Patologias em Revestimento Cerâmico de Fachada
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Patologias em Revestimento Cerâmico de Fachada
Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Engenharia Departamento de Engenharia de Materiais e Construção Curso de Especialização em Construção Civil PATOLOGIAS EM REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA Autor: Márcia Taveira Roscoe Orientador: Prof. Dr. Antônio Neves de Carvalho Junior Dezembro/2008 MÁRCIA TAVEIRA ROSCOE PATOLOGIAS EM REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Construção Civil da Escola de Engenharia da UFMG Ênfase: Avaliação e Perícias Orientador: Professor Dr. Antônio Neves de Carvalho Junior Belo Horizonte Escola de Engenharia da UFMG 2008 Ao meu filho muito querido, fonte infindável de inspiração. Aos meus pais e irmão, pelo amor incondicional. Às minhas tias do coração, por estarem sempre presentes, em todas as horas. AGRADECIMENTOS À Universidade Federal de Minas Gerais Ao Professor Dr. Antônio Neves de Carvalho Junior, pela sua orientação, que tornou possível este trabalho. A todos os Professores da Escola de Engenharia da UFMG, com os quais tive o privilégio de conviver durante o Curso de Especialização Ao meu filho, por abrir mão de horas e horas no computador, possibilitando a realização deste trabalho. A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. RESUMO Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica a respeito de patologias em revestimento cerâmico de fachada. Aborda os principais problemas verificados em edificações, que fazem com que o revestimento cerâmico de fachada não cumpra as funções para o qual foi idealizado. São elas: proteger contra infiltrações externas, proporcionar maior conforto térmico no interior, oferecer boa resistência a intempéries e maresia, proporcionar longa vida útil, fácil limpeza e manutenção, oferecer diferencial estético e mercadológico ao empreendimento. Para embasar o leitor sobre o sistema de revestimento cerâmico, os principais conceitos a ele relacionados são abordados de forma sucinta. Abordamos aspectos técnicos e práticos da fase de projetos e da execução dos elementos que compõe o revestimento cerâmico de fachada. As patologias mais comuns são tipificadas e conceituadas. Apresentamos um estudo de caso em que todo o revestimento cerâmico das fachadas de Edifício residencial em Belo Horizonte está sendo substituído, devido à manifestação de várias e severas patologias. Representa um verdadeiro laboratório de anomalias. Por fim, conclui-se que as manifestações poderiam ser evitadas se todas as fases do processo (projeto, especificação, procedimentos de aplicação, manutenção) fossem corretamente observadas, à luz da normalização existente. Palavras chave: revestimento cerâmico, patologia, fachada, descolamento, eflorescência. ABSTRACT This paper presents a literature review regarding outer ceramic cladding patologies. It discusses the major issues affecting buildings, causing it not to function how it was designed for. Its intended functions are: protect against external moisture, interior climate control, offer wear and corrosion resistance, long life, easy cleanliness and maintenance, and provide decorative characteristics. Basic information about ceramic cladding is supplied towards educating the reader. It also discusses technical and practical issues during design and execution phases. Typical patologies are cited and exemplified. We also present a case study at an apartment building in Belo Horizonte. Its entire ceramic façade cladding is being replaced due to the occurrence of several serious patologies, making it a real anomaly lab. Finally, we conclude that the anomalies could have been avoided if all project phases (design, specification, application procedures, maintenance) were correctly followed according to the current standardization. Key words: ceramic tile, patology, façade, rupture of panels. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1.1 – FIGURA 1.2 – FIGURA 1.3 – FIGURA 2.1 – FIGURA 2.2 – FIGURA 2.3 – FIGURA 2.4 – FIGURA 2.5 – Produção brasileira de revestimentos cerâmicos............................................................. Vendas de revestimentos cerâmicos no mercado interno................................................ Tipos de produtos cerâmicos........................................................................................... Camadas básicas do revestimento cerâmico de fachada................................................. As juntas do sistema de revestimento cerâmico.............................................................. Junta estrutural ou de separação...................................................................................... Junta de movimentação................................................................................................... Junta de dessolidarização ou de união............................................................................. 13 14 15 20 36 37 40 42 LISTA DE FOTOS FOTO 5.1 – FOTO 5.2 – FOTO 5.3 – FOTO 5.4 – FOTO 5.5 – FOTO 5.6 – FOTO 5.7 – FOTO 5.8 – FOTO 5.9 – FOTO 5.10 – FOTO 5.11 – FOTO 5.12 – FOTO 5.13 – Vista geral da fachada com eflorescências e falsa junta.................................................. Destacamento em pilar.................................................................................................... Detalhe da trinca no muro............................................................................................... Destacamento por retração hidráulica no emboço........................................................... Destacamento por expansão de ferragem exposta........................................................... Detalhes da argamassa após arrancamento...................................................................... Detalhes do tardoz das placas cerâmicas arrancadas....................................................... Detalhe do espalhamento da argamassa colante.............................................................. Vista geral da fachada com destacamentos e bolor......................................................... Detalhe do rejunte............................................................................................................ Detalhes com fertilização eólica e manchamentos.......................................................... Detalhe com destacamento e bolor.................................................................................. Detalhe com manchamentos............................................................................................ 63 63 64 65 66 67 67 68 69 70 70 71 72 LISTA DE TABELAS TABELA 2.1 – TABELA 2.2 – TABELA 2.3 – TABELA 2.4 – TABELA 3.1 – TABELA 4.1 – TABELA 4.2 – Materiais constituintes das camadas do revestimento cerâmico de fachada................ Exigências mecânicas das argamassas adesivas industrializadas segundo a norma brasileira NBR 14.081................................................................................................. Grupos de absorção de água segundo a NBR 13.817.................................................. As classes de resistência a manchas segundo a NBR 13.818 ..................................... Especificação para fachadas........................................................................................ Origens de problemas patológicos............................................................................... Formas de manifestação da eflorescência.................................................................... 21 28 32 33 16 51 57 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS m2 mm AC-I AC-II AC-III AC-III-E ABNT ANFACER BNDES BSI CCB EPU EPUSP EVA HEC ISO ITC MHEC MPa NBR PEI PH PIB PROCON PVA PVAC RCF SENAI UFMG USP – metro quadrado – milímetros – Argamassa Colante Tipo I – Argamassa Colante Tipo II – Argamassa Colante Tipo III – Argamassa Colante Tipo III Especial – Associação Brasileira de Normas Técnicas – Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – British Standardization Institute – Centro Cerâmico Brasileiro – Expansão Por Umidade – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – Etil Vinil Acetato – Hidroxietil Celulose – International Organization for Standardization – Instituto de Tecnologia Cerâmica – Metil-hidroxietil Celulose – Mega Pascal – Norma Brasileira Registrada – Porcelain Enamel Institute – Potencial Hidrogeniônico – Produto Interno Bruto – Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor – Acetato de Polivinila – Acetato de Polivinila – Revestimento Cerâmico de Fachada – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Universidade Federal de Minas Gerais – Universidade de São Paulo SUMÁRIO Capítulo 1 – INTRODUÇÃO...................................................................... 12 1.1 PANORAMA DA INDÚSTRIA CERÂMICA......................................................... 1.2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................. 12 16 17 Capítulo 2 – COMPONENTES DO SISTEMA DE REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA............................................... 19 2.1 INTRODUÇÃO AO REVESTIMENTO CERÂMICO ADERIDO ..................... 2.2 BASE .......................................................................................................................... 2.3 SUBSTRATO.............................................................................................................. 2.3.1 Chapisco ................................................................................................................. 2.3.2 Emboço ................................................................................................................... 2.4 ARGAMASSAS DE ASSENTAMENTO ................................................................ 2.4.1 Argamassas dosadas em obra................................................................................. 2.4.2 Argamassas adesivas industrializadas................................................................... 2.4.3 Pastas de resinas e resinas de reação..................................................................... 2.5 A PLACA CERÂMICA ............................................................................................ 2.5.1 Definições................................................................................................................. 2.5.2 Produção da placa cerâmica................................................................................... 2.5.3 Propriedades das placas cerâmicas........................................................................ 2.5.4 A qualidade das placas cerâmicas.......................................................................... 2.6 TIPOS DE JUNTAS E REJUNTES ........................................................................ 2.6.1 Junta estrutural ou de separação........................................................................... 2.6.2 Junta de assentamento............................................................................................ 2.6.3 Juntas de movimentação ou de dilatação.............................................................. 2.6.4 Juntas de dessolidarização ou de união................................................................. 2.6.5 A argamassa de rejuntamento................................................................................ 19 21 22 23 23 25 25 25 28 29 29 30 31 34 35 37 38 38 41 43 Capítulo 3 – ETAPAS DO PROCESSO DE REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA .............................................. 45 3.1 PROJETO E ESPECIFICAÇÕES .......................................................................... 3.2 FASE DE EXECUÇÃO, MÃO DE OBRA E FERRAMENTAS .......................... 3.3 MANUTENÇÃO ....................................................................................................... 45 47 49 Capítulo 4 – PRINCIPAIS PATOLOGIAS EM REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA .............................................. 51 4.1 QUANTO À ORIGEM ........................................................................................... 4.1.1 Congênitas ............................................................................................................. 4.1.2 Construtivas ........................................................................................................... 4.1.3 Adquiridas .............................................................................................................. 4.1.4 Acidentais ............................................................................................................... 4.2 TIPOS DE PATOLOGIAS ...................................................................................... 51 51 52 52 53 53 4.2.1 Destacamentos ou descolamentos ........................................................................ 4.2.2 Eflorescências .......................................................................................................... 4.2.3 Manchas e bolor ..................................................................................................... 4.2.4 Trincas e fissuras .................................................................................................... 4.2.5 Gretamento ............................................................................................................. 4.2.6 Deterioração das juntas ......................................................................................... 53 55 59 59 60 60 Capítulo 5 – ESTUDO DE CASO .............................................................. 62 5.1 CARACTERIZAÇÃO ............................................................................................ 5.2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS ENCONTRADAS NA EDIFICAÇÃO ................ 5.3 PROVIDÊNCIAS E CONCLUSÕES ..................................................................... 62 62 73 Capítulo 6 – CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................ 74 REFERÊNCIAS........................................................................................... 76 12 Capítulo 1 – INTRODUÇÃO 1.1 PANORAMA DA INDÚSTRIA CERÂMICA O uso intenso do revestimento cerâmico aderido em edifícios residenciais, comerciais e industriais é uma realidade entre as maiores construtoras brasileiras. O motivo é que o material mantém o status de bom, bonito e relativamente barato. Essas vantagens explicam o grande crescimento na utilização do revestimento cerâmico, usado cada vez mais em todos os ambientes residenciais e comerciais das construções modernas e fachadas de edifícios, além de alguns ambientes industriais. Segundo dados do último relatório setorial do BNDES, datado de Setembro de 2006, o setor de revestimentos cerâmicos mundial atingiu a produção de 6,3 bilhões de m2 em 2004. Destacam-se a Ásia, com 47% da produção mundial, Europa com 28% e América do Sul com 11%. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (ANFACER)1 em 2007, os cinco principais produtores mundiais foram a China, com 3,5 bilhões de m2, a Espanha, com 685 milhões de m2, o Brasil, com 637 milhões de m2, a Itália, com 563 milhões de m2 e a Índia, com 360 milhões de m2. A China é o maior consumidor mundial, com 2,96 bilhões de m2 em 2007. O Brasil é o segundo maior consumidor mundial, com cerca de 534 milhões de m2 consumidos em 2007. Ainda, segundo a ANFACER,2 a produção brasileira estimada para 2008 é de 682 milhões de m2, sendo 577 milhões de m2 destinados ao mercado interno. Estes dados indicam um crescimento na produção anual superior a 7%. No consumo interno, superior a 8%. Ambos acima do crescimento previsto para o PIB brasileiro no período (estimado entre 5 e 5,5%). As FIG. 1.1 e 1.2 mostram a evolução da produção brasileira e vendas no mercado interno. 1 2 Disponível em: http://www.anfacer.org.br. Acesso em: out. 2008. Disponível em: http://www.anfacer.org.br. Acesso em: out. 2008. 13 FIGURA 1.1 – Produção brasileira de revestimentos cerâmicos Fonte: ANFACER. Disponível em: http://www.anfacer.org.br. Acesso em: out. 2008. 14 FIGURA 1.2 – Vendas de revestimentos cerâmicos no mercado interno Fonte: ANFACER. Disponível em: http://www.anfacer.org.br. Acesso em: out. 2008. Os principais pólos produtores nacionais estão localizados nas regiões Sul e Sudeste: Criciúma, em Santa Catarina, Mogi Guaçu e Santa Gertrudes em São Paulo. A região que mais consumiu revestimento cerâmico em 2005 foi o Sudeste, com 48,5% de participação, seguido pela região Nordeste, com 19%, região Sul, com 17,6%, Centro Oeste com 9,5% e região Norte com 5,4%. Na FIG. 1.3 pode-se observar a produção nacional nos últimos 3 anos, por tipo de produto. 15 FIGURA 1.3 – Tipos de produtos cerâmicos Fonte: ANFACER. Disponível em: http://www.anfacer.org.br. Acesso em: out. 2008. Conforme o relatório setorial do BNDES (2006/2009), a evolução do mercado interno está vinculada à consolidação do consumo de revestimentos cerâmicos em edifícios residenciais e comerciais, substituindo materiais tradicionais em pisos (como carpetes, mármores e granitos, tacos de madeira) e paredes (como tintas, argamassas, concreto aparente e pedras). As vantagens oferecidas pela cerâmica levam a crer que a tendência à substituição deverá prosseguir. 16 1.2 JUSTIFICATIVA O Brasil possui condições climáticas muito favoráveis ao uso de revestimentos cerâmicos nas fachadas (RCF). O clima predominantemente tropical e chuvoso torna esta opção das mais interessantes, tanto pelo aspecto do desempenho como pela durabilidade. Em cidades litorâneas, por exemplo, esta tendência torna os revestimentos cerâmicos quase uma unanimidade para o mercado consumidor, sendo seu uso muitas vezes associado ao próprio padrão de qualidade da construção. Medeiros e Sabbatini (1999) observam que esta preferência tem razões claras. Os revestimentos cerâmicos possuem inúmeras vantagens em relação aos demais revestimentos tradicionais – incluindo as pinturas, placas pétreas, tijolos aparentes, argamassas decorativas – onde destacam-se pela maior durabilidade, valorização estética, facilidade de limpeza, possibilidades de composição harmônica, maior resistência à penetração de água, conforto térmico e acústico da fachada e valorização econômica do empreendimento. Embora sejam largamente empregados em nosso país e em praticamente todo o mundo, os revestimentos cerâmicos ainda carecem de muitas melhorias e evolução tecnológica, notadamente no que diz respeito à tecnologia de produção de fachadas. A grande incidência de patologias atestam esta necessidade. Existem Normas Brasileiras que estabelecem condições mínimas de qualidade tanto para produção quanto para utilização dos elementos do sistema de revestimento cerâmico. Porém, na prática, estas normas não são consideradas e, muitas vezes, são até desconhecidas pelos profissionais responsáveis pela execução dos RCF. O resultado é um sem número de revestimentos com os mais diversos defeitos. Conforme Verçoza (1991), as características construtivas modernas favorecem o aparecimento de patologias nas edificações. As construções são realizadas buscando-se o máximo de economia e o menor tempo de execução. Klein (1999) cita, ainda, a má qualidade da mão de obra, responsável por muitas das patologias verificadas. Segundo este autor, a vida útil de uma construção irá depender e será relacionada com os cuidados que forem tomados na fase de execução. Igualmente importantes estão os cuidados nas fases de projeto e manutenção. Para se obter o melhor resultado possível com o RCF, além da mão de obra especializada, a placa cerâmica deve ser ideal para cada ambiente e há a necessidade de um 17 estudo detalhado de como o substrato deve ser executado. A escolha das argamassas colante e de rejuntamento deve ser apropriada para cada caso e deve haver um dimensionamento criterioso das juntas. As patologias de RCF são difíceis de recuperar e requerem custos elevados. Muitas vezes, quando manifestam-se visualmente, já há comprometimento da integridade do revestimento. E os custos para recuperação podem facilmente suplantar os custos da execução original. Com o advento do Código de Defesa do Consumidor, dos PROCONs e as exigências crescentes dos consumidores, torna-se cada vez mais importante o aprimoramento das técnicas construtivas, especialização da mão de obra , aprimoramento dos métodos de gerenciamento e controle de qualidade nas áreas revestidas com placas cerâmicas. Os profissionais e construtoras que não acordarem para este fato, certamente terão prejuízos financeiros no futuro. 1.3 OBJETIVOS Acreditando nas possibilidades de evolução dos revestimentos cerâmicos de fachada de edifícios e no seu imenso potencial de uso, o trabalho desenvolvido tem o propósito de levantar e organizar informações sobre o processo de revestimento cerâmico de fachada e suas principais patologias. Este trabalho tem como objetivos: • contribuir com Engenheiros, Arquitetos e demais profissionais da área de construção civil, com informações que levem ao entendimento das patologias nos revestimentos cerâmicos de fachada, de modo a evitá-las; • relacionar as patologias mais comumente observadas nos revestimentos de fachada, e suas causas principais; • estudar as características dos elementos que constituem o sistema de revestimento cerâmico aderido em fachadas, apresentando informações relacionadas ao desempenho físico e executivo; • contribuir para eliminar defeitos e falhas construtivas, de forma a garantir a estabilidade e durabilidade do sistema de RCF, diminuindo e racionalizando as manutenções; 18 • contribuir com subsídios aos especificadores, para que adquiram uma maior visão sistêmica no processo de elaboração e execução de revestimentos de fachadas, assumindo a parcela que lhes cabe na responsabilidade pelo sucesso da performance do sistema; • fornecer informações relevantes para as equipes de mão de obra sobre a forma mais recomendada de executar o sistema de revestimento cerâmico, visando minimizar defeitos e falhas construtivas e eliminar perdas; • pretendemos contribuir para a diminuição da geração de resíduos de demolição na construção civil, evitando a poluição ambiental e sobrecarga dos depósitos de resíduos e lixo urbanos. 19 Capítulo 2 – COMPONENTES DO SISTEMA DE REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA 2.1 INTRODUÇÃO AO REVESTIMENTO CERÂMICO ADERIDO Este capítulo tem por objetivo abordar os conceitos básicos dos revestimentos cerâmicos aderidos, visando situar o leitor acerca do assunto. Os revestimentos cerâmicos tradicionais trabalham completamente aderidos sobre bases e substratos que lhe servem de suporte e, por isso, podem ser denominados de aderidos. Compilando as informações da NBR 13.816 (ABNT, 1997a), da NBR 13.755 (ABNT, 1996b), de Barros, Sabbatini e de Medeiros (1999), chega-se ao seguinte conceito para revestimento cerâmico aderido: Revestimento Cerâmico de Fachada de Edifícios (RCF) é o conjunto monolítico de camadas (inclusive o emboço de substrato) aderidas à base suportante da fachada do edifício (alvenaria ou estrutura), cuja capa exterior é constituída de placas cerâmicas, assentadas e rejuntadas com argamassa ou material adesivo. Quando os revestimentos possuírem camadas com função de isolamento térmico, acústico e de impermeabilização que não permitem aderência entre as camadas, os revestimentos precisam ser fixados por meio de dispositivos especiais e são chamados de não aderidos. A interdependência que existe entre os vários componentes do revestimento indica a necessidade de conhecê-los profunda e individualmente e, mais importante do que isso, compreender o comportamento conjunto não só do revestimento aplicado mas também dos demais elementos que com ele se relacionam. Esse enfoque leva-nos ao conceito de visão holística, ou visão sistêmica, onde um todo é formado por várias partes funcionais que se inter-relacionam de maneira constante e dinâmica. Se, por um lado, essa visão constitui-se num fator necessário e fundamental para a produção de um revestimento de longa vida útil, por outro a ignorância da visão sistêmica (ou sua simples negligência) é um fator significativo no fracasso do produto final. 20 A NBR 13.816 (ABNT, 1997a) conceitua o revestimento cerâmico de tal modo que a camada de regularização dele não faz parte. Isso pode ser entendido de duas formas: 1) quando as placas são assentadas diretamente sobre a base, essa camada realmente não existe e não é mencionada; 2) quando essa camada existe, ela deve ser projetada e executada de forma a apresentar características que proporcionem condições adequadas para o assentamento das placas cerâmicas, garantindo um bom desempenho do revestimento. Então, nesse caso, a camada de regularização deve ser parte integrante do conceito de revestimento cerâmico. Neste trabalho, denomina-se base o suporte do revestimento cerâmico de fachada constituído tradicionalmente de estrutura de concreto e vedações em alvenaria. Com base no citado anteriormente, pode-se ressaltar três camadas básicas de revestimento cerâmico aderido (FIG. 2.1): camada de regularização, camada de fixação e camada de acabamento (placas cerâmicas e juntas). FIGURA 2.1 – Camadas básicas do revestimento cerâmico de fachada Fonte: CCB. Disponível em: http://www.ccb.org.br. 21 Como cada uma das camadas tem características próprias, uma abordagem mais específica sobre elas é realizada nos itens seguintes. As camadas que formam os revestimentos tradicionais aderidos são constituídas dos materiais apresentados na TAB. 2.1. TABELA 2.1 Materiais constituintes das camadas do revestimento cerâmico de fachada MATERIAIS CONSTITUINTES Concreto armado Alvenaria de blocos cerâmicos Alvenaria de blocos de concreto Alvenaria de blocos de concreto celular Alvenaria de blocos sílico-calcários Argamassa de cimento e areia, podendo ou não conter adesivos (chapisco) Argamassa de cimento, areia e/ou outro agregado fino, com adição ou não de cal e aditivos finos (emboço) Argamassa adesiva ou colante, à base de cimento, areia e/ou outros agregados finos, inertes não reativos, com adição de um ou mais aditivos químicos Placa cerâmica Argamassa de rejunte à base de cimento, areia e/ou outros agregados finos, inertes não reativos, com adição de um ou mais aditivos químicos DENOMINAÇÃO DA CAMADA BASE OU SUPORTE PREPARAÇÃO DA BASE (camada de regularização) SUBSTRATO (camada de regularização) ASSENTAMENTO OU FIXAÇÃO (camada de fixação) CERÂMICA (camada de acabamento) Fonte: Elaborado pela autora com base em Medeiros e Sabbatini (1999). 2.2 BASE No caso de edificação com estrutura convencional, a base é composta de alvenaria de blocos cerâmicos ou de concreto, e pelos elementos da estrutura de concreto (pilares, vigas, etc.). As características que podem trazer influência ao desempenho dos revestimentos de fachada são a rugosidade e a capacidade de absorção de água. Devem ser citadas também as presenças de materiais contaminantes e a planicidade da superfície. A capacidade de absorção de água é importante pois quando da execução da argamassa de emboço, parte da água da sua composição será perdida para o próprio ambiente e outra parte para a base e em relação à rugosidade, quanto mais rugosa a superfície, maior será a resistência à aderência. (BARROS; SABBATINI; LORDSLEEN JUNIOR, 1998) 22 Quando a parede for constituída por diferentes materiais (concreto e alvenaria) e submetida a esforços que gerem deformações diferenciais consideráveis, como é o caso dos balanços, platibandas e últimos pavimentos, deve-se utilizar, na junção destes materiais, tela metálica, plástica ou outro material semelhante. De modo alternativo, pode-se especificar uma junta que separe os revestimentos aplicados sobre os dois materiais, permitindo que cada parte movimente-se de forma independente. 2.3 SUBSTRATO O substrato é um dos elementos do sistema e, no caso de paredes internas e externas, é constituído pelo chapisco e emboço. O substrato é a superfície que receberá as camadas que constituem o revestimento propriamente dito. O substrato poderá ser executado com diferentes materiais e técnicas construtivas, desde que atenda às solicitações previstas em projeto e apresente características de resistência mecânica, deformabilidade, estanqueidade, resistência ao fogo e de textura superficial, compatíveis com o revestimento a ser utilizado, tendo em vista a necessária compatibilização das superfícies em contato para um adequado desempenho e durabilidade do conjunto. (FLAIN, 1995) Ainda, segundo a autora, a influência do substrato na resistência de aderência com as demais camadas que constituem a vedação vertical está ligada, principalmente, às características superficiais dos componentes da alvenaria ou do concreto e às condições de exposição do substrato. Em substratos com condições não adequadas de aderência para a próxima camada, recomenda-se a execução de uma camada que melhore esta aderência, o chapisco ou apicoamento do substrato. Segundo a NBR 7200 (ABNT, 1998f), por ocasião da aplicação da camada de argamassa, o substrato deverá apresentar-se isento de partículas soltas, até mesmo de resíduos de argamassas provenientes de outras atividades, que quando presentes, poderão se removidos, empregando-se lixas ou escovas. Além disso, a norma recomenda a remoção de manchas de óleos, graxas ou outras substâncias gordurosas através de lavagem com solução de soda cáustica de baixa concentração, sendo que a superfície deverá ser, posteriormente, 23 lavada com água limpa. As manchas de bolor podem ser removidas com uma solução de hipoclorito de sódio (água sanitária ou de lavadeira). A planicidade e prumo estão diretamente relacionadas à integridade do revestimento. Para que o revestimento desempenhe suas funções e para manter a estética das fachadas, é necessário a observação das tolerâncias em relação às características geométricas do substrato, para que se evitem grandes desperdícios de material e mão de obra (FLAIN, 1995). Quando constatados desvios significativos em relação às especificações de projeto, recomenda-se a adoção de algumas medidas como a análise e estudo do projeto de revestimento, redefinindo-o conforme condições da obra e verificando-se as interfaces com os demais subsistemas do edifício, tais como com as esquadrias. 2.3.1 Chapisco O chapisco tem a capacidade de reduzir ou igualar a tendência do substrato para absorver água da camada de regularização, além da função de melhorar a aderência da camada de revestimento e garantir maior ancoragem do emboço à base. É considerado uma preparação da base. A NBR 13.755 (ABNT, 1996b) recomenda traço de 1:3 em volume de cimento e areia grossa lavada, com consistência fluida. Segundo Just (2001), no chapisco podem ser adicionadas emulsões de polímeros PVA, acrílicos ou estirenos para melhorar a aderência nos casos onde a base apresentar uma superfície muito lisa, principalmente quando se tratar de estruturas de concreto cuja película desmoldante não consiga ser retirada de maneira eficiente. 2.3.2 Emboço O emboço é a camada de regularização aplicada sobre o chapisco, cuja função é definir o plano vertical e dar sustentação ao revestimento cerâmico. 24 A NBR 13.755 (ABNT, 1996b) recomenda traço de 1:0,5:5 e 1:2:8 em volumes de cimento, cal hidratada e areia média úmida, respectivamente. Deve apresentar textura áspera e espessura máxima de 25 mm. A NBR 13.749 (ABNT, 1996a) trata das recomendações sobre resistência de aderência. No ensaio de arrancamento, pelo menos 4 dos 6 corpos ensaiados devem apresentar resultados iguais ou superiores a 0,30 MPA. Segundo Carvalho Jr (1999), o emboço deve estar concluído há pelo menos 14 dias, sendo que algumas publicações recomendam um tempo de 30 dias, entre o seu término e o início do assentamento do revestimento cerâmico. Este tempo é necessário para diminuir os riscos de descolamentos devido à movimentação da base do assentamento, em função da retração hidráulica. Estas movimentações geram tensões superficiais muitas vezes maior do que o conjunto cerâmica/argamassa colante poderia suportar. O emboço deve se apresentar seco, isento de poeira, barro, fuligem, substâncias gordurosas, graxas, eflorescências e quaisquer elementos estranhos que prejudiquem a aderência da argamassa colante a ele. A argamassa de emboço, deve apresentar várias propriedades, com o objetivo de atender aos esforços aos quais estará sujeita durante seu uso. Barros, Sabbatini e Lordsleen Júnior (1998) citam: trabalhabilidade, aderência, durabilidade, resistência mecânica e capacidade de absorver deformações. Just (2001), ainda cita a importância da retenção da água, o consumo de cimento, a função da cal e a retração por secagem, sendo algumas delas detalhadas abaixo: • Trabalhabilidade: é subjetiva, pois sua verificação é feita de acordo com a experiência do aplicador. Na aplicação da argamassa, o aplicador determina a quantidade de água a ser utilizada. As características físicas dos agregados também influenciam nesta propriedade, principalmente a granulometria. Uma boa trabalhabilidade facilita a penetração da argamassa nas reentrâncias da base; • Aderência: é a capacidade resistente do conjunto aos esforços de tração e cisalhamento. Interferem nessa propriedade a trabalhabilidade e técnicas de aplicação, as características da base e as suas condições de limpeza durante a produção; • Resistência mecânica e a capacidade de absorver deformações: são analisadas de forma associada, pois, embora sejam ambas desejáveis, são inversamente proporcionais. A capacidade de absorver deformações é importante para todas as camadas que compõem o revestimento, sobretudo externo, pois a edificação está sujeita às mais diferentes 25 solicitações, tanto de origem térmica como hidráulica, as quais podem gerar movimentações diferentes entre os componentes; • Durabilidade: depende de todas as propriedades. 2.4 ARGAMASSAS DE ASSENTAMENTO A camada de fixação é a responsável por unir as placas cerâmicas ao substrato. Para tanto, podem ser utilizadas as tradicionais argamassas de cimento e areia dosadas em obra e que promovem principalmente aderência mecânica; as argamassas adesivas industrializadas, que promovem aderência química e mecânica; e as resinas de reação, que promovem principalmente aderência química. Estes materiais devem garantir os requisitos de segurança e durabilidade dos revestimentos cerâmicos estabelecidos no projeto. 2.4.1 Argamassas dosadas em obra Preparadas em obra geralmente a partir da mistura de cimento, cal e areia, cedem crescente lugar às argamassas adesivas industrializadas, seja pela facilidade de preparo e aplicação ou pela maior homogeneidade, o que é característica de um produto industrializado. 2.4.2 Argamassas adesivas industrializadas Hoje em dia as argamassas adesivas são os materiais mais empregados para a execução de RCF. A principal vantagem desta argamassa reside basicamente no uso de camada fina no assentamento, permitindo a racionalização da execução e redução de custos. Além de simplificar a técnica de colocação das placas cerâmicas, o uso adequado da argamassa adesiva proporciona as seguintes vantagens: i. maior produtividade no assentamento; 26 ii. manutenção das características dos materiais; iii. maior uniformização do serviço; iv. facilidade de controle; v. menor consumo de material; vi. maior possibilidade de adequação às necessidades de projeto; vii. grande potencial de aderência. A argamassa adesiva é um produto industrializado composto de uma mistura prédosada pulverulenta no estado seco, fornecida em sacos. A norma brasileira NBR 14.081 (ABNT, 1998a) denomina as argamassas adesivas de colantes, definindo-as como: Produtos industrializados, no estado seco, compostos de cimento Portland, agregados minerais e aditivos químicos, que, quando misturados com a água, formam uma pasta viscosa, plástica e aderente, empregada no assentamento de placas cerâmicas para revestimento. A colagem com argamassa adesiva ocorre de duas formas principais: – ancoragem mecânica: depende da penetração da mistura nos poros e nos interstícios da placa cerâmica e do substrato. É indicada para materiais porosos e proporcionada pelo cimento; – ancoragem química: ocorre quando existem aditivos químicos (resinas) na argamassa. É indicada para cerâmicas e substratos lisos e polidos e/ou que não absorvem água ou absorvem pouca água. As argamassas industrializadas podem ser mono ou bicomponentes, sendo que ambas são produzidas como uma mistura seca formada, basicamente, por cimento Portland, agregados e aditivos em pó que têm o objetivo de melhorar algumas propriedades do produto final. No caso das monocomponentes, a parte liquida é representada apenas por água limpa, adicionada imediatamente antes da aplicação. No caso das bicomponentes, a parte liquida é representada no todo ou em parte por uma emulsão polimérica que também tem a função de melhorar algumas propriedades do produto final. 27 Não há uma relação direta entre o desempenho das argamassas mono ou bicomponentes, mas de modo geral estas últimas possuem desempenho superior quanto aos requisitos de aderência e flexibilidade. A propriedade fundamental que diferencia as argamassas adesivas convencionais das argamassas tradicionais é a capacidade de retenção de água. É esta propriedade que permite que o material seja aplicado em camada fina, sem perder, para a base ou para o ar, a quantidade de água necessária à hidratação do cimento Portland. No Brasil, as argamassas adesivas foram normalizadas e classificadas em quatro tipos pela norma brasileira NBR 14.081 (ABNT, 1998a) A diferenciação básica considera o tempo em aberto e a capacidade de aderência. Segundo esta norma a especificação das argamassas é a seguinte: – TIPO I – rígidas – para uso INTERIOR – indicada para colagem de placas cerâmicas para revestimentos em pisos e paredes internas, com exceção de saunas, churrasqueiras, estufas e outros revestimentos especiais; o aditivo da argamassa é apenas o retentor de água; só propicia ancoragem mecânica; – TIPO II – aditivadas – para uso EXTERIOR – indicada para colagem de placas cerâmicas para revestimentos de pisos externos, paredes externas e áreas sob ação de cargas; suportam esforços decorrentes de flutuações higrotérmicas, da chuva e do vento; são adicionadas resinas na argamassa. Nesse caso, existe ancoragem mecânica e química; – TIPO III – aditivadas – argamassa de ALTA RESISTÊNCIA – indicada para colagem de placas cerâmicas para uso em saunas, piscinas, estufas e ambientes similares; possuem maior resistência de aderência que as demais; a quantidade de resinas adicionadas na argamassa propicia forte ancoragem química. Mesmo depois de seca, possui certa flexibilidade para acompanhar em parte a movimentação do sistema de revestimento, dificultando o descolamento por cisalhamento e por flambagem da placa cerâmica; – TIPO III E – aditivadas – argamassa ESPECIAL – similar ao tipo III, possui aditivo que permite estender o tempo em aberto. 28 TABELA 2.2 Exigências mecânicas das argamassas adesivas industrializadas segundo a norma brasileira NBR 14.081 PROPRIEDADE MÉTODO DE ENSINO Tempo em aberto Resistência de aderência aos 28 dias NBR 14083 NBR 14084 Cura normal NBR 14084 Cura submersa em água NBR 14085 cura em estufa NBR 14085 Deslizamento TIPO UND. Min MPa ≥ 15 ≥ 0,5 I ≥ 20 ≥ 0,5 II ≥ 20 ≥ 1,0 III III – E ≥ 30 ≥ 1,0 MPa ≥ 0,5 ≥ 0,5 ≥ 1,0 ≥ 1,0 MPa – ≥ 0,5 ≥ 1,0 ≥ 1,0 Mm } 0,5 } 0,5 } 0,5 } 0,5 Fonte: ABNT, 1998a. 2.4.3. Pastas de resinas e resinas de reação As pastas de resina são largamente utilizadas em outros países e são constituídas basicamente por resinas sintéticas, como as vinílicas e as acrílicas. As resinas de reação são adesivos que possuem desempenho superior em relação a praticamente todos os demais tipos de materiais de fixação e geralmente são constituídas por dois ou mais componentes fornecidos em separado e que devem ser misturados em proporções bem determinadas no momento da aplicação. Os aditivos usados nas argamassas adesivas destinados ao assentamento de placas cerâmicas podem modificar diversas propriedades importantes destes materiais. Os principais aditivos utilizados nas argamassas adesivas são as resinas sintéticas orgânicas. Entre estas, destacam-se as resinas celulósicas e os polímeros vinílicos, acrílicos e estirenos-butadienos. As resinas celulósicas são usadas como retentores de água e plastificantes, enquanto as resinas vinílicas e acrílicas modificadas são empregadas principalmente para melhorar a aderência e aumentar a capacidade de absorver deformações. Entre estes agentes destacam-se os hidróxietil celulose (HEC) e metil-hidróxietil celulose (MHEC) como dois dos mais empregados nas argamassas adesivas. Nas argamassas adesivas modificadas com polímeros (monocomponente) são empregados também polímeros à base de resinas vinílicas na forma de pós redispersíveis em 29 água. Elas modificam a capacidade de retenção de água, além de melhorar a aderência e a flexibilidade das argamassas adesivas. A extensão de aderência também é melhorada devido à redução na tensão superficial da água. As resinas sintéticas mais utilizadas na forma de pós redispersíveis são os acetatos de polivinila (PVAC) e os acetatos de vinila etileno (EVA). (GOLDBERG, 1998) Uma série de estudos e pesquisas têm mostrado que as argamassas adesivas modificadas por látices acrílicos e estirenos-butadienos são as que apresentam, em geral, melhor desempenho para a fixação de placas cerâmicas em fachadas. (MEDEIROS, SABBATINI, 1999) 2.5 A PLACA CERÂMICA 2.5.1 Definições Tecnicamente, chama-se de placa o elemento construtivo em que duas dimensões são bem maiores que a terceira. Na placa cerâmica, comprimento e largura são predominantes em relação à sua espessura. Segundo a NBR 13.816 (ABNT, 1997a), placa cerâmica para revestimento é definida como sendo um material composto por argila e outras matérias-primas inorgânicas, geralmente utilizada para revestir pisos e paredes, sendo formada por extrusão ou por prensagem, podendo também ser conformado por outros processos, e queimadas a altas temperaturas. Após secagem e queima a temperaturas entre 1000°C e 1200°C, a placa cerâmica adquire propriedades físicas, mecânicas e químicas. As principais propriedades são: dureza, rigidez, fragilidade e inércia. A dureza resulta de estruturas vitrificadas que se formam durante a queima, com alto grau de compacidade e coesão interna, resultando na força responsável pela resistência mecânica do material. A rigidez é a resistência da placa cerâmica à deformação, quando submetida a esforços. Sujeita a esforços, a placa cerâmica pode quebrar sem deformação prévia, resultando daí sua fragilidade, que deve ser considerada como uma propriedade da placa. Sua inércia refere-se a não reagir quimicamente com outros materiais. 30 A principal finalidade da utilização da placa cerâmica para revestimento é a proteção do substrato onde ela é assentada, contribuindo grandemente para a não insalubridade dos ambientes, devido à impermeabilidade de seu esmalte. Possibilita vantagens quando usada como material de acabamento. As principais, de acordo com a Revista Showroom (2001), são: • facilidade de limpar, reduzindo o custo de manutenção, por dispensar procedimentos complicados e caros; • antiinflamável: não propaga fogo, como outros materiais de acabamento (carpetes e madeira, por exemplo). Trata-se, portanto, de um material que oferece segurança; • durabilidade: sua composição química estável permite um longo tempo de uso, sem que suas características técnicas ou estéticas se alterem; • possui elevada impermeabilidade; • possui baixa higroscopicidade; • propicia excelente isolamento; • o custo final do sistema de revestimento cerâmico é compatível com os benefícios; • beleza estética: a cerâmica evoluiu muito nos últimos anos, no campo do design, desenvolvendo novos produtos, cada vez mais adequados ao bom gosto dos usuários; • versatilidade: a evolução da tecnologia produtiva e o avanço do “design” permitiram a criação de coleções voltadas para diversos usos. 2.5.2 Produção da placa cerâmica A nível ilustrativo e conforme a Revista Showroom (2001), edição especial, na fabricação das placas cerâmicas, são utilizadas matérias primas plásticas, como argilas, caulim e filito; e não plásticas, como quartzo, calcita, dolomita, talco e feldspatóides. De forma genérica, todos esses minerais são chamados de argilas durante o processo de fabricação. Nas indústrias, as argilas são tratadas para conseguir uma boa homogeneidade, além de uma granulometria adequada (o tamanho médio dos grãos). Ambas são obtidas na moagem, que pode ser feita de dois modos: por via seca ou por via úmida. Na via seca, o 31 material é misturado e moído com sua umidade natural, isto é, aquela com que foi extraído. Depois, segue para o granulador, a fim de obter um grão com forma adequada. Na via úmida, os diversos materiais são dissolvidos em água. A mistura (ou barbotina), segue para o atomizador que, pela injeção de gases em altas temperaturas, extrai quase toda a água do material, que já se agrega em grãos com as características desejadas. Depois, vem o processo de conformação da placa, decoração e esmaltação. Ao saírem do forno, as placas são inspecionadas quanto a defeitos de fabricação. Depois, são embaladas, ficando prontas para o consumo. 2.5.3 Propriedades das placas cerâmicas Por serem utilizadas tanto em ambientes internos como externos para a produção de revestimentos de pisos e paredes, as placas cerâmicas estão sujeitas às mais variadas condições de exposição. Assim, além das características estéticas, as placas cerâmicas precisam apresentar propriedades que garantam desempenho adequado ao longo de sua vida útil. A NBR 13.817 (ABNT, 1997b), a fim de qualificar as placas cerâmicas e facilitar sua especificação, propõe as seguintes classificações: • quanto à esmaltação: placas esmaltadas (Glazed) e não esmaltadas (Unglazed). É bastante comum, também, o uso do termo vidrado como referência às placas esmaltadas. O próprio termo Glazed faz alusão ao vidro, mesmo porque a composição do esmalte aplicado sobre o corpo cerâmico assemelha-se à composição desse material. Para proteger o desenho e conferir brilho à placa, é aplicada sobre ela uma camada de esmalte. O esmalte é formado por materiais que, no forno, fundem-se, formando uma camada vitrificada sobre a peça. A queima, no forno, é uma das etapas mais importantes. A temperaturas acima de 1000°C, as argilas que compõe a base e os materiais vítreos do esmalte fundem-se e a placa adquire as características próprias da cerâmica. Tecnicamente, a queima chama-se sinterização, devido à reação química que ocorre no forno, a síntese, onde várias substâncias se unem, formando outras, com propriedades diferentes das iniciais; • quanto ao método de fabricação: as placas podem ser extrudadas (Grupo A), prensadas (Grupo B) e outros processos (Grupo C); 32 • quanto à absorção de água: a absorção das placas cerâmicas, classificada conforme a TAB. 2.3, tem grande influência no tipo de argamassa adesiva a ser utilizada, já que as argamassas cimentícias isentas de aditivos proporcionam aderência apenas pelo efeito de ancoragem mecânica. Assim, baixa absorção significa baixa penetração de pasta nos poros das placas e pequeno efeito de ancoragem. Um exemplo desse fato ocorre com os porcelanatos, placas de absorção quase nula, que necessitam de argamassa especial que promova aderência mesmo sob essas condições. Além do aspecto de aderência, outro ponto importante a ser observado é que placas cerâmicas que serão utilizadas em ambientes externos devem ter absorção máxima de 6%, e nos casos de climas frios sujeitos ao congelamento, esse valor cai para 3%. (GOLDBERG, 1998, p. 111) A absorção total dos revestimentos cerâmicos deve ser baixa para limitar as movimentações higroscópias a que o revestimento de uso externo está sujeito. A norma brasileira NBR 13.818 (ABNT, 1997c) não estabelece um limite específico para a absorção total das placas cerâmicas destinadas às fachadas. A norma britânica BS 5385 (BSI, 1991) especifica para fachada absorção inferior a 3% para placas extrudadas e prensadas. TABELA 2.3 Grupos de absorção de água segundo a NBR 13.817 GRUPO: FAIXA DE ABSORÇÃO (%) Ia: 0 ≤ abs < 0,5 Ib: 0,5 ≤ abs < 3 IIa: 3 ≤ abs < 6 IIb: 6 ≤ abs < 10 III: abs ≥ 10 GRUPO A EXTRUDADO AI A IIa A IIb A III GRUPO B – PRENSADO (EXEMPLO) B Ia (Porcelanato) B Ib (Grés) B IIa (Semi Grés) B IIb (Semi poroso) B III (Poroso) GRUPO C OUTRO PROCESSO CI C IIa C IIb C III Fonte: ABNT, 1997b. • quanto à abrasão superficial: o ensaio de abrasão consiste em submeter a superfície esmaltada das placas cerâmicas ao atrito de esferas de aço de tamanhos padronizados durante um número fixo de ciclos numa câmara rotativa. Quanto maior o 33 número de ciclos necessários para provocar alterações no esmalte, maior é a classificação PEI da placa. O Porcelain Ennamel Institute (PEI) é um índice usado para medir a resistência à abrasão do esmalte das placas cerâmicas. No caso dos porcelanatos polidos a NBR 13.818, anexo D – especifica o ensaio para determinação do índice PEI apenas para placas esmaltadas, o que não é o caso dos porcelanatos polidos. Mesmo que o índice PEI fosse aplicado a essas placas, sua classificação máxima seria PEI IV, já que elas não resistem ao manchamento, mesmo antes da abrasão; • quanto à expansão por umidade (EPU): expansão por umidade é um aumento irreversível de tamanho que a placa cerâmica sofre, ao longo do tempo, dado ao contato com a umidade presente no ambiente onde está assentada. É uma característica crítica para fachadas, banheiros, piscinas, saunas e outros ambientes de elevada umidade. É medida em mm/m e uma pequena EPU significa um revestimento mais estável, pois a EPU pode ocasionar o destacamento, além da gretagem da placa cerâmica. A NBR 13.818 (ABNT, 1997c) limita a EPU em, no máximo, 0,6 mm/m; • quanto ao ataque químico e ao manchamento: em ambos os casos as placas são submetidas à ação de agentes padronizados, sendo então avaliada a alteração da superfície. A TAB. 2.4 mostra a classificação quanto á resistência ao manchamento. TABELA 2.4 As classes de resistência a manchas segundo a NBR 13.818 CLASSE Classe 5 Classe 4 Classe 3 Classe 2 Classe 1 DESCRIÇÃO DA REMOÇÃO DAS MANCHAS Máxima facilidade de remoção de manchas Mancha pode ser removida com produto de limpeza fraco Mancha pode ser removida com produto de limpeza forte Mancha pode ser removida com ácido clorídrico ou acetona. Mancha não pode ser removida sem danificar a peça Fonte: ABNT, 1997c. De maneira geral, as placas esmaltadas apresentam boa resistência ao manchamento, fato esse que pode ser atribuído à absorção nula e à baixíssima rugosidade proporcionada pelo esmalte. Entretanto, no caso dos porcelanatos, que pertencem ao grupo Bla (TAB. 2.3), o manchamento pode manifestar-se rapidamente nas peças polidas. A explicação para isso, segundo Arantes et al (2001), pode ser dada pelo fato de que o polimento provoca a abertura de poros anteriormente confinados numa massa monolítica, 34 expondo-os ao meio exterior. Assim, mesmo sendo o porcelanato um material de absorção muito baixa, a quebra da matriz original provocada pelo polimento deixa a superfície com porosidade exposta, proporcionando a impregnação de vários tipos de sujidades e dando origem ao manchamento. A resistência química indica a capacidade da placa cerâmica de manter inalterada a sua aparência, quando em contato com produtos químicos. As classes de resistência química são três: classe A: resistência química elevada; classe B: resistência química média; e classe C: resistência química baixa. Todas as placas cerâmicas devem resistir aos produtos domésticos de limpeza, classificado no nível 1. Quanto a isso, as placas cerâmicas esmaltadas representam uma ótima escolha, pois são altamente resistentes aos mais variados produtos utilizados na limpeza doméstica. O nível 2 indica resistência industrial e deve ser declarada pelo fabricante. A resistência ao chumbo e ao cádmio solúveis, nível 3, refere-se à não liberação, pela placa cerâmica, desses elementos, quando em presença de ácido acético (vinagre). • quanto à resistência ao choque térmico: A resistência ao choque térmico determina se a placa cerâmica resiste a variações bruscas de temperatura sem sofrer danos. É uma característica importante em fachadas e pisos externos quando, em calor excessivo, ocorrem pancadas de chuva, por exemplo. A dilatação térmica significa uma variação das dimensões da placa cerâmica em função da variação da temperatura. A resistência a danos é importante característica em pisos, principalmente externos e fachadas em locais onde a amplitude térmica diária é elevada. 2.5.4 A qualidade das placas cerâmicas A qualidade das placas cerâmicas está vinculada aos conceitos de conformidade às normas NBR 13.816 (ABNT, 1997a), NBR 13.817 (ABNT, 1997b) e NBR 13.818 (ABNT, 1997c), equivalentes às normas internacionais ISO 13006 e ISO DIS 10545, e de conformidade ao uso. O conceito de conformidade ao uso, conforme o Centro Cerâmico do Brasil (CCB), significa o atendimento das reais necessidades e desejos do usuário final do sistema de revestimento cerâmico. 35 A utilização de placas cerâmicas certificadas na execução do sistema de revestimento cerâmico é princípio básico para a qualidade do acabamento final, para a garantia de perfeita adequação ao uso do sistema e para o atendimento das necessidades dos usuários dos ambientes revestidos com placas cerâmicas. 2.6 TIPOS DE JUNTAS E REJUNTES Junta é o espaço regular entre duas peças de materiais idênticos ou distintos. Os tipos mais comuns de juntas são: estrutural, de assentamento, de movimentação e de dessolidarização. No sistema de revestimento cerâmico, deve-se dar especial atenção às juntas, dimensionando-as de acordo com as normas brasileiras vigentes do setor e com as especificações dos fabricantes de placas cerâmicas para revestimentos, pois a função das juntas é absorver as tensões do sistema, garantindo a sua estabilidade. A FIG. 2.2 mostra os diferentes tipos de juntas do sistema. 36 FIGURA 2.2 – As juntas do sistema de revestimento cerâmico Fonte: ABCCO-REJUNTABRÁS, 2001a. As principais deformações que originam tensões são: • dilatação higroscópica das placas cerâmicas: também chamada de expansão por umidade (EPU); • variações térmicas; • retração das argamassas do substrato; • retração das argamassas de assentamento dos elementos da alvenaria; • deformação lenta do concreto da estrutura; • recalque das fundações; • deformações provocadas pela umidade atuando nas argamassas endurecidas; • atuações de cargas acidentais; • vibrações de máquinas. Assim, as tensões nos revestimentos cerâmicos sempre existem, gerando compressões não suportadas pelo sistema. Variam bastante, podem se compensar ou somar. 37 2.6.1 Junta estrutural ou de separação Junta estrutural é o espaço cuja função é aliviar tensões provocadas pela movimentação da estrutura da obra. Devem ser respeitadas em posição e largura, em toda espessura do revestimento. A FIG. 2.3 ilustra como uma junta estrutural deve ser executada em áreas onde existem revestimentos com placas cerâmicas. FIGURA 2.3 – Junta estrutural ou de separação Fonte: VIEIRA, 1998. 2.6.2 Junta de assentamento É o espaço regular entre duas placas cerâmicas adjacentes. São funções da junta de assentamento: • absorver parte das tensões provocadas pela EPU da cerâmica, pela movimentação do substrato e pela dilatação térmica; • compensar a variação de bitola da placa cerâmica, facilitando o alinhamento; • garantir um perfeito preenchimento e estanqueidade; 38 • facilitar eventuais trocas de peças cerâmicas; • estética. As larguras das juntas de assentamento devem ser apropriadas para cada tipo de placa cerâmica e local de uso, interno ou externo. Assim, recomenda-se as seguintes larguras de juntas de assentamento para pisos e paredes: • áreas internas: para placas com lado maior de no máximo 20 cm, deve-se usar juntas de no mínimo 3 mm, aumentando no mínimo 1 mm para cada 10 cm de aumento da placa. Exemplo: uma placa com lado maior de 31 cm deve ter uma junta de, no mínimo, 5 mm; • áreas externas ou sujeitas à grande umidade: a partir de placas não teladas de lado maior 10 cm, deve-se usar juntas de no mínimo 5 mm, aumentando 1 mm para cada 10 cm de aumento do lado da placa. Exemplo: uma placa cerâmica de lado maior de 33 cm deve ter uma junta de, no mínimo, 8 mm; • grês porcelanato: usar juntas de no mínimo 2 mm para áreas internas e 5 mm para áreas externas; • sempre seguir as especificações do fabricante da cerâmica. 2.6.3 Juntas de movimentação ou de dilatação Junta de Movimentação é o espaço regular cuja função é subdividir o revestimento, para aliviar tensões provocadas pela movimentação do revestimento e/ou do substrato. Segundo a NBR 13.755 (ABNT, 1996b), em fachadas devem ser executadas juntas de movimentação horizontais e verticais como segue: • horizontais: recomenda-se a execução de juntas de movimentação espaçadas no máximo a cada 3 m ou a cada pé direito, na região do encunhamento da alvenaria. • verticais: recomenda-se a execução de juntas de movimentação no máximo a cada 6 m. 39 As juntas de movimentação devem ser preenchidas com selantes flexíveis, à base de poliuretano, polissulfetos ou silicones, assentados sobre um “berço” de material flexível e compreensível, não aderente ao selante, como na FIG. 2.4, e a largura das mesmas deve ser, de acordo com o Haanbook for Ceramic tile Installation (TCA, 2002), de: • Para pisos interiores: utilizar a largura da junta de assentamento, mas nunca inferior a 6,4 mm; • Para exterior: mínimo de 9,6 mm para juntas distanciadas em até 3,7 m e mínimo de 12,8 mm para juntas distanciadas em até 4,9 m; • Para interior, com uso de pastilhas e revestimentos cerâmicos de parede: utilizar a mesma largura da junta de assentamento, mas nunca inferior a 3,2 mm, sendo ideal a largura de 6,4 mm. De acordo com as características dos materiais cerâmicos a serem utilizados, a largura dessas juntas pode sofrer variações. 40 FIGURA 2.4 – Junta de movimentação Fonte: VIEIRA, 1998. Note-se que a junta de movimentação deve cortar o contrapiso e/ou a camada de regularização, em uma profundidade de pelo menos 25 mm abaixo do tardoz da placa cerâmica. Quando a camada de regularização for menor que 25 mm, a profundidade da junta de movimentação deve ser a mesma da camada de regularização. 41 2.6.4 Juntas de dessolidarização ou de união Junta de dessolidarização é o espaço regular cuja função é separar a área com revestimento de outras áreas (paredes, tetos, pisos, lajes e pilares), para aliviar tensões provocadas pela movimentação do revestimento e/ou do substrato. Segundo o Handbook for Ceramic Tile Installation (TCA, 2002), as juntas de dessolidarização devem ter, para áreas internas, largura de pelo menos 6,4 mm. Porém, essa largura pode sofrer variações, de acordo com as características dos materiais a serem utilizados. A profundidade deve ser de pelo menos 25 mm ou igual à espessura da camada de regularização; quando esta for menor que 25 mm, abaixo do tardoz da cerâmica, cortando a primeira camada de regularização e/ou contrapiso. Essas juntas devem ser preenchidas com selantes à base de poliuretano, silicone ou polissulfetos, assentados sobre um “berço” de material flexível e compressível, sobre o qual o selante não deve aderir. Deve-se limpar as juntas e as bordas das placas cerâmicas nas quais o selante será aderido. A FIG. 2.5 mostra a disposição genérica de uma junta de dessolidarização. 42 FIGURA 2.5 – Junta de dessolidarização ou de união Fonte: Adaptado de VIEIRA, 1998. A NBR 13.755 (ABNT, 1996b) recomenda executar juntas de dessolidarização: • no perímetro da área revestida; • nos cantos verticais; • nas mudanças de direção do plano do revestimento; • nas mudanças dos materiais que compõe a estrutura suporte; • no encontro do revestimento com pisos, forros, colunas, vigas ou com outro tipo de revestimento. 43 2.6.5 A argamassa de rejuntamento É a argamassa introduzida nas juntas do sistema de revestimento cerâmico. Para cada tipo e finalidade de junta existe um tipo de argamassa recomendada, em função de quais características são desejáveis para o revestimento, tais como: maior ou menor flexibilidade, retenção de água, uniformidade de textura, dureza, resistência a manchas, baixa absorção de água, aspecto visual liso e fácil de limpar. Normalmente, ter algumas dessas características significa prejudicar outras. Conforme Vieira (1998), as argamassas de rejuntamento podem ser à base de cimento portland, contendo ou não látex e à base de produtos orgânicos, como silicone, poliuretano ou resinas (furânicas, epoxídicas, formaldeídicas, etc.). Argamassas de rejuntamento à base de cimento portland são misturas industrializadas de cimento portland cinza ou branco e outros componentes homogêneos e uniformes, como areia, retentor de água, impermeabilizantes, fungicidas, pigmentos fixadores de cores e outros aditivos químicos à base de látex (emulsão aquosa) ou poliméricos secos (pó redispersível). Estes aditivos químicos proporcionam certa flexibilidade aos rejuntamentos. É um tipo de argamassa largamente utilizada nas juntas de assentamento com a finalidade de preenchê-las e absorver parte das tensões do sistema de revestimento, por isto a importância de certo grau de flexibilidade do rejuntamento. Esse tipo de argamassa de rejuntamento apresenta baixa resistência a ácidos e álcalis, não é impermeável e, quando usada em áreas externas ou úmidas, recomenda-se o uso de camadas protetoras e hidrorrepelentes, com a finalidade de deixá-las impermeáveis. Argamassas de rejuntamento à base de resinas epoxídicas são misturas industrializadas de resina epóxi, cargas minerais, aditivos e agentes de cura (endurecedores). Apresentam excelente resistência e comportamento frente a variações térmicas entre 20° C e 150° C. Podem ser utilizadas em pisos e revestimentos de indústrias alimentícias, frigoríficos, laticínios e outros. Variações das argamassas de rejuntamento à base de resinas epoxídicas, adicionadas com pigmentos fixadores de cores que, embora com menor resistência química, resulta em um rejuntamento impermeável, de excelente acabamento, liso e fácil de limpar, que proporciona higiene impecável e grande beleza. É ideal para áreas úmidas, como banheiros, saunas e piscinas, cozinhas e hospitais, por ser resistente às eflorescências, fungos, 44 bactérias e outros agentes contaminantes, constituindo-se na mais moderna e eficiente argamassa de rejuntamento do Brasil. Argamassas de rejuntamento à base de resinas furânicas são compostos misturados industrialmente de resinas furânicas, cargas minerais, aditivos e agentes de cura (endurecedores). Possuem excelente resistência química e às variações de temperatura (entre 20° e 150°) e podem ser utilizadas em juntas de assentamento em pisos e revestimentos de laboratórios, salas de galvanização, tanques de decapagens, laticínios, frigoríficos, e indústrias alimentícias e de bebidas. Argamassas de Rejuntamento para as Juntas de Movimentação, Estruturais ou de Dessolidarização são compostos à base de poliuretano, silicone ou polissulfetos, adicionandose cargas minerais devidamente graduadas, aditivos especiais e às vezes, pigmentos fixadores de cor, quando se tornar desejável uma cor semelhante à cor do rejuntamento da junta de assentamento. Essas argamassas devem apresentar grande flexibilidade, em torno de 25% de suas dimensões, para absorverem esforços resultantes das tensões do sistema de revestimento cerâmico. Também devem ser impermeáveis, laváveis, resistentes a intempéries e ter grande aderência. Durante muito tempo, utilizou-se cimento branco e alvaiade para o rejuntamento das juntas de assentamento, apresentando grandes inconvenientes, como trincas, infiltrações, formação de mofos, desagregação, entre outros, servindo apenas como massa tapa buracos. As argamassas de rejuntamento industrializadas e de boa qualidade apresentam grandes vantagens, como bons níveis de elasticidade, maior resistência à absorção de água, baixa retração por secagem, maior resistência à formação de fungos, alta adesividade, maior lavabilidade, cores mais firmes, entre outras, embelezando e valorizando o revestimento cerâmico, além de garantirem maior estabilidade para o sistema. 45 Capítulo 3 – ETAPAS DO PROCESSO DE REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA 3.1 PROJETO E ESPECIFICAÇÕES A elaboração do projeto é a primeira etapa de uma seqüência lógica de qualquer empreendimento. Com toda a segurança, a experiência tem mostrado que o custo final de uma atividade realizada de modo não planejado é muito superior ao de uma adequadamente projetada, mesmo incorporando o custo de elaboração do projeto. Com freqüência, o revestimento cerâmico é entendido apenas como um material decorativo, sendo especificado e detalhado de modo muito precário no projeto arquitetônico. Deve-se salientar, porém, a necessidade da elaboração de um projeto construtivo, que contemple todas as informações e parâmetros necessários para que se exerça total domínio sobre a execução do sistema de revestimento cerâmico. Neste projeto devem estar determinados os materiais, as técnicas, os equipamentos e o tipo de mão-de-obra a serem empregados, bem como os procedimentos de controle de qualidade a serem implementados. Os detalhes de projetos são extremamente importantes tanto do ponto de vista do comportamento final do revestimento (resistência mecânica, resistência de aderência, estanqueidade, etc.) como também para a otimização dos serviços de execução, pois, com todos os problemas resolvidos a este nível, o desperdício de materiais torna-se praticamente nulo, a produtividade é otimizada e incrementa-se o nível de qualidade dos serviços executados. O projeto dos revestimentos deve considerar os demais projetos construtivos do edifício, envolvendo, em particular, os de alvenaria e de piso. Quando estes não existirem, as informações deverão ser obtidas dos projetos tradicionais, como arquitetônico, estrutural, instalações e impermeabilização. Na fase de projeto são definidas a natureza, as características, as propriedades e o desempenho esperado dos materiais, através da identificação das solicitações a que os mesmos estarão submetidos. Deve-se levar em consideração as exigências funcionais de estética, estabilidade, permeabilidade à água, durabilidade e manutenção. Também nesta etapa 46 são definidas as técnicas executivas a serem utilizadas. O projeto executivo deve apresentar um nível de detalhes suficiente para que se reduza as improvisações no canteiro. O projeto de assentamento é primordial para a segurança das fachadas revestidas por cerâmica. Ele deve considerar juntas de movimentação no máximo a cada 3 metros na horizontal e 6 na vertical, levando em conta ainda as interfaces com elementos como vigas, caixilhos, varandas ou outros materiais usados no revestimento. Segundo dados do CCB, o correto é que as juntas sejam de mástique ou elastoméricas arrematadas por selantes de poliuretano. O silicone não é recomendado porque absorve a água da chuva, o que causa manchas na fachada. A TAB. 3.1 traz as características básicas que as placas cerâmicas para fachada devem ter. TABELA 3.1 Especificação para Fachadas Remoção de manchas Absorção de água Resistência a ataques químicos Resistência à abrasão (PEI) Expansão por Umidade (EPU) Argamassa Colante Carga de Ruptura Classe 4 ou 5 Regiões sujeitas a neve: 0 a 3 % Outras regiões: 0 a 10% Elevada ou Média Não necessário Menor ou igual a 0,6 mm/m Tipo AC III Maior ou igual a 800 N Fonte: CCB. Disponível em: http://www.ccb.org.br. Para uma especificação eficiente de placas cerâmicas para um dado ambiente, as características técnicas são fundamentais. Em todas as situações, o ideal é que a placa seja certificada pelo CCB. Ao especificar um determinado produto e acrescentar as palavras “ou similar”, deve-se requisitar a apresentação de laudos técnicos que comprovem esta similaridade. Deve-se dar preferência para cerâmicas com garras poliorientadas no tardoz, uma vez que esta característica aumenta a resistência às tensões de cisalhamento a que as peças estarão submetidas. Detalhes construtivos, como pingadeiras, molduras, cimalhas, peitoris e frisos devem ser cuidadosamente projetados, visando dissipar concentrações de água que escorrem 47 pela fachada quando chove. As superfícies horizontais devem ter inclinação de pelo menos 1%, de modo que a água verta para o exterior. É recomendável que o peitoril ressalte do pano da fachada pelo menos 25 mm, tenha caimento entre 8 e 10% e que sua face inferior seja provida de pingadeira. 3.2 FASE DE EXECUÇÃO, MÃO DE OBRA E FERRAMENTAS Na etapa de execução, deve-se seguir à risca o projeto executivo. Conforme a NBR 13.755 (ABNT, 1996b), a execução de revestimentos com placas cerâmicas só pode ser iniciada após a conclusão dos seguintes serviços: revestimentos de tetos, fixação de caixilhos, execução das impermeabilizações, instalação das tubulações e ensaios de estanqueidade nas tubulações hidráulicas e sanitárias. Para pisos externos, paredes externas e fachadas, recomenda-se a execução quando a temperatura ambiente estiver compreendida entre 5°C e 40°C e as temperaturas dos componentes do sistema de revestimento cerâmico (bases, placas cerâmicas e argamassas) estiver entre 5°C e 27°C. Quando a temperatura da base, por incidência do Sol, estiver acima de 27°C, deve-se umedecê-la levemente, porém sem saturá-la. Revestimentos externos devem ser executados em períodos de estiagem e sem ventos fortes. Deve-se evitar a incidência direta do Sol nos horários de maior temperatura diária. Segundo o CCB, a base deve ter traço forte e apresentar aspecto acamurçado. Sobre superfícies de concreto deve ser utilizado chapisco industrializado ou a adição de uma resina acrílica ao chapisco comum. É interessante que o emboço tenha sido executado sobre alvenaria chapiscada, para melhorar a aderência do sistema ao substrato. O tempo mínimo recomendado para cura do emboço é de 14 dias, sendo que algumas publicações recomendam 28 dias. É importante salientar que um maior tempo entre estas etapas garante menor susceptibilidade aos descolamentos por retração hidráulica. O emboço também deve se apresentar seco, isento de poeira, fuligem, barro, substâncias gordurosas, graxas, eflorescências e outros elementos estranhos que possam prejudicar a aderência da argamassa colante. A espessura do emboço não deverá exceder 25 mm, o que evita descolamentos. 48 A argamassa colante deve ser aplicada com desempenadeira metálica dentada, estendendo-a na parede com o lado liso e em seguida frisando-a. Desempenadeiras com os dentes gastos devem ser substituídas. Deve-se tomar cuidado especial para que o tempo em aberto (intervalo de tempo em que a argamassa colante pode ficar estendida sobre o emboço sem que haja perda de seu poder adesivo) não seja excedido. Para utilização em fachadas recomenda-se tempo em aberto de no mínimo 20 min (ARGAMASSAS TIPO AC II). Observa-se o tempo em aberto excedido quando a argamassa apresenta uma película esbranquiçada brilhante na superfície, ou quando, ao toque dos dedos, estes não se sujam; ou ainda, quando do arrancamento de uma placa recém assentada, não se verifica grande impregnação do tardoz. É importante também que, após sua mistura, as argamassas colante e de rejunte sejam totalmente utilizadas num período inferior a 2:30 horas. Não se deve aproveitar restos de argamassa que caem no chão, remisturando-a. No assentamento de peças cerâmicas com dimensões superiores a 20 x 20 cm recomenda-se a aplicação da argamassa também em seu tardoz. O arraste da cerâmica, proporcionando o rompimento dos cordões da argamassa colante, e a posterior percussão eficiente da peça garantem maior estabilidade do assentamento. Antes do assentamento da cerâmica é importante definir o posicionamento das juntas de movimentação e de dessolidarização. A NBR 13.755 (ABNT, 1996b) recomenda execução de juntas horizontais de movimentação espaçadas a cada 3 metros ou a cada pé direito, na região de encunhamento da alvenaria. As juntas verticais, espaçadas a cada 6 metros. As peças cerâmicas devem estar secas para não haver prejuízo da aderência, a não ser que haja recomendações contrárias do fabricante. Superfícies pintadas ou vitrificadas não devem receber revestimento cerâmico. O rejuntamento das placas deve ocorrer após 3 dias do assentamento, no mínimo. As juntas devem ser umedecidas e estar isentas de sujeiras. Aplica-se com desempenadeira de borracha, em movimento diagonal às juntas. Para dar acabamento, as juntas devem ser frisadas com mangueira ou ferro redondo. Após 15 minutos, limpar o excesso com esponja ou pano úmido. Limpar novamente com pano seco após mais 15 minutos. Todas as ferramentas e utensílios a seguir devem estar disponíveis para utilização na obra: cortadores manual e mecânico de placas cerâmicas, régua de pedreiro, mangueira para nível, nível de bolha, prumo, colher de pedreiro, martelo de borracha, ponteiro, linha de 49 nylon ou barbante, prego de aço, desempenadeiras denteadas de 6 mm e 8 mm, lápis de carpinteiro, desempenadeira de borracha, desempenadeira de madeira, esquadro, espátula plástica, vassoura, rodo, broxa, metro, balde de plástico, recipiente (tipo caixa) de plástico ou metal e misturador mecânico (por exemplo, furadeira com haste misturadora de tinta acoplada). É necessário o treinamento e qualificação das pessoas e equipes de operários responsáveis pela mão de obra, bem como a padronização dos procedimentos de execução e inspeção do sistema de revestimento. O segredo da qualidade no revestimento cerâmico de fachada está em um conjunto de fatores que envolvem a correta especificação de todos os componentes do sistema, base adequadamente executada, bom projeto de assentamento, mão de obra qualificada, supervisão técnica permanente durante a execução e atendimento às normas técnicas referentes a todas as etapas do processo. 3.3 MANUTENÇÃO A manutenção tem por objetivo preservar ou recuperar as condições adequadas da edificação, para o uso e o desempenho previstos em seus projetos. Fazem parte da manutenção as inspeções, as ações preventivas, a conservação e a reabilitação. A prática tem mostrado que os custos para reparar danos são muito maiores do que os custos com medidas preventivas. Por isso, deve-se prever um plano de manutenção consistente, que defina a periodicidade das vistorias e as intervenções preventivas, como limpeza, desobstrução de drenos, revisão do rejuntamento, etc. Este plano deve levar em conta, também, o envelhecimento natural dos materiais, os padrões de manutenção exigidos, a escala de prioridades e a disponibilidade financeira. As vistorias visuais podem ser intercaladas com as vistorias instrumentadas, ou seja, aquelas em que se realizam alguns ensaios para aferição do estado dos materiais ou da estrutura. A etapa de manutenção coincide com a vida útil do revestimento. Deve-se observar sempre o seu desgaste natural, a interferência deste no seu desempenho e avaliar a periodicidade de intervenções para garantia da manutenção de sua qualidade. 50 De acordo com as recomendações do CCB, as fachadas devem ser lavadas a cada dois anos, com hidrojateamento. No processo, não se deve usar produto químico, sobretudo o que tenha ácido, que degrada o revestimento e camadas internas. A pressão da lavadora não pode exceder 1000 libras por polegada quadrada. Além da lavagem, deve-se aplicar biocidas, para eliminar fungos, e produtos repelentes à água no rejuntamento. 51 Capítulo 4 – PRINCIPAIS PATOLOGIAS EM REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA 4.1 QUANTO À ORIGEM As patologias dos revestimentos cerâmicos de fachadas apresentam-se de diversas formas, todas elas resultando na impossibilidade de cumprimento das finalidades para as quais foram concebidos, notadamente nos aspectos estéticos, de proteção e de isolamento. Um efeito imediato é a desvalorização do imóvel. O conhecimento da origem das patologias é importante ferramenta para diagnosticar as causas das falhas destes revestimentos. Conforme dados do CCB, cerca de 75% dos problemas ocorrem por desrespeito ou desconhecimento das normas técnicas. A tabela a seguir exemplifica a necessidade de utilização de projetos para diminuição de patologias, apesar de abranger de forma global todos os setores da execução de uma obra. TABELA 4.1 Origens de problemas patológicos ORIGENS DAS PATOLOGIAS Projetos Construção Equipamentos Outros ÍNDICE PERCENTUAL 60% 26,4% 2,1% 11,5% Fonte: ABRANTES, 1995. 4.1.1 Congênitas São aquelas originárias da fase de projeto, em função da não observância das normas técnicas, ou de erros e omissões dos profissionais, que resultam em falhas no 52 detalhamento e concepção inadequada dos revestimentos. Causam em torno de 40% das avarias registradas em edificações. Quando o projetista deixa de observar requisitos básicos relativos ao funcionamento e qualidade global da obra, interações entre as partes da construção e de construtibilidade, é freqüente o aparecimento das patologias congênitas. 4.1.2 Construtivas Sua origem está relacionada à fase de execução da obra, resultante do emprego de mão de obra despreparada, produtos não certificados e ausência de metodologia para assentamento das peças, o que, segundo pesquisas mundiais, são responsáveis por 25% das anomalias em edificações. O treinamento das equipes de mão de obra, a padronização de procedimentos e a verificação de conformidade podem minimizar as patologias. 4.1.3 Adquiridas Ocorrem durante a vida útil dos revestimentos, sendo resultado da exposição ao meio em que se inserem, podendo ser naturais, decorrentes de agressividade do meio, ou decorrentes da ação humana, em função de manutenção inadequada ou realização de interferência incorreta nos revestimentos, danificando as camadas e desencadeando um processo patológico. Como exemplo, citamos a maresia, em regiões marítimas e os ataques químicos em regiões industriais. 53 4.1.4 Acidentais São caracterizadas pela ocorrência de algum fenômeno atípico, resultado de uma solicitação incomum, como a ação da chuva com ventos de intensidade anormal, recalques estruturais e incêndios, dentre outros. Sua ação provoca esforços de natureza imprevisível, especialmente na camada de base e sobre os rejuntes. Podem também atingir as placas cerâmicas, provocando movimentações que irão desencadear processos patológicos em cadeia. 4.2 TIPOS DE PATOLOGIAS 4.2.1 Destacamentos ou descolamentos Os destacamentos são caracterizados pela perda de aderência das placas cerâmicas do substrato, ou da argamassa colante, quando as tensões surgidas no revestimento cerâmico ultrapassam a capacidade de aderência das ligações entre a placa cerâmica e argamassa colante e/ou emboço. Devido à probabilidade de acidentes envolvendo os usuários e os custos para seu reparo, esta patologia é considerada a mais séria. As situações mais comuns de descolamento costumam ocorrer por volta de cinco anos após a conclusão da obra. A ocorrência cíclica das solicitações, somadas às perdas naturais de aderência dos materiais de fixação, em situações de subdimensionamento do sistema, caracterizam as falhas que costumam resultar em problemas de quedas, explica Medeiros . O primeiro sinal desta patologia é a ocorrência de um som cavo (oco) nas placas cerâmicas (quando percutidas), ou ainda nas áreas em que se observa o estufamento da camada de acabamento (placas cerâmicas e rejuntes), seguido do destacamento destas áreas, que pode ser imediato ou não. Segundo Bauer (1997), os descolamentos podem apresentar 54 extensão variável, sendo que a perda de aderência pode ocorrer de diversas maneiras: por empolamento, em placas, ou com pulverulência. Geralmente estas patologias ocorrem nos primeiros e últimos andares do edifício, devido ao maior nível de tensões observados nestes locais. As causas destes problemas são: • Instabilidade do suporte, devido a acomodação do edifício como um todo; • Deformação lenta (fluência) da estrutura de concreto armado; • Oxidação da armadura de pilares e vigas; • Excessiva dilatação higroscópica do revestimento cerâmico; • Variações higrotérmicas e de temperatura; • Características pouco resilientes dos rejuntes; • Ausência de detalhes construtivos (contravergas, juntas de dessolidarização, movimentação, assentamento e estrutural); • Utilização da argamassa colante com um tempo em aberto vencido; ou mau espalhamento da argamassa colante; ou ainda, ausência de dupla colagem, no caso de peças com superfície maior que 400 cm2; • Assentamento sobre superfície contaminada; • Especificação incorreta de revestimento cerâmico, especialmente no que se refere a: configuração do tardoz (que pode apresentar superfície lisa, sem reentrâncias ou garras); EPU maior do que 0,6 mm/m; absorção de água superior a 6%; • Imperícia ou negligência da mão-de-obra na execução e/ou controle dos serviços (assentadores, mestres e engenheiros). Segundo Bauer (1997), o fenômeno da dilatação higroscópica é provocado pela adsorção de água, na forma líquida ou de vapor que, ao contrário da simples absorção de água retida apenas nos poros do material, provoca modificações na sua própria estrutura, com aumento de volume. Segundo o Comitê de Estudos de EPU do CCB, choques térmicos na fachada possuem a mesma ordem de grandeza da EPU teórica e ocorrem, rapidamente, dezenas de vezes em apenas um mês, contribuindo sensivelmente para a fadiga do conjunto. Embora não haja dados concretos e estudos científicos, nos últimos anos verificaram-se fortes indícios que mostram que a execução de estruturas mais esbeltas e deformáveis, de um modo geral, tem influenciado no aumento das solicitações impostas aos revestimentos aderidos. 55 Tal fenômeno ocorre porque edifícios altos são mais susceptíveis ao encurtamento e sofrem maiores deformações devido ao efeito do vento. Sem contar que as condições de trabalho nos andaimes suspensos são mais severas, dificultando o controle da execução. Aliado a esses fatores, o uso de placas maiores também tem exigido técnicas e materiais compatíveis com essa nova realidade de construção, ressalta Sabbatini, em entrevista à Revista Techne. (CICHINELLI, 2006) 4.2.2 Eflorescências Do latim eflorescentia, esse fenômeno se caracteriza pelo aparecimento de formações salinas sobre algumas superfícies, podendo ter caráter pulverulento ou ter forma de crostas duras e insolúveis em água. Na grande maioria dos casos, o fenômeno é visível e de aspecto desagradável, mas em alguns casos específicos pode ocorrer no interior dos corpos, imediatamente abaixo da superfície. Uemoto (1988) afirma que a eflorescência pode ser considerada um dano, seja por modificar visualmente o local onde se deposita ou por poder provocar degradações profundas. O fenômeno resulta da dissolução dos sais presentes na argamassa, ou nos componentes cerâmicos ou provenientes de contaminações externas e seu posterior transporte pela água através dos materiais porosos. Se, durante esse transporte, a concentração dos sais na solução aumentar (por perda de água ou aumento da quantidade de sais), eles poderão entrar em processo de cristalização e dar origem ao fenômeno. Ocorrendo superficialmente, essa cristalização dá origem à eflorescência mais amplamente encontrada e visível; se ocorrer internamente ao material, dá origem à cripto-eflorescência, muitas vezes de difícil identificação. Vale lembrar que as placas cerâmicas e a argamassa possuem vazios em seu interior, como cavidades, bolhas, poros abertos e fechados e uma enorme e complexa rede de micro canais (FIORITTO, 1994). A água, então, pode passar pelo seu interior por força da capilaridade ou mesmo por força do gradiente hidráulico. O local de seu aparecimento não necessariamente indica seu local de origem, pois os sais podem ser transportados pela água a partir de locais afastados do ponto de ocorrência do problema. Assim, é necessário compreender o comportamento dos sais dissolvidos, sua 56 possível fonte e também a origem da água. A simples intervenção localizada e sintomática pode ser totalmente ineficaz e até danosa. Para que a eflorescência se manifeste, os seguintes fatores são necessários e suficientes: – água: atua como um solvente que possibilita a dissolução dos sais que dão origem ao fenômeno. Ela pode ter origem em vários pontos, a saber: – água de chuva: tem grande chance de penetrar através das juntas, em particular se forem mal executadas; – água de condensação: resulta das trocas de vapor de água entre o interior e o exterior através de meios porosos; – água proveniente da etapa de construção: a água de amassamento, o uso de proteções deficientes contra a chuva ou qualquer outro fato que possibilite a concentração de umidade podem ocasionar problemas em obras recém entregues. Paredes saturadas de água podem demandar semanas ou meses para que a secagem ocorra; blocos em contato com o solo, além de absorver umidade, podem ser contaminados por sais ou elementos estranhos; – sais: se movimentam dissolvidos na água e efetivamente dão origem ao fenômeno; – gradiente hidráulico: possibilita a movimentação da água e o transporte dos sais do interior para a superfície dos corpos afetados. As argamassas apresentam grande chance de incorporar sais solúveis em sua composição, em função do componente utilizado em sua produção. Vale enfatizar, também, que a utilização de água inadequada (impura) pode favorecer o aparecimento de problemas desse tipo. Os sais mais comumente encontrados são Na2SO4 e K2SO4, já que são provenientes de metais alcalinos que formam compostos bastante solúveis em água. Depois, as formas Na2CO3, NaHCO3, K2CO3 e KHCO3 aparecem com menor freqüência. Compostos do tipo MgCl2, MgSO4, CaCO3, CaSO4 e Fe2(SO4)3 aparecem em terceiro lugar. A TAB. 4.2 apresenta formas de manifestação da eflorescência. 57 TABELA 4.2 Formas de manifestação da eflorescência TIPO Pó branco pulverulento solúvel em água. Depósito branco com aspecto de escorrimento, muito aderente e pouco solúvel em água. Depósito branco, solúvel em água, com efeito de expansão. LOCAIS DE FORMAÇÃO • superfícies de concreto aparente; • superfícies de alvenaria revestida; • juntas de pisos cerâmicos ou azulejos; • regiões próximas a caixilhos mal vedados; • superfícies de ladrilhos não esmaltados. • juntas das alvenarias assentadas com argamassa; • superfície de concreto ou revestimento com argamassa; • superfícies de componentes próximos a elementos de alvenaria ou concreto. • em fissuras eventualmente presentes nas juntas das alvenarias; • nas juntas de argamassa das alvenarias; • em regiões da alvenaria muito expostas à ação da chuva. CAUSAS PROVÁVEIS • sais solúveis presentes nos materiais: água de amassamento, agregados ou aglomerantes; • sais solúveis presentes nos materiais cerâmicos; • sais solúveis presentes no solo; • reação atmosférica; • reação entre compostos do cimento e da cerâmica. • carbonatação da cal liberada na hidratação do cimento; • carbonatação da cal constituinte da argamassa. • expansão devido à hidratação do sulfato de cálcio existente no tijolo ou reação dos compostos do tijolo e do cimento; • formação do sal expansivo por ação do sulfato do meio. REPAROS • eliminação da fonte de umidade; • em superfície externa, aguardas a eliminação dos sais pela ação da chuva; • lavagem com água; • escovamento; • limpeza com ácido clorídrico a 10%. • eliminação da percolação de água; • lavagem com ácido clorídrico a 10%; • escovamento mecânico se necessário. • esperar a estabilização antes de efetuar reparos; • reparar com uso de cimento isento de sulfatos. Fonte: Adaptado de THOMAZ, 1989. Uma vez que existe uma grande quantidade de sais envolvidos no fenômeno da eflorescência e seu comportamento é influenciado pela temperatura, concentração, PH, qualidade da água disponível, presença de outros sais, etc., torna-se praticamente impossível antever o surgimento de alguma manifestação. É igualmente inviável a apresentação de uma regra geral para a solução dos problemas ocasionados. Alguns autores, entretanto, apresentam as seguintes orientações: – as manchas de aspecto escorrido e de cor esbranquiçada formadas pelo carbonato de cálcio podem ser eliminadas, mas será um processo trabalhoso e de resultado não garantido. Como os sais não são solúveis em água, será necessário o uso de escovas, 58 ácidos (muriático ou acético) e até abrasivos. Essa técnica, mesmo que aplicada após molhagem abundante, pode deixar resíduos prejudiciais de cloro no local e pode danificar a superfície atingida; – eflorescências de cor marrom, amarela e preta são, no geral, provenientes de oxidação e devem levar a um estudo sério das causas e integridade do local atingido. A limpeza com ácido muriático e soda cáustica pode ser utilizada de acordo com o sal envolvido; – manchas de cor castanha, ferruginosas, podem ocorrer caso a areia contenha minério de ferro ou caso a argila dos materiais cerâmicos contenha pirita (FeS2); – eflorescências pulverulentas brancas e solúveis em água podem ser eliminadas com lavagem e escovação com escovas de cerdas duras (piaçava ou aço). No geral, a própria chuva é suficiente para sua remoção e o uso de sabões deve ser cuidadoso, já que alguns produtos à base de estereatos e oleatos de sódio podem até aumentar o teor de sais; – a impermeabilização da superfície para evitar a entrada de água pode não ser uma solução para a eflorescência. No caso da origem da água estar no interior da parede (vazamentos, infiltração pelo topo), a aplicação de uma película impedirá a saída da água líquida. No entanto, próximo da superfície a água se transformará em vapor e atravessará a película, provocando a cristalização dos sais imediatamente abaixo da superfície. Caracterizase, então, a cripto eflorescência, que pode causar a destruição da base pelo efeito expansivo da cristalização dos sais. Segundo Uemoto (1988), alguns cuidados gerais podem ser tomados para minimizar a ocorrência do fenômeno: – não utilizar materiais e/ou componentes com alto teor de sais solúveis; – evitar tijolos com altos teores de sulfatos; – molhar os componentes cerâmicos demasiadamente secos, minimizando a absorção da água de amassamento e a reação com o cimento; – sempre proteger da chuva a alvenaria recém acabada; – evitar entrada de umidade com a ajuda de boa impermeabilização e vedação; – usar argamassa mista (cimento:cal:areia) para minimizar a reação com os componentes cerâmicos; – usar cimento pozolânico ou de alto forno, que liberam menor teor de cal na hidratação. 59 4.2.3 Manchas e bolor O termo bolor ou mofo é entendido como a colonização por diversas populações de fungos filamentosos sobre vários tipos de substrato, citando-se, inclusive, as argamassas inorgânicas. (SHIRAKAWA, 1995) O termo emboloramento, de acordo com Allucci (1988), constitui-se numa “alteração observável macroscopicamente na superfície de diferentes materiais, sendo uma conseqüência do desenvolvimento de microorganismos pertencentes ao grupo dos fungos”. O desenvolvimento de fungos em revestimentos internos ou de fachadas causa alteração estética de tetos e paredes, formando manchas escuras indesejáveis em tonalidades preta, marrom e verde, ou ocasionalmente, manchas claras esbranquiçadas ou amareladas. (SHIRAKAWA, 1995) Normalmente são provocadas por infiltrações de água e frequentemente estão associados aos descolamentos e desagregação dos revestimentos. 4.2.4 Trincas e fissuras Estas patologias aparecem por causa da perda de integridade da superfície da placa cerâmica, que pode ficar limitada a um defeito estético (no caso de gretamento), ou pode evoluir para um destacamento (no caso de trincas). As trincas são rupturas no corpo da placa cerâmica provocadas por esforços mecânicos (ex.: tração axial, compressão axial ou excêntrica, flexão, cisalhamento ou torção), que causam a separação das placas em partes, com aberturas superiores a 1 mm. As fissuras são rompimentos nas placas cerâmicas, com aberturas inferiores a 1 mm e que não causam a ruptura total das placas. Variações de temperatura também podem provocar o aparecimento de fissuras nos revestimentos, devidas às movimentações diferenciais que ocorrem entre esses e as bases. (THOMAZ, 1989) 60 Fissuras e trincas também podem estar relacionadas ao cobrimento insuficiente da estrutura de concreto. A oxidação do aço gera o aumento de volume e as tensões são transmitidas ao revestimento final. Estas patologias ocorrem normalmente nos primeiros e últimos andares do edifício, geralmente pela falta de especificação de juntas de movimentação e detalhes construtivos adequados. A inclusão destes elementos no projeto de revestimento e o uso de argamassas bem dosadas ou colantes podem evitar o aparecimento de fissuras. As fissuras podem aparecer, também, entre o rejunte e a placa cerâmica. Os principais fatores que desencadeiam esta ocorrência são: cura debilitada por condições ambientais agressivas, retração excessiva da argamassa, aplicação do rejunte em juntas com restos de argamassa e/ou sujidades e poeira, utilização de rejunte para junta fina em junta larga e vice-versa, excesso de água de amassamento, movimentação excessiva do substrato, fadiga do rejunte por ciclos higrotérmicos. 4.2.5 Gretamento O gretamento constitui-se de uma série de aberturas inferiores a 1 mm e que ocorrem na superfície esmaltada das placas, dando a ela uma aparência de teia de aranha. A expansão por umidade pode ser responsável pelo gretamento das placas cerâmicas para revestimento, quando provoca aumento nas dimensões da sua base, forçando a dilatação do esmalte, material que é menos flexível. Sem absorver a variação de tamanho da placa cerâmica provocada pela expansão por umidade, a camada esmaltada sofre tensões progressivas de tração, originando as fissuras capilares características do gretamento. 4.2.6 Deterioração das juntas Este problema, apesar de afetar diretamente as argamassas de preenchimento das juntas de assentamento (rejuntes) e de movimentação, compromete o desempenho dos 61 revestimentos cerâmicos como um todo, já que estes componentes são responsáveis pela estanqueidade do revestimento cerâmico e pela capacidade de absorver deformações. Os sinais de que está ocorrendo uma deterioração das juntas são: perda de estanqueidade da junta e envelhecimento do material de preenchimento. A perda da estanqueidade pode iniciar-se logo após a sua execução, através de procedimentos de limpeza inadequados. Estes procedimentos de limpeza podem causar deterioração de parte do material aplicado (uso de ácidos e bases concentrados), que, somados a ataques de agentes atmosféricos agressivos e/ou solicitações mecânicas por movimentações estruturais, podem causar fissuração (ou mesmo trincas), bem como infiltração de água, levando o revestimento ao colapso (desplacamento/descolamento). Pode acontecer, também, que a junta esteja preenchida apenas superficialmente, formando uma capa frágil que pode desagregar-se após alguns meses da entrega da obra. Esta situação pode acontecer em casos onde a junta é muito estreita (ex.: porcelanatos) ou quando o rejunte perde a trabalhabilidade rapidamente devido à temperatura ambiente elevada. 62 Capítulo 5 – ESTUDO DE CASO 5.1 CARACTERIZAÇÃO Neste capítulo apresentamos um estudo de caso que constitui um verdadeiro laboratório das patologias estudadas nos capítulos anteriores. Trata-se de um edifício residencial situado na cidade de Belo Horizonte, no Bairro Sion. A edificação possui 11 pavimentos acima do nível da rua (sendo um de cobertura e térreo como pilotis) e 2 pavimentos de garagem em subsolos. São 4 unidades residenciais por andar. A idade da edificação é de 15 anos de construção. Seu revestimento externo é em cerâmica Portobello 10 x 10 na cor azul e 10 x 20 na cor branco gelo. O prédio está construído no alto do bairro Sion, próximo às montanhas do Belvedere, região muito sujeita a ventos fortes, chuvas tropicais que sofrem a influência destes ventos fortes. Também o gradiente térmico verificado entre as estações do ano é relativamente majorado na região. 5.2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS DIAGNOSTICADAS NO IMÓVEL Todo o revestimento cerâmico do edifício apresenta problemas de destacamento, fissuras, eflorescências e outras manchas. Ver FOTO 5.2. Não existem juntas de dilatação estruturais, de movimentação ou de dessolidarização. Os detalhes verificados acima do alinhamento das janelas são apenas detalhes estéticos, que imitam uma junta que realmente deveria existir para evitar a propagação dos esforços tensionais. A pseudo junta é em argamassa de cimento e areia, pintada de preto, alinhada com a face das placas cerâmicas. Ver FOTO 5.1. 63 FOTO 5.1 – Vista geral da fachada com eflorescências e falsa junta Fonte: Arquivo pessoal da autora. FOTO 5.2 – Destacamento em pilar Fonte: Arquivo pessoal da autora. 64 No muro de divisa observa-se uma trinca enorme, que pode ter sido gerada não somente pelo fato de não existir qualquer junta vertical ao longo de todo o muro, como também devido a um possível recalque de acomodação da estrutura. Observa-se que a trinca se desenvolve em toda a extensão da base de alvenaria e do substrato, com deslocamentos superiores a 4 cm em alguns pontos. Ver FOTO 5.3. FOTO 5.3 – Detalhe da trinca no muro Fonte: Arquivo pessoal da autora. Em alguns locais onde o revestimento já foi removido, verifica-se que o emboço apresenta fissuras, provavelmente decorrentes da retração hidráulica, que causam desplacamento do revestimento no local. Ver FOTO 5.4. 65 FOTO 5.4 – Destacamento por retração hidráulica no emboço Fonte: Arquivo pessoal da autora. Em outro local, observa-se que a ferragem da viga está exposta e oxidada. A falta de cobrimento adequado da armadura, aliada ao fator umidade, provocou a expansão e descolamento do substrato e da placa. Ver FOTO 5.5. 66 FOTO 5.5 – Destacamento por expansão de ferragem exposta Fonte: Arquivo pessoal da autora. Sobre o tipo de argamassa colante utilizado, parece ter sido do tipo industrializada, porém, não foi possível identificar de que tipo. Percebe-se que houve muitas deficiências no que diz respeito à mão de obra de aplicação. Existem indícios claros de que houve tempo em aberto excedido, pois várias placas retiradas nem sujas estão. Em alguns trechos de argamassa verifica-se um leve amassado nos cordões, indicando, também, que não houve uma colagem correta. (ver FOTO 5.6 e 5.7). O espalhamento da argamassa não obedece um sentido único de aplicação, conforme recomendado pelos fabricantes de cerâmica. Existem trechos em que a argamassa colante foi aplicada com os cordões na diagonal, outros na vertical (de baixo pra cima ou vice versa) e outros na lateral (da esquerda para a direita ou vice versa). Pode-se dizer, ainda, que durante o assentamento, não houve o devido arrasto e percussão da placa cerâmica, para que houvesse o esmagamento dos cordões de argamassa colante, o que confere uma aderência eficiente. Ver FOTO 5.8. 67 FOTO 5.6 – Detalhes da argamassa após arrancamento Fonte: Arquivo pessoal da autora. FOTO 5.7 – Detalhes do tardoz das placas cerâmicas arrancadas Fonte: Arquivo pessoal da autora. 68 FOTO 5.8 – Detalhe do espalhamento da argamassa colante Fonte: Arquivo pessoal da autora. Quanto às placas cerâmicas, identificamos que o fabricante é Portobello. A cerâmica utilizada é a mesma da linha Arquiteto, disponível no mercado ainda hoje. Seu tardoz é adequado, na forma de espinha de peixe. São placas homogêneas, não apresentam gretamento, as dimensões são adequadas para assentamento em fachada. As cerâmicas da linha Arquiteto, atual, possuem EPU e absorção d’água adequados para revestimento de fachada. Não foi possível precisar se o mesmo revestimento, fabricado 15 anos atrás, possuía índices superiores aos recomendados pela norma. Entretanto, não nos parece que o problema verificado no prédio tenha relação com a inadequação da placa cerâmica. Ver FOTOS 5.2, 5.7 e 5.9. 69 FOTO 5.9 – Vista geral da fachada com destacamentos e bolor Fonte: Arquivo pessoal da autora. O rejunte não parece ser industrializado, mas feito de argamassa de cimento e areia. Não é flexível, é muito poroso e apresenta inúmeras microfissuras. Possui largura média de 10 mm. Há indícios de infiltração de fora para dentro, pelo rejunte, pois o emboço apresenta vários locais com sinais de bolor, sem que tenham sido identificadas infiltrações oriundas do interior das residências. Segundo informações do encarregado responsável pela obra de reforma do prédio, apesar de não ser flexível, grandes áreas de cerâmica não tinham ainda se destacado apenas pelo efeito mecânico do rejunte. Quando se soltava uma peça, painéis inteiros ruíam. Observa-se, também, que falhas e umidade na região do rejunte propiciam a fertilização eólica (sementes de plantas espalhadas pelo vento que se desenvolvem na fachada). Ver FOTO 5.10 e 5.11 70 FOTO 5.10 – Detalhe do rejunte Fonte: Arquivo pessoal da autora. FOTO 5.11 – Detalhes com fertilização eólica e manchamentos Fonte: Arquivo pessoal da autora. 71 Observam-se, ainda, muitas áreas com eflorescências, manchas decorrentes de sujeiras acumuladas em calhas e parapeitos, manchas esverdeadas, tipo bolor, entre a placa cerâmica e o emboço, todas estas denotando a falência do revestimento no cumprimento da função de garantir a impermeabilidade. Ver FOTO 5.1, 5.9, 5.12 e 5.13 FOTO 5.12 – Detalhe com destacamento e bolor Fonte: Arquivo pessoal da autora. 72 FOTO 5.13 – Detalhe com manchamentos Fonte: Arquivo pessoal da autora. 73 5.3 PROVIDÊNCIAS E CONCLUSÕES Como se pode ver, quase todas as patologias estudadas neste trabalho estão presentes em um único edifício. Os principais fatores que levaram ao colapso do revestimento de fachada do edifício foram a mão de obra deficiente, despreparada, falhas na especificação de materiais e deficiências de projeto. O resultado é o colapso total do revestimento usado na fachada, que está sendo integralmente demolido, gerando dezenas de metros cúbicos de resíduos de construção civil. Os transtornos causados aos moradores são muito grandes. A obra está prevista para durar 9 meses, provocando sujeira, barulho, falta de privacidade devido aos andaimes, interdição das áreas de lazer, etc. O prejuízo financeiro é muito grande. A área de fachada que está sendo refeita é da ordem de 4.000 m2. Segundo informações do Síndico, o custo da reforma é de R$380.000,00, ou seja R$95,00 por metro quadrado. A troca do revestimento cerâmico por argamassa decorativa (tipo textura) foi opção do condomínio, cujos moradores não queriam correr o risco, novamente, de instalar um revestimento que gerasse problemas futuros. 74 Capítulo 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO Este trabalho teve por objetivo fazer uma revisão bibliográfica sobre os problemas que ocorrem em revestimentos cerâmicos aderidos em fachadas, identificando suas causas, mecanismos de formação e possíveis soluções. A abordagem propicia ao leitor o conhecimento que induz à idéia de que os componentes do revestimento cerâmico se relacionam de maneira dinâmica e constante, não podendo ser tratados de forma individual e estática. Outro ponto importante é a existência de normas que especificam de maneira clara as características técnicas dos componentes do revestimento cerâmico, pois só assim pode haver uma uniformização de conceitos que auxilia na execução de um projeto suficientemente detalhado e embasado em aspectos técnicos coerentes. Esse fato é um ponto necessário para o bom desempenho do revestimento cerâmico, embora não seja suficiente. Assim, torna-se equivocado o uso de componentes individuais de alta qualidade técnica se sua aplicação é feita de forma incorreta, ou seja, se não há coerência e compatibilidade de comportamento entre componentes que se inter-relacionam. Cabe ao projetista do revestimento conhecer e entender os produtos com que trabalha e especificá-los de forma correta. As condições de exposição climática de um edifício refletem diretamente na vida útil e manutenção dos revestimentos utilizados. O sistema da fachada é muito crítico, pois tem que ser considerado a grande variedade de fenômenos naturais que o afetam (ventos, temperatura, chuvas, radiação solar, maresia, etc.). A rapidez de execução, o uso de grandes vãos e a esbeltez dos elementos estruturais são fatores que contribuem para o surgimento de novos esforços de difícil mensuração e que propiciam o aparecimento de patologias. O ITC (1994, p. 295) expõe um estudo da Sociedade Francesa de Cerâmica que conclui que a estabilidade do revestimento cerâmico depende fundamentalmente da idade da base e da presença de juntas de assentamento. Essa idade da base envolve as duas camadas do revestimento, fixação e regularização, e também o próprio substrato, gerando uma interdependência entre elas. Devido às imposições do cronograma da obra, entretanto, os intervalos entre a confecção das camadas tendem a ser diminuídos em detrimento dos aspectos técnicos envolvidos e que deveriam ser observados. 75 Medeiros (1999) salienta que o uso de revestimentos cerâmicos vem diminuindo principalmente por causa do crescente número de manifestações patológicas a ele associadas. Confirmando as informações de Medeiros, Campante (2001) cita que apenas 17,6% dos edifícios na grande São Paulo foram revestidos com cerâmica e que esta porcentagem vem diminuindo em conseqüência de os problemas estarem aumentando, ou seja, a comprovada deficiência da tecnologia nas etapas de aplicação e acabamento pode estar contribuindo para a formação de uma imagem negativa desse tipo de revestimento. No mercado de Belo Horizonte, normalmente mais tradicional, também se observa vários empreendimentos de alto padrão que estão optando por revestimentos argamassados, em detrimento de cerâmicas e placas pétreas. Notadamente as incorporadoras paulistas, que invadem o mercado mineiro. A mesma tendência pode ser comprovada no caso estudado neste trabalho. O surgimento de manifestações patológicas não está relacionado a uma única causa, mas é uma somatória de fatores. Pode-se concluir, então, que a qualidade e a durabilidade dos revestimentos cerâmicos estão fortemente ligadas ao planejamento e escolha dos materiais adequados, à qualidade da construção e à manutenção ao longo de sua vida útil. Uma correta especificação, com projeto detalhado, contendo as especificações adequadas e as técnicas de execução, contribui para a produção dos revestimentos de fachada com qualidade. Deve ser enfatizado que, além da correta especificação, a fiscalização adequada, e o treinamento da mão de obra são de fundamental importância para o resultado final, que objetiva a qualidade, o desempenho e o custo final adequados. Seja com base em sua importância econômica ou em sua participação no mercado, os revestimentos cerâmicos de fachada ocupam uma posição de destaque na construção de edifícios brasileira, apesar dos problemas apontados neste trabalho. Juntamente com as pinturas, são a preferência do mercado consumidor em praticamente todos os segmentos imobiliários e todas as regiões do país. O Brasil possui condições climáticas muito favoráveis ao uso de revestimentos cerâmicos nas fachadas. Nosso clima tropical e chuvoso faz com que esta opção seja das mais interessantes, tanto pelo aspecto de desempenho como pela durabilidade. E, embora sejam largamente empregados em nosso país e em praticamente todo o mundo, os revestimentos cerâmicos ainda carecem de muitas melhorias e evolução tecnológica, notadamente em relação à tecnologia de execução. A grande incidência de defeitos atestam esta necessidade. 76 REFERÊNCIAS ABCCO-REJUNTABRÁS INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. Catálogo de produtos. São Paulo, 2001a. 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