A utopia e o possível - Rede Metodista de Educação

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A utopia e o possível - Rede Metodista de Educação
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Quarenta anos
do golpe
de Estado de 1964
A utopia e o possível:
contra um realismo político e educacional
Utopia and the possible:
against political and educational realism
Danilo Di Manno de Almeida
Doutor em Filosofia pela Universidade de Paris
Docente e pesquisador do Programa de Mestrado em Educação da UMESP
R e s u m o
Analisando o que se convencionou chamar de “abertura política” após o regime militar, este texto fala sobre o que julga
um “excesso” de realismo, em suas diversas formas – geral, político, cultural, educacional etc. Comenta como esse
realismo diminui as utopias e coloca em risco possibilidades de transformação. O artigo discorre a respeito do efeito do
realismo na política e nas instituições educacionais. Também insere o mercado e as relações mercadológicas nesse
contexto. Afirma que ideologia e utopia se complementam e avalia esta como um instrumento de resistência.
Unitermos: utopia, realismo, mercado, ideologia, unidimensionalidade.
Synopsis
Analyzing what is commonly referred to as “the political opening up” which followed the military regime in Brazil, this
text deals with a supposed excess of realism in its various forms – general, political, cultural and educational. The
suggestion is made that the approach taken by realism diminishes the notion of utopia and as such, diminishes the
possibilities that exist for real transformation. The article also discusses the effect of realism on political and educational
institutions and talks about the market, contextualizing market activity in during this period. The assertion is made that
together, ideology and utopia are valuable agents of resistance.
Terms: utopia, realism, market, ideology and one dimensionality.
Resumen
Al analiza
analizar lo que se ha convencionado llamar de “apertura política” después del régimen militar, este texto habla sobre
lo que juzga ser un “exceso” de realismo, en sus diversas formas – general, político, cultural, educacional etc. C omenta
cómo ese realismo disminuye las utopías y pone en riesgo las posibilidades de transformación. El artículo habla a
respecto del efecto del realismo en la política y en las instituciones educacionales. También añade el mercado y las
relaciones mercadológicas a ese contexto. Afirma que la ideología y la utopía se complementan y evalúa la última como
un instrumento de resistencia.
Términos: utopía, realismo, mercado, ideología, unidimensionalidad.
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s tempos tristes e mortais vividos sob o recente regime militar foram enfrentados por muitos
com resistência, reacendendo intensa efervescência e criatividade em
vários sentidos, político, cultural,
educacional. Após esse período,
convencionou-se que foi instalada
uma “abertura política” no Brasil, a
qual não fez senão metamorfosear,
quando não deixou explícito as mesmas investidas contra projetos e
ações de transformação das condições existentes. Talvez essa insistência “hegemônica” tenha gerado, do
ponto de vista da resistência, um certo estupor político coletivo. O estupor é aquele estado em que mesmo
estando a consciência desperta, o
doente sente dificuldades de reagir
a questionamentos, a estímulos externos, permanecendo numa posição
estática. A relativa consciência política se perde numa imobilização social – com as raras exceções, simbolizadas pela perseverança do MST e
de algumas ONGs – perigosamente
contagiante. A situação exige que nos
arrisquemos e, por isso, gostaria de
arriscar um diagnóstico: ficamos doentes de realismo – realismo geral,
político, social, cultural, sexual, científico, econômico, educacional, entre
tantos. Nesse vácuo de tantas coisas,
não é estranho que apareçam os realistas cavaleiros do Apocalipse anunciando a “finalização” de uma época:
fim da ciência, da religião, do marxismo, do cientificismo, do evolucionismo, da ideologia, da história... Fim
da utopia.
Nessa orquestração em tom de
finale, a utopia, em particular, ganhou
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A utopia passa a ser
designada como
“utopia possível”
A relativa consciência
política se perde
numa imobilização
social perigosamente
contagiante
Fim da utopia
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uma seriedade realista. É o momento da sua aprendizagem política recente, no qual lhe são ensinadas as
grandes “lições” da história e de suas
eventuais transformações. Sendo a
política a “arte do possível”, o momento de estágio político atual da
utopia assegura ao utópico a pertinência política que lhe faltava. A utopia, então, passa a ser designada
como “utopia possível”.
O que para muitos pode ser sinal
de “maturidade” utópica, pode ser visto como decadência utópica. Decair
utopicamente é lançar-se irrefreavelmente ao topos1, o que se traduz em
redirecionar toda manifestação utópica à tarefa de perfectibilidade do atual estado de coisas. Decair utopicamente também é submeter a utopia
às condições de possibilidades
topológicas existentes, exigindo dela
a construção da “melhor das sociedades possíveis” – alusão de Marx no
Manifesto do partido comunista à
Leibniz, para designar a maneira
como a burguesia representava para
si mesma seu domínio.
Que a utopia esteja sempre
referenciada ao topos, e que isso seja
salutar, é coisa que veremos a seguir.
Que ela seja dependente do topos, é
algo bem inquietante. Que, segundo
Paulo Freire, a vocação para ser mais
exija o “envolvimento permanente no
domínio do político, refazendo sempre as estruturas sociais econômicas,
em que se dão as relações de poder
e se geram as ideologias” 2, isso não
implica rendição utópica às condições de possibilidade políticas do
presente. Nesse sentido, a objeção
mais significativa deste texto consis-
1
“Topos” é um termo utilizado para expressar o estado do realismo, estado de coisas vigentes, as condições presentes, o
status quo, enfim. “Topologia”, “topológicas” têm o mesmo sentido e se opõem a “utopia” e a “utópica”.
2
Paulo Freire. Política e educação
educação, 6ª ed., 2002, p. 10.
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te em denunciar e recusar o domínio
político da utopia.
Se a política é a arte do possível,
então é preciso prestar atenção, primeiramente, ao possível da “utopia
possível” ou seja, às condições de
possibilidades (potencialidades) políticas presentes. O problema é que a
política é mais do que “arte do possível”, ela também é arte da simulação
e dissimulação, do enfraquecimento
das resistências, da sedução, da manipulação. A política gera e regenera
esse sentimento de estupor político.
Nisso consiste o realismo que nos
adoece, deixa pequenas nossas utopias, quer dizer, as reduz ao tamanho
das possibilidades políticas do presente, fazendo-as instrumentos de
aperfeiçoamento do “melhor dos
mundos possíveis”, definindo as possibilidades topológicas da utopia.
Esse é o contra-senso utópico de tal
utopia, que é de ser pequena e global. Ou o mundo ficou pequeno ou
as utopias do topos apequeneram o
mundo, transformando-o em único
mundo.
Tudo isso não acontece sem insistentes investidas políticas unilaterais que minam as resistências e as
possibilidades plurais de transformação, seduzem e infiltram o sentimento de amor ao “real”, à “realidade”,
às “efetivas possibilidades” da política, às coisas tais como “elas são”.
Assim é gerado o ideal do realismo,
que é o ideal da coincidência entre a
utopia e as nossas possibilidades
concretas, dadas pela ideologia e eficácia do presente estado de coisas.
Um boletim registra o agravamento
do estado doentio de realismo: per-
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A política é mais do
que “arte do possível”
A cessão de direitos
utópicos corresponde
à abdicação de
direitos políticoeconômicos
Campo educacional é
também um lugar
estratégico
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manência do quadro de estupor e risco de desfalecimento das possibilidades de transformação da política e da
topologia vigentes.
Poderíamos voltar os olhos para
o campo educacional e buscar nas
suas instituições algumas alternativas para a transformação das condições políticas atuais. Dura constatação: as instituições educacionais
também aderiram ao realismo presente, adoecendo também desse mal.
Sucumbiram ao realismo político,
dobrando-se a outras instâncias. Nesse sentido, o terreno educacional
demonstra, com privilégios, a constituição econômica da política. De
modo que a cessão de direitos utópicos – paráfrase ao “direito de sonhar”, de Bachelard – corresponde à
abdicação de direitos político-econômicos. Não é necessário esposar a
teoria da “reprodução” educacional
para constatar a facilidade como, em
geral, as estruturas educacionais
brasileiras têm servido de veículo
para “efetivação das exigências do
modelo social” 3 .
Mas o campo educacional não
está unificado a ponto de se resumir
a essa situação dependente. Ele é
também um lugar estratégico, como
diz Tadeu da Silva, a educação é “uma
dessas principais conquistas sociais
e (...) está envolvida na produção da
memória histórica e dos sujeitos sociais” e, por isso mesmo, é um “campo permanentemente atravessado
por lutas e disputa por hegemonia”4.
Essa permanentemente condição
crucial das instituições educacionais
estimula a utopia. Não há mais sentido em querer voltar a um “paraíso
3
Roberto G. Bianchetti. Modelo neoliberal e políticas educacionais
educacionais, 1997, p. 94.
Tomaz Tadeu da Silva. “A ‘nova’ direita e as transformações na pedagogia da política e na política da pedagogia”. In: Pablo
A. A. Gentilli; T.T. da Silva (organizadores). Neoliberalismo, qualidade total e educação
educação, 1994, p. 28.
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perdido” da educação, onde estivéssemos livres da doença realista e não
víssemos “ex-combatentes” assumindo compromissos intelectuais com
topologia dominante. Como acordar
desejos de transformação? Não seria
já um bom sinal de esperança qualquer superação da morbidez do realismo? Será muito saudável recuperar
a indignação na educação (Paulo
Freire), e, acredito, para isso pode
contribuir o enfrentamento de nosso
realismo político e educacional. Se
não for possível curar-nos dele, que
sintamos ao menos o mal-estar dessa
condição. Eis a utopia deste texto.
I. À perfectibilidade do
topos
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Como acordar desejos
de transformação?
A sedução do realismo
começa por consumir
nossas energias
Comecemos esboçando uma breve reconstituição da problemática e
do pano de fundo do realismo político, em relação à utopia e às suas
“possibilidades”. Para destacar um
primeiro aspecto das possibilidades
utópicas do realismo político, tenhamos em conta o circuito interinstitucional no qual se envolveu a educação presente. O possível é o possível
das instituições e do horizonte de
todas elas: o mercado. Para lá se orientam os planos decisivos, que acabam por esvaziar a dimensão social,
cultural, histórica da utopia, reduzindo-a ao funcionalismo das relações
do mercado e suas instituições.
Tudo se orienta para esse fim. As
inovações, os empreendimentos, as
políticas educacionais visam à perfectibilidade do mercado. Esse é o
topos par excellence da situação
topológica. Mais aqui, menos ali, con5
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As inovações, os
empreendimentos,
as políticas
educacionais visam
à perfectibilidade
do mercado
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cebido desejado como inevitável, o
mercado inspira as orientações
educacionais e suas práticas. Ocorre aquilo que é descrito por Tadeu
da Silva, “há uma forte pressão para
que as escolas e as universidades se
voltem para as necessidades estreitas da indústria e do comércio” e dos
serviços 5 .
O horizonte do topos mercadológico impele para a competitividade
do mercado, por meio de uma “nova
economia do afetivo e do sentimento”, que consiste em “nova configuração da manipulação e administração das energias e dos investimentos
afetivos, com finalidades políticas”6.
A sedução do realismo começa por
consumir nossas energias; distrair os
espíritos, direcionar nossas indagações para o topos, ocupar-nos com a
obrigação de prestar contas às suas
exigências. De modo que o futuro
aparece subordinado às exigências
da efetividade real. Portanto, um futuro possível, tanto mais crível quanto mais topológico for, quer dizer,
quanto mais estiver subordinado,
sustentado, disciplinado nas e pelas
condições da “situação presente”.
Nessas condições, a utopia ocupa uma função de “factibilidade
autolegitimadora”, para empregar
expressão atribuída ao pensamento
conservador por F. Hinkelammert.
Com essa expressão, ele quer dizer
que “a ordem social objetivada já
apresenta implicitamente uma legitimidade”, impedindo qualquer “questionamento legítimo” dela 7 . Não
muda muito a situação o fato de o
pensamento liberal postular a diversidade de sociedades e suas respec-
Idem, ibidem, p. 24.
Idem, ibidem, p. 17.
Franz Hinkelammert. Crítica à razão utópica
utópica, 1986, p. 23 e 25.
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tivas legitimidades, dado que, no fim
das contas, legitima-se apenas uma
sociedade em prejuízo e contra as
demais 8. O topos real é o topos legítimo e o legítimo é o real.
De igual modo, por não ter cortado vínculos com a orientação político-econômica topológica vigente,
mas apenas com seu “espírito”, o que
se convencionou chamar de pósmodernidade sustenta a mesma tendência realista. Tendência de se apegar à eternidade do presente , pois,
como dizem Heller e Féher, apesar de
incluir “saltos no nihil”, verifica-se
uma “autolimitação pós-moderna ao
presente como nossa única eternidade” 9. Não têm em comum todas essas posições um intenso trabalho de
perfectibilidade do topos, do único
topos legitimado e legitimador?
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O topos real é o topos
legítimo e o legítimo
é o real
II. Utopia possível
Assim vamos nos adoecendo de
realismo: a perspectiva topológica de
tudo, inclusive da utopia. Esse
perspectivismo doentio se traduz estrategicamente na desocupação política do utópico, quer dizer, na
neutralização política da utopia. Resulta daí a submissão do utópico ao domínio político (econômico) vigente.
Tentemos estabelecer a etiologia dessa doença, recorrendo ao exame de
três posturas que, por razões das mais
diversas e mesmo opostas, insurgem
contra o utópico e contribuem para
perpetuar a concepção da ineficácia da
utopia sem o controle do político. A
Vamos nos adoecendo
de realismo: a
perspectiva
topológica de tudo,
inclusive da utopia
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primeira investida contra a ocupação
da utopia é feita em nome do gênero
literário “utópico”. A segunda investida
é feita em nome de uma visão científica das coisas e se liga à polêmica marxista. A terceira, resultante ou em comum acordo com as duas anteriores,
sustenta a idéia da utopia como
irrealizável, sonho, quimera.
Primeiramente, a utopia como
gênero. A utopia, defende Raymond
Trousson, tem nascimento na modernidade e surge como gênero literário 10. O fenômeno literário (processo da utopia) se diferencia da atitude
mental ou ideológica (processo do
utopismo). O utopismo engloba o gênero literário, tal como a tragédia inclui o gênero trágico, a comédia abriga o cômico. É por causa somente de
uma “confiscação pelas ideologias”
que a utopia passa a desempenhar
um papel ideológico.
Outra distinção afasta o gênero utópico do conturbado mundo ideológico. Trata-se da diferenciação entre o
cientista e o utopista, a partir de uma
separação entre o “modo utópico” e o
“gênero utópico”. O modo utópico é
entendido como “faculdade de imaginar”, semelhante à experiência mental
do matemático em suas especulações
geométricas e por meio da qual a realidade é modificada mediante hipóteses11. Por sua vez, a história do gênero
utópico12 pode ser traçada como “uma
série de quadros imaginários de um
ideal construtivo da vida em sociedade supostamente realizado e apresentado no marco de um relato”13. Na dis-
8
Idem, ibidem, p. 47.
Agnes Heller; Ferenc Féher. A condição política pós-moderna
pós-moderna, 2002, p. 15.
10
Raymond Trousson. História de la literatura utópica; viajes a países inexistentes
inexistentes, 1995, p. 8ss.
11
Idem, ibidem, p. 42.
12
Entre outras, são características do gênero utópico a localização insular das utopias, a postura diante do econômico, a
regularidade, a aspiração à uniformidade social, à síntese e à harmonia, o coletivismo, o humanismo (ver Raymond Trousson.
História de la literatura utópica; viajes a países inexistentes
inexistentes, 1995, p. 43-50).
13
Raymond Trousson. História de la literatura utópica; viajes a países inexistentes
inexistentes, 1995, p. 48
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tinção proposta entre o cientista e o
utopista (modo utópico), Trousson
observa: supondo a definição da atitude do cientista em três etapas (Claude
Bernard): “observação, hipóteses, experimentação”, o utopista se detém no
segundo momento, deixando para o
cientista a experimentação. O utopista
se aproxima do real adotando a mesma atitude do artista, o qual, sem negar o real, procura “aprofundá-lo mediante a invenção do que poderia
ser”14. Como o artista, o utopista tem a
pretensão de “oferecer um quadro descritivo” e não um conjunto de leis e
princípios15.
O que desocupa politicamente a
utopia é a sua ocupação literária, tendo por pressuposto que a literatura
não sofre em nenhum momento “confiscação ideológica”. De qualquer forma, como gênero ela tenderá a não
fazer mal a nenhuma esfera da política. Ela se ocupa, afinal, das impossibilidades toleráveis e esperadas em
toda literatura, mas não na política16.
No tocante à segunda investida,
nota-se que o combate marxista contra os socialistas utópicos resultou
num prejuízo para o tema da utopia.
Se, do ponto de vista do gênero literário, pode-se reclamar da confiscação política da utopia, na polêmica
marxista recusa-se a presença da utopia (ineficaz por princípio) para as
transformações da sociedade.
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Marx e Engels definem
os socialistas utópicos
como “inventores de
sistemas”
O combate marxista
contra os socialistas
utópicos resultou num
prejuízo para o tema
da utopia
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No Manifesto do partido comunista, Marx e Engels definem os socialistas utópicos como “inventores de
sistemas”17. Estes, mesmo que percebam o antagonismo das classes sociais, não se apercebem, do lado do
proletariado, de “nenhuma iniciativa
histórica, nenhum movimento político que lhe seja próprio”18. Com efeito, os socialistas utópicos querem
substituir as “condições históricas de
emancipação pelas condições tiradas
de sua imaginação”, sem levar em
conta as “condições materiais de
emancipação”, seu pacifismo rejeita
toda “ação política e, sobretudo, toda
ação revolucionária” 19.
O resultado dessa crítica foi a divulgação do socialismo francês como
“subproduto”, “subMarx”, “subsocialismo”20 e a inocuidade da utopia. Como
diz Buber, “em nossa época, ser
‘utopista’ significa não estar à altura do
moderno desenvolvimento industrial; o
que seja o moderno desenvolvimento
industrial ensina-nos o marxismo” 21.
Igualmente, a utopia é um passo atrás
do desenvolvimento científico. Graças
à visão científica da política pode-se afirmar, ainda no Manifesto, que os socialistas utópicos são como “alquimistas
da revolução” e utopias como “infância
do movimento proletariado, como a astrologia e a alquimia sob a infância da
ciência”22. Se há utopia no marxismo, é
uma utopia com traços científicos,
14
Idem, ibidem, p. 42.
Idem, ibidem, p. 43.
16
Ocuparemos a utopia de seu papel político enumerando as “realizações práticas” dos socialistas utópicos franceses, como
O socialismo utópico
pretende Jacqueline Russ (O
utópico, 1991)? Teriam eles contribuído para a perfectibilidade do real? Para a
autora, “nossa época parece ter feito sua cura de realismo; ingressou na escola do realismo e procura repudiar ideologias e
utopias” (p. 239). Cura ou doença profunda?
17
Karl Marx. Philosophie
Philosophie, 1965, p. 436.
18
Idem, ibidem, p. 436.
19
Idem, ibidem, p. 436.
20
Jacqueline Russ. O socialismo utópico
utópico, 1991.
21
Martin Buber. O socialismo utópico
utópico, 1971, p. 15.
22
Karl Marx. Philosophie
Philosophie, 1965, p. 607, nota 2 da p. 437.
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como o sugere Kolakowski sobre Marx:
“ele estava certo de conhecer o significado da História; é esta certeza que constitui a consciência utópica do marxismo e que lhe permite também nutrir
pretensões científicas”23.
As pretensões científicas do marxismo têm como pano de fundo o problema da racionalidade, tal como posta por Hegel. Segundo Hinkelammert,
Hegel parece ter sido um dos primeiros a criticar o projeto de uma sociedade transformada que não esteja firmado na racionalidade. Fora da
racionalidade, a idéia de transformação está fora do âmbito do possível
– quer dizer, do político efetivo, visto que a política é a “arte do possível” 24 . Toda “abstração” de todo e
qualquer projeto político é criticada.
Em Marx, também a impossibilidade de uma determinada política é
o seu irrealismo25. A sociedade capitalista é vista como impossível por
causa de seu caráter destrutivo. A
única sociedade possível – portanto,
fruto não da abstração e de uma
racionalidade alucinante – é a sociedade socialista, pois só ela poderá
“controlar o progresso humano em
função da vida humana”26. Para decidir entre o possível e o impossível,
elege-se o “critério da reprodução da
vida humana real e concreta”27. É esse
critério que permite acusar de utópicas aquelas construções mentais que
pensam a sociedade como ela deve
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Aspretensões
científicas do marxismo
têm como pano de
fundo o problema da
racionalidade
A sociedade capitalista
é vista como impossível
por causa de seu
caráterdestrutivo
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ser, no lugar de pensar o “deve ser”
da sociedade em função do poder: “o
dever segue-se ao poder, não o precede” 28. A sociedade que não puder
acelerar o processo de reprodução
da vida humana real é vista como
sociedade impossível. Contudo,
como não ser engolido pela topologia
dominante se perdermos a utopia de
uma sociedade compreendida como
impossível, se o critério decisivo se
encontra nas próprias condições
topológicas atuais?
Adolfo Sanches Vasquez observa,
sobre Marx, que “ao longo de sua obra
ele fala de uma sociedade necessária,
desejável e possível, mas nunca a chama ou a considera utopia”, nem no seu
sentido geral nem no específico, positivo, de utopia socialista-comunista”29.
Tanto para Marx como para Engels, a
utopia é sempre impossível, quer dizer, “projeto de uma nova sociedade,
melhor, mas condenada a não se realizar”. O cerne da crítica marxiana está
em apontar o caráter fantasioso da utopia (socialismo utópico) pelas seguintes razões: a) pela inexistência das condições históricas necessárias para sua
realização; b) ainda que legítimos os
fins, os meios para realizá-los são inadequados e ineficazes 30. A dimensão
científica do socialismo não deixará
espaço para a utopia; mais precisamente, a contribuição do marxismo estaria em “privar a utopia socialista de seu
caráter quimérico ou ilusório”31. Essa
23
Leszek Kolakowski. “A antiutopia utópica de Marx”. In: O espírito revolucionário. Marxismo. Utopia e antiutopia
antiutopia,
1985, p. 87.
Franz Hinkelammert. Crítica à razão utópica
utópica, 1986, p. 11.
25
Idem, ibidem, p. 12.
26
Idem, ibidem, p. 13.
27
Idem, ibidem, p. 13.
28
Idem, ibidem, p. 13.
29
Adolfo Sanchez Vasquez. Entre a realidade e a utopia
utopia, 2001, p. 379.
30
Idem, ibidem, p. 380.
31
Idem, ibidem, p. 381.
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advertência do socialismo à utopia significaria que o projeto de uma sociedade futura exige que se coloque a
questão do conhecimento da realidade e das possibilidades desse conhecimento32.
Contudo, como pontua Vasquez,
se forem aplicados ao socialismo
científico os mesmos critérios aplicados ao socialismo utópico, a sociedade futura desejada por Marx pode
ser considerada uma utopia, porque
ela se revelará impossível. Que se
pense na superação da alienação
pelo comunismo, por exemplo33. Para
Cioranescu, o materialismo dialético
é utópico como todos os sistemas.
Distingue-se pelo fato de o materialismo ter abandonado “o sentimento, e, com ele, todos os outros resíduos irracionais do pensamento” e
por fundar “sua política sobre uma
concepção científica do universo”34.
Sem pretender fazer uma crítica
da utopia marxista, gostaria apenas
de assinalar aquilo que nos importa
no desenvolvimento destas reflexões.
Nesse sentido, a análise científica
marxista da utopia se junta ao mesmo procedimento de exclusão que
vimos no exame do gênero literário.
A utopia sofre, do lado da literatura,
uma proteção purista de “gênero”
contra uma possível degradação – é
pelo menos o que sugere a expressão “confiscação ideológica” da utopia. Assim, ela é isolada no estrato
dos gêneros literários, onde não sofreria nenhum ataque e nem rapto
para a esfera da política humana. Por
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outro lado, quando entra no domínio
da política, ela sofre o expurgo por
ser duplamente – como gênero e
como ideologia – ineficaz na transformação da sociedade.
III. Impossibilidade da
utopia, possibilidade do
político
Para Cioranescu, o
materialismo dialético
é utópico como todos
os sistemas
Essa condição política da utopia
foi exposta de maneira muito interessante por Eugenio Imaz, ao opor A
Utopia de Thomas More (1516) a O
Príncipe de Maquiavel (1513). A duas
obras, contemporâneas, expressam
duas concepções da realidade (sociedade e comunidade, parte e o todo,
indivíduo e gênero), fazendo pensar
na crítica da Política de Aristóteles à
República de Platão. A arte do possível denuncia o irrealizável – quer dizer, impossível.
A vida de Thomas More atesta esse
conflito entre o destino do homem
político e do escritor. Como criador do
gênero utópico, More foi capaz de imaginar coisas e, de maneira indireta, efetivar pela literatura – sem censura – a
crítica da sociedade existente. Sua carreira política levou-o a ocupar a função de chanceler da Inglaterra, mais
alto cargo do governo britânico. Nessa função, mostrou-se incapaz de tolerar os hereges de sua época e expressou seu desejo de erradicar as heresias
sediciosas 35. Igualmente, não sofreu
censura por sugerir que seria insensato não procurar o prazer por todos os
meios possíveis na sua Ilha36, por de-
32
Idem, ibidem, p. 382.
Observa Vásquez que os bolcheviques e seu irrefreável voluntarismo não levaram em conta o alto custo humano para a
realização da utopia de Marx, e tampouco o alto custo dos valores socialistas, como a liberdade e a democracia (Adolfo
Sanchez Vasquez. Entre a realidade e a utopia
utopia, 2001, 385).
34
Alexandre Cioranescu. L’avenir du passé
passé, 1972, p. 253-54.
35
Thomas More. A utopia
utopia, 1979, p. 157, comentários de Pessanha.
36
É claro que tudo sob uma moral severa, em que o adultério é punido com a escravidão e, na reincidência, com a morte.
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clarar a volúpia como virtude ; a
“volúpia é o fim de todas as nossas
ações” 38. Ou sobre o prazer: “os
utopianos reduzem todas as ações e
mesmo todas as virtudes ao prazer
como finalidade”39. É que no mundo do
impossível – por uma razão apolítica –
tudo é permitido.
Se morre decapitado é por causa
do político, pela arte do possível. Oporse à decisão real de Henrique VIII de
se separar da autoridade papal por
causa das objeções ao seu casamento
com Catarina de Aragão lhe custou a
exoneração de seu cargo de chanceler,
sua prisão e condenação final.
Com ou sem razão, Eugenio Imaz
opõe, como foi mencionado anteriormente, A Utopia e O Príncipe. More escreve uma utopia e Maquiavel apresenta um breviário da razão de Estado40.
Maquiavel representa a política, a arte
do possível, contra a impossibilidade
utópica da ilha de Thomas More. Rompimento da idéia de um dever-ser para
tornar-se efetivamente político. “Muitas
repúblicas e principados foram imaginados, sem que nunca se viram ou se
existiram na realidade. E a maneira
como vivemos e aquela em que deveríamos viver são coisas tão diversas que
de aquele que abandona uma para entregar-se a outra está mais próximo de
destruir-se que de salvar-se”41. “Quem
está certo?”, pergunta Imaz. Todos concordarão que é Maquiavel. O Príncipe
troca o utópico pelo possível.
O contexto das obras é o da conquista européia de novos mundos. A
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No mundo do
impossível – por uma
razão apolítica – tudo
é permitido
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Utopia de More ressoa o maravilhamento dos europeus pelo reencontro
com terras paradisíacas 42. Na mesma
época, propõem-se estratégias para
os principados. Utopia contemporânea do nascimento de um novo jogo
de relações políticas. De fato, o que
se expandiu na seqüência dos dois
escritos não foi o sonho idílico de
um mundo impossível , de Thomas
More, mas a eficiência política em
direção à expansão colonialista da
Europa. Quem chega ao mundo possível das Índias sonhadas não são os
utopianos de More, mas os Príncipes, por meio de homens sedentos
de novos mundos e novas riquezas.
A empreitada é efetivada porque se
acredita na possibilidade de que a
aventura dê certo. A aventura tem
continuidade porque, na avaliação
da arte do possível, ela era viável,
portanto, uma utopia possível. A
barbárie utópica possível tem início:
“o Paraíso terrestre ao alcance do
poder” 43 .
IV. A utopia e o topos
A utopia tem a vocação do futuro44, mas se mescla de suas condições
históricas. More se entretinha com as
notícias de um novo mundo, LouisSébastian Mercier, em pleno século
XVIII, elogiava o progresso propagado pelas Luzes. É com a obra desse
francês nascido em 1740 que a utopia se anuncia como literatura de
antecipação. Desde então, a utopia
Thomas More. A utopia
utopia, 1979, p. 239, 256ss.
Idem, ibidem, p. 252.
Idem, ibidem, p. 253.
Eugenio Imaz. Topia y Utopia
Utopia, 1946, p. 58.
Maquiavel. O Príncipe
Príncipe, apud Eugenio Imaz. Topia y Utopia
Utopia, 1946, p. 58.
Darcy Ribeiro. Utopia selvagem; saudades da inocência perdida. Uma fábula
fábula, 1982, p. 49.
Jacques Attali. 1492
1492, c. 1991, p. 266.
Alexandre Cioranescu. L’avenir du passé
passé, 1972, p. 190.
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não se restringe ao título de um livro,
a um gênero literário, mas passa a
esboçar um programa, um projeto 45.
Mercier escreveu a obra O ano
2440 , projetando 700 anos depois
de seu nascimento. Entre tantas antecipações, vislumbra a França em
posse das florescentes colônias do
Egito e da Grécia, a Rússia com seus
45 milhões de habitantes, O Espírito das Leis de Montesquieu traduzido em japonês, a entrada aos Jardim das Tulherias seria livre para
todos, dirigíveis rápidos conduziriam de Paris a Pequim em sete dias
e meio, as ruas de Paris contariam
com guardas de trânsito46. Se as inovações pretendidas fazem sorrir
hoje, se Mercier não “via um palmo
adiante do nariz”, importa notar,
contudo, que ele não queria esperar 700 anos para que as ruas de
Paris fossem ocupadas por guardas
de trânsito. Ele escrevia para o imediato 47, alegrando-se por ver que,
em 1786, muitas de suas idéias eram
efetivadas na França. Efetivamente,
a data de 2440 é escolhida aleatoriamente para dizer “amanhã”: “a referência cronológica não conta na
prática, não resta ao pensamento
utópico que a referência à realidade imediata” 48.
A utopia aponta para uma dimensão e uma condição humana de insatisfação, de recusa das condições
presentes do topos. Nesse sentido,
ela pode mesmo incentivar a evasão,
fuga e resignação. Em muitos casos,
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está implícita a idéia de um fim da
história, pois o modelo utópico dispensa qualquer tipo de continuidade. Como diz Ricoeur a propósito de
Saint-Simon: “não há história depois
da institucionalização do modelo”49.
Não é diante de um “mundo às
avessas” (Fourier) provocado pelos
contrastes profundos da França de
1830 e 1840, incentivando motins em
meio às “leis de exceção” da monarquia burguesa de Luís Felipe e ao
conformismo de ministros, militares,
banqueiros, que surgirão as utopias
românticas? Não sugerem as utopias
o “desenraizamento do tempo presente” incentivando o sonho, o devaneio e a loucura50? Afinal, o que pode
significar a idéia de Saint-Simon51 de
uma “paixão ecumênica gerada pelo
povo da imaginação”? O que importa é aquilo para que aponta essa utopia: a insatisfação com o topos – com
o lugar e as condições políticas, econômicas, culturais desse lugar. Em
outras palavras, a utopia é uma recusa do possível... existente.
Paul Ricoeur sugere que há uma
“função integradora da utopia” 52, já
que é difícil estabelecer a unidade
temática da utopia, deve-se procurar
a unidade de suas funções. É utopia
tanto suntuosidade do estilo de vida
como o ascetismo, que se priva de
toda pompa. A função da expressão
“nenhum-lugar” provoca um estranhamento; dado que nada pode ser pressuposto, abre-se o campo das alternativas dos modos de viver. A utopia
A idéia de um fim da
história
Já que é difícil
estabelecer a
unidade temática da
utopia, deve-se
procurar a unidade
de suas funções
Idem, ibidem, p. 196.
Idem, ibidem, p. 193ss.
Idem, ibidem, p. 195.
Idem, ibidem, p. 197.
Paul Ricoeur. Lectures on Ideology and utopia
utopia, 1986, p. 95.
Elias Thomé Saliba. As utopias românticas
românticas, 1991, p. 27.
Paul Ricoeur. Lectures on Ideology and utopia
utopia, 1986, p. 26.
Idem, ibidem, p. 15.
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nos ajuda a repensar a natureza de
nossa vida social, nos termos seguintes: “a fantasia de uma sociedade alternativa e sua exteriorização ‘nenhum-lugar’ não funciona como
uma das mais formidáveis contestações daquilo que é?”. Em relação
à imaginação, a “utopia introduz variações imaginativas sobre os tópicos da sociedade, poder, governo,
família, religião” 53.
Ideologia e utopia se complementam: “não há integração social sem
subversão social”54. Nessa dupla função, Ricoeur intenciona justamente
evitar a patologia tanto de uma como
de outra: a patologia da ideologia é a
dissimulação, a da utopia, o escapismo. Desviar o “lugar nenhum” do
aqui e agora, não é isso que se pode
criticar nos utopistas? Mas a patologia da ideologia não é “sua cegueira
e sua estreiteza precisamente em sua
inabilidade para conceber um lugarnenhum” 55?
Nota-se, disso tudo, que mesmo
a utopia futurista, com sua vocação
conformista56, está imbricada na realidade, no topos. Imbricado não quer
dizer preso, limitado, alienado. A utopia não quer o topos, não está limitada a ele – para parafrasear Kant, ela
não nasce do, mas no topos. Por isso,
pode-se dizer que ela é histórica, cultural, espacial.
A idéia de uma utopia à medida
do topos implica o aniquilamento de
sua força política, cultural etc. A utopia tem a ver com o topos de uma
maneira pouco confortável para o
domínio topológico. Por esse motivo,
ela precisa ser submetida imediata-
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mente à arte do possível. Por conta
de não ser possível se livrar dela, é
preferível tê-la sob vigilância constante de um forte comando político.
Como indicadores de uma outra
possibilidade, as utopias introduzem
a crise do presente, a crise topológica. Ela provoca o desprendimento
e estranhamento em relação ao projeto topológico generalizado, “hegemônico”. Contragolpe imediato: individualiza-se, sectoriza-se a crise,
sempre vista como crise do indivíduo, de uma facção ou de um grupo;
de qualquer maneira, sempre uma
crise ideológica. Segue o vaticínio
dos vigilantes do possível utópico:
qualquer tipo diferente de utopia é
“ilusão”, “alienação”, “quimera”, “excentricidade”, “ficção”.
Providências mais efetivas são
tomadas em dois níveis: concorrencial e político. Na concorrência
utópica, aproveita-se da imobilidade
generalizada assumida. O topológico
sedutor propaga que é melhor ficar
perto dele e desfrutar de seus consolos imediatos. O topos tira a ocupação política da utopia, despolitizando, num só ato, tanto a utopia
como os seus adeptos de suas utopias possíveis. O topos também tem
suas maneiras de alienar; o mercado
produz utopias de consumo. O consumo das utopias topológicas se faz
por meio daquilo que é chamado de
ilusão, fantasia, devaneio, imaginação, sonho (casa própria, sorteios,
concursos, projetos, sucesso, conquistas). O realismo de seus habitantes facilita a apropriação das utopias
disponíveis e possíveis. Essa é a ter-
Ideologia e utopia se
complementam
Na concorrência
utópica, aproveita-se
da imobilidade
generalizada assumida
53
Idem, ibidem, p. 16.
Idem, ibidem, p. 16-17.
55
Idem, ibidem, p. 17.
56
Raymond Trousson. História de la literatura utópica; viajes a países inexistentes
inexistentes, 1995, p. 196.
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ceira forma de investimento contra
a utopia. Esta passa a alimentar os
sonhos topológicos, como válvula de
escape para o indivíduo, os grupos,
as associações, as instituições.
As providências políticas contra a
utopia tentam descaracterizar a
imbricação topológica, referindo-se a
essa utopia como “alienante”, “ingênua”, “genérica”. Resistência para reconhecer a imbricação topológica da
utopia, mesmo a utopia futurista. O
“desligamento” do topos é impossível,
no sentido que nenhuma utopia será
utópica, quer dizer, de lugar nenhum;
estão dadas as condições e as motivações topológicas de toda utopia,
que não correspondem, por sua vez,
aos limites topológicos do utópico.
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O desejo põe em risco
a coerência
V. A utopia e o possível
O duro princípio do realismo impede aqueles que tratam da utopia
nos limites do político de levar em
conta o determinante utópico de toda
transformação política. Não se trata
de saber quem politiza o político, em
alusão à questão de Marx, quem educa o educador? O utópico em tensão
com o político mantém este último
aberto à sua própria transformação.
Por estar em tensão, esse utópico não
funciona como princípio do prazer,
oposto estrategicamente ao princípio
de realismo. Essa função é privilégio
da utopia possível. O utópico em tensão com o possível desloca a realidade, aponta para outras formas de se
relacionar com ela.
A utopia possível exige a submissão do utópico ao realismo. Sob esse
O utópico em tensão
com o político mantém
este último aberto à sua
própria transformação
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ponto de vista, é interessante notar
que o realismo, projetado como gênero literário nos séculos XVIII e XIX,
logo revelou sua relação estreita com
o capitalismo. Como observa T.
Todorov, o realismo “é coextensivo,
e, pode-se acrescentar sem risco,
consoante ao mundo ocidental moderno e às suas sociedades capitalistas” 57. Suas características principais
são duas: valorização do particular
e da coerência. Para usar uma expressão de Leo Bersani, diria que a
fascinação pelo topológico resulta
de um “medo do desejo”58. O desejo
põe em risco a coerência, desorienta os arranjos realistas das situações
concretas.
Não se trata aqui do desejo do
possível – esse desejo alimentado
constantemente pela topologia dominante. Não deixa de sugerir múltiplas
indagações o fato de que a literatura
realista acorda uma “enorme importância aos desejos destruidores”59. É
sob condições de destruição que o
desejo topológico – capitalista, científico, realismo político – acolhe a
utopia e lhe impõe condições. A utopia que cabe dentro das previsões,
das organizações e das sistematizações políticas já foi triturada nas máquinas desejantes – alusão a Deleuze
e Guattari – topológicas e, conseqüentemente, perdeu seus efeitos sobre a
política.
Quando se aceita o comando de
tudo pelo possível e a submissão da
dimensão utópica à esfera da política, morrem nossas possibilidades
políticas. É como se vivêssemos absorvidos pela dimensão única do
57
Tzvetan Todorov. “Présentation”. In: Gérard Genette; Tzvetan Todorov (direction). Littérature et réalité
réalité, 1982, p. 8.
Leo Bersani. “Le réalisme et la peur du désir”. In: Gérard Genette; Tzvetan Todorov (direction). Littérature et réalité
réalité,
1982, p. 47ss.
59
Idem, ibidem, p. 65.
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político-econômico e houvesse uma
unidimensionalidade topológica – o
topos como dimensão “unidimensional”, precisamente no sentido utilizado por H. Marcuse. Para este, “o
reinado de tal realidade unidimensional não significa o domínio do
materialismo e que as ocupações espirituais, metafísicas e boêmias estejam desaparecendo”; persistem, diz
Marcuse, o Zen, o existencialismo e
estilos exóticos de vida. Na realidade unidimensional, “tais formas de
protesto e transcendência não mais
são contraditórias ao status quo e
não mais são negativas”60.
A utopia subordinada a essa realidade unidimensional está a serviço
da continuidade de um topos. Aceita-se a utopia nas mesmas condições
que Kant e Locke aceitavam a revolução, como diz Marcuse: “se e quando ela tenha alcançado êxito em organizar o todo e em impedir a
subversão” 61 . O que é uma utopia
possível senão uma utopia que participa da organização do topos,
cerceada, controlada, vigiada...
com função positiva antiutópica de
evitar a subversão topológica 62 . Eis
a utopia que toda topologia vigente deseja, condicional e condicionada: a utopia possível.
Dadas as condições utópicas da
topológica vigente, venho tentando
defender a irredutibilidade da utopia
à política. No lugar de uma “utopia
possível”, preferiria insistir nas relações de tensão entre a “utopia” e o
“possível’, do qual a política é uma
arte. Na tensão mantemos irreduzíveis, de um lado, o campo aberto
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do utópico humano e, de outro, os
políticos de profissão, cientistas, administradores, gestores, que arrogam
o entendimento, a condução e até a
ciência do possível. Uma utopia possível não resulta senão em uma certa antecipação ideológica de uma
política efetiva.
Que não se veja nisso a intenção
de defender um purismo utópico,
muito menos de desconsiderar as
duras regras e as condições políticas
nas quais vivemos. Não está descartado aqui o “reino da necessidade”
ou o princípio de realidade. Sugiro
apenas que essa necessidade não
pode se impor à utopia. Se é ilusão
ignorar o regime político da necessidade, é excesso de realismo e de rendição ao necessário compreender todas as dimensões humanas sob o
regime da necessidade. Deve existir
algo em nós mesmos, nas nossas instituições, em nossa práxis, que não
esteja submetido a esse domínio do
necessário e que, mesmo assim, não
seja designado como ilusório, alienante. Afinal, como poderia o realismo
suportar a utopia, o não-necessário,
a imaginação, a paixão, o princípio do
prazer, a esperança, sem refreá-los,
estigmatizá-los, controlá-los e tornálos objeto de ciência e, o mais terrível, esvaziá-los de sua pertinência
política?
Uma utopia possível
não resulta senão em
uma certa antecipação
ideológica de uma
política efetiva
Venho tentando
defender a
irredutibilidade da
utopia à política
VI. Instituições, educação, utopias
O que o realismo político espera
das instituições educacionais, senão
que elas cumpram seu papel social,
60
Herbert Marcuse. A ideologia da sociedade industrial o homem unidimensional
unidimensional, 6ª ed., 1982, p. 33.
Idem, ibidem, p. 34.
62
La fin de l’utopie
Ecoa o fundo marxista na concepção marcusiana de utopia. Para Herbert Marcuse (La
l’utopie, 1968), é necessário
romper com a ordem vigente, rompendo com a utopia que lhe é própria.
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como todas as outras instituições?
Espera-se o desenvolvimento de uma
atividade educacional que saiba lidar
com o possível, que se aproprie de
todos os meios disponíveis no topos
vigente (em particular, os recursos
tecnológicos) para efetivar os caminhos possíveis de transformação.
Portanto, que as instituições educacionais levem em conta: a) as condições educacionais e históricas para
sua realização; b) os meios adequados e eficazes para efetivá-la. Caminhos invertidos e pervertidos da história, esses que põem no coração do
programa educacional vigente uma
visão da utopia extraída do materialismo histórico marxista. Estranha
coincidência entre a concepção do
possível sustentada por um programa educacional neoliberal a visão
marxista de uma transformação possível da sociedade63. Talvez o realismo
político – em suas várias acepções – seja
um ponto de convergência tanto da visão unidimensional do topos como de
ações concretas que tentam eliminar a
pluralidade de dimensões do topos.
Pressionadas pelas políticas governamentais – que são pressionadas
pelas economias políticas globais –,
as instituições educacionais locais se
desfiguram em relação à pluralidade
de dimensões do topos. Dimensões
que são sufocadas e destruídas em
nome de uma universalidade política. A educação se torna unidimensional, fragmentada, unilateral. Como
tal, não contempla e muito menos
reflete o pluridimensional. As injunções políticas moldam e reduzem
a diversidade educativa às políticas
e práticas educacionais possíveis.
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Espera-se o
desenvolvimento de
uma atividade
educacional que saiba
lidar com o possível
O político encontra o
científico no interior
mesmo da universidade
A educação se torna
unidimensional,
fragmentada,
unilateral
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Mas, as instituições educacionais
submetidas às utopias possíveis desfiguram-se a si mesmas, ao assumirem políticas educacionais mais gerais, por obrigação ou por convicção,
como meio de assegurar sua própria
continuidade como instituição. Tudo
e todos em direção a um único objetivo: sobreviver na topologia vigente
e, por isso mesmo, render-se ao realismo. Todos num consenso topológico – a uniformização das instituições educacionais, sob a política
universalmente imposta. Na utopia
do possível, governa o político.
O político encontra o científico no
interior mesmo da universidade.
Ambos visam ao mesmo realismo. As
instituições educacionais têm no seu
próprio ventre um elemento destruidor: seu realismo científico. Ela perpetua um mesmo ato, ela reconduz
uma prática milenar: a instituição
educacional é a guardiã de todo conhecimento possível. Ela se desfaz de
toda ameaça de conhecimento impossível. Em outros termos, isso significa: ela legitima apenas os conhecimentos que contribuam para o
crescimento da dimensionalidade
do topos presente. Nesse aspecto,
ela assume a unidimensionalidade
de sua função educacional.
Por isso, acredito que a irredutibilidade da utopia à política é imprescindível para a transformação das condições topológicas atuais, em particular
no campo educacional. A utopia é resistência e anúncio de outras possibilidades: ela turva as águas cristalinas da
unidimensionalidade. No acento que damos à pluralidade de dimensões, a utopia corresponde às dimensões de
63
É por um recurso mirabolante que são compatibilizados o socialismo e o anticomunismo, o orgulho nacional norte-americano e a revalorização da esquerda, como em R. Rorty (Suze de Oliveira Piza. “Para realizar a América, de Richard Rorty, e
sua recepção no Brasil”. In: Crítica Marxista
Marxista, nº 17, novembro de 2003, p. 131-140).
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desajuste, revolucionárias, imaginárias,
inquietantes, apaixonadas, de nós mesmos, de nossas ações e das relações
humanas. A irredutibilidade da utopia
à educação acentua o papel importante na promoção dos mesmos desajustes
ou estranhamentos necessários à crítica e à transformação do topos. Se as
instituições educacionais continuarem
a retroalimentar o topos, manterão suas
atividades e seus programas sob o domínio do político (econômico). Assim,
as utopias educacionais serão utopias
desse topos. À utopia possível corresponderá uma educação possível.
Essa perspectiva da educação, ainda que válida, não leva à zona de conflito, do dissenso. As instituições educacionais podem estar cedendo às
políticas unidimensionais, mas o campo educacional é mais amplo que as
instituições que se instalam nele. A
educação é campo de disputa, de massacre de ideologias e de surgimento de
utopias liberalizantes. Frente a instituições corroídas internamente por seu
realismo científico, destruidor das utopias do conhecimento e das utopias
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políticas, em função dos conhecimentos possíveis, aparecem outras concepções de educação e de instituições.
A educação concebida como espaço
para alimentação das nossas utopias,
repleta de atores, pluralidade de papéis
e de ações.
À educação possível do topos
opõe-se uma educação que alimente
nosso estranhamento e desajuste
institucional. Alimentar não pela transmissão do conhecimento topológico e
nem pelo anúncio de um conhecimento futuro; alimentar as utopias pelo
conflito, pela irredutibilidade da utopia à educação e à política. Irredu
tibilidade de um ao outro, para que daí
surjam utopias topológicas e o próprio
encontro redimensione nossas expectativas e nossas práticas atuais. Nessa
irredutibilidade, intensificamos nosso
estranhamento – de maneira utópica –
quanto às ligações perigosas das instituições educacionais com o topos dominante. E imaginamos, ainda, outras
formas de proliferar a tensão entre essas dimensões e outras ainda não percebidas ou sentidas.
À utopia possível
corresponderá uma
educação possível
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