VASTOS HORIZONTES:

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VASTOS HORIZONTES:
VASTOS HORIZONTES:
UMA HISTÓRIA DA PAISAGEM E DAS
GENTES DE SOUTH HOLLAND
VASTOS HORIZONTES:
UMA HISTÓRIA DA PAISAGEM E DAS
GENTES DE SOUTH HOLLAND
Paul Cope-Faulkner, Hilary Healey e Tom Lane
com as contribuições de John Honnor e Liam Robinson
Vista área dos sapais salgados ao largo da costa de Wash.
Conselho Distrital de South Holland
(Publicado em 2010 por Heritage Lincolnshire)
Concebido por Susan Unsworth
ISBN 978-0-948639-48-7
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‘Este país que o oceano depositou na terra, como os habitantes
acreditam, por areias acumuladas e lançadas em conjunto, o
termo deles é Silte, é assaltado por um lado, pelo mesmo mar
oceano, e pelo outro pela poderosa confluência de águas vindas
das terras altas...’
W. Camden Britannia 1586
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
3
GUY'S HEAD
4
CRIANDO A TERRA
7
O INÍCIO
8
PÂNTANOS, ROMANOS E CAMPONESES
10
PLANTANDO RAÍZES
12
INVESTINDO EM REPRESAS
14
QUESTÕES DE DRENAGEM
19
O TRABALHO DA TERRA
20
TRANSPORTES E VIAGENS
27
COLONIZAÇÕES E COMUNIDADES
31
CRIME E PUNIÇÃO
34
LAZER
38
SOUTH HOLLAND: UM LAR DE ELEIÇÃO
41
Glossário. Por necessidade, algumas palavras foram utilizadas na utilização
antiga, fora de utilização comum, ou de outra forma pouco conhecidas. Tais
palavras encontram-se explicadas no Glossário no final do livro. (N. do T.:
Aquando da tradução, foi necessário incluir algumas notas adicionais para que o
texto fosse compreendido na totalidade, devido a diferenças culturais, palavras
específicas de determinadas terminologias ou palavras em desuso ou antigas).
As palavras do glossário são apresentadas no texto desta forma: vimes
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Introdução
Este livro retrata um lugar especial e as pessoas que o moldaram e
fizeram dele o seu lar ao longo do tempo. Trata-se de uma paisagem que,
algures no passado, já foi água e, outrora, terra e, em alguma ocasião,
nem uma nem outra, mas apenas terras alagadas. Retrata pioneiros
lutando por um apoio. Retrata a tenacidade, as comunidades que estão
preparadas para lutar por um lugar próprio, trabalhando em conjunto
para o bem comum. Estas são pessoas em sintonia com a paisagem,
compreendendo-a, colhendo os seus recursos respeitosamente.
A pré-história e história mais antiga da região reflectem uma época em
que o ambiente natural ditou o que poderia ser alcançado. Era uma época
em que os seres humanos exploravam os recursos, mas não conseguiam
assumir o controlo da paisagem. Mas, gradualmente, o equilíbrio foi
derrubado e as pessoas assumiram o controlo, domaram as águas e
geriram a terra através de diques e represas, canais de drenagem e valas.
Esta é então a história de South Holland e daqueles que lhe deram forma,
através das suas competências e esforços, e daqueles que nela viveram
e colheram os benefícios. É sobre a terra dos grandes céus, dos solos
siltosos dourados no lado norte e leste às turfas negras melancólicas
no sul e no oeste, dos diques de mar às represas do pântano e mais
além. E ainda mais importante, é para e sobre as pessoas que fizeram
de South Holland aquilo que ela é hoje; as pessoas que aproveitaram
as oportunidades, os aventureiros e os seus antepassados e seus
sucessores – você.
South Holland por volta de 2000
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Guy’s Head - Uma visão pessoal
"É meio-dia na represa no mar em Guy's Head, a norte de Sutton Bridge, onde
as águas do rio Nene e do estuário Wash se encontram. As águas doces que
partem da Inglaterra central juntam-se e harmonizam-se com as águas salgadas
que chegam do Mar do Norte. Está maré baixa e, enquanto contemplo as terras
em direcção a South Holland, atrás de mim pairam gaivotas barulhentas - aves
migratórias, aves de Inverno, aves que estão de passagem, aves europeias e
aves nativas, que, em conjunto, exploram avidamente os recursos expostos
recentemente nos sapais lamacentos." "De alguma forma, faz lembrar a forma
que inúmeros pioneiros de todas as origens têm, como os pássaros, utilizado as
suas capacidades e iniciativas para se adaptarem e viverem desta extraordinária
paisagem. Estas são as pessoas dos pântanos - pescadores, passarinheiros e,
finalmente, agricultores. Por baixo de mim um trabalhador sozinho, que conduz
um tractor solitário, agita um campo lavrado antes do plantio da batata, a poeira
e o cheiro a terra fértil que é perturbada pelo arado em torno da brisa constante.
É um aroma que muda de repente para o lado do mar, em seguida, volta
novamente, a verdadeira essência de South Holland. Para além das batatas,
há um campo tingido de verde por uma colheita jovem de cereais que cresce
com a Primavera. Percorrendo o centro do campo, uma banda da colheita
é de um verde mais escuro, que cresce acima de um antigo afluente, uma
lembrança das origens desta terra.
Foz do rio Nene
em Guy’s Head.
O reservatório
de Wash é a
colina ao longe
(2009)
A represa onde me encontro é apenas uma de muitas, que mantém afastadas
a terra e a água, como um juiz severo. À minha direita encontra-se uma
comporta na represa que controla o fluxo de água do Lutton Leam. Olho para
a esquerda e os faróis" gémeos, construídos para criar uma grande entrada
para o canal do Nene e que foram inaugurados em 1831 mas que nunca se
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Faróis na foz do rio
acenderam, reflectem uma luz do sol
Nene em Guy’s Head.
desigual. Aquele que, na represa oriental
O farol à direita foi onde
foi, ficando famoso, a casa de Sir Peter
Sir Peter Scott adquiriu
Scott na década de 30 e o local onde
o seu amor pela pintura
ele se inspirou para se dedicar aos seus
de aves de caça (1985)
estudos da vida selvagens, pinturas e
colecções. Para onde olhar a seguir? Para
trás de novo, onde, para além dos sapais,
surge uma curiosa “ilha” artificial, tudo o que resta de um sistema
precoce para criar gigantes reservatórios de água doce no Wash e
um dos muitos projectos para transformar o Wash em uma coisa ou
outra nova. Mas, olhando mais uma vez para o interior, as férteis terras
agrícolas são uma recordação de que nem todos os projectos para
o preenchimento do Wash falharam. Outrora South Holland já foi o
Wash. Mas agora terras agrícolas aráveis estendem-se até ao horizonte,
os leves siltes tornaram-se férteis devido aos milhões de resíduos
aquáticos reunidos no solo. Há árvores, mais do que se poderia esperar,
não naturais, mas todas elas plantadas de forma protectora como um
abrigo em volta das quintas, protegendo contra as chicotadas do vento.
Mas este cenário não é intemporal. Aqui, cerca de 12.000 anos atrás,
eu estaria a observar a paisagem muitos metros mais abaixo, sobre
uma superfície de terra antiga escavada por lençóis de gelo. Atrás de
mim, o que é agora o Mar do Norte, era parte do continente europeu,
onde eu poderia ter atravessado a pé o que é hoje a Dinamarca e a
Alemanha. Avançando 7.000 anos e, enquanto outros construíram
Stonehenge, aqui eu teria ficado em pé no Mar do Norte, mais outros
4.000 anos e a Conquista Normanda ter-me-ia encontrado no amplo
estuário com múltiplos canais do rio Nene. Hoje, estou numa represa
no mar, em terra criada, firme entre terra alagada e seca, terra e mar,
e no entanto, central para esta paisagem surpreendente. Este é o lugar
que articula a alma e o espírito de South Holland”.
Tom Lane, 6Janeiro, Abril de 2009
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Uma variedade de pântanos
A terra pantanosa de South Holland não é toda igual. Os
solos siltosos (acima) eram depositados quando a terra era
inundada pelo mar, enquanto os pântanos de turfa (abaixo)
eram criados pelos resíduos de plantas pré-históricas
saturadas de água e são o resultado de inundações de água
doce posteriores. Às vezes, árvores pré-históricas quase
completas, normalmente denominadas de “carvalhos de
turfeira (Bog Oaks)”, são desenterradas da turfa.
O céu melancólico
de Fenland junto
aos solos siltosos
em Spalding
Common (1985)
Drenagem das turfas.
Crowland Common
foi anteriormente
conhecida como
’Goggushland’. Até
o nome possui um
som semelhante
a água (1983)
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Uma
Tempestade
dos Pântanos
(Fen Blow)
em Crowland
Common. A
terra vegetal
drenada e
seca da turfa
é soprada por
um vento forte
de Primavera
(1983)
CRIANDO A TERRA
A história inicial de South Holland é complexa. Outrora parte da grande
bacia hidrográfica de pântanos, a superfície da paisagem original encontrase muitos metros abaixo do que aquilo que vemos hoje. O aquecimento da
terra, cerca de 12 mil anos atrás, libertou água retida em calotas de gelo,
causando o aumento gradual no nível do mar, inundando a terra que liga a
Grã-Bretanha à Europa e criou o Mar do Norte. A água também inundou
Fenland, depositando siltes e argilas, elevando consideravelmente o nível
de terra. Por volta de 1500 A.C., esta inundação do mar estendeu-se até
ao interior da terra, chegando quase até Bourne e Peterborough.
Este aumento do nível do mar provocou a erosão das linhas costeiras mais
a norte e os solos siltosos e as areias daí resultantes foram arrastados ao
longo da costa para criar os baixios que se iriam tornar em South Holland.
O cascalho amarelo da ilha em que está situada Crowland,
apresenta-se como um forte contraste à turfa negra
circundante (1983)
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O INÍCIO (DA PEDRA AO BRONZE ATÉ AO FERRO)
(4000 a.C. – 43 d.C.)
Escavação de um túmulo da Idade do Bronze (cerca de 2000 A.C.) em Deeping
St. Nicholas, em 1991. As linhas de solo escuro indicam valas que circundam o
túmulo. As canas próximo do centro estão colocadas em buracos onde tinham
sido cravadas estacas como parte de uma cerimónia antiga (1991)
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Esta bonita faca de sílex, datada de cerca de 2000 A.C.,
foi encontrada junto à cabeceira do túmulo de uma
criança em Deeping St. Nicholas (1992)
O registo mais antigo da existência de pessoas em South Holland foi
encontrado a oeste do distrito, sob a forma de ferramentas de pedra
(sílex), as quais foram feitas e utilizadas cerca de 3000 A.C. Alguns
exemplos foram encontrados em Crowland e Pinchbeck, enquanto em
Deeping St. Nicholas, uma elevação tumular ou túmulo foi escavado
em 1991. No seu centro foram encontrados ossos de uma criança com
cinco anos, conjuntamente com uma faca em sílex não utilizada que
data de 2000 A.C. Também existem elevações tumulares pré-históricas
em Crowland, a qual era praticamente uma ilha na época.
RODDONS (canais de rios secos)
Os “roddons” são margens baixas em terras pantanosas – eram
originalmente afluentes da maré, que desenvolveram margens
elevadas (ou diques, molhes), pelo que quando estes, eventualmente,
receberam os depósitos de silte, deixaram uma represa baixa
labiríntica. Pode ver um “roddon” nesta fotografia tirada em Norte
Pinchbeck Fen (siga as linhas de tulipas no lado esquerdo da imagem
e como estas se elevam sobre uma ligeira represa). Os “roddons”
são interessantes e importantes, porque eram as áreas mais elevadas
(e secas) nos pântanos e atraíram as antigas colónias.
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PÂNTANOS, ROMANOS E CAMPONESES
(43 d.C. – 400 d.C.)
Em períodos romanos, há 2.000 anos, o mar estava a retirar-se
gradualmente da terra e South Holland vivenciou a sua primeira explosão
populacional. As pessoas fixavam-se nos siltes que secavam e nas
margens dos afluentes que formavam solos siltosos de forma natural
(agora conhecidos como “Roddons” – canais de rios secos). Eles não
eram romanos em termos das suas origens nacionais – eles eram bretões
oportunistas que viviam segundo as leis romanas, que reconheceram
que as terras de solos siltosos da costa ofereciam uma oportunidade para
ganharem a vida razoavelmente, produzindo sal a partir da água do mar.
Esta indústria prosperou até cerca de 250 D.C. e existem muitas colónias
romanas e locais de produção de sal (salinas), conhecidas na área. Estas
pessoas também eram agricultores, com manadas e rebanhos pastando
no pântano aberto, ou em valas relvadas em redor das suas aldeias.
Locais romanos em South Holland
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Escavações de
um complexo
e instalações
romanas de
produção de sal
em Wygate Park,
Spalding, 2005
Em volta da orla do pântano ocidental, a água doce presa atrás das margens
que secavam, compostas por silte, provocavam inundações e formação
de turfa. Enquanto era impossível viver nessa paisagem, esta era uma
grande fonte de peixes, aves de caça, vimes juncos, canas e, claro, a turfa.
O terreno de turfa separava South Holland dos planaltos de Market Deeping
e das regiões para além destes, tornando-se praticamente numa ilha.
À medida que as terras de South Holland secavam, mais pessoas vieram
para se estabelecerem na área. Estas pessoas eram na sua maioria de
outras partes da Grã-Bretanha, mas provavelmente também incluíam
marinheiros estrangeiros que tinham viajado para aqui. Acredita-se que
havia um grande porto romano situado no local onde se encontra agora
Spalding, como um possível indício, estes aparecem aqui sob a forma de
cerâmica e moedas romanas. As escavações arqueológicas em Wygate
Park, Spalding, em 2005, revelaram dois locais onde o sal do mar foi feito
em conjunto com uma colónia romana, todos eles enterrados debaixo
dos solos siltosos resultantes da inundação. A estrada principal romana
que percorre os pântanos de Lincolnshire, chamada de Baston Outgang,
dirige-se para Spalding.
A época romana tardia foi um período em que muitas comunidades
europeias migraram para a Grã-Bretanha a partir do norte da Alemanha
e da Dinamarca. Os muitos afluentes em South Holland teriam sido
transformados em bons pontos de desembarque para os seus barcos.
Sal - Um sabor de South Holland
O sal é e tem sido uma mercadoria importante para a sociedade humana
ao longo dos séculos. Grande parte da história antiga de colonização
de South Holland está ligada à produção de sal por evaporação da água
do mar. Os locais de produção de sal (salinas) de épocas romanas e
pré-romanas foram escavados em Cowbit, Spalding e Holbeach St. Johns
e um da época medieval em Quadring. O sal tem muitas utilizações e
foi particularmente importante para preservar carne e peixe. Também
tinha uma propriedade mágica e foi usado em rituais e cerimónias para
limpeza e trazer sorte. Algumas pessoas ainda atiram sal derramado
sobre o seu ombro esquerdo para afastar o mal.
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PLANTANDO RAÍZES (Saxões)
(400 d.C. – 1000 d.C.)
Muitos dos indícios da presença dos romanos em South Holland foram
cobertos por sedimentos siltosos trazidos pelo mar, que inundou a
área por volta de 400 a 500 D.C. Mas apesar destas inundações, aqui
ainda continuavam a viver pessoas. Em Gosberton foram encontrados
vestígios de quintas e de edifícios que datam do século VII ou VIII.
Embora fluía água salgada nas valas e ribeiros em volta destas
colónias, as pessoas que viveram aqui conseguiram cultivar cevada
(o cereal mais tolerante ao sal), feijões, ervilhas e linho. São conhecidas
muitas quintas pequenas desta época, incluindo locais em Pinchbeck,
Gosberton e Fleet. Na verdade, a maior parte das principais colónias
de South Holland já existia no século VII, distribuídas uniformemente
ao longo de um cume de silte elevado.
South Holland saxónica.
A área a amarelo indica a colónia. O vermelho indica as turfeiras não ocupadas
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O traçado de um edifício de meados da época anglo-saxónica (século VII - VIII) em
Gosberton representado como um rectângulo esbatido de solo escuro (1992)
A próxima influência no distrito foram os escandinavos - os Vikings da
história popular. Acredita-se que o exército dinamarquês passou pelos
pântanos em 870 D.C., a caminho de East
Anglia. Há alguns indícios da sua presença em
nomes de lugares locais como Westhorpe,
o qual tem origem Viking, assim como os
nomes das ruas que terminam em "gate". Os
Vikings são geralmente considerados como
agressivos e guerreiros, mas eles parecem
terem-se integrado pacificamente com os
colonos anglo-saxões no leste da Inglaterra.
Por esta altura, as comunidades das aldeias
construíam represas no mar e nos pântanos
para aumentar as suas terras agrícolas e para
se protegerem das inundações.
Qual a importância de um nome?
Holland (ou terra “alta” - basicamente, a banda de siltes em volta
do Wash) foi designada desta forma em meados de 900, quando
o nome apareceu num foral. Alguns dos nomes de lugares em
South Holland são derivados das características naturais da paisagem,
muitos relacionados com a água. Crowland e Cowbit retiraram os
seus nomes de meandros do rio, Fleet de uma enseada ou entrada
do mar, Gedney de uma “ilha”, Holbeach significa um ribeiro que corre
por uma serra, Lutton, a aldeia junto ao lago, Whaplode, ribeiro de
enguias e Pinchbeck, um ribeiro de vairões. Quadring tem elementos
que significam lama e Surfleet significa enseada amarga.
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INVESTINDO EM REPRESAS
Represas no mar
Represas e diques, palavras que significavam a mesma coisa até uma
altura relativamente recente, tinham dois objectivos. Estes protegem as
colónias e as terras agrícolas das inundações e são a primeira etapa da
recuperação das terras alagadas. A represa principal no mar em South
Holland pode muito bem ser anterior ao século XI. O Domesday Book
registou áreas de produção de sal em lugares como Fleet e Holbeach
e montes proeminentes, os resíduos resultantes do processo, ainda
podem ser vistos fora das represas no mar, sugerindo que a represa
surgiu antes da produção de sal e antes do levantamento de Domesday
(o que nos tempos modernos pode ser designado de censo). Mais a
norte, as represas no mar cercavam o Porto de Bicker, então um amplo
estuário. O Domesday Book listou 76 salinas em volta do porto.
Nesta paisagem, onde o silte ainda estava a ser depositado pelo mar,
a recuperação dos sapais e dos estuários do rio continuou durante os
próximos dois séculos e foi realizada pelos proprietários monásticos
e privados. Pelo menos algumas construções de represas foram
A A1073 na Barrier Bank, Cowbit, a represa oriental do sapal de Cowbit, construída em
meados do século XVII, como parte de um sistema para armazenar a água da enchente do
rio Welland. Os sapais inundavam na maior parte dos anos, frequentemente durante e até
oito meses do ano, atraindo um grande número de aves de caça. Quando congelados, os
sapais eram populares devido à patinagem. Quando secos, eles proporcionavam excelentes
pastagens. A construção do Projecto de Melhoramento de Welland, em 1950, impediu a
inundação e as terras dos sapais são agora cultivadas intensivamente (1992).
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Montes de resíduos de silte da produção de sal da época medieval,
à distância, perto de Rushy Drove, Quadring Eaudyke (1985)
realizadas por e para comunidades locais, como em 1218 em Whaplode
e Holbeach. Apesar das represas proporcionarem protecção, ainda houve
momentos em que estas foram ultrapassadas ou transgredidas. Um de
muitos exemplos ocorreu em 1st Janeiro de 1287, quando“através da
impetuosidade do vento e a violência do mar, o mosteiro em Spalding
e muitas igrejas foram derrubadas…. em zonas de Holland, Lincolnshire,
toda a região transformou-se numa piscina permanente, de modo que
um número intolerável de homens, mulheres e crianças foram submersos
pela água...’. Para as pessoas de South Holland nada mais havia a fazer
senão reparar as brechas e começar de novo.
O engenheiro holandês, perito em drenagem, Cornelius Vermuyden,
drenou 450 hectares de sapal salgado em Tydd St. Mary, mas o maior
projecto de recuperação (cerca de 7,000 hectares) teve lugar em 1660
entre Gedney e Moulton. No século seguinte, mais 1.900 hectares foram
recuperados, em direcção ao mar, de Gedney para Fosdyke. Em épocas
tão recentes, como em 1978, cerca de 610 hectares de terra a norte de
Holbeach Hurn foram conquistados ao mar.
No total, agora, na região, os solos siltosos são três vezes o tamanho do
que eram quando os moradores começaram o represamento inicial.
Represas nos pântanos
Enquanto as pessoas das aldeias estavam sempre atentos ao mar, elas
também necessitavam de cuidar dos seus interesses em terra. A sul e oeste
de Spalding, as águas das terras de baixa altitude de Deeping Fen, Crowland,
Algumas vilas perdidas
ANGARHALA
Um dos documentos mais antigos da região é um foral da abadia de Thorney,
datado antes do ano 975 D.C. Menciona vários locais em Holande Incluindo um
lugar chamado Angarhala. Mais do que uma aldeia perdida, ainda aguarda ser
encontrada, esta é provavelmente uma designação muito antiga para Fleet.
DALPROON
Dizia-se que uma aldeia com este nome se situava perto de Tydd St. Mary, até
que foi devastada por uma inundação de 1236. Nenhuma prova da existência
desta vila pode ser encontrada além de umas poucas linhas:
When Dalproon stood (Quando Dalproon foi edificada)
Long Sutton was a wood (Long Sutton era ainda madeira)
When Dalproon was washed down (Quando Dalproon foi devastada)
Long Sutton became a town (Long Sutton tornou-se uma cidade inteira)
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A recuperação ao longo do tempo
Gosberton e Quadring foram sempre uma ameaça, particularmente depois
de fortes tempestades ou neve intensa e várias represas foram construídas
no sul e no oeste, para proteger da inundação de água doce.
Toda a construção de represas provou ser um sucesso, talvez até demais,
uma vez que as terras conquistadas rapidamente se tornavam em excelentes
terras aráveis e, logo em 1189, os“homens de Holland desejavam fortemente
possuir pastagens comuns no sapal de Crowland. Desde que os seus
próprios sapais tivessem secado (cada aldeia tinha o seu próprio sapal),
eles tinham-nos convertido em terra arável boa e fértil. [e]...faltavam-lhes
pastagens comuns, mais do que às pessoas comuns, de facto, eles possuíam
muito poucas”. Crowland, ainda maioritariamente turfeira, ao invés de silte,
teria oferecido essas pastagens tão necessárias para o gado.
As comunidades da vila continuaram a construir represas nos pântanos
em várias alturas, mas em 1205 todas as aldeias se uniram para a
construção de Goldyke, Asgar Dyke, Lord's Dyke e New Fen Dyke.
O norte de Spalding possui o mesmo padrão similar de represamento
e de recuperação de terras. As datas não são certas para as duas
principais represas nos pântanos, a Old Fendyke e a New Fendyke,
mas uma origem anterior ao século XI é a mais provável.
Tal como aconteceu com as defesas no mar, seria de esperar que
as represas nos pântanos retivessem, por vezes, volumes de água
impossíveis. Em 1467, houve “tão grande inundação das águas por
razões das neves e das chuvas contínuas que, em toda South Holland,
havia apenas uma casa ou edifício, mas onde as águas fizeram o seu
caminho e fluíram através do mesmo - e isso ocorreu continuamente
durante um mês inteiro”.
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Apesar dos contratempos, em finais do século XVI, South Holland era
utilizada da melhor forma possível pelos agricultores que aravam a
terra e por uma população que explorava plenamente os pântanos. Um
conjunto antigo de estatutos para Pinchbeck e Spalding Fens mostra uma
gestão qualificada e uma profunda compreensão da terra. A queda deste
antigo sistema comunal tinha começado no final do século XVI, quando
a peste e depois a guerra civil colocaram
pressão na população. Isto resultou numa
SABIA QUE?
manutenção desadequada das defesas
existentes no mar e nos pântanos. Além
A represa romana não foi construída
disso, a dissolução dos mosteiros na
pelos romanos. Foi provavelmente
década de 1530, resultou em que as
criada nos séculos nono e décimo.
suas terras fossem vendidas, por vezes,
a proprietários ineficientes ou não locais
com pouca experiência dos pântanos.
Tanques nas represas - O povo de South Holland provou ser um
povo engenhoso quando houve um degelo rápido após o Inverno
de 1947. A 21 de Março desse ano, os diques do rio Welland
quebraram-se perto de Crowland. O exército trouxe os tanques
Churchill redundantes, sem as torres dos canhões, para tapar
o buraco antes que a represa pudesse ser reconstruída (1947).
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Igreja de Crowland
Abbey (1983)
Abadia de Crowland e o priorado de Spalding
Os mosteiros de Crowland e Spalding foram as duas instituições
mais importantes da South Holland dos tempos medievais. Crowland
desenvolveu-se a partir do eremitério de St. Guthlac, um nobre de uma
casta inferior de Mercia, que abdicou da sua natureza guerreira para
uma vida de piedade e solidão. Ele morreu por volta do ano 715 D.C.
e uma pequena comunidade religiosa tomou conta do seu santuário
até o século IX. Um mosteiro foi fundado no seu santuário no século X,
o único mosteiro saxão em Lincolnshire registado no levantamento
de Domesday.
A abadia de Crowland possuía terra em Spalding, mas após a conquista
normanda, Ivo Taillebois, o novo senhor de Spalding, expulsou os
monges de Crowland e fundou o priorado de Spalding, dependente
do Mosteiro de St. Nicolas of Angers, na França.
St. Guthlac.
Vitrais da Igreja
de Crowland
Abbey (2009)
Os mosteiros devem ter sido edifícios muito imponentes. Crowland
ainda se eleva nos pântanos e é visível a quilómetros de distância,
mas os edifícios originais, incluindo uma grande torre central,
deveriam ter sido muito mais altos. O priorado de Spalding
dominou a cidade, ocupando a maior parte da área a oeste do
mercado (consulte a pág. 37).
Os mosteiros em Crowland e Spalding eram líderes na recuperação
de terras ao mar e aos pântanos e, como resultado, geraram mais
riqueza em agricultura. Spalding produziu algumas das maiores
quantidades de lã e Crowland teve uma complicada rede de
lacticínios e explorações de ovinos em torno da sua abadia e em
toda South Holland. Entre eles, possuíam ou tinham direitos sobre
quase todas as vilas e as respectivas igrejas em South Holland.
Estes não foram os únicos mosteiros que detinham terras em
South Holland, mas estes foram os mais importantes.
Os mosteiros de Spalding e Crowland foram encerrados pelo rei
Henry VIII. A nave lateral norte da abadia de Crowland continuou
a ser utilizada como a igreja paroquial e as ruínas da nave e da
extremidade oeste subsistiram. Embora os edifícios principais foram
demolidos na dissolução, a maioria dos danos ocorreu durante a Guerra
Civil. Agora, muito pouco resta do priorado de Spalding, para além dos
edifícios da abadia e do forno do prior,que têm vista para Sheepmarket.
O cemitério do mosteiro encontra-se por debaixo de Bridge Street,
onde os corpos ocasional continuam a vir à tona e grande parte do
antigo recinto murado e parte de um fosso podem descobrir-se no
padrão moderno das ruas (consultar pág. 37).
A Igreja de St. Mary e
St. Nicolas, Spalding
(inferior) e a Igreja do
Priorado de Spalding
mostram ambos os
lados do rio Welland
num mapa de 1450
(Arquivos Nacionais,
Ref. MPCC1/7)
18
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QUESTÕES DE DRENAGEM
No século XVII, grande parte das terras
de South Holland tinha sido drenada e
cercada (transformadas em campos). A
sul de Wash, apenas as extremidades
mais a sul das paróquias permaneceram
por drenar. A norte de Spalding, as terras
do pântano situadas na extremidade
oeste foram em grande parte fechadas
no século XVIII. Foi apenas Deeping Fen,
com partes de Spalding e Pinchbeck
Fens, que causou grandes problemas a
partir de 1600 em diante.
Motores de drenagem
Os primeiros meios mecânicos de
drenagem do distrito utilizavam bombas
eólicas para elevar a água a partir da terra
para cursos canalizados mais elevados
de rios e canais de drenagem. Estes
foram substituídos por motores a vapor,
o primeiro em Pode Hole em 1826 e
o existente no Museu de Motores de
Pinchbeck em 1833 (acima e abaixo).
Muitos motores de bombeamento
e comportas de maré ainda efectuam
a drenagem do distrito. Estes são
conservados pelo Conselho de
Drenagem Interna de Welland e
Deepings e o Conselho de Drenagem
Interna de South Holland.
As principais propostas de drenagem dos
pântanos foram financiadas por prósperos
"aventureiros", ou especuladores, que
arriscaram dinheiro nos projectos.
Contudo, as pessoas comuns, que
tinham direitos comuns sobre a terra
temiam que, em vez de ajudar os pobres,
a drenagem... “poderia não os ajudar e
tornar os que já eram ricos ainda mais
ricos”. Protestos e tumultos por parte
dos pobres foram generalizados. Em
1699, mais de 1.000 manifestantes
de Pinchbeck, Spalding, Crowland e
Cowbit reuniram-se e, num precursor
do vandalismo futebolístico,“sob o
pretexto e simulação de um jogo de
futebol”provocaram sérios danos para as
construções e represas dos pântanos.
Apesar desta desordem, os projectos
continuaram. Um dos aventureiros
líderes era um holandês, Sir Philiberti
Vernatti, cujo nome foi atribuído ao canal
de drenagem de Vernatt. Mais tarde, o
engenheiro Sir John Grundy Snr envolveuse no projecto de Deeping Fen, trazendo
para a terra “motores holandeses", ou
bombas movidas a energia eólica. Onde
os pântanos de turfa tinham encolhido
devido à drenagem, a superfície da
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terra tornou-se mais baixa e a água teve de ser elevada em canais de drenagem
que se encontravam num nível superior. Em 1798, cinquenta motores eólicos
funcionavam em Deeping Fen.
O vapor acabou por substituir o vento como fonte de energia, o gasóleo substituiu o
vapor e a electricidade substituiu o gasóleo. A principal estação de bombagem para
o Conselho de Drenagem de Welland e Deepings encontra-se em Pode Hole, a
oeste de Spalding. O Pinchbeck Engine (motor de Pinchbeck) no sapal de Pinchbeck
ainda possui o seu motor a vapor no museu sobre a drenagem aberto ao público.
O trabalho da terra
Os solos siltosos em South Holland formam agora algumas das terras aráveis
mais férteis e de mais elevada qualidade da Grã-Bretanha. São adequadas para
a cultura de vegetais, brássicas (N. de T.: vários tipos de couve, cf. glossário)
e bolbos de flores, para além de batatas, beterraba sacarina e cereais. É um
padrão de cultivo que se alterou drasticamente com o passar do tempo.
Culturas
Desde muito cedo foi mostrado como os saxões dependiam da cevada, linho
e feijão. Conforme o mar se afastava e a terra se tornava mais produtiva, as
quintas aráveis continuaram a ser uma parte importante da economia local
durante a Idade Média. De facto, nesta época a “zona de solos siltosos entre
o mar e o pântano parece ter-se encontrado entre as zonas mais prósperas
de Inglaterra”. Um outro escritor concluiu que os siltes de Wash eram“a
área mais rica em Inglaterra em 1334”. Esta terra arável situava-se perto às
vilas antigas, nas terras de solos siltosos mais secos. Durante este período,
foi estimado que 60-70% da terra era arável, a parte restante era dedicada
a pastagens permanentes e prado para forragens e pastagens. Desde os
projectos de drenagem do século XVII em diante, as terras agrícolas de South
Holland tornaram-se cada vez mais dominadas por zonas aráveis. Registos de
1913, demonstram que 73% era arável e 26% eram pastos, mas em 1973 esta
diferença alargou-se, transformando-se em 93% de terra arável. Mais de 80%
da terra de South Holland está classificada como Classe 1, a melhor classe.
Na sequência da drenagem de Deeping Fen,“culturas muito grandes e também
grandes quantidades de Rapsum Sylvatica (designada de semente de couve ou
colza), a partir das quais eles fabricavam azeite” eram colhidas. Em 1801, 4.000
hectares de Deeping Fen encontravam-se por baixo de campos de aveia. O pasteldos-tintureiros também era cultivado nos pântanos drenados recentemente,
em conjunto com o linho ou cânhamo. Na área de Donington e Holbeach, as
denominadas papoilas de ópio “branco” foram cultivadas até meados do século
XIX. O mercado de jardinagem é conhecido em South Holland desde o século
Estufas em vidro
e polietileno para
"forçar" as plantas,
perto de Gosberton
Clough. Símbolos
de horticultura
intensa nos solos
siltosos (2009)
20
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“Tente agarrar o vento”
A energia eólica tinha vindo a ser utilizada
em South Holland desde a Idade Média. No
entanto, os moinhos de vento distintivos que
subsistem até hoje, por exemplo, os existentes
em Lutton (o mais antigo moinho de torre a
subsistir em Lincolnshire foi construído em
1779) e Moulton (o moinho de vento mais alto
do condado), datam na maior parte do século
XIX. Muitos moinhos de vento podem ser
encontrados em todo o distrito, embora
muitas vezes em mau estado de conservação.
O vento também foi utilizado para operar
motores de drenagem nos séculos XVIII e XIX.
Moinho de Sneath, Lutton (anterior a 1930)
XVIII. Uma maçã, conhecida como Reineta de Spalding, encontra-se registada
desde esta altura, apesar de não ter sobrevivido.
Em finais do século XIX, culturas variadas foram cultivadas em South
Holland, incluindo mostarda, nabos e beterrabas forrageiras,arbustos
e árvores de fruto, couves jovens, cenouras, aipo e até mesmo espargos.
Também foi a época em que a floricultura começou a crescer e quando
as pequenas explorações começaram a ser criadas. As batatas tornaramse na produção excedente dos pântanos, e quase um quarto de toda a
terra arável do distrito foi entregue à cultura da batata. Esta produção
aumentou após a Primeira Guerra Mundial e as batatas ainda representam
uma quantia considerável da produção dos pântanos nos dias de hoje,
juntamente com culturas de brássicas e alface. Para permitir que as
colheitas de batata chegassem ao mercado, foram construídas linhas
férreas estreitas ao longo da paisagem depois da Primeira Guerra Mundial,
utilizando equipamentos do antigo exército. A rede mais longa encontravase em Fleet (mais de 200 km) mas esta deixou de existir.
Os abastecimentos de
açúcar também eram
menores durante a
Primeira Guerra Mundial
e foram feitos esforços
em 1925 para que esta
cultura se tornasse
mais auto-suficiente.
O eventual sucesso
resultou na primeira
fábrica de açúcar de
beterraba do condado
a ser construída em
Spalding, embora esta
A produção alimentar
é agora muito
mecanizada (2003)
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tenha fechado em 1989, uma vez que o investimento concentrou-se
em outras fábricas.
Durante os séculos XIX e XX, a introdução de máquinas agrícolas
facilitaram a vida dos trabalhadores da terra, embora muitos perderam
os seus empregos como resultado da mecanização. As culturas
hortícolas, no entanto, continuam a exigir uma grande mão-de-obra,
a qual é em grande parte fornecida pelo trabalho dos imigrantes.
Algumas quintas produzem agora alimentos “orgânicos” e esses
alimentos tendem a necessitar de um número mais elevado de
trabalhadores.
As culturas invulgares anteriormente cultivadas nos pântanos de South
Holland incluem a hortelã. Em Holbeach existiram duas destilarias
de hortelã, que forneceram o óleo de hortelã para uso medicinal,
uma das quais também cultivou e destilou coentro e funcho. Ainda
existem quintas com destilarias a oeste de Holbeach. A região também
forneceu
a matéria-prima para molhos e ketchup e, em 1872, o ketchup foi feito em
Divertindo-se no
Clay Lake, Spalding. Agora, um grande número de abóboras é cultivado
Festival das Abóboras
na área e esta deu lugar a um festival anual de abóboras. O cultivo de
em Spalding (2004)
grandes quantidades de alimentos localmente necessitou da construção
de instalações de processamento de alimentos e conservas, entre as quais
Smedley e Lockwood foram pioneiras. O distrito é o lar do National Centre
for Food Manufacturing (Centro Nacional da Indústria
Alimentar) com sede na Universidade de Lincoln, campus
de Holbeach. São ministradas licenciaturas em Produção
SABIA QUE?
Alimentar, Agricultura e Meio Ambiente e Horticultura
Comercial.
Vinte por cento de toda a produção
Gado
Os dados das primeiras criações de gado, desde o
tempo dos romanos até épocas medievais, só podem
alimentar da Grã-Bretanha passa por South
Holland (Fonte: National Centre for Food
Manufacturing)
O cultivo em
South Holland
continua a ser
um trabalho
intensivo
com os
trabalhadores
imigrante a
fornecer grande
parte da mãode-obra (2006)
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ser conhecidos através da análise dos ossos recuperados durante a
investigação arqueológica. A criação de ovelhas dominou com um menor
número de cabeças, seguindo-se os porcos ou os cavalos. Os ossos de
galinhas e gansos domésticos também são conhecidos, juntamente com
patos ou galeirões. Os restos de peixes não são muito extensos mas
incluem cantarilho, bacalhau, peixe chato, arenque, eperlano e enguia.
Durante o período medieval, os mosteiros de Spalding e Crowland
mantiveram enormes rebanhos de ovinos e encontravam-se entre os
principais exportadores de lã do município para o continente. Um sistema
designado de intercomunhão que permitia que os rebanhos e as manadas
fossem soltos nas pastagens dos pântanos, como acontecia em Pinchbeck
Fen. Mais tarde, antes de terem fechado os pântanos, muito “gado escocês"
foi trazido para estas paragens para se alimentar nesses mesmos pastos
antes de eles serem levados para a engorda em Norfolk, através de barco
(“ferry boat”) ao longo do rio Welland em Cowhirne, perto de Spalding. No
Verão, grandes áreas no sul e oeste dos terrenos siltosos estavam secos e a
serem fortemente pastoreados por gado, cavalos, ovelhas, porcos e gansos.
Outrora uma fonte de ovos e de carne para os trabalhadores agrícolas, os
gansos também forneciam penas para enchimentos e roupas de cama e deu
origem ao provérbio“the Fenman’s dowry is threescore geese and a pelt”
(o dom natural do homem dos pântanos são sessenta gansos e uma pele).
Anteriormente mantidos em grandes números de bandos de gansos, estes
diminuíram bastante no século XIX.
Explorando a pesca e a criação de galinhas
A pesca e a criação de galinhas proporcionavam um abastecimento valioso
de alimentos para os habitantes locais, particularmente durante o Inverno.
As enguias, tal como mencionado no Domesday Book, eram uma parte
integrante das dietas medievais e de períodos posteriores. Elas foram
capturadas em cestas, redes ou com forquilhas especiais. A pesca é agora
uma distracção popular e o rio Welland, relativamente limpo e com pouca
poluição industrial, tem sido palco de concursos de pesca no rio durante
décadas. Diz-se que as aves selvagens são um dos dons da natureza em
Lincolnshire. A abadia de Crowland poderá ter sido a primeira a caçar
patos em larga escala, apanhando as aves em grandes redes. As “decoys”
(armadilhas ou engodos), derivam do holandês “‘ende koi” que significa
armadilhas para patos, eram túneis em rede que conduziam a viveiros.
Ao atrair ou dirigir os patos através dos túneis ou tubos, os patos eram
capturados, mortos e enviados, em grande quantidade, para os mercados,
principalmente em Londres. As armadilhas eram conhecidas em South
Holland, em regiões como Cowbit, Fleet, Pinchbeck e Deeping Fen, onde
foram registadas cinco mas nenhuma subsistiu. Os pateiros, de lugares
como o sapal
de Cowbit,
também caçaram
um grande
número de aves,
conseguindo
matar até 50
Preparação das
redes para caçar
tarambolas em
Cowbit Wash
(cerca de 1900)
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animais com um único tiro. As
pateiras, montadas em barcos, são
uma imagem duradoura de Fenland
no século XIX e do início do século
XX. A caça desportiva é agora uma
parte importante da economia rural.
Grupos de trabalhares rurais,
angariadores de mão-de-obra e
trabalho de imigrantes
Malária dos pântanos e o ópio
Antes de ter sido drenado, Fenland acolheu a malária dos
pântanos, uma doença do tipo da malária que afectou as
pessoas que viviam
e visitavam o distrito.
Os sintomas incluíram
calafrios, dor intensa
nos membros,
seguido por febre
escaldante. Os
relatos do terror de
St. Guthlac nas mãos
dos espíritos maus
que o visitaram em
Crowland pode ser
o mais antigo registo
das alucinações
que acompanham
a doença.
O trabalho dos grupos de
trabalhadores rurais iniciou-se nos
pântanos em 1800, como resposta
à falta de mão-de-obra para as novas
quintas aráveis que foram criadas na
sequência do fecho dos pântanos
recentemente drenados. Famílias
inteiras, incluindo crianças jovens,
trabalhavam nos campos durante
muitas horas por dia, muitas vezes
com uma longa caminhada para
o campo e de volta para casa. O
trabalho continuava em todas as
A Papaver Sanniferum, a papoila do
Uma das formas
condições climatéricas, sem abrigo
ópio, foi amplamente cultivada em
utilizadas para aliviar os
e sem quaisquer instalações. Um
South Holland para produzir láudano
relato conta uma história de mulheres
sintomas
de malária era
(perto de Donington, 1985)
e crianças de Crowland que andavam
o ópio. As papoilas de
8 km para nordeste, para Aswick, na
ópio eram cultivadas nos pântanos e as cabeças das sementes
neve para trabalhar nas terras siltosas
esmagadas para fazer láudano, amplamente utilizado como
aí existentes. Os que não trabalhavam
uma cura para tudo e para sedação. Era vendido em pedaços
eram apenas os bebés e as crianças
ou em versões líquidas, incluindo Tónico de Geoffrey (uma
muito jovens. Porque tão poucas
mistura de ópio, melaço para adoçar e sassafrás para o sabor)
mulheres ficavam em casa para cuidar
e Elixir de Daffy. Infelizmente, o ópio era muito viciante e
deles, era dado a essas crianças
Skertchly descreve os“homens dos pântanos que sofriam
pequeninas láudano para os manterem
de malária com olhos remelentos de ópio e sem brilho”’.
sossegados. Finalmente, em 1867,
foi introduzida a Lei sobre os Grupos
de Trabalhadores Rurais e que proibia
o emprego de crianças com menos
de oito anos de idade e regulava as
distâncias que as crianças foram autorizadas a caminhar para o trabalho.
Também foi determinado o primeiro licenciamento dos angariadores de
mão-de-obra.
Dada a natureza do trabalho agrícola e da pequena
população local, os trabalhadores sazonais
mantiveram-se uma necessidade em South
Holland. Estes são muitas vezes os trabalhadores
imigrantes com uma multiplicidade de nacionalidades
representadas, mas com proeminência para Portugal,
Polónia, Rússia, Lituânia e Letónia. A utilização de mãode-obra estrangeira, contudo, não é uma novidade. Os
trabalhadores irlandeses da apanha da batata eram
empregados regularmente na terra durante o século
XIX e viajavam de quinta em quinta. O alojamento
proporcionado para esses trabalhadores foi na maior
parte muito básico em celeiros, conhecidos localmente
como “Paddy Huts ou Houses” (N. do T.: barracos ou
24
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casas irlandeses, sendo que “paddy” é uma forma coloquial de designar
irlandês). Os trabalhadores irlandeses também eram empregados como
cabouqueiros, trabalhando em estradas ou nos projectos de drenagem.
Os ciganos apanham morangos e bolbos de campânulas-brancas e
os malteses, outrora, foram funcionários de destaque nas fábricas de
conservas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, prisioneiros de guerra italianos
trabalharam na terra. Os russos libertados dos campos de prisioneiros
de guerra alemães depois do Dia D também foram encontrados em
Lincolnshire. Por esta altura, foram criados campos em toda Lincolnshire,
um em Surfleet, para os voluntários britânicos ajudarem na colheita, a
campanha "Conceda ajuda à terra" continuou depois da guerra.
Até ao final do século XIX, alguns trabalhadores eram contratados por um
ano como trabalhadores agrícolas ou domésticos nas Contratações por
Decreto anuais, ou Feiras de Contratação, que ocorriam normalmente
no início de Maio. Aqueles que procuravam trabalho permaneciam em
pé em filas, nos locais de mercado das cidades, enquanto os potenciais
empregadores seleccionavam os seus trabalhadores para o ano seguinte.
Seria oferecido trabalho em primeiro lugar àqueles que tinham uma
aparência saudável e forte, sendo que os mais fracos ou mais magros
poderiam nem vir a ser escolhidos. Geralmente muita animação
acompanhava o dia. Em Spalding, em 1856, dizia-se que “…daqui a um
século as pessoas ficarão surpresas ao saber que as filhas de ingleses
nascidos livre reuniam-se... nos mercados das nossas cidades agrícolas
e permaneciam em pé, em filas, a serem observadas e seleccionadas
para ajudarem nas nossas actividades domésticas”.
Cultivo de flores
Nos finais de 1800, o cultivo de flores estabeleceu-se em South Holland.
Os bolbos valiosos requerem luz, solos sem pedras, fazendo com que os
solos siltosos férteis fossem os ideais.
Em 1890, as campânulas-brancas eram cultivadas comercialmente para
fins medicinais, mas os excedentes eram enviados para Londres como
flores cortadas. Pouco depois, os narcisos foram adicionados e as tulipas
foram introduzidas em 1905. Em 1933, cerca de 100 toneladas de flores
Cultivo moderno de flores em enormes estufas em vidro (2006)
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A famosa parada de flores
de Spalding (2005)
por dia partiam de Spalding. As tulipas eram frequentemente cultivadas
tanto para flores como para bolbos. De qualquer forma, as cabeças das
tulipas tinham que ser removidas para evitar doenças. Esta prática de
decapitação deu origem à famosa Spalding Flower Parade (Parada de Flores
de Spalding), onde carros alegóricos espectaculares desfilam ao redor da
cidade. A indústria atraiu um fluxo de cultivadores holandeses para South
Holland para ampliarem as suas competências. Slooten, van Konynenburg,
Moerman e van Geest, todos se tornaram nomes bem conhecidos na
região. A produção de tulipas tem vindo a ser muito reduzida nos últimos
tempos, principalmente devido aos métodos dos produtores holandeses
de colheita mecanizada, o que reduz consideravelmente os custos e se
adequam aos seus solos arenosos, pelo que são menos eficazes nos solos
de South Holland. Os narcisos, contudo, são mais resistentes à colheita
mecanizada. Eles mostram resistência notável e nos campos onde eram
cultivados, narcisos persistentes continuam a aparecer anualmente. Os
bolbos atirados para as bermas
e as laterais das valas durante
a colheita continuam sempre
a crescer todos os anos para
proporcionar uma exposição
gratuita maravilhosa, durante
os meses de Março e Abril,
para quem conduz através de
South Holland. A Grã-Bretanha
produz entre 50 a 60% da
produção mundial de narcisos
e desses, mais de metade, são
cultivados em South Holland e
nos arredores.
Um deleite para os
transeuntes. Os bolbos de
narcisos outrora cresceram
no campo à direita, junto à
A17 (2009)
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TRANSPORTES E VIAGENS
Por água
Os rios e os afluentes garantiam que os primeiros habitantes e visitantes
da região tinham acesso ao interior e à costa. O primeiro barco conhecido
do distrito, que se pensa ter cerca de 3.000 anos de idade, é uma piroga
de grande porte, encontrada em Deeping Fen em 1839. Contendo uma
carga de fisgas, esta magnífica embarcação tinha de 46 pés (14 m) de
comprimento e cinco pés e oito polegadas (1,7 m) de largura, escavada a
partir de uma única árvore.
Dos passageiros importantes entre as viagens de barco nos pântanos
de South Holland, podemos encontrar St. Guthlac, que foi transportado
no ano de 699 D.C. para Crowland através de “sapais imensos, outrora
um lago preto, outrora um ribeiro que corria revolto com vários meandros
largos e compridos”. A partir daí, a melhoria das vias navegáveis continuou
em ritmo acelerado e é exemplificada durante a Idade Média, quando
boas pedras para construção eram retiradas das pedreiras em Barnack,
perto de Stamford, viajando ao longo do rio Welland para Crowland e
Spalding e além de Norfolk. Além disso, quando a abadia de Crowland
estava para ser multada por não conservar uma estrada para a Spalding,
Pontes
As pontes apresentam-se como um ponto forte na história de South Holland
e nenhuma é mais notável do que a Trinity Bridge em Crowland, que data do
século XIV. Esta substituía uma ponte de madeira antiga e transportava os
viajantes sobre a confluência do rio canalizado Welland e um corte efectuado para
juntar os rios Welland e Nene.
A Spalding Great Bridge está
mencionada em 1230 mas a
estrutura actual data de 1838.
Existe uma tradição de uma
ponte romana em Spalding,
mas não existe nenhuma
evidência arqueológica de que
esta tenha sido encontrada.
Mais uma ponte notável
pode ser encontrada em
Sutton Bridge, a última das
três pontes sobre o rio Nene,
actualmente. Construída em
1897, esta foi concebida para
transportar tanto o transporte
ferroviário e o rodoviário para
Norfolk. É uma ponte móvel
que permite que os navios
acedam a montante até ao
porto de Wisbech.
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alegou, sem surpresa, que todos
viajavam pelo rio. A tradição antiga
de transporte através da água é
reflectida no moderno táxi aquático
de Spalding, vencedor de prémios, o
qual transporta 20.000 passageiros
por ano para cima e para baixo
no rio Welland. Um projecto está
actualmente em curso para a
abertura dos canais pantanosos para
utilização turística entre Lincoln,
Peterborough e Ely.
Spalding, dominada pelo rio Welland,
desenvolveu-se num porto menor,
transportando mercadorias de
Stamford para descarregar a bordo
de navios maiores ancorados no
estuário. Durante o período medieval
foi o lar da frota de pesca de arenque
do Prior de Spalding. Em 1695, uma
tentativa que não foi bem sucedida foi levada a cabo para fazer de Spalding
um porto livre, não sujeito ao porto de Boston. Também podiam ser
encontrados estaleiros na cidade durante o século XIX, em conjunto com
outras indústrias relacionadas, tais como a produção de cordas e velas.
Até a chegada dos caminhos-de-ferro no século XIX, a prosperidade
de Spalding dependia do rio. Casarões e armazéns antigos ainda se
aglomeram à beira do rio. O Westlode, agora cheio de galerias, permitiu
aos agricultores transportarem dos seus produtos a partir dos pântanos
a oeste da cidade para o porto. O rio Glen oferecia acesso, percorrendo
a distância e desbravando terra até Bourne, e o carvão era transportado
para a cidade dessa forma.
Táxi de água de
Spalding – uma
lembrança do modo
como as pessoas
viajavam pelos
pântanos antigamente
(2008)
Os navios de Spalding transportavam cargas de grandes quantidades
de madeira para a construção de pontes e carruagens para os caminhosde-ferro, e foi desta forma que começou o lento declínio do transporte
fluvial nos pântanos.
Mais ou menos ao mesmo tempo, Sutton Bridge surgiu para se tornar
no que é hoje o único porto do South Holland. A Sutton Bridge Dock
Company foi estabelecida por uma Lei do Parlamento em 1875. A sua
primeira doca durou três anos antes das laterais terem deslizado e o local
é hoje um campo de golfe. O movimentado porto moderno, aberto em
1987, estende-se agora ao longo do rio Nene a norte da ponte.
Caminhos-de-ferro
Os primeiros caminhos-de-ferro em Spalding foram parte integrante de
um projecto para ligar Londres com o norte, através de Peterborough,
Spalding e Boston. As estações foram terminadas em 1848 e o
caminho-de-ferro foi inaugurado no mesmo ano. As estações foram
todas concebidas pelo mesmo arquitecto, assim Spalding tem um
estilo arquitectónico semelhante a Woodhall Spa, Bardney e Peakirk,
todas caracterizadas por altas torres.
Os caminhos-de-ferro foram construídos para ligar a Holbeach (1858),
Bourne (1866), King's Lynn (através de Holbeach e Long Sutton), March
Através do "pântano
hediondo de uma enorme
imensidão com vastos
e longos meandros",
Guthlac remou até
Crowland em 699 D.C.
28
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(1867) e Sleaford (1882).
Spalding situava-se no
coração desta rede,
com várias plataformas
e estruturas auxiliares,
como as plataformas
giratórias visíveis
até à década de 60.
Algumas das linhas
que atravessavam
South Holland fecharam
Lembranças do que foi outrora
antes do decreto do Dr.
uma próspera rede ferroviária, a
Beeching (N. do T.: “Dr. Beeching’s axe”,
Estação de Gedney na linha de
como ficou conhecido informalmente,
decreto que se destinava a reduzir custos) Spalding para King’s Lynn (2009)
sobre o sistema ferroviário britânico em
1961. Outras sobreviveram, mas agora há
apenas uma única ligação ferroviária através do distrito, entre Lincoln
e Peterborough, parando em Spalding.
Estradas
Enquanto muitos poderiam esperar que estradas romanas seriam
o primeiro meio de comunicação formal através da paisagem,
pavimentos pré-históricos existiram, sem dúvida, onde estas foram
sendo possíveis. Sem data, mas do tipo pré-histórico, é a estrada
junto a Crowland. Encontrada no século XIX, situava-se 2 m abaixo
da turfa e foi descrita como“estacas de salgueiro rigorosamente
acondicionadas…pavimentadas com mato sobre o qual foi colocado
cascalho”. As vias romanas estendem-se desde logo a oeste de
Milestone, Holbeach (1997)
Poste de indicações do Conselho do
Condado de Holland, Holbeach (2009)
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Spalding, ao longo do pântano até
Baston e desde Donington (quase
acompanhando a rota da A52) a oeste
de Grantham.
Os saxões não ficaram famosos pela
construção de estradas. No entanto,
Hargate situada em Fleet, deriva o seu
nome de“here” o que significa uma
estrada militar com osgata insinuando
a sua origem Viking. A maior parte das
estradas que atravessam as aldeias a
leste de Spalding foi, provavelmente,
estradas para animais, permitindo que o
gado chegasse aos mercados de King's
Lynn e Norwich. Ao fazê-lo, o estuário
do rio Nene teve de ser negociado. Os
moradores locais, que conheciam os
canais e as areias movediças, foram
utilizados como guias, levando os
viajantes através do perigoso estuário na
maré baixa. Qualquer erro poderia causar
a perda de vidas. No século XIII, contavase que as jóias do rei John tinham sido
perdidas no estuário. Sensatamente, o
rei, na sua viagem de King's Lynn para
Swineshead, optou por uma rota mais
segura, pelo interior.
Um bom jantar. Uma boa sala
de estar. Boa presença. Onde
as pessoas jantam refeições
económicas? John Byng em Red Cow,
Donington 1791
Como as viagens se tornaram um lugar-comum, os
hotéis e as estalagens proporcionaram hospitalidade
para aqueles que andavam na estrada. O White Hart
em Spalding, data do final do século XV, e poderá
ter sido uma hospedaria pertencente ao priorado
de Spalding. O Red Cow em Donington data
parcialmente do século XVII.
Foi durante o século XVIII, quando as estradas com
torniquetes estavam a ser criadas, que o número
de hotéis e pousadas aumentou. Estes incluíram
o George and Angel em Crowland, o Crown em
Holbeach, o Swan Inn em Moulton, o Bull Hotel
em Long Sutton e o New Inn em Sutton Bridge.
O Ship and Cross Keys Inn em Sutton Bridge foi
reconstruído no século XIX e hoje é o familiar
Bridge Hotel.
Existe um relato de uma estrada
medieval que estava a ser construída,
por um bispo de Durham, que construiu
uma estrada ao longo de todo o pântano,
de Deeping para Spalding - Elrich rode..
Esta pode muito bem ter assumido o mesmo
caminho que a actual A16. A actual A17 possui
um elevado volume de tráfego de camiões de
longa distância entre as zonas industriais da
costa leste e o norte. A mesma estrada é uma
das principais rotas turísticas para o litoral.
A Barrier Bank, que se estende desde
Spalding ao longo do rio Welland através de
Cowbit, foi a primeira estrada com torniquete
em South Holland (1722), seguida por outras
entre Spalding e Tydd, Spalding e Deeping,
Spalding e Bourne e a estrada de Spalding
para Donington. Ao longo destas estradas
cobrava-se uma taxa pela sua utilização.
Poucas cabines de portagem subsistiram,
mas a Brotherhouse Bar, entre Spalding e
Crowland, indica a posição da existência de
uma. Os caminhos-de-ferro viram o fim das
estradas com torniquete, sendo que a maioria
fechou por volta de 1850.
Estrada Romana. A Baston Outgang em Spalding
Common. As linhas escuras paralelas são valas
nas bermas das estradas. Repare no raro cerco
com valas (linhas escuras a direito, parte inferior
esquerda), uma parte chave do desenho das
estradas. (Colecção da Univ. Cambs. NH70, 1954)
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COLONIZAÇÕES E COMUNIDADES
O Domesday Book, de 1086, é o primeiro relato que inclui a maior parte
das aldeias de South Holland e mostra a extensão das colónias naquela
época. As aldeias agrupavam-se em torno das suas igrejas, procurando
protecção e bem-estar espiritual, em edifícios de arquitectura magnífica.
Estas igrejas são grandes e cada uma demonstra a riqueza da vila e
da sua vizinhança - a paróquia. A riqueza também pode ser vista nos
mercados, sendo que os mais ricos se encontravam em Lincolnshire.
À medida que processo de recuperação continuou e estas paróquias
foram "alargadas" para dentro do mar e dos pântanos, surgiram novas
colónias a muitas milhas de distância da aldeia original. Algumas destas
pequenas aldeias receberam a sua própria capela ou igreja (Gedney
Dawsmere e Capela de Moulton) e algumas tornaram-se paróquias por
Ayscoughfee Hall
“o meu grande lugar em Spalding”
Presume-se que tinha sido construído
no início e meados do século XV por um
comerciante de lã local, Ayscoughfee
Hall, junto ao rio Welland em Spalding,
agora serve como um museu dedicado à
história do edifício. Embora muito alterado
ao longo do tempo, o projecto básico
foi mantido, enquanto foi incorporando
uma variedade de estilos arquitectónicos.
Entre muitos dos seus proprietários
encontra-se Maurice Johnson que, em
Vista traseira do Hall (2009)
1710, fundou a Spalding Gentlemen’s
Society, uma das mais antigas academias
eruditas relativamente à sua existência. O jardim murado abrange cerca de dois
hectares e inclui uma casa de gelo do século XVII, um lago ornamental e sobre
um tema mais contemporâneo, um jardim da paz. Os jardins recentemente
restaurados são uma atracção popular e muito utilizado localmente.
Adro da igreja de Lutton. Rara inscrição em tijolo do século XVI RICHARD PYTTRELL E SUA ESPOSA JOHANER
FIZERAM ESTE MURO PAGARAM XX LIBRAS ANO 1577ER (1995)
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Alvenaria decorativa de meados do
século XVII, mostrando a influência
holandesa. Penny Hill, Holbeach (1992)
direito próprio. Um exemplo é Sutton Bridge,
estabelecida junto ao estuário do rio Nene,
a qual agora inclui a paróquia "perdida" de
Wingland, que é aquela a área de terra a leste da foz do rio Nene.
Casa e Lar
Desde a Idade Média, as casas foram construídas a partir de lama
e saibro,um método que utilizava ripas de madeira verticais com
enchimento de lama. Estas foram cobertas com as abundantes canas
do pântano. Algumas ainda existem, apesar de agora poderem estar
escondidas sob reboco ou tijolo. O tijolo foi inicialmente importado da
Holanda, desde o século XIII, e era considerado
um produto de luxo, daí a sua utilização
em Ayscoughfee Hall e Willesby House em
Spalding. Telhas curvas e trabalho decorativo
em tijolo, como pode ser visto na Penny Hill
House em Holbeach e em algumas empenas,
também apresentavam influência holandesa.
South Holland sempre foi uma região de
proprietários de terra independentes ao invés
de grandes senhores feudais. Cressy Hall, em
Gosberton, é a única casa rural com pretensões
reais. Na sequência do fecho dos pântanos no
século XVIII, os proprietários distantes, como os
Brownlows de Belton, perto de Grantham, adquiriram terras e construíram
quintas, mas viviam em outro local. Muitas quintas foram construídas a partir
desta época, com boas casas de tijolos, celeiros e anexos.
Nas cidades, aumentaram os armazéns. Vários armazéns em Spalding
subsistiram até ao século XX, alguns ainda são utilizados nos dias de hoje,
Parede em lama e
saibro degradada
num celeiro em
Gosberton (1983)
Uma vista do
início do século
XX de Cressy Hall,
Gosberton
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SABIA QUE?
A igreja de Long Sutton tem o
pináculo de madeira mais alto
e mais velho da Europa.
convertidos em apartamentos. Nos
séculos XIX e XX, a indústria aumentou,
principalmente a que se relaciona com
a agricultura.
A situação habitacional da cidade
melhorou a partir do século XVIII e no
século XIX, os terrenos simples para a
força de trabalho industrial estiveram em evidência em todas as cidades
e em algumas aldeias, juntamente com as fábricas, fundições e outras
instalações similares. O século XX assistiu à habitação social e as
“pré-fábricas" do tempo
da guerra, entre outras
Matthew Flinders
inovações. O Conselho
Distrital de South
O filho mais famoso de Donington nasceu em
Holland criou agora uma
1774. Diz-se que a leitura de "Robinson Crusoe"
cooperativa de habitação
fez com que quisesse ser um explorador. As
local, a qual construiu
suas ambições tornaram-se realidade quando
habitações sociais em
ele se tornou um navegador e cartógrafo famoso.
lugares como Gosberton.
Foi Flinders quem primeiro navegou em volta da
Austrália fazendo o levantamento e mapeamento
da linha da costa. Ele até deu o seu nome ao
continente. Mantendo a tradição familiar da
exploração, o seu neto, Sir William Matthew
Flinders Petrie, tornou-se um arqueólogo
famoso no Egipto.
Pintura de Hilkiah Burgess de armazéns no rio Welland em Double Street,
Spalding no início do século XIX. A maioria foi demolida nos anos 60
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CRIME E PUNIÇÃO
Os primeiros elementos de um sistema judicial
tiveram as suas origens no período de saxónico.
Cada um dos Wapentakes (Distritos) tinha os
seus locais de reunião ou tribunais. O ponto de
reunião de Elloe Wapentake é referido como
tendo sido na Elloe Stone, perto de Moulton.
Os tribunais senhoriais substituíram os sistemas
saxónicos e foram estabelecidos em linhas mais
locais. O priorado de Spalding (consultar pág.
37) exerceu o direito de enforcar os infractores
do lado exterior do seu portão principal, o que
é agora o Sheepmarket. Diz-se que o oficial de
diligências de Pinchbeck forneceu a corda, o
oficial de diligências de Spalding levou a vítima
para a forca, o oficial de diligências de Weston
carregou a escada e o oficial de diligências de
Moulton executou o acto final. Esta prática era lembrada no antigo nome
da Swan Street, Deadman’s Lane (Pista do Homem Morto).
Um costume antigo de mostrar desaprovação pública sobre um indivíduo
era o “ran-tanning”. Os locais reuniam-se à porta da casa do infractor durante
três dias e três noites consecutivas, gritando, assobiando, batendo em
panelas e, de forma geral, fazendo imenso barulho. Normalmente, o “rantanning” destinava-se a alguém que se tinha comportado de forma errada
dentro da comunidade, como por exemplo um marido que batia na esposa.
O último caso conhecido da ocorrência deste costume localmente foi em
Quadring Fen, em 1928. Foi destinado a uma mulher que se dizia ter escrito
declarações falsas sobre uma jovem rapariga da aldeia.
O último homem a ser enforcado em Spalding foi William Tyler
por ter assassinado a Senhora Ives em 1741. Foi executado em
Março de 1742 no mercado e o seu corpo colocado num poste
(enforcado como um aviso para as outras pessoas) na represa de
Vernatt, junto à Turnpike Road. Num outro caso local, uma pedra
no adro da igreja em Surfleet assinala o homicídio de um homem
de Lancashire, Samuel Stockton, por Philip Hooton, de Sutton St.
Edmunds, em 1768. Hooton foi enforcado em Lincoln e seu corpo
colocado num poste em Surfleet Marsh, próximo do local do crime.
Existiu uma prisão em Spalding de cerca de 1619, a qual foi
reconstruída em 1765 e durou até 1825. Estava localizada no
cruzamento da Broad Street com a New Road. A
Casa de Correcção foi posteriormente construída
com vista para o Sheepmarket em 1826 e um
Tribunal de Sessões construído adjacente ao
mesmo em 1843. Ainda hoje continua a ser
o local principal de julgamento do distrito. Por
vezes, as sentenças pareciam excessivamente
duras. Em 1805, George Reeve de Spalding foi
condenado à Casa de Correcção por ter usado
o seu chapéu no tribunal.
Spalding também tinha um pelourinho,um
dispositivo no qual uma pessoa era colocada para
humilhação pública. Consistia de uma moldura
de madeira montada sobre quatro rodas e com
buracos para a cabeça e as mãos. (N. do T.: A
descrição deste instrumento pode variar de
acordo com a região. Em Portugal, é vulgar ser
Troncos da vila de
Pinchbeck (2009)
A Elloe Stone,
local de encontro
de "wapentake"
(divisão
administrativa
do condado)
- a palavra
"wapentake" deriva
de "abanar uma
lança" porque era
desta forma que
os habitantes do
distrito votavam
(1990)
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Tribunal de
Sessões,
Spalding
(2009)
encontrado descrições que indicam que eram colunas de pedra constituídas
por uma base sobre a qual assenta uma coluna ou fuste e terminam
por um capitel, às quais eram amarrados os infractores. No entanto, o
objectivo era o mesmo: expor à humilhação pública, incluindo, por vezes,
tortura.) O pelourinho de Spalding foi designado de “White Willey”. A última
pessoa que foi colocada no pelourinho foi Susan Meekes por manter uma
"casa de má fama", em 1787. Em Pinchbeck, os troncos da vila (N. do T.:
antigo instrumento constituído por um cepo onde se prendiam os pés dos
condenados) (pág. 34) ainda subsistem.
O responsável da paróquia era uma posição que não era paga. Uma Lei de
1829 permitiu o uso de uma força policial profissional, mas, em Lincolnshire,
foi apenas Holland,
com as suas
grandes paróquias
abertas, que estava
interessada em
adoptar a ideia. No
entanto, teve que
esperar até 1856
para que fosse
estabelecida uma
força policial regular
e até 1857 para obter
uma esquadra de
polícia.
A primeira
esquadra de polícia
de Spalding (2009)
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Spalding e o seu mercado antigo
“Mais elevada mas ainda sobre o mesmo rio está localizada Spalding, cercada em
toda a volta por riachos e drenagens; uma cidade justa, eu lhe garanto, do que
aquilo que um homem teria de procurar para encontrar tal imensidão entre lousas
e salpicos de água..."
W. Camden Britannia 1586
Num documento datado de meados de 600 D.C., uma tribo denominada Spaldas é
mencionada, indicando que houve uma colónia aqui, pelo menos nesse tempo.
Spalding é um antigo mercado, um dos poucos mencionados no Domesday Book.
Há registos intermitentes do que estava à venda no Mercado de Spalding e estes
dão um sabor à região nesses tempos idos.
1281 - Sacos de lã; Tonéis de vinho; Lenha; Turfas; Casca de Carvalho; Carvão
1336 – Milho; Vacas; Peles de tais animais, frescas, salgadas ou curtidas; Tousão,
Peles de cordeiros; Cabritos, lebres, coelhos, raposas, gatos e esquilos; Fardos de
pano; Feno; Sebo e gorduras; Madeira; Arenques, Galeotas, Peixes marinhos; Mós;
Turfas; Sal; Manteiga, Linho, cânhamo e óleo
1763 – Apenas três barracas de venda
Um vendia estambre e dois padeiros de biscoitos temperados com gengibre
2009 - Frutas e Legumes; Carne e peixe; comida rápida (fast food); Cortinas,
tecidos; Cartões de saudação; Doces; Fotos; Comida para animais de estimação;
Plantas; Roupa; Sapatos; Conservas; Jóias; Livros; Telemóveis; Vidros duplos
Mercado de
Spalding do
Centro de South
Holland (2008)
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Site of Castle
Site of Priory
Site of Church
Line of Priory Precinct
Vista área de Spalding, cerca de 1993, mostrando
as localizações do castelo e do priorado. O moderno
plano de ruas reflecte o traçado do priorado medieval
Vista do início
do século XX do
Forno do Prior,
o qual ainda
possui vista para
Sheepmarket
(Hilkiah Burgess)
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LAZER
Os mercados e as feiras foram, e continuam
a ser, uma característica de muitas
comunidades de South Holland. Enquanto
a maior parte das pessoas trabalhava com
a troca de bens, também houve momentos
em que as pessoas se divertiam assistindo
trovadores, malabaristas, acrobatas e não tão
frequentemente, de menos bom gosto, as
lutas de galos e o espicaçamento de ursos.
Algumas dessas feiras foram estabelecidas
pela Igreja, que também era responsável
pelas representações, geralmente com
intuitos religiosos ou morais, actuando nas
partes traseiras das carroças.
Crowland Rattle Doll Fair (Feira da boneca
de chocalho de Crowland)
Também conhecida como Saint Rattle Doll, esta feira era realizada por
altura da Terça-Feira Gorda e desapareceu perto do final do século XIX.
As origens encontram-se provavelmente relacionadas com a época da
sementeira, quando os jovens e os idosos eram utilizados para proteger
as culturas semeadas recentemente, assustando os pássaros usando
uma “Rattle Doll" (boneca de chocalho), que consistia basicamente
de peças de madeira ligadas que faziam um barulho alto, não muito
diferentes das matracas usadas no futebol. Frequentemente era cantada
uma canção a acompanhar, ao ritmo das bonecas de chocalho, e que é
lembrada em Sutton Bridge.
Crow Scaring Song (Canção para
afugentar os corvos)
“To the Washway House we’ll go,
Come all you little blacky tops (Venham cá
todos, com as vossas cabeças pretinhas)
Pray don’t you eat my father’s crops
(Rezem para não comerem as culturas do
meu pai)
For you must fly and I must run (Pelo que
devem voar e eu devo fugir)
Shoo-ar-ara-roo
Shoo-ar-ara-roo
Dança folclórica do
Maypole (poste de
Maio) em Holbeach
(2007)
(Para a Washway House iremos,)
where we will merry be, (onde ficaremos contentes,)
and eat and drink and laugh and sing, (e comemos e
bebemos e rimos e cantamos,)
and dip into the sea (e mergulhamos no mar)”
Datadas de 1783, estas linhas de abertura de uma
música registam as origens de Sutton Bridge como uma
região de banhos. Mergulhar ou tomar banho no mar
era recomendado como uma cura para várias doenças
e a Washway House fornecia desde hospedagens
e alimentação para os visitantes e foi uma das três
pousadas, das quais apenas a New Inn subsiste.
So fly away and don’t come back (Por isso
fujam e não voltem)
For if you do he’ll break my back (Porque
se comerem, ele me baterá)
For you must fly and I must run (Pelo que
devem voar e eu devo fugir)
Shoo-ar-ara-roo
Shoo-ar-ara-roo
Os ricos e os poderosos divertiam-se na caça. O pântano a oeste de Spalding
era parte da Floresta (terra de caça do rei, não bosque) de Kesteven, e
foi objecto de duras leis. Dignitários menores estabeleceram parques; o
priorado de Spalding tinha um a norte da cidade, que se estendia a Pinchbeck
e a casa de Thomas Multon ficava dentro de King's Park.
Mais tarde, divertimentos mais elegantes eram representados por jardins
ornamentais, o melhor dos quais sobrevive em Ayscoughfee Hall em
Spalding, que data de, pelo menos, o início do século XVIII tal como é
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apresentado num mapa de 1732. Tais jardins foram introduzidos a partir
dos Países Baixos, no século XVII, e apresentavam plantas raras reunidas
de todas as partes do mundo.
As corridas a cavalo foram introduzidas em Spalding Common no século
XVIII por um homem local, o Sr. Richards. Ele construiu estábulos ao
longo de London Road e bancadas para os espectadores ao lado da pista
de corridas. Esta foi uma empresa que durou pouco tempo, a última
corrida teve lugar em 1788.
O primeiro cinema local foi inaugurado em Spalding em 1913, seguido por
outros em Holbeach, Long Sutton e Sutton Bridge. Spalding conseguia
encher três cinemas nos seus tempos áureos. O antigo Savoy que se
situava na Westlode Street está agora convertido numa sala de bingo.
Agora é o impressionante South Holland Centre que oferece fantásticas
oportunidades para as pessoas de Spalding verem cinema e teatro.
Escalar campanários das igrejas parece ter sido um passatempo
incomum, sendo que quem era o vencedor da subida geralmente deixava
uma fita para os seguintes pretendentes ao título a recuperarem. Em
1812, dizia-se que o trabalhador Robert Jarvis tinha levado esta distracção
a novos extremos, ao escalar o pináculo da igreja de Moulton com o filho
pequeno nos seus braços e amarrando a criança ao cata-vento com o
lenço do pescoço. Deixando a criança lá, ele regressou a solo firme e foi
a casa buscar a sua esposa para ver o espectáculo e admirar a sua proeza
antes de subir novamente e recuperar a criança em segurança. A reacção
da esposa não se encontra registada!
Em pleno Inverno gelado
O Inverno era uma época em que trabalhar a terra poderia ser impedido
pela geada e neve. Era uma época em que patinar no gelo nos sapais
congelados era um desporto competitivo de Fenland. Os sapais de
Cowbit e Crowland, em particular, eram reconhecidos pela patinagem
e aí foram celebrados campeões locais. Um livro de actas de 1728 da
Spalding Gentlemen’s Society regista que “O Sr. Harrison Baker desta
cidade vai em patins de gelo com uma velocidade e graça igual a um
Patinagem nos sapais inundados em Crowland (por volta de 1900)
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Hollander holandês e consegue
percorrer uma milha em três
minutos”. Walter Pridgeon foi o
campeão de Lincolnshire durante
mais de 30 anos, desde 1900,
e apenas perdeu o seu título
em 1933 para Bert Slater de
Crowland. Os patins primitivos
eram feitos de ossos de animais,
mas por volta do século XVII,
possuíam uma lâmina de metal
e eram feitos pelos ferreiros.
Os patinadores locais eram
conhecidos como os corredores
dos pântanos.
Outras actividades de Inverno
incluíam rituais relacionados com 6
deJaneiro,Plough Monday (Segundafeira da Charrua), e também a
Twelfth Night (Noite de Reis), o fim tradicional das festividades de Natal.
Em Moulton Seas End, os “Morris Dancers” (N. do T.: dançarinos com
paus ou espadas, relativamente semelhante aos "Pauliteiros" existentes
em Portugal) actuavam no Natal e os rapazes que conduziam os arados
visitavam as grandes casas na Plough Monday. Frequentemente com faces
escurecidas, eles faziam uma pequena peça, geralmente uma cena de luta
com o galanteio de uma senhora (sempre interpretado por um homem
travestido). O arado que carregavam consigo era uma ameaça de arar jardins
ou relvados, se eles não recebessem uma recompensa adequada pelo seu
desempenho. Sutton Bridge também tinha os seus “Morris dancers”, em
que os homens utilizavam chapéus
altos. Os relatos de Churchwardens
de Long Sutton registam “ para os
“Morris dancers” de Spalding 2
xelins, para os “Morris dancers” de
Whaplode 6 xelins e 8 d”,sendo que
a última era claramente uma equipa
superior. Long Sutton também tinha
“Morris dancers" em 1890. Estes
praticavam uma forma rudimentar
de dança com base em figuras de
dança do país. Grupos de homens,
novamente com rostos pintados de
preto para disfarce, realizavam as
suas danças com um homem vestido
como uma mulher ou "Molly".
Durante um dia, em Maio de
1967, Spalding tornou-se o
centro da música popular da GrãBretanha, quando um concerto
memorável com a Jimi Hendrix
Experience, Cream, Pink Floyd,
Geno Washington e a Ram Jam
Band, entre outros, atraiu cerca
de 4.000 pessoas de todo o país
ao superlotado Bulb Auction Hall.
“Spalding nunca viu nada assim”
publicaram os jornais.
O campeão de
patinagem de
velocidade de
Lincolnshire, Walter
Pridgeon, circundando
um barril no sapal de
Cowbit em 1907.
Inverno em Crowland (1983)
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SOUTH HOLLAND: UM LAR DE ELEIÇÃO
Um forte sentido de ajuda mútua entre os indivíduos nas comunidades
de South Holland deve ter estado presente desde o tempo dos primeiros
povoadores pioneiros e daí por diante.
Uma das coisas maravilhosas sobre os primórdios de South Holland é
que não era a terra que estava apenas aqui para as pessoas moverem
e explorarem. Cada centímetro de South Holland tinha de ser arrancado
violentamente da natureza. Ao longo da história, as pessoas aqui têm
trabalhado em conjunto e feito a terra onde elas vivem. As represas de
defesa que foram construídas eram mais do que apenas a protecção das
águas da inundação, eram demonstrações de rebeldia contra as forças
da natureza, obras comunitárias de engenharia civil construídas pelo povo
para a sua própria protecção. Elas permitiram que as pessoas obtivessem
uma pequena vantagem sobre a região e uma oportunidade para se
desenvolverem.
À medida que a paisagem mudava, as pessoas de South Holland
adaptavam-se. Quando os pântanos foram finalmente drenados, aqueles
que anteriormente tinham explorado habilmente as zonas húmidas
de água doce tornaram-se agricultores. Estes foram seguidos por
gerações de famílias em sintonia com a terra, passando os seus próprios
conhecimentos aos seus sucessores. Com a era da tecnologia, South
Holland mudou com os tempos e hoje abriga o National Centre for Food
Manufacturing (Centro Nacional da Indústria Alimentar).
Agora, South Holland detém uma posição privilegiada
em ser tanto o “Kitchen Garden of England” (A cozinha
jardim de Inglaterra) e um centro de reconhecido de
tecnologia e produção alimentar no país (2006).
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South Holland sempre deu as boas-vindas a trabalhadores, sejam
eles romanos, saxões, normandos ou a mão-de-obra multinacional e
multicultural de hoje. Os novos colonos trouxeram competências e ideias
e ajudaram a moldar a paisagem. Os dinamarqueses, que viveram num
ambiente de planícies similar, podem muito bem ter trazido ideias de luta
na defesa contra o mar e, mais tarde, os holandeses que foram chegando
trouxeram seus conhecimentos sobre drenagem e, posteriormente, os
seus especialistas em flores.
Tal como os imigrantes desde os primórdios, alguns virão e outros irão.
Outros ficarão e oferecerão o seu trabalho e os seus conhecimentos
e irão trazer o sabor da sua terra natal para enriquecer a região e a sua
cultura. Tem sido assim ao longo da história e fez de South Holland aquilo
o que ela é: uma paisagem especial, com um carácter único.
Para além de uma visão vulgar
Para os forasteiros, estas pessoas das planícies são corteses e delicadas,
e raramente passam sem oferecer algum tipo de saudação... Nada é mais
agradável para essas pessoas do que ser questionado sobre o seu próprio país
e eles não responderão numa linguagem rude, mas frequentemente em muito
bom Inglês; e, se o tempo e a oportunidade o permitirem, vão relatar alguma
tradição local, ou contar um conto estranho, ou como o povo antigo patinou
milhas ao longo dos pântanos drenados congelados nos invernos frios do
passado, ou como alguns anos depois a represa acolá quebrou e deixou entrar
a água da maré, em detrimento das culturas ou para o desconforto do gado,
e como eles reuniram todos os homens da vizinhança e começaram a trabalhar
para reparar a fenda e, em seguida, eles apontarão alguma ruína distante de um
antigo mosteiro ou objecto similar, e o visitante tem de olhar e olhar novamente
antes de conseguir perceber o objecto, e ele vai querer saber como estas
pessoas vêem tão longe, e ele vai ficar impressionado com o facto de que os
habitantes dos pântanos são pessoas com visão de futuro - que eles na realidade
são (talvez em mais do que um sentido), porque a visão desobstruída lhes
permite, pelo seu hábito constante, distinguir não só objectos familiares, mas
também as pessoas individuais na auto-estrada muito além da visão comum.
Samuel H. Miller 1890
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LEITURA ADICIONAL
Bell, A.; Gurney, D. e Healey, H. Lincolnshire Salterns (Salinas de Lincolnshire):
Excavations at Helpringham, Holbeach St Johns and
Bicker Haven (Escavações em Helpringham, Holbeach
St. Johns e Bicker Haven) (1999)
Brassington, M.; Case, P. e Seal, R. History of a Fenland Parish (História de
uma Paróquia de Fenland). The Parish of St Mary and St
Nicolas, Spalding (A Paróquia de St. Mary e St. Nicolas,
Spalding) (2004)
Brown, J.
Farming in Lincolnshire 1850-1945 (Cultivo em
Lincolnshire 1850-1945) (2005)
Cameron, K. A Dictionary of Lincolnshire Place-names (Um dicionário
de topónimos de Lincolnshire) (1998)
Crust, L. Lincolnshire Almshouses (Asilos de Lincolnshire). Nine
Centuries of Charitable Housing (Nove séculos de
Cooperativas de Habitação Económica) (2002)
Davis, S.
Embanking, Draining (Represamento, drenagem): The
Changing Fens (Os pântanos em mutação) (1994)
Defoe, D.
A Tour through the whole Island of Great Britain (Uma
visita a toda a ilha da Grã-Bretanha) (1748)
Elsden, M. J.
Aspects of Spalding Villages (Aspectos das Vilas de
Spalding) (2000)
Hancock, T. N. “Bomber County” – A History of the Royal Air Force
in Lincolnshire (Uma história da Força Aérea Real em
Lincolnshire) (1978)
Hancock, T. N. “Bomber County 2” (1985)
Hallam, H. E. Settlement and Society, A study of the early agrarian
history of South Lincolnshire (Colonização e Sociedade,
Um estudo da história agrária antiga do sul de Lincolnshire)
(1965)
Lane, T. e Morris, E. L. A Millennium of Saltmaking (Um milénio da produção do
sal) (2004)
Hall, D. e Coles, J.
Fenland Survey (Recenseamento de Fenland) (1994)
Healey, H.
A Fenland Landscape Glossary for Lincolnshire (Um
glossário da paisagem para Lincolnshire) (1997)
Holmes, C. Seventeenth-Century Lincolnshire (Lincolnshire do
Século XVII)History of Lincolnshire Vol. VII (1980) (História
de Lincolnshire, Vol. II)
Jager, D. Windmills of Lincolnshire, surviving into the 21st century
(Moinhos de Lincolnshire, sobrevivendo até ao século
XXI) (2007)
Malim, T.
Stonea and the Roman Fens (Stonea e os pântanos
romanos) (2005)
Phillips, C. W.
The Fenland in Roman Times (Fenland nos tempos
romanos) (1970)
Thirsk, J.
English Peasant Farming (Cultivo dos camponeses
ingleses) (1957)
Wright, N. R. Spalding. An Industrial History (Uma história industrial)
(não determinado)
Wright, N. R. Sutton Bridge and Long Sutton, Lincolnshire. (Sutton
Bridge e Long Sutton, Lincolnshire) An Industrial History
(Uma história industrial) (1996)
Ficha técnica das imagens
As imagens forma tiradas ou fornecidas por Heritage Lincolnshire, Lincolnshire Museums
Service (Serviço de Museus de Lincolnshire), Philip Crome, Chris Cruikshank, Peter Hayes,
Hilary Healey, John Honnor, Jim Robertson, Tom Lane, J. May, Chris Moulis, Museum of
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Lincolnshire Life (Museu da Vida de Lincolnshire), Gabinete dos Registos Públicos, Cambridge University Committee for Aerial
Photography (Comité da Universidade de Cambridge para a Fotografia Aérea, Arquivos Nacionais, Newton Press Ltd of Sutterton.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer as contribuições do Conselho Distrital de South Holland e da Zona de Acção Rural. SHDC
Karen Johnson, Vicky Thomson e Ian Oliver foram particularmente prestáveis. As várias pessoas que leram e melhoraram
o texto, incluindo John Honnor, John Charlesworth e David Start. Os mapas e esquemas são de Susan Unsworth e David
Hopkins, do Heritage Trust of Lincolnshire. A permissão para usar os quadros de Hilkiah Burgess foi gentilmente concedida
pela Spalding Gentlemen’s Society.
LOCAIS SELECCIONADOS PARA VISITA
Museu e Jardins de Ayscoughfee Hall, Churchgate, Spalding PE11 2RA
Abadia de Crowland, East Street, Crowland PE6 0EN
Fenscape, Springfield Shopping Outlet and Gardens, Camelgate, Spalding PE12 6ET
Museu de bolbos de flores, Surfleet Road, Pinchbeck, Spalding PE11 3XY
Moinho de Moulton, High Street, Moulton PE12 6QB
Paróquia da Igreja de St. Mary, Market Place, Long Sutton PE12 9JJ
Museu do Motor de Pinchbeck, West Marsh Road, Pinchbeck PE11 3 UW
Museu Romano, Clay Lake, Spalding PE12 6BL
A maior parte das aldeias possui igrejas que estão abertas em determinados horários.
Glossário
Carvalhos de turfeira
(Bog Oaks)
Madeira preservada em turfeiras, embora raramente de carvalho
em South Holland
BrássicasQualquer planta da família das Brassicaceae, incluindo vegetais importantes
como as couves, brócolos, couve-flor, nabo e mostarda
Tempestade dos Pântanos (Fen Blow)
Quando uma turfa é drenada torna-se seca. Quando um campo em terrenos
de turfa está despido e um forte vento sopra, a superfície de turfa seca é arrastada, assemelhando-se a uma tempestade de areia
Poste de Execução (Gibbet)
Um gibbet é uma estrutura do tipo forca em que os corpos dos criminosos
executados eram pendurados para exibição pública, de modo a dissuadir
outros existentes ou futuros criminosos
GoggushlandNome de local de origem desconhecida. Actualmente designado de
Crowland Common
Eremitério
Um local ocupado por um recluso religioso
Intercomunhão
Uso de terras comuns partilhadas entre paróquias
Beterrabas forrageiras Uma variedade de beterraba plantada como alimento para os animais
(ou rutabaga)
VimesPara os vimes de fabrico de cestos são usados os caules flexíveis dos
salgueiros
Telhas curvasTelha curva com um perfil em forma de S, permitindo a interligação das telhas
adjacentes
Piedade
Prática devota da vida religiosa
PelourinhoUm dispositivo construído em madeira, com buracos para as mãos e cabeça,
usado para a humilhação ou punição pública
TorniqueteUma estrada de construção privada, com uma portagem ou taxa paga pela
sua utilização
Pastel-dos-tintureiros
Uma planta da família Brassicaceae que era plantada devido ao seu corante azul
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Estranhamente, naquilo que a maior parte das pessoas considera
como terras baixas, Holland significava "terras altas"; mais
altas, isto é, que o mar e o pântano adjacentes. Dentro destas
terras baixas elevadas, a história de South Holland é muito
curiosa e interessante. É uma história de pioneiros inteligentes
e engenhosos que se mudaram para terras recentemente saídas
do mar, lutando contra os elementos para ali permanecerem e
trabalhando juntos para ganharem a vida. Construíram represas
defensivas para se manterem a si e às suas terras secos. Eles
então forçaram a entrada para os pântanos e sapais alagados,
construindo literalmente as suas terras à medida que avançavam.
Esta terra que construíram provou ser rica e fértil. Sempre em
sintonia com a paisagem, o povo explorou muitos recursos
diferentes. Foi a sua terra recém-conquistada que, eventualmente,
viria a colocá-los na vanguarda da agricultura arável na
Grã-Bretanha. Era uma terra que, desde os seus primórdios,
necessitou que as pessoas a mantivessem seca e drenada, para
colher os seus ricos recursos e, em geral, para a conseguirem
conservar. É uma história de recém-chegados, imigrantes que
se deslocaram para aqui desde a época anterior aos romanos
até aos dias de hoje. Esta é, então, uma amostra do notável
distrito que é South Holland.

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