a celebração do "carneiro no buraco"

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a celebração do "carneiro no buraco"
A CELEBRAÇÃO DO "CARNEIRO NO BURACO" E OS "RITUAIS DO
FOGO" EM CAMPO MOURÃO – PR
Bruna Morante Lacerda Martins
(Bolsista Capes/PPH/UEM)
Sandra de Cássia Araújo Pelegrini
(MBP/UEM e CEAPAC/UEM)
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo investigar a festa do “Carneiro no
Buraco”, iguaria registrada como patrimônio cultural imaterial de Campo
Mourão/PR, em 26 de outubro de 2009. Esse prato, servido anualmente, desde
a década de 1990, adquiriu repercussão regional e passou a ser reconhecido
como uma referência gastronômica entre os mourãoenses, embora tenha sido
criado na década de 1960 por Ênio Queiroz, Joaquim Oliveira e Saul Caldas
(inspirados em um filme de faroeste americano). A celebração do “Carneiro no
Buraco” é apreendida como prática institucional há 24 anos, marcada por uma
narrativa mítica, introduzida ao longo das suas realizações e que envolve o
espetáculo teatral “A guardiã do Fogo” e os rituais “Fogo” e a “Retirada dos
Tachos”. A relevância dessa abordagem se deve ao fato de que a
“teatralização do patrimônio” é uma prática para legitimação de acontecimentos
fundadores com a finalidade de forjar identidades culturais e construir
memórias locais (CANCLINI, 2013). O embasamento teórico da pesquisa
centra-se nas proposições de Nestor Canclini (2008), Michel de Certeau (1998)
e Eric Hobsbawn (1997). O procedimento metodológico adotado pauta-se na
análise da obra teatral, da legislação, de fotografias, de entrevistas e da
produção historiográfica publicada sobre o tema. Ressaltamos que essa
abordagem integra uma pesquisa mais ampla e em desenvolvimento, junto ao
Mestrado do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade
Estadual de Maringá.
Palavras-chave: Patrimônio imaterial; Gastronomia; Carneiro no Buraco.
1543
Introdução
Os processos de patrimonialização de bens culturais têm sido algo
constante na contemporaneidade, um dos motivos para este “boom da
memória”, é a ampliação do conceito de patrimônio, que reconhece e valoriza
os monumentos considerados “bens de pedra e cal” a expressões cotidianas,
saberes e práticas culturais da sociedade pautadas na compreensão da
pluralidade e da alteridade cultural. Além disso, é preciso considerar o fomento
de políticas públicas voltadas para preservação do patrimônio, como o
instrumento jurídico do tombamento, e recentemente regulamentação do
registro de bens imateriais, promulgada na “Convenção para a Salvaguarda do
Patrimônio Cultural Imaterial” (2003), adotada pela UNESCO (PELEGRINI,
2009).
Diante disto, a pesquisa em andamento tem como escopo analisar a
Festa Nacional do Carneiro no Buraco1, que acontece anualmente em Campo
Mourão, Paraná. O evento gastronômico, apreendido como prática institucional
há 24 anos, tem como principal atrativo o “Carneiro no Buraco” registrado como
patrimônio imaterial do município2 e também como prato típico3 pelo poder
executivo municipal. Essa iguaria, servida anualmente, desde a década de
1990, adquiriu repercussão regional e passou a ser reconhecida como uma
referência gastronômica entre os mourãoenses, embora tenha sido criado na
década de 1960 por Ênio Queiroz, Joaquim Oliveira e Saul Caldas (inspirados
em um filme de faroeste americano).
O “Carneiro no Buraco” é feito à base de carne ovina cozida por cinco
horas com legumes e condimentos, utilizando como recipiente um tacho com
tampa, que é colocado em um buraco no chão com lenha seca, o preparo leva
em torno de 12 horas. Tem como características marcantes o gosto distinto por
causa das misturas de sabores, como a presença da maça e aparência do
prato, acompanhado de pirão, arroz e almeirão. Para a primeira festa realizada
1
CAMPO MOURÃO. Lei nº2507, de 05 de novembro de 2009. Instituí a promoção da Festa
Nacional do Carneiro no Buraco do município de Campo Mourão.
2
CAMPO MOURÃO. Lei nº2501, 26 de outubro de 2009. Declara o prato típico “Carneiro no
Buraco” como patrimônio cultural de Campo Mourão.
3
CAMPO MOURÃO. Lei nº2522, 02 de dezembro de 2009. Torna o “Carneiro no Buraco” prato
típico do município de Campo Mourão.
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em 1991, foram servidos 70 tachos para 4.200 pessoas e a edição deste ano
serviram 150 tachos em um total de quatro toneladas de carne de carneiro
(PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO MOURÃO, 2014).
A elaboração do prato acontece na “Cozinha Única Tony Nishimura”,
uma criação do artista plástico e fotógrafo, que desde 1970 foi responsável por
aperfeiçoar a receita e inventar utensílios para seu preparo. Tony Nishimura
observou que os tachos eram preparados de maneira isolada fazendo com que
os sabores ficassem diferentes, desta maneira, organizou uma cozinha única
para padronizar o prato. Atualmente, Walter Peteleco é o coordenador da
cozinha junto com a equipe da Associação da Panela, que há 16 anos é
responsável pelo preparo do prato (LOPES, 2013; OLIVEIRA; VICENTINI,
2013; YURASSEK, 2011).
Para Yurassek (2011), a “Festa Nacional do Carneiro no Buraco” é um
produto que gera a oportunidade de promover a cidade a partir da iguaria,
organizado por atores políticos e por um “grupo de condições econômicas
privilegiadas”. Conforme Vicentini (2013), a preparação do prato “Carneiro no
Buraco” realizado constantemente e por um longo período de tempo, oferece
sustentação para denominar a festa como tradicional da cultura mourãoense.
Compreendemos a “Festa do Carneiro no Buraco” como uma
manifestação cultural que envolve distintos sujeitos, cujo intuito é celebrar seus
interesses em torno de um prato gastronômico. Canclini (2008, p.162), assinala
que é essencial discutir o patrimônio “[...] como força política na medida em que
é teatralizado: em comemorações, monumentos e museus”. Logo, ao
estudarmos como os grupos sociais realizam as suas festividades e preparam
as suas comensalidades problematizaremos algumas questões, tais como:
quais os elementos que compõem a celebração do Carneiro no Buraco? E de
que forma eles colaboram para sustentar a iguaria como patrimônio imaterial?
Preliminarmente constatamos a inserção de alguns elementos que fazem parte
da comemoração, como o espetáculo teatral “A guardiã do Fogo”, que envolve
uma narrativa mítica da invenção do prato, bem como o “Ritual do Fogo” e o
“Ritual de Retirada dos Tachos”.
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A celebração do "carneiro no buraco" e os "rituais do fogo" em Campo
Mourão – PR
A celebração do “Carneiro no Buraco” se inicia a partir da encenação do
espetáculo “Guardiã do Fogo”4, que vem sendo produzido desde 2001, na
arena do Parque de Exposição Getúlio Ferrari (TRIBUNA DO INTERIOR,
2014), com o apoio da Fundação Cultural de Campo Mourão. É importante
destacar, que o teatro, diante de suas inúmeras facetas, possui uma dimensão
crítica modificadora, que ultrapassa o sentido somente do prazer e do lazer,
portanto, a obra teatral estabelece uma conexão com contexto histórico no qual
é encenado fazendo com que o espectador reflita sobre aquele momento e
também sobre a sua realidade (PEIXOTO, 1995). Para analisar o texto teatral
em questão atenta-se para o seu aspecto pedagógico, cuja finalidade visa a
instituir uma “História do Carneiro no Buraco”, com base em mitos, ritos e fatos
fundadores da cidade de Campo Mourão.
Deste modo, a peça teatral apresentada em uma narrativa linear, que
parte do período colonial ao contemporâneo, apresenta trechos da Carta de
Pero Vaz de Caminha e discorre sobre o encontro e o conflito dos indígenas,
portugueses e bandeirantes, bem como é declamado o poema “Canção do
Exílio” de Gonçalves Dias. Além de mencionar fatos da história regional, como
à frente (re)ocupação de Campo Mourão que teve início no século XIX, quando
chegaram os migrantes paulistas, nordestinos, catarinenses, que perdura até
os dias atuais, a emancipação política de Campo Mourão5 e a exposição de
símbolos oficiais da cidade, como o hino e a bandeira.
Entretanto, o tema principal do espetáculo é o fogo, já que o enredo está
centrado nas índias Iavari que recebem do seu ancestral o compromisso de
guardarem este fenômeno “natural”. No entanto, o guerreiro Fietó descobre o
segredo e transforma-se em um pássaro, que em seu bico carrega brasas, as
4
Ficha técnica da peça “Guardiã do Fogo”. Ano: 2014; Duração: 1h 30 min; Direção: Vanuza
Eloísa; Texto: Vanuza Eloisa e Francisco Pinheiro; Elenco: Denise Reis, Franciele Gusmão,
Evandro Castro, Cícero Pereira, Ana Liz Ohara, Lucas Dias, figurantes voluntários,
participações de integrantes de instituições educacionais e militares; Cenotécnica: Francisco
Fernandes; Coreógrafos: Mariangela Dalarosa, Franciele Gusmão, Denise Reis, João Paulo
Campos; Aderecista: Bruna Singer; Equipe de produção: Silva, Ângela Andrade e Ana Liz
Ohara.
5
A emancipação política do município ocorreu em 10 de outubro de 1947.
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quais caem acidentalmente na floresta e espalham-se para diversos povoados,
quebrando a promessa. Assim, o fogo cai por terra nas mãos dos bandeirantes,
que por sua vez entram em conflito com os indígenas, assim as guardiãs Iavari
dizem:
Iavari: E eu como a guardiã do fogo prometo que ainda virá um povo
que usará essas chamas não como arma e sim como símbolo de
união. Esse povo será digno de nossas terras e o fogo será um
elemento precioso para essa gente (PINHEIRO; ELOISA, 2014, p.04).
Verifica-se neste trecho, que a alusão ao fogo está relacionada ao
“símbolo de união” como um componente essencial para construir a memória.
Conforme Pollak (1989, p.7), “[...] a memória, essa operação coletiva dos
acontecimentos e das interpretações do passado que se quer salvaguardar”,
tem a função de estabelecer uma coesão interna, reforçar o pertencimento e
defender as fronteiras dos grupos sociais. Para o autor, a memória é
enquadrada, já que reflete um quadro de referências, ou seja, imprime o
sentido de identidade tanto coletiva, quanto individual.
Sob a ótica de Bachelard (1994, p.10), “O fogo é, assim, um fenômeno
privilegiado capaz de explicar tudo”, desta maneira, este exprime o papel de
assegurar a mítica da invenção do prato como elemento principal para
realização simbólica e material.
As guardiãs aparecem no sonho do “pioneiro”, chamado Pereira, e o
avisam de que o fogo será um elemento importante para cidade de Campo
Mourão. Assim, após os três moradores terem assistido ao filme de faroeste
americano, o prato foi idealizado, observem este excerto:
Cena 18 - Invenção do carneiro no buraco
Escurece a arena, som de filme de bang – bang
(Cena de bang bang)
Pereira já idoso está sentado em uma cadeira de balanço
Entra Teixeira, Caudas e Queiroz:
Pereira: Por que tanta felicidade?
Teixeira: Nós acabamos de ver um filme Sr. Pereira.
Caudas: Um filme muito bom, de faroeste.
Pereira: Mas o que esse filme tem de interessante?
Queiroz: Ah Sr. Pereira, muita coisa! Nós vimos no filme que eles
cozinhavam os alimentos em buracos.
Caudas: Então, a gente estava pensando em prato pra nossa cidade.
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Teixeira: Uma iguaria, cozida no buraco.
Queiroz: Na verdade. Nós estávamos pensando em uma receita com
o carneiro.
Teixeira: Poderia chamar Carneiro no Buraco!
Caudas: Mas para isso a gente precisa de um buraco e claro o
elemento principal, o fogo.
Teixeira: O fogo é um elemento importante, Teixeira.
Pereira: Fogo! É isso. Agora eu entendo, nós somos o povo digno
dessa terra e o fogo é símbolo de união e progresso (PINHEIRO;
ELOISA, 2014, p.16).
Essa narrativa teatral distancia-se da proposta inicial dos inventores do
prato, que improvisaram uma receita para encontros em família e amigos, mas
aos poucos foi sendo servido para políticos que visitavam a cidade,
posteriormente divulgado e difundido por Tony Nishimura em suas viagens,
bem como se tornou prato da festa oficial da cidade na década de 1990 6
(YURASSEK, 2011; OLIVEIRA; VICENTINI, 2013).
É provável que, o intuito do texto teatral consista em articular as
realizações dos “pioneiros” com uma narrativa memorialística da cidade.
Canclini (2008, p.162) assinala que, “A teatralização do patrimônio é o esforço
para simular que há uma origem, uma substância fundadora, em relação à qual
deveríamos atuar hoje”. Desta maneira, o discurso teatral vem para fortalecer a
constituição do patrimônio imaterial de Campo Mourão e corroborar a ideia de
uma origem para o prato gastronômico.
Além da peça teatral, outros elementos também fazem parte da
legitimação do Carneiro no Buraco como patrimônio imaterial, como a criação
dos rituais: “Ritual do Fogo” e o “Ritual de Retirada dos Tachos”. A invenção
de rituais são estratégias que coadunam os interesses dos atores envolvidos
para perpetuar características que demonstrem a repetição de ações
simbólicas. Segundo Certeau (1998) as estratégias correspondem a um
conjunto de redes de forças a partir de um sujeito de poder, que “(...) postula
um lugar capaz de ser circunscrito como um próprio e, portanto, capaz de servir
de base a uma gestão de suas relações com uma exterioridade distinta” (1998,
p. 46).
O primeiro ritual acontece na sequência da apresentação teatral
“Guardiã do Fogo”, assim, em cortejo autoridades políticas, entidades,
6
A lei municipal nº 731/1991, instituí a promoção Festa do Carneiro no Buraco, devendo ser
incluída no calendário turístico de Campo Mourão, foi revogada pela Lei nº 2507/2009, que
acrescenta “nacional” a nomenclatura da festa.
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patrocinadores e artistas circenses conduzem-se para o acendimento do
primeiro buraco, que será depositado o tacho com o carneiro e os condimentos,
e, posteriormente direcionam-se para o “Pavilhão dos Buracos” (YURASSEK,
2011; OLIVEIRA; VICENTINI, 2013) (FIGURA 01).
Figura 01: Ritual do Fogo - Acendimento do Primeiro Buraco
Fonte: Site Tá sabendo (2014)
Nessa fotografia, publicada pelo Site Tá Sabendo, o fotógrafo construiu
uma imagem tirada a distância para destacar: em primeiro plano, o buraco a
ser acesso, e, em segundo plano, a comitiva de acendimento, formada pelo
guerreiro Fietó, as índias Iavari, a Rainha do Carneiro e a Prefeita Regina
Dubay. Durante o ritual, ao som da fanfarra municipal e ao balé do carneiro, a
prefeita acende o primeiro buraco com a tocha que foi repassada pela Guardiã
do Fogo.
Então o patrimônio é colocado em cena, visto que os rituais são
dispositivos que neutralizam a ordem, que é instaurada a partir do lugar próprio
e transmitem a magia como se fosse um ato extraordinário de contemplação. É
o que afirma Canclini (2008, p. 192), “O rito de distingue de outras práticas
porque não é discutido, não pode ser mudado nem realizado pela metade.” O
ritual intitulado “Retirada dos Tachos” acontece no dia seguinte às 11h00min
após a seis horas de cozimento dos tachos (FIGURA 02).
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Figura 02: Ritual Retirada dos Tachos Fogo
Fonte: Assessoria de Impressa da Prefeitura Municipal de Campo Mourão
Nesse registro fotográfico, publicado pela Assessoria de Impressa da
Prefeitura, o ângulo escolhido pelo fotógrafo não se deu de maneira alheatória.
Há o nítido interesse em privilegiar a presença de autoridades como o
Governador Beto Richa, o Deputado Rubens Bueno, a Deputada Cida
Borghetti, Prefeita Regina Dubay, a Senadora Gleisi Hoffmann e o Deputado
Zeca Dirceu – aspecto que denota as dimensões políticas alcançadas pela
festa, em pleno ano eleitoral.
Conforme Yurassek:
“A retirada dos tachos deve ser realizada através do corso até os
mesmos, ao som de um berrante, precedido pelo anfitrião (prefeito),
que levará uma panela na mão para separar o caldo que se forma no
tacho, para o preparo do pirão” (YURASSEK, 2011, p. 13).
O pirão incorporado a celebração do Carneiro no Buraco, como símbolo
de bons fluídos, é feito a mistura do caldo do carneiro com a farinha e pimenta
do reino. De acordo com Melo (2011), o pirão tem origem Angolana, conhecido
como funge, feito à base de farinha de mandioca, misturado com caldos de
galinha ou peixe, faz parte da alimentação cotidiana, a sua falta na mesa é
sinal de carência e fome.
Posto isto, problematiza-se a seguinte questão: a Festa do Carneiro no
Buraco, com seus ritos e celebrações, pode ser considerada uma invenção de
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tradição? Para refletir sobre isso lançamos mão dos argumentos de Eric
Hobsbawn (1997, p.12), pois cogitamos “[...] que a invenção de tradições é
essencialmente um processo de formalização e ritualização, caracterizado por
referir-se ao passado, mesmo que apenas pela imposição da repetição”.
Nessa direção, lembramos que entre as características das tradições
inventadas detectamos um conjunto de regras, práticas simbólicas e ritos, a
incorporação de valores e normas, um quadro de referências ao passado, que
necessariamente não precisa se remeter a tempos longínquos.
Segundo Yurassek (2010), a festa em questão destoa de uma tradição
inventada, visto que:
(...) não encontra relação histórica nas raízes culturais da formação
regional, mas apenas em um grupo de condições econômicas
privilegiadas, juntamente com poder público, que buscam por meio da
Festa, promover a cidade em nível nacional.
Em contrapartida, é possível observar alguns elementos na composição
do “Carneiro no Buraco” como tradição inventada para constituição do
patrimônio imaterial, como a institucionalização de leis municipais que regem a
criação e garantem a sua realização anualmente desde década de 1990. Outro
componente relevante é o espetáculo teatral “A guardiã do fogo”, composto por
uma narrativa da criação do prato por meio da arte cênica. E os rituais de
acendimento do primeiro buraco e de abertura do tacho para dar início ao
almoço. Além disso, a festa também oferece equipamentos e serviços de lazer,
como parque de diversões, feira gastronômica industrial, shows, rodeios,
concurso de beleza e entre outras atrações. Estes são alguns indícios da
invenção de uma tradição que está movimento estabelecendo relações sociais
e círculos de poder.
À guisa de conclusões parciais
É importante ressaltar que a invenção da tradição é uma maneira de
construir legados culturais, que são transformados durante as práticas e
conforme urgências da sociedade que está vivendo esta experiência. A
questão para contemporaneidade é que há uma preocupação em afirmar a
legitimidade de uma tradição que é inventada construindo ritos e celebrações?
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E que as mudanças que ocorrem durante as suas realizações são fatores que
diminuem a sua autenticidade? Outro caminho para observar as invenções das
tradições é compreender que a sociedade vive em constante movimento, por
isso a transformação se torna inevitável ao ponto de consolidar uma tradição
antiga ou inventada.
A Festa do Carneiro no Buraco é uma tradição inventada, no entanto,
isto não é um fator para descaracterizar a sua legitimidade. Toda tradição é
inventada e procura sustentar-se em mitos e ritos referentes a uma prática,
tempo e espaço específicos. É relevante observar que o presente é um
elemento basilar para continuidade das tradições, porque, é o que oferece a
continuidade das tradições inventadas como a incorporação de novos
elementos.
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