É... Ernest. Como é que é?

Transcrição

É... Ernest. Como é que é?
Doido pelo Rio
Transcrição em Português
Seu nome é Ernesto, né?
É... Ernest.
Como é que é?
Ernest.
Ernest.
É, ja, isso, isso.
Ernest.
É a primeira vez que tu vem?
Não, não, eu vem muitas vezes.
Ah, é mesmo? Já é meio malandro, né? Parada meio carioca.
Tem que tomar cuidado.
Tem que ficar esperto. Porque tem muito vagabundo malandro, entendeu? Então, tu vai, por
exemplo, tu vai chegando com pinta de gringo e neguinho passa a perna mesmo.
Vou te levar para o Santo Cristo, Hotel Buterflay. Vou te levar no Sugar Loaf. O Sugar Loaf é um
lugar que os gringos se amarra. Tu vai se amarrar. É um lugar bonito pra caramba. Tem um
visual assim... o maior visu do Rio de janeiro. The wonderful city!
Quem é essa outra pessoa?
Essa daí? Essa daí é a Marlene. Essa aí é a minha rainha, compadre. Minha Marlene... deixa
aqui. Olha. Tudo isso aqui foi presente que ela deu. Aí, eu deixei só os esses daqui, que são os
primeiros, porque a gente tem aquele apego emocional, né? Quando tem apego emocional na
parada, é outra história. Não precisa ter trinta, ter cinquenta. Aí, uma meia dúzia só de vinte já
tá bom.
O artista pega o cliente, vai pra cima, pra baixo, e depois some. Eu, não, cara. Eu gosto de criar
um vínculo, entendeu?
Não chega, é?
Oi?
Não chega? No hotel?
Chega, claro que chega, rapaz. Já tá chegando, já.
Mas eu só vou apontando aqui para não ter que pegar ali por Duque de Caxias, entendeu?
Porque se pegar Caxias, compadre, aí é Nova Iguaçu, e aí vai dar a maior volta. Quer dizer, vai
demorar um pouquinho mais, mas é você quem sabe. A gente pode fazer o caminho
tradicional por Caxias mesmo.
Não, não...
É isso aí, parceiro, chegamos.
Aqui?
É, ué. Tu não falou que queria ficar perto do povo, que queria um lugar simplesinho, não
queria nada metido a bacana? Taí. Tu não queria um hotel "barrata"? Tá cheio de barata aí. Tô
brincando, compadre. Eu sei que, olhando assim, pode assustar, mas às vezes as aparências se
enganam. Eu conheço o dono daqui. Tudo gente humilde, trabalhadeira. Tu pode ficar
sossegado. Tu vê as primas aí, tudo trabalhando, na maior honestidade, na maior
tranquilidade, ganhando seu pão. Na boa, entendeu? Mas, também, tu falou que teu pai é
brasileiro, por que tu não vai pra casa dos teus parentes?
Porque todas morreram.
Então, meu irmão, o jeito é tu ficar aqui mesmo, né? Vamos lá, que eu vou te apresentar à
rapaziada.
Aí, meu compadre. Eu levo as tuas malas aqui na maior boa vontade, depois rola aquele
agrado, não é não? E aí, coroa! Olá, minha querida, tudo bem?
Madame! Ô, madame! Madame!
Tudo bom? Que vai ser hoje?
Trouxe um cliente pra senhora.
OK, preenche a ficha aí.
Então, doutor, são R$ 135 pela corrida, né? Do aeroporto até aqui. Mais R$ 20 das malas.
Fecha tudo por R$ 150, que hoje é o teu dia de sorte. Tá bom assim?
Muito obrigado. Eu vou deixar contigo o meu cartão. Qualquer coisa, se precisar, é só entrar
em contato. Tá certo? Boa estadia aí, fica tranquilo que a madame vai cuidar de você com todo
o carinho. Qualquer lugar, qualquer corrida que quiser fazer, é só telefonar, tá certo? Então,
valeu, meu compadre.
Espere!
Ô, sem encostar, sem encostar. Fala sem encostar.
É que... eu... não sou turista, eu sou brasileiro por parte de pai e...
Eu quero ir aonde você vai, fazer as coisas que você faz. Eu querer levar seu vida.
Eu tô ligado, gringo, eu tô ligado. Mas, sabe o que que é, agora não vai dar, não, bicho, porque
eu tô atrasadão. Já marquei com a minha noiva. E mulher, sabe como é que é. Mulher, a gente
tem de marcar presença, tem que comparecer...
Eu sei, mas eu pagar. Eu pagar quanta você querer... eu... eu posso...
Não tem necessidade...
Toma.
Porra, meu querido, porra! Amigo é pra essas coisas, meu compadre. Chega aí, entra no
possante, que eu vou te apresentar à cidade maravilhosa como gringo nenhum nunca
conheceu. Tenha a bondade, tenha a bondade... Valeu, madame.
Vai mais tarde pro samba? Ah, eu vou. Mas o Tonho tá demorando muito. Tô, na praia. Tá. Até
mais tarde, então, amiga. Beijo. Valeu.
Ô, Marlene!
Ué! Que tanta tralha é essa? Você detesta carregar coisa pra praia.
Não, isso não é pra mim, não. Isso aqui é pro meu camarada aqui, ó, o Ernest. Deixa eu te
apresentar. Essa daqui é a minha rainha, Marlene.
Oi, tudo bem? Senhor, o Tonho não me falou que ia trazer um amigo hoje pra praia. Porque
ele me prometeu que a gente ia passar a tarde todinha juntos, sabe, só nos dois.
Não, não. Mas sabe o que que é? O Ernest, eu peguei ele hoje no aeroporto e, olha só que
beleza, ele quer que eu seje o guia dele aqui pela cidade maravilhosa, entendeu? E ele vai
pagar uma grana preta pra levar a minha vida. Não é uma beleza? Vai me pagar pra eu fazer o
que eu faço.
Ai, meu deus, vocês fazem muito mistério. Tudo bem?
Como vai?
Prazer. Seja bem-vindo.
Obrigada, o seu namorada falar muito bem de você...
É mesmo? Espero que só coisa boa, né?
É boa, é, muito boa, muito boa.
Ô, ô Ernest, ô Ernest, ô Ernest ! Ô meu compadre, esse lugar aí é meu, entendeu? Faz o
seguinte: senta aqui na cadeira, porque aí tem um guarda-sol, aí te protege, porque senão tu
vai ficar torradão, entendeu?
Ah, não, não, eu querer ficar bronzeada.
Eu sei, eu tô ligado, mas faz o seguinte: tu fica bronzeada aqui nessa cadeira, que esse lugar aí
é meu.
Não, eu querer ficar deitada aqui.
Tonho, depois a gente troca de lugar.
Tá certo, então. Meu camarada!
Passa aqui nas minhas costas.
Mas é claro, minha rainha.
Amor, ele não é muito branquinho, não?
Pô, o cara quer pegar sol, ele é valente. Deixa ele, ué.
Ô Ernest! Ernest, né?
É.
Quer passar protetor? O sol do Rio queima, hein?
Ô Ernest, ô Ernest!
Não, não. Não, não, Ernest. É pra passar o protetor em você.
Tá ligado, meu compadre? Passa em você, pra tu não ficar torradão, entendeu?
Vamos dar um mergulho lá, Marlene.
Ai, vamos, amor. Poxa!
Senão quebra a firma. Faz assim, tudo certinho, bonitinho, aí!
Quem vai tomar banho primeiro?
Ernest? Quer tomar banho, jogar uma água no corpo?
Não, não. Não precisa de banho, não. Obrigada. Não vai querer.
Mas você está muito queimado, cheio de areia, isso faz mal.
Sabe o que que é? Lá na terra dele, esse pessoal toma banho uma vez por semana só,
entendeu, e quando toma.
Eu não vai querer banho, mas vai querer uma cafezinha.
Café? Agora?
Eu vai querer uma cafezinha agora.
Tá, é só um cafezinho. Vamos lá.
Vai querer agora? Você toma cafezinha? Então vai tomar na cozinha.
Parece que eu estar pegando fogo. Faz muito calor aqui.
É, é quente, compadre. Eu já falei.
Eu vai querer outro caipirinha.
Ai, Ernest, não faz isso, não. Daqui a pouco você não vai aguentar cair no samba, de tanta
cachaça que você bebeu aí.
Você vai ver, Marlene, como eu sabe sambar. Agora! Agora!
Olha lá, Marlene. Olha o cara, lá, cheio de mulher em volta e não tira o olho daqui.
Olha aí, se ele tiver a cara de pau de te tirar pra dançar, tu não vai, hein? Tu não vai!
Tá bom, então vamos lá dançar comigo?
Vambora lá, mas vamos dançar longe desse Zé Ruela.
Ô, Ernest! Ô, Ernest! Aí, não, neguinho. Porra, bicho! Aí, todo mundo olhando, compadre.
Senta aí, senta aí. Trocar uma ideia. Na moral. Senta aí, senta aí, senta aí.
Porra, bicho! Assim, não, compadre. Tá fazendo o maior papelão, cara! Tá bebendo demais.
Segura a tua onda, aí.
Ô menor, ô menor, traz uma água aí, traz uma água aí.
Porra, bicho, te levei pra minha casa, te apresentei minha mulher, tá aqui na casa dos meus
irmão. Todo mundo olhando e tu fazendo esse papelão aí, ô! Aí quebra a firma, cara. Fica difícil
o nosso acordo.
Ô, Ernest! Ô, Ernest! Tá legal, parceiro? Ô, Ernest, fala aí, rapaz. Fala comigo, fala com a
Marlene. O que que tá pegando?
Marlene! Marlene, eu amar você, Marlene.
Puta que o pariu!
Imagina! Você nem me conhece.
Não interessa. Eu estar apaixonada por você, Marlene.
Eu sou namorada do Tonho. Eu estou com ele há muito tempo.
Mas eu quero que você seja meu namorada, eu quero que você seja meu namorada.
Eu quero que você seja meu namorada!
Ei, parceiro, segura a onda aí. Aí, Ernest, vou mandar um papo reto pra tu. A Marlene é minha
namorada, sacou? A gente tá junto, a gente vai se casar, a gente se ama.
Ama, nada. Ama, nada. Quem ama a Marlene sou eu, quem ama a Marlene sou eu, quem ama
a Marlene.
E agora vou dar um prova do meu amor por você, Marlene, aqui, olha.
Ai! Meu deus! É doido.
Tu comeu cocô, Ernest? Porra, cara. Tu vai se machucar. Ô, Ernest!
Não sei. Acho, eu acho que é esse calor que está me deixando doido. Doido de amor por você,
Marlene. Doido de amor por você, Marlene.
Olha só... Olha só...
Larga ela. Larga ela, ô gringo filho da puta.
Poder morrer por você, Marlene. Quer ver?
Eu poder morrer por você, Marlene. Eu poder morrer por você...
Que foi isso? Que foi isso?
Chama uma ambulância! Chama uma ambulância, aí!
Cara, você tá bem?
Morreu?
Meu Deus!
Aquele cara que estava com a gente.
Tem que chamar alguém. Tem que chamar um médico.
Visita!
Vai para onde?