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DIREITO,
SEGURANÇA E
DEMOCRACIA
Nº 24
NOVEMBRO
2015
AS ARTES MARCIAIS E AS POLÍCIAS DE
COMPETÊNCIA GENÉRICA – AUTODEFESA E O
USO DA FORÇA
Fernando Viana Da Cruz Cardoso Colaço
Mestrando em Direito e Segurança
RESUMO
Partindo do enquadramento legal que consubstancializa a importância do respeito
pelos direitos humanos e pela integridade de todos os cidadãos que deve pautar a
atuação das forças de segurança, nomeadamente a Guarda Nacional Republicana, e
considerando que os seus agentes se deparam frequentemente, no exercício das suas
funções, com a necessidade de intervir para evitar ou pôr cobro a situações de violência,
procura-se apresentar o aikido como uma alternativa viável e eficaz na ação dos agentes
da autoridade.
Assim, apresentam-se sumariamente as características fundamentais desta arte
marcial, faz-se uma breve resenha do que se passa em vários países no que toca ao uso
do aikido por parte de forças de segurança e desenha-se um plano de formação modular
destinado em primeira instância aos militares da Guarda Nacional Republicana, mas
alargável a outras forças de segurança
PALAVRAS-CHAVE
Aikido, imobilização, técnica.
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ABSTRACT
The performance of law enforcement agents, specially GNR agents, should respect
human rights and the integrity of all citizens. Thus, and because GNR agents are
confronted several times with violent situations, that must be stopped or prevented, aikido
is presented as a viable and effective alternative to help law enforcement agents in their
line of duty.
So the fundamental features of this martial art are brieffly described as well as its use
by law enforcement agencies in other countries. A training plan is also described, destined
mainly to the GNR agents, but ultimately it can be extended to other security forces.
KEYWORDS
Aikido, immobilization, technique.
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS
CP
CPOS
CRP
GNR
MC
PC
p.
pp.
SCBS
TAG
Código Penal
Curso de Promoção a Oficial Superior
Constituição da República Portuguesa
Guarda Nacional Republicana
Medo do crime
Preocupação relativa a crime
Página
Páginas
Social Capital Benchmark Survey
Trabalho de aplicação de grupo
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INTRODUÇÃO
Abordar-se-á neste trabalho o tema da utilização do aikido nas forças de
segurança.
Numa época em que todos os cidadãos, todos os suspeitos, culpados ou não, têm
direito à sua integridade e todos os agentes da autoridade têm o dever de atuar da forma
mais eficaz possível e no respeito por todos os direitos humanos, o aikido apresenta-se
como uma opção lógica para se concretizar esse desígnio, inclusivamente em
circunstâncias em que se torna premente, para proteção de todos, colocar um termo a
situações de violência, efetivas ou potenciais.
A Lei n.º 63/2007, de 6 de novembro (lei orgânica da GNR), consigna como
primeira atribuição desta força de segurança, no número 1, alínea a) do seu artigo 3.º,
Garantir as condições de segurança que permitam o exercício dos direitos e liberdades e
o respeito pelas garantias dos cidadãos. Também o Estatuto dos Militares da GNR, no
Artigo 15.º do Decreto-Lei 297/2007, de 14 de outubro, atribui ao militar da guarda o
especial dever de assegurar o respeito pela vida, integridade física e psíquica, honra e
dignidade das pessoas sobre a sua custódia ou ordem.
Cumprir este propósito no terreno, perante situações de perigo iminente, leva
muitas vezes ao uso da força, ocasionalmente desproporcionada, o que pode resultar em
ferimentos e/ou lesões, quiçá mesmo mortes, e eventuais procedimentos legais e /ou
disciplinares na sequência desse tipo de ação.
O aikido configura-se como uma alternativa viável e eficaz para intervir no respeito
pela integridade e segurança de todos.
Esta arte marcial de origem japonesa e caracterizada pela preocupação com o
bem-estar de todos faz há décadas parte integrante da formação dos agentes de diversas
forças policiais e militares em diferentes países, e é reconhecidamente uma mais-valia
quer para a sua atuação profissional quer para o seu desenvolvimento pessoal.
Assim sendo, propomo-nos agora explorar esta profícua relação, pelo que
apresentaremos uma sumária biografia do fundador do aikido, Morihei Ueshiba, no
Capítulo 1, logo seguida por uma breve história desta arte marcial, no Capítulo 2. Esta
biografia torna-se necessária para se compreender devidamente a filosofia do aikido,
resultado da longa vida dedicada às artes marciais e à meditação de um homem peculiar
e carismático.
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No Capítulo 3 traçaremos um retrato do que tem sido a utilização do aikido por forças de
segurança a nível internacional.
No Capítulo 4 descreveremos um conjunto de técnicas do repertório que o aikido
disponibiliza conducentes à imobilização segura de um oponente, que designaremos
como técnicas não invasivas, e apresentaremos por fim (Capítulo 5), como culminar lógico
deste percurso, um plano de formação de elementos das forças de segurança para a
utilização destas técnicas.
Este plano de formação será desejavelmente submetido à apreciação do Comando
de Doutrina e Formação, no sentido de ser integrado na oferta formativa a que os
militares da GNR têm direito, preferencialmente na modalidade de Instrução
Complementar ou Treino, conforme previsto nos números 148.º e 149.º do respetivo
estatuto.
CAPÍTULO I: O FUNDADOR DO AIKIDO
Morihei Ueshiba, nascido em Tanabe a 14 de dezembro de 1883 e falecido a 26 de
abril de 1969, era filho de um proprietário rural e é o fundador do aikido, sendo conhecido
pelos praticantes desta arte marcial como o “Fundador” (Kaiso) ou “Grande Mestre” (O
Sensei).
Sendo um rapaz muito franzino e de compleição algo doentia, na sua juventude
estudou variadas artes marciais por incentivo de seu pai.
Em 1903 foi chamado ao serviço militar, mas não passou nos exames físicos por
não atingir a altura mínima regulamentar (1,57 m). Para ultrapassar este óbice, Ueshiba
alongou a sua coluna vertebral pendurando-se em árvores com avultados pesos
pendentes das suas pernas, o que lhe permitiu passar numa segunda tentativa. Serviu no
exército japonês durante a guerra russo-japonesa (1904-1905). Segundo a tradição,
enfrentou na juventude, sobretudo no período do serviço militar, muitos adversários, não
tendo perdido uma única luta.
Após a sua dispensa do exército, ocorrida segundo umas fontes em 1906, segundo
outras em 1907, liderou em 1912 um grupo de colonos originários de Tanabe na sua
viagem para a ilha de Hokkaido, tendo sido fundamentais o seu carácter e a sua liderança
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para enfrentar as adversidades de uma ilha subdesenvolvida que oferecia severas
condições de vida.
Esta mudança para Hokkaido tornar-se-ia fulcral para Morihei Ueshiba, pois aí
acabou por conhecer Sokaku Takeda, em 1915. Ueshiba, que até aí não tinha perdido
nenhuma luta, ficou fascinado com as complexas técnicas do estilo Daito-ryu jujutsu.
Tornou-se então discípulo de Takeda, tendo-o inclusivamente convidado a viver consigo
para conseguir um ensino mais personalizado e acompanhando-o como assistente nas
viagens que Takeda fazia pela ilha para ensinar a sua arte.
Em 1919, Ueshiba abandonou a ilha de Hokkaido para regressar a Tanabe, pois
havia recebido a notícia de que o seu pai se encontrava muito doente. Durante a viagem
ouviu falar dos poderes curativos do líder da seita Omoto-kyo, Onisaburo Deguchi, e
dirigiu-se à localidade de Ayabe para o conhecer.
A seita Omoto-kyo advogava uma vida simples e ascética, regendo-se por uma
doutrina que defendia a harmonia e a paz, e Ueshiba ficou muito impressionado
sobretudo com o seu líder. Estes princípios haviam de se tornar fundamentais no
desenvolvimento do aikido, a arte da harmonia.
Após a morte de seu pai, Ueshiba mudou-se com a família para Ayabe e juntou-se à
seita Omoto-kyo, tendo sido incentivado por Deguchi a ensinar artes marciais, pelo que
abriu em sua casa um dojo privado em que passou a ensinar o sistema Daito-ryu.
Em 1922, Takeda visitou Ueshiba em Ayabe e concedeu-lhe licença formal para
ensinar o sistema Daito-ryu.
Em 1924, Ueshiba acompanhou Deguchi numa tentativa de estabelecer uma nação
utópica na Mongólia, mas esta foi uma tentativa que por pouco não culminou com as suas
mortes às mãos das autoridades chinesas.
Regressando ao Japão graças à intervenção do consulado nipónico, Ueshiba
retomou a sua vida simples em Ayabe, onde teve como alunos algumas altas patentes da
marinha, que acabaram por, impressionados pelas suas habilidades, organizar algumas
demonstrações em Tóquio.
Segundo Kisshomaru Ueshiba, no seu livro Aikido (1985), foi após ter vencido
desarmado um oficial da marinha empunhando um bokken (espada de madeira destinada
ao treino) que Morihei Ueshiba passou por uma experiência de iluminação transcendental,
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tendo afirmado a propósito: “Senti uma agitação súbita no universo, e um espírito dourado
surgiu da terra, envolveu o meu corpo e tornou-o num corpo dourado. Simultaneamente, o
meu corpo tornou-se luz. Adquiri a capacidade de compreender o sussurro das aves, e
tinha consciência clara da espírito de Deus, criador do universo. Nesse momento senti-me
iluminado: a origem do budo é o amor de Deus – o espírito da amorosa proteção de todos
os seres... o Budo não é a queda do adversário através da força, nem é uma ferramenta
para a destruição do mundo através das armas. O verdadeiro budo consiste em aceitar o
espírito do universo, manter a paz no mundo, produzir com correção, proteger e cultivar
todos os seres na natureza.”
Segundo a tradição, as capacidades marciais de Ueshiba tornaram-se muito
superiores.
Morihei Ueshiba acabou por se mudar para Tóquio em 1926, dedicando-se aí ao
ensino de artes marciais sobretudo às elites militares. Aí, após um período em que
ensinava em residências particulares, conseguiu abrir, em 1931, o Kobukan Dojo, atual
sede da fundação aikikai.
Neste período, continuou a ensinar o sistema Daito-ryu, embora se tenha afastado
progressivamente dos ensinamentos de Takeda, mantendo no entanto no cerne dos seus
ensinamentos um conjunto de técnicas que haviam de servir de base ao aikido.
Por alturas da segunda guerra mundial, o número dos seus alunos em Tóquio
reduziu drasticamente, o que levou Ueshiba a mudar-se para Iwama, onde havia ao longo
de alguns anos adquirido cerca de 7 ha de terreno e dedicou-se à agricultura, ao treino
intenso e à meditação, com o objetivo de desenvolver uma arte marcial cujo objetivo
fundamental é a resolução pacífica dos conflitos.
Na sua quinta fundou o Aiki Shuren Dojo, também conhecido como dojo de Iwama, e
passou a parte final da sua vida dedicando-se à agricultura, à meditação e à divulgação
do aikido, viajando profusamente pelo Japão e mesmo ao estrangeiro.
Morreu de cancro no fígado a 26 de abril de 1969.
CAPÍTULO II: HISTÓRIA E FUNDAMENTOS DO AIKIDO
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O aikido é uma arte marcial desenvolvida por Morihei Ueshiba. É o culminar de
uma longa vida dedicada ao estudo, ao treino e à meditação, com influências de várias
artes marciais, princípios filosóficos e crenças religiosas.
A palavra “aikido” corresponde à transliteração de três ideogramas kanji (sistema
de escrita japonês baseado no sistema chinês): 合 気 道 . 合 – ai – significa união,
combinação, harmonia. 気 – ki – significa espírito, energia. 道 – do – significa via,
caminho. Corresponde portanto o aikido a uma arte que almeja uma via para a
harmonização da energia vital, um caminho para a harmonia espiritual, e a sua
característica mais peculiar enquanto arte marcial é a importância dada à proteção do
oponente, que deve ser submetido, numa situação de confronto, sem ser ferido. Não
obstante, o objetivo maior de qualquer aikidoca é a resolução dos conflitos sem
necessidade do confronto, centrando a sua energia no desenvolvimento espiritual e
social, emulando o O Sensei, cujo objetivo era a paz, a harmonia universal.
Embora a utilização do termo “aikido” se tenha formalizado em 1942, no âmbito de
uma iniciativa governamental que visava o registo centralizado de todas as artes marciais
japonesas, não existem indicações acerca de quando esta designação começou a ser
utilizada. Certo é, todavia, que o próprio Ueshiba se referiu à sua arte, em momentos
evolutivos distintos, usando diferentes denominações.
Tendo praticado com afinco várias artes marciais na sua juventude (por exemplo
Tenjin Shin'yō-ryū com o mestre Tozawa Tokusaburo, Gotoha Yagyu Shingan-ryu com o
mestre Nakai Masakatsu de 1903 a 1908, e judo com o seu fundador, Kiyoichi Takagi), foi
o estilo que estudou em Hokkaido com Sokaku Takeda (Daito-ryu jujutsu ou,
posteriormente, Daito-ryu aiki-jujutsu), com as suas imbricadas e complexas técnicas, que
se tornou reconhecidamente o cerne da arte marcial posteriormente desenvolvida por
Ueshiba.
Sokaku Takeda era o herdeiro de uma longa linhagem de samurais, mestre de uma
arte algo obscura por via do secretismo que caracterizava a sua transmissão às novas
gerações, estritamente reservada à descendência familiar. Esta arte caracterizava-se, no
que toca às técnicas de mãos livres, por um conjunto de bloqueios, torções e chaves de
imobilização aplicadas às articulações, bem como ataques (atemi) a pontos vitais do
adversário, visando a vitória. Além disso, diz a tradição que Takeda era senhor de uma
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técnica, que designava por “aiki”, que lhe permitia uma espécie de domínio psicológico do
adversário e lhe permitia, portanto, vencê-lo sem sequer se iniciar o confronto físico1.
Ueshiba passou a ensinar o sistema Daito-ryu jujutsu, tendo-lhe incorporado técnicas com
armas, principalmente a espada (ken), em cujos movimentos se baseiam muitas das
técnicas do aikido.
O encontro de Ueshiba com o líder religioso Onisaburo Deguchi influenciou muito o
primeiro que, como vimos, se colocou ao serviço do segundo e se dedicou profundamente
aos princípios pacifistas da seita Omoto-kyo, que preconizava o amor universal e a
compaixão por aqueles que pretendem magoar os outros. Assim, Ueshiba distanciou-se
progressivamente dos ensinamentos de Takeda, procurando desenvolver uma arte capaz
de redirecionar harmoniosamente os ataques do oponente, de forma a garantir o bem
estar tanto daquele que se defende como daquele que ataca.
Este afastamento refletiu-se nas diferentes designações que Ueshiba deu à sua
arte, até que se cristalizou o termo aikido, formalizado em 1942: aiki-jujutsu, Ueshiba-ryu,
Asahi-ryu e aiki budo.
Na fase final da sua vida, em Iwama, Ueshiba tornou o aikido numa arte mais
suave, mais circular. Diminuiu o enfoque nas técnicas de ataque e deu mais ênfase às
técnicas que usam o ataque do adversário para redirecionar a sua energia e o dominar
sem o ferir. O aikido é também a arte da não resistência: se o atacante empurra, o
aikidoca aproveita o impulso do ataque e gira sobre si mesmo, redirecionando a energia
do ataque; se o atacante puxa, o aikidoca empurra e gira, tirando partido da força do
adversário.
Recorramos às palavras de Morihei Ueshiba para sintetizar a conceção que esteve na
origem do desenvolvimento do aikido: “O Caminho do Guerreiro [Budo] foi mal entendido.
Não é um meio para matar e destruir os outros. Aqueles que desejam competir e superar
os outros cometem um erro terrível. Esmagar, ferir, destruir é a pior coisa que um ser
humano pode fazer. O verdadeiro Caminho do Guerreiro é prevenir essa carnificina – é a
Arte da Paz, o poder do amor”2.
1 O sistema Daito-ryu esteve também na origem do Hapkido, pois o seu fundador, Choi Yong-sool, foi
discípulo de Sokaku Takeda
2 Hyodo, Rodger (2010). Adjusting Though Reflex: Romancing Zen. p. 76. (tradução nossa)
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Por isso não existem competições no aikido, e o único indivíduo que o aikidoca
pretende superar é a si mesmo.
O próprio Ueshiba defendia que cada pessoa devia descobrir o seu caminho, o seu
estilo, no aikido, e acabaram por surgir diversos estilos, alguns dos quais ainda em vida
do O Sensei, desenvolvidos por alguns dos seus discípulos diretos. Faz-se de seguida
uma breve referência aos principais estilos de aikido:
 A linha direta de Morihei Ueshiba é liderada presentemente pelo seu neto, o Doshu
Moriteru Ueshiba, que preside à Fundação Aikikai. Admitindo a diversidade técnica dentro
da organização, este estilo foca-se na fluidez.
 O estilo Iwama é uma nome dado ao estilo ensinado pelo O Sensei no dojo de
Iwama e desenvolvido por Morihito Saito. Inclui o estudo combinado de técnicas com
bastão, espada e mãos livres. Alguns dos praticantes deste estilo são filiados na
Fundação Aikikai.
 O estilo Shin Shin Toitsu, também conhecido por Ki-Aikido, caracteriza-se pela
subtileza dos movimentos e no desenvolvimento do ki (energia vital).
 O estilo Shodokan, fundado por Kenji Tomiki (daí ser tembém conhecido por Tomiki
Aikido) é o único que admite competição, sendo por isso muitas vezes alvo de críticas
pelos praticantes dos outros estilos.
 Fundado por Gozo Shioda, o estilo Yoshinkan concentra-se na eficiência em
combate, razão pela qual é frquentemente visto como um estilo duro (hard style) em
alternativa aos estilos concentrados na fluidez e na espiritualidade. É um dos estilos com
maior projeção internacional e é ensinado à polícia municipal de Tóquio.
 O estilo Korindo foi criado por Minoru Hirai, antigo discípulo do fundador no Aikikai
Hombu Dojo em Tóquio. Minoru Hirai foi o representante do dojo perante o Butoku-kai, em
1942, e por isso considerado o responsável pela formalização da designação “aikido”.
Em Portugal, existem inúmeras associações de aikido, sendo a modalidade
supervisionada pela Federação Portuguesa de Aikido.
CAPÍTULO III: O AIKIDO NAS FORÇAS DE SEGURANÇA
O aikido, não obstante a sua peculiaridade e especificidade advenientes das
influências que o enformam como uma arte que tem como propósito a harmonia e a paz,
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tem as suas raízes nas vetustas tradições do budo dos samurais e continua sendo, sem
sombra de dúvida, uma arte marcial.
Foi durante o período de serviço militar que Morihei Ueshiba começou a distinguirse como praticante de artes marciais. Já em Ayabe, na década de 20, por influência de
Deguchi, Ueshiba teve como discípulos algumas altas patentes da marinha nipónica, e foi
por intervenção destas que se organizaram as demonstrações em Tóquio que culminaram
na mudança de Ueshiba para a capital, onde se dedicou a ensinar as elites militares até
1942, altura em que, devido ao envolvimento do Japão na Segunda Guerra Mundial, o
número de alunos desceu drasticamente e ele se mudou para Iwama, onde viveu o resto
da sua vida.
Não é apenas na sua génese que o aikido se relaciona intimamente com as forças
militares: basta uma rápida pesquisa na internet para se encontrarem referências à
integração do aikido, ou pelo menos de parte do seu repertório técnico, no treino de várias
forças armadas, especialmente de corpos de intervenção especial.
Se alargarmos o escopo da nossa observação e considerarmos não apenas as
forças armadas, mas também as forças de segurança, militarizadas ou não, encontramos
em todo o mundo exemplos de aproveitamento do aikido para a formação de agentes da
autoridade, sobretudo na perspetiva da preparação de profissionais capazes de zelar pela
integridade de todos, incluindo os suspeitos que seja necessário colocar sob custódia.
Um dos mais antigos programas de formação de agentes da autoridade em vigor
foi concebido em 1957 por Gozo Shioda, discípulo de Morihei Ueshiba e fundador do
estilo Yoshinkan, orientado para a eficiência em combate e caracterizado por uma certa
rigidez e crueza dos movimentos. Esse programa, que continua em vigor, tem como
destinatários os agentes do corpo de intervenção (polícia anti-motim) de Tóquio.
Todos os anos, alguns dos elementos dessa força de segurança são selecionados
para um curso intensivo de onze meses, do início de abril de um ano ao final de fevereiro
do ano seguinte, do qual sairão qualificados como instrutores.
É considerado um dos mais duros cursos de artes marciais do mundo, que desde o
início dos anos 90 do século passado é aberto a alunos estrangeiros (num máximo de dez
em cada ano), que treinam ao lado dos elementos do corpo de intervenção da polícia de
Tóquio durante 11 meses, cinco dias por semana, das 7:30 às 15 horas.
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A violência dos treinos, que leva à desistência de muitos participantes logo nos
primeiros meses, é motivo de relatos frequentes e é o tema central do livro Angry White
Pyjamas, de Robert Twigger, publicado em 1997.
Pese embora o elevado número de relatos sobre as dificuldades e a violência dos
treinos, parece ser comummente partilhada a ideia de que é uma experiência que vale a
pena e que proporciona significativas alterações na forma de ver a vida. É o caso, por
exemplo,
do
relato
britânico
Andrew
Carter,
que
podemos
ler
em
http://www.japantimes.co.jp/community/2010/04/27/issues/battered-briton-survives-aikidoordeal/#.VPzPSM2sWkB, e que aí afirma: “my year in the dojo has had a profound effect
on me. It teaches you that you have to be focused, you have to predict what’s coming up
and study it and you have to be aware constantly of your own movements”.
Informações adicionais sobre este curso (International Senshusei Course), incluindo
relatos de alunos de anos anteriores e instruções para eventuais candidaturas, podem ser
encontradas em http://www.yoshinkan.net/03contentsE/course-sensyuE.html.
Além deste curso, destinado ao corpo de intervenção de da polícia de Tóquio, esta
fornece formação básica em aikido a todas as agentes do sexo feminino.
O aproveitamento do aikido para formação de forças de segurança espalhou-se
entretanto pelo mundo, existindo vários programas por exemplo no Brasil, nos Estados
Unidos da América, no Canadá, em outros países da América Latina e mesmo no Qatar.
O próprio Steven Seagal, quiçá um dos mais famosos aikidocas e o primeiro
ocidental a ensinar a arte no Japão, deu formação a muitos elementos de várias forças de
segurança norte-americanas, incluindo operacionais da CIA e agentes do FBI.
O instituto Koga, com sede na Califórnia, é uma instituição orientada para a
formação de agentes da lei e profissionais da segurança e oferece módulos de formação
de 40 horas, destacando-se o de técnicas de imobilização (nível 1 e nível 2), o de táticas
de defesa e o de técnicas com bastão.
No Brasil, o instituto Takemussu fomenta um programa de formação sob o lema
“eficiência sem violência” baseado em aikido que disponibiliza em todo o país para
polícias militares, polícias civis e profissionais de segurança “que necessitem aprisionar
pessoas sem causar lesões corporais”. É “um curso que permite aos participantes, em um
tempo relativamente curto (aproximadamente 6 meses [aulas de uma hora e meia, três
vezes por semana]), conseguir dominar técnicas de aprisionamento e controle que
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possibilitam o completo domínio e controle de um agressor ou um suspeito, sem causarlhe dano físico ou moral”.
Este curso, designado “Programa Básico de Defesa Pessoal e Técnicas de
Imobilização, Controle e Aprisionamento Policial”, versa sobre os seguintes tópicos:
• Atitude Mental do Agente de Segurança
• O Que são as Técnicas de Controle e Aprisionamento Policial
• Aplicação de técnicas de defesa contra apreensão dos pulsos
• Aplicação de técnicas de defesa contra aprisionamento dos ombros pela frente e pelas
costas
• Alavancas e projeções
• Técnicas de controle e condução
• Defesa contra ataques laterais com objetos contundentes
• Defesa contra ataques frontais com objetos contundentes
• Defesa contra ataques com Armas brancas
• Defesa contra Armas de fogo em contato e curtas distâncias
• Estratégias de confrontação com parceiros
• Aspectos da Legislação Brasileira quanto ao uso da força que podem responsabilizar os
policiais e agentes de segurança
• Aspectos da Medicina Legal que envolvem golpes traumáticos causados pelos policiais
e agentes de Segurança
• Avaliação
Se excetuarmos os tópicos diretamente relacionados com a realidade legal
brasileira, todos os tópicos deste curso incidem sobre técnicas do aikido.
Sob o mesmo lema (eficiência sem violência), o Aikidojo de Curitiba oferece aos
profissionais de segurança o curso TAKEPOL, uma formação modular que compreende
os seguintes módulos:
MÓDULO I – Capacitação BÁSICA de Imobilização e Algemação;
MÓDULO II – Capacitação AVANÇADA de Imobilização e Algemação;
MÓDULO III – Algemação Tática e Condução;
MÓDULO IV – Formação de Instrutores.
Ainda no Brasil, o Instituto Tachibana, como forma de contribuição voluntária para
o desenvolvimento social, oferece desde 2012 aos corpos de polícias militares, civis e
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federais aulas gratuitas e periódicas de DEFENSE, um programa orientado para as forças
de segurança desenvolvido pelo Instituto Maruyama de Aikido, do qual é filiado.
Estes são apenas alguns exemplos de programas de formação em aikido
destinados a agentes de segurança, entre outros que se poderiam referir. No entanto,
parece-nos ser mais pertinente agora questionarmo-nos: porquê aikido? Porque não outra
arte marcial? Que razões levam à proliferação de programas de formação baseados nesta
arte?
A resposta a todas estas questões encontra-se no cerne daquilo que é o aikido, a
via pacífica para a resolução dos conflitos, que procura proteger a integridade física do
próprio praticante e dos possíveis adversários, promovendo o desenvolvimento do
equilíbrio harmonioso entre todos.
Numa sociedade que se quer evoluída, respeitadora dos direitos humanos, a velha
ideia do agente da autoridade que recorria à força bruta para aprisionar os suspeitos,
culpados ou não, já não tem lugar.
Nos tempos que correm, as próprias normas legais são claras quanto às
atribuições do agente da autoridade, e penalizar os suspeitos sob que forma for não está
entre elas: perante a necessidade de controlar ou mesmo aprisionar um suspeito, o
agente da autoridade deve usar apenas da força necessária e proporcional ao seu
objetivo, de forma não só a proteger-se a si próprio e aos outros (incluindo os suspeitos)
como também a evitar possíveis consequências indesejadas, como ferimentos e até
processos criminais e cíveis por uso desproporcionado da força.
Perante a certeza de que a realidade leva muitas vezes os agentes da autoridade a
enfrentar situações de perigo iminente, mesmo de vida, da sua própria pessoa ou de
outros (vítimas ou perpetradores), torna-se necessário prepará-los para enfrentar essas
situações de forma eficaz, o que implica o desenvolvimento da capacidade de observação
e interpretação do que o rodeia, da aptidão para decidir e agir, do talento para manter a
calma e da habilidade para aplicar técnicas que lhe permitam enfrentar vários adversários
e subjugá-los sem os ferir.
A prática continuada do aikido promove o desenvolvimento de todas essas
valências: desenvolve a forma física (especialmente a resistência, a agilidade e a
flexibilidade); possui um reportório de técnicas eficazes para enfrentar múltiplos
atacantes, armados ou não, e diferentes tipos de ataques; aumenta a auto-estima dos
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praticantes e, sobretudo, proporciona um desenvolvimento pessoal que permite ao
aikidoca aprimorar a sua capacidade de auto-controlo: o aikidoca é capaz de enfrentar os
desafios com confiança, sem necessidade de recorrer à brutalidade ou à violência.
Além disso, a prática do aikido não exige qualquer forma física especial, nem força,
nem qualquer capacidade acrobática: os seus movimentos são todos naturais e qualquer
pessoa pode praticá-lo, não importando se é alta ou baixa, gorda ou magra, nova ou
velha, homem ou mulher. Mesmo o curso Senshusei, com a fama de ser um dos cursos
mais difíceis de aikido, não tem como pré-requesito qualquer prática em artes marciais
nem qualquer limite de idade (embora seja destinado a adultos e os candidatos
necessitem, portanto, de ter no mínimo 18 anos).
CAPÍTULO IV: TÉCNICAS NÃO INVASIVAS DE IMOBILIZAÇÃO
No início desta parte, impõe-se um aviso à navegação: proceder-se-á aqui a uma
descrição sucinta de algumas técnicas do repertório do aikido e da sua forma de
execução, mas em momento nenhum deve o presente ser tomado como um guia de
treino. O que se pretende é apenas registar e transmitir algumas ideias básicas acerca de
algumas técnicas, procurando demonstrar que estas poderão facilmente ser adequadas
ao contexto de um trabalho policial moderno e consciente dos direitos de todos os
cidadãos, almejando a segurança de cada um. O treino deve sempre, essencialmente por
razões de segurança e integridade, ser orientado por profissionais certificados.
A essência do aikido enquanto prática é o equilíbrio. O aikidoca aspira desenvolver
em si a capacidade de se manter calmo em qualquer situação, em completa harmonia
com o que o rodeia e, nessa medida, o equilíbrio físico não é senão uma manifestação
visível do equilíbrio interior, da harmonia espiritual. Não que o equilíbrio físico seja mero
produto do equilíbrio interior: são duas faces de uma moeda só, e desenvolvem-se a pari
passu.
No que toca à prática, o aikidoca procura, estático ou em movimento, uma posição de
equilíbrio, bem assente no solo através de dois (normalmente os pés) ou mais pontos de
apoio (os pés e os joelhos, quando em suwari waza). Associa-se vulgarmente a ideia de
equilíbrio do aikidoca à figura de esfera, que representa também o seu mundo, o seu
universo. A figura circular assume no mundo do aikido uma simbologia muito especial,
pois associa-se à harmonia, à totalidade, à perfeição. Grande parte das técnicas do
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repertório do aikido socorre-se de movimentos circulares, que permitem o
redirecionamento da força do oponente e dominá-lo sem o magoar.
Outra figura geométrica importante neste mundo é o triângulo: quando de joelhos,
as pernas do aikidoca assumem a posição triangular (os pés, juntos, formam um dos
vértices, enquanto cada um dos joelhos corresponde aos outros dois); a movimentação
do aikidoca, principalmente no que toca às esquivas, é feita seguindo as linhas do
triângulo.
Embora um aikidoca experimentado esteja preparado para enfrentar vários
oponentes, a sua formação deve começar numa situação de um para um, e neste
contexto vamos cingir-nos a essa realidade.
Na verdade, a designação mais adequada para aquele que enfrenta o aikidoca não
é oponente, nem adversário, mas colaborador, pois sem ele o aikidoca não pode executar
a técnica. Além disso, é importante por diversas razões que o aikidoca passe tanto tempo
de treino a executar a técnica como a servir de colaborador para o outro praticante aplicar
a técnica em si. Desta forma, o aikidoca pode tomar perfeita consciência da eficácia da
técnica, que pode ir aprimorando.
Designa-se “tori” aquele que executa a técnica e “uke” aquele que ataca,
permitindo ao seu parceiro a execução da técnica. Ao longo do treino, os praticantes
devem alternar o seu papel como tori e uke.
Ambos os praticantes podem treinar em pé (tachi waza), ou ambos de joelhos
(suwari waza), ou ainda o tori de joelhos e o uke em pé (hanmi handachi waza).
Parte integrante do conceito de equilíbrio e harmonia é a distância de segurança que
deve ser mantida no início, meio e fim de cada técnica (mahai).
O uke pode atacar de diversas maneiras: de mãos vazias ou com objetos cortantes
ou contundentes. No treino, usam-se normalmente três armas de madeira: o bokken
(sabre), o jo (bastão/vara com cerca de 1,28 cm) ou o tanto (punhal). O ataque pode ser
vertical, de cima para baixo, em direção à cabeça do tori (shomen uchi); lateral, no sentido
descendente, em direção à parte lateral da cabeça; frontal, sobe a forma de murro – com
mão vazia – ou golpe de arma direto (tsuki), que pode ser executado a diversos níveis (da
zona ventral à zona do rosto).
O ataque pode concretizar-se também com o uke, posicionado frente ao tori,
agarrando um pulso deste (em espelho – katate dori – ou cruzado – katate kosa dori),
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agarrando ambos os pulsos do uke (ryote dori), agarrando um dos pulsos do uke com
ambas as mãos (katate ryote dori ou morote dori). Todos estes ataques, que implicam a
preensão dos pulsos, podem ser executados sobre diversos pontos das mangas, ao nível
dos ombros e ao nível do peito, agarrando as abas do casaco, e também podem ser
executados por trás. Podem ainda ser aplicados ataques combinados, por exemplo
agarrando com uma mão ao nível do ombro e com a outra aplicando um ataque vertical
descendente dirigido à cabeça. Além disso, são ainda possíveis os ataques sob a forma
de pontapé.
Para fazer frente a cada um destes ataques, o tori pode recorrer a diversas
técnicas de imobilização e de projeção do uke, a maior parte das quais implica a ida ao
tapete deste último, pelo que é importante que o uke domine as técnicas de
amortecimento da queda e os rolamentos (mae ukemi – rolamento à frente – e ushiro
ukemi – rolamento atrás).
Do conjunto de técnicas ao dispor do aikidoca, centrar-nos-emos agora naquelas
que terminam com a imobilização do uke e que facilmente podem ser adaptadas para a
algemação segura de um suspeito – segura tanto para o agente da lei como para o
suspeito.
Enfrentando um ataque, o aikidoca deve antes de mais nada preocupar-se com a
esquiva, saindo da linha de kensan (linha de trajetória do ataque) ou interceptando-o
numa fase incipiente, antes que se torne perigoso, através da antecipação. A
antecipação, fruto de um treino continuado que permite o aprimoramento da atenção do
aikidoca ao que o rodeia, pode tornar-se num elemento decisivo para a resolução de uma
potencial situação de conflito sem deixar contretizar-se o confronto.
Boa parte das técnicas conducentes à imobilização de um atacante (e mesmo do
seu desarme, caso a situação o exija), baseia-se num conjunto de cinco princípios
organizados por Morihei Ueshiba designados, com muita propriedade, como primeiro,
segundo, terceiro, quarto e... quinto (mais simples era impossível)! Ou, no equivalente
transliterado do japonês, ikkyo, nikyo, sankyo, yonkyo e gokyo.
Assentes no princípio da não-resistência e no aproveitamento do impulso ou da
força do atacante, estas técnicas permitem a imobilização articular do mesmo a partir de
diversos tipos de ataques e podem ser executadas de duas formas, ambas implicando o
seu desequilíbrio: rompendo o centro de gravidade do uke para a frente (omote) ou
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rodando sobre o seu eixo para trás de si (ura). Dependendo do lado de que provém o
ataque, a técnica pode ser executada tanto para a direita como para a esquerda.
Para efeitos de exemplificação, embora como já ficou registado cada uma destas
técnicas possa ser usada como resposta a diversos tipos de ataque, passaremos a
descrever sumariamente cada técnica em relação a um ataque.
À falta de melhor ordenação, comecemos pelo primeiro:
1. Ikkyo (primeio principio – ressecção dum ataque direto com desvio lateral e
consequente imobilização do oponente)
2. Nikyo (segundo principio – receçao de um ataque com consequente imobilização
do pulso com torção do oponente)
3. Sankyo (terceiro principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e
consequente imobilização do oponente com bloqueio do cotelo da mão desviando
da linha de ataque)
4. Yonkyo (quarto principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e
consequente imobilização pulso do oponente na zona do radio/cubito)
5. Gokyo (primeio principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e
consequente imobilização do oponente pressupondo a utilização duma faca/punhal
libertando esta da poder ser utilizada)
6. Hiji Kime Osae (libertação dum ataque de agarro lateral na roupa junto ao ombro
por forma a permitir, não só a libertação e imobilização do oponente como também
o controlo do mesmo)
7. Ude Garami (imobilização com ataque de braco (agarro ou não) e consequente
controlo do oponente até este ficar com p eito no chão)
8. Kote Gaeshi Osae (receção de um ataque com consequente torção do pulso com
bloqueio da mão pressupondo a existência dum punhal e torcendo até a mesma
caia para o solo mantendo a mao sempre imobilizada)
9. Shiho Nage Osae (receção de qualquer ataque recebendo-o frontalmente e
controlando o oponente passando por baixo do braco dele e imiblizando-o ate
chegar ao solo sem que o mesmo consiga escapar-se)
10. Irimi Nage Osae (receção de qualquer ataque com imobilização do pescoço do
oponente)
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CAPÍTULO V: PLANO DE FORMAÇÃO
Apresenta-se de seguida um plano de formação modular de elementos das forças
policiais destinado ao desenvolvimento de competências de atuação harmoniosa e segura
perante a necessidade de imobilizar e apreender um suspeito, atuando no respeito pelos
direitos humanos e pela integridade física de todos os envolvidos. A modularidade deste
plano, baseado no espírito e técnicas do aikido, permitirá uma calendarização flexível,
adequada às necessidades e disponibilidade de formandos e formador, calendarização
essa que poderá concretizar-se quer de forma intensiva e concentrada em alguns dias
sucessivos, quer de forma mais prolongada no tempo, por exemplo em horário pós-laboral
ou em dias específicos da semana ou fim-de-semana.
Prevemos neste plano três módulos distintos de formação, para os quais se
definem os destinatários, a duração, os pré-requisitos, uma súmula dos conteúdos e o
material necessário. Neste contexto, consideramos adequada a dispensa de
apresentação das razões justificativas para este plano de formação, uma vez que isso é
feito de forma copiosa em momentos anteriores do trabalho.
O perfil do formador deve compreender a habilitação e a experiência de treinador
de aikido e conhecimentos aprofundados do funcionamento das forças de segurança.
MÓDULO I – Formação básica em técnicas não invasivas de imobilização – Nível 1
Destinatários
Agentes da autoridade / elementos das forças policiais
Duração
40 horas
Pré-requisitos
Nenhum
Conteúdos
. Atitude mental do agente de autoridade
. O que são técnicas não invasivas de imobilização
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. Aplicação de técnicas contra preensão dos pulsos
. Aplicação de técnicas contra preensão dos ombros pela frente e pelas costas
. Aplicação de técnicas contra ataques sem armas
Sob os seguintes ataques (efetuados sem armas):
- Katate dori
- Katate kosa dori
- Morote dori
- Ryote dori
- Katadori
- Shomen uchi
- Yokomen uchi
- Tsuki
aplicar estas técnicas:
- Ikkyo (omote e ura)
- Nykyo (omote e ura)
- Shiho nage osae (omote e ura)
- Irimi nage osae
- Kote gaeshi osae
Material necessário
. Sala espaçosa (ginásio ou similar)
. Tatami
. Roupa confortável, adequada à atividade física / dogi
. Algemas
MÓDULO II – Formação básica em técnicas não invasivas de imobilização – Nível 2
Destinatários
Agentes da autoridade / elementos das forças policiais
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Duração
40 horas
Pré-requisitos
Frequência, com aproveitamento, do Módulo I
Conteúdos
. Aplicação de técnicas contra preensão dos pulsos
. Aplicação de técnicas contra preensão dos ombros pela frente e pelas costas
. Aplicação de técnicas contra ataques sem armas
Sob os seguintes ataques (efetuados sem armas):
- Katate dori
- Katate kosa dori
- Morote dori
- Ryote dori
- Katadori
- Shomen uchi
- Yokomen uchi
- Tsuki
aplicar estas técnicas:
- Sankyo (omote e ura)
- Yonkyo (omote e ura)
- Gokyo (omote e ura)
- Hiji kime osae
- Ude garami osae
Material necessário
. Sala espaçosa (ginásio ou similar)
. Tatami
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. Roupa confortável, adequada à atividade física / dogi
. Algemas
MÓDULO III – Formação avançada em técnicas não invasivas de imobilização
Destinatários
Agentes da autoridade / elementos das forças policiais
Duração
40 horas
Pré-requisitos
Frequência, com aproveitamento, do Módulo II
Conteúdos
. Aplicação de técnicas contra ataques com objetos contundentes
. Aplicação de técnicas contra ataques com armas brancas
. Aplicação de técnicas contra armas de fogo em contacto e em curtas distâncias
Material necessário
. Sala espaçosa (ginásio ou similar)
. Tatami
. Roupa confortável, adequada à atividade física / dogi
. Algemas
CONCLUSÕES
Cremos ter conseguido atingir os objetivos que nos propusemos no início do
trabalho: apresentámos sucintamente o aikido, demonstrámos a pertinência da utilização
desta arte como instrumento dos agentes das forças de segurança quer pelas suas
características intrínsecas, centradas na harmonia e no bem-estar de todos, quer pela
análise feita às experiências dessa utilização em diversos países, e propomos um plano
de formação que, embora ambicioso, consideramos exequível, sobretudo pela sua
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modularidade, que lhe confere uma flexibilidade que permite a sua adaptação a diferentes
exigências, principalmente as de disponibilidade de calendário.
Tendo em consideração a pertinência desta arte marcial poderá ser implementada
em qualquer força de segurança pois defende os ideias dos dias de hoje em qu o menor
uso da força prefere á força bruta na detenção e controlo de um individuo agressivo ou
que necessite de ficar imobilizado por um período de tempo.
BIBLIOGRAFIA
Bull, Wagner. Aikido O Caminho da Sabedoria - A Técnica. Editora Pensamento,
2004.
Hyodo, Rodger (2010). Adjusting Though Reflex: Romancing Zen.
Pranin, Stanley (2008). "Ikkyo". Encyclopedia of Aikido.
http://www.aikidojournal.com/encyclopedia)
(disponível
em
Ueshiba, Kisshomaru. A arte do aikido. Editora Pensamento-Cultrix, 2006.
http://en.wikipedia.org/wiki/Aikido
http://en.wikipedia.org/wiki/Morihei_Ueshiba
http://en.wikiquote.org/wiki/Morihei_Ueshiba
http://www.aikidobc.com/tokyo-riot-police/
http://www.aikidocwb.com.br/aikido_policial_14.html
http://www.aikidojoinville.com.br/defense.php
http://www.japantimes.co.jp/community/2010/04/27/issues/battered-briton-survivesaikido-ordeal/#.VS6_lXXd-kB
http://www.kogainstitute.com/about/sensie/
http://www.santosaikikai.com.br/oque-e-aikido
http://www.yoshinkan.net/03contentsE/course-sensyuE.html
https://antoniogalrinho.wordpress.com/aikido/tecnica-e-pedagogia/
ANEXO I (descrição pormenorizada das técnicas base deste
modelo de treino)
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Ikkyo (primeio principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e
consequente imobilização do oponente)
Perante um ataque vertical dirigido à cabeça (shomen uchi) executado com a mão
direita, o tori, mantendo os braços esticados, com as mão abertas, desvia o golpe do uke
para a sua direita empurrando o pulso direito do uke com o seu pulso direito, descrevendo
um arco no sentido horário com as mãos, ao mesmo tempo que se desvia da linha de
kensan para a direita, avançando um passo com o pé direito. Chegando com a mão
direita sensivelmente à posição entre as quatro e as cinco horas, esta coloca-se por trás
do pulso do uke, puxando, ao mesmo tempo que a mão esquerda agarra o braço logo
atrás do cotovelo, empurrando, formando assim um efeito de alavanca, com o cotovelo do
uke abaixo do nível da sua mão. Então, mantendo os braços esticados, de forma a ser o
corpo a trabalhar e não a força braçal, rompe-se o centro de gravidade do uke avançando
um passo com o pé esquerdo na sua direção e, logo a seguir, sempre numa
movimentação triangular, dá-se um passo com o pé direito, para a direita, baixando ao
mesmo tempo o centro de gravidade, para forçar o uke a ir ao tapete. Este conjunto de
movimentos, executados de forma sequencial e fluida, permitem o completo desequilíbrio
do oponente que, nesta altura, se encontra no solo, de barriga para baixo, submetido ao
peso do tori colocado estrategicamente sobre o seu cotovelo. Esta é a variante omote,
com execução pela frente do uke.
Na versão ura, perante o mesmo tipo de ataque, o tori deve interceptá-lo um pouco
antes, avançando um passo com o pé esquerdo, segurando o pulso direito do uke com a
mão direita e agarrando logo atrás do cotovelo com a mão esquerda, de forma que o seu
próprio cotovelo esquerdo se aproxime das costelas do oponente. De seguida, com
fluidez, deve rodar para fora (recuando o pé direito), ao mesmo tempo que, aplicando
uma ligeira torção no pulso do uke e colocando peso no seu cotovelo, faz descer o seu
braço, de forma progressiva, até ao chão. A imobilização final é semelhante à da versão
omote, com, o peso do corpo estrategicamente colocado sobre o cotovelo do uke.
Nikyo (segundo principio – receçao de um ataque com consequente imobilização
do pulso com torção do oponente)
O princípio da movimentação circular, com as mãos abertas e os braços esticados,
prescrito para o primeiro princípio está presente nos restantes quatros, que se distinguem
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do primeiro e entre si essencialmente pelos pontos articulares sobre os quais é exercida a
pressão para imobilizar.
Assim, perante o mesmo tipo de ataque, a execução omote do segundo princípio
distingue-se da execução omote do primeiro pelos seguintes pormenores: quando a mão
direita chega, no seu movimento circular horário, ao tal ponto entre as quatro e as cinco
horas, em vez de se colocar por trás do pulso do uke, deve agarrar a mão direita do uke
por trás, pressionando na direção uma da outra as articulações da base da falange do
mindinho e do polegar, ao mesmo tempo que força a mão do uke para dentro, formando
um ângulo de cerca de 90 graus da mão em relação ao braço; a imobilização final, ao
invés de ser executada com o braço do uke esticado no chão, é executada com o braço
na vertical, pelas costas do uke, e pressionando as articulações do pulso e do cotovelo
para dentro.
Na forma ura, em vez de se agarrar o braço direito do uke pelo cotovelo com a mão
esquerda, deve levar-se esta ao pulso direito e, aproveitando o movimento descendente
do braço do uke para o desequilibrar, agarrar a mão direita por fora com a mão direita,
conforme descrito para a versão omote. Depois, deve subir-se a mão direita do uke e
aplicar uma adução ao pulso, provocando uma compressão do osso pisiforme (pequeno
osso da mão) e a ulna (osso do antebraço), o que pode ser feito simplesmente com as
mãos ou com o apoio do tronco ou mesmo da cabeça. Esta é generalizadamente
reconhecida uma das pressões mais dolorosas a que o uke pode ser sujeito, pois
estimula os nervos periostais, e pode mesmo conduzir a lesões, especialmente se
executada por quem não saiba o que está a fazer e sem supervisão. A dor resultante
dessa pressão provoca o desequilíbrio do uke (e é apenas isso que o aikidoca deve
procurar, e não infligir dor), o que é aproveitado para o submeter, levando-o ao tapete
com rotação por trás, e para o imobilizar conforme descrito para a forma omote.
Sankyo (terceiro principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e
consequente imobilização do oponente com bloqueio do cotelo da mão desviando da
linha de ataque)
Sankyo, ou terceiro princípio, pode também ser executado como resposta a vários
ataques. Suponhamos que o ataque consiste em o oponente agarrar o nosso pulso direito
com a sua mão esquerda: neste caso, devemos, ao mesmo tempo que saímos da linha
de ataque ligeiramente para a a nossa direita, descrever um círculo em sentido antihorário
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com a mão direita, aberta, e mantendo o braço esticado. Chegando com a mão
sensivelmente à posição das nove horas, podemos segurar na mão esquerda do uke com
e nossa mão esquerda, pressionando a base do seu polegar com o nosso polegar
esquerdo e a base do mindinho com os restantes dedos, o que nos permite libertar a mão
direita, com a qual podemos segurar na mão do uke, colocando o polegar direito sobre a
base do polegar esquerdo do uke e os restantes dedos sobre a sua palma, o que nos
permite aplicar uma torção para dentro e, descrevendo um arco como quem corta com a
espada, entrar para a frente e levar o uke ao tapete, imobilizando-o torcendo a mão para
dentro e para cima.
A versão ura distingue-se da anterior pelo facto de, ao invés de entrar para a frente
do uke, se rodar para trás deste, após provocar-lhe o desequilíbrio fazendo-o recuar com
a rotação do nosso corpo para a direita e, eventualmente, aplicar-lhe um atemi (golpe)
com a mão esquerda em direção à cara, apenas com o propósito de o desequilibrar.
Yonkyo (quarto principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e
consequente imobilização pulso do oponente na zona do radio/cubito)
Enfrentando uma situação, por exemplo (pois a técnica pode ser aplicada como
resposta a outros ataques), em que o atacante segura com a sua mão direita a nossa
mão direita (katate kosa dori), a aplicação do quarto princípio concretiza-se através da
descrição de um círculo no sentido horário com a nossa mão direita, mantendo o braço
esticado e por ação da cintura, o que permite a exposição do flanco direito do uke e a
utilização da nossa mão esquerda para, segurando por trás do cotovelo direito do uke e
mantendo o seu braço dobrado, o submeter, o que permitirá que avancemos para ele e
seguremos com a nossa mão esquerdo o interior do seu pulso direito, aplicando a base
do nosso indicador, esticado, sobre o nervo radial do uke. A imobilização pode ser feita,
mantendo a pressão sobre o nervo radial, encostando o cotovelo do oponente ao chão e
colocando o peso do nosso joelho esquerdo sobre o ombro do uke.
A versão ura desta técnica distingue-se apenas da descrita no parágrafo anterior
(omote) pelo facto de se proceder a uma rotação para trás do uke, em vez de avançar
para a frente rompendo a seu centro de gravidade.
Gokyo (primeio principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e
consequente imobilização do oponente pressupondo a utilização duma faca/punhal
libertando esta da poder ser utilizada)
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Gokyo, o quinto princípio, é particularmente útil para imobilizar um atacante
armado, por exemplo com punhal. Supondo que enfrentamos um ataque frontal comum
golpe de punhal dirigido à altura do peito executado com a mão direita, saímos da linha
da ataque recuando e rodando o pé direito, enquanto desviamos o braço atacante
encostando o nosso pulso ao interior do pulso do aponente. Segura-se de seguida com a
mão direita a mão direita do uke, pressionando a base do polegar direito com o nosso
polegar e a base do mindinho com os restantes dedos, faz-se uma rotação no sentido
horário e, segurando por trás do cotovelo direito com a nossa mão esquerda, mantendo
os braços esticados, avançamos, rompendo o equilíbrio do uke e levando-o ao tapete,
após o que se procede à imobilização dobrando o seu cotovelo e encostando as costas
da mão ao chão. Esta posição, com uma ligeira pressão sobre o cotovelo, obriga à
abertura da mão, o que proporciona o desarme.
A versão ura distingue-se da anteriormente descrita por uma rotação para fora do
oponente, em vez de se avançar em diração ao seu centro de equilíbrio, após a preensão
do seu braço logo atrás do cotovelo.
Hiji Kime Osae (libertação dum ataque de agarro lateral na roupa junto ao ombro
por forma a permitir, não só a libertação e imobilização do oponente como também o
controlo do mesmo)
Perante, por exemplo, um atacante que nos agarra com a mão esquerda na roupa
junto ao ombro direito, recuamos rodando o pé direito, enquanto, para o distrair,
executamos um golpe em direção à sua cara com a mão esquerda, recuando-a logo de
seguida ao longo do braço esquerdo do uke até agarrarmos a sua mão pelo lado de fora,
pressionando o polegar sobre a base do seu polegar e os restantes dedos sobre a base
do mindinho e desenhando um movimento circular no sentido antihorário, auxiliando esse
movimento com a nossa mão direita empurrando logo atrás do cotovelo esquerdo do
oponente. No final dessa rotação, a nossa mão direita desliza para o pulso esquerdo do
uke, enquanto colocamos o seu braço entre o nosso corpo e o nosso braço direito. A
imobilização é feita através da elevação da mão, com a articulação do pulso fechada, e a
descida do nosso centro de gravidade, com inclinação do ombro direito, o que obriga à
submissão do oponente.
Ude Garami (imobilização com ataque de braco (agarro ou não) e consequente
controlo do oponente até este ficar com p eito no chão)
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Mediante um ataque consistindo numa preensão de ambos os pulsos, por exemplo
(a técnica pode aplicar-se como resposta a outros ataques), avançamos o pé de trás
(suponhamos o esquerdo) e a mão do mesmo lado por baixo do braço oposto do uke,
subindo a mão, dobrando o cotovelo e puxando para nós, provocando o estiramento do
braço do oponente (o esquerdo, neste exemplo). Este movimento provoca desconforto no
uke, desconforto esse que deve ser aproveitado rodando o braço direito no sentido
antihorário, recuando e rodando o pé esquerdo e envolvendo o braço do uke, que é
levado com esse movimento ao chão e imobilizado de ventre para baixo.
Kote Gaeshi Osae (receção de um ataque com consequente torção do pulso com
bloqueio da mão pressupondo a existência dum punhal e torcendo até a mesma caia para
o solo mantendo a mao sempre imobilizada)
Supondo que nos encontramos numa posição de alerta com o pé esquerdo à frente
e enfrentamos um ataque direto à nossa região abdominal, rodamos sobre o nosso pé
esquerdo para fora, o que nos permite agarrar com a mão esquerda o pulso do atacante e
desequilibrá-lo aproveitando o impulso da rotação de esquiva para o empurrar. Saímos
então com o pé esquerdo para fora e, usando a mão direita sobre os dedos esquerdos do
uke descrevendo uma onda para lhe enrolar a mão, entramos para ele, empurrando o seu
cotovelo em direção ao seu umbigo, o que provoca a sua queda de costas. Sempre sem
largar o seu pulso, mantemos o seu braço dobrado e empurramos com a mão direita o
seu cotovelo em direção à sua orelha, o que o força a virar-se sobre a sua barriga.
Depois, podemos imobilizá-lo simplesmente colocando o nosso joelho esquerdo sobre o
início do seu antebraço.
Shiho Nage Osae (receção de qualquer ataque recebendo-o frontalmente e
controlando o oponente passando por baixo do braco dele e imiblizando-o ate chegar ao
solo sem que o mesmo consiga escapar-se)
Perante um ataque lateral dirigido à nossa cabeça – yokomen uchi – , por exemplo
(pois esta técnica pode também ser aplicada como resposta a outros tipos de ataques),
executado com a mão esquerda, devemos responder avançando e erguendo o braço
direito de forma a desviar o braço atacante empurrando o seu pulso com o nosso pelo
interior, ao mesmo tempo que aplicamos um atemi dirigido à face do atacante com a
nossa mão esquerda, apenas para o distrair. O nosso pulso direito, que iniciou o
movimento afastando o pulso esquerdo do uke, deve descrever um círculo no sentido
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2015
horário, ao mesmo tempo que a nossa mão esquerda deve agarrar o interior do pulso
esquerdo entretanto exposto do uke. Mantendo os nossos braços esticados, devemos
então passar por baixo do braço esquerdo do uke e rodar sobre os nossos pés para
inverter a direção da nossa posição, o que nos permite segurar o pulso do uke dobrado
sobre o seu ombro. Resta-nos puxar em direção ao nosso centro de gravidade, o que
provoca a ida ao tapete do atacante, que podemos imobilizar mantendo o seu pulso
dobrado junto do seu ombro.
Irimi Nage Osae (receção de qualquer ataque com imobilização do pescoço do oponente)
Quando um atacante nos agarra o pulso direito com a sua mão esquerda (de novo, é
apenas um exemplo, pois a técnica pode ser aplicada contra outros ataques), podemos
aplicar esta técnica saindo da linha de ataque e aproveitar o impulso do ataque para,
colocando o nosso pulso direito sob o nosso pulso esquerdo e sobre o pulso direito do
atacante, puxar o braço direito do atacante, ao mesmo tempo que, colocando-nos ao lado
dele, usamos a mão esquerda, entretanto liberta, para puxar a sua cabeça para junto do
nosso ombro direito. Invertendo entretanto o sentido do nossa rotação, fechamos o braço
direito sobre o pescoço do uke, sobre as costas do qual entretanto nos colocámos,
imobilizando-o com uma pressão lateral no rosto.
CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | Nº 24 | novembro de 2015
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