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Ano I - Ed. 4 - Abril/2013
A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
Wagney
Azevedo
Leão
girista.com
A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
É uma revista temática em busca de
um resgate histórico de uma raça que ao
descer em terras brasileiras, oriunda da Índia, se sentiu em casa.
Exalando magia e mistério transformou em girista todo aquele que com ela
poetou.
É um projeto desafiador pela sua veiculação digital. Mas foi essa a maneira encontrada para deixar registrada a história e
ações dos que a preserva.
É um resgate daqueles que foram além
da simples criação, transformando-a em
estado de espírito.
O editor
Expediente
Jornalista Responsável
Luiz Humberto Carrião
MTb GO 01438 JP
Editor
Luiz Humberto Carrião
[email protected]
girista.com
3
4 - Abril/201
Ano I - Ed.
e o girista lê
que o mundo vê
A revista do Gir
Wagney
Azevedo
Leão
Revisora
Carmem Marize Lima
Diagramador
Thales Moraes
[email protected]
Goiânia – Goiás
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girista.com
A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
Editorial
Aqui estamos para levar até você, internauta,
mais uma edição da revista Girista.com. Uma revista que nasceu com um projeto despretensioso
quando o assunto é ibope, mas que vem fazendo
jus à frase que ilustra o seu título: a revista que o
mundo vê e que o girista lê. O mundo vê porque se
encontra a disposição de livre acesso na internet. O
girista lê porque o relatório da empresa que hospeda o site www.girista.com identificou mais de 400
acessos de aparelhos diferentes à 3ª edição. Número considerável sobre uma revista temática, digital,
num país com 1000 criadores registrando na ABCZ.
Uma revista elaborada através de colaboradores não remunerados; sem o inescrupuloso “jabá”,
isto é, a cobrança para a divulgação de pessoas
através da matéria de capa ou entrevista. Existe em
função do ideal de seus articulistas e editor.
Nesta edição, uma entrevista esclarecedora
para os associados da GirGoiás e dos proprietários de touros no Teste de Progênie do PNMGir com
o presidente da entidade, Luiz Alberto de Paula e
Souza. A coluna Retratos no Gir, uma homenagem
ao doutor Ataíde Xavier, que durante um período
esteve como interventor na ASSOGIR por força de
uma ação judicial, e que, com respeito à entidade, a
seus associados, à determinação judicial, conduziu
de maneira firme e respeitosa a volta da associação
aos seus associados, inclusive, com a convocação,
eleição e posse de uma diretoria em observância às
Leis. A revista assim o faz como forma de um resgate ao gesto comum dos comuns, que retirou da
galeria dos presidentes o quadro-retrato do doutor
Ataíde. Apresenta um reforço em seu time de articulistas, Glayk Humberto, de escrita fácil, textos leves, assuntos cotidianos dos currais de gir por esse
Brasil afora. A cada texto de Gayk uma prestação de
serviço àqueles que criam ou trabalham nos currais
brasileiros de Gir.
Mais uma edição com o compromisso com a
História da raça Gir e não com a história dos “homens” do Gir.
Boa leitura!
O editor
girista.com
A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
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Nesta edição
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Entrevista
Luiz Alberto de Paula e Souza,
presidente da Associação Goiana dos Criadores de Gir – Girgoiás
Matéria de capa
Wagney Azevedo Leão
Hélio Ronaldo Lemos – de A a Z
I de Iansã da Santa Fé
Matéria
O ovo de Colombo e a integração lavoura/pecuária
Artigo
Glayk Humberto
Criação de novilhas Gir para produção leiteira
Artigo
Paty Sibin
A baixa qualidade dos serviços prestados pelas empresas de telefonia móvel e transmissão de dados na área rural.
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4
Artigo
Pedro Wilson
Abismos: natureza brasileira no século XXI
Confissões sexagenárias
Luiz Humberto Carrião
Aberta temporada de caça a adjetivação terminada em “eiro”
Livro
Uberaba e o Fetiche do Zebu
Histórias de Tiãozinho Cunha
Por essa ninguém esperava
Simplesmente Francisco
O papa do fim do mundo
Retratos no Gir
Homenagem ao doutor Ataíde Xavier que como interventor na ASSOGIR soube conduzir com lisura e isenção o processo de eleição naquele momento tão difícil passado
pela entidade.
Entrevista
Luiz Alberto de Paula e Souza
Girista.com – O senhor interrompeu, em
2011, uma continuidade de poder na Associação
Goiana dos Criadores de Gir (GirGoiás) desde a
sua fundação em 1968. Duas perguntas: Como se
deu isto? O senhor tem consciência de seu papel
histórico na entidade?
LAPS – Tenho consciência do papel histórico de
qualquer cidadão que rompe um poder de mando
de tantos anos como o que ocorreu na GirGoiás. Normalmente no continuísmo sempre se entende estar
fazendo o melhor; que outras pessoas são incapazes
de ao menos dar continuidade ao “status quo”, quanto mais avançar no processo. Não avaliam os prejuízos, o atraso que impõem as estruturas. Não é tarefa
fácil romper com a mentalidade por ele sedimentada. Mas é preciso ousar. Assim que percebi a imposição por parte da liderança-mor de então ao indicar
qual seria o próximo presidente dentro das cartas
marcadas e o sucessor deste por antecipação, discordei e coloquei meu nome à disposição e vencemos o
pleito. A maneira como ocorreu o processo mostrou
muito claramente as vertentes do establishment: o
comportamento sempre avesso a eleições recuando da disputa justificada através de nota nas redes
sociais, onde se vangloriavam em fazê-lo em nome
de uma unidade. Na verdade não haviam conseguido número suficiente para a composição da chapa.
Aliás, um despropósito, mais de 30 nomes, o que de
certa forma, dificulta a formação de uma chapa de
oposição. O desejo de mudança nos associados que
não suportavam mais aquele mando de compadrio;
o marasmo administrativo nas mãos de funcionários, numa sala suja e sem condições de trabalho, de
onde nunca saiu um comunicado sequer em folha
xerocada, um boleto com o valor da anuidade, um
telefonema de um dos diretores a um associado em
convite para uma reunião ou assembleia. Rompi as
barreiras que muitos achavam intransponíveis, agora compete aos associados avançar ou retroceder,
democracia é isso.
Girista.com - O senhor foi, desde o início de
sua gestão, duramente criticado pelo presidente
que o antecedeu, porém, sempre esteve longe
das discussões e críticas levadas a efeito nas redes sociais. O senhor já fez uma análise do porque dessas críticas tão ácidas?
LAPS – Sim! E a resposta foi dada por ele mesmo
na reunião ocorrida na sede da SGPA com a presença
do coordenador do teste de progênie pela Embrapa, o pesquisador Rui da Silva Verneque, associados,
criadores e proprietários de touros no teste. Fez sua
“mea culpa” e, inclusive, se disponibilizou a rodar o
país explicando os erros ocorridos em sua gestão,
notadamente em relação ao teste de progênie. E vou
mais adiante. A responsabilidade pelas dificuldades
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A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
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que passa a entidade atualmente não é de todo depositada no ex-presidente, tenho que ser justo, na
verdade, ela vem de longe num processo viciado no
compadresco. Conservou-se desde a sua fundação
um processo amador, como, aliás, foi assumido pelo
ex-presidente e pela sua liderança maior quando da
assembleia de prestação de contas. Um teatro dantesco eivado de mentiras e tentativas de arrumações.
Esse tipo de atuação política e de gestão ficou na república velha e nos países fieis ao sonho comunista. O
mundo mudou e não se aperceberam disso.
Girista.com – Algures alguém afirmou nada
ser mais solitário do que presidir uma associação de classe ou promotora da raça como é o seu
caso. Concorda com essa afirmação? Explique.
LAPS – Não vejo como uma questão de concordar ou discordar. Uma entidade como a GirGoiás
estatutáriamente os diretores não são remunerados.
Esse é o primeiro ponto a se levar em consideração.
Depois, todos os associados que abnegadamente
dispõem-se a colaborar tem seus afazeres, e muitos,
moram inclusive fora da cidade sede da instituição,
no caso específico, até em outros estados da federação. Essa solidão administrativa acaba sendo compreensível e natural. Quando um associado coloca o
seu nome à disposição tem que trazer a visão de que
a diretoria trabalha e representa os associados. Da
mesma forma o presidente a diretoria. Infelizmente
é assim. Todavia, sem uma visão centralizadora administrativamente falando, ou mesmo autoritária.
Agora, as críticas existem e sempre existirão. Há que
se ter sabedoria para lidar com elas. Por essa consciência e respaldado pela experiência como presidente ou membro de diretoria de outras entidades não
entro em discussões cujo objeto e o desgaste pura
e simplesmente de quem exerce o poder. Quantas
vezes a razão determinou o silêncio diante de mentiras plantadas nas redes sociais para não prejudicar
a entidade ou mesmo pessoas de bem que nela estiveram? Às vezes contra a vontade de muitos, mas a
voz da razão sempre falou mais alto.
Girista.com – O senhor primeiramente sofreu críticas por ter se alinhado a pessoas formadoras de opinião na raça Gir que não são unanimidade no meio, cito como exemplo, a dona Leda
Góes e o professor Carrião. Depois, pelo resultado do Teste de Progênie da primeira bateria de
touros que não saiu dentro da previsão pré-estabelecida. O que o senhor tem a dizer aos que lhe
criticaram e criticam?
LAPS – Vou iniciar a resposta com outra pergunta. Por que dona Leda e Carrião não são unanimidades? Porque assumiram posições e defenderam essas
posições. Mostraram a que vieram. Ser politizado e
com posições firmes nesse país não é fácil. Apesar de
todas as criticas, da não unanimidade, são pessoas
de uma respeitabilidade no Brasil inteiro como lide-
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ranças classistas e criadores de Gir. Inquestionável
suas experiências. O Carrião foi o primeiro de Goiás a
compor a mesa diretora da ABCZ; foi autor na mesa
diretiva da ABCZ do projeto que acresceu a palavra
pecuária na nomenclatura do Ministério da Agricultura, e, consequentemente, por efeito cascata a todas
as entidades afins; diretor e presidente da ASSOGIR.
Isso incomoda! Dona Leda discordou do continuísmo na ABCZ, montou uma chapa e partiu para a disputa. Só não ganhou porque foi prejudicada pelo arcaico sistema de compadrio onde a chapa precisa de
mais de 100 nomes com exigências que dificultam
o seu registro. Isso vindo de uma mulher incomoda!
Goiás é o estado que mais registra na ABCZ onde o
presidente é eleito com menos de 1000 votos. Onde
está a coragem de nossas lideranças em montar uma
chapa e concorrer à presidência daquela entidade?
Por isso é que os defendo. Aliás, faço justiça pelo que
fizeram pelo Zebu no Brasil. Faço a leitura de ser um
privilégio tê-los como amigos. Quanto ao resultado do teste de progênie não ter sido publicado no
prazo pré-estabelecido não foi responsabilidade
dessa diretoria, ou minha como querem imputar.
Foi na nossa administração que os primeiros dados
da primeira e segunda bateria foram encaminhados
à Embrapa. O Rui Verquene esclareceu isso através
de documentos e presencialmente na última reunião sobre o teste. Mas essa verdade não interessa a
muitos. Muitos que na verdade lesaram aqueles que
acreditaram no teste e na administração da entidade
à época. Criticam porque são adeptos de que a melhor defesa é o ataque. Mas isso a história acaba por
esclarecer, mais dias menos dias.
Girista.com – Num determinado instante de
sua administração houve uma debandada por parte de seus diretores, que leitura o senhor faz disto?
LAPS – Quem foram os diretores que debandaram? Qual sua folha de serviço prestada à entidade
ou à raça? Que significação existe para a raça em
nível de Goiás e de Brasil esses diretores? Por princípio nunca me dispus a trazer a público o porquê
de suas debandadas, mas, aqueles próximos da associação sabem bem o motivo. E de cada um deles.
Um presidente responsável não pode e não deve
ceder a pressões de interesses pessoais ou mesmo
escusos de quem quer que seja ainda mais sendo diretor. Agora, os detratores de plantão não perderam
a chance e falaram o que bem entenderam. Replicá
-los seria dar a eles o palco que procuravam. E eu não
me submeti ou me submeterei a isso.
Girista.com – O presidente da Associação
Brasileira dos Criadores de Gir (ASSOGIR), senhor
José Sab Neto, afirmou que, acabado o Teste de
Progênie do PNMGir acabada a GirGoiás e viceversa. Tem razão ou não?
LAPS – Não concordo com o presidente da ASSOGIR. Aliás, penso o contrário, tanto a GirGoiás fun-
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cionaria melhor sem o teste, como este, funcionaria
melhor sem a aquela. O teste de progênie deveria ser
administrado pelos proprietários de touros. Erros crassos foram cometidos, aliás, como disse anteriormente,
admitiram amadorismo em suas administrações publicamente. Jogaram uma verba federal considerável
no teste e acharam que ela o sustentaria “ad eterno”.
Amadorismo! Depois, não cotizaram as despesas
mensais entre os proprietários de touros. Simplesmente cobraram uma taxa de 8 mil reais para a inscrição que muitos não pagaram. Quanto custa para
testar um touro na ABCGIL? Não sei. Mas será que gira
em torno de 10 mil reais como na GirGoiás? Tenho certeza que não. Já na administração anterior ao ex-presidente o teste teve problemas com coleta de dados
de campo por falta de dinheiro que provocaram dificuldades técnicas que se estenderam a administração de meu antecessor e estourou em minha gestão.
Isso foi publicamente provado, mas os descontentes
fecham os olhos, tampam os ouvidos, mas não calam
suas bocas. Estou disposto se assim o desejar o presidente da ASSOGIR em fazer uma assembleia e propor
a transferência do teste de progênie com toda sua estrutura para a ASSOGIR. Não sou daqueles que deseja
o pior como melhor. Se na entidade nacional da raça
ele tiver sucesso, parabéns! Aliás, lá deveria ser o seu
lugar. A ASSOGIR representa a chamada linha alternativa da raça. É uma instituição de nível nacional. Está
dentro de Uberaba, considerada a capital do Zebu, o
que lhe dá uma visibilidade extraordinária. Seria um
contraponto com a ABCGIL e seu teste. O laboratório
construído pela ASSOGIR na Embrapa de Goiás possui
o ISO 14000 designado a salas de cirurgias de medula
nos principais hospitais do país. Esse laboratório é da
ASSOGIR! Quem articulou sua saída de lá e por quê?
Isso ninguém fala. O silêncio é total.
Girista.com – Quais as expectativas que o senhor tem em relação ao PMNGir, que não se restringe somente ao Teste de Progênie?
LAPS – Quanto ao teste de progênie nenhuma.
Falam na criação de um Conselho Gestor para administrar o teste como se a simples nomeação de pessoas fosse o suficiente. Não é. Necessário se faz buscar acertos de dados de campo da primeira, segunda
e terceira bateria, e isso custa dinheiro. O mesmo no
que diz respeito às baterias em andamento. Alegam
que o dinheiro existe. Onde? De Leilões com uma
inadimplência exorbitante? De animais doados e
leiloados e não entregues? Dividas com instituições
federais que impedem a busca de recursos para tal?
Parcerias maculadas com instituições privadas que
levaram a entidade ao descrédito? Através de anuidades? O próprio teste hoje não possui unanimidade em sua credibilidade, consultem os proprietários
de touros. Atualmente existem problemas técnicos
que dependem da “boa vontade da Embrapa” e de
dinheiro. Será que a Embrapa irá ter essa “boa vontade”? E o mais importante, quem irá arcar com os
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custos? Os donos de touros que já pagaram pelo serviço? Todavia, a GirGoiás acabou de realizar uma prova de produção de leite em novilhas gir com sucesso.
Elaborada e levada a efeito em nossa administração.
Girista.com – O senhor é candidato nas próximas eleições na entidade? Por quê?
LAPS – Tenho um compromisso com aqueles
que me apoiaram. E não são poucos. O que se tem
visto nas redes sociais são reclamações de viúvas
que choram sobre o defundo como se isso o ressuscitasse. Dei minha parcela ao enfrentar o continuísmo e derrotá-lo. Não me apego a cargos. Sou contra
o continuísmo. Mas também não fujo da raia. Como
foi respondido na primeira pergunta, tenho consciência de minha responsabilidade histórica na instituição. Se escolhido como cabeça de chapa, vou
para as eleições, mas preferiria a renovação. Mas se
recair sobre meus ombros, será um momento interessante para desnudarmos a entidade. Da vez
anterior, não tinha acesso aos absurdos nela cometidos, agora os tenho. Se recair sobre minha pessoa
já antecipo, vou acabar com o instituto da reeleição
e essa chapa com mais de 30 membros cujo intuito
é dificultar a organização da oposição. Isso é inaceitável nos dias atuais. Tenho comigo de que a atual
diretoria deve apresentar uma chapa e disputar as
eleições, inclusive já fui cobrado nisso. Sobre quem
irá capitaneá-la isso pouco importa desde que seja
uma pessoa de bem, enérgica e com disponibilidade
para a associação. Propiciarei eleições limpas. Democráticas. Quem irá decidir sobre os destinos da entidade são os seus associados. E tenho a certeza que
eles saberão o que é melhor para a GirGoiás.
Girista.com - Mágoas?
LAPS – Não. Era oposição e transformei-me em
situação. Tinha consciência das críticas. Isso se traduz
de maneira cultural no país. Sempre estive acima desse palanque stalinista ou do proselitismo coronelista
do século passado. Sabia da falta de respeito com que
meia dúzia de pessoas insistiria em criticar-me. São
sempre as mesmas e o meio girista sabe bem o motivo. Sempre procurei estar acima disso. Mágoa é uma
palavra que não pode fazer parte do vocabulário de
uma liderança, por mais simples que ela seja.
Girista.com – Algum assunto que o senhor
gostaria que tivesse sido abordado nesta entrevista e não foi? Fique a vontade.
LAPS – A revista Girista.com como sempre com
respeito e elegância explora muito bem seus entrevistados, por isso, sua credibilidade a nível mundial.
Como presidente de uma entidade ligada à raça Gir
gostaria de agradecer em meu nome e de minha diretoria aqueles que possibilitam sua veiculação digital. Um projeto ousado, de muita qualidade, responsabilidade, coragem, e acima de tudo, resgatando a
história dessa raça apaixonante.
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Wagney Azevedo Leão com o editor Luiz Humberto Carrião
Wagney Azevedo Leão
À Girista.com muito obrigado pela deferência a minha pessoa. Vou relatar sucintamente as
histórias mais preciosas de nossas vidas.
Sou filho de um dos mais fanáticos pecuaristas de Rio Verde, Garibaldi da Silveira Leão,
casado com Maria de Lourdes Azevedo Leão.
Como todo menino nascido no sudoeste goiano
que os pais tinham condições de estudá-lo, fui
matriculado numa das mais conceituadas instituições de ensino do Triângulo Mineiro, Colégio
Regina Pacis, dirigido por padres holandeses na
cidade mineira de Araguari, de 1946 a 1952, em
regime de internato.
Em 1950 meu pai comprou em Uberaba 110
novilhas Gir do criador Dr. José Humberto dando início a sua seleção. Mais tarde comprou um
touro de nome “Baião”, em Uberlândia. Foi o primeiro Campeão de Rio Verde. Meu avô João Salviano era comerciante em Rio Verde. Minha mãe
estudou em Franca. O comércio com São Paulo
era mais fluente por lá onde ele conheceu muitos criadores de Gir. Franca estava em grande
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evidência. Meu pai conheceu criadores como Tenente Continentino, Jacinto Onório, Levi Fraga,
família Lemos entre outros. Em Araguari, João
de Souza, Calimério de Ávila, Geraldo Debs, Dr.
Belizario e Walter A. Melo. Em Uberlândia, José
Zacarias Junqueira, Família Freitas, Godofredo
Machado, Dimas Machado entre outros.
Meu pai acabava de chegar de uma exposição em Franca e inspirado no que havia visto
por lá teve a ideia de começarmos a fundar uma
associação de pecuaristas em Rio Verde. Reunimos na loja de meu avô, com vários criadores
que iniciavam sua seleção. Acertamos a data
e fomos para a fazenda. Neste intervalo a loja
maçônica sem a nossa presença criou e formou
uma chapa com pessoas desligadas da pecuária.
Assim que souberam que já havíamos dado os
primeiros passos nessa direção recuaram, não
deram seguimento a fundação da tão sonhada
Associação. Isto consta nos anais da entidade.
Foi quando eu próprio propus a reestruturação
da Associação em 25 de Julho de 1958.
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A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
Capa
Wagney Azevedo Leão
(Galeria dos presidentes do Sindicato Rural de Rio Verde/Goiás)
Eu já tinha algumas ideias. Foi quando meu
pai disse “assuma que vamos ajudá-lo”. Eu muito tímido, mas com aqueles princípios de uma
educação muito rígida, parti para a luta. Reuni meus companheiros: Edmundo Rodrigues,
João Orlando, Aluísio de Almeida, Dr. Saulo
Garcia, iniciamos a construção dos primeiros
pavilhões. Viajava diuturnamente convidando
criadores de vários estados. Fomos muito felizes na primeira exposição. Iniciamos o julgamento com três juízes, técnicos do Ministério
da Agricultura. Vai aqui uma frase de meu pai:
“quem não planta e não cria, não tem alegria” e
“quem não aventura não cresce”.
Nós estudávamos e nas férias tínhamos
que aprender as lidas agropecuárias. Com 16
anos meu pai deu-me uma lição ao entregarme 30 touros, um peão e duas mulas dizendo:
“eu quero ver você daqui há 30 dias, com touro
ou sem touro”. Assim parti para a luta. Com 24
dias estava na fazenda sem nenhum touro, e aí,
ganhei por completo a sua confiança. A história aqui é comprida, e nos meus apontamentos
que pretendo publicá-los em forma de livro irei
contá-la.
Fui presidente da Associação Rural por
três mandatos. No Sindicato Rural de Rio Verde, por dois mandatos, o que me orgulho muito. Quem conhece nosso parque sabe do nosso
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trabalho, uma semente que foi bem plantada e
germinou com vigor.
Quanto à seleção começada por meu pai
e seguida por mim tivemos muitas conquistas,
sempre procurando adquirir animais com raça
e estrutura frigorífica, e valorizando o leite.
Nos tempos passados tirávamos leite e desnatava. Uma das mais difíceis atividades, pois não
tínhamos transportes, esses cremes ficavam
até 15 dias na fazenda.
O que me envaidece muito é que fui um
presidente social, nunca cobramos ingresso
da população. Fui convidado pelos partidos
UDN e PSD para disputar eleição em Rio Verde.
Como meu pai havia me pedido para não me
meter em política, recusei os convites de meus
amigos, e assim realizei um sonho de meu pai.
Interessante que ele era compadre dos chefes
das duas agremiações. O sonho que ele não
pôde ver concluído, mas ficou seu nome gravado no parque de Exposição de Rio Verde.
Fui presidente da UDR (União Democrática Ruralista) regional do Sudoeste. Havia em
nosso estado, e principalmente no Sudoeste,
o famigerado clube dos 11, uma facção comunista. Mapearam o município do Sudoeste e
começaram a invadir as fazendas. Foram anos
de incertezas, o Exército Brasileiro chegou a
montar um Batalhão em Rio Verde. Com muita
luta conseguimos desestabilizar essas iniciativas esquerdistas.
primeiro botijão de sêmen em Rio Verde
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Na pecuária destacamos a parceria com o
Dr. Aluízio de Almeida, mais tarde com o pecuarista Hélio Ronaldo Lemos. Fomos os primeiros
a coletar sêmen bovino em Rio Verde. Quando
levamos para lá o botijão de sêmen, as pessoas
não acreditavam. O promotor Dr. Sebastião foi o
primeiro a duvidar, foi preciso levar o botijão a
um laboratório para certificar a veracidade que
os espermas estavam vivos.
Vamos falar agora de algumas de nossas
conquistas nas exposições. Baião foi o primeiro
Campeão em Rio Verde, em 1954, ano seguinte
sagrou-se Campeão na Exposição Nacional de
Goiânia. De lá para cá conquistamos vários prêmios, Feitiço Reservado Grande Campeão em
Goiânia em uma Exposição muito concorrida.
Após a Exposição de Goiânia o levamos para a
Central de coleta de sêmen do Dr. Bezerra. Fizeram uma coleta e mandei-o de volta para Rio Verde. Na mesma semana em que chegou, caiu um
raio no transformador matando o Feitiço e sete
vacas de cabeceira. Em seguida, fiz uma parceria com Hélio Lemos, com o touro Krishna II que
ajudei a adquirir. Krishna II junto com sete vacas
oriundas de Barretos ganhou a medalha de ouro
de melhor conjunto da raça.
Wagney e o governador de Goiás Otávio Lage
10
Com a morte do Feitiço fiquei de braço quebrado, encontrei com o amigo Eleodante Cardoso que me ofereceu um touro de origem R de
nome Reflexo, quando o vi, achei-o muito magro,
mas muito bonito. Comprei o touro e levei-o para
Rio Verde para tratá-lo. No ano seguinte ele participou da Exposição Nacional em Goiânia, onde
conquistou o prêmio de Grande Campeão Nacional de 1978. Poucos meses depois fui convidado
pela ABCZ para levá-lo a uma amostra Internacional em Uberaba para mostrar o gado Zebu brasileiro para os africanos e indianos.
Mesmo com a diversidade da vida não tinha
hora para dormir, foi quando fui acometido de
uma infecção, paralisei-me por total, fiquei um
ano na cadeira de rodas. Já recuperado, continuei
minha jornada em benefício da pecuária e para
não dizer do Gir, paixão que herdei do meu pai.
Fui muito criticado por familiares, acredito
até que falhei em algum momento pela vontade
de acertar na seleção que tomei como religião.
Com amigos e criadores de Gir foram quantas noites que varamos discutindo animais que o próprio
Carrião é uma testemunha viva destes feitos.
Adquiri um filho do Labhagauri do criador
Jace Jacinto, que deixou ótimas filhas leiteiras.
Continuei a epopeia sempre comprando
bezerros de origem conhecida. Adquiri
um filho do Neru Importado com a vaca
Acácia, premiada em Barretos ao criador
Jace Jacinto. Também adquiri algumas
filhas do Marduk e Roopano sendo também ótimas de raça e leite. Mais tarde
adquiri várias filhas do touro Demêncio
do criador Sixto Campos Jarussi, estas
enxertadas do touro Gori II do criador
Turquim(irmãos Murades). Mais tarde
tentando comprar um animal de origem R com muito leite, visitamos várias
fazendas em companhia do Dr.Roberto
Azevedo, Dr.Guido Mohn e Hélio Lemos
fomos à fazenda dos irmãos Collete e
adquirimos um bezerro filho de uma
vaca muito boa de leite, filho do touro
Jangadeiro. Fomos muito criticados pelos criadores, principalmente pelo José
Zacharias. “como vocês quatro vão a São
Paulo comprar uma bosta desta?”. Eu não
comprei um touro de pista, comprei um
reprodutor, aguarde a produção e veremos. Infelizmente ele não pôde ver a
produção do Bolero. Este deixou animais
grandes, bonitos e leiteiros.
Fui discípulo dos mais renomados
Zootecnistas do Brasil: Dr. Barrison Vilares e Dr. Ubaldo Oléa, entre outros.
Na Água Branca, parque de exposições
da cidade de São Paulo tive a felicidade
de salvar um veterinário que estava co-
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A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
Wagney com Douçura da Mata
letando sêmen de um touro holandês. Para mim
foi um milagre, pois era um sábado e estávamos
em 3 coletando. O touro ao invés de montar no
manequim debruçou-se sobre o veterinário mugindo muito, eu não sabia o que fazer. O que encontrei foi um cano de duas polegadas e consegui dar um pancada na nuca do bruto, este caiu
esperneando em cima do veterinário e nós não
sabíamos como tirá-lo dali debaixo, com muita
dificuldade desvencilhamos do mesmo. Perguntei ao colega se ele sabia dirigir, disse que não,
peguei o citroen do Dr. João e levei-o ao hospital
mais próximo do parque. Assim ganhei a amizade e a confiança dos técnicos da Água Branca,
isso foi no ano de 1957, ano em que fiz o curso
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de inseminação artificial que ainda era resfriado.
Ainda utilizamos vários reprodutores: Jalam
Camila, Brinco, Babado ZS, Cassudi ENA e Autêntico da Mata, este vendido ao companheiro Paulo Ferola. Quanto ao Jalam foi uma das maiores
revelações de nosso plantel, que depois foi vendido ao amigo Alberto Motta que o passou ao
Professor Edmardo, mais tarde vendido ao José
Manoel, e foi parar no plantel do Zé Carlos Lobo,
deixando uma prole extraordinária. Na Fazenda
da Mata revelou-se de modo extraordinário, deixando excelentes animais, entre eles a filha Douçura II que ultimamente se revelou como matriz
modelo. Segundo os criadores Paulo Ferola e Ricardo Simões: uma das vacas mais perfeitas do
Brasil. Douçura II é mãe do Bastão da Mata (Autêntico da Mata), Espanto AMJ do Professor Carrião, Bastão 1364 de Antônio Cândido da Silva,
e possui outras dezenas de filhos (as) que ainda
vão se revelar. Fizemos uma parceria com Idelton
Mesquita, Antônio Motta Jr, Alberto Motta, Dr.
Silvio Araújo, Dr.Marcelo (Uniube), José Rabelo
e Dr. Pedro Cláudio Rabelo e por último com o
grande amigo e criador Joel Machado Diniz.
Não querendo alongar-me muito, deixo aqui
minha mensagem aos criadores de Gir: sozinhos
não realizamos nada. Agradeço ao editor da revista Girista.com, professor Luiz Humberto Carrião, a gentileza de relatar um pouco de minha
contribuição pela raça que tanto ajudou a desenvolver o Zebu no Brasil.
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História
Hélio Ronaldo Lemos de A a Z
I de Iansã da Santa Fé
Por Hélio Ronaldo Lemos
Um dia um amigo que me auxiliava nas pistas
de julgamento, chegou e disse que na escola que
estudava havia um professor de História apaixonado pela raça Gir. Falou que o mesmo havia adquirido um touro gir marca SJ, Fazenda São João, de
propriedade do doutor Ene Sab, do Walmir de Faria,
da cidade de Tanabí, interior de São Paulo próximo
a São José do Rio Preto, e que havia reservado junto
no escritório da Pecplan, em Goiânia, alguns embriões da Paquera dos Poções, matriz de destaque da
Fazenda Poções, no município de Jequitibá, Minas
Gerais, de criador Arthur Souto Maior Filizzola. Mas
quem é esse cara? Perguntei. Professor Carrião é o
nome dele. Tem uma pequena propriedade muito
arrumadinha no município de Bela Vista de Goiás.
Depois vim saber que a Paquera dos Poções
não produziu embriões para atender ao mercado,
e que, o professor Carrião havia numa negociação
com a Pecplan, onde esse amigo trabalhava, transferindo a quantia que já havia pagado nas parcelas
dos embriões, por um botijão de sêmen e algumas
doses do touro C.A Everest. Também soube que havia feito um negócio com o João de Faria Filho, da
cidade de Rio Preto, adquirindo algumas vacas do
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Bigatão oriundas de matrizes da Favela, de Aderbal
Góes. Também vieram nessa leva alguns animais da
marca Cal, além de alguns animais da variedade mocha. Amigo do Walmir de Faria, compadre do doutor
Ene, Carrião foi levado por este a Fazenda São João,
onde adquiriu quatro fêmeas: Rivera, Samara, Safira
e Sabá, além de dois bezerros, Sarandi e Saturno. Todos com a marca ENE na cara.
Logo o professor Carrião estreitou uma amizade
com Jairo de Andrade. Com todo respeito digo que
era a tampa e o balaio quando o assunto era pista de
julgamento. Brigões e temperamentais. Mas há que
se fazer justiça ao Carrião. Também conservou uma
amizade muito próxima ao doutor Ene e ao doutor
Aderbal Góes. Com o primeiro o assunto era literatura. Ficavam até altas horas falando de poesias, poetas, escritores e clássicos do romance mundial, com
o segundo, o foco era história, notadamente sobre a
Segunda Guerra Mundial e o Brasil contemporâneo.
Isto não quer dizer que não falavam de gir. Falavam,
mas só que dentro de uma temática histórica.
Num leilão do Jairo em Goiânia, chamado Arca
de Noé, onde se leiloava tudo, até galo cantor, o Jairo
disse ao Carrião que iria a pedido colocar uma novi-
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lha que ele havia comprado em Uberaba na Expozebu. Asseverou ao Carrião que não seria um animal
barato, mas que o comprasse, pois com certeza, seria
o animal que iria projetá-lo no “mundo do Gir”.
Antes do leilão a novilha foi colocada na entrada do recinto. Uma obra de arte. O Carrião era
muito ligado aos jovens criadores de nelore. A quase maioria deles havia sido seus alunos. Quando o
animal entrou no remate, em menos de 30 segundos
estava em 5 mil reais. Naquela época o câmbio do
real estava parelho com o dólar americano. Na mesa
todos diziam para ele dar lance no animal. Relutava
dizendo tratar-se de um animal muito caro. Foi então que um amigo e ex-aluno, Marco Aurélio de Oliveira Fernandes deu lance no animal na “bacia das
almas”. Experiente, levantou e solicitou a planilha de
compra junto à “pisteira” solicitando ao Carrião que
a assinasse. Parece que Marco Aurélio estava adivinhando. Logo umas mesas de criadores paulista reivindicaram a compra do animal. Marco Aurélio endureceu dizendo que o lance final era do professor
mostrando o contrato de compra. Iansã da Santa Fé
pertencia a partir de então ao criatório LHC. Lembrome que foi uma festa no recinto levada a efeito pelos
seus ex-alunos neloristas.
No dia seguinte, pela manhã o Zé Henrique,
meu auxiliar de pista e um dos responsáveis pela
compra do animal, juntamente com o professor cha-
Iansã da Santa Fé em idade jovem
maram-me para ver e analisar o animal. Realmente,
um animal de ponta. De pedigree consistente, embora seus pais, Oitibó JZ e Melissa JZ, vendidos pelo
espólio José Zacarias ao Adauto César de Castro,
secretário da ASSOGIR na gestão do Marco Antonio
Pinsetta, não fossem animais de destaque, mas com
Krishna LHC em vaca Saturno
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Oyá LHC (Panã JZ x Iansã da Santa Fé)
uma ancestralidade fantástica. Iansã era inquestionável. Naquele dia disse ao Carrião que eu tinha um
touro que entrava na Iansã como uma luva, o Krishna II.
Um final de semana, acompanhado pelo Zé
Henrique fui conhecer a Chácara do Carrião. Uma
surpresa. Muito bem organizadinha. Casa sede, casa
de funcionário, várias cocheiras e vários piquetes,
todos eles com cochos para tratar e mineralizar, bebedouros independentes, galpão para armazenar
ração, palha de arroz, sal mineral, bezerreiro, tronco,
etc.. Eis que um momento de preocupação surge. A
dois meses do prazo estipulado pela ABCZ para que
estivesse com prenhes positivada e comunicada a
ABCZ, Iansã nada de cio. Lembro-me que Carrião
ligou para o doutor Casa Grande, na Sembra, em
Barretos, solicitando orientação. E a orientação veio
no sentido de colocá-la no pior pasto da chácara e
esperar. Como? Dizia Carrião. Isso é um pecado. Casa
Grande disse para ele passar as ordens para o peão
e somente ir lá depois que a mesma houvesse sido
coberta ou inseminada.
Num domingo à tarde, encontrávamos num
leilão de nelore na SGPA, debaixo de uma chuva torrencial um telefonema para providenciar a inseminação da Iansã ao entardecer. Carrião e uma fila de
neloristas dirigiram-se para a Chácara Mato Grande.
E lá, pelas mãos do Zé Henrique, Iansã foi inseminada com o touro Panã JZ. O Carrião sempre gostou
muito do gado JZ. No ano seguinte estava Iansã com
um bezerro extraordinário ao pé, Centenário LHC.
Recebeu esse nome em homenagem a 100 anos de
um evento histórico. Esse animal foi vendido pelo
preço pago à mãe e foi para a cidade de Bambuí,
Minas Gerais. Antes mesmo de desmamar a primeira
cria já estava com outra Panã JZ no ventre, Oyá LHC.
Sempre mantendo o refinamento do rebanho JZ.
Depois, na terceira cria foi inseminada com o Krishna II, produzindo o Khrisna LHC, com uma produção
extraordinária leiteira no plantel LHC. A quarta cria,
também com Krishna II, uma fêmea chamada krishna Metha LHC. Com Durango Sat da Favela, Iansã
produziu um animal também extraordinário de leite e tipo. Inúmeros filhos, filhas e netos, dos quais
Dhãrmika LHC (Krishna LHC x Gioconda LHC) ainda
Khrisna LHC
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A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
Dhãrmika LHC (Krishna LHC x Giogonda LHC)
vai dar o que falar.
Tive a oportunidade de julgar Iansã da Santa Fé,
pela primeira vez, na cidade de Santa Helena de Goiás, na inauguração do Parque de Exposições construído pelo doutor Alcides Rodrigues Filho, à época
prefeito municipal e que depois foi eleito vice-governador e governador de Goiás. Dei reservado a
ela. A Grande-campeã foi uma vaca do Wagney Leão
chamada Beldade da Mata. Embora tenha feito o
Grande-campeão com o Saturno da SJ, e vários cam-
Iorubá LHC (Durango Sat da Favela x Iansã da Santa Fé
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A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
peonatos com outros animais, Carrião não aceitou o
resultado. Saiu no dia seguinte como uma raio para
a cidade de Itatinga-SP, numa visita ao doutor Ene
Sab. Com certeza comemorar o Grande-campeonato do Saturno da SJ. O pior disso, é que um jornal da
cidade estampa a foto da Iansã na primeira página
com a legenda da Beldade da Mata como a Grandecampeã da feira.
Numa exposição em Goiânia, o jurado da AGCZ
– Associação Goiana dos Criadores de Zebu – Zacarias da Cunha, teve coragem de dizer ao Carrião o que precisava ser dito.
Que pista de julgamento é momento.
Que embora tivesse uma estrutura extraordinária na Mato Grande, e não fizesse economia com trato, os animais
sempre estavam a desejar. Assim foi
em Rio Verde, Buriti Alegre, Inhumas e
outras cidades. Foi então que contratou
o melhor tratador do país, Zé Botinha.
Fechou vinte fêmeas, o Saturno da SJ e
o Centenário LHC e veio para a pista de
Goiânia. À época, uma pista pesada. Os
criadores que participavam da Expozebu vinham quase todos para Goiânia.
Zacarias havia sido escolhido para
julgar o Gir e Zé Henrique a auxiliá-lo. A
performance dos animais não deixava
dúvidas. Seria a vez da Iansã e de outras
fêmeas extraordinárias como Realeza
do BIG, Rivera da São João, Uraúna da
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Iansã da Santa Fé em idade adulta
São João, esta irmã própria do Saturno da SJ (Jaipur
da SJ x Lili da SJ). Bibi da SJ, mãe de Lili da SJ havia
sido Grande campeã em Uberaba em 1983, Safira da
SJ, Alegria do BIG, Açucena do BIG, Artista do BIG, Petit Fleur LHC, enfim, eram 20 fêmeas e dois machos
na pista.
Todos preparados para o julgamento quando
da bomba! Haviam mudado na noite anterior o jurado. Não era mais o Zacarias a julgar o Gir, e sim, Marcelo Toledo, técnico da ABCZ do Distrito Federal. Para
acabar com a conversa, o Zé Henrique chega à beira
do alambrado e diz ao Carrião que seu gado não havia sido mensurado para o julgamento. O caldeirão
ferveu. Carrião parecia uma onça acuada. E naquele
momento, contava com apoio dos destacados criadores de nelore de Goiás. Feita a mensuração o gado
foi para a pista. Carrião levantou todos os campeonatos de fêmeas, Centenário LHC campeão bezerro
e Saturno da SJ Reservado campeão de um touro do
Fábio André chamado Patamar EVA. Mas isso não é
tudo. Na hora de decidir o Grande campeonato, a indecisão do jurado entre uma vaca vermelha Realeza
do BIG e Iansã da Santa Fé. Expectativa dentro de um
silêncio profundo tomava conta da plateia. Quando
o juiz mandou puxar Iansã como a Grande-Campeã,
Zé Botinha jogou o chapéu para o céu, ajoelhou, fez
o sinal da cruz e chorou copiosamente. Na plateia os
amigos jogavam Carrião para cima como acontece
com os treinadores de futebol campeões.
Atualmente toda a base de recomeço do plantel LHC assenta-se sobre dois animais: Saturno da SJ
e Iansã da Santa Fé. Este um dos animais mais perfeitos que se produziu na raça Gir. Comparada às mais
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belas matrizes do Brasil. Além de beleza, porte, Iansã
da Santa Fé alinhou-se a consistência de pedigree, e
ainda um controle leiteiro oficial pela ABCZ, no ano
de 1993, de 1.607,4 quilos de leite, aferido quando
de sua segunda parição, Oyá do Mato Grande. Nunca conheceu numa pista uma premiação que não
fosse de Grande Campeã ou Reservada Campeã.
Noutro dia, numa dessas nossas conversas sobre Gir, aliás, que se encontra cada vez mais distantes
pela ausência de companheiros que nos deixaram,
que ao enumerá-los causa-nos preocupação, Carrião dizia-me de um tristeza que carrega em relação
à Iansã. Disse que quando foi Grande campeã pela
primeira vez pelas mãos do Zé Botinha, deveria ter
passado a ele aquele troféu. Ninguém mais do que
ele merecia aquele troféu. Por não ser muito ligado
a essas coisas, acabou desaparecendo em uma propriedade sua próxima a cidade de Goiânia. Mas, de
resto só lhe trouxe alegrias. Morreu depois de todas
as tentativas de recuperação depois de uma viagem
cuja debilidade não poderia ter feito. Mas como ele
mesmo diz, tem coisas na vida que a gente não tem
como fugir. Iansã da Santa Fé se foi, isto é verdade.
Mas também outra verdade, é que, jamais girista
algum que viveu esse período em Goiás, quiçá, no
Brasil poderá dissociar a imagem desse animal extraordinário ao professor Luiz Humberto Carrião.
Hélio Ronaldo Lemos, jurado das raças zebuínas,
criador de Gir e Nelore,
Com a colaboração de Luiz Humberto Carrião,
jornalista e editor da Girista.com
girista.com
A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
Matéria
O ovo de Colombo e a
integração lavoura/pecuária
Interessante o que vem ocorrendo no sudoeste goiano com relação à produção leiteira. Ao
contrário do que se poderia imaginar imaginar
o rebanho de pequeno, médio e grande porte
ordenhado não tem o seu sangue fixado em
5/8, que propicia o reconhecimento como raça
pura sintética. Fica em torno do ½ sangue e ¾.
Normalmente, o produtor que tem uma produção considerável, anualmente está substituindo
parte de seu plantel por animais de maior produtividade, por declínio em lactação, eficiência
reprodutiva, por perda de teto, problemas de
casco, morte, etc. Essa substituição ocorre dentro da manutenção do ½ sangue ou ¾ através de
compra. Existe quase que uma unanimidade na
afirmação de que produzir a própria matriz mestiça não compensa financeiramente, se levado
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A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
em consideração o custo da matriz Gir, o sêmen
ou touro holandês ou Jersey (este muito usado
na região), o espaço ocupado na propriedade e
a questão tempo. A matriz produtora de leite é
vista como uma máquina beneficiadora de braqueárias, silagem de milho ou sorgo, concentrado, sal mineral e água em leite. A diferença entre
o que é descartado para a compra de reposição
vale a pena, afirmam os produtores. Existe praticamente uma linha de corte de 20 litros/dia
em duas ordenhas nos currais de mestiças que
entregam seu leite para o laticínio. Nas fêmeas,
um comércio acentuado de animais descartes,
de reposição, novilhas e bezerras acima de 2/4
de grau de sangue.
Agora vamos ao macho, sua excelência
o gabiru. Atualmente o valor desse animal na
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desmama é de 400 a 450 reais/cabeça. Por que
isso? Simples. Devido a sua desvalorização de
antanho, os produtores de leite resolveram recriar, engordar e abater esse animal. Todo curral leiteiro possui uma renda anual ou mensal
através de uma escala de abate que é contabilizada na atividade leiteira. Um aspecto muito
importante para se analisar. O fator carne agregado à atividade principal, o leite. Existem criadores com uma escala de abate mensal de 10
gabirus proporcionando uma receita em torno
de 15 mil reais. Como diz um deles, “o difícil foi
segurar até a venda da primeira escala”. Claro!
A partir de então o ciclo passa a se estabelecer
normalmente. Saiu 10 para o abate no topo da
pirâmide, entrou 10 de desmama na sua base.
Isso é o que se pode dar o nome de pecuária de duplo propósito. O que é diferente
de pecuária de dupla aptidão. O gabiru fica desarranjado até aos 16, quando muito 18 meses
de idade. Depois “vira um tiro” na linguagem
da região. Com isso, plantéis que utilizavam o
touro Jersey em cima da mestiça gir x holandês
desprezaram a raça britânica voltando à holandesa.
Outro detalhe importantíssimo a se observar, é que, em termos de topografia, o que é
mecanizável vai se transformando em áreas de
arrendamento para a produção de grãos, soja
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na safra de verão e milho ou sorgo na safrinha.
Restou à atividade pecuária as terras acidentadas, ou então, aquelas de fazendas maiores
que dividiu entre o arrendamento ou plantio
de grãos e a pecuária.
Concernente ao arrendamento, na safrinha (milho ou sorgo) a cada 15 alqueires o arrendatário deixa para o proprietário da terra
um alqueire. Uns usam para produção de silagem, outros para o grão, utilizando-o na mistura de seu próprio concentrado, e, aqueles
com áreas de arrendamento maiores os dois.
Essa remuneração até bem pouco tempo não
existia. Noutro dia um produtor argumentava
que isso nada significava, pois estava comprando o milho dele mesmo. Correto! Mas a
que preço? Essa compra do milho ou sorgo
dele mesmo passou a ser efetivada depois
que Colombo colocou o ovo em pé. Com isso,
ganha-se com a safra de verão, na proporcionalidade de 50: 1 (cinquenta sacos de soja por
alqueire); ganho na safrinha através do 1: 15
(um alqueire plantado de milho ou sorgo para
cada quinze alqueires de arrendo) e, finalmente, a “palhada” de julho a outubro durante
o período crítico da seca.
Observem que o foco já saiu de uma pecuária de duplo propósito para uma atividade
empresarial rural integrada: lavoura/pecuária.
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Artigo
Criação de novilhas
Gir para produção leiteira
Por Glayk Humberto Vilela Barbosa
O processo produtivo na bovinocultura leiteira é
composto por várias classes de animais, sendo todas
interdependentes de tal forma que o fracasso em uma
delas acarreta prejuízos significantes na produção leiteira de uma propriedade. Dentre a classe animal muito
esquecida pelo produtor, e que determina o futuro potencial de produção em uma propriedade encontram
-se as novilhas, que necessitam de um correto manejo nutricional e profilático para manter o tamanho do
rebanho em lactação. As novilhas têm o que há de
melhor em genética na propriedade e portanto, a disponibilidade de novilhas excedentes para expansão do
rebanho e a venda está ligada ao sucesso de criação.
As novilhas representam cerca de 15 a 20% dos
custos de produção da atividade leiteira, é necessário
acompanhar criteriosamente o desenvolvimento destes animais do desmame até a primeira inseminação,
atentando principalmente para o ganho de peso médio diário durante a fase de crescimento dos animais
que está intimamente relacionado com o manejo nutricional adotado na propriedade.
As novilhas devem ser agrupadas de acordo com
sua idade e seu crescimento. Quanto mais novas, maiores são os cuidados sanitários, além disso, cada grupo
tem exigências nutricionais específicas. Mas isso depende das condições existentes em cada propriedade,
instalações, da disponibilidade de piquetes para o manejo dos animais. Havendo condições, as novilhas devem ser distribuídas em: bezerras até o desmame, novilhas de transição, novilhas pré-púbere, novilhas em
reprodução, novilhas prenhes e novilhas no pré-parto.
O controle do crescimento faz-se com pesagens
mensais através da utilização de balanças e fitas métricas, indicando o correto desenvolvimento das novilhas.
Em grandes rebanhos, este controle faz-se por amostragem ao acaso de algumas novilhas. Como o peso vivo
por si só não é a melhor medida isolada para se determinar o status nutricional dos animais, deve-se fazer a
avaliação de escore de condição corporal, pois auxilia a
caracterizar o desenvolvimento das novilhas. Para tanto, em grandes rebanhos, basta fazer uma amostragem
de ordem de 10 a 20% dos animais de cada categoria e
proceder a avaliação da condição corporal.
Um dos pontos, mas importantes na criação das
novilhas como mostrado é monitorar corretamente a
taxa de crescimento dos animais, evitando o atraso na
maturidade sexual e o primeiro parto, determinando se
as novilhas estão sub ou super alimentadas e conseguindo desta forma um peso ideal no momento do parto.
Na análise de índices zootécnicos da raça Gir, a
idade ao primeiro parto está em torno de 40 meses,
apesar de mais tardia que as raças européias ficam
evidente que neste item existe um reflexo direto no
manejo após desmame e também da endogamia na
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raça Gir que afeta principalmente à reprodução. Em
algumas propriedades com alimentação melhorada
este índice cai para 31 meses. Além disso, não é demais
lembrar que a vida útil de uma vaca Gir é significativamente superior à de vacas européias, sendo comuns
animais com 10 crias em atividade produtiva.
De acordo com Verneque et al. (2008), a idade média ao primeiro parto é outra característica que apresentou redução ao longo do tempo. A tendência de redução na idade ao primeiro parto nos últimos 32 anos foi
de aproximadamente, 4 dias por ano. No valor genético
da mesma característica, a redução foi de 1,5 dia por ano.
Houve uma redução na idade média ao primeiro parto
de 37 dias por ano nos últimos anos e de 8,6 dias por ano
no valor genético desta característica.
O intervalo de partos e idade ao primeiro parto é
variável de grande relevância para qualquer sistema de
produção. Enfim longo intervalo de parto e alta idade
ao primeiro parto implica em baixa eficiência reprodutiva do rebanho e redução na lucratividade dos sistemas de produção.
Verifica-se, assim, que produção e reprodução
podem ser trabalhadas ao mesmo tempo, visando aumentar a lucratividade dos sistemas de produção de
leite em especial à da raça Gir.
A atividade leiteira é uma forma de exploração
pecuária complexa, que deve ser administrada com
profissionalismo e entre tantas variáveis, a criação de
novilhas é fator essencial para o equilíbrio da atividade,
bem como dentro de cada rebanho pelo fato destas
novilhas servirem futuramente na reposição das vacas
adultas. Sendo assim, os fatores mencionados neste
artigo devem ser observados com critério para que o
criador diminua os custos de produção na criação de
novilhas no seu rebanho.
Referência
OLIVEIRA, A.A.de;AZEVEDO,H.C;MELO,C.B.de.
Criação de bezerras em sistemas de produção de
leite. Aracaju: EMBRAPA-CPATC, 2005.8P.(EMBRAPACPATC. Circular Técnica, 1).
SANTOS, G.T.dos;CAVALIERI,F.L.B;MASSUDA,
E.M. Alguns aspectos econômicos e de manejo na
criação de novilhas leiteiras. Balde Branco, São Paulo, p.56-60, mai/2001.
VERNEQUE, R.da S.et al. Melhoramento genético do Gir Leiteiro no Brasil. Informe Agropecuário,
Belo Horizonte,v.29,n.243,p.34-p.44,2008.
Glayk Humberto Vilela Barbosa
Zootecnista, B.Sc.Graduado pela FAZU (Faculdades Associadas de Uberaba).
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A baixa qualidade dos serviços
prestados pelas empresas de
telefonia móvel e transmissão
de dados na área rural
Por Patricia Sibin
O Dicionário Prático Ilustrado, raridade que
data a edição de 1955 , anotou, conjuntamente, ao
significado de TELEFONE a ideia de que “O princípio
da telegrafia sem fio já foi aplicado com excelente
êxito ao telefone e tudo induz a crer que, num futuro próximo, a telefonia sem fio entrará no domínio
da prática”.
A ideia sobre internet nem se cogitava, mas estudiosos daquela época afirmavam que o progresso tecnológico da telefonia sem fio, estava prestes à
acontecer. Não estavam errados nas suas previsões,
contudo, passados 58 anos desta perspectiva, o
avanço apresenta lento e problemático.
Na área rural revelamos um progresso tecnológico capacitado e especializado pela utilização
de vários instrumentos de trabalho, tais como,
computadores de mão e programas de computadores específicos das atividades agropecuárias, o
que permitiu um crescimento gigantesco para o
agronegócio brasileiro.
Ocorre que, ao vincularem a evolução dessas
novas ferramentas e técnicas de trabalho rural com
o progresso da telefonia sem fio e do serviço de
transmissão de dados, sendo aquele dependente
exclusivamente deste, o agronegócio vem sofrendo prejuízos por conta da má qualidade dos serviços prestados pelas empresas concessionárias tanto de telefonia fixa, como móvel e de dados.
De forma quase idêntica a problemática gerada no fornecimento de energia elétrica, tema de
nosso artigo publicado na 2ª edição, a telefonia e a
internet rural estão causando vastos prejuízos aos
agropecuaristas e a todos os profissionais dependentes desses serviços na área rural.
A nosso ver, a razão dessa baixa qualidade dos
serviços, resume-se na carência de planejamento
governamental e privado, tema já desenvolvido
por nós em edição anterior.
Do que adianta a evolução tecnológica sem
planejamento para estruturar todo esse avanço?
No Brasil, por conta da Copa de 2014, as mais
novas e altas tecnologias de telefonia e internet
estão sendo implantadas nas cidades sede, preocupam-se com as aparências, com os interesses de
poucos, se sobrepondo ao setor que mais contribui
para a economia brasileira, o agronegócio.
O contrassenso é gritante entre os investimentos para a Copa de 2014 e os investimentos na te20
lefonia móvel rural. Especialistas dão conta de que
2013 poderá ser o ano do apagão na telefonia móvel, pasmem os leitores.
Em julho do ano passado o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, em entrevista a Revista Dinheiro Rural , afirmou que:
“Temos uma dívida antiga com a população
rural brasileira, que não tem acesso a serviços de telefonia e internet de qualidade” ... “O governo está
empenhado em acabar com o isolamento de algumas regiões agrícolas, mostrando amigavelmente
às operadoras o potencial do segmento.”
Ora, os agropecuaristas já demonstraram o
verdadeiro e grande potencial do agronegócio brasileiro, tanto que é a célula mater para a economia
do Brasil, mas o Poder Executivo discursa muito e
pouco realiza em investimentos na área rural, fato
este demonstrado pela má qualidade dos serviços
realizados pelas empresas responsáveis no fornecimento dos serviços de telefonia e internet.
A interligação dos Ministérios brasileiros já seria um caminho capaz de atingir propósitos específicos como o avanço na tecnologia desses serviços,
contudo e diante da proximidade da Copa de 2014,
estão mais preocupados em mostrar um Brasil de
falsa ilusão ótica.
De toda sorte, acomodar com a situação não
é, definitivamente, o ponto forte dos agropecuaristas, razão pela qual, resolvemos discorrer sobre o
tema esclarecendo alguns pontos relevantes para
a responsabilização das empresas de telefonia, na
tentativa de amenizar os prejuízos.
Sabemos que o lucro faz parte do processo
econômico-financeiro de qualquer empresa, mas
quando este ganho está intimamente ligado a baixa qualidade na prestação do serviço, causando
prejuízo a outrem, o Direito incide para fazer cessar
o desequilíbrio negocial.
Hoje em dia, as empresas de telefonia móvel e
pacote de transmissão de dados são os alvos mais
acionados perante o Poder Judiciário, devido as
constantes interrupções e falhas na continuidade
dos serviços prestados.
Na sua grande maioria, as ações judiciais são
julgadas totalmente procedentes, as empresas
geralmente são condenadas a pagar quantia em
dinheiro como indenização pelos prejuízos materiais e morais, mas ainda assim, permanecem
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nas reiteradas condutas, num total desrespeito
aos seus clientes.
Diante desse fato imaginamos que o lucro
dessas empresas demonstra absurdamente maior
que as condenações judiciais, pois estas não estão
sendo capazes de desestimular a prática do ilícito
empresarial.
A fim de exemplificar, o agropecuarista que tiver o sinal e o serviço interrompido na sua propriedade em razão, por exemplo, de má-instalação de
infraestrutura de sistema de telefonia ou transmissão de dados, quer sejam fixos ou móveis, pode ingressar com ação judicial comprovando, para tanto,
o dano e a relação da causa deste com a conduta
da empresa.
Além disso, caberá ao Julgador, a mensuração
da quantia indenizável a título dos danos: materiais
e morais, levando em conta o tempo da interrupção do serviço, as circunstâncias do ocorrido, a reincidência nas condutas e os prejuízos comprovados
através de provas escritas e orais conforme o caso
apresentado.
Também a título de exemplo, em caso recente,
o Juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de São João da
Boa Vista, Estado de São Paulo, com muita propriedade na análise do caso , condenou a operadora
“TIM CELULAR SA” pela falta de regularização na
contratação de plano ofertado. A empresa “Leite e
Corte Agropecuária e representações Ltda- EPP” requereu a portabilidade do número de telefone para
a TIM, mas esta dentre outras condutas, deixou de
entregar o chip para a finalização da operação de
portabilidade, sendo condenada pelas irregularidades contratuais e os prejuízos advindos dessa
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conduta no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) a
título de indenização.
No destaque, vale ressaltar alguns trechos da
referida sentença que traduz a realidade brasileira:
(...) “Nesta linha, o Ministério da Justiça divulga
em seu site (www.mj.gov.br/dpdc), as empresas que no Brasil, mais desrespeitam o consumidor e, como não podia deixar de ser, os primeiros lugares são ocupados pelas empresas
de telefonia”
(...)
“Currial, que no momento de assediar o consumidor, a requerida apresenta-lhe produtos
e serviços da mais alta tecnologia e, no momento de executá-los furta-se sua obrigação
alegando incapacidade técnica e outras desculpas relativas ao sistema, mas que na verdade simplesmente revela a ineficácia do serviço
oferecido”.
(...)
“Em síntese, o consumidor cumpre sua parte
no contrato, mas a requerida, desrespeitando-o, suspende serviços de telefonia, reclama
multas e outras obrigações indevidas, frustrando a expectativa do consumidor, além de
consumir suas forças físicas e psicológicas no
purgatório que é o seu serviço de 0800.”
Finalmente, acreditamos que os agropecuaristas e todos os profissionais que necessitam e dependem de tecnologia da telefonia e de transmissão de dados nas áreas rurais, exijam seus direitos,
para que assim, a trajetória de sucesso do agronegócio não caia no vácuo governamental.
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Abismos
Rio Araguaia/Goiás
Natureza brasileira
no século XXI
Por Pedro Wilson Guimarães
Muita gente fala de abismo fiscal quando as
contas financeiras não são compatíveis, entrosadas, sustentáveis. É quase senso geral quando um
município/cidade, um estado e mesmo a união não
fecham as contas. A gente mesmo tem época que
deve mais do que pode pagar, mas um dia paga
com arrochos, cortes, economias. São atos, coisas
que a sociedade capitalista arruma. Desarruma. Arruma, normalmente com desarranjos, perdas maiores e mais contínuas, para os mais pobres. É somente ler as histórias da quebra e queima do café,
moratória zebuína, queda da bolsa de N. Iorque.
Crise de Wall Street dos USA. Quebra dos países europeus, Japão et caverna. E tem gente tupiniquim
que joga culpa nos governos emergentes e mesmo
nas novas classes médias sociais que insistem em
comer mais morar, estudar e pasmem viajar. E consumir mais e melhor porque mesmo em crise, tem
salários. E a políticas sociais que fazem milhões de
famílias classes médias e pobres terem alimentos.
22
Terem um lugar com sol, chuva, cerveja, tvs, sofás,
casas e até carros? E vão e entopem os supermercados, as rodoviárias e mesmo os aeroportos. Estas
classes emergentes não tem jeito mesmo. Ah! Sabíamos todos que assim este povão de Deus vai atrapalhar as copas e as olimpíadas e paraolimpíadas?
Este pessoal emergente vai até para os estados unidos americanos dos nortes, terras santas, europas.
E agora estão liberando passaportes/vistos porque
precisam de nossos dinheiros salariais, plenos empregos que os caolhos dos partidos midiáticos golpistas insistem em falar do abismo dos USA? Pode?
Pode sim, pois temos uma democracia com liberdade de expressão que muitas vezes é convenientemente confundida como propriedade de imprensa.
E de rádio, tv que, aliás, é concessão pública, mas
que é tratada com capitania privada, hereditária
mais dura, selvagem que o latifúndio feudal capitalista. Não se lembram de que sempre apoiaram as
ditaduras civis e militares aqui e alhures? Alguém
pode falar, mas isto é passado, prá frente Brasil. Não
girista.com
A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
enfrentando além dos abismos fiscais aqui e acolá?
Insistimos em buscar a história, a memória, a verdade para termos justiça. E paz social, para índios,
quilombolas, ribeirinhos, brancos, migrantes, desde os pequenos aos grandes negócios que fazem
produções e consumos responsáveis, orgânicos,
saudáveis, sustentáveis. Vamos ajudar os USA com
nossas viagens, nossas exportações para alimentar
com segurança, quantidade, qualidade nosso povo
e o mundo. Nós podemos? E somente avançarmos
com produções rurais e urbanas que fazem crescer
o Brasil com inclusão social e proteção ambiental
neste século XXI. Vamos ouvir as críticas de nossos
adversários antagônicos, fortes e firmes nas defesas do estado mínimo, consenso de Washington,
subordinação exterior, doação de rádios, tvs para
reeleição. Vamos pagar pelos nossos erros, falhas
na justiça. Vamos também continuar ganhando
eleições, alianças, refazendo e fazendo o Brasil crescer, incluir e proteger nosso povo e nossa natureza.
Vamos mostrar e demonstrar nossas virtudes e defeitos e corrigí-los. Vamos mostrar nossas virtudes
e de nossos aliados partidários e dos movimentos
sociais, ambientais, culturais por um novo Brasil. E
América latina desenvolvida com juros mais baixos,
com impostos mais baixos, mais empregos, concursos públicos, mais copas, olimpíadas. E o povão de
Deus sempre trabalhando, fazendo. E fazendo a sua
parte. E o Brasil melhorando as condições de vida
e trabalho, moradia, saneamento, educação, lazer,
cultura. O povão também gosta de música, cinema,
teatro, shows, futebol. E dos rios araguaias, vermelhas, almas, serras das mesas e águas quentes,
mares, praias, folias, sambas, tangos, rock, hip-hop,
poesia, mel e leite. E de viajar de avião, porque,
não? Deus fez o mundo para todos os homens e
mulheres do planeta azul ou não? Quem viver verá
e viverá. Vamos disputar ganhar e até perder eleições e copas, mas sempre vamos torcer pelo Brasil
ganhar, crescer, incluir e proteger seus biomas. E
suas cidades num desenvolvimento econômico e
social que deixe o Brasil não cair num abismo ecológico. Desenvolvimento com santa aliança com a
mãe natureza, sempre com seu povo.
O mundo tem abismo fiscal, mas, tem amplas possibilidades de termos abismos ecológicas.
Abismos ambientais que vem da natureza e principalmente que vem por obra e ação humana das
economias centrais dos capitalismos selvagens e
rurais com as fraudes continuadas nas bolsas. E nas
bancas, ações, hipotecas falseadas, derivativas e
paraísos fiscais. E com as manipulações de libores,
falsos contratos, falsos empréstimos, sonegações,
lavagens de dinheiros provenientes dos jogos, narcotráficos e corrupções escondidas. E de manipulações das contabilidades desde bancos cruzeiros
do sul, bvas, bens, brothers lemmans, maddoffs,
muldoffes? De onde vieram e para onde foram? O
mundo vive a espreita de uma nova crise capitalis-
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A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
ta. Será a última?
Não. O que agora temos a dizer,
fazer é que não
vamos
pagar
sozinhos pelas
crises dos falsos
capitalistas daqui e de alhures.
Podem mais os
novos
representantes dos
antigos
ipes/
ibads agora nos
institutos milênios, seculares,
de todas as conexões? E que gostam de falar mal
dos
niemeyers,
lulas, dilmas, hollandes, chaves, evos, cristinas, bersanis? Porque não gostam? Gostam eles são destes
líderes das direitas escondidas e envergonhadas
de escrever balelas nas grandes mídias através de
constancios, reinados, vilasvelhas, senis, magnosos,
ferreiras, jabores? E de outros menores e copiadores regionais que ficam mandando e-mails para
postas restantes de jornais próprios? Ou abertos
para inviabilizar lideranças políticas que querem
mudar o mundo para uma política mais humana e
mais geral para todo ocidente a oriente?
O abismo ecológico está vindo ai? E com as
mudanças climáticas, desgelos, degradações de
terras e águas, monoculturas, guerras, bombas, terrorismos de estado e de grupos, êxodos, desertificações, desmatamentos e queimadas, controles de
sementes, insumos, lixos, agrotóxicos, aglomerados
urbanos, metropolitanos? Tudo isto sem políticas
sustentáveis, saudáveis, podemos. Nós podemos
criar um, dois, três mil abismos ecológicos destruindo biomas, nascentes, covais, florestas, rios, mares,
parques, reservas, ecoturismos, agroecologias, faunas, ares, bons ares, buenos aires. É preciso combater abismos fiscais. E os abismos ecológicos por que
há muito tempo alguém disse que o que acontecer
com as terras/águas acontecerá com a humanidade. Lembremos que a natureza não será nunca infinita, se não tivermos desenvolvimento econômico
e social sustentável, saudável, solidário para e por
todos os homens e mulheres de Deus.
Pedro Wilson Guimarães. Secretário da Prefeitura Municipal de Goiânia/AMMA – Agencia Municipal do Meio Ambiente. Prefeito e Vereador de
Goiânia. Deputado Federal de 1993-2011 PT/GO.
Professor da UFG e da PUC-GOIÁS Militante dos
Movimentos de Direitos Humanos, Fé e Política,
Educação, Cerrados e Participação Social. E-mail:
[email protected]
23
Confissões Sexagenárias
Aberta temporada de caça a
adjetivação terminada em “eiro”
Por Luiz Humberto Carrião
O sufixo “eiro” derivado do latim “arius” formador de adjetivos indicando ofício, origem e
outras situações compõe a palavra VERDADEIRO = (verdade + eiro), classificada gramaticalmente como adjetivo do gênero masculino
significando, segundo o dicionário Michaelis 1.
O que é conforme a verdade; em que há verdade; que se harmoniza perfeitamente com a
natureza das coisas. 2. Genuíno. 3. Que existe
realmente; que não é fictício; real. 4. Que é tal
como deve ser; autêntico. 5. Não simulado; sincero. 6. Que é realmente o que parece; que não
tem mistura; puro. 7. Com que se pode contar;
certo, seguro, fiel. 8. Que fala verdade. 9. Exato.
Verídico.
A palavra “padrão”, classificada gramaticalmente como substantivo e de gênero masculino, significa segundo o dicionário Novo Aurélio, 1919 – 1989, [Do latim “patronu, ‘protetor’”.]
S. m. 3. P. ext. Qualquer objeto que serve de
moldura à feitura de outro.
Padrão foi uma palavra utilizada no Brasil com a finalidade de diferenciação entre o
animal importado e seus descendentes (com
chifres) registrados no Herd Book Zebuíno, e,
posteriormente, pelo Serviço de Registro Genealógico (SRG) da variedade mocha (com ausência de chifres) criada no Brasil a partir do chamado mocho nacional.
“Leiteiro” = leite + eiro é palavra classificada gramaticalmente como adjetivo de gênero masculino qualificando o animal Gir. Se
utilizada a palavra “Leiteira”, isto é, “Gir Leiteira” qualifica-se a raça, uma vez que o adjetivo
acompanha em gênero o substantivo. Até então a expressão “Gir Leiteiro” qualifica o animal,
aquele indivíduo e não a raça.
Para Berbault, em Dur la nomeclarture dês
plantes cultivées, enquanto a hereditariedade
não for verificada e experimentalmente comprovada, há simplesmente “forma” que pode
ser definida “como sendo um conjunto de indivíduos recém originários de um cruzamento ou
de uma aclimatação, cuja herança é ainda uma
incógnita”.
Para Octávio Domingues, sub-raça ou variedade é uma subdivisão da raça, ou seja, “é
um conjunto de animais que variam sem saírem
dentro da raça, mas com caracteres que as distingue da massa da população étnica primitiva”.
Exemplo disso, a variedade mocha na raça Gir
com a ausência de chifres em relação à popula24
ção étnica primitiva.
O mesmo Domingues assevera que só podemos falar seguramente em raça “quando os
reprodutores para multiplicação dela foram tirados da própria população étnica em seleção;
quando nenhum reprodutor de outra raça for
convidado a intervir com seu sangue no melhoramento que se deseja; quando sua descendência oferecer um grau de uniformidade visível,
patente, por duas gerações seguidas, no mínimo”. Que significado pode-se dar à expressão
usada por Domingues “grau de uniformidade
visível”?
Um cruzamento absorvente induzido na
busca de um gene de outra raça para determinar sobre características quaisquer, o produto
desse cruzamento, não pode ser classificado
como raça. “Raça é um conceito para categorizar diferentes populações de uma mesma espécie biológica desde suas caracterizações físicas”,
royalties a Reigy Braz, no Facebook, grupo Turma do Gir, 02.04.2013. Reigy fala em conceito,
termo de origem no latim “conceptus” do verbo
“concipere”, que significa coisa concebida ou
formada na mente. Fala também de “características físicas”. Por mais extensa que seja a lista de
conceitos aplicados à raça Gir, ela sempre era
Gir. Tão somente Gir. Conceitos e qualificações
fazem parte de uma crença: nem melhor, nem
pior. “Crenças são produto do cérebro: modelos internos que criamos para explicar acontecimentos sistemáticos, não importam se baseados em evidências ou não, dentro dos quais
nossos valores e experiências de vida se encaixam...”, royalties a Suzana Herculano-Houzel.
Assim que o criador e selecionador de gir
goiano Bráulio Afonso de Morais usou do adjetivo “verdadeiro” para qualificar um animal
gir na rede, o reboliço foi total. Os girleiteristas
reagiram de chofre. Não houve uma interpretação de que estava qualificando o sujeito, e sim,
colocando como falso o “Gir leiteiro”.
A leitura coletiva de que em meios às incertezas pelas quais passava a raça e com o
avanço da nelore sobre os pastos de brachiaria
e o mestiço nos currais brasileiros, ao dar a ela
uma funcionalidade exclusiva, o leite, acabou
criando uma marca poderosa: Gir Leiteiro, muito bem administrada por criadores, consumidores, investidores e pesquisadores renomados.
Não se pode negar o sucesso do marketing empreendido. Até então, o que era tido como um
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Saturno da São João (Jaipur da SJ x Lili da SJ) formador do rebanho gir LHC
problema do IBAMA passou a dominar as pistas,
os leilões, vendas de sêmen, embriões, quantidade de argolas na principal feira zebuína brasileira, a EXPOZEBU. Algo até então inimaginável.
Não tem como não reconhecer a competência
comercial advinda da marca Gir Leiteiro. Outra leitura é de que a funcionalidade exclusiva
dada à raça, o leite, se por um lado criou uma
marca poderosíssima, por outro levou a uma
única real finalidade de seleção: a comercialização de genética. Todo cidadão que adquiriu
10 vacas e algumas doses de sêmen de touros
provados no teste de progênie do Gir leiteiro
anunciou-se como selecionador, produtor de
genética. O mesmo aconteceu com muitos criadores que redirecionaram seu trabalho no Gir.
No momento em que o mercado dá sinais
de exaustão, o mestiço avança numa progres-
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são geométrica sobre os currais brasileiros de
um lado, e a soja e cana sobre as pastagens do
outro, GIR VERDADEIRO tornou-se consciente
ou inconscientemente, uma ameaça. E não é
por um acaso ou desejo divino. Altas lactações
desacreditadas, artificialismos condenados,
avaliações zootécnicas contestadas, propostas
de aferição em Concursos Leiteiros sobre a produção de sólidos, animais qualificados como
“padrão” muito próximo das lactações “leiteiras”, ½ sangue gir padrão x holandês desmitificando discursos acabados, investimentos analisados, prejuízos contabilizados, etc.. Às vezes é
esquecido que o mercado não é contra nem a
favor, ele existe.
Luiz Humberto Carrião
Jornalista Profissional e editor da Girista.com
25
Leitura
Uberaba e o fetiche do Zebu
Elza Hermínia
Por Luiz Humberto Carrião
O livro é fruto de uma dissertação apresentada
ao Mestrado em Ciências e Valores Humanos da Universidade de Uberaba.
Uberaba e o fetiche do Zebu - Uma paisagem
da História de Uberaba e da influência do Zebu em
sua formação econômica, social e política – foi escrito por uma odontóloga e professora universitária
uberabense que se identifica como “um marinheiro
de primeira viagem que parte em busca de um horizonte maior para redescobrir a vida que, ignorada,
palpitava há muito à sua volta. Uma odontóloga
decidida a desviar-se o funil imposto pela profissão
para alçar o livre voo da transdisciplinaridade”.
“A ‘roça’ não foi para mim uma paisagem apenas familiar, vivi a roça”. Assim a autora justifica
conhecer bem o tema abordado como ela mesma
diz: “conhecer a história da minha gente, achar o
fio da meada que fez o gado Zebu influenciar toda
a sociedade e determinar um processo de fetichização que transcendeu fronteiras e se disseminou
por esse mundo afora”.
Na introdução romanceada e cheia de detalhes
descreve as delícias rurais de sua infância e adolescência que não apagaram de sua memória quando se urbanizou para o complemento educacional
rumo a uma graduação. “Mas há um tempo em que
os sonhos da juventude nos afastam da ingenuidade da infância e nos levam a conhecer o gosto de
outras lágrimas tão diferentes daquelas vertidas na
barra do vestido da mãe quando um simples beijo
nas faces molhadas curava qualquer dor. Depois
vem a maturidade e nos recoloca frente às recordações. Novas lágrimas nascem quentes e cientes de
que nada volta. Daí o querer ressuscitar a vida na
restauração das recordações como compensação de
algo perdido. Uma busca de voltar às raízes para não
deixar morrer o que de mais puro se tem por dentro
e que os acontecimentos vão aniquilando, quase a
matar. Assim nasceu esta tese, da saudade de viver
de fato e de direito, do desejo de falar de coisas que
eu trazia no sangue, vividas, experimentadas muito
longe dos bancos da universidade.”
A autora justifica a escolha do tema na busca de
compreender como o Zebu, de origem indiana, determinou e ainda determina na terra “que acolheu seus
passos até a maturidade”. Após historiografar a origem
da cidade de Uberaba, em várias vertentes: a política,
social e econômica antes e depois do Zebu, conclui: “o
status só existe se houver o seu reconhecimento pelo
grupo, ou seja, ele só existe em relações”. Exemplifica:
“Deve-se avaliar que o grupo estudantil praticamente
aderiu à moda country, independente de pertencer
26
ou não a famílias ligadas à atividade pecuária, mas
em Uberaba, esse movimento se potencializa devido
à força do símbolo Zebu na cidade, e quando eles se
identificam com o estilo cowboy se apropriam de uma
arrogância, que é mais encontrada naqueles que não
são descendentes de pecuaristas do que nos próprios
filhos dos pecuaristas. Pode-se dizer que aí se percebe
o processo de fetichização do ícone”.
Uberaba e o fetiche do Zebu - é uma obra que
se diferencia pelo seu propósito, riqueza de pesquisa
e acima de tudo coragem. Desnuda todo um status
passado de geração a geração iniciada com a compra de um touro identificado como Lontra, “um puro
zebu indiano, presente de um marajá ao imperador
D. Pedro II. Esse boi teria sido doado a um médico,
cujo nome batizou o boi, que o teria vendido ao Coronel Antônio Borges Araújo. Já nesse período iniciava-se a valorização fetichista do zebu. Comprado
por grande quantia em dinheiro, quando vendido
para outro fazendeiro teve como comemoração da
negociação uma grande festa ocorrida nos salões da
Prefeitura Municipal de Uberaba”. Hoje, os megaleilões durante a Expozebu cumprem esse papel negociando por milhões 50% de um animal zebuíno. Com
a utilização da televisão o evento passou a ter uma
verdadeira produção televisiva transmitida para o
Brasil e o mundo. Mas isso, não impediu a presença
de zebuzeiros de todo o Brasil e exterior nesses eventos, conforme informação do superintendente da Infraero, Reginaldo Rodrigues, “que em dias normais o
tráfego de aeronaves é bem reduzido, limitando-se
a 02 aeronaves com voo diário de passageiros, 01
aeronave de instrução e 03 taxis aéreos, e que este
número aumenta consideravelmente no período da
Exposição, quando os grandes pecuaristas do Brasil
e do Mundo para Uberaba se deslocam. Segundo
Superintendente Rodrigues, no dia do leilão da Chácara Mata Velha foi preciso dispensar trinta e duas
aeronaves para outros aeroportos da região devido
ao mau tempo. No gráfico de pousos dos dias 1º a
05 de Maio o aeroporto usou toda sua capacidade
de atendimento de pouso de aeronaves particulares,
militares e taxis aéreos, além dos voos de carreira”.
Na abordagem política a autora reporta a
Gilberto Velho, que em Individualismo e Cultura,
aborda a questão da dimensão do poder e da dominação na construção de uma hierarquia. Segundo Velho, cada categoria social tem o seu lugar no
mapa da hierarquia organizada quando estereotipa seus personagens.
A autora para ilustrar a força política que muitas vezes essas famílias exercem sobre a sociedade
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cita-se uma das pioneiras na introdução do Zebu
em Uberaba. Os membros desta família, cujo nome
mantém em sigilo, aparecem no quadro político
uberabense desde sua formação partidária, ocupam
as páginas sociais com absoluta frequência, ainda
mantém seu poder político e ocupa sempre lugar
de destaque nos eventos da cidade. Em um período de vinte anos viu-se um deles ocupar o cargo de
prefeito duas vezes. Sua força política elegeu outro
ligado à família, que elegeu outro que, embora não
sendo administra a cidade à sua sombra. Ainda que
muito deles já não tenham mais nenhuma ligação
com o Zebu, o fetiche permanece, pois a história
não se apaga. Por isso talvez Uberaba não perca essa
característica conservadora e tradicional, impedindo
-a muitas vezes a caminhos mais ousados. O “novo”
vem surgindo ainda que a passos trôpegos. A altiva
classe ruralista que ainda se mantém no vértice da
pirâmide social, vive ainda de uma lembrança, sobrevive de uma nobreza virtual, provavelmente porque o Zebu seja ainda a “cara” de Uberaba.
A sociedade uberabense era patriarcal, rural,
conservadora e fechada. No rural predominou num
primeiro instante a pecuária, que na visão da professora Eliane Mendonça “produziu uma nobreza
local que atingiu o auge da aristocratização na era
do Zebu”. Mas, o fetiche destas raças mantém vivo
ainda hoje aquele glamour, mesmo com a força
econômica advinda pelo seu polo universitário, das
usinas de cana de açúcar, no município e nas cidades vizinhas, do seu polo industrial e mesmo com
a plantação de grãos, onde é detentora de 10% da
soja produzida pelo estado de Minas Gerais com
quase correspondência no milho, produzido na
chamada safrinha. Uma frase traduz bem tudo isso:
O Zebu é a promoção do homem, dita algures. Desconsiderar que a festa do Zebu na cidade de Uberaba é a maior do mundo é faltar com a verdade. Só
que, atualmente é patrocinada por criadores de outras partes do Brasil. Até bem pouco tempo, questão de 10 anos atrás, era a Associação Brasileira dos
Criadores de Zebu, ABCZ, a maior empregadora da
cidade e com os melhores salários da região. Mas
isto sustentado pelo registro genealógico das raças
zebuínas a ela delegada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento de forma cartorial.
Mas, no entender desse “escrevinhador” não se
pode depositar na pecuária zebuína, no fetiche do
Zebu, no estanque político ainda presente em forma de “coronelismo” sua paralisação como querem
alguns no tempo e espaço. Há que se reconhecer o
progresso alcançado pelas duas cidades pontas: de
um lado Ribeirão Preto, no estado de São Paulo e
de outro a vizinha cidade de Uberlândia. Como disse certa feita Manoel Dantas Villar, ilustre pecuarista
nordestino, Uberaba foi acometido pela síndrome
do eixo, para ela o mundo só existe no perímetro
do Rio Grande ao Rio Tejuco. Quiçá, pelo fetiche do
Zebu pedra angular da tese defendida pela autora.
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A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê
Outro aspecto interessante é destacado em relação à sociedade Uberabense refere-se a um baile
tradicional de antanho nominado Baile do Presidente. Nele a alta sociedade recepcionava o presidente
em visita para a inauguração da exposição. Ali, Juscelino Kubitschek de Oliveira valsou por várias vezes,
como governador de Minas e posteriormente como
presidente da república. Hoje é conhecido como
baile do cowboy, ainda no espaço do Jockey Clube.
Mas o que dizer desse momento mágico de outrora:
“Anteriormente era um evento que primava pelo requinte e havia uma seleção social onde apenas um
grupo social participava: o dos grandes criadores
de Zebu e outros de mesmo nível socioeconômico.
Hoje, a festa popularizou-se e as portas do mesmo
clube são abertas também a não sócios através de
venda de ingressos a preços mais acessíveis a um
grupo social que antes jamais teria acesso. Porém
nota a professora da Universidade de Uberaba,
Tânia Meirelles, que dentro do clube é evidente a
distinção que se faz entre um grupo social e outro,
visto que o grupo de elite ainda ligado a antigos
padrões de seleção como poder econômico, social
e outros, ocupa um camarote bem acima e o outro
grupo social, da população que nunca antes pode
frequentar o clube, fica restrita a um espaço mínimo, cercado “como gado”, praticamente sem condições confortáveis para desfrutar o Baile”.
Uberaba e o fetiche do Zebu – uma obra necessária àqueles que desejam entender a relação
entre a cidade mineira e o Zebu.
Luiz Humberto Carrião
Jornalista Profissional
e editor da Girista.com
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Histórias e estórias de Tiãozinho Cunha
Por essa ninguém esperava
Por Luiz Humberto Carrião
Isso aconteceu lá pras bandas da freguesia Cachorro Deitado. Freguesia é
a designação dada em Portugal a menores divisões administrativas ao que por
aqui são chamados de distrito, isto é, pequenos núcleos urbanos que pela legislação ainda não obteve o número populacional para sua emancipação e por
isso, é administrada pelo município ao qual está vinculado.
Dizem que o local era parada obrigatória aos pescadores que saiam da cidade a pé, a cavalo, de carroças, bicicletas e lambretas em busca do Bom Jardim, o rio mais piscoso da região. No início se resumia numa Venda. Um pequeno estabelecimento comercial feito de palanques de madeira roliça forquilhada
nas pontas para o encaixe das vigas, sustentando caibros e ripas, também roliças, de madeira pindaíba tiradas na lua nova. A cobertura era de folha de buriti
numa amarração muito bem feita. As paredes de pau a pique, revestidas de uma
massa obtida a partir de terra de formigueiro com estrume de bovinos, fixadas
sobre longos pedaços de bambu, também amarrados com cipó. Uma única porta de madeira maciça em três tábuas, onde o proprietário, “seo” Joaquim benzia
contra cobreiro, queimadura de taturana, picada de insetos, cobras venenosas,
e por aí vai. Uma janela na parte da frente ao lado da porta e duas nas laterais.
Todas também com três folhas de madeira maciça, igualmente ao modelo da
porta trancada por tramelas. Ao fundo, uma contiguidade dessa construção
que lhe servia de residência ligada através de um vão de porta, destacado por
uma cortina feita de uma fita plástica que se usava para cobrir as manoplas do
guidão de bicicletas. Um velho balcão de madeira com vitrines de vidro, duas
mesas, sendo uma em cada canto do cômodo acompanhada de três cadeiras
cada, e, finalmente uma prateleira com bebidas de dose e outra com sabonete,
pasta dental, sabão de barra, fumo picado, querosene, comprimidos analgésicos, palha de aço, etc.
O nome surgiu pelo local servir de descanso para os pescadores e os cães
que os acompanhavam. Uma casa aqui, outra acolá, de repente um vilarejo. Ali,
uma criança assim que começou a falar, só se expressava aos gritos e através de
uma única palavra: _ Truuuuuuucô!!! Preocupados, os pais resolveram levá-lo
ao “seo” Joaquim para uma benzição e nada. Resolveram procurar o físico da
cidade próxima em seu boticário. Olhando o garoto, após o grito retrucou: _seiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiis!!!. O menino assustado olhava para o físico, para a mãe, para o pai
e gritava truuuuuuucô!!! O farmacêutico manipulador com um jogo de cartas
de baralho nas mãos solicitou aos pais que se retirassem. Do compartimento ao
lado só escutavam o grito do filho: _Truuuuuucô!!! Truuuuuucô!!! Truuuuuucô!!!
Depois de um tempo o pai abriu a cortina e deparou com o filho gritando e o
físico cabisbaixo. _O que foi doutor? Descobriu o que é que esse menino tem?
_Sei não pai, mas pelo jeito ele tem um zape.
Luiz Humberto Carrião
Jornalista profissional e editor da revista Girista.com
Tiãozinho Cunha é um personagem ficto,
qualquer semelhança é mera coincidência.
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Mário Jorge Bergóglio ou simplesmente Francisco
Um papa do fim do mundo
Por Luiz Humberto Carrião
Religião, segundo o portal comunitário Wikiquote – coletânea de citações livres – é um termo
que nasceu com a língua latina podendo ter três
interpretações diferentes: “re–legio” = “re–ler”, um
significado atribuído por Cícero para descrever a
repetição de escrituras; “re–ligio” = “re–ligar”, o que
poderia significar a tentativa humana de “religarse” às suas origens, criadores, ao seu passado; e,
“re–ligio” = “re–atar”, no sentido de “prender”, não
de “conectar”, significando uma restrição de possibilidades.
A religião começou quando o primeiro patife
conheceu o primeiro tolo. Voltaire.
Será? Teria tido o patife voltaireano a consciência de Deus ser apenas um equívoco humano e dele
se apropriar para explorar a tolice de sua espécie?
As religiões são todas iguais – fundadas sobre
fábulas e mitologias. Thomas Jefferson.
Se verdadeiro, como desconstruir esse edifício
de ilusões?
A religião é o suspiro da criatura aflita, o estado
de ânimo de um mundo sem coração, porque é o
espírito da situação sem espírito. A religião é o ópio
do povo. Karl Marx, em Crítica da Filosofia do Direito
de Hegel.
Em assim sendo, onde está a justiça divina?
Como? O ser humano é apenas um equívoco
de Deus? Ou Deus apenas um equívoco do ser humano? Friedrich Nietzsche.
Eis a questão? O homem dentro dos reinos então conhecidos, mineral, vegetal e animal é a singularidade. Ao menos até aonde se conhece. Seria ele
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um equívoco do
Princípio Inteligente, Deus? Ou Este criado pelo
homem diante de fenômenos inexplicáveis à razão
humana?
Será que a ciência alcançará o dia em que poderá afirmar com propriedade que “esse mundo”
prometido de outros mundos aos que sofrem não
passa de ilusão? De instrumento de dominação, de
exploração?
A Igreja Católica Apostólica Romana assume
historicamente sua origem na morte, ressurreição
e ascensão de Jesus Cristo, filho de Deus concebido por Maria, a virgem. Estabelecida e construída
pelos Apóstolos perseguidos pelos imperadores romanos até a conversão do imperador Constantino,
em 313 d.C., que, através do Édito de Milão oficializou o cristianismo num mundo de credo e práticas
pagãs. Constantino imaginou o cristianismo como
uma religião que pudesse manter a unidade do império em vias de fragmentação. Porém, nem todos
aceitaram abandonar suas crenças pagãs e abraçar
o cristianismo como profissão de fé. Isso acabou por
promover uma “cristianização” em crenças pagãs e
vice-versa. Um sincretismo como o que ocorreu no
Brasil entre o catolicismo e as religiões afros.
César havia cingido ao Imperador Romano
o poder temporal e poder espiritual. Imperador
Romano e Deus, simultaneamente. O aparecimento de Jesus de Nazaré, mais tarde, o Cristo, foi de
fundamental importância para a separação desses
poderes. O poder espiritual trazido por Jesus Cristo
referenciava-se a um reino que não era desse mun29
do. E o que restava aos miseráveis comuns do império como esperança senão esse reino? A ação do
Imperador Romano Constantino de oficializar o cristianismo no império, legalizou de um lado, o poder
temporal nas mãos de imperadores e sua estrutura
burocrática de estado, e de outro, o poder espiritual, cujo reino não era desse mundo, mas que, em
Roma, abrigava toda a representação administrativa e política desse reino, sob o comando do Papa.
Diante das invasões bárbaras o Império Romano ajoelha-se aos pés da Igreja que aos poucos passa a influenciar decisivamente no poder temporal
não só romano, mas europeu. Na Idade Medieval, o
teocentrismo (Theo=deus). A igreja além de representante de Deus na Terra detinha com exclusividade o conhecimento, e com isso, o poder em todos
os segmentos da sociedade. Transformou-se num
verdadeiro César. E por interesses óbvios retalhou
o que sobrou do Cristo e colocou num balcão de
negócios a varejo. A cultura clássica por ela preservada nos seus mosteiros era interpretada de acordo
com sua conveniência até que o Renascimento surge como um “novo” Cristo colocando as coisas nos
seus lugares. Com ele o antropocentrismo (Antropus = homem). Um de seus legados foi a Reforma
Religiosa. Uma nova visão sobre a interpretação da
bíblia e da religião. Visão esta que também trouxe
suas implicações sobre a sociedade como um todo.
Do espiritual ao temporal. Posições Lutero no que
se chamou de Livre Exame e as de Calvino sobre o
lucro é uma visão clara disso. Lutero e Calvino se
apresentaram como contraponto à visão teológica
católica.
Ao se fundamentar em Jesus Cristo, teve o
cristianismo que se ligar ao judaísmo que anunciava deste há muito um messias. E com isso, para dar
ao messias, em cumprimento às profecias do Velho
Testamento, a linhagem da Casa de David, José, o
carpinteiro é tomado como pai de Jesus.
Por longos séculos a Igreja Romana reinou
soberana, notadamente nos países pobres como
os da América Latina, África e Ásia. A representatividade na Terra do Reino do outro mundo acabou
se perdendo pelos seus dogmas caducados na modernização do mundo. A burocracia levada a efeito
pela Cúria Romana se perdeu em meio à corrupção
e desvio de conduta de parte do Clero. Apesar de
apresentar-se como uma inovação o Concilio Vaticano II mostrou-se tímido diante de interesses
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maiores. As vozes de Medelin e Puebla não foram
ouvidas em Roma. A Teologia da Libertação tentando reproduzir essas vozes foi condenada e seus teóricos silenciados.
Era nítida a orientação religiosa em predominância nos países ricos, e o presente em países pobres. Naqueles, as igrejas reformistas. Nestes, o catolicismo estagnado no tempo com seus sacramentos
e dogmas caminhando na contramão da história e
batendo de frente com avanços da ciência.
Surgem os neopentecostalistas e avançam
numa progressão geométrica abaixo da Linha do
Equador. São também conhecidos por “Carismáticos”, termo este, no Brasil, reservado para um movimento centro da Igreja Católica, a “Renovação
Carismática”. Mas, esse segmento ramificou no pentecostal clássico como a Igreja Universal do Reino
de Deus, Igreja Internacional da Graça (dissidência
da IURD), Igreja Mundial do Reino de Deus (também
dissidência da IURD), dentre outras.
Augustus Nicodemus Lopes, em temporamores.blogspot.com, 2012, assevera: A teologia
da prosperidade, à semelhança da teologia da libertação e do movimento batalha espiritual, identifica um ponto biblicamente correto, abstrai-o do
contexto maior das escrituras e o utiliza como lente
para reler toda a revelação, excluindo todas aquelas passagens que não se encaixam. Ao final, o que
temos é uma religião tão diferente do Cristianismo
bíblico que dificilmente poderia ser considerada
como tal. Outro ponto presente a esses movimentos é a doutrina da prosperidade. Esta defende que
a benção financeira é o desejo de Deus para os Cristãos. E que a fé, os discursos positivos e as doações
para os ministérios cristãos irão sempre aumentar a
riqueza material do fiel. Wikipédia, 2012.
28 de setembro de 1978. Um dia de significação importantíssima e correlata com a renúncia do
Papa Bento XVI. Neste dia, era anunciada a morte
de Albino Luciani, Papa João Paulo I. Uma das mais
bem coroadas conspirações da Igreja Católica. De
nacionalidade italiana, Luciani, foi portador de uma
carreira despercebida como clérigo. Apesar de Cardeal na Catedral de São Marcos, em Veneza, jamais
entrou nas bolsas de vaticanistas durante o Conclave que o elegeu. Se por um lado deixou o “mundo
católico” surpreso com sua eleição, por outro, encantou o mundo secular com seu sorriso e simplicidade. Mas teve um reinado de apenas 33 dias. Foi
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assassinado!
David Yallop, escritor inglês, por solicitação de
pessoas residentes na cidade do Vaticano “inconformadas com o silêncio que pesava sobre as verdadeiras circunstâncias a respeito da descoberta do
corpo do Papa”, investigou a morte de João Paulo I
durante três anos ininterruptos chegando à conclusão de que seu destino fora selado por contrariar os
desígnios para os quais fora eleito. Diga-se de passagem, no Conclave mais concorrido e rápido que se
tem noticia na História. Tinha sido eleito pelos conservadores para cumprir ordens e nunca determiná
-las. Yallop ao publicar o resultado de suas investigações, no livro Em nome de Deus (pt.scribd.com/doc/
48572529/Em-nome-de-Deus-David-Yallop) che-
um informal e ilegal ramo da Maçonaria P2, que se
estendendo muito além dos limites da Itália, havia
certamente penetrado no Vaticano, envolvendo padres, bispos e até mesmo Cardeais”. A versão de que
clérigos ligados ou próximos da Cúria Romana estariam envolvidos na conspiração, também foi defendido por Jean-Jaques Thierry, Roger Peyrefitte, John
Corwel, dentre outros.
10 de fevereiro de 2012. Naquela sexta-feira
o jornal italiano Il Fatto Quotidiano circulava com
a seguinte manchete: Complô contra o Papa – vai
morrer em 12 meses. Imediatamente o porta-voz do
Vaticano, o jesuíta Federico Lombardi, incumbiu-se
de desmentir a noticia afirmando que a reportagem
era “fora da realidade e tão pouco séria que não
gou a conclusão em suas perícias que “Albino Luciani havia descoberto durante seu pontificado a existência de uma cadeia de corrupção, ligando figuras
de proa nos círculos financeiros, políticos, clericais e
do crime numa conspiração de âmbito mundial”. [...]
“O novo Papa havia iniciado uma revolução. Havia
ordenado uma investigação no Banco do Vaticano,
e especialmente nos métodos empregados pelo
seu presidente, o Bispo Paul Marcinkus. Ele estava
a ponto de efetuar uma radical mudança de postos
no staff do Vaticano e havia discutido uma lista de
remoções com o seu Secretário de Estado, o Cardeal
Jean Villot (cujo nome constava na lista), na última
noite de sua vida. Essa lista tinha relação direta com
outra em poder do Papa – uma lista de clérigos dentro do Vaticano que pertenciam à Maçonaria – fato
que por si só justificava imediata excomunhão da
Igreja Católica Romana. Luciani sabia também de
podia ser levada em consideração. Parece incrível e
nem quero comentar”. A matéria referenciava sobre
um documento secreto entregue ao Papa Bento XVI
pelo Cardeal Colombiano Dario Castrillon Hoyos denunciando um complô para assassiná-lo dentro de
12 meses. O documento, escrito em alemão, retratava conversas do Cardeal de Palermo, Paolo Romeo,
na China, em novembro do ano anterior.
11 de fevereiro de 2013. Uma segunda-feira de
carnaval. O Brasil e o mundo surpreendem-se com
Bento XVI: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à
certeza de que as minhas forças, devido à idade
avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que esse ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com
as palavras, mas, também e igualmente, sofrendo
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e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande
relevância para a vida da fé, para governar a barca
de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário
também o vigor, quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo em
mim de tal modo que tenho de reconhecer a minha
incapacidade para administrar bem o ministério que
me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade desse ato, com plena liberdade, declaro que
renuncio ao ministério de bispo de Roma, sucessor
de São Pedro”. Renúncia esta, efetivada no dia 28 de
fevereiro de 2013, exatos 12 meses após a publicação levada a efeito pelo jornal Il Fatto Quoditiano.
Muito se tem especulado sobre a renúncia do
Papa, porém, não se diferencia muito sobre o episódio João Paulo I: a questão do celibato,corrupção,
disputa de poder e agora mais agravado pela questão envolvendo orientação sexual de padres, bispos,
cardeais desaguando nos escândalos de pedofilia.
Num texto publicado no facebook afirmei que
nunca consegui enxergar em Joseph Alois Ratzinger, o papa Bento XVI, um halo divino. Sua renún-
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cia não me surpreendeu. Ratzinger, um homem
comum. Mas todos nós homens somos comuns,
mortais, “pecadores”, teria ele que ser diferente? Enquanto homem não, mas enquanto cristão sim! O
papa é a referencia maior para uma parcela significativa da humanidade, 1,2 bilhão de pessoas.
O semblante doce de Ratzinger traduz artificialidade. Falta-lhe o aspecto de santo. Não uma santificação antropomórfica, teológica determinada
pelo cargo, mas uma santificação cristã de essência
divina. Desejava que o Conclave (assembleia e o lugar de reunião dos cardeais da Igreja Católica para
a eleição do próximo papa) tivesse a responsabilidade bastante para a escolha daquele que irá pelos
próximos anos liderar religiosamente parte da humanidade. Ao que parece teve, apesar de ainda ser
muito cedo para avaliações.
Dizia neste texto, que a fumaça branca ao sair
da chaminé da Capela Sistina acompanhada pela
expressão “habemus papam” anunciasse um líder
capaz de traduzir a capacidade de autorrealização
hominal, bem como, com coragem para rever posições dentro da Igreja Católica. Asseverava que mes-
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mo se tudo isso contextualizasse no psicológico, a
humanidade prescinde desse alimento. A cada dia,
esse alimento, tem sido colocado de maneira promíscua em cada esquina, no rádio e na imprensa
escrita e televisiva. A humanidade necessita de um
caminho, um referencial, uma luz. Mesmo porque,
terminava afirmando que o “reino dos céus” não é
um lugar físico, e sim, um estado de espírito e Deus
não é uma figura antropomórfica. Longe disso!
13 de março de 2013. Já se fazia noite. O frio
acompanhava uma chuva torrencial sobre o Estado do Vaticano. O mundo se voltava para a chaminé da Capela Sistina na expectativa sobre a cor da
fumaça a ser expelida. Fiéis, religiosos e jornalistas
de todas as nacionalidades. Por volta das 19 horas a
chuva estanca. Aos olhares atentos na Praça de São
Pedro e nos milhares de televisores, computadores,
tablets pelo mundo, o esperado, a fumaça branca aos poucos vai esmaecendo pelos ares. Palmas,
choro, silêncio, oração. O Cardeal protodiácono e
decano (o mais velho entre os cardiais da ordem
dos diáconos) da sacada anuncia a multidão: “Annuntio vobis gaudium magnum; habemus papam:
Eminentissimum AC Reverendissimum Dominum,
Dominum Georgium Marium Sanctae Ecclesiae Cardinalem Bergoglio qui sibi nomem impossuit Franciscum.” Ao tempo em que os argentinos presentes
na praça foram ao delírio, uma considerável parcela
era tomada pela perplexidade. Quem era o Cardeal
Bergoglio? De onde veio? Por que o nome papal de
Francisco? Qual a sua Ordem Religiosa? Que perfil
teria o novo Papa? Qual a sua fisionomia? De repente surge um homem simples e a multidão vai
à loucura. Parte do mundo chora de emoção. Uma
fisionomia que lembra João XXIII e um sorriso reportando a João Paulo I. Aqueles que acompanhavam
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pela televisão logo tiveram mais notícias. Tratava-se
de um argentino, filho de pais italianos, da Ordem
Jesuíta, que abdicou do palacete paroquial na cidade de Buenos Aires, na Argentina, para residir
em um minúsculo apartamento onde prepara suas
próprias refeições e deslocando-se em suas visitas
a pé ou de transporte público, ônibus e metrô. Ainda jovem teve que extrair um dos pulmões. Suas
primeiras palavras: Irmãos e irmãs, boa noite! Vós
sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo
a Roma. Parece que meus irmãos Cardeais tenham
ido buscá-lo quase no fim do mundo... Eis me aqui!
Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes
de tudo, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo
Emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele,
para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o
guarde. [Recitação da oração Pai Nosso, Ave Maria
e Glória ao Pai]. E continuou: E agora iniciamos esse
caminho, Bispo e povo... Este caminho da Igreja de
Roma, que é aquela que preside todas as igrejas na
caridade. Um caminho de fraternidade, de amor,
de confiança entre nós. Rezemos sempre uns pelos
outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja
grande fraternidade. Espero que este caminho da
Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudará
o meu Cardeal vigário, aqui presente, seja frutuoso
para a evangelização desta cidade tão bela! E agora
quero dar a benção, mas antes... Antes, peço-vos um
favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos
que rezeis ao Senhor para que abençoes a mim; é a
oração do povo, pedindo a Benção para o seu Bispo.
Façamos em silêncio esta oração vossa por mim [...]
Agora, dar-vos-ei a Benção, a vós e a todo mundo,
a todos os homens e mulheres de boa vontade. [...]
Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Obrigado pelo
33
acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve: amanhã quero ir rezar nos pés de
Nossa Senhora, para que guarde Roma inteira. Boa
noite e bom descanso.
O primeiro Papa escolhido fora da Europa. O
primeiro Latino Americano. O primeiro da Ordem
dos Jesuítas. O primeiro a se chamar Francisco. Qual
o significado desse nome? Francisco é sinônimo de
amor, humildade, caridade, fraternidade e simplicidade. Francisco de Assis! Aquele que se posicionou
como mediador do amor entre Cristo e os homens,
tal qual o Cristo se posicionou como mediador entre
a Divindade e Jesus.
Jesus realizou-se plenamente como Cristo para
que pudéssemos ansiar por nossa autorrealização.
Francisco de Assis fez prevalecer às palavras de Jesus: Vós sois deuses, podeis fazer o que faço e muito
mais! Podeis fazer o quê? Disseminar o amor, a humildade, a caridade, a fraternidade e a simplicidade.
Encontrar o “reino de Deus dentro de nós”.
Temos ouvido muito, recentemente, a voz ouvida por Francisco chamando sua atenção para o
estado de ruína de sua igreja, instando-o à sua reconstrução. Ao que se sabe, iniciou sua nova vida
como pedreiro e assim reconstruindo várias igrejas
nos arredores de Assis. Atualmente o mundo é outro. A escrita, o rádio, a televisão, a internet conecta
esse mundo por inteiro. O estado de ruína pode ser
entendido pelo distanciamento da Igreja com seus
fiéis, e, ao instar a sua reconstrução, chama-a para
o que João XXIII batizou de aggiornamento - sua
adaptação ao mundo moderno, porém, sem esquecer os valores éticos e morais.
Há que se identificar a diferença entre Cristo e
Cristianismo.
Gandhi afirmou certa feita: aceito o Cristo e seu
Evangelho, não o vosso cristianismo.
Outra figura extraordinária, Albert Schweitzer,
teólogo, filósofo, médico e um dos maiores intérpretes de Bach de todos os tempos, assim manifestou: a teologia cristã (cristianismo) é um soro que
nos imuniza do Cristo.
Somando as posições: Aceito o Cristo e o seu
Evangelho, o cristianismo, esse soro teológico que
nos imuniza do Cristo, não!
Jesus nunca criou uma religião, bem como o
Apóstolo Pedro nunca foi Bispo de Roma. “A esse
respeito, muito esclarecedor o artigo do professor
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de História, Vivaldo Jorge de Araujo, no Caderno Opinião Pública do Diário da Manhã, Goiânia,
21.março.2013, p.6: Jesus não criou religiões, mas
uma doutrina de libertação de consciência, cuja
pureza original assenta-se nas raízes universalistas de Platão e jamais no organizacionalismo
limitador de Aristóteles, que predomina no pensamento teológico. Curioso observar que parece
não existir na história da Igreja de Roma um Papa
denominado Pedro II, já que nunca houve o Pedro
I”, ou simplesmente Pedro.
Outra leitura que me chamou na atenção na
internet.
Eu acredito! “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu
filho Unigênito, o qual foi concebido pelo Espírito
Santo, nasceu de uma virgem, desceu ao mundo
dos mortos, ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu
e está sentado à direita de Deus Pai, de onde virá
para julgar os vivos e os mortos. Creio também que
Paul MacCartney morreu em 1966, que a Aids foi
criada em laboratório, que a viagem à Lua foi uma
farsa e que o Dalai Lama é a 14ª reencarnação de
Buda. Creio que Alá é Deus e Maomé o seu profeta.
Creio na reencarnação, no poder dos astros, nos florais de Bach e no feng shui, nas cirurgias espirituais.
Creio na infalibilidade de João Paulo II e que João
Paulo I foi morto pela própria Igreja. Amém! Janer
Cristaldo, escritor, tradutor e jornalista, só não acredita em papai Noel. Apesar de ter a cara dele”.
Muitos são os que como Janer, não acreditam.
Mesmo assim, não pode ignorar a crença de grande
parte da humanidade em um Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. Que também crê em
Jesus Cristo, como filho unigênito de Deus, concebido pelo Espírito Santo e nascido de uma virgem,
descendo ao mundo dos mortos e ressuscitando
ao terceiro dia subindo aos céus, onde se encontra
sentado à direita de Deus Pai, de onde virá julgar os
vivos e os mortos, mesmo diante de argumentações
como as de Sebastian Faure, em “12 provas da inexistência de Deus”; Bertrand Russel, em “Porque não
sou cristão”, e mesmo com as argumentações em
vários livros, artigos e conferências do contemporâneo biólogo, o ateu Richard Dawkins.
Luiz Humberto Carrião
é jornalista e editor da Girista.com
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