala estava abarrotada, tinha muitos maestros e nós ficamos cheios de medo”, diz, sobre o calafrio sentido pelo grupo ao deparar-se com uma plateia cheia de especialistas em música clássica. “Mas depois da primeira músicas aplaudiram-nos, fomos nos libertando e nos soltamos”. No seu portfólio, a Orquestra conta já várias actuações no exterior do país. Prepara-se, neste momento, para um tournée de 20 dias pela Itália, onde deverá exibir-se nas cidades de Milão, Turim, Génova, Floreza e Roma. Segundo explica Pedro Fançony, este será um encontro nossaterra#01 ao país é patrocinada por algumas embaixadas. Ferreira Manuel, aos 18 anos, é estudante da 10ª classe do Curso Pre-Universitário, em especialidade de Ciências Económicas e Jurídicas. Um pouco a comprovar a teoria de Pedro Fançony, que o levou a criar a Orquestra, o jovem revela ter deixado, há muito, um estilo de vida perturbado. “Depois de entrar na escola eu mudei mesmo”, revela o adolescente, detalhando, seguidamente, como era antes o seu comportamento: “não cumpria as tarefas domésticas, faltava à escola, não respeitava os mais velhos”. A sua família, hoje, mostra-se grata, de tal maneira que a hipótese de sair da escola de Orquestra é reprovada por todos. “Os meus pais dizem que não posso sair da escola da música, para não voltar ao que era”. Mas Ferreira também não pretende sair. “Apanhei o gosto pelo violino”, agora, segundo acrescenta, o seu projecto de vida é único: “esforço-me para concluir o Pré-Universitário e fazer o curso superior de música”. nt no extremo mais jovem a Orquestra exibe o talento vibrante de Fernandinha, de 8 anos de idade, com dez anos de diferença etária está Ferreira Manuel, matriculado há cinco anos, outro menino prodígio aqui descoberto. Ambos fazem parte da classe A, aquela que é responsável pelas variadas actuações da Orquestra pelo país adentro e, também, pelo estrangeiro. São momentos sempre emocionantes, dignos de arrancar algumas lágrimas de alegria aos presentes. E tal acontece um pouco devido ao carácter algo tropical dedicado pelos jovens às suas actuações. Se, num momento, se interpreta magistralmente a música Piratas do Caribe, do compositor alemão Hans Zimmer, no outro momento se executam temas angolanos em ritmo mais clássico: A Renúncia Impossível e Ngongo, dos Irmãos Kafala, Filhos de África, das Jingas do Maculusso e outros tantos clássicos são adaptados pelos jovens músicos sob a batuta de maestros angolanos, treinados mesmo em Angola, e de uns tantos estrangeiros cuja vinda 99 Em Espanha, a Orquestra teve uma actuação memorável Um dirigente local disse, inclusive, que em 30 anos de exibição no principal Tetro local, jamais tinha logrado assistir tamanho espetáculo 100 O Royal Plaza Hotel, palco habitual do Show do Mês, evento reservado para a actuação de músicos angolanos, abriu as suas portas para a exibição dos jovens da Orquestra Sinfónica Kaposoka. O show ficou na memória de quem lá esteve e, sobretudo, de quem o tenha organizado sob indicação do Ministério da Administração do Território. Em saudação ao 39º Aniversário da Independência Nacional, a Nova Energia, empresa responsável pela organização do Show do Mês, aceitou o desafio e juntou, no mesmo palco, os Líricos, um duo angolano, José Kafala e os integrantes da Orquestra. “Foi um momento mágico, muito bonito”, lembra Yuri Simão, Director da empresa. Tão gratificante foi a experiência que a Nova Energia decidiu organizar um Show em que os jovens da Orquestra serão a cabeça de cartaz, consciente de que a reação do público será boa. “A orquestra cresceu e evoluiu muito e todo esse trabalho com maestros internacionais dá-lhe traquejo”. Porquê o nome Kaposoka? A professora Rosa Roque foi a primeira pessoa com quem falei sobre o projecto. Daí ela apresentou-me vários nomes. Dentre eles, estava o Kaposoka, que é uma corruptela da língua nacional umbundo que quer dizer “está bonitinho”. Corruptela porque a palavra correcta seria Waposoka, que quer dizer “está bonito”. O “Ka” na nossa língua banto é um diminutivo. Quem frequenta a escola? Desde sempre foi-me dito directamente que o país pretendia fazer algo que melhorasse as condições de vida da população. Comecei logo a pensar nos mais vulneráveis. Até ao ano passado, só podiam frequentar a escola meninos de família de baixa renda, principalmente aqueles que estudavam nas escolas primárias públicas. Hoje entram para a escola quaisquer crianças. O que se aprende na escola? Temos várias disciplinas. Temos música clássica universal, música clássica angolana, música moderna angolana, música popular angolana. A escola tem também uma componente forte: formar o homem, não apenas na componente musical mas temos também aulas de ética, educação moral e cívica, etc. Com que professores trabalha? Regra-geral trabalhamos com professores filipinos, mas neste momento temos um professor de contrabaixo que é cubano. Em Junho teremos um professor britânico para percussão. De tempos em tempos, segundo um acordo com a Venezuela, uma vez por ano virá um professor venezuelano e nós também iremos para lá. Mais meninas ou meninos? Temos mais meninos na escola. O número de meninas cresceu, mas mesmo assim temos mais meninos. Nas periferias as meninas são mais persuadidas a ficarem em casa, nas lides domésticas. Quantas turmas e como está constituída a escola? Temos várias turmas. Turma A, dos mais avançados. Temos uma turma para os mais ou menos avançados e temos a turma C dos mais novinhos. No que tange a constituição da escola, temos as salas de aulas, a sala de refeições, a sala As Gingas do Maculusso, a biblioteca Ary e sala de concerto Elias Dya Kimueso. Optamos por ter nomes dos nossos músicos que apoiam o projecto. A partir do próximo ano teremos aulas de piano. Mas é obrigatório na escola que cada criança saiba pelo menos tocar dois instrumentos. As crianças têm consultas grátis na clínica Multiperfil. Actuações e apoios? O projecto é privado, mas temos apoios públicos. Geralmente, a Presidência da República todos os anos nos convida para um ou outro evento. Os Ministérios também. No que tange à expansão, o Presidente orientou que fossem abrangidas as demais províncias do país. No próximo ano estamos já a partir para o Cuanza Sul. Gostaríamos de actuar algum dia com a Ary e As Gingas do Maculusso, que muito apoiam a escola. Mas, por enquanto, as crianças ainda não estão preparadas para acompanhar músicos. Temos uma orientação de estudo por enquanto. Entretanto, actuámos já num festival de orquestra infanto-juvenil de 20 países na Argentina, onde ganhámos um prémio. Pedro Fançony: temos várias disciplinas. Temos música clássica universal, música clássica angolana, música moderna angolana, música popular angolana. A escola tem também uma componente forte: formar o homem, não apenas na componente musical mas temos também aulas de ética, educação moral e cívica, etc. nossaterra#01 Em Espanha, concretamente no principado das Astúrias, a Orquestra teve uma actuação memorável. Um dirigente local disse, inclusive, que em 30 anos de exibição no principal Tetro local, jamais tinha logrado assistir tamanho espetáculo. E não era para menos. Os jovens angolanos vestiram-se a rigor para honrar os convidados com os temas aprendidos, introduzindo uma certa pitada angolana. Um show real Sete anos, sete perguntas nt Unir o tradicional ao clássico Ao som de um ritmo de Rebita, uma dança tradicional angolana ora tocada com pianos e violinos, uma classe de jovens dançava a Massemba. O público, satisfeito, aplaudiu em pé. A Rebita, a música, e a Massemba, a dança, são também ensinados aos jovens da orquestra como forma de não se perder a tradição. Assim, são ministradas aulas de dança, lado a lado com as de violino. “Temos várias disciplinas”, explica Françony. “Música clássica universal, música clássica angolana, música moderna angolana, música popular angolana”. Sorridente, ele descreve aquele que, afinal, é o seu principal desígnio. “A escola tem também uma componente forte: formar o homem, não apenas na componente musical mas temos também aulas de ética, educação moral e cívica”. nt municípios de músicos jovens, mas enquandra-se, perfeitamente, no histórico de exibições internacionais desse grupo de artistas mirins angolanos em países como Venezuela, além da já referida Espanha e, claro, da vizinha Zâmbia “onde o grupo actuou por duas vezes”. Na Argentina, a memória regista um prémio, repartido com outras sete orquestras juvenis. 101 nossaterra AS NOSSAS BELEZAS NATURAIS Fenda do Bimbe O acesso difícil e demorado pelas duras estradas de pedra na Serra da Leba, ao mesmo tempo que protege esta maravilha natural da poluição e de alguma incivilidade humana, vai negando o conhecimento da sua beleza ímpar que, pela sua espectacularidade, rivaliza com a Tundavala. Só pastores mucubais chegam perto da Fenda. O isolamento e a distância vão preservando a beleza das Formações rochosas e vegetação. nossaterra AS NOSSAS BELEZAS NATURAIS C M Y CM MY CY CMY K O percurso até à Fenda é lento não só devido às dificuldades do piso mas porque se é obrigatório parar de meia em meia centena de metros para admirar as maravilhas naturais EDIÇÃO A EDIÇÃO VAMOS NESTE ESPAÇO VIAJAR PELOS SABORES ANGOLANOS, APRESENTANDO EMENTAS E SINTETIZANDO VÁRIAS IDÉIAS REFINADAS PELOS GASTRÓNOMOS CÁ DO BURGO. ISTO PORQUE “BAZAR” UM BOM PITÉU É CIÊNCIA E ENVOLVE, POR ISSO, TEORIA E PRÁTICA. ÓSCAR RIBAS QUE O DIGA! 106 U m teorizador contemporâneo dos nossos manjares, Jones Zamba garante que o cardápio da cozinha típica angolana é diversificado. Um mesmo prato pode ser confeccionado de modo diverso, tendo muito a ver com as particularidades regionais ou étnicas. Os hábitos alimentares das populações do Norte do país diferem do Sul e Leste e dependem do extracto social, do meio em que se vive e, sobretudo, da tradição de cada etnia. Diz Zamba, no ensaio “Gastronomia Angolana”, que é uma realidade que abrange cada um dos grupos étnicos de origem bantu que constituem maioritariamente o povo angolano, tais como os Ovimbundu, os Ambundu, os Bakongos, os Lunda-Chokwe, os Cuanhamas, os Nganguelas, os Nhaneca-Humbe, etc. Nos centros urbanos, particularmente, nos musseques de Luanda, as diferenças são poucas. As dificuldades provocadas pela guerra que dilacerou o país fizeram com que as populações desses grupos se adaptassem à situação de subsistência, comendo de tudo um pouco, consoante as possibilidades das famílias. Nos tempos que correm, os pratos tradicionais já marcam presença em restaurantes e hotéis de primeira classe do país. No passado a culinária tradicional angolana estava votada ao desprezo, principalmente entre as famílias urbanas, devido ao longo processo de aculturação associado ao colonialismo. Todas as informações confirmam a existência de um sistema alimentar europeu em todas as províncias do país levado pelos portugueses. Tal sistema assentava na base da rejeição de qualquer forma de reciprocidade, fazendo do sistema alimentar angolano uma simples manifestação de selvajaria. Nos tempos que correm, os pratos tradicionais marcam presença em restaurantes e hotéis de primeira classe do país, ainda que maioritariamente em dias especiais, em banquetes, cocktails e recepções oficiais. Até no serviço de bordo de algumas carreiras e ligações da companhia aérea Angolana TAAG. Presença mais assídua regista-se fundamentalmente em restaurantes populares dos mercados paralelos, com o funji e o mufete nas preferências. Jones Zamba conclui que a nossa gastronomia pode funcionar como um instrumento de reforço identitário e cultural do país, inclusive de fomento turístico. nt nossopitéu PARTICULARIDADES REGIONAIS E ÉTNICAS C C M M Y Y CM CM MY MY CY CY CMY CMY K K a logomarca actual O FAS Tal como referido anteriormente, o grande objectivo agora é dar a conhecer o FAS e aquilo que o FAS faz, ao público em geral. Criado a 28 de Outubro de 1994 no Quadro do Programa Económico e Social PES/95, pelo Decreto Nº44/94 do Conselho de Ministros É por isso também a altura ideal de actualizar e fazer evoluir a sua imagem de marca – a sua logomarca – por forma a que a mesma reflicta a evolução que o próprio FAS tem feito desde que a mesma foi criada. Esse tipo de evolução é salutar, sendo o desafio neste caso capitalizar no melhor que a actual imagem tem, por forma a garantir o seu reconhecimento e prestígio... ... e foi isso que fizemos! FAS I (1994-2000) FAS II (2000-2003) FAS III (2004-2009) Incidência no Capital Físico Incidência nos Capitais Físico e Humano Incidência nos Capitais Físico e Humano Luanda Lunda Norte Lunda Sul Luanda Lunda Norte anj e e Lunda Sul nza o la Bié Moxico Ben gue o Abordagem Emergencial Huíla Cunene Cuando-Cubango ibe Nam Cuando-Cubango ibe Nam ibe Cunene Lunda Norte anj Qua nza mb la Hua Moxico Ben gue o mb Hua Bié Huíla Cuando-Cubango Mal Lunda Sul Qua nza Qua la gue Moxico Ben Bié Huíla Nam Mal Sul e Uíge Sul anj Qua nza Nor te Bengo Qua nza Nor te Mal Zaire Uíge Sul Luanda Uíge Cabinda mb Zaire Qua nza Nor te Cabinda Zaire Hua Cabinda Cunene Reconstrução e desenvolvimento Abordagem multi-sectorial ADIGENTUS CONSE EXPLIT ENIS ESTIBUS AUT LABOR AS ILLANDAM VOLUPTA ELLESTIANDIS NIHIT, ALIT QUIDEST MOLUPTAS VELLUPTA nossaterra#01 Orquestra Kaposoka Acordes do futuro