A cadeia produtiva para rochas ornamentas e para

Transcrição

A cadeia produtiva para rochas ornamentas e para
DIRETRIZES E AÇÕES PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE
1
A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e
para Revestimento no Estado de São Paulo
DIRETRIZES E AÇÕES PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello (Coordenador)
Patrocínio
Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico - CNPq
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Secretaria da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento
Econômico e Turismo do Estado de São Paulo - SCTDET
São Paulo
2004
Instituto de Pesquisas Tecnológicas
11
© 2004. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. IPT
Av. Prof. Almeida Prado, 532 Cidade Universitária “Armando de Salles Oliveira”
CEP 05508-901 São Paulo SP ou Caixa Postal 0141 CEP 01064-970 São Paulo - SP
Telefone: (11) 3767-4000 - Telefax: (11) 3767-4099
www.ipt.br - [email protected]
Impresso no Brasil.
Equipe Executora
Coordenador
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello
Pesquisadores
Antonio Carlos Artur, Antonio Misson Godoy, Arlindo
Villaschi, Fabiano Cabañas Navarro, Fábio Conrado
de Queiróz, Luciano de Andrade Gobbo, Maria Heloísa Barros de Oliveira Frascá, Tamar Milca
Bortolozzo Galembeck, Tânia de Oliveira Braga
Conselho Editorial
Maria Luiza Otero D’Almeida (Presidente)
Flávio Farah
João Francisco Peral Cespedes
Marcelo Martins Seckler
Rosemary A. B. N. Dib Cano
Revisão Técnica
Eduardo Brandau Quitete, Wilson Shoji Iyomasa
Capa
Waldyr Dantas Cortez
Apoio
Ilustração
Waldyr Dantas Cortez
Cartografia Digital
Isabel Cristina Carvalho Fiammetti
Estagiários
Artur Almgren Saldanha Júnior, Leonardo
Locoselli Garcez
Produção Gráfica
Páginas & Letras Editora e Gráfica Ltda.
Revisão Editorial
Eva Célia Barbosa
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
A Cadeia produtiva de rochas ornamentais e para revestimento no
Estado de São Paulo : diretrizes e ações para inovação e competitividade / (Ivan Sergio de Cavalcanti Mello, coordenador; ilustração
Waldyr Dantas Cortez; cartografia digital Isabel Cristina Carvalho
Fiammetti). - São Paulo : Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 2004.
Vários autores.
Vários colaboradores.
Patrocínio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq, Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, Secretaria da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo - SCTDET
Bibliografia.
1. Processos de revestimento 2. Rochas ornamentais I. Mello, Ivan
Sergio de Cavalcanti. II. Cortez, Waldyr Dantas. III. Fiammetti, Cristina
Carvalho. IV. Série.
04-3297
CDD-624.1832098161
Índices para catálogo sistemático:
1. Rochas ornamentais : Cadeias produtivas : São Paulo :
Estado : Tecnologia
624.1832098161
2. Rochas para revestimento : Cadeias produtivas : São Paulo:
Estado : Tecnologia
624.1832098161
Publicação IPT 2995
Tiragem: 1.000 exemplares
111
Governo do Estado de São Paulo
Governador
Geraldo Alckmin
Secretaria da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento
Econômico e Turismo
Secretário
João Carlos de Souza Meirelles
Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo
Presidente
Alberto Pereira de Castro
Vice-Presidente
Francisco Romeu Landi
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretor-Superintendente
Guilherme Ary Plonski
Diretor de Planejamento e Gestão
Marcos Alberto Castelhano Bruno
Diretor Técnico
Francisco Emílio Baccaro Nigro
Diretor Administrativo-Financeiro
Milton de Abreu Campanario
8
Apresentação
O setor de rochas ornamentais e para revestimento, no Brasil, vem apresentando um alto
ritmo de crescimento, nas últimas décadas, em função da crescente demanda por revestimentos
rochosos para edificações, e da grande aceitação de matérias-primas e produtos pétreos brasileiros
no mercado externo. Isso faz com que o País, hoje, se alinhe entre os principais produtores e
exportadores mundiais. No mercado interno, a região Sudeste é a que mais utiliza esses produtos e se
mostra com maior potencial para crescimento da demanda. São Paulo, por sua vez, é o maior
consumidor nacional de materiais pétreos para revestimento.
Os condicionantes anteriores fazem de São Paulo, que hoje conta com uma produção
minerária bastante discreta, um grande comprador de materiais brutos, produtos semi-acabados
ou acabados provenientes de outros Estados, e participante amplamente majoritário das
importações brasileiras de pedras naturais.
Impulsionada pela demanda estadual e regional, a indústria paulista mostra-se com certo
destaque no cenário produtivo brasileiro das rochas ornamentais e para revestimento. Nesse sentido,
os indicadores, embora bem mais modestos, em termos gerais, que os dos principais produtores,
Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, e próximos aos do Rio de Janeiro, situam São Paulo à frente
de todos os demais Estados que participam da produção nacional. Concorrem para isto, de modo
decisivo, os segmentos empresariais envolvidos no beneficiamento de matérias-primas, seja na
serragem de blocos, seja, mais ainda, na preparação de produtos para o consumo final.
De qualquer modo, a participação de São Paulo nas vendas internas e nas exportações
brasileiras de pedras naturais encontra-se aquém do que permitiria a capacidade produtiva instalada
no Estado. Mais que isto, o parque industrial paulista mantém-se ainda muito distante das
oportunidades de negócios, nos âmbitos interno e externo, que decorreriam da aplicação, mais
constante e disseminada, de soluções para os permanentes desafios à inovação e melhoria da gestão
empresarial, à qualificação da mão-de-obra empregada e à qualidade dos processos produtivos que
cercam, nos dias de hoje, a crescente competição pela conquista de mercados.
Neste contexto, pretende-se que este livro, muito embora longe de esgotar os temas abordados,
ofereça ao setor de rochas ornamentais e para revestimento, particularmente o paulista, às entidades
de governo focadas no desenvolvimento industrial, econômico e social, e aos órgãos e instituições de
apoio a negócios e de apoio tecnológico, um panorama atualizado sobre essa atividade míneroindustrial em São Paulo, como base para a tomada de decisões estratégicas. São também apresentadas
sugestões quanto à formulação de diretrizes e ações de inovação para aumento da competitividade
da cadeia produtiva, e conceitos para entendimento da dinâmica em aglomerações geográficas de
empresas especializadas – os chamados Arranjos Produtivos Localizados, APLs. O conteúdo do
livro traz, ainda, alternativas práticas para a superação de alguns dos obstáculos mais citados pelos
produtores, e apresenta critérios para escolha, aplicação e conservação de revestimentos pétreos,
úteis aos especificadores e aplicadores desses produtos, e consumidores em geral.
O livro é constituído por sete capítulos. No Capítulo 1, são reunidos indicadores do mercado
nacional e internacional de rochas ornamentais e para revestimento. No Capítulo 2, é traçado o
perfil da cadeia produtiva paulista; são focalizados os principais desafios que enfrentam os elos de
produção; descritas as regiões e os aglomerados produtivos existentes no Estado; e listadas alternativas
para maior competitividade do setor. No Capítulo 3, é feita uma abordagem conceitual para o
entendimento da dinâmica produtiva e inovadora em aglomerações empresariais especializadas, e
destacados os elementos mobilizáveis para a consolidação do APL marmorista da Grande São Paulo.
81
Os capítulos subseqüentes avançam na abordagem e detalhamento de alguns temas funcionais para
produtores, especificadores e consumidores, oportunidade em que são apresentadas algumas
novidades: no Capítulo 4, cadastram-se novas matérias-primas e delimitam-se áreas potenciais em
São Paulo, como sinalização de oportunidades para ampliação da atividade de mineração; no Capítulo
5, são estabelecidos roteiros para a certificação ambiental das empresas de extração e transformação
do setor; no Capítulo 6, são descritas rotinas inovadoras para reciclagem de resíduos industriais
resultantes do beneficiamento de rochas; e, finalmente, no Capítulo 7, são indicados critérios para
escolha e usos adequados de revestimentos pétreos, diagnosticadas causas de deteriorações e
apontados modos de conservação desses materiais.
Para edição desta publicação e realização dos trabalhos em que ela se baseia utilizaram-se
recursos financeiros advindos do Fundo Setorial de Mineração, concedidos pelo Ministério de Ciência
e Tecnologia – MCT, através do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
CNPq (projeto Diretrizes e Ações para Melhoria da Competitividade Industrial e Consolidação de
Arranjos Produtivos no Setor de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo –
processo CNPq n. 521246/01-6). Recursos financeiros complementares foram disponibilizados pela
Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São
Paulo – SCTDET, via Departamento de Ciência e Tecnologia – DCET (projeto Diagnóstico TécnicoEconômico e Proposições para Melhoria da Competitividade da Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento do Estado de São Paulo – processo SCTDET n. 463/01).
Os trabalhos foram realizados entre o início de 2002 e o início de 2004. Dentre as várias
atividades desenvolvidas, pode ser dado destaque às mais de 350 entrevistas com produtores,
fabricantes de máquinas e equipamentos, especificadores, empresas de exportação e agentes de
financiamento, de São Paulo e de outros Estados, no sentido de obter dados primários sobre a
cadeia produtiva paulista e ter contato com a realidade da produção estadual e brasileira. Vale
salientar também os encontros com representantes de entidades empresariais, como a Associação
Brasileira das Indústrias Exportadoras de Mármores e Granitos – Abiemg; a Associação Brasileira
da Indústria de Rochas Ornamentais – Abirochas; e o Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos
do Estado de São Paulo – Simagran/SP, para avaliar ações e estratégias em benefício do setor.
Igualmente de grande valia foi a troca de informações e a discussão sobre possíveis parcerias para
apoio tecnológico que aconteceram com entidades como o Serviço Nacional de Aprendizado
Industrial – Senai/SP; o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo – Sebrae/SP;
além do Centro de Tecnologia Mineral – Cetem e o Departamento de Recursos Minerais – DRM, do
Rio de Janeiro. Afora isso, são parceiros co-autores, neste trabalho, a Universidade Estadual
Paulista – Unesp/Rio Claro e a Rede de Apoio a Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – Redesist.
Ao apoio do MCT, CNPq e SCTDET, e à colaboração obtida dos produtores e demais entidades
citadas, imprescindíveis à obtenção dos dados, às formulações aqui feitas e sua difusão na forma
deste livro, os mais sinceros agradecimentos.
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello
Coordenador
811
Sumário
Apresentação .........................................................................................................
V
Capítulo 1
Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas
Ornamentais e para Revestimento
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello .....................................................................
1
Capítulo 2
A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para
Revestimento: Situação, Desafios, e Alternativas para
Inovação e Competitividade dos Elos de Produção
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello ..................................................................... 27
Capítulo 3
Arranjos Produtivos Localizados: Um Referencial Conceitual
para Análise da Concentração de Agentes Econômicos,
Sociais e Políticos Ligados à Atividade Marmorista na
Grande São Paulo
Arlindo Villaschi .............................................................................................. 81
Capítulo 4
Oportunidades Minerárias
Antonio Carlos Artur; Fabiano Cabañas Navarro;
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello; Tamar Milca Bortolozzo Galembeck;
Antonio Misson Godoy .................................................................................... 91
Capítulo 5
Certificação Ambiental
Tânia de Oliveira Braga .................................................................................. 115
Capítulo 6
Aproveitamento de Resíduos Industriais
Luciano de Andrade Gobbo; Ivan Sergio de Cavalcanti Mello;
Fábio Conrado de Queiróz; Maria Heloisa Barros de Oliveira Frascá ............ 129
Capítulo 7
Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades,
Usos e Conservação
Maria Heloisa Barros de Oliveira Frascá ........................................................ 153
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 1i
CAPÍTULO 1
Indicadores do Mercado Nacional e
Internacional de Rochas Ornamentais
e para Revestimento
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello ([email protected])
Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT
MERCADO MUNDIAL
O comércio de rochas ornamentais e para revestimento1 insere-se, em grande parte, no mercado
da construção civil. Os negócios da indústria de pedras naturais movimentam, no mundo, próximo de
US$ 50 bilhões anuais, consideradas as transações nos mercados internos dos países produtores, as
vendas internacionais e o comércio de máquinas e equipamentos2. Nos últimos 15 anos foram registradas
taxas médias entre 7% e 8% para o aumento anual da produção, da exportação e do consumo mundiais
desses produtos, segundo os dados estatísticos de MONTANI (2000, 2003).
Entre 60% e 70% da produção mundial é destinada aos mercados internos dos países produtores,
com 30% a 40% sendo direcionada ao comércio internacional.
A indústria extrativa global de pedras naturais evoluiu do patamar de produção de dois milhões
de toneladas, nos anos 20 do século passado, para 67,5 milhões de toneladas em 2002 (Figura 1A).
Naquele ano, mármores e matérias-primas assemelhadas (rochas carbonáticas), granitos e seus
assemelhados (rochas silicáticas) e ardósias constituíram, respectivamente, próximo a 58%, 37% e 5%
da produção mineira mundial noticiada – base de dados de MONTANI (2003).
Em 2002, a Ásia, especialmente pelo desempenho da China, da Índia e do Irã, ultrapassou pela
primeira vez o continente europeu na moderna produção extrativa global, ao responder por 43% do total
produzido no mundo (Figura 1B)3. A Europa, que reúne boa parte dos mais tradicionais e importantes
produtores mundiais, entre eles Itália, Espanha, Portugal, Turquia e Grécia (Figura 1C), posicionou-se
logo atrás, com 42% dessa produção. A China, paulatinamente, assumiu o papel que foi da Itália até o
final dos anos 90, de principal produtor e exportador mundial, principal importador de produtos brutos e
maior exportador de produtos beneficiados. Nas Américas, salienta-se a produção brasileira, secundada
pela norte-americana. No continente africano, as maiores produções, em 2002, foram da África do Sul e
do Egito, enquanto que na Oceania o maior produtor tradicionalmente é a Austrália. No cenário global,
a Itália permanece como o maior exportador de máquinas, equipamentos e tecnologia (Figura 2), itens
cujo maior comprador é a China, em ação grandemente responsável pelo crescimento de sua produção e
participação no comércio mundial nos últimos anos.
Tratando-se das importações mundiais, a China liderou o grupo dos maiores compradores,
principalmente pelos volumes adquiridos de mármores e granitos brutos (Figura 3)4. A Itália surge em
segundo lugar, devido à compra destes mesmos produtos, porém na ordem inversa. França, Reino Unido,
Estados Unidos da América (EUA) e Alemanha destacam-se pelo consumo de produtos de ardósia. Os
1
Para maior objetividade, no texto, os termos rochas ornamentais e para revestimento serão denominadas apenas como rochas ornamentais,
e o setor de rochas ornamentais e para revestimento apenas como o setor. Afora isto, esses materiais, a depender do idioma, são
designados como pedras lapídeas, pedras dimensionais ou pedras naturais, termos equivalentes que também serão utilizados.
2
Projeção feita a partir da estimativa de PEITER et al. (2001) para o comércio mundial de rochas ornamentais no ano 2000 – US$ 41
bilhões/ano.
3
O termo “volume físico”, que consta no título desta figura, e é repetido ao longo deste texto, é utilizado ao modo do mercado, ou seja, para
designação de grandezas físicas que podem ser medidas em t, m3 ou m2, conforme o tipo de produto ou do sistema adotado.
4
As designações numéricas que aparecem no título desta figura (25.15, por exemplo), correspondem a categorias de produtos definidas
em sistemas harmonizados, utilizados para codificar e classificar mercadorias no comércio internacional.
2 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 3i
A
B
C
Figuras 1A, 1B e 1C – A indústria extrativa mundial de pedras lapídeas: (A) Evolução dos volumes físicos
produzidos; (B) Participação dos continentes – ano 2002; (C) Principais produtores – ano 2002. Fonte: MONTANI
(2003).
EUA, por sua vez, são o maior importador mundial de produtos beneficiados especiais, do tipo chapas e
padronizados de mármores e granitos, pouco à frente da Coréia do Sul e Japão. A Alemanha é o maior
comprador internacional de produtos processados simples (pedras e placas para calcetar). Ao observarse o perfil de compra e venda de alguns desses importadores, parte deles detentores de importantes
parques industriais de transformação e também grandes exportadores, nota-se que é seguida, em tais
casos, a regra natural da importação preferencial das matérias-primas brutas mais escassas em seus
próprios territórios, para processamento, consumo interno e revenda ao estrangeiro de produtos acabados.
4 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A
B
Figuras 2A e 2B – Principais participantes nas vendas internacionais de máquinas e equipamentos – volume
físico, em 2002: (A) Exportadores; (B) Importadores. Fonte: MONTANI (2003).
Os preços médios praticados pelos principais países produtores nas vendas internacionais de
blocos variam entre US$ 300/m3 e US$ 700/m3, tratando-se de granitos; e US$ 500/m3 e US$ 1.300/m3,
no caso de mármores. Produtos semi-acabados, como chapas polidas, têm preços entre três e cinco vezes
maiores em relação aos materiais em estado bruto. Tratando-se de produtos finais (peças padronizadas,
peças sob medida ou personalizadas), o valor agregado é ainda maior, com preços atingindo de seis a dez
vezes mais que os dos materiais in natura5.
Nas vendas internacionais, os negócios com produtos processados, em especial o comércio
internacional de chapas e produtos padronizados de mármores e granitos, têm mostrado crescimento
mais constante, a ponto de superar as transações com produtos brutos desde meados da última década
(Figura 4).
Por outro lado, e para efeito comparativo, a Figura 5 mostra a evolução do consumo mundial de
revestimentos pétreos e cerâmicos a partir dos anos 90. Nota-se que o consumo desses últimos vem
aumentando a taxas maiores que o dos revestimentos pétreos, havendo uma relação de 1 m2 para cada 7
m2 comercializado, desfavorável às pedras naturais, cujas vendas ressentem-se, mais ainda, da concorrência
direta, nos últimos anos, do grés porcelanato6.
5
Apesar de os blocos – corpos retangulares, em geral com 5 m3 a 8 m3, resultarem de processos de extração que envolvem o corte e o
esquadrejamento de rochas em pedreiras, são considerados, para efeitos da estatística mineral, como materiais ou produtos brutos, que
darão origem a produtos beneficiados, após etapas de transformação industrial. Estes últimos poderão ser semi-acabados, como chapas, ou
peças preparadas para o consumo final, seja do tipo padronizadas (ladrilhos ou placas para revestimento, por exemplo), seja do tipo sob
medida ou personalizados, que envolvem produtos funcionais (mesas, pias, etc.), objetos para arte paisagística, para arte estatuária, para
arte funerária e outros.
6
Revestimento cerâmico nobre, surgido nos anos 70 do século passado, de alto desempenho e estética sofisticada, que muitas vezes imita
a aparência das pedras naturais.
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 5i
A
B
C
D
E
F
Figuras 3A, 3B, 3C, 3D, 3E e 3F – Participação dos países nas importações mundiais – volume físico, em
2002: (A) Total comercializado; (B) Mármores brutos (25.15); (C) Granitos brutos (25.16); (D) Ardósias (68.03);
(E) Processados especiais (68.02) – chapas e padronizados de mármore e granito; (F) Processados
simples (68.01) – pedras e placas para calcetar. Fonte: MONTANI (2003).
6 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Figura 4 – Evolução das vendas no comércio internacional de pedras lapídeas – volume físico. Fonte:
MONTANI (2003).
Figura 5 – Comparação entre o consumo de revestimentos pétreos e cerâmicos no mundo. Fonte: MONTANI
(2003).
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 7i
No Brasil, a despeito de enfrentar desafios consideráveis e muito ter a evoluir, já que se trata de
segmento da indústria mineral nacional com apenas 30 a 40 anos de atividade mais intensa e disseminada,
a atuação do setor produtivo de rochas ornamentais tem possibilitado ao País participar de forma
significativa do mercado mundial, prática favorecida pela singular diversidade e ótima aceitação das
matérias-primas brasileiras, especialmente os granitos.
De fato, o País alinha-se entre os grandes produtores mundiais de granitos e ardósias. Outro
aspecto muito importante, vem conseguindo progressivamente alterar seu perfil de exportação, ao
comercializar cada vez mais produtos beneficiados, com maior valor agregado – especialmente produtos
semi-acabados ou acabados padronizados de granitos, ardósias e quartzitos.
Em 2002, o País foi o 6o no mundo em volume físico produzido de blocos (rever Figura 1C), o
que correspondeu a 4,1% da produção global. Foi também o 6o exportador, responsável por 5,6% do
volume físico das exportações mundiais e, destas, o 2o como exportador de blocos de granitos. Foi
também o 2o em vendas de ardósias, o 7o exportador de chapas de granitos e mármores, e o 21o como
exportador de mármores brutos (Figura 6).
Os mais diretos concorrentes do Brasil no mercado internacional, a despeito da importante
participação da África do Sul como exportador de granitos brutos, são a China e a Índia, países que
também integram o bloco das nações emergentes, possuem grande dimensão territorial, e igualmente
têm, nos granitos, o carro-chefe de suas exportações.
Quanto a isso, a Figura 7 compara a participação dos diversos produtos nas exportações do
Brasil, da China e da Índia, confrontando-as com as da Itália. O grande diferencial chinês quanto ao
Brasil e à Índia é o volume da exportação de processados especiais – particularmente chapas de granitos
e mármores. Aquela ilustração mostra ainda que, entre 2000 e 2001, a China ultrapassou a Itália na
exportação de beneficiados de mármores e granitos, valendo-se, para isso, inicialmente, de um melhor
aproveitamento da expansão do mercado consumidor mundial, porém, mais recentemente, à custa da
efetiva diminuição das vendas italianas no mercado internacional.
A China é hoje, certamente, o principal concorrente de todos os demais principais exportadores.
Isto ocorre por razões que conferem àquele país um papel singular no mercado de rochas ornamentais.
Dentre elas destacam-se vantagens competitivas regulares, como o forte desenvolvimento de sua mineração
e a capacidade instalada de transformação industrial, que se valem da presença de mão-de-obra abundante
e barata, e da importação intensiva, nos anos passados, de máquinas, equipamentos e tecnologia. Por outro
lado, há indicação de que os baixos preços praticados por aquele país no comércio internacional decorrem
também da produção freqüente, a baixo custo, de máquinas e equipamentos “nacionalizados”. Mais ainda,
há consenso de que esses preços são politicamente sustentados, em consonância com as metas de alto
crescimento da economia chinesa. Isto seria decisivo para a configuração do cenário atual, no qual a China
importa quantidades crescentes de blocos7 e vende produtos decorrentes de sua transformação industrial,
semi-acabados e acabados, a preços que não podem ser acompanhados pelos produtores dos países de
origem daqueles materiais. Desse modo, são também “nacionalizadas” rochas estrangeiras, com graves
prejuízos comerciais aos demais competidores.
Por ora, os principais interesses afetados são as vendas dos demais países para o mercado asiático,
uma vez que as exportações chinesas de beneficiados permanecem muito concentradas na Coréia do Sul e
Japão, seguidos por Hong-Kong e Taiwan. Porém já alcançam, também, a título de exemplo, dois terços do
volume físico das vendas de chapas e padronizados do Brasil para os EUA, e um terço das vendas desses
produtos da Itália aos norte-americanos – segundo dados de MONTANI (2003).
Desse modo, é provável, em decorrência do que fundamenta sua competitividade, uma vez que
não surjam fatos novos relevantes no panorama internacional e no âmbito interno daquele País, que a
China mantenha e mesmo amplie sua participação no mercado mundial nos próximos anos.
7
Já é o principal comprador de blocos do Brasil, por exemplo.
8 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A
B
C
D
E
Figuras 6A, 6B, 6C, 6D e 6E – Participação brasileira nas exportações mundiais – volume físico, em 2002: (A)
Vendas totais; (B) Granitos brutos (25.16); (C) Mármores brutos (25.15); (D) Ardósias (68.03); (E) Processados
especiais (68.02) – chapas e padronizados de mármore e granito. Fonte: MONTANI (2003).
MERCADO NACIONAL
Segundo CHIODI FILHO (2003), existem, no Brasil, próximo a 600 variedades comerciais de
rochas ornamentais. Para este autor, a mineração abrangeria 1.500 frentes de lavra ativas, e contaria o
País com um parque de beneficiamento de blocos com capacidade para serragem de 40 milhões de m2/
ano8. A produção e a comercialização estariam a cargo de 11.100 empresas, 1.000 delas operando na
lavra, 2.000 no beneficiamento primário (serrarias), 7.000 no beneficiamento final (marmorarias) e 650
na exportação. Outras 500 empresas estariam envolvidas com as demais atividades industriais e serviços.
O setor seria responsável pela geração de 114.000 empregos diretos.
8
Considerados os dados de Peiter et al. (2001), devem existir, instalados no País, entre 1.500 e 2.000 teares.
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 9i
A
B
Figuras 7A e 7B – Exportações da China, Índia, Brasil e Itália: (A) Tipos de produtos pétreos – volume físico,
em 2002; (B) Participação nas vendas de processados especiais (68.02) – volume físico. Fontes: PEITER et
al. (2001) e MONTANI (2003).
A Figura 8 indica a participação dos vários tipos comerciais na produção extrativa brasileira, que
teria alcançado, em 2002, os seis milhões de toneladas anuais (CHIODI FILHO, 2003)9. Nesta produção,
predomina grandemente a mineração de granitos, seguida, à distância, pela de mármores, ardósias e
demais rochas.
9
Aqui são feitas projeções próprias, para a atividade minerária de São Paulo, detalhadas no Capítulo 2, que elevam a estimativa de
CHIODI FILHO (2003) para a produção mineraria brasileira, em 2002, dos seis milhões à casa dos 6,4 milhões de toneladas anuais.
10 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A
B
Figuras 8A e 8B – Extração brasileira de rochas ornamentais: (A) Participação das principais classes rochosas;
(B) Volumes dos diferentes tipos comerciais produzidos. Fonte: CHIODI FILHO (2003).
Em 2000, o setor teria movimentado cerca de US$ 2,1 bilhões (PEITER et al., 2001)10, entre as
transações no mercado interno, correspondentes a 80% das operações comerciais, vendas no mercado
externo e a comercialização de máquinas e equipamentos (Quadro 1).
Comparando-se os últimos indicadores com as informações do Sumário Mineral Brasileiro (DNPM,
2003), verifica-se que o setor participou com, pelo menos, 4% dos US$ 50,9 bilhões gerados pela indústria
extrativa e de transformação mineral brasileira no ano de 2002, incluídos os bens energéticos.
Cerca de 75% da produção brasileira é destinada ao mercado interno, e mais de 70% dela têm
origem nos Estados do Espírito Santo11, Minas Gerais e Bahia (Quadros 2 e 3). Pelo menos 75% das
marmorarias brasileiras estão localizadas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, ou
seja, inseridas no maior centro consumidor do País, que é constituído pelos estados do sudeste. São
Paulo, em particular, é possivelmente responsável pela metade do consumo nacional. A região sudeste
responde ainda por, pelo menos, 85% das exportações e importações brasileiras.
10
Não há totalização detalhada mais recente das operações comerciais do setor brasileiro, explicitando as transações no mercado interno,
e as vendas de máquinas, equipamentos, insumos e serviços. Em CHIODI FILHO (2004), é feita a estimativa de US$ 2,5 bilhões para
o total movimentado pelo setor no Brasil em 2003, montante certamente apoiado na mesma projeção aqui utilizada, referente a 2000.
11
O Espírito Santo é responsável por mais de 40% da mineração brasileira de rochas ornamentais – pelo menos a metade da extração nacional
de granitos e dois terços da extração de mármores –, e mais da metade das exportações brasileiras. Tal assimetria, em relação aos demais
Estados, possivelmente leve o setor, em futuro não muito distante, a ter que discutir alternativas para manutenção, o quanto possível, do
admirável desempenho capixaba e sua importância no cenário brasileiro das rochas ornamentais, sem que isto se traduza em um forte inibidor
da atuação dos demais Estados produtores, como muitas vezes já acontece. Talvez seja então possível uma maior aproximação entre os
indicadores produtivos dos vários Estados, estando melhor harmonizadas as vantagens competitivas desses atores.
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 11i
Quadro 1 – Valores estimados das transações comerciais do setor brasileiro de rochas ornamentais e
para revestimento – ano 2000 (extraído de PEITER et al., 2001).
Tipo de Transação
Comercial (US$ 1 =
R$ 1,85, no ano 2000)
Tipo de Produto
Exportações
Rochas brutas
e beneficiadas
Mercado Interno
502
271
1 milhão de m3
200
108
Chapas de mármores
e granitos
25 milhões de m2
750
405
Produtos acabados de
mármores e granitos
20 milhões de m2
2.000
1.080
Ardósias
2
15 milhões de m
60
33
Quartzitos
4,5 milhões de m2
45
25
Miracema
10 milhões de m2
30
17
244
131
3.329
1.799
100
54
3.931
2.125
Subtotal
Total
R$ (Milhões)/Ano US$ (Milhões)/Ano
Blocos de mármores
e granitos
Importações
(valor agregado)
Transações com
Máquinas, Equipamentos,
Insumos e Serviços
Volume Físico/Ano
A Figura 9 utiliza-se dos dados de sucessivas edições do Sumário Mineral Brasileiro, e estatísticas
da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento – Anfacer. Na Figura 9A, é
mostrada a evolução produtiva e o consumo interno oficiais de blocos de granitos e mármores no País. A
Figura 9B compara as produções oficiais de revestimentos pétreos, cerâmicos, e a produção específica
de porcelanato no final da última década. Vê-se, assim, que a exemplo do que ocorre no cenário
internacional, aparentemente a indústria cerâmica brasileira tem aproveitado melhor as oportunidades
para ampliar sua produção. Mais ainda, é muito significativa a indicação de que houve 44% de aumento
na produção de porcelanato entre os anos de 1999 e 2000. Na Figura 9C, por sua vez, é feita a comparação
entre o consumo oficial de revestimentos pétreos e o de cerâmicos. A partir disso, percebe-se a ampliação,
no Brasil, da relação de consumo desfavorável aos revestimentos rochosos no mundo, uma vez que para
cada 1 m2 de revestimento pétreo utilizado no País seriam consumidos quase 17 m2 de revestimentos
cerâmicos. Isto se torna ainda mais grave para o setor de rochas brasileiro pelo fato de intensificar-se, no
cenário interno, nos últimos anos, como mostra aquela ilustração, a tendência de um maior consumo
relativo dos revestimentos cerâmicos.
No entanto, tais comparações devem ser vistas com alguma cautela, já que as estatísticas
oficiais consideram apenas o consumo de revestimentos pétreos decorrentes do beneficiamento de
granitos e mármores, sendo excluídos materiais como ardósias, gnaisses, quartzitos e outras rochas
placóides, cujo uso é crescente no mercado consumidor brasileiro, especialmente para revestimento
de pisos.
Desse modo, embora os dados oficiais indicassem um consumo interno per capita de
revestimentos pétreos, em 2002, na casa dos 15 kg/habitante/ano, àquela altura o setor já trabalhava
com a estimativa de um consumo real mínimo de 25 kg/habitante/ano, equivalente aos 50 milhões
de m2/ano estimados desde o ano 2000 – considerar o consumo de produtos acabados, ardósias,
quartzitos e pedras Miracema, no Quadro 1. Mais recentemente, o consumo interno aparente de
revestimentos rochosos foi estimado por CHIODI FILHO (2004), para o mesmo ano de 2002, em
58,5 milhões de m2 (Quadro 4) – o que permite cálculo do consumo de 29 kg/habitante/ano. Nessa
12 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
2.400.000
1.103.000
490.000
320.000
260.000
180.000
122.000
86.000
63.000
60000(*)
47.000
15.000
15.000
13.000
5.000
3.000
4.000
0
0
5.186.000
ES
MG
BA
PR
RJ
CE
GO
RS
PB
SP
PE
AL
RO
RN
SC
PA
PI
SE
MT
Total
1
0
0
0
0
0
1
1
1
0
0
2
2
2
5
6
10
22
47
%
(Brasil)
Granitos
Mármores
Granitos
Ardósia
Quartzitos
Outras
Granitos
Mármores
Quartzitos
e Arenitos
Granitos
Mármores
Outras
Granitos
Mármores
Miracema
Granitos
Calcários
Granitos
Quartzitos
Granitos
Basaltos
Granitos
Granitos
Granitos
Granitos
Granitos
Granitos
Mármores
Granitos
Granitos
Quartzitos
—
—
—
Rochas
32
25
43
25
5
70
85
15
50
50
58
42
100
100
100
100
100
40
60
100
100
100
0
0
100
23
90
10
38
37
20
5
52
25
%
Produção
7
2
1.574
15
10
4
9
160
21
9
2
51
7
44
150
69
48
66
900
Teares
1
0
0
0
0
100
0
0
10
1
0
0
3
0
3
7
4
3
4
61
%
(Brasil)
10
3
10
0
0
1.163
3
12
30
13
4
8
78
36
57
230
12
97
160
400
Frentes
de Lavra
1
0
1
0
0
100
0
1
2
1
0
0
6
3
3
33
1
7
12
30
%
(Brasil)
200
100
40.630
480
230
100
330
3.800
500
220
100
1.200
170
1.100
2.600
1.700
1.200
1.600
25.000
Capacidade
Serragem
(m2 x 1000)
1
0
0
0
0
100
0
1
10
1
0
0
3
0
3
7
5
3
4
61
%
(Brasil)
300
43
20
26
35
6.449
20
20
3.000
60
15
10
270
100
60
630
300
180
1.000
300
Marmorarias
5
1
0
0
1
100
0
0
50
1
0
0
4
2
1
10
5
3
17
6
%
(Brasil)
3.200
500
200
300
350
105.720
200
400
31.000
800
200
170
3.800
1.700
1.400
13.800
3.500
3.200
21.000
20.000
Empregos
Diretos
3
1
0
0
0
100
0
0
32
1
0
0
4
2
1
14
0
3
21
20
%
(Brasil)
Observações: ES - teares entre 850 e 950, sendo 40 importados; MG - os quartzitos são do tipo laminado (Pedra Mineira ou São Tomé). Outras correspondem a mármores, pedra sabão e
serpentinito; BA - os quartzitos são do tipo maciço; PR - outras correspondem a petit pavê, lousinhas e paralelepípedos; RJ - das 230 frentes de lavra, 200 em Sto. Antônio de Pádua (Pedras
Miracema e Madeira). Dos 150 teares, 20% parados; CE - Os calcários são laminadados (Pedra Cariri). Das 57 frentes de lavra, 30 extraem este tipo de material; GO - os quartzitos são do tipo
laminado (Pedra Goiás ou Pirenópolis); SP - dos 160 teares, 40% estão destivados. (*) Refere-se à produção exclusiva de blocos; PI - os quartzitos são do tipo laminado (Pedra Morisca); SE - dos
7 teares, 4 são diamantados; MT - teares paralisados.
Produção
Mineira
(t/ano)
Estado
Quadro 2 – Participação dos estados brasileiros no setor de rochas ornamentais – ano 2000 (modificado de PEITER et al., 2001).
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 13i
14 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Quadro 3 – Estimativa para a participação dos estados na produção extrativa e geração de empregos
ligados ao setor de pedras naturais no Brasil em 2002 (modificado de CHIODI FILHO, 2003).
Estado
Produção Mineira
(t/ano) (1)
ES
2.850.000
%
(Brasil)
Rochas
Empregos
Diretos
%
(Brasil)
44,9
Granitos e mármores
25.000
21,8
22.500
19,7
MG
1.200.000
18,9
Granitos, ardósias,
quartzitos e outras
BA
500.000
7,9
Granitos, mármores,
quartzitos e arenitos
3.500
3,1
SP
425.000(2)
6,7
Granitos, arenitos,
calcários e basaltos(2)
32.000
27,9
PR
320.000
5
Granitos, mármores
e outras
3.300
2,9
RJ
260.000
4,1
Granitos, mármores
e gnaisses
14.500
12,7
CE
250.000
3,9
Granitos e calcários
1.500
1,3
GO
150.000
2,4
Granitos, quartzitos
2.000
1,7
RS
140.000
2,2
Granitos, basaltos
4.000
3,5
SC
80.000
1,3
Granitos e ardósias
3.500
3,1
PB
62.000
1,0
Granitos e conglomerados
500
0,4
PE
50.000
0,8
Granitos
1.000
0,9
Outros
58.000
0,9
Granitos, mármores
e quartzitos
1.200
1,1
6.345.000
100
114.500
100
Total
(1) Pode incluir, além da produção de blocos, pedras de cantaria e para calcetar.
(2) Estimada neste trabalho. Contempla a produção minerária paulista em 2002, sendo 50.000 t em blocos e 400.000 t como pedras para calcetar
e para cantaria. Em CHIOD FILHO (2003) é apontada para São Paulo uma produção de apenas 80.000 t.
última estimativa, dentre os diferentes usos para as rochas ornamentais, destacar-se-ia o revestimento
de pisos internos e externos, modo de aplicação equivalente a mais da metade do que teria sido
consumido naquele ano.
Quadro 4 – Estimativa para o uso de rochas ornamentais pelo mercado consumidor brasileiro (extraído
de CHIODI FILHO, 2004).
Usos
(milhões de m2)
Pisos Internos
Granitos
5,78
Mármores
Mármores
Importados
Ardósias
Quartzitos
Outros
Total
Participação(%)
2,34
0,12
3,00
1,25
0,87
13,36
22,9
Pisos Externos
3,85
1,55
0,08
9,00
3,75
2,33
20,56
35,3
Fachadas
2,60
1,04
0,05
0,40
0,15
0,15
4,39
7,5
Degraus
0,74
0,30
0,02
0,04
0,15
0,012
1,73
3,0
Paredes Internas
2,60
1,05
0,05
0,40
0,15
0,21
8,15
14,0
Tampos
5,19
2,10
0,10
0,40
0,15
0,21
8,15
14,0
Obras Estruturais
1,25
0,50
0,03
—
—
0,03
1,81
3,1
Arte Funerária
1,80
0,72
0,04
—
—
0,04
2,60
4,5
Outros
0,49
0,20
0,01
0,10
0,20
0,21
1,21
2,1
Total
24,30
9,80
0,50
13,7
5,80
4,11
58,21
100,0
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 15i
C
milhões de m2
B
milhões de m2
t x 1000
A
Figuras 9A, 9B e 9C – Revestimentos pétreos e cerâmicos no Brasil: (A) Produção e consumo interno de
blocos. Fontes: DNPM (1999, 2001 e 2003); (B) Evolução da produção, e comparação com a produção de
porcelanatos ao fim da última década. Fontes: DNPM (1999, 2001 e 2003), Anfacer (2004) e COELHO
(2001); (C) Comparação do consumo. Fontes: DNPM (1999, 2001 e 2003) e Anfacer (2004).
16 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES
As rochas ornamentais participam com algum destaque e positivamente da balança comercial do
setor mineral brasileiro (Figuras 10 e 11).
Figura 10 – Valores do setor de rochas ornamentais, da indústria extrativa e de transformação mineral e da
balança comercial mineral brasileira, em 2002. Fonte: DNPM (2003).
A
BB
Figuras 11A e 11B – Participações relativas das exportações minerais brasileiras, em 2002: (A) venda de
bens primários; (B) Venda de bens industrializados. Fonte: DNPM (2003).
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 17i
Em 2003, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior – Secex, disponibilizados na Internet
pelo Sistema Alice Web (http://aliceweb.mdic.gov.br), consideradas as 23 posições da Nomenclatura
Comum do Mercosul (NCM)12 listadas na Tabela 113, o Brasil exportou, na forma de materiais brutos,
US$ 128 milhões, e como produtos processados, um total de US$ 301 milhões. Os valores citados
corresponderam, respectivamente, a 29,8% e 70,2% do total vendido ao Exterior, que foi de US$ 429
milhões. As vendas totais elevaram-se 26,7% em relação ao ano de 2002, com 34,5% de aumento dos
processados e 11,5% de aumento dos brutos. Isso manteve a tendência, que ocorre há mais de uma
década, de ampliação dos negócios com produtos semi-acabados e acabados em relação ao comércio de
blocos. Tratando-se dos volumes físicos, em 2003 foram comercializadas 907 mil toneladas de produtos
brutos e 623 mil toneladas de produtos processados, ou seja, 1,5 milhões de toneladas no total. A
participação de cada uma das duas categorias foi, assim, de 59,3%, e 40,7%, invertendo-se a ordem,
relativamente ao valor das vendas desses produtos, em razão do maior preço alcançado pelos segundos.
Deste modo, comparativamente ao ano de 2002, houve elevação de 21,5% no volume total vendido ao
Exterior, com os processados à frente dos brutos – aumento de 35,4% e 13,4%, respectivamente.
A Figura 12 mostra a participação relativa dos principais países de destino nas exportações
brasileiras de rochas ornamentais em 2003. Destaque especial deve ser dado à China, que supera a Itália,
antes sempre à frente como comprador de blocos, e aos EUA, maior comprador dos processados brasileiros.
A
B
C
Figuras 12A, 12B e 12C – Participação dos diversos países de destino nos valores das exportações brasileiras
de produtos pétreos em 2003: (A) Produtos brutos; (B) Produtos processados; (C) Produtos brutos e
processados. Fonte: Secex – Sistema Alice Web.
12
Sistema harmonizado, de codificação e classificação de mercadorias para comércio internacional, aplicado pelos países desse bloco
econômico.
13
Sempre considerados preços FOB - free on board. Nesses termos, a responsabilidade do vendedor, sobre a mercadoria, vai até o mo-mento
da transposição da amurada do navio, no porto de embarque, muito embora a colocação da mercadoria a bordo do navio seja também, em
princípio, tarefa a cargo do vendedor. O termo FOB exige ainda que o vendedor desembarace as mercadorias para exportação.
2
5.620
68029100
68029390
Total geral
Rochas Processadas Total
Granitos, Mármores,
Travertinos, Calcários,
Ardósias, Quartzitos e
Arenitos Processados,
Ladrilhos, Pedras para
Cantaria e Pedras para
Calcetar
2.573
904
85
25261000
68021000
68159990
1.260.846
460.707
72.306
270.629
68022300
68010000
781
68029200
4.074
249
68022200
2.372
964
68022100
68029990
96.456
68030000
68022900
9.314
25140000
800.139
448
446.638
25169000
Rochas Brutas Total
208.954
25161200
791.999
131.315
25062900
25161100
2.987
1.657
25062100
8.140
24
38
25151220
25152000
338.802
223.719
13.713
865
2.652
299
826
1.127
168.373
125
79
669
31.537
3.455
115.083
113.623
65.589
62
29.267
16.921
269
1.515
1.460
1.055
1
321
2.118
25151210
59
362
Peso (t)
Valor
(x1000 US$)
2002 (A)
25151100
NCM
Rochas Silicáticas Brutas Total
Granitos, Quartzitos e
Arenitos Brutos
Rochas Carbonáticas Brutas Total
Mármores, Travertinos e
Calcários Brutos
Produtos
1.531.388
623.997
89.902
3.749
6.936
139
2.143
1.880
385.636
1.030
102
1.627
122.662
8.190
907.390
894.882
61.322
193
480.915
337.686
2.976
11.790
12.508
3.793
5
5.110
3.601
Peso (t)
429.287
301.012
16.428
1.497
4.326
362
1.803
685
232.640
222
69
762
39.310
2.906
128.276
126.391
9.998
40
67.395
44.862
887
3.210
1.885
698
0,12
500
686
Valor
(x1000 US$)
2003 (B)
21,46
35,44
24,34
58,06
70,26
63,05
137,06
-26,95
42,50
31,93
-58,88
68,70
27,17
-12,07
13,40
12,99
-86,27
-56,98
130,15
157,16
79,54
294,75
53,66
-32,52
154,02
141,25
895,6
Peso
26,71
34,55
19,80
73,19
63,11
21,00
118,27
-39,21
38,17
77,46
-12,26
13,97
24,65
-15,88
11,46
11,24
-84,76
-35,99
130,28
165,12
230,03
111,83
29,07
-33,81
-91,14
55,95
1070,9
Valor
Variação % (B/A)
0,27
0,49
0,19
0,36
0,65
3,50
0,91
0,44
0,62
0,16
0,32
0,69
0,33
0,37
0,14
0,14
0,15
0,14
0,14
0,13
0,16
0,51
0,18
0,19
0,73
0,65
0,15
0,2
2002 (C)
(US$/kg)
0,28
0,48
0,18
0,40
0,62
2,60
0,84
0,36
0,60
0,22
0,68
0,47
0,32
0,35
0,14
0,14
0,16
0,21
0,14
0,13
0,30
0,27
0,15
0,18
0,03
0,10
0,2
2003 (D)
(US$/kg)
4,32
-0,66
-3,65
9,57
-4,20
-25,79
-7,92
-16,78
-3,04
34,51
113,35
-32,44
-1,98
-4,34
-1,71
-1,55
11,03
48,79
0,05
3,10
83,82
-46,34
-16,01
-1,92
-96,51
-35,36
17,6
Variação de Preço
(D/C)
(US$/kg) %
Tabela 1 – Comparação entre os valores e volumes físicos das exportações brasileiras de rochas ornamentais nos anos de 2002 e 2003
(a partir de dados da Secex – Sistema Alice Web).
18 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 19i
A Figura 13, por sua vez, traduz a evolução dos valores negociados, a participação dos diversos
materiais e os principais países compradores dos produtos pétreos brasileiros nos três últimos anos.
Figuras 13A, 13B e 13C – Evolução dos valores das exportações brasileiras de rochas ornamentais: (A)
Comparação das vendas de produtos brutos e processados; (B) Vendas por categoria de produtos – total de
produtos brutos e processados; (C) Principais países de destino – total de produtos brutos e processados.
Fonte: Secex – Sistema Alice Web.
20 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Já a participação dos principais Estados exportadores no valor das vendas brasileiras ao Exterior,
em 2003, pode ser vista na Figura 14. Salienta-se a atuação do Espírito Santo, que comercializou um
total de US$ 224,5 milhões, equivalente a 52,3% do total exportado pelo País – valor 31,9% maior que
o exportado pelo Estado em 2002.
Figura 14 – Participação dos estados nas exportações brasileiras de pedras naturais, no período 2001-2003
(valores totais das vendas de produtos brutos e processados). Fonte: Secex – Sistema Alice Web.
Quanto às importações, em 2003 o Brasil comprou no Exterior US$ 18,7 milhões, sendo US$
16,6 milhões na forma de processados, e US$ 2 milhões como produtos brutos, valores equivalentes,
respectivamente, a 89,2% e 10,8% do total (Tabela 2). Houve diminuição de 3,7% nos valores das
importações totais, com a compra de processados caindo 3,2% e as de brutos se retraindo 7,8% em
relação aos mesmos tipos de negócio, em 2002. Manteve-se, assim, a tendência de queda das compras
no exterior dos últimos anos, processo estimulado tanto pelas dificuldades da economia do Brasil quanto
pela desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar, desde 1999. Em termos de volumes físicos,
foram adquiridos, em 2003, 40,6 milhões de toneladas, sendo 34,5 milhões de toneladas em produtos
processados (85% das compras), e 6 milhões de toneladas como produtos brutos (15% do total). Em
relação a 2002, houve queda de 17,7% no total dos volumes importados, com 18,9% a menos nos
volumes comprados de processados e 10,2% a menos nos volumes de brutos trazidos do Exterior.
A Figura 15 mostra os principais fornecedores estrangeiros para o mercado brasileiro em 2003,
destacando o tradicional predomínio dos países europeus.
Já a Figura 16 compara as importações nos últimos anos, destaca o absoluto predomínio, nas
compras no exterior, da importação de mármores – em sua maioria sob a forma de chapas polidas –, e
exibe o progresso da participação dos principais fornecedores no período 2001-2003.
Quanto à participação dos diversos Estados nas importações brasileiras, a Figura 17 mostra São
Paulo como o principal consumidor nacional, responsável por quase 65% do valor de pedras naturais
comprado pelo País em 2003.
A balança comercial da indústria de pedras lapídeas do Brasil nos três últimos anos pode ser
vista na Figura 18, período em que se manteve a tendência de ampliação do sempre elevado saldo que,
em 2003, atingiu os US$ 410,6 milhões.
2.120
2.502
74
25151220
25152000
31
25161200
25169000
97
151
49.366
68010000
Total Geral
1
68029990
42.585
11
123
68022900
19.406
17.220
1
43
3
3.029
40.633
34.542
24
192
3
921
1.158
68159990
380
11
396
13
322
14
68029390
76
8.728
2.491
184
68022300
193
3.833
245
23.244
141
105
6.091
336
39
184
103
10
5.755
66
2.460
1.883
1.345
68021000
351
68029200
87
9.479
34
12
2.186
298
45
228
24
0
1.888
46
736
746
360
Peso (t)
25261000
11.307
68029100
68022100
274
8
26.516
68030000
68022200
147
25140000
6.781
692
36
619
25062900
6
25062100
6.088
1.392
25151100
Valor
(x1000 US$)
2002 (A)
Peso (t)
25151210
NCM
Rochas Processadas Total
Granitos, Mármores,
Travertinos, Calcários,
Ardósias, Quartzitos e
Arenitos Processados,
Ladrilhos, Pedras para
Cantaria e Pedras para
Calcetar
Rochas Brutas Total
Rochas Silicáticas Brutas Total
Granitos, Quartzitos
e Arenitos Brutos
Rochas Carbonáticas Brutas Total
Mármores, Travertinos
e Calcários Brutos
Produtos
18.689
16.674
6
107
1
3.169
77
2
263
68
28
3.020
201
9.324
398
11
2.015
216
2
188
25
2
1.798
32
840
560
367
Valor
(x1000 US$)
2003 (B)
-17,69
-18,89
1733,07
56,51
-71,23
-20,53
-87,06
2645,69
-17,61
-78,47
-22,81
-10,60
-12,34
1623,48
-28,57
-10,17
-51,42
25,58
-70,28
185,50
65,11
-5,48
-10,93
-1,70
-11,14
-3,39
Peso
-3,69
-3,17
878,59
150,86
-57,89
4,61
-80,59
1986,46
-30,31
-85,77
-21,19
131,56
-1,64
1078,00
-12,77
-7,82
-27,31
-95,77
-17,59
2,08
1295,68
-4,74
-31,74
14,13
-24,87
1,87
Valor
Variação % (B/A)
0,39
0,40
0,48
0,35
0,31
2,62
0,16
0,91
0,53
0,55
0,34
0,32
0,36
4,12
0,08
0,32
0,43
1,46
0,37
0,67
0,02
0,31
0,62
0,29
0,35
0,26
2002 (C)
(US$/kg)
0,46
0,48
0,25
0,56
0,45
3,44
0,24
0,16
0,69
0,45
0,36
0,35
0,82
0,40
2,81
0,10
0,33
0,64
0,05
1,02
0,24
0,20
0,31
0,48
0,34
0,30
0,27
2003 (D)
(US$/kg)
17,01
19,38
-46,61
60,29
46,37
31,63
49,96
-24,01
-15,42
-33,91
2,10
159,02
12,21
-31,65
22,12
2,62
49,61
-96,64
177,27
-64,24
745,32
0,78
-23,36
16,09
-15,45
5,45
Variação de Preço
(D/C)
(US$/kg) %
Tabela 2 – Comparação entre os valores e volumes físicos das importações brasileiras de rochas ornamentais nos anos de 2002 e 2003 (a partir
de dados da Secex – Sistema Alice Web).
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 21i
22 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A
B
C
Figuras 15A, 15B e 15C – Participação dos diversos países de origem nos valores das importações brasileiras
de produtos pétreos em 2003: (A) Produtos brutos; (B) Produtos processados; (C) Produtos brutos e
processados. Fonte: Secex – Sistema Alice Web.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA AS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
A disponibilidade, diversidade e aceitação das matérias-primas nacionais, aliadas à dimensão
e consistência alcançadas pelo setor de rochas ornamentais no Brasil constituem uma base bastante
sólida, que possivelmente garantirá a presença do País entre os principais produtores e exportadores
mundiais em um futuro previsível, mesmo com os desafios permanentemente colocados e a alta
competitividade exigida – a história do setor atesta sua capacidade de enfrentá-los. Nesse sentido,
mantidas as taxas de crescimento dos últimos anos, é possível prever-se uma exportação, em 2004,
próxima aos US$ 550 milhões14.
Nos segmentos do mercado consumidor internacional nos quais a pedra brasileira tem maior
penetração – o da compra de blocos e chapas de granito, ladrilhos de ardósia, e também, embora
14
Para que o cenário positivo se confirme e se mantenha nos anos vindouros é preciso, no entanto, que não ocorram ou possam ser
contornados, o mais rápido possível, problemas inusitados mais graves, pouco compreensíveis aos compradores estrangeiros, a exemplo
da queda de produção decorrente da crise de energia elétrica vivenciada pelo País em 2001 e, mais recentemente, a crise para embarque
de produtos no Porto de Vitória, antecipada por CAVALCANTI (2004), e, de fato, efetivada no primeiro trimestre de 2004. Nesta última
situação, por questões logísticas, deixaram de ser embarcados, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Mármores e Granitos – Abiemg, entre os meses de janeiro a março, 2.000 contêineres, com prejuízos comerciais estimados em US$ 28
milhões, por cancelamentos de vendas devidos à não-entrega de produtos nos prazos contratados. Em situações como essas, a perda de
credibilidade por ruptura de contratos pode, mais rápido do que se imagina, fazer com que compradores busquem outros fornecedores
no mercado mundial, interferindo negativamente nas metas de crescimento das exportações e comprometendo relações comerciais
construídas por esforços realizados ao longo de anos.
US$ x 1000 (FOB)
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 23i
US$ x 1000 (FOB)
A
US$ x 1000 (FOB)
B
C
Figuras 16A, 16B e 16C – Evolução dos valores das importações brasileiras de rochas ornamentais: (A)
Comparação das compras de produtos brutos e processados; (B) Compras por categoria de produtos – total
de produtos brutos e processados; (C) Principais países de origem – total de produtos brutos e processados.
Fonte: Secex – Sistema Alice Web.
US$ x 1000 (FOB)
24 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
US$ x 1000 (FOB)
Figura 17 – Participação dos estados nas importações brasileiras de pedras naturais, no período 2001-2003
(valores totais das compras de produtos brutos e processados). Fonte: Secex – Sistema Alice Web.
Figura 18 – Balança comercial do setor de rochas no período 2001-2003. Fonte: Secex – Sistema Alice Web.
ainda em patamar bastante inferior, porém crescente, peças de quartzitos e outras pedras laminadas –, é
desejável que a almejada ampliação do volume de vendas ocorra associada à inclusão de um maior
número de exportadores15. No que se refere ao comércio de blocos e chapas de granito, é sobremodo
importante a realização de esforços para atingir, sem a perda dos mercados conquistados, uma
maior diversidade de clientes, já que as vendas mostram-se muito concentradas em países como a
15
Quanto a isso, com o tempo, poderão ser melhor avaliados os reflexos que serão trazidos às exportações brasileiras pela crescente
entrada no País, nos últimos anos, de empresas de mineração e beneficiamento com matrizes em países produtores estrangeiros,
principalmente europeus.
CAPÍTULO 1 - Indicadores do Mercado Nacional e Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 25i
China16 e Itália (blocos), ou Estados Unidos (chapas), estando, portanto, bastante sujeitas às regras
desses compradores e às flutuações de tais mercados. Isso envolve o contorno dos obstáculos
sistêmicos que afetam a competitividade empresarial, do custo Brasil à questão do seguro-exportação,
da facilitação de acesso ao crédito para produção e compra de equipamentos modernos a sistemas
mais aprimorados e difundidos de formação de mão-de-obra. Passa também pela superação dos
obstáculos setoriais e empresarias, exigindo, entre outras iniciativas, maior aproximação entre as
entidades representativas do setor, melhor utilização do conhecimento disponível nas entidades de
apoio comercial e tecnológico, e o aprimoramento do relacionamento vertical e lateral das empresas
da cadeia produtiva, no sentido de obter maior cooperação e aprendizado. Exige ainda a
profissionalização de um maior número de empresas, a partir de melhoria da gestão empresarial,
aumento de produtividade, prática de preços sustentáveis e certificação de produtos. Afora isso, o
acesso direto ao mercado internacional é imprescindível, salientando-se a importância de missões
de negócios ao Exterior, e a participação em feiras internacionais de empresas efetivamente
preparadas para a realização de vendas e cumprimento dos prazos contratados, iniciativas que devem
estar associadas a marketing intensivo da “marca Brasil”.
Por outro lado, há nichos no mercado internacional ainda pouco aproveitados pelas empresas
brasileiras, e que poderão ser buscados com mais intensidade. Eles envolvem negócios com ladrilhos
de granitos e mármores, telhas de ardósia, produtos para paisagismo e arte funerária, produtos funcionais
e objetos decorativos17. Por ora, as exportações desses produtos, que abrangem, em grande parte, a
capacidade produtiva e comercial de marmorarias, é feita por um número restrito de empresas altamente
profissionalizadas, ou ainda por alguns poucos conjuntos de pequenas empresas, organizadas em
torno de arranjos produtivos localizados18. Também nestes casos, repetem-se os empecilhos antes
citados, que cercam as exportações mais tradicionais do Brasil. Há alguns gargalos, no entanto, que
merecem destaque. Um deles é a necessidade de que um maior número de empresas, ou grupos de
empresas, tenham e acesso ao maquinário e à tecnologia ligados aos mais modernos processos de
recorte e acabamento de superfícies, para que haja a produção competitiva de parte desse “novo”
conjunto de produtos. Isso exige que sejam encontradas algumas soluções talvez difícies a curto
prazo, já que o tema reafirma a necessidade de maior facilidade de crédito para a produção e, até certo
ponto, remete à delicada questão do maquinário nacional versus maquinário estrangeiro19. Outro desafio
particularmente relevante, é o do treinamento da mão-de-obra a estar envolvida em processos industriais
relativamente sofisticados e até mesmo, em alguns casos, não muito convencionais.
Para essa nova onda exportadora, a aproximação com outras cadeias produtivas, como a
moveleira, por exemplo, e a parceria com setores como o de hotelaria, entre outros, são alternativas
16
Recentemente surgiram sugestões para formulação de mecanismos de contenção das vendas brasileiras de blocos para a China. Tratase, no entanto, de alternativa aparentemente pouco viável, já que para a maioria dos mineradores brasileiros é muito importante toda
oportunidade comercial que envolva fornecimento para o mercado externo. Isso sem contar o atrativo que exerce o mercado consumidor
chinês sobre os concorrentes internacionais, certamente prontos a aproveitar brechas decorrentes de alterações no fluxo de blocos
brasileiros para aquele país, a menos que sejam feitos acordos e estabelecida uma estratégia comum aos principais fornecedores de
materiais brutos à China.
17
A ampliação e consolidação da exportação de produtos acabados como estes, é designada pelo setor como a “terceira onda” de negócios
internacionais brasileiros, após a primeira, de exportação de blocos, e a segunda, de comercialização de chapas.
18
O conceito de Arranjo Produtivo Local (APL), ou localizado, é abordado em detalhe no Capítulo 3. Por ora, basta o entendimento de
que se tratam de aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco específico em atividades econômicas e
que apresentam vínculos e interdependência – ver publicações da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais –
Redesist, disponíveis na Internet (www.ie.ufrj.br/redesist).
19
No Brasil não é fabricada boa parte das máquinas utilizadas nas marmorarias para a produção de peças em larga escala. A ausência deste
maquinário, atribuída pelos fabricantes brasileiros à falta de um mercado comprador consolidado, amplia-se quando está em jogo a
fabricação de produtos pétreos com acabamentos refinados de borda e superfície, processos que hoje envolvem, muitas vezes, sistemas
automatizados e técnicas sofisticadas, do tipo jateamento d’gua, jateamento de areia e recorte a laser. Por outro lado, nos casos em que
há similaridade entre as máquinas nacionais e estrangeiras, mostra-se necessário modelo que contemple a possibilidade da compra,
pelos interessados, de maquinário importado, sem prejuízo para a indústria nacional, modelo este que também estimule a fabricação de
máquinas e equipamentos brasileiros capazes de garantir competividade aos produtos pétreos acabados nacionais no mercado externo.
26 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
interessantes, ao ponto de já estarem sendo praticadas por grupos de marmoristas em alguns Estados,
reunidos pelas respectivas entidades empresariais em torno de projetos denominados Marmoraria
Exportadora, que são apoiados pela Agência de Promoção de Exportações do Brasil – Apex Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE CERÂMICA PARA REVESTIMENTO. (2004). Desempenho. Disponível
em: <http://www.anfacer.org.br>.
CAVALCANTI, H. de A. (2004). Logística portuária prejudica exportações. Revista Rochas de Qualidade, n. 175, p. 153-154.
CHIODI FILHO, C. (2003). Desempenho e competitividade do setor de rochas do Brasil. In: Simpósio de Rochas Ornamentais do
Nordeste, 4. Fortaleza. Anais... p. 245-252.
CHIODI FILHO, C. (2004). Consumo interno, perfil de utilização e estrutura de comercialização das rochas no Brasil. Revista
Pedras do Brasil, n. 25, p. 36-40.
COELHO, J. M. (2001). Impactos da reestruturação do setor de feldspato no Brasil sobre as empresas de pequeno porte:
importância de uma nova abordagem na análise de investimentos. 237p. Tese (Doutorado) – Universidade de Campinas.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL. (1997). Sumário mineral. Brasília: DNPM.
____. (1999). ____. Brasília : DNPM.
____. (2001). ____. Brasília : DNPM.
____. (2003). ____. Brasília : DNPM.
PEITER, C. C. et al. (2001). Rochas ornamentais no século XXI: bases para uma política de desenvolvimento sustentado das
exportações brasileiras. Rio de Janeiro: Cetem/Abirochas. 150 p.
MONTANI, C. (2000). Stone 2000 – Word Marketing Handbook. Faenza (ITA): Gruppo Editoriale Faenza Editrice. 213 p.
____. (2003) ____. Faenza (ITA): Gruppo Editoriale Faenza Editrice. 237 p.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 27i
CAPÍTULO 2
A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas
Ornamentais e para Revestimento: Situação,
Desafios e Alternativas para Inovação e
Competitividade dos Elos de Produção
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello ([email protected])
Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT
CADEIA PRODUTIVA
A cadeia produtiva1 de rochas ornamentais e para revestimento2 gira em torno da extração de
matérias-primas em pedreiras3, seu desdobramento por serragem em produtos semi-acabados, e o
recorte e preparação de produtos finais (Figura 1). O beneficiamento primário é feito por serrarias,
com foco na elaboração de produtos semi-acabados, em particular chapas. No entanto, como ocorre
freqüentemente nos empreendimentos mais modernos, as serrarias podem fabricar também produtos
acabados, sejam padronizados ou sob medida.
Marmorarias dedicam-se exclusivamente ao beneficiamento final, e sua produção envolve a
elaboração, a partir de materiais semiprocessados, de produtos acabados, sejam eles padronizados,
sob medida, ou personalizados, dos tipos funcionais ou decorativos. Tratando-se desses agentes centrais
da cadeia produtiva, podem atuar empresas verticalizadas, que chegam a operar da mineração ao
beneficiamento final.
No mercado interno, é feita a comercialização de insumos pétreos entre os elos centrais da
cadeia. Assim, blocos vão das mineradoras para as serrarias, e produtos semi-acabados das serrarias
às marmorarias. Marmorarias podem ser também abastecidas por empresas revendedoras de chapas –
os depósitos especializados. Os produtos acabados são destinados aos consumidores finais por vendas
efetuadas diretamente pelos produtores – serrarias ou marmorarias –, pelos depósitos especializados,
ou ainda por depósitos e shoppings de materiais de construção em geral.
Por outro lado, produtos brutos ou beneficiados podem ser exportados, seja pelo respectivo
agente produtivo, seja por agentes de exportação – tradings4. No sentido inverso, produtos brutos ou
semi-acabados do Exterior são absorvidos pelos segmentos de beneficiamento do país importador,
com os produtos acabados, decorrentes da transformação industrial, sendo direcionados aos
consumidores finais. Produtos semi-acabados ou acabados podem ser também diretamente importados
por depósitos, para revenda, ou, caso específico dos produtos acabados, adquiridos no Exterior pelos
responsáveis por obras no país comprador.
Participam ainda da cadeia produtiva, fabricantes de máquinas, equipamentos e insumos diversos
utilizados pelos elos centrais, e fabricantes de elementos para conservação dos produtos pétreos, após
sua aplicação e uso.
1
O conceito de cadeia produtiva é aqui tomado em seu sentido amplo, ou seja, um conjunto de etapas consecutivas pela quais passam e vão
sendo transformados e transferidos diversos insumos, o que envolve ciclos de produção, distribuição e serviços – ver, por exemplo,
publicações da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais - Redesist, disponíveis na Internet (www.ie.ufrj.br/redesist).
2
De modo similar ao Capítulo 1, para maior objetividade no texto, rochas ornamentais e para revestimento serão denominadas apenas
como rochas ornamentais, e o setor de rochas ornamentais e para revestimento de São Paulo apenas como o setor. Além disso, os
termos equivalentes, pedras lapídeas, pedras dimensionais ou pedras naturais, serão novamente utilizados.
3
Blocos retangulares, geralmente com 5 a 8 m3.
4
As tradings executam trabalhos de gerenciamento das exportações, em duas vias: negócios originados do produtor, ou negócios originados
da busca de oportunidades, pelas próprias tradings, no Exterior. Este agente adianta o financiamento das exportações, e se encarrega
dos procedimentos burocráticos de venda. A trading ganha a diferença entre o preço de venda estabelecido pelo vendedor e o preço de
compra aceito pelo consumidor, negociado por ela. Há seis dessas empresas trabalhando com rochas ornamentais em São Paulo.
28 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Figura 1 – A cadeia produtiva de rochas ornamentais (setas largas indicam a rota da troca de insumos
pétreos entre os atores centrais da cadeia).
Este capítulo está focado nos elos centrais da cadeia produtiva de rochas ornamentais paulista,
ou seja, os agentes voltados diretamente à extração e transformação de insumos pétreos, representados
pelos mineradores, indústrias de serragem de blocos e marmorarias do Estado.
MERCADO PRODUTOR
Em São Paulo, no ano de 2003, a produção de rochas ornamentais decorria diretamente: a) da
atividade minerária, de muito pequeno a pequeno porte, praticada em geral de modo descontínuo,
envolvendo a extração de blocos em dez pedreiras5; b) da atividade de serragem de blocos paulistas,
nacionais e importados, a cargo de 23 empreendimentos, de pequeno, médio e uns poucos de grande
porte; e, estima-se, c) próximo a 3.000 marmorarias, majoritariamente correspondentes a micro e
pequenas empresas, como é o habitual, neste caso, distribuídas em boa parte dos municípios do Estado,
mais de 1.000 delas na Capital.
Afora os agentes produtivos citados, e reproduzindo o desenho da cadeia produtiva antes
apresentado, atuam também em São Paulo algumas empresas lustradoras, que respondem por trabalhos
terceirizados pelas marmorarias, e 30 a 40 depósitos especializados em revestimentos pétreos, parte
deles de grande porte e com atuação nacional e internacional, voltados à revenda de chapas e materiais
semi-acabados ou acabados, paulistas, brasileiros ou estrangeiros. Produtos pétreos acabados, funcionais
ou decorativos, são ainda encontrados em depósitos ou shoppings de materiais de construção em geral.
Mineração
Em meados de 2003, a partir de dados disponibilizados na Internet pelo Departamento Nacional
de Produção Mineral – DNPM (sistema Cadastro Mineiro, www.dnpm.gov.br/sicom/sicom.asp),
existiam, em São Paulo, 615 solicitações de títulos minerários, abrangendo dezenas de municípios
paulistas, referentes à substância granito, das quais 115 explicitamente para granitos ornamentais e
5
Afora a produção de blocos, há expressiva extração de rochas dimensionais como pedras para calcetar ou cantaria (paralelepípedos,
lajotas, mourões, pedras-portuguesas, etc.).
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 29i
granitos para revestimento. Este último conjunto de processos abrange solicitações em diferentes
fases de julgamento e concessão, com a freqüência mostrada na Figura 2. Na ilustração, vê-se ainda o
número de lavras ativas catalogadas na época6.
Mesmo sem contar que várias das solicitações genéricas para granito possam estar também
objetivando o bloqueio de reservas de rochas ornamentais, apenas os 115 processos específicos mostram
haver um interesse razoável pela mineração desses bens, porém pouco traduzido em mineração ativa,
seja por haver a especulação com títulos minerários, seja por ocorrer morosidade no processo de
apreciação e concessão de licenciamento ambiental e títulos mineiros.
De qualquer modo, o pequeno número e o porte das lavras em atividade constituem registro
condizente com o reconhecido declínio da extração de blocos em São Paulo, ao longo dos últimos 15
anos, na via inversa da grande expansão deste tipo de atividade produtiva no Brasil, no mesmo período.
Pelo menos desde o início dos anos 2000, a produção minerária de blocos paulista equivale a
menos de 1% do volume físico7 da produção nacional (Quadro 2, Capítulo 1), bem distante, portanto,
da participação de 20%, calculada no final dos anos 80 (IPT, 1990; ABREU et al., 1990), época em
que se estimava haver, no Estado, entre 50 e 100 pedreiras ativas (ABREU et al., 1990).
Dentre as razões para a queda do patamar produtivo da mineração paulista, afora a clara
resistência da parte dos mineradores em adotar atitude empresarial mais adequada a um mercado cada
vez mais competitivo, são citados pelos produtores, em sua defesa, diversos impedimentos, parte dos
quais parecem, de fato, ter sido decisivos para a perda de mercado. São eles: a) a tributação e custos da
mão-de-obra, frete e insumos não-pétreos, relativamente mais altos em São Paulo que em alguns
outros Estados8; b) a fiscalização mineral, ambiental e tributária, que, embora justa, é mais rigorosa
Figura 2 – Comparativo entre os estágios dos processos para concessão de títulos minerários, envolvendo
as substâncias granitos para revestimento e granito ornamental, e o número de minas ativas em São Paulo
(Fonte: Cadastro Mineiro/DNPM – jul. 2003).
6
Já que a lavra era praticada em locais há muito explorados e por mineradores tradicionais de São Paulo, chama a atenção que seu número
seja maior que o de concessões de lavra registradas pelo DNPM. Isto pode ser reflexo de desatualização parcial do Cadastro Mineiro
oficial; decorrer da extração em áreas solicitadas formalmente para outro tipo de matéria-prima que não a das classes ornamental ou
para revestimento; ou talvez resulte da mineração executada durante fases anteriores à concessão de lavra, com base na figura da Guia
de Utilização, prevista no Código de Mineração.
7
A exemplo do Capítulo 1, o termo volume físico é utilizado ao modo do mercado, ou seja, para designação de grandezas físicas que
poderão ser medidas em t, m3 ou m2, a depender do tipo de produto ou do sistema adotado.
8
Para ilustração, no caso do principal concorrente, o Estado do Espírito Santo, aplicam-se sobre a venda de produtos da mineração de rochas
ornamentais alíquotas de ICMS em parte menores que em São Paulo. Mais ainda, tal tributação incide, muitas vezes, sobre preços de referência, a chamada “pauta para preços mínimos”, que são, em geral, bem menores que os preços de venda efetivos desses bens no mercado.
30 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
que na maioria dos Estados concorrentes e, muitas vezes, mais coibitiva que orientativa9; c) restrições
levantadas por autoridades públicas municipais, em algumas das cidades onde se pratica a atividade;
d) a competição direta sofrida por alguns dos produtos tradicionais do Estado –caso dos granitos
vermelhos e róseos da região de Capão Bonito e de Itu, que passaram a dividir mercados, nos anos 90,
com materiais similares, extraídos em Goiás e no Rio Grande do Sul; e e) a forte concorrência dos
produtos da mineração no Espírito Santo.
Fator adicional seria a logística e custo desfavoráveis para o embarque de produtos no porto
de Santos, que teriam condicionado, em algumas ocasiões, a exportação de materiais paulistas pelos
portos do Rio de Janeiro e do Paraná.
Em decorrência das dificuldades postas no cenário da mineração estadual e da perda de mercado,
desde meados dos anos 90 parte dos mais tradicionais mineradores paulistas deslocou-se para outros
Estados do sudeste, especialmente Minas Gerais e Espírito Santo, como também para Estados do
nordeste brasileiro. Isto trouxe e traz conseqüências particularmente graves à mineração em São Paulo,
pois migraram várias das empresas de maior porte e/ou verticalizadas, geralmente mais habilitadas à
pratica da mineração sustentada, realizada em grande escala e com correção técnica mais apurada10.
Em 2003, as dez pedreiras com atividade mais constante tinham, como titulares, oito
mineradoras, dentre as quais quatro empresas verticalizadas.
São costumeiramente extraídos em São Paulo apenas granitos, quase todos homogêneos, com cores vermelha, rosa, marrom, cinza, preta e azul, nas regiões destacadas na Figura 3. A produção, em 2003,
compreendia oito designações comerciais, número bem menor que os 30 tipos comerciais catalogados
em 1999, naquele ano em regime de produção rotineira ou em fase de lavra experimental (IPT, 2000).
Em 2003, houve queda acentuada da mineração na Grande São Paulo e, no início de 2004,
estavam virtualmente paralisadas as últimas pedreiras desta região, mesmo aquelas informais, que
nos últimos anos foram responsáveis pela extração do carro-chefe da mineração local, o tipo Cinza
Mauá. Além disso, vêm caindo, de modo mais ou menos contínuo, as produções minerárias na região
de Capão Bonito (tipo Vermelho Capão Bonito) e Bragança Paulista-Piracaia (tipos Vermelho Bragança,
Azul Fantástico e Preto Piracaia).
Na região de Itu, houve, em 2003, a retomada parcial do antigo volume da mineração, porém à
custa do aumento exclusivo da extração do Marrom São Paulo, em três frentes de lavra11, situação
bastante distinta dos anos 90, quando a região contava com dezenas de pedreiras produzindo diversos
tipos comerciais.
Já na região de Lavrinhas, desde 2002, encontra-se paralisada a produção do Azul Paulista.
Neste último caso, a mineração poderá ser retomada, de modo ampliado e sustentado, desde que se
efetive projeto de extração que aguarda licenciamento ambiental, situação que se arrasta por vários anos.
A mineração mais comum dos granitos paulistas envolve a lavra de matacões. Como é usual,
neste caso, o corte inicial da pedra, o desmonte e o esquadrejamento final de blocos são realizados por
perfurações e uso de explosivos ou cunhas, operações executadas de forma manual ou semimecanizada,
a depender do rigor técnico adotado no empreendimento.
No Estado, a extração é praticada em maciços rochosos apenas nos casos em que o maior valor
comercial do tipo produzido ou o compromisso com a produção mais regular e o nível técnico mais
9
Como exemplo da complexidade que cerca esta questão, e da distância que muitas vezes há entre os órgãos ambientais, os órgãos
minerários e a realidade da mineração, vale dar destaque à Resolução 3.003, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, de
20/3/2003, que define Áreas de Proteção Permanentes (APPs) para meias encostas e cumes de montanhas e morros. Se aplicada, como
está, teria que ser paralisada a maioria das minas paulistas e brasileiras de rochas ornamentais, e de outros bens minerais, cujas frentes
de lavra se situem em regiões acidentadas.
10
Neste sentido, em 2003, mais uma mineradora, empresa verticalizada, com pedreiras também em outros Estados e planta de beneficiamento
em sua sede, no Rio de Janeiro, encerrou suas atividades em São Paulo – operava há muitos anos na região de Capão Bonito. Algumas
das demais empresas migrantes mantêm, no Estado, suas unidades de beneficiamento industrial. Outras transferiram também seus
segmentos de transformação.
11
Há, ainda, produções menores do Rosa Salto e do Dourado Caju, em duas outras pedreiras dessa região.
m3
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 31i
m3
A
B
Figuras 3A e 3B – Evolução da produção minerária paulista de rochas ornamentais (blocos), entre 2001 e
2003. (A) Extração nas diversas regiões produtoras; (B) Cores dos granitos.
32 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 33i
elevado sustentam a mineração com custos aumentados. É o caso de três minas na região de Bragança
Paulista e uma mina em Capão Bonito12. Nessas situações, a lavra desenvolve-se em bancadas, e se
utiliza de processos variados de corte e desmonte de blocos, da perfuração mecanizada espaçada,
associada a explosivos ou cunhas, ao corte contínuo da pedra, a frio – por perfuração mecânica contínua
ou fio diamantado. Em uma única situação, é ainda praticado o corte a fogo, pelo uso de flame jet.
Em geral, o rigor técnico adotado pela mineração é diretamente proporcional ao porte do
empreendimento, o que quase sempre possibilita que haja uma maior constância da produção mineral
nos empreendimentos maiores e, neles, relativamente, menos impactos ambientais.
Em qualquer das situações, porém, prevalece, em São Paulo, a atividade minerária de muito
pequeno porte, responsável por volumes de produção, na média, menores que 100 m3 ao mês e, ainda
assim, quase sempre realizada de forma descontínua13. Os empreendimentos são, quase todos, carentes
de orientação técnica e adequação ambiental.
Neste contexto, a lavra de matacões, determinada pela menor complexidade operacional,
qualificação da mão-de-obra e custos envolvidos, por si só é um fator limitante à manutenção do padrão
estético da matéria-prima lavrada. Disto decorre certa tendência à proliferação de frentes de lavra em
uma mesma mina, em busca de padrões assemelhados, com maior impacto no meio físico, e a perda de
competitividade quando da demanda por volumes maiores de rocha com estética constante.
As empresas verticalizadas, que permanecem atuando no Estado, são responsáveis pelas vendas
mais constantes de blocos para as indústrias de beneficiamento, paulistas ou de outros Estados, que
repassam os materiais processados ao mercado consumidor regional, nacional e estrangeiro. Uma
fração menor do que é produzido pela mineração é negociada diretamente para o mercado externo,
pelos próprios produtores ou por tradings.
Os preços (ROM)14 de venda, no mercado interno, têm variado entre R$ 150/m3 e R$ 200/m3,
para os tipos cinzas e róseos mais comuns, como o Cinza Mauá e o Rosa Salto; entre R$ 300/m3 e R$
500/m3 para rochas como o Vermelho Capão Bonito15, Marrom São Paulo e Preto Piracaia; e entre R$
900/m3 e R$ 1.200/m3, para os tipos mais valorizados, como o Vermelho Bragança e o Azul Fantástico.
Para comparação, o Quadro 1 apresenta os preços mínimos estabelecidos no Espírito Santo
para produtos da mineração de rochas ornamentais16.
Nas vendas internacionais, os preços (FOB)17 variam entre US$ 350/m3 e US$ 400/m3, para o
Vermelho Capão Bonito, Preto Piracaia e Dourado Caju, e os US$ 750/m3, alcançados pelo Vermelho
Bragança e Azul Fantástico. As exportações de produtos brutos têm como destinos, mais citados
pelos produtores, os países do leste asiático (Japão, Taiwan), EUA, Portugal e Uruguai18.
Em duas dessas minas, uma em Capão Bonito, e outra em Bragança Paulista, a depender do plano mineiro, é alternada a lavra em
maciço ou em matacões.
13
Houve uma única exceção, em 2003, na região de Itu, onde uma mina produziu com média mensal de 170 m3 de blocos.
14
Run-of-mine (minério bruto – bloco).
15
Dependendo do produtor e da qualidade da rocha, este tipo é comercializado também na faixa dos R$ 800/m3.
16
Preços válidos a partir de sua publicação, em 1o/04/2004, pela Secretaria de Estado da Receita, no Diário Oficial do Espírito Santo –
DIOES. Também disponíveis em www.sindirochas.com.br/informativo.htm. Muito embora, certamente, pretenda-se, com isto, evitar a
prática regular de preços ainda menores, com perdas de arrecadação pelo erário, esta pauta de preços mínimos, situados quase sempre
bem aquém dos preços reais de venda dos produtos da mineração, acaba por possibilitar a alguns a declaração de valores comerciais
abaixo da realidade.
17
Free on board. Nesses termos, a responsabilidade do vendedor, sobre a mercadoria, vai até o momento da transposição da amurada do
navio, no porto de embarque, muito embora a colocação da mercadoria a bordo do navio seja também, em princípio, tarefa a cargo do
vendedor. O termo FOB exige ainda que o vendedor desembarace as mercadorias para exportação.
18
Há, em geral, em todo o mercado brasileiro de blocos, uma maior exigência de qualidade por parte dos compradores externos (tamanho
maior e mais regular de blocos, plena continuidade no padrão estético da rocha, etc.). Tais exigências tendem a ser atendidas, mesmo
quando até certo ponto abusivas, pelo atrativo que têm as vendas internacionais. Deste modo, em São Paulo, a exemplo do que ocorre
nos demais Estados mineradores, é adotada, muitas vezes, a prática de envio à exportação dos chamados blocos de “primeira”, deixandose para o mercado interno o restante da produção. Afora outros aspectos, isto favorece, não raro, a prática, por alguns, de preços muito
baixos no mercado interno. Tal prática é decisiva para depreciação do valor intrínseco à rocha como material de revestimento, e
penaliza as empresas que estabelecem seus preços de modo conseqüente.
12
34 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Quadro 1 – Pauta de preços mínimos adotados no Espírito Santo para produtos da mineração de
rochas ornamentais (Disponível em: www.sindirochas.com.br/informativo.htm).
Material
Mármores
Granitos
Preço (R$/m3)
Acinzentado
110,00
Azulado
231,00
Bege
150,00
Branco Comum
90,00
Branco Especial
140,00
Caramelo
130,00
Chocolate
130,00
Esverdeado
134,20
Preto
171,00
Rosado
156,20
Outro
102,85
Ocre
105,00
Acinzentado
105,00
Amarelado
140,00
Avermelhado
180,00
Azulado
400,22
Bege
140,00
Branco
160,00
Esverdeado
167,50
Preto
208,72
Rosado
150,15
Violeta
180,00
Outro
108,00
Paralelepípedos (R$/mil)
126,00
Obs.: Para blocos com defeitos aparentes, até 30% de desconto por m3, para blocos em matrucos, no máximo 40% de
desconto por m3 (formato irregular).
A Figura 4A mostra a evolução dos indicadores da produção minerária paulista de blocos
entre 1999 e 2003, projetados a partir dos dados obtidos em entrevistas com os mineradores. Precisas
o quanto possível, tendo em vista a inconstância da mineração, as estimativas apresentadas dão números
ao declínio da mineração destes bens durante aquele período.
Por outro lado, há considerável produção, no Estado, de produtos pétreos para calcetar e para
cantaria, as chamadas pedras de talhe ou marroadas19, destinadas ao mercado consumidor estadual e
regional. A produção mantém-se elevada, apesar de realizada de modo essencialmente informal, de
haver a concorrência de produtos pétreos provenientes de outros Estados, e a despeito de sua substituição
parcial por outros tipos de materiais concorrentes, nos processos construtivos e de pavimentação.
As pedras de talhe podem se constituir em subprodutos da lavra de blocos de granito, a partir
do aproveitamento de rejeitos, como ocorre em algumas das minas do Estado, especialmente na região
de Itu, ou serem os alvos diretos da atividade extrativa, como se verifica na região de Itatiba, próximo
a Campinas, por exemplo.
19
As pedras de talhe ou marroadas, também classificadas como rochas dimensionadas e aparelhadas (Código de Mineração brasileiro),
são produtos pétreos que, em São Paulo e no restante do Brasil, com algumas exceções, recebem recorte de forma manual e são
utilizados, com pouca ou nenhuma elaboração, pela construção civil, na forma de paralelepípedos, folhetas, lajes, mourões, guias ou
pedras-portuguesas (petit-pavée).
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 35i
AA
BB
CC
Figuras 4A, 4B e 4C – Produção minerária paulista: (A) Indicadores da lavra de blocos entre 1999 e 2003;
(B) Comparação entre o volume da produção de blocos e pedras marroadas; (C) Comparação entre o valor
da produção de blocos e pedras marroadas.
Outras matérias-primas aproveitadas como pedras marroadas são rochas sedimentares e
vulcânicas da Bacia do Paraná (Capítulo 4), dos tipos arenitos silicificados, calcários, basaltos e
diabásios20. Nessas situações, a lavra processa-se em vários pontos do Estado, a exemplo de Araraquara,
São Carlos, Rio Claro, Piracicaba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Campinas. Em vários
desses locais, a produção decorre, a exemplo do que se verifica nas lavras de granitos, aproveitandose rejeitos da mineração de rochas, mesmo quando destinadas a outros usos que não o revestimento.
A produção de pedras de talhe como subproduto tende a contribuir para a diminuição do
volume de rejeitos e do impacto ambiental decorrente da atividade de mineração principal. Em situações
assim, a extração das pedras marroadas normalmente é devida a produtores independentes, porém
pode ser executada pelas próprias mineradoras, e mesmo prefeituras municipais. A atividade cerca-se,
entretanto, quase sempre, de pouca ou nenhuma organização, valendo-se, freqüentemente, de trabalho
rudimentar e não legalizado.
Tudo isso considerado, nas Figuras 4B e 4C é feita a comparação entre os volumes físicos e os
valores da produção de blocos e das pedras marroadas em São Paulo, estimados para o ano de 2003.
Isto ocorre pela primeira vez, já que, até agora, não havia dados, mesmo que aproximados, relativos à
20
Os varvitos da região de Itu, uma das mais tradicionais pedras de talhe paulista, são hoje extraídos de modo bastante reduzido, basicamente
para manutenção de obras executadas no passado.
36 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
produção das pedras para calcetar e para cantaria, no Estado21. Vale salientar que o cálculo dos
indicadores referentes às pedras de talhe foi feito do modo mais conservador possível, tendo sido
levados em conta exclusivamente os volumes de produção e os preços mínimos praticados na região
de Itu. Apesar de subestimados, tais indicadores alcançam patamares muito mais elevados que os da
extração de blocos, sendo extraordinária a manutenção desses dados fora das estatísticas oficiais e dos
processos de formalização da atividade minerária.
Assim, a produção minerária paulista de rochas ornamentais, incluídas as pedras de talhe, teria
alcançado, em 2003, pelo menos, a casa dos R$ 15,4 milhões, ou US$ 5,1 milhões aproximados22.
Tomando-se como referência, na ausência de dados mais atuais, os indicadores de PEITER et al.
(2001) para o mercado interno brasileiro de rochas em 2000 (Quadro 1, no Capítulo 1) e os dados de
exportação daquele mesmo ano, ver-se-á que o montante da produção minerária paulista permanece,
no entanto, bastante modesto ante à comercialização de blocos, pedras para calcetar e pedras para
cantaria, nos mercados interno e externo. Desse modo, tal produção, em 2003, corresponderia a 3,5%
do montante total da venda daqueles produtos pelo Brasil em 2000 – esta última teria atingido por
volta dos US$ 150 milhões. É um resultado pouco melhor, no entanto, do que emerge da comparação
de valores da extração exclusiva de blocos, uma vez que a produção paulista não alcançaria, deste
modo, 1% do total brasileiro.
Por outro lado, ao tomar-se em separado a produção das pedras marroadas de São Paulo, e
confrontá-las com as vendas no mercado interno de um dos concorrentes, a Pedra Miracema, do Rio
de Janeiro23 – no ano 2000 as vendas deste último produto teriam alcançado pouco mais dos US$ 17
milhões (Quadro 1, Capítulo 1) –, vê-se que a produção paulista desses bens ganha dimensão apreciável,
ao atingir, pelo menos, 30% da comercialização do produto fluminense24.
Com relação aos volumes da produção minerária, uma vez tomada apenas a extração de blocos,
São Paulo estaria na 10a posição entre os Estados mineradores, tanto na classificação de 2000, apresentado
por PEITER et al. (2001), quanto na de CHIODI FILHO (2003), esta para a o ano de 200225 – ver
Quadros 2 e 3, no Capítulo 1. No entanto, somada à produção de blocos também a extração das pedras
marroadas, São Paulo teria produzido, pelo menos, 450.000 t de produtos pétreos em 2002, ascendendo
à 4a colocação entre os Estados mineradores, naquele ano, considerando os demais com as produções a
eles atribuídas por CHIOD FILHO (2003) – rever Quadro 3, no Capítulo 126.
21
Levantamentos de campo e dados de censo obtidos com autoridades municipais na região de Itu, dão conta da presença, naquela região,
ao menos desde o início dos anos 2000, de 4.000 trabalhadores envolvidos na produção manual e informal de pedras marroadas. A
título de referência, paralelepípedos de granito, um dos produtos mais comuns da atividade, eram comercializados, nas minas, em
2003, na faixa de R$ 250,00, o milheiro.
22
Considerado o dólar com cotação próxima a R$ 3,00 – final de 2003.
As variedades de Pedra Miracema e Pedra Madeira, equivalentes a lajotas, placas ou paralelepípedos, são extraídas de forma essencialmente
manual, e utilizadas, apenas recortadas e esquadrejadas, como calçamento ou revestimentos de muros e paredes. São produzidas na
região de Pádua, no noroeste do Rio de Janeiro, em arranjo produtivo de base mineral estudado e apoiado por entidades como o Centro
de Tecnologia Mineral – Cetem e o Departamento de Recursos Minerais – DRM/RJ. A produção vem se ampliando e se sofisticando
(há a exportação de produtos, são aproveitados rejeitos de serragem, etc.), a ponto de evoluir da situação em que tinha significado
econômico apenas local, para um estágio de relativo destaque no cenário produtivo brasileiro (Figura 8, Capítulo 1). A atividade nesse
centro produtor fluminense gera, segundo informações do Cetem, 6.000 empregos diretos e indiretos, estando envolvidos, além da
mineração, propriamente dita, também a atividade de serragem de materiais, transporte, etc. Torna-se, assim, ainda mais significativa a
existência, em São Paulo, de centros de produção informal, que chegam, como na região de Itu, a reunir até 4.000 trabalhadores,
exclusivamente mineradores.
23
Considerado o valor de comercialização das pedras de talhe paulistas de 2003, já que a ordem de grandeza do valor da produção total
não teria sido menor em 2000. Considerada também e a cotação do dólar neste último ano (US$ 1 = R$ 1,84).
25
Na verdade, respeitadas as demais produções minerárias, e tomada apenas a extração paulista de blocos, que foi naquele ano de 50.000
t, São Paulo se colocaria na 12a posição, junto com Pernambuco.
26
Deve ser feita ressalva, no entanto. Na atualização apresentada por CHIODI FILHO (2003), nem todos os Estados tiveram sua produção
mineira corrigida em relação à estimativa de PEITER et al. (2001) para 2000, possivelmente pela ausência de novos dados. Isto pode
estar provocando distorções na classificação mais recente – comparar Quadros 2 e 3, no Capítulo 1. Porém, como algumas das produções
atribuídas a 2002 incluíram também as pedras marroadas (Cid Chiodi Filho, comunicação pessoal), torna-se possível a inserção da
produção paulista mais completa nesta listagem. De qualquer modo, vê-se que a classificação real dos Estados mineradores depende de
atualização que efetivamente considere toda a extração minerária neles praticada.
24
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 37i
Beneficiamento
Serrarias
A atividade paulista de serragem de rochas ornamentais concentra-se no eixo Grande São
Paulo–Bragança Paulista–São João da Boa Vista27, na parte centro-leste e nordeste do Estado, muito
embora unidades de desdobramento de blocos estejam também instaladas em outros pontos, como
Atibaia, Jaboticabal, Araraquara, Leme, Jaú, Taquaritinga e Ribeirão Preto.
Em 2000, a capacidade nominal de serragem das empresas paulistas correspondia a 10% da
capacidade aparente de serragem brasileira, na estimativa de PEITER et al. (2001), calculada
diretamente pelo número de teares instalados em cada Estado produtor (Quadro 1, Capítulo 1).
No entanto, a produtividade efetiva do conjunto das serrarias paulistas talvez se situe abaixo da
média nacional, em especial se considerados apenas os centros mais desenvolvidos. Isto porque os
parques de beneficiamento primário implantados em Estados como Espírito Santo (região de Cachoeiro
de Itapemirim), Rio de Janeiro e Paraná parecem ter passado por processos mais acentuados de
modernização de máquinas e equipamentos ao longo do tempo. Por sua vez, é claro, os parques instalados
mais recentemente, como aqueles do Nordeste brasileiro e do norte do Espírito Santo (região de Nova
Venécia), tiveram à sua disposição, desde o início, máquinas mais modernas e tecnologia mais avançada.
Assim, desde o final da década dos 90, se percebia, em várias das serrarias paulistas, a presença
de teares antiquados, já então operando a 10, 15 ou mais anos, e de uma boa quantidade de máquinas
desativadas. Na ocasião, estimava-se que, pelo menos, 40% dos cerca de 160 teares do Estado
correspondiam a máquinas obsoletas ou inoperantes (IPT, 1990).
Desse modo, pode-se dizer que, no universo das serrarias de São Paulo, as empresas pequenas
trabalham com uma capacidade instalada para produção de até 3.000 m2/mês, as médias entre 3.000
m2/mês e 7.000 m2/mês, e as grandes acima de 7.000 m2/mês – capacidade que pode atingir, em um ou
dois casos, até os 25.000 m2/mês a 35.000 m2/mês28.
Entre 30% e 40% das serrarias paulistas são verticalizadas, e mantêm segmentos empresariais
também a montante ou jusante da cadeia. Quando envolvidas com a mineração, apenas três delas
operam pedreiras no Estado de São Paulo, preferindo extrair os insumos pétreos em outros Estados29.
Observam-se grandes diferenças entre os estágios tecnológicos e as estruturas organizativas
das maiores empresas – em número de seis, localizadas três na Grande São Paulo, duas em Bragança
Paulista e em uma em São João da Boa Vista –, e a maioria das demais, mesmo as médias. Isso acaba
por condicionar diferenças apreciáveis, não só nos volumes produzidos, mas também na variedade e,
muitas vezes, na qualidade da produção, comparadas empresas maiores e menores.
As empresas de maior porte, diferentemente da maioria das outras, tendem a utilizar equipamentos
de serragem de blocos, desbaste e polimento de chapas alinhados entre os mais modernos nacionais, ou
equipamentos importados, de alto desempenho. Geralmente, dispõem de linhas industriais automatizadas
ou semi-automatizadas, para polimento de chapas e para a produção de peças padronizadas, com
acabamentos sofisticados de superfície e borda. Algumas utilizam talha-blocos, para fabricação de ladrilhos
com espessura fina, e começam a avançar na fabricação de produtos diferenciados, como espessores30.
Podem possuir seções voltadas à preparação, em larga escala, de materiais acabados para grandes obras.
No início dos anos 2000, dos 166 teares do Estado, 75% estavam nestas regiões, 60 deles na Grande São Paulo, 50 nos municípios da
região de Bragança Paulista e dez em São João da Boa Vista.
28
Na maioria dos empreendimentos, dos menores aos maiores, no entanto, há ociosidade na capacidade produtiva instalada. Deste modo,
mesmo entre as grandes empresas, em 2003 não teria havido produção maior que 15.000 m2 a 20.000 m2 ao mês. Por outro lado, o porte
dessas empresas, definido com base no volume da sua produção, não deve ser confundido com classificação que considere o nível de
faturamento. No caso, por menor que seja a produção envolvida, os volumes serrados e os preços de venda praticados garantem faturamento
suficiente para que as serrarias, operando regular e continuamente, possam ser consideradas, no mínimo, como pequenas a médias empresas.
29
Há depoimentos de titulares de serrarias verticalizadas que consideram tal característica cercada de bastante complexidade, em razão
dos desafios que se apresentam. Alguns deles apontam a produção focada, seja na mineração, na serragem ou no acabamento final,
como mais competitiva, de modo geral.
30
Chapas com mais de 4 cm de espessura, normalmente utilizados em arte estatuária ou paisagística.
27
38 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 39i
Sempre ocorrem perdas importantes, envolvendo os insumos pétreos, nos processos industriais
de todas as serrarias, com rejeitos causando transtornos à rotina operacional e onerando o processo
produtivo31.
Os empresários paulistas queixam-se de fortes pressões decorrentes da ação contínua de órgãos
ambientais e de perda de mercado para a concorrência específica do Espírito Santo32.
A Figura 5 mostra ainda a variação, entre 2001 e 2003, do número de teares instalados no
Estado e dos teares efetivamente em operação. Neste sentido, em 2003, das 32 serrarias cadastradas
em São Paulo até então, uma encerrou suas atividades, três outras se transferiram para Minas Gerais,
Rio de Janeiro e Espírito Santo33, e cinco mantiveram seus teares totalmente inoperantes – talvez não
voltem à atividade. Mantiveram-se, no período, na casa dos 50%, os teares paralisados, instalados em
São Paulo.
Informações colhidas diretamente de produtores indicam que, em São Paulo, a produção deste
segmento da cadeia produtiva, em 2003, atingiu a casa de 1,0 milhão de m2 ao ano, com queda de 20%
ante à produção estimada para 2001 (IPT, 2002) – Figura 5.
A esta altura, certamente, menos de 20% da produção das serrarias de São Paulo decorre do
beneficiamento de materiais paulistas, em razão do volume da mineração estadual e da oferta de
blocos de outros Estados, especialmente do Espírito Santo34. São transformados também materiais
brutos importados.
Figura 5 – Indicadores da produção das serrarias paulistas, em 2001 e 2003.
Tema do Capítulo 6.
Há que ser dado destaque, mais uma vez, à influência da “pauta de preços mínimos” sobre os preços dos produtos capixabas.
33
Todas as empresas que deixaram de operar em São Paulo estavam entre as mais tradicionais do parque produtivo paulista.
34
Afora isto, as rochas paulistas são qualificadas de “duras”, exigindo mais tempo de corte e maior gasto de insumos, o que aumenta o
custo de produção. Pode ser dito que tal característica decorre de serem os materiais paulistas homogêneos, com teor de quartzo
relativamente elevado, e “frescos” (praticamente sem efeito do intemperismo), distintos, no geral, dos materiais capixabas, por exemplo.
Registre-se, entretanto, que esta resistência ao corte será mais sensível nos maquinários antigos, e que a dureza apontada liga-se
diretamente à boa qualidade que têm as rochas paulistas, em relação às solicitações decorrentes de usos diversos.
31
32
40 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Os preços de venda são bastante variados, pois dependem do tipo, qualidade e origem do
material. Tomando como exemplo apenas matérias-primas paulistas, em 2003, tais preços variaram,
na média35, entre R$ 60/m2 (Cinza Mauá) e R$ 160/m2 (Azul Fantástico), no mercado interno, e entre
US$ 30/m2 (Vermelho Capão Bonito) e US$ 70/m2 (Azul Fantástico), para exportação. Chapas de
materiais importados podem ser comercializadas para os consumidores internos desde US$ 60/m2 a
US$ 80/m2, até US$ 800/m2 a US$ 1.000/m2.
Também para comparação, do mesmo modo que se fez durante o diagnóstico do segmento de
mineração paulista, o Quadro 2 apresenta os valores da pauta de preços mínimos adotada no Espírito
Santo, agora referentes a produtos pétreos beneficiados36.
Quadro 2 – Pauta de preços mínimos adotados no Espírito Santo para produtos do beneficiamento de
rochas ornamentais (Disponível em: www.sindirochas.com.br/informativo.htm).
Mármores
Granitos
Material
Chapas
(2 cm)
Recortados
Talha-Blocos (1)
Pias
Pisos, Peitoris,
Soleiras, Rodapés
Acinzentado
12,74
Azulado
79,20
13,32
26,63
13,32
82,50
114,40
Bege
88,00
22,35
23,53
37,65
29,41
Branco Comum
10,80
5,40
22,80
16,20
Branco Especial
16,80
10,64
30,80
22,40
Caramelo
17,00
10,74
30,52
22,61
Chocolate
15,00
12,35
33,15
22,75
Esverdeado
22,00
20,90
34,10
27,50
Preto
26,00
26,56
42,74
33,50
Rosado
19,25
17,60
30,80
22,00
Outro
11,77
12,34
28,84
20,60
Ocre
17,00
25,67
35,00
25,67
Acinzentado
17,00
25,67
35,00
25,67
Amarelado
21,58
28,00
51,33
28,00
Avermelhado
28,00
34,74
43,45
34,76
Azulado
114,16
123,35
149,60
123,35
Bege
22,31
31,23
40,72
31,23
Branco
25,71
34,28
46,85
34,28
Esverdeado
22,00
35,80
42,16
36,38
Preto
28,46
38,00
50,60
37,95
Rosado
23,10
28,30
36,96
28,30
Violeta
27,53
34,76
44,70
34,76
Outro
21,53
31,72
43,05
31,72
Ladrilhos (peças com menos de 0,1 m2)
Casqueiros/Costaneiras
11,77
0,53
Preços em R$/m2.
(1) Material acabado, inclusive polido, com espessura entre 0,5 e 1,9 cm.
Preços a serem acrescentados: Serragem – R$ 3,80 (mármores) e R$ 10,12 (granitos); Polimento/corte/acabamento – R$ 4,10 (mármores) e R$
5,19 (granitos).
Para chapas em bruto, com menos de 1,6 cm, 20% de desconto por m2.
Para chapas em bruto, com defeitos aparentes, no máximo, 30% de desconto por m2.
Para chapas de 3 cm, em bruto, 20% de acréscimo por m2.
35
Preços para chapas com 2 cm de espessura.
36
Preços válidos a partir de sua publicação, em 1o/04/2004, pela Secretaria de Estado da Receita, no Diário Oficial do Espírito Santo –
DIOES. Também disponíveis em www.sindirochas.com.br/informativo.htm. Muito embora certamente pretenda-se, com isto, evitar a
prática regular de preços ainda menores, com perdas de arrecadação pelo erário, tais preços, quase sempre situados bem aquém dos
reais preços de venda de produtos pétreos resultantes dos processos de beneficiamento, acaba por possibilitar a alguns a declaração de
valores comerciais abaixo da realidade.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 41i
O destino da produção das serrarias paulistas é o mercado consumidor regional e o de exportação – pelo menos 40 % delas exportam37. Nas vendas ao Exterior, há destaque para o comércio com
os EUA e Japão, afora Canadá, países do Oriente Médio e países da América do Sul38.
Considerados os preços praticados, os volumes médios de cada tipo de produto e as cotas
exportadas, conforme informados pelos produtores, pode ser estimado que a produção de beneficiados
alcançou, nas serrarias de São Paulo, valor da ordem de R$ 63 milhões, em 2003.
Marmorarias
O segmento marmorista destaca-se, no mercado produtor paulista de rochas ornamentais, pelo
número de empreendimentos envolvidos, pelos indicadores econômicos decorrentes desta atividade e
pelos empregos que gera. Mais ainda, como já indicado, as marmorarias existentes em São Paulo
correspondem a mais de 40% do total dessas empresas no Brasil. Deste modo, justifica-se o detalhamento
das informações que serão aqui apresentadas. Para a construção de uma base de dados mais sólida e
quantitativa: a) sobre as principais características das marmorarias paulistas e da mão-de-obra
empregada na produção; b) sobre o processo produtivo; e c) a comercialização dos produtos pelo
segmento, optou-se pela coleta de informações primárias, diretamente com os produtores. Isto foi
realizado por meio da aplicação de questionário, contendo quase 100 questões, formatado para permitir
a obtenção dos principais indicadores dessa atividade produtiva.
Na ausência de cadastro atualizado que pudesse ser obtido junto ao setor, a pesquisa foi dirigida
às marmorarias presentes nas Listas OESP (catálogo comercial, disponibilizado para consulta, na
Internet, no sítio www.listasoesp.com.br), e entre os associados do Sindicato da Indústria de Mármores
e Granitos do Estado de São Paulo – Simagran39.
A partir de um universo inicial de 1.220 empreendimentos presentes nas Listas OESP, e considerada
também a distribuição dessas empresas no Estado40 (Figura 6), foram entrevistados 304 produtores, 28
deles associados ao Simagran, em 160 empresas situadas na Grande São Paulo e 144 no Interior41. Deste
modo, presume-se que a pesquisa tenha coberto pelo menos 10% do total estimado das marmorarias paulistas. A amostra e o tratamento estatístico realizado estabelecem para os dados aqui apresentados, equivalentes quase sempre à média para cada tipo de resultado, uma precisão da ordem de 95% (IPT, 2002).
Empresas e mão-de-obra
Conforme pode ser observado na Figura 7A, a quase totalidade das empresas marmoristas são de
micro e pequeno portes42. Afora isto, predominam os empreendimentos essencialmente familiares (Figura
7B). Quanto ao tempo de existência das marmorarias, embora tenham sido identificadas algumas fundadas
há bastante tempo, a mais antiga delas nos anos 30 do século passado, há um maior número de empreendimentos operando a partir dos anos 70 (Figura 7C). Além disso, nota-se certa tendência a permanecerem
no ramo, por mais tempo, as marmorarias relativamente maiores. São em absoluta minoria as empresas
verticalizadas, embora sua incidência aumente dos micro aos médios empreendimentos (Figura 7D).
Há depoimentos de titulares de serrarias paulistas, e de outros Estados, no sentido de que, para efeito das exportações, as máquinas nacionais
mais modernas, disponíveis para serragem de blocos, em geral garantem competitividade às chapas brasileiras, no que se refere à qualidade
do produto. Isto não se repetiria, no entanto, consideradas as maquinas nacionais existentes para polimento e lustro das chapas, e fabricação
automatizada de produtos padronizados. Tal entendimento estaria de acordo com a insistência de boa parte dos titulares das grandes empresas
de transformação, reunidas em torno da Associação das Indústrias Exportadoras de Mármores e Granitos - Abiemg, em obter facilidades
tributárias para importação de maquinário estrangeiro, o que envolveu, até aqui, a concessão, pelo Governo federal, de ex-tarifários periódicos.
38
Pressionadas principalmente pelos baixos preços praticados pelo Espírito Santo, as serrarias maiores, com custos mais elevados de produção,
têm buscado cada vez mais, nas exportações, maior viabilidade comercial para seus negócios. Deste modo, algumas delas já destinam 90%
de sua produção ao comércio internacional. As vendas ao Exterior são feitas diretamente, ou por meio de tradings.
39
Na época em que foi realizada a pesquisa, em 2002, o Simagran contava com aproximadamente 130 associados inscritos, entre marmoristas,
titulares de serrarias e mineradores, além de produtores de equipamentos, fornecedores de insumos e agentes comerciais.
40
Naturalmente, a distribuição das marmorarias liga-se diretamente à quantidade de consumidores finais. Deste modo, essas empresas
estão presentes em maior número nas grandes cidades, especialmente aquelas situadas nas regiões mais desenvolvidas do Estado, cuja
população tem maior poder aquisitivo.
41
A aplicação do questionário ficou a cargo de empresa contratada, especializada em pesquisas censitárias.
42
Adotou-se para indicação do porte das marmorarias, o faturamento declarado pelos proprietários e o Estatuto das Microempresas e Empresas
de Pequeno Porte (www.sebraesp.com.br), segundo o qual classificam-se, como microempresas, pequenas empresas e médias empresas os empreendimentos com faturamento anual, respectivamente, de até R$ 244 mil, entre R$ 244 mil e R$ 1,2 milhão, e maior que de R$ 1,2 milhão.
37
42 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Figura 6 – Distribuição de marmorarias no Estado de São Paulo – 157 municípios e 1.220 empreendimentos
registrados. Fonte: Listas OESP (www.listasoesp.com.br).
A
C
B
D
Figuras 7A, 7B, 7C e 7D – Características empresariais das marmorarias paulistas: (A) Participação relativa
das micro, pequenas e médias empresas; (B) Incidência de empresas familiares; (C) Ano mais comum de
fundação; (D) Incidência de empresas verticalizadas.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 43i
Embora existam empresas maiores, com até 120 funcionários na produção, em geral cada
marmoraria emprega, a depender de seu porte, entre cinco e 15 funcionários (Figura 8A). A mão-deobra contratada tende a permanecer por mais tempo na mesma empresa se é maior o porte do
empreendimento (Figura 8B). O treinamento dessa mão-de-obra, com pequenas variações verificadas
em cada uma das três categorias consideradas, é realizado principalmente nas próprias marmorarias, e
decorre da experiência acumulada na atividade ao longo do tempo (Figura 8C). Isto pode ser, algumas
vezes, um limitante à qualidade dos produtos e ao pleno aproveitamento dos recursos proporcionados
por equipamentos mais modernos que venham a ser instalados.
A
B
C
Figuras 8A, 8B e 8C – Empregados na produção: (A) Número médio por categoria de marmoraria; (B)
Número médio de meses na mesma empresa; (C) Formas adotadas para treinamento.
Outro aspecto é o que se refere às condições de salubridade e segurança da mão-de-obra no
ambiente de trabalho. Por envolverem procedimentos de risco elevado (manuseio de maquinário,
materiais e peças pesadas), ruidosos e, na maioria das empresas, geradores de volumes substanciais de
pó, as atividades de beneficiamento demandam o emprego de materiais específicos de segurança,
artefatos de filtragem de ar, equipamentos e bancadas de trabalho com design ergonômico. Afora os
equipamentos de proteção individual, os demais elementos estão quase sempre ausentes, ainda mais
se tratando dos empreendimentos menores, os mais comuns no segmento marmorista43.
Processo produtivo
O maquinário utilizado pelas marmorarias paulistas tem, geralmente, de seis a sete anos de
funcionamento (Figura 9A). Predominam máquinas e equipamentos nacionais (Figura 9B),
característica ligada à tradicional fabricação de produtos a partir de acabamento manual ou
43
Nos últimos anos, por ação do Ministério Público paulista, as marmorarias vêm sendo obrigadas a diminuir a emissão de pó, para
proteção da mão-de-obra e da vizinhança das empresas. Para a maioria das marmorarias, no entanto, há dificuldades para atender a essa
exigência, principalmente, pela falta de capital para compra de equipamentos de aspiração de poeira e máquinas que operem com
recorte e polimento a úmido.
Por sua vez, entidades como o Centro de Pesquisa em Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho – Fundacentro, do Ministério de
Trabalho e Emprego, têm realizado estudos, em São Paulo e em outros estados, focando a saúde dos trabalhadores das marmorarias –
ver, por exemplo, MOREIRA (2003).
44 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
semimecanizado. Por outro lado, à medida que se objetiva a produção em maior escala, são buscadas
formas mais sofisticadas de acabamento automatizado e a fabricação de produtos padronizados, como
ocorre com mais freqüência nas empresas maiores, passando-se a utilizar, até pela falta de opções no
mercado nacional, maquinário importado.
A depender da categoria marmorista considerada, há muitas diferenças quanto à origem das
chapas trabalhadas (Figuras 10A, 10B e 10C). O mais notável, neste caso, é o menor emprego de
A
B
Figura 9A e 9B – Maquinário utilizado: (A) Número de anos decorridos da instalação; (B) Participação de
componentes nacionais.
A
B
C
D
Figuras 10A, 10B, 10C e 10D – Procedência dos insumos pétreos: (A) Micromarmorarias; (B) Pequenas
marmorarias; (C) Médias marmorarias; (D) Média da participação relativa, dos insumos pétreos provenientes
de outros estados.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 45i
rochas paulistas pelas maiores empresas – as microempresas chegam a trabalhar com até 2,5 vezes
mais materiais de São Paulo que as empresas médias –, o que poderá estar traduzindo dificuldades de
fornecimento dos materiais paulistas, em volumes maiores e a preços competitivos, pelas serrarias e
depósitos especializados no comércio de chapas, seja pela inconstância da produção minerária no
Estado, seja por problemas detectados na relação comercial das serrarias com parte dos mineradores.
Por outro lado, chega a dobrar o uso de materiais importados, mais caros, nas marmorarias maiores.
Com relação aos insumos pétreos provenientes de outros Estados, os principais fornecedores, como
previsível, são os grandes produtores nacionais, com destaque para o Espírito Santo (Figura 10D).
As empresas maiores produzem, em média, até cinco vezes mais que as marmorarias menores
(Figura 11A). Por outro lado, dos entrevistados, apenas 28% declararam ter, sua produção, crescido
nos cinco anos anteriores à pesquisa (Figura 11B).
A
B
Figuras 11A e 11B – Produção: (A) Comparativo entre marmorarias menores e maiores; (B) Evolução da
produção nos últimos cinco anos.
A Figura 12A apresenta a incidência relativa de alguns produtos na atividade das marmorarias.
Nota-se que a participação de padronizados eleva-se entre as empresas maiores. Quanto aos acabamentos
de superfícies, não há praticamente diferenças, predominando, de modo amplo, a elaboração de peças
com superfícies polidas (Figura 12B).
46 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A
B
C
Figuras 12A, 12B e 12C – Produção: (A) Participação dos principais tipos de produto; (B) Tipos de acabamento
de superfícies; (C) Perdas dos insumos pétreos no processo produtivo.
As perdas no processo produtivo, por sua vez, mantêm-se constante entre os três grupos de
empresas, na casa dos 20% dos insumos pétreos trabalhados (Figura 12C). Isto representa um grande
volume de rejeitos a ser estocado e de gastos financeiros para sua retirada das plantas de trabalho44.
O gerenciamento da qualidade dos produtos, para as micro e pequenas marmorarias, é quase
que unicamente feito por observação visual (Figuras 13A e 13B), mecanismo que também predomina,
embora em menor escala, nas marmorarias maiores (Figura 13C)45, o que, de qualquer modo, pode ser
insuficiente para um efetivo controle da qualidade da produção.
A participação relativa dos diversos elementos que incidem no custo da produção varia muito
pouco entre os empreendimentos maiores e menores. Destacam-se as matérias-primas rochosas como
componente desse custo (Figura 14).
44
Uma rota para o possível aproveitamento desse material é apresentada no Capítulo 6.
45
A figura parece estar em desacordo com o esperado, ou seja, o emprego de controles mais sofisticados por parte das empresas maiores.
Deve ser considerado, no entanto, que são em absoluta minoria as marmorarias médias. Desse modo, mesmo que haja, de fato, uma
maior incidência relativa de tais controles, possivelmente não tenha sido entrevistado um número suficiente de titulares das empresas
de maior porte para que isso esteja se refletindo no resultado obtido.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 47i
A
B
C
Figuras 13A, 13B e 13C – Formas de controle de qualidade dos produtos: (A) Micromarmorarias; (B) Pequenas
marmorarias; (C) Médias marmorarias.
A
B
C
Figuras 14A, 14B e 14C – Participação relativa de insumos e mão-de-obra nos custos de produção: (A)
Micromarmorarias; (B) Pequenas marmorarias; (C) Médias marmorarias.
48 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Entre 25% e 34% dos serviços das marmorarias são repassados a terceiros – que podem ser
outras marmorarias, ou empresas lustradoras (Figura 15A). Esses serviços são variados, predominando
o acabamento total de peças, a montagem e o acabamento de superfícies (Figura 15B).
B
A
Figuras 15A e 15B – Terceirização de trabalhos: (A) Incidência do processo; (B) Participação média dos
tipos de serviços terceirizados.
Respostas induzidas, referentes a medidas para controle de impactos ambientais, mostram que
há pouca variação entre as empresas, no que se refere ao uso da água e ao aproveitamento dos finos
decorrentes do recorte e acabamento de peças (Figura 16). A reciclagem desses resíduos mantém-se
baixa, possivelmente por falta de conhecimento sobre modos viáveis de aproveitamento, ou pelo
pouco volume normalmente gerado por empresa. Desse modo, para a maioria, a estocagem e o posterior
descarte desses materiais não representam um grande problema. Por outro lado, é relativamente baixo,
especialmente entre as empresas menores, o cuidado com o descarte de embalagens tóxicas, a emissão
de poeira e a geração de ruídos.
Quanto à cooperação das marmorarias com os demais agentes da cadeia produtiva, com
especificadores e com os consumidores finais, respostas também induzidas indicam que a prática é
adotada ainda de modo discreto, especialmente entre as próprias marmorarias, entre elas e os fornecedores
de chapas de rocha e os demais insumos, e também com os fabricantes de máquinas e equipamentos.
Assim, no máximo um quarto das empresas estaria buscando aumentar sua competitividade via cooperação
(Figura 17). Haveria, por outro lado, maior parceria com especificadores e consumidores finais. Dentre
as ações cooperativas efetivas, citadas de modo espontâneo, as mais comuns são: a) com fabricantes de
máquinas, equipamentos e insumos – treinamento, assistência técnica, teste de novas máquinas e produtos,
e fabricação sob encomenda; b) com outras marmorarias – troca de mercadorias, troca de conhecimentos
e informações, e repasse de serviços; c) com serrarias – entrega de materiais em consignação, corte de
peças, aplicação de resinas no acabamento de superfícies e troca de informações; d) com depósitos –
facilidades para pagamento, entrega de materiais em consignação e indicação de clientes; e e) com
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 49i
Figura 16 – Incidência e tipos de medidas para controle de impactos ambientais.
Figura 17 – Modos e incidência média das ações de cooperação.
50 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
especificadores (arquitetos e engenheiros) e consumidores finais – elaboração conjunta de projetos,
indicação de novos clientes e troca de conhecimentos e informações.
Comercialização
Entre as microempresas, o número de marmorarias que declaram considerar o custo da sua
produção mais margem de lucro (mark up), para a fixação dos preços de seus produtos é quase o
mesmo que aquelas que se baseiam estritamente no preço praticado pela concorrência (Figura 18A).
Este último critério certamente é, muitas vezes, determinante para o encurtamento da vida das
marmorarias que o adotam. Mesmo entre as empresas pequenas e médias, o preço da concorrência é
utilizado por 30% a 40% delas, com os demais 60% dos titulares declarando tomar seus próprios
custos como base para os preços praticados (Figuras 18B e 18C).
A
B
C
Figuras 18A, 18B e 18C – Formas adotadas para fixação de preços: (A) Micromarmorarias; (B) Pequenas
marmorarias; (C) Médias marmorarias.
Os preços médios de venda dos diversos produtos independem do porte das empresas,
naturalmente se elevando dos produtos padronizados aos produtos feitos sob medida, mais ainda
quando envolvidos materiais importados (Figura 19) – comparar com valores mostrados no Quadro 2.
Há pouca variação nos canais de comercialização adotados pelos produtores. Quanto a isto,
são utilizadas as alternativas indicadas na Figura 2046.
A produção marmorista é majoritariamente destinada a consumidores dos próprios municípios
produtores e, em seguida, aos demais municípios paulistas (Figura 21). Fração do que é produzido é
encaminhada a outros Estados e, menos ainda, ao Exterior47, neste caso exclusivamente por empresas
com nível elevado de profissionalização, que constituem exceção entre os empreendimentos considerados.
46
A figura parece estar em contradição com a maior incidência esperada para exportações por parte das empresas maiores. Deve ser
considerado, no entanto, que uma parcela muito pequena das marmorarias paulistas exportam. Como, além disso, são em absoluta
minoria as empresas médias, possivelmente não foram entrevistados exportadores desta categoria.
47
Ver observação anterior.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 51i
Figura 19 – Preços dos produtos.
A
B
C
Figuras 20A, 20B e 20C – Canais de comercialização adotados (A) Micromarmorarias; (B) Pequenas
marmorarias; (C) Médias marmorarias.
52 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A
A
B
C
Figuras 21A, 21B e 21C – Destino da produção: (A) Micromarmorarias; (B) Pequenas marmorarias; (C)
Médias marmorarias.
A partir dos valores de faturamento declarados pelos produtores, é possível estimar um
faturamento anual médio de R$ 287 mil por empresa entrevistada. Assim, o montante da produção das
304 empresas que compõem o universo da pesquisa teria sido de aproximadamente R$ 87 milhões ao
ano, em 2002. Nesta mesma linha, admitida e existência de 3.000 desses empreendimentos no Estado,
e a representatividade da amostra, o valor da produção marmorista paulista estaria na casa dos R$ 860
milhões anuais48.
Vale salientar que a importância da cooperação entre as marmorarias e os demais elementos da
cadeia produtiva fica evidenciada pelo fato de as empresas com postura cooperativa, segundo a pesquisa
realizada, mostrarem faturamento 15% acima da média, e 39% a mais que aquelas que não praticam
nenhum tipo de cooperação.
Empecilhos à produção
A Figura 22 exibe a incidência dos principais impedimentos à produtividade e competitividade
das marmorarias paulistas, conforme declarado, de modo induzido, pelos produtores. Afora o
reconhecimento das mesmas dificuldades verificadas nos elos a montante da cadeia, vê-se que não
variam muito os gargalos enfrentados pelas empresas menores e maiores.
Já a Figura 23 detalha o que foi colocado na figura anterior como “outras dificuldades”, sendo,
essas indicações, espontâneas dos produtores. Dentre elas, sobressaem a concorrência com as outras
marmorarias, de modo geral, e, especificamente, com os empreendimentos informais. A queda das vendas
a partir da perda do poder aquisitivo dos compradores e a inadimplência da clientela também aparecem
como obstáculos importantes. Bastante citada, ainda, é a falta de mão-de-obra especializada, o que
48
No entanto, quando se calcula o valor da produção anual das 304 marmorarias, a partir da moda dos volumes produzidos, dos preços
praticados e a da participação de cada tipo de produto na produção, conforme também declarados pelos produtores, chega-se a um
montante anual de R$ 340 mil por empresa, o que atribuiria à produção anual marmorista um valor de R$ 1,02 bilhões. Uma possibilidade
é que os valores de faturamento declarados estejam reduzidos. Isto daria ao montante de R$ 860 milhões a condição de mínimo para o
valor da produção anual marmorista em São Paulo.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 53i
A
A
B
B
C
C
Figuras 22A, 22B e 22C – Principais desafios enfrentados: (A) Micromarmorarias; (B) Pequenas marmorarias; (C) Médias marmorarias.
Figura 23 – Detalhamento dos “Outros desafios”, da Figura 22.
54 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
remete à questão do treinamento. A concorrência com serrarias, por conta dos produtos finais produzidos
nessas últimas empresas, também tem incidência algo destacada entre os desafios apontados49.
EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES DE SÃO PAULO
Segundo os dados disponibilizados na Internet pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior do Brasil, via o portal Vitrine do Exportador (www.exportadoresbrasileiros.
gov.br), no período de 2001 a 2003, exportaram produtos pétreos 115 empresas com razões sociais no
Estado de São Paulo. Segundo esse cadastro, um maior número de empresas comercializou granitos
processados (Tabela 1), o que está de acordo com outros indicadores, tratados logo adiante50.
Tabela 1 – Número de empresas paulistas exportadoras de produtos pétreos entre 2001 e 2003.
Fonte: Portal Vitrine do Exportador (www.exportadoresbrasileiros.gov.br).
Produto
Número de Empresas
Granitos Brutos (NCMs 2516.11, 2516.12, 6802.93 )
37
Granitos Processados (NCM 6802.23)
72
Mármores Brutos (NCMs 2515.12, 6802.91)*
12
Mármores Processados (NCM 6802.21)*
10
Ardósias (NCMs 2514.00, 6803.00)*
17
Quartzitos (NCM 2506.29)**
6
Ladrilhos (NCM 6802.10)
2
Pedras de Cantaria (NCMs 2516.90, 68.02.99, 6802.29)
5
Pedras de Calcetar (NCM 6801.00)
11
Obs.: São 115 as empresas exportadoras. O número total, aparentemente maior, sugerido pela coluna da direita, deve-se a que, determinadas
empresas, exportaram mais de uma mercadoria, no mesmo período.
(*) Material não extraído no estado.
(**) Material não extraído no estado, a menos que envolva arenitos silicificados.
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil - MDIC. Disponível em: www.exportadoresbrasileiros.gov.br.
Já em listagem disponibilizada pela Abiemg, com os 53 maiores exportadores brasileiros de
produtos pétreos no ano de 2003, podem ser reconhecidas três empresas paulistas, sendo uma mineradora
– exportadora de blocos, com áreas de lavra apenas em outros Estados –, e duas serrarias. Uma destas
últimas é serraria verticalizada, porém opera minas somente fora de São Paulo. A atividade da segunda
é focada na serragem de blocos, materiais quase sempre provenientes de outros Estados.
A Tabela 2, construída com dados obtidos da Secex, via Sistema Alice Web (www.
aliceweb.mdic.gov.br), compara as exportações de São Paulo em 2002 e 2003, pelo que verifica-se
um aumento expressivo nas exportações do Estado entre esses dois anos. Quanto a valores, foram
exportados 39,8% a mais em produtos beneficiados, com retração de 2,6% nas exportações de produtos
brutos e, portanto, aumento de 32,6% nas exportações totais. Em volume físico, aumentaram em
40,7% as vendas de processados e 19,6% as de brutos, o que originou uma ampliação nos volumes
49
Apesar de receber apenas três indicações, sabe-se que a concorrência dos shoppings de materiais de construção, empreendimentos de
grande porte, é também um fator importante, já que essas empresas costumam manter estoques de produtos acabados e vendê-los a
partir de oportunidades, a preços normalmente imbatíveis pelo segmento marmorista.
50
Pelos registros do sítio, algumas das empresas têm atuação nacional, em alguns casos com matrizes em outros Estados, enquanto que
outras são multinacionais. Ao que se sabe, algumas delas não contam com minas ou plantas próprias para transformação industrial em
São Paulo. Isto permite supor que parte das mercadorias seja apenas exportada pelo Estado, sem que passem por etapas de extração e
beneficiamento. Participam também do grupo de exportadores algumas tradings.
19.702
21.750
89
68010000
Total geral
18
68029990
16.347
35
68022900
11.537
9.571
14
19
29.471
23.008
32
76
160
8
10
25
68159990
130
31
68021000
452
889
8.290
12.860
42
25261000
43
4
2.782
68022300
38
68022200
81
496
152
6.463
6.083
4.031
890
785
24
41
68022100
34
1.966
1.962
1.879
1
63
377
381
373
8
Peso (t)
68029200
2.214
68030000
Rochas Processadas Total
Granitos, Mármores,
Travertinos, Calcários,
Ardósias, Quartzitos e
Arenitos Processados,
Ladrilhos, Pedras para
Cantaria e Pedras para
Calcetar
132
25140000
5.403
4.871
68029390
Rochas Brutas Total
12
25161200
5.402
458
25161100
4
19
1
61
25062900
4
0,48
0,40
0,27
68029100
Peso (t)
Valor
(x1000 US$)
2002 (A)
25151210
NCM
Rochas Silicáticas Brutas Total
Granitos, Quartzitos
e Arenitos Brutos
Rochas Carbonáticas Brutas Total
Mármores, Travertinos e
Calcários Brutos
Produtos
15.293
13.378
5
11
29
42
38
12.495
3
64
12
651
28
1.915
1.809
1.431
122
108
146
106
105
1
Valor
(x1000 US$)
2003 (B)
35,5
40,7
-64,1
329,4
362,8
-73,2
53,2
10,2
-89,0
25,6
15,9
19,6
12,6
-17,2
7.304,7
71,5
514,5
56.867,2
138.997,0
1.840,3
Peso
32,6
39,8
-63,3
-45,7
190,1
-67,9
50,7
48,4
-85,4
31,4
-16,7
-2,6
-7,8
-23,8
11.897,1
72,0
670,8
2.316,3
2.584,7
128,3
Valor
Variação % (B/A)
0,53
0,59
0,16
1,10
0,29
4,17
0,51
0,64
1,13
1,99
0,22
0,26
0,36
0,36
0,39
0,08
0,14
0,31
6,58
14,60
1,20
2002 (C)
(US$/kg)
0,52
0,58
0,16
0,14
0,18
4,99
1,54
0,63
0,11
1,52
2,65
0,23
0,18
0,30
0,30
0,36
0,14
0,14
0,39
0,28
0,28
0,14
2002 (D)
(US$/kg)
-2,17
-0,68
2,12
-87,37
-37,32
19,65
-1,61
34,64
32,72
4,55
-28,13
-18,60
-18,13
-7,95
62,02
0,33
25,43
-95,76
-98,07
-88,23
Variação de Preço
(D/C)
(US$/kg) %
Tabela 2 – Comparação entre os valores e volumes físicos das exportações paulistas de rochas ornamentais nos anos de 2002 e 2003 (Fonte:
Secex – Sistema Alice Web).
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 55i
56 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
vendidos de 35,5%, no total. Deste modo, entre 2002 e 2003, o preço total de venda das rochas brutas
caiu 18,6% e o preço total de produtos beneficiados diminuiu 0,68%.
Dentre as exportações brutas, em 2003, destaca-se a comercialização de blocos de granito –
US$ 1,7 milhão, pelas NCMs 2516.11.00, 2516.12.00 e 6802.93.90, ou seja, 92% do valor total.
Embora seja razoável supor-se que a maior parte desses granitos tenha sido extraída em São Paulo,
deve haver material proveniente de outros locais, a exemplo dos calcários, certamente, e talvez
quartzitos, também exportados brutos, o que estaria de acordo com os comentários anteriores sobre as
empresas exportadoras cadastradas.
Quanto aos produtos beneficiados, o valor comercializado em 2003 eleva-se a US$ 13,4 milhões.
Esse montante é quase 40% maior que em 2002. Envolve especialmente chapas de granitos, que
alcançaram 93% do que foi negociado, seguindo-se ardósias e outros, extraídos fora do Estado.
As exportações totais paulistas, de US$ 15,3 milhões, em 2003, ampliam a tendência de alta
das vendas, como vem ocorrendo desde 2001.
Considerando-se os valores comercializados, em 2003 São Paulo ficou em 6o lugar entre os
Estados exportadores de produtos brutos – com 1% do total, praticamente o mesmo que vários outros,
como Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Em 4o lugar entre os exportadores de
beneficiados – 4% das vendas. Também em 4o lugar, tratando-se das vendas totais (produtos brutos e
beneficiados), com uma participação de 4% das exportações brasileiras (Figura 24), atrás do Espírito
Santo (51%), Minas Gerais (22%) e Rio de Janeiro (8%).
A Figura 25A exibe a evolução das exportações paulistas nos últimos três anos. A Figura 25B
indica a participação dos vários materiais nas exportações paulistas. Já a Figura 25C assinala os principais
países de destino das exportações de São Paulo, salientando o papel comprador dos EUA.
A
C
B
Figuras 24A, 24B e 24C – Participação dos estados nos valores das exportações brasileiras de produtos
pétreos em 2003: (A) Produtos brutos; (B) Produtos processados; (C) Produtos brutos e processados. Fonte:
Secex – Sistema Alice Web.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 57i
A
B
C
Figuras 25A, 25B e 25C – Evolução dos valores das exportações paulistas de rochas ornamentais: (A)
Comparação das vendas de cada classe de produto; (B) Vendas por tipo de material – total de produtos
brutos e processados; (C) Principais países de destino – total de produtos brutos e processados. Fonte:
Secex – Sistema Alice Web.
58 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Sempre levando em conta o total vendido de mercadorias brutas e processadas, dentre as quais
há amplo predomínio das segundas, nas Figuras 26 e 27 são mostrados os destinos das vendas, ao
Exterior, por São Paulo, dos diversos produtos pétreos.
Já a Tabela 3 compara as importações de São Paulo de 2003 e 2002, sempre com base em
dados da Secex. Considerados os valores importados, houve queda, em 2003, de 2,7% nas compras de
produtos brutos, e 3,9% nas de beneficiados, ou seja, uma diminuição de 3,8% nas compras totais.
Tomados os volumes físicos, em 2003 caíram em 5,9% as importações de brutos e 16,6% as de
beneficiados, com diminuição de 15,1% no total de produtos comprados. Diferentemente do que
ocorrera com as exportações, o preço total de compra cresceu 3,5% para os brutos51, 15,2% para os
processados, e 13,3% considerados os produtos brutos e processados.
Em 2003, São Paulo continuou sendo o principal importador brasileiro de rochas ornamentais,
e responsável por mais de dois terços do total comprado no Exterior pelo País (Figura 28). O Estado
adquiriu US$ 12,1 milhões, sendo que US$ 1,5 milhões em materiais brutos – 12% do total –, e US$
10,6 milhões em processados – os 88% restantes. Em decorrência dos preços desses materiais,
certamente a maior parte das importações paulistas destina-se ao mercado construtivo de alto padrão,
importante segmento da construção civil no Estado.
A Figura 29A mostra o comportamento das importações paulistas nos últimos três anos, a
Figura 29B discrimina os materiais comprados, e a Figura 29C caracteriza a procedência desses
materiais, com predomínio dos mármores beneficiados europeus, porém com pequena diminuição
relativa das cotas dos fornecedores mais tradicionais, a partir da vinda de outros produtos dos Estados
Unidos e Alemanha.
A Figura 30 traz o histórico recente da proveniência dos produtos pétreos mais comprados no
Exterior.
Por sua vez, a Figura 31 mostra a evolução mais recente da balança comercial paulista de
rochas ornamentais. Deve ser dado destaque ao fato de inverter-se, em 2003, uma tendência histórica,
mantida pela força do consumo paulista, qual seja o de haver déficit na balança comercial do Estado.
Nesse ano, a partir do aumento das exportações e queda na demanda por produtos importados, houve
superávit da ordem de US$ 3,2 milhões, o que concorreu para o saldo fortemente positivo obtido pelo
Brasil na balança comercial de rochas ornamentais naquele ano, que esteve na casa dos US$ 411
milhões, conforme visto no Capítulo 1.
CENTROS E AGLOMERADOS PRODUTIVOS
Há, em São Paulo, como indicou a descrição do mercado produtor paulista de rochas
ornamentais, algumas regiões onde estão concentradas a extração de matérias-primas e a fabricação
de produtos pétreos beneficiados. Parte minoritária dessas regiões equivale a aglomerados produtivos52,
as demais não. Para estas últimas prefere-se adotar a denominação genérica de centros produtivos53. A
localização dos centros e aglomerados produtivos paulistas é decorrente da situação de reservas
minerais, da distribuição dos principais núcleos de consumo de produtos finais no Estado, dentre os
quais destaca-se a Grande São Paulo, e das rotas de escoamento de mercadorias para outros Estados e
o Exterior. Todas as regiões produtoras podem ser qualificadas de acordo com suas especializações,
como é feito na Figura 32. Tratando-se dos aglomerados produtivos, normalmente interagem, com
intensidade e modos variados, caso a caso, diferentes agentes da cadeia produtiva.
51
O aumento foi sustentado pela elevação de preços dos mármores, já que os preços dos granitos brutos importados tiveram queda.
52
O termo aglomerado produtivo é adotado em seu sentido amplo, ou seja, a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e
sociais (empresas e outras instituições e organizações públicas e privadas) – ver, por exemplo, publicações da Rede de Pesquisa em
Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – Redesist, disponíveis na Internet (www.ie.ufrj.br/redesist).
53
Regiões produtoras, porém desprovidas, neste momento, de um número mínimo expressivo de agentes produtivos, políticos e sociais
em interação.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 59i
A
B
C
Figuras 26A, 26B e 26C – Evolução das exportações paulistas entre 2001 e 2003, e principais países
compradores – produtos brutos e processados: (A) Granitos; (B) Esteatita; (C) Ardósia. Fonte: Secex - Sistema
Alice Web.
60 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A
B
C
Figuras 27A, 27B e 27C – Evolução das exportações paulistas entre 2001 e 2003, e principais países
compradores – produtos brutos e processados: (A) Mármores; (B) Quartzito; (C) Pedras para cantaria. Fonte:
Secex - Sistema Alice Web.
1.305
4.204
31
25161200
25169000
28
26.418
30.796
Rochas Processadas Total
68010000
12.570
11.074
7
26.157
22.037
24
0
638
47
37
68029990
1.830
7
2
64
690
68029390
5
7.316
68159990
68022300
120
3.021
11
89
0,24
68029200
131
206
68029100
87
113
13.629
28
9.276
68022200
0,35
5.923
105
4.120
286
183
103
3.834
34
1.481
68021000
274
68022100
12
1.496
191
45
129
17
0,14
473
1.132
1.187
Peso (t)
25261000
0,003
15.660
68030000
147
25140000
4.379
175
17
121
25062900
6
74
25152000
25062100
46
1.643
25151220
435
1.154
351
1.333
25151100
Valor
(x1000 US$)
2002 (A)
Peso (t)
25151210
NCM
Total geral
Granitos, Mármores,
Travertinos, Calcários,
Ardósias, Quartzitos e
Arenitos Processados,
Ladrilhos, Pedras para
Cantaria e Pedras para
Calcetar
Rochas Brutas Total
Rochas Silicáticas Brutas Total
Granitos, Quartzitos
e Arenitos Brutos
Rochas Carbonáticas Brutas Total
Mármores, Travertinos e
Calcários Brutos
Produtos
12.097
10.640
6
3
2.168
28
2
6
21
8
2.242
5.776
368
11
1.457
210
186
24
1.246
25
530
360
332
Valor
(x1000 US$)
2003 (B)
-15,07
-16,58
-99,65
-7,65
365,98
15.424,69
-68,34
-97,40
-21,13
-12,97
3.755.166,67
-28,57
-5,92
63,34
50,44
524,48
-8,81
-54,29
-9,86
-1,87
-10,97
Peso
-3,76
-3,91
-59,84
18,52
322,70
167,19
-66,90
-93,02
-25,80
-2,48
104.854,99
-12,77
-2,66
10,06
44,51
44,62
-4,53
-46,81
12,00
-17,24
-5,47
Valor
Variação % (B/A)
0,41
0,42
0,14
2,65
0,24
9,92
0,72
0,58
0,33
0,32
0,38
117,00
0,1
0,34
1,09
1,46
1,06
1,00
0,02
0,31
0,62
0,29
0,38
0,26
2002 (C)
(US$/kg)
0,46
0,48
0,25
16,23
3,40
0,22
0,16
0,17
0,75
1,56
0,31
0,42
3,27
0,1
0,35
0,74
1,02
0,23
0,33
0,72
0,36
0,32
0,28
2003 (D)
(US$/kg)
13,3
15,2
11.280,4
28,3
-9,3
-98,3
4,5
167,9
-5,9
12,0
-97,2
22,1
3,5
-32,6
-3,9
-76,8
4,7
16,4
24,3
-15,7
6,2
Variação de Preço
(D/C)
(US$/kg) %
Tabela 3 – Comparação entre os valores e volumes físicos das importações paulistas de rochas ornamentais nos anos de 2002 e 2003 (Fonte:
Secex – Sistema Alice Web).
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 61i
62 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Figuras 28A, 28B e 28C – Participação dos estados nas importações brasileiras de pedras naturais em
2003: (A) Produtos brutos; (B) Produtos processados; (C) Produtos brutos e processados. Fonte: Secex –
Sistema Alice Web.
A Tabela 4 resume as principais características dos centros de produção e aglomerados
produtivos de rochas ornamentais em São Paulo.
Os aglomerados produtivos paulistas têm características bastante similares a vários outros, de
mesma natureza, existentes no Brasil. Nesse sentido, estudo realizado para o Ministério de Ciência e
Tecnologia – MCT54, em 2002, identificou, em um universo de 222 aglomerados produtivos de base
mineral, 18 relacionados às rochas ornamentais (Quadro 3). Desses, oito, junto a mais 21 focados em
outros bens55, foram melhor classificados quanto aos seus estágios de estruturação e competitividade,
e considerados já evoluídos ou em evolução para a condição de Arranjos Produtivos Localizados –
APLs56. Dentre as regiões produtoras paulistas, apenas a de Bragança Paulista foi reconhecida e,
mesmo assim, inclusa apenas no grupo inicial de 18 aglomerados produtivos de rochas ornamentais.
Na Tabela 5 é feita tentativa de comparação entre os três aglomerados paulistas aqui indicados
e os oito aglomerados brasileiros mais qualificados, igualmente apoiados na produção de rochas
54
Projeto Identificação, Caracterização e Classificação de Arranjos Produtivos de Base Mineral e de Demanda Mineral Significativa no
Brasil, executado pelo Instituto Metas (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - FIEMG). Resumo Gerencial disponibilizado
na Internet (www.ibgm.com.br/pdf/metas_apresentacao.pdf).
55
Os 29 aglomerados destacados, são assim distribuídos: agregados para construção (11), rochas ornamentais e para revestimento (8),
rochas carbonáticas e talco (4), outros minerais não-metálicos (4) e gemas (2).
56
O conceito de arranjo produtivo local, ou localizado (APL), é abordado em detalhe no Capítulo 3. Por ora, é suficiente o entendimento
de que se tratam de aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco específico em atividades econômicas
e que apresentam vínculos e interdependência – ver, novamente, publicações da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos
Locais - Redesist, disponíveis na Internet (www.ie.ufrj.br/redesist).
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 63i
Figuras 29A, 29B e 29C – Evolução dos valores das importações paulistas de rochas ornamentais: (A)
Comparação das compras de cada classe de produto; (B) Compras por tipo de material – total de produtos
brutos e processados; (C) Principais países de procedência – total de produtos brutos e processados. Fonte:
Secex – Sistema Alice Web.
64 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Figuras 30A, 30B e 30C – Histórico das importações paulistas, entre 2001 e 2003, e principais países de origem – produtos brutos e processados: (A) Mármores; (B) Pedras para cantaria; (C) Granitos. Fonte: Secex Sistema Alice Web.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 65i
Figura 31 – Balança comercial do setor paulista de rochas no período 2001-2003 – Total de produtos brutos
e processados. Fonte: Secex – Sistema Alice Web.
Figura 32 – Centros e aglomerados produtivos de rochas ornamentais em São Paulo (a Grande São Paulo
não foi considerada como região mineradora, já que, a partir do final de 2003, estão virtualmente paralisadas
ou abandonadas todas as lavras locais).
66 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 4 – Algumas características dos centros e aglomerados produtivos de rochas ornamentais paulistas –
Região Produtora
Categoria
Atividades Produtivas Principais
Capão Bonito
Centro Produtivo
Mineração
Região de Itu
Aglomerado Produtivo
Mineração
(+ Beneficiamento Final)
Grande São Paulo
Aglomerado Produtivo
Beneficiamento
Primário e Final
(± Mineração)
Região de
Bragança Paulista
Aglomerado Produtivo
Mineração, e
Beneficiamento
Primário e Final
São João da Boa Vista
Centro Produtivo
Beneficiamento
Primário e Final
Região de Campinas
Centro Produtivo
Beneficiamento Final
Baixada Santista
Centro Produtivo
Beneficiamento Final
Vale do Paraíba
Centro Produtivo
Beneficiamento Final
Região de Campinas
Centro Produtivo
Beneficiamento Final
Ribeirão Preto
Centro Produtivo
Beneficiamento Final
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 67i
Cenário de 2003.
Características
Municípios
Extração de granitos vermelhos (Vermelho Capão Bonito). Três minas, duas com
produção mais constante, de pequeno porte. Lavra preferencial de matações. Presença
de algumas pedreiras desativadas. As duas minas ativas pertencem a duas empresas
verticalizadas. Blocos destinados ao beneficiamento nos centros de serragem paulistas
e de outros estados, ou, em pequena escala, ao mercado exterior (Itália, Japão, Taiwan).
Capão Bonito
Extração de granitos róseos e marrons (Marrom São Paulo, Rosa Salto, Marrom Cajú,
etc.). Diversas minas de pequeno porte, lavrando matacões. Várias pedreiras paralisadas
ou desativadas. Parte das minas pertencentes a empresas verticalizadas, com serrarias
na Grande São Paulo e Bragança Paulista. Diversas pedreiras paralisadas ou
abandonadas. Grande volume de produção informal de rochas para calcetar e para
cantaria, que pode envolver até 4.000 trabalhadores. Produção destinada aos mercados
regional e nacional. Algumas dezenas de marmorarias, em sua grande maioria de micro
e pequeno porte, fabricam produtos finais para os consumidores regionais.
Itu, Salto,
Itupeva,Cabreúva,
Indaiatuba
Grande concentração de marmorarias, mais de mil delas na capital, dezenas delas de
médio a grande porte, com parte da sua produção destinada à exportação. A serragem
de blocos está a cargo de oito empresas, três delas de grande porte, voltadas à produção de chapas e produtos acabados, em parte destinadas ao comércio exterior.
Mineração paralisada ou abandonada de granitos cinzentos (Cinza Mauá, Prata
Interlagos), a partir de matacões. Produção informal de pedras marroadas. Quando
ativa, a extração esteve a cargo de diversas empresas, parte delas verticalizadas, da
Grande São Paulo, Bom Jesus dos Perdões e Bragança Paulista, embora predominasse
a produção informal, em decorrência de problemas ambientais. O mercado preferencial
da mineração era o regional, seguido, em menor escala, pelo de outros Estados.
Presença de fabricantes de máquinas, equipamentos e insumos para a mineração e
transformação industrial de rochas ornamentais.
São Paulo, Mauá,
Suzano, São Bernardo
do Campo, São Caetano
do Sul, Santo André,
Guarulhos, Osasco
e Arujá
Mineração de granitos pretos, vermelhos e azuis (Preto Piracaia, Vermelho Bragança,
Azul Fantástico). Extrações de pequeno porte, a cargo de três empresas verticalizadas,
da própria região, realizada em matacões e maciços. Produção de pedras para cantaria
e para calcetar. Alguma atividade minerária informal. A serragem de blocos envolve
sete empresas – cinco de médio e duas de grande porte. Os mercados consumidores
dos blocos e chapas variam do estadual, aos de outros Estados e o internacional
(Itália, EUA, Canadá). Algumas dezenas de marmorarias, em sua grande maioria de
micro a pequeno porte, fabricam produtos finais mais comumente para os consumidores
regionais.
Bragança Paulista,
Piracaia, Itatiba,
Bom Jesus dos Perdões
Serragem de blocos e fabricação de produtos finais a cargo de duas empresas de um
mesmo grupo empresarial, uma de médio e outra de grande porte. A menor atende a
marmorarias daquela região e do restante do Estado; a maior produz chapas e produtos acabados, em grande parte encaminhada ao Exterior (EUA, Japão, Oriente Médio).
Presença de mais de uma dezena de marmorarias. Diversas áreas sob pesquisa
experimental, visando a lavra de granitos variados, verdes, vermelhos e pretos. Algumas
pedreiras paralisadas. Presença de fabricante de materiais para conservação de
produtos pétreos.
São João da Boa Vista,
Vargem Grande Paulista,
Santo Antônio do Pinhal
Mais de uma centena de marmorarias, em sua grande maioria de micro a pequeno porte,
fabricando produtos finais para os consumidores regionais. Diversas pedreiras abandonadas.
Campinas, Jundiaí, Piracicaba,
Atibaia, Americana, Limeira,
entre outras
Dezenas de marmorarias, em sua grande maioria de pequeno porte, que fabricam produtos
finais para os consumidores regionais. Algumas pedreiras abandonadas.
Santos, Praia Grande,
Guarujá, São Vicente
Dezenas de marmorarias, em sua grande maioria de micro e pequeno porte, que
fabricam produtos finais para os consumidores regionais.
São José dos Campos, Jacareí,
Taubaté, Guaratinguetá
Mais de uma centena de marmorarias, em sua grande maioria de micro a pequeno
porte, fabricando produtos finais para os consumidores regionais. Diversas pedreiras
abandonadas.
Campinas, Jundiaí, Piracicaba,
Atibaia, Americana, Limeira,
entre outras
Uma serraria, de pequeno porte. Dezenas de marmorarias, em sua grande maioria de
micro a pequeno porte, fabricando produtos finais para os consumidores regionais.
Ribeirão Preto
68 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Quadro 3 – Aglomerados produtivos brasileiros de rochas ornamentais
Região
Estado
Minas Gerais
Aglomerado Produtivo
Estágio de Estruturação
e Competitividade*
Ardósias Papagaio
Mediano Superior
Quartzitos São Tomé
Mediano
Granitos Medina
Granitos Candeias-Caldas
Quartzitos e Pedra Sabão Ouro Preto
Quartzitos Alpinópolis
Sudeste
Espírito Santo
Mármores e Granitos
Cachoeiro de Itapemirim
Avançado
Granitos Nova Venécia
Granitos Baixo Guandu
Rio de Janeiro
Gnaisses Santo Antônio de Pádua
São Paulo
Granitos Bragança Paulista
Bahia
Nordeste
Sul
Centro-Oeste
Travertinos Ourolândia
Mediano Inferior
Inicial
Granitos Teixeira de Freitas
Ceará
Pedra Cariri
Piauí
Pedra Morisca
Rio Grande do Sul
Basaltos Nova Prata
Santa Catarina
Ardósias Trombudo Central
Goiás
Quartzitos Pirenópolis
Inferior
Inicial
Grupo de 18 aglomerados produtivos baseados na produção de rochas ornamentais, segundo o Instituto Metas/Fiemg, em estudo
feito para o MCT, em 2002 – modificado de CHIODI FILHO (2004).
Obs.: Em negrito, os principais aglomerados produtivos apoiados em rochas ornamentais. A classificação, vista na coluna da direita,
foi feita pelo Instituto Metas, apenas para os aglomerados produtivos brasileiros de base mineral mais estruturados e competitivos,
dentre os quais estão os oito destacados. Categorias adotadas naquele estudo: avançado, mediano superior, mediano, mediano
inferior, inferior, inicial e potencial.
ornamentais. Para tanto, foi tomada a quase totalidade dos parâmetros adotados no citado levantamento
nacional. Mesmo levadas em conta possíveis distorções advindas da comparação empírica57, ver-se-á
que o aglomerado produtivo da Grande São Paulo, centrado na fabricação de produtos processados,
especialmente os acabados, em razão da grande concentração de marmorarias, poderia ser perfeitamente
alinhado entre o conjunto selecionado.
De fato, dos três aglomerados paulistas e, portanto, do conjunto de regiões produtoras existentes
no Estado, o da Grande São Paulo é o único aglomerado que efetivamente já reúne características para
que possa ser indicado como um novo arranjo produtivo localizado, apoiado nas rochas ornamentais,
dentre os poucos outros existentes no cenário brasileiro.
O APL marmorista da Grande São Paulo é abordado especificamente no Capítulo 3. A esta
altura, no entanto, torna-se oportuno salientar alguns aspectos do arranjo.
Nesse sentido, esclareça-se que embora estejam reunidas geograficamente no APL mais de
mil marmorarias, que lhe conferem os indicadores listados na Tabela 5, há um núcleo de sustentação
da atividade, bastante destacado do conjunto total de empresas, no que concerne à gestão empresarial,
inovação e competitividade.
57
Entende-se que as distorções na comparação empírica estejam minimizadas, pela experiência acumulada junto ao setor e por visitas a
quase todas as regiões produtoras brasileiras consideradas.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 69i
Esse núcleo empresarial reúne entre 50 e 100 marmorarias da Grande São Paulo, altamente
profissionalizadas, operando ou buscando operar em sistema just in time, fabricando produtos variados
e com alta qualidade, destinados ao mercado paulista, nacional e de exportação. Essas empresas também
se colocam muito acima da média no que diz respeito à cooperação, na horizontal e vertical da cadeia
produtiva, e ao aprendizado mútuo, podendo estar organizadas em consórcios ou grupos informais,
para atuação conjunta no desenvolvimento de processos, produtos e na realização de obras58.
Para essas empresas-líderes, que poderão se constituir, com o tempo e o aprendizado, em
referência para as demais e propiciar efeito multiplicador da inovação e competitividade, durante o
processo de evolução do APL, são destacados os indicadores postos na Tabela 6, que podem ser
comparados com os da Tabela 5, relativos a todo o arranjo.
Em relação aos outros dois aglomerados produtivos identificados em São Paulo, nas regiões
de Bragança Paulista e de Itu, pode-se dizer que, no máximo, talvez nem isto, possam ser considerados
em estágio embrionário, no que se refere às suas qualificações como arranjos produtivos localizados.
É possível a inferência, dentro do atual cenário da produção paulista de rochas ornamentais, que o da
região de Itu tenha mais chance de evoluir, focada a atividade de mineração, uma vez retomada, de
modo sustentado, a extração de blocos e, principalmente, organizada a produção informal. Feito isto,
esse aglomerado poderá vir a aproximar-se de APLs como o de Santo Antônio de Pádua (RJ).
Quanto às demais regiões produtoras paulistas, sem que sejam adotadas medidas amplas, para
incremento e modernização da atividade produtiva de rochas ornamentais em todo o Estado, é previsível
que nos curto e médio prazos as iniciativas para inovação e competitividade permaneçam, como
agora, quase sempre a cargo de atores individuais.
COMENTÁRIOS E CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS SOBRE O MERCADO PRODUTOR
O setor paulista de rochas ornamentais e para revestimento reproduz várias das características de
seus similares, dos demais Estados produtores brasileiros, a saber: a) a origem, ligada à cultura de
emigrantes europeus, em particular italianos, de trabalho com a pedra; b) a natureza, essencialmente
familiar, e o porte, notadamente pequeno, da maioria das empresas que compõem a cadeia produtiva; c)
a existência de desafios comuns à maior parte dos produtores, postos por deficiências na gestão empresarial,
qualificação insuficiente da mão-de-obra técnica empregada, utilização de maquinário e tecnologia muitas
vezes ultrapassados, dificuldades de acesso ao crédito para produção e exportação; d) dificuldade de
acesso ao mercado externo; e) grande assimetria entre o perfil mais comum das empresas da cadeia com
o de uma fração minoritária de empreendimentos, altamente profissionalizados. Essas últimas empresas,
de modo geral, têm porte maior, uma produção verticalizada ou não, encontram-se envolvidas em processos
de cooperação e inovação, e se mostram altamente competitivas e diretamente responsáveis pela grande
melhoria do desempenho do País, nos últimos anos, no cenário das vendas internacionais; f) concentração
geográfica de empresas que, porém, constituem, na maioria das vezes, centros produtores desprovidos
da configuração exigida para arranjos produtivos e inovadores localizados.
Ao serem consideradas, por sua vez, as especificidades do setor paulista, salientam-se, por um
lado, o papel modesto da mineração de blocos praticada no Estado, embora associada a uma vigorosa
extração de pedras de talhe, atividade esta porém praticamente desconhecida por grande parte dos
demais agentes da cadeia produtiva, essencialmente informal e quase sempre posta à margem das
estatísticas e ações oficiais de fomento. Por outro lado, há concentração, em São Paulo, de
empreendimentos de beneficiamento, especialmente aqueles voltados à fabricação de produtos finais,
em razão da elevada demanda estadual e regional por produtos pétreos acabados.
São, portanto, os atores dos segmentos de beneficiamento os principais responsáveis pela
classificação de São Paulo entre os mais importantes no cenário produtor nacional de rochas
58
Como exemplo do processo de cooperação, mais de três dezenas dessas empresas estão formalmente reunidas no projeto da Marmoraria
Exportadora (Simagran-SP/Apex Brasil).
70 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 5 – Comparação entre os indicadores dos aglomerados produtivos paulistas e brasileiros de rochas
Estrutura Produtiva
Aglomerado
No Empresas
No Empregos
Diretos
Informalidade
Verticalização
Mercado
Exportação
Grande São Paulo
Muito
Alto
(6)
Muito
Alto
(6)
Baixa
(5)
Média
(4)
Nacional
e Externo
(3)
Baixa
(3)
Região de
Bragança Paulista
Baixo
(2)
Baixo
(2)
Baixa
(3)
Média
(4)
Nacional
e Externo
(2)
Muito
Baixa
(1)
Região de Itu
Muito
baixo
(1)
Médio
(4)
Alta
(1)
Muito
Baixa
(1)
Regional
(1)
Inexistente
(1)
Cachoeiro de
Itapemirim
(ES)
Elevado
(6)
Elevado
(6)
Pouca
(5)
Alta
(5)
Nacional
e Externo
(4)
Média
(4)
Papagaios
(MG)
Elevado
(6)
Alto
(5)
Alta
(2)
Alta
(5)
Nacional
e Externo
(5)
Elevado
(6)
Nova Venécia
(ES)
Elevado
(6)
Médio
(4)
Média
Inferior
(3)
Média
(4)
Nacional e
Regional
(3)
Média
(4)
São Tomé das Letras
(MG)
Médio
Inferior
(3)
Médio
(4)
Pouca
(5)
Alta
(5)
Nacional
e Externo
(4)
Média
(4)
Santo Antônio de Pádua
(RJ)
Elevado
(6)
Médio
(4)
Muita
(1)
Elevada
(6)
Nacional
(5)
Baixa
(2)
Nova Prata
(RS)
Elevado
(6)
Médio
(4)
Pequena
(3)
Baixa
(2)
Nacional e
Regional
(3)
Baixa
(2)
Pirenópolis
(GO)
Médio
Inferior
(3)
Médio
Inferior
(3)
Elevada
(1)
Baixa
(2)
Nacional
(4)
Média
Inferior
(3)
Ourolândia
(BA)
Médio
Inferior
(3)
Baixo
(2)
Alta
(2)
Muito
baixo
(1)
Nacional
(4)
Eventual
(1)
Obs.: A classificação dos aglomerados produtivos paulistas foi feita neste trabalho. Baseia-se em pontuação de 1 a 6, e leva em conta, o quanto possível,
dados quantitativos, obtidos junto ao setor. Esta avaliação está ponderada, de modo empírico, pelos indicadores referentes aos demais aglomerados
brasileiros produtivos de rochas ornamentais. Estes últimos foram cadastrados, com base, inclusive, em alguns indicadores numéricos aqui omitidos, que
facilitam em parte a comparação, no levantamento Identificação, Caracterização e Classificação de Arranjos Produtivos de Base Mineral e de Demanda
Mineral Significativa no Brasil, executado pelo Instituto Metas (Fiemg) para o MCT, em 2002 (Resumo Gerencial, disponível em: www.ibgm.com.br/pdf/
metas_apresentacao.pdf). A classificação dos aglomerados produtivos dos demais Estados reproduz os termos e a pontuação (também de 1 a 6)
adotados no levantamento nacional citado.
Tabela 6 – Indicadores das empresas-líderes, no APL marmorista da Grande São Paulo.
Estrutura Produtiva
No de
Empresas
No de
Empregos
Diretos na
Produção
Informalidade
Verticalização
Mercado
Exportação
Competição
50 a 100
Entre 1000 e 1.500
Inexistente
Baixa
Regional, Nacional
e Externo
Média
Alta
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 71i
ornamentais.
Catalisadores
Cooperação
Tecnologia e
Inovação
(Processo)
Pontuação
Média
(3)
Média
(3)
57
Muito
Baixa
(1)
Muito
Baixa
(1)
Baixa
(2)
25
Inexistente
(1)
Muito
Baixa
(1)
Inexistente
(1)
Inexistente
(1)
17
Alto
(5)
Médio
(4)
Alta
(5)
Alta
(5)
Alta
(5)
70
Média
(4)
Médio
Inferior
(3)
Médio
Inferior
(3)
Média
(4)
Média
Inferior
(3)
Alta
(5)
57
Inexistente
(1)
Alta
(5)
Médio
(4)
Médio
(4)
Alta
(5)
Média
Inferior
(3)
Alta
(5)
56
Alta
(5)
Inexistente
(1)
Média
(4)
Médio
(4)
Médio
(4)
Média
Inferior
(3)
Média
Inferior
(3)
Alta
(5)
54
Baixa
(2)
Inexistente
(1)
Alta
(5)
Médio
Inferior
(3)
Médio
Inferior
(3)
Baixa
(2)
Inexistente
(1)
Médio
Inferior
(3)
44
Média
(4)
Inexistente
(1)
Baixa
(2)
Alto
(5)
Médio
(4)
Média
Inferior
(3)
Inexistente
(1)
Médio
Inferior
(3)
43
Média
(4)
Inexistente
(1)
Média
Inferior
(3)
Baixo
(2)
Baixo
(2)
Inexistente
(1)
Inexistente
(1)
Baixo
(2)
32
Média
(4)
Inexistente
(1)
Baixa
(2)
Baixo
(2)
Baixo
(2)
Baixa
(2)
Inexistente
(1)
Médio
Inferior
(3)
30
Competição
Existência de
Indústrias
Correlatas
Entidades e
Órgãos de
Suporte
Sindicatos e
Associações
Lideranças
Horizontal
Vertical
Alta
(5)
Alta
(4)
Muito
Alta
(6)
Médio
(3)
Médio
(3)
Média
(3)
Baixa
(2)
Muito
Baixa
(1)
Baixa
(2)
Muito
Baixo
(1)
Inexistente
(1)
Baixa
(1)
Inexistente
(1)
Muito
Baixa
(1)
Muito
baixo
(1)
Alta
(5)
Alta
(6)
Alta
(5)
Média
(4)
Baixa
(2)
Alta
(5)
Catalisadores
Cooperação
Tecnologia e Inovação
Recorrência
a Entidades
e Órgãos
de
Suporte
Proximidade
a Sindicatos/
Associações
Lideranças
Horizontal
Vertical
Processo
Produto
Alta
Alta
Médio
Alta
Alta
Alta
Alta
72 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 7 – Principais características dos elos centrais da cadeia produtiva paulista de rochas ornamentais,
Beneficiamento Primário e Final
(Serrarias)
Extração
(Mineradores)
Blocos
Pedras Marroadas
23
Poucas
Empresas
Ativas
Inativas
Poucas
Empresas de pequeno a médio porte (com
produção de até 8.000 m2/mês e geralmente com menos que 20 empregados)
17
5
14
—-
Empresas de médio a grande porte
(com produção maior que 8.000 m2/mês
e com até 120 empregados)
6
—
Pedreiras com
Atividade mais
Constante
10
Dezenas
(número variado de
trabalhadores,
normalmente
autônomos)
Número Estimado de
Teares Instalados/Teares Ativos
145/76
Volume Anual
Estimado de
Produção
8,6 mil m3/23 mil t
Pelo menos
400 mil t
Volume Anual Estimado
de Produção
1, 0 milhão de m2
Participação no
Volume Físico
da Extração
Brasileira
Menos de 1%
6%
Participação na Capacidade
de Serragem Brasileira
5% a 10%
Valor Anual
Estimado da
Produção
R$ 5,4 milhões
R$ 10 milhões
Valor Anual Estimado
da Produção
R$ 63 milhões
Destino da
Produção
Serrarias regionais
e, em muito menor
escala, o mercado
exterior (Leste
Asiático, EUA,
Uruguai)
Mercado estadual
Destino da Produção
EUA, Japão,
Oriente Médio, Canadá,
América do Sul
Algumas
Características
Técnicas da
Produção
Nível técnico em
geral baixo,
com extração de
blocos a partir
de perfuração e
uso de explosivos
ou cunhas em
matacões. Em
apenas quatro
pedreiras,
instaladas em
maciços rochosos,
o desmonte e
recorte de blocos
pode envolver fio
diamantado,
furação contínua
ou flame jet
Empresas
Ativas
Mineradoras
Pedreiras em
Atividade
(geralmente
com até 8
empregados)
Centros de
Mineração
Verticalizadas
6
4
Atividade
essencialmente
informal e
exclusivamente
manual
Itu, Itatiba, Mauá,
Capão Bonito,
Capão Bonito,
região de Itu,
região de Bragança Araraquara, São Carlos,
Rio Claro, Piracicaba,
Paulista, e Grande
Ribeirão Preto, São José
São Paulo
do Rio Preto
(paralisado)
Algumas Características
Técnicas da Produção
Centros de Beneficiamento
Com exceção das
empresas maiores, em
geral dotadas de
maquinário moderno,
nacional e importado, as
empresas operam com
teares nacionais, em
parte obsoletos.
Polimento e recorte final
de peças por
equipamentos semiautomáticos, nacionais
e estrangeiros
Grande São Paulo,
região de Bragança
Paulista, São João
da Boa Vista
Empregos: De 25% a 30% dos 114.000 empregos diretos que, estima-se, sejam gerados pelo setor brasileiro de rochas ornamentais, ou seja, de 29.000
a 34.000. Dentre esses últimos, ao menos 22.000 são devidos à ocupação no processo produtivo das marmorarias.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 73i
em 2003.
Beneficiamento Final
(Marmorarias)
Empresas
3.000
Microempresas (com faturamento de até R$ 244 mil/ano, e
até 5 empregados na produção)
71% do total
Pequenas empresas (com
faturamento entre R$ 244 mil/
ano e R$ 1,2 milhão/ano, e até
20 empregados na produção)
26% do total
Médias a grandes empresas
(com faturamento acima de
R$1,2 milhão/ano, e até 120
empregados na produção)
3% do total
Volume Anual Estimado
de Produção
6 milhões de m2
Participação no segmento
marmorista brasileiro
Mais de 40 %
Valor Anual Estimado
da Produção
R$ 0,87 milhões a R$ 1,4 milhões
Destino da Produção
Geralmente, o mercado
consumidor local e regional.
De modo bem mais restrito, o mercado
nacional e internacional
Algumas Características
Técnicas da Produção
Empresas menores produzem peças
a partir de encomendas.
Empreendimentos maiores produzem
em escala e mantêm estoques.
Uso de maquinário nacional em
acabamentos manuais (empresas
menores ou menos profissionalizadas).
Quando instaladas, as linhas
de produção em escala, semiautomatizadas a automatizadas,
envolvem maquinário importado
Distribuição
Ao menos 157 municípios paulistas,
com concentração na Grande São Paulo,
região de Campinas, Baixada Santista,
Vale do Paraíba, Ribeirão Preto e nas
maiores cidades do centro-leste e
nordeste do Estado
ornamentais, conforme indicado em documentos
oficiais sobre a estatística mineral brasileira – em
2001, São Paulo foi colocado em quarto lugar
entre os produtores (DNPM, 2002) e, em 2002,
em quinto lugar, atrás do Espírito Santo, Minas
Gerais, Bahia e Rio de Janeiro (DNPM, 2003),
embora bem distante dos três principais líderes.
Justificando a presença do parque de
beneficiamento de rochas ornamentais, São Paulo
mostra-se como o maior consumidor nacional de
produtos pétreos decorativos e para revestimento,
a partir da enorme quantidade de obras civis que
são realizadas no Estado, e pelo poder de consumo
de parte de seus mais de 37 milhões de habitantes,
14 milhões deles da Grande São Paulo. Isso faz
com que o Estado seja talvez responsável pela
metade do consumo nacional.
Essa grande vantagem comparativa ainda
não foi, entretanto, transformada pela cadeia
produtiva paulista de rochas em vantagem competitiva real, permanecendo o Estado um grande
comprador de matérias-primas e produtos provenientes de outros centros e o principal importador
brasileiro de mercadorias pétreas.
A Tabela 7 e a Figura 33 comparam as
principais características, os volumes e os valores
da produção dos atores centrais da cadeia produtiva paulista de rochas ornamentais, tendo como
referência o ano de 2003 59 . Afora a clara
agregação de valor a jusante da cadeia, mais uma
vez se destaca, em termos do valor absoluto
gerado, a participação do segmento marmorista.
Por outro lado, na Figura 34 considerase, além dos valores absolutos da produção de
cada elo da cadeia, a divisão desses totais pelo
número dos agentes envolvidos em cada segmento produtivo. Mais ainda, naquela ilustração,
comparam-se os valores gerados pela cadeia de
rochas ornamentais com os valores da produção
mineral de São Paulo60. Assim, em decorrência
59
O valor da produção marmorista foi calculado a partir dos
levantamentos realizados em 2002. No entanto, devido às
aproximações naturalmente envolvidas, e como foi tomado o
valor mínimo estimado para a produção total do segmento
marmorista, é razoável considerá-lo válido para comparação com
a produção, de 2003, dos atores a montante da cadeia produtiva.
60
Os valores atribuídos à produção mineral paulista foram obtidos
através de informações verbais no DNPM-SP, e deverão constar
de edição futura do Sumário Mineral Brasileiro.
74 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
dos mercados atingidos, dos preços praticados,
dos volumes envolvidos e do número de atores
efetivos, as empresas de cada elo produtivo têm,
na média, uma participação individual, em valor,
bastante variável. Estes últimos valores diminuem das serrarias às mineradoras e às marmorarias, à razão aproximada de 10:3:161. Isso
sinaliza quanto ao significado econômico de
uma eventual retomada da extração e o incremento do beneficiamento primário no Estado,
na linha inversa do que vem ocorrendo. Afora
isso, nota-se que a mineração de blocos, apesar
de sua pouca expressão regional e nacional,
atinge aproximadamente 7% do valor oficial da
extração de bens minerais em São Paulo. Quanto
a isto, caso somado ao da extração de blocos o
valor atribuído à produção das pedras de talhe,
Figura 33 – Comparação entre volumes produzidos
e valor da produção dos atores centrais da cadeia
produtiva de rochas ornamentais em São Paulo – ano
2003.
61
Não foi considerada a produção de pedras marroadas, mas
somente a de blocos, que envolve a atividade de empresas
formais conhecidas. Desse modo, entraram no cálculo seis
mineradoras de blocos, 23 serrarias e 3.000 marmorarias.
Figura 34 – Rateio dos volumes produzidos e valores de produção de cada elo central da cadeia produtiva
paulista de rochas ornamentais entre os agentes participantes, e comparação dos indicadores da cadeia de
rochas com valores da atividade mínero-industrial paulista.
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 75i
a participação da mineração de rochas ornamentais chegaria a 17% do valor total da mineração paulista.
Mais ainda, se comparado o valor da produção das serrarias com o da indústria de transformação
mineral do Estado, chega-se a uma significativa participação, da ordem de 7%, no valor total estimado
pelo DNPM.
Para além da abordagem das características atuais do mercado produtor de rochas ornamentais
em São Paulo, e das expectativas positivas que se queira ter, ainda mais se adotados procedimentos e
implementadas ações para organização, inovação e competitividade de todo o setor, é necessária a reflexão
sobre algumas tendências que emergem da observação do cenário produtivo. Para isso, é necessário que
se ressalte: a) a saída do Estado, nos anos recentes, de mineradoras tradicionais, em particular algumas
das maiores que historicamente ali atuaram; b) o encerramento das atividades de três serrarias médias,
duas delas transferidas para outros Estados, somente em 2003, afora a paralisação, talvez definitiva, da
atividade de cinco outras dessas empresas, durante esse mesmo ano; c) certo encurtamento da permanência,
no ramo, da pequena marmoraria, e a competição trazida a todo este elo pelas marmorarias informais,
por algumas das serrarias e depósitos especializados na distribuição de chapas, que passam a fornecer
produtos acabados e a realizar obras62, afora a concorrência dos shoppings de construção e de produtos
de outros Estados; d) dificuldades dos produtores para obtenção de crédito e comprometimento do consumo
no mercado interno, em razão da realidade econômica brasileira.
Caso se mantenham ou se intensifiquem esses fatores, somados aos demais desafios que
enfrentam os elos produtivos da cadeia, e sem que haja a adoção de alternativas, que passam pela ação
conjunta do setor produtivo/governo paulista/entidades de apoio empresarial/entidades de apoio
tecnológico, é possível pensar-se que, nos próximos cinco a dez anos, a produção de rochas ornamentais,
no Estado, poderá passar por forte especialização, centrando-se, cada vez mais, na produção
marmorista63. Mesmo quanto à atividade das marmorarias, uma vez que não seja harmonizada a
competição pela venda dos produtos e serviços desse segmento, coibida a produção e o comércio
informal, e ampliado, ao máximo possível, o número de atores envolvidos em processos de inovação
e ganho de competitividade, poderá haver reflexos importantes. Desse modo, um cenário possível
para São Paulo, a médio prazo, mostraria a mineração local virtualmente extinta, as serrarias paulistas
remanescentes dependentes quase que exclusivamente de matérias-primas de outros Estados ou
importadas, o que poderá trazer ainda mais dificuldades para as menores dessas empresas restantes, e
um segmento marmorista talvez ainda mais assimétrico, com apenas alguns núcleos empresariais
altamente competitivos, como aquele presente na Grande São Paulo, voltados mais diretamente a
nichos de mercado – obras de alto padrão, solicitações de ramos de negócio como o moveleiro, hoteleiro,
etc., e exportação. Nesse caso, aos demais agentes do elo marmorista, restaria o enfrentamento de
desafios crescentes, tornados mais agudos pela ausência de matérias-primas paulistas, por uma grande
dependência em relação aos revendedores de chapas, e pela forte concorrência de marmorarias dos
Estados vizinhos, da atividade marmorista informal e dos shoppings de construção.
DIRETRIZES E AÇÕES PARA INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE
A questão da inovação e competitividade no segmento industrial paulista de rochas ornamentais
envolve a solução para desafios variados, decorrentes de fatores sistêmicos, setoriais ou empresariais
(IPT, 2002).
Fatores sistêmicos são aqueles sobre os quais as empresas possuem escassa ou nenhuma
capacidade de intervenção, como os de ordem macroeconômica; a oferta de infra-estrutura de energia,
transportes, telecomunicações e serviços tecnológicos; o acesso a sistemas de formação de mão-deobra e as tendências do mercado consumidor.
62
Registre-se que, na via inversa, alguns depósitos e serrarias efetivamente estabelecem parcerias com marmorarias, com base na divisão
de informações e atendimento conjunto a obras, cada ator participando com sua especialização.
63
Parte dos titulares das serrarias mais modernas já manifestam, a esta altura, intenção de transferência do Estado, especialmente a partir
dos atrativos do Espírito Santo. Mantido o cenário atual, havendo remanescentes dentre essas empresas mais competitivas, tenderão
elas a focar, cada vez mais, até por falta de alternativa comercial viável, o mercado externo.
76 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Fatores setoriais são aqueles sobre os quais a influência das empresas é parcial, mediada pelo
padrão de concorrência. Entre esses fatores, podem ser citados o atendimento às exigências de
sofisticação tecnológica dos produtos; os sistemas de comercialização; o relacionamento entre os elos
da cadeia produtiva; e as práticas de controle da concorrência desleal.
Fatores empresariais são aqueles sobre os quais as empresas detêm poder de decisão, podendo
controlá-los e modificá-los mediante condutas ativas de gestão profissionalizada, envolvendo, por
exemplo, qualificação de mão-de-obra; produtividade; relação adequada entre custos e preços; qualidade
e inovação de produtos e no marketing.
Ações coordenadas para desenvolvimento do setor de rochas ornamentais paulista passam pela
interação entre empresas, governo e entidades de apoio às empresas e de apoio tecnológico. Dentre os
atores de governo e elementos de apoio mobilizáveis, podem ser citados: a) como representantes do
governo federal, o Departamento Nacional de Proteção Mineral – DNPM, a Companhia de Pesquisa de
Recursos Minerais – CPRM e a Fundação de Segurança e Medicina no Trabalho – Fundacentro; b) pelo
Governo paulista, a Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo –
SCTDET, e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SMA, especialmente por meio do Departamento
de Avaliação de Impacto Ambiental – Daia, do Departamento Estadual de Proteção de Recursos
Naturais – DEPRN e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – Cetesb; c) como entidades
empresariais, o Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos do Estado de São Paulo – Simagran, a
Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais – Abirochas e a Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Mármores e Granitos – Abiemg; d) como entidades de apoio empresarial, o
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo – Sebrae/SP, e a Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo – Fiesp, via Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai, Departamento
de Competitividade e Tecnologia - Decomtec, e também por meio das representações regionais no interior
de São Paulo, os Centros das Indústrias do Estado de São Paulo – Ciesps; e) como elementos de apoio
tecnológico, entre outros, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, a escola
Politécnica da Universidade de São Paulo – Poli/USP, a Escola de Engenharia da USP/São Carlos, a
Universidade Estadual Paulista – Unesp/Rio Claro, a Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e
o Instituto de Geociências – IG, da Universidade de São Paulo – USP.
Mineração
Quanto ao elo de mineração, é difícil prever, no curto prazo, a inversão do processo em curso,
qual seja, o de retração a lavra de blocos. Por outro lado, deverá se manter, apesar de bastante coibida,
a produção artesanal de pedras de talhe.
Concorrem, para isso, uma certa falta de vocação mineira paulista, exceto para a lavra de
matérias-primas utilizadas em larga escala na construção civil, como areia, brita e materiais para
cerâmica estrutural e de revestimento; as dificuldades de compatibilização da mineração com as outras
formas de uso e ocupação do solo; como fator decisivo, o rigor da aplicação das leis de preservação
ambiental, claramente situado em patamar superior ao que se pratica na maioria dos demais Estados;
finalmente, a concorrência da produção minerária de outros Estados, em que a extração é realizada
com estímulo do poder público, em especial no Espírito Santo, pelo maior significado que tem a
atividade mínero-industrial em seu cenário econômico.
De qualquer modo, caso se decida por revigorar a extração de rochas ornamentais em São Paulo,
de modo sustentado e envolvendo, o quanto possível, a mineração de maior porte, afora os ganhos com
emprego, renda e tributação resultantes, poderiam ser beneficiados os elos a jusante da cadeia produtiva.
A eles interessa a oferta da maior diversidade possível de materiais, ainda mais se extraídos mais próximo
dos centros de beneficiamento, especialmente tratando-se das empresas menores, como antes demonstrado.
Caso à parte, a legalização e organização dos núcleos de produção de pedras marroadas poderia
funcionar como um poderoso instrumento de inclusão social, ao fixar expressivo volume de mão-de-obra
pouco qualificada, como vem ocorrendo em situações similares, a exemplo de Santo Antônio de Pádua (RJ).
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 77i
Dentre as ações cabíveis, nos curto e médio prazos, para consolidação da mineração, a partir
da revitalização das áreas de produção atuais e início da lavra em novos centros produtores, algumas
alternativas e atores de apoio a ser considerados são os seguintes:
• o suporte técnico para aplicação da engenharia de qualidade aos processos adotados pela
mineração paulista, buscando o aumento da produtividade, aproveitamento de rejeitos e
uma melhor compatibilização da atividade com a preservação ambiental e as outras formas
de uso do meio físico (IPT, Poli-USP);
• a organização da pequena mineração existente nos diversos centros minerários em torno de
cooperativas de produtores, para melhoria do acesso ao crédito, verticalização – talvez
relacionada à montagem de centrais de beneficiamento –, e ampliação de oportunidades
comerciais (Sebrae/SP, IPT, Unicamp);
• a mecanização do processo de produção de pedras de talhe a partir da experiência em centros
de produção similares, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro (IPT, Poli-USP, USP São Carlos);
• a agilização dos processos de outorga de títulos minerários e coibição da especulação com
títulos concedidos (DNPM);
• a simplificação e agilização no trâmite dos processos de licenciamento ambiental, e uma
fiscalização que envolva não somente a coibição de práticas indevidas, porém, também,
uma melhor orientação quanto aos modos de diminuição de impactos e recuperação ambiental
das áreas de lavra (SMA/Daia/DEPRN/Cetesb, IPT, Poli-USP, órgãos ambientais municipais);
• a realização de projetos para caracterização de novos prospectos e possível alteração da
percepção reinante de que o Estado “não tem pedras”, aspecto que se confronta com
reconhecidas oportunidades envolvendo a produção de granitos brancos, verdes, pretos e
movimentados vermelhos (IPT, Unesp, CPRM, IG-USP) – ver Capítulo 4;
• a oferta de vantagens competitivas, consideradas questões como tributação, linhas especiais
de financiamento, custo de transporte e embarque portuário (SCTDET e demais secretarias
estaduais afeitas aos tema).
Beneficiamento
Os desafios que cercam os segmentos de beneficiamento da cadeia produtiva, que são os
detentores de maior potencial de desenvolvimento da indústria paulista de rochas ornamentais, foram
antes detalhados. Vale, no entanto, ressaltar, mais uma vez, o risco de perda do patamar industrial por
que passa São Paulo, com a saída ou o fechamento, já havidos, de serrarias; a declarada intenção dos
titulares de algumas dessas empresas de também deixarem o Estado; e o estágio em que se encontram
e as dificuldades enfrentadas pela marmoraria paulista mais típica.
Dentre esses atores, as serrarias de menor porte e a maioria das marmorarias paulistas, equivalentes
a empreendimentos de micro a pequeno porte, são as que se mostram mais dependentes de uma melhor
gestão de negócios e de apoio tecnológico, no sentido de obterem, ao final, o quanto possível, a otimização
dos recursos de capital, equipamentos e mão-de-obra, além de qualidade e menor tempo de entrega de
produtos. Tudo isso de modo compatível com preços de venda competitivos, que possibilitem a
recuperação e a ampliação de mercados.
Neste sentido, algumas ações prioritárias, de interesse comum, e alguns dos agentes a serem
mobilizados podem ser indicados:
• o treinamento gerencial aos empresários, orientativo para a montagem de custos reais de
produção e a margens de lucro conseqüentes, técnicas de controle de qualidade, oportunidades
de crédito, estratégias de marketing, assistência técnica aos consumidores, segurança no
trabalho, ações cooperativas, etc. (Sebrae/SP, Ciesps);
• a modernização de equipamentos e incorporação de novas tecnologias, para maior produtividade e competitividade, questão que passa pelo aperfeiçoamento dos mecanismos de acesso
ao crédito para produção (SCTDET, fundos creditícios estaduais);
78 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
• a montagem de programas de treinamento da mão-de-obra empregada na produção e na
aplicação de produtos (Senai/SP, Sebrae/SP, Ciesps);
• o aproveitamento dos rejeitos da atividade industrial, representados pelos finos da serragem,
e por fragmentos de rocha decorrentes de quebras e recorte de peças (IPT, Poli-USP, USP
São Carlos) – ver Capítulo 6;
• a diversificação dos tipos produzidos e do design de produtos (produtores, IPT);
• a solução para desafios representados pela necessidade de diminuição do uso de energia
elétrica; desenvolvimento de embalagens viáveis e de baixo custo; melhoria nos mecanismos
de carga e descarga de materiais e produtos nas plantas industriais; soluções ergonômicas
para bancadas de trabalho e equipamentos; redução da emissão de resíduos sólidos e do
nível de ruídos industriais, entre outros aspectos (IPT, Poli-USP, Fundacentro);
• a adoção, por comparação, das iniciativas para inovação adotadas com sucesso por
atores, na lateral da própria cadeia, e em outras cadeias produtivas, sendo boa referência a dos
revestimentos cerâmicos – benchmarking (entidades empresariais e os próprios produtores);
• a possível montagem de cooperativas de crédito e a extensão, a um maior número de
produtores, do modelo de parceria hoje já adotado por pequena parte do empresariado,
envolvendo consórcios ou grupos informais de serrarias, marmorarias, serrarias e
marmorarias, ou depósitos e marmorarias, visando a garantia de oferta ao consumidor final
de produtos com qualidade e a divisão das tarefas industriais (produtores);
• o quanto possível, certificação de qualidade e certificação ambiental de empreendimentos
(entidades certificadoras/normas ISO – International Organization for Standardization) –
ver Capítulo 5;
• adicional ou alternativamente, a criação de selo, outorgado por um conjunto de entidades, que
certifique, com base em indicadores definidos e viáveis, os empreendimentos comprometidos
com a produção de qualidade, e também com cuidados ambientais e com a saúde e segurança
no trabalho (IPT, Sebrae, Senai, Fundacentro);
• a inclusão dos empresários do setor nas missões de negócios no Exterior, promovidas pelo
governo paulista, para aproximação dos segmentos produtivos do estado com o mercado
comprador externo (SCTDET);
• novamente, a oferta das vantagens competitivas possíveis, considerando questões como
tributação, custo de transporte e embarque portuário (SCTDET e demais secretarias estaduais
afeitas aos temas).
Alternativas adicionais, de interesse de todo o setor de rochas ornamentais, parecem ser, também:
• a uniformização das legislações estaduais do ICMS (Governo federal e governos estaduais);
• o controle da atividade informal e da sonegação fiscal, fatores determinantes para o
aviltamento de preços e para a concorrência desleal (órgãos públicos fiscalizadores);
• o equacionamento da questão da importação de máquinas e equipamentos para além dos extarifários. Parece ser desejável um formato que coloque máquinas e equipamentos importados
ao alcance do produtor interessado, mas ao mesmo tempo preserve, talvez por meio de uma
maior oferta de crédito e apoio tributário ao setor de máquinas nacional, a competitividade
do maquinário brasileiro similar, tanto no mercado interno quanto no externo (Governo
Federal, produtores de rochas e máquinas, entidades tecnológicas);
• a melhoria da qualidade industrial a partir de uma maior exigência por parte dos consumidores, o
que envolve melhor noção, por parte destes, sobre os usos e aplicação adequados de materiais e
produtos. Isso passaria pela “popularização” do conhecimento técnico sobre os revestimentos e
demais produtos junto a consumidores finais (IPT, Senai, Simagran) – ver Capítulo 7;
• os avanços na normatização de produtos, em consonância com padrões internacionais (IPT,
Unesp/Rio Claro).
CAPÍTULO 2 - A Cadeia Produtiva Paulista de Rochas Ornamentais e para Revestimento - 79i
GOVERNANÇA DE AÇÕES E ORGANIZAÇÃO DO APOIO AO SETOR
À medida que há diversas alternativas, como as que foram antes relacionadas, para inovação e
competitividade do setor produtivo de rochas ornamentais paulista, e a disponibilidade, talvez de forma
singular, tratando-se de Brasil, de capacitações para apoio empresarial e tecnológico, duas questões, de
natureza abrangente, surgem também prioritárias na discussão do desenvolvimento setorial: a) a
governança64 quanto à formulação de metas, estratégias e priorização de ações inovadoras; e, b) a
organização de uma rede de apoio ao setor.
Quanto ao primeiro tema, pode ser sugerida a criação de um fórum permanente com foco na
competitividade, talvez no formato de uma Comissão Paulista de Rochas Ornamentais, envolvendo
formalmente a participação de representantes do poder público, das entidades de apoio e do setor
produtivo (SCTDE, SMA, Cetesb, DNPM, Sebrae/SP, Fiesp, IPT, Simagran/SP, Abirochas, Abiemg,
entre outros)65.
Quanto ao segundo desses temas, pode ser sugerida a criação de uma rede virtual, que poderia
ser a SP Rochas – Rede Paulista de Tecnologia, Qualidade e Inovação em Rochas Ornamentais e para
Revestimento, reunindo o conhecimento acumulado nas diversas entidades científicas e tecnológicas
estaduais (IPT, Poli-USP, USP/São Carlos, Unesp/Rio Claro, Unicamp), e também as capacitações,
mecanismos de comunicação, treinamento e parceria com o setor produtivo, disponíveis em entidades
como Sebrae/SP, Senai/SP e Fiesp/Ciesps.
Essa rede estaria assentada em modelo de cooperação acertado entre os parceiros componentes,
teria canais estruturados de comunicação com a sociedade e estaria apta a realizar estudos e atendimentos
para inovação e melhoria de qualidade no âmbito do setor produtivo paulista de pedras naturais, com
foco principal nas empresas de micro e pequeno portes. Poderia, assim, ser também executora de boa
parte das ações para inovação, priorizadas pela governança setorial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, A. A.; RUIZ, M. S.; CARUSO, L. G. (1990). Rochas dimensionadas e aparelhadas. In: Mercado produtor mineral do
Estado de São Paulo: levantamento e análise. São Paulo: IPT. 188p. (IPT - Publicação, 1822).
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE CERÂMICA PARA REVESTIMENTO. (2004). Desempenho.
Disponível em: <http://www.anfacer.org.br>.
PEITER, C. C. et. al. (2001). Rochas ornamentais no século XXI: bases para uma política de desenvolvimento sustentado das
exportações brasileiras. Rio de Janeiro: Cetem/Abirochas. 150 p.
COELHO, J. M. (2001). Impactos da reestruturação do setor de feldspato no Brasil sobre as empresas de pequeno porte:
importância de uma nova abordagem na análise de investimentos. 237p. Tese (Doutorado) - Universidade de Campinas.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL. (2001). Sumário mineral. Brasília: DNPM.
____. (2002). Sumário mineral. Brasília: DNPM.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. (1990). Catálogo de rochas ornamentais
do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT. 122p. (IPT - Publicação 1820).
____. (2000). Rochas ornamentais e de revestimento do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT. (IPT - Publicação, 2651). CDROM.
____. (2002). Diagnóstico técnico-econômico e proposições para melhoria da competitividade da cadeia produtiva de
rochas ornamentais e para revestimento do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT. (IPT - Relatório, 60.520).
MOREIRA, C. F. W. (2003). Programa de vigilância à saúde dos trabalhadores em Belo Horizonte – Projeto especial marmorarias.
Revista Rochas de Qualidade, n. 173, p. 124-154.
Governança entendida como a forma pela qual os atores e as instituições do setor gerenciariam seus desafios, acomodando interesses e
realizando ações cooperativas.
65
Exemplo neste sentido é dado pelo Rio de Janeiro, onde há a atuação, nesses moldes, da chamada Comissão de Rochas, naquele caso
ancorada na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – Firjan. Esse núcleo gestor é entendido pelo setor produtivo e entidades
de apoio, daquele Estado, como importante elemento para a significativa melhoria de desempenho da cadeia produtiva carioca de rochas
ornamentais, do modo verificado nos últimos cinco anos, o que hoje situa o Estado entre os principais produtores e exportadores brasileiros.
64
CAPÍTULO 3 - Arranjos Produtivos Localizados: Um Referencial Conceitual para Análise da Concentração... - 81i
CAPÍTULO 3
Arranjos Produtivos Localizados: Um
Referencial Conceitual para Análise da
Concentração de Agentes Econômicos,
Sociais e Políticos Ligados à Atividade
Marmorista na Grande São Paulo
Arlindo Villaschi ([email protected]; [email protected])
Professor e Pesquisador do Departamento de Economia da Ufes
ASPECTOS CONCEITUAIS
O objetivo deste capítulo é apresentar um referencial conceitual que busca: a) facilitar o
entendimento da dinâmica produtiva e inovadora em aglomerações empresariais especializadas; e, a
partir desse entendimento; b) subsidiar o desenho e a operacionalização de políticas públicas (não
necessária e exclusivamente governamentais) voltadas para a competitividade empresarial no Arranjo
Produtivo Localizado – APL marmorista da Grande São Paulo e a capacitação social no território
onde esse arranjo se localiza.
Esse referencial está sendo construído a partir de dois marcos suplementares. Por um lado, a
contribuição teórica da corrente neo-schumpeteriana (com destaque para o inglês Christopher Freeman
e para o sueco B. A. Lundvall) que valoriza os processos de cooperação e de aprendizado enquanto
elementos cruciais para o enraizamento da capacitação inovadora. Enraizamento esse fundamental para
garantir a competitividade empresarial e a capacitação social.
Por outro lado, o conceito de APL vem sendo construído no Brasil a partir de evidências
empíricas que estão sendo coletadas por diversos pesquisadores direta ou indiretamente ligados à
Rede de Apoio a Sistemas Produtivos e Inovativos Locais - Redesist1. Essas evidências destacam
tanto as diversidades regional e setorial dos casos estudados quanto indicam a necessidade de atentar
para elas quando do desenho e operacionalização de políticas (industriais, inovadoras, tecnológicas,
etc.) voltadas para a dinamização de aglomerados de empresas.
Dados esses dois marcos, não surpreende que o conceito venha sendo adotado de uma forma
bastante geral por diversas agências de desenvolvimento (de forma especial a Finep e o Sebrae) e por
governos nos planos federal e estadual (com destaque para o Rio Grande do Sul). Por um lado, todos
buscam ser mais contemporâneos da agenda que vem sendo posta no plano dos países da OCDE2 há
mais de dez anos – ver, por exemplo, MYTELKA; SMITH (2001).
Por outro lado, essa forma de se aproximar da dinâmica econômica brasileira pode indicar
caminhos de atuação de agentes políticos, sociais e econômicos mais efetiva no encaminhamento de
questões fundamentais para a dinâmica competitiva de inúmeras aglomerações empresariais. Esse
encaminhamento cresce de relevância quando se reconhece que, na maioria das vezes, essas
aglomerações demonstraram dinamismo produtivo e inovador mesmo em períodos (como os vividos
nos últimos 20 anos) de crescente instabilidade econômica, inadequação das linhas de crédito e
financiamento e crescente ausência da maioria das instâncias governamentais, inclusive em áreas
fundamentais como a da educação e da saúde.
1
Coordenada pelos professores Helena Lastres e José Cassiolato. Maiores informações sobre essa rede de pesquisa podem ser obtidas no
sítio www.ie.ufrj.br/redesist.
2
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE.
82 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Por isso, valoriza-se aqui o rico ativo de evidências empíricas sobre a inovadora dinâmica
industrial no Brasil3, vista por uma perspectiva que vai muito além de atores individuais – sejam eles
empresas, institutos de pesquisa ou organismos de fomento. A valorização das relações entre eles e a
busca do entendimento do quanto elas podem contribuir para o enraizamento da capacitação inovadora
baseada no aprendizado que se dá através dos mais diversos mecanismos de cooperação, é também
um elemento novo na forma e no conteúdo de análise econômica no Brasil.
Dadas essas possibilidades acadêmicas e políticas de utilização da abordagem de arranjo
produtivos localizados, é conveniente que se sistematize uma discussão mais aberta sobre elementos
que nela são valorizados. Assim, no próximo item, será discutida uma formulação para o conceito de
arranjo produtivo que buscará valorizar características que nele são apresentados como essenciais à
endogenização da capacitação inovadora.
Esse segundo item traz para a discussão elementos que precisam ser destacados no entendimento
da competitividade empresarial e da capacitação social. Isso porque, se esses devem ser dois objetivos
de políticas que se instrumentalizam no conceito de arranjo produtivo localizado, nem a competitividade
nem a capacitação devem continuar sendo compreendidos nos limites estabelecidos pela intermediação
do mercado e pela ação voltada para a produção de bens e serviços, respectivamente.
Finalmente, um terceiro item traz evidências do Arranjo Produtivo e Inovativo – APL
marmorista da Grande São Paulo, como uma forma de ilustrar, com um caso específico já estudado
pelo IPT, as possibilidades de utilização do conceito de APL no desenho e operacionalização de
programas voltados para a competitividade sustentada de aglomerações de empresas. Este último
item indica políticas que podem ser buscadas pela interação entre agentes econômicos, sociais e
políticos com o objetivo de dar sustentabilidade (econômica, financeira, ambiental, social, política,
etc.) tanto à competitividade do conjunto de empresas que compõem o APL marmorista da Grande
São Paulo, quanto à capacitação social no território que o conforma.
APL: DO CONCEITO A UMA UNIDADE DE ANÁLISE/INTERVENÇÃO
O ponto de partida é uma definição de trabalho (VILLASCHI; CAMPOS, 2002). Nela, um
arranjo produtivo localizado é caracterizado por atores (não necessária e exclusivamente empresariais e/
ou concentrados em espaços contíguos) que, mesmo obedecendo a lógicas distintas e não necessariamente
convergentes (pública/privada, empresarial/governamental/terceiro setor), estabelecem (ou estão em
condições de estabelecer) relações de cooperação no aprendizado voltado para a capacitação inovadora
que resulte em maior competitividade empresarial e capacitação social.
Quanto a isso, ficam explicitados: a) a existência de uma multiplicidade de atores. Além de
privilegiar a necessidade de se ir além da firma-padrão, o conceito destaca a necessidade de serem
considerados, como centrais, atores das esferas tecnológica e institucional como parte central da análise 4;
b) os conflitos inerentes tanto à existência (e ao seu reconhecimento) de multiplicidade de atores quanto
de lógicas por eles respondidas; c) o irrealismo de se imaginar que seja “natural” a convergência entre
essas lógicas distintas e/ou a cooperação entre os atores que as operacionalizam; d) a necessidade de
serem levados em consideração atores cuja territorialidade não seja contígua ao espaço onde se concentra
a maior parte dos elementos que dinamizam o arranjo. Daí ser ele localizado e não local.
Já a valorização do aprendizado enquanto elemento crucial para o enraizamento da capacitação
inovativa reflete, por um lado, duas críticas da tradição neo-schumpeteriana à análise ortodoxa do
3
Aos estudos realizados diretamente por pesquisadores da Redesist, há que se acrescentar um razoável número de monografias de
graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado por eles orientados e que seguiram de formas variadas a proposta metodológica
de arranjos produtivos.
4
Supera-se assim, por um lado, a visão ortodoxa da firma individual representativa do comportamento de todas as empresas. E, por outro,
o artifício simplista de tratar como exógeno todo e qualquer ator ou elemento que não responda à racionalidade economicista.
Racionalidade essa que “assegura” a intermediação pelo mercado das relações sociais que ensejam a produção, a circulação e a distribuição
de bens, serviços e conhecimento.
CAPÍTULO 3 - Arranjos Produtivos Localizados: Um Referencial Conceitual para Análise da Concentração... - 83i
fenômeno econômico. A primeira diz respeito à visão de que a inovação é algo exógeno à dinâmica
concorrencial (entre firmas, indústrias, localidades, etc.). A segunda refere-se ao entendimento segundo
o qual ela seja o resultado de um processo linear e seqüencial que liga pesquisa científica, Pesquisa e
Desenvolvimento e mercado.
Por outro lado, a valorização das ligações entre aprendizado e capacitação inovadora remete
às formas de conhecimento que precisam ser buscadas, se é desejado o enraizamento da capacitação
inovativa. Ou seja, a inovação é aqui valorizada para muito além da incorporação direta e pontual de
novas técnicas de gestão, máquinas, equipamentos ou insumos.
Para sustentar a competitividade empresarial e a capacitação social dos elementos que
configuram um arranjo produtivo localizado, há que capacitá-los para um processo contínuo e sustentado
de fazer o novo ou o velho de forma nova. Para tanto, é fundamental, por um lado, que a inovação
supere os limites da firma enquanto seu locus privilegiado. Por outro, que o processo que a sustenta
seja visto para além da estática simples ou comparada.
Por isso, a valorização do conhecimento vai para muito além de seu componente sistematizável,
seja nas mais diversas formas de publicações/estudos/projetos, seja em máquinas, equipamentos,
insumos, etc. A abordagem de APLs coloca em primeiro plano o conhecimento tácito, aquele que está
incorporado em pessoas, nas mais diversas formas de organização social e que não são passíveis de
ser sistematizadas, por mais sofisticados que sejam os mecanismos de captação, tratamento, transmissão
e recepção de informações.
Por mais paradoxal que possa parecer essa impossibilidade/dificuldade em tempos de paradigma
das tecnologias da informação e das comunicações5, a valorização do conhecimento tácito (não em
contraposição mas de maneira complementar a aquele sistematizável) se deve ao fato de ainda conhecermos
pouco sobre a produção do conhecimento. Conforme destacam Johnson e Lundvall (2001), os estudos
de questões como a construção de competências, aprendizagem e intermediação do conhecimento, dentre
outras, estão apenas começando no aprofundamento de perguntas sobre quem aprende o que e como o
aprendizado se dá no processo de desenvolvimento econômico.
Por isso, vale a pena lembrar as formas e conteúdos de conhecimento proposta por eles. Conhecer
o que (conhecimento sobre fatos); por que (conhecimento sobre princípios e leis de movimentos na natureza,
na mente humana e na sociedade); como (habilidade para fazer algo); e quem (informação sobre quem sabe
o que e quem sabe o que fazer), é uma primeira aproximação sobre essas formas e conteúdos.
Dado o crescente conteúdo tácito dos saberes por que, como e quem, e consideradas as dificuldades
deles serem intermediáveis pelo mercado, não surpreende a relevância que tanto a abordagem conceitual
de APLs quanto a da matriz da qual ela se deriva (aquela de sistema de inovação) dá às relações de
cooperação que se engendram entre agentes econômicos, tecnológicos e institucionais. De uma forma
simples, cooperação, conforme aplicada em estudos e em programas de dinamização de APLs, pode ser
entendida como oconjunto de relações entre agentes econômicos, sociais e políticos, não intermediáveis
pelo mercado mas que, ao serem estimuladas/praticadas, elevam a competitividade de todos os agentes
(ou parcela significativa deles) e a capacitação social como um todo6.
A ligação entre, de um lado, a cooperação voltada para processos de aprendizado; e, de outro,
a competitividade empresarial e a capacitação social, passa necessariamente pelo enraizamento da
capacitação inovadora no território onde se dá a concentração de atividades centrais de um APL. Essa
nova capacitação é aqui entendida como a capacidade de agentes econômicos, tecnológicos e
institucionais de desenharem e implementarem (diretamente ou com a participação de terceiros) novas
formas e/ou novos conteúdos para os bens e serviços que produzem ou aos processos que utilizam na
produção desses bens e serviços.
5
Para uma discussão baseada em contribuições recentes sobre o tema, ver VILLASCHI (2003).
6
Para uma atualizada discussão sobre cooperação, nos termos que interessam mais diretamente à dinâmica de APLs, ver ALBAGLI;MACIEL
(2003).
84 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
O enraizamento dessa capacitação no território que abriga o APL é reconhecidamente importante
na medida em que é crescente a relevância atribuída ao conhecimento tácito (sem diminuir a importância
daquele sistematizado ou codificável) tanto de pessoas como de organizações. Na medida em que a
transferência desse tipo de conhecimento depende de relacionamentos que são facilitados pela
proximidade territorial, cresce de importância a proximidade do maior número possível de agentes
portadores desses conhecimentos.
Ou seja, torna-se cada vez mais relevante a existência de agentes localizados no território do
APL que tenham competência para inovar a partir da disponibilidade tecnológica; da viabilidade
econômica de inovar ou difundir inovações; e da construção institucional que possibilite o processo
de inovação e/ou a sua difusão.
Isso posto, fica evidente, por um lado, que o entendimento da competitividade tem que ir
muito além de atributos de agentes individuais para englobar também aqueles que são construídos
pelo conjunto deles. Por isso, aqui, competitividade é entendida como a capacidade de atores
econômicos de uma determinada formação socioeconômica de trabalharem de forma cooperativa
entre si e com outras organizações na formulação e na implementação de estratégias concorrenciais
voltadas para a manutenção e/ou a ampliação de posições sustentáveis no mercado globalizado de
bens e serviços, especialmente naqueles intensivos em conhecimento e em aprendizado.
Por outro lado, a sustentabilidade dessa competitividade pode ser ampliada na medida em que
ela se engendre em um espaço em que seja crescente a capacitação social e/ou a preocupação para
com ela. Capacitação social refere-se a uma construção social que permite uma formação
socioeconômica específica de melhorar de forma continuada a qualidade de vida de seus cidadãos e o
papel que eles desempenham em atividades econômicas, culturais e políticas, em seu próprio espaço
geográfico ou além fronteiras.
Tanto quanto possível, alguns desses elementos, que são essenciais à análise de aglomerações de
empresas sob a ótica de APLs, serão examinados para o caso de marmorarias localizadas na Grande São
Paulo. É sempre bom enfatizar que não existe um caso modelo de APL. Eles se diferenciam quando
analisados pela ótica setorial e também quando examinados em suas diferenças/semelhanças intra-espaços.
Apesar dessas singularidades e especificidades de todos e de cada um dos casos, a abordagem
serve para o estabelecimento de políticas que buscam estimular/valorizar interações entre agentes
que, mesmo respondendo a óticas distintas não necessariamente convergentes, têm a ganhar com o
estabelecimento de esquemas de cooperação, voltados para o aprendizado centrado no enraizamento
da capacitação inovadora. Enraizamento esse essencial à sustentabilidade da competitividade
empresarial e da capacitação social.
ELEMENTOS MOBILIZÁVEIS PARA A DINAMIZAÇÃO DO APL MARMORISTA
DA GRANDE SÃO PAULO
Tendo como referência a discussão precedente, neste item serão destacados elementos existentes
no território que abriga a aglomeração de empresas marmoristas da Grande São Paulo e que podem ser
mobilizados na construção de estratégias competitivas sustentáveis (econômica, financeira, social,
ambiental, politicamente, etc.) para o APL marmorista localizado naquela Região Metropolitana. Ou
seja, aqui será buscada a caracterização de elementos identificados neste APL que podem contribuir: em
disponibilidade tecnológica (o que torna a inovação possível); em economicidade (viabiliza a inovação);
e em institucionalidade (cria as condições para a inovação se dar).
Elementos Econômicos do APL7
Dada a impossibilidade de serem feitos levantamentos específicos sobre o APL marmorista da
Grande São Paulo, no que segue serão utilizados dados obtidos em pesquisa direta feito pelo IPT para o
7
Baseado em MELLO (2003).
CAPÍTULO 3 - Arranjos Produtivos Localizados: Um Referencial Conceitual para Análise da Concentração... - 85i
segmento marmorista do Estado de São Paulo como um todo. Ainda que a apuração tenha sido feita de
forma agregada, os dados foram obtidos a partir de uma amostra que privilegiou as empresas da Grande
São Paulo (160) vis-à-vis aquelas do Interior (140), o que permite usar os dados apurados como fatos
estilizados sobre a situação das empresas do APL marmorista da Grande São Paulo.
Para facilitar a compreensão, são aqui destacados alguns dos aspectos discutidos no
Capítulo 2:
• mais de 70% são microempresas; mais de 25% são pequenos empreendimentos e o restante
pode ser classificado como médias empresas;
• dada as poucas barreiras à entrada, a maioria das microempresas data dos anos 90, enquanto
que as pequenas iniciaram suas atividades nos anos 80 e as médias a partir dos anos 70. Mais
de 2/3 de todas elas (independentemente do porte), são controladas por estruturas familiares;
• o treinamento da mão-de-obra é, na maioria dos casos, realizado nas próprias empresas e
decorre da experiência acumulada na prática. Isso pode implicar uma limitação à qualidade
dos produtos e ao pleno aproveitamento dos recursos proporcionados por equipamentos
mais modernos eventualmente instalados;
• as máquinas e equipamentos utilizados têm idade média de seis a sete anos e predominam
aqueles de origem nacional. Existem, entretanto, empresas (em sua maioria de médio porte)
que, ao desejarem formas mais sofisticadas de acabamentos automatizados e a fabricação de
produtos padronizados, buscam equipamento importado, muitas vezes sob a alegação da
falta de similar nacional;
• a origem do principal insumo utilizado pelas marmorarias (materiais pétreos) é de
aproximadamente 60% de outros Estados brasileiros; entre 10% e 25% do próprio Estado
de São Paulo; e o restante do Exterior8. Dentre os Estados brasileiros, Espírito Santo (quase
45%) e Minas Gerais (quase 25%) respondem por mais de 2/3, enquanto que Bahia (15%),
Ceará (10%) e Rio de Janeiro (pouco mais do que 5%), pelo outro terço;
• a maioria das empresas pesquisadas (mais de 70%) declarou ter, a produção, estagnado nos
últimos cinco anos;
• listados os produtos mais comuns da atividade marmorista, constata-se uma maior participação
(quase 60%), na produção das empresas de médio porte, dos produtos padronizados (ladrilhos
e placas). Já as micro produzem mais de 80% de produtos sob encomenda (principalmente
pias e balcões). No caso de acabamentos de superfícies, as freqüências de aplicação pouco
se diferenciam entre as empresas, e, independentemente do porte, predomina o polimento;
• o gerenciamento da qualidade dos produtos, para as micro e pequenas empresas é quase que
unicamente feito por observação visual. Esse mecanismo é também adotado por
aproximadamente 60% das empresas de maior porte, o que demonstra insuficiência quase
que generalizada no efetivo controle da qualidade da produção;
• respostas estimuladas, referentes a medidas para o controle de impactos ambientais e cuidados
com a qualidade e segurança no ambiente de trabalho, demonstram baixo aproveitamento
de resíduos e, especialmente nas empresas menores, a insuficiente aplicação de atenuantes
de emissão de poeira e diminuição de ruídos;
• são pouco intensas as práticas de esquemas de cooperação entre as empresas marmoristas, e
entre elas e os fornecedores de chapas (serrarias e depósitos). Dentre as formas de cooperação
(não sistematizadas) citadas de modo espontâneo, as mais comuns são: fabricantes e máquinas,
equipamentos e insumos (basicamente para treinamento, assistência técnica, teste de novas
máquinas e produtos, e fabricação sob encomenda); com outras marmorarias (troca de
8
A utilização de insumos pétreos importados pode ser vista como um indicativo de qualificação de algumas empresas do APL para a
realização de trabalhos mais sofisticados que envolvem relacionamentos com clientes com maior nível de exigência.
86 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
mercadorias, troca de informações e repasse de serviços); com serrarias (entrega de materiais
em consignação, corte de peças, resinagem, e troca de informações); com depósitos
(facilidades para pagamento, entrega de materiais em consignação e indicação de clientes);
e com especificadores (arquitetos e engenheiros) e com consumidores finais – elaboração
conjunta de projetos, indicação de novos clientes e troca de conhecimentos e informações;
• a produção das empresas que constituem o core do APL é essencialmente destinada a
consumidores do próprio município produtor e aos demais consumidores paulistas. Fração
pequena da produção é encaminhada a outros Estados e, menos ainda, ao Exterior. Nesse
último caso, exclusivamente por empresas com nível elevado de profissionalização, que
constituem exceção entre os empreendimentos considerados9.
A esses dados e informações, há que se agregar alguns comentários à análise do conjunto de
empresas que constituem um core do APL marmorista da Grande São Paulo. Em primeiro lugar, a
falta de esquemas de gestão da qualidade, em parte substancial das empresas pesquisadas, pode levar
ao questionamento da sustentabilidade econômica/financeira dessas empresas. Isso, principalmente,
quando se verifica que essa falta de controle de qualidade concorre para um grau de perdas no processo
produtivo, declarado pela maioria das empresas, em torno de 20%.
Em segundo lugar, há que se destacar a necessidade de uma preocupação maior no que se
refere à sustentabilidade ambiental do APL. Isso, principalmente quando se leva em conta que pode
ser crescente a pressão, por parte dos vizinhos das marmorarias, contra o descaso para com a emissão
de poeira e ruídos identificada pela pesquisa. Tem-se aí, portanto, um indicativo de necessidades de
políticas públicas voltadas para a diminuição desse passivo ambiental.
Ressalte-se, também, que o entendimento por parte dos entrevistados do que é cooperação
ainda se encontra no nível de interesse comercial e ações esporádicas e atomizadas. Está, portanto,
longe dos esquemas de cooperação voltados para o aprendizado coletivo e para o enraizamento da
capacitação inovadora, centrais na abordagem de APLs. Entretanto, mesmo que limitadas a aspectos
majoritariamente comercias, as vantagens da cooperação, quando praticada, são evidentes: as empresas
que adotam postura cooperativa, têm faturamento 15% acima da média e 39% a mais que aquelas que
não praticam qualquer tipo de cooperação.
Elementos Tecnológicos Mobilizáveis no APL
Além do conjunto de empresas que forma o principal ponto econômico do APL marmorista da
Grande São Paulo, a dinâmica competitiva desse arranjo pode buscar o enraizamento de sua capacitação
inovadora em organizações que nele já atuam no apoio tecnológico a essa dinâmica. Dentre essas,
duas merecem destaque especial:
• o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, instituição pública ligada à Secretaria de Ciência,
Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo, que tem por
objetivos contribuir para a ampliação do conhecimento científico e tecnológico e atender à
demanda de ciência e tecnologia dos setores público e privado. Executa atividades lastreadas
por uma ampla e diversificada base de recursos materiais e humanos de alta qualificação.
Atua há 25 anos junto ao setor de rochas ornamentais e para revestimento, período em que
realizou trabalhos de prospecção mineral; ofereceu apoio tecnológico à mineração; montou,
de forma pioneira no Brasil, um laboratório de caracterização físico-mecânica de materiais
pétreos; efetuou trabalhos e implantou ensaios pioneiros nesta área; e publicou vários
catálogos para divulgação de produtos pétreos paulistas e nacionais junto ao mercado
consumidor. Nos últimos anos, vem realizando estudos sobre diretrizes e ações para o
9
Registre-se, entretanto, que quando realizadas entrevistas, em 2002 e 2003, ficou evidenciada a existência de embriões de esquemas de
cooperação entre empresas voltadas para a internacionalização conjunta. Alguns desses esforços contam, inclusive, com o apoio de
agências de fomento (Apex) e de articulações estimuladas pelo sindicato das empresas.
CAPÍTULO 3 - Arranjos Produtivos Localizados: Um Referencial Conceitual para Análise da Concentração... - 87i
desenvolvimento deste setor em São Paulo e outros Estados brasileiros, além de constituirse em uma referência nacional na qualificação tecnológica de revestimentos pétreos;
• O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - Senai, que tem como prioridades a educação
permanente, a tecnologia como instrumento e informação e a difusão do conhecimento. Os
profissionais formados pelo Senai contam com práticas pedagógicas adequadas, metodologias
de educação profissional inovadoras, cursos de ensino a distância, tecnologias de última
geração, cursos técnicos baseados na premissa da educação continuada e permanente,
laboratórios atualizados e oficinas altamente modernizadas. Atua em apoio a diferentes cadeias
produtivas. Especificamente quanto às rochas ornamentais, mantém na Escola Senai Mario
Amato, em São Bernardo do Campo, na região da Grande São Paulo, corpo técnico que
ministra cursos para preparação da mão-de-obra técnica empregada em marmorarias, contando
ainda com moderno e sofisticado laboratório para qualificação tecnológica de rochas
ornamentais, o que poderá beneficiar as Micro e Pequenas Empresas – MPEs do APL
marmorista da Grande São Paulo devido tanto à acessibilidade quanto ao baixo custo que
pode/deve praticar.
Elementos Institucionais Mobilizáveis no APL
A dinâmica do APL marmorista da Grande São Paulo também guarda relação com uma série
de organizações que, no passado e/ou no presente, contribuiram/contribuem para que o processo de
inovação seja possível junto às empresas que constituem o arranjo. Na descrição, feita a seguir, das
ações que essas organizações tiveram no passado/estão tendo no presente, fica claro que, ainda que
tenham ocorrido/estejam ocorrendo falta de constância nessas ações, ocorreram e/ou existem nelas
embriões de esquemas de cooperação que levaram/podem levar a processos de aprendizados, essenciais
ao enraizamento da capacitação inovadora, destacado no item anterior como essencial à sustentabilidade
tanto da competitividade empresarial quanto da capacitação social. Dentre essas organizações, pode
ser dado destaque às seguintes:
• Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo – Sebrae, instituição técnica
de apoio ao desenvolvimento da atividade empresarial de pequeno porte, voltada para o
fomento e difusão de programas e projetos que visam à promoção e ao fortalecimento das
micro e pequenas empresas. Seu propósito é trabalhar de forma estratégica, inovadora e
pragmática para fazer com que o universo dos pequenos negócios no Brasil tenha as melhores
condições possíveis para uma evolução sustentável. Constitui-se em serviço social autônomo
– uma sociedade civil sem fins lucrativos que, embora operando em sintonia com o setor
público, não se vincula à estrutura pública federal. É, por isso mesmo, uma entidade
empresarial voltada ao atendimento do segmento privado, embora desempenhe função pública
e tenha sempre em consideração as necessidades do desenvolvimento econômico e social do
País. O Sebrae tem condições de realizar projetos de treinamento gerencial e outros voltados
para as especificidades do arranjo marmorista de Grande São Paulo;
• organizações empresariais como o Sindicato da Indústria de Rochas Ornamentais do Estado
de São Paulo – Simagran, a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais –
Abirochas e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Mármores e Granitos –
Abiemg. Afora aspectos como assessoria nas áreas jurídica, trabalhista e técnica, ao empresariado
do setor, essas organizações vêm se empenhando fortemente para maior presença e
competitividade de empresas do setor no mercado externo. Assim, têm buscado propiciar
contato dos consumidores estrangeiros com os produtos nacionais (via catálogos, portfólios,
etc.); bem como para uma maior e continuada presença de empresas em feiras internacionais.
Em particular, o projeto em curso Marmoraria Exportadora, do Simagran, realizado em convênio
com a Agência de Promoção de Exportações – Apex Brasil, baseia-se na formação de um
grupo exportador, disponibilizando às empresas participantes informações sobre o mercado
internacional, soluções de base tecnológica para impedimentos postos à comercialização, o
88 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
treinamento da mão-de-obra necessária à fabricação dos produtos pretendidos e o acesso dos
empresários a feiras de consumidores (materiais de construção civil, indústrias moveleira e
hoteleira, etc.).
COMENTÁRIOS FINAIS
Dentre as carências estruturais brasileiras, das quais o APL marmorista da Grande São Paulo
não é exceção, e que devem ser enfrentadas pelos comprometidos com a dinamização desse arranjo,
até como um experimento que busque apreender a diversidade e a complexidade da formação
socioeconômica brasileira, destacam-se10:
Capacitação de Recursos Humanos – tanto no nível empresarial quanto entre os trabalhadores,
é crescente a necessidade de melhorias substanciais do nível de escolaridade e da formação profissional.
Apesar de localizado no principal centro econômico e cultural do País, no APL marmorista da Grande
São Paulo persiste um perfil de mão-de-obra com baixa escolaridade, e com baixo acesso a programas
de treinamento11.
De forma semelhante, a capacitação empresarial, principalmente aquela requerida para processos
inovadores permanentes, é também bastante sofrível. Não só pela escolaridade mas, principalmente,
pela baixa incorporação de valores no processo de gestão que vejam na inovação, na melhor
administração de recursos humanos, e na ação ecologicamente correta, dentre outras, fatores de
competitividade empresarial para empresas dos mais diversos portes e de capacitação social do território
onde se encontra o APL.
Igualmente, há que se buscar a melhoria da capacitação de quadros dirigentes e técnicos de
organizações (sejam de cunho privado ou governamental) diretamente ligadas ao APL. A capacitação
desses agentes de mudanças, além de torná-los eficazes, eficientes e confiáveis, deve ser de tal forma
que lhes permita compreender os problemas locais e promover soluções efetivas para eles.
Incentivo à Cooperação Voltada para Processos Inovadores – de uma maneira geral, o APL
marmorista da Grande São Paulo é bem dotado de organizações que, se articuladas entre si, podem
servir para alavancar tanto a competitividade empresarial quanto a capacitação social. O problema é
que, na maioria das vezes, dadas as descontinuidades de políticas e a quase inexistência de suas respectivas
avaliações, a ação dessas organizações se dá de forma condicionada por trajetórias históricas.
Isso significa que os programas gestados/operacionalizados por essas organizações podem até
ter seus rótulos atualizados mas suas ações ainda estão majoritariamente centradas no paradigma
anterior ao das Tecnologias da Informação e das Comunicações – TICs. Ou seja, dado o baixo grau de
articulação intra e entre organizações de fomento a atividades inovadoras, tanto na concepção quanto
na operacionalização de projetos voltados para a capacitação empresarial e/ou social, elas acabam por
não oferecer a flexibilidade e a estabilidade desejadas em instituições, principalmente aquelas
envolvidas com inovação.
Isso implica, então, que qualquer programa de apoio à dinamização/fomento do APL marmorista
da Grande São Paulo, precisa antes de tudo gerar um entendimento comum entre as diversas agências
que atuam no meio.
Como a maioria das empresas que constituem esse arranjo é de porte micro ou pequeno,
independentemente se o foco central é: a) o financiamento ao capital de giro, à compra de máquinas e
equipamentos, a processos inovadores; b) a capacitação e qualificação de recursos humanos em todos
os níveis e para diversas funções no processo de inovação/produção (pesquisa, ensino, treinamento);
ou c) ambos, é preciso que ao usuário micro e pequeno empresário seja passada uma mensagem mais
10
Ver LEMOS (2003) e VILLASCHI; CAMPOS (2001).
11
Isto para não levar em consideração questões mais qualitativas, como o conteúdo do ensino formal freqüentado e dos programas de
treinamento oferecidos, principalmente quando se sabe que em muitas empresas a atividade de treinamento se resume à adaptação de
trabalhadores a novas rotinas, a partir da incorporação de novas máquinas e equipamentos.
CAPÍTULO 3 - Arranjos Produtivos Localizados: Um Referencial Conceitual para Análise da Concentração... - 89i
homogênea e que contribua para que ele supere o círculo vicioso: não tem acesso a informação confiável
→ não coopera → não inova → só compete com capacitação industrial → não tem acesso, e assim por
diante.
De forma geral, o que precisa ser buscado é estimular os fluxos de informações dentro do
arranjo. No APL marmorista da Grande São Paulo, trata-se de ampliar as ações de órgãos como o IPT,
Senai, Sebrae, por exemplo, de forma a incluí-los explicitamente no monitoramento dos avanços, no
progresso técnico em processos, produtos e serviços, criando possibilidades para estruturar as interações
entre atores do segmento empresarial; e entre estes e organizações de geração e de fomento ao
desenvolvimento de tecnologia. Acima de tudo, há que se ampliar a freqüência dessas interações e
estimular a pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBAGLI, S.; MACIEL, M. (2003) Conhecimento e aprendizado por interação: notas metodológicas para estudos empíricos
em APLs. Disponível em: http:// www.ie.ufrj.br/redesit.
JONHSON, B.; LUNDVALL, B. A. (2001) Why all this fuss about codified and tacit knowledge? In: Nelson and Winter
Summer Druid Conference. Aalborg, Dinamarca: Druid.
LEMOS, C. (2003) Micro, pequenas e médias empresas no Brasil: novos requerimentos de políticas para promoção de
sistemas produtivos locais. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Coppe.
MELLO, I.S.C.M. (2003) Marmorarias paulistas: características, desafios e alternativas para melhoria de competitividade. Rochas
de Qualidade. São Paulo: EMC Editores, (167) p. 118-131.
MYTELKA, L.; SMITH, K. (2001) Innovation theory and innovation policy: bridging the gap. In: Nelson and Winter Summer
Druid Conference. Aalborg, Dinamarca: Druid.
VILLASCHI, A. (2003) Paradigmas tecnológicos: uma visão histórica para a transição presente. Textos didáticos (Mestrado em
Economia)- Grupo de Pesquisa Inovação e Desenvolvimento Capixaba, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.
VILLASCHI, A.; CAMPOS, R. (2001) From local to national systems of innovation: empirical evidence from the Brazilian case.
In: Nelson and Winter Summer Druid Conference. Aalborg, Dinamarca: Druid.
____. (2002) Sistemas/arranjos produtivos localizados: conceitos históricos para novas abordagens. In: CASTILHOS, C. (Coord.).
Programa de apoio aos sistemas locais de produção: a construção de uma política pública no RS. Porto Alegre: FEE.
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 91i
CAPÍTULO 4
Oportunidades Minerárias
Antonio Carlos Artur ([email protected])
Professor e Pesquisador da Universidade Estadual Paulista – Unesp/Rio Claro
Fabiano Cabañas Navarro ([email protected])
Doutorando da Universidade Estadual Paulista – Unesp/Rio Claro
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello ([email protected])
Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT
Tamar Milca Bortolozzo Galembeck ( [email protected])
Professora e Pesquisadora da Universidade Estadual Paulista – Unesp/Rio Claro
Antonio Misson Godoy ([email protected])
Professor e Pesquisador da Universidade Estadual Paulista – Unesp/Rio Claro
GENERALIDADES
Ao se tratar das oportunidades minerárias no Estado de São Paulo, quanto às rochas ornamentais
e para revestimento, deve ser considerado que de toda a extensão do território paulista apenas a faixa
leste, correspondente a aproximadamente 30% da área do Estado, apresenta terrenos geologicamente
mais favoráveis à produção desses recursos minerais.
Além dos condicionantes geológicos, a mineração efetiva dos terrenos potenciais será sempre
decorrente também de outros fatores, igualmente relevantes, como a conjugação favorável de elementos
fisiográficos (relevo, cobertura vegetal, distribuição de cursos d’água, etc.), a possibilidade de
compatibilização da atividade minerária com outras formas de uso e ocupação do solo, aspecto sobremodo
importante em vista da densa ocupação urbana e da histórica vocação agrícola paulista, e o contorno de
impedimentos que em maior ou menor grau são trazidos pela existência de variadas e amplas áreas de
preservação ambiental, fato que acresce exigências à regularização da atividade produtiva mineral, muito
embora, na maioria das vezes, não represente obstáculo definitivo a essa prática.
Tais fatores impeditivos, somados a algumas das características estruturais, empresariais e
mercadológicas da mineração paulista e brasileira de rochas ornamentais e para revestimento, fizeram
com que a produção minerária desses recursos diminuísse gradativamente no Estado, ao longo dos
últimos 15 anos, chegando mesmo a difundir-se, entre os elos a jusante da cadeia produtiva e os
consumidores de produtos pétreos acabados, a idéia de que São Paulo “não tem pedras”.
Este estudo busca demonstrar que isso não é exatamente verdadeiro, através da indicação, sem
que se esgotem as possibilidades para tanto, de algumas áreas com potencial não explorado pela
mineração no Estado, mesmo levados em conta impedimentos como os antes citados. Áreas como as
que serão destacadas permanecem, em parte, pouco conhecidas e menos ainda avaliadas quanto à
ocorrência de depósitos, mesmo com algumas possuindo, inclusive, natureza geológica similar àquela
dos terrenos em que estão instalados os centros mineradores atuais.
Assim, muito embora deva ser admitido que São Paulo não conte com geodiversidade tão
favorável e com depósitos tão freqüentes, se comparado aos principais Estados mineradores, não
seriam esses os fatores determinantes da hoje quase insignificante participação paulista na indústria
extrativa brasileira de rochas ornamentais e para revestimento. Ao contrário, entende-se que, se depender
apenas de potencialidade geológica e modos favoráveis de ocorrência, há margem para incremento
substancial da mineração paulista.
Como elementos de apoio à tese e indicadores de oportunidades minerárias, mais adiante
serão caracterizados 18 tipos de materiais, hoje não explorados comercialmente1. O conjunto envolve
rochas em boa parte com aspecto estético e características tecnológicas similares a tipos comerciais
1
Algumas dessas rochas foram submetidas a lavras experimentais ou mesmo comercializadas por certo tempo, entre as décadas de 80 e 90.
92 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
produzidos em outros Estados, todas com modos de ocorrência favoráveis à lavra. Dentre esses tipos
rochosos, 13 foram selecionados a partir de informações disponíveis em estudos anteriores, parte
deles inéditos, e cinco foram identificados em levantamentos de campo especificamente realizados
com a finalidade de reconhecer novidades para o mercado minerador.
ROCHAS ORNAMENTAIS E PARA REVESTIMENTO: GEOLOGIA E POTENCIALIDADE
DE SÃO PAULO
O substrato rochoso do Estado de São Paulo reflete a existência de dois domínios geológicos
principais. A leste, na faixa costeira, em área um pouco menor que um terço do território estadual,
expõem-se as unidades dos núcleos cratônicos e faixas de dobramentos antigos do embasamento
cristalino, equivalentes ao trecho paulista do Escudo Atlântico, com idades superiores a 450 milhões
de anos, especialmente das eras proterozóica e arqueana.
As propostas de compartimentação geológico-tectônica do embasamento cristalino, fundamentadas em padrões tectônicos, geocronológicos, evolutivos e mesmo na distribuição geográfica
das unidades componentes, são bastante variadas e ainda não consensuais, razão pela qual tais terrenos
são aqui abordados de maneira sempre genérica (Figura 1).
Nesse segmento, estão também presentes complexos intrusivos alcalinos mais jovens,
mesozóicos a eo-cenozóicos, com idades entre 100 e 60 milhões de anos, e coberturas sedimentares
restritas, ainda mais recentes, como a Bacia de São Paulo, a Bacia de Taubaté e os sedimentos da
planície costeira, de idades cenozóicas, entre 50 milhões de anos a atuais.
O restante do território paulista constitui um segundo grande domínio geológico, e corresponde
à cobertura sedimentar e vulcânica representada pela Bacia do Paraná, com idade paleozóica a
mesozóica, entre 400 e 65 milhões de anos.
Os terrenos do embasamento incluem seqüências metamórficas de baixo, médio e alto graus, cortadas
e/ou delimitadas por extensas zonas de cisalhamento, com orientação preferencial nordeste-sudoeste, além
de grande número de corpos granitóides e alcalinos vinculados a eventos magmáticos posteriores.
As litologias que caracterizam o embasamento cristalino variam desde xistos, filitos, ardósias,
mármores, quartzitos e anfibolitos a complexos granulíticos-charnockíticos e gnáissico-migmatíticos
mais antigos, sendo ambos os domínios cortados por corpos e complexos graníticos de formas e
tamanhos variados.
Terrenos como esses se constituem nos sítios preferenciais de ocorrência de rochas ornamentais
e para revestimento, por reunirem os tipos ígneos e metamórficos mais utilizados comercialmente,
como granitos, mármores, quartzitos e ardósias. Este fato, somado às características intrínsecas dos
terrenos cristalinos paulistas, permite que se atribua ao embasamento do Estado a potencialidade
geológica mostrada na Figura 2.
A produção atual de rochas para revestimento, no Estado, envolve principalmente rochas
graníticas com padrão estético clássico ou comum (materiais “de batalha”) presentes em maciços
aflorantes na porção centro-norte do cristalino (regiões de Itu e Bragança Paulista) e mais a sul, na
região de Capão Bonito (Figura 1), visto que reúnem características geológicas, como feições litoestruturais e padrões estéticos relativamente constantes. Somam-se a isso características fisiográficas
favoráveis, como a presença de morros arrasados, arredondados e com topos amplos, declividades
inferiores a 40º e coberturas vegetais secundárias, de pequeno porte e restritas, além de solos delgados,
o que acaba por facilitar o acesso a maciços rochosos, ou ainda a campos de matacões que, por vezes,
são bastante extensos.
Características favoráveis repetem-se em outros trechos do território paulista, com algum
destaque para as regiões de Sorocaba-Ibiúna e São João da Boa Vista-Mococa, hoje não mineradas.
As demais faixas do embasamento, no Estado, equivalentes à Grande São Paulo, Vale do
Ribeira e Faixa Litorânea, tendem a não apresentar características geológicas e fisiográficas tão
Figura 1 – Principais unidades litoestruturais do embasamento cristalino e centros de mineração de rochas ornamentais do Estado de São Paulo.
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 93i
Figura 2 – Potencialidade geológica do embasamento cristalino paulista para rochas ornamentais; regiões e tipos destacados como oportunidades minerárias.
94 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 95i
positivas, muitas vezes prevalecendo nos tipos rochosos heterogeneidades estruturais, texturais e
composicionais, e padrões de fraturamento intenso que impedem a extração de blocos com volume
adequado à serragem. São também relativamente mais freqüentes solos espessos e coberturas vegetais
importantes. Isto, no entanto, não descarta a possibilidade da ocorrência de depósitos viáveis, em
núcleos menores, com características favoráveis, como se dá no caso de algumas pedreiras presentes
nessas regiões, paralisadas ou abandonadas, geralmente em razão de impedimentos ambientais.
Deve ser feito ainda o registro da produção e do potencial produtivo do Estado das chamadas
pedras de talhe, ou marroadas – produtos pétreos obtidos normalmente de forma manual, e utilizados,
com pouca ou nenhuma elaboração, na construção civil, na forma de paralelepípedos, folhetas, lajes,
mourões, guias ou pedras-portuguesas (petit-pavé). Esses materiais podem constituir-se em subprodutos
da lavra de blocos, a partir do aproveitamento de rejeitos, como ocorre em algumas das pedreiras
paulistas, com destaque para aquelas da região de Itu. Outras fontes para esses produtos são as rochas
sedimentares e vulcânicas da Bacia do Paraná, representadas em São Paulo pelo Grupo Itararé e as
formações Irati, Botucatu e Serra Geral.
Quanto à questão ambiental, aspecto que pode ser destacado, em uma abordagem superficial
do tema, é a existência, em São Paulo, de várias Unidades de Conservação, estaduais e federais (Figura
2), dispostas especialmente na faixa do embasamento cristalino, parte minoritária delas como Unidades
de Proteção Integral (caso dos Parques), dispostas na faixa litorânea, que impedem, em definitivo, a
extração de recursos naturais. A estas somam-se, como maioria, Unidades de Uso Sustentável (Áreas
de Proteção Ambiental – APAs e outras), que se estendem mais para dentro da área continental, nas
quais é permitida a exploração dos recursos naturais mediante cuidados prescritos em lei. Estas últimas
áreas não representam grandes entraves à mineração.
REGIÕES POTENCIAIS E TIPOS ROCHOSOS SELECIONADOS
Muito embora, em São Paulo, ainda mais nos últimos anos, haja produção mais constante apenas
de granitos homogêneos e relativamente comuns, cinzentos, róseos, creme ou vermelhos, pretende-se
demonstrar que há alternativas para continuidade ou expansão da lavra desses tipos “de batalha”, em
outros trechos do território paulista, e também que há alternativas para a produção de tipos especiais,
muitas vezes similares ao que é produzido em centros mineradores de outros Estados, que costumam
obter boa aceitação nos mercados consumidores interno e externo, na forma de granitos homogêneos
brancos, verdes e preto-absolutos, granitos movimentados cinzentos, vermelhos e verdes, além de rochas
com padrões exóticos. Ou seja, o Estado apresenta um potencial maior que o atualmente aproveitado.
Como antes citado, da análise de dados disponíveis na literatura especializada e a partir das
observações efetuadas durante trabalhos de campo realizados no âmbito deste estudo, complementadas
por análises e ensaios laboratoriais de caracterização tecnológica dos tipos agora “descobertos”, foram
selecionados 18 tipos rochosos, cuja distribuição geográfica permite a configuração das áreas potenciais
destacadas na Figura 2. Quanto a isto, pretende-se que os dados reunidos e sistematizados nos mapas
e tabelas aqui apresentados constituam referência e estímulo aos interessados na seleção de áreas para
pesquisa detalhada com vistas à mineração.
As áreas destacadas são seis:
• São João da Boa Vista – Mococa;
• Bragança Paulista – Monteiro Lobato;
• Itu – Ibiúna;
• Eleutério;
• Lavrinhas;
• Apiaí.
Delas, as três primeiras compreendem terrenos que englobam ou são vizinhos aos centros de
mineração já estabelecidos no Estado e, até por sua maior extensão, apresentam natureza geológica mais
96 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
diversificada e um maior número de tipos rochosos interessantes já identificados ou com ocorrência
esperada. As três outras áreas possuem amplitude geográfica bem mais restrita, porém têm seu potencial
produtivo favorecido pela existência de tipos desde o exótico ao clássico, com boa aceitação no mercado.
Grande parte dessas áreas potenciais e dez dos tipos rochosos nelas destacados não são
abrangidos pelas principais Unidades de Conservação Ambiental demarcadas em São Paulo. Os trechos
restantes e os demais oito tipos rochosos, por outro lado, se encontram em APAs estaduais e federais
que, no entanto, permitem o aproveitamento de recursos naturais (Tabela 1).
Considere-se ainda que, no geral, as regiões potenciais destacadas apresentam boa localização,
com relação aos principais centros consumidores do Estado, como São Paulo, Campinas, Sorocaba,
Ribeirão Preto e cidades da Baixada Santista e do Vale do Paraíba; são dotadas de boas estradas para
escoamento de produtos, até mesmo para outros Estados; e estão interligadas por essa malha viária ao
Porto de Santos.
Região de São João da Boa Vista – Mococa
Essa região engloba a faixa do extremo norte do embasamento cristalino do Estado, e, entre
outros municípios, os de Mococa, Caconde, São José do Rio Pardo e São Sebastião da Grama, ao
norte, e Águas da Prata, São João da Boa Vista e Espírito Santo do Pinhal, na porção centro-sul,
distando entre 200 km e 300 km ao norte da capital paulista (Figuras 2 e 3).
Trata-se de uma região com geologia e demais condicionantes bastante favoráveis a constituir-se
em um centro minerador de rochas ornamentais, destacando-se boa malha viária, relevo propício, a
possibilidade de compatibilização da mineração com outras formas de uso e ocupação do solo, e a
ausência de Unidades de Conservação Ambiental estaduais ou federais (Tabela 1).
Figura 3 – Esboço geológico e tipos rochosos destacados na região de São João da Boa Vista - Mococa.
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 97i
98 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 1 – Localização, dados geológicos, fisiográficos e interferência de áreas de proteção ambiental
Municípios
Principais
Contexto
Geológico
Topos de Morros
Perfis de Vertentes
Complexo
Alfenas-Guaxupé
Arredondados
Retilíneos a convexos,
por vezes abruptos,
presença de serras restritas
Verde Fartura1
Vargem Grande
do Sul
2
Verde Mococa1
Mococa
3
Vermelho Fartura1
Vargem Grande
do Sul
4
Amêndoa Imperial2
Socorro
Complexo Granítico
Socorro
5
Amparo Fantasia3
Amparo
Complexo Amparo
Arredondados
6
Branco Nazaré4
Nazaré Paulista
7
Cinza Bragança2
Bragança Paulista
Granito
Nazaré Paulista
Complexo
Granítico Socorro
Retilíneos a convexos,
por vezes abruptos,
presença de serras restritas
Angulosos
a achatados
Retilíneos com
vertentes ravinadas
8
Bege Crepúsculo3
Morungaba
Maciço Granítico
Morungaba
Arredondados
Retilíneos a convexos,
por vezes abruptos,
presença de serras restritas
9
Pedra Bela3
Pedra Bela
Angulosos
Retilíneos com vertentes
ravinadas, por vezes abruptos
10
Nero Santa Isabel5
Santa Isabel
Complexo
Granítico Socorro
Grupo Serra do
Itaberaba
Arredondados
Retilíneos a convexos
11
Rosa Itatiba3
Itatiba
Maciço Granítico
Morungaba
Arredondados,
localmente angulosos
a achatados
Retilíneos a convexos,
localmente ravinados,
presença de serras restritas
12
Verde São
Francisco Xavier2
São José
dos Campos
Complexo
Paraisópolis
Arredondados
Retilíneos a convexos,
por vezes abruptos,
presença de serras restritas
13
Amêndoa
Escarlate6
Ibiúna
Maciço Ibiúna
Arredondados,
por vezes em forma de
“meia-laranja”
14
Marrom
Montês3
Votorantim/
Piedade
Maciço
São Francisco
Achatados e extensos
15
Azul Paulista1
Lavrinhas
Complexo Alcalino
Passa Quatro
Angulosos (escarpas
com anfiteatros
e espigões)
Retilíneos
16
Preto Apiaí1
Apiaí
Gabro de Apiaí
Arredondados
Retilíneos a convexos
17
Lavanda Paulista7
Eleutério (SP)/
Jacutinga (MG)
Formação Eleutério
Arredondados
Retilíneos a convexos,
por vezes abruptos,
presença de serras restritas
Eleutério
Itu - Ibiúna
Bragança Paulista - Monteiro Lobato
São João da Boa
Vista - Mococa
1
Lavrinhas
Materiais
Apiaí
Regiões
18
Verde Allegro7
IPT (2000);
IPT (1990);
Cadastrados neste trabalho;
4
ARTUR et al. (2001);
5
Ensaios IPT (Relatório Interno, inédito);
6
NAVARRO; ARTUR (2002);
7
Neste trabalho. Outros nomes para a mesma rocha em ROLDAN (1999) e MELLO et al. (2003)
* Fonte: IPT (1981b);
** Fonte: SMA (2000);
*** Colocados em catálogos e portfólios publicados
1
2
3
Retilíneos a convexos
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 99i
envolvendo algumas oportunidades minerárias para rochas ornamentais em São Paulo.
Características Fisiográficas*
Drenagens
Áreas de Proteção
Ambiental (APAs)**
Tipos Comerciais
Assemelhados***
Verde Ubatuba (SP)
Alta densidade, padrão dendrítico, com vales fechados a abertos,
planícies aluvionares restritas.
—
Verde Bahia (BA)
Verde Boa Nova (BA)
Jacarandá (BA)
Alta densidade, padrão dendrítico a pinulado, com vales fechados;
planícies aluvionares restritas.
Média a alta densidade, padrão dendrítico com vales fechados.
Alta densidade, padrão dendrítico a pinulado, com vales fechados;
planícies aluvionares restritas.
—
APA Estadual – Piracicaba
e Juqueri-Mirim (área I)
Vermelho Tanquinho (BA)
APA Estadual – Piracicaba
e Juqueri-Mirim (área II)
APA Estadual – Piracicaba
e Juqueri-Mirim (área I)
Branco Desirée (ES)
Parcialmente na APA
Estadual – Piracicaba
e Juqueri-Mirim (área II)
Kinawa Light
—
Vermelho Pantanal (MT)
Alta densidade, padrão em treliça a subdendrítico, com vales fechados
a abertos; planícies aluvionares restritas.
APA Estadual – Piracicaba
e Juqueri-Mirim (área I)
APA Federal – Bacia do
Rio Paraíba do Sul
Alta a média densidade, padrão dendrítico a retangular, vales fechados
a abertos, com planícies aluvionares restritas, ou desenvolvidas quando
com morros em forma de “meia-laranja”.
Parcialmente na APA
Estadual – Piracicaba
e Juqueri-Mirim (área II)
—
Alta densidade, padrão dendrítico, com vales fechados a abertos,
planícies aluvionares restritas.
APA Federal – Bacia do
Rio Paraíba do Sul
Verde Ubatuba (SP)
Verde Pavão (ES)
Alta densidade, padrão paralelo pinulado, com vales fechados.
Alta densidade, padrão dendrítico a retangular (por vezes subdendrítico
e treliça), com vales fechados a abertos, planícies aluvionares restritas
ou desenvolvidas.
—
—
Média densidade, padrão subparalelo, com vales fechados.
Alta densidade, padrão subparalelo a dendrítico, com vales fechados.
—
Preto Absoluto (BA)
Ouro Negro (ES)
APAs Federais – Bacia do
Rio Paraíba do Sul e
Serra da Mantiqueira
Alta densidade, padrão em treliça a sundendrítico, com vales fechados
a abertos, planícies aluvionares restritas.
—
—
Preto Absoluto (BA)
Ouro Negro (ES)
Mantegna (CE)
Alta densidade, padrão dendrítico a pinulado, com vales fechados,
planícies aluvionares restritas.
—
Verde Marinace (BA)
Caravaggio (CE)
Verde Piranhas (GO)
100 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
No tocante à geologia, a potencialidade da região pode ser retratada pela natureza do seu arcabouço
litológico, constituído essencialmente por seqüências gnáissico-migmatíticas do Complexo Pinhal com
possantes intercalações granulítico-charnockíticas do Complexo Alfenas-Guaxupé, além da presença de
vários corpos graníticos intrusivos. Assim, o arcabouço geológico caracteriza-se por rochas quartzofeldspáticas gnáissicas (granitos movimentados com padrão estético constante) e migmatíticas (granitos
movimentados com padrão estético inconstante)2, com cores desde cinzentas (cinza-claro a cinza-escuro),
róseas e vermelhas, que podem resultar em tipos comerciais pouco comuns. As seqüências granulíticocharnockíticas compreendem variedades de rochas quartzo-feldspáticas (charnockitos) foliadas ou
movimentadas e feldspáticas (jotunitos e mangeritos) foliados, com cores esverdeadas (verde-claro a
escuro), que podem, igualmente, resultar em tipos comerciais clássicos ou nobres.
As rochas graníticas, concentradas em pequenos corpos, nas porções norte e nordeste da área,
compreendem variedades de granitóides predominantemente homogêneos, com granulação média a
média/grossa, cores cinzentas, rosadas e, mais raramente, vermelhas e alaranjadas. Já a ocorrência no
extremo sul da região, do Complexo Granitóide Pinhal, apresenta tipos equigranulares e porfiríticos
(presença de megacristais), cinzentos e rosados.
A região conta, na atualidade, com vários materiais sob pesquisa e, em parte, já submetidos à
lavra experimental. Correspondem a granitos róseos movimentados (Vermelho Coral), vermelhos e
róseos movimentados (Salmão Cardeal, Vermelho Fartura) ou homogêneos (Vinho Paulista) e verdes
(Verde Fartura e Verde Mococa).
Dessas rochas, o Verde Fartura e o Vermelho Fartura, representados na Prancha I, são
provenientes da região de Vargem Grande do Sul, do Complexo Alfenas-Guaxupé, e, apesar de
apresentarem mineralogia e coloração distintas, são de natureza semelhante. O Verde Fartura
corresponde a um charnockito gnáissico (ou hiperstênio sienogranito gnáissico) de granulação média,
com padrão discretamente movimentado, que se assemelha ao Verde Ubatuba. O Vermelho Fartura
apresenta composição sienogranítica, fortemente foliado e de granulação também média, muito
semelhante ao tipo comercial baiano Jacarandá.
O Verde Mococa (Prancha I), da localidade homônima, é um mangerito gnáissico (hiperstênio
monzonito gnáissico) fortemente foliado, rico em minerais ferromagnesianos, de granulação fina a
média, e apresenta coloração verde-oliva escuro, com padrão estético semelhante aos tipos baianos
Verde Bahia e Verde Boa Nova.
As propriedades tecnológicas desses três tipos petrográficos (Tabela 2), embora somente em
parte disponíveis para o Verde Fartura, atendem adequadamente às especificações da ASTM3 e sugeridas
por FRAZÃO; FARJALLAT (1996), qualificando-os para o uso como revestimento de edificações. O
tipo Verde Mococa, por seu alto teor de minerais máficos, deve ser instalado preferencialmente em
ambientes secos ou pouco úmidos.
Região de Bragança Paulista – Monteiro Lobato
A região considerada compreende vasta área da porção leste do Estado de São Paulo, definida
por um polígono irregular delimitado pelas cidades de Lindóia, Monteiro Lobato, Santa Isabel, Campinas
e Santo Antônio da Posse (Figuras 2 e 4), cujo extremo sul dista cerca de 60 km da capital paulista.
Equivalendo a um dos mais tradicionais centros de extração e beneficiamento de granitos
ornamentais do Estado, atividade que ocorre especialmente no Município de Bragança Paulista, esta
região apresenta constituição geológica determinante para a presença de extensas áreas de rochas graníticas,
tanto homogêneas quanto movimentadas. Outros fatores favoráveis são a existência de extensas áreas
com relevos favoráveis às atividades extrativas, sobretudo de blocos em maciços rochosos, desprovidas
2
Caracterizados por desenhos resultantes de estruturas dobradas, com formas estruturais e amplitudes variadas.
3
American Society for Testing and Materials.
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 101i
Verde Fartura
Verde Mococa
Vermelho Fartura
Prancha I
102 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Eleutério
Apiaí Lavrinhas
Itu - Ibiúna
Bragança Paulista - Monteiro Lobato
São João da Boa
Vista - Mococa
Regiões
Potenciais
Tabela 2 – Dados petrográficos, tecnológicos e especificação de uso como revestimento para rochas destacadas
1
7
Características Petrográficas
Materiais
1
Verde Fartura1
Charnockito gnáissico: 45% feldspato potássico, 25% quartzo, 15% oligoclásio, 5-10% orto - e
clinopiroxênios, 10% hornblenda, <5% acessórios (apatita, zircão e allanita), traços de secundários
(clorita, carbonato, argilominerais, óxidos e hidróxidos de ferro).
2
Verde Mococa1
Mangerito gnáissico: 35-40% feldspato potássico, 35% oligoclásio, 15% orto- e clinopiroxênios, 510% opacos, <5% hornblenda, <5% biotita, traços de acessórios (apatita, zircão, quartzo) e
secundários (carbonato e filossilicatos).
3
Vermelho Fartura1
Sienogranito gnáissico: 40% feldspato potássico, 25% quartzo, 15% oligoclásio, 5-10% opacos,
5% hornblenda, <5% piroxênio alterado, traços de acessórios (apatita, zircão e allanita) e secundários
(clorita, carbonato, argilominerais, óxidos e hidróxidos de ferro).
4
Amêndoa Imperial2
Biotita-hornblenda granodiorito megaporfirítico gnáissico: 40-45% andesina, 20% microclínio, 1520% quartzo, 10% hornblenda, 5% biotita, <5% apatita, <5% opacos, traços de zircão, secundários
(sericita e hidróxidos de ferro).
5
Amparo Fantasia3
Migmatito quartzo-feldspático com estrutura movimentada: 55% plagioclásio, 25-30% quartzo, 10%
biotita, 5-10% microclínio, traços de acessórios (zircão e apatita) e secundários (clorita, epidoto e
sericita).
6
Branco Nazaré4
Granada Monzogranito: 34,4% microclínio, 29,5% quartzo, 28,9% plagioclásio, 5,7% acessórios
(biotita, granada, opacos, muscovita) e secundários (sericita e clorita).
7
Cinza Bragança2
Biotita sienogranito: 45-50% microclínio pertítico, 20% quartzo, 15-20% plagioclásio, 10% biotita, 5%
acessórios (opacos, titanita, allanita, zircão e apatita) e secundários (carbonatos, epidoto e sericita).
8
Bege Crepúsculo3
Monzogranito: 40% oligoclásio, 30-35% microclínio, 25% quartzo, <5% acessórios (biotita, opacos,
allanita) e secundários (sericita, epidoto e clorita).
9
Pedra Bela3
Biotita Monzogranito megaporfirítico levemente orientado: 35% microclínio, 30-35% oligoclásio,
20% quartzo, 5% biotita, 5% hornblenda, <5% acessórios (opacos, apatita, zircão, titanita) e
secundários (sericita, carbonato, epidoto e hidróxidos de ferro).
10
Nero Santa Isabel5
Anfibolito: 55% hornblenda, 40-45% plagioclásio, <5% titanita e traços de opacos, quartzo e apatita.
11
Rosa Itatiba
Monzogranito: 35-40% oligoclásio, 30-35% microclínio, 25-30% quartzo, traços de acessórios (opacos,
apatita, zircão, allanita) e secundários (sericita, argilominerais, clorita e hidróxidos de ferro).
12
Verde São
Francisco Xavier2
Charnockito: 35% microclínio pertítico, 30% plagioclásio antipertítico, 20% quartzo, 5-10% biotita,
<5% hiperstênio, 5% acessórios (hornblenda, granada, opacos, apatita, zircão, allanita) e
secundários (epidoto, sericita, clorita, carbonatos e filossilicatos).
13
Amêndoa
Escarlate6
Biotita-hornblenda monzogranito: 30,5% microclínio, 24,2% oligoclásio, 28,7% quartzo, 7,2%
hornblenda, 6,5% biotita, 4,0% acessórios (titanita, opacos, zircão, apatita e muscovita) e secundários
(sericita, muscovita, clorita, argilominerais e hidróxidos de ferro).
14
Marrom
Montês3
Monzogranito: 50% microclínio, 25% oligoclásio, 25% quartzo, 5% biotita, <2% acessórios (opacos,
titanita, zircão, apatita, fluorita, allanita alterada) e secundários (clorita, carbonato, sericita, hidróxidos
de ferro).
15
Azul Paulista1
Nefelina sienito: 65-70% anortoclásio micropertítico; 25% feldspato; 5% piroxênio, <5% opacos,
titanita, biotita, albita; traços de secundários (cancrinita, carbonato, hidróxido de ferro, analcima e
leucoxênio).
16
Preto Apiaí1
Gabronorito: 60% plagioclásio, 25% augita, 10% hiperstênio, <5% opacos, <5% hornblenda, traços
de quartzo, secundários (clorita, carbonatos e filossilicatos).
17
Lavanda Paulista7
Metarcósio com estrutura maciça: 40% quartzo; 30% feldspato potássico; 15% plagioclásio; 1215% filossilicatos e acessórios (muscovita, biotita, opacos, epidoto, titanita, zircão, fragmentos de
rocha, clorita, turmalina, rutilo e granada).
18
Verde Allegro7
Conglomerado com fragmentos angulosos ou arredondados de milonitos, granitos, gnaisses,
migmatitos, rochas máficas e ultramáficas com granulações de matacão, calhau, seixo e areia. Os
fragmentos de rochas e a matriz estão parcialmente alterados para sericita, epidoto, calcita e clorita.
3
IPT (2000); 2 IPT (1990); 3 Cadastrados neste trabalho; 4Artur et al. (2001); 5 Ensaios IPT (Relatório Interno, inédito); 6 Navarro; Artur (2002);
Neste trabalho. Outros nomes para a mesma rocha em Roldan (1999) e Mello et al. (2003); x Neste trabalho
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 103i
Absorção d’Água
Aparente (%)
Resistência à
Compressão
Uniaxial (MPa)
Módulo de
Ruptura (MPa)
Velocidade
de ondas
longitudinais (m/s)
0,50
0,18
—-
148,7
—-
5.380
—-
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.736
0,35
0,13
0,62
200,6
23,86
5.810
5,5
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.649
0,51
0,19
0,57
153,9
17,3
5.340
5,3
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.720
0,59
0,22
0,86
164,5
11,3
—-
8,5
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.665
0,18
0,07
0,47
168,5
16,84
4.475
6,8
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.614
0,80
0,31
0,67
172,0
12,69
5.083
6,0
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores, com restrições
2.684
0,50
0,19
0,66
136,9
20,0
—-
11,5
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.625
0,17
0,06
0,48
186,7
16,78
4.664
5,9
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.759
0,45
0,16
0,86
150,0
14,81
5.038
7,1
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores, com restrições
3.019
0,33
0,11
0,69
277,8
26,13
—-
10,0
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.604
0,54
0,21
0,66
173,2
14,47
3.950
4,5
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores, com restrições
2.653
0,81
0,31
0,81
145,0
14,0
—-
9,2
Paredes e pisos de interiores
2.670
0,67
0,25
0,60
149,6
13,50
5.107
7,84
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores, com restrições
2.653
0,29
0,11
0,67
152,1
12,33
5.425
6,4
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores
2.594
0,72
0,28
0,65
163,8
15,78
5.660
5,8
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores, com restrições
3.065
0,54
0,18
0,76
195,5
26,4
6.040
5,4
Paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores, com restrições
2.673
0,55
0,21
0,85
176,1
23,53
5.120
—-
Paredes, fachadas e pisos de baixo
tráfego, em interiores e exteriores
2.822
0,31
0,11
0,60
142,5
21,13
6.271
—-
Paredes, fachadas e pisos de baixo
tráfego, em interiores e exteriores
Coeficiente de
Dilatação Térmica
(mm/m.oC)x10-3
Porosidade
Aparente (%)
2.703
Desgaste
Abrasivo Amsler
(mm)
Massa Específica
Aparente Seca
(kg/m3)
como oportunidades minerárias no Estado de São Paulo.
Usos Sugeridos para
Revestimento de Edificações*
104 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Figura 4 – Esboço geológico, tipos rochosos destacados, e unidades de conservação ambiental federais e
estaduais, na região de Bragança Paulista - Monteiro Lobato.
de conflitos com outras formas de uso e ocupação do solo, uma localização geográfica privilegiada,
próxima a grandes centros consumidores, e boa malha viária. Essa potencialidade é muito maior do que
fazem supor os indicadores modestos decorrentes das atividades minerárias atualmente ali praticadas.
O embasamento cristalino da região caracteriza-se por terrenos gnáissico-migmatíticos, com
freqüentes intercalações de rochas metassedimentares (gnaisses, quartzitos variados, xistos), contendo
internamente possantes massas de rochas graníticas. Os terrenos gnáissico-migmatíticos dos Complexos
Amparo e Paraisópolis são constituídos por grande variedade de rochas metamórficas, principalmente
gnaisses quartzo-feldspáticos orto e paraderivados, migmatitos, anfibolitos, charnockitos e granulitos
com amplas variações quanto a cor (cinzentos, rosados, vermelhos, esbranquiçados, amarelados/
amarronzados, esverdeados), aspectos texturais (granulações fina, média e grossa) e estruturais (desde
fraca a fortemente foliadas), refletindo-se em padrões estéticos movimentados constantes (gnaisses
foliados) e inconstantes (migmatitos). Apesar de corresponderem a materiais com boas chances de
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 105i
aceitação no mercado consumidor e com extensas áreas de exposição favoráveis à lavra, não há registro
da exploração desses materiais, mesmo em tempos passados.
Já as rochas graníticas homogêneas ocupam cerca de um terço da área considerada e constituem
desde massas com dimensões batolíticas (corpos com áreas superiores a 100 km2) como os complexos
graníticos Socorro, Morungaba e Atibaia, a corpos menores – maciços de Jaguariúna, Nazaré Paulista,
Piracaia, Pedra Branca, Santa Isabel, Imbiruçu, Igaratá, Mato Mole, e vários outros (Figura 4).
Compreendem grande variedade de rochas graníticas, tanto no tocante à cor (granitos brancos, cinzentos,
rosados a vermelhos, amarronzados, esverdeados e pretos), quanto aos aspectos texturais e estruturais
(desde finos até grossos, homogêneos ou discretamente movimentados), que incluem tipos comuns,
nobres e mesmo exóticos.
Como registro dessa diversidade estética e da potencialidade inexplorada da região, são
aqui apresentados nove tipos rochosos hoje fora do mercado (Pranchas II, III e IV, Tabelas 1 e 2),
originários de pontos diversos (Figura 4), três dos quais no passado já submetidos a lavras
experimentais (IPT, 1990).
Tais variedades compreendem granitos homogêneos cinzentos (Cinza Bragança), róseos a
róseos acastanhados (Pedra Bela, Rosa Itatiba e Bege Crepúsculo), brancos (Branco Nazaré), verdes
(Verde São Francisco Xavier), e pretos (Nero Santa Isabel), além de tipos movimentados homogêneos
(Amêndoa Imperial) e movimentados heterogêneos (Amparo Fantasia).
Dessas rochas, os tipos Bege Crepúsculo e Rosa Itatiba, que ocorrem no Complexo Granítico
Morungaba, correspondem a monzogranitos de granulação média, equigranulares, com padrão estético
clássico. Constituem reservas razoáveis, com possibilidades de extensão em outras localidades da porção
centro-sul daquele complexo granítico. Também há chance para a ocorrência de rochas similares em diversos
pontos do Complexo Granítico Socorro e nos corpos menores situados na faixa leste da região enfocada.
O Cinza Bragança, um dos tipos antes explorados experimentalmente, aflora no Serrote do
Guaripocaba, à leste da cidade de Bragança Paulista. Trata-se de um sienogranito equigranular médio
de coloração cinza-claro, do Complexo Granítico Socorro. Poderá também estar presente em outras
ocorrências, nas porções sul e sudeste deste complexo, bem como na porção centro-sul do Complexo
Granítico Morungaba, seus arredores e nos vários corpos graníticos presentes na faixa leste da área.
Surge como uma alternativa à produção cessante do Cinza Mauá, na Grande São Paulo.
O Branco Nazaré, com padrão estético semelhante ao Branco Desirée (ES), corresponde a um
tipo pouco comum em São Paulo, representado por um granada monzogranito branco inequigranular de
granulação variável, de média a pegmatóide, caracterizado por freqüentes pontuações e manchas
vermelhas, comuns em diversos dos granitos brancos do Espírito Santo. Oriundo do corpo granítico
Nazaré Paulista, aflorante nas proximidades da cidade homônima, pode constituir outras ocorrências
potenciais nos arredores de Atibaia, Bom Jesus dos Perdões e do vilarejo de Batatuba.
Os tipos róseos acinzentados Amêndoa Imperial e Pedra Bela correspondem a granitos
megaporfiríticos, mais ou menos gnaissificados, freqüentes na porção centro-leste do Complexo
Granítico Socorro. O primeiro, já submetido à lavra experimental no passado, é muito semelhante ao
tipo baiano Vermelho Tanquinho, provém dos arredores da cidade de Socorro e caracteriza-se por sua
estrutura gnáissica e padrão movimentado bem mais evidente que o apresentado pelo granito Pedra
Bela, corpo situado imediatamente à oeste da cidade homônima.
Em ambos os granitos, a coloração rosada deve-se à presença de grandes cristais prismáticos
a ligeiramente ovalados de feldspatos róseos, mais ou menos isorientados, e distribuídos de modo
homogêneo em meio a uma massa quartzo-felspática de coloração cinza médio a cinza-escuro contendo,
ainda, biotita e/ou hornblenda.
Outras possíveis ocorrências potenciais de granitos megaporfiríticos movimentados ou
homogêneos, de colorações acinzentadas, amarronzadas, rosadas ou avermelhadas, devem ser esperadas
na porção norte do Complexo Granítico Morungaba e em corpos graníticos menores situados ao longo
da faixa leste da área, tais como os corpos graníticos Serra da Pedra Branca, Morro Azul e Imbiruçu.
106 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Amêndoa
Imperial
Amparo Fantasia
Branco Nazaré
Prancha II
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 107i
Cinza Bragança
Bege Crepúsculo
Pedra Bela
Prancha III
108 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Nero Santa
Isabel
Rosa Itatiba
Verde São
Francisco Xavier
Prancha IV
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 109i
O Amparo Fantasia, do Complexo gnáissico-migmatítico Amparo, é um dos representantes dos
granitos tipicamente movimentados (migmatitos) que, juntamente com os gnaisses e migmatitos do
Complexo Paraisópolis, constituem diversos núcleos maiores em uma considerável faixa entre as cidades
de Amparo, Monte Alegre do Sul e Serra Negra. Esta rocha, assemelhada ao tipo Kinawa Light (MG), é
proveniente dos arredores da cidade de Amparo, corresponde a um migmatito quartzo-feldspático, com
padrão movimentado heterogêneo e coloração cinza-esbranquiçada, que exibe gradações para termos
movimentados homogêneos com coloração cinza esbranquiçada, que pode gradar para termos
movimentados mais regulares e, localmente, exibir tonalidades ligeiramente rosadas. Outras reservas de
granitos movimentados, cinza-esbranquiçados ou mesmo rosados, podem ocorrer nas faixas gnáissicomigmatíticas presentes nas regiões entre Lindóia-Socorro e Joanópolis-Monteiro Lobato.
O Verde São Francisco Xavier, igualmente já submetido à lavra experimental em meados da
década de 80, assemelha-se ao tradicional tipo paulista Verde Ubatuba, cuja lavra está definitivamente
paralisada na faixa costeira, e, por exemplo, ao tipo capixaba Verde Pavão, grandemente aceitos pelos
mercados interno e de exportação. Corresponde a um charnockito (hiperstênio - biotita monzogranito)
de cor verde-escuro com granulação média a grossa, discretamente inequigranular e com aspecto
geral homogêneo. Está embutido na seqüência gnáissico-migmatítica do Complexo Paraisópolis. Expõese, de noroeste a sudoeste, nas vizinhanças da cidade que confere nome à pedra (Figura 4).
O Nero Santa Isabel corresponde a um anfibolito preto, maciço e de granulação fina a média,
equigranular, de aspecto geral homogêneo, integrante do Grupo Serra do Itaberaba. Suas reservas
potenciais situam-se no Município de Santa Isabel, a meia distância da cidade de Nazaré Paulista,
onde constituem morros amplos arredondados com declividade média a alta e alinhados segundo a
direção nordeste-sudoeste. O aspecto estético é muito semelhante aos tipos Preto Absoluto e Ouro
Negro (BA), rochas muito apreciadas no mercado externo.
Todas estas rochas apresentam propriedades físicas e físico-mecânicas adequadas para aplicação
como rochas ornamentais e para revestimento (Tabela 2), conforme valores limítrofes apresentados
pela ASTM e por FRAZÃO; FARJALLAT (1996). Entretanto, deve-se levar em consideração algumas
restrições no tocante aos tipos Verde São Francisco Xavier e, especialmente, ao Nero Santa Isabel, em
relação a revestimentos de pisos de alto tráfego e fachadas submetidas à ação de atmosferas mais
agressivas, já que, em função de suas constituições mineralógicas e colorações escuras, estariam
sujeitos a manchamentos e perda de lustro. Por sua vez, o granito Branco Nazaré sofre algumas
restrições com relação ao uso em ambientes sujeitos a moderada ou intensa umidade, pelo possível
processo de oxidação dos cristais de granada, problema que talvez possa ser solucionado ou minimizado
pela aplicação de resina, durante o polimento e lustro das chapas.
Região de Itu – Ibiúna
A região de Itu-Ibiúna, situada na porção centro-leste do Estado de São Paulo, envolve, além
destes, vários outros municípios, como Itupeva, Salto, Cabreúva, Indaiatuba, Araçariguama, São Roque,
Sorocaba e Piedade (Figura 5). Essas localidades distam entre 40 km e 100 km da capital.
Compreende o tradicional centro produtor de Itu, cuja atividade extrativa é desenvolvida quase
que exclusivamente nos domínios do Complexo Granitóide Itu. Na atualidade, a produção está
representada por diversos tipos de granitos homogêneos com colorações predominantemente
amarronzadas ou rosadas, correspondentes a monzogranitos, com granulação média inequigranular,
que podem, em alguns casos, exibir aspecto levemente porfirítico. A simples constatação da continuidade, para além das atuais pedreiras, de áreas com exposição de rochas granitóides, em condições
favoráveis, deixam antever oportunidades minerárias em outros trechos do próprio maciço Itu.
Afora isto, há na região grandes corpos e complexos granitóides, como os de Sorocaba, São
Francisco, São Roque, Ibiúna e outros com menores dimensões, expostos sob a forma de expressivos
campos de matacões e maciços rochosos, o que concorre para a suposta potencialidade dessa faixa4.
4
O conjunto de campos de matacão existentes nos maciços Itu e outros vizinhos, nesta região, constituem, de longe, as mais expressivas
ocorrências desse tipo no Estado de São Paulo.
110 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Figura 5 – Esboço geológico, tipos rochosos destacados, e unidades de conservação ambiental federais e
estaduais, na região de Itu-Ibiúna.
Esses corpos plutônicos, intrusivos nas seqüências metassedimentares do Complexo Piracaia e
Grupos São Roque e Açungui, reúnem rochas graníticas bastante diversificadas quanto à composição
(sienogranitos a granodioritos), coloração (rosados, avermelhados, amarronzados, alaranjados) e aspectos
texturais e estruturais, do que resultam padrões tanto homogêneos quanto movimentados.
No sentido da apresentação de novos tipos com possibilidade de produção comercial, faz-se
destaque a dois granitos com padrões estéticos distintos dos explorados na região (Prancha V, Tabelas
1 e 2), denominados de Amêndoa Escarlate e Marrom Montês. Correspondem a monzogranitos
megaporfiríticos (grandes cristais de feldspato potássico em matriz de granulação média) provenientes
dos Complexos Granitóides Ibiúna e São Francisco, situados nas porções sul e sudoeste da região
considerada.
O Amêndoa Escarlate é um hornblenda-biotita monzogranito de cor róseo-acinzentado, com
padrão estético raro no mercado, caracterizado pela presença de grandes cristais de feldspato róseoavermelhado que se destacam em matriz média a média/grossa, cinza-escuro, pontuada de branco. Já
o Marrom Montês é um biotita monzogranito megaporfirítico róseo-acinzentado claro, com aspecto
maculado definido por amêndoas de cristais de feldspato róseo com formas amendoadas que podem
medir mais de 5 cm, nitidamente orientados, em matriz média a grossa, produzindo característico
padrão movimentado constante.
As propriedades físicas e físico-mecânicas apresentadas por esses granitos (Tabela 2) atendem
às especificações estabelecidas pela ASTM e os valores sugeridos por FRAZÃO; FARJALLAT (1996),
qualificando-os como materiais ornamentais e para revestimentos de paredes, fachadas e pisos de
interiores e exteriores.
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 111i
Amêndoa
Escarlate
Marrom Montês
Azul Paulista
Prancha V
112 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Regiões de Eleutério, Lavrinhas e Apiaí
No distrito de Eleutério (Figura 2), Município de Itapira (SP), distante cerca de 180 km a
nordeste da Capital, ocorre faixa metassedimentar com direção nordeste, que se estende até a Cidade
de Jacutinga (MG), ao longo de 16 km de comprimento, com largura variando entre 500 e 1.300 m.
Nessa faixa, ocorrem dois tipos rochosos exóticos, bastante raros no Estado e ainda não minerados,
representados por um metarcósio de coloração róseo-acinzentada e um metaconglomerado esverdeado
(Prancha VI, Tabelas 1 e 2), aos quais foram atribuídos, respectivamente, os nomes fantasia Lavanda
Paulista e Verde Allegro.
Essas rochas fazem-se notar basicamente por matacões com dimensões e formas variadas,
preferencialmente dispostos em encostas retilíneas e, mais raramente, em morrotes alongados
possuidores de topos arredondados.
O Lavanda Paulista exibe tons de cinza-rosado a acastanhado, que o assemelham ao tipo
cearense Mantegna. As variações estéticas são relativamente pequenas e as mais significativas se
devem à presença de variados fragmentos rochosos imersos na matriz em diferentes proporções. Ocorre
como pequenos matacões, na porção mais a sul da faixa, próximo à localidade de Eleutério. No que se
refere às propriedades tecnológicas, esse material apresentou bons resultados nos testes realizados,
permitindo sugerir uma utilização ampla como material de revestimento (Tabela 2).
O Verde Allegro aflora quase que totalmente na porção mineira da faixa, onde estão as
ocorrências mais expressivas. Caracteriza-se por uma matriz esverdeada, onde estão imersos fragmentos
rochosos diversos, com composições, tamanhos e formas bastante variadas, o que lhe confere um
aspecto estético exótico, muito semelhante aos tipos Verde Marinace (BA), Caravaggio (CE) e Verde
Piranha (GO). O padrão estético pode variar razoavelmente, sendo necessário um reconhecimento
maior dessas variações para melhor aproveitamento econômico da ocorrência, caracterizada por grandes
matacões. Os dados de caracterização tecnológica (Tabela 2) atestam a boa resistência física e mecânica
desse material, embora seja recomendável evitar seu uso em pavimentos submetidos a alto tráfego.
No Município de Lavrinhas, próximo à divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro, cerca de 250
km a nordeste da capital paulista, dentro do Complexo Alcalino Passa Quatro (Figura 2), ocorre sienito
com coloração predominantemente cinza, porém com padrão estético relativamente incomum, decorrente
da textura da rocha e um certo tom azulado secundário, denominado Azul Paulista (Prancha V, Tabelas
1 e 2). Embora ainda não comercializada, a rocha vem sendo submetida a lavra experimental (IPT,
2000). Os dados tecnológicos disponíveis permitem sugerir sua aplicação como material de revestimento
de ambientes pouco úmidos e de pisos de baixo a moderado tráfego (Tabela 2).
Em Apiaí (Figura 2), a cerca de 320 km a sudoeste de São Paulo, ocorre uma unidade magmática
denominada Gabro de Apiaí, onde afloram campos de pequenos matacões e grandes lajedos, nos quais
vem sendo testada a lavra de um gabronorito, que recebe a designação comercial de Preto Apiaí (Prancha
VI, Tabelas 1 e 2). Apresenta estrutura maciça e homogênea, que confere à rocha padrão estético bastante
aceito e procurado no mercado, sobretudo o de exportação, como ocorre com tipos como o Preto Absoluto
(BA) e Ouro Negro (ES). Nesse caso, a gama de aplicações como material de revestimento é ampla,
havendo pequenas restrições para ambientes de alto tráfego e atmosferas agressivas, conforme sugerem
os resultados petrográficos e tecnológicos disponíveis para essa rocha (Tabela 2).
CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS
A crise na indústria extrativa de blocos, já longa, porém intensificada nos anos recentes em
São Paulo, tende a criar efeito inercial de difícil interrupção, cuja tendência é conduzir a uma virtual
paralisação da atividade da mineração ou a um cenário de sua sobrevida à margem da esperada evolução
da cadeia produtiva paulista de rochas ornamentais e para revestimento. Ações cabíveis para a
revitalização, o quanto possível, desse elo produtivo, com aumento da competitividade dos materiais
paulistas são várias, e estão sendo tratadas, de modo mais detalhado, no Capítulo 2.
CAPÍTULO 4 - Oportunidades Minerárias - 113i
Preto Apiaí
Lavanda Paulista
Verde Allegro
Prancha VI
114 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Aqui buscou-se, mais objetivamente, apresentar exemplos de oportunidades minerárias lastreadas
na existência de tipos estéticos para os quais se advoga haja penetração no mercado consumidor, e que estão
presentes em depósitos com modos de ocorrências inicialmente favoráveis à lavra. Trata-se de tentativa de
contribuir para a desmistificação da ausência de matérias-primas no território estadual, condição de partida
para qualquer retomada, de forma sustentada, da atividade minerária. Quanto a isto, vale lembrar que a
quase paralisação da mineração de materiais paulistas tem conduzido a situações que chegam à falta de
elementos de reposição em obras já realizadas, e contribui para a ociosidade da capacidade de produção
instalada em empresas dos elos a jusante da cadeia produtiva, notadamente aquelas de menor porte, que não
encontram possibilidades comerciais para o processamento de materiais exclusiva ou majoritariamente
provenientes dos outros Estados produtores e do Exterior.
Registre-se ainda, quanto ao assunto, que os materiais paulistas destacados foram reconhecidos em
cadastramentos anteriores, esporádicos e não exatamente sistemáticos, ou identificados, com relativa
facilidade, nos levantamentos expeditos em que se baseou este estudo, o que sinaliza com boas possibilidades,
caso se decida pela realização de levantamentos regulares, em áreas potenciais como as aqui descritas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARTUR, A.C. (1988). Evolução policíclica da infra-estrutura da porção sul do Estado de Minas Gerais e regiões adjacentes
do Estado de São Paulo. 231f. Tese (Doutorado) - IG/USP.
ARTUR, A. C.; MEYER, A.P.; WERNICK, E. (2001). Características tecnológicas de granitos ornamentais: a influência da mineralogia,
textura e estrutura da rocha. Dados comparativos e implicações de utilização. In: Simpósio Brasileiro de Rochas Ornamentais, l.
Salvador. Anais... p.13-19.
COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS. (1999a). Carta geológica da folha SF.23-Y-C São Paulo, escala
1:250.000. In: Programa levantamentos geológicos básicos do Brasil. São Paulo: MME/CPRM.
____. (1999b). Carta geológica da folha SF.23-Y-A Campinas, escala 1:250.000. In: Programa levantamentos geológicos básicos
do Brasil. São Paulo: MME/CPRM.
____. (1999c). Carta geológica da folha SF.23-Y-B Guaratinguetá, escala 1:250.000. In: Programa levantamentos geológicos
básicos do Brasil. São Paulo: MME/CPRM.
____. (1999d). Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil: sistema de informações geográficas - SIG e mapas na escala
1:2.500.000. Brasília: MME/CPRM.
____. (2001). Carta geológica da folha SF.23-Y-D Santos, escala 1:250.000. In: Programa levantamentos geológicos básicos do
Brasil. São Paulo: MME/CPRM.
FRAZÃO, E.B.; FARJALLAT, J.E.S. (1996). Proposta de especificação para rochas silicáticas de revestimento. In: Congresso
Brasileiro de Geologia de Engenharia, 8, Rio de Janeiro. Anais ... Rio de Janeiro: ABGE. v.1, p. 369-380.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. (1981a). Mapa geológico do Estado de São
Paulo. São Paulo: IPT/Pró-Minério. 2 v.
____. (1981b). Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT/Pró-Minério. 2v.
____. 1993. Mapa geológico da folha Ribeirão Preto. São Paulo: IPT. (IPT - Relatório, 31.723).
____. (1995a). Mapa geológico da folha Itararé, escala 1:250.000. (inédito).
____. (1995b). Mapa geológico da folha São Paulo, escala 1:250.000. São Paulo: IPT. (IPT - Relatório, 33.065).
____. (1990). Catálogo de rochas ornamentais do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT. 122p. (IPT - Publicação, 1820).
____. (2000). Rochas ornamentais e de revestimento do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT. (IPT - Publicação, 2651). CDROM.
MELLO, I.S.C.; MOTTA, J.F.M.; ZANARDO, A.; NAVARRO, F.C.; ROLDAN, A. DE A. (2003). Brazilian natural conglomerates
for dimension stones: distribution, origin, characteristics and uses. In: International Symposium of Industrial Minerals and Building
Stones. Istambul, Turquia. Proceedings … p. 85-91.
NAVARRO, F.C.; ARTUR, A.C. (2002). Caracterização petrográfica como ferramenta para a previsão do comportamento físico e
mecânico de granitos ornamentais: uma discussão. In: Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste, 3. Recife. Anais... p. 2-9.
ROLDAN, A. de A. (1999). Estudos de viabilidade técnico-econômica dos metassedimentos da formação eleutério. 120f.
Trabalho de Conclusão de Curso - Unesp, Rio Claro.
SMA - SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE. (2000). Atlas das unidades de conservação ambiental do Estado
de São Paulo. São Paulo: SMA. 64p.
CAP ÍTULO 5 - Ce rtifica çã o Ambie nta l - 115i
CAPÍTULO 5
Certificação Ambiental
Tâ nia de Olive ira Bra ga ([email protected])
Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
ASPECTOS GERAIS
Particularmente a partir da 2a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Cnumad), realizada na cidade do Rio de Janeiro, em 1992 (Rio/92), ocorreu, de
forma globalizada, um crescimento significativo da preocupação com a questão ambiental. Atualmente,
de um lado, tem-se a legislação ambiental e, de outro, o cliente que quer estar seguro de que o processo
utilizado para fabricação do produto que ele está comprando não só respeitou requisitos legais de
caráter ambiental, como também efetivamente mitigou os impactos negativos decorrentes das operações
necessária para a sua produção, inclusive considerando todos os elos da cadeia produtiva.
No caso de rochas ornamentais, muitos clientes querem saber se o atendimento às questões ambientais
começa na extração, passa pela serragem e continua na marmoraria. Assim, a obtenção da certificação
ambiental passou a ser uma questão de mercado e um fator de competitividade. Muitas vezes a questão
ambiental é utilizada de forma indevida, como barreira alfandegária, no caso de exportações.
O instrumento de gestão ambiental que permite a certificação ambiental do processo produtivo
é o Sistema de Gestão Ambiental – SGA, normalizado da NBR ISO 14 001. Existe, também, a NBR
ISO 14 004 que contém diretrizes e recomendações para a implantação do sistema.
NORMALIZAÇÃO INTERNACIONAL
A International Organization for Standardization – ISO, fundada em 1947, é uma organização
não-governamental, com sede em Genebra, na Suíça, que tem como objetivo implementar a
normatização internacional, em vários domínios, com vistas a facilitar os intercâmbios de bens e
serviços, e desenvolver a cooperação intelectual, científica, técnica e econômica entre os países. Os
trabalhos da ISO resultam em acordos internacionais, que são publicados na forma de normas.
Participam da ISO cerca de 100 países, sendo um organismo por país. No caso do Brasil, é
membro desta organização a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
No que tange aos sistemas de gestão, atualmente encontram-se normalizados internacional-mente
o Sistema de Gestão da Qualidade, por meio das normas ISO da série 9000, e o Sistema de Gestão
Ambiental, com as normas ISO 14001 e ISO 14004, tratadas neste Capítulo, que são chamadas de NBR
ISO quando adotadas e traduzidas pela ABNT.
Salienta-se que, quanto à saúde e à segurança no trabalho, não se tem, ainda, uma norma ISO
de sistema de gestão. Entretanto, de acordo com QSP (www.qsp.com.br) “um grupo de Organismos
Certificadores (BSI, BVQI, DNV, Lloyds Register, SGS, entre outros) e de entidades nacionais de
normatização da Irlanda, Austrália, África do Sul, Espanha e Malásia, reuniu-se na Inglaterra para
criar a primeira “norma” para certificação de Sistemas de Gestão de Saúde e Segurança no Trabalho
de alcance global, a OHSAS 18001. A OHSAS 18001, cuja sigla significa Occupational Health and
Safety Assessment Series, foi oficialmente publicada pela British Standards Institution – BSI e entrou
em vigor no dia 15/4/99”. Como não é uma norma, a certificação em conformidade com a OHSAS
18001 somente poderá ser concedida pelos Organismos Certificadores – OCs de forma “não-acreditada”
(sem credenciamento do OC, para esse tema, por entidade oficial).
CICLO PDCA
O Sistema de Gestão da Qualidade e o Sistema de Gestão Ambiental têm em comum a estrutura
do Ciclo PDCA – Plan, Do, Chek, Act. Esse Ciclo nasceu no final da década de 30, a partir da analogia
116 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
feita por Shewhart entre o processo de produção e o método científico (JURAN; GRINA, 1991),
consolidou-se no Japão de pós-guerra, por meio do professor da Universidade de Nova Iorque, especialista
em controle da qualidade, Willian Edwards Deming, e é utilizado até hoje como processo de aprendizado
e aperfeiçoamento, numa perspectiva de melhoria contínua (Figura 1).
No âmbito do Ciclo PDCA, Plan (Planejar) significa analisar a situação, definir o problema e identificar
suas causas, e estabelecer as ações corretivas necessárias.
Do (Executar) significa pôr em prática o que foi planejado. Chek (Verificar) refere-se a acompanhar o resultado
do que foi executado. Act (Agir) trata-se de estabelecer
diretrizes, a partir dos resultados da verificação, para uma
nova fase de planejamento, agora em um novo patamar.
REQUISITOS DO SISTEMA DE
GESTÃO AMBIENTAL
Figura 1 – Representação esquemática da apli-
A NBR ISO 14 001 – Sistemas de Gestão Ambien- cação do Ciclo PDCA no processo de melhoria.
tal; Especificações e Diretrizes para Uso –, é a norma certifi- Para cada ciclo PDCA completo, um ciclo novo
cável, que apresenta os requisitos do sistema normalizado. e um pouco mais complexo pode ser iniciado
A NBR ISO 14 004 – Sistema de Gestão Ambien- (modificado por Nilton Fornasari Filho, de
LEDESERT e t a l., 1998).
tal: Diretrizes Gerais sobre Princípios, Sistema e Técnicas
de apoio –, apresenta diretrizes para o atendimento a cada requisito da NBR ISO 14 001.
A estrutura do Sistema de Gestão Ambiental da NBR ISO 14 001 segue o Ciclo PDCA, mas, ao invés do processo de melhoria ser representado por uma rampa, ele é representado por uma espiral (Figura 2).
A NBR ISO 14 004 especifica o que deve ser feito em cada módulo do Ciclo PDCA, por meio
dos requisitos (Figura 3) descritos a seguir e exemplificados para os três elos da cadeia de rochas
ornamentais: a mineração, a serraria e a marmoraria.
Política Ambiental
Após decidir pelo estabelecimento do sistema de gestão ambiental, de acordo com a NBR ISO 14001,
a alta administração do empreendimento mineiro, da serraria ou da marmoraria deve estabelecer sua política
ambiental. A Tabela 1 apresenta os conceitos e as orientações da norma para o estabelecimento, imple-
Figura 2 – Relacionamento entre o Ciclo PDCA e a estrutura da NBR ISO 14001.
CAP ÍTULO 5 - Ce rtifica çã o Ambie nta l - 117i
Figura 3 – Estrutura da NBR ISO 14001 com indicação dos requisitos para cada módulo.
Tabela 1 – Política ambiental: orientações gerais.
Política Ambiental
Conceito
Política ambiental é “uma declaração da organização, expondo suas intenções e princípios em relação ao seu desempenho ambiental global, que provê uma estrutura para
ação e definição de seus objetivos e metas ambientais” (NBR ISO 14001).
Responsabilidades
O estabelecimento da política ambiental cabe à alta administração da organização. A
implementação e o fornecimento de elementos para sua formulação e modificação
cabem ao corpo gerencial (NBR ISO 14004).
Formato
Divulgação
A política ambiental deve ser documentada por escrito (NBR ISO 14001).
A política ambiental deve ser divulgada interna e externamente. (NBR ISO 14001) A
divulgação interna pode ser realizada por meio de reuniões e exposição do texto em
locais de circulação dos funcionários. Salienta-se que, quando da realização de auditorias
para certificação, qualquer funcionário pode ser argüido quanto ao seu conhecimento a
respeito do conteúdo da política ambiental. A divulgação externa pode ser feita por
meio de folde rs , colocados em local de fácil acesso, no empreendimento, com vistas a
fornecê-lo a vizinhos, visitantes, fornecedores, clientes, órgão ambiental, prefeitura,
escolas e redações de jornais, principalmente os locais, entre outros.
A NBR ISO 14004 recomenda que a política ambiental considere:
ü Missão, visão, valores essenciais e crenças da organização;
ü Requisitos das partes interessadas e comunicação com elas;
Conteúdo
ü Melhoria contínua;
ü Princípios orientadores;
ü Coordenação com outras políticas organizacionais (qualidade, saúde ocupacional e
segurança no trabalho);
ü Condições locais ou regionais específicos; e
ü Conformidade com regulamentos, leis e outros critérios ambientais pertinentes
subscritos pela organização.
118 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
mentação e manutenção da política ambiental; e a Tabela 2, um exem-plo genérico de política ambiental
aplicável à mineração de rochas ornamentais e ao seu beneficia-mento (serraria e marmoraria), que pode
ser adaptado para esses tipos de empreendimento.
Tabela 2 – Exemplo genérico de política ambiental para empresas de mineração e beneficiamento de
rochas ornamentais.
Indicação da NBR ISO 14004
Missão, visão, valores essenciais e crenças
da organização
Exemplo
Nós, da Mineração X, temos como missão a extração, o beneficiamento e a
comercialização de rocha ornamental para construção civil.
Cientes da necessidade de realizarmos nossas operações de forma
compatível com a proteção do meio ambiente, temos como compromisso:
Princípios orientadores
• manter uma postura pró-ativa na proteção do meio ambiente;
Prevenção da poluição
• adotar, em todas as operações , da pesquisa mineral ao descomissionamento, medidas de proteção ao meio ambiente, tecnicamente comprovadas,
quando possível, e economicamente viáveis;
Conformidade com os regulamentos, leis e
outros critérios ambientais pertinentes, subscritos pela organização
• avaliar, planejar, construir e operar as instalações da empresa em obediência
à legislação ambiental aplicável e aos demais requisitos ambientais por
nós subscritos;
Requisitos das partes interessadas e comunicação com elas
• dialogar com todas as partes interessadas;
• buscar o consenso nas questões ambientais pertinentes às diferentes partes
interessadas;
Melhoria contínua
• aprimorar continuamente nossos processos, produtos e serviços, visando
a melhoria contínua do desempenho ambiental da organização; e
Condições locais ou regionais específicas
• conciliar nossas atividades com o contexto de área de proteção de
mananciais.
Planejamento
Definida a política ambiental, parte-se para a etapa de planejamento. Salienta-se que a política ambiental, após a finalização da etapa de planejamento, poderá ser revista.
De acordo com a NBR ISO 14001, o planejamento pressupõe: a) a identificação dos aspectos
ambientais do empreendimento e dos impactos positivos e negativos a eles associados; b) a identificação
dos requisitos legais e normativos pertinentes ao empreendimento; c) a definição de objetivos e metas;
e d) a formulação de programas de gestão ambiental.
Aspectos e impactos ambientais – a primeira atividade do planejamento é a identificação dos
aspectos ambientais. A Tabela 3 apresenta a conceituação e as orientações existentes na NBR ISO
14001 no que tange aos aspectos ambientais.
A Tabela 4 indica os principais aspectos ambientais e os impactos a eles associados decorrentes
das operações da mineração e do beneficiamento de rocha ornamental.
Requisitos legais e outros requisitos – identificados os aspectos ambientais e os impactos
negativos a eles associados, parte-se para a identificação de requisitos ambientais aplicáveis aos aspectos
ambientais das atividades, produtos e serviços da empresa. Os requisitos ambientais estão contidos
não só na legislação federal, estadual e municipal, como também em normas técnicas, códigos de
prática da empresa, acordos com autoridades públicas, entre outros.
A NBR ISO 14004 recomenda que sejam estabelecidos procedimentos quanto à forma de: a)
identificação dos requisitos ambientais; b) acompanhamento de novos requisitos e de alterações nos
requisitos já identificados; e c) divulgação interna dos requisitos.
Num primeiro momento, a identificação pode ser feita por empresa contratada, dada a
complexidade do tema, principalmente quanto à legislação. A contratação, inclusive, pode ser feita
por um grupo de empresas do mesmo tipo, o que tende a diminuir os gastos de cada empresa.
CAP ÍTULO 5 - Ce rtifica çã o Ambie nta l - 119i
Tabela 3 – Aspecto ambiental.
Aspecto Ambiental
Conceito
Aspecto ambiental é “um elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização, que
pode interagir com o meio ambiente” (NBR ISO 14 001).
Responsabilidades
A NBR ISO 14001 não especifica de quem é a responsabilidade por identificar os aspectos ambientais
e impactos associados. Ela cita que podem ser utilizadas, nesse processo, informações desenvolvidas
para fins regulamentares ou outros.
Formato
Não é especificado pela norma, mas recomenda-se que sejam registrados por escrito, inclusive a
forma com que foram identificados.
Divulgação
Não é especificado, mas, como os demais requisitos do sistema, devem ser divulgados internamente.
A NBR ISO 14004 recomenda que na identificação dos aspectos e impactos ambientais, sejam
consideradas:
ü quais atividades, produtos e serviços da organização geram impactos ambientais adversos;
ü as particularidades da localização da organização;
Conteúdo
ü as alterações e/ou inclusões de atividades, produtos e serviços;
ü a gravidade dos impactos negativos;
ü a freqüência da ocorrência de uma situação que pode acarretar um impacto ambiental negativo; e
ü a abrangência do impacto negativo.
Em seguida, a empresa pode estabelecer procedimentos para realizar o acompanhamento, pois
a legislação e as normas técnicas passam por revisão e alteração de forma periódica, utilizando membros
de sua equipe. Para o acompanhamento, é recomendável a leitura constante dos diários oficiais (União,
Estado e município)1.
No que tange à divulgação, é importante que todos os funcionários sejam informados
verbalmente e por escrito quanto às restrições estabelecidas em cada requisito identificado.
Objetivos e metas – identificados os aspectos ambientais, os impactos ambientais e os requisitos
a eles associados, parte-se para a definição de objetivos e metas para viabilizar a exploração e a
transformação mineral sustentáveis.
A Tabela 5 apresenta exemplos de objetivos e metas referentes aos aspectos ambientais citados
na Tabela 4.
Programas de gestão ambiental – os programas de gestão ambiental, de acordo com a NBR
ISO 14001, devem incluir a atribuição de responsabilidades em cada função e nível pertinente da
organização, visando atingir os objetivos e metas; e os meios e o prazo dentro do qual eles devem ser
atingidos. Isso significa que devem ter responsáveis, cronogramas e recursos humanos e financeiros
A NBR ISO 14004 recomenda que os programas de gestão ambiental “sejam dinâmicos e
revisados regularmente para refletir as modificações dos objetivos e metas da organização”.
As Tabelas 6, 7 e 8 contêm exemplos de programas de gestão ambiental, considerando os
objetivos e metas da Tabela 5.
Implementação e Operação
Concluída a etapa de planejamento, é recomendado que seja revista a política ambiental para
dar início à implementação e à operação do sistema.
A revisão da política consiste em verificar se o que foi proposto tem afinidade com os aspectos
e impactos ambientais, a legislação, os objetivos e metas identificados e os programas estabelecidos.
1
Diário Oficial da União é disponibilizado na WEB mediante assinatura (http://www.in.gov.br/imprensa/index.html). Diversos estados e
municípios possuem também esse serviço, que pode ser gratuito.
120 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 4 – Principais aspectos ambientais e impactos negativos associados das operações necessárias
para o desenvolvimento da mineração de rocha ornamental, serragem e marmoraria.
Aspecto Ambiental
Remoção
da
vegetação
para
decapeamento na mineração (Prancha Ia)
ou para instalação de edificações para
serragem ou para marmoraria.
Impacto Ambiental Negativo
ü Redução de cobertura vegetal;
ü Perda de hábitat para a fauna; e
ü Impacto visual pela alteração da paisagem, particularmente no caso
de mineração.
Exposição de solo pelas escavações
realizadas na mineração (Prancha Ib) e por
cortes e aterros em áreas industriais.
ü Aceleração do processo de erosão pela água podendo acarretar
turvamento da água de cursos d’água e assoreamento. O turvamento
da água pode prejudicar captações existentes a jusante. O assoreamento
de cursos d’água pode facilitar a ocorrência de inundações em época
de chuvas cujas conseqüências vão depender do tipo de forma de uso e
ocupação afetada.
Ultralançamento de fragmentos de rocha
decorrente do fogacho na mineração.
ü As conseqüências vão depender do que for eventualmente atingido,
podendo variar de danos materiais até ferimentos e mesmo óbito.
Ruído decorrente da utilização de marteletes no desbaste de blocos, do funcionamento de teares na serragem de blocos e
do funcionamento de serras e politrizes no
corte e polimento de placas.
ü O ruído pode causar de simples incômodo até comprometimento
irreversível da audição. Geralmente, os impactos decorrentes de ruídos
ficam restritos à área do empreendimento, tornando-se um problema
de saúde e segurança no trabalho.
Emissão de partículas sólidas para a atmosfera no fogacho, a partir do uso de
marteletes no desbaste de blocos de rocha
e da circulação de veículos na mineração
(Prancha Ic), e no corte e polimento de
placas de rocha.
Geração de resíduos sólidos na mineração
(Prancha Id) e no acabamento de placas
ou peças (Prancha II a).
Geração de resíduos líquidos (polpas) na
serragem (Prancha IIb) e no polimento
(Prancha IIc).
ü A emissão de partículas sólidas para a atmosfera compromete a
qualidade do ar, podendo acarretar problemas no sistema respiratório,
particularmente das pessoas que trabalham próximo do local onde se
desenvolvem operações que emitem partículas sólidas, sendo, assim,
normalmente, um problema mais afeito à saúde e à segurança no
trabalho; e
ü No caso de partículas sólidas depositarem-se sobre a vegetação, pode
prejudicar os processo de fotossíntese e respiratório vegetal, causando
a degradação da cobertura vegetal existente nas proximidades.
ü Resíduos sólidos descartados de forma irregular podem acarretar danos
à vegetação (Prancha Ie); e
ü Impacto visual.
ü Polpas liberadas sem tratamento podem acarretar o turvamento da
água de cursos d’água e seu assoreamento. O turvamento da água
pode prejudicar captações existentes a jusante. O assoreamento de
cursos d’água pode facilitar a ocorrência de inundações em época de
chuvas cujas conseqüências vão depender do tipo e forma de uso e
ocupação afetada.
Vazamento de combustíveis e óleos em
geral a partir de equipamentos ou tanques
utilizados na mineração (Prancha IId), na
serragem e na marmoraria.
ü Dependendo da quantidade de óleo, pode ocorrer contaminação do
solo e das águas superficiais e subterrâneas.
Manipulação de produtos químicos na
mineração e na marmoraria (Prancha IIe)
ü Eventuais acidentes durante a manipulação de produtos químicos, como
resina e óleos, podem prejudicar a saúde do trabalhador e, caso atinjam
o solo, acarretar a contaminação do solo e das águas superficiais e
subterrâneas.
Acidentes com veículos que transportam
produtos da mineração, serragem e
marmoraria.
ü Atropelamentos de animais silvestres e pessoas, que podem acarretar
de ferimentos a óbitos.
CAP ÍTULO 5 - Ce rtifica çã o Ambie nta l - 121i
Prancha I
122 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Prancha II
CAP ÍTULO 5 - Ce rtifica çã o Ambie nta l - 123i
Tabela 5 – Aspectos ambientais e exemplos de objetivos e metas.
Aspecto Ambiental
Objetivos
Metas
Remoção da vegetação para
decapeamento na mineração
ou para instalação de edificações para serragem ou para
marmoraria.
Compensar o desmatamento inerente ao decapeamento e à terraplenagem para instalação de edificação.
Reduzir o impacto visual a partir de
áreas externas ao empreendimento.
Revegetar x hectares de áreas desmatadas no interior ou
exterior do empreendimento, em um ano.
Implantar x% de barreira vegetal, em um ano.
Exposição de solo pelas escavações realizadas na mineração
e por cortes e aterros em áreas
industriais.
Reduzir as dimensões de áreas
expostas à erosão.
Revegetar x% das frentes de lavra esgotadas, em um ano.
Revegetar x% dos cortes de talude, em um ano.
Ultralançamento de fragmentos
de rocha decorrente do fogacho
na mineração.
Reduzir a ocorrência de ultralançamentos.
Realizar 100% dos fogachos adotando critérios técnicos,
em um ano.
Instalar barreiras físicas em 100% dos locais sujeitos a
ultralançamento de fragmentos de rocha, em um ano.
Ruído decorrente da utilização
de marteletes no desbaste de
blocos, do funcionamento de
teares na serragem de blocos e
do funcionamento de serras e
politrizes no corte e polimento
de placas.
Emissão de partículas sólidas
para a atmosfera no fogacho,
a partir do uso de marteletes
no desbaste de blocos de rocha
e da circulação de veículos na
mineração, e no corte e polimento de placas de rocha.
Geração de resíduos sólidos na
mineração e no acabamento de
placas ou peças.
Geração de resíduos líquidos (polpas) na serragem e no
polimento.
Vazamento de combustíveis e
óleos em geral a partir de equipamentos ou tanques utilizados na mineração, na serragem
e na marmoraria.
Manipulação de produtos
químicos na mineração e na
marmoraria.
Controlar a poluição sonora e seus
efeitos.
Controlar a saúde ocupacional.
Disponibilizar em um mês Equipamento de Proteção Individual (EPI), do tipo protetor auricular, para todos os funcionários que trabalham em áreas de risco.
Realizar mensalmente treinamento abordando a forma
correta de utilizar o protetor e aspectos de conscientização
de seu uso.
Controlar a emissão de partículas
sólidas para a atmosfera.
Instalar barreiras físicas em 100% dos locais de des-monte
de blocos, em um ano.
Executar aspersão de água em acessos x vezes ao dia.
Realizar a úmido 100% das operações de polimento.
Adquirir, em cinco anos, equipamentos de marmoraria que
aspiram partículas sólidas.
Controlar a saúde ocupacional.
Disponibilizar, em um mês, Equipamento de Proteção Individual (EPI), do tipo máscaras para pó, para todos os funcionários que trabalham em áreas de risco.
Realizar mensalmente treinamento abordando a forma
correta de utilização da máscara para pó e aspectos de
conscientização de seu uso.
Reduzir o volume de resíduos sólidos
dispostos em bota-foras.
Aproveitar, em três anos, 100% dos resíduos sólidos (fragmentos de rocha) como brita; ou,
Apresentar, em três anos, alternativas para o aproveita-mento
dos resíduos sólidos (fragmentos de rocha).
Evitar a liberação de polpas para o
meio externo.
Reduzir o volume de material resultante da secagem de polpas enviado
para bota-foras.
Construir, em x meses, dispositivo para contenção de polpas provenientes da serragem e da marmoraria (barragem
de rejeito ou tanques).
Apresentar, em três anos, alternativas de aproveitamento
das polpas.
Reduzir a ocorrência de vazamentos.
Estabelecer, em um mês, como procedimento rotineiro, a
efetiva manutenção dos equipamentos de acordo com a
recomendação dos fabricantes.
Reduzir a quantidade de combustíveis e óleos em geral que atingem o
solo em caso de vazamento.
Instalar, em x meses, os tanques de combustível em caixa
retentora com capacidade de reter o volume dos tanques em
caso de acidente.
Instalar, em um ano, superfície impermeável associada a
sistema de coleta de óleos e graxas nos locais mais sujei-tos
a esse tipo de acidente, como, por exemplo, oficinas.
Evitar que produtos químicos atinjam
o solo.
Controlar a saúde ocupacional.
Acidentes com máquinas e veículos que transportam produtos da mineração, serragem e
marmoraria.
Instalar barreiras sonoras em 100% dos equipamentos que
emitem ruído para fora do empreendimento, em um ano.
Evitar a ocorrência de atropelamento
de pessoas e animais silvestres.
Estabelecer, em um mês, como rotina, programa de treinamento para os trabalhadores que manipulam produtos químicos visando sua manipulação correta.
Disponibilizar, em um mês, Equipamento de Proteção Individual (EPI), do tipo máscaras para gases de produtos químicos
específicos, como a resina, para todos os funcionários que
trabalham em áreas de risco.
Realizar mensalmente treinamento abordando a forma correta
de utilização das máscaras e aspectos de cons-cientização
de seu uso.
Estabelecer, em um mês, como rotina, programa de treinamento para os trabalhadores que operam máquinas e veículos, para que eles transitem com velocidade compatível.
Colocar placas sinalizadoras em locais mais sensíveis, no interior do empreendimento e em área externa próxima a ele.
124 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 6 – Programas de gestão ambiental – Revegetação e fogacho.
Programa
Revegetação
Controle de Fogacho
Atividade
Definir o responsável.
Definir a equipe.
Contratar, se necessário, especialista para orientar o trabalho.
Selecionar as áreas para revegetação.
Adquirir mudas/sementes.
Tratar o solo.
Plantar.
Estabelecer procedimentos de manutenção.
Definir cronograma de treinamento.
Definir o responsável.
Definir a equipe.
Contratar, se necessário, especialista para orientar o trabalho.
Estabelecer procedimentos técnicos para a atividade de furação,
carregamento do furo e detonação.
Definir cronograma de treinamento.
Indicador
Proporção entre a área total proposta
para revegetação e a área efetivamente revegetada.
Proporção entre o total de fogacho
realizado e o número de fogachos realizados sem ultralançamento de fragmentos, em um ano.
Tabela 7 – Programas de gestão ambiental – Ruído, emissões de partículas sólidas para a atmosfera
e gerenciamento de resíduos sólidos e líquidos.
Programa
Atividade
Indicador
Controle de ruído
Definir o responsável.
Definir a equipe.
Contratar, se necessário, especialista para orientar o trabalho.
Instalar barreiras sonoras (vegetação ou outro anteparo) nos
locais mais sensíveis.
Adquirir protetores auriculares para todos os funcionários.
Estabelecer procedimentos para reposição periódica dos
protetores auriculares.
Encaminhar anualmente os funcionários para exame audiométrico.
Definir cronograma de treinamento.
Número anual de reclamações
de vizinhos.
Proporção entre o número total
de funcionários e o número de
funcionários com resultado de
exame audiométrico dentro dos
padrões.
Controle de Emissões
de Partículas Sólidas
para a Atmosfera
Definir o responsável.
Definir a equipe.
Contratar, se necessário, especialista para orientar o trabalho.
Instalar barreiras físicas (vegetação ou outro anteparo) nos locais
mais sensíveis.
Definir forma de aspersão de acessos (s pinkle r e/ou caminhãopipa).
Adquirir equipamentos que aspiram poeiras.
Adquirir máscaras de pó para todos os funcionários.
Estabelecer procedimentos para reposição periódica de
máscaras de pó.
Encaminhar anualmente os funcionários para exame das vias
respiratórias.
Definir cronograma de treinamento.
Presença de poeira em suspensão e depositada sobre superfícies, inclusive árvores.
Número anual de reclamações
de vizinhos.
Proporção entre o número total
de funcionários e o número de
funcionários com resultado de
exame de vias respiratórias dentro dos padrões.
Gerenciamento de
Resíduos Sólidos
Definir o responsável.
Definir a equipe.
Contratar, se necessário, especialista para orientar o trabalho.
Disponibilizar verba para estudos visando à identificação de
alternativas de uso.
Definir cronograma de treinamento considerando a alternativa a
ser adotada.
Proporção entre o volume anual
de resíduos sólidos dispostos em
bota-fora e o volume da produção
(ou metros quadrados de peças).
Gerenciamento de
Resíduos Líquidos
(Polpas)
Definir o responsável.
Definir a equipe.
Contratar, se necessário, especialista para orientar o trabalho.
Construir barragem de rejeito.
Definir cronograma de treinamento.
Disponibilizar verba para estudos visando à identificação de
alternativas de uso.
Presença de barragem de rejeito
ou tanques.
Proporção entre o volume anual
de resíduos líquidos dispostos
em barragem de rejeito e o
volume da produção (ou metros
quadrados de peças).
CAP ÍTULO 5 - Ce rtifica çã o Ambie nta l - 125i
Tabela 8 – Programas de gestão ambiental – Produtos químicos e acidentes com máquinas e veículos
Programa
Controle de Produtos
Químicos
Controle de Acidentes
com Máquinas e
Veículos
Atividade
Indicador
Definir o responsável.
Definir a equipe.
Contratar, se necessário, especialista para orientar o trabalho.
Estabelecer procedimentos para a manutenção periódica de
equipamentos.
Instalar estrutura de retenção e contenção de produtos químicos.
Definir cronograma de treinamento.
Presença das estruturas necessárias
Presença de manchas de produtos químicos no solo.
Definir o responsável.
Definir a equipe.
Contratar, se necessário, especialista para orientar o trabalho.
Instalar placas orientadoras.
Definir cronograma de treinamento.
Número de acidentes ocorridos
em um ano.
Revista a política ambiental, parte-se para a implantação e operação do sistema. De acordo
com a NBR ISO 14 001, essa fase pressupõe: a) a definição da estrutura e responsabilidades; b) o
treinamento, conscientização e competência; c) a comunicação; d) a documentação do SGA; e) o
controle de documentos; f) o controle operacional; e g) a preparação e atendimento a emergências.
Estrutura e responsabilidades – deve ser definida a estrutura, isto é a hierarquia dos
funcionários no âmbito do SGA e a responsabilidade deles no sistema.
De acordo com a NBR ISO 14001, “as funções, responsabilidades e autoridades devem ser
definidas, documentadas e comunicadas a fim de facilitar uma gestão ambiental eficaz”.
A estrutura e responsabilidades definidas devem ser comunicadas a todos os funcionários e
registradas por escrito. Cada funcionário deve ter pleno conhecimento de suas responsabilidades e das
responsabilidades dos demais.
A administração deve fornecer recursos humanos, tecnológicos e financeiros para a estrutura
definida poder operacionalizar os programas.
Além disso, a alta administração deve designar representante(s) que, independente de outras
atribuições, deve(m) assegurar que os requisitos da NBR ISO 14001 sejam estabelecidos,
implementados e mantidos; e relatar à alta administração o desempenho do sistema. Assim, esses
representantes organizarão e realizarão auditorias internas do SGA.
Treinamento, conscientização e competência – treinamento é o ato de tornar alguém apto
para o desenvolvimento de determinada tarefa ou atividade. Conscientização é o ato de tomar
consciência ou conhecimento de algum fato. Competência é a qualidade de quem é capaz de fazer
determinada coisa.
Treinamento – para a operacionalização dos programas devem ser identificadas as necessidades
de treinamento. Em seguida deve ser estabelecida uma programação de treinamento para os diferentes
funcionários.
Uma vez que o treinamento visa o adequado desenvolvimento dos programas, é importante
que ele seja principalmente prático.
O treinamento, segundo a NBR ISO 14 004, deve ser avaliado de duas maneiras: (1) o
funcionário deve ser avaliado para identificação do nível de aquisição dos dados e informações
fornecidas no treinamento; e (2) o treinamento deve ser avaliado pelos treinados, para verificar a
adequação de sua forma e conteúdo para atingir os objetivos propostos.
Todos os eventos de treinamento devem ser registrados por escrito (local, datas e horários; tipo de
treinamento; nome do instrutor; nome dos funcionários que participaram; etc), acompanhados da evidência
de treinamento (certificados de participação, pequenos relatórios de ambas partes, treinador e treinando ou
outra documentação). Todo o material deve ser arquivado de forma organizada, em local de fácil acesso.
A organização deve manter, ainda, uma rotina para identificação das necessidades de treinamento.
126 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Conscientização – após o treinamento os funcionários estão aptos para operacionalizar os diferentes
programas. Entretanto, de acordo com a NBR ISO 14 001, é necessária, também, a conscientização dos
funcionários sobre: a) a importância da conformidade com a política ambiental, procedimentos e requisitos
do sistema de gestão ambiental; b) os impactos ambientais significativos, reais e potenciais, de suas
atividades e dos benefícios ao meio ambiente resultantes do seu desempenho pessoal; c) suas funções e
responsabilidades em atingir a conformidade com a política ambiental, procedimentos e requisitos do
sistema de gestão ambiental, inclusive os requisitos de preparação e atendimento a emergências; e d) as
potenciais conseqüências da inobservância de procedimentos operacionais especificados”.
Devem ser programados eventos e elaborados materiais para conscientização. Os eventos podem
ser reuniões periódicas onde os bons resultados em termos de meio ambiente são comentados. O
material de conscientização vai depender do nível de escolaridade do funcionário, podendo variar de
cartilha elaborada pela própria empresa até livros especializados. Entretanto, é importante que todo o
material de conscientização esteja disponível em local de fácil acesso, a qualquer funcionários.
Os eventos e materiais de conscientização devem ser registrados por escrito. É necessária a
avaliação periódica tanto do nível de conscientização dos funcionários como da adequação da forma
e conteúdo dos eventos e materiais, para atingir os objetivos propostos.
A organização deve manter, ainda, uma rotina para identificação das necessidades de
conscientização.
Competência – o treinamento e conscientização adequados levam à competência no
desenvolvimento das atividades previstas.
Comunicação – um sistema de comunicação interna entre os diversos níveis e funções da
organização, deve ser estabelecido e mantido para, entre outros aspectos: a) receber e responder às
preocupações dos funcionários; b) receber informações dos funcionários sobre o andamento dos
programas; c) receber sugestões dos funcionários que contribuam com a melhoria do desempenho
ambiental da organização; d) apresentar a política e o desempenho ambiental da organização; e)
apresentar o resultado de auditorias e da análise crítica da administração.
Para receber e responder às preocupações dos empregados é importante estabelecer um contato
verbal e direto, se estas forem pontos fundamentais para o bom andamento dos programas.
Para receber informações dos empregados sobre o andamento dos programas é interessante
estabelecer um contato verbal, direto e periódico, previamente agendado.
Para receber sugestões dos empregados é recomendável a instalação e manutenção de uma
caixa de sugestões, que deve ser aberta diariamente. As sugestões pertinentes e aplicáveis devem ser
posteriormente discutidas com todos os funcionários.
A apresentação dos resultados de auditoria e da análise crítica da administração é possível realizar
em uma reunião com todos funcionários. Quanto a política, ver o item específico apresentado anteriormente.
Um sistema de comunicação externa, que atinja as diversas partes interessadas, deve ser
estabelecido e mantido para, entre outros aspectos: a) receber e responder às preocupações das partes
interessadas; b) receber sugestões das partes interessadas que contribuam com a melhoria do
desempenho ambiental da organização; c) apresentar a política e o desempenho ambiental da
organização; e d) apresentar o resultado de auditorias e da análise crítica da administração.
A organização deve estabelecer procedimentos para receber as preocupações das partes
interessadas (correio, fax ou WEB) e para respondê-las.
A organização deve divulgar, particularmente em jornais locais, sua política e desempenho
ambiental; os resultados de auditorias e a análise crítica da administração.
Pessoas que procurem diretamente a empresa para apresentar sugestões, preocupações e
reclamações devem ser recebidas e terem registradas e encaminhadas suas comunicações. Elas devem,
ainda, ser orientadas, de forma polida, para enviar por correio, fax ou WEB suas próximas
comunicações.
CAP ÍTULO 5 - Ce rtifica çã o Ambie nta l - 127i
Documentação do SGA
De acordo com a NBR ISO 14001, a documentação do sistema de gestão ambiental, estabelecida
e mantida por escrito (papel ou eletronicamente) pela organização deve: a) conter a descrição dos
principais elementos do SGA e a interação entre eles, podendo ser o manual do sistema de gestão
ambiental; e b) fornecer orientação sobre a documentação relacionada (licenças, legislação,
detalhamento de procedimentos, acordos assinados, etc.).
Controle de Documentos
Toda a documentação do SGA exigida pela NBR ISO 14001, deve: a) ser localizado facilmente;
b) ser revisada periodicamente; c) ter versões atualizadas divulgadas nos locais de interesse; d) ter
versões obsoletas removidos; e e) ter as versões obsoletas retidas, clara e facilmente identificadas.
A documentação do SGA deve ser legível e datada. Ela deve estar disposta de forma organizada
em local de fácil acesso. Salienta-se que, a criação e a alteração da documentação deve ter
responsabilidade definida.
Controle Operacional
Segundo a NBR ISO 14001 “a organização deve identificar aquelas operações e atividades
associadas aos aspectos ambientais significativos...”.
A proposta de definição de aspectos ambientais antes apresentada – ver a seção do planejamento
da gestão ambiental de acordo com a NBR ISSO 14000 –, pressupõe essa identificação quando de sua
execução, pois parte-se da análise das operações realizadas no empreendimento para identificar os
aspectos ambientais.
Preparação e Atendimento a Emergências
Mesmo tendo medidas preventivas e procedimentos estabelecidos, podem ocorrer acidentes,
assim, a organização deve se preparar para atender a emergências. Para tanto, segundo a NBR ISO
14001, é necessário: a) estabelecer e manter procedimentos para identificar o potencial de acidentes e
situações de emergência; b) estabelecer e manter procedimentos para prevenir acidentes e situações
de emergência; c) preparar as ações de atendimento a acidentes e emergências, considerando a mitigação
dos impactos ambientais deles decorrentes; d) simular as ações de atendimento periodicamente.
As principais emergências, de caráter ambiental, na mineração de rochas ornamentais, são a
eventual ocorrência de: a) escorregamento na frente de lavra, atingindo pessoas ou equipamentos; b)
ultralançamento de fragmentos de rocha atingindo pessoas ou equipamentos; c) escorregamento de
corpos de bota-fora atingindo pessoas, vegetação ou equipamentos; e d) vazamento de grande quantidade
de produtos químicos atingindo o solo.
As principais emergências, de caráter ambiental, na serragem e marmoraria, são a eventual
ocorrência de: a) rompimento de barragem de rejeito; e b) vazamento de grande quantidade de produtos
químicos atingindo o solo.
Verificação e Ação Corretiva
Neste estágio existem quatro requisitos, quais sejam: a) monitoramento e medição; b) nãoconformidade e ação corretiva e preventiva; c) registros; e d) auditoria do sistema de gestão ambiental.
Monitoramento e medição – todas as medidas estabelecidas nos programas devem ter uma
medida de monitoramento associada, considerando-se os indicadores estabelecidos. O monitoramento,
periódico, deve ter seus dados registrados por escrito.
Caso, em alguma situação, sejam utilizados aparelhos para medição, eles devem sofrer calibração
periodicamente. O procedimento de calibração deve ser registrado por escrito.
Salienta-se que, o atendimento à legislação e demais requisitos ambientais também deve ser
monitorado, de forma documentada.
Não-conformidade e ações corretiva e preventiva – as não-conformidades ao sistema devem
ser identificadas e corrigidas e, quando possível, prevenidas.
128 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Os casos de não-conformidade devem ser registrados por escrito, bem como as alterações no
sistema decorrentes delas.
Um funcionário pode ser designado para realizar, sem prejuízo de suas atividades, o trabalho
de detecção de não-conformidades.
Registros – os registros realizados como em treinamento, resultados de auditorias etc. devem
ser identificados, mantidos e descartados quando necessário.
Eles devem ser arquivados de forma organizada e “protegidos de avarias, deterioração ou perda”.
É importante designar um funcionário para administrar os registros.
Auditoria do sistema de gestão ambiental – a auditoria ambiental interna, periódica, pilota a
evolução do sistema. Por meio de seus resultados é possível identificar se os programas estão tendo o
desempenho previsto e se o sistema está atendendo todos os requisitos da NBR ISO 14001.
A análise dos resultados da auditoria permitirá que a alta administração realize sua análise
crítica do SGA.
Vários funcionários devem ser treinados para realizar auditoria ambiental interna, podendo o
funcionário de um setor auditar outro setor e vice-versa.
Análise Crítica pela Administração
A alta administração da organização deve executar a análise crítica do sistema de gestão
ambiental, em intervalos por ela determinados, a partir dos resultados da auditoria ambiental.
A análise crítica deve ser documentada, sendo indicados os resultados de desempenho ambiental
da organização e as alterações necessárias para correção de desvios ou definição de nova política,
objetivos e outros elementos do SGA, agora em um novo patamar no âmbito da melhoria contínua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estabelecer, implantar e manter um sistema de gestão ambiental pode ser, num primeiro momento
uma tarefa trabalhosa e com custo relativamente alto. Entretanto, com o passar do tempo seus benefícios
e vantagem são evidenciados, pois além de permitir o reconhecimento da existência de um sistema de
gestão ambiental, por meio da certificação ambiental, de acordo com Braga; Fornasari Filho (1996), a
adoção de um sistema de gestão ambiental acarreta: a) a otimização do trabalho – as medidas de mitigação
de impactos ambientais são incorporadas à rotina das atividades da empresa, evitando eventos inesperados;
b) o aumento da credibilidade da empresa como fornecedor eficiente e confiável – a colocação do
produto no mercado é facilitada; c) a melhora do relacionamento entre empresa/órgão ambiental e empresa/
comunidade - minimização de desgaste de relacionamentos conflituosos, pois para cada problema uma
solução está implantada ou prevista; d) melhora da imagem do empreendimento - tende a ocorrer uma
melhora na imagem do empreendimento e mesmo de todo o setor, perante a opinião pública; e) redução
da possibilidade de ocorrência de acidentes – o SGA impõe o estabelecimento de planos para evitar
acidentes e para atuação em caso de acidentes, diminuindo sua ocorrência e a gravidade das conseqüências,
em caso destes ocorrerem; f) prevenção de questões de responsabilidade civil/criminal – com a prevenção
de acidentes ou com a redução da gravidade de suas conseqüências, tende a não ocorrerem ações civis
e criminais de caráter ambiental; e g) a minimização dos impactos ao longo do desenvolvimento da
atividade – como todas as medidas de mitigação vão sendo implantadas paulatinamente, ao final da
atividade os custos de recuperação da área serão reduzidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA, T. de O; FORNASARI FILHO, N. (1996). ISO 14000. Disponível em: <www.ipt.br>.
LEDESERT, R.; ROUMIEUX, P.; SIMON, F. (1998). Le management environnemental de votre entreprise. Insep Consulting.
Paris. 140p.
JURAN, J.M.; GRYNA F.M. (1991). Controle da qualidade: Handbook. Componentes básicos da função qualidade. São Paulo:
Makron Books. v. 2. p.96.
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 129i
CAPÍTULO 6
Aproveitamento de Resíduos Industriais
Luciano de Andrade Gobbo ([email protected])
Pesquisador da Geogral Consultoria
Ivan Sergio de Cavalcanti Mello ([email protected])
Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
Fábio Conrado de Queiróz ([email protected])
Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
Maria Heloisa Barros de Oliveira Frascá ([email protected])
Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
GENERALIDADES
As atividades extrativas e de transformação mineral são costumeiramente geradoras de resíduos
em volumes e graus de toxidade variados, fato que acaba por trazer, à atividade produtiva, desafios como
o da estocagem, descarte ou reaproveitamento desses materiais.
Mais desejável que a simples deposição de resíduos em locais de estocagem, seja dentro ou fora
das plantas industriais geradoras é, o quanto possível, o aproveitamento desses resíduos no sentido do
alcance de benefícios técnicos e econômicos, de ganhos sociais e da preservação ambiental, aspectos
que, inclusive, poderão conferir vantagens competitivas às empresas que adotem tal prática1. Há, no
entanto, um outro condicionante a ser necessariamente considerado neste caso, que é o do atendimento
às disposições legais hoje postas para a gestão de resíduos sólidos, progressivamente em elaboração ou
em implantação pelos poderes públicos municipal, estadual e federal.
Para os estudos que serão aqui descritos, foram considerados duas categorias de atores da cadeia
produtiva, em razão de sua importância no cenário da produção paulista de rochas ornamentais e para
revestimento, e dos volumes e natureza dos resíduos gerados individualmente: a) as serrarias, indústrias
voltadas essencialmente à serragem de blocos, para polimento, lustro e venda de chapas, mas que também,
muitas vezes, fabricam produtos acabados; e b) as marmorarias, empresas que, a partir de chapas, preparam
produtos pétreos para o consumidor final, sejam sob medida ou personalizados (pias, balcões, tampos,
divisórias, etc.), sejam padronizados (placas, ladrilhos, peitoris, soleiras, entre outros).
No caso das serrarias, perde-se entre 30% a 40% do volume dos blocos serrados, que é escoado
como material fino, em uma polpa composta por pó-de-pedra, granalha2, cal e água. Durante os processos
complementares de polimento e lustro, mais 1% a 2% do volume de chapas também é perdido, escoado
como polpa aquosa, porém agora destituída da granalha e com restos dos abrasivos, resinas e vernizes.
Outras perdas, da ordem de 10% a 20% dos volumes processados, ocorrem sob a forma de retalhos de
pedra, correspondentes a costaneiras, sobras, peças quebradas, etc., especialmente nas serrarias onde
estão instaladas linhas para fabricação de produtos acabados3.
Por sua vez, as marmorarias perdem, em média, 20% do volume das chapas trabalhadas, na
forma de retalhos de pedra, ou seja, novamente, sobras, peças quebradas, e assim por diante. Menos
importantes, neste caso, as perdas com finos, durante os processos de recorte, polimento e lustro de
peças, boa parte deles escoados em água para tanques de decantação, giram em torno dos 1% a 2% dos
volumes processados.
O cenário anterior sugere a necessidade, reafirmada por consultas a produtores, de estudos sobre
o possível aproveitamento dos finos de serragem, polimento e lustro, tema que interessa, em maior grau,
1
Afora isso, muitas vezes, a estocagem, ou o descarte, são feitos sem que haja pleno controle dos eventuais impactos ambientais decorrentes.
2
Elemento abrasivo, sob a forma de pequenas esferas metálicas, utilizado na serragem de blocos.
3
Tais perdas já consideram o aproveitamento, nas serrarias, de parte dos retalhos de pedra para elaboração de padronizados do tipo
soleiras, rodapés, etc.
130 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
às serrarias, e também estudos sobre o possível aproveitamento dos retalhos de pedra, assunto do interesse
imediato das marmorarias, até pela questão do espaço físico, em geral mais reduzido, característico de
tais empreendimentos. O aproveitamento desses dois tipos de resíduos interessará, na ordem inversa,
ainda que em menor grau, a marmorarias e a serrarias, dentre estas últimas especialmente aquelas
fabricantes de produtos finais.
Em razão disso, foram aqui adotadas duas rotas de investigação, entendidas como inovadoras
em se tratando de Brasil: o uso dos finos de serragem, polimento e lustro na fabricação de cimento, e o
uso dos retalhos de pedra como agregados para construção civil, tendo sido ensaiado seu aproveitamento
na fabricação de concreto.
RESÍDUOS: CONCEITOS E LEGISLAÇÃO
A conceituação e a proposição de procedimentos para a gestão de resíduos sólidos têm sido alvo
de diversos órgãos governamentais, especialmente nos anos mais recentes. Como são temas relativamente
novos, ainda não há uniformidade na conceituação, algumas vezes aparentemente similar, o que muitas
vezes confunde os interessados.
Em 1987, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT publicou a norma NBR 10004,
contendo a classificação de resíduos sólidos, ou, mais precisamente, “resíduos nos estados sólido e
semi-sólido, que resultam da atividade da comunidade, de origem: industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição”.
Tais resíduos, segundo a ABNT (1987a), são distribuídos em três classes: I – perigosos; II – não
inertes e III – inertes. Dentre os resíduos inertes, menciona, como exemplo, as rochas4.
Por outro lado, as diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção
civil foram também estabelecidos na Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama,
em 2002. Nesta, são definidos:
• Resíduos da construção civil: provenientes de construções, reformas, reparos e demolições
de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, como:
tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras
e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos,
tubulações, fiação elétrica, etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha;
• Agregado reciclado: é o material granular proveniente do beneficiamento de resíduos de
construção que apresentem características técnicas para a aplicação em obras de edificação, de
infra-estrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia;
• Reutilização: é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo;
• Reciclagem: é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à
transformação;
• Beneficiamento: é o ato de submeter um resíduo a operações e/ou processos que tenham por
objetivo dotá-los de condições para que sejam utilizados como matéria-prima ou produto.
Nessa Resolução, os resíduos são separados em quatro classes. A Classe A congrega aqueles
reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos
de pavimentação e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b)
de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos, argamassa e
concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto produzidas
nos canteiros de obras.
Sempre pela Resolução 307, os resíduos da Classe A (artigo 10) deverão ser reutilizados ou
reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil,
sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura. Os resíduos de marmorarias
4
No início de 2004, esta norma estava sendo objeto de revisão, em fase final.
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 131i
não estão especificamente contemplados na Resolução 307, mas, pelas suas características, podem se
enquadrar nessa Classe.
Já os da Classe B, são entendidos como resíduos recicláveis para destinações, como plásticos,
papel, papelão, metais, vidros, madeiras e outros; abrangeriam também os finos de serragem, polimento
e lustro.
O artigo 2º dessa Resolução conceitua como geradores de resíduos “as pessoas físicas ou jurídicas,
públicas ou privadas, responsáveis por atividades ou empreendimento que geram os resíduos aí definidos”
e, no artigo 4o, aponta que “os geradores deverão ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos
e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final”.
Especificamente quanto ao Estado de São Paulo, estão em tramitação, na Assembléia
Legislativa – Alesp, o anteprojeto de Política Estadual de Resíduos Sólidos (ALESP, 2004a); e o
Projeto de Lei 611 sobre Disciplina da Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos, no Âmbito do Estado
de São Paulo, e das Providências Correlatas (ALESP, 2004b).
O citado anteprojeto de política estadual enquadra, no artigo 7º (Capítulo III), os resíduos sólidos
em duas categorias. Em uma delas, a II, os resíduos das serrarias e marmorarias se encaixariam em:
II – resíduos industriais: “os provenientes de atividades de pesquisa e de transformação de
matérias-primas e substâncias orgânicas em novos produtos, por processos específicos, bem
como os provenientes das atividades de mineração e extração, de montagem e manipulação de
produtos acabados e aqueles gerados em áreas de utilidade, apoio, depósito e de administração
das indústrias e similares”.
O Projeto de Lei 611, em seu artigo 2o, estabelece que “resíduos sólidos urbanos ou resíduo”
referem-se a “qualquer substância ou objeto pertencente a uma das categorias que se encontram no
artigo 3o, de que seu possuidor se desprenda ou tenha a intenção ou a obrigação de desprender-se”. Neste
caso, dentre as categorias listadas no artigo 3o citado, os resíduos de rocha das serrarias e marmorarias se
encaixariam dentre aqueles “gerados em comércio, escritórios e serviços”.
APROVEITAMENTO DOS FINOS DE SERRAGEM, POLIMENTO E LUSTRO
Nos últimos anos, com o incremento da atividade de serragem de blocos e a consolidação do
Brasil como um dos grandes produtores e exportadores de chapas de rochas para revestimento, vêm
sendo realizados, do modo também crescente, estudos sobre o aproveitamento dos resíduos finos gerados
pelo processo de transformação industrial. Afora estudos sobre o aproveitamento desses materiais como
corretivos e fertilizantes de solo, podem ser citadas pesquisas publicadas sobre a reciclagem desses
resíduos com diferentes finalidades, dentre as quais, por exemplo: a) a fabricação de argamassas, prémoldados e cerâmica estrutural (ALMEIDA; PONTES, 2002); b) argamassas (CARVALHO et al., 2003);
c) componentes de cerâmica estrutural e de revestimento (NUNES et al., 2002; MENEZES et al., 2002;
NUNES et al., 2003); e d) fabricação de tijolos sílica-gel (ARAÚJO et al., 2002). Permanece restrito, no
entanto, o aproveitamento efetivo desses resíduos que, na maioria das vezes, acabam por se constituir
em material para aterros (Foto 1), pela relativa facilidade envolvida no descarte e pela suposição de que
sejam inertes, característica esta que deveria ser comprovada5. De qualquer modo, tais resíduos tendem
a onerar o processo industrial, já que demandam sua retirada periódica das unidades de serragem, gerando
trabalho e custo adicional, decorrentes do manuseio e transporte.
Tudo isso considerado, buscou-se alternativa para reciclagem, na forma de estudo, ao que se
sabe, pioneiro, no Brasil, porém com similares no Exterior, qual seja o aproveitamento dos finos de
serragem de rocha na fabricação de cimento Portland. Motivadores complementares, para tanto,
5
Na norma ABNT (1987a), que trata dos resíduos inertes, não inertes e perigosos, não é considerada a ação do tempo, por exemplo. Afora
isto, FERREIRA et. al (2002) citam que determinadas propriedades, como a possível presença de alumínio solúvel, principalmente nos fino
do polimento e lustro, em razão dos abrasivos utilizados, poderão fazer com que resíduos descartados diretamente em, ou próximo a, cursos
d’água concorram para processos de eutroficação de rios e lagos. Esses mesmos autores, estudando cinco amostras de resíduos de serrarias
do Nordeste brasileiro, classificaram quatro delas como não inertes e uma como inerte.
132 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
foram: a) o pressuposto de que assim poderiam ser aproveitados grandes volumes de resíduos por um segmento
altamente profissionalizado, trazendo às serrarias possibilidades comercias ou de cooperação sólidas e permanentes; e b) a existência, em São Paulo, de diversas fábricas
de cimento, parte delas vizinhas ou relativamente próximas aos centros de serragem, importante elemento para
efetivação desse processo.
Fabricação do Cimento Portland
O processo industrial de fabricação do cimento
Portland é uma operação complexa, que envolve a extração
das matérias-primas, sua preparação e um processo térmico
final. O produto desse processo de sinterização é denominado
clínquer Portland. Este último, quando moído e com adições,
Foto 1 – Exemplo do aproveitamento de resí- dá origem ao cimento Portland, propriamente dito. A matéduos de serragem em aterro de terreno para ria-prima preparada para fabricar o clínquer é denominada
expansão da própria planta industrial.
informalmente como “farinha”. Para se obter uma farinha
adequada, alguns módulos químicos já difundidos na indústria do cimento são controlados, e se baseiam
nos seguintes óxidos fundamentais: CaO, SiO2, Al2O3 e Fe2O3. Os módulos utilizados na estimativa da
composição da matéria-prima são os seguintes:
FSC = 100 CaO / (2,8 SiO2 + 1,18 Al2O3 + 0,65 Fe2O3)
MS = SiO2 / (Al2O3 + Fe2O3)
MA = Al2O3 / Fe2O3
Em que FSC é o Fator de Saturação de Cal; MS é o Módulo de Sílica e MA é o Módulo de
Alumina.
Segundo KIHARA et al. (1983), a escolha de um FSC, tecnicamente adequado e econo-micamente
vantajoso, representa um compromisso entre a seleção e preparação das matérias-primas disponíveis no
local da unidade produtora e um clínquer dentro da composição projetada, com pouca cal livre e um
consumo mínimo de combustível. GOUDA (1977) verificou que a elevação de 1% do conteúdo de
CaCO3 em uma farinha pode resultar num aumento de 14,2% do teor de alita (principal composto do
clínquer), e reduzir 11,6% do teor de belita, tendo efeito na qualidade do cimento e no processo de
queimabilidade. O mesmo autor considerou o valor de 94% como sendo razoável para o FSC. SHÄFER
(1987) verificou que o intervalo ótimo para o FSC está entre 88% e 98%.
O Módulo de Sílica corresponde a uma relação empírica que governa as proporções dos silicatos
cálcicos do clínquer em relação aos componentes da fase intersticial. Quanto mais elevado for o MS,
maior será o conteúdo de alita e belita, menor o conteúdo de fase líquida para uma dada temperatura e
maior a temperatura máxima de queima (LONG, 1982). DUDA (1977) afirma que os valores de MS
variam normalmente entre 1,9 e 3,2, sendo os mais comuns entre 2,2 e 2,6.
Também denominado de módulo de fundente, o Módulo de Alumina controla a composição e
viscosidade da fase líquida, com grande influência na temperatura de clinquerização e no processo de
granulação do clínquer (KIHARA et al., 1983). Considerando-se uma farinha com MA 1,63, todo o
conteúdo de Al2O3 e Fe2O3 entra em fusão quando o material atinge temperaturas baixas, por volta de
1.300ºC (CENTURIONE, 1993).
A finura ideal de uma farinha é muito importante para que os constituintes da matéria-prima possam reagir adequadamente no processo de clinquerização. A finura dos grãos quartzosos e de calcita,
principais constituintes da farinha, são imprescindíveis nesse contexto, visto que os argilominerais não
apresentam esse problema. A quantidade de grãos grossos na farinha depende do tipo de matéria-prima
utilizada (CENTURIONE, 1993). Grãos de quartzo e calcita não devem ultrapassar diâmetros de 44 µm
e 125 µm.
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 133i
O óxido de cálcio (CaO) tem como fonte principal as rochas calcárias, cujas características estão
relacionadas aos tipos e idades dos depósitos geológicos. Segundo sua origem e tipo, as rochas calcárias
podem apresentar amplas variações de textura e composição, as quais, em conjunto com as variações de
composição química, condicionam diferenças de moabilidade e reatividade.
Correspondendo a uma das principais fontes de sílica, o quartzo é também o componente mais
complexo da matéria-prima, no que diz respeito à moagem e à reatividade. Estruturas cristalinas mais
fechadas aumentam a entalpia de reação, forçando uma moagem mais rigorosa da farinha ou uma queima
mais enérgica, elevando os custos de produção e diminuindo a durabilidade dos equipamentos
(CENTURIONE, 1993).
Materiais e Métodos
Foram estudadas duas amostras provenientes de uma das serrarias paulistas de grande porte,
onde variedades diversas de granitos e mármores são beneficiadas diariamente.
Uma amostra denominada A foi composta por resíduos diretamente oriundos dos teares do
empreendimento, ou seja, diretamente da serragem de blocos. Uma segunda amostra, denominada B,
compreende resíduos dos processos de recorte, polimento e lustro de chapas (Figura 1)6.
Figura 1 – Processo de geração de resíduos e reciclagem de água em serraria de granitos e mármores.
6
Os processos industriais geradores desses resíduos são, em sua essência, os mesmos empregados pelos empreendimentos paulistas de menor
porte, o que sugere que tais resíduos sejam similares aos gerados por toda a atividade de serragem praticada no Estado. Quanto à composição
dos materiais, na época da amostragem havia incidência de cerca de 80% de granitos e 20% de mármores dentre as rochas beneficiadas,
característica certamente próxima à média das serrarias de São Paulo e do Brasil. Afora isto, como será demonstrado ao longo do estudo,
uma maior participação de material marmóreo, como ocorre em alguns dos centros de beneficiamento brasileiros –notadamente Espírito
Santo, Bahia e Paraná –, tenderia a contribuir para a melhoria dos resultados obtidos.
134 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
No geral, todos os finos são acumulados em tanques de decantação, processo que poderá estar
associado a etapas prévias de separação dos resíduos sólidos por meio de filtros-prensa. Desses tanques,
que poderão ser comuns ou não aos resíduos da serragem e do recorte e polimento, os particulados são
retirados periodicamente. Todo o processo permite o aproveitamento em circuito fechado da água utilizada
pelas unidades industriais para beneficiamento de rochas.
Neste estudo, as amostras foram recolhidas diretamente nas canaletas de escoamento da polpa
líquida, em dois pontos da planta industrial (Fotos 2A e 2B), antes de seu acúmulo nos tanques de
decantação da empresa, e previamente secas ao sol. Ambas representam a natu-reza média de resíduos
durante 15 dias da atividade de beneficiamento.
Os estudos se iniciaram com ensaios de pré-qualificação dos materiais. Foram determinadas
curvas granulométricas para cada amostra de resíduos, que em seguida foram submetidas a analises
químicas por complexometria. Os resíduos e outras matérias-primas – dois calcários, uma argila, um
minério de ferro –, foram moídos, misturados e dosados quimicamente. Os resultados dessas análises
químicas foram utilizados para compor duas farinhas com módulos químicos ideais para a fabricação de
clínquer Portland. As farinhas compostas foram queimadas a temperaturas similares àquela praticada no
processo industrial, buscando reproduzir as condições industriais em laboratório. Após a sinterização
dos pellets de clínquer em laboratório, estes foram submetidos à determinação de teores de cal livre
residual, visando-se, por meio de equações conhecidas, determinar os índices de queimabilidade. As
mesmas amostras foram submetidas a ensaios microscópicos, para identificar e quantificar os compostos
de clínquer formados.
Análise das Matérias-Primas
Pela análise visual dos materiais A e B, foi possível verificar características distintas entre as
amostras. A amostra A apresenta uma fração predominante fina e uma segunda subordinada, equivalente
a material submilimétrico e esférico, que corresponde a restos de granalha. A amostra B, por sua vez,
mostra-se também com aspecto de pó, com granulação sutilmente superior em relação à fração fina da
amostra A. Completam essa amostra lascas submilimétricas de material rochoso predominantemente
silicático (granitos).
Análises granulométricas realizadas no granulômetro a laser mostraram distribuições
granulométricas bastante similares nas amostras A e B (Figura 2). Os resíduos diretamente provenientes
Fotos 2A e 2B – Pontos de coleta de finos de serragem (A); e de recorte, polimento e lustro (B).
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 135i
Figura 2 – Distribuição granulométrica das amostras de resíduos A e B.
da serragem apresentaram granulação pouco inferior em relação à amostra de resíduos provenientes do
recorte, polimento e lustros de placas.
Na seqüência, os dois tipos de resíduos de serragem, dois calcários, uma argila e um minério de
ferro foram moídos até que restassem, na peneira de 88 µm, aproximadamente 15% de cada um dos
volumes iniciais. Em seguida, cada material foi homogeneizado durante 20 minutos, quarteado e
encaminhado à análise química.
A Tabela 1 apresenta os resultados dos ensaios de análise química por complexometria das
diferentes matérias-primas utilizadas.
Tabela 1 – Composição química das matérias-primas.
Elementos
Amostras (% em massa)
Amostra A
Amostra B
Argila
Calcário
Calcítico
Calcário
Silicoso
Minério
de Ferro
SiO2
73,89
73,89
20,58
0,70
14,09
4,97
Al2O3
6,33
6,33
65,67
0,31
2,93
2,06
Fe2O3
0,33
0,33
12,00
0,77
1,33
87,99
CaO
1,83
1,83
0,14
54,64
43,17
2,58
MgO
7,65
4,22
0,10
0,28
1,79
0,07
SO3
0,05
0,14
0,06
0,01
0,00
0,09
Na2O
1,31
2,37
0,01
0,00
0,00
0,00
K2O
1,91
3,35
1,23
0,04
0,82
0,13
Perda ao Fogo
6,69
5,03
0,22
43,25
35,88
2,10
136 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Ensaios de Aplicação
Os resultados das análises químicas das matérias-primas e dos resíduos A e B foram de fundamental
importância para a composição de farinhas com módulos adequados para a fabricação de clínqueres de
boa qualidade. Com as duas farinhas experimentais A e B, foram realizados ensaios de aptidão a queima,
por meio da determinação de grãos grossos de calcário e de quartzo.
Os ensaios de queima reproduziram as condições de clinquerização em laboratório, possibilitando
a formação de pellets com as fases de clínquer formadas. As amostras de pellets foram utilizadas na
determinação de teores de cal livre, para a determinação dos índices de queimabilidade, e também para
a analise quantitativa das fases de clínquer formadas.
Elaboração de farinhas
De posse dos resultados das análises químicas das matérias-primas individuais, foram projetadas
duas formulações básicas para as farinhas experimentais. Para a montagem das farinhas, foi utilizada,
aproximadamente, 1% de cada uma das amostras A e B de finos de serragem. Uma vez dosadas e
homogeneizadas, foram realizadas análises químicas das farinhas prontas (FA e FB) para controle dos
módulos químicos. A Tabela 2 apresenta os resultados das análises químicas das farinhas após dosagem
e homogeneização.
Aptidão à queima das farinhas
A terceira etapa do projeto abrangeu os ensaios de aptidão à clinquerização das farinhas
experimentais. A partir de cada uma das formulações produzidas na etapa anterior (Tabela 2) foram
elaboradas as farinhas experimentais, pela moagem em moinho laboratorial de bolas, até a granulometria
correspondente a 15 ± 1% de resíduo na peneira de abertura 90 µm.
A aptidão à clinquerização consiste na maior ou menor capacidade que uma farinha tem de se
transformar num clínquer de boa qualidade, dentro de condições técnico-econômicas viáveis. Os principais
fatores que afetam a aptidão à clinquerização de farinhas são as composições química e mineralógica e
a granulometria.
Em vista da dificuldade de reproduzir em laboratório a complexidade industrial, tem-se procurado
desenvolver ensaios que permitam qualificar as farinhas de melhor desempenho. Para tanto, foram
desenvolvidos ensaios de determinação de finura, teor
de grãos grossos de quartzo e calcário, e do índice de
Tabela 2 – Composição química das farinhas.
queimabilidade. Os resultados da aplicação desses
Elementos
Farinhas (% em massa)
ensaios são apresentados mais adiante.
FA
FB
Foram elaboradas farinhas compostas a partir
SiO
14,60
14,69
de matérias-primas variadas, respeitando-se os
Al O
3,19
3,28
valores dos módulos de saturação exigidos.
Com as farinhas compostas em laboratório,
Fe O
1,83
1,90
foram realizados ensaios de determinação de grãos
CaO
42,90
42,65
grossos de quartzo e calcário. Essa determinação
MgO
1,12
1,20
baseia-se em ensaios de peneiramento, seguidos por
SO
0,04
0,04
dissoluções com ácido clorídrico e pesagem dos
Na O
0,19
0,80
resíduos.
KO
0,75
0,22
Em seguida, foram confeccionados pellets a
partir das farinhas produzidas com os resíduos A e
FSC
93,47
92,11
B. Após sua calcinação às temperaturas de 1.350ºC,
MS
2,91
2,84
1.400ºC, 1.450ºC e 1.500ºC, determinaram-se os
1,74
1,73
MA
conteúdos de cal livre residual, para se calcular o
Perda ao Fogo
35,10
34,97
Índice de Queimabilidade da farinha. Quanto maior
(*) Módulos utilizados na estimativa de composição da farinha
esse índice, mais difícil de queimar é a farinha.
2
2
3
2
3
3
2
2
(*)
(*)
(*)
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 137i
A Tabela 3 apresenta os resultados de finura obtidos por peneiramento com peneirador
aerodinâmico.
A natureza mineralógica das partículas afeta grandemente a reatividade e o comportamento
durante a queima. Verifica-se, nesse sentido, que grãos calcários maiores que 125µm e grãos quartzosos
superiores a 45µm não são perfeitamente assimilados durante as reações de clinquerização, levando à
formação de agrupamentos indesejáveis de cristais de cal livre e belita, respectivamente. Além de
incrementar o consumo energético, esse fato tem implicações negativas também na moabilidade do
clínquer.
A quantificação do teor dessas partículas na farinha (Tabela 4) foi realizada a partir de ensaios de
peneiramento, seguidos de dissolução seletiva em HCL diluído e, particularmente para o quartzo, de
contagem ao microscópio polarizador de luz transmitida.
A quantificação de partículas grossas de Tabela 3 – Resultados de peneiramento.
calcário e quartzo revelou que as farinhas, de um
Porcentagem retida acumulada
Identificação
modo geral, apresentam um baixo conteúdo de grãos
das Amostras
75 µm
88 µm
125 µm
grossos de calcário, possuindo teores bem abaixo dos
FA
25,7
15,2
6,02
limites práticos estabelecidos (6%). Por outro lado,
FB
24,6
15,1
5,16
os teores de quartzo excedem em pouco o limite
prático de 2%, fato que não invia-biliza o processo
de sinterização do clínquer, desde que os módulos Tabela 4 – Teores de grãos grossos.
químicos utilizados pela indústria cimenteira sejam
Teor (% em Massa nas Farinhas)
Identificação
aplicados corretamente.
das Amostras
calcário>125µm
quartzo>45µm
Queima das farinhas
Farinha A
3,7
4,0
A queimabilidade das farinhas foi avaliada
Farinha B
3,3
4,5
pelo Índice de Queimabilidade (IQ). Empregou-se,
neste estudo, uma adaptação do método desenvolvido pela Polysius7, que se baseia na quantificação do
teor de cal livre residual em clínqueres experimentais obtidos a partir da queima laboratorial das farinhas
nas temperaturas de 1.350ºC, 1.400ºC, 1.450ºC e 1.500ºC.
O IQ é definido:
IQ = (A/B) x 3,73
Onde,
A = % cal livre1.350ºC + % cal livre1.400ºC + 2 x % cal livre1.450ºC + 3 x % cal livre1.500ºC
B = (% cal livre1.350ºC - % cal livre1.500º)1/4
O Quadro 1 apresenta a classificação de farinhas em função do IQ. Na Tabela 5, são apresentados
o IQ e a classificação das farinhas analisadas.
A Figura 3 mostra a correspondência experimental entre o IQ e o FSC das farinhas analisadas.
Ao longo de cada curva, os valores de IQ se correlacionam com os de FSC, uma vez mantidas as mesmas
matérias-primas (calcário, argila e corretiQuadro 1 – Classificação da Queimabilidade das farinhas.
vos). Este modelo nos permite eliminar a
influência das pequenas variações do FSC.
IQ
Classificação
A Tabela 6 apresenta os valores do
Até 60
Muito Fácil
IQ
estimados
a partir da intersecção das
60 a 80
Fácil
linhas de FSC iguais a 90, 95 e 100 com as
80 a 100
Normal
curvas imaginárias relativas a cada uma das
100 a 120
Pouco Difícil
farinhas ensaiadas.
120 a 140
Difícil
140 a 160
Muito Difícil
Acima de 160
Extremamente Difícil
7
Utilizado pela Associação Brasileira de Cimento
Portland – ABCP.
138 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 5 – Índice de Queimabilidade e classificação das farinhas.
Identificação
das Amostras
Teor (%) de Cal Livre nas Temperaturas
1.450ºC
1.500ºC
IQ
Classificação
1.350ºC
1.400ºC
FA
7,62
6,73
4,79
3,48
90
Normal
FB
7,97
6,11
4,34
3,79
89
Normal
Figura 3 – Gráfico de evolução do IQ com o Fator de Saturação de cal.
Tabela 6 – Índice de Queimabilidade e FSC estimados.
IQ Estimados
FSC
90
95
100
FA
68
100
138
FD
75
110
147
Parte dos pellets queimados em laboratório foram utilizados para análises por microscopia óptica
de luz refletida. A técnica permitiu tanto a identificação das fases do clínquer como também a quantificação
das fases presentes pela contagem de pontos.
Foram identificadas todas as principais fases do clínquer, como alita, belita, C3A e C4AF, além
dos componentes menores, como periclásio e cal livre. Pelas fotomicrografias apresentadas na Figura 4,
pode-se verificar a presença das fases de clínquer como indicadas nas descrições.
A análise quantitativa foi realizada pela técnica tradicional de microscopia de clínquer utilizada
pela indústria do cimento. A metodologia utilizada na preparação das amostras e nas análises quantitativas
é a mesma apresentada por CAMPBELL (1999). A Tabela 7 apresenta os teores obtidos para cada fase
do clínquer na análise quantitativa.
Resultados de análises quantitativas mostra-ram teores de alita normais, em ambas as amostras,
sendo pouco superior na amostra composta com o resíduo A. Teores mais elevados de belita, na amostra
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 139i
(A) Amostra A – elevado teor de alita (A), presença de zona de belita (B) e poros (P).
Objetiva: 10x.
(B) Amostra B – cristais de alita (A) bem formados, assim como a fase intersticial (F).
Objetiva: 10x.
(C) Amostra B – aspecto geral de um grão com
elevado teor de alita (A).
Objetiva: 10x.
(D) Amostra B – Elevado teor de alita (A) e presença de pequena zona de belita (B).
Objetiva: 20x.
Figura 4 – Fotomicrografias de microscopia óptica de luz refletida do clínquer.
de clínquer experimental B, se devem ao
maior teor de grãos grossos de quartzo no
resíduo B. A queima menos enérgica em
laboratório que no processo industrial justifica também os elevados teores de cal livre
verificados (Figura 5).
Tabela 7 – Resultados da análise quantitativa dos pellets por microscopia óptica.
Compostos
Teores (%)
Amostra A
Amostra B
Alita
63,3
54,1
Belita
21,3
25,2
C3 A
4,8
6,2
C4AF
7,3
8,8
Cal livre
3,1
5,4
Periclásio
0,3
0,4
Figura 5 – Teores mais elevados de belita, na amostra de
clínquer experimental B, se devem ao maior teor de grãos
grossos de quartzo no resíduo B.
140 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Comentários Adicionais
A viabilidade da fabricação de cimento depende prioritariamente da distância dos insumos
utilizados nos processo. As fontes de CaO (calcário, mármore, marga, etc.), principal componente da
farinha, devem se localizar nas proximidades da fábrica, normalmente com distâncias inferiores a 10km.
Fontes de SiO2 e Al2O3 também devem se localizar nas proximidades, porém suportam por vezes distâncias
pouco superiores, como no caso de fábricas que utilizam bauxita, devido ao elevado teor de Al2O3. O
Fe2O3 é normalmente aproveitado de rejeitos de minerações que apresentam minerais enriquecidos neste
óxido. Algumas fábricas paulistas utilizam a titano-magnetita, rejeito da mineração de apatita, proveniente
de distâncias superiores a 100km. Adições de resíduos, como escórias de alto-forno, são amplamente
utilizadas, e provêem de siderúrgicas que normalmente distam além dos 200km. As adições utilizadas
na fabricação suportam distâncias ainda maiores. Para as indústrias paulistas, por exemplo, fontes de
sulfato de cálcio, normalmente oriundas de processos de fabricação de fosfato, localizadas no Sudeste
do Estado ou em Minas Gerais, secundariamente podem advir de fontes naturais de gipsita localizadas
no Estado de Pernambuco.
O Quadro 2 apresenta uma estimativa da distância média de cada fonte de matéria-prima e
adições utilizadas na indústria cimenteira, bem como as proporções que são aplicadas, baseado em
consultas em cinco fábricas de cimento e com proporções empregadas de cada matéria-prima
(HEWLETT, 1998).
Já a Figura 6 exibe a localização das fábricas de cimento e dos principais centros de serragem de
granitos e mármores de São Paulo. Assim, observa-se que as distâncias médias entre os núcleos de possível fornecimento e consumo de finos de serrarias mais próximos variam entre 50km e 250km, e estão, em
princípio, dentro da faixa de maior e menor proximidade dos insumos utilizados pela indústria cimenteira.
As análises granulométricas evidenciaram uma semelhança entre os resíduos A e B. Vale ressaltar
que a granulação dos resíduos apresentou-se favorável à confecção de farinhas para a fabricação de
cimento Portland, o que pode representar uma redução no consumo de energia elétrica proveniente da
etapa de moagem da matéria-prima.
Pouca variação foi verificada entre as composições químicas dos resíduos A e B. Os conteúdos
de sílica (SiO2), K2O, e Na2O são provenientes preferencialmente do quartzo e feldspato presentes nos
granitos. Os teores de Cao ligam-se aos feldspatos e à participação de materiais marmóreos, bastante
subordinados. Teores de Al2O3, Fe2O3, MgO decorrem principalmente das micas, minerais também
componentes das rochas graníticas.
Foi utilizado 1% em massa de resíduo na formulação de farinhas A e B, o que viabilizou uma
composição adequada sem afetar os módulos químicos (MA, MS e FSC) indicados pela indústria
cimenteira.
Análise granulométrica das farinhas em peneirador aerodinâmico apresentou a porcentagem
retida acumulada na peneira de abertura de 88µm próxima a 15%, valor pouco acima do praticado
Quadro 2 – Estimativa da distância de cada fonte de matéria-prima e adições utilizadas na indústria
cimenteira, bem como as proporções que são aplicadas.
Óxidos
Fontes
Distância máxima
% Empregada
CaO
Calcário, Mármore
10km
73% de calcário **
SiO2
Areia, Quartzito, Mica-Xisto, Argila
15km
4,2% de areia **
Al2O3
Argila, Bauxita, Mica-Xisto
15km / 200km *
22,5% de xisto **
Fe2O3
Minério de Ferro, Magnetita
300km
0,3% **
Gipsita, Anidrita
300km
3% ***
300km
5-40% ***
Adições
* Válido para bauxita
Escória de Alto-Forno
** % empregada para composição da farinha
*** % empregada na composição do cimento
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 141i
Figura 6 – Fábricas de cimento e principais centros de serragem de rocha de São Paulo.
pelo setor cimenteiro para o controle da mesma. Foram também quantificados calcários acima de 125
µm e quartzo acima de 45 µm, com o uso da microscopia óptica de luz transmitida. Verificou-se a
presença de teores superiores de quartzo grosso na farinha B (4,5%), embora isso não impeça seu
aproveitamento industrial.
Ensaios de queima indicaram IQ classificado como normal para os FSC utilizados. No gráfico
de evolução do IQ com o FSC, verifica-se que para um FSC de 95, o IQ seria de 100 para a amostra A e
de 110 para a amostra B, classificando-as como provenientes de queimas normais, segundo o quadro de
classificação utilizado pela ABCP.
Adicionalmente aos ensaios de queima, as análises por meio da microscopia óptica de luz refletida
revelaram elevados teores de alita (principal composto do clínquer) na amostra A (63%) e teores inferiores
para a amostra B (54%). Num processo de queima completo, num forno de fabricação de clínquer, em
que existe a rotação do forno e combustíveis presentes, o elevado teor de cal livre formado seria consumido
na reação com a belita para a formação de teores mais elevados de alita.
Numa análise comparativa, verificou-se maior aplicabilidade da amostra A, proveniente do
processo de serragem, em relação à amostra B, proveniente do polimento das placas. Porém, ambas as
amostras de resíduos foram consideradas adequadas para utilização na composição de farinhas para a
fabricação de cimento. Deve-se considerar que, no Estado de São Paulo, os fornos são de via seca, ou
seja, todo o material utilizado na composição da farinha deve apresentar baixa umidade. Desse modo, os
resíduos estudados precisarão ser secos, se não totalmente, ao menos ao ponto em que sua umidade e
plasticidade não interfiram no processo industrial, a exemplo do que ocorre com argilas corriqueiramente
utilizadas pela indústria cimenteira8.
8
É possível a utilização dos finos na forma em que se encontram normalmente estocados nos pátios das serrarias, à espera de transporte,
após alguns dias de secagem ao sol, porque esses materiais participam com apenas 1%, em volume, na composição das farinhas
ensaiadas. Isto descartaria, em princípio, a necessidade de instalar elementos adicionais de secagem, aspecto que talvez inviabilizasse o
processo de reciclagem.
142 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Aproximadamente 80% do material serrado corresponde a rochas de origem granítica. A aplicação
deste estudo com resíduos provenientes de serragem com maior porcentagem de mármore levaria a uma
aptidão à queima ainda maior, em razão da esperada menor presença de sílica na forma de quartzo.
Considerada uma produção mensal da ordem de 80 mil m2/mês pelo conjunto das serrarias de
São Paulo – ver Capítulo 2 –, pode ser esperada a geração de 2,4 mil t/mês de resíduos finos por essas
empresas, em todo o Estado. A indústria cimenteira paulista, por sua vez, produz mensalmente 450 mil
t de cimento, ou seja, aproximadamente 400 mil t de clínquer, o que envolve o consumo de 600 mil t de
farinha. Visto que, neste estudo, foi utilizado, com sucesso, 1% de finos de serragem na composição da
farinha, a indústria de cimento do Estado poderia consumir até 6 mil t de finos por mês, e assim, em tese,
todos os resíduos das serrarias paulistas. Apesar da simplificação contida nesta indicação, já que, entre
outros fatores, a distância entre fornecedores e consumidores poderá ser decisiva para a viabilidade
econômica do aproveitamento, isso é mais um indicador favorável a que parcerias sejam tentadas,
especialmente entre os centros de beneficiamento da Grande São Paulo, região de Bragança Paulista e
São João da Boa Vista, e as cimenteiras da região de Sorocaba, Mogi das Cruzes e Cubatão.
A alternativa que se apresenta é a de que os resultados positivos, estabelecidos para a reciclagem
de finos de serraria, possam ser aproveitados, dadas as similaridades envolvidas, nas situações em que
existam aglomerados de marmorarias. Nesse caso, uma possibilidade a ser avaliada pelos produtores é a
destinação conjunta, por grupos de empresas, dos resíduos finos decorrentes da atividade marmorista
para a indústria cimenteira.
APROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS PÉTREOS DE MARMORARIAS
Estima-se que dentre as três mil marmorarias operando no Estado de São Paulo, mais de mil
estejam localizadas na Capital. A partir da produção calculada para estes empreendimentos – Capítulo
2 –, pode ser estimado que se elevam à casa dos 100.000 m2/mês, ou 5.500 t/mês as perdas na forma
de retalhos de pedra, cerca de 1/3 disso apenas na Capital (Foto 3).
Tais números estimulam ainda mais o estudo da viabilidade técnica de reciclagem desse tipo
de resíduo, desde que estabelecidas e implantadas rotinas para manejo e triagem. A busca de base
tecnológica para sua utilização na construção civil, na forma de agregados, decorre da possibilidade
que isso traz ao emprego quase direto desses materiais, possibilidade esta ainda pouco pesquisada no
Brasil. A esse respeito, a bibliografia especializada revela ainda poucos estudos para uso dos resíduos
da serragem de granitos e mármores como complemento para a produção de concreto (GONÇALVES;
MOURA, 2002), ou sua mistura com solo para uso em aterros (MOURA; GONÇALVES, 2002).
Usos de Agregados Reciclados
Foto 3 – Manuseio de retalhos de pedra em marmoraria.
Os agregados, graúdos e miúdos,
são materiais com vasto uso na construção civil, com destaque para concreto,
argamassa, pavimentação e, com algumas restrições adicionais – forma, tipo
de rocha, etc. –, em enrocamentos, lastro
de ferrovias e quebra-mar.
Os agregados reciclados, por sua
vez, já têm sido aproveitados para execução de camadas de reforço de subleito,
sub-base e base para pavimento, já
tratados na especificação PMSP 001/
2002 e objeto de votação na ABNT
(Proj. 02:130.05-002), para breve publicação, da norma Agregados Reciclados
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 143i
de Resíduos Sólidos da Construção Civil – Execução de Camadas de Pavimentação – Procedimentos
(ABNT, 2004b).
No âmbito do Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados – CB 18, da ABNT, está em
fase final de votação a norma Agregados Reciclados de Resíduos Sólidos da Construção Civil – Utilização em Pavimentação e Preparo de Concreto sem Função Estrutural: Requisitos (Projeto NBR 18:201.06001:2004; ABNT, 2004a).
Materiais e Métodos
O Município de São Paulo tem uma grande quantidade de empreendimentos relacionados ao
acabamento e confecção de peças para revestimento ou decoração de edificações.
Para a realização do estudo, após visitas a várias marmorarias da cidade, foram amostrados
resíduos pétreos representativos das perdas decorrentes dos serviços rotineiros de três dessas empresas,
e estabelecido um roteiro para aproveitamento desses materiais como agregados na formulação de concreto,
conforme mostra o esquema visto na Figura 7.
Materiais
Os constituintes rochosos das três amostras foram separados, pesados e classificados em cinco
grupos: “granitos” (compostos por granitos propriamente ditos, gnaisses e outros materiais silicáticos de
Amostragem em empresas selecionadas (resíduos resultantes somente de
recortes e quebra de rochas, isentos de outros materiais: metais, plásticos, etc.)
Classificação do material por empresa, segundo “granitos”, mármores
(telados ou não), ardósias, quartzitos e serpentinitos
Composição de uma amostra contendo 20% (em peso)
de cada fração obtida na classificação realizada
Classificação e distribuição granulométrica do produto
(agregados graúdo e miúdo)
Análise dos resultados de britagem
Caracterização tecnológica do agregado:
- Densidade e massa específica
- Forma
- Resistência ao esmagamento
- Abrasão Los Angeles
Ensaios para concreto:
- Corpos-de-prova preparados com agregados graúdo e miúdo
- Corpos-de-prova preparados com agregado graúdo e
areia normal
Figura 7 – Roteiro utilizado para caracterização dos resíduos pétreos de marmorarias como agregados
para concreto.
144 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
textura e cores variadas); mármores (rochas carbonáticas teladas e não teladas), ardósias, quartzitos e
serpentinitos. Isso permitiu o reconhecimento dos tipos e quantidades de materiais enviados pelas diferentes
marmorarias (Fotos 4, 5 e 6; Tabela 8 e Figura 8).
Fotos 4 e 5 – Aspecto dos materiais trabalhados, já separados por tipo rochoso.
Foto 6 – Pesagem dos materiais recebidos.
Figura 8 – Participação dos diferentes tipos de rocha
no volume total de resíduos.
Tabela 8 – Tipos de rochas nos resíduos amostrados.
Tipo de Rocha
Marmoraria A
Marmoraria B
Marmoraria C
Peso (kg)
(%)
Peso (kg)
(%)
Granitos
135,7
28
503,2
49
239,8
58
Mármores
137, 2
28
501
48
123,7
31
Mármores Telados
13.4
3
30,3
3
7,1
2
Ardósias
117,1
24
–
–
–
–
Quartzitos
84,2
17
–
–
–
–
–
–
–
–
34,9
9
487,6
100
1.034,5
100
405,5
100
Serpentinitos
Totais
Peso (kg)
(%)
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 145i
Os dados mostram que granitos é o tipo rochoso predominante, seguido pelos mármores (tipo
Branco Espírito Santo, Crema Marfil, Carrara e outros). Mármores telados fazem parte desse grupo e,
mesmo com sua pequena participação percentual (até 3%), foi incluído na caracterização, para verificar
eventual contribuição negativa no desempenho do concreto.
Ardósias, quartzitos e serpentinitos são tipos rochosos que perfazem cerca de 10% dos materiais
amostrados, que podem ou não estar presentes nos resíduos das diferentes marmorarias, a depender da
região, público-alvo, etc.
Ardósias e quartzitos foram incluídos nas amostras estudadas, para aumento da margem de
aproveitamento de materiais, para avaliação da variabilidade dos resultados em decorrência da adição
de componentes, além dos granitos e mármores e adequabilidade daqueles materiais para a fabricação
de concreto.
Serpentinitos não foram utilizados, pois podem liberar minerais fibrosos (amianto) durante o
processo de britagem, o que poderia exigir procedimentos especiais que tornariam mais complexo e
poderiam comprometer a economicidade do processo.
Britagem
Uma amostra contendo alíquotas de materiais (exceto serpentinitos), proporcionais ao volume global (cerca de 20%) de cada marmoraria (Foto
7) foi cominuída em um britador de mandíbulas.
O produto obtido na britagem (Foto 8) foi
quarteado, conforme ABNT (2001a), para ensaios
de caracterização tecnológica do agregado reciclado
e obtenção das alíquotas necessárias para preparação de corpos-de-prova para concreto (Foto 9).
Foto 7 – Amostra composta para britagem.
Caracterização do Agregado Gerado
(Graúdo e Miúdo)
A caracterização do agregado gerado a partir
de resíduos pétreos de marmorarias contemplou a
realização de vários ensaios tecnológicos (Tabela 9):
Foto 8 – Produto obtido na britagem (aspecto geral e de detalhe).
146 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
peneiramento, absorção, massa específica, forma
dos fragmentos, teor de material pulverulento,
resistência ao esmagamento e abrasão Los Angeles.
Ensaios para a determinação de impurezas
orgânicas, torrões de argila e partículas friáveis
foram descartados, tendo em vista que uma das
características do material em análise é se tratar
rochas praticamente inalteradas, que compõem
lotes de descarte sem impurezas (madeira, gesso,
metais, etc.).
Composição granulométrica
A composição e distribuição granulométrica do agregado reciclado foram determinadas
por peneiramento, na totalidade de peneiras da série
normal, conforme NBR 7217 (ABNT, 1987b). As
frações obtidas estão ilustradas na Foto 10.
Para efeito deste trabalho, consideraramse os agregados graúdo (brita) e miúdo (areia)
como definido na NBR 7211 (ABNT, 1983a). O
primeiro corresponde às frações retidas na peneira
no 4 (4,8 mm), neste estudo correspondendo a cerca
de 70% do material produzido na britagem (Tabela
10). Agregado miúdo foi tomado como aquele
passante nessa peneira, ou seja, com dimensões
menores que 4,8 mm.
O ensaio de peneiramento revelou que as
dimensões predominantes do agregado graúdo
obtido estão entre as peneiras ½” e ¼” (12,5 mm e
6,3 mm, respectivamente), cuja distribuição é
próxima da brita 1 (Figura 9), da NBR 7211
(ABNT, 1983a). Apenas a fração retida na peneira
de 9,5mm (72%, acumulado) está abaixo do limite
mínimo, de 80%, estabelecido pela ABNT (1983a).
Foto 9 – Material quarteado para ensaios tecnológicos e moldagem de corpos-de-prova.
Foto 10 – Aspecto das frações granulométricas obtidas.
Tabela 9 – Ensaios e normas adotados.
NORMA
DETERMINAÇÃO
ABNT NBR 7217/87 (ABNT, 1987b)
Peneiramento
ABNT NBR 9938/87 (ABNT, 1987d)
Esmagamento
ABNT NBR NM 51/01 (ABNT, 2001b)
Abrasão Los Angeles
ABNT NM 30/00 (ABNT, 2000)
Absorção d’água (agregado miúdo)
ABNT NM 52/03 (ABNT, 2003a)
Massa específica, massa específica aparente (agregado miúdo)
ABNT NM 53/03 (ABNT, 2003b)
Absorção de água, massa específica, massa específica aparente
(agregado graúdo)
ABNT NBR 7219/87 (ABNT, 1987c)
Teor de material pulverulento (%)
ABNT NBR 7211/83 (ABNT 1983a)
Dimensão máxima característica, módulo de finura
ABNT NBR 7809/83 (ABNT 1983b)
Índice de forma
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 147i
Tabela 10 – Frações granulométricas obtidas no ensaio
de peneiramento.
Abertura das Peneiras
Polegadas
3'’
Porcentagens em peso (%)
(mm)
Retidas
Acumuladas
76 *
0
0
2 1/2'’
64
0
0
2'’
50
0
0
1 1/2'’
38 *
0
0
1 1/4'’
32
0
0
1'’
25
0
0
3/4'’
19 *
1
1
1/2'’
12,5
33
34
3/8'’
9,5 *
17
51
1/4'’
6,3
13
64
ABNT Nº 4
4,8 *
6
70
ABNT Nº 8 (fundo)
2,4 *
8
78
ABNT Nº 16
1,2 *
4
82
ABNT Nº 30
0,6 *
4
86
ABNT Nº 50
0,3 *
3
89
ABNT Nº 100
0,15 *
6
95
ABNT Nº 200
0,075
5
100
–
100,00
100,00
TOTAIS
* Série intermediária de peneiras
O agregado miúdo está homogeneamente disposto, em peso, nas diferentes
frações granulométricas, com distribuição
próxima da Zona 3 (Figura 10) da NBR 7211
(ABNT, 1983a).
Propriedades tecnológicas
Os resultados obtidos nos demais
ensaios realizados (Tabela 11) mostraram que
o agregado graúdo apresenta massa específica
em torno de 2,70 g/m3 e absorção de água de
0,70%. O agregado miúdo apresenta massa
específica de aproximadamente 2,60 g/m3 e
absorção de água de 0,64%.
Os fragmentos lamelares predominam
nas frações passantes na peneira ¼” (6,3 mm),
representados por ardósias e mármores (tipo
Crema Marfil e Carrara). Ardósia, como
esperado, é o material constituinte da maior
parte dos fragmentos lamelares em todas as
frações separadas.
No tocante aos demais ensaios realizados: a) o teor de material pulverulento está
dentro dos limites estabelecidos para concreto;
b) o esmagamento (33,4%) encontra-se pouco
acima dos limites superiores de algumas rochas constituintes do material (FRASCÁ;
Figura 9 – Curva granulométrica do agregado graúdo obtido, comparativamente aos limites máximo e
mínimo da brita 1 (NBR 7211).
148 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Figura 10 – Curva granulométrica do agregado miúdo obtido, comparativamente aos limites máximo e mínimo
da zona 3 da areia (NBR 7211).
Tabela 11 - Resultados dos ensaios tecnológicos.
Agregado Graúdo
Agregado miúdo
Requisitos*
Índice de Forma
Determinação
2,7
–
<3
Dimensão Máxima Característica (mm)
19
2,4
–
Módulo de Finura
6,74
2,63
–
Materiais Pulverulentos (%)
4,15
4,15
Absorção d’Água (%)
0,70
0,64
–
Massa Específica (g/cm3)
2,70
2,60
–
–
2,56
–
Esmagamento (% de perdas)
33,4
–
< 30
Abrasão Los Angeles (% de perdas)
43,6
–
< 50
Massa Específica Aparente (g/cm3)
3a5
* Fontes: NBR 7211/83, FRASCÁ; FRAZÃO (2002).
FRAZÃO, 2002); c) a abrasão Los Angeles apresentou 44% de perdas, pouco inferior ao limite (50%)
estabelecido pela NBR 7211.
Os resultados, em geral limítrofes, refletem principalmente a heterogeneidade rochosa do material
ensaiado e a forte contribuição daqueles de menor resistência no produto final.
Ensaios para Concreto
O material britado produziu grãos de granulometria que variou de <0,075 mm até 19 mm,
permitindo que se utilizasse como agregado graúdo e agregado miúdo na preparação de concreto.
Experimentalmente, foram simuladas duas situações para uso do material obtido na britagem
dos resíduos pétreos das marmorarias como agregado para concreto: a) agregado graúdo e miúdo, com
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 149i
complementação da fração “areia” pela adição de areia eólica, para o estudo de dosagem e elaboração
dos corpos-de-prova; b) agregado graúdo, com adição de areia normal (NBR 7211).
A situação a objetiva a verificação da possibilidade de aproveitamento de todo o produto de
britagem (“bica corrida”), com o acréscimo de areia rosa (eólica) procedente do Município de Bofete
(SP), para ajuste do traço.
A segunda situação reflete o aproveitamento somente da fração graúda, à qual é adicionada areia
para construção e também visa à comparação da resistência do concreto obtido nessas duas simulações.
Os corpos-de-prova foram preparados com esses materiais, cimento CPII F e água corrente.
Após 24 horas, foram desmoldados e acondicionados em câmara úmida, para cura e posterior verificação
da resistência mecânica, decorridos 3, 7 e 28 dias.
Agregado graúdo e miúdo
Na situação a, anterior, devido às características do material, foi aplicado o método para dosagem
racional do concreto modificado (TORRES; ROSMAN, 1956). Esse não faz uso da composição
granulométrica dos agregados graúdos; mas, sim, do produto obtido por meio do acréscimo de areia,
cimento e água, os quais são pesados e adicionados à brita de massa conhecida, para correção da
granulometria, até a obtenção de concreto com as características requeridas.
O consumo médio de cimento foi de aproximadamente 365 kg/m3 e a relação água/cimento
de 0,54.
A trabalhabilidade foi avaliada pelo teste de abatimento do tronco de cone Slump Test – NBR
7223 (ABNT, 1992a), que se revelou entre 80 mm e 100 mm.
Foram moldados 18 corpos-de-prova de 10cmx20cm, que foram submetidos a ensaio de
compressão uniaxial nas idades de 3, 7 e 28 dias (Tabela 12).
Tabela 12 – Resistência à compressão de concreto – agregado graúdo e miúdo, e areia normal.
Agregado Total e Areia Eólica
Idade do CP (dias)
3 (N=6)
7 (N=6)
28 (N=6)
Nota: CP = corpo-de-prova,
Compressão Uniaxial (MPa)
x
15,2
s
0,9
C.V.
6,2
x
23,3
s
1,5
C.V.
6,4
x
37,5
s
2,0
C.V.
5,3
x = média, s = desvio-padrão, C.V. = coeficiente de variação (%), N = número de corpos-de-prova
Agregado graúdo e areia normal
Na situação b, de antes, foram reproduzidos os mesmos procedimentos de preparação de concreto
que na situação a; o consumo médio de cimento foi de 365 kg/m3 e a relação água/cimento de 0,54. O
abatimento do tronco de cone ficou entre 80 mm e 100 mm.
Foram moldados nove corpos-de-prova, de 10cmx20cm, e nove corpos-de-prova de 15cmx30cm
para a realização de ensaios de compressão uniaxial nas idades de 3, 7 e 28 dias (Tabela 13). Como os
150 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 13 – Resistência à compressão uniaxial de concreto produzido a partir do agregado graúdo
obtido e areia normal.
Agregado Graúdo e Areia Normal
Idade do CP (dias)
Compressão Uniaxial (MPa)
CP 10 cm x 20 cm
CP 15 cm x 20 cm
Média
15,3 (N = 3)
14,9 (N = 3)
15,1
3
x
s
0,9
1,6
1,2
5,9
10,6
7,7
22,0 (N = 3)
21,2 (N = 3)
21,6
7
C.V.
x
s
0,7
1,2
1,0
C.V.
3,1
5,7
4,5
x
s
36,1 (N = 3)
36,3 (N = 3)
36,2
1,8
1,6
1,5
5,0
4,4
28
Nota: CP = corpo-de-prova,
4,2
C.V.
x = média, s = desvio-padrão, C.V. = coeficiente de variação (%), N = número de corpos-de-prova
valores de resistência à compressão, para corpos-de-prova nas duas dimensões ensaiadas, foram
compatíveis, calculou-se o valor médio considerando todos os resultados.
Comentários
O agregado produzido a partir de resíduos pétreos de marmorarias apresentou características
tecnológicas adequadas para uso na produção de concreto, e consumo de cimento semelhante ao de
agregados convencionais.
Considerando-se que os resíduos de marmorarias são predominantemente “granitos” e
“mármores”, e decorrem de chapas fornecidas, em sua maioria, por serrarias, locais ou não, os resultados,
aqui apresentados, para as sobras de pedra das marmorarias, deverão ser aplicáveis também no
aproveitamento das peças quebradas e restos de pedra existentes nas indústrias de serragem.
Tendo em vista o objetivo inicial do trabalho, a experimentação revelou que é possível o
aproveitamento total do agregado gerado, com pequena correção/adição de agregado miúdo. Isto é
evidenciado pelas resistências mecânicas. muito semelhantes, entre o concreto produzido com o agregado
gerado (amostra total) e o concreto produzido com o agregado graúdo gerado mais areia (Figura 11).
Esse aspecto é muito importante, pois não tornaria oneroso o custo final do concreto que
aproveitasse esses agregados, questão de muita relevância na reciclagem.
Com essas características, e considerando o resíduo como Classe III – Inertes (ABNT, 1987a),
pois basicamente só contém fragmentos de rochas, o agregado reciclado poderá ser utilizado como
enchimentos, em contrapisos, calçadas, na fabricação de artefatos não estruturais, como blocos de vedação,
meios-fios (guias), sarjetas, canaletas, mourões e placas de muro, conforme o Projeto NBR 18:201.06001:2004 (ABNT, 2004a), que trata das aplicações não estruturais de concreto reciclado.
A classe de resistência C35, segundo a NBR 8953 (ABNT, 1992b), poderá vir a indicar o concreto
aqui produzido também para uso estrutural. Tal aplicação, no entanto, ainda não é recomendada pela
normalização e regulamentação vigentes para concretos de agregados reciclados. Em consonância com
as preocupações de segurança e durabilidade que norteiam essa recomendação, considera-se importante,
portanto, a continuidade e o aprofundamento das investigações aqui realizadas, antes de recomendar o
uso estrutural do concreto de agregados reciclados de marmoraria.
Outro aspecto a ser tratado, nos âmbitos legislativo e normalizadores, é a gestão desses resíduos,
ou seja, o planejamento do manejo.
CAPÍTULO 6 - Aproveitamento de Resíduos Industriais - 151i
Figura 11 – Diagrama comparativo da resistência à compressão de concreto elaborado com amostra total (+
areia eólica), e agregado graúdo e areia normal.
Em regiões com intensa produção marmorista, como o Município de São Paulo, a possibilidade
de virem a ser definidos espaços exclusivos para disposição de resíduos das marmorarias poderá ser
muito importante para a implantação sustentada da reciclagem do significativo volume de fragmentos
rochosos gerado nesse segmento de atividade econômica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. (2004). Anteprojeto de política estadual de resíduos sólidos.
Disponível em: <http://www.al.sp.gov/residuo/residuos1.pdf>.
____. (2004). Projeto de lei n. 611. Disciplina a gestão de resíduos sólidos urbanos, no âmbito do Estado de São Paulo, e dá
providências correlatas. Disponível em: <http://www.al.sp.gov/residuo/projeto.pdf>.
ALMEIDA, S. L. M.; PONTES, I. F. (2002). Aproveitamento de rejeitos de pedreira e finos de serrarias de rochas ornamentais
brasileiras. In: Simpósio Brasileiro de Rochas Ornamentais, 1, Rio de Janeiro. Anais ... p. 89-94.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1983a). NBR 7211/83: agregado para concreto. Rio de Janeiro.
____. (1983b). NBR 7809/83: agregado graúdo: determinação do índice de forma pelo método do paquímetro. Rio de Janeiro.
____. (1987a). NBR 10004/87: resíduos sólidos: classificação. Rio de Janeiro.
____.(1987b). NBR 7217/87: agregados: determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro.
____. (1987c). NBR 7219/87: agregados: determinação do teor de materiais pulverulentos. Rio de Janeiro.
____. (1987d). NBR 9938/87: agregados: determinação da resistência ao esmagamento de agregados graúdos. Rio de Janeiro.
____. (1992a). NBR 7223/92: concreto: determinação da consistência pelo abatimento do tronco do cone. Rio de Janeiro.
____. (1992b). NBR 8953/92: concreto para fins estruturais: classificação por grupos de resistência. Rio de Janeiro.
____. (1997). NBR NM-ISO 2395/97: peneiras de ensaio e ensaio de peneiramento: vocabulário. Rio de Janeiro.
____. (2000). NBR NM 30/00: agregado fino: determinação da absorção de água. Rio de Janeiro.
____. (2001a). NBR NM 27: agregados: redução da amostra de campo para ensaios de laboratório. Rio de Janeiro.
____. (2001b). NM 51/01: agregado graúdo: ensaio de abrasão Los Ângeles. Rio de Janeiro.
____. (2003a). NBR NM 52/03: agregado miúdo: determinação de massa específica, massa específica aparente. Rio de Janeiro.
____. (2003b). NBR NM 53/03: agregado graúdo: determinação de massa específica, massa específica aparente e absorção de água.
Rio de Janeiro.
____. (2004a). Projeto 18:201.06-001:2004: agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil: utilização em pavimentação
e preparo de concreto sem função estrutural: requisitos. Rio de Janeiro.
152 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
____. (2004b). Projeto 02:130.05-002. 2004: agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil: execução de camadas de
pavimentação: procedimentos. Rio de Janeiro,.
ARAÚJO, E. S.; GOMES, V. A.; NEVES, G. A.; FERREIRA, H. C. (2002). Caracterização dos resíduos da serragem de granitos
na produção de tijolos sílica-cal para uso em construção civil. In: Congresso Brasileiro de Cerâmica, 46. São Paulo. Anais ... p.
923-934.
CARVALHO, A. E.; CAMPOS, A. R.; PEITER, C. C.; ROCHA, J.C. (2002) Aproveitamento dos resíduos finos de serrarias de
Santo Antônio de Pádua. 2002. In: Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste, 3. Recife. Anais... p.190-193.
CAMPBELL, D. H. (1999). Microscopical examination and interpretation of portland cement and clinker. 2 ed. Stokie: Portland
Cement Association, 202p.
CENTURIONE, S. L. (1993). Influência das características das matérias-primas no processo de sinterização do clínquer
Portland. 155 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. (2002). Resolução n. 307: estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para
gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial [da] União, 17 jul. 2002.
DUDA, W. H. (1977). Cement data book. Berlin: Bauverlag GmbH.
FERREIRA, H. S.; NEVES, G. de A.; FERREIRA, H. C. (2002). Caracterização ambiental de resíduos provenientes da serragem e
polimento de rochas graníticas. In: Congresso Brasileiro de Cerâmica, 46, São Paulo. Anais ... p. 1080-1090.
FRASCÁ, M.H.B.O; FRAZÃO, E.B. (2002). Proposta de especificação tecnológica para agregados graúdos. Revista Areia &
Brita, n. 19, p. 28-33.
GONÇALVES, J.P.; MOURA, W.A. (2002). Reciclagem do resíduo de beneficiamento de rochas ornamentais na construção civil.
In: Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste, 3. Recife. Anais... p.179-189.
GOUDA, G. R. (1977). Cement raw materials, their effect on fuel consumption. Rock Products, Chicago, v.80, n. 10, p. 60-64, out.
1977.
KIHARA, Y.; BATTAGIN, A.; MARCIANO JR., E.; SHUKUZAWA, J. K. (1983). Aptidão à clinquerização de farinhas de
cimento: fator de controle e qualidade do cimento. São Paulo: ABCP.
LEA, F. M. (1998). Chemistry of cement and concrete. 4ed. Edward Arnold Pub.
LONG. (1982). Clinker quality characterization by reflected light techniques. In: International Conference on Cement Microscopy,
14, Proceedings... Nevada.
MENEZES, R. R; FERREIRA, H. S.; NEVES, G de A., FERREIRA, H. C. (2002). Uso de rejeitos de granitos como matériasprimas cerâmicas. Cerâmica, v. 48, n. 306, p. 92-100.
MOURA, W.A.; GONÇALVES, J.P. (2002). Utilização do resíduo de beneficiamento de rochas ornamentais (mármores e granitos)
na construção civil. In: Encontro Nacional Téc. Ambiente Construído, 9., Foz do Iguaçu. Anais... p. 1653-1659.
NUNES, R. L. S.; NEVES, G. de A.; SANTANA, L. N. L. (2003). Obtenção de placas cerâmicas pelo processo de prensagem e
laminação utilizando resíduos de granito. In: Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste, 4. Fortaleza. Anais ... p. 230- 234.
____.; FERREIRA, H. S.; FERREIRA, H. C. (2002). Reciclagem de resíduos de granito para uso na indústria de revestimentos
cerâmicos. Congresso Brasileiro de Cerâmica, 46., São Paulo. Anais ... p. 2.123-2.135.
SCHAFER, H. V. (1987). Assessment of raw materials for the cement industry. World Cement, London, v. 18, n. 8, p. 17-23, ago.
1987.
SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO. (2004). Disponível em: <http://www. sindicatodocimento.com.br/>.
TORRES, A. F.; ROSMAN, C.E. (2004). Dosagem racional do concreto. ABCP, 1956. 70p. Disponível em: <http://www.al.sp.gov/
residuo/projeto.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2004.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 153i
CAPÍTULO 7
Rochas Ornamentais e para
Revestimento: Variedades, Propriedades,
Usos e Conservação
Maria Heloisa Barros de Oliveira Frascá ([email protected])
Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT
ASPECTOS GERAIS
O uso de rocha faz parte da história da civilização, já que foi empregada na construção de
obras civis e monumentos (pontes, estradas, aquedutos, palácios, castelos, igrejas, túmulos) sempre
que houvesse a disponibilidade dessa matéria-prima em condições mínimas de aproveitamento. Segundo
VICENTE et al. (1996), a rocha é o principal material de construção dos monumentos e edifícios
históricos europeus, não somente pela sua abundância, mas pela sua resistência e durabilidade.
Por essas características e pela grande diversidade de padrões cromáticos e estruturais, as
rochas são, até hoje, utilizadas como elementos ornamentais (arte estatuária e funerária, pias, tampos
de mesa e outras peças decorativas) e, mais largamente, como material de construção civil. Neste
caso, podem ter funções estruturais (colunas e pilares) e, especialmente, constituírem revestimentos
verticais (paredes e fachadas) e horizontais (pisos), de interiores e exteriores de edificações.
Tradicionalmente, o padrão estético, conferido pela cor, textura e estrutura, constitui o principal
condicionante para o comércio e uso da rocha. A escolha da rocha baseada somente nos seus atributos
estéticos, no entanto, comumente resulta em projetos arquitetônicos e de engenharia inadequados
para o uso pretendido, o que, por sua vez, é causa de degradações diversas ou de redução da durabilidade
da rocha. Destaca-se, então, a importância de, na escolha da rocha, se aliar o padrão estético às
características tecnológicas e ao uso previsto.
Por isso, abordar-se-ão os principais tipos de rochas utilizadas no revestimento de edificações,
suas propriedades intrínsecas e os critérios e aspectos orientadores da escolha do material para a
elaboração dos projetos arquitetônicos. Complementarmente, se discorrerá sobre a importância da
conservação da rocha para a sua durabilidade, juntamente com a introdução dos conceitos de alteração
e degradação de rochas, com exemplos de algumas deteriorações mais freqüentes, bem como algumas
considerações sobre os procedimentos de limpeza e manutenção correntes. Deve-se ressaltar que não
é escopo deste trabalho, oferecer orientações sobre a fixação e assentamento de rochas.
Definições e Terminologia
Os termos rochas ornamentais e para revestimento ainda não são consensualmente definidos.
Simplificadamente, pode-se entender como rocha ornamental os materiais rochosos aproveitados pela
sua aparência estética e utilizados como elemento decorativo, em trabalhos artísticos e como material
para construção.
Revestimento, nesse sentido, é uma aplicação específica das rochas ornamentais. São produtos
do desmonte de materiais rochosos em blocos e de seu subseqüente desdobramento em chapas,
posteriormente acabadas (polidas, apicoadas, etc.) e cortadas em placas ou ladrilhos para uso na
construção civil. Ressalta-se que esse material se constitui no foco deste Capítulo.
Para efeito comparativo, reproduzem-se (Tabela 1) os conceitos estabelecidos pelas principais
entidades normalizadoras, tanto no âmbito nacional (Associação Brasileira de Normas Técnicas –
ABNT) quanto internacional (American Society for Testing and Materials – ASTM e European
Commission for Normalization – CEN).
154 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 1 – Algumas definições para os termos rochas ornamentais e rochas para revestimento.
ASTM
Rocha
Ornamental
Monumental stone: rocha de
qualidade adequada para ser
minerada e cortada como
rocha dimensionada, tal qual
existe na natureza e usada
pela indústria de monumentos
e memorial.
CEN
ABNT
—
Material rochoso natural,
submetido a diferentes graus
ou tipos de beneficiamento,
utilizado para exercer uma
função estética.
Rocha para
Revestimento
Building stone: rocha natural,
com qualidades necessárias
para ser minerada e cortada
como rocha dimensionada,
tal qual existe na natureza e
usada na construção.
Building stone: rocha natural
usada em construções e em
monumentos
Rocha natural que, submetida
a processos diversos de
beneficiamento, é utilizada no
acabamento de superfícies,
especialmente pisos, paredes
e fachadas, em obras de
construção civil.
Rocha
Dimensionada
Dimension stone: rocha
natural que foi selecionada
e cortada em tamanho e
formas específicos.
= bloco bruto (rough block).
—
Fontes: BSI, 2002; ASTM, 2003; ABNT, 2004.
ROCHAS UTILIZADAS NO REVESTIMENTO DE EDIFICAÇÕES
Rocha é um corpo sólido natural, resultante de um processo geológico determinado, formado
por agregado de um ou mais minerais, arranjados segundo as condições de temperatura e pressão existentes
durante sua formação (FRASCÁ; SARTORI, 1998). Também podem ser corpos de material mineral não
cristalino, como o vidro vulcânico (obsidiana) e materiais sólidos orgânicos, como o carvão.
De acordo com seu modo de formação, constituem três grandes grupos: ígneas, sedimentares
e metamórficas, cada qual com características peculiares.
A determinação da natureza das rochas é feita por meio das observações realizadas em trabalhos
de campo, tais como: forma de ocorrência, estruturas, tipos rochosos associados e outros. Sua classificação
petrográfica (usualmente determinada em estudos microscópicos) é fornecida com base na composição
mineral, arranjo textural e granulometria, cada qual com maior importância relativa conforme o tipo de
rocha. O conjunto desses parâmetros define o comportamento físico e mecânico das rochas.
Rochas Ígneas
As rochas ígneas ou magmáticas são aquelas que resultam da solidificação de material rochoso
parcial a totalmente fundido (denominado magma), gerado no interior da crosta terrestre.
Conforme o local de formação, distinguem-se dois tipos: a) plutônicas ou intrusivas: formadas
em profundidade, no interior da crosta terrestre, pelos lentos processos de resfriamento e solidificação
do magma, resultando em material cristalino, geralmente de granulação grossa e de formas definidas;
b) vulcânicas ou extrusivas: formadas na superfície terrestre, ou nas suas proximidades, pelo
extravasamento, explosivo ou não, de lava (material ígneo que alcança a superfície da Terra) por
orifícios vulcânicos. Resulta em material vítreo ou cristalino de granulação fina.
As principais rochas ígneas usadas em revestimentos acham-se listadas na Tabela 2.
As rochas ígneas, caracteristicamente, exibem estrutura homogênea (isótropa ou maciça) o
que, por conseqüência, lhes confere propriedades físicas similares, independentemente do plano e
direção considerados para extração e corte das chapas.
As rochas porfiríticas (que apresentam cristais maiores (fenocristais) dispersos em matriz
uniformemente mais fina ou vítrea) podem constituir exceção, pois as dimensões excessivas
(centimétricas) de feldspatos interferem na resistência mecânica.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 155i
Tabela 2 – Rochas ígneas utilizadas em revestimentos.
Rocha
Estrutura(1)
Textura(2)
Cor
Minerais Essenciais
Exemplos de
rochas
comerciais
Granito(3)
Maciça
Granular fina a
Cinza a rosagrossa/ porfirítica. avermelhado.
Quartzo, plagioclásio,
feldspato potássico
(biotita/hornblenda).
Vermelho Capão
Bonito, Branco
Cristal, Branco
Ceará, Rosa
Iracema, Cinza
Andorinha, Cinza
Corumbá,
Dourado Carioca.
Riólito(4)
Maciça/vesículoamigdaloidal
Granular cripto a
microcristalina/
porfirítica.
Cinza a rosada
Quartzo, plagioclásio,
feldspato potássico
(biotita/hornblenda).
Azul Paramirim,
Sucuru
Diorito(3)
Maciça
Granular fina
a grossa.
Cinza-escuro.
Plagioclásio, biotita,
hornblenda (quartzo/
feldspato potássico).
Preto São Marcos,
Preto Piracaia,
Preto Bragança,
Preto São Gabriel.
Maciça/fluxionar
Granular fina
a grossa.
Rosa a marromavermelhado.
Feldspato potássico
(biotita/hornblenda)
(aegirina) (nefelina/
sodalita).
Azul Bahia, Café
Brasil, Café
Imperial.
Maciça
Granular grossa
fina a média.
Cinza-escuro
a preta.
Plagioclásio cálcico,
augita, opacos.
Preto Absoluto,
Preto Café de
Minas
Basalto(4)
Maciça/vesículoamigdaloidal
Granular cripto
a microcristalina/
vítrea
Cinza-escuro
a preta.
Plagioclásio cálcico,
augita, opacos.
Preto Santa
Vitória.
Charnockito(3)
Maciça
Granular fina
a grossa /
porfirítica.
Verde-escuro.
Quartzo, plagioclásio,
feldspato potássico,
hiperstênio, (biotita/
hornblenda).
Verde Labrador,
Verde Pavão.
Sienito(3)/
Nefelina Sienito(3)
Gabro(3)/
Diabásio
Estrutura: compreende a orientação e a posição de massas rochosas em uma determinada área e, também, as feições resultantes de processos
geológicos como falhamentos, intrusões ígneas e outros.
(2)
Textura: é o arranjo microscópico dos minerais. Está intimamente relacionada à mineralogia e às condições físicas vigentes durante a formação
da rocha. A definição dos outros termos empregados nessa Tabela poderá ser consultada em FRASCÁ; SARTORI (1998).
(3)
Rochas de origem plutônica.
(4)
Equivalentes às rochas anteriores, porém vulcânicas, ou seja, têm a mesma composição mineralógica e química, mas apresentam granulação
fina ou vítrea.
Fontes: FRASCÁ; SARTORI (1998), FRASCÁ et al. (2000); ABIROCHAS (2003).
(1)
Em geral, são compostas por quartzo e feldspatos, esses os minerais mais abundantes e, em
geral, responsáveis pelas cores que exibem. Minerais máficos (anfibólios, micas e piroxênios) e minerais
opacos (óxidos de ferro) são os responsáveis pelas cores escuras de determinadas rochas: basaltos,
dioritos, gabros, etc., comercialmente conhecidos como granitos pretos.
Cores exóticas são conferidas por minerais específicos, como, por exemplo, a sodalita, nos
sodalita sienitos, comercializados sob a designação Azul Bahia.
Rochas Sedimentares
Rochas sedimentares são aquelas resultantes da consolidação de sedimentos, ou seja, de
partículas minerais provenientes da desagregação e transporte de rochas preexistentes (ex.: arenitos,
folhelhos) ou da precipitação química ou ação biogênica (ex.: calcários).
As principais rochas sedimentares usadas em revestimentos estão relacionadas na Tabela 3.
156 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 3 – Rochas sedimentares utilizadas em revestimentos.
Rocha
Estrutura
Textura
Cor
Minerais Essenciais
Exemplos
de rochas
comerciais*
Arenito
Isótropa / laminada
Clástica.
Branca, bege,
amarelada,
avermelhada,
rosa, azul.
Quartzo, feldspatos.
cimento: sílica,
carbonato,
argilominerais.
Pink Brasil,
Rosa Bahia.
Calcário
Isótropa / laminada
Granular cripto a
microcristalina.
Branca, bege,
alaranjada,
amarronzada, preta.
Calcita / dolomita.
Crema Marfil
(Espanha);
Pedra Cariri.
Travertino
Laminada /
vacuolar / brechada
Granular
microcristalina.
Amarelo claro
amarronzado.
Calcita (± fósseis).
Bege Bahia,
Travertino
Romano (Itália).
*Abirochas, 2003.
Rochas Metamórficas
Rochas metamórficas são aquelas derivadas de outras preexistentes que, no decorrer dos processos
geológicos, sofrem mudanças mineralógicas, químicas e estruturais, no estado sólido, em resposta a
alterações nas condições físicas (temperatura e pressão) e químicas existentes no interior da crosta terrestre.
As principais rochas metamórficas usadas em revestimentos podem ser vistas na Tabela 4.
A rocha resultante de um processo metamórfico depende essencialmente da sua composição
original, das condições de pressão e temperatura e dos fluidos envolvidos. Pode ocorrer desde a
recristalização mineral (aumento de tamanho), fenômeno predominante nas rochas monominerálicas;
por exemplo, calcários e quartzo arenitos que, ao se recristalizarem, passam a constituir os calcita
mármores e quartzitos, respectivamente; ou por reações metamórficas, com o aparecimento de novos
minerais em equilíbrio estável com essas condições.
Sob a influência de temperatura e pressão, os minerais recristalizados ou neoformados tendem
a se deformar e orientar segundo direções preferenciais. Como resultado de processos tectônicos, são
geradas as estruturas gnáissica, milonítica e migmatítica.
A isorientação mineral e as deformações tectônicas (dobramentos, falhamentos, etc.) em gnaisses
e migmatitos, lhes conferem características físico-mecânicas heterogêneas, variáveis conforme o plano
e/ou direção de extração e corte.
CONCEITOS COMERCIAIS
Uma vez viabilizada a exploração mineral de uma jazida, as rochas para revestimento recebem
designações próprias, comerciais.
Também na esfera comercial, essas rochas passam a ser agrupadas em duas grandes categorias:
“granitos”, que englobam rochas silicáticas (ígneas plutônicas e vulcânicas e metamórficas), e “mármores”,
comercialmente entendidos como qualquer rocha carbonática, tanto de origem sedimentar (calcários) ou
metamórfica, passível de polimento. Também é comum o emprego da designação “rochas movimentadas”,
que engloba rochas com estruturas migmatíticas, bandadas ou gnáissicas.
Ardósias, quartzitos e outros materiais, como os metaconglomerados, também são largamente
utilizados como rochas para revestimento, com um espectro de uso diferenciado, relativamente aos
mármores e granitos. Técnica e comercialmente não devem ser englobadas nos dois grupos referidos
anteriormente e, aparentemente, o mercado passa a se referir a elas pelos nomes “científicos”.
No Brasil, também é muito usada, a pedra Miracema ou pedra Paduana, rocha metamórfica de
cor predominante cinza. A estrutura foliada, conferida pela forte milonitização e recristalização, permite
que seja extraída pela técnica de desplacamento, também empregada para ardósias e quartzitos foliados.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 157i
Tabela 4 – Rochas metamórficas para revestimento.
Rocha
Minerais Essenciais
Exemplos
de rochas
comerciais*
Estrutura
Textura
Cor
Ardósia
Clivagem
ardosiana
Lepidoblástica
muito fina.
Tons de cinza
ou marrom.
Sericita, quartzo.
Ardósia Cinza,
Ardósia Verde,
Ardósia Preta.
Xisto
Xistosidade
Lepidoblástica,
fina a média.
Tons de cinza
ou marrom.
Micas, quartzo.
Raramente
utilizado.
Gnáissica
Granolepido/
nematoblástica.
Tons de cinza,
por vezes
rosados.
Feldspatos, quartzo,
biotita e/ou hornblenda.
Azul Fantástico,
Verde Candeias,
Amarelo
Veneziano,
Amarelo Santa
Cecília, Arabesco,
Branco Itaúnas.
Migmatito
Migmatítica
Granoblástica/
(grano) nemato/
lepidoblástica.
Tons de cinza,
por vezes
rosados.
Feldspatos, quartzo,
biotita e/ou hornblenda.
Kashmir Bahia,
Rosa Imperial,
Kinawa Bahia,
Casablanca, Rosa
Beatriz.
Milonito
Milonítica
Milonítica.
Tons de cinza.
Sericita, feldspatos,
quartzo.
Pedra Paduana,
Pedra Madeira,
Floral Pádua Prata.
Metaconglomerado
Clástica/
recristalizada
Variada.
Variada.
Variada.
Paladium, Verde
Marinace,
Rhodium Bahia.
Branca, com
tons verdes
ou rosa;
opcionalmente
azul.
Quartzo, sericita
dumortierita (em
quartzitos azuis).
Pedra São Tome,
Pedra Luminárias,
Pedra Goiás, Azul
Macaúbas, Azul
Imperial.
Calcita e/ou
dolomita.
Branco Clássico,
Branco Italva,
Branco Paraná.
Gnaisse
Granoblástica/
granolepidoblástica.
Quartzito
Maciça/ foliada
Mármore
Maciça
Granoblástica
fina a média.
cinza a branca,
com tons verdes
ou rosa.
Serpentinito
Maciça/ venulada
Lepidoblástica.
Verde ou marrom. Serpentina.
Rosso
Sacramento.
Esteatito
Maciça/ foliada
Lepidoblástica.
Cinza a marrom.
Pedra-Sabão.
Talco.
*Abirochas, 2003. Fonte: FRASCÁ; SARTORI, 1998.
A rugosidade superficial, naturalmente resultante da utilização dessa técnica, faz com que seja
empregada na forma de lajotas ou blocos regulares como revestimento de muros, paredes e pisos,
especialmente de exteriores. Pedra Madeira é uma variação da pedra Miracema, com cores rosa,
amarela ou branca, em decorrência da maior alteração por intemperismo.
Não há normas para as designações comerciais. As rochas podem ser denominadas, maneira
mais recomendada, pela cor, seguida da localidade de produção, como, por exemplo: Vermelho Capão
Bonito, Branco Italva, Verde São Francisco e outros; ou receberem nomes fantasias, como: Marrom
Imperial, Samoa Light, Verde Labrador, Kinawa, etc.
NORMALIZAÇÃO EM ROCHAS PARA REVESTIMENTO
A correta utilização da rocha, similar aos outros materiais de construção, requer um quadro
normativo que permita a orientação na escolha do material rochoso adequado e que forneça parâmetros
para a elaboração de projetos arquitetônicos.
158 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Em geral, a normalização desenvolve-se em dois níveis: o dos procedimentos de ensaios e o das
especificações ou requisitos que os materiais devem cumprir, de acordo com os usos a que se destinam.
Existem diversas entidades normalizadoras, nacionais (ABNT) e internacionais, dentre as quais,
além das já mencionadas, destacam-se a British Standard Institution – BSI e a Deutches Institut für
Normung – DIN.
As normas de ensaio visam à padronização de procedimentos para a obtenção de parâmetros
físicos, mecânicos e petrográficos, que permitam a caracterização tecnológica da rocha, especialmente
para o uso no revestimento de edificações (FRASCÁ; FRAZÃO, 2002).
Os procedimentos de ensaios têm sido tratados de maneira semelhante, tanto pela ABNT,
como pelas entidades de normalização americana e européia; esta última se destacando por já publicar
normas que tratam de ensaios de alteração acelerada, simulando situações de uso e de degradação
selecionadas. Esses visam fornecer novos critérios para a escolha de materiais rochosos e informações
sobre a durabilidade do material, no uso pretendido.
Na ABNT ainda não se discutiu ou se publicou especificações ou requisitos para rochas para
revestimento. Além das normas sobre procedimentos laboratoriais, a ABNT dispõe de duas dirigidas
a projetos, execução e fiscalização de revestimento de paredes e estruturas com placas de rocha: a
NBR 13707/96: Projeto de Revestimento de Paredes e Estruturas com Placas de Rochas e a NBR
13708/96: Execução e Fiscalização de Revestimento de Paredes e Estruturas com Placas de Rochas,
respectivamente. Publicou-se, recentemente, a norma NBR 15012/04: Terminologia.
As especificações constituem-se na proposição de valores limites, máximos e mínimos, para
as propriedades determinadas nos diferentes materiais rochosos, com o objetivo de auxiliar na avaliação
da qualidade tecnológica das rochas, independentemente, em princípio, do tipo de utilização futura
dos produtos beneficiados.
Especificações têm sido alvo de trabalho de várias comissões e de publicações no âmbito das
ASTM e CEN que, por sua vez, apresentam características distintas no tratamento e entendimento
dessa questão.
A normativa européia baseia-se em três tipos de considerações: o conhecimento das propriedades
da rocha mediante ensaios em laboratório; o estabelecimento de procedimentos de controle do processo
de fabricação, de tal maneira que se podem garantir estatisticamente os valores característicos e as
propriedades do produto; e, por último, definição dos procedimentos de disposição de exemplares
padrões para a recepção em obra e os critérios para aceitação ou rejeição de lotes (MESONES, 2003).
Procura-se com isso introduzir a obrigação do fabricante estabelecer um sistema de autocontrole,
que permita facilitar aos seus clientes os parâmetros, que definem as características da rocha, garantidos
pelo próprio sistema. Para as grandes obras, conforme o uso, são estabelecidas as propriedades para a
caracterização inicial do material, a freqüência de controles para a produção, procedimentos para
atestados de conformidade e, por fim, as características essenciais que deverão acompanhar o produto.
Com isto, a CEN criou a etiqueta Marca CE, que é um rótulo que segue junto com cada lote ou
embalagem de ladrilhos e contém as propriedades estabelecidas para controle, normas adotadas, ano
de realização e o nome e endereço do fabricante (Figura 1).
Cabe salientar que na normativa européia também se estabelece a exigência da realização de
ensaios em laboratórios certificados (ISO 9001:2000).
A normativa americana, sob outra óptica, estabelece especificações para propriedades físicas
e mecânicas típicas dos grandes grupos de rochas ornamentais e para revestimento, fornecendo
parâmetros que auxiliam a avaliação das propriedades da rocha em foco. Em outras palavras, ao
fornecer os valores característicos de um determinado grupo de rocha, valores muito discrepantes
obtidos para rochas semelhantes alertam para investigações complementares ou alterações no projeto
arquitetônico, como a readequação da espessura e/ou tamanho das placas de rochas.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 159i
Figura 1 – Modelo de etiqueta com a marca CE (Fonte: pr EN 12057: Natural stone. Finished products,
modular tiles especification).
Recentemente, também elaborou guia para seleção de rochas ornamentais para uso em exteriores
(ASTM, 2002a). A ASTM também dispõe de normas para dimensionamento, escolha e teste de inserts
metálicos para o revestimento de exteriores.
ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA
O principal objetivo da realização de ensaios e análises em rochas ornamentais e para
revestimento, como já mencionado, é a obtenção de parâmetros petrográficos, físicos e mecânicos
que permitam a caracterização tecnológica da rocha para seu uso no revestimento de edificações.
Os ensaios procuram representar as diversas solicitações às quais a rocha é submetida, durante
todo o processamento, até seu uso final, quais sejam, extração, esquadrejamento, serragem dos blocos
em chapas, polimento das placas, recorte em ladrilhos, etc., e as variadas formas de aplicação de
cargas que poderá vir a suportar no uso especificado.
O conjunto básico de ensaios para a caracterização tecnológica de rochas está relacionado na
Tabela 5.
As Fotos 1 e 2 ilustram as principais diferenças entre os dois métodos de determinação de
resistência à flexão.
O ensaio de determinação da velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais
(m/s) permite avaliar, indiretamente, o grau de alteração e de coesão das rochas. É realizado,
complementarmente, em todos os corpos-de-prova destinados aos ensaios de compressão uniaxial e
de tração na flexão, e auxilia a interpretação dos resultados obtidos nesses ensaios.
160 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 5 – Ensaios e análises para caracterização tecnológica de rochas ornamentais e para revestimento.
ENSAIOS/ANÁLISES
FINALIDADE
Análise Petrográfica
Fornece a natureza, mineralogia e classificação da rocha, com ênfase às feições que poderão
comprometer sua resistência mecânica e afetar sua durabilidade e estética.
A análise fundamenta-se na observação de seções delgadas das rochas, estudadas ao
microscópio óptico de luz transmitida.
Densidade Aparente, Porosidade
Aparente e Absorção d’Água
Também referidas, no Brasil, como índices físicos. Referem-se à densidade aparente (kg/m3),
que fornece o peso da rocha, e à porosidade aparente (%) e absorção d’água (%), que permitem
avaliar, indiretamente, o estado de alteração e de coesão das rochas.
Compressão Uniaxial
Determina a tensão (MPa) que provoca a ruptura da rocha quando submetida a esforços
compressivos. Sua finalidade é avaliar a resistência da rocha quando utilizada como elemento
estrutural e obter um parâmetro indicativo de sua integridade física. O ensaio é executado em
corpos-de-prova, de formato cúbico, nas condições seca e saturada em água.
Nota: Em rochas gnáissicas ou com alguma orientação mineral visível, a tensão de ruptura é
obtida em duas direções: concordante e normal ao plano de orientação. Recomenda-se o uso
do menor valor obtido nessas condições na elaboração dos projetos arquitetônicos.
Tração na Flexão
(ou Flexão por Carregamento
em Três pontos, ou, ainda,
Módulo de Ruptura)
Determina a tensão (MPa) que provoca a ruptura da rocha quando submetida a esforços flexores
e permite avaliar sua aptidão para uso em revestimento, ou elemento estrutural, possibilitando
o cálculo de parâmetros, como espessura. Também é um dado indicativo da resistência da
rocha à tração.
É realizado em corpos-de-prova, de formato retangular, nas condições seca e saturada em água.
Nota: Idem ao ensaio de compressão.
Flexão
(ou Flexão por Carregamento
em Quatro Pontos)
Simula os esforços flexores (MPa) em placas de rocha, com espessura predeterminada, apoiadas
em dois cutelos de suporte e com dois cutelos de carregamento. É particularmente importante
para dimensionamento de placas a serem utilizadas no revestimento de fachadas com o uso
de sistemas de ancoragem metálica para a sua fixação.
É realizado em corpos-de-prova obtidos a partir de placas de rocha com o acabamento desejado, preferencialmente com espessura de 3 cm, nas condições seca e saturada em água.
Nota: idem ao ensaio de compressão.
Dilatação Térmica Linear
O coeficiente de dilatação térmica linear (10-3 mm/m×oC) é determinado ao se submeter as
rochas a variações de temperatura em um intervalo entre 0oC e 50oC. É importante para o
dimensionamento do espaçamento das juntas em revestimentos.
Desgaste Abrasivo
Indica a redução de espessura (mm) que placas de rocha apresentam após um percurso abrasivo
de 1.000 m, na máquina Amsler. O abrasivo utilizado é areia essencialmente quartzosa. Este
ensaio procura simular, em laboratório, a solicitação por atrito devida ao tráfego de pessoas ou
veículos.
Impacto de Corpo Duro
Fornece a resistência da rocha ao impacto, obtida por meio da determinação da altura de
queda (m) em que uma esfera de aço provoca o fraturamento e quebra de placas de rocha. É
um indicativo da tenacidade da rocha.
Os valores relativamente mais altos, num conjunto de corpos-de-prova de uma mesma amostra
ou entre amostras de rochas semelhantes, indicam um menor grau de alteração e uma maior coesão
entre seus minerais formadores.
Sua relevância reside em se tratar de um dos poucos ensaios não destrutivos disponíveis para
verificação de propriedades rochosas, sendo assim, também muito empregado na avaliação da
degradação de rochas, especialmente nos estudos de recuperação de monumentos históricos.
O entendimento da importância da caracterização do produto, ou seja, das placas e ladrilhos
pétreos, para a melhor adequação dos projetos ao material especificado, é relativamente recente e, em
parte, decorrente do crescente consumo, nacional e internacional, de rochas para revestimento.
Concomitantemente, cresce a tendência de também se determinar propriedades físicas (especialmente
a de absorção de água) e mecânicas (resistências ao impacto e à flexão) do material beneficiado
(placas e ladrilhos), bem como submeter o material a ensaios de alteração acelerada visando a maior
segurança e durabilidade da obra.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 161i
Foto 1 – Tração na flexão (módulo de ruptura). Detalhe
de corpo-de-prova retangular, com 5 cm de espessura,
rompido após a aplicação de esforços. Notar a aplicação de carga no centro do corpo-de-prova.
Foto 2 – Flexão. Detalhe de corpo-de-prova, obtido a
partir de rocha beneficiada, rompido após a aplicação
de esforços. Notar aplicação de carga em dois pontos,
a 1/3 das laterais direita e esquerda do corpo-de-prova.
O único ensaio rotineiro que tem sido obrigatoriamente executado em rocha beneficiada é o de
determinação da resistência à flexão, realizado no Brasil segundo a norma ASTM C880/98.
Os ensaios rotineiros (Tabela 6) para a caracterização tecnológica de rochas para revestimento
seguem normas nacionais, preferencialmente, ou internacionais, especialmente na ausência dessas.
USOS
Tradicionalmente, as rochas graníticas, pela sua durabilidade e enorme variedade de cores e
padrões texturais e estruturais, são as mais utilizadas nos revestimentos de exteriores, tanto em pisos
como fachadas. Os mármores as seguem de perto, principalmente no tocante ao revestimento de interiores.
Quartzitos foliados (em inglês, flagstones), comercializados sob as designações de pedra mineira,
São Tomé, etc., e outras rochas, que, pelo seu processo de extração (como, por exemplo, a pedra Miracema),
naturalmente exibem superfície rugosa e não são submetidas a processos de beneficiamento onerosos,
são predominantemente utilizadas no revestimento de pisos e pavimentos exteriores.
Ardósias são muito utilizadas como telhas, especialmente na Europa, por sua grande resistência
à flexão, que lhes permite suportar o peso da neve, nos meses de inverno. No Brasil, seu principal uso
é no revestimento de pisos de ambientes rústicos, aliando seu padrão natural e baixo custo de extração
e produção.
Em países com longo histórico de utilização de rochas ornamentais, especialmente na Europa,
essas ainda são largamente utilizadas como elementos estruturais, ou seja, constituem a própria estrutura
da construção (geralmente residenciais com um ou dois pavimentos) compondo paredes ou telhados.
Nesses casos, além das funções estéticas, desempenham importante função de sustentação (ou loadingbearing), suportando cargas compressivas e outras.
No Brasil, o uso da pedra é relativamente recente e as rochas ornamentais são utilizadas quase
que exclusivamente para revestimento, ou seja, com funções estéticas e de proteção a estruturas.
As principais aplicações, então, se traduzem no revestimento de pisos e escadas de interiores
e exteriores (também denominados revestimentos horizontais), fachadas e paredes de interiores e
exteriores (ou revestimentos verticais); às quais podem ser acrescentados os tampos de mesas e de
bancadas de cozinhas ou de lavatórios e arte funerária.
162 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 6 – Ensaios rotineiros de caracterização de rochas para revestimento e respectivas normas.
Ensaio
Norma ABNT
Análise Petrográfica
NBR 12768:1992
EN 12407:2000
Densidade Aparente, Porosidade
Aparente e Absorção d’Água
NBR 12766:1992
ASTM C97:2002
EN 1936:1999
EN 13755:2002
ASTM C121:1990(1999) (ardósias)
Coeficiente de Capilaridade
–
EN 1925:1999
Compressão Uniaxial
NBR 12767:1992
ASTM C170:1990(1999)
EN 1926:1999
Tração na Flexão
NBR 12763:1992
ASTM C 99:1987(2000)
EN 12372:1999
Dilatação Térmica Linear
NBR 12765:1992
EN 14581 (em votação para publicação)
Desgaste Abrasivo
ABNT NBR 12042:
1992(1) (Amsler)
ASTM C241:1990(1997) e1 (tráfego de pedestres) (1)
ASTM C 1353:1998 (Taber) (1)
EN 14157 (em votação para publicação) (1)
Flexão
Impacto de Corpo Duro
(1)
Norma Internacional
–
NBR 12764:1992
ASTM C 880:1998
ASTM C120:2000 (ardósias)
EN 13161:2001
EN 14158 (em votação para publicação)
Módulo de Elasticidade na Flexão
–
ASTM C 1352:1996 (2002)
EN 14580 (em votação para publicação)
Resistência ao Escorregamento
(Slippering)
–
EN 14231:2003
Velocidade de Propagação
de Ondas
–
ASTM D 2845:2000
EN 14579 (em votação para publicação)
Dureza Knoop
–
EN 14205:2003
Ensaios com a mesma finalidade, cujos resultados não são comparáveis entre si.
O principal uso, em escala mundial, segundo MONTANI (2003), é no revestimento de pisos
(Figura 2). No revestimento de paredes (interiores) e de fachadas (exteriores), a pedra é relativamente
menos utilizada (18%). Cerca de 15% das rochas ornamentais destinam-se a trabalhos especiais,
entendidos como tampos de banheiros e cozinhas, bancadas, etc. – “outros” usos, na Figura 2. Arte
funerária e usos estruturais, pouco expressivos no Brasil, respondem por aproximadamente 25% do
consumo mundial.
ESCOLHA DA ROCHA
A escolha da rocha,
empiricamente, baseia-se em
três fatores essenciais: o aspecto estético, o custo e o desempenho histórico dos
materiais nas condições de uso
pretendidas.
No passado, até o final
da década de 80, aproximadamente, esses critérios foram
Figura 2 – Principais usos das rochas ornamentais e para revestimento. satisfatórios, pois, entre outros
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 163i
fatores, o mercado era dominado por poucos tipos de rochas, principalmente granitos, com boas
propriedades tecnológicas e durabilidade, que eram basicamente utilizadas no revestimento de pisos e
paredes, predominantemente de interiores, etc.
Com o incremento do uso da pedra na construção civil, agora já utilizada para recobrir grandes
áreas ou fachadas inteiras, concomitantemente ao enorme incremento de tipos rochosos e padronagens
no mercado nacional, tornam-se absolutamente necessárias mudanças, tanto nos processos de escolha
da rocha quanto nos de colocação; juntamente com a disseminação de conceitos corretos no tocante à
manutenção e conservação do material, conferindo-lhe a durabilidade desejada.
Sem dúvida, o conjunto uso pretendido N padrão estético são os marcos iniciais da empreitada
e serão obrigatoriamente os referenciais para a escolha do material mais adequado.
O padrão estético é inerente à natureza da rocha, ou seja, à tipologia do jazimento, que é definido
pela composição mineralógica, intensidade e tipo de alteração da rocha, presença de tensões confinadas,
heterogeneidade estrutural e textural, entre outros. Também reflete as características intrínsecas peculiares,
quais sejam, suas propriedades físicas e mecânicas, e alterabilidade, que condicionarão os usos mais
adequados e a maior durabilidade da rocha no revestimento de edificações.
Essas características tornam praticamente único cada tipo de rocha usado em revestimento e é
o aspecto mais relevante e o diferencial em relação a outros materiais de construção usados para a
mesma finalidade.
Diferentemente dos materiais cerâmicos, que passam por um processo industrial, que modifica
os componentes minerais da matéria-prima e permite definir e controlar os parâmetros físicos e
mecânicos do produto final, cada rocha tem suas características próprias, exclusivas, inerentes à natureza
geológica do corpo rochoso do qual é explorada.
Essa peculiaridade traduz-se na necessidade de que cada tipo comercial tenha as suas
propriedades determinadas e, posteriormente, disponibilizadas para subsidiar os consumidores na
escolha de rochas para revestimento (FRASCÁ, 2002). As propriedades do material rochoso a serem
prioritariamente enfocadas, e caracterizadas tecnologicamente, acham-se na Tabela 7.
Destaca-se que, principalmente nas obras de grande porte, também deve se dispor de informações
tecnológicas que caracterizem o produto utilizado (ladrilhos e placas), como resistência à flexão, ao
Tabela 7 – Propriedades importantes para a escolha e utilização de rochas em revestimento, conforme
o emprego.
FUNÇÃO DO REVESTIMENTO
PROPRIEDADES
Pisos
Paredes
Tampos(*)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Int.
Ext.
Int.
Tipo de Rocha
x
x
x
Absorção de Água
x
x
Desgaste Abrasivo (Dureza)
x
x
Flexão
x
x
Compressão
(*)
Fachadas
Ext.
Dilatação Térmica
x
Acabamento Superficial
x
x
Resistência a Agentes de Limpeza
x
x
Durabilidade
x
Especialmente pias de cozinha.
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
164 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
impacto, absorção de água e outros. Caso a edificação se localize em região marítima, poluída ou
esteja sujeita a outros fenômenos atmosféricos, é fundamental conhecer seu desempenho em ensaios
de alteração acelerada, simuladores dessas situações (p. ex., exposição à névoa salina, dióxido de
enxofre, congelamento e degelo).
Os resultados desses, e de outros julgados necessários, servirão para a aceitação final do material
e para a elaboração do projeto arquitetônico, sob a responsabilidade e orientação de profissionais com
expertise na área (geólogos, especificadores, arquitetos, engenheiro e fornecedores).
Ainda em relação a grandes obras, contemplando substancial volume de material rochoso,
também é recomendado, antes da definição final do material a ser utilizado, garantir o fornecimento
de rocha, na quantidade e padrão definidos. Para tanto, deve-se conhecer a(s) jazida(s) fornecedora(s),
para indicação dos locais para extração dos blocos, e as serrarias para verificação dos processos de
corte e beneficiamento, para garantia da homogeneidade do produto (direção de corte, espessura,
acabamento, tamanho de ladrilhos, etc.)
Um roteiro simplificado para a escolha da rocha para revestimento de edificações é esboçado
na Figura 3.
Figura 3 – Roteiro simplificado para a escolha da rocha para revestimento.
Propriedades Tecnológicas
Entre as propriedades listadas na Tabela 7, algumas, por sua maior disseminação, e muitas vezes
por entendimento incorreto, estão ressaltadas a seguir.
Absorção de água– a determinação da absorção de água em rochas para revestimento, cujo
resultado é matematicamente proporcional à porosidade, é fornecida pela relação:
α = (msat – mseca)/(nseca) • 100
onde: α = absorção de água (%), mseca = massa seca (g); msat = massa saturada em água (g).
Considerada uma das propriedades mais importantes dos materiais rochosos usados em
revestimento, é entendida como o valor numérico que reflete a capacidade de incorporação de água,
que, por sua vez, é elemento cujo contato prolongado pode levar à deterioração do material.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 165i
Entre os vários agentes deletérios à rocha, a umidade, que pode ter diferentes origens, é uma
das mais importantes (AMOROSO; FASSINA, 1983), pois possibilitaria a reação química entre os
constituintes da rocha (intemperismo); o transporte de sais solúveis e a ação de poluentes atmosféricos.
Adicionalmente, a água é considerada um fator essencial para a geração de estresse interno, ou seja,
quando saturadas em água, as rochas têm menor resistência mecânica do que quando secas.
A absorção depende do sistema poroso da rocha, que é responsável pela permeabilidade à
água, cujo grau depende da estrutura capilar. Isto torna mais importante conhecer a distribuição e
tamanho dos poros da rocha do que a porosidade integral, pois o transporte de água é realizado por
meio dos capilares, para o que ainda não se dispõe de procedimento normalizado acessível.
Com isso, deseja-se mostrar que o valor de absorção, corriqueiramente obtido nas determinações
laboratoriais, é um valor de referência, útil para indicar as diferenças de absorção entre vários tipos de
rochas ornamentais ou fornecer elemento comparativo para rochas do mesmo tipo (ASTM, 2002b), e
dependente das dimensões do material, especialmente da espessura.
Dessa forma, valores altos de absorção ou limítrofes com as especificações disponíveis não
necessariamente desqualificam os materiais, mas torna indispensável uma avaliação mais criteriosa
por meio de ensaios tecnológicos adicionais ou de alteração, ou, ainda, comparativa ao desempenho
histórico dos mesmos, nas dimensões especificadas para a aplicação em foco.
Dureza – é a medida da resistência que a superfície do mineral oferece ao risco por outro
mineral ou por outra substância qualquer.
No caso de rochas para revestimento, refere-se à resistência ao corte pelos instrumentos
utilizados na lavra e beneficiamento e, também, à resistência ao desgaste abrasivo pelo trânsito de
pedestres ou veículos.
A determinação dessa propriedade é referida a uma escala padrão de dez minerais, conhecida
como Escala de Mohs (Tabela 8).
Tabela 8 – Escala de dureza de Mohs.
Escala de Dureza
Minerais Padrões
Composição Química
Referências Relativas
1
Talco
Mg3SiO4(OH)2
Risca-se com a unha.
2
Gipso
CaSO4.2H2O
Risca-se com a unha.
3
Calcita
CaCO3
Risca-se com objeto de cobre.
4
Fluorita
CaF2
5
Apatita
Ca5(PO4)3(F,Cl,OH)
Risca-se com o canivete
ou com o canto do vidro.
Risca-se com o canivete
ou com o canto do vidro
6
Ortoclásio
KAlSi3O8
Risca o vidro com dificuldade.
7
Quartzo
SiO2
Risca o vidro.
8
Topázio
Al2SiO4(OH,F)2
Risca o vidro.
9
Coríndon
Al2O3
Risca o vidro com facilidade.
10
Diamante
C
Risca o vidro com facilidade.
Tipos de Minerais
Moles
Semiduros
Duros
Como a dureza, tradicionalmente, é considerada uma propriedade característica de minerais,
não se dispõe, ainda, de determinações quantitativas ou qualitativas, consensuais, que forneçam a
dureza específica da rocha considerada.
Em geral, se estabelece uma escala comparativa de dureza dos diferentes grupos de rocha
utilizados em revestimentos, definida basicamente por aquelas dos minerais formadores da rocha
(Tabela 9).
166 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Tabela 9 – Durezas relativas entre os principais grupos rochosos utilizados em revestimentos.
Rocha
Minerais
Abrasão*
Corte*
Quartzitos
Quartzo
1
1
Granitos
Quartzo, feldspatos (granada)
2
2
Mármores, Calcários
Calcita, dolomita
3
4
Ardósias
Minerais do grupo da mica, clorita
4
3**
Serpentinito
Minerais do grupo da serpentina, talco
5
5
* Os números somente representam a hierarquia entre os grupos considerados, não se referindo a qualquer escala estabelecida.
** Considera-se que a extração é feita pela técnica de desplacamento.
Ressalta-se que, além desses aspectos relacionados a grandes grupos, também há particularidades
como os mármores com dolomita, que tendem a se desgastar menos, relativamente àqueles com calcita.
Os granitos pretos, em geral mais ricos em feldspatos e minerais máficos, tendem a perdem brilho (por
ter menor resistência ao desgaste abrasivo) mais rapidamente que os granitos vermelhos, os cinzas, etc.
Dessa forma, a hierarquia estabelecida (Tabela 9) visa principalmente à orientação dos especificadores
e usuários para o fato de que os diferentes tipos de rocha têm resistências à abrasão características que
devem ser consideradas na escolha e no projeto, dependendo das solicitações de uso em pisos.
É especialmente relevante ao se utilizar ladrilhos polidos em piso de alto tráfego, pois o brilho
tende a se preservar por maior tempo naqueles com maior resistência à abrasão. Igualmente importante
é procurar não misturar materiais com resistências abrasivas diferentes.
Orientações para Projetos
Uma vez definida(s) a(s) rocha(s) a ser(em) utilizada(s) no revestimento, conhecidos os parâmetros
físicos e mecânicos e iniciada a elaboração do projeto final, torna-se importante definir algumas
características do produto rochoso a ser utilizado (amostra-referência, espessura, etc.).
Amostra-referência – facilitará a recepção dos materiais na obra e deve ser constituída por várias
peças, com tamanho suficiente para indicar a aparência do trabalho final. A CEN (CEN 1341:2001 e prEN
1469:2003) indica que as dimensões devem ser entre 0,01 m2 e 0,25 m2 e que deve mostrar a variação de
aparência relativa à cor, estrutura, padrão de distribuição de veios, lentes, etc. e o acabamento superficial.
Em suma, a amostra-referência deve possuir as características específicas da rocha, como as
cavidades em travertinos, venulações, presença de xenólitos (“mulas”), alterações intempéricas em
minerais e outros. Deve indicar a tonalidade geral e o acabamento da rocha, mas não implica total
uniformidade entre a amostra e o material fornecido, pois variações naturais são comuns.
Caso seja utilizado algum tipo de tratamento no processamento da rocha, este deve estar
contemplado na amostra-referência.
Todas as características exibidas na(s) amostra(s)-referência devem ser consideradas típicas
da rocha e não como defeitos e, portanto não se constituirão critérios para rejeição, a não ser que se
tornem excessivos e descaracterizem o material fornecido.
A comparação entre a amostra de produto e a amostra-referência deve ser feita colocando-as
lado a lado e observando-as a cerca de dois metros em condições normais sob a luz do sol (BSI, 2001).
Acabamentos de Superfícies
O acabamento da superfície das rochas para revestimento tem duas funções básicas: estética e
funcionalidade.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 167i
O aspecto a ser enfatizado é a funcionalidade, ou seja, a relação tipo de acabamento e uso. No
revestimento de pisos em exteriores, o acabamento rústico ou com rugosidade é obrigatório, de modo a
evitar acidentes, como a queda de pedestres. A depender da intensidade de tráfego, condições de declividade do terreno e outros, sugere-se que acabamentos polidos não sejam utilizados nem como detalhes
decorativos. Os principais acabamentos disponíveis (ASTM, 2002a) acham-se listados na Tabela 10.
Esses acabamentos podem ser feitos em quase todas as rochas, com algumas restrições (Tabela
11), seja por incompatibilidade do material rochoso com a técnica utilizada, como o flameamento de
Tabela10 – Principais acabamentos disponíveis para rochas para revestimento.
Acabamento
Características
Polido
Acabamento plano, liso, lustroso e altamente refletivo produzido por abrasão mecânica e
polimento.
Levigado
Acabamento plano e não refletivo; produzido por abrasão mecânica, em diferentes graus.
Flameado (ou Térmico)
Acabamento realizado por meio de uma rápida exposição do material a uma chama em alta
temperatura (maçarico), resultando na esfoliação da superfície da rocha, tornando-a rugosa.
Jato de Areia (ou Jateamento)
Acabamento produzido por um jato de partículas altamente abrasivas em alta velocidade. Seu
resultado é uma superfície finamente rugosa que, em geral, deixa a rocha pouco mais clara do
que sem acabamento.
Apicoado
Acabamento conseguido por meio de um martelo pneumático com cabeça em carbeto, com
numerosas pontas. O resultado é uma superfície rugosa, com relevo de até vários milímetros. A
direção da aplicação do acabamento pode ou não ser observável.
Quebra (Split ou Splitface)
Refere-se à superfície de quebra natural que se dá quando a rocha é partida por meio de cunhas.
Alisamento (Smooth)
Como sugerido pelo próprio nome, trata-se de uma superfície lisa, ou plana, com mínima
interrupção.
Serragem (Sawn)
Termo geral que descreve uma superfície serrada. Comparativamente, é mais rústica que padrão
levigado ou alisado.
Fratura Natural
Superfície de quebra natural conseguida pela separação de material ao longo de planos naturais
de clivagem. Geralmente é utilizada para ardósias, mas pode ser aplicada em outros tipos rocha.
Fonte: ASTM C 1528/2002 (modificada).
Tabela 11 – Principais acabamentos disponíveis conforme o tipo de rocha.
Acabamento
Tipo de Rocha
Granitos
Mármores
Calcários
Rochas Quartzosas
Ardósias
Polido
x
x
x
x
x
Levigado
x
x
x
x
x
Flameado
x
Jato de Areia
x
x
x
x
Apicoado
x
x
x
x
Quebra
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Alisamento
Serragem
Fratura Natural
Fonte: ASTM C 1528/2002 (modificada).
x
x
x
168 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
calcários, ou outras, por questões de custos onerosos, em relação à valorização de mercado, como o
acabamento polido de rochas muito ricas em quartzo.
Requisitos Dimensionais
Os requisitos dimensionais são propostos em normas da CEN, como controle de qualidade de
materiais fornecidos em dimensões específicas, visando incrementar a beleza e a uniformidade do
trabalho final.
Ressalta-se que a espessura requerida para as chapas deve resultar de uma análise estrutural ou
procedimento similar, que leve em conta as propriedades tecnológicas e físicas da rocha e o uso pretendido.
A CEN propõe algumas tolerâncias (Tabela 12) para placas de rocha para revestimento de fachadas
e de pisos exteriores, válidas somente para chapas obtidas por processos de serragem e polimento.
Tabela 12 – Tolerâncias dimensionais propostas para placas e ladrilhos para revestimento.
Revestimento de Piso – Exteriores
(EN 1341:2001)
Revestimento de Paredes
e Fachadas
(prEN 1469)
Espessura (e)
Planicidade
e ≤ 30 mm
± 3 mm
± 10 %
30 mm < e ≤ 80 mm ± 3 mm
30 mm < e ≤ 60 mm
± 4 mm
± 3 mm
e > 80 mm ± 5 mm
e > 60 mm
± 5 mm
± 4 mm
0,2 % para o comprimento
da chapa, não excedendo 3 mm
–
–
–
≤ 700*
± 4 mm
< 600 mm
Comprimento ou
Largura Nominal
Classe 1 – T1 Classe 2 – T2
12 mm < e ≤ 30 mm ± 10 %
e > 50 mm
± 2 mm
± 2 mm
< 600 mm
e ≤ 50 mm
± 1 mm
> 700*
± 5 mm
± 3 mm
≥ 600 mm
e > 50 mm
± 3 mm
quebrada
± 10 mm
± 10 mm
≥ 600 mm
e ≤ 50 mm
± 1,5 mm
–
–
* Bordas serradas.
Fontes: EN 1341:2001 e prEN 1469 (Natural stone finished products cladding. Specifications).
Deve-se mencionar que, no Brasil, a ABNT (1982a, b) já publicou normas indicando tamanhos
padrões para placas de mármores utilizados em revestimentos verticais de exteriores e de pisos.
Essas visavam à padronização de placas moduladas e redução da diversificação desnecessária de
formatos, mas aparentemente não foram extensivamente adotadas pelo mercado.
Importância da espessura e da carga suportada por ladrilhos– atualmente, as placas e
ladrilhos de rochas para revestimento podem ser fabricados em diversas espessuras. Em geral,
predominam aquelas entre 2 cm e 3 cm, as mais requisitadas e já com grande eficiência de produção.
As espessuras mínimas desejáveis, ou mais seguras, variam conforme o uso e solicitações
pretendidos. As placas ou ladrilhos mais finos são mais apropriados para baixas solicitações ambientais
e de carga, cuja progressão recomenda proporcional incremento da espessura.
Baseando-se nas dimensões padrão comercialmente disponíveis, a ASTM (2002a) sugere as
espessuras mínimas a serem consideradas conforme o uso e ambiente (exteriores ou interiores) de
utilização, como será exemplificado adiante.
Orientações para cálculo de espessura e carga de ruptura – a resistência da placa ou ladrilho para pisos é determinada calculando-se a carga mínima de ruptura (P, em kN), por meio da
equação (BSI, 2001):
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 169i
P=
Rtf • W • t2
1500 • L • 1,6
onde: Rtf = resistência à flexão (MPa); W = largura do ladrilho (mm); t = espessura do ladrilho
(mm); L = comprimento do ladrilho (mm); P = carga de ruptura (kN) e 1,6 = fator de segurança.
As dimensões mencionadas são as de trabalho e a equação apresentada é válida para chapas
com até 900 mm de aresta.
Alternativamente, a espessura (mm) requerida para a placa ou ladrilho para qualquer classe de
uso pode ser calculada pela mesma equação (BSI, 2001):
1,6 • 1500 L • P
t=
Rtf • W
A BSI (2001) também apresenta as cargas de rupturas sugeridas para as diferentes classes de
uso em pisos (Tabela 13).
Tabela 13 – Cargas mínimas de ruptura.
Classe
Carga de Ruptura (min) kN
0
Não Requerida
Uso Típico
1
0,75
2
3,5
Áreas de pedestres e bicicletas. Jardins, balcões.
3
6,0
Entradas de garagem. Acesso ocasional de motocicletas, veículos leves e carros.
4
9,0
Áreas de trânsito de pedestre, locais em mercados e lojas ocasionalmente
utilizados para veículos de carga ou de emergência.
5
14,0
Áreas de pedestres freqüentemente utilizadas por caminhões pesados.
6
25,0
Rodovias e ruas, postos de gasolina.
Decoração
Placas assentadas em argamassa, áreas somente de pedestres.
Fonte: EN 1341:2001.
MESONES et al. (2001) exemplifica os requisitos indicados com o cálculo da espessura de
ladrilhos para um pavimento de granito, com 80 cm de comprimento (L) e 40 cm de largura (W), em
uma área Classe 4 (P = 9,0 kN) , que tenha uma resistência à tração na flexão de 13 MPa (Rtf), para os
quais se obtém uma espessura adequada de 6 cm, como a seguir:
t=
1,6 • 1500 • 800 • 9 = 57,6 mm ≅ 6 cm
13 • 400
O cálculo da espessura de placas para revestimento de fachadas aeradas é mais complexo e
leva em conta o momento máximo na placa, relacionado aos esforços horizontais máximos (seja de
pressão ou sucção) nas diferentes áreas da edificação, e a resistência à flexão da rocha (MESONES et
al., 2001).
Procedimentos de Fixação
A colocação das rochas nas edificações residenciais e comerciais, cujas técnicas não serão
aqui objeto de detalhamento, pode ser realizada de várias maneiras. Pisos e paredes (interiores ou
exteriores de residências) são costumeiramente assentados com argamassa, convencional ou colante.
O revestimento de fachadas, atualmente, é feito pela fixação das placas de rocha por elementos
e pinos metálicos (inserts), preferencialmente de aço inoxidável, conhecido pelo método fachadas
ventiladas ou aeradas.
Em pisos de escritórios e áreas externas de edifícios comerciais, tem sido utilizada a técnica
chamada “piso elevado”, que permite a passagem e fácil acesso a tubulações e fiações.
170 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Cada um desses métodos envolve o uso de tecnologias diversificadas, muitas vezes simples na
concepção, mas complexas na execução, exigindo o emprego de mão-de-obra qualificada, importante
parâmetro para assegurar a durabilidade e beleza do empreendimento.
CARACTERÍSTICAS DAS ROCHAS PARA REVESTIMENTO MAIS COMUNS
A grande variedade de rochas para revestimento existente atualmente no comércio é o resultado
do crescimento e aprimoramento da cadeia produtiva de rochas para revestimento, nacional e
internacionalmente, que cada vez mais investe na descoberta de novos depósitos e aperfeiçoamento
ou desenvolvimento de tecnologias extrativas e de processamento.
Ao lado deste fato, altamente benéfico para projetistas, construtoras, arquitetos e consumidores,
ao possibilitar um grande leque de materiais rochosos com aspectos estéticos e resistências mecânicas
diferenciados para serem utilizados nas obras, surge a demanda de urgentes esclarecimentos sobre as
principais diferenças entre os materiais disponíveis para orientação dessa escolha, visando à melhor
adequação da relação estética x custos x durabilidade.
Comercialmente, a maioria dos materiais disponíveis constitui quatro grandes grupos: granitos
(que também inclui gnaisses, migmatitos, “granitos” “pretos” e “amarelos”), mármores, quartzitos e
ardósias, cada qual com características próprias e distintivas (Tabela 14), que os tornam mais ou
menos apropriados para as solicitações inerentes ao uso desejado.
Tabela 14 – Comparação, simplificada, das propriedades relativas entre os diferentes tipos rochosos
relativamente aos granitos (adaptado de FRASCÁ, 2002).
Rocha
Peso
(densidade)
Absorção
d’Água
Resistência
à Abrasão
Resistências
Mecânicas(*)
Rochas Movimentadas (1)
=
=
=
= ou <(2)
Granitos Amarelos
= ou <
>
<
< ou <<(2)
Granitos Pretos
>
=
<
=
Mármores
= ou < (travertinos)
<
<<
< a <<
Quartzitos
< a <<< (arenitos)
> a >>> (arenitos)
=
= a <<< (arenitos)
Ardósias
<
=
<
>(3)
Obs.: São considerados, para comparação, granitos “verdadeiros”, homogêneos e inalterados, por ex. Vermelho Capão Bonito.
(*)
Resistências à compressão e flexão.
(1)
Gnaisses/migmatitos.
(2)
Propriedades determinadas segundo o plano de gnaissificação da rocha (de menor resistência mecânica).
(3)
Considera-se somente a resistência à flexão.
Granitos
Comercialmente, os granitos, como já comentado, compreendem as rochas ígneas ou metamórficas
compostas por quartzo, feldspatos e minerais máficos. A quantidade, dimensões, variedades e disposição
tridimensional dos minerais respondem pela abundância de padrões estéticos dos granitos para
revestimento, que também são as rochas com maior variedade de usos.
Granitos podem ser aplicados em revestimentos, pisos e paredes de interiores e exteriores, fachadas,
balcões, tampos e outros. Também são frequentemente utilizados em monumentos ou arte funerária, nos
quais a durabilidade e resistência às intempéries são fatores primordiais (ASTM, 2002a).
Esses materiais permitem também grande variedade de acabamentos de superfície, que devem
ser conjugados com o uso em foco; p. ex., em áreas com tráfego de pedestres deve ser dada preferência
para acabamentos rústicos (apicoado, flameado, jateado, etc.), com maior resistência a escorregamentos.
Granitos com composição e distribuição mais homogêneas dos minerais tendem a apresentar
maior uniformidade no jazimento e nos blocos extraídos e, conseqüentemente, de propriedades físicas
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 171i
e mecânicas, independentemente da direção considerada. Torna-se importante critério ao se especificar
materiais para revestimento de grandes áreas, em que se desejem mínimas variações de cor, padrão e
propriedades mecânicas. Deve-se considerar, também, a maior facilidade para controle de qualidade
e recepção de material.
Ao se optar por rochas gnáissicas, ou seja, com forte orientação dos minerais, deve-se proceder
à cuidadosa caracterização das propriedades nos diferentes planos de corte da rocha, buscando-se a
definição daquele que combine as maiores resistências mecânicas com o padrão estético desejado.
Feito isso, também é importante a definição e uniformização da direção de corte, para que o padrão
definido para placas e ladrilhos não apresente muitas variações.
ASTM (1999a) propôs especificações para rochas graníticas destinadas a revestimento de
exteriores (Tabela 15).
Tabela 15 – Especificações para granitos.
ρ
α
≥2.560
≤0,4
σc
σtr f
σf
Abrasão (Ha)
≥131
≥10,34
≥8,27
25
Nota: ρ = densidade aparente (kg/m ); α = absorção d’água (%); σc = resistência à compressão uniaxial (MPa);
flexão (MPa); σ f = resistência à flexão (MPa); Ha = resistência à abrasão, conforme ASTM C 241/90.
Fonte: ASTM C 615/99.
3
σtr f = resistência à tração na
Os valores propostos pela ASTM (1999a) representam aqueles de granitos com um histórico
de sucesso no uso em revestimentos de edificações e também com propósitos estruturais. Granitos
com propriedades físicas e mecânicas abaixo dos valores mínimos especificados também podem vir a
ser utilizados, desde que o especificador tenha avaliado as características relevantes do granito e
considerados tanto os efeitos estruturais quanto as características do material, como durabilidade,
mudanças de volume, módulo de elasticidade, dilatação térmica e outros.
A despeito da variada gama de espessuras hoje disponíveis para ladrilhos e placas, a ASTM
(2002a) lista aquelas mais indicadas para granitos (Tabela 16), conforme a aplicação.
Tabela 16 – Espessuras mais indicadas para granitos, conforme uso.
Espessura
10 mm
20 mm
30/32 mm
40 mm
Aplicações Adequadas
Ladrilhos “extrafinos” para aplicação em interiores (paredes e pisos).
Espessura mais comum para tampos e revestimento de paredes e pisos de interiores.
Geralmente considerada a espessura mínima para aplicações em exteriores, a não ser que
critérios específicos de projeto imponham o uso de espessuras menores.
Espessura mais típica para placas de revestimentos de exteriores, quando as cargas projetadas
excedem a capacidade suportada por placas com 30 mm.
50 mm
Predominantemente para revestimento de exteriores, quando requisitado pelas grandes
cargas do projeto ou por se utilizar placas de grandes dimensões.
80 mm
Comum para pavimentos que estão sujeitos a tráfego de veículos.
>100 mm
Aplicações específicas, esculturas, monumentos, etc.
Fonte: ASTM C 1528/02, modificada.
Mármores
Mármores e calcários, como já definidos, são rochas compostas essencialmente por minerais
carbonáticos (calcita e/ou dolomita).
O travertino, uma variedade de calcário cristalino ou microcristalino, difere dos mármores e
calcários pela distintiva estrutura laminada ou por apresentar cavidades, com até vários centímetros.
172 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Os mármores têm sido utilizados em edificações desde a antigüidade, especialmente pela
sua facilidade de extração e corte pois, por sua composição mineralógica, são rochas mais macias
que os granitos.
Comercialmente (ASTM, 2002a), no grupo dos mármores estão incluídos os mármores
verdadeiros; os calcários compactos, densos, capazes de serem polidos; os travertinos e os serpentinitos
(rochas predominantes ou inteiramente compostas de silicatos hidratados de magnésio).
ASTM (2002a) classifica os mármores em quatro grupos quanto à sanidade, com base nas
práticas usuais de fabricação e manuseio envolvidas no trabalhamento do material, enfatizando que
essa classificação não tem qualquer relação com o seu custo.
- Grupo A: mármores sãos, com qualidades favoráveis de trabalhamento; não contêm
“defeitos”1 geológicos ou cavidades;
- Grupo B: mármores similares ao Grupo A, mas com qualidades menos favoráveis; podem
apresentar “defeitos” naturais. Quantidades limitadas de cera, colas e preenchimento podem
ser necessárias;
- Grupo C: mármores com algumas variações na qualidade de trabalhamento – “defeitos”
geológicos, cavidades, veios e linhas de separação são comuns. É prática normal reparar
essas variações com ceras, colas, preenchimentos ou cimentação. Telas e outros tipos de
reforços são usados, quando necessário;
- Grupo D: mármores similares aos do Grupo C, mas contendo uma grande proporção de
“defeitos” naturais e variações máximas de qualidades de trabalho, requerendo maior
utilização dos mesmos métodos de acabamento e reforço.
Os mármores dos grupos C e D podem ter restrições para uso em exteriores.
A ASTM (1999b) divide os calcários em três tipos: baixa, média e alta densidade (Tabela 17),
e propõe especificações que também contemplam mármores – exterior (ASTM, 1999c), travertino
(ASTM, 2002c) e serpentinito (ASTM, 2002d).
Mármores, largamente utilizados no revestimento de interiores, também podem ser utilizados
no revestimento de exteriores, com certas restrições, pois sua resistência à ação dos poluentes, chuva
Tabela 17 – Especificações para mármores, calcários, travertinos e serpentinitos.
Norma
Tipo de Rocha
ρ
Mármores –
Exterior (ASTM
C 503/99)
Calcita, Mármores
≥2.595
Dolomita, Mármores
≥2.800
I – Baixa Densidade
Calcários
(ASTM C
568/99)
α
σc
σtr f
σf
Abrasão (Ha)
≤0,20
≥52
≥7
≥7
10
≥1.760
≤12
≥12
≥2,9
II – Média Densidade
≥2.160
≤7,5
≥28
≥3,4
n.e.
10
III – Alta Densidade
≥2.560
≤3
≥55
≥6,9
≥2.305
≤2,5
≥52
≥6,9
≥6,9
≥34,5
≥4,8
≥4,8
≥69
≥6,9
≥6,9
Travertino
(ASTM C
1527/02)
I – Exterior
Serpentinito
(ASTM C
1526/02)
I – Exterior
II – Interior
II – Interior
≥2.560
≤0,20
≤0,60
10
10
Nota: ρ = densidade aparente (kg/m3); α = absorção d’água (%); σc = resistência à compressão uniaxial (MPa); σtr f = resistência à tração na
flexão (MPa); σ f = resistência à flexão (MPa); Ha = resistência à abrasão, conforme ASTM C 241/90; n.e. = não especificado.
1
Irregularidades no padrão estético da rocha, decorrentes da presença de veios, vênulas, fósseis, etc.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 173i
ácida, entre outros, é menor que a das rochas graníticas. Inicialmente, a ação destes pode propiciar a
perda de brilho, no caso de acabamento polido, e, ao longo do tempo, pode levar à dissolução dos
minerais carbonáticos, a partir da superfície exposta, o que concomitantemente leva ao decaimento
das propriedades físicas e mecânicas.
Alguns mármores podem exibir o fenômeno conhecido como “histeresis”, que se traduz em
uma mudança permanente de volume após ciclos térmicos, especialmente congelamento e degelo
(ASTM, 2002a). Manifesta-se como o abaulamento das chapas, sugerindo um efeito de almofadas,
que torna a face exposta mais vulnerável ao ataque químico e à deterioração por congelamento e
degelo. Espessuras adequadas, maiores que as convencionais, podem prevenir a degradação.
No caso de revestimentos verticais de exteriores, caso se faça uso dessas rochas, é recomendável
a utilização de materiais que apresentem propriedades compatíveis com as propostas pela ASTM
(Tabela 17), sempre com base no desempenho em situações de uso semelhante.
Nos travertinos, rochas calcárias com estrutura laminada e/ou vacuolar, a presença de vazios é
uma característica natural. Isto implica grande variedade de padrões que deve ser considerada na
definição da amostra padrão, escolhida com base em um número representativo das variações de cor,
textura e estrutura.
O desdobramento de chapas serradas segundo plano o paralelo às estruturas, em travertinos,
são denominados fleuri-cut (ou cross-cut) e, quando perpendicular, vein-cut (ASTM, 2002c).
As espessuras mais indicadas para mármores e calcários, conforme uso (Tabela 18), são
indicadas por ASTM (2002a).
Tabela 18 – Espessuras mais indicadas para mármores e calcários, conforme uso.
ESPESSURA
APLICAÇÕES ADEQUADAS
Mármore
Calcário
10 mm
–
Ladrilhos “extrafinos”, para aplicação em interiores (paredes e pisos).
12 mm
–
Ladrilhos maiores e algumas aplicações comerciais especificas, principalmente em pisos
para os quais se prevê um tráfego mais intenso.
–
20/22 mm
20 mm
–
Espessura mínima para pisos e revestimento de paredes de interiores, limitada a calcários densos.
Espessura padrão para placas para tampos e revestimento de paredes e pisos de interiores.
22 mm
–
Espessura mínima para toaletes e áreas de chuveiro.
30/32 mm
–
Espessura padrão para placas utilizadas em tampos e paredes de interiores.
Espessura mínima para uso em paredes e pavimentos em exteriores.
–
38 mm
38/40 mm
–
Uso em paredes e pavimentos em exteriores.
Espessura típica para pisos e revestimento de paredes de interiores, limitada a calcários densos.
50 mm
–
Uso em paredes e pavimentos em exteriores, e trabalhos especiais.
–
50 mm
>75 mm
–
–
76 mm
–
>100 mm
Espessura mínima recomendada para qualquer aplicação de calcários de baixa a média
densidade.
Espessura mínima recomendada para aplicações de calcários densos em exteriores.
Monumentos, esculturas e trabalhos decorativos.
Espessura típica para aplicações exteriores.
Usada quando requisitada pelas altas cargas previstas no projeto ou por painéis muito grandes.
Fonte: ASTM C 1528/02, modificada.
174 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Quartzitos e arenitos
Quartzitos e arenitos, rochas ricas em quartzo, são materiais largamente utilizados no
revestimento de edificações.
Os arenitos, rochas sedimentares, exibem coesão dos grãos de quartzo menor que os quartzitos,
rochas metamórficas. O grau de coesão é dependente do tipo de cimento que agrega os grãos; assim,
arenitos com cimento silicoso muitas vezes exibem propriedades semelhantes às dos quartzitos.
Os arenitos, muito empregados em revestimentos na Europa, têm ocorrências e exploração
restritas aqui no Brasil, de modo que o quartzito foliado (flagstone), abundante e muito explorado em
alguns Estados, é a rocha quartzosa mais comum em revestimento, aqui.
O tipo de extração (em placas), que naturalmente lhe fornece um acabamento rústico, aliado
ao baixo desgaste abrasivo, torna o quartzito muito adequado para o revestimento de pisos de exteriores,
de alto tráfego e áreas molhadas (bordas de piscinas, por exemplo). Também é costumeiramente utilizado
no revestimento de paredes e de interiores.
A ASTM (1999d) denomina arenitos e quartzitos de rochas quartzosas e as subdividem em
três tipos (Tabela 19).
Tabela 19 – Especificações para rochas quartzosas.
ρ
α
σc
σtr f
σf
I – Arenito
(≥60% sílica livre)
≥2.003
≤8
≥27,6
≥2,4
n.e.
II – Arenito Quartzítico
(≥90% sílica livre),
≥2.400
≤3
≥68,9
≥6,9
n.e.
III – Quartzito
(≥95% sílica livre)
≥2.560
≤1
≥137,9
≥13,9
n.e.
Tipo de Rocha
Abrasão (Ha)
2
8
8
Nota: ρ = densidade aparente (kg/m3); α = absorção d’água (%);σc = resistência à compressão uniaxial (MPa); σtr f = resistência à tração na flexão
(MPa);σ f = resistência à flexão (MPa); Ha = resistência à abrasão, conforme ASTM C 241/90; n.e. = não especificado. Fonte: ASTM C 616/99.
Ardósias
As ardósias são rochas com estrutura foliada, compostas basicamente por micas, clorita e
quartzo. São derivadas do metamorfismo de folhelhos (rochas sedimentares), rochas com as quais
muitas vezes se confundem, dadas as pequenas modificações que sofrem nessa transformação.
As principais características da ardósia são a fissilidade, que permite seu desplacamento em
lâminas muito finas, e a alta resistência à flexão.
Como a aplicação mais tradicional das ardósias é o revestimento de telhados, esse é o objeto
das normas e especificações disponíveis, numerosas e bastante detalhadas.
Dessa forma, há relativa carência dessas informações quando se objetiva utilizá-las no
revestimento de pisos, principal aplicação aqui no Brasil.
A ASTM dispõe de duas normas para ardósias (Tabela 20); para revestimentos (ASTM, 1999
e) e para telhados (ASTM, 2000).
Em principio, não há restrições à sua utilização nas diversas aplicações em revestimento.
Porém, dada sua grande facilidade de desplacamento, não é recomendável para o revestimento de
fachadas com a utilização de inserts metálicos (fachadas ventiladas ou aeradas).
A cor das ardósias pode se manter por longo prazo (unfading ou “não esmaecida”) ou sofrer
mudanças de tonalidade após período relativamente curto de exposição (fading ou “esmaecida”).
Essas modificações devem-se a pequenas quantidades de carbonato de ferro e magnésio (ASTM,
2002a), que tendem a se decompor em hidróxidos de ferro, amarelados.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 175i
Tabela 20 – Especificações para ardósias.
Norma
Aplicação
ASTM C
I – Exterior
629/99
II – Interior
ASTM C
406/00
ρ
n.e.
Grau S1
α
≤0,25
≤0,45
σc
n.e.
σtr f
≥49,6* /≥62,1**
≥37,9* / ≥49,6**
σf
n.e.
Abrasão (Ha)
≤8
≤0,25
Grau S2
n.e.
Grau S3
≤0,38
Profundidade de
de amaciamento (1)
(mm)
≤0,38
≤0,64
≤0,05
n.e.
≥62**
≤0,45
n.e.
n.e.
≤0,20
≤0,36
Nota: ρ = densidade aparente (kg/m ); α = absorção d’água (%);σc = resistência à compressão uniaxial (MPa); σtr f = resistência à tração na flexão
(MPa);σ f = resistência à flexão (MPa); Ha = resistência à abrasão, conforme ASTM C 241/90; n.e. = não especificado.
* = Paralelo à foliação
** = Perpendicular à foliação
(1)
Conforme ASTM C217/94 (1999)
3
Na sua escolha, deve-se atentar, também, para a presença de minerais opacos, especialmente
pirita, que podem se oxidar pela exposição às intempéries, quando usadas em exteriores.
CONSERVAÇÃO DE ROCHAS PARA REVESTIMENTO
Conservação refere-se a qualquer ação para prevenir a degradação de materiais (FEILDEN, 1994).
Relativamente às rochas, alteração é considerada qualquer modificação do material rochoso,
mas não implica necessariamente o empobrecimento de suas características. A degradação ou deterioração, por sua vez, é uma modificação do material rochoso que supõe sempre uma degeneração,
sob a óptica da conservação.
A deterioração, numa definição simples, é o conjunto de mudanças nas propriedades dos
materiais de construção no decorrer do tempo, quando em contato com o ambiente natural; e implica
a degradação e declínio na resistência e aparência estética, neste período (VILES, 1997).
Muitas vezes, é utilizado o termo patologia como sinônimo de degradação, mas nota-se que
este habitualmente se refere aos fenômenos visualmente observáveis, como manchamentos,
eflorescências, descamação, não englobando outros de igual ou maior importância, como a perda de
resistência. Por isso, é preferível e procurar-se-á, aqui, adotar deterioração.
A regra principal da conservação é a da mínima intervenção, da qual se traduz que a prevenção
é a ação mais indicada, realizada por meio de procedimentos adequados de manutenção e limpeza. Em
muitos casos, a negligência ou a irregularidade na manutenção é a principal causa das deteriorações.
A preservação enfoca a manutenção do estado já existente, de modo a evitar a continuidade
da deterioração.
Um outro procedimento é a consolidação, nem sempre economicamente viável quando se
trata de grandes áreas revestidas com rochas, que consiste na aplicação de substâncias adesivas ou em
suportes que assegurem a durabilidade ou a integridade estrutural.
Causas da Deterioração
A alteração das rochas se inicia, naturalmente, ao serem expostas às condições atmosféricas
reinantes na superfície da Terra, que levam à decomposição física e química dos minerais e à formação
de novos, estáveis nas condições superficiais. Trata-se de um processo, denominado intemperismo2,
2
Intemperismo é o somatório dos processos de natureza física, química ou biológica que atuam na superfície terrestre e que levam à
desintegração mecânica e decomposição química das rochas e minerais. Seus agentes são: água, vento, variações na temperatura, oxigênio
e gás carbônico do ar e organismos vivos. Sua intensidade depende principalmente do clima, relevo e composição das rochas.
176 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
que consiste no reajuste dos minerais constituintes, geralmente formados em altas pressão e temperatura,
ao longo de um tempo em escala geológica, ou seja, de milhares de anos.
As principais variáveis que controlam a natureza e a taxa dos vários processos intempéricos
são reconhecidas como o tipo de rocha, presença de fraturas e/ou fissuras (“porosidade”), o clima
(temperatura e intensidade de chuvas) e o tempo de atuação.
Os principais agentes atmosféricos, discriminados por AIRES-BARROS (1991), que atuam
diretamente nas rochas são: a) umidade: na forma de chuva, névoa ou como a própria umidade relativa
do ar; b) temperatura do ar: que tende a acelerar as reações químicas; c) insolação e resfriamento
noturno: responsáveis pelos movimentos térmicos; d) vento e energia cinética: que promovem ação
abrasiva sobre as paredes; e) constituintes do ar e poluentes atmosféricos (gasosos e aerossóis):
condicionando as taxas de ataque químico.
A ação dos agentes intempéricos pode provocar a deterioração da superfície exposta da rocha,
seja através da modificação de seu aspecto estético (perda de brilho e alteração cromática), seja pela
danificação da rocha (esfoliações, escamação, manchamentos, etc.).
O clima tropical reinante no Brasil, e suas intensas variações de temperatura e umidade, configuram
condições distintas daquelas de países de clima temperado. Aqui, a presença de ferro nas estruturas
cristalinas dos minerais e os graus de alteração e de microfissuramento da rocha tornam-se propriedades
petrográficas muito relevantes e condicionantes de deteriorações, como manchamentos e escamações.
Além dos aspectos climáticos e da presença de diversificados tipos de poluentes que influenciam
na durabilidade da rocha, deve-se mencionar aqueles ligados à preservação da rocha, que são objetos
da correta (ou incorreta) atuação antrópica na colocação, limpeza e manutenção do material rochoso
(Tabela 21).
Tabela 21 – Principais causas da deterioração de rochas para revestimento.
NATURAIS
Gravidade
Insolação
Climáticas
Biológicas
Desastres
- Mudanças sazonais de temperatura.
- Mudanças diárias de temperatura.
- Chuva.
- Frio e congelamento.
- Água subterrânea e umidade do solo.
- Excrementos de
animais e aves.
- Folhas.
- Fungos, bactérias
e líquens.
- Ventanias.
- Escorregamentos.
- Terremotos.
Projetos inadequados.
Ausência ou
negligência na
manutenção.
ANTRÓPICAS
Vibrações
Poluição
ambiental
Procedimentos de colocação incorretos.
Fonte: Feilden (1994), modificado.
As principais solicitações físicas e intempéricas de rochas utilizadas no revestimento de
exteriores estão expostas na Figura 4.
A alteração da rocha estará, então, condicionada aos seguintes fatores: a) características intrínsecas
da rocha, ou seja, as propriedades físicas e químicas inerentes à sua mineralogia e alterações preexistentes;
b) “defeitos” (microfissuras, principalmente) preexistentes, ou gerados no processo de beneficiamento
(corte e polimento); c) interação destes com as intempéries e as condições de fixação, manutenção e uso.
As rochas para revestimento podem exibir modificação das características naturais, em resposta
aos procedimentos de extração e beneficiamento, como o aumento do microfissuramento e da porosidade
(DIB et al., 1999; FRASCÁ, 2003a), que tendem a favorecer ou acelerar a alteração dos constituintes da
rocha ao serem expostos às novas condições ambientais e intempéricas de uso. Adicionalmente, devem
ser considerados o emprego de técnicas inadequadas de colocação e as condições de uso e manutenção.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 177i
Figura 4 – Principais solicitações em rochas para revestimento.
As deteriorações mais comuns em rochas para revestimento são: a) manchamentos: alteração
que se manifesta com pigmentação acidental e localizada da superfície. Podem estar ligados a reações
químicas na rocha ou à presença de material estranho ao substrato; b) subeflorescências: formação,
geralmente esbranquiçada, de aspecto cristalino, pulverulento ou filamentoso sobre a superfície do
material. No caso de eflorescências salinas, a cristalização pode se desenvolver no interior do material
(subeflorescência ou criptoeflorescência), freqüentemente provocando o destacamento das partes mais
superficiais; c) inchamento: levantamento superficial e localizado do material, que pode assumir forma
e consistência variáveis; d) escamação: degradação que se manifesta através da separação total ou
parcial de zonas (escamas) do material original. As escamas têm formas e espessuras irregulares e
desenvolvimento tridimensional. Geralmente estão constituídas de material aparentemente intacto;
embaixo delas podem ser observadas eflorescências.
Durabilidade e Alterabilidade
Durabilidade é definida pela ASTM (2003) como a capacidade da rocha ornamental de manter
a aparência, as características essenciais e distintivas de estabilidade, e a resistência à degradação ao
longo do tempo. Este tempo dependerá do meio ambiente e do uso da rocha em questão (p. ex., em
exteriores ou interiores).
A durabilidade está fundamentalmente relacionada às propriedades físicas, destacando-se a
porosidade e a configuração do sistema poroso, a superfície específica e as propriedades hídricas,
relacionadas com o movimento dos fluidos no material rochoso.
AIRES-BARROS (1991) define alterabilidade como um conceito dinâmico, que se refere à
aptidão de uma rocha em se alterar em função do tempo. Esse tempo, considerado na alteração
intempérica como geológico, na alterabilidade é definido como um tempo humano, ou seja, os
fenômenos ocorrem concomitantemente ao uso, à escala do homem e das suas obras de engenharia.
Alterabilidade é função de: a) fatores intrínsecos: dependentes do tipo de rocha (natureza do material,
178 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
grau de fissuramento ou porosidade, ou seja, da superfície exposta à alteração); b) fatores extrínsecos:
função do meio ambiente em que se processa a alteração (temperatura, pH, Eh, quantidade de água,
forças bióticas), levando-se em conta não só a intensidade como a freqüência das variações externas,
ou seja, seu caráter cíclico; c) tempo.
Desse modo, a alterabilidade de uma rocha está ligada à sua durabilidade, que poderá, por sua
vez, ser ampliada por processos de conservação.
Mecanismos de Deterioração
Os mecanismos que atuam na alteração e deterioração de rochas para revestimento são essencialmente os mesmos que atuam nos processos intempéricos.
Convencionalmente, como citado por DELGADO-RODRIGUES (1996), os processos intempéricos são divididos em dois tipos: físico e químico, que, na realidade, ocorrem concomitantemente,
com a prevalência de um sobre o outro, dependendo das condições atmosféricas.
O intemperismo físico é dado principalmente pelas mudanças de temperatura (por exemplo,
dilatação térmica diferencial dos minerais das rochas), por tensões mecânicas (descompressão e
deformações tectônicas), pelas pressões internas causadas por agentes degradadores especiais
(congelamento de água em poros ou fissuras, cristalização de sais na superfície da rocha e expansão
de minerais por absorção de água) e agentes externos (antrópicos, animais e plantas).
O intemperismo químico ocorre pela ação da água e outros componentes transportados em
solução e atua principalmente pelas reações de oxidação e hidrólise. Em geral, trata-se de reações
químicas entre os minerais e o solvente, a água, controladas pelas condições de pH e Eh do meio.
A atmosfera e seus componentes sólidos, líquidos e gasosos atuam sobre as rochas para
revestimento por meio de mecanismos físicos (umedecimento, cristalização de sais e outros fenômenos
provocados por variações do estado higrométrico), químicos (provocando alterações de minerais,
atuantes na superfície e no interior das rochas) e biológicos (ações químicas e/ou físicas promovidas
por microorganismos diversos: bactérias, algas, fungos e líquens, musgo e mesmo arbustos).
A saturação da rocha por soluções aquosas é um dos fatores mais importantes, pois nesta
condição podem ocorrer reações que resultarão na remoção dos constituintes solúveis (por exemplo,
carbonato), reações entre minerais inalterados e soluções aquosas e reações entre os produtos do
intemperismo (argilominerais) e demais minerais.
O efeito dos vários agentes e processos intempéricos nas rochas é mostrado por mudanças
mineralógicas, químicas e granulométricas (Tabela 22), evidenciado pela parcial ou total decomposição
de alguns minerais, oxidação de ferro ferroso a férrico (Fe2+ para Fe3+), parcial ou total mobilização de
elementos maiores e menores, e outras. As reações são controladas tanto pela solubilidade dos
constituintes minerais como pela porosidade da rocha.
Tabela 22 – Principais reações químicas envolvidas no intemperismo.
Reação
Dissolução
Oxidação
Hidratação
Hidrólise
Mecanismo
Exemplos
Depende da quantidade de água e da solubilidade do mineral.
Minerais solúveis: halita, gipsita
e carbonato de calcita.
Reação com o oxigênio para formar óxidos ou mudança do
estado de valência (Fe2+ para Fe3+).
–
Adição de água ao mineral.
Hidróxidos de ferro, manganês.
Reação dos íons H+ e OH- da água com os íons dos minerais.
Feldspato potássico transforma-se
em caulinita; olivina, em serpentina.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 179i
Alterações minerais
Dissolução – é a completa dissociação de um mineral em um solvente, como a água. A substância mineral tende a ser atacada pelo solvente até a saturação ser alcançada. Quanto menos saturada
é a solução, mais agressivo é o progresso do seu ataque. Uma condição de permanente subsaturação,
por exemplo, é encontrada no contato da rocha em uma edificação com a água das chuvas.
As águas das chuvas, ou aquelas acidificadas com dióxido de carbono ou ácidos orgânicos em
solução, podem exercer ação dissolvente sobre diversos minerais, particularmente importante no caso
das rochas calcárias.
Como exemplo, cita-se a produção do ácido carbônico pela solução de dióxido de carbono:
H2O
+
CO2
→
H2CO3
→
H+
+
(HCO3)Água
dióxido de
ácido
íon
íon
carbono
carbônico
hidrogênio
bicarbonato
e de dissolução da rocha carbonática por ácido carbônico:
CaCO3 + H2CO3
→
Ca2+
+
2(HCO3)calcita
ácido
íon
íon
carbônico
cálcio
bicarbonato
Outros compostos menos solúveis, como a sílica e alumina, também podem sofrer dissolução.
As condições de solubilidade desses elementos são: a) sílica: levemente solúvel em qualquer pH;
solubilidade abruptamente elevada em pH > 9 ; b) alumina: pH < 4 ou pH > 8,5.
Oxidação-hidratação – os fenômenos de oxidação são particularmente ativos sobre os minerais
de ferro e os compostos orgânicos. As ações de oxidação e de hidratação, de relevância restrita quando
isoladas, tornam-se muito importantes quando associadas.
Na maior parte das rochas ígneas, o ferro ocorre sob a forma de compostos ferrosos. Quando as
moléculas complexas dos silicatos são destruídas, há a rápida mudança de ferro ferroso para ferro férrico.
Esse é o fenômeno responsável pela geração de hidróxidos de ferro que impregnam minerais
de alteração e conferem a cor amarela e/ou alaranjada de certas rochas metamórficas, comercialmente
conhecidas como “granitos amarelos”, de cor originalmente branca ou branco-esverdeada.
Este processo, especialmente intenso nas regiões quentes, tropicais e subtropicais, dá origem
aos sesquióxidos de ferro, responsáveis pela coloração avermelhada ou amarelada de várias rochas.
+
2H2O
+
O2
→
4Fe3+O OH
4Fe2+O
óxido de ferro
água
oxigênio
goethita
Os sulfetos de ferro transformam-se, por ação da água e do oxigênio nela dissolvido, em sulfatos,
ferrosos ou férricos, e em hidróxido férrico; concomitantemente pode-se originar o ácido sulfúrico.
É a presença desse ácido que explica a maior intensidade das ações intempéricas quando há
abundância de pirita, pois acelerará a alteração não só dos sulfetos de ferro, como de sulfetos de
outros metais.
Hidrólise – as reações de hidrólise mostram-se estreitamente relacionadas com as de hidratação,
facilitando mutuamente o trabalho de decomposição das rochas, pois esta última, freqüentemente, é
acompanhada por aumento de volume.
De maneira geral, uma parte da água encontra-se sempre dissociada, em função da temperatura,
em ânions ((OH)-) e em cátions (H+). Nas temperaturas normais da superfície da Terra, o grau de
dissociação da água pura é bastante reduzido.
Porém, a presença de outras substâncias dissolvidas (dióxido de carbono, ácidos minerais e
ácidos orgânicos) resulta em uma considerável capacidade hidrolítica das águas naturais, ou seja, de
provocar fenômenos de hidrólise, pela atuação dos seus íons (OH)- e H+, e a decomposição de outras
substâncias pela fixação desses.
180 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A hidrólise dos silicatos (feldspatos, micas, piroxênios, anfibólios, olivinas, etc.) manifesta-se
pela formação de minerais do grupo das argilas (caulinita, montmorilonita), da clorita, das serpentinas
e outros.
Variações de temperatura
As mudanças da temperatura do ar são quase inteiramente decorrentes do aquecimento pelo
sol durante o dia e pela perda desse calor durante a noite.
Todos os materiais de construção, inclusive as rochas para revestimento, expandem quando
aquecidos e contraem quando resfriados – movimento térmico –, que é a maior causa da degradação
de edificações, pois leva à queda da resistência mecânica, no decorrer do tempo.
A extensão do movimento térmico depende do intervalo de temperatura resultante do calor
incidente e é modificado pelo coeficiente de dilatação do material rochoso.
Cristalização de sais
A cristalização de sais é um dos agentes intempéricos mais poderosos, pois é por meio dela
que pode ocorrer a completa degradação e destruição da rocha.
Os sais solúveis podem ser originários do próprio solo, da argamassa de assentamento ou
mesmo da própria rocha (LÓPEZ-ACEVEDO et al., 1997). O mecanismo de degradação é a pressão
de cristalização dos sais e depende do grau de saturação e do tamanho do poro (WINKLER; SINGER,
1972; THEOULAKIS; MOROPOULOU, 1997; BENAVENTE et al., 1999).
Em uma edificação, nas proximidades do solo, uma solução salina pode ascender através da
rocha por capilaridade, até a altura potencial de ascensão capilar, denominada zona capilar. A
concentração de sal pode ocorrer na superfície do material rochoso (eflorescências), onde se cristaliza;
e dentro dos capilares próximo à superfície da rocha (subeflorescências), onde a ação mecânica de
sais, nas fissuras, pode iniciar seu trabalho destrutivo.
Os sais também podem ser provenientes do ataque químico dos poluentes atmosféricos, que se
transformam em substâncias ácidas pela interação com a água e que posteriormente, ao atingirem as
condições apropriadas, cristalizam-se como sais em eflorescências ou subeflorescências.
CLIFFORD PRICE (1989, apud FEILDEN, 1994) afirma que: “poluentes gasosos podem
encontrar seu caminho na superfície de um edifício através de duas rotas principais: dissolvidos na
chuva que cai sobre ele, ou reagindo diretamente com a construção”. O primeiro é chamado deposição
úmida, e, o outro, deposição seca: a) deposição úmida: incorporação, nas películas superficiais das
paredes rochosas de edificações ou monumentos, de componentes atmosféricos transportados pelas
gotículas da chuva e a remoção de substâncias das mesmas superfícies por lavagem e escorrimento; b)
deposição seca: acúmulo de componentes da atmosfera normal ou poluída sobre a superfície da rocha,
na forma de partículas, gases ou aerossóis, transportados por ação eólica.
A conseqüência prática dos efeitos químicos do ataque ácido é a gradual degradação das
propriedades tecnológicas do material rochoso. O processo se inicia-se com a deterioração da superfície
exposta, como inchamento, escamação e despegamento. Com sua progressão do exterior para o interior
da rocha, passa a ocorrer gradual perda da resistência pelo aumento da porosidade.
Ensaios de Alteração Acelerada
Uma importante propriedade das rochas para revestimento é sua durabilidade. A interação
com fenômenos externos torna, porém, a sua durabilidade comprometida, devido às variações de
temperatura, ataque ácido de poluentes e outros.
O conhecimento dos mecanismos e da taxa de atuação dos agentes degradadores é muito útil
para o uso e para o estabelecimento de medidas preventivas e de proteção do material rochoso e
aumento da vida útil.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 181i
Ensaios de alteração acelerada, em laboratório, visam o conhecimento da resistência à
deterioração da rocha em relação aos agentes intempéricos e poluentes atmosféricos, além da
investigação dos mecanismos de degradação para cada caso.
Atualmente, encontram-se em curso várias pesquisas e ações para o desenvolvimento e
implantação de ensaios de alteração objetivando a previsão e/ou mitigação de possíveis deteriorações
decorrentes da colocação, manutenção e/ou limpeza inadequadas. As simulações de alteração procuram
verificar as respostas das denominadas características intrínsecas à exposição a ambientes
potencialmente degradadores.
Com base na literatura e em trabalhos experimentais (FRASCÁ, 2003a, b e FRASCÁ;
YAMAMOTO, 2003), são relacionadas, adiante, as situações para as quais já estão implantados ou
em implantação os ensaios de alteração (Tabela 23).
A CEN recentemente publicou algumas normas para ensaios de alteração, ainda pouco
conhecidas e não realizadas no Brasil: resistência ao envelhecimento pela ação de SO2, na presença de
umidade (EN 13919:2002) e por névoa salina (EN 14147:2003), e de resistência à cristalização de
sais (EN 12370:1999).
Estudos Diagnósticos
As deteriorações em rochas para revestimento, também denominadas patologias, são, como já
mencionado, resultantes da interação entre as características intrínsecas das rochas (propriedades
físicas e químicas) e os processos de beneficiamento e colocação na obra, em conjunto com as
características do meio ambiente e ações antrópicas.
Os principais agentes degradadores são a presença de água, variações de temperatura e ação
de sais hidrossolúveis.
A porosidade, que reflete o espaçamento entre grãos (rochas sedimentares), estado microfissural
(rochas ígneas e metamórficas) e o grau de alteração intempérica, é considerada o principal condicionante
das degradações de rochas, pois representa as vias de acesso da água ao interior da rocha.
Em fachadas aeradas (com as placas de rocha fixadas por inserts metálicos), o fenômeno mais
provável, mas felizmente incomum, é o fissuramento ou fraturamento provocados pelas variações
térmicas ou sobrepeso do material.
Uma vez instalada a deterioração, não se dispõe, ainda, de técnicas eficientes para a restauração
e/ou recuperação do material rochoso. Por isso, tem-se buscado a prevenção das deteriorações por
meio do desenvolvimento de ensaios de alteração acelerada ou pelo melhor conhecimento de suas
características, através dos estudos diagnósticos.
Estudos diagnósticos são baseados em resultados de análises petrográficas e mineralógicas,
que constituem uma ferramenta básica para o entendimento destas alterações e para a proposição de
medidas mitigadoras e preventivas de deteriorações em rochas (FRASCÁ, 2003b).
A petrografia é a principal técnica aplicada ao estudo diagnóstico de manifestações patológicas nos
materiais rochosos. Em geral, é acompanhada de análises mineralógicas auxiliares como relatado a seguir:
- petrografia: constitui na análise de seções delgadas da rocha, visando ao reconhecimento
das alterações dos minerais constituintes, à identificação de microfissuramento e de outras
feições que estejam condicionando as deteriorações detectadas na rocha estudada, como
manchamentos, inchamentos e escamação.
- microscopia eletrônica de varredura, com espectrômetro de raios X por dispersão de energia
(EDS) acoplado (para análises químicas pontuais), é uma técnica auxiliar muito importante
na determinação dos novos minerais gerados nos processo de alteração.
- difratometria de raios X: geralmente realizada em fragmentos de minerais removidos das
amostras, por quebra ou raspagem, também auxilia na identificação de minerais neoformados
e os de alteração.
182 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Deteriorações mais Comuns em Rochas para Revestimento
As informações obtidas em dezenas de atendimentos e de estudos diagnósticos realizados no IPT
permitem afirmar que, no Brasil, as deteriorações mais comuns têm sido observadas em rochas de
revestimento de pisos e, menos comumente, de paredes e fachadas, em decorrência de procedimentos
inadequados no assentamento, especialmente com argamassa, e na limpeza e manutenção.
Tabela 23 – Situações potencialmente degradadoras de rochas ornamentais e ensaios para previsão
de desempenho.
Objetivo
Ensaio
Intempéries
Intemperismo artificial. Não há
norma específica
Norma para operação do
equipamento: ASTM G 53/83
Simulação da exposição ao intemperismo, em câmaras de condensação e radiação de
luz ultravioleta. Indicado principalmente para rochas a serem utilizadas no revestimento
de fachadas,
Permite verificar alterações da cor em relação à radiação ultravioleta e oxidação por
ciclos de umedecimento e secagem.
É especialmente aplicável para verificação de fotodegradação de resinas.
A avaliação dos efeitos é realizada por inspeção visual ao final da exposição.
Exposição a atmosferas salinas,
em câmaras climáticas. Não há
norma específica Norma para
operação do equipamento:
NBR 8094/83
Simulação de ambientes marítimos, ricos em sais, potencialmente degradadores de
materiais rochosos, e verificação visual das modificações decorrentes.
Consiste na exposição ininterrupta da rocha à névoa salina em câmaras climáticas
apropriadas.
O tempo de exposição ainda não é padronizado, mas sugere-se um mínimo de 30 dias
(FRASCÁ, 2003a).
A avaliação das degradações também é realizada visualmente, por comparação com
corpos-de-prova padrão que não foram expostos.
Saturação e secagem. Não há
norma específica
Simulação de intemperismo, realizada pela verificação da eventual queda de resistência
mecânica da rocha, após ciclos de umedecimento em água e a secagem em estufa (60oC).
Variações térmicas. EN 14066:2003
Verificação da eventual queda de resistência mecânica da rocha por meio de simulação
de variações térmicas bruscas que propiciem dilatação e contração constantes.
Consiste em ciclos de aquecimento, em temperaturas elevadas (105oC), e resfriamento
imediato, em água (a 25oC).
A avaliação do decaimento é feita por inspeção visual e determinações de resistência
mecânica.
Congelamento e degelo.
EN 12371:2001
NBR 12.769:1992
Verificar eventual queda de resistência mecânica da rocha após ciclos de congelamento
e de degelo.
Consiste na imersão da rocha em água, realização de ciclos de congelamento e degelo
em temperatura ambiente, e posterior verificação de modificações na resistência mecânica
por meio da execução de ensaios de compressão uniaxial ao natural e após os ensaios
de congelamento e degelo.
Calcula-se, então, o coeficiente de enfraquecimento (K), pela relação entre a resistência
após os ciclos de congelamento e degelo e a resistência no estado natural.
Exposição a atmosferas ricas
em dióxido de enxofre, em
câmaras climáticas. Não há
norma específica
Norma para operação do
equipamento: NBR 8096/83
Simulação de ambientes urbanos poluídos (umidade e H 2SO 4), potencialmente
degradadores de materiais rochosos, e verificação visual das modificações decorrentes.
Consiste na exposição da rocha à ciclos de 24h, nos quais a câmara é mantida aquecida
por 8h, e posteriormente ventilada por 16h. O número de ciclos ainda não é padronizado,
mas sugere-se um mínimo de 30 (FRASCÁ, 2003a).
A avaliação das degradações é realizada visualmente, por comparação com corpos-deprova padrão que não foram expostos.
Ação de Poluentes
Assentamento em Piso
Ação da cristalização de sais. Não
há norma específica
Imersão parcial de corpos-de-prova de ladrilhos polidos em soluções de natureza ácida.
Simulação da cristalização de sais (eflorescências e subeflorescências) na face polida
dos ladrilhos para a observação da sua ocorrência e possíveis efeitos deletérios.
Resistência ao ataque químico.
NBR 1381/978, Anexo H
(modificada)
Consiste na exposição, por tempos predeterminados, da superfície polida da rocha a
alguns reagentes comumente utilizados em produtos de limpeza e de uso doméstico, para
verificar a susceptibilidade da rocha ao seu uso, principalmente como materiais de limpeza.
As eventuais alterações são verificadas visualmente.
Limpeza
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 183i
Ainda não necessariamente representando deteriorações, mas que, por constituírem situações
propícias poderão se tornar irreversíveis, é a presença de crostas de poluição no revestimento de fachadas.
Algumas alterações decorrentes de problemas de acabamento, transporte, estocagem e manuseio,
também comumente referidas como deteriorações ou patologias, não se configuram nas definições
comentadas e discutidas neste trabalho. Considera-se mais adequado classificá-las como “manuseio
inadequado”.
Manchamento – a ação da umidade e a utilização de materiais inadequados para o assentamento,
limpeza e/ou manutenção podem resultar em manchamentos, que ocorrem após dias a até poucos
meses da sua colocação. Em geral, se traduzem na forma de áreas irregulares dispostas pela rocha,
com mudanças de tonalidade ou de coloração.
Em princípio, representam uma deterioração predominantemente estética, na maioria dos casos
não resultando em decaimento de propriedades físicas e mecânicas.
Amarelamento – os manchamentos amarelos, com nuances para ferrugem ou verde, são os
mais comuns, ou mais facilmente observáveis, tipicamente em rochas de coloração branca, como os
mármores tipo Carrara ou gnaisses graníticos com granada.
Nos mármores brancos, essas manchas constituem áreas irregulares, de coloração ferruginosa,
que se intensificam nas proximidades de porções de cor cinza-escuro, características nessas rochas,
configurando áreas ou filetes aleatoriamente dispostos pela matriz de cor branca. Esse tipo de
manchamento tende a se manifestar especialmente quando há fixação por meio de argamassa, tanto
em pisos quanto em paredes ou fachadas (Fotos 3 e 4).
Fotos 3A e 3B – Parede (A) e piso (B) revestidos de mármore, com manchamentos amarelados.
Estudos em microscópio óptico revelaram, nestes casos, a presença de minerais opacos (pirita –
sulfeto de ferro) nas áreas escuras, e também de minúsculas áreas ferruginosas ao redor dos opacos ou
distribuídas entre os cristais de carbonato.
A despeito de ainda não se dispor de dados conclusivos sobre os agentes ou conjunto de
fatores que desencadeiam essa deterioração, todas as evidências apontam para processos oxidantes
A
como os mecanismos preponderantes, induzindo a mudança do estado de oxidação do ferro natural da
rocha (Fe2+ para Fe3+).
184 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
Isto ocorre principalmente pela exposição
às condições atmosféricas (especialmente a umidade), fenômeno aparentemente acentuado pela
percolação da água da argamassa, que exerceria
grande influência no processo de oxidação. Não
se deve descartar a possibilidade de contribuições
externas, como presença de impurezas na argamassa (Foto 4).
Manchamentos ferruginosos também são
observados em rochas graníticas de cor branca, em
geral provenientes de cinturões metamórficos de
alto grau (especialmente gnaisses com granada),
após assentamento em piso (Foto 5). Nesses casos,
são ocasionados principalmente pela exposição a
substâncias com pH ácido (ácido clorídrico, sulfúFoto 4 – Fachada revestida com mármore, firico e outros) e, mais raramente, com pH muito
xado com argamassa convencional, com manchabásico (soda cáustica, por exemplo) utilizadas
mento amarelado.
especialmente na limpeza.
Esses manchamentos, também são presumivelmente resultantes da oxidação de minerais
constituintes da rocha (provável oxidação do elemento ferro disposto no retículo cristalino), novamente relacionada ao comportamento do ferro,
em virtude de seu potencial de oxidação nos ambientes oxidantes.
Clareamento – o clareamento da rocha é
um caso mais específico, geralmente observado em
granitos negros, também resultante da utilização
de produtos ácidos na limpeza ou manutenção.
FRASCÁ et al. (1999) verificaram que, em
presença de soluções com ácido clorídrico, esses
granitos exibiram notável branqueamento, por
Foto 5 – Ladrilhos polidos de rocha granítica de
provável oxidação de minerais máficos (principalcor branca exibindo manchamento ferruginoso
mente biotita), que tendem a empobrecer no eleprovavelmente decorrente do contato acidental com
mento ferro. Estudos petrográficos posteriores
reagentes químicos.
comprovaram a lixiviação do ferro de biotita.
A utilização de materiais de limpeza contendo ácidos também é responsável pelo branqueamento
de ladrilhos de pedra Miracema (Foto 6), que comumente revestem calçamento público.
Resinas orgânicas – deve ser chamada a atenção para cuidados a serem tomados na utilização de
resinas orgânicas, especialmente à base de silicone, utilizadas para impermeabilização de picos e juntas.
Atribui-se a elas grande parte do “manchamentos” em paredes e pisos (Fotos 7 e 8), pois, ao
serem absorvidas, fornecem um aspecto de umidade, que permanece a despeito do aquecimento solar.
Escamações – as escamações (Fotos 9 e 10) são deteriorações que ocorrem predominantemente
em pisos assentados com argamassa, em virtude da ação de cristalização de sais – principalmente
sulfatos e carbonatos de cálcio, potássio e sódio –, em microfissuras subparalelas à face polida da
placa (subeflorescências).
A ocorrência desse fenômeno tem sido verificada em tipos rochosos de procedências geológicas
e locais de beneficiamento distintos, e observada, quase que exclusivamente, em pisos térreos de
edificações, residenciais ou comerciais, assentados com argamassa.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 185i
Fotos 6A e 6B – Exemplo de clareamento da rocha por meio do uso de produtos de limpeza inadequados.
Foto 7 – Fachada com rejuntes ressaltados por sujidade Foto 8 - Piso com rejuntes e bordas ressaltados e
aderida ao material utilizado (provável resina orgânica). impregnados por provável resina orgânica.
Foto 9 – Deterioração pela ação de cristalização de
sais (subeflorescências), atingindo as proximidades
de junta de ladrilhos, com formação de protuberâncias de cor branca.
Foto 10 – Deterioração pela ação de cristalização de
sais (subeflorescências), atingindo o ladrilho inteiro,
com formação de cavidades decorrentes do desprendimento de minerais.
186 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
A deterioração inicia-se pelo aspecto de umidade nas bordas de ladrilhos (Foto 11), próximo às
juntas. É seguido, com o passar do tempo e, principalmente em ocasiões de menor umidade do ar, pela
perda de brilho da face polida, em áreas de dimensões e formas variáveis, conferindo-lhe aspecto opaco.
Na seqüência, há o inchamento, que é o surgimento de protuberâncias em pontos aleatoriamente
distribuídos e, posteriormente, o despegamento de fragmentos de minerais (Foto 12).
Foto 11 – Aspecto de umidade nas bordas de ladrilhos.
Foto 12 – Aspecto do despregamento de fragmentos
minerais em rocha granítica usada no revestimento
de piso.
Estudos petrográficos permitiram observar que nas rochas deterioradas os cristais de plagioclásio
tendem a se apresentar moderadamente alterados intempericamente, e moderada a intensamente
microfissurados. As microfissuras são, ao menos em parte, de natureza secundária, geradas durante os
processos de corte e polimento; fato favorecido pelas diferenças relativas de dureza dos minerais
(granada e plagioclásio, por exemplo, em algumas rochas) e a morfologia dos cristais (formas tabulares
a aciculares de sillimanita, em outras).
A alteração do plagioclásio e o microfissuramento (original e secundário) da rocha favorecem
a percolação de água carreada de sais solúveis provenientes principalmente da argamassa de assentamento, que, ao atingirem condições físico-químicas propícias, se cristalizam nas microfissuras subsuperficiais, provocando o inchamento, o desprendimento de fragmentos minerais e a formação de cavidades.
Expansão de argilominerais – as cavidades, menos comumente, podem ser decorrentes do
despegamento de fragmentos minerais devido a fenômenos de expansão de argilominerais.
Em condições intempéricas especiais, especialmente em climas árido e semi-árido, os feldspatos
podem se alterar em argilominerais do grupo das esmectitas.
As esmectitas constituem um grupo de argilominerais francamente expansivos na presença de
água ou reagentes químicos como etileno-glicol, cuja pressão de expansão, em geral aliada ao intenso
microfissuramento da rocha e à forte alteração dos cristais de plagioclásio, contribuiu expressivamente
para o desprendimento de fragmentos de minerais.
Algumas Recomendações
O estudo e diagnóstico de várias deteriorações permitem algumas recomendações, como a seguir:
• deve se aguardar a cura da argamassa de fixação ou assentamento de rochas. Por isso, não é
recomendável a aplicação de tratamentos de superfície em rocha disposta horizontalmente
sobre argamassa por pelo menos quatro semanas após a instalação;
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 187i
• procurar manter o ambiente de obra limpo, durante e após o assentamento da rocha, tomandose cuidado, entre outros, com a possibilidade de manchamento de rochas claras com o pó de
raspagem de assoalhos de madeira;
• utilizar argamassas com pouca umidade (“farofa”) compostas por cimento branco,
especialmente para rochas brancas, e areia lavada, “secas”, ou argamassas colantes, e aguardar
sua completa secagem antes do rejuntamento dos ladrilhos;
• evitar composições (“paginações”) com materiais rochosos com resistência ao desgaste muito
distintas (ex.: mármores e granitos), em pisos de alto tráfego de pedestres (ex. shoping centers);
• evitar o uso de rejuntes impermeabilizantes, caso não tenha sido aguardada a completa cura
das argamassas do contrapiso e de assentamento;
• em edificações térreas, investigar a umidade do solo e/ou impermeabilizar o contrapiso,
para evitar manchamento e/ou o favorecimento dos fenômenos de subeflorescência;
• remover (lavar) a “lama” de serraria que tenha permanecido na face não polida (tardoz),
especialmente em rochas brancas;
• nunca utilizar ácidos (especialmente o muriático) para a limpeza da rocha após assentamento;
• cuidado com a manipulação de frutas cítricas, vinagre e outros condimentos em tampos
confeccionados com rocha.
LIMPEZA: ORIENTAÇÕES GERAIS
A característica comum a todos os exemplos mencionados anteriormente é a irreversibilidade.
Por isso, a importância da prevenção.
Parte dela já está contemplada na correta e criteriosa escolha da rocha e elaboração de projetos
arquitetônicos, subsidiados pelas propriedades tecnológicas da rocha especificada e ensaios de alteração
adequados ao uso em foco. O estabelecimento do plano de manutenção, nesse momento, é perfeitamente
apropriado para já se estabelecer os futuros cronogramas de limpeza e manutenção e os custos envolvidos.
Para exemplificar, cita-se a limpeza e manutenção de grandes áreas, especialmente de fachadas,
cujos custos relativamente altos, são muito mais em conta que qualquer intervenção generalizada de
restauração ou de substituição de materiais.
A limpeza é fundamental para valorizar as qualidades arquitetônicas das edificações e para
uma adequada conservação dos materiais que as compõem. É uma operação delicada e se realizada
incorretamente poderá danificar o material de maneira irrecuperável, por isso, não deve modificar a
superfície com abrasão ou microfissuras.
Deve ser considerado que os princípios básicos internacionalmente adotados para os procedimentos
de limpeza são exatamente os mesmos utilizados no Brasil. No entanto, é preciso adequá-los ao nosso
clima e cotidiano, que têm suas peculiaridades.
A poluição ambiental, uma condição comum às grandes e médias cidades da maioria dos
países, é o aspecto que mais exige atenção quanto à limpeza de fachadas, pois somente a prevenção da
formação de crostas e outras sujidades possibilitará atingir a durabilidade prevista em projeto.
Na questão dos acabamentos, aqueles polidos são mais fáceis de limpar e manter que os
levigados e rústicos, pois nesses as sujeiras tendem a penetrar nas reentrâncias superficiais.
A limpeza doméstica das rochas polidas é fundamentalmente simples, pois envolve somente o
uso de água limpa e detergente neutro, aplicados por meio de pano e esfregão, ou em lavagens, quando
a sujidade o requerer.
As rochas com acabamentos levigados ou texturizados (flameado, apicoado, rústico ou jateado)
requisitam periódica lavagem com escovação, usando água limpa e produtos de limpeza neutros (pH 7).
Alerta-se para a obrigatoriedade de sempre testar qualquer método de limpeza em uma área
reduzida para determinar sua eficiência, seguindo as instruções do fabricante. Devem, então, ser
188 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
empregados produtos com fórmulas perfeitamente conhecidas e já experimentadas em materiais
rochosos.
Igualmente se enfatiza a não utilização de produtos de limpeza ácidos (ex.: ácido muriático)
ou básicos (ex.: soda cáustica), que podem causar várias modificações nas rochas, sejam mármores ou
granitos, dentre as quais se destacam os manchamentos (amarelamentos, branqueamentos e outros),
irreversíveis na quase totalidade dos casos.
A limpeza profissional é altamente recomendada para áreas comerciais, fachadas ou situações
emergenciais em residências. Envolve técnicas, equipamentos, produtos e pessoal especializados que
utilizarão métodos diversificados, conforme o material rochoso, alterações presentes, grau de sujidade
e outros.
Dentre os métodos utilizados, cita-se: a) físico-mecânicos: não modificam a natureza química
dos materiais a eliminar, porém, fazem uso de instrumentos abrasivos, jatos de areia; b) mecânicos e
químicos: unem a ação mecânica com a química. Tipos: pulverização com água, aparelhos de ultrasom, vapor d’água, jatos d’água; c) químicos: alteram as moléculas das sujeiras, combinando ou
solubilizando seus componentes. Tipos: nebulização de água, substâncias absorventes.
Manchas de origem externa, devido ao contato com materiais orgânicos e metálicos, óleos e
graxas, devem ser rapidamente eliminadas para evitar a possibilidade de se tornarem permanentes,
o que ocorre quando há a penetração da substância corante. Por isso, podem ser úteis alguns
procedimentos caseiros: a) manchas orgânicas: comumente removidas por peróxido de hidrogênio
(encontrado em soluções comerciais para clareamento de cabelo) e água sanitária, comercial. Utilizar
após testes experimentais. Muitas vezes, a limpeza cotidiana para remoção da sujeira e a incidência
de insolação e chuvas podem colaborar na eliminação das manchas; b) manchas metálicas: nesses
casos, primeiro deve-se eliminar a causa, pela limpeza ou remoção de peças metálicas próximas,
pois caso contrário qualquer tentativa de remoção tenderá ao fracasso. Os produtos químicos, nesse
caso, são redutores, ou seja, atacarão os sais metálicos que serão reduzidos a sais solúveis, incolores,
posteriormente lavados ou retirados por argilas absorventes; c) óleos, graxas e outros: devem ser
dissolvidos quimicamente para a retirada da fonte de manchamento. Acetona dissolve a maior parte
dos óleos e graxas e pode ser substituída por gasolina e removedores minerais.
Em qualquer dessas intervenções, após a aplicação de removedor, deve-se lavar muito bem e com
água abundante a área afetada, para evitar quaisquer ações danosas, à rocha, do reagente químico utilizado.
Em qualquer desses casos, se o problema persistir ou for observado manchamento residual,
deve-se recorrer aos profissionais especializados.
DEMANDAS DO SETOR E DIRETRIZES SUGERIDAS
Nos últimos anos, o setor de rochas para revestimento cresceu sensivelmente, em especial
relativamente à exportação de material já beneficiado, ou acabado. De certa forma, isso também se
refletiu no aumento do consumo interno de materiais pétreos, para o revestimento de pisos, paredes
e fachadas.
Para tanto, foram e estão sendo adotadas novas técnicas no processamento e acabamento de
rochas ornamentais, com o crescente uso de resinas para melhoria do polimento e brilho ou até das
características físicas e mecânicas do material.
O uso dessas técnicas não tem sido adequadamente acompanhado de estudos tecnológicos
para verificação, quantificação e qualificação dos resultados obtidos com a sua adoção. Também, não
há divulgação adequada dessas inovações aos consumidores, sejam os marmoristas, arquitetos,
engenheiros ou o consumidor final.
Por outro lado, os procedimentos de fixação adotados nem sempre são os mais apropriados,
em decorrência do desconhecimento das características dos novos produtos beneficiados ou dos novos
materiais para assentamento e fixação de ladrilhos ou placas pétreas, no mercado.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 189i
Dessa forma, podem ser apontadas algumas ações visando à qualificação das matérias-primas e
dos produtos, à sistematização das técnicas mais adequadas para colocação e manutenção e a disseminação
e “popularização” dessas tecnologias: a) introdução e incremento do conceito do “uso da pedra”, tornando
mais popular a aplicação da rocha no revestimento de edificações, paralelamente à introdução de materiais
mais acessíveis e de menor custo – pelo melhor planejamento da produção e o bom uso de equipamentos
e de procedimentos sistematizados –, com processamento e acabamento de qualidade; b) qualificação e
treinamento de “especificadores”, designação para profissionais que indicam e utilizam a rocha em
projetos de revestimento, mas que ainda carecem de orientações e de informações técnicas para a escolha
do material rochoso apropriado; c) aprimoramento dos conhecimentos sobre durabilidade e preservação
do material rochoso, no que se inclui o reconhecimento e a avaliação técnica dos diferentes produtos
(resinas) utilizados na consolidação e preservação de rochas, tanto na fase de polimento como na
manutenção dos materiais pétreos; d) desenvolvimento e aprimoramento dos métodos e procedimentos
de aplicação da rocha, especialmente com o uso de argamassa, visando à minimização da ocorrência de
deteriorações; e) elaboração de normas técnicas nacionais para qualificação dos produtos beneficiados
de rochas ornamentais, tendo em vista as solicitações nas diversas formas de aplicação no revestimento
de edificações, principalmente em pisos de interiores e exteriores e fachadas; f) consolidação das
informações disponíveis em publicações técnicas destinadas aos profissionais especificadores
(engenheiros, arquitetos, etc.) e em manuais ou guias, destinados ao público em geral, consumidores das
rochas para revestimento (marmoristas, colocadores, usuários domésticos, etc.).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1982a). NBR 7205: placas de mármore natural para revestimentos
superficiais verticais externos. Rio de Janeiro.
____. (1982b). NBR 7206: placas de mármore natural para revestimento de pisos. Rio de Janeiro.
____. (2004). NBR 15012: rochas para revestimento de edificações: terminologia. Rio de Janeiro.
AIRES-BARROS, L. (1991). Alteração e alterabilidade de rochas. Instituto Nacional de Investigação Cientifica, Lisboa:
Universidade Técnica de Lisboa. 384p.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIAL. (1999a). C 615/99: standard specification for granite dimension stone.
____. (1999b). C 503/99: standard specification for marble dimension stone (exterior).
____. (1999c). C 568/99: standard specification for limestone dimension stone.
____. (1999d). C 616/99: standard specification for quartz-based dimension stones.
____. (1999e). C 629/99: standard specification for slate dimension stones.
____. (2000). C 406/00: standard specification for roofing slate.
____. (2002a). C 1528/02: standard guide for selection of dimension stone for exterior use.
____. (2002b). C 97/02: standard test methods for absorption and bulk specific gravity of dimension stone.
____. (2002c). C 1527/02: standard specification for travertine dimension stone.
____. (2002d). C 1526/02: standard specification for serpentinite dimension stone.
____. (2003). C 119/03: standard terminology relating to dimension stone.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS. (2003). Catálogo de rochas ornamentais
do Brasil. CD-ROM.
AMOROSO, G.G.; FASSINA, V. (1983) Stone decay and conservation. Amsterdam: Elsevier. 453p. (Materials science
monograph, v.11).
BENAVENTE, D.; GARCIA DEL CURA, M.A.; FORTE, R.; ORDÓÑEZ, S. (1999). Thermodynamic modelling of changes
induced by salt pressure crystallization in porous media of stone. Journal of Crystal Growth, v.204, p.168-178.
BRITISH STANDARD INSTITUTION. (2001). BS EN 1341:2001: slabs of natural stone for external paving: requirements and
test methods.
____. (2002). BS EN 12670:2002: natural stone. Terminology.
DELGADO-RODRIGUES, J. (1996). Conservation of granitic rocks with application to the megalithic monuments; conclusion
report. In: VICENTE, M.A.; DELGADO-RODRIGUES, J.; ACEVEDO, J. (Eds.). Degradation and conservation of granitic
rocks in monuments. Brussels: European Commission. p.161-242. (Protection and Conservation of the European Cultural
Heritage, Research Report, n. 5).
DIB, P.P.; FRASCÁ, M.H.B.O.; BETTENCOURT, J.S. (1999). Propriedades tecnológicas e petrográficas do “Granito Rosa
Itupeva” ao longo dos estágios de extração e beneficiamento. In: Simpósio de Geologia do Sudeste, 6., São Pedro. Boletim de
Resumos. São Pedro: SBG/Unesp. p.154.
FEILDEN, B.M. (1994). Conservation of historic buildings. Oxford: Reed Educational and Professional Publish. 345p.
FRASCÁ, M.H.B.O.; MELLO, I.S.C.; QUITETE, E.B. (2000). Rochas ornamentais e de revestimento do Estado de São Paulo.
São Paulo: IPT. (IPT - Publicação, 2651). CD-ROM.
190 - A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo: Diretrizes e Ações para Inovação e Competitividade
FRASCÁ, M.H.B.O. (2000). A escolha da rocha para e revestimentos. Pedras do Brasil, v. 6, p.48-49.
____. (2003a). Estudos experimentais de alteração acelerada em rochas graníticas para revestimento. 281p. Tese (Doutorado)
- Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo.
____. (2003b). Deterioração e a questão do uso e durabilidade de rochas ornamentais e para revestimento. In: VILLAS BÔAS,
R.; CALVO, B.; PEITER, C.C. (Ed.) Iberoeka de mármoles y granitos. Mini-foro realizado em Salvador, BA, 3-6 abr. 2003.
Rio de Janeiro: Cetem/Cyted/CNPq. p. 111-132.
____; FRAZÃO, E.B.; QUITETE, E.B. (1999). Alterabilidade de rochas ornamentais: metodologia para previsão da durabilidade
pela exposição a produtos de limpeza. In: Congreso Iberoamericano de Patología de las Construcciones, 7., Montevidéu, Uruguai.
1999. Memorias/Proceedings ... Montevidéu: Asiconpat/CIB. v. 3. p. 1831-1836.
____; ____. (2002). A normatização no setor de rochas para revestimento. Revista Rochas de Qualidade, v. 167., p.136-167.
____; YAMAMOTO, J.K.(2003). Ensaios de alteração acelerada em rochas para revestimento – Estudos experimentais em
rochas graníticas. In: VIDAL, F.W.H.; LIMA, M.A.B. (Eds.): In: Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste; 4., Fortaleza,
Anais... Rio de Janeiro: Cetem/MCT. p. 165-172.
____; SARTORI, P.L.P. (1998). Minerais e rochas. In: OLIVEIRA, A.M.S.; BRITO. S.N.A. (Eds.) Geologia de engenharia. São
Paulo: ABGE. p.15-38.
LÓPEZ-ACEVEDO, V.; VIEDMA, C.; GONZALEZ, V; LA IGLESIA, A. (1997). Salt crystallization in porous construction
materials II: mass transport and crystallization processes. Journal of Crystal Growth, v.182, p.103-110.
MESONES, F.L.G. (2003). La interpretación de los ensayos de caracterización de la piedra natural, en el marco de la nueva
normativa europea. In: VILLAS BÔAS, R.; CALVO, B.; PEITER, C.C. (Eds.) Iberoeka de mármoles y granitos. Mini-foro
realizado em Salvador, BA, 3-6 abr. 2003. Rio de Janeiro: Cetem/Cyted/CNPq. p. 83-98.
____; VILLIAN, J.E.; AGUIRRE, G.N. (2001). Manual para el uso de la piedra en la arquitectura. Bilbao: IT&B, SL. 400p.
MONTANI, C. (2003).Stone 2003: world marketing handbook. Faenza: Gruppo Editoriale Faenza Ed.
THEOULAKIS, P.; MOROPOULOU, A. (1997). Microstructural and mechanical parameters determining the susceptibility of
porous building stones to salt decay. Construction and Building Materials, v.11, n.1, p. 65-71.
VICENTE, M.A.; DELGADO-RODRIGUES, J.; ACEVEDO, J. (Eds.) (1996). Degradation and conservation of granitic
rocks in monuments. Brussels: European Commission. 471p. (Protection and Conservation of the European Cultural Heritage,
Research Report, n. 5).
VILES, H.A. (1997). Urban air pollution and the deterioration of buildings and monuments. In: BRUNE, D.; CHAPMAN, D.V.;
GRUYNNE, M.D.; PACYNA, J.M. (Eds.) The global environment: science, technology and management. Weinheim:
Scandinavian Science Publ.; VCH. p.599-609.
WINKLER, E.M. (1997). Stone in architecture: properties, durability. 3.ed. Berlin: Springer-Verlag. 313p.
WINKLER, E.M.; SINGER, P.C. (1972). Crystallization pressure of salts in stone and concrete. Geological Society of America
Bulletin, v. 83, p.3509-3514.
NORMAS TÉCNICAS
ABNT
NBR 8094/83 - Material metálico revestido e não revestido: corrosão por exposição à névoa salina.
NBR 8096/83 - Material metálico revestido e não revestido: corrosão por exposição ao dióxido de enxofre.
NBR 12042/92 - Materiais inorgânicos - determinação do desgaste por abrasão.
NBR 12763/92 - Rochas para revestimento: determinação da resistência à flexão.
NBR 12764/92 - Rochas para revestimento: determinação da resistência ao impacto de corpo duro.
NBR 12765/92 - Rochas para revestimento: determinação de coeficiente de dilatação térmica linear.
NBR 12766/92 - Rochas para revestimento: determinação da massa específica aparente, porosidade aparente e absorção d’água aparente.
NBR 12767/92 - Rochas para revestimento: determinação da resistência à compressão uniaxial.
NBR 12768/92 - Rochas para revestimento: análise petrográfica.
NBR 12769/92 - Rochas para revestimento: ensaio de congelamento e degelo conjugado à verificação de resistência à compressão.
NBR 15012/04 - Rochas para revestimento de edificações: terminologia.
NBR 13707/96 - Projeto de revestimento de paredes e estruturas com placas de rocha.
NBR 13708/96 - Execução e fiscalização de revestimento de paredes e estruturas com placas de rochas.
NBR 13818/97 - Placas cerâmicas para revestimento: especificação e métodos de ensaio: determinação da resistência ao ataque
químico, anexo H.
ASTM
C99/87(2000) - Standard test method for modulus of rupture of dimension stone.
G 53/89 - Recommended practice for operating light and water exposure apparatus (fluorescent uv - condensation type) for
exposure of nonmetallic materials.
C121/90 (1999) - Standard test method for water absorption of slate.
C170/90 (1999) - Standard test method for compressive strength of dimension stone.
C217/94 (1999) - Standard test method for cweather resistance of slate.
C241/90 (1997) - Standard test method for abrasion resistance of stone subjected to foot traffic.
D 2845/95 - Standard method for laboratory determination of pulse velocities and ultrasonic elastic constants of rocks.
C1352/96 - Standard test method for flexural modulus of elasticity of dimension stone.
CAPÍTULO 7 - Rochas Ornamentais e para Revestimento: Variedades, Propriedades, Usos e Conservação - 191i
B117/97 - Standard practice for operating salt spray (fog) apparatus.
C 880/98 - Standard test method for flexural strength of dimension stone.
C1353/98 - Standard test method using the taber abraser for abrasion resistance of dimension stone subjected to foot traffic.
C 170/99 - Standard method for compressive strength of dimension stone.
C 503/99 - Standard specification for marble dimension stone (exterior).
C 568/99 - Standard specification for limestone dimension stone.
C 615/99 - Standard specification for granite dimension stone.
C 616/99 - Standard specification for quartz-based dimension stones.
C 629/99 - Standard specification for slate dimension stones.
C406/00 - Standard specification for roofing slate.
C120/00 - Standard test methods of flexure testing of slate (modulus of rupture, modulus of elasticity).
C1528/02 - Standard guide for selection of dimension stone for exterior use.
C97/02 - Standard test methods for absorption and bulk specific gravity of dimension stone.
C1527/02 - Standard specification for travertine dimension stone.
C1526/02 - Standard specification for serpentinite dimension stone.
C119/03 - Standard terminology relating to dimension stone.
CEN
EN 1341:2001 - Slabs of natural stone for external paving. Requirements and test methods.
EN 1342:2001 - Setts of natural stone for external paving. Requirements and test methods.
EN 1343:2001 - Kerbs of natural stone for external paving. Requirements and test methods.
EN 1467:2003 - Natural stone. Rough blocks. Requirements.
EN 1468:2003 - Natural stone. Rough slabs. Requirements.
EN 1925:1999 - Natural stone test methods. Determination of water absorption coefficient by capillarity.
EN 1926:1999 - Natural stone test methods. Determination of compressive strength.
EN 1936:1999 - Natural stone test methods. Determination of real density and apparent density, and total and open porosity.
EN 12407:2000 - Natural stone test methods. Petrographic examination.
EN 12370:1999 - Natural stone test methods. Determination of resistance to salt crystallization.
EN 12371:2001 - Natural stone test methods. Determination of frost resistance.
EN 12372:1999 - Natural stone test methods. Determination of flexural strength under concentrated load.
EN 12440:2001 - Natural stone. Denomination criteria.
EN 12670:2002 - Natural stone. Terminology.
EN 13161:2001 - Natural stone test methods. Determination of flexural strength under constant moment.
EN 13364:2002 - Natural stone test methods. Determination of the breaking load at dowel hole.
EN 13373:2003 - Natural stone test methods. Determination of geometric characteristics on units.
EN 13755:2002 - Natural stone. Test methods. Determination of water absorption at atmospheric pressure.
EN 13919:2002 - Natural stone test methods. Determination of resistance to ageing by SO2 action in the presence of humidity.
EN 14066:2003 - Natural stone test methods. Determination of resistance to ageing by thermal shock.
EN 14146 - Natural stone test methods. Determination of the dynamic modulus of elasticity (by measuring the fundamental
resonance frequency).
EN 14147:2003 - Natural stone test methods. Determination of resistance to ageing by salt mist.
EN 14205:2003 - Natural stone test methods. Determination of Knoop hardness.
EN 14231:2003 - Natural stone test methods. Determination of the slip resistance by means of the pendulum tester.
EN 14579 - Natural stone test methods. Determination of sound speed propagation.
EN 14580 - Natural stone test methods. Determination of static elastic modulus.
EN 14581 - Natural stone test methods. Determination of thermal expansion coefficient.
prEN 1469 - Natural stone. Finished products, claddings. Specifications.
prEN 12057 - Natural stone. Finished products, modular tiles. Specifications.
prEN 12058 - Natural stone. Finished products, slab floors and stairs. Specifications.
prEN 12059 - Natural stone. Finished products, dimension stone work. Specifications.
prEN 14157 - Natural stone test methods. Determination of the abrasion resistance.
prEN 14158 - Natural stone test methods. Determination of rupture energy.