Estudo das consequências do aquecimento global na

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Estudo das consequências do aquecimento global na
Estudo das consequências do aquecimento global na produção agrícola
Dezembro/2013
Estudo das consequências do aquecimento global na produção agrícola
Carlos Roberto Leandro ([email protected])
MBA Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
João Pessoa, PB, 28 de janeiro de 2013
Resumo
O aquecimento global e suas consequências tem sido um dos temas mais debatidos na
atualidade em diversas áreas do conhecimento. Tal é sua importância, que tem sido motivo
de preocupação não só entre os cientistas, mas também entre políticos, governos e sociedade.
O aquecimento global ocorre em função do aumento da temperatura do planeta causado
principalmente pela alta concentração de certos gases atmosféricos, principalmente o
dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), entre outros. O dióxido
de carbono, ou simplesmente gás carbônico, é o maior vilão dessa história, pois tem sido
lançado em grande quantidade na atmosfera nas últimas décadas, principalmente pela
queima de combustíveis fosseis e de madeira, para uso na indústria e nos automóveis.
Atualmente são derrubadas diariamente centenas de hectares de florestas nativas para uso da
agricultura e pecuária, o que representa a destruição de uma das principais fontes
dissipadora e de absorção do excesso de carbono. Neste cenário catastrófico de aquecimento
global, incluem-se, como consequência, ameaças à produção de alimentos. Neste contexto, o
presente artigo pretende apresentar, mediante pesquisa na literatura pertinente disponível
sobre este tema, alguns aspectos relacionados ao aquecimento global e a produção de
alimentos e suas relações com os agro-ecossistemas e, a partir dessa discussão, sugerir
formas para abordar o problema. Não existe uma solução fácil, é preciso coragem, esforço
conjunto e quebra de paradigmas. Produzir alimentos com sustentabilidade ambiental, social
e econômica; minimizar os impactos causados pelo uso de insumos químicos; reduzir os
desperdícios; reflorestar as áreas devastadas; preservar as margens de rios e nascentes;
transformar o ambiente rural com educação, capacitação e valorizando o homem do campo.
O modelo de desenvolvimento sustentável, proposto pelo Relatório Brundtland, em 1987 e
consagrado no Rio de Janeiro, durante a conferência ECO 92, é um modelo de
desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer
a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa
possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de
desenvolvimento social ambiental e econômico, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável
dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.
Palavras-chave: Agroecologia. Aquecimento global. Desenvolvimento sustentável.
1. Introdução
As emissões muito elevadas de gases de efeito estufa na atmosfera têm provocado o aumento
da temperatura do planeta e em consequência eventos climáticos extremos, derretimento dos
gelos polares, elevação do nível do mar, furacões, inundações, secas prolongadas, etc. Há
novas e fortes evidencias que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos é
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atribuível a atividades humanas. Portanto, sabe-se que ações antrópicas são responsáveis por
essas agressões ao planeta e que tem provocado os diversos fenômenos ambientais descritos
acima. A elevação da temperatura global tem provocado queda significativa na produção de
alimentos e prejudicado os seres vegetais e animais do planeta (IPCC – TAR).
O efeito estufa, segundo Silva et al (2006), pode ser descrito como um fenômeno que envolve
processos de absorção e emissão das diferentes formas de energia eletromagnética, onde uma
radiação mais energética pode ser absorvida por um corpo e, ao ser emitida, se transforma em
outro tipo de radiação, com energia mais baixa.
É importante ressaltar que o efeito estufa é um fenômeno natural do planeta. Sendo o
resultado da ocorrência de determinados gases existentes na atmosfera terrestre e permitem
que o planeta apresente uma temperatura média relativamente estável, em torno de 15º C. Sem
a presença destes gases, a temperatura média da terra seria de aproximadamente -18º C
(D’AMÉLIO, 2006).
A expressão “aquecimento global” refere-se ao aumento da temperatura do planeta como
resultado do aumento da concentração de certos gases atmosféricos, os mais importantes são:
o dióxido de carbono (CO2); o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Esses gases têm como
principal característica, a habilidade de prender a energia solar, aumentando, assim, a
temperatura atmosférica, a qual, por sua vez, pode provocar mudanças drásticas no clima,
alterar os padrões de chuvas e tempestades, mudar os padrões de correntes marinhas, e
aumentar a faixa máxima de alcance do nível do mar (BENETI, 2012).
O aquecimento global tem provocado efeitos climáticos extremos, como por exemplo, muita
seca em algumas regiões e muita chuva em outras. Os Estados Unidos e a China são as duas
maiores economias do planeta e os maiores produtores de alimentos do mundo; a Índia, a
despeito da enorme pobreza, é um dos países que apresentam maior crescimento populacional
e econômico nos últimos anos. Estes países estão sofrendo os efeitos das mudanças globais
provocadas pelo aquecimento global. A seca nos Estados Unidos em 2012 deve repercutir em
todo o mundo, pois a economia americana é responsável por quase metade das exportações
mundiais de milho e boa parte das exportações de soja e trigo. As chuvas excessivas na China
têm reduzido à produção de alimentos, enquanto a queda das precipitações provocadas pelas
monções na Índia deve reduzir a produção mundial de arroz (ALVES, 2012).
As mudanças climáticas no Brasil ocorrem com efeitos mais danosos pela vulnerabilidade
histórica que o país apresenta a desastres naturais, como secas, enchentes e deslizamentos de
encostas. Os modelos de previsão de mudanças climáticas do Centro de Distribuição de
Dados do IPCC apresentam resultados bastante variáveis quanto ao comportamento da
América do Sul. Contudo, todos preveem aumento de temperatura para todo o continente. Há
também a previsão de maior frequência de fenômenos extremos que podem ser especialmente
danosos para a agricultura.
Temperaturas acima de 45° C começam a provocar a desnaturação das moléculas orgânicas,
representado uma séria ameaça à vida das plantas pelas anomalias e mutações que provocam.
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Apesar das novas tecnologias agrícolas, que através de modificações genéticas, tem
conseguido produzir lavouras mais resistentes às pragas, bem como as mudanças climáticas,
ainda não apontam para uma solução destes problemas. Portanto, a produção de alimentos no
planeta está ameaçada e necessitando urgente que a humanidade repense suas atitudes perante
a natureza, procurando meios sustentáveis de produção, respeitando o meio ambiente e
buscando alternativas que possam diminuir as emissões de gases poluentes, como o gás
carbônico, que em grande quantidade provoca o aumento exagerado da temperatura do
planeta. A produção de alimentos é dependente do clima e se nada for feito, no curto prazo,
haverá uma grave crise mundial provocada pela falta de alimentos.
Diante desse quadro, é necessário unir esforços e conscientizar a humanidade com campanhas
das mais diversas, no que se refere à importância da preservação do meio ambiente e a busca
por alternativas sustentáveis de produção. É preciso quebrar paradigmas e sensibilizar os
governos, bem como a população em geral na busca de soluções. Este artigo versará sobre
estas questões, pretende apresentar e discutir pontos relevantes sobre as mudanças climáticas
procurando esclarece-los ainda mais e por meio de pesquisa bibliográfica pertinente.
2. A atmosfera terrestre e o efeito estufa
A atmosfera terrestre é constituída por gases atmosféricos. Como pode ser observado na
Tabela 1, (AHRENS, 2000, apud BENETI, 2012).
Gases Permanentes
Gás
Símbolo
Porcentagem de volume
Nitrogênio
N2
78,08
Oxigênio
O2
20,95
Argônio
Ar
0,93
Néon
Ne
0,0018
Hélio
He
0,0005
Hidrogênio
H2
0,00006
Xenônio
Xe
0,000009
Gases variáveis
Gases e partículas
Símbolo
Porcentagem de volume
Vapor de água
H2O
0a4
Dióxido de Carbono
CO 2
0,037
Ppm
368
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Metano
CH 4
0,00017
1,7
Óxido nitroso
N2O
0,00003
0,3
O3
0,000004
0,04
0,000001
0,01-0,15
0,00000002
0,0002
Ozônio
Partículas
Clorofluorcarbono
Tabela 1. Fonte: Ahrens (2000).
O efeito estufa é um fenômeno natural, para o aquecimento térmico do planeta terra. É
imprescindível para manter a temperatura do planeta em condições ideais de sobrevivência.
Os principais gases envolvidos no efeito estufa são: o dióxido de carbono (CO2), o metano
(CH4) e o óxido nitroso (N2O) entre outros. No entanto, o gás carbônico (dióxido de carbono)
constitui um dos mais importantes, sendo gerado através da queima dos combustíveis fósseis
e de madeira. Portanto, as alterações registradas na composição padrão dos gases
atmosféricos, são decorrentes de ações antrópicas relacionadas com as atividades econômicas
e industriais. Com relação a isso Soarez afirma:
Na crise atual que a sociedade humana vem enfrentando, a mudança ambiental
global tem se manifestado com preponderância. Para entender essa mudança, é
preciso concentrar-se nas interações entre os sistemas ambientais, que incluem
(atmosfera, biosfera, geosfera e hidrosfera) e os sistemas humanos (incluindo os
econômicos, políticos, socioculturais e tecnológicos). Esses sistemas encontram-se
em dois pontos: naqueles onde as ações humanas causam mudanças ambientais
alterando diretamente sistemas ecológicos, e naqueles onde as mudanças ambientais
afetam diretamente aspectos que os seres humanos valorizam (SOAREZ, 2000:1).
No cenário global atual, no que se refere às agressões ambientais, o que se percebe
visivelmente é uma completa irresponsabilidade das pessoas ao lidar com os recursos naturais
e com os seus resíduos após o uso. Com uma população com mais de oito bilhões de pessoas,
muitas das quais regidas por um consumismo exacerbado e irresponsável, o planeta vem
sendo vorazmente agredido em todos os sentidos. Mas, isso tem um preço a ser pago, e já
começa a ser cobrado mediante as consequências que já se materializam através do
aquecimento global, aquecimento este desencadeante de inúmeros desequilíbrios no clima do
planeta, com sérias consequências para a vida na Terra. Como consequência desses atos, a
concentração dos GEEs (Gases de Efeito Estufa), comparados entre 1750 a 1998,
praticamente dobrou, conforme mostra a Tabela 2.
Concentração em 1750
Gás Carbônico (CO2)
Metano (CH4)
Óxido Nitroso
(N2O)
280 ppm
700 ppb
270 ppb
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Concentração em 1998
365 ppm
1.745 ppb
314 ppb
Taxa de alteração*
1,5 ppm/ano**
7,0 ppb/ano**
0,8 ppb
Residência na atmosfera (anos)
50-200
12
114
Legenda: ppm = partes por milhão; ppb = partes por bilhão; * = Taxa calculada durante o período
de 1990 a 1999; ** = A taxa para CO 2 tem flutuado entre 0,9 e 2,8 ppm/ano e para CH 4 , entre 0 e
13 ppb/ano durante o período de 1990 a 1999.
Tabela 2. Fonte: Rocha (2003)
As questões relacionadas às influências humanas nessas mudanças envolvem uma série de
forças propulsoras, podendo-se mencionar como principais as socioeconômicas e as éticoculturais, Nesse sentido, o modelo de desenvolvimento predominante, baseado no caráter
mecanicista e acumulativo do sistema econômico capitalista, tem moldado um estilo de vida
baseado no consumismo e no desperdício, este fato coloca permanentemente em risco o meio
ambiente e perpetua as desigualdades sociais, pois o desejo de atingir o progresso e a
modernização através do crescimento econômico, catalisado pela industrialização, demanda
um alto grau de consumo de energia e exploração dos recursos naturais, renováveis ou não, do
planeta (fonte de matéria prima e energia), que por sua vez são os principais componentes do
processo de produção (SUAREZ, 2000: 1).
Em 2007 foi divulgado o Quarto Relatório de Avaliações das Mudanças Climáticas (IPCCAR). Os resultados alertam para um aumento médio global das temperaturas do planeta entre
1,8 e 40 C até o final do século XXI. Esse aumento poderá ser ainda maior, cerca de 6, 40 C se
forem mantidos os atuais níveis de consumo e a queima de combustíveis fósseis (IPCC-AR
2007).
Estas foram algumas das conclusões que chegaram os cientistas reunidos no 4º Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC-AR4):
- Gases do Efeito Estufa: dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – a concentração desses
gases na atmosfera tem aumentado significativamente como resultado das atividades
humanas.
- Aumento na frequência da ocorrência de eventos climáticos extremos tais como: enchentes,
tempestades, furacões e secas. Ainda, o El Niño, um evento climático que ocorre
regularmente a cada 5 a 7 anos, poderá se tornar mais intenso e frequente, provocando secas
severas no norte e nordeste e chuvas torrenciais no sudeste do Brasil.
- Elevação do nível do mar: o nível do mar deverá subir em média entre 18 e 59 cm até o final
do século XXI, o que implicaria no desaparecimento de muitas ilhas (em alguns casos países
inteiros), com danos fortes em várias áreas costeiras, além de causar enchentes e erosão.
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- Perda de cobertura de gelo: o Ártico já perdeu cerca de 7% de sua superfície de gelo desde
1900, sendo que na primavera esta redução chega a 15% de sua área. Nos próximos anos,
poderá haver uma diminuição ainda maior na cobertura de gelo da Terra tanto no Ártico,
quanto na Antártica.
- Alterações na disponibilidade de recursos hídricos: ocorrerão mudanças no regime das
chuvas, onde áreas áridas poderão se tornar ainda mais secas. Na Amazônia, as chuvas
poderão diminuir em 20% até o final deste século. Poderá ocorrer também o avanço de água
salgada nas áreas de foz de rios, além de escassez de água potável em regiões críticas, que já
enfrentam stress hídrico. As previsões ainda alertam sobre os riscos de diminuição dos
estoques de água armazenados nas geleiras e na cobertura de neve, ao longo deste século. As
áreas como os Andes e o Himalaia, que dependem do derretimento de neve armazenada no
inverno, podem sofrer impactos significativos na disponibilidade de água.
- Mudanças nos ecossistemas: as alterações climáticas previstas certamente afetarão os
ecossistemas e poderão colocar em risco a sobrevivência de várias espécies do nosso planeta.
Como consequência do aquecimento global, a biodiversidade de vários ecossistemas deverá
diminuir e mudanças na distribuição e no regime de reprodução de diversas espécies
ocorrerão. A antecipação ou retardamento do início do período de migração de pássaros e
insetos e dos ciclos reprodutivos de sapos, a floração precoce de algumas plantas, a redução
na produção de flores e frutos de algumas espécies da Amazônia, a redução da distribuição
geográfica de recifes de corais e mangues, o aumento na população de vetores como malária
ou dengue e a extinção de espécies endêmicas são alguns exemplos dos impactos da mudança
climática global sobre a biodiversidade do planeta.
- Desertificação: a desertificação é principalmente causada pelas atividades humanas e
alterações climáticas. Estima-se que cerca de 135 milhões de pessoas estão sob o risco de
perder suas terras por desertificação. Segundo a Convenção das Nações Unidas para o
Combate à Desertificação, a África poderá perder cerca de 2/3 de suas terras produtivas até
2025, enquanto a Ásia e a América do Sul poderão perder 1/3 e 1/5, respectivamente. Áreas
inteiras podem se tornar inabitáveis, como consequência dos crescentes efeitos do
aquecimento global, da agricultura predatória, queimadas, mananciais sobrecarregados e
explosões demográficas.
- Impactos na saúde e bem-estar da população humana: deverá haver aumento na frequência
de doenças relacionadas ao calor (por exemplo: insolação, stress térmico etc.) e daquelas que
são transmitidas por mosquitos, tais como malária e dengue. Ainda há a possibilidade de
ocorrer o deslocamento da população humana em função das alterações no clima. Acredita-se
que a população mais empobrecida e vulnerável dos países em desenvolvimento seria a mais
afetada, uma vez que teriam recursos limitados para se adaptar às mudanças climáticas.
- Interferências na agricultura: nas regiões subtropicais e tropicais, mudanças nas condições
climáticas e no regime de chuvas poderão modificar significativamente a vocação agrícola de
uma região; na medida em que a temperatura mudar, algumas culturas e zonas agrícolas terão
que migrar para regiões com clima mais temperado, ou com maior nível de umidade no solo e
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taxa de precipitação. Estudos mostram que para aumentos da temperatura local média entre 1
a 3º C, prevê-se que a produtividade das culturas aumentaria levemente nas latitudes médias a
altas, e diminuiria em outras regiões. Nas regiões tropicais, há previsão de que a
produtividade das culturas diminua até mesmo com aumentos leves da temperatura local (1 a
2º C). Com o aumento da vulnerabilidade da produção de alimentos às mudanças climáticas,
cresce também o risco da fome atingir um número muito maior de pessoas no mundo. Isto
ocorreria principalmente nos países pobres, os quais são os mais vulneráveis aos efeitos do
aquecimento global e os menos preparados para enfrentar seus impactos.
3. Aquecimento global e a produção de alimentos
Secas extremas, inundações, furacões... Pessoas que perderam suas casas, suas plantações,
seus animais, sua fé. Apesar de muita gente ainda achar que aquecimento global é coisa de
cinema ou que só acontecerá daqui a muitas gerações, um documentário que o Greenpeace
mostra que tudo isso já é uma realidade (http://www.greenpeace.org.br/clima/filme/home/)
Enquanto nos países desenvolvidos as emissões de gases de efeito estufa se concentram
basicamente no setor industrial e no consumo de combustíveis fósseis, no Brasil a emissão a
partir das queimadas, desmatamento e expansão agrícola é muito maior do que a industrial e
da queima de combustíveis fósseis e o país tem sido considerado como um dos maiores
emissores do mundo.
As conclusões do relatório do IPCC reforçam que, no Brasil a emissão de dióxido de carbono
proveniente de mudanças no uso do solo acontece a partir do desmatamento e da perda de
material biológico do solo, com a conversão de florestas em pastagens, são muito mais
elevadas do que as emissões do setor energético.
Um dos efeitos devastadores do aquecimento global será a queda da produção de alimentos. A
agricultura será duramente afetada. O aquecimento global afeta as culturas mais sensíveis,
causando perda de água por aumento da evapotranspiração e a redução da fotossíntese,
diminuição da capacidade reprodutiva e baixa produtividade. Quando a temperatura supera
34º C por períodos prolongados, ocorre o abortamento das flores. Nas lavouras de café, as
mais analisadas pelos pesquisadores do CEPAGRI/EMBRAPA, os efeitos da elevação da
temperatura já são observados em São Paulo, na região Noroeste, antiga fronteira de expansão
do café, que passa a abrigar seringais em escala crescente (SAFRA, 2007).
A pecuária também será afetada pelo aquecimento do planeta, pois é tão ou mais sensível do
que a agricultura. Os pesquisadores alertam para os riscos de redução na produção de leite,
incremento das taxas de aborto e redução de prenhes. No caso dos suínos, espera-se um
aumento na taxa de mortalidade durante a gestação e no nascimento dos leitões. Para as aves,
prevê-se queda na produção e o aumento de postura de ovos sem casca, afetando a oferta de
animais para reprodução e abate. Todos esses fatores indicam mais trabalho para os
especialistas em conforto animal (VEIGA FILHO, 2007).
Com base em modelos de simulação, os impactos mais prováveis são os efeitos favoráveis
gerais para as margens mais frias da zona temperada, bem como consequências negativas para
a zona semiárida subtropical. As mudanças regionais no clima já afetaram diversos sistemas
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físicos e biológicos em muitas partes do mundo. Os períodos de crescimento entre latitudes
médias e altas estão mais longos. Foram observadas mudanças atitudinais e em direção aos
polos quanto à distribuição geográfica de plantas e de animais. Os sistemas naturais em risco
de mudança climática incluem geleiras, atóis, ecossistemas polares e alpinos, zonas úmidas de
pradarias e pastagens autóctones restantes. Os sistemas humanos vulneráveis incluem a
agricultura, particularmente a segurança alimentar, e a silvicultura (IPCC-TAR, 2001).
Diante dos cenários de mudanças climáticas globais apresentados pelo IPCC, simularam-se
cenários agrícolas futuros para aumentos de temperatura de 1ºC, 3ºC e 5,8ºC e aumentos de
precipitação de 5%, 10% e 15%. Esses aumentos foram simulados de maneira homogênea
para todo o país e desconsideraram qualquer evolução tecnológica, tanto no manejo das
culturas quanto no seu melhoramento genético, e qualquer adaptação fisiológica das plantas às
novas condições. Os resultados dessas simulações para as culturas da soja, milho, arroz e
feijão. http://www.agritempo.gov.br/climaeagricultura/
As figuras abaixo exemplificam três cenários para o plantio da soja de 1º a 10 de outubro, em
solo de textura média e com aumento de 15% na precipitação, para os três aumentos de
temperatura.
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Figura 3. Fonte: CEPAGRI/EMBRAPA (Centro de Pesquisas Metereológicas e Climáticas Aplicadas à
Agricultura / Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) - Exemplo de cenário de zoneamento de risco
climático futuro para plantio da soja de 1º a 10 de outubro, em solo de textura média, aumento de 15% na
precipitação e de 1ºC na temperatura. São apresentadas três classes de índice de satisfação das necessidades de
água, de 0 a 0,55, de 0,56 a 0,65 e de 0,66 a 1, definidas como inapta (em vermelho), apta com restrições (em
amarelo) e apta (em verde), respectivamente.
Figura 4. Fonte: CEPAGRI/EMBRAPA (Centro de Pesquisas Metereológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura
/ Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) - Exemplo de cenário de zoneamento de risco climático futuro para
plantio da soja de 1º a 10 de outubro, em solo de textura média, aumento de 15% na precipitação e de 3ºC na
temperatura. São apresentadas três classes de índice de satisfação das necessidades de água, de 0 a 0,55, de 0,56
a 0,65 e de 0,66 a 1, definidas como inapta (em vermelho), apta com restrições (em amarelo) e apta (em verde),
respectivamente
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Figura 4. Fonte: CEPAGRI/EMBRAPA (Centro de Pesquisas Metereológicas e Climáticas Aplicadas à
Agricultura / Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) - Exemplo de cenário de zoneamento de risco
climático futuro para plantio da soja de 1º a 10 de outubro, em solo de textura média, aumento de 15% na
precipitação e de 5,8ºC na temperatura. São apresentadas três classes de índice de satisfação das necessidades de
água, de 0 a 0,55, de 0,56 a 0,65 e de 0,66 a 1, definidas como inapta (em vermelho), apta com restrições (em
amarelo) e apta (em verde), respectivamente.
Observando as Figuras 3, 4 e 5 percebe-se o efeito negativo das mudanças climáticas sobre a
área considerada apta para o plantio, de acordo com os modelos do zoneamento de risco
climático, havendo, para o caso da soja exemplificado, um decréscimo de
1.204.911,86 km2 no cenário mais pessimista, exclusivamente para esse período de plantio. O
cenário de aumento de 1ºC a partir de 1990 já está próximo de acontecer e o cenário de 3ºC é
praticamente certo. As estimativas para este último cenário mostram perdas de área em torno
de 18% para o arroz, 11% para o feijão, 39% para a soja, 58% para o café e apenas 7% para o
milho.
Embora as condições iniciais dessas simulações desconsiderem questões importantes, esses
cenários já nos dão indicações essenciais ao planejamento das pesquisas, principalmente
quanto à adaptação dos sistemas de cultivos e de novos cultivares mais tolerantes às altas
temperaturas e mais resistentes à seca. Ao se considerar que a condição climática será de fato
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alterada, com base nesses cenários é possível formular algumas hipóteses sobre a dinâmica da
agricultura no Brasil e no mundo. Quanto às culturas anuais, uma hipótese aceitável é que a
migração deva seguir o caminho das zonas temperadas, com boa possibilidade de ganho de
produtividade nas espécies de ciclo fotossintético C4, denominação dada a um grupo de
plantas – gramíneas em sua maioria – que formam o ácido oxalacético como primeiro produto
da fotossíntese, que tem quatro carbonos. Quanto ao ciclo fotossintético, outro grupo de
plantas é conhecido C3, pelo fato da primeira molécula formada no ciclo ter apenas três
carbonos.
4. Um novo modelo de desenvolvimento para garantir a produção de alimentos.
Relatório Brundtland, e o documento intitulado Nosso Futuro Comum, publicado em1987.
Foi o pontapé inicial em busca de soluções para os problemas globais, naquela oportunidade
foi concebido o um novo modelo de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável, que
satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
suprir as suas próprias necessidades.
O desenvolvimento sustentável, como um ideal, rejeita políticas e práticas que deem suporte
aos padrões de vida correntes à custa da deterioração da base produtiva, inclusive a de
recursos naturais, e que diminuam as possibilidades de sobrevivência das gerações futuras.
(REPETTO, 1986: 15).
O Brasil possui uma matriz energética relativamente limpa e, resolvida a questão do
desmatamento e das queimadas, pode deixar de ser um dos maiores emissores do mundo para
ocupar uma posição de destaque no cenário ambiental global. Nesse sentido, diversas
organizações não governamentais atuantes no país propuseram ao governo uma meta
ambiciosa de eliminar as queimadas em sete anos, através de contratos de recompensa por
serviços ambientais e fiscalização extensiva, com auxílio do monitoramento por satélites. A
recompensa por serviços ambientais também é proposta na declaração dos países detentores
de florestas tropicais pluviais, como forma de permitir a implantação das ações de redução das
emissões resultantes das queimadas e mudanças do uso da terra, já a partir de 2008 a 2012 e
após 2012. Essas alternativas precisam ser avaliadas a fundo e é preciso que haja vontade e
coragem política para implantá-las. Vale lembrar que após o fim do Protocolo de Quioto em
2012 já se cogita o estabelecimento de metas também para os países em desenvolvimento e o
Brasil deve estar preparado para responder a essas demandas.
Destarte, o desenvolvimento sustentável preconiza que as sociedades atendam às necessidades
humanas em dois sentidos: aumentando o potencial de produção e assegurando a todos as
mesmas oportunidades (gerações presentes e futuras). Nesta visão, o desenvolvimento
sustentável não é um estado permanente de equilíbrio, mas sim de mudanças quanto ao acesso
aos recursos e quanto à distribuição de custos e benefícios. Na sua essência, “é um processo
de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação
do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o
potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e às aspirações humanas”
(WCED, 1991:49).
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5. Conclusão
Com base nessa pesquisa, pode-se concluir que o aquecimento global, apesar de não ser um
fenômeno novo, é um problema novo para humanidade, que terá de ser resolvido com
urgência, não há uma solução fácil, requer quebra de paradigmas, visão holística e
consciência da população de que é preciso mudar comportamentos e vontade politica e
coragem do governo para implantar as mudanças necessárias. Trata-se de uma questão de
sobrevivência da raça humana. É preciso usar os recursos existentes de forma sustentável do
ponto de vista ambiental, afinal existe um compromisso com as gerações futuras, os nossos
filhos. Produzir e usar fontes de energia renováveis como os biocombustíveis e menos
poluentes, energia eólica e solar. Na indústria, é preciso produzir com responsabilidade social
e ambiental, minimizando os impactos da poluição e do desperdício. Praticar os 3 R’s.
Reduzir: diminuir a quantidade de lixo residual que se produz; Reutilizar: utilizar várias vezes
a mesma embalagem; Reciclar: transformar o resíduo antes inútil em matérias-primas ou
novos produtos, é um benefício ambiental e energético. Nas cidades: utilizar transporte
publica e transporte individual, não poluente. Na agricultura, praticas agrícolas sustentáveis,
com o uso de tecnologia de processos, agroecologia, agricultura familiar (diversificada).
Preservar o que ainda resta das florestas nativas do planeta e plantar árvores nas cidades, nos
campos, nos telhados etc. Adaptar-se aos novos tempos e praticar a sustentabilidade, assim
haverá um futuro para o planeta terra, a nossa casa.
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