O emprego dos meios blindados da Cavalaria no

Transcrição

O emprego dos meios blindados da Cavalaria no
Maj Cav ARTHUR MÁRCIO RIGOTTI
O emprego dos meios blindados da Cavalaria no
combate urbano
Rio de Janeiro
2007
Maj Cav ARTHUR MÁRCIO RIGOTTI
O EMPREGO DOS MEIOS BLINDADOS DA CAVALARIA NO
COMBATE URBANO
Dissertação apresentada à Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército,
como requisito para a obtenção do
título de mestre em Ciências Militares.
Orientador: Maj Inf Luis Cláudio de Mattos Basto
Rio de Janeiro
2007
R 565
Rigotti, Arthur Márcio.
Emprego dos meios blindados da cavalaria no combate urbano.
/Arthur Márcio Rigotti. – 2007.
151f. ; il. : 30 cm.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2007.
.
Bibliografia: f. 148-151.
1 . Emprego. 2. Blindados. 3.Combate Urbano. I. Título.
CDD 357.5
2
Maj Cav ARTHUR MÁRCIO RIGOTTI
O EMPREGO DOS MEIOS BLINDADOS DA CAVALARIA NO
COMBATE URBANO
Dissertação apresentada à Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército,
como requisito para a obtenção do
título de mestre em Ciências Militares.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________
Luis Cláudio de Mattos Basto - Maj Inf - Dr. Presidente
Escola de Comando e Estado Maior do Exército
__________________________________________________________
Adalberto de Oliveira Franco – Ten Cel Cav – Mestre Membro
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
__________________________________________________________
Ubirajara Brandt Rodrigues - Maj Cav – Mestre Membro
Escola de Comando e Estado Maior do Exército
3
À minha esposa e filhos dedico
especial
homenagem
compreensão
na
trabalho monográfico.
pelo
apoio
execução
e
deste
4
AGRADECIMENTOS
Ao Major Luis Cláudio de Mattos Basto meus sinceros agradecimentos pela
orientação clara e objetiva na realização deste trabalho.
Aos amigos Tenente Coronel Adalberto de Oliveira Franco e Major Ubirajara Brandt
Rodrigues pelo incentivo e participação na banca examinadora.
Aos amigos Major Paulo Roberto Rodrigues Pimentel e Major Rogério Cetrim de
Siqueira, pelo apoio na tradução de artigos e manuais e na transmissão de
conhecimentos imprescindíveis à execução desta dissertação.
Aos oficiais integrantes do Centro de Instrução de Blindados e do Centro de
Instrução de Operações de Paz, pelo apoio prestado na elaboração deste trabalho.
Aos Comandantes de Organizações Militares e aos oficiais de Cavalaria do Curso de
Comando e Estado Maior e do Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do
Exército pela colaboração no preenchimento do questionário da pesquisa de campo.
Aos meus familiares, minha gratidão pelo incentivo e dedicação.
5
“Nós não podemos nos dar ao luxo de esperar por mais
amanhãs
antes
de
desenvolvermos
uma
doutrina
de
Operações Militares em Áreas Urbanas” (Michel J. Dormeyer,
Mestre da Escola de Comando e Estado Maior do Exército dos
EUA - 2001).
6
RESUMO
O presente trabalho tem como tema o emprego dos meios blindados brasileiros no
combate urbano. Seu objetivo é verificar se esses elementos possuem condições de
operar naquele ambiente, em virtude do material em uso e em sintonia com a
doutrina vigente. O estudo desenvolveu-se fundamentado em uma pesquisa
bibliográfica, documental e de opinião. A coleta do material foi realizada por meio de
consultas à biblioteca da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME),
ao Centro de Instrução de Blindados (CIBld), ao Centro de Instrução de Operações
de Paz (CIOPAZ), aos noticiários de jornais e de revistas nacionais e estrangeiras;
de dados e relatórios do Exército Brasileiro e de exércitos de outras nações; de
questionários; de formulários e por meio de acesso à rede mundial de computadores
(Internet). São apresentados comentários sobre o cenário mundial da atualidade,
caracterizando a crescente evolução do emprego de blindados nos combates em
ambientes urbanizados a partir da última década do século passado, além de alguns
confrontos ocorridos na história, particularmente a partir da Segunda Guerra
Mundial. São abordados aspectos doutrinários referentes às atividades bélicas
desenvolvidas por forças nacionais e estrangeiras, que de alguma forma pudessem
contribuir para a elucidação do problema apresentado, bem como as lições
aprendidas por estas forças. São apresentadas, também, as possibilidades e as
limitações de forças blindadas no combate em área edificada, analisando-se a
viabilidade de seu emprego. Na conclusão, as idéias levantadas ao longo do
trabalho são ratificadas, enfatizando-se a necessidade da modernização dos meios
blindados e o melhor adestramento das suas guarnições, visando a possibilidade de
emprego no combate em localidade.
Palavras-chave: Emprego. Blindados. Combate urbano.
7
RESUMEN
El presente trabajo tiene como tema el empleo de los medios acorazados brasileños
en el combate urbano. Su objetivo es verificar si esos elementos poseen condiciones
de operar en aquel ambiente, en virtud del material en uso y en sintonía con la
doctrina vigente. El estudio se desarrolló basado en una investigación bibliográfica,
documental y de opinión. La recolección del material fue realizada por medio de
consultas a la biblioteca de la Escuela de Comando y Estado-Mayor del Ejército
(ECEME), al Centro de Instrucción de Acorazados (CIBld), al Centro de Instrucción
de las Operaciones de Paz (CIOPAZ), a noticias de periódicos y de revistas
nacionales y extranjeras; de datos y de informes del Ejército Brasileño y de ejércitos
de otras naciones; de pesquisas; de formularios y con el acceso a la red mundial de
ordenadores (Internet). Son presentados comentarios sobre el escenario mundial de
la actualidad, caracterizando la creciente evolución del empleo de los acorazados en
los combates en ambientes urbanizados a partir de la última década del siglo
pasado, además de algunas peleas ocurridas en la historia, particularmente a partir
de la Segunda Guerra Mundial . Tratase de los aspectos doctrinarios respecto a las
actividades guerreras desarrolladas por fuerzas nacionales y extranjeras, que de
cierta manera podrían contribuir para aclaración del problema presentado, bien como
las enseñanzas recogidas por estas fuerzas. También se presentan las posibilidades
y las limitaciones de fuerzas acorazadas en el combate en área construida,
analizando la viabilidad de su empleo. En la conclusión, las ideas levantadas a lo
largo del trabajo se ratifican, haciendo énfasis en la necesidad de modernizacion de
los medios acorazados y el mejor adestramiento de sus equipos, en vista de la
posibilidad de empleo en el combate en área construida.
Palabras-llave: Empleo. Acorazados. Combate Urbano.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 01
-
Tropas blindadas americanas em Bagdá 2004 --------------------- 20
Figura 02
-
Panzerkampfwagen III ou Panzer III ---------------------------------
27
Figura 03
-
Panzer IV --------------------------------------------------------------------
29
Figura 04
-
Batalha de Stalingrado ---------------------------------------------------
30
Figura 05
-
Tropas alemãs em posições defensivas em Stalingrado --------
33
Figura 06
-
Camaradas em festa: ainda queimando, Stalingrado volta a ver
pavilhão soviético tremular ----------------------------------------------
34
Figura 07
-
Afrika Korps -----------------------------------------------------------------
35
Figura 08
-
VBI X-3 A1 Achzarit (Cruel) israelense ------------------------------
38
Figura 09
-
Observadores canadenses da UNEF na fronteira entre Israel e
Egito. --------------------------------------------------------------------------
38
Figura 10
-
Patrulha americana em ponto forte -----------------------------------
39
Figura 11
-
Somália, 1993. --------------------------------------------------------------
41
Figura 12
-
M998 High Mobility Multipurpose Wheeled Vehicle (blindado
leve "Humvee") -------------------------------------------------------------
43
Figura 13
-
HUMVEE atingido por RPG ---------------------------------------------
44
Figura 14
-
Carros blindados russos destruídos nas ruas de Grosny -------
45
Figura 15
-
Carro de combate russo -------------------------------------------------
46
Figura 16
-
Grupo progredindo sob a proteção blindada do M1 Abrams ---
51
Figura 17
-
M1A1 Abrams --------------------------------------------------------------
52
Figura 18
-
M2 Bradley no Iraque ----------------------------------------------------
53
Figura 19
-
M2A3 Bradley ---------------------------------------------------------------
53
Figura 20
-
Um Stryker do exército dos EUA durante o desembarque dos
soldados ----------------------------------------------------------------------
54
Figura 21
-
Um Stryker em patrulha no Iraque -------------------------------------
55
Figura 22
-
Stryker destruído por RPG em Mosul 28.03.04 --------------------
55
Figura 23
-
Versão TUSK do CC M-1 A2 Abrams --------------------------------- 57
Figura 24
-
Componente de visão termal -------------------------------------------- 57
Figura 25
-
Blindado adaptado com lâmina para remoção de obstáculos --
59
Figura 26
-
X-3A1 Achzarit (Cruel) ----------------------------------------------------
60
Figura 27
-
Nagmachon israelense usado no combate urbano ---------------
60
9
Figura 28
-
Achzarit atuando no interior de uma cidade israelense ----------- 62
Figura 29
-
Merkava Mk 1 ---------------------------------------------------------------
63
Figura 30
-
Merkava Mk 2 ---------------------------------------------------------------
64
Figura 31
-
Merkava Mk 3 ---------------------------------------------------------------
64
Figura 32
-
Merkava Mk4 ----------------------------------------------------------------
65
Figura 33
-
Kit para combate urbano instalado no Merkava Namera --------
66
Figura 34
-
VBTP Striker protegida com gaiolas ----------------------------------
67
Figura 35
-
Sistema de proteção ativa Trophy israelense instalado no
Merkava ----------------------------------------------------------------------
67
68
Figura 36
-
Viatura blindada leve Stryker com sistema de proteção ativo --
Figura 37
-
Visão do interior do Merkava adaptado para evacuação de
feridos ------------------------------------------------------------------------
68
Figura 38
-
Partes externas do M60 A3 TTS --------------------------------------
70
Figura 39
-
M60 A3 TTS ----------------------------------------------------------------
71
Figura 40
-
Munição de energia cinética (“flecha”) ------------------------------
72
Figura 41
-
Leopard 1A1 ---------------------------------------------------------------
74
Figura 42
-
EE-9 Cascavel -------------------------------------------------------------
77
Figura 43
-
EE11 Urutu patrulhando ruas de Porto Príncipe ------------------
80
Figura 44
-
Blindados americanos em formação de “caixa” no combate
Figura 45
-
urbano ------------------------------------------------------------------------
91
Progressão de CC / Fuz no interior de uma localidade ----------
100
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 - Opinião dos oficiais sobre a execução de exercícios empregando
blindados no combate urbano. ------------------------------------------------ 125
Gráfico 02
- Opinião dos oficiais sobre a adequabilidade dos meios blindados
no combate urbano. -------------------------------------------------------------- 126
Gráfico 03
- Limitações dos blindados no combate urbano (resultado final). ------ 127
Gráfico 04
- Meios blindados desempenham papel decisivo na conquista de
localidades (assertiva). ---------------------------------------------------------- 128
Gráfico 05
- Doutrina de combate urbano está adequada ao combate moderno-- 129
Gráfico 06
- Importância da experimentação doutrinária do emprego de
blindados. --------------------------------------------------------------------------- 130
Gráfico 07
- Realização de trabalhos relativos ao emprego de blindados no
combate urbano. ------------------------------------------------------------------ 131
Gráfico 08
- Realização de exercícios de adestramento de combate urbano. ---- 132
Gráfico 09
- Formas de adestramento da tropa. ------------------------------------------ 133
Gráfico 10
- Adequação dos blindados (por tipo de emprego). ------------------------ 134
Gráfico 11
- Grau de importância da pesquisa. ------------------------------------------- 135
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAC
Arma Anticarro
AAu
Arma Automática
Atq
Ataque
Aux At
Auxiliar do Atirador
Bld
Blindado
CAAdEx
Centro de Avaliação de Adestramento do Exército
Can
Canhão
Cav
Cavalaria
CC
Carro de Combate
Cia
Companhia
CIBld
Centro de Instrução de Blindados
Cmdo
Comando
Cmt
Comandante
COTER
Comando de Operações Terrestres
EB
Exército Brasileiro
EME
Estado-Maior do Exército
EsAO
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
Esqd
Esquadrão
Exe T
Exercício no Terreno
FT
Força-Tarefa
Fuz
Fuzileiro
GC
Grupo de Combate
GLO
Garantia da Lei e da Ordem
Gp
Grupo
12
Inf
Infantaria
Ini
Inimigo
Mot
Motorista
Mrt
Morteiro
Mtr
Metralhadora
Mun
Munição
OM
Organização Militar
Pç Ap
Peça de Apoio
Pç Mrt
Peça de Morteiro
Pel Fuz Bld
Pelotão de Fuzileiros Blindados
PP
Programa Padrão
PPA
Programa Padrão de Adestramento
PPA/CAV-1
Programa Padrão de Instrução de Adestramento Básico das
Unidades de Cavalaria
QBN
Química, Biológica e Nuclear
QCP
Quadro de Cargos Previstos
QDM
Quadro de Dotação de Material
RCB
Regimento de Cavalaria Blindado
Rec
Reconhecimento
TTP
Técnicas, Táticas e Procedimentos
Seç
Seção
VBC
Viatura Blindada de Combate
VBR
Viatura Blindada de Reconhecimento
VBTP
Viatura Blindada de Transporte de Pessoal
Vtr
Viatura
13
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------
16
1.1
JUSTIFICATIVA -----------------------------------------------------------------
17
1.2
DELIMITAÇÃO DO TEMA ----------------------------------------------------
20
1.3
FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ---------------------------
20
1.4
HIPÓTESES ----------------------------------------------------------------------
21
1.5
SUBQUESTÃO DE PESQUISA ---------------------------------------------
22
1.6
REFERENCIAL TEÓRICO ---------------------------------------------------
22
1.7
OBJETIVO DO ESTUDO ------------------------------------------------------
23
1.8
ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ----------------------------------------------
23
2
EMPREGO DE BLINDADOS NOS COMBATES URBANOS NA
HISTÓRIA ------------------------------------------------------------------------25
2.1
CAMPANHAS DA SEGUNDA GRANDE GUERRA --------------------
26
2.1.1
A conquista da Polônia ------------------------------------------------------
26
2.1.2
A campanha da França ------------------------------------------------------
27
2.1.3
Derrota alemã em Stalingrado ---------------------------------------------
29
2.1.4
A campanha do Mediterrâneo ---------------------------------------------
34
2.2
COMBATE URBANO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ---
36
2.2.1
Conflitos no Oriente Médio -------------------------------------------------
37
2.2.2
Tropas da ONU na Somália -------------------------------------------------
40
2.2.3
O desastre de Grozni ---------------------------------------------------------
44
2.3
CONCLUSÃO PARCIAL ------------------------------------------------------
47
3
MEIOS BLINDADOS E O COMBATE URBANO -----------------------
50
3.1
BLINDADOS UTILIZADOS PELO EXÉRCITO AMERICANO -------
50
3.1.1
Características das viaturas blindadas ---------------------------------
50
14
3.1.2
Principais adaptações para o combate urbano ----------------------
56
3.2
MEIOS BLINDADOS DO EXÉRCITO ISRAELENSE -----------------
59
3.2.1
Características das viaturas blindadas ---------------------------------
60
3.2.2
Adaptações para o combate urbano ------------------------------------
64
3.3
BLINDADOS EM USO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO -------------
68
3.3.1
Blindados sobre lagartas ---------------------------------------------------
69
3.3.2
Blindados sobre rodas -------------------------------------------------------
76
3.4
CONCLUSÃO PARCIAL -------------------------------------------------------
80
4
DOUTRINA DE EMPREGO DOS BLINDADOS NO COMBATE
URBANO -------------------------------------------------------------------------84
4.1
A DOUTRINA NORTE-AMERICANA ---------------------------------------
84
4.1.1
Formação e manobra dos blindados no combate urbano -------
88
4.1.2
Principais ensinamentos ----------------------------------------------------
92
4.2
LIÇÕES APRENDIDAS POR OUTROS PAÍSES -----------------------
94
4.3
A DOUTRINA BRASILEIRA --------------------------------------------------
96
4.3.1
Emprego de blindados nas operações urbanas ---------------------
97
4.4
SIMULAÇÃO DE COMBATE URBANO -----------------------------------
102
4.5
CONCLUSÃO PARCIAL -------------------------------------------------------
104
5
ADEQUABILIDADE DOS MEIOS BLINDADOS DA CAVALARIA
PARA O COMBATE URBANO ---------------------------------------------108
5.1
POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES -----------------------------------------
108
5.2
VISUALIZAÇÃO DOS BLINDADOS NO COMBATE URBANO -----
113
5.3
POSSÍVEIS RUMOS PARA A MODERNIZAÇÃO ---------------------
118
5.4
CONCLUSÃO PARCIAL -------------------------------------------------------
120
6
METODOLOGIA E RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO --
122
6.1
PARTICIPANTES ---------------------------------------------------------------
123
6.2
MATERIAL ------------------------------------------------------------------------
124
15
6.3
PROCEDIMENTOS -------------------------------------------------------------
124
6.4
RESULTADOS -------------------------------------------------------------------
125
6.4.1
Questão Nº 01 -------------------------------------------------------------------
125
6.4.2
Questão Nº 02 -------------------------------------------------------------------
126
6.4.3
Questão Nº 03 -------------------------------------------------------------------
127
6.4.4
Questão Nº 04 -------------------------------------------------------------------
128
6.4.5
Questão Nº 05 -------------------------------------------------------------------
129
6.4.6
Questão Nº 06 -------------------------------------------------------------------
130
6.4.7
Questão Nº 07 -------------------------------------------------------------------
131
6.4.8
Questão Nº 08 -------------------------------------------------------------------
132
6.4.9
Questão Nº 09 -------------------------------------------------------------------
133
6.4.10 Questão Nº 10 -------------------------------------------------------------------
134
6.4.11 Questão Nº 11 -------------------------------------------------------------------
135
6.5
RELATÓRIO DA PESQUISA -------------------------------------------------
136
7
CONCLUSÃO -------------------------------------------------------------------
138
REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------
148
16
1. INTRODUÇÃO
A guerra moderna e o desenvolvimento tecnológico, em armas e
equipamentos, sugerem um aperfeiçoamento necessário à doutrina e material
aplicados no combate em ambiente urbano. Desta forma, deve-se ressaltar a
importância da pesquisa, observação e análise das operações nestes ambientes e a
conquista das localidades, como fator decisivo para as ações ofensivas.
As experiências vividas por outros exércitos devem servir de alerta para que
se dê a devida atenção aos meios e técnicas utilizadas no investimento em centros
urbanos.
É importante que se aprenda com os erros e acertos daqueles que
passaram por tal experiência, levantando-se as dificuldades e as limitações impostas
ao se defrontar e ter que combater no interior de vilas, bairros ou cidades.
Assim, de acordo com as experiências práticas vividas, nos ataques norteamericanos em Bagdá, na 2ª Guerra do Golfo, observou-se que, apenas a moderna
tecnologia e poderosos armamentos não são suficientes para uma vitória definitiva
em um combate urbano.
No caso referenciado, os rebeldes remanescentes permaneceram em
condições de conduzir uma guerra irregular, utilizando-se de meios terroristas,
conforme análise de especialistas, que resumiram em artigo:
“Segundo estudos recentes, é crescente a tendência de uma
elevada migração das massas populacionais em direção aos
grandes centros urbanos, e isso leva a crer que por volta de 2025,
cerca de 85% da população mundial residirá em cidades; isto é
preocupante pois o combate urbano é o tipo de ofensiva militar
mais difícil que existe, porque as tropas defensivas contam com
vantagens capazes de neutralizar a força e a tecnologia” (Tropas
de Elite, 2006).
O assunto em pauta, por ser atual e dinâmico, avulta de importância para a
Força Terrestre e abre tema para discussão e reflexão, tendo em vista a deficiência
de maiores estudos do assunto nas escolas militares, seja de formação ou
aperfeiçoamento, além das restritas fontes de consulta e manuais que tratam
especificamente do emprego de meios blindados no combate urbano, suas técnicas
e equipamentos peculiares.
17
O trabalho foi elaborado por meio de uma série de etapas, após a
formulação
do
problema,
buscando-se
soluções,
através
de
pesquisas,
processamento e interpretação de dados existentes e inerentes à questão
formulada.
Neste contexto, esta seção foi subdividida com a finalidade de facilitar a
compreensão do conteúdo pesquisado e situar os leitores, preparando-os para as
seções subseqüentes. Assim, a primeira subseção apresentará a importância do
estudo realizado e a justificativa para o trabalho. A segunda subseção delimitará o
tema, focando o problema. A terceira descreverá a situação problema. A quarta
discorrerá sobre as hipóteses levantadas. A quinta subseção indicará a subquestão
de pesquisa. A sexta apresentará o referencial teórico utilizado na pesquisa. A
sétima subseção explicitará o objetivo e as contribuições do presente estudo. Por
fim, na última subseção, o leitor tomará conhecimento das partes constitutivas deste
estudo e sua organização textual, para melhor compreensão e preparação para as
demais seções.
1.1 JUSTIFICATIVA
A dinâmica do combate moderno, que vem sendo observada em conflitos
atuais, tem demonstrado a real importância da conquista de localidades e do
combate em ambiente urbano no curso das ações ofensivas, nas operações de
garantia da lei e da ordem (GLO) ou forças de paz, empreendidas em determinado
Teatro de Operações (TO).
O Exército Brasileiro não vivenciou na atualidade uma situação real em que
se visse obrigado a conquistar locais povoados ou combater em ambientes urbanos,
estando a doutrina e o material muito defasados da atual realidade de exércitos em
constante emprego, muito embora as Forças de Paz, de que o Brasil tem participado
ou liderado, deram uma noção das dificuldades deste tipo de ação, como no caso
recente das tropas no Haiti, servindo de base para experimentação, formulação de
doutrina e adequação do emprego de materiais.
No intuito de se alcançar os objetivos propostos, faz-se necessário consultar
os manuais em uso no Exército, particularmente os de Cavalaria, além das
Organizações Militares da arma, que podem emitir opiniões valiosas e experiências
referentes ao assunto. A questão do emprego de meios blindados no interior de
localidades, por ser polêmica, tem sido tema de discussões em todos os níveis e
18
pode-se observar certa deficiência doutrinária quanto às operações em ambientes
urbanos, ainda prevalecendo a idéia pregada nos antigos manuais, onde o combate
em localidades restringe-se ao cerco e isolamento de áreas habitadas, desviando-as
preferencialmente, não estabelecendo regras de engajamento ou formas de
manobra no interior das mesmas, deixando um perigoso hiato no investimento à
localidade, principalmente na viabilidade do uso de viaturas blindadas para este fim.
Segundo um relatório emitido pelo CAADEx, após a execução do I Simpósio
de Combate em Área Edificada, as forças blindadas têm papel fundamental na
conquista de localidades, pois suas características de potência de fogo, mobilidade e
proteção blindada podem conduzir as tropas mais eficazmente para a vitória.
Além disso, recentes prospecções para a guerra do futuro, segundo Hahn II
(2001)1, demonstram que a maioria dos conflitos desenvolver-se-á em áreas
urbanizadas ou edificadas, já que a tendência atual aponta para um crescimento
destas áreas em todo o mundo. Neste mesmo artigo, cita como exemplo os recentes
conflitos ocorridos no Oriente Médio e nos Balcãs, além das guerras civis em
pequenos países onde a Organização das Nações Unidas (ONU) mantém tropas de
estabilização e manutenção da paz.
Apesar da crescente importância do ambiente urbano na guerra moderna,
segundo ECEME (2005), tem-se observado que muitos exércitos regulares não
parecem fazer um esforço eficaz para um treinamento específico, ficando a doutrina
submetida às experiências vividas por outros exércitos, os quais tiveram que se
preparar adequadamente, após o trauma do envolvimento urbano, como por
exemplo, os norte-americanos, russos, ingleses e israelenses.
Ainda segundo Hahn II, o temor pelo uso de meios potentes de destruição,
como blindados e canhões, no interior das cidades é explicado, em parte, pela
influência cada vez maior da opinião pública mundial e da tecnologia da informação
no campo de batalha. Estes instrumentos limitam a liberdade de ação para que se
utilizem aqueles meios por determinado país, sob risco de ser acusado de genocídio
ou de destruição de patrimônios da humanidade, podendo vencer o conflito armado
e ser derrotado no campo diplomático. Por outro lado, de acordo com os mais
preparados exércitos da atualidade e segundo Brasil (1997), um conflito deve ser
__________
1
HAHN II, Robert F. Tenente-Coronel (TC) do Exército dos EUA (2001) em O Combate Urbano e o Combatente Urbano de
2025, disponível na homepage Tropas de Elite.
19
resolvido no mais curto prazo possível, a fim de se preservar ao máximo as vidas
humanas, com ações que primem pela utilização da massa e de operações
ofensivas decisivas onde o inimigo se apresente com maior deficiência.
Surge, portanto, um questionamento: como empregar da melhor forma
meios blindados no interior de localidades, sem causar muitos danos à população e
às edificações, porém com a necessidade de rapidez e decisão no momento do
combate?
Além desse quesito deve-se lembrar que, ainda segundo análise de Hahn II
(2001) e Jezior2, o inimigo estará defendendo em melhores condições no interior de
uma área edificada, podendo estabelecer linhas de defesa anticarro que podem
engajar os blindados com grande eficiência a distâncias regulares e, mesmo estando
em desvantagem numérica ou de tecnologia, poderá prolongar o combate
conduzindo uma guerra irregular.
Outro problema que as tropas atacantes devem resolver diz respeito à
identificação do inimigo, que muitas vezes estão descaracterizados e permeados na
população civil. Apesar de todas as dificuldades citadas anteriormente, seria lícito
supor que é inevitável, no contexto atual, a ocorrência deste tipo de confronto e de
forma muito intensa, como vem ocorrendo atualmente no Iraque.
Assim, esse trabalho se justifica pela necessidade de se procurar soluções
para o pleno aproveitamento dos meios blindados do Exército Brasileiro, consoante
com os fundamentos doutrinários do combate urbano, dos manuais em uso nos
corpos de tropa e nas escolas de formação e aperfeiçoamento, aproveitando
experiências de forças internacionais em constante emprego, como os exércitos dos
Estados Unidos da América, Rússia, Inglaterra, Alemanha, Israel e outros, que, no
transcurso da história, empregaram meios blindados diversos na conquista de
localidades.
Da mesma forma, a presente pesquisa procurará expor as circunstâncias
atuais que englobam a utilização de meios blindados no interior de cidades e as
possíveis formas de atuação, suas técnicas, táticas e procedimentos, enfatizando a
necessidade destes elementos no combate moderno.
__________
2
JEZIOR, Bonnie. Designada para a Escola de Guerra do Exército dos EUA no período 1996-98 e participou de estudos sobre
o Exército do Futuro, primeiramente como aluna e depois como membro docente.
20
Figura 01 - Tropas blindadas americanas em Bagdá, no Iraque, em 2004
Fonte: TROPAS DE ELITE (2006).
1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA
Esse trabalho tem como finalidade precípua chegar à conclusão sobre a
adequabilidade dos meios blindados em uso pelo Exército Brasileiro, particularmente
pela arma de Cavalaria, em um quadro de guerra urbana. Neste sentido, serão
considerados todos os meios blindados das diversas naturezas de tropa de
Cavalaria, de transporte de pessoal, reconhecimento ou de combate, os quais,
depois de analisados, serão classificados em apropriados ou não apropriados para o
combate urbano. Para atingir-se este propósito algumas hipóteses serão levantadas,
seguindo-se os fundamentos doutrinários das operações urbanas, identificando as
possibilidades e limitações dos meios blindados neste tipo de operação e de que
forma outros exércitos em constante emprego trabalham, atualmente, para
solucionar este problema.
A fim de retificar ou ratificar as hipóteses aventadas, o trabalho dará ênfase
aos meios blindados em uso atualmente pela Cavalaria do Exército Brasileiro, sem a
pretensão de esgotar o assunto, mas dando uma visão atual a esta temática tão
importante e polêmica nos dias atuais.
1.3 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
“Meus soldados ficam dentro de veículos, são treinados para lutar
de dentro deles e suas armas são especialmente adequadas
para o combate a um inimigo móvel em território aberto. Não
disponho de recursos humanos nem de treinamento ou de
equipamento adequados à luta urbana”. (Texto Complementar
Combate em Localidade ECEME, 2005 )
O problema assinalado no presente trabalho relaciona os meios blindados
em uso pelas unidades de Cavalaria do Exército Brasileiro e a adequabilidade para o
21
emprego nas operações em ambiente urbano, particularmente no investimento a
uma localidade, tendo como foco a utilização desses meios orgânicos atuais e a
viabilidade ou não do seu emprego neste tipo de operação.
A falta de experiências reais nestas ações, por parte do Exército Brasileiro,
as atuações de outros exércitos no mundo, além da limitada doutrina para este tipo
de operação, previstos nos manuais em uso, leva ao seguinte questionamento: os
meios blindados atuais do Exército Brasileiro, de transporte de pessoal,
reconhecimento ou de combate são apropriados para a utilização no interior de uma
localidade, com aproveitamento de todas as suas principais características, como a
mobilidade e a ação de choque, visando o investimento em uma área urbanizada?
1.4 HIPÓTESES
A fim de embasar o levantamento e a formulação das hipóteses desta
pesquisa algumas variáveis devem ser consideradas: os meios blindados atualmente
em uso pelas tropas de Cavalaria são apropriados para o investimento em uma
localidade, em operações de guerra e não-guerra no ambiente urbano?
Para se confirmar esta variável, outras variáveis independentes foram
levantadas, com as seguintes proposições:
1) os meios blindados em uso pela Cavalaria possuem versatilidade e
tecnologia suficientes para serem utilizados no ambiente urbano?
2) as guarnições dos blindados possuem instrução suficiente para atuarem
no combate urbano atual?
3) as técnicas, táticas e procedimentos para o emprego de blindados em
ambiente urbano estão apropriadas e devidamente treinadas, consoante com a
evolução do combate?
Hipóteses levantadas:
1) Os meios blindados da Cavalaria brasileira seriam adequados para o
investimento contra uma localidade em um quadro de guerra urbana, seja
convencional, em operações de garantia da lei e da ordem (GLO) ou compondo
forças de paz, caso preenchessem os requisitos de todas as variáveis
independentes.
2) Os meios blindados da Cavalaria brasileira seriam considerados
parcialmente adequados para o investimento contra uma localidade em um quadro
de guerra urbana, seja convencional, em operações de garantia da lei e da ordem
22
(GLO) ou compondo forças de paz, se preenchessem parcialmente os requisitos de
adequabilidade das variáveis citadas, sem ser considerado inadequado em nenhuma
delas.
3) Os meios blindados da Cavalaria brasileira são inadequados para o
investimento contra uma localidade em um quadro de guerra urbana, seja
convencional, em operações de garantia da lei e da ordem (GLO) ou compondo
forças de paz, caso fossem considerados inadequados em pelo menos uma das
variáveis independentes levantadas.
1.5 SUBQUESTÃO DE PESQUISA
A pesquisa foi realizada levando-se em consideração uma subquestão, além
da principal questão formulada, qual seja:
- Os blindados devem constituir-se na principal força de investimento contra
uma localidade para reduzir o tempo de combate e resolver rapidamente o
problema?
1.6 REFERENCIAL TEÓRICO
A pesquisa ora proposta foi baseada em manuais utilizados pelo Exército
Brasileiro, manuais do exército norte-americano, monografias existentes sobre o
assunto documentos e livros, nacionais e estrangeiros, além de sites da rede
mundial de computadores, que tratam do referido tema, com o intuito de se verificar
a validade dos mesmos para a realidade de nossas forças.
Para a melhor interpretação dos fatores pendentes em nossa doutrina de
emprego de meios blindados em combate urbano, far-se-á uma pesquisa alicerçada
em forças armadas com comprovada experiência prática neste tipo de ação, como é
o caso dos exércitos norte-americano, israelense e russo, além de outros registrados
na história de lutas urbanas e em documentação elaborada pelo Centro de Avaliação
de Adestramento do Exército (CAAdEx) e pelo Centro de Instrução de Blindados
(CIBld), como subsídios que agregarão valor ao presente trabalho monográfico.
As consultas a publicações, nacionais e estrangeiras, assim como artigos de
especialistas do mundo inteiro, através de edições impressas ou em mídia,
avalizarão os conteúdos explicitados ao longo do trabalho, tornando a pesquisa
científica mais rica em dados.
23
Durante os estudos, procurar-se-á explorar ao máximo os ensinamentos
colhidos e as lições aprendidas pelas tropas que tiveram participação em combates
urbanos recentes e de que forma os meios blindados foram utilizados por estas
forças, analisando os resultados obtidos.
No decorrer da pesquisa, militares especialistas na área de blindados serão
consultados, assim como pesquisadores civis de assuntos de defesa, visando
convergir para uma conclusão que possa sustentar a tese e assessorar o escalão
decisório quanto aos rumos a serem tomados, de forma mais próxima da realidade
vivida pela Força Terrestre atualmente.
Por ser um assunto de pouca divulgação, a base de pesquisa será a
internet, citando, quando possível, a fonte donde foram tirados os argumentos ou
conclusões, acerca do emprego de blindados e do combate urbano.
1.7 OBJETIVO DO ESTUDO
Esta pesquisa tem como objetivo geral verificar a adequabilidade dos meios
blindados da Cavalaria nas operações de combate urbano, seja em um quadro de
guerra convencional, em ações para garantia da lei e da ordem (GLO) ou como força
participante de missões de imposição da paz.
Além disso, esse trabalho poderá proporcionar uma nova visão do emprego
de viaturas blindadas no interior de localidades e a sua adequação no cumprimento
de missões ofensivas. Outra contribuição será a de analisar a aplicabilidade das
doutrinas utilizadas e experimentadas por tropas em situação real de combate, por
exemplo a Guerra contra o Iraque, além de experiências vividas por tropas em
missões de paz e atuando em guerras civis, tendo que combater em áreas
edificadas e urbanizadas.
1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
Para que os objetivos propostos por este trabalho sejam atingidos na sua
plenitude, será seguido o roteiro abaixo descrito:
A segunda seção tratará de alguns conflitos urbanos relatados na história,
ressaltando a utilização de blindados nestas operações e os resultados alcançados
por aquelas forças, concluindo sobre a influência para o combate urbano moderno e
com o intuito de chamar a atenção do leitor para a importância destes meios quando
utilizados em área edificada e urbanizada.
24
Na seqüência, a terceira seção fará uma síntese das principais
características e inovações dos meios blindados utilizados por Estados Unidos e
Israel e daqueles em uso atualmente pela Cavalaria do Exército Brasileiro,
concluindo sobre a adequabilidade destes meios ao combate urbano e os projetos
em curso para modernização, focando a realidade atual de combate não linear,
assimétrico e executado preferencialmente em ambiente urbanizado, visando
solucionar as proposições impostas por esta pesquisa.
A quarta seção terá como assunto a doutrina de emprego dos meios
blindados no combate urbano, tomando-se como referencial as novas técnicas
empregadas pelo exército americano na última guerra do Golfo e aquelas que foram
e estão sendo experimentadas na tentativa de debelar os conflitos no Afeganistão e
no próprio Iraque. Além da doutrina americana verificar-se-á a doutrina em uso por
Israel e por forças internacionais de paz, quanto ao emprego de blindados no interior
de grandes cidades e sua adequabilidade, além de doutrinas de emprego utilizadas
em outros conflitos e guerras civis.
A visualização do emprego e adequabilidade dos meios blindados da
Cavalaria do EB no combate urbano e possíveis rumos para a modernização,
alicerçadas em experiências colhidas em outros exércitos, será o assunto da quinta
seção.
Na penúltima seção serão analisados os dados colhidos com a pesquisa de
campo executada junto aos usuários e especialistas em meios blindados, nas OM
operacionais e de ensino do Exército Brasileiro.
Ao final, a sétima seção fará a conclusão do presente trabalho, respondendo
às principais proposições e hipóteses levantadas no decorrer da pesquisa,
apresentando uma visão para o futuro do emprego dos meios blindados no combate
urbano.
25
2. EMPREGO DE BLINDADOS NOS COMBATES URBANOS NA HISTÓRIA
Ao longo dos anos, principalmente na última década do século passado, as
manchetes dos principais jornais do mundo apresentaram notícias de guerras e de
operações de manutenção da paz em cidades espalhadas pelo mundo, enquanto os
meios de comunicações exibiam cenas de combate brutal ao vivo nestes locais.
Alguns exemplos foram observados em Cidade do Panamá, Kuwait, Mogadíscio,
Porto Príncipe, Bósnia, Sarajevo, Kinshasa, Bagdá, dentre outros que, por sua
importância e ensinamentos, ficaram gravadas nas mentes daqueles que tomaram
parte nos conflitos.
Os ferozes embates travados nas ruas de Mogadíscio, em outubro de 1993,
retratam o que se imagina de um combate urbano atual, com uso de escudos
humanos e guerra psicológica, divulgando imagens de soldados mortos sendo
arrastados pelas ruas, em rituais de selvageria que buscavam inibir a vontade de
lutar das tropas invasoras.
Da mesma forma, soldados russos sendo decapitados na Chechênia e
apresentados ao mundo, representam a realidade a que são submetidas tropas
atuando em um ambiente urbano hostil. A divulgação das possibilidades dos novos
engenhos bélicos de precisão, capazes de atingir carros de combate espalhados em
pleno deserto ou penetrar as janelas dos edifícios inimigos, fica ofuscada por cenas
impactantes usadas por tropas rebeldes. A utilização da população civil como
elemento dissuasório para confundir os soldados e levantar informações valiosas
sobre posições e locais de concentração de tropas, aumentam a dificuldade daquele
tipo de combate.
Quando finalizada a intervenção na Somália muitos chegaram a afirmar que
a única solução seria evitar a qualquer preço o investimento em uma localidade, já
que parecia praticamente impossível conduzir o estilo de guerra pregado pelos
norte-americanos no interior de áreas urbanizadas.
Em estudos realizados por Hahn II (2001), pelo Exército dos EUA e por
Jezior, muitas das operações militares, nas próximas duas décadas, serão
conduzidas no interior ou nos arredores de áreas urbanas. Portanto, o combatente
urbano e os equipamentos e viaturas por eles utilizados, deverão ser adaptados a
esta nova realidade até 2025, fazendo-se uma perspectiva para o futuro das
operações urbanas, que deverão ter muitas faces.
26
Haverá batalhas semelhantes às tradicionais operações de manutenção da
paz, outras serão tais como as operações de imposição da paz e ainda algumas
como o épico combate urbano ocorrido em Stalingrado. De maneira genérica o
cenário dos conflitos urbanos foi descrito por Krulak (1997)3 como "uma guerra
travada no perímetro de três quadras", onde, em um mesmo espaço urbano,
estariam ocorrendo assistência humanitária em uma parte da cidade, conduzindo
operações de manutenção da paz em outra e travando uma batalha estimada como
de média intensidade, porém com alto grau de letalidade, em uma terceira.
Na presente seção, serão apresentados os principais conflitos realizados em
ambiente urbano, onde houve emprego de tropas blindadas, da Segunda Guerra
Mundial até os mais atuais, enfocando os ensinamentos deles colhidos,
principalmente quanto ao uso dos meios blindados, que servirão para embasar o
estudo ora desenvolvido.
2.1 CAMPANHAS DA SEGUNDA GRANDE GUERRA
O mais recente conflito de proporções mundiais durou de 1939 a 1945 e
trouxe a todos os exércitos do planeta vários ensinamentos, particularmente no
tocante ao investimento em localidades e à utilização de blindados no combate
urbano, seja nos aspectos táticos e doutrinários ou em termos de equipamentos e
materiais a serem utilizados neste tipo de operação militar.
Nesse contexto, serão analisadas a seguir, algumas campanhas em áreas
urbanas, ocorridas no período supracitado e que serviram para a formação de
doutrina para muitos países, muitas delas vigentes até os dias atuais.
2.1.1 A conquista da Polônia
A invasão da Polônia por tropas nazistas de Hitler foi, talvez, a primeira em
que se utilizou o investimento contra uma localidade habitada, aplicando a tática da
guerra relâmpago, atacando em todas as direções e empreendendo fulminantes
bombardeios contra a cidade.
As dificuldades foram enormes, apesar do sucesso da invasão, já que o
intento de se tomar Varsóvia foi conseguido a muito custo pelos invasores. A grande
___________
3
KRULAK, Charles C. "The Three Block' War: Fighting In Urban Areas," apresentado no National Press Club, Washington,
D.C., 10 de outubro de 1997, Vital Speeches of the Day, 15 de dezembro de 1997, p. 139.
27
quantidade de tropas empregadas na operação e as perdas ocasionadas pelos
combates no interior da localidade, caracterizaram os principais óbices encontrados
pelos alemães, ao se investir contra aquela área urbana.
Há que se ressaltar, de acordo com Mcksey4, que nesta operação os
blindados demonstraram ter menos efetividade para uma ação rápida do que a
esperada e grande fragilidade às investidas inimigas, principalmente pela falta de
proteção dos fuzileiros desembarcados.
O veículo chamado Panzer III, utilizado pelas forças alemãs no início da
Segunda Guerra Mundial, era um bom carro blindado, mas não surpreendentemente
bom em termos de blindagem, armamento e mobilidade, contudo influenciou os
futuros carros de combate, pois possuía três homens na tripulação do veículo
(artilheiro, carregador e comandante), deixando assim o comandante livre para
concentrar-se em comandar o veículo. A intenção de utilizar o Panzer III como o
principal carro de combate alemão foi largada, devido ao canhão de 50 mm não
conseguir penetrar a blindagem do carro soviético T-34 e foi assim substituído pelo
Panzer IV, que conseguia carregar um canhão de 75 mm.
Figura 02 - “Panzerkampfwagen III (PzKpfw III), geralmente referido como Panzer III, foi um carro desenvolvido nos anos 30
pela Alemanha Nazista e usado intensivamente na Segunda Guerra Mundial. Foi planejado para combater outros veículos de
combate, servindo como um suporte para a infantaria. Em breve seria substituído pelos Panzer's IV, embora alguns ainda
continuassem a ser utilizados para suporte”.
Fonte: Wikipedia
2.1.2 A campanha da França
No dia 15 de fevereiro de 1940, aos 48 anos, o general alemão Erwin
Rommel assumiu o comando da 7ª Divisão Panzer, que se encontrava no vale do rio
Reno, por ordem de Hitler, pois gozava de grande prestígio com o Führer, após ter
participado com grande bravura na Primeira Guerra Mundial.
___________
4
MCKSEY, Kenneth J. Pesquisa em texto da enciclopédia livre no site http/pt.wikipedia.org/wiki/Panzer, retirado de Divisões
Panzer – os punhos de aço – coleção História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial
28
A “Blitzkrieg”5 empreendida na campanha da Polônia impressionou Rommel,
que passou a conduzir suas operações sempre observando a questão da mobilidade
e ação de choque.
Desta forma, Rommel lançou suas unidades em ataques devastadores,
infiltrando-se na retaguarda inimiga, causando espanto, confusão e paralisia dos
inimigos, confirmando o sucesso daquela forma de combater, com divisões
blindadas no investimento contra as cidades inimigas, o que lhe valeu o apelido de
"Cavaleiro do Apocalipse".
A caminho da França, Rommel e sua divisão Panzer avançaram sobre
Luxemburgo, quase sem encontrar resistência e adentrou no território belga,
varrendo a ligeira oposição. Transpondo o rio Ourthre, dispersou a resistência
francesa e começou a penetrar fundo em território francês. Ocupando cidade após
cidade, avançou vários quilômetros e chegou à costa entre Fécamp e Saint-Valéryen-Caux, encurralando aí tropas britânicas e francesas, conseguindo a rendição de
20.000 soldados.
As características de mobilidade e ação de choque são exploradas ao
máximo pelo Gen Rommel, surgindo grandes vantagens em se conquistar as
cidades inimigas no decorrer das operações ofensivas, apesar das novas e grandes
dificuldades que começam a aparecer, tais como emprego da população na defesa
das cidades e construção de abrigos no seu interior.
Mesmo assim, com o ímpeto da divisão blindada no vale do rio Sena, após
atravessar várias cidades, conseguiu se aproximar da costa em La Haye du Puits,
rodando a uma velocidade de 30 a 45 km por hora para cobrir mais de 320 km em
dois dias. A grande mobilidade, ainda não vista até aquela época, permitiu um
avanço de 240 km em um único dia, sendo o mais longo já executado numa guerra
até aquele momento, trazendo grande vantagem à tropa atacante.
Quando retornou com sua divisão até Bourdeux para a ocupação, em uma
campanha de seis semanas de duração, Rommel capturou o espantoso total de
quase 100.000 prisioneiros e mais de 450 tanques6. Perdeu 682 soldados mortos em
ação, 1.646 feridos, 296 desaparecidos e 42 tanques. Ninguém conduzira a
_______________
5
“Blitzkrieg” ou guerra relâmpago foi o nome dado às ações rápidas e devastadoras empreendidas pelos alemães na Segunda
Grande Guerra, atropelando o inimigo com mobilidade e potência de fogo (definição própria).
6
Os termos Tanque e Carro de Combate serão utilizados no decorrer do trabalho e possuem o mesmo significado.
29
“Blitzkrieg” com tal segurança, equilíbrio e rapidez, levando Hitler e os nazistas a
adotar como doutrina esta forma de atuação, apesar do grande dispêndio em vidas
humanas e material, comparados com os padrões atuais. A divisão já usava a nova
geração de carros de combate alemão Panzer IV, que ainda possuía algumas
vulnerabilidades.
Figura 03 - Panzer IV
Fonte: Wikipedia
2.1.3 Derrota alemã em Stalingrado
Conforme Terra (2002), a batalha de Stalingrado foi travada entre 19 de
agosto de 1942 e 2 de fevereiro de 1943 pelos exércitos alemães que invadiram a
URSS em 1941 e as forças soviéticas, constituindo-se num dos maiores e mais
violento conflito no interior de uma localidade já visto em todos os tempos. O número
de soldados, blindados e aviões perdidos e de munições e alimentos consumidos foi
gigantesco, sendo estimado em mais de dois milhões de pessoas participantes da
refrega.
A meta de Adolf Hitler, além de provocar um profundo abalo no moral dos
comunistas, conquistando-lhes a cidade que levava o nome do seu líder, era impedir
que os imensos recursos de alimentos e do óleo de Grozny e de Baku, subindo o rio
Volga, chegassem à parte industrializada e mais densamente habitada da Rússia.
Desta forma, esperava-se que os russos, sem provimentos, capitulariam
rapidamente após uma investida esmagadora das tropas nazistas em Stalingrado.
Porém, no decorrer dos embates, os alemães sentiam que, ao adentrar
naquele vasto e estranho território, a resistência dos soldados soviéticos era cada
vez maior e os russos, mesmo cercados pelas pinças formadas pelos carros de
combate alemães, relutavam em render-se. Gritando “Za Stalina!” (Por Stalin),
vendiam caro o mínimo avanço do inimigo no interior da localidade.
A surpreendente reação russa provavelmente não estava nos planos
nazistas, nem tampouco a condução de um combate no interior de uma cidade de
aproximados 300.000 habitantes. Os comandantes alemães, entretanto, não
30
imaginavam o que o destino lhes reservava naquela cidade batizada com o nome de
Stalin. As primeiras levas de regimentos da “Wehrmacht”7 já estavam nas margens
do Volga, o grande rio da Rússia, mas o contínuo desgaste das forças alemãs
determinou que fossem utilizadas, no front de Stalingrado, uma quantidade
crescente de forças militares de outros membros do Eixo (italianos e romenos), de
fraco valor militar e pouco confiáveis. Além dos audaciosos planos imperialistas de
Hitler, o fato da cidade ter o nome do inimigo de Hitler, Josef Stalin, fez a captura da
cidade ser também motivo de propaganda. Tal acabou por fazer com que Stalin, que
durante muito tempo persistiu em acreditar na ofensiva alemã em direção a Moscou,
acabasse por pensar do mesmo modo.
Entrementes, o exército alemão chegou a tomar, em feroz combate casa a
casa, o equivalente a nove décimos de Stalingrado; mas este combate de rua o
desgastava, impunha baixas cada vez maiores de homens e equipamentos
produzidas por franco-atiradores e armas anti-tanques, impedia que o seu comando
e acima de tudo Hitler, conseguisse pensar em outra coisa senão tentar, com
persistência insana, em finalmente tomar Stalingrado. Os combates já deixaram de
ser simplesmente pela posse da cidade, mas naquele outono de 1942 ocorreram os
principais acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, no decurso dos quais eram
desbaratadas as forças seletas da Wermacht, colocando em dúvida a eficiência da
”Blitzkrieg” com os meios blindados, no investimento em uma localidade.
Figura 04 - Batalha de Stalingrado mudou os rumos da II Guerra Mundial
Fonte: Military Review (2º Sem 2001).
Os defensores da cidade imobilizaram ali grandes forças do inimigo e das
amplitudes operativas das estepes a guerra foi encurralada na zona industrial de
__________
7
“Wehrmacht” era como se chamavam as forças armadas da Alemanha nazista na época da Segunda Guerra Mundial,
compreendendo Marinha, Exército e Aeronáutica. Fonte wikipedia.
31
Stalingrado, situada em região com depressões, esburacada e acidentada,com
edificações de cimento armado e de tijolos. O quilômetro, como medida de extensão
nessa guerra, foi substituído pelo metro, o mapa da batalha cedeu lugar ao plano da
cidade.
De acordo com a emissora “The Voice of Rússia” (2002)8, antes do envio
para Stalingrado, a maior parte dos soldados soviéticos passou por cursos de pelo
menos três dias de tática de condução de combates de rua. Ensinaram-lhes a luta
corpo a corpo, a arte de manejar a baioneta, punhal, pá, a apanhar uma granada em
pleno vôo, para devolvê-la imediatamente à trincheira do inimigo. Diretamente na
linha de Frente, o comando soviético organizou escolas de franco-atiradores.
Posteriormente, utilizando a “caça” em grupos, várias dezenas de franco-atiradores
soviéticos podiam até mesmo deter uma ofensiva alemã. O sentido da nova tática
consistia em privar do comando, já antes do início da ofensiva, as companhias e
batalhões alemães. O cálculo era simples: via de regra, antes da ofensiva os oficiais
alemães saíam para a observação das posições, onde eram alvo da caça dos
franco-atiradores soviéticos. Durante a ofensiva eram liquidados em primeiro lugar
os oficiais e depois os soldados das posições avançadas
Acostumado com a série de vitórias táticas, até então conseguidas, Hitler,
fiel aos seus projetos megalômanos, subestimou o adversário e em nenhum
momento pensou em reduzir a velocidade da ofensiva em direção ao Cáucaso,
contando que o flanco esquerdo de toda a operação, situado precisamente em
Stalingrado, pudesse estar garantido. Desta feita, sua manobra no território
soviético, possuía cunho estratégico e baseava-se em correr contra o tempo e uma
maior lentidão do ritmo de operações apenas daria tempo aos aliados de
organizarem o abastecimento das tropas soviéticas por via da fronteira iraniana,
retirando o petróleo do Cáucaso para sempre do acesso alemão.
O anseio dos hitleristas de tomar Stalingrado custe o que custar e transferir
a Frente para a margem Leste do Rio Volga, representava para os russos um perigo
mortal. Nos dias seguintes foram travados cruentos combates com enorme
supremacia de forças do inimigo, principalmente na direção dos seus principais
golpes. E, apesar disso, todos os seus ataques eram rechaçados pelos soldados
__________
8
Texto comemorativo aos 60 anos da Batalha de Stalingrado.
32
soviéticos, que combatiam heroicamente, ombro a ombro com os destacamentos
operários das empresas e os habitantes da cidade. O Marechal russo Tchuikóv
(1966)9, relatou o seguinte:
“[...] ombro a ombro com os soldados e oficiais, nas trincheiras combateram
heroicamente também os operários das empresas de Stalingrado e os
habitantes civís. Eles foram simultaneamente combatentes, guias e
reconhecedores nesta batalha. Inclino a minha cabeça diante da audácia dos
Volgarinos - marujos, marinheiros civís fluviais. A sua façanha é imortal. Eles
nos traziam tudo : reforços, munições, produtos, e tudo sob fogo cerrado,
fazendo a travessia do Volga para Stalingrado. Do Sul, em direção à
Stalingrado avançavam tanques e tropas mecanizadas dos invasores nazifascistas. Esta avalanche blindada só podia ser detida por tanques, sendo que
em grande número. Mas, sentia-se a sua falta catastrófica, tal como, aliás,
também outros armamentos. Além disso, apenas terminava a complementação
e formação de potentes exércitos soviéticos[...]” (TCHUIKÓV, 1966).
Mesmo assim, conforme Wikipedia (2007), a situação na zona de
Stalingrado e na própria cidade, onde ardiam os combates, tornava-se mais crítica a
cada momento. A cidade foi alvo de incessantes bombardeios, muitas edificações
foram destruídas, foram colossais as vítimas entre a população civil. No decorrer da
guerra, combates sangrentos foram travados no centro da cidade, ficando, assim,
algumas das unidades russas isoladas das forças da Frente de Stalingrado, tanto no
Norte, como no Sul. Os embates ocorriam a cada prédio, alguns deles passavam de
uma parte para outra 3 a 4 vezes ao dia, caracterizando esta nova modalidade de
guerra, tão temida pelos melhores estrategistas. Para romper o setor da frente de 4
quilômetros, o inimigo havia lançado naquela ofensiva centenas de tanques e
aviões, além de 70 mil soldados de infantaria. Mas, os defensores da fortaleza no
Volga travavam combates de vida ou morte e suas fileiras foram engrossadas por 75
mil civis, fato que dificultava ainda mais as ações no interior da cidade.
Segundo Terra (2007), depois de cruentos combates os exércitos blindados
alemães conseguiram tomar grande parte dos distritos de Stalingrado. Porém os
russos obedeciam fielmente à diretiva de Stalin (Ordem nº 227) exigindo que
nenhum passo atrás fosse dado por um soldado russo. Os combatentes lutaram com
granadas, a tiros e à faca, com o que estivesse à mão, de rua em rua, de casa em
casa, nas ruínas, nos esgotos, nos entulhos, nada era dado de graça.
__________
9
TCHUIKÓV, Vassili I. Citação da obra “A Batalha de Stalingrado” (RJ. Editora Civilização Brasileira, 1966).
33
Figura 05 - Tropas alemãs ocupam posições defensivas nos arredores de Stalingrado
Fonte: Wikipedia.
O escritor soviético Simonov (1979)10 deixou o seguinte relato sobre o
cenário de Stalingrado:
“[...] todas as casas da cidade queimavam e durante a noite a fumaça delas se espalhava
no horizonte. Dia e noite a terra era sacudida por milhares de bombas e pela barragem
da artilharia. Os destroços provocados pela explosão das bombas espalhavam-se pelas
ruas e o ar achava-se tomado pelo silvo dos projéteis, mas em nenhum momento o
bombardeio parava. Os que a cercavam tentavam transformar Stalingrado num inferno
na terra. Mas era impossível ficar-se inativo – era preciso lutar, defender a cidade apesar
do fogo, da fumaça e do sangue. Esta era a única maneira que se poderia ficar vivo, era
a única maneira que se tinha de viver[...]” (SIMONOV, 1979).
O exército soviético empregou a tática de "terra arrasada", tudo foi retirado
por trem e levado para as regiões orientais do país: fábricas, máquinas agrícolas,
gado e também a população. O que não pode ser levado foi destruído. Assumindo a
defesa da cidade, obedecendo ao marechal Yeremenko, o general Tchuikóv, então
comandante do 62º exército soviético, ordenou aos seus soldados: “Todo homem
precisa tornar-se uma das pedras da cidade”. A batalha de Stalingrado tornar-se-ia
tudo o que a infantaria alemã e seus comandantes menos desejavam, ou seja, uma
guerra travada corpo-a-corpo dentro de uma enorme cidade em ruínas. A Revista
Veja (1943), noticiou o fato com a seguinte manchete: “O início do fim? Soviéticos
impõem em Stalingrado primeiro e inconteste revés à “Wehrmacht”-Pertinácia de
Hitler sela a derrota alemã - Stalin prevê novos êxitos nas batalhas contra os
nazistas - EUA e Grã-Bretanha também comemoram”.
No corpo do texto da notícia a derrota alemã foi explicitada da seguinte
forma:
_______________
10
SIMONOV, Konstantin (1915-1979). Citado por N.T.Morozova e N.D. Monakhova em The Battle for Stalingrad, Moscou, 1979
34
“Ruidosas metralhas e morteiros solapam a fachada da Univermag, loja de
departamentos transformada em quartel-general das forças de ocupação
alemãs em Stalingrado. Após um cerco de semanas, as falanges soviéticas
acabam de chegar à Praça Vermelha. Um prisioneiro tedesco informa que o
marechal-de-campo Friedrich Paulus, comandante do Sexto Exército, está no
magazine, localizado no coração da cidade velha. Os russos já se preparam
para a invasão do local quando avistam uma bandeira branca sendo
desfraldada”. (VEJA,1943).
Era a rendição incondicional dos alemães que sentiram o gosto do fracasso
e da derrota naquele conflito, embora contasse com superioridade em blindados e
soldados.
As novas técnicas de defesa no interior de localidades, utilizando obstáculos
e a população civil, provaram ser eficaz contra um poderoso exército que utilizava a
guerra relâmpago e grandes bombardeios para conquistar as cidades. A utilização
massiva de blindados sofreu naquela ocasião seu primeiro revés mais significativo,
tendo em vista o emprego inédito nos espaços reduzidos da cidade de Stalingrado.
Figura 06 - Camaradas em festa: ainda queimando, Stalingrado volta a ver pavilhão soviético tremular.
Fonte: Revista VEJA, 1943.
2.1.4 A campanha do Mediterrâneo
A guerra no Norte da África era essencialmente uma campanha dos
italianos, que quase foram derrotados pelos britânicos na Abissínia (Etiópia). Os
italianos eram uma fonte constante de aborrecimento a Hitler, com seus ataques à
Grécia e na África, ambos terminados em derrota. Os alemães tiveram várias vezes
que enviar reforços para sustentar o exército relativamente fraco da Itália.
Hitler concordou em enviar uma força expedicionária para o Norte da África
em 1941, sob as ordens de Rommel, um líder capaz e competente, que durante a
campanha francesa conduziu a 7ª Divisão de Panzers (A Divisão Fantasma).
A força enviada para a África, conhecida como a "Deutsche Afrika Korps", segundo
35
Tropas de Elite (2006), era composta de várias divisões de batalha que incluíam as
15ª e a 21ª Divisões de Panzer como também a 334ª Divisão de Infantaria e as 5ª e
90ª Divisões Leves. Os primeiros elementos chegaram à Tripoli, na Líbia, no dia 14
de fevereiro e continuariam chegando durante as demais semanas deste mês. Nesta
campanha merece destaque os combates urbanos desenvolvidos em Tobruk, cidade
africana que ficou isolada por terra durante quase toda a campanha do
Mediterrâneo.
O sistema defensivo empregado na cidade, durante o avanço das tropas de
Rommel, constava de uma eficiente linha de barreiras nos arredores da cidade, com
constante e bem organizada rede de abastecimento e suprimento, através de meios
navais e que davam suporte à resistência das tropas de elite chamadas de “ratos do
deserto”. A investida das tropas nazistas rumo ao Egito perdeu impulsão em face
dos combates travados em Tobruk, apesar dos valorosos meios blindados das
divisões Panzer, que não se mostravam tão hábeis e móveis em um ambiente
urbanizado e fortemente defendido.
Figura 07 - Para atuar no deserto os veículos foram repintados nas cores de camuflagem tropical que era
principalmente amarelo escuro e o símbolo do Afrika Korps, a árvore de palma e a suástica, colocado como sinônimo da
campanha Norte africana.
Fonte: Tropas de Elite (2006).
A campanha da frente ocidental teve nos campos da Itália importantes
combates em localidades, como em Monte Cassino e Montese, esta última com a
participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Na cidade de Monte Cassino
localizava-se o principal ponto da defesa alemã na frente italiana, na chamada Linha
Gustav, desenvolvida ao longo dos Apeninos, aproveitando suas elevações para
evitar o acesso aliado para o norte.
No alto de Cassino os alemães tinham dominância sobre toda a área e a
localidade era considerada a região capital de defesa nazista, sendo, portanto, alvo
36
de constantes ataques, de início rechaçados pelos defensores daquele local, bem
organizados e protegidos por obstáculos artificiais, conjugados com as elevações e a
cidade.
Após seguidos fracassos os aliados resolveram empregar a força aérea para
intervir, lançando várias toneladas de bombas sobre Cassino, causando enormes
avarias na cidade, transformando-a num amontoado de ruínas que, de certa forma,
auxiliaram os defensores na construção de pontos fortes de defesa e casamatas,
nos entulhos que se espalharam por toda a área. Atrás dos escombros escondiamse ninhos de metralhadoras, postos de vigilância e franco-atiradores que resistiam
às tentativas de investimento por tropas terrestres aliadas.
Os próprios escombros tornaram-se um poderoso inimigo para as tropas
atacantes, já que as dificuldades de locomoção no interior do perímetro urbano
retardavam os deslocamentos e por vezes obrigavam os fuzileiros a separarem-se
dos blindados, tornando ambos vulneráveis aos ataques alemães.
Nos pontos fortes as armas anticarros atingiam facilmente os veículos que
perdiam muito da sua mobilidade, em vista do acúmulo de escombros gerados pelos
ataques aéreos e pela falta de proteção dos fuzileiros, obrigados a desembarcar e a
procurar proteção dos fogos diretos das metralhadoras inimigas.
Em abril de 1945, os pracinhas brasileiros da FEB tiveram uma experiência
em Montese das dificuldades para conquistar uma localidade, principalmente,
naquele caso, em que a cidade estava localizada em um ponto elevado que
dominava toda a região, numa defesa bem estruturada e organizada pelos alemães.
Durante a conquista da Itália registraram-se as maiores baixas, em termos
estatísticos, das forças aliadas em todo o conflito mundial e onde mais tempo foi
gasto até a rendição das tropas do eixo, tendo em vista a eficiência das defesas
postadas em localidades, associadas ao terreno favorável aos defensores.
2.2 COMBATE URBANO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
As experiências trazidas dos combates urbanos desencadeados na Segunda
Grande Guerra originaram nova preocupação com este tipo de enfrentamento, no
período da Guerra Fria, quando ocorreu a bipolarização mundial, separando o
mundo em dois blocos, o do oriente com liderança soviética e o do ocidente
dominado pelos Estados Unidos.
37
Esse período do pós-guerra foi marcado por inúmeras guerras civis, muitas
vezes financiadas por americanos e soviéticos, com a finalidade de conquistar mais
países para suas esferas de influência, tornando-se marcantes alguns conflitos em
ambientes urbanos, os quais serão apresentados a seguir.
2.2.1 Conflitos no Oriente Médio
Após os horrores da Segunda Grande Guerra, a região do Oriente Médio foi
a mais castigada por conflitos causados por variados motivos, seja de ordem étnica,
religiosa ou política e que tornaram a região um verdadeiro barril de pólvora prestes
a explodir.
Neste contexto, alguns conflitos foram desenvolvidos em ambientes
estritamente urbanos, onde se observou o uso indiscriminado da população civil
como escudo humano e muitas vezes sendo utilizada como soldado regular,
guerrilheiro ou terrorista, ficando famosos os homens-bomba.
A cidade de Jerusalém, por exemplo, vem sendo palco de combates
sangrentos onde carros de combate são utilizados contra guerrilheiros e populares
revoltados, atuando de forma dissuasória e afetando particularmente o moral do
adversário.
A Força de Defesa de Israel foi o primeiro Exército a usar uma viatura
blindada de Infantaria, pois seu carro de combate (CC) Merkava era capaz de levar
um grupo de soldados de infantaria na parte traseira. A idéia israelense foi criar
blindados de infantaria mais blindados que os CC, pois a infantaria objetiva
conquistar terreno, enquanto os carros precisam apenas engajar alvos e dominá-los
pelo fogo à longa distância.
Os israelenses estavam insatisfeitos com o desempenho da Viatura Blindada
de Transporte de Pessoal (VBTP) M-113 no Líbano e em 1982 iniciaram estudos
que resultaram no Achzarit. Este carro foi baseado em um chassi modificado de
tanques T-54/T-55 russos capturados em ações anteriores. A pretensão israelense
era a fabricação de uma viatura blindada de infantaria, com proteção necessária
para acompanhar o Merkava.
38
Figura 08 - VBI X-3 A1 Achzarit (Cruel) israelense
Fonte: Tropas de Elite (2006)
Na mesma região durante a invasão do Líbano nos anos 80 pelos
israelenses, observou-se a relutância em partir para o confronto nas ruas de Beirute,
já que se sabia que os desgastes em pessoal e material seriam enormes e pouco
compensadores para o que se propunha Israel. Desta forma os israelenses
apelaram para os organismos internacionais que realizaram a ocupação da cidade,
através das Forças de Paz da ONU.
Analisando-se apenas o aspecto tático do emprego de blindados no
ambiente urbano, verifica-se que os israelenses, que possuem um exército regular e
organizado, utilizam este meio em larga escala, obtendo vantagens decisivas sobre
os árabes. Nos confrontos ocorridos no Oriente Médio, os meios blindados foram
largamente utilizados, aplicando e testando uma doutrina que está sendo
consolidada, pelos anos de experiências reais de combate.
Faz-se necessário ressaltar que, com uma planejada ação de contrapropaganda por parte dos árabes, utilizando-se a mídia internacional, a liberdade de
ação dos israelenses fica comprometida, tendo em vista parecer uma guerra
desigual, onde carros de combate enfrentam civis desarmados.
As tropas de imposição da paz da ONU, em operações na região do Golfo
Pérsico, também se utilizaram deste meio, como forma de patrulhar ruas e avenidas,
com certa proteção contra os ataques terroristas.
Observadores da ONU em
patrulha motorizada
Figura 09 - Observadores canadenses da UNEF (United Nations Emergency Force) entre Israel e Egito,
Fonte: Arquivo pessoal.
39
A mais marcante característica dos combates transcorridos após a Segunda
Grande Guerra na citada região, foi a diminuição do número de vítimas e de
destruição de edificações das cidades, já havendo uma maior preocupação com as
repercussões dos atos cometidos contra civis e contra o patrimônio histórico e
cultural dos povos.
Assim, na 2ª Guerra do Golfo e na investida contra o Afeganistão, os
Estados Unidos, com enorme vantagem humana e tecnológica e empregando armas
de última geração e alto poder destrutivo, deram preferência para a escolha de alvos
pré-definidos, que eram destruídos com precisão cirúrgica, reduzindo ao máximo as
mortes entre civis. Os blindados americanos, naquela ocasião, foram utilizados para
conquistar pontos estratégicos nas cercanias das cidades e para realizar patrulhas
de incursão em pontos fortes da resistência inimiga ou simplesmente para
demonstração de força.
A estratégia de enfraquecer o poder político e militar de Saddam Hussein,
através de ataques pontuais contra instalações chaves dos iraquianos, dispensou
uma investida massiva contra cidades como Bagdá, apenas adentrando neste
ambiente para realizar a limpeza dos focos de resistência, muito embora, na atual
guerra que vem se desenvolvendo, nota-se a real dificuldade em se eliminar um
inimigo invisível, dentro de uma localidade das proporções de Bagdá.
Os norte-americanos utilizam seus blindados de transporte de pessoal para
patrulhas em áreas dominadas pelos insurgentes, mas não se observam ataques de
carros de combate contra instalações, devido ao risco de atingir civis inocentes,
apontando para uma doutrina diferente da utilizada até a Segunda Guerra Mundial,
onde os bombardeios indiscriminados levavam o terror e a destruição às cidades.
Figura 10 - Patrulha americana em ponto forte utilizando-se os CC M1 Abrams e Bld leve Humvee
Fonte: TROPAS DE ELITE (2006).
40
2.2.2 Tropas da ONU na Somália
De acordo com Military Review (2004), em novembro de 1991, após
divergências que remontam à época da fragmentação colonial da África, eclode uma
luta intensa entre a facção que apoiava o Presidente Interino da Somália, Ali Mahdi
Mohamed e a facção que apoiava o General Mohamed Farah Aidee, presidente do
Congresso Unido Somali (CUS), dando início a uma guerra civil que levaria a nação
ao caos político e social, com um resultado imediato de 300.000 mortos, 2.000.000
de refugiados e quase metade da população em condições deploráveis de
sobrevivência.
A vitória do CUS dividiu o país em duas facções irreconciliáveis: de um lado
a Aliança de Salvação Somali (SSA), dirigida por Ali Mahdi Mohamed, Presidente
Interino desde 1991 e de outro o Congresso Unido Somali (US/ANS) dirigido pelo
General Mohamed Farah.
O conflito promove um total desgoverno no país e as instituições são
fragilizadas e desacreditadas, originando uma catástrofe humanitária que motiva a
intervenção da comunidade internacional, prestando ajuda através de agências da
ONU. A primeira força a ser deslocada para a região foi denominada Operação
Nações Unidas na Somália (ONUSOM I), em 24 de abril de 1992 e constava de
observadores militares com a finalidade de monitorar a linha de cessar fogo entre
ambas as facções e a melhorar as condições para conversações, visando uma
solução política para a crise instalada.
Não tardou e a ONU concluiu que seria necessário o uso de força militar
para institucionalizar e impor a paz à região e em 3 de dezembro de 1992 surge
então a Força-Tarefa Unificada (UNITAF), composta por unidades militares de 24
países, sob o comando dos EUA, que chegaram a Mogadíscio para a Operação
Restore Hope, onde se observaria o emprego de forças de paz em ambiente urbano,
com novos componentes e necessidades.
Em 26 de março de 1993 é realizada a transição da UNITAF para a
ONUSOM II e no dia 5 de junho de 1993, um ataque contra as forças da ONU em
Mogadíscio causou a morte de 25 soldados paquistaneses, com 10 desaparecidos e
54 feridos. As milícias de Farah foram consideradas responsáveis. Houve também
outros ataques, em julho e agosto, com minas com controle remoto contra soldados
americanos desdobrados para a proteção de comboios.
41
Por esta razão, em agosto de 1993, os Estados Unidos desdobraram uma
FT Conjunta, com meios do Comando Conjunto do Forte Bragg, sob o controle direto
do Comando de Operações Especiais e sob o comando do General William
Garrison, formada por 130 comandos da Força Delta, uma Companhia de Rangers,
16 helicópteros e outros meios leves de transporte terrestre, cuja missão era
seqüestrar o General Aideed e seus principais assessores.
Nos dias 3 e 4 de outubro de 1993, no centro de Mogadíscio, essas novas
forças especiais dos EUA, recentemente desdobradas, foram emboscadas quando
tentavam executar a operação de seqüestro dos principais assessores do General,
sendo dois helicópteros abatidos e onde morreram 18 soldados ficando 75 feridos.
Figura 11 - Somália, 1993.
Fonte: Military Review (2004)
As imagens dos corpos desses soldados sendo arrastados pelas ruas de
Mogadíscio foram mostradas nas cadeias de televisão, causando um grande
impacto. Os Estados Unidos reforçaram temporariamente sua presença com forças
aéreas, marítimas e terrestres, mas, posteriormente, com a repercussão política
destas ações e seu efeito na população americana, anunciaram sua intenção de
retirarem-se da Somália, o mais tardar em 31 de março de 1994, o que também foi
anunciado pela Bélgica, França e Suécia.
Depois dos embates o saldo de vítimas foi em torno de 1000 pessoas entre
mortos e feridos (combatentes e civis), o que demonstrou ser um bom método para
países do Terceiro Mundo utilizarem contra grandes potências. Levam a força de
mais alto nível para um ambiente urbano complexo, onde a superioridade e a alta
tecnologia têm seus efeitos reduzidos e onde são impostas restrições no emprego
da força para evitar danos colaterais na população civil com permanente
acompanhamento da imprensa internacional, diminuindo a liberdade de ação.
Mesmo com o reduzido número de perdas aos EUA, devido à evidente
superioridade e excelente equipamento da sua infantaria, o fato foi considerado uma
42
derrota política pelo Congresso americano. Powell (1994)11, na época, descreveu
sucintamente a reação política com esta declaração:
"[...] Os americanos ficaram horrorizados ao ver um de seus soldados, morto
e esquartejado, sendo arrastado pelas ruas de Mogadíscio. Fomos atraídos a
esse lugar pelas imagens da televisão, e agora elas nos provocam uma
indignação moral [...]” (POWELL, 1994).
O fato demonstrou a sensibilidade da população e dirigentes norteamericanos ao lidar com baixas nos seus efetivos. A estratégia elaborada por
Mohammed Farrah Aideed de provocar tantas baixas, difundidas pela mídia, que
forçasse a retirada dos norte-americanos, aparentemente havia dado certo, já que,
em julho de 1994, o Secretário Geral da ONU recomendou reduzir as forças para
15.000 homens, alegando ainda não terem sido cumpridos os compromissos
contraídos em Addis Abeba e Nairobi. Mesmo assim, ensejou prorrogar o mandato
da ONUSOM II até 31 de março de 1995, para que a reconciliação fosse
estabelecida e a assistência das Nações Unidas à Somália continuasse só nas
esferas política e humanitária, com o desdobramento de um Gabinete Político da
ONU para Somália (UNPOS).
Quanto às lições aprendidas, no que diz respeito ao combate urbano, para
os Estados Unidos, Pilowsky12 (2004), chegou à seguinte conclusão:
“[...] do combate em Mogadiscio o principal ensinamento colhido foi a necessidade de
implementação pelo exército americano de numerosos projetos de melhoramento de
Operações Militares em Terrenos Urbanos (MOUT). Como por exemplo, o projeto
"Metropolis", orientado para a busca de novas táticas de combate em localidade,
viaturas leves com maior poder de fogo e proteção, já que os blindados leves Humvee
apresentaram fragilidade quanto à blindagem, construção de cidades e localidades nos
centros de combate e treinamento, desenvolvimento de combate com maior valor
tecnológico e, fundamentalmente, gerar uma situação de adestramento, entendendo-se
que é a atividade mais transcendente para abrir o caminho para o êxito no combate em
terrenos urbanos [...]” (PILOWSKY, 2004).
No emprego de forças especiais no combate urbano, sob um ambiente
operacional conhecido como de operações de não guerra, é necessário o
desenvolvimento de importantes estudos sobre o comportamento da sua avançada
tecnologia, tais como: novos meios para a obtenção de informação para reprodução
__________
11
POWELL, Collin. Secretário de Estado americano em 1994.
12
PILOWSKY, Carl Marowsky. Coronel Diretor do Centro Conjunto para Operações de Paz do Chile (CECOPAC). Possui dois
mestrados, em Ciências Navais e Marítimas e em Ciências Militares. Foi professor e chefe do curso no International Institute of
Humanitarian Law de San Remo, Itália, como especialista em Direito Internacional Humanitário de 2001 a 2003.
43
de imagens estáticas ou dinâmicas, análise e percepções da realidade sobre o
adversário, o comando e controle e comunicações das forças especiais, a proteção
da força e o emprego de meios de combate, armas versáteis com grande aumento
de letalidade.
Figura 12 - M998 High Mobility Multipurpose Wheeled Vehicle (blindado leve "Humvee"), utilizado
pelas forças especiais americanas em Mogadíscio.
Fonte: Defense Update (2006).
Quanto ao aspecto comando e controle, o filme Falcão Negro em Perigo
(2001), apresenta uma noção do que será a guerra do futuro, onde todos os
acontecimentos são acompanhados pelo comando das operações no tempo e no
espaço real através de imagens fornecidas por helicópteros de observação e por
aviões espião como o Orion, permitindo o estudo de situação e as decisões
oportunas.
Ainda na análise de Pilowski (2004), para este tipo de confronto são
necessárias armas adequadas para controle de multidões, operações psicológicas e
seu verdadeiro efeito na população, proteção da força com viaturas de transporte
blindados, capacidade de detecção de fogo indireto sobre as tropas, atitude e
capacidade de trespassar barricadas e multidões. É fundamental a proteção balística
com coletes e capacetes adequados para áreas de temperatura alta, uso de bombas
fumígenas em combate urbano para dificultar a visão, medidas antiaéreas em caso
de vulnerabilidade diante do uso de lança foguetes portáteis (RPG)13.
O uso de robótica e de viaturas não tripuladas, aumento e emprego de
meios de visão térmica e visão noturna, detecção de franco-atiradores diurnos e
noturnos, obtenção de equipamentos compactos para prover energia e a prevenção
sanitária em áreas complexas são outras medidas importantes a serem adotadas
nas operações urbanas.
__________
13
Rocket Propelled Grenade (RPG), lançador portátil de foguetes com alto poder de destruição e usado extensivamente contra
blindados e comboios motorizados (definição do autor).
44
Figura 13 - HUMVEE atingido por RPG – necessidade de reforçar a blindagem
Fonte: Defense Update (2006).
2.2.3 O desastre de Grozny
Conforme análise de Thomas (1995)14, no final de 1994 a administração de
Boris Yeltsin na Rússia, enfrentou resistências ocasionadas pela dissolução do
império soviético, quando forças militares desejavam a restauração da autoridade da
Federação Russa em toda a região do Cáucaso.
Durante o enfrentamento, os russos pensaram que a operação seria uma
simples demonstração de força na importante cidade de Grozny, capital da
Chechênia e que rapidamente culminaria com o colapso do governo rebelde. Porém,
a operação evoluiu rapidamente para uma campanha militar que, como se observou,
terminaria em um fracasso total das forças regulares russas.
Os
comandantes
russos
poderiam
ter
evitado
esta
falha,
caso
compreendessem e tivessem analisado corretamente o local onde se desenvolveria
a batalha, dentro de seu teatro de operações. No entanto, acreditaram em
suposições
errôneas
geradas
no
nível
estratégico
que
conduziram
subseqüentemente a uma compreensão equivocada do ambiente da batalha, em
toda sua complexidade, negligência esta da inteligência que afetou adversamente
todos os demais sistemas operacionais. Por outro lado, os rebeldes chechenos
fizeram uso extensivo da sua familiaridade com a região e dos conhecimentos que
possuíam de antemão das possibilidades e deficiências do exército russo, tirando
enorme vantagem dessa situação.
Segundo Grau (1995)15, do “Fort Leavenworth”, em seu trabalho sobre a
__________
14
THOMAS, Timothy L. "The Russian Armed Forces Confront Chechnya: The Battle for Grozny, p. 1-26 janeiro de1995 (parte
1)," Low Intensity Conflict & Law Enforcement, (Winter 1996), p. 411.
15
GRAU, Lester W. Artigo publicado no INSS Strategic Forum, Nr 38 em julho de 1995
45
Guerra da Chechênia, o exército russo não tinha dinheiro e possuía pouca
sustentação, fato que fez com que nenhuma tropa nível brigada ou divisão fizesse
qualquer exercício em campanha de treinamento nos dois anos que antecederam a
primeira batalha e a maioria dos batalhões com muita sorte tinham realizado um
exercício no ano.
Os batalhões foram equipados com 55% de sua capacidade operativa ou
menos e aproximadamente 85% da juventude russa eram isentas ou adiavam o
serviço militar, forçando o exército a aceitar recrutas com registros criminais,
problemas de saúde ou incapacidade mental. Além disso, o exército tinha
dificuldades na parte logística, inclusive para pagar e alimentar adequadamente os
seus soldados.
Antes da invasão por parte da Rússia, as forças rebeldes da Chechênia,
hostis ao governo, foram treinadas, abastecidas e suportadas pelos russos. A força
possuía cerca de 5.000 homens (sendo 85 soldados russos) e 170 tanques também
russos, a qual tentou derrubar o governo checheno, porém falharam na sua tentativa
e foram perdidos 67 tanques na luta na cidade de Grozny.
Figura 14 - Carros blindados russos destruídos nas ruas de Grosny
Fonte: Tropas de Elite (2006)
A reação russa foi imediata e, ao invés de reagrupar as forças e preparar um
ataque utilizando-se da surpresa, o exército russo foi requisitado, mesmo não tendo
nenhuma divisão inteiramente pronta no exército, ocasionando uma série de
insucessos nas investidas contra a localidade. As unidades foram montadas
especialmente para aquela operação e foram levadas à luta sem qualquer
treinamento prévio. As viaturas blindadas de transporte de pessoal da infantaria
foram deslocadas, em várias situações, com poucos ou nenhum soldado à bordo e
em alguns casos, os oficiais não possuíam soldados em suas guarnições.
46
Ainda, conforme analisou Grau (1995), a inteligência apresentou falhas em
Grozny desde o princípio, como já foi citado, até na distribuição de mapas e cartas
topográficas em escala apropriada aos comandantes táticos. A cidade não foi
cercada adequadamente e o governo checheno pôde reforçar suas forças rebeldes
durante toda a batalha.
Na primeira tentativa dos russos tomarem Grozny na noite de ano novo em
1994, tentaram fazê-lo com tanques de transporte de pessoal e bastante infantaria
apoiando. No entanto, a infantaria que estava disponível foi formada naquele
momento para tal missão e muitos não sabiam sequer o nome dos companheiros de
grupo ou pelotão. Foram avisados que fariam parte de uma ação policial e alguns
não tinham armas. Muitos estavam dormindo nos carros enquanto as colunas
investiam sobre Grozny e muitas guarnições não possuíam munição para as
metralhadoras.
Com a incipiente preparação russa, talvez motivada pela declaração do exMinistro de Defesa russo, Pavel Grachev ao afirmar que poderia derrubar o regime
de Dudayev em algumas horas com apenas um regimento de pára-quedistas,
somada à habilidosa resistência oferecida pelas Forças chechenas em Grozny, o
resultado foi a retirada das forças russas do centro da cidade, se reagrupando
posteriormente.
Disparando de todos os lados e de todos os andares dos edifícios, de
quadra em quadra na cidade, as unidades anticarros chechenas sistematicamente
destruíram um grande número de CC russos com lançadores portáteis de foguetes
(RPG-7). A tática preferida dos chechenos consistia em emboscar uma coluna de
blindados, destruindo o primeiro e o último veículo da coluna, o que impedia a fuga
dos demais. Devido a um erro de projeto, os canhões dos tanques russos não
tinham ângulo para atirar contra os andares superiores de um edifício a curta
distância e assim os chechenos atiravam a partir do segundo ou terceiro andares
dos prédios.
Figura 15 - Carro de combate russo – dificuldade de elevação do tubo (canhão) para atingir andares altos.
Fonte: Tropas de Elite (2006)
47
Depois disso, as colunas de blindados russas passaram a incluir uma arma
antiaérea. A técnica russa de conquistar o centro da cidade e a sede do governo,
surpreendendo o inimigo, não dando tempo para este organizar suas defesas, não
funcionou adequadamente naquela situação.
A atuação russa na Chechênia demonstrou que, os tanques e os blindados
de transporte de pessoal no combate urbano, devem ser precedidos de fuzileiros a
pé, a fim de não se tornarem alvos fáceis às armas anticarro que atiram dos flancos
ou de cima dos prédios. As colunas blindadas russas foram detidas nas ruas
estreitas de Grosny e destruídas pelo fogo checheno conforme relatou Thomas
(1995) em relatório sobre a batalha de Grosny:
"[...] Em apenas uma coluna, 102 das 120 viaturas blindadas
de transporte de pessoal e 20 dos 26 carros de combate
foram
destruídos
por
fogo
anti-carro
checheno
[...]"
(THOMAS, 1995).
2.3 CONCLUSÃO PARCIAL
Os combates urbanos estão aumentando, gradativamente, na mesma
proporção em que se vê o crescimento das áreas e das populações urbanas,
conforme se constatou ao longo da história dos confrontos nestes ambientes.
Na mesma intensidade, a maneira de se conduzir a guerra, seus
equipamentos e tecnologia sofreram modificações ao longo do tempo, podendo-se
dividir a história dos confrontos no interior de cidades e localidades em dois grandes
momentos, quais sejam, durante a Segunda Guerra Mundial, mais recente confronto
de proporções globais, e após o término da Grande Guerra até os conflitos mais
atuais.
Analisando-se os embates ocorridos no primeiro período e onde foram
utilizados meios blindados, observa-se que o enfoque era na conquista da cidade ou
localidade onde o inimigo estivesse postado, não medindo esforços, nem munição,
para augurar esse intento. A preocupação com o número de vítimas, civis e militares,
era relegada a um segundo plano, assim como a preservação das obras de arte e
patrimônio dos povos.
As investidas contra as cidades, normalmente, eram precedidas de um
grande bombardeio, impondo grandes baixas aos oponentes e preparando o local
para a ocupação definitiva e a limpeza dos remanescentes inimigos. A tática foi
usada durante bom tempo pelos alemães, que adotaram a “Blitzkrieg” como
48
doutrina, tendo bons resultados nas campanhas da Polônia, da França e mesmo em
determinado momento pelo “Afrika Korps”.
Esta forma de combater em localidades perdurou até serem desenvolvidos
métodos, como os que foram bem utilizados pela Rússia contra a Alemanha de
Hitler, nos confrontos em Stalingrado, quando a cidade foi evacuada completamente
e as divisões Panzer nazistas foram emboscadas nos próprios escombros que
produziram durante feroz bombardeio e seus comandantes de carros viraram alvos
de franco-atiradores russos.
Assim sendo, do primeiro período dos conflitos analisados, conclui-se
parcialmente que, a guerra urbana tinha como principal característica o fato de
resultar em grandes prejuízos em vidas humanas e materiais, após bombardeios
devastadores e emprego massivo de blindados. Estes últimos desempenhavam
função primordial nos ataques às cidades e não possuíam uma conformação própria
para o combate urbano, utilizando técnicas para ambiente aberto, passando por
cima do que viesse pela frente, como por exemplo, na “Blitzkrieg” alemã.
No decorrer dos confrontos desenvolveram-se novas formas de defesa,
utilizando-se os obstáculos naturais oferecidos pelas construções, mormente aos
carros de combate e aos fuzileiros desembarcados. A Batalha de Stalingrado pode
ser considerada um marco na história da guerra blindada e que obrigou os
estrategistas da época a repensarem a maneira de conduzir os conflitos em
ambiente urbano.
Após a Segunda Grande Guerra, os conflitos foram regionalizados e a
bipolarização originada, onde Estados Unidos e União Soviética disputavam a
hegemonia mundial, fez surgir a Guerra Fria e a conseqüente corrida armamentista
das grandes potências. Ambos os países adotaram como regra o financiamento de
lutas pela independência em todos os continentes, buscando atrair mais países para
suas esferas de influência.
Surge, então, outro conceito para o combate urbano, onde a liberdade de
ação para utilizarem-se meios potentes de guerra, como os blindados, sofre
restrições, fruto do desenvolvimento dos meios de comunicação que acompanham o
desenrolar da batalha e influência da opinião pública mundial nos resultados
devastadores dos conflitos.
A tecnologia passou a ser empregada nos armamentos e equipamentos
utilizados, sendo os ataques realizados com precisão cirúrgica, atingindo apenas os
49
alvos selecionados como militares, conforme se observou na Segunda Guerra do
Golfo. Os novos conceitos na tecnologia da informação também passaram a
contribuir para a guerra urbana moderna, tendo grande divulgação durante as ações
de tropas especiais americanas em Mogadíscio.
Os embates tornaram-se não lineares e assimétricos, originando um inimigo
invisível que utiliza métodos terroristas e inocentes como escudos humanos,
aumentando as dificuldades, que se tornaram evidentes e, pelas experiências
vividas por americanos, russos e israelenses, houve necessidade das técnicas
serem adaptadas e experimentadas para este novo ambiente operacional.
Os blindados também tiveram adaptações para a nova realidade, fruto das
lições aprendidas nos conflitos urbanos, sendo o leiaute dos veículos, o tipo de
munição e o calibre das armas principais aperfeiçoadas para surtir o efeito
necessário, evitando-se perdas desnecessárias e risco de fratricídio.
Além disso, outras medidas foram implementadas, como a efetiva
preparação das guarnições e trabalho de inteligência, com o intuito de se evitar uma
ação desastrada como do exército russo em Grosny. A blindagem passou a receber
maior atenção, em vista dos ataques com armas anticarros com enorme potencial,
além de artefatos com grande poder explosivo, oferecendo grande risco à tripulação
dos carros e enorme prejuízo material com a destruição de blindados de última
geração.
Desta forma, verificando-se os conflitos após a Segunda Guerra Mundial,
conclui-se parcialmente que, para a utilização de blindados na guerra moderna,
desenvolvida preferencialmente em ambiente urbanizado, há necessidade de se
utilizar as lições aprendidas nos conflitos mais recentes.
Houve investimento em tecnologia para desenvolver veículos apropriados ao
combate em áreas fechadas, instrução específica e adaptações para esta nova
realidade de confronto, tanto na doutrina como no material que vem sendo utilizado.
Além disso, o sistema operacional inteligência deve receber maior atenção para
evitarem-se ataques mal sucedidos, genocídio e fratricídio, tendo-se grande
preocupação com a opinião pública mundial e noticiário na mídia internacional.
50
3. MEIOS BLINDADOS E O COMBATE URBANO
Atualmente, segundo Global Security (2006), nos combates urbanos que se
desenvolvem pelo mundo, observa-se que a utilização de meios blindados tem
diminuído na mesma proporção em que crescem as coberturas jornalísticas dos
confrontos, onde a mídia internacional acompanha os acontecimentos, muitas vezes
com transmissões ao vivo, comprometendo a liberdade de ação para os exércitos
modernos utilizarem-se deste meio, possuidor de elevado poder destruidor e
dissuasório.
Faz-se necessário, porém, analisar os principais meios blindados utilizados
por exércitos em constante experimentação e realizar um estudo comparativo com
os meios utilizados pelo Exército Brasileiro, a fim de subsidiar as respostas às
proposições e variáveis da presente pesquisa.
Desta forma, serão estudados neste capítulo os principais meios blindados
em uso atual pelos Estados Unidos e por Israel, países com experiências constantes
em combates urbanos e os blindados do Exército Brasileiro utilizados pela Cavalaria,
apresentando suas principais possibilidades e limitações para utilização em áreas
urbanizadas.
3.1 BLINDADOS UTILIZADOS PELO EXÉRCITO AMERICANO
Os Estados Unidos da América (EUA) possuem o que há de mais moderno
em termos de blindados, dotados de tecnologia de ponta e com enormes vantagens
em relação às demais potências mundiais, em função das recentes experimentações
realizadas na Guerra do Golfo II.
O necessário desenvolvimento deu-se em função dos novos desafios e
lições aprendidas nos confrontos urbanos recentes, por parte de outros exércitos e
do próprio exército norte-americano, nos combates no Iraque e Afeganistão.
Nesse contexto, serão estudados a seguir os principais veículos blindados,
seja carro de combate ou transporte de pessoal, em uso ou sendo desenvolvido pelo
exército dos EUA para o combate urbano.
3.1.1 Características das Viaturas Blindadas
A experiência norte-americana nos conflitos recentes demonstrou que,
apesar dos problemas encontrados, a combinação de blindados com fuzileiros a pé
51
representa a melhor solução para as peculiaridades observadas nos confrontos em
ambiente urbano.
A assertiva pode ser comprovada analisando-se os resultados dos
investimentos em localidades e áreas urbanizadas, realizadas pelo combinado
blindado-fuzileiro, onde grupos rebeldes estão instalados e utilizam as construções
para sua proteção.
Figura 16 - Grupo progredindo sob a proteção blindada do M1 Abrams
Fonte: Tropas de Elite (2006)
De acordo com Tropas de Elite (2006), as operações urbanas normalmente
exigem o uso de Carros de Combate (CC) pesados e leves, além de transportes
blindados de tropas. Muitos tanques sofrem em operações urbanas, pois têm ângulo
de elevação limitado, já que foram projetados para lutarem contra outros tanques,
normalmente em terrenos planos e desertos, e não para engajar alvos localizados no
alto de prédios, do segundo andar para cima ou em ângulos bem baixos, como nos
porões das casas.
Esses grandes blindados também sofrem com a pouca visibilidade
periférica, necessitando de grande apoio do homem a pé. Assim, os CC ficam
vulneráveis a ataques de armas antitanques vindos das sacadas dos prédios ou
lajes das construções. Sua defesa vem da infantaria de apoio e de suas
metralhadoras, tendo melhor emprego em avenidas largas ou cruzamentos para
ampliarem seus campos de tiro. Caso sejam colocados à retaguarda da
tropa,estarão disparando por vezes sobre seus soldados, aumentando o risco de
fratricídio. Tendo em vista o uso restrito da artilharia em ambientes urbanos, os CC
constituem o maior apoio de fogo disponível para os fuzileiros no investimento contra
posições fortificadas.
52
As viaturas blindadas, com algumas adaptações podem, inclusive, abrir
passagens através das edificações. A presença de tropas de infantaria junto aos CC
inibe a ação do inimigo no que diz respeito ao uso de armas anticarro e minas.
Atualmente, como se observa no Iraque, o exército norte-americano tem
utilizado como principal carro de combate o Abrams, basicamente os das séries
M1A1 e M1A2, com algumas inovações e modificações que serão verificadas no
decorrer desta seção.
Figura 17 - M1A1 Abrams
Fonte: Defense Update (2006)
O Abrams, utilizado nos últimos confrontos pelos norte-americanos, não
possuía boa proteção contra algumas das ameaças comuns do combate urbano e
suas guarnições somente estavam seguras caso permanecessem dentro de seus
veículos, pois a metralhadora coaxial apresentava a mesma limitação de elevação e
depressão que o canhão M256 de 120 mm, sendo necessária a exposição do
atirador na torreta externa para fazer a visada nos alvos situados nas partes
elevadas ou muito baixas, a fim de proporcionar a autodefesa do veículo.
Conseqüentemente, a presença de elementos fora da proteção blindada,
oferecia oportunidade de engajamento que poderia ser explorada por “snipers”,
sendo necessária a utilização de técnicas de apoio mútuo e cobertura por parte das
guarnições, fazendo com que perdessem a capacidade operativa máxima.
Obviamente, o emprego de sistemas de armas controlados melhorou em muito a
expectativa da eficácia e da sobrevivência do carro e de suas guarnições.
Os tanques são projetados para a batalha linear no terreno aberto, onde
suas características de mobilidade, potência de fogo e proteção blindada encontram
as condições ideais para a exploração máxima de suas capacidades combativas e
de emprego das armas. Os campos de batalha urbanos reduzem o valor destes
atributos e seu mau uso nestes ambientes pode transformar-se em uma armadilha
53
de aço para sua guarnição e uma preocupação a mais para as forças que fazem uso
destes meios. Algumas das limitações inerentes aos carros de combate estão sendo
superadas por modificações relativamente simples que podem melhorar o poder de
combate e a aplicação eficaz de táticas urbanas.
Outro veículo blindado largamente utilizado pelos norte-americanos é o
Bradley das séries M-2 A2 e M-2 A3, que tem se constituído em uma excelente
opção para o transporte de tropas e apoio às operações da infantaria. Esses
blindados possuem um ângulo mais elevado e devem ser mantidos sempre próximos
a tropas a pé, evitando ruas estreitas e becos sem saída.
Figura 18 - M2 Bradley no Iraque
Fonte: Military Review (2006)
Segundo Dos Santos (2007), de significante importância é a VBCI Bradley
M2/3A3 de última geração, dotada de blindagem adicional para suportar impactos de
RPG, além de um sistema mais moderno de aquisição de alvos, que propicia ao
comandante da viatura um visor independente do atirador do canhão M242 de 25
mm.
Figura 19 - M2A3 Bradley
Fonte: Rocha Júnior (2005)
É um veículo de transporte de infantaria e tem sido largamente utilizado nos
confrontos urbanos em que o exército norte-americano tem tomado parte, recebendo
54
modificações de acordo com as necessidades específicas e com base nas
experiências passadas e lições aprendidas.
Os norte-americanos estão testando na recente guerra do Iraque o emprego
de veículos blindados sobre rodas Stryker 8x8, num total aproximado de 309
unidades.
Conforme análise de Bastos (2007), estes veículos são extremamente ágeis
e se deslocam com muito mais facilidades que os veículos de lagartas Bradley e
estão se transformando na espinha dorsal do Exército dos Estados Unidos para suas
intervenções futuras e no seu conceito de “Mediun Brigade”, pelo fato de serem
leves e aerotransportados.
O Stryker é um veículo blindado sobre rodas, de configuração 8x8, utilizada
para transporte de tropas de infantaria, possuindo blindagem para munições de até
12,45mm,
embora
possua
outras
versões
que
ainda
se
encontram em
desenvolvimento, uma delas prevendo uma torre para canhão de 105 mm.
Figura 20 - Um Stryker do exército dos EUA durante o desembarque dos soldados
Fonte: Bastos (2007c).
No Iraque estes veículos foram dotados de uma blindagem extra, conhecida
como “gaiola” (Stryke CAGE), que envolve todo o veículo a uma distância de 45 cm
de seu corpo principal. A idéia lembra em muito a usada pelos tanques alemães na
segunda guerra mundial com saias laterais em chapas de aço ou aramados que
impediam a explosão de munições de carga oca sobre sua blindagem.
Este conceito vinha dando resultado nos quatro primeiros meses em que os
veículos Stryke estavam em operação naquele conflito, tanto que, até aquele
momento, somente dois destes veículos haviam sofrido danos, um que bateu em
uma bomba próxima a estrada onde trafegava, ferindo um soldado e outro que
55
capotou ao passar sobre um dique que desmoronou, matando três tripulantes.
Incidentes comuns neste perigoso tipo de operações.
Figura 21 - Um Stryker em patrulha no Iraque.
Fonte: Bastos (2007c).
Mas, no dia 28 de março de 2004, um destes veículos que estava
patrulhando áreas da cidade de Mosul, em uma estrada, foi atacado e destruído por
dois tiros de RPG-7, sendo que um perfurou a blindagem “gaiola” e outro penetrou
em sua blindagem incendiando o veículo. Não houve vítimas, pois o compartimento
de tropas estava vazio, visto que os soldados haviam desembarcado momentos
antes para um patrulha a pé, estando no veículo apenas o motorista que conseguiu
sair ileso. Foi o primeiro Stryker destruído em combate no Iraque e o que
impressionou foi o fato de um grupo armado apenas com RPG causou danos graves
a uma unidade equipada com um veículo ultramoderno e que custa algo em torno de
dois milhões de dólares cada.
Figura 22 - Stryker destruído por RPG em Mosul 28.03.04
Fonte: Bastos (2007c).
Vários outros Stryker foram atacados com RPG, alguns disparados do
interior de veículos em movimento, através de janelas e teto solares, evadindo-se o
mais rapidamente possível, impedindo desta maneira o pedido de reforços aos
56
helicópteros. Esta forma de atuação deve servir de alerta para o emprego de
veículos blindados sobre rodas em zonas urbanas, cenário típico dos conflitos deste
novo século.
3.1.2 Principais adaptações para o combate urbano
Em decorrência dos conflitos recentes e experiências colhidas com o
exército russo e israelense, os norte-americanos passaram a desenvolver sistemas
de proteção para seu principal carro de combate, o M-1 Abrams, após a perda de
diversos blindados em operações urbanas particularmente no Iraque. Após
pesquisas realizadas foi desenvolvido um kit para a instalação no mencionado
veículo, permitindo que o mesmo tivesse melhores condições para a atuação no
combate em área edificada. Assim, conforme consta no USA (2006), surgiu a versão
TUSK (Tank Urban Survival Kit), que pode ser colocado e retirado em qualquer CC
M-1 Abrams, dependendo do ambiente em que se desenvolverá a operação.
Para aumentar a capacidade de defesa de um tanque, basicamente deve-se
buscar melhorar a sua blindagem, já que, normalmente, a maior proteção do carro
encontra-se na parte frontal, num ângulo de aproximadamente 60 graus. Nesta área
os impactos seriam mais prováveis em situações normais, mas, no combate urbano,
as ameaças podem vir de todos os sentidos, ficando especialmente vulnerável o
alto, a parte traseira, os flancos e o fundo do carro de combate, que se apresenta
muito fino se comparado com o restante do veículo e que provou ser muito
vulnerável às cargas explosivas muito grandes, ajustadas para serem detonadas sob
o tanque, embora tenham sido projetados para suportar a explosão de uma mina
anticarro normal.
Conforme descrito no Defense Update (2006), após a destruição de tanques
Merkava Mk3 por minas na faixa de Gaza e o ataque a um tanque M1A2 Abrams
perto de Balad no Iraque, além do incidente posterior em Bagdad, no Natal de 2005,
quando um M1A1 Abrams do 64º Batalhão Blindado foi destruído por uma mina, o
alto comando do exército norte-americano decidiu pensar em uma forma de reforçar
a blindagem e a proteção dos carros de combate. Para tanto, aumentou seu poder
de durar na ação, frente a estas novas ameaças e desenvolveu o jogo urbano que
modifica o tanque M1A2, visando maior sobrevivência no combate em áreas
edificadas.
57
Arma Remotamente
Operada do Interior CC
Protetor do Carregador
Visão Térmica
Telefone do Infante
Óculos de proteção e visão
térmica
Componentes de visão térmica
Protetor do compartimento
traseiro
Blindagem Reativa
Figura 23 - Versão TUSK do CC M-1 A2 Abrams
Fonte: Arquivo pessoal.
Os componentes do “kit” permitiram aumentar significativamente a proteção
das áreas mais vulneráveis do CC, como o compartimento do motor (blindagem tipo
“gaiola”), bem como adicionar nas saias laterais do carro uma blindagem adicional
contra armas de munição de carga oca (RPG), uma torreta automática com
metralhadora 7,62 mm ou .50, cujo acionamento pode ser realizado de dentro da
viatura, cobrindo 360º e podendo, ainda, serem adicionadas chapas ao redor da
escotilha do atirador, permitindo que a escotilha possa se abrir. A fim de possibilitar
que a tropa que se desloca a pé fale com a tripulação do carro, o kit permite também
que a viatura tenha um telefone na sua parte traseira. Equipamentos de visão
térmica no interior do veículo permitem que a sua guarnição tenha uma melhor visão
do ambiente externo.
Figura 24 - Componente de visão termal
Fonte: Defense Update
As modificações incrementadas nos blindados americanos os deixaram
equipados com blocos maiores de visão, melhorando as potencialidades da
observação que são restringidas pelos blocos de visão mais velhos. De acordo com
58
a análise do Defense Industry Daily (2007), ainda mais úteis são os visores
independentes térmicos para os comandantes do veículo incluído no pacote do
sistema M-1A2 (SEP)16 e o visor independente para o comandante do M-2 Bradley.
Estes
visores
adicionais
permitem
ao
comandante
e
ao
atirador
cobrir
simultaneamente setores diferentes, mantendo a observação em toda a área externa
ao blindado e a potência de fogo, permitindo também o engajamento de alvos em
pontos elevados.
As câmeras de vídeo permitem observar “pontos cegos” em torno do tanque,
especialmente nos flancos e na parte traseira. Quando o CC está manobrando, para
se evitar danos ao veículo e nos seus arredores, o balizamento é absolutamente
essencial, mas expõe também os guias ao risco do fogo hostil. O controle através de
rádio com um guia a pé foi tentado como uma alternativa, mas provou ser bem
menos eficaz.
Outro benefício do novo sistema de vídeo é que permite ao motorista
inverter e girar sem orientação externa, já que a câmera panorâmica multidirecional
de 360 graus testada com sucesso, possui a potencialidade de detecção automática
de movimento para advertir a tripulação de ameaças que se aproximam e de
elementos hostis que podem escalar os veículos quando estacionados.
Os sistemas de gerência da batalha (BMS) experimentados nos EUA e
adotados por blindados ingleses, franceses e israelenses, melhoraram radicalmente
a orientação do comandante do tanque, especialmente quando fechada a parte
superior, visando a proteção máxima da tripulação. O sistema permitiu a realização
do tiro com a arma principal do carro, com margens de segurança maiores,
simplificando o estabelecimento de setores de tiro compartimentados, reduzindo-se
o fogo cruzado e o risco de fratricídio.
Dentre as melhorias nos blindados americanos para o combate urbano pode-se citar,
também, a adaptação de lâminas aos carros blindados a fim de permitir o
deslocamento por entre ruínas e obstáculos lançados pelos opositores. Este
aperfeiçoamento foi incrementado fruto de experiências em que blindados ficaram
detidos nos próprios escombros de edifícios bombardeados, não podendo
_________
16
Systems Enhancement Package (SEP) – pacote de inovações para o sistema M1A2 Abrams que será implantado nos
veículos até o ano de 2009, pela empresa americana General Dynamics Land Systems, juntamente com os “kits” para o
combate urbano (TUSK).
59
prosseguir e tornando-se alvos estáticos e facilmente engajados pelas armas
anticarro e mísseis inimigos.
Além de lâminas, já foram idealizados outros implementos, comuns aos
blindados da engenharia de combate, com apropriada blindagem e mobilidade para
acompanhar as ações no interior de localidades e cidades, sem comprometer a
capacidade operativa dos carros.
Figura 25 - Blindado adaptado com lâmina para remoção de obstáculos
Fonte: Rocha Júnior (2005)
3.2 MEIOS BLINDADOS DO EXÉRCITO ISRAELENSE
As Forças de Defesa de Israel (FDI), a exemplo dos norte-americanos
sentiram a necessidade de modernizar seus meios blindados, adaptando-os para a
realidade dos confrontos urbanos que participam e que se tornaram constantes nos
últimos anos.
O apoio e financiamento americano, em equipamentos de última geração e
moderna tecnologia, além do permanente emprego e adestramento das forças
blindadas, principalmente nas ruas de Jerusalém e na faixa de Gaza, tornaram o
exército israelense um dos mais aptos do mundo na condução de operações em
ambiente urbano.
Desta forma, os ensinamentos colhidos quanto ao emprego de meios
blindados, assim como os aperfeiçoamentos nos veículos, devem ser estudados e
das lições aprendidas pode-se tirar enorme proveito para a realidade do emprego de
forças blindadas em cidades e localidades.
Na seqüência, serão apresentados os principais carros de combate e de
transporte de pessoal em uso atual pelas forças israelenses, a fim de subsidiar o
estudo comparativo do presente trabalho.
60
3.2.1 Características das viaturas blindadas
De acordo com Tropas de Elite (2006), as Forças de Defesa Israelenses
foram as primeiras a usar uma viatura blindada de infantaria (VBI), já que seu carro
de combate era capaz de levar um grupo de fuzileiros no seu interior.
Durante os episódios na península do Sinai, os israelenses capturaram
centenas de tanques T-54 e T-55 russos que operavam para os árabes e
aproveitando-se o chassi do veículo e implementando modificações, transformaram
em eficaz veículo de transporte de pessoal, com força e blindagem suficiente para
acompanhar os CC nos embates.
A idéia rendeu bons frutos e assim surgiu o Achzarit, baseado naquelas
transformações realizadas e que tem largo emprego nas ações em ambientes
urbanizados. O veículo foi concebido com a idéia de se criar um blindado de
infantaria mais reforçado que os CC, tendo em vista a necessidade inconteste dos
fuzileiros avançarem sobre os objetivos para conquistá-los, enquanto os carros
precisavam apenas dominá-los pelo fogo à longa distância.
Figura 26 - X-3A1 Achzarit (Cruel)
Fonte: Tropas de Elite (2006).
Os israelenses estavam insatisfeitos com o desempenho do M-113 no
Líbano e em 1982 iniciaram estudos que resultaram no Achzarit, como proposta para
ter um transporte de tropas bem protegido que pudesse acompanhar os carros de
combate. Na ocasião da substituição o Achzarit foi comparado com o Nagmachon,
outra viatura de transporte de pessoal israelense, mas venceu a concorrência.
Figura 27 - Nagmachon israelense usado no combate urbano
Fonte: Israel (2006)
61
A empresa Nimda17 foi responsável pela reconstrução e adaptação dos T-54
e T-55 para a nova função. O veículo manteve as esteiras e as grandes rodas do
original russo, mas a suspensão foi modificada. No Achzarit Mk1 o motor russo foi
trocado pelo motor diesel de dois tempos, oito cilindros, refrigerado a água e com
650 HP, além da nova transmissão hidropneumática acoplada, que o tornou mais
fácil de dirigir.
Embora o motor fique na traseira, seu formato compacto permite espaço
suficiente para deixar uma passagem entre o compartimento da tripulação e a
traseira do blindado, sem modificar o chassi. Nesta passagem foi colocada uma
porta do tipo casca de ostra operada hidraulicamente, sendo que a parte baixa é
uma rampa de entrada e saída e a parte superior é levantada para aumentar a altura
da saída. O motor traseiro também ajudou a compensar a blindagem adicional na
parte dianteira, cujas características são preservadas, porém, o peso extra do carro
demonstra um grande reforço no casco (enquanto o T-54 e o T-55 pesavam 36
toneladas, ou de 27 a 30 t sem a torre, o Achzarit pesa 44 t).
O comprimento também aumentou de 3,27 m para 3,64 m. A proteção é alta
e a silhueta é de apenas 2 m até o topo do chassi. A blindagem é concentrada ao
redor do compartimento da tripulação, que foi projetado para levar sete soldados
mais o motorista à esquerda, o chefe de viatura à sua direita e mais para a direita, o
atirador. Os sete soldados ficam em dois bancos de três lugares nas laterais e outro
individual no centro e à retaguarda. A parte superior do compartimento é aberta,
sobrando bastante espaço para o material individual e da guarnição. Cada assento
tem uma mangueira usada para um sistema individual de proteção contra agentes
químicos, bacteriológicos e nucleares (QBN), que libera ar puro para as máscaras da
tripulação.
Em cada lado do compartimento há mais duas escotilhas adicionais para a
tripulação e o motorista tem quatro periscópios. Para a guarnição, o carro apresenta
dois periscópios à esquerda e quatro à direita, que permitem aos tripulantes uma
visão periférica com as escotilhas fechadas. O atirador usa uma torre com uma
__________
17
NIMDA CORPORATION LTDA. Empresa privada Israelense com 100 empregados e que realiza projetos de modernização,
integração e refabricação de veículos militares de diversas procedências.
62
metralhadora de 7,62 mm, que pode ser disparada de dentro do veículo sem expor o
tripulante ou diretamente com o atirador sentado na escotilha. O periscópio da torre
permite um campo de visão de 25º com zoom de oito vezes, além de óculos de visão
noturna de 2ª geração com campo de visão de 22º e com zoom de até sete vezes.
Outras três metralhadoras (Mtr) podem ser instaladas em pedestal simples
na escotilha do comandante e em duas escotilhas dos tripulantes traseiros. O
veículo não está equipado com armas mais poderosas tendo em vista sua função
precípua de transporte de fuzileiros e de proteger seus tripulantes no deslocamento
até os objetivos, carregando para isto cerca de quatro mil tiros de metralhadoras em
seu interior.
A proteção é melhorada com seis lançadores de fumígenos para defesa
própria, sendo também possível gerar cortina de fumaça lançando diesel no
escapamento do motor do lado esquerdo. O blindado tem sistema de detecção de
fogo e supressão e também existe uma versão de Posto de Comando (PC) sem
metralhadoras e com mais rádios.
O Achzarit está em serviço na brigada de infantaria Golani e em outras duas
brigadas de infantaria de reserva, em condições de serem mobilizadas em caso de
necessidade, servindo como exemplo de veículo de infantaria blindada, com eficaz
sistema de proteção aos fuzileiros.
A empresa Nimda está desenvolvendo uma versão melhorada do X3A1
Achzarit chamado Achzarit Mk2. Ele terá blindagem melhorada, suspensão de longo
curso usada nos carros de combate, para maior mobilidade em terreno acidentado
no lugar das barras de torção do T-55 e um motor mais potente do que o usado
originalmente.
Figura 28 - Achzarit atuando no interior de uma cidade israelense
Fonte: Israel (2006)
63
O armamento será melhorado com o uso de uma torre que opera
remotamente um canhão de 25 mm, podendo possuir lançadores de mísseis
adicionados à torre. Além das viaturas de transporte de tropa, os israelenses utilizam
os carros de combate em larga escala. Assim, podem-se observar algumas das
principais características do seu principal blindado: o Merkava.
Este blindado possui uma boa proteção para seus ocupantes, materializada
por uma blindagem reforçada e que oferece uma segurança considerável,
caracterizando a maior ênfase dada a este aspecto na sua concepção. O motor foi
colocado na parte frontal, para aumentar a proteção à tripulação, deixando a
mobilidade em segundo plano, já que o veículo ficou mais pesado.
Com o motor colocado na parte dianteira, o espaço na traseira foi destinado
para o transporte de munição extra ou para o transporte de fuzileiros (até 10
infantes), sendo o único CC até o momento com tal capacidade. Esta opção ainda é
pouco utilizada, pois acarreta uma redução de 45 tiros de canhão na sua dotação
normal, além dos soldados ficarem totalmente isolados, pois para eles não há
dispositivos que permitam a visão para fora do veículo.
O primeiro protótipo foi completado em 1974, sendo interessante o fato de
que os Estados Unidos contribuíram com US$100 milhões para custear o
desenvolvimento e parte da produção do veículo. Os primeiros Merkava, da série Mk
1, eram dotados de canhão de 105 mm e motor de 900 HP e foram produzidos pela
IMI (Israel Military Industries), sendo entregues ao exército de Israel em 1979 e
empregados em combate três anos depois, no Líbano.
Figura 29 - Merkava Mk 1
Fonte: Tropas de Elite (2006).
Em 1984 foi fabricada a segunda geração do Merkava, que possuía ainda o
canhão de 105 mm e o mesmo motor do anterior, porém melhor protegido e
equipado com novo telêmetro laser, além de outras inovações menores que lhe
foram incrementadas.
64
Figura 30 - Merkava Mk 2
Fonte: Tropas de Elite (2006).
Em 1990 apareceu o Merkava 3, já com canhão de 120 mm de alma lisa,
um motor mais potente de 1.200 HP, controles elétricos para a torre, dentre outras
melhorias. Israel possui cerca de 1.280 desses carros, com a enorme vantagem de
contar com tecnologia e suprimento próprios para sua produção, exceção feita ao
motor, de origem americana.
Figura 31 - Merkava Mk 3
Fonte: Tropas de Elite (2006).
3.2.2 Adaptações para o combate urbano
Conforme consta no Defense Update (2006), em conseqüência das
experiências recentes com combate urbano, as Forças de Defesa Israelenses
desenvolveram um “kit” de proteção para o Merkava Mk3, com especificações para a
guerra urbana, incluindo reforço na blindagem inferior, metralhadora .50 que pode
ser operada remotamente do interior do veículo evitando a exposição do atirador,
reforço de aço para o sistema ótico em todas as aberturas do carro e instalação de
uma seteira para “sniper” na porta traseira, visando a proteção daquela parte
vulnerável do veículo.
Além disso, os israelenses passaram a desenvolver a nova versão do
Merkava, a série Mk4, com várias inovações, a qual já foi produzida seguindo a
evolução natural dos blindados e o aperfeiçoamento tecnológico que o combate
moderno requer. Este carro de combate possui um motor diesel mais potente (1.500
HP) controlado por um computador conectado ao painel do motorista e uma
65
moderna transmissão automática. O motor e a transmissão formam o chamado
"powerpack", que é considerado o mais avançado do mundo. A grande potência do
motor, em conjunto com uma suspensão baseada na do Mk-3, propicia ao veículo
alta mobilidade e manobrabilidade. A instalação do novo "powerpack" no Merkava
propiciou um redesenho do casco, permitindo o aumento da proteção frontal e a
melhoria do campo de visão do motorista. Para movimentações a ré, uma câmera foi
desenvolvida para permitir ao motorista observar a traseira do veículo não
necessitando da ajuda do comandante ou de apoio de fora do carro para as
manobras para trás.
O Merkava 4 é equipado com um canhão de 120 mm, alma lisa, que é uma
versão avançada do modelo desenvolvido para o Merkava Mk-3. O novo canhão
pode disparar munições de alta energia com maior capacidade de penetração. A
munição pronta para disparo é armazenada em um compartimento protegido e o
sistema permite ao municiador selecionar semi-automaticamente o tipo de munição
desejado.
O modelo Mk4 também tem um novo sistema de tiro com componentes
dotados de alta capacidade em identificar alvos à distância. O sistema de visão
noturna está baseado no mais avançado em tecnologia térmica, com seguimento
automático de alvos aperfeiçoado. O sistema permite a implementação de uma
doutrina para seleção de alvos, engajamento e destruição pelo comandante e
atirador, independentemente, sendo o sistema de tiro controlado por “displays” e
sistemas avançados ajudando o comandante com uma efetiva comunicação e
gerenciamento da batalha.
Figura 32 - Merkava Mk4
Fonte: Defense Update (2006).
66
Um “kit” diferente para o combate urbano foi desenvolvido para o Merkava
Mk 4, versão Namera (tigre), que, dentre outros aperfeiçoamentos, recebeu uma
metralhadora na torreta externa que pode ser operada por tele controle pelo atirador
de dentro do veículo. A fim de se opor às ameaças urbanas típicas, melhoramentos
modulares foram implementados e estão disponíveis para os tanques, constando de
um reforço adicional cerâmico nos pontos mais vulneráveis do veículo, tendo a
vantagem de não descaracterizar o desenho exterior do blindado, evitando a
colocação de sacos de areia, blocos de concreto e de gaiolas para melhorar a
proteção, como visto no passado.
Além disso, ainda segundo o Defense Update (2006), foram incorporadas
aos novos modelos umas saias mais baixas nos flancos para proteger a suspensão
e a instalação de gaiolas para proteger as áreas vulneráveis na parte traseira, além
de proteção blindada para os optrônicos do motorista e da guarnição, inclusive na
seteira da porta traseira para o “sniper”.
Figura 33 - Kit para combate urbano instalado no Merkava Namera
Fonte : Defense Update (2006).
As chamadas gaiolas já demonstraram sua eficácia em confrontos recentes
no Iraque, na proteção de ataques de coquetéis Molotov e outros meios contra as
guarnições dos carros e são usadas de forma extensiva pelos EUA, pelos ingleses e
por forças australianas. O mesmo conceito é usado também pelo exército de Israel
operando na faixa de Gaza, para a proteção de viaturas blindadas de infantaria, de
escavadoras blindadas e de viaturas blindadas de transporte de pessoal.
O blindado leve Striker, que é uma viatura de transporte de tropa concebida
especialmente para o combate urbano, já experimentou a proteção das gaiolas em
67
testes e em missões no Iraque e na faixa de Gaza, demonstrando eficácia contra os
ataques rebeldes e contra armas improvisadas, como coquetéis Molotov.
Figura 34 - VBTP Striker protegida com gaiolas
Fonte: Defense Update (2006)
Outros melhoramentos na proteção ainda estão sendo projetados segundo o
Centro de Pesquisa Automotriz, do Desenvolvimento e da Engenharia dos Tanques
do Exército dos EUA (ARDEC) e um deles é considerado imperativo para todos os
blindados do futuro, pelos técnicos daquela entidade, o chamado sistema de
proteção ativo (APS), que se espera ser implantado dentro dos próximos anos.
Os russos abriram caminho nesta tecnologia com o desenvolvimento do
sistema “Drozd” de proteção, mas as tecnologias ocidentais parecem ainda mais
promissoras, sendo o sistema mais desenvolvido no momento o “Trophy” israelense
e o “FCLAS” americano, que neutralizam a ação de mísseis e foguetes, em pleno
vôo, evitando o choque contra os veículos.
Estes sistemas foram testados e mostraram-se apropriados para a guerra
urbana, porque podem ser empregadas com segurança perto das tropas e da
população civil, sendo que já foi implementado no Merkava e no novo veículo
blindado leve Stryker.
Figura 35 - Sistema de proteção ativa Trophy israelense instalado no Merkava
Fonte: Israel (2006).
68
Figura 36 - Viatura blindada leve Stryker com sistema de proteção ativo
Fonte: : Israel (2006).
Outra novidade apresentada para o Merkava é a transformação em veículo
blindado para evacuação de feridos, nas versões Mk3, e que será amplamente
utilizado nos combates urbanos em que Israel estiver participando, oferecendo
equipamentos para emergências e podendo atender e evacuar até dois combatentes
feridos.
Figura 37 - Visão do interior do Merkava adaptado para evacuação de feridos
Fonte: : Israel (2006).
3.3 BLINDADOS EM USO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO
O Exército Brasileiro (EB) há alguns anos vem procurando um novo rumo
para a modernização de suas viaturas blindadas, seja nas linhas sobre rodas (SR)
ou sobre lagartas (SL). Dentro desta perspectiva e de acordo com as restrições
orçamentárias, o Brasil adquiriu nos anos 90 do século passado, alguns blindados
dos Estados Unidos e da Bélgica, visando o necessário aprimoramento destes
meios, já que a indústria nacional ficou estagnada após a falência da empresa
69
Engenheiros Sociedade Anônima (ENGESA), que era a fabricante dos principais
blindados nacionais.
Os blindados adquiridos não resolveram totalmente o problema, agravado
com a quebra de algumas peças não existentes no mercado ou que não eram mais
fabricadas, aumentando a dependência externa para a manutenção desses veículos.
Apesar do Brasil já ter fabricado viaturas blindadas, de concepção atual e
com moderna tecnologia, ocorre hoje uma aparente defasagem em relação a outros
exércitos. A fase é de procura de um rumo para melhor aproveitar os blindados
atualmente em uso, principalmente pela arma de Cavalaria, tentando adaptar-se
para a nova realidade do combate não linear e assimétrico, desenvolvido em
ambiente urbano.
Desta forma, serão apresentados a seguir os principais blindados brasileiros,
focando naqueles que fazem ou farão parte das unidades de Cavalaria18, a fim de
estabelecer-se um paralelo com os meios utilizados pelos exércitos americano e
israelense, que são os mais experientes em operações em terrenos urbanizados.
3.3.1 Blindados sobre lagartas
De acordo com Bastos (2007), os principais meios sobre lagartas em uso
atualmente pelo EB são os adquiridos dos norte-americanos e belgas há mais de
dez anos, quando já eram considerados obsoletos em seus exércitos, principalmente
a Viatura Blindada de Combate (VBC) M60 A3 TTS norte-americana, sendo, no
entanto, considerado o melhor blindado em uso na América Latina, principalmente
por serem dotados de visão termal.
Conforme Brasil (2002c), observa-se que este veículo foi recebido com a
falta de alguns itens e componentes mecânicos, que fazem com que os carros
variem de modelo entre si, diferenciando alguns detalhes externos, não
comprometendo, entretanto, o seu desempenho e operacionalidade.
A versão adquirida pelo Brasil possui componentes como o sistema de
observação e pontaria termal que, aliados à capacidade de destruição do principal
armamento, concedem a este blindado grande letalidade e durabilidade nos
modernos teatros de operações.
____________
18
O CC M41C não será apresentado por estar sendo substituído por blindados mais modernos.
70
O veículo pode ser dividido em duas grandes partes, que são a torre com seu
armamento e o chassi com o motor e os trens de rolamentos. No seu interior o carro
é dividido em 03 (três) compartimentos: compartimento de combate, no interior da
torre, compartimento do motorista e compartimento do motor. A tripulação do CC é
constituída pelo comandante da viatura, atirador, motorista e pelo auxiliar do
atirador, perfazendo 4 (quatro) militares.
O armamento principal é o canhão 105 mm, possuindo como armamento
secundário 2 (duas) metralhadoras, uma coaxial (7,62 mm) e outra do comandante
do carro (.50), além de 2 (dois) lançadores de fumígenos.
Figura 38 - Partes externas do M60 A3 TTS
Fonte: IP 17-84.
Possui condições de realizar o tiro com a viatura em movimento, sendo
dotado de sistema de estabilização do canhão, porém com o inconveniente de não
ter este mesmo sistema para os periscópios, dificultando o acerto no primeiro tiro. A
possibilidade de executar tiro em movimento confere ao M60 grande versatilidade
em qualquer tipo de ambiente operacional, inclusive o urbano, já que a velocidade
ideal para engajamento de alvos varia entre 16 e 34 Km/h, podendo fazer fogo
contra alvos ponto ou área durante os deslocamentos.
O peso do veículo, de aproximadamente 51,5 Ton, pode dificultar sua atuação
no interior de áreas urbanizadas, diminuindo a mobilidade e manobrabilidade nestes
ambientes.
O seu sistema de comunicações permite a comunicação interna entre os
membros da guarnição e externa até um alcance aproximado de 32 km por rádio,
carecendo de um contato aproximado com os fuzileiros que se deslocam protegidos
pela viatura.
71
É dotada de um motor cuja potência é de 750 HP, com transmissão de 2
(duas) velocidades à frente e 1 (uma) à ré e com um sistema elétrico alimentado por
uma corrente de 24V, utilizando seis baterias de 12V com capacidade de 100 A/h.
O combustível é o óleo diesel, tendo os seus reservatórios a capacidade total
de cerca de 1.450 litros, conferindo ao veículo um desempenho que lhe permite
alcançar as velocidades de 16 Km/h (baixa), 48 Km/h (alta) e 11 Km/h (ré), com uma
autonomia aproximada de 450 Km.
Possui a capacidade de vencer rampas de cerca de 60% (30,5º) e uma
inclinação lateral máxima de 30% (16,5º). Sobe degraus de no máximo 91 cm, bem
como possui condições de ultrapassar, sem preparação, vaus de 1,20 m e, com
preparação, de até 2,40 m. Possui ainda a capacidade de passar sobre fossos de
até 2,6 metros. Estas características não são totalmente aproveitáveis no combate
no interior de localidades.
A VBC possui ainda como principais dimensões: altura de 3,28 m; largura de
3,62 m; comprimento de 8,25 m (com tubo ancorado) e de 9,40 m (com tubo à
frente); e distância do solo de 0,45 m, necessitando de ruas largas ou avenidas para
sua maior dirigibilidade em ambiente urbanizado.
Figura 39 - M60 A3 TTS
Fonte: Arquivo pessoal
Segundo conclusão de Rocha Júnior (2005), no que diz respeito à munição
disponível para emprego nas operações com blindados, a VBC possui a capacidade
de conduzir em seu interior 63 granadas de 105 mm de todos os tipos, 6.000
cartuchos de calibre 7,62 mm, 900 cartuchos de Mtr.50 e 24 granadas fumígenas.
72
A munição do tipo “flecha” anticarro (APDS-T, APFSDS-T e TPDS-T) não é
recomendada para uso sobre tropa amiga desabrigada, tendo em vista o risco dos
componentes descartáveis da granada, que se desprendem após a saída do projetil,
atingir os militares ao seu redor. A área que deve ser protegida estende-se por 1000
m à frente do canhão do CC e 70m para os lados da trajetória do tiro, sendo
desaconselhável seu uso no combate urbano, pois os fuzileiros utilizam a viatura
para sua proteção e normalmente permanecem próximos aos blindados,
aumentando o risco de fratricídio.
Figura 40 - Munição de energia cinética (“flecha”).
Fonte: Rocha Júnior (2005).
A munição de energia química (HEAT-T) é usada principalmente contra
fortificações, pessoal e viaturas levemente blindadas. Contém uma carga de altoexplosivo, que penetra a blindagem e causa a destruição no interior do alvo pelas
lascas e estilhaços da parede interior, pelo impacto direto e pela onda de choque
que provoca. Da mesma forma, esta munição não deve ser disparada sobre tropas
amigas desabrigadas, já que fragmentos da granada podem atingi-las. A área de
perigo se assemelha à descrita anteriormente, porém, é mais recomendável sua
utilização no interior de localidades por ser bastante apropriada para eliminar
pequenos grupos homiziados em edificações.
A munição do tipo alto-explosiva plástica (HEP-T) é uma munição antimaterial
usada, prioritariamente, contra áreas e pontos a grandes distâncias (acima de 2000
m). Ao se chocar contra uma superfície dura, o lado oposto quebrará em pequenos
estilhaços, causando danos pessoais e materiais nas guarnições dos blindados,
provocando avarias significativas nos instrumentos de tiro e outros componentes
menores. O mesmo efeito é obtido contra superfícies de concreto, podendo destruir
estruturas reforçadas com espessura de 1,8 a 2,4 m. Portanto, além da munição de
73
energia química, a munição supracitada é ainda mais apropriada para o emprego no
combate urbano.
A munição antipessoal (APERS-T) é uma munição usada, prioritariamente,
contra tropas em campo aberto. O interior da granada é composto por inúmeros
subprojetis (flechetes), que, após a detonação, se dispersam sobre a área do alvo. O
tiro com essa munição também não pode ser realizado sobre tropa amiga
desabrigada. Assim, esse tipo de munição pode ser usado com restrições para
atingir grupos entrincheirados em escombros ou nas coberturas de edifícios.
Outro veículo blindado sobre lagartas, adquirido pelo EB, dentro da política
de modernização, foi o CC LEOPARD 1 A1, comprados da Bélgica e que são
orgânicos dos Regimentos de Carros de Combate (RCC), sendo utilizados por estas
Unidades há cerca de 10 anos.
Conforme Brasil (2000), a VBC - CC LEOPARD 1 A1 é um carro de combate
originário da antiga Alemanha Ocidental, tendo as suas primeiras unidades
construídas pela Krauss-Mafei de Munique, em setembro de 1965, e sua produção
continuada até 1979.
No total, foram fabricados 2.437 carros de combate para o Exército Alemão,
em quatro modelos básicos: o Leopard 1 A1, que com blindagem adicional recebeu
o nome de Leopard 1A1A1; o Leopard 1A2; o Leopard 1A3 (com nova torre) e o
Leopard 1A4 (com nova torre e novo sistema de controle de tiro). Muitos países
como: Austrália, Canadá, Itália e Bélgica, adotaram a VBC - CC Leopard 1 A1 como
CC principal e ao longo dos anos vêm modernizando suas VBC, de forma que,
atualmente, o Leopard 1A5 é a última versão. Assim, observa-se que o Leopard 1
A1, pode ser considerado obsoleto para os mais modernos exércitos, tendo em vista
a evolução para versões mais modernas, embora, para a realidade sul-americana,
continue sendo considerado um bom carro.
O CC Leopard 1 A1 é constituído de 2 (duas) grandes partes, que são a
torre com armamento e a carroceria com o motor e os trens de rolamento. A
exemplo do M60, sua guarnição é composta por 4 (quatro) homens: o comandante
da VBC, o atirador, o motorista e o auxiliar do atirador.
Como armamento principal possui também 1 (um) canhão 105 mm, além de
2 (duas) metralhadoras 7,62 mm, uma coaxial e outra antiaérea e 8 (oito) lançadores
de fumígenos de 76 mm, como armamentos secundários. Possui condições de
realizar o tiro com a viatura em movimento, devido a sofisticado sistema de
74
estabilização, que permite a realização de tiros com elevada precisão e a
observação do campo de batalha mesmo com a VBC em movimento.
Esse sistema permite que a viatura possa se deslocar em qualquer terreno
com o armamento principal sofrendo um mínimo de variações na sua elevação e
direção, o que possibilita uma rápida reação em detrimento de proteção do carro. A
demora para o engajamento de um alvo é muito menor, pois a transferência de
objetivo pode ser feita em movimento e, em caso de urgência, permite realizar o tiro
em movimento com precisão de até 1.500 m.
O seu peso é de aproximadamente 40 Ton, quando totalmente carregado e
pronto para sair para o cumprimento das missões, utilizando-se de um motor cuja
potência é de 830 HP, com transmissão de 4 velocidades com acionamento
hidráulico das embreagens.
Figura 41 - Leopard 1A1
Fonte: Arquivo pessoal
O sistema elétrico do carro é alimentado por uma corrente de 24V / 400A,
utilizando dois grupos de 4 (quatro) baterias de 12V.
O óleo diesel é utilizado como combustível, possuindo reservatórios com
capacidade total de 985 litros, para um consumo médio em estrada de cerca de 610
m/litro e de 330 m/litro através campo, o que lhe confere uma autonomia aproximada
de 450 Km.
A velocidade máxima pode alcançar 62 km/h à frente e 24 km/h à ré,
possuindo capacidade de vencer rampas de cerca de 60% e uma inclinação lateral
máxima de 30%. Sobe degraus de no máximo 1,15 m e possui condições de
ultrapassar, sem preparação, vaus de 1,20 m e, com preparação, de até 2,25 m.
Possui ainda a capacidade de passar sobre fossos de até 3 (três) metros. Algumas
75
dessas capacidades não são totalmente vantajosas ao combate urbano, porém
demonstram a grande versatilidade do Leopard.
O seu sistema de comunicações permite a comunicação entre os membros
da guarnição e externa até aproximadamente 25 km por rádio, também carecendo
de uma melhor comunicação com os elementos externos próximos ao veículo,
fundamental em operações urbanas.
No tocante à munição, de acordo com Rocha Júnior (2005), o veículo possui
capacidade de conduzir em seu interior 60 granadas de 105 mm (incluídas as
munições anticarro, antipessoal e do tipo especial), 4.600 cartuchos de calibre 7,62
mm e 24 granadas fumígenas de 76 mm.
A munição anticarro e antipessoal do armamento principal possui as
mesmas características citadas na VBC M60 e deve ser utilizada com precauções,
visando evitar o fratricídio ou baixas na população civil não combatente.
Há, ainda, um tipo especial de munição (WP-T), que tem como principal
característica uma elevada capacidade incendiária e de produção de fumaça, sendo
mais apropriada para emprego contra alvos localizados no interior de instalações
fixas, como casas e edifícios, ou mesmo para impedir a observação inimiga sobre as
formações que progridem no interior da localidade,
Além dos carros de combate, o Regimento de Cavalaria Blindado (RCB)
utiliza também a Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) M113B, de
origem norte-americana, a qual foi desenvolvida para atender à necessidade do
exército dos Estados Unidos de possuir uma viatura leve e versátil para o transporte
de infantaria.
Possui como principais características, segundo o Centro de Instrução de
Blindados (CIBld)19, a guarnição composta por dois homens, o motorista e o atirador
do armamento principal que é uma metralhadora .50 anti-aérea, colocada em uma
torreta arredondada, podendo transportar um grupo de combate (GC) de 10 homens.
O M113 possui motor original à gasolina, que foi substituído por um a diesel
nas versões mais modernas, com uma autonomia de cerca de 540 Km na estrada e
de 321 Km através campo, adquirindo características que lhe conferiram maior
__________
19
Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires (CIBld), localizado em Santa Maria no Rio Grande do Sul, é uma das
mais recentes organizações militares do Exército Brasileiro, criado em 1996 com o objetivo de servir de base para o
aperfeiçoamento profissional do Núcleo de Blindados do exército.
76
potência. O peso do blindado equipado para o combate é de 10,6 Ton, podendo
alcançar a velocidade de 63 Km/h à frente, 9,5 Km/h à retaguarda e por suas
características anfíbias chega a 5,6 Km/h na água.
A VBTP possui uma blindagem de duralumínio, com resistência satisfatória
contra estilhaços e projetis não perfurantes de armamento leve. No caso das
ameaças urbanas atuais e seu arsenal anticarro, o veículo possui algumas
vulnerabilidades na sua proteção e sobrevivência. Tal assertiva pode ser
comprovada pelo fato dos mais experientes exércitos já o terem substituído por
blindados mais resistentes e com moderna tecnologia, conforme visto nas seções
anteriores.
As características apresentadas referem-se ao M113 A3, que é a versão
mais recente da VBTP no EB, possuindo, ainda, novo sistema de transmissão,
lançadores de fumígenos, sistemas de purificação de ar contra ataques químicos,
bacteriológicos e nucleares (QBN), oferecendo melhores condições para enfrentar o
combate urbano.
3.3.2 Blindados sobre rodas
Os regimentos mecanizados da Cavalaria do EB utilizam blindados sobre
rodas para o cumprimento de suas missões, com tecnologia e materiais nacionais e
que eram fabricados pela extinta ENGESA.
Dentre
os
veículos
em
uso
atualmente,
a
Viatura
Blindada
de
Reconhecimento (VBR) EE9 Cascavel, confere às pequenas frações boa potência
de fogo e proteção blindada para o cumprimento de missões básicas.
Possui como características principais, de acordo com o CIBld, uma
guarnição composta por 03 homens, que são o motorista, o comandante do carro e o
atirador do armamento principal que é um canhão de 90 mm, possuindo como
armamentos secundários duas metralhadoras 7,62 mm, uma coaxial e outra antiaérea. Possui espaço para transportar 44 munições de canhão e 2200 tiros de 7,62
mm.
O peso do veículo equipado e pronto para o cumprimento das missões
chega a 13 toneladas, relativamente mais versátil para o combate urbano, se
comparado aos blindados sobre lagartas. O veículo atinge no máximo a velocidade
de 110 Km/h à frente e 60 Km/h à retaguarda, com uma autonomia de 700 Km e
utilizando óleo diesel como combustível.
77
A blindagem é de aço, não tendo recebido qualquer reforço extra, o que
pode tornar-se uma vulnerabilidade, em face às ameaças atuais do combate urbano,
além de não possuir um sistema de defesa contra ataques QBN, nem equipamentos
de visão térmica ou visão noturna, essenciais à sobrevivência do carro na guerra
moderna.
Figura 42 – EE-9 Cascavel
Fonte: Bastos (2006)
Conforme analisou Bastos (2006), o Cascavel teria que passar por um
processo de revitalização e modernização para ter o mínimo de condições de
utilização no campo de batalha onde atualmente se desenvolvem os combates. Este
processo foi iniciado no final do século passado, mesmo após o fechamento
definitivo da ENGESA, em 1993, que seria a responsável natural pela remontagem
dos veículos, empregando tecnologia moderna.
A idéia para a recuperação em larga escala destas viaturas remonta a 1998,
culminando os estudos em 2000 e iniciando-se em 2001. Foi então montada uma
linha de recuperação, que tinha a conclusão dos trabalhos prevista para 2005,
realizando em alguns veículos quase uma refabricação. O processo iniciado tornouse mais complexo que uma linha normal de fabricação, já que foi necessário
desmontar cada um dos veículos, item por item, modificando peças para sanar até
mesmo os defeitos originais do veículo.
A repotencialização visa permitir uma sobrevida destas viaturas até o ano de
2011, quando, segundo o planejamento apresentado e conclusão de Bastos (2006)
haverá a necessidade de uma nova família de blindados sobre rodas para o Exército
Brasileiro, com veículos mais modernos e preparados para o combate urbano. Até o
momento não foi encerrado o processo de revitalização dos EE9 Cascavel e não há
previsão de conclusão dos trabalhos.
78
De qualquer forma, apesar dos parcos recursos destinados a este fim, o
Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), vem trabalhando na repotencialização de
alguns destes veículos. O chamado Projeto Fênix que visava modernizar a família de
blindados sobre rodas, tinha previsão para o Cascavel de algumas inovações que,
sem dúvida, melhoraria bastante a sobrevivência deste blindado. Dentre outras
novidades, destacavam-se a capacidade de realizar tiro em movimento, o fato de
possuir giro elétrico na torre, de localizar e engajar alvos sob condições restritas de
visibilidade,de incorporar dispositivos de visão noturna (luz residual) e de telemetria,
de incorporar equipamentos integrantes do Sistema de Comando e Controle de
Unidade e de permitir que a tripulação possa operar utilizando vestimentas
adequadas para o combate em ambiente QBN, o que tornaria esta VBR melhor
preparada para o combate urbano.
Ainda a respeito do Cascavel é interessante destacar que empresas
estrangeiras como a israelense Nimda Corporation Ltd adquiriram algumas destas
viaturas, versão MK II do exército do Chile para realizar modificações e inovações,
semelhantes às propostas pelo Projeto Fênix brasileiro. Além disso, a Colômbia tem
empregado o EE-9 Cascavel em combates reais na sua luta contra as FARC e vem
conseguindo alguns bons resultados, o que mostra que o veículo, mesmo sendo um
produto dos anos 80 ainda se mantém totalmente operacional, sendo que 46
veículos foram modernizados por uma empresa local, com o apoio de algumas
empresas brasileiras20.
Uma empresa belga lançou no mercado em 2002 um kit para modernização
de veículos militares sobre rodas e lagartas, incluindo-se os blindados EE-9
Cascavel, onde se prevê a mudança do canhão para um versão mais nova, a Mk-3,
com novo freio de boca, possibilitando-o disparar munição tipo Flecha e
incorporando os itens constantes da relação mencionada para a nova modernização
oferecendo, ainda, uma nova torre em alumínio, maior que as atuais em uso, com
um novo canhão de 90mm, o Mk-8, com poder de fogo equivalente a um canhão de
105mm do tipo que é empregado nos Carros de Combate Leopard 1 A1 e M-60 A3
TTS, apresentados anteriormente. Quanto à viatura EE 11 Urutu, da mesma forma
__________
20
Empresas como a COLUMBUS COMERCIAL IMPORTADORA E EXPORTADORA LTDA, de São Paulo e UNIVERSAL
IMPORTAÇÃO, EXPORTAÇÃO E COMÉRCIO LTDA, do Rio de Janeiro participaram da 1ª Fase no AGSP e ainda estão
oferecendo seus serviços a diversos clientes no exterior, principalmente para veículos blindados EE-9 e EE-11.
79
que o EE 9 Cascavel, a fabricação é nacional da ENGESA e algumas características
básicas são apresentadas pelo CIBld, como a constituição da guarnição de 5
homens, sendo o comandante do carro, o motorista, o atirador da Mtr .50, o atirador
do morteiro e o municiador, pois esta última versão do Urutu da série MK IV, que o
EB possui apenas 06 exemplares, foi concebido na versão porta-morteiros de
120mm raiados.
Outras características deste veículo, que o torna bastante apto para as
operações urbanas, são o seu peso pronto para o combate, em torno de 22 Ton e a
velocidade que pode atingir 56 Km/h, com uma autonomia de 350 Km. A viatura tem
carência de um sistema contra ataques QBN e de optrônicos para o comandante do
carro e guarnição, possuindo apenas um equipamento de visão noturna opcional
para o motorista.
Apesar das deficiências, o EE-11 da nova versão, repotencializado pelo
Arsenal de Guerra de São Paulo, chamado Urutu II vem sendo utilizado com êxito
pelas tropas brasileiras no Haiti e segundo Bastos (2007), empresas estrangeiras,
como a Nimda israelense, já demonstraram interesse em patentear uma nova versão
do Urutu com várias melhorias e inovações, particularmente quanto à sobrevivência
do veículo no combate atual.
Dentre as principais modificações destaca-se a capacidade de enquadrar e
engajar alvos sob condições restritas de visibilidade, incorporar dispositivos de visão
noturna (luz residual) e de telemetria, incorporar equipamentos integrantes do
Sistema de Comando e Controle de Unidade, permitir que a tripulação possa operar
utilizando vestimentas adequadas para o combate em ambiente QBN e portar uma
torreta compatível com metralhadora .50, 7,62mm ou lançador automático de
granadas de 40mm.
As experiências práticas das patrulhas brasileiras com os carros utilizados
no Haiti, em processo de testes e improvisações, visam colher ensinamentos para
fazer face às novas ameaças surgidas no ambiente urbano e aos armamentos
utilizados por rebeldes e traficantes haitianos. Certamente o arsenal utilizado por
bandos armados nos bairros pobres de Porto Príncipe, não podem ser comparados
aos utilizados por iraquianos ou palestinos no Oriente Médio, mas de igual forma as
armas utilizadas podem trazer danos aos veículos e suas guarnições, principalmente
quando disparadas contra as partes mais vulneráveis dos carros.
80
Figura 43 - EE11 Urutu patrulhando ruas de Porto Príncipe
Fonte: COTER
Assim, a torre do Urutu recebeu uma proteção blindada, fabricada no próprio
Haiti pela empresa La Perfection Machine Shop, que oferece, ainda conforme
análise de Bastos (2007), uma maior proteção para o atirador. A torreta automática
israelense RCWS 30 (Remote Controlled Weapon Station), que foi testada por um
breve período nas viaturas Urutu, fruto de uma parceria entre as empresas Indústria
de Material Bélico (IMBEL) e a Rafael israelense, poderia equipar melhor os veículos
sobre rodas do Brasil, porém o projeto não foi levado adiante.
De qualquer forma, o Urutu vem sendo utilizado em larga escala em
operações urbanas, com inovações como os redutores planetários nas rodas e a
torreta com proteção blindada do compartimento do motorista, que já foi testada e
demonstrou sua eficácia. Esta torreta está sendo desenvolvida no AGSP pela
empresa de blindagens Centigon Ltda e é semelhante à aplicada nos blindados sulafricanos Ratel, operados pelos jordanianos no Haiti.
Além disso, dentre os veículos que receberam a torreta blindada para o
motorista, dois possuem uma lâmina tipo “buldozer” para remoção de obstáculos, um
na versão ambulância e outro na de transporte de tropas. Estudos apontam,
também, para a adaptação de um desses modelos para a versão Posto de
Comando, podendo ser utilizado, inclusive, em operações de Garantia da Lei e da
Ordem (GLO).
3.4 CONCLUSÃO PARCIAL
O combate urbano moderno, como se observa principalmente no Iraque e o
desenvolvido na Faixa de Gaza, possui características próprias e que obrigaram
Estados Unidos e Israel a buscarem um constante desenvolvimento dos seus meios
e de sua tecnologia, a fim de reduzir o tempo de conflito e as perdas humanas e
materiais.
81
Ao analisarem-se os meios blindados mais utilizados por estes países nos
citados conflitos, verifica-se que a cada embate, novas lições são aprendidas e as
falhas geram inovações e melhorias que garantem a sobrevivência daqueles meios
no combate.
O emprego de blindados para dissuadir, proteger os fuzileiros a pé e até
resolver rapidamente as questões, parece ser a forma decidida por estes exércitos
com larga experiência nestes tipos de confrontos, não se admitindo qualquer
patrulhamento ou ataque a resistências sem a utilização desses meios, conforme se
verificou nesta seção.
O exército norte-americano, após perder ou danificar seriamente alguns dos
seus principais blindados como o M1A2 Abrams e o novo Stryker, percebeu a
necessidade de se realizar algumas adaptações nestes blindados para o combate
urbano, surgindo a versão TUSK (Tank Urban Survival Kit), com inovações que
possibilitam maior sobrevivência do carro em ambientes urbanizados. Além das
melhorias desenvolvidas para as linhas de blindados existentes, os americanos não
abriram mão de desenvolver novos carros, como o blindado leve 8x8, sobre rodas,
Stryker, que possui características próprias para a guerra urbana.
De forma semelhante aos norte-americanos e colhendo as lições de
atuações anteriores e de outros exércitos, os israelenses também rumaram na
direção do desenvolvimento de meios blindados voltados para o combate em área
urbana, já que a maioria dos conflitos em que vem tomando parte se desenvolve
neste ambiente. Assim, as Forças de Defesa de Israel são consideradas a tropa
mais preparada para atuar no combate urbano.
Os constantes empregos somados ao eficiente treinamento e investimento
no setor de defesa, tornaram Israel uma potência militar respeitada no mundo. Após
anos intensos de emprego em situações reais, seu veículo principal da série
Merkava versão Namera é considerado um dos melhores para o combate urbano e a
viatura de transporte de infantaria Achzarit é uma das mais confiáveis e seguras.
Durante muito tempo Israel foi financiado na parte militar pelos Estados
Unidos e isso fez com que muita tecnologia, até os dias atuais, são compartilhadas
pelas duas nações, inclusive utilizando os mesmos veículos como é o caso dos
recentes Stryker.
Observa-se nos veículos norte-americanos e israelenses semelhanças que
apontam para uma tendência das novas linhas de blindados com características
82
para atuar no inevitável ambiente urbano da guerra do futuro. Muitas inovações
como o sistema de proteção ativo, contra mísseis e foguetes, já é considerado item
obrigatório nos carros em estudo ou em fabricação.
Ao analisar os meios blindados utilizados no Brasil, percebe-se que os
investimentos realizados deixaram de contemplar as inovações para o combate
urbano, exceção feita ao Urutu que, por estar sendo utilizado nas missões de
estabilização no Haiti, teve que receber alguma modificação, ainda que pequena,
para atuar no interior de cidades.
Os veículos sobre lagartas não possuem qualquer proteção extra,
principalmente nas partes que se apresentam mais vulneráveis aos atiradores de
escol e armas anticarro, que são a torre e as partes de cima e de baixo dos
blindados. Além disso, os carros adquiridos há aproximadamente dez anos, já estão
sendo fabricados, pelos países de origem, em versões mais modernas e mais
versáteis do que as que o EB possui, tornando-os quase que obsoletos aos olhos do
combate moderno.
A linha sobre rodas, após a falência da ENGESA, não teve desenvolvimento
satisfatório e, hoje, muitos blindados Cascavel e Urutu, com a vida útil praticamente
esgotada, estão sendo repotencializados no Arsenal de Guerra de São Paulo, porém
com poucas inovações no que se refere ao combate urbano. Conforme conclusões
de alguns pesquisadores, como o professor Expedito Bastos, o Brasil carece de uma
nova família de blindados sobre rodas, com concepção mais moderna e já
preparados para sobreviver às ameaças urbanas.
Isto posto, conclui-se parcialmente que, os blindados em uso atualmente
pela Cavalaria do EB carecem de aperfeiçoamentos com especificações para o
combate urbano e alternativas paliativas reduzem o problema, porém estão longe de
ser a solução ideal. Os projetos de modernização devem ter como base a real
tendência das guerras desenvolverem-se em teatros de operações que englobam
grandes cidades ou suas periferias e, portanto, os veículos blindados empregados
devem possuir armamentos, munições e tecnologia que permitam a sobrevivência
destes em ambientes fechados.
A repotencialização e até mesmo a refabricação das antigas viaturas,
poderiam seguir o exemplo de implementação de “kits” para combate urbano a
serem colocados nos carros e que estão sendo desenvolvidos com sucesso em todo
83
o mundo, particularmente nos países que mais têm participado, atualmente, destes
tipos de confrontos.
84
4. DOUTRINA DE EMPREGO DOS BLINDADOS NO COMBATE URBANO
Após serem analisados os conflitos históricos e os principais blindados
utilizados por países em constante emprego como EUA e Israel, pode-se verificar
que as modernas tecnologias e a preocupação maior dada ao elemento não
combatente, transformaram o combate moderno e trouxeram novas preocupações
aos comandantes e estrategistas.
O desenvolvimento dos combates em ambientes urbanizados torna muito
difícil a identificação do inimigo, muitas vezes permeados na população civil. Além
disso, a mídia internacional realizando ampla cobertura, com transmissões ao vivo
do que está ocorrendo, faz com que a liberdade de ação para se utilizar meios de
guerra mais potentes diminua consideravelmente.
Segundo Harmeyer (1998)21, o emprego de meios blindados neste tipo de
operação é imprescindível, apesar das grandes dificuldades encontradas, não se
admitindo atualmente um combate urbano sem a utilização de carros de combate,
empregados como meio dissuasório e capaz de resolver com maior rapidez os
problemas apresentados no interior de cidades, além de exercer influências
psicológicas no inimigo.
Assim, torna-se necessário desenvolver e treinar doutrinas e regras de
engajamentos específicas para o combate urbano e que serão analisadas nesta
seção, focando nas doutrinas utilizadas por EUA e outros países com experiências
neste tipo de confronto, fazendo um paralelo com a atual doutrina brasileira no que
diz respeito a combate em áreas fechadas, concluindo sobre a adequabilidade
doutrinária no que se refere ao emprego de blindados nestes ambientes
operacionais.
4.1 A DOUTRINA NORTE-AMERICANA
A preocupação com a guerra urbana aumentou significativamente após
alguns fracassos relatados na história recente dos EUA, além das previsões para o
aumento dos conflitos urbanos, anteriormente relatados, fato que levou o exército
norte-americano a criar um projeto para o combatente urbano do século XXI,
__________
21
HARMEYER, George H. Major General Comandante do Centro de Blindados do Exército dos EUA em 1998.
85
desenvolvendo equipamentos e técnicas que estão servindo de base para a
formação de uma doutrina específica para estas novas ameaças.
Conforme analisou Hahn II (2001) e Jezior, para obter sucesso nas
investidas urbanas é imprescindível alcançar velocidade, ou seja, alto ritmo
operacional, o que foi sempre difícil devido aos desafios de comando e controle e
aos problemas associados com as manobras dentro do cenário urbano. Embora em
certas ocasiões os combatentes urbanos necessitem desembarcar em função de
imposições táticas, o combate urbano, com mais freqüência, irá requerer
movimentos rápidos em torno, dentro e através de densas áreas urbanas. Isso será
possível por meio da sincronização de avançados sistemas de informação, robótica
e de uma viatura blindada específica para o combate urbano, algumas já
desenvolvidas pelos americanos como o M1A2 Abrams versão TUSK e o Stryker,
apresentados na seção anterior e que estão sendo testadas na atual guerra no
Iraque, apresentando bons resultados iniciais.
Como ficou demonstrado pelo desastre russo na Chechênia, o atual risco
dos blindados em área urbana é muito grande. Entretanto, forças de assalto urbano
com
conhecimento
preciso
da
localização
das
concentrações
inimigas,
provavelmente poderão evitá-las e realizar, ao mesmo tempo, emboscadas para
manter a liberdade de movimento por toda a cidade. Mobilidade tática de extrema
velocidade permitirá às forças de combate urbano isolar as concentrações inimigas e
destruí-las, quer se encontrem escondidas, em movimento para reforçar ou retraindo
para posições alternativas.
Essas forças também devem ser capazes de infiltrarem diretamente na área
urbana ou de serem extraídas da área empregando aeronaves de asas rotativas de
última geração, aptas para transportar tanto pessoal como suas viaturas blindadas
de combate urbano.
Na abordagem de Peters (1999)22, os russos utilizaram com incompetência
seus poderosos carros de combate em Grosny, fato este que não deve tornar o
emprego de blindados em área urbana algo impossível ou mesmo fora de cogitação.
Ao contrário, os blindados com o devido suporte dos fuzileiros a pé serão as bases
dos futuros combates em áreas urbanizadas.
__________
22
PETERS, Ralph. "The Future of Armored Warfare" – original publicado na revista Parameters, (Outono 1997), p. 50-59.
86
Embora haja contradições quanto às melhores formas de se atuar em
cidades e localidades, segundo USA (2003a)23, o binômio infantaria-carro de
combate torna-se imprescindível para o sucesso das missões, já que o carro oferece
a devida proteção blindada e apoio de fogo para que o elemento a pé execute o
combate casa a casa, edifício por edifício, em todos os redutos inimigos, seja em
áreas sobre a superfície ou subterrânea.
Portanto, a organização por tarefa de armas combinadas, citada no referido
manual, parece ser a melhor saída para estes combates, já que os blindados
protegem os soldados do tiro de armas leves e destroem ou suprimem posições
inimigas pelo fogo direto, medida que oferece segurança mútua, pois o elemento a
pé faz a proteção dos carros contra ataques em áreas vulneráveis da viatura e
pontos cegos.
Ainda de acordo com Peters (1999), apesar dos avanços da proteção, os
grupos a pé continuam sendo o elo mais vulnerável no sistema da guerra blindada. A
proliferação das armas de destruição em massa confirma esta assertiva e, num
futuro próximo, com o advento da robótica, provavelmente existirão tanques
operados remotamente por grupos que permanecerão longe das áreas de risco.
Segundo Tucker (1998) e Grau (1997)24, o consenso atual é que áreas
urbanas tendem a anular as vantagens tecnológicas de uma força, forçando-a,
conseqüentemente, a adotar métodos não conhecidos ou meios de reduzida
tecnologia para travar a guerra. Inimigos operando em áreas urbanas podem utilizar
uma grande variedade de métodos assimétricos para reduzir o ritmo das operações
militares, criar um grande número de baixas e, através de uma variedade de meios
bárbaros, tentar quebrar a vontade do atacante e de seu povo para continuar a luta.
Ao invés de procurar chegar à vitória, o inimigo precisa apenas evitar a derrota. No
ponto de vista de Hanh II (2001), sabe-se que as áreas urbanas favorecem uma
"força não modernizada" dando maior vantagem ao defensor do que ao atacante.
As
forças
norte-americanas
são,
com
freqüência,
descritas
como
despreparadas (em equipamento, doutrina, adestramento e psicologicamente) para
_______________
23
Field Manual – FM 3-06 – Urban Operations. Traduzido pelo Maj Cav Qema Paulo Roberto Rodrigues Pimentel, da seção de
doutrina da ECEME.
24
TUCKER, David "Fighting Barbarians," Parameters, (Verão 1998), p. 69-79. Ver também Lester W. Grau, "Bashing the Laser
Range Finder With a Rock," Military Review, edição em inglês, (Mai-Jun 1997), p. 42-48.
87
o tipo de luta que ocorrerá, caso o inimigo decida combater em área urbana. Essa
visão implica, sem dúvida, em uma evidência das dificuldades que os EUA e outras
forças militares têm encontrado quando conduzindo operações militares em terreno
urbano, durante os últimos anos.
Nos documentos e relatórios posteriores à Segunda Guerra do Golfo,
verificaram-se problemas como os desafios de comunicação, a vulnerabilidade de
aeronaves de asa rotativa e blindados frente às armas individuais e a falta de
mobilidade tática, geralmente disponível para a infantaria desembarcada.
Em geral, a doutrina norte-americana preconiza, de acordo com Hanh II
(2001), que se deve dominar e conquistar pontos decisivos buscando atingir o centro
de gravidade25 dentro das localidades e, para isto, apenas duas alternativas lógicas
são admitidas. A primeira opção, a qual alguns oficiais do comando têm
demonstrado certa predileção nos recentes jogos de guerra realizados pelos norteamericanos, é evitar travar combate nas cidades. Pensando desta forma, as forças
dos EUA deveriam procurar engajar o inimigo em terreno descoberto onde a sua
superioridade tecnológica proporcionaria uma vantagem esmagadora. Infelizmente,
essa opção inibe a habilidade das forças estadunidenses de conduzir a campanha
militar para uma rápida conclusão, permitindo ao inimigo o exato tipo de refúgio que
ele procurava quando decidiu entrar na cidade. O inimigo tem controle da cidade e
está a salvo dos ataques das forças norte-americanas, fato que vem ocorrendo no
Iraque.
Uma opção alternativa descrita como uma "abordagem indireta" foi proposta
por Scales Jr (1998)26. Esta abordagem requer o estabelecimento de uma linha de
cerco ao redor da cidade ocupada pelo inimigo. Embora raramente, ou talvez nunca,
entrem na cidade, as forças ofensivas empregariam armas de precisão para atacar
alvos selecionados, lideranças-chave e armas de destruição em massa, dentro do
perímetro sitiado da cidade. Eventualmente, a cidade desmoronaria sobre o inimigo
causando, por conseguinte, a sua derrota.
No que diz respeito ao emprego de forças blindadas, no investimento contra
uma cidade, conforme analisou Hanh II (2001) e Bonnie Jezior, o mais importante
__________
25
Chama-se centro de gravidade o ponto no organismo do Estado adversário que, caso seja conquistado ou o inimigo dele
perca o efetivo controle, toda sua estrutura de poder desmoronará. Manual de Estratégia C 124-1 pag 3-7.
26
SCALES JR, Robert H, "The Indirect Approach: How US Military Forces Can Avoid the Pitfalls of Future Urban Warfare,"
Armed Forces Journal International, (outubro de 1998), pp. 71-72.
88
importante é a preparação do combatente que vai operar os meios de alta
tecnologia, além do necessário adestramento quanto às técnicas, táticas e
procedimentos a serem empregados no combate, sobressaindo o valor moral e
profissional dos recursos humanos e dos chefes militares que conduzem as
operações em que cada edificação, rua ou ponto estratégico deve ser tomado.
A força inimiga não abandonará o prédio que domina só porque os invasores
controlam a rua à sua frente. Por isso pequenas unidades de infantaria com o apoio
de blindados (e se possível aeronaves), é que efetivamente farão o trabalho de
conquista. Isso faz com que o sistema operacional comando e controle ganhe
importância, pois haverá uma descentralização do comando, exigindo que as
pequenas unidades de combate (Grupos de Combate, Companhias, Pelotões e
Esquadras), sejam dotadas de bons meios de comunicação, considerável poder de
fogo e que seus comandantes tenham um elevado grau de iniciativa.
4.1.1 Formações e manobra dos blindados no combate urbano
Conforme se verificou nas seções anteriores e de acordo com a doutrina
americana descrita em USA (2003b), os blindados são imprescindíveis no
investimento em cidades e devem seguir uma metodologia e regras de engajamento
próprias.
A primeira grande norma é o uso de pequenas frações ou grupos do binômio
formado por fuzileiros a pé e carros blindados, que atuam isoladamente com
missões específicas e que devem ser cumpridas de forma rápida e eficaz.
No caso das pequenas frações blindadas, o exército dos EUA adotou o pelotão a
quatro carros de combate, rejeitando a solução de três carros, a fim de manter as
duas seções com dois cada. A experiência do combate na luta urbana demonstrou
claramente as vantagens do pelotão com quatro veículos, já que nas ruas mais
estreitas operando com duas seções, dando suporte para a infantaria, um pelotão
com três tanques seria, além de inadequado também antieconômico, pois o único
veículo restante na maioria dos casos seria deixado atrás ou não seria usado
eficazmente pelo comandante da infantaria, tornando-o altamente vulnerável às
armas anticarro inimigas.
A alternativa seria usar juntos os três veículos do pelotão, fornecendo maior
poder de fogo, porém acarretaria mais problemas de comando e controle para o
89
comandante da infantaria, o qual possui treinamento específico para a função de
conduzir suas próprias tropas e não carros de combate que lhe sejam atribuídos
temporariamente para o cumprimento de determinada missão. De um ponto de vista
puramente econômico, segundo Defense Update (2006), o pelotão a quatro carros,
perfazendo 13 veículos blindados por companhia, eliminando o segundo tanque da
seção de comando e deixando um único carro para o comandante da companhia, foi
a composição ideal encontrada pelos norte-americanos.
O exército dos EUA considera, ainda, cenários básicos para organizar as
pequenas frações em forças-tarefas combinadas para o combate urbano, que são:
(1) O pelotão de carros como um elemento de manobra.
Neste cenário, o comandante do pelotão é responsável pela coordenação da
manobra de seus carros. Usando esta organização, as missões prováveis para os
tanques seriam fornecer a sustentação ou a base de fogos para o movimento de
unidades de infantaria. Este é o mais difícil dos métodos, por causa da grande
coordenação que necessita, já que requer o controle dos movimentos de dois tipos
de unidades. O comandante do pelotão de carros pode escolher manobrar seu
pelotão por seções tendo uma flexibilidade maior para apoiar a infantaria durante o
combate, exigindo em contrapartida grande experiência dos comandantes de carro e
suas guarnições, que atuarão praticamente independentes e com grande
responsabilidade.
(2) Seções de carros sob o controle do pelotão de infantaria
Neste cenário, os pelotões de carros são desdobrados em duas seções,
sendo cada seção colocada sob o controle operacional de um comandante de
pelotão de infantaria. Para esta técnica ser eficaz é necessário o controle da
progressão para os tanques e a infantaria, necessitando treinamento anterior para
os comandantes de pelotão de infantaria, a fim de evitar o isolamento dos carros no
interior da localidade, deixando-os vulneráveis às armas anticarro do inimigo.
(3) Esquadras de infantaria sob o controle do pelotão de carros
Neste caso, o comandante de uma fração de infantaria coloca uma ou mais
esquadras sob o controle operacional de um Cmt de pelotão de carros. Esta técnica
é muito eficaz em terreno urbano relativamente aberto, onde um pelotão de carros
pode operar como um todo, protegido pelos fuzileiros a pé. Esta é a opção preferida
do comandante do carro, já que lhe permite operar sob circunstâncias ideais no
combate urbano, requerendo, entretanto, dos comandantes mais novos das
90
unidades de carros treinamento anterior na cooperação CC-fuzileiro nos níveis
seção-esquadra. O comandante do pelotão coordena o poder de fogo da unidade
usando vários métodos, o melhor deles é através do telefone externo dos blindados,
que permite a coordenação da infantaria com os carros de combate.
Ainda segundo USA (2003b), para a maior eficiência destas tropas no
combate urbano, devem ser seguidas as seguintes regras básicas:
(1) os pelotões de carros devem ser usados, preferencialmente, por seções,
podendo operar na sustentação da infantaria. Caso seja usado para proteger
pequenas frações no assalto a determinado ponto edificado, como parte do
esquema de manobra, o comandante avançado deve controlar os carros de
combate.
(2) se o comandante da companhia de fuzileiros estiver controlando os CC,
necessita deslocar-se para frente, numa posição onde possa manobrar eficazmente
os blindados na sustentação da infantaria.
(3) a composição da força que irá operar deve ser organizada e controlada.
Se o comandante da companhia for manobrar os carros, não há nenhuma razão
para organizar os Pel CC por seções sob controle operacional dos pelotões de
infantaria.
(4) há necessidade da infantaria proteger os blindados quando os dois
elementos estiverem trabalhando juntos. Não é recomendável deixar os tanques
sozinhos, já que não estão preparados para a autodefesa durante a operação. Os
CC são extremamente vulneráveis a ataques desembarcados nas operações em
terreno urbano. Os carros são os elementos que mais necessitam segurança quando
a infantaria está no processo de assaltar edifícios, devendo permanecer
relativamente estacionários por períodos prolongados, até que as equipes
manobrem para uma posição favorável.
Uma das formações mais comuns dos blindados utilizados pelos Estados
Unidos no combate urbano é a tipo caixa ou o diamante, onde diversos veículos
blindados são agrupados em escalão com apoio mútuo, sendo posicionados nos
quatro pontos da formação para operar de forma coordenada, aguardando o
momento exato de fazer a varredura das áreas dominadas pelas forças inimigas.
Esta tática dificulta a eficiência do fogo inimigo e sua capacidade de engajar alvos,
que são detectados após realizarem o tiro. Quando parado, os veículos procuram as
91
posições que tenham dominância sobre a área para facilitar a observação e a
cobertura.
Figura 44 - Blindados americanos em formação de “caixa” no combate urbano
Fonte: Tropas de Elite (2006)
A dispersão das forças é mantida empregando diversas formações tipo caixa
que se movem paralelamente através dos blocos ou das ruas, coordenando seu
avanço e atirando com setores de tiro pré-estabelecidos, a fim de reduzir a
possibilidade de fratricídio. A dispersão lateral das forças canaliza o movimento em
linhas bem definidas, destacando a segurança lateral para as forças que avançam.
Os
elementos
mais
protegidos
(tanques
ou
escavadoras
blindadas)
são
posicionados na vanguarda, para engajar alvos no setor da frente e alvos baixos nos
flancos. Os veículos blindados de combate da infantaria (VBCI) cobrem os flancos e
a parte traseira. Os fogos das metralhadoras e do canhão automático, que possuem
ângulos mais elevados podem ser usados para engajar ameaças em locais onde o
armamento principal do veículo não consegue bater.
As formações combinadas dos tanques e VBCI têm maior maneabilidade e
cobertura mútua, em parte por causa das potencialidades adicionais do veículo
Bradley, por ser menor e mais manobrável. Os veículos pesados que conduzem a
formação permitem à caixa absorver o fogo inimigo e localizar suas posições,
podendo engajá-las com potência de fogo eficaz e precisa. Se um dos veículos ficar
inoperante, os demais se fecham em torno dele, estabelecendo uma parede de aço
que permite a evacuação das vítimas, a recuperação ou o reparo do material.
Cuidado deve ser tomado para assegurar-se de que os veículos não se fechem até
um ponto que se tornem um alvo lucrativo para as armas anticarro inimigas.
92
4.1.2 Principais ensinamentos
Atualmente os EUA estão entre as nações mais preocupadas com a
possibilidade de lutar em um ambiente urbano. Exército, Fuzileiros Navais, Marinha
e Força Aérea estudam diligentemente como obter sucesso em uma guerra urbana
de forma rápida, sem muitas baixas (civis e militares) e danos materiais. Os
americanos têm uma larga experiência em combates urbanos desde a Segunda
Guerra Mundial, passando por Seul, Hue, Beirute, Cidade do Panamá, Mogadíscio e
Bagdá.
Para terem sucesso em operações em áreas urbanas as forças norteamericanas investem pesadamente em estudos teóricos, exercícios militares,
treinamento e desenvolvimento de novas armas e tecnologias. A palavra chave é
integração de sistemas, armas e forças terrestres, aéreas e navais. Entre os estudos
americanos está o “Urban Warrior”, desenvolvido pelas Forças Armadas dos EUA,
que tem por objetivo concentrar esforços no aperfeiçoamento da tática, das técnicas
e dos meios visando a reformular e a desenvolver a capacidade das forças
americanas no combate no interior das cidades.
Segundo
Tato
(2006)27,
os
norte-americanos
possuem
regras
de
engajamento que, se postas em prática, restringem ao máximo a eficácia imediata
de suas forças e asseguram uma efetividade global na campanha.
Sem dúvida, os EUA têm adotado a tática de ataques com precisão semicirúrgica dos israelenses e o poderio concentrado dos russos. Com tecnologia de
mísseis teleguiados e com bombas de alto poder, conseguirão concentrar grandes
efeitos com os fogos indiretos, mas com precisão cirúrgica.
Isto significa atacar e destruir por "linhas interiores de fogo", os centros
nevrálgicos do inimigo, através de sistemas de armas combinadas de nível
subunidade. Mesmo assim, o exército dos EUA tem desenvolvido meios de
desobstrução de obstáculos, de demolição, de apoio de fogo de mísseis e de
comunicações via satélite, que excedem qualquer sistema de armas combinadas.
Desse fato tira-se o seguinte ensinamento: os norte-americanos estão
transformando suas organizações em sistemas multiarmas que possuem capacidade
e autonomia para solucionar problemas imediatos no campo de combate.
__________
27
TATO, Mariano Sebastián. Artigo publicado na revista TECNOLOGIA MILITAR nº 2, Ano 28, abril - junho 2006, editada na
Alemanha, em espanhol/português, pelo GRUPO EDITORIAL MONCH, em Bonn.
93
Ou seja, se valem de um elemento, sem necessidade de combiná-lo com
outro, para cumprir distintas funções no combate. Por exemplo: elementos básicos
de nível subunidade, com suficiência para executar pequenas desobstruções, com
proteção antiaérea, condução de fogo de artilharia e enlaces de comunicações via
satélite, a nível estratégico. Esta autonomia surge em função da versatilidade das
plataformas
de
armas
que
aceitam
distintas
configurações,
segundo
as
necessidades (Humvees, Bradleys, etc).
Na abordagem de Harmeyer (1998), as operações no Panamá, Somália e
nos Bálcãs demonstraram que, mais do que uma necessidade, o uso de blindados
nestes confrontos forneceu uma potencialidade que oprimiu toda a força do inimigo.
A presença dos Bradley e Abrams fez inimigos potenciais pensarem duas vezes
sobre suas ações.
Com os exemplos históricos, o centro de blindados dos EUA está
examinando o atual papel dos carros de combate e de transporte de pessoal nas
operações no terreno urbano. Faz-se necessário aplicar os benefícios de tecnologias
modernas a um estudo desta história e na coordenação com a escola de infantaria,
para atualizar e adaptar a força do blindado às operações urbanas.
Em se tratando das áreas fechadas e urbanizadas, as regras de
engajamento e o movimento físico de unidades blindadas fizeram com que
especialistas destas unidades parassem para pensar a forma de atuação em
missões de estabilidade, por exemplo, além de questionar o benefício que sua
presença traria e como se conduziria o treinamento para tais operações.
A presença dos carros de combate e dos veículos blindados de infantaria é
um impedimento físico e psicológico a qualquer inimigo, provando o valor do Abrams
e do Bradley em operações de elevada intensidade. O impacto psicológico de
veículos blindados suprime toda a ameaça, não importando que potencialidades eles
podem ter.
Entretanto há alguns inconvenientes. O peso, os pontos cegos e o tamanho
total dos carros, por exemplo, requerem um planejamento detalhado, por parte dos
comandantes de forças blindadas, neste tipo de operação. Estes últimos devem
medir onde e como atravessar uma área edificada, considerando a capacidade de
reação e meios do inimigo, além da maneabilidade dos veículos em áreas
construídas e o raio de giro das torres.
94
Assim, verifica-se que o emprego das forças blindadas não é uma ação
isolada, mas ocorre em combinação com soldados desembarcados para cobrir
pontos cegos e para fornecer proteção contra ameaças externas.
4.2 LIÇÕES APRENDIDAS POR OUTROS PAÍSES
Além dos EUA, destacam-se no combate urbano atual, pela enorme
experiência adquirida ao longo dos anos, outros exércitos como de Israel, Rússia e
Grã-Bretanha, os quais colheram, nos últimos conflitos que participaram, lições
importantes, desenvolvendo táticas que merecem destaque.
De acordo, ainda, com Tato (2006), os russos, entre os anos de 1994 e
1996, na primeira guerra da Chechênia, sofreram inúmeras baixas devido à falta de
proteção dos veículos, à imprecisão na limpeza de edifícios, à pouca integração
entre os diferentes sistemas de armas e à deficiente logística, sobretudo no que se
refere ao remuniciamento e evacuação de feridos. Já na segunda guerra, mais
precisamente em Grozny, os russos empregaram fogo de artilharia de forma
indiscriminada, inclusive com munição que se fragmentava em 30 submunições
incendiárias, possuindo alto poder destrutivo e causando muitas baixas e danos às
edificações.
Esta tática, empregada na Chechênia, foi a que resultou no êxito ao final da
batalha, porém, demonstrou ser um fracasso quanto à integração de sistemas de
armas combinadas e aos direitos dos não combatentes. Da atuação neste conflito,
os russos colheram os seguintes ensinamentos, passando a atendê-los: deve
empregar-se o apoio de fogo como pilar da manobra urbana, buscar atingir efeitos
precisos antes que devastadores e empregar ao máximo a iluminação e
obscurecimento no campo de batalha.
Além disso, das táticas, técnicas e procedimentos utilizados, foram
assimilados vários conhecimentos quanto à doutrina de emprego de blindados e,
segundo Grau (1997), a metodologia tática dos russos especificou que os carros de
combate seriam utilizados no assalto dentro das cidades, seguidos por veículos
blindados de infantaria e pelos fuzileiros desembarcados.
As colunas de blindados moveram-se, primeiramente, em formação de
espinha de peixe ao longo das ruas da cidade, o que provou ser totalmente
impróprio para a luta em Grozny, já que a grande concentração de armas anticarro
constituía ameaça aos veículos blindados, quando a posição e as características do
95
armamento dos carros russos não permitissem engajar alvos situados nos porões ou
nos andares superiores dos edifícios. As metralhadoras antiaéreas eram eficazes
contra estes alvos e as armas dos helicópteros foram usadas também contra os
atiradores de escol e armas nos pisos superiores, voando protegidos por edifícios
evitando engajamento pelo inimigo e cerrando sobre estes alvos.
Em Grozny, os CC e as VBTP formaram os grupos blindados usados fora
das áreas capturadas, como uma força de contra-ataque, para fornecer segurança
para instalações da área de retaguarda e para dar proteção à infantaria, avançando
fora da área de engajamento das armas anticarro inimigas. Os russos adotaram
medidas de precauções especiais para proteger seus carros de combate e
transporte de pessoal. Além de mantê-los atrás da infantaria, equiparam alguns com
uma gaiola de proteção, instalada a aproximadamente 30 centímetros da blindagem
do veículo. Estas gaiolas podem diminuir o efeito da granada RPG-7, além de outros
armamentos como o conhecido coquetel “Molotov” ou uma série de outra granadas
anticarro.
Quanto aos israelenses, que no período entre 1982 e 2003 estiveram
envolvidos em vários episódios de conflitos urbanos, estes melhoraram seus
procedimentos neste tipo de operação. No Líbano e na Palestina constituíram
equipes de armas combinadas, onde os blindados prestavam o apoio de fogo
pesado e direto às equipes a pé que limpavam os edifícios.
A tática era cercar previamente a localidade, subdividi-la, limpar um setor,
enquanto, paralelamente, se realizava fogo direto de helicópteros em outros setores,
coordenados com fogos indiretos de artilharia. O efeito sobre o objetivo era grande,
mas os danos colaterais não eram de grande magnitude, se comparados com o
poder de fogo empregado. Portanto, os israelenses souberam combinar armas,
adaptá-las e até mesmo personalizá-las para cada tipo de missão. Por exemplo, o
emprego dos tanques Merkava, que não possuem apenas o canhão e as
metralhadoras como armas principais, mas também um morteiro de 60 mm.
Os soldados israelenses atestam que seu principal meio móvel de apoio é o
“Bulldozer”, máquina blindada, com a qual se protegem, assaltam edifícios precários
e rompem barricadas. Disso, como resultante, depreendem-se os seguintes
ensinamentos: empregar os sistemas de armas combinadas, utilizar a combinação e
modificação permanente entre as plataformas de armas e executar o cerco e a
96
subdivisão detalhada para limpeza de áreas habitadas, com fogo de artilharia
coordenado e semicirúrgico.
Quanto às operações do exército inglês, Tato (2006) observou que foram
caracterizadas por um alto grau de precisão nos procedimentos, basicamente no
nível seção. A experiência adquirida nos combates em Belfast, para limpar edifícios
e enfrentar táticas terroristas, resultou nos fatores determinantes do êxito obtido na
cidade de Basra, no Iraque, em 2003. Os carros de combate integraram as forças
blindadas como apoio de fogo aproximado.
Como principais ensinamentos, quanto ao uso de meios blindados, pode-se
destacar os que se seguem: os britânicos somente comprometeram suas forças
blindadas quando não existia possibilidade de risco de franco-atiradores ou armas
anticarros. Executaram fogo preciso a partir das máximas distâncias de intervenção,
maximizando a ação psicológica que os blindados produzem. O emprego dos
blindados deve ser absolutamente ofensivo e devem ser utilizados buscando
letalidade e efeitos que permitam a aproximação das tropas a pé.
4.3 DOUTRINA BRASILEIRA
No que diz respeito à doutrina de emprego de blindados no combate urbano,
constante nos manuais em uso pelo EB, observou-se, em uma primeira análise,
conforme Brasil (2002 a)28, que a natureza do ambiente reduz a velocidade com a
qual unidades blindadas,
normalmente, conduzem suas operações.
Para o ataque e a conquista de uma localidade, segundo conclusão de
Hudson (2005), a Força-Tarefa (FT)29 valor subunidade (Companhia ou Esquadrão),
constitui a fração que pode ser empregada com maior perspectiva de acertos nestas
operações, pois conta com a potência de fogo, ação de choque do blindado, além da
mobilidade e proteção indispensável dos fuzileiros a pé.
__________
28
Manual de Campanha C 17-20 – Forças-Tarefas Blindadas – 3ª edição 2002, capítulo 9, página 9-6.
29
Chama-se Força Tarefa (FT) um grupamento temporário de forças, de valor unidade ou subunidade, sob um comando único,
integrado por peças de manobra de natureza e/ou tipo diferentes, formado com o propósito de executar uma operação ou
missão específica, que exija a utilização de uma forma peculiar de combate. Pode enquadrar também elementos de apoio ao
combate e de apoio logístico. Em qualquer caso, é organizado em torno de um núcleo de tropas de infantaria e cavalaria,
acrescido dos apoios necessários.
97
Segundo os manuais de campanha em uso no EB, a ação pode ser dividida
em três fases, a saber: isolamento, que consiste em isolar a localidade e apoiar pelo
fogo a progressão para o interior desta; a conquista de uma área de apoio na
periferia da localidade, que visa a eliminar a observação e fogos inimigos sobre as
vias de acesso que conduzem ao interior da localidade; e a progressão no interior da
localidade (ou investimento), que consiste na limpeza e conquista da localidade
propriamente dita.
4.3.1 Emprego de blindados nas operações urbanas
“A FT Blindada pode participar de um ataque a uma
localidade seja como força de isolamento, seja como
força de investimento” (C 17-20, 2002, p. 9-6).
De acordo com Brasil (2002 a), as principais características e táticas
empregadas por tropas blindadas na conquista de uma localidade, definem a matriz
doutrinária para estas operações nas áreas urbanizadas. Desta forma, conforme
doutrina em vigor as ações serão divididas em três fases, a saber:
1ª fase - O Isolamento
Dentre os aspectos doutrinários, que corroboram para o êxito na fase de
isolamento de uma área edificada podem ser citados o sigilo, a correta tomada de
um dispositivo, a escolha de uma tropa com natureza apropriada para este fim e
preferencialmente possuir maioria de meios.
Nesta fase deve-se buscar a conquista de acidentes capitais que dominem
as vias de acesso que conduzem ao interior da área edificada e que bloqueiem a
maior possibilidade de reforço do inimigo de fora para o interior da localidade, tendo
os meios blindados boas condições de executar esta tarefa. Será empregado
intensamente o apoio de fogo proporcionado pelo armamento orgânico das viaturas,
bem como o lançamento de fumígenos, na produção de cortinas de fumaça, para
cegar postos de observação inimigos ou encobrir movimentos de suas forças.
Para a conquista ou a ocupação dos objetivos de isolamento ou de cerco, o
ideal é que cada via de acesso que conduza à localidade seja bloqueada por um
pelotão dotado de CC ou VBR.
O armamento principal dos blindados e os morteiros prestam o apoio por
meio de seus fogos na conquista dos objetivos que permitem isolar a localidade,
podendo executar fogos sobre posições inimigas situadas na orla da localidade e
98
que estejam executando alguma ação hostil sobre as tropas que se encontram
isolando a mesma.
“Nas FT Bld, as FT Esqd / Cia Fuz Bld serão empregadas, em
princípio,
como força de
investimento. As
FT
Esqd
CC,
normalmente, integrarão a base de fogos”. (C 17-20, 2002, p. 9-6).
2ª fase - Conquista de uma área de apoio na orla da localidade
Nesta fase do combate em área edificada ocorrerá a eliminação ou redução
da observação terrestre e dos tiros diretos do defensor sobre as vias de acesso que
chegam à localidade.
Nessa etapa os meios de apoio de fogo e a reserva são cerrados à frente,
ocupando uma área de aproximadamente um quarteirão, para preparar-se para o
investimento, devendo, dessa região, ser possível a progressão para o interior da
localidade.
Assim sendo, as forças blindadas procurarão conquistar objetivos em áreas
pouco construídas e que, preferencialmente, tenham dominância em relação aos
prováveis locais de concentração inimiga, ficando os CC batendo pelo fogo os
prédios ou posições na orla anterior da localidade e os fuzileiros, em princípio,
realizando o ataque desembarcado.
3ª fase - O Investimento
Esta fase norteia, basicamente, o estudo em questão e consiste numa
progressão sistemática dos meios disponíveis no interior da área edificada, devendo
evitar-se que permaneçam focos à retaguarda, cabendo à reserva uma limpeza mais
detalhada, seguindo na esteira do ataque principal.
A possibilidade de utilização de apenas um eixo através da localidade pelo
escalão superior deve ser levada em conta, principalmente se as ruas e vielas forem
estreitas, podendo causar a redução da velocidade, facilitando as emboscadas do
inimigo.
No interior da localidade três tipos de objetivos são marcados: os de
segurança, que são aqueles que oferecem dominância sobre as vias de acesso ou
incidência sobre o flanco destas; os de coordenação, que possibilitam a
sincronização das peças de manobra da unidade que executa a operação, podendo
ser substituídos por linhas de controle; e os de limpeza, que são instalações cuja
manutenção seja importante para o sucesso da operação.
99
O emprego da massa no ataque principal, durante o investimento, sugere o
emprego de carros de combate, já que deve ser conquistada a região que melhor
caracterize a limpeza da localidade, onde estejam os quarteirões mais avançados,
exista uma maior densidade de construções e também as construções mais
dominantes. Além disso, seja a região que possibilite as melhores condições de
prosseguimento para as operações, dominância das vias de acesso e proximidade
dos objetivos com as novas vias de acesso.
Durante o investimento devem ser usadas linhas de controle com a
finalidade de assegurar ao máximo o controle das operações por parte do escalão
superior, além de proporcionar o conhecimento exato de como está disposto o seu
poder de combate. Esse procedimento evita a marcação exagerada de objetivos
intermediários, exclusivamente usados para a coordenação. Nos combates urbanos
mais recentes os exércitos se ressentiram de uma melhor coordenação e controle
dos seus meios, sendo este fato causador de alguns insucessos.
As tropas informam ao escalão superior quando atingem as linhas de
controle e só prosseguem mediante ordem. Esse procedimento evita que haja um
desalinhamento entre as tropas de primeiro escalão, que poderia comprometer o
apoio de fogo e também causar uma perda de controle do escalão superior,
favorecendo a ocorrência do fratricídio. As linhas de controle são fixadas até o
escalão SU e são materializadas no terreno por eixos nítidos transversais à direção
de movimento. É conveniente que o traçado destas linhas não passe por regiões
abertas.
Apesar de não existir uma obrigatoriedade acerca do número e distância
entre as linhas de controle, alguns aspectos devem ser levados em conta para a
marcação das mesmas. A profundidade da zona de ação pode comprometer as
comunicações e a diferença de densidade entre as zonas de ação vizinhas pode
influenciar diretamente na velocidade de progressão e no desalinhamento dos
objetivos iniciais da orla anterior. Estes aspectos têm influência marcante na
coordenação e controle.
A delimitação das frentes a serem atribuídas é um fator importante na hora
do planejamento da distribuição dos meios e do poder de combate. Para tal, deve-se
levar em consideração o valor do inimigo, as dimensões das edificações, a
densidade da zona de ação e a resistência esperada. Normalmente, as frentes
atribuídas são as seguintes: 03 ou 04 quarteirões por unidade; 02 quarteirões por
100
subunidade e 01 quarteirão por pelotão. Essas frentes são aplicáveis às localidades
fortemente defendidas, em planejamentos baseados em cartas e plantas ou quando
se dispõe de poucas informações sobre a localidade e o dispositivo inimigo.
Os limites entre as peças de manobra devem ser marcados até o escalão
pelotão, podendo passar por um dos lados das ruas longitudinais ou por dentro de
quarteirões e quintais. Ambos os lados da rua devem permanecer na zona de ação
de uma mesma peça de manobra.
Na progressão no interior da área edificada os fuzileiros devem avançar
protegidos pelas VBTP e VBC, procurando tomar de assalto às posições inimigas e
realizar a limpeza das construções existentes. Ao mesmo tempo devem procurar
localizar alvos para as armas dos CC e neutralizar as armas anticarro do inimigo.
Os carros de combate devem atirar no segundo andar de casas e prédios,
abrindo passagem para os fuzileiros que, subindo nas viaturas blindadas, podem
acessar as edificações pelo segundo pavimento e realizar a limpeza das resistências
inimigas. Da mesma forma, os CC devem ainda procurar neutralizar pontos fortes do
inimigo e destruir barricadas encontradas nas ruas, a fim de facilitar a progressão
dos fuzileiros a pé.
Figura 45 - Progressão de CC / Fuz no interior de uma localidade (figura ilustrativa).
Fonte: Tato (2006)
As comunicações são fortemente influenciadas pelo ambiente operacional
onde as grandes construções passam a restringir o uso do equipamento rádio.
Cresce, portanto, a importância do uso de outros meios de comunicação, tais como
o mensageiro, que passa a ser mais utilizado, sinais visuais e acústicos, também
muito utilizado, devido à praticidade que apresenta e o meio fio.
Uma FT forte em CC pode ser empregada como reserva, para basicamente
repelir contra-ataques e realizar a limpeza das resistências desbordadas. Além
disso, a reserva pode receber a missão de substituir uma das peças do escalão de
101
ataque ou atuar no flanco contra uma resistência inimiga que detenha uma das
peças do escalão de ataque, beneficiando-se da progressão da peça vizinha.
A localização desta reserva deve ficar de um a três quarteirões do escalão
de ataque no nível brigada, de um a dois quarteirões no nível unidade e no mesmo
quarteirão dos pelotões que realizam a limpeza no nível subunidade.
A doutrina prescrita nos regulamentos militares brasileiros, por terem sido
baseados
nos
manuais
norte-americanos,
apresenta
técnicas,
táticas
e
procedimentos muito semelhantes aos aplicados naqueles exércitos, servindo de
base doutrinária para os confrontos em áreas urbanizadas, devendo considerar,
entretanto, a diferença dos meios tecnológicos empregados e a atualização por que
passou a doutrina do exército dos EUA, ainda não acompanhada pelo EB.
A composição das pequenas frações combinadas é a mesma utilizada pelo
exército
norte-americano,
sendo
desnecessário
citá-las
novamente,
porém
fundamental se torna o intenso treinamento para que cada Cmt de Pel saiba da sua
missão e de seus comandados, com regras de engajamento bem definidas e
procedimentos pré-estabelecidos, evitando-se perdas humanas e materiais e em
última análise o fracasso na missão.
Importante, também, verificar o porte das principais cidades, atualmente,
sendo necessário aplicar poder de combate suficiente para o cumprimento das
missões, que devem ser dadas por tarefas específicas nos pontos de maior
interesse estratégico para o governo atacante.
A coordenação e o controle devem aumentar na medida em que aumentam
as tropas envolvidas, visando evitar ataques frustrados e, principalmente, o
fratricídio, tão comum neste tipo de operação, segundo as experiências de países
que participaram de conflitos urbanos recentemente.
A doutrina brasileira carece de experimentação, já que não foi aplicada em
missões reais de combate convencional, mas pelas experiências atuais vividas no
Haiti, em operações de estabilização, sob o comando dos oficiais brasileiros e
utilizando alguns meios blindados do EB, observa-se que tanto as regras de
engajamento como o material a ser empregado necessita de adaptações para se
enfrentar um inimigo que pode estar em qualquer lugar e utilizando-se de toda sorte
de armamentos, improvisados ou não, mas com potencial para causarem baixas nas
forças operantes.
102
A participação nas operações de paz está servindo, inequivocamente, para
as tropas brasileiras se adestrarem em combate urbano e na utilização que parece
indispensável dos blindados como fator dissuasório e de proteção das patrulhas a pé
em áreas de refúgio de rebeldes e tropas irregulares.
Como já foi estudado na seção anterior, as VBTP Urutu, com algumas
inovações, têm cumprido bem as missões que lhes são atribuídas e devem servir de
base para estudos, para que estas viaturas sobre-rodas possam receber um reforço
tecnológico que permita maior sobrevivência no ambiente urbano, a exemplo do que
vem fazendo a maioria dos exércitos mais modernos.
Desta forma, o treinamento específico das guarnições teria que ser
intensificado para que o elemento humano, ainda indispensável no campo de
batalha, pudesse explorar ao máximo as potencialidades oferecidas pelos
equipamentos, para sua maior segurança e melhor desempenho. Conforme foi
comprovado em experiências de outros exércitos, à medida que se eleva o padrão
tecnológico deve-se aumentar o grau de instrução e adestramento das guarnições
que operam tais equipamentos, evitando falhas nos momentos decisivos.
Portanto, pode-se inferir que, para a melhor aplicação da doutrina de
emprego dos blindados em ambiente urbano, deve-se incrementar o treinamento
específico das regras de engajamento, técnicas, táticas e procedimentos neste tipo
de operação em todos os níveis de comando.
4.4 SIMULAÇÃO DE COMBATE URBANO
A simulação de combate em localidade pode ser considerada uma moderna
e econômica forma de se experimentar novas táticas, técnicas e procedimentos
nestas operações.
Os exércitos mais modernos e treinados estão se utilizando deste artifício
para melhor adestrar suas forças, imitando ao máximo possível as dificuldades que
uma tropa enfrentaria no interior de cidades, vilas ou bairros povoados e onde se
encontrem resistências inimigas. Desta forma, segundo Harmeyer (1998), pode-se
citar como exemplo o Forte Knox onde foi montado um centro de treinamento de
combate urbano (MUCTS), que fornecerá os meios para se praticar técnicas e
procedimentos de emprego de blindados em áreas edificadas.
O referido centro de treinamento foi construído especificamente para
suportar o peso e as características de manobrabilidade de veículos blindados, para
103
que as guarnições se adestrem e pratiquem o combate urbano, superando as
dificuldades que serão enfrentadas numa situação real de confronto.
Pelo projeto final do MUCTS, o centro terá 21 edifícios com uma rede de
estradas diversificada para suportar uma força de manobra, servido por ligações de
fibra ótica e outras fontes digitais necessárias, para permitir revisões e análises pósação interagindo o real com o virtual.
Ainda segundo Harmeyer (1998) o centro foi construído com alguns dos
melhores efeitos especiais disponíveis ao exército hoje, englobando edifícios em
chamas, pontes destruídas e diversas pirotecnias para fazer o combatente realmente
sentir a presença do combate urbano. O ambiente multidimensional está
representado por edifícios com alturas suficientes e construções subterrâneas, para
imitar a força inimiga agindo em todos os sentidos.
O treinamento das organizações será planejado de forma que sejam
incluídos uma Força Oponente (FOROP) e o controlador/observador (OC), visando
adestrar e avaliar a tropa, tendo uma coordenação prévia, antes da chegada da
unidade, para assegurar-se de que a força chegue pronta para treinar as missões
típicas que uma unidade pode executar. Em fases seguintes, as unidades que
treinam no MUCTS, passarão ao treinamento de pequenas frações, como o grupo e
a esquadra, avaliando seus comandantes no desempenho das suas funções, além
de participarem de cursos de ação. Após o término dos cursos e do treinamento
específico dos pequenos grupos, a unidade irá executar exercícios no nível pelotão,
seguido por exercícios de Postos de Comando (PC) e de simulação de combate.
Por fim, quando os bancos de dados estiverem completos, as unidades
poderão trabalhar com estágios de aplicação em todos os níveis, em um modelo
virtual do MUCTS. O sistema de treinamento incrementado tem por objetivo fazer
com que a unidade conduza operações urbanas em um ambiente virtual, construtivo
e vivo simultaneamente. Aperfeiçoando o planejamento, as unidades podem praticar
diversos tipos diferentes de operações e executar missões específicas no ambiente
vivo no MUCTS.
A simulação de combate vem ganhando espaço e está sendo bem aceita por
vários exércitos, inclusive o EB, que vem desenvolvendo programas que capacitam
e adestram os vários níveis de comando. O programa de adestramento desenvolvido
no Forte Knox em muito se assemelha ao C2 em Combate, experimentado em
algumas organizações militares brasileiras, idealizado e desenvolvido por militares
104
da Força e que cumpre bem a finalidade de transformar o que ocorre nas operações
em campanha em informações digitais transmitidas “on-line” aos comandantes nos
vários escalões.
Segundo o Maj Cav Villar, em resposta à pesquisa de campo deste trabalho,
outro passo importante a ser ressaltado foi a iniciativa da Academia Militar das
Agulhas Negras de construir uma pista de combate em localidade, onde os cadetes
podem praticar e adestrar-se no comando de pequenas frações em área urbana. Da
mesma forma que em outros lugares, a pista procura imitar as dificuldades que
seriam enfrentadas em um combate urbano, ainda carecendo de maiores
investimentos e aperfeiçoamentos, que certamente virão, tendo em vista a
importância em se trabalhar as tropas nestes ambientes.
4.5 CONCLUSÃO PARCIAL
A doutrina de emprego dos blindados em ambientes urbanizados está sendo
desenvolvida a cada dia, a cada novo confronto e depende muito das experiências
vividas por exércitos em constantes empregos neste tipo de operação.
O desastre russo em Grosny deixou a impressão de que o uso de blindados
no interior de cidades era um absurdo. Este fato foi desmistificado e, hoje, observase a real necessidade dos carros de combate naquelas operações.
A assertiva pode ser comprovada nas análises de especialistas e no
desenvolvimento
de
novos
meios
blindados
com
maior
probabilidade
de
sobrevivência no ambiente urbano. Nota-se, atualmente, uma maior preocupação,
principalmente dos norte-americanos, em desenvolver e adestrar suas tropas em
técnicas, táticas e procedimentos peculiares, visando os inevitáveis confrontos em
áreas edificadas.
Desta forma, pode-se considerar que, o exército norte-americano está
procurando consolidar uma doutrina pré-existente, mas que necessita ajuste e
emprego prático, tendo em vista alguns insucessos recentes e experiências de
outros exércitos pelo mundo. A composição de pequenas frações combinadas e as
modernas formações de combate, oferecendo maior segurança e mobilidade às
tropas no interior das cidades, estão sendo implantadas e exaustivamente treinadas
com o intuito de se evitar falhas nos momentos críticos do combate.
Pode-se perceber a importância dada pelos americanos a este tipo de
operação, já que há alguns anos foi concebido um manual (FM 3-06), tratando
105
especificamente sobre combate urbano e que traz considerações acerca da doutrina
de emprego do combinado CC-Fuz no isolamento e investimento em localidades.
Do estudo deste manual e das conclusões dos especialistas, verifica-se que
os blindados são imprescindíveis nos tipos de operações urbanas que o exército
americano
tem
tomado
parte,
estando
normalmente
e
de
preferência,
acompanhados pelos fuzileiros a pé, para que haja segurança mútua. As regras de
engajamento, apesar de parecerem bastante restritivas, permitem a utilização efetiva
de blindados em todas as fases das operações urbanas, levando em conta as
melhorias tecnológicas executadas nos seus principais veículos e os armamentos e
munições a serem utilizadas.
Portanto, observou-se que, apesar de algumas limitações, os norteamericanos estão adestrando suas tropas para emprego de meios blindados no
combate urbano ao tempo em que desenvolvem e adaptam sua doutrina, através do
estabelecimento de novas técnicas, táticas e procedimentos para estas operações.
As regras de engajamento estão sendo discutidas e intensamente treinadas,
procurando consolidar a atuação das pequenas frações combinadas cumprindo
missões pré-determinadas e pontuais, visando conquistar objetivos específicos,
reduzindo a probabilidade de ocorrência de fratricídio, perdas em combate e danos
colaterais à população não combatente.
Quanto às experiências vividas por outros exércitos, destaca-se os aspectos
doutrinários desenvolvidos após os combates dos russos em Grosny, donde se
retirou várias lições aprendidas e que serviram de base para planejamentos de
outros conflitos, principalmente no que diz respeito ao uso de blindados em áreas
edificadas.
Observou-se neste conflito que o uso indiscriminado de bombardeios com
toda sorte de munições e calibres pode resolver o problema militar, porém, perde no
campo diplomático e dos direitos humanos, muito em voga atualmente e que pode
determinar o futuro da guerra e de seus participantes, retirando a liberdade de ação
dos planejadores.
Desta forma, o emprego de um sistema de armas combinado e adequado ao
cumprimento de missões específicas parece ser a melhor forma de se investir em
uma cidade sem causar efeitos colaterais desnecessários nas instalações e na
população que não se constitui em alvo potencial.
106
Além dos russos os israelenses também têm contribuído para a formação de
uma doutrina consolidada para a atuação no combate urbano, já que estão em
permanente estado de litígio, em ambientes totalmente urbanizados. O emprego
efetivo de blindados e fuzileiros prova, mais uma vez, que este combinado não deve
ser dispensado quando se planejar tais operações, procurando adaptar a
composição e o valor à missão recebida.
Finalmente, os ingleses também demonstraram a efetividade do emprego de
blindados, como fator psicológico e de apoio de fogo nas investidas em Basra, no
Iraque, contribuindo sobremaneira para o sucesso das missões. A atuação serviu de
ensinamento, principalmente quanto ao emprego em locais protegidos das armas
anticarro inimigas e dos “sniper”, que poderiam atingir elementos das guarnições dos
blindados quando expostos nas torres ou fora das viaturas.
Fazendo-se um paralelo com a doutrina vigente no EB, nota-se que as
técnicas, táticas e procedimentos são semelhantes na sua concepção às prescritas
para outros exércitos, basicamente o americano, já que os manuais em uso são
baseados nos dos EUA. Pode-se inferir que, a base doutrinária é a mesma, porém
deve-se adaptá-la à atual realidade, onde cidades podem ter milhares e até milhões
de habitantes e o inimigo apresenta-se de forma não linear, dificultando sua
identificação e marcação de objetivos.
As três fases de um ataque em determinada cidade permanecem as
mesmas, porém o planejamento, principalmente para a terceira fase (investimento)
deve ser muito mais minucioso do que era quando se tratava de pequenas
localidades ou vilarejos.
A falta de atuação em missões reais é um fator que limita a consolidação de
uma doutrina brasileira para combate urbano, sendo necessário tomar como base as
experiências de outros exércitos. As missões de paz em andamento no Haiti estão
servindo como primeiro passo para a experimentação de técnicas, táticas e
procedimentos neste tipo de combate, muito embora o equipamento e armamento
das forças oponentes sejam bem inferior ao que se encontraria em uma situação de
guerra contra uma força regular. O emprego das VBTP Urutu, com algumas
modificações, ressalta a importância de se ter proteção blindada para os elementos
a pé que fazem o vasculhamento e patrulhamento em áreas com atuação de
rebeldes.
107
A composição das forças para o combate urbano deve estar baseado em
forças-tarefa de valor subunidade, que segundo estudos realizados são as mais
aptas a cumprirem estas missões. A essencial combinação CC-Fuz deverá estar
presente em qualquer operação onde se espere maior probabilidade de êxito,
fundamento explicitado no manual C 17-20.
O desafio agora será treinar e adestrar guarnições de carros e fuzileiros, nas
principais técnicas de maneabilidade e tiro no interior de cidades, para que todos
conheçam e massifiquem as regras de engajamento que deverão ser estabelecidas
previamente, evitando erros e vacilações ante uma situação inesperada.
O caminho mais econômico e eficaz para se adestrar tropas em ambientes
urbanos parece ser através de simulações de áreas urbanizadas, como a existente
no Forte Knox, empregando-se, além da tropa no terreno, a tecnologia da
informação para se corrigir falhas e apresentar soluções, através de sistema
informatizado de transmissão de dados, semelhante ao C2 em Combate, que é um
sistema desenvolvido por militares brasileiros e que em breve estará servindo de
subsídio para o adestramento das OM, Grandes Unidades e Grandes Comandos do
EB.
Portanto, ao analisar as inovações doutrinárias, fruto de experiências
recentes em combate urbano, principalmente por americanos, russos, israelenses e
ingleses, nota-se que a direção estipulada nos manuais brasileiros, principalmente
no tocante ao uso de forças blindadas, converge para um ponto comum. A diferença
está nos aperfeiçoamentos e meios à disposição para realizar adequada
experimentação, ressaltando o inevitável hiato em função da falta de experiência em
combates reais.
Assim, conclui-se parcialmente que, a atualização da doutrina passa
necessariamente por uma renovação ou
modernização dos blindados. A
fundamentação doutrinária pode ser adaptada e melhorada, bastando estimular o
treinamento e adestrar as tropas nas técnicas, táticas e procedimentos. Este fato
desenvolveria uma mentalidade de atuação combinada e que poderia gerar uma
doutrina genuinamente brasileira para operações em ambientes urbanizados.
108
5. ADEQUABILIDADE DOS MEIOS BLINDADOS DA CAVALARIA DO EB NO
COMBATE URBANO
As experiências vividas por vários países no decorrer da história provaram
que, apesar da grande dificuldade de emprego e dos riscos necessários, os meios
blindados continuam sendo fundamentais nas operações desencadeadas em
ambiente urbano, conforme citações das seções anteriores, por exemplo de
Harmeyer (1998), que foi comandante do centro de blindados norte-americano.
Os meios blindados da Cavalaria do EB, com raras exceções, ainda não
foram colocados à prova nos combates em áreas urbanas, porém pelas
características, possibilidades e limitações, tanto do material como das suas
guarnições, podem-se visualizar os possíveis empregos e as medidas passíveis de
adoção para a modernização do material e adequação doutrinária, alicerçadas em
experiências colhidas em outros exércitos.
Desta maneira, nesta seção, procurar-se-á analisar as possibilidades e
limitações dos meios blindados da Cavalaria, apresentando uma visão de emprego e
concluindo sobre as medidas a serem adotadas para um melhor desempenho destes
meios no combate urbano.
5.1 POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES
De acordo com Global Security (2006), a finalidade primordial do carro de
combate é conduzir o principal armamento, o canhão, tendo a blindagem como
finalidade assegurar que sua guarnição esteja protegida dos ataques provenientes
do alto dos prédios, de lançamentos de aparatos explosivos ou incendiários e do
fogo das armas portáteis.
A guarnição tem por finalidade operar o armamento e executar a proteção
aproximada do veículo. O motorista leva o veículo para a posição de tiro que melhor
possa engajar os alvos sem ser exposto aos fogos inimigos; o comandante do carro
seleciona alvos; o auxiliar do atirador assegura que a arma seja carregada com a
munição correta para o alvo selecionado e o atirador certifica-se de que os impactos
estão sendo eficazes na área mais vulnerável do inimigo.
A combinação dos carros de combate com os fuzileiros a pé, constituídos
em pequenas frações, comprovadamente formam o binômio ideal para as ações de
investimento em localidades e conquista de objetivos específicos e imprescindíveis
109
para a definição do combate, de forma rápida e eficiente, conforme se viu nos
capítulos anteriores.
Conforme conclusão de Eickhoff (2006)30 do CIBld em artigo publicado na
revista Ação de Choque, daquele Centro, a primeira lição aprendida das recentes
operações em área urbana é o valor da total integração de armas combinadas. É
inegável o valor da infantaria durante este combate, entretanto nunca deverá ser
empregada isoladamente. O poder de armas combinadas produz um melhor
resultado. Unidades de infantaria empregadas sozinhas deparam-se com problemas
críticos que podem ser compensados com a organização de forças tarefas com
tropas mecanizadas ou blindadas, devendo estas, serem apoiadas pelo fogo, pelo
ar, em comunicações e em logística.
Desta forma, ao observar-se os meios blindados disponíveis para o uso no
EB, pode-se levantar algumas características que, ainda segundo Eickhoff (2006),
lhes conferem possibilidades importantes para o desenrolar das operações e que
serão a seguir citadas:
1) O sistema de visão termal (M 60 e Leopard 1 A5) e infra vermelho
(Leopard 1 A1) podem detectar atividade inimiga através da fumaça e escuridão,
condições que limitam os melhores equipamentos da infantaria;
2) são totalmente protegidos contra minas anti-pessoais, fragmentos e
pequenas armas, tendo excelente mobilidade ao longo de vias não bloqueadas;
3) projetam uma presença psicológica capaz de dissuadir o inimigo, pela
imponência e sensação de invulnerabilidade. Tropas embarcadas podem patrulhar
grandes áreas das cidades, tornando sua presença conhecida e ampliando sua
permanência local;
4) podem deslocar os fuzileiros embarcados nas viaturas rapidamente para
pontos de dominância para isolar determinada área, utilizando suas armas de longo
alcance e liberando a infantaria para isolar o terreno mais próximo;
5) podem realizar a segurança de comboios de suprimento e retirar
elementos feridos do campo de batalha, sendo que alguns veículos blindados (o
M60, por exemplo) podem usar os geradores de fumaça para cegar a observação
Ini;
__________
30
EICKHOFF, Márcio Gondim - FORÇAS BLINDADAS EM ÁREAS EDIFICADAS – OPERAÇÕES URBANAS – Revista Ação
de Choque do CIBld. Disponível com o autor.
110
6) os carros de combate podem executar fogos em alvos múltiplos de forma
simultânea, empregando além do armamento principal, a metralhadora coaxial
(7.62mm) e a anti-aérea (7.62mm no Leopard e Cascavel e .50 no M60), podendo
ainda, no caso da VBC Leopard, ser instalada outra metralhadora na escotilha do
auxiliar do atirador;
7) potência de fogo protegida: o veículo blindado é um sistema de armas
integrado capaz de derrotar a maioria de alvos no campo de batalha. O armamento
principal do carro, que é o canhão ou a metralhadora, possui uma velocidade de tiro
elevada, fogo direto usado primeiramente de encontro aos blindados inimigos e
outros alvos compensadores. A quantidade de munição carregada a bordo do
veículo e os tipos disponíveis podem desencadear fogos para engajar uma grande
variedade de alvos, por períodos sustentados do combate. Sua proteção blindada
permite, também, que o carro mesmo engajado com o inimigo possa manobrar,
quando sob fogo intenso ou apoiando tropas amigas, com um grau de sobrevivência
que outros sistemas de armas não possuam;
8) mobilidade: as unidades blindadas são capazes de conduzir o combate
sobre uma ampla área de operações, podendo permanecer separadas, reunindo-se
rapidamente para o emprego em um local decisivo. Os veículos sobre lagartas
possuem um grau elevado de mobilidade através campo e os sobre rodas maior
versatilidade no interior de cidades. Além disso, os sistemas de posicionamento por
satélite (GPS) permitem que os veículos de hoje movam-se, para qualquer posição
designada, com velocidade e exatidão maiores do que em outros tempos. Os
blindados podem rapidamente reunir os efeitos de seus sistemas de arma quando
dispersado fisicamente, para fazer face ao inimigo com eficácia e precisão. Quando
utilizada corretamente, a mobilidade do carro permite que seja empregada a
potência de fogo contra diversas posições inimigas dentro de um período de tempo
curto;
9) ação de choque: o efeito de choque no inimigo que as unidades blindadas
podem criar é físico e psicológico. Este efeito de choque é aumentado em proporção
ao número de veículos empregados (massa). A ação de choque em um assalto, se
corretamente executado, tem um efeito devastador no moral inimigo e um efeito
favorável no moral amigo. Para explorar ao máximo o efeito de choque, deve-se
considerar o emprego agressivo de todas as potencialidades do blindado
combinadas com a necessária proteção do fuzileiro; e
111
10) comunicações amplas e flexíveis: o rádio é o meio de comunicações
preliminar para unidades blindadas. Cada veículo é capaz de transmitir e receber em
uma freqüência e simultaneamente receber em outra freqüência. O uso dos sinais
visuais e do sistema de telefone externo veicular facilita a transmissão rápida e
segura das ordens e das instruções.
Com igual precisão, os comandantes devem analisar as limitações das
viaturas blindadas em operações em ambiente urbano para que, através de uma
compreensão plena das suas fragilidades, seja possível explorar inteiramente as
potencialidades de unidades blindadas. Desta forma, segundo Eickhoff (2006), podese considerar como limitações:
1) a guarnição dentro da viatura tem pouca visão externa aproximada
através dos blocos de visão (escotilha fechada), podendo ser cegados por
fumígenos ou poeira. Os carros de combate não podem elevar ou abaixar seus
canhões o suficiente para engajar alvos muito próximos ou em locais mais altos;
2) isolados ou sem apoio da infantaria, são vulneráveis às armas anticarro.
Devido à abundância de cobertas e abrigos no interior de localidades, os atiradores
da guarnição têm uma redução na sua capacidade de identificar alvos facilmente, ao
menos que o comandante se exponha ao fogo, abrindo a escotilha, ou o fuzileiro
desembarcado direcione o atirador para o alvo, usando o telefone do infante
(Leopard 1 A1 e A5) ou contato rádio;
3) os carros são barulhentos e, desta forma, existe pouca chance de
chegarem a uma área sem serem detectados. Barricadas improvisadas, ruas
estreitas e vielas ou grande quantidade de escombros podem bloqueá-las;
4) devido ao comprimento do canhão, a torre não irá girar se algum objeto
estiver próximo, como paredes e postes. O tiro do canhão pode causar danos
indesejáveis nas construções ou desestabilizar estruturas;
5) o canhão do M 60 e Leopard podem, respectivamente, elevar +20 graus e
abaixar -10/-9 graus. Conforme experimentação do CIBld, as distâncias mínimas de
edifícios, onde a munição HE/HEP pode ser usada, são:
- andar térreo – 2,5 metros do alvo;
- 3º andar – 23 metros do alvo;
- 18º andar – 132 metros do alvo;
6) o tamanho de um CC ou VBR torna difícil a camuflagem em áreas
urbanas, sendo esta limitação superada posicionando os carros nas áreas que
112
minimizam sua exposição à observação inimiga, até que estejam prontos para serem
empregados;
7) o peso dos blindados, em geral, impede o uso de pontes de baixas
capacidades, requerendo equipamento especial e técnicas de apoio à mobilidade,
fornecidas pela Engenharia, para os deslocamentos, devendo haver planejamento
adequado das rotas e áreas de operação;
8) o consumo de um blindado é elevado na comparação aos demais
veículos, necessitando acurado planejamento e um esforço coordenado da logística,
a fim de assegurar que as exigências de combustível dos veículos blindados sejam
cumpridas;
9) os CC são complexos e requerem tempo dedicado à manutenção, tanto a
preventiva executada pela própria guarnição durante as paradas ou períodos de
descanso, como a reparação e recuperação feita por equipes especializadas. A não
observância deste aspecto pode levar ao fracasso das missões das unidades
blindadas;
10) de todos os fatores limitadores que inibem operações de veículos
blindados, nenhum tem um efeito mais decisivo do que o terreno, principalmente em
áreas edificadas e de difícil locomoção. O terreno pode ditar o número de veículos a
serem empregados, além de inviabilizar determinadas rotas ou direções, requerendo
estudo detalhado dos obstáculos interpostos;
11) as minas anticarros são os maiores inimigos dos blindados, podendo
temporariamente diminuir a impulsão dos tanques. Outros obstáculos encontrados
com freqüência e que tendem a restringir o movimento são os fossos anticarros e os
escombros
originados
dos
ataques
às
edificações,
sendo
normalmente
impedimentos provisórios, que podem ser superados pelo emprego apropriado de
armas, equipamentos e de pessoal orgânicos; e
12) o uso freqüente e basicamente calcado nas comunicações via rádio,
para o comando, o controle e a coordenação de unidades blindadas, faz com que
estas se tornem vulneráveis à guerra eletrônica inimiga, assim como aos órgãos de
inteligência. Faz-se necessário rigoroso cuidado na exploração e segurança dos
meios de transmissão para superar esta limitação.
Pode-se observar que muitas das limitações apresentadas são minimizadas
com a presença dos fuzileiros, bem como as limitações destes (pouco poder de fogo,
pouca proteção e mobilidade) serão compensadas pelo veículo blindado. Apenas
113
juntos, CC e Fuz poderão cumprir a missão com um mínimo de baixas. Outro
aspecto relevante diz respeito às VBR, que apresentam basicamente as mesmas
possibilidades e limitações das VBC, com a ressalva de ter maior mobilidade dentro
de áreas construídas e maior versatilidade para manobrar em ambientes fechados,
podendo ser considerada mais apta a atuar no combate urbano.
5.2 VISUALIZAÇÃO DO EMPREGO NO COMBATE URBANO
Conforme analisou Eickhoff (2006), o emprego efetivo das viaturas blindadas
valoriza o princípio da massa. As Unidades blindadas operam compondo forçastarefas, combinando mobilidade, proteção blindada e potência de fogo para tirar a
iniciativa do inimigo, tendo que se tomar cuidado com a saturação do local pelo
número de veículos, que pode ocorrer no combate urbano.
As vias de acesso tendem a se tornar mais estreitas, canalizando o
movimento e facilitando as emboscadas com a paralização dos veículos, conforme
se observou em Grosny. De igual forma, as VBR são empregadas nas áreas
edificadas com a devida proteção dos fuzileiros, explorando ao máximo suas
principais características.
No combate em área urbana as posições são preparadas em casas e
edifícios, protegidas por obstáculos, minas e armadilhas. Assim, pontes, locais de
passagem e construções devem ser inspecionados antes de serem utilizados. Deve
fazer parte do reconhecimento e do estudo de situação a determinação das classes
das ruas, rodovias e principalmente pontes.
As viaturas blindadas em conjunto com os fuzileiros podem ser empregados
efetivamente, durante operações urbanas, das seguintes formas:
- provendo ação de choque e poder de fogo;
- isolando objetivos para evitar o retraimento do inimigo, reforço ou contra
ataque;
- neutralizando posições inimigas com fumígenos, granadas HE/HEP 105mm
ou 90mm e armas automáticas, enquanto a infantaria aproxima-se e destrói o
inimigo;
- apoiando a infantaria em entradas secundárias, quando a principal estiver
bloqueada por obstáculos ou fogo inimigo;
- ultrapassando barricadas ou reduzindo-as pelo fogo;
114
- obscurecendo a observação inimiga usando os lançadores de granadas
fumígenas ou produzindo fumaça (M60);
- batendo pelo fogo as vias de acesso;
- atacando pelo fogo um alvo designado pela infantaria;
- estabelecendo postos de vigilância e bloqueio;
- eliminando posições identificadas de “sniper”.
De acordo com a doutrina de emprego de pequenas frações blindadas,
pode-se visualizar para o Pel CC ou Pel provisório de VBR, no combate urbano,
compondo Força Tarefa com os fuzileiros, as seguintes formas de atuação:
- Pel CC ou de VBR como elemento de manobra – o Cmt Pel é responsável
pela manobra do Pel, de acordo com a intenção do Cmt SU. Com esta organização,
suas missões são de apoiar pelo fogo ou cobrir o movimento da infantaria. É a
organização mais difícil para manobrar com a infantaria. Entretanto, o Cmt Pel pode
escolher manobrar o Pel por seção, provendo maior flexibilidade no apoio à
infantaria;
- seção CC ou VBR sob controle do Pel Fuz – o Pel é dividido e cada seção
passará ao comando do comandante do pelotão de infantaria. É mais eficiente para
se manter uma progressão entre os carros e a tropa a pé. Entretanto, o Cmt Pel Fuz
tem uma responsabilidade adicional de manobrar a seção. A falta de experiência do
Cmt Pel Fuz com CC pode comprometer a segurança dos carros. Esta formação é
mais adequada quando o contato com inimigo é esperado e o apoio contínuo é
necessário para o movimento ou limpeza dos prédios;
- seção CC ou VBR sob controle do Pel Fuz e Cmt SU - o Pel é dividido e
uma seção será passada ao comandante do pelotão de infantaria e a outra é
mantida com o Cmt SU. Com esta formação o Cmt SU tem uma seção para ser
empregada em um momento e lugar crítico, de sua escolha. As desvantagens são
que o Cmt Pel Fuz terá que manobrar os carros e o Cmt SU terá o Pel CC reduzido
à metade. Requer planejamento detalhado, coordenação e ensaio entre o Pel Inf e
Sec CC ou VBR;
- grupos de combate sob controle do Pel CC ou de VBR – o Pel recebe um
ou mais grupos de combate. O Cmt SU pode manter todos os carros com o Cmt Pel
CC/VBR ou passar uma seção para um Pel Fuz. Com esta formação, o Cmt SU tem
um quarto elemento de manobra e envolve o Cmt Pel CC/VBR no combate. Pode
ser empregada quando a reserva móvel necessite de proteção da infantaria. Requer
115
planejamento detalhado, coordenação e ensaio entre os grupos de combate e
Pel/Sec CC ou VBR.
Não há, dentre as composições citadas, uma considerada melhor ou pior, há
sim a mais adequada à situação que se apresenta e à missão recebida, devendo-se
seguir as orientações de quem coordena as ações e os princípios básicos de
emprego dos blindados e das pequenas frações combinadas, citadas na seção
anterior.
A interoperabilidade dos carros de combate e fuzileiros a pé tem por
finalidade obter o maior poder de combate para destruir o inimigo. Os infantes são os
olhos e ouvidos, pois localizam e identificam alvos para os CC engajarem.
Deslocam-se cobertos e abrigados para assaltarem posições de elementos inimigos
que estão sob fogos dos CC, além de protegerem os carros contra o ataque da
infantaria inimiga, enquanto as VBC ou VBR fornecem contínuo e pesado apoio de
fogo contra pontos fortes do inimigo.
A infantaria normalmente lidera o movimento, enquanto os CC provêem
apoio cerrado. Se a infantaria descobre uma posição inimiga ou encontra resistência,
os carros imediatamente respondem com apoio de fogo para destruir ou inquietar o
inimigo na posição, permitindo à tropa a pé esclarecer a situação.
A coordenação entre os Cmt CC/VBR e Cmt GC deve ser contínua. O Cmt
de carro deve desembarcar por vezes e acompanhar o Cmt GC para uma posição
onde possa visualizar melhor a ação a ser executada. Sinais convencionados para
iniciar ou direcionar fogos, entre outros, devem ser entendidos por todos,
substituindo comandos verbais. Uma das maiores dificuldades de coordenação,
comando e controle é o intenso barulho provocado pelos meios blindados, mesmo
sem contato com o inimigo.
Quanto às comunicações, o Cmt Pel mantém contato com o Cmt SU. As
VBC/VBR e os fuzileiros comunicam-se usando gestos convencionados, meio fio
(telefone do infante existente na VBC Leopard), o equipamento rádio das VBC/VBR
ou outros meios distribuídos. O rádio permite à infantaria proteger a guarnição dos
blindados de uma exposição desnecessária ao fogo inimigo.
Os lançadores de granadas fumígenas são usados para proteger os CC dos
fogos do inimigo e para prover cobertura para a infantaria quando esta se desloca
por uma área aberta ou evacua um ferido. Os sistemas de visão dos carros (Leopard
1 A5 e M60) podem ver através da fumaça, porém a infantaria tem uma grande
116
perda na sua capacidade de observação quando envolvida por uma cortina de
fumaça. Os fumígenos formam uma rápida e densa cortina de fumaça no local, mas
as granadas produzem fragmentos incandescentes que podem oferecer risco para o
fuzileiro próximo ao carro ou causar incêndios.
O pesado apoio de fogo direto das viaturas blindadas, aliado a sua precisão,
são ferramentas valiosas para as forças de assalto quando do isolamento de
determinado objetivo. Enquanto a infantaria desloca-se para limpar a posição, as
VBC/VBR são deixadas em posições iniciais de apoio de fogo, devendo quando
possível, deslocar-se para posições subseqüentes, onde possa evitar um reforço
inimigo ou engajar forças que estejam retraindo do objetivo.
Devem-se levar em consideração, ainda, outros fatores na utilização dos
meios blindados no interior de cidades, por exemplo:
1) Durante o planejamento, atenção especial aos aspectos do terreno da
área de operações e apoio dos carros em um movimento através campo;
2) quanto menor a velocidade, maior a segurança;
3) contar sempre com a participação do Cmt Pel CC/VBR e Cmt CC/VBR
nos planejamentos do Cmt SU. A experiência dos componentes das guarnições
ajudará no entendimento dos pontos mais importantes a serem ressaltados para a
operação;
4) as VBC/VBR podem transportar munição, água e outros suprimentos;
5) as VBC/VBR são capazes de evacuar outro veículo danificado;
6) o SCmt SU deve coordenar com o S4 o aporte logístico para a operação;
7) realizar treinamentos e ensaios, reproduzindo as condições da missão,
como por exemplo, visibilidade reduzida, conduta com civis, regras de engajamento,
medidas de controle de fogos, comunicações, plano de fogo direto, abertura de
brechas, procedimento para transporte da infantaria sobre os CC e técnicas para uso
dos CC como escudo;
8) uso de medidas de coordenação e controle simples e claras, como
linhas de controle para dividir por fases a manobra, sistema de números e letras
para identificar ruas e construções, que podem servir de prováveis posições de
apoio pelo fogo e áreas de fogo proibido;
9) na preparação das viaturas para o combate deve-se carregar munição
extra para as metralhadoras e retirar líquidos inflamáveis do exterior da torre e
cofres;
.
117
Outro aspecto importante ressaltado por Eickhoff (2006) são as posições de
combate selecionadas e ocupadas pelas VBC, para obter cobertura, abrigo,
observação e campos de tiro, enquanto não realiza seu deslocamento.
As posições normalmente ocupadas são a desenfiada, quando os campos
de tiro são restritos às ruas ou a de espera, que é uma posição coberta e abrigada
até o momento que a viatura desloca-se para uma posição de tiro. A posição de
espera pode, ainda, estar dentro de uma área construída, devendo a engenharia
avaliar a resistência do piso e prepará-lo, se for o caso.
Apesar de não ser recomendado, em certas circunstâncias os carros de
combate ou viaturas blindadas de reconhecimento podem transportar os fuzileiros,
normalmente quando não é esperado o contato com o inimigo, sendo posicionados
nas laterais e retaguarda da torre. Deve ser executado quando se necessita de um
deslocamento mais rápido e deve ser realizado somente quando necessário, por
razões óbvias de segurança e pela limitação que impõe ao veículo.
Outros dados do emprego das armas e das munições orgânicas do carro de
combate, complementam os estudos do terceiro capítulo deste trabalho, dentre os
quais devem ser levados em consideração a utilização prioritária de munição HE e
HEP do canhão, para casamatas e construções e munição HEAT para construções
mais reforçadas.
Além disso, convém ressaltar que o canhão tem limitação em elevação e
depressão, dificultando o engajamento de alvos, que não poderão ser batidos por ele
e pela Mtr coaxial. A metralhadora anti-aérea .50 (M60) pode desencadear um
grande volume de fogo e sua munição pode penetrar em construções, edifícios e
barricadas, não sendo necessário ao Cmt CC abrir a escotilha e se expor. Já a
metralhadora anti-aérea 7.62mm (Leopard e Cascavel) pode desencadear um
grande volume de fogo sobre tropas a pé e posições inimigas fracamente protegidas,
entretanto obriga o Cmt CC e o auxiliar do atirador (Aux At) a abrir a escotilha e se
expor.
Outro fator importante é que, com as escotilhas fechadas, a guarnição tem
uma visibilidade limitada para as laterais e retaguarda da VBC e não tem visão para
cima ou para o nível subterrâneo.
No caso das frações de Fuz Bld, o emprego é realizado de forma similar,
com as VBTP M113 ou Urutu, provendo um relativo apoio de fogo direto aos
fuzileiros que operam em área urbana. A metralhadora .50, a relativa proteção
118
blindada da viatura e o GC embarcado com seu armamento (FAL, FAP e AT 4),
fornecem ao Cmt SU um aumento de poder de combate.
O Pel Fuz Bld deve prover a própria segurança para as VBTP e apoiar pelo
fogo a infantaria a pé, engajando alvos designados pelos fuzileiros. Quando em
movimento deve se posicionar em suas laterais, permitindo cobrir o lado oposto da
rua, permanecendo alerta aos sinais da tropa a pé. Será empregado após a limpeza
da área construída ou em terreno dominante onde possa apoiar pelo fogo, podendo
receber a missão de realizar um assalto a uma posição para limpeza de
construções, mantendo uma segurança local nas VBTP.
Algumas tarefas que podem ser executadas pelo Pel Fuz Bld são:
- neutralizar posições inimigas utilizando Mtr .50 e AT 4;
- derrubar paredes para acessar áreas construídas;
- prover ressuprimento de munições e explosivos aos elementos de assalto;
- prover uma reserva móvel ao Cmt SU;
- evacuar mortos, feridos e prisioneiros.
Algumas limitações são também observadas, entre elas a pouca proteção
blindada, o ruído intenso dos veículos e a pouca precisão obtida com a Mtr .50.
5.3 POSSÍVEIS RUMOS PARA A MODERNIZAÇÃO
Ao analisar-se a utilização dos veículos blindados em ambiente urbano se
observam algumas deficiências originadas pelo material em estado de obsolescência
e em uso pelas OM de Cavalaria. Vislumbra-se, portanto, algumas modificações
necessárias para que as Unidades blindadas tenham um desempenho compatível no
campo de batalha atual, com conformação multidimensional e onde o inimigo atua
de forma não linear, dificultando a maioria das ações.
Baseado em experiências de outros exércitos e cônscio das restrições
orçamentárias em que o EB se vê envolvido, os investimentos em uma nova família
de blindados devem ser direcionados para a atual realidade e para os desafios
urbanos que já começam a se apresentar, por exemplo, nas missões de
estabilização do Haiti. O atual clima de instabilidade da segurança pública no país é
outro fator a ser considerado para que os gastos com blindados sejam feitos
preparando as unidades blindadas ou mecanizadas para possíveis operações de
garantia da lei e da ordem, onde os veículos são imprescindíveis tanto para a
119
proteção dos grupos de combate como para a dissuasão, pelo efeito psicológico que
causam.
De uma forma geral os blindados nacionais, particularmente os sobre rodas,
já não possuem mais condições de sobrevivência no campo de batalha e necessitam
passar por um processo de modernização e revitalização para que possam cumprir
os padrões mínimos de desempenho. Os blindados sobre lagartas não possuem
versatilidade suficiente para atuar em áreas urbanizadas, em vista do seu tamanho e
peso, além da falta de tecnologia para ter maior durabilidade e resistência.
As experiências de norte-americanos e israelenses comprovaram que os
blindados devem ser adaptados para o combate urbano, através de “kits” que são
colocados e retirados dependendo da missão. A inclusão destas inovações nos
blindados atualmente em uso e recentemente adquiridos, como o Leopard 1 A5,
parece ser a solução mais imediata e econômica para se ter um carro mais moderno
e dotado de meios de sobrevivência para o ambiente urbano.
A decisão de se continuar o processo de repotencialização dos blindados
sobre rodas, ao invés de se pensar em uma nova família destes veículos, tomada
pelo Ministério da Defesa, conforme apresentou o representante da 4ª Subchefia do
Estado Maior do Exército, em palestra ministrada recentemente para o 2º ano do
Curso de Comando e Estado Maior da ECEME31, reforça a idéia de se investir em
pacotes para o combate urbano, já visando, inclusive, as missões de força de paz
em execução e vindouras.
A solução paliativa adotada, possivelmente por razões orçamentárias, não
descarta a necessidade de se investir na indústria bélica nacional, particularmente
no que se refere à pesquisa e desenvolvimento de projetos, com a finalidade de se
produzir uma família de blindados sobre rodas com tecnologia, peças e manutenção
nacionais, diminuindo ou mesmo eliminando a dependência externa de área tão
sensível, fato este observado por Bastos (2007 a).
Os blindados sobre rodas possuem maior versatilidade para emprego no
interior de cidades, conforme abordagem de Oliveira (2003)32 em sua monografia.
Faz-se necessário, portanto, otimizar sua utilização, observando-se as lições
__________
31
Palestra da 4ª Subchefia do EME, ministrada em 09/05/2007, durante o ciclo de Logística e Mobilização.
32
OLIVEIRA, Maurício Soares. O Esquadrão de Cavalaria Mecanizado no combate em área edificada. 2003. Dissertação
(Mestrado em Operações Militares) – Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, 2003.
120
aprendidas com outros exércitos e investindo em inovações e melhorias para
aumentar a sobrevivência deste meio no combate urbano.
5.4 CONCLUSÃO PARCIAL
Os países envolvidos em conflitos atuais têm desenvolvido novos
equipamentos e novas doutrinas para se adequarem a esse novo e difícil ambiente
de combate, a área urbana.
Desta forma, deve-se atentar e acompanhar a evolução da guerra moderna
para que se possa atualizar a doutrina de emprego de blindados, de acordo com a
realidade e equipamentos existentes e assim manter as pequenas frações (Pel e
SU), sempre prontas para o combate.
Nas seções anteriores, pôde-se observar que as pequenas frações
combinadas são as mais adequadas para combater em ambientes urbanos fechados
e onde o inimigo se apresenta de forma não linear. Observou-se, também, que não
se pode prescindir do uso das viaturas blindadas para a proteção dos fuzileiros,
apoio de fogo e dissuasão psicológica do inimigo.
Dos aspectos analisados, pode-se tirar vários ensinamentos, particularmente
quanto às possibilidades e limitações dos veículos blindados e das pequenas
frações do combinado CC/Fuz, observando-se que é necessário explorar ao máximo
as virtudes destes meios nobres e superar os óbices com tecnologia e inovações, a
fim de tirar o máximo proveito destes sistemas no atual campo de batalha.
Observa-se, portanto, que as técnicas, táticas e procedimentos das
guarnições blindadas estão sendo difundidas por especialistas do CIBld e o
adestramento em operações urbanas, principalmente da FT SU Bld, deve receber
maior atenção visando padronizar atitudes e evitar ações imprecisas quando no
combate real.
O material em uso pelo EB, no que se refere aos meios blindados, apesar
dos esforços para modernização, como a recente compra dos Leopard 1 A5. Esta
que é uma versão mais moderna deste carro trouxe um novo alento para a
Cavalaria. Porém, ainda há necessidade do EB repensar a família sobre rodas, já
que se encontra com a vida útil vencida e com tecnologia obsoleta para o atual
emprego em ambientes urbanizados.
A repotencialização executada pelo Arsenal de Guerra de São Paulo será
quase uma refabricação, no caso de alguns veículos, sendo importante se pensar
121
em incluir inovações para o combate urbano, particularmente no Urutu, que tem sido
largamente utilizado pelas forças de estabilização no Haiti.
A atual crise dos órgãos de segurança pública é outro aspecto que deve ser
levado em consideração para a modernização dos meios blindados, particularmente
os sobre rodas, que possuem melhor emprego nas operações de garantia da lei e da
ordem e necessitam de inovações e tecnologia específicas para o combate em área
urbanizada.
Desta forma, pode-se concluir parcialmente nesta seção, que os meios
blindados atualmente em uso no EB, comprovadamente são necessários às
operações urbanas, porém carecem de aprimoramentos e investimentos a fim de
terem seu uso dinamizado nestes ambientes e poderem cumprir com eficiência as
missões que lhes são atribuídas.
Além disso, pouco ou nenhum adestramento da FT SU Bld vem sendo
executado em áreas urbanas ou mesmo das frações mistas de VBR e Fuz
embarcados em Urutu, como alternativa de emprego para ações mais rápidas e que
necessitem maior versatilidade.
122
6. METODOLOGIA E RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
Foi realizada uma pesquisa quantitativa que teve a finalidade de verificar a
percepção da oficialidade superior de cavalaria do Exército Brasileiro, possuidores
do Curso de Altos Estudos Militares ou alunos da Escola de Comando e Estado
Maior do Exército, nos seguintes assuntos de interesse para este trabalho:
- execução de exercícios empregando blindados no combate urbano;
- possibilidades e limitações dos blindados no combate urbano;
- doutrina de emprego dos blindados em ambiente urbano;
- necessidade de experimentação doutrinária; e
- formas de adestramento das guarnições blindadas.
Dentre as hipóteses a verificar, foram escolhidas as seguintes, no escopo da
pesquisa:
I – Os meios blindados atualmente em uso pela cavalaria são
inadequados ao combate urbano, necessitando, portanto, de melhorias tecnológicas.
Procurou-se demonstrar a hipótese por meio da pesquisa, verificando a
percepção dos consultados. A obtenção de dados fidedignos que provassem, ou
não, esta hipótese, foi uma preocupação constante, pois as respostas colhidas se
baseiam em opiniões pessoais. Para validar a pesquisa, o universo foi limitado a
oficiais do QEMA e alunos da ECEME, todos de cavalaria e com experiência de
aproximadamente vinte anos de serviço.
II – O adestramento das guarnições blindadas para as operações
urbanas deve ser melhor desenvolvido e treinado, sendo fator essencial para o
cumprimento das missões recebidas.
Buscou-se avaliar a percepção da eficiência do adestramento das unidades
de Cavalaria, no tocante a operações urbanas, além de verificar o cumprimento do
OA constante do PPA/CAV, verificando as principais deficiências na visão dos
integrantes do universo pesquisado.
A pesquisa permite, ainda, verificar a compreensão da necessidade de
experimentação doutrinária para a utilização de blindados no interior de localidades,
tendo em vista a falta de experiências práticas do EB neste tipo de operação.
123
6.1 PARTICIPANTES
A pesquisa foi direcionada à totalidade dos oficiais alunos de cavalaria da
ECEME, englobando o Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do
Exército (CPEAEx), os 1º e 2º anos do Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM),
comandantes de OM de cavalaria das mais diversas naturezas, onde se utilizam
blindados, ao CIBld e ao CIOPAZ.
A preferência pela aplicação de um questionário a todos os alunos de
cavalaria da ECEME, evitando o caminho alternativo mais simples de utilizar uma
amostragem, visou a ampliar o universo pesquisado e, conseqüentemente, a
confiabilidade e a precisão dos resultados. Isso se tornou possível porque as
perguntas foram definidas procurando facilitar a tabulação dos resultados, sendo
utilizadas apenas perguntas diretas.
Todos os oficiais pesquisados têm reconhecido êxito profissional, pleno
conhecimento do emprego tático da arma e possuem boas noções dos meios
blindados da cavalaria existentes na Força Terrestre, além da vivência prática em
várias organizações militares espalhadas pelo território nacional. Foram computadas
as respostas de trinta e seis oficiais de cavalaria da ECEME dos setenta e um
existentes, portanto, mais da metade dos oficiais responderam aos quesitos
selecionados.
Os comandantes de OM são oficiais nomeados pelo Comandante do
Exército, portanto, tornando o universo confiável e os resultados com precisão
adequada, já que onze unidades participaram da pesquisa das vinte e duas que
possuem blindados no seu Quadro de Distribuição de Material (QDM), além do CIBld
e do CIOPAZ.
Esse universo, por abranger exclusivamente oficiais superiores do QEMA do
Exército, oriundos de organizações militares de diferentes naturezas e de diversos
Estados da Federação, apresenta elevado grau de regularidade quanto à
capacidade de avaliação da realidade do Exército e da Cavalaria.
Dos quarenta e nove questionários aplicados e devolvidos, todos foram
considerados válidos por terem sido respondidos de forma suficiente e com
fundamentação. Apenas um deixou de responder à 11ª questão, sendo aproveitadas
as respostas aos demais itens. Para a média foi computada essa omissão.
124
6.2 MATERIAL
Foram elaboradas questões para compreender o conceito de adequabilidade
dos meios blindados da cavalaria no combate urbano. Buscou-se, ainda, avaliar
percepções quanto:
- a necessidade de realizar experimentação doutrinária.
- a instrução específica para o emprego de blindados no interior de
localidades.
- formas de adestramento para as guarnições blindadas.
Foram utilizados quatro modelos de questionários, encaminhados através de
ofício ou pessoalmente ao pesquisado. Todos os questionários tiveram proposições
semelhantes, constando de 11 quesitos de múltipla escolha e um quesito aberto
para outras contribuições e opiniões acerca do assunto. Os questionários dirigidos
ao CIBld e ao CIOPAZ tinham questões específicas às características das OM.
6.3 PROCEDIMENTOS
Os passos deste trabalho foram:
- realização de pesquisas quantitativas, por intermédio de questionários
direcionados a oficiais superiores do QEMA ou alunos da ECEME da arma de
cavalaria;
-consolidação das informações; e
-análise crítica e conclusões.
Inicialmente, foram definidos a finalidade e o tipo das perguntas que
comporiam o questionário, tendo por objetivo contribuir para a verificação das
hipóteses formuladas e buscar informações que pudessem conduzir à interpretação
conclusiva sobre o tema. Preferiu-se a opção de perguntas simples e respostas
diretas, sem ambientações longas e cansativas, considerando-se o nível de
experiência e conhecimento do universo consultado, deixando-se aberta a
possibilidade de apresentação de justificativas e comentários. A identificação dos
consultados nos questionários era opcional.
Preparado o questionário e definido o universo, o material foi enviado
através de ofício para as OM externas ou entregues diretamente aos militares da
ECEME. Os questionários foram respondidos e, alguns dias após, recebidos, alguns
via internet, para análise.
125
6.4 RESULTADOS
A seguir são apresentadas as questões com os respectivos resultados
obtidos, que são discutidos, analisados e interpretados, buscando-se oferecer
respostas às hipóteses e cumprir os outros interesses apontados (coleta de
indicadores e percepções).
6.4.1 QUESTÃO Nº 01
Esta questão tinha o objetivo de verificar se as OM de Cavalaria, nas quais
os oficiais haviam servido, realizavam, durante o ano de instrução, exercícios
empregando blindados no interior de localidades, em um quadro de combate urbano.
Para esta questão havia as seguintes opções: sim, não e não
especificamente. Deste questionamento foram colhidos os seguintes dados:
47
50
45
43
40
Porcentagem
35
30
25
20
15
10
10
5
0
sim
não
não
especificamente
Gráfico 1 – Execução de exercícios empregando blindados no combate urbano.
Fonte: O autor.
Da análise dos resultados, pode se afirmar que as OM nas quais 47% dos
oficiais serviram não realizaram exercícios empregando blindados no combate
urbano, enquanto 43% realizaram algum exercício deste tipo e 10% afirmaram que
os blindados foram utilizados, mas não em um exercício específico de combate
urbano. Constata-se, portanto, que não são todas as OM de Cavalaria que estão
adestradas no emprego de blindados neste tipo de operação. Observa-se, ainda,
segundo relatos na pesquisa, que alguns oficiais não possuem nenhuma experiência
de emprego de blindados em ambiente urbanizado.
6.4.2 QUESTÃO Nº 02
126
A segunda questão tinha o objetivo de verificar a opinião do oficial sobre a
adequabilidade dos blindados (VBC, VBR e VBTP) para o combate em área
edificada. Para esta questão havia as seguintes opções, indistintamente para todos
os blindados: sim, não e em parte. Deste questionamento foram colhidos os
seguintes dados:
60
52
Porcentagem
50
46
40
30
20
10
2
0
sim
não
em parte
Gráfico 2 – Opinião sobre a adequabilidade dos meios blindados no combate urbano.
Fonte: O autor.
Da análise dos resultados, pode se afirmar que os oficiais consideram que os
meios blindados em uso pela Cavalaria são adequados para o combate urbano
(52%), tendo uma boa parte considerado parcialmente adequados (46%) e a minoria
considera inadequados (2%).
Observou-se nas respostas pouca convicção quanto ao conhecimento do
atual emprego dos blindados no combate em área urbanizada, já que muitos
demonstraram desconhecer a doutrina, principalmente para o investimento em
localidades.
Com referência ao Urutu, o Maj Cav Angonese, atualmente cursando o 1º
ano da ECEME e o Cap Cav Cordeiro Pacheco do CIOPAZ, relataram suas
experiências no Haiti, onde utilizaram este meio blindado nas operações
desenvolvidas naquele país e puderam constatar que o Urutu é parcialmente
adequado ao combate em áreas urbanizadas e deve sofrer adaptações para este
fim. Há necessidade de proteção aos militares que conduzem a viatura e aos que
utilizam as torres para atirar, o sistema de rodagem é muito vulnerável aos
obstáculos e devem possuir uma lâmina para remoção de entulhos e escombros que
127
dificultam a locomoção do veículo. O sistema de blindagem não pôde ser testado
tendo em vista o baixo calibre das armas utilizadas pelos rebeldes.
6.4.3 QUESTÃO Nº 03
Esta questão pretendia verificar quais as maiores limitações dos blindados,
atuando em ambiente urbanizado. Para esta questão havia as seguintes opções:
mobilidade, armamento, blindagem, camuflagem e outros que deveriam ser citados.
Deste questionamento foram colhidos os seguintes dados:
57,1%
60%
50%
40%
26,5%
30%
20,4%
20,4%
20%
14,3%
10%
0%
Mobilidade
Armamento
Blindagem
Camuflagem
Outros
Gráfico 3 – Limitações dos blindados no combate urbano (resultado final).
Fonte: O autor.
A análise dos resultados indica que a maioria dos oficiais citou a mobilidade
dos blindados no interior de áreas urbanas como a maior limitação (57,1%),
principalmente devido ao tamanho e peso dos blindados sobre lagartas e às
deficiências de dirigibilidade das Vtr sobre rodas. O armamento dos blindados foi o
segundo mais votado (26,5%), basicamente devido ao calibre inadequado dos
canhões ou imprecisão das metralhadoras. A blindagem foi citada como a maior
limitação por 20,4% dos militares e a camuflagem por 14,3%, denotando uma menor
importância nestes aspectos, segundo os participantes.
Outros
aspectos
bastante
interessantes
foram
citados,
além
dos
especificados, dentre os quais se destaca a pouca proteção contra armas anticarro,
o reduzido campo de observação da área externa sem comprometer a segurança do
Cmt do carro, a falta de equipamentos de visão noturna, a ausência de aparates de
remoção de obstáculos tipo lâmina nos blindados e o deficiente adestramento das
guarnições para o combate urbano.
128
Convém levar em consideração que os oficiais poderiam citar mais de um
item nesta proposição, observando-se no resultado final, que grande parte vislumbra
mais de uma vulnerabilidade nos meios blindados.
6.4.4 QUESTÃO Nº 04
A quarta questão tinha a finalidade de verificar se o oficial concordava com a
assertiva de que os meios blindados desempenham papel decisivo na conquista de
localidades, empregados tanto no isolamento como no investimento. Para esta
questão havia as seguintes opções: sim, não e em parte. Desta questão foram
colhidos os seguintes dados:
90
83
80
P orcentagem
70
60
50
40
30
20
15
10
2
0
sim
não
em parte
Gráfico 4 – Meios blindados desempenham papel decisivo na conquista de localidades
(assertiva).
Fonte: O autor.
Em decorrência dos resultados apresentados no gráfico 4, verificou-se que a
maioria dos oficiais (83%) concordam que os blindados são decisivos para o
isolamento e para o investimento em cidades, sendo que o fato de haver
necessidade do emprego conjunto com o fuzileiro a pé deve ser considerado.
Concordaram em parte com a assertiva 15% dos participantes, relatando que o
melhor emprego para os blindados seria no isolamento das localidades, sendo o
investimento realizado apenas por tropas a pé. Dos elementos pesquisados apenas
2% acredita que o blindado não desempenha papel decisivo na conquista de
localidades e baseia-se em casos históricos para justificar sua opinião.
129
6.4.5 QUESTÃO Nº 05
A quinta questão procurou levantar a opinião do oficial a respeito da doutrina
voltada para o combate em ambiente urbano, se estava adequada aos moldes da
guerra moderna. Para esta questão havia as seguintes opções: sim, não e em parte.
Desta questão foram colhidos os seguintes dados:
50
44
45
40
Porcentagem
35
29
30
25
20
20
15
10
7
5
0
sim
não
em parte
desconhecem
Gráfico 5 – Doutrina de combate urbano está adequada ao combate moderno.
Fonte: O autor.
A análise do gráfico confirma que a doutrina é apenas em parte adequada
para o combate urbano para a maior parte dos militares questionados (44%), tendo
como justificativas a falta de experiências práticas e de atualização para os conflitos
modernos, além de não fazer referência às missões com características especiais
como a de estabilidade e apoio das forças de paz.
Dos pesquisados, 29% afirmaram ser inadequada a doutrina vigente, por
estar ultrapassada e muito genérica, particularmente quanto aos carros de combate,
sendo praticamente cópia dos manuais norte-americanos. Verificou-se que 20% dos
participantes da pesquisa consideram a doutrina vigente adequada, necessitando
apenas de aperfeiçoamentos para a nova realidade do combate urbano. Observouse, ainda, que 7% dos oficiais pesquisados desconhecem qualquer doutrina
relacionada ao combate urbano, indicando a falta de experimentação e divulgação
dos resultados para que se consolide uma doutrina de emprego adaptada às nossas
realidades.
Outra conclusão relevante indica a necessidade de que sejam revistos os
objetivos de adestramento para esse tipo de operação nas OM de Cavalaria, em
130
virtude da falta de subsídios para grande parte dos pesquisados, para emitir opinião
acerca da doutrina de emprego dos blindados no combate urbano.
6.4.6 QUESTÃO Nº 06
Esta questão pretendia averiguar a opinião do oficial acerca do quesito é
importante a realização de experimentação doutrinária do emprego de blindados no
combate urbano. Desta questão foram colhidos os seguintes dados:
120
Porcentagem
100
98
80
60
40
20
2
0
não
em parte
0
sim
Gráfico 6 – Importância da experimentação doutrinária do emprego de blindados.
Fonte: O autor.
O resultado deste questionamento confirma o que foi concluído até o
presente momento, de que a doutrina apenas será consolidada se passar por
experimentação, sendo positiva a opinião da maioria absoluta dos oficiais
participantes da referida pesquisa (98%). Desta forma fica ressaltada a necessidade
de se realizar experimentação doutrinária sobre a utilização de meios blindados no
interior de áreas urbanizadas, visando atualizar e colocar à prova as mais recentes
técnicas, táticas e procedimentos relativos ao combate urbano, de acordo com a
realidade do EB, baseando-se nas recentes experiências de outros exércitos.
A minoria dos participantes (2%) julga desnecessária a execução de
experimentação doutrinária, tendo em vista as dificuldades em se encontrar locais
apropriados para tal fim, sendo suficiente a aplicação prática da doutrina por outros
exércitos.
131
6.4.7 QUESTÃO Nº 07
A sétima questão tinha o objetivo de verificar se na organização militar em
que serviu o oficial foi realizado algum trabalho com o tema voltado para o emprego
de blindados no combate em área edificada. Desta questão foram colhidos os
seguintes dados:
80
71
70
Porcentagem
60
50
40
30
20
17
12
10
0
sim
não
não sei informar
Gráfico 7 – Realização de trabalhos relativos ao emprego de blindados no combate urbano.
Fonte: O autor.
O resultado desta questão ratifica a análise feita nos itens anteriores, de que,
embora tenha crescido de importância nos últimos anos, o combate em área
edificada ainda não tem sido priorizado no adestramento na maior parte das OM de
Cavalaria. Este fato foi observado, já que 71% do universo desconheciam qualquer
trabalho, acerca do assunto em pauta, realizado pelas OM em que haviam servido.
As respostas salientam que, para o adestramento da tropa no combate em
localidade, há necessidade de um local próprio para treinamento, o que poucas OM
possuem, principalmente para uso de blindados, fato que não impede que sejam
realizados simpósios, palestras e instruções de quadros sobre o assunto.
Observou-se que, mesmo com as dificuldades já citadas, alguns oficiais (12%)
afirmaram que as OM em que tinham servido realizaram exercícios e instruções
sobre o assunto, como por exemplo, o exercício de emprego de Esqd C Mec em
reconhecimento de localidade, em 2006 e 2007, e o emprego de FT SU Bld em
combate em localidade, em 2007, realizados pelo CIBld. Outras OM estão
desenvolvendo seminários e programas de atualização de doutrina para GLO ou
operações de forças de paz, por exemplo, o 13º RCMec e o 20º RCB. Os 17%
132
restantes não souberam informar se a OM já havia realizado algum trabalho a
respeito do assunto.
6.4.8 QUESTÃO Nº 08
Esta questão procurou verificar se no período de adestramento da OM em
que serviu o oficial foram realizados exercícios em que se utilizaram blindados no
interior de localidades. Para esta questão havia as seguintes opções: sim, não e
apenas GLO. Desta questão foram colhidos os seguintes dados:
50
46
45
40
Porcentagem
35
33
30
25
19
20
15
10
5
0
sim
não
apenas GLO
Gráfico 8 – Realização de exercícios de adestramento de combate urbano
Fonte: O autor.
O resultado desta questão demonstra que as OM em geral não trabalham
com objetivos de adestramento específicos de combate urbano, já que 46% dos
participantes afirmaram não ter realizado exercícios de adestramento de combate
urbano em OM que haviam servido. Ainda, observou-se que, outros 19%
executaram em suas OM apenas exercícios de GLO, empregando blindados em
áreas urbanas, principalmente para cartório móvel ou nos postos de bloqueio e
controle de estradas (PBCE).
Por fim, 33% dos oficiais afirmaram ter realizado, em OM em que haviam
servido, exercícios de adestramento utilizando blindados no interior de localidades,
limitados pela falta de áreas de instrução específicas para tal fim e pela pouca
clareza dos objetivos de adestramento para estas operações.
133
6.4.9 QUESTÃO Nº 09
A nona questão procurou colher a opinião dos oficiais a respeito de qual seria
a melhor forma de se adestrar uma OM para atuar no combate urbano, utilizando-se
dos meios blindados para a fase do investimento, sendo apresentadas a estes as
seguintes opções: exercício no terreno, exercício na carta, simulação de combate e
outros que deveriam ser citados. Desta questão foram colhidos os seguintes dados:
80
70
69
Porcentagem
60
50
37
40
30
20
15
15
manobras na
carta
outras
10
0
exercício no
terreno
simulação de
combate
Gráfico 9 – Formas de adestramento da tropa.
Fonte: O autor.
Da análise dos resultados, pode-se afirmar que os oficiais consideram o
exercício no terreno a melhor forma de adestrar a tropa para o combate urbano,
sendo esta modalidade citada por 69% dos pesquisados, combinada ou não com
outras formas de adestramento. Na apreciação final verificou-se, também, que 37%
do universo optou por exercícios de simulação de combate tipo jogo de guerra,
sendo conveniente ressaltar que segundo o responsável pela carteira no Comando
de Operações Terrestres (COTER), durante palestra ministrada aos alunos da
ECEME em 2006, ainda não há um “software” desenvolvido para este tipo de
operação, fato que deve ser objeto de estudo por aquele órgão.
O adestramento através de manobras na carta foi indicado por 15% dos
militares, sendo observado que esta modalidade, normalmente, precede às demais e
deve servir de subsídio prévio de visualização das operações para, em um segundo
momento, ratificar ou retificar os planejamentos executados. Observou-se, ainda,
que a mesma proporção anterior dos participantes citou outras formas de adestrar as
tropas. Como exemplo cita-se a combinação dos demais processos, iniciando com
um planejamento na carta, passando pela simulação e culminando com a prática no
134
terreno, os exercícios de estudo de caso em caixão de areia, manobras em
localidades simuladas e simulação assistida, ou seja, combinando o real com o
virtual para corrigir as possíveis falhas de entendimento e atuação.
6.4.10 QUESTÃO Nº 10
A décima questão tinha como meta verificar, na opinião do oficial, para que
tipo de emprego seria mais importante se adequar os meios blindados em uso nas
OM de Cavalaria, justificando. Para a proposição foram apresentadas as seguintes
opções: guerra convencional, GLO, missões de paz ou todos. Desta questão foram
colhidos os seguintes dados:
60
50
Porcentagem
50
40
39
30
20
12
10
6
0
guerra
convencional
GLO
missões de paz
todos
Gráfico 10 – Adequação dos blindados (por tipo de emprego).
Fonte: O autor.
Nesta proposição verificou-se, pelo resultado geral, que a maior parte dos
oficiais consultados (50%), acredita que os blindados devam sofrer adequação para
todas as formas de emprego, justificando, principalmente, pelo fato de que os meios
blindados devem atender a todas as necessidades do combate moderno, além de
possuírem flexibilidade de adaptação e utilização. A justificativa de alguns foi a de
que, considerando um ambiente urbano, as características dos veículos não diferem
muito e de uma forma geral os blindados devem ser adaptados para todos os tipos
de atuação.
Uma boa quantidade dos participantes (39%) julgou ser para o combate
convencional a prioridade de adequação dos blindados, tendo em vista ser a missão
precípua das forças blindadas do EB, podendo sofrer adaptações para os demais
tipos de emprego. No que diz respeito às missões das forças de paz, 12% dos
135
oficiais consideraram mais importante a adequação dos meios blindados para este
tipo de emprego, tendo em vista a atual tendência do Brasil em apoiar a ONU nestas
operações, a exemplo do que ocorre atualmente no Haiti. Ainda 6% dos militares
acreditam ser para as missões de GLO a maior atenção a ser dispensada, no que
diz respeito à adequação dos blindados, basicamente por causa da atual crise na
segurança pública, observada nos últimos anos nas grandes cidades.
6.4.11 QUESTÃO Nº 11
Por fim, a última questão buscou verificar qual o grau de importância dada ao
assunto em pauta. As opções apresentadas foram importante, relevante e
irrelevante. Desta questão foram colhidos os seguintes dados:
90
80
77
P o rcen tag em
70
60
50
40
30
23
20
10
0
0
importante
relevante
irrelevante
Gráfico 11 – Grau de importância da pesquisa.
Fonte: O autor.
Com a finalidade de se levantar o grau de interesse que esta pesquisa
monográfica desperta nos oficiais de Cavalaria, foi observado que a maioria dos
participantes deste questionário (77%) acham o assunto em pauta importante, pois a
tendência atual é de que os combates se desenvolvam em ambientes urbanizados e
a pouca experiência das tropas brasileiras nestas operações, principalmente
utilizando blindados, justifica tal resultado. De igual forma os outros 23% consideram
o assunto relevante, por não termos uma doutrina firmada e poucos trabalhos terem
sido feitos nesse sentido, para que se discuta o adestramento das tropas visando os
conflitos urbanos.
A ausência de respostas julgando o assunto irrelevante demonstra que
existe interesse dos militares questionados em desenvolver o assunto, a fim de
136
chegar a uma doutrina de emprego exeqüível e condizente com a realidade do EB e
com a tendência mundial.
6.5 RELATÓRIO DA PESQUISA
Para a validação dos resultados obtidos, em relação à primeira variável
levantada como objeto da pesquisa de campo, que buscou verificar se os meios
blindados são adequados ao combate urbano, chegou-se às seguintes conclusões:
Pela primeira questão, 47% dos pesquisados não executaram exercícios
com blindados no ambiente urbano. Considerando uma amostra de 49 militares
pode-se afirmar que o fenômeno observado apresentará uma margem de erro de
7,13% para mais ou para menos e significa que o número de militares que não
executaram os exercícios citados varia entre 39,87% e 54,13%.
Na análise da segunda questão observou-se que 52% dos oficiais
pesquisados consideram adequados os blindados da cavalaria para o combate
urbano. Da mesma forma, para uma amostra de 49 oficiais admite-se um desvio na
percentagem de 7,14% e o fenômeno será verdadeiro entre 44,86% e 59,14% da
amostra.
Na sétima questão verificou-se que 71% dos participantes não conheciam
qualquer trabalho executado nas OM, em que tinham servido ou estavam
comandando, acerca do emprego de blindados nas operações urbanas. Em uma
amostra de 49 pesquisados admite-se um erro-padrão de 6,48% para mais ou para
menos, ou seja, o número de militares que não observaram os referidos trabalhos
nas suas OM varia entre 64,52% e 77,48%.
Desta forma, conclui-se que, apesar da maioria considerar os blindados
adequados para o combate urbano, os resultados provam um desconhecimento do
atual emprego, além de uma falta de prática na execução de exercícios com meios
blindados em ambientes urbanizados, levando a crer que existem dúvidas de como
empregar os referidos meios naquelas operações e pouca convicção quanto à
adequabilidade daqueles meios.
Na análise, visando a segunda variável desta pesquisa de campo, que diz
respeito ao adestramento das guarnições para o combate urbano, observou-se que,
de acordo com a oitava questão formulada, 46% dos pesquisados não realizaram
exercícios de adestramento de combate urbano utilizando blindados. Calculando-se
a margem de erro (7,12%) da amostra apresentada, verificou-se que a percentagem
137
de participantes onde ocorre o fenômeno varia entre 38,88% e 53,12%, número que
demonstra a falta de melhor adestramento nas unidades de cavalaria, no assunto
em pauta. Quanto aos exercícios e trabalhos executados, os resultados foram
analisados para a primeira hipótese e provaram uma deficiência nas OM de
cavalaria na instrução e adestramento das tropas para o emprego de blindados no
combate urbano.
Assim, conclui-se que, o adestramento das guarnições blindadas para as
operações urbanas deve ser mais bem desenvolvido e treinado, buscando-se avaliar
o OA constante do PPA/CAV e verificando as principais deficiências apresentadas.
Foi possível, ainda, pelas respostas apresentadas nas demais questões,
verificar a compreensão da necessidade de experimentação doutrinária para a
utilização de blindados no interior de localidades, tendo em vista a falta de
experiências práticas do EB neste tipo de operação.
Desta forma, observa-se que, a opinião apresentada no questionário da
pesquisa de campo, de especialistas em diversas áreas, foi convergente na maioria
dos quesitos, levando a crer que muitas das conclusões a que se chegou serão de
grande valia para o trabalho de pesquisa e que deve ser objeto de reflexão para os
profissionais e pensadores da guerra moderna.
138
7. CONCLUSÃO
Esse trabalho monográfico objetivou apresentar uma fundamentação
científica, através de pesquisas histórica, doutrinária, de material, documental e de
campo, que permitisse verificar a adequabilidade dos meios blindados empregados
pela arma de Cavalaria do Exército Brasileiro nas operações em ambiente urbano.
A necessidade de pesquisar tal assunto foi decorrente do fato, citado e
comprovado por especialistas e pesquisadores, de que a crescente urbanização dos
países e a dificuldade do combate em áreas edificadas, eliminando vantagens
tecnológicas e nivelando as forças envolvidas, fazem com que seja muito grande a
probabilidade da maioria dos conflitos futuros serem travados neste tipo de ambiente
operacional.
Outra afirmação feita, diz que as forças blindadas devem exercer um papel
fundamental em um ataque em área edificada, sendo suas características básicas
de potência de fogo, mobilidade e proteção blindada, fatores que conduzirão as
tropas mais eficazmente à vitória.
A base teórica que fundamentou o presente estudo foi, na maioria, retirada
de documentos elaborados pelos exércitos do Brasil, dos Estados Unidos da
América, Israel e da Rússia, aproveitando-se, particularmente, as inovações
surgidas nas últimas experiências de combate dos exércitos dos países
supracitados.
No intuito de se alcançar o objetivo proposto, procurou-se analisar as
experiências históricas de alguns exércitos que empregaram blindados no interior de
localidades, além da doutrina e materiais em uso atual nas tropas mais adestradas
nestas operações. Após o estudo das condicionantes envolvidas e mediante a
adoção do método de análise comparativa e raciocínio indutivo, chegou-se à
confirmação de uma das hipóteses previstas na primeira seção deste trabalho.
Para melhor análise das hipóteses levantadas, a pesquisa foi dividida de
forma que todas as circunstâncias que envolvem a utilização de forças blindadas em
um ambiente operacional urbano fossem consideradas.
Assim, na segunda seção, tratou-se de alguns conflitos urbanos relatados na
história, ressaltando a utilização de blindados nestas operações e os resultados
alcançados por aquelas forças, concluindo sobre a influência para o combate urbano
139
moderno e com o intuito de chamar a atenção do leitor para a importância destes
meios quando utilizados em área edificada e urbanizada.
Nesta seção foram abordados conflitos da história recente, basicamente
durante a Segunda Guerra Mundial, até os mais recentes como na Somália, em
Grosny ou no Iraque.
A análise destes conflitos serviu para retirar das lições aprendidas o máximo
de ensinamentos, que devem ser aplicados quando do emprego de blindados em
áreas urbanizadas. A finalidade principal da seção foi a de mostrar a evolução
necessária das técnicas, táticas e procedimentos no tocante ao uso de forças
blindadas no interior de cidades, evitando-se repetir erros do passado.
Além disso, concluiu-se desta seção, que o sistema operacional inteligência
deve funcionar convenientemente, a fim de se evitar ataques mal sucedidos,
genocídio e fratricídio, sendo grande a preocupação com a opinião pública mundial e
com os noticiários da mídia internacional, afetando decisivamente a liberdade de
ação dos chefes militares.
Os meios blindados foram abordados como assunto da terceira seção deste
trabalho, quando então foram apresentados os principais veículos utilizados
atualmente em conflitos urbanos, especialmente por exércitos com experiências
recentes, como EUA e Israel. Foram estudados também os principais veículos
blindados de combate, de reconhecimento e de transporte de pessoal, sobre
lagartas e sobre rodas, atualmente em uso no Exército Brasileiro, a fim de
estabelecer-se um paralelo destes com os primeiros.
Verificou-se que os novos desafios do combate urbano moderno, observado
nos conflitos mais recentes e nas suas lições aprendidas, obrigaram alguns países
como Estados Unidos e Israel a buscarem um constante desenvolvimento dos seus
meios e de sua tecnologia, a fim de reduzir o tempo de conflito e as perdas humanas
e materiais.
Desta forma, norte-americanos e israelenses rumaram na direção do
desenvolvimento de meios blindados voltados para o combate em área urbana. A
grande experiência destes exércitos, somada ao eficiente treinamento e investimento
no setor de defesa, tornaram EUA e Israel as potências militares mais preparadas do
mundo para operações em áreas fechadas.
O emprego de blindados para dissuadir, proteger os fuzileiros a pé ou
resolver mais rapidamente as questões, parece ser a forma decidida por estes
140
exércitos com larga experiência nestes tipos de confrontos, não se admitindo
qualquer patrulhamento ou ataque a resistências sem a utilização desses meios,
conforme se verificou no decorrer da seção.
Observou-se, nos blindados americanos e israelenses, semelhanças que
apontam para uma tendência das novas linhas de blindados com características
para atuar no inevitável ambiente urbano da guerra do futuro. Muitas inovações
como o sistema de proteção ativo, contra mísseis e foguetes, já é considerado item
obrigatório nos carros em estudo ou sendo fabricados pelo mundo.
Ao estudar os veículos blindados utilizados no Brasil, percebeu-se que os
investimentos realizados deixaram de contemplar as inovações para o combate
urbano, exceção feita ao Urutu que, por estar sendo utilizado nas missões de
estabilização no Haiti, recebeu alguma modificação, ainda que pequena, para atuar
no interior de cidades.
Os veículos sobre lagartas não possuem qualquer proteção extra,
principalmente nas partes que se apresentam mais vulneráveis aos atiradores de
escol e armas anticarro, que são a torre e as partes de cima e de baixo dos
blindados.
Além disso, alguns carros adquiridos há mais de dez anos, já estão sendo
fabricados, pelos países de origem, em versões mais modernas e mais versáteis
(problema que está sendo contornado com a aquisição dos Leopard 1 A5), tornandoos quase que obsoletos aos olhos do combate moderno.
A linha sobre rodas, após a falência da ENGESA, não teve desenvolvimento
satisfatório e, hoje, muitos blindados Cascavel e Urutu, com a vida útil esgotada,
estão sendo repotencializados no Arsenal de Guerra de São Paulo, porém com
poucas inovações no que se refere ao combate urbano.
Conforme conclusões de alguns pesquisadores, como o professor Expedito
Bastos, o Brasil carece de uma nova família de blindados sobre rodas, com
concepção mais moderna e já preparados para sobreviver às ameaças urbanas.
Desta forma, pôde-se concluir que, os meios blindados em uso atualmente
pela Cavalaria do EB carecem de aperfeiçoamentos com especificações para o
combate urbano, sendo que, alternativas paliativas reduzem o problema, porém
estão longe de ser a solução ideal.
Os projetos de modernização devem ter como base a real tendência de as
guerras desenvolverem-se em teatros de guerra que englobam grandes cidades ou
141
suas periferias e que, portanto, devem possuir armamentos, munições e tecnologia
que permitam a sobrevivência dos carros nestes ambientes.
A quarta seção teve como assunto a doutrina de emprego dos meios
blindados no combate urbano, tomando-se como referencial as novas técnicas
empregadas pelo exército norte-americano na última guerra do Golfo e aquelas que
foram e estão sendo experimentadas na tentativa de debelar os conflitos no
Afeganistão e no próprio Iraque.
Além da doutrina dos EUA, verificou-se a doutrina em uso por Israel e por
forças internacionais de paz, quanto ao emprego de blindados no interior de grandes
cidades e sua adequabilidade, além de doutrinas de emprego utilizadas em outros
conflitos e guerras civis.
Observou-se que, os países envolvidos nos conflitos atuais estão
desenvolvendo novos equipamentos e novas técnicas para se adequarem ao
inevitável e difícil combate em ambiente urbano. Desta forma, se faz necessário
acompanhar a evolução da guerra moderna para que se possa atualizar a doutrina
de emprego de blindados e, principalmente, o adestramento das suas frações.
Notou-se, também, grande preocupação por parte dos norte-americanos no
desenvolvimento e adestramento de suas tropas em técnicas, táticas e
procedimentos, procurando consolidar uma doutrina pré-existente, adestrando as
pequenas frações combinadas e as guarnições nas novas formações de combate de
tropas blindadas, utilizando manual específico para operações urbanas (FM 3-06).
Ainda quanto às experiências vividas por outros exércitos, destacou-se os
aspectos doutrinários desenvolvidos após os combates dos russos em Grosny,
particularmente quanto ao uso indiscriminado de bombardeios nesta cidade, fato que
o combate moderno condena, por ferir os direitos humanos, pelos efeitos colaterais
causados nas instalações e na população não combatente e pela repercussão na
opinião pública internacional.
Além dos russos os israelenses também têm contribuído para a formação de
uma doutrina para a atuação no combate urbano, já que estão em permanente
estado de litígio, em ambientes totalmente urbanizados. O emprego efetivo do
combinado blindados e fuzileiros comprova, mais uma vez, que este não deve ser
dispensado quando se planejar tais operações, procurando adaptar a composição e
o valor à missão recebida.
142
Ainda como contribuição, os ingleses também demonstraram a efetividade
do emprego de blindados, como fator psicológico e de apoio de fogo nas investidas
em Basra, no Iraque, favorecendo sobremaneira o sucesso das missões,
principalmente no que diz respeito à proteção contra armas anticarro e contra a
atuação dos “sniper”.
No que diz respeito à doutrina vigente no EB, notou-se que as técnicas,
táticas e procedimentos são semelhantes, na sua concepção, às desenvolvidas em
outros exércitos, basicamente seguindo o prescrito nos manuais norte-americanos.
As fases do cerco a uma cidade não sofreram modificações, porém o planejamento
para emprego de blindados, principalmente para a terceira fase (investimento), deve
ser muito mais minucioso para a atual realidade dos grandes centros urbanos.
A falta de atuação em missões reais é um fator que limita a consolidação de
uma doutrina brasileira de emprego de meios blindados no combate urbano, sendo
necessário tomar como base as experiências de outros exércitos. As missões de paz
em andamento no Haiti estão servindo como primeiro passo para experimentação de
técnicas, táticas e procedimentos genuínos neste tipo de combate, embora a
improvisação e a intuição ainda sejam nítidas na maioria das ações.
O
emprego
das
VBTP
Urutu,
com
algumas
modificações,
nos
patrulhamentos e reconhecimentos, ressalta a importância de se ter proteção
blindada para os elementos a pé, nas áreas com atuação de rebeldes, sendo
necessário ampliar as inovações e dotar estes veículos de moderna tecnologia,
capaz de melhorar a capacidade de sobrevivência em ambientes urbanizados.
A necessária composição de força-tarefa de valor subunidade, que se
concluiu ser a mais apta para atuar no combate urbano, é um fator que se deve levar
em consideração, ao se planejar uma operação. A combinação CC-Fuz é essencial
para que se tenha maior probabilidade de êxito nestas ações, fundamento este
explicitado no manual C 17-20.
Portanto, faz-se imperativo treinar e adestrar guarnições de carros e
fuzileiros, nas principais técnicas de maneabilidade e tiro no interior de cidades, para
que todos conheçam e massifiquem as regras de engajamento que deverão ser
estabelecidas previamente, evitando erros e vacilações ante uma situação
inesperada e, para isso, a simulação de combate é um caminho bastante
econômico.
143
Assim, ao analisar as inovações doutrinárias experimentadas por norteamericanos, russos, israelenses e ingleses, verificou-se que os manuais brasileiros e
as teorias desenvolvidas por especialistas em blindados estão na direção correta,
bastando melhores condições de treinamento, equipamentos mais modernos e uma
reformulação nos objetivos de adestramento, focando a atuação dos blindados em
áreas fechadas.
Na quinta seção, foram abordadas as características, possibilidades e
limitações dos meios blindados do EB, tanto do material como das guarnições.
Foram vislumbrados os possíveis empregos e as medidas passíveis de adoção para
a modernização do material e adequação doutrinária, alicerçadas em experiências
colhidas em outros exércitos, para verificar a adequabilidade dos blindados da
Cavalaria. Procurou-se concluir sobre as soluções possíveis para melhorar o
desempenho e a sobrevivência destes meios no combate urbano.
Dos
aspectos
analisados
verificou-se
uma
gama
considerável
de
possibilidades dos meios blindados atuando em operações urbanas, tais como
mobilidade, proteção blindada e dissuasão psicológica, as quais, quando bem
empregadas, conduzem a resultados positivos. Os ensinamentos colhidos por outros
exércitos são de fundamental importância para a utilização segura e eficiente destes
meios no combate moderno.
O conhecimento das principais limitações dos veículos blindados, atuando
no interior de localidades, torna-se ponto passivo para seu melhor emprego e para a
segurança daqueles que fazem parte das suas guarnições.
Verificou-se que as técnicas, táticas e procedimentos das guarnições
blindadas estão sendo difundidas por especialistas do CIBld e o adestramento em
operações urbanas está recebendo maior atenção, visando padronizar atitudes e
melhorar o adestramento, não caracterizando o aspecto mais deficitário das tropas
blindadas.
Observou-se, também, que é necessário explorar ao máximo as virtudes
destes meios nobres e superar os óbices com tecnologia e inovações, a fim de tirar o
máximo proveito destes sistemas no atual campo de batalha.
Desta forma, concluiu-se que, os meios blindados atualmente em uso no EB,
comprovadamente
necessários
às
operações
urbanas,
possuem
várias
possibilidades, porém, são inadequados às necessidades impostas pelo combate
moderno, carecendo de aprimoramentos e investimentos a fim de terem seu uso
144
dinamizado nestes ambientes e poderem cumprir com eficiência as missões que
lhes são atribuídas.
Na sexta seção do presente trabalho foram analisados os dados colhidos
com a pesquisa de campo executada junto aos usuários e especialistas em meios
blindados, na ECEME, nas OM operacionais e de ensino do Exército Brasileiro.
Os resultados obtidos contribuíram sobremaneira para a confirmação da
hipótese levantada como verdadeira, já que se tratou de opinião avalizada de
especialistas e militares com larga experiência na utilização de blindados, ao longo
de suas carreiras.
Constatou-se, após a análise das variáveis independentes levantadas nesta
pesquisa monográfica que, no tocante à versatilidade e tecnologia, os meios
blindados atualmente em uso pela Cavalaria do EB carecem de inovações
tecnológicas para emprego no combate urbano e não possuem a suficiente
versatilidade para este fim.
Apesar de ter-se observado, na apreciação da pesquisa de campo, que a
maioria dos participantes considerou os blindados adequados para o combate
urbano, os estudos realizados provaram exatamente o contrário.
Os esforços de modernização, que vêm sendo feitos até o momento, não
vislumbraram uma possível utilização dos meios blindados no combate urbano,
embora esta seja a tendência dos mais modernos e treinados exércitos do mundo.
As melhorias de tecnologia, apresentadas em “kits” e implementadas nos
carros de combate ou nos veículos de infantaria, a exemplo da versão TUSK do
M1A2 Abrams norte-americano ou do Merkava Namera israelense seria uma
solução mais barata para melhorar a sobrevivência dos Leopard, M-60 e M-113 ou
até mesmo dos Cascavel e Urutu, nas operações urbanas. A substituição por uma
nova família de blindados sobre rodas é necessária, porém há indicações de que,
pelo menos por enquanto, o orçamento destinado à modernização não prevê nem a
compra nem a fabricação destes blindados.
A recente aquisição dos CC Leopard 1 A5, apesar de melhorar bastante as
unidades blindadas de Cavalaria, não acrescentará muito em termos de combate em
área urbanizada, já que estes veículos são destinados ao combate convencional em
ambiente aberto e carecem de sistemas de proteção adequados e de versatilidade
para o combate no interior de cidades. O armamento principal, por exemplo, um
canhão 105 mm, não possui o calibre mais apropriado para estas missões.
145
Da segunda variável independente, quanto à instrução das guarnições
blindadas, após executado um estudo comparativo, observou-se que os exércitos
mais experientes treinam incansavelmente as técnicas, táticas e procedimentos
necessários à atuação nas missões de combate urbano.
Considerando que muitos já participaram de ações reais e que dispõem de
material de alta tecnologia e locais apropriados para treinamento, é notório o hiato
criado, se comparadas com as tropas blindadas do EB.
A instrução de guarnições blindadas brasileiras limita-se às unidades
especializadas ou centros de instrução e o combate urbano encontra-se em estágios
iniciais de estudos e implantação. As principais técnicas e táticas ainda não foram
difundidas no âmbito das OM, até por se tratar de uma nova concepção de combate,
concluindo-se que a instrução ainda é deficitária e parcialmente adequada, para que
as guarnições dos CC possam atuar em um quadro de guerra em ambiente
urbanizado.
Apesar de ser previsto nos programas-padrão para o adestramento básico
nas unidades de Cavalaria (PPA/CAV), o objetivo de adestramento (OA) – Atacar em
uma área edificada – este não vem sendo cumprido regularmente nas OM de
Cavalaria, fato observado na pesquisa de campo realizada, já que poucos militares,
nas OM em que serviram, tiveram a oportunidade de trabalhar neste objetivo.
Mesmo assim, as que realizaram o adestramento tiveram várias limitações de
material e falta de áreas adequadas para tal fim. Uma parcela considerável dos
oficiais (46%) não trabalhou este OA em suas OM, fato que denota um adestramento
deficiente no que diz respeito ao combate urbano.
Além disso, observou-se que o próprio PPA/CAV, limita o adestramento ao
ataque em localidade, nos moldes executados há muitos anos, quando as cidades
eram representadas por pequenos casarios ou vilarejos, não aprofundando nestes
objetivos a atual realidade das operações em ambientes fechados, nem o emprego
de blindados.
Verificou-se, nas pesquisas realizadas, que uma eficaz e econômica solução
para o adestramento das frações blindadas é a simulação de combate nos moldes
do executado no Forte Knox. Para tanto, é necessário aperfeiçoar o sistema C2 em
Combate, como forma de gerenciar o campo de batalha, conjugando com uma área
urbana reduzida, preparada para comportar os carros de combate.
146
Por fim, a pesquisa procurou verificar, na terceira variável independente, se
a doutrina de emprego de blindados em ambiente urbano está apropriada para as
novas técnicas impostas pela evolução do combate, de onde se tirou as seguintes
conclusões:
- ao compararem-se os fundamentos doutrinários aplicados e prescritos nos
manuais em uso ou publicações de especialistas em blindados no Brasil com as
atuais doutrinas de outros exércitos, observou-se que o emprego das frações
blindadas,
baseada
na
doutrina
norte-americana,
deve
sofrer
alguns
aperfeiçoamentos para se adequar à realidade do EB, porém não é o principal óbice
ao adestramento em ambiente urbano.
- no estudo das possibilidades das pequenas frações blindadas formando
Forças-Tarefa (FT), verificou-se que a doutrina desenvolvida está no caminho certo
e é apropriada para o combate moderno, inclusive por ter sido testada pelo próprio
exército norte-americano em operações urbanas recentes ou validada por
experimentações realizadas pelo CAAdEx e pelo CIBld.
- deve-se, entretanto, ressaltar que a doutrina carece de maior padronização
e difusão, particularmente no tocante às técnicas, táticas e procedimentos a serem
adotados, visando à sua uniformização e a ampliar o alcance destes conhecimentos
no âmbito de toda a Força Terrestre, particularmente em nossas escolas de
formação e aperfeiçoamento e nas Unidades (U) e Grandes Unidades (GU)
blindadas ou mecanizadas.
Apesar da deficiência dos meios materiais, pôde-se averiguar que a doutrina
de emprego caminha na direção correta, sendo considerada parcialmente adequada
pela maioria dos participantes da pesquisa de campo realizada, necessitando
apenas de adaptações.
O trabalho teve, ainda, uma subquestão de pesquisa onde se buscou
responder se os blindados devem constituir-se na principal força de investimento
contra uma localidade para reduzir o tempo de combate e resolver rapidamente o
problema.
Conforme foi observado, os blindados são imprescindíveis nas ações de
conquista de uma cidade, podendo ser utilizados em qualquer das fases, apoiando
pelo fogo as ações ou investindo juntamente com os fuzileiros, dando-lhes proteção
blindada, formando o binômio CC/Fuz.
147
Afirmar que apenas os blindados constituiriam a principal força de
investimento numa localidade seria uma impropriedade, pois, se verificou, pelas
lições aprendidas de outros países e pelos estudos realizados, que o elemento a pé
deve estar presente, visando à complementaridade das ações.
As pequenas frações blindadas são as mais aptas a cumprirem missões em
áreas urbanizadas, formando forças-tarefa que possuem a grande vantagem de
mesclar as principais características das tropas, possibilitando que aquele novo
elemento criado as incorpore de tal forma que passe a ter condições de realizar as
suas missões de maneira ainda mais eficaz.
Desta forma, o elemento de infantaria, que reconhecidamente é a tropa mais
apta a realizar o combate em área edificada, com o acréscimo do elemento blindado,
passa a ter a sua capacidade de atuação, nesse tipo de ambiente operacional,
significativamente aumentada. É importante ressaltar também que estas forças
podem ser empregadas em qualquer uma das fases do cerco a uma localidade,
devendo-se naturalmente levar em conta os fatores da decisão.
Assim, pôde-se concluir finalmente que, contrariamente à opinião dos
participantes da pesquisa de campo, os blindados em uso atualmente pelo EB não
são adequados ao combate urbano e necessitam ser reavaliados tendo em vista as
atuais ameaças e prováveis empregos nestas operações.
Os investimentos a serem realizados devem visar o aperfeiçoamento dos
blindados para a atuação no combate urbano, seja na aquisição ou fabricação de
componentes ou “kits” para sobrevivência dos veículos no interior de cidades, ou na
compra de novos carros, a fim de torná-los aptos e adequados a este tipo de
operação.
Portanto, seria lícito inferir que, é arriscado, no momento, o emprego de
meios blindados brasileiros no combate urbano, seja convencional, compondo forças
de paz ou em missões de garantia da lei e da ordem, particularmente no caso de
investimento em uma localidade ou no confronto direto com forças oponentes de
considerável valor militar. Visualiza-se como uma exceção o emprego das VBTP
Urutu, em missões de reconhecimento e patrulhamento, já que alguns destes
veículos sofreram modificações para atuar em ambientes fechados.
____________________________________________
ARTHUR MARCIO RIGOTTI – Maj Cav
148
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