Mensuração de ativos biológicos na atividade agrícola
Transcrição
Mensuração de ativos biológicos na atividade agrícola
REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS MENSURAÇÃO DE ATIVOS BIOLÓGICOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA Alberto Messias Rodrigues Bastos (FECAP/FAFE)* Ana Lúcia de Souza Dias (FECAP)** Resumo O objetivo deste artigo é abordar de maneira científica e acadêmica a mensuração de ativos biológicos, analisando criticamente os métodos utilizados durante o processo de mensuração. Mensurar ativos é um desafio para todas as empresas, mas quando se trata de ativos biológicos, o desafio torna-se maior ainda, pois a atividade agrícola tem particularidades que podem aumentar a subjetividade contida na avaliação. Nessa perspectiva, Almeida e Hajj (1997) evidenciam que, normalmente, os números dão a impressão de exatidão. A exatidão, no entanto, nem sempre é facilmente obtida, quando se trata de Contabilidade, visto que se encontra no campo das Ciências Humanas e não no campo das Ciências Exatas. Ainda segundo as autoras, os valores medidos pela contabilidade têm mais características sociais do que fiscais, evidenciando certa subjetividade aos valores calculados; mas isto não invalida os cálculos, pois é melhor uma estimativa razoável do que um erro absoluto. Palavras-chave: Mensuração de ativo. Ativo biológico. Contabilidade. Atividade agrícola. Abstract The purpose of this article is to address scientific and academic way the measurement of biological assets, critically analyze the methods used during the measurement process. Measuring assets is a challenge for all companies, but when it comes to biological assets, the challenge becomes even greater, because the agricultural activity has characteristics that can increase the subjectivity contained in the evaluation. From this perspective, Almeida and Hajj (1997) show that, normally, the figures give the impression of accuracy. Accuracy, however, is not always easily obtained, when it comes to accounting, as it is in the field of human sciences and not in the field of Exact * Mestrando em Contabilidade no Centro Universitário da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP). Bacharel em Administração e pós-graduado em Finanças pela Faculdade de Ciências da Fundação Instituto Tecnológico de Osasco (FAC-FITO). Especialização Pedagógica em Matemática pela Universidade Bandeirantes (UNIBAN). É docente na Faculdade Fernão Dias (FAFE). ** Mestranda em Contabilidade no Centro Universitário da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP). Tem MBA em Administração com ênfase em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. 1 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS Sciences. Also according to the authors, the values measured by accounting have more social features than fiscal, showing some subjectivity to the calculated values; but this does not invalidate the calculations, it is better a reasonable estimate of an absolute error. Keywords: Active Measurement. Biological assets. Accounting. Agricultural activity. Introdução Mensurar ativos é um desafio para todas as empresas: mas, quando se trata de ativos biológicos, o desafio torna-se ainda maior, pois na atividade agrícola, as mudanças físicas de um animal ou planta aumentam ou diminuem diretamente os benefícios econômicos da empresa, o que torna a mensuração dos ativos biológicos durante o período de crescimento, produção e procriação uma tarefa árdua para as organizações. Inicialmente, o homem cultivava alimentos para sua subsistência; mas, com o passar dos anos, essa atividade passou a ser uma fonte de renda, pois o excedente da produção era trocado por outros produtos ou comercializado entre proprietários de terras, cidades e até países. Atualmente, muitos países têm sua economia baseada na agricultura, como é caso do Brasil que registrou receita de exportação do agronegócio no valor de US$ 101 bilhões em 2103, que representa mais de 40% do total exportado em 2013 que foi de US$ 242,2 bilhões (BARROS; ADAMI; ZANDONÁ, 2014). Fica evidente que o crescimento do agronegócio no Brasil é real e promissor, tanto que, como consequência, temos o pronunciamento técnico 29 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC 29, 2009) que estabelece o tratamento contábil dos ativos biológicos e produtos agrícolas. Este CPC é uma tradução e adaptação do International Accounting Standards 41 (IAS 41), adotado pelo International Accounting Standards Board (IASB), em abril de 2001. Barros (et al., 2012, p. 3) evidencia que: [...] observa-se que, na atualidade, precificar animais ou plantas vivas e suas transformações biológicas, compreendendo o processo de crescimento, degeneração, produção e procriação, refletindo uma mudança qualitativa e quantitativa no ativo biológico, tem sido um dos desafios da contabilidade moderna. 2 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS Muitos são os investidores de olho nesse mercado; mas, para torná-lo ainda mais atraente aos olhos dos investidores, é necessário que os números apresentados pelo setor sejam os mais próximos possíveis da realidade. Em mercados ativos, não há tanta dificuldade para mensurar ativos biológicos, pois temos as cotações diárias para nos basearmos; mas, quando se trata de um mercado inativo, há uma subjetividade maior na sua mensuração. É nesse contexto que o objetivo deste artigo é discorrer sobre as formas de mensuração dos ativos biológicos, analisando criticamente os métodos utilizados tomando como base o CPC 29. 1 Ativos Lopes e Martins (2005) afirmam que ativos devem representar os possíveis benefícios futuros obtidos ou controlados por uma entidade, como resultado de atividade ou eventos. Hendriksen e Van Breda (2007) enfatizam a definição do Financial Accounting Standards Board (FASB), apresentada através do SFAC 62, onde os ativos são definidos como benefícios econômicos futuros prováveis, que são obtidos ou controlados por uma entidade em consequência de transações ou eventos passados. O Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade (International Accounting Standards Board - IASB) define ativo como um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual os benefícios econômicos futuros deverão fluir para a entidade (MORAIS; LOURENÇO, 2013). Com base nessas definições, podemos concluir que há uma unanimidade no que diz respeito ao controle do recurso pela empresa, resultado de atividades anteriores e que deverão gerar algum tipo de benéfico para a entidade no futuro. Iudícibus (2010) esclarece que a melhor definição de ativo é a de Eliseu Martins (1972, apud IUDÍCIBUS, op. cit.) que define ativo abordando três aspectos: 1) O ativo deve ser considerado modernamente, em primeiro lugar, quanto à sua controlabilidade por parte da entidade, subsidiariamente quanto à sua propriedade e posse; 2) Precisa estar incluído no ativo, em seu bojo, algum direito específico a benefícios futuros (por exemplo, a proteção à cobertura 3 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS de sinistro, como direito em contraprestação ao prêmio de seguro pago pela empresa) ou, em sentido mais amplo, o elemento precisa apresentar uma potencialidade de serviços futuros (fluxos de caixas futuros) para a entidade; 3) O direito precisa ser exclusivo da entidade; por exemplo, o direito de transportar a mercadoria da entidade por uma via expressa, embora benéfico, não é ativo, pois é geral, não sendo exclusivo da entidade. (IUDÍCIBUS, 2010, p. 125) A definição de Martins (1972), mencionada na obra de Iudícibus, vai ao encontro das definições do FASB e IASB, citadas anteriormente, deixando claro que para ser considerado um ativo, o recurso deve estar na propriedade da empresa, deve ser de um evento passado e deve gerar benefícios futuros. 2 Ativos biológicos O CPC 29 enumera algumas definições necessárias à compreensão conceitual sobre ativos biológicos: 1) Atividade agrícola é o gerenciamento da transformação biológica e da colheita de ativos biológicos para venda ou para conversão em produtos agrícolas ou em ativos biológicos adicionais, pela entidade. 2) Produção agrícola é o produto colhido de ativo biológico da entidade. 3) Ativo biológico é um animal e/ou uma planta, vivos. 4) Transformação biológica compreende o processo de crescimento, degeneração, produção e procriação que causam mudanças qualitativa e quantitativa no ativo biológico. 5) Despesa de venda são despesas incrementais diretamente atribuíveis à venda de ativo, exceto despesas financeiras e tributos sobre o lucro. 6) Grupo de ativos biológicos é um conjunto de animais ou plantas vivos semelhantes. 7) Colheita é a extração do produto de ativo biológico ou a cessação da vida desse ativo biológico. (CPC 29, 2009, p. 3) Conforme o CPC 29, ativo biológico é um animal e/ou planta vivos, que seguindo o conceito básico de ativo, deverá gerar algum benefício futuro para entidade. O CPC 29 nos traz alguns exemplos de ativos biológicos, produto agrícola e produtos resultantes do processamento depois da colheita: 4 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS Tabela 1 – Exemplos de ativos biológicos Ativos biológicos Produto agrícola Carneiros Lã Produtos resultantes do processamento após a colheita Fio, tapete Arvores de uma plantação Madeira Madeira serrada e Celulose Plantas Algodão, Cana colhida, café Gado de leite Leite Fio de algodão, roupa, açúcar, álcool , Café limpo em grão, moído, torrado Queijo Porcos Carcaça Salsicha, presunto Arbustos Folhas Chá, tabaco Videiras Uva Vinho Árvores frutíferas Frutas Frutas Processadas Fonte: Adaptado pelos autores deste artigo do CPC 29 (2009) 2.1 Mensuração de ativos biológicos Mensurar um ativo, não é tarefa fácil, pois como afirmado anteriormente, a Contabilidade faz parte das Ciências Humanas, o que mostra uma preocupação com o social e não com o fiscal. Esta visão social dos elementos contábeis traz certa subjetividade aos números apresentados, pois, em muitos casos, o que é valor para uma pessoa, pode não ser para outra. Iudícibus (2010 p. 126) menciona que segundo a American Accounting Association “[...] a medida de valor de um ativo é a soma dos preços futuros de mercado dos fluxos de serviços a serem obtidos, descontados pela probabilidade de ocorrência e pelo fator juro, a seus valores atuais”. A essência do conceito de mensuração pode ser definida como o ato de medir, ou seja, de determinar o valor de certas grandezas. É sinônimo de medição. Este termo é usado em diversas áreas como Contabilidade, Administração de Empresas, Medicina, Antropologia, entre outras. Sottocorno (et al., 2013) evidencia que: 5 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS Ao se avaliar o ativo biológico ao valor justo (valor de mercado), com o tempo ele irá crescer e se desenvolver, estando assim em constantes mudanças, devendo ter contínuas avaliações. Essas avaliações normalmente positivas aumentarão o ativo e produzirão ganhos econômicos devendo, até o momento da venda, ser reconhecidos como receitas, nas demonstrações do resultado. (SOTTOCORNO et al., 2013, p. 3) Lopes e Martins (2005) explicitam que são várias as formas de se medir um ativo, [...] desde o custo histórico, com base nas transações ocorridas, passando pelo custo corrente, considerando a reposição dos fatores de produção sendo consumidos, avaliando cada ativo e passivo pelo seu valor líquido de realização e chegando ao valor presente dos fluxos de caixa futuros. (LOPES; MARTINS, 2005, p. 28) A Mensuração de ativos é, e sempre foi, motivo de polêmica entre autores e avaliados, tanto que o IASB, no intuito de criar um padrão para mensuração, elabora o International Financial Reporting Standards – IFRS 13, que define o termo fair value e é seguido no Brasil pelo CPC 46, que define valor justo como “O preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada, entre participantes do mercado na data de mensuração” (IFRS 13 e CPC 46). O CPC 29 traz a seguinte definição para mensuração de ativos biológicos: A mensuração do valor justo de ativo biológico ou produto agrícola pode ser facilitada pelo agrupamento destes, conforme os atributos significativos reconhecidos no mercado em que os preços são baseados, por exemplo, por idade ou qualidade. A entidade deve identificar os atributos que correspondem aos atributos usados no mercado como base para a fixação de preço. (CPC 29, 2009, p. 5) Carvalho (et al., 2012) analisou a adoção do CPC 29 – ativos biológicos – entre as empresas listadas no Índice Ibovespa. O objetivo da análise era o nível de evidenciação contábil dos ativos biológicos, entre as companhias abertas brasileiras: Uma das mudanças advindas do novo pronunciamento (CPC 29, 2009) é a exigência de se reconhecer a cada balanço os impactos nos resultados decorrentes das variações no valor justo. Antes, se o mercado de ativos biológicos já sofria com a volatilidade dos preços devido às particularidades desses produtos, tal volatilidade não era imediatamente repassada aos demonstrativos financeiros. Com a 6 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS adoção do CPC 29, as empresas são obrigadas a reconhecer variações, – positivas e negativas, nos valores de seus estoques de ativos biológicos e registrar os resultados, independente da realização de receitas. (CARVALHO et al., 2012, p. 108) Para alcançar o objetivo Carvalho (et al., 2012) analisou informações trimestrais, buscando, na época, a antecipação da norma. Destarte, faz-se pertinente salientar que algumas empresas não registram ativos biológicos, uma vez que já compram o produto agrícola processado, resultante de um determinado ativo biológico – registrando tais produtos como matéria prima. O CPC 29 não se aplica aos produtos após colheita, abate ou outra forma de processamento do produto. Ademais, o referido CPC (2009) exige o reconhecimento dos ativos biológicos a valor justo para aqueles produtos que possuem mercado ativo [...] Sendo assim, caso uma empresa julgue que não há mercado confiável para fazer essa mensuração, a ela é facultado continuar avaliando seus estoques a custo de formação. Por fim, cabe revisitar a discussão acerca da definição de valor justo. Como cada empresa é responsável por apurar seus estoques ao valor justo, ainda haverá subjetividade no registro dos custos dos ativos biológicos de acordo com as práticas empresariais e com o mercado ativo considerado pela a administração de cada organização. (CARVALHO et al., 2012, p. 108) O CPC 29 (2009) apresentou o conceito de valor justo como: [...] o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, ou um passivo liquidado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a ausência de fatores que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória. (CPC 29, 2009, p. 5) A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por meio da Deliberação 596 (2009) tornou obrigatória para as companhias abertas a adoção do CPC 29, que foi baseado no IAS 41 do IASB. Para Lefter e Roman (2007, p. 15): O IAS 41 representa um conjunto de normas para registro e mensuração dos ativos biológicos e produção agrícola. Esse padrão típico para atividades de agricultura não se aplica aos seguintes elementos: Terrenos ligados a atividades agrícolas; Ativos intangíveis ligados à atividade agrícola; Subsídios do governo para ativos biológicos que, como uma exceção, não podem ser avaliados a valor justo; Operações a prazo com produtos, ligados à atividade agrícola; Contrato de seguros ligados à atividade agrícola, assim como o seguro do galpão. 7 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS O objetivo do IAS 41 é regular o tratamento contábil, a representação dos relatórios financeiros e a divulgação para as atividades agrícolas. De acordo com o IAS 41.5, atividade agrícola é definida como gerenciamento por uma entidade da transformação do ativo biológico para venda, dentro da produção agrícola, ou dentro de ativos biológicos adicionais. (Tradução dos autores deste artigo) Lefter e Roman (2007) afirmam que, para ficar mais fácil a mensuração, o valor justo pode ser calculado em grupos. Nesse caso, os grupos têm que ter as mesmas características como: idade, caráter consumível, capacidade de produção ou qualidade. As características para a classificação têm que ser escolhidas de acordo com o atributo que determina o preço de mercado. Por exemplo: para efeito de mensuração, um produtor de madeira divide suas três plantações de acordo com a idade e, mais precisamente, de acordo com o volume por árvore. A divisão da área é feita dependendo da exata determinação das faixas de idade; então, o valor da árvore é calculado de acordo ao grupo que pertence. 3 Metodologia Para que Carvalho (et al., 2012) alcançasse seus objetivos, foram analisadas as empresas que compunham o Índice Bovespa de Ações (Ibovespa), no segundo trimestre de 2011. O período foi escolhido em função da disponibilidade do índice mais recente, na época, no site da BM&FBovespa. O índice foi escolhido porque é um indicador de desempenho médio da BM&FBovespa, além de ser bastante estudado em pesquisas nacionais que envolvem o mercado de ações. Quando a pesquisa foi feita, o Ibovespa era composto por 69 ações (preferenciais e ordinárias). Porém, o foco do estudo eram as demonstrações contábeis (exclui-se as empresas repetidas), resultando 63 empresas. As demonstrações contábeis de 2010 foram coletadas nos sites das respectivas empresas e na falta destas, foram utilizadas as demonstrações contábeis da CVM. Após essa primeira análise, Carvalho (et al., 2012) selecionou apenas as empresas que utilizaram o Pronunciamento CPC 29 para ativos biológicos. Para isso, foi realizada uma pesquisa textual nas demonstrações coletadas com base nas seguintes 8 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS palavras-chave: “biológico”, “agrícola”, “CPC 29”, “IAS 41” e, finalmente, os dados foram tabulados de acordo com a presença, ou não, de evidenciação dos ativos biológicos: a) no balanço patrimonial; b) em outras demonstrações; c) na nota explicativa sobre as principais práticas contábeis; d) em nota explicativa sobre o impacto da adoção das novas normas contábeis; e) em nota explicativa específica; f) em nota explicativa diversa. Carvalho (op. cit.) esclarece que, posteriormente, foi destacada a relação entre o ativo biológico e o ativo total. Após a aplicação do filtro, verificou-se que oito empresas utilizam ativos biológicos, destacadas na seção de resultados e análises. Foram destacadas, então, as formas de mensuração do valor justo por cada empresa. Quadro 1 – Empresas do Ibovespa que reconhecem ativos biológicos e produtos agrícolas Razão Social VALE BRF SA FIBRIA JBS MARFRIG Setor Mineração Alimentos e Bebidas Papel e Celulose Alimentos e Bebidas Alimentos e Bebidas Participação no Índice Ibovespa 2012 (%) Participação no Índice Ibovespa 2014 (%) BP Adoção inicial ao CPC 29 Relação dos ativos biológicos em relação ao total de ativos em 2010 (%) 13,1% 7,0% Não Não ---- 1,2% 4,4% Sim Sim 3,1% 1,1% 0,7% Sim Sim 12,2% 1,0% 2,1% Sim Sim 1,0% 0,7% 0,2% Sim Sim 5,3% Brasil Ecodiesel DURATEX KLABIN S/A 0,6% * Sim Sim 8,0% Petróleo e Óleo Outros 0,6% 0,2% Sim Sim 16,7% Papel e 0,5% 0,6% Sim Sim 12,2% Celulose Legenda: BP = Balanço Patrimonial * A Brasil Ecodiesel trocou o nome por Vanguarda Agro e esta não pertence ao Índice Ibovespa Fonte: Quadro adaptado de Carvalho (et al., 2012, p. 117) 9 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS 4 Resultados O estudo de Carvalho (et al., 2012), em que foram analisadas, inicialmente, 63 empresas integrantes do índice Ibovespa, mostrou que oito empresas reconhecem ativos biológicos em suas demonstrações anuais ou trimestrais. A autora observou que, sem considerar a empresa Vale, que evidenciou o CPC 29 (2009) apenas nas informações trimestrais, a maioria das empresas apresentou informações no balanço patrimonial (100%), em outras demonstrações (71%), na nota explicativa sobre as principais práticas contábeis (100%), em nota explicativa sobre o impacto da adoção das novas normas contábeis (100%), em nota explicativa específica (100%) e em nota explicativa diversa (71%). Houve, ainda, antecipação da adoção do CPC 29 (2009) por cinco empresas (63% da amostra final). Considerações finais Este trabalho teve o objetivo de analisar a mensuração de ativos biológicos. Como a Contabilidade pertence às Ciências Humanas e não às Ciências Exatas, fica mais difícil a mensuração. Vários autores evidenciam a importância da mensuração do ativo biológico. Para Sottocorno (et al., 2013) um ativo biológico ao valor justo (valor de mercado) precisa estar em constantes mudanças devendo ter contínuas avaliações, pois ele cresce e se desenvolve com o tempo. Lefter e Roman (2007) confirmam a importância da mensuração e para facilitála, sugerem calcular o valor justo em grupos (caráter consumível, capacidade de produção ou qualidade); as características para a classificação têm que ser escolhidas de acordo com o atributo que determina o preço de mercado. Portanto, podemos considerar que a preocupação dos autores em mensurar os ativos biológicos é apresentar um número para os investidores mais próximo do real, para que eles possam ter uma maior transparência em relação aos resultados apresentados pelas empresas. 10 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS Referências bibliográficas ALMEIDA, M. G. M; HAJJ, Z. S. E. Mensuração e avaliação do ativo: uma revisão conceitual e uma abordagem do goodwill e do ativo intelectual. IN: Caderno de Estudos, São Paulo, FIPECAFI, v.9, nº16, p.66-83, 1997. BARROS, G. C; ADAMI, A. C. O; ZANDONÁ, N. F. Câmbio mantém atrativas as exportações do agronegócio. Centro de estudos avançados em economia aplicada, CEPEA, ESALQ/USP, Piracicaba, 2014. BARROS, C. C; ARAÚJO, A. O; SOUZA, F. J. V; SILVA, J. D. G; SILVA, M. C. O impacto do valor justo na mensuração dos ativos biológicos nas empresas listadas na BM&FBOVESPA. Revista de Contabilidade do mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 41 - p.59, 2012. BRASIL. Ministério do desenvolvimento indústria e comércio exterior. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1388692200.pdf>. Acessado em 20 out. 2014. CARVALHO, F. S. (et al.) Ativos biológicos: evidenciação das empresas participantes do Ibovespa. Rev. Custos e agronegócio online, vol. 9, nº 3, Jul/Set 2013. CPC 29. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Ativo biológico e produto agrícola: correlação às normas internacionais de contabilidade. Correlação ao IAS 41, 2009. CPC 46. Comitê De Pronunciamentos Contábeis. Mensuração do valor justo: correlação ao IFRS 13, 2008. CVM Comissão de Valores Mobiliários. Deliberação 596 de 2009. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/port/snc/deli596.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2014. FASB. Financial Accounting Standards Board. <http://www.fasb.org/home>. Acessado em 20 out. 2014. Disponível em: HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2007. IFRS 13 Fair Value Measurement. Disponível em: <http://www.ifrs.org/use-aroundthe-world/education/fvm/documents/educationfairvaluemeasurement.pdf>. Acessado em 20 out. 2014. 11 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS IUDÍCIBUS, S. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2010. LEFTER, V.; ROMAN, A. G. IAS 41 Agriculture: fair value accounting. Theoretical and Applied Economics Review, V. 5, P. 15-22, 2007. LOPES, A. B.; MARTINS, E. Teoria da contabilidade: uma nova abordagem. São Paulo: Atlas, 2005. MARTINS, Eliseu. Contribuição à avaliação do ativo intangível. 1972. Tese (doutorado em contabilidade). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1972. MORAIS, Ana Isabel; LOURENÇO, Isabel Costa. IFRS Demonstrações financeiras: um guia para executivos. Coimbra: Almedina, 2013. SOTTOCORNO, J. (et al.). Ativos biológicos – cultura – soja: um estudo de caso em uma propriedade rural de Campo Mourão. VIII Encontro de Produção Científica e Tecnológica. UEP, Campo Mourão, 2013. 12 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 2, número 5, agosto de 2015. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/