1 – conhecendo os bairros da barra da tijuca

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1 – conhecendo os bairros da barra da tijuca
1 – CONHECENDO OS BAIRROS DA BARRA DA TIJUCA
Muita gente pensa que a Barra da Tijuca é um bairro único, que não existe
subdivisões. Porém, isto não é verdade.
Tendo em vista as grandes dimensões de nossa cidade e a exemplo de outras
cidades do mundo, as Subprefeituras foram criadas com o objetivo de atender as demandas
locais, descentralizando assim, a Administração Pública Municipal. Logo, as Subprefeituras
foram instituídas com o objetivo de representar o Prefeito junto à comunidade local, coordenando
as Administrações Regionais de sua área e agilizando as reivindicações junto aos órgãos
competentes.
As Regiões Administrativas foram criadas no Governo de Carlos Lacerda. Em
1975, o Plano Urbanístico Básico do Rio subdividiu a cidade em cinco Áreas de Planejamento APs.
As Regiões Administrativas da Barra e de Jacarepaguá fazem parte da AP4, que é
administrada pela Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá. (ver anexo 5/6/7)
Logo, o local é conhecido como Barra da Tijuca, mas seu território na
realidade integra os seguintes bairros: Camorim, Itanhangá, Vargem Grande, Vargem Pequena,
Grumari, Joá, Recreio dos Bandeirantes e Barra da Tijuca, propriamente dita. Todos estes bairros
estão submetidos a XXIV Administração Regional – Barra da Tijuca.
Logo a seguir, procurei expor de maneira clara e objetiva, as características de
cada bairro dessa imensa planície, que estamos tratando. Veremos como é grande a diferença
existente entre um bairro e outro. É como se fossem “pequenas cidadezinhas” dentro de uma
mesma cidade.
Portanto, vamos descobrir o que esta região tem de melhor!
1.1 – Joá
Para chegarmos a Barra da Tijuca, podemos optar por dois caminhos vindos da
Zona Sul. O primeiro, mais conhecido, é a Auto-Estrada Lagoa-Barra – já citada anteriormente.
O segundo é a Estrada do Joá, cujo fluxo de veículos é menor, por ser uma via sinuosa e estreita.
Antes da construção do elevado do Joá, na década de 70 e da Auto-Estrada
Lagoa-Barra, inaugurada em 1982, a única via de acesso para quem vinha da Zona Sul, era vindo
pela Avenida Niemeyer, até São Conrado e pela Estrada do Joá, de São Conrado até a Barra.
Hoje, ela é utilizada com mais freqüência pelos moradores - cujas casas foram construídas sobre
o terreno íngreme do morro da Joatinga em condomínios luxuosíssimos e super protegidos; por
freqüentadores de alguns restaurantes existentes ao longo da via; por surfistas que freqüentam a
encantadora Praia da Joatinga; e por motoristas que são obrigados a desviar o caminho quando a
Auto-Estrada está em manutenção.
"O pequeno bairro, no ano de 2000, abrigava 972 moradores, em seus 180
hectares”.10 A maioria destes, de alto poder aquisitivo, entre eles empresários, artistas e cantores,
que passaram a ocupar a região em 1970, vivendo cercados por seguranças, grades e luxo.
No topo da estrada, onde há um pequeno largo, a vista para o mar é
maravilhosa. De um lado temos o famoso Clube Costa Brava, construído sobre um costão
rochoso, pelo arquiteto Ricardo Menescal.
E, logo abaixo, a pequenina e tranqüila
praia da Joatinga, com seu 0,5 km de
extensão, muito freqüentada por surfistas.
Para
alcançarmos
ambos
os
locais
precisamos, primeiramente, passar por
uma guarita e pelos seguranças de um
luxuoso condomínio do bairro.
A encantadora Praia da Joatinga
Atualmente, a prefeitura vem realizando obras de
manutenção na estrada, contenção de encostas e despoluição da
Praia da Joatinga, que além de receber toda a sujeira e poluição do
Quebra-Mar da Barra, em conseqüência das marés e dos ventos,
recebe também esgoto “in natura” de algumas mansões do bairro.
Torcemos para que a prefeitura, junto com a Secretaria Municipal
de Meio Ambiente, consiga resolver este problema no bairro, para
que assim a Joatinga continue sendo o paraíso dos surfistas.
Vazamento na Joatinga
10
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 109.
1.2 – Itanhangá
O
Itanhangá
é
um
bairro antigo da região, cercado pelo
verde
das
matas
que
descem
as
montanhas, sendo este um dos motivos,
que levaram as pessoas a procurarem a
região para morar, há mais ou menos 15
anos.
“Hoje, 9.356 pessoas ocupam
seus 1.321,2 hectares, embora nem todos
vivendo em casas encantadoras
rodeadas pelo verde”.
As casas e o verde do Itanhangá
11
Assim como no Joá, a maioria dos
condomínios são voltados para pessoas de alto poder
aquisitivo, porém há outros voltados também para classe
média alta.
Todos cercados de muito verde.
Pelos
nomes, já podemos imaginar: Floresta da Barra, Jardim
da Barra, Quinta do Itanhangá, entre outros. Todos com
alto padrão de segurança.
Hoje, o Itanhangá é um bairro de
contrastes. A imponência dos casarões e beleza de sua
vegetação contrastam com o crescimento das favelas,
muito próximas aos condomínios de luxo. Aos poucos,
elas vão tomando as encostas e vão crescendo
O Contraste – ao fundo o crescimento de uma
favela e uma mansão, abaixo.
11
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 110.
desordenadamente. Segundo dados do IBGE de 2000, o bairro tem 11 favelas, espalhadas entre
os diversos condomínios de luxo. Um dos motivos que levam as pessoas a se instalarem nas
favelas do bairro é a proximidade da Barra. Geralmente, são pessoas de mão-de-obra não
qualificada, que encontram na Barra local para trabalhar.
Através de moradores do bairro, soube
que os moradores da favela ganharam até o direito de
transitar dentro dos condomínios, para assim facilitar o
acesso à mesma.
Sem água encanada e rede de
esgotamento sanitário, os moradores fazem ligações
clandestinas de água e de esgoto para sobreviver, além de
jogarem
detritos
diariamente
nas
proximidades
da
Cachoeira da Tijuca, que fica atrás de diversas casas do
Itanhangá. O Rio Cachoeira além de passar entre as casas
da favela, também passa por áreas residenciais de alta
renda, mas apesar da diferença social, a qualidade da
paisagem é a mesma, um rio degradado, poluído e
simbolicamente negado pelos moradores locais.
O Rio Cachoeira e casas
da Favela Mata Machado.
Apesar
de
ser
uma
cachoeira de excepcional valor paisagístico,
ela não recebe sua devida importância. Por
direito, a cachoeira deveria ser aberta a todos,
porém isto não acontece.
O local é
inacessível, pois além da área ser particular
(condomínio fechado), altos muros foram
construídos ao longo do leito do rio,
O Rio Cachoeira e à esquerda, um muro.
impossibilitando assim o acesso.
Neste bairro também, localiza-se um outro caminho muito antigo da região. Ao
longo da Estrada do Itanhangá, indo em direção a Jacarepaguá, encontraremos ao lado direito da
via, uma subida, que é a Estrada de Furnas. Subindo esta estrada, alcançaremos o Alto da Boa
Vista e descendo chegaremos na Tijuca, Zona Norte do Rio. Deve ter sido através desta via, que
os “tijucanos” – primeiros veranistas da região, descobriram as belezas da Barra da Tijuca.
Nesta mesma estrada (Itanhangá) e na mesma direção, antes da subida de Furnas, podemos
visualizar ao lado esquerdo um imenso muro que oculta as belezas do Itanhangá Golf Club,
muito freqüentado pela elite da região.
Entrada do Itanhangá Golf Club
A beleza dos gramados do Itanhangá
Golf Club
1.3 – Camorim
No livro “Imagens de Jacarepaguá”, o autor Waldemar da Costa nos conta
que o Engenho do Camorim fazia parte das terras em que Gonçalo Correia de Sá (sobrinho de
Estácio de Sá, fundador da cidade do Rio de Janeiro) ofereceu como dote de casamento da filha
Vitória de Sá. Ficando viúva, Vitória deixou tudo que ainda possuía para o Mosteiro de São
Bento, em testamento feito em Janeiro de 1667. Após sua morte, em agosto desse mesmo ano, os
padres beneditinos ocuparam imediatamente a fazenda e permaneceram ali por mais de duzentos
anos. Inicialmente, a Fazenda do Camorim foi dividida em duas. Uma continuou com esse
mesmo nome e outra passou a se chamar Vargem Pequena, que veremos na próxima seção.
Em Camorim, está localizada a mais antiga igreja de toda a Baixada de
Jacarepaguá, segundo a maioria dos historiadores – A Capela de São Gonçalo do Amarante.
Esta foi Tombada pelo Patrimônio Histórico em 1965, mas sua construção data de 4 de outubro
de 1625. A igreja, em estilo colonial, foi erguida pelo braço escravo à base de pedra e barro e o
calçamento à frente é do tipo pé-demoleque. No altar, fica a imagem de São
Gonçalo do Amarante, cuja festa é
comemorada em 10 de janeiro. A capela
é importante para o bairro, pois o inclui
no roteiro cultural e turístico da cidade.
Na década de 30, século XX, Magalhães
Correia ainda testemunhou as festas
dedicadas ao padroeiro.
Igreja de São Gonçalo do Amarante
“... sons de sinos a repicar alegremente, foguetes a espocar nos ares, depois
cânticos religiosos, acompanhados de órgão. Era o dia do santo. No largo da Igrejinha,
barracas cobertas de sapê vendendo doces e bebidas, cruzando o largo e a estrada, bandeirolas
de papel em galhardetes e arcos de bambus, dando um ar festivo a esse recanto rural.”12
Ao lado desta Igreja, segue a Estrada do Camorim, uma via muito sinuosa em
direção ao Parque Estadual da Pedra Branca. Localizado na zona oeste da cidade do Rio de
Janeiro e considerado um dos maiores parques urbanos do mundo, o Parque Estadual da Pedra
Branca possui cerca de 12.500 hectares de área coberta por vegetação típica da Mata Atlântica.
Dentro deste Parque situa-se o ponto culminante do Município, o Pico da Pedra Branca, com
1.024m de altitude. No próximo capítulo veremos mais detalhes sobre o Parque. (ver anexo 8)
O que eu não poderia deixar de citar, é que dentro do Parque, na altura deste
bairro, localiza-se uma das mais belas paisagens da cidade do Rio de Janeiro – O Açude do
Camorim, localizado a 450 metros acima do nível do mar. É difícil explicar a magnitude de sua
beleza. A represa foi construída durante o
século XIX, para abastecer a região então
pertencente a Jacarepaguá e foi projetada
pelo engenheiro Sampaio Corrêa.
“De
acordo com Emy Guimarães, diretorregional da Cedae, atual administradora do
lugar, em 1817 houve uma crise de
abastecimento
imperial,
na
então,
cidade.
mandou
O
governo
procurar
mananciais em toda a parte. O do Camorim
foi um dos primeiros a serem descobertos.
― A construção terminou em 1908,
conferindo ao lago o tamanho atual: um
quarto da Lagoa Rodrigo de Freitas”.13
12
Açude do Camorim – Parque Estadual
da Pedra Branca
Correia, Magalhães. Sertão Carioca, Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Administração, p. 49.
13 Jornal O GLOBO, caderno Barra, 09 de setembro de 2001, nº 1133.
O lago tem uma área de 210.000 metros quadrados e a profundidade chega, no
seu ponto máximo, a 18 metros. Ela represa um conjunto de rios, dos quais o principal, o Rio
Camorim, tem 6,5 km de extensão, indo desaguar na Lagoa do Camorim na Baixada de
Jacarepaguá.
“Uma caminhada de uma hora e meia morro acima proporciona ao visitante
aulas de botânica, zoologia e história, atesta Delto de Oliveira, organizador de passeios que
culminam na Represa do Camorim. ― A represa e o caminho até ela são fantásticos. Há uma
infinidade de espécies de ervas e bichos raros ― diz ele”.14 Ele relata também, que ao longo da
trilha - que pode ser visitada inclusive por crianças e idosos, por ser considerada de nível fácil -,
os visitantes encontrarão as ruínas de uma casa que,
segundo ele teria sido erguida por um alemão, escondido no
Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, o mato
avançou sobre ela e as paredes foram parcialmente
derrubadas. É uma pena, não haver interesse em preservar
nosso patrimônio. Essa casa poderia vir a ser mais um
ponto turístico na cidade.
O Rio Camorim, além de formar esta bela
represa, tem em suas águas uma das mais belas cachoeiras
do Rio de Janeiro, que também pode ser vista ao longo da
trilha, que começa na subsede do Parque, localizada na
Estrada do Camorim.
Cachoeira do Camorim
De acordo com as estatísticas, “o bairro possui uma população de 783
habitantes para uma superfície de 903,8 hectares”.15
14
15
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 09 de setembro de 2001, nº 1133.
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 112.
1.4 – Vargem Pequena
O cavalo em disparada rompe o silêncio, assustando as galinhas e uma ou outra
criança brinca no quintal. Intrigada, a mulher deixa a roupa de molho e vai até a janela espiar. O
ano é 2002. Mas poderia ser 1590. Na região de Vargem Pequena o tempo parece custar a
passar. O bairro, que completa 412 anos este ano, mantem vivo seu caráter essencialmente
bucólico. A região ainda conserva resquícios arquitetônicos do passado, alguns desconhecidos
das novas gerações. Entre eles: casas de fazenda, uma igreja do século XVIII e fachadas
ecléticas das décadas de 20 a 50.
Como vimos anteriormente, o bairro fazia parte do Engenho do Camorim, que
foi dividido em duas fazendas, durante a ocupação da região pelos padres beneditinos. Uma
permaneceu com esse mesmo nome, outra passou a se chamar Fazenda Vargem Pequena.
Talvez, o fato de a região ter sido ocupada por mais de duzentos anos pelos beneditinos, tenha
sido um dos motivos que dificultaram o desenvolvimento da região, que até hoje preserva
características de Zona Rural.
Os padres, além de construírem alguns
prédios, edificaram também, em 1766, a Igreja de Nossa
Senhora do Pilar, atualmente conhecida por Nossa Senhora de
Montserrat.
Localizada no alto de uma colina, podemos
avistá-la de longe, ao longo da Estrada Boca do Mato. O
contraste com as árvores e o verde da mata torna a paisagem
perfeita.
Igreja de Nossa Senhora
de Montserrat.
Porém, este local tranqüilo e pacato vem sendo cada dia mais ocupado por
pessoas que buscam qualidade de vida e moradias com preços acessíveis.
Tanto Vargem
Pequena, quanto Vargem Grande, que veremos a seguir, são campeões em crescimento
imobiliário.
Dados censitários mostram Vargem Pequena como um local em crescimento
razoavelmente acelerado. Sua população quase triplicou de 1991 a 2000, saltando de 3.394 para
11.554 habitantes, embora ainda muito pouco para uma área superficial de 2.575,4 hectares. O
grande problema é que ambos ainda sofrem pela falta de infra-estrutura básica, que acaba
dificultando a preservação do meio ambiente. Entre os problemas mais críticos temos: o sistema
de transportes, a rede de saneamento básico e a falta d’água.
Provavelmente, este ano, Vargem Pequena até ganhará um Shopping Center.
“... o prédio está sendo construído na Estrada dos Bandeirantes, perto da Igreja de Montserrat.
Ao todo, 147 lojas serão distribuídas nos dois andares”.16 A intenção é facilitar a vida dos
moradores que dependem do carro para fazerem suas compras.
Apesar de todos os problemas, muitos moradores nem sonham deixar o local.
A grande maioria é apaixonada pelo bairro, como, por exemplo, o Sr. Joaquim Januário, que vive
há 48 anos no bairro.
“Das escadarias da Igreja de Montserrat em Vargem Pequena, Joaquim
Januário Rosa aponta para o horizonte. — Isso tudo, até onde os olhos podem alcançar, era
roça. Um paraíso – lembra ele”.17
“Com 85 anos, mais da metade vividos em Vargem Pequena, Joaquim tem
muitas histórias para contar: viu estradas serem abertas, ajudou na construção das primeiras
casas, acompanhou o crescimento das crianças e a expansão do bairro que, hoje, ele diz, está
grande demais”.18
16
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 15 de março de 2001, nº 884.
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198.
18
Idem.
17
1.5 – Vargem Grande
“Vargem Grande é o mais extenso
dos bairros da Barra da Tijuca e também o mais ao
norte. Sua superfície alcança 4.608 hectares e sua
população era de 9.275 habitantes no ano 2000”.19
O bairro, há 13 anos.
Assim como Vargem Pequena,
em Vargem Grande ainda leva-se a vida em ritmo
de cidade do interior: cavalos percorrem estradas
de terra batida cruzando com moradores de
bicicleta; as pessoas ainda se conhecem e se
espantam com o movimento de fim de semana,
quando os parques temáticos, os haras e o centro
gastronômico recebem visitantes ávidos pelo
clima bucólico da região. Para quem vive lá, a
tranqüilidade e o clima campestre são as maiores
vantagens.
Moradora usa a bicicleta para se
locomover pelo bairro.
Vargem Grande surgiu no século XVIII, a partir da expansão da Fazenda do
Camorim, dos padres beneditinos. Logo, foi dado nome à região de “Fazenda da Vargem
Grande”.
Conta-se que a região possui um tesouro histórico pouco conhecido. De acordo
com o relato de moradores, eles dizem ter encontrado resquícios de antigos quilombos em uma
longa vereda localizada além da Estrada do Pacuí, em Vargem Grande. Próximo à área dos
19
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 113.
quilombos há uma comunidade que parece ter parado no tempo, vivendo em humildes casas,
muitas feitas de taipa. O burro ainda faz parte da vida dos moradores como transporte pelas
estradas intransitáveis até para jipes, mas também como importante auxiliar na aragem da terra,
no plantio e na colheita do principal produto da economia local: a banana.
É interessante, e ao mesmo tempo triste, descobrirmos que em plena cidade do
Rio de Janeiro, ano 2002, podemos encontrar famílias que vivem numa verdadeira roça, porém de
maneira muito precária e rudimentar.
O verde e os rios de Vargem
Grande são o grande orgulho de quem mora no
local. Os moradores fazem questão de preservar
esse clima de cidade do interior e o ar bucólico da
região.
No bairro, ao longo da Estrada dos
Bandeirantes temos a prova disso. Nesta estrada
também,
se
concentra
parte
do
Patrimônio
Arquitetônico da região, mas a urbanização que se
intensificou nos anos 70 levou à destruição de parte
deste.
Fachada de 1929 na Estrada dos
Bandeirantes.
Ao longo da mesma, podemos encontrar
fazendas das décadas de 20 a 50.
“Uma fazenda, na Estrada do Mucuíba (ou Cleodon Furtado), foi construída
pela família Martins, uma das pioneiras de Vargem Grande. Membro da família, Catarina
Gomes, 60 anos, lembra com saudade do tempo em que vivia na casa, hoje pertencente a Heloísa
Buarque de Holanda. — Eram maravilhosos os almoços. Lembro-me da enorme mesa no
quintal. Minha mãe também nasceu na casa, que é de meados do século XIX”. 20
20
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 09 de setembro de 2001, nº 1133.
Quanto ao desenvolvimento, o processo de urbanização de Vargem Grande está
mais acelerado em relação à Vargem Pequena, mas incomparável a Barra e Recreio, por exemplo.
O bairro também sofre com problemas de infra-estrutura básica e crescimento desordenado. A
maioria dos rios e córregos de Vargem Grande está em processo de assoreamento, por estarem
recebendo esgoto diariamente e servirem como depósito de lixo. A cada dia novos loteamentos
são abertos na região, acarretando a devastação local. Como vimos, de acordo com o Plano
Lúcio Costa, as áreas verdes deveriam ser ocupadas apenas por sítios e por pequenas fazendas,
mas a urbanização local os destrói para abrirem tais loteamentos.
Contrastando com o verde da região,
encontramos a estrutura de um parque aquático que atraem
multidões de outros bairros nos fins de semana – O Rio
Water Planet. Talvez, o bairro tenha sido procurado por
esta empresa, pela oferta de áreas livres e verdes que a
região oferece. Muito próximo a ele, temos o Wet’n Wild,
porém ele não está localizado mais em Vargem Grande,
mas sim, no Recreio dos Bandeirantes. Estes parques, em
contato com a natureza, formam um ambiente perfeito para
quem quer relaxar, brincar e esquecer as obrigações do dia
a dia.
Rio Water Planet
Além dos parques aquáticos, ainda
temos os haras, as fazendas e o pólo gastronômico que
também exercem forte atração.
O Haras Pégasus, numa área de 200
mil m², oferece: duas pistas para saltos, áreas de pasto,
hotel para cavalos com mais de 100 acomodações,
Haras Pégasus
aluguel de cavalos manga-largas para passeios e trilhas e aulas de equitação para adultos e
crianças. O Haras Horse Shoe, também oferece aulas de montaria e convivência com o animais
para crianças a partir de cinco anos, além de organizar passeios diurnos e noturnos por trilhas da
região. Além do Haras Pégasus e do Horse Shoe temos também: O Haras Macau, o Haras Estrela
Rainha, o Haras Serenidade, entre outros que surgem a cada dia, combinando com o bucolismo
do bairro.
Para quem procura um programa em família, uma visita à Fazenda Estação
Natureza ou à Fazenda Alegria, proporciona às crianças que vivem na cidade, a chance de
conhecer a vida rural entrando em contato com animais do campo. A Fazendinha da Estação
Natureza, por exemplo, atrai em torno de 300 pessoas a cada fim de semana.
A região também ganhou status de Centro Gastronômico graças às maravilhas
das cozinhas de seus restaurantes. A fama do local incentivou chefs famosos a abrirem suas
próprias casas, em locais arborizados e muito agradáveis.
Os restaurantes, na maioria, só
funcionam de quinta a domingo – dias de mais movimento ou através de reserva nos outros dias
da semana.
São muito freqüentados por personalidades, artistas, empresários e pelos que
apreciam locais exóticos, cercados de muito verde. A sofisticação e a qualidade no atendimento
são pontos fortes.
“Luiz Antônio Correia de
Araújo, dono do restaurante Quinta, que há 19
anos funciona em Vargem Grande, credita à
criação do Centro Gastronômico a maior
visibilidade da região: − Os restaurantes
trouxeram as pessoas.
Até então, quase
ninguém sabia o que acontecia depois do
Recreio”.21
21
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198.
Restaurante Quinta
1.6 – Recreio dos Bandeirantes
Gradativamente, o Recreio dos Bandeirantes vem ganhando o mesmo perfil da
Barra da Tijuca. Porém, apesar da crescente urbanização, o bairro ainda resiste preservando uma
domesticidade e um perfil mais discreto. (ver anexo 9)
Sempre que possível, o
bairro procura seguir o mesmo estilo do seu
vizinho – “A Barra da Tijuca”. A prova
disto está clara nos nomes de condomínios e
de empreendimentos comerciais do bairro.
Condomínios recentemente lançados têm,
em sua maioria, a palavra Barra envolvida
em seu nome, entre eles podemos citar, por
exemplo, dois deles: O “Nova Barra” e o
“Barra Bali”.
Há também um shopping,
Barra World Shopping e Park
recentemente inaugurado e localizado no
Recreio, chamado “Barra World Shopping e
Park”.
Não é tão complicado entender o motivo que levam as imobiliárias a venderem
apartamentos e casas no Recreio utilizando a Barra como referencial. Mesmo sendo um bairro
mais antigo que a Barra (a ocupação no Recreio começou na década de 1930), o fato de dizer que
mora num condomínio na Barra é diferente de dizer que mora num condomínio no Recreio dos
Bandeirantes. Quem mora na Barra, pertence à nova elite carioca e, conseqüentemente, para
alguns, dizer que mora lá, dá mais status. Além disso, as imobiliárias aproveitam para especular
o valor do imóvel, vendendo uma casa ou um apartamento no Recreio, cujo valor é incompatível
com os demais do bairro.
Como foi citado acima, a ocupação do Recreio começou na década de 1930,
com algumas casas de veraneio, mais ou menos, na mesma época, do surgimento da Barrinha e
do Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca.
Com suas três praias – Recreio, Pontal e Macumba, o bairro, durante muitos
anos, foi reduto dos que apreciavam piqueniques, banhos de mar e aventuras.
Praia do Recreio dos Bandeirantes – antes e depois
A origem do nome é contada de maneira fantasiosa, por moradores antigos da
região. “Segundo Gonçalves (2001): Dizem que o proprietário da segunda das duas grandes
glebas A e B que constituíam a área – Joseph Wesley Finch – costumava promover visitas e
piqueniques de fim de semana para potenciais compradores dos lotes. Como grande parte dessas
pessoas eram paulistas, e tendo muitas delas adquirido seus terrenos à beira-mar, neles fazendo
suas casas para descanso e recreio, o local teria passado a se chamar Recreio dos
Bandeirantes”.21
Atualmente, moradores do bairro pagam um IPTU altíssimo, mas sofrem com
uma série de problemas.
21
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 115.
Há uma grande quantidade de vias sem pavimentação e redes pluviais. Apenas
as vias principais são pavimentadas, as demais, principalmente entre os condomínios de casas e
prédios ainda são de barro. O bairro ainda convive com invasões em áreas de preservação
ambiental e falta de saneamento básico. O Canal das Taxas, por exemplo, recebe esgoto “in
natura” de casas e estabelecimentos comerciais. Porém, segundo o presidente da Fundação Rio
Águas, Alexandre Pinto, “... a região, que já conta com 92 quilômetros de rede, uma estação de
tratamento e quatro elevatórias, terá seu saneamento concluído até 2003”.22
À esquerda, a Estrada Benvindo de Novaes há 14 anos. À direita, a mesma
via em 2002, ainda sem calçamento.
As ruas são mal iluminadas, o que acarreta o aumento do número de roubo a
carros – um dos problemas mais graves da região. As autoridades deveriam se preocupar em
resolver tais problemas, ao invés de só cobrarem impostos, por vezes injustificados.
Os moradores continuam na luta e aos poucos vão atingindo seus objetivos.
Entre as recentes conquistas do bairro, podemos citar: a inauguração do batalhão (31° BPM), a
regularização do abastecimento d’água e a urbanização das favelas.
22
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de outubro de 2001, nº 1146.
Mesmo com as dificuldades
causadas pela falta de infra-estrutura, a cada dia
no bairro surge uma nova construção, algum
grande empreendimento imobiliário, seja ele
comercial ou residencial, principalmente ao
longo da Avenida das Américas. Mas o que
podemos observar é que a empolgação do
mercado, de inaugurar shoppings centers,
acabou resultando em lojas vazias. O bairro
tem um único shopping que faz jus ao seu nome
Recreio Shopping
– O Recreio Shopping, com 93 lojas, 109 salas
comerciais, 1 hipermercado e mais 4 cinemas.
A oferta de pequenos e grandes shoppings é farta na região, ocasionando a
saturação do mercado. A Barra da Tijuca que é um bairro muito próximo ao Recreio já oferece
uma variedade de shoppings sendo que muitos ainda permanecem com suas lojas fechadas. Os
comerciantes do Recreio que tendem a seguir o mesmo modelo de desenvolvimento da Barra
deveriam buscar um diferencial, antes de abrirem seus negócios, caso contrário, permanecerão
com corredores vazios e lojas fechadas.
Com uma superfície territorial de 3.435 hectares, o bairro ainda oferece outros
atrativos, além dos shoppings.
Entre os principais monumentos naturais temos o Morro do Pontal e o Parque
Chico Mendes. O primeiro divide as praias do Recreio e da Macumba e foi tombado em 1982,
como patrimônio ambiental do Rio de Janeiro. O segundo, criado em 8 de maio de 1989, é
integralmente coberto por vegetação nativa de restinga e abriga em seu interior a Lagoinha e
parte do Canal das Taxas. (mais detalhes no próximo capítulo).
À esquerda, o Morro do Pontal. À direita, o Parque Chico Mendes
e a Lagoinha.
As praias do bairro ficam cheias somente nos fins de semana e estão entre as
mais limpas da cidade. A Praia do Recreio dos Bandeirantes, com 2,6 quilômetros de extensão,
começa no Posto 9 – point dos surfistas, e segue até o Pontal de Sernambetiba, onde começa a
Praia do Pontal. No Pontal concentra-se o ponto final de linhas de ônibus de vários bairros, além
de ônibus de excursões de outras cidades, que lotam a praia nos fins de semana.
Já a Praia da Macumba, também
com 2,6 quilômetros de extensão, é muito freqüentada
por surfistas de toda a cidade, que estão a procura de
ondas radicais.
Praia da Macumba
Os atrativos naturais não são os únicos que atraem visitantes para o bairro. Os
atrativos culturais também são destaque.
Fica no Recreio, o mais
importante museu de arte popular da
América Latina.
A Casa do Pontal,
inaugurada em 1992, abriga uma coleção
de cerca de 5 mil esculturas de mais de
200 artistas de todas as regiões do país. O
museu foi criado especialmente, pelo
designer francês Jacques Van de Beuque
para
abrigar
sua
coleção
Museu Casa do Pontal
particular,
adquirida ao longo dos últimos 50 anos.
De acordo com o museólogo Sérgio Santos, responsável pela conservação do
espaço. “ As pessoas ficam encantadas e querem comprar arte popular. Por causa disso, já
foram abertos ateliês e lojas de arte bem perto daqui”.23
Além dos pólos de cultura,
há também opções para quem gosta de
aventuras e aprecia um programa para toda a
família.
O Parque Aquático Wet’n Wild
localizado na Avenida das Américas, quase na
subida da serra da Grota Funda, é a versão
carioca, de última geração, do mesmo parque
Parque aquático Wet’n Wild
23
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198.
que há nos Estados Unidos. São 110 mil m² de área construída, com 10 milhões de litros de
água filtrada, clorada e reciclada 24 horas por dia, com o mais rigoroso padrão de qualidade.
Oferece diversas atrações e um estacionamento para 1.200 veículos.
“O Recreio, antigo pouso dos desbravadores, é o bairro de mais rápida
ocupação da cidade. Com uma população que alcançava no ano 2000, segundo dados do IBGE,
37.486 habitantes, o local já possuía cerca de 60% de suas terras ocupadas, em parte também
por favelas, que, embora poucas em número, foram se aninhar ao longo do canal das Taxas e
junto do Parque Chico Mendes”.24
Este é o Recreio – um bairro em plena expansão, que vem se tornando a “Nova
Barra” do Rio de Janeiro.
24
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 116.
1.7 – Grumari
Beirando o litoral do Recreio dos
Bandeirantes, pela Avenida Estado da Guanabara,
encontraremos logo após a Praia da Macumba, uma
subida, que nos levará a uma das mais belas praias da
cidade – “A Prainha”. (ver anexo 9)
A Prainha
Cercada de montanhas cobertas de vegetação nativa, o santuário ecológico
abriga surfistas em busca de ondas radicais e casais que aproveitam a beleza do lugar para
namorar.
Além de águas limpas, livres de poluição, suas areias têm índices de 100% de
qualidade, devido à baixa ocupação e a ausência de elementos poluentes.
A praia, como o próprio nome
diz, é de pequena extensão, apenas 0,7 km. Sua
área de 166 hectares foi transformada em Área
de Proteção Ambiental em 1990. Desde então
ambientalistas se mobilizam para preservar o
local, tentando limitar a quantidade de veículos
nos fins de semana e proibindo acampamentos.
A área da APA da Prainha faz parte da Mata
Atlântica, além de ser coberta por vegetação de
restinga.
Na fauna local podemos encontrar
espécies em extinção, como o gato-do-mato e
papagainhos.
Sede da APA da Prainha
Em 15 de setembro de
2001, a praia ganhou um centro de lazer – o
Parque Municipal Ecológico da Prainha,
criado em 1999, foi aberto à visitação
pública. Entre as atrações, o Museu do Surfe
e trilhas ecológicas. A idéia da construção
do Parque surgiu da necessidade de impedir a
construção de um condomínio residencial e
hoteleiro
Parque Municipal Ecológico da Prainha
surfistas.
na
região,
denunciado
pelos
No local foram construídos
banheiros públicos, duchas para banhistas e a sede da administração, onde ficam os guardas
municipais do Grupamento de Defesa Ambiental – GDAs.
O centro de visitantes – uma casa localizada na parte mais alta do parque – é
reservado para exposições e palestras. Visitas guiadas com grupos escolares são realizadas pelas
trilhas do parque onde já foram plantadas 150 mudas de espécies como, por exemplo, o paubrasil.
Em fevereiro deste ano (2002), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente
elaborou um sistema de energia solar para o parque, que antes vivia às escuras. São 78 geradores
que garantem o fornecimento por até três dias sem sol.
É uma pena, pois nem todos que freqüentam a praia têm o amor que os surfistas
manifestam pelo local. Muitos banhistas desrespeitam as normas ambientais. Restos de comida,
embalagens plásticas e de vidro são deixados na reserva com freqüência. Além da sujeira a área
também vem sendo depredada. Mudas de plantas nativas são roubadas e a área verde do parque
tornou-se alvo de vandalismo.
Por
uma
ladeira
estreita,
seguindo a mesma Avenida em frente a Prainha
chega-se a “Praia de Grumari” – a última praia
em mar aberto alcançável por veículos na região
da Barra da Tijuca. A extensa e selvagem praia,
com 2,8 km de extensão, também muito
freqüentada por surfistas, tem muita história
para contar.
Praia de Grumari
Ao
descer
a
ladeira
nos
deparamos com a pequenina praia do Abricó,
cercada por muitas pedras próximas a arrebentação
e freqüentada pelos amantes do nudismo há alguns
anos. Hoje parece que esta prática está proibida, o
que vem causando grandes debates, pois quem é
contra o nudismo não se conforma em conviver
Praia do Abricó
com quem pratica.
Francisco Alves Siqueira, em seu livro “Os Mistérios do Grumari” nos conta
que o nome Grumari deriva da palavra Grumarim. Os índios tupis seguindo a orientação dos
africanos, passaram a viver em casebres de taipa ou pau-a-pique. Para construí-los era necessário
varas grossas, para assim segurar a massa de barro e proteger a casa dos vendavais oceânicos.
Estas varas foram denominadas pelos índios de Grumarim, por serem duras, alinhadas e próprias
para flechas. O local onde mais se colhia este arbusto era próximo a uma praia entre o Recreio
dos Bandeirantes e Barra de Guaratiba. Por isso foi dado o nome de Grumari ao lugar, “cujo
significado é purtácea, madeira amarela, pouco porosa, substituindo o buxo – serve para
xilografia e bengala; aquilo que gera varíola ou urticária, coceira – sarna má”.25
25
SIQUEIRA, Francisco Alves, Os Mistérios do Grumari, p. 10.
Grumari, em seus 951 hectares conta com apenas 136 moradores.
Foi
descoberto pelo “homem branco” no século XVIII, quando o maior fazendeiro da época –
Francisco Caldeira de Alvarenga, filho de João Caldeira, assumiu o controle da região. Francisco
deixou para os descendentes a Fazenda do Grumari Grande, uma extensão de 4.820.000 metros
quadrados. Foi em meados do século XIX que o café e a mandioca imperaram na região. Após a
decadência do café, grandes bananais foram plantados em toda Grumari.
A comunidade local sobrevivia da caça, da pesca e das lavouras de subsistência.
Além de ser um povoado alegre e festeiro, onde danças típicas da época, como o Xote e a
Mazurca, eram improvisadas. Porém, a ciranda e a batucada predominavam.
“A atividade no Grumari era tão intensa e controlada que a produção atingia
níveis elevados de produtos colhidos e distribuídos entre os consumidores, tanto assim que num
formal de partilha do inventário de Deolinda Maria de Santa Rita e João Caldeira de Alvarenga,
processado em 1846, foram avaliados entre outras plantações 40 mil pés de café”.26
“Tem-se conhecimento também que existiam mais de 40 fábricas de farinha de
mandioca (farinha de roça como diziam), tudo feito pelo processo manual, usando roda, cocho,
prensa, tipiti, forno, pá, rodo etc”.27
26
SIQUEIRA, Francisco Alves, Os Mistérios do Grumari, p. 17.
27
Idem.
A Praia de Grumari tem nas suas extremidades duas lagoas. A Lagoa do Canto
e a Lagoa Feia. Segundo relato de antigos moradores, quem se atrevesse entrar ou cair em suas
águas adoeceria, contraindo uma febre que poderia matar em três dias.
À esquerda, Lagoa do Canto. À direita, Lagoa Feia.
Na Praia de Grumari, por ser mar aberto, formam-se ondas grandes, assim
como na Prainha. Porém, é possível o embarque e desembarque de pequenas embarcações.
Dentro de seus limites, localizam-se duas ilhas em frente à praia. A Ilha das Palmas (que possui
enseada para abrigo de embarcações) e a das Peças. Todo o ecossistema de Restinga conservado
na área de Grumari é considerado pelos estudiosos, um dos mais representativos de todo o
Município do Rio de Janeiro.
À esquerda, Ilha das Palmas. À direita, Ilha das Peças.
O local hoje é incomparável ao de dois séculos atrás. Na segunda metade do
século XIX, exatamente “em 1888 foi criada uma Escola Municipal e uma Agência de Correio e
em 1895 já eram duas escolas, sendo que na Fazenda do Grumari Grande as aulas eram
ministradas pela própria dona Mafalda Teixeira de Alvarenga”.28
Nos anos de 1960, o exôdo rural deixou praticamente vazio o bairro de
Grumari. As escolas deixaram de existir, obrigando as crianças e jovens do local a caminharem
quilômetros para estudar, e são poucos os que ainda insistem em lá permanecer, apesar de todas
as dificuldades.
Além das mortes provocadas pela
Lagoa Feia, outros mistérios rondam a região. Muitos
pescadores desapareciam quando iam pescar nas
pedras do costão do Grumari, provavelmente caíam
das pedras escorregadias.
Costão do Grumari, à direita.
Como já foi citado, Grumari significa coisa má. “Formou-se assim porque ali
se colhia as varas com esse nome, e que muito castigaram escravos, além de ser o arbusto
preferido pelos índios para as flechas de seus bodoques. Os nativos usaram das mesmas para
construção das casas que já desapareceram”.29
28
SIQUEIRA, Francisco Alves, Os Mistérios do Grumari, p. 10 e 11.
29
SIQUEIRA, Francisco Alves, Os Mistérios do Grumari, p. 52.
Grumari herdou a maldição de seu nome. A mata local também sofre com o
descaso. Os arvoredos vêm desaparecendo aos poucos, dominados pelo capim colonião que
cresce a cada dia. Ao atearem fogo na mata, o capim se alastra mais rapidamente.
Antigamente, os habitantes cultivavam nas terras, plantavam e colhiam seu
sustento, o que conseqüentemente impedia o domínio do capim. Parece que agora, os órgãos
ambientais estão querendo reflorestar a região e permitir que moradores locais voltem a trabalhar
a terra. Após a cana-de-açúcar, o café e a laranja, o Grumari passou a produzir exclusivamente
banana.
Se seguirmos a Avenida Estado da Guanabara e subirmos a Estrada do Grumari
– uma via muito sinuosa e estreita, alcançaremos a Estrada da Barra de Guaratiba e o bairro de
mesmo nome, que veremos na Parte II do projeto. Na encosta da Estrada do Grumari existem
trilhas usadas para caminhadas. Porém, o melhor acesso é feito por Barra de Guaratiba.
Grumari reserva lindíssimas paisagens.
A vegetação de restinga, densa e
espinhosa, lembra o agreste. O mar bravio e as areias muito brancas complementam o visual.
Grumari é um paraíso que atrai muitos visitantes todos os fins de semana. É necessário porém,
conscientizá-los da importância da preservação do meio ambiente, além de continuar limitando a
entrada de visitantes, pois a capacidade de carga do local é baixa e o bairro não tem infraestrutura suficiente para suportar um grande número de turistas.
1.8 – Barra da Tijuca
“Sorria! Você está na Barra”. Este é o slogan que simboliza o bairro há 15
anos, mas que, infelizmente, não pode ser mais visto numa das entradas principais do bairro. Ele
transmite a alegria de estar ou viver na tão jovem Barra da Tijuca, que veremos a seguir.
O bairro, nos últimos 20 anos,
cresceu assustadoramente e ainda não parou de
crescer. Foi a região que mais sofreu modificações
radicais em sua paisagem no final do século XX. O
que antes era um imenso areal, quase deserto até
meados
da
década
de
1960,
transformou-se
rapidamente no símbolo do capitalismo e do
consumismo exacerbado. A expansão econômica e
imobiliária transformaram a Avenida das Américas
num longo corredor emparedado, onde edifícios cada
vez mais altos são construídos, obstruindo a linda
vista das montanhas. (ver anexo 10)
Barra da Tijuca – 1976
Revista Manchete
A perspectiva de um novo estilo de vida, com mais qualidade, mais ar puro e
segurança motivou milhares de pessoas a optarem por viver na Barra.
Nesses 20 anos, os moradores da (na época) emergente Barra da Tijuca, tiveram
que brigar por saneamento básico, insumo primordial atropelado pelo crescimento desordenado;
ainda tentam se adaptar à falta de um sistema de transporte de massa eficiente; foram convocados
a decidir se queriam ou não se separar do Rio; lutaram para preservar o que resta da natureza;
descobriram que o seu tão falado modelo de vida, cercado por grades e câmeras, não os imuniza
das mazelas da cidade grande; lançaram dúzias de modismos; enfim, cravaram a presença do
bairro na historia da cidade.
A Barra da Tijuca é o único bairro da cidade surgido a partir de um
planejamento prévio, como já vimos, o Plano Piloto da Barra da Tijuca.
Mas, a pioneira
iniciativa do urbanista não resistiu às pressões do setor imobiliário, que via na região seu novo
eldorado. Lúcio Costa, contrariado com os rumos dados às diretrizes do plano, afastou-se de sua
implantação no início dos anos 80.
Há quem diga que a Barra completa o tripé dos ícones urbanos cariocas e que
surge com a mesma carga simbólica do Centro e de Copacabana.
O parentesco seria, primeiramente, “... com o centro do Rio do início do século
XX – quando foi travestido pela roupagem hausmaniana importada de Paris por Pereira Passos
(Benchimol, 1990) e transformou-se num ambiente civilizado, organizado e moderno – e com a
Copacabana dos anos de 1930 a 1950 do mesmo século – criada para ser paradigma de uma
nova civilização, alegre, elegante e tropical – representação de um país exótico, porém atraente
e internacional”.30
Apesar de terem a mesma carga simbólica, a Barra é completamente
diferente do Centro e de Copacabana.
Um novo conceito de qualidade de vida surge na Barra. Muitos moradores já
não saem do bairro para nada, pois tudo o que procuram pode ser encontrado dentro dos próprios
condomínios – que já são criados oferecendo toda uma estrutura de serviços, com o intuito de
facilitar a vida dos futuros moradores e/ou dentro dos núcleos comerciais e dos “megashoppingcenters” localizados ao longo da Avenida das Américas – lugar de consumo e lazer.
30
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 118.
Na Barra, ter um carro é imprescindível, pois as distâncias são muito longas.
No Centro e em Copacabana o espaço foi projetado para os pedestres, enquanto que na Barra,
para os veículos. É na Avenida das Américas que a população circula, seja nos automóveis ou
nos ônibus.
Avenida das Américas em 1980 e em 2002. O desenvolvimento da Barra pode ser
visto ao longo desta via. Paisagem radicalmente mudada nos últimos 20 anos.
Para muitos, a Barra é um bairro americanizado, cujos projetistas e arquitetos
buscaram inspiração em cidades como Miami, Las Vegas e Nova Iorque.
Ela tem uma
arquitetura e um modo de vida muito diferente do resto da cidade e isto talvez incomode muitas
pessoas que fazem questão de criticar a região. “A Barra criou o estilo de vida indoors dos
shoppings e condomínios e adaptou a ginga carioca ao american way of life. Ao mesmo tempo e
paradoxalmente, o mesmo bairro, que se trancou em espaços fechados, deu origem a novos
esportes e consolidou a comida “natureba”. ― A Barra gosta de lançar tendências. Seus
moradores, pelo alto poder aquisitivo, viajam sempre e trazem novidades – diz a socióloga e
moradora da região Carmem Dias”.31
31
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198.
Os moradores, que são popularmente chamados de emergentes por pessoas de
outros bairros, acreditam que o fato de se viver na Barra incomoda a muitos, por diversos
motivos. Talvez o principal deles, seja o fato da Barra ser considerada um verdadeiro resort, cuja
qualidade de vida só pode ser desfrutada por alguns.
No
ano
de
1988,
com
o
argumento de que a Barra era o local com
impostos mais altos e que menos recebia retorno
do município, alguns moradores da região
levantaram sua bandeira separatista.
O bairro
queria se tornar um município. Porém, no dia 3 de
julho deste mesmo ano, por falta de quórum, a
Barra deixou de se tornar independente. Apenas
Barra Livre – 1988
Os favoráveis ao sim
12%
dos
moradores
habilitados
a
votar
compareceram às urnas.
Quase 14 anos depois do plebiscito, a Barra desenvolveu uma infra-estrutura
típica de uma cidade, com fórum, empresas e shoppings, uma realidade nada parecida com a da
época. Tornou-se um bairro auto-suficiente, mas que está integrado ao resto do município.
Mesmo hoje, a emancipação seria inviável, pois só traria mais custos para os moradores. Na
época, o mapa do novo município havia sido traçado estrategicamente, deixando de fora todas as
favelas. Isto comprova que realmente, eles queriam distância das mazelas da cidade.
Dois lugares do bairro se destacam por representarem as primeiras ocupações,
com um modelo de urbanização mais antigo e tradicional e com loteamentos da década de 1930:
A Barrinha e o Jardim Oceânico.
A Barrinha é o local mais tradicional da Barra. Surgiu na década de 1930,
quando a única ligação entre os demais bairros e a região era a Estrada do Joá. As casas são mais
modestas e o comércio não evoluiu muito em comparação ao restante da Barra. “No meio de um
imenso areal que era a Praia da Barra, foram erguidas algumas casas modestas, uma padaria,
um supermercado, um bar e o Hotel Garoto, onde hoje funciona o Motel Scorpius. ― Quando
precisava comprar uma coisa mais específica, tinha que ir à Zona Sul ou à Tijuca – lembra
Maria Eugênia Campos, de 67 anos”.32
Antigos moradores relatam que a região era freqüentada por gente famosa,
como por exemplo, os presidentes Getúlio Vargas e João Goulart.
Waldir Duarte, de 64 anos e morador da Barrinha desde 1964 lembra ainda do
tempo que o bonde ligava a Barrinha ao resto da cidade. “ ― Para se chegar aqui, só a cavalo,
a pé ou de bonde, pelo Alto da Boa Vista. Depois construíram a ponte do canal. E naquele
tempo, ela era uma pinguela perigosa”.33
Com ares de uma pequena
cidade do interior, com ruas arborizadas e
tranqüilas, o local ganhou fama a partir da
década de 1960, muito antes do “boom”
imobiliário na região.
A famosa “rua dos
motéis”, localizada na Estrada da Barra da
Tijuca, tão comentada em toda a cidade, destoa,
completamente do ambiente da Barrinha.
Motéis, a margem da Lagoa da Tijuca.
32
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 29 de novembro de 2001, nº 1156.
33
Idem.
De acordo com Eric Pereira, autor do livro “É sal, é sol, é sul”, o primeiro
motel da Barrinha era, na verdade, uma casa com alguns quartos, que eram alugados no início dos
anos 60 por uma portuguesa. Só depois é que foram inaugurados os estabelecimentos da Estrada
da Barra da Tijuca. “ ― O Xá-Xá-Xá é um dos pioneiros, e o Holiday foi o primeiro com
garagem privativa. Havia filas quilométricas em frente aos motéis, que eram os únicos da
cidade. As casas da Presidente Dutra e da Washington Luís só foram abertas depois”.34
No largo da Barra está localizado
um bar muito freqüentado pela juventude carioca –
o Bar do Oswaldo, cuja especialidade são as
deliciosas batidas de vários sabores.
Bar do Oswaldo
Em agosto de 2001, o tombamento da Barrinha gerou polêmica. O projeto de
lei do vereador Rodrigo Bethlem de criar uma APAC na Barra contrariou a proposta de
imobiliárias, cujo projeto seria renovar e modernizar o bairro, construindo uma marina no lugar
dos motéis. Porém, até hoje nada foi feito e o projeto ainda não saiu do papel.
Saindo da Barrinha, em direção a Avenida das Américas, encontramos o
Jardim Oceânico. Iniciando-se no Quebra-Mar, este antigo loteamento ultrapassa a Praça São
Perpétuo - também chamada Praça do Ó. O local foi urbanizado nos traçados dos bairros-jardins
ingleses do século XIX. As ruas são arborizadas, tranqüilas e as edificações são baixas (em
média, prédios de três andares com apartamentos grandes). O comércio local é bem parecido
com os demais bairros da cidade, onde tudo pode ser feito a pé. Na Avenida Olegário Maciel, há
clínicas, supermercados, boutiques, lanchonetes, restaurantes, bancos e academias bem próximos
34
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 25 de abril de 2002, nº 1198.
uns aos outros. Ao longo desta mesma avenida, chegamos na famosa Praia da Barra da Tijuca,
naquela altura mais conhecida como “Praia do Pepê”, que fica lotada nos fins de semana. A
praia recebeu este nome por ali está localizada
a badalada barraca do Pepê – um surfista
carioca que praticamente lançou a moda de
vender sanduíches naturais em quiosques da
praia e faleceu, tragicamente, na queda de um
vôo de asa delta. A barraca é o ponto de
encontro da juventude dourada da Barra, onde
sempre “rola” uma paquera, um jogo de vôlei
ou um frescobol.
Início da Praia da Barra, próximo ao Pepê
Não poderia deixar de citar também a Igreja de São Francisco de Paula, talvez a
mais antiga da Barra da Tijuca. A capela em madeira foi erguida em meados do século XX,
porém, a paróquia foi somente inaugurada em 1969.
Durante 40 anos, a igreja acompanha todo o
desenvolvimento urbano da Barra. A obra de ampliação foi
realizada com os recursos arrecadados, através de subscrição
pública, pela comunidade calabresa do Rio.
A festa,
promovida pela colônia italiana, é comemorada no mês de
maio e atrai uma multidão de pessoas. Nesta última festa, que
durou três dias (03 a 05 de maio de 2002), reuniu um total de
12 mil pessoas, entre elas muitos jornaleiros. A procissão
seguiu pelas ruas do Jardim Oceânico até a praia, onde houve
queima de fogos. São Francisco de Paula é o padroeiro dos
jornaleiros.
Igreja de São Francisco
de Paula
“Durante as comemorações foi possível encontrar a primeira geração dos
italianos que desembarcaram no Brasil na metade do século passado em busca de uma
oportunidade. ― Na primeira festa, havia 30 pessoas num barraco de madeira. Eu tinha
comprado minhas primeiras duas bancas de jornal – disse Pietro Polizzo, de 70 anos, natural da
província de Paola, próximo à Calábria, no Sul da Itália”.35
Continuando
Avenida
das
Américas,
pela
próximo
ao
entroncamento com Avenida Ayrton Senna
e o Barrashopping, encontramos um marco
na história imobiliária da cidade – O
Condomínio Nova Ipanema.
Inaugurado
em 1977, o Nova Ipanema é o primeiro
Condomínio Nova Ipanema
grande condomínio do bairro.
“O empreendimento, fruto de uma parceria entre a Esta, a Klacon e a antiga
Gomes de Almeida, foi um sucesso de vendas. Construído sob um imenso areal, o Nova Ipanema
foi inaugurado com 100% dos seus apartamentos vendidos. À frente de seu tempo, já nos anos 70
o condomínio tinha uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) com tecnologia francesa e
fiação elétrica subterrânea”.36
Após o Nova Ipanema, novos condomínios com grandes torres foram surgindo
como, por exemplo, o Novo Leblon, o Atlântico Sul, o Barramares, o Riviera dei Fiori, entre
outros. A grande maioria foi projetada ao longo da Avenida das Américas, nos terrenos de frente
35
Jornal O GLOBO, RIO, 06 de maio de 2002.
36
Jornal O GLOBO, caderno Barra, 01 de novembro de 2001, nº 1148.
para o mar. Porém, de acordo com o plano Lúcio Costa, o plano previa apenas edificações baixas
e hotéis.
Entre as altas torres podemos encontrar também, condomínios de casas, ou
melhor, de mansões. Todos, extremamente protegidos por cancelas, porteiras eletrônicas e por
grades, o quê, para muitos estudiosos tornou-se alvo de críticas, como vimos no capítulo anterior,
mas também de defensores.
A cada dia aumenta a procura por morar no bairro, mesmo sendo um local
distante do Centro. Os condomínios oferecem toda uma estrutura para seus moradores, como:
transporte coletivo exclusivo para os moradores; jardins belíssimos; padaria; lanchonete; toda a
infra-estrutura de clubes com academia de ginástica e sala de musculação; piscina; sauna;
encantadoras balsas atravessam a Lagoa de Marapendi para levarem os moradores até a praia.
Alguns até tem um shopping bem próximo, suprindo algumas necessidades.
Outros,
recentemente inaugurados, oferecem campo de golfe particular com lagos e cisnes. Enfim, são
ou procuram ser, sempre que possível, auto-suficientes.
Mesmo com toda essa auto-suficiência, isto já no final dos anos de 1970
quando os primeiros condomínios foram inaugurados, os moradores necessitavam de locais mais
badalados para se divertirem, próximos a suas residências. Daí o surgimento dos shoppings.
Porém, antes deles, os primeiros grandes empreendimentos comerciais a se instalarem na Barra
foram os supermercados e hipermercados, ao longo da Avenida das Américas. O primeiro deles
foi o Carrefour, que foi erguido numa época em que a Barra ainda parecia um deserto, mal tinha
iluminação nas estradas e havia muito mato e areia. Na época foi uma grande novidade, pessoas
dos mais variados bairros estavam ansiosas para conhecer este novo modelo de mercado. Em
seguida outros foram surgindo como o Paes Mendonça (hoje, Extra), o Makro, o Freeway (hoje,
também Extra) e um mais recente chamado Bon Marché (do grupo Sendas).
Logo, após os hipermercados, vieram os shoppings, cujo modelo se adequou,
perfeitamente, ao modo de vida do bairro. Locais estritamente protegidos, controlados, vigiados
e confortáveis, tão diferente do comércio dos subúrbios. Circulando pelos shoppings, quem está
lá perde a noção do tempo, sem a percepção da hora do dia ou das condições climáticas. Há uma
grande variedade de serviços, tais como: pet-shops; consertos de sapatos e roupas; magazines;
papelarias; clínicas médicas; bancos; correios; cabeleireiros, postos de gasolina; academias e até
universidade. E entretenimentos, como: teatros; cinemas; música ao vivo; casa de show; oficina
de pintura e teatro para crianças; boliche; parquinho; entre outros.
O Barrashopping, construído em 1980, atrai
uma multidão de pessoas e turistas anualmente. O imenso
edifício de dois andares possui 540 lojas, 4 km de vitrines com
grifes famosas, um teatro, um parque de diversão infantil, o
U.S. Play, com o Brunswick Barra Bowling (boliche), o
Mercado da Praça XV (produtos hortifrutigranjeiros), o Rock
in Rio Café – um bar temático com pista de dança, entre outras
facilidades e serviços. “... seu faturamento anual equivale ao
orçamento de uma cidade da região metropolitana de quase
um milhão de habitantes”.37 O Barrashopping é o maior e
mais completo shopping da América Latina. Assim como os
Barrashopping
mercados, outros shoppings foram surgindo após o pioneiro
Barrashopping. Entre os principais e de grande porte, temos:
• O Casashopping – com 100 lojas e 208 salas comerciais, especializadas em móveis e decoração.
• O Via Parque – com 280 lojas, 6 cinemas do circuito Severiano Ribeiro e a maior casa de
espetáculos do Rio de Janeiro, o ATL HALL, que passou por uma recente reforma.
37
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 144.
• O New York City Center – o primeiro centro de
entretenimento do país, com 57 mil m² de área
construída.
Entre as principais atrações: o maior
megaplex do Brasil, com 18 salas de exibição com
4.500 lugares e tecnologia de ponta, loja da
GameWorks (com modernos e exclusivos simuladores e
jogos interativos), a Megastore da livraria Saraiva, além
da boate Studio 54.
New York City Center
• O Rio Design Center – o maior shopping temático de decoração da América Latina, com 100
lojas amplas e variados restaurantes.
Dois novos shoppings que seguem um novo modelo de arquitetura e uma
diferente proposta surgiram no bairro. O Città America e o Downtown. Ambos são ao ar livre e
possuem belos jardins, onde tudo, menos a vegetação é artificial.
O Città America, por exemplo, numa
área de 100 mil m², com 640 lojas em seus três andares,
possui uma arquitetura semelhante a uma espécie de
galeria neoclássica, que se harmoniza com três grandes
praças, nas quais destaca-se uma ambientação tropical
com vegetação exuberante em seus belos jardins.
Bromélias, flores e arbustos se estendem ao longo dos
rios e cascatas artificiais que cortam os corredores dos
shoppings.
O shopping está sempre movimentado,
principalmente, devido a duas grandes atrações: o Hard
Rock Café e o Parque da Mônica. Atrás da galeria
encontramos um conjunto de seis prédios de três andares,
Shopping Città America
de arquitetura contemporânea, totalizando 780 salas comerciais e escritórios.
O Downtown, primeira “cidade” comercial
do Brasil, projetado pelo arquiteto Luiz Paulo Conde, mais
parece um vilarejo residencial. São 23 blocos com cerca de
600 lojas e 900 salas comerciais. Também possui belos jardins
nas diversas pracinhas. “... o shopping se assentou sobre as
terras de um cemitério indígena, um sambaqui cujos despojos
estão guardados num sofisticado restaurante de Vargem
Grande”.38
Shopping Downtown
É um shopping completamente diferente dos tradicionais, pelo fato de ser
realmente aberto, obrigando os clientes a andarem sob sol ou debaixo de chuva. Dispõe de
centrais de lazer com atrações como o Cinemark – um dos maiores circuitos exibidores do
mundo, com 12 salas de cinema equipadas com telas gigantes, som digital, poltronas reclináveis,
arrumadas como um anfiteatro, permitindo melhor visão ao espectador e bares e restaurantes, que
complementam o agitado centro. Entre os mais famosos, o bar Na Pressão, a lanchonete do Pepê
e o restaurante Galeria Gourmet (ex Dado Bier).
Além dos sete citados acima, há uma infinidade de shoppings para todos os
gostos e estilos. Procurei detalhar os de grande porte porém, existem os pequenos shoppings,
mais voltados para condomínios do bairro como, por exemplo, o Barra Mall, o Millenium, o
América Mall, o Barra Square, o Rosashopping, o Midtown Nova Ipanema, entre outros.
De acordo com dados do Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro
(1998), em seus 3.593 hectares, em 1996 residiam no bairro 82.702 pessoas, com uma densidade
38
PINHEIRO, Augusto Ivan de Freitas e Eliane Canedo de Freitas, A Construção do Lugar – Barra da Tijuca, p. 145.
demográfica bruta de 23 habitantes por hectare, uma das mais baixas do Rio de Janeiro. Se fosse
descontada a superfície de suas lagoas, aproximadamente 13 km², este número seria bastante alto.
Além dos shoppings, a região tem muitos atrativos naturais, como as praias, os
bosques e os parques ecológicos.
Com uma faixa litorânea com 15 km de extensão, subdividida em 8,1 km antes
da Reserva e mais 7 km dentro da Área da Reserva Biológica de Marapendi, a Praia da Barra da
Tijuca é uma das maiores, senão a maior praia da cidade do Rio de Janeiro.
O primeiro trecho tem
início na Avenida do Pepê, a partir do
Quebra-Mar da Barra, estendendo-se pela
faixa
litorânea
ao
longo
da
Avenida
Sernambetiba. O segundo trecho tem início
logo após o Posto 8 do Salvamar, na faixa
litorânea pertencente à Área da Reserva
Biológica de Marapendi. Com 7 km de
extensão, a Praia da Reserva termina um
Píer da praia da Barra da Tijuca
pouco antes do Posto 9 do Salvamar, onde
inicia-se a Praia do Recreio dos Bandeirantes.
A Praia que é urbanizada desde o Quebra-Mar até um pouco depois do Posto 8
do Salvamar, oferece ciclovia, quiosques, iluminação especial noturna para a prática de esportes,
redes de vôlei, futebol de areia, aparelhos de ginástica, 8 torres de Salvamar, além de vários
quiosques. Em toda a sua extensão ela é acompanhada pelas águas da Lagoa e do Canal de
Marapendi.
Ao norte, três lagoas separam a Barra de Jacarepaguá - A Lagoa de
Jacarepaguá, a Lagoa do Camorim e a Lagoa da Tijuca, que desemboca na praia da Barra da
Tijuca, próximo ao Quebra-Mar. Três ilhas destacam-se nas lagoas: A Ilha da Gigóia, a Primeira
e a dos Pescadores. As duas primeiras são habitadas e a terceira é uma casa de shows e festas –
“A Ilha dos Pescadores”.
Parques ecológicos complementam os atrativos naturais do bairro. O Parque
Municipal Ecológico de Marapendi (que é uma Área de Proteção Ambiental); o Parque Arruda
Câmara (mais conhecido como Bosque da Barra) e o Parque Trevo das Palmeiras.
À esquerda, Parque Municipal Ecológico de
Marapendi. À direita, o Bosque da Barra.
Para complementar localiza-se na região o maior Centro de Convenções da
América Latina – O Rio Centro; o Pólo Rio de Cine, Vídeo e Comunicação – um dos maiores
centros de produção de cinema da América Latina; o Autódromo Internacional Nélson Piquet
– onde são sediadas provas como a Fórmula Indy e a Etapa Rio do Mundial de Motovelocidade; o
Parque Terra Encantada – com 20 grandes atrações, entre elas o Cabum (torre de 67m de altura
com elevador que despenca em queda livre a 100 km/h) e a Monte Makaya (montanha russa com
recorde mundial de inversões).
Acima o Rio centro. Ao lado, o Autódromo
Internacional Nelson Piquet.
Na Barra também existe um aeroporto localizado na Avenida Ayrton Senna
(antiga Via 11), chamado Aeroporto de Jacarepaguá. “O local onde hoje é o aeroporto de
Jacarepaguá era um pequeno campo de pouso criado pela empresa francesa Aeropostale em
1928. Essa firma, que se transformou na Air France, foi proprietária do campo até 1939, quando
o aeroporto passou para a aviação militar do Exército Brasileiro. Em 1944, o controle foi para o
Ministério da Aeronáutica. Antes da abertura da via 11, não existiam vias por terra para o
campo. A pista de pouso era alcançada por lanchas vindas da Barra pelas lagoas”.39
A Barra é tudo isto e muito mais! Um bairro muito jovem, que caminha rumo à
maturidade urbana e que a cada dia demonstra fortes indícios de seu futuro promissor.
39
COSTA, Waldemar, Imagens de Jacarepaguá, 1995, p. 22.

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