Ciência Veterinária nos Trópicos v. 18 nº 1
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Ciência Veterinária nos Trópicos v. 18 nº 1
Ciência Veterinária nos Trópicos v. 18 nº 1 janeiro-abril/2015 CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DE PERNAMBUCO – CRMV-PE DIRETORIA EXECUTIVA Med. Vet. Erivânia Camelo de Almeida Presidente Med. Vet. Geraldo Vieira de Andrade Filho Vice-presidente Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual Secretária-geral Med. Vet. Maria Luiza de Melo Coelho da Costa Tesoureiro CONSELHO EDITORIAL EDITOR Hélio Cordeiro Manso Filho EDITORES ASSOCIADOS Márcia de Figueiredo Pereira Késia Alcântara Queiroz Pontual Andre Mariano Batista José Wilton Pinheiro Junior Gustavo Férrer Carneiro JORNALISTA RESPONSÁVEL Eldemberga Grangeiro dos Anjos Reg. Prof. 3686 DRT-PE CONSELHEIROS TITULARES Med. Vet. João Alves do Nascimento Júnior Zootec. Valderedes Martins da Silva Med. Vet. Paulo Ricardo Magnata da Fonte Med. Vet. Jadson Queiros Alves Junior Med. Vet. Mariana Gomes Ferreira M. de Siqueira Med. Vet. Maria Claudia Ribeiro Agra CONSELHEIROS SUPLENTES Med. Vet. Med. Vet. Med. Vet. Med. Vet. Med. Vet. João Ferreira Caldas Elton Figueiroa Medeiros de Souza Marcos André Fernandes Francisco Hermano Q. Cavalcante Maria José de Sena SEDE DO CRMV/PE REVISÃO TÉCNICA Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual EDITORAÇÃO GRÁFICA Jônathas Souza Mameluco Design PERIODICIDADE Quadrimestral SITE Edições da Revista Ciência Veterinária nos Trópicos estão disponíveis no site www.rcvt.org.br Rua Conselheiro Theodoro, 460, Zumbi, Recife, PE, CEP 50711-030 Fone: 081-3797.2517 | Fax: 081-3797.2506 www.crmvpe.org.br Reconhecida como veículo de divulgação técnicocientífica pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Resolução nº 652, de 18 de novembro de 1998. INDEXAÇÃO Revista Ciência Veterinária nos Trópicos está indexada na base de dados da Cabi Abstracts, Agris e Agrobase. 2 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18 n 1 - janeiro/abril, 2015 Sumário 04 Informações Gerais 05 Editorial 06 REVISÃO DE LITERATURA • LITERATURE REVIEW Nitrato na alimentação de ruminantes mitiga a produção de metano Nitrate in ruminant feeding mitigates methane production Table of Contents ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE Indigestão por manga (Mangifera indica) em bovinos - Primeiro relato Indigestion for mango (Mangifera indica) in bovine first report 33 RIZZO, H.; CARVALHO, J.S.; HORA, J.H.C.; RODRIGUES, F.M.; FRAGA, G.J.M.; VILLA-LOBOS, E.M.C. FREIRE, A.P.A.; SILVA, F.L.M.; POLIZEL, D.M.; SUSIN, I. ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE 12 Aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomias Toxic levels of zinc in mineral salt mixtures used in beef cattle suplementation 43 Niveis tóxicos de zinco em misturas minerais utilizadas na suplementação de bovinos para corte MARÇAL, W.S.; NASCIMENTO, M.R.L. MENCK, M.F. Clinical and histopathological aspects of bitches with breast cancer that underwent mastectomy RÊGO, M.S.A.; FUKAHORI, F.L.P.; DIAS, M.B.M.C.; SILVA, V.C.L.; LEITÃO, R.S.C.S.; SANTOS, F.L.; PEREIRA, M.F.; LIMA, E.R.; ALMEIDA, E.L. ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE 19 Características seminais de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços em condições de clima tropical Seminal and testicular characteristics of Dorper, Santa Inês and crossbreed rams in a semi-arid tropical environment MAIA, M.S.; SILVA, J.V.C.; MEDEIROS, I.M.; LIMA, C.A.C.; MOURA, C.E.B. ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE 23 Ocorrência espontânea de linfoma maligno em ovelha: Relato de caso Spontaneous Occurrence of Malignant Lymphoma in Sheep: Case Report REGO, R.O.; SOUZA, J.C.A.; MENDONÇA, C.L.; SILVA, R.J.; SILVA, N.A.A.; RIET-CORREA, F.; AFONSO, J.A.B. ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE 27 Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservado Effect on supplementation of three taurine’s concentration in cryopreserved goat sperm LIMONGI, R.; ARAÚJO SILVA, R.A.J.; BATISTA, A.M.; GUERRA, M.M.P.; SILVA, S.V. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18 n 1 - janeiro/abril, 2015 ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE Fraturas dos metacárpicos acessórios e a incidência da desmite do suspensório de boleto em cavalos de pólo: estudo retrospectivo de 35 casos 47 Fractures of the accessories metacarpals bones and incidence of desmitis of the suspensory ligament in polo’s horses: retrospective study of 35 cases BERNARDO, J.O.; ESCODRO, P.B.; MARIZ, T.M.A.; DIAZ, K.A.F.; BITTAR, M.J. ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE Determinação das variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos Mangalarga Marchador durante prova oficial de marcha 52 Physiological and biochemical findings in Mangalarga Marchador horses during official competition of marcha SILVA, M.C.P.; BERKMAN, C.; BADIAL, P.R.; SARMENTO, E.C.L.B.S.; OLIVEIRA, N.G.F.; RAPHAEL, U.B.; MEDEIROS, J.M.Q.; TEIXEIRA, L.G. ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador 58 DMRT3 mutant allele in batida and picada gaited horses from Campolina and Mangalarga Marchador breeds MANSO FILHO, H.C.; COTHRAN, E.G.; JURAS, R.; GOMES FILHO, M.A.; SILVA, N.M.V.; SILVA, G.B.; FERREIRA, L.M.C.; ABREU, J.M.G.; MANSO, H.E.C.C.C.; 3 Informações Gerais A revista Ciência Veterinária nos Trópicos é editada quadrimestralmente pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE), e destina-se a divulgação de trabalhos técnico-científicos (trabalhos originais de interesse na área de ciência veterinária e zootecnia, ainda não publicados, nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim) e de notícias de cunho profissional, ligadas a área de ciência veterinária em meio digital. Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (Resolução no 652, de 18 de novembro de 1998). ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE) Rua Conselheiro Theodoro, 460 - Zumbi. CEP 50711-030 Recife, PE, Brasil. Telefone: (081) 3797.2506 e fax (081) 3797.2514 Informações a respeito do Regulamento Editorial e Normas de Estilo poderão ser obtidas através do site: http://www.rcvt.org.br e do e-mail [email protected] Os artigos publicados nesta Revista são indexados nas bases de dados: CABI ABSTRACTS, AGRIS E AGROBASE Ciência Veterinária nos Trópicos, v. 18, n. 1 (jan-abr 2015) – Recife: CRMV – PE, 2015 Quadrimestral ISSN 1415-6326 1. Veterinária – Ciência – Periódico I. Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco, Recife, PE. CDD 636.08905 4 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18 n 1 - janeiro/abril, 2015 Editorial E stamos iniciando o ano de 2015 com mais uma edição da revista Ciência Veterinária nos Trópicos, e nessa oportunidade estaremos publicando 10 novos trabalhos nas diferentes áreas da Ciência Veterinária. O trabalho de revisão, que dá início ao novo volume, vai em direção de um dos temas atuais associado à melhor convivência entre a criação de animais, a ecologia e o bem-estar dos animais. Nele é abordado tema de como a suplementação com minerais pode afetar a produção de metano nas criações de ruminantes, sem deixar de observar que o excesso de nitrato poderá causar toxidade. Em seguida teremos uma publicação que aborda, com detalhes, a problemática do câncer em caninos. No caso detalha a histopatologia dos tumores de mama em cadelas após a mastectomia. Trabalho rico em figuras e sempre atual na medicina de pequenos animais. Ainda nesse mesmo volume há mais três publicações que relatam aspectos importantes na criação dos pequenos ruminantes. A primeira delas nós trás informações sobre as características do sêmen de ovinos Dopper, Santa Inês e mestiços em condições tropicais. Esses animais passaram a fazer parte dos sistema de criação no Nordeste mas ainda há poucos estudos combinados com esses grupos. O segundo, refere-se ao aos efeitos da suplementação com taurina sobre a qualidade do sêmen congelado de caprinos, o que ainda desperta muita atenção dos pesquisadores pois nem sempre esse tipo de processo tem obtido sucesso com o observado nos bovinos. Finalmente, a revista apresenta uma publicação com a ocorrência de um tipo de tumor em ovinos, o que não é um acontecimento regularmente diagnosticado devido as característica de criação desses animais. Esse trabalho estar fartamente ilustrado, facilitando bastante a compreensão do processo. Nas publicações com bovinos, a revista apresenta duas novas publicações. Uma demonstra como os animas podem ser acometidos de problemas nutricionais devido aos erros do manejo. No primeiro caso há um relato de caso sobre a indigestão por consumo excessivo de mangas, e no segundo apresenta uma detalhada discussão sobre os níveis tóxico de zinco em produtos comerciais utilizados na suplementação com sal mineralizado para bovinos. Esse último, em inglês, inicia a internacionalização de nossa revista. Finalmente a revista termina com a apresentação de três trabalho que envolvem os equinos de esporte. Em um deles os autores demonstram como os animas de marcha utilizam os compostos energéticos durante as provas de marcha, utilizando animais com diferente idades. Em seguida outro grupo de pesquisadores descrevem a presença do gene DMRT3, que é conhecido como “gait keeper” e responsável pela dissociação nos andamentos marchados. E por último há uma publicação sobre a ocorrência de fraturas nos animais de pólo, esporte que não é praticado em nosso região mas bastante desenvolvido em todo o Mundo. Esperamos que a leitura desses temas tão atuais, sejam importantes para todo e que contribuam para o desenvolvimento profissional e cultural de todos os leitores. Também gostaríamos de convidar a todos para que “socializem” as suas experiência e pesquisas em nossa revista, para assim contribuir a a Ciência Veterinária nos Trópicos. Hélio Cordeiro Manso Filho Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18 n 1 - janeiro/abril, 2015 5 Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 06-12 - janeiro/abril, 2015 Nitrato na alimentação de ruminantes mitiga a produção de metano Ana Paula Alves FREIRE¹*, Fernanda Lavínia Moura SILVA¹, Daniel Montanher POLIZEL¹, Ivanete SUSIN¹ RESUMO 1 Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Departamento de Zootecnia - Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal e Pastagens. Piracicaba, SP, Brasil. * Autor correspondente: [email protected] O metano e o dióxido de carbono são subprodutos naturais da fermentação microbiana principalmente de carboidratos e em menor extensão dos aminoácidos no rúmen e no intestino grosso dos animais. O fator primário que afeta a produção de metano pelos ruminantes é a alimentação, pelo fato de fornecer substrato para as bactérias metanogênicas. Mudanças na alimentação dos animais através do uso estratégico de recursos disponíveis, com uma dieta equilibrada com base nas necessidades fisiológicas dos animais contribui com a redução da produção de metano. O nitrato quando fornecido na dieta de ruminantes promove o uso de íons hidrogênio para sua conversão em amônia. Alguns microrganismos são capazes de reduzir nitrato a nitrito e então nitrito a amônia com o uso de hidrogênio, assim a metanogênese pode ser reduzida. No entanto, o fornecimento de nitrato, em teores excessivos para ruminantes, sem cuidados quanto à adaptação dos animais as dietas, pode levar a ocorrência de metahemoglobinemia. Para evitar a intoxicação recomenda-se que haja adaptação dos animais aos teores de nitrato. P A L A V R A S - C H A V E Amônia, Gases de efeito estufa, Metahemoglobina, Metano entérico, Nitrito. Nitrate in ruminant feeding mitigates methane production ABSTRACT Methane and carbon dioxide are natural products of microbial fermentation primarily of carbohydrates and lesser extent of amino acids in rumen and intestine of the animals. The main factor affecting methane production in ruminants is the food, due to providing substrate for methanogenic bacteria. Changes in animal nutrition through the use of strategic resources, with a balanced diet based on the physiological needs of animals contributes to the reduction of methane production. Nitrate when added in ruminant diet promotes the use of hydrogen ions for its conversion to ammonia. Some microorganisms are able to reduce nitrate to nitrite and then nitrite to ammonia using hydrogen, and therefore methanogenesis can be reduced. However, the supply of nitrate, without an adaptation period, in levels that exceed the ruminant capacity to use it can lead to the occurrence of methemoglobinemia. To avoid poisoning is recommended an adaptation period of animals to the nitrate content. KEYWORDS Ammonia, Enteric methane, Greenhouse gases, Methemoglobin, Nitrite INTRODUÇÃO A atividade enzimática microbiana no rúmen resulta da hidrólise da maior parte da matéria orgânica dietética, e o metano proveniente da digestão dos alimentos representa perda de energia para o animal e contribui para o aumento do metano presente na atmosfera. A fermentação microbiana da matéria orgânica por microorganismos do rúmen depende de um abastecimento de NAD+, o qual é convertido para NADH e o H2 e seus elétrons do 6 NADH são usados pelas Archaea para reduzir CO2 em metano, permitindo que NAD+ seja regenerado para que a fermentação possa continuar (NOLAN et al., 2010). O fornecimento de nitrato na ração de ruminantes promove o uso de hidrogênio competindo com a produção de metano. O nitrato além de mitigar metano (NOLAN et al, 2010; VAN ZIJDERVELD et al., 2011; EL-ZAIAT et al., 2014; NEWBOLD et al., 2014), fornece amônia para a síntese de proteína microbiana no rúmen (LENG, 2008). Pesquisas que utilizam aditivos Nitrato na alimentação de ruminantes mitiga a produção de metano alimentares, como o nitrato, sem prejudicar o desempenho proFermentação ruminal e microrganismos metanogênicos dutivo dos animais e que ainda permitem utilizar a energia que A maior parte do metano é produzido pela fermentação no seria perdida com a produção de metano, são importantes para rúmen-retículo e grande parte é emitido pelas narinas e boca e determinar melhor utilização dos nutrientes. somente cerca de 3% do metano emitido é proveniente do reto (MUÑOZ et al, 2012). O metano é produzido em condições anaeróbias por microrganismos metanogênicos presentes no EMISSÕES DE METANO rúmen. A sua produção é modulada principalmente pela presença de dióxido de carbono e de hidrogênio livre no ambienOs principais gases responsáveis pelo efeito estufa são: a) te ruminal, onde, a partir do hidrogênio livre, ocorre a redução o dióxido de carbono, produzido através da queima de com- do dióxido de carbono por microrganismos metanogênicos, bustíveis fósseis e queima da biomassa; b) o metano que pode com consequente formação de metano. A fermentação de ser produzido naturalmente em solos inundados, em lavouras equivalentes de glicose liberados a partir de polímeros de carde arroz e oriundo da fermentação ruminal e produzido arti- boidratos é um processo oxidativo sob condições anaeróbias ficialmente ou de fontes sintéticas na produção de gás natural, que ocorre na via Embden-Meyerhof e formando co-factores mineração de carvão, tratamento de esgoto e aterros sanitários; reduzidos como o NADH. Estes cofactores reduzidos devem c) os clorofluorcarbonos, oriundos da atividade industrial; d) o ser re-oxidados para NAD para que a fermentação de açúcaóxido nitroso liberado após aplicação de fertilizantes nitroge- res tenha continuidade. NAD+ é regenerado por transferência nados em áreas agrícolas (LASSEY, 2008; MILICH, 1999). de elétrons para outros receptores de oxigênio (CO2, sulfato, A pecuária representa uma importante fonte de liberação nitrato e fumarato) (MOSS; JOUANY; NEWBOLD, 2000). O dos gases do efeito estufa gerando dióxido de carbono, óxido H2 é um dos principais produtos finais da fermentação por nitroso e metano tanto de forma direta, através da fermentação protozoários, fungos e bactérias, e não há acúmulo no rúmen ruminal nos ruminantes ou de forma indireta, através das ati- porque ele é imediatamente utilizado por outras bactérias. No vidades, como por exemplo, na produção de rações (HRISTOV rúmen, a formação de metano é a principal via de eliminação et al., 2013b). O metano produzido pelos ruminantes com- do hidrogênio por meio da seguinte reação: CO2 + 4H2 → CH4 preende 17% e 3,3% das emissões globais de metano e gases de + 2H2O (MOSS; JOUANY; NEWBOLD, 2000) efeito estufa, respectivamente (KNAPP et al., 2014). O metano O fator primário que afeta a produção de metano pelos rudo esterco tanto de ruminantes e não ruminantes contribui minantes é a alimentação, pelo fato de fornecer substrato para de 2% das emissões globais de metano e 0,4% das emissões as bactérias metanogênicas. A conversão anaeróbia para produglobais de gases de efeito estufa (KNAPP et al., 2014). Ovinos e ção de metano no primeiro passo, ocorre a hidrólise de polímecaprinos produzem 10 a 16 kg de CH4/ano e bovinos cerca de ros orgânicos (tais como o polissacarídeos, lipídios, proteínas 60 a 160 kg de CH4/ano, dependendo do tamanho corporal e e gorduras) em monômeros orgânicos solúveis e este passo é da ingestão de matéria seca pelo animal. realizado por bactérias anaeróbias, tais como Bacterioides, ClosAs técnicas de mensuração da produção de metano per- tridium, e Streptococcus. O segundo passo envolve a fermentação mitem que diversas pesquisas sejam realizadas utilizando uma anaeróbia de monômeros em H2, CO2, acetato, propionato e diversidade de aditivos e ingredientes alimentares que atuam butirato. A terceira etapa, a metanogênese, envolve a conversobre a metanogênese nos ruminantes. Estratégias de alimen- são de acetato, H2 e CO2 em metano pelas Archaeas (LIU e tação são importantes para que a eficiência de utilização do WHITMAN, 2008). A metanogênese é considerada uma etapa alimento seja aumentada e ainda, que venha a contribuir com limitante, e a atividade das Archaeas é importante para a maa redução da produção de metano. No contexto global, aten- nutenção da digestão anaeróbia eficiente e evita o acúmulo de ção especial deve ser colocada na mitigação das emissões dos H2 e ácidos graxos de cadeia curta (LIU e WHITMAN, 2008). gases de efeito estufa. Em 2005, a Europa, a América do Norte e As Archaeas são vulneráveis a parâmetros tais como temos países da antiga União Soviética produziram 46,3% de carne peratura, pH, e podem ser inibidas por produtos químicos e leite de ruminantes e foram responsáveis por apenas 25,5% (LIU e WHITMAN, 2008). Os microrganismos metanogênicos das emissões de metano. Em contraste a Ásia, África e América pertencem a um separado domínio de Archaea sobre o reino Latina produziram quantidades semelhante (47,1%) de carne dos Euryarchaeota e encontram-se em vários outros ambientes e leite, no entanto as emissões de metano produzido por ru- anaeróbios além do rúmen. A maioria das Archaeas no rúmen minantes foi de 69% (O’MARA, 2011). Isso é devido aos paí- utilizam energia para o seu crescimento pela redução bioquíses em desenvolvimento, possuirem a maioria dos agricultores mica de CO2 com H2, e algumas bactérias utilizam acetato e trabalhando em pequenos sistemas lavoura-pecuária. Nessas compostos contendo grupo metil para produzir metano (LIU regiões a eficiência é reduzida, pois os pequenos agricultores e WHITMAN, 2008). normalmente contam com maior número de animais de baixa As Archaeas estão presentes no rúmen em quantidade que produção, com baixa qualidade da alimentação e baixo poten- varia de 107 a 109 células/mL de líquido ruminal que irá decial genético. pender do tipo da dieta fornecida ao animal, especialmente Melhoria na alimentação dos animais através de uso estra- o conteúdo de fibra na ração (KAMRA, 2005). No rúmen, as tégico de recursos disponíveis, com uma dieta equilibrada com Archaeas estão associadas com os protozoários (LANGE; WESbase nas necessidades fisiológicas dos animais contribui com a TERMANN; AHRING, 2005), portanto, qualquer aditivo que redução da produção de metano. reduz a população de protozoários irá inibir a produção de Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 06-12 - janeiro/abril, 2015 7 Ana Paula Alves Freire et al. metano. As Archaeas também interagem com outros microrO modo de ação depende do aditivo, mas pode incluir ganismos ruminais em uma competição pelo uso do hidrogê- inibição direta da metanogênese, supressão de protozoários nio para produzir metano e outros produtos finais na fermen- ciliados, fornecer ou estimular um caminho competitivo para tação ruminal. eliminação de H2 (KANAPP et al., 2014). Quando as Archaeas são reduzidas ou eliminadas, uma outra rota deve existir para eliminação de hidrogênio, ou as concentrações de hidrogênio ESTRATÉGIAS ALIMENTARES PARA REDUÇÃO DA no rúmen aumentará e potencialmente inibe a fermentação. PRODUÇÃO DE METANO Segundo Brown et al. (2011), idealmente este dissipador de hidrogênio alternativo resultaria na produção de um composto Há várias estratégias estudadas para redução do metano e que pode ser absorvido e metabolizado pelo animal de modo elas podem ser classificados em três grandes categorias: a pri- que a energia não seja perdida. meira é o manejo alimentar, pelo fornecimento de alimentos Nitrato na alimentação de ruminantes de boa qualidade e aumento da produtividade animal e eficiênSob certas condições, uma grande variedade de plantas pocia alimentar. Alguns alimentos podem aumentar ou diminuir dem acumular quantidades de nitrato. Além disso, certas ervas a produção de propionato, diminuindo H2 que seria converti- daninhas que normalmente habitam pastagens ou lavouras tamdo a metano; a segunda são os modificadores ruminais, pela bém pode acumular nitratos. No entanto, grãos de cereais e conadição de substâncias específicas que direta ou indiretamente centrados proteicos raramente contêm concentrações de nitrato inibem as bactérias metanogênicas; a terceira é o aumento da apreciáveis. O nitrato não é distribuído uniformemente em planprodução animal através da genética e outras abordagens de tas, por exemplo, onde os teores são normalmente mais elevados gestão, com a melhoria de utilização de nutrientes para fins em hastes, menor em folhas e extremamente baixo em sementes produtivos, aumentando a eficiência alimentar e diminuindo (LENG, 2008). Nos animais em pastejo sob condições normais, a produção de metano por unidade de produto, seja carne ou as concentrações de nitrato são baixas e não são significativas leite (KNAPP et al., 2014). no que diz respeito à quantidade de nitrogênio necessário para a Devido à má qualidade de algumas pastagens, o manejo fermentação microbiana eficiente no rúmen. É apenas sob condido pastejo pode não ser uma opção viável para melhorar a nu- ções especiais que o nitrato é elevado o suficiente para estar perto trição animal em muitas regiões, e a melhoria da produtivida- das exigências do nitrogênio ruminal (LENG, 2008). Além do de deve vir pelo fornecimento de forragens conservadas ou ali- nitrato naturalmente encontrado nas pastagens, é possível fornementos concentrados. O crescimento da produção de grãos de cê-lo como ingrediente nas rações de ruminantes como uma fonte cereais geralmente acompanhou o crescimento da população de nitrogênio não-proteico. mundial (HRISTOV et al., 2013a), no entanto é questionável se As bactérias ficam aderidas ao epitélio ruminal e liberam grande quantidade de grãos estarão disponíveis para a alimen- enzimas nitrato redutase e nitrito redutase que são produzidas tação dos animais ruminantes. Aumentar a inclusão de grãos somente quando há presença de substrato, o nitrato é reduzido a nas rações dos ruminantes pode ser economicamente viável nitrito e posteriormente a amônia (KOZLOSKI, 2009). Stephenpara aumentar a produção de leite e, particularmente, a produ- son e Whetham (1925) mostraram que Echerichia coli reduz o ção de carne e, assim, reduzir o impacto ambiental da pecuária, nitrato a nitrito na presença de doadores de hidrogênio, como lacporém, é questionável a longo prazo (HRISTOV et al., 2013b). tato, glicerol, ácido succínico ou ácido málico. Adicionalmente, Manipulando a composição nutricional da alimentação segundo Woods (1938), a Escherichia coli e Clostridium welchii de ruminantes pode-se alterar a produção de metano, pois a foram capazes, na presença de hidrogênio, de reduzir o nitrato a composição e a qualidade dos alimentos interferem na fer- amônia quantitativamente. Em experimento in vitro, o pH ótimo mentação e nos produtos da fermentação ruminal. Segundo para redução do nitrato e nitrito são 6,2 e 5,6, respectivamente e Johnson e Johnson (1995), a produção de metano é influen- na presença de hidrogênio o nitrato é reduzido a amônia com o ciada pelo nível de ingestão de ração, o tipo de carboidrato da consumo de hidrogênio, de acordo com a equação: KNO3 + 4H2 dieta e a alteração da microflora ruminal. Desta maneira, estra- NH3 + 2H2O + KOH (LEWIS, 1951a). O nitrato é um inibidor tégias alimentares que reduzam as emissões de metano podem da metanogênese ruminal, no entanto, é preciso ter cuidado quantrazer benefícios não somente ao meio ambiente, mas também to aos riscos de toxicidade por nitrito. ao próprio ruminante. Para reduzir a produção de metano peO fornecimento de nitrato, em teores excessivos para rumilos ruminantes alguns aditivos estão sendo estudados e utili- nantes sem cuidados quanto à adaptação dos animais as dietas zados, como os ionóforos; lipídeos; os receptores de elétrons, podem levar a ocorrência de metahemoglobinemia. A metahemopor exemplo o nitrato; componentes secundários de plan- globinemia é uma condição causada pela oxidação do ferro férritas, como taninos condensados, saponinas e óleos essenciais co da hemoglobina, tornando a molécula incapaz de transportar (ODONGO et al., 2007; GRAINGER et al., 2010; TAN et al., oxigênio, ocorrendo assim anóxia celular (VAN ZIJDERVELD 2011; MOHAMMED et al., 2011; JORDAN et al., 2006; VAN et al., 2011). Isso se deve ao nitrato ser reduzido pelas bactérias ZIJDERVELD et al., 2011; EL-ZAIAT et al., 2014; NEWBOLD ruminais a nitrito, que ao ser absorvido, oxida o íon ferro da heet al., 2014). Além disso, estratégias também são utilizadas, tais moglobina no sangue que se transforma em metahemoglobina como a defaunação; a inclusão de concentrado na ração dos (LEWIS, 1951b). Segundo Hubert e Voordouw (2007) a adição ruminantes e alteração do processamento de rações (HALES, de sulfato à dieta contendo nitrato atua como doador de elétrons COLE e MCDONALD, 2012). na redução de nitrito à amônia, evitando a formação de metahe- 8 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 06-12 - janeiro/abril, 2015 Nitrato na alimentação de ruminantes mitiga a produção de metano moglobina. Além disso, é importante também o fornecimento gradativo dos teores de nitrato aos animais, para que possibilite adaptação da microbiota ruminal e assim tenha capacidade de reduzir nitrato a amônia. A utilização de nitrato tem mostrado benefícios quanto a redução do metano produzido pelos ruminantes, e, além disso, é uma fonte de nitrogênio não protéico para a microbiota ruminal. Nolan et al. (2010) estudaram ovinos da raça Merino alimentados com feno de chaffed oaten e uma fonte de nitrogênio não-proteico (5,54 g de ureia por kg de feno ou 4% de KNO3). Os autores registraram que os animais alimentados com KNO3 tiveram aumento dos ácidos graxos de cadeia curta no rúmen, principalmente acetato. A produção de metano (L/kg matéria seca consumida) nesses animais foi 23% menor na dieta com KNO3. Os autores constataram que a redução da produção de metano duas horas após a alimentação não permaneceu. Assim, talvez uma forma de liberação lenta do nitrato pode melhorar a mitigação de metano e reduzir o nitrato e o nitrito absorvido pelo rúmen e assim reduzir o risco de toxicidade. Corroborando com os autores citados anteriormente van Zijderveld et al. (2010) constataram que a produção de metano (L/dia) reduziu 32% em ovinos alimentados com ração contendo nitrato e 16% nos animais que consumiram sulfato. Os autores estudaram ovinos da raça Texel substituindo ureia por 2,6% de nitrato em dietas contendo, 2,6% de sulfato, 2,6% de nitrato + 2,6% de sulfato e sem adição de ambos. Na redução de nitrato no rúmen há utilização de quatro moles de hidrogênio, equivalendo ao decréscimo de 25,8g de metano por cada 100 g de nitrato consumido. O nitrato influenciou na redução dos microrganismos metanogênicos, e segundo os autores, foi devido a menor disponibilidade de elétrons para essas bactérias ou ainda pela toxicidade do nitrito a esses microrganismos. O nitrato influencia na redução dos microrganismos metanogênicos, devido à menor disponibilidade de elétrons para essas bactérias ou ainda pela toxicidade do nitrito a esses microrganismos (VAN ZIJDERVELD et al., 2010; HULSHOF et al., 2012). Segundo Iwamoto, Asanuma e Hino (2002), a presença de nitrato favorece o crescimento das bactérias Selenomonas ruminantium, Veillonella parvula, e Wolinella succinogenes, pois estas bactérias são nitroredutoras e obtem energia a partir da redução de nitrato e/ou nitrito; e além disso, as bactérias redutoras podem reduzir a metanogênese ruminal sem acumúmulo de hidrogênio. Segundo El-Zaiat et al. (2014), a inclusão de 4,51% de nitrato de cálcio encapsulado (contendo 60,83% NO3- na matéria seca) reduziu a população de protozoários no rúmen de 22,55 (× 105/ mL) em uma dieta controle para 19,90 (× 105/mL) quando adicionaram nitrato de cálcio. Esta redução foi devido os protozoários estabelecerem uma estreita relação simbiótica com as bactérias metanogênicas. Protozoários são conhecidos por produzir grandes quantidades de H2, o qual é utilizado pelas bactérias metanogênicas, encontrados dentro e próximas aos protozoários (MORGAVI et al., 2010). Zhou, Yu e Meng (2012) estudaram a incubação in vitro de feno de alfafa com concentrações de 12, 24, 36 e 48 µmol/mL de nitrato e observaram que a produção de metano foi inibida com o acréscimo do nitrato e os microrganismos metanogênicos reduziram. Também as populações de F. succinogenes e R. flavefaciens foram reduzidas, sugerindo que estas espécies são sensíveis ao Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 06-12 - janeiro/abril, 2015 nitrato. Foi sugerido que o nitrito inibe bactérias que produzem ATP através de sistemas de transporte de elétrons, mas não as bactérias que não possuem citocromos e utilizam ATP através da fosforilação de substratos (MARAIS et al., 1988). Este modo de atuação aos microrganismos pode explicar, pelo menos parcialmente, a inibição que o nitrato causa a R. flavefaciens que obtém para 50% do seu ATP através de processos de transporte de elétrons (DAWSON et al., 1979). Segundo Zhou, Yu e Meng (2012) a administração de nitrato resultou em aumento no pH e diminuição das concentrações totais de ácidos graxos de cadeia curta quando a concentração de nitrato foi em 24 µmol/mL ou superior. A suplementação com nitrato (22g/kg de matéria seca) em comparação com dieta contendo ureia fornecida a bovinos Nelore x Guzerá reduziu a ingestão de matéria seca (HULSHOF et al., 2012). No entanto, os autores observaram que a adição de nitrato não influenciou na concentração de ácidos graxos de cadeia curta totais, sugerindo pouca inibição dos microrganismos devido ao nitrato. Os autores constataram ainda que a emissão de metano reduziu em 32% nas dietas com nitrato, e possivelmente, o nitrato como um dissipador de elétron não foi a única razão para a diminuição da emissão de metano, podendo o efeito tóxico do nitrito intermediário ter afetado os microrganismos e consequentemente a fermentação ruminal. Estequiometricamente, 4 moles de hidrogênio são redirecionadas para a redução de 1 mole de nitrato, equivalente a 258,7 g de metano por kg de nitrato. A mitigação de metano obtida foi de 5,0 g de metano por kg de matéria seca ingerida, resultando em uma eficiência de 87% (HULSHOF et al., 2012). van Zijderveld et al. (2011) estudaram a adição de 2,1% de nitrato de cálcio em substituição a ureia em dietas com teores de 34% de concentrado fornecido a vacas. Os autores observaram uma redução da produção de metano em 16% (g de metano por kg de matéria seca ingerida), e o consumo de matéria seca não foi alterado na dieta com nitrato (25 g de nitrato por kg de matéria seca). Quando é fornecido um teor elevado de nitrato, é provável que parte do nitrato ingerido e do nitrito formado no rúmen sejam absorvidos através da parede do rúmen para o sangue e perdido na urina (TAKAHASHI et al., 1998). El-Zaiat et al. (2014) estudaram dietas com ureia, 4,51% de nitrato encapsulado na dieta de ovinos Santa Inês e observaram que o nitrato encapsulado diminui a quantidade de protozoários no rúmen e a produção de metano também é reduzida, sem alterar o consumo de matéria seca pelos animais. A produção de metano foi de 28,6 e 19,1 L por kg de matéria seca ingerida, nos tratamentos com ureia e 4,51% de nitrato encapsulado, respectivamente. Newbold et al. (2014) realizaram dois experimentos, sendo que no experimento 1 estudaram a influência de teores de nitrato em 0; 0,6; 1,2; 1,8; 2,4 e 3% quanto a produção de metano na dieta de bovinos da raça Honlandês e observaram que o nitrato reduziu a produção de metano produzido em até 28%. No experimento 2 testaram teores de nitrato em 0; 0,48; 0,96; 1,44; 1,92 e 2,40% em dietas fornecidas a bovinos da raça Nelore quanto ao desempenho e observaram que, o peso corporal, o ganho de peso, o peso de carcaça e o rendimento de carcaça não foram influenciados pela adição de nitrato. No entanto, à medida que o teor de nitrato foi aumentado na dieta, o consumo de matéria seca 9 Ana Paula Alves Freire et al. reduziu e a eficiência alimentar foi aumentada. Assim como os autores anteriores, de Raphélis-Soissan et al. (2014), avaliaram 2% de nitrato ou 1,1% de ureia em rações para ovinos da raça Merino e verificaram que a adição de nitrato mitiga metano, além disso verificaram aumento no pH ruminal, na concentração de acetato e na relação acetato:propionato e redução nas concentrações de propionato. Velazco, Cottle e Hegarty (2014) forneceram dietas contendo 11,5% de proteína bruta com 0,89% de ureia ou 2,57% de nitrato de cálcio a bovinos da raça Angus, e observaram que o nitrato de cálcio não influenciou o consumo de matéria seca pelos animais, e diferentemente de outros estudos não verificaram influencia na produção de metano. A vantagem energética na produção seja de carne ou leite, devido a redução da produção de metano pela adição de nitrato, é pouco mostrada na literatura. Segundo El-Zaiat et al. (2014) a adição de nitrato de cálcio não apresentou benefícios no aumento do ganho de peso de ovinos e van Zijderveld et al. (2011) não observaram aumento na produção de leite de vacas. Newbold et al. (2014) avaliaram teores crescentes de nitrato até 2,4% e observaram redução do consumo de matéria seca por bovinos, no entanto o peso corporal final dos animais não foram afetados, e a eficiência alimentar foi maior nos animais que consumiram teores crescentes de nitrato. CONSIDERAÇÕES FINAIS EL-ZAIAT, H. M.; ARAUJO, R. C.; SOLTAN, Y. A.; MORSY, A. S.; LOUVANDINI, H; PIRES, A. V.; PATINO, H. O.; CORREA, P. S.; ABDALLA, A. L. Encapsulated nitrate and cashew nut shell liquid on blood and rumen constituents, methane emission, and growth performance of lambs. Journal of Animal Science, Champaign, v.92, p.2214-2224, 2014. GRAINGER, C.; WILLIAMS, R.; CLARKE, T.; WRIGHT, A. D. G.; ECKARD, R. J. Supplementation with whole cottonseed causes long-term reduction of methane emissions from lactating dairy cows offered a forage and cereal grain diet. Journal of Dairy Science, Champaign, v.93, p.2612-2619, 2010. HALES, K. E.; COLE, N. A.; MACDONALD, J. C. Effects of corn processing method and dietary inclusion of wet distillers grains with solubles on energy metabolism, carbon-nitrogen balance, and methane emissions of cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v.90, p.3174-3185, 2012. HRISTOV, A. N.; OH, J.; FIRKINS, J. 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Foram avaliadas 36 cadelas, sem predileção de raça, idade, e porte, submetidas à anamnese, exame físico para a classificação clínica do câncer (TNMc), exames de rotina no pré-operatório e amostra histopatológica coletada após a cirurgia para caracterização do tipo de tumor. Todos os animais tiveram como tratamento a mastectomia. A amostra foi analisada com predominância de idade 6-10 anos (55,5%), e a obesidade estava presente em apenas 16,7% delas e 83,3% de escore normal. A maioria das cadelas eram nulíparas (55,5%), apresentando pseudogestação (25,0%), tumoração das mamas inguinais (75,0%), em ambas as cadeias, com nódulos multicêntricos (77,8%), prevalecendo nódulos (27,0%) de tamanho superior a 2cm de diâmetro, e no histopatológico prevaleceu o carcinoma complexo (30,5%), com intensa anaplasia, anisocariose e anisocitose. Conclui-se que pseudogestação, nuliparidade, idade, localização, tamanho e classificação das neoplasias mamárias são importantes fatores prognósticos que podem subsidiar o clínico veterinário para uma abordagem sistematizada desses animais. Com esta prática há a possibilidade da realização do diagnóstico precoce aumentando às alternativas do tratamento e cura. P A L A V R A S - C H A V E 1 Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Ciência Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. ² Médica Veterinária autônoma ³ Professor (a) do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. *Autor para correspondência: [email protected] Oncologia, tumoração da mama, câncer, cães. Clinical and histopathological aspects of bitches with breast cancer that underwent mastectomy ABSTRACT This study aimed to analyze the clinical and histopathological aspects of bitches with breast cancer that underwent mastectomy. 36 bitches were studied there was without predilection for race, age, and size, to medical history, physical examination for clinical classification of cancer (TNMc), routine tests before surgery and histopathology samples collected after mastectomy for characterization of tumor type. All animals underwent mastectomy as treatment. Analysis of the sample showed a predominance of subjects with ages 6-10 years (55,5%), normal score (83,3%) with a mixed diet intake (55,5%). The majority (55,5%) of the bitches were nulliparous, with pseudocyesis (25,0%), tumors in inguinal glands (75,0%), in both sides of the midline, with multicentric nodules (77,8%), with a prevalence of nodules (27,0%) larger than 2cm in diameter, while on histopathology there was a higher prevalence of complex carcinomas (30,5%), with severe anaplasia, anisokaryosis and anisocytosis. It is concluded that pseudopregnancy, nulliparity, age, location, size and classification of mammary tumors are important prognostics factors that can subsidize the veterinary practitioner a systematic approach to these animals. With this practice there is the possibility of holding early diagnosis increases the treatment and healing alternatives. K E Y W O R D S Oncology, mammary tumor, cancer, dogs. 13 Michelle Suassuna de Azevedo Rêgo et al. INTRODUÇÃO Os tumores da mama representam 52,0% de todas as neoplasias na fêmea canina, sendo que 50,0% destas são malignas (Mac EWEN e WITHROW, 1996). A etiologia do câncer de mama é multifatorial, com participação de fatores genéticos, ambientais, infecciosos, nutricionais e, principalmente, de fatores hormonais, sendo essa considerada uma neoplasia hormônio-dependente (SILVA et al., 2004). Na cadela, existe grande controvérsia no que se refere aos fatores predisponentes que podem estar associados aos tumores de mama. Alguns autores associam as neoplasias da mama a desordens endócrinas decorrentes de cistos foliculares e corpo lúteo persistente, além de outros fatores como pseudogestação, nuliparidade, obesidade e utilização de progestágenos (MOL et al., 1997). Contudo, esses fatores não são significativos para carcinogênese da mama (MORRISON, 1998). Há uma maior prevalência de neoplasias em fêmeas da espécie canina quando comparada aos machos, e os tumores de mama são responsáveis pela prevalência desses processos neoplásicos. Animais com idade entre 8 e 12 anos são os mais acometidos (Silva, 2001). Cadelas bem nutridas apresentam menor ocorrência de câncer de mama que as obesas. Desse modo, fatores nutricionais podem ter papel no desenvolvimento do tumor de mama (Mac EWEN e WITHROW, 1996). Dieta rica em gordura animal, que resulta em obesidade, aumenta a probabilidade do aparecimento dos tumores de mama na mulher e nos roedores. Contudo, a gordura animal atua muito mais como um promotor do que iniciador da carcinogênese (COTRAN et al., 2000). Para as neoplasias da mama em fêmeas da espécie canina, a mastectomia constitui a terapia de escolha, com exceção dos carcinomas inflamatórios as metástases à distância. Foi observada mínima atividade antitumoral com a combinação de quimioterápicos como a doxorrubicina e ciclofosfamida ou a cisplastina como agente único, nos tumores de mama (Mac EWEN e WITHROW, 1996). Diante do aspectos abordados e da necessidade de estudos desta enfermidade na espécie canina, este trabalho teve por objetivo analisar os aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomia. MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa foi realizada no Hospital Veterinário do Departamento de Medicina Veterinária (DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), envolvendo os setores de Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais e os Laboratórios de Patologia Clínica Veterinária e de Patologia Animal, além do Laboratório de Biologia Molecular Aplicada à Produção Animal (BIOPA), localizado no Departamento de Zootecnia. Foram utilizadas 36 cadelas da rotina clínica e cirúrgica, todas com autorização dos proprietários e a aprovação do Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UFRPE nº 017/2011, no período de agosto de 2010 a março de 2011. Na anamnese, os proprietários foram questionados sobre: idade, 14 antecedentes genéticos, tipo de alimentação, ambiente onde vive, se é vacinado e vermifugado, regularidade do cio, se é ovariectomizada, ocorrência de pseudo-gestação, de corrimentos vaginais, frequência do uso de progestágenos contraceptivos, histórico reprodutivo, entre outros. Os animais foram submetidos ao exame físico geral e ao exame específico das mamas. No geral avaliou-se a idade, porte dos animais, estado corporal, e raça, e no específico das mamas, identificaram-se as lesões tumorais quanto ao número, tamanho, localização, consistência, aderência à fáscia e músculos abdominais, e a descrição do aparecimento de edema, necrose, inflamação, ulceração e secreção. Também foi realizada a avaliação macroscópica de nódulos cutâneos e alterações dos linfonodos regionais axilar e inguinal. Quanto à idade, os cães foram classificados em: adultos (de um a nove anos) e idosos (maiores de dez anos). A classificação do porte físico dos animais obedeceu às normas do manual da confederação do Brasil Kennel Clube, no qual o porte é obtido a partir da altura entre o solo e a cernelha, com o animal em posição, apoiado sobre os quatro membros. Animais com até 35 cm foram classificados como de porte pequeno, de 36 a 46 cm de porte médio e acima de 46 cm de porte grande (CBKC, 1987). A condição corporal foi avaliada segundo os critérios da Hill’s (2008) pela visualização do estado geral do animal durante o exame físico. As cadelas foram classificadas como magras, normais e obesas. A raça foi estabelecida pela visualização das características de cada animal, seguindo os padrões das mesmas. Quanto à localização, as neoplasias foram classificadas em mama torácica cranial, mama torácica caudal, mama abdominal cranial, mama abdominal caudal e mama inguinal (Figura 1A). Quanto ao tamanho dos tumores, ao comprometimento linfonodal e metástase, os animais foram classificados de acordo com o sistema TNM proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (MISDORP et al., 1999). A classificação pelo TNM-clínico (adaptado de EISENBERG e KOIFMAN, 2000), tem como base os seguintes critérios: T= Tamanho ou Extensão Tumoral (maior diâmetro do tumor primário); Tx – tumor primário não pode ser avaliado; T0 – nenhuma evidência de tumor primário; TIS – carcinoma in situ ou doença de Paget do mamilo sem tumor adjacente; T1 – 2 cm ou menos; T2 - > 2,0 até 5,0 cm; T3 - > 5,0 cm; T4 – qualquer tamanho de tumor com extensão direta para parede torácica ou pele; T4a – extensão à parede torácica; T4b – edema, ulceração da pele ou nódulos cutâneos satélites confinados à mesma mama; T4c – T4a + T4b T4d – carcinoma inflamatório; N = Envolvimento Linfonodal; Nx – linfonodos regionais não podem ser avaliados; N0 – ausência de metástases para linfonodos regionais; N1 – metástases para linfonodos regionais ipsilaterais móveis; N2 - metástases para linfonodos regionais ipsilaterais fixos (linfonodos fixos uns aos outros ou fixos a outras estruturas); N3 – metástases para linfonodos da cadeia mamária interna ipsilateral; M = Metástase à Distância; Mx – metástases não podem ser avaliadas; M0 – não existem metástases; M1 – presença de metástases à distância. Após a avaliação destes fatores, os casos foram agrupados em estágios que variavam de I a IV graus crescentes de acordo Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 13-19 - janeiro/abril, 2015 Aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomia Tabela 3: Percentual (média ± desvio padrão) de integridade do acrossoma (iAC), integridade da membrana plasmática (iMP) e alto potencial de membrana mitocondrial (aPMM) de espermatozoides caprinos Boer pós-descongelação, suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação Estadiamento Tamanho Linfonodo Metástase Estádio 0 Estádio I Estádio IIA TIS T1 T0 T1 T2 T2 T3 T0 T1 T2 T3 T4 *qqT N0 N0 N1 N2 N0 N1 N0 N2 N2 N2 N1, N2 *qqN N3 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 *qqT *qqN M1 Estádio IIB Estádio IIIA Estádio IIIB Estádio IV *qqT- qualquer tamanho, *qqN- qualquer envolvimento linfonodal com a gravidade da doença (Quadro1). Para tais informações utilizou-se uma ficha clínica de acompanhamento de tumores da mama. Os proprietários foram orientados a trazerem seus animais em jejum alimentar de 12 horas e hídrico de seis horas ao ambulatório da Área de Cirurgia de Pequenos Animais e encaminhados para a tricotomia do abdômen ventral e puncionamento da veia cefálica para a manutenção do animal em venóclise com solução de ringer com lactato. Os animais foram sedados com acepromazina (0,2mg/kg) associado com sulfato de atropina (0,044mg/kg) intravenoso, e encaminhados ao bloco cirúrgico. Realizou-se a indução anestésica com propofol (4mg/ kg) intravenoso, e intubados com sonda orotraqueal e oxigênio a 100% e a manutenção com isofluorano. Como indutor de dor foi aplicado o Tramadol (4mg/kg) intravenoso. Os animais foram colocados em decúbito dorsal, feita a antissepsia da pele com povidine tópico e colocação dos campos cirúrgicos (Figura 1B). Utilizou-se instrumental básico de cirurgia geral (diérese, hemostasia e síntese) em todos os casos e procedendo-se a mastectomia. As massas tumorais foram removidas com áreas de segurança de aproximadamente 1cm do tecido sadio. O leito cirúrgico em todos os atos foi lavado com soro fisiológico a 0,9% à temperatura ambiente e aspirado com compressa cirúrgica. Realizou-se ovariosalpingohisterectomia associada à mastectomia em apenas algumas cadelas. As hemostasias foram realizadas com pinças hemostáticas e ligadas com categut cromado número 1 e fechamento abdominal e da pele com mononylon 2-0 com pontos simples (Figura 1C). Sobre a ferida cirúrgica colocamos curativo compressivo. As mamas ou fragmentos de tecido da mama foram imediatamente encaminhados ao Setor de Patologia Animal, após extirpação cirúrgica da lesão para serem registradas, examina- Figura 1: A) Neoplasia mamária localizada na região abdominal caudal direita com pontos de ulceração em cadela. B) Preparação da mastectomia, com colocação de campos cirúrgicos. C) Mastectomia da cadeia mamária direita. A Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 13-19 - janeiro/abril, 2015 B C 15 Michelle Suassuna de Azevedo Rêgo et al. das detalhadamente, pesadas, sendo as características macroscópicas das lesões anotadas no livro de registro e em fichas apropriadas e fotografadas. Em seguida foram colhidos fragmentos de cada porção lesada para posterior estudo histológico. Estes fragmentos foram fixados em solução de formol neutra tamponada a 10%, desidratadas, diafanizados, embebidos em parafina, laminados em micrótomo com espessura de 5 micra e corados pela hematoxilina-eosina (HE) de acordo com a técnica preconizada por Luna (1968) e Prophet (1992). A classificação dos tumores de mama teve como base a proposta de Misdorp et al. (1999) publicada pela AFIP (Armed Forces Institute of Patology). RESULTADOS E DISCUSSÃO O peso das cadelas variou de 2,6 a 40 kg com média de 15,5, sendo que 6/36 (16,7%) dos animais eram de pequeno porte com peso variando de 2,6 a 7,8 kg, 23/36 (63,9%) de porte médio com peso entre 7 a 21 kg e 7/36 (19,4%) de porte grande com peso de 20 a 40 kg. A obesidade estava presente em apenas 6/36 (16,7%) delas, sendo as outras 30/36 (83,3%) de escore normal, discordando com Mac Ewen e Withrow (1996), quando verificaram que cadelas bem nutridas apresentam menor ocorrência de câncer de mama que as obesas. Nesta pesquisa, 20/36 (55,5%) das cadelas recebiam alimentação mista (caseira e ração industrializada), sendo que 12/36 (33,3%) das cadelas receberam exclusivamente ração industrializada e 4/36 (11,1%) apenas comida caseira. Observou-se idade mínima de cinco e a máxima de 16 anos, com média de 10,1. Das 36 cadelas, 20/36 (55,5%) delas estavam na faixa de seis a 10 anos, 15/36 (41,6%) acima de dez anos e apenas 1/36 (2,7%) animal abaixo de seis anos. Esses percentuais mais elevados nos animais de seis a 10 anos estão próximos aos de Silva (2001) quando afirma que os tumores de mama são responsáveis pela prevalência dos processos neoplásicos nas fêmeas caninas com idade entre 8 e 12 anos. A partir de dados, fornecidos pelos proprietários, sobre a vida reprodutiva dos animais analisados, observou-se o número médio de partos por animal sendo de 1,0, onde o número máximo foi três e o mínimo zero, 20/36 (55,5%) cadelas eram nulíparas, com distribuição de 9/22 (40,9%), 6/8 (75,0%) e 5/6 (83,3%) animais de portes médio, grande e pequeno, respectivamente, e 16/36 (44,5%) haviam tido pelo menos uma cria, sendo distribuídas em 13/22 (59,0%), 2/6 (33,3%) e 1/8 (12,5%) cadelas de médio, grande e pequeno porte, respectivamente, confirmando os dados da literatura que denotam maior susceptibilidade de animais nulíparos ou com pequena quantidade de crias no desenvolvimento de tumores da mama (KOHLI et al., 1998). Dos animais estudados, 30/36 (83,3%) apresentaram cios regulares e 6/36 (16,6%), sendo 4/22 (18,1%) de porte médio e 2/6 (33,3%) de porte pequeno, foram ovariectomizadas após o terceiro ano de vida. Os animais ovariectomizados nesta pesquisa, não se encontravam na faixa etária onde Johnston (1993) acredita haver alguma função protetora no desenvolvimento das neoplasias mamárias, que se estende até dois anos 16 e meio. De Nardi et al. (2002) preconizam a esterilização antes do primeiro estro para a prevenção, no entanto Silva (2003) acredita que a esterilização deve ocorrer após o primeiro cio para que o animal tenha pleno desenvolvimento endócrino. A história de pseudogestação esteve presente em 9/36 (25,0%) animais, na sequência dos portes médio 5/22 (22,7%), grande 3/8 (37,5%) e pequeno 1/6 (16,6%). Apenas 3/22 (13,6%) cadelas (porte médio) apresentaram secreção vaginal, 14/36 (38,8%) (11/22 (50,0%) de porte médio, 2/8 (25,0%) grandes e 1/6 (16,6%) de porte pequeno) receberam anticoncepcionais e 4/36 (11,1%) (3/22 (13,6%) de médio porte e 1/8 (12,5%) de grande porte) apresentaram aborto até o momento do estudo. Na cadela existe controvérsia no que se refere aos fatores que podem estar associados aos tumores mamários. Todavia, pseudogestação, nuliparidade e utilização de progestágenos vem sendo continuamente indicados como predisponentes (MOL et al., 1997; SILVA et al., 2004). No entanto para Morrison (1998) número de crias, pseudogestação, ciclo estral anormal não são fatores significantes para tumorigênese mamária. As lesões mostraram-se mais frequentes nas mamas inguinais, acometendo 27/36 (75,0%) animais com diferente distribuição entre as cadeias esquerda (40,7%) e direita (18,6%) e em ambas (40,7%), com predominância da esquerda. Dos 36 casos, oito (22,2%) apresentaram um único nódulo mamário enquanto que o envolvimento multicêntrico estava presente em 28/36 (77,8%) animais, onde 20/36 (55,5%) tinham envolvimento bilateral, 4/36 (11,1%) tinha envolvimento apenas do lado direito, percentual idêntico da incidência de envolvimento apenas do lado esquerdo. Os tumores localizados nas mamas abdominais e inguinais representaram 88,8% dos tumores primários dessa pesquisa, dados semelhantes ao encontrado por Moulton (1990), Mac Ewen e Withrow (1996), Fonseca (1999) e Burini (2002) que afirmam que a frequência de neoplasia mamária é significativamente maior nas mamas inguinais e abdominais, sem explicações para tais acontecimentos. Enquanto Moulton (1990) afirma que essas mamas são mais acometidas, devido a maior quantidade de parênquima mamário, sofrendo assim maior alteração proliferativa em resposta aos hormônios. Pela apresentação macroscópica dos tumores, concluímos que os animais acometidos de tumores multicêntricos foram maioria absoluta, totalizando 77,8% do total de casos tratados. Resultado superior ao encontrado por Burini (2002) que relata 57,0% de acometimento multicêntrico dos animais pesquisados. Moulton (1990) afirma que o envolvimento multicêntrico pode chegar a 50,0% dos casos. Segundo Donegan e Spratt (1988) o câncer de mama na cadela é frequentemente um processo multifocal e é comum o desenvolvimento independente de câncer entre as mamas. Quando se divide o número total de tumores encontrados pela quantidade de animais tratados, têm-se uma média de 3,05 tumores por animal, um número bastante alto se considerarmos que 22,2% dos animais não apresentavam tumores multicêntricos. Um animal apresentava tumores em 7 mamas das duas cadeias mamárias. Em 27/36 (75,0%) dos animais, os tumores apresentaram integridade cutânea, valor próximo ao encontrado por Burini Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 13-19 - janeiro/abril, 2015 Aspectos clínicos e histopatológicos de cadelas com neoplasia mamária submetidas à mastectomia (2002) que relata 78,0% de tumores íntegros no seu estudo. Segundo Cassali et al. (2002) ulcerações têm efeito significativamente negativo no tempo de sobrevida dos animais. No nosso estudo, 9/36 (25,0%) dos tumores primários apresentavam ulcerações, sendo que a totalidade dos tumores que apresentava essas ulcerações tinha comportamento maligno, dados que corroboram com a afirmação que ulcerações pioram o prognóstico do paciente. Do grupo de animais pesquisados, 21/36 (58,3%) tinha acometimento das duas cadeias mamárias, 7/36 (19,4%) somente da cadeia mamária direita e 8/36 (22,2%) da cadeia mamária esquerda. Em 1/36 (2,7%) dos casos foi constatada alteração de volume do linfonodo, o que não é suficiente para confirmar um quadro de metástase local, apenas demonstra o linfonodo responsivo a afecções. O acometimento neoplásico linfonodal encontrado com exame histopatológico por Cavalcanti e Cassali (2006) foi de 10,0%, muito acima do encontrado em nosso estudo, associado a um pior diagnóstico (QUEIROGA e LOPES, 2002). Dos animais pesquisados, 11 (30,5%) tiveram o tumor classificado como carcinoma complexo com falta de orientação de crescimento, anisocariose e anisocitose e intensa anaplasia; 9 (25,0%) carcinoma túbulo-papilar com reduzida relação citoplasma núcleo, núcleos proeminentes, claros e granulares, infiltrado mononuclear, focos de necrose e anisocitose; 7 (19,4%) carcinossarcoma com anisocitose, algumas áreas de mineralização, infiltrado mononuclear e inflamação; 2 (5,6%) fibrossarcoma com anaplasia, anisocariose e anisocitose e falta de orientação de crescimento; 2 (5,6%) carcinoma simples com anisocitose, anaplasia citoplasmática e nuclear, células arredondadas ou alongadas; 1 (2,8%) carcinoma misto com estrutura complexa de origem ectodérmica; 1 (2,8%) carcinoma sólido com baixa relação núcleo citoplasma e anisocariose; e 3 (8,3%) material inconclusivo. Na Figura 2 observam-se características quanto a classificação histopatológica de carcinoma túbulo-papilar (Figura 2A), carcinoma complexo (Figura 2B) e carcinossarcoma (Figura 2C). Sorenmo (2003) encontrou o aumento de malignidade do carcinoma complexo para o carcinoma simples, e deste para o sarcoma. Considerando apenas o grupo dos carcinomas simples, foi observada a seguinte ordem crescente de malignidade: não-infiltrativo (in situ); túbulo-papilar; sólido e anaplásico. Enquanto que no presente trabalho, observou-se que apresentaram o maior grau de malignidade foram: carcinoma complexo, carcinoma simples, sólido e fibrosarcoma. Os carcinossarcomas são compostos de componentes epiteliais e mesenquimais malignos. Os animais portadores possuem um prognóstico desfavorável e desenvolvem metástases no primeiro ano após a cirurgia (BENJAMIN et al., 1999). Animais que apresentavam tumores em estádio avançado de crescimento (maiores que 5cm) representaram 11/36 (30,5%) dos casos, enquanto tumores com diâmetro de 3 a 5cm representaram 13/36 (36,1%). 12/36 (33,3%) dos cães apresentavam processo neoplásico em fase considerada inicial, com nódulos de até 3 cm. O tamanho tumoral é um dado muito importante no que diz respeito ao prognóstico do animal. Os resultados atestam a busca tardia de tratamento como comportamento geral dos proprietários. Tumores malignos representaram 100,0% do total pesquisado, pois este era um requisito para a inclusão nesta pesquisa. Observou-se que 8/36 (22,2%) se encontravam em estádio clínico I que apresenta grandes possibilidades de cura por meio da remoção cirúrgica do tumor, no entanto, o animal pode, eventualmente, desenvolver a forma disseminada e vir a óbito, antes da detecção clínica (BURINI, 2002). Metástase foi diagnosticada, em 1/36 (2,7%) do total de animais, a partir de exame histopatológico do linfonodo. Este mesmo animal apresentou estádio IV, ou seja, o pior prognóstico, enquanto 27/36 (75,0%) estavam em estádio II e III, que por definição não inclui pacientes com evidência de metástase à distância. De uma forma geral, o avançado estado evolutivo dos tumores pesquisados no que diz respeito ao tamanho, preservação da integridade cutânea e multicentricidade, evidencia que o prognóstico ruim de forma geral dos animais pesquisados se deve a busca tardia do tratamento, demonstrando assim um comportamento pouco cuidadoso dos proprietários desses animais, muitas vezes orientados por veterinários, que, infeliz- Figura 2: A) Carcinoma túbulo-papilar. Formação de túbulos com projeções papilares. Glândula mamária, cadela, 12 anos. Hematoxilina & Eosina, obj.40x/0,65. B) Carcinoma complexo. Células epiteliais em um padrão sólido a tubular e células tipo mioepiteliais (seta vazada). Inúmeras mitoses (seta cheia) Glândula mamária, cadela. Hematoxilina & Eosina, obj. 40x./0,65. C) Carcinossarcoma. Presença de células epiteliais e células semelhantes a elementos do tecido conjuntivo maligno. Hematoxilina & Eosina, obj.10x./0,65. A B Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 13-19 - janeiro/abril, 2015 C 17 Michelle Suassuna de Azevedo Rêgo et al. mente, preferem esperar o crescimento do tumor antes do tra- EISENBERG A.L.A.; KOIFMAN S. Aspectos gerais dos adenocarcitamento. Com essa prática, além da possibilidade de evolução nomas de mama, estadiamento e classificação histopatológica com de quadros neoplásicos malignos, fato que piora sensivelmente descrição dos principais tipos. Revista Brasileira de Cancerologia, o prognóstico do paciente, devido a disseminação do tumor, v. 46, 63-77p., 2000. tumores inicialmente benignos podem sofrer malignização. FONSECA C. S. Avaliação dos níveis séricos do α-estradiol e progesterona em cadelas portadoras de neoplasias mamárias, 1999, 87f. CONCLUSÕES Dissertação (Mestrado em Clínica Veterinária), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, JabotiConclui-se que pseudogestação, nuliparidade, idade, locabal, SP. calização, tamanho e classificação das neoplasias mamárias são importantes fatores prognósticos que podem subsidiar o GREENWALD P. et al. Diet and cancer prevention. European Journal clínico veterinário para uma abordagem sistematizada desses of Cancer, v. 37, 948-965p, 2001. animais. Com esta prática há a possibilidade da realização do diagnóstico precoce aumentando às alternativas do tratamen- GREENWALD P. Role of dietary fat in the causation of breast cancer: to e cura. point. Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, v. 8, 3-7p, 1999. REFERÊNCIAS GUIA NUTRICIONAL HILL’S, 2008. Disponível em: <http: www. hillspet.com. Acesso em 10 de dezembro de 2010. 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[email protected]. * autor para correspondência. ² Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. CEP: 59280-000, Macaíba-RN. [email protected]; [email protected] ³ Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte – EMATER. CEP: 59064-901, Natal -RN. clazootecnista@yahoo. Avaliaram-se os parâmetros seminais e testiculares de 17 carneiros (cinco Santa Inês, cinco Dorper e sete mestiços ¾ Dorper + ¼ Santa Inês). A coleta de dados foi realizada quinzenalmente. Os ejaculados foram colhidos em vagina artificial, mantidos em banho-maria (37 °C) e avaliados quanto ao volume, aspecto, vigor, motilidade, turbilhonamento, concentração, morfologia e viabilidade espermática. Houve diferença significativa (P <0,05) entre as raças para perímetro escrotal, temperatura retal e algumas das características seminais. O volume do ejaculado foi maior (P <0,05) na Dorper (1,27 ± 0,1 ml) comparado à Santa Inês (0,81 ± 0,1 ml) e mestiços (1,00 ± 0,1 ml). A motilidade espermática foi significativamente maior nos carneiros Santa Inês e mestiços (85,5 ± 2,2 e 85,2 ± 1,4%, respectivamente) do que no Dorper (77,8 ± 3,2%). O total de espermatozoides anormais, a porcentagem de defeitos maiores e a temperatura retal média foram mais elevados (P <0.05) na Dorper do que nas outras raças. As evidências sugerem que os carneiros da raça Santa Inês e mestiços apresentam melhor desempenho reprodutivo sob as condições em que o estudo foi conduzido, possivelmente por estarem mais bem adaptados às condições ambientais da região. PA L AV RAS - C H AV E com.br 4 Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA, Mossoró –RN. [email protected] Estresse térmico, perímetro escrotal, qualidade de sêmen, morfologia espermática, ovino Seminal and testicular characteristics of Dorper, Santa Inês and crossbreed rams in a semi-arid tropical environment ABSTRACT The seminal and testicular parameters of 17 rams (five of Santa Ines, five Dorper and seven crossbreed - ¾ Dorper + ¼ Santa Inês) were evaluated every two weeks. The ejaculates were collected by artificial vagina and after collection; the semen was kept in a water bath (37°C) and evaluated for volume, aspect, vigor, total motility, mass motility, concentration, morphology and viability. Significant differences (P<0.05) were observed between breeds for the scrotal circumference, rectal temperature and some of the seminal characteristics. The semen volume was greater (P <0.05) in the Dorper (1.27 ± 0.1 ml) compared to Santa Ines (0.81 ± 0.1 ml) and crossbreed (1.00 ± 0.1 ml) and significantly higher sperm motility was found for the Santa Ines and crossbreed (85.5 ± 2.2 and 85.2 ± 1.4%, respectively) compared to the Dorper rams (77.8 ± 3.2%). The total morphological abnormalities and the percentage of major defects were higher (P <0.05) in the Dorper than in the other breeds. The average rectal temperature was also significantly (P <0.05) higher in the Dorper than in the other breeds. The evidence suggests that Santa Ines and crossbreed rams show better reproductive performance under conditions in which the study was conducted, possibly because they are better adapted to the environmental conditions of the region. KEYWORDS 20 thermal stress, scrotal circumference, semen quality, sperm morphology, sheep Características seminais de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços em condições de clima tropical INTRODUÇÃO A região Nordeste possui o maior efetivo (57,2%) do rebanho ovino do país (IBGE, 2011). Nessa região, o rebanho é formado, predominantemente, por ovinos deslanados sem padrão racial definido (SPRD) e por animais puros das raças nativas Santa Inês, Somalis e Morada Nova. Em geral, a ovinocultura nordestina está voltada para a produção de carne e pele, de forma extensiva, sendo o desempenho produtivo e reprodutivo prejudicados pelo baixo nível de tecnologia aplicado ao sistema. Apesar de produzir cerca de oito toneladas de carne ovina/ ano (FAO, 2009) e desse tipo de carne apresentar valor comercial muito maior do que a carne de outras espécies animais, a produção brasileira não é suficiente para atender a demanda do mercado, devido principalmente, ao sistema de produção deficiente. Assim, precisa haver um aprimoramento no processo de produção como um todo, para que a atividade possa se tornar mais competitiva. Para isso a genética é fundamental. No entanto, é preciso investir não só em melhoramento genético, como também em opções de manejo, alimentação e sanidade dos rebanhos. As biotécnicas de reprodução como a inseminação artificial e a transferência de embriões, assim como a melhoria nos processos de congelação de sêmen, poderão contribuir para maximizar o uso de reprodutores. Porém é importante lembrar que para obter bons resultados com essas biotécnicas, deve-se partir de um sêmen de boa qualidade. Sendo assim, os reprodutores devem ser mantidos sob condições de ambiente e manejo que favoreçam a produção de sêmen de boa qualidade. Nos últimos anos tem havido a introdução de animais de raças exóticas especializadas para carne, como a Dorper, com o intuito de promover o melhoramento genético dos rebanhos. A raça Dorper quase sempre é apontada como alternativa para cruzamentos industriais, em acasalamentos com fêmeas da raça Santa Inês e do tipo SPRD (Silva et al., 2010) com o objetivo de melhorar os índices produtivos e a qualidade da carcaça (Cezar et al., 2004). No entanto, existe pouca informação sobre a fertilidade e o desempenho reprodutivo destes animais sob as condições de clima e manejo do Nordeste do Brasil. Portanto, é importante comparar as características reprodutivas dos animais Dorper com aqueles das raças nativas da região para que os produtores possam ter uma garantia de sucesso em seu investimento. O uso de reprodutores que produzam sêmen de boa qualidade é fundamental para maximizar o desempenho reprodutivo dos rebanhos. Assim, o objetivo deste estudo foi obter informações sobre as características seminais e testiculares de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços (¾ Dorper + ¼ Santa Inês) criados nas condições de clima e manejo do Nordeste do Brasil. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Fazenda São Joaquim, localizada no município de Macaíba – RN, no período de 15 de fevereiro a 14 de maio de 2011. Durante o período experimental a temperatura média do ar foi de 31,8°C, a umidade re- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 20-25 - janeiro/abril, 2015 lativa foi de 80,9% e o ITU (índice de temperatura e umidade) 85,9. As coletas de dados ocorreram quinzenalmente, quando se realizava a colheita de um ejaculado, a medição do perímetro escrotal e da temperatura retal de cada animal. Realizava-se também, a medição da temperatura e umidade relativa do ar com o auxílio de um termo-higrômetro (GRX BRASIL, modelo 5195.03.0.00). Foram utilizados 17 machos ovinos adultos, com três a cinco anos de idade, clinicamente sadios e com escore de condição corporal 3,5 a 4, sendo cinco da raça Dorper, cinco Santa Inês e sete mestiços (¾ Dorper + ¼ Santa Inês). Os animais eram mantidos em um sistema de confinamento a céu aberto. Durante o dia permaneciam em um piquete de capim Pangola (Digitaria decumbes), onde recebiam uma suplementação alimentar (750 g/animal/dia) contendo milho, soja, torta de algodão, uréia e mistura mineral, com aproximadamente 17% de proteína bruta e capim elefante, palma forrageira e mandioca, picados, à vontade. Ao final da tarde, os carneiros eram levados ao centro de manejo onde pernoitavam com as fêmeas, para a realização dos acasalamentos. Durante a coleta de dados realizava-se inicialmente, a medição do perímetro escrotal com auxílio de fita métrica, aferida em centímetros, com precisão de 1,0mm; no ponto de maior diâmetro testicular. Em seguida, procedia-se a medição da temperatura retal (TR) utilizando-se um termômetro clínico com escala em mercúrio de 35 a 43°C o qual era introduzido no reto do animal onde permanecia por cerca de três minutos e então era feita a leitura da temperatura. Após estas avaliações, procedia-se a colheita dos ejaculados. Os ejaculados foram colhidos pela técnica da vagina artificial, pois a mesma não provoca dor e produz um ejaculado de melhor qualidade, comparada à técnica do eletroejaculador (Chemineau et al., 1991; Evans e Maxwell, 1987). Após a inibição inicial, devido a presença de humanos, todos os animais se submeteram a colheita voluntariamente. Utilizou-se uma vagina artificial aquecida (41 a 42°C) e uma fêmea em estro para estimulação do macho. De cada animal foram colhidos seis ejaculados. Após a colheita o sêmen era mantido em banho-maria a 37 oC e imediatamente, avaliado quanto ao volume, aspecto, turbilhonamento, motilidade e vigor espermático (Maia, 2010). Para a avaliação da motilidade espermática uma pequena gota de sêmen foi depositada sobre uma lâmina de vidro limpa e aquecida (37 ° C), diluída com uma gota de solução de citrato de sódio a 2,94% e coberta com lamínula e em seguida, examinada sob microscopia óptica (400x). Três campos foram analisados por lâmina e a percentagem de espermatozoides móveis estimada subjetivamente. Para avaliação do movimento de massa uma gota de sêmen puro foi depositada sobre uma lâmina de vidro (37 ° C) e avaliada sob microscópio óptico com uma ampliação de 100 x. O resultado foi expresso em notas numa escala de 0 a 5, onde zero correspondia a ausência de turbilhonamento e cinco ao turbilhonamento máximo (Maia, 2010; Chemineau et al., 1991;. Evans e Maxwell, 1987). Em seguida retirava-se uma amostra para a determinação da concentração espermática (diluição de 1:400, hematocitômetro) e preparava-se um esfregaço com uma gota de sêmen corada com eosina-nigrosina (Maia, 2010; Chemineau et al., 1991; Evans e Maxwell, 1987) para posterior avaliação da mor- 21 Marciane da Silva MAIA et al. fologia espermática e porcentagem de vivos. A morfologia espermática foi determinada em 200 espermatozoides/lâmina e as anomalias observadas foram classificadas em defeitos maiores e defeitos menores conforme o modelo proposto por Blom (1973). As avaliações foram feitas sob microscopia de luz (1000 x, sob imersão -BIOVAL – L1000, Brasil) com o auxílio de um contador de células digital (CH@MPION-VET, AS-24, Brasil). Todas as avaliações foram realizadas no Laboratório de Tecnologia de Sêmen (LATES), localizado na estação experimental da EMPARN, em Parnamirim-RN. Análise estatística Os dados foram analisados estatisticamente utilizando-se a análise de variância (ANOVA) para determinar o efeito da raça sobre os diferentes parâmetros considerados. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 95% de confiança. Os valores percentuais foram submetidos à transformação logarítmica para homogeneização das variâncias, e em seguida submetidos à ANOVA. Realizou-se também a análise de correlação (coeficiente de correlação linear de Pearson) entre os parâmetros espermáticos e a temperatura retal (TR) e perímetro escrotal (PE). Todas as análises foram realizadas com o auxílio do programa estatístico Statgraphics (Statistical Graphis Corp., USA). Os carneiros da raça Santa Inês e os mestiços apresentaram motilidade significativamente maior que os da raça Dorper. A concentração espermática, bem como, a porcentagem de vivos, turbilhonamento e defeitos menores não diferiu significativamente entre as raças (Tabela 1). O valor médio da concentração espermática foi 3.591,6 x106 sptz/mL. O total de defeitos espermáticos (TDE) e o percentual de defeitos maiores (DMA) diferiram significativamente entre as raças. Os carneiros da raça Dorper apresentaram TDE e DMA mais altos que aqueles observados para a raça Santa Inês e mestiços, os quais, não diferiram entre si (Tabela 1). Dentre as patologias espermáticas observadas, destacaram-se as patologias de acrossoma (37,11%), cauda dobrada (13,63%), cauda fortemente dobrada (12,24%), gota proximal (10,20%), gota distal (6,82%) e cabeça solta normal (5,13%). O perímetro escrotal foi significativamente maior nos carneiros mestiços comparados aos Dorper e semelhante ao Santa Inês (Tabela 1). Houve baixa correlação positiva entre PE e concentração espermática (Tabela 2). A temperatura retal (TR) foi significativamente maior (P < 0,05) nos carneiros da raça Dorper comparada à Santa Inês e mestiços, os quais apresentaram médias semelhantes entre si (Tabela 1). Os parâmetros seminais, motilidade (MT), concentração e vivos, correlacionaram-se negativamente, com a TR. EnquanRESULTADOS to que o percentual de espermatozoides anormais (TDE) e o percentual de DMA apresentaram uma alta correlação positiva O volume do ejaculado diferiu significativamente (P<0,05) com a TR e uma correlação negativa com o PE. Observou-se entre as raças. Os carneiros da raça Dorper apresentaram um também uma correlação positiva entre concentração espermáejaculado com volume maior, que os da raça Santa Inês e mes- tica e perímetro escrotal (Tabela 2). tiços. A motilidade espermática também foi afetada pela raça. Tabela 1 - Parâmetros seminais, testiculares e fisiológicos (media ± ep) de carneiros das raças Santa Inês, Dorper e Mestiços, no nordeste do Brasil Raça Média Geral (n = 102) CV (%) 1,00±0,1b 1,02±0,03 38,96 3936,3±204,2 3492,4±174,9 3591,6±116,1 32,69 77,8 ± 3,2b 85,5 ± 2,2a 85,2 ± 1,4a 81,9 ± 1,5 15,84 Vivos (%)* 82,7±1,7 83,0±2,1 84,9±1,3 83,7±1,0 11,35 MM (0 - 5) 4,2±0,1 4,3±0,1 4,3±0,1 4,3±0,1 15,04 Vigor (0 - 5) 4,00±0,1 4,4±0,1 4,2±0,1 4,2±0,1 17,31 TDE (%) 26,2±3,8a 17,7±1,3b 15,3±1,3b 19,2±1,5 20,32 DMA (%) 21,5±3,8 12,4±1,4 10,8±0,9 14,4±1,2 25,68 DME (%) 4,8± 0,6 5,3±0,7 4,5±0,7 4,8± 0,4 62,63 PE (cm) TR (°C) 35,0± 0,4b 39,59±0,11a 35,1 ± 0,4ab 38,68±0,09b 36,1 ± 0,3a 38,68±0,11b 35,6 ± 0,2 38,92±0,14 6,00 2,84 Parâmetro Dorper (n = 30) Santa Inês (n = 30) Mestiços (n = 42) V (mL) 1,27±0,1a 0,81±0,1c C (x106/mL) 3375,6±208,4 MT (%) a b b Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem entre si a P < 0,05, pelo teste de Tukey. *Coloração vital. V: volume; C: concentração espermática; MT: motilidade total; MM: turbilhonamento; TDE: total de defeitos espermáticos; DMA: defeitos maiores; DME: defeitos menores; PE: perímetro escrotal; TR: temperatura retal. 22 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 20-25 - janeiro/abril, 2015 Características seminais de carneiros das raças Dorper, Santa Inês e mestiços em condições de clima tropical Tabela 2 - Coeficiente de correlação linear de Pearson (r) entre a temperatura retal (TR) e perímetro escrotal (PE) com os parâmetros espermáticos V C MT MM VIVOS TDE DMA DME TR 0,17 -0,21* -0,28* -0,19 -0,20* 0,79** 0,86** 0,16 PE 0,06 0,20 0,09 0,15 0,09 -0,34 -0,31 -0,14 * ** ** *P<0,05 ** P<0,01. V: volume, C: concentração espermática, MT: motilidade total, MM: turbilhonamento, TDE: total de defeitos espermáticos, DMA: defeitos maiores, DME: defeitos menores, PE: perímetro escrotal, TR: temperatura retal. DISCUSSÃO Os valores dos parâmetros seminais e testiculares avaliados diferiram entre os três grupos de animais estudados e variaram bastante em comparação com diversos estudos realizados com ovinos deslanados (Maia et al., 2011; Frazão Sobrinho et al., 2009; Souza et al., 2007; Fourie et al., 2004). Porém, eliminando-se o fator raça, o valor médio de todos os achados está de acordo com os valores recomendados para a espécie ovina (CBRA 2013; Evans e Maxwell, 1987). A diferença entre os três grupos de carneiros pode ser atribuída às variações no grau de tolerância dos indivíduos ao estresse térmico. De acordo com Chemineau et al. (1991) a temperatura ambiente elevada observada em regiões tropicais, especialmente na estação seca, pode interferir com a termorregulação testicular refletindo negativamente sobre a espermatogênese e, portanto, sobre a qualidade do sêmen. Para avaliar a tolerância dos carneiros ao estresse térmico foi medida a temperatura retal dos animais, uma vez que este parâmetro tem sido utilizado para esta finalidade (Mota, 1997). A temperatura retal média (TR) dos animais foi de 38,9 °C, semelhante à referida por Raslan (2008) para fêmeas e machos no turno matutino e estava dentro do intervalo de termoneutralidade (38,8-39,9 °C) descrito por Marai et al. (2007) em ovinos. No entanto, houve diferença significativa entre as raças para TR, com os animais da raça Dorper mostrando os valores mais altos. Provavelmente, as condições ambientais sob as quais o estudo foi realizado foram estressante para os animais desta raça que eram menos tolerantes ao estresse térmico do que os animais Santa Inês e mestiços. Cezar et al. (2004) também relataram os animais Dorper e mestiços demonstraram menor grau de adaptabilidade ao ambiente semiárido do que os Santa Inês. Em nosso estudo, a média do ITU pela manhã foi de 85,9 que está na faixa considerada de emergência. O ITU é um índice de conforto térmico que pode ser relacionado com o desempenho do animal; quando acima da normalidade (até 70 normal; 71-78 crítico; 79-83 situação de perigo; 84 ou maior emergência; Hahn 1985 citado por Raslan, 2008) ocassiona estresse térmico e alterações fisiológicas e comportamentais nos animais, podendo comprometer a produtividade e sobrevivência. Trabalhando com os mesmos genótipos aqui avaliados (Santa Inês, Dorper e mestiços) Cezar et al. (2004) observaram que um ITU de 82,4 obtido no turno da tarde causou estresse térmico em todos os animais, resultando em elevação da temperatura retal, frequência respiratória e frequência cardíaca. Porém, os machos Dorper e mestiços apresentaram Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 20-25 - janeiro/abril, 2015 frequência respiratória, significativamente mais elevada que os Santa Inês. Possivelmente como mecanismo para eliminar o excesso de calor. Em carneiros, as características seminais mais afetadas pela temperatura ambiente elevada são a motilidade, vigor, concentração e morfologia (Maia et al., 2011; Moreira et al., 2001; Freitas e Nunes, 1992). Além disso, a elevação da temperatura retal a 39-39,5 °C afeta a espermatogênese, resultando no aparecimento de espermatozoides anormais no ejaculado algumas semanas mais tarde (Chemineau et al., 1991). Em nosso estudo, as anormalidades espermáticas mais frequentes foram as de acrossoma, cauda dobrada e enrolada, gota proximal e distal e cabeças soltas normais. Estes tipos de defeitos estão relacionados ao estresse térmico e / ou degeneração testicular (Moreira et al., 2001; Santos e Simplício, 2000; Barth e Oko, 1989). O percentual médio de anormalidades espermáticas totais (19,2%) foi inferior ao encontrado em outros estudos com animais da raça Dorper e Santa Inês (Maia et al., 2011; Souza et al., 2007; Fourie et al., 2004). No entanto, ao compararmos os três grupos de animais avaliados, observamos que os da raça Dorper apresentaram um maior percentual de defeitos espermáticos totais (TDE; 26,2%) e defeitos maiores (DMA), comparado às outras raças, valor este superior ao recomendado para espécie (CBRA, 2013). A constatação da temperatura retal mais elevada na Dorper que nas outras raças é indicativo de que esses animais estavam sofrendo estresse térmico nas nossas condições climáticas. Além disso, foi observada uma alta correlação positiva entre TDE e DMA com a TR. Assim, quanto mais elevada for a TR maior será a porcentagem de anomalias espermáticas. De acordo com Fourie et al. (2004) os carneiros da raça Dorper acumulam uma grande quantidade de gordura no tecido subcutâneo do cordão espermático e bolsa escrotal. Essa gordura escrotal pode interferir com o mecanismo de termorregulação testicular, o qual é essencial para uma ótima espermatogênese. Assim, todos esses fatores podem ter contribuído para a maior porcentagem de TDE e DMA observados na raça Dorper. Estes achados demonstram ainda, a influência da temperatura corporal elevada, em situações de estresse calórico, sobre as características seminais, em particular a morfologia espermática. A motilidade espermática também foi afetada pela raça. Os carneiros da raça Santa Inês e os mestiços apresentaram sêmen com motilidade espermática superior aos da raça Dorper, cujo valor (77,8%) foi inferior ao mínimo aceitável para sêmen ovino colhido em vagina artificial (CBRA, 2013). Essa diferença pode ser atribuída ao alto percentual de TDE obser- 23 Marciane da Silva MAIA et al. vado na Dorper, uma vez que existe uma relação negativa entre motilidade e anormalidade espermática (Bearden et al., 2004). Esse fato foi verificado em nosso estudo onde os dois grupos de animais com maior motilidade espermática (Santa Inês e Mestiços), também foram os que apresentaram o menor porcentual de células anormais, em relação ao Dorper. O perímetro escrotal diferiu entre os três grupos de animais sem, no entanto, apresentar qualquer efeito sobre a concentração espermática. Essa diferença pode ser atribuída à predominância do formato testicular longo-oval (Araújo et al., 2011) na raça Dorper, afetando o valor do PE em relação às outras raças. Observou-se também, uma ampla variação no perímetro escrotal em comparação com outros estudos realizados com animais deslanados (Salgueiro e Nunes, 1999; Bittencourt et al., 2003; Fourie et al., 2004; Monteiro, 2007; Maia et al., 2011), possivelmente em decorrência da variação na idade e peso dos animais, bem como, às diferenças no manejo nutricional dispensado aos mesmos (Siqueira Filho, 2007; Bittencourt et al., 2003). CONCLUSÕES Os carneiros Santa Inês e os mestiços mostraram-se bem adaptados às condições de clima e manejo da região onde o estudo foi realizado, produzindo sêmen de boa qualidade. Já os da raça Dorper demonstraram alterações espermáticas que podem comprometer sua capacidade fecundante, sendo necessário proporcionar a estes animais as condições adequadas de ambiente e manejo que favoreçam a produção de sêmen de boa qualidade. A termorregulação testicular influencia diretamente as características seminais, em particular a morfologia espermática, sendo o estresse calórico decorrente das altas temperaturas ambientais, um fator de efeito negativo sobre essa característica. A medição da temperatura retal pode ser utilizada como um parâmetro de avaliação da tolerância dos indivíduos ao estresse calórico e um indicador do seu impacto na qualidade seminal. BIBLIOGRAFIA tozoa. 1a ed. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 1989. 285p. BLOM, E. The ultrastructure of some characteristic sperm defects and a proposal for a new classification of the bull spermiogram, Nordisk Veterinaer Medicin, v.25, p. 383–391, 1973. CBRA (Colegio Brasileiro de Reprodução Animal). Manual para exame andrológico e avaliação de sêmen animal. 3ª ed. Belo Horizonte: CBRA, 2013. 104p. CEZAR, M.F.; SOUZA, B. B.; SOUZA, W. H. et al. 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Garanhuns-PE. 55 292-270. 4 Hospital Veterinário, Centro de Saúde e Tecnologia Rural (CSTR), Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos, 58700-000, Patos, PB, Brasil. Os relatos na literatura de linfoma em ovinos são escassos, logo o objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência dessa doença em uma ovelha atendida na Clínica de Bovinos, Campus-Garanhuns/UFRPE. Os achados foram obtidos de uma ovelha mestiça de quatro anos, pesando 40 kg, criada em sistema semi-intensivo. O proprietário relatou que adquiriu esse animal há três meses de outro rebanho e que há dois observou que o animal ficou apático, com perda do apetite e separado do rebanho, foi medicado na propriedade sem sucesso. Clinicamente apresentou um quadro de apatia, taquicardia, caquexia, anorexia, bem como hipomotilidade ruminal e intestinal. No hemograma evidenciou-se leucocitose por neutrofilia, com presença de leucócitos degenerados no esfregaço sanguíneo. A sorologia (IDGA) para vírus da Leucose Enzoótica Bovina foi negativa. Além desses achados, a ultrassonografia revelou um comprometimento pulmonar grave. O animal veio a óbito após sete dias. Na necropsia observou-se uma massa no tecido subcutâneo, aderida à região torácica caudal esternal, firme com características nodular e de coloração esbranquiçada. Nodulações idênticas e de tamanhos menores foram visualizadas na serosa do retículo e abomaso, com metástases nos rins, omento, linfonodos mesentéricos, diafragma, coração e pulmão. A histopatologia revelou estruturas atípicas disposta na forma de manto, com múltiplos vacúolos, com estroma fibroso entremeado. As células tumorais caracterizam-se por serem pequenas e arredondadas, basofílicas, com citoplasma escasso, núcleo grande e redondo, hipercromático, com cromatina densa e com raras mitoses. Estes achados indicam uma forma de linfoma espontâneo em ovelha. P A L A V R A S - C H A V E Ovino, neoplasia, linfoma, tumor, caquexia Spontaneous Occurrence of Malignant Lymphoma in Sheep: Case Report ABSTRACT There are very few reports of lymphoma in sheep in the literature. Therefore, the aim of the present study was to report the prevalence of this disease among sheep cared for in the Clinic of Cattle in the Campus Garanhuns of the Federal Rural University of Pernambuco (UFRPE). The results were obtained from a four year old sheep (weight 40 kg) that had been reared in a semi-intensive system. The owner reported that he had acquired this animal three months earlier from another herd and that, one month later; he had noticed that the animal was apathetic, no appetite and distanced itself from the herd. The animal was treated unsuccessfully on the farm. The animal exhibited clinical signs of apathy, tachycardia, cachexia and anorexia, as well as ruminal and intestinal hypomotility. The hemogram showed evidence of leukocytosis by neutrophilia, with the presence of deteriorated leukocytes in the blood smear. The serology (IDGA) for the enzootic bovine leukosis virus was negative. The ultrasound confirmed severe lung disease. The animal died after seven days. In the necropsy there was a mass in the subcutaneous tissue adhered to chest sternal there was a notable increase in the volume adhered in the external caudal subcutaneous region, with nodular characteristics and a whitish coloration. Identical, although smaller, nodulations were visualized in the serous membrane of the reticulum and the abomasum, with metastases in the kidneys, omentum, mesenteric lymph 26 Ocorrência espontânea de linfoma maligno em ovelha: Relato de caso nodes, diaphragm, heart and lungs. The histopathology revealed atypical mantle structures, with multiple vacuoles and interspersed fibrous stroma. The tumoral cells were small, round, basophilic, with scarce cytoplasm and a large, round nucleus, with hyperchromatic qualities, dense chromatin and rare mitosis. The results of the present study confirm that this was a case of atypical lymphosarcoma in the sheep in question. K E Y W O R D S sheep; neoplasia; lymphoma; tumor, cachexia. INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS A ocorrência de neoplasias em animais domésticos é frequentemente observada, no entanto estudos sobre as prevalências de tumores em pequenos ruminantes são escassos, principalmente por conta do abate desses animais em idade precoce (Ramos et al., 2008; Pawaiya & Pawam, 2011). Os principais sistemas acometidos por tumores nessas espécies são os sistemas tegumentar e reprodutor, tendo com maior frequência os de origem epitelial. Entre as neoplasias, o linfossarcoma de forma espontânea raramente acometem ovinos, apesar desta espécie se mostrar susceptível (Valentine & Mcdonough, 2003; Ramos et al., 2008; Carvalho et al., 2014). O linfossarcoma faz parte das “neoplasias linfoides” e, é um distúrbio linfoproliferativo onde o tumor se inicia mais frequentemente em órgãos hematopoiéticos sólidos, como os linfonodos, baço ou tecido linfoide associado à mucosa e, menos frequentemente, em órgãos não linfoides (Panziera et al., 2014). A transformação neoplásica de um tipo celular da linhagem linfocitária ocasiona expansão descontrolada de clones dessa célula. A causa dessa alteração geralmente é desconhecida, porém pode estar associado à exposição ao vírus da leucose bovina (VLB), como demonstrado experimentalmente em ovinos (Olson & Baungartener, 1976; Valentine & Mcdonough, 2003; Pugh, 2004). Embora não completamente elucidada, a patogênese dessa doença está relacionada a produtos do complexo de histocompatibilidade principal e glicoproteínas expressas na superfície das células B receptoras em decorrência da ação viral, ligadas a peptídeos presentes em células T apresentadoras de antígenos. Demonstrou-se também que ovinos inoculados com VLB apresentam quadros de linfocitose, com alto número de linfócitos do tipo B e linfossarcomas com este mesmo tipo celular em curtos períodos de tempo, o que viabiliza estudos de patogênese dessa doença, tanto em ovinos como bovinos (Olson & Baungartener, 1976). A importância econômica da ocorrência de linfossarcomas reside nas perdas acarretadas por vários fatores como: custos com o diagnóstico, o tratamento das complicações secundárias, descarte prematuro ou morte dos animais, particularmente daqueles com alto potencial genético, e condenação de carcaças em frigoríficos (Silva-Filho et al., 2011). Devido às poucas descrições de linfossarcoma em ovinos, a finalidade deste trabalho é relatar a ocorrência clínica e anatomopatológica dessa enfermidade em uma ovelha no Agreste de Pernambuco. As descrições dos achados foram obtidas a partir de um ovino, atendido na Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns/ UFRPE, fêmea, mestiça e com quatro anos de idade, pesando 40 kg, oriunda de uma fazenda no município de São João-PE, compondo um rebanho de 50 animais. Na anamnese, o proprietário relatou que há dois dias observou que o animal estava apático, com perda do apetite e separado do rebanho, tendo sido medicado na propriedade sem sucesso. Foi relatado que esse animal juntamente com os demais foi trazido a três meses de outro estado e apenas um animal adoeceu. Os animais eram criados em sistema semi-intensivo, cuja alimentação diária era constituída de capim elefante (Pennisetum purpureum), capim pangola (Digitaria decumbens) e 500g ração - a base de farelo de milho e trigo - fornecida duas vezes ao dia e sal mineral ad libitum. O exame clínico foi realizado segundo Radostits et al. (2007). Para avaliação hematológica o sangue foi coletado em tubos de vidro com anticoagulante EDTA a 10%, no qual se realizou o hemograma, a determinação da proteína plasmática total e o fibrinogênio plasmático seguindo a metodologia proposta por Jain (1993). Foram coletadas amostras de soro do animal em questão e em 20 ovinos (± 20% do rebanho) da propriedade, adultos e de ambos os sexos. As amostras foram submetidas à prova de imunodifusão em Gel de Agar (IDGA), com antígeno glicoproteico para a detecção de anticorpos contra o vírus da Leucose Enzoótica Bovina (LEB), conforme técnica descrita por Flores et al. (1988). O exame ultrassonográfico foi realizado no antímero direito com o animal em posição quadrupedal, sem sedação e após ampla tricotomia compreendendo a caudalmente o 11o espaço intercostal (EIC), dorsalmente na altura da cartilagem da escápula, cranialmente o 6o (EIC) e ventralmente a linha mediana caudal ao esterno, segundo a técnica descrita por Flöck (2004) utilizando um transdutor convexo de 3,5 MHz1. Durante o período em que permaneceu internado, nove dias, o quadro clínico agravou-se e foi indicada a eutanásia, conforme Luna & Teixeira (2007). O animal foi encaminhado ao exame necroscópico. Durante a necropsia foram colhidos fragmentos do rúmen, reticulo, abomaso, linfonodos, rins, coração, pulmão e diafragma, fixados em formol a 10%. Estes fragmentos foram processados rotineiramente e corados pela hematoxilina e eosina (HE) para avaliação descritiva da lesão (Barros & Marques, 2003). 1 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 26-31 - janeiro/abril, 2015 Ultrassom GE – Logiq 100 pro. 27 RafaelOtavianodoRego¹José , ClaudiodeAlmeidaSouza²,CarlaLopesdeMendonça³,RafaelJosédaSilva³,NivanAntônioAlvesdaSilva³,FranklinRiet-Correa4,JoséAugustoBastosAfonso³.etal. RESULTADOS Os principais sinais clínicos observados durante o exame físico foram apatia, escore nutricional regular (II), presença de moderado edema submandibular e grau de desidratação de 8%. Além de anorexia, taquicardia, taquipnéia, hipomotilidade ruminal e abomasal. O animal apresentava dificuldade de expansão pulmonar, com áreas de hipofonese, com a respiração predominantemente abdominal e na auscultação observaram-se sibilos na porção dorsal do pulmão direito. A temperatura se manteve dentro da faixa de normalidade para a espécie. No hemograma observou-se que não houve alterações na série vermelha, proteína plasmática total e fibrinogênio plasmático, porém no leucograma foi constatado leucocitose por neutrofilia e a presença de leucócitos degenerados (Tabela 01). A prova de IDGA revelou resultado negativo para o animal Tabela 1 - Resultado hematológico de uma ovelha SRD, atendida na Clínica de Bovinos, Campus-Garanhuns da UFRPE com linfossarcoma atípico. Valores Avaliação Hematológica Hematológicos Referência* Eritrócitos (x106/μL) 10,1 (9,0-15,0) Hematócrito (%) 41 (27,0-45,0) Hemoglobina (g/dL) 14,9 (9,0-15,0) VCM (fL) 40,59 (28,0-40,0) CHCM (%)b 36,34 (31,0-34,0) Leucócitos (/μL) 14.100 (4,0-12,0) Neutrófilos (/μL) 10.857 (700-6.000) Linfócitos (/μL) 3243 (2.000-9.000) PPT (g/dL) 6,4 (6,0-7,5) Fp (mg/dL) d 400 (100-500) a c * Fonte: Kramer (2000); a VCM: Volume Corpuscular Médio; b CHCM: Concentração Corpuscular Média, c Proteína plasmática total, d Fibrinogênio Plasmático. A atendido e os demais do rebanho analisados. O exame ultrasonográfico do antímero direito, entre 11º e 6º espaços intercostais, evidenciou presença de grande quantidade de conteúdo líquido, com aspecto predominantemente anaecóico, deslocando medialmente os pulmões, aproximadamente 11 cm, e provocando a distensão caudal do campo torácico. No interior do conteúdo anaecóico foram identificados filamentos ecogênicos livres sugestivos de fibrina. No 6º espaço intercostal, na altura da linha do cotovelo, foi evidenciado saco pericárdico deslocado medialmente, aproximadamente 5 cm, por conteúdo anaecóico similar ao observado nas outras janelas acústicas. Foram observados depósitos e filamentos ecogênicos aderidos à superfície do saco pericárdico sugestivos de aderências e fibrina. Ao exame anatomopatológico, observou-se uma massa no tecido subcutâneo, aderida a região torácica caudal esternal, de consistência firme com características nodular e de coloração esbranquiçada. Nodulações com as mesmas características e de tamanhos menores foram visualizadas de forma focal na serosa do reticulo, do rúmen e multifocal infiltrada com expansão mural na serosa do abomaso (Figura 01-A). Além desses órgãos, foi observada, ainda, uma massa de aproximadamente cinco centímetros, com mesmas características, no omento (Figura 01-B) e esta lesão também foi evidenciada nos linfonodos mesentéricos (Figuras 02-A). Constataram-se ainda no córtex renal áreas esbranquiçadas circulares, irregulares multifocais que se aprofundavam ao parênquima (Figura 02-B). Na cavidade torácica além da pleuropneumonia exsudativa e a grande quantidade de derrame cavitário sero-sanguinolento, massas semelhantes foram observadas na face abdominal do diafragma, no epicárdio direito e lobo apical direito do pulmão (Figuras 02-C e D). Os achados histopatológicos das estruturas nodulares revelaram massas com estruturas atípicas disposta na forma de manto, com múltiplos vacúolos de diversos tamanho, distribuídos aleatoriamente e com um discreto estroma fibroso (Figura 3-A). Essas células tumorais caracterizam-se por serem pequenas e arredondadas, basofílicas, com citoplasma escasso, núcleo grande e redondo, hipercromático, com cromatina densa e basófílica, e nucléolo pouco evidente, além de discreto pleomorfismo. Observaram-se raras mitoses. (Figura 03-B). B Figura 1 - Linfossarcoma linfocítico no sistema digestório de uma ovelha adulta na CBG/UFRPE. A. Massas tumorais na serosa e parede do abomaso e retículo. B. Presença de massa tumoral de aproximadamente cinco centímetros de diâmetro no omento (seta). 28 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 26-31 - janeiro/abril, 2015 Ocorrência espontânea de linfoma maligno em ovelha: Relato de caso Figura 02: Linfossarcoma linfocítico em diversos órgãos de uma ovelha adulta na CBG/UFRPE. A. Linfonodo mesentérico aumentado de tamanho. B. Massa tumoral na superfície e parênquima da cortical dos rins. C. Massa tumoral focal no diafragma (seta), D. Massa tumoral focal no epicárdio direito (seta) Figura 03: Achados histológicos do linfossarcoma em ovelha CBG/UFRPE. A. Massa com discreto estroma fibroso entremeado e com múltiplos vacúolos de tamanhos variados (10x). B. Células tumorais pequenas e arredondadas, basófílicas, com citoplasma escasso, núcleo grande e redondo, com cromatina densa e basófílica e nucléolo pouco evidente (40x). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 26-31 - janeiro/abril, 2015 29 RafaelOtavianodoRego¹José , ClaudiodeAlmeidaSouza²,CarlaLopesdeMendonça³,RafaelJosédaSilva³,NivanAntônioAlvesdaSilva³,FranklinRiet-Correa4,JoséAugustoBastosAfonso³.etal. DISCUSSÃO A associação das informações obtidas nos achados clínicos e laboratoriais, principalmente na macroscopia e histopatologia ratificou o diagnóstico de linfossarcoma. A ocorrência de forma espontânea em ovinos é rara, e tem muita similaridade a forma esporádica ou linfossarcoma juvenil em bovinos, na qual nem o vírus da leucemia bovina nem anticorpos contra o VLB estão associados. Tal achado se assemelha como ao encontrado em cabras acometidas com a forma natural de linfossarcoma (Smith & Sherman, 2009). Geralmente o diagnóstico do linfossarcoma, como no animal em estudo, é constatado em animais acima de dois anos de idade (Johnstone & Manktelow 1978, Anjos et al. 2010). Os achados clínicos desse relato são semelhantes aos encontrados por DiGrassie et al. (1997) e Anjos et al. (2010), os quais relataram que a rápida deterioração da condição física, ocorre quando os sinais clínicos são notados. Em caprinos acometidos com linfossarcoma geralmente podem ter uma variedade de sinais clínicos incluindo febre, emaciação, dispneia e diarreia, com a morte ou a eutanásia ocorrendo em uma semana a dois meses na maioria dos casos. Achados estes observados no caso em estudo. Mesmo o animal atendido sendo um adulto, os ovinos apresentam uma prevalência baixa para ocorrência de linfossarcoma devido essa espécie ser abatida de forma precoce, ou seja, antes da meia-idade e por isso tem menor probabilidade de desenvolver tumores (Ramos et al., 2008). Apesar da baixa ocorrência, Valli (2007) descreve que cerca de 30-60% dos ovinos jovens infectados desenvolvem linfossarcomas de células B. Linfomas em pequenos ruminantes não apresentam predisposição por sexo nem raça (Jacobs et al., 2002). A leucocitose por neutrofilia pode ser interpretada como consequência da condição inflamatória que estava acometendo o pulmão (Jain, 1993; Radostits et al., 2007). Estes achados, associados ao resultado negativo do IDAG, se assemelham a forma esporádica do linfossarcoma juvenil em bovinos, que não está associada ao vírus da LEB em bovinos, na qual pode também ser observado leucocitose persistente por linfocitose, além da presença de linfócitos atípicos na circulação (Barros, 2007; Radostits et al., 2007). Geralmente, a distribuição das lesões do linfoma em pequenos ruminantes é idêntica às observadas em bovinos, sendo a forma multicêntrica a mais observada nessas espécies. Nos ovinos os linfonodos ilíacos, cervical e mediastínicos são os frequentemente mais afetados. Outros órgãos comumente afetados em ovinos e caprinos com linfoma são baço, fígado, rim, trato alimentar, músculo esquelético e coração. Ocasionalmente as lesões macroscópicas em ovinos são encontradas nos rins e trato alimentar, como foi constatado no caso em estudo (Parodi, 1987; Southwood et al., 1996; Jacobs et al., 2002) As alterações renais observadas nesse estudo são mais descritas em casos espontâneos de ovelhas com linfossarcomas conforme os casos descritos por Johnstone & Manktelow (1978) e Anjos et al. (2010), do que nos casos experimentais como relatado por Olson & Baumgartener (1976), onde a tumoração geralmente ocorre de forma bilateral na forma de 30 nódulos que podem ser salientes ou não, frequentemente múltiplos, acometendo mais o córtex do que a região medular e que segundo Jacobs et al. (2002) muitas vezes é o único achado macroscópico de linfomas em ovinos. A apresentação multicêntrica observada no animal em questão é a forma predominantemente no ovino, conforme relato de Anjos et. al. (2010). Outras formas como a cutânea e tímica também podem ocorrer como as descritas por Johnstone & Manktelow (1978). A forma multicêntrica nesse caso afetou a serosa do rúmen e do abomaso e parênquima renal, causando linfoadenomegalia simétrica e envolvendo outros órgãos, assim como observado nos ovários em caprinos (Digrassie et. al., 1997), além do fígado, rins, linfonodos, baço, trato alimentar, músculos esqueléticos e coração (Johnstone & Manktelow, 1978; Valentine & Mcdonough, 2003). As alterações microscópicas encontradas na ovelha de proliferação de células neoplásicas arranjadas em mantos, sustentada por um fino estroma fibrovascular, são descritas comumente nos casos espontâneos em pequenos ruminantes (Digrassie et al., 1997; Anjos et al., 2010) e nos casos experimentais (Olson & Baumgartener, 1976; Djilali & Parodi et al., 1989). Com base nos achados clínicos-patológicos confirmou-se o diagnóstico de linfossarcoma multicêntrico, aumentando a casuística conjuntamente aos casos encontrado no Sul do Brasil por Anjos et. al. (2010), e fora do país por Jacobs et al. (2002). CONCLUSÃO Os achados encontrados contextualizam os relatos da literatura, que são poucos, sobre o comprometimento da vida produtiva dos animais quando acometidos com esta enfermidade. A constatação de casos espontâneos, como o em estudo, na forma multicêntrica, devem ser analisados quanto a sua origem e os riscos que possam representar para a sanidade do rebanho. REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA ANJOS, B. L.; TROST, M. E.; DIEFENBACH, A.; GRESSLER, L. T.; IRIGOYEN, L. F. Linfossarcoma de células B multicêntrico em uma ovelha. Acta Scientiae Veterinariae, v. 38, n. 3, p. 315-318, 2010. BARROS, C. S. L. Leucose bovina, p.159-168. In: RIET-CORRÊA, F.; SCHILD, A. L.; LEMOS, R. A. A.; BORGES, J. R. J. Doenças de Ruminantes e Equideos. 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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 26-31 - janeiro/abril, 2015 31 Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 32-38 - janeiro/abril, 2015 Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservado Rafael LIMONGI de Souza¹, Robespierre Augusto Joaquim ARAÚJO SILVA², André Mariano BATISTA², Maria Madalena Pessoa GUERRA², Sildivane Valcácia SILVA¹ RESUMO 1 Laboratório de Biotecnologia em Reprodução Animal (LABRA), Centro de Biotecnologia (CBiotec), UFPB, João Pessoa/PB. ² Laboratório de Andrologia (ANDROLAB), Departamento de Medicina Veterinária, UFRPE, Recife/PE. *E-mail: [email protected]. Objetivou-se avaliar o efeito da adição de diferentes concentrações de taurina ao sêmen caprino pós-descongelação. Utilizou-se sêmen criopreservado de caprinos Boer (n=3), onde foram descongeladas duas palhetas de cada reprodutor (37 ºC/30 s) e as amostras foram homogeneizadas. Quatro grupos experimentais foram formados: GC= grupo controle (sêmen com adição de meio essencial mínimo); G1= sêmen + 5 mM de taurina; G2= sêmen + 25 mM de taurina; G3= sêmen + 50 mM de taurina; submetidos à avaliação de cinética espermática e integridade de membrana plasmática, acrossoma e função mitocondrial nos momentos após formação dos grupos amostrais (T0), uma (T1) e três (T3) horas pós-descongelação. Foram realizadas seis repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA, One way) e teste de Tukey, com nível de significância de 5%. O GC apresentou redução (p<0,05) para os valores de motilidade total, motilidade progressiva, percentual de espermatozoides rápidos e frequência de batimento cruzado no T3, resultado não observado para os grupos tratados com taurina. Não foram observadas diferenças (p>0,05) para os demais parâmetros cinéticos e de integridade das membranas espermáticas entre os grupos tratados e o grupo controle. Mediante o exposto, conclui-se que a taurina, nas concentrações de 5, 25 e 50 mM mantem a motilidade total, motilidade progressiva, percentual de espermatozoides rápidos e frequência de batimento cruzado de espermatozoide caprino após três horas pós-descongelação. P A L A V R A S - C H A V E Aminoácido; espermatozoide; motilidade Effect on supplementation of three taurine´s concentration in cryopreserved goat sperm ABSTRACT This study aimed to evaluate the effect of different concentrations of taurine to post-thaw goat semen. It was used goat cryopreserved semen Boer (n=3); two pallets of each breeding animal were thawed (37 °C/30 s) and samples were homogenized. Four experimental groups were formed: CG= control group (semen with minimal essential medium); G1= semen + 5 mM taurine; G2= semen + 25 mM taurine; G3= semen + 50 mM taurine; assessed for sperm kinetics, plasma membrane and acrosome integrity, and mitochondrial function after the sample groups formation: at thawing moment (T0), one (T1) and three (T3) hours post-thaw. Six replicates were performed. Data were subjected to variance analysis (ANOVA, One way) and Tukey’s test at 5% significance level. The CG decreased (p<0.05) values for total motility, progressive motility, rapid sperm and beat cross frequency after T3, which was not observed in the groups treated with taurine. No observed differences (p>0.05) to other kinematic parameters and integrity of sperm membranes among the treated groups and the CG. Thus, in conclusion, the taurine at concentrations 5, 25 and 50 mM preserves total motility, progressive motility, rapid sperm and beat cross frequency of goat sperm after three hours post-thaw. K E Y W O R D S 32 amino acid; sperm; motility Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservado INTRODUÇÃO 2. MATERIAL E MÉTODOS A criopreservação é uma biotécnica que permite preservar tecidos biológicos ou células, como os espermatozoides, por tempo indeterminado através da congelação a temperatura de -196 ºC. Esta biotécnica pode induzir danos letais ou subletais à célula espermática devido à mudança de temperatura (WATSON, 2000) e ao estresse osmótico provocado durante a congelação e descongelação do sêmen (PARKS e GRAHAM, 1992). As lesões causadas pelo processo de criopreservação às estruturas que conferem motilidade e viabilidade espermática também podem ser induzidas pela formação de radicais livres, entre eles estão as espécies reativas de oxigênio (ROS). O aumento de ROS no meio celular pode exceder a capacidade protetora do sistema antioxidante, provocar lesões nas estruturas celulares e desencadear o processo de estresse oxidativo (SIKKA et al., 1995). O sistema antioxidante participa no bloqueio da ação dos radicais livres antes que causem a lesão, ou como reparador da lesão ocorrida. Estes agentes estão presentes no plasma seminal e nos espermatozoides (BILODEAU et al., 2002), entretanto, os espermatozoides criopreservados de caprino são desprovidos de antioxidantes extracelulares, devido à retirada do plasma seminal (NUNES, 1982), o que justifica a necessidade da adição de antioxidantes antes da congelação ou pós-descongelação. A taurina é um aminoácido que não participa da síntese proteica, mas tem função na excreção de colesterol, atuando como neurotransmissor, osmorregulador e como potente antioxidante (HUXTABLE, 1992; BOUCKENOOGHE et al., 2006). O uso da taurina como forma de melhorar a qualidade do sêmen tem o objetivo de minimizar danos causados pela geração excessiva de radicais livres, diminuindo o ataque de ROS à membrana da célula. Em estudos com búfalos da raça Murrah e de gado da raça Karan Fries, Kumar et al. (2013) notaram que a incorporação de taurina (50 mM) ao diluente preservou significativamente a motilidade, viabilidade e integridade das membranas espermáticas. Perumal et al. (2013) observaram em seus estudos, com bovinos da raça Mithun, que a inclusão de taurina (25, 50 e 100 mM) ao diluente reduziu os percentuais de espermatozoides mortos, com alterações de cauda e anormalidades acrossômicas, atribuindo essas melhorias à atividade antioxidante da taurina que impediu a geração excessiva de ROS. Alvarez e Storey (1983) utilizaram à taurina (0,5 mM) na criopreservação de sêmen de coelhos e observaram a redução dos índices de peroxidação lipídica com melhora na taxa de motilidade espermática, e Bucak et al. (2007) observaram que a adição de taurina (25 e 50 mM) ao sêmen ovino promoveu o aumento dos níveis de vitamina E, antioxidante responsável pela preservação da membrana plasmática. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da adição de taurina ao sêmen caprino pós-descongelação. Exceto os especificados, todos os químicos utilizados neste estudo foram adquiridos da Sigma-Aldrich®, St Louis, MO, USA. Neste trabalho foram utilizadas amostras congeladas de sêmen de reprodutores caprinos da raça Boer (n=3), obtidas em central de reprodução. Foram descongeladas duas palhetas de cada reprodutor (37 ºC/30 s) e as amostras foram homogeneizadas para evitar variabilidade individual (BUCAK et al., 2008). Após avaliação inicial da motilidade total e progressiva por análise computadorizada de espermatozoides (CASA), o pool foi destinado à formação dos quatro grupos experimentais: GC= grupo controle, adição de solução salina fisiológica, sem adição de taurina [90 µL de sêmen + 100 µL de meio essencial mínimo (DMEM)]; G1= sêmen com 5 mM de taurina (900 µL de sêmen + 10 µL de taurina 500 mM + 90 µL de DMEM); G2= sêmen com 25 mM de taurina (900 µL de sêmen + 50 µL de taurina 500 mM + 50 µL de DMEM); G3= sêmen + 50 mM de taurina (900 µL de sêmen + 100 µL de taurina 500 mM). A solução mãe de taurina (500 mM) foi preparada em DMEM. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 32-38 - janeiro/abril, 2015 2.1 ANÁLISES ESPERMÁTICAS As análises foram realizadas em três momentos: após a formação dos grupos amostrais (T0), uma (T1) e três (T3) horas pós-descongelação. Durante esse período as amostras ficaram incubadas na bancada com temperatura aproximada de 28 °C. Em cada momento, previamente à realização das análises, para cada um dos grupos foi realizada uma diluição (1:10 v/v) em DMEM de forma a se obter uma concentração de 20-30x106 espermatozoides/mL. Cada avaliação foi realizada em triplicata e este experimento foi realizado seis vezes. 2.1.1 CINÉTICA ESPERMÁTICA A cinética espermática foi analisada através do sistema computadorizado de análise espermática (CASA; Sperm Class Analyzer - SCATM software, Microptics, v. 5.1, S.L., Barcelona, Espanha). Uma alíquota (5 µL) de cada amostra foi depositada sobre lâmina previamente aquecida (37 ºC), coberta com lamínula e analisada por microscópio de contraste de fase (aumento de 100x; NikonTM H5505, Eclipse 50i, Tóquio, Japão) e as imagens foram capturadas utilizando uma câmera de vídeo (Basler Vision TechnologiesTM A312FC, Ahrensburg, Alemanha). Para cada amostra foram analisados cinco campos não consecutivos, selecionados aleatoriamente, com registro de, no mínimo, 2000 espermatozoides. Foram avaliados os seguintes parâmetros: motilidade total (MT), motilidade progressiva (MP), linearidade (LIN), retilinearidade (STR), índice de oscilação (WOB) e percentual de espermatozoides rápidos (RAP), sendo estes expressos em porcentagem; velocidade curvilinear (VCL), velocidade em linha reta (VSL), velocidade média do percurso (VAP), expressos em micrômetros por segundos; amplitude do deslocamento lateral da cabeça espermática (ALH), expresso em micrômetros e a frequência do batimento flagelar cruzado (BCF), expressa em Hertz. Os pontos finais da cinética 33 Rafael Limongi de Souza et al. foram mensurados com as seguintes configurações: temperatura de 37 ºC, taxa de frame de 25 s, contraste mínimo de 75, 25 frames adquiridos por campo, velocidade analisada entre 0 a 180 µm/s e limiar de 75% de STR. BP 450-490 nm para excitação. As células que apresentavam a peça intermediária fluorescentes em laranja foram classificadas com alto potencial de membrana mitocondrial, enquanto aquelas fluorescentes em verde foram classificadas com baixo potencial de membrana. 2.1.2 INTEGRIDADE DE MEMBRANA PLASMÁTICA Para avaliação da integridade de membrana plasmática (iMP) utilizou-se o método de coloração dupla com Diacetato de Carboxifluoresceína (DCF) e Iodeto de Propídeo (IP), segundo Silva et al. (2011). Alíquotas de 5,0 µL de DCF (0,46 mg/mL em DMSO) e 5,0 µL de IP (0,5 mg/mL em PBS) foram adicionadas a 30 µL de cada amostra e incubados por 10 minutos a 37 ºC. Um total de 200 espermatozoides foi avaliado em microscópio de epifluorescência (Carl Zeiss, Gottingen, Alemanha), com aumento de 400x, usando filtro de emissão DBP 580-640 nm e excitação DBP 485-520 nm. Os espermatozoides foram classificados com a membrana plasmática intacta quando fluoresceram em verde, e com membrana danificada quando fluorescidos em vermelho. 2.1.3 INTEGRIDADE DO ACROSSOMA Para determinar a integridade acrossomal (iAC), foram confeccionados estiraços os quais foram posteriormente corados com Isotiocíanato de Fluoresceína conjugado a Peanut agglutinin (FITC-PNA), de acordo com a técnica descrita por Câmara et al. (2011). Uma alíquota de 20 µL da solução estoque FITC-PNA (1 mg/mL) foi descongelada e adicionada a 480 µL de PBS para obter concentração final de 100 µg/mL. Alíquotas (20 µL) desta solução foram colocadas sobre lâminas estiradas, as quais foram incubadas por 20 minutos em câmara úmida (4 ºC), na ausência de luz. Após a incubação, as lâminas foram enxaguadas duas vezes em água miliQ refrigerada (4 ºC) e colocadas para secagem na ausência de luz. Imediatamente antes da avaliação, 5 µL de meio de montagem (4,5 mL de glicerol, 0,5 mL de PBS e 5 mg de p-phenylediamine) foi colocado sobre a lâmina e coberto com lamínula. Foram avaliados 200 espermatozoides por lâmina, em microscopia de epifluorescência, com aumento de 1000x sob imersão, usando filtro de emissão LP 515 nm e BP 450-490 nm para excitação. Os gametas foram classificados como portadores de acrossomas intactos, quando apresentavam a região acrossomal com fluorescência verde, ou acrossomas reagidos, quando apresentavam faixa verde fluorescente na região equatorial da cabeça espermática ou não apresentavam fluorescência verde na região acrossomal. 2.1.4 FUNÇÃO MITOCONDRIAL A função mitocondrial dos espermatozoides foi determinada pela utilização do fluorocromo catiônico lipofílico JC-1 (SILVA et al., 2012). Alíquotas de 5,0 µL de JC-1 (0,15 mM em DMSO) foram adicionadas a 30 µL de cada grupo experimental e incubadas por 10 minutos a 37 ºC. Duzentos espermatozoides foram avaliados em microscopia de epifluorescência, com aumento de 400x, usando filtro de emissão LP 515 nm e 34 2.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram avaliados pelo teste de Kolmogorov-Smirnov para testar a normalidade da variância. Para comparações entre os tempos do mesmo tratamento e comparações entre os tratamentos em um mesmo tempo foi utilizado o teste de comparação de médias ANOVA, seguida do pós-teste de Tukey (p≤0,05) pelo software da IBM, SPSS Statistics (versão 18.0 para Windows). 3. RESULTADOS Os resultados dos parâmetros cinéticos foram expressos na forma de média e desvio padrão e estão apresentados em gráficos na figura 1, e nas tabelas 1 e 2. A motilidade espermática total (MT) e a motilidade progressiva (MP) foram superiores a 30% em todos os grupos estudados (Figura 1) sendo estas amostras aprovadas segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para comercialização em programas de inseminação artificial (CBRA, 2013). A análise dos parâmetros cinéticos de espermatozoides caprinos pós-descongelação constatou que a MT, MP e RAP (Figura 1) foram inferiores (p<0,05) para o grupo controle após 3h de descongelação/incubação, fato não observado para os grupos tratados com a taurina. Apesar dos grupos GC e G3 apresentarem redução (p<0,05) para o BCF (Figura 1) no T3 em relação ao T0, o G3 não diferiu dos demais grupos tratados neste momento. O tratamento com taurina não influenciou (p>0,05) os resultados de VCL, VSL, VAP (Tabela 1), WOB (Tabela 2) e ALH (Figura 1). Entretanto, para a LIN e STR (Tabela 2), foi observado que no T1 houve redução destes valores para o G3, e ao avaliar o T3 foi visto que esses valores foram restabelecidos. Não houve efeito (p>0,05) do tempo de descongelação/incubação ou tratamento para as variáveis iMP, iAC e aPMM (Tabela 3). 4. DISCUSSÃO A cinética espermática obtida pela análise computadorizada dos espermatozoides descongelados demonstrou que os parâmetros de velocidade deste experimento encontram-se na média, ou são superiores a alguns estudos com utilização de sêmen caprino criopreservado (DORADO et al., 2007; SOARES et al., 2011). O comportamento pós-descongelação do sêmen sem a adição do aminoácido mostrou-se como o esperado, uma vez que espermatozoides expostos à redução de temperatura sofrem o efeito do choque térmico, causado pelo desequilíbrio iônico, com aumento dos íons cálcio, sódio e zinco e dimi- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 32-38 - janeiro/abril, 2015 Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservado Figura 01: Parâmetros (média ± desvio padrão) de motilidade total (A), motilidade progressiva (B), percentual de espermatozoides rápidos (C), batimento flagelar cruzado (D) e amplitude lateral da cabeça (E) de espermatozoides caprinos da raça Boer pós-descongelação, suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação. GC=Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5 mM de Taurina); G2=Grupo 2 (25 mM de Taurina); G3=Grupo 3 (50 mM de Taurina). T0=Momento de avaliação após descongelação; T1=Momento de avaliação 1 hora após descongelação; T3=Momento de avaliação 3 horas após descongelação. Diferentes letras minúsculas representam diferença (p<0,05) entre os tempos em um mesmo grupo. Diferentes letras maiúsculas representam diferença (p<0,05) entre os grupos em um mesmo tempo. Tabela 1 - Valores médios (± desvio padrão) para velocidade curvilínea (VCL), velocidade linear progressiva (VSL) e velocidade média da trajetória (VAP) de espermatozoides de caprino Boer pós-descongelação e suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação VCL (µm/s) VSL (µm/s) VAP (µm/s) GC T0 T1 T3 120,57±19,04 124,80±8,76 134,83±12,76 89,95±22,84 84,43±15,86 92,37±20,22 107,13±21,66 108,43±12,23 118,78±17,61 G1 T0 T1 T3 126,75±10,21 127,23±6,43 132,10±7,03 92,08±15,76 82,38±5,91 87,63±19,93 112,05±12,78 108,23±7,56 114,30±13,63 G2 T0 T1 T3 133,88±16,85 128,13±16,78 125,60±17,96 99,62±21,43 87,50±27,36 86,63±23,22 119,60±19,67 110,36±24,13 108,61±22,15 G3 T0 T1 T3 121,92±12,60 112,03±17,81 133,50±16,68 89,75±15,76 69,65±19,68 92,40±17,92 107,36±15,71 90,56±20,99 117,95±19,30 GC=Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5 mM de Taurina); G2=Grupo 2 (25 mM de Taurina); G3=Grupo 3 (50 mM de Taurina). T0=Momento de avaliação após descongelação; T1=Momento de avaliação 1 hora após descongelação; T3=Momento de avaliação 3 horas após descongelação. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 32-38 - janeiro/abril, 2015 35 Rafael Limongi de Souza et al. Tabela 2: Percentual (média ± desvio padrão) de linearidade (LIN), retilinearidade (STR) e índice de oscilação (WOB) de espermatozoide de caprinos Boer pós-descongelação e suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação LIN (%) WOB (%) STR (%) GC T0 T1 T3 73,86±7,95 67,35±9,04a 67,88±9,17a 83,43±4,98 77,43±6,72a 77,11±6,91a 88,38±4,37 86,58±4,44 87,71±5,11 G1 T0 T1 T3 72,25±7,20a 64,75±3,15a 65,88±10,76a 81,76±5,44a 76,15±1,85a 75,95±7,77a 88,22±3,30 85,01±2,86 86,25±6,42 G2 T0 T1 T3 73,70±8,10a 66,95±12,12a 66,55±8,77a 82,66±5,53a 78,13±7,71a 77,16±5,78a 88,96±4,14 85,15±7,53 85,93±5,30 G3 T0 T1 T3 73,30±6,44a 61,35±9,11b 69,70±5,66ab 83,35±3,00a 76,25±4,37b 79,08±3,7ab 87,83±5,00 80,37±8,07 88,03±3,60 a a GC= Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5 mM de Taurina); G2=Grupo 2 (25 mM de Taurina); G3=Grupo 3 (50 mM de Taurina). T0=Momento de avaliação após descongelação; T1=Momento de avaliação 1 hora após descongelação; T3=Momento de avaliação 3 horas após descongelação. Diferentes letras representam diferença (p<0,05) entre os tempos em um mesmo grupo. Tabela 3: Percentual (média ± desvio padrão) de integridade do acrossoma (iAC), integridade da membrana plasmática (iMP) e alto potencial de membrana mitocondrial (aPMM) de espermatozoides caprinos Boer pós-descongelação, suplementados ou não com taurina, sob períodos de incubação iAC (%) iMP (%) aPMM (%) GC T0 T1 T3 65,58±7,27 62,25±6,46 55,00±11,40 44,00±7,11 34,67±8,70 48,33±11,26 62,32±6,21 54,84±6,62 53,17±11,39 G1 T0 T1 T3 52,58±14,79 55,92±9,76 49,33±7,63 38,67±5,35 31,83±6,31 38,42±10,42 60,67±10,08 58,75±11,00 51,25±12,31 G2 T0 T1 T3 58,91±8,17 56,00±7,35 51,25±12,55 40,92±4,42 34,08±8,22 38,58±8,56 58,35±5,52 58,58±6,88 49,92±11,73 G3 T0 T1 T3 56,58±8,15 60,25±10,10 48,42±14,62 38,92±6,41 35,73±8,80 42,90±6,90 51,58±16,44 58,83±6,18 54,18±13,09 GC= Grupo Controle, sem adição de antioxidante; G1=Grupo 1 (5 mM de Taurina); G2=Grupo 2 (25 mM de Taurina); G3=Grupo 3 (50 mM de Taurina). T0=Momento de avaliação após descongelação; T1=Momento de avaliação 1 hora após descongelação; T3=Momento de avaliação 3 horas após descongelação. nuição dos íons potássio e magnésio, resultando na redução da motilidade do espermatozoide caprino (BEZERRA, 2010). Além do desequilíbrio iônico, o espermatozoide ainda pode sofrer alterações da osmolaridade, levando a célula espermática ao processo de choque osmótico (HOLT, 2000), que pode levar a diminuição de sua motilidade. Os grupos tratados com taurina, independente das concentrações utilizadas, não apresentaram esta diminuição, possivelmente pela sua capacidade osmorreguladora, onde a taurina é transportada por um transportador específico dependente de Na+, ou seja, seu transporte corresponde a alterações iônicas além de ser sensível a outras 36 substâncias orgânicas, como a glicose (HUXTABLE, 1992). Ainda, Tappaz (2004) define a taurina como um osmólito orgânico utilizado pelas células para regulação do volume celular, se readequando ao desbalanceamento osmótico, evitando o desequilíbrio e suas lesões. Verstegen et al. (2002) relataram que o aumento dos valores de VSL, VCL e VAP estão associados a fertilidade, onde observaram que os espermatozoides com valores elevados para estes parâmetros fertilizaram mais de 50% dos oócitos inseminados. O aumento do BCF e ALH, associados ao aumento do padrão do vigor, são indicadores de hiperativação espermática Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 32-38 - janeiro/abril, 2015 Efeito da suplementação de três concentrações de taurina ao sêmen caprino criopreservado (MORTIMER e MORTIMER, 1990) e aumento dos índices de fertilidade. Valores elevados de BCF e LIN implicam na melhor migração e penetração do espermatozoide no muco cervical (MORTIMER, 2000). Entretanto, o GC no momento três horas pós-descongelação, apresentou diminuição dos seus valores para o BCF, fator este que implicaria na sua menor eficiência de migração no muco cervical. O G3, mesmo sofrendo redução do BCF no T3 em relação aos demais tratamentos, ainda preservou este parâmetro quando comparado ao GC. As amostras descongeladas apresentam bons níveis de capacidade de penetração cervical quando analisado os valores da LIN, com percentuais superiores a 50% em todos os grupos, entretanto, a ALH que é uma variável importante para determinação da boa capacidade penetrante do espermatozoide, teve seus valores menores que os descritos por Cox et al. (2006) para espécie caprina. Os efeitos protetores da taurina, evidenciados pela preservação da MT, MP, RAP e BCF, também podem estar relacionados ao mecanismo antioxidante deste aminoácido, uma vez que a taurina reage com o ânion superóxido, tendo função scavenger1, protegendo a célula espermática dos efeitos deletérios de algumas espécies reativas de oxigênio, além de evitar a perda da atividade enzimática da superóxido dismutase (OLIVEIRA et al., 2010). Os dados de preservação da motilidade espermática com o uso da taurina obtidos neste estudo corroboram com os resultados positivos para motilidade espermática nos experimentos de Bucak et al. (2007) e Kumar et al. (2013), que testaram a taurina na concentração de 50 mM em sêmen de carneiro e sêmen de búfalo, respectivamente. Ainda, Perumal et al. (2013) e Atessahin et al. (2008), utilizando sêmen bovino com 25 e 50 mM, e sêmen caprino com 25 mM de taurina, respectivamente, atribuíram a boa qualidade dos parâmetros cinéticos do sêmen devido ao aumento da atividade de enzimas antioxidantes nas células espermáticas, como a glutationa peroxidase (GSH-PX) e Vitamina A, impedindo a geração excessiva dos radicais livres e minimizando injúrias provocadas por estes, concordando com o descrito por Bucak et al. (2007), onde relatam que a taurina mantém a integridade e normalidade do acrossoma, estabilizando a membrana plasmática e melhora a motilidade espermática devido a atividade antioxidante da taurina. Além do seu potencial osmorregulador e função antioxidante, a taurina pode ter preservado as características móveis do espermatozoide neste experimento devido a sua função estimuladora da glicólise e moduladora da atividade Na+/K+-ATPase (HUXTABLE, 1992; IJAZ e DUCHARME, 1995), onde a combinação desses efeitos faz com que a célula espermática preserve a sua motilidade modulando seu aporte energético. Entretanto, não foi observado aumento do aPMM dos espermatozoides. Neste experimento, foi observado que todos os grupos preservaram seus padrões de integridade da membrana plasmática e acrossomal, entretanto, por mais que a integridade 1 Uma molécula scavenger é toda substância química capaz de atenuar ou dissipar os efeitos tóxicos de outra molécula. Referida como uma substância capaz de eliminar as impurezas de uma mistura. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 32-38 - janeiro/abril, 2015 dessas membranas sejam atributos essenciais para fertilidade do espermatozoide, a motilidade espermática, que é um parâmetro relacionado à capacidade fertilizante, pode diminuir mesmo que não ocorra lesões nessas estruturas (BAUMBER et al., 2000), como o observado no grupo controle deste estudo. 5. CONCLUSÃO A adição da taurina ao sêmen caprino pós-descongelação, nas concentrações de 5, 25 e 50 mM preserva a motilidade total, motilidade progressiva, percentual de espermatozoides rápidos e o batimento flagelar cruzado de espermatozoide caprino após três horas de incubação. AGRADECIMENTOS À Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPG) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pelo fornecimento de bolsa ao discente e por fomentar parte da pesquisa com o programa Pró-PIBIC; ao Laboratório de Andrologia (ANDROLAB) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), por fornecer o espaço e equipamentos necessários para o desenvolvimento deste trabalho. REFERÊNCIAS WATSON, P.F. The causes of reduced fertility with cryopreserved semen. Animal Reproduction Science, v.61, p.481-492, 2000. PARKS, J.E.; GRAHAM, J.K. Effects of cryopreservation procedures on sperm membranes. Theriogenology, v.38, p.209-222, 1992. SIKKA, S.C.; RAJASEKARAN, M.; HELLSTROM, J.G. Role of oxidative stress and antioxidants in male infertility. Journal of Andrology, v.16, n.6, p.464–468, 1995. 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O comprometimento sistêmico ficou evidente nos exames hematológicos, diante de um quadro de leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda, e alteração nos valores referentes a função hepática e renal. Após seis horas do procedimento cirúrgico o animal veio a óbito. No exame necroscópico observou-se hiperemia de mucosa ruminal, além da presença de mais um caroço. Histologicamente observou-se congestão hepática e renal e rúmen com áreas multifocais de infiltrado inflamatório neutrofílico perivascular na camada mucosa. P A L A V R A S - C H A V E 1 Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, CEP: 52171-900, Recife, PE 2 Curso de Medicina Veterinária, Faculdade Pio Décimo, CEP: 49095-000 Aracaju, SE *autor para correspondência: e-mail: [email protected] cesariana, sistema digestório e rumenotomia. Indigestion for mango (Mangifera indica) in bovine - first report ABSTRACT The objective of this study is to report a case of indigestion caused by the mango intake by a dairy cow in late gestation, created in the city of Itaporanga D’ajuda, state of Sergipe, Brazil. It was reported that the animal had recurring bloat, followed by bilateral nasal seromucous secretion. At the Large Animal Clinic on the Veterinary Hospital of the Faculty Pio Décimo, the animal was submitted to a cesarean section with calf birth at term, followed by rumenotomy, whereby were removed 174 mango pits. The rumen content was acidotic (pH 5.0). The systemic involvement was evident in hematological tests, presenting leukocytosis by neutrophilia with left desviation and change in values for liver and kidney function. After six hours of surgery the animal died. In the autopsy observed ruminal mucosa detachment, and the presence of another mango pit. Histologically, hepatic and kidney congestion. The rumen mucous layer presented also multifocal areas of perivascular neutrophilic inflammatory infiltrate.layer. K E Y W O R D S caesarean, digestive system and rumenotomy. INTRODUÇÃO Os distúrbios da cavidade rumenorreticular, que incluem casos de acidose ruminal, indigestão simples, compactação ruminal e timpanismo estão, na maioria das vezes, associados a erros alimentares devido à escassez de forragem em períodos de estiagem. Os alimentos disponíveis nesses períodos geralmente são de má qualidade e de pouca digestibilidade levando ao aumento do fornecimento de ali- mento concentrado. Dieta com altos teores de concentrado é a principal causa das indigestões de origem alimentar em ruminantes (Afonso et al., 2008, Coutinho et al., 2009, Lira et al., 2011). Outras fontes de alimento, comum ou não a dieta dos ruminantes, também podem levar a transtornos digestivos como a palma forrageira (Afonso et al., 2008) e leguminosas Stylosanthes spp. (Moraes et al., 2010). Surtos de timpanismo espumoso em bovinos foram 39 Huber RIZZO et al. relacionados a pastagens de Trifolium repens (trevo-branco) e Trifolium pratense (trevo-vermelho) (Dalto et al. 2009, Costa et al., 2013). A acidose ruminal foi descrita em pequenos ruminantes que recebiam restos de comida caseira (lavagens) e de padaria, frutas e fontes de carboidrato de fácil digestão como milho em grãos e farelo de milho (Lira et al., 2011) e em ovinos, relatou-se compactação rumenal e abomasal devido à ingestão de côco catoté (Oliveira et al., 2007). Os sinais clínicos observados em geral são apatia, anorexia, queda na produção de leite, perda crônica de peso, taquicardia, taquipnéia, atonia ruminal, desidratação, aumento do flanco esquerdo ou de ambos, mucosas congestas, fezes pastosas, fétidas, ressecadas e/ou escassas, decúbito e óbito. O conteúdo ruminal pode estar líquido ou ressecado com alterações de pH e microbiota (Afonso et al., 2008, Dalto et al., 2009, Lira at al., 2011). Considerando a ausência de relatos, o objetivo deste trabalho é, pela primeira vez, descrever um caso de indigestão por caroço de manga (Mangifera indica) em bovino leiteiro que ocorreu no Estado de Sergipe, Brasil. hemácias de 6,86x106/µL, hemoglobina de 10,3 g/dL, volume globular de 25% (VG: 25%, HGM: 15pg VGM: 36,4fL, CHGM: 41,2%). Observou-se leucocitose (23x103/µL) por neutrofilia, com desvio a esquerda (bastonetes 12% e 2,76x103/µL, segmentados 62% e 14,26x103/µL, linfócitos 24 % e 5,52x103/µL, monócitos 1% e 0,23x103/µL, eosinófilos 1% e 0,23x103/µL respectivamente para relativos e absolutos), além da presença de eritroblasto e crenação. As plaquetas se mostraram baixas (133x103/µL). No exame bioquímico notou-se comprometimento hepático (ALT/TGP: 26 UI/L, AST/TGO 460 UI/L, GGT 48 UI/L, bilirrubina total: 3,91 mg/dl, bilirrubina direta: 0,89 mg/dl e bilirrubina indireta: 3,02 mg/dl) e renal (uréia: 127 g/l e creatinina: 2,7 mg/dl). Outros parâmetros avaliados foram proteína (5,9 g/dl), albumina (2 g/dl) e globulina (4 g/dl) (Li et al., 2011, Oliveira et al., 2014). Após a avaliação dos parâmetros clínicos e dos exames complementares optou-se pela cesariana onde foi retirado, a termo, um bezerro macho de 27 kg. Após o parto procedeu-se a exploração da cavidade abdominal e durante a palpação, através da parede ruminal foram localizadas várias estruturas ovalares achatadas de aproximadamente 10 cm de comprimento. Procedeu-se, portanto, com a rumenotomia de onde foram RELATO DE CASO retirados 174 caroços de manga (Mangifera indica) do rúmen e retículo do animal. Os caroços, ainda úmidos pesavam 6,4 Foi atendido na Clínica de Grandes Animais do Hospital quilos (Figura 1). Veterinário Dr. Vicente Borelli da Faculdade de Medicina Veterinária Pio Décimo de Aracaju, Sergipe (CGA-Pio X) uma vaca mestiça (¾ Holandês x ¼ Gir) com cinco anos, em período final de gestação, criada no município de Itaporanga D’ajuda-SE em sistema semi-intensivo, submetida a duas ordenhas diárias. Devido à estiagem causada pelo longo período de seca no Estado no ano de 2013, o proprietário relata que aumentou o fornecimento de alimento concentrado com o objetivo de manter a produção do rebanho. A propriedade possuía uma particularidade que era a presença de árvores de manga (Mangifera indica) no trajeto diário das vacas em lactação do pasto a sala de ordenha, sendo que alguns animais durante esse trajeto ingeriam os frutos depositados no solo. Há 20 dias do atendimento do animal o proprietário relata queda da produção de leite e perda de peso progressivo, além de três episódios de dilatação do flanco esquerdo que foi revertido através da administração, via oral, de 100 ml de medicamento a base de silicone a 30% suspenso em metilcelulose (Ruminol®). A partir do segundo episódio de timpanismo o animal tornou-se anoréxico e apresentou secreção nasal mucosa intermitente. Ao chegar à CGA-Pio X, a vaca encontrava-se em decúbito lateral no caminhão de transporte e foi retirado do mesmo suspenso devido o estado de inanição. Foi examinada em decúbito lateral, onde pode-se confirmar seu baixo escore de condição corporal (ECC 1,5) e a presença de desidratação (10%), enoftálmia, mucosas hipocoradas, relaxamento dos ligamentos pélvicos sacro-ilíacos, úbere pouco desenvolvido, mas com secreção colostral e, a palpação retal, feto posicionado na entrada da cavidade abdominal responsivo a prova de balotamento. Outro dado que indicou a viabilidade fetal foi presença do frêmito arterial. Figura 1: Caroços de manga (Mangifera indica) retiradas de do rúmen No exame hematológico, o animal apresentou valores de e retículo de bovino submetido a cesariana e rumenotomia 40 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 39-42 - janeiro/abril, 2015 Indigestão por manga (Mangifera indica) em bovinos - Primeiro relato O conteúdo ruminal era de coloração castanha, consistência pastosa, pH 5,0 e tempo de redução de azul de metileno de 12 minutos. O liquido ruminal acidótico foi retirado, procedeu-se a transfaunação e em seguida a rumenocentese, rafia da musculatura e pele. No pós-cirúrgico imediato foi administrado oxitetraciclina de longa ação (10/mg/kg/IM), flunixim meglumine (1,1/mg/kg/IV) e fluidoterapia visando estabilizar o quadro de acidose metabólica, no entanto após seis horas do procedimento cirúrgico, em função da gravidade da condição clínica, o animal veio a óbito. No exame necroscópico observou-se vísceras anêmicas, hiperemia de mucosa ruminal além de mais um caroço de manga em seu interior, presença de objeto metálico perfurante de 2,5 cm (parafuso) fixo na mucosa em favo do retículo, hiperemia serosa e repleção da vesícula biliar, moderada hemorragia petequial multifocal a coalescente na superfície epicárdica e discreta congestão e enfisema pulmonar. Histologicamente notou-se moderada congestão hepática, focalmente extensa na região centrolobular; presença de discreto infiltrado inflamatório linfocítico em região cortical renal, com moderado grau de degeneração tubular, além de congestão cortical e medular. No rúmen foram observadas áreas multifocais de discreto infiltrado inflamatório neutrofílico perivascular na camada mucosa e no coração foram visualizados múltiplos cistos parasitários compatíveis com Sarcocystis spp., sem infiltrado inflamatório associado. Não foram observadas alterações patológicas no abomaso e omaso. DISCUSSÃO A escassez de alimento, seja ela por condições climáticas ou pelo oferecimento de um alimento de baixo valor nutritivo, de fato leva os animais a buscar fontes alternativas de alimento principalmente em situações de final de gestação quando pode se desenvolver um quadro de balanço enenrgético negativo, devido a elevada necessidade energética (Lago et al., 2014). O alto índice de matéria seca e carboidrato da manga levou aos distúrbios digestórios no rúmen, onde o farelo da amêndoa da semente apresenta teores de matéria seca, proteína bruta, fibra detergente neutro, fibra detergente ácido, fibra bruta, lignina, extrato etéreo, matéria mineral, cálcio, fósforo e carboidratos totais, respectivamente de 88,36%%; 4,39%; 29,65%; 2,20%; 1,90%; 0,72%; 12,18%; 1,81%; 0,10%; 0,05% e 69,98% (Santana et al., 2007). Alem disso houve ocorrência de lesão mecânica sobre a mucosa causada pelos caroços de manga. O pH ruminal acidótico leva a crer que mesmo um grande número de caroços não tenha causado compactação abomasal que poderia levar ao aumento de pH devido o refluxo de sua secreção ao rúmen. Isto foi observado em um caso de ovino que apresentou pH ruminal de 7,5 em quadro de compactação de rúmen e abomaso por cerca de 1250 unidades de côco catolé (Syagrus olearacea) preenchendo 2/3 desses compartimentos (Oliveira et al., 2007). O diferente desenvolvimento dos casos se deve ao diâmetro dos caroços de manga que não permitiu sua passagem pelo orifício retículo-omasal para chegar ao abomaso. De forma a contribuir com o diagnóstico de Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 19-25 - janeiro/abril, 2015 acidose ruminal, vale ressaltar as alterações renais observadas no exame bioquímicos, devido a redução da taxa de filtração glomerular decorrente dos danos renais, observados no histopatológico, onde havia degeneração tubular e congestão cortical e medular, além da queda do fluxo sanguíneo renal devido a diminuição na pressão sanguínea arterial justificado pelo presença do baixo hematócrito, além da severa desidratação que a acidose provoca. O comprometimento renal pode ter se agravado uma vez que o animal desenvolveu um quadro de cetose devido as exigências nutricionais do final da gestação, a oferta de alimentos de baixa qualidade e pela anorexia causada pela indigestão (Li et al., 2011). Dentre os achados histopatológicos da acidose, estão as alterações da mucosa e papilas ruminas causadas pela queda do pH do fluido, caracterizado por infiltrado inflamatório de polimorfonucleares e degeneração hidrópica das papilas, além de congestão hepática com degeneração e necrose de hepatócitos (Xu e Ding, 2001), órgãos esses que também foram afetados, no bovino relatado, tanto pela acidose ruminal quanto pela cetose, levando a elevação das enzimas hepáticas e hiperemia da mucosa ruminal (Oliveira et al., 2014),. CONCLUSÃO A ingestão de manga (Mangifera indica) pode levar a indigestão devido à acidose ruminal em bovinos. Deve-se prevenir a ingestão de frutos, principalmente contendo amêndoas e sementes, que caiam ao solo e ficam a disposição na pastagem e possam se acumular no rúmen causando distúrbios digestivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFONSO, J.A.B.; PEREIRA, A.L.L.; VIEIRA, A.C.; MENDONÇA, C.L.; COSTA, N.A.; SOUZA, M.I. 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These results show the necessity to monitor the industry, because some mineral mixtures can be dangerous to animal health, therefore impair food safety production. K E Y W O R D S ² Químico, CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), Poços de Caldas, Minas Gerais ³ Londrina State University, Londrina, Paraná, Brazil. Cattle, Mineral Salt, Zinc. Niveis tóxicos de zinco em misturas minerais utilizadas na suplementação de bovinos para corte RESUMO A concentração de zinco foi mensurada em 36 formulações de sal colhidas no estado de São Paulo e Paraná, Brasil. A concentração de zinco em cada amostra foi determinada por espectrometria de emissão atômica com plasma indutivamente acoplado. Trinta e cinco amostras (intervalo de 70 ± 24,5 a 11.200 ± 6,27 ppm) apresentaram valores acima de 300 ppm, o máximo valor aceitável em nutrição de bovinos. Estes resultados mostram a necessidade de monitorar a indústria, porque algumas misturas minerais podem ser perigosas para a saúde animal, portanto, prejudicando a produção de segurança alimentar. P A L A V R A S - C H A V E Bovinos, Sal Mineral, Zinco. INTRODUCTION The increased competition in the Brazilian market for the commercialization of mineral salt mixtures (MSM) for animal consumption is one of the main reasons why the mineral mixture industry (MMI) look to reduce costs with the aim to win competition and guarantee future business. Today, there are around 5,500 formulations of mineral mixtures being sold throughout the Brazilian market (MARÇAL et al, 2005). In order to be profitable and maintain it business, the MMI have negligenciated some important aspects related to the concepts of total quality. Some of these aspects are quality raw material sources that comprise mineral salt mixtures. The materials chosen are at the most accessible price, including from international origin (MARÇAL et al, 2003). It is believed that some of these raw material sources can be contaminated with toxic elements, such as heavy metals and radioactive substances, generating a subject of concern among nutritionists, clinical veterinarians and technicians that work with the area of health and animal production (MARÇAL et al, 2005). By this reason, investigative research project was launched with the intention to evaluate the level of pollutants in mineral formulations used as cattle feed supplement in Brazil. The objective of this study is to investigate the zinc presence in some different mineral supplements produced in Brazil, through laboratory analysis to quantify those pollutants, 43 Wilmar Sachetin MARÇAL et al. which can be connected with the macro and micro mineral Table 1: Zinc concentrations in individual samples of mineral salt in Brazil elements of the formulations prepared for animal feed. The zinc was the element chosen, because is considered for many specialists as an inorganic chemist of large risk to State Sample nº. City the animals, mainly in the bovine species (McDOWELL, Avaré 1985; BRITO, 1993; NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 01 Avaré 1996; MARÇAL, 1996; MARÇAL et al, 1999; ASSOCIATION 02 Avaré OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS, 2001 and 03 Mogi Mirim MARÇAL et al, 2005), where the animal contamination can 04 Ribeirão Preto occur by the ingestion of contaminated mineral formulations. 05 Araçatuba 06 Piracicaba SÃO 07 Batatais MATERIAL AND METHODS PAULO 08 Birigüí 09 Birigüí The samples were collected directly from the main com10 São Vicente mercial resellers in selected cities, where they had many cattle. 11 Presidente Each sample weighed about 200 grams, and noted the man12 Prudente ufacturing date, expiry period and batch number. At harvest 13 General Salgado the containers were sealed, with original factory. Samples were 14 Campinas paid an identication code to prevent the disclosure of the 15 Fernandópolis brand and manufacturer, with respect to research ethics. 16 Londrina The criterion used to determine the number of samples 17 Londrina considered the study conducted by MIGUEL (1982). The dif18 Rolândia ference in samples between states occurred because the state of 19 Cornélio Procópio Paraná had more trademark officially controlled by the Feder20 Maringá al Government agencies. 21 Cascavel Samples were conditioned in transparent plastic contain22 Paranaguá ers and then send to analysis at the National Commission of 23 Londrina Nuclear Energy (CNEN) Laboratory of Poços de Caldas, Minas 24 Cambé Gerais, Brazil. After drying at 110 0C samples were solubilized 25 Umuarama by multiacid attack with nitric, hydrofluoric and hydrochloric PARANÁ 26 Umuarama acids, and then zinc was determined by inductively coupled 27 Umuarama plasma atomic emission spectrometry using a Jarrell-Ash mod28 Jandaia do Sul el 975 equipment. 29 Jandaia do Sul In the analytic detection of zinc in the mineral formula30 Maringá tions, it was not possible to separate the raw material compo31 Londrina nents, so in order to proceed with the investigation the authors 32 Londrina worked with readily industrialized formulations. 33 Londrina To calculate the values of central tendency (average and 34 Maringá medium), percentages for the quantitative variables and vari35 Colombo ability values (deviate pattern and variation coefficient), the 36 Catanduvas program SAS/BASIC was used, as described in SAS PROCEDURES GUIDE (1990). RESULTS AND DISCUSSION The results obtained from the present research, whose inorganic zinc element was quantified in 36 most important mineral formulations produced in the two states, are presented in Table 1 and Fig. 1. The concern about mineral formulations contaminated by metallic elements and/or radioactive substances has been a subject of attention for technicians and farmers. The evaluated results have generating debates among researchers in several countries, with great impulse in the early nineties. The subject of health control in animal feeding is a point 44 Value of Zinc (ppm) 11.200 ± 6.27 4.710 ± 1.10 1.310 ± 0.08 8,020 ± 3.21 1.250 ± 0.07 1.890 ± 0.17 3.700 ± 0.68 1.620 ± 0.13 1.030 ± 0.05 1.270 ± 0.08 7.700 ± 2.96 2.140 ± 0.22 2.660 ± 0.35 2.120 ± 0.22 3.060 ± 0.46 470 ± 110.45 1.770 ± 0.06 1.770 ± 0.06 440 ± 96.80 70 ± 24.5 6.820 ± 2.32 2.270 ± 0.25 1.510 ± 0.11 4.450 ± 0.99 380 ± 72.20 4.910 ± 1.20 2.100 ± 0.22 11.000 ± 6.05 4.600 ± 1.05 11.000 ± 6.05 1.670 ± 0.13 3.050 ± 0.46 4.240 ± 0.89 1.750 ± 0.15 2.470 ± 0.30 2.600 ± 0.33 of great interest and increased attention also in Brazil with strengthened participation by specialists (MARÇAL et al, 1999; MARÇAL et al, 2001). The microelements sources, most costly in the MSM, can be contaminated with zinc element (CAMPOS NETO & MARÇAL, 1996; MARÇAL et al, 2003), because industries try to find cheaper, alternatives sources of microelements to decrease it production costs. In this aspect, the main objective of this study was to investigate the zinc element presence in mineral, mixed supplements produced in Brazil. There was no type of research like this realized anywhere in the country until now. Preliminary Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 43-46 - janeiro/abril, 2015 Toxic levels of zinc in mineral salt mixtures used in beef cattle supplementation 3302 3579 300 ppm AAFCOI* studies shown that contaminated raw material has been used in the MSM with the intention to decrease production costs of the final product (MARÇAL et al, 2003; MARÇAL et al, 2005). Because of the high number of mineral formulations on the market in Brazil, we proceeded to select samples only from the manufacturing states. One approach is work in some federation states that hold significant cattle population consuming the main MSM marks manufactured countrywide. The states chosen were São Paulo, Paraná, which together hold approximately 14.06% of the bovine herds in Brazil. In great number of the samples, values were higher that the acceptable maximum limit of 300 ppm attributed by ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS (2001). It is necessary to emphasize that the next phase of our studies will be to evaluate possible sub-clinical effects of zinc toxicity in cattle receiving MSM with the highest zinc concentrations. The main objective will be to verify changes in the bovine reproductive system, looking for possible impairment of the toxic element in the reproduction of the cow, as referred to by STUART and OEHME (1982); McDOWELL (1985); MARACEK et al (1998); MARÇAL et al (1999); MARÇAL et al (2003) and MARÇAL et al (2005). It is important to detach that excessive amounts of zinc in the diet are known to depress food consumption and may induce copper deficiency (McDONALD et al, 1987; MARÇAL et al (2003). These results show the necessity to constant monitor the industry and when failures are found the proper recommendations should be made. The environment has received a large discharge of this element and in quantities which are not absorbed, it is eliminated through animal’s excrements that contaminate soil, plants and water. Great attention must be Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 43-46 - janeiro/abril, 2015 Figure 1: Average values (N=36) for zinc concentrations in mineral salt from two states in Brazil, correlated with reference values from ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS (2001). *ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS (2001). done with raw materials sources because of the threat to animal health. Government agencies must be aware to the issue, because besides the animal health, human health can be in danger due to possible man contamination with foods from animals that were fed with suspicious MSM. An accumulative zinc contamination can occur with those individuals that constantly ingest contaminated animals products, therefore, this can impair the potential of animal food production for the domestic market and for the export of Brazilian Animal Food products to potential worldwide markets that demands quality. CONCLUSIONS Analysis of results observed in researches conducted to date that permits the following conclusions: 1st) Thirty-five samples were found with the zinc concentration upper to 300 ppm, the maximum limit attributed by ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS (2001), representing 97.22% of the analyzed mineral formulations; 2nd) The largest value founded, 11,200 ppm, refers to a mineral formulation sold in the state of São Paulo, which holds the highest human population by state in Brazil. REFERENCES Association of American Feed Control Officials Incorporated: Official guidelines for contaminant levels permitted in mineral feed ingredients. Indiana: 2001; 292-293. 45 Wilmar Sachetin MARÇAL et al. BRITO, J. Fosfato bicálcico feed grade. Cajati. Apostila, Serrana 1993; MARÇAL, W. S.; OLIVEIRA JUNIOR, B.; ORTUNHO, V. V. Teores 17. de fósforo e flúor em suplementos minerais para bovinos comercializados no Estado do Paraná. Acta Scientiae Veterinariae, Porto CAMPOS NETO, O. W. S. MARÇAL: Os fosfatos na nutrição mineral Alegre, v.33, n.3, p.315-319, 2005. de ruminantes. Revista dos Criadores, São Paulo 1996; 793, 8-10. MARTIN, L. C. T. Nutrição mineral de bovinos de corte. São Paulo: IBGE. Anuário estatístico do Brasil. IBGE. Efetivo pecuário, Rio de Nobel, 2ª. Ed, 1993, 173p. Janeiro, 2012. McDONALD, P.; EDWARDS, R. A.; GRENHALGH, J. F. D. Animal MARACEK, I; LAZAR, L.; DIETZOVA, I.; KORENEKOVA, B.; CHOnutrition, 4ºed. Burnt Mill: Longman, 1987. p.90-116. MA, J.; DAVID, V. Residues of heavy metals in cow reproductive organs and morbidity of cattle in the fallout region of a metallur- McDOWELL, L. R. 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Journal of Veterinary Science, Korea, v.4, n.3, p. 235-238, 2003. 46 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 43-46 - janeiro/abril, 2015 Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 18 n. 1/2 p. 21-23 - janeiro/agosto, 2015 Fraturas dos metacárpicos acessórios e a incidência da desmite do suspensório de boleto em cavalos de pólo: estudo retrospectivo de 35 casos Juliana de Oliveira BERNARDO¹, Pierre Barnabé ESCODRO², Tobyas Maia de Albuquerque MARIZ³, Kathryn Anne Ford DIAZ4, Maurício José BITTAR5 RESUMO As fraturas dos ossos metacárpicos acessórios (MTCa) são comuns em cavalos de corrida, trote, salto e pólo. A desmite do suspensório do boleto (LSB) pode estar associada à fratura ou proliferação periostal no eixo axial do MTCa, que comprime o LSB e causa a lesão. O objetivo deste trabalho foi realizar o estudo retrospectivo dos casos de fraturas de MTCa em cavalos de pólo, submetidos à ostectomia parcial, correlacionando o membro acometido e a incidência de desmite de LSB. Foram estudados 35 casos, sendo que 29 (82,86%) das fraturas foram no membro torácico direito (M.T.D.) e seis (17,14%) no membro torácico esquerdo (M.T.E.). Das 35 fraturas, 25 (71,43%) ocorreram no quarto metacárpico (MTC-IV), sendo 21 (84%) no M.T.D. e quatro (16%) no M.T.E e 10 (28,57%) ocorreram no MTC-II, sendo 8 (80%) no M.T.D e 2 (20%) no M.T.E. Quinze animais apresentavam desmite do LSB, representando 42,85 % do total, porém apenas 26,7% apresentavam lesões agudas, demonstrando assim que, a desmite do LSB não está relacionada diretamente às fraturas de MTCa, sendo estas ocasionadas por traumas diretos durante o esporte. Concluiu-se que a incidência das fraturas nos ossos metacárpicos acessórios, em cavalos de pólo são mais comuns nos membros torácicos direito e quartos ossos metacárpicos. 1 Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu/SP; 2 Equino, Esporte, Fratura, Metacárpicos, Desmite. Professor Adjunto de Clínica Médica e Cirúrgica de Equídeos, Universidade Federal de Alagoas, 3 Professor Adjunto de Equinocultura, Universidade Federal de Alagoas; 4 Médica Veterinária Autônoma Rio de Janeiro-RJ; 5 P A L A V R A S - C H A V E Mestranda, Departamento de Cirurgia de Grandes Animais da Universidade Medico Veterinário Autônomo, Anestesiologista de Equinos no Estado de São Paulo Fractures of the accessories metacarpals bones and incidence of desmitis of the suspensory ligament in polo’s horses: retrospective study of 35 cases *autor para correspondência: [email protected] ABSTRACT The fractures of the accessories metacarpals bones are common in race horses, trotting, jumping and polo. The desmitis of the suspensory ligament (LSB) may be associated with fracture or periosteal proliferation in the axial accessory metacarpal, which compresses the LSB and cause injury. The aim of this study was the retrospective study of cases of fracture of accessory metacarpal in polo´s horses, who underwent partial ostectomy, correlating with the incidence of desmitis LSB. Were studied 35 cases, and 29 (82.86%) of the fractures were in the right forelimb (M.T.D) and six (17.14%) in the left forelimb (M.T.E). Twenty-five of 35 fractures (71.42%) involved the fourth metacarpal bone, 21 (72.41%) in the right forelimb and four (66.66%) in the left forelimb and 10 (28.57%) involved the second bone MTC-II, 8 (80%) in the right forelimb and 2 (20%) in the left forelimb. Fifteen animals had desmitis the LSB, representing 42.85% of the total, but only 26.7% had acute lesions, demonstrating that the desmitis the LSB is not directly related to fractures of accessories metacarpals bones, which are caused by direct trauma during sport. It was concluded that the incidence of bone fractures metacarpal accessories, polo’s horses are more common in right forelimbs and fourth metacarpals bones. K E Y W O R D S Equine, Sport, Fracture, Metacarpals, Desmitis. 47 Juliana de Oliveira Bernardo et al. O objetivo deste trabalho é realizar um estudo retrospectivo dos casos de fratura de MTCa em cavalos de pólo, submetiOs equinos possuem três ossos metacárpicos denominados dos à ostectomia parcial no Hospital Vetpolo, correlacionando de segundo (MTC-II), terceiro (MTC-III) e quarto osso meta- o membro acometido e a incidência de desmite de LSB. cárpico (MTC-IV). O MTC-III no equino é bem desenvolvido e possui grande importância na dinâmica da locomoção, enquanto o MTC-II e MTC-IV, situados respectivamente, na face MATERIAL E MÉTODOS palmar medial e palmar lateral do MTC-III, são rudimentares, sendo chamados de metacárpicos acessórios (MTCa) ou splint Foi realizado, com previa autorização dos proprietários, o bones (BUDRAS; SACK; RÖCK, 2009, ASHDOWN; DONE, estudo retrospectivo da incidência do membro e a presença ou 2008, KÖNIG; LIEBICH, 2002). não de desmite do LSB em 35 animais com diagnóstico radioAs fraturas de MTCa podem ser proximais, médias ou dis- gráfico de fratura dos MTCa e submetidos a ostectomia parcial tais; simples ou compostas; abertas ou fechadas. As fraturas na no Hospital Vetpolo no período de 2002 a 2008. Foram atendiregião proximal dos MTCa são as mais comuns, porém nem dos 22 fêmeas e 13 machos, puro sangue inglês, com peso entre sempre são facilmente detectáveis no exame radiológico (SÁ; 372 a 488 kg e idade entre 5 e 16 anos, sendo todos os animais FRANÇA, 2004). praticantes de pólo. Os animais de pólo são frequentemente acometidos por Os animais foram submetidos ao exame clínico minuciofraturas de MTCa e desmite devido ao esforço desempenhado so, com atenção especial à claudicação, realizando-se, quando em movimentos repentinos e explosões durante as partidas e necessário, bloqueios perineurais. Realizou-se então, os exames aos riscos de traumas diretos por taco e bola (GOMES, 2008; radiográficos, com equipamento portátil de raio-x (FNX-90 ROONEY, 1974). CTI - Electra, Rio de Janeiro, Brasil) e exames ultrassonográAlguns autores afirmam que as fraturas de metacárpicos ficos, utilizando-se de transdutor convexo de 7,5 MHz (Aloka acessórios em equinos estão frequentemente associadas à des- SSD 500 - Aloka Co. - Tokio, Japão). mite do ligamento suspensório do boleto (LSB) (WRIGHT, Estatísticas descritivas foram realizadas com o objetivo de 2010; (ESCODRO; IBIAPINA; DIAZ, 2008; BERTONE, 2006; avaliar qual membro e osso mais acometido por fraturas em SMITH, 2006; BUTLER et al., 2000). Dyson et al. (1995) ainda MTCa em equinos de pólo e correlacioná-las à presença de sugerem que a fibrose formada no LSB decorrente a desmite desmite do LSB. Além disto, realizou-se uma distribuição de diminui a capacidade da articulação metacarpofalângica na probabilidade para avaliação das variáveis aleatórias categóriabsorção de impactos o que leva a fratura dos MTCa. A des- cas para analisar a probabilidade de ocorrência de fraturas de mite do LSB pode ocorrer devido ao estresse excessivo, porém acordo com o membro acometido. nem sempre são diagnosticadas na prática da medicina esportiva equina (SCHWARZBACH et al., 2008). Os principais sinais clínicos envolvidos nos casos de fratu- RESULTADOS E DISCUSSÃO ra dos MTCa são a claudicação após o repouso do exercício, aumento do volume da região metacárpica, aumento de temperaFoi possível observar nos exames radiográficos dos 35 catura local e a sensibilidade dolorosa à palpação (GEORGETTI, valos com fraturas de MTCa, que 29 (82,86%) animais apre2007; THOMASSIAN, 2005; DEVAS, 1967). O aumento de sentaram fraturas no membro torácico direito (M.T.D.) e seis volume na região ocorre normalmente em fraturas proximais, (17,14%) no membro torácico esquerdo (M.T.E.), havendo sopodendo estar presente ou não em fraturas distais, podendo- mente fraturas unilaterais, médias ou distais. O maior número -se relacionar o aumento de volume com a gravidade da lesão, de fêmeas acometidas (62,85%) pode ser justificado pela prefequanto maior o edema, maior a gravidade da fratura, porém rência na utilização do gênero neste esporte. em alguns casos, os animais são medicados sem acompanha Das 35 fraturas, 25 (71,43%) ocorreram no MTC-IV, mento médico veterinário o que dificulta o diagnóstico clínico sendo 21 (84%) no M.T.D. e 4 (16%) no M.T.E. Dez fraturas (ESCODRO; IBIAPINA; DIAZ, 2008). ocorreram (28,57%) ocorreram no MTC-II, sendo 8 (80%) no Para o diagnóstico de fraturas de MTCa deve-se realizar M.T.D e 2 (20%) no M.T.E. (Figura 1), todas médio-distais, sem um exame clínico minucioso com vista às claudicações (ES- necessidade de colocação de pinos de fixação, divergindo do CODRO; GIANINI; LOPES, 2007). Como exames comple- descrito por. Sá e França (2004), que citam que geralmente as mentares, pode-se utilizar os bloqueios perineurais, radiografia fraturas de MTCa exigem a colocação de pinos a fim de evitar e ultrassonografia. A radiografia é essencial para o diagnóstico instabilidade local, migração, sequestro ósseo ou afecções secorreto, pois permite diferenciar o tipo de lesão e outros danos cundárias a fratura. às estruturas adjacentes. Porém, é indispensável a realização da Observou-se uma maior incidência de fraturas no M.T.D, ultrassonografia para avaliar se lesões no LSB. representando 29 casos (82,86%), o que pode ser explicado Na ultrassonografia é possível encontrar áreas anecogêni- pelo esporte exercido pelos animais, onde o taco e bola rolam cas ou hipoecogênicas marginais sob a área da fratura. Já em pelo lado direito quando em avanço da partida, devido o tacasos onde a desmite do LSB é primária, a lesão é central, dife- queio do jogador ser realizado com o braço direito. Sá e França renciando das lesões secundárias a fratura (ESCODRO; GIA- (2004) encontraram uma proporção de 56% no M.T.D. e 44% NINI; LOPES, 2007; BERTONE, 2006; DYSON et al., 1995). no M.T.E. de fraturas de MTCa em equinos de pólo, não encon- INTRODUÇÃO 48 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 21-23 - janeiro/abril, 2015 Toxic levels of zinc in mineral salt mixtures used in beef cattle supplementation Figura 1 - Incidência (%) de fraturas nos segundo (MTC-II) e quarto (MTC-IV) ossos metacárpicos acessórios em membro torácico direito (M.T.D.) e membro torácico esquerdo (M.T.E.) em equinos praticantes de pólo. trando diferença significativa entre os membros acometidos, porém com M.T.D. também sendo o que apresenta maior números de fraturas.. Esta peculiaridade no esporte, também pode alicerçar a explicação da maioria das fraturas serem no quarto metacárpico (71,42%), já que o taqueio ocorre na face lateral do M.T.D. Diferentemente dos resultados encontrados por Sá e França (2004), onde 52% dos animais apresentavam fraturas de MTC-II e 48% fraturas de MTC-IV. Em relação ao M.T.E., a incidência também pode ser explicada pelas jogadas de “back”, em que o jogador faz o movimento de defesa pelo lado esquerdo do animal. O valor das variáveis categóricas neste estudo foi significativo, demonstrando ser o membro torácico direito mais acometido com fraturas em equinos praticantes de polo (82%), enquanto que apenas 18% ocorreram no membro torácico esquerdo. Além disso, a probabilidade do quarto osso metacárpico acessório ser acometido no M.T.D. foi de 84% e apenas 16% no M.T.E. A probabilidade do segundo osso metacárpico acessório ser acometido no M.T.D. foi de 80%, enquanto houve apenas 20% no M.T.E. (Figura 2). Nas avaliações ultrassonográficas do ligamento suspensó- Figura 2 - Probabilidade (%) de ocorrência de fraturas dos segundo ( MTC-II) e quarto (MTC-IV) ossos metacárpicos acessórios em membro torácico direito (M.T.D.) e membro torácico esquerdo (M.T.E.) em equinos praticantes de pólo. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 21-23 - janeiro/abril, 2015 49 Juliana de Oliveira Bernardo et al. Figura 3 - Incidência (%) de fratura em metacárpicos acessórios associada à desmite do ligamento suspensório do boleto no membro torácico direito (M.T.D.) e membro torácico esquerdo (M.T.E.). rio do boleto (LSB), foi possível observar áreas anecogênicas ou hipoecogênicas na região relacionada à fratura do MTCa, em 15 animais, indicando desmite do LSB, representando 42,86% dos casos. Destes 15 animais, 11 (73,34%) apresentaram lesões crônicas, com tempo de evolução de 20 a 90 dias, e quatro (26,66%) apresentaram lesões agudas, com no máximo três dias de evolução. Em relação ao membro acometido com desmite do LSB, observou-se que no M.T.D., 9 (60,00%) animais apresentaram lesões crônicas e 4 (26,66%), lesões agudas, totalizando 13 animais, ou seja, 46,43% dos casos de fratura de MTCa. Em relação ao M.T.E., 2 (13,33%) animais apresentaram lesões agudas, totalizando 2 animais, ou seja, 33,33% dos casos (Figura 3). As desmites de LSB associadas às fraturas de MTCa estiveram presentes em 42,86% dos casos, sendo mais comuns em traumas crônicos, representando 73,33% do total. Estes valores diferem dos resultados encontrados por Schwarzbach et al. (2008) que notaram uma maior incidência de desmite do ligamento suspensório no membro torácico em associação com fraturas de MTCa e Sá e França (2004) que verificaram uma alta incidência de desmite do ligamento suspensório em animais de pólo que apresentavam fraturas de segundo ou quarto metacarpianos (82,35%), afirmando não haver predileção pelo membro acometido. Os autores ainda afirmam que é difícil discernir se a ocorrência da desmite do LSB leva a fratura de MTCa ou se a fratura leva à desmite (SCHWARZBACH et al., 2008; SÁ; FRANÇA, 2004). Porém, os resultados deste estudo retrospectivo, mostraram que a desmite do LSB pode estar mais associada à proliferação óssea no eixo axial do osso, devido á calcificação da fratura, do que propriamente com a fratura primária, sendo que a ostectomia parcial precoce pode auxiliar no não comprometimento do LSB em animais com fraturas de metacárpicos acessórios. A partir dos dados analisados, pode-se levantar a hipótese que a maioria das fraturas em cavalos de pólo está relacionada 50 com trauma direto, e não com lesão primária do LSB, como ocorre em cavalos de corrida, relatado por Wright (2010) e Bertone (2006) que tem fraturas no segundo osso metacárpico direito e quarto osso metacárpico esquerdo, devido ao sentido anti-horário das corridas. Uma vez que 82% dos animais apresentaram fratura no M.T.D., apenas 42,46% apresentaram desmite do LSB, confirmando assim esta hipótese. A causa principal de claudicação dos animais acometidos foi devido a desmite do ligamento suspensório. A ostectomia parcial foi considerada o tratamento de escolha, pois os animais voltaram a sua atividade atlética. CONCLUSÃO Conclui-se que a incidência as fraturas dos ossos metacárpicos acessórios, em cavalos de pólo são mais comuns nos membros torácicos direito e quarto osso metacárpico, divergindo da estatística de casos em cavalos de corrida, provavelmente estando associadas aos traumas diretos com tacos e bolas. São necessários mais estudos retrospectivos e pesquisas, buscando reforçar os dados aqui levantados, bem como pesquisar o prognóstico das ostectomias parciais e retorno à atividade esportiva dos animais, correlacionando os casos com a desmite do LSB. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. –G. 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RESUMO 1 Médico(a) Veterinário(a) autônomo(a). 2 Docente do Departamento de Diagnóstico por Imagem da UFMT, Sinop, MT. 3 Postdoctoral Research Associate Mississipi State University, College of Veterinary Medicine Department of Pathobiology and Population Medicine Starkville, MS, US. 4 Graduando(a) do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesmac, Marechal Deodoro, AL. 5 Docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesmac, Marechal Deodoro, AL e Doutoranda do Programa de PósGraduação em Cirurgia Veterinária da Objetivou-se avaliar os efeitos da prova de marcha nas variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos e compará-los entre os dois tipos de marcha (picada e batida). Aferiu-se a frequência cardíaca (FC), temperatura retal (TR), lactatemia e glicemia de 18 cavalos atletas, Mangalarga Marchadores, machos, divididos nas categorias de Cavalo Júnior e Cavalo Jovem. Em cada uma destas, cinco animais realizaram marcha picada e quatro realizaram marcha batida. Os dados foram coletados 60 minutos antes da prova (T0), um (T1), cinco (T2) e dez minutos (T3) após o término desta. Os dados foram analisados pelo ANOVA, com nível de probabilidade de 5%, e para as diferenças entre as médias utilizou-se o Teste de Tukey (p≤0,05). Observou-se aumento significativo apenas da FC no T1 e da TR nos T1 a T3, exceto em Júnior Marcha Picada. Não houve diferença significativa entre as marchas. Conclui-se que os equinos estavam aptos para exercer tais provas e que a execução da marcha picada ou da batida exigiu o mesmo condicionamento físico. P A L A V R A S - C H A V E glicemia, lactatemia, marcha picada, marcha batida. Physiological and biochemical findings in Mangalarga Marchador horses during official competition of marcha FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP. ABSTRACT *Autora para correspondência: We evaluated the gait competition effects on some physiological and biochemical parameters in Mangalarga-Marchador horses, and compared these findings between two gait types (marcha picada and marcha batida). Heart rate (HR), rectal temperature (RT), lactatemia, and glycemia were measured in 18 athlete male horses subdivided in two categories (Júnior and Jovem). Each category was comprised of five and four animals performing marcha picada and marcha batida, respectively. The variables were measured 60 minutes before (T0), and one (T1), five (T2) and ten (T3) minutes after the competition. Data were analyzed using ANOVA followed by Tukey’s test considering significance level at P=0.05. The HR and RT increased significantly on T1, and from T1 to T3, respectively, when compared to T0 in all groups except one (Júnior category, marcha picada). There was no significant changes between groups. We conclude that all horses were well trained and conditioned to perform the competition. Also, the same conditioning level is necessary to perform marcha picada or marcha batida. [email protected] K E Y W O R D S 52 glycemia, lactatemia, marcha picada, marcha batida. Determinação das variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos Mangalarga Marchador durante prova oficial de marcha res, machos, em plena atividade atlética, distribuídos em duas categorias, sendo Cavalo Júnior (30 a 36 meses de idade) e No Brasil, a população de equinos é estimada em aproxi- Cavalo Jovem (36 a 54 meses de idade). Em cada uma destas madamente 5,5 milhões de cabeças, sendo a quarta maior do categorias, cinco animais realizaram marcha picada e quatro mundo (IBGE, 2015). Os equinos são utilizados em diversas animais marcha batida. áreas esportistas e este setor do agronegócio movimenta anualmente, em média, R$ 705 milhões e emprega cerca de 20 mil PROCEDIMENTOS pessoas. Nas últimas décadas, o setor esportivo desenvolveu- se rapidamente, contribuindo para o aumento do estudo da fisioAs aferições dos parâmetros físicos, ambientais e coletas patologia do exercício equino (LIMA et al., 2006). No entanto, de sangue foram realizadas 60 minutos antes do início de cada devido à grande variedade de esportes e das raças de cavalos, prova de marcha (T0), um (T1), cinco (T2) e dez minutos (T3) torna-se importante a avaliação dos animais praticando as suas após o término destas. Realizou-se a aferição da FC (batimenatividades físicas em condições de campo para que se estabele- tos por minuto - bpm) por meio de estetoscópio, da TR (ºC) çam programas de nutrição e condicionamento físico (WAN- utilizando-se termômetro digital e do tempo de cada prova DERLEY et al., 2010). (min.) com o cronômetro digital. Foram mensuradas, com A raça Mangalarga Marchador é a mais populosa do Bra- auxílio de termo-higrômetro digital, a temperatura do ar e a sil, havendo aproximadamente 350.000 equinos registrados umidade do ambiente no qual foi realizada a prova equestre. (WANDERLEY et al., 2010). Poucas pesquisas são realizadas A partir de um banco de amostras pertencente à Associacom esta raça, cujo andamento característico é a marcha. Du- ção Alagoana dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marcharante as provas equestres desta modalidade, o animal realiza dor (AACCMM), filiada à Associação Brasileira dos Criadores exercício de longa duração, em um percurso em círculo, sem do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), as amostras repouso e em velocidade constante, considerado exaustivo e de plasmáticas sanguíneas congeladas foram gentilmente cedidas grande gasto energético (GAMA et al., 2012). para este estudo. Previamente, estas foram coletadas por meio O estudo de variáveis fisiológicas como frequência cardía- de venopunção jugular à vácuo, em frascos estéreis contenca (FC) e temperatura retal (TR), e das variáveis bioquímicas do fluoreto de sódio, e centrifugadas a 1000 x g durante cincomo o lactato e glicose sanguíneos, auxiliam na determina- co minutos para obtenção apenas do plasma sanguíneo. Este ção do grau de condicionamento e dos gastos energéticos de foi acondicionado em microtubos de 1,5 mL e congelado em equinos atletas durante o esforço físico (ROGERS et al., 2007; freezer a -20 ºC. Posteriormente, as amostras foram analisadas EVANS et al. 2007; FERRAZ et al., 2010). Estas variáveis, quan- a partir do analisador bioquímico semi-automático (Bioplus do relacionadas, tornam-se uma importante ferramenta para 200F®) utilizando- se kits comerciais para mensuração do lacavaliar o tipo de via metabólica utilizada durante o exercício tato (Liquiform, Labtest®, Ref. 116-1/40) e glicose (PAP Liqui(DAVIE et al., 2000; VERMEULEN et al., 2006). form, Labtest®, Ref. 84-1/500) plasmáticos. A utilização de testes para a avaliação do desempenho atlético, realizados a campo (pista), adicionado a avaliação das ANÁLISE ESTATÍSTICA respostas fisiológicas obtidas pela ação do exercício e do treinamento, pode ser considerada uma valiosa ferramenta para Os dados obtidos foram submetidos a testes paramémaximização dos resultados obtidos nas competições. Desta tricos, por meio da análise de variância em blocos (ANOVA) forma, o programa de treinamento deixa de ser realizado so- e as médias submetidas ao Teste de Tukey. As médias relaciomente de maneira empírica tornando-se um processo técni- nadas aos equinos em repouso (T0) com os demais momentos co, com embasamento clínico e fisiológico (SANTOS, 2006; (T1, T2 e T3), foram comparadas em uma mesma categoria e ERCK et al., 2007). No entanto, pouco se tem estudado sobre a tipo de marcha. O efeito do tipo de marcha (picada versus bainfluência do tipo de prova equestre nas variáveis fisiológicas e tida) foi comparado em cada categoria e no mesmo momento bioquímicas, em cavalos de marcha. de avaliação. A análise estatística foi realizada utilizando-se o A partir do presente estudo, objetivou-se avaliar em cavalos programa SAS (Statistical Analysis System®), considerando-se Mangalarga Marchadores os efeitos da prova de marcha em re- nível de probabilidade de 5% (p≤0,05). lação às variáveis fisiológicas (FC e TR) e bioquímicas (lactato e glicose plasmáticos) de cada categoria, além de compará-los entre os dois tipos de marcha (picada e batida). RESULTADOS INTRODUÇÃO A temperatura ambiente média foi de 26,69 ± 1,56 °C e a umidade do ar de 80,0 ± 0,08 % no dia da execução das provas de marcha, as quais foram realizadas no tempo médio ANIMAIS de 18,88 ± 0,25 minutos para as categorias Cavalo Jovem ou Júnior, tanto marcha batida quanto picada. Durante prova oficial de marcha realizada no Parque de Os valores da FC apresentaram aumento significativo Exposições José da Silva Nogueira, situado na cidade de Ma- (p≤0,05) apenas no T1 quando comparadas ao T0, nas cateceió - AL, foram avaliados 18 equinos Mangalarga Marchado- gorias Cavalo Jovem Marcha Batida (tabela 1), Cavalo Jovem MATERIAL E MÉTODOS Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 27-32 - janeiro/abril, 2015 53 Mayra Carla Pedrosa da Silva et al. Marcha Picada (tabela 2) e Cavalo Júnior Marcha Batida (tabela 3). A categoria de Cavalo Júnior Marcha Picada (tabela 4) não apresentou alteração significativa (p>0,05) da FC. Adicionalmente, observou-se o declínio dos valores da FC (p>0,05) nos momentos T2 e T3, se comparado ao T0, em todas as categoria e tipos de marcha, apresentando-se próximo ao T0 aos dez minutos após o término da prova (T3). Em relação aos resultados da TR, observou-se diferença significativa (p≤0,05) nos momentos T1, T2 e T3, quando comparados ao T0, para as categorias Cavalo Jovem Marcha Batida (tabela 1) e Cavalo Jovem Marcha Picada (tabela 2) e Cavalo Júnior Marcha Batida (tabela 3). A categoria Cavalo Júnior Marcha Picada (tabela 4) apresentou aumento significativo (p≤0,05) somente em T1, para esta variável. No entanto, ao avaliarmos os valores da TR nas diferentes categorias, pode-se observar que houve a diminuição de T3 para T1, sendo em T1 o maior valor após a prova de marcha, para esta variável. Os valores do lactato plasmático do presente estudo não Tabela 1 - Médias ± desvios-padrão obtidos para a frequência cardíaca, glicose, lactato e temperatura retal de equinos da raça Mangalarga Marchador e categoria Cavalo Jovem Marcha Batida. Momento da Coleta Frequência cardíaca (bpm) Temperatura retal (ºC) Lactato (mmol/L) Glicose (mmol/L) T0 44,00±4,90a 37,90±0,19a 1,61 ± 0,42a 5,52±0,47a T1 67,50±3,30b 39,63±0,29*b 2,89±0,42a 6,72±0,58a T2 57,75±5,72ab 39,53±0,19b 3,02±0,67a 6,64±0,41a T3 49,25±4,11ab 39,00±0,08b 3,02±0,70a 6,99±0,29a Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05). *(P<0,01). T0 = 60 minutos antes da prova de marcha; T1 = um minuto, T2 = cinco minutos e T3 = 10 minutos após o término da prova de marcha. Tabela 2 - Médias ± desvios-padrão obtidos para a frequência cardíaca, glicose, lactato e temperatura retal de equinos da raça Mangalarga Marchador e categoria Cavalo Jovem Marcha Picada. Momento da Coleta Frequência cardíaca (bpm) Temperatura retal (ºC) Lactato (mmol/L) Glicose (mmol/L) T0 39,20±2,33a 37,88±0,17a 1,11±0,09a 5,19±0,43a T1 73,80±4,15*b 39,66±0,23*b 3,06±0,70a 6,44±0,80a T2 58,60±4,47ab 39,02±0,33b 2,84±0,60a 6,27±0,82a T3 52,20±2,76ac 38,98±0,21b 2,04±0,42a 5,52±0,56a Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05). *(P<0,01). T0 = 60 minutos antes da prova de marcha; T1 = um minuto, T2 = cinco minutos e T3 = 10 minutos após o término da prova de marcha. Tabela 3 - Médias ± desvios-padrão obtidos para a frequência cardíaca, glicose, lactato e temperatura retal de equinos da raça Mangalarga Marchador e categoria Cavalo Júnior Marcha Batida. Momento da Coleta Frequência cardíaca (bpm) Temperatura retal (ºC) Lactato (mmol/L) Glicose (mmol/L) T0 43,00±6,61a 37,93±0,09a 1,78±0,30a 5,33±0,14a T1 70,50±5,62b 39,65±0,33*b 4,11±1,67a 6,38±0,17a T2 56,75±6,21ab 39,38±0,35b 4,16±2,17a 6,14±0,28a T3 50,75±5,44ab 39,38±0,21b 3,64±1,65a 6,34±0,25a Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05). *(P<0,01). T0 = 60 minutos antes da prova de marcha; T1 = um minuto, T2 = cinco minutos e T3 = 10 minutos após o término da prova de marcha. 54 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 27-32 - janeiro/abril, 2015 Determinação das variáveis fisiológicas e bioquímicas de equinos Mangalarga Marchador durante prova oficial de marcha Tabela 4 -Médias ± desvios-padrão obtidos para a frequência cardíaca, glicose, lactato e temperatura retal de equinos da raça Mangalarga Marchador e categoria Cavalo Júnior Marcha Picada. Momento da Coleta Frequência cardíaca (bpm) Temperatura retal (ºC) Lactato (mmol/L) Glicose (mmol/L) T0 44,80±4,96a 38,56±0,33a 3,02±1,50a 5,42±0,45a T1 64,60±5,47a 39,92±0,11b 3,31±0,44a 6,18±0,38a T2 56,80±5,12a 39,46±0,21ab 2,86±0,45a 5,94±0,45a T3 51,00±3,90a 39,40±0,19ab 2,71±0,43a 6,00±0,64a Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05). T0 = 60 minutos antes da prova de marcha; T1 = um minuto, T2 = cinco minutos e T3 = 10 minutos após o término da prova de marcha. apresentaram diferença estatística (p>0,05), apesar do maior valor destes em T1, T2 e T3 se comparados ao T0, nas categorias de Cavalo Jovem Marcha Batida (tabela 1), Cavalo Jovem Marcha Picada (tabela 2), Cavalo Júnior Marcha Batida (tabela 3) e Cavalo Júnior Marcha Picada (tabela 4). Também foi possível verificar que os níveis desta variável apresentaram-se menores em T3 do que em T1, tendendo ao retorno aos valores basais aos 10 minutos após o exercício. Os valores de glicose plasmática nas categorias Cavalo Jovem Marcha Batida (tabela 1), Cavalo Jovem Marcha Picada (tabela 2), Cavalo Júnior Marcha Batida (tabela 3) e Cavalos Júnior Marcha Picada (tabela 4) não apresentaram diferença estatística (p>0,05) nos diferentes momentos após o exercício, se comparados ao T0. No entanto, o aumento foi observado nos valores da glicose em T1, T2, e T3, nas duas categorias e tipos de marchas, apesar de não significativo (p>0,05). Neste estudo, a média de aumento dos valores da glicose nas diferentes categorias e tipos de marcha durante o T1 foi de 20 % em relação ao T0, exceto para Cavalo Júnior Marcha Picada, que foi de 14%. Comparando os dois tipos de marcha (Picada versus Batida) não foi observada diferença estatística (p>0,05) entre as categorias Cavalo Júnior e Cavalo Jovem nos momentos T0, T1, T2 e T3 para as variáveis analisadas (FC, TR, lactato e glicose). Logo, neste estudo, os resultados desta comparação não foram apresentados em forma de tabela, visto que não houve diferença significativa. DISCUSSÃO O aumento dos valores da FC é fisiologicamente mediado por estímulos ao sistema nervoso simpático, a partir da liberação das catecolaminas durante o exercício e captação destas pelos receptores β-adrenérgicos, produzindo assim alteração desta variável (MARTÍNEZ et al., 2009). Os resultados relativos à FC no presente estudo, corroboram aqueles obtidos por Wanderley et al. (2006) e Gomes et al. (2015), os quais relatam aumento significativo desta em equinos, imediatamente após o término de prova de marcha e vaquejada, respectivamente, com diminuição da FC para valores próximo ao basal, aos Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 27-32 - janeiro/abril, 2015 quinze minutos de repouso. Pode-se inferir que recuperação do ritmo cardíaco dentro dos primeiros dez minutos após o término de uma prova equestre ocorre em cavalos bem condicionados ao exercício (FLAMÍNIO e RUSH, 1998). Além disto, sugere-se que o rápido retorno da FC demonstra também que não houve superaquecimento corpóreo como consequência deste (GOMES et al., 2015). A ausência de alteração significativa da FC observada no grupo Cavalo Júnior Marcha Picada indica que a intensidade do exercício não foi suficiente para alterá-la e que estes animais podem estar mais condicionados em relação aqueles dos demais grupos. Os valores da TR registrados neste estudo corroboram aqueles descritos por Lopes et al. (2009) e Gomes et al. (2015), os quais também observaram aumento significativo (p≤0,05) da TR após o exercício em cavalos da raça Quarto de Milha, submetidos à prova de vaquejada. McConaghy (1994) e McCutcheon e Geor (2008), relatam que após 10 minutos do fim de exercícios extenuantes, a TR dos equinos fica em torno de 39ºC a 40ºC e deve diminuir nos 10 a 20 minutos seguintes, corroborando os resultados apresentados no presente estudo. Isto indica que os animais estavam retornando a TR para o basal, não sendo observado aumento progressivo da TR após o término do exercício. Os equinos possuem mecanismos termorregulatórios elaborados que são capazes de manter a temperatura corpórea interna, apesar dos efeitos ambientais (McCONAGHY, 1994). Assim, a atividade física produz energia térmica suficiente para elevar a temperatura corporal em até 5°C, sendo que este calor é difundido pelo sangue em direção à pele e trato respiratório, para dissipação por meio da sudação e evaporação. No entanto, durante o exercício físico cansativos, a taxa de calor produzido excede a taxa de dissipação, podendo elevar a temperatura em até 1ºC por minuto (JONES, et al. 2006). A ausência de alterações significativas nas concentrações de lactato também foram observadas por Rizzo et al. (2008) ao avaliar éguas Mangalarga Marchadoras submetidas a prova de marcha, concordando com os resultados desta pesquisa para essa variável. No entanto, Wanderley et al. (2010) e Gama et al. (2012), examinando cavalos desta mesma raça após prova experimental de marcha, demonstram o aumento significati- 55 Mayra Carla Pedrosa da Silva et al. vo do lactato plasmático imediatamente e aos cinco minutos, respectivamente, após o exercício. Este fato deveu-se, provavelmente, ao maior tempo de prova aos quais os equinos foram submetidos, se comparados ao presente estudo. A redução observada nos níveis plasmáticos de lactato durante o T3 desta pequisa, tendendo aos valores basais, apesar de não significativa, foi semelhante aquela descrita por Wanderley et al. (2010), os quais também relataram a diminuição destes após 15 minutos do término da simulação da prova de marcha, à campo. O lactato é uma variável sanguínea importante para ser analisada, pois serve de parâmetro para todos os tipos de treinamento, podendo ser um fator limitante durante a atividade atlética (HYYPPA et al., 1997). O aumento do lactato plasmático superior a 4,0 mmol/L é indicativo de exercício de curta duração e alta intensidade, sendo a produção de energia realizada por via anaeróbia. Os exercícios de intensidade moderada (submáxima) e longa duração caracterizam aumentos plasmáticos entre 2,5 e 4,0 mmol/L, com predominância do metabolismo aeróbio (GAMA et al., 2012). As concentrações do lactato abaixo do limiar de anaerobiose justificam os resultados encontrados neste experimento possibilitando classificar o tipo de exercício realizado pelos equinos do presente estudo, como submáximo. Desta forma, a avaliação da concentração de lactato plasmático pode ser um parâmetro empregado para indicar o condicionamento atlético de cavalos, visto que animais que apresentam grande capacidade aeróbia geralmente possuem baixas elevações das concentrações de lactato em resposta ao exercício, justificando os presentes resultados (GAMA et al., 2012). Assim, cavalos bem treinados absorvem melhor o lactato, após o esforço físico, se comparados aos não treinados. Em um organismo sadio, a produção de lactato aumenta durante o exercício quando se necessita de mais energia por unidade de tempo, do que aquela produzida pelo metabolismo oxidativo. No entanto, o excesso de lactato causa a fadiga muscular (LINDNER, 2006; OÇANHA, 2011). Os valores de glicose plasmática encontrados no presente delineamento, quando os equinos estavam em repouso (T0), estão dentro do intervalo considerado fisiológico para esta espécie, sendo de 4,16 a 6,18 mmol/L (COELHO et al., 2011). O aumento da glicose sanguínea após a execução de prova de marcha nesta pesquisa, corrobora aqueles citados por Silva et al. (2014), apesar do resultado destes ter sido significativo estatisticamente. Desta forma, infere-se que houve o aumento na glicemia apenas em decorrência da execução de atividade física, havendo a disponibilização de substrato energético para o trabalho muscular, no presente estudo. O efeito do exercício sobre a concentração sanguínea da glicose é variável, dependendo do tipo e duração do exercício. Esta variável se eleva em decorrência do aumento da atividade de hormônios que regulam o metabolismo energético, como as catecolaminas e o glucagon que, ao serem liberados, provocam glicogenólise e gliconeogênese hepática. Neste processo metabólico há diminuição da liberação da insulina, que somados ao efeito do cortisol, promovem um efeito hiperglicêmico (HYPPA et al., 1997). 56 Semelhante aos nossos resultados, Wanderley et al. (2010) encontraram valores de glicose sanguínea 20% maiores em cavalos submetidos à simulação de prova de marcha à campo, quando comparado aqueles em repouso. Equinos melhor condicionados demonstram maiores valores de glicose durante a prova de marcha, em relação aqueles pouco condicionados (SILVA et al., 2014). Wanderley et al. (2006), ao avaliarem cavalos Mangalarga Marchadores durante prova experimental de marcha picada e batida, relataram diferença significativa de FC, frequência respiratória, volume globular sanguíneo e lactato plasmático, os quais foram maiores naqueles que realizaram marcha picada, diferindo do presente estudo. Estes autores sugerem que os animais deveriam estar mais adaptados ao exercício proposto e citam que a realização da marcha picada requer maior gasto de energia por produzir maior atrito e contato com a superfície do solo durante a locomoção, quando comparada à marcha batida. No entanto, a partir dos resultados obtidos após comparação entre os dois tipos de marcha no presente estudo, pode-se inferir que o gasto energético e exigência de condicionamento físico para a realização da marcha picada e marcha batida foi o mesmo. Deve-se considerar que os dados da presente pesquisa foram coletados em uma prova oficial de marcha a campo e não durante simulação deste tipo de prova. Assim, os equinos deste estudo são atletas em plena atividade, fato que justifica o bom condicionamento ao tipo de prova realizada. Neste estudo não foram questionados os protocolos de treinamento ou nutricional dos cavalos. Acredita-se que haja relação direta do tipo de treinamento e alimentação com os resultados encontrados, visto que não houve prejuízos metabólicos para estes animais, após a prova. Assim, sugere-se a realização de estudos que relacionem o condicionamento físico de cavalos Mangalarga Marchadores durante prova de marcha, com protocolos de treinamento e alimentar destes animais. CONCLUSÃO A realização da prova de marcha ocasionou alterações nos valores das variáveis fisiológicas dos equinos, retornando próximo aos valores basais aos dez minutos após o término do exercício. Este fato, aliado à ausência de aumento significativo dos valores das variáveis bioquímicas, faz-nos sugerir que os equinos do presente estudo estavam devidamente condicionados para exercer as respectivas provas de marcha. Adicionalmente, infere-se que a execução da marcha picada ou da marcha batida exige o mesmo gasto energético e condicionamento físico dos cavalos Mangalarga Marchadores, quando estes são atletas. 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Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 27-32 - janeiro/abril, 2015 57 Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 6-11 - janeiro/abril, 2015 Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador Hélio Cordeiro MANSO FILHO1*; Ernest Gus COTHRAN2; Rytis JURAS2; Manuel Adrião GOMES FILHO3; Núbia Michelle Vieira da SILVA1; Gisele Barbosa da SILVA1; Lúcia Maia Cavalcanti FERREIRA1; José Mário Girão ABREU4; Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO1 RESUMO ¹ Núcleo de Pesquisa Equina, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife-PE; 2 Department of Veterinary Integrative Biosciences, Texas A&M University, College Station-TX, Estados Unidos da America; 3 Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, UFRPE, Recife-PE, Brasil. 4 Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estaural do Ceará, Fortaleza-CE, Brasil; *Autor para a correspondência: [email protected] Recentemente, diferentes publicações demonstraram que o alelo DMRT3 esta associado aos importantes aspectos da locomoção relacionados com a associações entre bípedes e por isso é denominado “the Gait Keeper”. Ele, quando mutante, promove os andamentos dissociados, sejam eles marchados ou saltados. Todavia, as comparações entre os tipos de marcha e as raças Campolina (CAMP) e Mangalarga Marchador (MM) no que se refere à presença desse alelo mutante não foram estudadas. Esse trabalho objetivou o estudo da presença do alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador. Foram utilizadas amostras de DNA de 105 equinos adultos (50 CAMP (batida n=27; picada n=25); 53 MM (batida n=27; picada n=26). O material genético o foi sequenciado utilizando-se protocolos do Borlaug Center através Illumina Hi-Seq 100-PE e os resultados foram analisados através da distribuição da frequência desse gene entre as raças e entre os andamentos. As raças Campolina (CAMP) e Mangalarga Marchador (MM) possuem o DMRT3 mutante. Na CAMP não encontrou-se o alelo DMRT3 normal homozigoto, tanto na picada como na batida. Ainda na CAMP, a maior frequência no DMRT3 mutante homozigoto ocorreu tanto na picada (~44%) como na batida (~26%). Na raça MM não encontrou-se o alelo mutante em homozigose nos animais de marcha batida. As maiores frequências na MM de batida foi no alelo DMRT3 normal homozigoto (~43%) e na picada no alelo mutante em homozigose (~32%). Esse estudo indica que o alelo DMRT3 mutante encontra-se nas raças CAMP e MM e que a frequência dele tem relação não só com a raça, mas também com o tipo do andamento. Por isso, surge a necessidade de estudos mais detalhados para se determinar o possível uso da análise do alelo DMRT3, normal e mutante, como ferramenta dentro dos programas de melhoramento genético e de treinamento para que possam ser utilizados nos equinos marchadores. PA L AV RAS - C H AV E equídeo; genética; andamento; exercício; cavalo; marchador DMRT3 mutant allele in batida and picada gaited horses from Campolina and Mangalarga Marchador breeds ABSTRACT Recently, few papers had shown that DMRT3 allele has association with different aspects of the locomotion in horses and other animals, principally ones that have relationships with animal legs associations and now is denominated “ the Gait Keeper”. This allele, when mutant, produce dissociated gaits, with ou without flying phase. However, there is no information about the DMRT3 mutant allele presence when it is compared different types of marcha, batida and picada, and different gaited horses breeds, Campolina (CAMP) and Mangalarga Marchador (MM). The aims of this paper were the evaluation of the DMRT3 wild type and mutant alleles in gaited horses with batida and picada gait from CAMP and MM breeds. It was used DNA samples from 105 adult horses (50 CAMP (batida n=27; picada n=25); 53 MM (batida n=27; picada n=26). All genetic samples was sequenced using the Borlaug Center protocol by Illumina 58 Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador Hi-Seq 100-PE and the results were analyzed by frequency distribution of this allele between breeds and gaits. Results showed that CAMP and MM have the DMRT3 mutant allele. In CAMP breed it was not observed DMRT3 wild type allele in homozygous, in batida and picada horses. In addition, the DMRT3 mutant homozygous in CAMP breed occurred in picada (~44%) and batida (~26%) gaits animals in large frequencies. The MM breed did not have DMRT3 mutant homozygous in batida horses. The largest frequency in batida horses in MM breed was obtained in DMRT3 wild type homozygous (~43%) and in picada horses was in DMRT3 mutant homozygous (~32%). This research showed that DMRT3 mutant allele is present in CAMP and MM breeds and its frequency has relationships not only with horse’s breed but also with type of the horse’s gait. Finally, to understand the importance for gaited horses of the DMRT3 allele, mutant or wild type, it is necessary more studies because this knowledge has important implication for development new genetic selection methods and training programs to these breeds. KEYWORDS equid; genetic; gaits; exercise; equine, four-beat horse INTRODUÇÃO Ao longo dos últimos anos, diferentes sistemas de melhoramento animal foram empregados na seleção dos animais domésticos, sendo que a força e os andamentos sempre formaram os maiores objetivos na seleção dos equídeos. No Brasil, ao longo das décadas, formaram-se dois grandes grupos de raças de equídeos selecionados a partir da sua função e por conseguinte pelos seus tipos de andamentos. Em um dos grupos, há raças nacionais desenvolvidas para o trabalho em fazendas e atividades pecuárias, com animais que se deslocam em andamentos associados como o trote e o galope e nele estão raças de equinos (Nordestina, Pantaneira e Crioula) e de asinino (Nordestina). Já um segundo grupo, formou-se com animais utilizados mais para as cavalgadas e deslocamentos em baixa velocidade, mas com um andamento dissociados e suas variações (picada, batida, de centro e trotada) e nele estão raças de equinos (Campolina, Mangalarga e Mangalarga Marchador) e de asininos (Pêga e Brasileira). No sentido de se compreender como os andamentos do ponto de vista genético, nos últimos anos foram estudados e identificado os genes associados a locomoção dos animais. Entre eles foi demonstrado que o alelo DMRT3 é um dos mais importantes e por isso foi denominado “Gait Keeper”. Ele coordena os movimentos tanto entre os membros esquerdos e direitos, como também entre membros torácicos e pélvicos (ANDERSSON et al., 2012). Também foi descoberto que nos equinos o “Gait Keeper” ainda se apresenta tanto na forma natural (“wild type” ou CC) como em uma forma mutante (AA) (ANDERSSON et al., 2012). A forma alelo DMRT3 AA ocorre a partir da troca da Cisteína pela Adenosina em determinada área do alelo e que os animais com o alelo DMRT3 AA apresentam melhor desempenho nas modalidades esportivas próprias das raças quando comparados com animais com o alelo natural (ANDERSSON et al., 2012; JÄDERKVIST et al., 2015). O alelo DMRT3 AA causa importantes modificações nos andamentos dos animais. Andersson et al. (2012) demonstram que em camundongos transgênicos, com DMRT3-null, o comprimento da passada é maior, devido a maior fase de extensão dos membros, quando comparados com os animais controles com o alelo DMRT3 CC, semelhantemente ao que ocorre nos cavalos Standardbreds. Também foi demonstrado que o alelo DMRT3 CC ocorre em maior frequência nas raças com anda- Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 6-11 - janeiro/abril, 2015 mentos associados, enquanto que a forma mutante está mais frequente em raças conhecidas como “gaited horses” ou de andamento dissociados, como a marcha e o tölk (ANDERSSON et al., 2012; PROMEROVÁ et al., 2014; PATTERSON et al., 2015). Nesse aspecto, já há estudos demonstrando que algumas raças Brasileiras possuem o alelo DMRT3 AA, tanto de andamento dissociado (Campolina: 89-95%; Mangalarga: ~7%; Mangalarga Marchador: ~45-50%) como nas de andamento associado (Marajoara: ~7%; Crioulo: ~2%) (MANSO FILHO et al., 2014; PROMEROVÁ et al., 2014; PATTERSON et al., 2015). O alelo DMRT3 AA provoca modificações nos padrões de deslocamento, favorecendo o aparecimento de andamentos dissociados, sejam eles marchados ou saltados. Entretanto, ainda não há comparações quem combinem as análises dos tipos de marcha (batida e picada) e das raças (Campolina e Mangalarga Marchador) no que se refere à presença do alelo DMRT3 AA, CC ou CA. Esse trabalho objetivou o estudo da presença do alelo DMRT3 AA e CC em equinos de marcha batida e de marcha picada e nas raças Campolina e Mangalarga Marchador. O conhecimento da distribuição desse gene entre as raças e nos diferentes andamentos poderá contribuir para o melhor entendimento dos andamentos dessas raças e das habilidades esportivas, facilitando a adoção de práticas de treinamento e de melhoramento genético que visem o bem-estar dos animais. MATERIAL E MÉTODOS Animais e colheita de amostras: Foram utilizadas amostras dos pelos da crina caudal de 105 equinos, sendo 52 da raças Campolina (batida n=27; picada n=25) e 53 da raça Mangalarga Marchador (batida n=27; picada n=26). Todos eram adultos (5-20 anos), com registro definitivo e com o andamento fixado, seguindo as regras das respectivas associações de criadores, com local nascimento tanto em Pernambuco como em outros Estados do Brasil. Esses animais também haviam competido em provas de marchas nos últimos anos ou estavam competindo em provas de marcha, conforme o seu andamento. As amostras de pelos colhidas desses animais estavam armazenadas no banco de amostras do Núcleo de Pesquisa Equina/ UFRPE e os procedimentos utilizados no atual experimento foram aprovados pelo Comitê de Ética na Pesquisa Animal da UFRPE (026/2013) . 59 Hélio Cordeiro Manso Filho et al. Análise do material genético e análise de dados: O material genético obtido das amostras de pelos dos animais foram sequenciadas utilizando-se protocolos do Borlaug Center através Illumina Hi-Seq 100-PE, na Texas A&M University, e estão detalhadamente descritos na literatura (ANDERSSON et al., 2012). Os resultados foram analisados através da distribuição da frequência dos alelos DMRT3 natural homozigoto (CC), mutante homozigoto (AA) e heterozigoto (CA) entre as raças e entre os andamentos.Também foram obtidas as frequências alélicas e heterozigosidade esperada (He) e observada (Ho) segundo Nei (1987) e o teste para o equilíbrio de Hardy-Weinberg foram realizados com auxílio do GENEPOP versão 4.2, conforme Rousset (2008). RESULTADOS Os resultados encontrados determinaram que o alelo DMRT3 mutante (AA), estava presente nas raças Campolina (CAMP) e Mangalarga Marchador (MM). Contudo, nessas raças foi observado que o alelo DMRT3 em homozigose, tanto do alelo natural (CC) como do mutante (AA), e em heterozigose (CA) apresentavam diferentes variações nas suas frequências, tanto entre as raças CAMP e MM, como entre os animais de marcha batida e picada. Os animas da raça CAMP não apresentaram o alelo DMRT3 CC, tanto para os cavalos de marcha picada como para os de marcha batida. Ainda na raça CAMP determinou-se que os animais de marcha picada apresentaram a maior frequência do alelo DMRT3 AA (~43%). Já nos animais da raça MM não foi encontrado o alelo DMRT3 AA nos animais de marcha batida. As maiores frequências observadas na raça MM de marcha batida foi do alelo DMRT3 CC (~42%) e na marcha picada do alelo DMRT3 AA (~32%). A presença do alelo DMRT3 CA foi observada em todos os grupos avaliados, sendo que na raça CAMP a maior frequência foi determinada nos animais de marcha batida (~24%) e na raça MM nos animais de marcha picada (~15%). Ainda conforme as Tabelas 1 e 2, ambas as raças não estão em Equilíbrio de Hardy-Weinberg e apresentam um excesso de genótipos homozigóticos quando analisa-se os resultados encontrados. O coeficiente de endogamia foi baixo na raça Campolina para a marcha batida com 0,19% e alto na picada com 39,9% e com um erro padrão 0,003 e 0,0019, respectivamente. Já na raça MM a consanguinidade foi alta na marcha batida com 31,6% e baixa na marcha picada com 2,4%. Devido as características do programa Genepop não foi possível comparar os resultados entre as raças pois alguns apelos apresentavam valores inferiores a dois. DISCUSSÃO Ao redor do mundo as raças com andamentos dissociados ou “gaited horses” estão presentes em diferente centros de criação de equinos mas com importância produtivas diferentes. Para que uma raça possua o andamento dissociado natural, ela deverá possuir a presença do alelo DMRT3 mutante (AA), sendo que a frequência desse alelo poderá depender do sistema de seleção genética utilizado ao longo dos anos e da população avaliada. Em estudo com mais de 140 raças de equinos foi identificado que o alelo DMRT3 AA esta presente em cerca de 48% das raças analisadas, com a frequência variando de 1 até 100% (PROMEROVÁ et al., 2014). Esse estudo demonstra cla- Tabela 1 - Frequência de Alelos de acordo com o tipo de andamento e o coeficiente de consanguinidade na raça Campolina. ANDAMENTO ALELO N F SE 15 27 0,0019 0,0003 22 25 0,3994 0,0019 CC AA AC Batida 0 12 Picada 0 3 Total 52 Observação: CC: alelo homozigoto natural; CA: alelo heterozigoto; AA: alelo homozigoto mutante; N: número de cavalos para cada tipo de marcha; F: coeficiente de consanguinidade dentro de cada tipo de marcha; SE: erro padrão, medida de variabilidade da média. Tabela 2 - Frequência de Alelos de acordo o tipo de andamento e o coeficiente de consanguinidade na raça Mangalarga Machador. ANDAMENTO ALELO N F SE 0 27 0,3163 0,0021 17 26 0,0242 0,001 CC AA AC Batida 23 4 Picada 1 8 Total 53 Observação: CC: alelo homozigoto natural; CA: alelo heterozigoto; AA: alelo homozigoto mutante; N: número de cavalos para cada tipo de marcha; F: coeficiente de consanguinidade dentro de cada tipo de marcha; SE: erro padrão, medida de variabilidade da média. 60 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 6-11 - janeiro/abril, 2015 Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador Figura 1. Distribuição do alelo DMRT3, natural e mutante, conforme raça e tipo de marcha em Cavalos das raças Campolina e Mangalarga Marchador. Observações: CC: alelo homozigoto natural; CA: alelo heterozigoto; AA: alelo homozigoto mutante equinos adultos das raças Campolina (n=52) (A) e Mangalarga Marchador (n=53) (B). Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 6-11 - janeiro/abril, 2015 61 Hélio Cordeiro Manso Filho et al. ramente que há interesse de diferentes criadores e associações de criadores pela seleção em favor do alelo DMRT3 AA que causa o andamento dissociado, que é refletido na diferentes distribuição dos alelos, natural e mutante, em diferentes raças. No atual estudo, ao avaliar os animais em conjunto (n=105) e independente do tipo de andamento, observa-se que o alelo DMRT3 AA esta presente em mais de 70% dos animais, sendo que na raça Campolina ele chega a 100%, enquanto que na MM é de pouco superior aos 54%. Ainda no atual experimento, observa-se que são poucos os animais CA na raça Mangalarga Marchador (~25%), diferentemente do encontrado nos animais da raça Campolina (~45%). Promerová et al., (2014) estudando essas duas raças, mas sem indicar o tipo de andamento marchado, observa que na raça CAMP (n=18) há uma frequência de ~89% do alelo DMRT3 AA enquanto que na raça MM (n=22) esse número é de ~45%. Já na publicação de Patterson et al. (2015) (n=81), analisando animais MM de marcha batida (n=44) e picada (n=37), identificou que a frequência do alelo DMRT3 mutante foi de ~50%, quando os animais dos dois andamentos foram combinados. Ambos os estudos acima apresentaram resultados bastante semelhantes aos descritos aqui e indicam que a combinação entre as três publicações fornece uma boa indicação da realidade na frequência do DMRT3 natural e mutante nas raças CAMP e MM, principalmente, sabendo-se que essas pesquisas utilizaram diferentes populações de equinos em suas análises. O alelo DMRT3 AA pode ser responsabilizado pelas diferenças, tanto intra-racial como inter-racial, na qualidade e tipo do andamento marchado dissociado nas raças CAMP e MM. Em outras raças com andamentos dissociados, a frequência desse alelo DMRT3 AA é elevada, mas ausente em raças com andamentos associados com no cavalo Árabe e Puro-Sangue Inglês (ANDERSSON et al., 2012). Jäderkvist et al (2015) observa que equinos das raças Standardbred, Icelandic e Finnhorses que possuem o alelo DMRT3 AA, são superiores nas competições indicadas para essas raças e que animais que são CC ou CA não se saem tão bem nessas provas raciais específicas, sendo mais eficientes no adestramento e hipismo clássicos. Nesse sentido, Andersson et al., (2012) ainda comentam que animais AA possuem uma certa dificuldade para a coordenação entre membros ao trote e no galope, devido às características de formação nas conexões nevosas motoras. Entretanto, a dissociação promovida pelo alelo DMRT3 AA ou CA, pode favorecer os andamentos marchados na raças nacionais, seja ela batida ou picada, aumentado a frequência dos tríplice apoios e o conforto naturalmente durante o deslocamento do cavaleiro. Deve-se observar que a dissociação entre os membros, durante os deslocamentos à marcha, é largamente buscado na seleção das raças CAMP, MM e outras raças nacionais de equídeos marchadores. A dissociação entre os membros, seja ela natural ou artificial, é um dos principais pontos na avaliação das raças durante as competições de marcha. Nesse sentido, os animais da raça MM já competem, separadamente, em provas de marcha batida e picada desde a década de 1990, prática introduzida na raça Campolina somente nos anos 2000. Esse sistema de melhoramento genético, com base nos andamento, ainda passou outra variação na forma de seleção entre as 62 duas raças, aonde na raça MM adotou a marcha com critério de desempate entre animais nas competições muito antes que a raça CAMP, e com isso, provavelmente, se formaram populações distintas entre as raças. Entretanto, ainda não esta claro com a presença do alelo DMRT3 AA poderia ter sua frequência modificada e contribuir para todo o processo de seleção das raças, já que a marcha pode ser artificial, e que diversas prática de treinamento podem alterar a forma dos membros se associarem ou dissociarem, sendo assim diferentes aspectos da epigenética, como o treinamento e condicionamento, devem ser levados em consideração quando são analisados esses resultados. As diferenças inter-raciais, no que diz respeito ao alelo DMRT3 CC ou AA, devem ser melhor analisadas, já que estudos com diferentes parâmetros fisiológicos e bioquímicos demonstram poucas diferenças entre as raças CAMP e MM, incluíndo a estimativa de gasto energético estimado para o deslocamento à marcha (SILVA et al., 2015; MANSO FILHO et al., 2012). Entretanto, Wanderley et al (2010) demonstrou que quando cavalos da raça MM de marchas picada e batida, são avaliados numa mesma velocidade média (~3,2m/s), apresentam acúmulo de lactato significativamente diferente. Nesse caso, o animais de marcha picada apresentam maior acúmulo de lactato, frequências cardíacas e respiratória mais elevadas, indicando maior gasto energético quando comparado com os de marcha batida (WANDERLEY et al., 2010). Contudo, quando os animais das duas raças deslocam-se em velocidades médias diferentes, mas entre 3 e 4 m/s, não são observadas diferenças significativas inter-raciais, tanto para parâmetros fisiológicos (frequência cardíaca), como para parâmetros bioquímicos (concentrações de glicose e lactato). Nesse caso, compreende-se claramente que os conceitos do custo da locomoção, detalhadamente descrita por Hoyt e Taylor (1981) e por Winkler et al (2002), são responsáveis por importantes adaptações no metabolismo do cavalo atleta. Sendo assim, os conceitos da economia da locomoção deveriam fazer parte da avaliação dos animais durante as provas de andamento regularmente, ou seja, durante as avaliações os animais deveriam se deslocar em velocidades diferentes em conjunto ou de forma individual, para melhor serem analisados. Ainda analisando-se o perfil da frequência do alelo DMRT3 nas raças marchadoras, foi descrito que a maior ou menor presença do alelo DMRT3 AA ou CA poderia estar associada ao nível de consanguinidade ou de endogamia em uma determinada raça. Nesse sentido, Patterson et al. (2015) ressalta que uma maior frequência do alelo DMRT3 mutante, pode estar associado ao maior “inbreeding” na população da raça MM analisada. No atual estudo o nível de consanguinidade observado nas duas raças estudas variou de forma importante conforme o tipo de andamento, sendo mais baixa nos CAMP batida e MM picada (Tabelas 1 e 2), mas devido ausência de alguns alelos o programa utilizado par as análise não permitiu a indicação do valor de P. na comprando entre os alelos. Em outro estudo com a raça MM, Costa et al (2005) encontrou o coeficiente de endogamia para todos a população registrada de 1,3% e de 5,7% para os animais endogâmicos dessa raça. Semelhantemente, Procópio et al (2003) observa que o coeficiente Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 6-11 - janeiro/abril, 2015 Alelo DMRT3 mutante em equinos de marcha batida e picada das raças Campolina e Mangalarga Marchador de endogamia na raça CAMP é próxima a zero para toda a população registrada na associação dos criadores, sendo que nos animais endogâmicos dessa raça o coeficiente de endogamia foi de 6,0%. Sendo assim, essas diferenças na frequência dos alelos DMRT3 detectadas no atual experimento e as diferenças entre os níveis de endogamia entre as populações de equinos das raças CAMP e MM podem possuir alguma relação mas que devem ser melhor estudadas. Para se compreender melhor os efeito da variação do DMRT3 nas populações das raças MM e CAMP deve-se observar também o período de fechamento do livro de registro aberto. Nesses livros eram registrados animais sem ancestrais conhecidos, mas com a morfologia no padrão da raça em questão. Na raça MM ele foi fechado para os machos na década de 60 e para as fêmeas na década de 80, do século XX. Já na raça CAMP esse livro foi fechado no final década de 60 para os machos, e nos anos 90 para as fêmeas, também no século XX. Esses fatores, fechamento dos livros abertos e nível de consanguinidade, podem também terem contribuído para o atual tipo de andamento marchado e nas diferentes frequências do alelo DMRT3 CC e AA nas raças CAMP e MM. Finalmente deve-se observar que nos últimos anos a raça MM realizou alguns termos de ajuste de conduta (TAC) junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), reconhecendo a utilização, nos cruzamentos e programas de reprodução, de animais de outras raças em sua população, principalmente animais da raça Mangalarga. Essa última raça que possui um andamento marchado associado e com baixa frequência do alelo DMRT3 mutante (PROMEROVÁ et al., 2014). Finalmente, deve-se ressaltar que os diferentes aspectos da epigenética podem ser importantes no entendimento dos atuais resultados, já que a marcha, picada ou batida, pode ser um andamento natural ou artificial, e que os treinamentos, tanto para o condicionamento físico como o condicionamento para habilidades específicas, podem modificar a qualidade dos andamentos e a forma pela qual os membros se associam ou se dissociam durante o deslocamento do animal. Esses efeitos ainda não estão bem claros e devem ser melhor explicados nos próximos anos com o advento de novas técnicas de estudos genético, em populações maiores, associados aos estudos da cinemática. Ainda deve-se recordar que as tentativas de se introduzir o andamento marchado dissociado em raças com andamentos tipicamente associados, raramente, terminam em grande sucesso. Quando os animais de raças tipicamente de andamentos associados conseguem desenvolver algum tipo de andamento marchado e dissociado, eles tendem a desenvolver lesões nos membros locomotores mais precocemente do que os animais naturalmente marchadores. Sendo assim, estudos mais complexos devem ser realizados para que o conhecimento da frequência do alelo DMRT3, CC ou AA, e a importância dos animais alelo DMRT3 CA, possam ser melhor aplicados na seleção das raças CAMP e MM, e assim estimular novas práticas de melhoramento genético e de treinamento nos cavalos marchadores no Brasil. CONCLUSÕES Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 18, n. 1 p. 6-11 - janeiro/abril, 2015 Esse estudo demonstrou que na população analisada das raças CAMP e MM existem a presença do alelo DMRT3 mutante, e que ele apresenta diferenças na sua frequência, não só entre as raças mas também entre os tipos do andamentos que as duas raças apresentam. Também foi demonstrado que há ausência do alelo CC na CAMP, em ambos andamentos, e a do alelo AA na MM nos animais de marcha batida, na população analisada. Por isso, estudos mais detalhados, para se determinar o possível uso da análise do alelo DMRT3 como ferramenta dentro dos programas de melhoramento genético, devem ser realizado pois as diferentes frequências pode ser importantes nas práticas de treinamento físico, específico ou não, que possam ser utilizados nos equinos marchadores com andamento dissociados. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, CAPES e a Guabi Nutrição Animal pelo suporte financeiro a esse projeto, e aos membros do Clube do Cavalo Campolina e do Núcleo dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, ambos do Estado de Pernambuco, pela inestimável ajuda com seus animais. INFORMAÇÃO RELEVANTE Parte desse trabalho, que descreve a presença do alelo DMRT3 mutante nas raças CAMP e MM, foi publicado nos Anais do Congresso Anual da Associação Brasileira de Médicos Veterinários de Equídeos - ABRAVEQ, em Julho de 2014, Campos do Jordão-SP. REFERÊNCIAS ANDERSSON, L.A; LARHAMMAR, M.; MEMIC, F.; WOOTZ, H.; SCHWOCHOW, D.; RUBIN, C-J.; PATRA, K.;, ARNASON, T.; WELLBRING, L.; IMSLAND, G.H.F.; PETERSEN, J.L.; McCUE, M.E.; MICKELSON, J.R.; COTHRAN, G.; AHITUV, N.; ROEPSTORFF, L.; MIKKO, S.; VALLSTEDT, A.; LINDGREN, G.; LEIF ANDERSSON, L.; KULLANDER, K. Mutations in DMRT3 affect locomotion in horses and spinal circuit function in mice. Nature, 488: 642-646, 2012. DOI:10.1038/nature11399; PATTERSON, L.; STAIGER, E.A.; BROOKS, S.A. DMRT3 is associated with gait type in Mangalarga Marchador horses, but does not control gait ability. Animal Genetics, 46 (2): 213–215, 2015. 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