o triunvirato - Escola do Caminho
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o triunvirato - Escola do Caminho
CRISTANDADE BRANCA UNIVERSAL BEZERRA NETO (TRANSMITANTE) O TRIUNVIRATO REGENTE TUMUCHY (ORG.) HISTÓRIA ESPIRITUAL 1 O TRIUNVIRATO O TRIUNVIRATO HISTÓRIA ESPIRITUAL 2 O TRIUNVIRATO CRISTANDADE BRANCA UNIVERSAL O TRIUNVIRATO HISTÓRIA ESPIRITUAL BEZERRA NETO (TRANSMITANTE) TRINO HERDEIRO REGENTE TUMUCHY (ORG.) 2.ª EDIÇÃO VOLUME 1 EDIÇÃO DO ORGANIZADOR 3 O TRIUNVIRATO Edição do Organizador Este livro, no seu todo ou em parte poderá ser divulgado, reproduzido ou transmitido, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros sem autorização prévia. Os editores não se responsabilizam por qualquer forma de alteração conteudística, ou ainda por qualquer forma de utilização do presente material, que seja discordante em relação aos ensinos do Mestre Jesus. Direção Editorial: Trino Tumuchy Adaptação e revisão: Trino Tumuchy Edição do autor St. Baixio dos Monteiros, 00050 Distrito Romualdo - Crato Fone: (88) 8801-1070 E-mail: [email protected] Home page: www.aescoladocaminho.com Neto, Bezerra; Tumuchy, Trino (org.). O Triunvirato. Crato: edição do organizador, 2013. 92p ISBN: CDD: 110 4 O TRIUNVIRATO Em sua programação essência, Roma é escolhida nos planos celestes como a nação espiritual do novo mundo, cuja missão é a de fazer a transposição do sistema cristão para o sistema crístico. A águia Roma deveria ter sido o conciliador entre o velho e o novo... 5 O TRIUNVIRATO SUMÁRIO PREFÁCIO PARA A SEGUNDA EDIÇÃO ............... 7 INTRODUÇÃO ................................................. 9 PETRUCIUS CORNÉLIO.................................. 13 A SITUAÇÃO POLÍTICA .................................. 23 MARCUS LICINIUS CRASSUS DIVES .............. 27 CNAEUS POMPEIUS MAGNUS........................ 34 LUCIUS CORNELIUS SULLA .......................... 43 TRAMAS E ALIANÇAS ................................... 47 FORÇAS POLÍTICAS ....................................... 55 GAIUS IULIUS CAESAR ................................. 59 POMPEU AGE ............................................... 65 A TRAIÇÃO .................................................. 73 A MORTE DE PETRUCIUS .............................. 82 6 O TRIUNVIRATO PREFÁCIO PARA A SEGUNDA EDIÇÃO Amigos e irmãos, salve Deus. A primeira vez que recebi algo documental sobre a história de Roma, estávamos em Juazeiro do Norte, e corria o ano de 1997. Tratavam-se de uns retratos a lápis, feitos muito rapidamente, e que davam conta de cerca de sessenta personagens da trama que se segue, acompanhados de seus nomes passados e atuais. Posteriormente, quando já nos encontrávamos em Brasília, recebi mais cerca de 40 nomes, estes sem gravura. Desta segunda lista, chamou-me atenção o fato de que constavam nomes de pessoas que na presente encarnação ainda nem conhecíamos. Ficou-me, das mãos de tio Chico, um resumo de 15 páginas, feito a lápis, onde se podia perceber o traço corrido, a letra mal feita, a escrita às pressas, de modo a não perder o fluxo mediúnico, o momento em que os quadros se projetavam na tela mental. Depois de muito instá-lo a continuar aquela narrativa, recebi do próprio, a missão de o fazer. Deveria estudar e desenvolver o presente enredo, tarefa para a qual me dediquei durante longo tempo. O trabalho constituía-se de pesquisa em livros de gabarito sobre o assunto, 7 O TRIUNVIRATO consultas sobre nomes, datas, fatos, bem como a escrita livre, intuitiva, porque fui orientado a, quando encontrasse momento propício, escrever livremente, deixando que o mediúnico fluísse. Acerca disto, fui somente orientado que antes de qualquer publicação deveríamos ler junto o material. Sobre o enredo em si, sentimo-nos no dever de esclarecer que os fatos aqui narrados nem sempre se coadunam às narrativas da história tradicional, o que, em nosso entender não desmerece nem desqualifica um e outro. Ao contrário, um se soma ao outro em diálogo e debate fraternos. E no tocante à conclusão, esta deixamos a você leitor. Sinto-me, contudo, no dever de registrar mais uma vez meu profundo agradecimento pela confiança em mim depositada pelos mentores, por tio Chico, supervisor deste trabalho. Particularmente por tia Sônia, que em madrugadas dividia comigo impressões, orientava-me a escrita e vibrava comigo, a cada pequena confirmação recebida. Muito obrigado a todos. Jesus nos abençoe. Trino Triada Herdeiro Regente Tumuchy. 8 O TRIUNVIRATO INTRODUÇÃO Amigos, salve Deus. Em sua programação essência, Roma é escolhida nos planos celestes como a nação espiritual do novo mundo, cuja missão é a de fazer a transposição do sistema cristão para o sistema crístico. A águia Roma deveria ter sido o conciliador entre o velho e o novo. A era romana marca a novo ciclo e se coloca como estrela alfa na terra candidatando-se a ser o berço do décimo primeiro avatar, prenunciando a vinda do Divino Messias, Jesus o Enviado do Cristo O Sublime Galileu - aquele que transformaria e uniria toda a sociedade humana numa só verdade, num só pensamento, numa só linguagem, num só sentimento: o de amor, o amor que busca o próximo. Então Jesus abre o quinto ciclo evolutivo; lança a ideia do “amai-vos uns aos outros” e nos convida todos a cultivar e semear a paz, o perdão, a tolerância e a praticar a humildade, as novas bases do novo mundo que abalariam as estruturas da velha estrada marcada pela lei de Talião: “olho por olho, dente por dente” - A coluna mestra do sistema cristão, sendo o oposto do Sistema Crístico: 9 O TRIUNVIRATO perdão e amor é sua estrutura devendo repousar no perdão e na tolerância para consigo mesmo e com o próximo o sentimento em essência, que transfigura o indivíduo cristão no ser crístico. Cumpre assim Jesus o planejamento evolutivo do planeta chamado Terra. No aspecto individual, ecoam na memória do passado e muitas vezes como determinantes do presente, as lembranças de nossas passagens em Roma. Estávamos todos encarnados, envolvidos nos contextos políticos e sociais daquele povo. Neste particular, Jesus havia-nos conferido uma grande oportunidade de mudar os rumos nos quais Roma alicerçava suas conquistas. Aquele império tinha no mundo espiritual, a função de ser o berço, o educandário do mundo; de suas fronteiras se espalhariam as sementes de uma maturação espiritual, do homem edificado no respeito, nas diretrizes do trabalho redentor, de espíritos carentes de organização política, social e cultural, ao invés de se deixar levar pelas paixões terrenas, pelo poder temporário. Seus condutores enveredaram pelos caminhos da guerra quando lhes cabiam as conquistas no campo moral, e intelectual, guiando todas as almas ao amor crístico. 10 O TRIUNVIRATO Em seus séculos de hegemonia, vamos encontrar Roma constantemente mergulhada em crises constantes, pelas conquistas que se estendiam a terras distantes escravizando povos vizinhos, sem, contudo poder governá-los. O senado estava vencido e na verdade, aquele que se destacasse frente aos exércitos, no comando das legiões, era quem governava. Ale estávamos nós, espalhados, agindo, colocando em prática os nossos baixos interesses, abastados com funções especiais nos mais diversos setores, sempre ocupando altos cargos, no comando da política ou nas fileiras de seus exércitos, como capitães, generais, tribunos, pretores, sensores, procuradores, centuriões, cônsules, pró-cônsules, governadores de províncias e assessores do imperador. Entre essas figuras vamos encontrar César, Caius, Vespaziano, Vesprúcio, Cícero, Petrucius Flávius, Glaucus Caius, Marcus Antonio, Marcus Vinicius, Caius Petrus, Mário, Cornélio de Cina, Pompeu, Crasso, Brutus, Lépido, Otávio, Agripa e mais como Espartacus, Valério de Saurus, Saulo, Maria Otília, Odalesca Verônica, Marta, Andrasa e tantos outros... 11 O TRIUNVIRATO A você, amigo e irmão, leitor que conosco compartilha neste momento. Procure sentir este percurso e se encontrar nestas páginas. Não ao acaso estes escritos chegaram às vossas mãos. Jesus nos abençoe a todos. Boa leitura. Salve Deus. 12 O TRIUNVIRATO I PETRUCIUS CORNÉLIO Petrucius Cornélio era um senador romano dos mais influentes de toda aquela época e em toda aquela região, por toda aquela casta de fidalgos, de patrícios romanos. Filho único, herdara tudo do seu pai, que gozava de grande comodidade e fortuna financeira, acumulada em longos anos de trabalho e dedicação ao império... Era amigo de Mário, homem também de grande influência em todo patriciado daquela época. Devido à prudência, que lhe era peculiar, Petrucius, o filho, resguardara agora, já no fim da vida, considerável fortuna (parte vinda do pai), que lhe permitia viver sem preocupações desta ordem até o fim dos seus dias na terra. Casou-se muito novo com uma jovem patrícia de nome Cormélia 1, dama de rara e singular beleza, possuidora de traços morais que alegrariam e apaixonariam todo homem desejoso de prolongar e coroar sua vida no seio de uma sólida família. 1 No decorrer da redação, recebemos a notícia de que Cormélia evoluíra, e trabalhava pela evolução de seu companheiro, o nosso saudosos amigo José Cardoso. 13 O TRIUNVIRATO Dessa união, nasceram dois filhos, que mais tarde desapareceriam em guerras pelos exércitos da temida águia romana. Batalhas, aliás, que o próprio Petrucius comandara, quando jovem, pelas terras da África. Contudo, desde a partida dos dois jovens para os planos espirituais, o nosso personagem nunca mais fora o mesmo. Profunda dor, de quem perde o tesouro de sua vida, se fazia sempre presente no seu coração de pai afetuoso, como também, um cismar sobre o porquê de tantas guerras o acompanharia por toda a vida. Desde que recebera o golpe fatal do destino, passara a pensar em tantos pais vitimados pela máquina imperial a que ele, orgulhosamente servira por tantos anos... No seu olhar notava-se certa amargura, certo sofrimento, que não se sabia de onde vinha, mas que se juntavam à discrição que lhe era característica das mais marcantes. Já na senectude, mas ainda viril, Petrucius não frequentava a alta sociedade romana. Apesar de compô-la, raras foram as vezes em que se viu este senhor em alguma festa ou acontecimento de gala da coorte. Antes, dedicava-se à calma do lar, onde encontrava-se à larga em silenciosas meditações ou em diálogos sobre a 14 O TRIUNVIRATO vida, a morte, e tantos outros temas assim com os que lhe eram sintônicos... Levava uma vida pacata com sua esposa e alguns escravos, aos quais sempre tratara como amigos da casa, comportamento que fazia questão de manter. Era contra a escravidão e aqueles que lhe prestavam serviços em sua herdade, o faziam com satisfação filial... Tornara-se general relativamente cedo e durante muito tempo estivera fora de Roma, em missão diplomática na Ásia menor e África, ali permanecendo em lutas e conquistas, levando sempre em punho todo o temido esplendor da poderosa águia romana. Trazia consigo sempre a companhia de seu grande e devotado amigo: Lúculo 2, o general romano mais temido e respeitado dentre todos que se lançavam nas fileiras e conquistas daquela época. 2 Importante político e general da República Romana, partidário de Lúcio Cornélio Sula, combatendo sob seu comando na Guerra Social (91–88 a.C.). Desenvolveu uma importante ação no Oriente, sendo vencedor da Terceira Guerra Mitridática, na Ásia Menor. No entanto, no fim da campanha foi substituído por Pompeu, o Grande, que a terminou rápida e eficientemente, tendo regressado a Roma coberto de glória e com enormes quantidades de despojos que vieram encher os tesouros de Roma. Após a campanha do Oriente, Lúculo, foi progressivamente perdendo a outrora grande influência que possuíra, tendo ficado seriamente debilitado pelas substâncias tóxicas que gostava de consumir. 15 O TRIUNVIRATO Lúculo Lúculo era famoso por sua crueldade. Dizia-se que seu nome corria mais do que todas as centúrias romanas juntas, estendendo-se de uma ponta a outra daquele imenso império, que começava na Europa e se perdia na imensidão do grande continente asiático. Voltando a Petrucius, o tempo, as batalhas, as dificuldades e os benefícios de uma vida conferiram a Petrucius Cornélio qualidades de um homem calmo e detentor de muita prudência. Foi com base nestes atributos, que o senado lhe conferira o título de sensor, possuindo lá a primeira cadeira. Passando um lustro dos sessenta anos, gozava de grande autoridade naquele meio e do respeito e 16 O TRIUNVIRATO admiração de muitos, acima de qualquer suspeita. Homem honesto e leal a Roma, via sempre os interesses do estado e nunca as preferências pessoais, fato que era dos mais raros entre todos os personagens que compunham aquela classe. Era comum, principalmente na sua propriedade, encontrá-lo, nas horas de folga, de olhos perdidos no nada, na imensidão do céu escuro repleto de estrelas, como se estivesse vislumbrando algo invisível aos olhos dos demais... Comumente vestia uma túnica clara, cruzando-lhe com uma fita púrpura avermelhada, presa no ombro esquerdo por um broche de ouro no qual se viam talhadas as insígnias de família. Calçava sandálias grossas que lhe subiam as canelas até os joelhos com cordões em tranças, peça da vestimenta, aliás, muito característica de toda aquela civilização. No braço direito, um grosso bracelete do mesmo material do broche completava a roupagem física daquele homem não alto, já meio calvo e mostrando sua senectude nas madeixas brancas a lhe rarear na testa marcada pelos sulcos que as experiências, ao longo dos anos, lhe impuseram. 17 O TRIUNVIRATO As noites eram para ele, um refúgio, um momento de se refazer das batalhas dos dias que se sucediam. Sempre com Cormélia, passava os seus melhores momentos, geralmente andando pelos jardins, hora meditando sobre as decisões que teria que tomar no dia seguinte ou analisando o meio em que vivia, de feras em túnicas muito pomposas dispostas a matar por seu interesses e suas paixões, seus desejos mais secretos e desprovidas de qualquer consciência no bem comum. Seu palácio ficava distante alguns quilômetros de Roma, justamente para se resguardar da vida agitada dos patrícios mais chegados a tal comportamento, a quem via sempre com reservas devido ao seu caráter apurado e tipo recatado, de pouca conversa a não ser o trabalho. Na Roma daquela época, era muito comum nas grandes festas, após todos se fartarem de comida e bebida o quanto quisessem, se dirigirem para as varandas e sacadas dos ornamentados palacetes, jogar as sobras sujas aos mendigos, que, lá embaixo se acotovelavam, se pisavam, se matavam por qualquer ninharia que lhes aliviasse a fome. 18 O TRIUNVIRATO Depois daquela diversão dantesca e cruel, todos voltavam para dentro e se entregavam aos prazeres sexuais dando vazão aos extintos animalizados de um povo adoecido pela força da vida material que levavam. Petrucius ao contrário, nunca aprovara aquele ritual que se fazia acontecer em toda festa daquela gente, como se fosse um esporte, um jogo para saciar os prazeres e as paixões. Toda aquela vida, no seu entendimento, não o fazia superior a qualquer outro homem como imaginavam todos de seu convívio. E sendo um homem honesto e humano como de fato o era, aquilo lhe era inaceitável e vergonhoso principalmente para os governantes de Roma, que naquelas ocasiões condenavam seus próprios filhos, manchavamlhe os brios; afundavam Roma e ajudavam a lhe escrever um futuro nada glorioso. Discordante em relação às conquistas militares, muito lutou para que fosse dado um cunho, no mínimo, mais racional para aquele movimento. Toda essa conduta e esses posicionamentos pessoais foram motivo para grandes palestras e grandes debates no átrio do senado romano. Dizia em sua lógica eloquente, que daquela forma, estavam conquistando 19 O TRIUNVIRATO escravos, mas também estavam humilhando os povos que cedo ou tarde se rebelariam. Que convinha ao Estado manter o que já possuía, em tom harmonioso, pois os próprios romanos já eram presos àquela aristocracia que se voltava ao militarismo inconsciente, apoiando-os simplesmente para manter os seus privilégios. Dessa forma, lutou pela reforma do estado romano, pela distribuição de terra e reforma agrária; defendia a promoção de uma melhor forma de vida para a massa romana que vagava pelas ruas, indo e vindo pela Via Ápia, aglomerando-se no Esquilino, engrossando a fileira de esfomeados que circulavam dia-a-dia por toda cidade. Célebre em muitas ocasiões, ficou marcado nos memoriais do senado um discurso seu sobre a política belicosa de Roma, quando do alto de sua tribuna disse: “Roma conquista o mundo e é incapaz de administrar suas próprias terras, escravizando os homens justos e trabalhadores para depois ter que sustentá-los. Isso não é política, é militarismo imprudente, ambicioso e cruel. Não se destroem homens livres porque se confiscam suas terras; pior, enfileiram-se inimigos de Roma que a destruirão com seu ódio. Roma nascera para ser a mãe das nações 20 O TRIUNVIRATO mais jovens, e não senhora de nações escravizadas, e, sendo mãe, não é licito escravizar seus próprios filhos”. Político sagaz; sabia maestrar a política e intimidar cautelosamente aqueles impiedosos generais, jovens, maravilhados e embevecidos pelas conquistas de seus exércitos. Na verdade, do alto da sua experiência, aquele sensor via que dia a dia, crescia a força militar desgovernadamente. Apesar do prestígio do qual gozava, no momento ao qual nos reportamos, averiguava aquele nobre senhor que, gradualmente, perdia força política. Sentia, em sua acuidade, que tornava-se mais difícil manter as linhas de outrora. Concluía que, cada vez mais, se oporiam com aguda determinação às suas posições moderadas e democraticamente justas, que eram opostas ao que pretendia a maciça maioria de seus colegas. Sabia, portanto, que o seu poder de voto e influência tinham dias contados, embora, quanto a isso, não soubesse precisar... Vivido, experiente, sagaz, sabia que não seguraria aquela situação por muito mais tempo. Em breve os generais – jovens, viris, dispostos a tudo pelo poder lhe atropelariam a filosofia. Na vida política, o que vale é o 21 O TRIUNVIRATO navegar do momento e ele, Petrucius, por algum certo pressentimento, sabia que seu tempo expirava; assim aprendera e assim viu por toda a vida que não há homem suficientemente forte para mudar o curso de certas coisas. Maduro, sabia que o seu trabalho estava em retardar o quanto pudesse o modismo cruel que se apresentava, de novas forças políticas, que por inaudita sede tentariam se impor. Por essa bandeira deitaria os últimos dias da sua vida, com todo o vigor que lhe restava nos braços cansados da batalhas e lutas fora. E se antes Roma lhe exigira o testemunho em terras distantes, somente agora compreendia que a verdadeira luta era ali, dentro de casa, porque justamente dentro de casa estavam os maiores inimigos de Roma... 22 O TRIUNVIRATO II A SITUAÇÃO POLÍTICA Corria o ano 130 a.C. Roma vivia sócio politicamente, uma fase turbulenta e agitada. A anarquia mostrava sua face e dominância e o senado tentava a todo custo, na figura de Petrucius, trazer uma tendência mais amena àquela forma de governo. Contudo nos últimos anos, aquela instituição perdera grande parte de sua força e de seu prestígio. Sim amigos, o senado não era mais o mesmo. Na situação em que nos achávamos, quem mandava em Roma eram aqueles que se lançavam nas conquistas dos povos vizinhos; eram os capitães, que comandando suas legiões faziam os reis vizinhos escravos, e isso ofuscava, censurava o poder daquele senado, que poderia trazer algum desenvolvimento, algum equilíbrio ao império. Por outro lado, as conquistas em excesso fizeram com que a extensão geográfica daquela unidade fosse muito grande; cresceram muito os limites territoriais de Roma e era difícil controlar tudo aquilo. Muitos povos haviam sido conquistados pela força da temida águia vermelha. Suas centúrias não conheciam a derrota. Entretanto, a questão não era somente 23 O TRIUNVIRATO conquistar. Depois disso era necessário manter a ordem e a administração e assim, Roma era um gigante ingovernável... Os povos conquistados estavam rendidos, subjugados e humilhados e constantemente se revoltavam contra o governo. Os exércitos romanos por onde passavam, deixavam seu rastro vermelho de sangue e agora começavam a pagar por isso. As revoluções nessa fase atingiram o seu ponto máximo e todas estavam sendo sufocadas pela força militar. Isso fazia com que a manutenção dos exércitos romanos fosse muito dispendiosa e cara, pesada aos cofres públicos, que, assim, não aguentariam muito tempo... O mais relevante de todos os movimentos em favor da libertação dos povos nessa época ocorreu na baixa Itália. A revolução dos escravos, como ficou conhecida tinha a liderança de Espartacus, um romano que, feito escravo por dívida, se revoltara contra seu próprio país. No ano 93 a. C. Espartacus quebrara as cadeias da escravidão, e, tendo reunido seus companheiros de infortúnio, que povoavam as casernas dos gladiadores, apossara-se do Vesúvio. Depois de resistir a algumas 24 O TRIUNVIRATO investidas seu contingente ganhou número e força. Penetrou até os primeiros maciços dos Alpes, onde ainda engrossaria suas fileiras com alguns revoltos daquela região. À frente de um exército de cento e vinte mil homens, Espartacus marchou sobre Roma. Os escravos organizaram-se na intenção de lançar-se à luta de igual para igual. Foi o que aconteceu. Entretanto as forças vermelhas, lideradas por um jovem pretor, encarregado pela repressão, contando com a ajuda das forças um grande general não tiveram muita dificuldade em sufocar o movimento e matar o seu líder, na pequena cidade de Siralus. O pretor chamava-se Marcus Licínius Crassus3. O general: Cneu Pompeu Magnus. A revolta dos escravos, que durante 3 Patrício, general e político romano do fim da Antiga república romana, mais conhecido como Crasso o Triúnviro. Comandou a vitória decisiva de Lúcio Cornélio Sula na Batalha da Porta Collina, e esmagou a revolta dos escravos liderada por Espártaco. A importância de Crasso na história provém, porém, do apoio financeiro e político que brindou ao jovem nobre empobrecido Júlio César, apoio que lhe permitiria o sucesso na carreira política. Chegou a um pacto secreto com Júlio César e Cneu Pompeu Magno, o chamado primeiro triunvirato, para ficarem com o poder em Roma. Apesar da sua proverbial riqueza, ansiava a glória militar, e por isso liderou uma campanha contra o Império Parta, na qual encontrou a morte, junto ao seu filho e várias legiões, na Batalha de Carras. 25 O TRIUNVIRATO três longos anos lançara sobre Roma, angústia e terror estava terminada. 26 O TRIUNVIRATO III MARCUS LICINIUS CRASSUS DIVES Marco Licínio Crasso era o terceiro e menor dos filhos de Públio Licínio Crasso Dives, cônsul em 97 a.C., a cujas ordens lutou no exército. O maior dos seus irmãos, Públio, faleceu durante a Guerra Social, enquanto que o seu pai e o seu outro irmão, Lúcio, foram vítimas da sangrenta repressão de Caio Mário e de Lúcio Cornélio Cinna quando Marco Crasso era ainda jovem. Para escapar da morte, buscou refúgio na Hispânia (85 a.C.), onde, aproveitando as clientelas que o seu pai estendera durante o seu governo na Hispânia Ulterior, recrutou um pequeno exército, pondose às ordens de Sula quando este voltou para a Itália como legado ou prefeito. Marcus Licinius Crassus 27 O TRIUNVIRATO Destacou-se na Primeira Guerra Civil, e especialmente na conhecida Batalha da Porta Collina (1 de novembro de 82 a.C.). Desde então, as manobras financeiras que se seguiram ao estabelecimento da ditadura de Sula enriqueceram-no extraordinariamente. A partir de então ficou de manifesto a sua habilidade para os negócios. Negociando, especulando e extorquindo, reuniu uma enorme fortuna com atividades que incluíam de casas de prostituição até brigadas de bombeiros. Quando o processaram por se deitar com uma virgem vestal, um crime brutal, absolveram-no por questões de dinheiro. Boa parte da sua fortuna foi investida com fins políticos, estendendo as clientelas populares, facilitando empréstimos para famílias nobres em difícil situação econômica e mantendo boas relações com os núcleos capitalistas da ordem equestre. Não arriscava a deixar rasto em nenhum assunto, mas empregava intermediários para que comprovassem por ele até onde se podia chegar, especialmente homens com boas perspectivas de futuro, 28 O TRIUNVIRATO utilizando-os como testa de ferro, saindo sempre indene de qualquer situação. Feito Pretor em 73 a.C., recebeu no ano seguinte o imperium proconsular – designação do senado para pôr fim à revolta de escravos encabeçada pelo célebre Espártaco. Após seis meses de preparativos e algumas derrotas iniciais, conseguiu vencer o exército de escravos em Apúlia, ordenando a crucificação de diversos deles ao longo da via Ápia. Seu sucesso compartilhou-o com Pompeu Magno... Em 65 a.C. revestiu a censura junto a Quinto Lutácio Catulo. Tratou então de obter poderes extraordinários para transformar o reino do Egito, aliado de Roma, numa província, bem como de inscrever em bloco os cidadãos latinos da Gália Transpadana nas listagens dos cidadãos romanos (o que lhe proporcionaria uma considerável clientela política). Durante estes anos protegeu Lúcio Sérgio Catilina. Por volta de 59 a.C. aconteceu a aliança segreda entre Crasso e os dois políticos mais importantes do momento, Pompeu e César, aliança conhecida como Primeiro Triunvirato. Cada um dos seus integrantes tinha os seus próprios interesses e os de Crasso centravam-se em que fora aprovada 29 O TRIUNVIRATO uma lei que rebaixara o montante de arrendamento do cobro de impostos na Província da Ásia bem como que se criara uma comissão encarregada de efetuar as repartições de terra aos veteranos. De acordo com estes objetivos, em 59 Crasso formava já parte de uma comissão para a execução das repartições de terra entre os veteranos. Em novembro do 55, Crasso abandonou a Itália para se dirigir a uma grandiosa expedição contra o Império Parta. Invernava... No mês de junho crê-se em 53 a.C., o exército de Crasso, composto por sete legiões, 4.000 ginetes e tropas auxiliares, seria massacrado na Batalha de Carras — frente da superioridade da cavalaria inimiga. Mais de 20.000 soldados perderam a vida e cerca de 10.000 foram feitos prisioneiros. A cabeça e a mão direita de Crasso foram levadas ao rei parta, Orodes II. Nesta batalha Crasso cometeu uma série de falhas grosseiras. Confiou demais na superioridade numérica de suas tropas, abandonou as tradicionais táticas militares romanas e, na ânsia de chegar logo ao inimigo, atacou cortando caminho por um vale estreito, de pouca visibilidade. As saídas do vale, então, 30 O TRIUNVIRATO foram ocupadas pelos partos e o exército romano foi dizimado. Se grande parte daquele patriciado tinha como característica os domínios e o gosto das artes bélicas, Crasso era o símbolo vivo do dinheiro e do poder. Tratava-se do mais rico homem de toda aquela casta. Aliás, Crasso, do grego significa grosso e ele ainda assinava com o sobrenome, por ele mesmo atribuído, de Dives, que significa ‘o mais rico’. E, se herdara da sua família, toda essa fortuna que ainda multiplicava, nem por isso era gordo no sentido exato da palavra, característica essa que não se coloca entre os seus pecados. Pelo contrário, fisicamente, era de belho talhe, característico da linhagem dos Crassus. De boa estatura, tinha o físico robusto e bem moldado, mostrando-se dono de beleza e garbo. Os olhos castanhos, bem desenhados lhe saltavam em combinação com os cabelos escuros jogados à frente, como era comum. Contava nessa época aproximadamente 38 anos e se dispunha com toda força de sua juventude ás lutas em prol de Roma, embora nunca deixasse de ver primeiro os seus próprios interesses. Em contraposição, era trabalhador e tenaz, especulador e calculista, possuindo o que 31 O TRIUNVIRATO se pode chamar de faro quanto aos negócios de dinheiro. Banqueiro astuto e avisado, ocupavase com empresas de construção, e fazia questão de acompanhar pessoalmente todo seu orçamento. Desconfiado, sabia do poder que seu dinheiro tinha e se cuidava quanto a isso. Ocupava-se também com questões legais, em que se debatiam seus amigos e seu círculo de relações. Corrupto, usava toda a força que possuía. Subornava em quase todas as situações, e depois, terminados os processos, para a satisfação do cliente, este deveria pagar a Crasso, pesada soma em dinheiro como reconhecimento por seus serviços prestados. De vida fútil e burguesa, pouco antes de sua morte, contava uma fortuna de aproximadamente, cento e setenta milhões de sestércios. Agiota, emprestava dinheiro sem juros sob pena dele mesmo fixar o montante final a ser pago. Astuto psicólogo, sabia reconhecer todas as situações que lhes fossem úteis no alargamento de suas relações. Atuava há algum tempo comprando a preços baixos os bens, geralmente extensões de terras e construções, confiscados por Cornélio de Cina, líder do partido popular e homem importante no meio. Não se ligava aos partidos mais diretamente, pela razão de que 32 O TRIUNVIRATO tais ligações políticas eram-lhe muitas vezes atrapalhantes, embora nunca tenha tirado os olhos do meio. Concordava somente em conceder empréstimos sem exceção a todos aqueles que se mostrassem bons pagadores. Era colega do jovem Pompeu e por este nutria competição, sobretudo quanto às hierarquias públicas em jogo naquele cenário. Devido a agiotagem, muitos os senadores pretores, procuradores, cônsules e tribunos que lhe deviam somas consideráveis. Deste modo, era-lhe fácil conseguir o apoio dos seus devedores, e estes tinham que o aceitar pela força moral que não possuíam em face do credor. 33 O TRIUNVIRATO IV CNAEUS POMPEIUS MAGNUS Pompeu era o único filho e herdeiro de Cneu Pompeu Estrabão, proprietário rico da zona do Picenum, chefe de um ramo da família Pompeia, tradicionalmente rural e que se tornaria influente em Roma. Aos olhos da elite aristocrática de Roma, a família da qual descendia Pompeu Magno não era bem vista. Não obstante, dada a sua riqueza, Estrabão progrediu na vida política e foi o primeiro senador da família, eleito cônsul em 89 a.C., no meio da crise política da Guerra Social. Pompeu crescera junto do seu pai nos acampamentos militares, envolvido em questões políticas desde a adolescência. Estrabão morreu por volta de 87 a.C., no meio da guerra civil entre a facção populista de Caio Mário e os conservadores de Lúcio Cornélio Sula, deixando Pompeu no controle dos seus negócios e fortuna. Embora sem os privilégios de um cargo político, devido à idade, Pompeu manteve os seus comandos sob a tutela de Sula e revelou-se um general talentoso. O ditador confiava nos seus instintos e enviou-o em 34 O TRIUNVIRATO diversas missões, em especial para a Sicília. Tratava-se de uma ilha estrategicamente muito importante, uma vez que era a origem dos cereais que abasteciam Roma. Pompeu varreu a ilha com as suas legiões, acabando com a resistência que os insulares ofereciam ao governo. Em África obteve igual sucesso e no fim da campanha foi aclamado imperator (diferente de imperador) pelas suas fiéis tropas. De acordo com a tradição, Pompeu requereu ao senado o direito de celebrar uma parada triunfal, apesar de não ter estatuto consular, nem sequer senatorial. Os senadores recusaram o pedido do que consideravam um miúdo nem sequer oriundo de boas famílias, mas Pompeu estacionou as tropas à saída de Roma, recusando-se a conceder-lhes licença enquanto o seu desejo não fosse concedido. Sula acabou por intervir e conceder-lhe o triunfo, para fazer-lhe a vontade. É também nesta altura que Pompeu adquire o cognome Magnus, "o Grande", atribuído pelo próprio Sula com uma certa dose de sarcasmo. Depois de celebrar um triunfo apesar de não ter idade nem status adequados, Pompeu pediu um imperium proconsular, sem 35 O TRIUNVIRATO nunca ter sido cônsul, para fazer frente a fortes inimigos romanos e, juntamente com Quinto Cecílio 4, dirigiu-se à Hispânia. Uma sucessão de vitórias em demoradas campanhas sabidas em difíceis terrenos, contribuiu para que Pompeu crescesse em prestígio. No regresso a Itália em 71 a.C., Pompeu utilizou as suas legiões veteranas da guerra na Hispânia para auxiliar Marco Licínio Crasso na sua luta na Terceira Guerra Servil contra a revolta dos escravos liderada por Espártaco (Spartacus). A sua chegada provou-se decisiva para resolver o conflito e valeu-lhe o ódio de Crasso, que pretendia a glória apenas para si próprio. Em Roma, Pompeu celebra o seu segundo triunfo ilegal, juntamente com Metelo Pio, pelas vitórias alcançadas na Península Ibérica. No ano seguinte (70 a.C.), com apenas 35 anos, Pompeu é eleito cônsul pela primeira vez, apesar de esta eleição ser mais uma machadada nas tradições do cursus honorum. Nessa altura, era odiado por boa parte da cúpula romana e visto com desconfiança pelo resto da classe senatorial, muito embora contasse com o 4 Quinto Cecílio Metelo Pio. 36 O TRIUNVIRATO apoio dos eleitores das camadas sociais mais baixas, que o viam como herói. Dois anos depois do seu mandato de cônsul, foi nomeado comandante de uma frota especial e responsável por uma campanha destinada a combater o problema da pirataria no Mar Mediterrâneo. A nomeação, como quase tudo o resto na sua vida, esteve rodeada de polêmica. A facção conservadora detestava-o pelo constante ataque às tradições e pela sua ascendência pouco notável. Tentaram por todos os meios legais impedir este comando, até que um tribuno levou o assunto à Assembleia do Povo. No seu círculo de apoiantes, Pompeu encontrou um apoio esmagador. Para desgosto dos seus adversários, o general levou apenas alguns meses a eliminar os principais núcleos de piratas e garantir a segurança das rotas comerciais entre a Itália, África e Ásia Menor. A rapidez e sucesso desta Guerra dos Piratas mostrou que era obstinado no que se propunha. No fim de 61 a.C., Pompeu regressa a Roma, ao fim de seis anos, com um dilema nas mãos. Por um lado, queria celebrar tantos triunfos; por outro, ansiava por um segundo mandato de cônsul. As leis de Roma 37 O TRIUNVIRATO estipulavam que um general não poderia atravessar o pomerium (fronteira simbólica da cidade) sem perder o direito ao triunfo, mas um candidato eleitoral tinha que apresentar a intenção de concorrer em pessoa no Fórum da cidade. Contava Pompeu nesta época, cerca de trinta anos. Bom soldado, tratava-se de um estrategista genial, embora quem o visse não lhe desse todo esse crédito. Todos os seus atos e empresas contavam com um êxito que lhe era marcante e peculiar. A prudência nos seus ataques era a sua grande arma. Só atacava quando tinha certeza de vitória. Militar, um tanto quanto rígido, tratava-se de um homem extremamente fiel aos seus objetivos. Ademais, era muito mais seco e pouco inclinado às paixões, diferentemente do que se pensa e do que se registrou historicamente. Taciturno, trazia a expressão de um leve aborrecimento e severidade virtuosa e puritana. Físico um pouco forte, seu rosto era largo e os olhos pequenos davam sempre a impressão, a quem os olhasse, de alguém perigoso e sorrateiro, que sabe sempre o próximo passo a tomar. Bastante dado às 38 O TRIUNVIRATO guerras, era muito bom cavaleiro e esgrimista perfeito. Querido de seus soldados, gozava de menos popularidade entre os cidadãos romanos. Aliás, não gostava de estar entre os cidadãos comuns. Evitava comparecer ao fórum e muito a contragosto se ocupava com negócios dos outros. Seu tempo e sua energia era totalmente concentrada em seus mais secretos projetos e ambições. Calculista, media tudo antes de levar a cabo. Conveniente, quando julgava necessário sua eloquência se fazia valer e nessa época bastava sua presença para impor certa cerimônia, tal eram as repercussões de suas conquistas. E se os retratos esculpidos, nos fazem crer que não se tratava de um Adônis, era um homem que trazia, por seu conjunto de conduta e modos, de uma certa beleza em importância e magnetismo pessoal. Tendo vencido Mitídrates,5 que era o grande comandante das forças asiáticas, das forças partas que sempre disputavam com a águia vermelha o controle daquela região, Pompeu sabia do seu momento. 5 Explicar em nota e colocar fotografia. 39 O TRIUNVIRATO Mitídrates era temido e respeitado, e muitos foram os generais romanos que morreram nas mãos dos seus exércitos. Pompeu, pelo contrário o vencera. E para seu maior regozijo, trazia como prisioneiras, cinco de suas filhas, bem como o rei da Judéia, grande parte dos nobres armênios e muitos reis e rainhas de tantos povos conquistados, além de tantos tesouros, em peças de ouro e pedras preciosas que valiam verdadeira fortuna. O regresso de seu exército vitorioso foi um acontecimento grandioso. Dos países do oriente trouxe inúmeros presentes que ofereceu à cidade romana e por toda parte foi aclamado e festejado pela populaça arrebatada de entusiasmo. Em sua campanha, deixara as colônias da Ásia, todas consolidadas e garantidas. Por onde passava, conquistava países, destronava reis e elevava os homens que lhe pareciam capazes ao mais alto cume da dignidade romana. Nessa altura, as camadas populares ganham dois representantes, que apesar dos esforços, não conseguiram mudar quase nada daquela situação. Neste ano, dois irmãos chegam ao senado. Tibério e Caio 6, propõem 6 Tribunos e reformadores romanos, filhos de diplomata e governador de província. O mais velho, Tibério (164 a.C.?-133 a.C.), segue a 40 O TRIUNVIRATO reformas estruturais naquela ruína que se anunciara. Vinham de uma família tradicional e poderosa de Roma: os Graco tinham fama e eram bem vistos por toda casta. Com dinheiro, compraram títulos e faziam destes, o meio de colocar e divulgar seus ideais. Quem levou a bandeira das reformas mais acirradamente foi Tibério. Mais velho era mais radical em suas posições. Defendiam a reforma agrária, bem como mudanças administrativas em Roma. É dele a política do pão e do circo, que pretendia levar comida e diversão a todos os habitantes de Roma. tradição liberal da família desde o início da carreira, como questor (magistrado) na Espanha. Seu avô, Cipião, herói da guerra entre Roma e Cartago, já havia sugerido a distribuição das terras entre os romanos. Eleito tribuno da plebe em 133 a.C., Tibério propõe a Lei Agrária, que estabelece a divisão das terras públicas, por acreditar que o empobrecimento dos camponeses gera tensão social e política e põe em risco a república. O Senado recusa sua proposta, vetada por outro tribuno, Otávio. Tibério subleva a plebe e destitui Otávio. Depois se candidata à reeleição para defender de novo a aprovação da lei, mas é assassinado durante um comício. O irmão Caio Semprônio (160/153 a.C.?-121 a.C.) assume a liderança da facção radical dos populares após sua morte. Elege-se tribuno em 123 a.C. e 122 a.C. e persiste no projeto de reforma agrária até conseguir certo sucesso. Defende a aprovação de outros projetos políticos. Candidata-se à reeleição em 121 a.C., mas sofre a oposição do Senado e acaba derrotado. Seus partidários se rebelam, e Caio é morto durante o levante. 41 O TRIUNVIRATO Tibério e Caio Graco Entretanto, navegar naquele mar de jovens patrícios, ambiciosos, embevecidos, orgulhosos e dispostos a tudo pelos seus interesses, era arte que alguns poucos conheciam. Seu discurso inflamado, direto lhe rendeu muitos inimigos e não demorou muito para que saísse de cena, sendo assassinado junto com 300 de seus simpatizantes em sua casa. Depois de sua morte, Caio, seu irmão tenta ainda prosseguir naquele ideal. Entretanto foge para não ter o mesmo fim. 42 O TRIUNVIRATO V LUCIUS CORNELIUS SULLA Com o sumiço dos Graco, a política romana se desenrola por trás, nos bastidores, nos palácios dos nobres patriarcas, através de suas festas, fanfarras, troca de gentilezas... Mas acontece que o poder estava confuso e havia muitos desejando o poder, assumir o império romano. Disputava-se ali uma corrida silenciosa e isso estava prejudicando tudo e todos. Era necessário achar alguém a altura daquele cargo; uma pessoa que estivesse em situação de conciliar, senadores e militares, ou pelo menos, amainar os ânimos. Sula7, ‘o ditador’, torna-se então o imperador romano naquela ocasião. Em 88 a. C. fora nomeado cônsul, sendo encarregado do comando supremo dos exércitos enviados contra um dos grandes inimigos do império romano: Mitríades, cargo aliás, conseguido após várias vitórias sobre o mesmo. Sula sempre fora um grande general, tanto no aspecto tático quanto nas barbaridades que cometia. 7 Registrou-se na história Lúcio Cornélio Sula. 43 O TRIUNVIRATO No começo da sua carreira trava imensa disputa com Mário, e desta sai vitorioso. Audacioso, após ser banido de Roma, volta e marcha sobre a capital com seu exército. Seu oponente se rende e é prescrito. O banido, mais tarde vagaria pelo mediterrâneo; aportaria no litoral italiano e vagaria ainda algum tempo como mendigo pelo país que governara. É, nessa época, preso pelos esbirros de Sula, que o descobrem nas esquinas dos brejos do miturno, bairro romano. Encarcerado, aguarda Mario sua execução, que é encomendada a um escravo cimbro. Todavia, na hora do abatimento, reconhecem os escravos, o grande imperador Mario. Desta feita ele é libertado e desaparece, deportado para as ilhas de Ísquia. Em suas campanhas pela Ásia, sempre encontrou numerosas vitórias. Contudo, regularmente, quando se tratava da Ásia, os romanos sempre tropeçavam em Mitríades. Entretanto, este hábil general persa agora havia encontrado um general à altura. Sula o vence repetidas vezes. Em 84 o rei persa é obrigado a pagar um tributo de dois mil talentos, soma ainda hoje inominável. Em 74, Mitríades, que já havia reconquistado a Ásia menor encontra outro 44 O TRIUNVIRATO grande comandante. O celebre Lúculo, faz ele voltar e se refugiar na Armênia. Em 68 volta Mitríades a avançar sobre os domínios romanos e desta vez Pompeu o afasta de vez. Mais tarde, quando planejava novo ataque é traído por seu filho. Tenta o suicídio sem sucesso e não tento outra saída, faz-se apunhalar por um escravo. Mas em Roma, propositalmente se espalhou e todos sabiam que fora Sula, o general a abater Mitríades. Gozador, monstro sanguinário, tratava-se, de um homem bastante poderoso e rico; gozava do mais alto prestígio que se podia ter em Roma naquela época. Portanto, ele era a pessoa capaz de fazer calar a todos envolvidos em toda aquela situação política... E o fez, mantendo a ordem pelos punhos de aço, sob os olhos de seu grande exército, de suas poderosas centúrias. Orgulhoso e déspota, andava sempre à frente de sua tropa. Matava por esporte. Com Sula, reforçam-se as conquistas aos povos vizinhos. De formação militar, logicamente daria toda a atenção a esse setor daquele império, o que colocou o senado mais a margem ainda naquela situação, tendo uma função decorativa e pouco participativa. 45 O TRIUNVIRATO Contava ele por essa época, aproximadamente 45 anos. Seu casamento fora arranjado cedo, atendendo às necessidades políticas. Sua vida familiar era de simples aparência, situação que levava com indiferença. Possuía inúmeras amantes e se gabava disso. Sua esposa, da mesma forma se entregava a toda forma de desregramentos sexuais, fato que ele sabia, e ao qual dispensava fria indiferença. Naquele movimento, jogo de tantos interesses, havia coisas mais importantes do que o seu casamento... É justamente neste círculo que encontraremos Cneu Pompeu Magno... 46 O TRIUNVIRATO VI TRAMAS E ALIANÇAS A lua brilhava solene no alto do céu, ofuscando as suas filhas mais diletas e próximas: as estrelas. Corria o vento tão comum na Itália, que vem do Adriático e banha toda aquela extensão de terra que destemidamente avança no Mediterrâneo. As árvores contudo, eram as maiores agraciadas por aquele bálsamo num melancólico bailar de suas copas. Corria o verão fresco daquela região da Europa e toda vegetação se abria às brisas marítimas como um filho faminto a receber o alimento direto da fonte materna. Findara-se mais um dia naquelas terras hoje tão distantes, e tão presentes e a noite trazia sua poesia e seu encanto aos olhos daqueles que, estivessem a altura de apreciar as belezas do criador... Nesse cenário aparentemente calmo, onde tudo parecia concorrer para felicidade eterna, vamos nos encontrar entre os jardins, entre as palmeiras e figueiras de um grande e suntuoso palácio, dentre os muitos que ali compunham aquela paisagem. Suas colunas de cor marfim e em estilo jônico se erguiam a cada grande espaço daquelas varandas, sustentando toda aquela 47 O TRIUNVIRATO luxuosa residência, mostrando de cima a baixo seus arabescos esculpidos por mãos de grande e técnico artífice, sempre a impressionar pela sua rara beleza e única imponência. A entrada, triunfal, denunciava que ali residia um dos muitos nobres patrícios. A escada também em marfim, findava entre duas colunas de proporções colossais e mais adiante, conduzia à grande porta principal, que dava acesso à grande sala de recepção, acima da qual júpiter, moldado em mármore olhava todos que ali entrassem ou saíssem. Do lado de fora, a grama corria impecável pelo solo daquela herdade, forrando a grossa terra daquela região. Entre as muitas plantas daquele belo pomar, apoiados em pequena mesa isolada, longe de quem os pudesse ouvir, estão dois grandes amigos e cúmplices, duas figuras de todo aquele cenário político, que, em conversa confidencial se colocam agora a arquitetar seus planos de subida, suas estratégias de carreira ao trono romano. Estamos no palácio do senador Glaucus, nobre pretor da república que já há algum tempo, figurava nos altos escalões daquele patriciado, lá chegando graças às suas artimanhas ilícitas... 48 O TRIUNVIRATO Inescrupuloso, via sempre em primeiro lugar os seus interesses, não medindo esforços para realizá-los a contento. Gozando de todo vigor, na flor da idade, era a perfeita estátua de Apolo, no molde característico daqueles jovens dispostos a tudo pelo poder; alto, claro, mostrava físico bem talhado e sobre o peito, bem destacado, carregava com orgulho o broche de ouro que prendia a túnica branca a cair-lhe pelo abdômen. Glaucus conseguira sair das obscuras centúrias devido a eficiência dispensada aos seus superiores e aos assassinatos, muitas vezes por suas próprias mãos, de seus concorrentes e adversários. Fora assim que conquistara o cargo de primeiro general de Sila. Nesta condição tratava da guarda pessoal do imperador, especialmente vigiando suas costas nas batalhas, mas também cuidando de sua segurança pessoal em todas as demais situações. Tinha portanto, acesso irrestrito à pessoa do imperador. Lá, com ele, está Cneu Pompeu, seu antigo amigo de infância, de semelhante temperamento, igual caráter e ainda mais ousado que o primeiro. Por ocasião deste encontro, tramam o assassinato do próprio tio 49 O TRIUNVIRATO de Pompeu, Sula, o ditador, que agora era a autoridade máxima em Roma. Pretendiam, ousadamente a um só termo, chegar no ápice do poder daquele vastíssimo império. E para sentarem-se ao trono e era imprescindível que Sula saísse. Para a empreitada, entretanto, era necessário um apoio mais substancial. Pompeu era um dos homens de ascendente prestígio naquele cenário, mas não poderia se desprezar seu apoio... Sula, no momento que se desenrola a nefasta trama, certamente se entregava aos cuidados dos vinhos e das amantes. Embriagado e saciado, não dava acordo de si e não supunha os escusos sucessos que haveriam de lhe esperar num breve futuro... Pompeu, seu sobrinho, e com o qual vivera toda a sua vida, era amante daquela que se passava por mulher do imperador: Valéria, que tal como Pompeu e Glaucus, desejava destruir Sula, para que pudesse dar vazão aos seus projetos futuros. De iguais índoles e similares interesses, não foi difícil ao ambicioso casal, Pompeu e Valéria, tramarem a morte do imperador. Numa das noites seguintes, Valéria, sob as orientações de Pompeu conduziu 50 O TRIUNVIRATO Glaucus ao seu quarto, declarando-se apaixonada por ele. Este, por sua vez, não acreditou, mas, em todo caso, aquela era-lhe uma aliança muito interessante. Daí por diante, sempre que possível, passaram a se encontrar regularmente. Quando caíam as noites, eis que vamos encontrá-los no quarto da imperatriz traçando planos para o futuro de conquista de felicidade e poder juntos. No curso de pouco tempo, devido aos encantos da beleza de Valéria, que se juntavam à sua ambição desmedida, não foi difícil a Glaucus, vislumbrar um futuro cheio de luzes e pompas, quando então daria facilmente um destino a aquela que agora lhe servia como concubina e como ponte para o poder... Por essa época, rebeliões de vários povos conquistados avançavam, criando problemas para a administração de Sula. Necessário se fazia que fossem sufocadas o quanto antes, caso contrário, diversas forças políticas que agora somente aguardavam, investiriam contra Sula, e isso era tudo que o imperador não desejava. Desta forma, por ordem imperial, dentro de poucos dias, partiriam fileiras e mais fileiras em ordem de guerra. As primeiras e mais rápidas, guiadas pelo próprio Sula... 51 O TRIUNVIRATO Astuta, Valéria fez ver a Glaucus que essa era a ocasião perfeita: no calor e na confusão do enfrentamento das tropas, o general mataria o monarca romano, situação que, se ele soubesse agir com discrição, não despertaria nenhum tipo de suspeita em relação aos verdadeiros arquitetos e mandantes da trama. Em troca, em Roma, ela, Valéria, o esperaria, junto a um futuro muito promissor. Foi assim que tudo ocorreu. Ainda nas redondezas da cidade eterna, o nosso imperador preparava-se para atacar o inimigo. As tropas já haviam cercado a extensão e a vitória era questão de pouco tempo. Esperava-se o grito de ataque para que o sangue banhasse as terras... Entretanto, logo no começo da batalha o general lhe chega por trás e em golpe decidido e certeiro finca-lhe a espada a um só termo, que, gelada, corre-lhe na altura dos rins, rasgando-lhe as carnes cegando-lhe de dor. Sula sente, se assusta, sabe quem é, mas já não tem forças para gritar. O sangue sobe-lhe na boca, lhe embarga a voz e lhe impede a fala. Ele também não tem mais forças para virar e confirmar a presença de seu general a lhe atravessar com aquela fria lâmina de 52 O TRIUNVIRATO metal, que por mais gelada não fora tão fria quanto a traição da qual fora vítima. Seus olhos pesam mais do que o trono que sustentava em Roma e seu prestígio não é tão grande quanto a cobiça pelo seu lugar, pelo seu poder. Ajoelha-se, vê a espada a sair de seu peito untada com o vermelho de seu sangue... Em poucos momentos a frente Sula não respira mais8. Estava de novo vazio o trono romano. Seu general então mais do que rápido voltou à luta contra o inimigo, os povos escravizados que, inocente e bravamente, se lançavam à revolta. Roma ganharia aquela batalha, reconquistaria aqueles territórios, domando como animais selvagens os povos daquela região, mas o seu imperador não voltaria e entraria para a história de uma outra forma... De volta a Roma, Glaucus procurou sua companheira na trama realizada. Após cumpridos os ritos de chegada e o desenrolar dos fatos, numa noite calma, de clima ameno e sem vento, vamos vê-lo adentrar o palácio e, certo de que penetrava em segurança, buscou a ala que conduzia aos aposentos de Valéria. 8 Os registros históricos dão outro destino para vida de Sila. 53 O TRIUNVIRATO Ela o aguardava, e durante toda a noite festejaram o sucesso da empreitada entre vinhos e promessas para o futuro. Contudo, não se confiavam. Cada um, por seu turno, arguto, conhecia as intenções serpentinas e sibilinas do outro. Eram víboras dividindo, enquanto lhes fosse necessário, o mesmo ninho. Por isso, somente quando Glaucus já se encontrava quase inconsciente devido à bebida embriagante, foi que Valéria, sacando um discreto anel do dedo, pode manipular pequena, porém fatal dose de veneno nos últimos goles de vinho que Glaucus bebeu, antes de começar a se contorcer e perceber que fora usado... Seu último lampejo foi um abrir de boca na intenção de praguejar contra aquela que, serena, olhava e aguardava... Sim, o plano de Pompeu fora um sucesso... 54 O TRIUNVIRATO VII FORÇAS POLÍTICAS A notícia não demoraria a chegar à capital. O herói de guerra, nobre representante da águia romana receberia as honras de homem de estado, as falsas lágrimas da esposa, agora viúva e feliz, do sobrinho cruel e audacioso, grande idealizador de sua morte, e de mais tantos ‘correligionários’ e simpatizantes tão fartos e perigosos naquele meio. Por ocasião da sua morte, estava de novo o trono vazio e a corrida novamente começaria em busca do mais alto cargo do escalão romano. Aconteceu então o que o nobre senhor Petrucius temia, mas que na verdade era o mais óbvio. Os grandes generais de guerras assumiriam o comando daquela imensa máquina. Sim, aqueles que mais honras tivessem, os mais respeitados e poderosos tomariam conta da casa literalmente. O ambicioso Cneu Pompeu e o financista Magnus Crasso estavam na frente de todos os outros e traziam consigo o emergente Julius César. Sim, estes tomariam as rédeas daquele império e a história viria a queda da república romana e a consequente 55 O TRIUNVIRATO concretização do império na figura daquele triunvirato. Pompeu, dos três, era o mais ambicioso e de caráter mais audacioso possível; calculista, via sempre na frente dos demais e suas estratégias executava com grande e assustadora frieza; pretendia governar sozinho e ser senhor absoluto daquele império desde muito tempo, como já demonstrara em sua conduta, e para isso levaria a cabo qualquer empreitada ou plano. Crasso, era um habilidoso financista, contudo nunca fora dado às artes políticas nem às bélicas. Rico e poderoso, agia inescrupulosamente, e todos naquele senado deviam vultosas quantias para ele. Além de influente e respeitado, era conhecedor da situação financeira de grande parte daquele patriciado, e assim chegou ao poder. Júlio César, de pró-cônsul, cargo conseguido a custo no partido popular, passara a compor uma das três mais importantes figuras daquela situação, graças ao apoio de Crasso. Desde que começara a ter um maior vulto e ganhar respeito militar, Júlio César alimentava o desejo de subir aos países gauleses. Ele sabia que aqueles povos viviam em pequenas e médias tribos semi-isoladas e 56 O TRIUNVIRATO isso facilitaria a conquista deles, além de se tratar de um povo não muito dado às lutas. Esse aspecto se unia com o fato de que há muito tempo Roma já olhava para aquelas terras, sem, no entanto, ninguém nunca as buscar, e isso o firmaria de vez como um grande general frente às quatro legiões que comandava e, principalmente, frente a toda casta da capital, que, em sua maioria, não lhe creditava as devidas considerações. Assim as tropas romanas, orientadas e comandadas por Caius Julius César, deixaram ao amanhecer do dia, a cidade eterna, rumando para as terras do norte. O exército buscava o que hoje se conhece por França, Bélgica e Luxemburgo, além das terras baixas da Holanda. Entre os auxiliares e conselheiros de César, estavam experientes homens de guerra, já maduros neste haver: Petruscus, Áquila, Flávius, e aquele a quem César depositava toda sua confiança: Glaucus Vinicius. Devido ao rápido deslocamento das tropas, característica marcante deste general, em torno de uma semana depois, já em terras gaulesas acampavam na promessa de trazer o rei daquele povo, como troféu para Roma... 57 O TRIUNVIRATO Do outro lado, Crasso partiria para a Ásia, o extremo oriente. Buscava os povos descendentes dos persas, da antiga raiz dos hititas, povo que por muito tempo dominou aquela região, chegando mesmo até a atual Índia, junto de Lúculo, outro grande general e seu braço direito. Dizia-se mesmo que Lúculo era o segundo Crasso, considerando aí as devidas proporções. Pompeu, por sua vez, buscou as terras da península ibérica. Rebeliões aconteciam por aquelas bandas e era necessário sufocá-las antes que tomassem maior vulto, alimentando também ideais libertadores em outros povos já conquistados. Assim aconteceu. Deste modo estavam fora os homens de maior importância para Roma naquele tempo. 58 O TRIUNVIRATO VIII GAIUS IULIUS CAESAR Caio Júlio César nasceu em Roma no seio de uma antiga e tradicional família de patrícios romanos: Iulius (Julius num aportuguesamento aproximado). Sua ascendência, contudo, vem de Iulus, filho do príncipe troiano Eneias, e, portanto, descendente das tribos fundadoras de Roma. O seu pai era o homônimo Caio Júlio César e a sua mãe Aurélia, pertencia também ao patriciado: Cottae, que vertido ao português se torna Cottas. O cognome "César" se originou, de acordo com Plínio, o velho, de um antepassado que nascera próximo à região de cesariana, enquanto jovem, Caio Júlio viveu na Subura, bairro de classe baixa e média de Roma. Embora aristocratas, não eram ricos para os padrões da aristocracia romana da época e por este motivo, nem o seu pai nem o seu avô atingiram cargos proeminentes na república. A sua tia paterna Júlia casou com o talentoso general e reformador Caio Mário, líder da facção populista do senado. Perspicaz, soube, Júlio César, aproveitar um período de disputas internas e 59 O TRIUNVIRATO que culminou uma guerra civil interna, cujo resultado foi a ditadura de Lúcio Cornélio Sula. Nesta ocasião, César estava ligado ao lado derrotado: Caio Mário. A sua situação não era portanto das melhores. Inimigo de Sula, chegou mesmo a fugir de Roma para evitar previsíveis e cruéis perseguições. Contudo, ainda assim, não era de seu talhe, nem de seu feitio, abaixar a cabeça. Diversas vezes desagradara o ditador, que sabia-lhe os passos, mas lhe poupara a vida, segundo, especialmente, Suetônio. Desagradava ao ditador, ao mesmo tempo em que lhe empolgava o desafio arrogante mostrado pelo jovem de pouco mais de vinte anos... Dessa forma, partiu César, para a província romana da Ásia onde pode realizar, sem nenhuma menção de prodígio, o seu serviço militar. Durante umas das campanhas na Cilícia, César distinguiu-se pela liderança que exerceu sobre muitos de seus companheiros de batalhas. Em Roma destacou-se na cena do Fórum Romano e tornou-se conhecido pela oratória, aliada a uma espécie de orgulhoso perfeccionismo. 60 O TRIUNVIRATO Depois de trabalhar como questor pela Assembleia do Povo em 69 a.C., calhoulhe um cargo na província romana da Hispania Ulterior, situada mais ou menos nos modernos Portugal e sul de Espanha. No regresso a Roma, prosseguiu a carreira de advogado até ser eleito edil em 65 a.C.. As funções de um edil podem ser equiparadas às de um moderno presidente da câmara municipal e incluíam a regulação das construções, do trânsito, do comércio e outros aspectos da vida diária. Júlio César O sucesso como edil foi uma ajuda importante na sua eleição para pontifex 61 O TRIUNVIRATO maximus, aproximadamente em 63 a.C., depois da morte de Quinto Cecílio. O cargo significava para a vida pessoal de César, o alívio definitivo das dívidas... A sua estreia como pontifex maximus ("pontífice máximo") foi marcada pela morte de Cornélia, primeira esposa. Daí em curto período de tempo, casa-se novamente com Pompeia, uma das netas de Sula e uma das mais importantes matronas de Roma. Em 63 a.C. foi eleito pretor e Marco Túlio Cícero, cônsul sênior na Assembleia das Centúrias. Foi um ano particularmente difícil não só para César, mas também para a República Romana. Durante o seu consulado, revelou-se uma conspiração para destronar os magistrados eleitos liderada por Lúcio Sérgio Catilina, aristocrata patrício frustrado pela sua falta de sucesso político. O resultado foi a execução sem julgamento de cinco proeminentes romanos aliados de Catilina. Isto era um anátema para a sociedade romana, que raramente executava os seus cidadãos e quando o fazia era apenas depois de complicados procedimentos judiciais. César opôs-se a esta medida com toda a sua oratória, mas acabou suplantado. Os cinco homens acabaram executados no próprio 62 O TRIUNVIRATO dia. Foi também nesta dramática reunião do senado que o caso amoroso de César com Servília Cepião9 foi trazido a público. Os opositores políticos de César acusaram-no, neste particular, de fazer parte da conspiração de Catilina, o que nunca fora provado, mas que, efetivamente, nunca chegaria a prejudicar grandemente sua carreira. Em 59 a.C., César foi eleito cônsul sênior da República Romana pela Assembleia das Centúrias. Para seu colega, foi eleito o seu inimigo político, Marco Calpúrnio Bíbulo (Marcus Calpurnius Bibulus), membro da facção conservadora. Bíbulo empenhou-se em fazer difícil a vida política de César, mas este encontrou aliados onde menos se esperava. Nesse mesmo ano, Cneu Pompeu Magno (Pompeu, o grande) encontrava-se em franca ascendência e, ao mesmo tempo, o antigo cônsul Marco Licínio Crasso, alegadamente o homem mais rico de Roma, granjeava desejado comando na guerra contra o Império Parta. Nesse ambiente os três se 9 Patrícia romana, descendente de Gaius Servilius Ahala, amante de Júlio César, esposa de Décimo Júnio Silano e depois de Marco Júnio Bruto, o velho, com quem teve Brutus, a quem Júlio Cesar acolheria com grande afeição, e que participaria da trama contra o imperador. 63 O TRIUNVIRATO encontram. Entre eles nasce uma aliança informal. 64 O TRIUNVIRATO IX POMPEU AGE Ciente da situação, e sabedor de que, se quisesse a perfeita consecução de seus objetivos, a hora chegara, Pompeu age. Estando os outros dois fora de Roma, pouco tempo depois de partir, Pompeu retorna à cidade eterna. Voltara vitorioso da sua investida pela Espanha, nos embates contra os revoltosos. Conseguira sufocar com êxito as rebeliões que se faziam nas extremidades daquele império. Segundo o próprio, não fora até a África alegando cansaço de suas tropas e necessidade de reaparelhamento e reposição de homens que ali haviam ficado, nas facas dos povos rebelados. Ao chegar, imediatamente vamos ver Pompeu indo ao encontro de Petrucius, o dignitário do senado no seu nobre palácio nos arredores de Roma. Este estranhou a presença de Pompeu em Roma em tão pouco tempo, afinal, havia os povos da África e os motivos de Pompeu não lhe pareciam convincentes; primeiro porque as rebeliões, via de regra, eram sempre insipientes, e não ofereciam maior risco 65 O TRIUNVIRATO à segurança romana e, no caso em questão, não tinham o potencial de causar dano maior às tropas. No início da noite, vamos encontrar um homem já cansado pela idade, nevado pelo tempo, debruçado sobre um grande calhamaço de anotações, envolvido em complexidades políticas mesmo estando meio que podado, reduzido o seu poder no senado. Sim, Petrucius sempre fora um autodidata, um pesquisador, um intelectual e naqueles tempos essa era a tarefa que mais lhe tomava tempo. Nessa noite Pompeu o procurou fazendo-o ver o que desejava. O Magno fora bem recebido e por alguns momentos ficaram abraçados, embora o visitante estivesse longe dos princípios que regiam a conduta daquele nobre senhor. Petrucius via naquele general, o vigor e a virilidade do império romano, mas também a ambição e o orgulho, filhos da vaidade que embebia a alma daquele homem, e, portanto não lhe confiava o que de mais importantes havia naquele meio. Conhecia aquele jovem impetuoso porque conhecia sua família, sabia de sua procedência, de sua raiz e tinha convicção de que ele não merecia sua confiança, como 66 O TRIUNVIRATO também não merecia a confiança de qualquer um porque não enxergava senão seu interesses... Pompeu, nos primeiros minutos daquela visita contou-lhe detalhes da revolução. Como abafara os rebeldes, as investidas, as táticas usadas, os presos que foram executados em praça pública por traição ao império romano, bem como o que falou a Transcilinius, governador daquela província, por sua covardia e negligência para com os interesses do império... Entretanto dentre as muitas qualidades de Petrucius estavam a prudência e a ponderação. Ele sabia que estava diante de um homem forte, um dos mais importantes naquela conjuntura. Elogiou os feitos de Pompeu, rendendo-lhe homenagens e comentários de admiração, embora conhecesse bem Transcilinius, e sabia que ele não era nada do que Pompeu lhe pintara. Estava mentindo o jovem general e o sensor romano já começava a farejar o cheiro escusos interesses, de intriga e de grandes mudanças em breve. Conversavam animadamente, Petrucius sempre medindo de 67 O TRIUNVIRATO cima a baixo as palavras e o comportamento de Pompeu. Quando este lhe pediu notícias de Crasso e Júlio César, Petrucius solícito, narroulhe os últimos proveitosos sucessos, como a vitoriosa e ainda promissora campanha de César, juntos aos gauleses e germânicos. Mas uma notícia desagradável se fazia, infelizmente, presente. Crasso, pego pela retaguarda em falha tática de combate, morrera em demorado embate nas terras baixas da Ásia, em acirrada luta contra os Persas na sua parte mais oriental. Seu corpo, mutilado que estava, fora enterrado ali mesmo, sob a égide da bandeira romana, com a águia a tremular embalada pelas bênçãos de júpiter que certamente olharia por ele. Assim sendo, aguardaria, ele, Pompeu, a chegada de Júlio César para que os dois juntos prestassem as últimas homenagens àquele herói de guerra, pontífice máximo do império romano post-mortem. Pompeu, a esta notícia, sorriu discretamente. - Nobre Petrucius, um soldado romano não deve temer a morte, pois a guerra é para ele, a única liberdade possível. E se assim aconteceu, foi porque os deuses quiseram deste modo. Não lamentemos caro Petrucius, todos 68 O TRIUNVIRATO morremos um dia e agora, a nós que ficamos, compete-nos guardar o império que pelos deuses, nos fizeram a única raça inteligente a dominar este mundo. Contudo, quanto a Júlio César, quero há muito, em particular vos falar nobre Petrucius. Sabemos que hoje o seu poder ameaça essa instituição, que há séculos tem sido mantida e conservada para dar a Roma e aos romanos, a ordem e o respeito. Veja se não tenho razão: sei que me tens como um amigo vosso. Embora eu tenha apoiado Júlio César contra essa casa, só o fiz porque me vi pressionado e não tinha escolha. Contudo, César constitui uma ameaça para Roma e seu povo... Deve portanto, ser detido na sua ambição de governar sozinho, como um imperador, desrespeitando a todos os nobres deste senado. Eu queria, nobre Petrucius no levantar desta bandeira, o vosso não só valioso, como indispensável apoio; conto nesse momento com o apoio do senado e falta-me a sua colaboração; espero do amigo fiel e justo que sempre fostes, a ajuda indispensável, pois tenho certeza da sua fidelidade em primeiríssimo lugar a Roma. Sei de vossas simpatias em relação a César. Contudo, temo que, para o bem de Roma, deveis escolher, porque me apoiando, estarás a favor da ordem e 69 O TRIUNVIRATO do povo romano e sei que este é o absoluto ofício desta casa; nunca poderíamos conviver com o imperialismo que Júlio César quer nos forçar a aceitar e o momento é esse. Ele está em campanha, distante daqui e este é o momento. Façamos agora o que é melhor, mais sensato... Por seu turno, Petrucius entendeu a importância do momento que vivia. Não tinha opção. Entendera o tom ameaçador que Pompeu colocara em suas palavras. Aquilo era uma intimidação velada e Petrucius sabia que estava diante de um poderoso triúnviro. Não era prudente ousar medir forças, ou mesmo contrariá-lo naquele momento. No entanto, ele também sabia jogar. Via claramente agora as intenções de Pompeu e sabia que estava sendo jogado contra o primeiro homem daquele império. Sagaz como velha serpente, ali mesmo, em caráter informal marcou uma assembleia extraordinária no senado para um mês depois, a contar daquela data, daquele encontro em sua casa. Nessa reunião decidiriam o pleito a respeito das verdadeiras intenções de César no tocante ao governo do império e dos povos conquistados. Quando Pompeu saiu, imediatamente, Petrucius ficou a pensar. Sabia 70 O TRIUNVIRATO do que pretendia o visitante e também do que era ele capaz. Acalmou-se porém, quando lembrou que teria um mês para decidir a melhor estratégia. Sim, ganhara algum tempo e isso seria muito importante com o passar dos dias. De qualquer maneira, não seria prudente esperar um minuto sequer. Ali mesmo, sob a luz da lua, decidiu que expediria um documento a César, dizendo que, por decisão unânime do senado, ele não estava mais a serviço de Roma, e que de nada adiantariam as conquistas sobre os povos vizinhos. Sabia que isso iria deixá-lo louco, mas era uma forma de avisá-lo do grau de importância da situação sem despertar desconfianças em Pompeu. Pompeu, na verdade forçou Petrucius a tomar essa importante decisão. O sensor do senado, do alto de sua história entre o poder e os poderosos de Roma sabia que estava declarando uma guerra entre os próprios romanos: Pompeu e César. Entretanto, não tinha escolha. As intenções de Pompeu eram desprovidas de qualquer sentimento por Roma e sim por seus próprios interesses de governar sozinho e por isso se fazia mister tirar César do pleito, já que Crasso não lhe dera nenhum trabalho, deixando-se morrer em lutas nas terras 71 O TRIUNVIRATO distantes. Ponderou, pensou, mas, nada tinha a fazer, afinal de contas ele já se sabia inofensivo diante de Pompeu. No final daquela importante noite, ainda vamos ver nosso nobre ancião, a caminhar, já tarde, por entre os jardins, como a cismar, a pensar no porvir, no senado, na sua vida, em Pompeu, em César, em Roma... Entrementes, Petrucius não descansou; tentou de alguma maneira, articular discretamente o apoio dentro do senado para impedir toda aquela investida de Pompeu na tentativa de assumir sozinho o comando do império, sabendo ser ele um tirano sem nenhum atributo para o cargo, desprovido de honra e dignidade para tal. Petrucius sabia que se ele assumisse o controle, a tirania estaria de uma vez por todas estabelecida. 72 O TRIUNVIRATO X A TRAIÇÃO As tribos da atual França caíram diante das centúrias romanas sem muita resistência. Os exércitos vermelhos marchavam sem muita dificuldade, destruindo tudo e todos. Era fácil seguir a trilha romana. O preço daquelas conquistas era demasiado caro e desumano; rios de sangue banhavam as terras da Gália e sem clemência, as tropas cesarianas abriam caminho, subjugando seus adversários, escravizando e assassinando comandantes e comandados, molestando mulheres, enfim, destruindo os povos vizinhos. Nessa altura, César marchava em direção a Germânia, pois já havia conquistado as terras que se avizinhavam ao rio Sena e toda a parte mais ocidental daquela parte da Europa. Suas conquistas eram extraordinárias, embora muitas vezes tenha enfrentado situação difíceis, devido ao seu pouco manejo bélico e à valentia daqueles povos, sempre dispostos a morrer ao que ver suas terras, suas casas, suas famílias escravizadas... 73 O TRIUNVIRATO Numa noite de singular beleza, os exércitos romanos estavam acampados junto a um pequeno rio, razoavelmente próximo do local que atacariam no dia seguinte. Contudo, o ânimo geral estava abatido, bem como se sentia uma certa tristeza a se fazer presente ali entre todos, pois se perdera o oficial Galpeano, centurião de rara qualidade antigo naquela função, que fora inclusive amigo do pai de César e lhe dedicara atenção especial pela sua fidelidade e bravura. Fora ele o saldo daquele dia contava mais 380 soldados mortos e 180 feridos, o que era raro de se ver nas fileiras romanas. Os outros oficiais, eram Partilius, Gamuel, Galbano e Luterius, todos da confiança pessoal de César. Estes últimos, embora estivessem bem de saúde, tinham experimentado revezes que os colocaram a todos em pertinaz abatimento. Sentiam-se com a moral ofendida, com o orgulho no chão pelo forçado recuar, feito a duras penas, afinal de contas não estavam acostumados a situação de desvantagem e esta, quando lhes chegava era faca afiada no orgulho patrício. César, mais do que ninguém sabia o que significara aquele dia e era preciso chamar 74 O TRIUNVIRATO todos ao combate, firmes e decididos da vitória porque só com a confiança recobrada, teriam chance de mostrar aos ditos bárbaros quem eram eles e o que estavam ali para fazer... “Valentes guerreiros romanos, Aqui chegamos para conquistar a vitória e até então não conhecemos a derrota. Hoje esses homens nos mostraram que nascemos para morrer antes de aceitarmos a derrota. Filhos de Roma! Levantai-vos. Eles conhecerão o voo da águia. Durmam esta noite sobre os túmulos dos valentes soldados romanos. Amanhã eles sentirão o peso da nossa vingança”. A mensagem encheu aquele acampamento triste de um brilho esplendoroso; acendera o fogo do orgulho romano e não se falava noutra coisa, senão na vingança que eles depositariam em cada um que fosse abatido por eles. Júlio César conseguira, e ele tinha esse poder de transformar o cansaço em disposição pela indução que produzira em seus comandados. 75 O TRIUNVIRATO Ele tinha a força do comando e não ao acaso possuía o maior contingente militar daquela época, no comando de quatro grandes legiões, a frente dos mais experimentados generais, chefe dos mais destemidos e valentes centuriões, mesmo sendo pouco experiente no campo beligerante e ainda aprendiz perto dos demais. Entretanto nessa mesma noite, o triúnviro, seria tomado por uma grande surpresa, que definiria de vez o destino de sua vida. Não sabia ele que, em Roma, iam de vento em popa os enlaces de Pompeu no objetivo de tomar-lhe a posição. Já era avançado da noite. Poucos soldados ainda permaneciam acordados, em trabalho de vigília ou ainda em conversas entre si sobre o dia que se passara, ou ainda sobre as saudades da capital, da família, de projetos ali deixados e outras coisas mais. A maioria descansava o corpo e a mente daquele dia tão duro e preparava-se para a grande vingança através do sono necessário e reparador a todo contingente. Em dado momento, Glaucus, inesperadamente, transpôs a sala de espera, em direção ao quarto de César, que se situava mais ou menos no centro de todo o grande 76 O TRIUNVIRATO acampamento por questões óbvias. Sua expressão estava tensa e nervosa e seu caminhar apressado deixava transparecer a urgência em conduzir Caprius, o mensageiro oficial do senado à presença do tribuno. Quando César ouviu os passos em direção ao seu quarto, estranhou; sentou-se no leito e esperou aparecer aquele que se deslocava com tanta pressa aos seus aposentos. - És tu, Glaucus. Que acontece para justificar tua presença? - Aqui está um mensageiro oficial do senado de Roma e trouxe-lhe mensagem do conselheiro e sensor Petrucius. César estranhou; em alguns segundos tentou imaginar o que poderia estar acontecendo que justificasse uma mensagem em caráter oficial. Depois respondeu: - Vai Glaucus; Faze-o entrar e espera no átrio que me encontro a caminho. O átrio era uma espécie de sala destinada à recepção e despachos. Ali só tinham acesso os mais achegados do tribuno ou só quem ele autorizava a entrada por situações que julgasse necessário. Em poucos minutos, encontra-se César diante de Glaucus e do mensageiro Caprius, que o reverenciou, se apresentou 77 O TRIUNVIRATO dando o seu nome, filiação e graduação no exército, sua função no senado e por ordem de quem ali estava. Caprius tirou de dentro do alforje, um papiro, enrolado dentro de um outro canudo com as insígnias de honra do senado. César percebeu a importância pelo timbre oficial, que marcava o documento na mão do mensageiro; abriu o conteúdo e o começou a ler. Antes de terminar, porém, arremessou-a distante, num impulso de fúria e revolta. - Cães malditos! Glaucus correu e inteirou-se da mensagem. Ao término, compreendeu o que se passava: César fora traído, e era, agora, considerado inimigo de Roma. O jovem mensageiro, permanecia de cabeça baixa: sinal de respeito ao cargo daqueles dois oficiais romanos que estavam ali e somente a ergueria se lhe fosse ordenado. Após o primeiro impacto, César, recuperando a calma parcial, disse: - Sentemo-nos todos. E dirigindo-se ao mensageiro continuou: - Quero saber tudo que tens a me dizer e te ordeno em nome de Roma e de júpiter 78 O TRIUNVIRATO que não mintas para mim, informando-me da real situação que deixastes ao sair de Roma. Caprius contou-lhe o que sabia. Com dificuldade foi narrando os últimos acontecimentos sob os olhos de César e Glaucus Vinícius que a tudo escutavam sem uma interrupção sequer. Detalhe a detalhe, o jovem romano foi tecendo tudo que sabia a respeito do movimento que se montara em sua ausência na cidade eterna. Entretanto notava-se que o mensageiro não sabia do conteúdo do que levava, devido ao seu estado de surpresa e apreensão mostrado mediante a reação de César. Caprius falou da morte de Crasso no oriente diante das forças partas, dizendo que seu corpo lá mesmo ficara; de que Pompeu havia rapidamente sufocado as rebeliões espanholas e voltara a Roma antes do esperado. Informou também que o senado estava discreta, mas severamente vigiado de dia e de noite pelos comandados de Pompeu, na intenção de intimidar qualquer reação contrária ao seu intento. Por fim voltou-se ao tribuno e lhe disse: - Senhor, tudo que lhe narrei é a mais pura verdade dos últimos movimentos que presenciei em Roma. Permita-me senhor, tecer 79 O TRIUNVIRATO um último comentário a respeito da pequena visão que tenho da realidade, no que ainda pude acompanhar. César o fitou de cima a baixo, como desvendando se aquele jovem agia honestamente. Fez sua leitura e respondeu. - Fales, não demores e vá buscar abrigo e descanso no alojamento dos oficiais, estando você obrigado a guardar e não comentar o que aqui ouvistes. - Senhor, esteja tranquilo que não comentarei um assunto que diz respeito somente a vós e a vossos confiantes. Agora senhor, gostaria de lhe dizer sobre o movimento do senado. Aquele que se dizia o vosso amigo e que divide juntamente com vós o comando de Roma, é que está por trás desta terrível manobra contra tua pessoa. Sei senhor porque sou oficial da mais alta confiança de meu venerando amigo que exerce a figura de pai para mim: Petrucius. Sinto-me na obrigação de vos dizer um trecho da conversa que presenciei entre o senador e o colegas mais chegados seus. Petrucius afirmara que Pompeu havia lhe ameaçado a vida se não fizesse o que ele determinara. Falo-vos senhor, porque pelo que percebi da mensagem, leva a assinatura do meu 80 O TRIUNVIRATO nobre amigo. Contudo, vos afirmo que ele não teve escolha, pois como seu oficial, presenciei soldados romanos que acompanhavam seus passos, vigiando a entrada e a saída de sua casa dia e noite, como também seu gabinete pessoal numa ameaça constante a sua vida e a da sua esposa. César e Glaucus a tudo escutavam. Ao término, Caprius se despediu e saiu deixando aquele recinto que agora se tornara palco do destino que aguardava Roma e os romanos. A decisão ali tomada, naquele pequeno esconderijo, sob o bruxulear das tochas, havia de alcançar o futuro de muitas criaturas e que tudo que ali se desenrolava alcançaria seus filhos, e os filhos dos seus filhos em muitas gerações e encarnações futuras... 81 O TRIUNVIRATO XI A MORTE DE PETRUCIUS Salve Deus mestres. Vamos deixar por um instante o acampamento de César, na Gália e voltar a Roma, naquele labirinto de forças desiguais, onde as ambições e o orgulho ensaiam o seu declínio na figura dos nossos personagens. Durante algumas décadas, Roma permanecia alinhada à ordem dos domínios geográficos, de povos que na medida que eram vencidos, iam acumulando em seus corações um ódio pelo maior inimigo da sua liberdade: o império romano. Em Roma, entre os muitos ansiosos, vamos encontrar os correligionários de Pompeu, o grande como era cognominado. Entre os preocupados e receosos, vamos encontrar aqueles que assistiam os acontecimentos sem poder evitá-los. Falamos 82 O TRIUNVIRATO de Petrucius, o nobre sensor estando na difícil posição, entre Pompeu e César. Apesar de sua experiência, e de tudo que vivera, de todo seu respaldo político, nunca enfrentara uma situação política tão delicada como a que vivia naqueles longos dias. Abateuse grave e visivelmente na sua saúde, dando mostras de grande debilidade. Todos notavam que ele não passava por bons momentos, que aquele quadro estava dia a dia lhe roubando a cor e a vitalidade físicomental, atributos estes que lhe eram tão característicos. Depois que Pompeu lhe induziu a publicar o texto que tornara César, inimigo declarado de Roma, não mais fora o mesmo. Sua expressão, antes serena, tomava-se definitivamente de um ar preocupado e tenso, sempre a cismar, taciturno ao mesmo tempo abatido e cansado. Em seu juízo, pensara como pudera fazer aquilo, como se submetera àquela situação, para ele, desonrosa e covarde? Pensamentos obscuros e o todo dos fatos e dos personagens vinham toldando os sentimentos e sentenciando o velho general, que desfigurado e sem forças, já mal comparecia ao senado e mesmo em casa dava sinais visíveis de grandes perturbações. 83 O TRIUNVIRATO Sua esposa, nobre e devotada companheira de tantos anos, notara-lhe o taciturno perturbar-se e, mostrando preocupação e buscava auxiliá-lo, sem, no entanto conseguir. Petrucius fora vencido naquela conjuntura, esmagado entre os dois leões daquele enredo transcendental. Sabia do poder de Pompeu, de toda sua influência e seu caráter inescrupuloso, capaz de tudo pelo sucesso e pelos interesses pessoais. Do outro lado estava César, orgulhoso, caprichoso, que com certeza marcharia sobre Roma em fúria. Petrucius sabia que César tinha muito mais força militar do que Pompeu. Em combate, este último estaria liquidado. De um modo ou de outro, qualquer um deles – César ou Pompeu - esmagaria o velho senador, como o mais forte, fatalmente vence o mais fraco. E mesmo sendo o sensor do senado, ele sabia que na verdade, esta instituição passara a ter uma função muito mais decorativa do que efetiva. Era assim que Petrucius, se sentia. Contudo, o seu cismar não se ligava somente a aquele momento político, mas, desde que lançara o edito contra César, mergulhara ele em intrincada conjuntura transcendental, da qual não tinha plena 84 O TRIUNVIRATO consciência em psíquico, mas a traduzia em forma de a-sentimentos de longas eras... Foi assim, aflito e soturno, que numa triste noite de maio, quando ela se fazia especialmente serena e melancólica, Petrucius atenta contra a própria vida. Usa suas próprias mãos e se suicida em seus aposentos, no palácio... Tudo foi por ele muito bem arquitetado. Esperou que todos estivessem dormindo para que não fosse socorrido e ter certeza do desfecho. Morrer era um ritual e merecia toda a pompa que lhe era peculiar. Para a ocasião, Petrucius colocou sua túnica de honra, testemunha e prova de suas muitas conquistas; suas armas e insígnias conseguidas nos seus sessenta e cinco anos de trabalho lhe foram ao peito; passou-lhe instintivamente pela memória, naqueles últimos instantes em que se preparava para morrer, as muitas imagens de sua vida: sua farta infância, seu pai, do qual o nome também herdara, seus familiares, sua casa; lembrou do seu casamento, dos filhos e suas mortes nas batalhas; dos dias de glórias do senado, enfim, de toda a vida em muitas lembranças... 85 O TRIUNVIRATO Sentou-se na cama e olhou de lado a taça que lhe levaria ao portal da morte. Num golpe rápido e decidido, sorveu a tisana fatal. Deitou e esperou alguns minutos para que a bebida fizesse efeito. Instantes a frente, começaria a sentir grande dificuldade em respirar e levando a mão ao pescoço, no instinto da sobrevivência, agoniou-se. Letal foi a dose. Desta forma, também ele, Petrucius fechava seus olhos na vida terrena e não mais figuraria naquele vulcão que era Roma por aqueles dias e também pelos outros que se anunciavam aterradores para todos que estavam envolvidos na trama, no jogo sangrento pelo poder e pelo domínio do senhor do mundo.... No dia seguinte, um dos seus criados encontraria seu corpo prostrado sobre o leito. Mãos no pescoço, o cadáver contava o que acontecera na noite anterior. As repercussões invadiram como chamas a cidade. Provocou grande instabilidade no senado. Em seu lugar, assumiria do senado Catão, jovem romano, filho de uma rica família, descendente de imigrantes plebeus. Era nessa altura aliado de Pompeu, de suas ideias e não admitia o comando de César. 86 O TRIUNVIRATO O novo sensor reforçara sua posição por seus conceitos e sentimentos republicanos; amante e seguidor dos pensamentos de Cícero, ele devotava-se à carreira diplomática e para isso comprara uma cadeira no senado. Na ocasião da morte inesperada de Petrucius, Pompeu o indicara para sensor, desde que comungassem dos mesmos ideais. O suicídio de Petrucius vinha detonar uma crise muito mais profunda no raciocínio da aristocracia romana, trazendo de volta figuras que estavam distante do convívio político daquele momento. Velhos senadores, cônsules aposentados, procuradores, enfim. A morte do patrício provocara um levante em todos os lados. Pompeu, a seu turno, era na verdade um grande estrategista. Seus feitos militares deram a ele grande respaldo junto à população e à aristocracia romana e disso tirava proveito. Nos últimos dias, invocara o amigo Crasso, que mesmo morto, tendo sido o homem mais rico de todos, ainda influenciava nas decisões romanas. Tanto assim que Pompeu se intitulou seu procurador post-mortem. Amigos que eram, Pompeu sabia das pessoas que deviam dinheiro a Crasso e era o momento dessa teia de interesses se fazer 87 O TRIUNVIRATO valer, muito mais em tom de ameaça, para silenciar os altos escalões romanos do que para reaver os sestércios emprestados. Deve-se dizer que Pompeu, em toda sua estratégia nunca apostara no sucesso de César como comandante militar, de modo que certo estava de que ele voltaria desmoralizado das incursões às Gálias. Mas o que aconteceu foi que, quando a notícia chegou, César já houvera transposto o Rubicão e se preparava para entra na cidade. Militarmente os dois não se comparavam. César estava muito mais bem armado. Trazia consigo um conselho de velhos generais como Lumário, Verducius, Patricius Calmos e muitos outros oficiais de grandes conquistas, mesclados com o vigor e a força da juventude de suas centúrias, que famosas eram pela velocidade com que se deslocavam. Serlhe-ia fácil passar por cima de Pompeu. Este porém, ainda encontra tempo de organizar sua armada e tentar uma fuga pela Grécia. César prontamente lhe intercepta e o derrota na Batalha de Farsália, sobre a qual trataremos em continuação. Salve Deus, amigos e irmãos. Busquemos nos encontrar neste transcendental enredo. Até a próxima. Jesus nos abençoe. 88 O TRIUNVIRATO Em sua programação essência, Roma é escolhida nos planos celestes como a nação espiritual do novo mundo, cuja missão é a de fazer a transposição do sistema cristão para o sistema crístico. A águia Roma deveria ter sido o conciliador entre o velho e o novo. A era romana marca a novo ciclo e se coloca como estrela alfa na terra candidatando-se a ser o berço do décimo primeiro avatar, prenunciando a vinda do Divino Messias, Jesus o Enviado do Cristo O Sublime Galileu - aquele que transformaria e uniria toda a sociedade humana numa só verdade, num só pensamento, numa só linguagem, num só sentimento: o de amor, o amor que busca o próximo. 89