Estocolmo segundo Stieg Larsson

Transcrição

Estocolmo segundo Stieg Larsson
Suécia
Estocolmo segundo Stieg Larsson
Por Joana Amaral Cardoso
Stieg Larsson tornou-se numa espécie de escritor de culto para as massas e Södermalm ganhou novo
circuito turístico. Maurizio Rellini/corbis
Uma nova Suécia? A Suécia não é nova, os olhos do mundo é que a vêem de uma
forma diferente. Graças ao sucesso da obra do trágico Stieg Larsson, Estocolmo e o
país têm uma nova camada
Qual Código de Da Vinci, qual Harry Potter, qual quê. Nos últimos anos, o livro blockbuster a
transportar para a realidade e a transformar em guia de viagem é mesmo Os Homens que
Odeiam as Mulheres ou alguma das suas sequelas, A Rapariga que Sonhava com Uma
Lata de Gasolina e Um Fósforo ou A Rainha no Palácio das Correntes de Ar. Se se rumar à
Suécia, claro. Estocolmo através do prisma da trilogia Millennium e do poder descritivo de
Stieg Larsson é todo outro jogo.
E os primeiros a percebê-lo, além dos moradores da Bellmansgatan que rapidamente
começaram a ter estrangeiros de nariz no ar e livros-tijolo debaixo do braço à procura da
casa ficcional do jornalista protagonista Mikael Blomqvist, foram os directores do Museu da
Cidade de Estocolmo. O museu, situado no extremo norte da ilha sueca mais trendy do
momento, Södermalm, tem o exclusivo da organização oficial de visitas guiadas durante
todo o ano (com versão em português, se requisitada) pela Estocolmo de Blomqvist e
Lisbeth Salander. Começam exactamente no número 1 da Bellmansgatan e terminam no
museu, onde há uma exposição dedicada à trilogia Millennium que recria alguns dos
espaços-chave da saga, como os escritórios da revista de investigação jornalística que dá
nome à série.
Em princípios de Julho, o extremo da Bellmansgatan dava sinais do que é, agora, aquela
artéria - panos negros pendurados de um primeiro andar a tapar a visibilidade para parte da
rua, câmaras de cinema, actores em plena maquilhagem e luzes brilhantes misturadas com
o longuíssimo lusco-fusco das noites brancas do Verão sueco. Uma rodagem. O fascínio por
esta literatura criminal gulosa, que manteve mais de 60 milhões de leitores por todo o
mundo em animação suspensa (é o que aqui chamamos ao estado em que se termina uma
das maratonas de leitura a que, invariavelmente, se obrigam os devoradores dos insaciáveis
livros), é também agora alimentado pelos filmes - os três suecos, com Noomi Rapace, e a
produção americana de David Fincher.
As visitas guiadas são menos longas do que as maratonas de seis, dez, 14 horas para
acabar um dos tomos: durante duas horas, os peritos em Salander e companhia dão, além
de um percurso pelos sítios reais do policial, informações sobre Estocolmo e sua história,
uma cidade organizada, outrora violenta, mas sempre embalada pela crítica social que
permeia e serve de base às tramas de Larsson - a violência sobre as mulheres a par da
legislação civilizada que defende a igualdade de género, a posição da Suécia nas Guerras
Mundiais, a morte de Olof Palme e até o assassinato da ministra Anna Lindh. O analista de
média Joakim Lind atesta mesmo que, graças à exposição que a criação de Larsson deu ao
país, o mundo vê "uma imagem mais negra, mas também mais multifacedata da Suécia a
emergir". "Há a sensação de que "finalmente caiu a fachada" e que podemos falar dos
problemas que desafiam todos os países modernos", explica ao jornal sueco The Local,
acrescentando que "a Suécia agora é um país que já não pode nem precisa de fingir ser
nada mais do que o que é e o que sempre foi". Uma nova-velha Suécia, uma nova-velha
Estocolmo.
A verdade é que o viajante-fã tem três opções: ou faz a visita oficial (120 coroas suecas cerca de 14 euros, todos os sábados às 11h30 e às quartas às 18h de Junho a Setembro,
só aos sábados no resto do ano), ou compra o mapa detalhado do museu (cerca de 4 euros)
e faz a visita a solo, ou simplesmente pega nos livros, no ereader ou em notas e se
surpreende com os nomes que conhece tão bem à medida que passeia pela cidade.
Estocolmo é incrivelmente fácil geograficamente, permitindo passear a pé com ou sem
crianças ou mobilidade mais ou menos reduzida, e Södermalm, onde quase tudo se passa,
é também uma das zonas imperdíveis da capital sueca, cheia de lojas, restaurantes, jardins,
pessoas e bicicletas interessantes. E bares. Como o Kvarnen, o poiso favorito de Lisbeth
Salander e sua amiga Miriam Wu para beber uns copos e muito perto da artéria central de
Södermalm. E cafés, essa bebida que encharca as páginas dos três policiais e a vida dos
suecos, como o Mellqvist, a quatro quarteirões da casa de Blomqvist. Ou, sejamos realistas,
da casa de outro sueco qualquer. Real. Porque depois de Stieg, do seu alter-ego Mikael e
da magnética Lisbeth, a Suécia já não é só Björn Borg, loiras e Ikea. É tudo bem mais real.
Mais informações em
www.stadsmuseum.stockholm.se
Guia prático
Como ir
Os voos de ida e volta mais baratos de Portugal para Estocolmo são os da Ryanair, com
partida de Faro (às quartas e sábados), directamente para a capital sueca por cerca de 110€
(preços para Setembro). A TAP voa diariamente de Lisboa e Porto para Estocolmo com
preços de ida e volta a rondar os 340€, dependendo do dia da semana e da antecedência
com que reserva.
O aeroporto mais próximo de Fjallbacka é o de Trollhattan (cerca de 70 km). Para chegar a
Fjallbacka de Estocolmo, que fica a cerca de 360 quilómetros dos vários aeroportos que
servem a capital sueca, pode alugar um carro nos maiores aeroportos e existem linhas de
autocarros (www.vasttrafik.se) com partidas regulares para a ilha. Se viaja directamente
para Fjallbacka, o melhor é fazê-lo voando para Gotemburgo (nem a TAP nem as principais
low cost a operar em Portugal voam directamente para a cidade, havendo opções com uma
escala através da KLM, Lufthansa ou da TAP através dos seus parceiros Star Aliance em
code-share) e dali seguir por via terrestre para a ilha.
Onde ficar
Stora Hotellet
Galarbacken
Tel.: 011-46-525-31003
www.storahotellet-fjallbacka.se
Hotel náutico no meio da povoação. Quartos a partir de 188€ em época baixa e dos 237€
em Julho e Agosto
Vaderoarnas Vardshus
Tel.: 011-46-525-32001
www.vaderoarna.com
Guest house com onze quartos nas ilhas Weather, a uma curta distância de barco de
Fjallbacka. Preços a partir de 450€, com transporte, refeições e sauna.
Onde comer
Lilla Berith
Kyrkvagen 1
Tel.: 011-46-525-31250
www.lillaberith.se
Um restaurante italiano com almoços a preços bastante competitivos. Pratos principais a
partir de 8 euros.
Bryggan
Ingrid Bergmans Torg
Tel.: 011-46-525-31060
www.brygganfjallbacka.se
Marisqueira na zona do porto. Pratos principais a partir de 13 euros.
O que fazer
Fjallbacka Guider
Tel.: 011-46-768-111021
www.fjallbackagutider.se
Tours baseados nos livros de Camilla Läckberg por cerca de 17 euros. Mínimo grupo de
seis.
Na Internet
www.vastsverige.com
Fugas, Público, Sábado 24 Agosto 2012