austrália - Nuno Oliveira CMS

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austrália - Nuno Oliveira CMS
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Lizard
Island
AUSTRÁLIA
Pela biodiversidade e beleza natural a grande barreira
de coral é um ícone do planeta. Crescemos a vê-la nos livros de geografia
e sabemos que até se vê da lua, sem binóculos nem outras lentes.
Por isso, continua a fascinar milhões de viajantes em todo o mundo.
Os que já por aqui passaram e os que aspiram a vir um dia.
Para mergulhar, para ver um fundo marinho único, ir à praia, passear
de barco à vela, fazer trekking ou descansar o corpo no spa.
POR TIAGO SILVEIRA MACHADO
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FOTOS DE NUNO OLIVEIRA
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Longe da massificação turística, esta ilha é só para quem vê valor na tranquilidade
e na possibilidade de estar longe de tudo, apenas entregue
a uma semana de encontro com um dos últimos redutos naturais do planeta.
S
entou-se? Está confortavelmente instalado? Então começo por lhe sugerir um
exercício. Feche os olhos, tente visualizar o mapa da Europa e estique uma linha
imaginária de 2.300km, entre Lisboa e Amesterdão. Depois, engrosse essa linha até
ficar com oitenta quilómetros de largura. Já está? Então fique a saber que essas são as
dimensões da Grande Barreira de Coral australiana, inscrita como Património da
Humanidade desde 1981. É o maior segmento de recifes de coral do mundo e, para
além do tamanho, os seus 35 milhões de hectares – qualquer coisa como o território
de Itália – são um dos mais importantes redutos de biodiversidade do planeta.
Moram aqui, nestas águas que enchem o Oceano Pacífico e as brochuras das
agências de viagem, 1500 espécies de peixes, 300 de corais, 4000 de moluscos e outras 400 de esponjas.
Anémonas, crustáceos, tartarugas, pelicanos, águias marinhas e uma interminável lista de insectos completam
o casting da bicharada. E foi para viver tudo isto, para lhe propor umas férias diferentes, de descoberta da
natureza e de aventura, que decidimos vir até aqui.
QUEENSLAND É O ESTADO a quem coube em sorte ficar com a grande barreira de coral. Ocupa a costa
noroeste do continente e estende-se de Cape York, no extremo norte, até um pouco abaixo de Rockhampton
– cidade que é cortada pelo trópico de Capricórnio. Sei que a Austrália é um país imenso e que todos estes
nomes ajudam pouco a sossegar o viajante que está a pensar cruzar meio mundo para vir até aqui. Mas não se
assuste; apesar das distâncias desmesuradas, é fácil circular dentro do país, seja de carro ou de avião. Serve de
amostra a nossa viagem, que nos levou de Sydney a Cairns, e depois até à Lizard Island, em pouco mais do
que uma manhã. Cairns, tal como Port Douglas, Mackay ou outras, são exemplos de pequenas cidades
costeiras muito viradas para a oferta turística relacionada com o recife. Por todo o lado, há agências a oferecer
passeios de helicóptero, de avioneta, cursos de mergulho, passeios de snorkel, viagens de catamarã, bolas de
praia, havaianas, biquinis, t-shirts e tudo o mais que possa imaginar. Portanto, apesar de preservada, não
idealize a grande barreira de coral como uma coisa inacessível ou pouco explorada. A pressão turística já se vai
sentindo e o que vale é que a Austrália é grande e tem espaço de sobra. No caso de Cairns, valeu-lhe também
algum gosto na requalificação da zona que envolve a marina da cidade.
>>>
UMA ILHA, MUITO MAR
Na Lizard Island tudo tem por mote o mar. São os passeios para ver as outras ilhas ou, mais longe,
a costa de Cairns, os motivos náuticos que decoram a biblioteca do resort
ou os Bungalows,a dois passos de uma piscina privativa que se chama oceano pacífico.
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FUNCIONAIS...
...e frescos. Todos os quartos são decorados
com tons claros e têm mobiliário em madeira.
Gostámos sobretudo das varandas, com camas
de rede e sofás, e das amplas casas de banho
CONFORTO MAXIMO e bom gosto sem luxos disparatados…
…estas podiam ser as máximas QUE DESCREVEM O TOM DOS BUNGALOWS
FUGIR A ESTES SINAIS DE MASSIFICAÇÃO é sempre uma das nossas preocupações. Por isso,
Cairns serviu-nos apenas como escala de um dia no roteiro que nos levou até à Lizard Island, essa sim
em plena Barreira de Coral. E foi do mesmo aeroporto onde aterrámos, vindos de Sydney, que
partimos para essa ilha, descoberta e baptizada pelo mítico Capitão Cook, que navegou nestas águas
nos finais do século XVIII. A Hinterland Aviation é uma entre as muitas pequenas companhias
aéreas locais que faz o trajecto. Uma rotina diária que se cumpre em cerca de meia hora num Cessna
apertadinho, que nos fez recordar com saudade a poltrona da classe executiva da Quantas que nos
acolheu ao longo de vinte e três horas de voo entre Frankfurt e Sydney. Nada que também não se
esqueça alguns minutos depois de levantarmos voo. É que, lá em baixo, a paisagem começa a misturar
tons de verde e azul com microscópicas praias de areia branca, que parecem flutuar sobre o coral. E a
sequência de “postais” é tal que a meia dúzia de passageiros do bimotor faz a viagem com o nariz
encostado à janela. Em contraste com o desinteresse do piloto, fartinho de guiar o “táxi” duas vezes ao
dia. Uma para lá e outra de regresso a Cairns. “Todos os anos a barreira de coral é visitada por 157 mil
viajantes internacionais e mais 271 mil australianos”, disse-me a custo enquanto passava os olhos pelas
notas de voo. Disse-me, não. Gritou-me, já que o barulho do Cessna, em pleno voo, não deixa ouvir
muito mais. Vou acreditar que foi por isso que não deu muita saída aos meus elogios sobre a paisagem
e às tentativas de ouvir mais de quem tem a experiência de voar aqui quase todos os dias. “Yeah…it’s
amazing” foi tudo o que lhe ouvi dizer…
SABIA QUE A GRANDE
BARREIRA DE CORAL…
…tem cerca de 2000 quilómetros
de comprimento e oitenta de largura.
Terá entre 600.000 ■
e 18 milhões de anos de idade?
É maior que a muralha da China ■
e o único elemento vivo do planeta
visível do espaço.
É uma das sete maravilhas ■
naturais do mundo
É o maior conjunto de recifes existente, ■
sendo constituído por mais de 2500 grupos
de coral acumulado.
>>>
SE PUDER ESCOLHER...
…não hesite em reservar o pavillion, mas conte com o preço mais alto do resort. No alto do morro, tem vista para toda a baia e
interiores mais amplos. A preços normais, recomendo-lhe o bungalow 9. Está junto às escadas de acesso a uma das praias.
Cronometrei um minuto e meio da cama até ao mar.
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FRUTOS DO MAR
Como não podia deixar de ser,
são os elementos básicos dos pratos servidos
pelo resort. Uma noite por semana há mesmo
um sumptuoso buffet de marisco.
TUDO ABERTO, AREJADO sem portas nem janelas
as refeições são acompanhadas pela BRISA MORNA QUE SOPRA DO MAR
AQUECIMENTO GLOBAL:
A MAIOR AMEAÇA
A poluição, pesca excessiva e o aquecimento
da temperatura da água são as principais
ameaças à sobrevivência da Grande Barreira
de Coral. Os pólipos de coral vivem com
uma temperatura que entre os 17.5 e os 28ºC
e não toleram o sobre aquecimento do seu meio
marinho. A par com os elementos poluentes,
que se depositam no fundo, esse aumento
da temperatura é a maior ameaça.
Alguns cientistas prevêem que, com
as condições actuais, no ano 2050,
o recife esteja reduzido a 5 por cento
da sua dimensão actual.
Como é que o viajante pode contribuir
para a preservação?
■ Da praia ou do mar, traga todo o lixo
consigo (mesmo o que seja considerado
biodegradável).
Durante o mergulho, não toque na fauna
ou flora marinha, não pise nem tente partir
pedaços de coral.
■
Use protectores solares que não sejam
agressivos para com o ambiente. Se tiver dúvidas
consulte o seu monitor de mergulho
■
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HERON, BEDARRA OU BRAMPTON ISLAND eram outros destinos possíveis nesta barreira de
coral, da qual fazem parte uma constelação de pequenas ilhas. Algumas são minúsculas, têm uma
praia de areia branquíssima, meia dúzia de metros quadrados de mato e pouco mais. Vistas do
céu, com aquela auréola de mar transparente em redor, só apetece escolher uma, pôr-lhe uma
cabana de pau e pedir que nos venham buscar daí a um mês…ou um ano. Quando há espaço
para tanto, têm uma pista de aterragem e, pelo menos, um resort. É o caso da “nossa” Lizard
Island, cujo nome se deve aos lagartos que a habitam e que também não passaram despercebidos
ao capitão Cook. Foi o primeiro não indígena a pisar a ilha e não teve muitas dúvidas quando
pensou num nome para a baptizar. Apesar do aspecto bizarro, e de poderem chegar ao metro de
comprimento, não se assuste, nem cancele já a sua viagem… Estes lagartos, da mesma família dos
dragões de Komodo, da Indonésia, são uns pacholas. Às refeições só comem insectos e o resto
do dia passam-no na esplanada, ou seja nas rochas aquecidas pelo sol, de preferência com vista de
mar. Outro dado para segurança dos mais impressionáveis: eles dispensam a nossa companhia e
quando nos vêem, ou nos ignoram ou vão-se embora.
ESTADOS DE STRESS INTENSO, DORES DE CABEÇA, TENSÃO NERVOSA, cansaço
extremo, ansiedade, sonos agitados… Se a Lizard Island tivesse posologia, é certo que seria
indicada para estas maleitas. E sem contra indicações por consumo excessivo. É que esta ilharesort é uma das melhores bases para partir à descoberta dos mais conceituados spots de
mergulho da secção norte da barreira de coral. Por exemplo, tem uma situação privilegiada no
acesso ao Cod Hole, um must internacional para os incondicionais do mergulho. É também o
sítio certo, para os outros. Para os que se ficam apenas por passeios de snorkel ou de barco à vela,
para os profissionais dos banhos de sol em praias desertas, especialistas em horas de molho a
chapinhar num mar de águas tépidas, coleccionadores de conchas, apreciadores de sombras de
palmeira, de daiquiris e margueritas em dias soalheiros e apaixonados pelos tratamentos de spa.
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MERGULHAR NUM LUGAR INESQUECIVEL é a razão de vir até aqui
A grande barreira de coral recebe MAIS DE 400 MIL VISITANTES POR ANO
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O KELVIN E OS AMIGOS…
…tratam de tudo para que as
saídas para mergulho decorram
sem sobressaltos. Encontra-os
no Beach club
O LIZARD ISLAND RESORT PERTENCE À VOYAGES, que oferece alguns dos mais emblemáticos
hotéis do país. O Dunk Island Resort e o Longitude 131o são duas dessas propriedades e que, se espreitar
o respectivo site – voyages.com –, dispensam comentários. Exclusividade, conforto absoluto e sem luxos
disparatados, bom gosto e um programa irrepreensível de propostas para descanso activo são
características que as distinguem. Aqui, o hotel é composto por cerca de quarenta cabanas – quartos,
villas e suites –, o Azure Spa, restaurante, sala de estar, beach club, piscina, court de ténis e duas praias.
Tudo isto numa área muito ampla, com as construções camufladas pela vegetação e jardins, o que garante
outra das máximas do resort: privacidade.
O silêncio, apenas interrompido, de quando em vez, pelo roçar da brisa nas giestas, muito cheiro a
plantas e a mar são, então, as companhias de todos os dias. Das praias do resort, para além de todas as
outras que pode descobrir a pé ou por mar, só se ouve o ressoar esporádico de um barco a motor. É tão
calmo, que as ondas se desfazem muito lentamente contra a praia. Suavemente, quase sem som. Como
quem nos sussurra um carinho ao ouvido... Na forma de hotel, o Lizard Island Resort é o único que a
ilha tem para oferecer. Nos antípodas do conforto, a outra possibilidade é um parque de campismo, junto
à indescritível Watson Beach. Mas já lá iremos.
O MERGULHO É A GRANDE MOTIVAÇÃO para quem vem até à Lizard Island, assim como às outras
ilhas da barreira. Para isso, o resort até criou o Beach Club, que, além das canoas e catamarãs do
costume, organiza saídas até aos pontos mais emblemáticos do recife. Podem durar metade do dia ou um
dia inteiro, que é o mesmo que dizer sair às oito e pouco da manhã e voltar para o almoço, ou regressar só
lá para as quatro da tarde. A escolha é do viajante e o cardápio, para saídas de snorkel ou scuba diving, não
poupa nas propostas. “Palfrey island, South Island e a Blue Lagoon são os locais mais próximos”,
OS MELHORES SITIOS PARA MERGULHAR
Em cerca de 2000 quilómetros de comprimento
há lugares privilegiados para mergulho:
Cairns.
Um dos lugares mais procurados.
Para evitar massificação turística opte
pela Lizard Island, que também
lhe dá acesso ao famoso Cod Hole.
Port Douglas.
Para chegar às Low Isles
e Agincourt reefs.
Townsville.
Para chegar aos destroços
do famoso Yagala
Heron Island.
Um resort mítico numa ilha dedicada
ao mergulho. Como é pequeno
deve reservar com antecedência.
Lady Elliot Island.
Navios naufragados
e corais soberbos.
Fitroy Reef Lagoon.
muitos anos esteve fora do alcance
dos turistas e ainda hoje
o número de visitantes é limitado.
O FAMOSO COD HOLE é uma referência desta região…
…e a Lizard Island é uma das bases PARA PARTIR À SUA DESCOBERTA
NA NORTH DIRECTION...
...um dos spots de mergulho
propostos. Corresponde
a meio dia de passeio.
Sai por volta das 8 da manhã,
mergulha e regressa a tempo
de almoçar no resort
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A LIZARD ISLAND ESTA INDICADA para todos os tipos de mergulhadores.
Os inexperientes podem FAZER AQUI O CURSO DE INICIAÇÃO
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COOK’S VIEW
O marco assinala a presença
do Capitão Cook. Andava perdido
no labirinto de corais e terá subido
aqui para olhar o mar em perspectiva
e encontrar uma saída
O CAPITÃO COOK passou por aqui a bordo da Endeavor
Diz a história que FOI O PRIMEIRO ESTRANGEIRO A PISAR A LIZARD ISLAND
explicou-me o Kelvin Parkin, um neozelandês de bronzeado entranhado que coordena o clube. “Para ir ao
Cod Hole, precisamos de um dia inteiro”, acrescentou enquanto ultimava os preparativos para a nossa
partida. Antes de embarcar os viajantes, o staff carrega as garrafas de oxigénio, os fatos e os viveres, não vá
alguém morrer à fome por estar fora da ilha três ou quatro horas.
Para não estafar um dia inteiro de reportagem, a nossa saída não foi além de uma manhã. Pareceu mais,
pois tocou-nos vento contra o barco, o que trouxe ondulação forte. Além de atrasar a marcha, deu-nos uma
daquelas tareias de ninguém conseguir ficar sentado. Uma hora depois da partida, lá chegamos ao ponto de
mergulho, a “north direction”, como me informaram. O norte era por ali e a dica pôs alguma ordem na
minha cabeça. Enjoado que nem uma pescada, com a cabeça a andar à roda e o estômago feito trampolim,
há muito que tinha perdido o norte. Eu e outros companheiros de passeio, cuja cara naquele tom de pele
entre o branco e esverdeado não deixava dúvidas. Cumprido o briefing de segurança, lá caímos no mar. Nós
apenas de tubo, óculos e barbatanas. A maioria, mais à séria, com garrafas de oxigénio e tudo.
E ASSIM QUE SE ENFIA A CABEÇA NA AGUA, percebe-se a razão da fama desta barreira de coral. Mais
se parece com um aquário gigante, com um oceanário sem paredes de vidro, tantas são as algas, corais, peixes
de todas as cores, anémonas, estrelas e o mais que a criação habituou a viver neste canto do mundo. Até faz
lembrar aqueles screen savers de computador, com água azul berrante e peixinhos de cores garridas. E o que
se segue é tão simples como andar por ali, a explorar os recantos daquele fundo marinho, a tentar identificar
as espécies de peixes que nadam à nossa volta – compre no hotel um guia dos peixes que pode ver e traga-o
para dentro de água. Está pensado para esse fim. Como os leitores mais atentos devem estar lembrados, já
tivemos a oportunidade de mergulhar em locais de referência, como o Belize, Honduras e México (Edições
1 e 10). Mas nada se assemelha ao que vimos na Austrália. O coral está vivo, nada poluído e não tem de
suportar magotes de turistas, que se atropelam a nadar e até dão raquetadas uns aos outros com a ponta das
>>>
VIDA BOA...
Os dias na Lizard Island passam-se a descobrir praias desertas, em passeios de barco
ou em jantares a dois à beira mar. Tudo sem pressa, sem horários. Tal como os lagartos que deram nome à ilha…
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Esta ilha não chega a juntar mais de quarenta
viajantes, o que dá quase uma praia para cada um.
A ideia é pegar num bote a motor, escolher a que mais gosta
e voltar a fim do dia.
barbatanas. Ao todo, não chegávamos a dez pessoas e, até onde a vista
alcançava, não se via mais nenhum barco. Também há por aqui uma outra
consciência ecológica. Não passa pela cabeça de ninguém pisar o recife ou
cortar um bocadinho para o oferecer de presente à sogra, porque ela adora
engalanar o psiché com coisas exóticas.
Regressados ao barco, também se percebe por que razão o Lizard Island
resort cobra cerca de cem euros por este par de horas de diversão. É que pode
tomar duche de água doce a bordo, vestir roupa seca e repor energias com um
mini banquete de bolinhos, gasosas frescas e sanduíches. Foram os mimos
certos para nos entreter na viagem de regresso à ilha, agora com vento de feição
e sol a pique, que ajudou a dar ainda mais transparência ao mar. Ora mais
verde, ou mais azul, conforme a profundidade ou o fundo de areia ou de coral.
AO FIM DA TARDE, PERTO DA HORA DE JANTAR, no plasma que está
num cantinho da sala de estar, contígua ao restaurante, podemos ver as
filmagens do nosso mergulho. Contam-se histórias, piadas, lembram-se
momentos especiais numa conversa que entrou pelo jantar afora, atravessou a
sobremesa e estendeu-se até ao serão. E se há coisa boa numa viagem é
encontrar de forma espontânea, gente com a qual nos identificamos
rapidamente, à velocidade do acender de um fósforo. Aconteceu-nos isso com
o Vili e com o Francisco Clara, um australiano e o outro de El Salvador. O
primeiro veio de Sydney e estava hospedado em casa do Francisco, o
fisioterapeuta e manager do Azure, o spa do Lizard Island Resort. Ouvimos
os dois falar da Austrália e dos australianos, desta ilha que nos reuniu, das vidas
que tivemos e de tudo o que esperamos que ainda venha por aí.
Foi um serão e mais dois pares de horas à conversa, debaixo de um tecto
de estrelas, ao sabor de uma brisa aquecida acima dos 27 graus. As mesmas
estrelas e um vento semelhante ao que fez parar aqui a Endeavor e o seu
capitão Cook. “Andava perdido no emaranhado de corais e aportou na ilha,
para subir lá acima, ao ponto mais alto”, explicou-me o Francisco, que já está
no resort há mais de seis meses. “Queria olhar o mar em perspectiva, para
tentar encontrar uma saída”, continuou. Em conjunto, lembrámos os
descobrimentos, as histórias dos marinheiros e essas grandes viagens de
imaculada aventura. A rematar a conversa, ficou combinado um trekking
para a manhã seguinte, justamente até ao ponto mais alto da Lizard Island, o
Cooks Look, 368 metros acima do nível médio das águas do mar.
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SPA AZURE
Usa produtos essenciais
no cardápio de tratamentos que
põe à disposição. Marque de
véspera pois é um dos serviços
mais concorridos do resort
UM DIA BLUE NA LIZARD ISLAND
…pode fazer de enfiada mas recomendo-lhe
que vá repartindo pelos dias de estadia…
07.30. Pequeno-almoço com vista para a praia,
para receber toda a luminosidade da manhã.
08.30. Partida para meio dia
de mergulho ou snorkel
13.00 Almoço à base de saladas
e marisco no resort.
14.00 Ir à descoberta de praias desertas com
um dos botes a motor do resort.
16.30 Fazer uma caminhada ao Cook’s View
18.30 Massagem no spa azure
20.00 Jantar na praia a dois
(peça com antecedência para o staff resort ter
tempo de preparar).
23.00 Um daiquiri ou uma marguerita
no bar, para fechar a noite a saborear a brisa
quente que sopra do mar…
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Do resort até ao marco, que assinala a passagem do capitão inglês, são cerca de quatro
quilómetros, oito se contarmos com o regresso. Apesar de ter alguns troços inclinados, que
puxam mais pelas pernas, o passeio recomenda-se a todos os viajantes, estejam em forma ou
não. Se sair às seis e pouco da manhã, o que aconselhamos para evitar as horas de calor, fique
com a noção de que estará de volta lá para as dez horas, a tempo do pequeno-almoço. Isto, se
não fizer paragens prolongadas nos vários pontos de interesse do caminho. É difícil, eu sei,
tamanha é a beleza das paisagens que se vão sucedendo. Pode optar por pedir no hotel que lhe
façam um lanche e assim poderá ficar a fazer praia na solitária Watson’s Bay, uma faixa de
duzentos metros de areia branquíssima, banhada por um mar que parece uma piscina. Aí, ou
na encosta mais à frente, também pode aproveitar o isolamento para ler um pouco ou, quem
sabe, para abrir a caixinha de aguarelas e recriar aqueles cenários. Mais acima, finalmente, pode
deixar-se ficar no alto do Cooks Look a admirar o pé direito da vista, os ilhéus circundantes e
o imenso o Oceano Pacífico, que se estende dali até às Américas.
É NATURAL QUE O PASSEIO LHE DEIXE DORES NAS PERNAS E NAS COSTAS. Mas
não se preocupe, pois é um motivo mais para chegar à sua cabana e marcar o número 9 no
telefone. Do outro lado da linha estará alguém na recepção do Spa Azure, pronto a aliviar-lhe
as cruzes. Vale a pena ir até lá, conhecer os tratamentos disponíveis e aconselhar-se sobre os
mais indicados para si. Explicou-me o Francisco, que “estes tratamentos procuram uma fusão
de práticas ancestrais e produtos essenciais com terapias que promovam uma total harmonia
entre a saúde, beleza e a natureza”. Parece sugestivo, mas não foge muito ao que se apregoa na
maioria dos spas no mundo. “Phytomer e Sodashi”, pode ler-se na brochura de apresentação,
são as marcas dos produtos utilizados. Reflectem, lê-se ainda mais abaixo, a crença nas
propriedades dos elementos marinhos e botânicos quando utilizados para fins terapêuticos.
FRANCISCO É O TERAPEUTA…
…e o coordenador do spa. Veio
de El Salvador e é um conselheiro
preciso para corrigir hábitos
de postura, dieta e e condição física
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A Watson bay lá em baixo.
Uma das muitas paisagens que se abrem à medida
que subir a caminho do Cooks View.
De manhã cedo, antes do calor tórrido, é um percurso
de trecking imperdivel
Olhando para a lista, contámos mais de vinte tratamentos à
disposição. Além, é claro, das comuns exfoliações, depilações e
outras necessidades femininas. Coral Sea Dreaming, Soul Aqua,
Ocean Body Glisten, são os nomes de algumas massagens
disponíveis que, no ambiente de pura tranquilidade do spa, soam a
música de embalar. Talvez por isso, o Francisco me tenha achado
meio perdido nas propostas do cardápio. Propôs-me uma massagem
de relaxamento geral. Era coisa para hora e meia e pareceu-me uma
boa ideia. Tanto mais que já andava há algumas semanas a fazer voos
de longo curso, a carregar malas e sacos e a fazer quilómetros de
carro. Antes de me pôr as mãos em cima, ainda me deu um chá de
ervas, para ajudar a relaxar e a eliminar toxinas. Perdida a noção do
tempo, meio ensonado e entorpecido pela massagem, o Francisco
avisou-me em tom suave que tinha acabado. Lá abri os olhos,
inspirei uma e outra vez mais o aroma do óleo que me cobria o
corpo e pus-me a andar. Quase nem conseguia falar, tal era a
sensação de plenitude. Fazia mais de um mês desde a última
massagem e senti que deixei ali todas dores de costas da cadeira do
escritório, os stresses de todos os dias, as mazelas do jogging e do
ténis, as moínhas das más posturas… Uma salva de palmas para o
Francisco, o autor da obra. Tomar um banho e beber uma garrafa de
água foi tudo o que consegui fazer no pouco que restava do dia. Caí
na cama e nem me lembro de adormecer…
Lembro-me, isso sim, de acordar na manhã seguinte com os
primeiros raios de sol a trespassarem as frinchas das persianas. Abri-as
de par em par, para deixar entrar a luz, o cheiro da manhã e toda
aquela vista de mar. Dali a poucas horas estaríamos a fazer o voo de
regresso a Cairns e a prosseguir o nosso périplo australiano. Por isso,
arrastei os minutos e deixei-me ficar na cama a admirar a paisagem e
a fazer uma espécie de balanço. A Lizard Island, bem o sabemos, não
é a única ilha da barreira de coral, mas é com toda a certeza uma das
melhores propostas para quem procura paz, privacidade e momentos
da mais pura intimidade com a natureza. Era isso que vínhamos à
procura. E acertámos em cheio. e
VENHA CONNOSCO NA PÁG. ???