como se dá o educar e cuidar na educação infantil - CAp

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como se dá o educar e cuidar na educação infantil - CAp
COMO SE DÁ O EDUCAR E CUIDAR NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: DILEMAS E DESAFIOS DESTA NOVA
.
Edilane Oliveira da SILVA
[email protected]
UNIRIO- GRUPO DE PESQUISA-FORMAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO DO EDUCADOR:
SABERES, TROCA, ARTE E SENTIDOS E PROFESSORA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA CRECHE
ELZA MACHADO DOS SANTOS
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo discutir como se concretiza o Educar e Cuidar em uma creche do município
do Rio de Janeiro. Para isso entrevistamos 5 professoras e 15 Agentes de Educação Infantil. A metodologia se
deu por uma abordagem qualitativa através de seminário semi-estruturados. Nosso intuito era investigar se de
fato os binômios que regem o atendimento nas Instituições de Educação Infantil, se constitui em uma unidade
nas ações de aprendizagens cotidianas, enfatizando como a indissociabilidade é fundamental para uma
aprendizagem Integral .O resultado da pesquisa indica que os sujeitos demonstram saber e praticar este
binômio, no entanto explicitam que em determinados momentos esta prática se torna automatizada pela falta
de infraestrutura física e de pessoal. Salientam ainda que, é preciso não só o conhecimento científico aliado a
prática pedagógica planejada, mas também infraestrutura para que a Educação Infantil tenha mais qualidade
em suas ações cotidianas diretas com as crianças.
PALAVRAS-CHAVE: Creche - Educar - Cuidar.
INTRODUÇÃO
1. TÍTULO 1
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INTRODUÇÃO
Nesse simpósio apresento alguns resultados da pesquisa realizada em setembro de
2013, numa Creche Municipal do Rio de Janeiro, através de questionários semi-estruturados,
com o objetivo de saber como o educar e cuidar se concretiza nas ações cotidianas daquele
espaço educativo, para isso contamos com a participação de 5 professoras e 15 agentes de
Educação Infantil (auxiliares).
Neste contexto, busca-se responder algumas questões, em especial esta: como se dá o
educar e cuidar na Educação Infantil? Quais os dilemas e desafios desta nova concepção? É
possível a construção de uma unidade?
No entanto, não é fácil discutir as questões que envolvem a concretização desse
binômio, muito por conta de sua trajetória histórica que se constituía apenas de cuidado, e
ainda por falta de entendimento de que atuar como profissional da Educação Infantil carece de
conhecimento e capacitação, experimentações, saber utilizar de diversas linguagens, de que é
uma faixa-etária específica, que requer cuidado e educação de qualidade de forma interligada.
A metodologia qualitativa foi escolhida porque esta abordagem nos pareceu mais
próxima para que se chegasse a um desenvolvimento satisfatório da pesquisa. Tendo em vista
que este tipo de abordagem tem um caráter exploratório por ser um método mais amplo,
permitindo o sujeito falar mais livremente, emergindo assim aspectos mais subjetivos que não
estavam explícitos, ou seja, tem um olhar diferenciado em relação aos significados do tema e
características do tema em discussão, a interface: do Educar e Cuidar na Educação Infantil.
Sendo assim, Marconi e Lakatos (2004) salientam a importância dessa abordagem por esta
demonstrar uma preocupação de: “(...) analisar e interpretar aspectos mais profundos
descrevendo assim, a complexidade do comportamento humano. Fornece uma análise mais
detalhada sobre, investigações, hábitos, atitudes e tendências de comportamento etc.”
Portanto, iremos apresentar os resultados obtidos analisando como o Educar e Cuidar se
concretiza neste espaço. O que é preciso para que este binômio se efetive de fato, o que os
profissionais imersos neste ambiente educativo apresentam como entraves e soluções
possíveis para que se consolide de fato o binômio.
DESAFIOS COTIDIANOS DOS EDUCADORES NA PRÁTICA DO EDUCAR E CUIDAR
A pesquisa foi realizada com o objetivo de buscar nas respostas, como cada sujeito se
posiciona diante da temática, sem nos prendermos há hierarquias, já que dentro da sala da
Educação Infantil todos têm contato direto com as crianças. Isto é, entrevistamos profissionais
da Educação Infantil com diferentes formações, tendo como ponto em comum o fato de
atuarem diretamente com as crianças. Por esse motivo, iremos dissociar e comparar algumas
respostas de professores e agentes, para podermos analisar de fato se existe uma unidade do
educar e cuidar. Como defendido pelos Referenciais Curriculares para Educação Infantil, (1998,
P.23):
“(...) os debates em nível nacional e internacional apontam para a
necessidade de que instituições de educação infantil incorporem de maneira
integrada as funções de educar e cuidar, não mais diferenciando nem
hierarquizando os profissionais e instituições que atuam com crianças
pequenas.”
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Por hora, iremos analisar o que os sujeitos expressaram nos dados relatados, pois a
analise se dará a partir da expressão de cada sujeito imerso na pesquisa. A primeira questão
que fizemos foi: O que é Educar? Conversamos com o grupo que seria dentro da perspectiva
da Educação Infantil, porque é a faixa-etária as quais estávamos investigando. Diante desta
questão tivemos respostas semelhantes tanto das agentes quanto das professoras, embora
escrita de forma diferente. As entrevistadas afirmavam considerar a criança com um ativo
nesse processo de educação e pensavam que Educar é oferecer possibilidades para que esta
se desenvolva integralmente. Como podemos observar a seguir: “É promover experiências
que contribuam para o desenvolvimento da criança, que ofereçam a ela caminhos para
construir sua autonomia, desenvolver suas habilidades, explorar ambientes, interagir com
outras crianças e adultos.” (Agente1). As professoras corroboram com as respostas da agente
ao afirmar que: Educar em sua concepção é: “ter uma observação cuidadosa de cada criança,
considerando todas as dimensões do desenvolvimento infantil, que são a físico-motora,
cognitiva, emocional, social, política e linguística.” (Professora 2 ).
Ao analisarmos as respostas destes dois grupos de profissionais observamos que estes
expressam um conceito de educar amplo, percebendo a criança em sua integralidade, onde
essa criança de pouca idade aparece como sujeito ativo do processo de conhecimento, como
explicitados pelos norteadores legais para Educação Infantil. Signorette (2002, p.06) partilha
do mesmo conceito defendido pelos norteadores Legais ao afirmar que “[...] educar é abranger
todos os aspectos da vida do aluno, desde o atendimento de suas necessidades mais básicas,
primárias e elementares, até as mais elaboradas e intelectualizadas”. Portanto, educar na
Educação Infantil vai além da educação formal, é necessária uma contribuição para que todas
as capacidades infantis sejam contempladas para formação de sujeitos felizes.
No grupo dos agentes de Educação Infantil foram observadas algumas respostas que
se diferenciavam das que as professoras expressaram, tais como: Educar é “Uma transmissão
de cultura ou conhecimento de um individuo para o outro” (Agente 4) e “É o ato de
transferir conhecimento”.(Agente 8). Ao observamos estas respostas defendidas por estas
profissionais, nos parecem um empobrecimento do que é educar, aonde o educador se
colocando numa posição de detentor do conhecimento. Pois de acordo com um dos
norteadores legais para Educação Infantil, o Referencial Curricular (1998), Educar é propiciar
situações de aprendizagens onde a criança possa desenvolver-se integralmente, ou seja, não
é uma transferência de conhecimento ou de cultura e sim uma troca, onde o adulto vai
propiciar possibilidades para que esse sujeito desenvolva suas possibilidades sendo a criança
protagonista na construção do conhecimento.
Freire (2008, p.22) salienta ainda que “(...) ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as potencialidades para a sua própria produção ou a sua construção”. E ainda Zitkoski
(2003, p.118), reforça essa ideia ao afirmar que “(...) o conhecimento é construção coletiva
mediada dialogicamente, que deve articular dialeticamente a experiência de vida prática com
a sistematização rigorosa e Crítica.” Portanto, é necessário entender que a criança tem suas
potencialidades, que o educador será aquele outro que mediará o desenvolvimento de suas
potencialidades.
Buscando organizar as perguntas de forma que se complementassem, fizemos a
seguinte questão, “o que é cuidar dentro da perspectiva da Educação Infantil?”. Tivemos
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algumas repostas genéricas e superficiais, dentro do grupo dos agentes de Educação Infantil,
que resumiam o cuidar fica resumido às necessidades básicas, sem haver um entendimento a
respeito deste conceito. “É ensinar fazer a higiene da criança; é estar presente quando a
criança precisa; é ensinar a criança boas maneiras.” (Agente 6).
Ao analisarmos esta resposta observamos que esta profissional se coloca como aquela
que ensina, não percebendo que este aluno é um sujeito ativo no processo de construção do
conhecimento. E ainda podemos observar um entrelaçamento com o educar na concepção
desta profissional, ou seja, esta ensina e este aprende. Ao se referir “ensinar boas maneiras.”.
Neste sentido, Corsino (2009, p. 146), aponta que “O discurso autoritário, engessado e sem
possibilidade de réplica, é interiorizado como dogma, destituindo o sujeito de autoria, o que
leva a um agir tutelado por prescrições, sem efetivas transformações do sujeito.” Dessa forma,
esse sujeito não é cuidado dentro de sua singularidade, pois de acordo com o (RCNEI, 2008.)
“Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, com sua singularidade,
ser solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades.” Ou seja, para cuidar é
preciso ver este sujeito como alguém que ensina e aprende.
E ainda dentro do grupo de Agentes respostas de foram colocadas de forma resumida,
mas que nos apontam uma ideia de Cuidar num sentido amplo. Como podemos observar na no
fragmento: “Cuidar é dar assistência ao educando, no sentido de considerar as necessidades
da criança, enquanto educador ouvi-las, promovendo sua autonomia, respeitando sua
individualidade, suas necessidades, ideias e emoções”. (Agente 12)
Sendo assim, dentro de um mesmo grupo podemos ver ideias diferentes, mostrando
que nesta perspectiva o Cuidar não se resume aos cuidados de uma forma simplista, entendese um sujeito como unidade que precisa se desenvolver integralmente. Que as ações de
cuidado na Educação Infantil são todas aquelas que contribuem para o desenvolvimento do
sujeito, conhecendo cada criança dentro de suas especificidades. Observamos que este
profissional coloca algo fundamental no processo de cuidar que é ouvir o outro, isto é, estar
atento para as necessidades do outro. Desta forma possibilita que este desenvolva suas
capacidades, já que esse cuidado e respeito com o outro foram estabelecidos. Observamos no
fragmento acima que o cuidar está imbricado no Educar, pois não há dissociação, entendendo
ser fundamental para o desenvolvimento Integral da criança. Kramer (2005, p. 82). Sintetiza
esta perspectiva de cuidado quando afirma que:
O cuidado está pautado na necessidade do outro. Isso significa que quem
cuida não pode estar voltado para si mesmo, mas deve estar receptivo,
aberto, atento e sensível para perceber aquilo de que o outro precisa. Para
cuidar, é necessário um conhecimento daquele que necessita de cuidados, o
que exige proximidade, tempo, entrega.
Para cuidar na perspectiva da Educação Infantil é preciso primeiramente perceber as
necessidades do outro, mas entendendo que este é um ser ativo dentro deste processo, onde
este ensina e aprende e ainda dá pista de como estas podem ser bem desenvolvidas, desde
que este adulto esteja atento.
Vale salientar que diante desta questão as professoras preferiram dar respostas
sucintas, não se estendendo em suas respostas, nos dando a entender que ainda é um tema
que as professoras preferem não discutir, como podemos verificar nas seguintes afirmativas:
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“Tornar possível à formação do educando, através de ações concretas.” (Prof.ª 3) e ainda,
“Todas as ações que aproximam o adulto da criança”(Prof.ª 4). São respostas genéricas, que
na verdade, não fica evidente a concepção de Cuidar na Educação Infantil destas duas
professoras conhecem, já que suas respostas são amplas e subjetivas.
Em seguida, queríamos saber dos profissionais se havia distinção ou não, nos pilares da
Educação Infantil (Educar X Cuidar), já que é fundamental para que tenhamos um
entendimento desta prática a qual estamos investigando. Apenas uma professora e quatro
agentes afirmaram que os conceitos são distintos, mas que se complementam, “Acredito que
educar e cuidar tenham conceitos distintos, mas eles se completam ,e porque não dizer, se
misturam, pois a maior e melhor forma de educar é praticando as ações que falam mais alto
do que palavras e conteúdos, embora ambos tenham a sua importância.” (Agente 9) e
“Distintos, porém, interdependentes, já que o ser humano não é compartimentado.” (Prof.ª
3). Ao analisarmos estas afirmações verificamos que estes profissionais além de afirmar que
são conceitos distintos, acreditam na indissociabilidade dos mesmos, já que percebem a
criança como uma unidade. O parecer do Conselho Nacional de Educação de Nº 22/98-CEB
que fundamenta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - DCNEI, (1998)
reafirma a resposta das profissionais quando determina que:
As Propostas Pedagógicas para as instituições de Educação Infantil devem
promover em suas práticas de educação e cuidados, a integração entre os
aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da
criança, entendendo que ela é um ser total, completo e indivisível (BRASIL,
1998)
Logo, quando pensamos nesta perspectiva é entendermos que o currículo da Educação
Infantil é vivenciado pelo grupo que faz parte desta instituição, pois estes profissionais
entendem o educar e cuidar de forma ampliada, sendo fundamental para o desenvolvimento
integral das crianças.
Os demais profissionais responderam que não existe distinção entre os conceitos, já
que entendem a interligação dos dois. “Não, pois o aprendizado passa pela junção de vários e
distintos momentos em que o ser humano, ao se relacionar com o meio, aprende vários
novos saberes. Sendo estes momentos estando relacionados aos cuidados ou a conteúdos
pedagógicos propriamente ditos.” (Agente 2) “Não, um faz parte do outro, quando
“educamos” estamos “cuidando” e quando “cuidamos” estamos “educando” (Prof.ª 1).
Contudo, se buscarmos o significado de cada palavra, observamos que há diferença. Cuidar:
ter cuidado, tratar de, assistir: cuidar das crianças. Educar: despertar as aptidões naturais do
indivíduo e orientá-las segundo os padrões e ideais de determinada sociedade, aprimorandolhe as faculdades, intelectuais, físicas e morais.
Na perspectiva da Educação Infantil percebe-se que os conceitos são inseparáveis, mas
que são diferentes, como explicitado acima. Moura (2011, p.03) nos mostra como estes
conceitos estão intrínsecos “caracteriza-se o ato de cuidar como essencial, e não desvincula
do ato de educar, mas salientando que é um processo que requer mais elaboração,
planejamento etc. Portanto, o ato de educar a criança está inegavelmente integrado ao ato de
cuidá-la”. Percebemos que houve certa confusão tanto por parte dos professores quanto dos
agentes, por entenderam que os conceitos são indissociáveis, não conseguiram perceber suas
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especificidades, já que cada um tem sua função na Educação Infantil, mas que são
indispensáveis se complementar para os seus pilares sejam contemplados.
Outra questão direcionada foi sobre quais ações podem ser feitas na Instituição na
perspectiva de educar cuidando. Nesta questão os auxiliares divergiram bastante em suas
respostas, mas todos os professores conseguiram explicitar de forma clara com se dá esta ação
na sala de aula. A professora 1, entende que: “As ações de conteúdo educativo na educação
infantil estão vinculadas a gestos de cuidar. Quando o profissional oferece um espaço
educativo, acolhedor e desafiador, com conversas, brincadeiras, contação de histórias,
músicas, danças, ele promove a progressiva autonomia da criança.”
Observamos que esta resposta nos mostra uma perspectiva de cuidar educando que
engloba todas as ações dentro de um espaço educativo de Educação Infantil. Como salienta as
Diretrizes Curriculares para Educação infantil (2009, p.10) ao afirmar que:
Educar cuidando inclui acolher, garantir a segurança, mas também alimentar
a curiosidade, a ludicidade e a expressividade infantis. Educar de modo
indissociado do cuidar é dar condições para as crianças explorarem o
ambiente de diferentes maneiras (manipulando materiais da natureza ou
objetos, observando, nomeando objetos, pessoas ou situações, fazendo
perguntas etc.) e construírem sentidos pessoais e significados coletivos, à
medida que vão se constituindo como sujeitos e se apropriando de um
modo singular das formas culturais de agir, sentir e pensar. Isso requer do
professor ter sensibilidade e delicadeza no trato de cada criança, e assegurar
atenção especial conforme as necessidades que identifica nas crianças.
A citação acima endossa as ações descritas pelas educadoras, as criança são e
entendida com um todo e, principalmente, sinaliza que suas necessidades, precisam ser
atendidas considerando suas singularidades. No entanto, as auxiliares divergiram entre si, e
ainda com o entendimento dessas ações defendidas pelas professoras, pois tivemos respostas
onde apenas o cuidar aparece num sentido superficial, nos dando a perceber que a questão do
educar cuidando não foi entendida ou não há um conhecimento de como isso se materializa
dentro da Instituição. “Alimentação, higiene, regras de convívio social harmonioso.” E ainda
se remetendo apenas a rotina um momento específico da rotina da Educação Infantil, como:
“Diversos. Podemos citar como ex: ensinar a criança de 4 anos a se limpar sozinha, você diz
como se faz, deixar a criança fazer e depois verificar.”
Observamos que estas respostas são superficiais, mas que fazem parte da rotina da
Educação Infantil. Entretanto, não há uma explicitação concreta de como isso aconteceria, já
que as ações explicitadas podem ocorrer também dentro de suas famílias, sendo que na
Educação Infantil Educar cuidando tem uma intencionalidade.
Perpassando pelas questões levantadas anteriormente gostaríamos de saber como se
apresenta este cuidado dentro da proposta pedagógica da creche. Ao analisarmos as
argumentações pudemos verificar duas formas de como isso se efetiva. Os agentes esboçaram
como se percebe o “cuidado” dentro da proposta pedagógica da instituição, ou melhor, o que
eles fazem para que esse cuidado aconteça. De maneira sucinta, afirmaram que o fator
principal é a valorização da criança, “Entendo o cuidado como uma forma de apresentarmos à
criança o seu mundo. Cada gesto do educador no sentido de valorizar as ações da criança,
dando-lhe saber e claras explicações sobre o que está sendo realizado levará a criança ao
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desenvolvimento de suas capacidades. É importante lembrar que depende muito do
educador para ampliação de visão de mundo onde cada criança se sinta acolhida e confiante
para crescer.” (Agente 8).
Diferente, dos agentes de Educação Infantil, os professores, numa postura mais
crítica, acrescentaram o porquê este cuidado se torna automático no fazer pedagógico da
unidade escolar, enumerando diversos aspectos negativos que dificultam para que esse
cuidado seja pleno. “É uma forma de transmitir afeto, demonstrar aceitação, trabalhar a
individualidade e a autoestima, em todos os aspectos que contribuam para o
desenvolvimento integral da criança. Mas, no espaço da creche é muito difícil individualizar,
pois a demanda de atendimento é tão grande que acabamos agindo de forma automatizada
e apressada, pois todos devem estar cumprindo os horários estipulados para não prejudicar
o funcionamento do todo.” (Prof.ª 2).
Ao analisarmos esta questão é nítido que esta profissional entende como deveria se
materializar esse cuidado dentro da proposta pedagógica. Como afirma as diretrizes
curriculares (1998, p.24).
[...] as instituições de Educação Infantil devem promover em suas propostas
pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração
entre os aspectos físicos; afetivos; cognitivos; linguísticos; e sociais da
criança, entendendo que ela é um ser completo, total, indivisível [...] é
necessário afirmar que as funções do cuidar não se limitam apenas à
manutenção do corpo. Mediante o cuidado, a interação, as brincadeiras
estabelecem-se vínculos afetivos significativos entre criança e o educador.
Tal cuidado, ao expressar aceitação, acolhida e amor, oferece segurança
para criança para a sua formação pessoal e social, para o desenvolvimento
da identidade e conquistas de autonomia.
Mas também é possível observar que a estrutura da instituição dificulta que estas
ações aconteçam de forma positiva. Como exposto na argumentação de outra professora “Na
prática muito distante do ideal; por falta de profissionais; falta de espaço físico; falta de
meios e materiais; falta de professores especializados. Acarretando, desgaste, multifunções
e desestímulo dos profissionais de educação, tratando-se da instituição que trabalho” (Prof.ª
3)”. Ao explorarmos as questões inferimos que estes profissionais entendem como esse
cuidado deveria ocorrer dentro da proposta pedagógica da instituição, mas que devido à falta
de infraestrutura tanto pessoal, quanto material se torna mais difícil à concretização dessa
ação. Os Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil (1998, p.69) indica como
deveria ser o espaço para que de fato esta proposta fosse cumprida.
O espaço na instituição de educação infantil deve propiciar condições para
que as crianças possam usufruí-lo em benefício do seu desenvolvimento e
aprendizagem. Para tanto, é preciso que o espaço seja versátil e permeável
à sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e pelos
professores em função das ações desenvolvidas. Deve ser pensado e
rearranjado, considerando as diferentes necessidades de cada faixa etária,
assim como os diferentes projetos e atividades que estão sendo
desenvolvidos.
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Ao refletirmos sobre esta citação e as questões explicitadas pela profissional,
observamos o que deve ser e o que está sendo feito. Pois os recursos materiais são poucos,
mas principalmente a falta de pessoal o que prejudica e muito o desenvolvimento e efetivação
do cuidado pleno defendido pelos norteadores legais. Como afirma um dos profissionais
tornando-se algo mecânico, automatizado. Sobrecarregando estes profissionais que acumulam
funções, tornando-se um trabalho cansativo e sem qualidade para que propicie situações de
aprendizagens significativas. A criança neste contexto se torna apenas mais uma criança, ou
seja, um número, para que haja para o bom funcionamento da instituição. Diante disso,
observamos que em algumas ações, teoria e prática se distanciam no cotidiano da instituição,
por falta de instrumentos para consolidação de uma Educação Infantil de qualidade,
respeitando os direitos das crianças dentro de suas capacidades específicas.
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