O Codex Romanoff de Leonardo Da Vinci

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O Codex Romanoff de Leonardo Da Vinci
O Codex Romanoff de Leonardo Da Vinci - O Pensador Selvagem
Escrito por João Luís Almeida Machado
Sex, 16 de Maio de 2008 00:00
Em 1980 foi descoberto o Codex Romanoff ou, para simplificar, os "Cadernos de
Cozinha" de Leonardo Da Vinci. Não há, evidentemente, comprovação total de que os
registros anotados nesse documento tenham sido produzidos pelo gênio maior do
Renascimento. Entretanto, existem vários indícios nos escritos que nos permitem supor que
essa relíquia seja autêntica.
Entre eles poderíamos citar nomes de personalidades da época com as quais Leonardo teve
contato, locais nos quais viveu ou pelos quais passou, hábitos típicos do período renascentista,
alimentos próprios da região onde vivia o artista e inventor,...
Uma outra informação que nos coloca em sintonia com a descoberta dos
"Cadernos" refere-se ao fato de que Da Vinci anotava sistematicamente tudo aquilo
que acontecia em sua vida. Mantinha total regularidade em relação a seus apontamentos e
tinha como prática detalhar todos os acontecimentos, mesmo aqueles que faziam parte de um
cotidiano que a maioria das pessoas parece viver, mas não perceber e saborear.
A partir da descoberta desse precioso arquivo pessoal de Da Vinci está sendo possível
perceber que seus conhecimentos avançaram não apenas na área das artes plásticas e da
ciência, da engenharia ou da filosofia. Atingiram também as artes da mesa. Essa passagem de
Leonardo pela gastronomia foi significativa. Nos legando desde alguns artefatos considerados
básicos (e essenciais) na área, como os guardanapos e as tampas de panelas e repercutindo
também pelo fato do artista ser vegetariano, numa época em que as carnes eram consideradas
essenciais para a composição de uma alimentação farta e um indicativo de posição e status
social.
Leonardo não parecia muito interessado em firmar-se dentro desse universo social das elites
de Milão e Florença a partir de concessões que lhe fizessem ser reconhecido como parte do
grupo. Por isso, pouco parecia se importar com a idéia de que comer carne era como um
quesito fundamental para participar desse seleto "clube". Privilegiava os legumes e
as verduras por acreditar se tratarem de alimentos mais leves e saudáveis, numa época em
que poucas pessoas pareciam se importar com a relação entre alimentação e saúde.
Um outro dado esclarecedor dessa relação de proximidade entre Da Vinci e a Gastronomia
refere-se ao fato de que o inventor (em sociedade com o amigo Sandro Botticelli) chegou a
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abrir um restaurante. Foi um verdadeiro e retumbante fracasso comercial, especialmente pelo
fato de que não se serviam pratos com carnes. O estabelecimento, se antecipando em
aproximadamente 500 anos, era vegetariano.
Além de trabalhar com verduras e legumes numa época em que as pessoas estavam mais
interessadas em saborear um bom e suculento filé, Da Vinci e Botticelli preparavam pratos
ornamentados, uma tendência que se celebraria no período contemporâneo, para a qual as
pessoas comuns do Renascimento não estavam preparadas.
Outro feito de Leonardo na área gastronômica foi trabalhar como mestre de cerimônias para os
banquetes do poderoso Ludovico Sforza, governante da poderosa cidade italiana de Milão. Não
tinha como incumbência a organização do cardápio, mesmo por conta de suas preferências
vegetarianas, cabendo-lhe ordenar os banquetes quanto aos serviços, os instrumentais
utilizados, a programação artística, a ornamentação dos locais onde se realizariam as
refeições,...
No período renascentista a alimentação tinha o intuito de definir as bases sociais,
especialmente na Itália, das poderosas e ricas cidades que controlavam o acesso de
especiarias provenientes do Oriente, através do Mar Mediterrâneo. Por isso, as tradicionais e
poderosas famílias que reinavam em Florença, Milão, Veneza ou Gênova organizavam suas
refeições cotidianas, e especialmente suas grandes recepções, com o intuito de comprovar sua
riqueza e seu poder.
Outra informação importante refere-se ao fato de que, a composição básica da alimentação
cotidiana era feita com produtos típicos de cada região. Especialmente no que se refere aos
alimentos que estragam com maior rapidez. Por isso, os produtos importados do Oriente eram
caros demais para o povo e, dificilmente atingiam os pratos daqueles que estivessem longe
das cidades (caso da maioria esmagadora da população, que vivia no campo).
Nesse momento histórico tão específico que é o Renascimento, floresce o gênio de Da Vinci,
inclusive na gastronomia, como podemos conferir com algumas receitas disponibilizadas em
seus "Cadernos", das quais selecionamos duas, apresentadas a seguir.
Sopa de Folhas de Nabo
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Há quem afirme que as folhas de nabo e repolho, em qualquer de suas formas, são comida
apropriada apenas para aqueles de forte compleição (lavradores, carregadores de pedras,
açougueiros) e que os inválidos, bibliotecários, pessoas pequenas ou de digestão delicada
deveriam manter-se afastados deles.
Eu, por outro lado, afirmo que as folhas de nabo e os repolhos tornam forte uma digestão
fraca, por causa da propriedade de suas folhas, as quais já vi reviver uma vaca moribunda e
alegrar uma vaca doente.
Aqueles que crêem na primeira dessas teorias devem provar a sopa. Deve-se fazer molhos
com as folhas de nabo e os repolhos e amarrá-los com crina de cavalo. Em seguida,
mergulhe-os em água fervente e sal e deixe-os ali por uma hora. O líquido obtido pode ser um
prato leve para a Quaresma.
Pudim de Mosquito Branco
Moa amêndoas descascadas e sem pele junto com um pouco de flores de sabugueiro e passe
tudo pela peneira. Cozinhe lentamente por meia hora, junte peito de capão cozido com um
pouco de mel e moa tudo. Regue a mistura com água de rosas e sirva de imediato. Este prato
é de digestão muito lenta e não aconselhável para aqueles que têm a Peste e para aqueles
que querem saber por que tem este nome, questão à qual não posso responder.
Obs.: "Os Cadernos de Cozinha de Leonardo Da Vinci" viraram um pequeno e
charmoso livro, editado no Brasil pela Editora Record. Aconselho sua leitura, extremamente
agradável e curiosa para os estudiosos da história, da gastronomia e para todos que tem
interesse no assunto e no período. Trata-se, verdadeiramente, de uma obra imperdível.
3/3