nas pegadas de jesus - via dolorosa
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nas pegadas de jesus - via dolorosa
Nas pegadas de Jesus… (Enviado por: Rosa Andrade) JERUSALÉM Via Dolorosa “Todo o mundo foi ocupado pela madeira da Cruz, pedaço por pedaço.” (Cirilo, bispo de Jerusalém) A Via Dolorosa – o Caminho do Calvário – reconstitui o trajecto tradicional que Jesus percorreu durante a jornada fatal, desde a sua condenação por Pôncio Pilatos, até à Crucificação, no Calvário. A estrada vai das ruínas da antiga Fortaleza Antónia até à Igreja do Santo Sepulcro. Os Franciscano organizam todas as Sextas-feiras uma procissão ao longo das Estações da Cruz, uma caminhada de reflexão para os peregrinos, recordando o suplício de Jesus em catorze locais de oração, uma tradição que remonta ao séc. XIV. Estações I – IV (espaço físico: dentro dos limites da Fortaleza Antónia) I – Jesus é Condenado Capela da Flagelação II – Jesus recebe a Cruz Capela da Condenação III – Jesus cai pela 1ª vez Capela Polaca IV – Jesus encontra a Mãe Capela Arménia A Via Dolorosa começa no pátio da Escola de Omariyeh, outrora usada pelos Turcos como caserna militar. Do outro lado da rua existem duas capelas que recordam ter sido durante o mandato do governador romano, Pôncio Pilatos, do cimo do Pretório, que Jesus foi julgado, condenado e chicoteado pelos soldados romanos. A Capela da Flagelação possui um belíssimo acabamento artístico do Salvador, coroado de espinhos e debruçado sobre o altar interior. A condenação de Jesus é recordada na Capela da Condenação, no mesmo complexo que a Capela da Flagelação, no inicio da Via Dolorosa. Este é o local onde se situava a Fortaleza Antónia, uma enorme caserna militar romana na época de Jesus. O arquitecto que concebeu a capela combinou escultura e pintura na abside central, modo a que os peregrinos possam ter uma visão mais precisa dos acontecimentos. A Estação I marca o local onde Jesus foi condenado. A Estação II, no pátio exterior entre as capelas da Flagelação e Condenação, marca o local onde Jesus recebeu a sua Cruz. A Estação III, saindo do recinto das capelas e virando à direita, recorda o local onde Jesus caiu pela primeira vez. A escultura, representando Jesus a cair sob a Cruz, está por cima da porta da capela polaca. Os peregrinos detêm-se a ler as “Lamentações I” no marco da Estação III, que foi erguida à face da estrada pelo exército polaco, em 1947. A Estação IV, em frente da capela católica Arménia, indica o local onde Jesus se encontrou com sua Mãe e onde se faz memória da dor de Maria pelo sofrimento do seu Filho. Entre as Estações II e III existe um pequeno arco que franqueia a Via Dolorosa e se vai reunir a um outro arco, na abside da capela para norte. Trata-se do arco e capela Ecce Homo, ou “Eis aqui o Homem!” (Jo 19:5), que pertence ao convento das Irmãs de Sião. Quando os exploradores dos séc. XVIII e XIX identificaram os arcos pela primeira vez, pensaram tratar-se da entrada da Fortaleza Antónia, o que corresponderia ao local da sentença de Pilatos. Mais tarde, os estudiosos concluíram que os arcos datavam da época de Adriano, cerca de 135 d. C. O telhado da capela permite uma perspectiva excelente da Via Dolorosa. Estações V – IX (espaço físico: fora da Fortaleza, mas dentro das muralhas da Cidade Antiga) A Estação V recorda Simão de Cirene, que, em certo momento, ajuda Jesus a carregar a Cruz. Neste ponto, o caminho vira bruscamente à direita e começa-se a subir alguns degraus, em direcção ao monte. Uma capela franciscana assinala o gesto de auxílio de Simão. A Estação VI faz memória do local tradicional onde Verónica limpou o rosto do Senhor e está assinalada por uma capela católica grega. Na estação VII os peregrinos reflectem sobre o sofrimento de Jesus, recordando a sua segunda queda sob a Cruz, e está assinalada por uma capela franciscana. Esta Estação localiza-se numa das ruas mais movimentadas do centro da Cidade Antiga, à semelhança do que terá sido também no tempo de Jesus. A Estação VIII está assinalada por uma cruz latina existente na parede dum mosteiro grego-ortodoxo, onde os peregrinos recordam as palavras com que Jesus, em agonia, consolou as filhas de Jerusalém. Esta Estação é também assinalada por uma pedra com um monograma esculpido na parede, onde se lê: “IC-XCNI-KA”, que significa “Jesus Cristo vence”. Perto desta porta, uma coluna em forma de arco assinala a Estação IX, que faz memória da terceira queda de Jesus sob a Cruz. A Via Dolorosa de Jesus dentro da Cidade Antiga termina na estação IX. A partir deste ponto, Jesus atravessa a muralha da cidade, para fazer o caminho a céu aberto, subindo à colina do Calvário. Pedaço de chão de pedra original do séc. I. V – Simão ajuda Jesus a levar a Cruz Capela Franciscana VI – Verónica limpa o rosto de Jesus Capela Grega VIII – Jesus consola as mulheres de Jerusalém Mosteiro Grego – Inscrição na pedra VII – Jesus cai pela segunda vez Capela Franciscana IX – Jesus cai pela Terceira vez ~*~ A CRUCIFICAÇÃO “Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a região até às três da tarde. O sol tinha-se eclipsado e o véu do Templo rasgou-se ao meio. Dando um forte grito, Jesus exclamou: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito.» Dito isto, expirou. Ao ver o que se passava, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Verdadeiramente, este Homem era justo.» (Lc 23) A crucificação era realmente uma forma bárbara de morte, inventada pelos romanos alguns séculos antes e usada particularmente para os escravos e os rebeldes contra Roma. Apesar da sua utilização frequente, os próprios Romanos achavam esta prática tão repulsiva que, de acordo com Cícero, a palavra “cruz” foi banida das conversas da sociedade culta de Roma. Na Palestina houve cerca de 2000 crucificações, no ano 4 a. C., quando o general romano Varo debelou uma rebelião na Galileia. Por isso, quando Jesus encorajou as pessoas a “tomarem a sua cruz”, esta imagem foi algo chocante. Não se sabe a frequência com que esta prática era utilizada pelos Romanos na administração da província da Judeia. O esqueleto dum homem crucificado no séc. I foi descoberto na área de Jerusalém, mas poderá ter havido muitos outros. Contudo, a delicada política administrativa da Judeia poderá ter levado os Romanos a recorrerem a métodos de execução menos ofensivos. Aos olhos da população judia, este tipo de execução era duplamente aviltante. Primeiro porque, segundo as Escrituras do Antigo Testamento, qualquer um que morresse “na forca” era uma maldição de Deus (Dt 21, 23). Segundo, eles entendiam a nudez pública como algo especialmente vergonhoso, e as pessoas, normalmente, eram crucificadas nuas. Os Evangelistas não explicitam se esta prática foi empregue no caso de Jesus, mas a referência aos soldados a repartirem as suas vestes pode ter sido a forma discreta de sugerirem que nem Jesus foi poupado a esta humilhação. Portanto, Jesus foi tratado como qualquer escravo ou rebelde contra Roma. Neste ponto há uma profunda ironia nos Evangelhos. Lucas, em particular, esforçou-se por mostrar, precisamente, que Jesus não era um rebelde. Os seus adversários acusaram-no, expressamente, diante de Pilatos, de impedir que se pagasse o tributo a César, mas a verdade era exactamente o oposto: “Dai, pois, a César o que é de César” (Lc 20, 25), disse Jesus. Pilatos acabou por concluir que, embora Jesus tivesse sido levado à sua presença como alguém que “andava a revoltar o povo”, não encontrava nele “nenhum dos crimes” de que O acusavam. Em muitas ocasiões, de facto, Jesus preveniu os seus ouvintes – até mesmo quando carregava a Cruz – sobre o que aconteceria a Jerusalém, caso eles persistissem na sua política anti-romana: “Os teus inimigos hão-de cercar-te de trincheiras… hão-de esmagar-te contra o solo… não ficará pedra sobre pedra.” Jesus não era um rebelde pela causa nacionalista, mas, por ter sido crucificado, foi assim que o povo O identificou na praça pública. Nos seus relatos, Lucas destaca (por cinco vezes!) o facto de Jesus ter sido considerado inocente das acusações políticas – por Pilatos, por Herodes, pelo crucificado ao lado dele e pelo centurião em funções. Em contraste está Barrabás, a quem Lucas se refere por duas vezes como um homem “preso por sedição e homicídio” e que, no entanto, foi solto. Para Lucas, Jesus era o não-rebelde que aceitou sofrer no lugar de um rebelde e, num sentido mais profundo, o verdadeiro inocente que tomou o lugar do verdadeiro culpado. A perspectiva de Lucas sobre a Cruz: Todos os evangelistas demonstraram um constrangimento notável ao descreverem este acontecimento que terá sido duma importância crucial para eles. Contrariamente aos livros e filmes que viriam a surgir mais tarde, não houve, por parte deles, uma tentativa de realçar nem o pathos [palavra grega que designa paixão, catástrofe, sofrimento], nem os sentimentos e emoções envolvidos. O credo básico dos primeiros Cristãos era que “Cristo morreu pelos nossos pecados” (1Cor 15, 3), mas mesmo esse aspecto não foi expressamente inserido no relato. Em vez disso, os evangelistas optaram por deixar que a própria história – sem enfeites – falasse por si mesma. Ainda assim, para além da inocência de Jesus, encontramos no Evangelho de Lucas uma série de outros elementos: Jesus é o “rei dos Judeus” (como o indicava a inscrição em latim sobre a Cruz: JNRJ – Jesus Nazarenus Rex Judaeorum) e o “Messias de Deus” (como zombavam as multidões). No entanto, Jesus nunca foi bem recebido ou coroado pelo seu próprio povo. Jesus é o Salvador que trouxe a “salvação” aos outros (Lc 2, 11; 19, 10). Porém, Ele concede essa salvação através dum acto do qual parece incapaz de se “salvar a si mesmo” (Lc 23, 35). Jesus é Aquele que traz o perdão dos pecados ao povo. Obtém-no ao morrer como inocente em lugar do povo, perdoando aqueles que tão manifestamente pecavam contra Ele: “Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23, 34) Jesus é Aquele que assinalara, por intermédio de palavras e acções, a iminente destruição do Templo de Jerusalém. Agora, através da Sua morte, Ele, de algum modo, “rasgava o véu do Templo”, revelando assim a presença divina a todos os que se aproximavam de Deus (por meio da Sua morte). A morte de Jesus é, realmente, um acontecimento de importância cósmica. É que, embora este tenha sido, em muitos aspectos, mais um dia comum em Jerusalém, houve um período de profunda escuridão, ao início da tarde, quando o “sol se eclipsou”. Este estranho fenómeno só veio a confirmar aos discípulos de Jesus que a Sua morte era algo que afectava profundamente tanto o mundo espiritual, como o mundo físico. Todos estes pontos são transmitidos de uma maneira aparentemente simples. E serão o suficiente para levar qualquer leitor do Evangelho a parar diante da Cruz e a procurar, por detrás dos acontecimentos exteriormente visíveis, o sentido mais profundo da história que se desenrola poderosamente sobre a superfície. Aqui, no local da execução, fora das muralhas de Jerusalém, é-se forçado a parar. ~*~ Basílica do Santo Sepulcro Estações X – XIV (espaço físico: Basílica do Santo Sepulcro, fora da antiga cidade muralhada) O Santo Sepulcro foi o local de peregrinação mais importante para os Cristãos durante os períodos bizantinos e das Cruzadas. Trata-se não só da colina do Calvário, mas também do túmulo e da Ressurreição de Jesus. Algumas provas sugerem que esta área estava fora das muralhas no séc. I. Pode haver poucos vestígios da muralha, mas foram descobertos alguns túmulos Kokhim (*) nas proximidades, o que é indicador de que a área ficaria algures do lado de fora neste período. [Kokh (hebraico, plural: Kokhim hebraico) complexo tumular caracterizado por uma série frestas estreitas, cavadas na rocha e fechadas com uma laje de pedra.] Sabe-se também que Herodes Antipas expandiu a cidade entre os anos 41-44. Assim, é quase certo que esta área tenha passado a ficar dentro das muralhas pelo menos uma década depois da Crucificação de Jesus. A tradição cristã primitiva que defende este local como o sítio da Crucificação e Ressurreição de Cristo é também muito forte. A memória dos cristãos locais parece ter sido divulgada com sucesso durante o reinado de Constantino, quando os seus construtores limparam a área e encontraram, de facto, os túmulos Kokhim - esta descoberta foi, só por si, uma confirmação de que a memória cristã local era verdadeira; doutro modo porque razão arriscariam eles pedir ao imperador que destruísse um templo pagão, construído por um seu antecessor (Adriano, em 135 d. C.), se não tivessem uma boa razão para acreditar que aquele era o local correcto? Também um visitante do séc. II, chamado Melito, viajou para Jerusalém e registou que “Jesus foi crucificado na praça central de Jerusalém”, afirmação que terá sido um reflexo de algo que ele vira durante a sua visita. O local da Crucificação de Jesus que lhe fora apontado estava agora coberto por um fórum romano e um templo pagão, perto do centro da cidade, rebaptizada por Adriano como Aelia Capitolina. Mais tarde, Eusébio corrobora esta tradição quando se refere, na sua obra “Onomasticon”, ao Gólgota como estando “situado na Aelia”. Há boas razões, portanto, para concluir que a Basílica do Santo Sepulcro, de um modo geral, constitui uma aproximação correcta relativamente aos acontecimentos narrados nos Evangelhos. A ser verdade, devemos imaginar esta área do Gólgota, no séc. I, como um terreno agreste. Era o que sobrava duma pedreira desactivada, que agora estava coberta por terra solta e alguma vegetação. Dentro da área da pedreira, emergia o cume duma rocha, não escavada por apresentar uma fenda ao centro (onde poderia ter estado presa uma estaca de madeira). Talvez esta rocha calcária evocasse a imagem duma caveira e estivesse na origem do seu estranho nome. A área seria perfeita para as crucificações romanas ocasionais: um terreno sem uso, convenientemente próximo da porta da cidade e num ponto onde podia ser claramente avistado por toda a gente. E a cerca de 35 metros de distância, escavados numa rocha, não muito profunda, que circundava a pedreira, havia alguns túmulos – um deles pertenceria a José de Arimateia. Planta da Igreja do Santo Sepulcro O confuso formato da construção da Basílica do Santo Sepulcro, exibindo características de tantos séculos diferentes, pode causar alguma baralhação. E a existência de muitas congregações cristãs diferentes, aparentemente competindo pelos seus respectivos espaços, pode suscitar algumas dúvidas. É verdade que a basílica carrega o “carimbo” da fraqueza humana, mas mesmo isso, paradoxalmente, revela simplesmente a existência do verdadeiro pecado humano pelo qual, segundo a Fé Cristã, Jesus morreu. A basílica deverá ser vista como um testemunho único daquilo que Jesus Cristo significa para tantas pessoas. A igreja é “um livro de história – vivo! – de como as pessoas reagiram de maneiras diferentes à morte de Jesus. A sua construção confusa pode ser uma forma de lembrar que o pensamento do Deus dos Cristãos não se distancia muito da fraqueza humana, e que Ele próprio se envolveu nessa confusão – talvez exactamente aqui, neste lugar. Acima de tudo, embora a sua longa história seja um testemunho da morte e destruição, ela continua a ser a única igreja no mundo cujo foco central é um túmulo vazio. Sim! Ela é a Basílica do Santo Sepulcro, mas é também a Basílica da Ressurreição (como lhe chama, mais apropriadamente, a Igreja Oriental). Entre os anos 335 e 1000 a visita à igreja era menos confusa. Acedia-se pela rua principal, a Este, entrando logo no espaçoso átrio da igreja. Depois, seguindo para Oeste, chegava-se a um pátio, a céu aberto, cercado por colunas – e daí olhava-se para um túmulo esculpido na rocha, circundado por um caminho a toda a volta, e coberto por uma enorme cúpula. As construções de Constantino no Gólgota eram verdadeiramente impressionantes, dando lugar tanto à devoção individual, quanto a uma grandiosa celebração litúrgica. Elas proclamavam que este era o local onde o Rei dos reis havia sido sepultado em desgraça e pobreza – e era uma forma de dar a Jesus a honra que ninguém, a seu tempo, Lhe soubera dar; e também para declarar a todo o Império Romano que este lugar de sofrimento e morte era, ao mesmo tempo, o lugar da derrota da morte e da vitória de Deus. Naturalmente, algumas pessoas preferiam ver esta área restaurada de modo a parecer uma pedreira do séc. I, com um toque agreste natural. No entanto, a área havia já sido reconstruída por Adriano, no séc. II, o que “danificava” para sempre a sua autenticidade, por isso os cristãos do séc. IV tiveram de construir algo novo. O trágico é que, ao construir algo tão magnífico, tornaram o local propenso a ser atacado por extremistas – foi o que aconteceu em 1009, quando o califa Al-Hakim enviou as suas tropas para destruírem a igreja. O edifício nunca recuperou desse ataque. Aquilo que os visitantes hoje vêem é uma tentativa débil dos Cruzados de reporem alguma ordem no meio do caos. Assim, ao entrar na basílica, está-se, na verdade, a entrar naquilo que foi o antigo pátio de Constantino, com a sua grande igreja e o Gólgota à direita, e o túmulo localizado um pouco à esquerda. O pátio de igreja de Constantino tornou-se a igreja dos Cruzados. Só há uma entrada pública para o edifício, mas antes de entrarem, muitas pessoas começam a visita por um local próximo, no pequeno souq (mercado no bairro árabe) chamado Khan es-Zeit. Este mercado, indo de norte para sul, é paralelo ao Cardo Maximus, construído por Adriano. A igreja de Constantino estendia-se por todo este caminho e alguns dos trabalhos em pedra da entrada ainda podem ser vistos. As estações da Via Dolorosa prosseguem no interior da Basílica do Santo Sepulcro – a salvaguardar, no entanto, que a disposição física dos locais referentes às estações da Via-Sacra não corresponde à ordem dos acontecimentos finais do suplício de Jesus. Entrando na basílica, encontra-se logo em frente uma pedra calcária, do séc. XIX, de tons rosados, plana, muitas vezes recoberta de flores, que simboliza a Estação XIII: o Corpo de Jesus é descido da Cruz. Já morto, Jesus foi ungido para a inumação na Pedra da Unção. Os peregrinos costumam pousar sobre a pedra objectos de significado pessoal com o intuito de “os abençoar” na Pedra onde repousou o Corpo do Senhor. À direita, subindo os degraus do tradicional Gólgota, chega-se a uma área escura, iluminada pelas velas dos altares arménio e grego. A rocha do Gólgota está preservada sob painéis de vidro. Este é o grande fragmento de rocha não escavada que, na época de Jesus, se erguia a cerca de 5 metros acima do chão. Esta possivelmente terá estado soterrada, formando uma pequena elevação ou encosta. Descendo a escadaria alternativa, passa-se por uns painéis de vidro onde se pode ver a “fissura” na rocha do Gólgota. Os arqueólogos sugerem que isto explica a razão pela qual a pedra nunca foi escavada; outras interpretações estabelecem uma ligação entre o drama da Crucificação e o terramoto que aconteceu no momento da Morte de Jesus (Mt 27, 51). Escadas para o Calvário Rocha do Calvário Do lado direito, o pequeno altar da Capela dos Francos assinala a Estação X: “Jesus é despojado das suas vestes. Alguns passos à esquerda, a Estação XI: “Jesus é pregado na Cruz” encontra-se representada por um altar e mosaico na parede, mesmo ao lado do Calvário. Um altar grego ortodoxo faz memória da Estação XII: “Jesus morre na Cruz”. Rocha fendida Do lado direito da representação do Calvário, um pequeno altar recorda a dor de Maria: Nossa Senhora com um punhal cravado no peito e o que resta das vestes do Filho Crucificado. A obra, esculpida em madeira, a imagem foi enviada de Lisboa para Jerusalém, em 1788, e adicionada à Igreja do Santo Sepulcro por altura da sua reconstrução. A presença portuguesa tão marcadamente representada no Calvário à direita do Calvário de Jesus. Junto do local da rocha fendida, há um “claustro” semi-circular, construído em torno da abside da igreja dos Cruzados, que é usada pelos monges Franciscanos, todas as tardes, para recordarem as estações da Via-Sacra. Antes de completar a volta, uma descida conduz à Cripta (da igreja primitiva) de Santa Helena, a mãe do imperador Constantino, e que foi recentemente redecorada pelos Arménios. Há ainda uma outra cripta, mais abaixo, do lado direito, onde se pode ver melhor a rocha natural do Gólgota e algumas marcas da antiga pedreira. Ambas as criptas terão sido, provavelmente, cisternas, algures no período bíblico, mais tarde aterradas por Adriano, quando ele nivelou a área para a construção do fórum ou mercado. A ligação da mãe de Constantino, a rainha Helena, ao local, surgiu pelo facto de ela estar associada à descoberta do madeiro da Cruz – ao que parece nestas cisternas. Ela visitou Jerusalém no ano 326 e, vinte anos depois, o bispo Cirilo [de Jerusalém] diz que “o madeiro da Cruz já tinha sido enviado ao mundo inteiro”. No entanto, não há prova confirmada de que a rainha Helena estivesse envolvida na descoberta. Alguns dos relatos posteriores do séc. IV apresentaram pormenores lendários óbvios – por exemplo, que Helena tinha descoberto três cruzes e conseguira distinguir de entre elas (as dos malfeitores) a Cruz de Jesus, levando-as até junto de um cadáver que, ao ser tocado por uma das Cruzes, ressuscitou. A descoberta original terá sido bem mais prosaica: alguns trabalhadores, já depois da descoberta e identificação do Tumulo, estavam a limpar o lugar e encontraram algum madeiro no meio do entulho, tirando rapidamente as suas conclusões. Há evidências de que Eusébio, arcebispo local e, também, biógrafo do imperador Constantino, não estava convencido da autenticidade desta descoberta. Mesmo assim, os cristãos locais rapidamente anunciaram o ocorrido e enviaram pedaços desta relíquia para as igrejas de todas as partes do mundo, com o beneplácito do bispo Cirilo de Jerusalém. De regresso ao nível do solo e percorrendo o deambulatório, passa-se por umas colunas muito altas, muito próximas umas das outras. As colunas dos Cruzados são as que servem de sustentáculo, distinguindo-se facilmente das outras, mais finas e ornamentais, com os seus capitéis coríntios. Estas últimas datam da época de Constantino e são os únicos resquícios da área, cercada por colunas, que rodeava o pátio. Aqui, no meio da igreja fechada, é difícil imaginar que este era um espaço amplo a céu aberto. Era logo ali, ao virar da esquina, que estava o tradicional túmulo de Jesus, que os pedreiros de Constantino escavaram e isolaram da rocha circundante, para que ele sobressaísse com todo o seu singular esplendor – foi no ano 325 e o túmulo permaneceu naquele sítio durante 700 anos. A Estação XIV: Jesus é sepultado, fica no extremo da Via Dolorosa. Os peregrinos terão de descer as escadas do Calvário, passar a Pedra da Unção, junto à entrada da basílica, e seguir à esquerda, chegando, então, à entrada da edícula. Antecâmara do túmulo – pedaço de pedra da roda que fechava o túmulo O Santo Sepulcro - Edícula Túmulo de Jesus A verdade é que ver o túmulo de Jesus pela primeira vez pode ser algo chocante. Trata-se duma edícula do séc. XIX, sustentada por vigas metálicas para impedir o desabamento. No interior, duas pequenas câmaras compõem o santuário. A primeira, acolhe um pedaço da pedra (a roda) que tapava a entrada para o túmulo (os gregos ortodoxos definem-na como “pedra revolvida pelos anjos na Ressurreição”). Desta antecâmara, uma pequena porta cede entrada ao local mais sagrado de toda a Cristandade: o túmulo de Jesus – o marco efectivo da Estação XIV da Via Dolorosa. Uma laje de mármore cobre o lugar onde o corpo de Jesus foi colocado e um pequeno vaso com velas ininterruptamente acesas assinala o lugar onde a Sua cabeça repousou. Este é, também, o local da Anastasis: a Ressurreição! Aqui, Jesus ressuscitou dos mortos! Daqui, Jesus deu os primeiros passos da Sua nova vida, a Vida Eterna! A Boa-Nova deste túmulo é o facto de estar vazio: “Ele não está aqui; ressuscitou!” Poucos acharão o santuário que acolheu o Corpo do Salvador bonito! A História pagou, de facto, um preço cruel neste lugar santo, quer pela maldade humana, quer pelas forças adversas da Natureza: os bem-intencionados trabalhadores de Constantino removeram as construções sobrepostas, limparam o local e edificaram uma igreja memorável em 326; os Persas assaltaram este Santo Santuário em 614; os cristãos de Jerusalém reconstruíram-no de imediato; o califa AlHakim destruiu-o o mais possível o trabalho original de Constantino, em 1009; esta devassa contínua do local sagrado desencadeou um apelo aos chefes europeus, que culminou na organização das Cruzadas; o tecto ruiu depois dum grande incêndio, em 1808 (a estrutura actual da edícula foi reconstruída entre 1808-1810); todo o edifício foi gravemente abalado por um violento terramoto, em 1927. Depois de tudo isto, até é surpreendente que tenha restado alguma coisa para ver! São inúmeros dos detalhes ornamentais (altares, colunas, ícones, pinturas, mosaicos, representações, etc.) que se podem observar na Basílica do Santo Sepulcro, um bom sinal da cooperação que pode haver entre as diferentes denominações cristãs que partilham a guarda deste edifício e nele praticam, activamente, o seu culto ( as igrejas Grega Ortodoxa, Arménia, Católica Romana (Latina), Síria Ortodoxa, Copta e Etíope). (adaptado do livro “Nas Pegadas de Jesus”, de Peter Walker e outras fontes) Visita virtual à Basílica do Santo Sepulcro: www.360tr.com/kudus/kiyamet_eng/index.html