Revista Arautos do Evangelho
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Número 83 Abril 2010 Primeiros meses da nova paróquia dos Arautos SumáriO Flashes de Fátima Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 ...................... Oito anos de história (Editorial) . . . . . . . . . . . Ano XII nº 83 - Abril 2010 Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira ........................ 10 www.arautos.pt / www.arautos.org.br E-mail: [email protected] Comentário ao Evangelho – Como Deus nos amou Assinatura anual: 24 euros ...................... Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício Arautos do Evangelho Número 100 Abril 2010 Edição nº 100 ST A RI AS BR IRA ILE .S OB DA AS NÇA LICE SOCIAÇÃO CATÓ LICA NOS SA SE NH OR A DE -I 00 413 40 História para crianças... Deus ama quem dá com alegria ...................... 46 20 ...................... 48 29. R VIDEOLAR S.A. IDO PO - CN DUZ PJ 0 PRO 4.2 . A A D ID IB Evangelii Prœcones LE I© O PR A RE PR OD UÇ ÃO , EX EC UÇÃ O PÚ S AS AD REV100 RIZ UTO BLICA E LOCAÇÃO DESA A OB S N PE AS Acompanha DVD Um olhar com mil facetas Arautos no mundo ...................... Tiragem: 40.000 exemplares ...................... Os santos de cada dia Membro da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã Aconteceu na Igreja e no mundo OS OS DIREITOS RESERV ADO S K 36 - TOD Y CY 12 ...................... -37 001 2/0 .45 90 76 1/0 .0 02 M MY ...................... FÁ TI M J: NP -C ND Ú Rotulo_DVD RAE 100.ai 1 24/2/2010 12:36:42 C CM CMY Arautos do Evangelho nº 100 – Júbilo e ação de graças A Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. 6 Sociedades Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum - Aprovação definitiva . . . das . . . .Constituições ............... Editor: Associação dos Custódios de Maria R. Dr. António Cândido, 16 1050-076 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 Via L. Einaudi, 12 36040 Brendola (VI) A palavra dos Pastores – Homens e obras providenciais A voz do Papa – Voltar ao confessionário Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida 32 5 Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Impressão e acabamento: Pozzoni - Istituto Veneto de Arti Grafiche S.p.A. Mártir brasileira do fim do século XX 26 ...................... 50 E screvem Artigos sempre profundos Estimado Mons. João Scognamiglio Clá Dias Apresento-lhe minhas calorosas felicitações pelo seu magnífico doutorado em Direito Canônico, com a tese: A Gênese e o desenvolvimento do Movimento dos Arautos do Evangelho e seu reconhecimento canônico, com originalidade, cientificidade e experiência, pela primeira vez pelo próprio fundador. Com a tese de seu fundador e de todos os que vão se doutorar, os Arautos do Evangelho estarão garantindo a fidelidade dos ensinamentos de Cristo à Igreja. É assim que entendo sua missão. Sou grato pela revista Arautos do Evangelho, com artigos sempre profundos. Com minhas respeitosas saudações e recomendando-me às suas preces, subscrevo-me, servo em Cristo. Dom Pedro Fedalto Arcebispo emérito de Curitiba – Brasil Dou graças a Deus por todos vocês Recebo com muito agrado a revista, a cada mês. É uma verdadeira alegria ver o que fazem os Arautos em prol de Cristo e da Igreja. Em suas missões, as pessoas se regozijam com a visita da imagem da Virgem Maria, participam nas Eucaristias, escutam a Palavra de Deus, colaboram economicamente para atender aos mais pobres, etc. Dou graças a Deus por todos vocês e os tenho presentes em minhas orações. Pe. José Vicente Martínez Valência – Espanha Doutrina segura e fiel Sou uma freira Carmelita Descalça e aprecio muitíssimo, assim como 4 Flashes de Fátima · Abril 2010 os leitores toda a Comunidade, os artigos da revista Arautos do Evangelho, que recebemos todos os meses, por generosidade de sua parte. Aproveito para lhes agradecer pela doutrina segura e fiel exposta na revista. Lendo seus artigos nos sentimos sempre mais “filhas da Igreja”, como dizia nossa Santa Madre Teresa de Jesus. N’Ele e na Virgem de Fátima, as nossas humildes orações e cumprimentos. Irmã Teresinha, OCD Carmelo de Teresópolis – Brasil Grande ajuda espiritual para a Comunidade Nossos cumprimentos cordiais, em nome de nosso Rei, Jesus Sacramentado, desejando-lhes abundantes graças e bênçãos. Agradecemos o novo Calendário de 2010, que é muito bonito. Ver a nossa Santíssima Mãe a cada dia, fortalece e consola, e, sem dúvida, ajuda a viver na presença de Deus todos os dias do ano, aumentando nosso amor e abandono em suas puríssimas mãos. Agradecemos também pelas revistas que tão generosamente nos enviam, e que são de grande ajuda espiritual para toda a Comunidade. Recomendamo-nos em suas orações, e rogamos à nossa Santíssima Mãe que abençoe todos os seus trabalhos, com abundantes frutos de santidade. Madre María de la Santísima Trinidad, OPSS Superiora do Mosteiro Nossa Senhora de Guadalupe e São José Colonia Tres Puentes – Chile Riquíssimo instrumento de evangelização O motivo de meu contato é agradecer este riquíssimo instrumento de evangelização, que é a revista Arautos do Evangelho. Temos a alegria de recebê-la em nosso lar, desde o primeiro exemplar. E lendo a revista do mês de janeiro, recebemos a graça de conhecer um pouco mais do beato Columba Marmion, pois, por intermédio das irmãs beneditinas do colégio onde estuda nossa filha, conseguimos um exemplar de um de seus livros citados na matéria, Jesus Cristo: vida da alma. E posso garantir que estamos aprendendo muito! Que Deus, fonte de toda santidade, abençoe infinitamente todos vocês, para que esta revista continue sendo um canal de graças para todos nós! Que Maria Santíssima esteja sempre a guiar os seus passos! Paula Piveta e família Presidente Prudente – Brasil Compêndio de amor e serviço A revista Arautos do Evangelho é um compêndio de amor e serviço. Sua leitura, em geral, é uma delícia que entusiasma; o primor de seus artigos e a importância dos temas nela abordados fazem meditar e refletir sobre a Palavra de Deus. Não cabe a menor dúvida de que, durante seus oito anos de existência, ela enriqueceu milhares de almas que querem conhecer, amar e servir melhor a Deus e Sua Santíssima Mãe, a Virgem Maria. Só me resta felicitar todos os responsáveis pela edição desta revista tão extraordinária: direção, conselho de redação, administração, montagem, impressão, articulistas e colaboradores. José Cascales Albarracín Múrcia – Espanha O Evangelho aplicado hoje Queria parabenizar o autor do artigo sobre a santidade do sacerdote e a eficácia do apostolado, da edição de fevereiro último, pois pude confirmar a tese de que um ministro santo transforma de fato a comunidade a qual lhe foi confiada. Esta revista é realmente o Evangelho aplicado hoje. Tiago Tedesco Viamão – Brasil Editorial Oito anos de história E 83 Número 0 Abril 201 va s da no os mese s to Primeir u ra ia dos A paróqu Algumas atividades na nova Paróquia dos Arautos do Evangelho (Fotos: Héctor Mattos / Otávio de Mello / César Diez) m janeiro de 2002, quando veio à luz a primeira edição desta revista, os Arautos do Evangelho aproximavam-se de seu primeiro aniversário como Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício. Embora já fossem bastante numerosos e estivessem presentes em vários países, seus membros sentiam que o Espírito Santo convidava-os a ir mais longe — Duc in altum! —, com novas perspectivas, não só relativamente a números ou métodos de evangelização, mas também no sentido de desabrochar sua própria identidade enquanto instituição, sempre na fidelidade ao seu carisma. Vislumbravam o que estava por vir? Sim e não. Sim, porque nas almas de muitos arautos sempre houvera um anelo de viver de maneira mais efetiva e institucionalizada sua existência consagrada à Igreja. Não, porque desconheciam os caminhos que tomaria o desenvolvimento de sua vocação. Muitos deles, como leigos, já tinham se entregado de tal modo ao ideal religioso que optaram pelo celibato e viviam em comunidade, sob a regência de um responsável. Nas casas masculinas, pouco a pouco, começaram a despertar em muitos os anseios definidos de seguir as vias do sacerdócio. Concomitantemente, nas femininas, muitas passavam a considerar com seriedade a perspectiva da vida religiosa. Depois de um período de discernimento, tornou-se evidente nessas moções de alma, mais uma vez, a inspiração divina. Com a ajuda da graça de Deus e a orientação de eminentes prelados e sacerdotes, nasceram assim, dentro dos Arautos do Evangelho, a Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e a Sociedade Feminina de Vida Apostólica Regina Virginum, uma e outra servindo para dar maior solidez e impulso aos labores dos milhares de associados leigos. Enquanto isso, a expansão dos Arautos dava-se também em outras direções, com a fundação de colégios em vários países, do Instituto Teológico São Tomás de Aquino e do Instituto Filosófico Aristotélico-Tomista; a obtenção de graus de mestrado e doutorado por muitos dos seus membros; a fundação da TV Arautos; a criação do Fundo Misericórdia; a propagação, pelos cinco continentes, dos Grupos do Apostolado do Oratório; a inauguração do Seminário e da Casa Generalícia das Irmãs de Regina Virginum. A revista Arautos do Evangelho acompanhou essa expansão: de uma tiragem mensal inicial de 20 mil exemplares chegamos a um milhão, com onze edições em quatro línguas. No decorrer desse tempo, pudemos oferecer aos nossos leitores as palavras do Papa e de destacados membros da Hierarquia, bem como notícias sobre o que acontece na Igreja, os comentários ao Evangelho, e variados artigos para atender toda uma gama de apetências. A nossos leitores agradecemos a fidelidade daqueles que estão conosco há muitos anos, bem como o encorajamento e o entusiasmo que acompanham os mais recentes. A todos quantos colaboraram para chegarmos até aqui, rogamos a Jesus, por meio de Maria Santíssima, que lhes conceda abundantes graças. E os incitamos a continuarmos juntos nesse caminho, trabalhando e rezando pelo crescimento e glorificação da Santa Igreja e pela evangelização de todos os povos. Abril 2010 · Flashes de Fátima 5 A voz do Papa Voltar ao confessionário A “crise” do Sacramento da Penitência, da qual se fala com frequência, interpela, sobretudo, os sacerdotes e sua grande responsabilidade de educar o povo de Deus nas radicais exigências do Evangelho. V osso curso se realiza, providencialmente, durante o Ano Sacerdotal, que convoquei por ocasião do 150° aniversário do nascimento para o Céu de São João Maria Vianney, que exerceu de modo heroico e fecundo o ministério da Reconciliação. Como afirmei na carta de proclamação: “Todos os sacerdotes devemos considerar como dirigidas pessoalmente a nós as palavras que ele punha na boca de Jesus: ‘Encarregarei meus ministros de anunciar aos pecadores que estou sempre disposto a recebê-los, que minha misericórdia é infinita’”. rer à Misericórdia divina para pedir perdão, para converter o coração e para ser sustentado no caminho da santidade são fundamentais na vida do sacerdote: só quem já experimentou pessoalmente sua grandeza pode ser anunciador e administrador convencido da Misericórdia de Deus. Todo sacerdote se torna ministro da Penitência por sua configuração ontológica a Cristo, sumo e eterno Sacerdote, que reconcilia a humanidade com o Pai; entretanto, a fidelidade na administração do Sacramento da Reconciliação é confiada à responsabilidade do presbítero. Uma intensa dimensão penitencial pessoal É preciso voltar ao confessionário “Nós, sacerdotes, podemos aprender do Santo Cura de Ars não só uma confiança infinita no Sacramento da Penitência, que nos impulsione a pô-lo no centro de nossas preocupações pastorais, mas também o método do ‘diálogo da salvação’ que deve se estabelecer nele” (L’Osservatore Romano, edição em língua espanhola, 19 de junho de 2009, p.7). Onde se fixam as raízes da heroicidade e fecundidade com as quais São João Maria Vianney viveu seu ministério de confessor? Antes de tudo numa intensa dimensão penitencial pessoal. A consciência de sua própria limitação e a necessidade de recor6 Flashes de Fátima · Abril 2010 Vivemos num contexto cultural marcado pela mentalidade hedonista e relativista, que tende a eliminar Deus do horizonte da vida, não favorece a aquisição de um quadro claro de valores de referência e não ajuda a discernir o bem do mal e a amadurecer um senso correto do pecado. Essa situação torna ainda mais urgente o serviço de administradores da Misericórdia divina. […] Queridos irmãos, é preciso voltar ao confessionário, como lugar no qual se celebra o Sacramento da Reconciliação, mas também como lugar no qual se “habita” com maior frequência, para que o fiel possa encontrar misericórdia, conselho e consolo, sentir-se amado e com- preendido por Deus e experimentar a presença da Misericórdia divina, junto com a presença real na Eucaristia. A “crise” do Sacramento da Penitência, da qual se fala tantas vezes, interpela, sobretudo, os sacerdotes e sua grande responsabilidade de educar o povo de Deus nas radicais exigências do Evangelho. Em particular, pede-lhes que se dediquem generosamente a escutar as confissões sacramentais; que guiem o rebanho com valentia, para que não se acomode à mentalidade deste mundo (cf. Rm 12, 2), mas que também saiba tomar decisões contra a opinião geral, evitando acomodamentos ou acordos. Por isso é importante que o sacerdote viva uma tensão ascética permanente, alimentada pela comunhão com Deus, e se dedique a uma atualização constante no estudo da teologia moral e das ciências humanas. “Como é grande o amor de nosso Deus” São João Maria Vianney sabia instaurar um verdadeiro “diálogo de salvação” com os penitentes, mostrando a beleza e a grandeza da bondade do Senhor e suscitando o desejo de Deus e do Céu, do qual os santos são os primeiros portadores. Afirmava: “Nosso Deus sabe tudo. Antes mesmo de você confessar, já fiou! Assim como, na Celebração Eucarística, Ele Se põe nas mãos do sacerdote para continuar presente no meio de Seu povo, de modo análogo, no Sacramento da Reconciliação, Ele Se confia ao sacerdote para que os homens experimentem o abraço com o qual o pai acolhe o filho pródigo, restituindo-lhe a dignidade filial e a herança (cf. Lc 15, 11-32). Que a Virgem Maria e o Santo Cura d’Ars nos ajudem a experimentar em nossa vida a largueza, a extensão, a altura e a profundidade do amor de Deus (cf. Ef 3, 18-19), para que sejamos administradores fiéis e generosos desse amor. (Excertos do discurso aos participantes do curso sobre o foro interno, organizado pela Penitenciaria Apostólica, 11/3/2010) L’Osservatore Romano sabe que vai pecar novamente e, porém, lhe perdoa. Como é grande o amor de nosso Deus, que chega até a esquecer voluntariamente o futuro, para nos perdoar!” (Monnin A., Il Curato d’Ars. Vita di Gian-Battista-Maria Vianney. Torino: 1870, v.I, p.130). O sacerdote tem a tarefa de favorecer a experiência do “diálogo de salvação” que, nascendo da certeza de ser amados por Deus, ajuda o homem a reconhecer seu pecado e a introduzir-se, progressivamente, na dinâmica estável de conversão do coração que leva à renúncia radical ao mal e a uma vida segundo Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, n.1431). Queridos sacerdotes, que ministério extraordinário o Senhor nos con- Bento XVI se preparando para atender confissões na Basílica de São Pedro, na Quinta-feira Santa de 2008 O testemunho suscita vocações Para se promoverem as vocações específicas ao ministério sacerdotal e à vida consagrada, para se tornar mais forte e incisivo o anúncio vocacional, é indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio “sim” a Deus. O 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que será celebrado no IV Domingo de Páscoa — Domingo do “Bom Pastor” —, a 25 de abril de 2010, oferece-me a oportunidade de propor à vossa reflexão um tema que quadra bem com o Ano Sacerdotal: O testemunho suscita vocações. De fato, a fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da ação gratuita de Deus, mas é favorecida também — como o confirma a experiência pastoral — pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e comunitário de to- dos aqueles que já responderam ao chamamento do Senhor no ministério sacerdotal e na vida consagrada, pois o seu testemunho pode suscitar noutras pessoas o desejo de, por sua vez, corresponder com generosidade ao apelo de Cristo. Assim, este tema apresenta-se intimamente ligado com a vida e a missão dos sacerdotes e dos consagrados. Por isso, desejo convidar todos aqueles que o Senhor chamou para trabalhar na Sua vinha a renovarem a sua fidelidade de resposta, sobretudo neste Ano Sacerdotal que proclamei por ocasião dos 150 anos de falecimento de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, modelo sempre atual de presbítero e pároco. Jesus é a suprema Testemunha Já no Antigo Testamento os profetas tinham consciência de que eram chamados a testemunhar com a sua vida aquilo que anunciavam, prontos a enfrentar mesmo a incompreensão, a rejeição, a perseguição. A tarefa, que Deus lhes confiara, envolvia-os completamente, como um “fogo ardente” no coração, impossível de conter (cf. Jr 20, 9), e, por isso, estavam prontos a entregar ao Senhor não só a voz, mas todos os elementos da sua vida. Abril 2010 · Flashes de Fátima 7 Na plenitude dos tempos, será Jesus, o enviado do Pai (cf. Jo 5, 36), que, através da Sua missão, testemunha o amor de Deus por todos os homens, sem distinção, com especial atenção pelos últimos, os pecadores, os marginalizados, os pobres. Jesus é a suprema Testemunha de Deus e da Sua ânsia de que todos se salvem. Na aurora dos novos tempos, João Batista, com uma vida gasta inteiramente para preparar o caminho a Cristo, testemunha que se cumprem, no Filho de Maria de Nazaré, as promessas de Deus. Quando O vê chegar ao rio Jordão, onde estava batizando, João indica-O aos seus discípulos como “o cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). O seu testemunho é tão fecundo que dois dos seus discípulos, “ouvindo o que ele tinha dito, seguiram Jesus” (Jo 1, 37). André e Filipe, instrumentos do chamamento divino Também a vocação de Pedro, conforme no-la descreve o Evangelista João, passa pelo testemunho de seu irmão André; este, após ter encontrado o Mestre e respondido ao Seu convite para permanecer com Ele, logo sente necessidade de comunicar a Pedro aquilo que descobriu “permanecendo” junto do Senhor: “Encontramos o Messias” (que quer dizer Cristo). E levou-o a Jesus” (Jo 1, 41-42). O mesmo aconteceu com Natanael — Bartolomeu —, graças ao testemunho do outro discípulo, Filipe, que cheio de alegria lhe comunica a sua grande descoberta: “Acabamos de encontrar Aquele de quem escreveu Moisés na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus, o filho de José, de Nazaré” (Jo 1, 45). A iniciativa livre e gratuita de Deus cruza-se com a responsabilidade humana daqueles que acolhem o seu convite, e interpela-os para se tornarem, com o próprio testemunho, instrumentos do chamamento divino. 8 Flashes de Fátima · Abril 2010 O mesmo acontece, ainda hoje, na Igreja: Deus serve-Se do testemunho de sacerdotes fiéis à sua missão, para suscitar novas vocações sacerdotais e religiosas para o serviço do seu Povo. Por esta razão, desejo destacar três aspectos da vida do presbítero, que considero essenciais para um testemunho sacerdotal eficaz. O primeiro testemunho é a oração Elemento fundamental e comprovado de toda vocação ao sacerdócio e à vida consagrada é a amizade com Cristo. Jesus vivia em constante união com o Pai, e isto suscitava nos discípulos o desejo de viverem a mesma experiência, aprendendo d’Ele a comunhão e o diálogo incessante com Deus. Se o sacerdote é o “homem de Deus”, que pertence a Deus e ajuda a conhecê-Lo e a amá-Lo, não pode deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele e permanecer no Seu amor, reservando tempo para a escuta da Sua Palavra. A oração é o primeiro testemunho que suscita vocações. Tal como o Apóstolo André comunica ao irmão que conheceu o Mestre, assim também quem quiser ser discípulo e testemunha de Cristo deve têLo “visto” pessoalmente, deve têLo conhecido, deve ter aprendido a amá-Lo e a permanecer com Ele. Manifesta-se aqui a misericórdia de Deus em toda a sua plenitude; amor misericordioso que derrotou as trevas do mal, do pecado e da morte. A figura de Jesus que, na Última Ceia, Se levanta da mesa, depõe o manto, pega numa toalha, ata-a à cintura e Se inclina a lavar os pés aos Apóstolos, exprime o sentido de serviço e doação que caracterizou toda a Sua vida, por obediência à vontade do Pai (cf. Jo 13, 3-15). No seguimento de Jesus, cada pessoa chamada a uma vida de especial consagração deve esforçar-se por testemunhar o dom total de si mesma a Deus. Daqui brota a capacidade para se dar depois àqueles que a Providência lhe confia no ministério pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de fazer-se companheiro de viagem de muitos irmãos, a fim de que se abram ao encontro com Cristo e a Sua Palavra se torne luz para o seu caminho. A história de cada vocação cruza-se quase sempre com o testemunho de um sacerdote que vive jubilosamente a doação de si mesmo aos irmãos por amor do Reino dos Céus. É que a presença e a palavra de um padre são capazes de despertar interrogações e de conduzir mesmo a decisões definitivas (cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, n.39). Doar-se totalmente a Deus O exemplo da caridade e da fraterna cooperação Outro aspecto da consagração sacerdotal e da vida religiosa é o dom total de si mesmo a Deus. Escreve o Apóstolo João: “Nisto conhecemos o amor: Jesus deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos” (I Jo 3, 16). Com estas palavras, os discípulos são convidados a entrar na mesma lógica de Jesus que, ao longo de toda a Sua vida, cumpriu a vontade do Pai até à entrega suprema de Si mesmo na Cruz. Um terceiro aspecto que, enfim, não pode deixar de caracterizar o sacerdote e a pessoa consagrada é viver a comunhão. Jesus indicou, como sinal distintivo de quem deseja ser Seu discípulo, a profunda comunhão no amor: “É por isto que todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35). De modo particular, o sacerdote deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar unido todo o rebanho que a bon- Victor Toniolo dade do Senhor lhe confiou, ajudando a superar divisões, sanar lacerações, aplanar contrastes e incompreensões, perdoar as ofensas. Em julho de 2005, no encontro com o Clero de Aosta, afirmei que os jovens, se virem os sacerdotes isolados e tristes, com certeza não se sentirão encorajados a seguir o seu exemplo. Levados a considerar que tal possa ser o futuro de um padre, veem aumentar a sua hesitação. Torna-se importante, pois, realizar a comunhão de vida, que lhes mostre a beleza de ser sacerdote. Então, o jovem dirá: “Isto pode ser um futuro também para mim, assim pode-se viver” (Insegnamenti, 2005,v.I, p. 354). O Concílio Vaticano II, referindo-se ao testemunho capaz de suscitar vocações, destaca o exemplo de caridade e de fraterna cooperação que devem oferecer os sacerdotes (cf. Decreto Optatam totius, n.2). As vocações nascem do contato com os sacerdotes Apraz-me recordar o que escreveu o meu venerado predecessor João Paulo II: “A própria vida dos padres, a sua dedicação incondicional ao rebanho de Deus, o seu testemunho de amoroso serviço ao Senhor e à Sua Igreja — testemunho assinalado pela opção da Cruz acolhida na esperança e na alegria pascal —, a sua concórdia fraterna e o seu zelo pela evangelização do mundo são o primeiro e mais persuasivo fator de fecundidade vocacional” (Pastores dabo vobis, n.41). Poder-seia afirmar que as vocações sacerdotais nascem do contacto com os sacerdotes, como se fossem uma espécie de patrimônio precioso comunicado com a palavra, o exemplo e a existência inteira. O Papa cumprimenta a multidão reunida na Praça de São Pedro, na Vigília de Pentecostes de 2006 Isto aplica-se também à vida consagrada. A própria existência dos religiosos e religiosas fala do amor de Cristo, quando O seguem com plena fidelidade ao Evangelho e assumem com alegria os seus critérios de discernimento e conduta. Tornam-se “sinais de contradição” para o mundo, cuja lógica frequentemente é inspirada pelo materialismo, o egoísmo e o individualismo. A sua fidelidade e a força do seu testemunho, porque se deixam conquistar por Deus renunciando a si mesmos, continuam a suscitar no ânimo de muitos jovens o desejo de, por sua vez, seguirem Cristo para sempre, de modo generoso e total. Imitar Cristo casto, pobre e obediente e identificar-se com Ele: eis o ideal da vida consagrada, testemunho do primado absoluto de Deus na vida e na história dos homens. Indispensável exemplo dos que já disseram “sim” a Deus Fiel à sua vocação, cada presbítero, cada consagrado e cada consagrada transmite a alegria de ser- vir Cristo, e convida todos os cristãos a responderem à vocação universal à santidade. Assim, para se promoverem as vocações específicas ao ministério sacerdotal e à vida consagrada, para se tornar mais forte e incisivo o anúncio vocacional, é indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio “sim” a Deus e ao projeto de vida que Ele tem para cada um. O testemunho pessoal, feito de opções existenciais e concretas, há de encorajar, por sua vez, os jovens a tomarem decisões empenhativas que envolvem o próprio futuro. Para ajudá-los, é necessária aquela arte do encontro e do diálogo capaz de os iluminar e acompanhar sobretudo através do exemplo de vida abraçada como vocação. Assim fez o Santo Cura d’Ars, que, no contacto permanente com os seus paroquianos, “ensinava sobretudo com o testemunho da vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar” (Carta de Proclamação do Ano Sacerdotal, 16/6/2009). Que este Dia Mundial possa oferecer, uma vez mais, preciosa ocasião para muitos jovens refletirem sobre a própria vocação, abrindose a ela com simplicidade, confiança e plena disponibilidade. A Virgem Maria, Mãe da Igreja, guarde o mais pequenino gérmen de vocação no coração daqueles que o Senhor chama a segui-Lo mais de perto; faça com que se torne uma árvore frondosa, carregada de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade. Por esta intenção rezo, enquanto concedo a todos a Bênção Apostólica. (Mensagem para o 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações – 25/4/2010) Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va Abril 2010 · Flashes de Fátima 9 Rodrigo Solera Sociedades Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum Aprovação definitiva das Constituições Em fevereiro, a Santa Sé aprovou em caráter definitivo as Constituições das duas Sociedades de Vida Apostólica nascidas no seio dos Arautos do Evangelho: Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum. “P Otávio de Mello elo que me foi dado fazer pelos Arautos do Evangelho, posso dizer que não foi inútil a minha passagem por este Dicastério”. Com estas amáveis e generosas palavras, o Cardeal Franc Rodé, CM, entregou a Mons. João Scognamiglio Clá Dias as Constituições definitivas das duas Sociedades de Vida Apostólica por este fundadas. O ato deu-se em 10 Flashes de Fátima · Abril 2010 20 de fevereiro, nas dependências da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, da qual Sua Eminência é o Prefeito. “Ponto final”, mas não “fim último” Durante o cordial encontro, o ilustre Purpurado não só quis manifestar seu paternal apreço ao fundador e a essas duas Instituições ecle- siais, como também desejou ressaltar a importância do evento que ali se realizava, qualificando-o como “um ponto final” em seu percurso histórico, mas não um “fim último”, pois outras figuras jurídicas ainda poderão originar-se da Associação Arautos do Evangelho, tal como havia observado Mons. João, em sua recente tese de doutorado em Direito Canônico. No entanto, não deixa de ser um ponto final que da- rá “estabilidade e coesão interna” às duas Sociedades. Mons. João, por sua vez, reconheceu a providencialidade de todo o percurso feito até este momento, salientando o fato de ter surgido um guia como Sua Eminência, o Cardeal Rodé, que soube conduzir os assuntos com maestria e da forma mais perfeita possível, até chegar à aprovação definitiva das Constituições. Por isso, reafirmou ele, “a gratidão de todos os membros de nosso Movimento não tem medida, e se prolongará pela eternidade”. Com a grandeza e distinção próprias a quem ocupa tão elevado cargo na Cúria Romana, Sua Eminência agradeceu despretensiosamente ao fundador dos Arautos do Evangelho tudo quanto este já fizera pela Igreja, acrescentando ver nele o “receptáculo de um magnífico carisma”. Aprovadas “com alegria” pelo Papa A Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli originou-se a partir do ramo sacerdotal dos Arautos do Evangelho, compartilhando o mesmo carisma. Já Regina Virginum se constituiu com os elementos mais dinâmicos do ramo feminino que desejavam, por meio da vida fraterna em comum, sob o signo da caridade, melhor viver a espiritualidade e o carisma próprios. Em 4 de abril de 2009, ambas sociedades foram aprovadas por Bento XVI, “com um grande senso de responsabilidade eclesial e com alegria”, afirmou na ocasião o Cardeal Franc Rodé. “Vemos que seu coração está cheio de júbilo por ter dado esse passo”, acrescentou. Nos respectivos decretos pontifícios lê-se que elas nascem como uma “verdadeira nova militia Christi” pela disciplina de vida dos seus membros, pelo seu espírito de Fé, sua entrega a Jesus e Maria, e submissão ao Papa. As Sociedades de Vida Apostólica A institucionalização das Sociedades de Vida Apostólica remonta ao século XVI. Tendo reunido em torno de si numerosos discípulos, com os quais organizou uma família religiosa, São Filipe Néri pediu a Gregório XIII autorização para constituir um novo gênero de associação eclesiás- tica, regida por uma forma jurídica distinta das vigentes até aquele momento. Em 1575, pela bula Copiosus in misericordia Deus, o Papa atendia o pedido do Fundador erigindo a Congregação do Oratório, cujos membros não deviam estar vinculados por votos ou promessas mas sim pelo amor. De acordo com o último Anuário Pontifício, em 2008 existiam na Igreja 44 Sociedades de Vida Apostólica: 32 masculinas e 12 femininas. Uma das mais antigas e numerosas é a dos Padres Lazaristas, fundada por São Vicente de Paulo, hoje com quase 4 mil membros. Entre as Sociedades femininas, destaca-se a das Filhas da Caridade. Fundada pelo mesmo santo e por Santa Luísa de Marillac, conta atualmente com 20 mil irmãs consagradas ao serviço dos necessitados. * * * A aprovação definitiva, pela Santa Sé, das Constituições de Virgo Flos Carmeli e de Regina Virginum, representa decisivo passo no sentido da estabilidade do movimento dos Arautos do Evangelho, de forma a atravessar os séculos, mantendo íntegro o carisma em sua pureza original. ² Com zelo sempre renovado, os sacerdotes de Virgo Flos Carmeli atendem fiéis na Catedral da Sé, em São Paulo Sérgio Miyazaki Irmãs de Regina Virginum em cortejo de entrada na capela da respectiva Casa Generalícia, em Caieiras, Grande São Paulo Abril 2010 · Flashes de Fátima 11 Comentário ao Evangelho – Missa da Ceia do Senhor Como Deus nos amou Amar aos outros como Deus nos amou! Eis uma das mais belas formas de preparar-nos para a Eucaristia no tempo da Páscoa que agora começa. Se assim fizermos, estaremos imitando, de fato, em nossas vidas, o Divino Mestre no sublime ato do lava-pés. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP I – “Deus é amor” Desfrutando de perfeita felicidade em Si mesmo, Deus não necessitava de nenhum ser que O completasse Um insuperável clímax de plenitude de amor atinge o Sagrado Coração de Jesus naquelas últimas horas de convívio com os Seus. Transcorrem ali, naquele histórico recinto, os momentos finais de Sua vida terrena. São os derradeiros episódios que constituem o grande pórtico dos sagrados mistérios da Redenção prestes a realizarem-se. Os inimigos se agitam e se entre-estimulam a perpetrar o mais grave homicídio de todos os tempos. Encontram-se eles na dependência de um guia possuído por Satanás, aguardando o momento propício para agarrar o Messias e conduzi-Lo aos tormentos da Cruz. Não há minuto a perder, é indispensável o Salvador externar ao Pai e aos discípulos o transbordante amor a borbulhar no interior de Seu Sagrado Peito. As primeiras manifestações desse amor já haviam se dado na própria obra da Criação. Desfrutando de perfeita felicidade em Si mesmo, desde toda a eternidade, não necessitava Deus de nenhum ser que O completasse. Entretanto, por amor, quis Ele comunicar Suas infinitas perfeições às criaturas, de maneira que estas Lhe rendessem a glória extrínseca.1 Com 12 Flashes de Fátima · Abril 2010 especial benevolência, concebeu os Anjos e os homens à Sua imagem, destinando-os a participar da vida e da natureza divinas, pela Graça. E eles, seres racionais, encontram sua felicidade em glorificar seu Criador, pois “o mundo foi criado para a Glória de Deus”.2 A Criação foi, portanto, o início ad extra da demonstração de Seu amor divino. “Se Deus produziu as criaturas — afirma São Tomás — não é porque delas necessite, nem por nenhuma outra causa exterior, mas por amor de sua bondade”.3 E Royo Marín, citando Chaine, acrescenta: “O amor é o atributo que melhor nos dá a conhecer a natureza de Deus [...]. É de tal maneira representativo, que São João não o considera como atributo, mas como a expressão da própria natureza de Deus”.4 Deus caritas est (I Jo 4, 16), e “na história de amor que a Bíblia nos narra — ensina Bento XVI na encíclica assim intitulada — Ele vem ao nosso encontro, procura atrair-nos, chegando até a Última Ceia, até o Coração trespassado na Cruz, até as aparições do Ressuscitado e as grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente”.5 “Sagrado Coração de Jesus” - Catedral de Assunção, Paraguai (Foto: Gustavo Kralj) a Evangelho A “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado Sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2 Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. 3 Jesus, sabendo que o Pai tinha posto tudo em Suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, 4 levantou-Se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5 Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. 6 Chegou, assim, a Simão Pedro. Pedro disse: ‘Senhor, tu me lavas os pés?’. 7 Respondeu Jesus: ‘Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. 8 Disse-lhe Pedro: ‘Tu nunca me lavarás os pés!’. Mas Jesus respondeu: ‘Se Eu não te lavar, não terás parte comigo’. 9 Simão Pedro disse: ‘Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça’. 10 Jesus respondeu: ‘Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos’. 11 Jesus sabia quem O ia entregar; por isso disse: ‘Nem todos estais limpos’. 12 Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-Se de novo. E disse aos discípulos: ‘Compreendeis o que acabo de fazer? 13 Vós Me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois Eu o sou. 14 Portanto, se Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15 Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que Eu fiz’” (Jo 13, 1-15). 1 Eis algumas considerações que nos levam a ver no Cenáculo, um símbolo e lição da perfeita Caridade. Na Antiga Lei, o amor não era universal. Limitava-se ao benfeitor, ao amigo, ao conacional. Ademais, a medida do amor era, então, o empregado a nós mesmos. A partir de Cristo, trata-se de um mandamento novo, tal qual encontramos na aclamação do Evangelho de hoje: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos tenho amado” (Jo 15, 12). II – Cristo faz o papel de servo “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado Sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os Seus que estavam no mundo, amouos até o fim”. 1 Alguns comentaristas afirmam que a expressão “até o fim” significa que Ele amou Seus discípulos até a hora da morte, mas esta interpretação nos parece incompleta. Num plano mais profundo, as palavras de Jesus refletem o desejo de levar Seu amor pelos homens até um li- Abril 2010 · Flashes de Fátima 13 “Tirou seu manto Aquele que, sendo Deus, aniquilou-Se a Si mesmo; cingiu-Se com uma toalha Aquele que recebeu a forma de servo; derramou água numa bacia para lavar os pés de Seus discípulos Aquele que verteu Seu Sangue para com ele lavar as manchas do pecado” mite inimaginável: “até a perfeição”, escreve Fillion, baseando-se em São João Crisóstomo e vários outros autores.6 O próprio Deus vai entregar-Se como vítima expiatória. O Inocente imolar-Se-á pelos culpados. Impossível demonstração maior de amor! Neste afeto estamos todos concernidos. Cada um de nós, portanto, foi amado “até o fim”. Sabendo perfeitamente que iria passar por todos os inenarráveis tormentos da Paixão, o Divino Mestre os quis, quase diríamos, com sofreguidão. Assim, começa Ele a Ceia dizendo: “Há muito que Eu desejei comer esta Páscoa convosco” (Lc 22, 15). Era aquele o derradeiro momento de convívio com os Seus. A partir dali, tudo não seria senão sofrimento, humilhação e dor. Por isso Jesus, “cuja ternura para Seus discípulos não conhece limites, vai multiplicar as demonstrações dela, antes de morrer. A todos os benefícios com os quais os cumulou, acrescentará novos, que superam os anteriores. Ele os reservou para o fim, como seu supremo legado”.7 Judas estava determinado a cometer o crime “Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus”. 2 Estava presente Judas Iscariotes, que já resolvera participar do horroroso crime de deicídio. A esse respeito, assim se refere Santo Agostinho: “Judas tinha já decidido em seu coração ceder às sugestões diabólicas e trair um Mestre em quem não aprendera a conhecer a Deus. Viera ao banquete já com essa disposição, como explorador do Pastor, como armador de insídias ao Salvador, como vendedor do Redentor”.8 São João Crisóstomo nota ter sido intenção do Evangelista “deixar claro que Cristo lavou os pés do homem que havia já decidido traíLo”,9 ressaltando, assim, a paciência e clemência de Jesus. Logo a seguir, porém, aponta como o Discípulo Amado visava também acentuar “a enorme maldade daquele homem, porque não o levavam a desistir nem o fato de compartilhar a hospitalidade de Cristo, embora fosse este o mais eficaz freio para a maldade, nem sequer o de que Cristo continuava sendo seu mestre, suportando-o até o último dia”.10 14 Flashes de Fátima · Abril 2010 O Mestre lava os pés dos discípulos “Jesus, sabendo que o Pai tinha posto tudo em Suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, 4 levantou-Se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5 Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido”. 3 Comentando essa afirmação de São João, “Sabendo que o Pai tinha posto tudo em Suas mãos”, explicita Santo Agostinho: “Portanto, também o próprio traidor, pois se não o houvesse tido em suas mãos, não teria podido servir-Se dele à vontade. Estava já, portanto, entregue ao traidor, precisamente ao que desejava entregá-Lo, de modo que quando O entregasse para o mal, saísse de sua traição um bem que ele ignorava. Sabia muito bem o que estava fazendo por seus amigos esse Senhor que Se servia pacientemente de seus inimigos”.11 Para entender estes versículos, devemos levar em consideração os costumes orientais de há dois mil anos, bem distintos dos nossos. Naquele tempo, era praxe, para manifestar deferência, os servos lavarem os pés dos convidados, com água, perfumes e unguentos, nos banquetes e jantares solenes. Ora, isso jamais era feito pelo próprio anfitrião. Tratava-se de serviço próprio aos escravos. Nesta Ceia, quem era o Anfitrião? Nada mais nada menos que o próprio Deus feito homem. Aquele em cujas mãos “o Pai tinha posto tudo” e que “de Deus tinha saído e para Deus voltava”, vai fazer papel de servo, lavando os pés dos que O reverenciavam como Mestre e Senhor. Belamente interpreta os pormenores desta cena o gênio de Santo Agostinho, ao afirmar: “Tirou Seu manto Aquele que, sendo Deus, aniquilou-Se a Si mesmo; cingiu-Se com uma toalha Aquele que recebeu a forma de servo; derramou água numa bacia para lavar os pés de Seus discípulos Aquele que verteu Seu Sangue para com ele lavar as manchas do pecado”.12 Gesto tão inusitado não podia deixar de causar perplexidade nos Apóstolos, como bem comenta o mesmo santo: “Quem não se encheria de estupor se o Filho de Deus lhe lavasse os pés?”.13 Cristo dava em tudo prioridade a Pedro 6 “Chegou, assim, a Simão Pedro”. Sergio Hollmann Alguns comentaristas antigos — como Orígenes, Leôncio, Crisóstomo, Teofilacto e Eutímio — opinam que Nosso Senhor começou por lavar os pés de Judas “para pagar ao traidor o mal com o bem e comovê-lo por meio de um benefício singular, bem como advertir-nos de que devemos agir semelhantemente com nossos inimigos”.14 Mas Santo Agostinho, São Beda e muitos outros autores afirmam ter Ele começado por Pedro. “Primeiro, porque é certo que em tudo Cristo dava prioridade a Pedro, como cabeça dos demais Apóstolos; segundo, por não se poder acreditar que os outros Apóstolos não protestassem caso Cristo começasse por eles”.15 Nunca devemos rejeitar uma Graça “Pedro disse: ‘Senhor, tu me lavas os pés?’. 7 Respondeu Jesus: ‘Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. 8 Disse-lhe Pedro: ‘Tu nunca me lavarás os pés!’. Mas Jesus respondeu: ‘Se Eu não te lavar, não terás parte comigo’. 9 Simão Pedro disse: ‘Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça’. 10 Jesus respondeu: ‘Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos’”. 6 Ao ver Cristo Se aproximar para lavar-lhe os pés, São Pedro, sempre impulsivo, teve um verdadeiro sobressalto. Como os demais Apóstolos, não podia compreender naquele momento a transcendência do gesto do Divino Mestre. Mas Nosso Senhor lhe adverte que se não o permitisse, não teria parte com Ele. Podemos imaginar o que deve ter sido sentir os próprios pés sendo lavados pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade! Não terá ele experimentado também, à medida que as sagradas e adorabilíssimas mãos de Jesus retiravam a poeira do caminho, que todos os passos dados por esses pés, que não foram bons, ou foram quiçá pecaminosos, estavam sendo perdoados e uma alvura divina penetrava em sua alma? E nós? Se quisermos ter parte com Jesus, devemos pedir, como São Pedro, a Graça de O exemplo do Príncipe dos Apóstolos ensina-nos a ter em relação a Jesus uma atitude de total aceitação, nunca rejeitando uma Graça “Jesus lava os pés de São Pedro” - Coro da Catedral de Notre Dame, Paris sermos purificados por inteiro, ou seja, que o preciosíssimo Sangue do Redentor limpe todas as nossas faltas. Pois, como sublinha Maldonado, “na pessoa de Pedro, o Senhor fala a todo o gênero humano, e nos ensina que ninguém terá parte com Ele se não se deixar lavar por Ele. Com efeito, quem poderá salvarse sem ser lavado e purificado pelo Sangue de Jesus?”.16 Ora, o exemplo do Príncipe dos Apóstolos ensina-nos também que, para participarmos do Divino Banquete, precisamos ter em relação a Jesus uma atitude de total aceitação, nunca rejeitando alguma graça que Ele queira nos conceder, por mais inexplicável, ou até imerecida, que ela nos possa parecer. A esse respeito, sublinha um piedoso comentarista: “Quão importante é não se opor à vontade de Deus nem à dos superiores que O representam, mesmo sob o falacioso pretexto da piedade ou da humildade! São Basílio tira desta passagem do Evangelho duas regras de conduta cheias de sabedoAbril 2010 · Flashes Podemos imaginar o que deve ter sido sentir os próprios pés sendo lavados pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade! de Fátima 15 Sergio Hollmann Pelo discernimento dos espíritos, que possuía em sumo grau, Jesus penetrava na alma de Judas e via aquela determinação horrorosa. Apesar disso, ajoelhou-Se diante dele e lavoulhe os pés ria: desagrada a Deus quem se opõe à sua vontade, mesmo se o faz com boa intenção; devese aceitar com a maior docilidade possível tudo quanto quer o Senhor”.17 Santo Agostinho assim comenta o diálogo entre o Salvador e Pedro: “‘Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. Assustado pela profundidade daquela ação do Senhor, não permite que se lhe faça aquilo cujo motivo ignora; não pode ver, não pode resistir a Cristo humilhado aos seus pés. ‘Tu nunca me lavarás os pés!’. “‘Se Eu não te lavar, não terás parte comigo.’ Então, angustiado entre o amor e o temor, e mais inquieto por ser negado por Cristo do que por vê-Lo assim humilhado, replicou: ‘Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça’. Se assim ameaças, aqui tens meus membros e, além de não tirar o mais baixo, entrego-Te o mais alto”.18 Quanto ao simbolismo do gesto de lavar a cabeça e as mãos, lembremos ainda o comentário do grande São Bernardo: “Está lavado quem não tem pecados graves; aquele cuja cabeça, isto é, sua intenção, e cujas mãos, ou seja, sua conduta e suas obras, estão limpas”.19 Entretanto, nem todos estavam limpos para o Banquete Eucarístico que iria, em seguida, se realizar. Eis o que a esse propósito nos diz Luís de Granada: “Contempla, pois, nesta Ceia, ó minha alma, teu doce e benigno Jesus, e observa o exemplo de inestimável humildade que Ele aqui te dá, levantando-Se da mesa e lavando os pés de Seus discípulos. Ó bom Jesus, o que fazes?! Ó doce Jesus, por que tanto Se humilha tua majestade?! O que sentirias, minha alma, se visses Deus ali ajoelhado aos pés dos homens, aos pés de Judas? Oh, cruel, como não se abranda teu coração ante tão grande humildade? Como tamanha mansidão não é capaz de partir tuas entranhas? É possível que tenhas decidido vender esse mansíssimo Cordeiro? É possível que esse exemplo não te cause agora compunção?”.20 Também nós devemos estar dispostos a fazer o papel de servo “Jesus sabia quem O ia entregar; por isso disse: ‘Nem todos estais limpos’”. 11 Está claramente afirmado neste versículo que todos, menos um, estavam na graça de Deus. Um ali era traidor, mas, mesmo a este, Jesus estava disposto a perdoar! Daí esta insinuação, que era, como bem a propósito sublinha o padre Truyols, “uma delicada alusão a Judas, um último convite do Bom Pastor à ovelha desgarrada”.21 Se, naquele momento, ele tivesse tido pelo menos um movimento de alma de arrependimento, e pedido interiormente perdão, sua história teria sido outra. “Como, porém, estava já muito endurecido no mal, permaneceu insensível à advertência”, observa Fillion.22 Desde toda a eternidade tinha visto Nosso Senhor essa recusa de Judas, e naquele momento estava comprovando-a enquanto homem. Pelo discernimento dos espíritos, que possuía em sumo grau, penetrava na alma do traidor e via aquela determinação horrorosa. Apesar disso, ajoelhou-Se diante dele e lavou-lhe os pés. Todos, menos um, estavam na graça de Deus. Um ali era traidor, mas, mesmo a este, Jesus estava disposto a perdoar! “Judas recebe o pagamento pela sua traição”, por Giotto di Bondone Cappella degli Scrovegni, Pádua, Itália 16 Flashes de Fátima · Abril 2010 Jesus nos deu essa lição para compreendermos quanto Ele nos ama e até que ponto deseja perdoar a todos e a cada um. Mas também para nos ensinar a suportar todas as misérias, dificuldades e contratempos causados pelo convívio humano. Comenta, com muito senso psicológico, São Bernardo: “Vós talvez enrubesceríeis por imitar a humildade de um homem; imitai pelo menos a humildade de um Deus, pois aqui está o que torna a humildade tão recomendável”.23 Por mais que possamos encontrar dificuldades temperamentais ou inconveniências no relacionamento com os outros, devemos imitar Jesus, tratando cada um de nossos irmãos como Ele tratou Judas no lava-pés. As relações humanas podem ser, no princípio, repletas de alegria e de suavidade, mas logo depois costumam aparecer os percalços, as rusgas, as dificuldades. São as contingências deste vale de lágrimas. Nesses momentos, devemos lembrar-nos da Santa Ceia, estando dispostos a fazer o papel de servo uns em relação aos outros, a perdoar o irmão a ponto de esquecer qualquer desgosto que nos tenha dado; em suma, a estimá-lo como se víssemos nele a própria figura de Jesus. Figura da caridade fraterna “Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-Se de novo. E disse aos discípulos: ‘Compreendeis o que acabo de fazer? 13 Vós Me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois Eu o sou. 14 Portanto, se Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15 Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que Eu fiz’”. 12 Santo Agostinho, com seu voo de águia nos céus da teologia e da piedade, nos deixou esta bela consideração a respeito dos presentes versículos: “Ó bem-aventurado São Pedro! Isso é o que ignoravas quando não permitias que te lavasse; isso é o que teu Senhor e Mestre prometeu que haverias de saber depois, quando te assustou para que Lhe permitisses lavar-te. Aprendamos, irmãos, a humildade do Altíssimo; façamos uns aos outros, humildes, o que o Altíssimo fez humildemente. Grande é este sermão sobre a humildade. Alguns irmãos o põem em prática com obras visíveis, quando recebem outros hospitaleiramente, conservando esses costumes humildes (I Tm 5, 10). Contudo, onde não mais existem esses costumes, os santos executam com o coração aquilo que não fazem com as mãos, se realmente podem ser contados no número daqueles dos quais diz o hino dos três santos varões: ‘Santos e humildes de coração, bendizei o Senhor’” (Dn 3, 87).24 A afirmação de Nosso Senhor nesse versículo 13 — “Eu o sou” — evoca poderosamente o “Eu sou Aquele que é”, do Antigo Testamento, bem como a resposta com a qual Ele prostrará por terra os soldados, no Horto das Oliveiras: “Ego sum – Sou Eu” (Jo 18, 5). Cristo faz o papel de servo, salienta Fillion, “com pleno conhecimento e convicção de Sua divindade”.25 Sabia que “o Pai tinha posto tudo em Suas mãos” e — como bem pondera o padre Truyols — “tendo perfeita consciência do ilimitado poder que o Pai lhe conferira, de ter sido engendrado pelo mesmo Pai e de que brevemente subiria aos Céus para sentar-Se à Sua direita, apesar de conhecer muito bem esta Sua excelsa grandeza e infinita dignidade, quis Jesus abaixar-Se a ponto de lavar os pés de Seus discípulos”.26 Esclarece o mesmo Fillion: “Claro que Jesus não tencionava fazer do lava-pés uma instituição durável e um rito obrigatório; Seu ato era, antes de tudo, figura da caridade fraterna que os cristãos devem exercer mutuamente”.27 Na mesma linha, observa o Cardeal Gomá: “Jesus nos apresenta a espécie como gênero, um caso particular como lei geral: pelo lava-pés, devemos entender todos os exemplos de humildade e de caridade”.28 A lição dada por Nosso Senhor representava uma monumental quebra dos padrões vigentes. Ele queria dar o exemplo de quanto devemos nos interessar pelos outros, sobretudo no que diz respeito à salvação da alma, preocupando-nos de que cada um dos nossos irmãos progrida cada vez mais na vida espiritual, tal como pondera, de modo admirável, Santo Agostinho: “Além dessas considerações morais, podemos entender que o Senhor nos recomenda lavar-nos uns aos outros — purificando nossos afetos — esses pecados que aderem a nós quando caminhamos pelo mundo. Como será isso? Podemos acaso dizer que alguém tem possibilidade de limpar seu irmão do contágio dos delitos? Claro que sim! E Abril 2010 · Flashes Nosso Senhor nos deu essa lição para compreendermos quanto Ele nos ama, mas também para nos ensinar a suportar todas as misérias, dificuldades e contratempos causados pelo convívio humano de Fátima 17 Quem participa do Sagrado Banquete sem ter pelos seus irmãos esse amor do qual nos deu exemplo Nosso Senhor, está ainda, por assim dizer, com “os pés sujos” disso somos advertidos também por esses assombrosos atos do Senhor, ou seja, que, confessando-nos mutuamente nossos delitos, oremos por nós como Cristo intercede por nós (cf. Rm 8, 34). Ouçamos o Apóstolo São Tiago que nos ordena isso, dizendo com toda clareza: ‘Confessai mutuamente vossos pecados e orai uns pelos outros para serdes salvos’ (Tg 5, 16). […] “Portanto, perdoemo-nos mutuamente nossos pecados, oremos mutuamente por nossos delitos, e assim, de certo modo, nos lavaremos os pés uns aos outros. A nós cabe, por sua Graça, esse ministério da caridade e da humildade, enquanto a Ele corresponde escutar-nos e limpar-nos de toda mancha de pecado, por Cristo e em Cristo, para que aquilo que perdoemos, isto é, aquilo que desliguemos na terra, seja desligado no Céu’”.29 III - Preparação para a Eucaristia A instituição da Eucaristia sucedeu imediatamente ao lava-pés, com o qual tem ela íntima relação. “Cristo executou tal ação ou cerimônia com o objetivo de ensinar, por meio desse simbolismo externo, que os homens não devem aproximar-se da sacrossanta e divina Eucaristia impuros e manchados”, afirma Maldonado.30 A Eucaristia é um Sacramento insuperável, porque não há outro cuja substância seja o próprio Deus. No Batismo, que nos abre as portas para a participação da vida divina, Nosso Senhor Jesus Cristo está como Autor, não como substân- 1 Cf. ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la Perfección Cristiana. Madrid: BAC, 2001, p.48. 2 Catecismo da Igreja Católica, n.293. 3 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, q.32, a.1, ad 3. Consideremos também que Deus tinha possibilidade de criar infinitos seres humanos e angélicos. Foi, portanto, um ato de amor, de eleição, que O levou a criar cada um de nós. 4 CHAINE, apud ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología 18 Flashes de Fátima · Abril 2010 cia. Mas no Sacramento da Eucaristia, Ele está como Autor e como Substância, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Essa é a principal razão pela qual São Tomás a considera o mais importante dos Sacramentos, em termos absolutos.31 Na Sagrada Hóstia, o Criador Se doa à criatura e, ao mesmo tempo, assume-a e transforma, tornando-a mais semelhante a Ele. E, se ela corresponde ao seu amor, estabelece com ela uma “comunhão de vontade” que, conforme ensina o Papa Bento XVI, “cresce em comunhão de pensamento e sentimento”. Logo adiante, esclarece o Pontífice como daí floresce o amor ao próximo: “Revela-se, assim, como possível o amor ao próximo no sentido enunciado por Jesus, na Bíblia. Consiste precisamente no fato de que eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizarse a partir do encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo”.32 Quem participa do Sagrado Banquete sem ter pelos seus irmãos esse amor do qual nos deu exemplo Nosso Senhor, está ainda, por assim dizer, com “os pés sujos”. Mas quando nos aproximamos da Mesa Eucarística tão cheios de preocupação pelos outros quanto por nós mesmos, ou até mais ainda, agradamos a Deus de lio de San Juan/III (61-88). Madrid: Ciudad Nueva, s/d. p.104. de la caridad. Madrid: BAC, 1963, p.6. 5 6 7 BENTO XVI, Deus Caritas est, n.17. Cf. FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible commentée. Paris: Letouzey, 1912, t.VII, p.556. Explication des Évangiles. Hong-Kong: Imprimerie de la Société des Mission-Étrangères, 1940, t.II, p. 296. 8 SANTO AGOSTINHO. In Evangelium Ioannis, tr. 55, 4: PL 35, 1786. 9 SAN JUAN CRISÓSTOMO. Homilías sobre el Evange- 10 Idem, ibidem. 11 SANTO AGOSTINHO. Op. cit., tr. 55, 5: PL 35, 1786. 12 SAN AGUSTÍN, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO. Catena aurea. SANTO AGOSTINHO. In Evangelium Ioannis, tr. 56, 1: PL 35, 1787. 13 14 MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios – III Evangelio de San Juan. Madrid: BAC, 1954, p.753. Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana Na Sagrada Hóstia, o Criador Se doa à criatura e, ao mesmo tempo, assume-a e transforma, tornando-a mais semelhante a Ele. E, se ela corresponde ao Seu amor, estabelece com ela uma “comunhão de vontade”. “A última ceia”, por Fra Angélico - Afresco do Museu de São Marcos, Florença tal forma que Ele derrama sobre nossas almas abundantíssimas e renovadas Graças. Amar aos outros como Deus nos amou! Eis uma das mais belas formas de preparar-se para a Eucaristia no tempo da Páscoa que agora começa. Se assim fizermos, estaremos imi- 15 Idem, p.754. 16 Idem, p.758. 17 18 19 20 21 Explication des Évangiles. Hong-Kong: Imprimerie de la Société des Mission-Étrangères, 1940, t.II, p.301. SANTO AGOSTINHO. Op. cit., tr. 56, 2: PL 34, 1788. tro Señor Jesucristo. Madrid: BAC, 1954, p.577. 22 23 SAN BERNARDO. Obras completas. Madrid: BAC, 1953, v.I, p.496. LUIS DE GRANADA. Obra selecta c. 26 p. 811 Oración y meditación p. 1ª c. 3. FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nues- tando, de fato, em nossas vidas, o Divino Mestre no sublime ato do lava-pés. E ninguém melhor para interceder por nós e promover a limpeza de nossas almas para acercar-nos do Pão dos Anjos, do que Maria Santíssima. Recorramos a Ela, sempre. 24 FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Pasión, Muerte y Resurrección. Madrid: Rialp, s/d., v.III, p.111. SÃO BERNARDO apud Explication des Évangiles. HongKong: Imprimerie de la Société des Mission Étrangères, 1940, t.II, p. 305. SANTO AGOSTINHO, op. cit., tr. 58, 4. PL 35, 1794. 25 FILLION, op. cit., p.110. 26 FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, op. cit., p.576. 27 FILLION, op. cit., p.112. 28 GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.IV, p.179. 29 SANTO AGOSTINHO, op. cit., tr. 58, 5. PL 35, 1794. 30 MALDONADO, SJ, op. cit., p.747-748. 31 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, III, q. 65, a. 3. 32 BENTO XVI, Deus Caritas est, n.18. Abril 2010 · Flashes de Fátima 19 Maria, Esposa do Divino Espírito Santo Número 7 - Julho 2002 Jovens, sejam santos! A revista Arautos do Evangelho atinge o 100º numero Júbilo e ação de graças Divulgar por todo o mundo a mensagem de fé e de esperança do Evangelho, como eco fidelíssimo da Cátedra de Pedro — eis o objetivo da revista Arautos do Evangelho, que comemora seu centésimo número. P Número 20 Agosto 2003 Número 21 Setembro 2003 O repouso operante Número 24 Dezembro 2003 Número 23 Novembro 2003 Número 22 Outubro 2003 a inocência contempla A INOCÊNCIA Número 26 Fe v e r e i r o 2 0 0 4 Número 25 Janeiro 2004 Número 27 Março 2004 Elas recebem a bênção do Papa Patriarca da Igreja Número 28 Abril 2004 Número 30 Junho 2004 Número 29 Maio 2004 III Aniversário “Ide e evangelizai todas as nações” Irmã Carmela Werner Ferreira, EP artindo de uma ampla perspectiva, o Concílio Vaticano II deitou especial atenção aos novos métodos que o progresso técnico disponibilizava para a missão evangelizadora da Igreja. Abria-se no século XX, inegavelmente, uma nova etapa para os meios de comunicação, e era preciso concentrar os esforços num mesmo rumo: valer-se dos modernos recursos para expandir a Fé. Dentre estes, a imprensa possui grande importância. Todos sabemos o quanto ela avultou-se no decorrer do último século, assumindo proporções não imaginadas sequer pelos espíritos mais ousados da época precedente. Sendo embora um meio de comunicação já “veterano”, não perdeu sua atualidade; pelo contrário, adquiriu maior importância, e expoentes como São Maximiliano Kolbe e o Beato Tiago Alberione compreenderam-no bem. Com efeito, “os católicos são convidados a ler regularmente publicações católicas, contanto que dignas deste nome, não somente para colherem informações religiosas, mas também para, através dos comentários lidos, olharem os acontecimentos do mundo com uma mentalidade cristã”, incentiva o decreto conciliar Communio et Progressio.1 Mas a imprensa cristã desempenha também relevante papel missionário. Para exercê-lo, Dom Claudio María Celli, Presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, afirma ser necessário pensarmos “na forma como podemos, em nossos campos específicos de ação, favorecer a que os leitores, ouvintes, telespectadores, usuários..., encontrem Jesus Cristo naquilo que comunicamos”.2 Número 80 Janeiro 2010 Na glória O Rosário e a Paz Ano VIII 50º aniversário Et super hanc Petram Ano XI Nº 41 - Outubro 2006 dos altares Nº 73 - Junho 2009 Ano XI Nº 72 - Maio 2009 Há 6 anos “Flashes de Fátima” publica os artigos da Revista “Arautos do Evangelho” e outros temas de interesse da Igreja de Portugal Onze edições em quatro línguas Em conformidade com esse espírito, e desejando unir seus esforços aos das demais publicações católicas, a Associação Arautos do Evangelho trouxe a lume em janeiro de 2002 a primeira edição da revista cujo centésimo número o leitor tem agora em mãos. Diversas necessidades motivaram esse passo, das quais a primeira não poderia deixar de ser a difusão do Evangelho, segundo o carisma específico dos Arautos. Mas, de outro lado, o crescimento da Instituição exigia um prolongamento de sua presença junto às centenas de milhares de amigos, benfeitores e simpatizantes desejosos de conhecer melhor a espiritualidade, objetivos e métodos de atuação deste novo movimento nascido na Igreja. Pesou, por fim, para o lançamento de nossa revista, a apetência de formação cultural e doutrinária manifestada pelas pessoas com os quais os missionários Arautos entravam em contato. Sob o olhar maternal e auspício da Santíssima Virgem, muito cresceu a revista Arautos do Evangelho nestes cem meses: partindo dos modestos 20 mil exemplares iniciais, conta hoje com onze edições em quatro línguas — português, espanhol, italiano e inglês —, totalizando cerca de um milhão de exemplares de tiragem mensal. Naqueles primeiros momentos, não era possível imaginar os frutos evangelizadores da nova publicação, nem a multiplicidade de formas com que ela seria aproveitada. A revista Arautos do Evangelho tem servido de subsídio para catequistas e professores, inclusive universitários, além de inspiração para teses de graduação e mestrado em diversas áreas. Sacerdotes aproveitam seus artigos, especialmente os comentários ao Evangelho, para a pregação. Religiosas de clausura os utilizam para fazer a meditação individual. E incontáveis fiéis declaram-se afervorados e confirmados na Fé com sua leitura. A revista, segundo seus leitores A voz mais abalizada para pronunciar-se a respeito de Arautos do Evangelho, sem dúvida, é a de seus leitores, muitos dos quais a acompanham desde os primórdios. Deles recebemos continuamente comentários provenientes dos mais variados quadrantes da Terra, sendo frequen- tes testemunhos como este: “Hoje a revista faz parte da nossa vida”. Dom Pietro Sambi, Núncio Apostólico nos Estados Unidos, ressaltou a conveniência de Arautos do Evangelho para melhor compreensão da vida eclesial: “As matérias nela apresentadas são oportunas e informativas, conduzindo-nos a uma experiência e uma perspectiva cada vez mais amplas e profundas da vida da Igreja e dos seus ensinamentos”. Do silencioso claustro beneditino de Fontgombault, na França, escreve um monge: “Eis um método simples e eficaz de evangelização, se permanecerem fiéis às atuais características que esta revista católica se propõe”. E um pároco de Londres interpretou com agudeza um dos nossos principais anseios: “O que nela mais impressiona talvez seja o senso de Fé na Igreja — suave, mas ao mesmo tempo sólido como uma rocha — que motiva cada artigo”. Entretanto, nenhum estímulo pode ser mais encorajador que o de servir de instrumento da graça de Deus para reconduzir ao redil do Bom Pastor alguma ovelha tresmalhada. Do Uruguai, recebemos este relato: “Em certo sentido, a leitura Abril 2010 · Flashes de Fátima 21 da revista mudou a minha vida: posso dizer que há um ‘antes’ e um ‘depois’ de havê-la conhecido. Eu estava um tanto afastado da Igreja e da Religião, mas o primeiro exemplar que vi foi para mim uma grata e inesquecível surpresa. Recebi um impacto salutar. E desde então tenho frequentado a Missa dominical com minha esposa e filhos, inclusive os mais novos. Posso afirmar que esta revista foi um instrumento da Providência para minha segunda conversão”. nossa revista, revelando-se um manancial de graças para o público. De um sacerdote, chegou-nos o seguinte depoimento: “Fez-me muito bem um artigo no qual o Papa trata da importância da exegese e da Teologia na preparação das homilias. Deus é grande e nos ama muito, e neste gesto em concreto vejo o amor d’Ele por mim, pois me iluminou a retomar o caminho de preparar bem as homilias, em clima de oração, e não só com meus conhecimentos”. “O cristão é naturalmente um teólogo” Aprofundando a Palavra de Deus É da lavra do padre Giovanni Battista Mondin, renomado tomista da atualidade, uma fina apreciação antropológica: assim como o homem é naturalmente um filósofo, o cristão é naturalmente um teólogo.3 De fato, embora poucos dentre os batizados atinjam o grau de especialista nos assuntos de doutrina sagrada, existe na alma de todos uma apetência que clama por conhecer as profundas raízes de nossa Fé. Essas considerações explicam o interesse dos leitores pelas seções A voz do Papa, Palavra dos Pastores, Comentário ao Evangelho e outros artigos elaborados por sacerdotes Arautos. Desde o início, uma esmerada seleção mensal dos documentos publicados por João Paulo II e Bento XVI foi estampada nas páginas de Número 32 Agosto 2004 Número 31 Julho 2004 Número 33 Setembro 2004 No decorrer desses cem meses, Mons. João Scognamiglio Clá Dias valeu-se de seus dotes de escritor, exegeta e mestre espiritual para conduzir o leitor ao coração do Evangelho, para melhor ouvir a voz do Divino Mestre. O testemunho de uma leitora de Montevidéu sintetiza a opinião de numerosas pessoas que se manifestaram no mesmo sentido: “A seção que mais me atrai é o Comentário ao Evangelho, escrito pelo Mons. João Scognamiglio Clá Dias. O Evangelho, todos sabemos, é sempre o mesmo, mas o Mons. João dá um enfoque original para cada trecho que comenta. Estamos necessitados, em nossos atribulados dias, de pregadores como ele, que tirem proveito da Palavra de Deus, a expliquem de modo atraente e nos convidem a pôr em prática os ensinamentos imperecedouros de Jesus”. Número 34 Outubro 2004 Número 35 Novembro 2004 Portugal Número 51 Março 2006 III Congresso Internacional do setor feminino Número 52 Abril 2006 Também os diversos carismas suscitados pelo Espírito Santo constituem um tema de relevante interesse para toda a Igreja, pois através das variadas formas de ministério eclesial, refulge o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo, em cujo serviço somos “um só coração e uma só alma” (At 4, 32). Por isso foi sempre ponto de honra para nossa revista valorizar o empenho de todas as instituições eclesiais pela expansão do Reino de Deus. Um seminarista espanhol assim o faz notar: “É uma publicação em comunhão com a Igreja, com o Papa e o Magistério Eclesiástico, e aberta aos carismas das demais congregações, movimentos e associações”. E uma leitora de São Paulo, edificada pela imensa gama de atuações desenvolvidas no orbe católico, exclamou: “Esta revista permite conhecer outras ordens e o que pensam. Como é fascinante a vida da Igreja Católica!”. 2002 – Um acontecimento de magna importância para a vida eclesial Dedicar-se à imprensa religiosa significa, desde logo, contemplar com olhos sobrenaturais o desenrolar dos acontecimentos na Igreja, no mundo e no próprio seio da instituição, sem deixar-se submergir pelos aspectos meramente humanos e concretos. Foi o que procurou fazer a revista Arautos do Evangelho ao Número 37 Janeiro 2005 Número 38 Fevereiro 2005 Cristo Rei! conservará a fé! Peregrinando em Fátima Número 36 Dezembro 2004 Espírito de comunhão eclesial Número 53 Maio 2006 O que é mais: amar ou entender? 22 Flashes de Fátima · Abril 2010 Número 40 Abril 2005 FOI MEU REFÚGIO E CAMINHO O IMACULADO CORAÇÃO FOI MEU REFÚGIO E CAMINHO No que consiste a esmola? Número 54 Junho 2006 Número 39 Março 2005 O IMACULADO CORAÇÃO O mais misterioso nascimento! Número 55 Julho 2006 II Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais Número 56 Agosto 2006 JOÃO BATISTA E A RESTITUIÇÃO Número 57 Setembro 2006 Da família à santiDaDe Em meio à calamidade Maternal sorriso de Maria Número 58 - Outubro 2006 Ave Crux, SpeS uniCA! O Rosário e a Paz Número 59 Novembro 2006 A irresistível e suave força da santidade Número 60 Dezembro 2006 Lux in tenebris lucet longo de seus mais de oito anos de existência. Iniciada em janeiro de 2002, já no número de abril desse ano teve a imensa alegria de noticiar um fato histórico para a Igreja do Brasil: a canonização de sua primeira santa, Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Em 15 de agosto, 19 integrantes do setor feminino dos Arautos fizeram a consagração a Nossa Senhora e foram revestidas, pela primeira vez, com o hábito dessa Instituição eclesial. Esse acontecimento, prelibativo da consagração de mais 292 outras jovens, culminaria na fundação e aprovação pontifícia da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum, em abril de 2009. O ano de 2002 não se encerraria sem um acontecimento de magna importância para a vida eclesial: em 16 de outubro, início do 25º ano de seu Pontificado, João Paulo II enriquece o Santíssimo Rosário com os Mistérios Luminosos, promulga o Ano do Rosário e lança a Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariæ. 2003 – Sob o signo da Eucaristia Outro grande presente seria conferido por esse Pontífice à Igreja poucos meses depois: em 17 de abril de 2003, Quinta-Feira Santa, ele assinou a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, e anunciou para outubro a abertura do Ano da Eucaristia. Número 41 Maio 2005 Número 42 Junho 2005 Número 43 Julho 2005 Um belo fruto da devoção mariana e da piedade eucarística incrementada entre os Arautos foi a primeira consagração de arautos provenientes da África, em 21 de abril. Nesse dia, receberam o hábito da Associação três jovens de Moçambique, abrindo uma esteira luminosa de vocações oriundas do Continente da Esperança. Ainda em 2003, a Diocese de Roma delegou aos cuidados dos Arautos do Evangelho a igreja de San Benedetto in Piscinula, no bairro do Trastevere. Tratando-se do antiquíssimo templo erigido sobre a cela ocupada pelo patriarca São Bento por ocasião de sua permanência na urbe imperial, o edifício se reveste de intenso simbolismo. Essa medida inédita — pois nunca o Vicariato havia confiado uma igreja a uma Associação de leigos — parecia prenunciar o ramo sacerdotal da entidade, pois são hoje presbíteros Arautos que mantêm o culto sagrado e o atendimento aos fiéis nesse templo multissecular. 2004 – Chegaram os “homens de Deus” O ano de 2004 foi para os Arautos de intensa missão evangelizadora, especialmente junto aos mais necessitados. Incontáveis favelas, creches, asilos e orfanatos receberam a presença confortadora da imagem de Nossa Senhora e dos “homens de Deus”, como eram designados os jovens missionários em algu- Número 44 Agosto 2005 Número 45 Setembro 2005 Número 46 Outubro 2005 O verdadeiro apoio da juventude Mitte, Domine, operarios... Número 61 Janeiro 2007 O seminário em júbilo! Dom Cláudio Hummes, Prefeito da Congregação para o Clero, visita os Arautos Número 62 Fevereiro 2007 A Cátedra Infalível Número 63 Março 2007 O pai que Deus escolheu para Si Número 64 Abril 2007 Quem receber a uma destas crianças, a Mim recebe Número 65 Maio 2007 2005 – “Habemus Papam!” A comoção causada pela morte da Irmã Lúcia, em 13 de fevereiro de 2005, relembrou a mensagem de Fátima a um mundo no qual os problemas denunciados por Nossa Senhora em 1917 tinham se agravado de modo paroxístico. Pouco tempo depois, Deus chamava a Si o inesquecível Papa João Paulo II, pondo fim ao terceiro pontificado mais extenso da História Número 47 Novembro 2005 Número 66 Junho 2007 Número 48 Dezembro 2005 Sínodo doS BiSpoS Arautos e Eucaristia Compêndio do Catecismo mas comunidades carentes. Desejosa de ajudá-los inclusive em suas necessidades materiais, a Associação Arautos do Evangelho criou o “Fundo Misericórdia”, que arrecada recursos financeiros destinados às entidades de assistência social e instituições religiosas em geral. Em escala mundial, o acontecimento mais importante foi, sem dúvida, o terrível tsunami que flagelou a costa asiática em 26 de dezembro. Enquanto outros órgãos da mídia davam todo destaque à dor e à destruição, Arautos do Evangelho procurou apresentar a seus leitores notícias cheias de esperança. Ressaltava-se, por exemplo, como o santuário de Nossa Senhora da Saúde, na Índia, repleto de fiéis e muito próximo do mar, conservou-se incólume em meio à catástrofe. Episódio emblemático, sem dúvida, por representar a realidade que todos experimentamos em nossas vidas: quem se refugia sob o manto da Santíssima Virgem não tem o que temer. Ano dA EucAriStiA Número 67 Julho 2007 O tempo em que fomos visitados Número 68 Agosto 2007 Número 49 Janeiro 2006 Número 50 Fevereiro 2006 “E o Menino crescia...” Número 69 Setembro 2007 Número 70 Outubro 2007 O santo do cotidiano O primeiro santo brasileiro Novos arautos sacerdotes Arautos recebem Cardeal Rodé Abril 2010 · Flashes “...que vos ameis uns aos outros” ( Jo 15, 17) ÁFRICA: Continente da Esperança A alegria da virtude de Fátima 23 AE: Como o senhor e o Pe. Renzi vieram para o Brasil? Royo Marín e Arquivo familiar Frei Fotos: Jesús García Cubero Dom Filippo: A coisa foi bem simples. Num congresso em Roma, Mons. Giussani encontrou-se com o Cardeal Dom Eugênio Sales, então Arcebispo do Rio de Janeiro. Ao ouvir dele que o Movimento Comunhão e Libertação estava já instalado em várias cidades brasileiras, o Cardeal lhe disse: “Na próxima vez que você for ao Brasil, faça-me uma visita no Rio”. Mons. Giussani veio ao Brasil em dezembro de 1983 e fez a visita ao Cardeal. Eram tempos tumultuados, havia confusões, estava-se na fase aguda da Teologia da Libertação. Disse-lhe o Cardeal: “Mande-me um sacerdote para dar aulas na Pontifícia Universidade Católica; um sacerdote de confiança, com doutrina segura e que saiba trabalhar com jovens universitários”. AE: Mons. Giussani, então, escolheu o homem certo... Dom Filippo: Ele me convidou. Há uma história bem comprida atrás disso, mas vamos nos limitar ao essencial. Eram decorridos já doze anos desde o meu primeiro encontro com Mons. Giussani, e o Movimento Comunhão e Libertação tinha crescido, e eu cresci em responsabilidade no Movimento. Era responsável regional da Apulia, no sul da Itália. Na ocasião, eu tinha preparado um grande encontro regional da Fraternidade do Movimento. Estando eu apresentando algumas questões, Mons. Giussani me interrompeu, perguntando: “Você iria com prazer para o Brasil, e já?” Dei resposta afirmativa e ele explicou que quando um Bispo faz um pedido, é um pedido da Igreja, e é mais importante atender ao pedido do Bispo do que cuidar dos nossos próprios projetos. “Seria bom — acrescentou ele — que nós saíssemos todos em missão, que nós esvaziássemos a bota da Itália, e fôssemos missionários”. AE: Uma bela atitude... Dom Filippo: Então, vim para atender a um pedido do Cardeal Dom Eugênio Sales e o Pe Giuliano Renzi de Rimini viajou comigo. Foi muito boni- “Minha entrada no Movimento foi o encontro com Dom Giussani! relacionamento com ele me facilitava o encontro com Cristo.” 14 AE: O senhor tem sido, durante vários anos, responsável de Comunhão e Libertação na América Latina. Que balanço faz dessa etapa? Dom Filippo: O balanço me deixa cheio de gratidão por aquilo que o Senhor realiza servindo-se de nós, da nossa disponibilidade para chegar a tantos lugares. Quando substituí nesse cargo um grande sacerdote, o Pe. Francesco Ricci, o Movimento estava já estabelecido no Brasil, que era a experiência maior, na Argentina, Chile, Paraguai, Peru, Uruguai. Comecei, então, a abrir novas comunidades: Colômbia, Cuba, Equador, Panamá, São Domingos. Foi uma experiência de grande crescimento, respondendo aos convites que recebíamos. Sobretudo, quando se tratava de atender ao pedido de um Bispo, porque nossa paixão era, e é, servir à Igreja. O Dom Filippo: Em primeiro lugar, quero dizer que quem me despertou mais a consciência da minha dignidade episcopal foi Mons. Giussani. Lembro-me da primeira vez que o encontrei, em Milão, depois de ser nomeado Bispo. Logo que me viu, ele se atirou de joelhos na minha direção e me disse: “Antes de tudo, me dê a sua bênção de pai!” Eu me retraía: “Ma no!... no, no!” Aí me dei conta da dignidade da sucessão apostólica que ele reconhecia mais do que eu. Não vejo nenhuma dificuldade em ser Bispo e, ao mesmo tempo, pertencer ao Movimento Comunhão e Libertação, pois ele me desperta à riqueza do episcopado. Pertencer ao Movimento é uma forma de ficar dentro do coração da Igreja e de aí apreciar todo o valor da sucessão apostóli- Arautos do Evangelho · Abril 2005 Pelas mãos do Cardeal Franc Rodé, CM, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, foi dedicada — no dia 24 de fevereiro de 2008 — a Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Seminário dos Arautos do Evangelho, em Caieiras, Grande São Paulo. Inspirado no estilo gótico, o edifício procura refletir a beleza do transcendente, criando em seu interior, através da profusão de cores e da riqueza de formas, um ambiente propício às celebrações litúrgicas. A Igreja da América Latina consultava ansiosa o calendário, aguardando a chegada de 2007, e com ele, a do Santo Padre. Convocados por Dom Odilo Pedro Scherer para colaborar com a Arquidiocese de São Paulo, centenas de Arautos participaram dos preparativos da estadia do Papa, nos dias 9 a 11 de maio, e na liturgia da Missa de canonização de Frei Galvão, no Campo de Marte, em São Paulo. Em abril desse ano, na Basílica de Santa Maria Maior, o Cardeal da Fábrica de São Pedro. Quais são as responsabilidades inerentes a esses cargos? O Vigário tem o encargo de cuidar da administração dos sacramentos no Estado do Vaticano, na paróquia de Santa’Ana e na de São Pedro, nas quais há muitos batismos, muitas confissões e muitos casamentos. Além disso, há a preocupação pela saúde espiritual de todos os empregados, para os quais organizamos até retiros espirituais. A Fábrica de São Pedro é uma instituição nascida com a Basílica. Foi criada para a construção da Basílica, uma obra muito longa, demorada. E, dado o seu tamanho, ela precisa continuamente de intervenções. Não é pelo gosto de ter um monumento grande, mas pelo empenho de que seja belo, limpo, para respeitar os visitantes, respeitar o povo de Deus. Considerando-se quantas pessoas passam por dia nos ambientes da Basílica, sem nunca encontrar ali um pedaço de papel no chão, pode-se entender o modo exemplar com que todos trabalham. Mais ainda, trabalham com amor e com devoção. Muitas vezes eu lhes lembro que os visitantes não vêem neles empregados, mas sim a Igreja Católica, e, em conseqüência, se eles fazem o bem, é a Igreja que faz o bem. Na Basílica queremos ser cada vez mais aquilo que por vocação somos chamados a ser, ou seja, a memória do martírio de São Pedro, uma memória viva, que se personaliza num homem que continua a missão de Pedro. Nós estamos aqui para servir e sustentar o ministério do Papa. AE: Para concluir, uma mensagem aos leitores... Eu quereria que hoje cada um de nós sentisse que não estamos vivendo um tempo hostil ao Evangelho, mas um tempo favorável. A so- ciedade de hoje, sobretudo a sociedade do bem-estar, é uma sociedade aparentemente feliz, mas na verdade desesperada. Existe um grande desejo do Evangelho, uma grade expectativa pelo Evangelho. Não podemos desiludir esses sentimentos! A demanda existe, e nós devemos ser a oferta autêntica. O Cardeal Schuster dizia: “Esta é uma época na qual as pessoas não acreditam mais em ninguém, mas se chega um santo, estão dispostas a colocar-se de joelhos”. Os santos são — mais do que nunca — passíveis de serem acreditados. Nós o vimos com João Paulo II. Estou convencido de que ele se impôs ao afeto, admiração e devoção do mundo, sobretudo, através de sua doença. Porque ali ficou claro que sua fé era verdadeira. Para nós era evidente, mas para os outros ficou claro que ele acreditava naquilo que dizia. E assim ele arrastou o mundo. entrevistA exClusivA do Evangelho láudiO A elevação de Vossa Eminência a Cardeal da Santa Igreja é uma honra para sua arquidiocese. Que significa para a Igreja de Barcelona esta nomeação? sociedade, para transformar as estruturas com o gérmen do Evangelho, são desafios dois muito urgentes em nosso país, e me atreveria a dizer que em muitos lugares do mundo. A Igreja existe para evangelizar. O Concílio recebe a O Cardeal Lluís Martinez Sistach Vaticano II sudelegação dos Arautos do Evangelho blinhou as peculiaridades do eu não precise exercer essa funlaicato católico: a dimensão secução. lar, seu compromisso na construA cerimônia do consistório de ção do bem comum da sociedade. criação de cardeais, e especialmenNós, cristãos, vivemos no mundo, do Sanhomilia da palavras as te readaí a presença dos leigos nas to Padre, põem em relevo a nossa lidades do mundo. função como colaboradores e conselheiros mais próximos do SucesO que sente um cardeal ante sor de Pedro, bem como a nossa voa perspectiva de eleger um dia à po de Roma. cação do serviço do amor a Deus, o sucessor de São Pedro?Qual Igreja e aos irmãos, até o derramao seu papel institucional? Qual o maior desafio diz o como tal — mento do sangue Desejo que o Santo Padre da Igreja hoje? Papa na imposição do barrete, e o Bento XVI viva por muitos anos Considero que a evangelização indica a cor dos trajes cardinalícios. com muita saúde e lucidez, e que e a presença dos leigos cristãos na Afável e acolhedor, o prefeito da Congregação para o Clero explica como o Ano Sacerdotal, iniciado em 19 de junho, será excelente ocasião para refletir sobre a identidade, a espiritualidade e a missão dos sacerdotes; e como todos os leigos podem e devem dar sua colaboração para o bom êxito desta iniciativa do Santo Padre. “A promoção da Adoração Eucarística está no coração do nosso Congresso Eucarístico como mensagem da Igreja para o mundo” Assim, o primeiro dom que o mundo recebe, além da própria Igreja, é precisamente o testemunho da adoração. Sabemos que é missão da Igreja proclamar ao mundo que existe um Deus, o qual merece ser adorado. Lembremos o primeiro Mandamento. Por isso a promoção da Adoração Eucarística está no coração do nosso Congresso Eucarístico como mensagem da Igreja para o mundo. Do Santíssimo Sacramento emanam a caridade, evangelização e santidade na vida diária, dons que a Igreja recebe e comunica para outros. Todos esses pensamentos estão incluídos no lema: “dom de Deus pela vida do mundo”. AE: De que maneira esse Congresso se encaixa 20 33 Arautos do Evangelho · Janeiro 2008 hummes, OFm Tempo de reflexão para toda a Igreja de Barcelona, sempre se Na atuação do Cardeal Martínez Sistach, Arcebispo com a presença dos destacaram o empenho evangelizador e a preocupação ele salienta alguns dos mais cristãos na vida pública. Numa rápida entrevista, ele e por sua arquidiocese. importantes aspectos do momento vivido por “Queremos ser cada vez mais aquilo que por vocação somos chamados a ser, ou seja, a memória viva do martírio de São Pedro” Agosto 2007 · Arautos enTrevisTa eXClusiva COm O Cardeal C Uma maior disponibilidade para servir à Igreja Significa muitíssimo para a Igreja de Barcelona e para mim. Foi uma grande alegria que pude ver na fisionomia de muitíssimos diocesanos, e de fiéis de outras dioceses, quando me felicitavam. Parecia que a nomeação fosse também para eles. Ela pede uma resposta agradecida a Deus e ao Santo Padre por esta importante deferência, e uma maior disponibilidade para servir à Igreja e aos irmãos. Na Catalunha, há séculos, a “romanidade” esteve muito presente, de tal maneira que no Credo em língua catalã se diz “creio na Igreja Santa, Católica, Apostólica e Romana”. Desejo que minha nomeação contribua para viver intensamente a comunhão afetiva e efetiva com o Sucessor do Apóstolo Pedro, Bis- AE: E agora, como Bispo de Petrópolis, em que medida o carisma e a formação recebidos em Comunhão e Libertação enriquecem sua função pastoral? o AE: Frei Royo, que lembranças em sua senhor tem de sua infância cidade natal, Morella? to porque, com o tempo, a experiência cresceu e eu não perdi os amigos que tinha na Itália, mas ganhei novos amigos aqui. 2008 – Sob o signo da esperança 2007 – Bento XVI visita o Brasil François Boulay Sob o calor do novo Pontificado, os Arautos receberam um grande dom: a 15 de junho, foram ordenados seus primeiros 15 presbíteros, entre os quais o fundador. Suscitada no seio da Associação de leigos, a Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli encetava a via clerical para servir de modo mais pleno a Igreja e a evangelização. O Cardeal Cláudio Hummes, hoje Prefeito da Congregação para o Clero, na época Arcebispo de São Paulo, honrou com sua presença essa cerimônia de ordenação, dirigindo calorosas palavras de incentivo: “Quis vir aqui para manifestar a vocês minha alegria, minha satisfação, dar toda a minha bênção, todo o meu apoio”. ernard Francis Law conferiu a orB denação presbiteral a sete Arautos, e a diaconal a outros quatro. No mês seguinte, o Cardeal Franc Rodé, CM, ordenou mais oito presbíteros e cinco diáconos, na igreja do Seminário dos Arautos. Hoje, a instituição conta com 55 sacerdotes e 22 diáconos. Em dezembro, o Instituto Aristotélico-Tomista começa a editar a revista acadêmica trimestral Lumen Veritatis. Ela visa ser instrumento de divulgação do pensamento de São Tomás de Aquino e promover um diálogo crítico entre o pensamento escolástico e as demais correntes filosóficas. A ligação dos Arautos do Evangelho com a Cátedra de Pedro tornouse mais sólida ainda em fevereiro de 2006, quando o Pontifício Conselho para os Leigos aprovou em definitivo os estatutos da entidade, conferidos ad experimentum em 2001: “Não se trata de uma mera formalidade jurídica, mas de uma confirmação do caminho percorrido nesses anos”, afirmou o Presidente desse Dicastério, Cardeal Stanisław Ryłko. De 31 de maio a 2 de junho, foi realizado em Roma o II Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais, culminando com um multitudinário encontro com o Papa, do qual participaram 450.000 fiéis. François Boulay 2005 – Arautos sacerdotes 2006 – Movimentos eclesiais Gustavo Kralj (1978-2005). Os milhares e milhares de pessoas que desfilaram diante de seu féretro para um último adeus revelaram quanto ele era amado. Poucos dias depois, porém, ao luto sucedeu-se uma explosão de júbilo: na tarde de 19 de abril, Bento XVI assumia, com mãos delicadas, mas seguras, o timão da Santa Nau. Já em junho promulgaria o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica e em agosto, partia rumo a Colônia, para a XX Jornada Mundial da Juventude. no caminho sugerido pelo CELAM em Aparecida, Brasil? Tive o grande privilégio de participar dessa assembléia, marcada pela presença do Santo Padre Bento XVI. Passei várias semanas lá, e realmente desfrutei do espírito extraordinário de Aparecida. Dei-me conta de que, naquela ocasião, fomos além das preocupações das últimas décadas, onde os fatores prevalentes eram tais como: a intensa batalha em relação à inculturação, ao envolvimento político, e certa teologia da libertação, muitas vezes influenciada por ideologias mundanas. Vimos que agora é preciso reafirmar a evangelização. A verdadeira libertação se encontra no próprio Evangelho, e não em soluções humanas para problemas terrenos. Preci- Pe. José Francisco Hernández Medina, EP samos, em primeiro lugar, reafirmar Vossa Eminência poderia nos espiritual dos sacerdotes foi o dom de Deus, o dom do Evangelho, falar um pouco da gênese do Ano do o mundo e pregai o Evangelho a uma das principais causas da tode Jesus Cristo, do Senhor RessusciSacerdotal? Como surgiu a ideia? da criatura” (Mc 16, 15). proclamação do Ano Sacerdotal. tado. Precisamos de uma nova e forte Como foi recebida pelo Papa? Isso sempre supôs, em primeiQual é a relação entre a santidade ênfase na evangelização. ro lugar, uma Fé muito profunda, Uma decisão tão importante copessoal dos presbíteros e a a Temos também consciência que qual é a raiz de toda espiritualidade. mo proclamar um ano especial, neseficácia de seu ministério? devemos formar as pessoas como Uma Fé que provém da adesão a te caso o Ano Sacerdotal, cabe excluJeSempre houve uma relação mui“discípulos e missionários”. Essa foi sus Cristo, uma adesão incondicional sivamente ao Papa. Então, foi de fa- to forte. Toda a história do sempre a missão da Igreja; mas em sacerdó- e total, entusiasmada to uma decisão soberana do Santo e entusiasmancio na Igreja tem ressaltado isso. Aparecida deu-se uma espécie de Po- te. Assim, o sacerdote — Padre. Isto é óbvio e precisa ser restodo crisdemos começar com a Última Ceia. Pentecostes — uma conscientização tão, mas, sobretudo o sacerdote saltado. Claro que ele pode ter ouvi— Jesus tinha diante de Si os Apóstolos, renovada dessa missão. deve ser uma pessoa que realmente do, eventualmente, aqueles que es- aos quais Ele dera formação O programa de Aparecida foi preduran- tem um grande amor a tão envolvidos neste assunto, ou Jesus Cristo, sete três anos, na Sua vida pública. Eles parado de modo rápido, com tom poestá encantado com Jesus Cristo. ja, a Congregação para o Clero, Esou- aderiram plenamente ao Divino sitivo e com muito entusiasmo. QuanMes- sa adesão começa por um tras congregações também. Mas queencontro tre — claro, com todas as limitações do eu lá estive, tendo em mente as cepessoal e forte com Ele. ro sublinhar que, obviamente, se trahumanas — e O seguiam por todos lebrações de Quebec, convidei os paros Por exemplo, vemos nos Evangeta de uma decisão do Papa. lados. E foi a eles que Cristo entregou ticipantes a vir ao Congresso Eucalhos aqueles discípulos de João Baeste grande ministério do Sacerdórístico, a fim de difundir este renova- Em recente pronunciamento, tista que vão atrás de Jesus e perguncio que se relaciona, sobretudo, com do espírito evangelizador para o mun- Bento XVI afirmou que a tam-Lhe: “Rabi, onde moras?” (Jo 1, Eucaristia, mas também com a pregado inteiro. Eu pensei que esse evento, favorecer o aperfeiçoamento 38). Jesus respondeu: “Vinde e veção, como Ele dirá depois: “Ide por por ser internacional, poderia servir to- de” (Jo 1, 39). Eles foram e saíram Junho 2008 · Arautos do Evangelho 25 18 Arautos do Evangelho · Julho 2009 A revista Arautos do Evangelho manifesta especial gratidão às autoridades e representantes de outros movimentos eclesiais que a honraram com declarações exclusivas (Acima, páginas de algumas entrevistas) Páginas das entrevistas concedidas por Fr. Antonio Royo Marín, OP; Dom Filippo Santoro, Bispo de Petrópolis; Cardeal Angelo Comastri, Arcipreste da Basílica de São Pedro; Cardeal Lluís Martínez Sistach, Arcebispo de Barcelona; Cardeal Marc Ouellet, PSS, Arcebispo de Québec; Dom Cláudio Hummes, OFM, Prefeito da Congregação para o Clero. 24 Flashes de Fátima · Abril 2010 Número 71 Novembro 2007 Número 72 Dezembro 2007 Número 73 Janeiro 2008 Onde buscar a paz? Número 74 Fevereiro 2008 Brasil ganha novo Cardeal Número 75 Março 2008 Número 76 Abril 2008 150 anos de Lourdes Número 77 Maio 2008 Número 78 Junho 2008 E renovareis a face da Terra Número 80 Agosto 2008 Número 79 Julho 2008 “Cristo nossa Esperança” O Apóstolo das Gentes Número 81 Setembro 2008 Número 82 Outubro 2008 A Palavra de Deus! Gratidão, júbilo e ação de graças Igreja e Eucaristia Número 83 Novembro 2008 Não há carisma desligado do Papa Número 86 Fevereiro 2009 Número 87 Março 2009 Número 89 Maio 2009 Número 90 Junho 2009 Fé e Razão, fraterna e alcandorada união Número 92 Agosto 2009 O sacerdote vive para o Altar Sede de transcendência Número 98 Fevereiro 2010 “Ut omnes unum sint” Número 91 Julho 2009 “O Sacrum Convivium” Número 93 Setembro 2009 A grandeza incomparável do Batismo Número 94 Outubro 2009 “Cheia de Graça” Aprovações pontifícias e condecoração papal Número 97 Janeiro 2010 Número 96 Dezembro 2009 Deus mais próximo dos homens Número 99 Março 2010 Et super hanc Petram Número 100 Abril 2010 Edição nº 100 R ST IA IR A ILE AS BR .S OB DA NÇA LICE ASSOCIAÇÃO CATÓL ICA N OS SA SE NH OR A DE FÁ TI M J: NP -C ND Ú Rotulo_DVD RAE 100.ai 1 24/2/2010 12:36:42 A .0 02 .4 90 C CY K OS OS DIREITOS RESERV ADO S Y MY - TOD M CM CMY 1-37 000 52/ . O PR ID IB Um banquete para todos os povos A Escolástica em pedra -I Apud: MORALES, José. Introducción a la Teología. 2.ed. Pamplona: EUNSA, 2004, p.23. Número 88 Abril 2009 O zelo e a dor O gótico e o Céu empíreo Nova Epifania? 00 413 3 As crises e o Natal 76 1/ 0 Mensagem aos comunicadores católicos da América, 12-12-2007. Número 85 Janeiro 2009 29. N.140. 2 Jubileu de Ouro Sacerdotal Número 84 Dezembro 2008 Número 95 Novembro 2009 1 Dom Cláudio Hummes R VIDEOLAR S.A. IDO PO - CN DUZ PJ 0 PRO 4.2 Neste centésimo número, queremos manifestar nossa gratidão aos leitores e a todos quantos, de alguma forma, colaboraram para o êxito da nossa revista. Mencionamos com agrado as entrevistas concedidas por Cardeais, Núncios Apostólicos, Bispos, personalidades de destaque do mundo universitário e da cultura, líderes de Movimentos, e tantos outros que nos comunicaram a riqueza de suas experiências. Esta é uma edição de júbilo e de ação de graças. É também o momento de reafirmar nosso propósito de divulgar por todo o mundo a mensagem de Fé e de esperança do Evangelho, como eco fidelíssimo da Cátedra de Pedro, confiantes, não em nossas forças, mas no indispensável auxílio da Virgem Mãe de Deus, sem o qual nada de bom poderemos fazer. A primeira igreja dos Arautos Os seminários ganham novo e vigoroso impulso A Evangelii Prœcones LE I© O dia 4 de abril de 2009 permanecerá como data memorável na história dos Arautos do Evangelho. Nesse dia, o Papa Bento XVI concedeu aprovação pontifícia a duas Sociedades de Vida Apostólica nascidas no seio desta Associação de Fiéis: Virgo Flos Carmeli, sociedade clerical, e Regina Virginum, que congrega as jovens do Setor Feminino. Para celebrar o acontecimento, veio especialmente ao Brasil o Cardeal Franc Rodé, CM. A data da comemoração foi escolhida pelo Prelado para coincidir com o aniversário de Mons. João Scognamiglio Clá Dias (fundador de ambas as Sociedades), no dia 15 de agosto, Solenidade da Assunção da Virgem Maria, pois queria entregar-lhe um presente: a Medalha Pro Ecclesia et Pontifice, outorgada pelo Papa Bento XVI, o qual — disse Sua Eminência — “quis premiar vossos méritos”. Na ocasião, o Cardeal abençoou também a nova Casa Generalícia de Regina Virginum. O ano de 2009 foi intenso do ponto de vista acadêmico. Em ou- Aliança entre o homem e a criação A 2009 – Estudos acadêmicos para aperfeiçoar as atividades evangelizadoras tubro, 24 Arautos se graduaram como Mestres em Filosofia na Universidade Pontifícia Bolivariana, de Medellín, Colômbia e Mons. João Scognamiglio Clá Dias recebeu o Mestrado em Psicologia Educativa, pela Universidade Católica de Colômbia (UCC). Em novembro, o fundador dos Arautos defendeu sua Tese de Doutorado em Direito Canônico na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino (Angelicum), de Roma, obtendo nota summa cum laude. Durante sua estadia em Roma teve um animador encontro com o Santo Padre. A D Em abril, o Santo Padre visitou os Estados Unidos sob o signo da esperança proclamada em sua segunda encíclica, Spe salvi. Em julho, centenas de milhares de jovens o acolheram em Sidney, Austrália, na XXIII Jornada Mundial da Juventude. E em setembro, Lourdes se engalanou para comemorar, junto com ele, os 150 anos das aparições da Santíssima Virgem. Foi também nesse ano que o Papa Bento XVI nomeou o Padre João Scognamiglio Clá Dias, EP, como Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior. A cerimônia de admissão do Superior Geral dos Arautos no Cabido Liberiano realizou-se no dia 14 de setembro de 2008, na Capela Sforza dessa basílica. RE PR OD UÇ ÃO , EX EC UÇÃ O PÚ S AS AD REV100 RIZ UTO BLICA E LOCAÇÃO DESA A OB S S NA PE Acompanha DVD Primeiros meses da Missas dominicais – Tem crescido a afluência de fiéis às Celebrações Eucarísticas que os sacerdotes arautos presidem nas doze capelas do território paroquial. O esmero no cerimonial tem agradado a todos. “U m bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina”, afirmou o Santo Cura d’Ars. Inspirados nessas palavras, citadas pelo Papa Bento XVI em sua Carta para a proclamação do Ano Sacerdotal, os Arautos do Evangelho têm procurado desempenhar sua missão pastoral na recém-criada Paróquia Nossa Senhora das Gra- ças, na Diocese de Bragança Paulista. Erigida por Dom José Maria Pinheiro, em 18 de outubro de 2009, ela abrange um vasto território rural de 107 km², localizado na Serra da Cantareira, nos municípios de Caieiras e de Mairiporã. A assistência religiosa a seus 40 mil habitantes, em sua maioria católicos, era insuficiente em razão da escassez de sacerdotes na Diocese. Essa foi a razão primordial para a criação da nova paróquia, entregue aos cuidados dos sacerdotes arautos. Nova ação evangelizadora “Eu estava até afastada da Igreja, mas agora estou motivada — disse uma paroquiana —, gostei muito do que o Padre falou na Missa, e espero ficar firme. Quem está me fazendo retornar é Ela (apontando para Nossa Senhora)”. E uma senhora exprimiu bem o sentimento geral dos fiéis: “Eu tenho muita alegria de ver que a capela de Santa Inês, depois que foi assumida pelos Arautos, está muito bonita, com Missas maravilhosas. Embora eu não seja católica, sou ortodoxa armênia, me sinto Aulas de catequese – Nas capelas são ministradas, uma ou duas vezes por semana, aulas de catequese, cursos bíblicos e de preparação para os Sacramentos. 26 Flashes de Fátima · Abril 2010 paróquia dos Arautos Sacramentos – A distribuição dos Sacramentos está no cerne da vida paroquial. O Batismo e a Primeira Comunhão são sempre ministrados após a devida preparação. muito bem nesta capela e pretendo voltar mais vezes”. Em todas as capelas passou a haver pelo menos uma Missa semanal e horários fixos para o sacramento da Reconciliação, facilitando assim a participação dos fiéis nos Sacramentos. E os frutos já se fazem notar. Nos três meses iniciais, 56 crianças foram batizadas e 105 receberam a Primeira Comunhão. Houve mais de 12.700 Comunhões; 63 pessoas receberam a Unção dos Enfermos; e diversas uniões matrimoniais foram regulari- zadas. Esses dados comprovam um promissor retorno de considerável número de fiéis à comunhão eclesial. Formando as comunidades Cada uma das doze capelas conta com uma equipe de Arautos que ministra aulas de catecismo, apoio litúrgico, música e teatro, além de preparar e estimular os fiéis a assumirem as diversas frentes pastorais a serviço da própria comunidade. Mais de 200 crianças estão participando dos atuais grupos de catequese. Cada celebração é preparada com treino dos cânticos e das leituras, fazendo com que os paroquianos participem ativamente do cerimonial litúrgico. E vários corais vão surgindo para solenizar as Eucaristias. * * * Diante de tantas bênçãos, os Arautos voltam seus olhos cheios de gratidão para Nossa Senhora das Graças, padroeira dessa paróquia, pedindo que Ela derrame dons ainda maiores sobre essa porção do povo de Deus. Apresentações teatrais – Apresentações teatrais e corais têm atraído as crianças e os jovens da paróquia. Nas fotos, cenas do Oratório de Natal apresentado na Capela Santa Inês, com a participação de crianças e adultos da comunidade Sagrado Coração de Jesus. Abril 2010 · Flashes de Fátima 27 Adoração – Além das Celebrações Eucarísticas, há frequentes exposições do Santíssimo Sacramento para adoração dos fiéis. Condução – Veículos dos arautos vão buscar em suas próprias casas os fiéis que têm dificuldade para chegar às diversas capelas. Oratórios nas comunidades – Já estão peregrinando pelos lares vários oratórios do Imaculado Coração de Maria. Cada uma dessas famílias reserva um dia do mês para rezar em conjunto. À esquerda, oratórios da Capela Santa Inês; à direita, Nossa Senhora do Monte Calvário. Entretenimento – Em ocasiões especiais, são realizados sorteios, lanches e animações para as crianças das diversas capelas. 28 Flashes de Fátima · Abril 2010 Aulas de música – É sempre reservado um período para ensinar e treinar com os fiéis as músicas que irão solenizar a liturgia. Território da Paróquia Nossa Senhora das Graças Casa Generalícia de Regina Virginum Nova Matriz (em fase de projeto) N. Sra. de Lourdes Igreja Nossa Senhora do Rosário (Matriz provisória) Santa Inês São Judas São José Operário e São Francisco São Paulo Serra da Cantareira Casa “Lumen Prophetæ” Nossa Senhora de Lourdes Sagrado Coração de Jesus São Vicente Nossa Senhora de Fátima Sagrada Família São José Nossa Senhora do Perpétuo Socorro Nossa Senhora do Monte Calvário Matriz Igrejas dos Arautos São José São Paulo Capelas das comunidades Visita aos paroquianos – Os fiéis que, por doença ou outros motivos, se encontram impossibilitados de comparecer às capelas, são frequentemente visitados, para receberem o conforto dos Sacramentos da Igreja e o consolo da presença materna de Nossa Senhora. Abril 2010 · Flashes de Fátima 29 Retiro e acampamento N o início da Quaresma, realizou-se na Sede dos Arautos do Evangelho, em Palmela, um acampamento para 38 jovens oriundos das dioceses de Lisboa, Porto, Braga e Castelo Branco (fo- tos 3 a 6). Durante esses quatro dias de convívio, os jovens receberam formação religiosa e cultural, participaram de variados jogos recreativos e assistiram a encenações teatrais alusivas à Quaresma, à verdadeira amizade, à vocação específica de cada ser humano, etc. O P. Roberto Polimeni, E. P., celebrou diariamente a Eucaristia, entusiasticamente acompanhada pelos jovens, que também recitaram todos os dias o terço diante do Santíssimo Sacramento, solenemente exposto para adoração. Concomitantemente, 30 jovens vocacionados, dos Arautos do Evangelho, realizaram um proveitoso retiro, tendo como matéria central o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de S. Luís Maria Grignion de Montfort (fotos 1 e 2). Além da adoração Eucarística diária, puderam aprofundar-se em muitos aspectos da doutrina católica, da análise das realidades contemporâneas e dos mais variados aspectos do carisma da instituição, cujos três pilares são a devoção Eucarística, a Maria e ao Papa. 2 1 4 3 5 30 Flashes de Fátima · Abril 2010 6 Arcebispo de Braga visita os Arautos A academia dos Arautos do Evangelho, situada no Santuário do Sameiro, recebeu por ocasião do nono aniversário da sua aprovação pontifícia a visita de D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. A missa contou com a presença dos 45 jovens que ali residem, acompanhados das respectivas famílias. Durante a homilia, de uma forma alegre e didáctica, D. Jorge frisou o papel do Espírito Santo enquanto guia das nossas vidas. Logo após a missa todos puderam saborear uma deliciosa pizza… pais e filhos num agradável convívio durante o qual D. Jorge foi respondendo às perguntas feitas pelos jovens e partilhando as suas experiencias enquanto pastor. Lisboa - Os participantes do Apostolado do Oratório da Zona Oeste do Patriarcado de Lisboa reuniram-se na Igreja de S. Pedro da Cadeira para “Um dia com Maria”. O encontro iniciou-se com a entrada solene da imagem do Imaculado Coração de Maria, sendo depois coroada pelo pároco, P. José Manuel de Araújo Morais, OFM. Abril 2010 · Flashes de Fátima 31 Beata Lindalva Justo de Oliveira, FC Admirável por sua disponibilidade e alegria no serviço aos pobres, deu sua vida como prova de amor a Deus, por conservar intacta sua pureza. Irmã Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP N a quarta-feira da Semana Santa de 1500, aportou em terras brasílicas uma esquadra vinda do outro lado do Atlântico. Poucos dias depois, no Domingo de Páscoa, sob a proteção de uma enorme Cruz fincada na praia, o franciscano Frei Henrique de Coimbra celebrou ali a primeira Missa. Nasceu assim, nas belas praias da Bahia, um país de proporções continentais. Batizado com o nome de Terra de Santa Cruz, o Brasil já trazia em si, em gérmen, todo um futuro cheio de atos heroicos e de catolicidade, dos quais as páginas de sua História estão repletas. Um destes deu-se em nossos dias, tão marcados pelo pragmatismo e pela falta de fé, tão carentes de pessoas dispostas a servir a Deus, a ter generosidade, a ser casta ou a doarse pelos demais. Também numa Semana Santa, na mesma Bahia gloriosa, tal como Santa Maria Goretti, uma freira de 32 Flashes de Fátima · Abril 2010 nossos tempos derramou o sangue na defesa de sua pureza, no amor à obediência e ao serviço dos mais necessitados, cumprindo sua vocação de Filha da Caridade de São Vicente de Paulo e de Santa Luisa de Marillac: Irmã Lindalva Justo de Oliveira. Propensão para ajudar os outros Nascida em 20 de outubro de 1953, no seio de uma família camponesa do município de Açu, no Rio Grande do Norte, recebeu as águas batismais três meses depois de vir à luz. O pai, João Justo da Fé, pequeno proprietário, cultivava seu sítio para manter uma família numerosa de 16 filhos. Era homem piedoso e de caráter forte. Admirava as histórias dos Patriarcas do Antigo Testamento e em algo os imitava. Maria Lúcia, a mãe, tinha consciência do compromisso que assumira ao contrair matrimônio: a formação dos fi- lhos. Nessa católica família refletiase o amor entre pais e filhos, mas igualmente não faltavam a disciplina e a severidade, quando era necessário corrigir os pequenos caprichos e as travessuras infantis. Desde criança, Lindalva demonstrava propensão para ajudar os outros e se sensibilizava com o sofrimento alheio. Não lhe agradavam as brigas e nunca se zangava. Gostava de correr, banhar-se na lagoa próxima ou subir em árvores para comer os frutos recém-colhidos. Mas seu brinquedo favorito era modelar bonecas de barro, que deixava secando ao sol, e depois coser roupinhas para elas, com retalhos de tecidos. Revelando-se uma menina muito madura para sua jovem idade, tinha consciência do sacrifício dos pais para manter e educar a numerosa prole, e queria auxiliá-los de alguma forma. Assim, estava sempre disponível para ajudar à mãe, aprendendo muito cedo a cozinhar e a costu- Baia de Todos os Santos vista do campanário da Igreja da Penha (Foto: Gustavo Kralj) Mártir brasileira do fim do século XX Filhas da Caridade rar. E procurava imitar o exemplo de sua progenitora que, apesar de pobre, tirava de sua parca despensa para socorrer outros mais necessitados. “Quero ser santa!” Vivia no mundo sem ser do mundo Os filhos cresceram, precisavam estudar e as exigências aumentaram. João decidiu mudar-se para Açu, onde vários deles conseguiram emprego. Lindalva cursava o Ensino Fundamental e trabalhava como babá na casa de uma família abastada. Quando algum conhecido precisava de ajuda, por doença ou qualquer outro motivo, recorria a ela. “Você deve ter vocação para enfermeira, porque está sempre disponível e faz tudo com alegria!” — dizia-lhe uma de suas companheiras. Quando nasceu a primeira filha do irmão mais velho, que se casara e morava em Natal, foi viver com ele nessa capital, onde ajudava à jovem mãe e continuava seus estudos. Empregou-se como auxiliar de escritório e levava uma vida como qualquer moça de bons princípios. Vivia no mundo, mas a ele não pertencia. Não pensava em casar-se e prestava serviços como voluntária num abrigo para idosos, mantido pelas Filhas da Caridade. Tímida e reservada por temperamento, ali se transformava, tornando-se manifestativa, cheia de vida e com uma alegria contagiante. Os velhinhos a esperavam ansiosos, devido à sua paciência, afeto e afabilidade. Era a vocação que amadurecia com força em sua alma. “O fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade” (Gl 5, 22), diz o Apóstolo. Pois não foi outra coisa que Lindalva manifestou ao longo de sua vida relativamente curta. Alegria na doação aos outros Começou a estudar enfermagem para poder doar-se mais e tomou a bres ou idosos, quer às outras irmãs, na vida comunitária. “O meu destino está nas mãos de Deus, mas desejo de todo coração servir sempre com humildade, no amor de Cristo.” grande decisão de sua vida: em setembro de 1987, escreveu à Provincial das Filhas da Caridade, pedindo admissão como postulante. “Faz muito tempo que sinto o desejo de entrar na vida religiosa, mas somente agora estou disponível a seguir o chamado de Deus. Estou pronta para dedicar-me ao serviço dos pobres”, escreveu ela.1 Admitida dois meses depois, foi enviada para fazer o postulantado na comunidade do Educandário Santa Teresa, em Olinda, Pernambuco. Esse período não foi senão um contínuo exercício do propósito que fizera, de basear sua vida espiritual na felicidade em Cristo e no bem do próximo. O testemunho de suas superioras durante essa fase foi sempre de admiração por sua disponibilidade, humildade e alegria na doação aos outros, quer aos po- Progredia na vida interior, entregando-se mais e mais nas mãos d’Aquele ao qual se havia abandonado, confiando-Lhe inteiramente seu destino, tal qual recomenda o Rei Profeta: “Confia ao Senhor a tua sorte, espera n’Ele, e Ele agirá” (Sl 36, 5). Algumas de suas cartas confirmam a plenitude desta entrega ao Senhor, e revelam a autenticidade da vocação que escolhera. “Estou muito feliz. (...) O meu destino está nas mãos de Deus, mas desejo de todo coração servir sempre com humildade, no amor de Cristo”, escrevia a uma amiga, em março de 1988. Ensina Dom Chautard que a alma de todo apostolado é o transbordamento da vida interior. E o dom do serviço de Lindalva fundamentava-se em sua vida de piedade e oração. Não se limitava a aliviar os sofrimentos físicos ou as tristezas dos mais necessitados, mas procurava nutrir-lhes o espírito com orações e bons conselhos. Gostava de rezar com eles, sobretudo o terço meditado, acompanhado de cânticos a Nossa Senhora. Sua oração preferida era mesmo o Rosário. Levava o terço sempre à mão e aproveitava qualquer tempo livre para recitá-lo. Explicava este hábito, dizendo: “Há muita gente que precisa de minha ajuda e não posso fazer nada a não ser rezar por eles”. O desejo de progredir na vida espiritual levou-a a perguntar candidamente à superiora, Irmã Maria Expedita Alves, como fazer para ser santa. Com sabedoria, respondeulhe esta: — Minha filha, ninguém nasce santo; isto pode ser alcançado procurando a perfeição na vida do diaa-dia, e também em cada ação, mesmo a mais insignificante. Abril 2010 · Flashes de Fátima 33 — Quero ser santa! — retrucou Lindalva, fitando à superiora com um olhar profundo. criaturas; somente não devemos deixar que este amor seja maior que o amor a Deus”. “Aqui tudo é graça!” Todos a admiravam muito Este firme desejo foi o que marcou sua vida, na trajetória simples e comum de uma postulante, rumo à plenitude da vida religiosa, na prática dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência. Sob o olhar atento das superioras, foi admitida no noviciado, dando um passo mais decidido na entrega a Jesus, dentro do carisma de sua Congregação: o serviço aos pobres e necessitados. Na festa da Virgem do Carmo, 16 de julho de 1989, vestiu o hábito de Filha da Caridade e passou a chamar-se Irmã Lindalva. Em carta a uma amiga, nesse mesmo ano, manifestou como se sentia realizada na vida religiosa: “Aqui tudo é graça! Vivemos num profundo silêncio e união com Deus. (...) Os meus pensamentos e o desejo que tenho de amar a Deus sobre todas as coisas fazem com que eu me sinta muito feliz. Outra parte da nossa vida é o amor às pessoas que conquistamos, mas é através do amor a Deus que amamos as Findo o tempo de noviciado, em 26 de janeiro de 1991, Irmã Lindalva foi enviada para um abrigo de idosos em Salvador, capital da Bahia. Em carta a uma irmã de hábito, renovava seus propósitos de ser humilde e simples nas dificuldades que certamente viriam, recordando as palavras da Escritura: “Nada temas, pois Eu te resgato, Eu te chamo pelo nome, és meu. Se tiveres de atravessar as águas, estarei contigo. E os rios não te submergirão” (Is 43, 1-2). Foi com esta confiança que cruzou os portões do antigo casarão do século XIX, onde funcionava o Abrigo Dom Pedro II, sob administração pública municipal, mas aos cuidados das Filhas da Caridade. Recebeu a incumbência de cuidar do pavilhão São Francisco, com 40 idosos, situado no primeiro andar do imponente edifício. Em pouco tempo cativou sua superiora e as companheiras de hábito, bem como os velhinhos, com seu jeito alegre de ser e o perfume da santida- de de sua presença. Todos a admiravam muito. Acalmava os queixosos, lembrando-lhes os sofrimentos do Salvador, e dava alguma ocupação aos que ainda podiam fazer algo, para eles se sentirem úteis. Onde havia necessidade, aí estava Irmã Lindalva com sua figura sempre animada e caridosa. Cuidava não só das coisas materiais dos idosos, mas também de sua vida de piedade. Rezava com eles o terço e levava o capelão para administrar-lhes os Sacramentos. Sua vigilância, em matéria de castidade, se notava até mesmo quando ia buscar o padre, pois sempre pedia a alguém para acompanhá-la. Era assídua aos atos da Comunidade e quando lhe sobravam alguns minutos invariavelmente estava na Capela, rezando um pouco mais. No escasso tempo que lhe restava do atendimento no Abrigo, Irmã Lindalva participava do Movimento de Voluntárias da Caridade Santa Luisa de Marillac, que visitava idosos e doentes nas periferias da cidade. Este Movimento era dividido em grupos e ela pertencia ao Grupo Santa Maria Goretti. Talvez não por mero acaso, como se verá adiante. Filhas da Caridade Subida ao Monte Calvário Algumas das fotografias que se conservam da beata Lindalva: à esquerda, durante o postulantado; à direita no asilo Dom Pedro II, pintando a cama de um dos anciãos 34 Flashes de Fátima · Abril 2010 Não podia essa santa religiosa imaginar que aquele querido Abrigo seria seu Monte Calvário, o lugar destinado por Cristo para misturar seu sangue ao d’Ele. Os problemas começaram em janeiro de 1993, quando ali foi admitido Augusto da Silva Peixoto. Com apenas 46 anos, não tinha ele idade para estar num estabelecimento de caridade para anciãos, mas as freiras tiveram de aceitá-lo, por motivos políticos. Alojaram-no no pavilhão a cargo da Irmã Lindalva. Homem destituído de princípios religiosos e morais, Augusto interessou-se com más intenções por aquela freira de vida ilibada e passou a “Nunca cedeu” Na segunda-feira da Semana Santa, esse nefando personagem comprou no mercado popular um facão de pescador, com a intenção deliberada de matar aquela religiosa que opunha intransponível barreira a seus péssimos intuitos. Durante toda a semana, Irmã Lindalva participara, ao raiar da aurora, da Via Sacra na paróquia da Boa Viagem. Ao percorrer as ruas das proximidades na madrugada da Sexta-Feira Santa, 9 de abril de 1993, meditando sobre a Via Dolorosa de Jesus, certamente não tinha ideia que sua subida particular ao Calvário também culminaria naquele dia. Voltando ao Abrigo, dirigiuse logo ao refeitório para cumprir sua tarefa de servir o café da manhã aos velhinhos, sem notar a presença de Augusto sentado num dos bancos do jardim. Este, que a esperava, subiu atrás dela, entrou pela porta dos fundos do salão e atacoua pelas costas, a golpes de facão, numa fúria insana e diabólica. A vítima mal teve tempo de balbuciar: “Deus me proteja!” Recebeu ao todo 44 golpes. Enquanto limpava na própria roupa a arma tingida pelo sangue inocente, o criminoso ensandecido rugia: “Nunca cedeu! Está aqui a recompensa...”. Testemunhava, assim, que Irmã Lindalva havia dado sua vida como prova de amor a Deus, por conservar intacta sua pureza, num verdadeiro martírio do qual os próprios internos davam testemunho. Semente de novas vocações na cerimônia de Beatificação: “Desejo a todos, e invoco do Senhor para cada um, aquela vitalidade alegre que sabia transmitir aos outros, que é talvez a herança mais fascinante de Lindalva, para saber contagiar quem nos está perto, com a alegria inefável que mergulha as suas raízes nos pés de Cristo Ressuscitado, conscientes de que enquanto filhos de Deus, somos todos chamados a ser santos e que a santidade é um caminho de liberdade para cada um”.2 1 Todas as citações de cartas e outros documentos foram extraídas de: PASSARELLI, Gaetano. O sorriso de Lindalva. Recife: Dom Bosco, 2003. Durante toda a noite, passou pelo Abrigo um fluxo contínuo de fiéis desejosos de prestar uma última ho- 2 Mensagem na Beatificação da Serva de Deus Lindalva Justo de Oliveimenagem à religiosa. O Arcebispo ra, 2/12/2007. Primaz do Brasil, na época o Cardeal Lucas Moreira Neves, oficiou a cerimônia fúnebre e afirmou na homilia que “o sangue da vítima será semente de novas vocações, não só para as Filhas da Caridade, mas, também, para todas as Congregações da Igreja de Deus”. A Igreja proclamoua Bem-aventurada em 2 de dezembro de 2007, durante cerimônia realizada no Estádio Manoel Barradas, em Salvador. Seus restos mortais se encontram, atualmente, na capela do Abrigo Dom Pedro II. A Beata Irmã Lindalva é um exemplo de como a alegria e a pureza são notas características da santidade, para a qual todos somos chamados. Urna onde se encontram os restos mortais da Foi o que declarou o Beata Lindalva Justo de Oliveira, no Abrigo Dom Pedro II, em Salvador Cardeal Saraiva Martins, Abril 2010 · Flashes de Fátima 35 Alberto Dias assediá-la de modo insistente e inconveniente. As admoestações que lhe fizeram outros internos e a própria diretora do setor social do Abrigo serviram apenas para aumentar nele os fortes sentimentos de frustração por ser sempre repudiado. Irmã Lindalva, que preferia morrer a romper seu voto de castidade, viu-se obrigada a tomar muito cuidado, evitando qualquer atitude que pudesse ser mal interpretada por aquele indivíduo sem escrúpulos. Narrou a situação a algumas freiras e companheiras de voluntariado e intensificou suas orações. Mas por amor aos idosos e pela fidelidade à obediência que a havia designado para o Abrigo, não quis sair dali. De caráter forte e seguro, não conhecia o medo ou a fraqueza, jamais abandonando seu “campo de batalha”. “Prefiro que meu sangue se derrame, do que ir embora daqui” — afirmou durante um recreio da comunidade. A palavra dos Pastores Homens e obras providenciais Como é belo pensar que ao longo dos séculos a voz de Pedro está permanentemente secundada pelo eco fidelíssimo da voz dos homens e obras providenciais suscitados por Deus para remediar os males de cada época! Dom Manuel Monteiro de Castro Secretário da Congregação para os Bispos O s antigos romanos comemoravam em 22 de fevereiro a memória dos defuntos e nesse dia comiam junto às suas sepulturas. Cada tumba era considerada uma “cátedra” (do grego, kathédra, “cadeira”), ou seja, um assento reservado para o defunto, como se ele fosse um convidado ao banquete. No século IV, começou a generalizar-se entre os cristãos o costume de venerar o túmulo e os restos de um defunto que se destacava entre a incontável multidão dos mártires do primeiro século: era a “Cátedra de Pedro”, pescador da Galileia, na Palestina, Apóstolo de Cristo Jesus, primeiro Papa. O significado teológico da festa atual, nós o encontramos na Oração Coleta, que rezamos antes das leituras: “Concedei, ó Deus todo poderoso, que entre as conturbações do mundo não se abale a vossa Igreja, edificada sobre a rocha com a profissão de Fé do Apóstolo Pedro”. O nome exprime a função de um ser no universo Podemos nos perguntar, inicialmente, o seguinte: por que Simão se 36 Flashes de Fátima · Abril 2010 tornou Pedro, isto é, “pedra”, “rocha”? Porque recebeu uma missão particular. À profissão de Fé de Simão, revelada a ele pelo Pai “que está nos Céus”, responde Jesus: “E Eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Trata-se de um episódio de importância fundamental, e não de uma simples mudança de nome. Com efeito, entre os antigos o nome exprime a função de um ser no universo. Tratando-se de uma pessoa, agir sobre o nome significa tomar posse do ser; mudar o nome de alguém é sinal de impor-lhe uma nova personalidade, transformandoo num vassalo. No Novo Testamento, quando se tem uma missão divina, o seu nome vem do Céu. Portanto, dando a Simão o nome de Pedro, Jesus manifesta um poder que estabelece de modo definitivo um “antes” e um “depois” na vida de Simão Pedro. A tal ponto que, quando Pedro manifestava alguma fraqueza, Nosso Senhor o chamava pelo velho nome de Simão, a fim de exortá-lo a ser vigi- lante. Por exemplo, no Horto das Oliveiras: “Foi ter com Seus discípulos e os encontrou dormindo. Disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste vigiar sequer uma hora?” (Mc 14, 37). Da mesma forma na Última Ceia: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça” (Lc 22, 31-32). Ou também como fez no Lago de Tiberíades, após a Ressurreição: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?” (Jo 21, 15ss). Singular poder de vincular o Céu à Terra De fato, apesar de tudo, as coisas mudaram realmente. Na lista dos doze Apóstolos, Simão Pedro vem sempre apresentado em primeiro lugar. Junto com Tiago e João, filhos de Zebedeu, faz parte do restrito grupo dos confidentes de Jesus. Na maior parte das vezes, fala como representante dos Doze. Depois da Ascensão de Jesus ao Céu, ele é apresentado na Sagrada Escritura como o chefe da comunidade cristã de Jerusalém, o centro da Igreja de então. Antônio Lutiane O artista, efetivamente, sabia bem o que fazia. Quem observa com atenção, dá-se conta de que não há contato físico entre as mãos dos quatro “Bispos” e os pés do trono. A “cátedra” se apresenta no ar, sustentada por uma força toda divina que a mantém acima de qualquer outro Bispo do Oriente e do Ocidente, significando uma profunda realidade teológica: de um lado, a proximidade entre as estátuas dos Bispos e a Cátedra recorda a coerência entre o pensamento teológico dos Padres e a doutrina dos Apóstolos; de outro, a elevação do trono realça o primado de Pedro. Um momento da Missa celebrada na Igreja de San Benedetto in Piscinula, Roma, por ocasião da festa da Cátedra de Pedro Logo após seu martírio e o de São Paulo, toda a comunidade Católica reconhece a primazia da Igreja de Roma, como referem já no segundo século Santo Inácio de Antioquia e Santo Irineu de Lyon. Quando, em seguida, começa a propagarse o culto à memória do Apóstolo, a “Cátedra de Pedro” torna-se o símbolo da autoridade do Bispo de Roma, como atestam os concílios, os Papas e os santos até aos nossos dias. Assim, a Igreja é de tal forma partícipe da própria infalibilidade de Nosso Senhor Jesus Cristo que se dá a essa “cátedra” o singular poder de vincular o Céu à Terra: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus” (Mt 16, 19). Cátedra sustentada por uma força toda divina Na Basílica de São Pedro, no fundo da abside, abaixo da “Glória” de Bernini, junto ao Altar da Cátedra, encontra-se uma representação artística precisamente dessa Cátedra: o trono que simboliza a dignidade e a autoridade do Romano Pontífice, chefe do Colégio dos Bispos, supremo Pastor e Doutor de todos os fiéis. Essa reprodução em bronze, remontante ao século XVII, contém no seu interior, como digno relicário, a bimilenar cátedra original, feita de carvalho, usada por São Pedro para presidir as celebrações da comunidade cristã na casa de Áquila e Prisca, em Roma. Preciosa relíquia que até o século IV era exposta à veneração dos fiéis no batistério da Basílica Constantiniana de São Pedro no dia 22 de fevereiro, e foi usada durante toda a Idade Média para a entronização do Vigário de Cristo. A “cátedra” encontra-se ladeada por quatro Padres da Igreja: dois à direita e dois à esquerda. Santo Ambrósio e Santo Agostinho, da Igreja Latina; Santo Atanásio e São João Crisóstomo, da Igreja do Oriente. Como a “cátedra” se ergue um tanto acima deles, ouve-se com frequência guias turísticos e outras pessoas dizerem que os quatro “Bispos” ali estão “sustentando o trono do Papa”, senão este cairia por terra. Nada mais distante da realidade. Misteriosa participação no “poder das chaves” Não quer isto dizer que o Papa despreza a cooperação e o concurso da Igreja — isto é, dos concílios, dos Cardeais, dos Bispos, dos teólogos, etc. — no exercício do seu Magistério. Ao invés disso, tendo como certo que Cristo dotou os Pastores da Igreja do carisma da infalibilidade em matéria de Fé e de costumes (cf. Catecismo da Igreja Católica, n.890), é legítimo perguntar se não se pode razoavelmente — salvaguardando a integridade do “primado da Cátedra de Pedro” no âmbito da comunhão entre todas as Igrejas, como recorda o Concílio Vaticano II (cf. Lumen gentium, n.13) — pensar numa misteriosa participação no “poder das chaves” do Sucessor de Pedro, das pessoas revestidas de um particular carisma profético em qualquer época histórica. Os Padres da Igreja, por exemplo, foram homens providenciais, cada qual a seu tempo, e apoiaram a Cátedra de Pedro a tal ponto que seu papel nos concílios ou circunstâncias históricas significou “ligar ou desligar na terra” o que depois foi “ligado ou desligado nos Céus”. Pensamos também em São Bernardo, que — enquanto sustentava Abril 2010 · Flashes de Fátima 37 Jair Rodrigues ria despropositado perguntar se Deus não confiou também a eles, num certo sentido “místico”, “as chaves do Reino dos Céus”, precisamente para o bem das almas e da sua Igreja? Uma coisa é certa: “Deus é Senhor do mundo e da História” (Catecismo da Igreja Católica, n.314), e Ele não abandona Sua Esposa Mística. Se cá ou acolá a Igreja se encontra sacudida pelas ondas do mundo, isto não escapa à sua providência. A profissão de Fé do Sucessor de Pedro continuará a reboar nos céus da História até o fim do mundo: “Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). Entretanto, como é belo penDom Manuel Monteiro de Castro, sar que ao longo dos séacompanhado por Mons. João Scognamiglio culos a voz de Pedro esClá Dias, na chegada à Igreja de San Benedetto tá permanentemente sein Piscinula cundada pelo eco fidelíssimo da voz dos homens e obras providenciais suscitados por firmemente ser a infalibilidade priDeus para remediar os males de cavilégio da “Sé Apostólica” — não da época! poupou repreensões ao Papa Eugênio III, outrora seu discípulo em O desenvolvimento dos Arautos Claraval, a ponto de adverti-lo a ressuperou todas as expectativas peito das “malditas ocupações” relativas ao governo da Igreja (cf. De Mas a data de 22 de fevereiro é consideratione, II, 3), que prejudimuito significativa também porque cavam a necessária contemplação e no ano de 2001 tivemos a alegria o recolhimento interior, levando ao de celebrar na Catedral de Madri, arrependimento o Romano Pontífina qualidade de Núncio Apostólice. Não é isto uma certa participaco, uma Santa Missa em ação de ção no poder de “ligar e desligar”? graças pelo reconhecimento ponO mesmo podemos perguntar sotifício da Associação Internacional bre o papel de tantos santos e obras Privada de Fiéis Arautos do Evanprovidenciais ao longo da história gelho, precisamente um exemda Igreja. Se professaram a autênplo do “poder de ligar e desligar”. tica Fé como São Pedro, sobretudo Desde então, transcorreram nove nos momentos nos quais a Igreja enanos, nos quais o desenvolvimento contrava-se “entre as conturbações dessa Instituição superou todas as do mundo” (Oração Coleta), seexpectativas. 38 Flashes de Fátima · Abril 2010 Trata-se de um crescimento — que inclui a ordenação dos ministros sagrados e por muitos é atestado, não só em nível quantitativo de membros e de obras, mas, sobretudo em nível qualitativo — assinalado por um desejo cada vez mais profundo de contínua fidelidade ao Santo Padre, de terna devoção a Nossa Senhora, de assídua companhia ao Santíssimo Sacramento exposto para adoração perpétua em tantas de vossas casas. A dimensão acadêmica ampliouse com a multiplicação dos Arautos estudantes de licenciatura e de doutorado nos mais renomados ateneus da Igreja, em Roma e alhures. O próprio fundador defendeu recentemente sua tese de doutorado em Direito Canônico na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (o Angelicum), com a singularidade de ser a primeira vez que um fundador faz uma dissertação referente à sua própria fundação. O projeto de universidade dos Arautos do Evangelho já é, de fato, um broto que cada vez mais se aproxima de fulgurante realização. As técnicas de evangelização desenvolveram-se de modo extraordinário, como no caso das Missões Marianas ou do Apostolado do Oratório, realizadas inclusive em Roma por tantos cooperadores dos Arautos, aqui presentes, como em numerosos outros países. Neste sentido, a revista Arautos do Evangelho (publicada em quatro línguas), a presença do Movimento na internet e as transmissões televisivas de sua própria produção dão uma ideia do resultado alcançado. No momento, a construção de novas casas, palácios, edifícios e igrejas, que enchem de admiração pela sua beleza, assim como as cerimônias, litúrgicas ou não, que nelas se realizam, de acordo com o carisma — sobretudo o seminário em São Paulo, Brasil, com a sua Dartagnan Alves de Oliveira igreja dedicada pelo Cardeal Franc Rodé, e também a Casa Generalícia da Sociedade de Vida Apostólica feminina — a construção de tudo isso, dizíamos, por mais rápido que se faça, nunca consegue satisfazer as reais necessidades de espaço. Tudo isso nunca teria sido possível sem um concurso muito especial da graça divina. Contemplação e ação se entrelaçam assim harmonicamente no interior de uma séria vida comunitária pervadida de oração e cerimonial, que desperta o enlevo e o fascínio pela vida consagrada, a começar por quem recebeu de Deus o chamado para dela fazer parte. Por isso, a rigorosa seleção da grande quantidade de vocações que batem à vossa porta, e a exigência da perfeição em tudo, feita aos que já são membros da Associação, constituem seguramente um dos segredos do sucesso eclesial do vosso Movimento. Um êxito ratificado pelo reconhecimento pontifício, concedido há menos de um ano, das duas Sociedades de Vida Apostólica: Virgo Flos Carmeli, clerical, e Regina Virginum, feminina. O fundador: instrumento escolhido pela Providência Entretanto, basta conhecer o gênio do fundador para compreender que todas essas realizações são apenas o ponto inicial de um futuro muito promissor para a Igreja. Cada novo carisma é um dom extraordinário do Espírito Santo, dado não tanto para o bem do indivíduo quanto, ao contrário, para a edificação da Igreja e um anúncio mais eficaz do Evangelho; ou seja, para ligar e desligar, para abrir e fechar. As pessoas passam, mas os carismas permanecem, pois Deus os suscita para fazê-los frutificar e cumprir sua finalidade. Diz o profeta Isaías: “Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão” (Is 55, 10-11). A Mons. João Scognamiglio Clá Dias — que o Santo Padre Bento XVI, além de honrar com a medalha Pro Ecclesia et Pontifice, nomeou Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior — podem aplicar-se, portanto, mutatis mutandis, como instrumento escolhido pela Providência para levar a cabo a sua obra, as palavras do mesmo profeta: “Porei sobre seus ombros a chave da casa de Davi; se ele abrir, ninguém fechará, se fechar, ninguém abrirá” (Is 22, 22). De vós muito espera a Igreja Caros Arautos do Evangelho, estamos na Quaresma. Aquele que ocupa hoje a Cátedra de Pedro dizia-nos na audiência geral desta Quarta-Feira de Cinzas que “conversão é avançar contra a corrente” e deixar-se transformar pelo amor de Cristo. Não tenhais medo de avançar contra a corrente, ainda que a alguns possa parecer que “a Igreja se abala” (Oração Coleta). Ao invés, digamos com São Paulo: “Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação” (II Cor 6, 2), como lemos na liturgia da Quarta-Feira de Cinzas. Este é o momento reservado pela Divina Providência para este novo carisma. De vós muito espera a Igreja, porque disto ela precisa. Avante, Arautos, avante! Por isso, para podermos estar à altura da nossa missão, entreguemo-nos de todo coração Àquela que é por excelência a chave que abre todas as portas, especialmente a do Céu: Janua Cæli, ora pro nobis! ² “A rigorosa seleção da grande quantidade de vocações que batem à vossa porta, e a exigência da perfeição em tudo, constituem seguramente um dos segredos do sucesso eclesial do vosso Movimento.” (Homilia da Missa celebrada na Igreja de San Benedetto in Piscinula, Roma, em 22 de fevereiro de 2010, festa da Cátedra de Pedro – Tradução: Arautos do Evangelho) Abril 2010 · Flashes de Fátima 39 Terremoto no chile – Testemunho de um amigo dos arautos “Tudo era enlouquecedor!” Para mim, foi um milagre o fato de termos mantido, em tais circunstâncias, nossa integridade física e psíquica, porque tudo era enlouquecedor! Benigno Manuel Bascur Muñoz N o dia do terremoto, minha esposa, nossas três filhas e eu estávamos hospedados num chalé do balneário marítimo de Pelluhue, bem próximo do epicentro. Como todo chileno, já havíamos presenciado muitos outros sismos, mas esse foi de uma violência atroz. Durante quase dois minutos os sismógrafos marcaram 8,8 graus na escala Richter! Ouviase um ruído subterrâneo estarrecedor e a terra tremia com tanta força que não conseguíamos ficar em pé. Chegada do tsunami Passada a fase mais intensa, enquanto se sucediam algumas réplicas, procuramos vestir-nos e prepararmonos para o que pudesse ocorrer. Tudo havia ficado às escuras. A localização de nossa hospedagem — a uns setenta metros de distância da praia e a vinte de altitude — davanos uma vista privilegiada do Oceano Pacífico, iluminado pela luz da lua. De repente, percebemos as águas se retirarem, deixando à vista a areia do fundo marinho. No horizonte, avistava-se uma muralha de água negra coroada por uma estranha luminosidade: o reflexo do luar na espuma de uma onda de vinte metros de altura! Abandonamos imediatamente a casa e, seguidos por outras pessoas, começamos a subir o morro. Os cinco membros da nossa família rezávamos 40 Flashes de Fátima · Abril 2010 em voz alta, e logo outras pessoas passaram a acompanhar as nossas orações. Vários dos que nos acompanhavam estavam aturdidos, outros tinham o terror estampado na face. À medida que subíamos, algumas pessoas perdiam forças e se detinham. Essas ficaram à mercê das circunstâncias... ado. A ruína era total. Ao nosso redor, pessoas choravam por verem como as casas, com seus parentes, haviam sido tragadas pelo mar. Pouco depois das 6h, ocultou-se a Lua, deixando o morro em completa escuridão. Ali permanecemos até amanhecer, por volta das 7h30. Quatro ou cinco ondas gigantes Calma, serenidade e lucidez surpreendentes A certa altura, vimos a primeira onda entrar no povoado, derrubando tudo quanto encontrava no caminho. Logo após, retirou-se lentamente, arrastando destroços para o mar. Começou então uma série de redemoinhos que trituravam, como um liquidificador, entulhos das casas, automóveis, barcos, absolutamente tudo... O estrépito era aterrorizante; jamais tínhamos escutado ruídos iguais. Enquanto assistíamos impotentes ao pavoroso espetáculo, não cessamos de rezar, em voz alta, o Rosário. Sobreveio em seguida a segunda onda, que avançou cerca de dois quilômetros terra adentro, pois a primeira já havia varrido quase todos os obstáculos... Retirou-se da mesma forma, produzindo também destrutivos redemoinhos. Creio que nenhum tipo de devastação compara-se à produzida pela fúria da natureza: esmagadora, paralisante e incrivelmente rápida. Ao todo, quatro ou cinco ondas gigantes lançaram-se sobre o povo- Quanto à nossa família, gostaria de ressaltar que, apesar da obscuridade, da confusão e de nos encontrarmos em uma cidade totalmente desconhecida, conseguimos manter uma calma, serenidade e lucidez surpreendentes que nos levaram a fazer sempre as opções corretas. Muitos dos que não conseguiram sobreviver estavam bem melhor preparados do que nós, do ponto de vista natural, para enfrentar um tsunami... Penso terem sido as orações que fizemos a Maria Santíssima e aos nossos santos padroeiros as que operaram o milagre de conservar, em tão terríveis circunstâncias, nossa integridade física e psíquica, porque tudo era enlouquecedor! Sem a graça de Deus, a natureza humana não suporta atingir limites tão estressantes sem perder a lucidez. E em momentos como esse, tomar uma decisão errada pode ser fatal. O momento inaugural será presidido pelo Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto. Abertura da exposição “O Bispo vestido de branco: Os Papas e Fátima” A 27 de Março o Santuário de Fátima inaugurará no vestíbulo da Capela do Santíssimo Sacramento, no piso inferior da Igreja da Santíssima Trindade, a exposição documental “O Bispo vestido de branco: Os Papas e Fátima”, que fará memória das visitas papais e este santuário. A iniciativa pretende, a propósito da vinda do Santo Padre Bento XVI a Fátima, recordar as várias visitas em que os Romanos Pontífices se fizeram peregrinos de Nossa Senhora de Fátima. Bento XVI já declarou sua intenção de venerar pessoalmente “aquela Face misteriosa que, silenciosamente, fala ao coração dos homens, convidando-os a reconhecer nela o Rosto de Deus”. De sua parte, João Paulo II, que visitou diversas vezes Turim para venerar o Santo Sudário, referiu-se a ele como “a mais esplêndida relíquia da Paixão e da Ressurreição” de Jesus. Cristãos são considerados o grupo religioso mais perseguido Mais de um milhão de fiéis venerarão o Santo Sudário Em 70 dias, mais de um milhão de fiéis se cadastraram, via internet, para garantir acesso ao local onde estará exposto o Santo Sudário de Turim, de 10 de abril a 23 de maio. O número de inscrições continua crescendo. No editorial da edição de 28 de fevereiro de Octava dies, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, denuncia a perseguição de que são vítima os cristãos em diversos países como Iraque, Índia, Paquistão e regiões da África. Depois de salientar que a violência anticristã reacendeu nestes dias, o porta-voz do Vaticano alerta: “Os recentes e brutais homicídios confirmam a mesma estratégia sistemáti- Bispos portugueses preparam visita do Papa horizonte da Fé, da construção da unidade “Noeclesial e de uma sociedade mais justa e frater- na” — é assim que os Bispos de Portugal desejam que seja preparada a visita do Papa ao país, em maio próximo, conforme a nota pastoral publicada pela Conferência Episcopal Portuguesa. Nela, os Bispos assinalam a “feliz coincidência entre o tempo que antecede a visita do Santo Padre e a vivência litúrgica da Quaresma e do Tempo Pascal” e convidam a “refletir e responder aos desafios da mensagem preparada pelo Papa Bento XVI: ‘A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo’” (cf. Rm 3, 21-22). Exortam os católicos a serem “apóstolos corajosos que concretizam uma necessária e urgente co- municação de Cristo nos ambientes do agir cotidiano: política e saúde, indústria e comércio, agricultura e pescas, educação e ensino, trabalho e lazer” e concluem estimulando todos a se “prepararem condignamente” para receber o Santo Padre e não permitir que sua visita “se esgote num mero acontecimento passageiro, porventura muito participado e festivo, mas que seja antes uma semente que germine e dê frutos de renovação espiritual, apostólica e social”. Para dinamizar a preparação, a realização e a continuidade da visita, a Conferência Episcopal Portuguesa criou um site oficial (www.bentoxviportugal.pt) onde é possível encontrar as mais variadas informações. Abril 2010 · Flashes de Fátima 41 Cardeal Cañizares recebe fundador dos Arautos N ca, contra a qual as autoridades parecem não ser capazes de apresentar soluções eficazes”. Em outro campo de observação, o jornal alemão Der Spiegel (1/3/2010) divulga notícia de que os cristãos são considerados o grupo religioso mais perseguido em todo o mundo: na Malásia, incendeiamse suas igrejas; no Vietnã, a polícia agride e detém sacerdotes e fiéis, e o governo confisca propriedades eclesiásticas; no Egito, alegando crime de “alta traição”, o ministro da religião defende a legalidade da pena de morte para quem se converte ao Cristianismo. Segundo a ONG Open Doors, 100 milhões de cristãos vivem em países onde não podem conseguir emprego, não têm permissão para construir igrejas nem comprar artigos religiosos. Além dessa forma menos ofensiva de discriminação, há uma mais brutal, que inclui extorsão, roubo, expulsão, sequestro e até assassinato. 42 Flashes de Fátima · Abril 2010 Gonzalo Raymundo o último dia 18 de fevereiro, o Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, recebeu em audiência Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, EP. Durante o encontro, transcorrido em clima ameno e de mútua estima, foram tratados diversos assuntos de interesse da Igreja. O fundador dos Arautos agradeceu o paternal apoio que a Associação recebe do Cardeal desde o tempo em que ele era Arcebispo de Toledo. E o Cardeal, por sua vez, enalteceu o amor pela Igreja e pelo Santo Padre que caracteriza a Instituição. Disponível em DVD, o filme, intitulado Vigias na noite. Uma jornada monástica na Abadia de Santa Madalena de Barroux, mostra a vida de oração e trabalho dos monges beneditinos, cadenciada pelos diferentes ofícios do dia, cantados em gregoriano. Um clip do documentário pode ser visto no site da Abadia (http://www.barroux.org/dvd.html) Fundação para as pessoas que não creem Filme sobre vida monástica recebe prêmio na França Um documentário de 52 minutos sobre a Abadia de Santa Madalena de Barroux foi laureado pelo júri do Clube Audiovisual de Paris. O prêmio foi entregue aos cineastas em 15 de fevereiro, nas salas do Senado de Paris, pelo Núncio Apostólico na França, Dom Luigi Ventura, em presença do Abade de Barroux, Dom Louis-Marie. O Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco Ravasi, anunciou em 25 de fevereiro, nas páginas do jornal da Conferência Episcopal Italiana, Avvenire, a criação de uma Fundação para as pessoas que não creem, mas que se interessam por temas da espiritualidade e pelo diálogo com a Igreja Católica. “A Fundação organizará todos os anos um grande evento”, anunciou Dom Ravasi, acrescentando que o primeiro deles poderá se realizar no segundo semestre de 2010, provavelmente em Paris. “Leva contigo a tua oração” Por iniciativa do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração, de Portugal, a Companhia de Jesus oferece a possibilidade de baixar da internet uma gravação de áudio de 10 minutos com orações, comentários de frases da Bíblia e cânticos selecionados para cada dia do ano. Sob o lema Leva contigo a tua oração, o site (www.passo-a-rezar.net) tem por objetivo “adaptar a proposta da oração pessoal às circunstâncias da vida de todos os dias e à exigência de mobilidade que a caracteriza”. Homenagem póstuma a Bispo chinês No dia 8 de fevereiro, 20 mil pessoas participaram, dos funerais de Dom Raimundo Wang Chonglin, Bispo emérito de Zhaoxian, China, falecido aos 88 anos de idade por causa de uma hemorragia cerebral. Ordenado sacerdote em 1950, o Pe. Wang foi condenado a vinte anos de prisão em 1957. Recebeu a ordenação episcopal em 1983, mas só foi reconhecido oficialmente pelo governo chinês cinco anos depois. A mais numerosa peregrinação a Guadalupe Contando com a participação de cerca de 100 mil fiéis — crianças, adultos e até idosos — a última peregrinação anual da Diocese de Toluca à Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe tornou-se a mais numerosa da história do México. Ao lon- go de três dias, os peregrinos percorreram quase 50 quilômetros, chegando na madrugada de 24 de fevereiro à colina de Tepeyac, onde Nossa Senhora apareceu ao índio Juan Diego em 1531. O evento encerrou-se com uma Missa no Santuário presidida por Dom Francisco Javier Chavolla Ramos, Bispo de Toluca. Bento XVI visitará a Espanha em novembro O porta-voz do Vaticano, Pe. Frederico Lombardi, confirmou a viagem do Santo Padre à Espanha, agendada para os dias 6 e 7 de novembro deste ano. Sua Santidade visitará Santiago por ocasião do Ano Santo Compostelano, e consagrará em Barce- Fotos: www.santiebeati.it Canonização de seis Bem-aventurados Stanisław Sołtys André Bessette Cândida Maria de Jesus N o Consistório Ordinário Público, realizado em 19 de fevereiro, o Papa Bento XVI aprovou a inclusão de seis novos nomes no Catálogo dos Santos e marcou a cerimônia de canonização para 17 de outubro próximo. Os novos santos são os seguintes: Beato Stanisław Sołtys (1433-1489), polonês, sacerdote da Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses; Beato André Bessette (1845-1937), canadense, religioso da Congregação da Santa Cruz; Beata Cândida Maria de Jesus (1845-1912), freira espanhola, fundadora da Congregação das Filhas de Jesus; Beata Maria da Cruz MacKillop (1842-1909), freira australiana, fundadora da Congregação das Irmãs de São José do Sagrado Coração; Beata Giulia Salzano (1846-1929), freira italiana, fundadora da Congregação das Irmãs Catequistas do Sagrado Coração de Jesus; Beata Battista da Varano (1458-1524), monja clarissa italiana, fundadora do Mosteiro de Santa Clara na cidade de Camerino. Pela primeira vez na História, imagens de um Consistório Público foram fornecidas ao vivo pelo Centro Televisivo Vaticano (CTV). Maria da Cruz MacKillop Giulia Salzano Battista da Varano Abril 2010 · Flashes de Fátima 43 lona a Igreja da Sagrada Família. O Papa Bento XVI esteve na Espanha em 2006, quando se realizou o V Encontro Mundial das Famílias, e está previsto em seu programa que ele retornará em 2011, para presidir os atos centrais da XXVI Jornada Mundial da Juventude. Congresso internacional sobre João Paulo II A capital colombiana recebeu nos dias 19 e 20 de fevereiro o congresso internacional Legado de João Paulo II, o Magno, evento organizado pela Nunciatura Apostólica na Colômbia, a Universidade Sergio Arboleda e a embaixada da Polônia. O encontro teve a participação do Arcebispo de Cracóvia (Polônia), Cardeal Stanisław Dziwisz, que foi secretário pessoal do Papa Wojtyła durante 40 anos. No evento, o presidente colombiano Álvaro Uribe conferiu ao Cardeal a Ordem Nacional ao Mérito, no grau de Grande Cruz, pela seu exemplo de vida como zeloso comunicador do Evangelho. Fátima prepara exposição sobre a Beata Jacinta Marto No ano do centenário do seu nascimento, em que o Santuário de Fátima se volta para figura de Jacinta Marto e a toma como especial modelo, o Departamento de Arte e Património do Santuário de Fátima prepara uma exposição sobre esta importante figura da história e da mensagem de Fátima. A inauguração da exposição, que ficará patente no vestíbulo do convivium de Santo Agostinho, na Igreja da Santíssima Trindade, decorrerá a 11 de Março, no dia dos cem anos do nascimento de Jacinta Marto. Os visitantes poderão contemplar vários objectos que pertenceram à mais nova das crianças videntes e alguns dos documentos que fizeram a história de Fátima, material especialmente museografado a fim de ajudar 44 Flashes de Fátima · Abril 2010 a melhor entender a vida e espiritualidade da Beata Jacinta Marto”. À semelhança da exposição de 2009, sobre Francisco Marto, também esta vai buscar às palavras do Papa João Paulo II, proferidas no dia da beatificação dos dois pastorinhos, a 13 de Maio de 2000 em Fátima, o título desta iniciativa: “Jacinta Marto: candeia que Deus acendeu”. Aumenta o número de católicos no mundo De acordo com a edição 2010 do Anuário Pontifício — apresentada pelo Cardeal Secretário de Estado ao Santo Padre em 20 de fevereiro — o número de católicos no mundo aumentou de 1,147 bilhão, em 2007, para 1,166 bilhão, em 2008. Houve, portanto, um crescimento de 1,7%. No mesmo período, o número de Bispos subiu de 4.946 para 5.002; o de sacerdotes, diocesanos e religiosos, de 405.178 para 409.166; e o de candidatos ao sacerdócio, de 115.915 para 117.024. A Religião Católica passou a representar 17,40% da população mundial (6,7 bilhões de habitantes). Santa Sé nomeia representante na China A Santa Sé nomeou “de forma extraoficial e discreta” um representante na China, país com o qual rompeu relações em 1951. E designou para a delicada missão Ante Jozic, religioso croata de 43 anos formado na chamada “Escola dos Núncios”, de onde sai o corpo diplomático da Santa Sé. A representação funcionará “na forma de missão de estudos” — informou em 3 de março a Rádio Vaticano. Ante Jozic reside em Hong Kong e foi nomeado oficialmente conselheiro da Nunciatura nas Filipinas, de onde atuará como elo entre as autoridades da Santa Sé e da República Popular da China. A Santa Sé, que rompeu relações diplomáticas com a China dois anos após a tomada de poder pelo Partido Comunista, trabalha há alguns anos por uma aproximação com Pequim, objetivando reunificar a Igreja no país, dividida entre a “oficial”, reconhecida pelo governo, e a clandestina, fiel ao Papa. Segundo números do Vaticano, existem entre 8 e 12 milhões de católicos na China. Presumível milagre atribuído a D. João de Oliveira Matos O Tribunal Diocesano da Guarda reuniu no Outeiro de São Miguel, para o encerramento do Processo Diocesano de um “presumível milagre” atribuído à intercessão de D. João de Oliveira Matos. A cerimónia foi o culminar de um longo caminho percorrido pela diocese da Guarda, que se revê na santidade deste seu pastor e pela Liga dos Servos de Jesus, de quem foi o Fundador. Este Processo, que agora se encerrou, está interligado com o Processo sobre as Virtudes Heróicas vividas pelo Servo de Deus, realizado no dia 3 de Maio de 1998. O Processo transita agora para Roma onde se irá proceder á elaboração da Positio, para futuramente, ser analisada pela Comissão Médica, afecta à Congregação das Causas dos Santos. A cerimónia de encerramento do Processo terminou com a Eucaristia, presidida por D. Manuel Felício. Na homilia, o Bispo da Guarda referiu o que era prática e desejo de continuidade, do Senhor D. João, nomeadamente no que se refere aos Servos Externos. O que estes devem representar numa paróquia, nos seus trabalhos, onde quer que se encontrem inseridos. Não esqueceu de frisar a importância de se implementar uma rede de retiros, como se fazia naquele tempo, “pois é no silêncio e na oração que Deus se revela”. Depois da homilia, o grupo de novos Servos fez, em conjunto, a consagração. Foram vinte e dois, mais um diácono. Olhar em frente, construir um futuro solidário! Perante o temporal que açoitou a Madeira, é difícil achar palavras mais cheias de conforto e esperança do que as dirigidas aos seus fiéis pelo Bispo do Funchal, D. António Carrilho. C oloca-se aqui a questão da fé e da providência divina, perante as dificuldades da vida e situações de maior sofrimento. Nestes momentos, quem não desejaria a intervenção miraculosa de Deus, como resposta directa aos problemas pessoais e sociais? O milagre é possível, mas constitui sempre algo de extraordinário e aponta, como sinal, para uma mensagem de salvação. Normalmente, Deus respeita as leis da natureza, que Ele próprio estabeleceu, e com elas ofereceu ao Homem, na sua liberdade responsável, as imensas possibilidades do desenvolvimento da Ciência e da Técnica. A fé supera o desespero e a revolta A fé coloca-nos no seguimento de Jesus, na escuta da Sua Palavra e no ideal de vida que Ele testemunhou. É este, afinal, o ensinamento do santo tempo da Quaresma, que estamos a viver, em toda a Igreja: convidados a uma atitude de profunda conversão a Deus e ao próximo, caminhamos para a grande celebração do mistério pascal de Jesus, que é sofrimento, paixão, morte e ressurreição! Como nos adverte o Concílio Vaticano II, Jesus podia ter cumprido plenamente a Sua missão de outro modo, sem a cruz fê-lo as- sim para tocar o sofrimento e a morte, aquilo que é mais difícil aceitar e assumir na vida do Homem, dando-lhe, porém, um sentido de vida e de esperança, na perspectiva da Sua gloriosa Ressurreição! […] A fé vivida, assim, no seguimento de Cristo, supera o desespero e a revolta, e leva-nos a assumir a vida toda em referência a Ele: as alegrias e as tristezas, as facilidades e as dificuldades, o sofrimento e a própria morte. A fé será sempre uma força interior, a força de Deus em nós, que nos ajuda a aceitar e oferecer a vida tal como ela se nos apresenta. Da fé brota a esperança e a exigência do amor-caridade, o mandamento novo que Jesus nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13,34), isto é, dando a vida uns pelos outros. Grande o sofrimento, maior a esperança Irmãos e amigos, considerando as razões que aqui nos congregaram nesta tarde, eu quero dizer-vos: se é grande o sofrimento do nosso povo, seja maior a força da nossa esperança! Rezamos por aqueles que faleceram e pelos seus familiares; pedimos, também, a Deus o ânimo e a coragem para todos quantos, com determinação, se empenham na reconstrução das suas vidas e na restituição, às zonas mais afectadas da nossa Ilha, da sua reconhecida e tão apreciada beleza. É hora de olhar em frente e reconstruir o futuro; é hora de conservar e desenvolver o espírito de solidariedade, atenção mútua, união e entreajuda fraterna, para que perdurem e não esmoreçam os sentimentos e valores, agora aflorados e estimulados. É hora de reavivar, aprofundar e esclarecer a fé cristã, tão profundamente arreigada na alma e na cultura do nosso povo madeirense, sentindo que não caminhamos sós, pois estamos seguros da presença de Jesus e da protecção maternal de Maria, de tão grande devoção entre nós. Como se dizia na primeira leitura (cf. Ap 21, 1-5), Deus veio habitar com os homens: Ele enxugará as lágrimas do Seu povo, vem renovar todas as coisas e, por isso, possamos também nós antever, como S. João, “um novo céu e uma nova terra” (21,1), que juntos, com Cristo, queremos construir! (Excertos da Homilia de D. António Carrilho dia 28 de Fevereiro p.p.) Abril 2010 · Flashes de Fátima 45 História para crianças... ou adultos cheios de fé? Deus ama quem dá com alegria Diante de tal pedido, Margarida sentiu-se tocada, pois ainda ressoavam em seu coração as palavras que acabara de ouvir: “Deus ama quem dá com alegria”. Irmã Lucía Ordoñez Cebolla, EP O Porém, o tempo passava e a pecoração de dona Etelvi- cessitavam ainda mais do que eles. na era muito generoso. Jamais abandonavam a frequência quena Margarida foi crescendo. Apesar de ser pobre, a aos Sacramentos, pois sabiam que Apesar do bom exemplo de seus boa senhora sempre aju- estes e a oração eram seu sustento pais, a menina era caprichosa, vaidosa e muito egoísta. Quando ia dava a todos os necessitados que e sua força. brincar com as amiguinhas fossem pedir-lhe uma esda vizinhança, invariavelmola, em nome de Deus. mente era a que deveria gaSeu esposo, o senhor Annhar em todos os jogos, e tônio, era um honrado motinha que ser o centro das torista, muito trabalhador, atenções. Em nada imitava mas seu salário era o moa humildade e a generosidesto valor que recebia pedade dos pais. lo frete feito para os moraQuando completou sete dores da pequena vila de anos, sua madrinha, senhoSão Pedro do Leste. O que ra de certas posses, deu-lhe ganhava era apenas sufide presente uma linda bociente para sustentar a esneca, com olhos de vidro e posa e a filha, Margarida. um vestido de princesa. A Não obstante, apoiava os menina ficou encantada! pródigos gestos de sua muLogo foi mostrá-la às comlher. E nunca faltava nada panheiras. Mas em vez de naquele humilde lar! deixar que cada uma a peTudo isso se devia à piegasse nas mãos, acariciasse dade do casal que, sem deie embalasse, cheia de apexar de confiar na ProvidênCheia de apego, nem permitiu que tocassem go, nem permitiu que tocascia Divina, era dadivoso no seu novo brinquedo, voltando para casa com muita arrogância! sem no seu novo brinquedo, para com aqueles que ne- 46 Flashes de Fátima · Abril 2010 Edith Petitclerc — Que Deus lhe pague voltando para casa com e recompense! muita arrogância! Tomada de uma rara feA mãe se preocupava licidade, a menina voltou com a filha, pois via que para casa correndo e conestava andando por um tou o fato à mãe que, em caminho bem perigoso e, lágrimas, abraçou a filha, se continuasse assim, sedizendo-lhe: ria uma pessoa muito infe— Pois saiba que esta liz e perderia a amizade de foi a melhor preparação Deus. Por isso, pedia muique você poderia ter feito à Santíssima Virgem to para receber Jesus, no por ela. E sempre lhe daSantíssimo Sacramento! va bons conselhos: Naquela noite, Marga— Filhinha, devemos rida teve um sonho. Nespensar que assim como Jete, Jesus lhe aparecia com sus é generoso conosco, sua cruzinha de prata nas devemos ser com os oumãos, adornada com as tros. Se você ganhou esta mais belas pedras preciolinda boneca, é para que sas. E, sorrindo, lhe perpossa brincar junto com guntava: suas amigas. Nada temos — Conheces este objeque não tenha vindo da to? bondade de Deus. Não seEla Lhe respondia que ja egoísta! sim, mas que não era tão A menina escutava atenPrometo-te que, no dia do Juízo, em presença dos linda como estava agora... ta, mas logo esquecia os Anjos e dos homens, mostrarei esta pequena cruz para Jesus, então, lhe dizia: bons conselhos da mãe... que tua glória seja eterna. — Ontem tu a deste a Algum tempo depois, começaram as aulas preparatórias por Deus... Queria sentir a alegria um mendigo desconhecido, e a virtude da caridade a tornou mais bepara sua Primeira Comunhão. Mar- de dar! Terminada a Santa Missa, na por- la! Esse mendigo era Eu! Prometogarida ouvia com interesse a catequista contar os milagres de Jesus, ta da igreja, Margarida encontrou- te que, no dia do Juízo, em presença como Ele havia curado enfermos, se com um mendigo. A aldeia era dos Anjos e dos homens, mostrarei ajudado aos mais necessitados e co- pequena e todos se conheciam, mas esta pequena cruz para que tua glómo era generoso para com todos. aquele infeliz maltrapilho lhe era to- ria seja eterna. Na manhã seguinte, a menina Seu pequeno coração foi sendo to- talmente desconhecido. O homem cado pela graça e começou a fazer pedia uma esmola, por amor a Deus. aproximou-se do confessionário, Diante de tal súplica, Margari- completamente transformada. Deum exame de consciência de como andava mal com suas atitudes egoís- da sentiu-se tocada, pois ainda res- pois de limpar sua alma dos caprisoavam em sua alma as palavras que chos e egoísmos, pôde receber Jesus tas e caprichosas... Já na véspera do grande dia, an- acabara de ouvir: “Deus ama quem na Eucaristia, com muita consolação e compreendendo o quanto é vertes mesmo da primeira Confissão, dá com alegria”... Margarida levava sempre em seu dade que “Deus ama quem dá com as crianças da catequese tiveram uma Missa preparatória para a mes- pescoço uma correntinha com uma alegria”. E a exemplo de seus bons pais, lema. E, em uma das leituras, a meni- pequena cruz de prata, presente da na escutou: “Dê cada um conforme madrinha, em seu Batismo. Era o vou uma vida santa, sendo generosa o impulso do seu coração, sem tris- objeto pelo qual mais tinha apreço. para com todos, sobretudo para com teza nem constrangimento. Deus Sem titubear e sentindo pela primei- Nosso Senhor Jesus Cristo, deixanama quem dá com alegria” (II Cor ra vez a alegria de dar, a menina ti- do-se levar pela graça e por Seus de9, 7). Aquelas palavras entraram co- rou o estimado objeto e o deu ao po- sígnios, confiante na promessa que mo um raio de fogo em seu cora- bre homem. Este olhou-a com extre- Ele lhe havia feito naquele inesquecível sonho! ção! Queria ser ela também amada mo afeto e gratidão, e lhe disse: Abril 2010 · Flashes de Fátima 47 ________ Os Santos de cada dia Ricardo Castelo Branco “consolar e dar alegria a Jesus”. Suportou, nessa intenção, atrozes sofrimentos e morreu pouco antes de completar 11 anos. 5. São Vicente Ferrer, presbítero (†1419). Santa Maria Crescência Höss, virgem (†1744). Governou com suavidade e sabedoria o mosteiro das Terciárias Regulares Franciscanas de Mayerhoff, Alemanha, do qual foi mestre de noviças e superiora. “Beato Miguel Rua” - Basílica de Maria Auxiliadora, Turim (Itália) 1. Santa Maria Egipcíaca, penitente (†séc. V). Famosa pecadora pública de Alexandria que, por curiosidade, embarcou num navio de peregrinos com destino à Terra Santa. Tocada pela graça em Jerusalém, arrependeu-se e passou 47 anos de vida penitente, no deserto. 2. Sexta-Feira Santa. São Francisco de Paula, eremita (†1507). Beato Leopoldo de Gaiche, presbítero (†1815). Religioso franciscano que se destacou como missionário a ponto de ser chamado “Apóstolo da Úmbria”. 6. Beato Miguel Rua, presbítero (†1910). Discípulo e primeiro sucessor de São João Bosco, deu grande impulso à Congregação Salesiana. 7. São João Batista de la Salle, presbítero (†1719). Santo Ermano José, presbítero (†1241/1252). Religioso do mosteiro premonstratense de Steinfeld, Alemanha, brilhou por seu amor à Virgem Maria e devoção ao Sagrado Coração de Jesus. 8. São Dionísio, Bispo (†180). Dotado de grande conhecimento da Palavra de Deus, instruiu pela pregação os fiéis de Corinto e, através de cartas, os Bispos de outras dioceses. 3. Sábado Santo. São Nicetas, abade (†824). Hegúmeno do mosteiro de Medikion, na atual Turquia, sofreu perseguições por ter defendido com denodo o culto às imagens sagradas. 9. Beato Antonio Pavoni, presbítero e mártir (†1374). Religioso dominicano de Savigliano, Itália, trucidado por valdenses quando saía da igreja onde havia feito uma pregação contra essa heresia. 4. Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor. Santo Isidoro, Bispo e doutor da Igreja (†636). Beato Francisco Marto (†1919). Um dos videntes de Fátima. Após as aparições de Nossa Senhora, viveu movido pelo único desejo de 10. Santa Madalena de Canossa, virgem (†1855). Filha do Marquês de Canossa, abandonou tudo por amor a Cristo. Fundou em Verona, Itália, os Institutos dos Filhos e das Filhas da Caridade, para promover a formação cristã da juventude. 48 Flashes de Fátima · Abril 2010 11. II Domingo da Páscoa. Domingo da Divina Misericórdia. Santo Estanislau, Bispo e mártir (†1079). Arcebispo de Cracóvia assassinado pelo Rei Boleslau II, da Polônia, a quem havia censurado por seus escândalos e pedido para respeitar os preceitos católicos do casamento. 12. São Júlio I, Papa (†352). Defendeu os princípios do Concílio de Niceia e protegeu Santo Atanásio contra a perseguição dos arianos. 13. São Martinho I, Papa e mártir (†656). Beato Escubilião Rousseau, religioso (†1867). Ingressou no Instituto dos Irmãos Lassalistas e passou o resto de sua vida como missionário na Ilha Reunião (Oceano Índico), educando as crianças e instruindo na Fé os escravos. 14. São Bernardo, abade (†1117). Monge do mosteiro de São Cipriano, de Poitiers, França, do qual, após muita resistência, aceitou o cargo de abade. 15. São Paterno, Bispo (†cerca de 565). Eremita eleito Bispo de Avranches, França, dedicou-se a evangelizar a população ainda pagã. 16. Santa Bernadette Soubirous, virgem (†1879). Jovem favorecida pelas aparições de Nossa Senhora de Lourdes. Ingressou na Congregação das Irmãs da Caridade de Nevers, onde foi modelo de humildade. 17. São Roberto de Molesmes, abade (†1111). Monge beneditino que, com o auxilio de Santo Estêvão Harding e Santo Alberico, fundou em Cîteaux, França um novo mosteiro para colocar em prática o ideal monástico de estrita observância da _______________________ Abril 18. III Domingo da Páscoa. Santa Atanásia, viúva (†séc. IX). Tendo falecido seu esposo, tornouse eremita em Egina, Grécia. 19. Santa Marta, virgem e mártir (†341). Sofreu o martírio na Pérsia durante as perseguições do rei Sapor II. 20. Beato Simão Rinalducci, presbítero (†1322). Religioso da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, exerceu em Bolonha profícuo apostolado com a juventude estudantil. Gustavo Kralj 21. Santo Anselmo, Bispo e doutor da Igreja (†1109). São Romano Adame, presbítero e mártir (†1927). Expulso da casa paroquial de Nochistlán, México, pas- sou a exercer na clandestinidade seu ministério sacerdotal, até ser descoberto e fuzilado. 22. Santa Senhorinha, abadessa (†cerca de 980). Descendente de nobre família de Braga, Portugal. Tomou o hábito no convento de São João de Viveiro, do qual foi abadessa. 23. São Jorge, mártir (†séc. IV). Santo Adalberto, Bispo e mártir (†997). Em Praga, onde era Bispo, procurou extirpar os costumes pagãos, mas diante da escassez de resultados renunciou ao episcopado e dirigiu-se para Roma a fim de viver como monge. Enviado pelo Papa para evangelizar os prussianos, foi por eles martirizado. 24. São Fidélis de Sigmaringa, presbítero e mártir (†1622). Santa Maria Eufrásia Pelletier, virgem (†1868). Religiosa da Ordem de Nossa Senhora da Caridade do Refúgio. Fundou em Anger, França, a Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, para acolher as pecadoras públicas arrependidas e desejosas de ingressar na vida religiosa. 25. IV Domingo da Páscoa. São Marcos Evangelista. Beato João Piamarta, presbítero (†1913). Fundou em Bréscia, Itália, a Congregação da Sagrada Família de Nazaré, com o objetivo de proporcionar aos jovens formação religiosa juntamente com o aprendizado de um ofício. “Santa Maria Eufrásia Pelletier” Basílica de São Pedro (Vaticano) © Santiebeati.it Regra. Nasceu assim a Ordem Cisterciense. 26. São Ricário, monge (†645). Pagão de Celles, França, cristianizado pela instrução recebida dos missionários irlandeses. Fundou uma comunidade monástica em Crécy, onde viveu como contemplativo. Santa Joana Beretta Molla 27. São Pedro Armengol, religioso (†1304). Chefe de salteadores, arrependeu-se de sua vida devassa, ingressou na Ordem dos Mercedários e dedicou-se à obra de resgatar os escravos cristãos na África. 28. São Pedro Chanel, presbítero (†1841). São Luís Maria Grignion de Montfort, presbítero (†1716). Santa Joana Beretta Molla, mãe de família (†1962). Médica pediatra, mãe de quatro filhos. Estando grávida, descobriu ter um fibroma no útero, mas negou-se a abortar, preferindo sacrificar sua própria vida para salvar a da filha que estava por nascer. 29. Santa Catarina de Sena, virgem e doutora da Igreja (†1380). Desempenhou importante papel no retorno do Papa de Avignon para Roma. 30. São Pio V, Papa (†1572). São José Tuan, presbítero e mártir (†1861). Sacerdote dominicano, decapitado durante as perseguições no Vietnã, por haver ministrado os Sacramentos à sua mãe enferma. Abril 2010 · Flashes de Fátima 49 Um olhar com mil facetas Quem poderá exprimir, por alguma obra artística ou literária, as mil facetas d’Aquela que tem uma “certa dignidade infinita” e “chegou aos confins da divindade”? P. Antônio Guerra de Oliveira Jr., EP M uito já se escreveu e discorreu acerca da Virgem Mãe de Deus. Entretanto, faltam-nos palavras para exprimir quanto devemos à sua inigualável Pessoa. O culto a Ela remonta ao início da Cristandade, e foi crescendo ao longo do tempo, fazendo-A figurar na pluma dos mais insignes pensadores e nos lábios dos mais eloquentes pregadores, e também nas obras dos mais talentosos artistas que a História conheceu. Empenhada em manifestar a honra que é devida à Mãe de Deus, a Revista Arautos do Evangelho vem reproduzindo, desde seu primeiro número, expressivas imagens dessa Venerável Senhora, sobretudo nas quartas capas. Ora aparece Ela com afável sorriso, ora com fisionomia compassiva ou com olhar suavemente entristecido, porém sempre nos convidando a, por meio d’Ela, mais facilmente nos aproximarmos do trono de Seu Divino Filho. Ao longo da história Em dois milênios de Cristianismo, a figura ímpar de Maria Santíssima foi representada das mais variadas formas. Em sua fase inicial, a Igreja A concebeu como Virgem Oran50 Flashes de Fátima · Abril 2010 te, com os braços abertos em sinal de prece, e sem o Menino Jesus. Ou ainda como Virgem Mãe, deixando transparecer uma divina pureza em sua feição. No período românico, Maria é principalmente representada como Mãe de Deus, majestosa, ereta, com olhar hierático. Sentada em trono como Rainha, tem sobre os joelhos Jesus, a Sabedoria Eterna, e O apresenta ao mundo com gesto respeitoso, segurando-o com as duas mãos. São as imagens de Sedes Sapientiæ (Sede da Sabedoria). Desde o final do século XII, a hieraticidade cede lugar ao movimento. O Menino Deus “muda” de posição: tal imagem O apresenta num dos braços da Mãe, tal outra sobre os joelhos. A figura da Virgem ganha em destaque e simbolismo: difundem-se as Virgens Negras, coloração explicada por certos exegetas num sentido místico de dor e sofrimento; ou ainda as Virgens com Maçã, relembrando que a nova Eva reparou o pecado da antiga. No século XIII, em pleno auge do gótico, tudo canta o louvor à Santíssima Virgem: inúmeras igrejas são levantadas em Sua honra, multiplicam-se nos púlpitos as referências a Ela, e a Liturgia A celebra abun- dantemente. Na pintura e na escultura, a Rainha e Mãe toma ares de uma nobre dama que brinca com seu Filhinho e O abraça com todo afeto. “Sempre foi verdade — afirma o padre Dinarte Passos — que o estilo gótico atingiu o ideal em todas as artes, também, portanto, aqui na arte marial”.1 Depois da Idade Média, rompem-se os estreitos vínculos entre a arte e a Fé. A escultura e a pintura se materializam. Na Renascença e no período Moderno, enquanto progredia a técnica de como fazer, perdia-se em boa medida o espírito de como criar. Mas as manifestações de devoção a Nossa Senhora não deixaram de crescer também nessa época. Mil formas de representá-La Sendo Mãe, Maria quer entrar em contato com seus filhos, procura adaptar-Se aos bons aspectos deles, transmite-lhes mensagens. Daí nasceu o culto à Virgem Maria designando-A pelo nome do local onde Ela apareceu: Nossa Senhora de Fátima ou Nossa Senhora de Lourdes, por exemplo. Invocações há que expressam veneração por algum aspecto de sua vida, como Nossa Senhora Menina; ou algum episódio do Evangelho, Nossa Senhora do Des- 1 Cf. PASSOS, CM, Dinarte Duarte. A Imagem da SS. Virgem através da História. Revista Eclesiástica Brasileira, dezembro 1947, v.VII, f.IV, p.868. 2 CAIETANO, apud ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la Perfección Cristiana. 9.ed. Madrid: BAC, 2001, p.89. 3 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, q.25, a.6, ad.4. Gustavo Kralj Mãe de Deus, Imperatriz da China Catedral do Norte, Pequim Revista nº 77 - Outubro de 2009 Revista nº 5 – Abril de 2003 (edição brasileira) Victor Toniolo Mário Shinoda Nossa Senhora de Paris – Capela do Seminário dos Arautos, São Paulo Nossa Senhora do Carmo – Basílica do Carmo, São Paulo Salus Populi Romani Tra Noi, Roma Revista nº 24 - Julho de 2005 Revista nº 78 - Janeiro de 2007 Virgen de la Pera Museu do Prado, Madri Imaculada Conceição Sabará (Brasil) Revista nº 79 - Dezembro de 2009 Revista nº 19 - Dezembro de 2004 Plinio Veas Sérgio Hollmann terro, que evoca a fuga para o Egito. Há também formas de representá-La de acordo com as particulares circunstâncias em que Ela nos ajuda: Nossa Senhora da Pena, inspiradora das artes e das letras; Nossa Senhora dos Mares ou Nossa Senhora da Estrada, protetora dos viajantes. Dezenas são as festas celebradas em honra da Santíssima Virgem ao longo do ano, mas uma delas chama de modo especial a nossa atenção: a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, que a Igreja comemora no dia 1º de janeiro. Assim, o ano se inicia sob Seu olhar e Sua proteção. A Maternidade Divina de Nossa Senhora é tão sublime que A coloca acima de todas as outras criaturas. Pois, segundo a expressão do Cardeal Caietano: “Somente a Bemaventurada Virgem Maria chegou aos confins da divindade por sua própria operação natural, já que concebeu, deu à luz, engendrou e alimentou com Seu leite o próprio Deus”.2 Em vista de tanta sublimidade, ninguém será capaz de exprimir de modo perfeito e acabado — por qualquer tipo de obra artística ou literária — as mil facetas d’Aquela que, segundo São Tomás, tem uma “certa dignidade infinita”.3 Poderá alguém, ao menos, escolher entre várias representações de Nossa Senhora alguma cujo olhar exprima mais adequadamente Aquela que “chegou aos confins da divindade”? Convidamos o caro leitor a fazer a sua escolha... Abril 2010 · Flashes de Fátima 51 J amais teve alguém em seus braços tesouro de igual valor: infinito...! Entretanto, quem foi mais desejosa do que Nossa Senhora de atrair outros para compartilharem de Seu tesouro? Victor Toniolo (Mons. João Scognamiglio Clá Dias, Mater Boni Consilii, pag. 5) “Nossa Senhora do Bom Conselho”, Genazzano - Itália
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