Câncer e prevenção
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Câncer e prevenção
Câncer e prevenção Artur Malzyner Ricardo Caponero [organizadores] CÂNCER E PREVENÇÃO Copyright © 2013 by autores Direitos desta edição reservados por Summus Editorial Editora executiva: Soraia Bini Cury Editora assistente: Salete Del Guerra Coordenação do projeto: Gabriela Malzyner Capa: Buono Disegno Imagem da capa: Shots Studio/Shutterstock Projeto gráfico e diagramação: Crayon Editorial Impressão: Sumago Gráfica Editorial Este livro não pretende substituir qualquer tratamento médico. Quando houver necessidade, procure a orientação de um profissional especializado. MG Editores Departamento editorial Rua Itapicuru, 613 – 7o andar 05006‑000 – São Paulo – SP Fone: (11) 3872‑3322 Fax: (11) 3872‑7476 http://www.mgeditores.com.br e‑mail: [email protected] Atendimento ao consumidor Summus Editorial Fone: (11) 3865‑9890 Vendas por atacado Fone: (11) 3873‑8638 Fax: (11) 3873‑7085 e‑mail: [email protected] Impresso no Brasil 1 Sumário Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Angelita Habr Gama Introdução: breve história da oncologia no Brasil e no mundo . . . 9 Vanessa Mastro e Artur Malzyner Parte I – Noções gerais sobre a doença 1 O que é câncer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Ricardo Caponero 2 Diagnóstico, causas conhecidas, fatores de risco e evolução do câncer . . . . . . . . . . . . . . 27 Elza Maria de Oliveira Dertonio Donato Parte II – Prevenção primária: é possível evitar a ocorrência do câncer? 3 Quimioprevenção em oncologia: onde estamos? . . . . . . 43 Elge Werneck Araújo Júnior 4 Cirurgia (profilática) preventiva . . . . . . . . . . . . 49 Maurício Antranig Nicolian Muradian Emerson Neves dos Santos 5 Prevenção e alimentação . . . . . . . . . . . . . . . 57 Fernanda de Campos Prudente Silva Parte III – Diagnóstico Precoce 6 Importância do diagnóstico precoce e recomendações. . . . 69 Artur Malzyner 7 Barreiras psicológicas para a prevenção do câncer: a contribuição da psico‑oncologia . . . . . . . . . . . . 75 Maria da Glória Gonçalves Gimenes Tassiana Barros Petrilli Parte IV – Tratamento 8 Como o câncer é tratado . . . . . . . . . . . . . . . 85 Ricardo Caponero 9 Tratamento sistêmico . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Daniele Evaristo Vieira Alves 10Cuidados especiais durante a terapia antineoplásica: uma abordagem prática durante o período de tratamento . . . . . 105 Valéria Brazoloto 11A inserção do profissional farmacêutico na equipe . . . . . 109 Simone Aparecida Oguchi Falcari Prefácio Prefaciar a presente obra, Câncer e prevenção, representa para mim momento de grande alegria e interesse. Agradeço, portanto, o honroso convite que me fizeram seus organizadores, dr. Artur Malzyner e dr. Ricardo Caponero. Trata-se sem dúvida de contribuição muito rica e oportuna para o leitor não médico, visando, em nível adequado, oferecer informações e esclarecimentos pertinentes sobre o importante assunto das doenças malignas. Os numerosos capítulos que compõem o livro são versados em linguagem clara e didática, trazendo inquestionável cabedal de esclarecimentos. Seus autores, muito bem selecionados pelos organizadores, elaboraram com grande propriedade excelentes textos, atendo-se cuidadosamente às informações sobre os conhecimentos práticos das medidas de prevenção e da redução dos riscos da neoplasia maligna. Discorrem os autores sobre os desvios da genética e da biologia celular no tocante à multiplicação, morte e perpetua7 Artur Malzyner e Ricardo Caponero (orgs.) ção da célula, assim como sobre as medidas necessárias para corrigir e evitar os referidos transtornos, tendo em vista o controle do grave problema de saúde pública que é o câncer. O texto traz também, com clareza e propriedade, informações sobre diagnóstico precoce, tratamento e importância da dieta na prevenção da doença. Enfocando o papel da contribuição psico-oncológica como prevenção e tratamento, aborda ainda a importância do trabalho integrado multidisciplinar e multiprofissional, incluindo a hoje reconhecida e valiosa inserção do profissional farmacêutico na equipe de tratamento. Trata-se de obra inaugural na literatura brasileira, com abordagem extensa sobre um tópico de tanta importância social. Antevê-se, desde logo, amplo acolhimento do leitor, pois esta obra se insere de forma muito oportuna no objetivo de oferecer conhecimentos contributivos para o melhor domínio do grande público e para sua participação no controle do câncer. Estão de parabéns os organizadores por esta importante iniciativa editorial. Angelita Habr Gama Professora emérita de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e presidente da Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino (Abrapreci) 8 Introdução: breve história da oncologia no Brasil e no mundo Vanessa Mast ro e A rt u r Ma l zyn er O câncer é uma doença muito antiga. O primeiro a estudá‑la foi Hipócrates (460‑370 a.C.), que, por meio de observações, verificou que algumas deformidades apresentavam projeções semelhantes às pinças de um caranguejo. Devido a essa característica, nomeou essas alterações como karkinos e karkino ma (“caranguejo” em grego). Alguns séculos mais tarde, o médico grego Cláudio Galeno (130‑200 d.C.) considerou o aumento da bílis negra o responsável pelo aparecimento do câncer de pele, conhecido como melanoma. Essa teoria perdurou até o século 19. Galeno descreveu os tumores com o termo oncos (inchaço), que originou a palavra oncology (oncologia), como é conhecida atualmente. Nos séculos 16 e 17, tornou‑se possível dissecar corpos a fim de descobrir a causa da morte. Com isso, o professor alemão Wilhelm Fabry (1560‑1634) foi capaz de observar um coágulo de leite em um ducto mamário, relacionando-o com o câncer de mama. Já o holandês Franciscus Sylvius (1614 9 Artur Malzyner e Ricardo Caponero (orgs.) ‑1672), seguidor de Descartes, acreditava que o câncer de linfa era resultado de processos químicos. A primeira causa de câncer foi identificada pelo cirurgião londrino Percivall Pott (1714‑1788). Ele descobriu em 1775 que o câncer da bolsa escrotal era uma doença comum entre os limpadores de chaminés. Já no século 18, com o auxílio do microscópio, o cirurgião inglês Campbell De Morgan (1811‑1876) observou que as células cancerosas podiam também se espalhar pelos gânglios linfáticos, originando as metástases. Rudolf Virchow (1821‑1902), médico alemão conhecido como fundador da patologia celular, constatou que os tumores tinham características específicas. Por sua vez, os egípcios deram grande contribuição para o tratamento do câncer. A primeira descrição médica da doença de que se tem conhecimento data de 2.500 a.C., sendo atribuída ao sacerdote egípcio Imhotep, em quem “uma massa protuberante no seio” foi cauterizada com o auxílio de uma broca de fogo. No século 19, graças às melhores condições de higiene e assepsia e ao advento da anestesia, tornou‑se possível a remoção cirúrgica dos tumores, protocolo que passou a ser recomendado como tratamento primário da doença. No final daquele mesmo século, o casal Marie Curie (1867‑1934) e Pierre Curie (1859‑1906) descobriu a radiação, pedra fundamental do que viria se tornar a moderna radioterapia. Com isso, cirurgiões e radiologistas começaram a trabalhar em conjunto para ajudar os pacientes com câncer. A partir daí, o tratamento passou a ser realizado em ambiente hospitalar e as informações sobre a doença, bem como os da10 Câncer e prevenção dos dos pacientes, foram documentados. Tal compilação permitiu desenvolver a disciplina de estatística médica, área essencial da moderna oncologia clínica científica. A partir da metade do século 20, novos métodos de tratamento, como terapia hormonal e quimioterapia, foram introduzidos. Hoje, com o avanço nas técnicas de imagem e a melhor compreensão da biologia e da genética, a oncologia é capaz de aperfeiçoar tratamentos para pacientes de maneira individual com base em suas características moleculares. A evolução da oncologia no Brasil As primeiras iniciativas para o controle do câncer no Brasil remontam ao início do século 20, tendo sido orientadas quase exclusivamente para o diagnóstico e o tratamento. Em virtude da escassez de conhecimento sobre a etiologia da doença, pouca ênfase era dada à prevenção. Porém, segundo os especialistas em oncologia, deveria haver uma preocupação maior com a prevenção e o diagnóstico precoce, com o que concordavam os cirurgiões. Na ocasião, o câncer e muitas outras doenças assolavam a cidade do Rio de Janeiro. A fim de evitar que se propagassem, o governo assumiu a assistência à saúde por meio de diversas medidas, com destaque para a criação de serviços públicos, a vigilância sanitária e o controle mais eficaz sobre os portos. Em 1920, foi criado o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Visando à ampliação do campo de ação assistencial, esse órgão abrangia a saúde infantil, industrial e ocupacional. Com isso, coube à União promover e regular os 11 Artur Malzyner e Ricardo Caponero (orgs.) serviços de saúde no território nacional. Em 1923, o DNSP passou a chamar‑se Departamento Nacional de Saúde (DNS). Em 1924, durante o II Congresso Brasileiro de Higiene, comparou‑se o declínio da tuberculose com o aumento do câncer nos principais centros urbanos do Brasil. O índice de mortalidade pela doença no país era considerado baixo, mas tendia a elevar‑se a cada década, caso não fossem adotadas providências a esse respeito. O assunto despertou a atenção do dr. Carlos Chagas, diretor da Divisão Nacional de Saúde, que codificou o interesse da comunidade médica voltada para o tema por meio de regulamentação sanitária, fixando cláusulas para a luta contra o câncer. A chamada Reforma Carlos Chagas, iniciada em 1921, já previa a elaboração de estatísticas sobre o câncer. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) – uma das maiores instituições brasileiras de pesquisa e tratamento da doença – começou a ser gestado em 1938, quando foi inaugurado o Centro de Cancerologia no Serviço de Assistência Hospitalar do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Outra grande instituição, o Hospital do Câncer, nasceu da Associação Paulista de Combate ao Câncer, criada pelo cirurgião Antônio Cândido de Camargo. Desde a fundação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1913, até 1934, Camargo foi o professor responsável pela cadeira de clínica cirúrgica. Pioneiro em neurocirurgia, ele trouxe importantes contribuições para o tratamento de tumores de cérebro e medula. Em sua homenagem, o Hospital do Câncer passou a se chamar A. C. Camargo. Ao longo do século 20, inúmeras instituições de prevenção e combate ao câncer, bem como centros de pesquisa, fo12 Câncer e prevenção ram criadas no Brasil. Hoje, são milhares de associações, grupos de ajuda, hospitais, clínicas e centros especializados distribuídos por todo o território nacional. SITE Instituto Nacional de Câncer – www.inca.gov.br 13 Parte I Noções gerais sobre a doença 1 O que é câncer Ri ca r d o Capo ne ro Neste capítulo, abordaremos os principais aspectos da doença, definindo o que é câncer, explicando como ele se forma e descrevendo seus fatores predisponentes e de risco. Câncer ou neoplasia (neo = novo; plasia = formação) é o nome que se dá a um grupo de doenças que têm em comum a proliferação celular excessiva e descontrolada que persiste mesmo após o estímulo inicial que a causou ter cessado. Ou seja, o câncer acontece quando uma célula normal do corpo perde o controle e passa a proliferar de forma desenfreada. O senso comum diz que todos nós temos células cance rosas no corpo, mas a verdade não é bem essa. De fato, todas as nossas células podem, potencialmente, perder o controle e dar origem a uma neoplasia. É provável que isso ocorra muitas vezes, mas mecanismos regulatórios do organismo, inclusive do sistema imunológico, não deixam essas células progredirem e formarem o câncer. 17