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A PROGRAMAÇÃO INFANTIL E SUA INFLUÊNCIA NO FAZER LÚDICO DAS
CRIANÇAS
Rita de Cassia Santos Tavares
Secretária Municipal de Educação (SME/PML)
RESUMO
Este trabalho refere-se a um estudo de caso com base numa parte do cotidiano
vivido por um grupo de alunos da Escola Estadual “José de Anchieta”, localizada
no município de Londrina, no Paraná. Observou-se a influência direta e indireta
da programação televisiva infantil, na maneira de como as crianças adquirem
seus brinquedos e/ou como organizam suas brincadeiras. Comparou-se as
crianças de ontem, que eram influenciadas pelas historinhas, contadas pelos
adultos ou pelas festas populares e religiosas e outras manifestações culturais,
com as crianças de hoje que têm uma influência mais direta da televisão e de
outros produtos multimídeos. Com base em dados de observação in loco e
depoimentais, fez-se uma análise qualitativa de brinquedos e brincadeiras
impressos em comportamentos, atitudes e outros elementos que envolvem as
crianças, seja no interior da escola que elas freqüentam, principalmente em suas
aulas de Educação Física ou no bairro que elas habitam. Este estudo mostrou
que o repertório de brinquedos e brincadeiras da criança tem uma estreita
relação com todos os eventos culturais que ela mantêm contato e não só com o
que ela vê na TV, como de hábito, costuma-se afirmar.
Palavras-chave:
1 - Lúdico, 2 - televisão, 3 - escola
Endereço:
Secretária Municipal de Educação (SME/PML)
[email protected]
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1 UMA PALAVRA INICIAL
O presente trabalho resulta da análise das brincadeiras de um grupo de
crianças, especificamente, de alunos da Escola Estadual “José de Anchieta”,
localizado no Centro de Londrina/PR, que nos servem de sujeitos para pensar
como a criança de hoje se relaciona com seus brinquedos/brincadeiras, como sua
relação se faz com a cultura de entorno e quais são os artefatos principais que
participam dessas experiências lúdicas. A finalidade maior deste trabalho foi a de
compreender a importância que tem na influência direta ou indireta nos brinquedos
e nas brincadeiras, ou seja, em suas experiências lúdicas e como ela pode revelar
sinais de identificação de um grupo, de um bairro, de uma cultura específica.
Pelas vozes dos sujeitos, foi possível pensar que tipos de brinquedos e
brincadeiras sugerem esse contato e sua utilização com o seu tempo escolar e/ou
de brincar com o seu grupo de proximidade.
Na tarefa de observar/participar duma parte do cotidiano desses meninos
em sua escola, foi possível enxergar também a função ou a importância que a
televisão tem e como se constitui num dos maiores, senão o maior meio que a
criança utiliza como fonte inspiradora de seus brinquedos, de suas brincadeiras,
portanto de sua ludicidade. Foi possível ver também que essas crianças, nossos
sujeitos, ficam muito mais expostas à televisão, fato esse que coincide com dados
publicados no jornal “Folha de São Paulo” no dia 14/10/2001: “o tempo médio que
uma criança passa diante da TV está na casa das três horas diárias do que
envolvidas em atividades com seus grupos culturais e familiares”. Isso é o mesmo
que dizer que quando seus pais trabalham o dia inteiro as crianças ficam sob a
tutela de babás, avós e que muitas vezes às deixam aos “cuidados” da televisão.
Seu tempo e a maneira de brincar já não são mais os mesmos, o que as levam a
re-elaborarem seus brinquedos e brincadeiras a partir do que viram na televisão,
principalmente, o que viram na programação infantil.
Com efeito, não se tem com este trabalho a tarefa de esgotar este
assunto. O fizemos, entretanto, com o empenho que tem as crianças quando
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brincam. Não tivemos também a intenção de dizer a última palavra, nem de
encerrar propostas sobre como utilizar os produtos televisivos destinados às
crianças, muitos menos localizá-los com um discurso judicativo. Apenas os
retratamos, aliás, como fazem os produtos de comunicação — aquilo que é e não
o que deveria ser. Se alguma proposta nasceu deste trabalho, nasceu justamente
pelas vozes de nossos sujeitos — as crianças, seus pais ou responsáveis —,
quando perguntados sobre o que vêem e como vêem tais produtos da TV. Essas
respostas fazem parte do quadro de análise, pertinente à Segunda Parte deste
trabalho. Desse modo, essa pesquisa tem como foco principal a criança, seus
brinquedos e suas brincadeiras, materializados em sua ludicidade.
2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
Para um caminho teórico possível a essa pesquisa, achamos por bem nos
pautar por aquilo que dizem alguns autores sobre o assunto. Na pesquisa feita
percebeu-se que há pouca literatura que trate sobre o tema, principalmente se se
levar em conta a relação com a forma de as crianças brincar e também muita
divergência sobre a influência televisiva no comportamento das crianças, ou seja,
se é positiva ou negativa essa influência. Para alguns autores as crianças de hoje,
a partir do contato com a televisão, se tornam expostas a ver qualquer tipo de cena,
a qualquer tipo de produto, uma vez que a programação televisiva, tanto infantil
quanto adulta não se preocupa em fazer um assepsia dos produtos, pensando
numa coerência com o público que os assistem ou com o horário em que passa.
A criança que liga a televisão vê cenas de ação e violência, com seres
mutantes, durante toda a manhã. Os jogos de videogame que mais vendem
também têm essa característica, embora alguns autores como Cleomar Gomes
(2001), e Tizuko Kishimoto (1999), discordem de que a televisão seja um “bicho
papão”, uma vez que ela somente retrata a violência e não a marqueteniza como
dizem outros. Tido como um autor especialista sobre o assunto, Gilles Brougère
(1984), vê a televisão como um meio que influencia a brincadeira na medida em
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que as crianças podem se apoderar dos temas propostos no quadro das estruturas
das brincadeiras usuais. Para Brougère nem tudo que elas vêem na televisão se
presta à brincadeira, mas esse conjunto de imagens que têm a vantagem de ser
conhecidas por todas, podem ser combinadas, transformadas no âmbito da
estrutura lúdica. Já Paulo N. de Almeida (1990), diz que quando brinca a criança
simboliza a relação pensamento-ação, tornando possível o uso da fala, do
pensamento e da imaginação. O termo lúdico como lembra Nelson Rosamilha
(1979), é originário do latim ludus e significa divertimento, passatempo, ou seja, a
atividade lúdica não se submete a normas e o que vale é o prazer de brincar, o que
conta é o divertimento. “Brincando a criança extravasa toda alegria, contentamento
e satisfação que tem, e demonstra isso através de seus movimentos e suas ações”.
Em outras palavras, as crianças quando brincam demonstram sentimentos vividos
e experimentados: a alegria, o senso de humor, a espontaneidade. Cleomar Gomes
(2001), prefere tomar “a ludicidade como a materialização do lúdico, o lúdico
substantivado que denota a qualidade que tem um objeto, o brinquedo ou uma
atividade de despertar um estado lúdico. O lúdico aqui tem raiz no latim illudere,
que se traduz por divertir-se, brincar, recrear-se, estar envolvido como algo que se
expressa no ‘corporal’”.
O que se vê é que a programação televisiva transforma as
brincadeiras já existentes. O Pular corda, o brincar de Carrinho, a Amarelinha... não
deixaram de existir, apenas receberam uma roupagem diferente, embora com a
mesma linguagem, mas com características e personagens que as crianças
incorporam na utilização dessas brincadeiras. Noutras palavras, a televisão tornouse um suporte das brincadeiras, o que reforça sua atemporalidade junto às
crianças. Ainda para Gilles Brougère (1984), a criança não recebe passivamente os
conteúdos, mas se apropria deles de maneira idêntica à apropriação dos papéis
sociais e os representam nas brincadeiras de imitação, ou como prefere Jean
Château (1987), chamá-los de jogos de faz-de-conta. Para Lurcat apud Brougère
(1984), a brincadeira coletiva em torno de um programa televisivo serve como uma
descarga emocional dos efeitos que são submetidos quando assistem a certas
cenas na televisão. Com outras palavras, quando a criança brinca de Power
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Ranger, por exemplo, está pondo para fora todo o estresse emocional que o filme
sugeriu como um efeito catártico. Daí ser possível pensar que a televisão, hoje, é
utilizada quase como uma “babá” das crianças e quanto mais tempo elas ficarem à
sua disposição, parece ser melhor para seus pais que terão mais tempo para suas
atividades de adultos. Para Artur da Távola (1984), existe uma baixa taxa de
programação adequada às necessidades de cada idade e fase. Com a mesma
preocupação, Ana Lúcia Magela (1993), fala dessas modernas programações,
dessas mirabolantes aventuras espaciais, naves e seres alienígenas que povoam
com o fantástico e o grotesco, o espaço sideral. Arremata a autora: “a iconosfera
dos desenhos televisivos arrebata o telespectador para um campo de forças que
toma o lugar da realidade. E ainda, uma evidência facilmente perceptível, no dia-adia das crianças, é a transposição das situações de violência de filmes e desenhos
para as suas brincadeiras, utilizando de equipamentos, muitas vezes, toscamente
reproduzidos”. A referência para eles são os modelos altamente sofisticados e de
grande poder de destruição dos filmes veiculados pela televisão. Assim, no
entender de Magela, uma espada de plástico, que na realidade seria incapaz de
provocar danos materiais é transformada num símbolo de poder e de força ou
como sugere Gomes, a espada perde seu sentido literal para assumir um sentido
outro que é o da fantasia. Segundo Magela (1993), esse fascínio infantil teria como
objeto a violência ou a ação: “como todos os filhotes, a criança apresenta
comportamentos lúdicos que são treinamentos físico-mentais no seu processo de
desenvolvimento. Essa potencialidade de ação canalizada para os jogos violentos é
entretanto, produto cultural assimilado”. Noutras palavras, não somente a televisão
é culpada, o mundo em que a criança vive também, os pais que revelam pouca
emoção, simpatia ou ternura, tal insensibilidade é reforçada na criança. Joan Ferrés
(1996), compartilha dessa idéia quando diz que as histórias infantis possuem
também uma boa dose de violência e isso não é necessariamente considerado
como algo negativo. Para a criança que fica assustada ao ler ou ouvir uma história
aprende, de uma maneira implícita e natural, que na vida existe maldade, dor,
sofrimento, morte... Para Ferres, a violência verbal e visual não provoca o mesmo
resultado. Isso é o mesmo que pensar como, por exemplo, que ouvir uma história
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em que o lobo mal comeu a vovó é menos grave quando com imagens explícitas:
“não é a mesma coisa a violência com personagens humanos, que com desenhos
animados”.
Pedro José Arenas in Artur da Távola (1984), em seu livro La Televisión
Y Nuestra Conducta Cotidiana, mostrou que: “Três quartas partes das crianças
normais representam em suas brincadeiras os comportamentos cotidianos, as
histórias violentas e imitam os seus personagens principais que vêem na televisão
e com isso a maioria dessas crianças aumentam suas respostas agressivas após
verem filmes violentos”. Conforme Ferrés (1996), as imagens violentas permitem
que o expectador descarregue as suas tensões e sua agressividade.
Enfim, diferentes visões existem entre os teóricos e as conclusões são
diversas. Após a leitura dos dados dessa pesquisa é provável que se chegue a
uma conclusão mais aproximada da realidade dessas crianças e de seu tempo de
brincar, contaminado ou não pelo seu tempo televisivo. Entretanto, quando as
crianças falam de seu tempo de brincar demonstram precisar de poucas palavras,
são mais claras e mais diretas. Recolhemos algumas dessas falas para esse
momento.
A FALA DAS CRIANÇAS
Algumas falas das crianças podem atestar como elas utilizam seus
brinquedos e brincadeiras no tempo de brincar com seu grupo cultural e/ou escolar.
A) Muitas das brincadeiras feitas fora da escola parecem copiar ou se inspirar em
personagens televisivos:
“— Ah, eu brinco de casinha com ela, né, com a minha irmã, porque ela nunca
tem ninguém pra brincar, né? Então eu brinco com ela. Lá na minha casa, não
tem ninguém perto que mora lá, pra mim brincar, só tem minha irmã ...”
(D.E.S./F – 8 anos – JH)
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“— Andar de bicicleta no meu quintal, de patins, patinete (...) depois nós pega
uma caixa que tem lá em cima da minha casa e nós fica brincando de hominho
(...) Digimon, Pokemon, bonequinho de pessoa, Samurais...” (V.I.F./M – 8 anos
– JD)
“— De bola e de hominho”. (L.U.A./M – 8 anos –JM )
“— É! Pega Ladrão (...) e Mário Worlds, é cinco jogos, tem, tem tudo no Mário,
tem um que é a mulher, a o Mário, o Luigi e o cabecinha lá de cogumelo, daí o
outro tem um que é aventura, sabe? Então! (...) Que eu mais gosto é do...
Driver, (...) um carro e daí ele foge da polícia, (Risos) tá fugindo da polícia. Se
ela pega, e daí, a gente, e daí, ela... se eu for invencível, eu nunca morro daí”.
(G.A.B./M – 8 anos – JC)
“— Eu brinco, que nem que eu sou eles (...) Quem, quem tá... meu primo, minha
prima, meu irmão, um é David, o outro é Iolil, o outro é Cordi. (...) também tem o
Rari (...) tem um monte. Tem 13 ...” ( V.I.F./M – 8 anos – JD )
“— Hum... brincamos... de Power Ranger. A gente escolhe a cor que nós é, daí
a gente imagina que os cara do mal... a gente luta imaginando os cara do mal”.
(V.I.C./M – 8 anos – CE)
B) Mesmo quando falam dos brinquedos que mais gostam de brincar, há sempre
uma referência, pequena que seja, a brinquedos comprados prontos e/ou a
personagens televisivos:
“— Hum... Aqueles de carrinho, sabe, de controle remoto, que eu vou lá no
Zerão, minha tia deixa eu brincar, a gente fica assim, ó, e vai lá pra frente...”
(G.A.B./M – 8 anos – JC)
“— A boneca!” (D.E.S./F – 8 anos – JH)
“— A bola (...) e os hominho do Power Ranger, o Dragon Ball Z, e Digimon e...
Hércules e esses filme ...” (L.U.A./M – 8 anos – JM)
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C) As brincadeiras na escola parecem se constituir dum misto entre as brincadeiras
tradicionais e as rimadas ou copiadas das aulas de Educação Física:
“— Hum... ah, eu gosto de brincar de Pega-Pega (...) Pega-pega, EscondeEsconde ou fico na escola, assim, aqui dentro correndo, (Risos) na escola ...”
(G.A.B./M – 8 anos – JC )
“— Eu tomo lanche e depois, meu irmão e eu e os meus amigos brincam de
Pega-Pega, daí as menina, elas chama nós lá e elas tem que pegar nós...”
(V.I.F./M – 8 anos – JD)
“— Pega-pega e Futebol”. (V.I.C./M – 8 anos – CE)
A FALA DOS PAIS:
Os depoimentos dados pelos pais mostram que algumas atitudes e
comportamentos das crianças são rotulados de “agressivos” ou “violentos” e que
são, na maioria, influenciados pelos personagens da TV.
A) Suas Brincadeiras são também baseadas nos desenhos, como mostram
essas falas:
“— (...) Nós vemos que ela usa alguma coisa do desenho, já a Desirée, como
não assiste, não se interessa, não usa nada de personagens”. (A.R.L./F – 49
anos – JH)
“— Sempre! O que eles fazem? Sempre, às vezes eles brincam, eles ficam
brincando, até tem um pôster colado lá, (...) ao da cama dele, do Digimon, (...)
daí ele fica me mostrando: ‘Mamãe eu sou esse, o Nassin é esse, a Gabi é
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esse, não sei quem é esse, a Isadora é esse’... os irmãos, os primos cada um é
um deles, esse aqui é meu Digimon (...)” (C.R.S./F – anos – JD)
“— Hamham, agressividade principalmente. Muita luta, chuta, sabe, dá murro
nas coisas, chuta as coisas, muita atitude assim, que vai muito pra violência, eu
acho, sabe?” (C.L.A./F – 45 anos – CE)
B) Alguns dos pais dizem que o contato com o vizinho, que poderia suscitar uma
fartura de brinquedo e de brincadeiras, muitas vezes é substituído pelo tempo da
TV. Os meninos preferem ficar em casa para ver a Televisão que ir à rua brincar
com os colegas:
“— Não ela brinca com a irmã ou me põe como aluna, né? ou o avô como aluno
(...) Não, normalmente é em casa, ela dificilmente chama uma amiga pra vir
aqui (...) nós brincamos com ela como crianças muitas vezes e acho que isso
faz com que ela não... ela tem crianças que ela chama, que ela brinca, mas é
uma coisa rara, ela mesmo não procura muito”. (A.R.L./F – 49 anos – JH )
“— Não com vizinho, não, é porque são os dois, os dois a mesma idade, né
então eles tão sempre brincando junto, brincam na rua assim de bicicleta, de
Patinete e os primos que vem sempre aqui também, todo final de semana eles
tão aí, brincam bastante na rua também (...) Às vezes quando tão brincando
tudo junto, ah, eu sou o Digiescolhido, não sei o quê, Digimon, tudo, brincadeira
se resume a Digimon”. (C.R.S./F – anos – JD)
“— Não! Não. Só sozinho tá sempre sozinho. Ele não tem amiguinho, o
amiguinho dele é a televisão. Perto, não tem ninguém pra ele brincar. Tá
sempre brincando dentro de casa...” (C.L.A./F – 45 anos – CE)
C) Quando perguntados se o que mais fazem é brincar ou assistir à televisão, as
respostas se dividem, mas mais da metade referem-se aos meninos como a
espectadores sentados que brincadores peraltas:
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“— Os dois. Ele faz um pouco de cada”. (S.E.R./M – 35 anos – JC)
“— Assistindo televisão. (...) fica lá imóvel na frente da televisão. (...) Porque na
hora que tá passando o desenho você não pode nem piscar, não pode nem
passa na frente da televisão, né? Tem que deixar eles lá, principalmente esses
desenhinhos aí que eles mais gostam, né? ele fica lá, nem pisca”. ( C.R.S./F –
anos – JD)
“— Brincando, brincando lá fora, porque eu ponho ele pra fora, né? De manhã,
como eu não tô em casa (...), ele fica deitado na frente da televisão, mas eu
estando em casa eu mando ele descer. Depois a tarde, ele fica na escola, aí
quando ele chega ele já vai lá pra fora, ele nem fica, só entra come na marra
alguma coisa aí desce, ele fica muito lá fora, a não ser quando é inverno,
quando tá chovendo”. (H.E.L./F – anos – JM)
“— Brincando. Ela prefere brincar do que vê a televisão”. (A.R.L./F – 49 anos –
JH)
“— Ai, eu acho que assistir televisão por causa, eu acho até que de certa
forma, até, por que nós colocamos a TV a cabo, né? Justamente por causa do
Cartoon, que é pra tá passando desenho o tempo todo, né? (...) Às vezes eu
falo: ‘Filho, desliga a televisão, agora vocês vão brincar lá fora, não vão mais
assistir televisão’. Então eu que tenho que ir lá desligar a televisão e falar pra
eles: ‘chega de desenho por hoje, vão brincar lá fora’. Pra eles brincarem um
pouquinho, porque com certeza eles adoram ficar na frente da televisão,
assistindo desenho”. (C.R.S./F – anos – JD)
“— Assistir a televisão. Tanto que ele tem um priminho dele que passou uns
dias aqui com ele esse ano, (...) e ele inventava mil brincadeira só que ele
começava e já desistia, aí ele já queria assistir televisão, acabava irritando,
acabo que no final já tava os dois estressados, esse aqui só chorava, o outro já
tava nervoso, porque ele não termina nenhuma brincadeira que ele começa, ele
começa e já... sabe ele num é de termina nada que ele começa, tudo que ele
começa ele deixa na metade”. (C.L.A./F – 45 anos – CE)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As brincadeiras e os brinquedos das crianças que nós observamos,
tanto os que denotam uma atemporalidade, as ditas “populares” ou os diversos
brinquedos comprados prontos por um apelo da TV e as brincadeiras que esses
sugerem, se apresentam como sendo os brinquedos/brincadeiras mais brincados
pelos nossos sujeitos, aqui investigados — algumas crianças da Escola Estadual
“José de Anchieta”, no município de Londrina.
A análise comparativa desses brinquedos/brincadeiras vem demonstrar
que as crianças aqui consideradas se referem às brincadeiras fora da escola,
inspiradas em personagens televisivos como o “Digimon”, o “Pokemon”, o “Rari”, o
“Driver”, o “Power Ranger”, o “Dragon Ball Z”, o “Iolil”, o “Cordi” e outros. Quando
brincam com os vizinhos, os primos, os outros colegas de proximidade, brincam
tanto quanto podem de brincadeiras antigas, mas também daquelas que se
inspiram nos personagens da TV. Noutras palavras, brincam com personagens de
seu tempo, de aparelhos que elas dominam, com artefatos e seres de sua cultura
lúdica.
A metade dos alunos considerados afirma gostar de brincar nas ruas e
outra metade, sem ser tão exato, prefere ficar em casa assistindo aos programas
da TV.
A fala dos pais, na sua totalidade, parece confirmar aquilo que para os
meninos configuram numa certeza, ou seja, seus brinquedos/brincadeiras, quando
não reproduzem um desenho da TV, traz sempre uma referência de eventos já
vividos como suas aulas de Educação Física, seus encontros com os colegas de
bairro, mas o que mais aparece nas falas dos pais, e aqui analisamos como uma
crítica, é se referirem a uns meninos que não criam mais, que são
“sedentarizados” e que preferem ficar “plantados”, imóveis frente a um aparelho de
TV.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org). O brincar e suas teorias. São Paulo:
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LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em educação: Abordagens
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REZENDE, Ana Lúcia M. de. & REZENDE, Mauro Borges de. A tevê e a criança
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TÁVOLA, Artur da. A Liberdade do ver: televisão em leitura crítica. Rio de Janeiro:
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TILBURG, João Luis Van. Para uma leitura crítica da televisão. São Paulo:
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