FILME O ÓLEO DE LORENZO - lições para um

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FILME O ÓLEO DE LORENZO - lições para um
FILME O ÓLEO DE LORENZO - lições para um pesquisador
Escrito por Administrator
Qui, 22 de Abril de 2010 23:39 - Última atualização Qua, 28 de Abril de 2010 11:18
O filme retrata uma situação dramática: os pais de uma criança de apenas 8 anos, Lorenzo
Michael-Murphy Odone, são surpreendidos com o diagnóstico de uma doença bastante rara e
degenerativa – a adrenoleucodistrofia (conhecida por ALD)
O filme de 1992 dirigido por George Miller é mais que um drama sobre deficiência. É, acima de
tudo, uma abordagem sobre as possibilidades da Pesquisa e o comportamento do
pesquisador. Também trata de questões ligadas à ética em ciência, além da questão do
choque entre o pragmatismo dos cientistas e a busca apaixonada e desesperada dos pais pela
cura da criança.
Ao longo das pesquisas médicas se descobre que o gene responsável pela doença é
transmitido apenas pela mãe ao menino. Essa doença causa o acúmulo de ácidos graxos nos
axônios das células nervosas do cérebro e causa destruição do revestimento desses axônios,
responsáveis pela recepção de impulsos nervosos o indivíduo.
Três formas distintas entre os sintomas podem ser observadas: dificuldades repentinas de
relacionamento e de locomoção, paralisia, dificuldades progressivas na audição, na fala e na
visão chegando até o coma e a morte. No caso de Lorenzo, os médicos não deram mais que
02 (dois) anos de vida!
O mais interessante do filme, entretanto, não é o drama pelo qual o paciente Lorenzo passa ao
longo da evolução de sua doença. O mais importante é destacar a atitude de Michaela (Susan
Sarandon) e Augusto Odone (Nick Nolte), pais da criança.
Obstinados em prolongar a vida do filho, eles embarcaram em uma verdadeira jornada
científica. Não eram cientistas, mas por força da necessidade e de um supremo desejo de
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conhecer sobre a doença, se entregaram de corpo e alma a pesquisa científica. Afinal,
Augusto e Michaela tinham um verdadeiro problema de pesquisa: Como aumentar o tempo de
vida, ou até mesmo melhorar a qualidade de vida de seu filho?
Só que, cientificamente, o problema era: Como estabilizar os níveis de gordura no sangue de
seu filho? Com essa pergunta em mente e o desejo ardente de minimizar o sofrimento de
todos (pais e filho), eles passam horas e horas em bibliotecas, pesquisam profundamente um
tema que não era de seu domínio, mas, seguindo o que encontramos na literatura sobre
Metodologia da Pesquisa, tentaram eram pesquisadores com extremada curiosidade,
criatividade, sensibilidade (o que muitas vezes faltou aos médicos), perseverança, paciência
(na medida do possível, pois eles tinham pressa...) e disciplina.
Curioso observar que, devido ao interesse que eles tinham nos resultados da pesquisa, e
também observando o desinteresse dos médicos que tratavam do assunto, eles adquiriram
mais confiança em suas descobertas do que até mesmo na experiência e nas tentativas de
médicos renomados. Diante das opções (ou ausência delas), alguns especialistas no assunto
propuseram que Lorenzo se tornasse objeto de um estudo.
Assim sendo, Lorenzo torna-se para os estudiosos apenas um caso ou, como dito no filme “um
paradoxo”, com isso sendo cada vez menos um ser autônomo. Em uma das cenas mais
chocantes do filme Lorenzo fica exposto em uma sala da faculdade de medicina. Atônito, ele
pergunta “por que toda essa gente aqui?” Isso nos faz refletir sobre a ética científica – até que
ponto, em nome da evolução da ciência, somos capazes de transformar as pessoas em
simples patologias.
A esse respeito, Foucault (1999) chama nossa atenção para o discurso médico e nas suas
formas de difusão e de circulação. Ele fala, inclusive, sobre a necessidade de se medir o efeito
do discurso médico com pretensões científicas sobre o conjunto de práticas e discursos
prescritíveis que constitui o sistema penal. Ou seja, o estudo de exames psiquiátricos e do seu
papel na penalidade. Portanto, as figuras de controle podem se formar no interior de uma
formação discursiva.
Nesse momento do filme, o médico se concentra em descrever a entidade mórbida, que é
estranha a Lorenzo que diz: ‘pare de falar assim!’. O discurso médico não fala sobre uma
pessoa, mas diz algo sobre o que essa pessoa tem. Demonstra falta de interesse genuíno na
pessoa, inclusive quando ele agradece à família de Lorenzo pela colaboração para com a
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ciência, quando deveria ser a ciência a colaborar com a saúde da criança.
É uma cena que deve servir para reflexão de nós, pesquisadores. Afinal, será que o objetivo de
progredir em um trabalho científico, mesmo que para o bem da ciência, podemos passar por
cima do respeito ao ser humano e a sua individualidade? Nunca podemos esquecer que,
principalmente em pesquisas de cunho médico e humano, existem pessoas envolvidas.
Pessoas que sofrem, que têm expectativas, que investem seu tempo e esperanças com um
objetivo um pouco diferente do pesquisador – elas buscam resolver o seu problema, buscam a
cura!
Observamos ao longo do filme uma verdadeira desconsideração por Lorenzo como um ser
humano, que é único, singular. Percebemos que a ciência médica não trata de singularidades,
pois seu modelo é universal.
Augusto Odone e sua esposa provaram que é possível responder a problemas de pesquisa e
atingir seus objetivos sendo um pesquisador dedicado, sem precisar abrir mão da ética. Eles
provaram também que dedicação e persistência, bem como interesse genuíno e vontade são
fundamentais para a concretização de uma pesquisa.
Prova disso é que, mesmo após muita resistência por parte dos médicos e até de outros pais
de crianças com o mesmo problema, os pais de Lorenzo descobriram uma espécie de azeite
que ficou conhecido como óleo de Lorenzo. Fruto de pesquisa bibliográfica, documental e
laboratorial, inicialmente não havia nenhum interesse (nem científico, nem comercial) de se
desenvolver esse óleo.
Entretanto, depois dos resultados obtidos com Lorenzo, finalmente a comunidade científica e o
governo aceitou desenvolver a substância. Dessa maneira, graças às pesquisas realizadas
pelos pais de Lorenzo, milhares de crianças com o mesmo problema puderam ser salvas da
evolução dessa doença tão cruel, pois também foi descoberto que, sendo tomado no início do
diagnóstico, o óleo era capaz de frear a evolução da ALD.
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Referências:
http://filoesco.unb.br/foucault/biblio.html
GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002
MEDEIROS, F. A. S. Metodologia do Trabalho Científico. Manaus: Cesf, 2002. Apostila.
RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência de estudos. 3 ed. São Paulo:
Atlas, 1991.
SILVA, E. L. da; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 3 ed.
Florianópolis: Laboratório de Ensino à Distância da UFSC, 2001.
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de pesquisa em Administração. São Paulo:
Atlas, 2007
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