APOSTILA DE AMPUTAÇÃO 2012

Transcrição

APOSTILA DE AMPUTAÇÃO 2012
AMPUTAÇÕES
1. Indicações.
Uma perda irreparável do aporte sanguíneo de um membro doente ou lesionado é a
única indicação absoluta para a amputação, independentemente de todas as outras
circunstancias. As amputações ainda podem ser indicadas quando uma lesão que não
afeta a circulação de um membro é tão grave que seu funcionamento não pode ser
restaurado, ou haveria melhor função após a amputação e uso de uma prótese. Algumas
vezes a amputação é necessária para salvação da vida do paciente, quando a infecção
num membro é incontrolável ou como tratamento de tumores malignos.
Ocasionalmente a amputação está indicada para remoção de parte, ou de todo um
membro congenitamente anormal, para a melhoria de seu funcionamento com ou sem
uma prótese.
Principais indicações para amputações:
 Doenças vasculares periféricas.
 Trauma
 Infecções
 Tumores.
 Anomalias congênitas.
 Congelamento.
2. Níveis de amputação:
A amputação deve se dar através de tecidos que cicatrizarão satisfatoriamente e num
nível que removerá a parte doente ou anormal. A regra fundamental é a preservação do
máximo comprimento compatível com o bom julgamento cirúrgico.
Aproximadamente 85% das amputações ocorrem em membro inferior, por este motivo
será descrito os principais tipos de amputações para membros inferiores.
Principais tipos de amputação para membro inferior

Falangectomia.

Amputação transmetatársica (diáfise do metatarso).
1

Amputação de Chopart (desarticulação entre o retro pé e o médio pé).

Amputação de Lisfranc (desarticulação tarso-metatarso)

Amputação de Pirogoff (ressecção bímaleolar e de todos os ossos do pé com
exceção do calcâneo que é seccionado verticalmente, eliminando sua parte
anterior e artrodesado-o a tíbia após uma rotação superior de 90 graus).

Amputação de Boyd (ressecção de todos os ossos do pé com exceção do
calcâneo que é seccionado verticalmente)

Amputação de Syme (desarticulação do tornozelo com ressecção bimaleolar).

Amputação abaixo do joelho (transtibial).
2

Amputação através do joelho (desarticulação do joelho).

Amputação acima do joelho (transfemoral).

Amputação através do quadril (desarticulação do quadril)
OBS: As amputações de Chopart e de Lisfranc raramente são utilizadas pois causam
deformidade em eqüinovaro e eqüino respectivamente. Isto ocorre porque os músculos
antagonistas (dorsiflexores) pendem suas inserções.
3
Principais níveis de amputação para membros superiores

Próteses para membros superiores: São próteses não funcionais (próteses
estéticas ou passivas).
3. Complicações das amputações:






Edema – A colocação de drenos no pós-operatório deve minimizas a
formação dos hematomas. Um hematoma pode retardas a cicatrização da
ferida, servindo como meio de cultura de bactérias. O uso de enfaixamentos
compressivos também ajudam a minimizar o aparecimento dos hematomas.
Infecções – São complicações de qualquer procedimento cirúrgico, mais são
mais freqüentes em doenças vasculares.
Necrose – Ocorre geralmente nas bordas da pele e pode retardar a
cicatrização.
Contraturas – Podem ser evitadas através do posicionamento adequado do
coto.
Neuromas – Um neuroma sempre se forma na extremidade de um nervo
seccionado. Os neuromas doloridos podem dificultar a adaptação da prótese,
devendo ser tratado cirurgicamente.
Dor fantasma e sensação fantasma – Após a amputação,o paciente percebe
uma sensação de que a parte amputada está ainda presente (sensação
fantasma). Esta sensação pode ser perturbadora e dolorosa, o paciente pode
relatar dor em um segmento que não existe (dor fantasma). Comumente tal
sensação desaparece, principalmente se a prótese for usada com freqüência.
Na maioria das vezes a dor pode ser aliviada com a excisão de neuromas do
coto (deve ser tratado com TENS e dessensibilização).
4
4. Técnica de bandagem do coto.
A bandagem é um método controverso de controlar o edema do coto, particularmente
nos pacientes vasculares, onde a má colocação da bandagem pode prejudicar o coto.
A bandagem geralmente começa quando as suturas são removidas. O paciente e os
familiares devem aprender a colocá-las. A bandagem deve ser reaplicada pelo menos 3
vezes por dia e usada dia e noite, mais deve ser removida ao usar a prótese.
Técnica de bandagem para amputações abaixo e acima do joelho.
5. Cuidados no pós-operatório.
Posicionamento
Uma das principais metas de início do programa pós-operatório é a prevenção de
complicações secundárias, como as contraturas de articulações adjacentes. As
contraturas podem surgir em decorrência do desequilíbrio muscular,ou como resultado
de alguma posição inadequada, como a posição sentada por períodos longos.
 Orientar Quanto ao Posicionamento Adequado no Leito :
 evitar o posicionamento inadequado no leito de flexão , abdução , rotação
externa de coxa e flexão de joelho quando amputado de perna(transtibial);
 manter o membro inferior alinhado ;
 não colocar travesseiro em baixo do coto e entre as pernas, pois evitará
contraturas musculares;
 evitar ficar na cama com o coto fletido;
5
 evitar flexionar o joelho em amputações transtibiais quando estiver sentado ;
 não apoiar o coto sobre a muleta .
 Exame Físico
O terapeuta deve medir e registrar os atributos físicos do paciente, como as
amplitudes de movimento ativos e passivos de todas as articulações dos membros
inferiores de ambos os membros. Contraturas em flexão do joelho e quadril
comprometem o alinhamento e o aspecto protéticos.
A analise do coto de amputação é fundamental neste processo ambulatorial. A
cicatriz cirúrgica deve ser examinada, observando se está aderida ou sem aderência
e de que forma se apresenta, se é terminal, anterior, posterior, caso esteja aberta
deve ser relatado. O neuroma pode estar presente através, de formigamentos ou
pontadas na extremidade do coto.
 Dessensibilização
Definição: são estímulos sensitivos que são realizados na extremidade distal do
coto que irão levar ao saturamento dos receptores e das vias aferentes sensitivas,
visando uma normalização da sensibilidade local.
Objetivo: alcançar a diminuição da hipersensibilidade local para que seja
suportável a adaptação à prótese, através de movimentos lentos e graduais,
começando do estimulo mais fino para o mais áspero, sendo passado de uma fase
para outra à medida que o próprio paciente relate não ser mais um incomodo o
estimulo realizado pelo terapeuta.
 Etapas de Dessensibilização :
1º - Algodão
2º - Esponja de face fina
3º - Esponja de face grossa
4º - Lixa fina
5º - Lixa grossa
6º - Calor superficial pode ser utilizado, com o objetivo pré-cinético
 Fortalecimento :
Restabelecimento Físico Geral :
Visamos a melhora do amputado , isto é, sua força , resistência , coordenação
motora , respiração , etc. A cinesioterapia deve ser intensificada também de forma
progressiva para potencializar toda sua musculatura que será necessária durante a
reeducação de marcha com prótese.
Cinesioterapia geral :
É trabalhado todo o corpo através da cinesioterapia respiratória , fortalecimento
abdominal , quadrado lombar , os membros superiores para utilização de muletas e
priorizar o fortalecimento no membro não amputado para aumentar sua potência ,
resistência e equilíbrio .
6
6. Modelos ultrapassados de prótese
Tipos de prótese para amputações abaixo do joelho
(1) PTB Temporária. (2) AcJAJ temporárias. (3) PTB definitiva. (4) Apoio com carga
isquiática definitiva.
Obs: Na prótese PTB a carga é tomada através do tendão patelar e na prótese AcJAJ a
carga é tomada através do ísquio.
Tipos de prótese para amputações acima do joelho.
(1) AcJ temporária. (2) AcJ definitiva com pequena alavanca no joelho. (3) AcJ
definitiva com mecanismos de rodas. (4) AcJ definitiva com alavanca alta no
joelho.
Obs: Na prótese AcJ temporária tem 1-2 cm a menos do que o membro remanescente,
isto porque o mecanismo do joelho é travado durante a marcha e liberado para sentar.
7
7. Modelos modernos de prótese
8. Tipos de próteses para membros inferiores
Existem basicamente dois tipos de próteses:
 Próteses convencionais: São feitas em resina ou com componentes em plástico e
madeira. São indicadas para todos os níveis de amputação com exceção da
desarticulação do joelho. As próteses convencionais não são utilizadas acima do
joelho devido seu peso excessivo acarretando dificuldades graves na
deambulação, ocorrendo desistência de utilização pelo paciente, o que
dificilmente ocorre nas próteses modulares.
Próteses convencionais ou exoesqueléticas
 Próteses modulares: Também chamada de prótese endoesquelética com
revestimento cosmético em espuma, este sistema foi lançado em 1969, pela
OTTO BOCK, sendo desde então constantemente aperfeiçoado, podem ser
utilizadas em todos os níveis de amputação de membro inferior. São constituídas
por vários módulos ajustáveis e intercambiais entre si, mais leves e estéticas por
serem revestidas de espuma cosmética, seus componentes podem ser em aço,
8
titânio (metal extremamente leve e resistente), alumínio e fibra de carbono. Essas
próteses oferecem ampla linha de opções para uma protetização eficaz.
Próteses endoesqueléticas
Próteses endoesqueléticas com revestimento cosmético.
TIPOS DE ENCAIXE
1. Amputação transtibial
 PTB (Patellar Tendon Bearing) – modelo ultrapassado.
 PTS (Prothese Tibiale Supracondylienne) – utilizado em pacientes com coto
curto. Esteticamente é pior que a KBM, pois a borda ântero-superior fica
extremamente saliente com joelho flexionado.
 KBM (Kondylen Bettung Munster) – é o mais utilizado, pois a patela fica livre e
esteticamente não produz saliência.
OBS: O encaixe nas próteses PTS e KBN devem ser feitos com pinos de fixação.
Prótese KBM.
Prótese PTB
Prótese PTS
Meia de silicone com pinos de fixação
9
2. Desarticulação do joelho
 Encaixe deve der feito em um cartucho em polifórmio com suspensão
supracondilar.
Encaixe para desarticulação do joelho visão interna.
3. Amputação transfemoral.
 Encaixe quadrilateral – é mais antigo e utilizado em pacientes com músculos
flácidos ou em cotos curtos, a descarga de peso é feita sobre o ísquio. Tem a
desvantagem de não ficar bem adaptado como o CAT-CAM e gerar uma grande
pressão sobre o ísquio.
 Encaixe CAT-CAM (Contenção Isquiática) – é indicado para a maioria dos
pacientes, pois fica bem adaptado e a descarga de peso é distribuída entre o
ísquio e a musculatura da região glútea. Este tipo de encaixe permite maior
conforto e melhor função.
OBS: Estas próteses são fixadas por pressão, através de uma válvula de sucção
localizada distalmente no encaixe protético.
Os cintos pélvicos foram muito utilizados no passado, porém já estão ultrapassados.
O sistema ACS (Air Contact System) de encaixe é usado em situação temporárias de
fixação, como durante atividades desportivas.
Encaixe quadrilateral
Encaixe CAT-CAM visão posterior (1)
Diferença do quadrilateral e CAT-CAM
10
TIPOS DE JOELHOS
1)
Joelhos mecânicos - controlado das fases de apoio e de balanço por fricção e/ou
elasticos com travamento automatico na extenção.
Joelho
policêntrico
adulto
Joelho
monocêntrico
adulto
Joelho
policêntrico
criança.
2)
Joelho Pneumático - controlado das fases de apoio e de balanço por diferença de
pressão do ar.
3)
Joelho Hidráulico - controlado das fases de apoio e de balanço por óleo.
4)
Joelho computadorizado - controlado por microprocessador com fases de apoio e
de balanço, oferecendo estabilidade, confiança e funções sem precedentes.
11
TIPOS DE PÉ

Pés não articulados – são conhecidos como pés SACH

Pés articulados (monoaxial) – permite flexão plantar de 15 graus e dorsal de 5
graus.

Pés multiaxial – facilita a deambulação em terrenos acidentados.

Pés de resposta dinâmica – usado apenas por atletas de corrida.
Esquema da resposta dinâmica do pé

Pés computadorizados.
OBS: Revestimento cosmético dos pés
12
Referências:
Barnes, R. W. & Cox, B., Amputação Manual Ilustrado, Ed. Revinter; Rio de Janeiro;
2003.
Carvalho, J. A., Amputações de Membros Inferiores em Busca da Plena Reabilitação,
Ed. Manole; São Paulo; 2003.
Crenshaw, A. H., Cirurgia Ortopédica de Campbell, Ed. Manole; Rio de Janeiro; 1997.
Hebert S. & Xavier R., Ortopedia e Traumatologia Principio e Prática, Ed. Artmed; São
Paulo; 2003.
Thompson, A., Skinner, A. & Piercy J., Fisioterapia de TIDY, Ed. Santos; São Paulo;
1994.
Ilustrações: Polior Produtos Ortopédicos
13

Documentos relacionados

1 RELATO DE CASO CLÍNICO DE AMPUTAÇÃO COM

1 RELATO DE CASO CLÍNICO DE AMPUTAÇÃO COM Uma das principais metas de inicio do programa pós-operatório é a prevenção de complicações secundárias, como as contraturas de articulações adjacentes. Estas podem surgir em decorrência do desequi...

Leia mais

Prótese de membros inferiores - Alan de Souza Araujo Fisioterapeuta

Prótese de membros inferiores - Alan de Souza Araujo Fisioterapeuta Encaixe quadrilateral – é mais antigo , utilizado em músculos flácidos ou em cotos curtos, A descarga de peso é feita sobre o ísquio. Tem a desvantagem de não ficar bem adaptado como o CAT-CAM e ge...

Leia mais

amputação e reconstrução nas doenças vasculares e no pé diabético

amputação e reconstrução nas doenças vasculares e no pé diabético As peças atuais de interface cumprem a função de tornar mais confortáTRANSTIBIAIS. vel o apoio e diminuir o atrito dos movimentos entre a prótese e o coto. O suporte do peso do corpo é feito princi...

Leia mais

Faça o do artigo em formato PDF

Faça o do artigo em formato PDF ser monocêntrico ou policêntrico; para Prótese Canadense exoesquelética ou endoesquelética; mecânico, hidráulico, pneumático, computadorizado ou biônico; se mecânico, pode ser autobloqueável ou liv...

Leia mais

AMPUTAÇÃO

AMPUTAÇÃO aquando da protetização.

Leia mais

Guia do amputado - Shopping Ortopédico

Guia do amputado - Shopping Ortopédico semanas ou mais, dependendo da cicatrização do coto. Um pós-operatório bem feito pode abreviar em muito a recuperação e reabilitação do paciente, evitando com isso o aparecimento de contraturas mus...

Leia mais