Desejo Sexual Hipoativo: Como Conduzir
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Desejo Sexual Hipoativo: Como Conduzir
Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH) Deficiência (ou ausência) de pensamentos/fantasias sexuais e/ou desejo para receptividade para o ato sexual desejo responsivo ausente duração ≥ 6 meses causando sofrimento pessoal Sinonímia desejo sexual inibido desejo sexual hipoativo inibição do desejo sexual CID-10, 1993; DSM-IV-TR, 2002 Não Preenchem Critérios para Diagnóstico de TDSH Iniciação sexual Inexperiência sexual Desejo “espontâneo” versus desejo “responsivo” Ausência de sofrimento Duração < 6 meses Basson R, Bergner D. NY Times Magazine, Feb 2009; Chivers M. Sex Relat Ther 2005;20:377-90 Etiologia do Desejo Hipoativo Feminino Fatores biológicos hormônios neurotransmissores medicamentos doenças sistêmicas Fatores de desenvolvimento educação rígida abuso sexual coerção sexual Fatores psicológicos ansiedade depressão outras psicopatologias Fatores interpessoais conflitos disfunção sexual do parceiro Fatores culturais crenças religiosas questões morais Fatores contextuais (ambiente) privacidade conforto segurança Leiblum SR. Treating sexual desire disorders. New York-London: Guildford Press, 2010 Prevalência de TDSH Disfunções sexuais femininas (especialmente TDSH) estão diretamente relacionadas com aumento da idade Sofrimento em relação à perda do desejo relacionado com a idade inversamente Graziottin A. J Sex Med 2007;4(Suppl 3):211-9 Probabilidade de Experimentar Baixo Desejo ao Longo da Vida, Associado a Sofrimento ou TDSH Probabilidade de experimentar baixo desejo (BD) Probabilidade de sofrimento associado a baixo desejo (S) Probabilidade de TDSH BD Probabilidade 1 0,95 0,9 0,85 0,8 0,75 0,7 0,65 0,6 0,55 0,5 0,45 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 -2,22E-15 S TDSH 20 anos 30 anos 40 anos N = 2.467, em 4 países europeus (França, Alemanha, Itália e Reino Unido) 50 anos 60 anos 70 anos Graziottin A. J Sex Med 2007;4(Suppl 3):211-9 Anamnese Sexual para Queixa de TDSH Transtorno sexual primário ou secundário Variação dos sintomas: diferentes parceiros, masturbação, situações específicas ou generalizadas Relação com fases do ciclo sexual Doenças Medicamento prescrito/sem receita Conflitos relacionais ( sexo!) Dennerstein L et al. J Sex Med 2006;3:212-22; Bancroft J. Arch Sex Behav 2002;31:451-5; Graziottin A. J Sex Med 2007;4(Suppl 3):211-9 Podem Afetar Direta ou Indiretamente o Desejo Sexual da Mulher ... Estresse, ansiedade, depressão Alterações no ciclo da vida Cirurgias Traumas raquimedulares Contracepção Esterilidade Ciclo gravídico puerperal Patologias pélvicas inflamações endometriose tumores cistos gravidez ectópica algias Desordens genitais aderências clitoridianas fibroses vaginite atrófica, agenesia vaginal infecções geniturinárias debilidade do assoalho pélvico leucorréia hímen imperfurado dismenorréia, síndrome pré-menstrual vulvodinia Medicamentos e Substâncias que Afetam Adversamente a Função Sexual Feminina Estabilizadores do Humor / Anticonvulsivantes Carbonato de lítio Valproato Carbamazepina Fenitoína Fenobarbital Neurolépticos Clorpromazina Flufenazina Tioridazina Haloperidol Risperidona Ansiolíticos Benzodiazepínicos Antidepressivos Tricíclicos Clomipramina Amitriptilina Imipramina Nortriptilina Desipramina Inibidores da Monoamino-oxidase Fenelzina Tranilcipromina Inibidores da Recaptação da Serotonina Fluoxetina Paroxetina Sertralina Fluvoxamina Venlafaxina Medicamentos e Substâncias que Afetam Adversamente a Função Sexual Feminina Diuréticos Tiazídicos Furosemida Espironolactona Anti-alérgicos Anti-hipertensivos Reserpina Metildopa Betabloqueador Alfa1 bloqueador Alfa2 bloqueador Inibidores da ECA Bloqueadores de canal de cálcio Anorexígenos Anticancerígenos 5-fluorouracil Tamoxifeno Vinblastina Hormônios Progesterona Corticóide Anti-ulcerosos Cimetidina Drogas de adição Álcool Cocaína Maconha Opióides Nicotina Depressão e Atividade Sexual Feminina Depressão Disfunção sexual Impacto da Depressão no Ciclo Reprodutivo da Mulher maior risco de recorrência da depressão 10-15% 7-26% 3-8% de TDPM Ramcharan et al. J Clin Epidemiol 1992;45:377-92; Wittchen et al. Psychol Med 2002;32:119-32 Sobreposição de Sintomas de Depressão e Transição para a Menopausa Depressão Anedonia Tristeza Alterações do Humor Perda de energia Sintomas da Menopausa Déficit de concentração Fogachos Diminuição da libido Falta de esperança Alteração de peso Ideação suicida Distúrbios do sono Sudorese noturna Secura vaginal Joffe H et al. Psychiatr Clin North Am 2003;26(3):563-80 Soares CN et al. CNS Spectrums 2005;10:489-497 Alteração do Humor e TDSH Efeito psicológico Down-regulation do sistema serotoninérgico, secundário à redução de hormônios sexuais e de endorfinas Bethea CL et al. Front Neuroendocrinol 2002;23:41-100; Lu NZ et al. Mol Psychiatry 2003;8:353-60 Causas da Disfunção Sexual em Tratamento com Antidepressivos Depressão (resíduo) Comorbidades (outras doenças associadas) Efeito adverso do antidepressivo Harvey KV, Balon R. Ann Clin Psychiatry. 1995;7(4):189-201 Fatores de Risco para Disfunção Sexual, Sob Uso de Antidepressivos* Antidepressivo Insatisfação sexual prévia História prévia de disfunção sexual Doses maiores Disfunção sexual Uso de outros medicamentos Presença de comorbidades *6.297 pacientes acompanhados em 1.101 clínicas em monoterapia para depressão Idade < 50 anos Tabagismo Casado(a) ou união estável Baixo nível educacional Desemprego Clayton AH et al. J Clin Psychiatry 2002;63:357-66 Mecanismos de Ação no 5-HT2A ISRS, Venlafaxina, Tricíclicos Dopamina nos centros límbicos do prazer Prolactina testosterona Inibem o reflexo medular Causam anestesia genital desejo desejo retardam o orgasmo Hallward A, Ellison JM, 2001; Stahl S, 2003 Prejuízo de Antidepressivos à Função Sexual Kristensen E. Dan Med Bull 2002;49(4):349-52; Gitlin MJ. J Clin Psychiatry 1994;55(9):276-81 Tratamento da Depressão X Disfunção Sexual 1. Informar previamente o paciente a respeito dos efeitos do antidepressivo sobre a esfera sexual: retardo ou supressão do orgasmo, diminuição do desejo 2. Aguardar remissão ou tolerância dos sintomas 3. Reduzir a dose do antidepressivo, sempre que possível, até a mínima eficaz Tratamento da Depressão X Disfunção Sexual 4. Substituir, sempre que possível, por outro antidepressivo de menor efeito sobre a função sexual Exemplos: bupropiona nefazodona mirtazapina moclobemida 5. Acrescentar antídotos (inibidores da recaptação da dopamina – IRDA) Estratégias para Manejo da Disfunção Sexual Induzida por Antidepressivos Estratégias Vantagens Desvantagens Aguardar tolerância Simples Baixo índice de sucesso Reduzir a dose Simples Risco de recaída Interrupção do uso do medicamento (“holidays”) Sem medicamentos adicionais Potenciais sintomas por descontinuação; risco de recaída Substituição Único agente eficaz Temor ou fracasso terapêutico “Antídotos” Bom índice de sucesso Mais efeitos adversos; maior custo Clayton AH et al., J Clin Psychiatry 2004;65:62-7 “Antídotos” para Disfunção Sexual Secundária aos ISRS Droga Dose (mg/dia) Bupropiona 150 – 300 Buspirona 30 – 60 Fase(s) do ciclo sexual atingida(s) Mecanismo de ação Desejo, excitação e orgasmo Aumento de dopamina Desejo, orgasmo Redução de serotonina Mirtazapina 15 – 45 Orgasmo Antagonista alfa-2-adrenérgico central e antagonista 5-HT2, 5-HT2C e 5-HT3 Sildenafila 25 – 100 Excitação e orgasmo Aumento de óxido nítrico Trazodona 200 – 400 Desejo Antagonismo adrenérgico periférico Clayton AH, West SG. Primary Psychiatry 2003;10(12)62-70 Bupropiona Contra-indicações Convulsão – risco de 4% em pacientes com antecedentes (propensão a reduzir o limiar convulsígeno) Uso concomitante com álcool, anfetaminas, cocaína (> risco de convulsão) Pacientes com bulimia e anorexia (> risco de convulsão) Pacientes ansiosos e com risco de insônia Tratamento Hormonal do Desejo Hipoativo Feminino Há substancial nível de evidências (estudos randomizados placebo-controlados) de que o tratamento com baixas doses de testosterona é eficaz em mulheres com TDSH e deficiência androgênica (por ex.: menopausa cirúrgica) Dados recentes suportam a hipótese de que androgênios também podem beneficiar mulheres em menopausa natural ou em perimenopausa, com baixos níveis de testosterona circulante e diminuição na satisfação sexual Schwenkhagen A, Studd J. Maturitas 2009;63:152-9 Indicações da Administração de Testosterona para a Mulher Insuficiência ovariana - ooforectomia, falência ovariana prematura pós-quimio ou radioterapia adrenal hipofisária Associada a uso de estrógeno Desejo hipoativo: níveis de testosterona abaixo de 20 ng/dL Não há indicação em mulheres antes da menopausa, com níveis de testosterona normais e ciclos regulares Lue TF, Basson R, Rosen R, Giuliano F, Khoury S, Montorsi F. (eds.) Sexual Medicine: sexual dysfunctions in men and women. Paris: Health Publications; 2004 Outros Medicamentos para TDSH Tibolona (1,25-2,5 mg/dia) esteróide sintético com ação androgênica Bupropiona (150-300 mg/dia) inibidor da recaptação da dopamina (IRDA); não indicada se: anorexia, bulimia, antecedentes de convulsão, inquietação, insônia Trazodona – antagonista de HT2 (indicação controversa) Bromocriptina – agonista dopaminérgico, inibidor da prolactina, indicação controversa, efeitos inconsistentes sobre o desejo sexual DHEA – na forma de suplementos nutricionais; dados insuficientes Tribulus terrestris – regulação hormonal; mais pesquisas são necessárias Lue TF, Basson R, Rosen R, Giuliano F, Khoury S, Montorsi F. (eds.) Sexual Medicine: sexual dysfunctions in men and women. Paris: Health Publications; 2004 Flibanserina e TDSH Ação central Agonista dos receptores serotoninérgicos 5-HT1A e antagonista dos receptores serotoninérgicos 5-HT2A Mobiliza o desejo sexual em mulheres na pré-menopausa Mais de 5.000 mulheres estudadas em trials de vários países Não aprovada pelos órgãos reguladores (FDA) Stahl SM et al. J Sex Med 2011;8(1):15-27 Algoritmo para Abordagem do TDSH Excitação sexual normal / Motivação normal Investigar nível de estresse e fatores circunstanciais Desejo e excitação normais Excitação sexual baixa / Motivação alta Investigar níveis hormonais (andrógenos e prolactina) Disfunção da libido Excitação sexual alta ou normal / Motivação baixa Investigar qualidade da intimidade e do relacionamento Falta de afeto sexual Excitação sexual baixa / Motivação baixa Investigar depressão e fatores biológicos e relacionais Anergia sexual Derogatis L. Working Group on Women’s Sexual Desire and Arousal Disorders, 2002 Exemplo de Manejo Terapêutico do TDSH Avaliação básica Disfunção por deficiência hormonal Disfunção por fatores relacionados ao estilo de vida ou doenças Menopausa cirúrgica Outras causas Estrógeno e testosterona sistêmicos* / tibolona** Melhorar o estilo de vida Tratar doenças Possível dificuldade sexual ou problema de saúde do parceiro Disfunção por causas psíquicas Acessar motivação e objetivos terapêuticos Psicoterapia individual Terapia de casal Conflitos pessoais Depressão, ansiedade, doenças crônicas, endócrinas, metabólicas, uso de medicamentos * Testosterona aprovada para desejo sexual hipoativo em menopausa cirúrgica (desde que concomitante com estrógeno) ** Aprovada no Reino Unido e na Espanha para tratar sintomas de menopausa (inclusive redução da libido) Palacios S. Future Medicine 2011;7(1):95-107; AlAzzawi F et al. Climacteric 2010;13(2):103-20 46º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal Desejo Sexual Hipoativo: Como Conduzir? Direto ao ponto: Hormônios sexuais interagem com neurotransmissores no SNC, onde o equilíbrio entre fatores excitatórios (dopamina, noradrenalina e ocitocina) e inibitórios (serotonina) controla o desejo sexual TDSH é a persistente ou recorrente falta (ou ausência) de fantasias sexuais e desejo de atividade sexual, que provoca importante sofrimento ou dificuldade no relacionamento interpessoal A prevalência é de 6% antes da menopausa, 9% em mulheres com menopausa natural e 12% naquelas com menopausa cirúrgica Fatores físicos, psíquicos e socioculturais podem afetar o desejo feminino, agindo isolada ou conjuntamente Depressão e medicamentos antidepressivos desempenham papel essencial na modulação do desejo sexual, especialmente na mulher O tratamento (hormonal e não hormonal) do TDSH depende da etiologia e do grau de comprometimento Testosterona transdérmica (patch) é o único tratamento farmacológico aprovado na Europa para TDSH, sendo indicada para mulheres que se submeteram a ooforectomia bilateral e que estão sob tratamento estrogênico Carmita Abdo
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