Centro Chiara Lubich Movimento dos Focolares (Transcrição) Roma

Transcrição

Centro Chiara Lubich Movimento dos Focolares (Transcrição) Roma
Centro Chiara Lubich
Movimento dos Focolares
www.centrochiaralubich.org
(Transcrição)
Roma, 30 de abril de 1982
Mensagem da senhora Chiara Lubich, fundadora da Obra de Maria (Movimento dos Focolares), dirigida
ao Congresso de sacerdotes e religiosos na Sala Nervi
O sacerdote hoje, o religioso hoje
(...)
Caríssimos sacerdotes! Os senhores não se reuniram aqui, certamente, para se perguntarem se a
vocação sacerdotal é ainda atual nestes tempos.
É muito claro e óbvio que, enquanto Cristo for atual, a vocação daqueles que são chamados a
continuar o Seu ministério na terra, não pode sofrer o desgaste do tempo.
Nem tão pouco se reuniram aqui, principalmente, para dar uma resposta à pergunta angustiante e
por vezes convulsiva sobre a identidade do sacerdote.
Nem se reuniram somente para saber qual é, em geral, a situação do sacerdote hoje no mundo,
quais são as suas dificuldades e os motivos das suas possíveis crises.
O motivo deste encontro é sobretudo outro: reunir-se no amor recíproco (porque onde dois ou
mais estiverem reunidos no nome de Cristo, o próprio Jesus está no meio deles – cf Mt 18,20) para
compreender, iluminados pela Sua luz, como é que Ele deseja o seu sacerdote nos nossos dias. (...)
Hoje a Igreja, com o Concílio, por exemplo, pede uma visão universal das coisas. Convida-se o
coração dos homens a dilatar-se sobre horizontes tão vastos como a Terra. A ação do Espírito Santo na
Igreja caracteriza-se nos nossos dias por uma grande abertura. Escancararam-se portas que até agora
estiveram semi-fechadas e abrem-se assim panoramas impensados.
Hoje, o Espírito Santo chama com decisão sacerdotes e leigos à fraternidade universal; por isso, a
palavra "diálogo" é atual.
Diálogo entre irmãos católicos, entre cristãos de várias Igrejas e comunidades eclesiais; diálogo
com fiéis de outras religiões e com homens de boa vontade.
Esta é, um pouco, a hora do diálogo. Somos todos chamados a dialogar e os sacerdotes, que têm a
missão de evangelizar, estão seriamente envolvidos nisso.
O sacerdote hoje, não pode deixar de ser o "homem do diálogo".
(...)
Os senhores sabem que os pontos centrais da nossa espiritualidade são dois: por um lado, Jesus
crucificado, que grita: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27, 46; Mc 15, 34). Por
outro, a Unidade (cf Jo 17, 21).
Mas quem é Jesus crucificado e abandonado senão aquele que abriu aos homens o caminho para o
diálogo universal? Não é porventura ali, onde se exprime o ápice da Sua Paixão e morte1, naquele total
despojamento exterior e interior2, que Ele se realiza como mediador entre os homens e Deus? Não é ali,
na cruz, que se apresenta ao Pai como sacerdote e vítima para toda a humanidade?
1
2
Cf Romano Guardini, Il Signore, Milano 1964, p. 493-494.
Cf João da Cruz, Subida ao Monte Carmelo, 2,7,11, em Obras, Roma 1979
1.
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Essa divina chaga espiritual que se abriu em seu coração, quando até o Céu se fechou para Ele,
não será porventura uma porta aberta por meio da qual o homem pode finalmente unir-se a Deus e Deus
ao homem?
Uma vez que os homens, mediante Jesus crucificado, puderam restabelecer o diálogo com Deus,
nasceu de consequência o diálogo também entre eles: Jesus crucificado é o vínculo de unidade também
entre os homens.
E a unidade é o fruto do diálogo: é o diálogo consumado.
O diálogo fundamental a que o sacerdote é chamado (...) é o diálogo com o Sacerdote por
excelência, o seu Mestre e Senhor3. Ele, em virtude da ordenação sacerdotal, continua a sua missão e
como Seu ministro atua de modo especial: "in persona Christi”.
Porém, isso não basta para exprimir totalmente o desígnio que Jesus tem para os seus sacerdotes.
Se, falando com eles, disse aquelas admiráveis palavras que os investia com os seus mesmos
poderes, concedendo-lhes assim uma dignidade altíssima, falando ao Pai sobre eles, Jesus rezou dessa
maneira: "Pai... que sejam um como nós somos um: Eu neles e Tu em mim" (Jo 17, 22-23).
Jesus está presente em seus sacerdotes, como em todos os cristãos, por meio da graça. Sabemo-lo.
Porém, esta vida divina pode e deve crescer até chegar à perfeição, por meio do amor.
"Eu neles".
Jesus quer estar nos seus sacerdotes. Ele quer viver neles, não só em virtude do carisma que a
ordenação lhe confere, mas também pelo amor que pode torná-los perfeitos na Unidade (cf Jo 17, 23).
E onde é que os sacerdotes (...) encontrarão esta possibilidade divina de que Cristo viva neles de
modo cada vez mais pleno senão imitando na vida quotidiana Jesus crucificado, vivido instante após
instante, no seu aniquilamento total? Abraçando-o nas provações da vida, nas pequenas e grandes
provações, nas noites mais ou menos escuras? E alimentando-se da oração constante, da meditação fiel,
da Eucaristia que diviniza, da Palavra que santifica e da comunhão fraterna? Até que, consumados pelo
zelo do serviço apostólico, totalmente projetados para a meta, já totalmente transformados pelo Espírito
em outros Cristo, poderão abrir-se ao Pai com a doce palavra “Abba”.
Este é o diálogo por excelência, ao qual o sacerdote, qualquer sacerdote da Terra, é chamado. Este
é o vértice a que se deverá chegar. Isso é tudo o que Deus quer dos seus sacerdotes, de modo que, quando
o Espírito em seus corações puder pronunciar a palavra "Pai", eles poderão chamar, com toda a verdade e
plena eficácia "irmãos" a todos os homens da Terra! (…)
Jesus crucificado é o caminho para o diálogo entre eles e os fiéis. Ele, que sendo rico, tornou-se
pobre e "aniquilou a si mesmo, assumindo a condição de servo" (Fil 2, 7), sabe ensinar aos sacerdotes a
atitude cristã genuína, que devem assumir para com todos os homens que lhes estão confiados: servir.
Esta Jornada tem como emblema o "lava-pés": Jesus que, embora Senhor e Mestre, lava os pés
aos Apóstolos. Este é o Cristo; e é assim que Ele quer o sacerdote. (…)
Abrir o diálogo com cada próximo, compreender, acolher a todos no próprio coração. Se o seu
serviço sacerdotal tiver como suporte este amor inveterado, este serviço que parte do coração, o sacerdote
verá florescer, na porção de Igreja que lhe foi confiada, a maravilha que hoje o Espírito Santo chama os
cristãos a revelar ao mundo: o sacerdócio régio, fiéis convictos, que não reduzem os deveres a algumas
práticas dominicais, mas vivem o seu Batismo, morrendo, momento por momento, em Cristo, no amor
por Ele e entre eles, e n'Ele ressuscitando.
"Que os sacerdotes sejam uma coisa só” - disse o Papa. Mas acrescentou: “...e com os fiéis; uma
só coisa as associações e os movimentos no seio da paróquia4”.
Uma só coisa.
3
4
Cf Paulo VI, Ecclesiam suam, 41.
João Paulo II, Azione pastorale dei Vescovi e dimensione cattolica del loro ministero, in "L'Osservatore Romano 22-23
febbraio 1982, p. 2., ed. italiana;
2.
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Nunca como nos tempos de hoje, em que a Igreja deve olhar para além de si mesma, para todos os
cristãos, para quem crê de modo diverso e para os que não creem, veio tanto em evidência aquilo que
alguns chamam: o mandato missionário do IV Evangelho. S. João apresenta-o nestes termos: "Nisto
conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros". Jesus o conferiu depois da
promulgação da nova lei (Jo 13, 34-35)5.
Hoje, os cristãos são chamados a evangelizar da mesma maneira: "amando-se e apresentando aos
outros a experiência da sua nova vida, esta não pode deixar de tocar, de causar admiração, de suscitar
interrogações. Eis o diálogo que floresce. (…)
Existe um diálogo particular, que cada sacerdote de Cristo é chamado a desenvolver; existe uma
unidade singular que é chamado a realizar (...): é o diálogo com Maria, a Mãe de Jesus e Mãe de todos os
seus sacerdotes6.
“E o discípulo levou-a para sua casa" (Jo 19, 27).
Jesus moribundo tinha-se dirigido à sua mãe e, indicando-lhe João, tinha-lhe dito: “Mulher, eis o
teu filho” (Jo 19, 26). Depois, olhando para João tinha acrescentado: “Eis a tua Mãe” (Jo 19, 27).
Nós o sabemos: em João, Jesus confiava naquele momento todos nós cristãos a Maria.
Mas não se pode negar que João era sacerdote.
Por conseguinte, os sacerdotes receberam de Jesus, naquele dia, na pessoa de João, uma
orientação, um convite, uma ordem: considerar Maria como Mãe e levá-la para sua casa.
João com Maria: eis o sacerdócio cristão.
Maria é de casa para os sacerdotes e eles devem recordá-lo e, se tristemente se esquecessem de
acolher Maria em suas casas, a Mãe de Jesus nunca se esquecerá, para todos os séculos, de cumprir este
desejo do seu Filho moribundo.
Maria é a valiosíssima ajuda que Jesus deu aos sacerdotes para o seu serviço à Igreja.
É evidente que João pôde voar tão alto e contemplar o Verbo junto de Deus, o Verbo que é Deus,
porque a Mãe de Deus habitava com ele7.
Esta extraordinária convivência, esta comunhão com aquela alma que conservava e meditava
todas essas coisas em seu coração (cf Lc 2, 19), abriu-lhe os olhos. Ele viu a Igreja, o seu futuro, as suas
lutas, o seu triunfo, por quê? Porque o modelo da Igreja estava diante dele.
A Virgem Maria é o tipo da Igreja e cada sacerdote, que é chamado a edificar a Igreja, nunca
chegará a desempenhar tão bem a sua missão como diante de Maria.
Se os sacerdotes viverem em comunhão com Maria, Ela, Mãe da Unidade, lhes revelará o lugar
que a caridade deve ocupar em seus corações e entre os corações, como deverá edificar o corpo de Cristo,
segundo o eterno e supremo diálogo de amor que é a SS. Trindade.
Maria está ali ao lado de cada sacerdote. É preciso descobrir a sua presença.
Um modo para os nossos sacerdotes é acolhê-La cada vez mais e melhor no que Ela lhes oferece:
este Ideal de vida nova.
O sacerdote deve acolher o seu convite: identificar-se com o seu Filho e reviver o Crucificado,
abandonado, assim como Maria o aceitou e viveu, quando teve que perder na sua imensa desolação,
Jesus; quando o viu substituído por outro, por um sacerdote, pagando assim com um segundo 'Fiat' a sua
segunda maternidade, a de ser Mãe da Igreja.
É com Ela, Mãe da Igreja, Mãe da Unidade, que os nossos sacerdotes e os nossos religiosos se
realizarão hoje como autênticos "homens do diálogo". É com Ela que eles se tornarão construtores de
Unidade "a fim de que todos sejam um" (Jo 17, 21).
5
6
7
Cf H. van den Bussche, Giovanni, Assisi, 1970 p. 452-454;
Cf Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Lettera a tutti i sacerdoti, Libreria Editrice Vaticana, II/I 1979, p. 879-880;
Cf Ambrósio, De Instit.Virg., 7,50 (PL 16,319).
3.