Oxigênio suplementar em viagens para pacientes com

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Oxigênio suplementar em viagens para pacientes com
Uso de oxigênio em viagens aéreas em pacientes com doenças pulmonares
Introdução
O tratamento atual das doenças pulmonares crônicas melhorou muito a qualidade de vida
dos pacientes e atualmente muitos deles estão se aventurando a fazer viagens aéreas.
Alguns necessitam também de avaliações mais especializadas sobre sua doença em
Serviços médicos distantes do seu local de origem. Estas viagens são muito importantes,
porque podem trazer benefícios a estes pacientes, como por exemplo, a chance de fazer
um transplante de pulmão, uma cirurgia redutora de volume, ou obter uma segunda
opinião médica especializada.
As complicações médicas atribuídas às viagens aéreas são raras. Entretanto, há forte
tendência para aumentar o número de passageiros sob risco de sofrer estas complicações
no futuro. Atualmente 10% das emergências durante os vôos são causadas por doenças
pulmonares, na sua maioria decorrentes de hipoxemia.
A solicitação prévia de oxigênio para uso a bordo pode ser extremamente benéfica para
pacientes com doença pulmonar crônica hipoxêmica, apesar de que alguns pacientes não
costumam seguir as orientações médicas que recebem, mas alguns médicos também não
costumam prescrever oxigênio durante o vôo mesmo após terem sido informados que seu
paciente está se programando para viajar de avião.
Indivíduos com pressão parcial de oxigênio arterial (PaO2) maior que 70 mmHg ao nível
do mar não necessitam usar oxigênio suplementar durante viagens aéreas, a menos que a
capacidade vital forcada (CVF) na espirometria seja menor que 50% do valor predito, ou
que sua capacidade de exercício seja muito limitada (incapacidade de andar 50 metros no
plano ou subir as escadas do avião).
Indivíduos com PaO2 menor que 70 mmHg ao nível do mar, com pouca mobilidade ou
com CVF< 50% do predito devem ser avaliados quanto à necessidade de oxigênio
suplementar durante os vôos. Idealmente eles devem ser submetidos a um teste de
simulação de hipóxia na altitude, mas isto ainda não é possível no Brasil. Uma alternativa
para se prever o grau de hipóxia na altitude é usar a equação de predição, que utiliza a
PaO2 e o volume expiratório forcado no primeiro segundo (VEF1) obtido pela
espirometria, sempre após o tratamento medicamentoso estar otimizado em pacientes
com doença estável e o mais próximo possível da viagem.
Equação de predição:
PaO2 predita na altitude de 8000 pés = 0,519 x PaO2 + 11.855 x VEF1 – 1.760 ou
PaO2 predita na altitude de 8000 pés = 0,453 x PaO2 + 0,386 x (VEF1 % predito) + 2.440
Se o resultado for uma PaO2 menor que 55 mmHg, devemos prescrever oxigênio
suplementar 2L/min por cânula nasal durante o vôo. Se o paciente já apresentar
hipoxemia crônica e usar oxigênio suplementar, não há necessidade de se aplicar a
equação. Nestes casos devemos prescrever para uso durante o vôo 2 L de oxigênio a mais
ao fluxo que ele normalmente já utiliza em casa.
Para que um paciente seja bem atendido durante sua viagem aérea, é preciso que haja
uma perfeita integração entre o médico prescritor, a companhia aérea e a empresa que
fornece o oxigênio. Em verdade para que isto ocorra, ainda faltam linhas mestras que
englobem uma avaliação compulsória e especializada do paciente antes da viagem,
validação de protocolos específicos com recomendações sobre a prescrição de oxigênio
durante as viagens aéreas, revisão das leis federais que facilitem o fornecimento de
oxigênio sem interrupções desde a partida até o destino final, e finalmente mais estudos
sobre emergências médicas durante os vôos.
Dicas para os pacientes planejarem suas viagens aéreas
Pacientes que desejam viajar de avião precisam saber que sua respiração pode se alterar
durante estas viagens. As seguintes informações sobre os efeitos do vôo na respiração são
importantes: a pressão barométrica diminui com a altitude, portanto assim que o avião
decola ao nível do mar, a pressão interna da cabine se eleva para compensar a diminuição
na pressão barométrica fora da cabine da aeronave. No momento que ocorre uma
diminuição da pressão barométrica da cabine, a pressão parcial do oxigênio também
diminui dentro do avião. Apesar de que a maioria dos indivíduos que precisa usar
oxigênio suplementar durante o vôo tolera muito bem a viagem de avião durante longos
percursos sem complicações, recomenda-se que o paciente consulte seu médico antes de
viajar. Não existem regras padronizadas ou regulamentadas pelo governo para pacientes
que necessitam usar oxigênio suplementar durante viagens de avião. As informações
sobre o uso de oxigênio pelo paciente sempre devem ser reconfirmadas antes do vôo. O
paciente também precisa saber que os agentes de viagem provavelmente não possuem
grande experiência de como lidar com usuários de oxigênio. Sempre que necessário,
converse com o gerente ou com um médico da companhia aérea antes da viagem.
As informações sobre o uso de oxigênio durantes viagens aéreas variam conforme a
companhia aérea, mas em geral os critérios são semelhantes e são os seguintes:
1. As companhias aéreas não permitem ao paciente levar seu próprio oxigênio a bordo
para usá-lo durante o vôo. A Empresa Brasileira de Aviação (EMBRAER) proíbe em
aeronaves comerciais o uso de equipamentos de oxigênio que não sejam fornecidos
pela própria companhia aérea. A EMBRAER permite que as empresas aéreas
forneçam oxigênio para passageiros que necessitam, mas nem todas o fornecem. É
recomendado que o paciente pesquise o custo do oxigênio durante o vôo com as
empresas que escolheu, por que os preços podem variar muito. Além disso, algumas
empresas aéreas permitem que o paciente leve sua mochila de oxigênio portátil como
bagagem, mas somente SE ELA ESTIVER VAZIA. Portanto, é necessário verificar
antecipadamente todas as informações sobre como viajar com oxigênio com a
empresa de transporte aéreo escolhida.
2. As empresas aéreas pedem uma prescrição ou uma carta feita por médico para liberar
o uso de oxigênio durante o vôo. O paciente deve providenciar várias cópias desta
prescrição ou carta, que deve conter o fluxo de oxigênio em litros por minutos e em
alguns casos, uma declaração do médico que o paciente é capaz de automanejar o
oxigênio. Algumas empresas aéreas também solicitam que a prescrição médica
contenha o diagnóstico, as medicações em uso e o nome e telefone do médico
prescritor. Ocasionalmente, algum médico do departamento médico da empresa aérea
pode se comunicar com o médico do paciente antes do seu embarque no avião.
3. As empresas aéreas precisam ser notificadas com antecedência de 24 a 72 horas ou
mais quando um passageiro precisar usar oxigênio suplementar durante o vôo.
4. Algumas empresas aéreas não fornecem oxigênio suplementar durante os vôos, a não
ser durante situações de emergência. O único recurso nesta situação é escolher outra
empresa que forneça.
5. Recomenda-se que o paciente faça um vôo sem escalas; se necessário que solicite
com antecedência uma cadeira de rodas; alimente-se com refeições leves, evite
bebidas alcoólicas ou gasosas como refrigerantes; sente-se em assento próximo ao
lavatório; leve seu cateter nasal com vários metros de extensão para se locomover
dentro da aeronave usando oxigênio; coloque as medicações de rotina em uma
bagagem de mão e leve também as medicações de emergência.
Referências Bibliográficas
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