Contribuição da Comissão Arco Atlântico ao debate

Transcrição

Contribuição da Comissão Arco Atlântico ao debate
CONFÉRENCE DES RÉGIONS PÉRIPHÉRIQUES MARITIMES
CONFERENCE OF PERIPHERAL MARITIME REGIONS
COMMISSION ARC ATLANTIQUE
ATLANTIC ARC COMMISSION
6, rue Saint-Martin - 35700 RENNES (France)
Tél.: + 33 (0)2 99 35 40 50 - Fax: + 33 (0)2 99 35 09 19
Email: [email protected] – Web: www.crpm.org
JUNHO DE 2011
Contribuição da Comissão Arco Atlântico
ao debate sobre o futuro da RTE-T
Introdução: Após a publicação no fim de Março do Livro Branco: “Roteiro do espaço único europeu
dos transportes – Rumo a um sistema de transportes competitivo e económico em recursos”, os debates
sobre o futuro da RTE-T entram agora na fase final, posto que a Comissão Europeia prevê apresentar
as suas propostas sobre as futuras redes antes do Outono. Referindo-se aos critérios propostos
pela Comissão Europeia para a rede central, nomeadamente quanto aos «nós» e aos portos, o Arco
Atlântico corre o risco de se ver marginalizado.
Neste contexto, o presente documento tem por objecto circunstanciar a posição da Comissão Arco
Atlântico sobre o futuro da RTE-T em torno de propostas alternativas assentes em cinco eixos:
1. A manutenção dos actuais projectos prioritários na rede central;
2. A inclusão das áreas metropolitanas atlânticas na rede central;
3. O corredor atlântico;
4. Os portos atlânticos na rede central;
5. O aumento das ligações entre a fachada atlântica e o centro da Europa.
1- A manutenção dos actuais projectos prioritários na rede central: a Comissão Arco Atlântico subscreve
esta proposta. No total, sete projectos prioritários incidem no Arco Atlântico. Uma parte deles já está
terminada, estando outra por concluir. É do interesse tanto da UE como das Regiões em causa incluir
estes projectos prioritários na rede central:
-
N°3: O eixo ferroviário de grande velocidade do Sudoeste da Europa (Paris-Bordéus-Vitória-MadridLisboa): em curso;
-
N°8: O eixo multimodal Portugal/Espanha–Resto da Europa (eixo rodoviário): a execução deste
projecto prioritário deveria ser prolongada a fim de melhorar as infra-estruturas portuárias e
ferroviárias associadas a este eixo.
-
N°9: O eixo ferroviário Cork–Dublim–Belfast–Stranraer (Irlanda);
-
N°13 : O eixo rodoviário do Reino Unido/Irlanda/Benelux;
-
N° 14 : A ligação ferroviária «West coast main line» no Reino Unido;
-
N°16: O eixo ferroviário de transporte de mercadorias Sines/Algeciras–Madrid–Paris (terceira
travessia dos Pirinéus);
-
N°19: A interoperabilidade das linhas de grande velocidade na Península Ibérica;
-
N°21: As auto-estradas marítimas da Europa Ocidental.
2- A inclusão das áreas metropolitanas atlânticas na rede central
Por herança histórica e em consequência da organização administrativa dos Estados-Membros, as redes
de transporte do Arco Atlântico organizaram-se radialmente, em torno das capitais (Paris, Madrid,
Londres, Dublim e, em menor medida, Lisboa). Isto traduz-se numa deficiente conectividade
entre os territórios atlânticos.
Acresce que vários estudos europeus tendem a relativizar a importância das metrópoles atlânticas à escala
da UE. Assim, o relatório ESPON 1111 tipifica as zonas metropolitanas europeias em crescimento (em inglês,
«Metropolitan European Growth Areas» – MEGAs) em quatro subcategorias, com base em quatro
indicadores (massa, competitividade, conectividade e acumulação de conhecimento). Ora, entre as 76
«MEGA», este estudo deixa de lado cidades como Nantes, Cardiff ou a Área Metropolitana das Astúrias
(Oviedo, Gijón, Avilés). Por isso, o Esquema de Desenvolvimento do Espaço Atlântico (EDEA: projecto
Interreg IIIB-Espaço atlântico, Novembro de 2005) propõe integrar estas entidades urbanas atlânticas
importantes ainda que não respeitem à risca os critérios fixados por ESPON, na óptica do desenvolvimento
policêntrico
deste
espaço
(ver
a
síntese
do estudo
EDEA
na
ligação
seguinte:
http://www.arcatlantique.org/pdf/doc_travail/282_fr.pdf, nomeadamente o mapa na página 12). O
dinamismo demográfico e económico destas áreas metropolitanas nos últimos anos bem como a presença de
infra-estruturas importantes (portuárias, nomeadamente) tende, de resto, a justificar a abordagem do EDEA.
Perante esta realidade emerge um grupo de 12 áreas metropolitanas que, segundo a Comissão Arco
Atlântico, deveriam ser incluídas entre os «nós» da rede central:
-
Dublim
-
Glásgua-Edimburgo
-
Manchester-Liverpool
-
West Midlands (área metropolitana de Birmingham)
-
Cardiff-Swansea-Newport
-
Nantes-Saint-Nazaire
-
Bordéus-Arcachon-Libourne
-
Área Metropolitana das Astúrias (Oviedo, Gijón, Avilés)
-
Área Metropolitana de Euskadi e eurocidade basca (Biarritz-Anglet-Baiona-São Sebastião)
-
Porto
-
Lisboa
-
Sevilha
Estas cidades podem, além disso, desempenhar um papel importante no reequilíbrio das ligações face
à sua concentração nas principais cidades do centro da Europa que têm de facto graves problemas
de congestionamento. É, por exemplo, o caso de Paris em que certas gares atingem o ponto de saturação
e não podem fazer face ao aumento do transporte ferroviário, o que acarreta:
-
O agravamento do risco de saturação e, logo, do custo do transporte;
-
A preferência dada ao transporte de passageiros em detrimento do transporte de mercadorias;
-
A diminuição da fiabilidade e da segurança.
Donde a sugestão de incluir na rede central a derivação dos pontos de congestionamento modernizando
as infra-estruturas existentes, mas subutilizadas, a fim de as tornar competitivas.
3- O corredor atlântico (ver o mapa n° 2): é a prioridade da Comissão Arco Atlântico em matéria de corredor
multimodal no âmbito da futura RTE-T. Verifica-se actualmente um importante desequilíbrio modal em
benefício do transporte rodoviário. Ora, aproximadamente 50% do tráfego de mercadorias entre a Península
1
http://www.espon.public.lu/fr/publications/resumes_projets_francais/projet_orate_111_polycentrisme.pdf, page 11
Ibérica e a Europa é efectuado pela frente atlântica. Apenas 1% deste tráfego é efectuado em transporte
ferroviário e 16% por via marítima, os restantes 83% são efectuados por via rodoviária, o que provocou
a saturação das infra-estruturas rodoviárias, nomeadamente nas fronteiras, e o colapso e a não
sustentabilidade do sistema, sobretudo à luz das alterações climáticas. A realização do corredor ferroviário
atlântico permitirá um transporte de mercadorias mais eficiente, mais rápido e mais sustentável, graças
a uma melhor repartição dos modos de transporte, a favor do transporte ferroviário-portuário.
Além disso, 80% do comércio extracomunitário faz-se através dos portos, metade dos quais se situa
na fachada atlântica (incluindo os portos do Mar do Norte). Neste contexto, o corredor proposto enquadra-se
perfeitamente nos intuitos e objectivos do Livro Branco recentemente aprovado porque o reforço das vias
férreas do corredor atlântico e as suas ligações com os portos contribuem para transferir uma parte
importante dos fluxos dos portos para o caminho-de-ferro, em vez da estrada (muito congestionada e menos
sustentável).
Um Manifesto de Apoio ao Corredor Ferroviário Atlântico, redigido pelo Governo basco, foi assinado
por um grupo de entidades públicas, administrações portuárias e operadores privados. O Manifesto
e o Corredor Ferroviário Atlântico são apresentados pormenorizadamente no sítio Internet que lhes
é especialmente dedicado: http://www.atrcd.com/web/atrcd/eng/index.asp.
4- Os portos atlânticos na rede central: como é evidente, a Comissão Arco Atlântico perfilha a posição
da CRPM sobre a necessidade de incorporar os portos «periféricos» na RTE-T.
O mapa 3 (mais adiante) representa os portos atlânticos que cumprem o primeiro critério da rede central.
Vê-se claramente que, na fachada atlântica europeia, os portos que representam pelo menos 1% do tráfego
europeu são pouco numerosos. Por isso, deveriam ser considerados outros critérios:
-
Acessibilidade: a Comissão afirma que é uma das prioridades da futura RTE-T. Ora, sendo assim,
este critério deveria ser considerado na definição da rede central, já que é esta última que irá beneficiar
da parte mais importante dos fundos europeus. É uma condição não só para reforçar a coesão da EU, mas
também para melhorar a sua competitividade graças a um transporte mais eficiente das mercadorias.
-
Transferência modal da estrada para o mar: as redes rodoviárias que fazem a ligação Norte-Sul estão
fortemente congestionadas e apresentam pontos de estrangulamento. O transporte marítimo surge, pois,
como uma solução alternativa extremamente pertinente que mereceria ser muito mais encorajada.
Já existem várias auto-estradas marítimas «atlânticas»: no fim de Dezembro de 2010, foi lançada a autoestrada marítima Gijón-Saint-Nazaire. Esta ligação conhece um grande êxito, que deve suscitar
o aumento da frequência dos barcos. Outras linhas mais antigas existem entre Bilbau e Zeebrugge
ou entre Sines e La Spezia. Outras linhas estão em projecto, entre Nantes-Saint-Nazaire e Vigo, incluindo,
numa segunda fase, um projecto de prolongamento para o Havre, por um lado, e para Algeciras,
por outro. Uma linha deveria igualmente surgir em 2014 entre Brest e Leixões.
Para além das auto-estradas marítimas, a cabotagem e as ligações por ferry surgem igualmente como
uma alternativa pertinente à estrada na fachada atlântica e, portanto, devem ser encorajadas pela UE.
-
Antecipar as futuras estradas marítimas bem como as novas actividades portuárias: os portos atlânticos,
se bem que de dimensões modestas em comparação com outras bacias marítimas europeias, constituem,
não obstante, portas de entrada fundamentais no continente europeu. Com o aumento provável
do comércio marítimo, devido nomeadamente ao alargamento do canal do Panamá e, a mais longo prazo,
com a abertura da estrada marítima do Norte, os portos atlânticos dispõem de um elevado potencial
de crescimento. Além disso, o crescimento do parque eólico offshore e das energias marinhas renováveis
oferece oportunidades extremamente interessantes e deverá contribuir para o desenvolvimento
dos portos atlânticos.
A Comissão Arco Atlântico sugere que, para serem integrados, os portos atlânticos deveriam satisfazer,
pelo menos, duas das quatro condições seguintes:
-
Portos ligados às principais áreas metropolitanas da fachada atlântica;
-
Portos que representam uma parte importante do tráfego marítimo europeu;
-
Portos que ligam as auto-estradas marítimas;
-
Portos que recebem ligações de ferry importantes;
Segundo esta fórmula, os portos atlânticos que deveriam ser integrados na Core Network são os seguintes:
Dublim, Belfast, Liverpool, Milford-Haven, Southampton, Dunquerque, Havre, Brest, Nantes-SaintNazaire, Bordéus, Bilbau, Gijón-Avilés, Vigo, Porto-Leixões, Lisboa, Sines, Algeciras.
Os portos atlânticos a incorporar na rede global: Além disso, outros portos se bem que de dimensão mais
modesta deveriam ser alvo de uma atenção particular no contexto da reforma da RTE-T, tanto devido
ao seu papel na acessibilidade do território europeu como no desenvolvimento económico do respectivo
hinterland: é o caso, por exemplo, de Oban, Belfast, Cork, Foynes, Wateford, Rosslare, Plymouth,
Cherburgo, La Rochelle, A Coruña, Santander, Aveiro-Figueira da Foz, Setúbal, etc., devendo, pois,
no mínimo serem incluídos na rede global..
5- Aumento das ligações entre a fachada atlântica e o centro da Europa: para além do eixo Norte-Sul
que é indispensável para reforçar a acessibilidade no Arco Atlântico, são necessários mais corredores
para ligar o Arco Atlântico ao centro da Europa: existem vários projectos (o Corredor C82, Via Férrea CentroEuropa Atlântica: VFCEA)3, etc.)
Trata-se da Conferência dos Presidentes das Regiões da Bacia Parisiense: Borgonha, Centro, Champagne-Ardenne, Île-de-France, Baixa
Normandia, Alta Normandia, País do Loire e Picardia. O seu objectivo é realizar o Elo Oeste, ou seja integrar as costas francesas da
Mancha e do Atlântico na rede transeuropeia de transporte.
2
3
Projecto da Associação para a Ligação Ferroviária Rápida Ródano-Alpes-Centro-Oceano (RACO)
Mapas
1- Mapa da RTE-T que incorpora o Arco Atlântico (Fonte: Região da Baixa Normandia)
2- Mapa do Corredor Ferroviário Atlântico (Fonte: Governo basco)
3- Portos atlânticos que cumprem o critério estatístico proposto pela Comissão
Europeia (Fonte: documento de trabalho da Comissão Europeia: 19/01/2011 - SEC(2011) 101 final – Mapa: CRPM
em base a dados Eurostat)
O critério estatístico proposto pela Comissão Europeia diz que,
para ser incluído na rede central, um porto deve representar pelo menos 1% do tráfego europeu
(pontos encarnados). Os portos assinalados a amarelo representam pelo menos 0,75% do tráfego europeu
e os pontos verdes 0,5%.

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