Revista Arautos do Evangelho

Transcrição

Revista Arautos do Evangelho
Número 83
Abril 2010
Primeiros meses da nova
paróquia dos Arautos
SumáriO
Flashes de
Fátima
Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4
......................
Oito anos de história (Editorial) . . . . . . . . . . .
Ano XII  nº 83 - Abril 2010
Conselho de redacção:
Guy Gabriel de Ridder, Juliane
Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto
Blanco Cortés, Mariana Morazzani
Arráiz, Severiano Antonio
de Oliveira
........................
10
www.arautos.pt / www.arautos.org.br
E-mail: [email protected]
Comentário ao Evangelho –
Como Deus nos amou
Assinatura anual: 24 euros
......................
Com a colaboração
da Associação
Privada Internacional de Fiéis
de Direito Pontifício
Arautos do Evangelho
Número 100
Abril 2010
Edição nº
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História para crianças...
Deus ama quem dá com
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Acompanha DVD
Um olhar
com mil facetas
Arautos no mundo
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Tiragem: 40.000 exemplares
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Os santos de
cada dia
Membro da
Associação de Imprensa de
Inspiração Cristã
Aconteceu na Igreja e
no mundo
OS OS DIREITOS RESERV
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Arautos do Evangelho
nº 100 – Júbilo e ação
de graças
A
Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos,
desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redacção. O conteúdo das matérias assinadas
é da responsabilidade dos respectivos autores.
6
Sociedades Virgo Flos
Carmeli e Regina Virginum
- Aprovação definitiva
. . . das
. . . .Constituições
...............
Editor:
Associação dos Custódios de Maria
R. Dr. António Cândido, 16
1050-076 Lisboa
I.C.S./D.R. nº 120.975
Dep. Legal nº 112719/97
Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959
Via L. Einaudi, 12
36040 Brendola (VI)
A palavra dos Pastores –
Homens e obras
providenciais
A voz do Papa –
Voltar ao confessionário
Director:
Manuel Silvio de Abreu Almeida
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5
Boletim da Campanha
“O Meu Imaculado Coração Triunfará!”
Impressão e acabamento:
Pozzoni - Istituto Veneto
de Arti Grafiche S.p.A.
Mártir brasileira
do fim do século XX
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......................
50
E screvem
Artigos sempre profundos
Estimado Mons. João Scognamiglio Clá Dias
Apresento-lhe minhas calorosas
felicitações pelo seu magnífico doutorado em Direito Canônico, com a
tese: A Gênese e o desenvolvimento
do Movimento dos Arautos do Evangelho e seu reconhecimento canônico, com originalidade, cientificidade
e experiência, pela primeira vez pelo
próprio fundador.
Com a tese de seu fundador e
de todos os que vão se doutorar, os
Arautos do Evangelho estarão garantindo a fidelidade dos ensinamentos de Cristo à Igreja. É assim
que entendo sua missão. Sou grato
pela revista Arautos do Evangelho,
com artigos sempre profundos.
Com minhas respeitosas saudações
e recomendando-me às suas preces,
subscrevo-me, servo em Cristo.
Dom Pedro Fedalto
Arcebispo emérito de Curitiba – Brasil
Dou graças a Deus
por todos vocês
Recebo com muito agrado a revista, a cada mês. É uma verdadeira alegria ver o que fazem os Arautos em prol de Cristo e da Igreja.
Em suas missões, as pessoas se regozijam com a visita da imagem da
Virgem Maria, participam nas Eucaristias, escutam a Palavra de Deus,
colaboram economicamente para
atender aos mais pobres, etc. Dou
graças a Deus por todos vocês e os
tenho presentes em minhas orações.
Pe. José Vicente Martínez
Valência – Espanha
Doutrina segura e fiel
Sou uma freira Carmelita Descalça e aprecio muitíssimo, assim como
4      Flashes de Fátima · Abril 2010
os leitores
toda a Comunidade, os artigos da revista Arautos do Evangelho, que recebemos todos os meses, por generosidade de sua parte. Aproveito para
lhes agradecer pela doutrina segura
e fiel exposta na revista. Lendo seus
artigos nos sentimos sempre mais
“filhas da Igreja”, como dizia nossa
Santa Madre Teresa de Jesus. N’Ele
e na Virgem de Fátima, as nossas humildes orações e cumprimentos.
Irmã Teresinha, OCD
Carmelo de Teresópolis – Brasil
Grande ajuda espiritual
para a Comunidade
Nossos cumprimentos cordiais,
em nome de nosso Rei, Jesus Sacramentado, desejando-lhes abundantes
graças e bênçãos. Agradecemos o novo Calendário de 2010, que é muito
bonito. Ver a nossa Santíssima Mãe
a cada dia, fortalece e consola, e, sem
dúvida, ajuda a viver na presença de
Deus todos os dias do ano, aumentando nosso amor e abandono em
suas puríssimas mãos. Agradecemos
também pelas revistas que tão generosamente nos enviam, e que são de
grande ajuda espiritual para toda a
Comunidade.
Recomendamo-nos
em suas orações, e rogamos à nossa
Santíssima Mãe que abençoe todos
os seus trabalhos, com abundantes
frutos de santidade.
Madre María de la Santísima Trinidad, OPSS
Superiora do Mosteiro Nossa Senhora de Guadalupe e São José
Colonia Tres Puentes – Chile
Riquíssimo instrumento
de evangelização
O motivo de meu contato é agradecer este riquíssimo instrumento de
evangelização, que é a revista Arautos do Evangelho. Temos a alegria de
recebê-la em nosso lar, desde o primeiro exemplar. E lendo a revista do
mês de janeiro, recebemos a graça de
conhecer um pouco mais do beato
Columba Marmion, pois, por intermédio das irmãs beneditinas do colégio onde estuda nossa filha, conseguimos um exemplar de um de seus
livros citados na matéria, Jesus Cristo: vida da alma. E posso garantir que
estamos aprendendo muito!
Que Deus, fonte de toda santidade, abençoe infinitamente todos vocês, para que esta revista continue
sendo um canal de graças para todos nós! Que Maria Santíssima esteja sempre a guiar os seus passos!
Paula Piveta e família
Presidente Prudente – Brasil
Compêndio de amor e serviço
A revista Arautos do Evangelho
é um compêndio de amor e serviço.
Sua leitura, em geral, é uma delícia
que entusiasma; o primor de seus
artigos e a importância dos temas
nela abordados fazem meditar e refletir sobre a Palavra de Deus. Não
cabe a menor dúvida de que, durante seus oito anos de existência, ela
enriqueceu milhares de almas que
querem conhecer, amar e servir melhor a Deus e Sua Santíssima Mãe,
a Virgem Maria. Só me resta felicitar todos os responsáveis pela edição desta revista tão extraordinária:
direção, conselho de redação, administração, montagem, impressão, articulistas e colaboradores.
José Cascales Albarracín
Múrcia – Espanha
O Evangelho aplicado hoje
Queria parabenizar o autor do artigo sobre a santidade do sacerdote e
a eficácia do apostolado, da edição de
fevereiro último, pois pude confirmar
a tese de que um ministro santo transforma de fato a comunidade a qual
lhe foi confiada. Esta revista é realmente o Evangelho aplicado hoje.
Tiago Tedesco
Viamão – Brasil
Editorial
Oito anos de história
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Algumas atividades na nova Paróquia dos Arautos
do Evangelho
(Fotos: Héctor Mattos / Otávio
de Mello / César Diez)
m janeiro de 2002, quando veio à luz a primeira edição desta revista, os
Arautos do Evangelho aproximavam-se de seu primeiro aniversário como
Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício. Embora já fossem
bastante numerosos e estivessem presentes em vários países, seus membros sentiam que o Espírito Santo convidava-os a ir mais longe — Duc in altum! —, com
novas perspectivas, não só relativamente a números ou métodos de evangelização, mas também no sentido de desabrochar sua própria identidade enquanto instituição, sempre na fidelidade ao seu carisma.
Vislumbravam o que estava por vir? Sim e não. Sim, porque nas almas de muitos arautos sempre houvera um anelo de viver de maneira mais efetiva e institucionalizada sua existência consagrada à Igreja. Não, porque desconheciam os caminhos que tomaria o desenvolvimento de sua vocação.
Muitos deles, como leigos, já tinham se entregado de tal modo ao ideal religioso que optaram pelo celibato e viviam em comunidade, sob a regência de um
responsável. Nas casas masculinas, pouco a pouco, começaram a despertar em
muitos os anseios definidos de seguir as vias do sacerdócio. Concomitantemente, nas femininas, muitas passavam a considerar com seriedade a perspectiva da
vida religiosa.
Depois de um período de discernimento, tornou-se evidente nessas moções de
alma, mais uma vez, a inspiração divina. Com a ajuda da graça de Deus e a orientação de eminentes prelados e sacerdotes, nasceram assim, dentro dos Arautos do
Evangelho, a Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli e a Sociedade Feminina de Vida Apostólica Regina Virginum, uma e outra servindo para dar maior solidez e impulso aos labores dos milhares de associados leigos.
Enquanto isso, a expansão dos Arautos dava-se também em outras direções,
com a fundação de colégios em vários países, do Instituto Teológico São Tomás
de Aquino e do Instituto Filosófico Aristotélico-Tomista; a obtenção de graus de
mestrado e doutorado por muitos dos seus membros; a fundação da TV Arautos;
a criação do Fundo Misericórdia; a propagação, pelos cinco continentes, dos Grupos do Apostolado do Oratório; a inauguração do Seminário e da Casa Generalícia das Irmãs de Regina Virginum.
A revista Arautos do Evangelho acompanhou essa expansão: de uma tiragem
mensal inicial de 20 mil exemplares chegamos a um milhão, com onze edições em
quatro línguas. No decorrer desse tempo, pudemos oferecer aos nossos leitores as
palavras do Papa e de destacados membros da Hierarquia, bem como notícias sobre o que acontece na Igreja, os comentários ao Evangelho, e variados artigos para atender toda uma gama de apetências.
A nossos leitores agradecemos a fidelidade daqueles que estão conosco há
muitos anos, bem como o encorajamento e o entusiasmo que acompanham os
mais recentes. A todos quantos colaboraram para chegarmos até aqui, rogamos
a Jesus, por meio de Maria Santíssima, que lhes conceda abundantes graças. E os
incitamos a continuarmos juntos nesse caminho, trabalhando e rezando pelo crescimento e glorificação da Santa Igreja e pela evangelização de todos os povos. 
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      5
A voz do Papa
Voltar ao confessionário
A “crise” do Sacramento da Penitência, da qual se fala com frequência,
interpela, sobretudo, os sacerdotes e sua grande responsabilidade de
educar o povo de Deus nas radicais exigências do Evangelho.
V
osso curso se realiza, providencialmente, durante o
Ano Sacerdotal, que convoquei por ocasião do 150°
aniversário do nascimento para o
Céu de São João Maria Vianney, que
exerceu de modo heroico e fecundo
o ministério da Reconciliação. Como afirmei na carta de proclamação:
“Todos os sacerdotes devemos considerar como dirigidas pessoalmente a
nós as palavras que ele punha na boca
de Jesus: ‘Encarregarei meus ministros de anunciar aos pecadores que
estou sempre disposto a recebê-los,
que minha misericórdia é infinita’”.
rer à Misericórdia divina para pedir perdão, para converter o coração e para ser sustentado no caminho da santidade são fundamentais
na vida do sacerdote: só quem já experimentou pessoalmente sua grandeza pode ser anunciador e administrador convencido da Misericórdia
de Deus. Todo sacerdote se torna
ministro da Penitência por sua configuração ontológica a Cristo, sumo
e eterno Sacerdote, que reconcilia a
humanidade com o Pai; entretanto,
a fidelidade na administração do Sacramento da Reconciliação é confiada à responsabilidade do presbítero.
Uma intensa dimensão
penitencial pessoal
É preciso voltar ao confessionário
“Nós,
sacerdotes,
podemos
aprender do Santo Cura de Ars não
só uma confiança infinita no Sacramento da Penitência, que nos impulsione a pô-lo no centro de nossas
preocupações pastorais, mas também o método do ‘diálogo da salvação’ que deve se estabelecer nele” (L’Osservatore Romano, edição em língua espanhola, 19 de junho de 2009, p.7). Onde se fixam as
­raízes da heroicidade e fecundidade
com as quais São João Maria Vianney viveu seu ministério de confessor? Antes de tudo numa intensa dimensão penitencial pessoal.
A consciência de sua própria limitação e a necessidade de recor6      Flashes de Fátima · Abril 2010
Vivemos num contexto cultural
marcado pela mentalidade hedonista e relativista, que tende a eliminar Deus do horizonte da vida,
não favorece a aquisição de um quadro claro de valores de referência e
não ajuda a discernir o bem do mal
e a amadurecer um senso correto do
pecado. Essa situação torna ainda
mais urgente o serviço de administradores da Misericórdia divina. […]
Queridos irmãos, é preciso voltar ao confessionário, como lugar no
qual se celebra o Sacramento da Reconciliação, mas também como lugar no qual se “habita” com maior
frequência, para que o fiel possa
encontrar misericórdia, conselho
e consolo, sentir-se amado e com-
preendido por Deus e experimentar a presença da Misericórdia divina, junto com a presença real na Eucaristia.
A “crise” do Sacramento da Penitência, da qual se fala tantas vezes,
interpela, sobretudo, os sacerdotes e
sua grande responsabilidade de educar o povo de Deus nas radicais exigências do Evangelho. Em particular, pede-lhes que se dediquem generosamente a escutar as confissões
sacramentais; que guiem o rebanho
com valentia, para que não se acomode à mentalidade deste mundo
(cf. Rm 12, 2), mas que também saiba tomar decisões contra a opinião
geral, evitando acomodamentos ou
acordos.
Por isso é importante que o sacerdote viva uma tensão ascética permanente, alimentada pela comunhão
com Deus, e se dedique a uma atualização constante no estudo da teologia moral e das ciências humanas.
“Como é grande o amor
de nosso Deus”
São João Maria Vianney sabia
instaurar um verdadeiro “diálogo de
salvação” com os penitentes, mostrando a beleza e a grandeza da bondade do Senhor e suscitando o desejo de Deus e do Céu, do qual os
santos são os primeiros portadores.
Afirmava: “Nosso Deus sabe tudo.
Antes mesmo de você confessar, já
fiou! Assim como, na Celebração
Eucarística, Ele Se põe nas mãos do
sacerdote para continuar presente no
meio de Seu povo, de modo análogo, no Sacramento da Reconciliação,
Ele Se confia ao sacerdote para que
os homens experimentem o abraço
com o qual o pai acolhe o filho pródigo, restituindo-lhe a dignidade filial
e a herança (cf. Lc 15, 11-32). Que a
Virgem Maria e o Santo Cura d’Ars
nos ajudem a experimentar em nossa
vida a largueza, a extensão, a altura e
a profundidade do amor de Deus (cf.
Ef 3, 18-19), para que sejamos administradores fiéis e generosos desse
amor. 
(Excertos do discurso aos
participantes do curso sobre o foro
interno, organizado pela Penitenciaria
Apostólica, 11/3/2010)
L’Osservatore Romano
sabe que vai pecar novamente e, porém, lhe perdoa. Como é grande o
amor de nosso Deus, que chega até
a esquecer voluntariamente o futuro, para nos perdoar!” (Monnin
A., Il Curato d’Ars. Vita di Gian-Battista-Maria Vianney. Torino: 1870,
v.I, p.130).
O sacerdote tem a tarefa de favorecer a experiência do “diálogo
de salvação” que, nascendo da certeza de ser amados por Deus, ajuda
o homem a reconhecer seu pecado
e a introduzir-se, progressivamente, na dinâmica estável de conversão
do coração que leva à renúncia radical ao mal e a uma vida segundo
Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, n.1431).
Queridos sacerdotes, que ministério extraordinário o Senhor nos con-
Bento XVI se preparando para atender
confissões na Basílica de São Pedro, na
Quinta-feira Santa de 2008
O testemunho suscita vocações
Para se promoverem as vocações específicas ao ministério sacerdotal e à
vida consagrada, para se tornar mais forte e incisivo o anúncio vocacional, é
indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio “sim” a Deus.
O
47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que
será celebrado no IV Domingo de Páscoa — Domingo do “Bom Pastor” —, a 25 de
abril de 2010, oferece-me a oportunidade de propor à vossa reflexão um
tema que quadra bem com o Ano Sacerdotal: O testemunho suscita vocações.
De fato, a fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da ação gratuita de Deus,
mas é favorecida também — como
o confirma a experiência pastoral —
pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e comunitário de to-
dos aqueles que já responderam ao
chamamento do Senhor no ministério sacerdotal e na vida consagrada,
pois o seu testemunho pode suscitar
noutras pessoas o desejo de, por sua
vez, corresponder com generosidade ao apelo de Cristo.
Assim, este tema apresenta-se
intimamente ligado com a vida e a
missão dos sacerdotes e dos consagrados. Por isso, desejo convidar todos aqueles que o Senhor chamou
para trabalhar na Sua vinha a renovarem a sua fidelidade de resposta,
sobretudo neste Ano Sacerdotal que
proclamei por ocasião dos 150 anos
de falecimento de São João Maria
Vianney, o Cura d’Ars, modelo sempre atual de presbítero e pároco.
Jesus é a suprema Testemunha
Já no Antigo Testamento os profetas tinham consciência de que
eram chamados a testemunhar com
a sua vida aquilo que anunciavam,
prontos a enfrentar mesmo a incompreensão, a rejeição, a perseguição. A tarefa, que Deus lhes confiara, envolvia-os completamente, como um “fogo ardente” no coração,
impossível de conter (cf. Jr 20, 9), e,
por isso, estavam prontos a entregar
ao Senhor não só a voz, mas todos
os elementos da sua vida.
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      7
Na plenitude dos tempos, será Jesus, o enviado do Pai (cf. Jo 5, 36),
que, através da Sua missão, testemunha o amor de Deus por todos
os homens, sem distinção, com especial atenção pelos últimos, os pecadores, os marginalizados, os pobres. Jesus é a suprema Testemunha
de Deus e da Sua ânsia de que todos
se salvem. Na aurora dos novos tempos, João Batista, com uma vida gasta inteiramente para preparar o caminho a Cristo, testemunha que se
cumprem, no Filho de Maria de Nazaré, as promessas de Deus. Quando O vê chegar ao rio Jordão, onde
estava batizando, João indica-O aos
seus discípulos como “o cordeiro de
Deus, aquele que tira o pecado do
mundo” (Jo 1, 29). O seu testemunho é tão fecundo que dois dos seus
discípulos, “ouvindo o que ele tinha
dito, seguiram Jesus” (Jo 1, 37).
André e Filipe, instrumentos
do chamamento divino
Também a vocação de Pedro, conforme no-la descreve o Evangelista
João, passa pelo testemunho de seu
irmão André; este, após ter encontrado o Mestre e respondido ao Seu convite para permanecer com Ele, logo
sente necessidade de comunicar a Pedro aquilo que descobriu “permanecendo” junto do Senhor: “Encontramos o Messias” (que quer dizer Cristo). E levou-o a Jesus” (Jo 1, 41-42).
O mesmo aconteceu com Natanael — Bartolomeu —, graças ao
testemunho do outro discípulo, Filipe, que cheio de alegria lhe comunica a sua grande descoberta: “Acabamos de encontrar Aquele de quem
escreveu Moisés na Lei e que os
Profetas anunciaram: é Jesus, o filho de José, de Nazaré” (Jo 1, 45).
A iniciativa livre e gratuita de Deus
cruza-se com a responsabilidade humana daqueles que acolhem o seu
convite, e interpela-os para se tornarem, com o próprio testemunho, instrumentos do chamamento divino.
8      Flashes de Fátima · Abril 2010
O mesmo acontece, ainda hoje, na Igreja: Deus serve-Se do testemunho de sacerdotes fiéis à sua
missão, para suscitar novas vocações sacerdotais e religiosas para o
serviço do seu Povo. Por esta razão,
desejo destacar três aspectos da vida do presbítero, que considero essenciais para um testemunho sacerdotal eficaz.
O primeiro testemunho é a oração
Elemento fundamental e comprovado de toda vocação ao sacerdócio e à vida consagrada é a amizade com Cristo. Jesus vivia em constante união com o Pai, e isto suscitava nos discípulos o desejo de viverem a mesma experiência, aprendendo d’Ele a comunhão e o diálogo
incessante com Deus.
Se o sacerdote é o “homem de
Deus”, que pertence a Deus e ajuda
a conhecê-Lo e a amá-Lo, não pode
deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele e permanecer no
Seu amor, reservando tempo para a
escuta da Sua Palavra.
A oração é o primeiro testemunho que suscita vocações. Tal como
o Apóstolo André comunica ao irmão que conheceu o Mestre, assim
também quem quiser ser discípulo e testemunha de Cristo deve têLo “visto” pessoalmente, deve têLo conhecido, deve ter aprendido a
amá-Lo e a permanecer com Ele.
Manifesta-se aqui a misericórdia de Deus em toda a sua plenitude; amor misericordioso que derrotou as trevas do mal, do pecado
e da morte. A figura de Jesus que,
na Última Ceia, Se levanta da mesa,
depõe o manto, pega numa toalha,
ata-a à cintura e Se inclina a lavar os
pés aos Apóstolos, exprime o sentido de serviço e doação que caracterizou toda a Sua vida, por obediência à vontade do Pai (cf. Jo 13, 3-15).
No seguimento de Jesus, cada
pessoa chamada a uma vida de especial consagração deve esforçar-se por
testemunhar o dom total de si mesma a Deus. Daqui brota a capacidade para se dar depois àqueles que a
Providência lhe confia no ministério
pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de fazer-se
companheiro de viagem de muitos irmãos, a fim de que se abram ao encontro com Cristo e a Sua Palavra se
torne luz para o seu caminho.
A história de cada vocação cruza-se quase sempre com o testemunho de um sacerdote que vive jubilosamente a doação de si mesmo aos
irmãos por amor do Reino dos Céus.
É que a presença e a palavra de um
padre são capazes de despertar interrogações e de conduzir mesmo
a decisões definitivas (cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores
dabo vobis, n.39).
Doar-se totalmente a Deus
O exemplo da caridade
e da fraterna cooperação
Outro aspecto da consagração sacerdotal e da vida religiosa é o dom
total de si mesmo a Deus.
Escreve o Apóstolo João: “Nisto conhecemos o amor: Jesus deu a
Sua vida por nós, e nós devemos dar
a vida pelos nossos irmãos” (I Jo 3,
16). Com estas palavras, os discípulos são convidados a entrar na mesma lógica de Jesus que, ao longo de
toda a Sua vida, cumpriu a vontade
do Pai até à entrega suprema de Si
mesmo na Cruz.
Um terceiro aspecto que, enfim,
não pode deixar de caracterizar o sacerdote e a pessoa consagrada é viver
a comunhão. Jesus indicou, como sinal distintivo de quem deseja ser Seu
discípulo, a profunda comunhão no
amor: “É por isto que todos saberão que sois meus discípulos: se vos
amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).
De modo particular, o sacerdote
deve ser um homem de comunhão,
aberto a todos, capaz de fazer caminhar unido todo o rebanho que a bon-
Victor Toniolo
dade do Senhor lhe confiou, ajudando a superar divisões, sanar lacerações, aplanar contrastes e incompreensões, perdoar as ofensas.
Em julho de 2005, no encontro com o Clero de Aosta, afirmei
que os jovens, se virem os sacerdotes isolados e tristes, com certeza não se sentirão encorajados a
seguir o seu exemplo. Levados a
considerar que tal possa ser o futuro de um padre, veem aumentar a sua hesitação. Torna-se importante, pois, realizar a comunhão de vida, que lhes mostre a
beleza de ser sacerdote. Então, o jovem dirá: “Isto pode ser um futuro
também para mim, assim pode-se viver” (Insegnamenti, 2005,v.I, p. 354).
O Concílio Vaticano II, referindo-se ao testemunho capaz de suscitar vocações, destaca o exemplo
de caridade e de fraterna cooperação que devem oferecer os sacerdotes (cf. Decreto Optatam totius, n.2).
As vocações nascem do
contato com os sacerdotes
Apraz-me recordar o que escreveu o meu venerado predecessor
João Paulo II: “A própria vida dos
padres, a sua dedicação incondicional ao rebanho de Deus, o seu testemunho de amoroso serviço ao Senhor e à Sua Igreja — testemunho
assinalado pela opção da Cruz acolhida na esperança e na alegria pascal —, a sua concórdia fraterna e o
seu zelo pela evangelização do mundo são o primeiro e mais persuasivo fator de fecundidade vocacional”
(Pastores dabo vobis, n.41). Poder-seia afirmar que as vocações sacerdotais nascem do contacto com os sacerdotes, como se fossem uma espécie de patrimônio precioso comunicado com a palavra, o exemplo e a
existência inteira.
O Papa cumprimenta a multidão
reunida na Praça de São Pedro, na
Vigília de Pentecostes de 2006
Isto aplica-se também à vida consagrada. A própria existência dos religiosos e religiosas fala do amor de
Cristo, quando O seguem com plena fidelidade ao Evangelho e assumem com alegria os seus critérios de
discernimento e conduta. Tornam-se
“sinais de contradição” para o mundo, cuja lógica frequentemente é
inspirada pelo materialismo, o egoísmo e o individualismo. A sua fidelidade e a força do seu testemunho,
porque se deixam conquistar por
Deus renunciando a si mesmos, continuam a suscitar no ânimo de muitos jovens o desejo de, por sua vez,
seguirem Cristo para sempre, de
modo generoso e total.
Imitar Cristo casto, pobre e obediente e identificar-se com Ele: eis
o ideal da vida consagrada, testemunho do primado absoluto de Deus
na vida e na história dos homens.
Indispensável exemplo dos que
já disseram “sim” a Deus
Fiel à sua vocação, cada presbítero, cada consagrado e cada consagrada transmite a alegria de ser-
vir Cristo, e convida todos os cristãos a responderem à vocação universal à santidade. Assim, para se
promoverem as vocações específicas ao ministério sacerdotal e à vida consagrada, para se tornar mais
forte e incisivo o anúncio vocacional, é indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio
“sim” a Deus e ao projeto de vida
que Ele tem para cada um.
O testemunho pessoal, feito
de opções existenciais e concretas, há de encorajar, por sua vez,
os jovens a tomarem decisões empenhativas que envolvem o próprio
futuro. Para ajudá-los, é necessária
aquela arte do encontro e do diálogo capaz de os iluminar e acompanhar sobretudo através do exemplo
de vida abraçada como vocação. Assim fez o Santo Cura d’Ars, que, no
contacto permanente com os seus
paroquianos, “ensinava sobretudo
com o testemunho da vida. Pelo seu
exemplo, os fiéis aprendiam a rezar”
(Carta de Proclamação do Ano Sacerdotal, 16/6/2009).
Que este Dia Mundial possa oferecer, uma vez mais, preciosa ocasião para muitos jovens refletirem
sobre a própria vocação, abrindose a ela com simplicidade, confiança e plena disponibilidade. A Virgem Maria, Mãe da Igreja, guarde
o mais pequenino gérmen de vocação no coração daqueles que o Senhor chama a segui-Lo mais de perto; faça com que se torne uma árvore frondosa, carregada de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade. Por esta intenção rezo,
enquanto concedo a todos a Bênção
Apostólica. 
(Mensagem para o 47º Dia
Mundial de Oração pelas
Vocações – 25/4/2010)
Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana.
A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      9
Rodrigo Solera
Sociedades Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum
Aprovação
definitiva das
Constituições
Em fevereiro, a Santa Sé aprovou em caráter definitivo as Constituições
das duas Sociedades de Vida Apostólica nascidas no seio dos Arautos
do Evangelho: Virgo Flos Carmeli e Regina Virginum.
“P
Otávio de Mello
elo que me foi dado
fazer pelos Arautos
do Evangelho, posso dizer que não foi
inútil a minha passagem por este Dicastério”. Com estas amáveis e generosas palavras, o Cardeal Franc Rodé, CM, entregou a
Mons. João Scognamiglio Clá Dias
as Constituições definitivas das duas Sociedades de Vida Apostólica
por este fundadas. O ato deu-se em
10      Flashes de Fátima · Abril 2010
20 de fevereiro, nas dependências
da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, da qual
Sua Eminência é o Prefeito.
“Ponto final”, mas
não “fim último”
Durante o cordial encontro, o
ilustre Purpurado não só quis manifestar seu paternal apreço ao fundador e a essas duas Instituições ecle-
siais, como também desejou ressaltar a importância do evento que ali
se realizava, qualificando-o como
“um ponto final” em seu percurso
histórico, mas não um “fim último”,
pois outras figuras jurídicas ainda
poderão originar-se da Associação
Arautos do Evangelho, tal como havia observado Mons. João, em sua
recente tese de doutorado em Direito Canônico. No entanto, não
deixa de ser um ponto final que da-
rá “estabilidade e coesão interna”
às duas Sociedades.
Mons. João, por sua vez, reconheceu a providencialidade de todo
o percurso feito até este momento,
salientando o fato de ter surgido um
guia como Sua Eminência, o Cardeal Rodé, que soube conduzir os
assuntos com maestria e da forma
mais perfeita possível, até chegar à
aprovação definitiva das Constituições. Por isso, reafirmou ele, “a gratidão de todos os membros de nosso Movimento não tem medida, e se
prolongará pela eternidade”.
Com a grandeza e distinção próprias a quem ocupa tão elevado cargo na Cúria Romana, Sua Eminência agradeceu despretensiosamente
ao fundador dos Arautos do Evangelho tudo quanto este já fizera pela Igreja, acrescentando ver nele o
“receptáculo de um magnífico carisma”.
Aprovadas “com
alegria” pelo Papa
A Sociedade Clerical de Vida
Apostólica Virgo Flos Carmeli originou-se a partir do ramo sacerdotal dos Arautos do Evangelho, compartilhando o mesmo carisma. Já
Regina Virginum se constituiu com
os elementos mais dinâmicos do ramo feminino que desejavam, por
meio da vida fraterna em comum,
sob o signo da caridade, melhor viver a espiritualidade e o carisma
próprios.
Em 4 de abril de 2009, ambas sociedades foram aprovadas por Bento XVI, “com um grande senso de
responsabilidade eclesial e com alegria”, afirmou na ocasião o Cardeal
Franc Rodé. “Vemos que seu coração está cheio de júbilo por ter dado
esse passo”, acrescentou.
Nos respectivos decretos pontifícios lê-se que elas nascem como
uma “verdadeira nova militia Christi” pela disciplina de vida dos seus
membros, pelo seu espírito de Fé,
sua entrega a Jesus e Maria, e submissão ao Papa.
As Sociedades
de Vida Apostólica
A institucionalização das Sociedades de Vida Apostólica remonta
ao século XVI.
Tendo reunido em torno de si numerosos discípulos, com os quais
organizou uma família religiosa,
São Filipe Néri pediu a Gregório
XIII autorização para constituir um
novo gênero de associação eclesiás-
tica, regida por uma forma jurídica
distinta das vigentes até aquele momento. Em 1575, pela bula Copiosus
in misericordia Deus, o Papa atendia o pedido do Fundador erigindo
a Congregação do Oratório, cujos
membros não deviam estar vinculados por votos ou promessas mas sim
pelo amor.
De acordo com o último Anuário Pontifício, em 2008 existiam na
Igreja 44 Sociedades de Vida Apostólica: 32 masculinas e 12 femininas.
Uma das mais antigas e numerosas é a dos Padres Lazaristas, fundada por São Vicente de Paulo, hoje
com quase 4 mil membros.
Entre as Sociedades femininas,
destaca-se a das Filhas da Caridade.
Fundada pelo mesmo santo e por
Santa Luísa de Marillac, conta atualmente com 20 mil irmãs consagradas ao serviço dos necessitados.
* * *
A aprovação definitiva, pela Santa Sé, das Constituições de Virgo
Flos Carmeli e de Regina Virginum,
representa decisivo passo no sentido da estabilidade do movimento
dos Arautos do Evangelho, de forma a atravessar os séculos, mantendo íntegro o carisma em sua pureza
original. ²
Com zelo
sempre renovado,
os sacerdotes de
Virgo Flos Carmeli
atendem fiéis
na Catedral da Sé,
em São Paulo
Sérgio Miyazaki
Irmãs de
Regina Virginum
em cortejo de entrada
na capela da respectiva
Casa Generalícia,
em Caieiras,
Grande São Paulo
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      11
Comentário ao Evangelho – Missa da Ceia do Senhor
Como Deus nos amou
Amar aos outros como Deus nos amou! Eis uma das
mais belas formas de preparar-nos para a Eucaristia no
tempo da Páscoa que agora começa. Se assim fizermos,
estaremos imitando, de fato, em nossas vidas, o Divino
Mestre no sublime ato do lava-pés.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – “Deus é amor”
Desfrutando
de perfeita
felicidade em
Si mesmo,
Deus não
necessitava
de nenhum
ser que O
completasse
Um insuperável clímax de plenitude de amor
atinge o Sagrado Coração de Jesus naquelas últimas horas de convívio com os Seus. Transcorrem
ali, naquele histórico recinto, os momentos finais de Sua vida terrena. São os derradeiros episódios que constituem o grande pórtico dos sagrados mistérios da Redenção prestes a realizarem-se. Os inimigos se agitam e se entre-estimulam a perpetrar o mais grave homicídio de todos
os tempos. Encontram-se eles na dependência
de um guia possuído por Satanás, aguardando o
momento propício para agarrar o Messias e conduzi-Lo aos tormentos da Cruz. Não há minuto
a perder, é indispensável o Salvador externar ao
Pai e aos discípulos o transbordante amor a borbulhar no interior de Seu Sagrado Peito.
As primeiras manifestações desse amor já
haviam se dado na própria obra da Criação.
Desfrutando de perfeita felicidade em Si mesmo, desde toda a eternidade, não necessitava
Deus de nenhum ser que O completasse. Entretanto, por amor, quis Ele comunicar Suas infinitas perfeições às criaturas, de maneira que
estas Lhe rendessem a glória extrínseca.1 Com
12      Flashes de Fátima · Abril 2010
especial benevolência, concebeu os Anjos e os
homens à Sua imagem, destinando-os a participar da vida e da natureza divinas, pela Graça.
E eles, seres racionais, encontram sua felicidade em glorificar seu Criador, pois “o mundo foi
criado para a Glória de Deus”.2
A Criação foi, portanto, o início ad extra da
demonstração de Seu amor divino. “Se Deus
produziu as criaturas — afirma São Tomás —
não é porque delas necessite, nem por nenhuma
outra causa exterior, mas por amor de sua bondade”.3 E Royo Marín, citando Chaine, acrescenta: “O amor é o atributo que melhor nos dá
a conhecer a natureza de Deus [...]. É de tal maneira representativo, que São João não o considera como atributo, mas como a expressão da
própria natureza de Deus”.4
Deus caritas est (I Jo 4, 16), e “na história
de amor que a Bíblia nos narra — ensina Bento XVI na encíclica assim intitulada — Ele vem
ao nosso encontro, procura atrair-nos, chegando
até a Última Ceia, até o Coração trespassado na
Cruz, até as aparições do Ressuscitado e as grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos
Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente”.5
“Sagrado Coração de Jesus” - Catedral de Assunção, Paraguai (Foto: Gustavo Kralj)
a  Evangelho  A
“Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que
tinha chegado Sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2 Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. 3 Jesus,
sabendo que o Pai tinha posto tudo em Suas
mãos e que de Deus tinha saído e para Deus
voltava, 4 levantou-Se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5 Derramou água numa bacia e começou
a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os
com a toalha com que estava cingido. 6 Chegou, assim, a Simão Pedro. Pedro disse: ‘Senhor, tu me lavas os pés?’. 7 Respondeu Jesus: ‘Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. 8 Disse-lhe
Pedro: ‘Tu nunca me lavarás os pés!’. Mas
Jesus respondeu: ‘Se Eu não te lavar, não terás parte comigo’. 9 Simão Pedro disse: ‘Senhor, então lava não somente os meus pés,
mas também as mãos e a cabeça’. 10 Jesus
respondeu: ‘Quem já se banhou não precisa
lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos’. 11 Jesus sabia quem O ia entregar; por
isso disse: ‘Nem todos estais limpos’.
12
Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-Se de
novo. E disse aos discípulos: ‘Compreendeis o que acabo de fazer? 13 Vós Me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois
Eu o sou. 14 Portanto, se Eu, o Senhor e
Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15 Dei-vos
o exemplo, para que façais a mesma coisa
que Eu fiz’” (Jo 13, 1-15).
1
Eis algumas considerações que nos levam a
ver no Cenáculo, um símbolo e lição da perfeita Caridade. Na Antiga Lei, o amor não era universal. Limitava-se ao benfeitor, ao amigo, ao
conacional. Ademais, a medida do amor era,
então, o empregado a nós mesmos. A partir de
Cristo, trata-se de um mandamento novo, tal
qual encontramos na aclamação do Evangelho
de hoje: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos
tenho amado” (Jo 15, 12).
II – Cristo faz o papel de servo
“Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia
que tinha chegado Sua hora de passar
deste mundo para o Pai; tendo amado
os Seus que estavam no mundo, amouos até o fim”.
1
Alguns comentaristas afirmam que a expressão “até o fim” significa que Ele amou Seus discípulos até a hora da morte, mas esta interpretação nos parece incompleta. Num plano mais
profundo, as palavras de Jesus refletem o desejo de levar Seu amor pelos homens até um li-
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      13
“Tirou
seu manto
Aquele que,
sendo Deus,
aniquilou-Se
a Si mesmo;
cingiu-Se
com uma
toalha Aquele
que recebeu
a forma
de servo;
derramou
água numa
bacia para
lavar os
pés de Seus
discípulos
Aquele que
verteu Seu
Sangue para
com ele lavar
as manchas
do pecado”
mite inimaginável: “até a perfeição”, escreve Fillion, baseando-se em São João Crisóstomo e vários outros autores.6 O próprio Deus vai
entregar-Se como vítima expiatória. O Inocente imolar-Se-á pelos culpados. Impossível demonstração maior de amor! Neste afeto estamos todos concernidos. Cada um de nós, portanto, foi amado “até o fim”.
Sabendo perfeitamente que iria passar por
todos os inenarráveis tormentos da Paixão, o
Divino Mestre os quis, quase diríamos, com sofreguidão. Assim, começa Ele a Ceia dizendo:
“Há muito que Eu desejei comer esta Páscoa
convosco” (Lc 22, 15).
Era aquele o derradeiro momento de convívio com os Seus. A partir dali, tudo não seria senão sofrimento, humilhação e dor. Por isso Jesus, “cuja ternura para Seus discípulos não conhece limites, vai multiplicar as demonstrações
dela, antes de morrer. A todos os benefícios
com os quais os cumulou, acrescentará novos,
que superam os anteriores. Ele os reservou para
o fim, como seu supremo legado”.7
Judas estava determinado a cometer o crime
“Estavam tomando a ceia. O diabo já
tinha posto no coração de Judas, filho
de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus”.
2
Estava presente Judas Iscariotes, que já resolvera participar do horroroso crime de deicídio. A esse respeito, assim se refere Santo
Agostinho: “Judas tinha já decidido em seu coração ceder às sugestões diabólicas e trair um
Mestre em quem não aprendera a conhecer a
Deus. Viera ao banquete já com essa disposição, como explorador do Pastor, como armador
de insídias ao Salvador, como vendedor do Redentor”.8
São João Crisóstomo nota ter sido intenção do Evangelista “deixar claro que Cristo lavou os pés do homem que havia já decidido traíLo”,9 ressaltando, assim, a paciência e clemência de Jesus. Logo a seguir, porém, aponta como o Discípulo Amado visava também acentuar “a enorme maldade daquele homem, porque
não o levavam a desistir nem o fato de compartilhar a hospitalidade de Cristo, embora fosse
este o mais eficaz freio para a maldade, nem sequer o de que Cristo continuava sendo seu mestre, suportando-o até o último dia”.10
14      Flashes de Fátima · Abril 2010
O Mestre lava os pés dos discípulos
“Jesus, sabendo que o Pai tinha posto
tudo em Suas mãos e que de Deus tinha
saído e para Deus voltava, 4 levantou-Se
da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5 Derramou
água numa bacia e começou a lavar os
pés dos discípulos, enxugando-os com a
toalha com que estava cingido”.
3
Comentando essa afirmação de São João,
“Sabendo que o Pai tinha posto tudo em Suas
mãos”, explicita Santo Agostinho: “Portanto,
também o próprio traidor, pois se não o houvesse tido em suas mãos, não teria podido servir-Se dele à vontade. Estava já, portanto, entregue ao traidor, precisamente ao que desejava entregá-Lo, de modo que quando O entregasse para o mal, saísse de sua traição um bem
que ele ignorava. Sabia muito bem o que estava fazendo por seus amigos esse Senhor que Se
servia pacientemente de seus inimigos”.11
Para entender estes versículos, devemos levar em consideração os costumes orientais de
há dois mil anos, bem distintos dos nossos. Naquele tempo, era praxe, para manifestar deferência, os servos lavarem os pés dos convidados,
com água, perfumes e unguentos, nos banquetes e jantares solenes. Ora, isso jamais era feito pelo próprio anfitrião. Tratava-se de serviço
próprio aos escravos.
Nesta Ceia, quem era o Anfitrião? Nada mais nada menos que o próprio Deus feito homem. Aquele em cujas mãos “o Pai tinha
posto tudo” e que “de Deus tinha saído e para
Deus voltava”, vai fazer papel de servo, lavando os pés dos que O reverenciavam como Mestre e Senhor. Belamente interpreta os pormenores desta cena o gênio de Santo Agostinho,
ao afirmar: “Tirou Seu manto Aquele que, sendo Deus, aniquilou-Se a Si mesmo; cingiu-Se
com uma toalha Aquele que recebeu a forma
de servo; derramou água numa bacia para lavar os pés de Seus discípulos Aquele que verteu Seu Sangue para com ele lavar as manchas
do pecado”.12
Gesto tão inusitado não podia deixar de
causar perplexidade nos Apóstolos, como bem
comenta o mesmo santo: “Quem não se encheria de estupor se o Filho de Deus lhe lavasse
os pés?”.13
Cristo dava em tudo prioridade a Pedro
6
“Chegou, assim, a Simão Pedro”.
Sergio Hollmann
Alguns comentaristas antigos — como Orígenes, Leôncio, Crisóstomo, Teofilacto e Eutímio — opinam que Nosso Senhor começou por
lavar os pés de Judas “para pagar ao traidor o
mal com o bem e comovê-lo por meio de um benefício singular, bem como advertir-nos de que
devemos agir semelhantemente com nossos inimigos”.14
Mas Santo Agostinho, São Beda e muitos
outros autores afirmam ter Ele começado por
Pedro. “Primeiro, porque é certo que em tudo
Cristo dava prioridade a Pedro, como cabeça
dos demais Apóstolos; segundo, por não se poder acreditar que os outros Apóstolos não protestassem caso Cristo começasse por eles”.15
Nunca devemos rejeitar uma Graça
“Pedro disse: ‘Senhor, tu me lavas os
pés?’. 7 Respondeu Jesus: ‘Agora, não
entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. 8 Disse-lhe Pedro:
‘Tu nunca me lavarás os pés!’. Mas Jesus respondeu: ‘Se Eu não te lavar, não
terás parte comigo’. 9 Simão Pedro disse: ‘Senhor, então lava não somente os
meus pés, mas também as mãos e a cabeça’. 10 Jesus respondeu: ‘Quem já se
banhou não precisa lavar senão os pés,
porque já está todo limpo. Também vós
estais limpos, mas não todos’”.
6
Ao ver Cristo Se aproximar para lavar-lhe os
pés, São Pedro, sempre impulsivo, teve um verdadeiro sobressalto. Como os demais Apóstolos, não podia compreender naquele momento a transcendência do gesto do Divino Mestre.
Mas Nosso Senhor lhe adverte que se não o permitisse, não teria parte com Ele.
Podemos imaginar o que deve ter sido sentir os próprios pés sendo lavados pela Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade! Não terá ele experimentado também, à medida que as sagradas
e adorabilíssimas mãos de Jesus retiravam a poeira do caminho, que todos os passos dados por
esses pés, que não foram bons, ou foram quiçá
pecaminosos, estavam sendo perdoados e uma
alvura divina penetrava em sua alma?
E nós? Se quisermos ter parte com Jesus,
devemos pedir, como São Pedro, a Graça de
O exemplo do Príncipe dos Apóstolos
ensina-nos a ter em relação a Jesus uma atitude de
total aceitação, nunca rejeitando uma Graça
“Jesus lava os pés de São Pedro” - Coro da Catedral
de Notre Dame, Paris
sermos purificados por inteiro, ou seja, que o
preciosíssimo Sangue do Redentor limpe todas as nossas faltas. Pois, como sublinha Maldonado, “na pessoa de Pedro, o Senhor fala a
todo o gênero humano, e nos ensina que ninguém terá parte com Ele se não se deixar lavar por Ele. Com efeito, quem poderá salvarse sem ser lavado e purificado pelo Sangue de
Jesus?”.16
Ora, o exemplo do Príncipe dos Apóstolos
ensina-nos também que, para participarmos do
Divino Banquete, precisamos ter em relação a
Jesus uma atitude de total aceitação, nunca rejeitando alguma graça que Ele queira nos conceder, por mais inexplicável, ou até imerecida,
que ela nos possa parecer. A esse respeito, sublinha um piedoso comentarista: “Quão importante é não se opor à vontade de Deus nem à
dos superiores que O representam, mesmo sob
o falacioso pretexto da piedade ou da humildade! São Basílio tira desta passagem do Evangelho duas regras de conduta cheias de sabedoAbril 2010 · Flashes
Podemos
imaginar o
que deve ter
sido sentir os
próprios pés
sendo lavados
pela Segunda
Pessoa da
Santíssima
Trindade!
de Fátima      15
Sergio Hollmann
Pelo
discernimento
dos espíritos,
que possuía
em sumo
grau, Jesus
penetrava na
alma de Judas
e via aquela
determinação
horrorosa.
Apesar disso,
ajoelhou-Se
diante dele
e lavoulhe os pés
ria: desagrada a Deus quem se opõe à sua vontade, mesmo se o faz com boa intenção; devese aceitar com a maior docilidade possível tudo
quanto quer o Senhor”.17 Santo Agostinho assim comenta o diálogo entre o Salvador e Pedro: “‘Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás’. Assustado pela profundidade daquela ação do Senhor, não
permite que se lhe faça aquilo cujo motivo ignora; não pode ver, não pode resistir a Cristo
humilhado aos seus pés. ‘Tu nunca me lavarás
os pés!’.
“‘Se Eu não te lavar, não terás parte comigo.’ Então, angustiado entre o amor e o temor, e mais inquieto por ser negado por Cristo do que por vê-Lo assim humilhado, replicou: ‘Senhor, então lava não somente os
meus pés, mas também as mãos e a cabeça’.
Se assim ameaças, aqui tens meus membros e,
além de não tirar o mais baixo, entrego-Te o
mais alto”.18
Quanto ao simbolismo do gesto de lavar a cabeça e as mãos, lembremos ainda o comentário do grande São Bernardo: “Está lavado quem
não tem pecados graves; aquele cuja cabeça,
isto é, sua intenção, e cujas mãos, ou seja, sua
conduta e suas obras, estão limpas”.19
Entretanto, nem todos estavam limpos para
o Banquete Eucarístico que iria, em seguida, se
realizar.
Eis o que a esse propósito nos diz ­Luís de
Granada: “Contempla, pois, nesta Ceia, ó minha alma, teu doce e benigno Jesus, e observa o
exemplo de inestimável humildade que Ele aqui
te dá, levantando-Se da mesa e lavando os pés
de Seus discípulos. Ó bom Jesus, o que fazes?!
Ó doce Jesus, por que tanto Se humilha tua majestade?! O que sentirias, minha alma, se visses
Deus ali ajoelhado aos pés dos homens, aos pés
de Judas? Oh, cruel, como não se abranda teu
coração ante tão grande humildade? Como tamanha mansidão não é capaz de partir tuas entranhas? É possível que tenhas decidido vender
esse mansíssimo Cordeiro? É possível que esse
exemplo não te cause agora compunção?”.20
Também nós devemos estar dispostos
a fazer o papel de servo
“Jesus sabia quem O ia entregar; por
isso disse: ‘Nem todos estais limpos’”.
11
Está claramente afirmado neste versículo que todos, menos um, estavam na graça de
Deus. Um ali era traidor, mas, mesmo a este,
Jesus estava disposto a perdoar! Daí esta insinuação, que era, como bem a propósito sublinha o padre Truyols, “uma delicada alusão a Judas, um último convite do Bom Pastor à ovelha
desgarrada”.21 Se, naquele momento, ele tivesse
tido pelo menos um movimento de alma de arrependimento, e pedido interiormente perdão,
sua história teria sido outra. “Como, porém, estava já muito endurecido no mal, permaneceu
insensível à advertência”, observa Fillion.22
Desde toda a eternidade tinha visto Nosso
Senhor essa recusa de Judas, e naquele momento estava comprovando-a enquanto homem. Pelo discernimento dos espíritos, que possuía em
sumo grau, penetrava na alma do traidor e via
aquela determinação horrorosa. Apesar disso,
ajoelhou-Se diante dele e lavou-lhe os pés.
Todos, menos um, estavam na graça
de Deus. Um ali era traidor, mas,
mesmo a este, Jesus estava disposto
a perdoar!
“Judas recebe o pagamento pela
sua traição”, por Giotto di Bondone Cappella degli Scrovegni, Pádua, Itália
16      Flashes de Fátima · Abril 2010
Jesus nos deu essa lição para compreendermos quanto Ele nos ama e até que ponto deseja perdoar a todos e a cada um. Mas também para nos ensinar a suportar todas as misérias, dificuldades e contratempos causados pelo convívio humano. Comenta, com muito senso psicológico, São Bernardo: “Vós talvez enrubesceríeis
por imitar a humildade de um homem; imitai pelo menos a humildade de um Deus, pois aqui está o que torna a humildade tão recomendável”.23
Por mais que possamos encontrar dificuldades temperamentais ou inconveniências no relacionamento com os outros, devemos imitar
Jesus, tratando cada um de nossos irmãos como
Ele tratou Judas no lava-pés.
As relações humanas podem ser, no princípio, repletas de alegria e de suavidade, mas logo
depois costumam aparecer os percalços, as rusgas, as dificuldades. São as contingências deste vale de lágrimas. Nesses momentos, devemos lembrar-nos da Santa Ceia, estando dispostos a fazer o papel de servo uns em relação aos
outros, a perdoar o irmão a ponto de esquecer
qualquer desgosto que nos tenha dado; em suma, a estimá-lo como se víssemos nele a própria
figura de Jesus.
Figura da caridade fraterna
“Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-Se
de novo. E disse aos discípulos: ‘Compreendeis o que acabo de fazer? 13 Vós
Me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois Eu o sou. 14 Portanto, se
Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés,
também vós deveis lavar os pés uns dos
outros. 15 Dei-vos o exemplo, para que
façais a mesma coisa que Eu fiz’”.
12
Santo Agostinho, com seu voo de águia nos
céus da teologia e da piedade, nos deixou esta
bela consideração a respeito dos presentes versículos: “Ó bem-aventurado São Pedro! Isso é
o que ignoravas quando não permitias que te
lavasse; isso é o que teu Senhor e Mestre prometeu que haverias de saber depois, quando
te assustou para que Lhe permitisses lavar-te.
Aprendamos, irmãos, a humildade do Altíssimo; façamos uns aos outros, humildes, o que o
Altíssimo fez humildemente. Grande é este sermão sobre a humildade. Alguns irmãos o põem
em prática com obras visíveis, quando recebem
outros hospitaleiramente, conservando esses
costumes humildes (I Tm 5, 10). Contudo, onde
não mais existem esses costumes, os santos executam com o coração aquilo que não fazem com
as mãos, se realmente podem ser contados no
número daqueles dos quais diz o hino dos três
santos varões: ‘Santos e humildes de coração,
bendizei o Senhor’” (Dn 3, 87).24
A afirmação de Nosso Senhor nesse versículo 13 — “Eu o sou” — evoca poderosamente o
“Eu sou Aquele que é”, do Antigo Testamento,
bem como a resposta com a qual Ele prostrará
por terra os soldados, no Horto das Oliveiras:
“Ego sum – Sou Eu” (Jo 18, 5).
Cristo faz o papel de servo, salienta Fillion,
“com pleno conhecimento e convicção de Sua
divindade”.25 Sabia que “o Pai tinha posto tudo
em Suas mãos” e — como bem pondera o padre Truyols — “tendo perfeita consciência do
ilimitado poder que o Pai lhe conferira, de ter
sido engendrado pelo mesmo Pai e de que brevemente subiria aos Céus para sentar-Se à Sua
direita, apesar de conhecer muito bem esta Sua
excelsa grandeza e infinita dignidade, quis Jesus
abaixar-Se a ponto de lavar os pés de Seus discípulos”.26
Esclarece o mesmo Fillion: “Claro que Jesus
não tencionava fazer do lava-pés uma instituição durável e um rito obrigatório; Seu ato era,
antes de tudo, figura da caridade fraterna que
os cristãos devem exercer mutuamente”.27 Na
mesma linha, observa o Cardeal Gomá: “Jesus
nos apresenta a espécie como gênero, um caso
particular como lei geral: pelo lava-pés, devemos entender todos os exemplos de humildade
e de caridade”.28
A lição dada por Nosso Senhor representava uma monumental quebra dos padrões vigentes. Ele queria dar o exemplo de quanto devemos
nos interessar pelos outros, sobretudo no que diz
respeito à salvação da alma, preocupando-nos
de que cada um dos nossos irmãos progrida cada vez mais na vida espiritual, tal como pondera, de modo admirável, Santo Agostinho: “Além
dessas considerações morais, podemos entender
que o Senhor nos recomenda lavar-nos uns aos
outros — purificando nossos afetos — esses pecados que aderem a nós quando caminhamos pelo mundo. Como será isso? Podemos acaso dizer
que alguém tem possibilidade de limpar seu irmão do contágio dos delitos? Claro que sim! E
Abril 2010 · Flashes
Nosso Senhor
nos deu essa
lição para
compreendermos quanto
Ele nos ama,
mas também para
nos ensinar a
suportar todas
as misérias,
dificuldades
e contratempos causados
pelo convívio
humano
de Fátima      17
Quem
participa
do Sagrado
Banquete
sem ter pelos
seus irmãos
esse amor
do qual nos
deu exemplo
Nosso Senhor,
está ainda,
por assim
dizer, com “os
pés sujos”
disso somos advertidos também por esses assombrosos atos do Senhor, ou seja, que, confessando-nos mutuamente nossos delitos, oremos por
nós como Cristo intercede por nós (cf. Rm 8, 34).
Ouçamos o Apóstolo São Tiago que nos ordena
isso, dizendo com toda clareza: ‘Confessai mutuamente vossos pecados e orai uns pelos outros
para serdes salvos’ (Tg 5, 16). […]
“Portanto, perdoemo-nos mutuamente nossos
pecados, oremos mutuamente por nossos delitos,
e assim, de certo modo, nos lavaremos os pés uns
aos outros. A nós cabe, por sua Graça, esse ministério da caridade e da humildade, enquanto a
Ele corresponde escutar-nos e limpar-nos de toda
mancha de pecado, por Cristo e em Cristo, para
que aquilo que perdoemos, isto é, aquilo que desliguemos na terra, seja desligado no Céu’”.29
III - Preparação para a Eucaristia
A instituição da Eucaristia sucedeu imediatamente ao lava-pés, com o qual tem ela íntima
relação. “Cristo executou tal ação ou cerimônia com o objetivo de ensinar, por meio desse
simbolismo externo, que os homens não devem
aproximar-se da sacrossanta e divina Eucaristia
impuros e manchados”, afirma Maldonado.30
A Eucaristia é um Sacramento insuperável,
porque não há outro cuja substância seja o próprio Deus. No Batismo, que nos abre as portas
para a participação da vida divina, Nosso Senhor
Jesus Cristo está como Autor, não como substân-
1
Cf. ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la Perfección Cristiana. Madrid: BAC,
2001, p.48.
2
Catecismo da Igreja Católica,
n.293.
3
SÃO TOMÁS DE AQUINO.
Suma Teológica, I, q.32, a.1,
ad 3. Consideremos também
que Deus tinha possibilidade
de criar infinitos seres humanos e angélicos. Foi, portanto, um ato de amor, de eleição, que O levou a criar cada
um de nós.
4
CHAINE, apud ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología
18      Flashes de Fátima · Abril 2010
cia. Mas no Sacramento da Eucaristia, Ele está
como Autor e como Substância, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Essa é a principal razão
pela qual São Tomás a considera o mais importante dos Sacramentos, em termos absolutos.31
Na Sagrada Hóstia, o Criador Se doa à criatura e, ao mesmo tempo, assume-a e transforma, tornando-a mais semelhante a Ele. E, se
ela corresponde ao seu amor, estabelece com
ela uma “comunhão de vontade” que, conforme ensina o Papa Bento XVI, “cresce em comunhão de pensamento e sentimento”.
Logo adiante, esclarece o Pontífice como
daí floresce o amor ao próximo: “Revela-se, assim, como possível o amor ao próximo no sentido enunciado por Jesus, na Bíblia. Consiste precisamente no fato de que eu amo, em Deus e
com Deus, a pessoa que não me agrada ou que
nem conheço sequer. Isto só é possível realizarse a partir do encontro íntimo com Deus, um
encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente
com os meus olhos e sentimentos, mas segundo
a perspectiva de Jesus Cristo”.32
Quem participa do Sagrado Banquete sem
ter pelos seus irmãos esse amor do qual nos
deu exemplo Nosso Senhor, está ainda, por assim dizer, com “os pés sujos”. Mas quando nos
aproximamos da Mesa Eucarística tão cheios de
preocupação pelos outros quanto por nós mesmos, ou até mais ainda, agradamos a Deus de
lio de San Juan/III (61-88).
Madrid: Ciudad Nueva, s/d.
p.104.
de la caridad. Madrid: BAC,
1963, p.6.
5
6
7
BENTO XVI, Deus Caritas
est, n.17.
Cf. FILLION, Louis-Claude.
La sainte Bible commentée.
Paris: Letouzey, 1912, t.VII,
p.556.
Explication des Évangiles.
Hong-Kong: Imprimerie de
la Société des Mission-Étrangères, 1940, t.II, p. 296.
8
SANTO AGOSTINHO. In
Evangelium Ioannis, tr. 55, 4:
PL 35, 1786.
9
SAN JUAN CRISÓSTOMO.
Homilías sobre el Evange-
10
Idem, ibidem.
11
SANTO AGOSTINHO. Op.
cit., tr. 55, 5: PL 35, 1786.
12
SAN AGUSTÍN, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO.
Catena aurea.
SANTO AGOSTINHO. In
Evangelium Ioannis, tr. 56, 1:
PL 35, 1787.
13
14
MALDONADO, SJ, Juan
de. Comentarios a los cuatro Evangelios – III Evangelio
de San Juan. Madrid: BAC,
1954, p.753.
Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana
Na Sagrada Hóstia, o Criador Se doa à criatura e, ao mesmo tempo, assume-a e transforma, tornando-a
mais semelhante a Ele. E, se ela corresponde ao Seu amor, estabelece com ela uma “comunhão de vontade”.
“A última ceia”, por Fra Angélico - Afresco do Museu de São Marcos, Florença
tal forma que Ele derrama sobre nossas almas
abundantíssimas e renovadas Graças.
Amar aos outros como Deus nos amou! Eis
uma das mais belas formas de preparar-se para a Eucaristia no tempo da Páscoa que agora começa. Se assim fizermos, estaremos imi-
15
Idem, p.754.
16
Idem, p.758.
17
18
19
20
21
Explication des Évangiles.
Hong-Kong: Imprimerie de
la Société des Mission-Étrangères, 1940, t.II, p.301.
SANTO AGOSTINHO. Op.
cit., tr. 56, 2: PL 34, 1788.
tro Señor Jesucristo. Madrid:
BAC, 1954, p.577.
22
23
SAN BERNARDO. Obras
completas. Madrid: BAC,
1953, v.I, p.496.
LUIS DE GRANADA. Obra
selecta c. 26 p. 811 Oración y
meditación p. 1ª c. 3.
FERNÁNDEZ TRUYOLS,
SJ, Andrés. Vida de Nues-
tando, de fato, em nossas vidas, o Divino Mestre no sublime ato do lava-pés. E ninguém melhor para interceder por nós e promover a limpeza de nossas almas para acercar-nos do Pão
dos Anjos, do que Maria Santíssima. Recorramos a Ela, sempre.
24
FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Pasión, Muerte y Resurrección. Madrid: Rialp, s/d.,
v.III, p.111.
SÃO BERNARDO apud Explication des Évangiles. HongKong: Imprimerie de la Société des Mission Étrangères,
1940, t.II, p. 305.
SANTO AGOSTINHO, op.
cit., tr. 58, 4. PL 35, 1794.
25
FILLION, op. cit., p.110.
26
FERNÁNDEZ TRUYOLS,
SJ, op. cit., p.576.
27
FILLION, op. cit., p.112.
28
GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El
Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.IV,
p.179.
29
SANTO AGOSTINHO, op.
cit., tr. 58, 5. PL 35, 1794.
30
MALDONADO, SJ, op. cit.,
p.747-748.
31
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, III, q.
65, a. 3.
32
BENTO XVI, Deus Caritas
est, n.18.
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      19
Maria,
Esposa do
Divino
Espírito Santo
Número 7 - Julho 2002
Jovens,
sejam santos!
A revista Arautos do Evangelho atinge o 100º numero
Júbilo e ação
de graças
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    
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Divulgar por todo o mundo a mensagem de fé e
de esperança do Evangelho, como eco fidelíssimo
da Cátedra de Pedro — eis o objetivo da revista
Arautos do Evangelho, que comemora seu
centésimo número.
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Número 20
Agosto 2003
 
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Número 21
Setembro 2003
O repouso operante
   
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Número 24
Dezembro 2003
Número 23
Novembro 2003
Número 22
Outubro 2003
a inocência
contempla
A INOCÊNCIA
Número 26
Fe v e r e i r o 2 0 0 4
Número 25
Janeiro 2004
Número 27
Março 2004
Elas recebem a
bênção do Papa
Patriarca
da Igreja
Número 28
Abril 2004
Número 30
Junho 2004
Número 29
Maio 2004
III Aniversário
“Ide e evangelizai
todas as nações”
Irmã Carmela Werner Ferreira, EP
    
artindo de uma ampla
perspectiva, o Concílio
Vaticano II deitou especial atenção aos novos
métodos que o progresso técnico disponibilizava para a missão evangelizadora da Igreja. Abria-se no século
XX, inegavelmente, uma nova etapa
para os meios de comunicação, e era
preciso concentrar os esforços num
mesmo rumo: valer-se dos modernos
recursos para expandir a Fé.
Dentre estes, a imprensa possui
grande importância. Todos sabemos
o quanto ela avultou-se no decorrer
do último século, assumindo proporções não imaginadas sequer pelos espíritos mais ousados da época
precedente. Sendo embora um meio
de comunicação já “veterano”, não
perdeu sua atualidade; pelo contrário, adquiriu maior importância, e
expoentes como São Maximiliano
Kolbe e o Beato Tiago Alberione
compreenderam-no bem.
Com efeito, “os católicos são convidados a ler regularmente publicações católicas, contanto que dignas
deste nome, não somente para colherem informações religiosas, mas
também para, através dos comentários lidos, olharem os acontecimentos do mundo com uma mentalidade
cristã”, incentiva o decreto conciliar
Communio et Progressio.1
Mas a imprensa cristã desempenha também relevante papel missionário. Para exercê-lo, Dom Claudio María Celli, Presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais,
afirma ser necessário pensarmos “na
forma como podemos, em nossos campos específicos de ação, favorecer a
que os leitores, ouvintes, telespectadores, usuários..., encontrem Jesus Cristo
naquilo que comunicamos”.2
Número 80
Janeiro 2010
Na glória
O Rosário
e a Paz
Ano VIII
50º aniversário
Et super hanc Petram
Ano XI
Nº 41 - Outubro 2006
dos
altares
Nº 73 - Junho 2009
Ano XI
Nº 72 - Maio 2009
Há 6 anos “Flashes de Fátima” publica os artigos da Revista “Arautos do Evangelho”
e outros temas de interesse da Igreja de Portugal
Onze edições em quatro línguas
Em conformidade com esse espírito, e desejando unir seus esforços
aos das demais publicações católicas, a Associação Arautos do Evangelho trouxe a lume em janeiro de
2002 a primeira edição da revista
cujo centésimo número o leitor tem
agora em mãos.
Diversas necessidades motivaram esse passo, das quais a primeira não poderia deixar de ser a difusão do Evangelho, segundo o carisma específico dos Arautos. Mas, de
outro lado, o crescimento da Instituição exigia um prolongamento de
sua presença junto às centenas de
milhares de amigos, benfeitores e
simpatizantes desejosos de conhecer melhor a espiritualidade, objetivos e métodos de atuação deste
novo movimento nascido na Igreja.
Pesou, por fim, para o lançamento
de nossa revista, a apetência de formação cultural e doutrinária manifestada pelas pessoas com os quais
os missionários Arautos entravam
em contato.
Sob o olhar maternal e auspício
da Santíssima Virgem, muito cresceu a revista Arautos do Evangelho
nestes cem meses: partindo dos modestos 20 mil exemplares iniciais,
conta hoje com onze edições em
quatro línguas — português, espanhol, italiano e inglês —, totalizando cerca de um milhão de exemplares de tiragem mensal.
Naqueles primeiros momentos,
não era possível imaginar os frutos evangelizadores da nova publicação, nem a multiplicidade de formas com que ela seria aproveitada. A revista Arautos do Evangelho
tem servido de subsídio para catequistas e professores, inclusive universitários, além de inspiração para
teses de graduação e mestrado em
diversas áreas. Sacerdotes aproveitam seus artigos, especialmente os
comentários ao Evangelho, para a
pregação. Religiosas de clausura os
utilizam para fazer a meditação individual. E incontáveis fiéis declaram-se afervorados e confirmados
na Fé com sua leitura.
A revista, segundo seus leitores
A voz mais abalizada para pronunciar-se a respeito de Arautos do
Evangelho, sem dúvida, é a de seus
leitores, muitos dos quais a acompanham desde os primórdios. Deles
recebemos continuamente comentários provenientes dos mais variados
quadrantes da Terra, sendo frequen-
tes testemunhos como este: “Hoje a
revista faz parte da nossa vida”.
Dom Pietro Sambi, Núncio
Apostólico nos Estados Unidos,
ressaltou a conveniência de Arautos do Evangelho para melhor compreensão da vida eclesial: “As matérias nela apresentadas são oportunas e informativas, conduzindo-nos
a uma experiência e uma perspectiva cada vez mais amplas e profundas da vida da Igreja e dos seus ensinamentos”. Do silencioso claustro beneditino de Fontgombault, na
França, escreve um monge: “Eis um
método simples e eficaz de evangelização, se permanecerem fiéis às
atuais características que esta revista católica se propõe”. E um pároco
de Londres interpretou com agudeza um dos nossos principais anseios: “O que nela mais impressiona talvez seja o senso de Fé na Igreja — suave, mas ao mesmo tempo
sólido como uma rocha — que motiva cada artigo”.
Entretanto, nenhum estímulo pode ser mais encorajador que o de
servir de instrumento da graça de
Deus para reconduzir ao redil do
Bom Pastor alguma ovelha tresmalhada. Do Uruguai, recebemos este
relato: “Em certo sentido, a leitura
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      21
da revista mudou a minha vida: posso dizer que há um ‘antes’ e um ‘depois’ de havê-la conhecido. Eu estava um tanto afastado da Igreja e
da Religião, mas o primeiro exemplar que vi foi para mim uma grata
e inesquecível surpresa. Recebi um
impacto salutar. E desde então tenho frequentado a Missa dominical com minha esposa e filhos, inclusive os mais novos. Posso afirmar
que esta revista foi um instrumento
da Providência para minha segunda
conversão”.
nossa revista, revelando-se um manancial de graças para o público.
De um sacerdote, chegou-nos o seguinte depoimento: “Fez-me muito
bem um artigo no qual o Papa trata da importância da exegese e da
Teologia na preparação das homilias. Deus é grande e nos ama muito, e neste gesto em concreto vejo
o amor d’Ele por mim, pois me iluminou a retomar o caminho de preparar bem as homilias, em clima de
oração, e não só com meus conhecimentos”.
“O cristão é naturalmente
um teólogo”
Aprofundando a Palavra de Deus
É da lavra do padre Giovanni
Battista Mondin, renomado tomista da atualidade, uma fina apreciação antropológica: assim como o
homem é naturalmente um filósofo, o cristão é naturalmente um teólogo.3 De fato, embora poucos dentre os batizados atinjam o grau de
especialista nos assuntos de doutrina sagrada, existe na alma de todos
uma apetência que clama por conhecer as profundas raízes de nossa Fé.
Essas considerações explicam o
interesse dos leitores pelas seções
A voz do Papa, Palavra dos Pastores, Comentário ao Evangelho e outros artigos elaborados por sacerdotes Arautos.
Desde o início, uma esmerada
seleção mensal dos documentos publicados por João Paulo II e Bento
XVI foi estampada nas páginas de
Número 32
Agosto 2004
Número 31
Julho 2004
Número 33
Setembro 2004
No decorrer desses cem meses, Mons. João Scognamiglio Clá
Dias valeu-se de seus dotes de escritor, exegeta e mestre espiritual para conduzir o leitor ao coração do
Evangelho, para melhor ouvir a voz
do Divino Mestre.
O testemunho de uma leitora de
Montevidéu sintetiza a opinião de
numerosas pessoas que se manifestaram no mesmo sentido: “A seção
que mais me atrai é o Comentário ao
Evangelho, escrito pelo Mons. João
Scognamiglio Clá Dias. O Evangelho, todos sabemos, é sempre o mesmo, mas o Mons. João dá um enfoque original para cada trecho que
comenta. Estamos necessitados, em
nossos atribulados dias, de pregadores como ele, que tirem proveito
da Palavra de Deus, a expliquem de
modo atraente e nos convidem a pôr
em prática os ensinamentos imperecedouros de Jesus”.
Número 34
Outubro 2004
Número 35
Novembro 2004
Portugal
Número 51
Março 2006
III Congresso
Internacional
do setor
feminino
Número 52
Abril 2006
Também os diversos carismas suscitados pelo Espírito Santo constituem um tema de relevante interesse para toda a Igreja, pois através das variadas formas de ministério eclesial, refulge o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo, em cujo serviço somos “um só coração e uma só
alma” (At 4, 32). Por isso foi sempre
ponto de honra para nossa revista
valorizar o empenho de todas as instituições eclesiais pela expansão do
Reino de Deus.
Um seminarista espanhol assim o
faz notar: “É uma publicação em comunhão com a Igreja, com o Papa e
o Magistério Eclesiástico, e aberta
aos carismas das demais congregações, movimentos e associações”. E
uma leitora de São Paulo, edificada
pela imensa gama de atuações desenvolvidas no orbe católico, exclamou: “Esta revista permite conhecer outras ordens e o que pensam.
Como é fascinante a vida da Igreja
Católica!”.
2002 – Um acontecimento
de magna importância
para a vida eclesial
Dedicar-se à imprensa religiosa significa, desde logo, contemplar
com olhos sobrenaturais o desenrolar dos acontecimentos na Igreja,
no mundo e no próprio seio da instituição, sem deixar-se submergir pelos aspectos meramente humanos e
concretos. Foi o que procurou fazer
a revista Arautos do Evangelho ao
Número 37
Janeiro 2005
Número 38
Fevereiro 2005
Cristo
Rei!
conservará a fé!
Peregrinando em Fátima
Número 36
Dezembro 2004
Espírito de comunhão eclesial
Número 53
Maio 2006
O que é mais:
amar ou entender?
22      Flashes de Fátima · Abril 2010
Número 40
Abril 2005
FOI MEU REFÚGIO E CAMINHO
O IMACULADO
CORAÇÃO
FOI MEU REFÚGIO E CAMINHO
No que consiste
a esmola?
Número 54
Junho 2006
Número 39
Março 2005
O IMACULADO CORAÇÃO
O mais misterioso
nascimento!
Número 55
Julho 2006
II Congresso Mundial
dos Movimentos Eclesiais
Número 56
Agosto 2006
JOÃO BATISTA
E A RESTITUIÇÃO
Número 57
Setembro 2006
Da
família à
santiDaDe
Em meio à calamidade
Maternal sorriso
de Maria
Número 58 - Outubro 2006
Ave Crux,
SpeS uniCA!
O Rosário
e a Paz
Número 59
Novembro 2006
A irresistível e
suave força
da santidade
Número 60
Dezembro 2006
Lux in
tenebris lucet
longo de seus mais de oito anos de
existência.
Iniciada em janeiro de 2002, já
no número de abril desse ano teve
a imensa alegria de noticiar um fato histórico para a Igreja do Brasil:
a canonização de sua primeira santa, Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus.
Em 15 de agosto, 19 integrantes do setor feminino dos Arautos fizeram a consagração a Nossa Senhora e foram revestidas, pela primeira vez, com o hábito dessa Instituição eclesial. Esse acontecimento, prelibativo da consagração de mais 292 outras jovens,
culminaria na fundação e aprovação pontifícia da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum,
em abril de 2009.
O ano de 2002 não se encerraria
sem um acontecimento de magna
importância para a vida eclesial:
em 16 de outubro, início do 25º
ano de seu Pontificado, João Paulo
II enriquece o Santíssimo Rosário
com os Mistérios Luminosos, promulga o Ano do Rosário e lança a
Carta Apostólica Rosarium Virginis
Mariæ.
2003 – Sob o signo da Eucaristia
Outro grande presente seria conferido por esse Pontífice à Igreja
poucos meses depois: em 17 de abril
de 2003, Quinta-Feira Santa, ele assinou a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, e anunciou para outubro a
abertura do Ano da Eucaristia.
Número 41
Maio 2005
Número 42
Junho 2005
Número 43
Julho 2005
Um belo fruto da devoção mariana e da piedade eucarística incrementada entre os Arautos foi a primeira consagração de arautos provenientes da África, em 21 de abril.
Nesse dia, receberam o hábito da
Associação três jovens de Moçambique, abrindo uma esteira luminosa
de vocações oriundas do Continente
da Esperança.
Ainda em 2003, a Diocese de Roma delegou aos cuidados dos Arautos do Evangelho a igreja de San
Benedetto in Piscinula, no bairro
do Trastevere. Tratando-se do antiquíssimo templo erigido sobre a cela ocupada pelo patriarca São Bento
por ocasião de sua permanência na
urbe imperial, o edifício se reveste
de intenso simbolismo. Essa medida
inédita — pois nunca o Vicariato havia confiado uma igreja a uma Associação de leigos — parecia prenunciar o ramo sacerdotal da entidade, pois são hoje presbíteros Arautos que mantêm o culto sagrado e o
atendimento aos fiéis nesse templo
multissecular.
2004 – Chegaram os
“homens de Deus”
O ano de 2004 foi para os Arautos de intensa missão evangelizadora, especialmente junto aos mais necessitados. Incontáveis favelas, creches, asilos e orfanatos receberam
a presença confortadora da imagem de Nossa Senhora e dos “homens de Deus”, como eram designados os jovens missionários em algu-
Número 44
Agosto 2005
Número 45
Setembro 2005
Número 46
Outubro 2005
O verdadeiro
apoio da juventude
Mitte, Domine,
operarios...
Número 61
Janeiro 2007
O seminário em júbilo!
Dom Cláudio Hummes, Prefeito da
Congregação para o Clero, visita os Arautos
Número 62
Fevereiro 2007
A Cátedra Infalível
Número 63
Março 2007
O pai que Deus
escolheu para Si
Número 64
Abril 2007
Quem receber a
uma destas crianças,
a Mim recebe
Número 65
Maio 2007
2005 – “Habemus Papam!”
A comoção causada pela morte
da Irmã Lúcia, em 13 de fevereiro
de 2005, relembrou a mensagem de
Fátima a um mundo no qual os problemas denunciados por Nossa Senhora em 1917 tinham se agravado
de modo paroxístico.
Pouco tempo depois, Deus chamava a Si o inesquecível Papa João
Paulo II, pondo fim ao terceiro pontificado mais extenso da História
Número 47
Novembro 2005
Número 66
Junho 2007
Número 48
Dezembro 2005
Sínodo doS BiSpoS
Arautos
e Eucaristia
Compêndio do
Catecismo
mas comunidades carentes. Desejosa de ajudá-los inclusive em suas necessidades materiais, a Associação
Arautos do Evangelho criou o “Fundo Misericórdia”, que arrecada recursos financeiros destinados às entidades de assistência social e instituições religiosas em geral.
Em escala mundial, o acontecimento mais importante foi, sem dúvida, o terrível tsunami que flagelou
a costa asiática em 26 de dezembro.
Enquanto outros órgãos da mídia
davam todo destaque à dor e à destruição, Arautos do Evangelho procurou apresentar a seus leitores notícias cheias de esperança. Ressaltava-se, por exemplo, como o santuário de Nossa Senhora da Saúde, na
Índia, repleto de fiéis e muito próximo do mar, conservou-se incólume
em meio à catástrofe. Episódio emblemático, sem dúvida, por representar a realidade que todos experimentamos em nossas vidas: quem se
refugia sob o manto da Santíssima
Virgem não tem o que temer.
Ano dA
EucAriStiA
Número 67
Julho 2007
O tempo
em que
fomos
visitados
Número 68
Agosto 2007
Número 49
Janeiro 2006
Número 50
Fevereiro 2006
“E o Menino crescia...”
Número 69
Setembro 2007
Número 70
Outubro 2007
O santo do
cotidiano
O primeiro santo
brasileiro
Novos arautos
sacerdotes
Arautos recebem Cardeal Rodé
Abril 2010 · Flashes
“...que vos ameis uns
aos outros” ( Jo 15, 17)
ÁFRICA:
Continente
da Esperança
A alegria
da virtude
de Fátima      23
AE: Como o senhor e o Pe.
Renzi vieram para o Brasil?
Royo Marín
e Arquivo familiar Frei
Fotos: Jesús García Cubero
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Dom Filippo: A coisa foi bem simples. Num congresso em Roma, Mons.
Giussani encontrou-se com o Cardeal Dom Eugênio Sales, então Arcebispo do Rio de Janeiro. Ao ouvir dele
que o Movimento Comunhão e Libertação estava já instalado em várias cidades brasileiras, o Cardeal lhe disse:
“Na próxima vez que você for ao Brasil, faça-me uma visita no Rio”. Mons.
Giussani veio ao Brasil em dezembro
de 1983 e fez a visita ao Cardeal. Eram
tempos tumultuados, havia confusões, estava-se na fase aguda da Teologia da Libertação. Disse-lhe o Cardeal: “Mande-me um sacerdote para dar
aulas na Pontifícia Universidade Católica; um sacerdote de confiança, com
doutrina segura e que saiba trabalhar
com jovens universitários”.
AE: Mons. Giussani, então,
escolheu o homem certo...
Dom Filippo: Ele me convidou. Há
uma história bem comprida atrás disso,
mas vamos nos limitar ao essencial. Eram
decorridos já doze anos desde o meu primeiro encontro com Mons. Giussani, e o
Movimento Comunhão e Libertação tinha crescido, e eu cresci em responsabilidade no Movimento. Era responsável regional da Apulia, no sul da Itália.
Na ocasião, eu tinha preparado
um grande encontro regional da Fraternidade do Movimento. Estando
eu apresentando algumas questões,
Mons. Giussani me interrompeu, perguntando: “Você iria com prazer para o Brasil, e já?” Dei resposta afirmativa e ele explicou que quando um
Bispo faz um pedido, é um pedido da
Igreja, e é mais importante atender
ao pedido do Bispo do que cuidar dos
nossos próprios projetos. “Seria bom
— acrescentou ele — que nós saíssemos todos em missão, que nós esvaziássemos a bota da Itália, e fôssemos
missionários”.
AE: Uma bela atitude...
Dom Filippo: Então, vim para atender a um pedido do Cardeal Dom Eugênio Sales e o Pe Giuliano Renzi de
Rimini viajou comigo. Foi muito boni-
Š † ‹ ‚
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‘  ’ “
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“Minha entrada no Movimento foi o encontro com Dom Giussani!
relacionamento com ele me facilitava o encontro com Cristo.”
14
AE: O senhor tem sido, durante
vários anos, responsável
de Comunhão e Libertação
na América Latina. Que balanço
faz dessa etapa?
Dom Filippo: O balanço me deixa
cheio de gratidão por aquilo que o Senhor realiza servindo-se de nós, da nossa disponibilidade para chegar a tantos
lugares. Quando substituí nesse cargo
um grande sacerdote, o Pe. Francesco
Ricci, o Movimento estava já estabelecido no Brasil, que era a experiência
maior, na Argentina, Chile, Paraguai,
Peru, Uruguai. Comecei, então, a abrir
novas comunidades: Colômbia, Cuba,
Equador, Panamá, São Domingos. Foi
uma experiência de grande crescimento, respondendo aos convites que recebíamos. Sobretudo, quando se tratava de atender ao pedido de um Bispo, porque nossa paixão era, e é, servir à Igreja.
O
Dom Filippo: Em primeiro lugar,
quero dizer que quem me despertou
mais a consciência da minha dignidade episcopal foi Mons. Giussani. Lembro-me da primeira vez que o encontrei, em Milão, depois de ser nomeado
Bispo. Logo que me viu, ele se atirou
de joelhos na minha direção e me disse: “Antes de tudo, me dê a sua bênção
de pai!” Eu me retraía: “Ma no!... no,
no!” Aí me dei conta da dignidade da
sucessão apostólica que ele reconhecia
mais do que eu.
Não vejo nenhuma dificuldade em
ser Bispo e, ao mesmo tempo, pertencer ao Movimento Comunhão e Libertação, pois ele me desperta à riqueza do episcopado. Pertencer ao Movimento é uma forma de ficar dentro do coração da Igreja e de aí apreciar todo o valor da sucessão apostóli-
Arautos do Evangelho · Abril 2005
Pelas mãos do Cardeal Franc Rodé, CM, Prefeito da Congregação
para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, foi dedicada — no dia 24 de
fevereiro de 2008 — a Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Seminário dos Arautos do Evangelho, em
Caieiras, Grande São Paulo. Inspirado no estilo gótico, o edifício procura refletir a beleza do transcendente, criando em seu interior, através da profusão de cores e da riqueza de formas, um ambiente propício
às celebrações litúrgicas.
A Igreja da América Latina consultava ansiosa o calendário, aguardando a chegada de 2007, e com ele,
a do Santo Padre. Convocados por
Dom Odilo Pedro Scherer para colaborar com a Arquidiocese de São
Paulo, centenas de Arautos participaram dos preparativos da estadia
do Papa, nos dias 9 a 11 de maio, e
na liturgia da Missa de canonização
de Frei Galvão, no Campo de Marte, em São Paulo.
Em abril desse ano, na Basílica
de Santa Maria Maior, o ­Cardeal
da Fábrica de São Pedro.
Quais são as responsabilidades
inerentes a esses cargos?
O Vigário tem o encargo de cuidar da administração dos sacramentos no Estado do Vaticano, na paróquia de Santa’Ana e na de São Pedro,
nas quais há muitos batismos, muitas confissões e muitos casamentos.
Além disso, há a preocupação pela
saúde espiritual de todos os empregados, para os quais organizamos até
retiros espirituais.
A Fábrica de São Pedro é uma instituição nascida com a Basílica. Foi
criada para a construção da Basílica,
uma obra muito longa, demorada. E,
dado o seu tamanho, ela precisa continuamente de intervenções. Não é
pelo gosto de ter um monumento
grande, mas pelo empenho de que
seja belo, limpo, para respeitar os visitantes, respeitar o povo de Deus.
Considerando-se quantas pessoas passam por dia nos ambientes da
Basílica, sem nunca encontrar ali um
pedaço de papel no chão, pode-se entender o modo exemplar com que todos trabalham. Mais ainda, trabalham com amor e com devoção. Muitas vezes eu lhes lembro que os visitantes não vêem neles empregados,
mas sim a Igreja Católica, e, em conseqüência, se eles fazem o bem, é a
Igreja que faz o bem.
Na Basílica queremos ser cada vez
mais aquilo que por vocação somos
chamados a ser, ou seja, a memória
do martírio de São Pedro, uma memória viva, que se personaliza num
homem que continua a missão de Pedro. Nós estamos aqui para servir e
sustentar o ministério do Papa.
AE: Para concluir, uma
mensagem aos leitores...
Eu quereria que hoje cada um
de nós sentisse que não estamos vivendo um tempo hostil ao Evangelho, mas um tempo favorável. A so-
ciedade de hoje, sobretudo a sociedade do bem-estar, é uma sociedade
aparentemente feliz, mas na verdade desesperada.
Existe um grande desejo do Evangelho, uma grade expectativa pelo
Evangelho. Não podemos desiludir
esses sentimentos! A demanda existe,
e nós devemos ser a oferta autêntica.
O Cardeal Schuster dizia: “Esta
é uma época na qual as pessoas não
acreditam mais em ninguém, mas se
chega um santo, estão dispostas a colocar-se de joelhos”.
Os santos são — mais do que nunca — passíveis de serem acreditados. Nós o vimos com João Paulo II.
Estou convencido de que ele se impôs ao afeto, admiração e devoção
do mundo, sobretudo, através de sua
doença. Porque ali ficou claro que sua
fé era verdadeira. Para nós era evidente, mas para os outros ficou claro
que ele acreditava naquilo que dizia.
E assim ele arrastou o mundo.
entrevistA exClusivA
do Evangelho
láudiO
A elevação de Vossa Eminência
a Cardeal da Santa Igreja é uma
honra para sua arquidiocese.
Que significa para a Igreja de
Barcelona esta nomeação?
sociedade, para
transformar as
estruturas com
o gérmen do
Evangelho, são
desafios
dois
muito urgentes
em nosso país, e me atreveria a dizer que
em muitos lugares do mundo.
A Igreja existe
para evangelizar. O Concílio
recebe a
O Cardeal Lluís Martinez Sistach
Vaticano II sudelegação dos Arautos do Evangelho
blinhou as peculiaridades do
eu não precise exercer essa funlaicato católico: a dimensão secução.
lar, seu compromisso na construA cerimônia do consistório de
ção do bem comum da sociedade.
criação de cardeais, e especialmenNós, cristãos, vivemos no mundo,
do Sanhomilia
da
palavras
as
te
readaí a presença dos leigos nas
to Padre, põem em relevo a nossa
lidades do mundo.
função como colaboradores e conselheiros mais próximos do SucesO que sente um cardeal ante
sor de Pedro, bem como a nossa voa perspectiva de eleger um dia
à
po de Roma.
cação do serviço do amor a Deus,
o sucessor de São Pedro?Qual
Igreja e aos irmãos, até o derramao seu papel institucional?
Qual o maior desafio
diz o
como
tal
—
mento do sangue
Desejo que o Santo Padre
da Igreja hoje?
Papa na imposição do barrete, e o
Bento XVI viva por muitos anos
Considero que a evangelização
indica a cor dos trajes cardinalícios.
com muita saúde e lucidez, e que
e a presença dos leigos cristãos na
Afável e acolhedor, o prefeito da Congregação
para o Clero explica como o
Ano Sacerdotal, iniciado em 19 de junho, será
excelente ocasião para refletir
sobre a identidade, a espiritualidade e a missão
dos sacerdotes; e como
todos os leigos podem e devem dar sua colaboração
para o bom êxito desta
iniciativa do Santo Padre.
“A promoção da Adoração Eucarística está no coração do nosso
Congresso Eucarístico
como mensagem da Igreja para o mundo”
Assim, o primeiro dom que o
mundo recebe, além da própria
Igreja, é precisamente o testemunho da adoração. Sabemos que é
missão da Igreja proclamar ao mundo que existe um Deus, o qual merece ser adorado. Lembremos o primeiro Mandamento. Por isso a promoção da Adoração Eucarística está no coração do nosso Congresso Eucarístico como mensagem da
Igreja para o mundo. Do Santíssimo Sacramento emanam a caridade, evangelização e santidade na vida diária, dons que a Igreja recebe
e comunica para outros.
Todos esses pensamentos estão incluídos no lema: “dom de Deus pela
vida do mundo”.
AE: De que maneira esse
Congresso se encaixa
20
33
Arautos do Evangelho · Janeiro 2008
hummes, OFm
Tempo de reflexão
para toda a Igreja
de Barcelona, sempre se
Na atuação do Cardeal Martínez Sistach, Arcebispo
com a presença dos
destacaram o empenho evangelizador e a preocupação
ele salienta alguns dos mais
cristãos na vida pública. Numa rápida entrevista,
ele e por sua arquidiocese.
importantes aspectos do momento vivido por
“Queremos ser cada vez mais aquilo que por vocação somos
chamados a ser,
ou seja, a memória viva do martírio de São Pedro”
Agosto 2007 · Arautos
enTrevisTa eXClusiva COm O Cardeal C
Uma maior disponibilidade
para servir à Igreja
Significa muitíssimo para a Igreja de Barcelona e para mim. Foi
uma grande alegria que pude ver
na fisionomia de muitíssimos diocesanos, e de fiéis de outras dioceses, quando me felicitavam. Parecia que a nomeação fosse também
para eles. Ela pede uma resposta
agradecida a Deus e ao Santo Padre por esta importante deferência, e uma maior disponibilidade
para servir à Igreja e aos irmãos.
Na Catalunha, há séculos, a “romanidade” esteve muito presente, de
tal maneira que no Credo em língua
catalã se diz “creio na Igreja Santa,
Católica, Apostólica e Romana”.
Desejo que minha nomeação
contribua para viver intensamente
a comunhão afetiva e efetiva com
o Sucessor do Apóstolo Pedro, Bis-
AE: E agora, como Bispo de
Petrópolis, em que medida o
carisma e a formação recebidos
em Comunhão e Libertação
enriquecem sua função pastoral?
o
AE: Frei Royo, que lembranças
em sua
senhor tem de sua infância
cidade natal, Morella?
to porque, com o tempo, a experiência
cresceu e eu não perdi os amigos que
tinha na Itália, mas ganhei novos amigos aqui.
2008 – Sob o signo da esperança
2007 – Bento XVI visita o Brasil
François Boulay
Sob o calor do novo Pontificado, os Arautos receberam um grande dom: a 15 de junho, foram ordenados seus primeiros 15 presbíteros,
entre os quais o fundador. Suscitada no seio da Associação de leigos,
a Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli encetava a via clerical para servir de modo mais pleno a
Igreja e a evangelização.
O Cardeal Cláudio Hummes, hoje
Prefeito da Congregação para o Clero, na época Arcebispo de São Paulo,
honrou com sua presença essa cerimônia de ordenação, dirigindo calorosas palavras de incentivo: “Quis vir
aqui para manifestar a vocês minha
alegria, minha satisfação, dar toda a
minha bênção, todo o meu apoio”.
­ ernard Francis Law conferiu a orB
denação presbiteral a sete Arautos,
e a diaconal a outros quatro. No mês
seguinte, o Cardeal Franc Rodé,
CM, ordenou mais oito presbíteros
e cinco diáconos, na igreja do Seminário dos Arautos. Hoje, a instituição conta com 55 sacerdotes e 22 diáconos.
Em dezembro, o Instituto Aristotélico-Tomista começa a editar a revista acadêmica trimestral Lumen
Veritatis. Ela visa ser instrumento de
divulgação do pensamento de São
Tomás de Aquino e promover um
diálogo crítico entre o pensamento
escolástico e as demais correntes filosóficas.
A ligação dos Arautos do Evangelho com a Cátedra de Pedro tornouse mais sólida ainda em fevereiro de
2006, quando o Pontifício Conselho
para os Leigos aprovou em definitivo
os estatutos da entidade, conferidos
ad experimentum em 2001: “Não se
trata de uma mera formalidade jurídica, mas de uma confirmação do caminho percorrido nesses anos”, afirmou o Presidente desse Dicastério,
Cardeal Stanisław Ryłko.
De 31 de maio a 2 de junho, foi
realizado em Roma o II Congresso
Mundial dos Movimentos Eclesiais,
culminando com um multitudinário
encontro com o Papa, do qual participaram 450.000 fiéis.
François Boulay
2005 – Arautos sacerdotes
2006 – Movimentos eclesiais
Gustavo Kralj
(1978-2005). Os milhares e milhares
de pessoas que desfilaram diante de
seu féretro para um último adeus revelaram quanto ele era amado.
Poucos dias depois, porém, ao luto sucedeu-se uma explosão de júbilo: na tarde de 19 de abril, Bento XVI assumia, com mãos delicadas, mas seguras, o timão da Santa Nau. Já em junho promulgaria o
Compêndio do Catecismo da ­Igreja
Católica e em agosto, partia rumo a
Colônia, para a XX Jornada Mundial da Juventude.
no caminho sugerido pelo
CELAM em Aparecida, Brasil?
Tive o grande privilégio de participar dessa assembléia, marcada pela
presença do Santo Padre Bento XVI.
Passei várias semanas lá, e realmente desfrutei do espírito extraordinário de Aparecida.
Dei-me conta de que, naquela ocasião, fomos além das preocupações
das últimas décadas, onde os fatores
prevalentes eram tais como: a intensa batalha em relação à inculturação,
ao envolvimento político, e certa teologia da libertação, muitas vezes influenciada por ideologias mundanas.
Vimos que agora é preciso reafirmar a evangelização. A verdadeira libertação se encontra no próprio
Evangelho, e não em soluções humanas para problemas terrenos. Preci-
Pe. José Francisco Hernández
Medina, EP
samos, em primeiro lugar, reafirmar
Vossa Eminência poderia nos
espiritual dos sacerdotes foi
o dom de Deus, o dom do Evangelho,
falar um pouco da gênese do Ano
do o mundo e pregai o Evangelho a
uma das principais causas da
tode Jesus Cristo, do Senhor RessusciSacerdotal? Como surgiu a ideia?
da criatura” (Mc 16, 15).
proclamação do Ano Sacerdotal.
tado. Precisamos de uma nova e forte
Como foi recebida pelo Papa?
Isso sempre supôs, em primeiQual é a relação entre a santidade
ênfase na evangelização.
ro lugar, uma Fé muito profunda,
Uma decisão tão importante copessoal dos presbíteros e a
a
Temos também consciência que
qual é a raiz de toda espiritualidade.
mo proclamar um ano especial, neseficácia de seu ministério?
devemos formar as pessoas como
Uma Fé que provém da adesão a
te caso o Ano Sacerdotal, cabe excluJeSempre houve uma relação mui“discípulos e missionários”. Essa foi
sus Cristo, uma adesão incondicional
sivamente ao Papa. Então, foi de
fa- to forte. Toda a história do
sempre a missão da Igreja; mas em
sacerdó- e total, entusiasmada
to uma decisão soberana do Santo
e entusiasmancio na Igreja tem ressaltado isso.
Aparecida deu-se uma espécie de
Po- te. Assim, o sacerdote —
Padre. Isto é óbvio e precisa ser restodo crisdemos começar com a Última Ceia.
Pentecostes — uma conscientização
tão, mas, sobretudo o sacerdote
saltado. Claro que ele pode ter ouvi—
Jesus tinha diante de Si os Apóstolos,
renovada dessa missão.
deve ser uma pessoa que realmente
do, eventualmente, aqueles que
es- aos quais Ele dera formação
O programa de Aparecida foi preduran- tem um grande amor a
tão envolvidos neste assunto, ou
Jesus
Cristo,
sete três anos, na Sua vida pública. Eles
parado de modo rápido, com tom poestá encantado com Jesus Cristo.
ja, a Congregação para o Clero,
Esou- aderiram plenamente ao Divino
sitivo e com muito entusiasmo. QuanMes- sa adesão começa por um
tras congregações também. Mas queencontro
tre — claro, com todas as limitações
do eu lá estive, tendo em mente as cepessoal e forte com Ele.
ro sublinhar que, obviamente, se trahumanas — e O seguiam por todos
lebrações de Quebec, convidei os paros
Por exemplo, vemos nos Evangeta de uma decisão do Papa.
lados. E foi a eles que Cristo entregou
ticipantes a vir ao Congresso Eucalhos aqueles discípulos de João Baeste grande ministério do Sacerdórístico, a fim de difundir este renova- Em recente pronunciamento,
tista que vão atrás de Jesus e perguncio que se relaciona, sobretudo, com
do espírito evangelizador para o mun- Bento XVI afirmou que
a tam-Lhe: “Rabi, onde moras?”
(Jo 1,
Eucaristia, mas também com a pregado inteiro. Eu pensei que esse evento, favorecer o aperfeiçoamento
38). Jesus respondeu: “Vinde e
veção, como Ele dirá depois: “Ide por
por ser internacional, poderia servir
to- de” (Jo 1, 39). Eles foram
e saíram
Junho 2008 · Arautos
do Evangelho
25
18
Arautos do Evangelho · Julho 2009
A revista Arautos do Evangelho manifesta especial gratidão às autoridades e representantes de outros movimentos
eclesiais que a honraram com declarações exclusivas (Acima, páginas de algumas entrevistas)
Páginas das entrevistas concedidas por Fr. Antonio Royo Marín, OP; Dom Filippo Santoro, Bispo de Petrópolis; Cardeal Angelo
Comastri, Arcipreste da Basílica de São Pedro; Cardeal Lluís Martínez Sistach, Arcebispo de Barcelona; Cardeal Marc Ouellet,
PSS, Arcebispo de Québec; Dom Cláudio Hummes, OFM, Prefeito da Congregação para o Clero.
24      Flashes de Fátima · Abril 2010
Número 71
Novembro 2007
Número 72
Dezembro 2007
Número 73
Janeiro 2008
Onde buscar
a paz?
Número 74
Fevereiro 2008
Brasil ganha novo Cardeal
Número 75
Março 2008
Número 76
Abril 2008
150 anos
de Lourdes
Número 77
Maio 2008
Número 78
Junho 2008
E renovareis a face da Terra
Número 80
Agosto 2008
Número 79
Julho 2008
“Cristo nossa Esperança” O Apóstolo das Gentes
Número 81
Setembro 2008
Número 82
Outubro 2008
A Palavra
de Deus!
Gratidão, júbilo e ação de graças
Igreja e Eucaristia
Número 83
Novembro 2008
Não há
carisma
desligado
do Papa
Número 86
Fevereiro 2009
Número 87
Março 2009
Número 89
Maio 2009
Número 90
Junho 2009
Fé e Razão,
fraterna e alcandorada união
Número 92
Agosto 2009
O sacerdote
vive para o Altar
Sede de
transcendência
Número 98
Fevereiro 2010
“Ut omnes unum sint”
Número 91
Julho 2009
“O Sacrum Convivium”
Número 93
Setembro 2009
A grandeza incomparável
do Batismo
Número 94
Outubro 2009
“Cheia
de
Graça”
Aprovações pontifícias e
condecoração papal
Número 97
Janeiro 2010
Número 96
Dezembro 2009
Deus
mais próximo
dos homens
Número 99
Março 2010
Et super hanc Petram
Número 100
Abril 2010
Edição nº
100
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Um banquete
para todos os povos
A Escolástica
em pedra
-I
Apud: MORALES, José. Introducción a la Teología. 2.ed. Pamplona:
EUNSA, 2004, p.23.
Número 88
Abril 2009
O zelo e a dor
O gótico e o Céu empíreo
Nova Epifania?
00
413
3
As crises e o Natal
76
1/ 0
Mensagem aos comunicadores católicos da América, 12-12-2007.
Número 85
Janeiro 2009
29.
N.140.
2
Jubileu de Ouro Sacerdotal
Número 84
Dezembro 2008
Número 95
Novembro 2009
1
Dom Cláudio Hummes
R VIDEOLAR S.A.
IDO PO
- CN
DUZ
PJ 0
PRO
4.2
Neste centésimo número, queremos manifestar nossa gratidão
aos leitores e a todos quantos, de
alguma forma, colaboraram para
o êxito da nossa revista. Mencionamos com agrado as entrevistas
concedidas por Cardeais, Núncios
Apostólicos, Bispos, personalidades de destaque do mundo universitário e da cultura, líderes de Movimentos, e tantos outros que nos
comunicaram a riqueza de suas experiências.
Esta é uma edição de júbilo e de
ação de graças. É também o momento de reafirmar nosso propósito de divulgar por todo o mundo a mensagem de Fé e de esperança do Evangelho, como eco fidelíssimo da Cátedra de Pedro, confiantes,
não em nossas forças, mas no indispensável auxílio da Virgem Mãe de
Deus, sem o qual nada de bom poderemos fazer. 
A
primeira
igreja dos
Arautos
Os seminários
ganham novo e
vigoroso impulso
A
Evangelii Prœcones
LE
I©
O dia 4 de abril de 2009 permanecerá como data memorável na história dos Arautos do Evangelho. Nesse dia, o Papa Bento XVI concedeu
aprovação pontifícia a duas Sociedades de Vida Apostólica nascidas no
seio desta Associação de Fiéis: Virgo Flos Carmeli, sociedade clerical,
e Regina Virginum, que congrega as
jovens do Setor Feminino.
Para celebrar o acontecimento,
veio especialmente ao Brasil o Cardeal Franc Rodé, CM. A data da comemoração foi escolhida pelo Prelado para coincidir com o aniversário
de Mons. João Scognamiglio Clá Dias
(fundador de ambas as Sociedades),
no dia 15 de agosto, Solenidade da
Assunção da Virgem Maria, pois queria entregar-lhe um presente: a Medalha Pro Ecclesia et Pontifice, outorgada pelo Papa Bento XVI, o qual —
disse Sua Eminência — “quis premiar
vossos méritos”. Na ocasião, o Cardeal abençoou também a nova Casa Generalícia de Regina Virginum.
O ano de 2009 foi intenso do
ponto de vista acadêmico. Em ou-
Aliança entre
o homem
e a criação
A
2009 – Estudos acadêmicos
para aperfeiçoar as atividades
evangelizadoras
tubro, 24 Arautos se graduaram como Mestres em Filosofia na Universidade Pontifícia Bolivariana, de
­Medellín, Colômbia e Mons. João
Scognamiglio Clá Dias recebeu o
Mestrado em Psicologia Educativa,
pela Universidade Católica de Colômbia (UCC).
Em novembro, o fundador dos
Arautos defendeu sua Tese de Doutorado em Direito Canônico na
Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino (Angelicum), de Roma, obtendo nota summa cum laude. Durante sua estadia em Roma
teve um animador encontro com o
Santo Padre.
A
D
Em abril, o Santo Padre visitou os
Estados Unidos sob o signo da esperança proclamada em sua segunda encíclica, Spe salvi. Em julho, centenas
de milhares de jovens o acolheram em
Sidney, Austrália, na XXIII Jornada
Mundial da Juventude. E em setembro, Lourdes se engalanou para comemorar, junto com ele, os 150 anos
das aparições da Santíssima Virgem.
Foi também nesse ano que o Papa Bento XVI nomeou o Padre João
Scognamiglio Clá Dias, EP, como
Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior. A cerimônia de admissão do Superior Geral dos Arautos no Cabido Liberiano realizou-se no dia 14 de setembro de 2008, na Capela Sforza dessa basílica.
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Primeiros meses da
Missas dominicais – Tem crescido a afluência de fiéis às Celebrações Eucarísticas que os sacerdotes arautos
presidem nas doze capelas do território paroquial. O esmero no cerimonial tem agradado a todos.
“U
m bom pastor, um
pastor segundo o coração de Deus, é o
maior tesouro que o
bom Deus pode conceder a uma
paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina”,
afirmou o Santo Cura d’Ars. Inspirados nessas palavras, citadas
pelo Papa Bento XVI em sua Carta para a proclamação do Ano Sacerdotal, os Arautos do Evangelho
têm procurado desempenhar sua
missão pastoral na recém-criada
Paróquia Nossa Senhora das Gra-
ças, na Diocese de Bragança Paulista.
Erigida por Dom José Maria Pinheiro, em 18 de outubro de 2009,
ela abrange um vasto território rural
de 107 km², localizado na Serra da
Cantareira, nos municípios de Caieiras e de Mairiporã. A assistência religiosa a seus 40 mil habitantes, em
sua maioria católicos, era insuficiente em razão da escassez de sacerdotes na Diocese. Essa foi a razão primordial para a criação da nova paróquia, entregue aos cuidados dos
sacerdotes arautos.
Nova ação evangelizadora
“Eu estava até afastada da Igreja,
mas agora estou motivada — disse
uma paroquiana —, gostei muito do
que o Padre falou na Missa, e espero ficar firme. Quem está me fazendo retornar é Ela (apontando para Nossa Senhora)”. E uma senhora exprimiu bem o sentimento geral
dos fiéis: “Eu tenho muita alegria de
ver que a capela de Santa Inês, depois que foi assumida pelos Arautos,
está muito bonita, com Missas maravilhosas. Embora eu não seja católica, sou ortodoxa armênia, me sinto
Aulas de catequese – Nas capelas são ministradas, uma ou duas vezes por semana, aulas de catequese,
cursos bíblicos e de preparação para os Sacramentos.
26      Flashes de Fátima · Abril 2010
paróquia dos Arautos
Sacramentos – A distribuição dos Sacramentos está no cerne da vida paroquial. O Batismo e a Primeira
Comunhão são sempre ministrados após a devida preparação.
muito bem nesta capela e pretendo
voltar mais vezes”.
Em todas as capelas passou a haver pelo menos uma Missa semanal
e horários fixos para o sacramento da Reconciliação, facilitando assim a participação dos fiéis nos Sacramentos.
E os frutos já se fazem notar. Nos
três meses iniciais, 56 crianças foram
batizadas e 105 receberam a Primeira Comunhão. Houve mais de 12.700
Comunhões; 63 pessoas receberam
a Unção dos Enfermos; e diversas
­uniões matrimoniais foram regulari-
zadas. Esses dados comprovam um
promissor retorno de considerável
número de fiéis à comunhão eclesial.
Formando as comunidades
Cada uma das doze capelas conta com uma equipe de Arautos que
ministra aulas de catecismo, apoio
litúrgico, música e teatro, além de
preparar e estimular os fiéis a assumirem as diversas frentes pastorais a serviço da própria comunidade. Mais de 200 crianças estão participando dos atuais grupos de catequese.
Cada celebração é preparada
com treino dos cânticos e das leituras, fazendo com que os paroquianos participem ativamente do
cerimonial litúrgico. E vários corais vão surgindo para solenizar as
Eucaristias.
* * *
Diante de tantas bênçãos, os
Arautos voltam seus olhos cheios
de gratidão para Nossa Senhora das
Graças, padroeira dessa paróquia,
pedindo que Ela derrame dons ainda maiores sobre essa porção do povo de Deus.
Apresentações teatrais – Apresentações teatrais e corais têm atraído as crianças e os jovens da paróquia. Nas
fotos, cenas do Oratório de Natal apresentado na Capela Santa Inês, com a participação de crianças e adultos da
comunidade Sagrado Coração de Jesus.
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      27
Adoração – Além das Celebrações Eucarísticas, há
frequentes exposições do Santíssimo Sacramento para
adoração dos fiéis.
Condução – Veículos dos arautos vão buscar em suas
próprias casas os fiéis que têm dificuldade para chegar às
diversas capelas.
Oratórios nas comunidades – Já estão peregrinando pelos lares vários oratórios do Imaculado Coração de
Maria. Cada uma dessas famílias reserva um dia do mês para rezar em conjunto. À esquerda, oratórios da Capela
Santa Inês; à direita, Nossa Senhora do Monte Calvário.
Entretenimento – Em ocasiões especiais, são realizados
sorteios, lanches e animações para as crianças das
diversas capelas.
28      Flashes de Fátima · Abril 2010
Aulas de música – É sempre reservado um período para
ensinar e treinar com os fiéis as músicas
que irão solenizar a liturgia.
Território da Paróquia
Nossa Senhora das Graças
Casa Generalícia de Regina Virginum
Nova Matriz
(em fase de projeto)
N. Sra. de Lourdes
Igreja Nossa Senhora do Rosário
(Matriz provisória)
Santa Inês
São Judas
São José Operário e
São Francisco
São Paulo
Serra da Cantareira
Casa “Lumen
Prophetæ”
Nossa Senhora
de Lourdes
Sagrado Coração
de Jesus
São Vicente
Nossa Senhora
de Fátima
Sagrada
Família
São José
Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro
Nossa Senhora do
Monte Calvário
Matriz
Igrejas dos Arautos
São José
São Paulo
Capelas das comunidades
Visita aos paroquianos – Os fiéis que, por doença ou outros motivos, se encontram impossibilitados de
comparecer às capelas, são frequentemente visitados, para receberem o conforto dos Sacramentos da Igreja e o
consolo da presença materna de Nossa Senhora.
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      29
Retiro e acampamento
N
o início da Quaresma, realizou-se na Sede dos
Arautos do Evangelho, em Palmela, um acampamento para 38 jovens oriundos das dioceses
de Lisboa, Porto, Braga e Castelo Branco (fo-
tos 3 a 6).
Durante esses quatro dias de convívio, os jovens receberam formação religiosa e cultural, participaram de
variados jogos recreativos e assistiram a encenações teatrais alusivas à Quaresma, à verdadeira amizade, à vocação específica de cada ser humano, etc.
O P. Roberto Polimeni, E. P., celebrou diariamente a Eucaristia, entusiasticamente acompanhada pelos jovens, que
também recitaram todos os dias o terço diante do Santíssimo Sacramento, solenemente exposto para adoração.
Concomitantemente, 30 jovens vocacionados, dos
Arautos do Evangelho, realizaram um proveitoso retiro,
tendo como matéria central o “Tratado da Verdadeira
Devoção à Santíssima Virgem”, de S. Luís Maria Grignion de Montfort (fotos 1 e 2).
Além da adoração Eucarística diária, puderam aprofundar-se em muitos aspectos da doutrina católica, da
análise das realidades contemporâneas e dos mais variados aspectos do carisma da instituição, cujos três pilares
são a devoção Eucarística, a Maria e ao Papa.
2
1
4
3
5
30      Flashes de Fátima · Abril 2010
6
Arcebispo de Braga
visita os Arautos
A
academia dos Arautos do Evangelho, situada
no Santuário do Sameiro, recebeu por ocasião do nono aniversário da sua aprovação pontifícia a visita de D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga
e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
A missa contou com a presença dos 45 jovens
que ali residem, acompanhados das respectivas
famílias.
Durante a homilia, de uma forma alegre e didáctica, D. Jorge frisou o papel do Espírito Santo
enquanto guia das nossas vidas.
Logo após a missa todos puderam saborear uma
deliciosa pizza… pais e filhos num agradável convívio durante o qual D. Jorge foi respondendo às
perguntas feitas pelos jovens e partilhando as suas
experiencias enquanto pastor.
Lisboa - Os participantes do Apostolado do Oratório da Zona Oeste do Patriarcado de Lisboa reuniram-se na
Igreja de S. Pedro da Cadeira para “Um dia com Maria”. O encontro iniciou-se com a entrada solene da imagem do
Imaculado Coração de Maria, sendo depois coroada pelo pároco, P. José Manuel de Araújo Morais, OFM.
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      31
Beata Lindalva Justo de Oliveira, FC
Admirável por sua disponibilidade e alegria no
serviço aos pobres, deu sua vida como prova de amor
a Deus, por conservar intacta sua pureza.
Irmã Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP
N
a quarta-feira da Semana Santa de 1500, aportou em terras brasílicas
uma esquadra vinda do
outro lado do Atlântico. Poucos dias
depois, no Domingo de Páscoa, sob a
proteção de uma enorme Cruz fincada na praia, o franciscano Frei Henrique de Coimbra celebrou ali a primeira Missa. Nasceu assim, nas belas
praias da Bahia, um país de proporções continentais. Batizado com o nome de Terra de Santa Cruz, o Brasil já
trazia em si, em gérmen, todo um futuro cheio de atos heroicos e de catolicidade, dos quais as páginas de sua
História estão repletas.
Um destes deu-se em nossos dias,
tão marcados pelo pragmatismo e
pela falta de fé, tão carentes de pessoas dispostas a servir a Deus, a ter
generosidade, a ser casta ou a doarse pelos demais.
Também numa Semana Santa,
na mesma Bahia gloriosa, tal como
Santa Maria Goretti, uma freira de
32      Flashes de Fátima · Abril 2010
nossos tempos derramou o sangue
na defesa de sua pureza, no amor à
obediência e ao serviço dos mais necessitados, cumprindo sua vocação
de Filha da Caridade de São Vicente de Paulo e de Santa Luisa de Marillac: Irmã Lindalva Justo de Oliveira.
Propensão para ajudar os outros
Nascida em 20 de outubro de
1953, no seio de uma família camponesa do município de Açu, no
Rio Grande do Norte, recebeu as
águas batismais três meses depois
de vir à luz.
O pai, João Justo da Fé, pequeno proprietário, cultivava seu sítio
para manter uma família numerosa
de 16 filhos. Era homem piedoso e
de caráter forte. Admirava as histórias dos Patriarcas do Antigo Testamento e em algo os imitava. Maria
Lúcia, a mãe, tinha consciência do
compromisso que assumira ao contrair matrimônio: a formação dos fi-
lhos. Nessa católica família refletiase o amor entre pais e filhos, mas
igualmente não faltavam a disciplina
e a severidade, quando era necessário corrigir os pequenos caprichos e
as travessuras infantis.
Desde criança, Lindalva demonstrava propensão para ajudar os outros e se sensibilizava com o sofrimento alheio. Não lhe agradavam as
brigas e nunca se zangava. Gostava
de correr, banhar-se na lagoa próxima ou subir em árvores para comer
os frutos recém-colhidos. Mas seu
brinquedo favorito era modelar bonecas de barro, que deixava secando
ao sol, e depois coser roupinhas para elas, com retalhos de tecidos.
Revelando-se uma menina muito
madura para sua jovem idade, tinha
consciência do sacrifício dos pais para manter e educar a numerosa prole, e queria auxiliá-los de alguma
forma. Assim, estava sempre disponível para ajudar à mãe, aprendendo muito cedo a cozinhar e a costu-
Baia de Todos os Santos vista do campanário da Igreja
da Penha (Foto: Gustavo Kralj)
Mártir brasileira
do fim do século XX
Filhas da Caridade
rar. E procurava imitar o exemplo
de sua progenitora que, apesar de
pobre, tirava de sua parca despensa para socorrer outros mais necessitados.
“Quero ser santa!”
Vivia no mundo sem ser do mundo
Os filhos cresceram, precisavam
estudar e as exigências aumentaram.
João decidiu mudar-se para Açu,
onde vários deles conseguiram emprego. Lindalva cursava o Ensino
Fundamental e trabalhava como babá na casa de uma família abastada.
Quando algum conhecido precisava de ajuda, por doença ou qualquer
outro motivo, recorria a ela. “Você
deve ter vocação para enfermeira,
porque está sempre disponível e faz
tudo com alegria!” — dizia-lhe uma
de suas companheiras.
Quando nasceu a primeira filha
do irmão mais velho, que se casara
e morava em Natal, foi viver com ele
nessa capital, onde ajudava à jovem
mãe e continuava seus estudos. Empregou-se como auxiliar de escritório e levava uma vida como qualquer moça de bons princípios. Vivia
no mundo, mas a ele não pertencia.
Não pensava em casar-se e prestava
serviços como voluntária num abrigo para idosos, mantido pelas Filhas
da Caridade.
Tímida e reservada por temperamento, ali se transformava, tornando-se manifestativa, cheia de vida e
com uma alegria contagiante. Os velhinhos a esperavam ansiosos, devido à sua paciência, afeto e afabilidade. Era a vocação que amadurecia com força em sua alma. “O fruto
do Espírito é caridade, alegria, paz,
paciência, afabilidade, bondade, fidelidade” (Gl 5, 22), diz o Apóstolo. Pois não foi outra coisa que Lindalva manifestou ao longo de sua vida relativamente curta.
Alegria na doação aos outros
Começou a estudar enfermagem
para poder doar-se mais e tomou a
bres ou idosos, quer às outras irmãs,
na vida comunitária.
“O meu destino está nas mãos de
Deus, mas desejo de todo coração
servir sempre com humildade, no
amor de Cristo.”
grande decisão de sua vida: em setembro de 1987, escreveu à Provincial das Filhas da Caridade, pedindo admissão como postulante. “Faz
muito tempo que sinto o desejo de
entrar na vida religiosa, mas somente agora estou disponível a seguir
o chamado de Deus. Estou pronta
para dedicar-me ao serviço dos pobres”, escreveu ela.1
Admitida dois meses depois, foi
enviada para fazer o postulantado na comunidade do Educandário Santa Teresa, em Olinda, Pernambuco. Esse período não foi senão um contínuo exercício do propósito que fizera, de basear sua vida
espiritual na felicidade em Cristo e
no bem do próximo. O testemunho
de suas superioras durante essa fase foi sempre de admiração por sua
disponibilidade, humildade e alegria
na doação aos outros, quer aos po-
Progredia na vida interior, entregando-se mais e mais nas mãos
d’Aquele ao qual se havia abandonado, confiando-Lhe inteiramente seu destino, tal qual recomenda
o Rei Profeta: “Confia ao Senhor a
tua sorte, espera n’Ele, e Ele agirá”
(Sl 36, 5).
Algumas de suas cartas confirmam a plenitude desta entrega ao
Senhor, e revelam a autenticidade
da vocação que escolhera. “Estou
muito feliz. (...) O meu destino está nas mãos de Deus, mas desejo de
todo coração servir sempre com humildade, no amor de Cristo”, escrevia a uma amiga, em março de 1988.
Ensina Dom Chautard que a alma de todo apostolado é o transbordamento da vida interior. E o dom
do serviço de Lindalva fundamentava-se em sua vida de piedade e oração. Não se limitava a aliviar os sofrimentos físicos ou as tristezas dos
mais necessitados, mas procurava
nutrir-lhes o espírito com orações
e bons conselhos. Gostava de rezar
com eles, sobretudo o terço meditado, acompanhado de cânticos a Nossa Senhora.
Sua oração preferida era mesmo
o Rosário. Levava o terço sempre à
mão e aproveitava qualquer tempo livre para recitá-lo. Explicava este hábito, dizendo: “Há muita gente que precisa de minha ajuda e não posso fazer
nada a não ser rezar por eles”.
O desejo de progredir na vida espiritual levou-a a perguntar candidamente à superiora, Irmã Maria
Expedita Alves, como fazer para ser
santa. Com sabedoria, respondeulhe esta:
— Minha filha, ninguém nasce
santo; isto pode ser alcançado procurando a perfeição na vida do diaa-dia, e também em cada ação, mesmo a mais insignificante.
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      33
— Quero ser santa! — retrucou
Lindalva, fitando à superiora com
um olhar profundo.
criaturas; somente não devemos deixar que este amor seja maior que o
amor a Deus”.
“Aqui tudo é graça!”
Todos a admiravam muito
Este firme desejo foi o que marcou sua vida, na trajetória simples e
comum de uma postulante, rumo à
plenitude da vida religiosa, na prática dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência.
Sob o olhar atento das superioras, foi admitida no noviciado, dando um passo mais decidido na entrega a Jesus, dentro do carisma de sua
Congregação: o serviço aos pobres e
necessitados. Na festa da Virgem do
Carmo, 16 de julho de 1989, vestiu o
hábito de Filha da Caridade e passou a chamar-se Irmã Lindalva.
Em carta a uma amiga, nesse mesmo ano, manifestou como
se sentia realizada na vida religiosa: “Aqui tudo é graça! Vivemos
num profundo silêncio e união com
Deus. (...) Os meus pensamentos e
o desejo que tenho de amar a Deus
sobre todas as coisas fazem com que
eu me sinta muito feliz. Outra parte da nossa vida é o amor às pessoas que conquistamos, mas é através do amor a Deus que amamos as
Findo o tempo de noviciado, em
26 de janeiro de 1991, Irmã Lindalva
foi enviada para um abrigo de idosos em Salvador, capital da Bahia.
Em carta a uma irmã de hábito, renovava seus propósitos de ser humilde e simples nas dificuldades que
certamente viriam, recordando as
palavras da Escritura: “Nada temas,
pois Eu te resgato, Eu te chamo pelo nome, és meu. Se tiveres de atravessar as águas, estarei contigo. E os
rios não te submergirão” (Is 43, 1-2).
Foi com esta confiança que cruzou os portões do antigo casarão do século XIX, onde funcionava o Abrigo Dom Pedro II, sob administração pública municipal, mas
aos cuidados das Filhas da Caridade. Recebeu a incumbência de cuidar do pavilhão São Francisco, com
40 idosos, situado no primeiro andar do imponente edifício. Em pouco tempo cativou sua superiora e as
companheiras de hábito, bem como os velhinhos, com seu jeito alegre de ser e o perfume da santida-
de de sua presença. Todos a admiravam muito.
Acalmava os queixosos, lembrando-lhes os sofrimentos do Salvador, e
dava alguma ocupação aos que ainda
podiam fazer algo, para eles se sentirem úteis. Onde havia necessidade,
aí estava Irmã Lindalva com sua figura sempre animada e caridosa.
Cuidava não só das coisas materiais dos idosos, mas também de sua
vida de piedade. Rezava com eles o
terço e levava o capelão para administrar-lhes os Sacramentos. Sua vigilância, em matéria de castidade, se
notava até mesmo quando ia buscar
o padre, pois sempre pedia a alguém
para acompanhá-la. Era assídua aos
atos da Comunidade e quando lhe
sobravam alguns minutos invariavelmente estava na Capela, rezando
um pouco mais.
No escasso tempo que lhe restava do atendimento no Abrigo, Irmã
Lindalva participava do Movimento de Voluntárias da Caridade Santa
Luisa de Marillac, que visitava idosos e doentes nas periferias da cidade. Este Movimento era dividido
em grupos e ela pertencia ao Grupo
Santa Maria Goretti. Talvez não por
mero acaso, como se verá adiante.
Filhas da Caridade
Subida ao Monte Calvário
Algumas das fotografias que se conservam da beata Lindalva: à esquerda,
durante o postulantado; à direita no asilo Dom Pedro II, pintando a cama de
um dos anciãos
34      Flashes de Fátima · Abril 2010
Não podia essa santa religiosa
imaginar que aquele querido Abrigo seria seu Monte Calvário, o lugar destinado por Cristo para misturar seu sangue ao d’Ele. Os problemas começaram em janeiro de 1993,
quando ali foi admitido Augusto da
Silva Peixoto. Com apenas 46 anos,
não tinha ele idade para estar num
estabelecimento de caridade para
anciãos, mas as freiras tiveram de
aceitá-lo, por motivos políticos. Alojaram-no no pavilhão a cargo da Irmã Lindalva.
Homem destituído de princípios
religiosos e morais, Augusto interessou-se com más intenções por aquela freira de vida ilibada e passou a
“Nunca cedeu”
Na segunda-feira da Semana
Santa, esse nefando personagem
comprou no mercado popular um
facão de pescador, com a intenção
deliberada de matar aquela religiosa
que opunha intransponível barreira
a seus péssimos intuitos.
Durante toda a semana, Irmã Lindalva participara, ao raiar da aurora, da Via Sacra na paróquia da Boa
Viagem. Ao percorrer as ruas das
proximidades na madrugada da Sexta-Feira Santa, 9 de abril de 1993,
meditando sobre a Via Dolorosa de
Jesus, certamente não tinha ideia
que sua subida particular ao Calvário
também culminaria naquele dia.
Voltando ao Abrigo, dirigiuse logo ao refeitório para cumprir
sua tarefa de servir o café da manhã aos velhinhos, sem notar a presença de Augusto sentado num dos
bancos do jardim. Este, que a esperava, subiu atrás dela, entrou pela
porta dos fundos do salão e atacoua pelas costas, a golpes de facão,
numa fúria insana e diabólica. A vítima mal teve tempo de balbuciar:
“Deus me proteja!” Recebeu ao todo 44 golpes.
Enquanto limpava na própria
roupa a arma tingida pelo sangue
inocente, o criminoso ensandecido rugia: “Nunca cedeu! Está aqui
a recompensa...”. Testemunhava,
assim, que Irmã Lindalva havia dado sua vida como prova de amor a
Deus, por conservar intacta sua pureza, num verdadeiro martírio do
qual os próprios internos davam testemunho.
Semente de novas vocações
na cerimônia de Beatificação: “Desejo a todos, e invoco do Senhor para cada um, aquela vitalidade alegre que sabia transmitir aos outros,
que é talvez a herança mais fascinante de Lindalva, para saber contagiar quem nos está perto, com a alegria inefável que mergulha as suas
raízes nos pés de Cristo Ressuscitado, conscientes de que enquanto filhos de Deus, somos todos chamados a ser santos e que a santidade é
um caminho de liberdade para cada
um”.2 
1
Todas as citações de cartas e outros
documentos foram extraídas de:
PASSARELLI, Gaetano. O sorriso de Lindalva. Recife: Dom Bosco, 2003.
Durante toda a noite, passou pelo Abrigo um fluxo contínuo de fiéis
desejosos de prestar uma última ho- 2 Mensagem na Beatificação da Serva
de Deus Lindalva Justo de Oliveimenagem à religiosa. O Arcebispo
ra, 2/12/2007.
Primaz do Brasil, na época o Cardeal Lucas Moreira Neves,
oficiou a cerimônia fúnebre e afirmou na homilia que “o sangue da vítima será semente de novas vocações, não só para as Filhas da Caridade,
mas, também, para todas
as Congregações da Igreja de Deus”.
A Igreja proclamoua Bem-aventurada em
2 de dezembro de 2007,
durante cerimônia realizada no Estádio Manoel Barradas, em Salvador. Seus restos mortais se encontram, atualmente, na capela do
Abrigo Dom Pedro II. A
­Beata Irmã Lindalva é
um exemplo de como a
alegria e a pureza são notas características da santidade, para a qual todos
somos chamados.
Urna onde se encontram os restos mortais da
Foi o que declarou o
Beata Lindalva Justo de Oliveira, no Abrigo
Dom Pedro II, em Salvador
Cardeal Saraiva Martins,
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      35
Alberto Dias
assediá-la de modo insistente e inconveniente. As admoestações que
lhe fizeram outros internos e a própria diretora do setor social do Abrigo serviram apenas para aumentar
nele os fortes sentimentos de frustração por ser sempre repudiado.
Irmã Lindalva, que preferia morrer a romper seu voto de castidade, viu-se obrigada a tomar muito
cuidado, evitando qualquer atitude que pudesse ser mal interpretada por aquele indivíduo sem escrúpulos. Narrou a situação a algumas
freiras e companheiras de voluntariado e intensificou suas orações.
Mas por amor aos idosos e pela fidelidade à obediência que a havia designado para o Abrigo, não quis sair
dali. De caráter forte e seguro, não
conhecia o medo ou a fraqueza, jamais abandonando seu “campo de
batalha”. “Prefiro que meu sangue
se derrame, do que ir embora daqui” — afirmou durante um recreio
da comunidade.
A palavra dos Pastores
Homens e obras
providenciais
Como é belo pensar que ao longo dos séculos a voz de Pedro
está permanentemente secundada pelo eco fidelíssimo da voz dos
homens e obras providenciais suscitados por Deus para remediar
os males de cada época!
Dom Manuel Monteiro de Castro
Secretário da Congregação para os Bispos
O
s antigos romanos comemoravam em 22 de fevereiro a memória dos defuntos e nesse dia comiam
junto às suas sepulturas. Cada tumba era considerada uma “cátedra”
(do grego, kathédra, “cadeira”), ou
seja, um assento reservado para o
defunto, como se ele fosse um convidado ao banquete.
No século IV, começou a generalizar-se entre os cristãos o costume de
venerar o túmulo e os restos de um
defunto que se destacava entre a incontável multidão dos mártires do
primeiro século: era a “Cátedra de
Pedro”, pescador da Galileia, na Palestina, Apóstolo de Cristo Jesus, primeiro Papa. O significado teológico da festa atual, nós o encontramos
na Oração Coleta, que rezamos antes
das leituras: “Concedei, ó Deus todo
poderoso, que entre as conturbações
do mundo não se abale a vossa Igreja, edificada sobre a rocha com a profissão de Fé do Apóstolo Pedro”.
O nome exprime a função
de um ser no universo
Podemos nos perguntar, inicialmente, o seguinte: por que Simão se
36      Flashes de Fátima · Abril 2010
tornou Pedro, isto é, “pedra”, “rocha”? Porque recebeu uma missão
particular. À profissão de Fé de Simão, revelada a ele pelo Pai “que está nos Céus”, responde Jesus: “E Eu
te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja;
as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Trata-se
de um episódio de importância fundamental, e não de uma simples mudança de nome.
Com efeito, entre os antigos o
nome exprime a função de um ser
no universo. Tratando-se de uma
pessoa, agir sobre o nome significa
tomar posse do ser; mudar o nome
de alguém é sinal de impor-lhe uma
nova personalidade, transformandoo num vassalo. No Novo Testamento, quando se tem uma missão divina, o seu nome vem do Céu.
Portanto, dando a Simão o nome de Pedro, Jesus manifesta um
poder que estabelece de modo definitivo um “antes” e um “depois”
na vida de Simão Pedro. A tal ponto que, quando Pedro manifestava alguma fraqueza, Nosso Senhor
o chamava pelo velho nome de Simão, a fim de exortá-lo a ser vigi-
lante. Por exemplo, no Horto das
Oliveiras: “Foi ter com Seus discípulos e os encontrou dormindo. Disse a Pedro: Simão, dormes?
Não pudeste vigiar sequer uma hora?” (Mc 14, 37). Da mesma forma
na Última Ceia: “Simão, Simão, eis
que Satanás vos reclamou para vos
peneirar como o trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua confiança
não desfaleça” (Lc 22, 31-32). Ou
também como fez no Lago de Tiberíades, após a Ressurreição: “Simão, filho de João, amas-me mais
do que estes?” (Jo 21, 15ss).
Singular poder de vincular
o Céu à Terra
De fato, apesar de tudo, as coisas
mudaram realmente. Na lista dos doze Apóstolos, Simão Pedro vem sempre apresentado em primeiro lugar.
Junto com Tiago e João, filhos de
Zebedeu, faz parte do restrito grupo
dos confidentes de Jesus. Na maior
parte das vezes, fala como representante dos Doze. Depois da Ascensão
de Jesus ao Céu, ele é apresentado
na Sagrada Escritura como o chefe
da comunidade cristã de Jerusalém,
o centro da Igreja de então.
Antônio Lutiane
O artista, efetivamente, sabia
bem o que fazia. Quem observa com
atenção, dá-se conta de que não
há contato físico entre as mãos dos
quatro “Bispos” e os pés do trono. A
“cátedra” se apresenta no ar, sustentada por uma força toda divina que
a mantém acima de qualquer outro
Bispo do Oriente e do Ocidente, significando uma profunda realidade
teológica: de um lado, a proximidade entre as estátuas dos Bispos e a
Cátedra recorda a coerência entre o
pensamento teológico dos Padres e
a doutrina dos Apóstolos; de outro,
a elevação do trono realça o primado de Pedro.
Um momento da Missa celebrada na Igreja de San Benedetto in Piscinula,
Roma, por ocasião da festa da Cátedra de Pedro
Logo após seu martírio e o de
São Paulo, toda a comunidade Católica reconhece a primazia da Igreja de Roma, como referem já no segundo século Santo Inácio de Antioquia e Santo Irineu de Lyon. Quando, em seguida, começa a propagarse o culto à memória do Apóstolo, a “Cátedra de Pedro” torna-se o
símbolo da autoridade do Bispo de
Roma, como atestam os concílios,
os Papas e os santos até aos nossos
dias. Assim, a Igreja é de tal forma
partícipe da própria infalibilidade
de Nosso Senhor Jesus Cristo que se
dá a essa “cátedra” o singular poder
de vincular o Céu à Terra: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na Terra será ligado
nos Céus, e tudo o que desligares na
Terra será desligado nos Céus” (Mt
16, 19).
Cátedra sustentada por
uma força toda divina
Na Basílica de São Pedro, no fundo da abside, abaixo da “Glória” de
Bernini, junto ao Altar da Cátedra,
encontra-se uma representação artística precisamente dessa Cátedra:
o trono que simboliza a dignidade
e a autoridade do Romano Pontífice, chefe do Colégio dos Bispos, supremo Pastor e Doutor de todos os
fiéis. Essa reprodução em bronze,
remontante ao século XVII, contém no seu interior, como digno relicário, a bimilenar cátedra original,
feita de carvalho, usada por São Pedro para presidir as celebrações da
comunidade cristã na casa de Áquila e Prisca, em Roma. Preciosa relíquia que até o século IV era exposta à veneração dos fiéis no batistério da Basílica Constantiniana de
São Pedro no dia 22 de fevereiro, e
foi usada durante toda a Idade Média para a entronização do Vigário
de Cristo.
A “cátedra” encontra-se ladeada
por quatro Padres da Igreja: dois à
direita e dois à esquerda. Santo Ambrósio e Santo Agostinho, da Igreja
Latina; Santo Atanásio e São João
Crisóstomo, da Igreja do Oriente.
Como a “cátedra” se ergue um tanto
acima deles, ouve-se com frequência guias turísticos e outras pessoas
dizerem que os quatro “Bispos” ali
estão “sustentando o trono do Papa”, senão este cairia por terra. Nada mais distante da realidade.
Misteriosa participação
no “poder das chaves”
Não quer isto dizer que o Papa
despreza a cooperação e o concurso
da Igreja — isto é, dos concílios, dos
Cardeais, dos Bispos, dos teólogos,
etc. — no exercício do seu Magistério. Ao invés disso, tendo como certo que Cristo dotou os Pastores da
Igreja do carisma da infalibilidade
em matéria de Fé e de costumes (cf.
Catecismo da Igreja Católica, n.890),
é legítimo perguntar se não se pode
razoavelmente — salvaguardando a
integridade do “primado da Cátedra
de Pedro” no âmbito da comunhão
entre todas as Igrejas, como recorda o Concílio Vaticano II (cf. Lumen gentium, n.13) — pensar numa
misteriosa participação no “poder
das chaves” do Sucessor de Pedro,
das pessoas revestidas de um particular carisma profético em qualquer época histórica. Os Padres da
Igreja, por exemplo, foram homens
providenciais, cada qual a seu tempo, e apoiaram a Cátedra de Pedro
a tal ponto que seu papel nos concílios ou circunstâncias históricas significou “ligar ou desligar na terra” o
que depois foi “ligado ou desligado
nos Céus”.
Pensamos também em São Bernardo, que — enquanto sustentava
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      37
Jair Rodrigues
ria despropositado perguntar se Deus não confiou também a eles, num
certo sentido “místico”,
“as chaves do Reino dos
Céus”, precisamente para o bem das almas e da
sua Igreja?
Uma coisa é certa:
“Deus é Senhor do mundo e da História” (Catecismo da Igreja Católica,
n.314), e Ele não abandona Sua Esposa Mística. Se cá ou acolá a Igreja se encontra sacudida pelas ondas do mundo, isto não escapa à sua
providência. A profissão
de Fé do Sucessor de Pedro continuará a reboar
nos céus da História até
o fim do mundo: “Tu és
Cristo, o Filho de Deus
vivo” (Mt 16, 16). Entretanto, como é belo penDom Manuel Monteiro de Castro,
sar que ao longo dos séacompanhado por Mons. João Scognamiglio
culos a voz de Pedro esClá Dias, na chegada à Igreja de San Benedetto
tá permanentemente sein Piscinula
cundada pelo eco fidelíssimo da voz dos homens
e obras providenciais suscitados por
firmemente ser a infalibilidade priDeus para remediar os males de cavilégio da “Sé Apostólica” — não
da época!
poupou repreensões ao Papa Eugênio III, outrora seu discípulo em
O desenvolvimento dos Arautos
Claraval, a ponto de adverti-lo a ressuperou todas as expectativas
peito das “malditas ocupações” relativas ao governo da Igreja (cf. De
Mas a data de 22 de fevereiro é
consideratione, II, 3), que prejudimuito significativa também porque
cavam a necessária contemplação e
no ano de 2001 tivemos a alegria
o recolhimento interior, levando ao
de celebrar na Catedral de Madri,
arrependimento o Romano Pontífina qualidade de Núncio Apostólice. Não é isto uma certa participaco, uma Santa Missa em ação de
ção no poder de “ligar e desligar”?
graças pelo reconhecimento ponO mesmo podemos perguntar sotifício da Associação Internacional
bre o papel de tantos santos e obras
Privada de Fiéis Arautos do Evanprovidenciais ao longo da história
gelho, precisamente um exemda Igreja. Se professaram a autênplo do “poder de ligar e desligar”.
tica Fé como São Pedro, sobretudo
Desde então, transcorreram nove
nos momentos nos quais a Igreja enanos, nos quais o desenvolvimento
contrava-se “entre as conturbações
dessa Instituição superou todas as
do mundo” (Oração Coleta), seexpectativas.
38      Flashes de Fátima · Abril 2010
Trata-se de um crescimento —
que inclui a ordenação dos ministros sagrados e por muitos é atestado, não só em nível quantitativo de
membros e de obras, mas, sobretudo
em nível qualitativo — assinalado
por um desejo cada vez mais profundo de contínua fidelidade ao Santo Padre, de terna devoção a Nossa
Senhora, de assídua companhia ao
Santíssimo Sacramento exposto para adoração perpétua em tantas de
vossas casas.
A dimensão acadêmica ampliouse com a multiplicação dos Arautos
estudantes de licenciatura e de doutorado nos mais renomados ateneus
da Igreja, em Roma e alhures. O
próprio fundador defendeu recentemente sua tese de doutorado em Direito Canônico na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (o Angelicum), com a singularidade de ser
a primeira vez que um fundador faz
uma dissertação referente à sua própria fundação. O projeto de universidade dos Arautos do Evangelho
já é, de fato, um broto que cada vez
mais se aproxima de fulgurante realização.
As técnicas de evangelização desenvolveram-se de modo extraordinário, como no caso das Missões
Marianas ou do Apostolado do Oratório, realizadas inclusive em Roma
por tantos cooperadores dos Arautos, aqui presentes, como em numerosos outros países. Neste sentido, a
revista Arautos do Evangelho (publicada em quatro línguas), a presença do Movimento na internet e as
transmissões televisivas de sua própria produção dão uma ideia do resultado alcançado.
No momento, a construção de
novas casas, palácios, edifícios e
igrejas, que enchem de admiração pela sua beleza, assim como as
cerimônias, litúrgicas ou não, que
nelas se realizam, de acordo com
o carisma — sobretudo o seminário em São Paulo, Brasil, com a sua
Dartagnan Alves de Oliveira
igreja dedicada pelo Cardeal Franc
Rodé, e também a Casa Generalícia da Sociedade de Vida Apostólica feminina — a construção de tudo isso, dizíamos, por mais rápido
que se faça, nunca consegue satisfazer as reais necessidades de espaço.
Tudo isso nunca teria sido possível sem um concurso muito especial
da graça divina. Contemplação e
ação se entrelaçam assim harmonicamente no interior de uma séria vida comunitária pervadida de oração
e cerimonial, que desperta o enlevo
e o fascínio pela vida consagrada, a
começar por quem recebeu de Deus
o chamado para dela fazer parte.
Por isso, a rigorosa seleção da
grande quantidade de vocações que
batem à vossa porta, e a exigência da perfeição em tudo, feita aos
que já são membros da Associação,
constituem seguramente um dos segredos do sucesso eclesial do vosso
Movimento. Um êxito ratificado pelo reconhecimento pontifício, concedido há menos de um ano, das duas Sociedades de Vida
Apostólica: Virgo Flos
Carmeli, clerical, e
Regina Virginum, feminina.
O fundador:
instrumento escolhido
pela Providência
Entretanto, basta
conhecer o gênio do
fundador para compreender que todas
essas realizações são
apenas o ponto inicial
de um futuro muito
promissor para a Igreja. Cada novo carisma
é um dom extraordinário do Espírito Santo, dado não tanto para o bem do indivíduo
quanto, ao contrário, para a edificação da Igreja e um anúncio mais eficaz do Evangelho; ou seja, para ligar e desligar, para abrir e fechar.
As pessoas passam, mas os carismas
permanecem, pois Deus os suscita
para fazê-los frutificar e cumprir sua
finalidade.
Diz o profeta Isaías: “Tal como a
chuva e a neve caem do céu e para lá
não volvem sem ter regado a terra,
sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido
seu efeito, sem ter executado minha
vontade e cumprido sua missão” (Is
55, 10-11).
A Mons. João Scognamiglio Clá
Dias — que o Santo Padre Bento XVI, além de honrar com a medalha Pro Ecclesia et Pontifice, nomeou Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior —
podem aplicar-se, portanto, mutatis
mutandis, como instrumento escolhido pela Providência para levar a
cabo a sua obra, as palavras do mesmo profeta: “Porei sobre seus ombros a chave da casa de Davi; se ele
abrir, ninguém fechará, se fechar,
ninguém abrirá” (Is 22, 22).
De vós muito espera a Igreja
Caros Arautos do Evangelho, estamos na Quaresma. Aquele que
ocupa hoje a Cátedra de Pedro dizia-nos na audiência geral desta
Quarta-Feira de Cinzas que “conversão é avançar contra a corrente”
e deixar-se transformar pelo amor
de Cristo. Não tenhais medo de
avançar contra a corrente, ainda que
a alguns possa parecer que “a Igreja se abala” (Oração Coleta). Ao invés, digamos com São Paulo: “Agora é o tempo favorável, agora é o dia
da salvação” (II Cor 6, 2), como lemos na liturgia da Quarta-Feira de
Cinzas. Este é o momento reservado pela
Divina Providência para este novo carisma.
De vós muito espera a
Igreja, porque disto ela
precisa. Avante, Arautos, avante!
Por isso, para podermos estar à altura
da nossa missão, entreguemo-nos de todo
coração Àquela que é
por excelência a chave
que abre todas as portas, especialmente a do
Céu: Janua Cæli, ora
pro nobis! ²
“A rigorosa seleção da grande quantidade de vocações que
batem à vossa porta, e a exigência da perfeição em tudo,
constituem seguramente um dos segredos do sucesso
eclesial do vosso Movimento.”
(Homilia da Missa
celebrada na Igreja de
San Benedetto in Piscinula, Roma, em 22 de
fevereiro de 2010, festa da Cátedra de Pedro
– Tradução: Arautos do
Evangelho)
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      39
Terremoto no chile – Testemunho de um amigo dos arautos
“Tudo era enlouquecedor!”
Para mim, foi um milagre o fato de termos mantido, em tais circunstâncias,
nossa integridade física e psíquica, porque tudo era enlouquecedor!
Benigno Manuel Bascur Muñoz
N
o dia do terremoto, minha esposa, nossas três filhas e eu estávamos hospedados num chalé do balneário
marítimo de Pelluhue, bem próximo do epicentro. Como todo chileno, já havíamos presenciado muitos
outros sismos, mas esse foi de uma
violência atroz. Durante quase dois
minutos os sismógrafos marcaram
8,8 graus na escala Richter! Ouviase um ruído subterrâneo estarrecedor e a terra tremia com tanta força
que não conseguíamos ficar em pé.
Chegada do tsunami
Passada a fase mais intensa, enquanto se sucediam algumas réplicas,
procuramos vestir-nos e prepararmonos para o que pudesse ocorrer.
Tudo havia ficado às escuras. A localização de nossa hospedagem —
a uns setenta metros de distância da
praia e a vinte de altitude — davanos uma vista privilegiada do Oceano
Pacífico, iluminado pela luz da lua.
De repente, percebemos as águas se
retirarem, deixando à vista a areia do
fundo marinho. No horizonte, avistava-se uma muralha de água negra
coroada por uma estranha luminosidade: o reflexo do luar na espuma de
uma onda de vinte metros de altura!
Abandonamos imediatamente a
casa e, seguidos por outras pessoas,
começamos a subir o morro. Os cinco
membros da nossa família rezávamos
40      Flashes de Fátima · Abril 2010
em voz alta, e logo outras pessoas passaram a acompanhar as nossas orações. Vários dos que nos acompanhavam estavam aturdidos, outros tinham
o terror estampado na face. À medida
que subíamos, algumas pessoas perdiam forças e se detinham. Essas ficaram à mercê das circunstâncias...
ado. A ruína era total. Ao nosso redor, pessoas choravam por verem
como as casas, com seus parentes,
haviam sido tragadas pelo mar.
Pouco depois das 6h, ocultou-se a
Lua, deixando o morro em completa escuridão. Ali permanecemos até
amanhecer, por volta das 7h30.
Quatro ou cinco ondas gigantes
Calma, serenidade e
lucidez surpreendentes
A certa altura, vimos a primeira
onda entrar no povoado, derrubando
tudo quanto encontrava no caminho.
Logo após, retirou-se lentamente, arrastando destroços para o mar. Começou então uma série de redemoinhos que trituravam, como um liquidificador, entulhos das casas, automóveis, barcos, absolutamente tudo... O
estrépito era aterrorizante; jamais tínhamos escutado ruídos iguais. Enquanto assistíamos impotentes ao pavoroso espetáculo, não cessamos de
rezar, em voz alta, o Rosário.
Sobreveio em seguida a segunda onda, que avançou cerca de dois
quilômetros terra adentro, pois a
primeira já havia varrido quase todos os obstáculos... Retirou-se da
mesma forma, produzindo também
destrutivos redemoinhos. Creio que
nenhum tipo de devastação compara-se à produzida pela fúria da natureza: esmagadora, paralisante e incrivelmente rápida.
Ao todo, quatro ou cinco ondas
gigantes lançaram-se sobre o povo-
Quanto à nossa família, gostaria
de ressaltar que, apesar da obscuridade, da confusão e de nos encontrarmos em uma cidade totalmente desconhecida, conseguimos manter uma calma, serenidade e lucidez surpreendentes que nos levaram a fazer sempre as opções corretas. Muitos dos que não conseguiram sobreviver estavam bem
melhor preparados do que nós, do
ponto de vista natural, para enfrentar um tsunami...
Penso terem sido as orações
que fizemos a Maria Santíssima
e aos nossos santos padroeiros as
que operaram o milagre de conservar, em tão terríveis circunstâncias, nossa integridade física e psíquica, porque tudo era enlouquecedor! Sem a graça de Deus, a natureza humana não suporta atingir limites tão estressantes sem perder a
lucidez. E em momentos como esse, tomar uma decisão errada pode
ser fatal. 
O momento inaugural será presidido pelo Bispo de Leiria-Fátima,
D. António Marto.
Abertura da exposição “O
Bispo vestido de branco:
Os Papas e Fátima”
A 27 de Março o Santuário de Fátima inaugurará no vestíbulo da Capela do Santíssimo Sacramento, no
piso inferior da Igreja da Santíssima
Trindade, a exposição documental
“O Bispo vestido de branco: Os Papas e Fátima”, que fará memória das
visitas papais e este santuário.
A iniciativa pretende, a propósito da vinda do Santo Padre Bento
XVI a Fátima, recordar as várias visitas em que os Romanos Pontífices
se fizeram peregrinos de Nossa Senhora de Fátima.
Bento XVI já declarou sua intenção de venerar pessoalmente “aquela Face misteriosa que, silenciosamente, fala ao coração dos
homens, convidando-os a reconhecer nela o Rosto de Deus”. De
sua parte, João Paulo II, que visitou diversas vezes Turim para venerar o Santo Sudário, referiu-se a
ele como “a mais esplêndida relíquia da Paixão e da Ressurreição”
de Jesus.
Cristãos são considerados o
grupo religioso mais perseguido
Mais de um milhão de fiéis
venerarão o Santo Sudário
Em 70 dias, mais de um milhão
de fiéis se cadastraram, via internet,
para garantir acesso ao local onde
estará exposto o Santo Sudário de
Turim, de 10 de abril a 23 de maio.
O número de inscrições continua
crescendo.
No editorial da edição de 28 de
fevereiro de Octava dies, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, denuncia a perseguição de que são vítima os cristãos em diversos países como Iraque, Índia, Paquistão e regiões da África. Depois de
salientar que a violência anticristã reacendeu nestes dias, o porta-voz do Vaticano alerta: “Os recentes e brutais homicídios confirmam a mesma estratégia sistemáti-
Bispos portugueses
preparam visita do Papa
horizonte da Fé, da construção da unidade
“Noeclesial
e de uma sociedade mais justa e frater-
na” — é assim que os Bispos de Portugal desejam que
seja preparada a visita do Papa ao país, em maio próximo, conforme a nota pastoral publicada pela Conferência Episcopal Portuguesa.
Nela, os Bispos assinalam a “feliz coincidência entre o tempo que antecede a visita do Santo Padre e a
vivência litúrgica da Quaresma e do Tempo Pascal”
e convidam a “refletir e responder aos desafios da
mensagem preparada pelo Papa Bento XVI: ‘A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus
Cristo’” (cf. Rm 3, 21-22).
Exortam os católicos a serem “apóstolos corajosos que concretizam uma necessária e urgente co-
municação de Cristo nos ambientes do agir cotidiano: política e saúde, indústria e comércio, agricultura e pescas, educação e ensino, trabalho e lazer” e
concluem estimulando todos a se “prepararem condignamente” para receber o Santo Padre e não permitir que sua visita “se esgote num mero acontecimento passageiro, porventura muito participado e
festivo, mas que seja antes uma semente que germine e dê frutos de renovação espiritual, apostólica e social”.
Para dinamizar a preparação, a realização e a
continuidade da visita, a Conferência Episcopal
Portuguesa criou um site oficial (www.bentoxviportugal.pt) onde é possível encontrar as mais variadas informações.
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      41
Cardeal Cañizares recebe
fundador dos Arautos
N
ca, contra a qual as autoridades parecem não ser capazes de apresentar
soluções eficazes”.
Em outro campo de observação, o jornal alemão Der Spiegel
(1/3/2010) divulga notícia de que os
cristãos são considerados o grupo
religioso mais perseguido em todo
o mundo: na Malásia, incendeiamse suas igrejas; no Vietnã, a polícia
agride e detém sacerdotes e fiéis, e o
governo confisca propriedades eclesiásticas; no Egito, alegando crime
de “alta traição”, o ministro da religião defende a legalidade da pena
de morte para quem se converte ao
Cristianismo.
Segundo a ONG Open Doors,
100 milhões de cristãos vivem em
países onde não podem conseguir emprego, não têm permissão
para construir igrejas nem comprar artigos religiosos. Além dessa forma menos ofensiva de discriminação, há uma mais brutal, que inclui extorsão, roubo, expulsão, sequestro e até
assassinato.
42      Flashes de Fátima · Abril 2010
Gonzalo Raymundo
o último dia 18 de fevereiro, o Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, recebeu em audiência Monsenhor
João Scognamiglio Clá Dias, EP.
Durante o encontro, transcorrido em clima
ameno e de mútua estima, foram tratados diversos assuntos de interesse da Igreja. O fundador dos Arautos agradeceu o paternal apoio
que a Associação recebe do Cardeal desde o
tempo em que ele era Arcebispo de Toledo. E
o Cardeal, por sua vez, enalteceu o amor pela Igreja e pelo Santo Padre que caracteriza a
Instituição.
Disponível em DVD, o filme, intitulado Vigias na noite. Uma jornada monástica na Abadia de Santa
Madalena de Barroux, mostra a vida de oração e trabalho dos monges
beneditinos, cadenciada pelos diferentes ofícios do dia, cantados em
gregoriano. Um clip do documentário pode ser visto no site da Abadia
(http://www.barroux.org/dvd.html)
Fundação para as pessoas
que não creem
Filme sobre vida monástica
recebe prêmio na França
Um documentário de 52 minutos sobre a Abadia de Santa Madalena de Barroux foi laureado pelo
júri do Clube Audiovisual de Paris.
O prêmio foi entregue aos cineastas
em 15 de fevereiro, nas salas do Senado de Paris, pelo Núncio Apostólico na França, Dom Luigi Ventura,
em presença do Abade de Barroux,
Dom Louis-Marie.
O Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco
Ravasi, anunciou em 25 de fevereiro,
nas páginas do jornal da Conferência
Episcopal Italiana, Avvenire, a criação de uma Fundação para as pessoas que não creem, mas que se interessam por temas da espiritualidade
e pelo diálogo com a Igreja Católica.
“A Fundação organizará todos os
anos um grande evento”, anunciou
Dom Ravasi, acrescentando que o
primeiro deles poderá se realizar no
segundo semestre de 2010, provavelmente em Paris.
“Leva contigo a tua oração”
Por iniciativa do Secretariado
Nacional do Apostolado da Oração,
de Portugal, a Companhia de Jesus
oferece a possibilidade de baixar da
internet uma gravação de áudio de
10 minutos com orações, comentários de frases da Bíblia e cânticos selecionados para cada dia do ano.
Sob o lema Leva contigo a tua oração, o site (www.passo-a-rezar.net) tem
por objetivo “adaptar a proposta da
oração pessoal às circunstâncias da
vida de todos os dias e à exigência de
mobilidade que a caracteriza”.
Homenagem póstuma
a Bispo chinês
No dia 8 de fevereiro, 20 mil pessoas participaram, dos funerais de
Dom Raimundo Wang Chonglin,
Bispo emérito de Zhaoxian, China,
falecido aos 88 anos de idade por
causa de uma hemorragia cerebral.
Ordenado sacerdote em 1950, o
Pe. Wang foi condenado a vinte anos
de prisão em 1957. Recebeu a ordenação episcopal em 1983, mas só foi
reconhecido oficialmente pelo governo chinês cinco anos depois.
A mais numerosa
peregrinação a Guadalupe
Contando com a participação de
cerca de 100 mil fiéis — crianças,
adultos e até idosos — a última peregrinação anual da Diocese de Toluca à Basílica de Nossa Senhora de
Guadalupe tornou-se a mais numerosa da história do México. Ao lon-
go de três dias, os peregrinos percorreram quase 50 quilômetros, chegando na madrugada de 24 de fevereiro à colina de Tepeyac, onde Nossa Senhora apareceu ao índio Juan Diego em 1531. O evento encerrou-se com uma Missa no Santuário
presidida por Dom Francisco Javier
Chavolla Ramos, Bispo de Toluca.
Bento XVI visitará a
Espanha em novembro
O porta-voz do Vaticano, Pe. Frederico Lombardi, confirmou a viagem do Santo Padre à Espanha,
agendada para os dias 6 e 7 de novembro deste ano.
Sua Santidade visitará Santiago por ocasião do Ano Santo Compostelano, e consagrará em Barce-
Fotos: www.santiebeati.it
Canonização de seis
Bem-aventurados
Stanisław
Sołtys
André
Bessette
Cândida Maria
de Jesus
N
o Consistório Ordinário Público, realizado em 19 de fevereiro, o Papa Bento XVI aprovou a inclusão de seis
novos nomes no Catálogo dos Santos e marcou a cerimônia
de canonização para 17 de outubro próximo. Os novos santos
são os seguintes:
Beato Stanisław Sołtys (1433-1489), polonês, sacerdote da
Ordem dos Cônegos Regulares Lateranenses;
Beato André Bessette (1845-1937), canadense, religioso da
Congregação da Santa Cruz;
Beata Cândida Maria de Jesus (1845-1912), freira espanhola, fundadora da Congregação das Filhas de Jesus;
Beata Maria da Cruz MacKillop (1842-1909), freira australiana, fundadora da Congregação das Irmãs de São José do
Sagrado Coração;
Beata Giulia Salzano (1846-1929), freira italiana, fundadora da Congregação das Irmãs Catequistas do Sagrado Coração de Jesus;
Beata Battista da Varano (1458-1524), monja clarissa italiana, fundadora do Mosteiro de Santa Clara na cidade de Camerino.
Pela primeira vez na História, imagens de um Consistório
Público foram fornecidas ao vivo pelo Centro Televisivo Vaticano (CTV).
Maria da Cruz
MacKillop
Giulia
Salzano
Battista da
Varano
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      43
lona a Igreja da Sagrada Família.
O Papa Bento XVI esteve na Espanha em 2006, quando se realizou o
V Encontro Mundial das Famílias, e
está previsto em seu programa que
ele retornará em 2011, para presidir
os atos centrais da XXVI Jornada
Mundial da Juventude.
Congresso internacional
sobre João Paulo II
A capital colombiana recebeu nos
dias 19 e 20 de fevereiro o ­congresso
internacional Legado de João Paulo II, o Magno, evento organizado pela Nunciatura Apostólica na Colômbia, a Universidade Sergio ­Arboleda e
a embaixada da Polônia. O encontro
teve a participação do Arcebispo de
Cracóvia (Polônia), ­Cardeal Stanisław
Dziwisz, que foi secretário pessoal do
Papa Wojtyła durante 40 anos.
No evento, o presidente colombiano Álvaro Uribe conferiu ao Cardeal a Ordem Nacional ao Mérito,
no grau de Grande Cruz, pela seu
exemplo de vida como zeloso comunicador do Evangelho.
Fátima prepara exposição
sobre a Beata Jacinta Marto
No ano do centenário do seu nascimento, em que o Santuário de Fátima se volta para figura de Jacinta
Marto e a toma como especial modelo, o Departamento de Arte e Património do Santuário de Fátima
prepara uma exposição sobre esta
importante figura da história e da
mensagem de Fátima.
A inauguração da exposição, que
ficará patente no vestíbulo do convivium de Santo Agostinho, na Igreja da Santíssima Trindade, decorrerá
a 11 de Março, no dia dos cem anos
do nascimento de Jacinta Marto.
Os visitantes poderão contemplar
vários objectos que pertenceram à
mais nova das crianças videntes e alguns dos documentos que fizeram a
história de Fátima, material especialmente museografado a fim de ajudar
44      Flashes de Fátima · Abril 2010
a melhor entender a vida e espiritualidade da Beata Jacinta Marto”.
À semelhança da exposição de
2009, sobre Francisco Marto, também esta vai buscar às palavras do
Papa João Paulo II, proferidas no
dia da beatificação dos dois pastorinhos, a 13 de Maio de 2000 em Fátima, o título desta iniciativa: “Jacinta
Marto: candeia que Deus acendeu”.
Aumenta o número de
católicos no mundo
De acordo com a edição 2010 do
Anuário Pontifício — apresentada
pelo Cardeal Secretário de Estado
ao Santo Padre em 20 de fevereiro
— o número de católicos no mundo
aumentou de 1,147 bilhão, em 2007,
para 1,166 bilhão, em 2008. Houve,
portanto, um crescimento de 1,7%.
No mesmo período, o número de
Bispos subiu de 4.946 para 5.002;
o de sacerdotes, diocesanos e religiosos, de 405.178 para 409.166;
e o de candidatos ao sacerdócio,
de 115.915 para 117.024. A Religião Católica passou a representar
17,40% da população mundial (6,7
bilhões de habitantes).
Santa Sé nomeia
representante na China
A Santa Sé nomeou “de forma extraoficial e discreta” um representante na China, país com o qual rompeu
relações em 1951. E designou para a
delicada missão Ante Jozic, religioso croata de 43 anos formado na chamada “Escola dos Núncios”, de onde
sai o corpo diplomático da Santa Sé.
A representação funcionará “na forma de missão de estudos” — informou em 3 de março a Rádio Vaticano.
Ante Jozic reside em Hong Kong
e foi nomeado oficialmente conselheiro da Nunciatura nas Filipinas,
de onde atuará como elo entre as
autoridades da Santa Sé e da República Popular da China.
A Santa Sé, que rompeu relações
diplomáticas com a China dois anos
após a tomada de poder pelo Partido Comunista, trabalha há alguns
anos por uma aproximação com Pequim, objetivando reunificar a Igreja no país, dividida entre a “oficial”,
reconhecida pelo governo, e a clandestina, fiel ao Papa. Segundo números do Vaticano, existem entre 8
e 12 milhões de católicos na China.
Presumível milagre atribuído
a D. João de Oliveira Matos
O Tribunal Diocesano da Guarda reuniu no Outeiro de São Miguel,
para o encerramento do Processo
Diocesano de um “presumível milagre” atribuído à intercessão de D.
João de Oliveira Matos. A cerimónia
foi o culminar de um longo caminho
percorrido pela diocese da Guarda,
que se revê na santidade deste seu
pastor e pela Liga dos Servos de Jesus, de quem foi o Fundador.
Este Processo, que agora se encerrou, está interligado com o Processo sobre as Virtudes Heróicas vividas pelo Servo de Deus, realizado
no dia 3 de Maio de 1998.
O Processo transita agora para Roma onde se irá proceder á elaboração
da Positio, para futuramente, ser analisada pela Comissão Médica, afecta à
Congregação das Causas dos Santos.
A cerimónia de encerramento do Processo terminou com a Eucaristia, presidida por D. Manuel Felício.
Na homilia, o Bispo da Guarda referiu o que era prática e desejo
de continuidade, do Senhor D. João,
nomeadamente no que se refere aos
Servos Externos. O que estes devem
representar numa paróquia, nos seus
trabalhos, onde quer que se encontrem inseridos. Não esqueceu de frisar a importância de se implementar uma rede de retiros, como se fazia naquele tempo, “pois é no silêncio e na oração que Deus se revela”.
Depois da homilia, o grupo de
novos Servos fez, em conjunto, a
consagração. Foram vinte e dois,
mais um diácono.
Olhar em frente,
construir um futuro
solidário!
Perante o temporal que açoitou a Madeira, é
difícil achar palavras mais cheias de conforto
e esperança do que as dirigidas aos seus fiéis
pelo Bispo do Funchal, D. António Carrilho.
C
oloca-se aqui a questão da fé
e da providência divina, perante as dificuldades da vida
e situações de maior sofrimento. Nestes momentos, quem não desejaria a
intervenção miraculosa de Deus, como resposta directa aos problemas
pessoais e sociais? O milagre é possível, mas constitui sempre algo de extraordinário e aponta, como sinal, para uma mensagem de salvação. Normalmente, Deus respeita as leis da natureza, que Ele próprio estabeleceu,
e com elas ofereceu ao Homem, na
sua liberdade responsável, as imensas
possibilidades do desenvolvimento da
Ciência e da Técnica.
A fé supera o desespero e a revolta
A fé coloca-nos no seguimento de Jesus, na escuta da Sua Palavra e no ideal de vida que Ele testemunhou. É este, afinal, o ensinamento do santo tempo da Quaresma, que estamos a viver, em toda
a Igreja: convidados a uma atitude
de profunda conversão a Deus e ao
próximo, caminhamos para a grande
celebração do mistério pascal de Jesus, que é sofrimento, paixão, morte
e ressurreição! Como nos adverte o
Concílio Vaticano II, Jesus podia ter
cumprido plenamente a Sua missão
de outro modo, sem a cruz fê-lo as-
sim para tocar o sofrimento e a morte, aquilo que é mais difícil aceitar
e assumir na vida do Homem, dando-lhe, porém, um sentido de vida e
de esperança, na perspectiva da Sua
gloriosa Ressurreição! […]
A fé vivida, assim, no seguimento de Cristo, supera o desespero e a
revolta, e leva-nos a assumir a vida
toda em referência a Ele: as alegrias
e as tristezas, as facilidades e as dificuldades, o sofrimento e a própria
morte. A fé será sempre uma força interior, a força de Deus em nós,
que nos ajuda a aceitar e oferecer
a vida tal como ela se nos apresenta. Da fé brota a esperança e a exigência do amor-caridade, o mandamento novo que Jesus nos deixou:
“Amai-vos uns aos outros como Eu
vos amei” (Jo 13,34), isto é, dando a
vida uns pelos outros.
Grande o sofrimento,
maior a esperança
Irmãos e amigos, considerando
as razões que aqui nos congregaram
nesta tarde, eu quero dizer-vos: se
é grande o sofrimento do nosso povo, seja maior a força da nossa esperança! Rezamos por aqueles que faleceram e pelos seus familiares; pedimos, também, a Deus o ânimo e
a coragem para todos quantos, com
determinação, se empenham na reconstrução das suas vidas e na restituição, às zonas mais afectadas da
nossa Ilha, da sua reconhecida e tão
apreciada beleza.
É hora de olhar em frente e reconstruir o futuro; é hora de conservar e desenvolver o espírito de solidariedade, atenção mútua, união e
entreajuda fraterna, para que perdurem e não esmoreçam os sentimentos e valores, agora aflorados
e estimulados. É hora de reavivar,
aprofundar e esclarecer a fé cristã,
tão profundamente arreigada na alma e na cultura do nosso povo madeirense, sentindo que não caminhamos sós, pois estamos seguros
da presença de Jesus e da protecção
maternal de Maria, de tão grande
devoção entre nós.
Como se dizia na primeira leitura (cf. Ap 21, 1-5), Deus veio habitar com os homens: Ele enxugará as
lágrimas do Seu povo, vem renovar
todas as coisas e, por isso, possamos
também nós antever, como S. João,
“um novo céu e uma nova terra”
(21,1), que juntos, com Cristo, queremos construir!
(Excertos da Homilia de
D. António Carrilho
dia 28 de Fevereiro p.p.)
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      45
História para crianças... ou adultos cheios de fé?
Deus ama
quem dá
com alegria
Diante de tal pedido, Margarida sentiu-se tocada, pois
ainda ressoavam em seu coração as palavras que acabara
de ouvir: “Deus ama quem dá com alegria”.
Irmã Lucía Ordoñez Cebolla, EP
O
Porém, o tempo passava e a pecoração de dona Etelvi- cessitavam ainda mais do que eles.
na era muito generoso. Jamais abandonavam a frequência quena Margarida foi crescendo.
Apesar de ser pobre, a aos Sacramentos, pois sabiam que Apesar do bom exemplo de seus
boa senhora sempre aju- estes e a oração eram seu sustento pais, a menina era caprichosa, vaidosa e muito egoísta. Quando ia
dava a todos os necessitados que e sua força.
brincar com as amiguinhas
fossem pedir-lhe uma esda vizinhança, invariavelmola, em nome de Deus.
mente era a que deveria gaSeu esposo, o senhor Annhar em todos os jogos, e
tônio, era um honrado motinha que ser o centro das
torista, muito trabalhador,
atenções. Em nada imitava
mas seu salário era o moa humildade e a generosidesto valor que recebia pedade dos pais.
lo frete feito para os moraQuando completou sete
dores da pequena vila de
anos, sua madrinha, senhoSão Pedro do Leste. O que
ra de certas posses, deu-lhe
ganhava era apenas sufide presente uma linda bociente para sustentar a esneca, com olhos de vidro e
posa e a filha, Margarida.
um vestido de princesa. A
Não obstante, apoiava os
menina ficou encantada!
pródigos gestos de sua muLogo foi mostrá-la às comlher. E nunca faltava nada
panheiras. Mas em vez de
naquele humilde lar!
deixar que cada uma a peTudo isso se devia à piegasse nas mãos, acariciasse
dade do casal que, sem deie embalasse, cheia de apexar de confiar na ProvidênCheia de apego, nem permitiu que tocassem
go, nem permitiu que tocascia Divina, era dadivoso
no seu novo brinquedo, voltando para casa
com muita arrogância!
sem no seu novo brinquedo,
para com aqueles que ne-
46      Flashes de Fátima · Abril 2010
Edith Petitclerc
— Que Deus lhe pague
voltando para casa com
e recompense!
muita arrogância!
Tomada de uma rara feA mãe se preocupava
licidade, a menina voltou
com a filha, pois via que
para casa correndo e conestava andando por um
tou o fato à mãe que, em
caminho bem perigoso e,
lágrimas, abraçou a filha,
se continuasse assim, sedizendo-lhe:
ria uma pessoa muito infe— Pois saiba que esta
liz e perderia a amizade de
foi a melhor preparação
Deus. Por isso, pedia muique você poderia ter feito à Santíssima Virgem
to para receber Jesus, no
por ela. E sempre lhe daSantíssimo Sacramento!
va bons conselhos:
Naquela noite, Marga— Filhinha, devemos
rida teve um sonho. Nespensar que assim como Jete, Jesus lhe aparecia com
sus é generoso conosco,
sua cruzinha de prata nas
devemos ser com os oumãos, adornada com as
tros. Se você ganhou esta
mais belas pedras preciolinda boneca, é para que
sas. E, sorrindo, lhe perpossa brincar junto com
guntava:
suas amigas. Nada temos
— Conheces este objeque não tenha vindo da
to?
bondade de Deus. Não seEla Lhe respondia que
ja egoísta!
sim, mas que não era tão
A menina escutava atenPrometo-te que, no dia do Juízo, em presença dos
linda como estava agora...
ta, mas logo esquecia os
Anjos e dos homens, mostrarei esta pequena cruz para
Jesus, então, lhe dizia:
bons conselhos da mãe...
que tua glória seja eterna.
— Ontem tu a deste a
Algum tempo depois,
começaram as aulas preparatórias por Deus... Queria sentir a alegria um mendigo desconhecido, e a virtude da caridade a tornou mais bepara sua Primeira Comunhão. Mar- de dar!
Terminada a Santa Missa, na por- la! Esse mendigo era Eu! Prometogarida ouvia com interesse a catequista contar os milagres de Jesus, ta da igreja, Margarida encontrou- te que, no dia do Juízo, em presença
como Ele havia curado enfermos, se com um mendigo. A aldeia era dos Anjos e dos homens, mostrarei
ajudado aos mais necessitados e co- pequena e todos se conheciam, mas esta pequena cruz para que tua glómo era generoso para com todos. aquele infeliz maltrapilho lhe era to- ria seja eterna.
Na manhã seguinte, a menina
Seu pequeno coração foi sendo to- talmente desconhecido. O homem
cado pela graça e começou a fazer pedia uma esmola, por amor a Deus. aproximou-se do confessionário,
Diante de tal súplica, Margari- completamente transformada. Deum exame de consciência de como
andava mal com suas atitudes egoís- da sentiu-se tocada, pois ainda res- pois de limpar sua alma dos caprisoavam em sua alma as palavras que chos e egoísmos, pôde receber Jesus
tas e caprichosas...
Já na véspera do grande dia, an- acabara de ouvir: “Deus ama quem na Eucaristia, com muita consolação
e compreendendo o quanto é vertes mesmo da primeira Confissão, dá com alegria”...
Margarida levava sempre em seu dade que “Deus ama quem dá com
as crianças da catequese tiveram
uma Missa preparatória para a mes- pescoço uma correntinha com uma alegria”.
E a exemplo de seus bons pais, lema. E, em uma das leituras, a meni- pequena cruz de prata, presente da
na escutou: “Dê cada um conforme madrinha, em seu Batismo. Era o vou uma vida santa, sendo generosa
o impulso do seu coração, sem tris- objeto pelo qual mais tinha apreço. para com todos, sobretudo para com
teza nem constrangimento. Deus Sem titubear e sentindo pela primei- Nosso Senhor Jesus Cristo, deixanama quem dá com alegria” (II Cor ra vez a alegria de dar, a menina ti- do-se levar pela graça e por Seus de9, 7). Aquelas palavras entraram co- rou o estimado objeto e o deu ao po- sígnios, confiante na promessa que
mo um raio de fogo em seu cora- bre homem. Este olhou-a com extre- Ele lhe havia feito naquele inesquecível sonho! 
ção! Queria ser ela também amada mo afeto e gratidão, e lhe disse:
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      47
________
Os Santos de cada dia Ricardo Castelo Branco
“consolar e dar alegria a Jesus”. Suportou, nessa intenção, atrozes sofrimentos e morreu pouco antes de
completar 11 anos.
5. São Vicente Ferrer, presbítero
(†1419).
Santa Maria Crescência Höss,
virgem (†1744). Governou com suavidade e sabedoria o mosteiro das
Terciárias Regulares Franciscanas
de Mayerhoff, Alemanha, do qual
foi mestre de noviças e superiora.
“Beato Miguel Rua” - Basílica de
Maria Auxiliadora, Turim (Itália)
1. Santa Maria Egipcíaca, penitente (†séc. V). Famosa pecadora pública de Alexandria que, por
curiosidade, embarcou num navio
de peregrinos com destino à Terra
Santa. Tocada pela graça em Jerusalém, arrependeu-se e passou 47 anos
de vida penitente, no deserto.
2. Sexta-Feira Santa.
São Francisco de Paula, eremita
(†1507).
Beato Leopoldo de Gaiche, presbítero (†1815). Religioso franciscano que se destacou como missionário a ponto de ser chamado “Apóstolo da Úmbria”.
6. Beato Miguel Rua, presbítero
(†1910). Discípulo e primeiro sucessor de São João Bosco, deu grande
impulso à Congregação Salesiana.
7. São João Batista de la Salle,
presbítero (†1719).
Santo Ermano José, presbítero (†1241/1252). Religioso do mosteiro premonstratense de Steinfeld,
Alemanha, brilhou por seu amor à
Virgem Maria e devoção ao Sagrado
Coração de Jesus.
8. São Dionísio, Bispo (†180). Dotado de grande conhecimento da Palavra de Deus, instruiu pela pregação
os fiéis de Corinto e, através de cartas, os Bispos de outras dioceses.
3. Sábado Santo.
São Nicetas, abade (†824). Hegúmeno do mosteiro de Medikion,
na atual Turquia, sofreu perseguições por ter defendido com denodo
o culto às imagens sagradas.
9. Beato Antonio Pavoni, presbítero e mártir (†1374). Religioso dominicano de Savigliano, Itália, trucidado por valdenses quando saía da
igreja onde havia feito uma pregação contra essa heresia.
4. Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor.
Santo Isidoro, Bispo e doutor da
Igreja (†636).
Beato Francisco Marto (†1919).
Um dos videntes de Fátima. Após
as aparições de Nossa Senhora, viveu movido pelo único desejo de
10. Santa Madalena de Canossa, virgem (†1855). Filha do Marquês de Canossa, abandonou tudo por amor a Cristo. Fundou em
Verona, Itália, os Institutos dos Filhos e das Filhas da Caridade, para promover a formação cristã da
juventude.
48      Flashes de Fátima · Abril 2010
11. II Domingo da Páscoa. Domingo da Divina Misericórdia.
Santo Estanislau, Bispo e mártir
(†1079). Arcebispo de Cracóvia assassinado pelo Rei Boleslau II, da Polônia, a quem havia censurado por seus
escândalos e pedido para respeitar os
preceitos católicos do casamento.
12. São Júlio I, Papa (†352). Defendeu os princípios do Concílio de
Niceia e protegeu Santo Atanásio
contra a perseguição dos arianos.
13. São Martinho I, Papa e mártir (†656).
Beato Escubilião Rousseau, religioso (†1867). Ingressou no Instituto dos Irmãos Lassalistas e passou
o resto de sua vida como missionário na Ilha Reunião (Oceano Índico), educando as crianças e instruindo na Fé os escravos.
14. São Bernardo, abade (†1117).
Monge do mosteiro de São Cipriano, de Poitiers, França, do qual,
após muita resistência, aceitou o
cargo de abade.
15. São Paterno, Bispo (†cerca de 565). Eremita eleito Bispo de
Avranches, França, dedicou-se a
evangelizar a população ainda pagã.
16. Santa Bernadette Soubirous,
virgem (†1879). Jovem favorecida
pelas aparições de Nossa Senhora
de Lourdes. Ingressou na Congregação das Irmãs da Caridade de Nevers, onde foi modelo de humildade.
17. São Roberto de Molesmes,
abade (†1111). Monge beneditino
que, com o auxilio de Santo Estêvão
Harding e Santo Alberico, fundou
em Cîteaux, França um novo mosteiro para colocar em prática o ideal
monástico de estrita observância da
_______________________ Abril
18. III Domingo da Páscoa.
Santa Atanásia, viúva (†séc. IX).
Tendo falecido seu esposo, tornouse eremita em Egina, Grécia.
19. Santa Marta, virgem e mártir
(†341). Sofreu o martírio na Pérsia
durante as perseguições do rei Sapor II.
20. Beato Simão Rinalducci, presbítero (†1322). Religioso da Ordem
dos Eremitas de Santo Agostinho,
exerceu em Bolonha profícuo apostolado com a juventude estudantil.
Gustavo Kralj
21. Santo Anselmo, Bispo e doutor da Igreja (†1109).
São Romano Adame, presbítero e
mártir (†1927). Expulso da casa paroquial de Nochistlán, México, pas-
sou a exercer na clandestinidade seu
ministério sacerdotal, até ser descoberto e fuzilado.
22. Santa Senhorinha, abadessa
(†cerca de 980). Descendente de nobre família de Braga, Portugal. Tomou
o hábito no convento de São João de
Viveiro, do qual foi abadessa.
23. São Jorge, mártir (†séc. IV).
Santo Adalberto, Bispo e mártir
(†997). Em Praga, onde era Bispo,
procurou extirpar os costumes pagãos, mas diante da escassez de resultados renunciou ao episcopado
e dirigiu-se para Roma a fim de viver como monge. Enviado pelo Papa
para evangelizar os prussianos, foi
por eles martirizado.
24. São Fidélis de Sigmaringa,
presbítero e mártir (†1622).
Santa Maria Eufrásia Pelletier,
virgem (†1868). Religiosa da Ordem
de Nossa Senhora da Caridade do
Refúgio. Fundou em Anger, França,
a Congregação de Nossa Senhora da
Caridade do Bom Pastor, para acolher as pecadoras públicas arrependidas e desejosas de ingressar na vida religiosa.
25. IV Domingo da Páscoa.
São Marcos Evangelista.
Beato João Piamarta, presbítero
(†1913). Fundou em Bréscia, Itália,
a Congregação da Sagrada Família
de Nazaré, com o objetivo de proporcionar aos jovens formação religiosa juntamente com o aprendizado de um ofício.
“Santa Maria Eufrásia Pelletier” Basílica de São Pedro (Vaticano)
© Santiebeati.it
Regra. Nasceu assim a Ordem Cisterciense.
26. São Ricário, monge (†645).
Pagão de Celles, França, cristianizado pela instrução recebida dos missionários irlandeses. Fundou uma
comunidade monástica em Crécy,
onde viveu como contemplativo.
Santa Joana Beretta Molla
27. São Pedro Armengol, religioso (†1304). Chefe de salteadores, arrependeu-se de sua vida devassa, ingressou na Ordem dos Mercedários
e dedicou-se à obra de resgatar os
escravos cristãos na África.
28. São Pedro Chanel, presbítero
(†1841).
São Luís Maria Grignion de
Montfort, presbítero (†1716).
Santa Joana Beretta Molla, mãe
de família (†1962). Médica pediatra, mãe de quatro filhos. Estando
grávida, descobriu ter um fibroma
no útero, mas negou-se a abortar,
preferindo sacrificar sua própria vida para salvar a da filha que estava
por nascer.
29. Santa Catarina de Sena, virgem e doutora da Igreja (†1380).
Desempenhou importante papel no
retorno do Papa de Avignon para
Roma.
30. São Pio V, Papa (†1572).
São José Tuan, presbítero e mártir (†1861). Sacerdote dominicano,
decapitado durante as perseguições
no Vietnã, por haver ministrado os
Sacramentos à sua mãe enferma.
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      49
Um olhar
com mil facetas
Quem poderá exprimir, por alguma obra artística ou literária,
as mil facetas d’Aquela que tem uma “certa dignidade infinita”
e “chegou aos confins da divindade”?
P. Antônio Guerra de Oliveira Jr., EP
M
uito já se escreveu
e discorreu acerca da Virgem Mãe
de Deus. Entretanto, faltam-nos palavras para exprimir quanto devemos à sua inigualável
Pessoa. O culto a Ela remonta ao início da Cristandade, e foi crescendo ao
longo do tempo, fazendo-A figurar na
pluma dos mais insignes pensadores e
nos lábios dos mais eloquentes pregadores, e também nas obras dos mais
talentosos artistas que a História conheceu.
Empenhada em manifestar a
honra que é devida à Mãe de Deus,
a Revista Arautos do Evangelho vem
reproduzindo, desde seu primeiro
número, expressivas imagens dessa Venerável Senhora, sobretudo
nas quartas capas. Ora aparece Ela
com afável sorriso, ora com fisionomia compassiva ou com olhar suavemente entristecido, porém sempre
nos convidando a, por meio d’Ela,
mais facilmente nos aproximarmos
do trono de Seu Divino Filho.
Ao longo da história
Em dois milênios de ­Cristianismo,
a figura ímpar de Maria Santíssima
foi representada das mais variadas
formas. Em sua fase inicial, a Igreja A concebeu como Virgem Oran50      Flashes de Fátima · Abril 2010
te, com os braços abertos em sinal
de prece, e sem o Menino Jesus. Ou
ainda como Virgem Mãe, deixando
transparecer uma divina pureza em
sua feição.
No período românico, Maria é
principalmente representada como
Mãe de Deus, majestosa, ereta, com
olhar hierático. Sentada em trono
como Rainha, tem sobre os joelhos
Jesus, a Sabedoria Eterna, e O apresenta ao mundo com gesto respeitoso, segurando-o com as duas mãos.
São as imagens de Sedes Sapientiæ
(Sede da Sabedoria).
Desde o final do século XII, a
hieraticidade cede lugar ao movimento. O Menino Deus “muda”
de posição: tal imagem O apresenta num dos braços da Mãe, tal outra
sobre os joelhos. A figura da Virgem ganha em destaque e simbolismo: difundem-se as Virgens Negras,
coloração explicada por certos exegetas num sentido místico de dor e
sofrimento; ou ainda as Virgens com
Maçã, relembrando que a nova Eva
reparou o pecado da antiga.
No século XIII, em pleno auge do gótico, tudo canta o louvor à
Santíssima Virgem: inúmeras igrejas
são levantadas em Sua honra, multiplicam-se nos púlpitos as referências
a Ela, e a Liturgia A celebra abun-
dantemente. Na pintura e na escultura, a Rainha e Mãe toma ares de
uma nobre dama que brinca com
seu Filhinho e O abraça com todo
afeto. “Sempre foi verdade — afirma o padre Dinarte Passos — que o
estilo gótico atingiu o ideal em todas
as artes, também, portanto, aqui na
arte marial”.1
Depois da Idade Média, rompem-se os estreitos vínculos entre a
arte e a Fé. A escultura e a pintura
se materializam. Na Renascença e
no período Moderno, enquanto progredia a técnica de como fazer, perdia-se em boa medida o espírito de
como criar. Mas as manifestações de
devoção a Nossa Senhora não deixaram de crescer também nessa época.
Mil formas de representá-La
Sendo Mãe, Maria quer entrar
em contato com seus filhos, procura adaptar-Se aos bons aspectos deles, transmite-lhes mensagens.
Daí nasceu o culto à Virgem Maria
­designando-A pelo nome do local onde Ela apareceu: Nossa Senhora de
Fátima ou Nossa Senhora de Lourdes, por exemplo. Invocações há que
expressam veneração por algum aspecto de sua vida, como Nossa Senhora Menina; ou algum episódio do
Evangelho, Nossa Senhora do Des-
1
Cf. PASSOS, CM, Dinarte Duarte. A
Imagem da SS. Virgem através da História. Revista Eclesiástica Brasileira,
dezembro 1947, v.VII, f.IV, p.868.
2
CAIETANO, apud ROYO MARÍN,
OP, Antonio. Teología de la Perfección Cristiana. 9.ed. Madrid: BAC,
2001, p.89.
3
SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma
Teológica, I, q.25, a.6, ad.4.
Gustavo Kralj
Mãe de Deus, Imperatriz da China
Catedral do Norte, Pequim
Revista nº 77 - Outubro de 2009
Revista nº 5 – Abril de 2003
(edição brasileira)
Victor Toniolo
Mário Shinoda
Nossa Senhora de Paris – Capela do
Seminário dos Arautos, São Paulo
Nossa Senhora do Carmo – Basílica
do Carmo, São Paulo
Salus Populi Romani
Tra Noi, Roma
Revista nº 24 - Julho de 2005
Revista nº 78 - Janeiro de 2007
Virgen de la Pera
Museu do Prado, Madri
Imaculada Conceição
Sabará (Brasil)
Revista nº 79 - Dezembro de 2009
Revista nº 19 - Dezembro de 2004
Plinio Veas
Sérgio Hollmann
terro, que evoca a fuga para o Egito. Há também f­ormas de representá-La de acordo com as particulares
circunstâncias em que Ela nos ajuda:
Nossa Senhora da Pena, inspiradora
das artes e das letras; Nossa Senhora
dos Mares ou ­Nossa Senhora da Estrada, protetora dos viajantes.
Dezenas são as festas celebradas
em honra da Santíssima Virgem ao
longo do ano, mas uma delas chama
de modo especial a nossa atenção: a
Solenidade de Santa Maria Mãe de
Deus, que a Igreja comemora no dia
1º de janeiro. Assim, o ano se inicia
sob Seu olhar e Sua proteção.
A Maternidade Divina de Nossa Senhora é tão sublime que A coloca acima de todas as outras criaturas. Pois, segundo a expressão do
Cardeal Caietano: “Somente a Bemaventurada Virgem Maria chegou
aos confins da divindade por sua própria operação natural, já que concebeu, deu à luz, engendrou e alimentou com Seu leite o próprio Deus”.2
Em vista de tanta sublimidade, ninguém será capaz de exprimir
de modo perfeito e acabado — por
qualquer tipo de obra artística ou literária — as mil facetas d’Aquela
que, segundo São Tomás, tem uma
“certa dignidade infinita”.3 Poderá alguém, ao menos, escolher entre várias representações de Nossa
Senhora alguma cujo olhar exprima
mais adequadamente Aquela que
“chegou aos confins da divindade”?
Convidamos o caro leitor a fazer
a sua escolha... 
Abril 2010 · Flashes
de Fátima      51
J
amais teve alguém em seus braços tesouro
de igual valor: infinito...! Entretanto,
quem foi mais desejosa do que Nossa Senhora
de atrair outros para compartilharem de Seu
tesouro?
Victor Toniolo
(Mons. João Scognamiglio Clá Dias,
Mater Boni Consilii, pag. 5)
“Nossa Senhora
do Bom Conselho”,
Genazzano - Itália

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