Mariana Soares Muniz – 10/02066 A beleza das feias na televisão

Transcrição

Mariana Soares Muniz – 10/02066 A beleza das feias na televisão
Estética na comunicação
Professor Gustavo de Castro
Aluna: Mariana Soares Muniz – 10/02066
A beleza das feias na televisão
Seriado explora nudez, sexo e agruras de mulheres de 20-e-poucos-anos
A vedete da vez na televisão norte-americana é o seriado Girls. Produzido pela gigante
HBO, ele conta a história de quatro garotas e amigas que moram em Nova York. Entre sexo e festas,
elas tentam ganhar a vida e desvendar os mistérios de uma cidade cosmopolita, onde tudo é
possível. Você deve estar se perguntando “onde é que está a novidade nisso?” ou praguejando aos
céus pela inabilidade desta repórter, que ignora o fato deste roteiro já ter sido escrito. Afinal o leitor
antenado sabe que já viu este (seriado que virou até) filme antes. Estamos falando de Sex and the
City (o sexo e a cidade, se é que precisa traduzir) – ou pelo menos de uma cópia barata, não é?
É, parece que as aparências enganam. Assim, contada superficialmente, como quem não
quer nada, Girls parece mais do mesmo. Na tentativa de convencer uma amiga (ou amigo, pourquoi
pas) é até desconcertante apontar as novidades do seriado-sensação.Sim, o seriado se passa na mais
complexa das cidades; sim, ele conta a história de quatro amigas; sim, ele é regado a (muito) sexo.
Mas as semelhanças param por aí. Porque não há glamour que resista ao fato de que aos 24 anos,
diploma universitário no bolso, os únicos empregos que existam não são remunerados e seus pais
estão prestes a cortar sua mesada.
Girls é um seriado anti-glamour. Logo no primeiro episódio, após descobrir que não
receberá mais a ajuda mensal paterna, a protagonista toma um chá levemente alucinógeno e parte
para o quarto dos pais. A cena em que ela tenta convencê-los de que talvez, por acaso, possa vir a
ser a voz de sua geração (ou de uma geração qualquer) é o anti-clímax do sentimento fabuloso
evocado pelas pós-balzaquianas de Sex and the City. Quem dá vida a Hannah é a criadora-diretoraroteirista-produtora Lena Dunham que tem...26 anos!Sem talvez ter se dado conta, o ato “eu sou a
voz de uma geração” ganhou ares de premonição. Porque ela é.
Atestado de qualidade
Se é preciso de um prêmio para dizer que uma produção é boa, Girls pode se gabar do fato
de já ter arrebatado alguns deles – o mais célebre foi o Globo de Ouro de melhor série de comédia
deste ano. Dunham, ao receber o troféu, disse sentir que tudo estava acontecendo muito rápido. E
foi. O alcance da série tomou proporções inesperadas até mesmo para ela. A primeira temporada
estreou em 2012 com a promessa de que seria um programa sobre jovens mulheres que mostraria a
vida como ela é. Mas a verdade dita pelo combo Hannah-Marnie-Shoshanna-Jenna foi mais sincera
do que se imaginava. E acertou em cheio o coração (e angústias) de garotas de todo o mundo,
nascidas sob o signo da Internet e do pós-muro de Berlim, vivendo um momento de transição.
A série é crua, irônica. Por vezes, é tragicômica. Mesmo assim, é um sucesso de audiência.
O canal HBO não quis esperar o resultado da segunda temporada – que estreou no último 13 de
janeiro – e já garantiu uma terceira rodada.
Câmera indiscreta
O seriado tem sexo explícito e muita, mas muita pele à mostra. Lena/Hannah aparece em
quase todos os episódios com algum detalhe do corpo de fora. Seios, bunda, perna – seja numa cena
casual de banho ou numa transa com o namorado. E é aí que o seriado incomoda. Lena é uma
garota comum. Ela é gordinha, tem celulite e o peito é ligeiramente caído. Suas tatuagens mascaram
as estrias. Lena/Hannah aparece com as pernas abertas na cama do ginecologista; sentada na cama
com o namorado, cheia de dobrinhas; dormindo com a melhor amiga, só de calcinha e sutiã. Estas
cenas não deveriam chocar, mas chocam.
É o retrato de uma mulher de verdade, como todas não gostariam de ser. São cenas de sexo
igualmente verdadeiras, sem luz de velas, sem lençóis ou iluminação favorecedora. Reais – e que
por isso deveriam ser percebidas com normalidade. Mas aí está a novidade: são cenas que flutuam
de um episódio para o outro, quase um detalhe. Tão natural que torna-se difícil de ver.
A crítica maior ao seriado tem duas correntes. Aqueles que dizem que a vida real já é por
demais sofrida, feia, banal, difícil, cheia de queixos duplos e bundas moles – e que por isso
queremos ver algo que nos fascine. Queremos beleza. O jornal New York Post, em artigo sobre o
seriado, aconselha Lena Dunham a parar de mostrar seu corpo, falando em uma “obsessão
patológica”. “É algo deprimente, que não queremos ver”, diz o repórter, enfatizando que “ninguém
tem uma auto-estima assim [tão grande] na vida real”. Em seguida, o artigo diz que “as outras
personagens – muito menos estranhas – poderiam, pelo menos, aparecer tanto quanto Dunham”. Por
outro lado, há quem diga que a nudez real causa desconforto. “Eu estava em frente à televisão e não
conseguia parar de rir daquela mulher feia sentada de quatro em um sofá enquanto o ficante a
deixaa esperando” diz uma crítica publicada em um dos blogs reunidos no The Huffignton Post. Ela
não deixou por menos: “Acostumem-se porque eu vou viver até os 100 e continuarei mostrando
minhas coxas até o dia em que morrer”.
A jolie-laide da vez
É da França que vem o oximoro mais admirável dos dicionários mundo afora. É o jolie laide –
bonita feia, em tradução literal. O conceito é reservado às mulheres e revela uma noção paradoxal da
beleza. Do que é ser bela, enfim. É aquela cujo aspecto estético é quase indefinível, inefável. Como uma
personalidade borderline. É aquela que tem traços esquisitos e ainda sim é encantadora, linda. Que
apesar dos olhos pequenos e separados tem um rosto hamonioso. É aquela gorda baixinha que
transborda de charme. A França, aliás, é produtora máxima das feias-bonitas: Vanessa Paradis e seus
dentes absurdamente separados, Charlotte Gainsburg e suas feições masculinas...Edith Piaf e a beleza
das mãos. Internacionalmente são vários os exemplos. A bola da vez – com o perdão do trocadilho – é a
cheinha Lena Dunham.
Com os cabelos cortados à la garçonne, muitos quilos a mais que as capas de revista, peito
pequeno, nariz grande e sombracelhas esquisitas, as câmeras a amam. Mesmo que o senso-comum
custe a acreditar. Há um fetiche no corpo em forma de pêra de Lena. Seria talvez um imaginário
coletivo forçado a crer na superioridade da magreza que se rebela, que tem curiosidade em saber se o
gordo é feliz – se faz sexo, se gsta do que vê no espelho. A televisão como reflexo da sociedade é ainda
muito poderosa, e a ousadia das meninas de Girls (e não só de Dunham) é digna de aplausos. Elas
aceitaram subverter até mesmo o conceito de reality-show (não se trata de realidade maquiada, mas de
ficção real).
É o fascínio do feio ou é a ausência do belo? É a ousadia de se ver bonita mesmo quando os
olhos do outro não digam o mesmo? Umberto Eco talvez teria a resposta. Ou não. A estética
contemporânea, com tanto espaço para o grotesco, ainda tolhe e limita o espaço para o que pode ser
chamdo de belo, bonito, agradável aos olhos, digno de ser visto.
Referências bibliográficas:
Rahde, M. B. e Dapizzolo, J. Considerações sobre uma estética contemporânea. Revista da Compós,
abril 2007, p. 2-16. Disponível em: http://compos.org.br/seer/index.php/e-
compos/article/viewFile/149/150.
Sites consutados:
http://www.policymic.com/articles/21323/girls-hbo-season-2-lena-dunham-s-hit-showflaunts-immorality
http://www.huffingtonpost.ca/2013/01/09/allison-williams-girls-season-2interview_n_2440706.html
http://www.independent.co.uk/voices/comment/lena-dunham-and-girls-is-a-triumphfor-real-nudity-8454498.html
http://www.nypost.com/p/entertainment/tv/the_golden_girls_3KC4pDZOmm3XXzYAH
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Vídeos:
Trailer da primeira temporada:
https://www.youtube.com/watch?v=Q_L52eExAHU