universidade federal do espírito santo centro de - Geografia

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universidade federal do espírito santo centro de - Geografia
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II
Larissa Tostes Leite Belo
MODIFICAÇÕES ANTROPOGÊNICAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CANAL
BIGOSSI, NO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES): UMA EVOLUÇÃO HISTÓRICA
SUBSIDIANDO O PLANEJAMENTO AMBIENTAL
Vitória
2014
Larissa Tostes Leite Belo
MODIFICAÇÕES ANTROPOGÊNICAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CANAL
BIGOSSI, NO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES): UMA EVOLUÇÃO HISTÓRICA
SUBSIDIANDO O PLANEJAMENTO AMBIENTAL
Monografia apresentada ao Departamento
de Geografia do Centro de Ciências
Humanas e Naturais da Universidade
Federal do Espírito Santo, como requisito
parcial para obtenção do grau de bacharel
em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Eberval Marchioro
Vitória
2014
Larissa Tostes Leite Belo
MODIFICAÇÕES ANTROPOGÊNICAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CANAL
BIGOSSI, NO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES): UMA EVOLUÇÃO HISTÓRICA
SUBSIDIANDO O PLANEJAMENTO AMBIENTAL
Monografia apresentada ao Departamento de Geografia do Centro de Ciências
Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito
parcial para obtenção do grau de bacharel em Geografia.
Aprovada em 12 de março de 2014
COMISSÃO EXAMINADORA
__________________________________
Prof. Dr. Eberval Marchioro
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientador
__________________________________
Prof. Dr. André Luiz Nascentes Coelho
Universidade Federal do Espírito Santo
__________________________________
Prof.ª Drª. Luiza Leonardi Bricalli
Universidade Federal do Espírito Santo
Agradeço,
Primeiramente a Deus por me dar energia e persistência para
concluir mais esta etapa da minha vida;
À família pelo incentivo e compreensão neste momento;
Ao Professor Eberval Marchioro pela atenção e exigência;
Aos amigos que colaboraram de todas as formas para que eu
chegasse até o fim, sem perder o ânimo; principalmente à
colega de curso Mayara Moraes Modolo, pela dedicação e
prestatividade.
“O saber a gente aprende com os mestres e com os livros.
A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.”
(Cora Coralina)
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo identificar e analisar as mudanças ocorridas ao longo
do Córrego Bigossi, desde a década de 1970 até os dias atuais. Em consonância a
este tema, ressalta-se aqui a evolução da ocupação de toda a área pertencente à
Bacia Hidrográfica do Canal Bigossi, dada de maneira desordenada. Este citado
processo acaba por influenciar no comportamento dos canais abrangidos por tal
Bacia. A partir de dados obtidos em órgãos públicos, levantamento de informações
com moradores e profissionais que participaram de alguma forma do período de
alterações nesta área, foi possível identificar na Bacia do Bigossi a má qualidade das
águas dos canais envolvidos, os quais apresentam índices com alto grau de poluição,
assoreamento e obstrução; sendo assim elementos agravantes quando se diz respeito
ao escoamento e vazão destas águas. Tais fatores acabam por promover ou facilitar
a ocorrência de inundações em períodos de alta precipitação pluviométrica. Foram
identificadas as ações de retilinização do antigo Córrego Bigossi, hoje Canal Bigossi,
bem como as áreas urbanizadas ao longo dos canais Bigossi e Capixaba e do Córrego
Jaburuna. Hoje, o cenário é crítico, em razão da ausência de um planejamento urbano,
desde a época da implantação dos primeiros imóveis no local; fato que acarretou em
consequência sentidas ainda nos dias de hoje. Diante disso, a pesquisa demonstrou
a falta de planejamento urbano e as consequências advindas desta ação, ocorrida
indevidamente durante décadas. Logo, aprofundar estudos e identificar medidas que
permitam o melhoramento e aproveitamento desta área através de planejamento
ambiental eficaz, faz-se necessário.
PALAVRAS-CHAVE: Retilinização, Córrego Bigossi, Bacia Hidrográfica, ocupação,
planejamento.
ABSTRACT
This research aims to identify and analyze changes over Bigossi Canal from the 1970's
to the present day. In line with this theme, it's pointed the occupation evolution of the
whole area belonging to the Bigossi Canal River Basin in a disorderly manner. This
process has an impact on the behavior of channels covered by such Basin. From data
obtained from government agencies, survey information with residents and
professionals who participated in some way of the period of changes in this area, it
was possible to identify in the Bigossi Basin the poor water quality of the involved
channels, which shows high rates of pollution, siltation and obstruction ; thus
aggravating factors when it relates to drainage and flow of these waters. These factors
ultimately promote or facilitate the occurrence of floods during periods of high rainfall
precipitation. Activities of straightening of the former Bigossi Stream, today Bigossi
Canal, were identified, as well as the urban areas along the Bigossi and Espírito Santo
Channels and Jaburuna Stream. Today, there is a critical scenario, because of the
absence of an urban planning from when the first buildings started to be constructed
in site; fact which led to consequences that are still being felt today. Based on this
informations, the study showed a lack of urban planning and the consequences that
resulted from this actions, which have been improperly occurring for decades.
Therefore, it's necessary to deepen studies and identify actions that allow the
improvement and use of this area through effective environmental planning.
Key words: Straightening, Bigossi Stream, River Basin, occupation, planning.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Localização do município de Vila Velha.....................................................36
Figura 2: Temperatura média anual registrada no Espírito Santo.............................38
Figura 3: Geologia do município de Vila Velha..........................................................40
Figura 4: Geomorfologia do município de Vila Velha.................................................43
Figura 5: Pedologia do município de Vila Velha........................................................45
Figura 6: Corpos d'água existentes em Vila Velha....................................................47
Figura 7: Enchente de 1960 em Vila Velha...............................................................48
Figura 8: Sede Municipal de Vila Velha.....................................................................52
Figura 9: Fotografia de Vila Velha de período anterior a década de 1970................56
Figura 10: Fotografia aérea de Vila Velha na década de 1970.................................57
Figura 11: Mapa de Uso e Ocupação do Solo – Década de 70................................58
Figura 12: Fotografia aérea de Vila Velha em 1986..................................................59
Figura 13: Mapa de Uso e Ocupação do Solo – 1986...............................................60
Figura 14: Fotografia aérea de Vila Velha no ano 2000............................................61
Figura 15: Mapa de Uso e Ocupação – 2000............................................................62
Figura 16: Fotografia aérea de Vila Velha no ano de 2012.......................................63
Figura 17: Mapa de Uso e Ocupação – 2012............................................................64
Figura 18: Evolução da Ocupação no entorno do Canal Bigossi..............................65
Figura 109: Identificação dos canais inseridos na Bacia Hidrográfica do Canal
Bigossi.......................................................................................................................67
Figura 20: Esquema com localização espacial dos canais da Sub-Bacia
do Canal da Costa.....................................................................................................68
Figura 21: Identificação do Trecho I..........................................................................69
Figura 22: Via pavimentada sobre o Canal Capixaba...............................................70
Figura 23: Trecho do Canal Capixaba coberto por vegetação..................................70
Figura 24: Trecho coberto, com presença de residências e lixo...............................71
Figura 25: Resíduos sólidos sobre gramínea que encobre o canal..........................71
Figura 26: Identificação do Trecho II.........................................................................72
Figura 27: Canal descoberto com vegetação às margens........................................73
Figura 28: Presença intensa de resíduos no Canal Capixaba..................................74
Figura 29: Canal Capixaba com predominância de águas escuras..........................74
Figura 30: Quantidade expressiva de lixo ao longo do Canal....................................75
Figura 31: Despejo de esgoto in natura oriundo dos imóveis localizados às
margens......................................................................................................................76
Figura 32: Objeto utilizado para medir a profundidade do leito do Canal neste trecho
específico. (54 centímetros).......................................................................................76
Figura 33: Identificação do Trecho III.........................................................................77
Figura 34: Início do trecho das obras de drenagem................................................. .78
Figura 35: Ponte de acesso aos imóveis situados às margens do Capixaba............78
Figura 36: Trecho em obras.......................................................................................79
Figura 37: Expressivo assoreamento do Canal Capixaba.........................................79
Figura 38: Medição do leito do Canal neste ponto.....................................................80
Figura 39: Objeto utilizado para medir profundidade do leito do Canal
(20 centímetros).........................................................................................................80
Figura 40: Trecho assoreado em razão das obras.....................................................81
Figura 41: Galerias implantadas no Canal Capixaba, com dimensão 2 x 2m............81
Figura 42: Distanciamento entre galerias e imóveis...................................................82
Figura 43: Despejo de esgoto doméstico, sem tratamento adequado.......................82
Figura 44: Identificação do Trecho IV.........................................................................84
Figura 45: Material arenoso sobre cobertura do Canal Bigossi.................................84
Figura 46: Bigossi, coberto por gramíneas, com projeto paisagístico e vias
pavimentadas.............................................................................................................85
Figura 47: Ciclo faixa para travessia de bicicletas sobre o Canal..............................85
Figura 48: Avenida Carioca à esquerda, com sistema de escoamento de água para o
Canal..........................................................................................................................86
Figura 49: Vegetação às margens.............................................................................86
Figura 50: Revestimento lateral em concreto.............................................................87
Figura 51: Identificação do Trecho V.........................................................................88
Figura 52: Nascente do afluente do antigo córrego Bigossi, em Jaburuna...............89
Figura 53: Continuação do córrego Bigossi, sobre os imóveis residenciais..............89
LISTA DE SIGLAS
Af – Acúmulo Fluvial
AMhi – Areia Quartzosa Marinho Hidromórfica
CESAN – Companhia Espírito Santense de Saneamento
CVRD – Companhia Vale do Rio Doce
DAF – Departamento de Aerofotogrametria e Fotointerpretação
DENERU – Departamento Nacional de Endemias Rurais
DNOS – Departamento Nacional de Obras Sanitárias
ES – Espírito Santo
GPS – Global Positioning System
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDAF – Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal
IJSN – Instituto Jones dos Santos Neves
INCAPER – Instituto Capixaba De Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
INMET – Instituto Nacional de Meteorologia
LV – Latossolo Vermelho
MEC – Massa de ar equatorial continental
MPA – Massa de ar polar atlântica
MTA – Massa de ar tropical atlântica
NE – Nordeste
PDDU – Plano Diretor de Drenagem Urbana
PMVV – Prefeitura Municipal de Vila Velha
RMGV – Região Metropolitana da Grande Vitória
S – Sul
SE – Sudeste
SIG – Sistema de Informações Geográficas
SP – São Paulo
UFES – Universidade Federal do Espírito Santo
ZCAS – Zona de Convergência do Atlântico Sul
ZCOU – Zona de Convergência de Umidade
LISTA DE GRÁFICO
Gráfico 1 – Evolução da População de Vila Velha................................................49
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1: Construção do Canal da Costa
Anexo 2: Foto tirada do Morro do Jaburuna com vista para o bairro Itapoã
Anexo 3: Mapa de localização do município de Vila Velha
Anexo 4: Mapa de temperatura do município de Vila Velha
Anexo 5: Mapa de geologia do município de Vila Velha
Anexo 6: Mapa de geomorfolgia do município de Vila Velha
Anexo 7: Mapa de pedologia do município de Vila Velha
Anexo 8: Mapa de hidrologia do município de Vila Velha
Anexo 9: Mapa de hipsometria do município de Vila Velha
Anexo 10: Mapa de uso e ocupação da terra no entorno do Canal Bigossi na década
de 70
Anexo 11: Mapa de uso e ocupação da terra no entorno do Canal Bigossi na década
de 80
Anexo 12: Mapa de uso e ocupação da terra no entorno do Canal Bigossi no ano 2000
Anexo 13: Mapa de uso e ocupação da terra no entorno do Canal Bigossi no ano 2012
Anexo 14: Mapa da evolução da ocupação da terra no entorno do Canal Bigossi
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15
2
OBJETIVOS ....................................................................................................... 19
3
2.1
OBJETIVO GERAL ...................................................................................... 19
2.2
OBJETIVO ESPECÍFICO............................................................................. 19
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 20
3.1
BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS ..................................................... 20
3.2
TIPOS DE DRENAGEM ............................................................................... 24
3.3
CANALIZAÇÃO DE CURSOS FLUVIAIS.................................................... 26
3.4
NOVOS PARADIGMAS E NOVOS CAMINHOS SOBRE A ANÁLISE DOS
SISTEMAS HIDROGRÁFICOS ANTROPOGENEIZADOS ........................................... 28
4
5
METODOLOGIA ................................................................................................. 31
4.1
LEVANTAMENTO DE DADOS CARTOGRÁFICOS ................................... 31
4.2
ENTREVISTAS ............................................................................................ 32
4.3
LEVANTAMENTO DE FOTOGRAFIAS AÉREAS ....................................... 33
4.4
PROCESSO DE FOTOINTERPRETAÇÃO ................................................. 34
4.5
TRABALHO DE GABINETE ........................................................................ 35
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................... 36
5.1
O MUNICÍPIO DE VILA VELHA .................................................................. 36
5.2
ASPECTOS CLIMÁTICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES) ............ 37
5.3
ASPECTOS GEOLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES) .......... 39
5.4
ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES)
41
5.5
ASPECTOS PEDOLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES) ....... 45
5.6
ASPECTOS HIDROLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES) ...... 46
5.6.1
Características do sistema de drenagem no Município de Vila Velha ...................49
5.7
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS E POPULACIONAIS DO
MUNICÍPIO DE VILA VELHA.................................................................................50
5.7.1
5.8
6
Ocupação do Município ...........................................................................................51
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ................................................................... 51
5.8.1
Área Urbana ..................................................................... Erro! Indicador não definido.
5.8.2
Formas de vegetação atual......................................................................................54
RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 56
6.1
A ORIGEM DO NOME ATÉ A DÉCADA DE 1960 – CANALIZANDO O CÓRREGO
BIGOSSI ................................................................................................................. 56
6.2
ANÁLISE DO CÓRREGO BIGOSSI NO PERÍODO ANTERIOR À DÉCADA DE
70.............................................................................................................................57
6.3
AS MODIFICAÇÕES NO CÓRREGO BIGOSSI NA DÉCADA DE 80.........61
6.4
AS MODIFICAÇÕES NO CÓRREGO BIGOSSI NO ANO 2000 .................. 63
6.5
DE 1970 A 2012. O QUE É POSSÍVEL OBSERVAR NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO CANAL BIGOSSI? ............................................................. 65
6.6
7
CENÁRIO ATUAL DO CÓRREGO BIGOSSI .............................................. 68
CONCLUSÃO ..................................................................................................... 92
7.1
PERSPECTIVAS FUTURAS........................................................................ 94
8
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 97
9
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 99
10 ANEXOS ........................................................................................................... 100
15
1
INTRODUÇÃO
Os cursos fluviais tem sido alvo das intervenções antrópicas há longo tempo, desde o
surgimento das primeiras comunidades humanas, que se utilizavam deles para sua
dessedentação, irrigação e navegação etc., e é em tempos historicamente mais
recentes que são registradas as maiores intervenções. (Cunha, 2011).
O crescimento exponencial da população e sua concentração em determinadas
porções do território aumentaram o número e a intensidade das interferências
antrópicas nos cursos fluviais. Embora as necessidades humanas básicas
apresentadas permaneçam, outras necessidades emergiram, como a geração de
energia elétrica, o controle das enchentes, o aumento da área para ocupação, etc
(Cunha, 2011).
De acordo com Cunha (2011), nos últimos três séculos, as atividades humanas têm
aumentado a sua influência sobre as bacias de drenagem no meio rural e urbano e,
por conseguinte, sobre os canais constituintes, tornando-se um importante agente
geomorfológico.
O crescimento das cidades, associado a demandas agrícolas e
energéticas, nas últimas décadas tem sido responsável pelo aumento
da pressão das atividades antrópicas sobre os recursos naturais. Em
todo o planeta, praticamente não existe um sistema hidrológico que
não tenha sofrido influência direta e/ou indireta do homem, como por
exemplo, contaminação dos ambientes aquáticos, desmatamentos,
contaminação de lençol freático, introdução de espécies exóticas,
modificação na forma dos leitos dos rios, construção de barragens,
etc., resultando na diminuição da diversidade de hábitats e perda da
biodiversidade. (BOTELHO, 2011).
Este comportamento é resultante da pressão do sistema produtivo sobre os recursos
naturais, no processo de obtenção de matéria prima, posteriormente aproveitada na
produção de bens que são utilizados no crescimento econômico. Isto irá gerar o
retorno do capital para o sistema produtivo que por sua vez, devolve rejeitos,
efluentes, e degradação ao meio ambiente – poluição.
16
Ao longo deste processo tem-se o progresso dos centros urbanos, às custas de
degradação ambiental, tais como a diminuição da oferta de recursos naturais, gerando
crise energética, diminuição da produção de bens, a ocupação desordenada das
margens dos leitos fluviais, retilinização dos leitos fluviais, entre outros, que em
conjunto com a distribuição das chuvas podem ocasionar problemas tais como
inundação.
Park (1981 apud Cunha, 2001) ressalta dois grupos de mudanças fluviais induzidas
pelo homem. O primeiro se refere a modificações ocorridas diretamente no canal
fluvial para controlar as vazões (para armazenamento das águas em reservatórios ou
desvio de águas) ou para alterar a forma do canal imposta pelas obras de engenharia,
visando a estabilizar as margens, atenuar os efeitos de enchentes, inundações,
erosão ou deposição de material, retificar o canal e extrair cascalhos (CUNHA, 2001).
O segundo grupo de mudança no sistema fluvial relaciona-se às mudanças indiretas,
que resultam das atividades humanas, realizadas fora da área dos canais, mas que
modificam o comportamento da descarga e da carga sólida do rio. Tais atividades
estendem-se para a bacia hidrográfica e estão ligadas ao uso da terra, como a
remoção da vegetação, desmatamento, emprego de práticas agrícolas indevidas,
construção de prédios e urbanização (CUNHA, 2001).
Em ambos os tipos de mudança fluvial (direta ou indireta), os efeitos podem ser
transmitidos a longas distâncias. Existem maneiras distintas de se identificar as
mudanças fluviais induzidas pelo homem (Park, 1977b). O método ideal é aquele que
se apoia no monitoramento das mudanças do canal em locais-marco. Esse método
requer dados coletados durante algum tempo e são necessárias observações
anteriores às modificações, muitas vezes obtidas em fotos aéreas. (CUNHA, 2001).
Keller (1971 apud CUNHA, 1995) refere-se a um certo dinamismo dessas
irregularidades no fundo do leito, em função da intensidade variável dos débitos.
Durante os fluxos baixos, os sedimentos que constituem as soleiras são transportados
pelas águas correntes e depositados nas depressões. De modo inverso, no decorrer
dos altos fluxos, essas depressões são escavadas e limpas pela correnteza,
depositando-se o material removido nas soleiras. (CUNHA, 2011).
17
Depois de examinar a variabilidade no desenvolvimento da sequência de depressões
e soleiras em canais submetidos a diversos tipos de canalização, Keller (1978 apud
CUNHA, 1995) demonstrou não haver diferença significante nas distâncias
interdepressões, entre os canais dos rios naturais e os dos modificados por obras de
engenharia. Segundo ele, após as obras de retificação dos canais, a semelhança de
espaçamento entre as irregularidades do fundo do leito corresponde a uma nova
movimentação de sedimentos, representando os primeiros processos fluviais que
ocorrem no canal, em busca natural do rio para encontrar novo equilíbrio de seu perfil
longitudinal. (CUNHA, 2011).
Em função das modificações antrópicas impostas ao sistema da bacia hidrográfica,
tem sido verificada uma mudança significativa nos fluxos de energia e matéria desta
unidade de paisagem, corroborando para um auto ajuste da mesma, a partir da
magnitude da ação, tanto natural quanto antrópica. (FILHO, 2011). Considerando
então estas ações ao longo do tempo histórico, fica evidente a necessidade de
estudos que analisem estas alterações antrópicas ao longo dos cursos fluviais,
corroborando para as ações do planejamento ambiental urbano.
Em função deste quadro, este trabalho tem como recorte espacial o município de Vila
Velha e a Bacia do Córrego Bigossi, que drena suas águas para o Canal da Costa,
um importante sistema hidrológico do município citado.
O planejamento urbano é realizado para as cidades de forma a realizar
uma análise dos principais problemas que envolvem a infraestrutura de
água no ambiente urbano. Estes estão relacionados a problemas como
falta de tratamento de esgoto; implantação inadequada de redes de
esgotamento sanitário, muitas vezes sem tratamento; ocupação do
leito de inundação ribeirinha, acarretando em frequentes inundações;
impermeabilização e canalização dos rios urbanos com aumento da
vazão de cheia (em aproximadamente sete vezes) e sua frequência;
aumento da carga de resíduos sólidos e da qualidade da água pluvial
sobre os rios próximos das áreas urbanas; deterioração da qualidade
da água por falta de tratamento dos efluentes, o que tem criado
potenciais riscos ao abastecimento da população em vários cenários.
(BOTELHO, 2011).
18
Posto isso, destaca-se que a presente monografia realizará análise da Bacia
Hidrográfica do Bigossi, no município de Vila Velha, pertencente ao estado do Espírito
Santo, área está com intensa presença da ocupação urbana. Serão avaliadas as
condições físicas do Canal Capixaba, Canal Bigossi e seu afluente, considerando seu
entorno a partir da década de 50 até os dias atuais.
19
2
OBJETIVOS
2.1
OBJETIVO GERAL
O objetivo geral deste trabalho é analisar as alterações antrópicas a partir da década
de 1970 até a presente data, promovidas sobre o canal fluvial do Córrego Bigossi, no
município de Vila Velha.
2.2
OBJETIVO ESPECÍFICO

Compreender as mudanças no Uso e Ocupação da terra, entre as décadas de
1970 e o ano de 2012.


Identificar as porções do Córrego Bigossi que sofreram alterações.
Retratar as condições atuais da Bacia Hidrográfica do Bigossi.
20
3
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A geomorfologia fluvial engloba o estudo dos cursos de água e o das bacias
hidrográficas. Enquanto o primeiro se detém nos processos fluviais e nas formas
resultantes do escoamento das águas, o segundo considera as principais
características das bacias hidrográficas que condicionam o regime hidrológico. Essas
características
ligam-se
aos
processos
geomorfológicos,
às
características
hidrológicas e climáticas, à biota e à ocupação do solo. (CUNHA, 2001).
A Geomorfologia Fluvial representa um setor de destaque na ciência
geomorfológica, em função de seu caráter condicionante da própria
vida humana; por exemplo, as civilizações antigas que cresceram às
margens de grandes rios. Verificando-se então o papel da análise da
geomorfologia fluvial, esta revisão bibliográfica está organizada a partir
dos seguintes itens: 2.1) Bacias hidrográficas urbanas, 2.2) Tipos de
drenagem, 2.3) Canalização de cursos fluviais e 2.4) Novos
paradigmas e novos caminhos sobre a análise dos sistemas
hidrográficos antropogeneizados. (CUNHA, 2001).
3.1
BACIAS HIDROGRÁFICAS URBANAS
De acordo com Netto (2001, p. 93) a água é o principal agente modelador e
modificador da paisagem da bacia hidrográfica, e sua entrada nos sistemas terrestres
ocorre na forma de precipitação desencadeando uma série de processos
geomorfológicos, que dependem não só das características da precipitação
propriamente, mas também e sobretudo dos atributos e condições das diferentes
esferas por onde irá circular.
Ao atingir a superfície de uma bacia hidrográfica a água pode, no caso de uma área
com cobertura vegetal, como uma floresta tropical, assumir diferentes caminhos. Ela
pode ser interceptada pela copa das árvores e daí evaporada para a atmosfera, pode
ser armazenada nessas copas e depois precipitada, pode escorrer pelo tronco ou
atravessar a vegetação e atingir diretamente a superfície do terreno (NETTO, apud
GUERRA, CUNHA, 2001).
21
Em caso de uma cobertura de detritos orgânicos, restos de galhos, folhas, sementes
e animais, semidecompostos sobre o terreno (serrapilheira), a água pode ser
armazenada ou escoar sobre ou entre a referida camada orgânica, antes mesmo de
atingir o solo. Quando finalmente atinge o topo do solo, ela pode infiltrar ou escoar,
dependendo das características intrínsecas desse solo e das condições do relevo (em
especial a declividade da encosta e a rugosidade do terreno). (BOTELHO, 2011)
Para Botelho (2011) nas áreas urbanas toda essa diversidade de caminhos do sistema
natural é reduzida ao binômio escoamento e infiltração, com maior participação do
primeiro. Em virtude da quase total ausência de uma cobertura vegetal e,
consequentemente da serrapilheira, nessas áreas as demais possibilidades de
trajetória da água são praticamente eliminadas.
Nas zonas urbanizadas, novos elementos são adicionados pelo
homem, como edificações, pavimentação, canalização e retificação de
rios, entre outros, que acabam por reduzir drasticamente a infiltração e
favorecem o escoamento das águas, que atingem seu exultório mais
rapidamente e de forma mais concentrada, gerando o aumento da
magnitude e da frequência das enchentes nessas áreas. (BOTELHO,
2011).
As bacias hidrográficas urbanas são, portanto, marcadas pela diminuição do tempo
de concentração de suas águas e pelo aumento dos picos de cheias, quando
comparadas às condições anteriores à urbanização. Tucci (2001 apud GUERRA,
2011) alerta para a ocorrência desses processos nas áreas urbanas e Porto et al.
(2001) afirmam que, em casos extremos, o pico de cheia numa bacia hidrográfica
urbana pode chegar a seis vezes mais do que o pico dessa mesma bacia em
condições naturais (BOTELHO, 2011).
Além disso, somam-se às águas pluviais as águas servidas, de uso doméstico,
comercial e industrial, que muitas vezes são conduzidas juntamente com as águas
pluviais, não havendo sistemas de recolhimento e escoamento individualizados. Por
vezes, as águas servidas também são lançadas diretamente nos corpos d’água (rios,
lagos, reservatórios, lagos, mares e oceano), antes, aliás, de qualquer tratamento para
desinfecção ou descontaminação. Estas são práticas altamente nocivas não só
22
porque reduzem o tempo do “ciclo hidrológico urbano”, mas também porque são
responsáveis pela degradação da qualidade das águas no ambiente urbano.
Como intervenção será considerada, de acordo com a definição da Secretaria de
Estado do Planejamento e da Ciência e Tecnologia do Estado de Sergipe (Sergipe,
2009) para interferência nos recursos hídricos, “toda e qualquer atividade, obra ou
empreendimento que altere as condições de escoamento das águas, criando
obstáculo, produzindo modificações ou perturbando o fluxo dessas águas.”
(BOTELHO, 2011).
Botelho (2011) exemplifica alterações antrópicas nas bacias hidrográficas urbanas
brasileiras, citando a do Rio Tietê, em São Paulo, pois em 1849, foi concluída a
retificação do Rio Tamanduateí, afluente do Tietê, já que as enchentes passaram a
constituir um dos grandes problemas da cidade (Sabesp, 2009).
Em 1810 havia sido construída uma vala pelo centro da Várzea do
Carmo, pois o Rio Tamanduateí infringia à cidade com doenças, além
dos constantes alagamentos que em média duravam período de seis
meses por ano. Contudo, apesar das obras, no ano seguinte, por
ocasião de um temporal, transbordaram as águas do Rio Tamanduateí,
inundando e destruindo casas e causando mortes por afogamento
(Sabesp, 2009). (BOTELHO, 2011).
No Rio de Janeiro, as primeiras obras de retificação e canalização dos rios estão
ligados ao Plano de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro, elaborado entre
1875 e 1876, pela Comissão de Melhoramentos dirigida por Pereira Passos, que o
implementou, cerca de 30 anos depois, quando estava à frente da Prefeitura. As obras
citadas mudariam drasticamente não só o aspecto da cidade, como também o
funcionamento dos seus sistemas hídricos. (BOTELHO, 2011).
As intervenções antrópicas nos cursos d’água que se processaram a partir de então,
notadamente nas grandes cidades brasileiras, geraram um novo quadro urbano, uma
nova paisagem urbana, com novos elementos e nova dinâmica na bacia hidrográfica.
Na busca de novos espaços de ocupação e, principalmente, na solução do problema
para as enchentes, o homem alterou profundamente os rios, tornando-os “urbanos”.
(BOTELHO, 2011).
23
Tais alterações, no entanto, marcadas, predominantemente, por obras estruturais e
mecânicas nos cursos d’água levaram ao surgimento de problemas ambientais que
em verdade, não eram novos, ao contrário, já eram bem conhecidos: enchentes,
destruição de casas, perdas de vidas humanas, entre outros. (BOTELHO, 2011).
As onerosas obras de drenagem urbana: canalização (aberta ou fechada), retificação,
alargamento, afundamento, desvio, etc. não só não impediram as enchentes, como
contribuíram para sua ocorrência, muitas vezes em maior proporção, ao longo do
tempo. (BOTELHO, 2011).
Diante de águas fluviais que extravasam seus leitos e inundam áreas adjacentes,
mormente ocupadas pelas atividades antrópicas, o homem precisava criar
mecanismos para fazer escoar rapidamente essas águas, impedindo seu
transbordamento. Além disso, grandes áreas planas e baixas, de maior interesse
histórico para ocupação, frequentemente correspondem a planícies de inundação de
rios que por elas meandram. (BOTELHO, 2011).
Desta forma os rios meandrantes em especial, passaram a ser vistos como um
problema, pois diminuem a área útil a ser ocupada. Nessa visão, a canalização e a
retificação, principalmente, aumentam a velocidade das águas e diminuem o espaço
físico ocupado pelos rios, “permitindo” a ocupação de suas margens. (BOTELHO,
2011).
Durante a canalização, ao dotar o curso d’água de uma seção
transversal com forma geométrica definida, normalmente com
revestimento, diminui-se o atrito das águas com o fundo e as laterais.
Ao alterar o percurso original do rio, reorientando sua corrente,
eliminando suas curvas (meandros) e tornando seu traçado retilíneo,
diminuem-se sua extensão e o tempo de que a água dispunha para
percorrer cada curva, cada meandro construído. (BOTELHO, 2011).
Contudo, ao tomar essas medidas, o homem não extinguiu o problema das enchentes,
como é possível verificar em várias regiões do Brasil e do mundo. Em tais intervenções
não foram considerados preceitos básicos do funcionamento dos sistemas hídricos
notadamente da geomorfologia fluvial e da hidrologia. (BOTELHO, 2011).
24
Ao retificar o trecho do baixo curso de um rio, é preciso lembrar que não apenas esse
trecho está sendo alterado, mas o rio como um todo, que em princípio, parece ser a
solução dos problemas das enchentes, pois visa evitar o acúmulo das águas e
acelerar seu escoamento, gera um efeito reverso e remontante. Isso significa que os
processos erosivos e de transporte que caracterizam o alto e o médio curso dos rios
são intensificados, pois a maior velocidade das águas imprimida a jusante incide sobre
os trechos a montante, já que se trata de um único sistema. (BOTELHO, 2011).
Ao erodir e transportar mais sedimentos, o rio irá necessariamente depositá-los a
jusante, quando houver redução de declividade e o trecho canalizado tende a ser
assoreado ao longo do tempo, especialmente se as margens no alto e médio cursos
não estiveram devidamente protegidas, com a presença da mata ciliar. Os sedimentos
serão transportados e depositados a jusante, diminuindo a área da seção transversal
do canal, por assoreamento do fundo. (BOTELHO, 2011).
No momento das chuvas, portanto, poderá voltar a ocorrer o transbordamento das
águas dos canais e a inundação das áreas marginais, podendo-se dizer que é um “tiro
no pé”, talvez nos dois. Embora tenha transcorrido algum tempo, o homem finalmente
se deu conta dessa situação e tem reformulado suas políticas ou formas de
intervenção nos rios urbanos. (BOTELHO, 2011).
Uma nova visão originou novos pressupostos que marcam a drenagem urbana
moderna, que tem colocado em xeque as obras hidráulicas, até então exaltadas como
soluções necessárias e tem advogado em prol de uma menor intervenção e até
mesmo da renaturalização dos rios. (BOTELHO, 2011).
3.2
TIPOS DE DRENAGEM
De acordo com Cunha (2001), a drenagem fluvial é constituída por um conjunto de
canais de escoamento interligados, sendo que a sua área drenada é definida como
25
bacia de drenagem. Esta rede de drenagem depende do total e do regime das
precipitações, bem como das perdas por evapotranspiração e infiltração, tendo papel
importante no escoamento canalizado a topografia, a cobertura vegetal, a classe, o
tipo de solo, a litologia e a estrutura das rochas da bacia hidrográfica. (CUNHA, 2001).
A disposição espacial dos rios é controlada em grande parte pela estrutura geológica,
é definida como padrão de drenagem. A classificação dos padrões fundamenta-se na
forma do escoamento, na gênese ou na geometria. (CUNHA, 2001).
Para Cunha (2001) a quantidade de água que alcança o canal expressa o escoamento
fluvial, que é alimentado pelas águas superficiais e subterrâneas. A proporcionalidade
entre essas duas fontes é definida por fatores, tais como climas, solo, rocha,
declividade e cobertura vegetal.
Fazendo parte do ciclo hidrológico, o escoamento fluvial recebe as águas da chuva,
refletidas no escoamento fluvial imediato, mais a água da infiltração, e, do total
precipitado, apenas as quantidades eliminadas pela evapotranspiração estão isentas
da participação do escoamento. (CUNHA, 2001).
Segundo Cunha, em Geomorfologia, uma atualização de bases e conceitos (Guerra,
2001) a velocidade das águas de um rio depende de fatores como: declividade do
perfil longitudinal, volume das águas, forma da secção transversal, coeficiente de
rugosidade do leito e viscosidade da água. Como podem ser percebido, esses
diversos fatores fazem com que a velocidade tenha caráter dinâmico ao longo do canal
e na própria seção transversal.
Entre os elementos que alteram a velocidade citam-se: mudanças na declividade, na
rugosidade do leito e na eficiência do fluxo. Modificações como aumento da
declividade do perfil do rio e diminuição da rugosidade do leito, com a passagem da
draga, são realizadas pelas obras de retificação de canais, com a intenção de acelerar
a velocidade das águas. (CUNHA, 2001).
No que diz respeito a Fisiografia Fluvial, pode-se englobar conceitos relacionados ao
tipo de leito, tipos de canal e redes de drenagem. O leito fluvial corresponde ao espaço
26
ocupado pelo escoamento das águas. Em seguida, definimos como tipo de canal a
fisionomia que o rio exibe ao longo do seu perfil longitudinal, e pode ser descrita como
retilínea, anastomosada e meândrica, constituindo o padrão dos canais. (CUNHA,
2001).
Essa geometria do sistema fluvial resulta do ajuste do canal à sua seção transversal
e reflete o inter-relacionamento entre as variáveis descarga líquida, carga sedimentar,
declive, largura e profundidade do canal, velocidade do fluxo e rugosidade do leito.
(CUNHA, 2001).
A condição básica para a existência de um canal reto está associada a
um leito rochoso homogêneo que oferece igualdade de resistência à
atuação das águas. A divagação do talvegue, de uma margem para
outra, nos canais retos, com leitos inconsolidados, origina um perfil
transversal com um ponto de maior profundidade e um local mais raso,
de agradação. Essa zona de acumulação, que origina os bancos ou as
barras de sedimentos, se alterna de um lado a outro do canal. (CUNHA,
2001.)
Durante as obras de canalização de um rio, a rugosidade do leito pode diminuir com
a passagem da draga, quando, então, as geometrias não uniformes do fundo,
constituídas pelas soleiras e depressões são eliminadas. (CUNHA, 2001).
3.3
CANALIZAÇÃO DE CURSOS FLUVIAIS
A canalização é uma obra de engenharia realizada no sistema fluvial que envolve a
direta modificação da calha do rio e desencadeia consideráveis impactos, no canal e
na planície de inundação. (CUNHA, 2001).
Os diferentes processos de canalização consistem no alargamento e
aprofundamento da calha fluvial, na construção de canais artificiais e
diques, na proteção das margens e na remoção de obstáculos no canal
e, de maior importância a este trabalho, na retificação do canal. O
emprego de qualquer desses processos de canalização exige
permanente manutenção da capacidade do canal, envolvendo
dragagem, corte e/ou remoção das obstruções. Entre as obras de
canalização, a retificação dos rios tem como finalidade o controle das
cheias e a drenagem das terras alagadas. A utilização desse tipo de
27
obra de engenharia ainda é controversa, sendo considerada técnica
imprópria, com efeitos prejudiciais ao ambiente. (CUNHA, 2011).
Para Cunha (2011) os impactos geomorfológicos que ocorrem no canal retificado
mudam o padrão de drenagem, reduzindo o comprimento do canal, com a perda dos
meandros; altera a forma do canal, diminui a rugosidade do leito e aumenta seu
gradiente. A jusante do canal retificado verifica-se um aumento da carga sólida e
imediato assoreamento durante a passagem da draga, e a erosão do canal pelos
eventos torrenciais do regime.
Afirma-se ainda que, a erosão dos bancos de areia, formados pelos sedimentos
provenientes da passagem da draga que chega à foz do rio principal, modifica o
equilíbrio natural da sedimentação, originando novas formas deposicionais. Na
planície de inundação, o aprofundamento do leito poderá causar a transformação dos
meandros em bacias de decantação, lagos ou pântanos e a subida relativa do terraço
fluvial, em relação ao nível da água.
Para minimizar os efeitos dessa obra de engenharia é possível realizar uma
canalização alternativa que objetiva amenizar certos efeitos negativos da canalização
(Brookes, 1983 apud GUERRA, 2011). Por sua vez, alguns tipos de canalização
alternativa têm sido desenvolvidos pelos geomorfólogos, que consideram o rio um
sistema aberto, no qual há balanço entre a forma do canal e os processos nele
atuantes (Keller, 1978 apud CUNHA, 2001).
Brookes et al. (1983, apud GUERRA, 2011) sumarizaram os tipos de canalização
alternativa realizados em diversos países. O primeiro diz respeito à construção de
depressões e soleiras, no fundo do canal, para produzir uma estabilidade
geomorfológica que é biologicamente produtiva com aplicação geral na América do
Norte (Keller, 1975, CUNHA, 2001).
Outra opção refere-se à alternância de setores de canal revestido por
cimento e pequenos trechos de canais naturais que fornecem habitat
aceitável para os peixes, permitindo a migração destes, ao contrário da
situação do canal concretado na sua totalidade.
A restauração e a reparação dos canais são também empregadas para
amenizar os efeitos negativos da canalização. Esse processo consiste
na conservação das árvores, que produzem a estabilização das
28
margens, na minimização das mudanças na forma do canal, no
emprego de técnicas de estabilização das margens e na reconstituição
da morfologia natural da calha do rio. (Nunnaly, 1978). (CUNHA, 2001).
3.4
NOVOS PARADIGMAS E NOVOS CAMINHOS SOBRE A ANÁLISE DOS
SISTEMAS HIDROGRÁFICOS ANTROPOGENEIZADOS
De acordo com Botelho (2011), diante das variadas e intensas intervenções antrópicas
no sistema hidrográfico em ambiente urbano, faz-se necessária a adoção de novos
paradigmas, novos conceitos, novas visões e novas medidas que garantam o melhor
funcionamento das bacias de drenagem urbanas, de modo a combater e prevenir
problemas ambientais, notadamente as enchentes e a degradação dos corpos
hídricos.
A autora atenta ainda para a necessidade de desenvolver novas formas de ocupação,
novos materiais, novas técnicas, novas leis, estabelecendo novas relações de uso do
espaço urbano. Uma vez que a ideia de “desconstruir” cidades é inconcebível e
ilusória, pois não podemos deixar de construir moradias, asfaltar ruas, erguer centros
empresariais, etc., é preciso criar mecanismos alternativos que possam substituir o
processo hidrológico fundamental de infiltração expandindo e diversificando o tempo
de chegada das águas ao final de cada sistema hidrográfico. (BOTELHO, 2011).
É nessa visão ampla e integrada que novos projetos na área de drenagem urbana
estão apoiados. Desenvolvidos inicialmente no exterior, em países como a Alemanha,
esses novos conceitos estão sendo aos poucos incorporados em projetos no Brasil e
se refletindo em novas técnicas e estratégias de ação. (BOTELHO, 2011)
No que se refere às medidas de controle de enchentes, estas são
usualmente classificadas em estruturais, quando o homem altera o
sistema fluvial, através de obras hidráulicas, como barragens, diques,
canalização e retificação; e em não estruturais, quando o homem
busca uma convivência harmônica com o rio, através da elaboração de
planos de uso e ocupação e zoneamentos de áreas de risco à
inundação, sistemas de alerta e seguros-enchentes. (BOTELHO,
2011).
29
As medidas estruturais podem, ainda, segundo Tucci (2001), ser classificadas como
intensivas e extensivas. As primeiras são as que modificam diretamente o curso
d’água, com a retificação e a canalização. As extensivas são medidas que afetam o
sistema hidrológico, de um modo geral, mas não constituem intervenções diretas
sobre o rio.
Para Botelho (2011) as medidas estruturais intensivas não tratam das causas do
problema e sim tentam minimizá-lo através de medidas compensatórias. Trata-se de
medidas custosas e pouco eficientes a médio e longo prazos. Incluem, além da
canalização e da retificação, a construção de canais de desvio, canais paralelos e
canais extravasores. – que alteram diretamente o traçado e/ou direção dos cursos
d’água- e diques, reservatórios ou bacias de amortecimento, que foram amplamente
difundidas no Brasil na década de 1970.
As bacias ou reservatórios de amortecimento, tanto de infiltração quanto de detenção
e retenção, têm como objetivos principais reduzir o volume de escoamento superficial,
através do armazenamento da água, e amortecer as vazões nos picos de cheias a
jusante. Botelho (2004) verificou que apenas 11,7% dos municípios atingidos por
enchentes urbanas possuíam bacias de detenção ou amortecimento. Desses, quase
80% apresentavam o máximo de cinco bacias; sendo os maiores números registrados
para os municípios de Franca (SP) e Orleans (SC), com 20 e 30 bacias,
respectivamente. Tal quadro se justifica, pois se trata de obras dispendiosas, que
exigem grande investimento, restringindo sua utilização. (BOTELHO, 2011).
De acordo com a visão atual, as medidas estruturais extensivas e as
não estruturais são as mais indicadas na prevenção e controle das
inundações, por seu menor custo e maior eficiência. As principais
medidas mitigadoras estruturais extensivas de controle das enchentes
e que têm reflexo sobre a melhora do funcionamento do ciclo
hidrológico urbano e, consequentemente, na quantidade e qualidade
de água (embora, na maioria, ainda pouco divulgadas e
implementadas) são: contenção de encostas e margens de rios,
captação de água da chuva, ampliação de áreas verdes, utilização de
pisos permeáveis e aproveitamento das águas servidas. (BOTELHO,
2011).
Atualmente, as estratégias de manutenção de equilíbrio hidrológico e do bom
funcionamento das bacias hidrográficas urbanas estão, portanto, centradas na
30
recuperação de áreas para infiltração, no aumento da capacidade de retenção das
águas, na captação de água das chuvas e seu aproveitamento, no reuso das águas
servidas e na revitalização e renaturalização dos rios urbanos e que deveriam ser
incorporadas a gestão dos recursos hídricos e da bacia hidrográfica. (BOTELHO,
2011).
31
4
METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho foi necessário, num primeiro momento, o estudo do
tema abordado, referente à canalização de rios e córregos, sistemas de drenagem e
caracterização de bacias hidrográficas. A obtenção deste conteúdo fundamentou-se
na leitura de livros e artigos, indicados pelo Professor Orientador desta monografia,
citados na página de referências.
Após estudo deste material, a compreensão sobre o assunto específico permitiu um
olhar mais crítico sobre os dados adquiridos posteriormente, facilitando o processo de
escolha e seleção das fontes de informação. Posto isso, tornou-se possível redigir o
presente material, abordando todo o conteúdo necessário a fim de explanar de
maneira clara e explicativa o tema estudado e apresentado neste Trabalho de
Conclusão de Curso.
4.1
LEVANTAMENTO DE DADOS CARTOGRÁFICOS
A partir deste momento, o presente trabalho passou por processo evolutivo, visto a
obtenção de conteúdo técnico adquirido na Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura
Municipal de Vila Velha, especificamente na Subsecretaria de Drenagem. Esta, sob a
coordenação do Sr. Delto José Beltrame, forneceu material de suma importância para
conhecimento de todo o histórico pertinente às obras de drenagem e canalização dos
canais de Vila Velha, bem como relatos verbais do período de tais obras, vivenciado
pelo próprio Coordenador desta Subsecretaria, conforme entrevista contida em página
32.
Foi possível adquirir também, em formato digital, os Volumes I, II e III do Plano Diretor
de Drenagem Urbana de Vila Velha. Neste Plano, a observação da localização dos
canais que cortam todo o município de Vila Velha possibilitou maior conhecimento do
local estudado, bem como dados sócio-político-econômicos desta cidade.
A fim de fundamentar e confirmar parte dos dados foram acessados os sites do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Jones dos Santos
32
Neves, nas datas 05 e 06 de outubro de 2013, bem como monografias e teses com
temas relacionados ao município em questão. Após a leitura de todo este material, foi
possível elaborar o texto referente à caracterização da área de estudo.
Vale ressaltar que no site do Instituto Jones dos Santos Neves, foi possível obter
diversos mapas que permitiram melhor visualização a partir de conceitos
diferenciados, como mapeamento geomorfológico, concentração urbana, sede do
município, entre outros. O conteúdo presente na Cartilha intitulada “Mapeamento
Geomorfológico do Estado do Espírito Santo”, elaborada em parceria entre a
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e o Instituto Jones do Santos Neves
(IJSN), também foi de fundamental importância como fonte de pesquisa.
Após elaborados os textos referentes à Introdução, Objetivos, Revisão Bibliográfica,
Caracterização da Área de Estudo e Desenvolvimento desta pesquisa, tornou-se
possível obter uma conclusão. Conclusão esta, escrita de forma a apresentar
propostas a partir da indicação de pontos estratégicos, pertinentes a um planejamento
por parte do Poder Público, bem como da conscientização popular no que diz respeito
ao desenvolvimento urbano das áreas ribeirinhas aos Canais estudados; exemplo
para todas aquelas que encontram-se em situação semelhante.
Todo o processo de elaboração dos textos citados acima ocorreu sob supervisão do
orientador responsável, consulta a profissionais da área, que assim o fizeram com
empenho e disposição de finalizarmos um bom trabalho, disponível a futuras
pesquisas.
4.2
ENTREVISTAS
Para verificar as transformações ocorridas na bacia do córrego Bigossi, foram
realizadas entrevistas com o Sub-Secretário de Drenagem do município de Vila Velha,
Sr. Delto José Beltrame, bem como com alguns moradores antigos de Cristovão
Colombo, Divino Espírito Santo e Jaburuna, que nos repassam o momento da
retificação do córrego Bigossi e algumas de suas consequências. Esta entrevista
33
contribuiu principalmente para compreensão das transformações anteriores a década
de 1970, onde as imagens ou fotografias áreas não foram encontradas.
Para exemplificar o formato das entrevistas, apresenta-se a descrição da mesma com
o Sub-Secretário de Drenagem do município de Vila Velha, Sr. Delto José Beltrame,
que nos repassa o momento da retificação do córrego Bigossi e algumas de suas
observações:
“O canal Bigossi foi obra de retificação e melhorias no escoamento das águas da
região. Parte da extensão do córrego Bigossi sofria e sofre a influência de maré. É um
afluente do Rio da Costa, hoje, transformados por ação do homem em canais; e
sofreram obras de estruturas com fechamento, descaracterizando totalmente a sua
natureza.
Foram formados por pequenas bacias hidrográficas com recarga pelo sistema de
chuvas (sistemas hídricos), que se acumulavam. Hoje estão totalmente canalizados.
O sistema hoje contribuiu para a impermeabilização do solo e a tendência é
desaparecer com o rio. Hoje praticamente temos canais artificiais canalizando todas
as águas tanto de remanso de marés, águas próprias; como de águas de chuva. Essa
é situação desse canal”.
4.3
LEVANTAMENTO DE FOTOGRAFIAS AÉREAS
De maneira progressiva, a pesquisa evoluiu através da obtenção de fotografias
aéreas, em formato digital, adquiridas no Instituto Jones dos Santos Neves, em visita
a sede do órgão, localizado na Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, nº 2.524 Jesus de Nazareth - Vitória - ES, no dia 04 de setembro de 2013, bem como ao
Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (IDAF), também no município de Vitória,
situado à Rua Raimundo Nonato, nº 135, no bairro Forte São João, no dia 10 de
outubro de 2013.
As fotografias aéreas datadas da década de 70 retratam a região da Grande Vitória,
no citado período, realizadas por uma Câmara Aérea ZEISS RMK A 15/23, numa
escala média de 1: 20.000, a uma distância principal de 152,878 mm. Tal projeto,
identificado sob o número 03/78, foi executado pela empresa Esteio: Engenharia e
Aerolevantamentos S.A., de Curitiba/ PR, contratada pela Secretaria de Estado da
34
Agricultura do Estado do Espírito Santo, Departamento de Aerofotogrametria e
Fotointerpretação – DAF.
As fotografias aéreas da década de 80 abrangem a área da Grande Vitória, em voo
realizado em 1986 com altura de 1.225 metros, identificadas sob o número de projeto
FT 01/86, numa escala média de 1: 8.000, a uma distância focal de 153,08 mm,
realizadas pela Câmara Aérea ZEISS RMK 15/23, sendo a MAPLAN a empresa
executante.
Para a elaboração dos mapas temáticos de caracterização da área de estudo, tais
como o de geologia, geomorfologia, pedologia, hidrologia, de localização e altimétrico,
utilizou-se o Software Arc GIS ™ 10.1 (Wesley, 2012), ferramenta do SIG.
4.4
PROCESSO DE FOTOINTERPRETAÇÃO
As fotografias referentes às décadas citadas foram interpretadas da seguinte maneira:
Delimitou-se um raio de aproximadamente 1 quilômetro a partir das margens dos
canais Capixaba, Bigossi e Jaburuna, componentes da Bacia Hidrográfica do Canal
Bigossi.
Em seguida analisou-se separadamente cada uma das fotografias inserindo-as no
programa Arc GIS ™ 10.1 (Wesley, 2012), e então foram vetorizadas as áreas já
determinadas, a fim de permitir melhor observação da evolução da ocupação. As
áreas consideradas são: Solo exposto, áreas verdes, vegetação rasteira e áreas
ocupadas.
Ao final do mapeamento de uso da terra de cada uma das fotografias aéreas, e então
percebidas as alterações nas décadas de 70, 80 e anos 2000 e 2012, foi elaborado
um mapa final no qual os quatro anteriores foram inseridos lado a lado a fim de facilitar
a comparação do uso da terra na área de estudo nas décadas supracitadas.
35
4.5
TRABALHO DE GABINETE
Após o resultado deste mapeamento, foi possível identificar a evolução da ocupação
urbana no local, e observar as características visivelmente alteradas. Estas foram
passivas de análise com vistoria “in locus” nos dias 28 de setembro e 24 de outubro
de 2013, e 07 de janeiro de 2014, conforme detalhamento contido neste trabalho, no
qual consta a caracterização do cenário atual dos Canais observados.
No primeiro dia, com visita realizada às 9h30min, a maré estava em instante de
preamar, medindo 1,1m. No segundo dia, a observação foi realizada às 13h00,
instante de baixa-mar, na qual a maré media 0,5m. Os dados da maré foram obtidos
no endereço eletrônico do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural). A terceira visita a campo foi feita apenas em caráter
comparativo, a fim de tomar ciência sobre quaisquer alterações que teriam ocorrido;
fato não constatado.
O percurso vistoriado possui extensão aproximada de 4 quilômetros e por apresentar
diferenciações quanto à presença ou ausência de cobertura, revestimento de talude e
características das margens e entorno, todo o trecho estudado foi dividido em seções.
Conforme apresentado no desenvolvimento, foi possível definir cinco trechos, os quais
foram devidamente separados levando em consideração suas características
predominantes.
Como forma de complementação, os pontos iniciais e finais de cada trecho foram
identificados, principalmente, pelos logradouros; e a partir destes foi possível
referenciá-los através do Sistema de Coordenadas Projetadas UTM 24k, através do
Google Earth.
Após a realização das visitas citadas anteriormente, a elaboração desta monografia
teve os dados e informações necessárias para o detalhamento do cenário atual dos
Canais Capixaba e Bigossi.
36
5
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
5.1
O MUNICÍPIO DE VILA VELHA
A área utilizada para o estudo pertence ao município de Vila Velha, localizado no
Estado do Espírito Santo. Situado na Região Metropolitana da Grande Vitória, Vila
Velha faz divisa com as seguintes fronteiras: Ao norte limita-se com a capital, Vitória,
ao sul com Guarapari, a leste com o Oceano Atlântico, a Oeste com Cariacica e Viana.
(Anexo III) Seus distritos são a Sede, a Barra do Jucu, Ibes, São Torquato e Argolas.
Está localizado na latitude sul de 20º 20’ 12” e na longitude oeste de Greenwich de 40
º 17’ 28”.
Tal município pertence ao Estado do Espírito Santo, que localiza-se na região Sudeste
do país, em área fronteiriça com os estados do Rio de Janeiro ao sul, Minas Gerais a
oeste e Bahia ao norte, entre as coordenadas 17°53’ a 21°19’ Sul de latitude, e de
39°39’ e 41°52’ Oeste de longitude. O estado possui uma área de 46.077,5 km²,
abrigando uma população de cerca de 3,5 milhões de habitantes, distribuídos em 78
municípios.
37
Figura 1: Localização do município de Vila Velha, com destaque em vermelho para a área de estudo.
(Fonte: IEMA)
5.2
ASPECTOS CLIMÁTICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES)
Conforme consta em dissertação de Silva, G. M (2013) entre os mecanismos de
circulação atmosférica que controlam as características climáticas da área em estudo,
compreendida no sudeste brasileiro, estão as passagens das frentes frias,
principalmente no inverno, a presença da Zona de Convergência do Atlântico Sul
(ZCAS), principalmente no verão, e da Zona de Convergência de Umidade (ZCOU).
Há também a influência das massas de ar, Tropical Atlântica (MTA), Equatorial
Continental (MEC) e polar atlântica (MPA). (MARCHIORO, 2012, NUNES; VICENTE;
CANDIDO, 2009, MENDONÇA; DANNIOLIVEIRA, 2007).
O regime de chuva, temperatura, direção dos ventos e umidade da área em estudo,
são significativamente influenciados pela circulação atmosférica, mas também pelos
38
elementos climáticos, onde a maritimidade e a latitude têm papel importante na
característica climática do local. Por localizar-se numa zona de média latitude, as
temperaturas tendem a ser elevadas, principalmente no verão, e devido à proximidade
com o mar, que confere elevado teor de umidade ao ar, contribui para ocorrência de
chuvas e na regulação térmica, influenciando ainda na direção dos ventos. O Anexo
IV apresenta em detalhes a temperatura média anual registrada no estado.
O comportamento pluvial se caracteriza por dois extremos, com um período bastante
abundante e outro bem escasso, sendo esses, respectivamente, novembro a janeiro
e junho a setembro (CORREA, 2011, MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Por
causa do efeito da maritimidade, mesmo no período seco as precipitações são
consideráveis, onde o mês de agosto, menos chuvoso, registra na normal
climatológica 40,3mm, já o mês de dezembro, mais chuvoso, registra 175,8mm na
normal climatológica (INMET, 2013).
A alternância de períodos mais chuvosos e menos chuvosos, associado ainda às
condições atmosféricas locais, faz o teor de umidade do ar variar muito entre os meses
do ano, porém apresenta-se num média de 78% aproximadamente (MARCHIORO,
2011).
As temperaturas médias giram em torno dos 24,3ºC, onde os meses de fevereiro com
aproximadamente 28ºC e julho com cerca de 23ºC, são os mais quentes e frios,
respectivamente (CORREA, 2011, MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Esse fato
pode ter ligação com a atuação das massas de ar tropical atlântica (MTA) e polar
atlântica (MPA), respectivamente, que atuam na área em estudo, principalmente
nessas épocas do ano.
O padrão na direção dos ventos apresenta-se de duas formas: Em uma predomina
ventos do quadrante nordeste (NE) ao longo do ano e, em outra os ventos são
provenientes dos quadrantes sudeste (SE) e sul (S) entre abril e setembro (EMCAPA,
1981; MONTEIRO, 1949, NIMER, 1973 apud CORREA, 2011).
39
Essas características conferem a região um clima com temperaturas e precipitações
pluviais elevadas, o qual é classificado por Bernades (1951) como quente Super
Úmido - subseca (CORREA, 2011).
Figura 2: Temperatura média anual registrada no Espírito Santo, com destaque em amarelo para a
área de estudo. (Fonte: IJSN)
5.3
ASPECTOS GEOLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES)
O município de Vila Velha se encontra compartimentado em unidades geológicas.
(Anexo V) Quanto aos materiais que constituem essas unidades geológicas, pode-se
40
afirmar que os componentes litológicos são formados por rochas cristalinas e
sedimentares, e por depósitos inconsolados fluviais e marinhos. Tais unidades
geológicas são definidos pela “Suíte” Intrusiva Espírito Santo, o Grupo Barreiras, o
Quaternário Marinho e Aluvionar, associando-se respectivamente, as Colinas e
Maciços Costeiros, aos Tabuleiros Costeiros e as Planícies Litorâneas, num grosso
modo (RADAMBRASIL, 1983).
A “Suíte” Intrusiva Espírito Santo, tem como características: faixas de biotita gnaisse
e kinzigitos, faixas de gnaisse migmatizados, e granito e granodioritos, que de forma
geral são corpos graníticos e granitóides. As rochas datam no intervalo de 600 e 450
MA (milhões de anos), caracterizando a sua formação no Ciclo Brasiliano e
apresentam características bastante variadas, tais como coloração entre cinza médio
e rosa claro, granulação média a grosseira, com tipos porfiroblásticos abundantes.
(RADAMBRASIL, 1983).
Estruturalmente, mostram-se foliadas ou maciças, com catáclase constante e sua
composição mineralógica não varia muito, com feldspatos brancos e róseos, quartzo
e, em menor proporção, biotita e/ou anfibólio. (RADAMBRASIL, 1983).
O Grupo Barreiras é formado por sedimentos continentais dispostos ao longo da costa
formando Barreirass, estendendo-se descontinuamente por trás das formações
arenosas quaternárias. Os minerais dos sedimentos do Grupo Barreiras são mal
selecionados por sofrerem curto transporte, tornando-se incapaz um bom
selecionamento (RADAMBRASIL, 1983).
O Quaternário Marinho ou sedimentos marinhos são formados basicamente por areais
de quartzo, de cores esbranquiçadas e amareladas, de granulação fina a grosseira,
ou ainda mal selecionada. Resultam do retrabalho do oceano, que os depositam na
linha de costa formando cordões de praia, restingas e dunas. Já o Quaternário
Aluvionar é proveniente dos acúmulos de sedimentos em diversos ambientes, sendo
mais frequentes ao longo do litoral. Os materiais constituintes são cascalhos, areias e
siltes. (RADAMBRASIL, 1983).
41
Figura 3: Geologia do município de Vila Velha, com destaque em vermelho para a área de estudo.
(Fonte: IEMA)
5.4
ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES)
O conhecimento dos aspectos geomorfológicos, formas do relevo, é de fundamental
importância para compreensão dos fenômenos naturais, onde, por exemplo, um
relevo excessivamente plano propicia a ocorrência de inundação associada a eventos
pluviais extremos. Além disso, é sobre esse que o homem irá desenvolver suas
atividades cotidianas, rurais ou urbanas (IJSN, 2012).
42
Do ponto de vista Geomorfológico, o município de Vila Velha encontra-se
compartimentado em unidades geomorfológicas, denominadas de Colinas e Maciços
Costeiros, Tabuleiros Costeiros e Planícies Litorâneas (RADAMBRASIL, 1983). O
Anexo VI apresenta maiores detalhes sobre a caracterização geomorfológica do
município.
As Colinas são pequenas elevações no terreno com declividades suaves e altitudes
inferiores aos 50 metros, sendo formas de relevo intermediarias derivadas da erosão
e encontram-se isoladas umas das outras. Já os Maciços Costeiros são parcialmente
erodidos, encontram-se em grandes extensões territoriais nas massas de rochas
cristalinas atingindo altitudes entre 100 e 200m (RADAMBRASIL, 1983).
As Colinas e Maciços Costeiros localizam-se principalmente na porção norte do
município de Vila Velha, apresentando topografia baixa e estrutura fraturada e
dobrada. As colinas são heterogêneas e separadas por depressões alveolares
colmatadas e por planícies aluviais, sua cobertura pedológica é do tipo colúvio nos
topos, sendo estes angulosos e/ou subarredondados. Já os maciços, que constituem
os pães-de-açúcar, são formações rochosas falhados na presença de inselbergs.
(RADAMBRASIL, 1983)
Os Tabuleiros, semelhantes aos planaltos, terminam geralmente de forma abrupta,
apresentam topografia plana no topo, escapas sedimentares abruptas na lateral,
podendo estar ou não recebendo o efeito da erosão marinha e, de maneira geral
apresentam quase sempre, baixas altitudes e material sedimentar. (RADAMBRASIL,
1983)
Os Tabuleiros Costeiros estão dispostos principalmente na porção sul, sendo
constituídos por relevo dissecado e com topos planos a convexizados, apresentando
altitudes modestas (15 a 40m). A transição com as Colinas e Maciços Costeiros dáse de foram gradual, sem às vezes perceber a mudança de unidade geomorfológica.
(RADAMBRASIL, 1983).
As planícies compreendem uma extensão do terreno mais ou menos plana, onde os
processos de deposição de material superam o de erosão. Esta unidade da paisagem
43
caracteriza-se por apresentar ambientes diversificados que reflete em sua distribuição
espacial.
Esse comportamento é “constituído de material acumulativo, do tipo aluvial e coluvial,
com larguras e extensões variadas” (RADAMBRASIL, 1983. P, 314). Nestes locais
quando há o encontro das águas dos rios com a do oceano desenvolvem-se os
manguezais, que podem atingir quilômetro continente adentro. Esse compartimento
encontra-se junto à linha de costa, aos cursos d’águas e em as áreas sujeitas à
inundação, e é marcante na porção central numa extensão leste/oeste, delimitando os
outros dois compartimentos geomorfológicos (op. cit.).
Com o intuito do refinamento das informações do projeto RadamBrasil, o Instituto
Jones dos Santos Neves (IJSN) realizou um mapeamento das unidades
geomorfológicas do estado do Espírito Santo. Esse novo mapeamento tem por
objetivo ampliar a escala de observação, aproximando das características locais do
estado (IJSN, 2012).
Nesse estudo foram delineadas classificações geomorfológicas em diferentes
escalas, sendo essas: Morfoestruturas, Regiões e Unidades. Baseando-se nesta
classificação o município de Vila Velha está inserida respectivamente, nos Depósitos
Sedimentares, Planícies Costeiras e Piemontes Inumados e, Planícies Costeiras,
Estuários e Praias e Tabuleiros Costeiros. (IJSN, 2012).
Sobre essas classificações, faz-se necessário destacar, aqueles que não foram
abordados até então. Na morfoestrutura geomorfológica, os Depósitos Sedimentares
são formados por “sedimentos arenosos e argilo-arenosos com nível de cascalhos,
basicamente do Grupo Barreirass e dos ambientes costeiros, depositados durante o
período Cenozóico” (IJSN, 2012, p. 8).
As regiões de Piemontes Inumados se constituem de sedimentos Cenozóico do Grupo
Barreirass, muito alterado com espessura variada e disposição suborizontal, em
direção ao Oceano Atlântico (IJSN, 2012).
44
Há também a classe dos modelos de acumulação, que para área em estudo é
compreendida pelo acumulo fluvial (Af), que se caracteriza por “área plana resultante
de acumulação fluvial sujeita a inundações periódicas, correspondentes às várzeas
atuais com preenchimento aluvial” (IJSN, 2012, p. 11).
Figura 4: Geomorfologia do município de Vila Velha, com destaque em vermelho para a área de
estudo. (Fonte: IEMA)
O processo de uso e ocupação da terra em Vila Velha, fez com que as formas acima
apresentadas sofressem com cortes e aterros para edificação de vias de circulação e
prédios residenciais/comerciais, potencializando o desencadeamento dos processos
45
geomorfológicos, sobretudo as inundações que são frequentes nas áreas juntos aos
corpos d’água e aterradas, sobre domínio das planícies.
5.5
ASPECTOS PEDOLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES)
O Estado do Espírito Santo, segundo mapas de solo do IBGE (2005), em toda sua
extensão possui diferentes classes pedológicas, sendo elas: afloramentos rochosos,
argissolo
amarelo,
argissolo
vermelho,
argissolo
vermelho-amarelo,
cambissoloháplico, gleissolo háplico, latossolo amarelo, latossolo vermelho-amarelo
e neossoloquartzarênico, conforme apresentado no Anexo VII.
Conforme contido no Atlas de ecossistemas do Espírito Santo (2008), as principais
classes pedológicas presentes do município de Vila Velha possuem as seguintes
características:
A - Arenoquartzosos profundos
Solos comuns nas restingas; eles são pobres em nutrientes, mas absorvem a água
com facilidade. Em algumas circunstâncias apresentam vegetação rasteira xerofítica
e arbórea mesofítica. Quando apresentam lençol freático elevado são AMhi, isto é,
Areia Quartzosa Marinho Hidromórfica. É atualmente denominado Neossolo
Quartzarênico.
LV - Latossolo Vermelho- Amarelo distrófico coeso
É o solo mais comum da região serrana. O horizonte C é muito profundo, permitindo
bom armazenamento da água numa área de substrato cristalino que normalmente
gera maus aquíferos. É muito pobre em nutrientes e pouco conservador. Os teores de
ferro são mais elevados do que os do LA.
PV - Podzólico Vermelho- Amarelo
Apresenta gradiente textural pronunciado e é em geral mais rico do que os LV; ao
contrário do PA, é originado do cristalino, isto é, de rochas não sedimentares (ígneas
e metamórficas). É atualmente classificado como Argissolo.
46
Figura 5: Pedologia do município de Vila Velha, com destaque em vermelho para a área de estudo.
(Fonte: IEMA)
5.6
ASPECTOS HIDROLÓGICOS DO MUNICÍPIO DE VILA VELHA (ES)
O município de Vila Velha localizado na planície costeira do Atlântico leste é
compreendido, em grande parte de seu território, pela bacia hidrográfica do rio Jucu,
47
que totaliza 2.032Km2 de área, sendo 5,13% localizado em território canela verde
(IJSN, 2008).
Essa bacia desempenha importante papel social e econômico para Região
Metropolitana da Grande vitória (RMGV), da qual a área em estudo faz parte. Tendo
em visto o fornecimento de energia elétrica e o abastecimento de água para grande
parte da população da região, além de ser uma região produtora de hortifrutigranjeiros
consumidos por ela (DEINA, BOSCAGLIA, 2011; IJSN, 2008).
A rede hídrica municipal é bastante complexa, tendo em vista a baixa declividade do
terreno e o adensamento urbano, que alterou significativamente sua dinâmica natural.
Destacam-se os rios Jucu, Aribiri, Marinho, Formate e Congo, e os Canais da Costa,
Marinho e Guaranhuns, além desses, há cursos d’águas intermitentes e canais
artificiais (valões), lagoas e brejos. Vila Velha é o município do estado com o maior
número de canais, totalizando 72 mil metros de extensão (BRASIL, 2006; PMVV,
2011). O Anexo VIII apresenta os principais cursos hídricos do município.
Os rios e canais encontram-se em processo de degradação ambiental elevando, por
causa do despejo de efluentes indústrias e residências (principalmente), tornando-os
focos de propagação de doenças, sobretudo, em época de chuvas intensas e
prolongas que levam ao transbordamento dos mesmos.
Adiciona-se a questão ambiental, as ações realizadas para conter os constantes
transbordamentos dos cursos d’águas ou ainda para permitir a ocupação da planície
de inundação e áreas alagáveis. Essas intervenções são realizadas por meio de
retificação e/ou manilhamento do leito dos cursos d’águas e aterro para edificação de
estradas e habitações, o que contribuiu para transformar a dinâmica hídrica natural,
potencializando ainda mais as inundações (MORRO DO MORENO, 2013; DENEIA,
COELHO, 2013).
Por estar localizar no baixo curso do rio Jucu, o município é impactado também pela
precipitação no alto e médio curso do rio, onde as médias pluviais são as mais
elevadas do Estado, superiores a 1400 mm/ano, escoando em direção do mesmo.
48
Esse fato contribui para aumentar o nível do rio, que associado à maré alta e
precipitação intensa e prolongada sobre o município de Vila Velha potencializa a
ocorrência de inundações (INCAPER, 2013; DENEIA, COELHO, 2013).
Figura 6: Corpos d'água existentes em Vila Velha, com destaque em vermelho para a área de
estudo. (Fonte: IEMA)
49
5.6.1 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA DE DRENAGEM NO MUNICÍPIO DE
VILA VELHA
O município de Vila Velha, em quase sua totalidade é constituída de topografia plana,
com declividades pouco acentuadas. Por este motivo, quase todos os rios e canais
existentes estão sob influência da maré, cuja área territorial era originalmente
composta de brejos e alagados.
Visando facilitar a navegação e, associado a outros fatores, nas décadas de 1950 e
1960 foram abertos vários canais na Grande Vitória, bem como houve a retificação de
vários trechos de cursos d’água, destacando os rios Jucu (Dique do Rio Jucu, canal
de Araçás, que verte para o canal de Guaranhuns), Aribiri (valão de Cobilândia e valão
Marinho) e Marinho (canal Marinho).
Ao longo da história, os rios e canais de Vila Velha vêm sofrendo um processo de
ocupação desordenada e, em épocas de enchentes, é comum verificarem-se
transbordamentos nas regiões urbanas do município. As maiores enchentes que Vila
Velha já registrou foram as de 1935, 1943,1960 e a de 2004.
A de 1935 ficou conhecida como a enchente centenária, pois foi no ano em que se
comemorou o IV Centenário da Colonização do Solo Espírito-Santense. Canoas e
pequenas embarcações desciam a Rua Luciano das Neves e aportavam nas
proximidades do colégio Vasco Coutinho.
Foram elaborados registros na época para as enchentes de 1943 e 1960.
50
Figura 7: Enchente de 1960 em Vila Velha. (Fonte: www.morrodomoreno.com.br / Acessado em
28/08/2013)
5.7
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS E POPULACIONAIS DO
MUNICÍPIO DE VILA VELHA
As estimativas mais recentes de crescimento da população total do Município de Vila
Velha, apresentadas no gráfico 1, são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), através do censo de 2010, e refletem a situação populacional atual de Vila
Velha. O município conta hoje com 414.429 habitantes, distribuídos em 212,39 km²
de área territorial.
Gráfico 1: Evolução da População de Vila Velha (Fonte: IBGE / Acessado em 07/06/2013)
51
5.7.1 OCUPAÇÃO DO MUNICÍPIO
O município de Vila Velha até 1979 era uma cidade dormitório e um dos pontos
turísticos da Grande Vitória, apresentando uma faixa litorânea de aproximadamente
24 km de extensão. Com o crescimento populacional a partir das décadas de 1950 e
1960, foi necessária a anexação de novas áreas de urbanização, fato ocorrido,
principalmente no Município de Vitória.
O grande processo de industrialização verificado nas décadas de 1970, 1980 e 1990
fez com que surgissem conjuntos habitacionais. Ao mesmo tempo começaram a
ocorrer a expansão da moradia para morros e mangues, por meio de loteamentos
irregulares. Com a expansão urbana descontrolada, surgiram os problemas de
infraestrutura, representados pelos sistemas de distribuição de água, redes de
esgotos e drenagem das águas pluviais.
O sistema de drenagem de águas pluviais pode ser considerado antigo e foi
implantado a partir da conveniência de se explorar maiores áreas para fins de
ocupações tanto residenciais, como comerciais e turísticas.
Este objetivo fez com que as áreas baixas e ocupadas por terrenos inundáveis ou que
apresentavam grandes problemas de drenagem, dadas às características do solo e
da baixa declividade, fossem incorporadas para uso imobiliário, a partir de obras
hidráulicas e sanitárias empreendidas em conjunto pela Prefeitura e parte pela
Companhia de Saneamento do Estado de Espírito Santo (CESAN), realizados nas
décadas de 1950 e 1960.
5.8
USO E OCUPAÇÃO DA TERRA
A ocupação urbana e o crescimento populacional de Vila Velha estão intimamente
relacionados aos movimentos de migração e atração provocados pela dinâmica
econômica e as políticas públicas implementadas no Estado. (PMVV, 2011).
52
Segundo o mesmo documento, a taxa de crescimento populacional de Vila Velha está
intimamente relacionada aos movimentos de migração e atração provocados pela
dinâmica econômica e às políticas públicas implementadas no Estado. Até os anos
50, período caracterizado pela expansão da cafeicultura e pelos preços atrativos do
café, bem como à baixa infraestrutura instalada, o que dificultava a maior mobilidade
das pessoas, predominou o equilíbrio na distribuição da população no Estado em
relação à Microrregião da Grande Vitória, composta pelos municípios de Vila Velha,
Serra, Vitória, Cariacica e Viana.
O encurtamento das distâncias entre os municípios da RMGV, a alta densidade e o
pequeno estoque de espaço geográfico de Vitória e a qualidade de vida, beleza e
serviços oferecidos em Vila Velha vêm colocando o município, enquanto espaço
privilegiado expandido da Capital, como opção de moradia de população de média e
alta renda e de alocação de empreendimentos de comércio e serviços especializados
(PMVV, 2011).
Nas diferentes regiões do município, há predominância do uso residencial, dividido
em tipologias que incluem palafitas, barracos, autoconstruções, sobrados, conjunto
de casas e edifícios, prédios de diversos padrões, apart-hotéis, mansões e chácaras,
com preponderância de alta verticalização na faixa litorânea e na região central e
predominância de casas e de baixa verticalização nas demais regiões da cidade
(PMVV, 2011).
Nas duas últimas décadas, diversas empresas de construção civil direcionaram
investimentos à produção de edifícios de alto padrão e apart-hotéis na faixa litorânea,
impactando diretamente o mercado imobiliário nessa região, tanto no que se refere ao
padrão urbanístico quanto à valorização do preço da terra. (PMVV, 2011).
5.8.1 ÁREA URBANA
De acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do município
de Vila Velha, publicado em novembro de 2011, a cidade é formada por 5 regiões,
cuja divisão é válida desde 1 de Janeiro de 1979, logo após a anexação dos distritos
53
de Ibes e São Torquato pelo munícipio, conforme lei estadual nº 1935, de 8 de Janeiro
de 1964. As regiões são as seguintes:





Região 1 - Grande Centro
Região 2 – Grande Ibes
Região 3 – Grande Aribiri
Região 4 – Grande Cobilândia
Região 5 – Grande Jucu
A região mais populosa é o Centro Municipal, que compreende os principais bairros
da cidade, como: Centro Empresarial, Centro Histórico da Prainha, Praia da Costa e
Polo Comercial da Glória.
54
Figura 8: Sede Municipal de Vila Velha. (Fonte: IJSN)
5.8.2 Formas de vegetação atual
Nas cidades, a vegetação pode existir sob variadas formas, desde exemplares
isolados, pequenos conjuntos, até agrupamentos arborizados. Exemplares isolados e
55
pequenos conjuntos sejam herbáceos, arbustivos ou arbóreos, de ocorrência natural
ou cultivadas, se espalham por vias, praças, cemitérios, jardins públicos, residências,
quintais, pátios de estabelecimentos industriais, comerciais e de serviço, clubes
recreativos, escolas, estacionamentos, lotes desocupados e em algumas áreas de uso
público ou institucional.
Os agrupamentos arbóreos nativos, que constituem as capoeiras e matas, são
encontrados em glebas desocupadas, locais de difícil acesso ou então em unidades
de conservação. A expansão urbana, bem como várias atividades desenvolvidas em
seu interior, provoca profundas modificações na vegetação nativa situada no
perímetro urbano.
As atividades que alteram a vegetação nativa das cidades são as seguintes: abertura
de vias, projetos de parcelamento do solo (condomínios e loteamento) e ocupações
irregulares; extração mineral; agricultura de encostas, incêndios, vazadouro do lixo,
poluição do ar; extração de lenha; extração de plantas ornamentais; e arborização
urbana ou tratamentos paisagísticos inadequados, com espécies exóticas.
Centros urbanos da Grande Vitória, em particular o município de Vila Velha, possuem
áreas densamente ocupadas e as restantes estão sujeitas à intensa especulação
imobiliária, com parcelamento inadequado do solo e destruição de remanescentes de
cobertura vegetal nativa.
56
6
RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1
A ORIGEM DO NOME ATÉ A DÉCADA DE 1960 – CANALIZANDO O
CÓRREGO BIGOSSI
Baseado nas entrevistas realizadas em campo e, conforme descrito em item
anteriormente, a origem do nome de “córrego Bigossi” é em função da pessoa que
trabalhava nas obras de engenharia, assim descrita pelo entrevistado, Sr. Delto.
“Como não se tinha denominação ao córrego, na época foi identificado
pelo nome de um operador de máquina. O funcionário atuante neste
trecho, responsável pelas obras executadas no ponto em questão, tinha
Bigossi como sobrenome. Em razão disto, a identificação por parte dos
outros funcionários quanto a este córrego, dava-se como “Canal do
Bigossi”, referindo-se ao funcionário responsável que permaneceu até o
presente momento”. (Delto José Beltrame).
O funcionário supracitado no trecho da entrevista era do Departamento Nacional de
Obras e Saneamento (DNOS), responsável na época para fazer as obras no córrego
Bigossi.
De acordo com o as informações obtidas por meio desta entrevista o objetivo da
retificação do córrego Bigossi era a melhoria no escoamento das águas da região
envolvida. Isto ocorreu porque parte da extensão do córrego Bigossi sofria a influência
de maré minimizando o escoamento de suas águas.
A obra de canalização do Bigossi teve início com o antigo Departamento Nacional de
Endemias Rurais (DENERU), que segundo o senhor Delto “executava o trabalho de
manutenção desta área, aplicando espécies de inseticida a fim de eliminar os focos
das doenças que se espalhavam”. Posteriormente, a obra terminou sendo executada
pelo Departamento Nacional de Obras Sanitárias (extinto nos anos de 1990) entre as
décadas de 1950 e 1960.
57
A ideia do córrego do Bigossi ser foco de doença também foi relatada pelo
entrevistado José Francisco Daher, ex-morador do bairro Divino Espírito Santo.
“A região era foco de doença por ser uma área de alagado
ou charco, que favorecia o surgimento de endemias que
afetavam seriamente moradores dos poucos núcleos
urbanos que já existiam”.
A partir da entrevista pode-se verificar que a percepção ambiental da época sobre
esta área de alagado do Bigossi, provavelmente manguezal, se apresentava na forma
de difusão e proliferação de doenças.
Tal percepção também foi verificada na entrevista do senhor José Francisco Daher,
funcionário aposentado da Companhia Vale do rio Doce (hoje Vale) que morava no
bairro Divino Espírito Santo:
“Eu trabalhava na Vale do Rio Doce, e um dia cheguei ali.
O esgoto quem fez fui eu; eu levei o material da Vale para
lá (Década de 1970). Levei o material e consegui dois
moradores; o Dalla Bernardina, Paulo Borges e eu. E
então foi aberta uma vala, devido a doença que deu.
Depois o prefeito foi fechando, e hoje está lá fechada no
final. Morei lá desde a década de 1970 até uns dois anos
atrás (2011), mas como demoliram minha casa, eu vim pra
cá (Itapoã).”
Outro fato que constantemente colaborou para a obras no córrego Bigossi foram as
constantes inundações que aconteciam na época, em função das precipitações
pluviais.
Devido a estes motivos apresentados partir da década de 1950, o DNOS iniciou o
processo de retificação do Córrego Bigossi, que tem sido ampliado atualmente como
forma de facilitar o tráfego de pessoas e veículos.
6.2
ANÁLISE DO CÓRREGO BIGOSSI NO PERÍODO ANTERIOR À DÉCADA
DE 1970.
A figura 9 evidencia a situação do córrego Bigossi em período anterior ao da década
de 1970. A identificação deste período foi possível em razão da ausência de imóveis
58
localizados próximos ao Córrego Bigossi. A área foi fotografada entre o período de
execução dos aterros da Prainha (Parte inferior da imagem.)
É possível identificar a presença de construções na Prainha, com a Igreja do Rosário
já edificada, e algumas vias já abertas; vias estas ainda hoje obedecendo ao mesmo
posicionamento, como a Rua Luciano das Neves (seta indicativa em laranja) e Cabo
Ailson Simões (seta indicativa em verde).
Nota-se a partir da análise desta imagem, que a concentração urbana na época
permeava o antigo “centro” do município, estando os atuais bairros Itapoã, Divino
Espírito Santo, Cristóvão Colombo e Soteco ainda não ocupados
Figura 9: Fotografia de Vila Velha de período anterior a década de 1970. / Seta vermelha: Indicativo
da área do curso do córrego Bigossi, sendo moradores. / Seta laranja: Rua Luciano das Neves. / Seta
verde: Rua Cabo Ailson Simões.
A partir da década de 1970, é possível identificar o aumento do contingente
populacional, em direção ao interior do município, bem como a presença de canais já
retificados, como o Bigossi (indicado pela seta vermelha) e o Canal da Costa (indicado
pela seta amarela).
59
Nota-se também resquícios do antigo Rio da Costa (em linha verde), que teve seu
curso desviado para o artificial Canal da Costa, objetivando evitar as frequentes e
avassaladoras enchentes que por vezes destruíram o centro do município de Vila
Velha. É possível observar ainda, em linha azul, parte do afluente do Canal Bigossi,
que, segundo relatos de moradores, tinha sua nascente no bairro Jaburuna.
Figura 10: Fotografia aérea de Vila Velha na década de 1970.
Seta vermelha: Córrego Bigossi retilinizado. / Seta amarela: Canal da Costa/ Linha verde: Identificação
do antigo curso natural do Rio da Costa. / Linha em azul: Antigo afluente do Canal Bigossi. / Linha
pontilhada amarela: Delimitação da área de estudo, mapeada segundo figura 11.
60
Observe a seguir o mapa de uso e ocupação da terra, o qual retrata a cobertura da
área de estudo na década citada.
Figura 11: Mapa de Uso e Ocupação do Solo – Década de 70.
61
6.3
MODIFICAÇÕES NO CÓRREGO BIGOSSI NA DÉCADA DE 80 (1986)
Na figura 12 pode-se observar o adensamento urbano ocorrido em aproximadamente
dez anos, quando comparadas à figura 10. Neste momento, identifica-se poucos
pontos inexplorados, estando a maior parte da área de estudo, já urbanizada.
Na década de 1980 já é possível notar a presença do Canal Capixaba (indicado em
vermelho) e suas margens intensamente ocupadas. Não se vê mais o afluente do
Canal Bigossi, oriundo do Morro do Jaburuna, e no lugar de áreas livres, temos
construções.
Neste período, a ocupação já se dá de maneira desordenada, do ponto de vista
ambiental, em razão de essas construções terem sido edificadas em áreas alagadiças
e margens de canais, que desde sempre sofrem com a influência da maré.
Jaburuna
Colégio Marista
Cristóvão
Colombo
Centro de
Vila Velha
Divino Espírito Santo
Figura 12: Fotografia aérea de Vila Velha em 1986./ Seta vermelha: Canal Capixaba. Linha
pontilhada amarela: Delimitação da área de estudo, mapeada segundo figura 13.
Observe a seguir o mapa de uso e ocupação da terra, o qual retrata a cobertura da
área de estudo no ano de 1986.
62
Figura 13: Mapa de Uso e Ocupação do Solo – 1986.
63
6.4
AS MODIFICAÇÕES NO CÓRREGO BIGOSSI NO ANO 2000
Duas décadas, aproximadamente, se passaram em relação à última fotografia
apresentada na figura 12. Na figura 13 o que se vê são construções, rodovias e
grandes lotes vazios, possivelmente com projetos de obras já em vista. Nota-se que
são poucos os pontos “verdes”, com exceção da área do Colégio Marista (com seta
indicativa amarela), construído em 1950, e desde então preservado.
Neste momento, a expansão imobiliária já é forte atuante no município de Vila Velha,
e então faz-se presente os loteamentos populares e condomínios de diversos
padrões, corroborando por atrair ainda mais habitantes na região.
Jaburuna
Colégio Marista
Praia da Costa
Centro de
Vila Velha
Cristóvão
Colombo
Divino Espírito Santo
Itapoã
Figura 14: Fotografia aérea de Vila Velha no ano 2000. Seta amarela: Colégio Marista / Linha
pontilhada amarela: Delimitação da área de estudo, mapeada segundo figura 15.
64
O mapa de uso e ocupação da terra a seguir retrata a cobertura da área de estudo
no ano de 2000.
Figura 15: Mapa de Uso e Ocupação – 2000.
65
6.5
DE 1970 A 2012. O QUE É POSSÍVEL OBSERVAR NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO CANAL BIGOSSI?
Devido à ausência de informações detalhadas a respeito da fotografia aérea de 2012
(Aeronave, Câmera, Escala, Altura do vôo) conclui-se que a mesma foi capturada no
referido ano, em vista das construções em execução neste período, dentre elas a alça
da Terceira Ponte (em amarelo) e a reforma no Terminal Rodoviário de Vila Velha (em
azul), conforme indicado na imagem abaixo.
Hoje se vêem ruas e avenidas asfaltadas na totalidade das vias, condomínios e
imóveis residenciais, edificações de alto padrão, estabelecimentos comerciais, e
outras construções. É notável a expansão demográfica e, consequentemente
imobiliária, entre a década de 1970 e o ano de 2012. Tais elementos não nos permite
identificar áreas com solo exposto e poucas são aquelas em que encontramos
vegetação rasteira.
Colégio Marista
Ilha dos Ayres
Centro de
Vila Velha
Cristóvão
Colombo
Divino Espírito Santo
.
Figura 16: Fotografia aérea de Vila Velha no ano de 2012. / Identificação em amarelo: Construção da
alça da 3º ponte. / Indicação em azul: Execução da obra de reforma do Terminal Rodoviário de Vila
Velha./ Linha pontilhada em amarelo: Delimitação da área de estudo, mapeada segundo figura 17.
66
O mapa de uso e ocupação da terra a seguir retrata a cobertura da área de estudo
no ano de 2012.
Figura 17: Mapa de Uso e Ocupação - 2012
67
Quando se analisam as quatro décadas simultaneamente, verifica-se que a de 1980
foi a que apresentou maiores transformações ambientais e no canal fluvial do Bigossi,
devido a forte ocupação de suas margens, lançamentos de esgotos, etc. (Figura 18)
Figura 18: Evolução da Ocupação no entorno do Canal Bigossi.
68
6.6
CENÁRIO ATUAL DO CÓRREGO BIGOSSI
Em trabalho de campo realizado nos dias 28 de setembro e 24 de outubro de 2013 e
07 de janeiro de 2014, foi realizado ao longo de todo o Canal Capixaba, seguido do
Canal Bigossi, percorrendo até o ponto de encontro com o Canal da Costa, pode-se
constatar e fotografar o estágio atual das alterações antrópicas na Bacia do Bigossi.
Na Figura 19 é possível se ter uma melhor visualização dos canais supracitados, onde
a linha vermelha retrata o Canal Bigossi e as linhas verde e amarela representam o
Canal Capixaba e o Córrego Jaburuna, respectivamente, os quais drenam suas águas
para o Bigossi.
Ressalta-se neste momento que o objeto de estudo deste trabalho, o “Córrego
Bigossi” é definido na figura 19 como “Córrego Jaburuna” por ser um afluente do
presente Canal Bigossi, ao mesmo tempo em que é componente da Sub-Bacia
Hidrográfica do Jaburuna.
No entanto, o elemento denominado de córrego Jaburuna é popularmente conhecido
como córrego Bigossi, e em quesito de memória dos moradores da região é hoje um
córrego retilinizado. Este passou a ser conhecido como Canal Bigossi, e não mais
córrego Bigossi. O termo Córrego Jaburuna é um termo desconhecido entre os
entrevistados e consultados.
69
Trecho 5
Trecho 4
Trecho 3
Trecho 2
Trecho 1
Figura 19: Identificação dos canais inseridos na Bacia Hidrográfica do Canal Bigossi, com destaque
para a divisão dos trechos.
Em razão da extensão e diferenciação dos trechos analisados, a bacia do Bigossi foi
dividida em 5 trechos, georreferenciados e fotografados. Isto se deu em razão da
identificação do Canal Capixaba ter parte inicial coberta, em seguida um trecho aberto
e posteriormente uma seção em obras, portanto este canal foi dividido em três trechos,
facilitando a sua descrição. O Canal Bigossi e o córrego Jaburuna resultaram em
apenas dois trechos, visto a predominância de suas características, não sendo
70
necessária a sua compartimentação para descrição. Todo o percurso analisado possui
aproximadamente 4 quilômetros de extensão e tem maior parte de sua localização
espacial representada pelas legendas Córrego Bigossi e Secundário I (Capixaba),
conforme o esquema a seguir:
Figura 20: Esquema com localização espacial dos canais da Sub-Bacia do Canal da Costa.
(Fonte: PDDUS Vila Velha)
Durante a realização do trabalho de campo, foram constatadas alterações
significativas ao longo de toda a área analisada, fazendo-se notória a necessidade de
conscientização ambiental da população.
Foram identificadas a execução de obras de canalização, dragagem de sedimentos
no leito principal e a cobertura do leito do córrego Bigossi, denominados pelos órgãos
governamentais de “melhorias”. Tais obras, ainda que de forma tardia quando
analisado todo o histórico de acontecimentos negativos no município de Vila Velha,
visam minimizar principalmente, o problema crônico de inundações ao longo do
município.
Apesar da atuação governamental, buscando minimizar os problemas de inundações
no município de Vila Velha e, neste caso ao longo da bacia do córrego Bigossi, não
se pode desconsiderar o regime pluviométrico da região e todo o processo degradante
de uso e ocupação do solo, que se repercutiu com o aumento da produção de
sedimentos, ocupação das margens do córrego e poluição difusa.
71
Buscando evidenciar este processo histórico de mudanças no córrego Bigossi, serão
apresentadas as características atuais do mesmo, apresentados neste trabalho como
“Trecho ou seções do Bigossi”, corroborando para facilitar a compreensão do leitor.
São cinco as seções ou trechos, assim analisados:

TRECHO 01 / Coberto em 2009 devido às obras de drenagem.
O trecho um é representado pelo Canal Capixaba que nasce no bairro Soteco, próximo
à Rua Guarajás. No Trecho 01, compreendido por parte da Rua Guarajás até a Rua
Alan Kardec, constatou-se que o canal encontra-se coberto e apresenta uma grande
quantidade de material arenoso, vegetação de pequeno porte e lixo.
A cobertura específica deste trecho ocorreu em razão das obras de drenagem
executadas no local no ano de 2009. Verificou-se a ocupação desordenada de suas
margens com imóveis residenciais e rara presença de empreendimentos comerciais.
Observa-se ainda nas figuras 22 a 25 que o trecho do canal Capixaba é atualmente
um via de veículos automotivos que possibilita a mobilidade urbana nesta região.
Figura 21: Identificação do Trecho I. (Fonte: https://maps.google.com.br / Acessado em 17/12/2013)
(Coordenadas UTM 24K LONG 20.348384, LAT 40.302096 / LONG 20.345774, LAT 40.300143)
72
Figura 22: Via pavimentada sobre o Canal Capixaba.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 23: Trecho do Canal Capixaba coberto por vegetação.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
73
Figura 24: Trecho coberto, com presença de residências e lixo.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 25: Resíduos sólidos sobre gramínea que encobre o canal.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
74

TRECHO 2 / Aberto
Na altura do bairro Divino Espírito Santo não foram constatadas melhorias no Canal
Capixaba. A confirmação deste quadro se dá em razão da identificação de uma área
intensamente utilizada para deposição inadequada de resíduos sólidos diversos, área
está compreendida na Avenida Capixaba entre as Ruas Alan Kardec e Doralice
Queiroz.
Nesta seção, o Canal Capixaba encontra-se descoberto e apresenta aporte
significativo de efluente, com contribuição de águas servidas e consequente elevação
da turbidez da água. Constatou-se também a existência de uma travessia, espécie de
ponte, em madeira, ligando as margens deste canal, em situação irregular, devido às
suas péssimas condições estruturais. (Figuras 27 a 31)
Figura 26: Identificação do Trecho II. (Fonte: https://maps.google.com.br / Acessado em 17/12/2013)
(Coordenadas UTM 24K LONG 20.345744, LAT 40.300095 / LONG 20.344536, LAT 40.29929)
75
Neste trecho, foi possível verificar a profundidade do leito do Canal por meio de régua
conforme figura 32, revelando uma profundidade de 54 cm, corroborando para afirmar
que está em estágio avançado de assoreamento.
As residências e os pontos comerciais existentes nesta seção não obedecem o
distanciamento mínimo exigido pelo Código Florestal Vigente, sendo a base de
residências e comércios instaladas no leito do córrego. Também e possível verificar a
ação antrópica sobre ás aguas como inúmeros pontos de inúmeros pontos de
lançamento de águas servidas, ausência de proteção lateral e sinalização, implicando
em sérios riscos a pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas, e falta de proteção
dos taludes, o que acarreta em erosão e consequente aumento do assoreamento da
calha.
Figura 27: Canal descoberto com vegetação às margens.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
76
Figura 28: Presença intensa de resíduos no Canal Capixaba.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 29: Canal Capixaba com predominância de águas escuras.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
77
Figura 30: Quantidade expressiva de lixo ao longo do Canal. (Arquivo pessoal: Larissa Belo.
Setembro de 2013)
Figura 31: Despejo de esgoto in natura oriundo dos imóveis localizados às margens.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
78
Figura 32: Objeto utilizado para medir a profundidade do leito do Canal neste trecho específico. (54
centímetros) (Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)

TRECHO 3 / Obras de drenagem em execução
O terceiro trecho analisado está, ainda, compreendido na Avenida Capixaba, entre a
Rua Doralice Queiroz e a Avenida Gonçalves Ledo. No entanto, a referida seção
apresenta-se de maneira mais curiosa, devido às obras de drenagem que estão sendo
realizadas no local na presente data, com iniciativas do Governo do Estado. (Figura
34) Em análise, constatou-se a implantação de manilhas retangulares, compondo a
galeria do Canal, para posteriormente ser recoberto.
Vale ressaltar que a predominância de ocupação nas proximidades no canal é de
residências. Sabe-se que a presença de vegetação às margens é de fundamental
importância para minimizar o carreamento de sedimentos para o canal. Entretanto,
não foi constatado neste trecho a presença de qualquer espécie de vegetação, o que
79
contribui para o assoreamento, conforme figuras 35 e 36. Nota-se que a profundidade
obtida em campo foi de 20 cm. (Figuras 38 e 39)
Foi verificado também o despejo significativo de efluente, com expressiva contribuição
de águas servidas in natura. Segundo os moradores dos imóveis situados neste
trecho, especificamente, a referida obra vem trazer-lhes prejuízos, visto que o novo
distanciamento entre seus domicílios e o Canal, não mais a céu aberto, impossibilita
o despejo do águas servidas no mesmo. Com isto, os resíduos estão sendo
depositados na frente de suas residências, causando o incômodo relatado. (Figuras
42 e 43)
Face ao exposto, é perceptível a necessidade de ser realizado com estes moradores
um trabalho de conscientização voltado para a educação ambiental, bem como por
parte do governo municipal da instalação de uma rede esgoto doméstico,
possibilitando a diminuição de sua deposição no Bigossi.
Figura 33: Identificação do Trecho III. (Fonte: https://maps.google.com.br / Acessado em 17/12/2013)
(Coordenadas UTM 24K LONG 20.344546, LAT 40.299344 / LONG 20.342338, LAT 40.297863)
80
Figura 34: Início do trecho onde estão sendo realizadas as obras de drenagem. (Arquivo pessoal:
Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 35: Ponte de acesso aos imóveis situados às margens do Capixaba. (Arquivo pessoal: Larissa
Belo. Setembro de 2013)
81
Figura 36: Trecho em obras. (Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 37: Expressivo assoreamento do Canal Capixaba. (Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro
de 2013)
82
Figura 38: Medição do leito do Canal neste ponto. (Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 39: Objeto utilizado para medir profundidade do leito do Canal. (20 centímetros).
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
83
Figura 40: Trecho assoreado em razão das obras.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 41: Galerias implantadas no Canal Capixaba, com dimensão 2m x 2m.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
84
Figura 42: Distanciamento entre galerias e imóveis.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 43: Despejo de esgoto doméstico, sem tratamento adequado.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
85

TRECHO 4 / Margens urbanizadas
O trecho 4 abrange todo o Canal Bigossi até o encontro com o Canal da Costa. A
seção está compreendida entre as Ruas Joaquim Nabuco, no bairro Cristóvão
Colombo, seguido pelas Avenidas Gonçalves Ledo e Carioca, já no bairro Divino
Espírito Santo. As vias citadas apresentam-se pavimentadas.
Neste
trecho
a
predominância
de
ocupação
é
residencial,
com poucos
empreendimentos comerciais. O canal é urbanizado, possui vegetação de gramíneas
nas margens e taludes revestidos de concreto.
Como apresentado nas figuras 45 a 47, alguns pontos deste trecho encontram-se
recobertos por galerias fechadas, com áreas caracterizadas por projetos de
paisagismo público ou possuem vias para veículos automotivos e bicicletas.
No trecho situado entre a Rua Europa e a Av. Carioca, o Canal Bigossi encontra-se
descoberto, conforme figuras 48, 49 e 50. Salienta-se a presença de imóveis
residenciais e comerciais nas proximidades deste trecho, estando tais edificações com
distanciamento inadequado do Canal Capixaba. Vale ressaltar que é de suma
importância que as condições mínimas para o fluxo de veículos em eventos de chuvas
sejam mantidas neste trecho, tendo em vista que em suas proximidades estão
localizados o Hospital Vila Velha e o Terminal de Ônibus de Vila Velha.
86
Figura 44: Identificação do Trecho IV. (Fonte: https://maps.google.com.br / Acessado em 17/12/2013)
(Coordenadas UTM 24K LONG 20.339753, LAT 40.302595 / LONG 20.343535, LAT 40.294666)
Figura 45: Material arenoso sobre cobertura do Canal Bigossi.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
87
.
Figura 46: Bigossi, coberto por gramíneas, com projeto paisagístico e vias pavimentadas.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 47: Ciclo faixa para travessia de bicicletas sobre o Canal.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
88
Figura 48: Avenida Carioca à esquerda, com sistema de escoamento de água para o Canal.
(Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 49: Vegetação às margens. (Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)
89
Figura 50: Revestimento lateral em concreto. (Arquivo pessoal: Larissa Belo. Setembro de 2013)

TRECHO 5 / Superfície urbanizada
Esta seção é considerada como afluente da Bacia do Córrego Bigossi. Analisando-a
de maneira independente, a sub-bacia hidrográfica do Morro do Jaburuna abrange a
área de ocupação do bairro Jaburuna e também do maciço rochoso da encosta. O
traçado geométrico de suas ruas não levou em consideração o traçado natural dos
talvegues, dificultando o escoamento das águas locais. A drenagem existente é feita
pelo talvegue principal, porém, com traçado entre edificações e terrenos até alcançar
o destino do Córrego Bigossi, com extensão de aproximadamente 1 quilômetro.
A seção está compreendida entre as Ruas Maria Amália e Joaquim, passando de
forma perpendicular às Ruas Henrique Moscoso, Jerônimo Monteiro, Avenida Carlos
Lindemberg, até chegar à Avenida Gonçalves Ledo, onde deságua no Canal Bigossi.
A análise deste trecho apresentou dificuldades, visto que existem várias áreas
pavimentadas que não são passivas de identificação da presença do antigo canal,
90
indicando uma profunda alteração do mesmo com desaparecimentos de algumas de
suas porções e, em sua maior parte, encontra-se sob construções residenciais já
edificadas.
Neste trecho a predominância de ocupação é residencial, porém com marcante
presença de empreendimentos comerciais. O canal é completamente recoberto e sua
superfície urbanizada com imóveis e vias pavimentadas, como apresentado nas
figuras 52 e 53.
Figura 51: Identificação do Trecho v. (Fonte: https://maps.google.com.br / Acessado em 17/12/2013)
(Coordenadas UTM 24K LONG 20.332625, LAT 40.307046 / LONG 20.341388, LAT 40.298967)
91
Figura 52: Córrego Jaburuna sobre via pavimentada.
(Arquivo pessoas: Larissa Belo. Setembro de 2013)
Figura 53: Córrego Jaburuna sobre via pavimentada.
(Arquivo pessoas: Larissa Belo. Setembro de 2013)
92
7
CONCLUSÃO
Durante o desenvolvimento urbano do município de Vila Velha, o aumento da
produção de sedimentos na bacia hidrográfica do Bigossi foi significativo, devido às
construções, limpeza de terrenos para novos loteamentos, construção de ruas,
avenidas e rodovias entre outras causas.
Neste sentido, este trabalho visa demonstrar a situação atual encontrada ao longo dos
Canais Capixaba e Bigossi, componentes da Bacia Hidrográfica do Bigossi, inserido
na Bacia Hidrográfica Praia da Costa. O trecho analisado corta os bairros Soteco,
Divino Espírito Santo, Cristóvão Colombo e Jaburuna.
A partir da análise das imagens aéreas que refletem o avanço ocupacional desta área,
contidas nos mapeamentos de uso e ocupação realizados em fotografias dos anos
1970, 1980, 2000 e 2012, percebe-se que o entorno dos canais que compõem a Bacia
Hidrográfica do Córrego Bigossi, sofreu ocupação predatória em área alagadiça, e
então os moradores passaram a sofrer não apenas com os alagamentos já existentes
em função das marés, mas também com aqueles decorrentes de períodos de alta
precipitação pluviométrica, que acabam por atingir consideravelmente os imóveis ali
existentes.
Em períodos anteriores, relacionados ainda ao baixo desenvolvimento econômico do
município e, consequentemente, ao número reduzido de habitantes, estas áreas eram
pouco ocupadas, portanto os registros de danos causados após a ocorrência de
alagamentos eram inferiores, quantitativa e qualitativamente, àqueles registrados em
décadas posteriores.
Percebe-se que nos anos 80, mais precisamente em 86, data do vôo para
levantamento de imagens aéreas, realizado pela empresa Maplan, a área estudada
apresenta um adensamento urbano em locais próximos aos Canais Capixaba e
Bigossi. Ainda que não existissem a quantidade atual de residências situadas às
margens destes, certamente já eram eles um dos locais de deposição de resíduos
93
sólidos. Este é, infelizmente, um fator comum perceptível em regiões urbanizadas,
inclusive em dias atuais.
De maneira progressiva, do ponto de vista da ocupação humana e aumento de suas
edificações, bem como de infra-estrutura municipal, podemos identificar nas imagens
de data presente, o efetivo domínio dessas áreas por parte do ser humano.
Hoje, as margens dos Canais Capixaba e Bigossi encontram-se completamente
ocupadas, sendo estes canais o destino dos resíduos produzidos em cada imóvel ali
presente. Sejam estes resíduos do tipo sólido, como lixo orgânico, materiais
recicláveis, restos de materiais de construção e outros objetos de tamanho
considerável, bem como águas servidas.
Apesar de possuir trechos com cobertura, taludes revestidos em concreto e margens
com implantação de projetos paisagísticos, as águas da Bacia Hidrográfica do
Córrego Bigossi, principalmente do Canal Capixaba, encontram-se significativamente
poluídas, com pontos de alto grau de assoreamento, dificultando o fluxo hídrico.
Tal situação promove o congestionamento das galerias já implantadas e daquelas em
processo de instalação, bem como a proliferação de insetos e liberação de odores
indesejáveis; todos fatores contribuintes de más condições habitacionais; e de forma
mais perversa na ocorrência de intensas inundações em períodos de alta precipitação
pluviométrica.
Em razão desta análise, conclui-se que é necessário desenvolver novas formas de
ocupação, novos materiais, novas técnicas, novas leis, estabelecendo novas relações
de uso do espaço urbano. Uma vez que a ideia de “desconstruir” cidades é
inconcebível e ilusória, pois não podemos deixar de construir moradias, asfaltar ruas,
erguer centros empresariais, etc., é preciso criar mecanismos alternativos que possam
substituir o processo hidrológico fundamental de infiltração expandindo e
diversificando o tempo de chegada das águas ao final de cada sistema hidrográfico.
(BOTELHO, 2011).
94
7.1
PERSPECTIVAS FUTURAS
Sugere-se, portanto, a execução de trabalhos destinados a atender às expectativas
da sociedade local para a formulação de estratégias, diretrizes e procedimentos que
efetivamente consigam ampliar o conhecimento sobre os processos de ocupação
urbana e suas consequências, com proposição de ações que objetivem reduzir os
riscos apresentados e minimizar os efeitos sentidos diariamente pelos próprios
moradores da área de estudo. Tal proposição consiste em:
I - identificar e mapear setores de risco desta Bacia Hidrográfica, e realizar estudos
com identificação de ameaças, suscetibilidades e vulnerabilidades;
II – Conter diretrizes de ação de proteção no âmbito municipal, em especial no que se
refere à implantação da rede de monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico
da bacia;
III – Implementar, a partir de estudo aprofundado realizado por empresa
especializada, obra referente a tratamento das águas dos canais abrangidos, bem
como bombeamento eficaz destas em épocas de chuvas intensas;
IV - Implementar ações de educação ambiental com os moradores, através de
atividades lúdicas e campanhas, que lhes permitam entender o processo de
funcionamento de uma Bacia Hidrográfica, visando a preservação dos canais e
minimização dos efeitos de inundação.
O processo de aceleração do crescimento econômico e social que marca o Brasil
desde a última década vem demandando a inclusão do risco na pauta da gestão
pública, ficando cada dia mais evidente a importância da articulação das diversas
ações, programas e políticas voltadas a identificar e reduzir ameaças, vulnerabilidades
e riscos naturais, por todos os níveis e setores de governo, no sentido de alcançar a
qualificação, sinergia e planejamento integrado, reduzindo perdas e danos às
populações, à infraestrutura e à economia.
95
Um dos objetivos deste trabalho é sugerir a contribuição para a implementação de
políticas públicas direcionadas a adaptação eficiente de um Planejamento Ambiental
aos impactos causados pela ocupação desordenada, através da identificação e do
mapeamento
das
áreas
ocupadas,
simultaneamente
à
mensuração
das
vulnerabilidades da área influenciada pela Bacia Hidrográfica do Bigossi.
O aumento gradativo da percepção da sociedade vila velhense no que tange aos
problemas associados à ocupação irregular, evidenciam a urgente necessidade de
desenvolvimento de instrumentos eficazes para a prevenção e mitigação de riscos e
resposta às situações rotineiras adversas, bem como aos eventos causadores de
maiores danos.
Para alcançar este objetivo, indica-se a execução de estudo aprofundado, contendo a
elaboração de modelagem hidrológica, assim como cartas de uso e ocupação do solo,
considerando que tais instrumentos devem apresentar a distribuição, o tipo e o grau
dos riscos naturais, visando à definição de ações de prevenção de situações
adversas.
De uma forma mais ampla, são produtos da análise da ocupação territorial e as zonas
de suscetibilidade à ocorrência de processos hidrológicos. As cartas de risco em áreas
urbanas avaliam os danos potenciais à ocupação, decorrentes de fenômenos naturais
ou induzidos pelo uso do solo, hierarquizando unidades, setores e pontos quanto ao
grau ou iminência de perda, buscando a proposição de medidas corretivas e
erradicadoras das situações de risco.
Embora grande parte do tratamento das situações de risco das cidades brasileiras
possa estar associada diretamente a políticas públicas de habitação, de planejamento
e de controle urbano, é indispensável a implementação de práticas específicas de
gerenciamento dos riscos, o que passa inevitavelmente pela necessidade de
mapeamento das áreas de inundação.
Considerando estas peculiaridades, a construção deste Planejamento Ambiental
deverá apontar caminhos e propor diretrizes e ações para dar suporte à construção
de uma cultura de gestão integral de ocupação urbana e atendimento às adversidades
96
cotidianas. A meta mais importante deve ser a conscientização, a ser compartilhada
pelo poder público com a sociedade, buscando alcançar um maior e melhor equilíbrio
entre os processos hidrológicos e a capacidade de proteção da população, do
patrimônio público e privado e dos sistemas produtivos, dentro de uma condição
eticamente aceitável.
O Planejamento Ambiental deverá se transformar num instrumento de planejamento
para a implantação das medidas propostas, sendo fundamental para a obtenção de
recursos e para a revisão dos Planos Diretores Municipais.
Em linhas gerais, o diagnóstico de processos de inundação e alagamento na escala
de detalhe permitirá aos bairros Jaburuna, Divino Espírito Santo, Cristóvão Colombo
e Centro, abrangidos pela Bacia Hidrográfica do Bigossi, o conhecimento da dimensão
dos problemas a serem geridos pelo poder público. Ressalta-se que este deve estar
minimamente estruturado em relação às atribuições e responsabilidades, visando à
construção dos programas de gestão de risco em seus territórios.
Se efetivadas estas medidas, afirma-se que a área drenada pela Bacia Hidrográfica
do Córrego Bigossi passará a ser vista não mais como um problema, mas como um
bem a ser utilizado, valorizado e preservado. A melhoria nas condições dos Canais
Bigossi e Capixaba conduzirá a uma nova visão destes elementos, podendo assumir
múltiplas funções, como lazer, turismo, esportes, além da estética e até mesmo
atividades lúdicas. Ao ser reintegrado à paisagem urbana como elemento positivo, a
sociedade tem a possibilidade de admirar, respeitar, vivenciar e cuidar destes Canais,
criando premissas necessárias para o estabelecimento e funcionamento das cidades
sustentáveis. (BOTELHO, 2011).
97
8
REFERÊNCIAS
ATLAS DE ECOSSISTEMAS DO ESPÍRITO SANTO. Vitória, ES: SEMA; Viçosa, MG:
UFV, 2008.
BOTELHO, R. G. M. Bacias hidrográficas urbanas. In: GUERRA, A. T. S. (org.)
Geomorfologia urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. p. 71-115.
BRASIL, Ministério das Minas e Energia. Projeto RadamBrasil: levantamento de
recursos naturais. Secretária Geral. vol. 32, Rio de Janeiro, 1982.
BROOKES, A., GREGORY, K. J. e DAWSON, F. H. (1983) An assessment of river
channelization in England and Wales. The Science of the Total Environment, 27: 97112.
CORREA. W. de S. C. Comportamento dos elementos climáticos, temperatura e
precipitação, no município de Vitória (ES) no período de 1987 a 2007.
CORREA, W. de S. C.; ALBUQUERQUE, T. T. de A. A influência da zona de
convergência do atlântico sul nas precipitações intensas no mês de novembro de 2008
e suas consequências sobre o município de Vitória/ES. Revista GEONORTE, Ed.
Especial
2,
V.
1
N.
5.
2012,
p.
796-806.
Disponível
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<http://www.revistageonorte.ufam.edu.br/index.php/edicao-especial-climatologia>.
CUNHA, S. B. Geomorfologia Fluvial. In: GUERRA, A. J. T, CUNHA, S, B. (org.)
Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2001. p. 211-246.
CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. Degradação Ambiental. In: GUERRA, A. J. T,
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GUERRA, A. J. T. Processos erosivos das encostas. In: GUERRA, A. J. T, CUNHA,
S, B. (org.) Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro:
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GUERRA, Antônio José Teixeira. Dicionário geológico-geomorfológico. 7° ed.
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo 2010.
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ANEXOS
Anexo I: Construção do Canal da Costa.
(Fonte: www.morrodomoreno.com.br. Acessado em: 18/06/2013)
Anexo II: Foto tirada do Morro do Jaburuna com vista para o bairro Itapoã.
(Fonte: www.morrodomoreno.com.br. Acessado em: 18/06/2013)
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